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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE FOMENTO AO USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DAS INDÚSTRIAS DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS [email protected] APRESENTACAO ORAL-Economia e Gestão no Agronegócio LUCIANO DANIEL DE SOUZA BARBOSA 1 ; JOÃO GUILHERME DE CAMARGO FERRAZ MACHADO 2 . 1.UNESP-UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA/CAMPUS EXPERIMENTAL DE TUPÃ, TUPÃ - SP - BRASIL; 2.UNESP-UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA/CAMPUS EXPERIMENTAL DE TUPÃ/CEPEAGRO, TUPÃ - SP - BRASIL. ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE FOMENTO AO USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DAS INDÚSTRIAS DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio Resumo: O objetivo da pesquisa foi analisar as ações realizadas pelas empresas de defensivos, visando fomentar o uso de EPI por parte dos agricultores. De forma específica, buscou-se descrever e analisar os programas de três empresas fabricantes de defensivos agrícolas para fomentar o uso do EPI, e compará-los. As três maiores empresas multinacionais de defensivos agrícolas foram definidas para serem analisadas, com base no faturamento. Foram analisadas e comparadas as ações, possibilitando a intensificação dos programas de treinamento e conscientização que fomentam o uso do EPI. Os resultados foram obtidos a partir de material disponibilizado nos sites das empresas, uma vez que não os responsáveis não retornaram o contato realizado pelo pesquisador. O trabalho desenvolvido pelas empresas mostra que a responsabilidade social e ambiental ultrapassa a venda dos produtos. As indústrias, em parceria com Universidades, Institutos de Pesquisa, sindicatos rurais, cooperativas e entidades do agronegócio, desenvolvem cursos, dias de campo e treinamento técnico sobre a importância do uso de EPI. Dos três programas apresentados, o da Bayer foi o que menos informações estavam disponíveis, prejudicando, a comparação entre eles. O programa da Syngenta parece ser mais organizado e avançado, talvez pelo maior tempo desde sua implantação e pela abrangência mundial do programa. Os programas implementados pelas empresas analisadas têm, por enquanto, procurado suprir as deficiências encontradas no âmbito da atividade rural. Palavras-chave: Defensivos agrícolas, EPI, trabalhador rural ANALYSIS OF AGROCHEMICALS INDUSTRIES PROGRAMS FOR PROMOTION THE USE OF PERSONAL PROTECTIVE EQUIPMENT

ANALYSIS OF AGROCHEMICALS INDUSTRIES PROGRAMS … · Segundo Almeida e Adissi (2001), a exposição dos agricultores aos riscos de ... o trabalhador se expõe, seja de maneira direta

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ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE FOMENTO AO USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DAS INDÚSTRIAS DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

[email protected]

APRESENTACAO ORAL-Economia e Gestão no Agronegócio LUCIANO DANIEL DE SOUZA BARBOSA 1; JOÃO GUILHERME DE

CAMARGO FERRAZ MACHADO 2. 1.UNESP-UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA/CAMPUS EXPERIMENTAL DE

TUPÃ, TUPÃ - SP - BRASIL; 2.UNESP-UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA/CAMPUS EXPERIMENTAL DE TUPÃ/CEPEAGRO, TUPÃ - SP -

BRASIL.

ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE FOMENTO AO USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DAS INDÚSTRIAS

DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio

Resumo: O objetivo da pesquisa foi analisar as ações realizadas pelas empresas de defensivos, visando fomentar o uso de EPI por parte dos agricultores. De forma específica, buscou-se descrever e analisar os programas de três empresas fabricantes de defensivos agrícolas para fomentar o uso do EPI, e compará-los. As três maiores empresas multinacionais de defensivos agrícolas foram definidas para serem analisadas, com base no faturamento. Foram analisadas e comparadas as ações, possibilitando a intensificação dos programas de treinamento e conscientização que fomentam o uso do EPI. Os resultados foram obtidos a partir de material disponibilizado nos sites das empresas, uma vez que não os responsáveis não retornaram o contato realizado pelo pesquisador. O trabalho desenvolvido pelas empresas mostra que a responsabilidade social e ambiental ultrapassa a venda dos produtos. As indústrias, em parceria com Universidades, Institutos de Pesquisa, sindicatos rurais, cooperativas e entidades do agronegócio, desenvolvem cursos, dias de campo e treinamento técnico sobre a importância do uso de EPI. Dos três programas apresentados, o da Bayer foi o que menos informações estavam disponíveis, prejudicando, a comparação entre eles. O programa da Syngenta parece ser mais organizado e avançado, talvez pelo maior tempo desde sua implantação e pela abrangência mundial do programa. Os programas implementados pelas empresas analisadas têm, por enquanto, procurado suprir as deficiências encontradas no âmbito da atividade rural. Palavras-chave: Defensivos agrícolas, EPI, trabalhador rural

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Abstract: This research aimed to analyze the actions of agrochemicals firms, aimed at promoting the use of PPE by farmers. Specifically, it was sought to describe and analyze the programs of three manufacturers of agrochemicals, encourage the use of PPE and compare them. The three largest multinational companies of agrochemicals were defined to be analyzed, based on revenues. The actions of these firms were analyzed and compared, allowing the intensification of training and awareness programs that promote the use of PPE. The results were obtained from material available on the websites of each company, as those responsible did not return the contact made by the researcher. The work done by the companies shows that the social and environmental responsibility goes beyond selling products. Industries, in partnership with universities, research institutes, rural unions, cooperatives and agribusiness organizations, develop courses, field days and technical training about the importance of using PPE. Of the three programs presented, Bayer’s program was that less information was available, hindering the comparison between them. Syngenta’s program seems to be more organized and advanced, perhaps the longest time since his deployment and the worldwide reach of the program. The programs implemented by the companies researched have, meanwhile, sought to redress the deficiencies found in the rural activity. Keywords: Agrochemicals, PPE, rural worker. 1. INTRODUÇÃO

O trabalho no meio rural envolve uma gama enorme de riscos ao trabalhador. Assim como no meio urbano, existem riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e riscos de acidentes. No meio rural, muitas vezes estes riscos são intensificados devido ao menor nível de treinamento e escolaridade dos trabalhadores, bem como pela menor fiscalização por parte dos órgãos públicos, no que diz respeito ao cumprimento de normas de segurança no ambiente de trabalho (COELHO; COELHO, 2008).

Segundo Almeida e Adissi (2001), a exposição dos agricultores aos riscos de agrotóxicos tem sido uma constante em todo meio rural brasileiro, pelas formas como são utilizados estes agroquímicos. Em todas as atividades da produção agrícola em que há utilização de agrotóxicos, o trabalhador se expõe, seja de maneira direta ou indireta.

A ação dos agrotóxicos sobre a saúde do trabalhador costuma ser deletéria, muitas vezes fatal, provocando inúmeras reações no organismo humano, dentre as quais, problemas respiratórios, efeitos gastrintestinais, distúrbios musculares, debilidade motora e fraqueza (SILVA et al., 2005). Para Delgado e Paumgartten (2004), nos países em desenvolvimento, o uso indevido de agroquímicos representa um sério problema de saúde pública, mas esta questão ainda não foi devidamente estudada. O consumo de defensivos tem crescido rapidamente nesses países, mas na maioria dos casos não existe controle eficaz sobre a venda e uso destes produtos, os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) não são usados rotineiramente, não há monitoramento da exposição ocupacional e o diagnóstico e tratamento dos casos de intoxicação são falhos.

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No meio rural, os EPI mais comumente utilizados são: (i) máscaras protetoras, (ii) óculos, (iii) luvas impermeáveis, (iv) chapéu impermeável de abas largas, (v) botas impermeáveis, (vi) macacão com mangas compridas e (vii) avental impermeável. Normalmente, o uso desses EPI é indicado via receituário agronômico e nos rótulos dos produtos, e devem possuir Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho. Além disso, algumas especificidades devem ser observadas em relação ao manuseio dos EPI: (i) os filtros das máscaras e respiradores são específicos para defensivos e têm data de validade; (ii) as luvas recomendadas devem ser resistentes aos solventes dos produtos; (iii) o trabalhador deve seguir as instruções de uso de respiradores; (iv) a lavagem deve ser feita usando luvas e separada das roupas da família; e (v) devem ser mantidos em locais limpos, secos, seguros e longe de produtos químicos (CORDEIRO, 2003).

Seifert e Santiago (2009) relataram que todo trabalhador está sujeito a acidentes de trabalho, mas os que estão ligados à agropecuária, estão constantemente expostos a produtos químicos e aos agrotóxicos. E como nem sempre o trabalho pode ser supervisionado diretamente, torna-se difícil a coordenação e a vigilância de medidas prevencionistas de segurança.

Em pesquisa realizada com produtores/trabalhadores rurais em Londrina, PR, Seifert e Santiago (2009) verificaram que, apesar do índice de propriedades com assistência técnica ser elevado, não é realizado um trabalho adequado em relação à segurança do trabalho rural, tendo como consequência um alto índice de produtores/trabalhadores rurais que não utilizam os EPI. Para Corrêa (2003), muitos acidentes poderiam ser evitados se os EPI fossem utilizados corretamente, as máquinas e os equipamentos envolvidos nos acidentes fossem dotados de dispositivos de segurança e os princípios de segurança observados durante a execução das tarefas.

As empresas fornecedoras de defensivos agrícolas têm se compromissado com projetos de atuação responsável e com iniciativas que asseguram o uso correto de defensivos, desenvolvendo programas que atualizam e capacitam o aplicador com treinamentos constantes. Essas empresas passaram a fomentar o uso do EPI e, com isso, tentam diminuir os acidentes provocados pela aplicação/contato defensivos agrícolas, possibilitando uma qualidade de vida melhor para o trabalhador rural.

O apoio e a parceria com empresas de atuação responsável apresentam-se como alternativas para melhorar os aspectos de segurança no ambiente de trabalho, por meio da conscientização do trabalhador rural, sendo o melhor caminho para a construção da sustentabilidade no campo. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi analisar as ações realizadas pelas empresas de defensivos, visando fomentar o uso de EPI por parte dos agricultores. De forma específica, buscou-se descrever e analisar os programas e as ações realizadas por três empresas fabricantes de defensivos agrícolas, para fomentar o uso do EPI, e compará-los.

Esse trabalho foi estruturado em cinco partes, incluindo essa introdução. Na segunda parte foram abordados os conceitos sobre EPI, seu uso no meio rural, as barreiras existentes ao uso e o papel das empresas no uso dos EPI. Na terceira parte, foram apresentados o método de pesquisa e a definição das empresas estudadas. Na quarta parte, foram apresentados os programas que fomentam o uso dos EPI. A q parte encerra o trabalho com as conclusões do estudo. 2. REFERENCIAL TEÓRICO

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2.1 Equipamentos de Proteção Individual (EPI): histórico, conceitos e definições Embora a indústria de agrotóxicos tenha surgido após a Primeira Guerra Mundial,

seu uso foi difundido nos Estados Unidos e na Europa após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, seu uso foi difundido durante o período que ficou conhecido como a modernização da agricultura nacional, entre 1945 e 1985. Nesse período, notadamente após 1975, se efetivou a instalação da indústria de agrotóxicos no país, conformada pelas principais empresas fabricantes destes produtos em nível mundial (TERRA; PELAEZ, 2009).

O mercado brasileiro de agrotóxicos apresentou crescimento significativo entre 1977 e 2006, cujo consumo de agrotóxicos expandiu-se a taxas de 10% ao ano, colocando o Brasil entre os seis maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, de 1970 até 2007 (TERRA, 2008).

O termo “agrotóxicos” foi definido pela Lei Federal n.° 7 802,9 de 11/07/89, artigo 2, inciso I, regulamentada pelo Decreto no. 98, e exclui fertilizantes e químicos administrados a animais para estimular crescimento ou modificar comportamento reprodutivo (OPAS/OMS, 1997):

“Os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento” (OPAS/OMS, 1997, p.16).

O termo agrotóxico, ao invés de defensivo agrícola, passou a ser utilizado no Brasil,

para denominar os venenos agrícolas, após grande mobilização da sociedade civil organizada. Esse termo colocou em evidência a toxicidade desses produtos para o meio ambiente e a saúde humana.

O Ministério da Saúde determina a classe toxicológica dos produtos por meio de testes de laboratório, onde se consegue medir a toxicidade de um produto. No Brasil, esses parâmetros são levados em conta para a classificação de produtos fitossanitários, quanto à sua toxicidade. Por determinação legal, todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma faixa colorida, indicativa de sua classe toxicológica, conforme mostra o Quadro 1.

Classe I Extremamente tóxicos Faixa vermelha Classe II Altamente tóxicos Faixa amarela Classe III Medianamente tóxicos Faixa azul Classe IV Pouco tóxicos Faixa verde

Quadro 1. Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico. Fonte: (OPAS/OMS, 1997, p.19)

Como medida de segurança no trabalho com agrotóxicos, geralmente se recomenda

apenas o uso de EPI que controlam as exposições dérmicas e respiratórias proporcionadas por condições de trabalho específicas (OLIVEIRA; MACHADO NETO, 2005). O uso de EPI é regulamentado pela Norma Regulamentadora NR-6, de 06/07/1978, do Ministério do Trabalho e Emprego. Pela definição apresentada nessa Norma, considera-se EPI todo

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dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (MTE, 1978).

A NR-6 condiciona o uso e a comercialização de EPI à obtenção de um Certificado de Aprovação (CA) expedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego e define os procedimentos para o fabricante interessado em comercializar EPI (VEIGA et al., 2007).

Segundo Souza e Palladini (2005), o uso seguro de produtos fitossanitários começa com o uso correto dos EPI, que devem ser vestidos durante o manuseio desses produtos, visando a segurança dos trabalhadores. O uso de EPI é uma exigência da legislação brasileira e o não cumprimento dessa legislação poderá acarretar penalidades e riscos de ações trabalhistas. Por isso, a indústria informa, por meio dos rótulos, bulas e das Fichas de Informação de Segurança de Produto (FISP), quais são os EPI que devem ser utilizados para cada produto, e os responsáveis pela aplicação sempre devem ler estas informações com atenção.

A NR-6 define as competências do empregador e do empregado, no que se refere ao uso de EPI. No caso do empregador, essas competências são: (i) adquirir o EPI adequado ao risco de cada atividade; (ii) exigir seu uso; (iii) fornecer ao trabalhador somente o EPI aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; (iv) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação; (v) substituir imediatamente quando danificado ou extraviado; (vi) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e (vii) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada (VEIGA et al., 2007).

Em relação ao empregado, as competências estabelecidas pela Norma são: (i) usar o EPI apenas para a finalidade a que se destina; (ii) responsabilizar-se pela guarda e conservação; (iii) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e (iv) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. 2.2 O uso do EPI no meio rural

De acordo com Massoco et al. (2007), o meio rural no Brasil tem sofrido constantes transformações, no que diz respeito ao avanço tecnológico, que auxiliam no aumento da produtividade, minimizando perdas e maximizando os lucros. Este novo modelo de gestão agrícola vem se consolidando ano após ano e, assim, o campo já é visto como uma empresa rural, onde há necessidade de planejamento e administração, para atender requisitos de padronização e certificação em relação aos seus produtos e a seus funcionários, uma vez que, enquanto empresa, possui responsabilidades trabalhistas.

Nesse sentido, com a aprovação da Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura - NR 31 (MTE, 2005), os sindicatos, cooperativas e unidades de ensino, entre outros, têm procurado capacitar os novos empreendedores rurais para seguirem as recomendações da mesma, uma vez que os empreendedores rurais devem garantir adequadas condições de trabalho, higiene e conforto aos seus funcionários.

Segundo Adissi e Pinheiro (2005), as formas de uso dos agrotóxicos são as mais diversas, dependendo da finalidade do tratamento, da fase da cultura e do nível econômico e tecnológico da propriedade, entre outros fatores. Na pequena propriedade rural, a aplicação de agrotóxicos se dá, na maioria dos casos, com equipamento costal manual, sendo esta uma das formas de aplicação que proporciona maior risco aos trabalhadores, tanto na preparação como na aplicação propriamente dita.

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A aplicação manual de agrotóxicos é praticada em quase todas as pequenas propriedades agrícolas brasileiras que praticam agricultura tradicional. De acordo com Pinheiro e Adissi (2007), na maioria dos casos, essa aplicação ocorre sem um treinamento adequado, baseado no conhecimento empírico, e transferido de trabalhador a trabalhador, sem observar os riscos de contaminação ocupacional e ambiental da atividade. A contaminação ocupacional pelos agrotóxicos é observada tanto no processo de formulação (mistura e/ou diluição dos agrotóxicos para uso), quanto no processo de utilização.

Do ponto de vista da eficiência operacional, as aplicações de agrotóxicos são, em geral, muito deficientes, sendo pior nos casos das aplicações manuais, já que as bulas dos produtos, na maioria dos casos, não informam adequadamente suas especificidades. No momento das aplicações, a maior fonte da contaminação dos trabalhadores são os vazamentos do equipamento, além dos respingos e do contato com as partes contaminadas das plantas tratadas (ADISSI; PINHEIRO, 2005).

A utilização dos agrotóxicos no meio rural brasileiro tem trazido uma série de consequências para o ambiente e para a saúde do trabalhador. Em geral, essas consequências são condicionadas por fatores intrinsecamente relacionados, tais como o uso inadequado dessas substâncias, a alta toxicidade de certos produtos, a falta de utilização de EPI e a precariedade dos mecanismos de vigilância (OLIVEIRA-SILVA et al., 2001).

A exposição dos agricultores aos riscos de agrotóxicos tem sido uma constante em todo meio rural brasileiro, pelas formas como são utilizados estes agroquímicos. Em pesquisas desenvolvidas por Sobreira et al. (1999), ficou claro que em todas as atividades da produção agrícola em que há utilização de agrotóxicos, o trabalhador se expõe, seja de maneira direta ou indireta.

Como forma de tentar minimizar a situação, a NR-31 exige que haja uma sinalização para a área tratada. A entrada de pessoas sem o uso adequado do EPI durante o período de carência pode aumentar os riscos de intoxicação. Para que esses riscos sejam diminuídos ou eliminados deve ser respeitado o período de reentrada que está expresso na bula dos produtos.

De acordo com Recena e Caldas (2008), a exposição humana a agrotóxicos se constitui em grave problema de saúde pública em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Em 2005, 5.577 casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola foram notificados no Brasil, números que podem estar subestimados considerando-se a elevada sub-notificação desses eventos no País.

Para compreender melhor os fatores que determinam as práticas no uso de agrotóxicos, estudos têm sido conduzidos em populações rurais no Brasil e no mundo para avaliar o nível de conhecimento, as crenças e as percepções dos trabalhadores rurais sobre o risco da exposição a esses produtos. No Brasil, Peres, Rozemberg e Lucca (2005) enfatizaram a importância dos estudos de percepção de risco no processo de construção de estratégias de intervenção no meio rural, campanhas educativas e de comunicação de riscos.

Oliveira e Machado Neto (2005) avaliaram a segurança no trabalho relacionada com o uso de EPI na aplicação de agrotóxicos para a cultura da batata. Eles constataram que mesmo utilizando os EPI recomendados, os trabalhadores rurais continuavam se contaminando, uma vez que os EPI foram “erroneamente recomendados com base apenas na classe toxicológica e não na exposição ocupacional que as condições de trabalho propiciam e na sua distribuição pelo corpo do trabalhador”.

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Nesse sentido, a utilização do EPI é uma maneira de amenizar o contato direto com os agrotóxicos e é regulamentada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que estabelece o uso necessário sempre que forem identificados riscos potenciais de dano à saúde nos ambientes de trabalho. O emprego de EPI, apesar de não desejado, deve ser considerado como tecnologia de proteção disponível dentro de uma visão integrada e sistêmica de abordagem dos problemas ocupacionais.

O risco de efeitos adversos à saúde humana que são relacionados ao uso de defensivos agrícolas depende fundamentalmente do perfil toxicológico do produto, do tipo e da intensidade da exposição experimentada pelos indivíduos e da susceptibilidade da população exposta. A exposição individual torna-se menor e, consequentemente, o uso dos defensivos mais seguros, à medida que procedimentos de proteção são adotados e as regras de segurança obedecidas (ANDEF, 2003). A relação entre o risco de intoxicação, a toxicidade e a exposição está apresentada no Quadro 2.

RISCO TOXIDADE EXPOSIÇÃO alto alta alta alto baixa alta

baixo alta baixa baixo baixa baixa

Quadro 2. O risco de contaminação de um produto é maior de acordo com a exposição a este produto e nem sempre devido a toxidade do mesmo. Fonte: (ANDEF, 2003)

Segundo Gualberto et al. (1999), no meio rural, EPI são vestimentas de proteção

utilizadas para evitar a exposição excessiva dos aplicadores aos produtos fitossanitários. Entre estes equipamentos estão: (i) máscara de carvão ativado; (ii) capuz ou touca árabe; (iii) protetor facial ou viseira; (iv) avental impermeável; (v) luvas de nitrila impermeáveis; (vi) camisa e calça de tecido de algodão hidrorrepelente; e (vii) botas de borracha.

Os EPI são projetados, no caso de agrotóxicos, de forma a garantir proteção contra agentes químicos externos. Entretanto, as mesmas propriedades físicas e químicas que fornecem aos EPI essa característica de proteção também os transformam, frequentemente, em algo bastante desconfortáveis e/ou inadequados, tornando seu uso um verdadeiro incômodo.

Além disso, os EPI podem se tornar uma fonte de contaminação, criando um risco à saúde humana. Segundo Veiga et al. (2007), as falhas nos cuidados básicos de conservação e nos procedimentos de despir/vestir os colocam como prováveis fontes de contaminação do trabalhador.

Por esse motivo, existe uma grande preocupação em garantir o uso correto desses equipamentos. Os principais EPI e a maneira ideal de vestir e retirar de forma correta são (ANDEF, 2003):

• Calças e Jaleco: sobre a roupa comum, de preferência sendo esta de algodão que as torna mais confortável. O aplicador deve vestir primeiro a calça do EPI, em seguida o jaleco, certificando-se que este fique sobre a calça e perfeitamente ajustado;

• Botas: as botas devem ser impermeáveis, usando sempre meias de algodão para evitar atrito com os pés. As bocas da calçado sempre devem estar para fora do

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cano das botas, a fim de impedir o escorrimento do produto tóxico para o interior do calçado;

• Avental impermeável: deve ser utilizado na parte da frente do jaleco durante o preparo da calda e pode ser usado na parte de traz do jaleco durante as aplicações com equipamento costal. Para aplicações com equipamento costal é fundamental que o pulverizador esteja sem vazamentos;

• Respirador: deve ser colocada de forma que os dois elásticos fiquem fixados corretamente e sem dobras, um fixado na parte superior da cabeça e outro na parte inferior, na altura do pescoço, sem apertar as orelhas. O respirador deve encaixar perfeitamente na face do trabalhador, não permitindo que haja abertura para a entrada de partículas, névoas ou vapores. Para usar o respirador, o trabalhador deve estar sempre bem barbeado;

• Viseira facial: deve ser ajustada firmemente na testa, mas sem apertar a cabeça do trabalhador. A viseira deve ficar um pouco afastada do rosto para não embaçar;

• Boné árabe: deve ser colocado na cabeça sobre a viseira. O velcro do boné árabe deve ser ajustado sobre a viseira facial, assegurando que toda a face estará protegida, assim como o pescoço e a cabeça;

• Luvas: último equipamento a ser vestido, as luvas devem ser usadas de forma a evitar o contato do produto tóxico com as mãos. As luvas devem ser adquiridas de acordo com o tamanho das mãos do usuário, não podendo ser muito justas, para facilitar a colocação e a retirada, e nem muito grandes, para não atrapalhar o tato e causar acidentes. Recomenda-se sua colocação normalmente para dentro das mangas do jaleco, com exceção de quando o trabalhador pulveriza dirigindo o jato para alvos que estão acima da linha do seu ombro (para o alto). Nesse caso, as luvas devem ser usadas para fora das mangas do jaleco. O objetivo é evitar que o produto aplicado escorra para dentro das luvas e atinja as mãos.

Para a retirada dos EPI, a sequência deve ser de forma que não haja contato dos

equipamentos com o corpo do indivíduo, evitando assim, qualquer tipo de contaminação. Recomenda-se, então, a seguinte sequência:

• Boné árabe: deve-se desprender o velcro e tira-lo com cuidado; • Viseira facial: deve-se desprender o velcro de maneira a evitar arranhões; • Avental: deve ser retirado desatando-se o laço e puxando, em seguida, o velcro; • Jaleco: desamarrar o cordão e, em seguida, curvar o tronco para baixo, puxando

a parte superior (os ombros) simultaneamente, de maneira que o jaleco não seja virado do avesso e a parte contaminada atinja o rosto;

• Botas: durante a pulverização, principalmente com equipamento costal, as botas são as partes mais atingidas pela calda. Devem ser retiradas em local limpo, onde o aplicador não suje os pés;

• Calça: deve-se desamarrar o cordão e deslizar pelas pernas do aplicador sem serem viradas do avesso;

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• Luvas: deve-se puxar a ponta dos dedos das duas luvas aos poucos, de forma que elas possam ir se desprendendo simultaneamente. As luvas não devem ser viradas ao avesso, o que dificultaria o próximo uso e contaminaria a parte interna;

• Respirador: deve ser o último EPI a ser retirado, sendo guardado separado dos demais equipamentos para evitar contaminações das partes internas e dos filtros.

Após a retirada dos equipamentos, o trabalhador precisa tomar um banho com

bastante água e sabão. Além disso, o EPI deve ser lavado separadamente das roupas comuns, de preferência com sabão neutro, evitando, assim, as contaminações (ANDEF, 2003).

Na utilização do EPI, devem-se considerar as normas legais e administrativas que envolvem a seleção adequada, conforto, uso, higienização, manutenção, orientação e avaliação dessas medidas adotadas sobre os EPI, garantindo-se as condições de proteção.

2.3 Barreiras no uso do EPI Diversos problemas podem acarretar a inadequação dos EPI sob certas condições de trabalho. Algumas das características desejáveis aos EPI, e que foram projetadas para conferir maior segurança, podem introduzir dificuldades operacionais em muitas situações de trabalho, como por exemplo, maior resistência de um tecido à permeabilidade, maior resistência ao choque elétrico e maior resistência ao calor, podem estar associados a aumento de peso, menor conforto térmico e menos portabilidade dos EPI (VEIGA et al., 2007).

Os resultados encontrados por Recena et al. (2006) indicaram que o agricultor que não usa corretamente o EPI e/ou aplica o produto agrotóxico numa situação de risco reconhece sua vulnerabilidade, mas se sente resignado e impotente diante dela.

Segundo Emer et al. (2009), os produtores deixam de usar o EPI com o pretexto de que é desconfortável, muito quente e dificulta a respiração, mesmo sabendo que seu uso visa proteger a saúde. Embora esses fatores sejam limitantes ao uso de EPI, observa-se que a grande maioria dos agricultores adquire o equipamento de proteção no momento da compra dos defensivos e que está diretamente relacionado com a quantidade do produto comercializado.

Para Schmidt e Godinho (2006), as justificativas para o não uso desses equipamentos foram manifestadas em três situações distintas: (i) desprezo pelos equipamentos devido à incerteza quanto à eficácia dos mesmos; (ii) queixas de incômodos; e (iii) atropelos das atividades do dia-a-dia. Soma-se a estas questões o fator econômico.

Para Nina (2002), citado em Waichman (2008), a situação de analfabetismo ou a baixa instrução escolar, predominante entre os agricultores, torna as informações contidas nas etiquetas do produto difícil de entender, contribuindo para o escasso conhecimento sobre a periculosidade e toxicidade do produto.

Além desses aspectos, diversos autores verificaram que outros fatores contribuem para o uso incorreto de agrotóxicos, expondo os agricultores, consumidores e o ambiente ao envenenamento: (i) o custo elevado (JACOBSON et al., 2009); (ii) a inadequação do EPI para o clima tropical (COUTINHO et al., 1994; RECENA et al., 2006; VEIGA et al., 2007; EMER et al., 2009); e (iii) a falta de treinamento e de conhecimento dos perigos dos pesticidas, que contribui para uma manipulação descuidada durante preparação, aplicação e disposição das embalagens vazias (SOBREIRA; ADISSI, 2003; JACOBSON et al., 2009).

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De acordo com Coutinho et al. (1994), na agricultura brasileira, especialmente em pequenas comunidades rurais, é comum deparar-se com trabalhadores rurais sem os EPI obrigatórios durante a manipulação e a aplicação de agrotóxicos. Uma das principais razões para não se utilizar os equipamentos pode residir no fato de que muitos destes podem provocar desconforto térmico, tornando-os bastante incômodos para uso, podendo levar, em casos extremos, ao estresse térmico do trabalhador rural.

Em muitos países, a legislação da Europa já exige que sejam avaliados os riscos associados à utilização de EPI. Entre esses riscos estariam os prejuízos à saúde ocasionados pela hipertermia. Além, dos problemas para saúde humana, a falta de conforto térmico no ambiente de trabalho, provocado pelo uso dos EPI, acaba por ter efeitos, também, econômicos, uma vez que influi diretamente na produtividade e na qualidade do trabalho realizado (CROCKFORD, 1999, citado em VEIGA et al., 2007).

Em um estudo realizado em Santa Maria de Jetibá (ES) com o objetivo de investigar os principais fatores de exposição aos agrotóxicos, Jacobson et al. (2009) verificaram que 60% das 151 famílias declararam não utilizar EPI e apenas 16% utilizavam o EPI completo. Dentre os motivos para a não utilização da proteção, as principais justificativas foram a falta de recurso financeiro para comprar o equipamento e o incômodo que o equipamento proporciona.

Os autores verificaram, ainda, na comunidade entrevistada, que o grau de escolaridade e a renda são alguns dos determinantes para o aceite sobre o uso do EPI. O desconforto causado pelo EPI apontado pelos agricultores do Alto Santa Maria também foi destacado.

Para Recena e Caldas (2008), muitos agricultores não usam luvas, máscaras ou roupas impermeáveis, embora conheçam esses equipamentos e considerem que deveriam usá-los. A justificativa mais comum para esse procedimento foi o desleixo com relação a esses aspectos.

A falta de informação se constitui em outro problema relacionado ao uso dos EPI. Para Jacobson et al. (2009), os fatores responsáveis pela contaminação por agrotóxicos se devem, em grande parte, pela inexistência de aconselhamento técnico adequado dos órgãos responsáveis pela indicação agronômica, além da falta de fiscalização e aplicabilidade das leis, da base educacional e das campanhas de esclarecimento em relação aos riscos da exposição aos agrotóxicos. Por esse motivo, os autores ressaltaram a necessidade de campanhas direcionadas para a educação ambiental da população de estudo, com ênfase no risco de intoxicação devido ao uso inadequado dos agrotóxicos e da proximidade das moradias das áreas de cultivo.

Sobreira e Adissi (2003) discutiram de forma crítica sobre a relação entre a falta de informação dos agricultores e as contaminações ocupacionais e ambientais. Os autores afirmam que a sociedade, diante das ocorrências das intoxicações ocupacionais e contaminações ambientais, apontam o trabalhador como o responsável pelos riscos e impactos ocorridos devido à sua falta de formação técnica adequada. De fato, existe uma desinformação bastante acentuada, principalmente em função da omissão dos fabricantes, que, em seus esforços de venda, dão ênfase apenas aos resultados agronômicos e não acentuam as demais consequências do uso destas substâncias.

Os autores consideraram que, quando se confrontam as indicações técnicas contidas nos rótulos dos produtos com a realidade do trabalho agrícola a que se destinam, observam-se grandes incompatibilidades que vão desde uma linguagem que pressupõe uma

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formação técnica inexistente entre os agricultores até prescrições operacionais impossíveis de serem realizadas. 2.4 As empresas e o uso do EPI

Segundo Terra e Pelaez (2009), as empresas fabricantes de agrotóxicos podem ser classificadas em dois tipos: (i) integradas e (ii) especializadas. As empresas integradas são subsidiárias dos grandes grupos da indústria química que apresentam um grande dinamismo tecnológico, posicionando-se como líderes nos respectivos segmentos de mercado em que atuam. O termo “integradas” refere-se ao fato de atuarem em todas as etapas da produção de agrotóxicos, desde a pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas químicas, até a distribuição e comercialização de produtos (técnicos e formulados).

As empresas especializadas concentram-se na fabricação de produtos técnicos cuja validade das patentes tenha vencido (produtos equivalentes) e também de produtos formulados. No segmento dos produtos equivalentes, as empresas especializadas concorrem diretamente com as “integradas”, que também atuam na comercialização de seus produtos (cuja patente tenha expirado). Segundo a ANDEF (2003), a indústria de produtos fitossanitários incentiva seus canais de distribuição a comercializarem EPI de qualidade e a custos compatíveis. Entretanto, o simples fornecimento dos equipamentos não garante a proteção da saúde do trabalhador e nem evita contaminações. Quando incorretamente utilizados, os EPI podem comprometer ainda mais a segurança do trabalhador.

Por esse motivo, o desenvolvimento da percepção do risco, aliado a um conjunto de informações e regras básicas de segurança, são importantes ferramentas para evitar a exposição e assegurar o sucesso das medidas individuais de proteção à saúde do trabalhador.

Assim, o uso correto dos EPI é um tema que vem evoluindo rapidamente e exige a reciclagem contínua dos profissionais que atuam na área de ciências agrárias por meio de treinamentos e do acesso a informações atualizadas. Bem informado, o profissional de ciência agrária poderá adotar medidas cada vez mais econômicas e eficazes para proteger a saúde dos trabalhadores, alem de evitar problemas trabalhistas (ANDEF, 2003).

Para Seifert e Santiago (2009), é importante educar, treinar e dar condições de trabalho adequadas, como medida de prevenção de acidentes e doenças no trabalho agropecuário. As Universidades, Colégios Técnicos Profissionalizantes, órgãos dos governos federais, estaduais e municipais, além das entidades ligadas à agropecuária, podem e devem realizar ações de apoio aos produtores rurais e seus empregados, com relação à segurança no trabalho rural.

Os impactos dos agrotóxicos sobre o meio ambiente e a saúde humana tornaram-se cada vez mais uma preocupação das autoridades públicas, principalmente após o uso intensivo entre as décadas de 1940 e 1950. Desde então, as legislações voltadas ao controle da produção, da comercialização e do manuseio de agrotóxicos, têm se tornado cada vez mais rigorosas, implicando, sobretudo, em custos adicionais para o desenvolvimento e para a introdução de novos produtos no mercado (BULL; HATHAWAY, 1986, citados em TERRA, 2008).

A existência de regulamentações sobre o desenvolvimento, produção, comercialização e uso dos agrotóxicos, visa minimizar os riscos e os impactos de sua

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utilização, influenciando diretamente as estratégias de concorrência das empresas, que estão limitadas por essa regulamentação existente.

Segundo Recena e Caldas (2008), no Brasil, as empresas de agrotóxicos são responsáveis pela destinação das embalagens vazias após a sua devolução pelo usuário, que deve encaminhá-las aos estabelecimentos comerciais onde foram adquiridos ou a postos de recebimentos credenciados.

A ausência de informações sobre saúde e segurança, que sejam de fácil apropriação para os trabalhadores rurais, além da precariedade dos mecanismos de vigilância, agrava o quadro de consequências, tanto para o ambiente como para a saúde do trabalhador rural (PERES et al., 2005).

Em um estudo realizado em Culturama, MS, para avaliar a percepção de risco, as práticas e as atitudes no uso de agrotóxicos por agricultores, Recena e Caldas (2008) verificaram que 74,1% dos agricultores recebem informações sobre agrotóxicos dos revendedores do produto e apenas 11,5% nunca receberam qualquer tipo de orientação externa. Os demais receberam informações de programas do governo ou tiveram outros agricultores como fonte de informação. Entretanto, as informações veiculadas pelos revendedores restringiam-se a aspectos técnicos sobre dosagem dos produtos e pragas que atacam as plantações.

A ausência de informação quanto aos aspectos de segurança no manuseio dos agrotóxicos também foi encontrada por Peres et al. (2001), em estudo realizado acerca da relação entre revendedores e uma população agrícola no estado do Rio de Janeiro.

Recena e Caldas (2008) identificaram, ainda, que programas de rádio ou televisão e o material impresso (principalmente os fornecidos pelos revendedores) são a fonte de informação mais aproximadamente metade dos agricultores pesquisados.

A utilização ineficiente dos EPI representa grande perigo à saúde do aplicador, causando elevação significativa no número de intoxicações. Nesse sentido, deve-se enfatizar que o uso de EPI é um ponto de segurança do trabalho que requer ação técnica, educacional e psicológica para a sua aplicação (AGOSTINETTO et al., 1998, citado em MONQUERO et al. 2009).

Para Monquero et al. (2009), existe uma série de problemas relacionados à utilização de EPI padrão, sendo necessário esclarecimentos por meio de cursos, buscando a conscientização em relação ao risco de exposição de pessoas e animais aos agrotóxicos e seus efeitos no ambiente, medidas que poderiam ser adotadas por órgãos governamentais, empresas produtoras de agrotóxicos e a sociedade em geral, em busca da redução dos impactos causados ao meio ambiente e à saúde humana.

Para Andrade e Tachizawa (2009), as ações de sustentabilidade promovidas pelas empresas ganham importância como instrumento de gestão para evitar riscos de perdas econômicas e sinistros de sustentabilidade empresarial, devido aos eventos socioambientais negativos ocorridos em consagradas organizações. Nesse novo cenário, as organizações de grande porte têm expectativas de interagir com empresas fornecedoras que sejam éticas, que tenham boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma sustentável.

Dessa forma, destaca-se a questão socioambiental, que enfatiza o compromisso dos gestores junto aos seus diferentes públicos, como instrumento de gestão. Um importante trabalho realizado atualmente pelas empresas fabricantes de defensivos agrícolas são os projetos socioambientais que objetivam disseminar a importância do uso dos EPI.

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Há mais de três décadas as indústrias de defensivos agrícolas já desenvolviam, sob a liderança da ANDEF, vários programas de educação e treinamento. As indústrias do setor, por meio do aporte de recursos e do conhecimento técnico-científico de seus profissionais, têm investido fortemente em treinamento, assistência técnica, extensão rural e conscientização socioambiental dos agricultores e trabalhadores do campo (ANDEF EDUCAÇÃO, 2010).

3. MÉTODO DE PESQUISA

O presente trabalho visa analisar as ações realizadas pelas empresas produtoras de

defensivos agrícolas para fomentar o uso dos EPI, visando a capacitação e conscientização dos empregadores e seus funcionários quanto ao uso com a finalidade de evitar acidentes.

O objetivo do estudo e sua abrangência possibilitam definir a pesquisa como exploratória, permitindo utilizar no desenvolvimento desse trabalho, uma abordagem qualitativa, procedimento metodológico que abriga várias técnicas que procuram descrever e traduzir a questão principal, promovendo o entendimento do problema.

A pesquisa exploratória visa proporcionar ao pesquisador uma maior familiaridade com o problema em estudo, tendo como meta tornar um problema complexo mais explícito ou mesmo construir hipóteses mais adequadas. De acordo com Malhotra (2001), o objetivo principal da pesquisa exploratória é possibilitar a compreensão do problema enfrentado pelo pesquisador.

Foi realizada uma revisão de literatura, utilizando-se livros, artigos acadêmicos e sites na internet, buscando uma maior compreensão sobre o tema. Foram definidas, com base no faturamento, as três maiores empresas multinacionais de defensivos agrícolas para serem analisadas, verificando a existência de programas realizados, possibilitando uma discussão sobre a importância de um programa de treinamento que aborde a obrigação legal do empregado e do empregador, a finalidade e os tipos de EPI, e a maneira correta de utilizá-los.

Essa análise incluiu o levantamento das informações disponibilizadas nos sites oficiais de cada empresa e os advindos de outras fontes. A partir dessas verificações, foram analisadas e comparadas as ações, possibilitando a intensificação dos programas de treinamento e conscientização que fomentam o uso do EPI. 4. RESULTADOS

Essa seção apresenta os projetos implantados por três empresas multinacionais do ramo: Syngenta, Bayer e Basf, que possuíam, em 2006, 17,6%, 13,7% e 11,2% de market-share do faturamento, respectivamente (TERRA; PELAEZ, 2009). Esses projetos têm, como objetivo, prevenir o trabalhador do campo contra intoxicações e acidentes que podem colocar sua vida em risco durante o manuseio de defensivos agrícolas.

Os resultados foram obtidos a partir de material disponibilizado nos sites de cada empresa, uma vez que não os responsáveis pelas respectivas áreas não retornaram o contato realizado pelo pesquisador. As informações foram agrupadas por empresa, a fim de destacar cada um dos projetos e, no final, foram comparadas.

O trabalho desenvolvido pelas empresas mostra que a responsabilidade social e ambiental ultrapassa a venda dos produtos, estando presente em todas as etapas, desde o

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receituário, no manejo integrado dos produtos, nos métodos de cultivo, no controle de resíduos, recolhimento e processamento de embalagens (DEFESA VEGETAL, 2007).

Os profissionais das indústrias, em parceria com Universidades, Institutos de Pesquisa, sindicatos rurais e cooperativas e entidades do agronegócio, desenvolvem inúmeros cursos, seminários, dias de campo, treinamento técnico e palestras; dentre os temas, estão o melhor conhecimento das tecnologias de aplicação, as boas práticas agrícolas e a importância do uso de EPI (ANDEF EDUCAÇÃO, 2010).

4.1 Syngenta Brasil

Atualmente, a Syngenta está presente em 90 países e emprega cerca de 20 mil funcionários. No Brasil, sua atuação se iniciou há aproximadamente 10 anos, em fevereiro de 2001, utilizando-se da alta tecnologia para oferecer produtos que atendam às necessidades das mais diversas culturas agrícolas, sempre com especial atenção e respeito ao meio ambiente.

Desde sua implantação, a Syngenta disponibilizou ao produtor agrícola sementes de alta tecnologia e produtos para proteção de cultivos que buscam o aumento da produtividade e da qualidade das lavouras nacionais. Oferece, ainda, soluções para o controle de pestes (raticidas, inseticidas, larvicidas, entre outros), em sua linha de produtos profissionais, privilegiando produtos de baixo risco toxicológico para seres humanos e animais domésticos.

A empresa possui profissionais qualificados, que atuam nas principais regiões agrícolas do Brasil para atender desde o pequeno agricultor até o grande produtor. No país, possui fábrica, estações experimentais, laboratórios e unidades de processamento e sementes, além de centros de pesquisa. A estrutura de distribuição da empresa inclui uma extensa rede formada por cooperativas e revendas, atendidas por quatro filiais e pelo escritório central, localizado em São Paulo.

No ramo de defensivos agrícolas no Brasil, a Empresa apresenta o “Projeto EPI”, que consiste em estabelecer cotas para os distribuidores de produtos Syngenta, tanto Revendas quanto as Cooperativas, conseguindo distribuir, sem fins lucrativos, 50 mil conjuntos de EPI por ano. Para a empresa, a utilização dos EPI é a única forma que o trabalhador do campo tem para se prevenir contra intoxicações e acidentes que podem colocar sua vida em risco. Para colaborar com a ampliação do acesso a esses materiais, em 1989 a Syngenta decidiu investir no desenvolvimento desse tipo de equipamento e viabilizou o projeto por meio de parceria com fabricantes brasileiros de EPI. Desde que passou a investir nessa área, a empresa foi a pioneira na elaboração do “EPI Tropical de Algodão”, ideal para climas quentes, que se tornou padrão no mercado brasileiro. Essa tecnologia foi desenvolvida pela empresa e, posteriormente disponibilizada para os fabricantes interessados em produzir os equipamentos. Atualmente, esses parceiros trabalham na adaptação do equipamento a diferentes culturas, como tomate, batata e cana-de-açúcar. A tecnologia em segurança do trabalhador rural desenvolvida pela Syngenta no Brasil agora está sendo levada para países da América Latina, da Ásia e da Europa.

Desde 2007, a equipe de campo da Syngenta, em parceria com os fabricantes de EPI, realizou 62 treinamentos destinados a cerca de 1.600 agricultores e técnicos sobre a importância do uso dos equipamentos. 4.2 BASF S.A.

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A BASF é uma empresa de origem alemã, com sede em Ludwigshafen, e foi fundada em 1865. Suas unidades de produção, distribuídas em 39 países, conduzem negócios com clientes em mais de 170 nações e contribuem para os segmentos de produtos para agricultura e nutrição, químicos, produtos de performance, plásticos e petróleo e gás.

A BASF iniciou suas atividades na América do Sul em 1911, com um escritório de representação comercial estabelecido no Rio de Janeiro, comercializando anilina, alizarina e anil para a indústria brasileira de produtos têxteis e de couro. Em agosto de 1955, estabeleceu uma unidade de produção própria no Brasil na cidade de Guaratinguetá-SP, pela localização entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, inaugurando sua primeira unidade fabril, com 95 colaboradores dedicados à produção de inorgânicos, plásticos, monômeros, polímeros e Styropor®.

No Brasil, a BASF possui, atualmente, centros de produção em Camaçari-BA, Guaratinguetá-SP, Jaboatão-PE, Mauá-SP e São Bernardo do Campo-SP. O portifólio da empresa abrange desde tintas e vernizes, produtos químicos, plásticos, produtos de performance, para agricultura e química fina (humana e animal), até óleo crú e gás natural.

No ramo agrícola, a BASF também tem o objetivo de orientar o agricultor sobre a necessidade do uso do EPI. A BASF possui uma ampla Política de Responsabilidade Social, que desenvolve uma série de iniciativas que visam a melhoria do aspecto social, principalmente das comunidades onde tem atuação direta. O “Programa EPI”, lançado em 1999, cujo principal objetivo é estimular a segurança do trabalhador rural, é uma dessas iniciativas, que tem atuação nacional e está levando aos agricultores das mais diversas regiões do país, informações técnicas que reforçam a necessidade do uso correto dos EPI.

Por meio de uma parceria com seus fornecedores e transportadores, a BASF mantém disponíveis, em sua rede de distribuição, os EPI, como parte do programa. A empresa estimula seus canais de comercialização a venderem os EPI a preços de custo para os agricultores (sem margem de lucro) e desenvolve ações para incentivar a comercialização dos kits durante as vendas de defensivos.

Em 2003, o investimento da BASF em programas de segurança totalizou R$ 3 milhões e foi focado em iniciativas de conscientização sobre a importância da segurança no campo e também da preservação ambiental.

As equipes de campo da BASF, juntamente com seus canais de distribuição estimulam continuamente o uso correto dos EPI por meio de dias de campo, palestras e treinamentos, ocasião em que divulga a legislação e orientam agricultores e trabalhadores rurais sobre a importância do uso do EPI durante a aplicação dos produtos fitossanitários. Os EPI fornecidos pela Basf são adequados ao clima brasileiro, proporcionando segurança e mais conforto ao aplicador.

Os EPI produzidos pela Azeredo EPI (que produz para a Basf), apresentam o selo de qualidade QUEPIA (Qualidade em Equipamentos de Proteção Individual na Agricultura), lançado em maio de 2006 pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) com o apoio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Entre 1999 e 2006 o Programa EPI da BASF comercializou mais de 262 mil kits e, em 2006, cerca de 40 mil. Aproximadamente 76,4% dos Representantes Técnicos de Vendas (RTV) da BASF comercializaram EPI para mais de 430 clientes.

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A estimativa é de que aproximadamente 110 mil pessoas tenham recebido mensagens ou sido treinadas sobre o programa da BASF. Esses resultados conquistados pela BASF têm estimulado outras empresas do setor a desenvolverem ações semelhantes, desencadeando uma sinergia que está fortalecendo e acelerando a melhoria dos níveis de segurança na aplicação de produtos fitossanitários. 4.3 Bayer CropScience Ltda.

Fundado em 1863 na Alemanha, o Grupo Bayer consolidou-se como uma das mais importantes e respeitadas indústrias internacionais, oferecendo ao mercado uma ampla gama de produtos e serviços que abrangem os campos da saúde, agricultura e materiais inovadores. Presente no Brasil desde 1896, quando foi fundada a primeira representante dos produtos Bayer no país, a Walty Lindt & Cia.

A primeira firma de representação comercial própria da Bayer foi fundada em fevereiro de 1911. Em 1921 foi fundada a Química Industrial Bayer Weskott & Cia., que, além de importar e comercializar os produtos da Bayer alemã, iniciou a produção local de medicamentos, alavancada por Aspirina® e CafiAspirina®.

Somente após a 2ª Guerra Mundial a Bayer voltou a investir no Brasil. Em 1956, adquiriu uma antiga fábrica de ácidos, instalada no distrito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, RJ. Inaugurada em 1958, deu origem ao moderno Parque Industrial da Bayer de hoje, ocupando 1,9 milhão de m2. Nesse mesmo ano, a Bayer se instalou em São Paulo, para onde transferiu sua sede administrativa em 1973.

Em 1992, depois de várias mudanças, o nome da Empresa passou para Bayer S.A. Na cidade de São Paulo, em 1999, foi inaugurada uma nova fábrica de produtos farmacêuticos, com investimentos na ordem de US$ 25 milhões, trazendo modernas tecnologias e equipamentos, para atender às exigências internacionais de “Boas Práticas de Produção”, com capacidade para abastecer todo o Mercosul.

Em 2002, o Grupo Bayer iniciou a maior reestruturação mundial de sua história, criando uma holding estratégica que controla quatro empresas comerciais: Bayer HealthCare, Bayer CropScience, Bayer Chemicals e Bayer Polymers. No Brasil, a Companhia passou a ser formada por apenas três empresas comerciais: Bayer S.A., Bayer CropScience Ltda. e Bayer Seeds Ltda.

Com o objetivo de fortalecer ainda mais sua imagem e presença no Brasil, no início de 2007, o Grupo Bayer concluiu a incorporação da Bayer S.A. pela Bayer CropScience e, atualmente, atua apenas com uma única empresa legal no País: a Bayer S.A.. No Ramo de defensivos agrícolas, a Bayer CropScience também apresenta uma política visando a conscientização quanto ao uso do EPI, que visa minimizar riscos potenciais, por meio da difusão e da conscientização sobre a forma correta e segura de aplicação de produtos fitossanitários. Para isso, a empresa tem colocado em prática ações para auxiliar agricultores e as pessoas envolvidas com a aplicação de produtos na execução dessa tarefa de modo adequado e seguro.

Além de seguir à risca a legislação vigente, a Bayer possui uma política mundial específica sobre segurança na aplicação de produtos. O documento “Política de Gerenciamento de Produto e Princípios Básicos”, produzido em 2004, tem como objetivo principal a orientação dos colaboradores da empresa quanto à “segurança de produto” durante todo seu ciclo de vida.

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Este documento, que tem como base o código de conduta internacional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre distribuição e uso de defensivos agrícolas, é composto por 10 itens sobre segurança que auxiliam no acompanhamento e, principalmente, na utilização responsável dos produtos da empresa nos diversos cultivos agrícolas brasileiros.

Estes itens são: (i) teste de produtos; (ii) rótulos/bulas de produtos comerciais; (iii) técnicas de formulação e ou aplicação; (iv) treinamento; (v) ficha de informação de segurança de produtos químicos; (vi) produção embalagem, transporte, armazenamento e destinação adequada de embalagens vazias e produtos obsoletos; (vii) comunicação da marca; (viii) parceiros de negócio; (ix) usos não autorizados; e (x) prevenção e investigação de incidente externo.

Com base nesse conhecimento e, principalmente, na responsabilidade, a que a empresa orienta seus clientes e distribuidores, realizando treinamentos, campanhas e ações educativas. Dessa forma, a Bayer CropScience fortalece o entendimento sobre as boas práticas agrícolas e, principalmente, auxilia na conscientização de todos aqueles que manuseiam e aplicam seus produtos. 4.4 Comparação dos programas O Quadro 3 apresenta os programas de fomento ao uso do EPI de cada uma das três empresas analisadas, na tentativa de compará-los. Característica do programa Syngenta Basf Bayer

Início 1989 1999 2004

País de origem Suíça Alemanha Alemanha

Market share do faturamento (em 2006)

17,6% 11,2% 13,7%

Abrangência do programa

Mundial Nacional Mundial

Ações realizadas

Estabelece cotas de EPI para os parceiros comerciais

Dissemina a tecnologia do

EPI brasileiro para a América Latina, Europa e Ásia

Subsidia o preço do EPI

Divulga a legislação em vigor em suas palestras

Segue a risca a legislação vigente

Segue o código de

conduta internacional da FAO

Parcerias Tem parcerias com

fabricantes brasileiros de EPI

Parcerias com representantes comercias para distribuição de EPI

ao agricultor;

Parceria com fabricantes de EPI e institutos de pesquisas para produzir

produtos com selo de qualidade

---

Diferencial Elaborou o modelo de EPI

para o clima brasileiro

Desenvolve iniciativas que visam melhorar o aspecto social das

comunidades onde atua diretamente

Possui uma política mundial específica sobre segurança na

aplicação de produtos

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Treinamentos Realiza treinamento constante

para agricultores e técnicos Realiza treinamento constante para

agricultores e técnicos

Realiza treinamentos, campanhas e ações

educativas

Quadro 3. Comparação das ações das empresas em relação ao uso do EPI. Fonte: Dados da pesquisa.

Dos três programas apresentados, o da Bayer foi o que menos informações estavam

disponíveis, prejudicando, de certa forma, a comparação entre eles. O fato desse programa ter sido iniciado mais recentemente que os demais pode ter contribuído para a menor quantidade de informações disponível.

O programa da Syngenta parece ser mais organizado e avançado, com equipamentos adaptados ao clima brasileiro e tecnologia disponível para adaptação às mais diversas culturas. Acredita-se que o maior tempo desde sua implantação, além da abrangência mundial do programa, possa colaborar para seu desenvolvimento mais rápido e eficiente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo com os projetos realizados pelas três maiores empresas multinacionais do

ramo, observou-se que ainda é grande o número de produtores e trabalhadores rurais que deixam de utilizar EPI, ficando expostos aos perigos que os agrotóxicos proporcionam à saúde dos mesmos. A falta de informação que ainda existe, principalmente em regiões menos favorecidas e entre os agricultores de menor porte, leva ao não uso e, consequentemente, a intoxicações crônicas que tendem a diminuir a qualidade de vida do trabalhador.

Outro importante fator a ser destacado diz respeito à conscientização por parte do empregador. Muitas vezes, são eles não distribuem aos seus funcionários os EPI necessários à atividade, e quando distribuem não orientam sobre a necessidade do uso e as consequências que o não uso pode causar, tanto para a saúde do funcionário como penalidades trabalhistas, como a demissão por justa causa.

A fiscalização por parte dos órgãos públicos é deficitária, provavelmente por falta de efetivo e pelas dimensões geográficas brasileiras. Sendo assim, percebe-se que muito pode ser feito para evitar acidentes de trabalho com agrotóxicos no meio rural e, com isso, melhorar a vida do trabalhador e de sua família.

Nesse sentido, conclui-se que os programas implementados pelas empresas analisadas têm, por enquanto, procurado suprir as deficiências encontradas no âmbito da atividade rural, amenizando a situação. As diferenças entre os programas são pequenas, com destaque para aqueles que estão há mais tempo em execução, não se constituindo, no entanto, em um diferencial na escolha de marca a ser utilizada.

Ressalta-se a dificuldade em encontrar informações sobre os programas desenvolvidos pelas empresas, como recursos investidos e resultados alcançados, por exemplo, foi limitante ao estudo. Também não foi possível entrevistar os responsáveis pelos programas desenvolvidos nessas empresas, sendo necessário recorrer aos dados secundários disponíveis para elencar os programas disponibilizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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