Andancas Livro 2 - Entrelinhas Editora1).pdf · Walt Whitman Trecho do poema “Canção da Estrada Aberta”, no livro Folhas de Relva Para Aíssa, Pedro, Gabriela e Helena, pelo

  • Upload
    vanlien

  • View
    245

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

AndancasReportagens pelos confins de Mato Grosso

Apoio Institucional

Rodrigo Vargas TEXTOS

Jos Medeiros FOTOS

Entrelinhas Editora. 2017.

Editora

Maria Teresa Carrin Carracedo

Projeto grfico Maria Teresa Carrin Carracedo

Helton Bastos

Diagramao | Tratamento de imagens Maike Vanni

Produo grfica Ricardo Miguel Carrin Carracedo

Reviso Marinaldo Custdio

Av. Senador Metelo, 3773 Jardim Cuiab CEP 78030-005 Cuiab MT Brasil (65) 3624 5294 e-mail: [email protected] www.entrelinhaseditora.com.br

Vargas, Rodrigo Andanas : reportagens pelos confins de Mato Grosso / Rodrigo Vargas, textos ; Jos Medeiros, fotos. -- Cuiab, MT : Entrelinhas, 2017.

ISBN: 978-85-7992-101-8

1. Histrias de vida 2. Mato Grosso - Descrio 3.Mato Grosso - Fotografias 4. Mato Grosso - Histria 5.Reprteres e reportagens I. Medeiros, Jos. II. Ttulo.

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edio pode ser reproduzida ou utilizada em qualquer meio ou forma, seja mecnico ou eletrnico, fotocpia,

gravao, etc. nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem expressa autorizao da editora.

ndices para catlogo sistemtico:1. Mato Grosso : Reportagens : Jornalismo 070.43

17-02527 CDD-070.43

Andanas: reportagens pelos confins de Mato Grosso 5

Quem quer que sejais, vinde viajar comigo!Em viagem comigo encontrarei o que no cansa nunca.

A terra no cansa nunca,a terra rude, quieta, a princpio incompreensvel,

a Natureza rude e a princpio incompreensvel,no percais a coragem, continuai, existem coisas divinas

bem escondidas,eu vos juro que existem coisas divinas mais belas

do que possam as palavras dizer.

Walt Whitman Trecho do poema Cano da Estrada Aberta,

no livro Folhas de Relva

ParaAssa, Pedro, Gabriela

e Helena, pelo amor, compreenso e apoio

nestes 20 anos de estrada.E a Joo Henrique e

Alice Vargas, por tudo o que sou.

Rodrigo Vargas

Paraa primeira grande inspirao da minha vida, a pessoa que me mostrou uma forma diferente de observar. A ela dedico este livro: Joanice Pierini.

Jos Medeiros

6 Andanas: reportagens pelos confins de Mato Grosso6 Andanas: reportagens pelos confins de Mato Grosso

A esfinge Mato Grosso

Mato Grosso respira histrias, as do passado e as do presente, que con-vergem para um mesmo tempo, muitas vezes com grandes desentendi-mentos. uma terra em constante mutao, uma disputa febril por territrios: o fsico e o da imaginao. As razes de seus problemas so to profundas e sua rica cultura, que indgena, negra e branca ao mesmo tempo, to diversa e vibrante que no sabemos dizer ao certo, imersos no ambiente contraditrio, onde acaba a dor e comea a alegria. Tudo bonito e tudo terrvel ao mesmo tempo. Vemos o homem se movimentando de modo ferico: os garimpeiros destruindo as matas movidos por um pedao de minrio, os madeireiros devas-tando a fl oresta com suas mquinas barulhentas, os ndios tentando sobreviver da melhor forma possvel, a populao urbana procurando encontrar seu lugar no mundo, os polticos fazendo suas politicagens. Mato Grosso um Brasil em miniatura, ali se encontra tudo de mais alto e tudo de mais baixo que um brasileiro pode produzir. Todo lado fornece luz, revelao, conhecimento. Quando compreendi isso, eu fi quei maravilhado. O que mais um reprter pode querer para sua profi sso?

Quando estive pela primeira em Cuiab, h mais de 20 anos, para uma curta e inesquecvel passagem de dois anos e meio, eu havia morado em dois lugares muito diferentes. No Paran, onde nasci, o quadro econmico-social, em especial do ponto de vista da diviso das terras, menos atritado, ou pelo menos assim que se percebe na superfcie. A maioria dos ndios j foi des-terrada, lesionada, encurralada e quase aniquilada. Os pequenos proprietrios rurais j no disputam suas propriedades sob a mira das armas e j no so atacados por quadrilhas de grileiros, assaltantes de terras. Em Mato Grosso do Sul, onde passei a juventude e parte da fase adulta, as vias de acesso entre os municpios no so problemticas, a extensa malha viria razoavelmente bem construda e permite uma conexo mais imediata entre campo e cidade. um Estado pequeno para os padres brasileiros. Basta dizer que Mato Grosso tem nada menos do que quase trs vezes a dimenso do vizinho.

Rubens Valente*

* Jornalista desde 1989, reprter da Folha de S. Paulo em Braslia e trabalhou no Dirio de Cuiab e na Folha do Estado nos anos 1990. Autor de Operao Banqueiro (Gerao Editorial, 2014) e Os fuzis e as fl echas Histria de sangue e resistncia indgena na ditadura (Companhia das Letras, 2017).

Em Mato Grosso, tudo diferente. Imenso, difcil de ser explorado, com muitas reas de mata virgem, estradas intransitveis, regies alagadas do Pantanal. As distncias so longas, acidentadas. O primeiro desafio para o jornalista logstico, conseguir chegar aos lugares que guardam as histrias que s so conhecidas aos poucos. A disputa pela terra, muitas vezes violenta, um tema recorrente em vrios cantos do Estado. A atividade garimpeira no apenas uma foto escurecida do passado, ela segue como alimento real da economia, ainda que em menor escala. A maioria dos indgenas ainda forma grandes grupos coesos que vivem segundo as tradies de seus antepassados. Para mim foi um choque inteiramente positivo verificar que os nambikwara, da terra indgena Sarar em Pontes e Lacerda, at meados dos anos 90 viviam de forma muito parecida com a de seus antepassados, nus, vivendo da caa e mal falando o portugus.

Mato Grosso terra a ser descoberta a cada dia. Para os jornalistas, um desafio sempre renovado. Se, como diz o ditado, o Brasil no para amadores, Mato Grosso para veteranos com ps-graduao. No basta apenas chegar at a esfinge, preciso saber as respostas certas para no ser devorado. Res-postas para as quais necessrio formular as perguntas certas. Nesse sentido, poucos jornalistas hoje em atividade no Brasil conhecem tanto os desvos de Mato Grosso, e deles sabem extrair suas histrias mais guardadas, quanto Rodrigo Vargas e Jos Medeiros, que nos brindam com este formidvel livro. O umutina Jul Par e os ltimos seringueiros, a Doninha do Tanque Novo e as missionrias da congregao das Irmzinhas de Jesus, todos so pontos que se ligam nesse emaranhado de realidades encobertas, poticas, um tanto trgicas e outro tanto otimistas. Em uma reportagem de primeira grandeza, Medeiros e Vargas descem aos confins de Mato Grosso para revelar ao leitor o corao do Brasil.

Pelas entranhas

Por um tempo, enquanto trabalharam juntos no jornal Dirio de Cuiab, Rodrigo Vargas e Jos Medeiros formaram uma das mais inspiradas e talentosas duplas de jornalistas de que se tem notcia em Mato Grosso.

Sinto-me orgulhoso de ter feito parte, ainda que indiretamente, desta his-tria. Por dessas sortes que a vida nos reserva, coube a mim, como responsvel pelo Caderno de Cidades, editar as reportagens que hoje compem este livro.

Nada que exigisse muito esforo, tal a qualidade do material que os dois me traziam ao fim de longas e extenuantes incurses pelas entranhas de Mato Grosso. Mas era um deleite poder apreciar, em primeira mo, textos to pri-morosos e imagens to impactantes.

Neste livro, h uma antologia de reportagens de Vargas e Medeiros que nos ajudam a compreender um pouco mais do Mato Grosso que nem o Mato Grosso conhece. Dos seringueiros do Guariba-Roosevelt aos japoneses do rio Ferro, h aqui um mundo de pequenas grandes histrias.

Rodrigo Vargas um jornalista que trata a palavra como uma joia manu-faturada, uma pea de artesanato. incansvel na arte de esmerar frases. Seu texto alia erudio e fluidez, contedo e clareza, sensibilidade e preciso.

primeira vista, Medeiros nos lembra um selvagem. Parece clicar a mquina como quem aperta um gatilho. Mas esta apenas uma impresso inicial.

Quem o conhece e eu o conheo bem sabe que antes do espocar do flash, Medeiros j auscultou a alma de seu objeto, j assinou com ele um pacto de cumplicidade, destes capazes de extrair, de um olhar, toda uma vida.

Uma importante parte da histria da imprensa brasileira foi escrita por memorveis duplas de jornalistas invariavelmente, reprter e reprter-foto-grfico. Foi graas a grandes duplas que a revista O Cruzeiro alcanou tiragens at ento inimaginveis em um Brasil semianalfabeto nos anos 50 do sculo XX.

E elas, as duplas, s funcionam se houver simetria de pensamentos e sensi-bilidades, como a que une os dois profissionais que assinam este livro. O que Vargas descreve em palavras Medeiros eterniza em imagens.

Podemos dizer, sim, que temos aqui em Mato Grosso uma grande dupla de reprteres, destas que, mais do que reportagens, deixam uma obra. E esta obra que os convido a ler.

Anselmo Carvalho Pinto*

* Jornalista em Mato Grosso desde 1996. Foi reprter e editor dos jornais Dirio de Cuiab e A Gazeta, alm de correspondente freelancer do jornal O Globo. Atualmente editor--executivo do site Midianews.