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    54  Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel

    ._

    l J J ~ I J ? ~ R . ~  

     

    CONCEITOS

    DE

    L TERATURA

    E TEORIA

    L TERARIA

    -

    E HISTORIA

    TEORIA CRiTICA

    Nesta Unidade vamos

    tent r

    conceituar alguns termos largam ente

    utilizados nos estudos de Iiteratura

    que

    voce, certamente, ja ouviu falar:

    as

    nocoes

    de teoria, crftica e hist6ria

    literarias.

    Mas, antes de buscarmos

    uma definicao particular para cada uma delas, e preciso nao esquecer

    que

    0

    usa mais apropriado

    que

    podemos fazer dessas

    nocoes

    surge

    quando as colocamos para atuar em em conjunto, formando,

    assirn,

    um

    corpo de instrumentos conceituais fundamental para uma leitura mais

    rica e integrada dos textos

    literarios.

    Entretanto,

    0

    fato de funcionarem

    dequ d mente

    numa

    tu c o

    conjunta nao implica que tenh am perdido sua autonomia como categorias

    da

    experiencia estetica.

    E

    e por essa

    razao

    que

    sempre poderemos

    buscar uma descricao de suas particularidades individuais. Mas quais

    sao essas particularidades? Quais sao as caracterfsticas especfficas na

    abordagem do fen6meno literario dessas

    tres nocoes?

    Inicialmente, devemos distinguir, para fins didaticos, no universo

    dos rnetodos de es tudo e pesquisa literarias, as formas praticas das

    formas te6ricas; sempre levando em conta que nao ha pratica sem teoria,

    mesmo que

    0

    analista textual, ao exercitar seu trabalho,

    desconheca

    a

    teoria que est usando. A crftica e a hist6ria fazem parte dos discursos

    praticos,

    isto

    e,

    dos discursos

    que

    aplicam

    0

    instrumental te6rico sobre

    a criacao literaria, realizando, por exemplo, analises ternatico-estillsticas,

    contextuais, comparativas das obras. A teoria literaria, por sua vez,

    ao trabalhar com generalizac;6es e constantes universais.l se enquadra

    1constantes universais - padr6es estruturais constantes, que se repetem com pequenas varlacoes

    em diferentes obras ou generos literarios, permitindo assirn a formacao de modelos te6ricos. Por

    exemplo: 0 final moralista da maioria das fabulas infantis.

    .. '

    'l

     

    t

     

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    ~ i : ·  

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    ( ' 1< )

    ru a e 55

    na ordem dos discursos propositivos.? ou te6ricos, pois sistematiza,

    descrevendo e analisando, os discursos praticos sobre a literatura .

    A crltica aprecia, analisa, interpreta e julga, buscando e stabelecer

    os sistemas de regras e valores de um texto

    literario, avaliando os

    sentidos e os efeitos da obra sobre

    0

    leitor. Como exemplo deste tipo de

    discurso pratico, leiamos um trecho da resenha

    No nfvel da pele,

    sobre

    a poetisa ilka Machado, presente no livro Poesia e desordem, do poeta

    e professor de literatura Antonio Carlos Secchin:

    o melhor da poesia de Gilka Machado situa-se

    literalmente no nivel da pele, e ja e 0 bastante, e

    nao se deve exigir-Ihe mais. Quando se empenha em

    ampliar 0 leque referencial,

    titubeia

    nos surrados

    cart6es-postais de

    Samba

    ("Brasflea

    morena/

    parece

    que 0 chao/ se move ao teu samba ) e de Bahia

    ("Toda a infinita feiticaria/ de teus encantos ),

    Pretendendo

    filosofar, alca

    viio baixo

    sobre

    a

    condicao

    feminina

    em "Ser

    mulher ( ficar

    na vida

    qual uma aquia inerte, presa/ nos pesados qrilhoes

    dos preceit os sociais") [... J A rigor, sua poesia nao se

    aprofunda: discorre, multiplica-se, iguaL Mas e nessa

    candente

    reiteracao

    do

    desejo,

    sob

    todas

    as formas,

    que

    reside a

    torca maior

    da obra de Gilka Machado.

    (SECCHIN, 1996, p. 51)

    A hist6ria enfatiza os aspectos

    exteriores

    do texto, podendo se

    interessar

    t nto

    pela conjuntura sociopolftica, que liga a obra eo

    utor

    ao seu tempo, qu nt pelas conex6es do conteudo do texto com as

    ideias,

    sentirnentos e pensamentos do perfodo analisado. A analise

    empreendida por Jose Ramos

    Tinhorao

    no livro

    A music»

    popular

    no

    romance brasileiro, no capitulo Machado de Assis e a romance burques,

    e bern ilustrativa da pratica do discurso historiografico:

    2 discurso propositivo - um tipo de discurso que formu la julzos, sentences a serem defen didas e

    debatidas, que anuncia propostas conceituais.

    i

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    6  Teoria da literatura Fundamentos - Andre Gardel

    Unidade 4

     

    Enquanto

    Jose

    de

    Alencar,

    por

    exemplo,

    tao

    integrado aestrutura socio-politlco-econornicadeseu

    tempo quanta Machado de Assis, muitas vezes se

    ;.<

    emaranhava em sua efusao

    romantics,

    acabando par

    entrar em choque com

    as novas

    valores introduzidos

    · . : l ~ : 1  

    pelo

    capitalismo

    industrial (vide

    suas

    crfticas as

    .

    especulacoes

    financeiras e a preocupacao excessiva

    pelo dinheiro), a novo

    romancista

    surgido em

    1872

    "

    J

    t.

    I

     

    discursos praticos

    sobre

    a l iteratura, se interessa pelas categorias

    gerais

    dos

    fenornenos particulares,

    nao

    para prescrever

    normas

    de

    atuacao, impor limites

    a

    critica,

    a

    visada hist6rica e

    a

    criatividade,

    mas para

    compreender

    e organizar sistematica mente as diferenc;as e

    semelhancas

    da invencao literaria.Teorizando

    sobre

    0

    genera

    literario

    conto, Massaud Moises, no livraA r i ~ o   literaria - Prosa pode nos

    apresentar

    um exemplo

    deste

    tipo de discursopropositivo:

    Oconto, portanto, abstrai tudo quanta, no tempo,

    encerre irnportanciamenor,

    para

    sepreocupar apenas

    com a

    centro

    nevralqico da

    questao.

    [...] 0 conto

    caracteriza-separ ser objetivo,atual: vaidiretamente

    ao ponto, sem

    deter-se

    em pormenores secundarios,

    Essaobjetividade,observavel

    ainda

    noutros

    aspectos

    adiante examinados, salta

    aos olhos

    com as

    tres

    unidades:deacao,lugare tempo. MOISES,

    198-,

    p.23)

    o

    carninho,dessaforma,e de mao dupla:ateoriaeuma especie

    de disciplina preliminar para os estudos praticos,e, ao mesmo tempo,

    quer se deixar sempre reavaliar e corrigir em suas conclus6es e

    prindpios, baseando-se nos avances da critica e da hist6rialiterarias.

    Sugerimos nesse momenta algumas perguntas e reflex6es para uma

    melhor

    cornpreensao

    do que foi ate

    agora

    exposto.

    1. Voce jil deve ter ouvido, ou falado, varies vezes e x p r e s s g e ~ : ;

    como: "aquela novela e um drarnalhao": "acabo de ler urn'

    romance

    de aventuras"; "achei 0 filme muito bonito,

    multo

    poetico"

    etc. Voce consegue perceber que

    esta teorizando

    sobre

    a obra de arte a que se refere? Que esta c1assificando,

    encontrando

    0

    universal literario no particular, especificando

    o genera ou estiloformal da obra? Explique

    como

    voceacha

    que esse processoocorre.

    2. Quando alquern pergunta avoce0 que

    achou

    de um Iivroe

    sua resposta edo

    tipo

    "bom" ou"ruim", "fraco"ou "intenso",

    "interessante" ou "chato", voce esta emitindo um juizo de

    valor sobre aobra,voceesta sendo critico.Tente desvendar,

    passo a passo em sua mem6ria, as causas que

    0

    levaram a

    emitir tal juizo.Tente relaciona-laseextrairdissouma teoria.

    3.

    E

    muito comum

    as

    pessoas

    falarem

    que

    "gostavam muito

    mais das musicas do passado", que "tal filme ea obra do

    futuro",

    que 0 livro retrata exatamente 0 nosso

    presente"

    e assim por diante. Existe um conceito de tempo embutido

    nessas avaliacoes crlticas, um conceito hist6rico. As pessoas

    estao fazendo

    um estudo comparativoentre

    modalidades de

    artes

    de tempos e

    contextos

    diferentes. Qual a importancia

    que

    vocevenesse tipo de consideracao?

    Embora

    saibamos

    hoje que a perspectiva

    inteqrada

    ea

    melhor

    paraos

    estudos

    literarios, nem

    sempre

    essavisao norteou 0

    pensamento

    .

    sobre

    literatura

    em nossa cultura. Pelo contrario. a hist6ria

    moderna

    da reflexao literaria," que tem inicio durante

    0

    periodo rornantico,?

    3perspectivaintegrada - auniaodas tres

    categorias

    paraaanalisetextual:critica,hist6riaeteoria

    literarias.

    4reflexaoIiteraria- os diversos modes. tendencies, escolas.

    correntes

    do pensamento literario

    moderno.

    5periodo rornantico- periodo doRomantisrno,movimentoartisticoque cornecouna Europapor

    volta de

    1800

    e

    que

    valorizavaa ernocao ea sensibilidadeacima da razao, em oposicao ao

    racionalismoda

    epoca

    daRevolucao Francesa.

    J

      j

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    r

    l

    58  Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel

    mostra que

    essas

    nocoes se alteraram em diferentes

    momentos

    na perspectiva dos estudiosos, que volta e meia tentaram

    impor 0

    fundamento

    individual de cada uma delas como sendo

    0

    mais

    importante

    para as artes textuais. Que tal tentarmos apreender os

    principais

    momentos

    das modificacoes sofridas pela teoria, hist6ria e

    I

    crftica literarias na Modernidade?

    f;t:;

    Na

    etimologia

    da palavra critica, encontramos um de seus

    t\(

     iJ

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    :: .

     

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    Unidade4

     

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    60  Teoriada Literatura:Fundamentos- AndreGardel

    'fig

    $

    "

    f

    Dai

    terem

    surgido

    autores quejuntam

    as funcoes de criadores

    e criticos, os escritores-criticos,

    buscando

    estabelecer seus pr6prios

    principios e valores individuais, expressos em suas

    obras

    e

    estudos

    criticos. E,tambern, um

    genero

    literario novo, a

    escrltura,

    que

    tenta

    aproximar numamesmarealidadetextualcriticae criacaoliterarias.Um

    I

    trecho

    da

    obra

    do

    poeta

    ecrltico mexicano

    Octavio

    Paz

    (1914-1998).

    I

    : ; ~ : :  

    extraidodeseu livro0

    area

    e a

    lira

    no capitulo

    Poesia

    e

    poema

    pode

      ~ ? f ,  

     

    servirde exemploparauma

    pequenaapresentacao

    do

    que

    vema

    ser0

     

    · : ~ : t l  

    j ~ ; ~ \

    qenero

    escritura:

    1if1

    A

    poesia

    e

    conhecimento,salvacao, poder, abandono.

    Operacao

    capazdetransformar

    0

    rnundo,aatividade

    poetics

    e

    revolucionaria por natureza; exerdcio

    espiritual,

    e

    um metodo de libertacao interior.

    A

    I

    oesia

    revela

    estemundo;criaoutro.

    Pao

    doseleitos;

    iii': /'

    alimento maidito. Isola; une.

    Convite a

    viagem;

    i ~ i

    regresso

    a

    terranatal.

    lnspiracao,

    rospiracao.exerdcio

    muscular.

    Suplica

    ao

    vazio,

    dialoqo comaausencia,

    e

    alimentadapelotedio, pelaanqustia epelodesespero.

     PAZ, 1982,p.15)

    Vamosamaisuma rodadade perguntas? Sempreebomavaliarmos

    nossa compreensaodiantedos muitos conceitos

    que

    estamostratando,

    nao?

    " . "

    . ,.

    ;.''''

    ; : > F ' · · · , · ; ~ : y . r - · · i l \ . n :  

    ~ - - { ~ : ~ ; \ : : : ' _ . ~ ' ~ : ' .  

    "

      \ ' ~ C - ' : : ' ( t f \ : ' t ' ; ' ; ' ~ ~ t : ' / I ' '-',  

    1. V o c ~  

    acha

    que

    a'crftica'deve

    impor

    um sistema

    de

    norrnase

    . \, ,', . f . · : : ; ; : ~ : . 1   ' : : . , , , , , ~ ' 1 , , .. , . , i i \ ' _ ~   · c ~ , · / , , , - · , ~ . '   ""

    valores

    predetermlnadose

    imutaveis

    que

    osescritoreseleitores

      que

    seguira r i s c a ? E X p l i q u e s ' ~ a ' r e ~ p o s t ~ ; ; ' f > i , ~ ; , , ~ ~ ; \ , i { f ' :   .

    . . . \ . :/   '1·,'

    . ; < , - · ~ · i , j ~ t ~ ~ : : · ~ t ~ \ : A l ; , J . l ; : : ~ : : ~ ·  

    2. De

    quemodo0

    Romantismorornpeu

    comasregrase'modelos

    , .   " j   ~ 0 4 : , :  

    .

    dassicos?Fale

    sobre

    airnportancia,paraacrlticafnoderna,

    de

    conceitos

    como

    novidadee

    o r i g i n a l i d a d e ~ .   ; ; . L ; ; i ~ , : \ : : ~ : i C ~ c  

    3. Voce acredita

    que

    exista uma neutrali dade"de.··lir1guagem

    crftica,

    que

    possa haver urn discurso

    r e a l m e n t ~ ' c i e n t f f i c o ,  

    - sem qualquer interferencla pessoal do autor .rias analises

    empreendidasnessediscurso? Explique.. :.,;.;;

    4. Ao

    retomarem

    explicitamente a

    nocao

    de julzo de valor, os..

    escritores-criticos criam

    suas

    pr6prias

    tradicoes

    literarias'

    fundadasa partirdesuasteoriasecriterioscriticosparticulares

    . .

    A

    verdade

    literaria

    torna-se,

    com isso, relativa.Desua

    opiniao

    sobre0 assunto.

    Bem,

    agora

    vamospassar

    para

    a

    outra

    forma pratica

    dosestudos

    e pesquisas literarias, a hist6ria, tentando localizar as rnodulacoes

    que

    a

    nocao

    sofreu na Modernidade. Pode-se dizer

    que

    a consciencia

    hist6rica dosfen6menos humanosfoi a rnudancamais radical ocorrida

    no terreno do

    conhecimento

    duranteaIdadeModerna. Umasucessao

    de

    acontecimentos

    encadeados

    em causae efeito de

    modo

    linearou

    cronol6gico,com principio e meio

    conduzindo

    a umafinalidade,foia

    16gicapositiva

    comum

    aos

    rnetodos

    das ciencias

    que

    se consolidaram

    no seculo

    XIX,

    a 16gica da hist6ria. E

    e

    durante esse periodo que a

    hist6ria literaria se firma

    como

    disciplina academica, presa ainda ao

    forte

    teor

    positivista?

    da historiagerale da

    filoloqia.!?

    o

    que significa isso? Que a historiografia literaria. em seus

    prim6rdiosacademicosmodernos,

    chamada

    de historicismo,em Iinhas

    gerais

    propunha:

    que

    0 aspecto

    extrfnseco da

    obra

    -

    0

    contexto, os

    dados

    exteriores

    a

    experiencia da lei tu ra - se impusessem aos

    fatores

    intrfnsecos,

    ao texto

    emsiea

    sua

    leitura;

    que 0

    historiador

    abandonassequalquer

    vestigio

    de opinlao

    '

    de seu

    presente

    hist6ricoe reconstruisseos fatos, 0 espfrito,

    os padr6esda epoca

    estudada,

    mergulhandoimaginariamente

    no tempo em que a obra surgiu, para recuperar 0 sentido •

    pretendido

    pelo

    autor; !I'

    9positivista - expressao que advern do termoPositivismo,doutrina filos6fica formulada por

    Augusto

    Comte (1798-1857)

    que pregaa necessidadedea sociedade

    C 0

    espfrito chegarem

    ao estado positive,atingido parum ordenamentocientificodo mundo,par meiodo metoda

    experimental.

    10flloloqia- 0 estudocientlficododesenvolvimentode urnalinguaau de.familiasdeIinguas,em

    especialapesquisadesuahist6riamorfol6gica efonol6gicabaseadaemdocumentosescritosena

    crfticadostextos redigidosnessas Iinguas(porexemplo, filologialatina,filologiagermanicaetc.).

     }

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    2

      r 7

    <

    62

      Teoria da Literatura:

    Fundamentos

    - Andre

    Gardel

    • que

    0

    historiadorse prendesse a datas, titulos, a quadros

    sociais e culturais, reconstituisse biografias, se atendo a

    rigorosos principios de causalidade, objetividade, sucessao

    mecanica.t'progresso, ea uma exaustivapesquisa defontes

    e influencias,

    Vamosdarumexemplodeumtipode criticaquese aternadados

    biogrMicosepsicol6gicosdo autor, portantoaaspectosextrinsecosda

    obra,

    paraexplicaralguns elementosde

    composicao

    desuas

    producoes

    ficcionais,caindo num determinismo bemcomum acriticahistoricista.

    Podemos notarcomo Mario Matos, em seu livro Machado de Assis:

    o homem e a obra. as personagens explicam 0 autor recorre a um

    possivel temperamento timido de Machado de Assis para explicar0

    aparecimento insistentedos tipos "cacetes, osparasitas, ospoetastros,

    osfalhados enfim" nassuasobras:

    Homem tfmido eassustado, como setemdito

    muitas

    vezes,denervos irritaveis,muito delicado parapoder

    ser franco, contendo-se

    sempre

    para

    nao

    ferir a

    sensibilidade

    alheia, Machado

    de

    Assis

    sofria porisso

    e,afim deevitar aborrecirnentos, fugia doconvfvio

    de seus semelhantes.Com tal tempera

    mento,

    ede ver

    omedoque tinha deimportunes. Em seuscontose

    romances desforra-se deles. Ha umgruponumeroso

    de cacetes em sua literature.

    Cacetes,

    parasitas,

    ~ o s d o r e s  

    demoteeoradoresabortados.

    Ea

    influencia

    dorecalque. (MATOS, 1939apud

    BaSI

    etal,1982, p.353)

      te

    aquitudo bem? Vamosamaisalgumasperguntas?

    Unidade

    4  

    63

    2. Voceacha que epossivelisolar,na analise de uma obra ;{t:

    aspectos extrinsecosdos textuais?

    au 0

    objeto

    literario deve' .

    recebersemprea

    atencao

    principal,eapartirde nossaleitura

    investigarmos a conjuntura em que surgiu, dando maior ou

    menorenfaseaesseaspecto?

    3. a historiadorconseguesedespojartotalm entedaperspectiva

    desua

    epoca

    presenteparamergulharna realidadedo tempo

    emque a obra analisadafoiconcebida?

    E

    valida talpostural

    Comente0 assunto.

    Essequadro corneca a mudarja no infcio do seculo XX, com 0

    surgimentodosestudosimanentistas,12 cujasprincipaiscorrentesforam

    o Formalismo,13 0 Estruturalismo t e a Semictica.l> Quala diferenc:;a

    basica

    dessas teorias em

    relacao

    as leis historicistas?

    as

    estudos

    imanentistas privilegiam 0 estudo do texto sobre 0 contexte;

    privilegiamainda, naanalisedos escritosdo passado, a perspectivado

    presentedocritico,ao

    inves

    datentativade

    reconstituicao

    doambiente

    em que foi concebida a obra ou de uma recuperacao da intencao

    originaldo autor, emoutr as palavras,0 imanentismo privilegia avisao

    critica

    slncronica "

    sobreadiacronica."?

    As primeiras

    influencias

    positivas na historiografia literaria

    contemporanea,

    ap6s a

    modulacao

    do pensamento historicista para 0

    imanentista, se refletem em algumas mudancas de foco, como, por

    exemplo, quandoa criticapassa aafirmar

    0

    entrelacarnento inevitavel

    12imanentista- qualquersistemade

    pensamento

    noqualuma concepcaode

    lmanencla ocupe

    uma dirnensaofundamental.Irnanenciaeaqualidade do que pertenceasubstan ciaou essencia

    iii

    ;?

    de algo, a sua interioridade,em

    contraste

    com aexistencia,realou ficticia,de uma dirnensao

    1. a que voce entende por consciencia hist6rica?

    as

    valores

    externa.

    eternos eimutaveiscabem dentro deste conceito? Explique.

    13formalismo- no pensarnentoestetico,saoasdoutrinas

    que

    priorizamas formasartistic asaos

    conteudos-Especificamente, estamos falandodo Formalismo russo, jilabordado naUnidade1.

    14 estruturalismo- teor ia

    segundo

    a qual

    0

    estudo de uma categoriade fatos deve enfocar

    especialmente

    asestruturas, em

    que

    ha.

    portanto

    apredorninanciada estruturado sistema

    sobre oselementos.

    15semi6tica- teoriageraldasrepresentacoes.que levaem

    conta

    ossignossob todas asformas

    ernanifestacoesque

    assumem

    (linquisticasou nao),

    11sucessaornecanica- em

    que

    hilumasequenciadefatos organizadosdemodo adar urnaideie

    16sincrcnica- dizrespeitoacertofato, dentro daevol ucaohist6rica, tomado para estudo.

    departespadron izadaspara se

    chegar

    aum fim,auma

    unidade

    coerente.

    17diacronica- dizrespeitoao

    estudo

    dasequencia dos fatos hist6ricosaolongodo tempo.

     

  • 8/17/2019 André Gardel Unidade 4 - Teoria, crítica e história.pdf

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    . ,

      -,

    I

    64

     

    Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel

    Unidade 4 65

    entre a historia e os criterios de valor do historiador e de seu tempo; ou,

    ainda, quando aceita 0 jogo de oposicoes e sinteses da historia literaria

    fundada em estilos de epoca, modelo critico que relaciona caracterfsticas

    externas ( epocas) a

    elementos

    constitutivos i nternos (estilos)

    das obras.

    o filosofo alernao riedrich

    Nietzsche

    (1844-1900), na segunda

    de suas Considerecoes Extemporenees de titulo Da utilid de e

    desvantagem da histone para a vida nos

    ajuda

    a entender 0 que vem

    a ser a visada sincr6nica:

    0

    conhecimento do passado, em todos os

    tempos, so e desejavel quando esta a service do presente, quando

    ele desenraiza os germes fecundos do futuro. NIETZSCHE apud

    PERRONE-MOISES,

    1998,

    p. 22)

    A historia li tera ria, alem do mais,

    tem

    por objeto um tipo de

    discurso (0 literario) que se atualiza a

    cada

    leitura, os fatos esteticos

    voltam a acontecer revigorados, refeitos pela otica

    presente, toda

    vez

    que algum

    leiter, de

    qualquer epoca, Ie

    ou rele

    uma

    obra. Assim, os

    ideais de sucessao, Iinearidade, cronologia do antigo historicismo

    cedem lugar a simultaneidade dos momentos do passado,

    uma

    nova

    percepcao de tempo em que 0

    presente

    requalifica e reordena a

    tradicao literaria, que passa a ser vista

    como

    um corpo em constante

    rnutacao: a cada novo recorte critico que sofre, a cada nova obra

    lancada e incorporada, a cada nova experiencia de leitura realizada.

    Como

    exemplo

    dessa revisao crltica da

    tradicao pelaotica

    ccnternporanea, podemos citar a

    postura do poeta

    e crltico paulista

    Augusto de Campos, ao se referir a famosa polemics

    sobre

    a questao

    do plaqio na obra do poeta barroco baiano Gregorio de Matos,

    presente no texto Da America que existe: Gregorio de Matos do livro

    Poesia antipoesia antropofagia. Augusto defende a tese

    de

    que nada

    pode inibir

    0

    prazer de nossa leitura

    contemporanea

    daqueles textos do

    passado, independentemente de

    sua autenticidade

    ou nao:

    Sempreentendi que a eterna, adiada e insoluvel

    querela dos eruditos sobre 0 que ee 0 que nao ede

    Gregorio de Matos nao deveria inibir a

    r u i ~ o  

    e

    0

    estudo dos textos que levam 0 seu nome. Que

    as investiqacoes de paternidade continuem a se

    processar, com a lentidao cabfvel, pelas autoridades

    cornpetentes, contanto que nao nos venham opor

    embargos e proleg6menos a apreciacao da "poesia

    da epoca chamada Gregorio de Matos" como tao

    bem a batizou James Amado. CAMPOS, 1978, p. 91)

    Mais uma parada para retomarmos 0 fio

    da

    meada conceitual em

    que

    estamos

    nos

    lancando? Vamos

    a novas perguntas?

    1.

    0

    que significam

    estudos imanentistas? Como

    as

    correntes

    Iigadas

    a essa perspectiva

    tiveram influencia

    sobre a

    confiquracao

    contemporanea da historiografia llterariaj :

    2. 0 que voce entendeu por visada sincronica? Voce concorda

    com 0 filosofo Nietzsche de que 0 passado so e desejavel a

    service do

    presente,

    projetando ja leituras

    futuras?

    3.

    Como

    a

    tradicao

    literaria passa a

    ser

    reordenada

    pelas

    obras

    e

    crfticas

    emitidas

    no presente?

    4. Voce acha que uma obra literaria renasce a cada nova leitura?

    Na sua opiniao, como tal processo ocorre?

    A

    teoria

    literaria

    organiza

    e torna explfcitos os

    pressupostos

    utilizados pelos discursos praticos sobre a literature. que sao, como

    ja vimos, a crftica e a historia literarias. Concebe princfpios, categorias,

    criterios, qeneralizacoes universais,

    tentando

    abarcar, num conhecimento

    I

    sistematizado, um conjunto de metodos reciclaveis que possibilite

    diferentes

    analises

    do

    fen6meno literario, Portanto,

    nao

    e prescritiva ou

    normativa, especulativa ou abstrata, mas analftica e descritiva.

    A oetics de Aristoteles e 0

    modelo

    mais antigo de

    teoria

    da

    literatura, ja

    que

    busca

    encontrar

    categorias gerais em obras

    particulares, com um ponto de vista que se queria universal. No

    entanto, por ser essencialmente prescritiva, emitindo regras doqrnaticas

    com funcocs

    normativas, nao

    se

    enquadra

    na concepcao descritiva

    !

    j

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      ¥

    , . ~ .  

     

    66  TeoriadaLiteratura:Fundamentos- AndreGardel

     

     

    moderna de teoria da literatura.Afora isso.codificava seu discurso a

    "

    partir da literatura em simesma, nao dos estudosou das pesquisas

    literarias,

    produzindo normasevalores rfgidos.

    I

    I

    A

    teo

    ria

    literarla

    serecicla

    tanto

    apartirdas

    moduiacoes

    dacrftica

     

     

    f; .,.

    eda historiografia,quantadedialoqos interdisciplinarese extraliterarios:

     

    cornisso,dialeticamente,18disp6eeapresenta umconjunto instrumental

     

    ~ ~ l ;

    ample que pode ser utilizado nas mais diversas analises, Daf seus

    r.r.

    "Iirnites ilirnitados".

    nas palavras de Eduardo Portela

    (1932-):  A

    :

    estrutur c o polivalenteda Teoria literariae

    0

    recurso

    queela

    propria

    encontra para ocupar 0 vasto territorio que Ihe corresponde.

    (PORTELA, 1979, p.8)

     

    Asperspectivas extraliterariasda

    Teoria

    aparecemquandopensamos

     ;Ii

    oprincipio

    poetico

    da linguagememdiversossuportes expressivos

    que

    nao

    apenas

    0

    livro;

    ou,

    quando

    ampliamosnosso conceitode cultura,

    abarcando a culturade massas, a folclorica ea popular. Asconex6es

    comoutrasdisciplinasdesabercomoalinqulstica,ateoriada lnforrnacao,

    a psicologia, a sociologia, a estatistica, entre outras, nos estudos

    interdisciplinares, ajudam natarefaintegrada dateoria literaria.Missao

    que, por sua vez,e, tarnbem,da literatura em geral: a valorizacao do

    conhecimentodaexperienciahumana, adecifracaodosenigmasdo ser.

    Paraterminarnossa explanacao,vamos responderamaisalgumas

    perguntas sobre os

    ultimostopicos

    abordados?

    1. 0

    que significadizer

    que

    a

    teo

    rialiteraria

    nao

    e

    prescritivaou

    especulativa, massimanalfticae descritiva?

    2. Em que aspectosa

      oetic«

    de Arist6teles se aproxima das

    modernas

    concepcces

    deteoria

    literaria

    eemque outros

    nao?

      8dialeticamente- utilizando-sedodialoqo, discussao,arqumentacao.

    ~ - r ~ ; r  

    Unidade4  67

    3. A partir de que tipos de

    inteqracoes

    e dialoqos a teoria

    literariavemreestru turandosua reciclagemdisciplinar?

    4. Voceacha que os estudos literarios tern como meta ultima

    ampliar

    0

    conhecimentoda

    experiencia

    humana? Explique.

    Referencias:

    BOSI, Alfredoet al.

    Machado de Assis: anto logia eestudos.

    SaoPaulo:

    Atka, 1982.

    CAMPOS,

    Augusto de.

    Poesia antipoesia antropofagia.

    Sao Paulo:

    Cortez

    &

    Moraes, 1978.

    LIMA,

    Luiz Costa. Questionamento da crftica literaria. In:

    Dispersa demanda.

    Rio deJaneiro: Francisco

    Alves, 1981.

    MOISES, Massaud.

    A aieceo literaria

    - Prosa. SaoPaulo:

    Cultrix,

    [198-].

    PAZ, Octavio. 0

    area

    e a

    lira.

    Rio

    deJaneiro:NovaFronteira,1982.

    PERRONE-MOISES, Leyla. Altas literaturas.

    Sao Paulo: Cia das tetras,

    1998.

    PORTELA,

    Eduardo. Limites ilimitados da

    Teoria

    l.iteraria, In:

    Teoria litetetie Rio

    deJaneiro:

    Edicoes

    TempoBrasileiro,

    1979.

    SECCHIN, AntonioCarlos.

    Poesia

    e

    desordem.

    Rio deJaneiro:Topbooks,

    1996.

    TINHORAo,

    Jose Ramos.

    A

    musics popul r

    no romance brasileiro. v.

    1.

    SaoPaulo:Ed.

    34, 2000.