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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC –SP
ANDRÉIA MEDOLAGO DE MEDEIROS
TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL COLONIAL: AS EDIÇÕES DO LIVRO CULTURA E OPULÊNCIA
DO BRAZIL
MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA
SÃO PAULO
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC –SP
ANDRÉIA MEDOLAGO DE MEDEIROS
TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL COLONIAL: AS EDIÇÕES DO LIVRO CULTURA E OPULÊNCIA
DO BRAZIL
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em História da Ciência, orientação da Professora
Dra. Márcia Helena Mendes Ferraz.
SÃO PAULO
2012
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Medeiros, Andreia M. de
Técnicas de produção de açúcar no Brasil colonial:
as edições do livro de Antonil Cultura e Opulência do
Brazil
Dissertação (Mestrado) PUC-SP
Programa: História da Ciência
AGRADECIMENTOS
Para realizar este trabalho contei com a colaboração de
muitas pessoas, sem as quais não teria sido possível a concretização desta
missão. A todas expresso aqui a minha gratidão.
À Professora e Orientadora Márcia Helena Mendes Ferraz
que, com o seu conhecimento, paciência e generosidade me dedicou atenção,
mostrando-me o caminho a ser seguido e dando-me subsídios para que esta
tarefa pudesse ser concluída.
Aos Professores Maria Helena Roxo Beltran e Fumikazo
Saito, pelas sugestões e contribuições quando da pré-qualificação.
À coordenação do programa de Estudos Pós-Graduados
em História das Ciências, pela compreensão com que tratou as minhas
diversas solicitações para que eu pudesse concluir o meu trabalho.
Ao CESIMA pela disponibilização dos documentos
utilizados neste trabalho.
À CAPES pela concessão da bolsa-mestrado.
RESUMO
A produção de açúcar no Brasil se inicia com a ocupação da colônia e ainda
durante o século XVIII é uma das mais importantes atividades desenvolvidas
no Brasil.
A falta de investimentos e os altos encargos cobrados por Portugal, além da
restrição à imprensa dificultam as inovações. A única obra publicada no Brasil
dedicada aos principais itens produzidos no Brasil – açúcar, tabaco e ouro - é
feita por Antonil, com o título de Cultura e Opulência do Brasil: Por Suas
Drogas e Minas, sendo recolhida e queimada logo após sua publicação.
Com a criação da Casa Literária do Arco do Cego, Frei Veloso dedica uma
série de obras voltadas ao melhoramento agrícola, muitas delas direcionadas à
produção de Açúcar.
É nesse contexto que, em 1800 Veloso republica parcialmente a obra de
Antonil, adicionando a ela um apêndice com a indicação de uma nova moenda.
Neste trabalho vamos expor as técnicas utilizadas na produção do açúcar, ao
longo do século XVIII no Brasil, buscando, por um lado, estudar os métodos de
produção do açúcar e, por outro, analisar as possíveis modificações nas
técnicas, decorrentes da necessidade de melhorar o rendimento do açúcar
obtido nos engenhos de Pernambuco, no início do século XIX.
Palavras Chave: Cana de Açúcar, produção de açúcar no Brasil, Cultura e
Opulência do Brasil.
ABSTRACT
Sugar production in Brazil begins with occupation of the colony and during the
18th Century is one of the most important activities developed in Brazil.
The lack of investment and high charges levied by Portugal, in addition to the
restrictions on the press have hampered innovations. The only published work
in Brazil dedicated to main items produced in Brazil – sugar, tobacco and gold –
is made by Antonil, titled Culture and Opulence of Brazil: for its drugs and
mines, being collected and burned shortly after its publication.
With the creation of the Literary Home of Arco do Cego, Frei Veloso dedicates a
series of works devoted to agricultural improvement, many of which related to
the sugar production.
It is in this context that, in 1800, Veloso republished partially the work of Antonil,
adding to it an appendix with the indication of a new milling.
In this work we will expose the techniques used in the sugar production,
throughout the 18th century in Brazil, seeking, on the one hand, studying the
methods of sugar production and, on the other hand, to analyze the possible
changes in techniques, arising from the need to improve the yield of the sugar
from the mills of Pernambuco, in the early 19th century.
Keywords: Sugar cane, Sugar production in Brazil, Culture and Opulence of
Brazil.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1 PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL ............................... 4
1.1 Histórico da Cultura da Cana em no Brasil .......................................... 4
1.2 Cultura e Opulência do Brasil e os desdobramentos dessa obra ...... 10
1.3 Dom Rodrigo de Souza Coutinho e a Criação da Casa Literária do Arco
do Cego .............................................................................................. 13
1.4 Veloso na Casa Literária do Arco do Cego e as publicações sobre/
para o Brasil ........................................................................................ 18
CAPÍTULO 2 TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DO AÇÚCAR ........................ 29
2.1 Escolha das Terras e dos Oficiais para o Engenho ........................... 30
2.2 Corte da Cana e Estrumação do Solo ............................................... 34
2.3 Casa das Fornalhas ........................................................................... 36
2.4 Limpeza do Caldo .............................................................................. 41
2.5 Cozimento do Melado ........................................................................ 48
2.6 Têmpera do Açúcar ........................................................................... 51
2.7 Purga ou Branqueamento do Açúcar ................................................ 58
2.8 Moenda do Engenho Sergipe do Conde ........................................... 64
2.9 Moenda Proposta por Veloso ............................................................ 69
2.10 Outros Tipos de Moenda ................................................................ . 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 86
0
1
INTRODUÇÃO
Em 1711 é publicado, em Lisboa, o livro Cultura e Opulência do Brazil: Por
suas Drogas e Minas1, de André João Antonil. O livro versa sobre as principais
riquezas do Brasil que seriam: o ouro, o tabaco e, ainda o açúcar, cujos
métodos utilizados na produção, em Pernambuco, são descritos. A obra foi
recolhida e queimada logo após sua publicação, ao que parece, por contrariar
aos interesses da coroa e, não pode, assim, atingir os objetivos de seu autor
em tornar conhecidas tais riquezas.
Em finais do século XVIII, num período em que a indústria açucareira de
Pernambuco parece iniciar um processo de busca de novas técnicas que
pudessem ser implantadas nos engenhos, Frei José Mariano da Conceição
Velloso, diretor da tipografia do Arco do Cego em Lisboa, publica em 1800, a
primeira parte do texto de Antonil, justamente sobre o açúcar. Não deixa,
porem de criticar o texto, por trazer observações sobre apenas um engenho – o
engenho Sergipe do Conde – e por faltarem explicações sobre os métodos
utilizados e, ainda, indicação de possíveis melhorias.
Era de se esperar, assim, indicações de melhorias e de novas técnicas, uma
vez que Frei Velloso era bom conhecedor das ciências de sua época,
desempenhava em Portugal importante papel na divulgação de trabalhos nessa
área e, a julgar pelo título proposto para a nova publicação: Extracto sobre os
engenhos de assucar do Brazil, e sobre o methodo já então praticado na
1 Antonil, Cultura e Opulência do Brasil.
2
factura deste sal essencial tirado da obra Riqueza e Opulência do Brazil, para
se combinar com os novos methodos que agora se propõe.2
A análise das duas obras, entretanto, nos mostra que Velloso publicou o texto
de Antonil sem acrescentar novos métodos, além da descrição de uma nova
máquina para moer a cana. Conhecedor das ciências que era, e dos métodos
praticados em outros países, esperávamos que ele, de fato, publicasse as
novidades e, buscamos, neste trabalho, entender essas omissões.
Parte das publicações de Veloso sobre agricultura, está dedicada a sugerir
novos métodos de produção do açúcar que resultassem em maior rendimento
e melhor qualidade. Para isso publicou obras de diversos autores, tidas por ele
como as mais significativas sobre o açúcar, algumas integralmente, outras
parcialmente. Na maioria das publicações Veloso adicionou apêndices onde
sugere novos métodos, sendo uma dessas obras três partes do primeiro tomo
de O fazendeiro do Brasil, onde propunha um plano de reforma completa dos
engenhos do Brasil. Esta publicação nos ajudou a entender os métodos de
produção utilizados no Brasil e em outras partes, evidenciando que esses
métodos se mantinham quase os mesmos descritos na obra de Antonil em
1711.
Para realização desta pesquisa, utilizamos os textos originais de Cultura e
Opulência do Brasil: Por Suas Drogas e Minas de Antonil, e de Extractos sobre
Sobre os Engenhos de Assucar do Brazil, e Sobre o Methodo já então
Praticado na Factura deste Sal Essencial3além dos originais de outras
publicações feitas por Veloso e de bibliográfica secundária que nos permitiu
3 Veloso, Extractos Sobre os Engenhos de Assucar do Brasil.
3
entender a importância que publicações feitas pela Casa Literária do Arco do
Cego tiveram, tanto para Portugal quanto para o Brasil.
Por não termos encontrado diferenças entre as duas publicações, exceto as já
descritas, optamos por utilizar como referência nesta pesquisa o texto
publicado por Veloso, uma vez que a ortografia utilizada em 1800 é mais
próxima da utilizada atualmente, facilitando o entendimento das citações.
Portanto, ao nos referirmos a partes que aparecem idênticas nas duas
publicações, salvo apenas as diferenças ortográficas, daremos como referência
a obra de Veloso/Antonil, e a nota de rodapé será a obra publicada em 1800
por Veloso, utilizando o mesmo critério também para as outras publicações
feitas por Veloso que consultamos nesta pesquisa.
Assim, esta dissertação está dividida em dois capítulos, apresentando ainda
uma introdução e conclusões, além da bibliografia.
O primeiro capítulo está dedicado a apresentar um histórico da produção de
açúcar no Brasil e os interesses de Portugal em promover, de alguma forma as
produções em sua colônia americana. Nesse contexto, abordaremos a
Tipografia do Arco do Cego e a publicações sobre/para o Brasil.
Já o segundo capítulo abordará o processo de produção de açúcar descritos na
obra de Antonil assim como num conjunto de publicações do Arco do Cego
sobre esse assunto.
4
CAPÍTULO 1: A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO BRASIL
1.1 Histórico da Cultura da Cana de Açúcar no Brasil
A cana de açúcar foi trazida aos Brasil pelos Portugueses, no início do século
XVI, como tentativa de ocupar as terras recém-descobertas e impedir invasões
estrangeiras, especialmente da França.4
Para entendermos a opção portuguesa pela instauração da cultura da cana de
açúcar no Brasil, traçaremos um breve histórico da Cultura da Cana de Açúcar
em Portugal e a importância dessa cultura no contexto em que se deu sua
implementação.
Foi em 1414 que João I, rei de Portugal promoveu a cultura da cana em
Portugal, e em 1455 a cana passou a ser cultivada também na Madeira, onde
encontrou condições climáticas mais favoráveis ao seu cultivo que no Chipre
ou na Sicília.5
Nessa mesma época o consumo do açúcar na Europa se popularizou
aumentando demasiadamente. Com a crise do açúcar em Veneza e o fim da
produção no Egito, em 1487 D. João II, rei de Portugal tentou estabelecer seu
país como grande produtor de açúcar e constituir um monopólio para mandar
açúcar para o Oriente.6
4 Azevedo, Canaviais e Engenhos na Vida Política do Brasil, 28.
5 Fonseca, A indústria açucareira em Pernambuco, 3
6 Ibid.
5
No entanto, em 1502 as plantações da Madeira foram completamente
arrasadas por uma praga, e as plantações de cana acabaram cedendo lugar
para aos vinhedos. 7
Entre o final do século XV e o início do século XVI houve uma crise açucareira
por toda a Europa. Assim, nos primeiros anos do século XVI, o rei D. Manuel,
decidiu ocupar definitivamente as terras brasileiras para impedir que os
Franceses, excluídos do Tratado de Tordesilhas, as invadissem, e decidiu,
ainda, por implantar no Brasil a cultura da cana de açúcar. 8
Os portugueses eram conhecedores do cultivo da cana e, com a crise do
açúcar refletindo por toda a Europa, em 1516 D. Manuel promulgou um decreto
onde determinou que a companhia das Índias fornecesse ferramentas a quem
quisesse vir ao Brasil. Inicia-se então a imigração que tinha por objetivo ocupar
o litoral nordestino e instaurar a cultura da cana de açúcar na região.9
Foi em Pernambuco que a cana de açúcar encontrou melhores condições
climáticas para se desenvolver, tendo sido levada à Zona da Mata por Duarte
Coelho, a quem foi doada a Capitania em 1534. Esse a distribuiu em feudos de
50 a 100 léguas de litoral a fidalgos arruinados que imigravam para o Brasil em
busca de reestabelecer suas fortunas, dedicando-se à cultura da cana.10
Cabe lembrar que na primeira divisão do Brasil em capitanias hereditárias, a
capitania de Pernambuco abrangia os atuais estados de Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia, chegando
ao noroeste mineiro e nordeste goiano.
7 Fonseca, A indústria açucareira em Pernambuco, 4.
8 Ibid, 27.
9 Ibid, 3.
10 Azevedo, Canaviais e Engenhos na Vida Política do Brasil, 46.
6
Tomé de Sousa, nomeado governador geral do Brasil, recebeu ordens, de
acordo com o regimento de 17 de dezembro de 154811, para distribuir
sesmarias às pessoas que tivessem posses para nelas construírem engenhos
de açúcar. Fundou em 1549, o povoado de Salvador, tornado sede do governo
geral, e, portanto, principal centro administrativo da América Portuguesa.12
A divisão das sesmarias é delimitada ao norte pelo Rio São Francisco,
englobando o atual estado de Sergipe, onde foi construído o Engenho de
Sergipe do Conde, estudado nesta pesquisa, e pertencente à capitania de
Pernambuco, em 1534.
A região compreendida por Pernambuco, antes de 1549 abrange, portanto, a
região da atual Sergipe, que passa a integrar a capitania da Bahia do Salvador,
nesse ano.13
A exploração do interior se dá com o uso da mão de obra escrava indígena. Os
índios foram obrigados a abrir caminho em meio à floresta tropical, a plantar
cana e a construir os engenhos para produção de açúcar, que era vendido no
mercado europeu. Em poucas décadas, as doenças e o trabalho forçado
reduziram a população indígena, e a mão de obra foi substituída por escravos
importados da África.
Além dos fatores climáticos e da presença abundante de água e de florestas
assim como o solo de massapé, propício ao cultivo da cana, a distância entre
Pernambuco e a Europa foi determinante para o desenvolvimento da indústria
açucareira.
11
Azevedo, Canaviais e engenho, 28. 12
Barickman, Um contraponto baiano, 38. 13
Ibid, 37.
7
As baixadas do litoral, úmidas no inverno com intensas chuvas no verão, e
pouca oscilação de temperatura favoreceram a aclimatação da cana. Assim, as
florestas tropicais que cobriam os trechos mais beneficiados pelas chuvas,
foram substituídas pela cultura da cana, e, em 1550 a indústria açucareira já se
encontrava estabelecida no nordeste do Brasil.14
O processo de expansão das terras e construção de engenhos no nordeste foi
acentuado entre 1560 e 1570, durante o governo de Mem de Sá:
que ao distribuir sesmarias nas terras recém conquistadas,
garantiu para si um excelente local no rio Sergipe bem no
coração do Reconcavo. Ali instalou para si um engenho que se
tornaria um dos mais famosos do Brasil colonial.15
O Engenho de Sergipe do Conde, instalado na então capitania da Bahia do
Salvador, ocupava uma área de “três léguas e meia de costa e quatro para o
sertão com duas ilhas em Seregipe”16.
No século XVI, existiam na Bahia 76 engenhos para uma população de quase
três mil famílias, e 60 em Pernambuco, para uma população de dois mil
moradores que aumentaria para 121 no início século XVII17. Antes de findar
este século, Pernambuco era a região mais próspera da colônia Portuguesa e
dava a Portugal o monopólio de aprovisionamento de açúcar para a Europa.
14
Azevedo, Canaviais e engenhos, 30. 15
Stuart, Segredos internos, 35 . 16
Inventário de Men de Sá , 21. 17
Azevedo, Canaviais e engenho, 53.
8
Declarada a guerra entre Portugal e os Países Baixos, os neerdelandeses
invadiram Pernambuco, em 162418, e se apossaram dos engenhos de açúcar,
que à época eram 150, destruindo grande parte dos canaviais e dos engenhos
e, desarticulando a organização interna, o que favoreceu a fuga de grande
número de escravos.
As perturbações no comércio decorrentes da invasão atrapalharam as
importações, favorecendo o desenvolvimento da indústria açucareira no Caribe
e, do século XVII em diante as colônias britânicas e francesas nas Antilhas
passaram a exportar um volume cada vez maior de açúcar, estagnando o
comércio no Brasil.19
Ao final da guerra, em 1654, os proprietários reconstruíram seus engenhos e
restabeleceram seus laços comerciais com a Europa.
Restituída a vida normal acentuou-se a produção de açúcar em Pernambuco, e
o açúcar brasileiro competia não apenas em quantidade, mas também em
qualidade com o açúcar Europeu, enfrentando agora a concorrência que se
estabelecera durante a invasão neerdelandesa.20
O crescimento das exportações ocorrido na primeira metade do século XVIII,
declinou na década de 1750, quando a exportação do ouro também entra em
declínio, o que causa uma grave crise econômica não apenas para o Brasil,
mas também para Portugal.
18
Livro de Receitas do Engenho de Sergipe do Conde, 71. De acordo com o livro de receitas de Sergipe,
o engenho deixou de moer safras entre 1624 e 1625 onde consta a observação de ser o período em que o
engenho esteva sobre controle holandês. 19
Barickman, Um contraponto baiano, 50 20
Ibid.
9
A missão de reverter essa situação coube a Sebastião José de Carvalho,
conde de Oeiras e depois marquês de Pombal, que governou Portugal com
poderes quase ditatoriais de 1750 a 177721.
Na tentativa de reduzir a dependência econômica da Inglaterra, Pombal reagiu
à crise econômica que se estabelecera, com uma série de reformas, que no
Brasil incluíam tentativas de revitalizar o tradicional comercio do açúcar e fumo
e diversificar a agricultura de exportação para a colônia.
As medidas de Pombal para o Brasil foram demasiadamente opressivas, com a
retomada dos monopólios de navegação, tráfico negreiro e do comércio
externo, e aumento dos tributos à corôa, montando uma “máquina para
exploração voraz da colônia”22, abrindo caminho aos interesses mercantis em
detrimento aos interesses da colônia, reduzindo o preço dos produtos locais
enviados a Europa e aumentando o preço enviados ao Brasil por Portugal,
como trigo, vinagre, azeite, tecidos e ferragens.23
Após a queda do marquês de Pombal, seus sucessores, apesar de
abandonarem algumas de suas políticas24, continuaram a incentivar a
revitalização do comércio colonial, estimulando o plantio de novos produtos de
exportação e melhoramentos na agricultura.
A diversificação dos produtos de exportação promoveu a recuperação
econômica de Portugal, na década de 1790 e, entre os anos de 1796 a 1811,
os produtos brasileiros corresponderam a 60% das exportações portuguesas
21
Ferraz, As ciências em Portugal e no Brasil, 37. 22
Menezes, O outro nordeste, 115. 23
Ferraz, As ciências em Portugal e no Brasil, 31. 24
Barickman, Um contraponto baiano, 50.
10
para os demais mercados europeus, marcando o período que pode ser
chamado de renascimento da agricultura brasileira.25
Assim, não é de se estranhar que, num período de franca produção de açúcar
no Brasil, alguém escrevesse sobre tal atividade (entre outras), como é o caso
de Antonil, a quem dedicaremos o item seguinte desta dissertação.
1.2 Cultura e Opulência do Brasil e os desdobramentos dessa obra
Em 1711, André João Antonil publica a obra Cultura e Opulência do Brasil: por
suas drogas e minas, onde descreve na primeira parte, com detalhes todo o
processo de construção e administração de um engenho, e os métodos de
fabrico do açúcar, observados durante sua estadia no engenho mais importante
da região na época, o Engenho Sergipe do Conde.
Logo após a publicação, a obra foi recolhida e queimada, por ordem régia,
sobrando dela apenas seis ou sete exemplares.26
.A primeira edição da obra, assinada por Antonil “O Anônimo Toscano” foi
posteriormente atribuída ao padre jesuíta André João Andreoni, e publicada em
1711.
A descrição minuciosa das técnicas de produção do açúcar da cana e, a
descrição do caminho para se chegar às minas de ouro do Brasil, parecem ter
constituído o principal motivo para a ordem de se recolher e queimar a
publicação.
25
Barickman, Um contraponto baiano, 72. 26
Ibid.
11
Julga-se ter sido a principal causa para tal procedimento, o receio de
que os segredos revelados no livro acerca do fabrico do açúcar
fossem servir de mais utilidade às colônias espanholas, holandesas,
inglesas e francesas, em detrimento manifesto das portuguesas, e
com especial do Brasil.27
Faremos a seguir um breve estudo da biografia de Antonil, e para tanto,
utilizaremos o “Estudo Biobibliográfico por Affonso D´Escragnolle Taunay”.28
Andreoni nasceu na Perugia, Itália, filho de João Maria Andreoni e de Clara
Maria.
Estudou direito durante 3 anos na Universidade de Perúggia, e 1667 entrou
para a Companhia de Jesus, em Roma.
Em 1671 ingressou no Colégio Romano, onde estudou até 1672 e,
completando os estudos lecionou gramática, humanidades e retórica no
Colégio de S. Borgo Sepolcro.
Frequentou o curso de teologia em Roma e foi ordenado sacerdote em 1685.
Andreoni foi um dos três jesuítas que vieram para o Brasil, acompanhando o
Padre Antônio Vieira, em 1685.
No Brasil, Andreoni ocupou diversos cargos importantes, como o de professor
de retórica no Colégio da Bahia, mentor da congregação dos estudantes,
mestre de noviços e secretário provincial.
Em 1693, Padre Antonio Vieira apresentou a Roma uma queixa acusando
Andreoni de sustentar a rebelião entre os jesuítas brasileiros e, apoiado em
27
Taunay, “Estudos biobibliográficos” in: Antonil, Cultura e Opulência do Brasil 28
Ibid, apresentação.
12
três decretos consecutivos, tentou limitar as funções de Andreoni que
conseguiu autorização especial a seu favor do provincial Diogo Machado e do
Padre Alexandre de Gusmão e, mesmo em 1698, quando a Companhia de
Jesus mandou dispensar os jesuítas italianos, conseguiu manter seu cargo
como Reitor do Colégio da Bahia, que ocupou entre os anos de 1689 e 1702.
Entre os anos de 1706 e 1709 foi provincial dos jesuítas no Brasil. Andreoni
faleceu no Brasil de ano de 1716.
A primeira parte da obra Cultura e Opulência do Brasil: por suas drogas e
minas, foi escrita a partir das observações de Andreoni, durante sua estadia no
Engenho de Sergipe do Conde, onde passou um período hospedado em uma
de suas viagens pelo Brasil.
Tendo ficado desconhecida por 90 anos, “período bastante difícil para a
divulgação de obras brasileiras, onde todas as obras eram fortemente
controladas pelo governo”29, a obra foi republicada parcialmente, por Frei
Veloso, pela Casa Litersobre o título Extracto sobre os Engenhos de Assucar
do Brasil e sobre o methodo já então praticado na factura deste sal essencial,
tirado da obra Cultura e Opulência do Brasil, para se comeinar com os novos
methodos, que agora se propõe”, em 1800, sendo uma das obras publicadas
pela Casa Literária do Arco do Cego, direcionada aos produtores brasileiros
com o objetivo de propor melhorias.
29
Alfonso-Goldfarb & Ferraz, “Raízes Históricas”, 3-14.
13
1.3 Dom Rodrigo de Souza Coutinho e a Criação da Casa Literária do Arco
do Cego
Ao procurar reconstruir a relação de D. Rodrigo de Sousa Coutinho com a
Casa Literária do Arco do Cego, consideramos como aspectos relevantes a
conjuntura política da época, as suposta contradições entre velhas tradições e
a necessidade de reformas impostas pelas novas relações de Portugal frente a
um cenário de turbulência como conseqüência das disputas territoriais e de
poder que se travaram tanto no âmbito externo, quanto âmbito interno. A
Europa estava fortemente influenciada por uma conjuntura política e econômica
de mudanças, com forte impacto nos costumes e nas artes.
Neste contexto, Portugal ao se colocar frente aos acontecimentos foi
fortemente influenciado, não só por sua posição em relação às disputas
externas, mas também pelas novas formas de sociabilidades com a difusão de
novos conhecimentos. Assim, observamos que:
A Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801), criada por D.
Rodrigo de Souza Coutinho, exemplifica bem esta dupla
preocupação quanto as perspectivas de política externa e à
organização dos saberes.30
A necessidade de proteção do seu território e de suas colônias, especialmente
o Brasil, obriga Portugal a reorganizar sua força marítima levando Dom Rodrigo
de Sousa Coutinho, ao substituir Melo de Castro como Ministro da Marinha e
Ultramar, a tomar uma serie de medidas, dentre as quais:
30
Curto, “ D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego”, 15 in: Campos et alli..
14
Foi criado o Conselho do Almirantado, instituição que reproduzia o
modelo britânico, seguindo-se lhe em 1796 o estabelecimento da
Real Junta da Fazenda da Marinha e de um quadro de oficiais da
armada; reorganizou-se a engenharia naval, diferenciando-a dos
ofícios mecânicos; e, em 1797, foi fundado o Hospital da Marinha.
Entre muitas outras iniciativas que procuraram uma reorganização
das nossas forças navais, tendo em vista a necessidade de
efectivar a defesa de Portuga, e muito em especial do Brasil, há
que considerar a criação de uma Sociedade Real Marítima, Militar
e Geográfica[...]31
As medidas adotadas objetivavam a reorganização das forças navais
portuguesas, diante da necessidade de proteção, bem como do Brasil.
Desde a entrada de Dom Rodrigo, no governo, para além das medidas de
proteção, conforme já mencionada, inicia-se um processo da racionalização da
administração financeira, com acréscimo nas receitas e melhor realização das
despesas, resultando na nomeação de Dom Rodrigo como Presidente do Real
Erário.32
Com a Espanha aliando–se a França contra a Inglaterra, marcam uma nova
neutralidade portuguesa, fazendo, no entanto, todos os esforços e se negando
a ratificar acordos que implicasse perda de parte do território brasileiro.33
31
Curto, “ D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego”, 17 in: Campos et alli. 32
Ibid. 33 Ferraz, “A fabricação da pólvora e trabalhos sobre o salitre: Portugal e Brasil de finais do século XVIII
às primeiras décadas do século XIX”, 2 in: Lorelai Kury e Heloisa Gesteira.
15
Dom Rodrigo, cerca-se de brasileiros, criando as condições para a difusão de
conhecimentos:34
Com a criação da Tipografia e Calcografia do Arco do Cego,
dirigida mais diretamente por fr. José Mariano da Conceição
Veloso, natural do Brasil, mas patrocinada por D. Rodrigo,
destinada a difundir obras que fomentassem o progresso do Brasil,
na agricultura, e que o afirmassem enquanto colónia portuguesa.35
A conjuntura de disputas na Europa, que culminou com a invasão de Portugal,
obriga a metrópole não só a abandonar a neutralidade, como estabelecer
negociações com França com pagamento de despesas de guerra.
A tomada de posição de Portugal resulta de um tipo cultura diplomática, onde
Dom Rodrigo figura como um dos personagens principais. As posições
diplomáticas de Dom Rodrigo expressam seus conhecimentos e experiências e
suas ações políticas a serviço do rei.36
Os hábitos de leituras contribuem para formação de uma nova cultura nos
processos diplomáticos. Verifica-se que a cultura diplomática em mutação
resulta dos hábitos de leitura e viagens de instrução de Dom Rodrigo, o que
determina novas maneira de conduzir o estado.
As limitações impostas a uma narrativa cronológica do texto destaca-se em
aspectos compensadores no entendimento das tomadas de posição do Conde
de Linhares. Os aspectos desta compreensão estão vinculados aos hábitos
sociais que resultam das experiências de dom Rodrigo e a busca por novos
34
Curto, “ D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego”19 in: Campos et alli 35
Ibid. 36
Ibid.
16
modelos e novos exemplos de práticas de governar, a uniformidade do império
português.
Neste contexto, quando se analisa as funções a serem exercidas pelo centro e
pelas províncias e observa-se que à metrópole caberia como função mercantil
os produtos manufaturados e ás colônias produção de matérias primas e
gêneros agrícolas, Dom Rodrigo entendia que caberia também às províncias a
produção de manufaturados. A tomada de posição de Dom Rodrigo, tem como
elementos principais a sua preocupação em defender as províncias
ultramarinas e um novo modelo de organização política e por outro lado, os
projetos de reforma fiscal do estado.37
Fundada na ideia de respeito ao príncipe e que a ação política deve ser
concebida como serviço á monarquia. O paradoxo de Dom Rodrigo pode ser
observado:
A oposição entre uma maneira de conceber a política fundada na
reforma do aparelho de Estado, no domínio fiscal, militar ou da
administração da justiça, e uma outra baseada em dádivas liberais,
mercês e na formação de laços pessoais ou clientelares tinha suas
raízes bem localizada numa cultura política do antigo regime.38
Apesar dos preservar ainda vícios que são próprios de uma visão clientelistas,
onde predominam as relações pessoais, a análise destaca, contudo os projetos
reformistas de Dom Rodrigo, onde se pode verificar que apesar da cultura
política e da politização, esta pouco tem a ver com os trabalhadores. Neste
37
Curto, “D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego”, 32 in: Campos et alli. 38
Ibid.
17
sentido verifica-se que a casa literária vai representar este universo em
contradição:
Como se poderá demonstrar, a Casa Literária do Arco do Cego,
iniciativa efêmera de D. Rodrigo, mas que implicou elevados
investimentos, revela bem essas duas maneiras de fazer política do
antigo regime.39
Destaque–se que as contradições entre a visão reformista e os hábitos do
antigo regime possibilitam ao mesmo tempo uma intensa atividade relacionada
ao conhecimento, com aumento da atividade tipográfica voltada a divulgar para
os produtores da colônia novos métodos de produção e a tentativa de inserir
novas culturas a serem desenvolvidas e, por outro um intenso processo de
controle destas atividades.
O processo de controle destes dos novos conhecimentos e ideias revela, de
maneira mais clara e objetiva através do profundo controle sobre as ações da
Universidade de Coimbra, com substituição do Reitor, apreensão de livros,
controle de leituras. O espírito da reforma pombalina dava, assim, lugar à
perseguição e à censura.
Breve mais intensa a Casa Literaria do Arco do Cego pode ser
vista como um dos elementos do processo de construção do
Estado moderno[...] A exemplo do que já se passara com a
Academia Real de Ciências, a Casa Literária do Arco do Cego era
39
Ibid.
18
uma forma de arregimentar intelectuais que, de outro modo,
poderiam ter comportamento sediciosos.40
1.4 Veloso na Casa Literária do Arco do Cego e as publicações
sobre/para o Brasil
José Mariano da Conceição Veloso, ou Frei Veloso, nasceu no Brasil, em
Minas Gerais no ano de 174241. Filho de José Velloso da Câmara e de Rita de
Jesus Xavier, ocupou importantes cargos entre eles o de diretor da Tipografia
Literaria do Arco do Cego, instituição fundada em 1799 por D. Rodrigo de
Sousa Coutinho.
Veloso desempenhou importante papel na divulgação de trabalhos sobre as
ciências naturais, com destaque para as atividades que poderiam ser
desenvolvidas no Brasil, como a agricultura, a criação de animais, a instalação
de algumas fábricas e a mineração. Tratava-se, principalmente de memórias e
"cartas" a ele enviadas, mas, também, de traduções feitas, muitas vezes, por
ele mesmo.42
Optou pela vida eclesiástica “vestindo o hábito dos religiosos menores
reformados de São Francisco – os Capuchos – no Convento de S.
Boaventura"43 em 11 de abril de 1761, iniciando seus estudos com Fr. José da
Madre de Deus Rodrigues, tornando-se sacerdote em 12 de abril de 1762.
40
Curto, “D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego”, 49 in: Campos et alli
Taunay, “Estudos Biobibliográficos”. Encontraremos algumas referências que citam como ano de seu
nascimento 1741, mas nesse estudo nos basearemos no ano citado na referencia da bibliografia citada. 42
Ferraz, “A Produção de Salitre no Brasil Colonial”, 846 43
Nunes e Brigola “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 52 in:
Campos et alli.
19
Estudou filosofia no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, tendo como
mestre Fr. Antônio da Anunciação, e “apesar de em 1768 ter sido eleito
pregador não se evidenciara como orador sacro revelando antes, dotes
didáticos”.44
Em São Paulo, no início da década de 70, Frei Veloso torna-se professor de
geometria no Colégio de São Paulo e, retornando ao convento de Santo
Antônio do Rio de Janeiro, leciona História Natural, “desenvolvendo atividades
científicas e museológicas de caracter naturalista”45.
Não podemos senão conjecturar sobre as influências intelectuais
que terão moldado as opções científicas de frei Veloso, mas não
nos parece desprovido associá-lo ao novo espírito das reformas
dos planos de estudos conventuais cujo paradigma permaneceria o
pioneiro Plano dos Estudos para a Congregação dos religiosos da
Ordem terceira de São Francisco do Reino de Portugal”46
Criado em 1769 pelo provincial Frei Manoel do Cenáculo Villas-Boas, o Plano
de Estudos para a congregação da Ordem terceira de São Francisco do Reino
de Portugal embora mantivesse a predominância dos estudos teológicos e da
filosofia racional, introduzia, ainda que de maneira tímida, estudos físico-
matemáticos e filosófico-naturais.
A inserção dessas novas disciplinas de forma propedêutica “num plano
pedagógico que modelou e deu tom aos demais instituitos regulares”47 se
44
Nunes e Brigola “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 52 in:
Campos et alli. 45
Ibid, 53. 46
Ibid, 52. 47
Ibid, 53 .
20
tornaria o primeiro passo para a adequação dos estatutos de acordo com o
proposto após a Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra, ordenadas
em 1772 pelo Marques de Pombal.48
Nesse mesmo período o interesse pelas ciências da natureza, levam à
agremiação de uma comunidade científica no Rio de Janeiro, por iniciativa do
então vice-rei Marques de Lavrádio, “que congrega a pequena comunidade de
profissionais ligados às atividades médicas e farmacêuticas, que se juntam
alguns naturalistas amadores e eclesiásticos”49, e criação de uma pequeno
horto botânico, “na cerca do Colégio Jesuíta”.50
Esta instituição teria se dedicado, entre outras questões, a trabalhos sobre a
criação do inseto e preparação do corante da cochonilha. Essa associação
passaria a ser conhecida como Academia Científica do Rio de Janeiro,
mantendo-se em atividade por alguns anos.51
Durante sua existência a academia realizou:
na sala do palácio do vice-rei e na sua presença e de numeroso
concurso de pessoas de toda qualidade recitaram os diretores da
mesma Academia cinco eruditas orações sobre a Medicina,
Anatomia, Cirurgia, História Natural, Química e Farmácia.52
48
Ferraz, M.H.M. As Ciências em Portugal e no Brasil. Nesta obra podemos encontrar maiores detalhes
sobre as medidas de Pombal e suas consequências para o Brasil. 49
Nunes e Brigola “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 54 in:
Campos et alli. 50
Ibid, 55. 51
Ferraz, “A rota dos estudos sobre a cochonilha”, 1035. 52
Nunes e Brigola “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 55 in:
Campos et alli.
21
No curto período em que esteve em funcionamento, a Academia do Rio de
Janeiro apresentou, uma vez por semana, dissertações apresentadas por seus
membros que, aos sábados, realizavam estudos no Horto Botânico que:
[...] servia para nele se tratarem, e recolherem todas as plantas
notáveis, e terá cada acadêmico obrigação de o hir ver para
observar a diferença e crescimento delas. Haverá alguns coletores
[...] e também alguns acadêmicos desenhadores de plantas.53
Frei Veloso não participou das atividades da Academia, ao menos, seu nome
não é citado na Relação de Acadêmicos mas, apesar do horto botânico servir
apenas como auxiliar da medicina, e não necessariamente servir para a
descrição e classificação das espécies, as atividades realizadas pela academia
teriam influenciado o trabalho de Frei Veloso. Sobre isso pode-se dizer:
[...] que o ambiente cultural nas principais cidades brasileiras, com
especial relevo para o Rio de Janeiro, proporcionava uma
sociabilidade científica de cunho naturalista propícia à afirmação
intelectual de personalidades como a do autor da Florae
Fluminensis54
Em 1779 Luiz de Vasconcelos e Souza é nomeado vice-rei. Aristocrata
naturalista possuía “gabinete privado, rico de coleções naturais e artificiais.”55,
que, seguindo orientações da Secretaria do Estado dos Negócios Ultramarinos
53
Ibid. 54
Ibid. 55
Ibid, 56.
22
e pelo Real Museo do Jardim Botânico da Ajuda56, empenhou-se na coleta e
envio de espécies para Lisboa.
Em carta datada de 17 de junho de 1783, ao então ministro Martinho de Melo e
Castro, ressalta as espécies enviadas a Lisboa para serem apreciadas pelos
naturalistas régios, e também informa sobre o início das atividades de Frei
Veloso como encarregado pelo envio de plantas “cujas descrições e desenhos
evidenciariam, a seu ver, o grande talento do religioso franciscano.”57
Por ordem de vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza, frei Veloso, liberado de
suas obrigações conventuais, iniciou suas excursões pelo Rio de Janeiro,
acompanhado por Fr. Anastácio de Santa Ignes “escrevente das definições
herbáceas” e Fr. Francisco Solano “pintor e desenhista”. Suas “viagens
filosóficas” se prolongariam por oito anos (1783-1790), período no qual realizou
as pesquisas que posteriormente dariam origem à sua obra Flora Fluminensis,
concluída em 1790, mas publicada apenas em 1825, quatorze anos após a sua
morte.
Frei Velloso interrompe seus trabalhos e retorna para Lisboa, a convite do vice-
rei Luis de Vasconcelos, por ocasião do término de seu mandato,
transportando consigo os originais nos textos da Florae Fluminensis, além de
“70 caixões, que eram compostos nomeadamente por uma
coleção de todos os peixes de água doce e salgada, feita por um
novo método; por uma outra de insetos marinhos e terrestres; e
finalmente por uma de borboletas impressas pela fécula colorante
56
Ibid, 57. 57
Nunes e Brigola, “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 58 in:
Campos et alli.
23
de que se cobrem as membranas de suas asas, obra tão rara e
estimável que tem o suplicante notícia não haver outra em algum
dos Gabinetes reais da Europa”58.
Toda a coleção seria então depositada no Museu de Sua Magestade o Real
Museu e Jardim Botânico d´Ajuda.
Em súplica enviada às autoridades régias em 1790, após sua ida para Lisboa,
frei Veloso se queixa das imposições de Luis de Vasconcelos e Souza,
responsabilizando-o por seu adoecimento, que o obrigou a abandonar os
trabalhos no Brasil e retornar a Portugal para tratar de sua saúde, uma vez que
Luis de Vasconcelos teria:
deixando cair sobre os ombros do suplicante todo o peso do exame e
coleccção das produções naturais desta Capitania, por mais que o
suplicante lhe representasse a debilidade de suas forças para este
emprego.59
Em Portugal, Frei Veloso torna-se o primeiro membro brasileiro da Academia
Real de Ciências de Lisboa e, excluído da Academia em 13 de janeiro de 1798,
desabafa um ano depois sobre “a fraca produção nacional de textos impressos
obrigando-o a traduzir e adaptar autores estrangeiros”60. Lamenta, ainda “não
termos ainda hum só texto escrito nosso, acerca da História Natural deste
Reino, e ainda de suas Colônias, não por falta de pessoas de talentos.”61
58
Ibid, 60. 59
Nunes e Brigola, “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 60 in:
Campos et alli.. 60
Ibid, 62. 61
Ibid.
24
Para Frei Veloso, a baixa produção literária disponível no Brasil constituía uma
barreira para a melhoria dos métodos de produção aqui existentes, uma vez
que tais melhorias, não alcançavam os produtores locais que:
Agrilhoados os entendimentos desta maneira conservaram a sua
antiga prática por noventa anos (e com quanto detrimento do bem
comum) por não se poderem comunicar algumas ideias particulares
descobertas nas diversas capitanias daquele Estado [...].62
A partir do ano de 1796, Frei Veloso dedica-se a criar uma rede de tipografias
para “a exemplo das nações cultas e civilizadas dar conhecimento da Nova
Agricultura” e que, estaria baseada nos princípios agronômicos decorrentes da
Filosofia Natural63, estabelecendo contato como compilador, tradutor ou
coordenador com os prelos de “Antônio Rodrigues Galhardo, impressor da
Casa do Infantado; de Procópio Correia da Silva, impressor da Santa Igreja
Patriarcal e dos contatos editoriais da oficina de Simão Thaddeo Ferreira”64 ,
pretendia trazer as principais novidades agronômicas para Portugal, e à partir
daí distribui-la para o Brasil.
Também em 1796, Veloso publica em Lisboa o periódico agrário Paládio
Portugues e Clarim de Palas que anuncia periodicamente os novos
descobrimentos e melhoramentos n´agricultura, artes, manufacturas,
62
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, Carta destinada a V.A.R, solicitando autorização do
Supremo Distribuidor dos Impérios para publicação da obra de Antonil. 63
Nunes e Brigola, “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 63 in:
Campos et alli. 64
Ibid.
25
commercio, pela Officina Patriarchal, que fez circular as novidades nacionais
e/ou traduzidas de autoridades estrangeiras do mundo agrário”65
Publicou também pela Tipografia de João Antônio da Silva uma tradução do
inglês Sobre o modo de fazer salitre nas Fábricas de Tabaco da Vírgínia,
dedicada “aos lavradores das províncias portuguesas e de ultramar”66 onde
descreve um método para obtenção de salitre, matéria-prima utilizada na
produção de pólvora, e também sobre a fabricação da pólvora propriamente
dita, além do aperfeiçoamento de sua eficiência destrutiva. A publicação desta
obra é uma importante evidência da preocupação da corôa em desenvolver no
Brasil a produção do Salitre objetivando a defesa de seu território.67
Após essa edição dedicou-se a recolher e obter leituras para os agricultores e
lavradores do reino:
Para ampliar-lhes o horizonte de conhecimentos, familiarizando-os
com os novos produtos, com as novas técnicas, com a nova
agricultura de Duhamel du Monceau para o velho mundo e
sobretudo para o deslumbrante e exótico Novo Mundo, o Brasil”68
Frei Velloso, além de botânica dedicou também alguns de seus estudos à
química. Conhecido perante a comunidade científica de Portugal, Frei Veloso,
hospedando-se na Casa de D. Rodrigo de Souza Coutinho, é por ele incumbido
de:
65
Ibid, 62. 66
Ibid, 63. 67
Ferraz, A produção de Salitre no Brasil Colonial, 845. 68
Nunes e Brigola, “Josè Mariano da Conceição Veloso: Um Frade no Universo da Natureza”, 63 in:
Campos et alli.
26
ajuntar e trasladar em Português todas as memórias estrangeiras
que fossem convenientes aos Estabelecimentos do Brasil, para
melhoramento de sua economia rural e das fábricas que dela
dependem, pelas quais ajudadas houvessem de sair do atraso e
atonia em que atualmente estão e se pusessem ao nível com as
das nações nossas vizinhas e rivais no mesmo continente, assim
na quantidade como na qualidade de seus gêneros e produções”69
Nomeado por D. João VI diretor da Typographia Litteraria do Arco do Cego,
publicou uma série de obras dirigidas ao Brasil, dentre elas O Fazendeiro do
Brasil que, entre 1789 a 1806 teve 11 tomos publicados e distribuídos,
começando como era de esperar por tratar da mais importante das culturas
brasileiras, a da cana.
Várias publicações de Veloso foram destinadas a promover o desenvolvimento,
no Brasil, de outras atividades agrícolas de grande interesse comercial, como a
cochonilha, importante corante vermelho, e que poderia ser produzido no
Brasil, uma vez que era produzido no México do Norte, região com a mesma
latitude do Rio de Janeiro.70
Publicada em 1799 em O Fazendeiro do Brazil, tomo II, parte III sob o título de
Memoria sobre a cultura da Urumbeba e sobre a criação da Cochonilha, esta
obra contém texto completo de Thiéry de Menonville, Traité de la culture du
nopal et de l'éducation de la cochenille, sendo prometido para o volume
69
Ibid. 70
Ferraz, “A rota dos estudos sobre a cochonilha”, 1033.
27
seguinte demais textos desse e de outros autores, sempre sobre o mesmo
tema71.
Consta do Catálogo bibliográfico da Typographia e Chalcografia Litterária do
Arco do Cego, a publicação de 83 obras, entre as quais, estão dirigidas à
cultura do açúcar72:
Respostas dadas a algumas perguntas que fizeram sobre as novas moendas
dos engenhos de assucar e novos alambiques, em 1800;
Extractos sobre os engenhos de assucar do Brazil, e sobre o método já então
practicado na factura desse sal essencial, em 1800;
Compêndio sobre a canna e sobre os meios de se lhe extrair o sal essencial,
ao qual se ajuntam muitas memórias ao mesmo respeito, 1801;
Memórias sobre a cultura e produtos da cana de açúcar, em 1800;
Descrição da árvore açucareira, e de sua utilidade e cultura, em 1800;
Memória Sobre a moagem dos Grãos e Sobre Outros Objectos Relativos, em
1800.
Compêndios de Agricultura em 1801 e
Ensayo sobre o Modo de Melhorar as Terras em 1801;
Além dessas obras, diretamente direcionadas à cultura da cana, Veloso
publicou diversas outras com o objetivo de trazer melhoramentos para a
agricultura, assim como a indicação de novas culturas que poderiam ser
71
Ibid 72
Para a referência completa desses trabalhos, consultar o Catálogo de Publicações de Frei Veloso, 141-
198 in: Campos et alli.
28
desenvolvidas no Brasil, de onde se poderiam tirar melhoramentos para a
cultura da cana.
Da coletânea de textos sobre o açúcar, publicadas entre os anos de 1800 e
1801, pela Casa Literária do Arco do Cego, neste trabalho estudaremos os
métodos propostos na publicação da reedição de 1800 da primeira parte do
livro de Antonil. Obra cuja publicação Veloso justificava: “Por ser esta a única
que antecede em nossa linguagem às que de ordem de V.A.R. se tem
impresso a favor dos empreiteiros deste granjeiro Brasil “73.
A obra completa só seria republicada em 1837, no Rio de Janeiro pela Typ.
Imp. E Const. De J. Villeneuve e Comp., com nova publicação em 1841.
Taunay afirma que teve contato com a obra de 1837, e que efetuou o confronto
entre ambas, sendo que a obra de 1837 a reprodução fiel da obra de 1711. 74
73
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, Carta destinada a V.A.R, solicitando autorização do
Supremo Distribuidor dos Impérios para publicação da obra de Antonil. 74
Taunay, “Estudos biobligráficos”.
29
CAPÍTULO 2 : TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DO AÇÚCAR
A primeira parte da obra Cultura e Opulência do Brasil, editada em 1711,
dividida em três livros, descreve todo o processo de produção do açúcar da
cana, desde a escolha das terras para a construção do engenho, a descrição
das oficinas e equipamentos necessários, as técnicas de cultivo e corte da
cana e produção do açúcar, da moagem até o encaixotamento e envio do
açúcar para Portugal com os emolumentos e taxas alfandegárias pagas em
Lisboa.
Veloso, no entanto, excluiu o capítulo que trata dos custos de produção e as
críticas de Antonil aos altos encargos impostos pela Corôa e à falta de
investimentos e melhorias que implicassem em maiores ganhos para os
agricultores, massacrados pelas políticas impostas por Portugal.
Com a cana já no engenho, as etapas de produção do açúcar descritas são:
moagem da cana; limpeza ou purga do caldo; cozimento do melado ou
formação dos grãos e branqueamento do açúcar.
Como mencionamos, a publicação de Veloso Extracto sobre os Engenhos de
Assucar do Brasil e sobre o methodo já então praticado na factura deste sal
essencial, não contém nenhuma outra sugestão de modificações, além da
moenda. No entanto, pudemos observar sua preocupação em propor métodos
para melhoria de todas as etapas de produção do açúcar, desde estrumação
da terra, plantio da cana, moagem, limpeza do caldo, cozimento do melado e
formação dos grãos, branqueamento e secagem, em diversas outras
publicações.Tais publicações são iniciadas com O fazendeiro do Brasil, tomo I,
30
dividido em 3 partes, onde Veloso propõe um plano para se reformar os
engenhos do Brasil, indicando melhoramentos nos métodos de produção do
açúcar que poderiam ser aplicáveis à produção no Brasil. A esta, seguem
outras especialmente pela Casa Literária do Arco do Cego, embora publicasse
também em outros prelos.
Indicaremos algumas dessas modificações propostas, durante o estudo dos
métodos utilizados, conforme descritos na obra de Veloso/Antonil, seguidas de
nota de rodapé, sendo as referências completas dada no final do trabalho.
2.1 Escolha das terras e dos oficiais para o engenho
Segundo Veloso/Antonil a escolha de “terras boas ou más, são o fundamento
principal para ter um engenho real bom, ou mao rendimento”75. Mas não se
tratava apenas das terras para o plantio da cana, pois também eram
necessárias terras para o cultivo de mandiocas para alimentação, e de onde se
pudessem retirar madeiras nobres para construção dos engenhos e para o
fornecimento de lenhas, terras para cultivar a cana e para retirar o barro para a
purga do açúcar. Além disso, deveriam ser terras com de água facilmente
acessível.
Na escolha das terras onde fosse instalar um engenho se deveria, portanto
observar a existência de todos os tipos recursos, o que tornava necessário,
segundo o texto, que o senhor de engenho:
75
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, 41.
31
Valha-se das informações dos lavradores mais entendidos, e
atente não somente a barateza do preço, mas também de todas as
conveniências[...] e para escusar outros inconvenientes, que os
velhos lhe poderão apontar, que são os mestres a quem ensinou o
tempo, e a experiências, e que os novos ignoram76
A advertência é feita porque muitas das propriedades que estavam à venda
tinham “as terras cançadas, ou falta de lenha”77, sendo um outro motivo comum
para a venda de terras o difícil acesso, que por vezes inviabilizava a existência
dos engenhos devido aos altos custos do transporte.
Veloso/Antonil sugere, ainda, que se investigue a existência de dívidas
vinculadas ao terreno, além da correta demarcação da terra e que, uma vez
realizada a compra o pagamento combinado seja rigorosamente cumprido. Ou,
segundo suas palavras:
Não falte a seu tempo com a palavra que deu, pague e seja pontual
nessa parte, e atente a conservação e melhoramento do que se
comprou, e principalmente use de toda a diligência para defender o
marco e as águas de que necessita para moer seu engenho”78.
Com as terras compradas, o senhor do engenho deveria então contratar os
serviços dos oficiais, tarefa das mais importantes, uma vez que os
conhecimentos necessários à produção do açúcar teriam sido adquiridos com a
prática de tais oficiais e, portanto, o rendimento e a qualidade da produção
76
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, 6. 77
Ibid, 6. 78
Ibid, 7.
32
estariam diretamente relacionados, não apenas à estrutura física do engenho e
seus equipamentos, mas também com a experiência de seus oficiais.
Se em alguma cousa mais que em outra há de mostrar o senhor
do engenho a sua capacidade e prudência, esta sem duvida he a
boa eleição das pessoas e oficiais que há de admitir ao seu
serviço79,
O primeiro oficial a ser escolhido era o capelão. Feita a escolha do capelão, o
senhor do engenho deveria então contratar os feitores, pois “os braços de se
vale o senhor do engenho para o bom governo da gente, e da fazenda são os
feitores”80. Dotados de autoridade, para distribuir as funções entre os escravos,
providenciando os devidos descansos e cuidados, se estes adoecerem ou se
ferirem, garantindo assim que o senhor não perca escravos, aumentando ainda
mais os custos de produção do engenho. Segundo orientação dada por
Veloso/Antonil convém que os feitores sejam moderados no trato com os
escravos:
Obrigação do feitor mór do engenho é governar toda a gente, e
reparti-la a seu tempo como he bem para o serviço[...] Dar conta ao
senhor de tudo o que he necessário para o aparelho do engenho[...]
vigiar para que ninguém falte com sua obrigação.81
Precisava haver também um feitor na moenda, para controlar a moagem das
canas e atentar para que não ocorressem acidentes, principalmente durante o
abastecimento da moenda; feitores nas plantações para defender as terras e
79
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, 12. 80
Ibid, 16. 81
Ibid, 17-18.
33
determinar a hora de plantar, colher e fazer roças, cuidar do corte e transporte
das canas e das lenhas, e vigiar os escravos que trabalham nos canaviais.
Além dos feitores, era preciso também contratar o mestre do açúcar.
A quem faz o assucar com razão se dá o nome de mestre, porque o
seu olhar pede inteligência, atenção e experiência82.
É o mestre do açúcar que, com sua experiência, controlará as etapas de
produção do açúcar no engenho “e para tanto não basta que seja qualquer
[experiência], é necessária que seja a experiência local”83, uma vez que ele
deverá conhecer a qualidade das canas, pois dependendo da qualidade da
cana será necessário maior ou menor tempo para a purificação do caldo;
cozimento do melado, têmperas e purga.
Para suprir as ausências do mestre do açúcar, tem o engenho ainda o
banqueiro e o ajuda-banqueiro, sendo este último, muitas vezes um escravo do
engenho.
Deve contar ainda o engenho de um purgador, responsável pela purga do
açúcar e dois caixeiros, um no engenho, responsável pelo encaixotamento do
açúcar e por anotar todas as caixas produzidas, e um caixeiro na cidade, que
manda embarcar o açúcar, e serve como contador para o senhor do engenho.
82
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar, 20. 83
Ibid.
34
2.2 Corte da cana e estrumação do solo
A sequência de operações no engenho inicia-se pelo corte e limpeza das
canas, que deverá ser moída tão logo seja cortada “tanto pois que estiver de
vez , se mandará por nella a fouce, tendo já certo o dia em que se há de moer
para que não fique depois de cortada a murchar-se no engenho, ou que não
seque exposta ao sol”84.
A cana era cortada por escravos do sexo masculino, sendo reservado às
escravas amarrar os feixes, pois as escravas do sexo feminino não deveriam
trabalhar com foices. Os escravos encarregados do corte da cana trabalhavam
por tarefas, isto é, deveriam cortar uma quantidade determinada de cana por
dia, diferentemente dos outros escravos.
Consta o feixe de doze cannas: e tem por obrigação cada escravo
cortar em hum dia sete mãos de dez feixes por cada dedo, que são
trezentos e cincoenta feixes.[...] e se lhes sobejar tempo será para
gastarem livremente no que quiserem85
A palha retirada da cana durante o corte era então queimada
“ou pela madrugada, ou já de noite quando acalmado o vento der
para isso lugar, e serve para fazer a terra mais fértil”86.
O uso das cinzas como estrume87 era bastante conhecido, chegando a
fazer parte de uma poema de Tomás Antônio Gonzaga88.
84
Ibid, 48. 85
Ibid, 49. 86
Ibid, 50.
35
Sobre a estrumação da terra, Veloso publicou em O Fazendeiro do Brasil
métodos de estrumação utilizados na Jamaica, onde obtinham maiores
rendimentos da cana que no Brasil e, portanto, deveriam ser testados.
Nas terras humidas, que não admittem com facilidade vallas para o
escoamento das águas o uso das cinzas pôde aproveitar para o
effeito de absorver a humidade supérflua[...] Isto com tudo não he
sufficiente nas plantações, que fe achao muito cançadas, e
exhauridas pela cultura[...] Também costumão estrumar os campos
com grandes cargas de esterco, de maneira igual ao uso das
cinzas.89
Veloso publicou também pela Casa Literária do Arco do Cego a obra de Patullo
Ensayo sobre o modo de melhorar as terras, em 1801, onde descreve as
experiências do francês com diferentes tipos de estrumes, que poderiam ser
aplicados a diferentes tipos de terras, além da classificação das terras. Nesta
obra, o autor explica as características de cada tipo de terra, e de cada
estrume, e menciona a necessidade de adicionar à terra adubo de natureza
oposta, afim de equilibrar a terra. Deste modo, a indicação para terras com
excesso de água ou pesadas, como as argilosas, é o uso de estrumes de
cinza, para retirar a umidade das terras, e mistura com terras areiscas. Nesse
livro se pode ler:
Com tudo protesta-se, que se não pensa nesta obra dissuadir o
methodo de M. Dunhamel, nem causar o menor prejuízo aos
87
Moraes, Compêndio, 68. A definição de estrume aparece na obra publicada pela Casa Literária do Arco
do Cego da seguinte maneira: estrume é toda substância que deitada, ou deixada na terra, aumenta sua
fertilidade. 88
Gonzaga, Tomás Antonio, Marília de Dirceu. Tomás Antônio Gonzaga mudou-se de Porto, Portugal,
para Pernambuco no ano de 1715 mudando-se para a Bahia em 1751, quando ingressou no Colégio dos
Jesuítas, retornando para Portugal no ano de 1761, voltando então ao Brasil no ano de 1782. Não sabemos
exatamente a data do poema, mas sabemos que foi escrito no Brasil. 89
Veloso, O fazendeiro do Brasil (tomo I vol. I), 27.
36
escriptos deste amigo do gênero humano, que se destinou a
illuminallo em agricultura. Respeita-se o seu methodo, como
demonstrado , e naô se propõem este, senaô como mais apto de
ser facilmente concebido , e praticado pelo commurn dos rendeiros
, e ainda dos proprietários e também como talvez mais susceptível
de ser adoptado.90
Veloso menciona que a publicação mais completa sobre a adubação das terras
é a de Monceau Duhamel (mencionado na citação acima), Eléménts
d´agriculture, publicada em Paris em 1763, onde além da descrição e uso de
diversas plantas, encontramos também orientação para produção de estrumes
dos reinos animal, vegetal e mineral, e a indicação seus usos nos diversos
tipos de solo. A publicação desta obra, no entanto, não consta do catálogo de
publicações da Casa Literária do Arco do Cego.
2.3 Casa das fornalhas
A casa das fornalhas compreende o edifício onde se faz a purga, ou limpeza do
caldo, e o cozimento do melado, até o ponto do açúcar. Segundo descrição de
Veloso/Antonil, a casa das fornalhas, instalada junto à casa da moenda eram
operadas, dia e noite, por escravos:
[...] condenados que são os escravos bobentos, e os que tem
corrimentos: obrigados a esta penosa assistência para purgar com
suor violento os humores gálicos; de que tem cheios seus corpos.
Tem ahi também outros escravos facinorosos, que presos em
compridas, e grossas cadeias de ferro, pagam neste trabalhoso
90
Patullo, Ensayo sobre o modo de melhorar as terras, introdução.
37
exercício os repetidos excessos de sua extraordinária
maldade[..]”91
Para Antonil, apesar do trabalho de abastecer a moenda ser o mais arriscado,
é o trabalho da casa das fornalhas, sem dúvida o mais penoso, considerado
mesmo um castigo.
Segundo a descrição de Veloso/Antonil, no engenho Sergipe do Conde, apesar
do uso de diversas tachas para o cozimento, cada qual estaria sobre uma
fornalha diferente.
Nos engenhos reais costumam haver seis fornalhas, e nelas outros
tantos escravos assistentes, que chamam metedores de lenha
[...]92.
Uma vez que, a temperatura de cozimento de cada etapa determina a
qualidade dos grãos que serão cristalizados, apesar da abundância de lenhas,
estas deveriam ser arrumadas seguindo um método, para que as fornalhas
fossem abastecidas adequadamente e assim produzir açúcar de boa
qualidade, sendo que o abastecimento era ordenado pelo caldeireiro, para que
se pudesse obter a temperatura adequada à limpeza. Vejamos como se refere
ao processo:
o primeiro aparelho de lenha, para se botar fogo a fornalha chama-
se armar, e isto vem a ser, empurrar rolos, e estende-los no lastro[...]
e sobre eles cruzar travessos, e lenha miúda, para que levantada
91
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 66. 92
Ibid, 66-67.
38
chegue mais facilmente com a chama ao fundo das caldeiras e
taxas.
Cabia ao caldeireiro o conhecimento necessário para controlar a temperatura
de cozimento, e para tanto, orientar aos metedores93 a quantidade necessária
de lenha “e o metedor há de estar atento ao que lhe mandam os caldeireiros,
botando precisamente a lenha, que os de cima conhecem, e avisam ser
necessária”:
assim, para que não transborde o melado dos cobres, como para
que não falte o ferver; porque se não o ferver em sua conta, não se
poderá alimpar bem da imundície, que hade vir acima, e escumar
das caldeiras94
O descontrole da temperatura de cozimento nesta etapa, segundo a descrição
de Veloso/Antonil, poderia prejudicar a retirada das impurezas do caldo,
comprometendo a qualidade do açúcar.
Veloso fez publicar em O fazendeiro do Brasil95
a obra de J.-F. Dutrone de la
Couture, em 1799, onde é proposto um novo método, que estaria sendo
testado por ele e teria como objetivo aumentar o rendimento da produção do
açúcar. Nesta obra, encontraremos também a indicação do uso de um novo
forno. Veloso republicou a obra pela Casa Literária do Arco do Cego, em 1801
sob o título um novo método para fazer açúcar. Nesta obra, segundo Veloso:
M. Dutroni se propõem generalisar muito mais uso do Assucar, do
que actualmente está, pelos grandes bens , que do seu uso resulta
93
Escravos encarregados de abastecer com lenha o fogo das caldeiras e tachas. 94
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 69. 95
Veloso, O fazendeiro do Brazil, (tomo I parte II).
39
a humanidade; e para isto se propõem extrahillo da mesma
quantidade de matéria em huma maior abundância, extrahillo no
ultimo ponto da sua pureza, vende-lo por hum preço muito mais
cómodo , de sorte que possa chegar a todos, e tér hum lucro
dobrado o seu Lavrador.96
No forno apresentado por Veloso/Dutrone, uma mesma boca de fogo atenderia
a um conjunto de tachas, utilizando uma chaminé de tiragem para aquecer
todas as tachas e um melhor encaixamento das tachas à mesa de alvenaria,
diminuindo as perdas de calor e consequentemente o uso de combustíveis, e a
facilidade de transferência do caldo de uma caldeira para outra graças a pela
proximidade entre elas, sendo que na própria mesa de alvenaria haviam regos
e calhas para recolher o caldo escumado.97
Neste tipo de forno, as tachas também sofreram uma diferenciação com
relação ao seu tamanho, sendo a temperatura também controlada pelo
tamanho das tachas, sua posição em relação à boca do fogo e o tempo de
permancencia no fogo.
Veloso/Dutrone ao apresentar seu novo método irá sugerir a substituição das
caldeiras de ferro, introduzidas na Ilha de São Domingos pelos holandeses e,
em uso há mais de 50 anos, por caldeiras de cobre que, apesar de serem mais
caras, possuíam um valor agregado pelo cobre, que poderia ser usado para
outros fins e também seriam mais eficientes para o aquecimento, devido a
natureza do cobre, mais resistentes à ação do calor.98
96
Ibid, V. 97
Veloso, O fazendeiro do Brazil (tomo I parte II), 347-349. 98
Ibid, 308-309.
40
O cobre depois do ouro é o metal mais sensível a acção do calor, e
que ele penetra com maior rapidez [...] fazendo-se os seus fundos
com cuidado, sofrem a acção do fogo, o mais forte, sem alteração
alguma, e podem aturar até um século.[...]
O cobre em todo o tempo, e em todo o lugar, tem um valor
intrínseco bem determinado[...] Unicamente as nossas colônias o
bannirao a 50 anos; mas os ingleses, mais sábios que nós o tem
conservado.99
As caldeiras de ferro também sofriam desgaste devido ao uso dos alkalis
durante a limpeza das canas, contaminando o caldo.
O ferro fundido é muito sujeito a ser arruinado pela ferrugem, e
sempre se vê coberto dela[...]
A ferrugem que cobre a sua superfície, he tenacíssima, e se
despega difficultuosamente, mas despega-se sempre. E assim, por
mais cuidado, que se lhe aplique em lavar a cadeira, a ultima água
de lavagem nunca he pura, traz sempre consigo huma tinta negra
muito forte, que passa em o caldo.100
Quando Veloso/Dutrone propõe o uso deste novo forno, seria necessário o uso
das caldeiras de cobre, utilizadas no Brasil, uma vez que as temperaturas
necessárias ao cozimento do caldo seriam atingidas por ser o cobre segundo
ele, melhor condutor do calor, e o controle da temperatura do cozimento seria
feito pela proximidade das caldeiras com a chama e pela diferenciação do
99
Ibid, 309. 100
Ibid, 310.
41
tamanho das caldeiras. Nesta obra, Veloso menciona que o abastecimento do
forno é feito utilizando-se o bagaço da cana.
Figura 1: Esquema das bocas e do exaustor do forno proposto por
Veloso/Dutrone101.
2.4 Limpeza do caldo
A limpeza do caldo inicia-se logo após a moagem da cana. O caldo é
depositado na primeira caldeira, “que chamam do meio”102 e é a que recebe o
caldo que, saído da moenda chega até ela por uma bica saída do “parol da
guinda”103, onde se ferve o caldo para se “botar fora toda a imundícia, com que
vem da moenda”.
A escuma saída dessa parte do processo é chamada de cachaça, sendo
armazenada para servir de alimento para os animais, conforme se pode ler no
texto de Veloso/Antonil:
101
Ibid, anexos. 102
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 75. 103
Ibid.
42
“sahida a primeira escuma per si mesma, começam os caldeireiro de
quando em quando a escumar o caldo, e ajuda-lo, e chamam ajudar
o caldo botar-lhe de quando em quando, já em um reminol de
decoada, já outro de água [...] serve a água para lavar o caldo, e a
decoada para que toda a imundícia que resta na caldeira venha mais
de pressa arriba, e não se assente no fundo. Serve também para
condensar o açúcar; e fazê-lo mais forte, incorporando-se com o
caldo [...]104”.
Esse processo é seguido pela decoada, que é preparada utilizando-se das
cinzas das caldeiras. Seu método de preparo da decoada dá-se da seguinte
maneira:
“arrasta-se com rodo de ferro até a boca das fornalhas pouco a
pouco, a cinza e o borralho, e dahi com huma pá de ferro se tira, e
se leva a mesma para o cinzeiro, que é um tanque de tijolo sobre
pilares de pedra, e cal [...] e aqui se conserva quente, e assim
quente, se põe nas tinas[...] Ahi, depois de bem caldeada e
arrumada, se lhe bota água tirada de um taxo grande que está
fervendo[...] e coando esta água pela cinza , até passar pelo buraco
que tem as tinas no fundo”105.
A preparação da lixívia, material importante em diferentes atividades, é descrita
em outro texto publicado por Veloso. Assim, em Alographia dos Alkalis fixos,
publicado no mesmo ano de 1800, ele descreve esse processo para obtenção
“sais alcalinos” pelo cozimento das cinzas de alguns vegetais e alguns tipos de
104
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 76. 105
Ibid, 69.
43
lenha, em caldeiras de cobre ou de ferro, evaporando-se a água do cozimento,
poderia se obter sais alcalinos. Os denominados sais alcalinos fixos eram a
soda e a potassa, porque resistem à ação do fogo.106
Por este processo se obteriam, dependendo das madeiras utilizadas os sais
conhecidos como Potassa ou Soda. Consta da obra Alographia dos Alkalis
fixos uma tabela com a descrição das madeiras utilizadas para a obtenção da
Potassa, no entanto, nenhuma das madeiras mencionadas por Antonil/Veloso
foi encontrada na Alographia dos Alkalis fixos, o que não nos permite saber, se
estamos tratando da soda ou da potassa, embora, pela descrição de Veloso/
Antonil notemos a indicação de madeiras específicas para este fim:107
hade-se porém advertir que nem toda lenha é boa para fazer
decoada: porque nem os paus fortes, nem a lenha seca servem para
isso. E a razão é porque os paus fortes fazem mais carvão do que
cinza: e a lenha miúda dá pouca cinza e sem força. A melhor é a dos
mangues brancos, e de paus moles, a saber, a de cajuzeiros,
aroeiras e gameleiras[...]108
E para se conhecer se a decoada he perfeita, hade se provar,
tocando a língua com uma pingadella sobre a ponta do dedo: e se
arder será boa, se não arder, será fraca.109
106
Veloso, Alographia dos Alkalis Fixos, 15. 107
Ferraz, “A produção de salitre no Brasil”. A obra Alographia dos Alkalis Fixos pretendia fornecer
subsídio para a fabricação da potassa, de soda e de salitre. Veloso ao publica-la pretendia fornecer um
manual completo destinado às saboarias, vidrarias, tinturarias, branquearias, chymica e pharmácia. Para
maiores detalhes sobre esta publicação ver Ferreira, Cícero “A Natureza da Potassa e os Métodos de
Preparação em Finais do Século XVIII”. 108
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 70. 109
Ibid.
44
De volta à questão do suco extraído da cana e seu tratamento, vemos na obra
de Veloso/Dutrone, que ele é descrito como sendo uma mistura homogênea,
composto de uma parte sólida (chamada fécula proveniente da casca da cana)
e de uma parte fluida, que conteria a sacarose, que cristalizada formaria os
grãos de açúcar:
Os succos da cana açucarada, lançados pela pressão das
moendas, rompem os vasos, que os contém, e consigo levam os
fragmentos, aos quaes estão mais ou menos, intimamente unidos,
e confundidos: este succo forma um todo homogêneo, conhecido
pelo nome de succo da canna, ou succo expremido”110
A produção do açúcar consistia então, na retirada da fécula e na cristalização
do açúcar, e poderia ser feita por vários métodos: “Muitos dos agentes como o
ar, o calor, os álcalis, etc, decompõe o succo expremido, separando-lhes as
féculas da parte fluida”.111
Para Veloso/Dutrone, o calor, apesar de decompor “quase todos os succos
expremidos”112, não seria suficiente para separar a fécula do fluido, e para isto,
seria necessária então, a adição de um álkali, pois “De todos os agentes os
álkalis são aquelles, dos quaes a acção sobre o suco da canna é mais forte, e
mais assinalada”113. A ação destes materiais é explicada como segue:
“Faremos ver, que nos usos dos meios, de que ate o presente se
tem servido, para o trabalho do succo da canna, se tem sido
sempre obrigado a empregar os álkalis[...]
110
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 94. 111
Ibid, 93. 112
Ibid, 97. 113
Ibid, 98.
45
Separando as féculas, e unindo-as debaixo de grandes
floculos[...]”114
Para Veloso/Dutrone, por muitos anos existiu a crença na presença de
ácido no caldo da cana, o que estabeleceu a necessidade do uso da água
de cal, da potassa ou da soda para lixiviar esse ácido. Referindo-se a
outros estudiosos do século XVIII, diz:
Tendo Bergman descoberto, que resultava da decomposição do
assucar pelo acido nítrico certo acido particular chamado ácido
Sacharino. Elle conjecturou, à vista da extrema afinidade deste
ácido com a cal, que o uso deste álcali em as Assucarias, e nas
Refinarias tinha sido necessitado.
Tratando o açucar pelo ácido nítrico, tirou da sua composição um
ácido particular, mas descobrindo-lhe o acido oxálico, Bergaman
não nos ensinou quaes fossem os princípios constituitivos do
assucar; porque parece que este ácido não entra no numero dos
seus princípios. Mr. Lavoisier, guiado pelas suas experiências, nos
diz que os princípios mais remotos do assucar são o hidrogênio, o
oxigênio e o carvão”115
No entanto Bergman teria concluído da existência de um ácido, partindo da
necessidade do uso de um álcali, o que para Dutrone/Veloso foi “o erro d´hum
grande homem”116, não existiria tal ácido e o uso dos álcalis seria necessário
devido a natureza do caldo. Sua critica ao ‘químico’ germânico continua,
114
Ibid. 115
Ibid, 319. 116
Ibid, 152.
46
duvidando mesmo que ele tivesse realizado algum experimento com o suco da
cana:
Se Bergman tivesse Cannas de Assucar, e tratasse o seu succo
expremido chimicamente, presto reconheceria que a cal, e os
álcalis, decompunhão esse succo, empregando sua acção nas
féculas;[...] donde se conclui que era o único fim, que se deveria
procurar no uso da cal, e dos álkalis, o fazer a inteira separação
das féculas.117
A primeira operação de limpeza do caldo, seria denominada por
Veloso/Dutrone de ‘defecação’, que teria por objetivo separar o caldo das
féculas pela ação do calor e dos álcalis, empregando as escumadeiras, o filtro
e o repouso para tirar-lhes do caldo. Recorrer ao próprio autor, pode nos dar
uma ideia melhor do procedimento:
O calor, em sua primeira acção, que se alarga até a ebulição ou
fervura, trabalha particularmente nas primeiras féculas, que ele
separa facilmente e que puxa à superfície do fluído, donde se tiram
com escumadeiras.
Quanto as da segunda sorte, estas requerem para serem tiradas
um grao de calor, que estabeleça um fervura forte. Muitas vezes
acontece, sobre tudo em as primeiras, quando o suco expremido
he de boa qualidade, que unicamente o calor pode ser bastante,
para obrar a separação completa das segundas féculas; ainda que
os flocos que ela formam não sejam sempre assás volumosos,
117
Ibid.
47
para serem tirados com a escumadeira; basta porem que sejam
bem separados; porque não escapam aos filtros e ao repouso”118.
O objetivo do novo método proposto nesta etapa é excluir a necessidade do
uso dos álkalis, que seriam utilizados apenas se as féculas resistissem ao
calor, dando preferência à cal, favorecendo a separação, quando necessário,
com a adição de potassa ou de soda. Mesmo podendo ser necessária a adição
de uma álcali, Veloso/Dutrone acredita que o novo método ainda seja superior
ao então utilizado, por utilizar uma menor quantidade de álkalis na separação
das féculas e do caldo:119
Como a cal, e os alkalis não servem neste novo methodo, senão
d´ajudar à acção do calor para a separação das féculas, não se
esta obrigado, em tempo algum, a emprega-los em uma tao grande
quantidade como no antigo, onde precisa que eles também sirvão
de dar huma consistente espuma, que se possa reter na
escumadeira”.
Esse caldo então repousaria entre seis e oito horas, e seria posteriormente
filtrado, para retirar as féculas e as impurezas, que não poderiam ser retiradas
apenas com a escumadeira. Especialmente quanto às impurezas, nos diz:
Estas matérias vem da Canna, que he suja, do vento, que as
deposita nos engenhos, nas biccas, que conduzem o succo, e
também nos paroes ou recipientes. Também vem da cal, que se
118
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 179. 119
Ibid, 180.
48
emprega, que sempre arrasta consigo huma porção de terra
calcarea maior, ou menor, ou areia”120
Veloso/Dutrone propõe que todas estas etapas sejam realizadas no forno
apresentado anteriormente, sendo as caldeiras arranjadas para receber “Hum
grao de calor, relativo a sua proximidade do fogo”121, diminuindo assim, o
consumo de lenhas.
Podemos entender a proposição de testes para diminuir a utilização de álkalis
em outra obra publicada por Veloso, onde esclarece que o uso dos álkalis
resultaria em um açúcar com menor capacidade de resistir às viagens até
Portugal “a menos que se lhe não ajuntasse alguma terra com os mesmos saes
a qual deveria ser talvez aquella, que se avizinhasse á natureza, da que fôrma
a base da pedra hume122.
2.5 Cozimento do Melado
A etapa seguinte é dedicada ao cozimento do melado anteriormente produzido.
Na obra de Antonil/Veloso, estando o caldo purificado, o que se reconhece
“pela escuma, e pelos olhos, e em polas, que levanta cada vez menores e mais
claros”123, é então transferido para a segunda caldeira, “que chamam de
melar”124, tomando o cuidado de “nunca se tirar todo o caldo das caldeiras, por
razão dos cobres que padeceriam detrimento do fogo”125. Para isso “se lhe
120
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 181. 121
Ibid, 190. 122
Veloso, O fazendeiro do Brasil, (tomo I vol. I), 49. 123
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 76. 124
Ibid, 77 125
Ibid.
49
deixa dois ou três palmos de caldo, e sobre esse se bota o novo”126. Na
caldeira de melar, também é adicionada, periodicamente, água e ‘decoada’. O
caldo permanece cozinhando nessa caldeira por um período de “uma hora ou
cinco quartos, até acabar de escumar”127
A escuma que escorre da caldeira de melar, vai também para o parol de
escuma, e retorna para a primeira caldeira, ou para a segunda e também é
dessa escuma que:
tomam os negros para fazerem sua garapa[...] guardando-a em
potes até perder a doçura e azedar-se, porque então dizem que
está no ponto para se beber [...] A derradeira escuma da ultima
meladura, que é a ultima purificação do caldo, chamam claros, e
estes misturados com água fria, são uma regalada bebida para
refrescar, e tirar a sede de todas as oras, em que faz maior
calma.128
Compete ao mestre do açúcar avaliar quando a ‘meladura’129 está limpa, e
esse mel é então transferido para o “parol grande, que chamam parol do
melado, e está fora do fogo, mas junto a mesma caldeira, donde o coão para
outro parol mais pequeno, que chamam parol de coar, com panos coadores
estendidos sobre huma grade130
Estando o melado limpo e coado “passa a cozer-se nas tachas, ajudadas de
maior fogo, e chamma da que hão mister as caldeiras”. As tachas utilizadas
126
Ibid. 127
Ibid. 128
Ibid, 79. 129
Ibid, 78. 130
Ibid, 79.
50
nesta etapa possuem fundo mais grosso para resistir ao fogo. Aqui, o caldo
passará por tachas, sendo esta a etapa mais importante e que pede “maior
vigilância e atenção dos tacheiros, banqueiros, seto-banqueiros e mestre:
porque este propriamente he o lugar em que obra como mestre inteligente, e
aonde he necessário todo o cuidado e artifício131
Na primeira tacha “que se chamam de receber”132, o melado será fervido e a
escuma, aqui mais fina, será recolhida em uma forma e poderá ser utilizada
para se fazer dela “no fim da semana hum pão de açúcar somenos”133. Nesta
etapa do processo, as escumas não retornam para as caldeiras, como ocorre
durante a limpeza do caldo.
O melado passa então para a segunda tacha “que chamão da porta”134, onde
ficará até engrossar. Nesta etapa, se ainda houver alguma escuma, será
retirada, pelas bordas da forma.
Já engrossado, o melado passa, então, para a terceira tacha, que chamam de
tacha de cozer. Nesta tacha, o caldo irá condensar, até ficar no ponto “grosso
suficientemente e compacto”135 para ser levado para a próxima tacha, que é
tacha de bater, onde “se meche com uma batedeira, que semelhante a
escumadeira, mas com beiço e sem furos”136.
Aqui, o melado, já grosso, continua no fogo, tomando-se cuidado para não
queimar. Nesta etapa, serão realizadas as têmperas do açúcar, conforme
discutiremos a seguir.
131
Ibid, 79. 132
Ibid, 80. 133
Ibid. 134
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 80. 135
Ibid, 80. 136
Ibid, 80.
51
2.6 Têmperas do Açúcar
De acordo com Veloso/Antonil, as têmperas consistem em tirar o melado da
tacha de bater, em pontos diferentes, e mistura-los, em formas, postas para
essa finalidade.
O primeiro, retirado da tacha de bater, é mexido com espátula ou reminhol.
“consta do mel mais solto, porque tem menos cozimento”.137 e, é então
repartido por quatro ou cinco formas, de acordo com a determinação do
mestre.
Em seguida, o mel da segunda tempera é retirado do fogo, também mexido
com espátula ou reminhol. Este mel, mais grosso que o da primeira têmpera,
será repartido pelas formas, colocado em cima do mel da primeira têmpera,
“aonde com espátulas se mexe mais que a primeira”.138
Temos, finalmente, a última têmpera “já com a grossura necessária”139, que
será colocada sobre as outras duas, e mexida “de sorte que também se
incorpore e de três se faça uma só corpo”.140
De acordo com descrição de Veloso/Antonil, o açúcar não poderia ser purgado
e branqueado se não houvessem as três têmperas:
se botassem nas formas só a tempera que tem cozimento perfeito
coalharia e se condensaria de tal sorte, que não poderia passar por
ela a agua, que o há de lavar, depois de ser barreado.
137
Ibid, 80. 138
Ibid, 81. 139
Ibid. 140
Ibid.
52
Se a tempêra fosse totalmente solta, escorreria todo o açúcar na
casa de purgar, e se desfaria todo em mel.
E assim dessa maneira se coalha de tal sorte que fica lugar a agua
de passar pouco a pouco, conservando-se o açúcar denso e forte:
e recebe o benefício de branquear sem derreter, senão quanto
basta para perfeitamente se purgar141
Durante o processo das têmperas, é que se formam os cristais de açúcar. É
através desse processo, segundo Veloso/Antonil, com a deposição de uma
têmpera sobre a outra, e o batimento do açúcar “no que os tacheiros mostram
destreza singular”142, que se definiria a qualidade dos cristais obtidos.
Toda esta etapa depende também, do mestre de açúcar, que determina o
ponto exato de cada têmpera “e achar este meio, com acertar bem as
têmperas, he a melhor indústria e artifficio do mestre”143
Após a têmpera, o açúcar é colocado em formas, feitas de barro e chamadas
de “pão de açúcar” que lembram sinos, por terem a boca mais larga e o fundo
mais estreito. Possuem no fundo um furo, por onde se fará a purga do açúcar.
De acordo com Antonil, a qualidade do barro e da queima das formas,
determinará se são boas ou não144.
Antes de se colocar o açúcar, com as três têmperas, o furo no fundo das
formas é fechado com folha de bananeira. O açúcar endurece nas formas em
torno de três dias:
141
Ibid, 82. 142
Ibid, 79. 143
Ibid, 82. 144
Ibid, 84.
53
[...] diversamente, hum mais, outro menos: ao que mais endurece e
difficultuosamente se quebra, chamam assucar de cara fechada, e
ao que facilmente com qualquer pancada se quebra, chamam
assucar de cara quebrada145.
As formas são assentadas em duas fileiras sobre as bagaceiras, local onde o
bagaço da cana é armazenado e onde se cavam buracos para colocar os pães
de açúcar.
Passados os dias necessários para o açúcar endurecer, as formas de açúcar
são então levadas para a casa de purgar, “comumente separada do edifício do
engenho”146
Na obra de Veloso/Dutrone encontraremos a proposta de outro método para a
cristalização do açúcar, que estaria sendo testado por estudioso francês. Nesta
obra, o processo de cristalização do açúcar apresentado é similar à
cristalização de outros ‘sais essenciais’.
O assucar é um sal essencial, que se crystalliza pelo resfriamento.
A experiência tem mostrado que, as moléculas desta sorte de saes,
requerem, para tomar a forma crystallina, moverem-se livremente
no fluido, que as tem separadas ou desnutridas, para que possam
exercitar uma sobre as outras a sua afinidade reciproca. Estas
moléculas tomam a sua reunião huma forma mais tanto bela, e
145
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 85. 146
Ibid, 86.
54
mais regular, quanto a proporção da água, que se lhes deixa he
maior”147
Neste método proposto, a temperatura de cozimento do melado deveria ser
controlada com o uso de um termômetro, que deveria marcar entre 87 e meio a
88 graus, quando seria então retirado do fogo e posto em caixas para
cristalizar:
Donde se leva tudo para uma caixa, da qual, muito antes, se teve
o cuidado de tapar os buracos com tornos de pao, forrados de
palha de milho. Ainda precisa cuidar em por ao redor destes
tornos, cujas pontas sobressahem interiormente 3 ou 4
pollegadas, uma pequena quantidade d´assucar, sobre que se
derrama algum caldo melado cozido, que esfriando-se presto, faz
com o corpo do assucar, agarrar-se ao torno, e o segura.148
Este procedimento deveria ser executado mais quatro vezes, colocando-se os
cozimentos seguintes, sempre dois a dois, e então, as caixas cheias com
cozimentos do açúcar misturados, permanecerão por vinte e quatro horas para
inicio da cristalização:
posta a matéria nesta caixa, se esfria lentamente, e, passando-se
24 horas, a crystallização tendo se estabelecido na superfície, nas
paredes, e no fundo do crystallizadouro, cumpre imprimir então em
toda a massa, ainda fluida, hum ligeiro movimento, com hum
mexedor, lembrando-se de levantar, do fundo para a superfície, o
sal essencial que nelle se acha depositado.
147
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 211. 148
Ibid, 217.
55
A crystalização se faz ao mesmo tempo em toda a extensão da
caixa, e se o movimento for bem feito, e a tempo, dentro de 5 ou 6
horas, será geral, e igual à crystallização desde o fundo até a
superfície149.
Os cristais de açúcar seriam postos em formas, para escorrer o excesso
de água e, depois, secos em uma estufa. O açúcar feito por este método
poderia então ser vendido sem o branqueamento, mas poderia também
ser branqueado pelo mesmo método utilizado de purga com barro.
Outras obras publicadas por Veloso discutem também esse processo.
Assim, encontramos em O fazendeiro do Brasil150, a descrição das
ferramentas utilizadas para a cristalização do açúcar e da estufa, além
das instruções necessárias para a construção da estufa, embora estes
anexos não apareçam na republicação da obra completa de Dutrone,
publicada por Veloso pela Casa Literária do Arco do Cego.
149
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 218. 150
Veloso, O fazendeiro do Brasil, (tomo I parte II), anexos.
56
Figura 2: Estufa para secar o açúcar, caixa de cristalizar e demais
ferramentas usadas na cristalização do açúcar.151
151
Veloso, O fazendeiro do Brasil, (tomo I parte II), anexos
57
Figura 3: Estufa proposta por Veloso/Dutrone para secar o açúcar.152
Com o uso desta estufa, o açúcar poderia ser retirado da forma após endurecer
e posto para secar. Notamos que do lado esquerdo da imagem está a abertura
da fornalha, de onde saem os furos para liberar o calor para a estufa. A
temperatura da estufa é controlada pela quantidade de lenhas, evitando que o
açúcar queime.
152
Veloso. O fazendeiro do Brasil (tomo 1 parte II) anexos.
58
2.7 Purga ou branqueamento do açúcar
O processo seguinte é o da ‘purga’, descrito com todos seus equipamentos.
A casa de purgar do engenho Sergipe do Conde, na descrição de
Veloso/Antonil era fabricada de pedra e cal, apoiada em vigas de
massaranduba e coberta por telhas. Media “de comprimento, quatrocentos, e
quarenta, e seis palmos, e oitenta e seis de largura”153. Possuía no total
cinquenta e duas janelas para entrada de ar e luz.
Os pães de açúcar eram apoiados em madeiras (assentadas sobre tijolos),
com um furo no meio, capazes de acomodá-los, e debaixo das quais
encontravam-se canaletas, também de madeira, para escorrer o caldo purgado
e armazená-lo em uma taxa, ao final da canaleta. De acordo com Antonil, a
casa de purgar do Engenho de Sergipe do Conde poderia abrigar,
comodamente, até dois mil pães de açúcar.
Segundo Veloso/Antonil, alguns engenhos possuíam purgador responsável
pela purga; em outros, o responsável pela purgar é também o mestre do
açúcar. Mesmo nos casos em que havia purgador, este deveria “se aconselhar
com o mestre, para obrar com mais acerto”154.
Quando os pães de açúcar chegam na casa de purgar, o fundo das formas é
furado, com um furador metálico, e permanecem por quinze dias escorrendo o
caldo dessa primeira purga. Passados os quinze dias, as formas são então
barreadas.
153
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil , 86. 154
Ibid, 87.
59
O barro utilizado no processo de barreamento das formas é retirado dos apicús
“que como temos dito, são as corôas que se faz o mar entre sí , e a terra firme,
e lhe cobre a maré”155. Esse barro é trazido ao engenho e seca sobre os
cinzeiros por quinze dias, podendo então ser utilizado ou armazenado.
Para ser utilizado, o barro “se desfaz com macetes, que são paos de pisar[...] e
se vai desfazendo com água, movendo-o e amassando-o[...].156
Estando as formas já prontas para serem barreadas, o que pode fazer
tranquilamente depois de quinze dias, o açúcar das formas é cavado, com
cavadores de ferro e entaipado157. A etapa seguinte consiste em colocar o
barro, já devidamente amassado, sobre o açúcar, numa altura de “dous
dedos”158.
Após dois ou três dias, é colocado sobre o barro um reminhol de água, para
umedecer, com muito cuidado:
he para que não caia no barro de pancada, he caindo faça covas
no assucar, recebem [as escravas] sobre a mão esquerda,
chegada ao barro, água que botão com a direita igualmente sobre
toda a superfície; e logo com a palma da mão direita mechem
levemente ao barro, de sorte que com os dedos não cheguem a
bolir na cara do assucar159,
O açúcar permanecerá purgando, com esse primeiro barro, durante seis dias,
sendo umedecido apenas uma vez. Ao final desta purga, o barro é retirado, e o
155
Ibid, 89. 156
Ibid, 90. 157
Entaipar, neste caso pode ter o significado de Assentar bem o açúcar na forma. Antonil descreve o
macete usado para entaipar, como sendo paos usados para pisar. 158
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil , 93. 159
Ibid, 94.
60
processo de ‘barreamento’ refeito, permanecendo com o segundo barro por
quinze dias. Nesse período, o barro será umedecido seis ou sete vezes.
É na etapa da purga que ocorre o branqueamento do açúcar “como o assucar
vai purgando, assim se vai branqueando por seus grãos, a saber, mais na parte
superior- menos na do meio, pouco na última, e quase nada nos pes da
forma160.
Quando o açúcar pára de purgar, aguarda-se de três a quatro dias, sem
nenhuma lavagem para que então se possa retirar o barro, já seco.
Além de descrever a técnica utilizada, Veloso/Antonil nos expõe explicações.
Assim, o branqueamento do açúcar pelo ‘barreamento’ ocorre porque o barro
arrasta consigo as impurezas do açúcar: “vai descendo o barro pouco a pouco
dentro da forma”161, sendo que, do primeiro barro “que se pôz na forma alto
dois dedos, quando se tira já seco só tem altura de hum dedo[...] quando se tira
o segundo[...] depois de quinze dias tem só meio dedo de altura.162
A purga deve, portanto, ser realizada lentamente para que o branqueamento
seja mais eficiente, pois:
se purgar bem devagar, descendo só meia mão, que chamam
medida de chave, e vem a ser desde a raiz do dedo polegar, até a
ponta do dedo mostrador, a purgação será boa, e de rendimento
mais assucar, e forte, mas se purgar apressadamente renderá
pouco163.
160
Ibid, 94. 161
Ibid, 95. 162
Ibid, 96. 163
Ibid, 94.
61
A velocidade da purga depende, segundo Veloso/Antonil, da qualidade das
canas, do cozimento feito e das têmperas:
se o cozimento for, mais do que he justo, ficará o assucar
empanturrado, e nunca se poderá purgar bem, resistindo as
lavagens[...] e isto se conhecerá de não purgar, de não descer o
barro nas formas. Pelo contrario, se o assucar levar pouco
cozimento e têmpera for muito solta, irá pela maior parte desfeito
em mel para as correntes.164
O fazerem os paes de assucar olhos, isto he, terem entre o assucar
branco, veias de mascavado; uns dizem que procede de botar mal
as humidades no barro, e outros, das têmperas mais ou menos
quentes, ou desigualmente botadas.165
Após retirado do barro, o açúcar permanece nas formas ainda durante oito dias
“para acabar de enxugar e escorrer, então se pode tirar.”166
O mel que escorre nesta etapa de barreamento não é perdido, pois torna a ser
cozido, em tachas próprias para isso, e dele se produzirá o açúcar “que
chamam branco batido, e dele dá também seu mascavado, que chamam
mascavado batido.”167
Veloso/Dutrone descrevem o método de purga e barreamento do açúcar
utilizado na Ilha de São Domingos, de modo similar ao utilizado no Brasil, mas
em São Domingos, o açúcar depois de purgado seria então barreado com um
164
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil , 94. 165
Ibid, 94. 166
Ibid, 95. 167
Ibid, 95.
62
“barro branco, desfeito em água na consistência de humas papas”.
Continuando a descrição, encontramos explicações para o processo:
“A água, abandonando o barro, desce por seu próprio peso, e
passando pelos intevarlos que os crystaes dexão entre sí, rarefaz
ou estende o melaço, e fazendo-o mais fluido o leva comsigo[...]
Tendo passado, por meio de duas ou três camadas sucessivas, a
quantidade necessária, para lavar bem o pao de assucar, se deixa
por muitos dias na forma.168.
Na descrição de Veloso/Antonil, o açúcar é retirado da casa de purgar e levado
ao balcão de mascavar, em dias ensolarados, para evitar que peguem
umidade. Os diferentes tipos de açúcar são então, enumerados:
Há primeiramente açúcar branco, e mascavado; o branco toma
esse nome da cor que tem [...]. O mascavado de cor parda he o
que se tira do fundo das formas.169
No balcão de mascavar, os paes de açúcar são postos, com a boca para baixo,
sobre um couro, e soltos com cuidado, para que saiam perfeitos.
Uma escrava, designada para isso, retira a parte escura do açúcar, que se
formou no fundo do pão com uma faca. Esse açúcar é o que chamam de
mascavado. Uma outra escrava “de mais prática”170 separa a parte mais úmida
do açúcar de mascavar, que será levado novamente para a casa de purgar, e
168
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 307. 169
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil , 96-97. 170
Ibid, 97.
63
colocado em outras formas para acabar de secar. A outra parte é quebrada
pelas escravas e colocada para secar sobre o “balcão de secar”171
O açúcar da “cara da forma” é o mais fino, e de maior valor:
Se quiserem fazer caras de assucar para mimos, o caixeiro cortará
aqui mesmo a primeira parte do pão, de sorte que endireitada e
aplainada tenha uma arroba de peso: e estas depois de estarem ao
sol, empalham-se ou encouram-se, e vão para o reino.172.
Esse primeiro açúcar poderia, ainda, ter outros cortes “de sorte que fiquem
vistosos como doces.”173
As caixas para se encaixotar o açúcar são feitas de madeira, barreadas nas
juntas, e forradas com folhas de bananeira secas.
Se as canas do açúcar forem de lavradores possuidores de terras
independentes do engenho, então o senhor do engenho ficará com metade do
açúcar produzido, como pagamento. Se as canas forem de lavradores
obrigados à moenda, ou seja, que possuem contrato de arrendamento com o
senhor do engenho, além da metade, ficará também para o senhor, em
Pernambuco, o “quinto”174, e na Bahia “vintena ou quindena”175, conforme
acertado no contrato de arrendamento das terras. É retirado também o “dizimo,
que se deve a Deos”176.
171
Ibid, 97.. 172
Ibid. 173
Ibid, 97. 174
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil , 100. O “quinto corresponde a uma caixa
para cada cinco. 175
Ibid, 100. Vintena corresponde a uma caixa de cada vinte, e quindena, uma caixa para casa quinze. 176
Idib.
64
Como se vê, todos os detalhes da produção do açúcar são tratados nestes
textos, de forma a que os interessados pudessem se estabelecer no Brasil e se
dedicar à produção do açúcar.
2.8 Moenda do Engenho de Sergipe do Conde
Deixamos para a parte final deste capítulo a discussão sobre a moenda de um
engenho de açúcar, pois corresponde a ela a modificação introduzida por
Veloso na reedição do livro de Antonil. Procuraremos, ainda, intercalar a
descrição de Veloso nessa reedição, com as propostas de outros autores sobre
o que se poderia considerar o ‘coração’ de um engenho.
A escolha de Antonil recaiu sobre o engenho Sergipe do Conde pois, o
considerava “quase rei dos engenhos reais”177. Segundo ele, este nome era
dado aos engenhos:
por terem todas as partes de que se compõem, e todas as oficinas
perfeitas[...] e principalmente por terem a realeza de moerem com
agoa [...]a diferença de outros, que móem com cavalos e bois e são
menos providos e aparelhados: ou pelo menos com menor perfeição
e largura das oficinas necessárias”178
Ele inicia, assim, a descrição da moenda com sua roda grande, movimentada
pela força da água, construída com madeira de “pau de arco, sapupira ou
vinhatício”:179
177
Ibid, proêmio. 178
Ibid. 179
Ibid, 63.
65
Os tres eixos da moenda são tres paos redondos de corpo
esphericos, alto nos menores iguais cinco palmos e meio; e no
maior que é o do meio seis palmos, e também de esphera maior
que os outros.
Os corpos dos três eixos, da metade para baixo são vestidos
igualmente de chapas de ferro unidas debaixo das quaes os corpos
dos eixos são torneados com torno de pao de lei, para que fique a
madeira mais dura e capaz de resistir ao aperto.180
Os eixos deste tipo de moenda sofriam desgaste e uso do ferro revestindo o
corpo dos eixos, teria aqui, a finalidade de diminuir o desgaste causado na
madeira.
A descrição de Veloso/Antonil continua, com a referencia aos eixos da moenda:
Sobre as chapas, aparece, hum círculo ou faixa de pao, que é
contra a parte do corpo dos mesmos eixos, despida de ferro: e logo
imediatamente se segue os círculo dos dentes de pao de lei,
encaixado no eixo com as suas entrosas.
A moenda utilizada no Engenho de Sergipe do Conde seria então, de acordo
com a descrição de Antonil, uma moenda de três rolos verticais, revestidos por
ferro, com entrosas “que saõ huãs cavaduras , ou vaõs repartidos entre dente ,
e dente181.
180
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 56-57. 181
Ibid, 57.
66
Procurando facilitar a compressão das descrições de Antonil/Veloso,
apresentamos abaixo, a imagem de uma moenda presente em outra
publicação do Arco do Cego: O Fazendeiro do Brasil.
Figura 4: Moenda de três rolos, com entrosas, movida à água.182
Segundo Antonil:
ainda que o nome engenho compreenda todo o edifício, com as
oficinas, e casas, necessárias para moer a canna, cozer, e purgar o
assucar; comtudo, tomado mais em particular, o mesmo he dizer
casa do engenho, que casa de moer a canna com artifício, que
engenhosamente inventarão.
Quem chamou as oficinas, em que se fabrica o assucar, engenhos,
acertou verdadeiramente no nome. Porque quem quer que as vê, e
182
Veloso. O fazendeiro do Brasil (tomo I parte II), anexos
67
considera com reflexão, que merecem, he obrigado a confessar, que
são um dos principais partos, e invenção do engenho humano[...]183
No confronto entre as edições de Antonil 1711 e Velloso, 1800, quando Veloso
se propõe a apresentar um novo método, conforme dissemos anteriormente, é
exatamente uma nova máquina para moer que é apresentada no apêndice.
A principal crítica de Veloso ao trabalho de Antonil consiste no fato de que:
Quando o Autor escreve acerca da extração deste precioso sal
essencial é mais devido aos seus olhos que ao seu entendimento,
pois só escreve sobre o que vira fazer no mais célebre engenho da
Bahia, sem avançar no que deveriam fazer, isto é, cousa alguma
sobre o seu melhoramento, ou no todo, ou nas partes que o
constituem, quero dizer, suavizar o enorme peso de suas
máquinas, diminuir o imenso consumo de suas lenhas, melhorar o
químico processo da extração deste sal essencial.184
Com a terra esgotando sua capacidade de produção num período aproximado
de sete anos, aumentar o rendimento da produção poderia, nesse sentido,
significar extrair todo o caldo da cana, para se obter o máximo de açúcar
possível por safra.
Assim sendo, moendas capazes de extrair maior quantidade de caldo da cana
poderiam significar um melhoramento significativo, capaz de aumentar o
rendimento da produção.
183
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, 52.
184
Velloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, apresentação.
68
A preocupação de Veloso com as moendas utilizadas no Brasil pode também
ser observada em O fazendeiro do Brasil, onde explica:
O Maior obstaculo na estração do corte das cannas ao progresso,
e lucro dos lavradores, que não tem os meios de moer as canas
por Engenhos de água, he a falha, ou insufficiencia dos seus
Engenhos de outra natureza ; porque, posto que qualquer Engenho
de assucar trabalhado por água, vento, ou animaes, seja huma
invenção simples, com tudo precisa-se de grande força para fazer
vencer a resistencía, que se encontra na moagem.185
Pela descrição das moendas utilizadas no Brasil, feitas por Veloso186
observamos que as moendas eram iguais às descritas por Veloso/Antonil,
podendo ser adaptadas para serem movidas por tração humana, animal ou
pela força da água ou do vento.
A máquina destinada para este fim a que se dá o nome de
tambores, consta principalmente de três cylindros ou rolos de
madeira, chapeados de ferro, direitos, ou erguidos
perpendicularmente , parallelos huns aos outros [...]; e o do meio, a
que he applicada a potência motriz, faz voltar em rodas as outras
moendas ou tambores por meio de rodas dentadas.187 Pela
descrição da moenda apresentada, ela seria semelhante a moenda
da imagem a seguir:
185
Veloso, O fazendeiro do Brazil, (tomo I parte I), 36. 186
Ibid, 36. 187
Ibid.
69
Figura 5: Sugar mill, West Indies, 17th century.188
Apos termos apresentado a moenda descrita por Antonil, vejamos, através da
reedição de sua obra, a proposta de Veloso.
2.9 Moenda proposta por Veloso
A moenda proposta por Veloso, deveria ser, segundo o autor, significar uma
inovação, principalmente para sanar o problema das moendas movidas a
animais.
Nos engenhos usados nas índias Occidentaes para moer as
cannas , os cilindros ficão no centro do edifício e a passagem dos
cavalos á roda delle; segue-se necessariamente desta construçào,
que he preciso que o movimento pare, enquanto os negros
188
Rochefort, Histoire Naturelle
70
fornecem o engenho de novas cannas, tendo de atravessar a
passagem dos cavallos, antes de poderem chegar á ele189
Veloso, ao apresentar a nova moenda explica que foram realizados
experiências para se comprovar a utilidade da moenda para diversos fins.
Construída em ferro a moenda sofreria menor desgaste, não sendo necessário,
portanto, a substituição freqüente dos seus rolos, como ocorria com as
moendas de madeira. Serem os rolos construídos em ferro, seria outra
vantagem importante, uma vez que as florestas que por tantos anos
forneceram abundantes quantidades de matéria prima se encontravam agora,
devastadas, sendo este um dos problemas apresentados por Veloso, não
apenas nesta obra, como também em outras. Esta nova moenda tem sua
história contada por Veloso:
Hum cavalheiro de consideráveis fazendas nas Ilhas do Assucar,
cujos talentos mecânicos sào da primeira classe, inventou hum
engenho para obviar este erro, e actualmente o construio, e
preparou junto a Londres, applicando-o á varias experiências, tão
felizmente, que plenamente convenceo ser conveniente e
practicavél esta idéa. Feixes de ramos de salgueiro mais fortes e
inflexíveis , do que as cannas de assucar , forão instantaneamente
exprimidos de tal modo, que nenhuma dúvida deixarão da sua
applicaçào á canná de assucar”190
189
Veloso, O fazendeiro do Brasil (tomo 1 parte II), 37 190
Veloso, Extracto sobre os Engenhos de Assucar do Brasil, apêndice.
71
As imagens apresentadas por Veloso foram retiradas de Annals of
agriculture191; a consulta a esta publicação, na busca de maiores informações
foi infrutífera, pois também não encontramos maiores explicações sobre sua
origem. Figuier, L. nos dirá, entretanto, que já em 1754, havia sido projetada
uma moenda desse tipo na Jamaica, por Jonh Smeaton192. Há indicações de
que uma fabricação em série teria começado em 1794, na Inglaterra193, o que
parece corresponder com a explicação de Veloso que diz que a moenda foi
inventada por um cavalheiro das Ilhas de Açúcar e estaria sendo produzida em
Londres.
As imagens apresentadas por Veloso estão reproduzida abaixo e, segundo
averiguamos, corresponde àquelas presentes na publicação, Annals of
Agriculture, de Young, acima referida.
Figura 6: Visão Lateral da Moenda proposta por Veloso194
191
Young, Annals of Agriculture (vol VI), 350-352. 192
Figuier, Les Merveilles de I´ndustrie,tomo IV. 193
Ruy Gama, 183. 194
Veloso, Extracto Sobre um Engenho de Açúcar, apêndice.
72
Figura 7: Imagem dos eixos da moenda proposta por Veloso195
Veloso explicando a autoria do projeto das moendas disse:
Todo este invento tem hum merecimento considerável; he simples
e de fácil execução, e faz honra aos talentos de seu engenhoso
author.
As estampas tão evidentemente representão aí idéa, que apenas
he precisa huma relação geral. No centro de huma plataforma
sexagonal ha hum pilar, ao qual são atados os cavallos. Em quanto
este se volta, dá movimento á três peças, que se communicão
debaixo do sobrado da plataforma, e que he a passagem dos
cavallos para os três engenhos , que ficão nos edifícios além do
195
Idid.
73
hexagono, e aqui revolvem os cilindros , que moem as cannas.
Estes edifícios sào de tal modo dispostos, que podem chegar-se
carros , e descarregar immediatamente nos engenhos com a maior
commodidade, e sem embaraçar o trabalho do engenho dos
cavallos.
No exemplo presente, serve para moer cannas; mas he obvio ,
que se julgou applicavel á muitos outros fins.196
Apresentamos,a seguir, a “Casa da Moenda” proposta por Veloso e ainda,
aquela constante da publicação dos Annals of Agriculture, para que se possa
apreciar a semelhança das propostas, ainda que as imagens sejam diferentes.
Figura 8: Casa da moenda proposta por Veloso197
196
Veloso, Extracto Sobre um Engenho de Açúcar, apêndice. 197
Ibid..
74
Figura 9: Casa da moenda de Young198
Os mesmos problemas de falta de resistência das moendas à moagem das
canas e da necessidade de se atravessar pela passagem dos cavalos para
abastecer a as moendas já haviam sido apresentados por Veloso em O
fazendeiro do Brasil199, onde ele anexa uma imagem dos planos reforma de
uma moenda no Rio de Janeiro.
As moendas apresentadas por Veloso nesta obra possuíam o rolo de meio de
dimensão menor, e houve também a proposta de elevação da planta da
moenda, evitando assim a passagem entre os bois. Este tipo de moenda
estaria sendo utilizado na Jamaica, obtendo-se maiores rendimentos durante a
198
Young, Annals of Agriculture,350. Esta imagem não foi publicada por Veloso, mas faz parte do
mesmo jogo de imagens de Young. 199
Veloso, O fazendeiro do Brasil (tomo I parte I), anexos.
75
moagem da cana, e seriam de autoria de Edward Woollery “superintendente de
obras na mesma ilha”200
A imagem que se segue é do plano de reforma para o engenho do Rio de
Janeiro, baseado na proposta de Edward Woollery, adaptado por Jerônimo
Vieira de Abreu, e que teria sido aplicado no Engenho do Vice-Rei Luiz de
Vasconcellos.
Esse novo methodo de arranjar o Engenho se acha posto em
prática no Engenho de Inhaúma, que foi de João Vaz Pinheiro, e
nelle se tem achado todas as utilidades, que se fazem certas por
huma justificação autentica, que fez o seu Author Jeronymo Vieira
de Abreu, em que mostra ser o Illustrissimo e Excellentissimo Luiz
de Vasconcellos, então Vice-Rei do Estado do Brazil, o primeiro
que applicou os meios de se emendarem estas fabricas , e de
chegarem á perfeição em que se podem atualmente contemplar ,
persuadindo ao author houvesse de cuidar nisto, e de lhe
apresentar os modelos, para que se pusessem em execução, logo
que se reconhecessem a sua utilidade, o que assim se executou.201
200
Ibid 201
Ibid, 190.
76
Figura 10: Plano da Reforma das Moendas e Picadeiros de Assucar202
A diminuição do tamanho do rolo do meio diminuiria a resistência à moagem,
porque:
A nova moenda tem dentes, como carrete, a qual tem menos
corpo, que as antigas, e della emana o aumento da força para as
duas collateraes , ao contrario da moenda antiga do centro , que
por mais grossa diminuia as forças ás dos lados por mais delgadas.
Moendas de fora, que por não ter cavas, aumentão mais a sua
força na maior grossura, e por fazer a mesma força na ponta do
dente, sendo por este methodo mais fácil a sua operação.203
202
Idid. Este projeto seria de Jerônimo Vieira de Abreu, do Rio de Janeiro, baseado na proposta de
Edward Woollery. 203
Ibid, 189
77
Veloso apresenta ainda uma outra vantagem ainda para o uso desta moenda
que seria abaste-la com escravos entre 6 e 12 anos, não necessitando de
escravos adultos, que seriam mais úteis em outras partes do engenho204. Não
sabemos se este tipo de moenda esteve em uso em outros engenhos além dos
acima mencionados ou por quanto tempo, apenas que foi uma das propostas
para aumentar o rendimento da moagem de cana.
2.10 Outros tipos de moendas
Não pretendemos aqui, determinar os tipos de moendas utilizados no Brasil e
em outros países, desde o início da produção do açúcar até o período
delimitado nesta pesquisa, até mesmo porque carecemos de publicações que
nos permitam esta análise. Por outro lado, acreditamos que diferentes tipos de
moendas estivessem em uso nos diversos engenhos do Brasil (sem o devido
registro) uma vez que, a dificuldade para se comunicar novas descobertas
eram imensas, e já foram devidamente apresentadas neste trabalho.
Vamos, a seguir, apresentar apenas alguns tipos de moendas descritas na
literatura e que sabemos terem sido utilizadas na produção do açúcar.
Os primeiros engenhos utilizados nas Américas eram semelhantes aos
utilizados em torno do mediterrâneo e das ilhas do Atlântico.
Alguns deles foram adaptados dos moinhos utilizados para produção de
farinha, e posteriormente da extração de óleo das azeitonas ou esmagar frutas,
também adaptados para a moagem da cana.
204
Ibid, 189.
78
Nos processos mais antigos a cana é cortada e esmagada pelo menos duas
vezes. O resíduo é transferido para uma prensa, de onde se obtém o caldo, o
que exigia um trabalho intensivo e demandava muito tempo. Outro problema
com este tipo de moenda residia em que parte do caldo era novamente
absorvido pelo bagaço da cana, resultando em pouca extração.
A imagem abaixo representa uma dessas moendas em uso nos engenhos de
açúcar das colônias espanholas, em uso no século XVI.
Figura 11: An edge-runner on an Hispaniolan sugar plantation205
O mesmo tipo de moenda apresentado acima, aparece na obra de Joannes
Janssonius (1596-1664), que atribuiu a imagem a uma fábrica de açúcar de
Pernambuco. Comparemos as duas imagens tentando reconhecer
semelhanças e diferenças: 205
Teodor de Bry 1595 in Galloway, The Sugar Cane Industry, 340.
79
Figura 12: Moenda em Olinda de Pernambuco (1657)206
Encontramos também a descrição de engenhos no Brasil que utilizavam
moendas horizontais de dois ou três rolos, movidas a tração animal ou a
água.207 Construídas em madeira não resistiam ao desgaste, principalmente
dos mancais dos cilindros.
206
Janssonius, J. Olinda de Pernambuco, [s.p.]. 207
Galloway, The Sugar Cane Industry.
80
Figura 13: Esquema de uma moenda de rolos horizontais208
No desenho, encontramos uma moenda de três rolos, montado verticalmente.
De origem ainda incerta, esse tipo de moenda, teve rápida aceitação no Brasil,
e por volta de 1618 já estava em uso, de maneira generalizada.209
208
Gama, Engenho e Tecnologia, 122. 209
Galloway, The Sugar Cane Industry, 164.
81
Figura 14: Dutch overseers and slaves work a three-cylinder mill in Brazil,
1648210
Este foi, provavelmente, modelo de prensa encontrado pelos neerlandeses no
Brasil, durante a invasão, e posteriormente levado por eles à Inglaterra, que
pode estabelecer então a indústria canavieira em Barbados.
É esse também o modelo de moenda descrita por Antonil, em uso no Engenho
de Sergipe do Conde em 1711, e também nas Ilhas de São Domingos, na
segunda metade do século XVIII, porém lá construídas em ferro fundido, não
em madeira, o que lhes conferia maior resistência ao desgaste, conforme se
pode ler no texto de um autor já citado por nós:
De três grossos cilindros de ferro fundido, levantadas em cima
d´hum plano horizontal a que chamam mesa, e são postos a
prumo, ou verticalmente na mesma linha.
210
Ibid, 50.
82
Não entrarei numa exposição minuciosa, ou relação
circunstanciada destes engenhos[...] somente direi que as
potências que lhe promovem o seu movimento, ou são animais, ou
água, ou ar”211.
Procuramos apresentar neste último item, não apenas as moendas discutidas
nas publicações do Arco do Cego, mas também tentamos verificar que outros
tipos de moendas eram utilizados e quais os problemas que cada uma delas
apresentava de forma a tentar compreender a própria escolha de Veloso em
suas publicações.
211
Dutrone, Compêndio sobre a canna, 115.
83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A indústria da cana no Brasil, durante o século XVIII, juntamente com o ouro
correspondiam a grande parte da economia de Portugal, que no entanto,
explorou esses recursos à colônia, sem investimento algum que pudessem
melhorar as condições de produção ou aumentar o lucro dos trabalhadores.
Em crise, e a iminência de uma invasão estrangeira, Portugal ao final do século
XVIII, lança mão de uma série de medidas de recuperação, entre elas, o
projeto de desenvolver a colônia, que tem na criação da Casa Literária do Arco
do Cego a tentativa de desenvolver no Brasil novos métodos de produção
rentáveis; a inserção de novas culturas de grande interesse econômico, como a
cochonilha, e mesmo para uso militar, como a produção de salitre.
A produção de açúcar desde a instalação de engenhos no Brasil, dependia
exclusivamente do conhecimento adquirido por seus trabalhadores, e a difusão
desses conhecimentos, se não impossível, era ao menos muito difícil,
impossibilitando que novos métodos de produção pudessem ser amplamente
testados, e ainda assim, a qualidade do produto brasileiro competia no
mercado internacional com os maiores produtores mundiais.
A única publicação destinada a apresentar os processos de produção do
açúcar foi a obra de Antonil Cultura e Opulência do Brasil: por suas Drogras e
Minas, que apesar de publicada, foi imediatamente recolhida, sendo
republicada 90 anos depois, pela Casa Literária do Arco do Cego.
Nesta pesquisa, ao efetuarmos o confronto entre as duas edições,
encontramos muitas diferenças, como a omissão de palavras e frases inteiras,
e o acréscimo de outras, mas que não modificaram o significado da obra.
84
Estudando os métodos descritos por Antonil, e comparando-os com os
métodos propostos por Veloso na reedição da obra de Antonil e, ainda, em
outras publicações que fez, entendemos que Veloso buscava fornecer
orientação, sugerindo que os agricultores do Brasil realizassem testes que
pudessem ser aplicados à produção brasileira visando um melhoramento no
rendimento da produção. Alguns desses métodos estavam em uso na Jamaica,
e outros eram apenas experimentos ainda não testados nos engenhos.
Os métodos de produção do açúcar brasileiro se mantiveram os mesmos, ao
menos nos 90 anos que separam as publicações, e as modificações que
encontramos foram melhoramentos feitos nos fornos, que passaram a utilizar o
bagaço da cana em suas fornalhas, provavelmente em decorrência da
escassez de madeiras.
Das indicações de mudanças propostas por Veloso, para se tentarem no Brasil,
a melhoria no método de moagem foi uma das que mais ocuparam sua
atenção, aparecendo em diferentes obras, com diferentes tentativas de resolver
os problemas de desgaste e de abastecimento das moendas.
De todas as tentativas propostas por Veloso, a moenda apresentada na
reedição parcial da obra de Antonil foi largamente utilizada na produção de
açúcar no Brasil, na primeira metade do século XIX, e significou uma
modificação importante que permitiu, posteriormente, a instalação de uma
esteira para o abastecimento da moenda automatizando a produção nas
indústrias que ocorreria no decorrer do século XIX.
Não podemos aqui imaginar que essas modificações tenham acontecido logo
após a publicação da obra de Veloso, uma vez que se sabe que poucas das
85
obras publicadas pelo Arco do Cego tenham realmente chego às mãos dos
agricultores, mas nos parece razoável supor que, com a vinda da família real
para o Brasil em 1808, o conhecimento advindo das publicações do Arco talvez
tenham fomentado o desenvolvimento da indústria açucareira no Brasil.
86
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