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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS: ASPIRAÇÕES E REALIDADES Fabíola Aglaia Zanetti do Nascimento Belo Horizonte 2008

ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS: … · Os Direitos Humanos, são os direitos que visam resguardar alguns preceitos antigos conhecidos por todos tais como a fraternidade,

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BHCURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS:

ASPIRAÇÕES E REALIDADES

Fabíola Aglaia Zanetti do Nascimento

Belo Horizonte2008

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FABÍOLA AGLAIA ZANETTI DO NASCIMENTO

ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS:

ASPIRAÇÕES E REALIDADES

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Professor Leandro de Alencar Rangel

Belo Horizonte2008

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FABÍOLA AGLAIA ZANETTI DO NASCIMENTO

ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS:

ASPIRAÇÕES E REALIDADES

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Professor Leandro de Alencar Rangel

Monografia aprovada em 16 de Dezembro de 2008Banca Examinadora:

Prof. Flávio Alexander Delaqua Lucas

Prof. Leonardo Estrela Borges

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RESUMO

A Anistia Internacional é uma das organizações mais importantes e conhecidas mundialmente

que luta pela defesa dos direitos humanos. O presente trabalho pretende destacar o duelo

travado pela organização desde os anos 60, que teve início com a batalha de Peter Benenson,

para defender os direitos fundamentais dos cidadãos, contra abusos e violações sofridas ao

longo de todos esses anos. O objetivo é mostrar que as ações da Anistia não são em vão e que

ela concretamente consegue ser efetiva no cumprimento de suas tarefas. Utilizarei os dados de

casos em que ela realmente logrou êxito para mostrar que mesmo os mais descrentes têm que

admitir a importância de sua atuação e que através dela muitos indivíduos têm suas vidas

mudadas para sempre.

Palavras- Chave: Anistia Internacional. Direitos Humanos. Indivíduo

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Pressure of opinion a hundred years ago brought about the

emancipation of the slaves. It is now for man to insist upon the same

freedom for his mind as he has won for his body.

The Forgotten Prisoners, Peter Benenson, The Observer

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 7

CAPÍTULO 1-DIREITOS HUMANOS E ANISTIA INTERNACIONAL ......................... 9

1.1. A Evolução dos Direitos Humanos- História, Desenvolvimento e o processo de

positivação .............................................................................................................................. 9

1.2. A Relação Direitos Humanos e Direito Humanitário: princípios e vertentes ................ 13

1.3. Anistia Internacional (AI): Histórico, princípios e características ................................. 16

1.4. A integração entre os Direitos Humanos e a Anistia Internacional ............................... 19

CAPÍTULO 2- ATUAÇÃO DA ANISTIA INTERNACIONAL ........................................ 22

2.1 A Relação entre Direito Interno e Internacional ............................................................ 23

2.2 A Universalidade frente ao Relativismo Cultural ........................................................... 28

2.3 A Eficácia da Anistia Internacional: Ações Concretas na proteção dos Direitos

Humanos ............................................................................................................................... 39

2.4 Alguns casos que não lograram êxito ............................................................................. 45

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 51

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é estudar o papel da Anistia Internacional (AI) na defesa dos

direitos humanos. A introdução será pela ótica histórica, onde explicarei seu surgimento, seus

princípios, detalhando sua eficácia em proteger aqueles que sofrem abusos de seus direitos,

independente de convicções religiosas ou partidárias, suas campanhas, delineando alguns de

seus êxitos e também casos em que ainda não os obteve.

O papel da Anistia é pautar-se por princípios que serão mais tarde explicados e defender

aqueles que são covardemente privados de exercer seus direitos. A AI trabalha com base na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, que possui como foco a proteção de direitos

fundamentais dos cidadãos em prol da sociedade.

Desta forma se revela importante falar da relação entre a Anistia Internacional e os Direitos

Humanos, especificando quem seriam os protegidos pela instituição, mostrar atuações

concretas no trabalho de defesa dos direitos fundamentais, quais são os focos da sua

campanha, ou seja, determinar qual seu alcance, destacando a preocupação com as mulheres e

com a pena de morte. Ainda dentro deste assunto é preciso salientar a perseguição sofrida

pelos ativistas de direitos humanos, que muitas vezes pagam com a vida para defender os

direitos humanos pelo mundo.

Para tanto é essencial o estudo do desenvolvimento dos Direitos Humanos, discutido e

estudado desde o século XVII, mas especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando

surgiu a necessidade de criação de mecanismos mais eficazes para proteger os direitos

fundamentais do homem como um ideal comum entre os povos. Sendo todas as pessoas

livres, com direito a vida, a liberdade, não se admite a violação dos mesmos, torna-se assim

imprescindível falar da relação entre a criação da Anistia como uma das organizações de

maior destaque na proteção dos direitos fundamentais, tendo os Direitos Humanos como pano

de fundo à sua atuação.

Um dos temas pertinentes iniciais será a questão do Relativismo Cultural frente o

Universalismo dos Direitos Humanos diante das especificidades culturais e religiosas,

utilizando-se, para tal, de alguns exemplos da atualidade. Para elucidar será abordada a

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divisão de pensamento entre liberais e não liberais, ressaltando-se a violência contra a mulher

e o fundamentalismo religioso que constituem temas de extrema importância no mundo de

hoje. Desde já acredito que esse debate seja o mais controverso, mas procurarei descrever os

dois lados sem a crença de que o tema estará esgotado ao final do debate.

Neste trabalho também se enfatizam os ideais de universalidade dos Direitos Humanos que

estão manifestados na Declaração de 1948, que vêm adquirindo maior destaque, mas na

prática o desrespeito aos direitos humanos é o que chama mais atenção. Como citado

anteriormente, e segundo a Revista da Anistia Internacional (2006) a luta da mesma contra a

pena de morte, por exemplo, se dá pelo fato desta ser aplicada em muitos países,

principalmente entre os membros mais pobres da sociedade. Os indivíduos das classes mais

baixas são punidos de modo desproporcional e raramente têm uma representação legal. O

desrespeito a esses direitos é cada vez mais freqüente no mundo de hoje.

Também através desse trabalho pretende-se falar da interação cada vez maior entre Direito

Interno e Direito Internacional que contribui e muito para uma maior eficácia na proteção dos

direitos humanos, destacando algumas teorias que nos ajudarão a compreender melhor o tema.

O objetivo aqui é mostrar a importância de um organismo internacional na defesa dos direitos

elementares dos cidadãos, sendo a Anistia Internacional um exemplo neste trabalho, tendo a

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 como suporte à proteção dos direitos e

liberdades de fundamental relevância para o pleno cumprimento desse compromisso.

Acerca das fontes que serão utilizadas na presente pesquisa é necessário fazer as devidas

considerações. Os dados foram retirados de livros e sites da internet e tendo em vista a

impossibilidade de se fazer pesquisa de campo, enfatizo que apesar de muito já se ter falado

sobre o tema destaco sua importância para as Relações Internacionais.

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CAPÍTULO 1-DIREITOS HUMANOS E ANISTIA INTERNACIONAL

1.1. A Evolução dos Direitos Humanos- História, Desenvolvimento e o processo de

positivação

A noção de dignidade, valor absoluto da racionalidade humana, consistente não só do fato das

pessoas serem diferentes das coisas, não terem um preço, serem insubstituíveis, mas também

pela vontade racional, de viver em condições de autonomia, capaz de guiarem-se pelas leis

que elas próprias editam (COMPARATO, 2001), surgiu há muito tempo, nos primórdios da

civilização, mas aos poucos foi ganhando espaço na consciência dos cidadãos.

Os Direitos Humanos, são os direitos que visam resguardar alguns preceitos antigos

conhecidos por todos tais como a fraternidade, a igualdade, a liberdade e a dignidade do ser

humano. Apesar de que na Revolução Americana de 1776 alguns direitos já eram prescritos,

foi através da Revolução Francesa, com a força de fillósofos iluministas que pregavam por

fim dos privilégios, igualdade de todos perante a lei e proteção dos direitos humanos, que

estes ganharam escopo de universais (MULTICULTURALISMO E DIREITOS HUMANOS.

Disponível em <http://www.senado.gov.br/sf/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf>

Acesso: 5 de Maio de 2008). No mesmo sentido, afirma Ignacy Sachs:

Não se insistirá nunca o bastante sobre o fato de que a ascensão dos direitos é fruto de lutas, que os direitos são conquistados, às vezes, com barricadas, em um processo histórico cheio de vicissitudes, por meio do qual as necessidades e as aspirações se articulam em reivindicações e em estandartes de luta antes de serem reconhecidos como direitos. (PIOVESAN apud SACHS, Ignacy, 1998. Pág. 156)

Aliada ao jus naturalismo (que trabalha a máxima que há direitos inerentes à condição

humana), Cançado Trindade estabelece que as propostas iluministas

consagram as premissas de que os direitos humanos (...) são inerentes a cada ser humano, e antecedem os direitos dos Estados; de que o poder estatal deriva da vontade do povo; e de que a justiça prima sobre o direito estatal (...) (TRINDADE, 2003, Pág. 35).

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Dos conceitos iluministas de igualdade e liberdade adveio a idéia de uma universalidade dos

direitos, ou seja, o conceito da universalidade surgiu do entendimento de que “os direitos e as

liberdades dos indivíduos carregam em si valores superiores, indispensáveis à própria

existência humana, que precisam ser protegidos” (GODINHO, 2006, Pág. 1), demonstrando

claramente que os Estados são soberanos, mas não podem agir ilimitadamente.

Apesar de toda a repercussão causada pela Revolução, não foi o bastante para que as pessoas

tivessem seus direitos garantidos. Era preciso um embasamento legal, ou seja, a positivação

internacional dos mesmos para que os povos não ficassem a mercê dos seus governantes em

querer ou não respeitar os direitos fundamentais do ser humano.

Neste sentido a Organização Internacional do Trabalho (1919), que ao estabelecer padrões

mínimos de condições de trabalho, ajudou a disseminar algumas idéias de valores que dizem

respeito à dignidade humana e que devem ser respeitados. Juntamente com a Liga das Nações

(1920-1946) que semeou a idéia de limitação da soberania estatal e junto com o Direito

Humanitário, contribuíram para a internacionalização dos direitos humanos.

Ressalta-se aqui a importância dada ao indivíduo principalmente desde o século XX voltando

o mesmo a ser “a célula primária de toda sociedade cultural” (GODINHO, 2006, pág. 3).

Destaca-se que para a efetiva proteção dos mesmos é fundamental impor limites à liberdade e

autonomia estatais relativizando a soberania1 dos mesmos. A proteção dos direitos humanos é

um tema relevante a todos, de interesse internacional e não deve ser restrito à competência

doméstica.

A Segunda Guerra teve papel fundamental para a internacionalização dos direitos humanos.

Em virtude de várias atrocidades cometidas contra vários indivíduos, que desrespeitaram os

direitos humanos, e com o reconhecimento da existência do indivíduo no cenário

internacional, a preocupação com a proteção dos direitos humanos tornou-se parte da agenda

internacional. Percebeu-se nesse momento que

1 Conforme Melo (apud Pereira), “estado soberano deve ser entendido como sendo aquele que se encontra subordinado direta e imediatamente à ordem jurídica internacional sem que exista entre ele e o DIP qualquer outra coletividade de permeio”.

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a idéia de superioridade de uma raça, de uma classe social, de uma cultura ou de uma religião, sobre todas as demais, põe em risco a própria sobrevivência da humanidade. (COMPARATO, 2001, Pág. 54).

No seio das Nações Unidas, instituição criada no pós II Guerra como resposta aos dilemas

mundiais, foi desenvolvido um sistema normativo de proteção aos Direitos Humanos cujos

principais instrumentos são a Carta da ONU e a Carta dos Direitos do Homem, composta pela

Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 e os Pactos Internacionais de 1966 sobre

Direitos Civis e Políticos e sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, cujas

considerações individuais se fazem necessários.

A Carta da ONU contribuiu consideravelmente para o fenômeno da internacionalização,

porém seus dispositivos não definem quais são os direitos e liberdades fundamentais. Em seu

artigo 1º salienta que é preciso “desenvolver e encorajar o respeito aos direitos do homem e às

liberdades fundamentais para todos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião” e no

artigo 55 proclama “o respeito universal e efetivo dos direitos do homem e das liberdades

fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião” (CARTA DAS

NAÇÕES UNIDAS, 1945. Disponível em <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-

internacionais-dh/tidhuniversais/onu-carta.html >Acesso em: 5 de Maio de 2008).

Desse modo conclui-se que essa proteção se torna universal, atingindo todos os Estados,

ultrapassando as fronteiras do direito interno, não podendo os mesmos se esquivar dessa

proteção com um discurso de que a violação dos direitos do homem de seus nacionais seria

um problema de exclusividade dele. Essa questão será mais bem aprofundada no capítulo

seguinte onde serão abordadas questões sobre Relativismo Cultural e Universalismo.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada pela Assembléia Geral da ONU

e, segundo Cançado Trindade (2003), é tida como o ponto de partida do processo de

generalização da proteção internacional dos Direitos Humanos. Nela se reforça a idéia de que

existem direitos pertencentes a todas as pessoas independente de limitações.

A Declaração reúne os direitos em várias categorias como os de caráter individual (artigos 3 a

11) como, por exemplo, que garantem o direito a vida, liberdade, proibição de tortura e penas

cruéis; aqueles que dizem respeito aos direitos das pessoas integradas à sociedade (artigos 12

a 17) como o direito à propriedade privada, direito de ir e vir; os que se referem aos direitos e

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liberdades espirituais, políticos e civis (artigos 18 a 21); os referentes aos direitos

econômicos, sociais e culturais (artigos 22 a 27) dentre outros

De acordo com Trindade (2003), a Declaração se tornou uma referência na comunidade

internacional cujos princípios são utilizados na elaboração de vários tratados e muitos Estados

a tem como parâmetro na proteção dos direitos fundamentais.

Num esforço de tornar obrigatório aos Estados a proteção dos direitos humanos consagrados

na Declaração formulara-se Pactos Internacionais Relativos aos Direitos Humanos Civis e

Políticos e os relativos aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que representam a

“categorização dos direitos que desfrutam os seres humanos”. (TRINDADE, 2003, Pág. 131).

Os dois pactos obrigam os Estados participantes a cumprirem suas normas e foram adotados

pela Sociedade Internacional.

O primeiro deles, que estabelece os direitos dos indivíduos, tem o texto mais preciso que a

Declaração, mas não determina preceitos já estabelecidos na mesma a fim de evitar a

repetição. Possui um mecanismo próprio de fiscalização da sua implementação pelos Estados.

Já o relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estabelece deveres aos Estados

como “obrigações de fazer, executar, implementar e assegurar o pleno exercício e o gozo de

uma vida digna.” (BRANT apud GODINHO, 1995, pág. 18).

Em seu artigo 2º, parágrafo 1º estabelece que

cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o, pleno exercício e dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas. (PACTO INTERNACIONAL. Disponível em http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/pacto_dir_economicos.htm> Acesso em: 5 de Maio de 2008).

Percebe-se, no caso deste Pacto, que a realização das medidas muitas vezes depende de uma

ajuda financeira e leva em conta os problemas de cada país. Na prática o não cumprimento

desses acontece em razão da falta de medidas mais coercitivas e eficazes contra aqueles que

não cumprem o pactuado.

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Destaca-se ainda a I Conferência Mundial de Direitos Humanos ocorrida no Teerã em 1968

que representou, segundo Trindade (2003), a inter-relação de todos os Direitos Humanos,

constituindo um marco na evolução doutrinária da proteção internacional dos mesmos. Na

época da presente convenção os dois pactos ainda não vigoravam e ela acabou por instigar os

Estados a aderirem aos mesmos de modo a garantir o princípio da universalidade dos direitos

humanos.

Importante também deixar claro que não existe hierarquia entre os meios de proteção. Cada

um contribui a seu modo para atingir o objetivo maior que é a proteção2 dos Direitos

Humanos.

Mesmo com o reconhecimento de que o indivíduo é portador de direitos independente de sua

nacionalidade, cor, etnia ou qualquer outro parâmetro de discriminação, a violação dos

direitos humanos ao redor do mundo é constante e torna a busca pela defesa desses direitos

mais intensa.

1.2. A Relação Direitos Humanos e Direito Humanitário: princípios e vertentes

Até agora falei um pouco sobre os direitos humanos, de sua positivação, do desenvolvimento

de um sistema de proteção dos mesmos no seio da ONU, de como a Declaração Universal de

1948 contribuiu consideravelmente para o processo de internacionalização dos direitos

humanos.

Porém para um melhor entendimento do trabalho faz-se necessário falar sobre o Direito

Humanitário (DIH), ressaltando-se as diferenças entre ele e os Direitos Humanos (DH),

mostrando que essas vertentes não se confundem apenas se complementam.

2 Sobre a questão da proteção, tem-se que em relação aos meios que o cidadão tem para reclamar sobre a violação dos direitos é através do sistema de petições. Esse sistema segundo Cançado Trindade (2003) consiste na interposição de uma reclamação por parte do indivíduo perante um órgão de supervisão internacional mesmo contra seu próprio Estado por violação de direito humano, também podendo ocorrer entre Estados. Existe ainda dentro deste contexto o sistema de relatórios e investigações cuja função é receber e examinar reclamações de não proteção dos direitos humanos e tomar as providências necessárias.

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A finalidade de ambos é resguardar a vida, a saúde e a dignidade das pessoas. Embora os dois

proíbam a tortura, a discriminação, tenham mecanismos de proteção de mulheres e crianças,

trabalham sobre óticas diferentes. (DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO E O

DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: ANALOGIAS E

DIFERENÇAS, 2004. Retirado de

<http://www.icrc.org/Web/por/sitepor0.nsf/html/5YBLLF> Acesso em 17 de Novembro de

2008).

O Direito Humanitário surgiu na tentativa de proteger as pessoas em tempos de conflito

armado, buscando, segundo Borges (2006), acabar ou pelo menos diminuir os efeitos

causados pela guerra, preservando a dignidade da pessoa e aliviando seu sofrimento. Na

definição do Comitê Internacional da Cruz Vermelha ele pode ser entendido como

Regras internacionais, de origem convencional ou costumeira, que são especificamente destinadas a regulamentar os problemas humanitários decorrentes diretamente dos conflitos armados, internacionais ou não- internacionais, e que restringem, por razões humanitárias, o direito das partes no conflito de empregar os métodos e meios de guerra de sua escolha ou que protegem as pessoas e bens afetados, ou que podem ser afetados pelo conflito. (GASSER apud BORGES, 2006).

Três são os princípios que norteiam o DIH para que ele cumpra sua finalidade:

- Humanidade: buscar manter a dignidade da pessoa mesmo numa situação de guerra;

- Necessidade: através desse “os ataques dos beligerantes devem ater-se a uma finalidade

militar específica” (BORGES, 2006), ou seja, bens de caráter civil não podem servir de alvo;

- Proporcionalidade: onde os meios e métodos utilizados na guerra não podem ser ilimitados.

Já os Direitos Humanos

são inerentes a todas as pessoas por sua condição de seres humanos. Muitos princípios e diretrizes de índole não convencional (direito programático) integram também o conjunto de normas internacionais de direitos humanos. (DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO E O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: ANALOGIAS E DIFERENÇAS, 2004. Retirado de <http://www.icrc.org/Web/por/sitepor0.nsf/html/5YBLLF> Acesso em 17 de Novembro de 2008).

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Como dito anteriormente os DH apresentam diferenças e semelhanças em relação ao DIH e o

estudo de algumas correntes é fundamental. De acordo com Borges (2006) as principais

correntes são:

- Integracionista: para esta o DIH pertence aos Direitos Humanos, mas é aplicado a uma

situação específica, ou seja, durante os conflitos armados. Muitas críticas são feitas a essa

corrente no sentido de que cada um dos dois sistemas possui normas e princípios próprios sem

falar na diversidade quanto à época do surgimento;

- Separatista: por essa constituem ramos diferentes, pois não possuem o mesmo objeto e

natureza. Enquanto um foca na proteção da pessoa contra o próprio Estado, o outro foca a

proteção do indivíduo em uma situação de guerra;

- Complementarista: segundo esta constituem sistemas distintos, mas que se complementam

na proteção do indivíduo.

No rol das diferenças entre esses dois tipos de proteção aos indivíduos podemos citar as

origens históricas. As normas de DIH são mais antigas, visto que, foi a partir da Segunda

Guerra Mundial que houve a internacionalização das regras de Direitos Humanos; no que

tange as instituições que promovem seu desenvolvimento e promoção, as de DH são mais

amplas que as de DIH; as normas de DIH estão restritas às áreas em tempos de conflito

armado diferentemente das de DH que se aplicam em qualquer situação e pessoa que se sinta

prejudicada quanto à proteção dos direitos fundamentais e por último a diferença mais

marcante, segundo Trindade (2003), que reside no fato de o DH admitir o direito de petição

individual, conferindo ao indivíduo a qualidade de sujeito de direito, diferentemente do DIH.

Embora existam essas diferenças, todos se pautam pela mesma idéia que é a de proteger o ser

humano, e por isso a convergência entre as vertentes aumenta as chances de essa proteção ser

cada vez mais efetiva. Muitos princípios comuns ao Direito Humanitário estão presentes nos

Direitos Humanos como o da inviolabilidade da pessoa, cujo respeito à vida, a integridade

física em qualquer situação é fundamental, o da não discriminação em função de raça, cor,

sexo e o da segurança da pessoa.

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Sem dúvida isso mostra a tentativa cada vez maior de proteção do indivíduo, sujeito de

Direito Internacional, cujos direitos são inerentes à condição humana e devem ser

preservados, seja no âmbito interno quanto no internacional, assunto este que será

posteriormente estudado. O que se pode perceber é que “o direito estende seu manto protetor

aos seres humanos em todas e quaisquer circunstâncias” (TRINDADE, 2003. Pág. 435).

1.3. Anistia Internacional (AI): Histórico, princípios e características

Depois de ressaltar a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, fazer a

distinção entre estes e o DIH, cabe enfatizar a importância das ONGs no mundo de hoje.

Particularmente neste trabalho, em se tratando de proteção dos direitos fundamentais da

pessoa, focarei ao estudo da Anistia Internacional abordando sua história, características,

princípios e como ela se integra na proteção dos direitos humanos.

A Anistia é um movimento que trabalha em defesa dos direitos humanos. Mobiliza

voluntários do mundo inteiro que ajudam na proteção de pessoas que sofreram violações de

seus direitos. É uma organização que atua investigando, documentando abusos contra os

direitos humanos e ainda consegue agir de modo bastante eficaz para acabar com os mesmos.

Os membros da AI não pertencem à mesma classe social, ao mesmo país, não têm a mesma

cultura, mas estão unidos voluntariamente em defesa dos mesmos direitos para todos.

O compromisso da Anistia não se pauta em determinada região. Tem a Universalidade como

princípio; por isso trabalha pela defesa dos direitos humanos em todo o mundo, independente

de cor, raça, sexo, regime de governo. As investigações, os apelos, as campanhas têm o

objetivo de mudar a situação de injustiça por que possa passar os indivíduos. As vítimas

citadas no relatório da AI “têm nomes, datas de nascimento, têm história. E cada uma delas

tem direito à justiça.” (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 14).

Ela desempenha seu papel independente de ideologias políticas, não se apoiando em nenhum

governo ou partido político e nem mesmo em idéias dos prisioneiros a quem ela se dedica a

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defender. Procura apenas defender os direitos das vítimas injustiçadas. O financiamento dessa

organização depende da contribuição de seus membros.

Segundo o Manual da Anistia Internacional (2002), a AI forma uma comunidade na qual se

defendem os direitos humanos, em ações de cobertura global ou individual (porque ela não

escolhe suas vítimas), prezando pelos princípios da universalidade, indivisibilidade,

imparcialidade, independência, democracia e respeito mútuo que serão comentados mais

tarde.

Ainda de acordo com o Manual (2002), a Anistia surgiu quando um advogado britânico

chamado Peter Benenson, horrorizado com a história de dois estudantes portugueses que num

bar, durante a ditadura salazarista em Lisboa, brindaram à liberdade e foram condenados à

prisão, decidiu agir. Foi então que ele escreveu ao jornal britânico The Observer retratando o

caso e fazendo um apelo para uma campanha internacional que protegesse os “prisioneiros

esquecidos”. O jornal publicou o artigo e lançou a campanha de Peter Benenson, intitulada

Apelo para a Anistia, 1961.

O artigo intitulado como Prisioneiros Esquecidos pedia a todas as pessoas que protestassem

contra a detenção de pessoas devido a ideologias políticas ou religiosas, e que as pessoas

tivessem consciência da barbaridade que era a prisão dos jovens chamados de prisioneiros da

consciência.

Em um mês milhares de pessoas enviaram cartas de solidariedade, oferecendo ajuda prática e

contando outros casos relacionados com os dos estudantes prisioneiros. Mais tarde esse

evento transformou-se num movimento internacional permanente, formando uma organização

que agiria em diversos países apelando a favor dos prisioneiros e tentando solucionar outros

casos, tendo como princípios iniciais a imparcialidade e a independência. Nascia aqui a maior

organização mundial de defesa dos direitos humanos. (A ANISTIA INTERNACIONAL

FORMA UMA COMUNIDADE GLOBAL DE DEFENSORES DOS DIREITOS

HUMANOS. Retirado de http://br.amnesty.org/?q=quem_somos. Acesso em 5 de Novembro

de 2008).

A ação esperada era a mobilização de pessoas em todo mundo lutando para a defesa de

vítimas individuais em qualquer lugar. Depois, a AI passou a trabalhar não só a favor dos

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prisioneiros de consciência, ou seja, aquelas que estão presas pelas suas convicções, seja

ideológicas, religiosas ou políticas, como para ajudar vítimas de outros abusos de direitos.

Atualmente, a Anistia Internacional mobiliza voluntários e simpatizantes em todo o mundo.

Possui mais de um milhão de membros que trabalham na defesa dos direitos humanos que

devem ser respeitados e defendidos por todos. É uma organização reconhecida

internacionalmente, que consegue agir e ser eficaz em muitas ações de proteção dos direitos

humanos, o que será demonstrado posteriormente.

O Manual também descreve os muitos princípios que norteiam a ação da Anistia em defesa de

suas vítimas tais como:

- Solidariedade Internacional: onde a proteção dos direitos humanos é de responsabilidade

global e não nacional. Como já dito anteriormente os membros da AI são de origens

diferentes e possuem inclusive valores diferentes, mas conseguem trabalhar juntos em

solidariedade às vítimas de violação dos direitos humanos.

- Ação eficaz em defesa das vítimas individuais: ou seja, a AI age independente de motivos

políticos ou ideológicos em favor de homens, mulheres e crianças que sofrem algum abuso.

- Cobertura Mundial: A Anistia Internacional atua em todo o mundo em favor das vítimas

independente do tipo de governo.

- Universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos: segundo esse princípio todas as

pessoas nascem livres e iguais e devem ter seus direitos respeitados independente de religião,

raça, sexo, ideologia política ou origem. Além de que todos os direitos humanos são

indivisíveis.

- Imparcialidade: o trabalho da Anistia não é apoiado em qualquer ideologia política ou

sistema de governo.

- Independência: além de ser independente de governos, também é de interesses econômicos.

Para isso, ela procura não receber recursos de governos nem de partidos políticos, dependendo

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seu financiamento de contribuições de seus membros para conseguir se manter, aumentando

assim a sua credibilidade perante a comunidade internacional.

- Democracia: é uma instituição democrática cujos membros estão em todo mundo e

trabalham em conjunto para um melhor desempenho na defesa dos direitos humanos. A AI

tem governação própria e suas atividades estão organizadas segundo a seguinte estrutura:

A nível local os membros da AI formam grupos de cinco ou mais pessoas, que trabalham em conjunto nas ações da AI; a nível nacional, o trabalho dos membros e grupos da AI é desenvolvido, apoiado e coordenado por seções e por outras estruturas de coordenação; a nível internacional, o trabalho das seções, grupos e membros é desenvolvido e apoiado pelo Secretariado Internacional, que constitui o serviço central da AI. É no Secretariado Internacional que o trabalho de investigação sobre os abusos dos direitos humanos é efetuado e coordenado e onde é delineada a maioria das ações de campanha levadas a cabo pelos membros de todo o mundo. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 14.)

De acordo com esses princípios a AI luta pela proteção dos direitos humanos que estão

elencados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A AI possui objetivos bem delimitados e procura atendê-los com a maior eficácia possível.

Dentre eles estão:

Obter a libertação dos prisioneiros de consciência (...) que não tenham praticado a violência; Reivindicar a realização de julgamentos imparciais e justos para todos os prisioneiros políticos e das pessoas detidas sem acusação formal ou julgamento; Buscar a abolição da tortura, dos maus-tratos, das punições cruéis, desumanas e degradantes, das execuções judiciais e extrajudiciais, bem como coibir os desaparecimentos forçados. (KREMER, AK; UNFER, A.P. Disponível em <http://www.unisc.br/universidade/estrutura_administrativa/centros/cepejur/docs/artigo03.doc> Acesso em: 20 de Abril de 2008).

Na tentativa de defesa dos direitos humanos a Anistia Internacional procura resolver os

problemas contando sempre com a colaboração das pessoas a nível internacional, e casos

específicos de eficácia do trabalho dessa organização serão mostrados neste trabalho.

1.4. A integração entre os Direitos Humanos e a Anistia Internacional

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Como já especificado anteriormente, a Anistia Internacional trabalha na proteção dos direitos

fundamentais do cidadão. Segundo o Manual da Anistia Internacional, 2002, sua visão é a de

um mundo onde as pessoas possam exercer todos os direitos consagrados na Declaração

Universal dos Direitos Humanos.

Para que a visão seja concretizada, a missão da Anistia Internacional é investigar e tomar

medidas de prevenção e erradicação de grandes abusos contra os direitos fundamentais do

indivíduo.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem especifica em seus artigos quais são os

direitos fundamentais para o desenvolvimento do ser humano, reunindo, pois, as várias

categorias de direitos existentes, como já explicado anteriormente.

Assim é de responsabilidade de todos os governos do mundo, ou pelo menos deveria ser, a

proteção e o respeito dos direitos humanos em seu território. O papel da Anistia é justamente

o de pressionar os governantes a agirem de acordo com tal premissa.

De acordo ainda com o Manual (2002) a Anistia apóia e tenta promover os direitos contidos

na Declaração de 1948, mas coordena suas ações em cima das “graves violações dos direitos à

integridade física e mental, liberdade de consciência e de expressão e de não discriminação”.

(MANUAL DA AMNISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág.16). Ela atua para socorrer a

vítima, esta se sente totalmente desamparada e incapaz de lutar sozinha para ter seus direitos

fundamentais garantidos.

Sendo assim, historicamente as campanhas da AI têm sido focadas em:

Liberdade para todos os prisioneiros de consciência; Julgamentos rápidos e justos para todos os presos políticos; Abolição da pena de morte, da tortura e dos outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes; Fim das execuções extrajudiciais e dos “desaparecimentos”; Fim da impunidade através de ações que levem a julgamento os perpetradores daquelas violações dos direitos humanos, de acordo com padrões internacionais para julgamento justos. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 17).

A Anistia Internacional ao longo do tempo aumentou o alcance de sua proteção englobando a

luta por abusos que historicamente não eram protegidos. Ela passou a

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lutar contra as violações cometidas por entidades não governamentais e por privados; contra abusos praticados pelos grupos armados de oposição (no controle de um território ou durante ações de oposição aos governos), tais como a tomada de reféns, a tortura e os assassinatos; contra abusos dos direitos humanos contra civis e não combatentes, pelas partes envolvidas nos conflitos armados; contra abusos cometidos no lar ou na comunidade quando os governantes são cúmplices ou falharam em tomar as medidas adequadas. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 17).

Um dos temas mais interessantes nesta defesa dos Direitos Humanos pela Anistia é a proteção

às mulheres e a tentativa de acabar com a violência de gênero. Segundo a Revista da Anistia

Internacional Seção Portuguesa (2006), apesar de homens e mulheres serem iguais, estando

submetidos às mesmas leis e usufruírem os mesmos direitos, a discriminação contra a mulher

continua a existir e a violência doméstica se torna um ponto crucial neste sentido.

Também no rol dos trabalhos da AI está a luta para promover a abolição da pena de morte.

Para a AI, a pena de morte não traz benefícios para a sociedade. “É a punição mais cruel,

desumana e degradante que pode existir” (REVISTA ANISTIA INTERNACIONAL, 2006).

E complementa:

A pena de morte não é uma questão abstrata e teórica. Na verdade, falamos de seres humanos, sejam homens ou mulheres, que são tratados indiferentemente e condenados à morte. A discriminação sobre indivíduos condenados à morte, o risco sempre presente de executar um inocente, a forma banal de lidar com indivíduos que sofrem de distúrbios mentais e a aplicação de julgamentos injustos na administração da pena capital, conduzem a uma realidade inaceitável. (REVISTA DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2006. Pág. 23).

Embora a atuação da Anistia, cuja explicação se dará mais adiante, seja sempre defender

aqueles que realmente têm seus direitos violados, providenciando ajuda direta para eles,

lutando realmente para que os agressores sejam punidos e que as pessoas tenham os direitos

fundamentais resguardados, muitos defensores dos direitos humanos são perseguidos em todo

o mundo.

O ano de 2003, por exemplo, foi um ano crucial nesse sentido onde o que se viu foram “fortes

perseguições, prisões, tortura, desaparecimentos e mortes de defensores de Direitos

Humanos.” (INFORME DA ANISTIA INTERNACIONAL. Construindo uma agenda

internacional dos direitos humanos,2004. Disponível em

<http://www.br.amnesty.org/index_noticias.shtml?x=28564> Acesso em: 29 de maio de

2008).

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Muitos dos que sofreram brigavam contra a desigualdade social gritante existente em muitos

governos, outros pela insistência da necessidade de reformas democráticas e pelas críticas

severas ao Estado e outros tentavam expor crimes contra a humanidade e por isso foram

alvos. Os defensores dos direitos humanos trabalham sempre com o risco para sua própria

segurança.

Os ativistas que lutam na defesa dos direitos humanos em locais onde a situação de conflito

armado é bastante crítica podem sofrer danos a própria integridade física e não exercem

adequadamente seu trabalho por sofrerem limitações do próprio governo. É o caso, por

exemplo, dos ativistas palestinos “que estiveram limitados, na capacidade de desenvolverem o

seu trabalho, por cada vez mais restrições impostas pelo exército israelita, aos movimentos

dos palestinos nos Territórios Ocupados.” (INFORME DA ANISTIA INTERNACIONAL.

Construindo uma agenda internacional dos direitos humanos,2004. Disponível em

<http://www.br.amnesty.org/index_noticias.shtml?x=28564> Acesso em: 29 de maio de

2008).

Pelo mundo todo, os que defendem os Direitos Humanos lutam pelo reconhecimento da

legitimidade do seu trabalho, mas muitos governos continuam a negar espaço para os ativistas

e de maneira cruel repreendem aqueles que lutam em prol da garantia dos direitos.

Para ajudar os defensores a enfrentarem as dificuldades encontradas na defesa dos direitos

fundamentais pelo mundo, a Anistia procura sempre apelar em defesa dos seus ativistas

ajudando-os a atuar em todos os níveis seja local, regional ou nacional. É preciso

conscientizar as pessoas de que existe uma organização capaz de atuar em prol daqueles que

sofrem abuso de direito e que precisam da ajuda internacional.

CAPÍTULO 2- ATUAÇÃO DA ANISTIA INTERNACIONAL

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2.1 A Relação entre Direito Interno e Internacional

Para que o trabalho da Anistia na defesa dos direitos inerentes a pessoa humana citados na

seção anterior e para que esses direitos tenham uma maior proteção dentro e fora dos Estados,

faz-se necessário uma maior interação entre o direito interno e o internacional.

Dentro dessa perspectiva, existem 3 teorias mencionadas por George Galindo que, por serem

pertinentes ao assunto, serão destacadas:

1) Monismo com prevalência do Direito Interno

Surgida no século XIX, segundo o autor baseia-se em dois aspectos, centralismo estatal e

auto- suficiência, significando que o Direito Internacional somente existe em função dos

Estados e que “é impossível a existência de sujeitos outros que não o Estado no Direito

Internacional” (GALINDO, 2002. Pág. 17) reduzindo o mesmo a Direito Estatal Externo.

Essa doutrina eleva o Estado a um caráter absoluto, onde qualquer direito dentro ou fora, deve

seguir sua vontade, “negando ao Direito Internacional o caráter de supra- estatal”.

Algumas críticas foram feitas a esta teoria a começar pelo fato de que a mesma tende a negar

a existência do Direito Internacional. Segundo Galindo como os indivíduos e Estados

respeitam o Direito Internacional, não há como falar que o mesmo não tem caráter de

juridicidade. E ainda argumenta que

mesmo quando há uma ruptura constitucional, os tratados continuam a vigorar (...) e cada vez mais as constituições recorrem a normas internacionais para lhes dar fundamento, respeitando princípios estabelecidos pelo Direito Internacional. (GALINDO, 2002. Pág. 17)

2) Dualismo

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Dentro desta teoria destaca-se Triepel, especialista na arte de relacionar Direito Interno e

Internacional.

O dualismo de Triepel baseia-se na distinção desses dois ramos em sistemas totalmente

distintos por possuírem fontes e destinatários das normas diversos e “sob o prisma do

dualismo, Direito Internacional e Interno são totalmente separáveis.” (GALINDO, 2002. Pág.

27).

Para ele o Direito Internacional só é aplicado internamente “se transformado (...) por algum

instrumento dimanado do Direito Interno.” (GALINDO, 2002. Pág. 30)

Embora Triepel diga que os dois são totalmente diferentes, ele parece estabelecer, segundo

Galindo (2002) uma hierarquia atribuindo ao Direito Interno o caráter de superioridade,

afirmando que o Direito Internacional deve sempre buscar o Direito Interno, pois sem ele o

mesmo é totalmente inoperante.

Do mesmo modo que o monismo o dualismo sofreu críticas a respeito principalmente do fato

de que a realidade do século XIX quando foi criado, não existe mais, ou seja, tudo mudou.

A idéia de separação proposta por Triepel foi construída num dado momento histórico, de

acordo com aquele tempo vivido. Hoje “Estados recalcitrantes a certo costume ou não

signatários de determinado tratado encontram-se obrigados por suas normas, mesmo contra

sua própria vontade” (GALINDO, 2002. Pág. 34).

Segundo a crítica “a divisão entre os dois perderá sentido, uma vez que poderão versar sobre

matérias idênticas e interagirem para encontrar as melhores soluções para dada questão, como

é o caso da proteção dos Direitos Humanos.” (GALINDO, 2002. Pág. 35)

3) Monismo com prevalência do Direito Internacional (Pós dualismo)

Esta vertente dá primazia ao Direito Internacional sobre o Interno e é a que hoje é mais aceita.

Tem como representante mais famoso Kelsen que estatui que “se uma lei interna dispõe

diversamente de um tratado, isto não afeta a validade quer de um quer de outro.” (GALINDO,

2002. Pág. 42).

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Apesar de seu pendor pelo monismo com prevalência no direito interno, através de suas

análises decidiu-se pela do Direito Internacional por razões políticas, “uma vez que, segundo

sua visão, a visão objetivista e não centrada no Estado contribui para o pacifismo, em

contraposição ao subjetivismo, que tende ao imperialismo.” (GALINDO, 2002. Pág. 46).

Parecia aceitar a idéia de que os indivíduos poderiam ser sujeitos de Direito Internacional,

pois afirmava não haver diferença entre a natureza dos assuntos de ambos e era possível que o

Direito Internacional se preocupasse com atividades humanas.

De acordo com as críticas esta visão “incorpora algo de surreal” (GALINDO, 2002. Pág. 66) e

em muitos países principalmente os em desenvolvimento “o fenômeno internacional é muitas

vezes encarado com hostilidade.” Nestes casos o Direito Internacional e o Interno “se

desenvolvem, cada um, conforme a sua própria dinâmica (...), não sugerindo de nenhuma

maneira a idéia de unidade.” (VIRALLY apud GALINDO 2002, Pág. 67)

Todas essas teorias falam da interação entre direito internacional e interno. Atualmente esse

intercâmbio se intensificou e muitos exemplos dessa interação se encontram no impacto de

vários meios de proteção dos Direitos Humanos em constituições recentes, principalmente na

América Latina.

Desde a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 houve

crescente “identidade de propósitos entre o Direito Interno e o Internacional, no que respeita à

proteção dos direitos humanos”. (MAZZUOLI, 1999. Pág.473).

Ainda de acordo com o autor, essa nova concepção elevou o patamar dos indivíduos que

passaram a ser sujeitos de direito internacional, capazes de acionar mecanismos processuais

que protejam seus direitos internacionalmente protegidos. Após a 2ª Guerra Mundial a

intenção de se criar um aparato internacional de proteção dos mesmos aflorou, tornando

possível responsabilizar o Estado externamente quando isso não for possível internamente.

Sendo assim,

O Direito Internacional dos Direitos Humanos, passa a efetivamente solidificar-se como um corpus juris dotado de uma multiplicidade de instrumentos internacionais

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de proteção, que impõem obrigações e responsabilidades para os Estados, no que diz respeito aos seus jurisdicionados. (MAZZUOLI, 1999. Pág.476).

No Brasil a Constituição Federal de 1988 representou a abertura do Estado ao regime

democrático e à normatividade internacional de proteção dos direitos humanos. Em seu

parágrafo 2º do artigo 5º estabelece que:

Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (MAZZUOLI, 1999. Pág.480).

Esse artigo segundo o autor demonstra que as formas de proteção da dignidade da pessoa

humana se ampliaram, mudando assim a interpretação relativa às relações do direito

internacional com o direito interno.

Dessa análise conclui-se que o parágrafo 2º do art. 5º admite que

os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos ingressem no ordenamento jurídico brasileiro no mesmo grau hierárquico das normas constitucionais, e não em outro âmbito de hierarquia normativa. (MAZZUOLI, 1999. Pág.482).

O parágrafo 1º do mesmo art. 5º estatui que “as normas definidoras dos direitos e garantias

fundamentais têm aplicação imediata”. (MAZZUOLI, 1999. Pág.484).

Como se sabe, para o efetivo cumprimento de tratados, a simples ratificação já basta para a

incorporação automática de suas normas à legislação interna brasileira e os tratados de

direitos humanos têm hierarquia sobre os demais tratados. Desta forma, pela abertura dada

pelo parágrafo 2º do art.5º da CF, os tratados internacionais passaram:

A estar dentro dos fundamentos da República Federativa do Brasil; a permear os objetivos fundamentais do Estado brasileiro; a ser diretrizes que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil (MAZZUOLI, 1999. Pág.494) 3.

Esta concepção como pontifica Mazzuoli

3 Conforme a Constituição Federal Brasileira, o artigo 3º estatui que “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

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consiste na consciência de participação dos indivíduos na vida da sociedade e nos negócios que envolvem o âmbito do seu Estado, só alcançados, em igualdade de direitos e dignidade (...) (MAZZUOLI, 1999. Pág.495)

Segundo Galindo (2002), sem pretender uma supremacia das normas internacionais sobre as

internas, o Direito Internacional dos Direitos Humanos tende a fazer com que a norma mais

favorável ao indivíduo seja aplicada em detrimento da outra.

Outro exemplo é o da Constituição da Colômbia de 1991 que em seu artigo 93 determina

que os tratados de direitos humanos ratificados pela Colômbia prevalecem na ordem interna, e que os direitos humanos constitucionalmente consagrados serão interpretados de conformidade com os tratados de direitos humanos ratificados pela Colômbia. (TRINDADE, 2003. Pág. 511).

E a Constituição Chilena que em 1989 agregou ao final do art. 5º (II) a seguinte disposição:

é dever dos órgãos do Estado respeitar e promover tais direitos, garantidos por esta Constituição, assim como pelos tratados internacionais ratificados pelo Chile e que se encontrem vigentes. (TRINDADE, 2003. Pág. 511).

Todos esses exemplos consagram a intenção de muitos Estados em ver os direitos e garantias

individuais sendo protegidos em âmbito internacional e interno, reforçando assim a

importância da proteção dos Direitos Humanos, demonstrando “que a busca de proteção cada

vez mais eficaz da pessoa humana encontra guarida nas raízes do pensamento tanto

internacionalista quanto constitucionalista.” (TRINDADE, 2003, Pág. 514).

Essa nova tendência retrata a posição ocupada pelo ser humano na escala de valores do

mundo contemporâneo, refletindo também a necessidade de uma maior proteção no que diz

respeito aos seus direitos e garantias fundamentais.

A importância deste avanço está na melhoria da administração da justiça dentro do próprio

Estado; o aumento do contato entre o poder judiciário de vários países e a promoção de certo

grau de uniformidade na aplicação de normas de Direito Humano entre os tribunais.

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A influência dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico dos Estados varia de

Estado para Estado, ou seja, o Direito Constitucional de cada país é que vai determinar a sua

aplicabilidade.

Mesmo com todas essas variações não há que negar a evolução, o status alcançado pelas

normas de direitos humanos ao longo do tempo. De acordo com Trindade “não há nem nunca

houve, qualquer impossibilidade lógica ou jurídica de que indivíduos, seres humanos, sejam

beneficiários diretos de instrumentos internacionais.” (TRINDADE, 2003. Pág. 539).

Apesar de todos os avanços no sentido de aumentar a legislação internacional de proteção e

incorporá-la ao direito interno, salienta-se que os direitos humanos não são respeitados em

todos os países e muito menos da mesma forma.

2.2 A Universalidade frente ao Relativismo Cultural

Além das questões já discutidas de fundamental importância, cabe adentrar na discussão da

universalidade e dos particularismos culturais. É um tema cujos debates são prolongados e

possivelmente sem conclusões, seja no âmbito internacional ou doméstico. Muito desse

assunto é discutido em várias conferências sobre direitos humanos sendo, pois, uma das

maiores preocupações da atualidade.

Para adentrarmos nesse tema é necessário que se estabeleça o conceito de cultura que usarei

no presente trabalho que é, nas palavras de Trindade, a cultura

é uma via de comunicação de cada ser humano com o mundo exterior, onde todas ajudam os mesmos na compreensão do mundo que os circunda e na busca de sua auto-realização. (TRINDADE, 2003. Pág.305).

Ainda trabalhando com o conceito de cultura de acordo com Kessing “culturas são sistemas

(de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as

comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos”. (KESSING APUD LARAIA,

1999. Pág. 60)

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Por ser um tema tão complexo é cabível abordar a discussão feita por Olsen (2004) entre

liberais e não- liberais (comunitaristas), cujas posições são antagônicas em relação ao debate

universalismo versus relativismo cultural.

Para a doutrina liberal, o individualismo é a base, tendo, pois, primazia sobre a coletividade.

Dentro dessa perspectiva o indivíduo tem uma identidade antes mesmo de se integrar à

comunidade, podendo assim fazer suas próprias escolhas, traçando seu próprio caminho com

base em seus próprios valores éticos e morais.

Influenciados por Rawls, os liberais não acreditam “na adoção de uma noção única de bem

por determinada sociedade” (OLSEN, 2004. Pág. 121) e diante disso a noção de justiça

tornou-se mais importante que a de bem comum.

A Universalidade dos Direitos Humanos reveste-se da idéia de que eles são concedidos a

todos os seres humanos e baseia-se no princípio da dignidade da pessoa humana. De acordo

com Olsen (2004) os direitos humanos

são fruto dos princípios universais de justiça que independem de uma concepção de bem pré-determinada pela comunidade ou de alguma tradição popular (OLSEN, 2004. Pág. 125).

Nesse sentido os liberais acreditam que muitas práticas culturais ditas seculares só servem

para esconder a dominação da população por determinados setores. A universalização de

determinados direitos é fundamental e urgente, por ser um meio de impedir a violência

praticada contra o indivíduo em virtude de práticas antigas.

De outro modo enxergam os comunitaristas, que têm na defesa do coletivo, na primazia da

comunidade sobre o todo, a base de sua doutrina. Essa visão confere ao direito coletivo uma

importância maior que o direito individual, podendo assim os últimos serem violados ou

sacrificados em prol de um bem maior que é o bem coletivo. Para os adeptos dessa teoria, a

noção de bem comum tem muito mais relevância que a justiça, e como o ser humano tem os

seus valores moldados pelo grupo ao qual pertence é impossível falar de universalização de

valores, tampouco os de justiça.

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O mundo capitalista em que vivemos, onde uma das maiores preocupações do ser humano é

principalmente o ganho econômico gerou, segundo Trindade (2003), um fundamentalismo

econômico cujas conseqüências são preocupantes, assim como o religioso.

A chamada globalização contribuiu consideravelmente para a troca de culturas existentes

hoje, porém serviu para aumentar uma estatística terrível que foi o aumento dos excluídos,

marginalizados, os refugiados e os deslocados que vivem em busca de uma vida melhor, mais

digna e menos egoísta da sociedade em que vivem. Torna-se imprescindível a busca da

revalorização do ser humano e a “reconstrução da comunidade internacional com base na

solidariedade humana”. (TRINDADE, 2003. Pág. 331).

Em diversas regiões do mundo o Estado não consegue exercer o seu papel de promover o bem

estar de todos os cidadãos, além de ser incapaz de zelar pelo cumprimento dos direitos

fundamentais do indivíduo, onde cada um tem que lutar sozinho para sobreviver em meio ao

caos da própria sociedade em que vive. De acordo com o autor, “o que se pode constatar hoje

é um aumento considerável dos marginalizados e excluídos em todo o mundo.” (TRINDADE,

2003. Pág. 331). Ressalta-se que

os mecanismos de proteção internacional dos direitos humanos pouco lograrão, sem modificações profundas no seio das sociedades nacionais, ditadas pelos imperativos da justiça social, para que todos possam se beneficiar do progresso social. (TRINDADE, 2003. Pág.334).

O foco de resistência de muitos países à universalidade dos Direitos Humanos se encontra em

relação à esfera privada do indivíduo, principalmente em países de maior recrudescimento de

particularismos e fundamentalismo. É aqui que se encontram as maiores violações dos

direitos humanos principalmente em se tratando dos direitos da mulher, pois de acordo com

Cançado Trindade, “toda história do direito privado dá mostras de distintos tipos de

discriminação.” (TRINDADE, 2003. Pág. 346).

A) Da violência contra a mulher

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Este é um assunto que merece devida atenção e que está em voga no mundo contemporâneo

por se tratar de uma das maiores violações dos direitos humanos.

Vários são os tipos de fundamentalismo, mas o de base religiosa é o que mais tem sacrificado

as mulheres principalmente na esfera privada. Mesmo que pela lei, homens e mulheres sejam

iguais, a realidade que vemos é outra e principalmente em casa que elas continuam a ser

violentadas e discriminadas. Muitos são os casos em que práticas seculares e particularismos

culturais são invocados para justificar violações de direitos humanos contra as mulheres

como, por exemplo, a circuncisão feminina na África Islâmica.

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher

(1979) já pregava em seu artigo 3º que

Os Estados-partes tomarão, em todas as esferas e, em particular, nas esferas política, social, econômica e cultural, todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o exercício e o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de condições com o homem. (CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER. Disponível em <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/discrimulher.htm> Acesso em 16 de setembro de 2008).

Já o artigo 5º(a) estabelece que

Os Estados-partes tomarão todas as medidas apropriadas para:Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação de preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra índole que estejam baseados na idéia da inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres. (CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER. Disponível em <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/discrimulher.htm> Acesso em 16 de setembro de 2008).

Assim, essa Convenção representou um passo muito importante para a defesa dos direitos da

mulher, cuja discriminação ainda acontece em larga escala em vários países e que precisa ser

urgentemente cessada.

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Muitos são os instrumentos que tentam proteger o direito das mulheres e um dos mais

recentes é a Declaração de Beijing de 1995 que pleiteia a universalidade dos direitos humanos

da mulher e tenta

garantir a plena aplicação dos direitos humanos das mulheres e meninas como parte inalienável, integral e indivisível de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. (DECLARAÇÃO DE BEIJING 1995. Retirado de <http://74.125.45.104/search?q=cache:0CLTJPm_nwEJ:www.antigona.org.br/admin/index.php%3F__controller%3Dlegislacao%26__action%3Ddownload%26id%3D88+Declara%C3%A7%C3%A3o+de+Beijing+1995&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=4&gl=br> Acesso em 16 de setembro de 2008).

Através dessa Declaração também se busca:

Garantir a todas as mulheres e meninas todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, e tomar medidas eficazes contra as violações desses direitos e liberdades; Adotar as medidas que sejam necessárias para eliminar todas as formas de discriminação contra as mulheres e as meninas, e suprimir todos os obstáculos à igualdade entre os sexos e ao avanço e à promoção da expansão do papel da mulher; Prevenir e eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e as meninas; (DECLARAÇÃO DE BEIJING, 1995. Retirado de <http://74.125.45.104/search?q=cache:0CLTJPm_nwEJ:www.antigona.org.br/admin/index.php%3F__controller%3Dlegislacao%26__action%3Ddownload%26id%3D88+Declara%C3%A7%C3%A3o+de+Beijing+1995&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=3&gl=br> Acesso em 6 de outubro de 2008).

Os direitos da mulher são bastante discutidos hoje, principalmente no âmbito das Nações

Unidas, mas muito se tem feito para acabar, por exemplo, com a discriminação entre gêneros

ocupantes de cargo na ONU.

O artigo 8 da Carta estabelece que “As Nações Unidas não estabelecerão nenhuma restrição

de elegibilidade para homens e mulheres a fim de participarem sob condições ou igualdade

em seus órgãos principais ou subsidiários”. (CARTA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS,

1945. Retirado de

<http://www.interlegis.gov.br/processo_legislativo/copy_of_20020319150524/200306161022

58/> Acesso em 17 de Outubro de 2008). É um artigo importante no que diz respeito à

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diminuição da discriminação contra as mulheres e é bastante pertinente adentrarmos um

pouco neste assunto.

Juntamente com a Declaração de Beijing (1995) esse artigo representou um grande avanço

para as mulheres. Embora abranja somente as Nações Unidas, não vinculando os Estados

Membros, “serve como modelo ou constitui uma fonte de inspiração para os mesmos” na

adoção dessas medidas. (SIMMA, 2002. Pág. 232).

Este artigo tem o objetivo maior de evitar discriminações entre homens e mulheres

principalmente ao se elegerem para cargos da ONU. O Tribunal Administrativo das Nações

Unidas concluiu que o artigo 8 é uma regra que gera obrigação legal aos órgãos da mesma.

Entretanto acredita-se que esse artigo é um pouco vago porque não expressa claramente se

as Nações Unidas devem garantir igualdade de direitos ao acesso em postos da própria ONU ou se deve tomar medidas como criar condições iguais de trabalho para homens e mulheres. (SIMA, 2002. Pág. 233).

O importante é que podemos considerá – lo um avanço no quesito proteção dos direitos da

mulher e que vários órgãos da ONU como o CSW (Commission on the Status of Women)

adotam uma interpretação extensiva do mesmo indicando um tratamento igualitário dentro de

toda a organização.

O princípio da não discriminação contra as mulheres está sendo implementado na ONU desde

1945 e até o ano de 1975 esse processo foi lento. Nos anos 70 não se implementou muitas

medidas com esse objetivo e a média de mulheres entre os profissionais da categoria “staff”

nas Nações Unidas era de apenas 12,9 % (SIMMA, 2002.Pág. 235).

Já entre 1975-1985, muitas políticas voltadas a esse objetivo surgiram para reforçar ainda

mais os direitos das mulheres. Isso garantiu a proclamação do ano de 1975 como o ano

Internacional da Mulher. Em 1979 a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher (CEDAW) ganhou destaque e foi adotada.

Novas instituições foram estabelecidas com o intuito de adotar políticas de igualdade entre os

sexos e até mesmo de recrutar mulheres para o trabalho dentro das mesmas como a ICSC

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(International Civil Service Commission). Mas apesar de todo o esforço da época, não foi

possível atingir um aumento substancial nas chances de emprego e promoção da mulher

dentro do secretariado das Nações Unidas.

No período entre 1985-2002 a Nairóbi Forward- looking Strategies e a Plataforma de Ação de

Beijing contribuíram para reforçar a idéia da não discriminação contra as mulheres e para

aumentar a média de mulheres trabalhando no Secretariado da ONU.

No ano de 2000 muitas medidas para o aumento dessa participação efetiva das mulheres

foram tomadas e o objetivo era a paridade entre os gêneros de 50/50. Isso aumentou a

participação apesar da maioria delas ainda continuar em cargos muito baixos.

Por fim, apesar desse esforço, é preciso enfatizar que não é simplesmente dar preferência a

qualquer mulher e sim àquelas candidatas que demonstrem igualdade ou maior qualidade

profissional que os adversários do sexo masculino. (SIMMA, 2002).

Todos esses dados significam muito em termos de preservação dos direitos da mulher.

Entretanto, mesmo com todo esse empenho da comunidade internacional para proteger os

direitos da mesma, segundo a Revista da Anistia Internacional de Portugal,

a violência contra as mulheres, no mundo e em Portugal, continua uma realidade, e a violência doméstica, física e psicológica continua a ser dos maiores crimes propagados entre os cônjuges. (...) permanece ainda como o maior crime silencioso a que as mulheres estão sujeitas. (REVISTA DA ANISTIA INTERNACIONAL DE PORTUGAL, 2006. Pág. 20)

Hoje, as principais causas que explicam a violência “são econômicas, a existência de filhos ou

a dependência psicológica face ao companheiro.” (REVISTA DA ANISTIA

INTERNACIONAL DE PORTUGAL, 2006. Pág. 20). A violência é um crime que deve ser

punido e não mais tolerável. Todos nós somos responsáveis e temos que lutar por um mundo

mais justo. Urge agir para prevenirmos essa situação para que a total erradicação da violência

contra as mulheres possa se transformar em realidade.

B) Religião e Direitos Humanos

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Outra questão a ser levantada é em relação à religião. Não há como negar que a mesma exerce

papel fundamental na busca da paz internacional. Contudo, o fanatismo e a intolerância têm

gerado conflito em diversas partes do mundo e conseqüentemente a violação dos direitos

humanos.

De acordo com o Comunicado Conjunto sobre Promoção de Tolerância Religiosa,

apresentado na II Conferência Mundial de Direitos Humanos de 1993 pela Comunidade

Baha’i Internacional,

todas as religiões ensinam o amor, e todas as religiões visam promover o bem estar da família humana (...). A intolerância não raro tem raízes nos antagonismos culturais e históricos associados com tradições religiosas. (TRINDADE, 2003. Pág. 378).

Muitos interpretam as mensagens religiosas de uma forma completamente distorcida da

realidade e “assim como os direitos humanos se afirmam como universais, há os que

consideram as religiões como constituindo sistemas universalmente válidos de crenças”.

(TRINDADE, 2003. Vol. III Pág. 378)

O fundamentalismo religioso chama muita atenção principalmente porque “requer uma

compreensão ao mesmo tempo em que representa um desafio à paz e à liberdade de muitas

sociedades”. (HALLIDAY, 1999). Ele compreende uma variedade de movimentos que

apresentam características semelhantes que são: a invocação para um retorno aos textos

sagrados e a aplicação destes na vida social e política.

Segundo Halliday, o mundo enfatiza bastante o fundamentalismo islâmico, porém é preciso

ressaltar que esse termo também engloba facções protestantes evangélicas que surgiram no

ano de 1920 e no judaísmo algumas tendências são categorizadas como tal. Embora sua

origem recaia nas religiões monoteístas, ele não é peculiar a elas4.

Todos esses movimentos como o judaísmo, islamismo, hinduísmo e o próprio cristianismo

são diferentes, mas apresentam características compartilhadas. Primeiro, que todos eles

buscam um retorno aos textos sagrados, derivados de Deus, como a Bíblia, o Torah e

4 Na Índia nas últimas duas décadas, emergiu um forte fundamentalismo hindu. (HALLIDAY, 1999)

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Talmud5. “Este é, em seu sentido literal, o significado do termo fundamentalismo.”

(HALLIDAY, 1999. Pág. 292). Esses movimentos argumentam que esses textos têm base

para definir a forma como a sociedade e o Estado devem se organizar. Uma segunda

característica é a percepção desses movimentos de que “a reivindicação dentro deles pode ser

identificada como a constituição de um Estado perfeito no mundo contemporâneo.”

(HALLIDAY, 1999. Pág. 295). Outra característica é que eles têm sempre o objetivo de

adquirir poder político e social.

No caso do judaísmo isso não é muito claro, como se pode perceber em outros movimentos,

apesar deles tentarem estender o controle do poder dos rabinos por quase toda a sociedade. De

acordo com o autor,

O Fundamentalismo é, neste sentido, um meio de obter e, uma vez obtido, de manter o poder político: com certeza, é por esta razão que ele preocupa a todos nós. (HALLIDAY, 1999. Pág. 296)

A quarta e última característica se caracteriza pelo caráter antidemocrático preconizado pelos

mesmos. São grupos que

rejeitam as premissas da política democrática, incluindo a tolerância e os direitos individuais e reivindicam uma autoridade que não é derivada daquela dos povos: é derivada da vontade de Deus. (HALLIDAY, 1999. Pág. 296).

A ascensão desse movimento em vários países do Terceiro Mundo pode ser considerada como

uma conseqüência do fracasso do Estado em resolver os problemas econômicos e sociais da

população. Aparece, portanto como uma solução simples para a resolução dos problemas, pois

fazem uso de uma ideologia política capaz de estabelecer uma identidade, quem são e o

principal quem não é, fornecendo um modelo de como construir uma nova sociedade. Hoje os

textos sagrados, antigos, são usados com propósitos contemporâneos para significar aquilo

que seus líderes auto-indicados querem que eles signifiquem. (HALLIDAY, 1999)

5 Para os hindus falta um texto e um deus monoteísta e isso torna o trabalho mais difícil. (HALLIDAY, 1999)

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Não se pode ignorar a ameaça exercida por estes movimentos ao redor do mundo, mas é

preciso reconhecer que: a ascensão dos mesmos se deve às opressões vividas pelas sociedades

dentro e fora dos países envolvidos; devemos lutar para acabar com o estereótipo de que

muçulmanos são iguais aos islâmicos e somente eles são movimentos fundamentalistas, não

incluindo judeus ou cristãos e por último, que não temos o direito de julgar quais são os

valores certos e quais são os princípios morais gerais. Não temos o direito de impor “nossos”

valores sobre os outros. O importante é cada um saber se respeitar para que a convivência em

sociedade seja pacífica.

De acordo com Cançado Trindade, a Declaração de Barcelona de 1994 assinalou que

cada cultura representa um universo em si mesma e, não obstante, não se mostra fechada. As culturas dão às religiões sua linguagem, e as religiões oferecem um sentido último a cada cultura. A não ser que reconheçamos o pluralismo e respeitemos a diversidade, não há paz que seja possível (...). (TRINDADE, 2003. Pág. 382).

Deste modo, existe a necessidade de se pôr fim às violações de direitos humanos,

principalmente aquelas resultantes da intolerância religiosa, pois nenhuma cultura ou

civilização é homogênea, tendo diversidades em seu próprio seio, não sendo, portanto,

absoluta. Segundo ainda o autor, o melhor remédio contra a intolerância religiosa é

entendermos os ensinamentos religiosos respeitando a integridade de todos os indivíduos.

Já Marie- Bénédicte (2001) tem uma posição que não tende nem para o lado universalista e

nem para o relativista, encontrando-se entre as duas. Segundo ela, é comum depararmos, com

a idéia de que o discurso sobre direitos humanos ajusta padrões universais, formando assim

uma boa base para avaliar principalmente a ação do governo.

Através dos séculos, muitos reforçam a idéia de que os direitos humanos são direitos inerentes

ao ser humano, ou seja, é uma lei natural. È uma idéia problemática, pois o que parece ser

natural para um não é para o outro. Ela acredita que os direitos humanos não têm sentido fora

do contexto político e social no qual estão envolvidos e que esse discurso pode facilmente

gerar arrogância. A posição universalista frente a essa questão tem um efeito negativo, a partir

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do momento que injustificadamente não leva em conta que cada cultura tem seus próprios

valores morais.

Por outro lado, como cada cultura é diferente assim como as sociedades são, a posição

relativista apresenta sérios problemas. De acordo com Marie o relativismo cultural retrata que

as pessoas são mais determinadas pela sua cultura do que elas realmente são e encobre o fato de que desde a propagação do Estado moderno os direitos humanos se tornaram relevantes no mundo inteiro. (BÉNÉDICTE, 2001. Pág. 59 Tradução Nossa.)

O fato é que o relativismo cultural “pode tornar agentes morais indiferentes a situações

imorais” e partindo dessa perspectiva “a cultura facilmente se torna uma desculpa para o

abuso.” (BÉNÉDICTE, 2001. Pág. 59. Tradução Nossa).

Sendo um tema bastante amplo e controverso, existe ainda um autor Raimundo Panikkar,

citado por Marie Bénédicte, que acredita numa visão que ele determina como “via media” em

relação a este debate. Segundo ele os direitos humanos ajudam na busca pela justiça, mas

existem outros meios disso acontecer nas sociedades não ocidentais. Para ele

o problema é que o discurso dos direitos humanos conduz à cegueira ao acreditar que ele tende a pensar-se como o único. Os direitos humanos são universais do ponto de vista da cultura ocidental. Nossa verdade não é a verdade absoluta. (PANIKKAR apud BÉNÉDICTE, 2001. Pág. 70 Tradução Nossa)

Após toda à discussão, entendo que diante dos direitos fundamentais inderrogáveis,

pertencentes a todos os indivíduos, não há que se invocarem as particularidades regionais

existentes em cada região ou cultura para violá-los. Sempre devemos ter em mente que somos

livres e iguais em direitos e obrigações. Não podemos usar da cultura para oprimir, torturar,

maltratar ou violar os direitos humanos universais. A diversidade cultural existente em vários

países dificulta uma posição igualitária ou pelo menos coesa no que tange aos direitos

humanos, principalmente entre os países chamados de “ocidentais” e os que compunham o

bloco socialista.

A cultura não pode representar um obstáculo à universalidade dos direitos humanos, mas sim

um elemento que a constitui. Cada um tem o direito de seguir determinado comportamento

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dentro de sua própria sociedade. O respeito pelo outro é extremamente importante e essencial

em todas as culturas e crenças, não sendo satisfatório que se invoque o passado cultural para

justificar o desrespeito ao próximo. Aceitar que “toda prática perpetuada no seio da

comunidade, ainda que viole direitos humanos, tido como fundamentais,” (OLSEN, 2004)

seja efetuada não é muito plausível em se tratando de um mundo cada vez mais diversificado

culturalmente. Muitas vezes, como já dito anteriormente, usar uma prática secular como

justificativa para violar os direitos humanos constitui a dominação de uns pelos outros.

A visão relativista dos direitos humanos pode constituir um aval para a violação dos direitos

humanos, pois os adeptos dessa visão parecem esquecer que as culturas não são imutáveis,

mas sim dinâmicas e cada vez mais se interagem e se mostram abertas à universalização dos

direitos humanos.

A Declaração Universal de 1948 foi aceita em diversas partes do mundo entre as mais

distintas civilizações principalmente no aspecto cultural e como já citado, muitos de seus

artigos foram incorporados por várias Constituições de vários países. Essa aceitação se deu

principalmente pelo grau de universalidade por ela alcançado. Hoje vivemos muito mais

interligados que no passado e a isso se agrega o fato de que, o intercâmbio cultural faz com

que muitas culturas incorporem certos valores que são considerados universais e acabem por

preservar os direitos humanos de seus cidadãos. O importante é não medir esforços para achar

uma base comum entre as diferentes culturas existentes no mundo em prol de uma cultura

comum dos direitos humanos universais.

2.3 A Eficácia da Anistia Internacional: Ações Concretas na proteção dos Direitos

Humanos

Para muitos, acreditar que realmente a AI atua, ou melhor, que ela consegue lograr êxitos na

proteção dos direitos humanos é uma verdadeira arte. De acordo com o Manual da Anistia

Internacional (2002), é difícil crer que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é eficaz

e não fica somente no papel, sendo que diariamente 1,3 bilhões de pessoas se debatem para

sobreviver com menos de um euro por dia, 35.000 crianças morrem diariamente devido à

subnutrição, milhares de pessoas continuam a ser condenadas à morte e isso gera descrença.

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Para a Anistia, o trabalho em conjunto pode resultar numa mudança real e embora em

determinadas vezes “seja difícil prova a relação direta causa- efeito entre as ações da AI e as

melhorias na situação dos direitos humanos, ao longo dos anos a AI foi registrando sucessos

concretos”. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 24)

A organização vem atuando desde 1961 para colocar um fim aos abusos aos direitos

humanos. Atualmente ela atua em mais de 150 países e ao longo de sua história atuou

efetivamente. (A HISTÓRIA DA ANISTIA INTERNACIONAL. Retirado de

<http://www.amnesty.org/es/who-we-are/history> Acesso em 11 de novembro de 2008).

De acordo com o Manual da Anistia (2002), desde 1973 a AI elaborou mais de 16.600 ações

(até aquele ano) em favor de crianças, homens e mulheres que corriam perigo iminente e em

cerca de um terço houve melhorias da situação.

Desde a sua criação, muitas leis internacionais de proteção foram estabelecidas e é possível

dizer que ela “pode se orgulhar da sua contribuição para fazer dos direitos humanos um

assunto que transcende as políticas partidárias e nacionais” (MANUAL DA ANISTIA

INTERNACIONAL, 2002. Pág. 24).

Neste tópico apontarei algumas ações concretas da AI em prol dos direitos humanos por todo

o mundo a começar pela década de 1960, fazendo um apanhado cronológico, principalmente

das ações que lograram êxito.

De acordo com o site oficial da Anistia, em 1969 a UNESCO elevou a Anistia à categoria de

entidade consultiva. Assim, nesse mesmo ano conseguiu a libertação de 2000 presos de

consciência.

Em 1971 a Anistia Internacional completava seu décimo aniversário, recebendo uma ampla

cobertura da TV e do rádio. Foi um ano marcante aonde mais 700 presos de consciência

ganharam a liberdade. Em 1972 lança-se a primeira campanha contra a tortura.

Um dos casos mais marcantes envolvendo um brasileiro se deu em 1973 quando Luiz Basílio

Rossi foi seqüestrado por agentes militares do governo quando estava em casa. O acontecido

se tornou uma ação urgente da AI que através dos membros de todo o mundo pressionaram o

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Page 41: ANISTIA INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS: … · Os Direitos Humanos, são os direitos que visam resguardar alguns preceitos antigos conhecidos por todos tais como a fraternidade,

governo brasileiro para salvá-lo da tortura. (O QUE É A ANISTIA INTERNACIONAL.

Retirado de <http://www.portalcapoeira.com/capoeiradabahia/content/view/340/199/ >

Acesso em 12 de Novembro de 2008).

Na época a esposa de Luiz foi convocada ao quartel e antes que soltassem o mesmo disseram-

lhe:

Seu esposo deve ser uma pessoa muito mais importante do que pensávamos, pois recebemos cartas em seu favor de todas as partes do mundo. (O QUE É A ANISTIA INTERNACIONAL. Retirado de <http://www.portalcapoeira.com/capoeiradabahia/content/view/340/199/ > Acesso em 12 de Novembro de 2008).

Segundo ela, o comandante lhe deu a impressão de que

tanto ele quanto as demais autoridades encontravam-se submetidas a uma grande pressão por parte da Anistia Internacional, pressão suficiente para fazê-los apresentar um preso, mostrá-lo, porque estavam lhe dando muita publicidade. (O QUE É A ANISTIA INTERNACIONAL. Retirado de <http://www.portalcapoeira.com/capoeiradabahia/content/view/340/199/ > Acesso em 12 de Novembro de 2008).

Esse é um dos muitos casos que ilustram bem o papel fundamental exercido pela Anistia na

defesa dos que sofrem abusos. Ao longo de tantos anos ela já deu mostras de que “pessoas

comuns podem trabalhar juntas, independente das suas convicções política, com o objetivo de

pôr um fim aos abusos cometidos mundo afora pelas tiranias”. (O QUE É A ANISTIA

INTERNACIONAL. Retirado de

<http://www.portalcapoeira.com/capoeiradabahia/content/view/340/199/ > Acesso em 12 de

Novembro de 2008).

Em 1975 a ONU adotou a Declaração contra a Tortura e em 1977 a Anistia ganhou o prêmio

Nobel da Paz. No ano seguinte recebeu o Prêmio dos Direitos Humanos da ONU por suas

notáveis contribuições no campo dos direitos humanos. (O QUE É A ANISTIA

INTERNACIONAL. Retirado de http://www.amnesty.org/es/who-we-are/history Acesso em

13 de Novembro de 2008 Tradução nossa).

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Em 1985 a Anistia ampliou seu escopo de proteção passando a lutar também em prol das

pessoas refugiadas. Já nessa época ela passava a contar com mais de meio milhão de pessoas

que eram membros ou simpatizantes e esse número foi aumentando cada vez mais.

Ainda de acordo com o site oficial em 1991 continuou ampliando seu âmbito de proteção para

abranger agora as pessoas que eram presas por sua orientação sexual e para proteger quem

sofria abuso dos direitos por grupos armados de oposição. Já em 1992 a quantidade de

membros já chega a um milhão de pessoas.

Essa organização, juntamente com outras ONGs, tem conseguido pressionar órgãos

internacionais importantes como as Nações Unidas para ajudar na proteção dos direitos

humanos. Desde muito tempo a AI contribuiu para que muitas leis internacionais fossem

implementadas para coibir o abuso de direitos. De acordo com o Manual da Anistia:

Talvez o maior sucesso da AI tenha sido o de mobilizar a opinião pública para que os direitos humanos sejam firmemente colocados nas agendas internacionais. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 25).

Não obstante, sabe-se que muitas das ações da Anistia levam anos para ter seus objetivos

alcançados. Uma delas, segundo o Manual (2002), foi a campanha dos anos 90 para a criação

de um Tribunal Penal Internacional. Nessa época, ela mobilizou várias ONGs numa

campanha internacional de persuasão de inúmeros países para que eles ratificassem o Estatuto

de Roma do Tribunal Penal Internacional que foi estabelecido em 2002.

Os resultados mais fáceis de verificar a atuação da Anistia Internacional são na libertação dos

presos de consciência, embora sua atuação não se verifique só aqui. Muitas vezes consegue-se

“melhorar as condições dentro de uma prisão, a tortura pode ser parada ou prevenida, uma

sentença de morte pode ser comutada”. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL,

2002).

Os anos que se seguiram no pós- Guerra Fria foram anos em que

os movimentos de direitos humanos cresceram em número e em força e a consciência sobre os direitos humanos, sem dúvida, é maior do que nunca. (MANUAL DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2002. Pág. 38).

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A Anistia Internacional luta o tempo todo para defender os direitos humanos e muitas vezes

os resultados são surpreendentes. Uma das lutas da organização é contra a pena de morte,

independente da natureza do delito ou do método empregado para aplicá-la. Para a AI a este

tipo de procedimento

é a negação mais extrema dos direitos humanos (...). Este castigo cruel, desumano e degradante, que é imposto em nome da justiça, viola o direito a vida, proclamado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. ACABEMOS COM A PENA DE MORTE. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/death-penalty > Acesso em 11 de novembro de 2008. Tradução nossa).

Pouco depois de sua fundação, a Anistia se empenhou na defesa de qualquer um que estivesse

condenado a esse tipo de pena. Segundo o site oficial da Anistia

os progressos foram espetaculares nas últimas décadas. Em 1977, somente 16 países tinham abolido a pena de morte para todos os delitos. Trinta anos depois, em 2007, o número aumentou para 90. (QUE FAZ A ANISTIA INTERNACIONAL. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/death-penalty/what-we-do > Acesso em 10 de Novembro de 2008 Tradução nossa).

Esses dados, portanto, servem para constatar o quanto a Anistia se empenha para acabar com

a pena de morte e mesmo que seja um trabalho árduo e complicado, consegue ter êxito.

Outro foco da Anistia é pelo fim do emprego de crianças nos conflitos armados em muitos

países. Muitas são seqüestradas para trabalhar nesses conflitos seja como mensageiros, espiãs

ou para tirar as minas terrestres do solo. Em várias partes do mundo as crianças não têm

direito a educação, seja porque são recrutadas para as forças armadas, seja porque os pais não

têm meios de pagar ou porque têm que trabalhar.

Daí a pergunta: o que a AI está fazendo para acabar com toda essa violência?

A organização é membro da Coalizão para Acabar com a Utilização de crianças soldados e

luta para colocar um fim no recrutamento destas nas forças armadas; também se empreende

em ações imediatas contra a discriminação de crianças na educação, principalmente em países

como a Bósnia Herzegovina, Croácia e Eslovênia e os membros da AI no mundo inteiro

fazem campanhas contra prisões desnecessárias, principalmente no Paquistão. (INFÂNCIA E

DIREITOS HUMANOS. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/children > Acesso em 11

de novembro de 2008).

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Em maio de 2000 a Assembléia Geral da ONU adotou o Protocolo Facultativo da Convenção

sobre os Direitos da Criança e isto é considerado um marco na proteção de crianças para

evitar seu ingresso nos conflitos armados. Em 2006 107 Estados faziam parte do Protocolo.

Deste número estavam excluídos Rússia e China. Faltava a Rússia a ratificação e a

incorporação do mesmo na legislação nacional. Mas a

Anistia não podia ficar parada. Junto com a Coalizão para Acabar com a Utilização de

Crianças soldado, requereu a ratificação da Rússia e que esta estabelecesse a idade mínima

para alistamento de 18 anos. (INFÂNCIA E DIREITOS HUMANOS. Retirado de

<http://www.amnesty.org/es/children > Acesso em 11 de novembro de 2008).

Percebe-se que a luta diária da organização em prol do fim de crianças em conflitos armados

conseguiu obter resultados, mas que está longe do fim. Serão necessárias mais campanhas ao

longo dos anos e países, porém a AI não vai desistir de conscientizar os governos dessa

crueldade e covardia a qual são expostas as crianças.

Uma das campanhas mais recentes da Anistia aconteceu em 7 de Novembro deste ano na qual

avaliou os direitos humanos no Chile. A visita da secretária geral Irene Khan (2008) ponderou

a situação dos mesmos no país e uma série de recomendações foram feitas tais como:

a reparação das vítimas e sobreviventes de violação dos direitos humanos na era Pinochet; ratificação dos principais tratados internacionais de direitos humanos; término da marginalização e discriminação de povos indígenas e cumprir a elaboração de um Plano Nacional de Direitos Humanos e estabelecer uma instituição nacional de direitos humanos de acordo com as normas internacionais. (ANISTIA INTERNACIONAL AVALIA OS DIREITOS HUMANOS NO CHILE. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/news-and-updates/news/amnistia-internacional-evalua-derechos-humanos-chile-20081107 > Acesso em 11 de novembro de 2008 Tradução nossa).

A presidente do Chile Michelle Bachelet assegurou seu compromisso com a organização

embora saibamos que não será uma tarefa fácil. O Congresso continua sendo um grande

obstáculo na ratificação de alguns instrumentos internacionais para a proteção dos direitos

humanos. Irene Khan acrescenta que

para mantenha sua credibilidade como um ator importante na escala internacional, deve fechar o hiato entre sua contribuição construtiva na escala internacional na esfera dos direitos humanos e sua lenta e inadequada aplicação desses direitos em âmbito nacional. (ANISTIA INTERNACIONAL AVALIA OS DIREITOS HUMANOS NO CHILE. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/news-and-updates/news/amnistia-internacional-evalua-derechos-humanos-chile-20081107 > Acesso em 11 de novembro de 2008 Tradução nossa).

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Esses são somente alguns exemplos da atuação da Anistia Internacional em todo o mundo e

desde o início de sua atuação pudemos perceber a evolução de sua eficácia ao longo dos anos.

Ainda de acordo com o site oficial, a organização trabalha em favor de indivíduos que não

podem desfrutar dos direitos consagrados na Declaração de 1948.

O trabalho de campanha da Anistia pode mudar a vida de milhares de pessoas “vítimas e

sobreviventes de abusos contra os direitos humanos, dos ativistas e pessoas que defendem os

direitos humanos, e incluindo os autores dos abusos.” SOBRE A ANISTIA

INTERNACIONAL. Retirado de <http://www.amnesty.org/es/who-we-are/about-amnesty-

international > Acesso em 24 de novembro de 2008).

Ainda de acordo com o site, a atuação da AI não se restringe em mostrar indignação contra o

desrespeito aos direitos humanos. Ela investiga e atua exigindo a ação de governos e outras

entidades, mostrando que ainda existe esperança para que o mundo se torne melhor.

2.4 Alguns casos que não lograram êxito

O empenho da Anistia em lutar para defender os direitos fundamentais do indivíduo é

bastante grande, como se viu, contudo em muitos casos a AI não conseguiu ainda resultados

tão concretos.

Esse ano a Anistia divulgou um relatório onde indicava que as injustiças em todo o mundo

continuavam e que 60 anos depois da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos,

desigualdades, torturas e maus tratos ainda ocorrem. (ANISTIA APONTA FRACASSOS NA

PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS, 2008. <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/maio/

anistia-aponta-fracasso-na-protecao-aos-direitos-humanos/ >Acesso em 24 de novembro de

2008.)

A prisão de Guantánamo é um exemplo de perseverança por parte da Anistia que luta há

muito tempo para que os EUA fechem suas portas. Segundo a Revista da Anistia

Internacional (2006), Guantánamo é um

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triste exemplo. Desde logo, porque os EUA, afirmando-se como um país paladino da democracia e dos direitos humanos, negam, pela sua prática, tudo aquilo que afirmam. (REVISTA DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2006. Pág. 5)

A AI luta em defesa dos 400 presos que ali se encontram. Seus dados afirmam que os presos

estão em “condições penosas, isoladas e punitivas (...) sujeitos a tratamentos cruéis,

desumanos e degradantes ou a tortura”. (REVISTA DA ANISTIA INTERNACIONAL, 2006.

Pág. 5).

Mais recentemente segundo o site oficial da AI o presidente eleito Barack Obama se

comprometeu a fechar a prisão na Bahia de Guantánamo. Para a Anistia isso representa um

passo na direção certa. Segundo o investigador da organização Rob Freer (2008) a Anistia

insiste com o novo presidente para que ele cumpra suas palavras e demonstre seu

compromisso pelo fim da tortura e de outros maus tratos, tal como estabelece o direito

internacional.

Para a Anistia é necessário que se encerre Guantánamo, pois simboliza abusos e injustiças

contra os direitos humanos em nome da chamada “guerra ao terror”. Mesmo que seja uma luta

árdua a AI não vai desistir de proteger qualquer um, independente do delito, contra atentados

à dignidade humana.

Outro exemplo que demonstra a luta árdua da Anistia na defesa dos direitos humanos é o caso

da violência contra as mulheres. O site oficial noticia que mulheres e crianças continuam

sendo hostilizadas em todo o mundo principalmente em países mais pobres e que “a pobreza

se caracteriza pela experiência diária de abusos contra os direitos humanos (...) a pobreza é

uma afronta a dignidade humana e a pior crise de direitos humanos no mundo.” (NEM A

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NEM A POBREZA SÃO INEVITÁVEIS, 2008.

Retirado de <http://www.amnesty.org/es/news-and-updates/feature-stories/ni-violencia-

contra-mujeres-ni-pobreza-inevitables-200811 > Acesso em 25 de Novembro de 2008.

Tradução nossa.)

A violência contra as mulheres se tornou, principalmente a partir de 2004, um assunto de

extrema importância dentro da Anistia, mas ela continua generalizada em todo o mundo. Para

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a organização esse abuso contra as mulheres é de responsabilidade dos Estados e cabe a eles

mudar a situação. Enquanto isso a organização continua sua luta, apelando aos mesmos e à

Comunidade Internacional que ajam em favor de crianças e mulheres para que seus direitos

possam ser respeitados em condições de igualdade.

Ressalte-se que de acordo com a Anistia apesar dos esforços em defensa do gênero

não é possível colocar um fim nas violações de direitos humanos, eliminarem a pobreza sem a participação ativa das mulheres afetadas por estes abusos, em particular mulheres e crianças. (NEM A VIOLENCIA CONTRA AS MULHRES NEM A POBREZA SÃO INEVITÁVEIS. Retirado de http://www.amnesty.org/es/news-and-updates/feature-stories/ni-violencia-contra-mujeres-ni-pobreza-inevitables-200811 Acesso em 25 de novembro de 2008. Tradução Nossa.)

Embora a Anistia contribua incansavelmente na luta para defender os direitos humanos, seja

de crianças, mulheres ou homens que precisam de apoio para se livrar de eventuais danos

sofridos, a tarefa como vimos não é fácil.

Isto porque ela faz a sua parte, organiza muitas campanhas em favor dos que precisam, tenta

mobilizar o maior número de pessoas possível para que ajudem e cobra dos governos ações

imediatas, mas não depende só dela. Tentar fazer com que as pessoas tenham seus direitos

respeitados, que não sejam discriminadas porque são de raça, cor ou etnia diferente envolve

outros atores e às vezes não há uma coordenação de tarefas entre eles.

Também nesses casos a própria vítima não se mostra tão hábil a ajudar tornando o problema

ainda mais grave e de difícil solução.

Por outro lado, mesmo com tanta dificuldade, a Anistia não desiste. Indivíduos que estão

sofrendo maus tratos, violência, tendo os direitos fundamentais violados por qualquer razão

têm a meu ver uma enorme confiança na organização e sabem que não estão sozinhos nesta

luta. Mesmo que muitos não acreditem no trabalho da Anistia não se pode negar que sua

participação como instituição não governamental é de extrema importância e credibilidade, e

que em muitos casos como os citados acima, seus êxitos são concretos.

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Entendo que é preciso mudar a mentalidade de alguns governos para que eles reflitam que

mesmo no século XXI ainda existem pessoas sendo maltratadas, violentadas, presas sem

motivo, em condições subumanas, privadas de uma vida digna e que não podem ser

esquecidas, devendo, pois, os mesmos, ajudar a Anistia em defesa de tais pessoas.

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CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou estudar a atuação de um organismo internacional, a Anistia, na

proteção dos direitos fundamentais do ser humano. A intenção foi evidenciar que apesar do

descrédito de muitos em relação à participação efetiva e concreta da Anistia em defesa dos

direitos humanos, suas ações logram êxito e os resultados ajudam muito os que sofrem com os

abusos.

Como citado no item 2.3 do Capítulo 2, a Anistia, através de suas campanhas, mobiliza a

mídia em prol de seus trabalhos, ajudando a conseguir que Estados e a Sociedade

Internacional se prontifique a ajudar em suas tarefas, como é o caso da ONU. A AI consegue

assim que muitas leis internacionais sejam implementadas em favor da proteção dos direitos

humanos.

Também com a ajuda desta instituição muitos têm sua situação mudada para melhor com o

apelo recorrente da mesma, como foi o caso do brasileiro em 1973.

Busquei mostrar que o papel da AI é atuar de acordo com seus princípios e lutar para defender

os direitos que estão garantidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela se detém

na defesa dos desamparados, dos condenados a pena de morte e todos aqueles que de uma

forma ou de outra tenham seus direitos negados.

Foi possível perceber também que a principal luta hoje da Anistia é na defesa das mulheres.

Mesmo num mundo tão desenvolvido de hoje, com a globalização, a interação entre as

culturas, muitas mulheres em várias partes do planeta ainda sofrem discriminação por causa

do gênero, sendo a violência doméstica um ponto crucial.

A relação entre direito interno e internacional citada no item 2.1 do capítulo 2 evidencia um

avanço no sentido de dar mais proteção dos direitos fundamentais. Viu-se que os indivíduos

conseguiram um maior reconhecimento e tornaram-se sujeitos de direito internacional,

garantindo assim que os Estados serão responsabilizados na medida em que não respeitarem o

estipulado nos tratados internacionais de direitos humanos.

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Por fim o recente trabalho se propôs a discutir uma das questões de maior controvérsia em se

tratando de direitos humanos: o embate entre relativistas e universalistas. Como dito

anteriormente é difícil debater acerca deste assunto, pois os argumentos de ambos os lados são

plausíveis. Embora eu não tenha me aprofundado muito na questão, ou seja, não tenha

esgotado o tema acredito que em muitos casos, como por exemplo, em se tratando de direitos

fundamentais e na violação dos mesmos em detrimento da intolerância religiosa, a posição

universalista seja a mais viável como já o é para o Direito.

Como se viu as culturas são dinâmicas e não absolutas. A meu ver não é possível que textos

sagrados antigos, cuja interpretação se dá com base no entendimento de um, sejam aplicados

literalmente no mundo de hoje. Não podemos usar da cultura para violentar os direitos dos

seres humanos. Cada um tem respeitar o outro independente de cultura, religião, raça.

Acredito que a visão relativista leva à prática da violação, pois constitui um aval ao

desrespeito aos direitos fundamentais do indivíduo.

Hoje o intercâmbio cultural promove uma abertura maior entre as culturas, algumas até

incorporando valores considerados universais para proteger ainda mais seus cidadãos, de

sofrer violência em se tratando de direitos humanos considerados fundamentais a todo

indivíduo.

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