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ISSN: 2175-8875 www.enanpege.ggf.br/2017 11395 ANÁLISE DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE NO MUNICÍPIO DE PAÇO DO LUMIAR (MA) MEDIANTE IMAGENS TERMAIS DE SATÉLITES JANILCI SERRA SILVA 1 RICHARDE MARQUES DA SILVA 2 Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar a influência da cobertura da terra na temperatura da superfície no Paço do Lumiar (MA) em diferentes datas. Nesta pesquisa, foram utilizadas a imagem TM / Landsat de 1988 e a imagem TIRS / Landsat de 2014 para avaliar as características térmicas da área urbana e as relações entre o uso do solo e as mudanças da cobertura do solo e a temperatura da superfície terrestre. Os resultados da análise multitemporal do uso do solo e as mudanças da cobertura do solo e a aquisição de dados para monitoramento da qualidade ambiental possibilitaram avaliar a influência da cobertura vegetal e fragmentação no ambiente urbano da área de estudo. Palavras-chave: SIG, urbanização, ilhas de calor. Abstract: The goal of this paper was analyzing the influence of land cover in surface temperature in the Paço do Lumiar (MA) in different dates. In this research, TM/Landsat imagery from 1988 and TIRS/Landsat imagery from 2014 were utilized to assess urban area thermal characteristics and the relationships between the land use and land cover changes (LULC) and land surface temperature. The results of multi-temporal analysis of the LULC and data acquisition for monitoring environmental quality made it possible to evaluate the influence of vegetation cover and fragmentation on the urban environment of the study area. Key-words: GIS, urbanization, heat islands. 1 Introdução As alterações do uso e cobertura da terra são uma das principais causas de diferentes problemáticas ambientais, dentre estas problemáticas ambientais destacam-se as alterações da temperatura superficial (Ts). A temperatura de superfície está relacionada ao fluxo de calor dado em função da energia que entra e 1 - Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail de contato: [email protected]. 2 - Docente do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail de contato: [email protected].

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ANÁLISE DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE NO MUNICÍPIO DE PAÇO DO LUMIAR (MA) MEDIANTE IMAGENS

TERMAIS DE SATÉLITES

JANILCI SERRA SILVA1

RICHARDE MARQUES DA SILVA2

Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar a influência da cobertura da terra na temperatura da superfície no Paço do Lumiar (MA) em diferentes datas. Nesta pesquisa, foram utilizadas a imagem TM / Landsat de 1988 e a imagem TIRS / Landsat de 2014 para avaliar as características térmicas da área urbana e as relações entre o uso do solo e as mudanças da cobertura do solo e a temperatura da superfície terrestre. Os resultados da análise multitemporal do uso do solo e as mudanças da cobertura do solo e a aquisição de dados para monitoramento da qualidade ambiental possibilitaram avaliar a influência da cobertura vegetal e fragmentação no ambiente urbano da área de estudo. Palavras-chave: SIG, urbanização, ilhas de calor. Abstract: The goal of this paper was analyzing the influence of land cover in surface temperature in the Paço do Lumiar (MA) in different dates. In this research, TM/Landsat imagery from 1988 and TIRS/Landsat imagery from 2014 were utilized to assess urban area thermal characteristics and the relationships between the land use and land cover changes (LULC) and land surface temperature. The results of multi-temporal analysis of the LULC and data acquisition for monitoring environmental quality made it possible to evaluate the influence of vegetation cover and fragmentation on the urban environment of the study area. Key-words: GIS, urbanization, heat islands.

1 – Introdução

As alterações do uso e cobertura da terra são uma das principais causas

de diferentes problemáticas ambientais, dentre estas problemáticas ambientais

destacam-se as alterações da temperatura superficial (Ts). A temperatura de

superfície está relacionada ao fluxo de calor dado em função da energia que entra e

1 - Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail de contato: [email protected]. 2 - Docente do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail de contato: [email protected].

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sai do corpo, e é de grande importância para o entendimento entre as interações da

superfície terrestre e a atmosfera (STEINKE et al., 2010).

Conforme Lombardo (1985), as alterações do uso e ocupação da terra em

decorrência do crescimento urbano, o grande número de veículos, o crescimento

das indústrias, e a diminuição das áreas verdes criam grandes alterações na

atmosfera local, transformando a cidade em uma grande fonte de calor

antropogênico. Nessa perspectiva, a estimativa da temperatura de superfície é de

fundamental importância nos estudos da climatologia urbana, pois possibilita

analisar quais alterações do campo térmico estão ocorrendo no ambiente urbano

das cidades.

A Figura 1 mostra como áreas com cobertura vegetal em ambiente

urbano são importantes para a diminuição das temperaturas elevadas. O resultado

do estudo apresentado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos

(EPA) mostrou que em um dia típico na cidade de Chicago, a temperatura do

telhado verde é em média 80°F (40°C) mais fria do que o telhado convencional

vizinho (EPA, 2008).

Figura 1 - Influência da vegetação na temperatura da superfície.

Fonte: EPA (2008)

O uso de geotecnologias em estudos de temperatura de superfície tem

sido frequentemente utilizado, a exemplo cita-se o uso das imagens de satélite, mais

especificamente a banda termal, que contém os dados de temperatura da superfície.

Leite e Brito (2012) apontam que a estimativa da temperatura de superfície por

sensores remotos “possui como base de suporte os estudos das variáveis oriundas

do balanço de radiação à superfície, como fluxo de radiação de onda curta e,

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principalmente, os de onda longa que envolve a região do infravermelho”. Nesta

perspectiva, diversos estudos têm sido desenvolvidos, como exemplo, cita-se:

Andrade et al. (2014), Souza (2014) e Coelho (2013).

Em conformidade com Souza (2014), a estimativa da temperatura da

superfície é considerada uma variável importante para o monitoramento da

variabilidade bioclimática de um determinado lugar. Na pesquisa elaborada pela

autora supracitada, a estimativa da temperatura de superfície para a cidade de João

Pessoa - PB revelou que a variação da temperatura em algumas partes da região

analisada está relacionada com a densidade urbana, quantidade de vegetação e

com a morfologia da cidade. Os resultados do estudo mostraram que as áreas

menos adensadas apresentaram temperaturas menos elevadas e as regiões com as

temperaturas mais elevadas foram observadas nas áreas com maior densidade

urbana.

Convém destacar que o municipio de Paço do Lumiar (MA), área de estudo

desta pesquisa, está inserido nesse contexto de transformações do uso e cobertura

da terra, ocasionado devido a supressão da cobertura vegetal em decorrência do

processo de adensamento populacional na área. Tais alterações da cobertura da terra

são percebidas, principalmente, na última década, período o qual foi observado

grandes transformações na paisagem urbana local. Desta meneira, o presente estudo

buscou analisar as alterações do uso e cobertura da terra e a distribuição espacial da

temperatura de superfície no ambiente urbano de Paço do Lumiar, através do uso de

imagens termais orbitais.

2 – Localização e características da área de estudo

O município de Paço do Lumiar localiza-se entre as coordenadas

geográficas 2°27′42′′ S e 44°3′37′′ O e 2°33′9,84′′ S e 44°11′24,68′′ O, e apresenta

altitudes que variam entre 2 e 51 m. Esse município compreende uma área territorial

de 122 km² (Figura 2), e está situado na microrregião da Aglomeração Urbana de

São Luís (IBGE, 2010).

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Figura 2 - Localização do município de Paço do Lumiar na Ilha do Maranhão, Estado do

Maranhão. Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

De acordo com os dados demográficos do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE, esse município tinha uma população de 17.216

habitantes em 1980 e em 2010 passou para 105.121 habitantes, ou seja, um

crescimento de 88,1%, o que representou um aumento da densidade demográfica

de 139,811 hab./km² para 948,303 hab./km² (IBGE, 1980; 2010) (ver Tabela 1).

As características climáticas da área possuem interferências da massa de

ar Equatorial Continental e Equatorial Atlântica que correspondem à área de

ocorrência dos ventos alísios de nordeste (FEITOSA, 1996). De acordo com a

classificação de Köppen, o clima da área de estudo se enquadra na categoria

climática Aw, tropical úmido, sendo caracterizado por dois períodos distintos quanto

aos índices pluviométricos: um período chuvoso (janeiro a junho) e período de

estiagem (julho a dezembro).

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Tabela 1 - População residente em Paço do Lumiar entre os anos de 1988 e 2014.

População residente

1980 1991 2010 2014

Urbana 580 1.147 1.188 78.811

Rural 16.636 52.048 75.000 26.310

TOTAL 17.216 53.195 76.188 105.121 Fonte: IBGE (1980; 2010). Organizado pelos autores (2016).

O município de Paço do Lumiar apresentou acelerado ritmo de

crescimento da população, e consequentemente, alterações do processo de uso e

ocupação da terra. Conforme aponta o estudo de Masullo (2012), entre os anos de

1992 e 2010, esse município foi um dos com maior alteração do uso e ocupação da

terra, na microrregião da aglomeração urbana de São Luís.

3 – Materiais e métodos

Na presente pesquisa, inicialmente foi feito a revisão bibliográfica

relacionada com a temática abordada. Em seguida fez-se a aquisição das imagens

de satélite que posteriormente foram utilizadas para obter os valores da temperatura

de superfície. Foram utilizadas duas imagens de satélite, sendo uma imagem do

sensor TM/ Landsat 5, referente a data 02 de agosto de 1988, e a uma imagem do

sensor OLI/Landsat 8, referente a data 27 de setembro de 2014. Todas as imagens

são da órbita 220 e ponto 62, disponibilizados pelo United States Geological Survey

(USGS), disponível no endereço eletrônico http://glovis.usgs.gov.

As imagens foram processadas em ambiente SIG (Sistema de

Informações Geográficas) e o software utilizado foi o ArcGIS 10.1®. Os arquivos no

formato vetorial, contendo o limite municipal, foi obtido no banco de dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O sistema de projeção utilizado

foi o sistema de coordenadas Latitude/Longitude e o Datum WGS 84.

Posterior a aquisição das imagens seguiu-se a etapa do processamento e

tratamento dos dados. A primeira etapa foi o ajuste na projeção das imagens de

satélite. Salienta-se que as imagens obtidas no banco de dados do USGS estão

disponíveis para aquisição em sistema de coordenadas do hemisfério Norte,

fazendo-se necessário a reprojeção para o hemisfério Sul. Após este procedimento

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seguiu-se a etapa da calibração radiométrica. Esta etapa consiste em um processo

em que cada ND é transformado em radiância espectral de cada banda (λiL ). Nesta

etapa utilizou-se a banda espectral do infravermelho termal das imagens de

satélites. Foi utilizado a banda espectral 6 do satélite Landsat 5, com resolução

espacial de 120 m, e a banda espectral 10 do satélite Landsat 8, com resolução

espacial de 100 m. Os valores de radiância para cada banda foram obtidos pela

equação 1, proposta por Markham e Baker (1987):

ND255

abaL ii

iλi

(Equação 1)

sendo λiL = radiância espectral de cada banda medida em Watts (W/m²/sr1/ μm1);

a e b = coeficientes de calibração representando respectivamente as radiâncias

espectrais mínima e máxima (foram utilizados os coeficientes propostos por Chander

et al. (2007), radiância espectral mínima = 1,2378 e radiância espectral máxima =

15,303); ND = intensidade do pixel (valor inteiro entre 0 e 255); i corresponde ao

número de bandas espectrais do satélite Landsat 5.

Para a calibração da radiância espectral da imagem Landsat 8 essa

transformação é feita por meio da equação 2, conforme USGS (2015) e Machado

(2014).

Lλ = ML.ND+AL (Equação 2)

onde Lλ = radiância espectral; ML= fator multiplicativo; AL= fator aditivo de conversão

específico para cada banda espectral; ND= Número digital. Os dados referentes aos

fatores multiplicativos (ML) e fatores aditivos (AL) são disponibilizados no ficheiro de

metadados da imagem Landsat 8, na imagem utilizada neste estudo o ML = 0,0003342

e AL = 0,1.

Para transformar os valores de radiância em temperatura utilizou-se a

equação 3, conforme propõe Allen (2002). Vale ressaltar que os valores da

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temperatura de superfície foram obtidos inicialmente em graus Kelvin e

posteriormente foram transformados para graus Celsius.

1L

Kεln

KT

λ,6

1NB

2s

(Equação 3)

onde k 1 e k 2 são constantes específicas de cada banda do termal, nas imagens

Landsat 5, k 1 = 607,76 e k 2 = 1260.56 Wm-2 sr-1 µm -1 de acordo com Allen et al.

(2002) e na imagem Landsat 8, k 1= 774.89 e k 2 = 1321.08 Wm-2 sr-1 µm -1, disponível

no arquivo de metadados da imagem, Lλ = radiância espectral da banda termal

(banda 6 do Landsat 5 e banda 10 do landsat8) e NB = Emissividade do Termal.

A emissividade no domínio espectral da banda termal (εNB), banda 6 do

Landsat 5/TM (10,4 – 12,5 mm) e na banda 10 do Landsat 8 (10,60 – 11,19), para

fins do cômputo da Ts (temperatura de superfície), é obtida pela equação 4. Este

índice é obtido em função do IAF (Índice de Área Foliar). A emissividade do termal

foram obtidas conforme Allen (2002).

NB = 0,97+0,00331×IAF (Equação 4)

O IAF foi obtido conforme Allen (2002):

(Equação 5)

O Índice de Vegetação Ajustado ao Solo (IVAS) foi obtido pela proposta

por Huete (1988):

)ρρ(L

)ρL)(ρ(1IVAS

VIV

VIV

(Equação 6)

sendo L = uma constante e pode apresentar valores de 0 a 1, variando segundo a

própria biomassa característica da área analisada. Segundo Ponzoni e Shimabukuro

0,91

0,59

IVAS0,69

lnIAF

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(2007), os valores de L são 1 para baixas densidades de vegetação, 0,5 para

médias densidades de vegetação, e 0,25 para altas densidades de vegetação. Em

conformidade com os autores supracitados, em geral, a constante L = 0,5 é mais

comumente utilizado, pois engloba uma maior variação de condições de vegetação e

corresponde ao valor ideal para áreas com vegetação de densidade média. Assim

neste estudo utilizou-se L = 0,5.

4 – Resultados e discussão

4.1 – Características climáticas no momento de passagem do satélite

A Tabela 2 apresenta os parâmetros obtidos na estação meteorológica

referente ao momento da passagem do satélite. Ressalta-se que as informações

meteorológicas referentes ao momento de passagem do satélite são fundamentais

para compreender o comportamento as condições atmosféricas no momento do

imageamento do satélite.

É possível perceber que na primeira imagem, referente a data de

02/08/1988, apresentou temperatura do ar inferior a imagem do dia 27/09/2014.

Convém destacar que o mês de setembro costuma apresentar temperaturas mais

elevadas que o mês de agosto.

Tabela 2 - Parâmetros obtidos na estação meteorológica de São Luís referente as datas da passagem do satélite.

Data da passagem do

satélite

Hora de Passagem do satélite

Temperatura média do Ar às

12:00hs (°C)

Umidade Relativa

(%)

Precipitação (mm)

02/08/1988 12:35:41 25,4 61 0

27/09/2014 13:05:04 29,5 64 0 Fonte: Organizado pelos autores, 2016.

4.2 – Temperatura da superfície no município

A Figura 3 os dados da distribuição espacial da temperatura de superfície

(Ts) para as duas datas analisadas (02/08/1988 e 27/09/2014). As tonalidades

verde/amarelo representam as áreas com menores temperaturas, e as classes com

tons laranja/vermelho são as maiores temperaturas.

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Na cena do dia 02/08/1988, a temperatura de superfície variou de 23°C a

33°C. Esta cena mostrou predominância da temperatura com valores inferiores a

25°C. Isto pode ter ocorrido devido a influência da cobertura vegetal, evidenciando

sua importância na amenização da temperatura. Destaca-se que na cena de 1988,

quando o município de Paço do Lumiar apresentava baixo índice demográfico,

existia um predomínio de cobertura vegetal, isto pode ter contribuído para minimizar

a ocorrência de altas temperaturas da superfície.

Figura 3 - Mapa da temperatura de superfície do município Paço do Lumiar (MA) para os

dias: 02/08/1988 e 27/09/2014. Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

A cena de 27/09/2014 foi a que apresentou as temperaturas mais

elevadas, com valores variando entre 23 e 37°C. No setor sudoeste da cena,

principalmente, observa-se que houve crescimento da classe com valores mais

elevados da temperatura de superfície comparados com a cena de 02/08/1988. Vale

salientar que na comparação da temperatura de superfície, entre as cenas de

02/08/1988 e 27/09/2014 deve-se levar em consideração a influência do período

sazonal, pois este fator pode influenciar na estimativa da temperatura à superfície.

Como falado anteriormente, no sudoeste do município foram detectadas

as temperaturas de superfície com os valores mais elevados, destaca-se que nessa

porção está localizado a zona urbana da área de estudo. É nessa porção da área de

estudo onde está localizado o bairro do Maiobão, esse é o bairro mais densamente

ocupado do município de Paço do Lumiar.

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Como pode ser observado na Figura 4, que apresenta as sobreposição da

imagem de satélite na composição RGB e a carta de temperatura de superfície,

nota-se que houve significativa redução da cobertura vegetal nessa porção da área

de estudo, e isto pode ter sido um dos fatores que contribuíram para o aumento da

temperatura de superfície dessa área.

Figura 4 - Temperatura de superfície do bairro Maiobão em: (a) 02/08/1988 e (b) 27/09/2014

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Na área que envolve a Praça do Viva do Maiobão, que está localizada no

centro do bairro Maiobão, destacado na área circunscrita em vermelho na Figura 5,

percebe-se nitidamente que houve redução da cobertura vegetal ao longo dos anos,

como mostram as imagens de alta resolução da área em questão. Isto é percebido

principalmente nas áreas circunscritas em amarelo, que mostram a área em 2010

(Figura 5a) e em 2014 (Figura 5b).

Sobre a análise relacionada aos padrões de cobertura da terra e as

variações de temperatura na Praça do Viva do Maiobão, nota-se que a supressão da

cobertura vegetal pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a elevação da

temperatura de superfície nessa área.

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Figura 5 - Modificação da cobertura do uso e ocupação da terra no bairro Maiobão (Praça do

Viva Maiobão) - (a) 2010 e (b) 2014 Fonte: Google Earth (2010; 2014). Organizado pelos autores (2016).

4.3 – Padrões de cobertura e temperaturas de superfície (2014)

Buscando observar melhor as variações ocorridas na temperatura da

superfície sobre a cidade de Paço do Lumiar, e considerando que a cena de

27/09/2014 foi a que apresentou a maior amplitude de temperatura, se julgou

necessário analisar de forma mais detalhada os padrões de cobertura da terra desta

data.

Quanto às feições do ambiente intraurbano de Paço do Lumiar, é possível

localizar e descriminar as áreas com maior e menor temperatura de superfície; desta

forma, a análise mostrada na Figura 4, apresenta a cobertura da terra e a variação

espacial da temperatura de superfície terrestre do ambiente urbano de Paço do

Lumiar (MA), estimada através da imagem termal do dia 27/09/2014 do satélite

Landsat 8/TIRS.

Quanto às feições intraurbanas detectadas na Figura 6, é possível

constatar que áreas com presença de corpos hídricos são caracterizadas por

temperatura amenas, comparativamente às outras feições da paisagem. Isto ocorre

em decorrência da baixa incidência de radiação solar que chega à superfície, e

ainda pelos altos níveis de fluxo de calor latente, devido a uma maior quantidade de

água disponível para os processos de evaporação.

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Em áreas com grande densidade de urbanização e onde as construções

são constituídas de materiais não evaporativos e impermeáveis, a exemplo, o

concreto e os telhados de amianto, como mostrado na Figura 6, apresentam

temperaturas da superfície mais elevadas. Isto mostra que os fluxos de calor de

fontes antropogênicas, podem modificar significativamente o microclima de um lugar.

De acordo com Santos (2011), considera-se que as propriedades

radiativas e térmicas dos materiais utilizados no ambiente urbano, a exemplo,

emissividade e condutividade térmica, constituem-se em “forte influência para a

formação do fenômeno ilha de calor, visto que elas determinam como a radiação de

ondas curta e longa é refletida, absorvida, emitida e armazenada”.

Na Figura 6, nota-se que áreas com temperaturas maiores que 35ºC,

ocorreram também em locais com presença de solo exposto. Este fator ocorre

devido o solo exposto absorver maior parcela da radiação incidente do que os

ambientes com cobertura vegetada, resultando em maior aquecimento da superfície.

Através da análise da temperatura de superfície e dos padrões de

cobertura da terra, da zona urbana de Paço do Lumiar, ilustrado com maior detalhe

na Figura 6, fica evidenciado que as áreas cobertura vegetal contribuem para a

existência de temperaturas amenas, principalmente em áreas com presença de

vegetação densa.

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Figura 6 - Uso e cobertura da terra e variação de temperatura de superfície intraurbana

(imagem termal do dia 27/09/2014). Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

5 – Considerações finais

O uso das bandas termais dos satélites apresentou resultados

satisfatórios na análise do comportamento térmico do espaço urbano do município

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de Paço do Lumiar (MA). Com base nas análises realizadas, foi possível constatar

que a temperaturas de superfície apresentam variação temporal e, sobretudo,

espacial, variando de acordo com os diferentes tipos de cobertura da terra.

Em suma, foi possível constatar que o crescimento da área urbana,

adensamento populacional e as alterações do calor antropogênico, apresentam

relação direta com modificações no microclima de Paço do Lumiar. Constatou-se

ainda a influência que a cobertura vegetal exerce na amenização da temperatura, pois

como pode ser percebido, as áreas que possuem cobertura natural, ou seja,

vegetação, apresentam temperaturas de superfície inferior a áreas com processo de

antropização, possibilitando assim, melhor conforto térmico na região.

Referências

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Agradecimentos:

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de

mestrado do primeiro autor; e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), pela bolsa de produtividade em pesquisa do segundo autor (Processo

Número 311347/2014-2).