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ANÁLISE DAS CRÍTICAS DO DOCUMENTO “PAINEL DOS
ESPECIALISTAS”
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 3 1 Do desconhecimento, pelo “Painel de Especialistas”, do conceito do eia e do rima e da
Legislação Ambiental aplicável ...................................................................................... 5 2 Do desconhecimento pelo “Painel de Especialistas” do procedimento de
Licenciamento Ambiental ............................................................................................... 9
3 Da inconsistência nas críticas à denominação e à delimitação das áreas de influência e
do “subdimensionamento” da Área Diretamente Afetada ............................................ 11
4 Da alegada utilização de retórica para ocultamento dos impactos ............................... 16
5 Da alegada negação de impactos a jusante da Barragem Principal e da Casa de Força
...................................................................................................................................... 22 6 Da má fé de se acusar os estudos etnoecológicos de “desindianizar” populações
indígenas ....................................................................................................................... 24
7 Da consonância entre o Plano de Atendimento à População Atingida proposto no EIA
e no RIMA e as Diretrizes Recomendadas para Tratamento dos Atingidos pelo Painel
de Especialistas ............................................................................................................. 24 8 Das respostas específicas às perguntas do Painel de Especialistas ............................... 27
3
APRESENTAÇÃO
O presente documento vem manifestar considerações técnico-jurídicas dos profissionais
envolvidos na elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), do Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA) e dos estudos etnoecológicos do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Belo
Monte acerca do documento intitulado “Análise Crítica do Estudo de Impacto Ambiental do
Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte”, apresentado pelo Painel de Especialistas nos
autos do procedimento de licenciamento ambiental do empreendimento em questão.
De início, cumpre ressaltar que o cunho veementemente intimidatório impresso no
documento, visando ameaçar não só os profissionais envolvidos na elaboração dos estudos
temáticos, por vezes referidos individualmente ao longo do documento, como também os
técnicos do IBAMA, que se ocuparão de avaliar referido EIA-RIMA, constitui postura
vexatória que em nada contribui para a construção do embasamento técnico necessário para a
tomada de decisão do Administrador Público.
A retórica utilizada de forma recorrente nos artigos que se auto-proclamam técnico-científicos
(escritos por “pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa” e “acadêmicos com
larga experiência de pesquisa na Amazônia”), além de revelarem posições pré-concebidas em
relação ao AHE Belo Monte, busca desqualificar e difamar os responsáveis pela elaboração
do estudo – vide passagens como “estes profissionais não são localizados na página do
curriculum lattes e a pesquisa no Google não revela produções intelectuais conhecidas (p. 39-
230)”, “poder-se-ia citar o que pode ser qualificado como samba do crioulo doido (p. 30-
230)”, “a intencionalidade do discurso” (p.37-230), “a estrutura do EIA-RIMA é falaciosa”
(p. 40-230) ou “textos mal-formulados e até mesmo erros de redação (p. 38-230)”.
Patente a cisão entre o mundo biocêntrico, no qual parece se inserir o indigitado Painel – cujo
cunho anti-democrático, desumanizador, inquisitório e messiânico confunde-se com o
historicismo (a eterna visão da decadência e salvação) e com o platonismo (o ideal do Homem
perfeito no mundo perfeito), denunciados por Karl Popper, em sua obra “A Sociedade Aberta
e Seus Inimigos”, bem como com o nazismo e o chamado “ecologismo profundo”, apontados
por Luc Ferry, em sua obra “A Nova Ordem Ecológica” – e o mundo dos humanistas,
democráticos, que justificam a Organização das Nações Unidas, cujo conteúdo dos tratados e
cartas de princípios desmentem absolutamente o sentido das “interpretações contidas no
documento em testilha”. É nesse espírito que se pode compreender as aleivosias inseridas no
documento, de cunho ofensivo e intimidatório.
Outro não é o sentido da manifestação contendo confessada análise incompleta do EIA e do
RIMA (“Os temas abordados nesse volume contemplam a análise de apenas uma parte do
EIA” – p. 10-230), sem o exame, ao menos detalhado, do conteúdo de importante volume de
quaisquer EIA e RIMA: aquele que identifica, caracteriza e avalia os impactos, que, no caso
do AHE Belo Monte, consistem nos volumes 29, 30 e 31. Tal insuficiência resta clara na
listagem de volumes feita na página 12-230, sobre a documentação de referência para as
análises da realidade social.
Na verdade, a manifestação dos especialistas, que deveria servir para a busca objetiva de
esclarecimentos, dos termos da Resolução CONAMA, em extensão à audiência pública, o que
justificou a sua inserção no procedimento de licença, acaba se prestando à vexaminosa
plataforma para uma arrogância acadêmica e válvula de escape para quem procura se destacar
pela negatividade.
4
Alguns especialistas se fiam, inclusive, apenas na análise do RIMA, que, como é sabido,
propositadamente não contempla os detalhamentos técnicos dos estudos temáticos,
objetivando justamente cumprir seu papel de instrumento de comunicação social.
É de se notar que a menção dos autores ao disposto no artigo 69-A da Lei Federal nº 9.605/98,
que visa penalizar condutas de agentes que buscam induzir a Autoridade Ambiental a erro,
por apresentação de laudo incompleto e enganoso, é de todo apropriado, na verdade, para a
caracterização como enganosa, em tese, a manifestação apresentada, como passaremos a
expor nos itens subseqüentes deste documento de respostas ao Painel dos Especialistas.
Apresenta-se, inicialmente, considerações a respeito de “alguns consensos” aos quais alegam
ter chegados os ilustres especialistas, conforme afirmado às págs. 10 e 11 da documentação
que compõe o supracitado Painel. Tais considerações se fazem necessárias dado que as
mesmas deixam clara a desconsideração, por princípio, dos especialistas a ditames
fundamentais da legislação ambiental brasileira, ao Termo de Referência expedido pelo
IBAMA em dezembro de 2007 para orientar a elaboração do EIA e do RIMA e o conteúdo
integral do EIA.
Desconstrói-se, assim, de pronto, muitas das críticas reiteradamente feitas pelos especialistas
no tocante a aspectos relevantes que pautam não só o EIA e o RIMA do AHE Belo Monte,
mas estudos de impacto ambiental para diferentes empreendimentos de naturezas e portes
diversos. São eles: a diferenciação entre os objetivos das etapas de licenciamento prévio e de
instalação; a denominação e a delimitação das áreas de influência; e a necessária visão
integrada que deve permear o processo de avaliação de impactos.
A seguir, procede-se à resposta aos questionamentos sobre fatores de diagnóstico e impactos
afetos ao denominado Trecho de Vazão Reduzida, em especial no que tange à alegada
“negação de impactos a jusante da barragem principal e da casa de força”.
Ressalta-se, ainda, que antes de se passar às respostas específicas para as perguntas feitas
pelos especialistas às págs. 185 a 191, julga-se fundamental demonstrar que o Plano de
Atendimento à População Atingida apresentado no EIA está em acordo com as diretrizes
nomeadas no paper “Extraído d‟ “O Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e
diretrizes”1, apresentado ao final do Capítulo de Anexos da documentação apresentada pelo
Painel de Especialistas, mais especificamente às págs. 218 a 229. Uma prova, portanto, do
descuido com que os ilustríssimos Especialistas, intencionalmente ou não, analisaram o EIA,
arvorando-se a apresentar críticas diversas à conceituação de “atingido” adotada.
Por fim, observa-se que o documento apresentado como resposta aos pareceres elaborados por
pesquisadores voluntários foi devidamente respondido por cada um dos especialistas
envolvidos na elaboração do EIA, cabendo, portanto à Leme, coordenadora desse estudo, a
grande maioria das contestações e das respostas apresentadas neste documento. Questões
referentes aos estudos etnoecológicos, elaborados pelo consórcio de empresas Themag,
Intertechne e Engevix são respondidas também neste relatório pela Themag, empresa
responsável pelo desenvolvimento desse tema; questões relativas à viabilidade técnica e
econômica do AHE Belo Monte são respondidas pelo consórcio de empreendedores.
1 Documento de autoria de Carlos B. Vainer, com a colaboração de Flávia Braga Vieira, Francisca Silvania de
Souza Monte, Mirian Regina Nuti e Raquel de Mattos Viana, em acordo com informação constante à pág. 218 da
documentação apresentada pelo Painel de Especialistas.
5
1 Do desconhecimento, pelo “Painel de Especialistas”, do conceito do EIA e do RIMA
e da Legislação Ambiental aplicável
A Constituição Federal de 1988 assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações (artigo 225, caput).
Entre os meios pelos quais se vale o Poder Público para assegurar a efetividade do direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, está a exigência de Estudo Prévio de Impacto
Ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental, a que se dará publicidade, nos termos do artigo 225, §1º, do inciso IV
da Constituição Federal.
Patente que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma dinâmica e complexa
interação de processos que de forma alguma visam atingir a imutabilidade. Pelo contrário, a
imutabilidade é a morte, em qualquer meio, físico ou biológico.
Vinculado o equilibro ecológico a um direito de todos os seres humanos (pois a “revolta do
objeto” não retira o caráter humano da legislação ambiental que o ampara), devemos sempre
considerar a intervenção humana no meio natural como o fator de equilíbrio a ser tutelado
pela norma constitucional.
Esse é o espírito que norteia a Avaliação de Impacto Ambiental, necessária justamente à
mensuração dos impactos da complexa atividade socioeconômica humana em um meio
ambiente também complexo, onde aquela se insere. O objetivo dos estudos e análises será
sempre o de conferir sustentabilidade à atividade humana – visando a sua sadia qualidade de
vida, não de, a priori, taxá-la como ato de degradação a ser evitado. A modificação humana
do meio, que, via de regra impactará negativamente o meio natural, deverá traduzir-se em
desenvolvimento, em melhorias para a economia do país, em sadia qualidade de vida humana
e em compensações que permitam preservar remanescentes naturais a serem futuramente
desfrutados pelas gerações futuras. A ausência disto, desta modificação em bases sustentáveis,
é que configura o real fator de degradação ambiental.
Conforme determina a Declaração de Princípios da Conferência Internacional da ONU sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, o equilíbrio está vinculado ao Desenvolvimento
Sustentável, cujo centro das preocupações é o ser humano – Princípio 1 da Carta do Rio de
Janeiro. A partir de sua assinatura, diversas convenções internacionais afirmaram o direito dos
Estados Nacionais ao desenvolvimento econômico e social.
É preciso observar o absurdo equívoco de se pretender a sustentabilidade sem o
desenvolvimento. DESENVOLVER, significa DES-ENVOLVER, ou seja, romper com o
envolvimento, com o status quo vigente. Não há desenvolvimento sem ruptura, com todos os
impactos advindos deste fato, positivos e negativos. A decisão das Nações Unidas em apontar
o desenvolvimento como um direito, significa assumir que “para alcançar o desenvolvimento
sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento
e não pode ser considerada isoladamente deste” (Princípio 4 da Declaração do Rio). Ou seja:
não se busque questionar fatores de preservação ambiental isolando-os do foco principal que é
a busca estrutural pelo desenvolvimento do Estado Nacional Brasileiro.
6
Nesse sentido, o preâmbulo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade
Biológica, que objetiva alcançar a utilização sustentável de seus componentes e a repartição
justa e equitativa dos benefícios derivados dos recursos genéticos, reconhece que o
“desenvolvimento econômico e social e a erradicação da pobreza são as prioridades
primordiais dos países em desenvolvimento”.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, por sua vez, reitera o
direito dos países ao desenvolvimento social e sustentável e reconhece que, para alcançá-los,
o consumo de energia dos países em desenvolvimento necessitará aumentar.
É sabido que o maior acesso da população à energia elétrica, aos programas habitacionais e a
promoção da melhoria da infra-estrutura logística elevarão os níveis de emissões de gases de
efeito estufa invariavelmente. Contudo, o Brasil ainda tem a possibilidade de investir na
exploração de energia renovável e pouco intensiva em carbono, o que o diferencia dos demais
países em desenvolvimento.
Mesmo antes da realização da adoção da Declaração do Rio de Janeiro e das mencionadas
convenções-quadros, a Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei Federal nº
6.938/81, integralmente recepcionada pela ordem constitucional de 1988, já previa entre seus
instrumentos de implementação o licenciamento ambiental prévio e a avaliação de impactos
ambientais (art. 9º), vinculando-os aos objetivos desenvolvimentistas postos na Lei.
Conforme dispõe a Política Nacional do Meio Ambiente, a construção, instalação, ampliação
e funcionamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva e
potencialmente poluidoras, bem como as capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, dependem de prévio licenciamento ambiental do órgão competente, integrante do
SISNAMA2, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.
A partir destas normas legais que ancoram a legislação ambiental brasileira, o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) regulamentou o Licenciamento Ambiental e o
Estudo de Impacto Ambiental, objetivando conferir subsídios técnicos à tomada de decisão do
Órgão Licenciador.
A Resolução CONAMA nº 01/86 regulamentou o instrumento do Estudo de Impacto
Ambiental e respectivo Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente, dispondo que:
“Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as
seguintes atividades técnicas:
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e
análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a
caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime
hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as
espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico,
raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
2 Artigo 10, caput, da Lei Federal nº 6.938/81.
7
c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-
economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e
culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os
recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de
identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos,
temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a
eficiência de cada uma delas.
lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos
positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados”.
Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o
órgão estadual competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município
fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas
peculiaridades do projeto e características ambientais da área”.
A Resolução CONAMA nº 237/97, por sua vez, aportou complementações à Resolução
CONAMA nº 01/86, detalhando o momento da apresentação dos estudos ambientais no
procedimento de licenciamento ambiental, conforme disposto no artigo 10, caput, a saber:
“I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do
empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao
início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida;
II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos
documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida
publicidade;
III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos
documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de
vistorias técnicas, quando necessárias;
IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental
competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise
dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber,
podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e
complementações não tenham sido satisfatórios;
V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação
pertinente;
VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental
competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver
reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não
tenham sido satisfatórios;
VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;
VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida
publicidade.”
Depreende-se das normas ambientais acima que o Estudo de Impacto Ambiental não é um
documento pronto e acabado, que se esgota formalmente com a sua emissão. Pelo contrário,
8
consiste em processo de planejamento da atividade empresarial que se desenrola ao longo do
procedimento de licenciamento ambiental, em um diálogo permanente com o Órgão
Licenciador.
Embora o resultado do EIA se materialize em documentos, trata-se de processo dinâmico que
deve incorporar progressivamente as melhorias dos estudos e do próprio projeto analisado, ao
longo do procedimento administrativo.
Cumpre-nos relembrar que:
“um dos principais objetivos do EIA é a melhoria dos projetos de engenharia,
com a incorporação da questão ambiental. Assim, como diz muito bem o Arq.
Jorge Wilheim, o objetivo do EIA não é apenas uma oura questão de exigência
burocrática. A dimensão ambiental deve, efetivamente, ser incorporada aos
projetos de engenharia.
Temos de ter sempre presente que qualquer obra de engenharia, por mais
meritória que seja, apresentará sempre uma interface ambiental. Isso pode,
porém, ser feito de mais de um modo. Antes de tudo, o EIA visa quais os modos
aceitáveis de realização do empreendimento, qual deles é o menos impactante, o
mais aceitável em termos não apenas ecológicos, mas também sociais, culturais,
econômicos e políticos”3.
A Resolução CONAMA n° 237/97 reconhece a natureza dinâmica do Estudo de Impacto
Ambiental ao prever, durante a fase do licenciamento, a possibilidade de haver, após a entrega
dos estudos ambientais, esclarecimentos sobre esses pelo proponente do projeto. Não sendo
satisfatória a complementação dos estudos, o requerimento poderá ser reiterado, quantas vezes
isso seja necessário.
O Fórum de Siena, de 1990, na Itália, ao estabelecer que os instrumentos de comando e
controle (reação e correção) deveriam apenas complementar os instrumentos de avaliação e
planejamento (previsão e prevenção) para que estes, de forma integrada, pudessem reger a
Administração Pública nas questões de ordem ambiental, reconheceu que o mecanismo
dinâmico e integrado inerente ao “preveja e previna”, não poderia ser tratado de forma
estanque e segmentada, como é característico do vetusto “reaja e corrija” até então orientador
dos procedimentos administrativos.
Para planejar é preciso analisar e avaliar e, para que isso se processe, é necessário diálogo
contínuo com os atores envolvidos no processo. Por isso, não há projeto pronto e acabado, ou
análise de impacto ambiental que se esgote em um só documento, indene de críticas.
É para tanto que se publica a intenção do empreendedor de implementar determinado projeto
impactante. É para isso que se procede à chamada Audiência Pública e é para isso que o órgão
competente pode solicitar complementações e correções necessárias ao aperfeiçoamento das
análises de impacto oferecidas, visando melhor balizar sua decisão no processo de
licenciamento.
3 TOMMASI, Luiz Roberto, Estudo de Impacto Ambiental, São Paulo, CETESB, 2004, p. 148.
9
Presentes os estudos ambientais determinados pela Resolução CONAMA n° 01/86 no
procedimento de Licenciamento Ambiental, o objetivo do EIA se cumpre, conferindo
segurança jurídica e ambiental ao procedimento de licença pelo Órgão Licenciador.
O objetivo constitucionalmente tutelado de se garantir a conciliação entre desenvolvimento
econômico, necessário ao interesse do país, e sua sustentabilidade ambiental encontra-se
amparado no bojo do processo administrativo do AHE Belo Monte, que envolve o
procedimento do EIA e os estudos complementares originados no diálogo contínuo entre
agentes públicos e o empreendedor, garantida sua transparência pela publicidade, o que foi
satisfatoriamente obtido no procedimento em causa, até mesmo em face de sua ampla
repercussão.
Por óbvio, é da própria natureza dos interesses difusos ambientais serem estes
intrinsecamente conflituosos e indivisíveis, razão pela qual não será por consenso, ou
buscando agradar a todos, a todo tempo, técnicos ou não técnicos, que se retirará a legalidade
e a razoabilidade já contidas no licenciamento ambiental em curso, do empreendimento.
Contudo, a discussão acadêmica, de cunho ideológico biocêntrico, desfocado do sentido de
busca do desenvolvimento sustentável, que se pretende inocular no bojo do procedimento
ambiental em questão, com o denominado Painel, não é própria da seara técnico-
administrativa. Isto é, a qualidade dos estudos não deve ser medida pela “revisão bibliográfica
realizada” (p. 25-230), “perfil da equipe técnica” ou metodologia de “interpretação da
diversidade social” (p. 26-230), mesmo porque, não é propósito da LEME Engenharia Ltda.
elaborar tese de doutorado ou livre docência, pelo contrário, está encarregada de
objetivamente dar aplicabilidade ao processo de avaliação, vinculada à metodologia fixada
pelo Termo de Referência (TR) expedido pelo IBAMA e às normas que regem a elaboração
do EIA e do RIMA. Estudos dessa natureza baseiam-se, antes de tudo, nas experiências
adquiridas pela equipe técnica com situações semelhantes ocorridas em outros
empreendimentos que, na maioria das vezes, não estão citados em nenhum paper acadêmico.
2 Do desconhecimento pelo “Painel de Especialistas” do procedimento de
Licenciamento Ambiental
Os ilustríssimos autores do documento ora combatido afirmam que as medidas e programas
ambientais propostos no EIA do AHE Belo Monte não estão suficientemente detalhados,
argumento que demonstra profundo desconhecimento do desencadeamento do procedimento
de licenciamento ambiental.
O licenciamento ambiental é “um procedimento administrativo constituído de atos vinculados,
isto é, atos para os quais a legislação estabelece tanto os requisitos como as condições para
que sejam praticados”4.
Amparada pela Política Nacional de Meio Ambiente e por seu regulamento (Decreto Federal
nº 99.274/90), a Resolução CONAMA nº 237/97 estabeleceu as fases do licenciamento
ambiental, que deverão ser observadas pelo empreendedor, a saber:
4 Antonio Inagê Assis de Oliveira, O licenciamento Ambiental, Ed. Iglu, 1999.
10
“Art. 8o O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá
as seguintes licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do
empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando
a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a
serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou
atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e
projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das
licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinados para a operação.
Parágrafo único. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou
sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do
empreendimento ou atividade”.
Passada a fase de obtenção de Licença Prévia, o empreendedor deverá apresentar
detalhamento das medidas de controle e programas ambientais com o fim de minimizar,
compensar ou eliminar os impactos negativos identificados no EIA.
O TR expedido pelo IBAMA para a elaboração do AHE Belo Monte confirma os ditames
legais que orientam o procedimento de licenciamento ambiental, conforme demonstrado a
seguir:
“303. Com base na avaliação de impacto ambiental, deverão ser identificadas as
medidas de controle e os programas ambientais que possam minimizar,
compensar e, eventualmente, eliminar os impactos negativos da implementação
do empreendimento, bem como as medidas que possam maximizar os impactos
benéficos do projeto. (grifo nosso)”
(...)
“316. Todas as medidas propostas deverão ser apresentadas indicando:
objetivos, justificativas, fase do empreendimento em que serão implementadas, no
escopo geral das atividades previstas, outras medidas complementares,
cronograma de implementação e indicação dos responsáveis (incluindo a
identificação de eventuais parceiros institucionais) (grifo nosso)
317. A despeito de, para a LP, ser necessário somente o estudo de avaliação do
potencial malarígeno, devendo o Plano de Ação de Controle da Malária (PACM)
ser detalhado apenas para a fase de licenciamento de instalação (Projeto Básico
Ambiental), há uma série de monitoramentos que deverão ser feitos previamente
às obras. Assim, o PACM já deverá contemplar uma fase de monitoramento
prévio, a ser implementada, se constatada a viabilidade ambiental do AHE Belo
Monte, logo após a obtenção da LP. Para tanto, no âmbito do PACM, o EIA já
11
deverá conter o detalhamento executivo de uma primeira fase de monitoramento,
para implementação logo após a concessão da LP, bem como uma segunda fase
do Plano, a ser delineada conceitualmente no EIA, a exemplo das demais medidas
propostas, podendo ser detalhada no PBA”. (grifo nosso)
A análise, na íntegra, do Volume 33 do EIA, referente aos Planos, Programas e Projetos,
demonstra que o TR foi cumprido. Essas medidas serão detalhadas na próxima fase do
licenciamento ambiental do AHE Belo Monte, se concedida a Licença Prévia para o
empreendimento.
3 Da inconsistência nas críticas à denominação e à delimitação das áreas de influência
e do “subdimensionamento” da Área Diretamente Afetada
Vários dos trabalhos que compõem o Painel dos Especialistas fazem críticas ferrenhas à
denominação e à delimitação adotadas no EIA do AHE Belo Monte para as áreas de
influência que pautaram os estudos ambientais e, em especial, à definição da Área
Diretamente Afetada (ADA). Pelo fato de muitas delas serem reincidentes, destaca-se a
seguir, in verbis, os principais questionamentos expressos com relação ao tema, grifando-se os
pontos que serão objeto da demonstração, apresentada neste item, da inconsistência na
argumentação exposta pelos Especialistas:
Em primeiro lugar, chama atenção o fato de que não se utiliza o termo
“população atingida”, mas os termos “área de influência direta”, “área de
influência indireta” e “área diretamente afetada”. O efeito retórico evidente
desses termos é o de visibilização dos impactos sobre o território (entendido
como espaço físico, desprovido de significado social e cultural) e não sobre as
pessoas que aí vivem e seus processos sócio-culturais. Segundo o RIMA, a ADA
se restringe às áreas das obras da estrutura de engenharia (barragem, canteiros,
estradas de acesso, botafora e áreas de inundação). As demais áreas são
definidas como áreas de “influência”, termo que também aponta para a
minimização dos impactos. Não se explicita em nenhum momento os critérios que
levaram à definição das áreas de influência direta e indireta, apontando-se
apenas para o caráter de “vizinhança” em relação à usina e ao reservatório.
Esta divisão não leva em consideração os impactos cumulativos da obra, que
atingirão diretamente grupos indígenas e populações tradicionais que se
encontram fora da chamada AID. Assim, das 9 terras indígenas afetadas pelo
projeto, apenas duas estão dentro da AID, as outras 7 se localizam na Área de
Influência Indireta. (Pág. 43) (grifo nosso);
No tocante à definição das áreas de abrangência do AHE Belo Monte, foram
empregadas classificações do tipo: área de influência direta/AID, área
diretamente afetada/ADA, área de influência indireta/AII, área indiretamente
afetada/AID. Aliada a estas, critérios de temporalidade, e de reversibilidade ou
não, dos impactos, aos quais se somam possíveis relevâncias e magnitudes (baixa,
média e alta). Essa forma de se colocar os atingimentos causados por projetos de
grande porte sobre a população atingida, indígena ou não, é costumeira. Com
isso, criam-se mecanismos para que tais empreendimentos se eximam de qualquer
responsabilidade sobre os problemas sociais e econômicos deles advindos. (Pág.
63) (grifo nosso);
12
Assim o trecho de impacto do TVR não pode se restringir ao espelho d„água no
trecho tal como sugerido no EIA. A rigor, assim como a vazão se reduz neste
trecho as atividades econômicas e sociais que dela dependem também sofrem
conseqüências. O conjunto de propriedades ao longo deste trecho deveriam ser
contabilizadas, tal como foram nos trechos da ADA rural na região do
reservatório do Xingu. Neste sentido as TIs Paquiçamba e TI Maia, núcleos
ribeirinhos com a vila da Ressaca e várias outras também teriam trechos
contabilizados. (...) Mesmo que o empreendimento tenha sido remodelado em seus
aspectos de acomodação hídrica para formação dos reservatórios dos canais
evitando o alagamento da TI Paquiçamba, o próprio EIA reconhece alterações
profundas no modo de vida da população indígena e ribeirinha no TVR. (Págs.
124 e 125) (grifo nosso);
Os empreendedores, e portanto o Estudo de Impacto Ambiental elaborado sob
sua encomenda, consideram como atingidos todos aqueles que residem em locais
cuja cota altimétrica vai até 97 metros acima do nível do mar, e cujas moradias,
posses e propriedades seriam alagadas pelas seis represas previstas , a saber (...)
(Pág. 129) (grifo nosso);
Há dados confusos sobre área de alagamento: o capítulo 6 (especificamente o
item 6.4.3 Base Cartográfica da ADA à pág. 16) exibe: “Portanto, as áreas atuais
consideradas nos estudos ambientais para os dois reservatórios totalizam 559
km2, reiterando-se aqui que, para o reservatório do Xingu, este representa, na
realidade, a fusão de envoltórias para diferentes vazões, em estrito acordo com o
definido no TR do IBAMA (dezembro de 2007)”. Esta declaração contradita com
a área mencionada de 516 km2 de alagamento. Um cruzamento com os valores de
perdas de terras agricultáveis também exibe números conflitantes. Estas
divergências precisam ser esclarecidas e justificadas. (Pág. 126) (grifo nosso);
O processo de colonização realizado pelo Estado Brasileiro produziu uma
dinâmica demográfica e social que exige uma análise apurada. Não constam no
EIA RIMA as especificidades da ocupação no que diz respeito às distintas
categorias e processos sociais como: colonização oficial, assentamentos rurais,
os Projetos de Assentamento Sustentável; e os processos de ocupação
espontânea. Não consta também o modo como estes territórios, com histórias e
dinâmicas específicas, serão afetados pelas diversas obras previstas para a
construção da hidrelétrica, como os diques, as estradas, as áreas de bota-fora, os
canteiros de obra e as linhas de transmissão. Isto decorre da inadequação
metodológica acima referida que prioriza como unidade de análise o imóvel a ser
indenizado e/ou a condição do produtor (proprietário/ocupante) a ser indenizado,
cf. vol.23, pg.22. (Pág. 26) (grifo nosso);
Fica aqui mais uma vez a certeza de que projetos como o AHE Belo Monte
considera apenas como população atingida aquela que sofre os efeitos da
inundação. Isso é uma falácia; é sofismar. (Pág. 65) (grifo nosso);
13
Desconsideração e/ou desconhecimento dos Especialistas sobre o teor do Termo
de Referência do Ibama e dos fundamentos da legislação ambiental brasileira
Em primeiro lugar, causa no mínimo espanto constatar como os críticos das definições e
delimitações das áreas de influência adotadas no EIA e, consequentemente, no Rima
desconsideram frontalmente os ditames básicos da legislação e de resoluções do Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama) com relação ao tema em apreço. E mais, ou
desconhecem ou simplesmente ignoraram a denominação e as diretrizes estabelecidas no TR
emitido pelo Ibama em dezembro de 2007 para elaboração dos documentos atinentes aos
estudos ambientais para licenciamento prévio do AHE Belo Monte.
Nesse sentido, os Especialistas autores das críticas explicitadas anteriormente parecem
ignorar, de princípio, o teor da Resolução Conama 001/86, que em seu Art. 5, Inciso III, deixa
claro que o estudo de impacto ambiental obedecerá a diretriz geral de definir os limites da
área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de
influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se
localiza. Portanto, aquele que afirma que ao se adotar as denominações AII, AID e ADA
“criam-se mecanismos para que tais empreendimentos se eximam de qualquer
responsabilidade sobre os problemas sociais e econômicos deles advindos” contrapõe-se de
frontalmente aos ditames básicos do órgão superior que determina diretrizes e parâmetros
para a questão ambiental no país.
Já no que tange à confrontação com o TR emitido pelo Ibama, basta uma rápida análise do
mesmo, e já de imediato, mas não somente, o seu parágrafo 63, para visualizar-se que foram
adotadas no EIA e no Rima as classificações para as áreas de influência aí especificadas. Ipsis
verbis:
63. Ficam estabelecidas as seguintes denominações para as diferentes áreas de
influência, a serem explicitadas no decorrer dos estudos, de acordo com o projeto
elaborado: Área de Abrangência Regional – AAR (...) Área de Influência Indireta
– AII (...) Área de Influência Direta – AID (...) Área Diretamente Afetada – ADA.
E mais, o TR estabelece que, sob cada uma dessas denominações, seja determinada a área de
influência sob a ótica socioeconômica e cultural, com critérios, e por vezes, limites
claramente definidos no próprio TR (parágrafos 66 para a AII, e 72 a 76 para a AID e ADA).
O TR elenca ainda, em seu bojo, para cada meio – físico, biótico e socioeconômico e cultural
-, quais os temas e assuntos a serem abordados sob a égide de cada uma dessas denominações
de áreas de influência.
Portanto, segundo pelo menos querem fazer crer alguns dos Especialistas, ao se imputar aos
autores do EIA uma limitação intencional da visão ambiental da implementação do AHE Belo
Monte meramente à ótica territorial significa, ao fim e ao cabo, considerar que o próprio
órgão ambiental federal competente para licenciar empreendimentos de natureza e portes
variados tem um entendimento restrito da questão. Isto porque, ao se utilizar as denominações
e diretrizes estabelecidas pelo Ibama para o tema “áreas de influência” conforme explicitado
em seu TR para o EIA e o Rima do empreendimento em tela, desconsiderar-se-ia
obrigatoriamente relações sociais e culturais relativas às populações atingidas. E o que é mais
grave, ao se criticar este aspecto no EIA do AHE Belo Monte, põe-se em julgamento critérios
definidos acertadamente pelo órgão ambiental em apreço para tantos outros processos de
licenciamento ambiental.
14
Isto sem se falar na semelhante deturpação da questão ambiental que estaria sendo cometida
também pela Funai, dado que foi no bojo de seus TRs para os estudos etnoecológicos que
foram definidas quais as terras indígenas que deveriam ser consideradas como AID e como
AII.
Desconhecimento presumido e/ou intencional da íntegra dos procedimentos
metodológicos adotados no EIA para a definição das áreas de influência
Muitas das críticas feitas ao EIA e ao Rima no tocante a não terem considerado “este fator ou
aquele” na definição das áreas de estudo para o AHE Belo Monte são facilmente
desmanteladas mediante uma visita minimamente apurada ao conteúdo do Volume 5 do EIA,
mais especificamente do capítulo 6, denominado “Definição das Áreas de Influência”. Isto
porque:
Já em seu item 6.1 “Considerações Gerais”, deixa-se claro, sob uma mesma explicação,
que a AID, que engloba a ADA, é o espaço onde se prevê a geração de impactos, pelo
empreendimento, sob os diferentes componentes do meio ambiente, inclusive sobre sua
dimensão social, econômica e cultural. Fica explícito, ainda, que sob nenhuma hipótese há
qualquer intenção metodológica de se reduzir a relevância da AID frente à ADA, embora
seja nesta que vão se processar, em sua dimensão eminentemente física, as interferências
do empreendimento sobre o território. Nesse sentido, seguem estratos do texto que
ratificam esses preceitos:
“De acordo com o manual “Instruções para Estudos de Viabilidade de
Aproveitamentos Hidrelétricos” (ELETROBRÁS, 1997), esta área (AID e ADA,
complementação nossa em acordo com o título do subitem”) refere-se àquela
“cuja abrangência dos impactos incide diretamente sobre os recursos ambientais
e a rede de relações sociais, econômicas e culturais, podendo se estender além
dos limites da área a ser definida como polígono de utilidade pública”. (grifo
nosso)
E mais:
“Ainda com relação à AID, vale ressaltar que a mesma não se limita à ADA, mas
abrange áreas circunvizinhas que poderão ser atingidas pelos impactos
potenciais diretos da implantação e operação do empreendimento, em vista da
rede de relações físicas, bióticas, sociais, econômicas e culturais estabelecidas
com a ADA. Dessa forma, e em acordo com o TR do IBAMA, a AID inclui a
futura Área de Entorno do Reservatório Artificial, espaço geográfico para o qual
deverá ser desenvolvido o Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do
Reservatório Artificial (PACUERA), definido pela Resolução CONAMA no
302/2002. Por fim, observa-se que a AID para os temas socioeconômicos não se
atém aos limites municipais, mas sim a localidades que possam ser diretamente
impactadas pelo empreendimento em análise, até mesmo porque a delimitação
territorial dos municípios, enquanto área de influência, já está considerada na
AII, que abarca espacialmente a AID. (grifo nosso)
Em seu item 6.5 “Delimitação das Áreas de Influência”, explicita-se o porquê da
consideração, para compor a ADA, de envoltórias de remanso do futuro reservatório do
15
Xingu frente a diferentes vazões, basicamente para atender um item específico do TR do
Ibama, parágrafo 77, conforme texto a seguir, in verbis:
Tendo em vista o caráter dinâmico dos Reservatórios5 da calha do Rio Xingu e
Reservatório dos Canais, sua abrangência deverá ser estabelecida segundo
critérios técnicos apropriando-se de uma envoltória representativa da fusão das
diferentes áreas de inundação para diferentes vazões. As áreas e perímetros
deverão ser definidos a partir da realização de estudo que contemple:
Modelagem hidráulica; Nível Máximo Normal em cada uma das casas de força;
Vazões – mínima mensal, média mensal, máxima mensal – entre outras vazões
pertinentes; Efeitos de remanso; Perfis da Linha d'água para diferentes vazões e
suas respectivas cotas altimétricas; Georreferenciamento de cada uma das
envoltórias dos diferentes “reservatórios” e o resultado de sua fusões.
Esta é, portanto, a justificativa e a explicação que demanda um dos Especialistas à Pág.
126 do Painel de Especialistas em pauta, verificando-se, portanto, que não há quaisquer
incongruências entre áreas declaradas como alagadas no EIA. Bastava, para obter essa
resposta, ter lido atentamente, ou mais apropriadamente, ter se referenciado
adequadamente à leitura do Capítulo 6 do EIA.
Alegar-se que indiscriminadamente adotou-se a cota 97,0 m para definição do universo de
população atingida demonstra uma desconsideração e um desconhecimento inaceitáveis
não só do conteúdo deste Capítulo 6 do EIA, mas como do próprio Rima. Isto porque se
deixa claro, e demonstra-se no EIA no referido Capítulo, que a ADA no perímetro urbano
da cidade de Altamira estendeu-se até a cota altimétrica 100 m, dado que esta foi definida
pelos estudos de remanso como aquela correspondente a um tempo de recorrência de 100
anos, a partir da qual não mais serão sentidos, em Altamira, nas cheias, os efeitos do
reservatório em relação à situação que hoje já ocorre nesses eventos. Aliás, mais uma vez
demonstra-se que foi ignorado, propositalmente ou não, o teor do TR do Ibama relativo à
elaboração do EIA e do Rima do AHE Belo Monte, dado que este já estabelece essa
obrigatoriedade para a delimitação da ADA no perímetro urbano de Altamira.
Basta avaliar o conteúdo de cada item que explicita os procedimentos metodológicos
adotados para delimitar cada área de influência para depreender claramente, e sem
subterfúgios, que a dimensão socioeconômica e cultural foi sempre objeto de análise
particular. Até porque se tem cada área de influência definida para os componentes dos
meios físico e biótico (muitas das vezes unidos em um só espaço geográfico definidor de
cada área de influência, mas por vezes individualizado, como ocorreu para a ictiofauna) e,
em particular, para o componente socioeconômico e cultural. Vale aqui destacar, para
comprovar tal consideração, texto constante do subitem 6.5.2.2 referente à delimitação da
AID para o Meio Socioeconômico e Cultural, in verbis:
No caso dos estudos socioeconômicos, a AID foi definida como a área onde se
darão os impactos diretos da implantação do empreendimento, considerada a
partir da apreensão das dinâmicas socioeconômicas da organização do espaço
que, para o território em estudo, possuem como principais elementos
estruturantes os aglomerados humanos das sedes municipais e alguns povoados,
5 A conformação e a configuração dos reservatórios podem sofrer modificações em função da variação de vazão
e do regime hidrológico.
16
os núcleos rurais de referência, os eixos rodoviários de articulação regional -
Transamazônica (BR 230), Transassurini e PA 415, que liga Altamira à Vitória
do Xingu -, e o rio Xingu. (grifo nosso).
Portanto, não se venha dizer que a ótica de definição dos espaços de análise ambiental foi
eminentemente territorial. Houve, sim, uma demarcação física do espaço, mas de forma a
incluir aquelas dimensões onde as trocas sociais, econômicas e culturais hoje já ocorrem,
relações estas que poderão ser afetadas pela implementação do empreendimento em tela.
Por fim, cabe salientar que querer passar a idéia de que pelo fato de a ADA ter
compreendido somente a calha do rio Xingu no denominado Trecho de Vazão Reduzida
(TVR) é uma comprovação de que populações, indígenas ou não, foram desconsideradas
para fins de identificação e avaliação de impactos é, em todos os contextos, uma
afirmativa desprovida de qualquer veracidade e tecnicamente irresponsável. Novamente,
basta reportar-se a uma leitura minimamente atenta do Capítulo 6 do EIA para detectar-se
que terras indígenas e núcleos ribeirinhos foram adequadamente contemplados a título de
AID, o que, reitera-se, não significa um menosprezo de impactos em relação àqueles que
são gerados na ADA e se propagam diretamente para a AID. E isto sem falar na análise
dos Volumes 29 a 31, referentes à identificação, caracterização e avaliação de impactos,
que comprovam que os efeitos sobre essas populações às margens do TVR foram
avaliados.
Conclusões a respeito das críticas sobre as áreas de influência consideradas no EIA e
no Rima
Conclusivamente, com base no aqui exposto e no teor do EIA, pondera-se: quem efetivamente
está sendo falacioso ao afirmar que somente foi considerada como atingida a população
afetada territorialmente pela inundação? Quem está desconsiderando os ditames do órgão
ambiental licenciador e das resoluções do Conama ao criticar as delimitações de áreas de
influência adotadas no EIA?
Há que se entender, e se referenciar, adequadamente ao conteúdo dos estudos realizados antes
de se fazer acusações claramente difamatórias e irresponsáveis como as apresentadas,
firmemente repudiadas pelos técnicos autores do EIA e do Rima do AHE Belo Monte.
4 Da alegada utilização de retórica para ocultamento dos impactos
Ao longo de toda a documentação do Painel de Especialistas são apresentadas diferentes
críticas relacionando impactos que pretensamente não teriam sido objeto de abordagem, ou ao
menos de avaliação adequada por parte dos autores do EIA e do Rima.
É interessante observar que questionamentos tão incisivos feitos aos impactos analisados - ou
àqueles que se diz não o terem sido - sob a ótica socioeconômica e cultural não se baseiam, ao
menos ao que se depreende da documentação produzida pelo Painel de Especialistas, na
análise dos Volumes 29, 30 e 31 do EIA, que cuidam do Capítulo 10 “Identificação,
Caracterização e Avaliação de Impactos Ambientais”. E teme-se, efetivamente, que tais
volumes não tenham sido contemplados pela avaliação dos ilustríssimos componentes do
Painel.
17
Prova dessa lacuna da avaliação pelos especialistas é que, à Pág. 23, onde se elenca os
volumes do EIA que subsidiaram as ditas “análises referentes à realidade social”, não consta,
surpreendentemente, a nominação aos supracitados três volumes. Aliás, como referenciado
em outro item deste documento de resposta, tampouco ao Volume 5, Capítulo 6, onde
detalha-se o processo de definição e delimitação das áreas de influência. Assim, adjetivos que
abundam na documentação do Painel de Especialistas em tela parecem fundamentar-se, pelo
menos em sua grande maioria, na avaliação do diagnóstico e, quando muito, do volume do
EIA afeto aos planos, programas e projetos ambientais, isto sem se considerar aqueles autores
que explicitamente só se calcaram na leitura do Rima.
Cabe aqui destacar, a título de exceção, a menção explícita que se faz ao que se conclui ser o
teor dos Volumes 29, 30 e 31:
“No que se refere ao texto dos volumes que abordam a análise sócio-econômica e
etno-ecológica e naqueles referentes aos impactos e medidas mitigadoras
verifica-se grande heterogeneidade, passa-se de textos mal formulados e
contendo até mesmo erros de redação (como parte do capítulo 6, em particular a
referente aos movimentos sociais a textos bem elaborados, como algumas partes
dos estudos de impactos ou capítulos da análise etno-ecológica, também muito
desigual” (pág. 38) (grifo nosso).
Em linhas gerais, as críticas feitas ao processo de identificação, caracterização e avaliação de
impactos parecem centrar-se em três linhas de argumentação, conforme atestam os trechos
apresentados a seguir, in verbis, da documentação disponibilizada pelo Painel de Especialistas
ao Ibama:
Quanto à adoção, no EIA e no Rima de uma classificação “viciada” para os impactos:
A estruturação do EIA é baseada nos requisitos estabelecidos na resolução
CONAMA 001/1986. (...) Os requisitos acima apresentam a vantagem de
demandar informações pormenorizadas e planos “mitigadores”. No entanto,
sugerem um formato para o relatório de categorias prontas e avaliação por
oposições: benéfico x adverso, direto x indireto, (...). O uso de categorias prévias
ao estudo implica na produção de julgamento anterior à análise. (págs. 86/87)
(grifo nosso)
Quanto à carência de análise interrelacionada entre os meios:
O RIMA apresenta uma análise que separa a caracterização do meio físico – em
que são descritos os rios da região, o regime de chuvas e o tipo de terrenos -; o
meio biótico – os tipos de florestas e vegetação e as espécies da fauna - e o meio
socioeconômico – que traz o perfil demográfico e lista as atividades produtivas e
os serviços da região (p.32-45). A interrelação entre esses três meios não é
explorada no documento, isto é, não é descrito como o modo de vida da
população potencialmente atingida se relaciona com os recursos hídricos, o
regime de cheias e vazantes e os recursos da fauna e da flora acessados pelos
moradores. (...) Os métodos convencionais de avaliação de impacto das
atividades produtivas e projetos de desenvolvimento têm sido fortemente
criticados por separarem o meio ambiente de suas dimensões sociopolíticas e
culturais. Produzem com freqüência uma separação indevida entre os processos
18
biofísicos e a diversidade de implicações que os mesmos têm quando
referenciados aos modos de uso e significação próprios aos distintos grupos
sociais que compartilham o território. Os diversos elementos do meio, vistos
normalmente como bióticos ou abióticos, lênticos ou pedológicos etc. não são, via
de regra, associados à diversidade sociocultural dos que dele dependem, seja em
termos de renda, gênero ou etnia. (págs. 44/45) (grifo nosso)
O EIA, quando trata das questões ambientais, se restringe muito à análise de
fenômenos físicos, químicos e biológicos, como se não precisassem ser
considerados fenômenos que são alvos de estudos de outras ciências incluídas na
área das ciências humanas, como a política, a sociologia e a economia. A
avaliação dos impactos ambientais do empreendimento fica irremediavelmente
prejudicada sem a análise integrada destes componentes, que são determinantes
do que aconteceria com os ecossistemas. (Pág. 177) (grifo nosso)
Quanto a não identificação de impactos significativos e da eficácia das medidas propostas:
Seguem alguns exemplos de críticas:
Assim, pode-se afirmar que a ausência de um modelo para a elaboração de um
cenário confiável sobre os impactos da construção de Belo Monte não permite
sequer quantificar e qualificar os impactos para a população submetida à seca
permanente que irá caracterizar a área denominada Trecho de Vazão Reduzida –
“TVR” na Volta Grande. (pág. 49) (grifo nosso)
É necessário que os estudiosos dos animais e plantas que prepararam os
relatórios apresentados no EIA sejam convidados a apresentar análises objetivas
nas quais explicitem o que pode ser extraído de forma conclusiva de seus estudos,
incluindo os impactos do empreendimento, proposição de medidas mitigatórias e
compensatórias e a avaliação da eficácia esperada de cada medida. É esperado
que os especialistas tenham mais a extrair das informações por eles obtidas,
assim como é necessário que sejam apresentadas previsões concretas. Também é
necessário que as previsões possam ser atribuídas a seus autores, que se
tornariam responsáveis pelas mesmas. Assim a população poderia ser informada
claramente quanto ao que está sendo previsto, qual o nível de segurança destas
previsões, assim como quanto ao poder de generalização dos resultados destes
estudos para os ecossistemas como um todo. (pág. 179) (grifo nosso)
Análise “viciada” dos impactos
É interessante observar que ao fazer a crítica à adoção de “categorias prontas” de impactos,
contesta-se, no rol de documentos do Painel de Especialistas, os ditames da Resolução
Conama 001/86, a qual determina, em seu Art. 6o, Inciso II, uma das obrigatoriedades e
diretrizes a serem adotadas para tal em um EIA. In verbis:
Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases
de implantação e operação da atividade; (...) Análise dos impactos ambientais do
projeto e de suas alternativas, através da identificação, previsão da magnitude e
interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando:
os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos,
19
imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de
reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos
ônus e benefícios sociais; (...) (pág. 82) (grifo nosso)
Esses ditames da citada Resolução são, acertadamente, ratificados pelo TR do Ibama em seu
item 3.3.6 “Identificação e Avaliação dos Impactos Ambientais” para fins de adoção
obrigatória no EIA do AHE Belo Monte, a saber:
297. Esta avaliação deverá ser realizada considerando os fatores ambientais
descritos pelo diagnóstico ambiental e abranger: (grifo nosso)
• Natureza dos Impactos (positivo/ benéfico; negativo/ adverso),
• Localização e espacialização (localizado na área diretamente afetada, na
área de influência direta ou na área de influência indireta; e disperso ou
difuso na área de influência).
• Fase de ocorrência (planejamento, implantação, operação ou desativação)
• Incidência (direto; indireto)
• Duração (temporário; permanente ou cíclico)
• Temporabilidade (curto; médio ou longo prazo)
• Reversibilidade (reversível; irreversível)
• Ocorrência (certo; provável ou improvável),
• Importância (baixa, média, alta)
• Magnitude (baixa, média, alta)
Repete-se aqui, portanto, o mesmo processo de se vilipendiar as diretrizes estabelecidas pelo
órgão ambiental competente para o licenciamento ambiental do empreendimento em tela, e,
pior, as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Observa-se aqui que, caso não houvesse sido adotadas tais classificações e critérios de
avaliação para os impactos, fatalmente o EIA do AHE Belo Monte não seria aceito pelo
Ibama, em função do não atendimento cabal ao TR estabelecido para sua elaboração.
Desconhecimento da metodologia de avaliação integrada das redes de precedência de
impactos adotada no EIA
Ao ser analisado o Volume 29 do EIA, item 10.2.2.1, no tópico “Sistemas Produtores e
Consumidores”, deixa-se claro que ao se considerar tal sistema como um dos pressupostos
para o processo de identificação, caracterização e avaliação de impactos adotado, reconhece-
se que:
Há, naturalmente, um conjunto de condições organizadas de forma sistêmica que são
responsáveis pela produção de um recurso ambiental em qualidade, quantidade e
temporalidade, necessárias e suficientes para atender aos padrões de consumo
estabelecidos pelas demais variáveis ambientais presentes na região em estudo,
correspondendo, neste caso, à demanda ecológica daquele ecossistema específico;
A partir da implantação de atividades não naturais (antrópicas) na região - atividades estas
também detentoras de padrões de consumo específicos - as demandas antrópicas ali
presentes devem ser somadas à demanda ecológica;
20
Os sistemas produtores são aqueles que produzem recursos que sustentam/dão suporte à
existência ou à ocorrência de processos naturais ou antrópicos numa dada região,
respeitando-se as relações identificadas entre as variáveis ambientais;
Da mesma forma, existem sistemas consumidores ou usuários que dependem dos
produtores para a sua ocorrência e/ou manutenção; e
Em síntese, o meio ambiente é constituído por variáveis ambientais interdependentes que
compõem os meios Físico, Biótico e Socioeconômico e Cultural e que a análise dessa
interdependência permite caracterizar diferentes relações entre as variáveis que compõem
o sistema ambiental.
Ao se discorrer sobre a metodologia adotada para desenvolvimento do processo de avaliação
de impactos ambientais, no subitem 10.2.2.2 do referido volume explicita-se que foi a partir
do reconhecimento da existência da relação de seqüenciamento natural das variáveis
ambientais, derivada da interatividade existente entre elas, que se procedeu à análise dos
impactos para o AHE Belo Monte a partir da identificação das chamadas “redes de
precedência de impactos”.
Basta analisar uma das inúmeras redes de precedência que compõem os Volumes 29, 30 e 31
para se concluir que a interrelação entre meios foi contemplada durante todo o processo de
avaliação de impactos. Prova disso, entre as várias disponíveis nos referidos relatórios, é o
exemplo apresentado a seguir para a cadeia de impactos derivada daquele primário referente
ao aumento do fluxo migratório. Esta rede ilustra como impactos sobre variáveis de diferentes
meios foram considerados de forma sistêmica. Portanto, somente o desconhecimento do teor
dos referidos volumes pode levar a comentários de que tais relações foram totalmente
desprezadas no EIA, bem como o conceito de “serviços ambientais”.
E mais, procedeu-se à descrição de cada um desses impactos, a sua caracterização em acordo
com as categorias de classificação estabelecidas no TR do Ibama e à avaliação de sua
reversibilidade, relevância e magnitude. Admite-se, logicamente, que os resultados de tais
avaliações possam ser discutidos – este, inclusive, um pressuposto da análise do EIA pelo
órgão ambiental competente -, mas nunca desconsiderar a sua existência, ou pior, negar a
adoção dos princípios metodológicos básicos de interação que são pressupostos do
procedimento adotado.
O Painel dos Especialistas chama atenção ainda para a “retórica sobre os impactos na Volta
Grande (...) que oculta, dentre outros, o fato de que terras indígenas – Juruna do
Paquiçamba e Arara da Volta Grande – são diretamente afetadas pela obra”. Este argumento
é totalmente improcedente, uma vez que foram estudadas uma Área Indígena, nove Terras
Indígenas e os Indígenas Citadinos e Moradores da Região da Volta Grande do Xingu,
segundo os parâmetros definidos pela Funai nos respectivos Termos de Referência. Todas as
populações indígenas foram inequívocamente tratadas como tal, respeitando-se seus direitos
constitucionais e legais.
21
Aumento do Fluxo Migratório
Intensificação do Uso e
Ocupação Desordenado do Solo,
em Especial no Entorno das
Vilas Residenciais
Aumento da Demanda por
Equipamentos e Serviços
Sociais
Sobrecarga na Gestão da
Administração Pública
Aumento da Demanda por
Segurança Pública
Aumento da Disseminação de
Doenças Endêmicas e
Possibilidade de Introdução de
Novas Endemias
Aumento da Disseminação de
Doenças Infecto-contagiosas
Especulação Imobiliária e
Aumento sobre os Imóveis do
Entorno
Aumento da Pressão de Caça
Perda de Diversidade da
Fauna
Aumento da Pressão sobre os
Recursos Florestais Madeireiros
e Não Madeireiros
Aumento da Perda de
Diversidade da Flora
Aumento na População de
Espécies Exóticas (Flora e
Fauna)
Proliferação de Zoonoses
Impactos sobre os Usos
Sustentáveis dos Recursos
Pesqueiros – Sobrepesca e Perda
de Modalidade de Pescarias
Alterações na Repartição
dos Benefícios da
Explotação Pesqueira
Fonte: EIA AHE Belo Monte, Volume 29, Figura 10.4.2-1
Rede de Precedência de Impactos Derivada do Impacto Primário “Aumento do Fluxo
Migratório”
22
Conclusões sobre a alegação do uso de retórica para ocultar impactos e/ou a sua
adequada avaliação
Frente ao aqui exposto, bem como ao teor dos Volumes 29, 30 e 31 do EIA ora
reiteradamente citados, recomenda-se, ao Painel de Especialistas, que analisem tais
documentos antes de proferir acusações do tipo daquelas constantes da documentação
produzida com relação ao processo de avaliação de impactos adotado para a análise ambiental
do AHE Belo Monte.
5 Da alegada negação de impactos a jusante da Barragem Principal e da Casa de
Força
Em parecer elaborado por Nírvia Ravena fica claro que a autora desconhece o tratamento
dado ao Trecho de Vazão Reduzida (TVR) pela equipe que elaborou os estudos ambientais.
No Volume 28 do EIA – Análise Integrada – é apresentado o diagnóstico ambiental integrado
do TVR. Nesse momento todos os temas que já foram abordados nos capítulos de diagnóstico
(físico, biótico e socioeconômico) são retomados relacionando-os entre si de forma a
consolidar um conhecimento dos modos de vida da população que reside nesse trecho. Em
nenhum momento do EIA podem ser encontradas afirmações ou “conjecturas”, conforme
colocado pela autora, que digam que “permanecerão estáveis os modos de vida das
categorias sociais como pescadores e agricultores familiares atingidos pela construção da
UHE de Belo Monte”.
A acusação feita pela autora de que o EIA apresenta uma série de lacunas intencionais para
diminuir os custos de transação em processos indenizatórios, ocultando impactos sobre os
modos de vida da população, é no mínimo leviana. O Volume 31 – Avaliação de Impactos
(parte 3) - apresenta a relação de precedência entre os impactos identificados para o TVR.
Essa relação de precedência é basicamente a identificação dos impactos primários,
secundários e terciários, o que se mostra extremamente relevante para a proposição de
medidas sobre o impacto gerador.
Dessa forma, a identificação de alterações no modo de vida da população foi um produto de
diversos outros impactos associados (navegação, perdas de ambientes para a ictiofauna,
dificuldades de acesso a água, perdas de referências socioespaciais, alteração na qualidade da
água, perdas de renda e sustento, alteração do aporte de nutrientes ao sistema etc), que
fizeram parte da rede de precedência de impactos do TVR apresentada no volume 31 do EIA.
A autora não apresenta nenhum fundamento para afirmar que há “ausência de modelo para a
elaboração de um cenário confiável sobre os impactos da construção de Belo Monte para a
população submetida a seca permanente (...) na Volta Grande”. Em contraposição a isso, os
estudos apresentam uma discussão profunda sobre a quantidade de água necessária para
manutenção da biodiversidade e qualidade de vida dessa população, usando metodologia que
representa o estado da arte sobre o tema, culminando na proposição de uma quantidade de
água que nem de longe expressa uma condição de seca permanente.
A análise detida do EIA revela que os direitos fundamentais à segurança alimentar e à
segurança hídrica, previstos na Constituição Federal e em diversos tratados internacionais,
foram priorizados no estudo.
23
Diferentemente do apontado pela autora, não existe uma estratégia de má fé utilizada pelos
responsáveis pela elaboração do EIA de não se discutir a segurança hídrica nesse trecho. Toda
a proposição de um hidrograma para a Volta Grande baseou-se na manutenção de vazões, no
mínimo iguais aquelas que ocorrem hoje no rio em condições de estiagem e portanto, não faz
o menor sentido se falar de escassez hídrica conforme sugerido.
Intencional, neste caso, parece a conduta da autora que por ignorância do tema ou intenção de
indução ao erro associa a construção do AHE Belo Monte a uma catástrofe, negligenciando
tudo aquilo que foi avaliado nos estudos ambientais e todas as medidas propostas como forma
de mitigação do impacto identificado.
Quanto ao trecho de jusante foram avaliados dois impactos principais relacionados à erosão a
jusante da casa de força principal e alterações na qualidade das águas e suas conseqüências
sobre os bancos de nidificação das tartarugas. De forma contraditória ao que é dito pela
autora, que imputa à equipe do EIA ação de esconder impactos, o parecer elaborado por
Geraldo Santos diz que “quanto aos quelônios, o EIA-RIMA apresenta muitas informações
originais e faz um prognóstico bem embasado dos impactos da hidrelétrica sobre esse grupo
de animais”. Esse autor lista os impactos associados ao grupo de quelônios e peixes que são
justamente aqueles apresentados pela equipe do EIA, e, portanto, confirma a realização de um
estudo sério, claro e profundo onde os impactos foram apresentados, discutidos e ações foram
propostas.
Assim, deduz-se que a falta de uma leitura e entendimento mais profundo do EIA, bem como
uma visão pouca integrada da autora, impossibilitando-a de compreender as relações
abordadas no EIA sobre os diversos itens, desqualificam boa parte das avaliações
apresentadas e cumprem somente o papel de reforçar aquilo que já foi identificado no EIA:
esse trecho do rio será objeto de impacto mesmo com a medida já proposta no EIA do
hidrograma ecológico e, portanto, ações ambientais como condições de saneamento,
programas relativos à pesca, à saúde, etc., são previstos e devem ser detalhados na próxima
fase de licenciamento.
Por fim, vale destacar a incoerência entre os próprios pareceres elaborados pelos especialistas
ao longo da documentação apresentada: ao mesmo tempo que uns acusam o EIA de ser
omisso ou de negar impactos, outros chegam a tecer elogios à qualidade técnica do
documento, como faz o autor Geraldo Mendes dos Santos em seu paper “Análise do EIA-
RIMA – Ictiofauna (1)” (págs. 138 a 147). In verbis:
Mesmo do ponto de vista técnico parece haver uma grande incongruência para a
implantação desta hidrelétrica e isso diz respeito à enorme oscilação do volume
d„água do Xingu, no local do AHE Belo Monte. Segundo dados dos estudos de
impacto ambiental, a vazão deste rio alcança cerca de vinte mil metros cúbicos
por segundo no período de cheia, baixando para menos de mil metros cúbicos por
segundo no período de seca. Ou seja, a máxima produção de energia, estimada
em cerca de 11 mil MW, só será conseguida no período de poucos meses,
enquanto durar a cheia. Na seca, esta produção será drasticamente reduzida.
Curiosamente, este dado é praticamente omitido e quase nada discutido nos
estudos de viabilidade do empreendimento. Esta é uma das poucas mais
importantes lacunas do EIA-RIMA. (págs. 146 e 147) (grifo nosso)
24
Nesse sentido, vale observar que a questão levantada pelo autor como “uma das poucas mais
importantes lacunas do EIA-RIMA” é, na realidade, não relacionada diretamente aos estudos
de impacto ambiental, mas sim a uma tomada de decisão por parte dos planejadores do setor
energético brasileiro e cuja abordagem é cabível nesse contexto e nas análises de viabilidade
de engenharia do AHE Belo Monte.
6 Da má fé de se acusar os estudos etnoecológicos de “desindianizar” populações
indígenas
A caracterização, no EIA/RIMA, dos processos históricos pelos quais passaram as populações
indígenas Juruna do Km 17, Juruna de Paquiçamba e Arara de Volta Grande do Xingu é
acusada, no Painel dos Especialistas, de ser preconceituosa e/ou discriminatória (Págs. 67, 73
e 74). O EIA/RIMA é acusado de tratá-los como menos índios, de reforçar o que seriam
estereótipos populares quanto a ex-índios ou descendentes de índios.
No entanto, ao longo das mais de 20.000 páginas do EIA/RIMA, expressões como menos
índios, ex-índios ou descendentes de índios não são uma vez sequer utilizadas para
caracterizar os Juruna ou os Arara da Volta Grande do Xingu. Observa-se, aliás, que os
trechos do RIMA e do EIA que o Painel dos Especialistas se dá ao trabalho de transcrever
(Págs 73 e 74) dizem respeito especificamente aos “povos indígenas das TIs Paquiçamba e
Arara da Volta Grande do Xingu e Área Indígena Juruna do km 17” (Pág. 73) e aos “Juruna
da Terra Indígena Paquiçamba”(Pág 74). Ou seja, no EIA/RIMA a apresentação de processos
históricos é explicitamente antecedida do pleno reconhecimento dessas populações como
indígenas, conforme os próprios trechos criticados.
A Área Indígena Juruna do Km 17 e as Terras Indígenas Paquiçamba e Arara da Volta Grande
do Xingu foram as mais intensamente estudadas pelo componente indígena do EIA do AHE
Belo Monte. Isto foi feito por determinação da Funai, conforme expresso em seus Termos de
Referência, e pela justificativa de que aquelas Área e Terras serão as mais fortemente
impactadas, caso o AHE Belo Monte venha a ser construído. Em nenhum momento dos
estudos presentes no Volume 35 do EIA são negados a esses indígenas direitos ou reduzidos
Planos, Projetos e Programas em virtude dos processos históricos particulares que
vivenciaram e que estão registrados em suas memórias e na bibliografia. São de se notar as
demandas dos Juruna e dos Arara da Volta Grande do Xingu elencadas entre as ações
compensatórias nos volumes 3, 4 e 5 do Volume 35 do EIA, de apoio para aprendizado do
idioma Yudjá e Arara, já que o idioma por eles falado é o português regional.
Entende-se, pois, como má-fé, e não como fruto de análise, a acusação feita pelo Painel dos
Especialistas (Pág. 74) de que o EIA/RIMA desenvolve uma estratégia para desindianizar os
Juruna e os Arara da Volta Grande do Xingu.
7 Da consonância entre o Plano de Atendimento à População Atingida proposto no
EIA e no RIMA e as Diretrizes Recomendadas para Tratamento dos Atingidos pelo
Painel de Especialistas
São muitas as críticas feitas, no bojo da documentação do Painel de Especialistas, ao
tratamento que, alegam os autores, foi dado à população atingida no âmbito do EIA e do
RIMA. É interessante observar, no entanto, que nenhuma das críticas traçadas remete-se ao
conteúdo do Plano de Atendimento à População Atingida apresentado no Volume 33 do EIA,
mais especificamente no Capítulo 12 – “Planos, Programas e Projetos Ambientais”, item 12.9.
25
Se isto tivesse sido realizado, certamente o resultado da análise teria sido outro e, neste
sentido, basta verificar o grau de consonância do referido Plano com as diretrizes constantes
do paper “Extraído d‟ “O Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e diretrizes”6,
apresentado ao final do Capítulo de Anexos da documentação apresentada pelo Painel de
Especialistas, mais especificamente às págs. 218 a 229.
Para tanto, procede-se, a seguir, a elencar, para cada diretriz constante do paper supra
referenciado, os itens do Plano de Atendimento à População Atingida que são diretamente
relacionados.
Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O
Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e
diretrizes”
Item do Plano de Atendimento à População
Atingida (Volume 33 do EIA)
1. A implantação de um projeto hidrelétrico constitui
processo complexo de mudança social, que implica no
deslocamento compulsório de população e em
alterações na organização cultural, social, econômica e
territorial (ELETROBRÁS, 1992, II Plano Diretor de
Meio Ambiente).
Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” – Págs. 194
a 196; 200 a 203
2. Os empreendedores do Sistema Eletrobrás têm a
responsabilidade de indenizar, ressarcir, reparar e/ou
compensar danos causados a todos quantos forem
atingidos por seus empreendimentos (implantação e
operação). (ELETROBRÁS, 1992, II Plano Diretor de
Meio Ambiente).
Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” –
Págs. 194 a 196; 200 a 203; e
Item “Conceitos e Princípios Básicos” – Págs.
198 a 200
3. Entende-se que na identificação dos impactos e dos
grupos sociais, comunidades, famílias e indivíduos
atingidos devem ser consideradas as alterações
resultantes não apenas da implantação do reservatório,
mas também das demais obras e intervenções
associadas ao empreendimento, tais como canteiro,
instalações funcionais e residenciais, estradas, linhas
de transmissão, etc. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,
Instruções para Elaboração de Estudos de
Viabilidade).
Item “Conceitos e Princípios Básicos” –
“Atingido” – Pág. 198;
Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a
207.
6 Documento de autoria de Carlos B. Vainer, com a colaboração de Flávia Braga Vieira, Francisca Silvania de
Souza Monte, Mirian Regina Nuti e Raquel de Mattos Viana, em acordo com informação constante à pág. 218 da
documentação apresentada pelo Painel de Especialistas.
26
Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O
Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e
diretrizes”
Item do Plano de Atendimento à População
Atingida (Volume 33 do EIA)
4. Na identificação dos tipos de impactos, devem ser
considerados, entre outros: a) o deslocamento
compulsório (de proprietários e não proprietários); b) a
perda da terra e outros bens; c) perda ou restrição de
acesso a recursos necessários à reprodução do modo de
vida; d) perda ou redução de fontes de emprego, renda
ou meios de sustento; e) ruptura de circuitos
econômicos. (ELETROBRAS/CEPEL/DNAEE,
Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias
Hidrográficas).
Item “Conceitos e Princípios Básicos” –
“Atingido” – Pág. 198;
Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a
207.
5.Atenção deverá ser conferida aos efeitos a jusante da
barragem, que se fazem sentir normalmente apenas
após o enchimento do reservatório. A restrição ou
perda do potencial pesqueiro, mudanças do regime
hídrico, efeitos sobre a navegação e comunicação,
perda ou redução dos recursos para agricultura de
vazante ou outras formas de exploração das várzeas
(garimpo, extração de materiais, etc.), assim como
todas as interferência a jusante deverão ser
consideradas. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,
Instruções para Elaboração de Estudos de Viabilidade).
Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Quadro 12.9-2,
Págs. 205 e 206, valendo ressaltar que do referido
quadro consta, explicitamente, que são considerados
atingidos: “moradores das comunidades ribeirinhas
com estreita dependência do rio, localizadas na área
de Vazão Reduzida (Volta Grande)”; “moradores das
comunidades situadas no trecho de jusante, abaixo da
Casa do Força Principal”; e “pescadores das
comunidades localizadas na Volta Grande e a jusante
da Casa de Força Principal”.
6. Também deverão ser consideradas as alterações
impostas a circuitos e redes de sociabilidade, sempre
que implicarem na ruptura de relações importantes
para a reprodução social, consideradas as dimensões
culturais e a identidade dos grupos, comunidades e
famílias atingidas. (ELETROBRAS/DNAEE, 1997,
Instruções para Elaboração de Estudos de Viabilidade;
ELETROBRAS/CEPEL/DNAEE, Manual de
Inventário Hidrelétrico de Bacias
Hidrográficas).
Itens “Justificativas” e “Arcabouço Legal” –
Págs. 194 a 196; 200 a 203; e
Item “Conceitos e Princípios Básicos” –
“Atingido” e “Reparação” - Pág. 198
Programa de Acompanhamento Social, com seus
projetos de Atendimento Social e de
Acompanhamento e Monitoramento Social das
Comunidades do Entorno da Obra e das
Comunidades Anfitriãs
Projeto de Reparação
7. Proprietários e não proprietários, pequenos meeiros,
parceiros, posseiros (de terras públicas ou privadas),
empregados, autônomos, trabalhadores informais,
pequenos empresários poderão ser considerados
atingidos. A ausência de título legal de propriedade ou
de vínculo legal de emprego não será tomada como
critério para excluir grupos, comunidades, famílias ou
indivíduos ao adequado reconhecimento como
atingido (Acordo Eletrosul/CRAB, 1987) .
Item “Público-alvo Rural e Urbano” – Págs. 204 a
207;
Programa de Negociação e Aquisição de Terras e
Benfeitorias na Área Rural, com os projetos de
indenização e aquisição de terras e benfeitorias,
de reassentamento rural, de regularização rural,
de reorganização de áreas remanescentes e de
reparação
Programa de Negociação e Aquisição de Terras e
Benfeitorias na Área Urbana, com os projetos de
indenização e aquisição de terras e benfeitorias
urbanas, de reassentamento urbano, de
regularização fundiária urbana e de reparação
8. Deverá ser considerada a dimensão temporal dos
impactos, de modo a incorporar o caráter
essencialmente dinâmico dos processos sociais,
econômicos, políticos e ambientais. Isto implicará em
considerar impactos que se fazem sentir em diferentes
momentos do ciclo do projeto (ELETROBRÁS, 1992,
II Plano Diretor de Meio Ambiente).
A dimensão temporal dos impactos, fazendo com que
o Plano estenda-se inclusive pela Etapa de Operação,
está explicitada nos programas e projetos voltados
para o monitoramento social para identificar situações
ainda merecedoras de mitigação
27
Diretriz constante do paper “Extraído d’ “O
Conceito de Atingido. Uma revisão do debate e
diretrizes”
Item do Plano de Atendimento à População
Atingida (Volume 33 do EIA)
9. Para as Terras e Povos Indígenas serão consideradas
suas especificidades culturais, direitos históricos,
constitucionais e reconhecidos por convenções
internacionais, além das diretrizes já estabelecidas no
Setor Elétrico. Esse processo deverá contar com a
participação das comunidades afetadas e com
o conhecimento do Ministério Público, desde as etapas
iniciais de planejamento dos empreendimentos.
Volume 35 do EIA, referente aos estudos
etnoecológicos, bem como o Volume do EIA “Estudos
Etnoecológicos – Análise Ambiental”, dos quais
constam os programas propostos para a população
indígena elaborados não só a partir da detecção de
suas especificidades culturais e direitos, mas também
voltados para fortalecê-los.
Recomenda-se, assim, aos especialistas, uma leitura detalhada de todos os programas e
projetos que compõem o Plano de Atendimento à População Atingida, bem como as
justificativas e conceitos que conduziram a sua definição.
8 Das respostas específicas às perguntas do Painel de Especialistas
Apresenta-se, a seguir, as respostas às perguntas específicas constantes da documentação
elaborada pelo Painel de Especialistas – págs. 185 a 191.
28
1. Entendendo que para qualquer empreendimento humano ser considerado
sustentável deva ser viável economicamente, socialmente justo, culturalmente
aceito e ecologicamente correto, e demonstrado que a barragem de Belo Monte não
atende a esta definição, qual o compromisso do governo Lula com o
desenvolvimento sustentável?
O Governo do presidente Lula está caracterizado pelo compromisso com a integração das
políticas públicas e com a transversalidade da política ambiental. A elaboração de planos de
desenvolvimento sustentável em torno dos projetos estruturantes de infra-estrutura,
coordenados pela Casa Civil, são exemplos desta prática que se pretende faça parte da cultura
política brasileira e efetiva política de Estado. No caso do AHE Belo Monte, foi elaborado o
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Xingu pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Secretaria de Estado de Integração
Regional do Pará, contando com a coordenação geral da Casa Civil da Presidência da
República.
2. O paradigma da complexidade vem se impondo principalmente em se tratando do
respeito ao meio ambiente e ao diálogo social que deva ser feito para que as ações
governamentais se executem com maturidade. Pensar usina hidrelétrica como
fornecedora de energia a qualquer custo rompe com este conceito. Que parâmetros
além do energético justificam obra de tamanho impacto e com tamanhas
contradições?
Considerando parâmetros geopolíticos, o Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte é um
projeto que consolida a integração do território nacional, expandindo para a região amazônica
meridional, não apenas a infra-estrutura energética e das redes de transmissão, mas, sobretudo
a oportunidade de consolidação da fronteira de ocupação humana e econômica. Belo Monte é
um projeto estruturante da sócio-economia regional, pois caracteriza a formação de uma nova
fronteira, com geração de trabalho e renda. Em suas diretrizes de implantação, a inserção
regional preconiza o aproveitamento de insumos e matérias-primas regionais, assim como a
priorização do emprego da mão-de-obra local. Para tanto, a população regional receberá
treinamentos e especialização em diversas áreas de atuação e atividades, as quais deverão
proporcionar condições amplamente favoráveis à inserção da região transamazônica no
cenário econômico nacional e internacional.
Além disso, o AHE Belo Monte é um projeto que interliga energeticamente bacias
hidrográficas de diversas regiões do país com dinâmicas hidrológicas distintas e
complementares, permitindo ganho energético para o Sistema Interligado Nacional.
3. Quais as quantificações feitas sobre a perda da biodiversidade e dos saberes que
serão perdidos com a inundação provocada pela barragem de Belo Monte?
Quando se refere à perda de biodiversidade significa que espécies desaparecerão de uma
determinada região, ou seja, diz respeito à extinção local de espécies. A quantificação da
perda de biodiversidade pode ser realizada abordando os seguintes aspectos:
Perda da diversificação do ambiente;
Perda de habitats específicos;
29
Perda das relações ecológicas, em função do desaparecimento ou do número reduzido
de espécies.
Desta forma, os impactos referentes à perda de biodiversidade devido a implantação do
empreendimento têm abrangência regional e foram analisados, por exemplo, nos seguintes
impactos:
Perda da Diversidade da Flora (Volume 29, Avaliação de Impacto, descrição página
134), com abrangência regional, o que envolve a região da área de influência indireta
do empreendimento;
Perda de Diversidade da Fauna (Volume 29, página 137);
Intensificação da perda de cobertura vegetal e hábitat natural (Volume 29, página 268)
Perda de habitats naturais (Volume 29, página 276)
Por outro lado, a pergunta se refere à perda de biodiversidade, considerando apenas as áreas
inundadas pela barragem de Belo Monte.
Os estudos e levantamentos realizados no âmbito do EIA, bem como estudos pretéritos
disponíveis não indicaram a presença de espécies endêmicas da região que sofrerá inundação
para os grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, aves, como também para os vegetais, uma vez
que as espécies identificadas ocorrem em outros trechos da bacia do rio e seus tributários, os
quais não sofrerão inundação. Algumas espécies, inclusive, têm distribuição que extrapola a
bacia e mesmo a região amazônica.
Os principais recursos naturais utilizados pela população local se referem às espécies animais
normalmente caçadas, pescadas ou aos vegetais utilizados para construção de casas, retirada
de palhas e cipós (espécies vegetais) apresentam ampla distribuição geográfica; portanto,
considerando a área de inserção do empreendimento, não haverá perda regional da
diversidade destes organismos. No entanto, em função do já avançado estado de alteração da
paisagem na AID e ADA, tais recursos serão reduzidos localmente com a inundação dos
reservatórios. Desta forma, como medidas mitigadoras prevêem a conservação e o manejo dos
recursos da flora, da fauna e da ictiofauna.
Entre as espécies associadas aos ambientes aquáticos que sofrerão impacto com a inundação,
destacam-se os quelônios, os quais também são muito utilizados pelas populações locais. Este
grupo de animais, num estudo de biologia reprodutiva realizado no âmbito do EIA (cujo
conteúdo na íntegra está no Volume 20 – Relatórios do MPEG – Fauna Aquática), mostrou
que a taxa de predação de ninhos de quelônios, principalmente por humanos, nas praias
existentes no trecho da Volta Grande do rio Xingu até a confluência com o Iriri, chegam até a
100%. Já quanto à caça praticada na região observou-e que, devido a alteração de habitat, já
está se tornando escassa.
Desta forma, considerando o conjunto de espécies de quelônios identificados no estudo, sua
ampla distribuição geográfica e como as populações responderam a implantação de
hidrelétricas em outras regiões amazônicas, não há indícios de que haverá desaparecimento
das espécies de quelônios do trecho do rio Xingu na região do reservatório do rio, mas sim
30
alteração na estrutura das populações, diminuição da abundância e modificação da dinâmica
populacional desta e de outras espécies de quelônios.
Por outro lado, com relação à ictiofauna, vários impactos foram previstos para a perda de
espécies, tanto pela conversão de habitat-chave, quanto pela intolerância destes organismos às
alterações na qualidade da água. A descrição destes impactos está no Volume 29 Avaliação de
Impactos – Parte 1, página 329 do EIA.
Entre as ações propostas para mitigar e compensar os impactos previstos inerentes à perda de
diversidade de flora e fauna com a implantação do empreendimento destacam-se: a) o Plano
de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos, que reúne as medidas voltadas para a criação de
espécies de peixe em cativeiro, manejo e conservação dos recursos pesqueiros, ações de
sustentabilidade da pesca, manejo e conservação dos quelônios aquáticos, e b) o Plano de
Conservação dos Ecossistemas Terrestres cujas ações de manejo e conservação são ali
indicadas, como também o Programa de Compensação Ambiental. Destaca-se também o
PACUERA – Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios Artificiais
cuja prerrogativa é buscar conciliar o uso e ocupação do solo com a manutenção e
conservação dos recursos naturais.
Estes programas estão descritos no Volume 33 do EIA e apresentam grau de detalhamento
apropriado para um Estudo de Impacto Ambiental, atendendo ao Termo de Referência
emitido pelo IBAMA, que norteou todo o EIA.
Para a ictiofauna é indicada no Volume 29 página 331 ações preventivas, mitigadoras e de
controle, a saber:
Plano de Conservação do Ecossistema Aquático, com ações de conservação e monitoramento
da ictiofauna. Além destas ações, observa-se ainda que, no bojo do Plano de Gestão dos
Recursos Hídricos, está proposto o monitoramento dos igarapés interceptados pelos diques.
Deve-se considerar ainda que, com a implantação dos reservatórios, haverá mais abundância
de algumas espécies de peixes comerciais, como já foi relatado em outros reservatórios em
regiões tropicais. Para o uso sustentável dos recursos pesqueiros tanto na região onde estes
ficarão mais escassos quanto na região do reservatório, onde serão mais abundantes, são
propostas ações de ordenamento da pesca estabelecidas no Programa de Sustentabilidade da
Pesca.
Para os recursos madeireiros e não madeireiros que sofrerão impactos com a implantação dos
reservatórios, são propostas ações preventivas e mitigadoras dos impactos para evitar a perda
de diversidade da flora com abrangência regional. Estas medidas estão apontadas, no subitem
a.2.9.3 para o impacto que o origina, isto é, o “Aumento da Pressão sobre os Recursos
Florestais Madeireiros e Não Madeireiros”.
A título de medida compensatória, mas também guardando um caráter preventivo em relação
a um provável avanço de frentes de ocupação e conseqüente aumento da pressão sobre os
recursos madeireiros e não madeireiros, propõe-se no EIA, a criação de Unidades de
Conservação. Essas unidades propostas, apresentadas no Programa de Compensação
Ambiental, são voltadas para a conservação dos recursos florestais de terra firme e aluviais da
margem direita do rio Xingu, que estão submetidos a uma potencial ameaça derivada do
avanço de projetos de assentamentos rurais. Essas ações estão descritas e apresentadas de
31
forma detalhada no Volume 33 do EIA, que corresponde a Planos, Programas e Projetos
Ambientais.
4. A expansão prevista das indústrias eletrointensivas na Amazônia está dentro das
previsões no Plano Decenal? Este deve ser o destino da energia da Belo Monte (se
for construída), fornecer energia subsidiada para indústrias que empregam
pouco?
Os cenários do PDE 2008-2017 consideram as expansões de todas as atividades econômicas,
variando segundo a intensidade de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB; baseiam-se
em premissas de crescimento econômico e demográfico formando as premissas setoriais.
As indústrias eletro intensivas, como todas as indústrias, foram contempladas no perfil
produtivo da região Amazônica, nas regiões e estados cujas potencialidades apontam para a
sua utilização no período decenal do PDE.
As empresas interessadas na implantação de processos eletro-intensivos no país apresentam
seus planos de investimentos, novas expansões (projetos existentes ou novos projetos), os
quais são avaliados pelo Setor Elétrico Brasileiro (MME, EPE, Operador Nacional do Sistema
- ONS e concessionárias de energia elétrica) quanto à sua viabilidade temporal e à
factibilidade legal e institucional, para então serem incorporadas ao planejamento setorial.
Existem, sim, projetos de indústrias eletro intensivas previstos no PDE para o Estado do Pará,
onde ocorrem as grandes reservas minerais da Amazônia. Neste item, cabe destacar uma
questão estratégica regional de cunho estritamente econômico. Trata-se de oportunidade
peculiar que a região Amazônica dispõe no que concerne aos seus recursos naturais,
associando o potencial mineral ao potencial hidráulico para exploração energética. A
possibilidade de exploração sustentável da cadeia mineral associada à exploração da energia
renovável dos recursos hídricos pela hidroeletricidade, faz da Amazônia uma fronteira de
destaque para o país, com oportunidade de se colocar como fronteira para o mundo, evoluindo
de posição de exportador de commodities, agregando valor a estes, e estabelecer-se como
grande produtor mundial com desenvolvimento sustentável desta região.
Trata-se de exploração de minério de ferro, de cobre, de níquel, de bauxita, de caulim,
localizados tanto na província mineral de Carajás quanto na calha do Rio Amazonas, margens
esquerda e direita. No horizonte decenal do PDE, incidem projetos da cadeia mineral da
bauxita, cobre, níquel e minério de ferro.
No PDE 2008-2017 existe uma projeção de demanda de energia elétrica para esses projetos,
os quais são detalhados pelas empresas/agentes e encaminhadas à EPE, ONS e outras
instituições, que por sua vez se utilizam das informações para elaborar seus planejamentos de
expansão e operação.
5. Porque não se amplia a vazão que passaria pela barragem Pimental para garantir
a sobrevivência com dignidade das populações da Volta Grande e manter o
equilíbrio da natureza e garantir a sobrevivência dos peixes do rio Xingu?
As vazões propostas no hidrograma ecológico já foram estabelecidas de modo a permitir à
manutenção dos modos de vida das populações da Volta Grande, dos usos da água e das
condições necessárias à manutenção da reprodução e alimentação dos peixes.
32
6. Há um plano para o desenvolvimento sustentável da região? Porque isso não foi
submetido a discussões com as comunidades, enquanto o projeto Belo Monte está
sendo encaminhado com caráter de urgência?
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Xingu – PDRS Xingu - elaborado pelo Núcleo
de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Secretaria
de Estado de Integração Regional do Pará e coordenação da Casa Civil da Presidência da
República, é o plano de referência que deverá pautar o desenvolvimento regional de forma
sustentável. A metodologia utilizada no processo de elaboração do PDRS Xingu foi a
realização de consultas públicas nos municípios da área de influência do AHE Belo Monte.
As consultas públicas ocorreram no período de 15 a 21 de fevereiro de 2009, conforme
cronograma abaixo:
CONSULTAS PÚBLICAS DO PDRS XINGU
16/02/2009 Municípios de Altamira, Brasil Novo, Anapu e Pacajá
18/02/2009 Municípios de Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e Porto de Moz
20/02/2009 Municípios de Uruará, Medicilândia e Placas.
As Consultas Públicas foram organizadas e divulgadas pela Secretaria de Estado de
Integração Regional do Pará e contaram com a participação ampla da sociedade civil
organizada, dos órgãos de governo estadual e municipais, da Casa Civil e da Secretaria Geral
da Presidência da República, de instituições federais atuantes na região como o INCRA e o
DNIT e de vários ministérios: MME, MMA, MI, MT, MAPA, MCidades, MDA, MDS.
7. Há um Plano Decenal de expansão de energia. Com Eletrobrás também
planejando entre 5 e 15 hidrelétricas enormes no Peru, com a maioria da energia
(80%) destinada para o Brasil, isso não significa que vai ter energia sobrando na
próxima década?
O governo peruano propôs uma parceria com o governo brasileiro para estudar seis
aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia Peruana, que totalizam 7.564 MW.
A viabilidade destes empreendimentos e a viabilidade da importação de sua energia é uma
hipótese que depende de fatores técnicos e políticos para a sua confirmação. O atual estágio
dos estudos, não permite demonstrar uma opção de garantia de suprimento ao mercado de
energia elétrica brasileiro.
O PDE 2008-2017 do Ministério de Minas e Energia-MME, elaborado pela Empresa de
Pesquisa Energética-EPE, não considerou a importação da energia produzida por esses
empreendimentos pelo SIN até 2017, uma vez que os estudos de viabilidade técnica,
econômica e ambiental dos mesmos estão sendo elaborados.
33
8. Uma vez que considerável parte das espécies de peixes não foi identificada, foi
identificada apenas até grupos gerais (gênero ou família, sem caracterização da
espécie), foi identificado erroneamente (gênero que não são válidos, espécies que
não ocorrem na região) ou foi questionavelmente identificada (a maioria), como é
possível saber quais são as espécies de peixes ocorrentes no local do
empreendimento?
Normalmente esta pergunta pode ser respondida por qualquer cientista
especialista que examine material testemunho adequadamente registrado e
disponibilizado numa coleção científica permanente, de acordo com as práticas
internacionalmente aceitas de curadoria e acesso a coleções científicas. Como o
material usado para inventariar a fauna da região não foi registrado e
disponibilizado numa coleção científica disponível publicamente aos cientistas
capacitados e em alguns casos nem mesmo foi coletado (e.g. peixes não
Loricariidae que ocorrem nos pedrais), pode-se afirmar que esta pergunta não foi
respondida. Ou seja: Até mesmo a composição da fauna de peixes da área de
abrangência do EIA RIMA ainda é desconhecida.
A situação de desconhecimento sobre as espécies da ictiofauna neotropical de água doce é de
conhecimento público. Mais de 25% do total das espécies conhecidas não possui status
taxonômico definitivo (Reis et al., 2003). Nas coletas de ictiofauna do rio Xingu foram
obtidos mais de 35.000 indivíduos, tendo sido contemplados todos os ambientes aquáticos da
região de estudo, com diversas artes de captura e ao longo de todas as épocas do ano,
seguindo o ciclo hidrológico. Assim, estas coletas são representativas espacial (áreas e tipos
de habitat) e temporalmente dos trechos do rio Xingu direta e indiretamente afetados pelo
empreendimento, conforme exigências do TR do Ibama.
Esta coleção de indivíduos foi toda identificada até espécie em 60% dos casos, sendo que em
40% utilizou-se denominação de “morfo-espécies” em decorrência da grande falta de estudos
taxonômicos na literatura para esta fauna, e do fato de terem sido realizadas coletas em
ambientes pouco conhecidos na região, como é o caso dos pequenos igarapés que drenam o
rio Xingu.
As curvas de coletor, para as diferentes artes de pesca utilizadas e as estimativas por
modelagem do número de espécies em cada ambiente (Volume 16, paginas 52 a 113)
referendam a representatividade taxonômica da ictiofauna amostrada.
A lista de espécies final, contendo 789 categorias diferentes, foi elaborada agregando às
espécies coletadas (387) e mais os registros encontrados em museus e coleções nacionais
internacionais, consultados através da literatura científica ou pela internet.
Alem da classificação taxonômica, toda a ictiofauna registrada foi classificada também de
acordo com categorias funcionais ou ecológicas, de acordo com guildas tróficas,
comportamento migrador, estratégias reprodutivas, uso de habitat, bem como o uso das
mesmas pela pesca. Todas as análises dos resultados sobre diversidade, riqueza, biologia e
ecologia da ictiofauna, bem como toda a descrição de impactos do empreendimento foram
realizadas com base em grupos de espécies (análises de ordenamento estatístico) ou grupos
funcionais (ecológicos) e em nenhum caso com base nas espécies individualmente
consideradas.
34
O material coletado, esta sendo ainda trabalhado e preparado para uma revisão taxonômica
das espécies e descrição de espécies novas, para posterior depósito em uma coleção científica.
Taxonomistas foram contatados para esta atividade.
Contudo, a correta identificação das morfo-espécies não irá alterar os impactos identificados e
nem as medidas e programas sugeridos no EIA de Belo Monte, uma vez que os mesmos
foram com base nos grandes grupos funcionais antes mencionados.
9. Em algum momento as associações indígenas foram contatadas pelas empresas no
decorrer desses anos dando algum tipo de explicação sobre o aumento dos
impactos em razão da construção da hidrelétrica?
As comunidades indígenas das TIs situadas na região do AHE Belo Monte vêm sendo
contatadas desde 2007, tendo recebido informações sobre o Empreendimento, seus Impactos e
os Programas para mitigá-los. Esses contatos foram registrados por meio de fotos e filmagens
e encontram-se disponíveis para consultas.
Os estudos realizados junto aos grupos indígenas pelos especialistas contaram com a
participação indígena e foram também períodos de troca de informações e esclarecimentos
sobre o empreendimento.
Como conseqüência das Vistorias Iniciais em Terras Indígenas, a FUNAI emitiu os Termos
de Referência para os estudos. Também foram indicados pelas comunidades os antropólogos
de sua preferência para a realização dos estudos. Assim:
na TI Arara da Volta Grande do Xingu foi indicada a antropóloga Marlinda Melo
Patricio;
na Aldeia da AI Juruna do km 17 foram indicados os antropólogos Antônio Carlos
Magalhães dos Santos ou Maria Elisa Guedes Vieira;
na TI Trincheira Bacajá, as comunidades das duas primeiras aldeias visitadas, Bacajá
e Mrotidjãm, indicaram os antropólogos Clarice Cohn ou William Fischer, indicação
endossada pelas demais aldeias, Patikrô e Pykayaká.
Nos Quadros a seguir estão demonstrados os contatos com as TIs e AI e os povos indígenas
durante os estudos realizados:
35
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES
VISTORIA INICIAL DA FUNAI
- Obtenção de subsídios para a elaboração do TR
- Apresentação do projeto do AHE Belo Monte e
seus impactos
- Solicitação da indicação de um antropólogo da
confiança da comunidade para a realização dos
Estudos Etnoecológicos
- Aldeia da TI Paquiçamba 18/12/2007 FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
CNEC
THEMAG
- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu 19/12/2007
- Aldeia da AI Juruna do km 17 20/12/2007
- TI Trincheira Bacajá
Aldeia Bacajá
Aldeia Mrotidjãm
Aldeia Patikrô
Aldeia Pykayaká
28/10/2008
29/10/2008
09/12/2008
10/12/2008
REUNIÃO PARA APRESENTAÇÃO DAS
EQUIPES
- Retomada a explanação sobre o projeto do AHE
Belo Monte e seus impactos
- Apresentação das equipes técnicas responsáveis
pelos Estudos Etnoecológicos
- Aldeia da AI Juruna do km 17 13/08/2008 FUNAI, ELETROBRÁS,
ELETRONORTE, CNEC, THEMAG,
Antropólogas M. Elisa G. Vieira, Marlinda
M. Patrício e equipes - Aldeia da TI Paquiçamba 14/08/2008
- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/08/2008
1º TRABALHO DE CAMPO
- TI Paquiçamba 14/08/2008 a
25/08/2008
Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe
- TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/08/2008 a
25/08/2008
Antropóloga Marlinda Melo Patrício e
equipe
- AI Juruna do km 17 26/08/2008 a
29/08/2008
Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e
equipe
- TI Trincheira Bacajá 17/02/2009 a
03/03/2009
Antropólogas Isabelle Vidal Giannini e
Clarice Cohn
2º TRABALHO DE CAMPO
- AI Juruna do km 17 07/11/2008 a
20/11/2008
Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe
- TI Paquiçamba 12/11/2008 a
01/12/2008
Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e
equipe
- TI Arara da Volta Grande do Xingu 13/11/2008 a
03/12/2008
Antropóloga Marlinda Melo Patrício e
equipe
1ª. PALESTRA SOBRE O AHE BELO MONTE
- Reapresentação do projeto do AHE Belo Monte,
etapas de construção e impactos
- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu
14/11/2008 e
15/11/2008
ELETROBRÁS, ELETRONORTE, LEME,
Antropóloga Marlinda Melo Patrício e
equipe
- Aldeia da TI Paquiçamba 15/11/2008 ELETROBRÁS, ELETRONORTE, LEME,
Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e
equipe - Aldeia da AI Juruna do km 17 17/11/2008
36
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES
3º TRABALHO DE CAMPO
- TI Paquiçamba 04/02/2009 a
27/02/2009
Antropóloga M. Elisa G. Vieira e equipe
- AI Juruna do km 17 06/02/2009 a
10/02/2009
Antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira e
equipe
- TI Arara da Volta Grande do Xingu 14/02/2009 a
23/02/2009
Antropóloga Marlinda Melo Patrício e
equipe
2ª. PALESTRA SOBRE O AHE BELO MONTE
- Reapresentação do projeto do AHE Belo Monte e
impactos
- Aldeia da AI Juruna do km 17 10/02/2009 ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
LEME, Antropóloga Maria Elisa Guedes
Vieira e equipe
- Aldeia da TI Paquiçamba
11/02/2009
REUNIÃO INICIAL
- Apresentação do projeto do AHE Belo Monte, seus
impactos e os estudos etnoecológicos em andamento
- Aldeia da TI Kararaô 17/03/2009 FUNAI, ELETROBRÁS,
ELETRONORTE, Antropólogas Regina
Aparecida P. Muller e Alice Martins Villela
Pinto
- Aldeia da TI Arara 18/03/2009 e
19/03/2009
- Aldeia da TI Cachoeira Seca 19/03/2009 e
20/03/2009
- Aldeias da TI Apyterewa 21/03/2009
- Aldeia da TI Koatinemo 23/03/2009
- Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 24/03/2009
37
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES
AUDIÊNCIAS INDÍGENAS
- Apresentação dos resultados dos Estudos
Etnoecológicos realizados
- Esclarecimentos de dúvidas dos índios sobre os
estudos, o Empreendimento, os impactos e o EIA
- Obtenção de informações adicionais junto às
comunidades para subsidiar o parecer da FUNAI
- Aldeia da AI Juruna do km 17
11/05/2009
FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,
CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga
Maria Elisa Guedes Vieira e equipe
- Aldeia da TI Paquiçamba
12/05/2009 e
13/05/2009
FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,
CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga
Maria Elisa Guedes Vieira e equipe
- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu
13/05/2009 e
14/05/2009
FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,
CNEC, LEME, THEMAG, Antropóloga
Marlinda Melo Patrício e equipe
- Aldeias da TI Trincheira Bacajá
15/05/2009 e
16/05/2009
FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,
CNEC, LEME, THEMAG, Antropólogas
Isabelle Vidal Giannini e Clarice Cohn
- Aldeias da TI Apyterewa 17/05/2009 FUNAI, ELETROBRÁS, ELETRONORTE,
CNEC, LEME, THEMAG, Antropólogas
Regina Aparecida P. Muller, Sônia da Silva
Lorenz e Fábio Augusto Nogueira - Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 18/05/2009 e
19/05/2009
- Aldeia da TI Koatinemo 20/05/2009 e
21/05/2009
- Aldeia da TI Kararaô 21/05/2009
- Aldeia da TI Arara 22/05/2009
- Aldeia da TI Cachoeira Seca 22/05/2009
38
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES
COMUNICAÇÃO DO PARECER DA FUNAI
- Apresentação do parecer preliminar da FUNAI
sobre a viabilidade do empreendimento
- Esclarecimentos sobre as Oitivas Indígenas com
representantes do Congresso Nacional.
- Comunicação e convite para as Audiências Públicas
do IBAMA, previstas para setembro.
- Oportunidade dos índios formularem perguntas
sobre o empreendimento e as mesmas serem
respondidas pelos integrantes da equipe.
- Assinatura da ata de reunião
- Aldeia da AI Juruna do km 17 19/08/2009 IBAMA
FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
LEME
CNEC
- Aldeias da TI Trincheira Bacajá 20/08/2009
- Aldeias da TI Apyterewa 22/08/2009
- Aldeias da TI Araweté Igarapé Ipixuna 23/08/2009 e
24/08/2009
- Aldeia da TI Koatinemo 25/08/2009
- Aldeia da TI Kararaô 26/08/2009
- Aldeia da TI Arara 26/08/2009
- Aldeia da TI Cachoeira Seca 27/08/2009
- Aldeia da TI Arara da Volta Grande do Xingu
02/09/2009 MPF
IBAMA
FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
CNEC - Aldeia da TI Paquiçamba
02/09/2009
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS AHE BELO MONTE
- Apresentação geral do EIA pelo IBAMA em
Altamira, com a viabilização da participação das
comunidades indígenas estudadas
- Altamira
13/09/2008
39
10. Como ficará a situação dos peixes na Volta Grande, especificamente no Trecho de
Vazão Reduzida? O que vai ser feito para compensar esse impacto?
Os impactos decorrentes da redução de vazão no trecho a jusante do sitio Pimental, estão
descritos no Volume 31, a partir da pagina 188 e foi denominado Alteração da Dinâmica do
Escoamento Fluvial do TVR. Dentro deste conjunto de impactos destaca-se, para a ictiofauna,
o impacto denominado: Redução de Populações ou Eliminação de Espécies Intolerantes às
Alterações Hidrológicas que Impossibilitem Acesso a Recursos – Chave, que foi descrito a
partir da pagina 212 desse volume, bem como o impacto: Alterações nos padrões de pesca
devido às mudanças nas comunidades de peixes, decorrentes de perturbações diretas ou
indiretas nos habitat, descrito na pagina 219 e subseqüentes do Volume 31, de onde foram
retirados os trechos a seguir.
O controle hidrológico, para a geração de energia, no Projeto de AHE Belo Monte, implicará
necessariamente na retenção de parte da vazão natural do rio, de modo que os níveis de vazão
remanescentes seriam insuficientes para o adequado funcionamento dos ecossistemas,
notadamente para permitir a inundação das florestas aluviais, que constituem habitat – chave
para a reprodução, desenvolvimento e nutrição de diversas espécies aquáticas.
A geração de energia no AHE Belo Monte requer a retenção de até 14.000 m3/s e apenas o
excedente deveria ser vertido para jusante da Barragem do Sítio Pimental. Isso implicaria na
redução de vazão desde a barragem até a casa de Força Principal, ou seja, em toda a Volta
Grande do Xingu. O projeto de viabilidade do AHE Belo Monte prevê uma vazão
remanescente de 2.000 m3.sec
-1 durante a cheia e 200 m
3.sec
-1 durante a seca. Isso
corresponde a aproximadamente 1/4 da vazão média das cheias históricas e a 1/5 da vazão
média das secas históricas do rio Xingu.
Conforme caracterizado no diagnóstico, na Volta Grande há três categorias de peixes que
dependem dos ambientes existentes:
peixes bentônicos e demersais associados aos pedrais (principalmente Loricariidae);
peixes que dependem da floresta alagada para reprodução e alimentação (muitos
Characidae, dentre outros);
peixes predadores que não dependem da floresta, mas que a utilizam para busca de
suas presas (muitos Cichlidae, Pimelodidae, dentre outros).
O hidrograma mínimo proposto pelo Estudo de Viabilidade para o trecho de vazão reduzida
provocaria a redução drástica de populações ou a eliminação de espécies intolerantes às
alterações hidrológicas que impossibilitem acesso a recursos – chave. Esses efeitos devem se
manifestar por três vias: (a) Perda da qualidade de habitat nos pedrais e demais habitats do
canal na Volta Grande do Xingu (afetando particularmente a fauna de Loricariidae); (b) Perda
de áreas de planícies de inundação por diminuição das vazões na Volta Grande do Xingu
(afetando peixes que utilizam estas áreas para desova e alimentação); (c) Perda de sincronia
para as atividades vitais (notadamente migração e reprodução).
O diagnóstico da ictiofauna da Área de Influência Indireta – AII do AHE Belo Monte
demonstrou a grande especiação e singularidade associadas aos pedrais do Médio Xingu
Inferior, cujas espécies diferem 64% daquelas encontradas em pedrais similares localizados
40
na confluência Xingu – Iriri. Muito embora a maior parte dessas espécies que dependem dos
pedrais não esteja diretamente associada às planícies de inundação, nem tampouco necessitem
realizar migrações laterais ou longitudinais para desovar, suas estratégias de vida também são
intimamente dependentes do regime hidrológico.
O diagnóstico da ictiofauna também demonstrou que a diversidade de espécies deste trecho é
maior durante a enchente e cheia, já que muitas espécies colonizam as áreas inundáveis nestes
períodos. Além disso, a reprodução dessas espécies depende do estímulo proveniente da
enchente do rio.
Assim a redução drástica da vazão deverá impor pressões irreversíveis, contínuas e
crescentes, de alta relevância e magnitude média sobre as complexas relações tróficas que
mantêm a diversidade de espécies da Volta Grande do Xingu.
De acordo com o diagnóstico da ictiofauna no âmbito deste EIA – RIMA, foi verificado que o
início da desova no trecho da Volta Grande começa a partir de 8.000 m3.sec
-1, de modo que a
vazão remanescente proposta pelo projeto de viabilidade constitui ¼ da vazão mínima
necessária para começar a ocorrer a reprodução dos peixes nessa região. De acordo com o
mesmo diagnóstico, o trecho da Volta Grande do Xingu abriga cerca de 30% das áreas
reprodutivas de espécies migratórias identificadas entre o Iriri e Senador José Porfírio. As
principais áreas de desova deste trecho do rio Xingu encontram-se nas planícies de inundação
das ilhas, das margens e dos igarapés. Após a desova, os peixes adultos penetram as áreas
inundadas para se alimentar. Os alevinos são criados também nessas áreas ou em lagoas
insulares. A perda de planícies de inundação por controle hidrológico acarreta perdas
substanciais das guildas de espécies associadas àqueles habitats (WELCOMME et al., 2006).
Esses impactos são particularmente importantes para as espécies migradoras. Ainda que parte
dos estoques consiga desovar, a falta de inundação suficiente para a alimentação dos peixes
adultos poderá acarretar rupturas importantes nas redes tróficas da Volta Grande do Xingu.
Aumentos significativos na taxa de mortalidade natural devem decorrer da diminuição da
vazão (WELCOMME, 1992).
Se não ocorrer a inundação ou se esta ocorrer muito tarde, ou com irregularidades (subidas e
descidas constantes do nível do rio), fora do ritmo natural, poderão ocorrer também falhas no
fechamento do ciclo biológico das espécies. Desta forma, o diagnóstico estabelece
claramente, que a diminuição da vazão do rio deverá ir acompanhada de uma diminuição
correspondente da abundância relativa de todas as espécies que habitam a região (migradores
ou não), (endêmicos ou não). Estes impactos foram associados também com a diminuição das
fontes de renda para os pescadores, notadamente com o impacto denominado Sobrepesa e
Perda de Modalidades de Pesca (Volume 29, página 146 e subseqüentes).
Para mitigar, em parte, estes impactos, a equipe do EIA aplicou várias metodologias de
abordagem multidisciplinar, buscando também conciliar os objetivos de conservação com os
de geração de energia. Surge assim a proposta do hidrograma ecológico, que mesmo alterando
as condições naturais atuais, busca utilizar parâmetros ecológicos e biológicos para garantir a
manutenção de parte da biodiversidade, neste particular a abundância da ictiofauna. Propõe-se
desta forma uma alteração nos regimes de vazão, que atendam ao mínimo necessário para a
reprodução dos peixes, que habitam na Volta Grande. Para tal, utilizaram-se duas medidas de
vazão, a primeira de 4.000 m3.sec
-1, que corresponde ao valor que garante a inundação da
maior parte dos pedrais. Nesta vazão poderá ser garantida a desova, alimentação e refugio dos
41
peixes que são característicos deste ambiente, como os Loricariidae que são importante alvo
da pesca de ornamentais. A segunda medida de vazão sugerida foi de 8.000 m3.sec
-1 Com esta
vazão foi observada a desova da maior parte dos peixes que habitam as planícies de inundação
durante a enchente, bem como a entrada das larvas nas planícies de inundação.
A falta do pulso de inundação determinará o desaparecimento dos cardumes de peixes que
dependem da floresta aluvial (67% da riqueza de espécies da Volta Grande. Os grandes
predadores também serão impactados pela falta de área de reprodução e alimentação.
Como ações preventivas e mitigadoras dos impactos acima são propostas aquelas a seguir
relacionadas:
No Plano de Gerenciamento Integrado da Volta Grande do Xingu, mais
especificamente no Programa de Conservação da Ictiofauna, os Projetos de
Aqüicultura de Peixes Ornamentais, de Monitoramento da Ictiofauna e de Incentivo à
Pesca Sustentável;
No contexto do Plano de Atendimento à População Atingida, o Programa de
Recomposição da Atividade Pesqueira.
No âmbito do Plano de Conservação de Ecossistemas Terrestres, o Programa de
Compensação Ambiental, através os projetos de criação de unidades de conservação
e manutenção das unidades já existentes.
11. No mesmo trecho, como ficará a situação dos quelônios, os bichos de casco, que são
importantes na alimentação dos ribeirinhos? O que vai ser feito para mitigar ou
compensar os impactos negativos?
No trecho de Vazão Reduzida, ocorrem os quelônios que são amplamente distribuídos na
região amazônica, em particular, compreendem três espécies do gênero Podocnemis:
Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia), P. unifilis (tracajá) e P. sextuberculata (pitiú).
Os levantamentos e estudos realizados no âmbito do EIA demonstrados nos Volumes 16,
página 138 – Fauna Aquática e 20 – Relatório MPEG – Fauna Aquática, apresentam além
destas espécies, a ocorrência de outros quelônios vivendo nos rios, igarapés, poças marginais
ou em hábitats alagáveis enlameados, a saber: Chelus fimbriatus (matamatá); Platemys
platycephala (jabuti-machado), Kinosternon scorpioides; (muçuã), Rhynoclemmys puncularia
(aperema) e Mesoclemmys gibba (cabeça-torta). As duas outras espécies de quelônios da
região são os jabutis de hábitos terrestres: Chelonoidis carbonaria (jabuti-vermelho), e C.
denticulata (jabuti-amarelo).
De fato, as tartarugas e tracajás, como seus ovos, são coletados para consumo e comércio.
Essa questão é avaliada à luz da legislação ambiental.
Para mitigar ou compensar os impactos negativos está previsto o Plano de Conservação do
Ecossistema Aquático, cujo eixo principal de atuação está centro nos atributos e variáveis
ambientais específicas da flora e da fauna aquáticas que mais deverão ser impactados. A
relação dos programas e projetos associados ao Plano são apresentados na tabela abaixo,
extraída do Volume 33, página 11.
42
PLANO PROGRAMA PROJETO
Plano de Conservação dos
Ecossistemas Aquáticos
Atua diretamente sobre atributos e
variáveis ambientais específicas da
flora e da fauna aquáticas que mais
deverão ser impactados
Programa de Monitoramento da
Flora
Projeto de Monitoramento das
Florestas Aluviais
Projeto de Monitoramento das
Formações Pioneiras
Programa de Conservação e
Manejo de Hábitats Aquáticos
Programa de Conservação da
Ictiofauna
Projeto de Aqüicultura de Peixes
Ornamentais
Projeto de Monitoramento da
Ictiofauna
Projeto de Incentivo à Pesca
Sustentável
Projeto de Implantação e
Monitoramento de Mecanismo
para Transposição de Peixes
Programa de Conservação da
Fauna Aquática
Projeto Monitoramento e Controle
de Invertebrados Aquáticos
Projeto de Monitoramento e
Manejo de Quelônios e
Crocodilianos
Projeto Monitoramento de
Mamíferos Aquáticos e Semi-
Aquáticos
Projeto de Monitoramento da
Avifauna Aquática e Semi-
Aquática
12. Como ficará a situação das espécies migradoras? Como isso afetará a vida das
populações ribeirinhas a jusante?
A descrição deste impacto sobre os peixes migradores é apresentada no Volume 29 do EIA,
página 336 e seguintes e Volume 31 do EIA, página 66 e seguintes, e foi designado
genericamente como “Fragmentação de Populações – Metapopulações ou Eliminação de
Espécies da Ictiofauna Intolerantes à Perda de Conectividade Lateral ou Longitudinal entre
Habitats – chave”, de onde são retirados os argumentos a seguir.
Os efeitos associados a esses impactos manifestarão pela: (a) interrupção das migrações
laterais para as planícies de inundação por deposição de material dragado durante a
construção do porto; (b) interrupção das migrações longitudinais de pequenos migradores por
barreira hidrológica no canal de desvio durante a construção da Barragem do Sítio Pimental;
(c) interrupção das migrações longitudinais dos peixes migradores por obstrução do canal do
rio Xingu após o fechamento da barragem no Sítio Pimental, que permitirá a formação do
Reservatório do Xingu; (d) interrupção das migrações laterais por obstrução dos igarapés após
o fechamento dos diques limitantes, que permitirão a formação do Reservatório dos Canais; e
(e) isolamento das comunidades nas cabeceiras dos igarapés após o afogamento dos cursos
médios pela formação do Reservatório dos Canais.
O rio Xingu funciona como um grande fluxo de água que conecta regiões e funciona como
uma via de dispersão de nutrientes, matéria orgânica, frutos, plantas flutuantes, larvas, ovos e
organismos adultos. Com a instalação da barragem no Sítio Pimental, ocorrerão alterações no
fluxo natural do rio, nesta região. Esta ação terá, portanto, um impacto direto na comunidade
de peixes migradores.
43
O diagnóstico da ictiofauna indica que muitas espécies do rio Xingu apresentam movimentos
migratórios laterais e longitudinais. Algumas espécies, como os as dos gêneros Curimata,
Myleus, Brycon, Mylesinus, Prochilodus, dentre outros sobem os rios no início da enchente à
procura de locais apropriados para a desova, que garantem a sobrevivência dos filhotes. As
distâncias percorridas exatamente pelas diferentes espécies não foram determinadas no
contexto desse diagnóstico. Os estudos de genética deixaram evidências de que existe certa
conectividade entre as comunidades a montante (desde o rio Iriri) e a jusante (até a cidade de
José Porfírio) do rio Xingu, mesmo considerando a existência das barreiras geográficas
naturais, impostas pelas seqüências de cachoeiras pouco acima do povoado de Belo Monte.
Os dados de ictioplâncton reforçam estas evidências. Mas os estudos biológicos e de pesca
reforçam um modelo de migração de curtas distâncias, bem diferente dos que são registrados
em rios de água branca de baixa declividade como o rio Amazonas ou o Madeira. De todas as
formas, a avaliação de impactos da ictiofauna foi bem rigorosa diagnosticando que o
barramento no sitio Pimental deverá induzir alterações na abundância dos peixes migradores,
tanto na Volta Grande, quanto no reservatório do Xingu, indicando por tanto também
impactos para a atividade pesqueira nestes locais. Este impacto foi designado com contínuo e
de alta magnitude (Quadro 10.4.3.20, pag. 68 Volume 31).
Por outro lado, existem espécies, algumas de grande interesse econômico, como a dourada
Brachyplatystoma rousseauxii, a piramutaba B. vaillanti, e o maparã Hypophthalmus
edentatus, o tambaqui Colossoma macropomum, dentre outros, que não conseguem vencer
estas barreiras naturais do rio, motivo pelo qual elas ocorrem somente a jusante das grandes
cachoeiras de Belo Monte. Neste caso, a abundância destas espécies e, por tanto, a sua captura
pela pesca comercial/artesanal a jusante da casa de força principal, não será afetada pelo
empreendimento. A jusante também não devem ser observados impactos sobre a captura
comercial de outros peixes. Isto porque o tipo de turbinas a ser utilizado na barragem do sitio
Pimental, não deve destruir a passagem de larvas para os trechos a jusante.
Para minimizar os impactos acima descritos, são sugeridas ações ambientais de caráter
mitigador e de monitoramento, inseridas no âmbito do Plano de Conservação do Ecossistema
Aquático, mais especificamente no Programa de Conservação da Ictiofauna, através do
Projeto de Implantação e Monitoramento de Mecanismo para Transposição de Peixes,
representado por um canal de deriva e do Projeto de Monitoramento da Ictiofauna e Projeto de
Incentivo à Pesca Sustentável.
Os Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte prevê, como processo de controle intrínseco
da obra, a construção de uma escada de peixes para viabilizar a transposição dos cardumes em
migração. Contudo, com base em experiências anteriores o estudo sugere a alteração de uma
escada de peixes para um canal de transposição a ser construído ao lado do sitio Pimental,
para permitir a subida das espécies migradoras que cheguem a este local (veja resposta 19,
com mais detalhe).
Outras medida importante, refere-se ao monitoramento das condições de vida da população
da Volta Grande, que permitirá verificar possíveis impactos nas fontes de renda para os
trabalhadores da pesca e para a alimentação da população, de forma a que sejam acionados
mecanismos de garantia da restituição das perdas constatadas. Nesse sentido consta
explicitamente no Plano de Atendimento à População Atingida (Volume 33 do EIA, quadro
12.9-2) que são considerados atingidos os pescadores das comunidades localizadas na Volta
Grande e a Jusante da Casa de Força Principal.
44
13. O que será feito quanto ao inevitável aumento da população humana na região, o
que acarretará num aumento da pressão dos recursos naturais, em grande parte já
impactados pelo próprio empreendimento?
O incremento de população em função do AHE Belo Monte, conforme detalhado no Volume
29 – Avaliação de Impactos, paginas 73 a 173, ocorrerá de maneira localizada, com maior
afluxo de população para os municípios de Altamira (sede) e Vitória do Xingu (sede, Belo
Monte e proximidades dos canteiros de obra do barramento principal e canais) e Anapu (Belo
Monte do Pontal).
Portanto, a população que afluirá para a região deverá se fixar, preferencialmente, nas áreas
urbanas das duas sedes municípais, além dos povoados e áreas rurais próximas aos canteiros
de obra, principalmente em função de nestes locais estarem previstos a instalação dos
alojamentos de trabalhadores.
Os impactos associados ao aumento da população humana na região do empreendimento
foram avaliados considerando a intensificação do uso dos recursos naturais, da pressão sobre
a cobertura vegetal, sobre os recursos faunísticos (em especial ictiofauna) e florísticos. Tais
impactos encontram-se descritos nos Volumes 29 e 30 – Avaliação de Impactos Ambientais,
respectivamente, partes 1 e 2 do EIA.
Os impactos decorrentes do aumento de população humana foram caracterizados e
interrelacionados na rede de precedência que pode ser observada nos Volumes
supramencionados, cuja organização é apresentada no Quadro 10.3.1, página 39 do Volume
29. Este quadro apresenta os impactos significativos e ações ambientais propostas para o AHE
Belo Monte, organizados por etapa do empreendimento, rede de precedência associada e
ações propostas nos programas e planos relacionados.
Destacam-se, a seguir, alguns impactos prováveis de ocorrerem e que tem relação com o
aumento da população humana:
- Intensificação do uso e ocupação desordenada do solo, em especial no entorno dos
canteiros de obra e alojamentos de trabalhadores (cuja descrição e avaliação estão
entre as páginas 91 e 97, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1);
- Intensificação da perda de cobertura vegetal (cuja descrição e avaliação estão entre
as páginas 270 a 275, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1);
- Aumento da perda de habitats naturais (cuja descrição e avaliação estão entre as
páginas 276 a 284, do Volume 29 – Avaliação de Impactos – Parte 1).
Para mitigar, compensar ou controlar tais impactos foram previstos vários planos, programas
e projetos ambientais que são apresentados em detalhe no Volume 33 – Planos, Programas e
Projetos. No entanto, para os impactos de intensificação de cobertura vegetal e aumento da
perda de habitats naturais destacam-se os seguintes programas propostos:
- No âmbito do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o Programa de
Conservação e Manejo da Flora, com ênfase para os Projetos de Salvamento e
Aproveitamento Científico da Flora e o Projeto de Formação de Banco de
45
Germoplasma, como também o Programa de Proteção e Recuperação da APP dos
Reservatórios;
- No bojo do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o Programa de
Monitoramento da Flora, com ênfase para os Projetos de Monitoramento das
Florestas Aluviais e de Monitoramento Fenológico de Formações Pioneiras;
- Também no contexto do Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, o
Programa de Compensação Ambiental, englobando, em especial, o Projeto de
Criação de Unidades de Conservação, além do Projeto de Apoio às Ações de
Implantação e Manejo de Unidade de Conservação já Existente;
- Plano Ambiental de Controle e Uso do Entorno dos Reservatórios Artificiais –
PACUERA; e
- No contexto do Plano Ambiental de Construção, a implementação do Programa de
Recuperação de Áreas Degradadas.
Para o impacto relacionado à intensificação do uso e ocupação desordenada do solo é
previsto o desenvolvimento de programas ambientais que integram o Plano de Articulação
Institucional, a saber: Programa de Fortalecimento da Administração Pública; e Programa de
Apoio à Gestão dos Serviços Públicos.
Ainda, segundo o EIA, em especial no tocante à Altamira, Vitória do Xingu e Belo Monte,
devem ser também destacadas ações atinentes aos Programas de Intervenção previstos para
estes locais, inseridos no Plano de Requalificação Urbana.
Há ainda o programa ambiental de construção que tem o intuito de controlar ações antrópicas
inerentes à construção do empreendimento e promover a gestão ambiental do mesmo,
durante a fase de implantação.
14. O EIA / RIMA não estima as conseqüências da introdução e transposição de
espécies. O impacto pode ser muito grande para a pesca!
A introdução involuntária de espécies por meio da transposição de peixes requer que (a) o
método de transposição facilite o transporte passivo de espécies, (b) que passariam a ter
acesso a uma área biogeográfica distinta, antes intransponível para elas. Esse impacto não
acontecerá na AHE Belo Monte.
A Barragem Principal do empreendimento localiza-se no Sítio Pimental, no qual não existe
uma barreira natural que impeça a livre locomoção da ictiofauna. O diagnóstico da ictiofauna
aponta para similaridade de cerca de 65% entre as espécies localizadas acima e abaixo
daquele barramento (Volume 16, páginas 42 a 51 e gráfico 7.8.4.1 – 4 na página 46). O
diagnóstico da ictiofauna também apresenta evidências genéticas de conectividade entre as
populações de curimatãs localizadas a jusante e a montante do barramento, cujas migrações
seriam assim interrompidas pelo barramento no Sítio Pimental (Volume 16, páginas 152 a 163
e figura 7.8.4- 35). Para mitigar esse impacto, foi proposto um método de transposição, tipo
canal de deriva, no Sítio Pimental, que mantivesse o estímulo migratório necessário para atrair
os peixes em piracema, que continuariam migrando rio acima pela correnteza do canal de
desvio (Volume 33 – Projeto de Implantação e Monitoramento de Mecanismos de
46
Transposição de Peixes – página 181 a 184). Portanto, as espécies que poderão ter acesso ao
canal de desvio são as mesmas que atualmente se locomovem livremente pelo canal do rio e
que terão seu trajeto interrompido pela implantação da barragem.
A única barreira natural efetiva na região, representada por fortes cachoeiras, localiza-se bem
a jusante da barragem principal, próximo ao Sítio Belo Monte. Os estudos da ictiofauna
apontam para similaridade de apenas cerca de 30% das espécies dos trechos localizados a
jusante e montante dessas cachoeiras (Volume 16, páginas 42 a 51 e gráfico 7.8.4.1 – 4 na
página 46), mas, nem mesmo esse trecho parece intransponível aos peixes migradores
(Volume 16, páginas 152 a 163 e figura 7.8.4- 35). Neste trecho, nenhum método de
transposição será implantado, aquelas cachoeiras continuarão existindo e as espécies
migradoras continuarão tendo livre acesso para migração até o Sítio Pimental.
15. Espécies de invertebrados causam grandes danos quando introduzidas em bacias
hidrográficas, gerando efeitos em toda a cascata trófica. Como aprovar um EIA /
RIMA que não leva esse tópico em consideração. Exemplo: O mexilhão dourado
(Limnoperna fortunei) é um animal asiático, introduzido nos Estados Unidos e
ENTOPE as USINAS HIDRELÉTRICAS e leva a um PREJUÍZO na ordem de
BILHÕES de dólares por ANO.
Ao contrário do que afirma a pergunta, o EIA avaliou os impactos decorrentes da introdução
de espécies. Este impacto está descrito no Volume 29 – Avaliação de Impacto sob o título
“Aumento na População de Espécies Exóticas (Flora e Fauna)”, na página 141.
A literatura mostra que o mexilhão dourado está presente na bacia do rio da Prata e foi
introduzido na América do Sul em água de lastro de navios. Ultimamente tem atingido a bacia
do alto rio Paraguai sendo constatado em três pontos no Pantanal.
Está em curso um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento coordenado pela Eletronorte e
desenvolvido em conjunto com o laboratório Lactec de Curitiba- PR. Este estudo visa
estabelecer um Modelo de Análise de Risco para Bioinvasões Aquáticas: Estudo de Caso do
Mexilhão Dourado, sendo que um dos objetivos é a elaboração do banco de dados que servirá
de suporte ao modelo de análise de risco para bioinvasões aquáticas.
Até o momento foram percorridos vários pontos estratégicos da bacia amazônica, principais
rios e portos, para coletas de amostras de água para análise da presença de mexilhão dourado,
parâmetros de qualidade da água (pH, temperatura, oxigênio dissolvido, turbidez e
condutividade), presença de indivíduos adultos de Limnoperna fortunei e Corbicula fluminea.
Também estão sendo levantados os vetores de dispersão, tais como barcos de pesca amadora e
profissional, embarcações comerciais, transportes de materiais úmidos (areia e pedra),
transporte de peixes vivos e alevinos para a piscicultura, aquariofilia, entre outros.
Os levantamentos feitos no ano de 2008 nos principais rios amazônicos: Tocantins, Araguaia,
rio Pará, Solimões, Negro, Tapajós, Mearim, Itapecuru, bem como em alguns reservatórios de
hidrelétricas da região, não registraram presença e danos causados por estas espécies
invasoras asiáticas na Amazônia.
No entanto, como medida de prevenção e controle foi previsto no âmbito do EIA o Programa
de Monitoramento de Qualidade de Água e Limnologia, o qual deverá levantar parâmetros
que permitam a identificação da possível introdução do mexilhão dourado Limnoperna
47
fortunei na região. Os programas relacionados ao monitoramento da qualidade da água estão
descritos no Volume 33 do EIA.
Vale esclarecer que o principal meio de ampliação da área de dispersão do mexilhão dourado
(espécie asiática) é através do deslocamento de barcos, por água ou via terrestre, como
também por guelras de peixes e outros animais. Desta forma, desde 2003, as autoridades
competentes estão mobilizadas, tentando combater a propagação do mexilhão dourado no
Brasil, com a criação de uma força tarefa (Portaria MMA, n°494, de 22/12/03). Este grupo
visa avaliar o impacto e delinear as medidas a serem tomadas para o controle, incluindo a
divulgação e conscientização de todos que utilizam os rios com a finalidade profissional ou de
lazer, como também estimular medidas de controle que já estão sendo adotadas em
empreendimentos hidrelétricos em operação e tem se mostrado efetivas.
16. O projeto traz conseqüências sobre o rio Bacajá? Quais as conseqüências sobre a
vida das pessoas que moram rio Bacajá acima, a partir da sua foz no Xingu,
incluindo indígenas da TI Trincheira Bacajá, homologada ?
O EIA apresenta em diversos momentos as interferências que o AHE Belo Monte causará no
rio Bacajá sobre os diversos temas de estudo. Entretanto, para atendimento à solicitação de
informações complementares ao EIA, todos os temas foram integrados em um único
documento e apresentado como anexo aos Estudos Etnoecológicos – Análise Ambiental,
entregue ao IBAMA e FUNAI em 10/07/09.
Com relação às alterações hidrológicas do rio Bacajá, o EIA apresenta no volume 11 –
Diagnóstico da AID e ADA, pags. 138 a 172, uma caracterização do escoamento não só no rio
Bacajá mas nos outros afluentes do rio Xingu, pela margem direita, que se localizam no
trecho de vazão reduzida. Esse estudo foi complementado com o resultado de novas seções
topobatimétricas e apresentado ao IBAMA como atendimento aos itens elencados no Parecer
COHID/CGENE/DILIC/IBAMA no 29/2009, considerados necessários à análise de mérito
dos estudos ambientais do AHE Belo Monte.
O objetivo desse estudo de modelagem dos afluentes foi avaliar a interferência física que a
redução de vazão provocará nos mesmos. O que os estudos mostraram é que a interferência
do rio Xingu no rio Bacajá é maior do que nos demais afluentes e a redução de vazão na calha
do rio Xingu na Volta Grande impacta diretamente as planícies de inundação hoje aí
verificadas, importante refúgio da ictiofauna.
Dessa forma, parte da bacia do rio Bacajá foi considerada, no EIA, dentro das áreas de
influência do empreendimento e verifica-se que a parcela da bacia do rio Bacajá inserida na
AID (Meios Físico, Biótico e Socioeconômico e Cultural) é aquela que efetivamente sofrerá
impactos diretos advindos do empreendimento e que poderão resultar em efeitos negativos
para a comunidade indígena Xikrin do Bacajá, avaliada no volume 35 do EIA “Estudos
Etnoecológicos”- Tomo 5 – TI Trincheira Bacajá”. Isto porque:
Os estudos de detalhe de remanso realizados no rio Bacajá, inclusive à luz de
levantamentos topobatimétricos realizados ao longo desse corpo hídrico, mostram
que a influência da redução de vazão no rio Xingu estará restrita a uma extensão de
25 a 30 km a partir da foz do rio Bacajá e, portanto, inferior à extensão de 40 km
assumida como limite da AID no EIA.
48
Essa influência hidráulica se fará sentir sobre diferentes variáveis ambientais,
implicando na redução das áreas inundáveis nesse trecho de 30 km do rio Bacajá,
com consequentes impactos diretos sobre a vegetação associada a essas planícies
aluviais, sobre a fauna aquática (ictiofauna e quelônios aquáticos) que têm nessas
planícies ambientes propícios à sua nidificação, abrigo e alimentação, com
conseqüências para a pesca e a caça, e também sobre a navegação nesse trecho final
do rio Bacajá.
Os estudos da TI Trincheira Bacajá indicam que o limite perimetral dessa TI que
intercepta o rio Bacajá situa-se a 51 km de sua foz no rio Xingu e, portanto, livre dos
efeitos diretos de redução das planícies de inundação derivados da redução de vazão
no Trecho de Vazão Reduzida. A primeira aldeia Xikrin de Bacajá (Aldeia
Pykaiaká), localiza-se 6 km a montante dessa interseção e, portanto, a 57 km da foz.
Observando-se o Mapa de Uso e Ocupação Indígena apresentado no volume 35 do
EIA e reproduzido no Parecer anexo ao Documento Estudos Etnoecológicos –
Análise Ambiental, verifica-se que as áreas de caça e coleta extrativista apontadas
pelos moradores dessa aldeia localizam-se distantes da margem do rio, associados a
igarapés e grotas presentes na TI e que não serão afetadas por efeitos de remanso do
rio Xingu sobre o rio Bacajá. Há que se observar, neste sentido, que mesmo áreas de
pesca localizadas nas margens do rio, e que são utilizadas pelos indígenas, não
sofrerão impactos diretos de perda de ambientes para a ictiofauna.
Os estudos mostram que dificuldades sobre a navegação deverão ocorrer na porção
do rio Bacajá que sofrerá a influência direta da redução de vazão no rio Xingu – os
25 a 30 km anteriormente mencionados, principalmente quando se considera que as
profundidades se reduzirão até 3 m por um período superior ao que ocorre hoje.
Os estudos apresentados reconhecem que outros impactos que poderão interferir
negativa e diretamente no modo de vida dos Xikrin de Bacajá podem ser advindos de
frentes de ocupação que já se fazem sentir, em especial, nas porções sul e leste do
território indígena. Esses impactos poderão exercer uma pressão sobre a atividade
pesqueira e alterar a qualidade da água, dado que o recurso hídrico que drena a TI
Trincheira Bacajá tem sua qualidade determinada pelos usos que se faz do recurso a
montante ou interiormente à própria área indígena. Assim, processos de erosão
associados à ocupação antrópica ou a desmatamentos a montante poderão alterar a
turbidez da água ou a deposição de sedimentos ao longo do rio.
O incremento dessas pressões antrópicas sobre a TI, e as consequentes alterações na
qualidade das águas, não podem ser atribuídos diretamente à implementação do AHE
Belo Monte. Isto porque, o estudo mostra que, a despeito de se ter um número
significativo de pessoas atraídas pelo empreendimento, não há motivos para se
antever que a região no entorno da TI Trincheira Bacajá possa vir a representar um
fator de fixação territorial. O estudo de distribuição dessa população mostra que o
entorno dos Sítios Construtivos e as cidades de Altamira e Vitória do Xingu, e
mesmo aquelas localidades situadas na Volta Grande do Xingu, às margens do
Trecho de Vazão Reduzida, como Ressaca e Ilha da Fazenda serão locais mais
atrativos. Isto porque a infra-estrutura nesses locais é melhor, além de serem mais
próximos dos centros onde estarão os serviços.
49
Como forma de atenuação aos impactos avaliados foram desenvolvidos planos e programas,
indicados no próprio EIA, como forma de mitigação e monitoramento das condições de vida
da população de todo o trecho da Volta Grande além dos programas específicos dos estudos
etnoecológicos da TI Trincheira Bacajá, tais como:
Programa de Conservação e Manejo da Flora, visando incentivar a recomposição da
mata ciliar do rio Bacajá e dos rios e igarapés afluentes a ele;
Projeto de Criação de Unidades de Conservação, visando reforçar a necessidade de
implantação das UCs propostas no EIA, que contribuirão para a proteção de suas
fronteiras, proteção das margens do rio Bacajá, evitando processos de ocupação
irregular, simplificação de habitats e degradação de áreas ambientalmente sensíveis;
Programas de Conservação da Fauna Terrestre e Aquática e Programa de
Monitoramento da Flora, com o objetivo de acompanhar a evolução da vegetação
aluvial e das ilhas e pedrais utilizados pelas populações indígenas;
Programa de Conservação da Ictiofauna, estendendo-se o monitoramento ao longo do
rio Bacajá;
Programa de Monitoramento Limnológico e de Qualidade da Água e Programa de
Monitoramento Hidráulico, Hidrológico e Sedimentológico do rio Bacajá.
Programa de monitoramento das condições de navegação, visando a identificação de
problemas anteriormente à conclusão das obras
17. Quais as conseqüências da obra proposta sobre o lençol freático na Volta Grande
(baixo) e na cidade de Altamira (alto)?
As conseqüências da implantação do AHE Belo Monte sobre o lençol freático na Volta
Grande do rio Xingu foram avaliadas no EIA no volume 31 – Avaliação de Impactos- parte3
(pags. 229 a 233) sobre o ponto de vista do comprometimento do abastecimento por poços
rasos.
Para avaliar os impactos da alteração na dinâmica de escoamento fluvial no trecho de vazão
reduzida e suas alterações sobre o nível do lençol freático, foram selecionados três locais para
uma análise hidráulica detalhada, conforme apresentado no EIA:
- Margem esquerda do rio Xingu na altura da Ilha Pimental, o trecho entre a barragem e
o núcleo de referência rural São Pedro;
- Margem esquerda do rio Xingu em frente a TI Paquiçamba, e
- Margem direita nas proximidades da foz dos afluentes: Ituna; Itatá; Bacajaí; e Bacajá.
Um dos impactos mais significativos ocorre no trecho de 10km do rio Xingu, na margem
esquerda da Ilha Pimental, onde se localiza o núcleo de referência rural de São Pedro. Por este
canal são veiculadas atualmente cerca de 10% das vazões totais do Xingu, ocorrendo
variações sazonais de vazão que fazem parte dos processos de inundação das ilhas fluviais e
áreas alagadiças marginais aos canais. Nos estudos de viabilidade, não foram previstos
50
vertedouro ou outro tipo de estrutura para veicular as vazões que normalmente passam por
estes canais, ou seja, não haverá vazão nesse trecho com extensão aproximada de 10km.
Avaliações feitas no capítulo de recursos hídricos do diagnóstico da ADA/AID do meio
físico, Volume 11, demonstraram que a parte mais de jusante deste canal, mais próximo ao
final da Ilha Pimental, será alimentada pelo nível de jusante.
Outro impacto relevante poderá ocorrer na região da TI Paquiçamba. Análises das linhas
d‟água e velocidades e de imagem de satélite mostraram que nessa seção, este braço do rio
Xingu ficaria praticamente seco, com alguma quantidade de água com baixíssima velocidade
de escoamento.
O que se conclui no EIA é que com a diminuição na quantidade de água que escoa esse trecho
da Volta Grande ocorrerá rebaixamento do lençol freático, o que poderá afetar os aqüíferos
constituídos por aluviões e por solos de alteração de rochas do Complexo Xingu. Esse
rebaixamento condiciona e compromete o abastecimento por poços rasos nesta região.
Nos 10 km do barramento até o núcleo de referência rural de São Pedro o impacto no lençol
freático será maior do que no restante do trecho, portanto, foi adotado no EIA a possibilidade
de relocação da população que vive próxima ao rio ou nas ilhas desse trecho.
Os níveis d`água dos poços cadastrados responderam às variações do nível do rio Xingu quase
que diretamente. Esse comportamento é de importância para os poços rasos com
profundidades predominantes da ordem de 3 a 5,0 m especialmente para aqueles instalados
em aluvião a jusante do barramento, tanto nas planícies fluviais como nas ilhas. Em situações
de estiagem observadas atualmente, esses poços têm os níveis d `água rebaixados ou têm sua
qualidade de água alterada e alguns secam, sendo sua utilização interrompida até o
enchimento do rio.
No trecho onde esses poços foram identificados, a redução acentuada de vazões deverá
provocar impacto direto sobre o abastecimento feito dessa forma. Como medida de mitigação
o EIA previu no Programa de Recomposição da Infra-estrutura Rural, Projeto de
Recomposição da Infra-Estrutura de Saneamento, volume 33 – Planos, Programas e Projetos
(pags. 255 e 256), que visa dotar as comunidades afetadas de condições adequadas de água e
esgoto.
Outro impacto avaliado no EIA, como um impacto derivado da alteração do escoamento no
trecho de vazão reduzida, está relacionado à diminuição da umidade do solo, tratado no
volume 31, é a alteração na vegetação presente na região das ilhas como também das margens
dos igarapés e do rio Xingu (Floresta Ombrófila Aluvial), os quais estão descritos nas pags.
201 a 207. Neste aspecto poderá ocorrer alteração da composição das espécies vegetais
alterando a fitossociologia desta formação, em função das condições ecológicas de adaptação
ao alagamento sazonal.
Esse impacto sobre a vegetação aluvial é também possível de ocorrer nas florestas dos
tributários da margem direita do rio Xingu e em todo o trecho deste rio que será submetido a
redução da vazão. No caso das florestas aluviais presentes nos igarapés da margem direita, em
especial, o Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá, poderão sofrer diminuição do efeito de remanso do
rio Xingu em vazões menores que as naturais. Isto poderá promover também a diminuição
longitudinal e lateral das inundações destas formações florestais durante o período de cheia e
conseqüentes alterações também na umidade do solo, uma vez que o nível do rio Xingu de
51
toda a região da Volta Grande será alterado. Então, os impactos relacionados a alteração de
composição e estrutura das comunidades florísticas também são possíveis de ocorrência para
as formações que margeiam estes igarapés.
No conjunto de Programas Ambientais, foram previstos Programas de monitoramento e
conservação da flora, cuja a tônica é buscar soluções adequadas, após o conhecimento do
comportamento fenológico destas espécies para manter a funcionalidade destes hábitats
sazonais. Dentre estes, o Projeto de Monitoramento das Florestas Aluviais tem como objetivo
monitorar os padrões fenológicos existentes e evolutivos dos principais grupos de plantas
existentes nas formações de florestas ombrófilas densas aluviais, nas áreas dos reservatórios e
no Trecho de Vazão Reduzida de forma a propiciar a ocorrência de ambientes adequados para
o desenvolvimento da ictiofauna, dos quelônios e de outros organismos que dependem das
florestas aluviais. Outro objetivo deste projeto é conhecer os padrões fitossociológicos
vigentes e quais alterações que ocorrerão em função da implantação e operação do
empreendimento.
Acredita-se que em decorrência do grande prazo existente para que o trecho de vazão
reduzida se torne um trecho com oferta menor de água, adaptações poderão ser assimiladas
com alterações no tipo de vegetação e na fauna associada dessas ilhas de margem que não
mais serão inundadas, mas a conservação desses ambientes pode ser uma medida
compensatória ao impacto avaliado.
a) Altamira
A avaliação do comportamento do lençol freático de Altamira está no volume 11-
Diagnóstico da AID e ADA, Capítulo 7.7.3 referente às Águas Subterrâneas, no item 7.7.3.4
- Avaliação do Comportamento do Lençol Freático (pags. 208 a 215) e os impactos
associados a elevação do nível do freático no volume 31 de Avaliação de Impactos – parte 3,
item 10.4.3.1.1. – Impactos associados ao processo de inundação das áreas para formação dos
reservatórios (pags. 24 a 27). Essas avaliações foram feitas com base em critérios
hidrogeológicos e a partir de levantamentos de campo em mais de 60 poços, com leituras
diretas de nível d`água, em três campanhas desenvolvidas em abril, junho e setembro de
2007, considerando as variações sazonais das vazões e de níveis d`agua do rio Xingu. Além
disso foram obtidas através de entrevistas as profundidades de níveis d´água observadas nas
cheias maiores.
Conforme avaliado no diagnóstico, os poços cadastrados em Altamira são, de maneira geral,
poços rasos, do tipo cacimba e poucos são do tipo tubular, sendo os mais rasos aqueles
localizados junto aos igarapés e sobre os aluviões, nas porções planas da cidade, enquanto
aqueles mais profundos estão localizados nas porções de relevo mais elevado.
Na avaliação do comportamento do lençol freático de Altamira foi considerado que, na
situação com o reservatório, os níveis de água no rio Xingu, nas cheias médias, estarão
apenas da ordem de 1 metro acima do nível atual sem o reservatório e haverá uma
eliminação das grandes variações sazonais observadas atualmente, devido ao reservatório na
cota 97 m. Observa-se que nos anos secos a flutuação sazonal é reduzida a menos de um
metro acima da cota 97 m.
Os resultados dessas campanhas de campo foram sintetizados em mapas com as linhas
equipotenciais elaboradas para os poços instalados no aluvião, para cada uma das três
52
campanhas (Desenhos 6365-EIA-DE-G91-019 a 021) e também em um mapa das
profundidades obtidas para os níveis d`água nas três campanhas efetuadas e das
profundidades estimadas para as grandes cheias, onde também são apresentadas linhas de
isoprofundidades (Desenho 6365-EIA-DE-G91-022).
Com base na análise desses estudos, concluiu-se que os níveis d`água dos poços instalados
no aluvião responderam às variações do rio Xingu. Também, como apresentado nos estudos
do EIA, com o conhecimento de que o nível d`água do reservatório em Altamira deverá
situar-se entre as cotas 97 m (praticamente o mesmo nível do rio Xingu quando da primeira
campanha em abril de 200, nas cotas 96,70 a 96,76m) e até por volta da cota 99,0 m nas
cheias, concluiu-se que na situação com o reservatório, os níveis de água do lençol freático
e/ou cargas hidráulicas deverão ser na maior parte do tempo bastante próximos àqueles
obtidos na primeira campanha efetuada entre 17 a 19 de abril de 2007 , mostrados no Desenho
6365-EIA-DE-G91-019, e para as épocas de cheias algo mais mais elevados. Será, portanto,
eliminada grande parcela das variações sazonais observadas nesses níveis.
Em decorrência da elevação permanente dos níveis de água subterrânea nos aluviões de
Altamira, devido à implantação do reservatório do Xingu, estão previstas inundação,
surgências de água, perenização e formação de novas áreas úmidas e alagadas conforme
descrito na resposta 63.
Esse impacto foi avaliado como de magnitude alta e como medida o Plano de Requalificação
Urbana de Altamira prevê o tratamento dessas áreas que serão formadas a partir da
reurbanização das baixadas existentes.
Durante as campanhas de medidas de níveis d`água dos poços instalados no aqüífero
superficial, concluiu-se que a qualidade da água que é extraída do aluvião está comprometida
em vários locais da cidade pela presença de diversas fontes de contaminação, como cemitério,
postos de gasolina e inexistência de rede de esgoto e presença de fossas. Inclusive, durante
essas campanhas, foram obtidas informações de existência de contaminação de poços por
postos de gasolina. De fato, as amostras de água coletadas e analisadas quando das três
campanhas da hidrogeologia caracterizaram essa contaminação do aqüífero superficial
constituído pelo aluvião.
À elevação permanente dos níveis de água subterrânea superficial estará associado um
acréscimo na vulnerabilidade à contaminação do aqüífero aluvionar pela saturação das fontes
de contaminação ou a proximidade do nível d‟água dessas fontes, apesar de que esse aqüífero
já se apresenta contaminado.
Esse impacto foi avaliado como de ocorrência certa e o prazo para a manifestação da elevação
dos níveis freáticos/cargas hidráulica em Altamira é imediato/curto prazo devido às altas
condutividades hidráulicas que caracterizam o aluvião. É um impacto irreversível e de
relevância alta, pois apesar da elevação do nível freático já ocorrer atualmente nas cheias, a
partir da formação do reservatório é que a elevação terá caráter permanente e com baixo nível
de oscilação sazonal. Essa condição levará a alterações na qualidade da água subterrânea
extraída do aluvião para abastecimento.
A medida proposta para o abastecimento de água em Altamira faz parte do Plano de
Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no volume 33 –
Planos, Programas e Projetos (págs. 310 a 325). Este Programa prevê a implantação de redes
53
de abastecimento de água para as áreas a serem objeto de reassentamento da população, para
as áreas destinadas às habitações dos funcionários vinculados às obras que terão residência em
Altamira, bem como aquelas a serem ocupadas pela população afluente a Altamira com a
implantação das obras, o que, em conjunto, corresponde a aproximadamente 50% da área
ocupada da cidade. Prevê ainda a implantação de nova captação de água e estação de
tratamento.
Na próxima etapa de licenciamento, após o leilão, haverá detalhamento das condições de
abastecimento em Altamira e serão incluídos na rede de abastecimento a ser fornecida pelo
empreendedor todos os estabelecimentos alimentados por poços rasos, onde a água estiver
contaminada ou avaliada a alternativa de captação de água subterrânea com a utilização de
poços profundos, devido a existência de áreas promissoras em camadas de arenito das
Formações Maecuru e Ererê, localizadas em profundidades entre 200 a 230 metros.
18. Quais as conseqüências sobre a vida dos moradores da área rural dos travessões da
Transamazônica, e que ficariam nos trechos médios e inferior de vários igarapés
que ficariam seccionados pelas barragens e, portanto secos a maior parte do ano, e
cujos lençóis freáticos e poços também secariam? (em vários pontos os travessões
da Transamazônica seriam também alagados pelas represas ou canais, e a ligação
terrestre desses moradores com Altamira, Anapu e demais cidades ficaria suspensa
ou sujeita a longos desvios com encarecimento de custos).
A formação do Reservatório dos Canais implicará na obstrução ou seccionamento dos
Travessões 27, 45, 50 e 55 e alguns ramais de ligação entre eles, afetando o acesso aos
imóveis rurais de locais como Arroz Cru, Vila Rica, ou Núcleos de Referência Rural como
Santa Luzia, Deus é Amor, Bom Jardim I, Bom Jardim II, São Francisco das Chagas,
Raimundo Nonato, dentre outros locais, afetando uma ampla região entre a Rodovia
Transamazônica e o rio Xingu, Incluindo os pontos em que os travessões serão interceptados
pelos canais de derivação, criando dificuldade de acesso para muitos imóveis rurais.
Mesmo que grande parte dessas áreas seja usada para a formação do Reservatório dos Canais,
ainda permanecerão no local dezenas de imóveis e famílias residentes, para as quais devem
ser reconstituídos os acessos, garantindo condições satisfatórias para o escoamento da
produção e o deslocamento da população. Tais ações estão apresentadas no Programa de
Recomposição da Infraestrutura Viária, descrita no Volume 33 do EIA.
Quanto a restrição de circulação decorrente da formação dos canais, está previsto no projeto
de engenharia do AHE Belo Monte a implantação de balsa para a travessia do canal, de forma
a evitar a ocorrência de grandes desvios de percurso para a população.
19. Com base em que é proposto um sistema experimental de transposição de peixes,
se o EIA não apresenta evidências de que a transposição da volta grande seja
necessária para uma porção representativa da fauna aquática (na verdade para
nenhuma delas)?
Mesmo considerando que estudos necessários para o estabelecimento dos padrões migratórios
na Amazônia envolvem escala espacial regional e escala temporal mais longa que a possível
em um EIA/RIMA, o Diagnóstico da Ictiofauna (Volume 16 – 7.8.4.1.6) apresenta um
conjunto de evidências ecológicas indiretas que apontam para a necessidade de implantação
54
de um método para a transposição dos peixes migradores a serem afetados pelo barramento no
Sítio Pimental.
Os estudos referentes às “adaptações da ictiofauna ao ciclo hidrológico e aos ambientes
aquáticos” (Volume 16, páginas 116 a 123) apontam para a época de ocorrência de migrações
e a necessidade de manutenção dos sinais de sincronia migratória advindos da enchente e da
correnteza, além dos habitats para a desova e crescimento. Os estudos sobre “estratégias
reprodutivas, determinação dos locais de desova e observação da piracema” (Volume 16,
páginas 129 a 142) indicam que diversos locais de desovas encontram-se em áreas que serão
afetadas tanto a jusante como a montante do barramento. Estudos direcionados
especificamente à variabilidade genética de curimatãs e aos deslocamentos dos peixes
migradores (Volume 16, páginas 152 a 163) apontam para a conectividade entre as
populações daquela espécie ao longo dos trechos estudados a jusante a montante do
barramento, e as distribuições de freqüência de comprimentos das espécies migradoras nesses
trechos (Volume 16, páginas 142 a 151) parecem corroborar essa hipótese.
O Diagnóstico de Ictioplâncton (Volume 16 – 7.8.4.2) reforçam estas evidências. Larvas de
espécies migradoras, ainda com saco vitelínico (dois dias de idade) foram capturadas no
trecho do futuro Reservatório do Xingu sendo carreadas pela correnteza a dois metros de
profundidade. Por isto, fica claro que as obras de engenharia, que serão construídas, irão
obstruir este trânsito rio acima dos adultos, e rio abaixo dos jovens recrutas. Esta interrupção
deverá induzir alterações na abundância dos peixes migradores, abaixo do reservatório. É
provável também que mudanças na abundância destas espécies sejam observadas, a longo
prazo, a montante do reservatório, bem como a jusante das cachoeiras, como conseqüência da
interrupção deste fluxo.
Por outro lado, os Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte já previram a construção de
uma escada de peixes para viabilizar a transposição dos cardumes em migração e mitigar este
impacto. Contudo, os estudos e experiências atualmente conhecidos no Brasil indicam que as
escadas de peixes, classicamente construídas em barragens de hidrelétricas, não estão
contribuindo para as finalidades que foram planejadas. A maior parte dos trabalhos de
monitoramento dos sistemas de transposição existentes na América do Sul comprova que, em
lugar de auxiliar na conservação das comunidades ícticas, as escadas de peixes podem
contribuir negativamente, selecionando certas espécies e evitando a subida ou descida de
outras. Além disso, os peixes que sobem e desovam acima da barragem têm o sucesso
reprodutivo comprometido pela perda das larvas, que decantam na baixa correnteza das
represas (OLDANI, et al., 2007; AGOSTINHO et al., 2007a; 2007b; SANTOS, et al., 2007;
PELICICE; AGOSTINHO, 2008) .
Dessa forma, o EIA sugere uma modificação do projeto original, de uma escada de peixes
para um canal de deriva, além de solicitar que seja realizado o monitoramento deste
mecanismo de transposição dos peixes. O canal de deriva seria uma solução experimental, que
se baseia no conceito de usar um igarapé natural para essa transposição, buscando reproduzir
melhor as condições naturais, antes do barramento.
A descrição, caracterização e avaliação dos impactos relativos à “Fragmentação de
Populações – Metapopulações ou Eliminação de Espécies da Ictiofauna Intolerantes à
Perda de Conectividade Lateral ou Longitudinal entre Habitats – chave”, bem como as
ações propostas para mitigar seus efeitos foram apresentados no EIA/RIMA (Volume 29,
páginas 336 a 341).
55
20. Como pode ser incluído no projeto um sistema de eclusas ligando duas partes do
rio hoje separadas por uma barreira geográfica, sem considerada a introdução de
espécies fora de sua área de distribuição?
Muito embora estivesse previsto nos Estudos de Viabilidade a implantação de uma eclusa em
Belo Monte, essa idéia foi abandonada. Mesmo para a transposição de embarcações está
prevista a implantação apenas de um sistema hidráulico seco, sem riscos de transportar
componentes da biodiversidade conjuntamente.
O problema de introdução de espécies isoladas por barreira geográfica por meio de qualquer
outro método de transposição não existe para o caso da AHE Belo Monte, como abordado
anteriormente no item 14.
21. Uma vez que a introdução de espécies inevitavelmente resultaria do sistema de
eclusas e do sistema de transposição de peixes e este problema não é considerado
no EIA, quem responderá pela infração (Lei Federal nº 9.605 de 12 de fevereiro de
1998), para cada espécie introduzida acima do barramento?
O problema de introdução de espécies isoladas por barreira geográfica por meio de eclusas
(que não serão construídas) ou pelo canal de desvio (método proposto para transposição de
peixes) não existe para o caso da AHE Belo Monte, como abordado anteriormente nos itens
14 e 20.
22. As duas espécies de boto poderão invadir a região acima do barramento,
acompanhando os barcos no sistema de eclusas? E o que dizer de todas as outras
espécies de peixes, plantas, invertebrados e microorganismos que só ocorrem
abaixo da volta grande? Quais os impactos esperados destes eventos?
As duas espécies de boto somente ocorrem a jusante de Belo Monte, não ultrapassando os
trechos das cachoeiras, conforme apresentado e detalhadamente descritos nos Volumes 25 e
26 – Diagnóstico da ADA e AID e estudo contido no Volume 16 do EIA, Página 212.
Além disso, como mostra esse diagnóstico, as duas espécies têm distribuição distinta na ria do
Xingu. Sobre a questão dos peixes, veja resposta da questão 21. Ver também respostas das
questões 10 e 12.
No entanto, como não há previsão de implantação de sistema de eclusas no trecho de jusante,
no sítio Belo Monte, não há possibilidade de que os botos invadam a região acima do
barramento. A mesma afirmação vale para as outras espécies de peixes, de plantas,
invertebrados e microorganismos que só ocorrem abaixo da Volta Grande.
A transposição de embarcações de médio e pequeno portes, será feito a seco, usando um
sistema de elevador hidráulico a ser instalado no sítio Pimental.
Para a conservação da fauna aquática, há programas específicos previstos no âmbito dos
programas e projetos, previstos no Volume 33 do EIA.
56
23. A invasão de espécies deve ser considerada como relevante, da forma como foi
feito, em um EIA de um projeto a que acarretará estes eventos em águas
continentais?
Realmente a invasão de espécies tem sido um dos principais problemas para a conservação da
fauna e flora nativas, conforme afirmam vários documentos técnicos e instituições que atuam
na área de conservação dos recursos naturais (IUCN, Instituto Horus, MMA, etc). Espécies
terrestres e aquáticas invasoras têm acarretado prejuízos financeiros e ambientais e isso tem
sido amplamente registrado pela literatura específica.
Pela relevância deste fato, o EIA avaliou os impactos decorrentes da introdução de espécies,
que está descrito no Volume 29 – Avaliação de Impacto sob o título “Aumento na População
de Espécies Exóticas (Flora e Fauna)”, na página 141.
Para as espécies aquáticas, a literatura tem mostrado que o mexilhão dourado é a principal
espécie invasora de águas continentais brasileiras, introduzido na América do Sul em água de
lastro de navios. Conforme apresentado nas respostas das questões 15 e 24, estudos realizados
na região amazônica, até momento, não identificaram danos ambientais produzidos por
Limnoperma fortunei.
Mesmo assim, ações de monitoramento e controle são previstas nos programas ambientais do
EIA, capítulo intitulado Planos, Programas e Projetos, Volume 33 do EIA.
Recomenda-se ainda que quando do detalhamento dos programas na próxima fase do
licenciamento, no âmbito do PBA, deverão ser previstos os parâmetros para o monitoramento
de ocorrência de invasão de espécies aquáticas invasoras, visando estabelecer medidas de
controle, caso tal invasão ocorra.
24. Porque o EIA não considera a vulnerabilidade do empreendimento a espécies
invasoras (como Limnoperma fortunei que já é encontrada no país infestando
hidrelétricas e poderá ser introduzida na bacia amazônica), incluindo eclusas e um
sistema experimental de transposição de peixes sem justificativa?
Ver resposta da questão nº 15
25. Como pode ser incluído no projeto a abertura de uma hidrovia, incluindo
dragagens e quebras do leito rochoso por uma extensão de 50 km, passando por
uma área de "importância biológica extremamente alta" (Portaria n° 9/MMA, de
23 de janeiro de 2007), sem que sejam considerados os impactos destas obras no
EIA?
A proposição de uma hidrovia apresentada na caracterização do empreendimento foi uma
proposta do estudo de viabilidade. De acordo com o texto, o rio Xingu, no local de
implantação do empreendimento, tem sua navegabilidade hoje limitada pela presença de
inúmeras corredeiras e cachoeiras no trecho da Volta Grande. O trecho de jusante, que se
estende da foz no rio Amazonas até a localidade de Belo Monte, apresenta facilidades para a
navegação que hoje já é realizada para grandes embarcações que chegam até o porto da
Petrobras.
57
Com a implantação do AHE Belo Monte e seu respectivo reservatório, seria criada uma
condição favorável para o estabelecimento de uma hidrovia no rio Xingu. Entretanto a
concretização dessa proposta passa por uma discussão que deve envolver diversos outros
atores, além do empreendedor.
26. Como pode ser considerado que o impacto no arquipélago do Tabuleiro do
Emabubal, a jusante do reservatório, será tão pequeno que não precisa ser
considerado nos estudos, se os dados de sedimentologia são escassos (EIA –Vol. 5-
AAR Meio Físico. Pág.72) e seria aberta uma hidrovia passando pelo local (EIA.
Vol. 3. Pág. 88)?
O impacto nos Tabuleiros das Tartarugas foi estudado com coleta de dados existentes
(observações sedimentométricas em Altamira, na região da barragem Pimental e nas
proximidades do canal de fuga) e coleta de dados primários: areia do fundo e das margens na
região dos tabuleiros e em diversos pontos do futuro reservatório.
Foi aplicado modelo matemático da evolução do fundo de areia na região de jusante da Casa
de Força até os Tabuleiros das Tartarugas, e foi feito estudo da origem das areias da região
dos tabuleiros.
Portanto, não pode ser dito que o assunto não foi considerado nos estudos.
Em relação aos dados escassos de sedimentologia, a referência que é feita no EIA é na Área
de Abrangência Regional, pois existem regiões na bacia onde isso acontece. Na região do
Empreendimento, por outro lado, as observações de transporte de sedimentos em Altamira
foram feitas ao longo de muitos anos e ainda hoje tem continuidade de monitoramento pela
ANA.
O volume 5 refere-se ao diagnostico de toda a bacia hidrográfica do rio Xingu e a referência
sobre a escassez de dados é para toda a bacia. Conforme demonstra o parágrado da página
citada pela questão e reproduzido a seguir, o trecho médio/baixo do rio é o mais bem servido
em dados sobre o transporte de sedimentos.
“A bacia do rio Xingu é mal servida no quesito medições de transporte sólido, ao longo dos
seus 509.000 km2 somente 6 postos contam com medições de descargas sólidas, mesmo
assim com número reduzido de medições e concentrados na sua totalidade no trecho
médio baixo e baixo da bacia.”
Foi essa base de dados fornecida pelas estações localizadas no trecho médio/baixo do rio
Xingu que permitiram a modelagem matemática efetuada no diagnóstico da AII, abaixo
referenciada e permitiu as conclusões transcritas a seguir.
Volume 7 – Diagnóstico da AII – Meio Físico, item 7.4.3.6 Caracterização Hidráulica e
Sedimentologica a Jusante da Casa de Força
“A partir dos dados disponíveis, dos cálculos efetuados e com os conceitos gerais mostrados
anteriormente foi possível concluir que:
i) Os cálculos da capacidade de transporte sólido de fundo e total por cinco métodos
diferentes, de uso consagrado, mostram que para as vazões que compreendem a modeladora
58
(entre 6.357 m3/s e 9.542 m
3/s) as concentrações são nulas ou próximas a isso no trecho a
jusante da seção S15 e entre as seções S11 e S15, onde se encontram os bancos de areia
Juncal e outros. Mesmo para a vazão excepcional de 32.109 m3/s, a jusante da seção S15
(inclusive) as concentrações são modestas no trecho dos bancos (entre S11 e S15). Portanto,
esses resultados demonstram ser este trecho uma zona deposicional e o trecho das ilhas são
os pontos de deposição natural.
ii) Os cálculos demonstram que para a vazão modeladora há uma predominância de
transporte de fundo, em face da baixa capacidade do escoamento manter sedimentos em
suspensão. No trecho dos bancos de areia, cerca de 80% dos sedimentos não ultrapassam
10% da profundidade da coluna de água. Com isto os resultados das equações de transporte
sólido total e de fundo tendem a se aproximar (da mesma ordem de grandeza). Uma
interpretação que se pode dar é que realmente este trecho é de deposição, dada a baixa
capacidade de transporte sólido em suspensão.
iii) Os critérios para a determinação da condição crítica de início de transporte de fundo
(Shields – por Van Rijn) e em suspensão (Van Rijn), mostram que nos trechos dos bancos
(entre seções S11 e S15) e a jusante até a foz, não há condições de remoção dos sedimentos
do leito ou de ressuspenção até o limite das areias muito finas e siltes (d=0,06mm). Esta
afirmação vale para a faixa de vazão modeladora.”
27. Como pode ser considerado suficiente um estudo bioespeleológico em cavernas
classificadas como de "importância biológica extremamente alta" (Portaria n°
9/MMA, de 23 de janeiro de 2007 (ver EIA. Vol.33. Pág. 155), na qual já foram
observadas espécies adaptadas a estes ambientes (TRAJANO & MOREIRA, 1991),
sendo que apenas 5 das 48 morfoespécies encontradas foram identificadas (EIA –
Espeleologia – Anexo 5)?
Há um claro equívoco na classificação das cavernas apontada na pergunta; esclarece-se que a
classificação "importância biológica extremamente alta", cujo trecho foi extraído do EIA
(página 155) refere-se às áreas indicadas como prioritárias para conservação da
biodiversidade na Amazônia, que podem vir a constituir Unidades de Conservação de uso
sustentável ou proteção integral. Este indicação é preconizada por vários documentos
técnicos, científicos e legais, como por exemplo, Capobianco (2001) e a Portaria n° 9/MMA,
de 23 de janeiro de 2007. Entre elas, encontra-se a área AM 183, denominada Cavernas da
Volta Grande, que além da vegetação e dos ambientes aluviais considerados ecologicamente
relevantes, também apresenta abrigos e cavidades naturais.
Especificamente para cavernas, discussões envolvendo especialistas no assunto têm sido
realizadas nos últimos anos para apontar metodologias adequadas que permitam classificar a
relevância destes ambientes, os quais apresentam características únicas e específicas.
No âmbito desta discussão metodológica, cabe ressaltar que as cavidades naturais são
consideradas, conforme a Constituição Federal Brasileira (Artigo 20, X), bens da União.
A importância da preservação do patrimônio espeleológico é ressaltada em diversos itens da
legislação concernente sobre o tema, incluindo a Resolução CONAMA nº. 5 de 6 agosto de
1987, que instituiu o Programa Nacional de Proteção do Patrimônio Espeleológico com
objetivos de identificar, cadastrar, inventariar, proteger, recuperar e gerenciar este patrimônio.
59
Assim, observa-se também que os estudos procuraram considerar a legislação sobre cavidades
naturais subterrâneas, entretanto, essa legislação está sendo objeto de várias alterações.
Recentemente, o Decreto nº 6640, de 7 de novembro de 2008, alterou as disposições sobre a
proteção das cavidades naturais subterrâneas. Conforme esse Decreto, essas cavidades serão
classificadas de acordo com quatro graus de relevância: máximo, alto, médio e baixo, a ser
determinado pela análise de vários atributos avaliados sob o enfoque regional e local e
classificados em termos de sua importância (acentuada, significativa ou baixa). A
metodologia para a classificação do grau de relevância das cavidades naturais subterrâneas
seria estabelecida no prazo de sessenta dias a partir data da publicação do Decreto nº. 6640,
pelo Ministério do Meio Ambiente, ouvidos o Instituto Chico Mendes, IBAMA e demais
setores governamentais afetos ao tema, conforme o referido Decreto. Mais recentemente, foi
publicada uma Instrução Normativa nº 2, de 20 de agosto de 2009, que indica a metodologia a
ser adotada para estabelecer o grau de relevância para as cavidades naturais brasileiras.
Os estudos espeleológicos no âmbito do EIA considerando os parâmetros apresentados nesta
metodologia, demonstram que não haverá impactos diretos na caverna Kararaô, que em
conformidade com os atributos apontados na IN nº 2/09 pode ser considerada de máxima
relevância. Por outro lado, em função da proximidade desta caverna com o reservatório dos
Canais, medidas de controle da estanqueidade e de proteção desta importante cavidade são
previstas no Volume 33 – Planos, Programas e Projetos do EIA.
28. Quantas espécies endêmicas das cavernas ameaçadas de inundação estão sendo
colocadas em risco com este projeto?
Apenas os abrigos localizados na calha do rio Xingu serão afetados pela inundação do
Reservatório do Xingu com a implantação do projeto, são eles: abrigos da Gravura, Assurini e
Abutre. (Ver FIGURA 28-1, “Localização das cavernas/grutas e abrigos/locas em relação ao
reservatório, do documento “Relatório Levantamento do Patrimônio Espeleológico –
Atendimento ao Termo de Referência do CECAV”, aqui reproduzida).
60
FIGURA 28- 1 - Localização das cavernas/grutas e abrigos/locas em relação ao reservatório.
61
Estas cavidades possuem dimensões pequenas e estão localizadas em paredões muito
próximos ao rio Xingu, constituindo habitats sazonais para espécies de invertebrados e outros
animais. Desta forma, durante as cheias, os abrigos Assurini e da Gravura ainda apresentam
alguns locais emersos, que continuarão disponíveis para a fauna específica, após a formação
do reservatório. Já o abrigo do Abutre fica totalmente submerso durante o período de cheia
normal do rio Xingu.
Nestes abrigos (da Gravura, Assurini e Abutre), apesar dos reduzidos tamanhos, foram
registradas altas riquezas de espécies, pois a vegetação do entorno ainda está bem preservada,
sem indícios de impacto por desmatamentos e posterior estabelecimento de pastagens, como
observado nas proximidades da Caverna Kararaô, por exemplo. As entradas destes abrigos
localizam-se diretamente nas margens do rio Xingu e, em função do regime de cheias do rio
Xingu, cabe ressaltar que boa parte da fauna provavelmente configura-se como acidental ou
troglófila (e.g., formigas, cupins, alguns coleópteros, caranguejos braquiúros, aranhas
caranguejeiras, aranhas Pholcidae, aranhas Theridiosomatidae, amplipígeos Heterophrynidae).
Entre estas, duas espécies da fauna típicamente epígea (que utilizam ambientes fora da terra)
foram encontradas no Abrigo da Gravura e são consideradas pouco comuns: uma espécie de
Onycophora e um Arachnida Schizomida.
Especificamente nos abrigos que serão diretamente afetados pela inundação do Reservatório
do rio Xingu, houve registros de espécies troglófilas, que também são encontradas
amplamente em cavernas de outras regiões brasileiras (percevejos da família Reduviidae,
aranhas das famílais Pholcidae e Theridiosomatidae, amblipígeos da família Heterophrynidae,
etc).
Portanto, respondendo a pergunta acima, nenhuma espécie endêmica de caverna será
ameaçada pela implantação do reservatório do Xingu.
Deve-se considerar que a fauna subterrânea não apresenta distribuição pontual e sim por todo
o maciço rochoso, sendo que, provavelmente, com a inundação destes abrigos, apenas uma
parte da população de alguns táxons será atingida.
Vários outros abrigos situados próximos aos abrigos que serão afetados diretamente com a
implantação da barragem do AHE Belo Monte não serão afetados pela inundação do
reservatório, pois se situam em cotas mais elevadas. As comparações dos levantamentos
realizados em períodos distintos (cheia e seca) comprovaram a existência de alta variação na
composição faunística devido à sazonalidade. Desta forma, considerando que tais abrigos
sofrem inundação periódica e que estes ambientes (ou parte destes) ficam indisponíveis para a
fauna que os utiliza em períodos de estiagem é provável que, quando tais abrigos ficarem
permanentemente inundados, a fauna ocupe outros abrigos localizados próximos, os quais não
sofrerão alteração.
Uma hipótese que explicaria esta grande sazonalidade seria o fato de que na época chuvosa os
ambientes externos ofereceriam mais alimento; já na época seca os abrigos estão disponíveis e
podem ser utilizados como um refúgio para alguns grupos da fauna, como morcegos e
andorinhas, por exemplo.
Os levantamentos realizados no âmbito do EIA demonstraram que o abrigo da Gravura no
início da época seca tem rápida ocupação da fauna terrestre nos diferentes substratos do
62
abrigo (rocha, paredes e solo) o que demonstra a importância dos abrigos da região de
Altamira para refúgio da fauna terrestre, cuja importância foi considerada na concepção dos
programas ambientais, visando a manutenção destes habitats e sua recuperação.
Medidas de proteção dos abrigos e cavernas situados na região de inserção do
empreendimento deverão ser tomadas, aliadas com a recuperação do entorno destes abrigos
(Programa de Proteção e Recuperação da APP dos Reservatórios), cuja maioria encontra-se
bastante alterado. Tais medidas e programas podem ser observados no Volume 33 do EIA.
Além disso, o Programa de Monitoramento de Fauna Terrestre, avaliando a diversidade
regional, também deverá ser implantado no âmbito do Plano de Conservação dos
Ecossistemas Terrestres; da mesma forma, o PACUERA (ambos previstos e descritos no
Volume 33 do EIA), deverá apresentar diretrizes e medidas para a conservação de habitats
relevantes e específicos de fauna e flora sensíveis a alterações ambientais.
29. Como podem ser realizados os trâmites de licenciamento de uma obra da
magnitude aqui tratadas, sendo que a sociedade não teve nenhuma oportunidade
de conhecer os dados contidos no EIA, considerando que partes deste documento
continuaram a ser acrescentadas durante e depois das audiências públicas? Quem
responde pela legalidade deste processo?
O processo de divulgação do EIA seguiu os trâmites legais definidos pelo órgão responsável
pelo licenciamento ambiental.
30. Uma vez que apenas o início da desova foi observado com a vazão de 8000 m3/s,
sendo que o ciclo de aumento do nível do rio ainda estava em progresso, com base
em que pode ser dito que um breve pico de 8000 m3/s será suficiente para manter
as centenas de espécies de peixes que habitam a Volta Grande?
Como foi dito acima, o Estudo de Viabilidade apresentava uma vazão muito menor do que
proposto pelo EIA. Os impactos da redução de vazão foram avaliados extensamente (veja
resposta a pergunta Nr. 10). Em nenhum momento, o diagnóstico nega os impactos desta
redução. A proposta de uma vazão de 8.000 m3/s, utilizou uma solução de consenso,
amplamente debatida, buscando atender a necessidade de geração de energia e os parâmetros
ecológicos encontrados. A solução encontrada deve mitigar, em parte, os impactos, impedindo
o desaparecimento massivo de espécies. Contudo, a diminuição da abundância das espécies
foi diagnosticada exaustivamente. O monitoramento da ictiofauna e da pesca, através dos
programas sugeridos visam permitir um manejo adaptativo das condições ambientais neste
trecho de vazão reduzido.
31. Com base em que dados e análises é apontado que o desenvolvimento de técnicas
para criação das espécies exploradas para aquarismo na região afetadas
beneficiará a população que hoje coleta estes animais? Nesta resposta deve ser
considerado que a região não tem nenhuma tradição em aquarismo; que mesmo o
Pará tem produção pouco expressiva; que esta é uma atividade de alta
complexidade e extremamente competitiva; que boa parte dos consumidores dos
peixes ornamentais do Rio Xingu estão no exterior; que as outras espécies
amazônicas que são hoje reproduzidas em cativeiro estão sendo produzidas em
regiões mais desenvolvidas do país e no exterior.
63
O extrativismo de peixes ornamentais na região da Volta Grande do Xingu, é uma atividade
muito insalubre, perigosa e predatória. Existem muitos casos de pescadores com doenças
decorrentes da atividade de mergulho em condições pouco seguras. Isto foi relatado
detalhadamente no Volume 19, no capítulo sobre a Pesca de Peixes Ornamentais (página 221
e subseqüentes). Adicionalmente, boa parte dos pescadores trabalha na ilegalidade, seja por
capturarem espécies proibidas pelos órgãos ambientais, ou pela falta de documentação para
esta atividade.
A redução de vazão na Volta Grande irá aumentar a capturabilidade dos peixes ornamentais,
induzindo a maiores índices de captura, o que poderá comprometer os estoques já
intensamente explotados.
O cultivo de algumas espécies de peixes ornamentais (como Hypancistrus zebra, espécie
endêmica e ameaçada de extinção), já é realizado com sucesso em outros países. Porém,
segundo a literatura, não requer altos graus de tecnologia, se realizado em pequena escala
(Schliewen e Strawikowski, 1989; Strawikowski, 1992.
Os pescadores de peixes ornamentais, não são pescadores com tanta tradição na profissão
como os pescadores artesanais de peixes para consumo. Boa parte deles, eram garimpeiros,
que aproveitaram seus conhecimentos do uso de compressor para mergulho, para realizar a
atividade de coleta desta fauna, após o declínio da atividade de garimpo de ouro na região.
Isso os torna, mais aptos a aceitarem treinamentos e novas formas de rendimentos
econômicos.
A cadeia de comercialização desta atividade, não precisa ser alterada, por ocasião da produção
de peixes em cativeiro. Isto significa que os atuais atravessadores e empresas exportadoras
poderão continuar adquirindo peixes indiscriminadamente, tanto do aquarismo como do
extrativismo pesqueiro ornamental, que independentemente da construção da barragem teria
que diminuir e ser melhor controlada, para garantir a boa conservação dessa fauna na região.
32. Para que seja feita esta intervenção irreversível na exploração de peixes
ornamentais não seria necessária uma análise sócio-econômica prévia avaliando a
reais possibilidades dos pescadores da região tornarem-se aqüicultores
exportadores bem sucedidos?
Os estudos do EIA, em especial no volume 19, caracterizaram a pesca ornamental praticada
atualmente na região. Para tanto foi realizada um amplo levantamento que abordou as
tecnologias e metodos de pesca utilizados, a produção por espécie, as formas de organização
do sistema produtivo, as práticas de comercialização, os locais preferenciais de pesca, destino
da produção. Como resultado de tal pesquisa foi detectada a importância da atividade para a
sobrevivência das populações residentes ao longo do rio Xingu, em especial para a Volta
Grande do Xingu.
A possível perda de renda dos pescadores e da biodiversidade do ambiente com a implantação
do AHE Belo Monte levou à proposta de um projeto de cultivo em cativeiro, das espécies de
Loricariidae de importância econômica, conforme indicado no volume 33, pagina 171 -
Programa de Aquicultura de Peixes Ornamentais.
Este programa que envolve o desenvolvimento de tecnologias que deverão ser sujeitas a
experimentação técnico-científica para a escolha das condições mais econômicas e eficientes
64
para o cultivo e cálculos da rentabilidade econômica e dos investimentos a serem
disponibilizados para a extensão desse projeto para as comunidades.
De todas as formas, o programa de Conservação da Ictiofauna, no qual se contempla o Projeto
de Aqüicultura de Peixes ornamentais ainda não foi detalhado para sua execução, mas deve
contemplar atividades de treinamento e capacitação para os produtores que se candidatem a
esta atividade, bem como deverá promover facilidades econômicas para a obtenção dos
primeiros materiais para a produção de peixes ornamentais no cultivo. Obviamente, uma
análise sócio-econômica deverá ser feita, antes de sua total implantação, na fase inicial deste
projeto, incluindo estudos de ampliação do mercado.
33. Qual a validade de um estudo de peixes para o EIA em que não foi amostrada de
forma minimamente eficiente a ictiofauna das corredeiras, sendo este o ambiente
mais raro e mais ameaçado pelo projeto?
Recomendamos a leitura do Volume 19, Capitulo 2, na seção de metodologia (pagina 18 e
subseqüentes), onde são explicados os métodos de coleta e os ambientes associados. Para o
caso particular das corredeiras, foram utilizados dois métodos de coleta (pagina 29 e
subseqüentes), a saber: 1) coleta de todos os peixes demersais e bentônicos em parcelas e 2)
censos visuais em transectos. As coletas foram realizadas nos períodos de seca e enchente,
pois são os únicos que permitem este tipo de coleta nesses ambientes, devido às fortes
correntezas do rio e baixa visibilidade, durante a cheia e vazante.
Para determinar a diversidade de peixes demersais e bentônicos, associados aos ambientes de
pedrais e corredeiras, foram realizadas parcelas de 5 x 5m (25m2), em 7 locais: um local em
cada um dos setores I (Iriri) e IV (Belo Monte), respectivamente; dois locais no setor III
(Volta Grande); e três no setor II (Reservatório). Em cada local e período trabalharam três
pescadores e cada um realizou, em média, três pseudo-réplicas, de acordo com as
características do substrato do rio. Depois de delimitada a área, cada pescador capturou o
maior número possível dos peixes presentes na área. Os peixes foram capturados
manualmente, ou com auxílio de pequenas tarrafas.
A técnica de parcelas de amostragem com busca direta de exemplares é extremamente
eficiente para a captura de peixes com baixa mobilidade e fortemente associadas ao substrato
do fundo. Contudo, ela pode ser executada com maior sucesso no período de águas baixas. À
medida que a velocidade e nível do rio aumentam a sua aplicação se torna mais difícil.
Para o estudo da ictiofauna na coluna d´água, em ambientes de corredeiras, foram realizados
censos visuais subaquáticos em transectos lineares de 15m de comprimento e 1m de largura
de cada lado (30m2), que foram percorridos em 15 minutos. Os transectos foram realizados
em seis locais de coleta, distribuídos ao longo do rio: um em cada um dos setores 1 e 4,
respectivamente; e dois nos setores 2 e 3, respectivamente. Três observadores realizaram três
transectos por pessoa, em cada local de coleta, totalizando um esforço total de 270 m2, por
período de coleta.
65
34. Como se espera que seja a comunidade de organismos aquáticos que habitarão as
áreas inundadas de Altamira, considerando que a água será rasa, sem correnteza e
sob efeito direto da cidade?
As “áreas inundadas” de Altamira serão formadas pelo alagamento dos igarapés Panelas,
Altamira e Ambé quando o enchimento do reservatório do Xingu chegar até a cota 97. Estes
braços do reservatório que serão formados terão tempos de retenção diferenciados do tempo
de retenção do corpo de água principal do reservatório, o qual poderá variar de 5 a 10 dias no
período de cheia até um máximo de 150 dias no período de seca no igarapé Altamira, 85 no
igarapé Ambé e 55 dias no igarapé Panelas conforme descrito no documento
“ATENDIMENTO AO ITEM QUALIDADE DA ÁGUA E LIMNOLOGIA DO PARECER
29/2009”, Item 1.2 – “Tempo de retenção nos braços a serem formados nos igarapés em
Altamira e simulação do estado trófico nos tributários Altamira, Ambé e Panelas”. Pelas
características morfométricas destes corpos de água, os braços do reservatório que serão
formados não serão rasos e apresentarão profundidades médias superiores a 5 metros, o qual é
a profundidade média atual destes igarapés. O fluxo da água para o rio Xingu poderá ser
limitado pelo volume da água do reservatório principal, porém a água não ficará estagnada
nos braços formados.
Conforme está previsto na construção do empreendimento (Programa de Intervenção em
Altamira), a cidade de Altamira terá uma rede de esgotamento sanitário e coleta e disposição
de resíduos sólidos implementada para evitar o despejo de efluentes diretamente nos corpos
de água como ocorre atualmente. Além da construção de parques e áreas de proteção nas
margens dos braços do reservatório para preservar a qualidade da água. Desta forma,
pretende-se evitar os impactos da cidade sobre a qualidade da água e evitar os processos de
eutrofização.
As comunidades de organismos aquáticos que se espera que habitem estes braços do
reservatório do Xingu em Altamira deverão ser as típicas de ambientes lênticos, conforme
descrito nas páginas 48 e 51 do documento “ATENDIMENTO AO ITEM QUALIDADE DA
ÁGUA E LIMNOLOGIA DO PARECER 29/2009” para as comunidades de fitoplâncton e
zooplâncton, respectivamente. Já para os macroinvertebrados bentônicos, não se esperam
grandes modificações na composição da comunidade. As macrófitas aquáticas poderão
apresentar um desenvolvimento maior em áreas de baixa circulação de água com predomínio
do gênero Eichornia, conforme descrito na página 77 do mesmo documento.
35. Como pode ser apresentada criação de unidades de conservação de terra firme
como compensação pela perda de áreas nas quais existe o contínuo entre terra
firme, florestas inundáveis, praias e pedrais?
Para a elaboração da proposta de criação de unidades de conservação, foram considerados os
seguintes parâmetros:
- principais ambientes e ecossistemas que sofrerão alteração e impactos com a
implantação da AHE Belo Monte;
- a situação de conservação dos habitats aquáticos e terrestres;
- atual uso e ocupação do solo;
66
- o uso e importância dos habitats aquáticos para a população ribeirinha e indígena;
- propostas e projetos de assentamentos rurais;
- projetos governamentais para a região de inserção do empreendimento;
- aspectos biogeográficos da região, considerando áreas de interflúvio e sua
localização referencial na bacia do rio Xingu;
- existência de áreas protegidas ou especialmente protegidas por lei na região de
interesse;
- indicações oficiais de áreas prioritárias para conservação e;
- o arcabouço teórico sobre biogeografia de ilhas, design de unidades de conservação e
biologia da conservação (vide, por exemplo, C. L. Shafer. 1990. Nature Reserves.
Island Theory and Conservation Practice. Smithsonian Institution Press).
As argumentações e indicações das áreas foram baseadas no estudo de unidades de paisagem
e na dinâmica de desmatamento da região apresentadas no Volume 13 – ADA e AID – Uso do
Solo e Vegetação.
Foi considerado ainda o que preconiza a legislação ambiental vigente (SNUC nº 9.985/2000 e
Decreto que o regulamenta nº 4.340/2002) que trata de indicações para compensação por
significativo impacto.
O artigo 36 do SNUC especifica que nos casos de licenciamento ambiental de
empreendimentos de significativo impacto, o empreendedor é obrigado apoiar a implantação e
manutenção de unidade de conservação do grupo de proteção integral e deverá considerar as
propostas do EIA. Neste mesmo artigo, parágrafo 2º cita que pode ser também contemplada a
criação de novas unidades de conservação na região de inserção do empreendimento.
Para o caso do AHE Belo Monte, as proposta de compensação são apresentadas de forma
detalhada no Volume 33, item 12.7.5, página 153.
Ao contrário do que é afirmado na pergunta, a proposta contempla também a proteção de
ambientes de florestas inundáveis, uma vez que a região indicada abrange vegetação aluvial
existente nas margens do rio Bacajá e a malha hídrica formada pelos sistemas de igarapés de
ambas áreas sugeridas. Além disso, o Mosaico de Unidades de Conservação situado na região
da Terra do Meio abrange vários ecossistemas e ambientes de praias, pedrais, floresta
inundável e de terra firme, cujas ações de compensação previstas para a ESEC da Terra do
Meio visam proteger e manter tais ambientes.
Quanto às regiões da Volta Grande e de montante do reservatório do Xingu, optou-se por não
propor a criação de unidades de conservação nestas áreas, porque atualmente são áreas
utilizadas pelos pescadores, ribeirinhos e indígenas, sendo que parte do rio Xingu situado na
Volta Grande constitui sítio pesqueiro oficial. Como as Unidades de Conservação a serem
criadas como compensação ambiental deverão ser de proteção integral (SNUC nº 9.985/00), o
uso dessas duas áreas pela população local ficaria impossibilitado, caso estas unidades fossem
efetivamente criadas.
67
O conjunto de projetos e programas previstos no Plano de Conservação dos Ecossistemas
Aquáticos tem o objetivo principal de garantir a proteção dos ambientes aquáticos que
sofrerão alteração pela implantação do empreendimento e devem ser conduzidos de forma
integrada com os outros planos e programas.
A criação das duas unidades de conservação propostas no EIA poderá compor um mosaico de
áreas protegidas no entorno de terras indígenas, promovendo a efetiva proteção da
biodiversidade regional do interflúvio Xingu – Tocantins. Além disso, essas área possuem
tamanho, uso e ocupação do solo vigente e localização estratégica sob o ponto de vista da
conservação de populações viáveis de fauna e flora.
36. Com o fluxo migratório trazido pelo empreendimento, assim como o aumento pela
demanda de alimento e madeira, qual o aumento previsto para o ritmo de
desmatamento na região?
As análises desenvolvidas no EIA indicaram que existem áreas suficientes na região, para
que não haja o aumento no ritmo do desmatamento em função da demanda de alimentos.
O provimento da alimentação da população mobilizada pelo empreendimento ocorrerá de
diversas maneiras, através de fornecedores da região, de outros municípios do Pará e mesmo
de outros estados da federação, com o incremento na demanda de produtos alimentícios in
natura e industrializados.
Internamente à região, os estudos mostraram que, de acordo com os dados do Censo
Agropecuário de 2006, analisados no volume 9 - Diagnóstico da Área de Influência Indireta,
os municípios que compõem a AII possuem um rebanho bovino com cerca de 1.700.000
cabeças de gado, sustentado por cerca de 1.350.000 ha de pastagens, o que, inequivocamente
suprirá a demanda gerada pelo aumento de população.
Outro dado a ser considerado, é que as áreas destinadas à agricultura, nesses mesmos
municípios, somam cerca de 316.000 ha, dos quais 103.000 ha destinados as lavouras
temporárias e tradição de produção de mandioca, arroz, feijão, milho, banana, melancia,
mamão, tomate, dentre outros produtos. Existem, portanto, significativas áreas para uso
agrícola já consolidadas nos onze municípios da AII, com potencial para que parte dos
insumos alimentares necessários seja suprido pela região.
Com vistas a potencializar o desenvolvimento econômico e ampliar as possibilidades de
geração de trabalho e renda da região em decorrência do incremento da demanda por
alimento, são propostas ações no Programa de Desenvolvimento de Atividades Produtivas.
Estre Progama propõe, entre outras ações, a qualificação de produtores agropecuários para se
tornarem fornecedores de insumos para atender as demandas geradas pelo empreendimento.
37. Qual será o custo do aumento de fiscalização necessário para conter o incremento
do desmatamento na região causado pelo empreendimento e qual a instituição que
o assumirá?
Os custos dos programas e projetos ambientais diretamente relacionados com a implantação
do empreendimento são calculados na etapa do Plano Básico Ambiental. Considerando a
Política Ambiental Brasileira e do Sistema Nacional de Meio Ambiente, compete às
68
instituições federal e estadual executarem ações previstas nesta Política, entre elas ações de
fiscalização ambiental e de proteção dos recursos naturais.
No entanto, em função da implantação do AHE Belo Monte e dos impactos decorrentes de
sua implantação, os programas que tratam de ações de ordenamento do uso e da ocupação do
solo, apresentam ações de visam conter o desmatamento e também desenvolver alternativas
de produção e sustentabilidade (ver programas sócio-econômico, Volume 33 do EIA). Em
cada programa são previstas ações que deverão ser desenvolvidas pelo empreendedor, como
também possíveis parcerias e ações de fortalecimento institucional.
38. Uma vez que a criação de unidades de conservação é parte das medidas
compensatórias do empreendimento, será o empreendedor a arcar com os custos
da manutenção da cobertura original destas áreas?
Uma vez sendo criadas as Unidades de Conservação propostas, cabe ao empreendedor a sua
implantação e manutenção, como é indicado no capítulo VIII – da Compensação por
Significativo Impacto Ambiental do Decreto nº 4.340/2002, artigos de 31 a 34.
Além disso, a aplicação dos recursos da compensação ambiental deverá obedecer a seguinte
ordem de prioridade:
- regularização fundiária e demarcação das terras;
- elaboração, revisão ou implantação de plano de manejo;
- aquisição de bens e serviços necessários à implantação, gestão, monitoramento e
proteção da unidade, compreendendo sua área de amortecimento;
- desenvolvimento de estudos necessários à criação de nova unidade de conservação;
- desenvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação.
Desta forma, deverá ser apontado no instrumento de criação da Unidade, quer seja decreto ou
lei, quem será o responsável pela sua manutenção. Existem exemplos bem sucedidos de
Unidades criadas para compensar os impactos de empreendimentos hidrelétricos na região
amazônica que apresentam áreas bem preservadas e têm sido implantadas com o apoio do
empreendedor, constituindo a melhor forma de conservar os recursos naturais da região.
39. Uma vez identificados aumentos populacionais de insetos vetores de doenças, como
conseqüências das alterações ambientais produzidas pelo reservatório, com base
no plano monitoramento previsto, quem arcará com os custos de reversão destes
quadros? Quais os planos e orçamentos estimados para estas ações?
A implantação do AHE Belo Monte, como indicado no Volume 31, podera vir a provocar o
aumento na incidência insetos vetores de doenças endêmicas como malária, leishmaniose
tegumentar, dengue, febre amarela e outras arboviroses.
Considerando tal impacto são propostas como medidas de mitigação, ações de intensificação
da vigilância epidemiológica, bem como ações de prevenção e controle de doenças. Tais
ações encontram-se detalhadas nos seguintes Programas/Projetos: Programa de Vigilância
69
Epidemiológica, Prevenção e Controle das Doenças, Projeto de Monitoramento e Controle de
Vetores de Doenças Endêmicas e do Programa de Ação de Controle à Malária (PACM), todos
inseridos no Plano de Saúde Pública. (volume 33 do EIA. Pag. 394)
Além dessas, são propostas também ações de natureza preventiva voltadas à eliminação da
formação de poças, através de derrocamentos a serem feitos, durante a Etapa de Construção,
no trecho do rio Xingu onde está inserido o Núcleo de Referência Rural São Pedro. Tais ações
farão parte do Plano Ambiental de Construção (volume 33 do EIA. Pag 25)
Todos os custos da implementação desses programas são de responsabilida do empreendedor
e terão os custos detalhados na etapa subsequente, de elaboração do Plano Básico Ambiental.
40. Existe compromisso do empreendedor com o cumprimento das promessas
apresentadas nas audiências públicas e gravadas em vídeo?
A implantação dos programas ambientais previstos no EIA / RIMA é compromisso legal e
garantido por meio das condicionantes da licença ambiental prévia, a ser concedida pelo
IBAMA, e pelas exigências do edital de licitação da ANEEL, devendo ser integralmente
assumida pelo empreendedor que vencer o certame de concessão do empreendimento.
41. Considerando as trocas de governo e mudanças na política que podem ocorrer nas
próximas décadas, existe garantia de que não serão realizados novos barramentos
no Rio Xingu, como forma de regularizar a produção energética de Belo Monte?
O primeiro inventário do rio Xingu, que identificou dois barramentos no rio, foi desenvolvido
na segunda metade da década de 1970, com premissas já ultrapassadas. Nos anos de 2007 e
2008, foi realizado novo estudo de inventário, com diretrizes adequadas e modernas, que foi
aprovado pela ANEEL em 28 de Julho de 2008, pelo despacho 2.756. Este estudo identificou
como único aproveitamento viável o AHE Belo Monte, composto por barramento a jusante da
cidade de Altamira. Devido à importância estratégica, o Conselho Nacional de Política
Energética – CNPE emitiu a Resolução nº 06 de 03 de Julho de 2008, em que aconselha à
ANEEL aprovar os estudos de inventário do rio Xingu nesses termos. Integram o CNPE:
I - O Ministro de Estado de Minas e Energia, que o presidirá;
II - O Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia;
III - O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão;
IV - O Ministro de Estado da Fazenda;
V - O Ministro de Estado do Meio Ambiente;
VI - O Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
VII - O Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República;
VIII - Um representante dos Estados e do Distrito Federal;
70
IX - Um cidadão brasileiro especialista em matéria de energia; e
X - Um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é um órgão de assessoramento do
Presidente da República. Sua função é formular políticas e diretrizes de energia destinadas,
entre outros, a promoção do desenvolvimento sustentado, ampliação do mercado de trabalho e
valorização dos recursos energéticos, proteção do meio ambiente e promoção da conservação
de energia, utilização de fontes renováveis de energia, mediante o aproveitamento dos
insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis.
42. Quais as espécies para as quais já foi identificado que poderão ser extintas, ou ter
suas populações reduzidas como conseqüência do empreendimento?
Quando se refere à extinção de espécies ou desaparecimento de espécies de uma
determinada região, ou seja, diz respeito à extinção local de espécies. Este desaparecimento
pode ocorrer por três motivos:
Perda da diversificação do ambiente;
Perda de habitats específicos;
Perda das relações ecológicas, em função do desaparecimento ou do número reduzido
de espécies.
Desta forma, os impactos referentes à extinção de espécies devido a implantação do
empreendimento têm abrangência regional e foram analisados, por exemplo, nos seguintes
impactos:
Perda da Diversidade da Flora (Volume 29, Avaliação de Impacto, descrição página
134), com abrangência regional, o que envolve a região da área de influência indireta
do empreendimento;
Perda de Diversidade da Fauna (Volume 29, página 137);
Intensificação da perda de cobertura vegetal e hábitat natural (Volume 29, página
268)
Os estudos e levantamentos realizados no âmbito do EIA, bem como estudos pretéritos
disponíveis não indicaram a presença de espécies endêmicas da região que sofrerá inundada
para os grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, aves, como também para os vegetais, uma
vez que as espécies identificadas ocorrem em outros trechos da bacia do rio e seus
tributários, os quais não sofrerão inundação. Algumas espécies inclusive tem distribuição
que extrapola a bacia e mesmo a região amazônica.
Por outro lado, com relação à ictiofauna, vários impactos foram previstos para a perda de
espécies, tanto pela conversão de habitat-chave, quanto pela intolerância destes organismos
às alterações na qualidade da água. A descrição destes impactos está no Volume 29
Avaliação de Impactos – Parte 1, página 329 do EIA.
71
Entre as ações propostas para mitigar e compensar os impactos previstos inerentes à perda
de diversidade de flora e fauna com a implantação do empreendimento destacam-se: a) o
Plano de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos, que reúne as medidas voltadas para a
criação de espécies de peixe em cativeiro, manejo e conservação dos recursos pesqueiros,
ações de sustentabilidade da pesca, manejo e conservação dos quelônios aquáticos, e b) o
Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres cujas ações de manejo e conservação são
ali indicadas, como também o Programa de Compensação Ambiental. Destaca-se também o
PACUERA – Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios
Artificiais cuja prerrogativa é buscar conciliar o uso e ocupação do solo com a manutenção
e conservação dos recursos naturais.
Estes programas estão descritos no Volume 33 do EIA. Apresentam grau de detalhamento
apropriado para um Estudo de Impacto Ambiental e atendem o que estava preconizado no
TR emitido pelo IBAMA que norteou o estudo.
43. Existe possibilidade de mudança na qualidade da água a jusante do reservatório
como conseqüência das obras, incluindo a construção de portos e abertura de
hidrovias? Em caso afirmativo, quais os impactos esperados no arquipélago do
tabuleiro do Embaubal em conseqüência disto e porque tais impactos não foram
incluídos no EIA?
O projeto do AHE Belo Monte não prevê a construção de hidrovias. Essa possibilidade existia
no estudo de viabilidade e não se configurou como uma necessidade durante o
desenvolvimento do EIA. Por outro lado, o volume 29 de avaliação de impactos – parte 1 –
contempla a alteração na qualidade de água em função de obras como a construção de porto.
Conforme descrito no EIA, deverá ser implantado um porto às margens do rio Xingu,
próximo ao Sítio Belo Monte. O leito do rio nesse local deverá ser dragado para a sua
conformação aos requisitos das embarcações a serem atendidas pelo porto. Como impacto
dessa ação foi previsto um incremento da turbidez das águas nas imediações.
Entretanto, conforme já abordado na questão 26 desse documento, os tabuleiros de
reprodução das tartarugas se encontram a cerca de 60 km do local de restituição de vazões e
portanto não estão sujeitas a esses impactos.
44. Considerando a perda da maior parte ou totalidade da floresta de várzea, assim
como as mudanças nos ecossistemas em geral da Volta Grande do Rio Xingu, quais
os impactos esperados para a economia das duas tribos indígenas que habitam a
região?
Os povos indígenas das TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu dependem de
recursos externos para a sua subsistência. Participam do mercado regional fornecendo
produtos e mão-de-obra e adquirindo bens de consumo duráveis e não-duráveis.
Para os que vivem nessas terras indígenas, as fontes formais e regulares de renda são
limitadas. São poucos os aposentados que recebem do INSS. Alguns assalariados recebem
como Agente Comunitário de Saúde (ACS), Agente Indígena de Saúde (AIS), Agente
Indígena de Saneamento (AISAN) e professora.
72
Na Volta Grande do Xingu a pesca é uma atividade realizada para consumo e
comercialização, sendo comercializados tanto os peixes para consumo quanto os peixes
ornamentais, variedade esta preferida por conta da maior possibilidade de ganho. Os
moradores das TIs Arara da Volta Grande do Xingu e Paquiçamba tem a possibilidade de
trabalho como diaristas em atividades de pesca. Os produtos da pesca são destinados
principalmente a Altamira, com forte dependência de intermediários.
O trabalho como diarista em fazendas é comum, por períodos que às vezes se prolongam por
semanas, comprometendo as atividades de roçados nas Terras Indígenas.
O artesanato, praticado por algumas famílias, é uma fonte complementar de renda. A venda de
animais silvestres, atualmente ilegal, também é praticada eventualmente, como admitem os
Arara.
Da produção agrícola, voltada basicamente para subsistência, destaca-se a farinha de
mandioca como produto de comercialização dos Juruna de Paquiçamba. Nos itens de coleta
que são comercializados, destaca-se a castanha-do-Pará. Do cipó titica os Juruna de
Paquiçamba confeccionam vassouras que vendem para os moradores regionais.
Os impactos sobre a economia das TIs poderão se dar em decorrência do aumento da pressão
sobre a pesca e da alteração das espécies ou redução na quantidade de peixes que têm
interesse comercial para estas populações. As atividades de extrativismo vegetal, como a
coleta de castanha e a obtenção de matéria prima para a produção de artesanato, poderão
sofrer algumas interferências. A pressão sobre a caça também poderá ser potencializada,
comprometendo o comércio, ainda que ilegal, de animais silvestres.
Outros impactos avaliados foram a dificuldade de navegação na região da barragem do Sítio
Pimental durante o período construtivo, o aumento da dificuldade de navegação no TVR, após
a conclusão das obras, e o receio dos índios à utilização do sistema de transposição de
embarcações previsto na barragem do Sítio Pimental, que poderiam dificultar o acesso a
Altamira e o escoamento e a comercialização dos produtos. A permanência das condições
mínimas de navegação no TVR, por outro lado, foi um dos aspectos que condicionou a
definição do Hidrograma Ecológico, assim como a construção do sistema de transposição de
embarcações na barragem do Sítio Pimental e a previsão de monitoramento das condições de
navegabilidade e das condições de vida, que pode vir a identificar a necessidade de alguma
intervenção adicional localizada no TVR para facilitar o acesso a Altamira.
Estas e outras medidas para prevenir, mitigar ou compensar estes impactos foram previstas
nos seguintes programas:
Programa de Comunicação com a População Indígena, incluindo capacitação de
agentes indígenas de comunicação, visitas periódicas às obras e realização de
apresentações e oficinas, visando a troca de informações sobre o andamento das obras
e as dificuldades encontradas pelos indígenas moradores nas TIs da Volta Grande do
Xingu;
Programa de Interação e Articulação Institucional, com vistas a fomentar a utilização
de recursos naturais para a melhoria das condições de vida das populações indígenas;
73
Programa de Conservação da Fauna Terrestre, com extensão do monitoramento às
áreas internas das TIs e às áreas utilizadas para as atividades de caça. Possibilidade de
utilizar animais resgatados como matrizes para criatórios indígenas;
Programa de Monitoramento da Flora, em especial da vegetação aluvial e das ilhas e
pedrais utilizadas pelas comunidades indígenas para caça, pesca e coleta;
Programa de Conservação da Fauna Aquática, extensivo às TIs e às áreas utilizadas
pelas comunidades indígenas para a apanha de quelônios e caça de crocodilianos;
Programa de Conservação da Ictiofauna, com monitoramento interno às TIs e nas
áreas utilizadas pelas comunidades indígenas para suas atividades de pesca, inclusive
no rio Bacajá, que também é utilizado pelos Arara. Estabelecimento de acordos de
pesca e inclusão das comunidades das TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande do
Xingu como público-alvo do Projeto de Aqüicultura de Peixes Ornamentais;
Programa de Monitoramento das Condições de Navegabilidade e das Condições de
Vida, visando monitorar as condições de navegação no rio Xingu no TVR e no trecho
final do rio Bacajá, bem como nos igapós das TIs que permitem o acesso aos recursos
vegetais, a utilização do sistema de transposição da barragem pelas embarcações das
populações indígenas e as condições de escoamento da produção das TIs;
Programa de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e de Capacitação da
População Indígena, visando desenvolver atividades sustentáveis para as comunidades
indígenas, agregar valor aos produtos já comercializados pelas comunidades, apoiar a
implementação de viveiros de frutíferas, plantas medicinais, a coleta de sementes,
aqüicultura e apicultura, como atividades alternativas para geração de autonomia e
renda.
45. É esperada redução na densidade de espécies de caça utilizadas por tribos
indígenas e outras populações tradicionais na Volta Grande do Rio Xingu? Em
caso afirmativo, em quanto é esperada esta redução e qual o impacto esperado na
vida destas populações?
Como acontece em muitas etnias na Amazônia, a proteína animal obtida através da caça e da
pesca é, muitas vezes, a única forma de obtenção desse recurso por essas populações.
Os Juruna da TI Paquiçamba ainda praticam a caça, sendo este um importante recurso para
mantê-los em bons níveis nutricionais. Dentre os animais mais apreciados pelos Juruna tem-
se: tracajá, paca, mutum-pinima, queixada, veado-mateiro, jabuti-vermelho, jacu, caititu,
capivara, anta, macaco-guariba entre outros.
Os Arara da Volta Grande do Xingu tem diversos usos para os animais caçados, tais como:
uso alimentar, medicinal, ritual, comercial e ornamental, e dão preferência ao porcão, veado,
tracajá, paca, jaboti, mutum, anta, jacu, capivara, cutia, tatu, etc.
A fauna é utilizada na dieta dos Arara. Em média cada família se alimenta de carne de caça de
3 a 4 dias por semana. Apesar de não caçarem todos os dias, os índios se revezam nessa
atividade, e a caça abatida geralmente é dividida entre todos na aldeia.
74
Apesar de não ser confeccionada por todas as famílias, alguns Arara possuem a habilidade de
fazer artesanatos para comércio, e entre estes há o uso do casco do tatu para confecção de
cordões, além de penas de algumas aves, como araras e papagaios, entre outros. Esta atividade
não é a principal fonte de renda para as famílias que os fazem, mas se configura em um
importante complemento para a mesma.
O uso da fauna para curar diversas enfermidades e doenças está associado à vivência e ao
desenvolvimento da atividade de benzedor realizada por seu Leôncio ao longo de sua vida.
Apesar da caça ser uma prática proibida, esta atividade é comum, pois é freqüente a oferta de
animais silvestres nas feiras-livres da região da Volta Grande do Xingu. Os próprios Arara
admitem que, dependendo da situação econômica momentânea das famílias, eventualmente
podem caçar para vender um jaboti e ou outro animal de pequeno porte.
Os impactos sobre a caça deverão ocorrer a partir do início da etapa de construção da
barragem. O aumento da população atraída pelo Empreendimento poderá provocar um
aumento da pressão sobre os recursos de caça, podendo comprometer os estoques de caça.
Os estudos avaliaram que a caça poderá ser pressionada devido aos seguintes fatores:
O aumento da população do entorno utilizando a caça;
As derrubadas para estabelecimento de mais pastos e outros usos, reduzindo os locais
onde a caça se reproduz;
O aumento populacional dos Juruna e Arara devido às migrações, aumentando a
pressão sobre a caça dentro das próprias TIs;
A diminuição da água nas grotas e restingas, que levará a uma diminuição da caça,
além de dificultar o acesso e a captura.
Com a diminuição da caça, os Juruna acreditam que enfrentarão mais um problema, que é o
surgimento de doenças em função da desnutrição causada pela escassez de proteína animal, já
que ficarão mais fracos e mais suscetíveis às doenças.
Mesmo para as situações temporárias em que a fauna afugentada pelas obras venha a dirigir
para as TIs, os estudos prevêm que o aumento da população de animais pode causar a
sobreposição de nicho e disputa de território.
Para prevenir, mitigar ou compensar os efeitos do aumento da pressão sobre a caça foram
previstos diversos Planos, Programas e Projetos para as Populações Indígenas e outras
populações tradicionais da Volta Grande do Xingu. Dentre eles:
Plano de Relacionamento com a População, incluindo, no Programa de Interação
Social e Comunicação, o Programa de Comunicação com a População Indígena, com a
capacitação de agentes indígenas de comunicação, visitas periódicas às obras e
realização de apresentações e oficinas, visando a troca de informações sobre o
andamento das obras e as dificuldades encontradas pelos indígenas moradores nas TIs
e também os moradores da Volta Grande do Xingu;
dentro deste mesmo Plano, está previsto o Programa de Orientação e Monitoramento
da População Migrante, com vistas a informá-la sobre a importância da integridade
75
física e ambiental dos territórios das TIs e AI e as particularidades culturais e modos
de vida das populações indígenas;
ainda no mesmo Plano, está previsto o Programa de Educação Ambiental para a
população indígena, incluindo a capacitação de agentes ambientais indígenas,
enfocando orientações para evitar o sobreuso dos recursos naturais e práticas de
saneamento básico;
no Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres, Programa de Conservação da
Fauna Terrestre estão previstos dois projetos com extensão às comunidades indígenas:
um de monitoramento da herpetofauna, avifauna, mamíferos terrestres e quirópteros,
que deverá incluir as atividades e os locais de caça dos indígenas, tanto dentro das TIs
quanto fora delas, e o monitoramento da fauna durante a após as ações mais
impactantes. No Projeto de Salvamento e Aproveitamento Científico da Fauna está
prevista a análise de locais para soltura dos animais resgatados, incluindo a
possibilidade de utilização como matrizes para criatórios indígenas;
por fim, no Plano de Sustentabilidade Econômica da População Indígena estão
previstos, nos Projetos de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e Capacitação
da População Indígena, o apoio do Empreendedor à implementação de criadouros de
animais silvestres e à capacitação da população para a criação de animais domésticos.
46. Uma vez que os especialistas que escreveram os relatórios de fauna e flora não
consideram que a vazão ecológica seja suficiente para manter os processos naturais
na região da Volta Grande, e mesmo os dados de desova de peixes são insuficientes
para que se faça qualquer previsão, qual a base científica que poderá ser
apresentada para defender o cumprimento da vazão ecológica quando o
empreendimento estiver pronto?
No trecho de vazão reduzida da Volta Grande (cerca de 100 km do rio) os estudos de
Viabilidade do AHE Belo Monte previam uma liberação de vazão pequena, alcançando no
máximo 2.000 m²/seg. O EIA propõe que essa vazão fosse alterada, para inundar parte da
floresta aluvial.
Espera-se, portanto, que a densidade de peixes diminua, de acordo com a diminuição da
vazão. Para mitigar em parte este impacto, propõe-se uma alteração nos regimes de vazão, que
atendam ao mínimo necessário para a reprodução dos peixes, que habitam na Volta Grande.
Para tal, utilizaram-se duas medidas de vazão, a primeira de 4.000 m3.seg
-1, corresponde ao
valor que garante a inundação da maior parte dos pedrais. Nesta vazão poderá ser garantida a
desova, alimentação e refugio dos peixes que são característicos deste ambiente, como os
cascudos que são alvo da pesca de ornamentais, da família Loricariidae. A segunda medida de
vazão sugerida foi de 8.000 m3.seg
-1 Com esta vazão foi observada a desova da maior parte
dos peixes que habitam as planícies de inundação durante a enchente, bem como a entrada das
larvas nas planícies de inundação. Assim, a busca deste valor, poderia garantir a reprodução e
desenvolvimento de boa parte dos peixes da região.
Portanto, o hidrograma proposto, denominado de “hidrograma ecológico”, teve como base, no
caso da ictiofauna, a relação entre os valores de vazão observados e as etapas do ciclo de vida
das espécies (reprodução, desenvolvimento, alimentação, recrutamento) e devem portanto
garantir que parte destas funções vitais sejam mantidas mesmo com o represamento do rio.
76
A redução de vazão deve afetar também a migração dos peixes rio acima. Contudo, com base
em estudos anteriores, espera-se que muitas das espécies migradoras continuem subindo as
corredeiras e optem por outras vias alternativas, ao encontrarem as barreiras da represa ou da
pequena vazão. Neste caso, igarapés e rios da rede hidrográfica do rio Xingu (Bacajá, Bacajaí,
etc), a jusante da barragem, poderão servir como rotas de migração. Desse modo, a perda de
hábitats que afetará os peixes aferá igualmente os tracajás, mamíferos aquáticos e outros
componentes da fauna aquática, conforme indicado em cada um dos respectivos diagnóstico e
impactos do EIA.
Vide respostas das questões correlatas: 10, 19, 30, 31, 32 e 51.
47. Qual a viabilidade do empreendimento, sem outros barramentos, considerando
que o Rio Xingu está tendo sua vazão reduzida como conseqüência do
desmatamento (COE, COSTA & SOARES-FILHO, 2009)? Qual a expectativa de
perda de produção do empreendimento para as próximas décadas, considerando
este efeito?
O estudo energético do AHE Belo Monte foi elaborado com base na série de vazões históricas
definida pela ANA e nos modelos de simulação utilizados pelo setor elétrico brasileiro, que
consideram o Sistema Interligado Nacional e que são sistematicamente utilizados para o
planejamento do setor. Durante o período da operação da usina, o Operador Nacional do
Sistema – ONS irá definir os despachos de energia em função dos dados hidrológicos
registrados e das necessidades do mercado consumidor.
Os estudos energéticos demonstraram que o AHE Belo Monte é viável sem a necessidade de
implantação de outros aproveitamentos hidrelétricos na Bacia do Rio Xingu.
48. Qual a expectativa de perda de produção do empreendimento nas próximas
décadas considerando o efeito conjunto do desmatamento e do aquecimento global
reduzindo a vazão do Rio Xingu?
Ver resposta da questão 47
49. Como deve ser o impacto da formação do lago nos igarapés da cidade?
O volume 11 – Diagnóstico da ADA e AID (físico), apresenta a caracterização hidráulica do
rio Xingu ao longo do reservatório que será formado (pags. 24 a 59). Na sequência, o mesmo
relatório apresenta ainda a modelagem em Altamira considerando a interferência do
reservatório nos três igarapés que cortam a cidade e que terão seu nível d‟água elevado em
função do reservatório do rio Xingu.
A TABELA 49-1 adaptada da tabela 7.7.2-31 do EIA mostra como é a cota hoje quando a
vazão do rio Xingu esta baixa, como é o caso da vazão de 1017m3/s que pode ser comparada
com a cota que ficará depois de formado o reservatório, igual a 97m.
77
TABELA 49-1
Cidade de Altamira. Comparação dos Níveis d‟água para as condições Naturais e com
Reservatório.
Características das vazões Vazão
Condição atual
Cota
Condição com
reserv.
Cota
(m3/s) (m) (m)
Rio em condição de estiagem 1017 93,29 97,01
Rio em condições médias (mês de
janeiro/fevereiro) 7.851 95,27 97,29
Rio em condição de cheia anual 23.414 97,90 98,90
Rio em condição de cheia nunca registrada
(Cheia de 25 anos) 33.812 99,50 100,10
Fonte: Leme Engenharia, EIA do AHE Belo Monte, Tabela 7.7.2-31
Cabe destacar que as oscilações que ocorrem no rio Xingu hoje entre o período de estiagem e
o período de cheia ocorrerão, depois da implantação do reservatório, entre as cotas 97 e 100.
No período de estiagem o rio Xingu ficará sempre na cota 97m e nos meses de cheia o nível
poderá subir até a cota 100m. Em situação extrema em que o rio estaria demasiadamente
cheio, o nível poderá ultrapassar a cota 100m, mas os efeitos dessa inundação não estarão
mais associados ao empreendimento, ou seja, a interferência máxima do empreendimento será
até a cota 100m. É importante destacar que durante todo o período de observação de cota em
Altamira (desde 1971) o rio nunca chegou a essa cota.
A formação do Reservatório do rio Xingu,com a conseqüente inundação dos Igarapés, indicou
a necessidade do desenvolvimento de uma pesquisa socioeconômica, considerando a cota
100m, para a identificação e caracterização da população que será atingida. Concluindo por
um remanejamento de um total de 4.362 grupos domésticos. Além de serem afetadas
atividades econômicas e equipamentos sociais (Ver Volume 23-ADA Urbana).
50. Como ficaria a situação das praias do rio Xingu utilizadas para o lazer da
população de Altamira no período da seca?
Os estudos do EIA mapearam e identificaram as principais praias a serem afetadas (Volume
21, Diagnóstico do Meio Sócio-econômico) em função da implantação do reservatório na
calha do rio Xingu, quais sejam: Arapujazinho, do Amor, Adalberto, do Besouro, do Louro,
do Olivete, do Pedral, do Padeiro, do Pagé, Prainha, Sossego. Algumas dessas praias possuem
pequena infraestrutura com bares, palhoças e banheiros. Na região da Volta Grande, abaixo
da barragem do sítio Pimental, as praias permanecerão exposta e em condições de uso por
mais tempo maior durante o ano, devido a redução da vazão.
Conforme diagnosticado no EIA, freqüentar o Rio Xingu para desfrutar de suas praias é uma
atividade de lazer praticada por grande número de pessoas nos municípios da região.
Para compensar a perda dessas praias e áreas de lazer, impacto analisado no Volume 31 –
Avaliação de Impactos – Parte III e Prognóstico Global, o EIA propõe o Projeto de
Recomposição de Praias e Locais de Lazer, integrante do Programa de
Restituição/Recuperação da Atividade de Turismo e Lazer, apresentado no volume 33, pag
295, que tem como ojetivo recompor tais locais de lazer por meio da implantação de praias
artificiais.
78
De acordo com o proposto neste Projeto, a escolha dos locais para implantação das novas
praias deverá ser definida em conjunto com a população, ratificando-se assim, a prática de
diálogo social intrinseco à pratica de sustentabilidade que permeia todas as ações do AHE
Belo Monte.
51. Como seria o impacto nos peixes migratórios e os peixes endêmicos (inclusive os
peixes ornamentais), considerando a vazão reduzida e o canal lateral para
transposição dos peixes?
Ver resposta da questão nº 10
52. Quais as localidades escolhidas para o reassentamento das pessoas atingidas pela
obra? Como será feito o reassentamento. Será realmente feito ou os
empreendedores preferirão a indenização? Qual o custo do reassentamento?
Na etapa atual dos estudos, foram identificadas e avaliadas diferentes alternativas locacionais,
verificando-se a disponibilidade de terras para a implantação dos reassentamentos. A escolha
das áreas para futuro reassentamento será realizada no Plano Básico Ambiental – PBA, com a
participação da população envolvida no processo.
O Volume 33 – Planos, Programas e Projetos, item 1.9, especificamente no Programa de
Indenização e Aquisição de Terras e Benfeitorias, pág. 216 e seguintes trata, entre outros
aspectos, das diretrizes básicas a serem seguindas quando da implantação dos Projetos de
Reassentamento. De acordo com o disposto neste Programa, deverá ser garantido:
Participação da população a ser reassentada na escolha das áreas de reassentamento,
previamente com viabilidade técnica e econômica comprovada;
Que o tamanho mínimo dos lotes obedeça ao módulo fiscal rural, que para a região do
empreendimento é de 75 hectares;
Os locais para reassentamento deverão apresentar solos de boa qualidade; localização
de preferência no município atual ou nos municípios próximos, topografia compatível
com a do imóvel anterior;
Para a implantação dos projetos de reassentamento deverão ser adquiridos imóveis que
disponham de acesso adequado e que não se encontrem em área com algum
impedimento legal;
O reconhecimento do loteamento pelo INCRA/ITERPA, necessário para que os
reassentamentos tenham acesso a linhas de crédito e programas de assistência técnica
oficiais;
Infraestrutura de serviços essenciais – disponibilidade de provimento dos serviços de
água, luz e esgotamento sanitário. Além dos reassentamentos serem dotados de
equipamentos de saúde, educação, Centro Comunitário;
Manutenção da renda e da produção.
Tudo que está proposto no EIA e que constar da Licença Prévia, caso a mesma seja emitida
pelo IBAMA, deverá necessariamente ser implementado.
79
A etapa de elaboração de EIA não pressupõe o detalhamento dos custos dos diversos
Programas Ambientais, incluindo-se dentre estes os Projetos de Reassentamento;
53. Como ficará a operação da “vazão ecológica” em uma situação com escassez de
água. Todas as turbinas seriam desligadas na casa de força principal?
O volume 33 de Avaliação de Impactos – parte 3 (pags. 234 a 288) apresenta a avaliação feita
pela equipe do EIA sobre o hidrograma ecológico para o trecho de vazão reduzida.
A conclusão desse estudo aponta para uma proposta de compatibilidade entre viabilidade
comercial do empreendimento (geração de energia) e a proposição de um hidrograma que
atenda às condições mínimas ambientais, identificadas como fundamentais no TVR. Isto
implica em liberar o hidrograma de manutenção do ecossistema para o TVR em um
determinado ano e admitir que no próximo ano o sistema possa ser submetido a um
“estresse” hídrico ainda maior. Tal hipótese pressupõe que o “bioma” possa ser submetido a
um regime maior restrição, por no máximo um ano, desde que no ano seguinte vazões de, pelo
menos, 8000 m3/s fossem liberadas, o que possibilitaria manter a produtividade mínima,
garantindo sua sustentabilidade. Dessa forma, o hidrograma ambiental proposto para o TVR
deverá ser o indicado no QUADRO 53-1 a seguir:
QUADRO 53-1
Hidrograma Ambiental – vazões médias mensais propostas para o TVR
Hidrogramas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
I 1.100 1.600 2.500 4.000 1.800 1.200 1.000 900 750 700 800 900
II 1.100 1.600 4.000 8.000 4.000 2.000 1.200 900 750 700 800 900
As vazões a serem obrigatoriamente liberadas para jusante na barragem do Sítio Pimental não
serão constantes e deverão obedecer a uma variação sazonal, acompanhando a variação
natural do rio Xingu.
O hidrograma I é o hidrograma mínimo a ser liberado e tem como vazão média mensal
mínima 700 m3/s e uma vazão máxima de 4.000 m
3/s. Desta forma, uma vez praticado tal
hidrograma, no ano seguinte a vazão média mensal deve atingir 8.000 m3/s em pelo menos 1
mês obedecendo a forma do hidrograma II ou pelo menos o volume anual desse.
A vazão mínima do rio Xingu usada como referência nesse estudo é a vazão de 1.017 m3/s,
que representa a mínima média anual obtida a partir de dados de mínimas diárias anuais do
período de 1971 a 2000.
O estudo mostra que vazões superiores a essa ocorrem em 43% do tempo do período de
estiagem, ou seja, quase metade dos anos analisados (30 anos) teve valores mínimos
superiores a 1017 m3/s. Análises comparativas do escoamento entre vazões dessa ordem e
vazões de 700 m3/s e análises das imagens de satélite para essas condições mostraram que não
existem diferenças significativas de escoamento entre esses dois valores. Considerando a
necessidade de se derivar alguma vazão para o reservatório dos canais, optou-se por manter
uma mínima de 700 m3/s no TVR e derivar o restante para oxigenar e promover a renovação
da água no reservatório dos canais.
80
As avaliações do escoamento nas seções transversais levantadas ao longo do TVR mostram
que vazões inferiores a 700m3/s, apesar de já terem ocorrido no histórico de vazões com uma
freqüência de 10%, reduzem significativamente as áreas molhadas deixando canais secos ou
com baixas profundidades.
A ocorrência natural de vazões inferiores a 700m3/s além de ser um evento raro, gera
impactos isolados e de curta duração que se resolvem naturalmente sem necessidade de
intervenções. Por outro lado, a proposição de uma vazão mínima no hidrograma ecológico
será um evento freqüente (todos os anos no período de estiagem) e de maior duração quando
comparado aos eventos naturais, ressaltando, portanto, a necessidade de se indicar um valor
no qual se possa conviver com as limitações oferecidas por ele.
Dessa forma, o mínimo definido para o trecho da Volta Grande do rio Xingu é uma vazão de
700m3/s. Em situações de escassez acentuada quando as vazões do rio Xingu forem inferiores
a 1000m3/s deverá sempre passar 700m3/s no trecho da Volta Grande e o restante no
reservatório dos canais. Nessas situações será mantida a geração na casa de força
complementar e se necessário poderá ser interrompida temporariamente a geração na casa de
força principal.
54. Quais as alterações no modo de vida das populações a jusante (trecho da Volta
grande com vazão reduzida? Transporte, comunicação com postos de saúde,
comercio da produção local.
O QUADRO 54-1 a seguir sintetiza os principais impactos identificados como de ocorrência
provável no que concerne ao modo de vida das populações residentes no trecho a jusante da
barragem principal a ser construida no rio Xingu. (Volume 31 – Avaliação de Impactos –
Parte III e Prognóstico Global – “Análise de impactos para alternativas com vazões de
estiagem de 700m3/s e diferentes vazões de cheias, pág. 288 a 297”)
QUADRO 54-1
Impactos no Trecho de Vazão Reduzida e Áreas Próximas aos Reservatórios e Canteiros de
Obras segundo Municípios e Localidades
Trecho de Vazão Reduzida
Municípios Localidades e TI Impactos/Medidas
Vitória do Xingu
Região de São Pedro
Belo Monte (margem
esquesrda)
TI Paquiçamba
Interrupção da navegação (imóveis entre o
Barramento Principal e São Pedro, margem
esquerda);
Dificuldade do Escoamento da Produção nos
Períodos de Estiagem;
Dificuldade do Transporte Fluvial nos Períodos de
Estiagem;
Dificuldade do Acesso aos Equipamentos Sociais
(Escolas, Postos de Saúde, Igreja) nos Períodos de
Estiagem;
Pressão sobre os usos sustentáveis dos recursos
pesqueiros – Sobrepesca e perda de modalidades de
pescarias;
Anapu Belo Monte do Pontal
Senador J. Porfírio
Ilha da Fazenda
Ressaca
Garimpo do Galo
TI Arara da Volta
Grande
81
Para fazer frente a tais impactos foram propostos vários Programas que fazem parte do Plano
de Atendimento à População Atingida, do Plano Gerenciamento da Volta Grande do Xingu e
os voltados especificamente para as populações indígenas. Programas que são detalhados no
Volume 33 e nos tomos do volume 35, referentes aos estudos etnoecológicos.
55. Como foram feitos os cenários de desmatamento? Quais as conseqüências no
trecho de vazão reduzida? Há risco de desertificação?
Os cenários de desmatamentos foram feitos para toda a Bacia do rio Xingu e estão descritos
no Volume II da Avaliação Ambiental Integrada, documento este que serviu de base para a
análise integrada da bacia, apresentada no Volume 28 do EIA.
No Prognóstico Global, Volume 31 do EIA, também são analisados os cenários de evolução
da bacia do rio Xingu sem o empreendimento (páginas 2 a 30) e com o empreendimento,
neste caso, sem serem consideradas as medidas ambientais propostas (páginas 32 a 53) e
considerando tais medidas (páginas 54 a 74).
A síntese dos resultados destes estudos de cenários é a seguinte: para o cenário tendencial
2015, processando-se as informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-
se alguns pontos notáveis da projeção 2007/2015, sendo que a taxa efetiva de crescimento da
área desmatada é de 4,11%.
Em termos absolutos, o incremento da área desflorestada é de 23.800 km2. Em 2015 a área
desmatada passaria para 98.776 km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 74.976 km
2.
Há uma quantidade expressiva de municípios da bacia que se encontra com o estoque de
florestas disponíveis (fora das áreas protegidas) praticamente exaurido, como os de Altamira
(3,3%), São Félix do Xingu (6,11%) e Ourilândia, do Norte (3,62%), entre outros. Em se
considerando 20% de área florestada como “o mínimo a ser preservado” pela legislação,
esses municípios já não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80%
de ocupação.
Há ainda, pontos notáveis a serem destacados no cenário tendencial 2025: a taxa efetiva de
crescimento da área desflorestada é de 3,15%, em vez de dos 4,11% preliminarmente
assumidos, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização.
O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2 e em 2025, a área desmatada passaria
para 134.699 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 98.776 km2.
Os sete maiores municípios, com participações acima de 4% em termos da contribuição ao
incremento da área desflorestada projetada para 2025, correspondem a São Félix do Xingu,
Altamira, Cumaru, Querência, Nova Ubiratã, Brasil Novo e Gaúcha do Norte. sinalizando,
mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação.
Como se depreende, a manutenção de taxas de crescimento do desflorestamento de 4,11% e
3,15% a.a. do Cenário Tendencial deve levar a exaustão dos estoques de áreas em mais de
uma dezena de municípios. Mais detalhes podem ser encontrados nas paginas 128 a 148 do
Volume 28 – Análise Integrada.
82
É importante enfatizar, entretanto, que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do
desflorestamento, cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se
também a outras demandas de ordem socioeconômica.
O asfaltamento das estradas e vicinais da região, nos moldes de outras rodovias da
Amazônica (por exemplo, a BR-364), promoverá o uso alternativo do solo, com ocupação
das margens da rodovia e a expansão da substituição da vegetação florestal por plantios
agrícolas, pastagens e monoculturas. Para alguns segmentos da sociedade brasileira a floresta
é vista como fator impeditivo ao desenvolvimento, pois há fragilidade na implantação das
políticas alternativas para a conservação das florestas (redução de impostos, pagamento pela
manutenção da floresta em pé, pelos benefícios ambientais daquela floresta protegida).
Enquanto persistir o estímulo, através de políticas públicas para a conversão da floresta para
uso alternativo do solo, o desmatamento continuará acontecendo, independente da
implantação de hidrelétricas.
Não é devido a implantação de hidrelétricas que ocorre o desmatamento na região
amazônica; em termos proporcionais, as áreas que são desmatadas para a implantação de
pastagem e agricultura e que atualmente se encontram abandonadas, são muitas vezes
maiores do que áreas desmatadas ou alteradas pela implantação de hidrelétricas. Estes
empreendimentos podem, no máximo, potencializar uma situação que já ocorre no seu local
de implantação (AID), em função da ausência de fiscalização por parte do poder público
local, estadual e federal.
Exemplos de criação de Unidades de Conservação como medida de compensação em torno
de empreendimentos hidrelétricos são vários na região amazônica, além de apoio na
fiscalização de limites de unidades já existentes e mesmo de terras indígenas (exemplos de
Tucurui, Balbina, Samuel). No caso da UHE Balbina a efetiva implantação e manutenção da
Terra Indígena Waimiri Atroari e da Reserva Biológica do Uatumã, permitiu a proteção de
cerca de 3,5 milhões de hectares de florestas nativas, ou seja, uma área dez vezes maior que a
inundada pelo reservatório.
Objetivando indicar áreas para a criação de unidade de conservação de proteção integral na
região do empreendimento, é proposto no AHE Belo Monte, o Projeto de Criação de
Unidades de Conservação, inserido no Programa de Compensação Ambiental (Volume 33,
item 12.7.5.1, págs. 154 a 160). Neste Projeto são propostos estudos em duas regiões de
interesse, situadas na margem direita do rio Xingu. A primeira região situa-se próxima a
Volta Grande, margem direita do rio Bacajá, um dos mais importantes afluentes do Xingu.
Esta região limita-se com a T.I. Arara da Volta Grande situada na margem esquerda do rio
Bacajá. O polígono de interesse apresenta cerca de 80.000 hectares de floresta em melhor
estado de conservação, quando comparado com as florestas na margem esquerda do rio
Xingu na região da Volta Grande. A criação de uma unidade de conservação nesta região
permitirá a proteção dos últimos maciços florestais de terra firme presentes na região e
também propiciará a proteção das florestas aluviais do rio Bacajá.
A outra área potencial para ser uma unidade de conservação de proteção integral, situa-se do
sul da AII do AHE Belo Monte entre as T.I. Koatinemo e a T.I. Trincheira Bacaja (Unidade
2). Há um polígono com cerca de 200.000 ha, ainda com florestas bem conservadas, que
poderia, junto com as supracitadas terras indígenas, formar um bloco contínuo de floresta
com cerca de 1,6 milhões de hectares. A indicação de proteção de grandes extensões de
maciços florestais na Amazônia vem sendo preconizado por pesquisadores e estudiosos,
83
sendo que estas áreas teriam a capacidade de funcionar como unidades evolutivas, mantendo
populações viáveis de espécies em longo prazo (Peres 2005).
Informações adicionais e contextualização sobre o desmatamento da região de inserção do
empreendimento poderão ser obtidas no Volume 28, que trata da análise integrada dos temas
estudados no EIA e que apresentam informações acerca do desmatamento e alteração de
habitats na região de inserção do empreendimento.
A vegetação aluvial presente no trecho da vazão reduzida constitui APP e deverá ser mantida
como tal, segundo a legislação vigente, portanto, não sendo área passível de ocupação. No
entanto, esta vegetação sofrerá impacto em função da redução de vazão no trecho da Volta
Grande. O Impacto intitulado “Alteração nos Padrões Fenológicos e Composição Florística
das Planícies Aluviais”, está descrito na página 180 do Volume 30 do EIA - Avaliação de
Impacto Ambiental – Parte II. Medidas de Mitigação estão descritas no Volume 33 – Planos,
Programas e Projetos, item 12.8 Plano de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos que se
inicia na página 161.
Para este trecho não há risco de „desertificação‟, uma vez que o termo é utilizado para
descrever o fenômeno que corresponde à transformação de uma área em um deserto.
Segundo a Convenção das Nações Unidades de Combate à Desertificação este termo se
refere à degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de
vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas.
A Bacia do Xingu está inserida na região Amazônica e, portanto, não se enquadra nesta
categoria por se situar em uma região de alta umidade relativa do ar. As áreas suscetíveis à
desertificação são as regiões de clima semi-árido ou sub-úmido seco, encontrados no
Nordeste brasileiro e na região norte do Estado de Minas Gerais, localidades com clima
semi-árido e subúmidos secos.
Volume 28 – Análise Integrada
Quanto as cenários de desmatamento para região, há de se considerar a situação atual da
região de inserção do empreendimento, cuja frente de expansão da região Amazônica pela
rodovia Transamazônica, favoreceu a abertura de áreas e o desmatamento, sem que as leis
ambientais fossem cumpridas, especialmente, na manutenção de reservas legais (80% da área
da propriedade) como também de APPs. Nos dias atuais, observam-se na região,
remanescentes de florestas, resultantes da ocupação estimulada por projetos governamentais
de desenvolvimento baseado em substituição da floresta, especialmente por pastagens, o que
vem sendo praticado na região há mais de 30 anos.
No Prognóstico Global Volume 31 do EIA são analisados cenários de evolução da bacia do
rio Xingu sem o empreendimento (páginas 2 a 30) e com o empreendimento, neste caso, sem
serem consideradas as medidas ambientais propostas (páginas 32 a 53) e considerando tais
medidas (páginas 54 a 74).
Os estudos de AAI também abordam a questão dos cenários de desmatamento para a bacia do
rio Xingu (Estudos da AAI páginas 128 a 148 e Resumo Executivo - páginas 41 e 42).
A síntese dos resultados é a seguinte: para os cenários tendenciais 2015, processando-se as
informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-se alguns pontos notáveis
da projeção 2007/2015, sendo que a taxa efetiva de crescimento da área desmatada é de
84
4,11%. Em termos absolutos, o incremento da área desflorestada é de 23.800 km2. Em 2015,
a área desmatada passaria para 98.776 km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 74.976
km2.
Há uma quantidade expressiva de municípios da bacia que se encontram com o estoque de
florestas disponíveis (fora das áreas protegidas) praticamente exaurido, como os de Altamira
(3,3%), São Félix do Xingu (6,11%) e Ourilândia,do Norte (3,62%), entre outros. Em se
considerando 20% de área florestada como „o mínimo a ser preservado‟, esses municípios já
não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80% de ocupação.
Há ainda, pontos notáveis a serem destacados no cenário tendencial 2025: a taxa efetiva de
crescimento da área desflorestada é de 3,15%, em vez de dos 4,11% preliminarmente
assumidos, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização.
O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2 e em 2025, a área desmatada passaria
para 134.699 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 98.776 km2.
Os sete maiores municípios, com participações acima de 4% em termos da contribuição ao
incremento da área desflorestada projetada para 2025, correspondem a São Félix do Xingu,
Altamira, Cumaru, Querência, Nova Ubiratã, Brasil Novo e Gaúcha do Norte. sinalizando,
mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação.
Como se depreende, a manutenção de taxas de crescimento do desflorestamento de 4,11% e
3,15% a.a. do Cenário Tendencial deve levar a exaustão dos estoques de áreas em mais de
uma dezena de municípios.
Mais detalhes podem ser encontrados nas páginas 128 a 148 do relatório da AAI. Ver página
145 (volume 28), Avaliação Ambiental Integrada.
É importante enfatizar que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do desflorestamento,
cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se também a outras
demandas de ordem socioeconômica.
O asfaltamento das estradas e vicinais da região, nos moldes de outras rodovias da Amazônica
(por exemplo, a BR-364), promoverá o uso alternativo do solo, com ocupação das margens da
rodovia e a expansão da substituição da vegetação florestal por plantios agrícolas, pastagens e
monoculturas. Para alguns segmentos da sociedade brasileira a floresta é vista como fator
impeditivo ao desenvolvimento, pois há fragilidade na implantação das políticas alternativas
para a conservação das florestas (redução de impostos, pagamento pela manutenção da
floresta em pé, pelos benefícios ambientais daquela floresta protegida). Enquanto persistir o
estímulo, através de políticas públicas para a conversão da floresta para uso alternativo do
solo, o desmatamento continuará acontecendo, independente da implantação de hidrelétricas.
Não é devido a implantação de hidrelétricas que ocorre o desmatamento na região amazônica,
em termos proporcionais, as áreas que são desmatadas para a implantação de pastagem e
agricultura e que atualmente se encontram abandonadas, são muitas vezes maiores do que
áreas desmatadas ou alteradas pela implantação de hidrelétricas. Estes empreendimentos
podem, no máximo, potencializar uma situação que já ocorre no seu local de implantação
(AID). Em função da ausência do poder público local, estadual e federal.
85
Exemplos de criação de Unidades de Conservação como medida de compensação em torno de
empreendimentos hidrelétricos são vários na região amazônica, além de apoio na fiscalização
de limites de unidades já existentes e mesmo de terras indígenas (exemplos de Tucurui,
Balbina, Samuel) . No caso da UHE Balbina a efetiva implantação e manutenção das Terra
Indígena Waimiri Atroari e da Reserva Biológica do Uatumã, permitiu a proteção de cerca de
3,5 milhões de hectares de floretas nativas, ou seja, uma área dez vezes maior que a inundada
pelo reservatório.
Objetivando indicar áreas para a criação de unidade de conservação de proteção integral na
região do empreendimento, é proposto no AHE Belo Monte, o Projeto de Criação de
Unidades de Conservação, inserido no Programa de Compensação Ambiental (Volume 33,
item 12.7.5.1, págs. 154 a 160). Neste Projeto são propostos estudos em duas regiões de
interesse, situadas na margem direita do rio Xingu. A primeira região situa-se próxima Volta
Grande, margem direita do rio Bacajá, um dos mais importantes afluentes do Xingu. Esta
região limita-se com a T.I. Arara da Volta Grande situada na margem esquerda do rio Bacajá.
O polígono de interesse apresenta cerca de 80.000 hectares de floresta em melhor estado de
conservação, quando comparado com as florestas na margem esquerda do rio Xingu na região
da Volta Grande. A criação de uma unidade de conservação nesta região permitirá a proteção
dos últimos maciços florestais de terra firme presentes na região e também propiciará a
proteção das florestas aluviais do rio Bacajá.
A outra área potencial para ser uma unidade de conservação de proteção integral, situa-se do
sul da AII do AHE Belo Monte entre as T.I. Koatinemo e a T.I. Trincheira Bacaja (Unidade
2). Há um polígono com cerca de 200.000 ha, ainda com florestas bem conservadas, que
poderia, junto com as supracitadas terras indígenas, formar um bloco contínuo de floresta com
cerca de 1,6 milhões de hectares. A indicação de proteção de grandes extensões de maciços
florestais na Amazônia vem sendo preconizado por pesquisadores e estudiosos, sendo que
estas áreas teriam a capacidade de funcionar como unidades evolutivas, mantendo populações
viáveis de espécies em longo prazo (Peres 2005).
56. Para onde estas pessoas serão realocadas: ribeirinhos, índios, população urbana de
Altamira, agricultores? Por que não ha mais território disponível para ser
ocupado...
A população rural (ribeirinhos, agricultores e índios desaldeados, etc) que atualmente ocupam
áreas rurais ao longo do rio Xingu, situadas no trecho de formação do reservatório, deverão
ser atendidos no âmbito do Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias,
detalhado no Volume 33, podendo optar por uma das seguintes modalidades de atendimento:
Indenização em dinheiro;
Relocação assistida;
Reassentamento em áreas remanescentes do mesmo imóvel;
Relocação para Projeto de Reassentamento.
Conforme explicitado na questão 52, a definição das áreas para reassentamento deverá ocorrer
quando da elaboração do Plano Básico Ambiental, devendo contar com a participação de
todas as partes envolvidas. São áreras que serão adquiridas para este fim pelo empreendedor.
86
Os levantamentos socioeconômicos indicaram que, somente nos municípios de Altamira,
Vitória do Xingu e Brasil Novo, existem estabelecimentos agropecuários que somam
1.600.000 ha. Mesmo considerando a reposição de toda a área rural enquadrada na ADA,
hipótese que não se realizará já que, principalmente ao longo do rio Xingu, muitos imóveis
serão parcialmente afetados, seriam necessários cerca de 106.000 ha.
Assim, observa-se que há uma significativa disponibilidade de áreas já incorporadas ao uso
agropecuário, que podem ser adquiridas para a implantação de projetos de reassentamento,
sem se fazer necessário avançar no desflorestamento da região.
Quanto à população urbana de Altamira, ainda de acordo com o Programa Negociação e
Aquisição de Terras e Benfeitorias, há como possibilidade as seguintes modalidade de
tratamento:
Idenização em dinheiro;
Relocação assistida;
Relocação para Reassentamentos, em lotes de 300m2 e habitações com tamanho
mínimo de 60 m2.
No caso da proposta de Reassentamento, conforme explicitado no referido Programa e no
Programa de Intervenção Urbana em Altamira (Volume 33), o reassentamento deverá ser
realizado no proprio muncípio, próximo as áreas atualmente ocupadas. Observe-se que, de
acordo com os estudos realizados, são necessários para o reassentamento dos 4.362 grupos
domésticos, aproximadamente, 160 ha. Os estudos mostraram também que no perímetro
urbano de Altamira há disponibilidade de, aproximadamente, 420 ha, ainda não ocupados, o
que corresponde a quase 2,5 vezes a área requerida para reassentamento. Estas áreas podem
abrigar cerca 10.000 lotes de 300m², considerando inclusive os arruamentos. Existe, ainda, a
alternativa de reaproveitamento de áreas junto aos igarapés, as quais deverão ser aterradas
para atingir cota superior a 100m.
57. Qual a capacidade máxima da linha de transmissão prevista de escoamento da
energia que será produzida, durante o período de pico (11.000 mw) e para a
energia firme (4.000 mw) ?
Os sistemas de transmissão associados a empreendimentos de geração são dimensionados
para transportar a totalidade de sua capacidade geradora instalada, o que, no caso do AHE
Belo Monte, terá uma capacidade de transmissão de 11.233 MW (potência total instalada na
casa de força principal e na casa de força complementar).
58. Qual será o impacto da barragem na vazão do Rio Bacajá? Qual será o impacto da
vazão ecológica proposta na integridade dos ecossistemas, na diversidade e
abundancia das espécies?
Dado que não se prevêm modificações na bacia hidrográfica do rio Bacajá a serem
provocadas pelo empreendimento, não se identificam alterações nas vazões naturais do rio
Bacajá.
87
As alterações previstas dizem respeito a foz do rio Bacajá, que sofre interferência direta do rio
Xingu. Conforme apresentado na resposta a questão 16, com relação às alterações
hidrológicas do rio Bacajá, o EIA apresenta no volume 11 – Diagnóstico da AID e ADA,
pags. 138 a 172, uma caracterização do escoamento não só no rio Bacajá mas nos outros
afluentes do rio Xingu, pela margem direita, que se localizam no trecho de vazão reduzida.
Esse estudo foi complementado com o resultado de novas seções topobatimétricas e
apresentado ao IBAMA como atendimento aos itens elencados no Parecer
COHID/CGENE/DILIC/IBAMA no 29/2009, considerados necessários à análise de mérito
dos estudos ambientais do AHE Belo Monte.
Em relação a ictiofauna foram realizadas, no rio Bacajá, coletas com redes de malha para
ictiofauna, em dois locais, a saber: 1) próximo da foz do rio Bacajá e 2) na frente da primeira
aldeia indígena, a uns 50 km da foz.
Os resultados do levantamento no rio Bacajá renderam 1.104 indivíduos, pertencentes a 4
ordens e 13 famílias e totalizando 92 espécies de peixes, sendo 51 espécies encontradas nas
proximidades da aldeia indígena e 47 nos pedrais próximos da foz do rio. As espécies mais
abundantes na foz foram Moenkasia sp2, Leoporinus julii, Crenicichla sp "laranja" e
Leporinus trigrinus. Na frente da aldeia destacaram-se Tocantinsia piresi, Auchenipterus
nuchalis, Ageneiosus aff. ucayalensis e Plagioscion surinamensis. Os exemplares capturados
mediam desde 1 cm até 30 cm.
Assim como no Xingu, o ciclo hidrológico e de inundação periódica das áreas marginais
florestadas, pelo transbordamento lateral de águas do rio e ambientes associados é
fundamental para a fauna do rio Bacajá. Neste rio, encontramos tanto peixes sedentários como
migradores, da mesma forma que no rio Xingu.
No modelo de migração proposto no estudo de impacto ambiental da ictiofuana, exemplares
adultos das espécies migradoras, como o Prochilodus nigricans e outros, se deslocam, por
curtas distâncias, rio acima, na busca de locais de inundação adequados para a desova e
alimentação durante a cheia. Neste caso destaca-se a importância dos tributários como o rio
Bacajá para abrigar a ictiofauna que efetua as migrações laterais. Este deslocamento acontece
a cada ano, levando indivíduos maiores, de algumas espécies, a predominar nas áreas mais
altas dos rios e tributários. Aparentemente, a existência das corredeiras e fortes velocidades
das águas, bem como a declividade do rio contribuem para que os deslocamentos anuais dos
peixes migradores não sejam de grandes distâncias. Por outro lado, as fortes velocidades do
rio garantiriam a deriva de larvas e jovens, rio abaixo, permitindo assim o fluxo gênico e o
intercâmbio genético.
Este modelo explica porque não foram observados grandes cardumes de peixes subindo os
rios, durante o período de estiagem e nem indivíduos com gônadas maduras nesse período. Ou
seja, tanto as migrações como a reprodução de muitas espécies da ictiofauna ocorre no inicio
da enchente.
Como a implantação da barragem de Belo Monte no sítio Pimental implicaria em barreira
física para a movimentação de peixes rio acima, espera-se o rio Bacajá seja uma via
alternativa para a subida dos peixes nesta região. Por isto, a manutenção e conservação das
florestas aluviais e áreas de inundação deste rio, devem ser prioridade nos programas de
conservação da região.
88
Se a proposição de um sistema de vazões ecológicas, que garantam pelo menos 8.000 m3.sec
-
1, durante boa parte dos anos, for cumprida, a desova e os deslocamentos dos peixes
migradores no período de cheias será garantida entre a parte baixa do rio e a Volta Grande,
mesmo que em menor proporção ao contingente atualmente existente.
Por tanto se conclui que, espécies migradoras poderão continuar migrando e se reproduzindo
no trecho da Volta Grande e no rio Bacajá, mesmo após a implantação do empreendimento se
os as vazões ecológicas propostas forem respeitadas. Para o trecho a montante do rio Bacajá,
após uns 25 km da foz, não há indícios dos estudos de meio físico, de que haverá alteração na
disponibilidade destas áreas inundáveis. Neste sentido, supõe-se que as metapopulações do rio
Bacajá serão fortalecidas, aumentando sua separação genética dos indivíduos do rio Xingu.
Este efeito pode ser compensado devido à diminuição de competição e ao aumento relativo da
disponibilidade de locais de alimentação, o que torna as condições favoráveis para a
multiplicação destas populações, as quais, portanto, não necessariamente devem diminuir em
abundância.
59. Qual a garantia real e legal de que não serão construídos outros barramentos
futuros acima de Altamira, já que a energia firme de Belo monte é apenas 39% da
potência instalada e precisaria de mais água para turbinar? A resolução do
Conselho Nacional de política Energética não é suficiente. Trata-se de Conselho
Consultivo da Presidência da República que se reúne com a freqüência que se
queira e pode revogar suas decisões anteriores, não é instância superior ao
Congresso Nacional nem às altas esferas do poder judiciário. .Exemplos do que já
ocorreu no passado sobre resoluções:
Em 2005, o Congresso Nacional subitamente aprovou a construção de Belo Monte,
sem debate e muito menos com consultas aos povos indígenas, como mencionado
na Constituição. A facilidade com que a proteção da Constituição foi rompida no
caso de Belo Monte levanta a possibilidade de contar com a regulação do rio Xingu
com Babaquara/Altamira.
Outro caso foi o enchimento de Balbina, que era para permanecer durante vários
anos na cota de 46 metros acima do nível do mar, mas foi diretamente enchido,
além da cota originalmente prevista de 50 metros.
Num Estado de Direito as garantias reais e legais de qualquer ordem são decorrentes da
preservação das instituições legitimamente constituídas. No caso de estudos de inventário
hidrelétrico de bacias hidrográficas, as instituições legitimamente responsáveis pelo
ordenamento técnico e legal são a ANEEL, Ministério de Minas e Energia e o CNPE.
Desta forma, conforme exposto na questão 41, os estudos de inventário e a resolução do
CNPE são as garantias da previsão da construção de um único aproveitamento na bacia do rio
Xingu, no momento.
89
60. Por que as empresas privadas não querem assumir a construção da obra na região
dos diques e dos reservatórios e transferir essa responsabilidade para Empresas da
Eletrobrás como tem saído nos jornais?
Os responsáveis pela totalidade do empreendimento serão conhecidos após o leilão.
61. Existe risco geológico em fazer os reservatórios sobre os terrenos da Volta Grande
que é uma região de transição de terrenos e cheia de cavernas? Não haveria risco
da água armazenada escapar por fraturas tal como já acontece no trecho do leito
da Volta Grande que a água passa por baixo das pedras? Só os diques (que são na
verdade barragens pelos desenhos do EIA) seguram a água?
As cavidades subterrâneas (cavernas) estão na Formação Maecuru, na faixa de rochas
sedimentares da Bacia Amazonas, aflorante nas escarpas entre os igarapés Santo Antonio e
Santa Elena, na margem esquerda do Reservatório dos Canais, com comprimento de 9,2 Km,
o que representa uma porcentagem de 3,37 % em relação ao comprimento da margem do
reservatório. Portanto, as áreas de ocorrência dessas cavernas são conhecidas e localizadas
e não estão distribuídas de forma generalizada sobre os terrenos da Volta Grande, não
implicando, portanto, em riscos de construção dos reservatórios.
NO CAPÍTULO 7.7.10 (VOLUME 11, PÁGINA 444) DO EIA FOI EFETUADA
ANÁLISE DAS INVESTIGAÇÕES E AVALIAÇÃO DE RISCOS GEOLÓGICO
GEOTÉCNICOS E FUGAS DE ÁGUA PARA OS DIVERSOS SÍTIOS DA OBRA
INCLUINDO AQUELES DOS CANAIS DIQUES.
No Apêndice 7.7.10.1 desse Capítulo foram apresentadas as investigações geológico-
geotécnicas efetuadas e feita a avaliação de cada um dos sítios, de forma abrangente e
detalhada, enquanto no Quadro 7.7.10.1, é apresentada a avaliação de forma sintetizada ,
sendo que abaixo está reproduzida a avaliação para o caso dos diques
90
Sítios
Construtivos/Estruturas Investigações Realizadas Possíveis Condicionantes Possíveis Processos Tratamentos de Fundação
Diques
Belo Monte ME: 3, 4.
Mapeamento geológico-
geotécnico (escala 1:5.000);
Sondagens rotativas com ensaios
de perda d‟água sob pressão em
alguns diques;
Sondagens a percussão com
ensaios de infiltração em alguns
diques;
Sondagens a trado;
Poços de inspeção;
Coleta de amostras deformadas e
indeformadas;
Sísmica de refração;
Sondagens elétricas verticais;
Ensaios de laboratório:
-Solos: caracterização e ensaios
especiais.
Folhelhos e ritmitos pouco
coerentes e incoerentes e seus
solos residuais e
descontinuidades sub-horizontais
associadas ao acamamento e às
lâminas do folhelho.
Instabilizações nos diques Seções dos diques com
taludes abatidos e bermas
estabilizantes;
Escavação do arenito até
exposição do solo residual
com resistência elevada;
Sistemas de drenagem
interna, filtro horizontal e
tapete drenante;
Execução de trincheira (cut-
off) com largura de base
entre 5 a 10m conforme a
altura do dique e base em
solo residual ou de
alteração;
Remoção total dos blocos
soltos e no caso de
concentração dos blocos
remoção em profundidade
ou injeção;
Remoção do colúvio entre
0,5 e 3m, conforme altura
do dique.
Belo Monte MD: 6A, 6B Ritmitos
Diques
Belo Monte MD: 6C e
7A
Arenitos nas ombreiras dos
diques.
Efeitos indesejáveis de
percolação como
concentração de fluxo,
cargas hidráulicas elevadas
e eventual piping.
Diques
Belo Monte MD: 6A,
6B, 6C, 7A, 7B, 7C, 7D,
10A, 11, 12, 13,
14A,14B, 14C, 14D, 14E,
18, 19 E 20.
Bela Vista: 19A, 23,
23A, 24, 24A, 25, 26, 27,
28 E 29
Solos de alteração de migmatito
espessos nas ombreiras
predominantemente e em alguns
casos na porção central, muitas
vezes associados a blocos de
rocha.
Milonitos, cataclasitos e zonas
de falha no maciço rochoso e
contato solo de alteração/topo
rochoso com altas
condutividades hidráulicas.
Canalículos de origem radicular
e termítica no colúvio, solos
residual e de alteração.
Diques
Eventuais coluviões espessos e
colapsíveis.
Fenômenos de colapso
quando saturados
91
Eventuais riscos decorrentes de quantitativos e tipos de investigações que caracterizaram a
etapa de viabilidade, são praticamente inexistentes ou de pouca relevância, que deverá ser
ainda reduzida com as campanhas a serem desenvolvidas nas próximas etapas de projeto
básico e executivo e também com o acompanhamento geológico durante a implantação da
obra.
Foram previstos em projeto, já nessa etapa de viabilidade, soluções e tratamentos de
fundação para as obras projetadas, incluindo os diques, que contemplam possíveis
condicionantes e processos geológico-geotécnicos (incluindo as fraturas do maciço rochoso)
relacionados a risco. Considera-se, ainda, que:
As campanhas de investigações das próximas etapas de projeto (básico e executivo),
além do acompanhamento geológico durante a implantação da obra, permitirão um
melhor conhecimento dos condicionantes e de processos associados a risco e,
portanto, as soluções de projeto e os tratamentos de fundação serão adequados de
forma a eliminar ou reduzir a relevância dos eventuais riscos a níveis desprezíveis.
Muitos dos condicionantes e processos relacionados a risco identificados para o AHE
Belo Monte são usuais e requerem intervenções, soluções de projeto e de
tratamento de fundação também usuais e já empregadas em outros aproveitamentos
hidrelétricos.
Para alguns condicionantes e processos geológico-geotécnicos que possam
demandar investigações mais detalhadas e, conseqüentemente, também
detalhamentos, ajustes e alterações nas soluções de projeto e de tratamento de
fundação, avaliam-se a necessidade de soluções usuais e a possibilidade de utilizar
experiências prévias, amplamente conhecidas e empregadas em outros
aproveitamentos hidrelétricos brasileiros.
Assim, riscos decorrentes dos condicionantes e processos geológico-geotécnicos (incluindo
as fraturas do maciço rochoso) identificados na avaliação dos diversos sítios do AHE Belo
Monte são, de maneira geral, de pouca relevância. Uma exceção é a possibilidade de fuga
de água dos reservatórios, à qual está associado um risco de maior relevância
comparativamente com os demais condicionantes e processos relacionados a risco.
A faixa de rochas sedimentares da Bacia Amazonas aflorante nas escarpas entre os igarapés
Santo Antonio e Santa Elena, na margem esquerda do Reservatório dos Canais, com
comprimento de 9,2 Km, o que representa uma porcentagem de 3,37 % em relação ao
comprimento da margem do reservatório, apresenta a Formação Maecuru portadora de
cavidades subterrâneas e de feições desenvolvidas a partir de processos de piping. Observa-se
que, a princípio, a Caverna Kararaô e outras cavidades menores existentes nas proximidades
além de outras feições de piping menores, são aquelas com possibilidades de fuga d‟água do
reservatório e que deverão ser objeto de estudos complementares com ações preventivas, de
monitoramento e/ou de mitigação. Essas feições estão em áreas localizadas dentro do setor de
9,2 Km da faixa de rochas sedimentares.
Os reservatórios devem ser necessariamente estanques e não devem apresentar fugas de água
significativas e, portanto, o projeto de engenharia contemplará um sistema de controle para
prevenir a possibilidade ou para reduzir o risco de ocorrência desse processo a níveis
desprezíveis, com base no desenvolvimento do Programa de Controle da Estanqueidade dos
92
Reservatórios. Várias alternativas são visualizadas, entre elas, tapetes de argila e outros
dispositivos de impermeabilização comumente empregados em soluções para condicionantes
de percolação através de fundação de barragens, além de diques com fundação em solos de
alteração de rochas cristalinas/rochas cristalinas do Complexo Xingu e/ou da Formação
Trombetas.
62. Haveria água para turbinar a casa de força principal se a vazão do Xingu estiver
próxima de 700m3/s?
Ver resposta da questão 53.
63. Como fica o esgoto sanitário de Altamira com o aumentos dos níveis de água. Vai
funcionar? Não vai haver brotamento de água na cidade?
Esgotos em Altamira
O volume 11 – Diagnóstico da ADA e AID (físico) apresenta os estudos de remanso
efetuados especificamente para os igarapés Altamira, Ambé e Panelas (pags. 59 a 101).
Conforme mostrado nas tabelas apresentadas no EIA para cada um dos igarapés de Altamira,
os níveis d‟água e velocidades serão afetados com a formação do reservatório principal, em
relação a situação natural. Uma análise feita para o igarapé Altamira, que tem sua bacia de
drenagem bastante ocupada e recebe esgoto “in natura”, além do lixo, mostra reduções de
velocidades para a metade do valor atual em condições de cheia no igarapé e velocidade
próxima de zero em condições de vazões menores.
Essas novas condições que serão criadas poderão propiciar o desenvolvimento do processo de
eutrofização, uma vez que os efluentes gerados na bacia e lançados sem tratamento nas águas
dos igarapés irão sofrer uma concentração pela resistência à circulação da água dos igarapés
bloqueados pelas águas do reservatório. O maior tempo de residência destas águas irá agravar
o cenário.
O estudo de qualidade de água deste EIA apresentado no volume 15 – ADA e AID (Biótico)
considerou especificamente a análise de colimetria de Escherichia coli como parâmetro de
avaliação da qualidade da água considerando que é um bom indicador de contaminação por
esgotos ou dejetos animais que são prejudiciais à saúde humana. Os maiores valores de
abundância desse parâmetro foram observados nos locais onde há maior influência das
atividades humana como nos igarapés Panelas e Altamira.
Com o aumento de nutrientes e do tempo de residência, as algas cianofíceas e as macrófitas
aquáticas serão favorecidas podendo aumentar muito suas populações, comprometendo a
biodiversidade aquática e os usos destes igarapés e poderão funcionar como importantes
regiões de contribuição destes organismos para o rio Xingu. Esse impacto foi avaliado no EIA
como de relevância alta e magnitude alta
Como medida prevista para esse impacto foi apresentado no EIA o Plano de Requalificação
Urbana- Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no volume 33 – Planos,
Programas e Projetos (páginas. 310 a 325). Esse Programa propõe a implantação de um
sistema de coleta e tratamento de esgoto para a cidade. O detalhamento de projeto executivo
desse sistema de tratamento será objeto da próxima fase de licenciamento, no âmbito do
detalhamento do PBA.
93
Surgência de água em Altamira
Foi apresentado no EIA o Plano de Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em
Altamira, no volume 33 – Planos, Programas e Projetos (páginas. 310 a 325). Esse Programa
propõe a implantação de um sistema de coleta e tratamento de esgoto para a cidade. O
detalhamento de projeto executivo desse sistema de tratamento será objeto da próxima fase de
licenciamento, no âmbito do detalhamento do PBA e deverá apresentar as especificações para
que as obras a serem implantadas apresente bom desempenho, considerando necessariamente
as características locais geológico-geotécnicas e de nível d`água subterrânea. Por outro lado a
implantação das obras deverá seguir as especificações de projeto.
Em decorrência da elevação permanente dos níveis de água subterrânea nos aluviões de
Altamira, devido à implantação do reservatório do Xingu, estão previstas inundação,
surgências de água, perenização e formação de novas áreas úmidas e alagadas, sendo que os
locais prováveis de ocorrência desses processos estão apresentados no EIA. Avaliam-se que
as áreas de maior criticidade quanto a esses processos são aquelas onde o nível d`água do
aqüífero superficial constituído pelo aluvião (mostrado no mapa de isoprofundidade dos
níveis d`água da campanha de 17 a 19 de abril de 2007 do Capítulo Águas Subterrâneas –
Desenho 6365-EIA-DE-G91-022) situa-se a profundidades menores que 2,0 a 3,0 m, de
maneira geral, nas regiões urbanizadas da foz do igarapé Altamira e entre os igarapés
Altamira e Ambé. Outras áreas suscetíveis a esses processos são aquelas dos aluviões dos
igarapés Panelas e Trindade, mostrados nos diversos mapas temáticos do EIA.
Áreas atualmente sujeitas à inundação nas épocas de cheia serão inundadas permanentemente
com o reservatório. Incluem-se nessas condições as áreas junto ao reservatório cuja superfície
do terreno está abaixo do nível do reservatório e também as depressões que podem sofrer
inundação pela elevação do lençol freático e intersecção desse nível pela topografia do
terreno, tal como as lagoas junto aos poços 51 e 54, nas proximidades das ruas Independente e
Aldo Tora, indicados no mapa de profundidades dos níveis d`água obtidos na campanha de 17
a 19 de abril de 2007(Desenho 6365-EIA-DE-G91-022).
64. O Rima é bonito e colorido, mas não fala nada em risco hidrológico na Volta
Grande, após a barragem principal. Vai ter água para poços, a que profundidade,
com que qualidade?
Esse assunto foi contemplado na resposta apresentada à questão 17 – Volta Grande.
65. Porque um estudo com 20 mil páginas é divulgado com tão pouco tempo para
apreciação da sociedade? Não dá tempo de ler. Um dia antes da audiência ainda
foram divulgados volumes de complementação dos estudos antropológicos. Por que
tanta pressa se o processo é para ser sério?
O volume dos estudos antropológicos entregue em setembro às vésperas das Audiências
refere-se à População Indígena Urbana da Cidade de Altamira e Famílias Indígenas
Moradoras da Região da Volta Grande do Rio Xingu, cujo Termo de Referência, conforme
mencionado na página 12 de 230 do Painel de Especialistas, foi entregue pela FUNAI à
ELETROBRÁS apenas em 05/01/2009. Considera-se que o prazo de oito meses para a
realização dos trabalhos, que incluíram pesquisa censitária abrangente no município de
Altamira e na Volta Grande do Xingu, foi um prazo recorde para o grau de detalhamento e
precisão do documento.
94
Ressalte-se ainda que estas famílias indígenas já haviam sido cadastradas na pesquisa sócio-
econômica do EIA e que estarão incluídas em todos os Planos, Programas e Projetos previstos
para as populações urbanas de Altamira e ribeirinha da Volta Grande do Xingu. Mesmo
assim, a FUNAI considerou necessária a realização de um estudo com estas famílias, que hoje
se encontram em uma situação sui generis, visto que, apesar de serem indígenas, não são
reconhecidos pela FUNAI e pela FUNASA como tal.
O trabalho realizado, inédito em estudos de EIA/Rima, procurou apontar Planos, Programas e
Projetos adicionais e específicos para esta população, como forma de melhor respeitar suas
peculiaridades culturais e sociais.
66. Uma das maiores riquezas naturais do rio Xingu são as tartarugas. É possível que
as praias desapareçam e as tartarugas sofram. Teriam que ser feitas praias
artificiais e talvez para sempre a areia tenha que ser adicionada. Qual o custo
disso? Os dados de sedimentologia são insuficientes (EIA volume AAR, pág. 72)
para dizer que o Tabuleiro do Embaubal possa ser preservado.
A questão dos tabuleiros das tartarugas, na ria do Xingu, está bem discutida no diagnóstico do
EIA (Volume 16 – Fauna Aquática, Diagnóstico Quelônios, Página 138. Esse diagnóstico
mostra que os problemas com a tartaruga já vem ocorrendo nos últimos anos, em função de
eventos de repiquete com a súbita subida do rio no pico da estiagem e durante o período
reprodutivo das tartarugas-da-amazônia.
Os estudos de sedimentos indicaram que em vazões menores, com cerca de 1000 m3/s, a
região dos tabuleiros também sofre influência da maré de jusante. Além disso, a grande
pressão antrópica para a coleta de ovos e adultos que atualmente ocorre nos tabuleiros,
prejudica o sucesso reprodutivo desta espécie. Há dificuldade de fiscalização pelo órgão
ambiental por ser uma área muito ampla. Tais fatos associados remetem, sem considerar o
empreendimento, à necessidade urgente de implantação de ações de manejo, conservação
destes tabuleiros, bem como o controle da pressão antrópica sobre as tartarugas. Sendo assim,
o EIA avaliou, com base no diagnóstico e na situação atual dos sítios reprodutivos, bem como
nos resultados dos estudos de sedimentos os impactos e ações que serão potencializadas com
a implantação do empreendimento.
Ainda, o modelo matemático feito para análise da qualidade da água, para o reservatório dos
canais demonstra haverá pouca ou nenhuma influência numa distância de 60 km do local de
restituição de vazão, onde estão os tabuleiros das tartarugas. Este impacto foi descrito sob o
seguinte título “Perturbações Comportamentais nas Populações de Tartarugas-da-Amazônia
pela Intensificação do Fluxo de Embarcações”, cuja detalhe da descrição e avaliação pode ser
observado no Volume 30 – Avaliação de Impactos – Parte 2, página 212. Além disso, há um
projeto específico de conservação e proteção desses tabuleiros, contido no Volume 33 –
Projeto de Monitoramento e Manejo de Quelônios e Crocodilianos, contido em Planos,
Programas e Projetos. Quanto ao dimensionamento dos custos de ações de manejo que serão
previstas nos programas ambientais, estes deverão ser detalhados no âmbito do Projeto Básico
Ambiental – PBA, o qual é desenvolvido em outra etapa do licenciamento ambiental, isto é,
para a solicitação da licença de instalação, após a obtenção da LP e respectivas
condicionantes.
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67. Não se sabe bem qual o custo financeiro do AHE de Belo Monte, mas se sabe que
oscila na casa de dezenas de bilhões. Também o custo ambiental, se fosse
transformado em dinheiro, serão outras dezenas de bilhões. Apesar disso, o
governo está seriamente empenhado na sua construção. Ou seja, parece que a
energia elétrica é o bem mais valioso a ser extraído do Xingu e isso a qualquer
preço. Dependente ou mesmo independente de seu custo, é preciso saber, para
quem ou para que esta energia está sendo produzida. Informação sobre isso é um
direito do cidadão (sobretudo daquele que vive na região) e um dever do governo
democrático. O que o governo tem a dizer sobre isso?
Quando implantado, o Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte irá compor o parque gerador
de energia elétrica brasileiro e a energia gerada pelo empreendimento será interligada à rede
básica de transmissão. Portanto, o AHE Belo Monte fará parte do Sistema Interligado
Nacional podendo suprir de energia elétrica as demandas de grande parte do território
brasileiro, do Amapá ao Rio Grande do Sul, de acordo com o despacho de carga realizado
pelo Operador Nacional do Sistema – ONS. Cabe ressaltar que a demanda de energia elétrica
paraense está contemplada nos planos setoriais de atendimento.
68. Quando e como serão realizadas as oitivas indígenas?
Em relação à oitiva dos índios, o Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida pela
Ministra Ellen Gracie, em 16.03.2007, nos autos da Suspensão de Liminar nº 125, determinou
que se deve “permitir ao IBAMA que proceda à oitiva das comunidades indígenas
interessadas.”
Sendo assim, em consonância com o posicionamento do STF acerca da correta interpretação a
ser dada ao artigo 231, §3º, da Constituição Federal, e ao Decreto Legislativo federal 788 de
2005, e seguindo o procedimento de audiência pública, previsto nos artigos 32 a 35 da Lei
Federal 9.784/99 e na Resolução CONAMA 09/87, tem-se que as audiências públicas
conduzidas dos dias 10 a 15 de setembro de 2009 devem ser consideradas o momento em que
o IBAMA proporcionou a oitiva das comunidades afetadas pelo projeto do AHE Belo Monte.