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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 1 Análise Geoecológica da Bacia Hidrográfica do Rio Trairussu, Aquiraz/Ceará - Brasil Francisco Otávio Landim Neto Universidade Federal do Ceará [email protected] Francisco Davy Braz Rabelo Universidade Federal do Ceará [email protected] Edson Vicente da Silva Universidade Federal do Ceará [email protected] Introdução O litoral cearense, com seus 575 quilômetros de extensão linear possui uma variedade de paisagens que são peculiares por sua beleza cênica e importância ecológica caracterizada por está numa zona de interface entre o meio continental, marinho e atmosférico podendo ser considerado com uma sub região. Um geossistema sujeito a constantes intercâmbios de fluxo de matérias e energia. Tal fato leva a ocorrência de níveis de estabilidade natural bastante frágil, onde o manejo adequado de suas feições naturais é necessário para a conservação dos seus recursos, bem como do conjunto do espaço geográfico litorâneo. Entre os ambientes de maior importância ecológica e econômica do litoral, destacam-se as planícies fluviais e áreas estuarinas que são ocupadas por manguezais, sendo um dos responsáveis pela produtividade pesqueira e pela estabilidade da linha de costa. A conservação está diretamente ligada a harmonização paisagística (atrativo turístico) e a produção biológica (pesca e aqüicultura), sendo, portanto justificáveis que pesquisas sejam realizadas visando uma maior compreensão de suas estruturas e processos atuantes, bem como analisar os seus atuais estágios de ocupação. Nas últimas décadas, tem ocorrido uma intensificação nas formas de uso e ocupação do litoral cearense, com conseqüente perda da qualidade ambiental e de vida das comunidades pesqueiras. Vasconcelos (2005) afirma que: A população litorânea disputa um mesmo espaço geográfico para as mais diversas atividades e

Análise Geoecológica da Bacia Hidrográfica do Rio

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física

II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física

Universidade de Coimbra, Maio de 2010

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Análise Geoecológica da Bacia Hidrográfica do Rio Trairussu,

Aquiraz/Ceará - Brasil

Francisco Otávio Landim Neto

Universidade Federal do Ceará

[email protected]

Francisco Davy Braz Rabelo

Universidade Federal do Ceará

[email protected]

Edson Vicente da Silva

Universidade Federal do Ceará

[email protected]

Introdução

O litoral cearense, com seus 575 quilômetros de extensão linear possui uma

variedade de paisagens que são peculiares por sua beleza cênica e importância

ecológica caracterizada por está numa zona de interface entre o meio continental,

marinho e atmosférico podendo ser considerado com uma sub região. Um geossistema

sujeito a constantes intercâmbios de fluxo de matérias e energia. Tal fato leva a

ocorrência de níveis de estabilidade natural bastante frágil, onde o manejo adequado

de suas feições naturais é necessário para a conservação dos seus recursos, bem como

do conjunto do espaço geográfico litorâneo.

Entre os ambientes de maior importância ecológica e econômica do litoral,

destacam-se as planícies fluviais e áreas estuarinas que são ocupadas por manguezais,

sendo um dos responsáveis pela produtividade pesqueira e pela estabilidade da linha

de costa. A conservação está diretamente ligada a harmonização paisagística (atrativo

turístico) e a produção biológica (pesca e aqüicultura), sendo, portanto justificáveis

que pesquisas sejam realizadas visando uma maior compreensão de suas estruturas e

processos atuantes, bem como analisar os seus atuais estágios de ocupação.

Nas últimas décadas, tem ocorrido uma intensificação nas formas de uso e

ocupação do litoral cearense, com conseqüente perda da qualidade ambiental e de

vida das comunidades pesqueiras. Vasconcelos (2005) afirma que: A população

litorânea disputa um mesmo espaço geográfico para as mais diversas atividades e

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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finalidades, entre elas, a habitação, a indústria, o comércio, a agricultura, a pesca, o

lazer e o turismo. Torna-se natural que um espaço restrito pelo adensamento

populacional, grupos distintos disputem uma mesma área para atividades diferentes,

mas muito conflitantes e até mesmo antagônicas. A ocupação desse espaço concorrido

está entre as principais causas de riscos ambientais na zona costeira (VASCONCELOS,

2005 p.31).

Devido à interdependência existente entre os elementos que compõem a planície

litorânea, intervenções sociais não planejadas, irão certamente afetar todo o conjunto

de unidades e modificar os fluxos de matéria e energia. Desta forma, a definição e

delimitação do potencial de suporte, áreas de risco e vulnerabilidades das unidades

ambientais, tratam-se de importantes ferramentas de gestão e planejamento. Silva

(1993) reforça que: As medidas de planejamento do espaço geográfico não devem se

basear exclusivamente nos aspectos sócio-econômicos, mas também sobre as

condições ecológicas, buscando a racionalização das mesmas, por meio da

interdisciplinaridade é possível a elaboração de propostas de planejamento que

adequem-se ao uso dos recursos naturais e a transformação do meio ambiente (Silva,

1993 p.25).

Cabe ainda destacar que o planejamento ambiental possui grande importância na

compreensão e analise da realidade das comunidades litorâneas, com isso o ato de

planejar deve ser construído e reconstruído com a população que habita as

comunidades das áreas litorâneas, sendo que os diversos problemas visualizados

devem ser sanados com a participação conjunta dos sujeitos planejadores.

Caracterização da Área de Estudo

As bacias hidrográficas da Região Metropolitana de Fortaleza representam um

conjunto de bacias das mais diversas formas e tamanho, cobrindo uma área total de

15.085 km², corresponde a 10,18% do território cearense. Compreendendo um

agrupamento de 16 microbacias, abriga o mais importante centro consumidor de água

do Estado do Ceará que corresponde a Região Metropolitana de Fortaleza, onde a

disponibilidade hídrica tem sido insuficiente para o atendimento da população como

também para o suprimento das diferentes atividades econômicas desenvolvidas. No

momento está sendo necessário importar água de outras bacias hidrográficas,

principalmente através de transposição hídrica por meio do Canal do Trabalhador e do

eixo Castanhão/ R.M.F, que tem suas águas distribuídas por 31 municípios cearenses

localizados, na sub região nordeste do estado do Ceará. As sub-bacias da sub região

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estão posicionadas no sentido oeste-leste, estando representadas pelos rios: São

Gonçalo, Gereraú, Cauipe, Juá, Ceará, Maranguape, Cocó, Coaçu, Pacoti, Catu,

Caponga Funda, Caponga Roseira, Malcozinhado, Uruau, Pirangi e Choro.

A área de estudo em questão se configura em um setor geográfico da Bacia

Hidrográfica do rio Catú localizada no município de Aquiraz conforme a classificação da

Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará. O rio Trairussu possui uma área

de drenagem com aproximadamente 20 Km² trata-se de um corpo hídrico de caráter

perene, com escoamento ocorrendo tanto durante o período seco como chuvoso. A

figura 01 indica a área de localização da sub bacia do rio Trairussu.

Fonte: Landim, 2010

Unidades Geoecológicas da Bacia Hidrográfica

Na área da bacia, efetivou-se a delimitação de diferentes unidades/ feições da

paisagem que foram delimitadas de acordo com os procedimentos metodológicos que

seguem os referenciais contidos em estudos integrados concernentes a sociedade e

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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natureza. Para o estabelecimento das unidades geoecológicas da paisagem foi utilizada

a geomorfologia como a variável de importância fundamental, pois os limites do relevo

e as feições morfológicas são mais facilmente identificadas e delimitadas. A partir da

delimitação fez-se uma caracterização geoecológica das unidades encontradas na área

de estudo, sendo definidas as seguintes unidades de paisagens.

1. Faixa Praial

A faixa de praia é constituída por sedimentos holocênicos que formam um depósito

continuo alongado pela extensão da costa, desde a linha de maré baixa até a base das

dunas móveis. Tais sedimentos são formados por areias quartzosas sujeitas á ação

abrasiva das marés que lhe fornece uma dinâmica resultando em continuas mudanças

nas formas.

Está unidade geoecológica possui um importante potencial paisagístico para as

atividades de lazer e turismo. Porém torna-se necessário destacar que as

características geográficas deste ambiente lhes confere um alto grau de instabilidade

estando dessa forma sujeitas a mudanças constantes. Os pescadores utilizam a praia

como ancoradouro das jangadas usadas na pesca realizada no mar garantindo a

sobrevivência familiar através da atividade pesqueira.

2. Campo de Dunas Móveis

As dunas de geração mais recente com seus sedimentos arenosos de granulometría

fina, não apresenta uma evolução pedogenética eficiente. Essas dunas compõem

cordões paralelos a faixa praial, tendo sua gênese morfológica condicionada á ação

eólica que transporta as areias finas depositadas na praia até o interior.

O caráter de ambiente recém constituído, restringe o desenvolvimento de uma

cobertura vegetal evoluída, sendo que ou está desprovida de espécies vegetais ou

colonizada de forma incipiente por uma vegetação pioneira Psamófila, de fisionomia

herbácea e gramínea, ausência de uma cobertura vegetal significativa forma o

ambiente bastante instável geomorfologicamente, uma vez que os ventos mobilizam

seus sedimentos arenosos, fazendo as dunas moveis migrarem sobre outras unidades

geoecológicas, com as planícies lacustres e fluviais.

3. Campo de Dunas Fixas

Constituído por dunas bioestabilizadas pela vegetação, e organizadas em cordões

arenosos mais afastados da linha de costa, essa unidade geoecológica é bastante

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diferenciada das dunas moveis. Apresenta um horizonte superficial desenvolvido a

partir da ação biológica favorável a uma evolução pedológica mais eficiente.

A vegetação Subperenifólia de dunas contribui efetivamente na estabilização do

relevo e na formação de um microclima com temperaturas mais amenas e com

maiores teores de umidade edáfica e atmosférica. As dunas fixas atuam como uma

barreira ecológica reduzindo o avanço do relevo de dunas móveis sobre outras

unidades geoecológicas.

Além de propiciar habitats para diferentes espécies animais, vegetais, os campos de

dunas móveis e fixas, apresentam um grande reservatório de água subsuperficiais que

alimentam por percolação os ambientes de planícies lacustres, fluviais e fluvio-

marinhas. Destaca-se que são áreas protegidas ambientalmente e constituem um dos

mais importantes potenciais paisagísticos naturais.

4. Planície Fluvio Marinha.

O rio Trairussu desemboca no riacho Barro Preto que possui depósitos Fluvio

marinhos acumulados pela ação conjunta de processos continentais e marinhos,

caracterizados pela deposição de sedimentos finos, siltosos e argilosos, sendo ricos em

matéria orgânica.

A mistura da água doce dos rios com a água salgada do mar que penetra por meio

das marés no continente favorece a formação e desenvolvimento da vegetação de

mangue, representada por espécies arbóreas como o mangue-vermelho (Rhizophora

mangle), o mangue-preto (Avicennia Schaucriana e Avicennia germinans), o mangue

branco (Laguncularia racemosa), e o mangue ratinho (Conocarpus erectus). Essas áreas

apresentam solos lamacentos e muito escuros em virtude da grande quantidade de

matéria orgânica, os solos são salinos e ácidos, não tendo capacidade edáfica para

cultivos agrícolas.

Devido a contínua disponibilidade de nutrientes este ecossistema possui um

elevado número de espécies da fauna que utiliza os manguezais para alimentação,

reprodução e abrigo. Com a alta capacidade de reprodução, a maioria dos peixes,

crustáceos e moluscos possuem um poder de recuperação populacional bastante

acentuado, desde que não seja interrompido o ciclo reprodutivo dessas espécies, nem

haja excessiva exploração de determinadas espécies ou ainda marcantes alterações

ambientais (Silva, 1987).

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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5. Tabuleiros Pré- Litorâneos

Trata-se de uma superfície plana com um caimento suave em direção a linha da

costa, exerce e recebe grande influência em relação a planície litorânea uma vez que

há um permanente intercambio de sedimentos com suas unidades geoecológicas. Seus

solos dominantes são as Areias Quartzosas Distróficas, de baixa fertilidade estando

associadas aos Podzolicos Vermelho-Amarelos Distróficos, encontra-se recobertos por

uma vegetação secundaria, a vegetação subcaducifolia de Tabuleiro.

Devido a um uso e exploração continua e intensa, a cobertura vegetal original foi

significativamente degradada onde tem-se a predominância das seguintes espécies

vegetais: coqueiros; cajueiros; cultivo de mandioca, milho e feijão. Atualmente há o

predomínio da atividade agrícola e pecuária, sendo que a vegetação natural, foi

substituída por cultivos permanentes de frutíferas (cajueiros, coqueiros e mangueiras)

e cultivos de subsistência.

6. Planícies Fluviais

As planícies fluviais é uma feição típica de acumulação que são formadas pelas

ações e deposições dos rios, com sedimentos formados por areias grossas, silte e

argila. As áreas de acumulação fluvial são constituídas pelas margens e terraços do rio

Trairussu com seus afluentes, são nessas áreas onde se apresentam as melhores

condições de solo aluviais com presença de matéria orgânica de boa fertilidade

natural. Nessas áreas aluviais se desenvolve a Vegetação Ribeirinha que é composta

por arvores de grande porte, sendo também adequados para as culturas agrícolas,

sobressaindo-se o feijão, milho, cana-de-açúcar e a mandioca.

Há terrenos mais próximos ao curso d água que possuem um maior acumulo hídrico

superficial, favorecendo seu uso agrícola durante quase todo ano. As áreas mais

afastadas dependem das águas das chuvas e das cheias fluviais para poderem produzir

agricolamente.

7. Planície Lacustre

A lagoa da Encantada, que representa o maior corpo hídrico superficial da área de

estudo, possui amplas superfícies de inundação em ambas as margens. Essas planícies

lacustres possuem características ambientais similares aos das planícies fluviais, apesar

de serem territorialmente mais largas.

O histórico de uso e ocupação levou a destruição da vegetação ribeirinha

anteriormente presente nas margens da lagoa, atualmente as mesmas são ocupadas

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por cultivos de caráter temporário, característicos da agricultura de subsistência local

como batata-doce, macaxeira, mandioca, feijão e milho. Algumas hortaliças são

produzidas nos terrenos mais altos, sendo irrigados com água da lagoa. A Figura 02

indica a delimitação cartográfica das unidades geoecológicas da Bacia Hidrográfica.

Fonte: Landim, 2010

A Construção Metodológica de Um Estudo Integrado

Procurou-se realizar uma pesquisa de caráter interdisciplinar, decidindo-se optar

por uma abordagem metodológica sistêmica, onde a analise socioambiental está

voltada para uma visão de síntese do conjunto do espaço geográfico estudada.

A concepção sistêmica consiste em uma abordagem de qualquer diversidade da

realidade estudada (objetos, propriedades, fenômenos, relações, problemas,

situações) regulada em um outro grau que se manifesta mediante algumas categorias

sistêmicas, tais como: estrutura, elemento, meio, relação e intensidade. (RODRIGUES,

VICENTE & CAVALCANTI, 2007, pg. 41)

Dessa forma, o sistema do espaço geográfico pode ser definido como um conjunto

de elementos que possuem relação entre si, formando uma unidade e integridade, ou

seja, um complexo único, organizado formado pela organização dos objetos ou partes.

O planejamento ambiental pode e deve se basear na analise da paisagem que

consiste na caracterização das diversas funções do meio ambiente, a distribuição das

atividades econômicas e as diferentes atividades da população, com vista a garantir a

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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utilização racional dos recursos naturais, humanos e econômicos acarretando na

melhor organização do espaço geográfico

Incitado pela política de reconhecimento e valorização de terras virgens na URSS,

em 1962, Sotchava utilizou os princípios sistêmicos e a noção de paisagem e

apresentou algumas conceituações. Para o autor Geossistema é a expressão dos

fenômenos naturais, ou seja, o potencial ecológico de determinado espaço no qual há

uma exploração biológica, podendo incluir fatores sociais e econômicos na estrutura e

expressão espacial, porém, sem haver necessariamente, face aos processos dinâmicos,

uma homogeneidade interna.

Conforme Bertrand (1978) a paisagem é uma determinada porção do espaço, o

resultado da combinação dinâmica, portanto, instável, de elementos físicos, biológicos

e humanos reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem parte da paisagem um

conjunto único e indissociável.

Tricart (1977) considera o ecossistema como um todo no qual os seres vivos são

dependentes entre si e do meio que vivem o que permite agrupar áreas homogêneas

quanto às relações mútuas entre os fatores de potencial ecológico e exploração

biológica. Ao trabalhar a ecodinâmica – dinâmica dos ecossistemas – o autor apresenta

uma preocupação com a degradação ambiental, sua metodologia objetiva ajudar no

planejamento e utilização do meio natural a fim de não permitir sua devastação. Cabe

destacar que Jean Tricart estabeleceu dentro da Ecodinâmica uma classificação dos

meios: meios estáveis, os meios intermediários e os meios fortemente instáveis.

Chistofoletti (1979) observa que a abordagem e valorização do quadro natural; os

movimentos relacionados com a crise ambiental; a difusão das perspectivas sistêmicas

e das técnicas de analise multivariada e a preocupação em fornecer bases necessárias

para o planejamento sócio-econômico contribuem para a caracterização, estrutura e

dinâmica das paisagens naturais.

Para Rodrigues, Silva e Cavalcanti (2004), a paisagem é vista como um sistema de

conteúdos, atrelados pela interação em três níveis de sistemas ambientais: a paisagem

natural (ecossistema) formada pela interação de elementos e componentes naturais e

antropo-culturais; a paisagem social. È vista como a área onde vive a sociedade

humana; a paisagem cultural, resultado da ação da cultura ao longo do tempo,

modelando-se por um grupo social a partir de uma paisagem natural. Inclui a paisagem

visual, o percebido e o valorizado.

A partir destas concepções teórico-metodológicas, é que a pesquisa se desenvolveu,

analisando não apenas a paisagem propriamente dita, mas as inter-relações que se

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estabelecem com o meio, os fatores sociais, econômicos e ambientais, percebendo as

influências que determinam a dinâmica da área em estudo.

Utilização e Conservação dos Recursos Naturais

Torna-se necessário destacar algumas características de utilização e conservação

dos recursos naturais que são utilizados pela comunidade do rio Trairussu que está

localizada no entorno do referido rio. A mesma é constituída por 47 famílias ocupando

uma área de planícies fluviais e tabuleiro litorâneo. A área está localizada no município

de Aquiraz, distante a cerca de 60 Km do centro da cidade de Fortaleza. Atualmente a

comunidade conta com 270 moradores, onde nota-se que as atividades econômicas

estão relacionadas com a agricultura de subsistência pesca e o extrativismo vegetal.

Na área de estudo em questão a comunidade do rio Trairussu observa-se um

acentuado processo de adensamento provocados por construções residenciais que

resultam em impactos relativos á contaminação de águas superficiais como o despejo

de efluentes sem tratamento, contaminação do aqüífero subterrâneos pela falta de

serviços de esgotamento sanitário, deposição de resíduos sólidos em áreas

inapropriadas, tendo em vista que inexiste a coleta seletiva do lixo pelo poder publico.

Percebe-se também a existência de desmatamentos, queimadas que são causadas

pela prática da agricultura de subsistência como também pela extração de madeira

utilizada como combustível.

O desmatamento provoca desequilíbrios como a erosão lacustre de encostas e o

conseqüente assoreamento acelerado dos cursos de água (localizados nas margens ao

rio), aumento da evaporação da umidade do solo e das águas superficiais, acarretando

no rebaixamento do lençol freático. Os impactos ambientais presentes na planície

fluvial decorrem das formas de uso e ocupação, principalmente relacionado ao

extrativismo vegetal e agricultura de subsistência.

Porém cabe destacar que a planície fluvial se constitui em uma das principais fontes

de alimentos, pois a comunidade recorre a mesma para a fim de tirar o seu sustento

diário, com peixes e aves que fazem parte da dieta alimentar. Torna-se necessário

destacar que a utilização destas planícies relaciona-se especialmente pelo

umedecimento das áreas próximas, com a formação de várzeas, facilitando o plantio e

desenvolvimento de policulturas temporárias de subsistência, tendo em vista que são

encontrados solos de maior fertilidade.

Nas planícies fluvio-marinhas a dinâmica natural atua de forma significativa, em

função do recobrimento vegetal propiciado pelo manguezal e pela deposição de

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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sedimentos ao longo dos cursos de água e nas margens tem-se um gradativo aumento

das atividades humanas relacionadas ao extratisvimo vegetal, pesca, caça, pecuária

extensiva. O quadro 01 estabelece os principais problemas sócio ambientais da área de

estudo.

Diagnóstico dos Principais Problemas Sócio-Ambientais

PROBLEMA CAUSA GRAVIDADE UNIDADES. GEOECOLOGICAS

1

Desmatamento Retirada da vegetação primaria; Utilização de madeira como combustível

Media Campo de dunas fixas; Planície Fluvio Marinha e Tabuleiro Litorâneo.

2 Desemprego Falta de estruturas cooperativas e baixo nível educacional local

Grande Planícies Fluviais e Lacustres, Tabuleiros Litorâneos

3 Alcoolismo Falta de Ocupação e Desemprego

Grande Planícies Fluviais e Lacustres; Tabuleiro Litorâneo

4 Poluição Hídrica Inexistência de Saneamento Básico

Grande Planícies Fluviais; Lacustres, e Fluviomarinhas

5 Queimadas Preparação da terra para a prática agrícola denominada de Coivara

Grande Campo de dunas fixas, Campo de dunas móveis, Planície Fluvial e Tabuleiro Litorâneo

6 Acumulo de Lixo Queima, Deposição em espaços públicos

Grande Planícies Fluviais e Lacustres; Tabuleiro Litorâneo

Fonte: Landim, 2010

Diante destes problemas sócio ambientais pertencentes à área de estudo faz-se

necessário propor ações ambientais conjuntas que possuem caráter de minimizar ou

até mesmo extinguir os problemas sócio ambientais existentes na comunidade.

Resultados e Discussões

As condições ambientais da área pesquisada apresentam-se diferentes níveis de

ocupação e degradação com feições diferenciadas de paisagens: faixa de praia; as

dunas moveis e semi fixas; os tabuleiros pré-litorâneos; a planície fluvio marinha e as

planícies fluviais e lacustres.

Nestas diferentes unidades geoecológicas, com exceção das dunas e planícies

fluviomarinhas os recursos são utilizados de forma expressiva, especialmente com a

prática da agricultura de subsistência, extrativismo e a pesca que são as principais

atividades econômicas desenvolvidas na comunidade do rio Trairussu. O quadro 02

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apresenta as potencialidades, limitações e uso compatível das unidades geombientais

presentes na área de estudo.

Fonte: Landim, 2010

Algumas propostas foram sugeridas e discutidas em conjunto com a comunidade

local com o intuito da implantação das mesmas, lista-se algumas das principais

propostas discutidas:

I – Incentivar a adubação orgânica, enterrando a própria vegetação por ocasião do

preparo do plantio possibilitando dessa forma o aumento da fertilidade do solo e

melhoria na produtividade agrícola;

Potencialidade/ Limitação Uso Compatível

Faixa Praial

- Importante potencial paisagístico para atividades de lazer e Turismo.

- Restrições para qualquer tipo de construção dada a influência direta das marés e instabilidade ecodinâmica.

- Atividades de lazer para a população

-Práticas de (Trilhas ecológicas), ecoturismo e balneabilidade

Dunas Móveis e Fixas

- Elevado potencial para atividades de lazer, porém de forma

racional. - Excelente potencial de águas subterrâneas - Ambientes limitados para atividades agrícolas e

construções dada a constante remobilização de sedimentos - Áreas de Preservação Permanente, devem ser protegidas

para turismo ecológico.

- Ambientes que dever ser

conservados, podendo-se ser utilizado para fins de lazer desde que de forma racional.

-Turismo ecológico e trilhas.

Planície Fluvio Marinha

-Ambientes apresentam alta biodiversidade e capacidade

produtiva do ponto de vista da flora e fauna. - Potencial hidrológico de superfície e subsuperficie - Proteção da linha de costa e possibilidade de pesca e

mariscagem controlada, respeitando o período do defeso.

- Ecossistemas sujeitos a preservação,

porem podem ser utilizados de forma racional para pesca e moluscos, crustáceos e peixes.

- Aquicultura racional, e turismo ecológico e cientifico.

Tabuleiros Pré- Litorâneo

- Apresentam limitações quanto a fertilidade dos solos - Bom potencial de recursos hídricos superficiais dada a

presença de lagoas e córregos durante o período chuvoso e limitado no período seco.

- Ausência total ou parcial de cobertura vegetal natural, limitado a utilização de frutos silvestres e da caça para fins alimentares.

- Áreas apropriadas para a cultura do caju, murici e agricultura de subsistência.

-Áreas favoráveis a instalção de infra-

estruturas e expansão de ocupações residenciais

Planícies Fluviais e Lacustres

- Presença de solos aluviais com elevada fertilidade natural - Bom potencial de águas superficiais e subterrâneas - As lagoas constituem em importantes locais de lazer e

pesca -Presença de sedimentos argilosos utilizados em cerâmicas - Algumas áreas sujeitas a inundações periódicas

- Pesca artesanal nas lagoas -Áreas favoráveis ao

desenvolvimento agrícola - Não indicadas para construções

devido as inundações periódicas e por terem patês de sua superfície como APP.

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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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II – Eliminar as queimadas para permitir que a matéria orgânica se decomponha

naturalmente, introduzindo nutrientes orgânicos nos solos, caso contrario a

produtividade agrícola diminuirá gradativamente com o passar dos anos;

III – A pesca deve respeitar o ciclo reprodutivos de peixes e crustáceos, com

estabelecimento do período de defeso;

IV – A criação de pequenos animais domésticos (galinhas, patos, marrecos), para o

fornecimento de carne e ovos para a alimentação, obtendo um excedente para ser

comercializado;

V – Instalação de pequenas hortas, para a produção de legumes e verduras,

podem complementar a alimentação das famílias que vivem na comunidade do rio

Trairussu. Cabe destacar que algumas hortas já existem em algumas residências e

podem ser estimuladas a produção por famílias que ainda não possuem.

VI – Melhorias no saneamento básico devem ser implementadas, haja vista que as

instalações sanitárias que se encontram próximas aos poços de captação de água.

VII – Analises de amostras de água se fazem necessárias para o desenvolvimento

de um monitoramento da qualidade da água consumida pela comunidade com a

finalidade de se verificar níveis de contaminação.

VIII – Oficinas sobre educação ambiental em áreas de manguezal e reciclagem do

lixo devem serem elaboradas e ministradas junto a comunidade.

Essas propostas são sugeridas para a melhoria das situações ambientais e

socioeconômicas da comunidade, algumas delas já estão sendo implementadas.

Espera-se que os resultados obtidos com esse diagnóstico, possam contribuir para

melhorar a qualidade de vida da comunidade como também os incentive ainda mais a

lutar pela conservação do meio ambiente em que vivem, garantindo dessa forma uma

sobrevivência digna para a comunidade litorânea do rio Trairussu.

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