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ELABORAÇÃO DE ESTUDOS NOS SETORES ESTRATÉGICOS DA RIS3 ALGARVE: “ROADMAP TECNOLÓGICO”, “VIGILÂNCIA ESTRATÉGICA” E “MERCADOS ESTRATÉGICOS” ANÁLISE EXTERNA Versão final (março 2018) Copromovido por:

ANÁLISE EXTERNA...Tecnológico, dos relatórios de Vigilância Estratégica e dos Estudos de Mercados Estratégicos são baseados numa prévia analise estratégica que inclui uma

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ELABORAÇÃO DE ESTUDOS NOS SETORES ESTRATÉGICOS DA RIS3 ALGARVE:

“ROADMAP TECNOLÓGICO”, “VIGILÂNCIA ESTRATÉGICA” E “MERCADOS ESTRATÉGICOS”

ANÁLISE EXTERNA

Versão final (março 2018)

Copromovido por:

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ÍNDICE

ÍNDICE ................................................................................................................................................................. 2

ENQUADRAMENTO E INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11

MAR, PESCAS E AQUICULTURA ......................................................................................................................... 13

Delimitação .................................................................................................................................................. 13

Perspectiva de cluster .............................................................................................................................. 13

Proposta de indústrias por CAE ................................................................................................................ 13

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................... 14

Pesca ............................................................................................................................................................. 16

Estrutura ................................................................................................................................................... 16

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 16

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 20

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 20

Análise dos mercados ............................................................................................................................... 22

Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 30

Análise dos competidores ......................................................................................................................... 32

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 34

Factores críticos de sucesso...................................................................................................................... 35

Aquicultura ................................................................................................................................................... 37

Enquadramento ........................................................................................................................................ 37

Estrutura ................................................................................................................................................... 37

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 38

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 41

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 42

Análise dos mercados e dos consumidores .............................................................................................. 44

Análise dos competidores ......................................................................................................................... 44

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 46

Factores críticos de sucesso...................................................................................................................... 47

Extração de sal .............................................................................................................................................. 49

Estrutura ................................................................................................................................................... 49

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 50

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 53

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 53

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3

Análise dos mercados ............................................................................................................................... 56

Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 59

Análise dos competidores ......................................................................................................................... 61

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 62

Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 63

Transformação e comercialização dos produtos do mar ............................................................................. 64

Estrutura ................................................................................................................................................... 64

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 65

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 68

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 69

Análise dos mercados, dos consumidores e dos competidores ............................................................... 71

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 71

Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 72

Construção e reparação naval ...................................................................................................................... 73

Estrutura ................................................................................................................................................... 73

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 73

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 77

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 78

Análise dos mercados ............................................................................................................................... 80

Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 83

Análise dos competidores ......................................................................................................................... 85

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 86

Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 87

Turismo náutico e outras atividades de animação náutica .......................................................................... 89

Estrutura ................................................................................................................................................... 89

Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 89

Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 93

Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 93

Análise dos mercados ............................................................................................................................... 95

Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 96

Análise dos competidores ......................................................................................................................... 97

Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 97

Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 98

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Outros fornecedores e de suporte .............................................................................................................. 99

AGROALIMENTAR E FLORESTA ...................................................................................................................... 101

Delimitação ................................................................................................................................................ 101

Perspectiva de cluster ............................................................................................................................ 101

Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 101

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 102

Produção agroalimentar e florestal ............................................................................................................ 104

Estrutura ................................................................................................................................................. 104

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 104

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 109

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 110

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 113

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 120

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 123

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 124

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 125

Transformação e comercialização dos produtos agroalimentares e florestais .......................................... 127

Estrutura ................................................................................................................................................. 127

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 128

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 131

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 132

Análise dos mercados, dos consumidores e dos competidores ............................................................. 134

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 135

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 135

Investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio ....................................... 136

Estrutura ................................................................................................................................................. 136

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 136

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 142

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 142

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 144

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 145

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 147

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 149

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Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 150

Serviços e produtos complementares ........................................................................................................ 152

TURISMO / LAZER .......................................................................................................................................... 154

Delimitação ................................................................................................................................................ 154

Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 154

Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 154

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 156

Atrações, entretenimento e lazer ............................................................................................................... 157

Estrutura ................................................................................................................................................. 157

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 157

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 163

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 164

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 168

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 174

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 176

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 178

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 179

Alojamento ................................................................................................................................................. 180

Estrutura ................................................................................................................................................. 180

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 180

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 184

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 184

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 187

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 191

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 193

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 194

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 195

Alimentação e bebidas .............................................................................................................................. 196

Estrutura ................................................................................................................................................. 196

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 196

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 199

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 200

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 202

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Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 205

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 207

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 208

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 209

Valorização do mercado turístico de proximidade .................................................................................... 210

Estrutura ................................................................................................................................................. 210

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 210

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 213

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 214

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 216

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 217

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 219

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 219

Factores críticos de sucesso.................................................................................................................... 220

Agências de viagens, operadores turísticos e serviços turísticos ............................................................... 222

Estrutura ................................................................................................................................................. 222

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 222

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 224

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 224

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 226

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 228

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 229

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 230

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 231

Transportes e comunicações ...................................................................................................................... 232

Estrutura ................................................................................................................................................. 232

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 232

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 235

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 236

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 238

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 239

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 240

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 241

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Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 242

Atividades do património imobiliário ......................................................................................................... 243

Estrutura ................................................................................................................................................. 243

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 243

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 245

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 246

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 248

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 249

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 250

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 251

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 252

Serviços complementares e de suporte ..................................................................................................... 253

TIC E INDÚSTRIAS CRIATIVAS .......................................................................................................................... 255

Delimitação ................................................................................................................................................ 255

Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 255

Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 255

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 256

Tecnologias de informação, comunicação e conhecimento ...................................................................... 257

Estrutura ................................................................................................................................................. 257

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 257

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 260

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 261

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 263

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 267

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 269

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 271

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 271

Atividades criativas .................................................................................................................................... 273

Estrutura ................................................................................................................................................. 273

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 273

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 276

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 277

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 279

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Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 282

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 284

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 285

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 286

CIÊNCIAS DA VIDA / SAÚDE / RECUPERAÇÃO ................................................................................................. 287

Delimitação ................................................................................................................................................ 287

Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 287

Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 287

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 288

Atividades de saúde humana ...................................................................................................................... 289

Estrutura ................................................................................................................................................. 289

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 289

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 294

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 295

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 298

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 301

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 302

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 303

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 304

Atividades de desporto de alto rendimento .............................................................................................. 305

Estrutura ................................................................................................................................................. 305

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 305

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 308

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 308

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 311

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 313

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 314

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 314

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 315

Atividades de investigação e desenvolvimento .......................................................................................... 316

Estrutura ................................................................................................................................................. 316

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 317

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 322

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Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 323

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 324

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 326

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 328

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 329

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 330

ENERGIAS RENOVÁVEIS .................................................................................................................................. 332

Delimitação ................................................................................................................................................ 332

Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 332

Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 332

Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 333

Atividades de produção de energias renováveis ........................................................................................ 334

Estrutura ................................................................................................................................................. 334

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 334

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 338

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 338

Análise dos mercados ............................................................................................................................ 339

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 339

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 339

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 341

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 341

Atividades de investigação e desenvolvimento .......................................................................................... 343

Estrutura ................................................................................................................................................. 343

Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 343

Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 348

Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 349

Análise dos mercados ............................................................................................................................. 351

Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 352

Análise dos competidores ....................................................................................................................... 354

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 355

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 357

Atividades industriais e serviços complementares .................................................................................... 358

ANEXO A: METODOLOGIA GERAL ................................................................................................................... 360

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Modelo estratégico teórico ........................................................................................................................ 360

Análise estratégica ...................................................................................................................................... 361

A análise externa .................................................................................................................................... 362

Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 363

Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 363

A análise interna ..................................................................................................................................... 363

Forças e fraquezas .................................................................................................................................. 364

Vantagens competitivas e competências fundamentais ........................................................................ 364

A análise SWOT ....................................................................................................................................... 364

Instrumentos de análise ......................................................................................................................... 365

Definição estratégica .................................................................................................................................. 365

Processo de definição estratégica .......................................................................................................... 365

Missão ..................................................................................................................................................... 366

Criação, avaliação e seleção estratégica ................................................................................................. 366

As políticas funcionais............................................................................................................................. 366

Aplicação do modelo .................................................................................................................................. 367

Limitações da aplicação a um setor ........................................................................................................ 367

Solução ................................................................................................................................................... 367

Sequência da aplicação .......................................................................................................................... 368

ANEXO B: FONTES ........................................................................................................................................... 369

Estatísticas .................................................................................................................................................. 369

Qualitativas ................................................................................................................................................. 369

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ENQUADRAMENTO E INTRODUÇÃO

No quadro do Programa Operacional Regional do Algarve 2014-2020 foi lançado o Aviso n.º

ALG53-2015-15 – Sistema de Apoio a Ações Coletivas (SIAC) – Qualificação, inserido no

Objetivo Temático – Reforçar a competitividade das pequenas e médias empresas, Tipologia

de Intervenção – Qualificação e Inovação das PME, com o objetivo principal de apoiar

projetos que desenvolvessem estratégias de reforço da capacitação empresarial nos

domínios da RIS3 regional e que permitissem incrementar as competências empresariais,

facilitar o acesso a informação relevante nos domínios da competitividade e reduzir

assimetrias de informação ao nível empresarial, facilitando escolhas estratégicas e o

diagnóstico precoce.

A CI-AMAL - Comunidade Intermunicipal do Algarve, em copromoção com o NERA –

Associação Empresarial da Região do Algarve (líder), submeteu uma candidatura ao referido

aviso com vista ao desenvolvimento do projeto INOVA ALGARVE 2020, tendo a mesma sido

aprovada pela Comissão Diretiva de 02/05/2016.

O objetivo central do INOVA ALGARVE é capacitar as PME nos domínios da RIS3 Algarve,

com vista ao desenvolvimento de processos de inovação e ao reforço da sua ligação às

Associações Empresariais, Municípios e Universidades, no desenvolvimento de atividades

inovadoras, com vista à criação de novos bens e serviços e ao aumento da produtividade,

facilitando a progressão da PME na cadeia de valor.

No sentido de executar a candidatura atrás referida, a CI-AMAL decidiu promover a

contratação de serviços de consultoria para o desenvolvimento das ações abaixo indicadas,

as quais se encontram devidamente detalhadas e caracterizadas na PARTE II –

Especificações Técnicas do Caderno de Encargos do Concurso Público então lançado.

a) Elaboração de um “Roadmap” Tecnológico – Estudo sobre os fatores críticos de

competitividade e potencial de inovação nos sectores estratégicos da RIS 3: Domínios do

Mar, Pescas e Aquicultura e Agro-alimentar, Agrotransformação, Floresta e Biotecnologia

Verde;

b) Vigilância Estratégica – Trabalho de recolha constante e estruturada de informação de

base científica e tecnológica, identificando oportunidades e tendências de mercado para as

empresas da região;

c) Estudos de Mercados Estratégicos – Identificação e desenvolvimento de estudos sobre

mercados externos prioritários.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

12

Para o efeito lançou o Concurso Público N.º 3/2016 que foi ganho pela Digitalbrain –

Consultoria de Gestão, Lda., que apresentou uma proposta com uma metodologia baseada

num modelo teórico de análise estratégica detalhado no Anexo A ao presente documento.

De acordo com essa metodologia todos os trabalhos de elaboração do Roadmap

Tecnológico, dos relatórios de Vigilância Estratégica e dos Estudos de Mercados Estratégicos

são baseados numa prévia analise estratégica que inclui uma análise externa, uma análise

interna e uma análise SWOT.

O presente documento apresenta a análise externa de suporte a esses trabalhos. Nesta

análise os diversos setores dos seis clusters estratégicos da RIS3 Algarve são analisados

sequencialmente de acordo com a metodologia de análise externa igualmente apresentada

no Anexo A.

O objetivo desta análise externa é identificar as ameaças, as oportunidades e os fatores

críticos de sucesso que uma empresa necessita para combater ou aproveitar essas ameaças

e oportunidades.

Assim esta análise externa servirá diretamente de suporte para a elaboração de dois

documentos síntese:

1. Lista de ameaças e oportunidades – documento de sistematização das ameaças e

oportunidades detetadas na análise externa.

2. Lista de fatores críticos de sucesso – documento de listagem e descrição dos fatores

críticos de sucesso que permitem a exploração bem-sucedida de uma determinada

oportunidade de mercado.

Estes documentos, sendo fundamentais para determinar análises e ações subsequentes,

serão apresentados formalmente à entidade adjudicante para discussão e validação.

Eventuais divergências de perspetivas serão analisadas e incorporadas ou justificadas.

A conjugação desta análise externa com a posterior análise interna permitirá estimar o

potencial de inovação nos setores estratégicos objeto de estudo, determinar a oferta

tecnológica existente e prever a procura tecnológica nos setores em análise.

Permitirá igualmente determinar os aspetos críticos destes setores que devem ser

acompanhados bem como os mercados mais interessantes para o Algarve.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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MAR, PESCAS E AQUICULTURA

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do mar, pescas e aquicultura inclui as

seguintes atividades:

Pesca e aquicultura

Transformação dos produtos do mar

Investigação e exploração de outros recursos marinhos

Outras atividades de investigação e valorização do mar

Outras atividades de animação

Turismo náutico

Um setor não incluído mas que, devido à sua importância económica no Algarve, o deveria

ser, é o da Construção e reparação naval.

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do

cluster os seguintes CAEs:

03 Pesca e aquicultura

0893 Extração de sal

1020 Preparação e conservação de peixes, crustáceos e moluscos

1084 Fabricação de condimentos e temperos (parte)

1086 Fabricação de alimentos homogeneizados e dietéticos (parte)

10913 Fabricação de alimentos para aquicultura

1392 Fabricação de artigos têxteis confecionados, exceto vestuário (parte)

1394 Fabricação de cordoaria e redes (parte)

301 Construção naval

323 Fabricação de artigos de desporto

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14

33150 Reparação e manutenção de embarcações

4617 Agentes do comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco

(parte)

46381 Comércio por grosso de peixe, crustáceos e moluscos

46382 Comércio por grosso de outros produtos alimentares, n.e. (parte)

47230 Comércio a retalho de peixe, crustáceos e moluscos, em estabelecimentos

especializados

4729 Comércio a retalho de outros produtos alimentares, em estabelecimentos

especializados (parte)

47640 Comércio a retalho de artigos de desporto, de campismo e de lazer, em

estabelecimentos especializados (parte)

PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster, consideraram-se os

seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster e consequente

de análise obrigatória:

Pesca

Aquicultura

Extração de sal

Transformação e comercialização dos produtos do mar

Turismo náutico e outras atividades de animação náutica

Construção e reparação naval

Outros fornecedores e de suporte

Estes setores serão analisados sequencialmente a seguir.

Só uma nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar

e floresta um setor de valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe de

facto um setor de valorização do mercado turístico de proximidade no cluster de mar,

pescas e aquicultura. No entanto, como a estrutura destes setores de valorização do

mercado turístico de proximidade é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a

estrutura do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de

proximidade será feita durante a análise do cluster do turismo.

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PESCA

ESTRUTURA

Os principais tipos de pesca utilizados pela frota algarvia, e aqui estudados, são a pesca local

e a pesca costeira que abrange a pesca de artes fixas, de arrasto e de cerco e polivalente. A

pesca ao largo não tem peso nem potencial significativo na região.

Os principais recursos explorados pela frota algarvia e aqui estudados, são: mariscos,

pequenos pelágicos, demersais, espécies de profundidade e grandes migradores.

Os principais produtos da pesca do Algarve podem dividir-se em quatro grupos: de elevado

valor para venda em fresco, de menor valor para venda em fresco, para venda conservados

ou congelados e para venda à indústria.

Os principais mercados da pesca nacional e algarvia são os mercados de Portugal e da

Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois mercados não

são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e determinação de lucratividade e ao ambiente Europeu no que diz respeito à

procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

Tendo os stocks de peixe uma natureza de recurso comum, a atividade de pescas é

fortemente regulamentada em quase todo o mundo.

Na Europa a regulamentação é cada vez mais centralizada na Comissão Europeia e

manifesta-se de duas formas principais: ao nível da quantidade máxima de capturas por

espécie e por período e ao nível dos processos utilizados em quase toda a cadeia de valor.

Esta regulamentação depende criticamente de quatro fatores: da evolução dos stocks de

peixe, das tecnologias e sistemas de gestão de recursos, dos acordos internacionais de

pesca e da pressão e lóbi de stakeholders sobre as entidades reguladoras.

Uma análise detalhada destes fatores ao nível Europeu não indicia qualquer perspetiva de

curto prazo de alteração deste enquadramento, nem em termos institucionais nem em

termos formais. A situação parece ser de equilíbrio estacionário, havendo um consenso

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relativo de que tanto os stocks de peixe como os interesses económicos dos agentes

económicos do setor estão a ser salvaguardados.

Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão dos

recursos se alterarem significativamente, o que pode provocar alterações na estrutura da

indústria.

Tem havido alterações pontuais das quantidades máximas que podem ser pescadas de uma

ou outra espécie mas não parece haver qualquer tendência de aumento ou diminuição das

pescas como um todo ou de qualquer espécie em particular.

Nos outros países da bacia mediterrânica e da costa africana também não se perspetiva

qualquer oportunidade para aumentar as capturas de peixe que possa ser aproveitada pela

indústria algarvia.

Na América acontece a mesma situação com a possível exceção do Noroeste dos EUA, em

que os stocks de espécies costais (demersais e marisco) parecem ter recuperado e em que o

crescimento dos custos da mão de obra local levanta algumas dúvidas sobre a

competitividade da indústria local. Esta é uma oportunidade a acompanhar, mesmo que a

possibilidade de a indústria algarvia a poder aproveitar seja reduzida.

Além dos fatores políticos de nível europeu e internacional, existem fatores de âmbito local

e regional, que podem afetar o setor. Estes prendem-se fundamentalmente com a

disponibilidade de bens públicos e infraestruturas. A este nível saliente-se as infraestruturas

portuárias e de transportes bem como de investigação e desenvolvimento científico e

tecnológico. Mas não se esperam rápidas alterações a estes níveis.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas, a

médio prazo, novos sistemas de gestão dos recursos podem ser bastante relevantes.

FATORES ECONÓMICOS

O peixe, tradicionalmente, era um produto de preço reduzido e com uma elasticidade

rendimento inferior à unidade, podendo mesmo algumas espécies e em alguns locais, ter

uma elasticidade rendimento negativa. Devido a fatores culturais (alterações das

preferências dos consumidores) esta característica económica do produto tem-se vindo a

alterar. A procura e o preço da generalidade das espécies aumentaram, tal como a sua

elasticidade rendimento.

Os grupos de produtos da pesca podem ter comportamentos económicos diferentes. O

grupo de qualidade percebida mais baixa, como o das conservas e do peixe congelado, tem

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preços e elasticidades rendimento mais reduzidos. Os grupos de qualidade percebida mais

alta, como os de peixe fresco, têm preços e elasticidades rendimento mais altos. O último

grupo, o do peixe destinado à indústria alimentar, tem preços reduzidos mas elasticidades

rendimento ligeiramente acima da unidade.

Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores Europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma diminuição da procura

e do preço dos produtos do primeiro grupo e um aumento da procura e do preço dos

produtos dos últimos grupos.

Embora não se perspetive, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura

económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual à de longo

prazo.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a

existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão

aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão-de-

obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).

Dado que os stocks deverão estar estáveis, para os produtos com elasticidade rendimento

superior à unidade o efeito do aumento da procura e dos preços deverá ser superior ao

aumento dos custos salariais, aumentando a lucratividade destes produtos. A lucratividade

dos outros produtos provavelmente vai diminuir.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento dos preços e da lucratividade dos

produtos de maior qualidade e uma diminuição dos preços e da lucratividade dos produtos

de menor qualidade percebida. No curto prazo pode haver uma diminuição da lucratividade

de todos os produtos.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do sector. Em primeiro lugar, o peixe tem vindo a ser crescentemente percebido

como um produto saudável e de prestígio, levando a um aumento da preferência e da

procura de peixe. Tal manifesta-se mais nos segmentos de consumidores mais sensíveis a

questões de saúde ou com mais rendimento, designadamente grupos de mais elevado

rendimento e maior idade, que por sua vez são os que mais têm crescido.

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Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

sector. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração

da estrutura familiar, favorece a procura de produtos prontos a utilizar, sejam

disponibilizadas no comércio a retalho ou em restaurantes.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão-de-obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares

baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas

e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não

qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio

entre oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se mas com uma diferente

composição.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos preparados e

do que nos produtos não transformados. E espera-se uma redução da mão-de-obra

utilizável.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do sector das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias

inbound e outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante.

As tecnologias de produção, ou pesca, estão mais desatualizadas, em resultado dos

reduzidos níveis de investimento neste segmento da cadeia.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound

deverá concentrar-se em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação

científica pura e aplicada ao sector. O do segmento produtivo da atualização das tecnologias

atualmente utilizadas pelo sector localmente. O do segmento do outbound da adoção de

novas tecnologias de logística, transporte e transformação.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

do financiamento do sector de investigação e desenvolvimento. O da pesca do

financiamento e dinâmicas competitivas das empresas de pesca. O do outbound da

evolução competitiva das empresas de logística, transportadoras, comerciais e industriais.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo

produtivo e dos custos de produção e de distribuição; a um aumento da importância da

incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do sector.

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Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas de recolha de dados e monitorização de ecossistemas – drones e sensores

eletrónicos;

2. Sistemas de conhecimento de ecossistemas – modelos computorizados dinâmicos de

ecossistemas;

3. Sistemas de gestão de ecossistemas – modelos descentralizados e contratuais de

gestão de ecossistemas e de estratégias de pesca;

4. Tecnologias de pesca – desenho e construção naval, motores, equipamentos de

deteção, equipamentos de pesca e de conservação incluindo robôs e equipamentos

de comunicações e segurança;

5. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos

integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;

6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor das pescas algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e

as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas, dentro das

restrições regulamentares existentes, pelas empresas de pesca. A atividade de marketing e

vendas está completamente dependente das empresas compradoras, industriais ou

comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de marketing e

vendas.

Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da pesca e

cadeias de valor a jusante, designadamente ao nível de transformação do pescado.

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LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR

O setor algarvio das pescas é atualmente composto por pequenas e médias empresas com

estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com

a produção (capturas) pré-determinada regulamentarmente; e tomadoras de preços nos

diversos mercados.

No curto prazo, e nestas circunstâncias, a lucratividade das empresas e do setor é baixa e

depende exclusivamente de decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria

dimensão e estrutura produtiva.

No entanto, salvaguardando a possibilidade de algumas empresas abandonarem o mercado,

nada indicia que as empresas possam ou queiram tomar decisões suscetíveis de alterar a

sua dimensão. Fatores legais (regulamentação da indústria), tecnológicos (reduzidas

economias de escala na atividade produtiva) e financeiros (baixa lucratividade e dotação de

capital endógeno) tornam improvável qualquer movimento de aumento da rivalidade, de

consolidação do setor e de consequente crescimento da dimensão média das suas

empresas.

Em contrapartida é de esperar que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo

em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os custos

podem ir-se reduzindo, o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos

produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento sustentado da

lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que os eventuais efeitos dos novos sistemas de gestão de recursos

e das novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas aproveitar

os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor no prazo mais

imediato para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de

aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior lucratividade do

sector.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de pesca algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos

produtos e a localização geográfica.

O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Portugal Europa Ocidental Outros

Elevado valor/ venda fresco Mercado secundário

Mercado prioritário

Mercado secundário

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Baixo valor / venda fresco Mercado prioritário

Mercado marginal Mercado marginal

Venda conservado ou congelado Mercado importante

Mercado importante

Mercado secundário

Venda à indústria Mercado importante

Mercado importante

Mercado marginal

O mercado nacional de pescado é um mercado concorrencial mas dominado por grandes

compradores, grandes cadeias de comercialização e grandes indústrias alimentares. O peso

dos pequenos compradores é atualmente quase simbólico e limitado a poucos canais,

muitos dos quais informais.

Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o da hotelaria e

restauração, mas são pouco importantes. O poder dos clientes é consequentemente

significativo.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos

produtos do setor da pesca é significativo.

O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial e igualmente

dominado por grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado relativamente ao

setor das pescas algarvio, poderão existir alguns clientes secundários bastante atrativos.

Destes salientam-se os clientes do setor da hotelaria e restauração, onde o poder dos

clientes é menos significativo que no grande comércio e os preços e as margens estão

menos pressionados.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o quarto maior consumidor per capita de peixe do mundo, com consumos e despesas de

cerca de 53,3kg e 300€ por pessoa e por ano. Estes elevados consumos tornam o valor do

mercado nacional muito interessante.

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O mercado de produtos de valor elevado para venda a fresco é um mercado muito

competitivo, de dimensão média e que cresce muito lentamente. Neste mercado a procura

é derivada, sendo os consumidores finais servidos por empresas fornecedores que

controlam os canais de comercialização.

O mercado tem dois segmentos. O segmento de particulares é maior mas está numa fase de

maturidade ou mesmo de desaceleração (devido à pressão da procura internacional sobre

os preços) tanto em termos de procura final como de canais enquanto o segmento de

hotelaria e restauração é menor e está numa fase de maturidade de um ponto de vista de

procura final mas numa fase de desenvolvimento final dos canais.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na produção e na distribuição. Os custos

distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e

de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas

na comercialização no segmento da hotelaria e restauração. Os custos de transportes

internacionais são significativos.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e rendimento do consumidor final mas não parece que existam novas estratégias

viáveis de segmentação de mercados dada a atual estrutura de distribuição.

Existem algumas possibilidades de integração de produção com transformação,

fundamentalmente no segmento da hotelaria e restauração.

O mercado de produtos de baixo valor para venda a fresco não é muito diferente do

anterior. Salienta-se, no entanto a sua maior dimensão relativa e a inversão do peso relativo

do segmento de particulares e do segmento da hotelaria e restauração. Destaca-se

igualmente a mesma dinâmica de fase de ciclo de vida do produto mas em que a

desaceleração do segmento de particulares parece dever-se mais à pressão de produtos

substitutos (aquicultura) e em que a fase do ciclo de vida da hotelaria e restauração pode

estar mais atrasada (adoção lenta de produtos mais baratos). Os custos de transportes

internacionais são significativos.

Não parecem existir tantas possibilidades de integração a jusante.

O mercado de produtos conservados ou congelados é um mercado onde a procura é

derivada, sendo os consumidores finais servidos por empresas fornecedores que controlam

os canais de comercialização. Estes canais podem ser fornecidos diretamente pelo setor da

pesca ou pela indústria alimentar, designadamente conserveira. Assim existem dois

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mercados finais, o nacional e o de exportação, e um mercado intermédio, o comercial e

industrial.

Os mercados de procura final são muito competitivos, sendo o nacional de dimensão média

e o de exportação de dimensão muito grande, e crescem muito lentamente. O segmento de

particulares é maior enquanto o segmento de hotelaria e restauração é menor. Os dois

segmentos parecem estar numa fase de maturidade ou mesmo de desaceleração. Os custos

de transportes internacionais não são significativos.

Os mercados intermédios, formados pelas empresas nacionais e internacionais que

compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino, são muito

competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.

Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários, novos

critérios de segmentação ou possibilidades de integração.

O mercado de produtos para a indústria é igualmente um mercado de procura derivada,

com as mesmas características do anterior.

É um mercado competitivo, sendo o nacional de dimensão média e o de exportação de

dimensão muito grande, e que cresce com alguma rapidez. Os segmentos imediatos

relevantes são a indústria alimentar, que está numa fase de crescimento, e os segmentos

mediatos relevantes são o de consumidores nacionais, que está numa fase final de

crescimento, e o de exportação, que estará numa fase de maturidade.

O segmento mediato de consumidores nacionais, mesmo que mediado pela indústria

alimentar, apresenta algumas características específicas (produtos ao gosto português) que

exigem adequação da oferta à procura final. Tal minimiza os efeitos da concorrência

internacional sobre os preços. Aparentemente este mercado ainda está numa fase de

desenvolvimento, tanto em termos de procura final nacional, como em termos de

exportações, como em termos da estrutura dos clientes imediatos, a indústria alimentar.

No segmento mediato de exportação estes produtos específicos do mercado português têm

uma penetração muito reduzida. Assim este segmento ainda está numa fase de

desenvolvimento.

Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração. Os custos de transportes internacionais não são significativos.

ESPANHA

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É o sexto maior consumidor de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca de

46,2kg e 210€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado espanhol é mais

de três vezes maior que o do mercado português.

Os mercados espanhóis são de maior dimensão que os nacionais mas têm características

semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.

Nos mercados de produtos de elevado valor para venda a fresco e de produtos de baixo

valor para venda a venda a fresco parece que os canais de comercialização para o segmento

da hotelaria e restauração estão mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou

rendas na comercialização em qualquer segmento de mercado.

As empresas espanholas que atuam nos canais de comercialização do setor estão bastante

desenvolvidas e integradas a montante, tanto no setor das pescas como de transformações

primárias destes produtos. A exportação para estes mercados espanhóis dificilmente não

será mediada por empresas espanholas de distribuição.

Estas empresas espanholas têm, além disso, uma presença maciça nos mercados

internacionais de produtos da pesca, fazendo de Espanha um exportador líquido de peixe e

de produtos de peixe e fazendo com que a sua procura ultrapasse a procura final do

mercado espanhol. São por isso um mercado de grande dimensão para empresas nacionais

com estratégias de liderança de custos e um obstáculo muito grande para empresas

nacionais com estratégias de diversificação.

Nos mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria, a

situação é parecida, sendo no entanto o peso interno e internacional das empresas

comerciais e industriais espanholas ainda maior. Estas empresas são por isso um mercado

de grande dimensão para empresas nacionais com estratégias de liderança de custos e um

obstáculo quase inultrapassável para empresas nacionais com estratégias de diversificação

normais.

Note-se, todavia, que sendo o mercado comercial e industrial muito desenvolvido em

Espanha, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias. Os custos de transportes

internacionais não são significativos.

FRANÇA

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É o décimo maior consumidor de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca de

34,4kg e 127€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado francês é mais

de duas vezes maior do que o do mercado português.

Os mercados franceses têm características muito parecidas com as dos mercados espanhóis.

Assim importa salientar as principais diferenças.

Estas prendem-se com três fatores: o ser um importador liquido de produtos de pesca, o

maior desenvolvimento e sofisticação da procura e o menor peso económico das pescas e

dos seus canais de transformação e distribuição. Na França as peixarias e os mercados ainda

têm um peso significativo.

Trata-se, portanto, de um mercado em que existem oportunidades de mercado não

satisfeitas, tanto no consumo final como no mercado comercial ou industrial.

Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com produtos frescos de

elevado valor sujeitos a prévias transformações primárias e produtos frescos de baixo valor.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias.

REINO UNIDO

Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas

cerca de 24,9kg e 70€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado britânico

é cerca de 40% superior ao mercado português.

Trata-se de um mercado desenvolvido com algumas características próximas do francês mas

menos sofisticado e diversificado em termos de produtos consumidos e de canais de

transformação e distribuição.

Tal como no caso do mercado francês é um mercado em que existem oportunidades de

mercado não satisfeitas, tanto no consumo final como no mercado comercial ou mesmo

industrial. Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com todos os

produtos frescos de elevado valor sujeitos ou não a prévias transformações primárias e

alguns produtos frescos de baixo valor. A procura derivada de produtos também pode ser

interessante. Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

HOLANDA

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Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de

cerca de 22,3kg e 59€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado

holandês é cerca de 30% do mercado português. Trata-se de um mercado de menor

dimensão e menos desenvolvido que os anteriores.

É um mercado muito desenvolvido e estruturado onde as grandes empresas espanholas,

francesas e alemãs têm uma presença muito significativa.

O mercado de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria são

pouco interessantes devido à sua contestabilidade mas os de produtos frescos parecem ter

margens mais elevadas.

Existem oportunidades de mercado não satisfeitas, tanto no consumo final como no

mercado comercial. Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com

todos os produtos frescos de valor elevado sujeitos ou não a prévias transformações

primárias e alguns produtos frescos de baixo valor. A procura derivada de produtos também

pode ser interessante. Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

IRLANDA

Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de

cerca de 23kg e 58€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado irlandês é

de cerca de 10% do mercado português.

Trata-se de um mercado de menor dimensão e menos desenvolvido que os anteriores. E

localizado num país exportador de pescado.

Parece os canais de comercialização de produtos para venda a fresco estão menos

desenvolvidos que nos outros países, havendo mais oportunidades para o aproveitamento

de oportunidades.

Os mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria são

muito mais estruturados e competitivos, não parecendo haver espaço para estratégias de

penetração ou expansão de mercados.

Existem oportunidades de mercado não satisfeitas nos mercados de frescos, tanto nos de

consumo final como nos comerciais.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

ALEMANHA

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Está no top cem dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca

de 13,3kg e 58€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado alemão é

cerca de 60% superior ao do mercado português.

O mercado alemão é um mercado importador de dimensão e dinâmica significativa. É um

dos únicos grandes mercados da Europa em que os segmentos mais novos da população

consomem mais peixe que a média da população.

Parece que os canais de comercialização de produtos para venda a fresco estão bem

desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou rendas na comercialização em

qualquer segmento de mercado.

As empresas alemãs, francesas e espanholas que atuam nos canais de comercialização para

venda ao consumidor final estão bastante desenvolvidas e integradas a montante, tanto no

setor das pescas como de transformações primárias destes produtos. A penetração via

exportação nestes mercados dificilmente não será mediada por grandes empresas

europeias, designadamente alemãs, na distribuição final.

No que diz respeito às vendas para a hotelaria e restauração, os canais também estão bem

desenvolvidos mas aqui existe uma vantagem competitiva para as empresas de regiões com

custos de trabalho mais reduzidas.

Nos mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria, a

situação é muito competitiva, tendo estes mercados de grande dimensão interesse para

empresas nacionais com estratégias de liderança de custos e mas não para empresas

nacionais com estratégias de diversificação normais.

Existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou possibilidades

de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no mercado dos frescos.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

POLÓNIA

Está no top cem dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca

de 13,3kg e 24€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado polaco é cerca

de 30% do mercado português.

O mercado polaco é um mercado de reduzida dimensão mas em desenvolvimento. Tal como

nos outros mercados mais próximos do centro da Europa, os mercados de produtos

conservados ou congelados e de produtos para a indústria muito competitivos e de margens

reduzidas. Em contrapartida os mercados de produtos frescos podem ser muito

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interessantes. Por um lado são menos estruturados e com algumas situações onde será

possível gerar lucros extraordinários. Por outro lado existe uma presença portuguesa no

setor da distribuição.

Assim, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no

mercado dos frescos.

Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser

significativos.

SUÉCIA

Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de

cerca de 33,2kg e 143€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado sueco é

cerca de 50% do mercado português.

O mercado sueco é também é um mercado de reduzida dimensão mas bastante

desenvolvido. Tanto os mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos

para a indústria como os de produtos frescos são muito competitivos e de margens

reduzidas. No entanto os mercados de produtos frescos podem ser muito interessantes na

medida em que os produtos neles transacionados são ainda pouco diversificados.

Assim, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no

mercado dos frescos.

Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser

significativos.

OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA

Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já

abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a

custos de transportes ou à elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não

muito diferenciada da portuguesa (Itália e Grécia).

Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,

designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor.

OUTROS MERCADOS EUROPEUS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os

mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a

custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para

ofertas diferenciadas, designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor e

produtos conservados ou congelados e produtos industriais.

OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS

A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto

destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,

devido à sua dimensão. Estes são os EUA, o Canadá, o Brasil, os países da costa atlântica do

Norte de África, os países do Médio Oriente, Angola, a China, o Japão, a Coreia do Sul,

outros países do Extremo Oriente e a Austrália.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em

consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado

de acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de

mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão

permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito

importante no consumo de produtos frescos de valor elevado na hotelaria e

restauração e no comércio. São pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao

serviço;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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2. Consumidores educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio –

segmento muito importante no consumo de produtos frescos de menor valor

elevado na hotelaria e restauração e no comércio e importante no consumo de

todos ou outros produtos no comércio. São sensíveis ao preço e à qualidade;

3. Consumidores educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio –

segmento muito importante no consumo de produtos preparados. São sensíveis ao

preço e à qualidade;

4. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito

importante no consumo de produtos frescos de menor valor e congelados e

conservados no comércio. São muito sensíveis ao preço e sensíveis à qualidade;

5. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento

importante no consumo de produtos frescos de valor elevado na hotelaria e

restauração. São muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao

serviço;

6. Consumidores não educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio e

baixo – segmento algo importante no consumo de produtos preparados. São

sensíveis ao preço mas não à qualidade;

7. Consumidores não educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio

e baixo. Segmento pouco importante.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo

com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Vendedores em mercados – de pequena dimensão estão interessados em preço,

qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de elevada procura e total;

2. Peixarias e cadeias de peixarias – de pequena e média dimensão estão interessados

em preço, qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de elevada

procura e total;

3. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão

estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento por espécie e total,

produtos diversificados e, se possível, tratamentos primários;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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4. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada

procura e, nalguns casos, tratamentos primários;

5. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada

procura e, nalguns casos, tratamentos primários;

6. Indústria alimentar – de grande dimensão estão interessados em preço e

regularidade do abastecimento de alguns produtos.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado

Consumidores finais Consumidores intermédios

Portugal 2, 4 1, 2, 4, 5

Espanha 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6

França 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6

Reino Unido 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6

Holanda 1, 3, 5 3, 5

Irlanda 2, 4, 6 1, 2, 5

Alemanha 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 5, 6

Polónia 2, 3, 5, 6 4, 5

Suécia 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6

Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia de pesca enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

empresas especializadas tradicionais, pequenas e médias empresas especializadas

modernas, grandes empresas especializadas e grandes empresas integradas.

As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,

eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e

tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com

estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os

outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos

desfavorável. A rentabilidade estrutural destas empresas, antes de subsídios, é muito

reduzida ou mesmo negativa.

As pequenas e médias empresas especializadas modernas começaram a desenvolver-se na

segunda metade do século XX mas ainda têm um peso reduzido. Têm uma estrutura mais

intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via

flexibilidade produtiva e de marketing ou via especialização em produto. Muitas

complementam a atividade de pesca com atividades complementares como aquicultura ou

pesca de recreio.

Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.

As grandes empresas especializadas são o grupo com maior peso na indústria. São

normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via custos.

Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir

fortemente nestas áreas.

A rentabilidade destas empresas é pouco melhor que a das empresas tradicionais.

Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de pesca com a de

transformação e comercialização de peixe e transformados de peixe. Têm uma estrutura

mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na

diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing.

Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua

importância tem vindo a crescer.

COMPETIDORES POR MERCADO

Em termos de mercados, o principal produtor mundial é a China, seguido de diversos países

da América e Ásia. O primeiro país Europeu é a Noruega (10º do mundo). Os principais

países da União Europeia são a Dinamarca (22º do mundo), a Espanha, o Reino Unido, a

França e a Holanda, logo seguidos por um segundo grupo que abrange Portugal (56º do

mundo), a Alemanha, a Irlanda, a Itália e a Suécia.

A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os

quatro tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de

empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é

maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A análise de dados de capturas, número de barcos e tonelagem da frota indicia que em

Portugal, e especialmente no Algarve, este peso é muito elevado.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Redução dos stocks;

2. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;

3. Aumento dos custos de produção;

4. Integração ou consolidação dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Novos sistemas de sistemas de gestão dos recursos, reduzindo custos e expandindo

as capturas ou o seu valor unitário;

2. Pesca ou subcontratação de serviços no noroeste dos EUA;

3. Reorientação das capturas para peixe de valor mais elevado;

4. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

5. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar

valores de venda;

6. Sistemas de informação, conhecimento e gestão de ecossistemas e capturas;

7. Novas tecnologias produtivas / de pesca, reduzindo custos e expandindo as capturas

ou o seu valor unitário;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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8. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados, ajustando melhor a oferta à

procura e aumentando valores de venda;

9. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;

10. Melhores prazos e serviços de entrega;

11. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa

Ocidental;

12. Integração da pesca com tratamentos primários dos produtos de maior valor para a

restauração;

13. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes;

14. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:

capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas, conhecimentos

e capacidade de utilizar novas tecnologias e acesso a financiamento para investir em novos

equipamentos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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AQUICULTURA

ENQUADRAMENTO

A indústria da aquicultura produz produtos substitutos e concorrentes dos produzidos pela

indústria de pesca. Para o consumidor, as diferenças entre as características reais e

percebidas dos produtos das duas indústrias são menores e podem ser consideradas mais

como diferenças de qualidade do que de natureza. Assim a análise do comportamento do

consumidor e do mercado das duas indústrias tem muitos pontos em comum. Por causa

disto a análise destes aspetos da aquicultura basear-se-á fortemente na análise que foi feita

previamente para o sector da pesca.

Em contrapartida a produção aquícola e a indústria da aquicultura é, em quase todos os

aspetos, diferente da indústria da pesca pelo que esta análise externa da aquicultura se

focará muito em questões relacionadas com a produção e a indústria.

ESTRUTURA

No Algarve a atividade aquícola é sobretudo marinha, dividida entre a chamada aquicultura

de estuário e zona costeira e a aquicultura de mar aberto. A aquicultura de água doce tem

menos peso e potencial na região.

Os principais recursos explorados no Algarve são: bivalves, pregado e linguado, robalo,

dourada e truta. Uma espécie específica de aquicultura desenvolvida no Algarve é a do atum

em armação. A corvina e outros mariscos também têm potencial. Todos estes recursos

serão aqui estudados.

De um ponto de vista do mercado ou do consumidor não existem grupos óbvios em que os

produtos da aquicultura do Algarve se possam dividir. No entanto estes produtos associam-

se maioritariamente ao grupo de produtos de menor valor para venda em fresco que foi

definido na análise do setor da pesca, podendo ainda associar-se aos grupos para venda

conservados ou congelados e para venda à indústria.

Os principais mercados da pesca nacional e algarvia são os mercados de Portugal e da

Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois mercados não

são significativamente diferentes.

Tirando estes mercados, o mercado mais relevante e mais distinto é o mercado japonês,

particularmente importante para o atum.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

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Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que, tal como no

caso da pesca, esta análise se refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente

algarvio no que diz respeito à oferta e determinação de lucratividade e ao ambiente

Europeu no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

Ao contrário do que acontece com a pesca, a atividade aquícola é uma atividade económica

exercida num contexto de mercado. O mercado é certamente enquadrado legislativa e

regulamentarmente em quase todos os seus passos desde o licenciamento das instalações

aquícolas até à comercialização dos produtos mas este enquadramento é relativamente

aberto, permitindo a criação de novos estabelecimentos, a adoção de novas tecnologias e

processos e a livre comercialização (doméstica, interna e internacional) e fixação de preços.

Além disso, a nível da União Europeia, a legislação e regulamentação são pouco

centralizadas na Comissão Europeia, permitindo a concorrência entre diferentes jurisdições

nacionais, regionais e locais.

O aspeto mais crítico do enquadramento legal e regulamentar da atividade relaciona-se com

a criação e alteração física das instalações aquícolas. Existem em todos os países conjuntos

de regras jurídicas sobre a afetação de zonas para o exercício da atividade, para a concessão

de subzonas a operadores concretos e para o licenciamento de instalações. São estas as

regras com mais impacto sobre a dimensão do setor e, consequentemente, sobre a sua

produção e oferta.

Um outro aspeto importante é o da regulamentação da atividade produtiva,

designadamente a nível de intensidade produtiva, de regimes alimentares e de uso de

diversas técnicas e tecnologias. Estas regras também têm um impacto na dimensão do setor

mas este impacto é mais mediado pelo impacto que têm na produtividade, nos preços e

consequentemente na oferta e na quantidade produzida e oferecida.

Em termos gerais todos estes enquadramentos têm três objetivos:

1. Garantir a afetação eficiente de recursos/domínios públicos a determinados setores

concorrentes;

2. Garantir a afetação eficiente de recursos públicos a diversos operadores

concorrentes;

3. Minimizar o efeito de externalidades negativas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Uma análise detalhada do enquadramento legislativo e regulamentar nacional mostra

evidência que o sistema em vigor é ineficiente, não permitindo alcançar estes objetivos no

Algarve.

No que diz respeito à afetação de domínios públicos a determinado setor, por um lado

existem instalações aquícolas em zonas onde prejudicam outras atividades como a

navegação de recreio. Por outro lado existem zonas com potencial aquícola e sem interesse

claro para outras atividades ainda não afetadas. E, por fim, não existem regras claras para a

arbitragem da afetação de zonas com interesse para diversos setores.

No que diz respeito à afetação de áreas de domínio público a diferentes operadores a

legislação é demasiado dispersa, complexa e morosa. Além disso existe um trabalho inicial

de identificação de potenciais áreas de instalação de estabelecimentos e de iniciação de

processos de afetação que poderia ser feito com vantagens económicas pelas entidades

gestoras do domínio público.

Compare-se, a título de exemplo, a legislação padrão internacional de concessão de

explorações de recursos petrolíferos com a legislação nacional sobre o setor.

Por fim, a legislação sobre externalidades inclui licença de obras; aprovação de projetos de

instalação elétrica; registo de operador recetor para compra de ração; notificação prévia de

movimentos internos de animais aquáticos vivos; instalação, funcionamento, reparação e

alteração de equipamentos sob pressão (oxigénio); instalações de armazenagem de

produtos de petróleo; licenciamento industrial de estabelecimentos de transformação,

preparação e ou acondicionamento de produtos provenientes da aquicultura. Trata-se de

um conjunto de regras que impõe procedimentos administrativos complexos, morosos e

caros junto de muitas entidades.

Todo este enquadramento cria grande complexidade na atribuição de novas áreas para a

produção aquícola e torna o processo de licenciamento e de operação de operações

aquícolas demasiado dispendioso e demorado, o que constitui um entrave na entrada de

novos investidores que propiciem a renovação do setor. De acordo com a DGRM apenas

50% do potencial aquícola português é explorado.

O prazo de atribuição de licenças de utilização dos recursos hídricos já foi prolongado por

períodos mais longos mas existe a possibilidade de as entidades públicas refazerem todo

este edifício legislativo e regulamentar facilitando o acesso à atividade, melhorando a sua

rentabilidade e estimulando a sua oferta. Esta oportunidade depende de decisões políticas

que podem ser estimuladas por interesses setoriais ou regionais conciliados. E estas

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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decisões podem acontecer tanto em Portugal como noutros países concorrentes onde a

situação regulamentar é parecida.

Além destes fatores políticos de nível nacional, existem práticas locais que podem ser

desenvolvidas de forma mais eficiente, contribuindo igualmente para estimular o setor.

Em resumo, existe a possibilidade de o enquadramento legislativo e regulamentar nacional

e internacional do setor ser mais favorável ao aumento da produção.

FATORES ECONÓMICOS E SOCIAIS

A análise que foi feita a propósito dos fatores económicos e sociais que afetam a procura e

os custos do sector da pesca aplica-se integralmente ao setor da aquicultura. É de esperar

um aumento da procura e dos custos dos fatores de produção dos produtos da aquicultura.

No entanto, ao contrário do que acontecerá com o setor da pesca, a oferta (quantidade

oferecida) do setor da aquicultura não é economicamente exógena. Dos fatores políticos

atrás referidos e dos fatores tecnológicos que serão referidos posteriormente, resulta que é

de esperar um aumento da produtividade e da oferta do setor.

Nestas circunstâncias é indeterminada a evolução do preço dos produtos da aquicultura.

FATORES TECNOLÓGICOS

O setor da aquicultura utiliza diversas tecnologias e processos. Assim a indústria pode

dividir-se de acordo com o local onde a atividade é realizada (mar aberto, estuário e zona

costeira, e água doce), de acordo com o grau de intensidade produtiva (extensiva, intensiva

e semi intensiva) e de acordo com a fase da cadeia de abastecimento e a tecnologia base

(viveiros, tanques e estruturas flutuantes). E explora diversos produtos ou espécies, já

mencionados.

Podem e estão a verificar-se avanços tecnológicos em todas estas áreas tecnológicas, de

processos e de espécies.

A cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e

outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante. As

tecnologias de produção, ou pesca, estão mais desatualizadas, em resultado dos reduzidos

níveis de investimento neste segmento da cadeia.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos da cadeia de abastecimento

(inbound, produção e outbound) indicia todavia perspetivas de desenvolvimento diferentes.

O potencial desenvolvimento dos segmentos inbound e outbound deverá ser mais lento e

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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concentrar-se em novas tecnologias de comercialização, logística, transporte e

transformação de outputs. O futuro desenvolvimento do segmento produtivo deverá ser

mais rápido e resultante tanto da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao

setor como, no caso algarvio, da adoção de tecnologias já disponíveis e utilizadas pela

indústria noutros países.

Estes desenvolvimentos das tecnologias produtivas incluirão todos os aspetos da produção,

desde as instalações até à alimentação, ao combate às doenças, à minimização da poluição

e à colheita. No caso algarvio serão particularmente importantes as tecnologias que

permitem otimizar as instalações para aproveitar eficientemente as infraestruturas da

indústria de sal (tejos, diques, comportas, monges, etc.) e o explorar novas espécies.

Estes desenvolvimentos dependerão de quatro tipos de condicionantes e atores. O do

inbound e outbound do desenvolvimento da dimensão do setor e da evolução competitiva

das empresas logísticas, transportadoras, comerciais e industriais. O da produção do

financiamento e dinâmicas competitivas das empresas produtoras, fornecedoras e clientes.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo

produtivo e dos custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da

incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas de recolha de dados, de obtenção de informação ambiental, de

monitorização de ecossistemas semiabertos e fechados e de instalações – sensores

eletrónicos;

2. Sistemas de conhecimento e gestão de ecossistemas semiabertos e fechados –

modelos computorizados dinâmicos de ecossistemas;

3. Tecnologia de instalações – sistemas de ancoragem e de desenho e construção de

instalações, de que se salientam sistemas fechados e sistemas de espécies marítimas

baseados em terra;

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4. Tecnologias de apoio à produção – construção naval e de motores, equipamentos de

colheita e de conservação incluindo robôs e equipamentos de comunicações e

segurança;

5. Novas e melhores espécies – métodos de seleção de espécies e de engenharia

genética, de que se destaca a corvina;

6. Tecnologias de produção – novos alimentos, medicamentos e sistemas de

alimentação, de controlo de doenças, de isolamento de predadores e de gestão de

resíduos;

7. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos

integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;

8. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor aquícola algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e

as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas pelas empresas

de aquicultura locais. A atividade de marketing e vendas, como no caso das pescas, está

completamente dependente das empresas compradoras, industriais ou comerciais. O grosso

do valor setorial é gerado as atividades de produção e de marketing e vendas.

Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da aquicultura e

cadeias de valor a jusante, designadamente a nível de transformação da produção do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da aquicultura é atualmente composto por muitas pequenas e algumas

médias empresas com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos,

tecnológicos e de capital; com a produção muito condicionada pela disponibilidade de

instalações; e tomadoras de preços nos diversos mercados.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é

relativamente baixa e depende exclusivamente de decisões que as empresas possam tomar

sobre a sua própria dimensão e estrutura produtiva. A mais longo prazo a lucratividade

pode depender mais de decisões de marketing e tecnológicas.

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No entanto, e ao contrário do que acontece com a indústria da pesca, existem estímulos de

mercado significativos para que as empresas alterem a sua dimensão e melhorem a sua

estrutura produtiva. Devido a fatores legais (os custos regulamentares), tecnológicos (custos

fixos significativos) e financeiros (elevada intensidade capitalística) a produção gera algumas

economias de escala suscetíveis de gerar alguma pressão para o aumento da rivalidade, da

dimensão média das empresas e da consolidação do setor.

Assim é de esperar que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo em

resultado do investimento continuado em novas ou mais alargadas instalações,

equipamentos e recursos. Os custos podem-se ir reduzindo, até determinado ponto de

dimensão ótima, o que pode levar a um aumento sustentado da lucratividade das maiores

empresas da indústria e reforçar a tendência de consolidação do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas tecnologias gerem ainda mais economias de

escala, podendo as empresas com lucros de curto prazo aproveitar os recursos libertados

pelo sua lucratividade de curto para gerar uma melhoria sustentada do esforço de

marketing estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e

de maior aumento da lucratividade.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de aquicultura algarvia podem dividir-se de com os mesmos

critérios que os utilizados na indústria da pesca. A lucratividade destes diversos mercados é

equivalente à referida a propósito dos mercados de produtos da pesca.

A única diferença significativa é a menor lucratividade estrutural dos mercados de alguns

produtos onde existem produções locais concorrenciais.

ANÁLISE DOS MERCADOS E DOS CONSUMIDORES

O que foi dito a propósito da pesca aplica-se igualmente à análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor da aquicultura. E à análise dos seus

consumidores finais.

No entanto o perfil dos consumidores intermédios é ligeiramente diferente.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem igualmente agrupar-se

de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. E os segmentos são os mesmos

do setor das pescas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Todavia, ao contrário do que acontece no caso da pesca, a comercialização dos produtos da

aquicultura é livre, abrindo a possibilidade de as importações concorrerem mais

intensamente com a produção nacional.

Nestas circunstâncias o comportamento dos segmentos é idêntico mas conseguem

satisfazer com mais facilidade os seus interesses devido a uma oferta mais alargada.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A estrutura dos consumidores e a importância relativa dos consumidores por mercado é

idêntica à do setor da pesca, com a adição do mercado japonês de atum, um mercado

importante que funciona através de importadores especializados.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia da aquicultura enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

empresas especializadas tradicionais, pequenas e médias empresas especializadas

modernas, grandes empresas especializadas e grandes empresas integradas.

As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,

eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e

tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com

estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.

Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os

outros tipos de empresas devido à sua falta de dimensão gerando uma estrutura de custos

desfavorável e alguma dificuldade em se modernizar tecnologicamente. A rentabilidade

estrutural destas empresas, antes de subsídios, é reduzida e pode ser ainda mais afetada

por uma eventual redução de preços dos seus produtos.

As pequenas e médias empresas especializadas modernas começaram-se a desenvolver

recentemente e têm um peso crescente. Têm uma estrutura mais intensiva em capital,

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

produtiva e de marketing ou via especialização em produto. Muitas complementam a

atividade de aquicultura com atividades complementares como a pesca. Estas empresas

têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.

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As grandes empresas especializadas são um grupo com mais peso na indústria. São

normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via custos.

Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir

fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas é melhor que a das empresas

tradicionais.

Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de aquicultura com a da pesca

e a transformação e comercialização de peixe e transformados de peixe. Têm uma estrutura

mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na

diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing. Estas empresas têm maior

rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua importância tem vindo a

crescer.

COMPETIDORES POR MERCADO

Em termos de mercados, o principal produtor mundial é a China, seguido de diversos países

da Ásia. O primeiro país Europeu é a Noruega (8º do mundo). Os principais países da União

Europeia são a Espanha, o Reino Unido, a França, a Itália e a Grécia, logo seguidos por um

segundo grupo que abrange a Holanda, a Irlanda, a Polónia, a Dinamarca e a Alemanha.

Portugal não aparece entre os maiores produtores Europeus.

Note-se que existe uma diferença substancial entre as espécies produzidas na Ásia,

dominadas pelo camarão e por pelágicos e demersais regionais como o peixe-gato, no Norte

da Europa, dominadas pelo salmão e bivalves como as ostras e as vieiras, e os países do Sul

da Europa, dominada pelos pelágicos e demersais regionais como a dourada ou o linguado.

Portugal, e em especial o Algarve, devido à sua localização intermédia entre o Atlântico e o

Mediterrâneo, tem a possibilidade de ter uma produção diversificada e diferenciada,

podendo concorrer com algumas vantagens contra estes produtores.

A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os

quatro tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de

empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é

maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

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AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor da aquicultura são muito

semelhantes às ameaças no setor das pescas, com exceção da possibilidade de os stocks

diminuírem. Esta ameaça é substituída pela possibilidade de os preços diminuírem. Assim

salientam-se as seguintes ameaças:

1. Diminuição dos preços dos produtos do setor;

2. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;

3. Aumento dos custos de produção;

4. Integração ou consolidação dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Alterações do enquadramento regulamentar;

2. Abertura clara de novas zonas da ZEE à atividade;

3. Utilização mais eficiente das antigas salinas;

4. Novos sistemas de sistemas de gestão dos recursos, reduzindo custos e expandindo a

produção e os preços;

5. Reorientação da produção para espécies de valor mais elevado;

6. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

7. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar

valores de venda;

8. Sistemas de informação, conhecimento e gestão de ecossistemas fechados e

semiabertos, instalações e produção;

9. Novas e melhores espécies de maior valor ou menos custos de produção;

10. Novas tecnologias de instalações e de apoio à produção, reduzindo custos e

expandindo a produção e o seu valor unitário;

11. Novas tecnologias de produção;

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12. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados, ajustando melhor a oferta à

procura e aumentando valores de venda;

13. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;

14. Melhores prazos e serviços de entrega;

15. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa

Ocidental;

16. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes;

17. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

A análise dos elementos anterior mostra que os fatores críticos de sucesso para as empresas

aquícolas é muito semelhante aos das empresas de pesca. Existem dois elementos

fundamentais: capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e

acesso a financiamento para investir em novos equipamentos. O domínio das tecnologias é

igualmente importante.

Mas, ao contrário das pescas, a importância de uma maior dimensão média das empresas

também é fundamental. Este setor é mais dinâmico e concorrencial pelo que as empresas

do setor enfrentam um risco de negócio que as empresas de pesca não enfrentam.

Estruturas de capitais e operacionais mais alargadas são essenciais para enfrentar as

ameaças e o risco de negócio.

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EXTRAÇÃO DE SAL

ESTRUTURA

O setor da extração do sal inclui em primeiro lugar o sal rocha (ou sal-gema) e o sal marinho

em bruto. Estes podem ser processados e transformar-se em sal grosso, sal refinado, sal

líquido e (no caso do sal marinho separar-se) na flor do sal. Estes podem depois ser

transformados ainda mais, designadamente através da aditivação.

O sal marinho em bruto é um subproduto das centrais dessalinizadoras cujo número e

dimensão está a crescer, existindo centrais de elevada capacidade em Israel, EUA, EAU e

Arábia Saudita. A produção de sal destas centrais é uma percentagem significativa da

produção mundial de sal.

A devolução deste subproduto ao mar provoca um aumento indesejado da salinidade nas

águas dos locais de devolução, pelo que o sal assim produzido é considerado poluente. As

centrais de dessalinização estão dispostas a suportar custos para dispor do sal marinho em

bruto. Dadas as semelhanças entre o sal-gema e o sal marinho comuns e o peso da

produção de sal destas dessalinizadoras, o sal em bruto comum não tem atualmente valor

económico. O preço do sal destinado a fins industriais depende de custos de transformação

e transporte.

Mas o sal destinado a consumo, o sal transformado, pode ter características com valor que

dependem das características do sal em bruto que utiliza como matéria-prima. O valor dos

transformados pode depender do sal em bruto que lhe deu origem.

Nos transformados do sal rocha, que já tiveram uma importância grande no setor industrial,

só alguns tipos especiais de sal, como por exemplo o Rosa dos Himalaias ou o Negro do

Havai, é que mantêm uma relevância significativa devido às suas características sensoriais

intrínsecas. O interesse, a variedade e o valor destes tipos de sal está a aumentar. Não

existe no Algarve nenhum sal rocha com estas características especiais.

Nos transformados do sal marinho existem diversos locais e tipos de sal com relevância e

valor. Acredita-se que o sal marinho reflete sensorialmente as características ambientais do

local onde é extraído, algo que lhe dá valor. Este facto é particularmente verdade para a flor

do sal.

No Algarve produzem-se todos os tipos de transformados de sal marinho. E acrescentam-se

os aditivos mais comuns.

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Os principais produtos do sal do Algarve podem dividir-se em quatro grupos: sal grosso, sal

refinado, sal líquido e flor do sal.

Os principais mercados do setor são os mercados de Portugal, da Europa Ocidental, da

América do Norte e do Brasil. Os condicionantes últimos do comportamento dos dois

primeiros mercados não são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando na análise do macro ambiente convém referir que esta se refere, exceto quando

mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e ao

internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

A atividade da extração de sal marinho é uma atividade tradicional, com uma marca

cultural, exercida em zonas de particular interesse ambiental. Por essa razão a atividade é

simultaneamente regulada e incentivada.

Na Europa a regulamentação é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível

dos processos utilizados e da composição e rotulagem dos produtos. Os incentivos são

sobretudo para produtores que utilizam processos mais tradicionais e artesanais. Tal reflete-

se no enquadramento da atividade em Portugal.

Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia

qualquer perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração deste enquadramento

regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.

Note-se que os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam financeiros ou

de acesso, assumem muitas vezes um caráter muito limitativo, impondo critérios de acesso

ligados a processos artesanais para os quais não existe uma racionalidade ligada a fatores de

qualidade do produto ou económicos. Incentiva-se a atividade arcaica, não a redução de

custos ou produção. É pouco provável mas é possível que este sistema seja alterado.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver

uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a produção.

FATORES ECONÓMICOS

Os diferentes tipos de transformados de sal têm uma evolução da procura diferenciada,

estando a diminuir a procura global de sal refinado e líquido e a aumentar, a procura de sal

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grosso a aumentar ligeiramente (em linha mas abaixo da população) e a procura de sal

rocha especial e de flor de sal a aumentar substancialmente (acima da população).

O sal, tradicionalmente, era um produto com elasticidade preço e rendimento muito baixo.

Devido a fatores culturais o consumo de sal cresceu substancialmente estando agora a

ocorrer um processo de inversão desta tendência. As elasticidades do sal mais

indiferenciado continuam baixas e a procura de sal per capita está a diminuir.

Em contrapartida a flor de sal é considerada um bem superior com uma elasticidade

rendimento superior à unidade. Tal explica o crescimento da sua procura.

Perspetivando-se a manutenção dos fatores culturais que deprimem a procura de sal

comum e estimulam o aumento da procura de flor de sal e um crescimento lento mas

sustentado do rendimento per capita dos consumidores Europeus e mundiais é de prever no

longo prazo a continuação da diminuição da procura dos produtos dos três primeiros grupos

e um aumento da procura da flor de sal.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a

existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão

aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão-de-

obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).

Em contrapartida existe, no Algarve, uma capacidade produtiva física instalada (salinas) que

com alguns investimentos em atualização pode ser utilizada para aumentar

significativamente a oferta. Tal permitirá a mecanização da produção e o aproveitamento de

economias de escala.

Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da procura do sal grosso, refinado e

líquido e um aumento da procura de flor de sal. Os custos dos fatores produtivos devem

aumentar mas a dimensão e intensidade capitalística da produção pode aumentar

reduzindo os custos de produção.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar, o sal

tem vindo a ser crescentemente percebido como um produto pouco saudável, levando a

uma diminuição da preferência e da procura de sal. Tal manifesta-se mais nos segmentos de

consumidores mais sensíveis a questões de saúde ou com mais rendimento,

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designadamente grupos de mais elevado rendimento e maior idade, que por sua vez são os

que mais têm crescido.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da

estrutura familiar, favorece a procura de produtos mais sofisticados, sejam disponibilizadas

no comércio a retalho ou em restaurantes.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão-de-obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares

baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas

e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não

qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio

entre oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se mas com uma diferente

composição.

Espera-se uma redução da mão-de-obra produtiva utilizável e maior disponibilidade de

mão-de-obra mais qualificada.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias

inbound e outbound estão em atualização constante. As tecnologias de produção são muito

diversificadas e com diferentes graus de sofisticação. No Algarve as tecnologias estão mais

desatualizadas, em resultado de regulamentações restritivas da mecanização e de reduzidos

níveis de investimento neste segmento da cadeia.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e

outbound deverá concentrar-se em novas tecnologias resultantes da aplicação de

investigação científica pura e aplicada ao setor e aos setores logísticos.

O potencial de desenvolvimento do segmento produtivo é muito mais significativo e

abrange todo o conjunto de atividades desde a mecanização da produção até à inovação em

todos os aspetos do marketing.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e

outbound do desenvolvimento da logística e do financiamento do investimento no setor,

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com a associada modernização de canais e processos. O da produção do financiamento e da

dinâmica competitiva das empresas.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos

de inbound e produção e a um aumento dos de outbound. O efeito deverá ser um aumento

do valor acrescentado das empresas padrão. Poderá haver um aumento da importância da

incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em

todos os aspetos da sua cadeia de valor mas particularmente sobre a estrutura produtiva e

de distribuição das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e equipamentos de recolha de dados e monitorização de sistemas –

sensores eletrónicos;

2. Máquinas de admissão automática de água – equipamentos automáticos de controlo

e direcionamento de fluxos;

3. Máquinas de manipulação – equipamentos automáticos e robôs de aceleração do

processo de evaporação;

4. Máquinas de extração – equipamentos automáticos e robôs de colheita de sal;

5. Processos de transformação – equipamentos de refinação, transformação,

incorporação de aditivos e embalamento;

6. Aditivos – novas misturas e processos diferenciados;

7. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

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A cadeia de valor do setor do sal algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e as

atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas, dentro das

restrições regulamentares existentes, pelas empresas de extração e transformação de sal. A

atividade de marketing e vendas pode ser autónoma, se destinada a pequenos

compradores, ou completamente dependente, se destinada a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado as atividades de

produção e de marketing e vendas.

Não existem grandes possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante, designadamente no setor alimentar.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR

O setor algarvio do sal é composto por pequenas empresas com estruturas de gestão

básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção

determinada pelas instalações; e com um marketing geralmente pouco inovador.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e

depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das

empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria

dimensão e estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto, salvaguardando a possibilidade de crescer exogenamente a procura dirigida a

sal algarvio, nada indicia que as empresas possam tomar decisões suscetíveis de alterar a

sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de

capital) tornam improvável qualquer movimento de aumento da rivalidade, de crescimento

da dimensão média das empresas ou de consolidação do setor.

Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em

novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua estrutura

produtiva. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento

dos preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento

sustentado da lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não

acompanhem esta tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de menor

valor acrescentado, designadamente sal grosso, fechem.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem

maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os

recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de

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melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das

empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria do sal algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e

a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Portugal Europa América do Norte

Brasil

Sal grosso Mercado primário

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado secundário

Sal líquido Mercado marginal

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado marginal

Sal refinado Mercado primário

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado secundário

Flor de sal Mercado primário

Mercado primário

Mercado secundário

Mercado secundário

O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número

de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Existem alguns

mercados secundários menos concentrados, nomeadamente a distribuição de menor

dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes. O poder dos clientes

é consequentemente significativo.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos

produtos do setor é significativo.

O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial dominado por

grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado relativamente ao setor das

pescas algarvio, poderão existir alguns clientes secundários bastante atrativos. Destes

salientam-se os clientes dos setores do retalho alimentar de mais elevada gama e da

hotelaria e restauração, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os preços e as

margens estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário.

Os mercados da América do Norte e do Brasil têm caraterísticas semelhantes mas menor

importância, devido a um menor conhecimento do Algarve e a problemas de transportes

para mercados produtores significativos.

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Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o mercado mais próximo e tem custos de transporte e logísticos reduzidos. Devido a um

rendimento per capita e a uma população reduzidos não é um mercado com grande

dimensão. Devido a fatores culturais não é ainda um mercado onde a procura de flor de sal

e flor de sal aditivada seja muito significativa.

O mercado de procura final é muito competitivo e cresce muito lentamente. O mercado tem

dois segmentos. O segmento de particulares é maior e está numa fase de expansão em

termos de procura final enquanto o segmento de hotelaria e restauração é menor mas está

a crescer ainda mais, tanto de um ponto de vista de procura final como de desenvolvimento

dos canais logísticos.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na distribuição, no caso do sal, e distribuem-

se pela produção e distribuição, no caso da flor de sal. Os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na

comercialização no segmento da hotelaria e restauração.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados relacionam-se

fundamentalmente com o tipo e rendimento do consumidor final e não parece que existam

novas estratégias viáveis de segmentação de mercados dada a atual estrutura de

distribuição.

A proximidade torna o mercado interessante para o sal, e o seu estádio de desenvolvimento

torna o mercado interessante para a flor de sal.

Os mercados intermédios, formados pelas empresas nacionais e internacionais que

compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino, são muito

competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.

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O segmento mediato de consumidores nacionais apresenta algumas características

específicas (produtos ao gosto português) que exigem adequação da oferta à procura final.

Tal minimiza os efeitos da concorrência internacional sobre os preços. Aparentemente este

mercado ainda está numa fase de desenvolvimento, tanto em termos de procura final

nacional como em termos de exportações.

No segmento mediato de exportação (seja através da venda em mercados internacionais

seja na venda a turistas em território nacional) estes produtos específicos do mercado

português têm uma penetração muito reduzida. Este segmento ainda está numa fase de

introdução mas tem potencial de desenvolvimento.

Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação e de inovação

de produto.

MERCADOS EUROPEUS

Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes para o sal e os seus produtos, designadamente a flor do sal.

Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por

produtos distintos e de qualidade.

Os canais de comercialização tanto para o consumo final como para o segmento da

hotelaria e restauração estão geralmente bem desenvolvidos, não havendo lucros

extraordinários ou rendas na comercialização em qualquer segmento de mercado.

As empresas que atuam nos canais de comercialização do setor estão bastante

desenvolvidas, integradas a montante e concentradas. São por isso um obstáculo muito

grande para empresas nacionais com estratégias de liderança de custos. A exportação para

o retalho terá de se basear na diferenciação e ser mediada por empresas de distribuição.

Não se perspetiva grandes possibilidades de pequenos novos fornecedores de sal grosso,

refinado ou líquido penetrarem estes canais. Parece um canal potencial para novos

fornecedores de flor de sal com alguma dimensão e uma oferta diferenciada e de qualidade.

Os canais de distribuição para a hotelaria e restauração são menos integrados e

concentrados pelo que existem algumas oportunidades de usar ou ultrapassar estes canais.

A diferenciação de produto é fundamental nestes canais. Parece um canal potencial para

novos fornecedores de sal e flor de sal, mesmo que pequenos, com uma oferta diferenciada

e de qualidade.

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Olhando para mercados nacionais, a França é um mercado grande com consumidores

sofisticados, que procuram todos os tipos de sal bem como a novidade. Mas é um dos

maiores produtores de sal. É muito difícil entrar no segmento do grande retalho mas

possível entrar nos segmentos de retalho especializado e hotelaria e restauração.

O mercado do Reino Unido é quase tão grande e sofisticado como o francês. O acesso ao

grande retalho é ligeiramente mais aberto que o francês e o acesso à hotelaria e

restauração muito mais fácil. Em contrapartida o retalho especializado está menos

desenvolvido.

A situação nos restantes países da União Europeia está entre a situação francesa e britânica.

Os países do Norte têm canais mais abertos mas menos especializados, acontecendo o

inverso nos países do Sul. Existem portanto, oportunidades de mercado não satisfeitas nos

países do Norte da Europa.

O interesse e potencial destes países do Norte da Europa pode basicamente ser encontrado

ordenando-os por dimensão da população e rendimento per capita.

Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os mercados já

abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de

transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para

ofertas diferenciadas, designadamente na área da flor de sal e de produtos fortemente

diversificados.

AMÉRICA DO NORTE

A situação na América do Norte é equivalente à europeia mas existem alguns mercados no

leste do Canadá e dos EUA com um grau de sofisticação e desenvolvimento de canais

especializados e procura na hotelaria e restauração em que a facilidade de novos produtos

penetrarem é elevada. Existe adicionalmente um mercado de saudade que pode ser

explorado e pode alavancar a presença comercial. Estes são mercados importantes.

BRASIL

O Brasil é um mercado de elevada dimensão, menos sofisticado e desenvolvido que os

anteriores, e onde um conjunto grande de produtos só é oferecido a preços elevados. Mas é

igualmente um grande produtor de sal. É muito difícil entrar no segmento do grande retalho

mas possível entrar nos segmentos de retalho especializado e hotelaria e restauração.

OUTROS PAÍSES

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Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades

pontuais, devido à sua dimensão. Estes são Angola, a China, o Japão, a Coreia do Sul, outros

países desenvolvidos do Extremo Oriente e a Austrália. São mercados onde existem

oportunidades de nicho para produtos de gama alta.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em

consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado

acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de

mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão

permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito

importante no consumo de flor de sal de valor elevado na hotelaria e restauração e

no comércio, são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;

2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito

importante no consumo de sal de valor médio na hotelaria e restauração e no

comércio e importante no consumo de todos ou outros produtos no comércio, são

sensíveis ao preço e à qualidade;

3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito

importante no consumo de sal de valor médio e de flor de sal de menor valor no

comércio, são muito sensíveis ao preço e sensíveis à qualidade;

4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento

pouco importante para os produtos nacionais mas que podem originar compras de

moda, são muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;

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5. Consumidores não educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio e

baixo – segmento algo importante, são sensíveis ao preço mas não à qualidade;

6. Consumidores não educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio

e baixo – segmento pouco importante.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo

com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e em produtos de elevada

procura;

2. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão

estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento e produtos

diversificados e inovadores;

3. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento de produtos de elevada;

4. Comércio alimentar a retalho especializado – de pequena dimensão estão

interessados em diversidade e novidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A importância relativa dos segmentos varia de país para país mas a sua ordem de

importância é geralmente: grande comércio alimentar a retalho, grande comércio alimentar

grossista, comércios grossistas especializados em restaurantes e comércio a retalho

especializado.

Os outros segmentos podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.

PERFIS DOS COMPETIDORES

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A indústria algarvia do sal enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

empresas tradicionais, empresas especializadas modernas e grandes empresas integradas.

As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,

eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e

tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com

estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.

Estas empresas tradicionais continuam a ser relevantes mas perderam peso para os outros

tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos desfavorável. A

rentabilidade estrutural destas empresas é muito reduzida ou mesmo negativa.

Normalmente especializam-se em produtos locais produzidos por métodos tradicionais.

As empresas especializadas modernas têm um peso cada vez maior. Têm uma estrutura

mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na

diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing ou, em menor número de casos, via

especialização em produto. Investem bastante em I&D e marketing. Estas empresas têm

maior rentabilidade que as empresas tradicionais.

Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de produção de sal com a de

outros produtos, normalmente alimentares. Podem também ser empresas comerciais

integradas. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e

estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing. Estas

empresas têm maior rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua

importância tem vindo a crescer.

COMPETIDORES POR MERCADO

Em termos de mercados, os principais produtores mundiais são a China e os EUA, seguido

de diversos países do Médio Oriente. No que respeita à Europa e à produção comercial de

flor de sal, destacam-se alguns países europeus, como a França, a Espanha, a Irlanda e o

Reino Unido, além de diversos países mediterrânicos.

A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os

três tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de

empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é

maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

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A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor do sal é a produção das dessalinizadoras e a evolução do preço

do sal. Outra ameaça importante é a diminuição da procura nos principais mercados do

Algarve. Depois existe o aumento estrutural do preço da mão-de-obra.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades são:

1. A alteração do enquadramento regulamentar e dos sistema de incentivos

favorecendo a mecanização e a produção;

2. Aumento da procura de flor de sal e sal marinho aditivado;

3. Novos sistemas e equipamentos de recolha de dados e monitorização de sistemas

produtivos;

4. Novas tecnologias produtivas;

5. Novos aditivos;

6. Novas estratégias de marketing e comerciais;

7. Novos produtos e mercados;

8. Melhor logística.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento de

produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e gerir eficientemente

estas oportunidades.

Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em equipamento e em marketing.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários seja internamente seja por subcontratação.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DO MAR

ESTRUTURA

O setor da transformação e comercialização dos produtos do mar inclui tanto a indústria e

comércio alimentar, especializados ou não, como a indústria e comércio não alimentares

que utilizam produtos do mar.

O setor é composto por um conjunto muito diversificado de empresas de que se destacam:

Agentes e outros representantes;

Comércio alimentar grossista;

Comércio alimentar grossista especializado (designadamente em restaurantes);

Grande comércio alimentar a retalho;

Comércio alimentar a retalho especializado;

Restauração e hotelaria;

Indústria alimentar;

Comércio grossista não especializado;

Grande comércio a retalho;

Comércio a retalho especializado;

Indústria não alimentar.

Note-se que a generalidade destas empresas e as estruturas de mercado que materializam

em diversos setores e países já foram analisadas previamente. O que não foi analisado foi a

dinâmica concorrencial do setor.

A importância deste setor para o cluster do mar resulta em primeiro lugar de estar a jusante

dos principais setores do cluster, como a pesca, a aquicultura e a extração de sal entre

outros. Assim tem uma natureza logística e comercial fundamental para garantir o

escoamento e potenciar a produção do cluster.

Depois, sendo normalmente os produtores algarvios dos setores já analisados pequenos e

pouco sofisticados, o setor da comercialização e transformação tem uma natureza

dinamizadora e inovadora da atividade destes produtores. Este setor é o principal

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responsável pela transmissão de inovações de produtos e processos aos produtores a

montante.

Assim interessa saber se o setor está a cumprir eficientemente estas funções, se existem

inovações ou desenvolvimentos significativos na estrutura ou nos processos do setor que

possam ser aproveitados pelas empresas fornecedoras, designadamente as algarvias, e se é

possível desenvolver mais as empresas algarvias do setor.

Para o efeito as empresas do setor vão ser divididas em três tipos: de comércio alimentar,

de indústria alimentar e outras, não alimentares.

Os principais mercados do setor são os de Portugal, da Espanha, da Europa Ocidental e

Internacionais. Os condicionantes do comportamento destes mercados não são

significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que as estruturas

comerciais algarvias estão muito integradas com as nacionais e as espanholas, estando estas

integradas com as europeias. Esta análise foca assim dois níveis de macro ambiente, o

algarvio e o ibérico.

FATORES POLÍTICOS

Na Europa a regulação do setor de transformação e comercialização dos produtos do mar é

descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível da regulamentação de processos

e de composição e rotulagem dos produtos. Podem pontualmente existir pequenos

incentivos públicos para empresas de transformação e comercialização, mas estes são

sobretudo para empresas que utilizam processos mais tradicionais e artesanais.

Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia

qualquer perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento

regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.

Em contrapartida, os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam

financeiros ou de acesso, assumem muitas vezes um caráter demasiado restritivo,

procurando fundamentalmente apoiar produtores e comerciantes muito pequenos, sem

grande viabilidade económica. Os incentivos procuram mais, de facto, alcançar objetivos de

natureza social ou cultural do que económica. Muitas vezes não existe uma racionalidade

económica para a atribuição destes incentivos. Subsidia-se a atividade, não a redução de

custos ou a produção. É pouco provável, mas é possível, que este sistema seja alterado.

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Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver

uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a atividade empresarial e a

produção.

FATORES ECONÓMICOS

A utilização dos diferentes tipos de comércio e dos diferentes produtos industriais não

depende muito de fatores de caráter económico que não o rendimento. O peso do valor

acrescentado bruto do setor comercial e dos produtos industriais do mar nos diferentes

produtos internos brutos tende a ser estável. Mas o aumento do rendimento estimula a

procura de formas mais sofisticadas de comércio e de produtos, sejam de luxo, sejam

menos massificados. Assim é de prever que nos países ocidentais o comércio se continue a

tornar mais complexo e menos massificado. É de esperar uma procura acrescida para

produtos novos e distintos, de preferência com identidades específicas.

Na indústria, que atualmente é relativamente transacionável e intensiva em mão-de-obra,

têm-se verificado duas tendências recentes: a de deslocalização e a de automatização,

designadamente via robotização. Esperando-se uma continuação das dinâmicas de

globalização, de aumento do preço do trabalho e de desenvolvimento tecnológico, é

consequentemente de esperar a continuação destas tendências.

Note-se que o setor em Portugal está relativamente atrasado nestes movimentos e o custo

da mão-de-obra no Algarve ainda é muito competitivo em termos europeus. Assim existe

uma oportunidade de crescimento rápido das empresas algarvias por emulação de boas

práticas produtivas e aproveitamento de vantagens comparadas.

Estes setores comerciais e industriais são bastante concorrenciais, sendo normalmente

constituídos por um conjunto restrito de líderes, que atuam de acordo com modelos de

concorrência monopolística, e um conjunto alargado de seguidores. Esta estrutura resulta

da existência de economias de escala e de domínio limitadas na logística e no marketing das

unidades e empresas do setor.

Esta estrutura deve manter-se mas o grande desenvolvimento recente de um setor logístico

autónomo das grandes empresas industriais e comerciais, deve continuar, diminuindo as

vantagens dos maiores operadores em benefício de operadores especializados e online.

Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da utilização do comércio

massificado e a continuação da deslocalização da indústria.

FATORES SOCIAIS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor

reforçam os fatores económicos acima referidos. Por um lado espera-se um aumento da

procura de comércio e produtos diferenciados e por outro lado espera-se uma diminuição

da utilização de trabalho em atividades indiferenciadas e pouco intensivas em capital e

conhecimento.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes tipos de

unidades do setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de

busca de produtos com um carácter distintivo e a alteração da estrutura familiar, favorece a

procura de produtos mais transformados (de mais fácil utilização), de mais qualidade,

sofisticação e identificação local e menos consumidores de tempo de escolha, compra e

transporte.

No que respeita ao Algarve e à oferta de fatores produtivos não se encontram

constrangimentos efetivos ou potenciais significativos, nem na mão-de-obra. A este último

nível a situação atual caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com

qualificações escolares baixas e uma oferta reduzida mas crescente de mão-de-obra com

qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de

mão-de-obra não qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem

experiência. Não se deve vir a verificar nenhum desequilíbrio entre oferta e procura de

mão-de-obra, podendo o emprego vir a manter-se mas com uma diferente composição.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e

outbound são tecnologias relativamente modernas e em atualização constante. As

tecnologias de comercialização e produção são mais diversificadas e com diferentes graus

de sofisticação.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound

deverá passar por alterações no setor dos transportes. O do outbound deverá concentrar-se

na logística de proximidade. E o da produção deverá ser mais generalizado, abrangendo

desde novos produtos a novos processos produtivos e comerciais.

De facto, o potencial de desenvolvimento do segmento produtivo das empresas comerciais

e industriais é muito significativo e abrange todo o conjunto de atividades desde a

mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos das vendas e do marketing.

Espera-se que as tecnologias de informação e comunicação, a robotização, a inteligência

artificial e o “big data” mudem de uma forma substancial o setor a médio prazo.

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Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e

outbound do desenvolvimento dos transportes e da logística e do financiamento do

investimento no setor, com a associada modernização de equipamentos e processos. O da

produção do comércio e da indústria da dinâmica competitiva das empresas.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos

de inbound e de outbound. O efeito deverá ser um aumento do valor acrescentado das

empresas industriais e comerciais de pequena e média dimensão. Mas estas terão de ter a

capacidade para conseguir uma significativa incorporação científica e tecnológica e um

aumento da sua intensidade capitalística.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em

todos os aspetos da sua cadeia de valor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e equipamentos de transportes – “driveless cars”, drones, robôs e

equipamentos associados;

2. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns

automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística;

3. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e

equipamentos de processamento e conservação de alimentos;

4. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de

gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;

5. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens

para o setor comercial, designadamente no segmento do retalho;

6. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos e marketing relacional e de conteúdos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise macro vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A cadeia de valor do setor de transformação e comercialização de produtos do mar algarvio

é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound,

produção, comercialização e outbound são controladas, dentro das restrições

regulamentares existentes, pelas empresas de comercialização e industriais. A atividade de

produção dos inputs do setor é normalmente assegurada por pequenos ou médios

produtores.

Existem dois grupos de empresas a atuar no setor: um grupo restrito de grandes empresas

comerciais e industriais normalmente nacionais, espanholas ou europeias; e um grupo mais

alargado de pequenas empresas comerciais nacionais e espanholas. Salvaguardando a

dimensão mais reduzida do mercado algarvio, esta estrutura é semelhante à observada na

generalidade dos países da Europa.

As atividades de marketing destas empresas podem ser autónomas, se destinadas a

pequenos compradores, ou completamente dependente, se destinadas a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado pelas atividades

de produção e comercialização e de marketing e vendas.

Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante e montante, designadamente nos sectores produtores de inputs.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da transformação e comercialização dos produtos do mar é composto por

pequenas empresas locais com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos

humanos, tecnológicos e de capital; com a produção determinada pelas instalações; e com

um marketing geralmente pouco inovador. Estas empresas concorrem com empresas

espanholas e europeias de diversas dimensões e graus de desenvolvimento.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e

depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das

empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria

dimensão e estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto nada indicia que as empresas possam tomar decisões susceptíveis de alterar a

sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de

capital) tornam improvável qualquer movimento de crescimento da dimensão média das

empresas ou de consolidação.

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Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em

novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua quota de

mercado produtiva. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual

aumento dos preços de venda dos produtos pode levar a um aumento sustentado da

lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não acompanhem esta

tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de menor valor acrescentado

e margem acabem por fechar.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem

maior lucratividade nas empresas que sigam estratégias de diferenciação, podendo estas

empresas aproveitar os recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para

gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da

dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do

setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados do setor podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a

localização geográfica. Esta análise resulta das análises que foram feitas anteriormente a

respeito dos setores das pescas, aquicultura e sal.

Apenas uma nota para referir que os nesta indústria os mercados mais massificados são

mais concorrências, fechados e menos lucrativos que os especializados. E outra para referir

que o comércio alimentar é mais competitivo e com menores margens que o comércio não

alimentar e a indústria.

O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número

de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Até há pouco

tempo as empresas deste mercado estavam protegidas pela existência de uma preferência

de produtos nacionais (p.e. na alimentação preparada) mas esta preferência está a perder

importância devido à uniformização das preferências dos consumidores nacionais e

europeus e devido ao facto de as empresas internacionais terem adotado estratégias de

ajustamento do produto aos mercados nacionais e regionais.

Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o distribuição

de menor dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes.

Como esta é uma indústria aberta, onde podem constantemente entrar novos competidores

e produtos substitutos, as pressões neste setor sobre os preços e as margens são

significativas.

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O mercado da Europa Ocidental e da América do Norte são igualmente mercados

concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão destes mercados

relativamente ao algarvio, poderão existir alguns nichos de mercado ou clientes secundários

bastante atrativos. Destes salientam-se os clientes da saudade, os clientes com preferência

marcada pelo distinto e autêntico e os setores do retalho alimentar e da hotelaria e

restauração de mais elevada gama, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os

preços e as margens estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário para o

setor.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS, DOS CONSUMIDORES E DOS COMPETIDORES

A análise estrutural dos principais mercados, consumidores e competidores efetivos ou

potenciais do setor, foi feita na análise dos setores anteriores.

Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais

concorrências, fechados e menos lucrativos que os especializados.

A relevância e lucratividade dos mercados depende da distância, da população, do

rendimento per capita e da apetência relativa por produtos diferenciados específicos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças que o setor enfrenta são concorrências, dependem do crescimento da

concorrência por parte de competidores agressivos com dimensão e estrutura de gestão.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades competitivas relacionadas com novas tecnologias e

sistemas organizativos e de gestão. Mas dada a dimensão dos principais competidores

internacionais, as maiores oportunidades parecem ser as que resultam de estratégias de

especialização internacional em produtos e mercados e de estratégias de nicho.

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FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Para estas estratégias os fatores críticos de sucesso são a capacidade de desenvolver

estratégias eficientes de marketing e gerir muito bem essas estratégias. O acesso a

fornecedores de tecnologias e de serviços de marketing é essencial.

A dimensão das empresas é secundária e pouco importante no comércio e maior na

indústria.

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CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL

ESTRUTURA

O setor algarvio da construção e reparação naval dedica-se fundamentalmente a

embarcações de pequeno e médio porte, não havendo portos com características

adequadas para embarcações de maior porte em que, aliás, a região não deveria ser

competitiva.

Os produtos ou serviços do setor podem dividir-se por dois grupos: embarcações de

transporte e trabalho e embarcações de recreio.

Os mercados do subsetor da construção são todos os países da Bacia do Atlântico, com

destaque para Portugal e a Europa Ocidental, podendo ainda, excecionalmente, abranger

países limítrofes. Os mercados do subsetor da reparação são Portugal e os países da Europa

Ocidental e do Norte de África, podendo abranger em casos especiais países um pouco mais

distantes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e

determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor da construção e reparação naval está sujeito a regulamentações gerais de processos

e de características dos produtos que não são particularmente restritivas. Em contrapartida

tem de utilizar o domínio público, podendo enfrentar muitas dificuldades burocráticas de

acesso e utilização.

A disponibilidade de bens públicos e de infraestruturas também é importante para o setor.

A este nível salientem-se as marinas e as infraestruturas portuárias e de transportes bem

como de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico.

Um investimento importante para o setor de reparação é uma marina na costa Atlântica do

Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as marinas de Lagos e de Tróia. Esta nova marina

é importante para evitar que os iates a viajar entre estas as duas marinas tenham de passar

a noite no mar, estimulando as visitas às marinas do Algarve de iates do Norte da Europa e,

consequentemente, a procura de serviços de manutenção e reparação.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Marginal mas relevante para o setor, designadamente por causa dos custos de distribuição e

seguros, é a pirataria na África Ocidental.

O setor é livre, havendo liberdade de entrada e comercial. Mas as entidades públicas e para-

públicas nacionais, regionais e locais são um grande comprador e influenciador das compras

ao setor. A promoção pública das vendas do setor é importante.

Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de

alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor gestão do domínio

público marítimo em Portugal nem uma melhor oferta de bens públicos relevantes. Nem a

existência de políticas nacionais e regionais de defesa e promoção comercial das vendas do

setor.

Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão deste

domínio se alterarem em Portugal, aligeirando processos e facilitando o acesso o que pode

facilitar o desenvolvimento da indústria. E existe a possibilidade de continuar a existir

investimento em marinas, expandindo o potencial do mercado.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo melhorias no acesso ao domínio público e mais bens públicos podem ser

bastante relevantes.

FATORES ECONÓMICOS

O setor de construção e reparação de embarcações de pequeno e médio porte, que foi

durante muito tempo um setor de manufatura e local, tem-se modernizado

substancialmente. Foram introduzidos novos materiais e processos, abriram-se os mercados

nacionais e reduziram-se os custos de transportes e seguros. O setor está agora unificado

internacionalmente.

A procura de embarcações de trabalho depende da fundamentalmente expansão da

atividade marítima das pescas, aquicultura, transportes, turismo e segurança. E, com a

exceção das pescas, estas atividades estão a crescer pelo que a procura primária e de

reposição destas embarcações e de serviços de reparação também está a crescer.

Mas, estando muitos mercados a atingir um estádio de maturidade, a procura de construção

deve aumentar de uma forma diferenciada por tipo de embarcação. Espera-se assim, um

maior aumento no segmento de aquicultura, turismo e segurança e um menor crescimento

ou menos diminuição da procura de pescas e transportes.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

72

Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado nos mercados relevantes é de

prever no longo prazo uma continuação do aumento desta procura. Como não se

perspetiva, a curto prazo, qualquer perturbação da conjuntura económica internacional, a

dinâmica da procura conjuntural será igual à de longo prazo.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos das matérias-primas e

subsidiárias. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de

produção poderão aumentar lentamente.

Convém referir que o subsetor da construção de embarcações de médio porte é um setor

com um fundo de maneio muito elevado pelo que está muito dependente do custo de

capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas de juro,

havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as

internacionais.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de vida e exigência dos

consumidores têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o conforto e a

segurança das embarcações. Saliente-se a este nível um previsível crescimento da procura

de embarcações de recreio de madeira de elevado valor. Em segundo lugar as preocupações

ambientais têm conduzido a uma maior preocupação com os processos produtivos, os

materiais utilizados e os consumos das embarcações. Por fim, a atual e previsível dinâmica

demográfica, designadamente de alteração da estrutura familiar, favorece a procura de

produtos de recreio, designadamente iates.

Em termos concretos deverá aumentar a procura de embarcações mais autónomas, de

ciclos de produção e entregas mais curtos e de serviços de garantia e manutenção

associados à compra.

As entidades clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade de

design e construtiva. A importância da reputação e dos sinais visíveis de qualidade das

empresas construtoras e reparadoras deverá aumentar. O valor das embarcações também

deverá aumentar, criando uma maior necessidade de capital circulante e um aumento do

risco financeiro do negócio e uma tendência para o aumento da dimensão média das

empresas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos nem na mão-de-obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares

baixas e formação tradicional (incluindo em construção e reparação em madeira) e uma

oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência

parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não qualificada e de aumento da mão-de-

obra qualificada mas sem experiência. O equilíbrio entre oferta e procura de mão-de-obra

pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos de maior

qualidade. Pode haver um ressurgimento da construção de madeira para mercados de

nicho. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão-de-obra.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias

inbound e outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante.

As tecnologias de produção ou reparação mudaram muito rapidamente nas últimas décadas

e ainda estão a mudar rapidamente.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound

deverá concentrar-se em novas tecnologias de financiamento, logística e transportes. O do

segmento produtivo da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor. O do

segmento de outbound das consequências de novas metodologias de construção

(construção modular desconcentrada) e das novas tecnologias financeiras, de seguros e de

transportes.

As tecnologias de construção e reparação de embarcações mudaram a todos os níveis: no

design (de que é exemplo extremo o crescimento do peso dos catamarãs em detrimento

dos monocascos); nos materiais (com a substituição de madeiras e outros materiais

tradicionais por fibras e materiais compósitos e sintéticos); nos modelos produtivos (com o

crescimento da produção em série de embarcações mais pequenas e a gestão da produção

por equipas); e na construção modular.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

fundamentalmente do desenvolvimento dos setores relevantes. O da construção e

reparação da aplicação da ciência pura e aplicada. E o do outbound da evolução competitiva

das empresas financeiras, seguradoras e transportadoras.

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O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo

produtivo e dos custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da

incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.

Pode aumentar a importância das economias de escala e consequentemente provocar um

aumento da dimensão média das empresas do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Design – novos desenhos construtivos incluindo catamarãs e trimarãs e embarcações

de balastro livre, captura 3D e big data, e sistemas de realidade aumentada e virtual

e de simulação digital;

2. Sistemas motrizes – velas, motores GPL e elétricos, eventualmente solares;

3. Métodos de produção – impressão 3D, robótica, inteligência artificial e “machine

learning”, sistemas de gestão da colaboração;

4. Materiais de produção – nanotecnologia, “buckypaper” e “graphene”, entre muitos

outros;

5. Financiamento e seguros – sensores e sistemas “peer to peer” e GPS e sistemas

FinTech e InsurTech;

6. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – “big data” e sistemas

informáticos integrados de marketing, FinTech, “sharing” e “use on demand”;

7. Sistemas de transportes e logística – distribuição modular, seguros e diversos

equipamentos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

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A cadeia de valor do setor das pescas algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e

as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas pelas empresas

de construção e reparação. A atividade de marketing e vendas é também gerida pelas

empresas produtoras. industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado pelas

atividades de produção mas o marketing é muito importante.

Não existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante, mas existem algumas pressões de grandes construtores

internacionais para a integração da construção (centralizada) com a reparação (local). Não

se conhecem casos de grande sucesso neste esforço de integração.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da construção e reparação naval é composto por pequenas e médias

empresas com estruturas de gestão básicas e com poucos recursos humanos, tecnológicos e

de capital. A sua competitividade depende da localização e dos custos de produção,

designadamente salariais.

A indústria internacional está dividida entre grandes, médias e pequenas empresas

construtoras e médias e pequenas empresas reparadoras. As grandes empresas de

construção têm uma vantagem de escala na conceção e produção de modelos

padronizados, o que é particularmente importante nas pequenas embarcações e

embarcações de recreio de médio e baixo preço. As médias empresas têm vantagens de

flexibilidade na produção de embarcações customizadas. Não existem vantagens evidentes

para nenhum tipo de empresa na reparação.

A atividade de reparação tem um risco de negócio e financeiro reduzido. Mas a de

construção tem riscos de negócio e sobretudo financeiros elevados. A lucratividade do

sector varia com os ciclos económicos e financeiros. As grandes empresas conseguem

diversificar melhor este risco.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é

significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão do seu

esforço de marketing, vendas e gestão de produção. Estas decisões estão a melhorar

sustentada mas lentamente.

No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade estrutura produtiva das

empresas, designadamente de construção, se vá desenvolvendo em resultado do

investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os custos podem-se ir

reduzindo o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos produtos

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(referido na secção anterior) pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do

setor.

No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais

rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas

aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para

gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da

dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do

setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de construção e reparação naval algarvia podem dividir-se de

acordo com a natureza dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a

relevância dos principais mercados.

Construção Portugal Europa Ocidental Outros

Trabalho Mercado primário Mercado primário Mercado primário

Recreio Mercado secundário Mercado secundário Mercado marginal

Reparação Portugal Europa Ocidental Outros

Trabalho Mercado primário Mercado primário Mercado primário

Recreio Mercado primário Mercado primário Mercado marginal

Os mercados nacionais de construção e reparação são mercados concorrenciais onde existe

uma oferta diversificada e completa. O crescimento destes mercados está a desacelerar o

que tem pressionando os preços do setor.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

onde os fornecedores de alguns equipamentos têm um poder significativo, as pressões

deste mercado comprador sobre o preço têm gerado alguma concorrência-preço e afetado

a margem do setor da pesca que, no entanto continuam a ser significativas. O mercado

nacional de construção de barcos de recreio é o mercado nacional com margens mais

pressionadas.

O mercado da Europa Ocidental é também um mercado concorrencial dominado por um

mix de grandes, médios e pequenos construtores e médios e pequenos reparadores. É

igualmente um mercado maduro.

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Dada a dimensão deste mercado relativamente à dimensão da indústria algarvia de

construção e reparação, poderão existir alguns produtos customizados e clientes bastante

atrativos. Destes salientam-se a construção de barcos de trabalho de médio porte, de

embarcações de recreio de mais elevado valor e de embarcações de madeira.

Salvaguardando estes produtos, mercado europeu de construção de barcos de recreio é o

mercado europeu com margens mais pressionadas.

Os restantes mercados, designadamente os da Bacia do Atlântico, são interessantes no

segmento das embarcações de trabalho mas são pouco atrativos no segmento de recreio,

devido à forte concorrência e a custos de transporte, de transação e de seguros. Mantém-

se, no entanto, a possibilidade de existirem pontualmente segmentos de mercado mais

atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

Tem, incluindo as regiões autónomas, uma das maiores zonas económicas exclusivas do

mundo.

Em termos de construção, tem uma procura grande e diversificada de embarcações de

trabalho e uma procura mais reduzida de embarcações de recreio. Em termos de reparação

tem uma reserva de mercado das embarcações pequenas, devido a custos de transporte, e

de alguns serviços a embarcações médias, devido à necessidade de realizar reparações no

local onde as embarcações estão. Esta procura torna o valor do mercado nacional muito

interessante.

O mercado de embarcações de trabalho de médio porte é um mercado maduro, em que os

investimentos de reposição se começam a sobrepor aos iniciais mas em que existe uma

procura sustentada. O mercado de embarcações de recreio médias é mais reduzido. O de

embarcações mais pequenas é significativo e tem um grande potencial de crescimento com

o crescimento do turismo e do interesse pelas atividades náuticas e com o crescimento das

atividades económicas marítimas, como a aquicultura.

No mercado das embarcações médias e da reparação a procura é final, é do consumidor, e

no mercado das embarcações pequenas a procura pode ser final ou derivada, em que os

consumidores finais são servidos por empresas comerciais que gerem os canais de

comercialização.

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O mercado tem três segmentos, o de particulares, o de empresas e o público e para-público.

Os primeiros dois segmentos deverão crescer mais que o último.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na conceção,

produção e marketing. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e

de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência

de lucros extraordinários ou rendas na comercialização no segmento das embarcações

médias de trabalho, e segmento em que a oferta é mais customizada e diferenciada.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e a utilização das embarcações mas não parece que existam novas estratégias viáveis

de segmentação de mercados dada a actual estrutura de distribuição.

Existem algumas possibilidades de integração de construção com a reparação e

manutenção, o que pode ser importante no segmento das embarcações de trabalho médias

e para o setor da manutenção. Não parecem existir tantas possibilidades de integração a

jusante.

EUROPA OCIDENTAL

Os mercados da Europa Ocidental, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo e do Mar

do Norte são mercados de grande dimensão, com uma procura grande, sofisticada e

diversa, abrangendo tanto embarcações de trabalho como de recreio.

No mercado de construção de embarcações de trabalho salientam-se o Reino Unido, a

Irlanda, a Espanha, os países escandinavos, os países bálticos, a França, a Dinamarca, a

Alemanha, a Polónia, a Itália e os países dos Balcãs. No de embarcações de recreio salienta-

se a Itália, a Holanda, o Reino Unido, a Alemanha, França e Espanha. Grande parte destes

mercados não foi ainda explorada pela indústria nacional.

No mercado de reparação salientam-se os mercados de passagem e os mercados de

Espanha, Reino Unido e França, sendo a Itália, a Holanda e a Irlanda mercados de quase tão

grande dimensão.

Estes mercados são de maior dimensão que os nacionais mas têm características

semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.

Nos mercados de embarcações de recreio os canais de comercialização e os serviços de

manutenção estão muitas vezes mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou

rendas em segmentos significativos livres do mercado. Mas existem pontualmente

segmentos menos competitivos.

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Acontece o mesmo nas embarcações de trabalho a generalidade dos mercados são

eficientes mas onde existem, mesmo, segmentos protegidos, designadamente nos

mercados públicos e para-públicos.

As exportações para estes mercados poderão ser feitas diretamente ou em parcerias com

empresas locais de maior dimensão, o que permite ultrapassar este obstáculo.

Estes mercados são de grande dimensão com interesse para empresas nacionais com

estratégias de liderança de custos e de diversificação por adaptação ao cliente. Os custos de

transportes para estes mercados não são significativos.

OUTROS MERCADOS ATLÂNTICOS

Os outros mercados, designadamente da Bacia do Atlântico, variam em dimensão, existindo

mercados de grande dimensão e de menor dimensão. A procura destes mercados é grande,

sofisticada e diversa, abrangendo tanto embarcações de trabalho como de recreio.

No mercado de construção de embarcações de trabalho salientam-se os EUA, o Canadá, os

países das Caraíbas, o Brasil, a Argentina, o Uruguai, os países do Norte de África e os

PALOP, designadamente Angola. No de embarcações de recreio salientam-se os EUA e o

Canadá. Grande parte destes mercados não foi ainda explorada pela indústria nacional.

No mercado de reparação salientam-se novamente os mercados de passagem e os

mercados de países mais próximos de maior desenvolvimento económico, como os EUA, o

Canadá, e os países do Norte de África.

Estes mercados têm características semelhantes aos europeus. Assim importa salientar as

principais diferenças.

Nos mercados de trabalho, os canais de comercialização e os serviços de manutenção têm

um desenvolvimento diferenciado, surgindo muitas vezes oportunidades interessantes. Mas

existe um problema de dificuldade de acesso a mercados públicos e para-públicos pode em

muitos países ser maior que na Europa. As exportações para estes mercados poderão ser

feitas diretamente ou em parcerias com empresas locais de maior dimensão, o que permite

ultrapassar este obstáculo.

Nos mercados de embarcações de recreio os canais de comercialização e os serviços de

manutenção estão muitas vezes mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou

rendas em segmentos significativos livres do mercado. Estes mercados são de menor

dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes ou à elevada intensidade

competitiva e elevada oferta local não muito diferenciada da portuguesa.

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Mas existem pontualmente segmentos menos competitivos e podem surgir oportunidades

pontuais para ofertas diferenciadas, designadamente em termos de construção de madeira.

Estes mercados são de grande dimensão com interesse para empresas nacionais com

estratégias de liderança de custos e de diversificação por adaptação ao cliente. Os custos de

transportes para estes mercados são mais significativos, principalmente devido ao custo de

seguros em zonas de pirataria.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em

consideração os dois grupos de embarcações acima identificados.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado

acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de

mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão

permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Empresas de pesca e aquicultura – segmento muito importante no segmento das

embarcações de trabalho de todas as dimensões, procuram soluções profissionais

robustas e integradas e são muito sensíveis ao preço, aos custos de manutenção e à

qualidade, estado dispostos a considerar embarcações de série;

2. Empresas de turismo e transportes – segmento muito importante no segmento das

embarcações de trabalho de dimensões médias, procuram soluções profissionais

modernas e confortáveis muito diversificadas e são muito sensíveis à qualidade,

podendo pontualmente considerar embarcações de série;

3. Entidades públicas e para-públicas – segmento muito importante no segmento das

embarcações de trabalho de todas as dimensões, procuram soluções profissionais

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robustas e customizadas sendo muito sensíveis ao preço e aos custos de

manutenção;

4. Empresas de desportos náuticos – segmento muito importante no segmento das

embarcações mais pequenas, procuram soluções profissionais robustas e são

sensíveis ao preço, aos custos de manutenção e à qualidade, preferindo geralmente

embarcações de série;

5. Navegadores ocasionais – segmento importante no segmento das embarcações

pequenas, procuram soluções modernas e confortáveis e são sensíveis ao preço e à

qualidade, preferindo geralmente embarcações de série;

6. Navegadores dedicados – segmento importante no segmento das embarcações

pequenas, procuram soluções avançadas, robustas e confortáveis e são sensíveis ao

preço e à qualidade, podendo considerar embarcações de série mas exigindo quase

sempre customização;

7. Particulares – segmento importante no segmento das embarcações pequenas,

procuram soluções modernas e são sensíveis ao preço e à qualidade, preferindo

geralmente embarcações de série.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, são pouco importantes neste

setor. Existe, no entanto, uma atividade importante e crescente de subcontratação e

construção modular para as grandes empresas construtoras. E os agentes de compras têm

uma presença muito significativa nalgumas áreas do setor, designadamente nos segmentos

de compradores empresariais.

O critério mais relevante de segmentação destes intermediários no sentido genérico é entre

os que buscam serviços de construção e os que buscam serviços de reparação.

Os primeiros preocupam-se mais com o preço dos serviços e estão mais dispostos a aceitar

inovações, designadamente com impacto na performance, enquanto os segundos

preocupam-se mais com a disponibilidade imediata dos serviços necessários no local

necessário. A preocupação com a qualidade é comum.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado

Consumidores finais Consumidores intermédios

Construção

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Portugal Alta Baixa

Europa Ocidental Média Média

Bacia do Atlântico Média Alta

Reparação

Portugal Alta Baixa

Europa Ocidental Alta Média

Bacia do Atlântico Média Média

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia de construção e reparação naval enfrenta fundamentalmente três tipos

de competidores: estaleiros tradicionais, estaleiros modernos e empresas integradas.

As empresas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram

fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e

tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com

estratégias de adaptação ao cliente e de minimização de custos.

Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os

outros tipos de empresas devido à estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade

estrutural destas empresas é positiva mas reduzida. O seu risco de negócio e financeiro é

elevado.

Os estaleiros modernos são estaleiros de menor dimensão, produzindo diversas

embarcações simultaneamente e muitas vezes em série, investindo mais no design, no

marketing e utilizando processos industriais puros. Estas empresas são particularmente

importantes na construção de embarcações de recreio e pequenas embarcações de

trabalho. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e

estratégias baseadas na diferenciação via marketing ou via especialização em produto.

Muitas complementam a atividade produtiva com serviços técnicos. Estas empresas têm

maior rentabilidade que as empresas tradicionais.

Por fim está a desenvolver-se um grupo de empresas que seguem um modelo de integração

da construção com a manutenção e reparação. São normalmente empresas que procuram

conquistar quotas de clientes e dos clientes para ganhar dimensão, gerar economias de

domínio e de escala para aumentar a rentabilidade e minimizar riscos. Estas empresas,

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podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir

fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas ainda é indeterminada mas tem

potencial para ser um pouco melhor que a das outras empresas.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais competidores do setor algarvio da construção estão na Espanha, no Norte da

Europa e nos EUA. No setor da reparação a Espanha, a França, o Reino Unido e os EUA têm

os maiores competidores.

A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os

três tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de

empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é

maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças ao setor provêm da evolução da procura e das pressões

concorrenciais. O crescimento estrutural do custo dos fatores, designadamente do trabalho

e do capital é outra ameaça significativa.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:

1. Melhoria das possibilidades de utilizar eficientemente o domínio público;

2. Melhoria das infraestruturas de suporte;

3. Patrocínio público da ação comercial das empresas do setor;

4. Aumento da procura de vários tipos de embarcações de trabalho;

5. Procura de embarcações de mais qualidade;

6. Aumento da procura de embarcações de recreio, principalmente das diferenciadas e

de preço elevado, incluindo em madeira;

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7. Novos designs de embarcações;

8. Sistemas motrizes alternativos;

9. Novos métodos de produção e gestão de produção:

10. Novos materiais de produção;

11. FinTech e InsurTech;

12. Novos mercados;

13. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;

14. Novos modelos empresariais, subcontratação e parcerias complementares.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O principal fator crítico de sucesso num setor com elevado risco financeiro é a dimensão das

empresas. Isto é reforçado pelas exigências financeiras e o risco de negócio que o

aproveitamento das oportunidades acima listadas exige.

As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter

financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.

A capacidade produtiva e o conhecimento tecnológico são igualmente importantes.

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TURISMO NÁUTICO E OUTRAS ATIVIDADES DE ANIMAÇÃO NÁUTICA

ESTRUTURA

O turismo náutico e outras atividades de animação náutica podem dividir-se em dois

subsetores, bem distintos, a navegação de cruzeiro ou competição (iates) e as outras

atividades de lazer e desporto (desde a motonáutica até à pesca à linha).

Todas estas atividades estão presentes ou têm potencial de estar presentes no Algarve.

Os principais mercados relevantes deste setor são os mercados de Portugal, da Europa e da

América do Norte. Os condicionantes últimos do comportamento de todos estes mercados

não são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e lucratividade e ao ambiente internacional no que diz respeito à procura e

determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor do turismo náutico e outras atividades de animação náutica está sujeito a

regulamentações gerais de processos e de características das atividades que não são

particularmente restritivas.

Em contrapartida tem de utilizar o domínio público, podendo enfrentar muitas dificuldades

burocráticas de acesso e utilização. A disponibilidade de bens públicos e de infraestruturas

também é importante para o setor, salientando-se as marinas e as infraestruturas

portuárias e de transportes.

Um investimento importante para o setor de reparação é uma marina na costa Atlântica do

Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as marinas de Lagos e de Tróia. Esta nova marina

é importante para evitar que os iates a viajar entre estas duas marinas tenham de passar a

noite no mar, estimulando a navegação de passagem e as visitas às marinas do Algarve de

iates do Norte da Europa.

Uma parte substancial das atividades do setor tem um cariz ou origem desportiva, pelo que

as normas da sua prática foram desenvolvidas por entidades desportivas, muitas vezes de

caráter associativo, quase sempre estrangeiras. Aqui existe pois uma dependência de

terceiros.

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O setor é livre, havendo liberdade de entrada e comercial. Mas as entidades associativas

têm normalmente um grande peso na organização de eventos e desenvolvimento e

disponibilização de infraestruturas e serviços de apoio. O apoio público ao associativismo e

a eventos do sector é importante.

Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de

alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor gestão do domínio

público marítimo em Portugal nem uma melhor oferta de bens públicos relevantes.

Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão deste

domínio se alterarem em Portugal, aligeirando processos e facilitando o acesso o que pode

facilitar o desenvolvimento da indústria. E existe a possibilidade de continuar a existir

investimento em marinas, expandindo o potencial do mercado, bem como o surgimento de

políticas nacionais e regionais de promoção do associativismo e do setor.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo podem existir melhorias importantes.

FATORES ECONÓMICOS

Toda a cadeia de valor do setor do turismo náutico e outras atividades de animação náutica

está organizada de uma maneira típica dos setores de desporto e lazer e distinta da

generalidade dos outros setores. Daqui resulta que existem dois tipos de clientes do setor:

os financiadores dos eventos e os participantes nas atividades.

Os dois tipos de clientes originam uma procura com uma elasticidade rendimento elevada.

Devido a fatores económicos (aumento do rendimento disponível dos consumidores) e

culturais (disponibilidade de tempo e alterações das preferências dos consumidores), esta

característica económica do produto tem-se vindo a acentuar. A elasticidade rendimento e a

procura destas atividades têm vindo a aumentar.

Os dois subsetores estão sujeitos aos mesmos tipos de condicionamentos económicos,

dependendo dos rendimentos e dos custos basicamente da mesma maneira. Estes no

entanto têm um comportamento diferente na medida em que os da navegação são

sobretudo de bens industriais transacionáveis e os outros são serviços com um forte

componente de mão-de-obra e não transacionável.

A diferença entre o preço da mão de obra em Portugal e nos outros mercados relevantes do

setor é uma vantagem competitiva.

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Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores ocidentais e mundiais é de prever no longo prazo um aumento da procura de

todas estas atividades mas particularmente das outras.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a

existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão

aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão de

obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos preços destas

atividades.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor. Em primeiro lugar, estas atividades têm vindo a ser crescentemente

percebido como um produto interessante, saudável e de prestígio, levando a um aumento

da preferência e da procura. Tal manifesta-se mais nos segmentos de consumidores com um

estilo de vida mais aventureiro ou com mais rendimento, designadamente grupos de mais

elevado rendimento e mais jovens.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de atividades do setor. A atual

e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da estrutura

familiar, favorece a procura de atividades que exigem menos empenhamento e com

durações mais reduzidas. E também existe uma dinâmica de estilo de vida que favorece o

setor. A navegação está a crescer menos que as outras atividades.

Um ponto importante na dinamização deste sector é a atividade associativa. Existe um

conjunto de associações nacionais e algarvias do setor mas não parecem ser

particularmente dinâmicas. As novas atividades parecem ser mais facilmente desenvolvidas

por pequenas empresas que por associações.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares

baixas e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A

tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da

mão de obra qualificada mas sem experiência. O que é essencial para o sector. O equilíbrio

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entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente

composição.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nas outras atividades e

deseja-se uma dinamização do associativismo. Espera-se uma alteração da composição da

mão de obra que favorecerá o setor.

FATORES TECNOLÓGICOS

As tecnologias do sector estão a mudar muito lentamente a as tecnologias inbound e

outbound, que são tecnologias padrão, estão relativamente atualizadas e em atualização

lenta, dependendo do desenvolvimento das indústrias de suporte.

As alterações parecem estar a concentrar-se mais nas tecnologias produtivas e de suporte,

designadamente nas próprias atividades e nos seus aspetos organizativos e de marketing,

do que nos aspetos tecnológicos puros.

A nível de atividades está-se a desenvolver um conjunto grande de novas atividades de que

se destacam:

Natação em águas abertas;

Mergulho de plataformas naturais;

Aquajogging

Canoagem, rafting e kayaking;

Jet Skiing, barefoot skiing e cable skiing;

Kitesurfing, wakesurfing, stand up paddle surfing e stand up pedal board surfing;

Parasailing, windsurfing on flat water;

Bodyboarding, kneeboarding, wakeboarding, wakeskating, skimboarding,

paddleboarding, kiteboating e flyboarding;

Snorkeling;

Cave diving, deep diving e free diving;

Arqueologia, fotografia e videografia subaquáticas;

Finswimming e spearfishing;

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Orientação subaquática.

Estas atividades têm um grau de organização e uma procura diferenciada mas são

efetivamente praticadas.

A nível de organização existe uma substituição gradual das entidades associativas e

desportivas tradicionais por empresas especializadas nestas atividades que se associam

muitas vezes a grandes multinacionais que patrocinam eventos com fins promocionais.

Existe também um apoio crescente de entidades públicas a eventos destas atividades.

Em termos de marketing assiste-se a um investimento significativo no patrocínio destas

atividades e dos seus eventos e na sua comercialização em canais especializados de

televisão ou da internet.

Estes desenvolvimentos continuarão a verificar-se e tenderão a criar massa crítica em locais

que historicamente iniciem e desenvolvam a sua exploração. Num determinado local o

sucesso destas atividades depende tanto de condições naturais como organizativas.

O efeito destes desenvolvimentos deverá conduzir a uma diversificação da oferta e a um

aumento da especialização e dos custos de produção e marketing destas atividades.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos no sector com influência em todos

os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Novas atividades – referidas acima;

2. Novas dinâmicas organizativas e de marketing – referidas acima;

3. Novos equipamentos – acessórios de todos os tipos para as diversas atividades;

4. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

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A cadeia de valor do sector náutico é bastante simples. As atividades de suporte e as

atividades primárias de inbound, produção (tanto eventos como atividades) e outbound são

controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, por associações e entidades

locais, estando a entrar no setor um grupo dinâmico de pequenas empresas, muitas vezes

detidas por cidadãos estrangeiros. A atividade de marketing e vendas está completamente

dependente das entidades compradoras, sejam públicas ou empresas de comunicação ou

multinacionais. O grosso do valor setorial é gerado pela produção e pelo marketing.

Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da realização de

ventos e das atividades que não estão a ser aproveitadas.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor é atualmente composto no Algarve por associações e pequenas empresas com

estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos, e de capital; e tomadoras de

preços nos diversos mercados; mas com conhecimentos das diversas atividades bastante

desenvolvidos.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e

depende exclusivamente de decisões comerciais destas entidades.

No entanto, existe alguma evidência que este setor se está a desenvolver e que as empresas

estão a tomar decisões suscetíveis de alterar a sua dimensão. Será possível, não provável,

que exista algum de crescimento da dimensão média das empresas e uma consolidação do

setor.

Em contrapartida é de esperar que a atividade produtiva das empresas se vá desenvolvendo

em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os proveitos

podem-se ir aumentando o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos

produtos pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito da introdução de mais atividades e o

desenvolvimento de sistemas de gestão de recursos gerem mais economias de escala,

podendo as empresas aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da

lucratividade do setor para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing

estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior

aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

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Os mercados da indústria de pesca algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza das

atividades e a localização geográfica.

O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Portugal Ocidente Outros

Navegação / eventos Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal

Navegação / corrente Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Outros / eventos Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário

Outros / corrente Mercado primário Mercado primário Mercado marginal

O mercado nacional é, nesta fase de desenvolvimento deste sector, o mercado mais

importante, logo seguido pelos mercados ocidentais, designadamente europeus. São

mercados concorrenciais onde existem alguns mercados secundários interessantes. O poder

dos clientes é pouco significativo.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos

intervenientes é significativo.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva, estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade

de existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, importa fazer uma análise estrutural por país dos principais

mercados efetivos ou potenciais do setor.

Portugal é o mercado doméstico, mais próximo e a fonte do maior número de turistas para

o Algarve. Tem um número razoável de praticantes destas atividades pelo que é

um mercado interessante e prioritário para uma atividade na fase de

desenvolvimento. Apresenta um problema que é a reduzida dimensão do

mercado publicitário e de eventos.

Espanha segue-se a Portugal como o mercado mais importante, tendo um setor

desenvolvido e uma procura significativa. Existem muitas complementaridades e

possibilidades de desenvolvimento conjunto de eventos e outras atividades

empresariais.

Seguem-se os países da do norte da Europa Ocidental, como o Reino Unido, a Holanda, a

Alemanha, a Irlanda e os países escandinavos. São grandes mercados, com um

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número elevado de praticantes das diversas atividades e com uma despesa em

publicidade e eventos significativa. Existem muitas complementaridades

suscetíveis de serem exploradas com empresas desses mercados.

Depois são importantes os EUA, o maior mercado publicitário do mundo para estas

atividades.

Os outros mercados são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou são

mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a custos de

transportes. Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em

consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores finais podem agrupar-se segundo variáveis económicas, demográficas,

psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado de acordo com

a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de

fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a

criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Navegadores ocasionais – segmento muito importante na navegação de recreio, com

um efeito de arrasto muito grande para outras atividades turísticas, são pouco

sensíveis ao preço e muito ao serviço (instalações, oferta complementar, segurança);

2. Navegadores dedicados – segmento muito importante na navegação de recreio e em

eventos, com um efeito de arrasto grande para outras atividades turísticas, são mais

sensíveis ao preço e menos ao serviço (instalações, oferta complementar,

segurança);

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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3. Praticantes ocasionais de outras atividades – segmento fundamental na prática de

outras atividades, são pouco sensíveis ao preço, procurando a novidade a

experiência e estando interessados na oferta complementar;

4. Praticantes dedicados e profissionais de outras atividades – segmento menos

importante na prática e muito importante nos eventos, são sensíveis à qualidade dos

eventos, estando pouco interessados em ofertas complementares;

5. Empresas de marketing e eventos – segmento muito importante na dinamização de

novas atividades, estão fundamentalmente interessadas nas condições dos locais e

financeiras da realização de eventos;

6. Grandes empresas – segmento importante no financiamento de eventos, estão

fundamentalmente interessadas no público dos eventos;

7. Entidades públicas – segmento algo importante na dinamização de práticas e

eventos, estão interessadas no número e audiência dos eventos;

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Mas a competição depende de um conjunto muito alargado de empresas e

serviços que se relaciona com a oferta turística de um país ou região como um todo. Por isso

esta análise será feita quando for feita a análise do setor turístico.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça que o setor enfrenta é a perda de vantagens competitivas devido ao

possível atraso histórico de desenvolvimento. O setor precisa de se desenvolver

rapidamente.

OPORTUNIDADES

O setor está numa fase de rápido desenvolvimento pelo que existe um grande número de

oportunidades. Salientam-se:

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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1. Mais facilidade de acesso ao domínio público;

2. Infraestruturas e serviços de apoio;

3. Uma marina na costa Atlântica do Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as

marinas de Lagos e de Tróia;

4. Apoio público ao associativismo e a eventos;

5. Crescimento diversificado da procura;

6. Novas atividades;

7. Novas dinâmicas organizativas e de marketing;

8. Novos equipamentos e acessórios;

9. Inovação empresarial.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O setor é tão dinâmico e tem tantas atividades e oportunidades diferentes que empresas de

diversas características podem ter sucesso no sector. O único fator indispensável parece ser

conhecimento da atividade e dos mercados.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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OUTROS FORNECEDORES E DE SUPORTE

O setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar engloba um conjunto muito

diversificado de atividade de que se podem destacar atividades industriais de suporte (por

exemplo fabricação de alimentos para aquicultura, de artigos têxteis, de cordoaria e redes e

de artigos de desporto), de construção, comerciais, de transportes, de alojamento, de

informação e comunicação, de consultoria científica e técnica, administrativas e de

investigação e desenvolvimento, entre outras.

O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas

necessidades. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe respondem.

O fundamental é saber se os fornecedores dos produtos e serviços destas atividades, a que

as empresas locais do cluster têm acesso, têm capacidade para satisfazer a procura do

cluster local do mar de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou vantagens

significativas para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses fornecedores. O

que se procura é a exceção.

É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem

competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.

É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise

por amostragem evidencia três factos importantes:

1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são

transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver

vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar

barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;

2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo

internacionalmente fornecedores com relações qualidade-preço bastante diferentes

– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,

nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade-

preço que desejar;

3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,

podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais

em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a

segmentos das indústrias atrás mencionadas).

Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros

tiver facilidade em recorrer diretamente a fornecedores internacionais tem uma vantagem

competitiva face aos concorrentes locais.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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AGROALIMENTAR E FLORESTA

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do agroalimentar e floresta inclui as

seguintes atividades:

Produção agroalimentar e florestal

Valorização do mercado turístico de proximidade

Desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio

Transformação dos produtos agroalimentares e florestais

Investigação para valorização da cadeia agroalimentar e florestal

Serviços e produtos complementares à cadeia de valor

As atividades incluídas parecem refletir corretamente o cluster, salvaguardando o facto de

não dar importância ao setor comercial, designadamente exportador.

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do

cluster os seguintes CAEs:

01 Agricultura, produção animal, caça e atividades dos serviços relacionados

02 Silvicultura e exploração florestal

10 Indústrias alimentares (exceto os incluídos no setor do mar)

11 Indústria das bebidas

4611 Agentes do comércio por grosso de matérias-primas agrícolas e têxteis,

animais vivos e produtos semiacabados (parte)

4617 Agentes do comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco

(parte)

462 Comércio por grosso de produtos agrícolas brutos e animais vivos

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463 Comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco (exceto os

incluídos no sector do mar)

4711 Comércio a retalho em estabelecimentos não especializados, com

predominância de produtos alimentares, bebidas ou tabaco

472 Comércio a retalho de produtos alimentares, bebidas e tabaco, em

estabelecimentos especializados (exceto os incluídos no sector do mar)

47810 Comércio a retalho em bancas, feiras e unidades móveis de venda, de

produtos alimentares, bebidas e tabaco

512 Transportes aéreos de mercadorias e transportes especiais (parte)

52101 Armazenagem frigorífica (parte)

72110 Investigação e desenvolvimento em biotecnologias (parte)

77310 Aluguer de máquinas e equipamentos agrícolas

94995 Outras atividades associativas, n.e. (parte)

PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster a partir de setores

consistentes, consideraram-se os seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia

de valor do cluster e consequente análise obrigatória:

Produção agroalimentar e florestal

Transformação e comercialização dos produtos agroalimentares e florestais

Investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio

Serviços e produtos complementares

Uma nota para salientar que nesta classificação a produção agrícola, silvícola e animal está

separada da indústria agroalimentar. Tal separação permite facilitar a análise e a exposição.

Outra nota para referir que todas as atividades de investigação, desenvolvimento e

inovação foram agrupadas num único setor, pela mesma razão de facilidade de análise e

exposição.

Outra nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar e

floresta um setor de valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe um

setor de valorização do mercado turístico de proximidade no cluster de mar, pescas e

aquicultura. No entanto, como a estrutura destes setores de valorização do mercado

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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turístico de proximidade é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a estrutura

do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de

proximidade será feita durante a análise do cluster do turismo.

Estes setores serão analisados sequencialmente a seguir.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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PRODUÇÃO AGROALIMENTAR E FLORESTAL

ESTRUTURA

O setor da produção agroalimentar é um setor lato que abrange a agricultura, a silvicultura

e a produção animal. Destes subsetores a agricultura é o mais relevante para o Algarve.

Se à lista das atividades agrícolas potencialmente mais importantes no Algarve, for

acrescentada a silvicultura e a produção animal, determina-se o conjunto de produtos ou

atividades que é importante analisar. Estas são: a produção de citrinos, frutos secos, frutos

vermelhos e as bagas, ervas e aromáticos, legumes (designadamente de produção

intensiva), outra fruta, vinho e a produção silvícola e animal.

Os principais mercados da produção agroalimentar e florestal algarvia são os mercados de

Portugal e da Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois

mercados não são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e determinação de lucratividade das empresas e ao ambiente português e europeu

no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor agrícola europeu é regulado e subsidiado pela União Europeia, de uma forma

diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Este enquadramento, que tem

como um dos seus objetivos assegurar o rendimento dos agricultores, tem vindo a mudar,

deixando de ter como outro objetivo o de garantir a estabilidade da produção e dos preços

e passando a ter o de manter uma atividade agrícola viável que preserve os ambientes

rurais vivos e saudáveis.

Este enquadramento procura garantir rendimentos a todos os agricultores, não aos mais

eficientes ou produtivos. Procura proteger a atividade, não a produção. Assim valoriza a

terra e a atividade agrícola independentemente da sua produção. E valoriza

proporcionalmente mais as propriedades mais pequenas em relação às maiores.

O Algarve é uma região maioritariamente de minifúndios e com agricultores envelhecidos.

Neste contexto a principal consequência dinâmica da política agrícola europeia é dificultar e

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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destruir os incentivos para o emparcelamento, a criação de propriedades de maior

dimensão e a adoção de culturas e de processos mais modernos e rentáveis.

Como não se perspetiva nenhuma alteração substancial da política agrícola europeia,

importa saber se o contexto da sua aplicação pode mudar de forma que altere esta

dinâmica. E, de facto, este contexto está a mudar devido ao envelhecimento continuado dos

agricultores e consequente diminuição do número de pessoas afetas à agricultura.

Continuando esta tendência, a oferta de terra acabará por aumentar e o seu preço por

diminuir, anulando os efeitos perversos da política europeia. Só então a agricultura algarvia

se poderá modernizar, passando a basear-se em propriedades de maiores dimensões

orientadas para a produção e o mercado.

O mesmo se passa, ao nível da floresta. O valor económico da terra florestal diminuiu mas o

preço de mercado ainda não acompanhou a descida deste valor. Existem apoios públicos à

exploração silvícola mas só quando se der a correção do preço da terra é que haverá um

crescimento da dimensão média das explorações silvícolas, um melhor aproveitamento dos

apoios e uma racionalização da atividade económica.

Além das regulações europeias, o setor agrícola é afetado por regulações nacionais e

regionais sobre uso da terra. Quanto maior for a quantidade de terra reservada para a

agricultura (maior a oferta de terra), menor será o preço da terra agrícola e mais rápido será

o processo de modernização da agricultura algarvia.

Mas no Algarve, principalmente no litoral e no sul do barrocal, as zonas agrícolas mais

produtivas, o valor da terra para desenvolvimento imobiliário e turístico é muito superior ao

valor da terra para agricultura. E os detentores desta terra acreditam que a sua utilização

pode eventualmente vir a mudar.

Este diferencial e estas expetativas fazem com que o valor percebido das terras agrícolas

seja superior ao seu valor agrícola e que não haja muitas transações de terras agrícolas. Isto

atrasa o processo de reconversão da estrutura fundiária e os investimentos com períodos de

recuperação mais longo, como de árvores de fruto.

Não se perspetiva nenhuma redução do diferencial de preços entre o valor da terra afeta ao

turismo e o da terra afeta à agricultura. Mas talvez possa haver alguma atuação das

autoridades políticas, administrativas e judiciais no sentido de diminuir as expectativas de

conversão de terra agrícola em terra de construção. E alguma medida que aumente o custo

da detenção de terra agrícola não utilizada.

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E, no que diz respeito à atividade florestal, este processo poderá ser acelerado por

mudanças regulamentares. A floresta é mais desregulamentada e menos incentivada que a

agricultura e a pecuária mas, devido aos desajustamentos económicos e ecológicos na

composição atual da floresta portuguesa, esta situação deverá mudar brevemente. Espera-

se que a recente legislação sobre espécies e manutenção da floresta seja reforçada e

aplicada mais eficazmente. Estas mudanças podem penalizar os proprietários mais

pequenos e menos eficientes e força-los a colocar as propriedades no mercado.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo, mas a

médio prazo a alteração do contexto em que se aplicam as existentes, podem mudar o seu

impacto, favorecendo a modernização da agricultura e pecuária algarvia. Na silvicultura o

processo poderá ser ainda mais rápido.

FATORES ECONÓMICOS

Os principais produtos do setor, acima referidos, com a exceção dos silvícolas, têm uma

elasticidade rendimento igual ou superior à unidade. A sua procura aumenta, pois,

sustentadamente.

Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito das condições económicas e da

evolução dos custos de produção, designadamente dos salários e das rendas fundiárias, dos

locais que têm vantagens competitivas na sua produção, países europeus, países da bacia

do Mediterrâneo e países com climas parecidos com os do Algarve. Em termos gerais

espera-se que nestes locais os custos salariais aumentem sustentadamente, criando em

termos gerais uma diminuição da oferta dos produtos mais intensivos em trabalho (frutos

vermelhos e bagas, ervas e aromáticos e legumes) e uma reafetação da terra para a

produção dos produtos menos intensivos em trabalho (citrinos, frutos secos, outra fruta,

vinho e produtos animais). Assim a oferta destes últimos produtos deve aumentar.

Desta dinâmica resulta uma tendência para o aumento dos preços dos produtos mais

intensivos em trabalho e para a diminuição ou estabilização dos menos intensivos.

No que respeita aos produtos da silvicultura a dinâmica económica é bastante diferente.

Eram, tradicionalmente e de forma ainda refletida na floresta algarvia, fornecedores de

energia e de matérias-primas, designadamente para a agricultura, cuja utilidade e valor

económico se reduziu substancialmente nas últimas décadas. Existem alguns produtos com

maior procura, designadamente algumas madeiras para usos industriais e marcenaria, mas a

sua produção é reduzida.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Espera-se a continuação dos preços baixos da generalidade da produção das florestas com

alguns produtos com preço mais elevados e eventualmente em crescimento.

No Algarve a população agrícola está envelhecida e em redução. Existe uma grande escassez

de mão de obra local capaz de assegurar atividades regulares e não existe de todo mão de

obra para assegurar as atividades sazonais mais intensivas em trabalho. Chega-se a utilizar

mão de obra itinerante internacional para assegurar estas últimas atividades.

Não se prevê nenhuma alteração desta situação. Assim, o preço da mão de obra deve

continuar a aumentar, aumentando os custos de produção, designadamente das atividades

mais intensivas em trabalho. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à

frente), os custos de produção poderão aumentar lentamente. O investimento em

tecnologia mais capital intensivo poderá atenuar esta evolução, uma solução desejável e

possível para as empresas maiores e mais capitalizadas.

Assim, prevê-se, a longo prazo, uma subida lenta mas sustentada dos custos do trabalho. O

custo de capital deverá manter-se. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de

mão de obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).

Embora não se perspetive, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura

económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual à de longo

prazo.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de

produção das produções do sector, havendo situações em que a lucratividade dos produtos

pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor. Em primeiro lugar, tem havido um interesse crescente pela alimentação

saudável e “autêntica” no ocidente. Os consumidores procuram mais os produtos

percebidos como mais saudáveis, os produtos cultivados ou criados de forma mais natural e

sustentável, designadamente os produtos biológicos, e os produtos distintos que refletem

fatores imateriais.

Tal manifesta-se nos segmentos de consumidores mais sensíveis a questões de saúde ou

com mais rendimento, tanto grupos de maior rendimento e maior idade, como casais com

filhos e mesmo grupos mais jovens, mesmo que de menor rendimento. Todos estes grupos

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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procuram crescentemente produtos saudáveis, naturais e com identidade. Esta tendência

favorece a agricultura algarvia.

Os efeitos desta tendência sobre a produção animal são indeterminados, havendo uma

grande possibilidade de serem negativos, uma vez que estes produtos serão prejudicados

pela tendência para o saudável, sem terem a identidade forte que lhes permita minimizar

este efeito. Poderá, no entanto, haver alguns subsetores que se ajustem a estas mudanças.

O segundo tipo de fatores com impacto na procura relativa de diferentes produtos do setor

resulta da atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração

da estrutura familiar, e favorece a procura de produtos prontos a utilizar, sejam

disponibilizadas no comércio a retalho ou em restaurantes.

Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e

potenciais significativos tanto na mão de obra como no capital. Ao nível da mão de obra, a

situação atual caracteriza-se por uma oferta reduzida, tanto com qualificações escolares

baixas e formação tradicional como com qualificações elevadas e experiência efetiva. A

tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da

mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e procura de

mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.

Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade

das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e,

fundamentalmente de aquisição de terra. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto

prazo. A última é estrutural, parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de

forma muito lenta.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura de muitos produtos e uma redução

de alguns. O acesso e os custos dos fatores continuarão a ser um problema.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e

outbound, apesar de estarem em atualização constante, estão relativamente atualizadas. As

tecnologias de produção estão desatualizadas na generalidade das explorações, em

resultado dos reduzidos níveis históricos de investimento.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound

deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de logística, transporte, resultantes

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

105

da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor. O do segmento produtivo da

introdução na região e nas explorações de tecnologias já atualmente utilizadas

internacionalmente pelo setor.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

e outbound da evolução competitiva das empresas de logística, transportadoras, comerciais

e industriais e do financiamento do setor de investigação e desenvolvimento. O da produção

da estrutura da propriedade, das dinâmicas competitivas e do financiamento do setor.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir um aumento da intensidade

capitalística do setor, a uma diminuição da utilização de trabalho, a um aumento da

produtividade, a uma diminuição do ciclo produtivo, a uma redução dos custos de produção

e distribuição e a um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica.

Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e

pontual de incorporação de inovações científicas e tecnológicas. Tal terá influência em

todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destacam-se:

1. Sistemas de recolha de dados e de monitorização – drones, sensores e localizadores

GPS, fixos ou móveis, para recolha de informações sobre o solo (grau de humidade,

quantidade de azoto e pH), ar (humidade), fontes de água, máquinas e

equipamentos (localização e necessidades de manutenção, animais (localização e

saúde via RFID) e colheitas (evolução e saúde);

2. Sistemas telemáticos – equipamentos de comunicação ligados a sensores e

localizadores, para transmissão dos dados obtidos a bases de dados e sistemas

informáticos centralizados de conhecimento;

3. Sistemas de conhecimento e gestão de ecossistemas – modelos computorizados

dinâmicos de ecossistemas agrícolas que permitem analisar o equilíbrio global das

explorações;

4. Novas formas de produção de etanol – máquinas e processo que melhoram a taxa e

a velocidade de transformação;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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5. Ecossistemas fechados – modelos de gestão agrícola baseados na minimização dos

inputs, designadamente energia e adubos;

6. Controlo biológico de pestes – novas variedades de espécies e modelos de combate

a pestes e parasitas;

7. Agricultura e pecuária de hiperprecisão – gestão da produção minimizando a

utilização de inputs;

8. Novas máquinas e equipamentos tradicionais – novos motores, características

técnicas e funcionalidades, resolvendo problemas de compactação e pulverização do

solo e permitindo a mecanização de novas operações;

9. Robôs (agbots) e equipamentos autónomos e driveless – novas máquinas capazes de

automatizar completamente partes dos diferentes processos produtivos;

10. Adoção de espécies mais rentáveis – introdução de espécies bem adaptadas ao

clima, de que se salientam alguns frutos vermelhos como a framboesa;

11. Seleção de variedades – técnicas de iteração e reprodução in vitro para cruzamento

e seleção rápida otimizada de novas variedades de animais e plantas;

12. Criação de variedades – criação de variedades novas de plantas e animais mais

resistentes a doenças, secas e pesticidas, com menos necessidades de água e azoto e

com outras características desejáveis, utilizando a microbiologia e a engenharia

genética (incluindo não só substituição de genes mas também alteração de partes

de genes);

13. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos

integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;

14. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor agroalimentar e florestal é bastante simples e equivalente ao das

pescas. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound, produção e outbound

são controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, pelas empresas de

agrícolas e pecuárias. A atividade de marketing e vendas está completamente dependente

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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das empresas compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado

nas atividades de produção, de marketing e vendas.

Existem algumas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante, designadamente para explorações de grande dimensão e nos

subsetores da floresta e da produção intensiva agroalimentar.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor agroalimentar e florestal algarvio é principalmente composto por pequenas e

médias empresas com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos,

tecnológicos e de capital; e tomadoras de preços nos diversos mercados. Existem também

muitos produtores para quem a agricultura é uma atividade secundária ou complementar.

No entanto existem algumas explorações detidas por empresas de maior dimensão que

praticam uma atividade mais moderna e intensiva. O peso económico destas empresas não

é elevado mas o seu impacto de difusão de novas tecnologias e técnicas é muito

importante.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas e do

setor é geralmente baixa e depende exclusivamente de decisões que as empresas possam

tomar sobre a sua própria dimensão e estrutura produtiva.

No entanto, salvaguardando a possibilidade já referida de alguns agricultores envelhecidos

abandonarem a atividade, nada indicia que as empresas possam tomar decisões suscetíveis

de alterar a sua dimensão. Fatores legais (incentivos europeus), tecnológicos (reduzidas

economias de escala na tecnologia actual) e financeiros (baixa lucratividade e dotação de

capital endógeno) tornam elevado o preço da terra e improvável qualquer movimento de

aumento da rivalidade, de crescimento da dimensão média das empresas ou de

consolidação do setor.

Em contrapartida é de esperar que a estrutura produtiva das empresas existentes se vá

desenvolvendo em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e

recursos. Os custos podem-se ir reduzindo, o que associado a um eventual aumento dos

preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento

sustentado da lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito da descida do preço da terra, da entrada de novos

produtores, designadamente de maior dimensão, e da introdução de novas tecnologias e do

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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aumento do preço do trabalho gerem mais economias de escala e incentivos para a

consolidação.

As empresas poderão aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da

lucratividade do setor e capitais externos para gerar um movimento de melhoria do esforço

de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação

e de maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria agroalimentar e florestal algarvia podem dividir-se de acordo com a

natureza dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos

principais mercados.

Algarve Portugal Europa Ocidental

Outros

Citrinos Mercado secundário

Mercado prioritário

Mercado prioritário

Mercado secundário

Frutos secos Mercado prioritário

Mercado secundário

Mercado prioritário

Mercado marginal

Frutos vermelhos e bagas Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado prioritário

Mercado secundário

Ervas e aromáticos Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado prioritário

Mercado secundário

Legumes Mercado prioritário

Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado marginal

Outra fruta Mercado prioritário

Mercado prioritário

Mercado marginal

Mercado marginal

Vinho Mercado prioritário

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado marginal

Pecuária Mercado prioritário

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado marginal

Floresta Mercado marginal

Mercado prioritário

Mercado importante

Mercado secundário

A importância destes diferentes mercados depende das características físicas e percebidas

do volume de produção dos diferentes produtos. Por exemplo, produtos de menor valor e

produção destinam-se aos mercados de proximidade devido a custos de marketing e

distribuição, enquanto produtos de maior valor ou produção destinam-se a mercados de

grande consumo devido à possibilidade de obter um maior preço de venda que dilua estes

custos de marketing e distribuição.

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O mercado algarvio é um mercado pequeno concorrencial, dominado por grandes

operadores, grandes cadeias de comercialização e grandes indústrias alimentares. Mas onde

o comércio local, o comércio de produtos regionais e a hotelaria e restauração tem também

um grande peso. É um destino prioritário para produtos relativamente indistintos e para

frutos secos, por poderem ser incorporados na oferta regional distintiva.

O mercado nacional é um mercado maior que o algarvio e, tirando o menor peso da

hotelaria e restauração, tem as mesmas características. É um destino primário para

produtos de menor valor e grande produção. Como é um mercado aberto, onde podem

constantemente entrar novos competidores e produtos substitutos, as pressões deste

mercado comprador sobre o preço e a margem dos produtos do setor é significativo.

O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial dominado por

grandes operadores. Mas dada a especificidade de algumas produções agroalimentares

algarvias e a grande dimensão deste mercado, existem alguns produtos em que o Algarve

tem vantagens comparadas. Trata-se, sobretudo de citrinos e de produtos de grande valor.

Além disso neste mercado podem existir alguns clientes secundários bastante atrativos.

Destes salientam-se os clientes do setor da hotelaria e restauração, onde o poder dos

clientes é pouco significativo e os preços e as margens estão menos pressionados.

Os outros mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É um grande comprador da produção algarvia do setor. A proximidade, o conhecimento e a

preferência por alguns produtos algarvios tornam o mercado nacional muito interessante.

A análise faz-se em duas partes: primeiro o mercado de consumo e depois o industrial.

O mercado de consumo de citrinos é um mercado maduro, muito competitivo, de dimensão

média e que cresce muito lentamente. Consome quase todos os citrinos e tem uma

preferência explícita pela laranja algarvia.

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Não parece haver ineficiências nos canais de distribuição mas a laranja algarvia talvez possa

ser mais valorizada, pelo menos no que diz respeito aos fatores associados ao produto como

marca.

O mercado de frutos secos é igualmente um mercado maduro, muito competitivo, de

dimensão média e que cresce muito lentamente. Consome muitos frutos secos e tem uma

preferência efetiva por alguns frutos secos algarvios, como as amêndoas. Todavia não

conhece alguns produtos, como a alfarroba, e as preferências efetivas por outros produtos

não são conscientes.

Parece novamente haver espaço para a valorização dos aspetos intangíveis de alguns

produtos algarvios.

O mercado de frutos vermelhos e bagas é um mercado em desenvolvimento, de dimensão

pequena e que cresce rapidamente. Consome quase todos os frutos vermelhos e bagas. É

fundamentalmente abastecido com importações mas a produção nacional e algarvia está a

penetrar no mercado.

O segmento de mercado de produtos frescos tem uma dimensão ainda reduzida e está

numa fase mais atrasada de desenvolvimento de canais. Tal é particularmente verdade no

caso da hotelaria e restauração, designadamente no Algarve, que tem uma procura elevada

que os canais existentes só satisfazem a preços muito elevados.

Parece haver espaço para a penetração de canais.

O mercado de ervas e aromáticos tem características muito parecidas com o de frutos

vermelhos e bagas em termos de canais mas tem uma oferta muito maior.

Parece novamente haver espaço para a penetração de canais.

O mercado de legumes em Portugal é um mercado muito competitivo, de dimensão média e

que cresce muito lentamente.

Não parece haver ineficiências quer em termos de valorização do produto quer de

exploração de canais.

O mercado da outra fruta tem as mesmas características e inexistência de ineficiências.

O mercado de vinho é um mercado extremamente maduro e competitivo. A oferta é muito

elevada e diversificada e os canais estão completamente desenvolvidos.

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A produção algarvia, dadas as suas características, pode competir como um produto de

nicho, direcionado para consumidores que valorizam a diferença e a identidade.

Parece haver espaço para a valorização dos aspetos intangíveis do vinho algarvio.

O mercado de produtos pecuários tem características muito próximas do mercado de

legumes ou do de outra fruta. Não parece haver ineficiências a aproveitar.

O mercado de produtos florestais algarvios é muito reduzido.

A situação nos mercados industriais é completamente diferente e composta por três grupos

de empresas. Por um lado, existe um grupo reduzido de compradores estruturados e com

dimensão, cuja procura está concentrada nos citrinos, na outra fruta fresca, principalmente

para sumos e conservas, e na madeira. Por outro, lado existe um grupo alargado de

compradores intermédios. Por fim, um grupo mais alargado de muito pequenos produtores,

artesanais ou quase, que fazem operações básicas de transformação, principalmente de

frutos secos e frutos vermelhos e bagas.

O segmento dos grandes produtores é muito competitivo, de dimensão média e cresce

muito lentamente. Os canais de distribuição são controlados pelos compradores, estão

desenvolvidos e são eficientes.

Sendo a procura destes mercados derivada, importa referir que o subsegmento mediado de

consumidores alimentares nacionais, mesmo que mediado pela indústria alimentar,

apresenta algumas características específicas (produtos ao gosto português) que exigem

adequação da oferta à procura final. Tal minimiza os efeitos da concorrência internacional

sobre os preços. Aparentemente este mercado ainda está numa fase de desenvolvimento,

tanto em termos de procura final nacional, como em termos de exportações, como em

termos da estrutura dos clientes imediatos, a indústria alimentar.

Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se na transformação e na distribuição

posterior enquanto os custos se distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de

todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há alguma, mas pouca, evidência de os

transformadores terem lucros extraordinários na aquisição de produtos algarvios. Mas não

se perspetivam novos critérios de segmentação ou estratégias de diferenciação que

permitam melhorar a lucratividade do segmento. E não parecem existir possibilidades de

integração.

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Os segmento dos compradores intermédios, formados pelas empresas nacionais e

internacionais que compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino,

são muito competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.

O segmento dos pequenos produtores é muito pouco desenvolvido. Os canais de

distribuição, quando o transformador é diferente do produtor, estão muito menos

desenvolvidos e são ineficientes. Toda a evidência aponta para que, considerados os custos

de oportunidade de trabalho não remunerado e de incentivos públicos, este segmento

destrua valor económico. Enquanto a dimensão e a organização destes transformadores não

mudar, este segmento é pouco apelativo.

ESPANHA

É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional. Dada a população e o rendimento

per capita, o valor do mercado espanhol é mais de cinco vezes maior que o do mercado

português.

Os mercados espanhóis são de maior dimensão que os nacionais mas têm características

semelhantes, com ofertas e preferências parecidas com as nacionais. Assim importa

salientar as principais diferenças.

Por um lado, os segmentos de mercado de produtos frescos e ervas e aromáticos têm uma

dimensão maior e estão numa fase mais avançada de desenvolvimento de canais. Assim

parece haver uma procura latente.

Por outro lado, as empresas espanholas que atuam nos canais de comercialização do setor

estão bastante desenvolvidas e integradas. A exportação para estes mercados espanhóis

dificilmente não será mediada por empresas espanholas de distribuição.

Depois, as empresas espanholas têm, além disso, uma presença grande nos mercados

internacionais de produtos do setor, fazendo de Espanha um exportador líquido e fazendo

com que a sua procura ultrapasse a procura final do mercado espanhol. São por isso um

mercado de grande dimensão para empresas nacionais com estratégias de liderança de

custos e um obstáculo muito grande para empresas nacionais com estratégias de

diversificação.

Por fim, existe uma procura industrial e intermédia muito maior e diversificada. Uma parte

dos produtores algarvios já vende a sua produção a estes compradores. E, embora os

problemas que o setor tem com os grandes compradores industriais nacionais sejam

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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idênticos aos que tem com os grandes compradores espanhóis, existe maior concorrência

no mercado industrial pelo que devem existir menos lucros extraordinários.

Note-se, todavia, que sendo o mercado consumidor e industrial muito desenvolvido em

Espanha, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou

possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias. Os custos de transportes

internacionais não são significativos.

FRANÇA

É um mercado ainda maior e mais desenvolvido que o espanhol. Dada a população e o

rendimento per capita, o valor do mercado francês é mais de dez vezes maior que o do

mercado português.

Os mercados franceses têm características muito parecidas com as dos mercados espanhóis.

Assim importa salientar as principais diferenças.

Estas prendem-se fundamentalmente com o facto de a França ter um retalho e setor de

hotelaria e restauração mais diversificado e sofisticado que o espanhol. E de estes setores

estarem mais abertos a produtos diferentes e de qualidade. E de os canais de distribuição

para estes setores serem relativamente abertos a novas entradas.

Trata-se, portanto, de um mercado em que existem oportunidades de mercado suscetíveis

de serem exploradas, principalmente as oportunidades relacionadas com produtos de

elevado valor sujeitos ou não a prévias transformações primárias.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos. Existe portanto a

necessidade de valorizar os intangíveis da produção algarvia e a possibilidade de surgirem

novos critérios de segmentação ou possibilidades de integração ou de estabelecimento de

parcerias.

ITÁLIA

Um mercado com dimensão igual à do francês e com características entre as do francês e as

do espanhol. Existem oportunidades de mercado, mas a sua exploração é mais difícil que em

França.

REINO UNIDO

Um mercado com dimensão igual à do francês mas, dado não ter produtores concorrentes

de muitos produtos algarvios, tem características relevantes bastante diferentes.

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De facto, o mercado britânico de produtos agrícolas é globalmente um mercado

desenvolvido e com algumas características estruturais próximas do francês mas menos

sofisticado e diversificado em termos de produtos consumidos e de canais de transformação

e distribuição. E, no que respeita a muitos produtos algarvios, como alguns frutos secos,

frutos vermelhos e bagas, ervas e aromáticos e mesmo legumes, esta menor sofisticação

ainda é mais vincada.

Assim, tal como no caso do mercado francês, trata-se de um mercado em que existem

oportunidades de mercado não satisfeitas. E, no caso britânico, tanto no mercado de

consumo como no mercado industrial. Particularmente interessantes são as oportunidades

relacionadas com todos os produtos de elevado valor sujeitos ou não a prévias

transformações primárias. Os custos de transportes internacionais ainda não são

significativos.

HOLANDA

É um mercado maior, mais desenvolvido e muito diferente do nacional. Dada a população e

o rendimento per capita, o valor do mercado holandês é mais de três vezes maior que o do

mercado português.

Além disso a Holanda é um dos maiores produtores e o maior exportador agropecuário da

Europa. A sua produção e distribuição agropecuária dedica-se a produtos de elevado valor e

utiliza tecnologias avançadas. E desenvolveu uma indústria alimentar significativa.

Mas a Holanda não produz a generalidade dos produtos produzidos no Algarve.

O mercado de consumo é um mercado de menor dimensão e menos desenvolvido que os

anteriores. Existem oportunidades de mercado não satisfeitas, particularmente nos

produtos de elevado valor.

Em contrapartida, o mercado industrial e intermédio é de grande dimensão, muitas vezes

integrado com o produtor e complementar do algarvio. Existem imensas possibilidades de

mercado, inclusivamente através do desenvolvimento de parcerias.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

ALEMANHA

É um mercado muito maior que os anteriores e mais desenvolvido que o nacional. Dada a

população e o rendimento per capita, o valor do mercado alemão é mais de catorze vezes

maior que o do mercado português.

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O mercado alemão tem características próximas do britânico (menos sofisticado que o

francês) e do holandês (produtor agrícola de ponta). Assim existem as mesmas

oportunidades que nestes mercados: produtos não produzidos localmente e oferta

complementar.

Note-se, todavia, que as empresas alemãs, francesas e espanholas que atuam nos canais de

comercialização para venda ao consumidor final estão bastante desenvolvidas e integradas

a montante. A penetração via exportação na grande distribuição dificilmente não será

mediada por grandes empresas europeias, designadamente alemãs.

No que diz respeito às vendas para o pequeno retalho, hotelaria e restauração, os canais

também estão bem desenvolvidos mas estão mais abertos a novas entradas.

Existe sempre a possibilidade de utilizar novos critérios de segmentação ou possibilidades

de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no mercado de produtos

de mais valor.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

IRLANDA

É um mercado de dimensão aproximada do português e menos desenvolvido que os

anteriores.

Os canais de comercialização de produtos estão menos desenvolvidos que nos outros

países, havendo necessidades não satisfeitas a preços possíveis e, logo, possibilidades para

o aproveitamento de oportunidades.

Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.

POLÓNIA

É um mercado cerca de duas vezes maior que o português e menos desenvolvido que os

anteriores.

O mercado polaco é um mercado de reduzida dimensão mas em rápido desenvolvimento.

Tal como nos outros mercados mais próximos do centro da Europa, os mercados

agroalimentares são muito competitivos e de margens reduzidas. Mas são menos

estruturados que os anteriores, existe uma presença portuguesa no setor da distribuição e a

possibilidade de uma oferta complementar.

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Nalgumas situações será possível gerar lucros extraordinários. Existe sempre a possibilidade

de penetrar canais e de utilizar novos critérios de segmentação ou possibilidades de

integração. E a do estabelecimento de parcerias.

Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser

significativos para os produtos de menor valor.

SUÉCIA

É um mercado mais de duas vezes maior que o português e com características próximas do

britânico.

Existe o mesmo tipo de oportunidades mas os custos de transportes internacionais podem

ser um obstáculo porque já são significativos para alguns produtos.

OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA

Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já

abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a

custos de transportes ou à elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não

muito diferenciada da portuguesa (Grécia).

Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,

designadamente na área dos produtos de elevado valor.

OUTROS MERCADOS EUROPEUS

Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os

mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a

custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para

ofertas diferenciadas.

OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS

A situação é equivalente para os outros mercados europeus. Pode, no entanto destacar-se a

importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à sua

dimensão. Estes são os EUA, o Canadá, o Brasil, os países do Médio Oriente, Angola, a China,

o Japão, a Coreia do Sul, outros países do Extremo Oriente e a Austrália.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado

de acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de

mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão

permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito

importante na hotelaria e restauração e no comércio. São pouco sensíveis ao preço e

muito à qualidade e ao serviço;

2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito

importante no consumo de produtos de menor valor elevado na hotelaria e

restauração e no comércio e importante no consumo de todos ou outros produtos

no comércio. São sensíveis ao preço e à qualidade;

3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito

importante no consumo de produtos de menor valor. São muito sensíveis ao preço e

sensíveis à qualidade;

4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento

importante no consumo de produtos valor elevado na hotelaria e restauração. São

muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;

5. Consumidores não educados/apreciadores rendimento médio e baixo – segmento

importante para os produtos preparados. Mais sensíveis ao preço que à qualidade;

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo

com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.

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118

Os segmentos mais importantes são:

1. Vendedores em mercados – de pequena dimensão e geralmente com pequena

expressão nas vendas estão interessados em preço, qualidade e regularidade do

abastecimento de produtos de elevada procura e total;

2. Frutarias e mercearias – de pequena e média dimensão e com um peso ainda

elevado nos produtos algarvios, em Portugal ou noutros países europeus, estão

interessados em preço, qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de

elevada procura e total;

3. Comércio de grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média

dimensão, estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento por

espécie e total, produtos diversificados e, se possível, tratamentos primários;

4. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão, estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada

procura e, nalguns casos, tratamentos primários;

5. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão, estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada

procura e, nalguns casos, tratamentos primários;

6. Indústria alimentar – de grande dimensão estão interessados em preço e

regularidade do abastecimento de alguns produtos.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado

Consumidores finais Consumidores intermédios

Portugal 2, 4, 6 1, 2, 4, 5

Espanha 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6

França 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6

Itália 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 4, 5

Reino Unido 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6

Holanda 1, 3, 5 2, 3, 5, 6

Alemanha 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 5, 6

Irlanda 2, 4, 6 1, 2, 5

Polónia 2, 3, 5, 6 4, 5

Suécia 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6

Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.

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ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria agropecuária algarvia enfrenta fundamentalmente quatro tipos de

competidores: produtores tradicionais, pequenas e médias empresas modernas, grandes

empresas agrícolas e grandes empresas integradas.

Os produtores tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram

fundamentalmente famílias; com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos;

com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com estratégias

tomadoras de preços e de minimização de custos.

Estes produtores tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para

os outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos

desfavorável. A rentabilidade estrutural destas empresas, antes de subsídios, é muito

reduzida ou mesmo negativa.

As pequenas e médias empresas modernas dominam agora a produção na Europa. Têm uma

estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na

diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing ou via especialização em produto.

Normalmente especializam-se num número reduzido de produtos e processos.

As mais pequenas diferenciam-se ainda mais sendo, por exemplo, as principais produtoras

de produtos biológicos.

As grandes empresas agrícolas são o segundo grupo com maior peso na indústria europeia.

São normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via

custos. Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a

investir fortemente nestas áreas.

Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade agropecuária com outras,

principalmente as de transformação e comercialização de peixe e de transformados de

peixe. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e

estratégias genéricas baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e alavancagem

do marketing.

COMPETIDORES POR MERCADO

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A competição, em termos de mercados competidores, varia de produto para produto.

Salientem-se, no entanto, a China, os EUA, o Brasil, a Nova Zelândia, os países da Europa do

Sul seguidos de diversos países da América e Ásia.

A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os

tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de empresa

varia de país para país mas existe evidência que o peso dos produtores tradicionais é maior

nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;

2. Aumento dos custos de produção;

3. Integração ou consolidação dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

1. Diminuição do preço da terra, favorecendo o emparcelamento e o aumento da

dimensão média das explorações agrícolas;

2. Aumento da procura e alteração dos preços relativos da generalidade dos produtos,

havendo a possibilidade de aumentarem os preços nalguns produtos em que os

produtores algarvios têm vantagens comparadas;

3. Reorientação da produção para produtos de valor mais elevado;

4. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

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5. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar

valores de venda;

6. Atualização tecnológica da produção;

7. Introdução de novas tecnologias de gestão da produção;

8. Introdução de novas tecnologias produtivas, como produção integrada de etanol,

controlo biológico de pestes, agricultura e pecuária de hiperprecisão, novas

máquinas e equipamentos tradicionais, robôs (agbots) e equipamentos autónomos e

driveless;

9. Atualização das espécies e variedades;

10. Introdução de novas variedades;

11. Utilização de novos sistemas de comercialização e de gestão de mercados;

12. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;

13. Valorização da identidade regional de algumas produções;

14. Aproveitamento dos mercados locais para produtos de maior valor acrescentado;

15. Melhores prazos e serviços de entrega;

16. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa

Ocidental;

17. Integração da agricultura e principalmente da pecuária com tratamentos primários

dos produtos de maior valor para a restauração;

18. Estabelecimento de parcerias na Holanda ou Alemanha;

19. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes e criação de novas

segmentações;

20. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

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elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anteriores mostra que existem dois elementos fundamentais:

capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a

financiamento para investir em novos equipamentos. Os conhecimentos técnicos e

produtivos também são fundamentais.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS AGROALIMENTARES E FLORESTAIS

ESTRUTURA

O setor da transformação e comercialização dos produtos do setor agroalimentar e florestal

inclui tanto a indústria e comércio alimentar, especializados ou não, como a indústria e

comércio não alimentares que utilizam produtos do setor. O setor sobrepõe-se ao setor de

transformação e comercialização de produtos do mar. Esta análise duplica pois uma grande

parte da análise prévia desse setor.

O setor é composto por um conjunto muito diversificado de empresas de que se destacam:

Agentes e outros representantes;

Comércio alimentar grossista;

Comércio alimentar grossista especializado (designadamente em restaurantes);

Grande comércio alimentar a retalho;

Comércio alimentar a retalho especializado;

Restauração e hotelaria;

Indústria alimentar;

Comércio grossista não especializado;

Grande comércio a retalho;

Comércio a retalho especializado;

Indústria não alimentar.

A generalidade destas empresas e as estruturas de mercado que materializam em diversos

setores e países já foram analisadas previamente. O que não foi analisado foi a dinâmica

concorrencial do setor.

A importância deste setor para o cluster do mar resulta em primeiro lugar de estar a jusante

dos principais setores do cluster, como a agricultura, a pecuária e a silvicultura entre outros.

Assim tem uma natureza logística e comercial fundamental para garantir o escoamento e

potenciar a produção do cluster.

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Depois, sendo normalmente os produtores algarvios dos setores agroalimentares já

analisados, pequenos e pouco sofisticados, o setor da comercialização e transformação

assume uma natureza dinamizadora e inovadora da atividade destes produtores. Este setor

é o principal responsável pela transmissão de inovações de produtos e processos aos

produtores a montante.

Assim interessa saber se o setor está a cumprir eficientemente estas funções, se existem

inovações ou desenvolvimentos significativos na estrutura ou nos processos do setor que

possam ser aproveitados pelas empresas fornecedoras, designadamente as algarvias, e se é

possível desenvolver mais as empresas algarvias do setor.

Para o efeito as empresas do setor vão ser divididas em três tipos: de comércio alimentar,

de indústria alimentar e outras, não alimentares.

Os principais mercados do setor são os de Portugal, de Espanha, da Europa Ocidental e

Internacionais. Os condicionantes do comportamento destes mercados não são

significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que as estruturas

comerciais algarvias estão muito integradas com as nacionais e com as espanholas, estando

estas integradas com as europeias. Esta análise foca assim dois níveis de macro ambiente, o

algarvio e o ibérico.

FATORES POLÍTICOS

Na Europa a regulação do setor de transformação e comercialização dos produtos

agroalimentares é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente ao nível da

regulamentação de processos e de composição e da rotulagem dos produtos. Podem

pontualmente existir pequenos incentivos públicos para empresas de transformação e

comercialização, mas estes são sobretudo para empresas que utilizam processos mais

tradicionais e artesanais.

Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia

qualquer perspetiva, de curto prazo ou longo prazo, de alteração do enquadramento

regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.

Em contrapartida, os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam

financeiros ou de acesso, assumem muitas vezes um caráter demasiado restritivo,

procurando fundamentalmente apoiar produtores e comerciantes muito pequenos, sem

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grande viabilidade económica. Os incentivos procuram mais, de facto, alcançar objetivos de

natureza social ou cultural do que económica. Muitas vezes não existe uma racionalidade

económica para a atribuição destes incentivos. Subsidia-se a atividade, não a redução de

custos ou a produção. É pouco provável, mas é possível, que este sistema seja alterado.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver

uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a atividade empresarial e a

produção.

FATORES ECONÓMICOS

A utilização dos diferentes tipos de comércio e dos diferentes produtos industriais do setor

não depende muito de fatores de carácter económico que não o rendimento. O peso do

valor acrescentado bruto do setor nos produtos internos brutos de diferentes países tende a

ser estável. Mas o aumento do rendimento estimula a procura de formas mais sofisticadas

de comércio e de produtos, sejam de luxo, sejam menos massificados. Assim é de prever

que nos países ocidentais o comércio se continue a tornar mais complexo e menos

massificado. É de esperar uma procura acrescida para produtos novos e distintos, de

preferência com identidades específicas.

Na indústria, que atualmente é relativamente transacionável e intensiva em mão de obra,

têm-se verificado duas tendências recentes: a de deslocalização e a de automatização,

designadamente via robotização. Esperando-se uma continuação das dinâmicas de

globalização, de aumento do preço do trabalho e de desenvolvimento tecnológico, é

consequentemente de esperar a continuação destas tendências.

Note-se que o setor em Portugal está relativamente atrasado nestes movimentos pelo que o

custo da mão de obra no Algarve ainda é muito competitivo em termos europeus. Assim

existe uma oportunidade de crescimento rápido das empresas algarvias por emulação de

boas práticas produtivas e aproveitamento de vantagens comparadas.

Estes setores comerciais e industriais são bastante concorrenciais, sendo normalmente

constituídos por um conjunto restrito de líderes, que atuam de acordo com modelos de

concorrência monopolística, e um conjunto alargado de seguidores. Esta estrutura resulta

da existência de economias de escala e de domínio limitadas na logística e no marketing das

unidades e empresas do setor.

Esta estrutura deve manter-se mas o grande desenvolvimento recente de um setor logístico

autónomo das grandes empresas industriais e comerciais, deve continuar, diminuindo as

vantagens dos maiores operadores em benefício de operadores especializados e online.

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Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da utilização do comércio

massificado e a continuação da deslocalização da indústria.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor

reforçam os fatores económicos acima referidos. Por um lado espera-se um aumento da

procura de comércio e de produtos diferenciados e por outro lado espera-se uma

diminuição da utilização de trabalho em atividades indiferenciadas e pouco intensivas em

capital e conhecimento.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes tipos de

unidades do setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de

busca de produtos com um carácter distintivo e a alteração da estrutura familiar, favorece a

procura de produtos mais transformados (de mais fácil utilização), de mais qualidade,

sofisticação e identificação local e menos consumidores de tempo de escolha, compra e

transporte.

No que respeita ao Algarve e à oferta de fatores produtivos, não se encontram

constrangimentos efetivos ou potenciais significativos, nem na mão de obra. A este último

nível a situação atual caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com

qualificações escolares baixas e uma oferta reduzida mas crescente de mão de obra com

qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de

mão de obra não qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem

experiência. Não se deve vir a verificar nenhum desequilíbrio entre oferta e procura de mão

de obra, podendo o emprego vir a manter-se mas com uma diferente composição.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e

outbound são tecnologias relativamente modernas e em atualização constante. As

tecnologias de comercialização e produção são mais diversificadas e com diferentes graus

de sofisticação.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound

deverá passar por alterações no setor dos transportes. O do outbound deverá concentrar-se

na logística de proximidade. E o da produção deverá ser mais generalizado, abrangendo

desde novos produtos e novos processos produtivos e comerciais.

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De facto, o potencial de desenvolvimento do segmento produtivo das empresas comerciais

e industriais é muito significativo e abrange todo o conjunto de atividades desde a

mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos das vendas e do marketing.

Espera-se que as tecnologias de informação e comunicação, a robotização, a inteligência

artificial e o “big data” mudem de uma forma substancial o setor, a médio prazo.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e

outbound, do desenvolvimento dos transportes e da logística e do financiamento do

investimento no setor, com a associada modernização de equipamentos e processos. O da

produção do comércio e da indústria da dinâmica competitiva das empresas.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos

de inbound e de outbound. O efeito deverá ser um aumento do valor acrescentado das

empresas industriais e comerciais de pequena e média dimensão. Mas estas terão de ter a

capacidade para conseguir uma significativa incorporação científica e tecnológica e um

aumento da sua intensidade capitalística.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em

todos os aspetos da sua cadeia de valor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e

equipamentos associados;

2. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns

automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística;

3. Conceção de produtos – novos produtos transformados e novas tecnologias de

conservação de alimentos;

4. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e

equipamentos de processamento de alimentos;

5. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de

gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;

6. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens

para o sector comercial, designadamente no segmento do retalho;

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7. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos e marketing relacional e de conteúdos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor de transformação e comercialização de produtos agroalimentares

e florestais algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias

de inbound, produção, comercialização e outbound são controladas, dentro das restrições

regulamentares existentes, pelas empresas de comercialização e industriais. A atividade de

produção dos inputs do setor é normalmente assegurada por pequenos ou médios

produtores.

Existem três grupos de empresas a atuar no setor: um grupo restrito de grandes empresas

comerciais e industriais normalmente nacionais, espanholas ou europeias; um grupo mais

alargado de pequenas empresas comerciais principalmente nacionais e espanholas; e um

grupo grande mas sem expressão económica significativa de micro empresas

industriais/artesanais portuguesas. Salvaguardando a dimensão mais reduzida do mercado

algarvio e o maior peso das microempresas, esta estrutura é semelhante à observada na

generalidade dos países da Europa.

As atividades de marketing destas empresas podem ser autónomas, se destinadas a

pequenos compradores, ou completamente dependente, se destinadas a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades

de produção e comercialização e de marketing e vendas.

Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a montante, designadamente nos setores produtores de imputs. A

integração a jusante, exceto na indústria da celulose, é mais difícil.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio é composto por pequenas empresas locais com estruturas de gestão

básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção

determinada pelas instalações; e com um marketing geralmente pouco inovador. Estas

empresas concorrem com empresas espanholas e europeias de diversas dimensões e graus

de desenvolvimento.

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No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das pequenas empresas é baixa e a

das microempresas é nula ou negativa. A lucratividade destas empresas e do setor depende

exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das empresas. No

longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria dimensão e

estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua lucratividade.

No entanto, nada indicia que as empresas possam tomar decisões susceptíveis de alterar a

sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de

capital) tornam improvável qualquer movimento de crescimento da dimensão média das

empresas ou de consolidação.

Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em

novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua quota de

mercado produtiva. Os seus custos podem ir-se reduzindo o que associado a um eventual

aumento dos preços de venda dos produtos pode levar a um aumento sustentado da

lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não acompanhem esta

tendência e mantenham a atividade concentrada na produção de produtos de menor valor

acrescentado e margem e não invistam na sua modernização acabem por fechar.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem

maior lucratividade nas empresas que sigam estratégias de diferenciação e agressividade

comercial, podendo estas empresas aproveitar os recursos libertados pelo possível aumento

da lucratividade para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico

e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da

lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados do setor podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a

localização geográfica. Esta análise resulta das análises que foram feitas anteriormente a

respeito dos setores da agricultura, pecuária e floresta.

Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais

concorrenciais, fechados e menos lucrativos que os especializados. E outra para referir que

o comércio alimentar é mais competitivo e com menores margens que o comércio não

alimentar e a indústria.

O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número

de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Até há pouco

tempo as empresas deste mercado estavam protegidas pela existência de uma preferência

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de produtos nacionais (p.e. na alimentação preparada) mas esta preferência está a perder

importância devido à uniformização das preferências dos consumidores nacionais e

europeus e devido ao facto de as empresas internacionais terem adotado estratégias de

ajustamento do produto aos mercados nacionais e regionais.

Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o distribuição

de menor dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes em termos

de peso na indústria.

Como esta é uma indústria aberta, onde podem constantemente entrar novos competidores

e produtos substitutos, as pressões neste setor sobre os preços e as margens são

significativas.

O mercado da Europa Ocidental e da América do Norte são igualmente mercados

concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão destes mercados

relativamente ao algarvio, poderão existir alguns nichos de mercado ou clientes secundários

bastante atrativos.

Destes salientam-se os clientes da saudade, os clientes com preferência marcada pelo

distinto e autêntico e os setores do retalho alimentar e da hotelaria e restauração de gama

mais elevada, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os preços e as margens

estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário para o setor.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS, DOS CONSUMIDORES E DOS COMPETIDORES

A análise estrutural dos principais mercados, consumidores e competidores efetivos ou

potenciais do setor, foi feita na análise dos setores anteriores.

Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais

concorrenciais, fechados e menos lucrativos que os especializados.

A relevância e lucratividade dos mercados depende da distância, da população, do

rendimento per capita e da apetência relativa por produtos diferenciados específicos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

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A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças que o setor enfrenta são concorrenciais, dependem do crescimento

da concorrência por parte de competidores agressivos com dimensão, estrutura de gestão e

um marketing agressivo.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades competitivas relacionadas com novas tecnologias e

sistemas organizativos e de gestão. Mas dada a dimensão dos principais competidores

internacionais, as maiores oportunidades parecem ser as que resultam de estratégias de

especialização internacional em produtos e mercados e de estratégias de nicho.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Para estas estratégias os fatores críticos de sucesso são capacidade de desenvolver

estratégias eficientes de marketing e gerir muito bem essas estratégias, a nível de

operações e comercial.

A dimensão das empresas é secundária. O acesso a fornecedores de tecnologias e serviços

de marketing é essencial.

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INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS E EQUIPAMENTOS DE APOIO

ESTRUTURA

O setor da investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio ao

cluster agroalimentar e florestal tem um objeto muito lato, realiza um conjunto muito

diverso de atividades e é composto por um conjunto igualmente diverso de entidades.

O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, desde a logística de

inbound até à logística de outbound e a todas as atividades de suporte. As atividades que

realiza vão desde a investigação pura até à oferta de serviços de inovação ou à oferta de

matérias-primas e equipamentos. As entidades do setor vão desde departamentos de I&D,

produção e marketing de empresas produtoras a empresas fornecedoras e laboratórios e

universidades, abrangendo as empresas dos setores já tratados mas também entidades

comerciais, logísticas, de armazenagem, de investigação e desenvolvimento em

biotecnologias, de aluguer de máquinas e equipamentos agrícolas e outras atividades

associativas.

Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de

produtos: investigação e desenvolvimento de novos produtos e investigação e

desenvolvimento de novos equipamentos. O output do primeiro subsetor são sobretudo

serviços enquanto o do segundo são sobretudo vendas de produtos de natureza tangível.

Por uma questão de abrangência e relevância considera-se que a expressão “novos

produtos” inclui também novos processos.

Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve, de Portugal, da Europa

Ocidental e dos EUA. Pontualmente pode haver transações com mercados do resto da

Europa, África e a América do Sul.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio, tanto no que diz

respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do

desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.

Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e

dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.

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No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem

sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de

investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma

ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.

Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e

das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica

conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,

com o crescimento das vendas ou com os lucros.

Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar

quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras

entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona

eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias

dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.

Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D

independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de

mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos

projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor

esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente

distribuídos entre projetos.

Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos

de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas

entidades e nos projetos com mais valor económico.

Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos

assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma

natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades

direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por

pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.

E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de

serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de

serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à

ótima.

Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o

desenvolvimento do sector da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é

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claro: um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos

inovação e menos eficiência.

O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de

serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do

cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.

Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a

necessidades diferentes das empresas.

A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e

estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma média ou

grande empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada

administrativamente. Mas uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos

projetos que muitas vezes podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes

qualificações académicas. E muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade

financeira e de gestão para endogeneizar os resultados de um grande projeto.

Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas

empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações

adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as médias e grandes empresas no futuro. O

desenvolvimento do cluster é impedido.

Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer

perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em

termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado

para um sistema mais racional.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o

desenvolvimento do setor e do cluster.

FATORES ECONÓMICOS

A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente

em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois

um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:

1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;

2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;

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3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para

satisfazer de forma viável essa necessidade;

4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;

5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a

potencial inovação;

6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de

desenvolver a inovação;

7. A adequada organização e gestão do projeto.

Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas

com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.

Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior

número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental

sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários

para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só

empresas com capacidade de gestão e com recursos ou capacidade de os obter,

provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal

permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das

empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior

necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.

As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar

globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade

de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas

abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do

aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.

Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no

curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise

anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de

I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização

dos preços e da lucratividade no longo prazo.

No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante

considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e

conhecimento e na robotização.

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Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala

e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as

plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro

lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a

internacionalização das pequenas e médias empresas.

Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para

grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de

informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de

tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de

sistemas e equipamentos.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do

setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a

ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da

procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em setores mais abertos ao comércio

internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência

produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais

no setor da comercialização e transformação do que no sector produtivo.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura

das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de

processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de

equipamentos devem diminuir.

Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os

projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem

crescer mais.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e

experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas sectoriais com formação científica

e capacidade de desenvolver I&D incremental.

A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão-de-obra mais qualificada mas

prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência

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necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre

oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.

FATORES TECNOLÓGICOS

Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,

metodológico e tecnológico.

Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de

rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a

crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de

investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,

orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada

vez mais difícil.

No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de

produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa

que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente

acompanhadas e apreendidas pelo setor e que serão listadas na secção seguinte.

O potencial de desenvolvimento do sector de I&D é muito mais significativo e pode

influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a

mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.

Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica

competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades

respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da

qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D.

Poderá haver um aumento da incorporação científica e tecnológica nos resultados da

pesquisa; e um aumento da complexidade organizativa das entidades do setor.

Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos

do setor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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1. Big data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e

produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e

qualitativos.

2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços

colectivos;

3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar

soluções interativas para problemas complexos e jogos;

4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas

repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;

5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de

camadas de matéria prima, importante na produção de protótipos;

6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos

informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;

7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização

e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica

ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou

propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos

grandes gigantes tecnológicos;

8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às

necessidades de utilização, já em fase de crescimento;

9. Estratégias de marketing – inovação generalizada de exploração de nichos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de

suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.

As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades

ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No

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caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos

compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades

de produção.

Existem grandes possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante, designadamente no setor transformador bem como a

possibilidade de spin offs.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e médias entidades com estruturas de

gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção

determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco

eficientes.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou

negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre markups dos sobre os custos dos

projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do

volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo

prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,

organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso

externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável

qualquer movimento de mudança destas entidades.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise

da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.

No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e

internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos

sobre a produção em pequenas explorações de diversos produtos agrícolas típicos do

Algarve podem gerar lucros significativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a

possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.

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Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos

países com produções semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e

de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de

inovações e tecnologias agrícolas, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.

Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma

de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes

mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito

elevada.

Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados

efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor

de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado

pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se

fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que

existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes

segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.

Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de

produto.

EUROPA

Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.

Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D

de qualidade, mas a oferta de I&D relativa a produtos mediterrâneos em países

mediterrâneos é pouco competitiva, muito influenciada por entidades públicas. Existe a

possibilidade de obter boas margens.

Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,

já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos

bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades

de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por

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projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,

principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.

EUA

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais

desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano

da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.

A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos

acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.

As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.

OUTROS MERCADOS

Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades

pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, do Chile e de outros países

equiparados da América do Sul e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países

lusófonos; dos países do Norte de África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia

do Sul, de outros países do Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem

oportunidades de nicho para produtos específicos.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.

Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar

consumidores finais de consumidores intermédios.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem

agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é

fácil.

Os segmentos mais importantes são:

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1. Pequenos produtores agrícolas e pecuários – apenas estão interessados em I&D

imbuída em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e os

resultados imediatos da sua aplicação;

2. Pequenos e médios produtores florestais – apenas estão interessados em I&D

imbuída em serviços; e têm grande preocupação com o preço;

3. Médios produtores agrícolas e pecuários – normalmente interessados em pequenos

projetos de I&D incremental e em I&D imbuída, estão interessados em preço,

resultados rápidos e I&D relativa a produtos de elevada procura e valor;

4. Grandes produtores agrícolas, pecuários e florestais – interessados em todos os tipos

de I&D; preocupam-se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr

riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;

5. Grande comércio grossista e retalhista – igualmente interessados em todos os tipos

de I&D, mas principalmente a respeitante a produtos de grande procura;

preocupam-se com o preço e com os resultados; estando mais dispostos a correr

riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;

6. Pequeno e médio comércio generalista – apenas estão interessados em I&D imbuída

em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e com os resultados

imediatos da sua aplicação;

7. Pequeno e médio comércio especializado – interessados em todos os tipos de I&D,

mas principalmente em pequenos projetos incrementais; preocupam-se com o

preço, com os resultados e a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de

I&D e menos dispostos a correr riscos de negócio e em adiar a rentabilidade;

8. Indústria alimentar – igualmente interessados em todos os tipos de I&D, tanto em

projetos incrementais como disruptivos de qualquer dimensão; preocupam-se com o

preço, com os resultados e com a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos

de I&D e de negócio e em adiar a rentabilidade;

9. Indústria não alimentar – as mesmas características da alimentar mas com menos

interesse na diversidade;

10. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –

interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja nos seus

produtos ou serviços seja no seu esforço de marketing; preocupam-se com os

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resultados da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e em adiar a

rentabilidade

11. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de

atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de

negócio e a adiar a rentabilidade;

12. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que

gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e

permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos

de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.

Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o da média produção e do grande

comércio, logo seguido pela indústria alimentar Os outros segmentos têm pouco peso ou

uma procura direcionada para pequenos projetos.

Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de

avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:

indústria alimentar e não alimentar; grande comércio; indústria de bens de equipamento,

de inputs e de prestação de serviços ao setor; instituições de I&D; grandes produtores

agrícolas, pecuários e florestais; empresas de I&D; médios produtores; e pequeno e médio

comércio especializado. Os outros segmentos têm menos peso.

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de

equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso

das empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a

indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.

PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO

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A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento, de inputs e de

prestação de serviços ao setor.

As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são

fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de

investigação públicos.

Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,

e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e

estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm

normalmente uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do

mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades

na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.

As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente

especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.

Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo

negativa.

As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o

terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,

desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,

como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e

estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em

muitos casos, via especialização em produto.

A investigação e desenvolvimento. Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade

estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de

projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande

dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de

negócio.

A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.

A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a

indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,

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eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em

capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

produtiva e de marketing.

Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos

e tecnológicos, e de conhecimento; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e

grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização

da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na

investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande

segmento do mercado.

A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos

ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a

concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.

Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de

crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas

necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da

adequação da oferta à procura e à concorrência.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades são:

1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as

necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;

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2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,

estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas

e equipamentos;

3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;

4. Especialização e divisão do trabalho

5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e

tratamento de informação e produção de conhecimento;

6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;

7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de

espaços inteligentes e o machine learning;

8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o

desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços

de subcontratação;

9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam

grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas

empresas de I&D;

10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica e de marketing das instituições de I&D. Todo o marketing desde o

desenvolvimento da oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente

estas oportunidades.

Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.

Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários.

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SERVIÇOS E PRODUTOS COMPLEMENTARES

Tal como do setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar, o setor dos

serviços e produtos complementares do cluster agroalimentar e florestal engloba um

conjunto muito diversificado de atividade de que se podem destacar atividades industriais,

de construção, comerciais, de transportes, de informação e comunicação, de consultoria

científica e técnica, administrativas e de investigação e desenvolvimento, entre outras.

O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas

necessidades. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe respondem.

O fundamental em termos analíticos é saber se os fornecedores dos produtos e serviços

destas atividades a que as empresas locais do cluster têm acesso têm capacidade para

satisfazer a procura do cluster local de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou

vantagens significativas para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses

fornecedores. O que se procura é a exceção.

É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem

competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.

É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise

por amostragem evidencia três factos importantes:

1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são

transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver

vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar

barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;

2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo

internacionalmente fornecedores com relações qualidade-preço bastante diferentes

– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,

nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade-

preço que desejar;

3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,

podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais

em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a

segmentos das indústrias atrás mencionadas).

Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.

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Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros

tiver facilidade em recorrer a fornecedores internacionais diretamente tem uma vantagem

competitiva face aos concorrentes locais.

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TURISMO / LAZER

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do turismo e lazer inclui os seguintes

setores:

Atividades de alojamento

Atividades do património imobiliário

Atividades culturais e de animação

Atividades da alimentação

Atividades dos produtos locais

Atividades de saúde e bem-estar

Como já referido, o setor do turismo náutico e outras atividades de animação relacionadas

está incluído no cluster do mar, pescas e aquicultura, por razões analíticas. No entanto este

setor tem um efeito dinâmico importante neste cluster do turismo, semelhante ao do setor

das atividades culturais e de animação, que convém não esquecer.

A RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar e floresta um setor de

valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe um setor de valorização

do mercado turístico de proximidade no cluster de mar, pescas e aquicultura. No entanto,

como a estrutura destes setores é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a

estrutura do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de

proximidade será feita durante esta análise do cluster do turismo.

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do

cluster os seguintes CAEs:

41 Promoção imobiliária; construção de edifícios (parte)

429 Construção de outras obras de engenharia civil (parte)

43 Atividades especializadas de construção (parte)

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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511 Transportes aéreos de passageiros

55 Alojamento

56 Restauração e similares

68 Atividades imobiliárias (parte)

71 Atividades de arquitetura, de engenharia e técnicas afim; atividades de

ensaios e análises técnicas

77 Atividades de aluguer (parte)

79 Agências de viagem, operadores turísticos, outros serviços de reservas e

atividades relacionadas

81 Atividades relacionadas com edifícios, plantação e manutenção de jardins

(parte)

8230 Organização de feiras, congressos e outros eventos similares

8553 Escolas de condução e pilotagem (parte)

85592 Escolas de línguas (parte)

86905 Atividades termais

90 Atividades de teatro, de música, de dança e outras atividades artísticas e

literárias (parte)

91 Atividades das bibliotecas, arquivos, museus e outras atividades culturais

(parte)

93 Atividades desportivas, de diversão e recreativas (parte)

9604 Atividades de bem-estar físico (parte)

9609 Outras atividades de serviços pessoais, n.e. (parte)

96092 Atividades dos serviços para animais de companhia (parte)

96093 Outras atividades de serviços pessoais diversas, n.e. (parte)

PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

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Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster, consideraram-se os

seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster e consequente

análise obrigatória:

Atrações, entretenimento e lazer

Alojamento

Alimentação e bebidas

Valorização do mercado turístico de proximidade

Agências de viagens e operadores turísticos

Transportes e comunicações

Atividades do património imobiliário

Serviços complementares e de suporte

Aparentemente esta divisão sectorial é bastante diferente da divisão da RIS3 - ALGARVE

2014-2020, Mas, como se verá durante a análise, todos os setores da RIS3 - ALGARVE 2014-

2020 estão incluídos nesta divisão.

Uma nota para referir que no setor da valorização do mercado turístico de proximidade

estão incluídas as atividades dos produtos locais.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ATRAÇÕES, ENTRETENIMENTO E LAZER

ESTRUTURA

O setor das atrações, entretenimento e lazer divide-se em três subsetores que se definem

como:

Atrações – locais que os turistas querem visitar, como praias, cidades, locais históricos e

culturais (incluindo industriais e económicos), atrações naturais, parques de diversão,

museus, galerias, jardins e parques;

Entretenimento – atividades culturais e de animação em que os turistas querem

participar, como festivais, concertos, conferências exposições, teatros, eventos

desportivos, manifestações religiosas, eventos gastronómicos e enológicos, discotecas e

clubes noturnos;

Lazer – locais onde se realizam atividades de descontração, saúde e bem-estar que os

turistas desejam, como golfe, corridas, marinas, piscinas, parques naturais, locais de

pesca e de observação da natureza.

Dada a sua natureza o setor assume o caráter do setor motor do cluster do turismo, É

devido a ele que os turistas se deslocam a uma região. Logo é o setor mais importante do

cluster.

O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem ou têm possibilidade de oferecer quase

todos os produtos relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de

todos os seus produtos, com um natural enfâse em produtos associados ao sol e mar.

Os principais mercados do setor são o nacional, o espanhol e o inglês, logo seguido por

muitos outros mercados da Europa ocidental. Tem no entanto potencial de captar outros

mercados emissores.

Uma nota muito importante para referir que, no turismo, mais do que em qualquer outro

cluster, existem dois níveis de competição: um entre empresas e outro entre regiões. Assim

para analisar a dinâmica competitiva do cluster é necessário compará-la com a dinâmica

competitiva de outros clusters. Tal será feito na análise da concorrência.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura e determinação de

preços.

FATORES POLÍTICOS

O potencial turístico de uma região depende das suas atrações e atividades de

entretenimento e lazer. Quanto maior e melhor for a sua oferta, quanto mais numerosas,

com mais qualidade e interesse e de fácil acesso forem as suas atrações e atividades de

entretenimento e lazer, maior é o potencial da região. Ora, esta oferta depende

criticamente do seu enquadramento legal e de decisões políticas.

Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar da sua

construção, operação e gestão. A este nível não se distinguem diferenças nem se

perspetivam alterações significativas entre as diferentes regiões turísticas europeias.

Depende depois da forma como esse enquadramento é aplicado. A este nível o Algarve tem

dois problemas: o caráter burocrático e demorado de diversas atividades administrativas,

centrais e locais, e a lentidão do sistema judicial. Talvez os recentes esforços para simplificar

muitos processos administrativos, designadamente os de licenciamento, contribuam para

melhorar a situação.

A oferta também depende de incentivos públicos. A este nível o Algarve tem dois problemas

fundamentais de âmbito nacional: por um lado já não é uma região de convergência e por

outro as atividades turísticas não são normalmente abrangidas pelos sistemas de incentivos.

Embora esta situação seja, em tese, aceitável, é demasiado restritiva, impedindo o apoio ao

desenvolvimento de atividades alternativas e de maior valor acrescentado e o

desenvolvimento de uma oferta mais completa e integrada. Não se perspetivam, no

entanto, possibilidades de esta situação se alterar.

Existe depois um problema de âmbito mais local: a generalidade dos eventos públicos locais

são mais dirigidos para o público local do que para os turistas. Talvez esta situação mude

endogenamente.

A oferta depende depois da disponibilização de espaços do domínio público a turistas, seja

por administração direta seja por concessão a terceiros. Também aqui existe uma

desadequação entre a oferta e a procura. Os espaços de administração direta são

normalmente geridos de uma forma ineficiente e museológica, i.e. conservadora e passiva.

O acesso ou utilização de espaços concessionados é muitas vezes limitado de uma forma

excessiva.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Existe uma forma eficiente e ativa de gerir estes espaços que poderá vir a ser gradualmente

adotada e beneficiar a atratividade do Algarve. Já há regiões europeias bem avançadas

nesta estratégia, adaptando modelos originados nos EUA.

A atração de uma região depende a seguir de quão fácil é aceder às suas atrações e

atividades. E a este nível existem dois problemas grandes no Algarve: por um lado a falta de

informação em quantidade e de qualidade sobre estas atrações e atividades e, por outro, as

dificuldades de transporte. E existe um potencial não aproveitado que resulta da tolerância

dos costumes nacionais designadamente “vis-à-vis” com os costumes de outros países da

bacia do mediterrâneo.

A generalidade da informação turística algarvia é transmitida em material de marketing e

vendas, diminuindo a sua credibilidade e impacto. Os serviços físicos e digitais de

informação turística são escassos, pouco presentes e ativos e de qualidade variável. A

reformulação destes serviços é uma oportunidade.

O segundo problema, o de transportes, é o mais importante para este setor económico, e

resulta fundamentalmente da inexistência de uma rede abrangente e integrada de

transportes públicos de âmbito regional e das suas consequências a nível de

congestionamento de trânsito e de dificuldades de estacionamento. A criação de uma

autoridade regional de transportes é uma oportunidade fundamental.

O último fator político e legal importante é a segurança, que está ligada à segurança pública

e à estabilidade política. A este nível a situação no Algarve não apresenta problemas

significativos mas existem algumas regiões concorrentes do Algarve onde a situação está a

melhorar. Tal representa uma ameaça importante para o Algarve.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo existem algumas oportunidades na gestão dos espaços públicos, na melhoria

do sistema de informação turística e da rede de transportes públicos, e nos mercados do

Norte de África.

FATORES ECONÓMICOS

As atrações e atividades de entretenimento e lazer são complementares entre si, sofriam

até recentemente o efeito de Baumol, têm uma elasticidade rendimento superior à unidade

e, em muitos casos, são de utilização pontual e sazonal.

A complementaridade destas atividades resulta de os turistas se deslocarem em grupos,

nomeadamente familiares, para os destinos turísticos, suportando custos de deslocação que

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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têm de ser compensados por benefícios individuais de realizar atividades no destino.

Quanto mais atividades um turista realizar mais benefícios globais retira da deslocação.

Mas nem todos os membros de um grupo retiram a mesma utilidade das mesmas atividades

e, além disso, a realização de uma dada atividade está sujeita a utilidades marginais

decrescentes. Assim, a otimização da experiência turística exige a disponibilização de um

leque alargado e diversificado de atividades que apelem às preferências diferenciadas dos

turistas e lhes permitam manter um nível de satisfação elevado durante um período o mais

longo possível.

Embora a generalidade dos destinos turísticos tenha alargado e diversificado a sua oferta de

atrações, entretenimento e lazer, este alargamento tem sido insuficiente em muitos casos,

estando as consequências destes fatores determinantes da atratividade e tempos de estadia

nos diversos destinos turísticos bem patentes na diminuição do crescimento e das durações

dos destinos de sol e mar que não o fizeram. Existe pois uma oportunidade de mercado.

As atrações e atividades eram, e a maioria continua a ser, bens de Baumol, isto é, a sua

produção não regista ganhos significativos de produtividade enquanto os seus custos

salariais aumentam por pressão da restante economia. Os custos e preços relativos destas

atividades estão sempre a aumentar.

Este fator impõe restrições orçamentais que limitam a procura destas atrações e atividades,

diminuem os tempos de estadia e diminuem a procura e o volume de negócios de atividades

complementares, como as de alojamento e alimentação e bebidas.

E como se prevê a longo prazo uma subida lenta mas sustentada dos custos do trabalho,

sem a existência de alterações tecnológicas os custos de produção poderão continuar a

aumentar lentamente.

A otimização da oferta de atrações, entretenimento e lazer impõe a existência de uma

grande preocupação com o custo das atrações e atividades e individuais, que está a ser

respondida com as inovações tecnológicas e de metodologias operacionais e de gestão

(analisadas à frente), e com alterações do composto de atrações e atividades, que tem de

incluir algumas de custo e preço mais reduzido.

Em muitos destinos com especificidades históricas e culturais mais próprias este equilíbrio

da oferta é relativamente fácil e está a ser ativamente promovido.

Depois, a procura destes produtos tem normalmente uma elasticidade rendimento superior

à unidade. Mas esta elasticidade não se refere à quantidade consumida por consumidor mas

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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à relação qualidade preço dos produtos consumidos. Os turistas querem tanto consumir

mais como consumir melhor.

O grupo das atrações e atividades de qualidade percebida mais baixa tem elasticidades

rendimento mais reduzidos, enquanto o de qualidade percebida mais alta tem elasticidades

rendimento acima da unidade. Assim a oferta de atrações, entretenimento e lazer tem de

ser constantemente atualizada.

Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da

dinâmica competitiva. Estamos perante uma ameaça ou uma oportunidade para alguns

destinos.

Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do

aumento da procura destes produtos. Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer

grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços

conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.

Depois, as atrações e atividades de entretenimento e lazer são normalmente de utilização

pontual. Tal limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua

qualidade e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal

de consumidores avessos ao risco, limita a procura.

Existe valor na atividade de eliminação desta assimetria de informação que é

tradicionalmente assegurada por grandes marcas internacionais, intermediários e

operadores turísticos e entidades credenciadoras. Como devido à desintermediação o papel

dos intermediários e operadores turísticos é cada vez mais reduzido, existe um problema

acrescido de informação mas uma oportunidade que pode ser aproveitada. O investimento

e envolvimento de agentes internacionais, conhecidos nos mercados emissores são

fundamentais.

Por fim as atrações e atividades turísticas são muitas vezes sazonais, o que novamente exige

uma alargada e diversificada de atividades que apelem às preferências diferenciadas ao

longo do ano dos turistas e lhes permitam manter um nível de satisfação elevado no maior

número de períodos do ano possíveis.

Esta diversificação é uma oportunidade.

FATORES SOCIAIS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Existem novos fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam

significativamente a evolução do setor. Em termos demográficos salientam-se o

envelhecimento da população; o prolongamento do celibato; a diminuição do número de

crianças por família; e o aumento do número de famílias monoparentais.

Em termos culturais salientam-se:

O interesse pela novidade, diversidade, customização e participação;

O aumento do valor económico percebido das crianças;

A aversão ao risco;

A preocupação com a saúde e o exercício;

A afirmação de identidades étnicas e de género;

As preocupações ambientais e sociais.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura total de atrações e atividades mas um

impacto anda maior na composição dessa procura, favorecendo atrações e atividades

diferenciadas, segmentadas e participativas mas com serviços complementares para os

grupos etários a que se não dirigem, que ofereçam garantias reais e percebidas de

segurança e de respeito ambiental e social.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos na oferta ao setor, exceto na mão de obra. A este nível a

situação atual caracteriza-se, como em muitos outros setores, por uma oferta ainda elevada

de mão de obra com qualificações escolares baixas e formação tradicional e uma oferta

reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece

ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da mão de obra

qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e procura de mão de obra

pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.

FATORES TECNOLÓGICOS

Todo o setor das atrações, entretenimento e lazer está a passar por um período de intensas

alterações tecnológicas em resultado de inovações nas tecnologias de informação e da

robotização. A cadeia de valor do setor que utilizava tecnologias bastante intensivas em

mão de obra, está a tornar-se cada vez mais intensiva em capital.

As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em

contrapartida, as tecnologias de produção estão em mutação acelerada, em resultado dos

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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elevados níveis de investimento neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar

relativamente atrasado a este nível.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e

outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de vendas (bilhética) e

transportes. O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de

investigação científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção

do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da

capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a

uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da

importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade

capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação – instrumentos

digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, bilhética

digital e virtual, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade

aumentada;

2. Atrações e atividades novas e diferentes – em resultado das inovações digitais

referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das tecnologias de

espaços inteligentes, de drones e de sensores electrónicos;,

3. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas

repetidas;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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4. Novos equipamentos – máquinas, equipamentos e acessórios eventualmente

inteligentes de todos os tipos para a realização das diversas atrações e atividades e a

sua segurança;

5. Seguros customizados – InsurTech;

6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades

primárias de produção e outbound são controladas, dentro das restrições regulamentares

existentes, pelas empresas do setor. As atividades de inbound e vendas estão mais

dependente de empresas intermédias, agências de viagens e outros operadores turísticos,

mas esta dependência está a diminuir devido à desintermediação e digitalização destas

atividades.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de inbound e de marketing.

E parece existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nestas duas últimas

atividades.

Dado o carácter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem

geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e

outras cadeias de valor.

Existe, no entanto um forte incentivo para a integração vertical a montante nos subsetores

de atrações e entretenimento, ou seja, entre a cadeia de valor destes subsetores e a cadeia

de valor de produtores de conteúdos, designadamente empresas cinematográficas e

culturais. E um incentivo menor para a integração vertical a jusante da cadeia de valor de

algumas atividades de entretenimento com a cadeia de valor da indústria publicitária.

Existe igualmente um forte incentivo para a concentração do setor, como forma de

ultrapassar os problemas de informação que os seus consumidores enfrentam.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor das atrações, entretenimento e lazer é composto, na generalidade dos países

europeus, por um conjunto muito diversificado de entidades: entidades públicas;

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organizações não-governamentais sem fins lucrativos; e grandes, pequenas e médias

empresas.

Cada tipo de entidade tende a concentrar-se nas atividades que potenciam o seu acesso a

recursos específicos e a vantagens comparadas da sua natureza organizativa. Assim:

As entidades públicas tendem a concentrar-se na gestão de espaços do domínio público

– como praias, cidades, locais históricos e culturais, museus, atrações naturais, jardins e

parques;

As organizações não-governamentais sem fins lucrativos na realização de eventos

públicos e de acesso gratuito – como festivais e concertos, conferências, exposições,

eventos desportivos e manifestações religiosas;

As grandes empresas em atrações e atividades de maior procura e intensivas em capital

– galerias, golfe, pistas de corridas e marinas;

As médias empresas em atrações e atividades de acesso restrito e especializadas – golfe,

parques de diversão, jogo e festivais;

As pequenas empresas em atividades de acesso restrito e menos intensivas em capital –

concertos, teatro, eventos gastronómicos e enológicos, discotecas e clubes noturnos.

O controlo de recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos

dos diferentes tipos de entidades fazem com que a dinâmica competitiva dos seus

subsetores sejam completamente diferentes, com consequências a nível do impacto das

suas atrações ou atividades e a nível da sua lucratividade.

As entidades públicas tendem a controlar recursos únicos, logo têm a possibilidade de ter

um mercado não contestável dentro de determinados limites geográficos. No entanto têm

objetivos múltiplos, alguns dos quais de natureza não económica, que as levam a seguir

estratégias conservadoras de procurar garantir o acesso e prioritizar a conservação e

manutenção e não estratégias de potenciação económica.

Em consequência as suas áreas de ação tendem a incluir poucos serviços adicionais aos

nucleares e a ser geridas de uma forma passiva e pouco lucrativa. Todavia existem exemplos

de modelos de gestão mais desenvolvidos que conseguem conciliar melhor os diversos

objetivos e otimizar o potencial económico de recursos únicos.

As organizações não governamentais tendem a controlar recursos intangíveis muito

escassos, logo também têm um mercado não contestável limitado. Contudo enfrentam os

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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mesmos problemas de objetivos e estratégias das entidades públicas, a que se acrescentam

problemas organizacionais, decisionais e de restrição de acesso que limitam ainda mais a

sua atividade e lucratividade. Não se perspetivam grandes possibilidades de existirem

alterações nas estratégias deste tipo de entidades.

As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,

humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e

seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Em

consequência têm, estruturalmente, uma lucratividade elevada.

As médias empresas têm mais limitações de recursos que as grandes mas dispõem de

vantagens de flexibilidade e especialização que também lhes permitem ter tendencialmente

lucros extraordinários positivos.

As pequenas empresas atuam normalmente em mercados mais abertos e concorrenciais,

sem quaisquer limitações de acesso e sem quaisquer vantagens de dotação de recursos.

Assim, tendem a adotar estratégias de seguidores, a tomar preços e a não ter lucros

extraordinários sustentados. A opção por estratégias mais claras de diferenciação poderá

contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.

Uma eventual consolidação de algumas indústrias contribuiria para melhorar as estruturas

de gestão; a qualidade dos recursos humanos e tecnológicos; a dotação de capital; e a

lucratividade do setor.

E existem alguns fatores, legais, económicos e tecnológicos, que sugerem que muitas

empresas talvez possam tomar decisões susceptíveis de alterar a sua dimensão via

crescimento orgânico ou F&A. Mesmo que isto não aconteça, é de esperar que a estrutura

produtiva das empresas se vá desenvolvendo em resultado do investimento continuado em

novos equipamentos e recursos. Os custos podem ir-se reduzindo e a procura aumentando,

o que pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito de novos sistemas de gestão de recursos e de novas

tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas aproveitar os recursos

libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para gerar um movimento de

melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das

empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os mercados da indústria de atrações, entretenimento e lazer podem dividir-se de acordo

com a natureza dos seus produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a

relevância dos principais mercados.

Portugal Europa Ocidental Outros

Atrações públicas Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Atrações privadas Mercado primário Mercado primário Mercado marginal

Entretenimento consolidado Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário

Entretenimento emergente Mercado secundário Mercado primário Mercado marginal

Lazer Mercado primário Mercado primário Mercado primário

O mercado nacional é um mercado concorrencial, onde os grandes e médios operadores

turísticos ainda têm um peso significativo e onde é elevada a concorrência de outras

atrações e atividades de entretenimento e lazer nacionais e internacionais. As grandes

vantagens competitivas do Algarve neste mercado são o que o diferencia das outras regiões

nacionais, designadamente o clima e a cultura, incluindo a sua grande dimensão que lhe

permite ter uma oferta mais diversificada.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos

produtos do setor são significativas. O poder dos clientes é significativo e a lucratividade do

mercado não é elevada.

O mercado da Europa Ocidental é um mercado concorrencial dominado por grandes

operadores, onde os digitais estão a crescer substancialmente. Dada a proximidade, a

dimensão, a diversidade e o poder de compra relativo deste mercado relativamente ao

nacional, é um mercado prioritário para quase todos os subsetores do cluster.

Salientam-se em especial os mercados tradicionais nas ilhas britânicas, para os quais existe

uma boa adequação da oferta à procura e que têm uma lucratividade elevada. E também os

mercados mais emergentes, sobretudo no Norte da Europa, que procuram atividades mais

diversificadas que, embora tenham uma menor lucratividade no curto prazo, têm efeitos de

atenuação da sazonalidade e de sustentação da dinamização da oferta no longo prazo. E o

mercado espanhol, muito parecido com o português mas mais dinâmico e lucrativo.

Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes

secundários bastante atrativos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Devido a custos de

deslocação e à intensidade competitiva estes mercados são menos atrativos. Mantém-se,

no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos,

designadamente no Norte de África e nos PALOP.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o maior mercado do sector das atrações, entretenimento e lazer algarvio, o que torna o

mercado nacional muito interessante.

O mercado está particularmente interessado em atrações públicas e privadas (devido a

razões de identidade e disponibilidade) e em atividades de lazer (devido a razões de

competitividade custo, proximidade e conhecimento).

O mercado de atrações é muito contestado, havendo uma oferta nacional e internacional

significativa a competir por este mercado, que cresce lentamente.

O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios

de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e

rendimento da família do consumidor final. O segmento simultaneamente mais competitivo

e com mais potencial é o de famílias de classe média mas existem novas estratégias viáveis

de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.

O mercado está numa fase de desenvolvimento de canais. Os proveitos da sua cadeia de

valor concentram-se atualmente na produção e no distribuição mas o peso relativo da

distribuição pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de

toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver

alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização.

Os mercados de entretenimento e de lazer são igualmente contestados, com uma oferta

nacional e internacional significativa a competir por estes mercados, que crescem mais

rapidamente que o anterior.

Os mercados têm os mesmos segmentos, definíveis demográfica e economicamente, que o

anterior e novamente o segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial

é o de famílias de classe média.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

164

Os mercados estão numa fase de desenvolvimento de canais. Os proveitos das suas cadeias

de valor concentram-se atualmente na produção, havendo ainda um grande espaço para o

desenvolvimento das atividades de suporte e para a distribuição. Os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem cada vez mais novas

estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo

de vida, a orientação sexual e a identidade de género ainda não aproveitadas.

O mercado tem compradores intermédios e derivados mas estes segmentos são pouco

significativos. Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários

ou possibilidades de integração.

REINO UNIDO

É o percursor do turismo, do turismo de massas e do turismo algarvio, um dos maiores

mercados emissores europeus e o maior mercado emissor internacional do Algarve. Devido

a fatores geográficos e históricos a procura turística, designadamente de sol e mar, é muito

elevada em todas as classes económicas e demográficas. Trata-se de um mercado

importante, sofisticado e diversificado.

A procura é muito estratificada e os diferentes destinos são conotados social e

economicamente. Isto torna difícil a um mercado destino captar clientes de novos

segmentos. No entanto, como é um mercado sofisticado, distingue entre diferentes zonas e

épocas, tornando viável o posicionamento de novas ofertas. Tal é reforçado pela grande

dinâmica social e cultural do mercado, criando constantemente novos segmentos da

procura.

Em termos de atrações, entretenimento e lazer é um mercado que se divide num grande

segmento de consumo de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes

últimos segmentos têm um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado

por muitos destinos. Tal como no caso do mercado espanhol, a diferenciação e

complementaridade da oferta é importante.

Assim é um mercado em que existem oportunidades de mercado não satisfeitas.

O mercado do Reino Unido também é importante devido ao peso que os seus

intermediários e transportadores têm. O mercado tem canais bem desenvolvidos. Os

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

165

proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e distribuição mas

o peso relativo da produção pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na

comercialização. Os custos de transportes internacionais não são significativos.

O Brexit não deverá ter consequências relevantes na procura do mercado.

ESPANHA

Compete pelo lugar de terceiro maior mercado do setor algarvio e é um dos maiores

mercados europeus. Este mercado é de maior dimensão que o nacional mas têm

características semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.

No mercado de atrações o valor da identificação histórica e cultural é menor, aumentando a

importância da diferenciação e complementaridade. O desenvolvimento dos canais está

mais avançado, aumentando a importância dos intermediários, sejam operadores físicos ou

digitais. E as estratégias de segmentação podem ser mais finas que no caso do mercado

nacional, devido à dimensão deste mercado e à importância da indústria próxima que o

serve.

Nos mercados de entretenimento e lazer a situação é semelhante mas ainda mais extrema.

A importância da diferenciação e complementaridade, da segmentação e dos canis é ainda

mais importante.

Os custos de transportes internacionais não são significativos.

IRLANDA

O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão e menos desenvolvido mas com

características parecidas com o britânico.

Os canais de distribuição estão menos desenvolvidos que no Reino Unido o que favorece o

Algarve e do Sul de Espanha, dada a sua proximidade e a existência de um peso significativo

no setor dos transportes aéreos.

Os segmentos de procura diferenciada de atrações, entretenimento e lazer têm uma

importância relativamente pequena, devido à dimensão do mercado global, mas existem

alguns tipos de afinidades, designadamente de natureza religiosa, que podem ser

explorados.

Existem algumas, poucas, oportunidades de mercado não satisfeitas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

166

ALEMANHA

É um mercado grande e mais diversificado que os anteriores do setor das atrações,

entretenimento e lazer, o que o torna muito interessante.

O mercado está interessado tanto em atrações como em entretenimento e lazer (devido a

razões de competitividade custo).

Os mercados de entretenimento e lazer são muito contestados, havendo uma larga oferta

internacional a competir por estes mercados, que crescem a um ritmo interessante.

O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O

segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe

média e dos jovens adultos.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de

segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.

O mercado tem canais bem desenvolvidos e com um grande peso internacional. Os

proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e na distribuição

mas o peso relativo da produção pode crescer mais. Os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na

comercialização.

Dada a sua localização no centro da Europa, é um mercado que em termos de transportes e

custos tem um alcance alargado. Os custos de transportes europeus não são significativos

mas as redes de transportes aéreos e as relações comerciais dos operadores turísticos estão

menos ligadas ao Algarve que as britânicas.

HOLANDA

O mercado holandês é um mercado tradicional do turismo algarvio mas com menor

dimensão que o britânico. As outras características do mercado holandês, a nível de

procura, segmentos e redes de distribuição, são mais parecidas com as do mercado alemão

do que com as do mercado britânico.

Existem algumas oportunidades de mercado não satisfeitas e a necessidade de trabalhar nas

redes de inbound.

FRANÇA

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

167

A França tem uma grande oferta e procura turística. A sua grande oferta, designadamente

no sol e mar, limita o interesse para os outros destinos de sol e mar do seu

segmento de turismo de massas.

Mas, até por causa disto, os segmentos mais diferenciados do mercado não são muito

visados pela oferta da generalidade dos mercados destino. O investimento

promocional neste mercado pode ter efeitos significativos, como comprova a

própria realidade algarvia.

Tal como o mercado alemão, o francês está tanto interessado em atrações como em

entretenimento e lazer (devido a razões de competitividade custo). E embora os seus

mercados de atrações, entretenimento e lazer sejam contestados, havendo uma larga oferta

internacional a competir por estes mercados, existe a possibilidade de apresentar ofertas

viáveis principalmente no setor das atrações e entretenimento.

Os canais de distribuição e as redes de transportes internacionais deste mercado estão

menos desenvolvidas que nos mercados anteriores, criando oportunidades de negócio.

SUÉCIA E PAÍSES ESCANDINAVOS

São mercados de elevado poder de compra e sofisticação, com características parecidas

com as do holandês mas com ainda menos ligações a nível de canais.

Existem muitas oportunidades a nível de segmentação, oferta e redes a explorar.

POLÓNIA E PAÍSES DO LESTE DA UNIÃO EUROPEIA

São mercados que globalmente têm uma dimensão significativa e estão a crescer

significativamente, o que os torna muito interessantes.

Estes mercados estão interessados em todo o tipo de atrações, entretenimento e lazer.

Os mercados de entretenimento e lazer são muito contestados, havendo uma oferta

internacional significativa a competir por estes mercados. No mercado de atrações existe

uma maior possibilidade de diferenciação o que alavanca a possibilidade de captar clientes.

Os mercados têm diversos segmentos, definíveis nacional, demográfica e economicamente.

Os segmentos com mais potencial são os de procura diferenciada, de jovens adultos e

principalmente de casais sem filhos mas existem estratégias viáveis de segmentação de

mercados relacionadas com o estilo de vida.

Os mercados estão numa fase de desenvolvimento de canais, que presentemente estão

muito ligados com os canais alemães. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

168

atualmente na produção e na distribuição mas o peso relativo da produção pode crescer

ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as

atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros

extraordinários ou rendas na comercialização.

OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA

Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já

abordados por razões de dimensão, de localização ou de oferta relevante. Ou são mercados

de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a custos de transportes ou à

elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não muito diferenciada da

portuguesa (Itália e Grécia).

Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,

designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor.

OUTROS MERCADOS EUROPEUS

Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os

mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a

custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para

ofertas diferenciadas.

OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS

A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto

destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,

devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais agrupavam-se tradicionalmente de acordo com variáveis

económicas, sociais e demográficas, no que é chamada uma segmentação horizontal. Mais

recentemente as segmentações psicográficas e comportamentais têm a tornar-se cada vez

mais relevantes.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

169

O cruzamento de variáveis económicas, demográficas e psicográficas permite obter

múltiplos segmentos de mercado de acordo com a capacidade financeira e física do

consumidor, os seus interesses, a importância que dá ao produto, a facilidade que tem de

mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado.

Os critérios de segmentação económicos são bem conhecidos e relacionam-se

fundamentalmente com o rendimento. Acontece o mesmo com os critérios de segmentação

demográfica que se relacionam com a fase do ciclo de vida do consumidor.

Os critérios psicográficos e motivacionais são menos conhecidos mas permitem a

segmentação dos consumidores nos seguintes grupos principais:

1. Consumidores de relax – procuram fundamentalmente atividades de lazer e são o

segmento mais importante nos destinos de sol e mar; o seu valor para outras

atividades do setor é reduzido;

2. Consumidores de afinidade – procuram identificação e pertença através de visitas a

atrações e participação em atividades de entretenimento e lazer; o seu valor é

elevado para todas as áreas do setor;

3. Consumidores de afirmação – procuram reforçar o seu estatuto seguindo outros

consumidores; o seu valor é elevado para o entretenimento e o lazer;

4. Consumidores de conhecimento – procuram conhecer visitando atrações e

participando em atividades; têm um valor elevado para estes dois subsetores;

podem ser o segmento menos sazonal;

5. Consumidores sensoriais e estéticos – procuram visitar e viver novas experiências

visitando atrações e participando em atividades; tal como os do segmento anterior

têm um valor elevado para estes dois subsetores; são um segmento pouco sazonal.

A conjugação destes três tipos de critérios permite a definição de segmentos finos de

consumidores e uma análise mais adequada da procura bem como o “fine tuning” da oferta.

Atualmente existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais

segmentos de consumidores, de que se destacam:

Oferta crescente e agressiva para os consumidores de relax de todos os níveis de

rendimento;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

170

Oferta insuficiente para os consumidores de relax monoparentais de rendimento

médio ou baixo;

Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,

designadamente os de base étnica;

Procura decrescente dos consumidores de relax de rendimento médio e menor

idade;

Procura crescente dos consumidores de afinidade (pertença) de rendimento médio e

idade elevada;

Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de

rendimento médio e mesmo baixo.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também

podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do

setor, podem agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A

segmentação é fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Agências de viagens – já foram o grande intermediário do setor, estão a perder peso

mas mantêm uma importância elevada nalgumas atividades e segmentos do

mercado devido à sua função informativa; estão interessadas em margem, qualidade

e produtos de elevada procura;

2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no sector, designadamente nos

produtos de consumo de massas, podendo ser melhor potenciadas por fornecedores

de atrações, entretenimento e lazer devido à sua capacidade de micro segmentar

alvos do marketing; recebem comissões pelo que estão disponíveis para qualquer

oferta mas são pouco eficientes para ultrapassar problemas de informação;

3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros

intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso

crescente no setor, estão interessadas em qualidade e produtos de elevada procura;

4. Empresas de hotelaria e restauração – procuram complementar a oferta, sendo

adicionalmente um dos melhores gatekeeprs do sector; interessadas em qualquer

produto;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

171

5. Empresas comerciais não especializadas – complementam a sua oferta com produtos

turísticos, estão interessados em margens considerando qualquer produto;

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos canais de compra por mercado

Direta Tradicionais Digitais

Portugal Muito importante Pouco importante Importante

Reino Unido Importante Importante Pouco importante

Espanha Importante Pouco importante Importante

Irlanda Importante Importante Importante

Alemanha Pouco importante Importante Muito importante

França Pouco importante Importante Muito importante

Holanda Pouco importante Importante Muito importante

Escandinavos Pouco importante Importante Muito importante

Leste Importante Importante Muito importante

Outros Importante Muito importante Importante

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia de atrações, entretenimento e lazer enfrenta fundamentalmente três

tipos de competidores: grandes destinos cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e

mar e destinos emergentes, cidades e regiões.

As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,

localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e

lazer. A regra é que quanto menor for a região mais especializada é e tem de ser a sua

oferta e mais dificuldades terá em atenuar a sazonalidade.

Os grandes destinos cosmopolitas têm uma oferta consolidada de atrações e fazem um

esforço substancial para manter uma oferta agressiva de entretenimento. O seu ponto fraco

é a sua oferta de atividades de lazer.

As grandes regiões turísticas de sol e mar têm uma oferta consolidada de atividades de

lazer, mantêm uma oferta de diversificada de entretenimento de qualidade variável e estão

a potenciar as suas atrações. O seu ponto fraco é a sazonalidade, que lhes limita a massa

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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crítica nalgumas alturas do ano e lhes impossibilita concorrerem em muitas circunstâncias

com as grandes cidades nalguns setores do entretenimento.

Os destinos emergentes têm uma oferta mais especializada de atrações, lazer e, em menor

escala, entretenimento. Esta especialização está-lhes a permitir captar quota de mercado.

Estes novos destinos são muitas vezes vendidos a preços elevados e são, talvez, o

concorrente atualmente mais lucrativo.

Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do

mercado, assim só parece importante voltar a referir a empresa que as grandes empresas

integradas de conteúdos, atrações, publicidade e entretenimento têm para o setor. As

empresas e entidades que dominam o setor são muito importantes mas estão a perder peso

devido à sua falta de flexibilidade, reconhecimento de marca e recursos. A rentabilidade

estrutural destas empresas é a mais elevada do setor.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são todas as regiões turísticas

de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e às costas

atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a Espanha, a

França, a Grécia a Turquia e os países balcânicos. Existem depois uma série de outros

destinos no Norte de África, nas Caraíbas e no Atlântico. E os destinos tradicionais de sol e

mar do Norte da Europa.

A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de

cada um dos subsetores varia de região para região mas o peso do lazer é sempre muito

elevado. Os fatores de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam

bastante em sentidos inversos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao

setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

173

1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da

intensidade competitiva e de crescimento da oferta;

2. Melhoria das condições de segurança na Bacia do Mediterrâneo;

3. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;

4. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Simplificação de muitos processos administrativos e da sua aplicação;

2. Melhor gestão das atrações de responsabilidade do Estado;

3. Aproveitamento da tolerância nacional para criar uma oferta dirigida a segmentos

menos bem acolhidos noutras zonas;

4. Melhoria do sistema de informação turística;

5. Melhoria do sistema regional de transportes;

6. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;

7. Atrações e atividades diferenciadas e participativas com serviços complementares;

8. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;

9. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de

certificação ou criação ou colaboração com marcas reputadas;

10. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

7. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação de

atrações;

8. Novas atrações e atividades, mutas vezes com base digital;

9. Automatização e robotização da produção e novos equipamentos;

10. Seguros customizados;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

174

11. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços

para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários;

12. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais

dinâmicos e de maior valor acrescentado;

13. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:

capacidade de estratégia e marketing para criar ofertas atrativas e viáveis, capacidade de

gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a financiamento para

investir numa oferta mais diversificada, incluindo marketing e equipamentos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ALOJAMENTO

ESTRUTURA

O setor do alojamento inclui um conjunto de recursos de alojamento que vão desde hotéis e

aldeamentos a parques de campismo e caravanismo.

Dada a sua natureza o setor assume o caráter de suporte do setor anterior mas é o que gera

maior valor acrescentado. É devido a ele que os turistas geram a maior parte do emprego e

rendimento turístico. Logo é um setor muito importante do cluster.

O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem todos os tipos de alojamento

relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de todos.

Os principais mercados do setor são os mesmos do setor anterior, com algumas alterações

da magnitude e mesmo ordem de importância. A dinâmica destes mercados depende muito

da dinâmica referida a propósito do setor anterior, com algumas características próprias.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A determinação de

preços é endógena.

FATORES POLÍTICOS

O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alojamento. Quanto

maior e melhor for esta oferta, maior é o potencial da região. Ora, esta oferta depende

criticamente do seu enquadramento legal.

Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar da sua

construção, operação e gestão. Isto a dois níveis: o primeiro é o da afetação de zonas para

desenvolvimento turístico e construção de alojamentos e o segundo é o do licenciamento

da construção e da atividade.

A afetação de zonas ao desenvolvimento turístico coloca problemas de trade-off entre

desenvolvimento qualitativo e quantitativo. Muitas regiões já cresceram mais

extensivamente do que o desejável, prejudicando a qualidade da sua oferta. A este nível os

problemas do Algarve são fundamentalmente históricos, colocando no entanto a região em

desvantagens competitivas face a novos destinos concorrentes.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

176

A este nível não se distinguem diferenças nem se perspetivam alterações significativas entre

as diferentes regiões turísticas europeias.

O licenciamento da construção e atividade e a sua aplicação concreta é importante para

minimizar os custos do desenvolvimento e construção e otimizar o ajustamento da oferta à

procura. Como já referido, a este nível o Algarve tem dois problemas: o caráter burocrático

e demorado de diversas atividades administrativas, centrais e locais, e a lentidão do sistema

judicial. Talvez os recentes esforços para simplificar muitos processos administrativos,

designadamente os de licenciamento, contribuam para melhorar a situação.

Note-se que este problema coloca dificuldades gravíssimas a um destino em que uma parte

substancial dos alojamentos já está próxima da amortização total, pelo que precisa de ser

remodelada ou renovada, e está na posse de pequenos proprietários privados, pelo que as

decisões de remodelar ou renovar são dificultadas por problemas de coordenação.

O último fator político importante é a segurança, que está ligada à segurança pública e à

estabilidade política. A este nível a situação no Algarve não apresenta problemas

significativos mas existem algumas regiões concorrentes do Algarve onde a situação está a

melhorar. Tal representa uma ameaça importante para o Algarve.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo existe a necessidade de resolver o problema dos licenciamentos e das decisões

sobre remodelações e renovações do construído.

FATORES ECONÓMICOS

O alojamento é um setor de suporte pelo que a sua dinâmica depende fundamentalmente

da dinâmica do setor de atrações, entretenimento e lazer.

Existem no entanto fatores económicos, já referidos na análise do setor anterior, que

afetam especificamente a composição da procura de alojamento. Estes fatores são

fundamentalmente o de que a procura de alojamento tem uma elasticidade rendimento

superior à unidade e os serviços de alojamento serem, em muitos casos, de utilização

pontual e sazonal.

O facto de a procura destes serviços ter, normalmente, uma elasticidade rendimento

superior à unidade não se refere, novamente, à quantidade utilizada por consumidor mas à

relação qualidade preço dos serviços utilizados. Os turistas querem tanto utilizar mais como

ter melhor serviço.

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177

O alojamento de qualidade percebida mais baixa tem elasticidades rendimento mais

reduzida, enquanto o de qualidade percebida mais alta tem elasticidades rendimento acima

da unidade. Assim a oferta de alojamento tem de ser constantemente atualizada e

valorizada.

Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da

dinâmica competitiva. É o que acontece no Algarve em que uma parte do parque de

alojamento já tem uma certa idade e em que existem problemas legais, administrativos e de

estrutura da indústria que dificultam esta renovação. Estamos perante uma ameaça para

alguns destinos tradicionais incluindo o Algarve.

Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do

aumento da procura destes produtos. Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer

grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços

conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.

O alojamento enfrenta também o problema de ser normalmente de utilização pontual, o

que limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua qualidade

e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal de

consumidores avessos ao risco, limita a procura.

Este problema é menor que no caso das atrações, entretenimento e lazer devido a maior

peso do alojamento num pacote turístico, mas não deixa de existir. Assim continua a existir

valor na atividade de eliminação desta assimetria de informação.

Estas atividades, que eram tradicionalmente asseguradas por grandes marcas

internacionais, intermediários e operadores turísticos, são mais difíceis de prestar num

ambiente de desintermediação da compra de serviços de alojamento.

Existem alternativas de mercado para resolver este problema, como entidades

credenciadoras e certificadoras e seguros, criando uma oportunidade de mercado para

estas entidades e os alojamentos e regiões que sirvam.

Note-se que este problema de assimetria de informação é particularmente grave no caso do

Algarve devido ao peso do turismo mais ocasional e ao grande peso dos alojamentos de

pequenos proprietários privados assumem no conjunto do seu alojamento. É certamente

este problema que explica o diferencial de preços entre o alojamento local e as outras

formas de alojamento.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

178

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor das atrações,

entretenimento e lazer também afetam procura total e a composição da procura de

alojamento.

São cada vez mais procurados alojamentos diferenciados e com serviços complementares,

designadamente para crianças, que ofereçam garantias reais e percebidas de segurança e de

respeito ambiental e social.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos na oferta ao setor, nem mesmo na mão de obra. A este nível a

situação atual caracteriza-se por uma oferta crescente de mão de obra qualificada e com

experiência efetiva. Sem dúvida que grande parte desta mão de obra se desloca

sazonalmente para o Algarve mas tal não representa um problema. O mesmo acontece

noutras regiões.

FATORES TECNOLÓGICOS

Existem algumas alterações tecnológicas no setor do alojamento em resultado de inovações

nas tecnologias de informação e da robotização. A cadeia de valor do setor que utilizava

tecnologias bastante intensivas em mão de obra, está a tornar-se cada vez mais intensiva

em capital.

As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em

contrapartida, as tecnologias de produção estão em mudança, em resultado da introdução

de novas tecnologias neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar relativamente

atrasado a este nível.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e

outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de reservas e transportes.

O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação

científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção

do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da

capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a

uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

179

importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade

capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas – instrumentos digitais

incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, reservas digitais

e virtuais, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade aumentada;

2. Alojamentos com novas configurações e funcionalidades– em resultado das

inovações digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das

tecnologias de espaços inteligentes, de drones e de sensores electrónicos;

3. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a

automatização inteligente de tarefas repetidas;

4. Seguros customizados – InsurTech;

5. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades

primárias de produção e outbound são controladas, dentro das restrições regulamentares

existentes, pelas empresas do setor. As atividades de inbound e vendas estão mais

dependentes de empresas intermédias, agências de viagens e outros operadores turísticos,

mas esta dependência está a diminuir devido à desintermediação e digitalização destas

atividades.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de inbound e de marketing.

E parece existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nestas duas últimas

atividades.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

180

Dado o caráter mito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem

geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e

outras cadeias de valor.

Mas existe um incentivo para a concentração do setor, como forma de ultrapassar os

problemas de informação que os seus consumidores enfrentam.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR

O setor do alojamento é assegurado, na generalidade dos países europeus, por empresas e

particulares. Cada tipo de entidade tende a concentrar-se no segmento que potencia os

seus recursos e as suas vantagens comparadas. Assim:

Os particulares tendem a concentrar-se na disponibilização de quartos e de

apartamentos, isolados ou m aldeamentos, com ou sem serviços incluídos;

As pequenas empresas em alojamentos de nicho, normalmente com um componente

reduzido de serviços;

As médias empresas em alojamentos de maior qualidade e mais segmentados, com um

maior componente de serviços e de atividades de lazer;

As grandes empresas em maiores unidades de alojamento, com um componente

alargado de serviços e dirigidos a múltiplos segmentos de mercado.

Os recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos dos

diferentes tipos de entidades fazem com que a sua dinâmica competitiva seja

completamente diferente, com consequências a nível da qualidade do serviços e perspetivas

de desenvolvimento futuro.

Os privados vêm normalmente a disponibilização de alojamento como uma atividade

complementar que gera benefícios apreciáveis. O seu grau de empenhamento de recursos

na atividade não é elevado e concentra-se nos seus aspetos comerciais e operacionais.

Usam nos seus esforços comerciais canais informais e digitais e são tomadores de preços e

seguidores de tendências. Flexibilizam e diversificam o mercado mas criam-lhe alguns

problemas reputacionais. Não têm uma rentabilidade elevada.

As pequenas empresas atuam normalmente em mercados mais formais, sem qualquer

vantagem de dotação de recursos. Assim, tendem a adotar estratégias de seguidores, a

tomar preços e a não ter lucros extraordinários sustentados. A opção por estratégias mais

claras de diferenciação poderá contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

181

As médias empresas dispõem de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes

permitem ter tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores

e diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada.

As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,

humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e

seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Em

consequência têm, estruturalmente, uma lucratividade elevada.

Uma eventual consolidação de algumas pequenas empresas e a formalização da atividade

dos particulares contribuiria para resolver algumas deficiências destas entidades e melhorar

a lucratividade do setor. Importante seria o desenvolvimento do associativismo e de uma

indústria de prestação de serviços comerciais, de manutenção, operacionais e de gestão do

património de proprietários privados. E de entidades certificadoras e seguradoras que

melhorassem a difusão de informação.

Não existem indícios que esta estrutura de se possa alterar nem via crescimento orgânico

nem via F&A. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo.

A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de alojamento podem dividir-se de acordo com o tipo de alojamento e a

localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Portugal Europa Ocidental Outros

Estabelecimentos hoteleiros Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário

Aldeamentos turísticos Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Apartamentos turísticos Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal

Resorts Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário

Turismo de habitação Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Turismo no espaço rural Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário

Campismo e de caravanismo Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Pode também dividir-se de acordo com as entidades que detêm e gerem as unidades de alojamento

e a este nível saliente-se a importância que o mercado português e espanhol em para o segmento de

particulares.

O mercado nacional é um mercado concorrencial, onde os grandes e médios operadores

turísticos ainda têm algum peso mas em que as vendas diretas, sem intermediários, são

mais importantes. As grandes vantagens competitivas do Algarve neste mercado são a

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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proximidade, o conhecimento do comprador e o que o diferencia das outras regiões

nacionais, designadamente o clima e a cultura, incluindo a sua grande dimensão que lhe

permite ter uma oferta mais diversificada.

Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e

produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos

produtos do setor são significativas. A concorrência é elevada, o poder dos clientes é

significativo e a lucratividade do mercado não é elevada.

O mercado da Europa Ocidental é um mercado concorrencial dominado por grandes

operadores, onde os digitais estão a crescer substancialmente. Dada a proximidade, a

dimensão, a diversidade e o poder de compra relativo deste mercado relativamente ao

nacional, é um mercado prioritário para quase todos os subsectores do cluster.

Salientam-se em especial os mercados tradicionais nas ilhas britânicas, para os quais existe

uma boa adequação da oferta à procura e que têm uma lucratividade elevada. E também os

mercados mais emergentes, sobretudo no Norte da Europa. E o mercado espanhol, muito

parecido com o português mas mais dinâmico e lucrativo.

Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes

secundários bastante atrativos.

Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Devido a custos de

deslocação e à intensidade competitiva estes mercados são menos atrativos. Mantém-se,

no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos,

designadamente no Norte de África e nos PALOP.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor. Dado que as características dos

mercados por país deste setor são muito idênticas às dos mercados por país do setor

anterior, a análise vai-se focar sobretudo nas diferenças face ao setor anterior.

PORTUGAL

É o maior mercado do setor de alojamento algarvio, o que torna o mercado nacional muito

interessante.

Devida ao seu reduzido poder de compra, a maior parte do mercado está particularmente

interessado em alojamento de menor custo e com um reduzido componente de serviço.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Procura muito os apartamentos turísticos e os aldeamentos, arrendando muitas vezes os

alojamentos diretamente a particulares.

Devido ao seu conhecimento do mercado e a compras repetidas não enfrenta os problemas

de assimetria de informação que o arrendamento deste tipos de alojamento normalmente

cria.

Além dum grande segmento de famílias de classe média, o mercado tem diversos

segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios de segmentação

utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e rendimento da

família do consumidor final e o estilo de vida. O segmento simultaneamente mais

competitivo e com mais potencial é o já referido de famílias de classe média mas existem

novas estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o

estilo de vida que podem contribuir para resolver problemas de sazonalidade.

O mercado tem canais desenvolvidos. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se

atualmente no alojamento mas o peso relativo da distribuição pode crescer mais. Os custos

distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e

de suporte.

O mercado tem compradores intermédios e derivados mas estes segmentos são pouco

significativos. Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários

ou possibilidades de integração.

REINO UNIDO

É o maior mercado internacional do alojamento algarvio com uma procura sofisticada e

diversificada.

A procura é muito estratificada e os diferentes destinos são conotados social e

economicamente. No entanto, como é um mercado sofisticado e conhecedor do Algarve,

distingue entre diferentes zonas e épocas, tornando viável o posicionamento de novas

ofertas. Tal é reforçado pela grande dinâmica social e cultural do mercado, criando

constantemente novos segmentos da procura.

Em termos de alojamento é um mercado que se divide num grande segmento de consumo

de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes últimos segmentos têm

um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado por muitos destinos. A

diferenciação e complementaridade da oferta são importantes. É um mercado em que

existem oportunidades de mercado não satisfeitas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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O mercado do Reino Unido também é importante devido ao peso que os seus

intermediários e transportadores têm. O mercado tem canais bem desenvolvidos,

recorrendo no entanto mais ao arrendamento direto de apartamentos que outros mercados

internacionais (devido ao conhecimento do local).

Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se na produção e distribuição e o seu peso

relativo devem manter-se. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma

evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização. Os custos de transportes

internacionais não são significativos.

ESPANHA

O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, tendo um comportamento

intermédio entre o britânico e o português.

O desenvolvimento dos canais está mais avançado que no caso português mas menos que

no caso britânico, tendo tanto o arrendamento direto como os intermediários, sejam

operadores físicos ou digitais, importância.

E as estratégias de segmentação podem ser mais finas que no caso do mercado nacional,

devido à dimensão deste mercado e à importância da indústria próxima que o serve.

Os custos de transportes internacionais não são significativos.

IRLANDA

O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão e menos desenvolvido mas com

características parecidas com o britânico.

Os canais de distribuição estão menos desenvolvidos que no Reino Unido o que favorece o

Algarve e do Sul de Espanha, dada a sua proximidade e o seu peso nos transportes aéreos.

Os segmentos de procura diferenciada de alojamento têm uma importância relativamente

pequena, devido à dimensão do mercado global. Existem algumas, poucas, oportunidades

de mercado não satisfeitas.

OUTROS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL

Globalmente são um mercado grande e diversificado, o que o torna muito interessante.

Os mercados estão interessados em todo o tipo de alojamentos e são dos mais interessados

em turismo de habitação e rural porque valorizam o componente identitário e de

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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conhecimento do turismo. São mercados são muito contestados, havendo uma larga oferta

internacional a competir por eles.

O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O

segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe

média e dos jovens adultos.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de

segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida e interesses

que se podem aplicar ao alojamento.

O mercado recorre muito a canais de distribuição que estão bem desenvolvidos. Os

proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e na distribuição

mas o peso relativo da produção pode crescer mais. Os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na

comercialização.

Os custos de transportes europeus não são significativos mas as redes de transportes aéreos

e as relações comerciais dos operadores turísticos destes países estão menos ligadas ao

Algarve que as britânicas.

OUTROS MERCADOS EUROPEUS

Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou

são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes e

custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Mas podem sempre surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas.

OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS

A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto

destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,

devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Ao contrário do que se passa com as atrações, entretenimento e lazer em que os critérios

psicográficos e comportamentais são importantes, no alojamento os critérios económicos e

demográficos continuam a ser os mais importantes.

Mesmo assim, continua a ser possível utilizar um cruzamento de variáveis económicas,

demográficas e psicográficas para obter segmentos de mercado baseados na capacidade

financeira e física do consumidor, nos seus interesses, na importância que dá ao produto, na

facilidade de mudar de fornecedor e na sensibilidade ao preço e ao serviço associado.

A conjugação de critérios económicos, demográficos e psicográficos permite a definição de

segmentos finos de consumidores e uma análise mais adequada da procura bem como o

“fine tuning” da oferta.

Existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais segmentos de

consumidores, paralelas às que existiam no setor das atrações, entretenimento e lazer, de

que se destacam:

Oferta crescente e agressiva para os consumidores de relax de todos os níveis de

rendimento;

Oferta insuficiente para os consumidores de relax monoparentais de rendimento

médio ou baixo;

Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,

designadamente os de base étnica;

Procura decrescente dos consumidores de relax de rendimento médio e menor

idade;

Procura crescente dos consumidores de afinidade (pertença) de rendimento médio e

idade elevada;

Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de

rendimento médio e mesmo baixo.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também

podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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setor, podem agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A

segmentação é fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Agências de viagens – já foram o grande intermediário do setor, estão a perder peso

mas mantêm uma importância elevada nalguns tipos de alojamento e segmentos do

mercado devido à sua função informativa e capacidade financeira; estão

interessadas em margem, qualidade e produtos de elevada procura;

2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no setor, designadamente nos

alojamentos de consumo de massas e de particulares, podendo ser melhor

potenciadas devido à sua capacidade de micro segmentar alvos do marketing e

recolher e transmitir informação sobre a qualidade dos diversos alojamentos

disponíveis; recebem comissões pelo que estão disponíveis para qualquer oferta e

são cada vez mais eficientes a ultrapassar problemas de informação;

3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros

intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso

crescente no setor estão interessadas em qualidade e produtos de elevada procura.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos canais de compra por mercado

Direta Tradicionais Digitais

Portugal Muito importante Pouco importante Importante

Reino Unido Importante Muito importante Muito importante

Espanha Importante Pouco importante Importante

Irlanda Importante Muito importante Importante

Alemanha Pouco importante Muito importante Muito importante

França Pouco importante Muito importante Muito importante

Holanda Pouco importante Muito importante Muito importante

Escandinavos Pouco importante Muito importante Muito importante

Leste Pouco importante Muito importante Muito importante

Outros Pouco importante Importante Muito importante

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A indústria algarvia do alojamento enfrenta fundamentalmente os mesmos três tipos de

competidores que a indústria das atrações, entretenimento e lazer: grandes destinos

cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e mar e destinos emergentes, cidades e

regiões.

As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,

localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e

lazer. As diferenças em termos de alojamento não são substanciais.

Mas mantém-se para o alojamento a regra de que quanto menor for uma região mais

especializada é e tem de ser a sua oferta e mais dificuldades terá em atenuar a

sazonalidade.

Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do

mercado.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são igualmente todas as

regiões turísticas de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e

às costas atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a

Espanha, a França, a Grécia a Turquia e os países balcânicos.

A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de

cada um dos subsetores varia de região para região mas não significativamente. Os fatores

de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam bastante em sentidos

inversos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao

setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da

intensidade competitiva e de crescimento da oferta;

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2. Melhoria das condições de segurança na Bacia do Mediterrâneo;

3. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;

4. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Simplificação e aceleração de muitos processos administrativos e da sua aplicação;

2. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;

3. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;

4. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de

certificação e da criação ou colaboração com marcas reputadas;

5. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

6. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas;

7. Novas configurações e funcionalidades nos alojamentos;

8. Novos equipamentos, automatizados e robotizados;

9. Seguros customizados;

6. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços

para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários;

7. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais

dinâmicos e de maior valor acrescentado;

8. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:

capacidade de marketing, capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais

complexas e acesso a financiamento para investir em novos edifícios e equipamentos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS

ESTRUTURA

O setor da alimentação e bebidas inclui um conjunto de estabelecimentos que vão desde os

restaurantes a pubs e espaços de fast food e take away.

Dada a sua natureza o setor assume o caráter de suporte dos setores anteriores mas gera

quase tanto valor acrescentado como o do alojamento. Logo é igualmente um setor muito

importante do cluster.

O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem todos os tipos de estabelecimentos

relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de todos.

Os principais mercados do setor são os mesmos do setor anterior, com algumas alterações

da magnitude e mesmo ordem de importância. A dinâmica destes mercados depende muito

da dinâmica referida a propósito dos setores anteriores, com algumas características

próprias.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A determinação de

preços é endógena.

FATORES POLÍTICOS

O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alimentação e

bebidas. Quanto maior e melhor for esta oferta, maior é o potencial da região. Ora, esta

oferta depende criticamente do seu enquadramento legal.

Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar do licenciamento

dos estabelecimentos de restauração e bebidas.

Ao nível dos estabelecimentos de restauração não se distinguem diferenças nem se

perspetivam alterações significativas do enquadramento das diferentes regiões turísticas

europeias. Existem no entanto algumas regiões, e alguns municípios algarvios, onde o

licenciamento destes estabelecimentos é muito demorado, dificultando a necessária e

constante renovação do mercado.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

192

Ao nível das bebidas já existem diferenças significativas na facilidade de obter licença para a

abertura e nos horários de abertura dos estabelecimentos de bebidas, bem como nos

impostos que afetam o setor. Este facto sempre foi uma oportunidade para o Algarve.

Em resumo, a situação está estável e não se esperam grandes alterações no curto prazo

nem no médio prazo, existindo a possibilidade de ser resolvido o problema da morosidade

nos licenciamentos.

FATORES ECONÓMICOS

O setor da alimentação e bebidas é um setor de suporte pelo que a sua dinâmica depende

fundamentalmente da dinâmica do setor de atrações, entretenimento e lazer.

Existem no entanto fatores económicos, já referidos na análise dos setores anteriores, que

afetam especificamente a composição da procura de alimentação e bebidas. Estes fatores

são fundamentalmente o de que a procura de alojamento tem uma elasticidade rendimento

superior à unidade e os serviços de alojamento serem, em muitos casos, de utilização

pontual e sazonal.

O facto de a procura destes serviços ter, normalmente, uma elasticidade rendimento

superior à unidade não se refere, novamente, à quantidade utilizada por consumidor mas à

relação qualidade preço dos serviços utilizados. Os turistas querem tanto utilizar mais como

ter melhor serviço.

Os estabelecimentos de qualidade percebida mais baixa têm elasticidades rendimento mais

reduzidas, enquanto os de qualidade percebida mais alta têm elasticidades rendimento

acima da unidade. Assim a oferta de estabelecimentos tem de ser constantemente

atualizada e valorizada.

Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da

dinâmica competitiva. É o que acontece nalgumas zonas do Algarve em que existem

problemas administrativos que dificultam esta renovação. Estamos perante uma ameaça

para alguns destinos tradicionais incluindo o Algarve.

Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do

aumento da procura destes produtos e serviços. Como não se perspetiva, a curto prazo,

qualquer grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e

dos preços conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A alimentação e bebidas também enfrenta o problema de ser normalmente de utilização

pontual, o que limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua

qualidade e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal

de consumidores avessos ao risco, limita a procura.

Mas este problema é menor do que no caso das atrações, entretenimento e lazer e do

alojamento porque a decisão de compra é normalmente tomada no local, com mais

informação circunstancial disponível. Mas continua a existir valor na atividade de eliminação

desta assimetria de informação.

Existem alternativas para resolver este problema como sistemas de informação turística e

sistemas de mercado, como entidades credenciadoras e certificadoras, criando uma

oportunidade de mercado para estas entidades e os estabelecimentos e regiões que sirvam.

O segmento mais alto do setor da alimentação exige uma massa crítica de clientes de

grande capacidade aquisitiva. Esta massa é facilmente atingível em regiões turísticas onde a

zona de captação de clientes de um restaurante topo de gama é grande devido a facilidades

de transporte e acesso. Isto é atualmente um problema no Algarve que tem uma rede de

transportes com bastantes deficiências.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor do alojamento

também afetam procura total e a composição da procura de alojamento.

São cada vez mais procurados estabelecimentos diferenciados e com serviços

complementares, designadamente para crianças, que ofereçam garantias reais e percebidas

de segurança e de respeito ambiental e social.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos na oferta ao setor, nem mesmo na mão de obra. A este nível a

situação atual caracteriza-se por uma oferta crescente de mão de obra qualificada e com

experiência efetiva. Sem dúvida que grande parte desta mão de obra se desloca

sazonalmente para o Algarve mas tal não representa um problema. O mesmo acontece

noutras regiões.

FATORES TECNOLÓGICOS

Existem algumas alterações tecnológicas no setor da alimentação e bebidas em resultado de

inovações nas tecnologias de informação e da robotização. A cadeia de valor do setor que

utilizava tecnologias bastante intensivas em mão de obra, está a tornar-se cada vez mais

intensiva em capital.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

194

As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em

contrapartida, as tecnologias de produção estão a mudar lentamente, em resultado da

introdução de novas tecnologias neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar

relativamente atualizado a este nível.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e

outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de reservas e transportes.

O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação

científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.

Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound

e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção

do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da

capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a

uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da

importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade

capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas – instrumentos digitais

incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, reservas digitais

e virtuais, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade aumentada;

2. Estabelecimentos com novas configurações e funcionalidades – em resultado das

inovações digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das

tecnologias de espaços inteligentes, de drones e de sensores eletrónicos;

3. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a

automatização inteligente de tarefas repetidas;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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4. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante simples. Tanto as atividades de suporte como as

atividades primárias de inbbound, produção e outbound são controladas, dentro das

restrições regulamentares existentes, pelas empresas do setor. As empresas intermédias,

agências de viagens e outros operadores turísticos, têm um peso muito reduzido e restrito a

segmentos muito altos do mercado. As plataformas digitais têm uma importância crescente

na intermediação e divulgação de informação.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção e de marketing. E parece

existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nesta última atividade.

Dado o caráter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem

geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e

outras cadeias de valor.

Mas existe um incentivo para a concentração nalguns segmentos mais indiferenciados do

setor, como forma de ultrapassar os problemas de informação que os seus consumidores

enfrentam.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor da alimentação é assegurado, na generalidade dos países europeus, por pequenas,

médias e grandes empresas especializadas e por estabelecimentos hoteleiros. Cada tipo de

entidade tende a concentrar-se no segmento que potencia os seus recursos e as suas

vantagens comparadas. Assim:

As pequenas empresas dedicam-se a todos os segmentos do mercado, podendo seguir

qualquer tipo de estratégia, de liderança de custos ou de diferenciação;

As médias empresas a ofertas padronizadas de qualidade média, seguindo normalmente

estratégias de diferenciação;

As grandes empresas, normalmente grandes cadeias, dedicam-se a ofertas padronizadas

geralmente dedicadas aos segmentos médios baixos e baixos do mercado.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Apesar dos diferentes recursos, objetivos, estratégias e práticas e processos organizativos

dos diferentes tipos de entidades fazerem com que a sua dinâmica competitiva seja

completamente diferente, com consequências a nível da qualidade do serviços e perspetivas

de desenvolvimento futuro, não existe evidência de diferenças estruturais na sua

rentabilidade.

Todavia, muitas pequenas empresas, quando não têm qualquer vantagem de dotação de

recursos ou competitivas, tendem a adotar estratégias de seguidores, a tomar preços e a ter

menores lucros extraordinários e maiores riscos de negócio. A opção por estratégias mais

claras de diferenciação poderá contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.

As médias empresas dispõe de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes

permitem ter tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores

e diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada.

As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,

humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e

resolver problemas de informação. Podem seguir as estratégias de negócio e de

investimento adequadas a cada atividade. Em consequência têm, estruturalmente, uma

lucratividade elevada.

Uma eventual modernização da gestão de algumas pequenas empresas contribuiria para

resolver algumas deficiências destas entidades e melhorar a lucratividade do setor.

Não existem indícios que esta estrutura de se possa alterar nem via crescimento orgânico

nem via F&A. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo.

A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de alimentação e bebidas podem dividir-se de acordo com o tipo

de estabelecimentos. Sendo um mercado de proximidade, a origem geográfica dos

consumidores só é relevante na medida em que se materializa em diferentes preferências.

Em quase todas as regiões turísticas o mercado nacional de alimentação e bebidas é

mercado aberto e concorrencial. Como é um mercado aberto, onde podem constantemente

entrar novos competidores e produtos substitutos, as pressões do mercado comprador

sobre o preço e a margem dos produtos do setor são significativas. A concorrência é

elevada, o poder dos clientes é significativo e a lucratividade do mercado é média.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A análise dos diferentes tipos de estabelecimento não mostra evidência de diferenças

significativas entre a lucratividade dos diferentes tipos de estabelecimentos ou segmentos

de clientes. Talvez se possa defender que o segmento mais elevado do mercado é mais

lucrativo e o mais baixo é menos, mas questões de enviesamento de dados por razões

fiscais e de tipo de gestão tornam esta diferença discutível.

Em termos de zonas de origem dos consumidores o mercado nacional é o que tem mais

peso mas com uma despesa média mais reduzida. Os mercados do Reino Unido e da Europa

Ocidental têm uma dimensão, diversidade e poder de compra relativo que os tornam

prioritários para quase todos os estabelecimentos do setor e com uma lucratividade

elevada. Estão, todavia a ser prejudicados pelos pacotes turísticos com tudo incluído que

diminuem a dinâmica da procura e prejudicam a emergência de ofertas mais especializadas

e de maior qualidade.

Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes

secundários bastante atrativos.

Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Mantém-se, no entanto, a

possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos, designadamente no

Norte de África e nos PALOP.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor. Dado que as características dos

mercados por país deste setor são muito idênticas às dos mercados por país do setor das

atrações, entretenimento e lazer, a análise vai-se focar sobretudo nas diferenças face a esse

setor.

PORTUGAL

É o maior mercado do setor algarvio de restauração e bebidas, o que o torna muito

interessante.

Devida ao seu reduzido poder de compra, a maior parte do mercado está particularmente

interessado em menor custo e com um reduzido componente de serviço. Procura muito os

take aways e restaurantes de menor custo.

Além dum grande segmento de famílias de classe média, o mercado tem diversos

segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios de segmentação

utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e rendimento da

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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família do consumidor final e o estilo de vida. O segmento simultaneamente mais

competitivo e com mais potencial é o já referido de famílias de classe média mas existem

novas estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o

estilo de vida e idade que podem contribuir para resolver problemas de sazonalidade.

O mercado tem canais desenvolvidos. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se

atualmente na produção mas o peso relativo da distribuição pode crescer mais. Os custos

distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e

de suporte.

O mercado não tem compradores intermédios e derivados significativos. Não se encontra

em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários ou possibilidades de

integração.

REINO UNIDO

É o maior mercado internacional dos estabelecimentos algarvios de alimentação e bebidas,

com uma procura grande e diversificada.

A procura é muito estratificada e os diferentes destinos e estabelecimentos são conotados

social e economicamente. No entanto, como é um mercado sofisticado e conhecedor do

Algarve, distingue entre diferentes zonas, estabelecimentos e épocas, tornando viável o

posicionamento de novas ofertas. Tal é reforçado pela grande dinâmica social e cultural do

mercado, criando constantemente novos segmentos da procura.

Em termos de alimentação e bebidas é um mercado que se divide num grande segmento de

consumo de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes últimos

segmentos têm um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado por

muitos destinos. A diferenciação e complementaridade da oferta são importantes. É um

mercado em que existem oportunidades de mercado não satisfeitas.

Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se na produção e o seu peso relativo devem

manter-se. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as

atividades primárias e de suporte.

ESPANHA

O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, tendo um comportamento

intermédio entre o britânico e o português.

A criação de ofertas dirigidas a este mercado e a utilização de estratégias de segmentação

mais finas podem melhorar os resultados deste mercado.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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IRLANDA

O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão mas com características parecidas

com o britânico.

Os segmentos de procura diferenciada de estabelecimentos de bebidas têm uma

importância significativa, devido às especificidades da procura deste mercado. Existem

algumas, poucas, oportunidades de mercado não satisfeitas.

OUTROS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL

Globalmente são um mercado grande e diversificado, o que o torna muito interessante.

Os mercados estão interessados em todo o tipo de estabelecimentos e são dos mais

interessados em estabelecimentos de qualidade e que reflitam a entidade regional porque

têm poder de compra e valorizam o componente identitário e de conhecimento do turismo.

Estes mercados são muito contestados, havendo uma larga oferta internacional a competir

por eles. No Algarve a oferta está menos dirigida a estes mercados que ao britânico,

havendo margem para melhorias.

O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O

segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe

média, dos jovens adultos e de idosos.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de

segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.

Os proveitos da cadeia de valor do mercado concentram-se atualmente na produção mas o

peso pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver alguma evidência de

lucros extraordinários ou rendas na comercialização.

OUTROS MERCADOS EUROPEUS

Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou

são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes e

custos de transação (Ucrânia e Rússia).

Tal como nos outros mercados podem surgir oportunidades para ofertas diferenciadas.

OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

200

A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto

destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,

devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Tal como nas atrações, entretenimento e lazer e ao contrário do que se passa com o

alojamento, os critérios psicográficos e comportamentais são muito importantes.

Assim, continua a ser possível utilizar um cruzamento de variáveis económicas,

demográficas e psicográficas para obter segmentos relevantes de mercado de acordo com a

capacidade financeira do consumidor, os seus interesses e preferências, a importância que

dá ao produto e ao serviço e a sensibilidade que têm ao preço.

A conjugação de critérios económicos, demográficos e psicográficos permite a definição de

segmentos mais finos, uma análise mais adequada da procura e o “fine tuning” da oferta.

Existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais segmentos de

consumidores, de que se destacam:

Oferta crescente e agressiva para os consumidores indiferenciados de todos os níveis

de rendimento mas particularmente para famílias de classe média;

Oferta insuficiente para os consumidores indiferenciados monoparentais de todos os

níveis de rendimento;

Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,

designadamente os de base étnica;

Oferta crescente e agressiva para consumidores de afinidade de rendimento médio e

alto;

Procura crescente dos consumidores de afinidade de rendimento médio e alto;

Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de

rendimento alto, médio e mesmo baixo.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também

podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do

setor, têm pouco peso no setor. No entanto convém referi-los porque geram oportunidades

de negócio:

Os segmentos mais importantes são:

1. Agências de viagens – nunca tiveram um grande papel no setor, mas estão a

defender a sua posição com estratégias mais agressivas e diversificadas de que

alguns tipos de estabelecimento topo de gama e diferenciados podem beneficiar;

têm um potencial elevado devido ao seu peso no cluster, à sua função informativa e

à sua capacidade financeira; estão interessadas em margem, qualidade e produtos

diferenciados;

2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no setor, designadamente nos

estabelecimentos mais diferenciados, podendo ser melhor potenciadas devido à sua

capacidade de micro segmentar alvos do marketing e recolher e transmitir

informação sobre a qualidade dos diversos estabelecimentos; recebem comissões

pelo que estão disponíveis para qualquer oferta e são cada vez mais eficientes a

ultrapassar problemas de informação;

3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros

intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso

crescente no setor, estando interessados em qualidade e produtos de elevada

procura.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos canais de compra por mercado

Direta Tradicionais Digitais

Portugal Muito importante Pouco importante Importante

Reino Unido Importante Muito importante Muito importante

Espanha Muito importante Pouco importante Importante

Irlanda Importante Muito importante Importante

Alemanha Importante Muito importante Muito importante

França Importante Muito importante Muito importante

Holanda Importante Muito importante Muito importante

Escandinavos Importante Muito importante Muito importante

Leste Importante Muito importante Muito importante

Outros Importante Importante Muito importante

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia da alimentação e bebidas enfrenta os mesmos três tipos de

competidores que a indústria das atrações, entretenimento e lazer: grandes destinos

cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e mar e destinos emergentes, cidades e

regiões.

As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,

localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e

lazer e de alimentação e bebidas.

As diferenças em termos de alimentação e bebidas podem ser substanciais sendo que

quanto menor for uma região mais especializada é e tem de ser a sua oferta e mais

dificuldades terá em atenuar a sazonalidade.

Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do

mercado.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são igualmente todas as

regiões turísticas de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e

às costas atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a

Espanha, a França, a Grécia, a Turquia e os países balcânicos.

A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de

cada um dos subsetores varia de região para região mas não significativamente. Os fatores

de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam bastante em sentidos

inversos.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao

setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da

intensidade competitiva e de crescimento da oferta;

2. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;

3. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Simplificação de muitos processos administrativos e da sua aplicação;

2. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;

3. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;

4. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de

informação turística ou da credenciação e certificação;

5. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão de obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

5. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas;

6. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços

para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários e do reforço da

utilização de plataformas digitais;

7. Novas configurações e funcionalidades nos estabelecimentos;

8. Novos equipamentos, automatizados e robotizados;

6. Redirecionamento da oferta e dos esforços de marketing para mercados e

segmentos mais dinâmicos e de maior valor acrescentado, incluindo os da Europa

Ocidental fora das Ilhas Britânicas;

7. Melhoria da estrutura produtiva e de gestão das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:

capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a

financiamento para investir em novas ofertas e esforços de marketing.

A dimensão média das empresas não é particularmente importante mas a sua capacidade

de gestão e marketing é fundamental. O recurso à subcontratação de serviços de qualidade

é essencial. Tal permitiria às empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as

ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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VALORIZAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO DE PROXIMIDADE

ESTRUTURA

O setor da valorização do mercado turístico de proximidade inclui as atividades de produção

e venda local a turistas de bens e serviços relacionados com as atividades económicas locais

não turísticas, principalmente atividades tradicionais e específicas das diversas regiões

turísticas.

No Algarve este mercado está muito relacionado com os clusters do mar e da agricultura,

cujas atividade são as que se podem valorizar para turistas.

Existe a ideia que o segmento mais importante deste mercado é o da venda de bens,

designadamente de produtos tradicionais, mas o segmento de serviços, que se aproxima do

das atrações, tem um potencial tão grande ou maior.

Assim os principais produtos deste setor podem dividir-se em bens e serviços.

Os principais mercados do setor são os mercados de Portugal, da Europa Ocidental, da

América do Norte e do Brasil. Os condicionantes últimos do comportamento dos dois

primeiros mercados não são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere sempre ao ambiente algarvio, tanto no que diz respeito à oferta como no que diz

respeito à procura e à determinação de preços. Tal resulta de o alcance deste mercado, por

definição, ser local.

FATORES POLÍTICOS

As atividades de valorização do mercado turístico de proximidade são atividades industriais,

muitas vezes artesanais, de prestação de serviços e comerciais que estão sujeitas a um

enquadramento regulamentar padrão e a incentivos específicos.

Na Europa a regulamentação é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível

dos processos utilizados e da composição e rotulagem dos produtos. Uma análise detalhada

da situação a nível nacional e europeu não indicia qualquer perspetiva de curto ou longo

prazo de alteração do enquadramento regulamentar vigente, nem em termos institucionais

nem em termos formais.

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Sendo estas atividades importantes para proteger e manter atividades tradicionais, o

equilíbrio social e o património intangível de uma região, são incentivadas e subsidiadas a

nível europeu e nacional. Os incentivos são sobretudo para produtores mais pequenos que

utilizam processos mais tradicionais e artesanais.

Estes incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam financeiros ou de acesso,

assumem muitas vezes um caráter muito limitativo, impondo critérios de acesso ligados a

processos artesanais para os quais não existe uma racionalidade relacionada com fatores de

qualidade do produto ou económicos. Incentiva-se a atividade arcaica, não a redução de

custos ou produção.

Além disso estão bastante direcionados para a criação de serviços alternativos e

complementares que os pequenos produtores não têm capacidade de gerir.

Assim a situação é ineficiente. O setor está pouco orientado para o mercado e as estruturas

e estratégias das suas empresas não ineficazes. É pouco provável, mas é possível, que este

sistema seja alterado, racionalizando os incentivos e favorecendo a orientação do setor para

o mercado e a produção.

FATORES ECONÓMICOS

Os diferentes tipos de bens e serviços do setor têm procura crescente mas com evoluções

diferenciadas. A procura de serviços, designadamente dos relacionados com atrações e

entretenimento, é menor mas está a crescer mais que a de bens.

Sendo as elasticidades rendimento dos produtos do setor superiores à unidade e

perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos

consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo pelo que estas tendências

devam continuar.

No entanto, o efeito destas tendências tem sido mais de aumento dos preços do setor do

que de crescimento da quantidade transacionada. Isto porque a quantidade transacionada a

só crescerá substancialmente se a oferta for feita em condições de qualidade, quantidade e

marketing ajustada aos modernos canais de distribuição. A oferta de pequenos eventos e de

bens com pouca produção terá sempre problemas em ser respondida.

No que respeita aos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma diminuição da mão de

obra disponível devido ao envelhecimento e uma subida lenta mas sustentada dos custos do

trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a existência de alterações tecnológicas

(analisadas à frente) e organizativas, os custos de produção poderão aumentar lentamente.

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A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão de obra como do custo de

capital (aumento das taxas de juro).

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura dos produtos do setor que

exige uma reformulação da oferta. Nas atuais circunstâncias os custos dos fatores

produtivos devem aumentar. Só a alteração da dimensão e intensidade capitalística da

produção pode reduzir os custos de produção e os de comercialização, os mais importantes.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor

reforçam os fatores económicos acima referidos. A procura de diversidade, de identidades

desconhecidas, do autêntico, a vontade de participar e as novas estruturas familiares, levam

a um aumento da preferência e da procura destes produtos. Tal manifesta-se mais nos

segmentos de consumidores mais sensíveis a questões de afinidade, conhecimento e

sensoriais, com mais rendimento, seja qual for a idade.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

sector. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração

da estrutura familiar, favorece a procura de bens e serviços mais sofisticados.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares

baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas

e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não

qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio

entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente

composição.

Espera-se uma redução da mão de obra produtiva utilizável e eventualmente maior

disponibilidade de mão de obra mais qualificada mas não identificada com o setor.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias tradicionais. As tecnologias inbound e

outbound são as de canais tradicionais, incluindo o retalho e a venda direta. As tecnologias

de produção são muito diversificadas mas tradicionais e pouco sofisticadas. No Algarve as

tecnologias estão muito desatualizadas, em resultado de regulamentações restritivas da

mecanização e de reduzidos níveis de investimento neste segmento da cadeia.

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A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia possibilidades de

desenvolvimento em todos. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e

outbound deverá concentrar-se na atualização de canais e o da produção na adoção de

tecnologias mais recentes.

O potencial de desenvolvimento do segmento produtivo é muito mais significativo e

abrange todo o conjunto de atividades desde a mecanização da produção e a diversificação

dos serviços até à inovação em todos os aspetos do marketing.

Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente do financiamento do investimento

no setor e da dinâmica competitiva das empresas.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos e

a um aumento do valor acrescentado das empresas padrão. Poderá haver um aumento da

importância da incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade

capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativas inovações tecnológicas com influência particular na

estrutura produtiva e de distribuição das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica.

Esta cruza-se muito com a oferta tecnológica disponível nos setores de produção e

comercialização dos clusters do mar e do agroalimentar e com a oferta tecnológica

disponível no setor das atrações e entretenimento do cluster do turismo. Destacam-se:

1. Novas dinâmicas organizativas – densificação do mercado e o uso crescente da

subcontratação de serviços profissionais especializados em plataformas digitais;

2. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação – instrumentos

digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, bilhética

digital e virtual, comércio online, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e

realidade aumentada;

3. Sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e

equipamentos associados;

4. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns

automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística e de entregas;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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5. Conceção de produtos – novos produtos transformados e novas tecnologias de

conservação de alimentos;

6. Conceção de atrações e atividades novas e diferentes – em resultado das inovações

digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das tecnologias

de espaços inteligentes, de drones e de sensores eletrónicos;,

7. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e

equipamentos de processamento e conservação de alimentos;

8. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de

gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;

9. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens

para o sector comercial, designadamente no segmento do retalho.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Concluída esta macro análise vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante simples. Todas as atividades primárias e de suporte

são controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, por empresas produtoras.

A atividade de marketing e vendas é geralmente autónoma. O grosso do valor setorial é

gerado pelas atividades de produção e de marketing e vendas.

Existem algumas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante, designadamente com as de outros setores turísticos e

comerciais, e ainda existem maiores possibilidades de integração a montante, com

produtores de conteúdos e gestores de atrações e entretenimento.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da valorização do mercado turístico de proximidade é composto por micro

empresas com estruturas de gestão muito básicas; com poucos recursos humanos,

tecnológicos e de capital; com a produção determinada pelas instalações; e com um

marketing geralmente pouco inovador.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e

depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das

empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

210

dimensão e estrutura produtiva e de gestão podem ser significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto, nada indicia que as empresas vão tomar decisões suscetíveis de alterar a sua

dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de

capital) e envelhecimento dos recursos humanos tornam improvável qualquer movimento

de crescimento da dimensão média das empresas ou de consolidação do setor.

Em contrapartida é de esperar que as empresas mais agressivas façam um investimento

continuado em novos equipamentos, produtos, marketing, e melhorem a sua estrutura

produtiva e de gestão. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual

aumento dos preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um

aumento sustentado da lucratividade destas empresas. É de esperar que as empresas que

não acompanhem esta tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de

menor valor acrescentado acabem por encerrar. Até porque podem entrar novas empresas,

de maior dimensão, no setor, aumentando a pressão competitiva.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem

maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os

recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de

melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das

empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor. E espera-se que o

setor se oriente mais para o mercado e os clientes e menos para as estruturas tradicionais e

o produto.

Espera-se um maior crescimento do setor dos serviços que dos bens.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a localização

geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Portugal Europa América do Norte

Brasil

Pescas Mercado primário

Mercado primário

Mercado secundário

Mercado secundário

Agricultura Mercado primário

Mercado primário

Mercado secundário

Mercado secundário

Extração de sal Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Indústria alimentar Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado secundário

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

211

Indústria naval Mercado secundário

Mercado primário

Mercado marginal

Mercado marginal

Outros Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado marginal

O mercado nacional é um mercado concorrencial onde existem muita oferta. O interesse

pelo Algarve tem de passar pela diferenciação. Existem alguns mercados secundários mas o

poder dos clientes é significativo.

O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial mas, dada a

dimensão deste mercado, existem alguns clientes bastante atrativos. Este é globalmente um

mercado primário.

Os mercados da América do Norte e do Brasil têm características semelhantes mas menor

importância, devido a um menor conhecimento do Algarve e a problemas de deslocações.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o mercado mais próximo e tem custos de transporte e logísticos reduzidos. Embora devido

a um rendimento per capita e a uma população reduzidas não seja um mercado grande, tem

um grande peso no turismo algarvio e logo no setor. Devido a fatores culturais e à existência

de ofertas concorrentes, não é ainda um mercado onde a procura dirigida ao Algarve seja

muito significativa. Tem no entanto um grande potencial de crescimento e de realização de

compras repetidas.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na produção e os custos distribuem-se

uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.

Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na

comercialização.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

212

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são

fundamentalmente os psicográficos, existindo muitas estratégias viáveis de segmentação de

mercados, particularmente nos serviços.

Os mercados intermédios, formados pelas empresas que compram localmente estes

produtos qualquer que seja o seu destino, são muito competitivos, podendo considerar-se

quase de concorrência perfeita. No entanto a produção não tem estrutura nem dimensão

para responder a esta procura.

Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação e de inovação

de produto.

MERCADOS EUROPEUS

Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes para o setor.

Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por

produtos distintos e de qualidade. Note-se que devido a problemas de transporte a procura

ou aquisição presencial de bens é limitada, podendo no entanto ser suportada por

instrumentos de venda e distribuição online.

AMÉRICA DO NORTE E BRASIL

A situação na América do Norte é equivalente à europeia mas com menor dimensão.

Existem mercados de afinidade que podem ser muito significativos.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado

acordo com a importância que cada segmento dá ao produto e a sensibilidade que têm ao

preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos

tipo.

Os segmentos mais importantes são:

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

213

1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito

importante, são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;

2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito

importante, são sensíveis ao preço e à qualidade;

3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento importante,

são muito sensíveis ao preço e menos sensíveis à qualidade;

4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento

pouco importante para os produtos nacionais mas que podem originar compras de

moda, são muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;

5. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento médio e baixo – segmento

pouco importante, são sensíveis ao preço mas não à qualidade.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo

com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e em produtos de elevada

procura;

2. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão

estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento e produtos

diversificados e inovadores;

3. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em

preço, qualidade, regularidade do abastecimento de produtos de elevada;

4. Comércio alimentar a retalho especializado – de pequena dimensão estão

interessados em diversidade e novidades;

5. Pequeno comércio e estabelecimentos turísticos – procuram complementar a sua

oferta, podendo distribuir quase todo o tipo de bens e serviços.

CONSUMIDORES POR MERCADO

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

214

A importância relativa dos segmentos varia de nacionalidade para nacionalidade mas a

importância do pequeno comércio e dos estabelecimentos turísticos é fundamental pata os

mercados internacionais enquanto a importância do comércio especializado é fundamental

para os consumidores nacionais.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia de valorização do turismo de proximidade enfrenta fundamentalmente

competidores algarvios sob a forma de empresas industriais exteriores ao Algarve e

empresas de prestação de serviços de atrações e entretenimento, que se dedicam a

produtos sem relações identitárias com o Algarve.

As vantagens destas empresas têm mais a ver com os seus recursos, estruturas e marketing

que com os produtos. Normalmente especializam-se em produtos e consumo de massas

adaptados aos diferentes locais mas sem autenticidade intrínseca ou de produção. A

rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu mercado é muito

concorrencial.

Dado que o mercado destas empresas é extremamente concorrencial e aberto, elas estão

sempre a procurar estratégias de diferenciação e recursos em que possam basear estas

estratégias. Podem por isso ser consideradas potenciais parceiros dos sectores tradicionais

algarvios.

COMPETIDORES POR MERCADO

Em termos de mercados, os principais mercados produtores mundiais são a China e diversos

países do Extremo Oriente no caso dos bens e empresas europeias no caso dos serviços. São

mercados concorrenciais em que a indústria devera continuar a crescer.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

215

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor é o envelhecimento dos seus recursos humanos, a escassez de

mão de obra e conhecimento e o aumento do preço destes recursos, levando a um aumento

dos custos de produção. A concorrência também é um problema.

OPORTUNIDADES

As oportunidades são mais variadas:

1. Alteração do sistema de incentivos – favorecendo a orientação para o mercado, a

produção e o crescimento da dimensão dos produtores;

2. Crescimento endógeno da dimensão dos produtores;

3. Novas dinâmicas organizativas – densificação do mercado com o uso crescente da

subcontratação de serviços profissionais especializados até através de plataformas

digitais; com a integração da cadeia de valor do sector com outras cadeias de valor a

montante; e com o reforço das parcerias comerciais e de marketing;

4. Crescimento da procura – designadamente de serviços relacionados com atrações e

entretenimento e de maior qualidade;

5. Subida ou manutenção a um nível elevado dos preços;

6. Atualização de tecnologias e metodologias - sistemas e metodologias de marketing,

divulgação e apresentação; sistemas, processos e equipamentos logísticos; processos

e tecnologias de processamento industrial; sistemas de gestão de produção; e

sistemas de gestão comercial;

7. Conceção de produtos e atrações e atividades novas e diferentes;

8. Reorientação da oferta – para mercados de maior valor como os da Europa

Ocidental.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento de

produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e gerir eficientemente

estas oportunidades.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

216

Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em equipamento e em marketing.

Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

217

AGÊNCIAS DE VIAGENS, OPERADORES TURÍSTICOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS

ESTRUTURA

O setor das agências de viagem, operadores turísticos e serviços turísticos inclui todas as

empresas e outras entidades que se dedicam à intermediação turística, seja realizando

atividades comerciais ou informativas. Inclui os serviços de informação turística.

No Algarve utilizam-se todos os tipos de serviços destas entidades. Mas a maior parte dos

intervenientes do mercado são exteriores, sejam nacionais ou internacionais.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta se refere,

exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e

ao ambiente internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

A atividade de intermediação turística é uma atividade regulada que se manifesta no

estabelecimento de requisitos para aceder a diversas atividades e na definição de requisitos

processuais.

Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia

qualquer vantagem ou desvantagem da indústria algarvia, nem qualquer perspetiva de

curto ou longo prazo de alterações do enquadramento regulamentar vigente, nem em

termos institucionais nem em termos formais.

FATORES ECONÓMICOS

Os serviços de intermediação turística têm um crescimento paralelo ao do próprio turismo,

por isso a dinâmica económica deste setor é paralela ao dos sectores anteriores.

O que tem mudado substancialmente é a forma como estes serviços são prestados, com a

diminuição da importância dos serviços pessoais e presenciais e o aumento da importância

dos serviços digitais. Tal gera economias de escala e favorece a diferenciação, criando uma

nova estrutura industrial e dinâmica concorrencial que será abordada na análise do micro

ambiente.

FATORES SOCIAIS

O que foi referido a propósito dos fatores económicos aplica-se aos fatores sociais de

natureza cultural e demográfica.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Saliente-se, todavia, o crescimento da relevância e peso dos grupos sociais que procuram a

diferença, a customização e mesmo a exclusividade; e dos que preferem procurar a sua

própria informação turística e construir as suas próprias férias recorrendo a instrumentos

online.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da

estrutura familiar, favorece a procura de produtos mais diferenciados e sofisticados, sejam

disponibilizadas online ou por operadores tradicionais.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

nem potenciais significativos na mão-de-obra. A tendência parece ser de redução da oferta

de mão de obra não qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada o que favorece o

setor.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza intensivamente tecnologias de informação e

comunicação. Todas as tecnologias estão em constante atualização. As tecnologias de

inbound são normalmente mais tradicionais, continuando a usar os contactos pessoais, mas

as tecnologias de outbound são cada vez mais digitalizadas.

A análise detalhada das dinâmicas do setor indicia que o futuro desenvolvimento

tecnológico do setor deverá passar por um reforço da capacidade e qualidade destas

tecnologias, mormente em resultado investigação científica pura e aplicada ao setor e aos

seus processos de inbound e outbound, aquisições e prestações ou vendas. Poderá haver

um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da

intensidade capitalística do setor.

Existe um grande potencial de desenvolvimento do segmento outbound que abrange todo o

conjunto de atividades desde a individualização e automatização da oferta até à inovação

em todos os aspetos do marketing. Estes desenvolvimentos dependerão da dinâmica

competitiva das empresas e do financiamento do investimento no setor.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos e

a uma diversificação do setor. Deverá haver uma crescente pressão para o aumento do

valor acrescentado pelas entidades do setor a que só as mais desenvolvidas conseguirão

responder.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em

todos os aspetos da sua cadeia de valor mas particularmente sobre o seu outbound.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação de ofertas –

novos instrumentos digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS,

microtargeting, reservas digitais e virtuais, sistemas de pagamento FinTech,

realidade virtual e realidade aumentada;

2. Estratégias de marketing e comerciais – inovação generalizada de exploração de

nichos dos mercados comprador e vendedor e de customização intensiva.

3. Crescimento extensivo - expansão dos destinos, atrações, atividades e alojamentos

menos procurados e exploração de novos;

4. Desintermediação, automatização e robotização – tecnologias de automatização

inteligente de tarefas de prestação de informação e comerciais;

5. Seguros customizados – InsurTech.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

O setor das agências de viagem, operadores turísticos e serviços turísticos era até há pouco

tempo um setor diversificado com três subsetores distintos: um subsetor é um

intermediário puro, comprando e vendendo posteriormente serviços turísticos; outro

assume funções de organização e agenciamento, comprando ou vendendo por conta do

consumidor ou produtos; e um terceiro assume meramente funções de disseminação de

informação.

Mas, mais recentemente sugiram e afirmaram-se como players fundamentais os

intermediários digitais, que cobram valores fixos ou comissões. Todas as empresas

tradicionais destes subsetores foram afetadas pela revolução das tecnologias e informação

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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e comunicação e por estes challengers, perdendo quota de mercado para as novas

empresas de base online e tendo de mudar substancialmente de estratégias.

O subsetor intermediário perdeu peso porque deixou de ter a mesma relevância para os

estabelecimentos de alojamento, que agora dispõe de intermediários e instrumentos

digitais para alcançar os clientes. Continua, no entanto, a ser um subsetor relevante para

consumidores mais idosos e com mais aversão às tecnologias de informação e comunicação

e ao risco. E está a investir crescentemente nos canais digitais.

O subsetor de agentes perdeu peso devido à possibilidade de escolha e compra direta. Teve

consequentemente de especializar e diversificar cada vez mais a sua oferta, especializando-

se em destinos e tipos de turismo e oferecendo serviços customizados. Continua a ser um

subsetor com um peso significativo em segmentos de menor dimensão da oferta e da

procura.

O setor de informações migrou quase completamente para a internet, oferecendo cada vez

mais informação gratuita e financiando-se com publicidade, mas perdendo o peso

reputacional que tinha.

Assim o sector está fracionado, com múltiplos subsetores e cadeias de valor. Existem

imensas hipóteses de integração vertical, de novos modelos de negócios e de novas

estratégias.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

Presentemente a lucratividade do setor está concentrada em dois tipos de empresas: as

grandes plataformas digitais que beneficiam de um grande mercado e de economias de

escala e as pequenas empresas muito especializadas e diferenciadas que beneficiam de

oferecerem serviços com maior valor acrescentado e preço. As empresas médias, sem

estratégias claras, têm ma lucratividade muito baixa.

A capacidade de aproveitar vantagens competitivas, definir e seguir modelos de negócio e

estratégias de diferenciação e as vendas são fundamentais para a lucratividade. No longo

prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua estratégia e estrutura podem

ser mais significativas e aumentar a sua lucratividade. E é de esperar que as empresas que

não acompanhem esta tendência e mantenham modelos ultrapassados e a atividade

concentrada em produtos de menor valor acrescentado fechem.

No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem

maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de

melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das

empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a

localização geográfica de origem dos consumidores. O quadro seguinte analisa a relevância dos

principais mercados.

Portugal Reino Unido Europa Ocidental

Outros

Intermediação Mercado secundário

Mercado primário

Mercado primário

Mercado secundário

Agenciamento Mercado marginal

Mercado secundário

Mercado primário

Mercado secundário

Informação Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado secundário

Mercado secundário

O mercado nacional é um mercado concorrencial, composto por um pequeno número de

operadores, grandes agências de viagens e pequenas empresas de agenciamento. Dada a

proximidade do Algarve o poder dos clientes é significativo. As pressões deste mercado

comprador sobre o preço e a margem dos produtos do setor são significativas.

Os mercados do Reino Unido e da Europa Ocidental são igualmente mercados

concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado

relativamente ao setor do turismo algarvio, poderão existir alguns clientes secundários

bastante atrativos. Além disso existem muitas estratégias de especialização e diferenciação

disponíveis. O mercado pode ser interessante para pequenas empresas.

Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade

competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de

existirem segmentos de mercado mais atrativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor, dividindo estes .

PORTUGAL

É o mercado mais próximo e consequentemente o que conhece melhor o Algarve e menos

necessidade tem de intermediação, agenciamento ou informação. Além disso devido a um

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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rendimento per capita não é um mercado com um grande poder de compra e capacidade de

adquirir produto de maior valor acrescentado.

O mercado é muito competitivo e cresce muito lentamente. Os proveitos da cadeia de valor

concentram-se na produção. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver alguma evidência de

lucros extraordinários no segmento da hotelaria.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são

fundamentalmente psicográficos e não parece que existam novas estratégias viáveis de

segmentação de mercados.

REINO UNIDO

É o maior mercado do turismo algarvio e consequentemente um que conhece bem o

Algarve. Devida a alguma distância geográfica e cultural tem, ainda, alguma necessidade de

intermediação, potenciada pela grande capacidade financeira e comercial dos

intermediários britânicos. É um mercado que consome muitos serviços de agenciamento

mas fundamentalmente para destinos mais desconhecidos.

O mercado é muito competitivo e cresce lentamente. Os proveitos da cadeia de valor

concentram-se na distribuição. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver evidência de lucros

extraordinários no segmento da hotelaria.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são

fundamentalmente psicográficos e não parece que existam novas estratégias viáveis de

segmentação de mercados.

EUROPA OCIDENTAL

Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes.

Devida a alguma distância geográfica e cultural têm, ainda, necessidade de intermediação,

potenciada pela grande capacidade financeira e comercial dos intermediários, e de serviços

de agenciamento e informação.

Os mercados são muito competitivos e crescem lentamente. Os proveitos da cadeia de valor

concentram-se na distribuição. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver evidência de lucros

extraordinários no segmento da hotelaria.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são

fundamentalmente psicográficos e parece que existem estratégias viáveis de segmentação

de mercados que não estão a ser seguidas.

OUTROS

Os outros mercados Europeus e internacionais são mercados menos interessantes que os

mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a

custos de transportes e custos de transação.

Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para

ofertas diferenciadas.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em

consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas e demográficas

mas as psicográficas e comportamentais são neste momento mais importantes. O que está

em causa fundamentalmente é a utilização das plataformas online e da internet, por um

lado, e a preferência pela flexibilidade em contrapartida de maior risco, por outros.

A criação de vários segmentos de mercado acordo com todos estes os critérios permite a

criação de diversos comportamentos tipo, de que os mais importantes são:

1. Consumidores tradicionais – segmento que consume produtos padronizados e tem

uma certa aversão ao risco, preferindo recorrer a intermediários tradicionais;

2. Consumidores seletivos – segmento que consome produtos diferenciados e

customizados, preferindo recorrer a agentes;

3. Consumidores padrão – segmento que consome produtos padronizados e tem uma

certa aversão ao risco mas domina e confia nos canais online, preferindo recorrer à

aquisição online, seja direta ou a intermediários;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

224

4. Consumidores aventureiros – segmento que quer customização e individualização e

está à vontade com as compras online, preferindo recorrer à aquisição online, seja

direta ou junto de agentes.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A importância relativa destes segmentos varia de país para país mas a sua ordem de

importância é geralmente proporcional á dimensão do mercado do país.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

A análise e caracterização dos competidores já foi feita. Assim aqui só vão ser sintetizados

os aspetos fundamentais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia enfrenta fundamentalmente quatro quatro de competidores:

intermediários puros, agentes, entidades informativas e plataformas digitais.

As grandes agências de viagens que, até há pouco tempo dominavam a indústria, continuam

a ser muito importantes mas perderam peso para os outros tipos de empresas devido à sua

falta de flexibilidade e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade estrutural destas

empresas é ainda positiva mas muito mais reduzida.

As empresas de agenciamento, são cada vez mais especializadas mas têm um peso maior.

Têm uma estrutura mais intensiva em capital e conhecimento e estratégias baseadas na

diferenciação via adaptação ao cliente ou, num menor número de casos, via especialização

em produto. Investem bastante em marketing e operações. Estas empresas têm maior

rentabilidade que as agências de viagens.

As empresas informativas estão num mercado muito concorrencial e usam normalmente

um modelo de negócio, baseado em publicidade, que tem muitos problemas. Exceto no

caso de grandes empresas digitais a rentabilidade destas empresas é baixa.

Por fim as grandes plataformas digitais comissionistas têm um peso crescente no setor.

Começaram por se dedicar a produtos de consumo de massas mas estão a abranger cada

vez mais segmentos do mercado. Têm uma estrutura mais intensiva em capital,

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

produtiva e de marketing. Estas empresas quando são grandes têm a maior rentabilidade do

setor e estão a crescer.

COMPETIDORES POR MERCADO

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Em termos de mercados, os principais concorrentes são agências de viagens e agentes

europeus e nacionais e plataformas digitais norte-americanas.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor é a existência de fortes economias de escala das grandes

plataformas digitais, que têm uma vantagem custo que poderá ser inultrapassável para os

competidores em muitos segmentos do mercado.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades são:

1. O crescimento de uma nova procura de serviços diversificados, diferenciados e,

mesmo, customizados e personalizados;

2. Desintermediação, automatização e robotização;

3. O fracionamento e processo de reconfiguração da indústria que cria oportunidades

para novas abordagens;

4. Novos sistemas e metodologias de marketing e outbound, incluindo de divulgação e

apresentação de ofertas e de vendas, pricing e recebimentos;

5. Orientação para novos segmentos de mercado e crescimento extensivo para novos

destinos, atrações, atividades e alojamentos menos procurados.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica, tecnológica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o

desenvolvimento de produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e

gerir eficientemente estas oportunidades. O conhecimento especializado também é

fundamental.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em conhecimento e marketing.

Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

ESTRUTURA

O setor algarvio dos transportes e comunicações dedica-se a todo o tipo de atividades de

transporte que se classificam para efeitos de análise em transportes internacionais de

passageiros e mercadorias; transportes de mercadorias; transportes privados de

passageiros; e transportes públicos de passageiros. A região não tem serviços próprios de

comunicações, sendo estes serviços assegurados concorrencial e eficientemente por

empresas nacionais e internacionais.

Os mercados do setor da construção são todas as entidades, empresas e consumidores que

atuam na região, qualquer que seja a sua atividade e origem, nacional ou internacional.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que, devido à

dinâmica do setor, esta análise se refere apenas ao ambiente algarvio tanto no que diz

respeito à oferta, à procura e à determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor dos transportes depende muito de dois fatores de natureza política e legal: a

disponibilização de infraestruturas; e a coordenação e regulação dos transportes públicos.

O Algarve está bem servido da generalidade de infraestruturas, em que continua a investir.

As grandes regionais infraestruturas, desde as aeroportuárias às rodoviárias e logísticas, são

em qualidade e quantidade adequada. O aeroporto está a ser melhorado e a sua capacidade

vai aumentar. A existirem deficiências nestas infraestruturas talvez se possa mencionar um

terminal para navios de cruzeiro de grande dimensão, uma marina na costa ocidental e a

modernização da Linha do Algarve. Mas não existem planos para realizar estes

investimentos a breve prazo.

A nível local a infraestruturas são de natureza mais desigual, havendo muitas deficiências

em termos de acessos, estacionamento, terminais de transportes públicos e logísticos e

ciclovias. Mas, aparentemente esta situação está a ser resolvida lentamente.

Em contrapartida, a coordenação dos transportes públicos de passageiros é um grande

problema, talvez o maior ou segundo maior problema (a seguir à necessidade de

reconversão de muitos alojamentos) do turismo algarvio. As entidades fornecedoras de

transportes públicos são de diversa natureza e têm âmbitos geográficos de atuação

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diversos, não havendo uma coordenação efetiva destas entidades e das suas atividades a

nível regional.

Assim os transportes públicos de âmbito regional são escassos, extremamente demorados

e, normalmente, com um mau serviço. Esta situação estimula a utilização dos transportes

privados, sobrecarregando e congestionando as infraestruturas rodoviárias e criando

problemas de estacionamento. Prejudica a mobilidade e o acesso a diversas atividades

turísticas, impedindo uma maior diferenciação destas atividades e um aumento da

qualidade da oferta turística algarvia.

Felizmente a criação da autoridade de transportes pode contribuir para resolver este

problema. E pode, ainda, ajudar a promoção pública da criação de novas linhas aéreas, que

também é importante.

A regulação dos transportes públicos é normalmente padrão mas existe um ponto em que

não está a contribuir para o desenvolvimento do Algarve. Sendo esta uma região turística de

natureza sazonal, tem uma necessidade imperiosa de reforçar a sua oferta de transportes

públicos na época alta o que é prejudicado pelas recentes restrições aos serviços online de

aquisição e partilha de viagens em veículos privados. Toda a legislação nacional e toda a

prática algarvia de regulação de serviços de táxi também está desadaptada da região.

Uma análise destes fatores não indicia qualquer perspetiva de alteração deste

enquadramento.

FATORES ECONÓMICOS

A procura de transportes depende fundamentalmente expansão da atividade económica e

em especial da turística. A procura do setor é quase completamente derivada. E estas

atividades estão a crescer pelo que a procura de transportes deve continuar a crescer.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e dos inputs do setor. Sem a existência de alterações

tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar lentamente.

Convém referir que o setor é de intensidade capitalística elevada, logo muito dependente

do custo de capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas

de juro, havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as

internacionais.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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FATORES SOCIAIS

Existem diversos fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam

significativamente a evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de vida e

exigência dos consumidores têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o

conforto e a segurança dos transportes. Em segundo lugar as preocupações ambientais têm

conduzido a uma maior preocupação com as externalidades dos transportes privados

motorizados e aumentado a procura relativa de transportes públicos. Por fim, a atual e

previsível dinâmica demográfica, designadamente de alteração da estrutura familiar,

favorece igualmente a procura de transportes públicos.

O que foi dito para os transportes públicos está a acontecer, por razões de eficiência

económica, com a subcontratação de serviços de transportes de mercadorias, que está a

crescer significativamente.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos nem na mão de obra. A situação atual caracteriza-se por uma

por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações baixas e formação

tradicional. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e

de aumento da mão de obra mais qualificada. O equilíbrio entre oferta e procura de mão de

obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos transportes públicos de

maior qualidade. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão de obra.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor dos transportes está a passar por uma revolução. Esta afeta

tanto os meios de transporte, e consequentemente da produção, como as tecnologias

inbound e outbound, de contratação e prestação de serviços de transporte.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento da produção

deverá concentrar-se em novos meios de transporte, elétricos e autónomos. O do segmento

de inbound em sistemas de partilha baseados em sistemas e plataformas digitais. E o do

outbound em sistemas de utilização on demand.

Todas as tecnologias mecânicas, de construção, informáticas, financeiras e de seguros serão

relevantes. E a aplicação de desenvolvimentos científicos fundamental.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Estes desenvolvimentos dependerão da dinâmica dos setores fornecedores relevantes, da

aplicação da ciência pura e aplicada e da evolução competitiva das empresas financeiras,

seguradoras e transportadoras.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do

parque automóvel privado (e da natureza dos investimentos em infraestruturas associados)

e do tempo de fornecimento de transportes públicos, dos custos fixos de transporte (por

contrapartida dos variáveis); a um aumento da importância da incorporação científica e

tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a

importância das economias de escala e consequentemente provocar um aumento da

dimensão média das empresas do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Novos sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e

equipamentos associados;

2. Novos sistemas motrizes – motores GPL e eléctricos;

3. Novos sistemas, processos e equipamentos logísticos e de transportes – novos

sistemas e softwares de gestão de frotas e de redes;

4. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas

informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand;

5. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos e do marketing relacional e de conteúdos.

6. Financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS e sistemas

FinTech e InsurTech;

7. Sistemas de gestão comercial – novas tecnologias, processos transacionais e

abordagens para o setor comercial, designadamente no segmento do aluguer e no

da partilha.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

Existem diversas cadeias de valor no setor dos transportes públicos terrestres mas são todas

bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound, produção e

outbound são controladas pelas empresas de transportes. O grosso do valor setorial é

gerado nas atividades de produção e o marketing é pouco importante.

No transporte marítimo e aéreo os operadores turísticos e o marketing são mais relevantes.

No transporte de mercadorias acontece o mesmo com os operadores logísticos, o marketing

e os serviços associados aos transportes.

Não existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e

cadeias de valor a jusante ou a montante, exceto no caso de pequenos serviços de

transportes de passageiros bidirecionais para eventos ou estabelecimentos de grande

dimensão e no caso dos transportes de mercadorias (como empresa logísticas).

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio local dos transportes públicos terrestres integra empresas de âmbito

nacional e internacional mas é maioritariamente composto por pequenas e médias

empresas públicas e privadas com âmbitos geográficos de atuação delimitados e com

estruturas de gestão básicas e com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital. A

sua competitividade depende da localização, organização e custos de produção,

designadamente salariais.

No caso dos transportes locais, a atividade das empresas tem um carácter monopolístico

regulado, dependendo a sua lucratividade do potencial dos mercados locais e dos

regulamentos ou contratos que regem a sua atividade.

No caso dos transportes regionais, a atividade das empresas locais está limitada, não

permitindo a geração de economias de rede, o que limita a lucratividade deste segmento.

Os transportes internacionais, designadamente os aéreos, são uma indústria mais aberta e

competitiva não obstante todos os problemas de entrada, lucratividade e saída resultantes

das necessidades de escala e de capital. A lucratividade do setor depende muito da procura

das diferentes ligações, sendo os mercados com grande procura lucrativos e os com

pequena procura pouco lucrativos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Tal coloca problemas de risco na criação de novas rotas. Existe aqui o potencial para a

alteração das tarifas aeroportuárias, de forma a incentivar os investimentos de longo prazo

nestas novas rotas.

A indústria dos transportes de mercadorias tem uma estrutura concorrencial e diversificada,

com uma lucratividade padrão.

A atividade global de transportes tem riscos de negócio e financeiros reduzidos. A

lucratividade do setor varia sazonalmente e com os ciclos turísticos, económicos e

financeiros. As grandes empresas conseguem diversificar melhor estes riscos.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor não é

geralmente significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão

dos seus custos. Estas decisões estão a melhorar sustentada mas lentamente. No longo

prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais rápida de

novas tecnologias gerem mais economias de escala e rede, podendo as empresas aproveitar

os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para gerar um

movimento de melhoria do esforço de gestão e de aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de transportes algarvia podem dividir-se de acordo com o tipo

de transporte e o âmbito geográfico. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais

mercados.

Local Regional Nacional Internacional

Aéreo de passageiros Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado secundário

Mercado primário

Aéreo de mercadorias Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado primário

Terrestre públicos Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Mercado secundário

Terrestre de mercadorias Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Terrestre privados Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Mercado primário

Aquáticos Mercado secundário

Mercado marginal

Mercado marginal

Mercado primário

O quadro anterior sumariza a situação atual, não referindo algumas especificidades

importantes, como a situação do mercado espanhol que se aproxima mais do nacional que

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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do internacional. Não refere também o potencial de desenvolvimento de alguns mercados

designadamente o de transporte aéreo ligeiro de âmbito regional e nacional.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por zona dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

MERCADO LOCAL

Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transportes terrestres e alguns

aquáticos. A oferta destes serviços de transporte é limitada e insuficiente para sustentar o

crescimento do cluster.

MERCADO REGIONAL

Tem igualmente uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transportes

terrestres. Devido a uma oferta inadequada e insuficiente de transportes públicos, existe

uma pressão grande para a utilização de transportes privados o que cria problemas

infraestruturais e de desenvolvimento do cluster.

Existe algum potencial de mercado para transporte aéreo ligeiro que não está a ser

utilizado. Tal refere-se tanto a pequenos aviões como a helicópteros, designadamente para

transporte privado.

O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.

Os proveitos e os custos da cadeia de valor destes transportes concentram-se na

fundamentalmente na produção. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros

extraordinários ou rendas no marketing e comercialização.

MERCADO NACIONAL

Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transporte terrestre a que

responde uma oferta mais adequada de transportes públicos.

Existe algum potencial de mercado para transporte aéreo ligeiro que está a ser explorado

mas que ainda o pode ainda ser mais.

O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.

MERCADO INTERNACIONAL

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Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transporte mas principalmente

dos aéreos e de alguns marítimos. Existe uma resposta adequada mas insuficiente a alguns

mercados, designadamente fora da parte mais ocidental da Europa.

Estes problemas de oferta estão relacionados com limitações físicas e económicas dos

meios aéreos que poderão ser resolvidas com medidas que aumentem o valor de nódulo de

rede do Aeroporto de Faro e com políticas tarifárias de incentivo à criação de novas rotas.

O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais, com um ênfase

especial nos ligados ao turismo.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas, demográficas,

psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado de acordo com

a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de

fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a

criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos mais importantes são:

1. Empresas – segmento muito importante no segmento dos transportes de

mercadorias, procuram soluções robustas e consistentes, sendo muito sensíveis às

condições de entrega e transporte, ao tempo de transporte e ao preço;

2. Consumidores locais – segmento muito importante no segmento dos transportes

terrestres e aquáticos locais, procuram soluções flexíveis, sendo sensíveis à

disponibilidade, tempos de deslocação e preço;

3. Turistas de segmento baixo - segmento muito importante em todos os segmentos

dos transportes, estão menos interessados em flexibilidade e horários, mas

valorizando muito a consistência e os tempos de deslocação; o preço é mais

importante para os transportes aéreos e a qualidade para os terrestres;

4. Turistas de segmento alto – segmento importante nos transportes aéreos mas

menos importante nos transportes públicos, estão interessados em flexibilidade,

consistência, tempos de deslocação e conforto.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Sendo a atividade da generalidade do setor dos transportes restrita geograficamente, o

setor algarvio dos transportes públicos não tem concorrência. Assim só a indústria dos

transportes de mercadorias é que enfrenta concorrência, a dos operadores nacionais e

internacionais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria dos transportes de mercadorias enfrenta fundamentalmente três tipos de

competidores: pequenas e médias empresas de transportes, grandes empresas de

transportes e grandes operadores logísticos integrados.

As empresas que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram fundamentalmente as

pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos; com

capacidades fundamentalmente relacionadas com o transporte; e com estratégias de

adaptação ao cliente e de minimização de custos.

Estas empresas continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os outros tipos

de empresas devido à estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade estrutural destas

empresas é positiva mas reduzida.

As grandes empresas de transportes têm uma estrutura mais intensiva em capital,

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via marketing ou via

especialização em produto. Muitas complementam a atividade produtiva com serviços

técnicos. Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.

Por fim está a desenvolver-se um grupo de empresas logísticas que seguem um modelo de

integração da construção com a manutenção e reparação. São normalmente empresas que

procuram conquistar quotas de clientes e dos clientes para ganhar dimensão, gerar

economias de domínio e de escala para aumentar a rentabilidade e minimizar riscos.

Estas empresas, podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia,

estão a investir fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas é mais elevada

que a das outras empresas.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais competidores do setor algarvio dos transportes de mercadorias estão em

Portugal, Espanha e na Europa Ocidental.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

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A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças ao setor provêm da evolução cíclica da procura e das pressões

concorrenciais. O crescimento estrutural do custo dos fatores, designadamente do capital, é

outra ameaça significativa.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:

1. Melhoria da coordenação regional dos transportes públicos;

2. Alguns investimentos pontuais em infraestruturas;

3. Melhoria da qualidade e disponibilidade dos transportes públicos;

4. Desregulação da contratação de serviços de transportes em veículos privados;

5. Aumento da procura de transportes;

8. Novos sistemas e equipamentos de transportes;

9. Novos sistemas motrizes;

10. Novos sistemas, processos e equipamentos logísticos e de transportes;

11. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização, incluindo sistemas

de carsharing e use on demand;

12. Menos veículos automóveis privados;

13. Mais rotas aéreas internacionais;

14. Desenvolvimento dos transportes aéreos ligeiros regionais.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

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O principal fator crítico de sucesso num setor com elevado risco financeiro é a dimensão das

empresas e a coordenação entre empresas. Isto é reforçado pelas exigências financeiras e o

risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas exige.

As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter

financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.

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ATIVIDADES DO PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO

ESTRUTURA

O setor das atividades do património imobiliário inclui um conjunto de subsetores que vão

desde a promoção imobiliária até à manutenção de edifícios e jardins. Salientam-se os

seguintes subsetores:

Promoção imobiliária;

Construção de edifícios;

Construção de outras obras de engenharia civil;

Atividades especializadas de construção;

Atividades imobiliárias;

Atividades de arquitetura, de engenharia e técnicas afins;

Atividades de ensaios e análises técnicas;

Atividades relacionadas com edifícios, plantação e manutenção de jardins.

Dada a sua natureza, o setor assume o caráter de suporte do cluster do turismo mas tem

uma dinâmica própria com grandes efeitos multiplicadores macroeconómicos e de

desenvolvimento económico. Logo é um setor muito importante do cluster.

A indústria algarvia do setor dedica-se a todo o tipo de atividades de construção, mas dada

a análise prévia do setor do alojamento importa sobretudo tentar distinguir entre as

atividades de construção, as de reabilitação e as de serviços relacionados com edifícios.

Os principais mercados do setor são os do Algarve mas o nacional e espanhol também tem

alguma relevância.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio e nacional no que diz

respeito à oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A

determinação de preços é endógena.

FATORES POLÍTICOS

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O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alojamento que

depende da sua oferta de atividades imobiliárias. Quanto maior e melhor for esta oferta,

mais eficiente será a disponibilização de alojamento.

Ora, a oferta de atividades imobiliárias depende do seu enquadramento legislativo e

regulamentar. Tanto o regime de licenciamento das empresas para o exercício da atividade

como o enquadramento judicial da atividade são definidos a nível nacional e relativamente

padrão.

Existem problemas com o caráter burocrático e demorado de diversas atividades

administrativas e com a lentidão do sistema judicial que diminuem a eficiência do setor mas

não eliminam a sua eficácia. Talvez os recentes esforços políticos para simplificar muitos

processos administrativos, designadamente os de licenciamento, contribuam para melhorar

a situação.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo podem ser eliminados alguns problemas de licenciamento e judiciais.

FATORES ECONÓMICOS

O setor do imobiliário turístico é um setor de procura derivada pelo que a sua dinâmica

depende fundamentalmente da dinâmica do turismo, em particular do setor de alojamento.

E perspetiva-se uma continuação do aumento da procura de alojamento na região.

Mas a composição da procura do setor do alojamento está a alterar-se, crescendo mais a

procura de reabilitação e de atividades relacionadas com edifícios do que de construção

nova. Os turistas querem tanto mais alojamento como ter melhores alojamentos, em

melhor estado e com mais serviços.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor do imobiliário são

igualmente uma reflexão dos que afetam o do alojamento e reforçam as tendências de

redirecionamento da procura atrás referidas.

E reforçam a procura de atividades imobiliárias relacionadas com alojamentos diferenciados

e com serviços complementares, designadamente para crianças, que ofereçam garantias

reais e percebidas de segurança e de respeito ambiental e social.

Relativamente à oferta de fatores produtivos existem alguns constrangimentos potenciais

significativos na oferta regional ao setor de mão de obra que pode ser compensada

facilmente com mão de obra de outras regiões do país. Existe uma oferta crescente de mão

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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de obra qualificada.

O custo do capital pode vir a aumentar, colocando alguns problemas ao subsetor da

construção nova, o mais intensivo em capital, mas sem efeitos nos outros subsetores.

FATORES TECNOLÓGICOS

As inovações tecnológicas neste setor são relativamente menores do que em muitos outros

setores já analisados. Existem diversas inovações que afetam partes do processo produtivo

e do produto, mas que não parecem ter um potencial disruptivo da estrutura da indústria.

Assim a cadeia de valor do setor não se deve alterar significativamente.

O efeito destas inovações tecnológicas deverá conduzir a um aumento da capacidade e

rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a uma diminuição

dos custos variáveis e dos ciclos produtivos dos sistemas de produção. Haverá um aumento

da importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade

capitalística do setor. Mas a cadeia de valor do setor não se deve alterar significativamente.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

mas sem uma grande influência na cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das

empresas do setor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Alojamentos com novas configurações e funcionalidades – incluindo alojamentos

inteligentes em resultado das inovações digitais referidas acima e do big data, da

inteligência artificial, da IoT e das tecnologias de espaços inteligentes;

2. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a

automatização inteligente de tarefas repetidas e drones e sensores eletrónicos para

a gestão de obra;

3. Novos processos construtivos – como a modelização 3D e o smart building,

incorporando as novas tecnologias na produção e gestão da produção;

4. Novos materiais – além de muitos componentes base virem a ser objeto de pré

fabricação, aparecerão novos compostos cerâmicos e bioplásticos, colas e tintas

sintéticas e biológicos e materiais de isolamento;

5. Seguros customizados – InsurTech;

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6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades

primárias de produção e inbound são controladas, dentro das restrições regulamentares

existentes, pelas empresas do setor. As atividades de outbound estão muito dependentes

de empresas compradoras, designadamente estabelecimentos turísticos, mas também de

particulares.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção e de outbound. E parece

existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nesta última atividade.

Dado o carácter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem

geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e

outras cadeias de valor.

Mas existe um incentivo para a concentração do setor, como forma de ultrapassar os

problemas de economias de escala organizativas e de conhecimento.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor do imobiliário é assegurado por empresas privadas de diversas dimensões. As

pequenas empresas tendem em concentrar-se em construção ou serviços especializados,

sendo muitas vezes fornecedoras de serviços às empresas maiores. As médias empresas

tendem a dedicar-se à construção de projetos de dimensão reduzida à reabilitação ou a

serviços imobiliários. As grandes empresas normalmente dedicam-se à construção nova de

maiores dimensões ou à promoção imobiliária.

Os recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos dos

diferentes tipos de empresas fazem com que a sua dinâmica competitiva seja

completamente diferente, com consequências a nível de desenvolvimento futuro.

As pequenas empresas atuam num mercado altamente competitivo e com margens baixas.

Assim, usam nos seus esforços comerciais canais informais e pessoais e são tomadoras de

preços. Têm uma necessidade absoluta de se diferenciar para manter a sua lucratividade. E

as que o conseguem têm normalmente resultados interessantes, seja na construção ou nos

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serviços. Em contrapartida são as empresas mais afetadas pelos ciclos económicos.

Flexibilizam e diversificam o mercado mas criam-lhe alguns problemas reputacionais.

As médias empresas tendem a ter alguma autonomia estratégica e de marketing, atuando

normalmente em nichos onde a sua flexibilidade lhes garante vantagens competitivas.

Dispõem de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes permitem ter

tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores e

diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada. São normalmente empresas em

transição para maiores dimensões e atividades mais alargadas.

As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,

humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e

seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Podem

competir via capacidade produtiva e custo e têm uma lucratividade estrutural positiva mas

muito sujeita a flutuações cíclicas, macroeconómicas ou de mercado. Têm dificuldade em

competir no mercado da reabilitação.

Não existem indícios que esta estrutura se possa alterar nem via crescimento orgânico nem

via fusões e aquisições. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá

desenvolvendo. A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria do imobiliário podem dividir-se de acordo com o tipo de atividade final e a

localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Algarve Portugal Espanha

Promoção Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal

Construção Mercado primário Mercado primário Mercado secundário

Reabilitação Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal

Serviços Mercado primário Mercado primário Mercado marginal

Pode também dividir-se de acordo com as categorias de alojamento a que se dedicam, sendo assim

a relevância dos mercados dada pela dinâmica do tipo de alojamento.

Do quadro anterior retira-se que a indústria imobiliária algarvia está muito orientada para o

mercado algarvio, que conhece e onde tem vantagens competitivas. O mercado nacional é

um mercado interessante mas muito concorrencial. As empresas algarvias têm neste

mercado vantagens competitivas de proximidade e conhecimento, podendo explorar alguns

nichos de mercado. As atividades onde a indústria algarvia tem mais vantagens competitivas

são no setor dos serviços imobiliários.

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Aplica-se o mesmo, com menos vantagens competitivas, ao mercado espanhol. Nos outros

mercados europeus, devido a custos de deslocação e à intensidade competitiva, não

existem vantagens competitivas de qualquer natureza.

Mantém-se, no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de outros

mercados atrativos, designadamente no Norte de África e nos PALOP.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por região dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

ALGARVE

É um mercado aberto, dinâmico e geralmente interessante dum ponto de vista de volume

de negócios. O subsetor da construção está muito desenvolvido e tem margens mais

reduzidas e concentradas na promoção. O subsetor da reabilitação está menos

desenvolvido, está a crescer mais e tem margens mais elevadas. O subsetor dos serviços é

um dos mais desenvolvidos e competitivos do país, com potencial para se expandir nacional

e internacionalmente.

PORTUGAL

É um mercado de maior dimensão mas com características parecidas com o algarvio.

O subsetor da construção é muito competitivo e difícil acesso para as empresas algarvias,

devido a questões de conhecimento local e de competitividade custo.

O subsetor da reabilitação está mais desenvolvido que o algarvio mas ainda vai crescer

muito mais, abrindo a possibilidade de algumas empresas algarvias se expandirem nesta

atividade.

O subsetor dos serviços está em crescimento e desenvolvimento mas ainda tem algum

atraso relativamente aos padrões internacionais. Uma vez que este setor está mais

desenvolvido no Algarve que na generalidade das regiões do país, existe um potencial de

expansão para a indústria algarvia.

Todo o mercado tem canais comerciais bem desenvolvidos. Uma parte substancial dos

proveitos da sua cadeia de valor concentram-se no inbound (promoção) e outbound

(comercialização), enquanto os custos se distribuem-se uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte, com um grande peso dos de

produção.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ESPANHA

O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, com características parecidas

com o mercado nacional. Mas o seu setor de reabilitação, designadamente no sul, está mais

atrasado que o nacional e o de serviços mais desenvolvido. Assim este mercado é mais

interessante para o subsetor algarvio da reabilitação e menos para o dos serviços.

O desenvolvimento dos canais está tão avançado como em Portugal, criando dificuldades de

penetração mas as vantagens de custo podem compensar este problema. E as estratégias

de segmentação podem ser mais finas que no mercado nacional, devido à dimensão deste

mercado.

Os custos de transportes internacionais não são significativos.

OUTROS MERCADOS

Os outros mercados são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou são

mercados mais desenvolvidos e competitivos ou de difícil acesso devido a custos de

transportes e custos de transação.

Pode, no entanto, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para

oportunidades pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os países do Norte de África e os

PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores mais relevantes do setor imobiliário do cluster do turismo são sobretudo

empresas do setor do alojamento mas também empresas de outros setores e particulares.

A melhor forma de segmentar o mercado consiste em dividi-lo em primeiro lugar de acordo

com o tipo de entidade e depois com base em variáveis económicas. As variáveis

demográficas e psicográficas podem ser úteis para obter segmentos de mercado ainda mais

finos para efeitos de marketing, mas são pouco relevantes para a presente análise.

Os segmentos mais importantes são:

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1. Grandes empresas de alojamento – de grande dimensão estão interessadas em

preço, consistência e qualidade; vão procurar crescentemente serviços de

reabilitação e continuar a subcontratar outros serviços imobiliários;

2. Empresas médias de alojamento – de média dimensão estão interessados em preço

e qualidade, estando dispostas a sacrificar alguma consistência; vão procurar

crescentemente serviços de reabilitação e subcontratar cada vez mais outros

serviços imobiliários bem como a construção de serviços relacionados com produtos

diversificados e inovadores;

3. Empresas médias – a sua atividade está menos ligada ao edificado que muitas vezes

é arrendado pelo que estão menos interessadas em serviços de construção e

reabilitação e mais interessadas em outros serviços imobiliários, dando uma grande

importância ao preço e à consistência;

4. Empresas pequenas e particulares – de pequena dimensão estão interessados em

preço e qualidade, estando dispostas a sacrificar alguma consistência; procuraram

historicamente mais construção, mas vão começar a procurar crescentemente

reabilitação e outros serviços, cada vez mais mas diversificados.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

regionais e nacionais, embora se tenham de analisar também os competidores

internacionais.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia do imobiliário enfrenta fundamentalmente a competição de empresas

nacionais do setor. A organização e a estrutura das empresas não são muito diferentes mas

existem algumas diferenças entre a indústria algarvia e a sua competição a nível de dotação

de recursos.

As diferenças relativas entre o potencial das empresas algarvias e da sua concorrência

dependem de dois fatores importantes: mão de obra e experiência acumulada.

Ao nível da mão de obra as diferenças estão relacionadas com a disponibilidade e o custo da

mão de obra no setor da construção e reabilitação, e são desfavoráveis ao Algarve. Ao nível

de experiência acumulada as diferenças estão relacionadas com o domínio de know how

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produtivo e comercial nos outros serviços imobiliários, e são em médias favoráveis ao

Algarve.

COMPETIDORES POR MERCADO

Os principais mercados competidores da indústria imobiliária do Algarve são os nacionais e

os de Espanha. A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da

algarvia. O peso de cada um dos subsetores varia de região para região mas não

significativamente.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao

setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser a concorrência

nacional e espanhola e o aumento dos custos dos recursos produtivos, designadamente do

trabalho e do capital. O setor é muito dependente do ciclo económico pelo que enfrenta um

risco de curto prazo.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Simplificação e aceleração de muitos processos administrativos e da sua aplicação;

2. Aumento da procura de serviços de reabilitação e da subcontratação de outros

serviços imobiliários;

3. Oferta mais segmentada, diversificada e de qualidade;

4. Novos tipos de alojamentos com novas configurações e funcionalidades, exigindo

uma oferta capaz;

5. Inovação tecnológica, novos equipamentos automatizados e robotizados, novos

processos construtivos e novos materiais para controlar custos e diversificar a oferta;

6. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão de obra,

permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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7. Seguros customizados;

7. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas;

8. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais

dinâmicos, menos desenvolvidos e de maior valor acrescentado.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:

capacidade organizativa e de gestão para criar e gerir uma estrutura flexível capaz de

responder a uma procura mais intermitente e diversificada; capacidade logística e produtiva

necessária para gerir eficientemente mais e mais complexas operações; e capacidade de

marketing para interagir e conquistar uma procura com uma natureza diferente.

O acesso a financiamento para investir na promoção de novos edifícios e adquirir

equipamentos vai ser menos importante mas ainda fundamental.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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SERVIÇOS COMPLEMENTARES E DE SUPORTE

Tal como nos clusters anteriores, o setor dos serviços complementares e de suporte do

cluster do turismo engloba um conjunto muito diversificado de atividade de que se

destacam atividades de serviços como:

Atividades de aluguer;

Escolas de condução e pilotagem;

Escolas de línguas;

Atividades de bem estar físico;

Outras atividades de serviços pessoais, não especificados;

Atividades dos serviços para animais de companhia;

Outras atividades de serviços pessoais diversas, não especificadas.

O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas

necessidades secundárias. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe

respondem.

O fundamental então é saber se os fornecedores locais destas atividades ou serviços

respondem adequadamente à procura do cluster de uma forma eficiente, se existem

algumas lacunas ou vantagens significativas para o cluster na utilização dos serviços ou

produtos desses fornecedores. O que se procura é a exceção.

É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem

competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.

É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise

por amostragem evidencia quatro factos importantes:

1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são

transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver

vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar

barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;

2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo

internacionalmente fornecedores com relações qualidade preço bastante diferentes

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,

nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade

preço que desejar;

3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,

podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais

em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a

segmentos das indústrias atrás mencionadas);

4. Nalgumas atividades a oferta algarvia é menos diversificada que nas regiões que se

posicionam num segmento mais alto do mercado, mas tal parece resultar da

eficiente adequação da oferta à procura e não parece colocar qualquer problema

competitivo para o Algarve.

Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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TIC E INDÚSTRIAS CRIATIVAS

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das TIC e indústrias criativas inclui as

seguintes atividades:

Serviços de gestão, segurança e distribuição digital

Desenvolvimento de soluções à medida

Smart Cities e gestão eficiente dos recursos

Apoio ao desenvolvimento e fixação de negócio

Desenvolvimento de TIC’s setoriais e transversais

Atividades criativas de aplicação transversal

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do

cluster os seguintes CAEs:

1812 Outra impressão (parte)

1813 Atividades de preparação de impressão e de produtos média

321 Fabricação de joalharia, ourivesaria, bijutaria e artigos similares; cunhagem

de moedas

581 Edição de livros, de jornais e de outras publicações

582 Edição de programas informáticos

59 Atividades cinematográficas, de vídeo, de produção de programas de

televisão, de gravação de som e de edição de música

62 Consultoria e programação informática e atividades relacionadas

63 Atividades dos serviços de informação

74 Outras atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares

9003 Criação artística e literária

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PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um

conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como

indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu

desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:

Tecnologias de informação, comunicação e conhecimento

Atividades criativas

O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento inclui todas as

atividades de desenvolvimento, gestão e transmissão de informação e conhecimento,

incluindo especificamente os serviços de gestão, segurança e distribuição digital, o

desenvolvimento de soluções à medida, o desenvolvimento de TIC’s setoriais e transversais,

as Smart Cities e gestão eficiente dos recursos e o apoio ao desenvolvimento e fixação de

negócio. A natureza destas atividades e os recursos que utilizam são basicamente os

mesmos, constituindo de facto um setor único.

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TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E CONHECIMENTO

ESTRUTURA

O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento é um setor lato que

abrange subsetores diversos como o de infraestruturas de comunicação, o de hardware, o

de desenvolvimento de software e o de desenvolvimento e gestão de aplicações e

plataformas.

Destes subsetores, e de um ponto de vista de dinâmica de cluster, os mais relevantes para o

Algarve são o de desenvolvimento de tecnologias e o de desenvolvimento e gestão de

aplicações e plataformas. Estes dois subsetores, embora relativamente diferenciados, usam

os mesmos recursos e incluem todas as atividades referidas pelo RIS3 - ALGARVE 2014-2020

como relevantes. Assim esta análise focar-se-á neles.

Os principais mercados do setor são os mercados do Algarve, o nacional e o internacional. O

mercado do Algarve é substancialmente distinto destes dois últimos, cujos condicionantes

últimos do comportamento não são significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e determinação de lucratividade das empresas e aos ambientes algarvio, português e

internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento é aberto e com

poucas regulações específicas. Esta situação deve manter-se.

Todavia é um setor incentivado e subsidiado a nível da União Europeia, de uma forma

diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Por razões já referidas, o apoio

ao setor no Algarve é menor que a nível nacional. Este enquadramento, que tem como

objetivo promover o desenvolvimento económico, deve manter-se.

O setor também é apoiado, indiretamente, a nível regional e nacional, através do

lançamento de projetos públicos de desenvolvimento de plataformas digitais. Embora o

sucesso destas políticas seja muito variável e discutível, elas devem continuar.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política.

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FATORES ECONÓMICOS

Os produtos do setor permitem que os seus consumidores beneficiem de ganhos tanto

resultantes da satisfação de necessidades existentes e latentes como de acréscimos de

produtividade, e da associada economia de recursos. Enquanto se continuarem a registar

estes ganhos a procura do setor deverá continuar a aumentar.

Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito das condições económicas, da

evolução dos custos de produção, designadamente dos salários da mão de obra qualificada,

e da dinâmica empresarial e do financiamento do setor. Em termos gerais, espera-se que a

oferta de mão de obra especializada continue a crescer mas que os custos salariais da mão

de obra qualificada aumentem sustentadamente em todo o mundo. Novas tecnologias de

produção podem compensar este aumento, pelo que a oferta destes produtos deve

aumentar.

Um fator importante na dinâmica do setor prende-se com os diferentes processos

produtivos usados nos seus dois subsetores e as suas consequências em termos de

economias de escala. O subsetor de desenvolvimento de tecnologias é um subsetor

intensivo em trabalho onde não existem muitas economias de escala enquanto o de gestão

de desenvolvimento e gestão de aplicações e plataformas é mais intensivo em capital e

gerador de economias de escala. Daqui resultam estruturas de mercado diferentes,

fracionadas no primeiro subsetor e oligopolísticas no segundo.

Desta dinâmica resulta uma tendência para o aumento dos preços dos produtos mais

intensivos em trabalho e para a estabilização ou mesmo diminuição dos menos intensivos.

No Algarve o preço da mão de obra deve continuar a aumentar, aumentando os custos de

produção, designadamente das atividades mais intensivas em trabalho. Sem a existência de

alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar

lentamente. O investimento em tecnologia mais capital intensivo poderá atenuar esta

evolução, uma solução desejável e possível para as empresas maiores e mais capitalizadas.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de

produção das produções do setor, havendo situações em que a lucratividade dos produtos

pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.

FATORES SOCIAIS

Os fatores de natureza cultural e demográfica afetam significativamente a evolução do

setor. Em primeiro lugar, a crescente diferenciação cultural e de interesses entre diferentes

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grupos sociodemográficos e psicográficos tem conduzido ao nascimento de segmentos de

consumidores cada vez mais pequenos, criando procuras cada vez mais diferenciadas.

Em segundo lugar, os grupos mais novos e tecnológicos utilizam cada vez mais estas

tecnologias em todas as suas atividades de interação social e económica, estimulando o

crescimento da sua procura.

Depois os consumidores querem cada vez mais produtos adaptados às suas necessidades e

interesses, crescendo a customização e a personalização.

Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e

potenciais significativos, principalmente a nível de mão de obra. Ao nível da mão de obra, a

situação atual caracteriza-se por uma oferta internacional crescente, designadamente de

mão de obra com qualificações elevadas e experiência efetiva.

A tendência no Algarve parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e

de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e

procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição. Este

problema não é fundamental porque pode ser ultrapassado com a contratação online de

trabalho qualificado.

Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade

das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e,

fundamentalmente de marketing. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto prazo. A

última é estrutural, parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de forma

muito lenta.

Em resumo, espera-se um aumento da exigência e da procura. O acesso e os custos dos

fatores continuarão a ser um problema.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias relativamente consolidadas mas estas

tecnologias estão em mudança rápida. Esta mudança está-se a verificar gradualmente nas

tecnologias inbound e outbound, que cada vez são mais digitalizadas e personalizadas, e

mais rapidamente nas tecnologias de produção, que são cada vez mais mecanizadas e

automatizadas. As tecnologias de produção estão desatualizadas na generalidade das

empresas algarvias, em resultado dos reduzidos níveis históricos de investimento.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound

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deverá concentrar-se na evolução de tecnologias já existentes, em resultado de esforços de

inovação incremental. O do segmento produtivo da introdução de novas tecnologias e da

aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor.

Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente da evolução competitiva das

empresas do setor e do seu financiamento. O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos

deverá conduzir um aumento da intensidade capitalística do setor, a uma diminuição da

utilização de trabalho, a um aumento da produtividade, a uma diminuição do ciclo

produtivo, a uma redução dos custos de produção e distribuição e a um aumento da

importância da incorporação científica e tecnológica.

Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e de

incorporação de inovações tecnológicas. Tal terá influência em todos os aspetos da sua

cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destacam-se:

1. Novos sistemas de recolha e transmissão de informação – sensores, localizadores,

periféricos e dispositivos de comunicação mais pequenos e autónomos, permitindo

aumentar a quantidade de informação processada pelos sistemas de conhecimento;

2. Novos sistemas telemáticos associados a sistemas de conhecimento e gestão de

sistemas – equipamentos de comunicação ligados a sensores e localizadores

transmitem os dados obtidos a bases de dados e sistemas centralizados de

tratamento de informação, produção de conhecimento e tomada de decisões;

3. Integração e interação física-digital – sistemas para ligar os sistemas digitais com os

físicos e para interagir, como a realidade virtual e realidade aumentada;

4. Internet of things – conexão e gestão conjunta de todos os dispositivos mecânicos e

digitais de um dado local ou utilizador;

5. Novas linguagens de programação – conjunto alargado de linguagens mais naturais e

mais especializadas, incluindo linguagens para escrever programas noutras

linguagens;

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6. Crescimento do cloud computing – reforço da computação centralizada,

designadamente devido ao crescimento do número de pequenos dispositivos com

mais capacidade de recolha e transmissão de informação que de processamento;

7. Novos sistemas de geração automática de conhecimento e tomada de decisões –

crescimento do machine learning e da inteligência artificial;

8. Codificação automática – utilização de sistemas inteligentes e robots para

programar;

9. Novos sistemas de segurança – seja exclusivamente para garantir a segurança como

os sistemas de encriptação seja para permitir criar produtos digitais seguros como o

blockchain;

10. Novas plataformas de contratação e afetação de recursos – crescimento e

complexificação das plataformas mundiais de contratação;

11. Sistemas automáticos de gestão de plataformas – abrangendo desde a atualização

de conteúdos até à segurança;

12. Novos sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação –

desenvolvimento de técnicas de segmentação e targeting e de mecanismos de

implementação do marketing mix e do esforço de comunicação e vendas;

13. Novos sistemas de pagamentos – FinTech.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante bastante simples e digitalizada. Todas as atividades de

suporte e primárias de inbound, produção e outbound são controladas integralmente pelas

empresas do setor, recorrendo a mercados físicos e digitais. O grosso do valor setorial é

gerado nas atividades de produção e de marketing.

A cadeia de valor do desenvolvimento tecnológico está normalmente fracionada recorrendo

as empresas lideres de mercado (que controlam as atividades de marketing e de gestão de

projetos) à aquisição de imputs e à subcontratação de serviços a servidores a montante.

Existem algumas dúvidas sobre as vantagens da integração vertical nesta cadeia de valor.

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A cadeia de valor do subsetor de desenvolvimento e gestão de plataformas é igualmente

simples e digitalizada mas mais integrada. Continua a haver subcontratação mas existem

menos aquisições de imputs fundamentais. A maior integração desta cadeia de valor resulta

da maior complexidade e peso dos esforços de I&D tecnológico e do maior peso do

marketing no valor acrescentado desta cadeia.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento divide-se em dois

subsetores com características estruturais completamente diferentes. O subsetor do

desenvolvimento tecnológico é um setor aberto e concorrencial, geralmente sem grandes

barreiras à entrada ou à saída nem grande poder dos fornecedores ou dos clientes, e

consequentemente sem economias de escala.

A exceção é a existência de algumas barreiras à entrada (devido às necessidades de capital)

e economias de escala (devido ao investimento em marketing e vendas) no segmento

superior do setor, composto pelas empresas que produzem e comercializam aos

consumidores finais.

Uma consequência desta estrutura de mercado é a inexistência de lucros extraordinários

sustentados. Esta situação deve manter-se.

O subsetor do desenvolvimento e gestão de plataformas é um setor onde existem fortes

economias de escala devido ao elevado peso dos custos de desenvolvimento e demais

custos fixos nos custos totais. Nestas circunstâncias cada segmento do mercado tende a ser

servido por um conjunto muito limitado de fornecedores, eventualmente um único se o

segmento de mercado for pequeno.

Assim a lucratividade das empresas que atuam neste subsegmento depende

fundamentalmente da relação entre a sua estrutura de custos médios de longo prazo e a

dimensão do seu mercado. As empresas que atuam em segmento grandes tendem a ter

lucros extraordinários positivos acontecendo o inverso com as que atuam em segmentos

pequenos.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas deste

último setor é geralmente baixa em Portugal e no Algarve, dependo exclusivamente de

decisões estratégicas que as empresas possam tomar sobre os seus mercados alvo.

No longo prazo espera-se que o efeito das inovações tecnológicas e do desenvolvimento de

mais soluções tecnológicas parcelares e integráveis, diminuam o montante do capital de

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

258

capital necessário para entrar nesta indústria o que aumentará a sua intensidade

competitiva, podendo erodir os resultados económicos da empresas instaladas e do

subsetor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo os seus segmentos e a localização

geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Algarve Portugal Internacional

Desenvolvimento Mercado secundário Mercado prioritário Mercado prioritário

Plataformas Mercado prioritário Mercado secundário Mercado marginal

A importância destes três diferentes mercados depende da dimensão e características da

procura e da capacidade da oferta algarvia.

O mercado algarvio de desenvolvimento tecnológico é um mercado pequeno e

concorrencial, onde não existem por grandes empresas produtoras de soluções integradas

para venda a consumidores finais. As empresas algarvias do setor só têm um interesse

secundário em dirigir a sua atividade e oferta a empresas que não são mais que

fornecedoras de segunda ou terceira linha. Daí terem um maior interesse em mercados com

maior potencial, como o mercado nacional e, prioritariamente, o internacional.

Em contrapartida o mercado de desenvolvimento e gestão de plataformas tem uma procura

com necessidades específicas que só podem ser adequadamente satisfeitas por empresas

que conheçam a realidade dessa procura. O conhecimento destas necessidades é uma

grande vantagem competitiva para as empresas algarvias do setor. Esta vantagem atenua-se

ao nível nacional, devido à concorrência acrescida, e desaparece a nível internacional,

devido à concorrência de empresas com vantagens a nível de dotação de recursos e

aproveitamento de economias de escala.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural dos principais

mercados efetivos ou potenciais do setor.

ALGARVE

O mercado algarvio é um mercado dividido entre um grande cluster de turismo maduro e

sofisticado e outros clusters mais pequenos e menos desenvolvidos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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O cluster do turismo gera um mercado maduro, muito competitivo, tendo as suas empresas

e entidades uma procura elevada e diversificada de soluções tecnológicas e de plataformas.

Infelizmente existem poucas empresas neste setor com uma dimensão suficientemente

grande para suportarem o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas integradas. A

sua procura neste subsegmento é fundamentalmente de soluções testadas e funcionais, que

existem em abundância. Normalmente as empresas fornecedoras locais apenas têm espaço

para a prestação de serviços de implementação e customização de soluções e de

desenvolvimento de pequenas soluções para problemas idiossincráticos pontuais.

A situação é diferente no setor das plataformas em que as necessidades locais são muitas

vezes mal satisfeitas pelas soluções internacionais existentes no mercado. É o que acontece,

por exemplo, com as plataformas de sharing ou de informação turística. Infelizmente

continua a haver um problema de dimensão das empresas ou entidades do setor turístico

que limita a sua capacidade económica para suportarem o desenvolvimento destas novas

plataformas mais adequadas às necessidades da região. E existem muitas dúvidas sobre a

rentabilidade privada destas plataformas.

Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de coordenação ou cooperação.

As empresas dos outros setores não geram uma procura de tecnologias nem de plataformas

suficientemente grande para suportar o desenvolvimento de soluções específicas com

potencial de expansão posterior. Mas como não parece haver ineficiências nos canais

internacionais de distribuição ou subcontratação da indústria de desenvolvimento, existem

mercados alternativos.

Os canais de distribuição algarvios do setor ainda estão numa fase de desenvolvimento. Os

do subsegmento de desenvolvimento ainda são muito controlados pelas empresas

vendedoras e fornecedoras, mas esta situação tenderá a corrigir-se com o desenvolvimento

do mercado. Mesmo agora não há evidência de lucros extraordinários em qualquer ponto

da cadeia de valor do subsetor.

Em contrapartida os canais do subsegmento de plataformas ainda são menos desenvolvidos

e são ineficientes, sendo muito controlados pelos compradores, designadamente por

entidades públicas. Esta situação prejudica muito a qualidade dos produtos e serviços do

setor.

Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se no marketing enquanto os custos se

distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

260

de suporte. Assim, há alguma evidência de os intermediários terem lucros extraordinários

na aquisição de serviços algarvios.

PORTUGAL

O mercado nacional é um mercado maior e mais complexo que o algarvio. De um ponto de

vista da procura existem três segmentos particularmente interessantes para as empresas

algarvias que são: as empresas do cluster do turismo; as empresas produtoras de soluções

integradas para venda a consumidores finais; e as empresas gestoras de plataformas

especializadas.

O cluster nacional do turismo é globalmente maior e mais diversificado que o algarvio, com

empresas e entidades com uma procura elevada e diversificada de soluções tecnológicas e

de plataformas.

Continuam a existir neste mercado poucas empresas com uma dimensão suficientemente

grande para suportarem o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas integradas. A

sua procura neste subsegmento continua a ser fundamentalmente de soluções testadas e

funcionais, deixando apenas espaço para as empresas locais prestarem serviços de

implementação e customização de soluções e de desenvolvimento de pequenas soluções

para problemas idiossincráticos pontuais.

No entanto a natureza das soluções procuradas neste mercado é muito parecida com as

procuradas pelo mercado com o algarvio. Assim, a abordagem integrada deste mercado e

do algarvio permite obter a massa crítica necessária para suportar o desenvolvimento de

algumas soluções tecnológicas.

As empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais e mesmo

os fornecedores nacionais de primeira linha destas empresas são um mercado muito

interessante para as empresas algarvias de desenvolvimento tecnológico. Têm uma

dimensão maior que as algarvias, estruturas de gestão e marketing mais desenvolvidas, mais

experiência acumulada e estão próximas. Assim podem materializar um primeiro passo de

um processo de entrada no mercado e de crescimento de muitas empresas algarvias.

A situação no setor e no mercado das plataformas é parecida com a do cluster do turismo.

Existem necessidades de mercado mal satisfeitas pelas soluções locais, nacionais e

internacionais existentes no mercado, que podem ser satisfeitas de uma forma mais

eficiente com uma abordagem integrada do mercado nacional e algarvio. É o que

novamente acontece, por exemplo, com as plataformas de sharing ou de informação

turística.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

261

Neste mercado integrado continua a haver um problema de dimensão das empresas ou

entidades do setor turístico que limita a sua capacidade económica para suportarem o

desenvolvimento destas novas plataformas mas em contrapartida existem entidades

especializadas no desenvolvimento e gestão de plataformas que estão interessadas em

ganhar quota de mercado e de clientes diversificando a sua oferta. Existe aqui uma

necessidade e uma oportunidade de cooperação ou integração.

As empresas dos outros setores não geram uma procura de tecnologias nem de plataformas

suficientemente grande para suportar o desenvolvimento de soluções específicas com

potencial de expansão posterior. E mesmo que gerassem não se encontra nenhuma

vantagem comparada que as empresas algarvias possam ter para satisfazer esta procura.

Os canais de distribuição nacionais do setor estão numa fase de desenvolvimento mais

avançado que os algarvios. Os do subsegmento de desenvolvimento são menos controlados

pelas empresas vendedoras e fornecedoras, e a situação está a corrigir-se rapidamente com

o desenvolvimento do mercado. E não há evidência de lucros extraordinários em qualquer

ponto da cadeia de valor do subsetor.

Os canais do subsegmento de plataformas estão muito mais desenvolvidos que os algarvios,

sendo o setor controlado por empresas gestoras de plataformas e não por entidades

públicas.

Os proveitos da cadeia de valor neste mercado estão mais distribuídos pela produção e pelo

marketing enquanto os custos se continuam a distribuir uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há menos evidência de os

intermediários terem lucros extraordinários.

MERCADO INTERNACIONAL

É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional.

O subsegmento de desenvolvimento tecnológico é muito aberto e competitivo, com canais

desenvolvidos e de fácil entrada. Dadas as facilidades de entrar neste mercado,

inclusivamente através de plataformas e outros instrumentos digitais, constitui um mercado

natural para as soluções parcelares deste subsetor e para as empresas de soluções

integradas que já tenham sido testadas.

A grande dificuldade em desenvolver atividade neste mercado é a fase de passagem da fase

de venda a segmentos especializados através de canais digitais ou pessoais para a fase de

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

262

venda a segmentos de grande dimensão. Aí os custos de marketing são muitas vezes

proibitivos.

É um mercado sem grandes barreiras ou poderes restritivos da concorrência, onde não

existem evidências de grandes lucros extraordinários em qualquer subsetor ou fase da

cadeia de valor.

O subsegmento de desenvolvimento e gestão de plataformas é de muito mais difícil acesso,

exigindo quantidades significativas de capital. Só grandes empresas ou soluções

completamente inovadoras têm possibilidade de penetrar neste mercado.

É um mercado que pode gerar lucros extraordinários significativos, principalmente nas

atividades de marketing.

Nestes subsegmentos as maiores hipóteses da indústria algarvia estão em segmentos de

mercado ligados ao turismo, aproveitando a curva de experiência e aprendizagem que lhes

proporcionam os mercados algarvios e nacionais.

Dentro dos mercados internacionais poderão ser particularmente interessantes para as

empresas algarvias os mercados em que haja uma grande procura do setor turístico ou uma

grande proximidade. Assim parece ser de salientar o mercado espanhol inglês, americano,

francês e italiano.

Os outros mercados são igualmente mercados menos interessantes que os mercados já

abordados por serem de menor dimensão ou de difícil acesso. Pode, no entanto, destacar-

se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à

sua dimensão e proximidade. Estes são os países do Norte de África, o Brasil e os PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais do setor. Nesta

caracterização importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores finais do setor dividem-se de acordo com o subsegmento do setor. O

subsetor de desenvolvimento tecnológico tem fundamentalmente empresas como

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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consumidores. E o de desenvolvimento e gestão de plataformas tem fundamentalmente

particulares.

As empresas podem dividir-se de acordo com variáveis económicas e financeiras mas a

divisão mais relevante é de acordo com o setor em que atuam:

1. Empresas e entidades turísticas – segmento muito importante tanto no setor da

hotelaria e restauração como no das atrações, entretenimento e lazer, e importante

nos outros setores o cluster; procura sobretudo soluções integradas e testadas tanto

de desenvolvimento tecnológico como de plataformas mas pode pontualmente

considerar soluções mais parcelares ou inovadoras; são sensíveis ao preço e muito à

qualidade do produto;

2. Empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais e de

plataformas – segmento muito importante no segmento de desenvolvimento

tecnológico; têm processos sistemáticos e diversificados de procurement

especializado que privilegiam o cumprimento de requisitos funcionais e os custos;

3. Outras empresas do setor das tecnologias de informação, comunicação e

conhecimento – parecidas com as produtoras de soluções integradas para venda a

consumidores finais mas geralmente menos sofisticadas e mais preocupadas com os

preços;

4. Outras empresas – parecidas com as empresas do cluster do turismo mas mais

diversificadas e interessadas em ofertas de empresas especializadas nos seus

sectores.

Os consumidores particulares, por seu lado, podem agrupar-se de acordo com variáveis

económicas, demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos

de mercado de acordo com a importância que cada segmento dá aos produto e serviços, a

facilidade que têm de mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço

associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos são diversos mas, por uma questão de relevância podem referir-se os

seguintes:

1. Consumidores tecnológicos de elevado rendimento – segmento muito importante

nas plataformas e aplicações, procuram qualidade e consistência, estando dispostos

a pagar por elas; são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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2. Consumidores tecnológicos de baixo rendimento ou mais jovens – segmento

igualmente importante nas plataformas e aplicações, não estão dispostos a pagar

diretamente pela utilização de plataformas, estando mais abertos a suportar

publicidade e gastar mais tempo a procurar informação e serviços digitais;

3. Consumidores não tecnológicos – segmento muito importante nas plataformas,

tendem a utilizar as grandes plataformas consolidadas especializadas no seu

segmento sociodemográfico e interesses; são sensíveis ao preço e pouco sensíveis à

qualidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado

Desenvolvimento Plataformas

Turismo Importante Importante

Soluções integradas e plataformas Secundário Importante

Outras do setor Importante Secundário

Outras empresas Secundário Secundário

Tecnológicos com rendimento Marginal Importante

Tecnológicos sem rendimento Marginal Importante

Outros Marginal Secundário

Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento enfrenta

fundamentalmente três tipos de competidores: pequenas e médias empresas de

desenvolvimento; grandes empresas produtoras de soluções integradas para venda a

consumidores finais; e empresas gestoras de plataformas.

As pequenas e médias empresas tecnológicas que, até há pouco tempo dominavam a

indústria, eram fundamentalmente empresas com poucos recursos económicos, humanos e

tecnológicos; com grandes capacidades técnicas fundamentalmente relacionadas com a

produção; e com estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.

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265

Estas empresas continuam a ser muito importantes mas afastaram-se dos consumidores

finais devido à sua falta de dimensão e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade

estrutural destas empresas é ainda elevada devido à escassez relativa de recursos técnicos

mas a mais reduzida do setor.

As grandes empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais

dominam agora a gestão do desenvolvimento e o marketing em todo o mundo. Têm uma

estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na

diferenciação via flexibilidade e marketing ou via especialização em produto. Normalmente

especializam-se num número pequeno de produtos e processos para eliminar problemas de

coordenação e minimizar o risco de negócio. Mas também podem procurar gerar economias

de escala para competir via custos. As mais pequenas diferenciam-se ainda mais, sendo as

principais produtoras de produtos de nicho.

As empresas de plataformas são mais diversificadas e vão desde as grandes plataformas que

dominam o setor a nível mundial a pequenas empresas de âmbito exclusivamente local. O

fundamental da sua atividade é a obtenção, processamento e disponibilização de

informação pelo que têm um componente produtivo puro mais importante que o das outras

empresas do setor.

O conhecimento, a tecnologia e as capacidades de gestão são fundamentais para estas

empresas que procuram fundamentalmente competir via custos através do aproveitamento

de economias de escala. Para conseguir tal estão interessadas em qualquer ganho de quota

de mercado ou de quota de cliente, enveredando por estratégias de customização e

personalização automatizada da sua oferta. Podem ser mais ou menos intensivas em

conhecimento tecnológico mas são mais intensivas em conhecimento de mercado e dos

consumidores.

COMPETIDORES POR MERCADO

A competição, em termos de mercados competidores, varia de segmento para segmento.

Salientem-se, a importância dos EUA e da China nas plataformas e de uma multiplicidade de

países europeus e em vias de desenvolvimento no subsetor do desenvolvimento.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

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AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser o crescimento dos

custos de produção, designadamente dos relacionados com a mão de obra, e a pressão

concorrencial resultante de competidores geradores de economias de escala.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Aumento da procura direta e derivada dos produtos e serviços do setor, havendo a

possibilidade de aumentarem os preços nalguns produtos em que as empresas

algarvias têm vantagens comparadas;

2. Reorientação da produção para produtos e clientes mais sofisticados e de valor mais

elevado;

3. Orientação para desenvolvimentos utilizadores de novas tecnologias;

4. Satisfação das necessidades do cluster turístico;

5. Aproveitamento das necessidades do cluster turístico local e nacional para a

acumulação de experiência e conhecimento;

6. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas e utilização de novos

sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação;

7. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes e criação de novas

segmentações;

8. Utilização de novas plataformas de contratação e afetação de recursos e de sistemas

automáticos de gestão de plataformas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

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A análise dos elementos anteriores mostra que existem três elementos fundamentais:

conhecimentos técnicos, capacidade de gestão para gerir eficientemente projetos mais

complexas e capacidades de marketing para orientar a atividade para os mercados mais

atrativos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

268

ATIVIDADES CRIATIVAS

ESTRUTURA

O setor das atividades criativas é um setor lato que abrange atividades muito diversas que

vão desde a criação de pequenos conteúdos publicitários escritos até à produção e

distribuição de grandes blockbusters cinematográficos.

Destas atividades, e de um ponto de vista de dinâmica de cluster, os mais relevantes para o

Algarve são o de criação e produção de conteúdos de qualquer formato. Assim esta análise

focar-se-á nestas atividades, mencionando sempre que relevante questões relacionadas

com a distribuição.

A estrutura deste setor é muito parecida com a do sector anterior, dividindo-se entre um

subsetor concorrencial de produção de conteúdos de menor dimensão e um subsetor

menos contestável de produção e distribuição de grandes conteúdos integrados. Haverá

uma preocupação em referir como é possível entrar e competir em ambos os subsetores.

Os principais mercados do setor são idênticos aos do setor anterior, os mercados do

Algarve, o nacional e o internacional. O mercado do Algarve é substancialmente distinto

destes dois últimos, cujos condicionantes últimos do comportamento não são

significativamente diferentes.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e determinação de lucratividade das empresas e aos ambientes algarvio, português e

internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor das atividades criativas é aberto e com poucas regulações específicas. Esta situação

deve manter-se.

Todavia, é um setor incentivado e subsidiado a nível da União Europeia, de uma forma

diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Por razões já referidas, o apoio

ao setor no Algarve é menor que a nível nacional. Este enquadramento, que tem como

objetivo promover o desenvolvimento económico, deve manter-se.

O setor também é apoiado, indiretamente, a nível regional e nacional, através do

lançamento de projetos públicos de proteção e desenvolvimento de elementos

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

269

identificadores da região. Embora o sucesso destas políticas seja muito variável e discutível,

elas devem continuar.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política.

FATORES ECONÓMICOS

Os outputs do setor permitem que os seus consumidores finais beneficiem de ganhos

resultantes da satisfação de necessidades existentes e latentes. Este facto é aproveitado por

empresas que utilizam intensamente diversos conteúdos nas suas atividades de marketing.

Enquanto se continuarem a registar estes ganhos a procura do setor deverá aumentar.

Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito da disponibilidade de recursos

qualificados, da evolução dos custos de produção, designadamente dos salários da mão de

obra qualificada, e da dinâmica empresarial e do financiamento do setor. Em termos gerais,

espera-se que a oferta de mão de obra especializada continue a crescer mas que os custos

salariais da mão de obra qualificada aumentem sustentadamente em todo o mundo. Novas

tecnologias de produção podem compensar este aumento, pelo que a oferta destes

produtos deve aumentar.

O setor da produção de atividades criativas é geralmente um setor intensivo em trabalho

onde não existem muitas economias de escala. Todavia existem economias de escala e

barreiras à entrada nas ultimas fases da cadeia de valor do setor, em resultado das grandes

necessidades de capital que a integração e distribuição de conteúdos de maiores dimensões

exige. Daqui resulta uma estrutura de mercado dual, fracionada nas primeiras fases da

cadeia de valor e oligopolística nas últimas.

Desta dinâmica resulta uma tendência para a existência de algum poder de mercado nestas

últimas empresas que reduzem os resultados das primeiras.

No Algarve o preço da mão de obra deve continuar a aumentar, aumentando os custos de

produção, designadamente das atividades mais intensivas em trabalho. Sem a existência de

alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar

lentamente. O investimento em mais conhecimento e tecnologia poderá atenuar esta

evolução, uma solução desejável e possível para todos os produtores de conteúdos.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de

produção das produções do setor, havendo situações em que a lucratividade dos produtos

pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.

FATORES SOCIAIS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os fatores de natureza cultural e demográfica afetam significativamente a evolução do

sector.

Em primeiro lugar, a crescente diferenciação cultural e de interesses entre diferentes grupos

sociodemográficos e psicográficos tem conduzido ao nascimento de segmentos de

consumidores cada vez mais pequenos, criando procuras cada vez mais diferenciadas.

Muitos destes consumidores valorizam conteúdos identificativos, associados com lugares,

experiências e comportamentos que têm de ser produzidos.

Depois os consumidores querem cada vez mais produtos adaptados às suas necessidades e

interesses, crescendo a necessidade de customização e de personalização de conteúdos.

Por fim, os grupos mais novos e tecnológicos utilizam cada vez mais aplicações e

plataformas em todas as suas atividades de interação social e económica, criando uma

procura derivada de conteúdos.

Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e

potenciais significativos, principalmente a nível de mão de obra, embora a situação atual se

caracterize por uma oferta internacional crescente, designadamente de mão de obra com

qualificações elevadas e alguma experiência.

No Algarve ainda há mão de obra disponível mas a tendência parece ser de redução da

oferta de mão de obra mais experiente e menos qualificada e de aumento da mão de obra

qualificada mas sem experiência.

O desequilíbrio entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma

diferente composição.

Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade

das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e

de marketing. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto prazo. A última é estrutural,

parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de forma muito lenta.

Em resumo, espera-se um aumento da exigência e da procura. O acesso e os custos dos

fatores continuarão a ser um problema.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias relativamente consolidadas mas em

mudança incremental. Esta mudança verifica-se nas tecnologias inbound e outbound, que

cada vez são mais digitalizadas, e ainda mais rapidamente nas tecnologias de produção, que

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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são cada vez mais mecanizadas e automatizadas. As tecnologias de produção estão

desatualizadas na generalidade das empresas algarvias, em resultado dos reduzidos níveis

históricos de investimento em conhecimento e capital.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound

deverá concentrar-se na evolução de tecnologias já existentes, em resultado de esforços de

inovação incremental. O do segmento produtivo pode ainda evoluir em resultado da

introdução de novas tecnologias e da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao

setor.

Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente da evolução competitiva das

empresas do setor e do seu financiamento. O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos

deverá conduzir um aumento da intensidade capitalística do setor, a uma diminuição da

utilização de trabalho, a um aumento da produtividade, a uma diminuição do ciclo

produtivo, a uma redução dos custos de produção e distribuição e a um aumento da

importância da incorporação científica e tecnológica.

Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e de

incorporação de inovações tecnológicas. Tal terá influência em todos os aspetos da sua

cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destacam-se:

1. Novos tipos de conteúdos – cada vez mais móveis e baseados em tecnologias digitais

e outras novas tecnologias como as laser;

2. Novos conteúdos especificamente adequados à integração e interação física-digital –

interfaces de interação entre sistemas digitais e físicos, como a realidade virtual e

realidade aumentada;

3. Novos sistemas e equipamentos automáticas de produção de conteúdos – utilizando

robôs, o machine learning e a inteligência artificial;

4. Novas plataformas de contratação e afetação de recursos – crescimento e

complexificação das plataformas mundiais de contratação;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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5. Novos sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação –

desenvolvimento de técnicas de segmentação e targeting e de mecanismos de

implementação do marketing mix e do esforço de comunicação e vendas.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor é bastante bastante simples e digitalizada. Todas as atividades de

suporte e primárias de inbound, produção e outbound são controladas integralmente pelas

empresas do setor, recorrendo a mercados físicos e digitais. O grosso do valor setorial é

gerado nas atividades de produção e de marketing.

A cadeia de valor das atividades iniciais da cadeia está normalmente fracionada recorrendo

as empresas lideres de mercado (que controlam as atividades de marketing e de gestão de

projetos) à aquisição de imputs e à subcontratação de serviços a empresas e profissionais a

montante. Existem algumas dúvidas sobre as vantagens da integração vertical nesta cadeia

de valor.

A cadeia de valor das atividades finais da cadeia de valor é igualmente simples e digitalizada

mas mais integrada. Continua a haver subcontratação mas existem menos aquisições de

imputs fundamentais. A maior integração desta cadeia de valor resulta do maior peso do

marketing e fundamentalmente da distribuição no valor acrescentado da cadeia da parte

final da cadeia.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

A parte inicial da cadeia de valor do setor das atividades criativas é aberta e concorrencial,

geralmente sem grandes barreiras à entrada ou à saída nem grande poder dos fornecedores

e, consequentemente, sem economias de escala. A exceção é a existência de algumas

barreiras à entrada (devido às necessidades de capital), poder dos clientes (devido à

estrutura oligopolística do mercado) e economias de escala (devido ao investimento em

marketing e vendas) no segmento superior do setor, composto pelas empresas que

produzem e comercializam aos consumidores finais.

Uma consequência desta estrutura de mercado é a inexistência de lucros extraordinários

sustentados na fase inicial da cadeia. Esta situação deve manter-se.

Na fase final da cadeia existem fortes economias de escala devido ao elevado peso dos

custos de desenvolvimento, distribuição e demais custos fixos nos custos totais. Nestas

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

273

circunstâncias cada segmento do mercado tende a ser servido por um conjunto muito

limitado de fornecedores, eventualmente um único se o segmento de mercado for

pequeno.

Assim a lucratividade das empresas que atuam neste subsegmento depende

fundamentalmente da relação entre a sua estrutura de custos médios de longo prazo e a

dimensão do seu mercado. As empresas que atuam em segmento grandes tendem a ter

lucros extraordinários positivos acontecendo o inverso com as que atuam em segmentos

pequenos.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas deste

último setor é geralmente baixa em Portugal e no Algarve, dependo exclusivamente de

decisões estratégicas que as empresas possam tomar sobre os seus mercados-alvo.

No longo prazo espera-se que o efeito das inovações tecnológicas e do desenvolvimento de

mais soluções tecnológicas parcelares e integráveis, diminuam o montante do capital de

capital necessário para entrar nesta indústria o que aumentará a sua intensidade

competitiva, podendo erodir os resultados económicos da empresas instaladas e do

subsetor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo os seus segmentos e a localização

geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Algarve Portugal Internacional

Fases iniciais Mercado secundário Mercado secundário Mercado prioritário

Fases finais Mercado prioritário Mercado secundário Mercado marginal

A importância destes três diferentes mercados depende da dimensão e características da

procura e da capacidade da oferta algarvia.

O mercado algarvio das fases iniciais é um mercado pequeno e concorrencial que, apesar de

não existir grande poder dos clientes, tem uma rentabilidade reduzida. As empresas

algarvias do setor só têm um interesse secundário em dirigir a sua atividade e oferta a

empresas pequenas que não são mais que fornecedoras de segunda ou terceira linha de

empresas maiores ou de pequenos segmentos de consumidores finais. Daí terem um maior

interesse em mercados com maior potencial, como o mercado nacional e, prioritariamente,

o internacional.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Além disso os mercados destas atividades procuram produtos distintos que só podem ser

adequadamente produzidos por empresas que conheçam elementos produtivos e criativos

que permitam criar esses produtos distintos. O conhecimento desses elementos, da cultura

e da estética algarvia, é uma grande vantagem competitiva para as empresas algarvias do

sector. Esta vantagem materializa-se ao nível regional (devido aos mercados turísticos de

proximidade) e fundamentalmente ao nível internacional, devido à existência de grandes

mercados diversificados.

O mercado das fases finais da cadeia tem uma procura com necessidades diferenciadas que

só podem ser adequadamente produzidos por empresas que conheçam essas necessidades.

O conhecimento das necessidades locais é uma grande vantagem competitiva para as

empresas algarvias do setor. Esta vantagem materializa-se fundamentalmente ao nível

regional, atenua-se ao nível nacional, devido à concorrência acrescida, e desaparece ao nível

internacional, devido à existência de à concorrência de empresas com vantagens a nível de

dotação de recursos e aproveitamento de economias de escala.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural dos principais

mercados efetivos ou potenciais do setor.

ALGARVE

O mercado algarvio é um mercado dividido entre um grande cluster de turismo maduro e

sofisticado, algumas pequenas empresas distribuidoras de conteúdos e outros clusters e

setores mais pequenos e menos desenvolvidos.

O cluster do turismo gera um mercado maduro, muito competitivo, tendo as suas empresas

e entidades uma procura elevada e diversificada de muitos conteúdos diversificados.

Infelizmente não existem muitas empresas capazes de suportar uma procura de conteúdos

integrados destinados ao mercado. A maior procura neste segmento é fundamentalmente

de conteúdos de aplicação local. Todavia, existem situações, designadamente nas atrações,

em que existe uma necessidade de grandes projetos de desenvolvimento de conteúdos

adequados às necessidades da região.

Este é um mercado prioritário mas o problema de dimensão das empresas ou entidades do

setor turístico limita a sua capacidade económica para suportarem o desenvolvimento

destes projetos. E existem muitas dúvidas sobre a rentabilidade privada destes projetos.

Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de coordenação ou cooperação.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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As empresas de distribuições de conteúdos são normalmente pequenas e de âmbito de

atuação regional ou local. Geram uma procura relevante de conteúdos mas não suportam

muitas produções replicáveis. Existe no entanto uma oportunidade ou possibilidade de

crescimento de algumas destas empresas e uma oportunidade secundária.

As empresas dos outros setores geram uma procura de pequenos conteúdos mas não

geram uma procura suficientemente grande para suportar o desenvolvimento com

potencial de expansão posterior.

Os canais algarvios de distribuição do setor ainda estão numa fase de desenvolvimento,

sendo muito controlados pelas empresas vendedoras e fornecedoras, mas esta situação

tenderá a corrigir-se com o desenvolvimento do mercado.

Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se no marketing enquanto os custos se

distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e

de suporte. Assim, há alguma, evidência de os intermediários terem lucros extraordinários

na aquisição de conteúdos algarvios.

PORTUGAL

O mercado nacional é um mercado maior e mais complexo que o algarvio. De um ponto de

vista da procura existem os mesmos três segmentos interessantes para as empresas

algarvias que são: as empresas do cluster do turismo; as empresas distribuidoras de

conteúdos; e as empresas de outros setores.

O cluster nacional do turismo é globalmente maior e mais diversificado que o algarvio, com

empresas e entidades com uma procura elevada e diversificada de conteúdos.

Continuam a existir neste mercado poucas empresas com uma dimensão suficientemente

grande para suportarem o desenvolvimento de grandes projetos destinados ao mercado. A

procura deste segmento continua a ser fundamentalmente de pequenos conteúdos de

aplicação local.

No entanto a natureza das necessidades deste mercado é muito parecida com as do

mercado algarvio. Assim a abordagem integrada deste mercado e do algarvio permite obter

a massa crítica necessária para suportar o desenvolvimento de algumas atividades criativas

da fase final da cadeia de valor.

As empresas distribuidoras constituem um mercado muito interessante para as empresas

algarvias de atividades criativas. Têm uma dimensão maior que as algarvias, estruturas de

gestão e marketing mais desenvolvidas, mais experiência acumulada e estão próximas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Assim podem materializar um primeiro passo de um processo de entrada no mercado e de

crescimento de muitas empresas algarvias.

Estas empresas têm necessidades mal satisfeitas pelas soluções locais, nacionais e

internacionais existentes no mercado, que podem ser satisfeitas de uma forma mais

eficiente com uma abordagem integrada do mercado nacional e algarvio. É o que

novamente acontece, por exemplo, com na área da publicidade, da produção digital ou de

informação turística.

Neste mercado integrado continua a haver um problema de dimensão das empresas mas

existem entidades especializadas interessadas em ganhar quota de mercado e de clientes

diversificando a sua oferta. Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de cooperação

ou integração.

As empresas dos outros setores não geram uma procura de suficientemente grande para

suportar o desenvolvimento de grandes projetos integrados com potencial de expansão

posterior. E mesmo que gerassem não se encontra nenhuma vantagem comparada que as

empresas algarvias possam ter para satisfazer esta procura.

Os canais de distribuição nacionais do setor estão numa fase de desenvolvimento mais

avançado que os algarvios. Os canais são menos controlados pelas empresas vendedoras e

fornecedoras, e a situação está a corrigir-se rapidamente com o desenvolvimento do

mercado. E não há evidência de lucros extraordinários em qualquer ponto da cadeia de

valor.

Os canais do subsegmento de plataformas estão muito mais desenvolvidos que os algarvios,

sendo o setor controlado por empresas gestoras de plataformas e não por entidades

públicas.

Os proveitos da cadeia de valor neste mercado estão mais distribuídos pela produção e pelo

marketing enquanto os custos se continuam a distribuir uniformemente ao longo de toda a

cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há menos evidência de os

intermediários terem lucros extraordinários.

MERCADO INTERNACIONAL

É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional.

A procura de conteúdos parcelares faz-se num mercado muito aberto e competitivo, com

canais desenvolvidos e de fácil entrada. Dadas as facilidades de entrar neste mercado,

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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inclusivamente através de plataformas e outros instrumentos digitais, constitui um mercado

natural para as empresas algarvias.

A grande dificuldade em desenvolver atividade neste mercado é a fase de passagem da fase

de venda a segmentos especializados através de canais digitais ou pessoais para a fase de

venda a segmentos de grande dimensão, onde os custos de marketing são proibitivos.

É um mercado sem grandes barreiras ou restrições da concorrência, onde não existem

evidências de lucros extraordinários em qualquer subsetor ou fase da cadeia de valor.

Dentro dos mercados internacionais poderão ser particularmente interessantes para as

empresas algarvias os mercados em que haja uma grande procura do setor turístico ou uma

grande proximidade. Assim parece ser de salientar o mercado espanhol, inglês, americano,

alemão, nórdico, francês e italiano.

Os outros mercados são igualmente mercados menos interessantes que os mercados já

abordados por serem de menor dimensão ou de difícil acesso. Pode, no entanto, destacar-

se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à

sua dimensão e proximidade. Estes são os países do Norte de África, o Brasil e os PALOP.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização dos mercados importa caracterizar os seus principais

tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização importa

diferenciar consumidores finais de intermédios. A conjugação das duas caracterizações

permite determinar os perfis dos diversos mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores finais do setor dividem-se de acordo com subsegmentos. O subsetor de

desenvolvimento tecnológico tem fundamentalmente empresas como consumidores. E o de

desenvolvimento e gestão de plataformas tem fundamentalmente particulares.

As empresas podem dividir-se de acordo com variáveis económicas e financeiras mas a

divisão mais relevante é de acordo com o setor em que atuam:

1. Empresas e entidades turísticas – segmento muito importante tanto no setor da

hotelaria e restauração como no das atrações, entretenimento e lazer, e importante

nos outros setores o cluster; procura sobretudo conteúdos de aplicação

individualizada mas pode pontualmente considerar soluções mais integradas e de

mercado ou inovadoras; são sensíveis ao preço e muito à qualidade do produto;

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2. Empresas distribuidoras – segmento muito importante na procura de atividades da

fase inicial da cadeia; têm processos sistemáticos e diversificados de procurement

especializado que privilegiam o cumprimento de requisitos funcionais e os custos;

3. Outras empresas – parecidas com as empresas do cluster do turismo mas mais

diversificadas e interessadas em ofertas de empresas especializadas.

Os consumidores particulares, por seu lado, podem agrupar-se de acordo com variáveis

económicas, demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos

de mercado de acordo com a importância que cada segmento dá aos produto e serviços, a

facilidade que têm de mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço

associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos tipo.

Os segmentos são diversos podendo, por uma questão de relevância, referir-se os seguintes:

1. Consumidores utilitários – segmento muito importante nos conteúdos informativos,

procuram qualidade e consistência, estando dispostos a pagar por elas; são muito

sensíveis ao preço e à qualidade e menos ao serviço;

2. Consumidores culturais e identitários – segmento importante nos conteúdos

identitários, interessam-se muito pelos suportes dos conteúdos; e são pouco

sensíveis ao preço e ao serviço e muito à qualidade;

3. Consumidores turísticos – segmento muito importante nos conteúdos ligados às

atrações; são sensíveis ao preço e à qualidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado

Fases iniciais Fases finais

Turismo Importante Importante

Distribuição Importante Secundário

Outras empresas Importante Secundário

Utilitários Marginal Importante

Identitários Marginal Importante

Turísticos Marginal Importante

Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia das atividades criativas enfrenta fundamentalmente dois tipos de

competidores: pequenas e médias empresas de criação de conteúdos e grandes empresas

produtoras de produção e distribuição de conteúdos.

As pequenas e médias empresas que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram

fundamentalmente empresas com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos;

com grandes capacidades técnicas fundamentalmente relacionadas com a criação e

produção; e com estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.

Estas empresas continuam a ser muito importantes mas afastaram-se dos consumidores

finais devido à sua falta de dimensão e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade

estrutural destas empresas mantém-se ainda elevada devido à escassez relativa de recursos

técnicos e à reduzida concorrência mas compara muito desfavoravelmente com a média do

sector.

As grandes empresas produtoras e distribuidoras dominam agora a gestão do

desenvolvimento e o marketing em todo o mundo. Têm uma estrutura mais intensiva em

capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

e marketing ou via especialização em produto. Normalmente especializam-se num número

pequeno de produtos e processos para eliminar problemas de coordenação e minimizar o

risco de negócio. Mas também podem procurar gerar economias de escala para competir

via custos.

As mais pequenas diferenciam-se ainda mais, sendo as principais produtoras de produtos de

nicho.

COMPETIDORES POR MERCADO

A competição, em termos de mercados competidores, varia de segmento para segmento.

Salientem-se, a importância dos EUA e da China nas plataformas e de uma multiplicidade de

países europeus e em vias de desenvolvimento no subsetor do desenvolvimento.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser o aumento dos

custos de produção e as dificuldades de acesso a fatores produtivos. A pressão

concorrencial resultante de competidores geradores de economias de escala também é uma

grande ameaça.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Crescimento da procura das atividades do setor;

2. Reorientação da produção para produtos e clientes mais sofisticados e de valor mais

elevado;

3. Satisfação das necessidades do cluster turístico e aproveitamento das necessidades

do cluster turístico local e nacional para a acumulação de experiência e

conhecimento;

4. Novos tipos de conteúdos mais móveis e baseados em tecnologias digitais e outras

novas tecnologias como as laser;

5. Novos conteúdos especificamente adequados à integração e interação física-digital

(realidade virtual e realidade aumentada);

6. Novos sistemas e equipamentos automáticas de produção de conteúdos que

reduzem os custos de produção e permitem diversificar a oferta;

7. Novas plataformas de contratação e de afetação de recursos;

8. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas e utilização de novos

sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do sector interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anteriores mostra que existem três elementos fundamentais:

capacidade criativa e conhecimentos técnicos; capacidade para gerir eficientemente

projetos mais complexos; e capacidades de marketing para orientar a atividade para os

mercados mais atrativos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas

recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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CIÊNCIAS DA VIDA / SAÚDE / RECUPERAÇÃO

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das ciências da vida, saúde e

recuperação inclui as seguintes atividades:

Atividades de saúde humana

Atividades de lazer e bem-estar

Investigação aplicada e baseada nos recursos locais

Investigação focada nos nichos de mercado alvo

Desenvolvimento de produtos farmacêuticos e afins

Atividades de desporto de alto rendimento

Só uma nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do turismo um

sector de saúde e bem-estar. A opção tomada para efeitos de análise externa aquando da

definição da cadeia de valor do cluster do turismo, por razões de semelhanças estruturais

dos setores e dinâmicas dos clusters, foi separar o setor da saúde do setor do bem-estar e

tratar o setor do bem-estar como um subsetor do setor das atrações, entretenimento e

lazer, do cluster do turismo, e tratar o setor da saúde como um setor do cluster da saúde.

Assim não é necessário voltar a abordar o setor das atividades de lazer e bem-estar.

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do

cluster os seguintes CAEs:

21 Fabricação de produtos farmacêuticos de base e de preparações

farmacêuticas

72110 Investigação e desenvolvimento em biotecnologia

86 Atividades de saúde humana

87 Atividades de apoio social com alojamento

88 Atividades de apoio social sem alojamento

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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931 Atividades desportivas

96040 Atividades de bem-estar físico

PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um

conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como

indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu

desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:

Atividades de saúde humana

Atividades de desporto de alto rendimento

Atividades de investigação e desenvolvimento

Nesta estrutura o setor das atividades de lazer e bem estar, tanto as atividades de apoio

social como as de bem estar físico e as atividades de investigação, incluem a investigação

aplicada e baseada nos recursos locais, a investigação focada nos nichos de mercado alvo e

o desenvolvimento de produtos farmacêuticos e afins. Esta agregação resulta tanto da

indisponibilidade de dados para autonomizar setores mais desagregados como do facto de

os setores agregados terem uma natureza semelhante à do setor agregado. A natureza das

suas atividades e os recursos que utilizam são basicamente os mesmos, constituindo de

facto setores únicos e integrados.

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ATIVIDADES DE SAÚDE HUMANA

ESTRUTURA

O setor algarvio da saúde tem uma estrutura mista, com um segmento público e um

segmento privado. O segmento público é constituído por unidades produtivas de

propriedade do estado com receitas maioritariamente originárias da administração central.

O segmento privado é constituído por unidades produtivas de propriedade privada com

receitas fundamentalmente e crescentemente provenientes de sistemas de seguros de

saúde públicos e privados.

Cada segmento e composto por diversos tipos de unidades de produção que vão desde

pequenas unidades de enfermagem e clínica geral até grandes hospitais com diversas

especialidades. O setor oferece quase todas as atividades de saúde humana.

O principal mercado do setor é constituído pelos residentes no Algarve, sendo o mercado

turístico um mercado secundário e o mercado internacional um mercado presentemente

marginal. Cada um destes dois últimos mercados divide-se em dois segmentos diferentes de

acordo com a existência ou não de mecanismos de pagamento público ou por seguros dos

custos dos serviços prestados pelo setor aos consumidores desses mercados.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e

determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor da saúde é um setor misto, público e privado. O subsetor público de saúde, o com

maior peso, é gerido administrativa e centralizadamente. Todas as atividades estratégicas,

de investimento e de desenvolvimento e financeiras são decididas pelo poder central, tendo

as diferentes unidades produtivas uma autonomia basicamente operacional. Estão a ser

feitos esforços para alterar esta situação, procurando que as unidades produtivas tenham

mais autonomia e respondam mais a incentivos de mercado mas estes esforços têm falhado

sistematicamente.

Assim a oferta do subsetor público destina-se fundamentalmente à satisfação das

necessidades correntes da população nacional, tal como entendidas pelo poder político.

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Esta oferta pode estender-se a outros mercados ao abrigo de acordos internacionais de

reciprocidade no acesso a serviços de saúde.

Mas o ponto fundamental é que o subsetor tem os clientes garantidos por razões

económicas pelo que não necessita de se orientar para o mercado ou para o consumidor.

Assim, não tem estratégias competitivas, não procura diferenciar-se e inova muito pouco.

Nada indicia que esta situação se vá alterar no curto ou médio prazo, devendo a oferta do

subsetor continuar a desenvolver-se de acordo com critérios políticos.

O subsetor privado de saúde está sujeito a regulamentações particularmente restritivas de

licenciamento, de processos, de serviços, de seguros, de preços e de responsabilidades. No

entanto está completamente orientado para o mercado, fazendo esforços sistemáticos de

desenvolvimento e implementação de estratégias competitivas.

O enquadramento do subsetor deve manter-se, mantendo-se os fundamentos e

constrangimentos políticos e legais da sua atividade e a dinâmica de mercado regulado de

desenvolvimento da oferta do subsetor.

Existem muitos países da Europa e do mundo com sistemas equiparados ao português mas

também existem muitos outros com sistemas em que a produção de saúde é maioritária ou

totalmente privada, concentrando-se a intervenção do estado na regulação e na garantia de

acesso a cuidados de saúde seja através da subsidiação direta destes cuidados, seja através

da criação ou regulação de sistemas de seguros de saúde de cobertura universal, públicos

ou privados.

Em todos estes países, devido a fatores económicos e sociais discutidos à frente, a

prestação de cuidados de saúde está a sujeita a pressões de custos que geralmente estão a

ser geridas através de racionamentos implícitos do acesso aos cuidados de saúde (aumento

do tempo de atendimento e limitação dos serviços disponíveis). Existiriam soluções

alternativas para lidar com este problema, designadamente a utilização do mecanismo de

preços ou a orientação dos desenvolvimentos tecnológicos e organizativos do setor para a

redução de custos, mas a elevada intervenção e subsidiação do Estado impede ou dificulta a

utilização destas soluções.

Assim existe um grande espaço para uma concorrência agressiva, via custos ou qualidade,

ganhar uma quota de mercado significativa nestes mercados. E nada impede que em muitos

casos esta concorrência se localize no Algarve onde existem vantagens competitivas

designadamente ao nível dos custos da mão de obra. E pode acontecer que os próprios

decisores políticos tenham no médio prazo interesse no desenvolvimento desta oferta

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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alternativa. Tal pode gerar um crescimento significativo da procura dos serviços de saúde no

Algarve.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo existe a possibilidade de reformas nos sistemas públicos de prestação de

cuidados de saúde ou de o acesso a cuidados de saúde estimular a procura da oferta privada

do setor.

FATORES ECONÓMICOS

Os serviços de saúde têm uma elasticidade rendimento elevada e uma elasticidade preço

muito baixa. Estas elasticidades provocam duas dinâmicas que condicionam toda a evolução

do setor. A elasticidade rendimento gera uma procura crescente de serviços de saúde em

todo o mundo. A elasticidade de preço diminui os incentivos de mercado para a orientação

do setor e dos seus fornecedores para tecnologias e metodologias de menores custos. Esta

última dinâmica é agravada pela intervenção e subsidiação pública.

A consequência destas dinâmicas é um aumento sistemático e muito significativo dos custos

do setor.

Esta situação inflacionária está a tornar insustentáveis financeiramente os sistemas públicos

de saúde e está a aumentar a insatisfação de muitos consumidores e eleitores com muitos

sistemas privados. Existe a necessidade de sistemas alternativos, de ofertas alternativas.

O acesso a serviços de saúde é, em muitos casos, garantido por seguros de saúde, públicos e

privados. Mas estes seguros estão sujeitos a problemas graves de assimetria de informação

incluindo moral hazard e, principalmente, adverse selection. Devido a esta razão não existe

nenhum grande país do mundo em que o acesso a cuidados de saúde seja garantido por um

sistema de seguros de saúde facultativo. A regra é que quanto o acesso é garantido por

seguros, estes cubram um elenco pré determinado de cuidados e sejam obrigatórios e

universais.

Mas esta situação acaba sempre por prejudicar alguns segmentos dos consumidores, sejam

os que teriam prémios mais reduzidos por não terem pré-condições clínicas, ou os que não

desejam beneficiar da adverse selection, ou os que não beneficiarão de algumas coberturas,

ou os que têm necessidades de coberturas não abrangidas pelas dos seguros existentes.

Todos estes segmentos de consumidores têm um forte incentivo para evitar a subscrição

dos seguros de saúde obrigatórios e universais. E podem criar uma procura cada vez mais

significativa para seguros e prestadores diferenciados.

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No entanto a existência de uma procura potencial não implica a existência de uma procura

efetiva. Para isto acontecer têm que se verificar algumas condições, entre as quais está a de

que a qualidade percebida da oferta satisfaz os requisitos dos consumidores. E este

problema da diferença entre a qualidade efetiva e percebida é particularmente grande no

setor da saúde.

De facto os consumidores de cuidados de saúde têm muito poucos conhecimentos técnicos

e científicos que lhes permitam avaliar objetivamente a qualidade das ofertas alternativas

de cuidados de saúde. Assim tendem a avaliar estas qualidades através de informação de

contexto, como a sobre a imagem de marca da companhia de seguros ou do hospital que faz

a oferta ou a reputação do país e da região onde se localizam.

A este nível, a oferta algarvia tem muitos problemas. Internacionalmente as suas empresas

de saúde não são conhecidas, a região não é um pólo de prestação de cuidados de saúde

reconhecido e o sistema judicial nacional é muito pouco considerado. Só investimentos

maciços em comunicação e publicidade e parcerias internacionais poderão resolver estes

problemas.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e dos medicamentos e o crescimento mais acelerado

dos equipamentos, designadamente dos com mais incorporação de tecnologia e mais

inovadores. Os custos de produção poderão continuar a aumentar.

Em resumo, espera-se um aumento da procura e dos custos do setor. A procura

internacional pode aumentar substancialmente se algumas condições exigentes forem

satisfeitas.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor. Todos estes fatores, sejam o aumento do nível de vida e exigência dos

consumidores, o envelhecimento da população ou a alteração da estrutura familiar, têm

conduzido a um aumento da procura e a maior preocupação com a qualidade, o serviço e os

resultados dos cuidados de saúde. A procura de serviços mais diferenciados e

personalizados também tem aumentado.

Mantendo-se a dinâmica destes fatores, deverá continuar aumentar a procura de mais e

melhores serviços. Os clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade

e de resultados. E compensações por erros e deficiências.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos nem na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta adequada de mão de obra ao nível nacional, com alguns

problemas na sua distribuição pelo país. Este é mais um problema dos prestadores públicos

que dos privados. A tendência parece ser de aceleração da oferta de mão de obra

qualificada.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos de maior

qualidade. E não se esperam problemas de oferta de recursos que não o aumento dos seus

custos.

FATORES TECNOLÓGICOS

A cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias e metodologias cada vez mais

desenvolvidas e eficazes mas muitos prestadores têm dificuldade em utilizá-las

eficientemente devido a problemas organizativos e processuais.

Tanto as tecnologias inbound e outbound como as tecnologias de produção ou prestação de

cuidados de saúde mudaram muito nas últimas décadas e continuam a mudar rapidamente.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro de desenvolvimento do segmento inbound

deverá concentrar-se em novas tecnologias de comunicações e obtenção de informação, de

aquisições e de logística. Poderá haver uma tendência crescente para a realização de muitas

atividades que previamente eram consideradas de produção neste segmento,

designadamente atividades de classificação e seleção de pacientes. O desenvolvimento do

segmento produtivo dependerá da aplicação de investigação científica pura e aplicada a

novos medicamentos e equipamentos e métodos de diagnóstico e tratamento. Espera-se

uma continuação da diminuição do ciclo médio de produção e o alargamento do tipo de

serviços prestados, cobrindo mais situações clínicas com melhores resultados. O

desenvolvimento do segmento de outbound dependerá de novas tecnologias financeiras e

de seguros.

As tecnologias de produções mudaram e estão a mudar todos os níveis: nos métodos

(crescimento do ambulatório); nos medicamentos e equipamentos; e nos modelos

produtivos (com os novos sistemas de triagem e o crescimento da dimensão dos grandes

hospitais e o nascimento de unidades de atendimento imediato de maior dimensão e mais

diversificadas).

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

289

Estes desenvolvimentos continuarão mas dependerão de três tipos de condicionantes. O do

inbound fundamentalmente do desenvolvimento dos setores relevantes. O da produção da

aplicação da ciência pura e aplicada e da dinâmica competitiva do setor. E o do outbound da

evolução competitiva das empresas financeiras e seguradoras.

O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo

produtivo; a um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica; e um

aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a importância das economias

de escala e consequentemente provocar um aumento da dimensão média das empresas. Os

custos de produção poderão diminuir para alguns tipos de cuidados e atividades mas os

custos globais deverão continuar a aumentar.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Novos sensores biométricos e médicos para utilização corrente – permitem medir

sem custos significativos muitas variáveis médicas como o sono, a temperatura, o

ritmo cardíaco, a tensão arterial, o nível de açúcar e outros compostos no sangue;

2. Soluções de comunicação e interação entre médicos e pacientes – sistemas baseados

em tecnologias de informação e comunicação que permitem e facilitam a

comunicação e interação em tempo real, podendo usar dados de novos sensores e

sistemas de processamento automático da informação obtida pelo médico;

3. Novos equipamentos e metodologias de obtenção de informação de diagnóstico –

tecnologias utilizando uma grande diversidade de práticas que podem ir desde

técnicas de realização de testes genéticos até a utilização de biossensores e

endoscopias fluorescentes;

4. Novos equipamentos e metodologias de diagnóstico – utilizando novas técnicas

como a realidade aumentada e a inteligência artificial;

5. Novos medicamentos – incluindo medicamentos impressos em 3D, medicamentos

personalizados e hormonas sintéticas, entre outros;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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6. Novos equipamentos e terapias – incluindo manipulação genética, cirurgia robótica,

novos materiais e a bioeletrónica;

7. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos – utilizando

novas TICs como a internet of things for healthcare;

8. Novos sistemas de financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS

e sistemas FinTech e InsurTech;

9. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas

informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise macro vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do subsetor público do setor da saúde é bastante simples. Todas as

atividades são controladas pelas unidades produtoras. Há uma hierarquização de

prestadores, tendo algumas unidades menores a função de gatekeepers das maiores

unidades.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas

grandes unidades hospitalares, sendo as outras atividades menos importantes. As

possibilidades de integração vertical neste subsetor já foram totalmente exploradas.

A cadeia de valor do subsetor privado é mais desenvolvida, havendo uma distinção clara

entre prestadores de cuidados de saúde e empresas seguradoras. Continua a haver uma

hierarquização de prestadores mas os mais pequenos estão a consolidar-se em unidades

maiores e mais integradas.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas

grandes clínicas e unidades hospitalares, mas as atividades de suporte, outbound e

marketing têm também uma importância significativa. O setor segurador tem uma

rentabilidade padrão enquanto o de prestação de cuidados de saúde tem uma rentabilidade

mais elevada.

Algumas das possibilidades de integração vertical neste subsetor já foram exploradas mas

esta integração pode ainda vir a ser aprofundada.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

291

O setor algarvio da saúde divide-se num subsetor público, com uma rentabilidade negativa

devido a questões de eficiência e de pricing, e num subsetor privado, com diversos

segmentos e tipos de empresas com rentabilidades variadas.

A estrutura do subsetor privado caracteriza-se pela existência de algumas barreiras à

entrada (conhecimento e licenciamento) e economias de escala (organização, distribuição e

marketing) que crescem com a complexidade dos cuidados, isto é, são maiores para os

hospitais que para os consultórios.

Daqui resulta que a estrutura do subsetor é tanto mais concentrada quanto mais complexas

e integradas são as atividades que realiza. E a intensidade competitiva diminui com a

concentração. A associação deste facto com a elevada elasticidade preço do setor cria uma

lucratividade crescente com a complexidade dos cuidados, e gera rentabilidades elevadas

para os hospitais.

Esta situação apenas é atenuada por algum poder de mercado das companhias seguradoras

que funcionam como um estabilizador dos preços do setor e sustentam muitas pequenas

unidades produtivas devido às suas economias de rede, recursos financeiros e capacidade

de marketing e compras.

O esforço de integração em curso visa anular este problema para a rentabilidade das

empresas do setor. Mas não existem casos históricos internacionais de sucesso neste

esforço de integração porque o mercado de seguros é mais contestável que o de prestação

de cuidados de saúde. Assim é de esperar que esta situação se mantenha.

As empresas individuais do setor dividem-se em pequenas e grandes empresas. As

pequenas têm estruturas de gestão básicas e poucos recursos humanos, tecnológicos e de

capital. A sua competitividade depende do conhecimento e reputação dos seus

profissionais, da sua localização e dos seus custos de produção, designadamente de rendas

e salários.

As grandes empresas têm estruturas mais desenvolvidas, mais recursos e estão mais

integradas. Têm uma vantagem de escala nas operações mais complexas, no marketing e

nas vendas via seguradoras.

Globalmente a atividade destas empresas tem um risco de negócio e financeiro reduzido.

Mas a lucratividade do setor varia com os ciclos económicos e financeiros e com eventuais

dependências de serviços prestados ao setor público.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

292

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é

significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão do seu

esforço de marketing, vendas e de produção. Estas decisões estão a melhorar sustentada

mas lentamente.

No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade da estrutura produtiva das

empresas, designadamente de serviços menos complexos, se vá desenvolvendo em

resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos e da

consolidação. Os custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento dos

preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento

sustentado da lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais

rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas

aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para

gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico, de captação de

novos mercados, de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de

maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria de saúde algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza

dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos

principais mercados.

Algarve Turistas Estrangeiros

Cuidados de saúde Mercado primário Mercado secundário Mercado secundário

Seguros Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal

Os mercados nacionais e algarvios de prestação de cuidados privados de saúde são

mercados concorrenciais onde existe uma oferta diversificada e completa. O crescimento

destes mercados está a desacelerar e os seus custos a aumentar, o que tem pressionando as

margens do subsetor. Mesmo assim continua a ser um mercado interessante e rentável.

Como o mercado de seguros é um mercado aberto, onde podem entrar constantemente

novos competidores e onde alguns fornecedores fundamentais têm um poder significativo,

as pressões sobre o preço deste mercado comprador têm gerado alguma concorrência-

preço e afetado a margem das empresas do mercado.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Os mercados de prestação de cuidados de saúde a turistas são mercados de necessidade e

muito sazonais. As opções destes consumidores são limitadas e são cobrados preços de

mercado pelos serviços prestados. É um mercado interessante e lucrativo quer para o

subsetor público quer para o privado.

Em contrapartida o mercado de seguros é, presentemente muito pequeno. Os turistas vêm

cobertos com seguros públicos e privados adquiridos nos mercados emissores e dificilmente

sentem a necessidade ou adquirem seguros localmente. Existem no entanto algumas

inovações ao nível de InsurTech que podem desenvolver este mercado.

Caso estas inovações se materializem, a competitividade custo da região face aos mercados

emissores criará uma oportunidade de mercado interessante e lucrativa.

Os mercados internacionais de cuidados de saúde são mercados grandes, com uma procura

elevada e diversificada, podendo as empresas do Algarve ter vantagens competitivas

nalgumas atividades e segmentos. É pois um mercado interessante.

No entanto, a abordagem a este mercado, por razões de confiança já referidas, terá de ser

feita através de parcerias, tornando o mercado de seguros pouco viável e interessante.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

ALGARVE

O mercado algarvio é o maior mercado do setor da saúde e é, devido a razões de

proximidade e processuais, o mercado natural do setor.

É um mercado com uma procura grande e diversificada de cuidados de saúde e uma procura

mais reduzida de seguros de saúde. Uma parte do mercado de cuidados de saúde está

reservada por questões de preço para serviços prestados pelo setor público mas existe uma

parte significativa servida pelo setor privado.

Esta prestação privada de cuidados de saúde pode ser coberta por seguros públicos de

saúde e copagamentos do serviço nacional de saúde ou por seguros privados. Os sistemas

públicos de seguros e os copagamentos são principalmente significativos nos meios

auxiliares de diagnóstico, no diagnóstico e tratamento de algumas doenças crónicas e

nalguns tratamentos ambulatórios ou domiciliários.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

294

Os seguros privados são importantes em todas as atividades, sendo a diferença entre as

partes do mercado cobertas ou não por seguros privados mais relacionada com a situação

socioeconómica dos consumidores que com os serviços prestados.

A existência de uma procura não satisfeita pelo setor público, seja subsidiada ou não, torna

o mercado muito interessante para os prestadores de saúde.

Tanto o mercado de prestação de cuidados de saúde como o mercado de seguros de saúde

são mercados maduros, em que existe uma procura sustentada e em que os investimentos

de reposição se começam a sobrepor aos iniciais.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se fundamentalmente na produção, i.e. na

prestação de cuidados de saúde, mas o marketing e os seguros ainda têm algum peso. Os

custos concentram-se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros

extraordinários no setor.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

variáveis sociodemográficas e psicográficas e não parece que existam novas estratégias

viáveis de segmentação de mercados.

Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração dos seguros com a prestação

de cuidados de saúde mas existem dúvidas sobre as suas vantagens económicas públicas e

privadas.

MERCADO TURÍSTICO

Os mercados de prestação de cuidados de saúde a turistas são mercados pequenos e muito

especializados em situações de emergência. Nestes mercados existe alguma concorrência

entre o setor público e o privado uma vez que os serviços prestados aos turistas são

valorizados a preços de mercado mas estão quase universalmente cobertos por seguros

públicos (resultantes de acordos internacionais de reciprocidade na prestação de cuidados

de saúde públicos) ou privados (resultantes de seguros de viagem ou outros).

Nestas circunstâncias o mercado de turistas acaba por ser um mercado que valoriza mais a

qualidade e a segurança que o preço o que o torna interessante tanto para o setor público

como para o setor privado.

Dada a pouca informação que os turistas têm sobre os prestadores locais de saúde a sua

escolha é muito condicionada pelos seguros de que dispõe, tornando os acordos de rede

das unidades prestadoras de cuidados de saúde com as seguradoras um elemento

fundamental de concorrência.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

295

O mercado de seguros, pelo contrário, é pequeno e pouco interessante. Como referido os

turistas vêm cobertos com seguros públicos e privados adquiridos nos mercados emissores

pelo que raramente adquirem seguros locais. Mas os desenvolvimentos da InsurTech,

designadamente a possibilidade de surgirem seguros mais diversificados, customizados e

accionáveis on demand, podem inverter esta situação e permitir o desenvolvimento deste

mercado.

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os mercados internacionais, constituídos por consumidores de todo o mundo que procuram

serviços de saúde fora do seu país de origem, são mercados grandes, diversificados e em

crescimento.

Os consumidores destes mercados procuram serviços que, devido a restrições da oferta,

não conseguem obter nos seus países ou que, devido a diferentes vantagens competitivas,

têm uma melhor relação qualidade/ preço que nos seus países.

Assim estes mercados são potencialmente mais interessantes nos países com serviços

públicos de saúde com mais problemas de sustentabilidade financeira e de oferta ou com

serviços de saúde mais caros. Esta procura potencial pode ser muito interessante para a

indústria algarvia da saúde, designadamente a privada que não enfrenta limitações na

aquisição de recursos e tem vantagens custo face a muitos países ocidentais com custos

salariais médios mais elevados.

No entanto este potencial é mediado pela aversão ao risco dos consumidores que faz com

que estes não procurem cuidados de saúde de qualidade desconhecida. E a indústria de

saúde algarvia não é conhecida internacionalmente, fazendo com que a qualidade dos seus

serviços seja desconhecida.

Assim, o aproveitamento destes mercados potenciais exige um investimento significativo no

marketing da indústria que pode ser feito de duas formas: investimentos maciços em

publicidade ou parcerias e acordos com prestadores de serviços de saúde e seguradoras

internacionais.

Tendo em conta a dimensão relativa da indústria algarvia, esta segunda alternativa é mais

eficiente.

No entanto esta última abordagem torna o mercado de seguros pouco viável e interessante.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

296

Em termos de mercados internacionais podem salientar-se o Reino Unido, a França, a Itália,

a Espanha, os EUA, os países do Norte de África e os PALOP. São países com mercados

grandes ou problemas de restrições, de qualidade ou de custos e preços.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização

importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios ou seguradores.

PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS

Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com as variáveis económicas,

demográficas, psicográficas e comportamentais anteriormente referidas. No entanto, o mais

importante neste setor são as necessidades que os diferentes segmentos de mercado

procuram satisfazer. E a divisão de acordo com estas necessidades permite a criação de

diversos segmentos tipo com comportamentos muito característicos.

Os segmentos mais importantes são:

1. Consumidores de cuidados correntes e custo – é o segmento mais importante do

mercado e composto por consumidores que procuram cuidados correntes ou padrão

(os normalmente disponibilizados pelos sistemas de saúde dos países ocidentais),

com garantias de qualidade e ao melhor preço possível; são os principais clientes dos

sistemas públicos e só adquirem serviços de prestadores privados se

comparticipados por sistemas públicos; compreende a maior parte dos

consumidores regionais e nacionais e uma parte substancial dos turistas;

2. Consumidores de cuidados de qualidade – são um segmento mais pequeno de

consumidores que procuram cuidados de mais qualidade, serviço ou tempestividade,

com garantias de qualidade; são os principais clientes dos sistemas de seguros

privados; compreende uma parte dos consumidores regionais, nacionais, turísticos e

internacionais;

3. Consumidores de cuidados avançados – é um segmento ainda mais pequeno mas

crescente de consumidores que procuram cuidados avançados (não normalmente

disponibilizados pelos sistemas de saúde dos países ocidentais) ou mais tempestivos,

com garantias de qualidade e ao melhor preço possível; são os principais clientes de

seguros privados catastróficos podendo pontualmente adquirir diretamente

cuidados de saúde a prestadores privados; compreende uma parte dos

consumidores regionais, nacionais e internacionais;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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4. Consumidores de inovação – o segmento mais pequeno, de consumidores que

procuram uma última oportunidade, qualquer que seja a sua eficácia ou preço;

compreende parte dos consumidores regionais, nacionais e internacionais.

PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS

Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas de seguros mas também

podem ser entidades seguradoras públicas, são muito importantes neste setor. O único

critério relevante de segmentação destes intermediários é entre os que buscam serviços de

caráter abrangente e os que procuram serviços especializados.

Os primeiros desenvolver uma oferta alargada regional formada por redes de prestadores

ou hospitais enquanto os segundos procuram complementar a sua oferta nacional ou

internacional com serviços de maior qualidade ou menor custo.

CONSUMIDORES POR MERCADO

Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado

Consumidores Consumidores finais Consumidores intermédios

Algarve Alta Média

Portugal Alta Média

Turistas Baixa Alta

Internacionais Baixa Alta

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia da saúde enfrenta fundamentalmente a competição de prestadores de

saúde europeus, designadamente espanhóis, ingleses e suíços. Devido a razões de custos a

concorrência é particularmente significativa no segmento dos cuidados avançados e de

inovação.

Estas empresas concorrentes têm normalmente uma estrutura mais intensiva em capital,

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via especialização ou

marketing.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças ao setor provêm do aumento dos custos de produção, das crescentes

exigências de capital e das pressões dos clientes sobre a qualidade de serviços e a eficácia

dos tratamentos.

Os custos do setor estão a aumentar tanto por causa do aumento dos fatores produtivos

como por causa da necessidade de prestar cada vez mais cuidados e serviços acessórios e

complementares.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:

1. Crescente procura de nacionais, turistas e consumidores internacionais com

necessidades não satisfeitas a custos aceitáveis pelos sistemas de saúde dos

respetivos países;

2. Possibilidade de explorar novos mercados internacionais e novos segmentos de

mercado com ofertas mais especializadas que aproveitem vantagens comparadas de

custos;

3. Contratos com seguradoras internacionais para a prestação de serviços

especializados avançados mas não experimentais;

4. Novos modelos empresariais, com o reforço da subcontratação e a criação de

parcerias complementares internacionais;

5. Crescimento da dimensão média das empresas prestadoras de cuidados de saúde;

6. Novas tecnologias e equipamentos de informação, comunicação, interação e

diagnóstico;

7. Novos medicamentos, equipamentos e terapias;

8. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos;

9. Novos sistemas de financiamento e seguros;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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10. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O principal fator crítico de sucesso num setor com grandes exigências de gestão e elevado

risco financeiro e de negócio é a dimensão das empresas. Isto é reforçado pelas exigências

financeiras e o risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas

exige.

As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter

financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ATIVIDADES DE DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO

ESTRUTURA

O setor algarvio das atividades de desporto de alto rendimento é constituído por um

conjunto alargado de entidades, maioritariamente empresas, que disponibilizam

infraestruturas e serviços a agentes desportivos.

Estas entidades e agentes são de diferentes tipos e dimensões, procurando um conjunto

alargado de infraestruturas e serviços que vão desde campos de futebol até testes clínicos.

As condições climatéricas do Algarve são as ideais para muitos desportos em muitas alturas

do ano e a oferta algarvia de infraestruturas e serviços é bastante alargada.

O principal mercado do setor é constituído por clientes nacionais, europeus e

internacionais.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à

oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e

determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

O setor das atividades de desporto de alto rendimento está sujeito a regulamentações

gerais de licenciamento e processos que não são particularmente restritivas.

Em contrapartida o setor tem muitas vezes de utilizar instalações públicas e o domínio

público, pelo que a sua disponibilidade é importante para o setor. E a este nível pode

enfrentar muitas dificuldades burocráticas de acesso e de utilização.

O setor é livre, com liberdade de entrada e comercial. Mas as atividades do setor têm um

cariz ou origem desportiva, pelo que as normas da sua prática foram desenvolvidas por

entidades desportivas, muitas vezes de caráter associativo, quase sempre estrangeiras. Aqui

existe pois uma dependência de terceiros.

Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto ou médio

prazo de alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor oferta de

bens públicos relevantes.

FATORES ECONÓMICOS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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O setor das atividades de desporto de alto rendimento nasceu como um setor económico e

comercial autónomo há pouco tempo mas tem-se desenvolvido rápida e substancialmente.

Têm sido autonomizados e transacionados cada vez mais processos e metodologias e o

setor está cada vez mais especializado e baseado no mercado via contratação e

subcontratação de serviços. E o setor está agora unificado internacionalmente.

A procura destas atividades depende fundamentalmente da expansão da atividade

desportiva de alta competição, seja em que área for. E estas atividades desportivas estão a

crescer pelo que a procura destas atividades de suporte também está a crescer.

Mas, estando muitos mercados a atingir um estádio de maturidade, a oferta deve começar a

diferenciar-se mais e a procura deve aumentar de uma forma diferenciada por tipo de

atividade e cliente. Espera-se assim, um maior aumento no segmento das atividades

orientadas para desportos com menos peso económico e para entidades desportivas de

menor dimensão.

Perspetiva-se ainda um crescimento sustentado nos mercados relevantes. Como não se

perspetiva, a curto prazo, qualquer perturbação da conjuntura económica internacional, a

dinâmica da procura conjuntural será igual à de longo prazo.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho e das infraestruturas e a manutenção dos custos de

equipamentos. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos

de produção poderão aumentar lentamente.

Convém referir que o subsetor das infraestruturas está muito dependente do custo de

capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas de juro,

havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as

internacionais.

Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de intensidade competitiva e do

estatuto dos desportistas têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o

conforto e a segurança destas atividades. Em segundo lugar as preocupações ambientais

têm conduzido a uma maior preocupação com os processos produtivos, os materiais

utilizados e os consumos destas atividades.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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As entidades clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade. A

importância da reputação e dos sinais visíveis de qualidade das empresas prestadoras de

serviços deverá aumentar. O valor dos equipamentos necessário também, criando uma

maior necessidade de capital circulante e um aumento do risco financeiro do negócio e uma

tendência para o aumento da dimensão média das empresas.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos nem na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares

baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas

e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não

qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O equilíbrio

entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente

composição.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos serviços novos e de

qualidade. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão de obra.

FATORES TECNOLÓGICOS

Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias

inbound e outbound são relativamente tradicionais. As tecnologias de produção mudaram

muito rapidamente nas últimas décadas e ainda estão a mudar rapidamente.

A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de

desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento dos segmentos inbound e

outbound deverá concentrar-se em novas tecnologias de financiamento, logística, de

seguros e transportes. O do segmento produtivo da aplicação de investigação científica pura

e aplicada ao setor.

As tecnologias destas atividades mudaram a todos os níveis, tanto nos processos (cada vez

mais estruturados e quantificados) como nos equipamentos (com o desenvolvimento e

utilização maciça de equipamentos especializados e mesmo individualizados).

A continuação destes desenvolvimentos dependerá de três tipos de condicionantes e

atores. O do inbound do desenvolvimento dos setores relevantes. O da produção da

aplicação da ciência pura e aplicada e das tecnologias dos equipamentos. E o do outbound

da evolução competitiva das empresas financeiras, seguradoras e transportadoras.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da qualidade

e eficácia das atividades; a um aumento da importância da incorporação científica e

tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a

importância das economias de escala e consequentemente provocar um aumento da

dimensão média das empresas do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de

custos das suas empresas.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Novos sensores, equipamentos e metodologias de obtenção de informação –

permitem medir sem custos significativos muitas variáveis biométricas e físicas;

2. Novos equipamentos e metodologias de modelização e avaliação de performances –

utilizando novas técnicas como a inteligência artificial e a realidade virtual e

aumentada;

3. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos – utilizando

novas TICs como a internet of things for healthcare;

4. Novos sistemas de financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS

e sistemas FinTech e InsurTech;

5. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas

informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da

indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor das atividades de desporto de alto rendimento é simples. As

entidades produtoras controlam todas as atividades da cadeia de valor mas focam a

atividade de gestão nas atividades de inbound e outbound e na realização de atividades

produtivas parcelares. A gestão do composto de atividades de uma entidade desportiva é

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gerida por ela, recorrendo a um conjunto mais ou menos alargado de prestadores de

serviços para realizarem atividades parcelares. Ou seja, a prestação de serviços está

fragmentada entre múltiplas empresas com pouco poder sobre os clientes. Assim o poder

dos clientes é grande e o valor gerado pelo setor baixo.

O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas

atividades técnicas muito especializadas e nas grandes instalações desportivas, sendo as

outras atividades menos importantes.

As possibilidades de integração vertical no setor são pequenas mas existem grandes

possibilidades de integração horizontal que estão pouco exploradas.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio das atividades de desporto de alto rendimento está dividido em dois

subsetores: o das infraestruturas e o dos serviços. O subsetor das infraestruturas é

composto por um conjunto limitado de entidades, algumas das quais de elevada dimensão

mormente a nível de capital, especializadas na gestão de instalações desportivas. O subsetor

dos serviços é composto por um conjunto mais alargado e diversificado de pequenas e

médias empresas.

A estrutura do subsetor das infraestruturas caracteriza-se pela existência de algumas

barreiras à entrada (capital e licenciamento) e economias de escala (produção) que crescem

com a dimensão das infraestruturas. Daqui resulta que a estrutura do subsetor deveria ser

tanto mais concentrada quanto maiores as infraestruturas que utiliza.

Infelizmente existem algumas entidades, desportivas e outras, que disponibilizam

infraestruturas para estas atividades como forma de as rentabilizar, criando uma

concorrência adicional. Por esta razão a lucratividade média deste subsetor não é muito

elevada embora com uma grande variância.

De facto, uma gestão eficiente das melhores infraestruturas permite-lhes dirigirem uma

oferta de valor elevado para os melhores clientes, possibilitando uma boa rentabilidade. E

uma gestão pouco agressiva pode conduzir a taxas de ocupação reduzidas e gerar uma má

rentabilidade.

O subsetor dos serviços é um subsetor mais aberto, com menos barreiras à entrada e à

saída e sem poder significativo de compradores ou fornecedores. Consequentemente é um

subsetor concorrencial, com grande rivalidade e intensidade competitiva e uma

rentabilidade padrão.

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As empresas do setor dividem-se em pequenas e grandes empresas. As pequenas têm

estruturas de gestão básicas e poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital. A sua

competitividade depende do conhecimento e reputação dos seus profissionais, da sua

localização e dos seus custos de produção, designadamente de rendas e salários.

As grandes empresas têm estruturas mais desenvolvidas, mais recursos e estão mais

integradas. Têm uma vantagem de escala nas operações mais complexas, no marketing e

nas vendas via seguradoras.

Globalmente a atividade destas empresas tem riscos de negócio e financeiros elevados,

variando a lucratividade do subsetor com os ciclos económicos e financeiros.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é

significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a sua dimensão e a

gestão do seu esforço de marketing, vendas e produção. Estas decisões estão a melhorar

sustentada mas lentamente.

No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade da estrutura produtiva das

empresas, designadamente de serviços mais complexos e integrados, se vá desenvolvendo

em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos e da

consolidação. Os custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento dos

preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento

sustentado da lucratividade do setor.

No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais

rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas

aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para

gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico, de captação de

novos mercados, de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de

maior aumento da lucratividade do setor.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos

e a localização geográfica.

O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.

Algarve Portugal Internacional

Infraestruturas Mercado secundário Mercado primário Mercado primário

Serviços Mercado primário Mercado secundário Mercado secundário

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O mercado algarvio é um mercado de proximidade mas onde a procura é pequena, pouco

sofisticada e muito sensível ao preço. Como o crescimento deste mercado é reduzido e o

mercado é aberto, onde podem entrar constantemente novos competidores e onde alguns

fornecedores fundamentais têm um poder significativo, as pressões sobre o preço deste

mercado comprador têm gerado alguma concorrência preço e afetado a margem das

empresas do mercado.

Além disso o desenvolvimento de ofertas diferenciadas e integradas para este mercado é

difícil. Mesmo assim continua a ser um mercado rentável, principalmente no subsetor dos

serviços.

O mercado nacional tem muitas semelhanças com o algarvio mas é um mercado maior e em

maior crescimento e onde, devido a razões climatéricas, é mais fácil o desenvolvimento de

ofertas diferenciadas. Assim é um mercado rentável e interessante, principalmente no

subsetor das infraestruturas.

Os mercados internacionais são mercados grandes, com uma procura grande e diversificada,

podendo as empresas do Algarve ter vantagens competitivas nalgumas atividades e

segmentos dos dois subsetores. É pois um mercado interessante.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos

principais mercados efetivos ou potenciais do setor.

ALGARVE

O mercado algarvio é um mercado com uma procura reduzida de infraestruturas e uma

procura maior e mais diversificada de serviços. Os consumidores deste mercado são

entidades desportivas de dimensão média ou reduzida, com as suas próprias instalações,

que recorrem intensivamente ao mercado para obter muitos serviços mas que ainda não

procuram muitos serviços mais sofisticados ou integrados.

Tanto o mercado de infraestruturas como o de serviços são mercados de transição entre a

fase de crescimento e a fase de maturidade, em que existe uma procura sustentada que se

pode começar a sofisticar e diferenciar.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na produção, i.e. na

prestação de serviços, sendo o peso das outras atividades pequeno. Os custos concentram-

se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros extraordinários no setor.

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Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

variáveis económicas, como dimensão, e não parece que existam novas estratégias viáveis

de segmentação de mercados.

Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração horizontal mas existem dúvidas

sobre as suas vantagens económicas públicas e privadas.

MERCADO NACIONAL

O mercado nacional é um mercado de maior dimensão e com uma procura mais sofisticada

e diversificada. Os consumidores deste mercado são entidades desportivas de dimensão

média ou grande, com as suas próprias instalações mas que recorrem ao mercado para

obter instalações em determinadas alturas e para obter muitos serviços, alguns dos quais

mais sofisticados e integrados.

Tanto o mercado de infraestruturas como o de serviços já estão na fase de maturidade, em

que existe uma procura sustentada que já se sofisticou e diversificou.

Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na produção, i.e. na

cedência de instalações e na prestação de serviços, sendo o peso das outras atividades mais

reduzido. Os serviços complementares e acessórios têm um peso importante. Os custos

concentram-se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros

extraordinários no setor.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com

variáveis económicas, como dimensão, e não parece que existam novas estratégias viáveis

de segmentação de mercados.

Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração horizontal mas existem dúvidas

sobre as suas vantagens económicas públicas e privadas.

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os mercados internacionais, constituídos por entidades de todo o mundo que procuram

atividades de desporto de alto rendimento fora do seu país de origem, são mercados

grandes, diversificados e em crescimento.

Os consumidores destes mercados procuram instalações e serviços que, devido a restrições

climatéricas ou da oferta, não conseguem obter nos seus países ou que, devido a diferentes

vantagens competitivas, têm uma melhor relação qualidade/preço que nos seus países.

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Assim estes mercados são mais interessantes nos países com custos de trabalho e de capital

elevados e com climas diferentes dos do Algarve. Todavia o aproveitamento destes

mercados potenciais exige um investimento significativo no marketing e vendas da

indústria.

Em termos de mercados internacionais podem salientar-se o Reino Unido, os Países

Escandinavos, a Holanda, a Alemanha, os países do Norte de África e os PALOP. São países

com mercados grandes ou problemas de restrições, de qualidade ou de custos e preços.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores podem agrupar-se fundamentalmente de acordo com variáveis

económicas.

Os segmentos mais importantes são:

1. Praticantes individuais – é um segmento importante do mercado de muitas

infraestruturas menos padrão e muito importante no mercado de muitos serviços;

compõe-no desportistas que procuram atividades com garantias de qualidade e ao

melhor preço possível;

2. Entidades pequenas – são um segmento importante do mercado de serviços,

procurando atividades de menor sofisticação e qualidade, mas pouco importante no

das instalações; preocupam-se mais com o custo global que com os serviços

complementares ou acessórios;

3. Entidades médias – são um dos segmentos mais importantes tanto no mercado de

infraestruturas como no de serviços; procuram atividades mais sofisticadas,

integradas e de qualidade e também se preocupam com o custo global e relativo;

4. Entidades grandes – são também um dos segmentos mais importantes tanto no

mercado de infraestruturas como no de serviços; procuram atividades mais

sofisticadas mas pouco integradas com serviços, preocupando-se muito com a sua

qualidade e com os serviços acessórios e complementares e pouco com o preço

relativo.

CONSUMIDORES POR MERCADO

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Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado

Individuais Pequenas Médias Grandes

Algarve Baixa Alta Média Baixa

Portugal Média Média Alta Média

Internacionais Alta Baixa Média Alta

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia da saúde enfrenta fundamentalmente a competição europeia,

designadamente de espanhóis, franceses e países do Norte da Europa. Devido a razões de

custos médios a concorrência é particularmente significativa no segmento das instalações.

Estas empresas concorrentes têm normalmente uma estrutura mais intensiva em capital,

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via especialização ou

marketing.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças ao setor provêm do aumento dos custos de produção, das crescentes

exigências de capital e economias de escala e do poder dos clientes e da intensidade

competitiva num mercado potencialmente saturado.

Os custos do setor estão a aumentar tanto por causa do aumento dos fatores produtivos

como por causa da necessidade de prestar cada vez mais serviços acessórios e

complementares.

OPORTUNIDADES

O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:

1. Crescente procura de entidades nacionais e internacionais;

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2. Possibilidade de explorar novos mercados e segmentos de mercado com ofertas

especializadas que aproveitem vantagens comparadas de custos;

3. Novos sensores, equipamentos e metodologias de obtenção de informação e de

modelização e avaliação de performances;

4. Novos sistemas de gestão de infraestruturas e equipamentos;

5. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;

6. Crescimento da dimensão média das empresas do setor.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O principal fator crítico de sucesso num setor com grandes exigências de gestão e elevado

risco financeiro e de negócio é a dimensão das empresas. Isto é reforçado pelas exigências

financeiras e o risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas

exige.

As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter

financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ATIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

ESTRUTURA

O setor das atividades de investigação e desenvolvimento do cluster das ciências da vida,

saúde e recuperação não é muito diferente do setor da investigação e desenvolvimento de

novos produtos e equipamentos de apoio ao cluster agroalimentar e florestal.

Tal como aquele tem um objeto muito lato, realizado por um conjunto muito diverso de

atividades e é composto por um conjunto igualmente diverso de entidades.

O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, incluindo a logística

de inbound, a logística de outbound e todas as atividades de suporte, mas concentrando-se

na produção.

As atividades que realiza vão desde a investigação pura e aplicada até à oferta de serviços

de inovação, de desenvolvimento de equipamentos e de desenho de infraestruturas. Dada a

natureza do cluster o âmbito destas atividades é bastante alargado, indo desde o

desenvolvimento de novos medicamentos até a sistemas inteligentes de avaliação e

melhoria de performances físicas.

As entidades do setor vão desde departamentos de I&D, produção e marketing de empresas

produtoras a empresas fornecedoras e laboratórios e universidades, abrangendo as

empresas dos setores já tratados na análise deste cluster mas também entidades

comerciais, logísticas, de armazenagem, de investigação e desenvolvimento tecnológico, de

aluguer de máquinas e equipamentos e outras atividades associativas.

Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de

produtos: investigação e desenvolvimento de novos produtos e investigação e

desenvolvimento de novos equipamentos e instalações. Os outputs do primeiro subsetor

são sobretudo serviços enquanto o do segundo são sobretudo vendas de produtos de

natureza tangível. Por uma questão de abrangência e relevância considera-se que a

expressão “novos produtos” inclui também novos processos.

Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve, de Portugal, da Europa

Ocidental e dos EUA. Pontualmente podem haver transações com mercados do resto da

Europa, Africa e a América do Sul.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio tanto no que diz

respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do

desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.

Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e

dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.

No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem

sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de

investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma

ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.

Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e

das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica

conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,

com o crescimento das vendas ou com os lucros.

Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar

quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras

entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona

eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias

dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.

Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D

independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de

mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos

projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor

esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente

distribuídos entre projetos.

Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos

de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas

entidades e nos projetos com mais valor económico.

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Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos

assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma

natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades

direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por

pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.

E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de

serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de

serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à

ótima.

Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o

desenvolvimento do setor da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é claro:

um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos inovação

e menos eficiência.

O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de

serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do

cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.

Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a

necessidades diferentes das empresas.

A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e

estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma média ou

grande empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada

administrativamente. Mas uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos

projetos que muitas vezes podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes

qualificações académicas. E muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade

financeira e de gestão para endogeneizar os resultados de um grande projeto.

Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas

empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações

adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as médias e grandes empresas no futuro. O

desenvolvimento do cluster é impedido.

Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer

perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em

termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado

para um sistema mais racional.

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Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o

desenvolvimento do setor e do cluster.

FATORES ECONÓMICOS

A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente

em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois

um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:

1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;

2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;

3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para

satisfazer de forma viável essa necessidade;

4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;

5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a

potencial inovação;

6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de

desenvolver a inovação;

7. A adequada organização e gestão do projeto.

Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas

com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.

Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior

número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental

sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários

para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só

empresas com capacidade de gestão e com recursos ou capacidade para os obter,

provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal

permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das

empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior

necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.

As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar

globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade

de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas

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abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do

aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.

Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no

curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise

anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de

I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização

dos preços e da lucratividade no longo prazo.

No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante

considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e

conhecimento e da robotização.

Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala

e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as

plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro

lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a

internacionalização das pequenas e médias empresas.

Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para

grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de

informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de

tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de

sistemas e equipamentos.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do

setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a

ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da

procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em setores mais abertos ao comércio

internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência

produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais

no setor da comercialização e transformação do que no setor produtivo.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura

das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de

processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de

equipamentos devem diminuir.

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Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os

projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem

crescer mais.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e

experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas sectoriais com formação científica

e capacidade de desenvolver I&D incremental.

A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão de obra mais qualificada mas

prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência

necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre

oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.

FATORES TECNOLÓGICOS

Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,

metodológico e tecnológico.

Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de

rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a

crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de

investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,

orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada

vez mais difícil.

No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de

produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa

que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente

acompanhadas e apreendidas pelo setor e que serão listadas na secção seguinte.

O potencial de desenvolvimento do setor de I&D é muito mais significativo e pode

influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a

mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.

Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica

competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades

respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da

qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D. Poderá haver um aumento da

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incorporação científica e tecnológica nos resultados da pesquisa; e um aumento da

complexidade organizativa das entidades do setor.

Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos

do setor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Big Data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e

produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e

qualitativos.

2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços

coletivos;

3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar

soluções interativas para problemas complexos e jogos;

4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas

repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;

5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de

camadas de matéria-prima, importante na produção de protótipos;

6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos

informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;

7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização

e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica

ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou

propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos

grandes gigantes tecnológicos;

8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às

necessidades de utilização, já em fase de crescimento;

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9. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de

suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.

As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades

ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No

caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos

compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades

de produção.

Neste setor em concreto existem algumas possibilidades de integração vertical entre a

cadeia de valor do setor e cadeias de valor a jusante, designadamente no setor das

atividades de desporto de alto rendimento, bem como a possibilidade de spin offs.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e medias entidades com estruturas de

gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção

determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco

eficientes.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou

negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre mark ups dos sobre os custos dos

projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do

volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo

prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,

organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso

externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável

qualquer movimento de mudança destas entidades.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

319

O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise

da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.

No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e

internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos

sobre alguns desportos de alto rendimento que mais procuram o Algarve podem gerar

lucros significativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a

possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.

Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos

países com economias semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e

de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de

inovações e tecnologias de saúde e desporto, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.

Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma

de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes

mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito

elevada.

Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados

efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor

de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado

pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se

fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que

existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes

segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.

Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de

produto.

EUROPA

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Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.

Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D

de qualidade, mas a oferta de I&D é pouco competitiva, muito influenciada por entidades

públicas. Existe a possibilidade de obter boas margens.

Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,

já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos

bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades

de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por

projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,

principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.

EUA

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais

desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano

da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.

A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos

acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.

As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.

OUTROS MERCADOS

Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades

pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, de outros países da América do Sul

e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países lusófonos; dos países do Norte de

África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia do Sul, de outros países do

Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem oportunidades de nicho para

produtos específicos.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.

Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar

consumidores finais de consumidores intermédios.

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A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem

agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é

fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Pequenas empresas de serviços – estão interessados em I&D imbuída em produtos e

serviços; e têm grande preocupação com o preço e os resultados imediatos da sua

aplicação;

2. Médias e grandes empresas de serviços – normalmente interessados em pequenos

projetos de I&D incremental e em I&D imbuída, estão interessados em preço,

resultados rápidos e I&D relativa a produtos de elevada procura e valor;

3. Médias e grandes empresas de infraestruturas – interessados em todos os tipos de

I&D; preocupam-se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr

riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;

4. Grande comércio grossista e retalhista – igualmente interessados em todos os tipos

de I&D, mas principalmente a respeitante a produtos de grande procura;

preocupam-se com o preço e com os resultados; estando mais dispostos a correr

riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;

5. Pequeno e médio comércio generalista – apenas estão interessados em I&D imbuída

em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e com os resultados

imediatos da sua aplicação;

6. Pequeno e médio comércio especializado – interessados em todos os tipos de I&D,

mas principalmente em pequenos projetos incrementais; preocupam-se com o

preço, com os resultados e a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de

I&D e menos dispostos a correr riscos de negócio e em adiar a rentabilidade;

7. Indústria – igualmente interessados em todos os tipos de I&D, tanto em projetos

incrementais como disruptivos de qualquer dimensão; preocupam-se com o preço,

com os resultados e com a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de

I&D e de negócio e em adiar a rentabilidade;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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8. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –

interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja em

produtos ou serviços ou no esforço de marketing; preocupam-se com os resultados

da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e adiar a rentabilidade

9. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de

atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de

negócio e a adiar a rentabilidade;

10. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que

gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e

permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos

de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.

Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o das pequenas e médias

empresas. Os outros segmentos têm pouco peso ou uma procura direcionada para

pequenos projetos.

Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de

avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:

indústria; grande comércio; indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de

serviços; instituições de I&D; grandes empresas de serviços e infraestruturas; empresas de

I&D; médias empresas; e pequeno e médio comércio especializado. Os outros segmentos

têm menos peso.

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de

equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso

das empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a

indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.

PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO

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A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento, de inputs e de

prestação de serviços ao setor.

As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são

fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de

investigação públicos.

Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,

e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e

estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm

normalmente uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do

mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades

na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.

As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente

especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.

Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo

negativa.

As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o

terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,

desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,

como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e

estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em

muitos casos, via especialização em produto.

A investigação e desenvolvimento Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade

estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de

projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande

dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de

negócio.

A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.

A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a

indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

324

eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em

capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

produtiva e de marketing.

Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos

e tecnológicos, e de conhecimentos; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e

grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização

da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na

investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande

segmento do mercado.

A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos

ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a

concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.

Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de

crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas

necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da

adequação da oferta à procura e à concorrência.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades são:

1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as

necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;

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325

2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,

estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas

e equipamentos;

3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;

4. Especialização e divisão do trabalho

5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e

tratamento de informação e produção de conhecimento;

6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;

7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de

espaços inteligentes e o machine learning;

8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o

desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços

de subcontratação;

9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam

grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas

empresas de I&D;

10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento da

oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente estas oportunidades.

Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.

Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários.

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ENERGIAS RENOVÁVEIS

DELIMITAÇÃO

PERSPETIVA DE CLUSTER

De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das ciências energias renováveis

inclui as seguintes atividades:

Atividades de biomassa

Atividades de energia eólica

Atividades de energia solar

Investigação aplicada e baseada nos recursos locais

Investigação focada e demonstração ao mercado

Atividades Industriais e serviços complementares

PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE

Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs

correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes sectores do

cluster os seguintes CAEs:

20591 Fabricação de biodiesel

252 Fabricação de reservatórios, recipientes, caldeiras e radiadores metálicos

para aquecimento central

253 Fabricação de geradores de vapor (exceto caldeiras para aquecimento

central)

256 Tratamento e revestimento de metais; atividades de mecânica geral

2711 Fabricação de motores, geradores e transformadores elétricos

2811 Fabricação de motores e turbinas, exceto motores para aeronaves,

automóveis e motociclos

35 Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio

3821 Tratamento e eliminação de resíduos não perigosos

721 Investigação e desenvolvimento das ciências físicas e naturais

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

327

PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR

Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um

conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como

indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu

desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:

Atividades de produção de energias renováveis

Atividades de investigação e desenvolvimento

Atividades industriais e serviços complementares

Esta agregação resulta tanto da indisponibilidade de dados para autonomizar setores mais

desagregados como do facto de os setores agregados terem uma natureza semelhante à do

setor agregado. A natureza das suas atividades e os recursos que utilizam são basicamente

os mesmos, constituindo de facto setores únicos e integrados.

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ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS

ESTRUTURA

O setor algarvio de produção de energias renováveis dedica-se fundamentalmente à

produção de energia elétrica a partir da biomassa, da energia eólica e da energia solar. A

produção de metano é absolutamente marginal e não direcionada para o mercado e a de

biodiesel é inexistente.

Todo o setor da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis tem garantida a

aquisição da sua produção a preços pré-determinados. Consequentemente a análise deste

setor foca-se fundamentalmente nas suas atividades de inbound, produção e suporte.

O único mercado do setor é o mercado elétrico nacional.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se refere, exceto

quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e

determinação de lucratividade e ao ambiente nacional no que diz respeito à procura e

determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

Dada a importância económica fundamental da eletricidade, a existência de grandes efeitos

de rede e economias de escala na sua distribuição e as grandes barreiras à entrada e saída

na indústria de produção de energia elétrica, o setor da produção e distribuição de

eletricidade é fortemente controlado pelos Estados em quase todo o mundo.

Em Portugal aplica-se um enquadramento regulamentar, definido pelas autoridades

europeias e nacionais, cujos principais pilares, que são comuns a outros países, são a

liberalização controlada dos mercados comerciais, a forte limitação do acesso e

regulamentação da distribuição e a concorrência controlada por autorizações e

licenciamentos da produção e por preços de venda determinados politicamente.

A estes pilares acrescenta-se um esquema de tributação dos consumidores de eletricidade

para subsidiação dos produtores de energias renováveis, que beneficiam de um preço de

venda da sua produção muito favorável. E acrescenta-se ainda, a habitual regulamentação

de licenciamentos, processos e mercados.

O funcionamento e os incentivos deste esquema regulatório dependem criticamente de

cinco fatores: da evolução da procura de energia (que será analisada na secção seguinte),

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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das autorizações de construção de novas unidades produtoras de energia, da evolução do

preço dos combustíveis fósseis (que será analisada na secção seguinte), do poder político

dos produtores e, principalmente, da relação de poder entre estes e os consumidores de

energia.

As autorizações de construção são influenciadas pela necessidade de satisfazer a procura e

de manter um composto de fontes produtoras diversificado e com um custo aceitável. O

poder dos produtores pode influenciar este composto mas é fundamentalmente utilizado

para manter o mercado protegido e os preços da energia elétrica a um nível que preserve a

lucratividade do setor e dos seus diversos subsetores. Estes fatores parecem estar em

equilíbrio estacionário.

A relação de poder entre produtores e consumidores é o fator chave de determinação dos

preços e, consequentemente, do funcionamento concreto e dos incentivos de todo o

sistema. Os produtores desejam que o preço médio da energia e em especial da energia que

produzem seja a mais elevada possível, o que prejudica os interesses dos consumidores.

Esta tensão é intrínseca ao sistema e, desde há bastante tempo, tem sido arbitrada pelo

Estado de uma forma que beneficia mais os produtores, designadamente os de energias

alternativas, que os consumidores.

Qualquer alteração desta relação de força pode gerar um movimento de redução dos preços

da energia o que criará pressões adicionais para a substituição de energias renováveis (mais

caras) por energias baseadas em combustíveis fósseis (mais baratas).

Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de

alteração deste enquadramento nem da forma concreta que assume. A situação parece ser

de equilíbrio estacionário, havendo uma aceitação generalizada (ou resignada) do sistema e

dos seus parâmetros.

Existe, no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade da alteração de um destes

fatores, como uma diminuição da procura ou uma queda adicional dos preços dos

combustíveis fósseis, colocar os preços da energia elétrica sob pressão. E uma diminuição

dos preços do setor colocará em causa o sistema de subsidiação das energias renováveis.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a

médio prazo choques no sistema podem colocar sob pressão os preços pagos aos

produtores de energias renováveis.

FATORES ECONÓMICOS

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Os custos de produção da energia elétrica são determinados pelo seu custo marginal de

longo prazo. Ora a fonte de energia marginal é a produzida a partir dos combustíveis fósseis.

Isto porque as unidades de produção deste tipo de energia têm custos de produção

inferiores aos das outras fontes com capacidade produtiva expansível. E os custos dos

combustíveis fósseis estão num mínimo de longo prazo, em resultado de um crescimento

significativo e sustentável da oferta destes combustíveis (devido principalmente ao

fraturamento hidráulico e à extração de petróleo de xistos betuminosos). Portanto o custo

da energia deve continuar baixo.

A procura de eletricidade tem uma elasticidade rendimento ligeiramente inferior à unidade

e uma elasticidade preço muito reduzida. A procura cresce com o rendimento nacional.

Uma vez que se espera uma continuação do crescimento económico estrutural e a

manutenção dos custos de produção de energia a partir de combustíveis fósseis, é de

esperar que a procura de eletricidade continue a aumentar.

Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura

económica europeia ou nacional, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual

à de longo prazo.

No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta

mas sustentada dos custos do trabalho que, devido à pequena intensidade em trabalho do

setor, será pouco relevante para o custo total de produção de energia. Um eventual e

possível aumento conjuntural dos custos de capital terá maiores efeitos sobre os custos do

setor.

FATORES SOCIAIS

Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a

evolução do setor, designadamente estimulando em geral a sua procura global e a procura

de energias renováveis em particular.

Estes fatores prendem-se fundamentalmente com o aumento das preocupações ambientais

e com a ideia de que os combustíveis baseados no carbono são prejudiciais para o

ambiente. Daqui decorre uma transferência da procura de energia das fontes diretamente

utilizadoras de carbono, como os combustíveis fósseis, para as fontes não diretamente

utilizadoras de carbono, como a eletricidade e principalmente para as fontes que não

utilizam nem indiretamente carbono, como a eletricidade produzida a partir de fontes

renováveis.

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Este tipo de fatores tem impacto no valor que muitos grupos de consumidores, e

consequentemente distribuidores e comercializadores de energia, estão dispostos a pagar

por energia elétrica principalmente pela produzida a partir de fontes renováveis.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto no capital. O setor é muito intensivo em capital, existindo

em Portugal um risco elevado de surgirem dificuldades financeiras que possam limitar o

acesso a capital e aumentar o seu custo, com um impacto significativo nos custos do setor.

Não existem problemas com a oferta de mão de obra.

Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura de eletricidade, maior na

produzida a partir de fontes renováveis.

FATORES TECNOLÓGICOS

A produtividade do setor está muito dependente de duas questões tecnológica: a primeira é

a taxa de conversão da energia das fontes alternativas em energia elétrica e a segunda é a

armazenagem de energia.

As taxas de conversão de energia são determinadas pelas tecnologias atuais permitindo

hierarquizar a eficiência e o custo das principais fontes alternativas, de acordo com a

seguinte ordem: combustíveis fósseis, energia eólica, energia solar e energia das marés. Esta

ordem é também a ordem da maturidade ou proximidade da máxima eficácia teórica de

cada fonte de energia. Assim a ordenação da produtividade deve manter-se mas os ganhos

na taxa de conversão dos combustíveis fósseis devem ser menores que na energia eólica

que serão menores que na energia solar e assim sucessivamente.

A armazenagem é fundamental para valorizar a energia, permitindo a sua disponibilização

aos distribuidores e consumidores quando há procura. Existe uma investigação enorme nas

tecnologias de armazenagem de energia, tendo-se verificado recentemente a existência de

avanços significativos que devem continuar.

Estes avanços nestas tecnologias podem melhorar bastante a eficiência na produção de

energias alternativas reduzindo o seu custo e aumentando a sua competitividade para níveis

mais aproximados dos das energias fósseis.

A sua concretização depende da continuação da investigação pura e aplicada que

dependerá fundamentalmente das dinâmicas competitivas das empresas do setor e do

financiamento do setor de investigação e desenvolvimento.

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O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição dos

custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da incorporação científica

e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.

Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor

com influência na estrutura produtiva e de custos das empresas e na sua competitividade.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Sistemas de recolha de dados e monitorização do funcionamento de equipamentos –

drones e sensores eletrónicos;

2. Novas turbinas e novos tipos de turbinas eólicas mais eficientes – turbinas de vortex,

turbinas flutuantes de alta altitude, turbinas de túnel de vento e elípticas e mini

turbinas, entre muitas outras;

3. Novos painéis solares e tipos de painéis solares – construídos com novos materiais,

mais camadas e, eventualmente utilizando uma tecnologia de feixes de luz;

4. Novas tecnologias de armazenamento de energia – baseadas em baterias ou em

propriedades físicas de formações geológicas específicas.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor das energias alternativas algarvio é bastante simples. Tanto as

atividades primárias como as atividades de suporte são controladas, dentro das restrições

regulamentares existentes, pelas empresas produtoras. A atividade de marketing e vendas é

reduzida e com uma natureza contratual. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades

de investimento, financiamento e produção.

No atual quadro regulamentar não existem possibilidades de integração vertical mas

existem possibilidades de integração horizontal que podem beneficiar as empresas

produtoras, melhorando a oferta e diminuindo riscos de negócio.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

333

O setor algarvio das energias alternativas é atualmente composto por médias unidades

produtoras, propriedade de médias e grandes empresas com estruturas de gestão

desenvolvidas; com recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção máxima

pré-determinada regulamentar e contratualmente e a produção efetiva dependente de

condições climatéricas; e tomadoras de preços.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas do setor depende

exclusivamente de decisões do regulador e da eficiência produtiva das próprias empresas.

É de esperar que a eficiência produtiva das empresas vá aumentando em resultado do

investimento continuado em novos equipamentos e que os seus custos se vão reduzindo, o

que fará com que exista um potencial de melhoria da rentabilidade setorial, dependente da

evolução dos preços de venda.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

O mercado da indústria de energias alternativas algarvia é o nacional, sendo a rentabilidade

dos mercados igual à do setor.

ANÁLISE DOS MERCADOS

O mercado da indústria de energias alternativas algarvia é o nacional, sendo a

caracterização dos mercados igual à do setor.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

O mercado do setor das energias alternativas é um mercado industrial regulado em que o

comprador é uma empresa de distribuição.

Assim os aspetos relevantes a considerar na determinação da oferta dos produtores

algarvios são características económicas e comerciais do produto, de que se destacam:

Altura do dia e do ano em que se dá o fornecimento;

Consistência do fornecimento;

Componente de carbono da produção.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Note-se todavia que todos os produtores têm garantido o escoamento da

sua produção a preços predeterminados pelo que a verdadeira concorrência não se faz via

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

334

preço ou mesmo produto em sentido lato mas via acesso a fontes de energias alternativas,

locais onde é possível instalar parques eólicos ou solares.

PERFIS DOS COMPETIDORES

A indústria algarvia das energias alternativas enfrenta fundamentalmente três tipos de

competidores: grandes empresas produtoras nacionais e internacionais, médias empresas

especializadas e investidores de oportunidade.

As grandes empresas são normalmente empresas com atividade internacional e em

múltiplas áreas da produção de energia. Têm bastantes recursos económicos e financeiros,

humanos e tecnológicos; boas ligações institucionais; conhecimento do mercado e da

indústria; capacidades de financiamento, desenvolvimento e produção; e estratégias de

crescimento, de oferta alargada e de minimização de custos.

Estas empresas continuam a ser muito importantes mas perderam algum peso para os

outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e rapidez. No entanto

continuam a ter grandes vantagens competitivas e uma rentabilidade estrutural elevada.

As médias empresas especializadas começaram a nascer com a explosão das energias

alternativas mas já têm um peso significativo. Têm uma estrutura mais intensiva em

conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na especialização de produto.

Pontualmente têm menos ligações institucionais e acesso a capital que as grandes empresas

mas podem ser mais eficientes e inovadoras nas suas áreas de atuação.

A rentabilidade destas empresas é mais variável e tendencialmente menor que a das

grandes empresas.

Os investidores de oportunidade são um grupo transitório na indústria. São normalmente

grandes investidores, individuais ou empresariais, incluindo entidades financeiras, que

aproveitam uma oportunidade de desenvolvimento para criar uma unidade produtiva para

posterior venda a uma empresa do setor. Podendo ser mais ou menos intensivos em

conhecimento e tecnologia, têm sempre fortes ligações institucionais e acesso a capital. A

rentabilidade destas empresas é normalmente reduzida mas a rentabilidade das operações

financeiras que as geram é elevada.

COMPETIDORES POR MERCADO

Em termos de mercados, os principais competidores dos produtores algarvios são nacionais,

mas alguns países da União Europeia, como a Espanha e o Reino Unido, e do resto do

mundo, como os EUA e a China, podem ter uma atividade importante no sector.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

335

A estrutura da indústria de cada um destes países é variada mas inclui sempre os três tipos

de perfis de competidores referidos acima.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser uma eventual

redução do preço de eletricidade, designadamente da com origem em fontes renováveis e o

aumento do custo de capital em caso de crise financeira.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:

1. Aumento da procura tanto para a eletricidade em geral como para a de fontes

alternativas em particular;

2. Sistemas de recolha de dados e monitorização do funcionamento de equipamentos;

3. Novas tecnologias com melhores taxas de conversão e novas tecnologias de

armazenamento de energia;

4. Sistemas de produção híbridos capazes de garantir uma produção mais estável,

aumentando a produção nos picos de procura;

5. Novas turbinas e novos tipos de turbinas eólicas mais eficientes;

6. Novos painéis solares e tipos de painéis solares;

7. Concentração ou integração e aumento da dimensão média das empresas.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que

uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto

elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como

elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

336

eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de

mercado.

A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:

dimensão elevada para aproveitar economias de escala e diversificar risco de negócio e

capacidade de obter financiamento para investir em novas operações e equipamentos.

Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual. Tal permitiria às

empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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ATIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

ESTRUTURA

O setor das atividades de investigação e desenvolvimento do cluster das energias

alternativas algarvio não é muito diferente dos outros setores de investigação e

desenvolvimento algarvios.

O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, mas concentrando-

se na atividade produtiva. As atividades que realiza vão desde a investigação pura e aplicada

até à oferta de serviços de inovação, de desenvolvimento de equipamentos e de desenho de

infraestruturas. As entidades do setor incluem departamentos de I&D e produção de

empresas produtoras e fornecedoras, laboratórios e universidades.

Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de

produtos: investigação e desenvolvimento de novos equipamentos e serviços e investigação

e desenvolvimento de novas unidades. O output do primeiro subsetor são sobretudo

produtos de natureza tangível serviços enquanto o do segundo são sobretudo serviços de

apoio ao investimento.

Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve e de Portugal.

Pontualmente pode haver transações com mercados da Europa Ocidental, dos EUA, do

resto da Europa, de África e da América do Sul.

ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE

Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se

refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio tanto no que diz

respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.

FATORES POLÍTICOS

A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do

desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.

Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e

dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.

No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem

sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de

investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma

ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

338

Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e

das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica

conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,

com o crescimento das vendas ou com os lucros.

Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar

quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras

entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona

eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias

dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.

Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D

independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de

mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos

projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor

esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente

distribuídos entre projetos.

Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos

de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas

entidades e nos projetos com mais valor económico.

Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos

assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma

natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades

direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por

pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.

E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de

serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de

serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à

ótima.

Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o

desenvolvimento do setor da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é claro:

um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos inovação

e menos eficiência.

O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de

serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

339

cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.

Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a

necessidades diferentes das empresas.

A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e

estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma grande

empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada administrativamente. Mas

uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos projetos que muitas vezes

podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes qualificações académicas. E

muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade financeira e de gestão para

endogeneizar os resultados de um grande projeto.

Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas

empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações

adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as grandes empresas no futuro. O

desenvolvimento do cluster é impedido.

Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer

perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em

termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado

para um sistema mais racional.

Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o

desenvolvimento do setor e do cluster.

FATORES ECONÓMICOS

A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente

em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois

um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:

1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;

2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;

3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para

satisfazer de forma viável essa necessidade;

4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;

5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a

potencial inovação;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de

desenvolver a inovação;

7. A adequada organização e gestão do projeto.

Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas

com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.

Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior

número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental

sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários

para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só

empresas com capacidade de gestão e de com recursos ou capacidade de os obter,

provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal

permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das

empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior

necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.

As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar

globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade

de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas

abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do

aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.

Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no

curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise

anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de

I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização

dos preços e da lucratividade no longo prazo.

No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante

considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e

conhecimento e na robotização.

Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala

e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as

plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro

lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a

internacionalização das pequenas e médias empresas.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para

grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de

informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de

tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de

sistemas e equipamentos.

FATORES SOCIAIS

Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do

setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a

ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da

procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em sectores mais abertos ao comércio

internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência

produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais

no setor da comercialização e transformação do que no sector produtivo.

Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do

setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura

das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de

processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de

equipamentos devem diminuir.

Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os

projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem

crescer mais.

Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos

ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual

caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e

experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas setoriais com formação científica

e capacidade de desenvolver I&D incremental.

A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão de obra mais qualificada mas

prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência

necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre

oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.

FATORES TECNOLÓGICOS

Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,

metodológico e tecnológico.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

342

Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de

rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a

crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de

investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,

orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada

vez mais difícil.

No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de

produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa

que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente

acompanhadas e apreendidas pelo sector e que serão listadas na secção seguinte.

O potencial de desenvolvimento do setor de I&D é muito mais significativo e pode

influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a

mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.

Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica

competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades

respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da

qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D. Poderá haver um aumento da

incorporação científica e tecnológica nos resultados da pesquisa; e um aumento da

complexidade organizativa das entidades do setor.

Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos

do setor.

OFERTA TECNOLÓGICA

Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica

disponível e previsível. Entre esta destaca-se:

1. Big Data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e

produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e

qualitativos.

2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços

colectivos;

3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar

soluções iterativas para problemas complexos e jogos;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas

repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;

5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de

camadas de matéria-prima, importante na produção de protótipos;

6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos

informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing

designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;

7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização

e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica

ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou

propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos

grandes gigantes tecnológicos;

8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às

necessidades de utilização, já em fase de crescimento;

9. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de

nichos.

ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE

Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.

CADEIA DE VALOR

A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de

suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.

As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades

ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No

caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos

compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas

compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades

de produção.

Neste setor em concreto existem algumas possibilidades de integração vertical entre a

cadeia de valor do setor e cadeias de valor a jusante, designadamente no setor das

atividades de desporto de alto rendimento, bem como a possibilidade de spin offs.

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LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR

O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e médias entidades com estruturas de

gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção

determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco

eficientes.

No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou

negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre markups dos sobre os custos dos

projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do

volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo

prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,

organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua

lucratividade.

No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso

externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável

qualquer movimento de mudança destas entidades.

LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS

O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise

da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.

No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e

internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos

sobre alguns desportos de alto rendimento que mais procuram o Algarve podem gerar

lucros significativos.

ANÁLISE DOS MERCADOS

Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a

possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.

Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos

países com economias semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e

de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de

inovações e tecnologias de saúde e desporto, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.

Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma

de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito

elevada.

Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados

efetivos ou potenciais do setor.

PORTUGAL

É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor

de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado

pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.

Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se

fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que

existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes

segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.

Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de

produto.

EUROPA

Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito

interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.

Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D

de qualidade, mas a oferta de I&D é pouco competitiva, muito influenciada por entidades

públicas. Existe a possibilidade de obter boas margens.

Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,

já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos

bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades

de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por

projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,

principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.

EUA

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais

desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano

da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.

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A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos

acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.

As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.

OUTROS MERCADOS

Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades

pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, de outros países da América do Sul

e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países lusófonos; dos países do Norte de

África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia do Sul, de outros países do

Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem oportunidades de nicho para

produtos específicos.

ANÁLISE DOS CONSUMIDORES

Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os

principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.

Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar

consumidores finais de consumidores intermédios.

A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos

mercados, segmentos e nichos.

PERFIS DOS CONSUMIDORES

Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem

agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é

fácil.

Os segmentos mais importantes são:

1. Médias empresas produtoras – estão interessadas em I&D imbuída em produtos e

serviços e em projetos de I&D incremental; e têm grande preocupação com o preço

e os resultados rápidos da sua aplicação;

2. Grandes empresas produtoras – interessados em todos os tipos de I&D; preocupam-

se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr riscos de I&D e de

negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;

3. Investidores de oportunidade – estão interessados em I&D imbuída em produtos e

serviços e em pequenos projetos de I&D incremental; e têm grande preocupação

com o preço e os resultados rápidos da sua aplicação;

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

347

4. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –

interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja em

produtos ou serviços ou no esforço de marketing; preocupam-se com os resultados

da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e adiar a rentabilidade,

5. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de

atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de

negócio e a adiar a rentabilidade;

6. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que

gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e

permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos

de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.

CONSUMIDORES POR MERCADO

A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.

Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o das médias empresas. Os outros

segmentos têm pouco peso ou uma procura direcionada para pequenos projetos.

Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de

avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:

grandes empresas; indústria de bens de equipamento e de prestação de serviços;

instituições de I&D; grandes empresas de serviços e infraestruturas; empresas de I&D;

médias empresas; e investidores de oportunidade. Os outros segmentos têm menos peso.

A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de

equipamento e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso das

empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.

ANÁLISE DOS COMPETIDORES

Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os

competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores

na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a

indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.

PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

348

A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:

instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento e de prestação de

serviços ao setor.

As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são

fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de

investigação públicos.

Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,

e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e

estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm

normalmente uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do

mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades

na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.

As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente

especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.

Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo

negativa.

As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o

terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,

desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,

como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e

estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em

muitos casos, via especialização em produto.

A investigação e desenvolvimento. Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade

estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de

projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande

dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de

negócio.

A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.

A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a

indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

349

eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em

capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade

produtiva e de marketing.

Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos

e tecnológicos, e de conhecimentos; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e

grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização

da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.

Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na

investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande

segmento do mercado.

A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos

ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às

entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus

mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.

AMEAÇAS

A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a

concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.

Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de

crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas

necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da

adequação da oferta à procura e à concorrência.

OPORTUNIDADES

As principais oportunidades são:

1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as

necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;

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2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,

estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas

e equipamentos;

3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;

4. Especialização e divisão do trabalho

5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e

tratamento de informação e produção de conhecimento;

6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;

7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de

espaços inteligentes e o machine learning;

8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o

desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços

de subcontratação;

9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam

grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas

empresas de I&D;

10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade

estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento da

oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente estas oportunidades.

Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para

investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.

Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de

forma eficiente os recursos necessários.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

351

ATIVIDADES INDUSTRIAIS E SERVIÇOS COMPLEMENTARES

Tal como do setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar e o sector dos

serviços e produtos complementares do cluster agroalimentar e florestal, este setor das

atividades industriais e serviços complementares engloba um conjunto muito diversificado

de atividades de que se podem destacar atividades industriais, de construção, comerciais,

de transportes, de informação e comunicação, de consultoria científica e técnica,

administrativas e de investigação e desenvolvimento, entre outras.

O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas

necessidades. O cluster impulsiona procura por estas atividades que lhe respondem.

O fundamental é saber se os fornecedores dos produtos e serviços destas atividades a que

as empresas locais do cluster têm acesso têm capacidade para satisfazer a procura do

cluster local de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou vantagens significativas

para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses fornecedores. O que se procura

é a exceção.

É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem

competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.

É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise

por amostragem evidencia três factos importantes:

1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são

transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver

vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar

barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;

2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo

internacionalmente fornecedores com relações qualidade preço bastante diferentes

– quem quiser, e disso tirar vantagens económicas, pode recorrer aos mercados

locais, nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação

qualidade-preço que desejar, sendo certo que a generalidade dos produtos e

equipamentos utilizados pelo setor são produzidos em condições técnicas em que

existem economias de escala significativas;

3. Não existe nenhuma atividade em que a região do Algarve tenha vantagens

competitivas claras, podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas

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atividades industriais em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente

as ligadas a segmentos das indústrias atrás mencionadas).

Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.

Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros

tiver facilidade em recorrer a fornecedores internacionais diretamente tem uma vantagem

competitiva face aos concorrentes locais.

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ANEXO A: METODOLOGIA GERAL

Os trabalhos a concurso têm a natureza de estudos estratégicos pelo que a definição dos

modelos conceptuais de análise estratégica e de definição estratégica a utilizar na sua

realização é fundamental.

Assim foi essencial decidir qual seria o modelo teórico de análise e definição estratégica

mais adequado. Para tal fez-se uma cuidada análise das peças concursais, dos documentos

disponíveis sobre o processo que conduziu ao lançamento do concurso e de diversa

informação sobre a realidade concreta das empresas que em última instância se pretende

beneficiar.

MODELO ESTRATÉGICO TEÓRICO

Com base neste trabalho concluiu-se que o modelo teórico adequado seria um modelo

confrontação de uma análise externa com uma análise interna para seleção de vantagens

competitivas, estratégias, políticas e tecnologias. Apresenta-se a seguir um esquema desse

modelo.

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Como se propõe a utilização deste modelo, é importante a sua descrição detalhada.

O modelo tem duas fases: análise e definição, sequenciais mas iterativas

ANÁLISE ESTRATÉGICA

A fase de análise abrange os seguintes aspetos:

a) A determinação das condicionantes e potenciais alterações da oferta nos setores e

mercados abrangidos e potenciais aumentos ou diminuições da procura dirigida aos

setores, aos mercados e às empresas abrangidas – oportunidades e ameaças;

b) A determinação das condições necessárias para uma empresa responder com sucesso a

cada oportunidade – fatores críticos de sucesso;

c) A determinação do potencial dos recursos e capacidades de diferentes empresas dos

setores abrangidos para satisfazerem ou não essas condições – forças e fraquezas;

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355

d) A avaliação da capacidade dessas empresas satisfazerem os fatores críticos de sucesso

melhor que a concorrência – vantagens competitivas;

e) A determinação do grau de sustentabilidade dessas vantagens competitivas – vantagens

competitivas sustentáveis e competências fundamentais;

f) A discussão e listagem das oportunidades e ameaças tendo em consideração os

associados fatores críticos de sucesso e as forças e fraquezas, vantagens competitivas e

competências fundamentais da empresa – análise SWOT.

A ANÁLISE EXTERNA

A análise começa pela análise externa, a descrição da situação e da dinâmica dos sectores e

dos mercados abrangidos e onde as empresas relevantes atuam ou poderão vir a atuar.

Incluirá a obtenção e o tratamento de informação sobre esses setores e mercados.

A análise externa começa por obter informação e fazer uma análise dos seguintes aspetos

de todos os sectores e mercados abrangidos:

O macro ambiente: os fatores e tendências políticas, económicas, sociais e tecnológicas

que afetam e podem alterar os setores;

O micro ambiente: a lucratividade estrutural do setor e do mercado tendo em

consideração a sua intensidade competitiva, a ameaça da entrada de novos

competidores, o poder dos fornecedores, o poder dos clientes e a relevância de

produtos substitutos;

Os mercados: o tamanho, evolução recente e fase do ciclo de vida; a estrutura de

proveito, custos e lucros; a evolução dos preços e custos; os principais critérios de

segmentação e segmentos;

Os consumidores: os diferentes perfis demográficos, psicográficos e comportamentais, a

importância que cada um dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de fornecedor,

a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado ao produto e o seu

comportamento de consumidores.

Os competidores: recursos, capacidades e estratégias.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

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356

Desta análise resulta uma avaliação dos desafios que o ambiente oferece às empresa dos

setores abrangidos, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos setores e

nos seus mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Deve igualmente resultar uma listagem dos fatores críticos de sucesso, que são as condições

que uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Abrangem

de uma forma integrada todos os elementos que permitem satisfazer essa procura, desde a

conceção de produtos até à tecnologia e ao serviço pó venda. Podem dividir-se em dois

conjuntos de elementos:

a) Elementos relacionados com o consumidor: as suas necessidades, desejos e

comportamentos;

b) Elementos relacionados com a empresa: os recursos e capacidades que necessita de ter

para responder eficientemente ao consumidor.

A análise do primeiro conjunto de elementos baseia-se fortemente na análise do

comportamento do consumidor de que já falamos. A análise do segundo conjunto de

elementos é um processo aberto, criativo, tecnológico e económico.

Desta análise resulta uma lista das oportunidades e ameaças relevantes que uma empresa

abstrata enfrenta no setor e no mercado e das condições que essa empresa tem de ter para

as aproveitar ou combater.

A ANÁLISE INTERNA

A análise continua com a análise interna, a descrição e avaliação dinâmica das empresas dos

setores abrangidos.

O seu principal objetivo é identificar os recursos e as capacidades relevantes dessas

empresas.

Para tal começa por se fazer uma análise dos seguintes aspetos:

A estratégia das empresas: a sua razão de ser, valores, visão e objetivos estratégicos e

estratégias;

A atividade corrente: produtos vendidos, preços e receitas, mercados e processos de

marketing;

Os recursos correntes: financeiros, físicos, tecnológicos, humanos, intangíveis e

estruturais de que dispõe;

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As capacidades correntes: que atividades conseguem realizar e com que eficiência;

Os recursos adicionais que as empresas podem obter;

As capacidades que pode desenvolver ou melhorar.

FORÇAS E FRAQUEZAS

Desta análise resulta uma avaliação do que as empresas dos setores abrangidos conseguem

fazer melhor e pior, das suas forças e fraquezas.

VANTAGENS COMPETITIVAS E COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS

Num ambiente competitivo as forças e fraquezas de uma empresa são tão mais importantes

quanto mais distintas das forças e fraquezas da concorrência e quanto mais duradouras.

Assim a segunda parte da análise interna é a classificação das forças e fraquezas e a

determinação de vantagens competitivas e competências fundamentais.

A análise deve começar por procurar capacidades distintivas, capacidades únicas ou

extraordinárias que a distinguem da concorrência.

Depois deve tentar perceber em que medida estas capacidades lhe permitem desenvolver

uma oferta que oferece mais valor aos consumidores do que a oferta da concorrência. Deve

perceber se as capacidades dão origem a vantagens competitivas.

A seguir a análise deve determinar quais são os recursos e capacidades em que se baseiam

essas vantagens competitivas e se são sustentáveis no longo prazo, se são vantagens

competitivas sustentáveis.

Por fim perceber qual a competência fundamental que suporta essa vantagem competitiva

sustentável. Uma competência fundamental é um conhecimento ou capacidade partilhado

em toda a oferta de uma empresa e que será a base do seu processo de definição e

implementação de estratégias e estratégias de marketing.

A ANÁLISE SWOT

Segue-se a análise SWOT, que é a sistematização das análises anteriores. É a listagem,

eventualmente em formato matricial, das oportunidades e ameaças que uma empresa

enfrenta tendo em consideração os associados fatores críticos de sucesso e as forças e

fraquezas, vantagens competitivas e competências fundamentais da empresa.

INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

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Tanto a análise da envolvente externa macro como setorial são feitas utilizando as

metodologias padrão de análise, como a análise PEST e a análise de Porter. A análise PEST é

focada nos seguintes aspetos ambientais: políticos e jurídicos; económicos; sociais,

demográficos e culturais; e tecnológicos.

A análise interna é igualmente levada a cabo com instrumentos padrão, como a análise de

recursos, funcional e da cadeia de valor.

Toda a análise é quantificada e fundamentada.

DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA

Da fase de análise resulta pois um quadro com todos os elementos necessários para se

passar para a fase de definição de estratégias.

No quadro deste modelo uma estratégia terá quatro componentes:

a) a estratégia genérica – uma descrição da forma como uma empresa vai gerar valor e

competir com as suas concorrentes (seguindo a abordagem de Porter) e dos fatores em

que se vai basear e sustentar essa postura concorrencial (building blocks of sustainable

competitive advantage),

b) a estratégia de marketing – uma descrição dos mercados e dos segmentos de mercado

em que uma empresa vai atuar e do seu posicionamento em cada mercado e segmento,

c) a estratégia de desenvolvimento – uma descrição dos recursos, capacidades e

competências fundamentais para manter a sustentabilidade da competitividade de uma

empresa e da forma como vão ser protegidos e desenvolvidos,

d) a estratégia de investimento – uma descrição do montante que uma empresa pretende

investir e a sua divisão em grandes blocos funcionais.

PROCESSO DE DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA

A reflexão estratégica abrange os seguintes aspetos:

a) A definição da razão de ser, dos valores, da visão e dos objetivos de uma empresa – a

Declaração de Missão;

b) Um levantamento e listagem exaustiva e quantificada de potenciais estratégias puras e

respetivos fatores críticos de sucesso – criação estratégica;

c) A confrontação destas potencia estratégias e dos respetivos fatores críticos de sucesso

com a SWOT para determinar a sua viabilidade – avaliação estratégica;

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d) A avaliação e ordenação das estratégias viáveis e a consequente seleção da estratégia –

seleção estratégica;

e) As políticas funcionais necessárias para suportar essa estratégia – seleção de políticas.

MISSÃO

A missão resulta da fase da avaliação e da vontade dos stakeholders da empresa.

CRIAÇÃO, AVALIAÇÃO E SELEÇÃO ESTRATÉGICA

Segue-se todo o processo de seleção da estratégia de uma empresa. Este processo terá as

três etapas acima referidas: criação, avaliação e seleção.

O conteúdo de cada uma destas etapas é:

a) Criação – processo criativo e técnico de definição de estratégias possíveis, tendo cada

uma destas estratégias de ser completa (com os quatro componentes acima referidos),

consistente, quantificada (em termos de objetivos e de investimentos) e calendarizada.

b) Avaliação – processo técnico de determinação da viabilidade económica e da

sustentabilidade de cada estratégia possível, comparando o que é necessário para

implementar com sucesso cada estratégia com os recursos e as vantagens competitivas

e competências fundamentais da empresa;

c) Seleção – processo técnico de avaliação do resultado esperado e dos riscos subjacente a

cada opção e escolha da opção mais desejável.

Deste processo resulta a escolha fundamentada e formal de uma estratégia.

AS POLÍTICAS FUNCIONAIS

A seleção de políticas funcionais inclui a definição das principais orientações dessas políticas

e dos investimentos que lhes serão afetos, designadamente uma listagem dos objetivos

funcionais, estratégias funcionais, principais medidas e ações funcionais e respetivos

orçamentos. Desta definição de políticas funcionais resulta, pois, uma procura de recursos

entre os quais estão tecnologias.

APLICAÇÃO DO MODELO

O modelo teórico anteriormente apresentado é um modelo muito poderoso e eficaz que se

pode aplicar a diversos tipos de objetos de análise estratégica (como empresas,

organizações públicas, associações privadas ou projetos).

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LIMITAÇÕES DA APLICAÇÃO A UM SETOR

Todavia, a experiência mostra que o modelo tem três grandes limitações:

Não se pode aplicar diretamente a um setor, tem de se aplicar às empresas integrantes

desse setor. Tal resulta de a análise interna ter de determinar as forças e fraquezas,

vantagens competitivas e competências fundamentais da entidade que compete no

mercado. E quem compete no mercado são as empresas, não os setores. Do nosso

conhecimento, os estudos estratégicos que ignoraram este facto não foram bem

sucedidos.

Só se pode aplicar a um objeto de cada vez. Tal resulta de o processo de análise interna

e os seus resultados serem necessariamente diferente de empresa para empresa.

Tem objetivos prescritivos, não prospetivos. Nada garante que as empresas sigam a

estratégia ideal.

Estas limitações são relevantes porque nos setores abrangidos pelo Concurso existe uma

multiplicidade de empresas, todas diferentes entre si. E é impossível aplicar o modelo a

todas estas empresas, uma a uma.

SOLUÇÃO

A solução que se propõe é que durante a aplicação do modelo, na fase de análise externa,

se faça:

1. Um levantamento exaustivo das empresas algarvias dos sectores abrangidos;

2. Uma caracterização detalhada dessas empresas, recorrendo a bases de dados

estatísticas, eventualmente complementadas com inquéritos dirigidos a essas empresas;

3. Uma taxionomia dessas empresas em função de categorias classificativas relevantes

para determinar as suas opções estratégicas potenciais e ideais bem como a

probabilidade de as seguirem;

4. O estudo desses grupos taxionómicos.

E que depois, a definição estratégica se aplique a esses grupos taxionómicos e se extrapole

para o universo das empresas.

Esta extrapolação pode basear-se em métodos de cenarização ou em métodos

probabilísticos.

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Tanto num caso como noutro os parâmetros de extrapolação serão obtidos a partir da

caracterização detalhada das empresas realizada no ponto 2 da solução proposta.

SEQUÊNCIA DA APLICAÇÃO

Na metodologia proposta anteriormente existem algumas atividades relacionadas com

trabalhos de Estudos de Mercados Estratégicos que têm de ser realizadas durante a

elaboração do Roadmap Tecnológico. São fundamentalmente atividades relacionadas com a

análise de mercados e de consumidores.

Tal não levanta nenhum problema na execução dos trabalhos, antes pelo contrário facilita a

sua eficácia.

Em contrapartida torna algumas partes da presente proposta técnica redundantes porque

estas atividades serão descritas duas vezes, no “Roadmap” e no “Estudos de Mercados”.

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ANEXO B: FONTES

ESTATÍSTICAS

Instituto Nacional de Estatística

EUROSTAT

Instituto do Emprego e Formação Profissional

QUALITATIVAS

CCDRA, RIS3 Algarve 2014-2020, Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização

Inteligente (2015)

Jornal do Algarve (vários artigos)

O Algarve Económico (vários artigos)

Algarve Primeiro (vários artigos)

Sul Informação (vários artigos)

Agricultura & Mar Actual (vários artigos)

Revista da Marinha (vários artigos)

Boletim Algarve Conjuntura (vários artigos)

Estratégia Marítima da União Europeia para a Área do Atlântico

Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa 2014-2020

Turismo 2020, Cinco Princípios para uma Ambição

Food and Agriculture Organization of the United Nations

Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos

Direção Geral de Agricultura e Pescas do Algarve

Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição

Associação Portuguesa de Aquicultores

Centro de Formação das Pescas e do Mar

Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

363

Instituto de Emprego e Formação Profissional

Turismo de Portugal

Entidade Regional de Turismo do Algarve

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa

Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco

Associação Turismo do Algarve

Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal

Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal

Docapesca, Portos e Lotas, SA

Jerónimo Martins, SGPS, SA

Sonae Distribuição, SGPS, SA

Aeroportos de Portugal, SA

Comboios de Portugal, EPE

BRISA – Auto Estradas de Portugal, SA

STCP, SA

EVA Transportes, SA

Sopromar - Centro Náutico, Lda

Insonso - Sal Marim, Lda

Estabelecimentos Teófilo Fontaínhas Neto - Comércio e Indústria, SA

Nautiber - Estaleiros Navais do Guadiana Lda

Conserveira do Sul, Lda

Hubel Agrícola, SGPS, SA

Avigel – Conglados, Lda

Mondeim Tâmega Park – Empreendimentos Turísticos, SA

Magnólia Golf & Wellness Hotel

Mundo Aquático – Parques Oceanográficos de Entretenimento Educativo, SA

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Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve

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Caixa Central-Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL

Drive On Holidays - Comércio e Aluguer de Veículos, Lda

Tap - Transportes Aéreos Portugueses, SGPS S.A

EDP - Energias de Portugal, SA

Associação Integralar – Intervenção de Excelência no Sector Agro-Alimentar (PortugalFoods)

Meo - Serviços de Comunicações e Multimédia, SA

Universidade do Algarve

Universidade do Minho

Universidade de Aveiro