Upload
others
View
4
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ELABORAÇÃO DE ESTUDOS NOS SETORES ESTRATÉGICOS DA RIS3 ALGARVE:
“ROADMAP TECNOLÓGICO”, “VIGILÂNCIA ESTRATÉGICA” E “MERCADOS ESTRATÉGICOS”
ANÁLISE EXTERNA
Versão final (março 2018)
Copromovido por:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
2
ÍNDICE
ÍNDICE ................................................................................................................................................................. 2
ENQUADRAMENTO E INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
MAR, PESCAS E AQUICULTURA ......................................................................................................................... 13
Delimitação .................................................................................................................................................. 13
Perspectiva de cluster .............................................................................................................................. 13
Proposta de indústrias por CAE ................................................................................................................ 13
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................... 14
Pesca ............................................................................................................................................................. 16
Estrutura ................................................................................................................................................... 16
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 16
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 20
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 20
Análise dos mercados ............................................................................................................................... 22
Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 30
Análise dos competidores ......................................................................................................................... 32
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 34
Factores críticos de sucesso...................................................................................................................... 35
Aquicultura ................................................................................................................................................... 37
Enquadramento ........................................................................................................................................ 37
Estrutura ................................................................................................................................................... 37
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 38
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 41
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 42
Análise dos mercados e dos consumidores .............................................................................................. 44
Análise dos competidores ......................................................................................................................... 44
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 46
Factores críticos de sucesso...................................................................................................................... 47
Extração de sal .............................................................................................................................................. 49
Estrutura ................................................................................................................................................... 49
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 50
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 53
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 53
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
3
Análise dos mercados ............................................................................................................................... 56
Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 59
Análise dos competidores ......................................................................................................................... 61
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 62
Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 63
Transformação e comercialização dos produtos do mar ............................................................................. 64
Estrutura ................................................................................................................................................... 64
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 65
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 68
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 69
Análise dos mercados, dos consumidores e dos competidores ............................................................... 71
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 71
Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 72
Construção e reparação naval ...................................................................................................................... 73
Estrutura ................................................................................................................................................... 73
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 73
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 77
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 78
Análise dos mercados ............................................................................................................................... 80
Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 83
Análise dos competidores ......................................................................................................................... 85
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 86
Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 87
Turismo náutico e outras atividades de animação náutica .......................................................................... 89
Estrutura ................................................................................................................................................... 89
Análise do macro ambiente ...................................................................................................................... 89
Oferta tecnológica .................................................................................................................................... 93
Análise do micro ambiente ....................................................................................................................... 93
Análise dos mercados ............................................................................................................................... 95
Análise dos consumidores ........................................................................................................................ 96
Análise dos competidores ......................................................................................................................... 97
Ameaças e oportunidades ........................................................................................................................ 97
Fatores críticos de sucesso ....................................................................................................................... 98
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
4
Outros fornecedores e de suporte .............................................................................................................. 99
AGROALIMENTAR E FLORESTA ...................................................................................................................... 101
Delimitação ................................................................................................................................................ 101
Perspectiva de cluster ............................................................................................................................ 101
Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 101
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 102
Produção agroalimentar e florestal ............................................................................................................ 104
Estrutura ................................................................................................................................................. 104
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 104
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 109
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 110
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 113
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 120
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 123
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 124
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 125
Transformação e comercialização dos produtos agroalimentares e florestais .......................................... 127
Estrutura ................................................................................................................................................. 127
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 128
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 131
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 132
Análise dos mercados, dos consumidores e dos competidores ............................................................. 134
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 135
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 135
Investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio ....................................... 136
Estrutura ................................................................................................................................................. 136
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 136
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 142
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 142
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 144
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 145
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 147
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 149
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
5
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 150
Serviços e produtos complementares ........................................................................................................ 152
TURISMO / LAZER .......................................................................................................................................... 154
Delimitação ................................................................................................................................................ 154
Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 154
Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 154
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 156
Atrações, entretenimento e lazer ............................................................................................................... 157
Estrutura ................................................................................................................................................. 157
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 157
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 163
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 164
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 168
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 174
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 176
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 178
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 179
Alojamento ................................................................................................................................................. 180
Estrutura ................................................................................................................................................. 180
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 180
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 184
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 184
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 187
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 191
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 193
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 194
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 195
Alimentação e bebidas .............................................................................................................................. 196
Estrutura ................................................................................................................................................. 196
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 196
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 199
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 200
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 202
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
6
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 205
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 207
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 208
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 209
Valorização do mercado turístico de proximidade .................................................................................... 210
Estrutura ................................................................................................................................................. 210
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 210
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 213
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 214
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 216
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 217
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 219
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 219
Factores críticos de sucesso.................................................................................................................... 220
Agências de viagens, operadores turísticos e serviços turísticos ............................................................... 222
Estrutura ................................................................................................................................................. 222
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 222
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 224
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 224
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 226
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 228
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 229
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 230
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 231
Transportes e comunicações ...................................................................................................................... 232
Estrutura ................................................................................................................................................. 232
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 232
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 235
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 236
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 238
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 239
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 240
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 241
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
7
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 242
Atividades do património imobiliário ......................................................................................................... 243
Estrutura ................................................................................................................................................. 243
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 243
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 245
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 246
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 248
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 249
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 250
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 251
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 252
Serviços complementares e de suporte ..................................................................................................... 253
TIC E INDÚSTRIAS CRIATIVAS .......................................................................................................................... 255
Delimitação ................................................................................................................................................ 255
Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 255
Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 255
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 256
Tecnologias de informação, comunicação e conhecimento ...................................................................... 257
Estrutura ................................................................................................................................................. 257
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 257
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 260
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 261
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 263
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 267
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 269
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 271
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 271
Atividades criativas .................................................................................................................................... 273
Estrutura ................................................................................................................................................. 273
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 273
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 276
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 277
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 279
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
8
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 282
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 284
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 285
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 286
CIÊNCIAS DA VIDA / SAÚDE / RECUPERAÇÃO ................................................................................................. 287
Delimitação ................................................................................................................................................ 287
Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 287
Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 287
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 288
Atividades de saúde humana ...................................................................................................................... 289
Estrutura ................................................................................................................................................. 289
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 289
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 294
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 295
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 298
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 301
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 302
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 303
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 304
Atividades de desporto de alto rendimento .............................................................................................. 305
Estrutura ................................................................................................................................................. 305
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 305
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 308
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 308
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 311
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 313
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 314
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 314
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 315
Atividades de investigação e desenvolvimento .......................................................................................... 316
Estrutura ................................................................................................................................................. 316
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 317
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 322
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
9
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 323
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 324
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 326
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 328
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 329
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 330
ENERGIAS RENOVÁVEIS .................................................................................................................................. 332
Delimitação ................................................................................................................................................ 332
Perspetiva de cluster ............................................................................................................................. 332
Proposta de indústrias por CAE .............................................................................................................. 332
Proposta de cadeia de valor .................................................................................................................. 333
Atividades de produção de energias renováveis ........................................................................................ 334
Estrutura ................................................................................................................................................. 334
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 334
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 338
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 338
Análise dos mercados ............................................................................................................................ 339
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 339
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 339
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 341
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 341
Atividades de investigação e desenvolvimento .......................................................................................... 343
Estrutura ................................................................................................................................................. 343
Análise do macro ambiente .................................................................................................................... 343
Oferta tecnológica .................................................................................................................................. 348
Análise do micro ambiente ..................................................................................................................... 349
Análise dos mercados ............................................................................................................................. 351
Análise dos consumidores ...................................................................................................................... 352
Análise dos competidores ....................................................................................................................... 354
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 355
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 357
Atividades industriais e serviços complementares .................................................................................... 358
ANEXO A: METODOLOGIA GERAL ................................................................................................................... 360
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
10
Modelo estratégico teórico ........................................................................................................................ 360
Análise estratégica ...................................................................................................................................... 361
A análise externa .................................................................................................................................... 362
Ameaças e oportunidades ...................................................................................................................... 363
Fatores críticos de sucesso ..................................................................................................................... 363
A análise interna ..................................................................................................................................... 363
Forças e fraquezas .................................................................................................................................. 364
Vantagens competitivas e competências fundamentais ........................................................................ 364
A análise SWOT ....................................................................................................................................... 364
Instrumentos de análise ......................................................................................................................... 365
Definição estratégica .................................................................................................................................. 365
Processo de definição estratégica .......................................................................................................... 365
Missão ..................................................................................................................................................... 366
Criação, avaliação e seleção estratégica ................................................................................................. 366
As políticas funcionais............................................................................................................................. 366
Aplicação do modelo .................................................................................................................................. 367
Limitações da aplicação a um setor ........................................................................................................ 367
Solução ................................................................................................................................................... 367
Sequência da aplicação .......................................................................................................................... 368
ANEXO B: FONTES ........................................................................................................................................... 369
Estatísticas .................................................................................................................................................. 369
Qualitativas ................................................................................................................................................. 369
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
11
ENQUADRAMENTO E INTRODUÇÃO
No quadro do Programa Operacional Regional do Algarve 2014-2020 foi lançado o Aviso n.º
ALG53-2015-15 – Sistema de Apoio a Ações Coletivas (SIAC) – Qualificação, inserido no
Objetivo Temático – Reforçar a competitividade das pequenas e médias empresas, Tipologia
de Intervenção – Qualificação e Inovação das PME, com o objetivo principal de apoiar
projetos que desenvolvessem estratégias de reforço da capacitação empresarial nos
domínios da RIS3 regional e que permitissem incrementar as competências empresariais,
facilitar o acesso a informação relevante nos domínios da competitividade e reduzir
assimetrias de informação ao nível empresarial, facilitando escolhas estratégicas e o
diagnóstico precoce.
A CI-AMAL - Comunidade Intermunicipal do Algarve, em copromoção com o NERA –
Associação Empresarial da Região do Algarve (líder), submeteu uma candidatura ao referido
aviso com vista ao desenvolvimento do projeto INOVA ALGARVE 2020, tendo a mesma sido
aprovada pela Comissão Diretiva de 02/05/2016.
O objetivo central do INOVA ALGARVE é capacitar as PME nos domínios da RIS3 Algarve,
com vista ao desenvolvimento de processos de inovação e ao reforço da sua ligação às
Associações Empresariais, Municípios e Universidades, no desenvolvimento de atividades
inovadoras, com vista à criação de novos bens e serviços e ao aumento da produtividade,
facilitando a progressão da PME na cadeia de valor.
No sentido de executar a candidatura atrás referida, a CI-AMAL decidiu promover a
contratação de serviços de consultoria para o desenvolvimento das ações abaixo indicadas,
as quais se encontram devidamente detalhadas e caracterizadas na PARTE II –
Especificações Técnicas do Caderno de Encargos do Concurso Público então lançado.
a) Elaboração de um “Roadmap” Tecnológico – Estudo sobre os fatores críticos de
competitividade e potencial de inovação nos sectores estratégicos da RIS 3: Domínios do
Mar, Pescas e Aquicultura e Agro-alimentar, Agrotransformação, Floresta e Biotecnologia
Verde;
b) Vigilância Estratégica – Trabalho de recolha constante e estruturada de informação de
base científica e tecnológica, identificando oportunidades e tendências de mercado para as
empresas da região;
c) Estudos de Mercados Estratégicos – Identificação e desenvolvimento de estudos sobre
mercados externos prioritários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
12
Para o efeito lançou o Concurso Público N.º 3/2016 que foi ganho pela Digitalbrain –
Consultoria de Gestão, Lda., que apresentou uma proposta com uma metodologia baseada
num modelo teórico de análise estratégica detalhado no Anexo A ao presente documento.
De acordo com essa metodologia todos os trabalhos de elaboração do Roadmap
Tecnológico, dos relatórios de Vigilância Estratégica e dos Estudos de Mercados Estratégicos
são baseados numa prévia analise estratégica que inclui uma análise externa, uma análise
interna e uma análise SWOT.
O presente documento apresenta a análise externa de suporte a esses trabalhos. Nesta
análise os diversos setores dos seis clusters estratégicos da RIS3 Algarve são analisados
sequencialmente de acordo com a metodologia de análise externa igualmente apresentada
no Anexo A.
O objetivo desta análise externa é identificar as ameaças, as oportunidades e os fatores
críticos de sucesso que uma empresa necessita para combater ou aproveitar essas ameaças
e oportunidades.
Assim esta análise externa servirá diretamente de suporte para a elaboração de dois
documentos síntese:
1. Lista de ameaças e oportunidades – documento de sistematização das ameaças e
oportunidades detetadas na análise externa.
2. Lista de fatores críticos de sucesso – documento de listagem e descrição dos fatores
críticos de sucesso que permitem a exploração bem-sucedida de uma determinada
oportunidade de mercado.
Estes documentos, sendo fundamentais para determinar análises e ações subsequentes,
serão apresentados formalmente à entidade adjudicante para discussão e validação.
Eventuais divergências de perspetivas serão analisadas e incorporadas ou justificadas.
A conjugação desta análise externa com a posterior análise interna permitirá estimar o
potencial de inovação nos setores estratégicos objeto de estudo, determinar a oferta
tecnológica existente e prever a procura tecnológica nos setores em análise.
Permitirá igualmente determinar os aspetos críticos destes setores que devem ser
acompanhados bem como os mercados mais interessantes para o Algarve.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
13
MAR, PESCAS E AQUICULTURA
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do mar, pescas e aquicultura inclui as
seguintes atividades:
Pesca e aquicultura
Transformação dos produtos do mar
Investigação e exploração de outros recursos marinhos
Outras atividades de investigação e valorização do mar
Outras atividades de animação
Turismo náutico
Um setor não incluído mas que, devido à sua importância económica no Algarve, o deveria
ser, é o da Construção e reparação naval.
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do
cluster os seguintes CAEs:
03 Pesca e aquicultura
0893 Extração de sal
1020 Preparação e conservação de peixes, crustáceos e moluscos
1084 Fabricação de condimentos e temperos (parte)
1086 Fabricação de alimentos homogeneizados e dietéticos (parte)
10913 Fabricação de alimentos para aquicultura
1392 Fabricação de artigos têxteis confecionados, exceto vestuário (parte)
1394 Fabricação de cordoaria e redes (parte)
301 Construção naval
323 Fabricação de artigos de desporto
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
14
33150 Reparação e manutenção de embarcações
4617 Agentes do comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco
(parte)
46381 Comércio por grosso de peixe, crustáceos e moluscos
46382 Comércio por grosso de outros produtos alimentares, n.e. (parte)
47230 Comércio a retalho de peixe, crustáceos e moluscos, em estabelecimentos
especializados
4729 Comércio a retalho de outros produtos alimentares, em estabelecimentos
especializados (parte)
47640 Comércio a retalho de artigos de desporto, de campismo e de lazer, em
estabelecimentos especializados (parte)
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster, consideraram-se os
seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster e consequente
de análise obrigatória:
Pesca
Aquicultura
Extração de sal
Transformação e comercialização dos produtos do mar
Turismo náutico e outras atividades de animação náutica
Construção e reparação naval
Outros fornecedores e de suporte
Estes setores serão analisados sequencialmente a seguir.
Só uma nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar
e floresta um setor de valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe de
facto um setor de valorização do mercado turístico de proximidade no cluster de mar,
pescas e aquicultura. No entanto, como a estrutura destes setores de valorização do
mercado turístico de proximidade é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a
estrutura do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de
proximidade será feita durante a análise do cluster do turismo.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
15
PESCA
ESTRUTURA
Os principais tipos de pesca utilizados pela frota algarvia, e aqui estudados, são a pesca local
e a pesca costeira que abrange a pesca de artes fixas, de arrasto e de cerco e polivalente. A
pesca ao largo não tem peso nem potencial significativo na região.
Os principais recursos explorados pela frota algarvia e aqui estudados, são: mariscos,
pequenos pelágicos, demersais, espécies de profundidade e grandes migradores.
Os principais produtos da pesca do Algarve podem dividir-se em quatro grupos: de elevado
valor para venda em fresco, de menor valor para venda em fresco, para venda conservados
ou congelados e para venda à indústria.
Os principais mercados da pesca nacional e algarvia são os mercados de Portugal e da
Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois mercados não
são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e determinação de lucratividade e ao ambiente Europeu no que diz respeito à
procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
Tendo os stocks de peixe uma natureza de recurso comum, a atividade de pescas é
fortemente regulamentada em quase todo o mundo.
Na Europa a regulamentação é cada vez mais centralizada na Comissão Europeia e
manifesta-se de duas formas principais: ao nível da quantidade máxima de capturas por
espécie e por período e ao nível dos processos utilizados em quase toda a cadeia de valor.
Esta regulamentação depende criticamente de quatro fatores: da evolução dos stocks de
peixe, das tecnologias e sistemas de gestão de recursos, dos acordos internacionais de
pesca e da pressão e lóbi de stakeholders sobre as entidades reguladoras.
Uma análise detalhada destes fatores ao nível Europeu não indicia qualquer perspetiva de
curto prazo de alteração deste enquadramento, nem em termos institucionais nem em
termos formais. A situação parece ser de equilíbrio estacionário, havendo um consenso
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
16
relativo de que tanto os stocks de peixe como os interesses económicos dos agentes
económicos do setor estão a ser salvaguardados.
Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão dos
recursos se alterarem significativamente, o que pode provocar alterações na estrutura da
indústria.
Tem havido alterações pontuais das quantidades máximas que podem ser pescadas de uma
ou outra espécie mas não parece haver qualquer tendência de aumento ou diminuição das
pescas como um todo ou de qualquer espécie em particular.
Nos outros países da bacia mediterrânica e da costa africana também não se perspetiva
qualquer oportunidade para aumentar as capturas de peixe que possa ser aproveitada pela
indústria algarvia.
Na América acontece a mesma situação com a possível exceção do Noroeste dos EUA, em
que os stocks de espécies costais (demersais e marisco) parecem ter recuperado e em que o
crescimento dos custos da mão de obra local levanta algumas dúvidas sobre a
competitividade da indústria local. Esta é uma oportunidade a acompanhar, mesmo que a
possibilidade de a indústria algarvia a poder aproveitar seja reduzida.
Além dos fatores políticos de nível europeu e internacional, existem fatores de âmbito local
e regional, que podem afetar o setor. Estes prendem-se fundamentalmente com a
disponibilidade de bens públicos e infraestruturas. A este nível saliente-se as infraestruturas
portuárias e de transportes bem como de investigação e desenvolvimento científico e
tecnológico. Mas não se esperam rápidas alterações a estes níveis.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas, a
médio prazo, novos sistemas de gestão dos recursos podem ser bastante relevantes.
FATORES ECONÓMICOS
O peixe, tradicionalmente, era um produto de preço reduzido e com uma elasticidade
rendimento inferior à unidade, podendo mesmo algumas espécies e em alguns locais, ter
uma elasticidade rendimento negativa. Devido a fatores culturais (alterações das
preferências dos consumidores) esta característica económica do produto tem-se vindo a
alterar. A procura e o preço da generalidade das espécies aumentaram, tal como a sua
elasticidade rendimento.
Os grupos de produtos da pesca podem ter comportamentos económicos diferentes. O
grupo de qualidade percebida mais baixa, como o das conservas e do peixe congelado, tem
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
17
preços e elasticidades rendimento mais reduzidos. Os grupos de qualidade percebida mais
alta, como os de peixe fresco, têm preços e elasticidades rendimento mais altos. O último
grupo, o do peixe destinado à indústria alimentar, tem preços reduzidos mas elasticidades
rendimento ligeiramente acima da unidade.
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores Europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma diminuição da procura
e do preço dos produtos do primeiro grupo e um aumento da procura e do preço dos
produtos dos últimos grupos.
Embora não se perspetive, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura
económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual à de longo
prazo.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a
existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão
aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão-de-
obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).
Dado que os stocks deverão estar estáveis, para os produtos com elasticidade rendimento
superior à unidade o efeito do aumento da procura e dos preços deverá ser superior ao
aumento dos custos salariais, aumentando a lucratividade destes produtos. A lucratividade
dos outros produtos provavelmente vai diminuir.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento dos preços e da lucratividade dos
produtos de maior qualidade e uma diminuição dos preços e da lucratividade dos produtos
de menor qualidade percebida. No curto prazo pode haver uma diminuição da lucratividade
de todos os produtos.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do sector. Em primeiro lugar, o peixe tem vindo a ser crescentemente percebido
como um produto saudável e de prestígio, levando a um aumento da preferência e da
procura de peixe. Tal manifesta-se mais nos segmentos de consumidores mais sensíveis a
questões de saúde ou com mais rendimento, designadamente grupos de mais elevado
rendimento e maior idade, que por sua vez são os que mais têm crescido.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
18
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
sector. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração
da estrutura familiar, favorece a procura de produtos prontos a utilizar, sejam
disponibilizadas no comércio a retalho ou em restaurantes.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão-de-obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares
baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas
e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não
qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio
entre oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se mas com uma diferente
composição.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos preparados e
do que nos produtos não transformados. E espera-se uma redução da mão-de-obra
utilizável.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do sector das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias
inbound e outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante.
As tecnologias de produção, ou pesca, estão mais desatualizadas, em resultado dos
reduzidos níveis de investimento neste segmento da cadeia.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound
deverá concentrar-se em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação
científica pura e aplicada ao sector. O do segmento produtivo da atualização das tecnologias
atualmente utilizadas pelo sector localmente. O do segmento do outbound da adoção de
novas tecnologias de logística, transporte e transformação.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
do financiamento do sector de investigação e desenvolvimento. O da pesca do
financiamento e dinâmicas competitivas das empresas de pesca. O do outbound da
evolução competitiva das empresas de logística, transportadoras, comerciais e industriais.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo
produtivo e dos custos de produção e de distribuição; a um aumento da importância da
incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do sector.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
19
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas de recolha de dados e monitorização de ecossistemas – drones e sensores
eletrónicos;
2. Sistemas de conhecimento de ecossistemas – modelos computorizados dinâmicos de
ecossistemas;
3. Sistemas de gestão de ecossistemas – modelos descentralizados e contratuais de
gestão de ecossistemas e de estratégias de pesca;
4. Tecnologias de pesca – desenho e construção naval, motores, equipamentos de
deteção, equipamentos de pesca e de conservação incluindo robôs e equipamentos
de comunicações e segurança;
5. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos
integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;
6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor das pescas algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e
as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas, dentro das
restrições regulamentares existentes, pelas empresas de pesca. A atividade de marketing e
vendas está completamente dependente das empresas compradoras, industriais ou
comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de marketing e
vendas.
Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da pesca e
cadeias de valor a jusante, designadamente ao nível de transformação do pescado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
20
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR
O setor algarvio das pescas é atualmente composto por pequenas e médias empresas com
estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com
a produção (capturas) pré-determinada regulamentarmente; e tomadoras de preços nos
diversos mercados.
No curto prazo, e nestas circunstâncias, a lucratividade das empresas e do setor é baixa e
depende exclusivamente de decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria
dimensão e estrutura produtiva.
No entanto, salvaguardando a possibilidade de algumas empresas abandonarem o mercado,
nada indicia que as empresas possam ou queiram tomar decisões suscetíveis de alterar a
sua dimensão. Fatores legais (regulamentação da indústria), tecnológicos (reduzidas
economias de escala na atividade produtiva) e financeiros (baixa lucratividade e dotação de
capital endógeno) tornam improvável qualquer movimento de aumento da rivalidade, de
consolidação do setor e de consequente crescimento da dimensão média das suas
empresas.
Em contrapartida é de esperar que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo
em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os custos
podem ir-se reduzindo, o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos
produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento sustentado da
lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que os eventuais efeitos dos novos sistemas de gestão de recursos
e das novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas aproveitar
os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor no prazo mais
imediato para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de
aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior lucratividade do
sector.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de pesca algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos
produtos e a localização geográfica.
O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Portugal Europa Ocidental Outros
Elevado valor/ venda fresco Mercado secundário
Mercado prioritário
Mercado secundário
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
21
Baixo valor / venda fresco Mercado prioritário
Mercado marginal Mercado marginal
Venda conservado ou congelado Mercado importante
Mercado importante
Mercado secundário
Venda à indústria Mercado importante
Mercado importante
Mercado marginal
O mercado nacional de pescado é um mercado concorrencial mas dominado por grandes
compradores, grandes cadeias de comercialização e grandes indústrias alimentares. O peso
dos pequenos compradores é atualmente quase simbólico e limitado a poucos canais,
muitos dos quais informais.
Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o da hotelaria e
restauração, mas são pouco importantes. O poder dos clientes é consequentemente
significativo.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos
produtos do setor da pesca é significativo.
O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial e igualmente
dominado por grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado relativamente ao
setor das pescas algarvio, poderão existir alguns clientes secundários bastante atrativos.
Destes salientam-se os clientes do setor da hotelaria e restauração, onde o poder dos
clientes é menos significativo que no grande comércio e os preços e as margens estão
menos pressionados.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o quarto maior consumidor per capita de peixe do mundo, com consumos e despesas de
cerca de 53,3kg e 300€ por pessoa e por ano. Estes elevados consumos tornam o valor do
mercado nacional muito interessante.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
22
O mercado de produtos de valor elevado para venda a fresco é um mercado muito
competitivo, de dimensão média e que cresce muito lentamente. Neste mercado a procura
é derivada, sendo os consumidores finais servidos por empresas fornecedores que
controlam os canais de comercialização.
O mercado tem dois segmentos. O segmento de particulares é maior mas está numa fase de
maturidade ou mesmo de desaceleração (devido à pressão da procura internacional sobre
os preços) tanto em termos de procura final como de canais enquanto o segmento de
hotelaria e restauração é menor e está numa fase de maturidade de um ponto de vista de
procura final mas numa fase de desenvolvimento final dos canais.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na produção e na distribuição. Os custos
distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e
de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas
na comercialização no segmento da hotelaria e restauração. Os custos de transportes
internacionais são significativos.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e rendimento do consumidor final mas não parece que existam novas estratégias
viáveis de segmentação de mercados dada a atual estrutura de distribuição.
Existem algumas possibilidades de integração de produção com transformação,
fundamentalmente no segmento da hotelaria e restauração.
O mercado de produtos de baixo valor para venda a fresco não é muito diferente do
anterior. Salienta-se, no entanto a sua maior dimensão relativa e a inversão do peso relativo
do segmento de particulares e do segmento da hotelaria e restauração. Destaca-se
igualmente a mesma dinâmica de fase de ciclo de vida do produto mas em que a
desaceleração do segmento de particulares parece dever-se mais à pressão de produtos
substitutos (aquicultura) e em que a fase do ciclo de vida da hotelaria e restauração pode
estar mais atrasada (adoção lenta de produtos mais baratos). Os custos de transportes
internacionais são significativos.
Não parecem existir tantas possibilidades de integração a jusante.
O mercado de produtos conservados ou congelados é um mercado onde a procura é
derivada, sendo os consumidores finais servidos por empresas fornecedores que controlam
os canais de comercialização. Estes canais podem ser fornecidos diretamente pelo setor da
pesca ou pela indústria alimentar, designadamente conserveira. Assim existem dois
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
23
mercados finais, o nacional e o de exportação, e um mercado intermédio, o comercial e
industrial.
Os mercados de procura final são muito competitivos, sendo o nacional de dimensão média
e o de exportação de dimensão muito grande, e crescem muito lentamente. O segmento de
particulares é maior enquanto o segmento de hotelaria e restauração é menor. Os dois
segmentos parecem estar numa fase de maturidade ou mesmo de desaceleração. Os custos
de transportes internacionais não são significativos.
Os mercados intermédios, formados pelas empresas nacionais e internacionais que
compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino, são muito
competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.
Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários, novos
critérios de segmentação ou possibilidades de integração.
O mercado de produtos para a indústria é igualmente um mercado de procura derivada,
com as mesmas características do anterior.
É um mercado competitivo, sendo o nacional de dimensão média e o de exportação de
dimensão muito grande, e que cresce com alguma rapidez. Os segmentos imediatos
relevantes são a indústria alimentar, que está numa fase de crescimento, e os segmentos
mediatos relevantes são o de consumidores nacionais, que está numa fase final de
crescimento, e o de exportação, que estará numa fase de maturidade.
O segmento mediato de consumidores nacionais, mesmo que mediado pela indústria
alimentar, apresenta algumas características específicas (produtos ao gosto português) que
exigem adequação da oferta à procura final. Tal minimiza os efeitos da concorrência
internacional sobre os preços. Aparentemente este mercado ainda está numa fase de
desenvolvimento, tanto em termos de procura final nacional, como em termos de
exportações, como em termos da estrutura dos clientes imediatos, a indústria alimentar.
No segmento mediato de exportação estes produtos específicos do mercado português têm
uma penetração muito reduzida. Assim este segmento ainda está numa fase de
desenvolvimento.
Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração. Os custos de transportes internacionais não são significativos.
ESPANHA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
24
É o sexto maior consumidor de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca de
46,2kg e 210€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado espanhol é mais
de três vezes maior que o do mercado português.
Os mercados espanhóis são de maior dimensão que os nacionais mas têm características
semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.
Nos mercados de produtos de elevado valor para venda a fresco e de produtos de baixo
valor para venda a venda a fresco parece que os canais de comercialização para o segmento
da hotelaria e restauração estão mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou
rendas na comercialização em qualquer segmento de mercado.
As empresas espanholas que atuam nos canais de comercialização do setor estão bastante
desenvolvidas e integradas a montante, tanto no setor das pescas como de transformações
primárias destes produtos. A exportação para estes mercados espanhóis dificilmente não
será mediada por empresas espanholas de distribuição.
Estas empresas espanholas têm, além disso, uma presença maciça nos mercados
internacionais de produtos da pesca, fazendo de Espanha um exportador líquido de peixe e
de produtos de peixe e fazendo com que a sua procura ultrapasse a procura final do
mercado espanhol. São por isso um mercado de grande dimensão para empresas nacionais
com estratégias de liderança de custos e um obstáculo muito grande para empresas
nacionais com estratégias de diversificação.
Nos mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria, a
situação é parecida, sendo no entanto o peso interno e internacional das empresas
comerciais e industriais espanholas ainda maior. Estas empresas são por isso um mercado
de grande dimensão para empresas nacionais com estratégias de liderança de custos e um
obstáculo quase inultrapassável para empresas nacionais com estratégias de diversificação
normais.
Note-se, todavia, que sendo o mercado comercial e industrial muito desenvolvido em
Espanha, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias. Os custos de transportes
internacionais não são significativos.
FRANÇA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
25
É o décimo maior consumidor de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca de
34,4kg e 127€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado francês é mais
de duas vezes maior do que o do mercado português.
Os mercados franceses têm características muito parecidas com as dos mercados espanhóis.
Assim importa salientar as principais diferenças.
Estas prendem-se com três fatores: o ser um importador liquido de produtos de pesca, o
maior desenvolvimento e sofisticação da procura e o menor peso económico das pescas e
dos seus canais de transformação e distribuição. Na França as peixarias e os mercados ainda
têm um peso significativo.
Trata-se, portanto, de um mercado em que existem oportunidades de mercado não
satisfeitas, tanto no consumo final como no mercado comercial ou industrial.
Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com produtos frescos de
elevado valor sujeitos a prévias transformações primárias e produtos frescos de baixo valor.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias.
REINO UNIDO
Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas
cerca de 24,9kg e 70€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado britânico
é cerca de 40% superior ao mercado português.
Trata-se de um mercado desenvolvido com algumas características próximas do francês mas
menos sofisticado e diversificado em termos de produtos consumidos e de canais de
transformação e distribuição.
Tal como no caso do mercado francês é um mercado em que existem oportunidades de
mercado não satisfeitas, tanto no consumo final como no mercado comercial ou mesmo
industrial. Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com todos os
produtos frescos de elevado valor sujeitos ou não a prévias transformações primárias e
alguns produtos frescos de baixo valor. A procura derivada de produtos também pode ser
interessante. Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
HOLANDA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
26
Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de
cerca de 22,3kg e 59€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado
holandês é cerca de 30% do mercado português. Trata-se de um mercado de menor
dimensão e menos desenvolvido que os anteriores.
É um mercado muito desenvolvido e estruturado onde as grandes empresas espanholas,
francesas e alemãs têm uma presença muito significativa.
O mercado de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria são
pouco interessantes devido à sua contestabilidade mas os de produtos frescos parecem ter
margens mais elevadas.
Existem oportunidades de mercado não satisfeitas, tanto no consumo final como no
mercado comercial. Particularmente interessantes são as oportunidades relacionadas com
todos os produtos frescos de valor elevado sujeitos ou não a prévias transformações
primárias e alguns produtos frescos de baixo valor. A procura derivada de produtos também
pode ser interessante. Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
IRLANDA
Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de
cerca de 23kg e 58€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado irlandês é
de cerca de 10% do mercado português.
Trata-se de um mercado de menor dimensão e menos desenvolvido que os anteriores. E
localizado num país exportador de pescado.
Parece os canais de comercialização de produtos para venda a fresco estão menos
desenvolvidos que nos outros países, havendo mais oportunidades para o aproveitamento
de oportunidades.
Os mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria são
muito mais estruturados e competitivos, não parecendo haver espaço para estratégias de
penetração ou expansão de mercados.
Existem oportunidades de mercado não satisfeitas nos mercados de frescos, tanto nos de
consumo final como nos comerciais.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
ALEMANHA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
27
Está no top cem dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca
de 13,3kg e 58€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado alemão é
cerca de 60% superior ao do mercado português.
O mercado alemão é um mercado importador de dimensão e dinâmica significativa. É um
dos únicos grandes mercados da Europa em que os segmentos mais novos da população
consomem mais peixe que a média da população.
Parece que os canais de comercialização de produtos para venda a fresco estão bem
desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou rendas na comercialização em
qualquer segmento de mercado.
As empresas alemãs, francesas e espanholas que atuam nos canais de comercialização para
venda ao consumidor final estão bastante desenvolvidas e integradas a montante, tanto no
setor das pescas como de transformações primárias destes produtos. A penetração via
exportação nestes mercados dificilmente não será mediada por grandes empresas
europeias, designadamente alemãs, na distribuição final.
No que diz respeito às vendas para a hotelaria e restauração, os canais também estão bem
desenvolvidos mas aqui existe uma vantagem competitiva para as empresas de regiões com
custos de trabalho mais reduzidas.
Nos mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos para a indústria, a
situação é muito competitiva, tendo estes mercados de grande dimensão interesse para
empresas nacionais com estratégias de liderança de custos e mas não para empresas
nacionais com estratégias de diversificação normais.
Existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou possibilidades
de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no mercado dos frescos.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
POLÓNIA
Está no top cem dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de cerca
de 13,3kg e 24€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado polaco é cerca
de 30% do mercado português.
O mercado polaco é um mercado de reduzida dimensão mas em desenvolvimento. Tal como
nos outros mercados mais próximos do centro da Europa, os mercados de produtos
conservados ou congelados e de produtos para a indústria muito competitivos e de margens
reduzidas. Em contrapartida os mercados de produtos frescos podem ser muito
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
28
interessantes. Por um lado são menos estruturados e com algumas situações onde será
possível gerar lucros extraordinários. Por outro lado existe uma presença portuguesa no
setor da distribuição.
Assim, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no
mercado dos frescos.
Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser
significativos.
SUÉCIA
Está no top cinquenta dos consumidores de peixe do mundo, com consumos e despesas de
cerca de 33,2kg e 143€ por pessoa e por ano. Dada a população, o valor do mercado sueco é
cerca de 50% do mercado português.
O mercado sueco é também é um mercado de reduzida dimensão mas bastante
desenvolvido. Tanto os mercados de produtos conservados ou congelados e de produtos
para a indústria como os de produtos frescos são muito competitivos e de margens
reduzidas. No entanto os mercados de produtos frescos podem ser muito interessantes na
medida em que os produtos neles transacionados são ainda pouco diversificados.
Assim, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no
mercado dos frescos.
Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser
significativos.
OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA
Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já
abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a
custos de transportes ou à elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não
muito diferenciada da portuguesa (Itália e Grécia).
Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,
designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor.
OUTROS MERCADOS EUROPEUS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
29
Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os
mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a
custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para
ofertas diferenciadas, designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor e
produtos conservados ou congelados e produtos industriais.
OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS
A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto
destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,
devido à sua dimensão. Estes são os EUA, o Canadá, o Brasil, os países da costa atlântica do
Norte de África, os países do Médio Oriente, Angola, a China, o Japão, a Coreia do Sul,
outros países do Extremo Oriente e a Austrália.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em
consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado
de acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de
mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão
permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito
importante no consumo de produtos frescos de valor elevado na hotelaria e
restauração e no comércio. São pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao
serviço;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
30
2. Consumidores educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio –
segmento muito importante no consumo de produtos frescos de menor valor
elevado na hotelaria e restauração e no comércio e importante no consumo de
todos ou outros produtos no comércio. São sensíveis ao preço e à qualidade;
3. Consumidores educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio –
segmento muito importante no consumo de produtos preparados. São sensíveis ao
preço e à qualidade;
4. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito
importante no consumo de produtos frescos de menor valor e congelados e
conservados no comércio. São muito sensíveis ao preço e sensíveis à qualidade;
5. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento
importante no consumo de produtos frescos de valor elevado na hotelaria e
restauração. São muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao
serviço;
6. Consumidores não educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio e
baixo – segmento algo importante no consumo de produtos preparados. São
sensíveis ao preço mas não à qualidade;
7. Consumidores não educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio
e baixo. Segmento pouco importante.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo
com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Vendedores em mercados – de pequena dimensão estão interessados em preço,
qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de elevada procura e total;
2. Peixarias e cadeias de peixarias – de pequena e média dimensão estão interessados
em preço, qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de elevada
procura e total;
3. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão
estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento por espécie e total,
produtos diversificados e, se possível, tratamentos primários;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
31
4. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada
procura e, nalguns casos, tratamentos primários;
5. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada
procura e, nalguns casos, tratamentos primários;
6. Indústria alimentar – de grande dimensão estão interessados em preço e
regularidade do abastecimento de alguns produtos.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado
Consumidores finais Consumidores intermédios
Portugal 2, 4 1, 2, 4, 5
Espanha 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6
França 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6
Reino Unido 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6
Holanda 1, 3, 5 3, 5
Irlanda 2, 4, 6 1, 2, 5
Alemanha 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 5, 6
Polónia 2, 3, 5, 6 4, 5
Suécia 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6
Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia de pesca enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
empresas especializadas tradicionais, pequenas e médias empresas especializadas
modernas, grandes empresas especializadas e grandes empresas integradas.
As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,
eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e
tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com
estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
32
Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os
outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos
desfavorável. A rentabilidade estrutural destas empresas, antes de subsídios, é muito
reduzida ou mesmo negativa.
As pequenas e médias empresas especializadas modernas começaram a desenvolver-se na
segunda metade do século XX mas ainda têm um peso reduzido. Têm uma estrutura mais
intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via
flexibilidade produtiva e de marketing ou via especialização em produto. Muitas
complementam a atividade de pesca com atividades complementares como aquicultura ou
pesca de recreio.
Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.
As grandes empresas especializadas são o grupo com maior peso na indústria. São
normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via custos.
Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir
fortemente nestas áreas.
A rentabilidade destas empresas é pouco melhor que a das empresas tradicionais.
Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de pesca com a de
transformação e comercialização de peixe e transformados de peixe. Têm uma estrutura
mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na
diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing.
Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua
importância tem vindo a crescer.
COMPETIDORES POR MERCADO
Em termos de mercados, o principal produtor mundial é a China, seguido de diversos países
da América e Ásia. O primeiro país Europeu é a Noruega (10º do mundo). Os principais
países da União Europeia são a Dinamarca (22º do mundo), a Espanha, o Reino Unido, a
França e a Holanda, logo seguidos por um segundo grupo que abrange Portugal (56º do
mundo), a Alemanha, a Irlanda, a Itália e a Suécia.
A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os
quatro tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de
empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é
maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
33
A análise de dados de capturas, número de barcos e tonelagem da frota indicia que em
Portugal, e especialmente no Algarve, este peso é muito elevado.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Redução dos stocks;
2. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;
3. Aumento dos custos de produção;
4. Integração ou consolidação dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Novos sistemas de sistemas de gestão dos recursos, reduzindo custos e expandindo
as capturas ou o seu valor unitário;
2. Pesca ou subcontratação de serviços no noroeste dos EUA;
3. Reorientação das capturas para peixe de valor mais elevado;
4. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
5. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar
valores de venda;
6. Sistemas de informação, conhecimento e gestão de ecossistemas e capturas;
7. Novas tecnologias produtivas / de pesca, reduzindo custos e expandindo as capturas
ou o seu valor unitário;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
34
8. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados, ajustando melhor a oferta à
procura e aumentando valores de venda;
9. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;
10. Melhores prazos e serviços de entrega;
11. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa
Ocidental;
12. Integração da pesca com tratamentos primários dos produtos de maior valor para a
restauração;
13. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes;
14. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:
capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas, conhecimentos
e capacidade de utilizar novas tecnologias e acesso a financiamento para investir em novos
equipamentos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
35
AQUICULTURA
ENQUADRAMENTO
A indústria da aquicultura produz produtos substitutos e concorrentes dos produzidos pela
indústria de pesca. Para o consumidor, as diferenças entre as características reais e
percebidas dos produtos das duas indústrias são menores e podem ser consideradas mais
como diferenças de qualidade do que de natureza. Assim a análise do comportamento do
consumidor e do mercado das duas indústrias tem muitos pontos em comum. Por causa
disto a análise destes aspetos da aquicultura basear-se-á fortemente na análise que foi feita
previamente para o sector da pesca.
Em contrapartida a produção aquícola e a indústria da aquicultura é, em quase todos os
aspetos, diferente da indústria da pesca pelo que esta análise externa da aquicultura se
focará muito em questões relacionadas com a produção e a indústria.
ESTRUTURA
No Algarve a atividade aquícola é sobretudo marinha, dividida entre a chamada aquicultura
de estuário e zona costeira e a aquicultura de mar aberto. A aquicultura de água doce tem
menos peso e potencial na região.
Os principais recursos explorados no Algarve são: bivalves, pregado e linguado, robalo,
dourada e truta. Uma espécie específica de aquicultura desenvolvida no Algarve é a do atum
em armação. A corvina e outros mariscos também têm potencial. Todos estes recursos
serão aqui estudados.
De um ponto de vista do mercado ou do consumidor não existem grupos óbvios em que os
produtos da aquicultura do Algarve se possam dividir. No entanto estes produtos associam-
se maioritariamente ao grupo de produtos de menor valor para venda em fresco que foi
definido na análise do setor da pesca, podendo ainda associar-se aos grupos para venda
conservados ou congelados e para venda à indústria.
Os principais mercados da pesca nacional e algarvia são os mercados de Portugal e da
Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois mercados não
são significativamente diferentes.
Tirando estes mercados, o mercado mais relevante e mais distinto é o mercado japonês,
particularmente importante para o atum.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
36
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que, tal como no
caso da pesca, esta análise se refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente
algarvio no que diz respeito à oferta e determinação de lucratividade e ao ambiente
Europeu no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
Ao contrário do que acontece com a pesca, a atividade aquícola é uma atividade económica
exercida num contexto de mercado. O mercado é certamente enquadrado legislativa e
regulamentarmente em quase todos os seus passos desde o licenciamento das instalações
aquícolas até à comercialização dos produtos mas este enquadramento é relativamente
aberto, permitindo a criação de novos estabelecimentos, a adoção de novas tecnologias e
processos e a livre comercialização (doméstica, interna e internacional) e fixação de preços.
Além disso, a nível da União Europeia, a legislação e regulamentação são pouco
centralizadas na Comissão Europeia, permitindo a concorrência entre diferentes jurisdições
nacionais, regionais e locais.
O aspeto mais crítico do enquadramento legal e regulamentar da atividade relaciona-se com
a criação e alteração física das instalações aquícolas. Existem em todos os países conjuntos
de regras jurídicas sobre a afetação de zonas para o exercício da atividade, para a concessão
de subzonas a operadores concretos e para o licenciamento de instalações. São estas as
regras com mais impacto sobre a dimensão do setor e, consequentemente, sobre a sua
produção e oferta.
Um outro aspeto importante é o da regulamentação da atividade produtiva,
designadamente a nível de intensidade produtiva, de regimes alimentares e de uso de
diversas técnicas e tecnologias. Estas regras também têm um impacto na dimensão do setor
mas este impacto é mais mediado pelo impacto que têm na produtividade, nos preços e
consequentemente na oferta e na quantidade produzida e oferecida.
Em termos gerais todos estes enquadramentos têm três objetivos:
1. Garantir a afetação eficiente de recursos/domínios públicos a determinados setores
concorrentes;
2. Garantir a afetação eficiente de recursos públicos a diversos operadores
concorrentes;
3. Minimizar o efeito de externalidades negativas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
37
Uma análise detalhada do enquadramento legislativo e regulamentar nacional mostra
evidência que o sistema em vigor é ineficiente, não permitindo alcançar estes objetivos no
Algarve.
No que diz respeito à afetação de domínios públicos a determinado setor, por um lado
existem instalações aquícolas em zonas onde prejudicam outras atividades como a
navegação de recreio. Por outro lado existem zonas com potencial aquícola e sem interesse
claro para outras atividades ainda não afetadas. E, por fim, não existem regras claras para a
arbitragem da afetação de zonas com interesse para diversos setores.
No que diz respeito à afetação de áreas de domínio público a diferentes operadores a
legislação é demasiado dispersa, complexa e morosa. Além disso existe um trabalho inicial
de identificação de potenciais áreas de instalação de estabelecimentos e de iniciação de
processos de afetação que poderia ser feito com vantagens económicas pelas entidades
gestoras do domínio público.
Compare-se, a título de exemplo, a legislação padrão internacional de concessão de
explorações de recursos petrolíferos com a legislação nacional sobre o setor.
Por fim, a legislação sobre externalidades inclui licença de obras; aprovação de projetos de
instalação elétrica; registo de operador recetor para compra de ração; notificação prévia de
movimentos internos de animais aquáticos vivos; instalação, funcionamento, reparação e
alteração de equipamentos sob pressão (oxigénio); instalações de armazenagem de
produtos de petróleo; licenciamento industrial de estabelecimentos de transformação,
preparação e ou acondicionamento de produtos provenientes da aquicultura. Trata-se de
um conjunto de regras que impõe procedimentos administrativos complexos, morosos e
caros junto de muitas entidades.
Todo este enquadramento cria grande complexidade na atribuição de novas áreas para a
produção aquícola e torna o processo de licenciamento e de operação de operações
aquícolas demasiado dispendioso e demorado, o que constitui um entrave na entrada de
novos investidores que propiciem a renovação do setor. De acordo com a DGRM apenas
50% do potencial aquícola português é explorado.
O prazo de atribuição de licenças de utilização dos recursos hídricos já foi prolongado por
períodos mais longos mas existe a possibilidade de as entidades públicas refazerem todo
este edifício legislativo e regulamentar facilitando o acesso à atividade, melhorando a sua
rentabilidade e estimulando a sua oferta. Esta oportunidade depende de decisões políticas
que podem ser estimuladas por interesses setoriais ou regionais conciliados. E estas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
38
decisões podem acontecer tanto em Portugal como noutros países concorrentes onde a
situação regulamentar é parecida.
Além destes fatores políticos de nível nacional, existem práticas locais que podem ser
desenvolvidas de forma mais eficiente, contribuindo igualmente para estimular o setor.
Em resumo, existe a possibilidade de o enquadramento legislativo e regulamentar nacional
e internacional do setor ser mais favorável ao aumento da produção.
FATORES ECONÓMICOS E SOCIAIS
A análise que foi feita a propósito dos fatores económicos e sociais que afetam a procura e
os custos do sector da pesca aplica-se integralmente ao setor da aquicultura. É de esperar
um aumento da procura e dos custos dos fatores de produção dos produtos da aquicultura.
No entanto, ao contrário do que acontecerá com o setor da pesca, a oferta (quantidade
oferecida) do setor da aquicultura não é economicamente exógena. Dos fatores políticos
atrás referidos e dos fatores tecnológicos que serão referidos posteriormente, resulta que é
de esperar um aumento da produtividade e da oferta do setor.
Nestas circunstâncias é indeterminada a evolução do preço dos produtos da aquicultura.
FATORES TECNOLÓGICOS
O setor da aquicultura utiliza diversas tecnologias e processos. Assim a indústria pode
dividir-se de acordo com o local onde a atividade é realizada (mar aberto, estuário e zona
costeira, e água doce), de acordo com o grau de intensidade produtiva (extensiva, intensiva
e semi intensiva) e de acordo com a fase da cadeia de abastecimento e a tecnologia base
(viveiros, tanques e estruturas flutuantes). E explora diversos produtos ou espécies, já
mencionados.
Podem e estão a verificar-se avanços tecnológicos em todas estas áreas tecnológicas, de
processos e de espécies.
A cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e
outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante. As
tecnologias de produção, ou pesca, estão mais desatualizadas, em resultado dos reduzidos
níveis de investimento neste segmento da cadeia.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos da cadeia de abastecimento
(inbound, produção e outbound) indicia todavia perspetivas de desenvolvimento diferentes.
O potencial desenvolvimento dos segmentos inbound e outbound deverá ser mais lento e
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
39
concentrar-se em novas tecnologias de comercialização, logística, transporte e
transformação de outputs. O futuro desenvolvimento do segmento produtivo deverá ser
mais rápido e resultante tanto da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao
setor como, no caso algarvio, da adoção de tecnologias já disponíveis e utilizadas pela
indústria noutros países.
Estes desenvolvimentos das tecnologias produtivas incluirão todos os aspetos da produção,
desde as instalações até à alimentação, ao combate às doenças, à minimização da poluição
e à colheita. No caso algarvio serão particularmente importantes as tecnologias que
permitem otimizar as instalações para aproveitar eficientemente as infraestruturas da
indústria de sal (tejos, diques, comportas, monges, etc.) e o explorar novas espécies.
Estes desenvolvimentos dependerão de quatro tipos de condicionantes e atores. O do
inbound e outbound do desenvolvimento da dimensão do setor e da evolução competitiva
das empresas logísticas, transportadoras, comerciais e industriais. O da produção do
financiamento e dinâmicas competitivas das empresas produtoras, fornecedoras e clientes.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo
produtivo e dos custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da
incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas de recolha de dados, de obtenção de informação ambiental, de
monitorização de ecossistemas semiabertos e fechados e de instalações – sensores
eletrónicos;
2. Sistemas de conhecimento e gestão de ecossistemas semiabertos e fechados –
modelos computorizados dinâmicos de ecossistemas;
3. Tecnologia de instalações – sistemas de ancoragem e de desenho e construção de
instalações, de que se salientam sistemas fechados e sistemas de espécies marítimas
baseados em terra;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
40
4. Tecnologias de apoio à produção – construção naval e de motores, equipamentos de
colheita e de conservação incluindo robôs e equipamentos de comunicações e
segurança;
5. Novas e melhores espécies – métodos de seleção de espécies e de engenharia
genética, de que se destaca a corvina;
6. Tecnologias de produção – novos alimentos, medicamentos e sistemas de
alimentação, de controlo de doenças, de isolamento de predadores e de gestão de
resíduos;
7. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos
integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;
8. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor aquícola algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e
as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas pelas empresas
de aquicultura locais. A atividade de marketing e vendas, como no caso das pescas, está
completamente dependente das empresas compradoras, industriais ou comerciais. O grosso
do valor setorial é gerado as atividades de produção e de marketing e vendas.
Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da aquicultura e
cadeias de valor a jusante, designadamente a nível de transformação da produção do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da aquicultura é atualmente composto por muitas pequenas e algumas
médias empresas com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos,
tecnológicos e de capital; com a produção muito condicionada pela disponibilidade de
instalações; e tomadoras de preços nos diversos mercados.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é
relativamente baixa e depende exclusivamente de decisões que as empresas possam tomar
sobre a sua própria dimensão e estrutura produtiva. A mais longo prazo a lucratividade
pode depender mais de decisões de marketing e tecnológicas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
41
No entanto, e ao contrário do que acontece com a indústria da pesca, existem estímulos de
mercado significativos para que as empresas alterem a sua dimensão e melhorem a sua
estrutura produtiva. Devido a fatores legais (os custos regulamentares), tecnológicos (custos
fixos significativos) e financeiros (elevada intensidade capitalística) a produção gera algumas
economias de escala suscetíveis de gerar alguma pressão para o aumento da rivalidade, da
dimensão média das empresas e da consolidação do setor.
Assim é de esperar que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo em
resultado do investimento continuado em novas ou mais alargadas instalações,
equipamentos e recursos. Os custos podem-se ir reduzindo, até determinado ponto de
dimensão ótima, o que pode levar a um aumento sustentado da lucratividade das maiores
empresas da indústria e reforçar a tendência de consolidação do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas tecnologias gerem ainda mais economias de
escala, podendo as empresas com lucros de curto prazo aproveitar os recursos libertados
pelo sua lucratividade de curto para gerar uma melhoria sustentada do esforço de
marketing estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e
de maior aumento da lucratividade.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de aquicultura algarvia podem dividir-se de com os mesmos
critérios que os utilizados na indústria da pesca. A lucratividade destes diversos mercados é
equivalente à referida a propósito dos mercados de produtos da pesca.
A única diferença significativa é a menor lucratividade estrutural dos mercados de alguns
produtos onde existem produções locais concorrenciais.
ANÁLISE DOS MERCADOS E DOS CONSUMIDORES
O que foi dito a propósito da pesca aplica-se igualmente à análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor da aquicultura. E à análise dos seus
consumidores finais.
No entanto o perfil dos consumidores intermédios é ligeiramente diferente.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem igualmente agrupar-se
de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. E os segmentos são os mesmos
do setor das pescas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
42
Todavia, ao contrário do que acontece no caso da pesca, a comercialização dos produtos da
aquicultura é livre, abrindo a possibilidade de as importações concorrerem mais
intensamente com a produção nacional.
Nestas circunstâncias o comportamento dos segmentos é idêntico mas conseguem
satisfazer com mais facilidade os seus interesses devido a uma oferta mais alargada.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A estrutura dos consumidores e a importância relativa dos consumidores por mercado é
idêntica à do setor da pesca, com a adição do mercado japonês de atum, um mercado
importante que funciona através de importadores especializados.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia da aquicultura enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
empresas especializadas tradicionais, pequenas e médias empresas especializadas
modernas, grandes empresas especializadas e grandes empresas integradas.
As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,
eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e
tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com
estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.
Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os
outros tipos de empresas devido à sua falta de dimensão gerando uma estrutura de custos
desfavorável e alguma dificuldade em se modernizar tecnologicamente. A rentabilidade
estrutural destas empresas, antes de subsídios, é reduzida e pode ser ainda mais afetada
por uma eventual redução de preços dos seus produtos.
As pequenas e médias empresas especializadas modernas começaram-se a desenvolver
recentemente e têm um peso crescente. Têm uma estrutura mais intensiva em capital,
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
produtiva e de marketing ou via especialização em produto. Muitas complementam a
atividade de aquicultura com atividades complementares como a pesca. Estas empresas
têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
43
As grandes empresas especializadas são um grupo com mais peso na indústria. São
normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via custos.
Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir
fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas é melhor que a das empresas
tradicionais.
Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de aquicultura com a da pesca
e a transformação e comercialização de peixe e transformados de peixe. Têm uma estrutura
mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na
diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing. Estas empresas têm maior
rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua importância tem vindo a
crescer.
COMPETIDORES POR MERCADO
Em termos de mercados, o principal produtor mundial é a China, seguido de diversos países
da Ásia. O primeiro país Europeu é a Noruega (8º do mundo). Os principais países da União
Europeia são a Espanha, o Reino Unido, a França, a Itália e a Grécia, logo seguidos por um
segundo grupo que abrange a Holanda, a Irlanda, a Polónia, a Dinamarca e a Alemanha.
Portugal não aparece entre os maiores produtores Europeus.
Note-se que existe uma diferença substancial entre as espécies produzidas na Ásia,
dominadas pelo camarão e por pelágicos e demersais regionais como o peixe-gato, no Norte
da Europa, dominadas pelo salmão e bivalves como as ostras e as vieiras, e os países do Sul
da Europa, dominada pelos pelágicos e demersais regionais como a dourada ou o linguado.
Portugal, e em especial o Algarve, devido à sua localização intermédia entre o Atlântico e o
Mediterrâneo, tem a possibilidade de ter uma produção diversificada e diferenciada,
podendo concorrer com algumas vantagens contra estes produtores.
A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os
quatro tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de
empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é
maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
44
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor da aquicultura são muito
semelhantes às ameaças no setor das pescas, com exceção da possibilidade de os stocks
diminuírem. Esta ameaça é substituída pela possibilidade de os preços diminuírem. Assim
salientam-se as seguintes ameaças:
1. Diminuição dos preços dos produtos do setor;
2. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;
3. Aumento dos custos de produção;
4. Integração ou consolidação dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Alterações do enquadramento regulamentar;
2. Abertura clara de novas zonas da ZEE à atividade;
3. Utilização mais eficiente das antigas salinas;
4. Novos sistemas de sistemas de gestão dos recursos, reduzindo custos e expandindo a
produção e os preços;
5. Reorientação da produção para espécies de valor mais elevado;
6. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
7. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar
valores de venda;
8. Sistemas de informação, conhecimento e gestão de ecossistemas fechados e
semiabertos, instalações e produção;
9. Novas e melhores espécies de maior valor ou menos custos de produção;
10. Novas tecnologias de instalações e de apoio à produção, reduzindo custos e
expandindo a produção e o seu valor unitário;
11. Novas tecnologias de produção;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
45
12. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados, ajustando melhor a oferta à
procura e aumentando valores de venda;
13. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;
14. Melhores prazos e serviços de entrega;
15. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa
Ocidental;
16. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes;
17. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
A análise dos elementos anterior mostra que os fatores críticos de sucesso para as empresas
aquícolas é muito semelhante aos das empresas de pesca. Existem dois elementos
fundamentais: capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e
acesso a financiamento para investir em novos equipamentos. O domínio das tecnologias é
igualmente importante.
Mas, ao contrário das pescas, a importância de uma maior dimensão média das empresas
também é fundamental. Este setor é mais dinâmico e concorrencial pelo que as empresas
do setor enfrentam um risco de negócio que as empresas de pesca não enfrentam.
Estruturas de capitais e operacionais mais alargadas são essenciais para enfrentar as
ameaças e o risco de negócio.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
46
EXTRAÇÃO DE SAL
ESTRUTURA
O setor da extração do sal inclui em primeiro lugar o sal rocha (ou sal-gema) e o sal marinho
em bruto. Estes podem ser processados e transformar-se em sal grosso, sal refinado, sal
líquido e (no caso do sal marinho separar-se) na flor do sal. Estes podem depois ser
transformados ainda mais, designadamente através da aditivação.
O sal marinho em bruto é um subproduto das centrais dessalinizadoras cujo número e
dimensão está a crescer, existindo centrais de elevada capacidade em Israel, EUA, EAU e
Arábia Saudita. A produção de sal destas centrais é uma percentagem significativa da
produção mundial de sal.
A devolução deste subproduto ao mar provoca um aumento indesejado da salinidade nas
águas dos locais de devolução, pelo que o sal assim produzido é considerado poluente. As
centrais de dessalinização estão dispostas a suportar custos para dispor do sal marinho em
bruto. Dadas as semelhanças entre o sal-gema e o sal marinho comuns e o peso da
produção de sal destas dessalinizadoras, o sal em bruto comum não tem atualmente valor
económico. O preço do sal destinado a fins industriais depende de custos de transformação
e transporte.
Mas o sal destinado a consumo, o sal transformado, pode ter características com valor que
dependem das características do sal em bruto que utiliza como matéria-prima. O valor dos
transformados pode depender do sal em bruto que lhe deu origem.
Nos transformados do sal rocha, que já tiveram uma importância grande no setor industrial,
só alguns tipos especiais de sal, como por exemplo o Rosa dos Himalaias ou o Negro do
Havai, é que mantêm uma relevância significativa devido às suas características sensoriais
intrínsecas. O interesse, a variedade e o valor destes tipos de sal está a aumentar. Não
existe no Algarve nenhum sal rocha com estas características especiais.
Nos transformados do sal marinho existem diversos locais e tipos de sal com relevância e
valor. Acredita-se que o sal marinho reflete sensorialmente as características ambientais do
local onde é extraído, algo que lhe dá valor. Este facto é particularmente verdade para a flor
do sal.
No Algarve produzem-se todos os tipos de transformados de sal marinho. E acrescentam-se
os aditivos mais comuns.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
47
Os principais produtos do sal do Algarve podem dividir-se em quatro grupos: sal grosso, sal
refinado, sal líquido e flor do sal.
Os principais mercados do setor são os mercados de Portugal, da Europa Ocidental, da
América do Norte e do Brasil. Os condicionantes últimos do comportamento dos dois
primeiros mercados não são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando na análise do macro ambiente convém referir que esta se refere, exceto quando
mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e ao
internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
A atividade da extração de sal marinho é uma atividade tradicional, com uma marca
cultural, exercida em zonas de particular interesse ambiental. Por essa razão a atividade é
simultaneamente regulada e incentivada.
Na Europa a regulamentação é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível
dos processos utilizados e da composição e rotulagem dos produtos. Os incentivos são
sobretudo para produtores que utilizam processos mais tradicionais e artesanais. Tal reflete-
se no enquadramento da atividade em Portugal.
Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia
qualquer perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração deste enquadramento
regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.
Note-se que os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam financeiros ou
de acesso, assumem muitas vezes um caráter muito limitativo, impondo critérios de acesso
ligados a processos artesanais para os quais não existe uma racionalidade ligada a fatores de
qualidade do produto ou económicos. Incentiva-se a atividade arcaica, não a redução de
custos ou produção. É pouco provável mas é possível que este sistema seja alterado.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver
uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a produção.
FATORES ECONÓMICOS
Os diferentes tipos de transformados de sal têm uma evolução da procura diferenciada,
estando a diminuir a procura global de sal refinado e líquido e a aumentar, a procura de sal
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
48
grosso a aumentar ligeiramente (em linha mas abaixo da população) e a procura de sal
rocha especial e de flor de sal a aumentar substancialmente (acima da população).
O sal, tradicionalmente, era um produto com elasticidade preço e rendimento muito baixo.
Devido a fatores culturais o consumo de sal cresceu substancialmente estando agora a
ocorrer um processo de inversão desta tendência. As elasticidades do sal mais
indiferenciado continuam baixas e a procura de sal per capita está a diminuir.
Em contrapartida a flor de sal é considerada um bem superior com uma elasticidade
rendimento superior à unidade. Tal explica o crescimento da sua procura.
Perspetivando-se a manutenção dos fatores culturais que deprimem a procura de sal
comum e estimulam o aumento da procura de flor de sal e um crescimento lento mas
sustentado do rendimento per capita dos consumidores Europeus e mundiais é de prever no
longo prazo a continuação da diminuição da procura dos produtos dos três primeiros grupos
e um aumento da procura da flor de sal.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a
existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão
aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão-de-
obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).
Em contrapartida existe, no Algarve, uma capacidade produtiva física instalada (salinas) que
com alguns investimentos em atualização pode ser utilizada para aumentar
significativamente a oferta. Tal permitirá a mecanização da produção e o aproveitamento de
economias de escala.
Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da procura do sal grosso, refinado e
líquido e um aumento da procura de flor de sal. Os custos dos fatores produtivos devem
aumentar mas a dimensão e intensidade capitalística da produção pode aumentar
reduzindo os custos de produção.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar, o sal
tem vindo a ser crescentemente percebido como um produto pouco saudável, levando a
uma diminuição da preferência e da procura de sal. Tal manifesta-se mais nos segmentos de
consumidores mais sensíveis a questões de saúde ou com mais rendimento,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
49
designadamente grupos de mais elevado rendimento e maior idade, que por sua vez são os
que mais têm crescido.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da
estrutura familiar, favorece a procura de produtos mais sofisticados, sejam disponibilizadas
no comércio a retalho ou em restaurantes.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão-de-obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares
baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas
e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não
qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio
entre oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se mas com uma diferente
composição.
Espera-se uma redução da mão-de-obra produtiva utilizável e maior disponibilidade de
mão-de-obra mais qualificada.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias
inbound e outbound estão em atualização constante. As tecnologias de produção são muito
diversificadas e com diferentes graus de sofisticação. No Algarve as tecnologias estão mais
desatualizadas, em resultado de regulamentações restritivas da mecanização e de reduzidos
níveis de investimento neste segmento da cadeia.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e
outbound deverá concentrar-se em novas tecnologias resultantes da aplicação de
investigação científica pura e aplicada ao setor e aos setores logísticos.
O potencial de desenvolvimento do segmento produtivo é muito mais significativo e
abrange todo o conjunto de atividades desde a mecanização da produção até à inovação em
todos os aspetos do marketing.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e
outbound do desenvolvimento da logística e do financiamento do investimento no setor,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
50
com a associada modernização de canais e processos. O da produção do financiamento e da
dinâmica competitiva das empresas.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos
de inbound e produção e a um aumento dos de outbound. O efeito deverá ser um aumento
do valor acrescentado das empresas padrão. Poderá haver um aumento da importância da
incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em
todos os aspetos da sua cadeia de valor mas particularmente sobre a estrutura produtiva e
de distribuição das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e equipamentos de recolha de dados e monitorização de sistemas –
sensores eletrónicos;
2. Máquinas de admissão automática de água – equipamentos automáticos de controlo
e direcionamento de fluxos;
3. Máquinas de manipulação – equipamentos automáticos e robôs de aceleração do
processo de evaporação;
4. Máquinas de extração – equipamentos automáticos e robôs de colheita de sal;
5. Processos de transformação – equipamentos de refinação, transformação,
incorporação de aditivos e embalamento;
6. Aditivos – novas misturas e processos diferenciados;
7. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
51
A cadeia de valor do setor do sal algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e as
atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas, dentro das
restrições regulamentares existentes, pelas empresas de extração e transformação de sal. A
atividade de marketing e vendas pode ser autónoma, se destinada a pequenos
compradores, ou completamente dependente, se destinada a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado as atividades de
produção e de marketing e vendas.
Não existem grandes possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante, designadamente no setor alimentar.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR
O setor algarvio do sal é composto por pequenas empresas com estruturas de gestão
básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção
determinada pelas instalações; e com um marketing geralmente pouco inovador.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e
depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das
empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria
dimensão e estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto, salvaguardando a possibilidade de crescer exogenamente a procura dirigida a
sal algarvio, nada indicia que as empresas possam tomar decisões suscetíveis de alterar a
sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de
capital) tornam improvável qualquer movimento de aumento da rivalidade, de crescimento
da dimensão média das empresas ou de consolidação do setor.
Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em
novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua estrutura
produtiva. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento
dos preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento
sustentado da lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não
acompanhem esta tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de menor
valor acrescentado, designadamente sal grosso, fechem.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem
maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os
recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
52
melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das
empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria do sal algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e
a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Portugal Europa América do Norte
Brasil
Sal grosso Mercado primário
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado secundário
Sal líquido Mercado marginal
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado marginal
Sal refinado Mercado primário
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado secundário
Flor de sal Mercado primário
Mercado primário
Mercado secundário
Mercado secundário
O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número
de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Existem alguns
mercados secundários menos concentrados, nomeadamente a distribuição de menor
dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes. O poder dos clientes
é consequentemente significativo.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos
produtos do setor é significativo.
O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial dominado por
grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado relativamente ao setor das
pescas algarvio, poderão existir alguns clientes secundários bastante atrativos. Destes
salientam-se os clientes dos setores do retalho alimentar de mais elevada gama e da
hotelaria e restauração, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os preços e as
margens estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário.
Os mercados da América do Norte e do Brasil têm caraterísticas semelhantes mas menor
importância, devido a um menor conhecimento do Algarve e a problemas de transportes
para mercados produtores significativos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
53
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o mercado mais próximo e tem custos de transporte e logísticos reduzidos. Devido a um
rendimento per capita e a uma população reduzidos não é um mercado com grande
dimensão. Devido a fatores culturais não é ainda um mercado onde a procura de flor de sal
e flor de sal aditivada seja muito significativa.
O mercado de procura final é muito competitivo e cresce muito lentamente. O mercado tem
dois segmentos. O segmento de particulares é maior e está numa fase de expansão em
termos de procura final enquanto o segmento de hotelaria e restauração é menor mas está
a crescer ainda mais, tanto de um ponto de vista de procura final como de desenvolvimento
dos canais logísticos.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na distribuição, no caso do sal, e distribuem-
se pela produção e distribuição, no caso da flor de sal. Os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na
comercialização no segmento da hotelaria e restauração.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados relacionam-se
fundamentalmente com o tipo e rendimento do consumidor final e não parece que existam
novas estratégias viáveis de segmentação de mercados dada a atual estrutura de
distribuição.
A proximidade torna o mercado interessante para o sal, e o seu estádio de desenvolvimento
torna o mercado interessante para a flor de sal.
Os mercados intermédios, formados pelas empresas nacionais e internacionais que
compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino, são muito
competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
54
O segmento mediato de consumidores nacionais apresenta algumas características
específicas (produtos ao gosto português) que exigem adequação da oferta à procura final.
Tal minimiza os efeitos da concorrência internacional sobre os preços. Aparentemente este
mercado ainda está numa fase de desenvolvimento, tanto em termos de procura final
nacional como em termos de exportações.
No segmento mediato de exportação (seja através da venda em mercados internacionais
seja na venda a turistas em território nacional) estes produtos específicos do mercado
português têm uma penetração muito reduzida. Este segmento ainda está numa fase de
introdução mas tem potencial de desenvolvimento.
Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação e de inovação
de produto.
MERCADOS EUROPEUS
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes para o sal e os seus produtos, designadamente a flor do sal.
Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por
produtos distintos e de qualidade.
Os canais de comercialização tanto para o consumo final como para o segmento da
hotelaria e restauração estão geralmente bem desenvolvidos, não havendo lucros
extraordinários ou rendas na comercialização em qualquer segmento de mercado.
As empresas que atuam nos canais de comercialização do setor estão bastante
desenvolvidas, integradas a montante e concentradas. São por isso um obstáculo muito
grande para empresas nacionais com estratégias de liderança de custos. A exportação para
o retalho terá de se basear na diferenciação e ser mediada por empresas de distribuição.
Não se perspetiva grandes possibilidades de pequenos novos fornecedores de sal grosso,
refinado ou líquido penetrarem estes canais. Parece um canal potencial para novos
fornecedores de flor de sal com alguma dimensão e uma oferta diferenciada e de qualidade.
Os canais de distribuição para a hotelaria e restauração são menos integrados e
concentrados pelo que existem algumas oportunidades de usar ou ultrapassar estes canais.
A diferenciação de produto é fundamental nestes canais. Parece um canal potencial para
novos fornecedores de sal e flor de sal, mesmo que pequenos, com uma oferta diferenciada
e de qualidade.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
55
Olhando para mercados nacionais, a França é um mercado grande com consumidores
sofisticados, que procuram todos os tipos de sal bem como a novidade. Mas é um dos
maiores produtores de sal. É muito difícil entrar no segmento do grande retalho mas
possível entrar nos segmentos de retalho especializado e hotelaria e restauração.
O mercado do Reino Unido é quase tão grande e sofisticado como o francês. O acesso ao
grande retalho é ligeiramente mais aberto que o francês e o acesso à hotelaria e
restauração muito mais fácil. Em contrapartida o retalho especializado está menos
desenvolvido.
A situação nos restantes países da União Europeia está entre a situação francesa e britânica.
Os países do Norte têm canais mais abertos mas menos especializados, acontecendo o
inverso nos países do Sul. Existem portanto, oportunidades de mercado não satisfeitas nos
países do Norte da Europa.
O interesse e potencial destes países do Norte da Europa pode basicamente ser encontrado
ordenando-os por dimensão da população e rendimento per capita.
Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os mercados já
abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de
transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para
ofertas diferenciadas, designadamente na área da flor de sal e de produtos fortemente
diversificados.
AMÉRICA DO NORTE
A situação na América do Norte é equivalente à europeia mas existem alguns mercados no
leste do Canadá e dos EUA com um grau de sofisticação e desenvolvimento de canais
especializados e procura na hotelaria e restauração em que a facilidade de novos produtos
penetrarem é elevada. Existe adicionalmente um mercado de saudade que pode ser
explorado e pode alavancar a presença comercial. Estes são mercados importantes.
BRASIL
O Brasil é um mercado de elevada dimensão, menos sofisticado e desenvolvido que os
anteriores, e onde um conjunto grande de produtos só é oferecido a preços elevados. Mas é
igualmente um grande produtor de sal. É muito difícil entrar no segmento do grande retalho
mas possível entrar nos segmentos de retalho especializado e hotelaria e restauração.
OUTROS PAÍSES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
56
Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades
pontuais, devido à sua dimensão. Estes são Angola, a China, o Japão, a Coreia do Sul, outros
países desenvolvidos do Extremo Oriente e a Austrália. São mercados onde existem
oportunidades de nicho para produtos de gama alta.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em
consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado
acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de
mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão
permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito
importante no consumo de flor de sal de valor elevado na hotelaria e restauração e
no comércio, são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;
2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito
importante no consumo de sal de valor médio na hotelaria e restauração e no
comércio e importante no consumo de todos ou outros produtos no comércio, são
sensíveis ao preço e à qualidade;
3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito
importante no consumo de sal de valor médio e de flor de sal de menor valor no
comércio, são muito sensíveis ao preço e sensíveis à qualidade;
4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento
pouco importante para os produtos nacionais mas que podem originar compras de
moda, são muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
57
5. Consumidores não educados/apreciadores que cozinham de rendimento médio e
baixo – segmento algo importante, são sensíveis ao preço mas não à qualidade;
6. Consumidores não educados/apreciadores que não cozinham de rendimento médio
e baixo – segmento pouco importante.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo
com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e em produtos de elevada
procura;
2. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão
estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento e produtos
diversificados e inovadores;
3. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento de produtos de elevada;
4. Comércio alimentar a retalho especializado – de pequena dimensão estão
interessados em diversidade e novidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A importância relativa dos segmentos varia de país para país mas a sua ordem de
importância é geralmente: grande comércio alimentar a retalho, grande comércio alimentar
grossista, comércios grossistas especializados em restaurantes e comércio a retalho
especializado.
Os outros segmentos podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.
PERFIS DOS COMPETIDORES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
58
A indústria algarvia do sal enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
empresas tradicionais, empresas especializadas modernas e grandes empresas integradas.
As empresas especializadas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria,
eram fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e
tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com
estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.
Estas empresas tradicionais continuam a ser relevantes mas perderam peso para os outros
tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos desfavorável. A
rentabilidade estrutural destas empresas é muito reduzida ou mesmo negativa.
Normalmente especializam-se em produtos locais produzidos por métodos tradicionais.
As empresas especializadas modernas têm um peso cada vez maior. Têm uma estrutura
mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na
diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing ou, em menor número de casos, via
especialização em produto. Investem bastante em I&D e marketing. Estas empresas têm
maior rentabilidade que as empresas tradicionais.
Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade de produção de sal com a de
outros produtos, normalmente alimentares. Podem também ser empresas comerciais
integradas. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e
estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing. Estas
empresas têm maior rentabilidade que as empresas especializadas pelo que a sua
importância tem vindo a crescer.
COMPETIDORES POR MERCADO
Em termos de mercados, os principais produtores mundiais são a China e os EUA, seguido
de diversos países do Médio Oriente. No que respeita à Europa e à produção comercial de
flor de sal, destacam-se alguns países europeus, como a França, a Espanha, a Irlanda e o
Reino Unido, além de diversos países mediterrânicos.
A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os
três tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de
empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é
maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
59
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor do sal é a produção das dessalinizadoras e a evolução do preço
do sal. Outra ameaça importante é a diminuição da procura nos principais mercados do
Algarve. Depois existe o aumento estrutural do preço da mão-de-obra.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades são:
1. A alteração do enquadramento regulamentar e dos sistema de incentivos
favorecendo a mecanização e a produção;
2. Aumento da procura de flor de sal e sal marinho aditivado;
3. Novos sistemas e equipamentos de recolha de dados e monitorização de sistemas
produtivos;
4. Novas tecnologias produtivas;
5. Novos aditivos;
6. Novas estratégias de marketing e comerciais;
7. Novos produtos e mercados;
8. Melhor logística.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento de
produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e gerir eficientemente
estas oportunidades.
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em equipamento e em marketing.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
60
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários seja internamente seja por subcontratação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
61
TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DO MAR
ESTRUTURA
O setor da transformação e comercialização dos produtos do mar inclui tanto a indústria e
comércio alimentar, especializados ou não, como a indústria e comércio não alimentares
que utilizam produtos do mar.
O setor é composto por um conjunto muito diversificado de empresas de que se destacam:
Agentes e outros representantes;
Comércio alimentar grossista;
Comércio alimentar grossista especializado (designadamente em restaurantes);
Grande comércio alimentar a retalho;
Comércio alimentar a retalho especializado;
Restauração e hotelaria;
Indústria alimentar;
Comércio grossista não especializado;
Grande comércio a retalho;
Comércio a retalho especializado;
Indústria não alimentar.
Note-se que a generalidade destas empresas e as estruturas de mercado que materializam
em diversos setores e países já foram analisadas previamente. O que não foi analisado foi a
dinâmica concorrencial do setor.
A importância deste setor para o cluster do mar resulta em primeiro lugar de estar a jusante
dos principais setores do cluster, como a pesca, a aquicultura e a extração de sal entre
outros. Assim tem uma natureza logística e comercial fundamental para garantir o
escoamento e potenciar a produção do cluster.
Depois, sendo normalmente os produtores algarvios dos setores já analisados pequenos e
pouco sofisticados, o setor da comercialização e transformação tem uma natureza
dinamizadora e inovadora da atividade destes produtores. Este setor é o principal
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
62
responsável pela transmissão de inovações de produtos e processos aos produtores a
montante.
Assim interessa saber se o setor está a cumprir eficientemente estas funções, se existem
inovações ou desenvolvimentos significativos na estrutura ou nos processos do setor que
possam ser aproveitados pelas empresas fornecedoras, designadamente as algarvias, e se é
possível desenvolver mais as empresas algarvias do setor.
Para o efeito as empresas do setor vão ser divididas em três tipos: de comércio alimentar,
de indústria alimentar e outras, não alimentares.
Os principais mercados do setor são os de Portugal, da Espanha, da Europa Ocidental e
Internacionais. Os condicionantes do comportamento destes mercados não são
significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que as estruturas
comerciais algarvias estão muito integradas com as nacionais e as espanholas, estando estas
integradas com as europeias. Esta análise foca assim dois níveis de macro ambiente, o
algarvio e o ibérico.
FATORES POLÍTICOS
Na Europa a regulação do setor de transformação e comercialização dos produtos do mar é
descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível da regulamentação de processos
e de composição e rotulagem dos produtos. Podem pontualmente existir pequenos
incentivos públicos para empresas de transformação e comercialização, mas estes são
sobretudo para empresas que utilizam processos mais tradicionais e artesanais.
Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia
qualquer perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento
regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.
Em contrapartida, os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam
financeiros ou de acesso, assumem muitas vezes um caráter demasiado restritivo,
procurando fundamentalmente apoiar produtores e comerciantes muito pequenos, sem
grande viabilidade económica. Os incentivos procuram mais, de facto, alcançar objetivos de
natureza social ou cultural do que económica. Muitas vezes não existe uma racionalidade
económica para a atribuição destes incentivos. Subsidia-se a atividade, não a redução de
custos ou a produção. É pouco provável, mas é possível, que este sistema seja alterado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
63
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver
uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a atividade empresarial e a
produção.
FATORES ECONÓMICOS
A utilização dos diferentes tipos de comércio e dos diferentes produtos industriais não
depende muito de fatores de caráter económico que não o rendimento. O peso do valor
acrescentado bruto do setor comercial e dos produtos industriais do mar nos diferentes
produtos internos brutos tende a ser estável. Mas o aumento do rendimento estimula a
procura de formas mais sofisticadas de comércio e de produtos, sejam de luxo, sejam
menos massificados. Assim é de prever que nos países ocidentais o comércio se continue a
tornar mais complexo e menos massificado. É de esperar uma procura acrescida para
produtos novos e distintos, de preferência com identidades específicas.
Na indústria, que atualmente é relativamente transacionável e intensiva em mão-de-obra,
têm-se verificado duas tendências recentes: a de deslocalização e a de automatização,
designadamente via robotização. Esperando-se uma continuação das dinâmicas de
globalização, de aumento do preço do trabalho e de desenvolvimento tecnológico, é
consequentemente de esperar a continuação destas tendências.
Note-se que o setor em Portugal está relativamente atrasado nestes movimentos e o custo
da mão-de-obra no Algarve ainda é muito competitivo em termos europeus. Assim existe
uma oportunidade de crescimento rápido das empresas algarvias por emulação de boas
práticas produtivas e aproveitamento de vantagens comparadas.
Estes setores comerciais e industriais são bastante concorrenciais, sendo normalmente
constituídos por um conjunto restrito de líderes, que atuam de acordo com modelos de
concorrência monopolística, e um conjunto alargado de seguidores. Esta estrutura resulta
da existência de economias de escala e de domínio limitadas na logística e no marketing das
unidades e empresas do setor.
Esta estrutura deve manter-se mas o grande desenvolvimento recente de um setor logístico
autónomo das grandes empresas industriais e comerciais, deve continuar, diminuindo as
vantagens dos maiores operadores em benefício de operadores especializados e online.
Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da utilização do comércio
massificado e a continuação da deslocalização da indústria.
FATORES SOCIAIS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
64
Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor
reforçam os fatores económicos acima referidos. Por um lado espera-se um aumento da
procura de comércio e produtos diferenciados e por outro lado espera-se uma diminuição
da utilização de trabalho em atividades indiferenciadas e pouco intensivas em capital e
conhecimento.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes tipos de
unidades do setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de
busca de produtos com um carácter distintivo e a alteração da estrutura familiar, favorece a
procura de produtos mais transformados (de mais fácil utilização), de mais qualidade,
sofisticação e identificação local e menos consumidores de tempo de escolha, compra e
transporte.
No que respeita ao Algarve e à oferta de fatores produtivos não se encontram
constrangimentos efetivos ou potenciais significativos, nem na mão-de-obra. A este último
nível a situação atual caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com
qualificações escolares baixas e uma oferta reduzida mas crescente de mão-de-obra com
qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de
mão-de-obra não qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada mas sem
experiência. Não se deve vir a verificar nenhum desequilíbrio entre oferta e procura de
mão-de-obra, podendo o emprego vir a manter-se mas com uma diferente composição.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e
outbound são tecnologias relativamente modernas e em atualização constante. As
tecnologias de comercialização e produção são mais diversificadas e com diferentes graus
de sofisticação.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound
deverá passar por alterações no setor dos transportes. O do outbound deverá concentrar-se
na logística de proximidade. E o da produção deverá ser mais generalizado, abrangendo
desde novos produtos a novos processos produtivos e comerciais.
De facto, o potencial de desenvolvimento do segmento produtivo das empresas comerciais
e industriais é muito significativo e abrange todo o conjunto de atividades desde a
mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos das vendas e do marketing.
Espera-se que as tecnologias de informação e comunicação, a robotização, a inteligência
artificial e o “big data” mudem de uma forma substancial o setor a médio prazo.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
65
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e
outbound do desenvolvimento dos transportes e da logística e do financiamento do
investimento no setor, com a associada modernização de equipamentos e processos. O da
produção do comércio e da indústria da dinâmica competitiva das empresas.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos
de inbound e de outbound. O efeito deverá ser um aumento do valor acrescentado das
empresas industriais e comerciais de pequena e média dimensão. Mas estas terão de ter a
capacidade para conseguir uma significativa incorporação científica e tecnológica e um
aumento da sua intensidade capitalística.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em
todos os aspetos da sua cadeia de valor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e equipamentos de transportes – “driveless cars”, drones, robôs e
equipamentos associados;
2. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns
automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística;
3. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e
equipamentos de processamento e conservação de alimentos;
4. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de
gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;
5. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens
para o setor comercial, designadamente no segmento do retalho;
6. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos e marketing relacional e de conteúdos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise macro vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
66
A cadeia de valor do setor de transformação e comercialização de produtos do mar algarvio
é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound,
produção, comercialização e outbound são controladas, dentro das restrições
regulamentares existentes, pelas empresas de comercialização e industriais. A atividade de
produção dos inputs do setor é normalmente assegurada por pequenos ou médios
produtores.
Existem dois grupos de empresas a atuar no setor: um grupo restrito de grandes empresas
comerciais e industriais normalmente nacionais, espanholas ou europeias; e um grupo mais
alargado de pequenas empresas comerciais nacionais e espanholas. Salvaguardando a
dimensão mais reduzida do mercado algarvio, esta estrutura é semelhante à observada na
generalidade dos países da Europa.
As atividades de marketing destas empresas podem ser autónomas, se destinadas a
pequenos compradores, ou completamente dependente, se destinadas a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado pelas atividades
de produção e comercialização e de marketing e vendas.
Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante e montante, designadamente nos sectores produtores de inputs.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da transformação e comercialização dos produtos do mar é composto por
pequenas empresas locais com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos
humanos, tecnológicos e de capital; com a produção determinada pelas instalações; e com
um marketing geralmente pouco inovador. Estas empresas concorrem com empresas
espanholas e europeias de diversas dimensões e graus de desenvolvimento.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e
depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das
empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria
dimensão e estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto nada indicia que as empresas possam tomar decisões susceptíveis de alterar a
sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de
capital) tornam improvável qualquer movimento de crescimento da dimensão média das
empresas ou de consolidação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
67
Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em
novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua quota de
mercado produtiva. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual
aumento dos preços de venda dos produtos pode levar a um aumento sustentado da
lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não acompanhem esta
tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de menor valor acrescentado
e margem acabem por fechar.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem
maior lucratividade nas empresas que sigam estratégias de diferenciação, podendo estas
empresas aproveitar os recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para
gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da
dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do
setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados do setor podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a
localização geográfica. Esta análise resulta das análises que foram feitas anteriormente a
respeito dos setores das pescas, aquicultura e sal.
Apenas uma nota para referir que os nesta indústria os mercados mais massificados são
mais concorrências, fechados e menos lucrativos que os especializados. E outra para referir
que o comércio alimentar é mais competitivo e com menores margens que o comércio não
alimentar e a indústria.
O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número
de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Até há pouco
tempo as empresas deste mercado estavam protegidas pela existência de uma preferência
de produtos nacionais (p.e. na alimentação preparada) mas esta preferência está a perder
importância devido à uniformização das preferências dos consumidores nacionais e
europeus e devido ao facto de as empresas internacionais terem adotado estratégias de
ajustamento do produto aos mercados nacionais e regionais.
Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o distribuição
de menor dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes.
Como esta é uma indústria aberta, onde podem constantemente entrar novos competidores
e produtos substitutos, as pressões neste setor sobre os preços e as margens são
significativas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
68
O mercado da Europa Ocidental e da América do Norte são igualmente mercados
concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão destes mercados
relativamente ao algarvio, poderão existir alguns nichos de mercado ou clientes secundários
bastante atrativos. Destes salientam-se os clientes da saudade, os clientes com preferência
marcada pelo distinto e autêntico e os setores do retalho alimentar e da hotelaria e
restauração de mais elevada gama, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os
preços e as margens estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário para o
setor.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS, DOS CONSUMIDORES E DOS COMPETIDORES
A análise estrutural dos principais mercados, consumidores e competidores efetivos ou
potenciais do setor, foi feita na análise dos setores anteriores.
Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais
concorrências, fechados e menos lucrativos que os especializados.
A relevância e lucratividade dos mercados depende da distância, da população, do
rendimento per capita e da apetência relativa por produtos diferenciados específicos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças que o setor enfrenta são concorrências, dependem do crescimento da
concorrência por parte de competidores agressivos com dimensão e estrutura de gestão.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades competitivas relacionadas com novas tecnologias e
sistemas organizativos e de gestão. Mas dada a dimensão dos principais competidores
internacionais, as maiores oportunidades parecem ser as que resultam de estratégias de
especialização internacional em produtos e mercados e de estratégias de nicho.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
69
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Para estas estratégias os fatores críticos de sucesso são a capacidade de desenvolver
estratégias eficientes de marketing e gerir muito bem essas estratégias. O acesso a
fornecedores de tecnologias e de serviços de marketing é essencial.
A dimensão das empresas é secundária e pouco importante no comércio e maior na
indústria.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
70
CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL
ESTRUTURA
O setor algarvio da construção e reparação naval dedica-se fundamentalmente a
embarcações de pequeno e médio porte, não havendo portos com características
adequadas para embarcações de maior porte em que, aliás, a região não deveria ser
competitiva.
Os produtos ou serviços do setor podem dividir-se por dois grupos: embarcações de
transporte e trabalho e embarcações de recreio.
Os mercados do subsetor da construção são todos os países da Bacia do Atlântico, com
destaque para Portugal e a Europa Ocidental, podendo ainda, excecionalmente, abranger
países limítrofes. Os mercados do subsetor da reparação são Portugal e os países da Europa
Ocidental e do Norte de África, podendo abranger em casos especiais países um pouco mais
distantes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e
determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor da construção e reparação naval está sujeito a regulamentações gerais de processos
e de características dos produtos que não são particularmente restritivas. Em contrapartida
tem de utilizar o domínio público, podendo enfrentar muitas dificuldades burocráticas de
acesso e utilização.
A disponibilidade de bens públicos e de infraestruturas também é importante para o setor.
A este nível salientem-se as marinas e as infraestruturas portuárias e de transportes bem
como de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico.
Um investimento importante para o setor de reparação é uma marina na costa Atlântica do
Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as marinas de Lagos e de Tróia. Esta nova marina
é importante para evitar que os iates a viajar entre estas as duas marinas tenham de passar
a noite no mar, estimulando as visitas às marinas do Algarve de iates do Norte da Europa e,
consequentemente, a procura de serviços de manutenção e reparação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
71
Marginal mas relevante para o setor, designadamente por causa dos custos de distribuição e
seguros, é a pirataria na África Ocidental.
O setor é livre, havendo liberdade de entrada e comercial. Mas as entidades públicas e para-
públicas nacionais, regionais e locais são um grande comprador e influenciador das compras
ao setor. A promoção pública das vendas do setor é importante.
Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de
alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor gestão do domínio
público marítimo em Portugal nem uma melhor oferta de bens públicos relevantes. Nem a
existência de políticas nacionais e regionais de defesa e promoção comercial das vendas do
setor.
Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão deste
domínio se alterarem em Portugal, aligeirando processos e facilitando o acesso o que pode
facilitar o desenvolvimento da indústria. E existe a possibilidade de continuar a existir
investimento em marinas, expandindo o potencial do mercado.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo melhorias no acesso ao domínio público e mais bens públicos podem ser
bastante relevantes.
FATORES ECONÓMICOS
O setor de construção e reparação de embarcações de pequeno e médio porte, que foi
durante muito tempo um setor de manufatura e local, tem-se modernizado
substancialmente. Foram introduzidos novos materiais e processos, abriram-se os mercados
nacionais e reduziram-se os custos de transportes e seguros. O setor está agora unificado
internacionalmente.
A procura de embarcações de trabalho depende da fundamentalmente expansão da
atividade marítima das pescas, aquicultura, transportes, turismo e segurança. E, com a
exceção das pescas, estas atividades estão a crescer pelo que a procura primária e de
reposição destas embarcações e de serviços de reparação também está a crescer.
Mas, estando muitos mercados a atingir um estádio de maturidade, a procura de construção
deve aumentar de uma forma diferenciada por tipo de embarcação. Espera-se assim, um
maior aumento no segmento de aquicultura, turismo e segurança e um menor crescimento
ou menos diminuição da procura de pescas e transportes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
72
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado nos mercados relevantes é de
prever no longo prazo uma continuação do aumento desta procura. Como não se
perspetiva, a curto prazo, qualquer perturbação da conjuntura económica internacional, a
dinâmica da procura conjuntural será igual à de longo prazo.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos das matérias-primas e
subsidiárias. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de
produção poderão aumentar lentamente.
Convém referir que o subsetor da construção de embarcações de médio porte é um setor
com um fundo de maneio muito elevado pelo que está muito dependente do custo de
capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas de juro,
havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as
internacionais.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de vida e exigência dos
consumidores têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o conforto e a
segurança das embarcações. Saliente-se a este nível um previsível crescimento da procura
de embarcações de recreio de madeira de elevado valor. Em segundo lugar as preocupações
ambientais têm conduzido a uma maior preocupação com os processos produtivos, os
materiais utilizados e os consumos das embarcações. Por fim, a atual e previsível dinâmica
demográfica, designadamente de alteração da estrutura familiar, favorece a procura de
produtos de recreio, designadamente iates.
Em termos concretos deverá aumentar a procura de embarcações mais autónomas, de
ciclos de produção e entregas mais curtos e de serviços de garantia e manutenção
associados à compra.
As entidades clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade de
design e construtiva. A importância da reputação e dos sinais visíveis de qualidade das
empresas construtoras e reparadoras deverá aumentar. O valor das embarcações também
deverá aumentar, criando uma maior necessidade de capital circulante e um aumento do
risco financeiro do negócio e uma tendência para o aumento da dimensão média das
empresas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
73
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos nem na mão-de-obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão-de-obra com qualificações escolares
baixas e formação tradicional (incluindo em construção e reparação em madeira) e uma
oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência
parece ser de redução da oferta de mão-de-obra não qualificada e de aumento da mão-de-
obra qualificada mas sem experiência. O equilíbrio entre oferta e procura de mão-de-obra
pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos de maior
qualidade. Pode haver um ressurgimento da construção de madeira para mercados de
nicho. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão-de-obra.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias
inbound e outbound são tecnologias relativamente atualizadas e em atualização constante.
As tecnologias de produção ou reparação mudaram muito rapidamente nas últimas décadas
e ainda estão a mudar rapidamente.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound
deverá concentrar-se em novas tecnologias de financiamento, logística e transportes. O do
segmento produtivo da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor. O do
segmento de outbound das consequências de novas metodologias de construção
(construção modular desconcentrada) e das novas tecnologias financeiras, de seguros e de
transportes.
As tecnologias de construção e reparação de embarcações mudaram a todos os níveis: no
design (de que é exemplo extremo o crescimento do peso dos catamarãs em detrimento
dos monocascos); nos materiais (com a substituição de madeiras e outros materiais
tradicionais por fibras e materiais compósitos e sintéticos); nos modelos produtivos (com o
crescimento da produção em série de embarcações mais pequenas e a gestão da produção
por equipas); e na construção modular.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
fundamentalmente do desenvolvimento dos setores relevantes. O da construção e
reparação da aplicação da ciência pura e aplicada. E o do outbound da evolução competitiva
das empresas financeiras, seguradoras e transportadoras.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
74
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo
produtivo e dos custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da
incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.
Pode aumentar a importância das economias de escala e consequentemente provocar um
aumento da dimensão média das empresas do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Design – novos desenhos construtivos incluindo catamarãs e trimarãs e embarcações
de balastro livre, captura 3D e big data, e sistemas de realidade aumentada e virtual
e de simulação digital;
2. Sistemas motrizes – velas, motores GPL e elétricos, eventualmente solares;
3. Métodos de produção – impressão 3D, robótica, inteligência artificial e “machine
learning”, sistemas de gestão da colaboração;
4. Materiais de produção – nanotecnologia, “buckypaper” e “graphene”, entre muitos
outros;
5. Financiamento e seguros – sensores e sistemas “peer to peer” e GPS e sistemas
FinTech e InsurTech;
6. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – “big data” e sistemas
informáticos integrados de marketing, FinTech, “sharing” e “use on demand”;
7. Sistemas de transportes e logística – distribuição modular, seguros e diversos
equipamentos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
75
A cadeia de valor do setor das pescas algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e
as atividades primárias de inbound, produção e outbound são controladas pelas empresas
de construção e reparação. A atividade de marketing e vendas é também gerida pelas
empresas produtoras. industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado pelas
atividades de produção mas o marketing é muito importante.
Não existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante, mas existem algumas pressões de grandes construtores
internacionais para a integração da construção (centralizada) com a reparação (local). Não
se conhecem casos de grande sucesso neste esforço de integração.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da construção e reparação naval é composto por pequenas e médias
empresas com estruturas de gestão básicas e com poucos recursos humanos, tecnológicos e
de capital. A sua competitividade depende da localização e dos custos de produção,
designadamente salariais.
A indústria internacional está dividida entre grandes, médias e pequenas empresas
construtoras e médias e pequenas empresas reparadoras. As grandes empresas de
construção têm uma vantagem de escala na conceção e produção de modelos
padronizados, o que é particularmente importante nas pequenas embarcações e
embarcações de recreio de médio e baixo preço. As médias empresas têm vantagens de
flexibilidade na produção de embarcações customizadas. Não existem vantagens evidentes
para nenhum tipo de empresa na reparação.
A atividade de reparação tem um risco de negócio e financeiro reduzido. Mas a de
construção tem riscos de negócio e sobretudo financeiros elevados. A lucratividade do
sector varia com os ciclos económicos e financeiros. As grandes empresas conseguem
diversificar melhor este risco.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é
significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão do seu
esforço de marketing, vendas e gestão de produção. Estas decisões estão a melhorar
sustentada mas lentamente.
No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade estrutura produtiva das
empresas, designadamente de construção, se vá desenvolvendo em resultado do
investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os custos podem-se ir
reduzindo o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos produtos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
76
(referido na secção anterior) pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do
setor.
No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais
rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas
aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para
gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da
dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do
setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de construção e reparação naval algarvia podem dividir-se de
acordo com a natureza dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a
relevância dos principais mercados.
Construção Portugal Europa Ocidental Outros
Trabalho Mercado primário Mercado primário Mercado primário
Recreio Mercado secundário Mercado secundário Mercado marginal
Reparação Portugal Europa Ocidental Outros
Trabalho Mercado primário Mercado primário Mercado primário
Recreio Mercado primário Mercado primário Mercado marginal
Os mercados nacionais de construção e reparação são mercados concorrenciais onde existe
uma oferta diversificada e completa. O crescimento destes mercados está a desacelerar o
que tem pressionando os preços do setor.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
onde os fornecedores de alguns equipamentos têm um poder significativo, as pressões
deste mercado comprador sobre o preço têm gerado alguma concorrência-preço e afetado
a margem do setor da pesca que, no entanto continuam a ser significativas. O mercado
nacional de construção de barcos de recreio é o mercado nacional com margens mais
pressionadas.
O mercado da Europa Ocidental é também um mercado concorrencial dominado por um
mix de grandes, médios e pequenos construtores e médios e pequenos reparadores. É
igualmente um mercado maduro.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
77
Dada a dimensão deste mercado relativamente à dimensão da indústria algarvia de
construção e reparação, poderão existir alguns produtos customizados e clientes bastante
atrativos. Destes salientam-se a construção de barcos de trabalho de médio porte, de
embarcações de recreio de mais elevado valor e de embarcações de madeira.
Salvaguardando estes produtos, mercado europeu de construção de barcos de recreio é o
mercado europeu com margens mais pressionadas.
Os restantes mercados, designadamente os da Bacia do Atlântico, são interessantes no
segmento das embarcações de trabalho mas são pouco atrativos no segmento de recreio,
devido à forte concorrência e a custos de transporte, de transação e de seguros. Mantém-
se, no entanto, a possibilidade de existirem pontualmente segmentos de mercado mais
atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
Tem, incluindo as regiões autónomas, uma das maiores zonas económicas exclusivas do
mundo.
Em termos de construção, tem uma procura grande e diversificada de embarcações de
trabalho e uma procura mais reduzida de embarcações de recreio. Em termos de reparação
tem uma reserva de mercado das embarcações pequenas, devido a custos de transporte, e
de alguns serviços a embarcações médias, devido à necessidade de realizar reparações no
local onde as embarcações estão. Esta procura torna o valor do mercado nacional muito
interessante.
O mercado de embarcações de trabalho de médio porte é um mercado maduro, em que os
investimentos de reposição se começam a sobrepor aos iniciais mas em que existe uma
procura sustentada. O mercado de embarcações de recreio médias é mais reduzido. O de
embarcações mais pequenas é significativo e tem um grande potencial de crescimento com
o crescimento do turismo e do interesse pelas atividades náuticas e com o crescimento das
atividades económicas marítimas, como a aquicultura.
No mercado das embarcações médias e da reparação a procura é final, é do consumidor, e
no mercado das embarcações pequenas a procura pode ser final ou derivada, em que os
consumidores finais são servidos por empresas comerciais que gerem os canais de
comercialização.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
78
O mercado tem três segmentos, o de particulares, o de empresas e o público e para-público.
Os primeiros dois segmentos deverão crescer mais que o último.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na conceção,
produção e marketing. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e
de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência
de lucros extraordinários ou rendas na comercialização no segmento das embarcações
médias de trabalho, e segmento em que a oferta é mais customizada e diferenciada.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e a utilização das embarcações mas não parece que existam novas estratégias viáveis
de segmentação de mercados dada a actual estrutura de distribuição.
Existem algumas possibilidades de integração de construção com a reparação e
manutenção, o que pode ser importante no segmento das embarcações de trabalho médias
e para o setor da manutenção. Não parecem existir tantas possibilidades de integração a
jusante.
EUROPA OCIDENTAL
Os mercados da Europa Ocidental, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo e do Mar
do Norte são mercados de grande dimensão, com uma procura grande, sofisticada e
diversa, abrangendo tanto embarcações de trabalho como de recreio.
No mercado de construção de embarcações de trabalho salientam-se o Reino Unido, a
Irlanda, a Espanha, os países escandinavos, os países bálticos, a França, a Dinamarca, a
Alemanha, a Polónia, a Itália e os países dos Balcãs. No de embarcações de recreio salienta-
se a Itália, a Holanda, o Reino Unido, a Alemanha, França e Espanha. Grande parte destes
mercados não foi ainda explorada pela indústria nacional.
No mercado de reparação salientam-se os mercados de passagem e os mercados de
Espanha, Reino Unido e França, sendo a Itália, a Holanda e a Irlanda mercados de quase tão
grande dimensão.
Estes mercados são de maior dimensão que os nacionais mas têm características
semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.
Nos mercados de embarcações de recreio os canais de comercialização e os serviços de
manutenção estão muitas vezes mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou
rendas em segmentos significativos livres do mercado. Mas existem pontualmente
segmentos menos competitivos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
79
Acontece o mesmo nas embarcações de trabalho a generalidade dos mercados são
eficientes mas onde existem, mesmo, segmentos protegidos, designadamente nos
mercados públicos e para-públicos.
As exportações para estes mercados poderão ser feitas diretamente ou em parcerias com
empresas locais de maior dimensão, o que permite ultrapassar este obstáculo.
Estes mercados são de grande dimensão com interesse para empresas nacionais com
estratégias de liderança de custos e de diversificação por adaptação ao cliente. Os custos de
transportes para estes mercados não são significativos.
OUTROS MERCADOS ATLÂNTICOS
Os outros mercados, designadamente da Bacia do Atlântico, variam em dimensão, existindo
mercados de grande dimensão e de menor dimensão. A procura destes mercados é grande,
sofisticada e diversa, abrangendo tanto embarcações de trabalho como de recreio.
No mercado de construção de embarcações de trabalho salientam-se os EUA, o Canadá, os
países das Caraíbas, o Brasil, a Argentina, o Uruguai, os países do Norte de África e os
PALOP, designadamente Angola. No de embarcações de recreio salientam-se os EUA e o
Canadá. Grande parte destes mercados não foi ainda explorada pela indústria nacional.
No mercado de reparação salientam-se novamente os mercados de passagem e os
mercados de países mais próximos de maior desenvolvimento económico, como os EUA, o
Canadá, e os países do Norte de África.
Estes mercados têm características semelhantes aos europeus. Assim importa salientar as
principais diferenças.
Nos mercados de trabalho, os canais de comercialização e os serviços de manutenção têm
um desenvolvimento diferenciado, surgindo muitas vezes oportunidades interessantes. Mas
existe um problema de dificuldade de acesso a mercados públicos e para-públicos pode em
muitos países ser maior que na Europa. As exportações para estes mercados poderão ser
feitas diretamente ou em parcerias com empresas locais de maior dimensão, o que permite
ultrapassar este obstáculo.
Nos mercados de embarcações de recreio os canais de comercialização e os serviços de
manutenção estão muitas vezes mais desenvolvidos, não havendo lucros extraordinários ou
rendas em segmentos significativos livres do mercado. Estes mercados são de menor
dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes ou à elevada intensidade
competitiva e elevada oferta local não muito diferenciada da portuguesa.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
80
Mas existem pontualmente segmentos menos competitivos e podem surgir oportunidades
pontuais para ofertas diferenciadas, designadamente em termos de construção de madeira.
Estes mercados são de grande dimensão com interesse para empresas nacionais com
estratégias de liderança de custos e de diversificação por adaptação ao cliente. Os custos de
transportes para estes mercados são mais significativos, principalmente devido ao custo de
seguros em zonas de pirataria.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em
consideração os dois grupos de embarcações acima identificados.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado
acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de
mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão
permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Empresas de pesca e aquicultura – segmento muito importante no segmento das
embarcações de trabalho de todas as dimensões, procuram soluções profissionais
robustas e integradas e são muito sensíveis ao preço, aos custos de manutenção e à
qualidade, estado dispostos a considerar embarcações de série;
2. Empresas de turismo e transportes – segmento muito importante no segmento das
embarcações de trabalho de dimensões médias, procuram soluções profissionais
modernas e confortáveis muito diversificadas e são muito sensíveis à qualidade,
podendo pontualmente considerar embarcações de série;
3. Entidades públicas e para-públicas – segmento muito importante no segmento das
embarcações de trabalho de todas as dimensões, procuram soluções profissionais
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
81
robustas e customizadas sendo muito sensíveis ao preço e aos custos de
manutenção;
4. Empresas de desportos náuticos – segmento muito importante no segmento das
embarcações mais pequenas, procuram soluções profissionais robustas e são
sensíveis ao preço, aos custos de manutenção e à qualidade, preferindo geralmente
embarcações de série;
5. Navegadores ocasionais – segmento importante no segmento das embarcações
pequenas, procuram soluções modernas e confortáveis e são sensíveis ao preço e à
qualidade, preferindo geralmente embarcações de série;
6. Navegadores dedicados – segmento importante no segmento das embarcações
pequenas, procuram soluções avançadas, robustas e confortáveis e são sensíveis ao
preço e à qualidade, podendo considerar embarcações de série mas exigindo quase
sempre customização;
7. Particulares – segmento importante no segmento das embarcações pequenas,
procuram soluções modernas e são sensíveis ao preço e à qualidade, preferindo
geralmente embarcações de série.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, são pouco importantes neste
setor. Existe, no entanto, uma atividade importante e crescente de subcontratação e
construção modular para as grandes empresas construtoras. E os agentes de compras têm
uma presença muito significativa nalgumas áreas do setor, designadamente nos segmentos
de compradores empresariais.
O critério mais relevante de segmentação destes intermediários no sentido genérico é entre
os que buscam serviços de construção e os que buscam serviços de reparação.
Os primeiros preocupam-se mais com o preço dos serviços e estão mais dispostos a aceitar
inovações, designadamente com impacto na performance, enquanto os segundos
preocupam-se mais com a disponibilidade imediata dos serviços necessários no local
necessário. A preocupação com a qualidade é comum.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado
Consumidores finais Consumidores intermédios
Construção
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
82
Portugal Alta Baixa
Europa Ocidental Média Média
Bacia do Atlântico Média Alta
Reparação
Portugal Alta Baixa
Europa Ocidental Alta Média
Bacia do Atlântico Média Média
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia de construção e reparação naval enfrenta fundamentalmente três tipos
de competidores: estaleiros tradicionais, estaleiros modernos e empresas integradas.
As empresas tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram
fundamentalmente pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e
tecnológicos; com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com
estratégias de adaptação ao cliente e de minimização de custos.
Estas empresas tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os
outros tipos de empresas devido à estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade
estrutural destas empresas é positiva mas reduzida. O seu risco de negócio e financeiro é
elevado.
Os estaleiros modernos são estaleiros de menor dimensão, produzindo diversas
embarcações simultaneamente e muitas vezes em série, investindo mais no design, no
marketing e utilizando processos industriais puros. Estas empresas são particularmente
importantes na construção de embarcações de recreio e pequenas embarcações de
trabalho. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e
estratégias baseadas na diferenciação via marketing ou via especialização em produto.
Muitas complementam a atividade produtiva com serviços técnicos. Estas empresas têm
maior rentabilidade que as empresas tradicionais.
Por fim está a desenvolver-se um grupo de empresas que seguem um modelo de integração
da construção com a manutenção e reparação. São normalmente empresas que procuram
conquistar quotas de clientes e dos clientes para ganhar dimensão, gerar economias de
domínio e de escala para aumentar a rentabilidade e minimizar riscos. Estas empresas,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
83
podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a investir
fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas ainda é indeterminada mas tem
potencial para ser um pouco melhor que a das outras empresas.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais competidores do setor algarvio da construção estão na Espanha, no Norte da
Europa e nos EUA. No setor da reparação a Espanha, a França, o Reino Unido e os EUA têm
os maiores competidores.
A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os
três tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de
empresa varia de país para país mas existe evidência que o peso das empresas tradicionais é
maior nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças ao setor provêm da evolução da procura e das pressões
concorrenciais. O crescimento estrutural do custo dos fatores, designadamente do trabalho
e do capital é outra ameaça significativa.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:
1. Melhoria das possibilidades de utilizar eficientemente o domínio público;
2. Melhoria das infraestruturas de suporte;
3. Patrocínio público da ação comercial das empresas do setor;
4. Aumento da procura de vários tipos de embarcações de trabalho;
5. Procura de embarcações de mais qualidade;
6. Aumento da procura de embarcações de recreio, principalmente das diferenciadas e
de preço elevado, incluindo em madeira;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
84
7. Novos designs de embarcações;
8. Sistemas motrizes alternativos;
9. Novos métodos de produção e gestão de produção:
10. Novos materiais de produção;
11. FinTech e InsurTech;
12. Novos mercados;
13. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;
14. Novos modelos empresariais, subcontratação e parcerias complementares.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O principal fator crítico de sucesso num setor com elevado risco financeiro é a dimensão das
empresas. Isto é reforçado pelas exigências financeiras e o risco de negócio que o
aproveitamento das oportunidades acima listadas exige.
As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter
financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.
A capacidade produtiva e o conhecimento tecnológico são igualmente importantes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
85
TURISMO NÁUTICO E OUTRAS ATIVIDADES DE ANIMAÇÃO NÁUTICA
ESTRUTURA
O turismo náutico e outras atividades de animação náutica podem dividir-se em dois
subsetores, bem distintos, a navegação de cruzeiro ou competição (iates) e as outras
atividades de lazer e desporto (desde a motonáutica até à pesca à linha).
Todas estas atividades estão presentes ou têm potencial de estar presentes no Algarve.
Os principais mercados relevantes deste setor são os mercados de Portugal, da Europa e da
América do Norte. Os condicionantes últimos do comportamento de todos estes mercados
não são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e lucratividade e ao ambiente internacional no que diz respeito à procura e
determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor do turismo náutico e outras atividades de animação náutica está sujeito a
regulamentações gerais de processos e de características das atividades que não são
particularmente restritivas.
Em contrapartida tem de utilizar o domínio público, podendo enfrentar muitas dificuldades
burocráticas de acesso e utilização. A disponibilidade de bens públicos e de infraestruturas
também é importante para o setor, salientando-se as marinas e as infraestruturas
portuárias e de transportes.
Um investimento importante para o setor de reparação é uma marina na costa Atlântica do
Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as marinas de Lagos e de Tróia. Esta nova marina
é importante para evitar que os iates a viajar entre estas duas marinas tenham de passar a
noite no mar, estimulando a navegação de passagem e as visitas às marinas do Algarve de
iates do Norte da Europa.
Uma parte substancial das atividades do setor tem um cariz ou origem desportiva, pelo que
as normas da sua prática foram desenvolvidas por entidades desportivas, muitas vezes de
caráter associativo, quase sempre estrangeiras. Aqui existe pois uma dependência de
terceiros.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
86
O setor é livre, havendo liberdade de entrada e comercial. Mas as entidades associativas
têm normalmente um grande peso na organização de eventos e desenvolvimento e
disponibilização de infraestruturas e serviços de apoio. O apoio público ao associativismo e
a eventos do sector é importante.
Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de
alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor gestão do domínio
público marítimo em Portugal nem uma melhor oferta de bens públicos relevantes.
Existe no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade de os sistemas de gestão deste
domínio se alterarem em Portugal, aligeirando processos e facilitando o acesso o que pode
facilitar o desenvolvimento da indústria. E existe a possibilidade de continuar a existir
investimento em marinas, expandindo o potencial do mercado, bem como o surgimento de
políticas nacionais e regionais de promoção do associativismo e do setor.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo podem existir melhorias importantes.
FATORES ECONÓMICOS
Toda a cadeia de valor do setor do turismo náutico e outras atividades de animação náutica
está organizada de uma maneira típica dos setores de desporto e lazer e distinta da
generalidade dos outros setores. Daqui resulta que existem dois tipos de clientes do setor:
os financiadores dos eventos e os participantes nas atividades.
Os dois tipos de clientes originam uma procura com uma elasticidade rendimento elevada.
Devido a fatores económicos (aumento do rendimento disponível dos consumidores) e
culturais (disponibilidade de tempo e alterações das preferências dos consumidores), esta
característica económica do produto tem-se vindo a acentuar. A elasticidade rendimento e a
procura destas atividades têm vindo a aumentar.
Os dois subsetores estão sujeitos aos mesmos tipos de condicionamentos económicos,
dependendo dos rendimentos e dos custos basicamente da mesma maneira. Estes no
entanto têm um comportamento diferente na medida em que os da navegação são
sobretudo de bens industriais transacionáveis e os outros são serviços com um forte
componente de mão-de-obra e não transacionável.
A diferença entre o preço da mão de obra em Portugal e nos outros mercados relevantes do
setor é uma vantagem competitiva.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
87
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores ocidentais e mundiais é de prever no longo prazo um aumento da procura de
todas estas atividades mas particularmente das outras.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a
existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão
aumentar lentamente. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão de
obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos preços destas
atividades.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor. Em primeiro lugar, estas atividades têm vindo a ser crescentemente
percebido como um produto interessante, saudável e de prestígio, levando a um aumento
da preferência e da procura. Tal manifesta-se mais nos segmentos de consumidores com um
estilo de vida mais aventureiro ou com mais rendimento, designadamente grupos de mais
elevado rendimento e mais jovens.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de atividades do setor. A atual
e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da estrutura
familiar, favorece a procura de atividades que exigem menos empenhamento e com
durações mais reduzidas. E também existe uma dinâmica de estilo de vida que favorece o
setor. A navegação está a crescer menos que as outras atividades.
Um ponto importante na dinamização deste sector é a atividade associativa. Existe um
conjunto de associações nacionais e algarvias do setor mas não parecem ser
particularmente dinâmicas. As novas atividades parecem ser mais facilmente desenvolvidas
por pequenas empresas que por associações.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares
baixas e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A
tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da
mão de obra qualificada mas sem experiência. O que é essencial para o sector. O equilíbrio
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
88
entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente
composição.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nas outras atividades e
deseja-se uma dinamização do associativismo. Espera-se uma alteração da composição da
mão de obra que favorecerá o setor.
FATORES TECNOLÓGICOS
As tecnologias do sector estão a mudar muito lentamente a as tecnologias inbound e
outbound, que são tecnologias padrão, estão relativamente atualizadas e em atualização
lenta, dependendo do desenvolvimento das indústrias de suporte.
As alterações parecem estar a concentrar-se mais nas tecnologias produtivas e de suporte,
designadamente nas próprias atividades e nos seus aspetos organizativos e de marketing,
do que nos aspetos tecnológicos puros.
A nível de atividades está-se a desenvolver um conjunto grande de novas atividades de que
se destacam:
Natação em águas abertas;
Mergulho de plataformas naturais;
Aquajogging
Canoagem, rafting e kayaking;
Jet Skiing, barefoot skiing e cable skiing;
Kitesurfing, wakesurfing, stand up paddle surfing e stand up pedal board surfing;
Parasailing, windsurfing on flat water;
Bodyboarding, kneeboarding, wakeboarding, wakeskating, skimboarding,
paddleboarding, kiteboating e flyboarding;
Snorkeling;
Cave diving, deep diving e free diving;
Arqueologia, fotografia e videografia subaquáticas;
Finswimming e spearfishing;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
89
Orientação subaquática.
Estas atividades têm um grau de organização e uma procura diferenciada mas são
efetivamente praticadas.
A nível de organização existe uma substituição gradual das entidades associativas e
desportivas tradicionais por empresas especializadas nestas atividades que se associam
muitas vezes a grandes multinacionais que patrocinam eventos com fins promocionais.
Existe também um apoio crescente de entidades públicas a eventos destas atividades.
Em termos de marketing assiste-se a um investimento significativo no patrocínio destas
atividades e dos seus eventos e na sua comercialização em canais especializados de
televisão ou da internet.
Estes desenvolvimentos continuarão a verificar-se e tenderão a criar massa crítica em locais
que historicamente iniciem e desenvolvam a sua exploração. Num determinado local o
sucesso destas atividades depende tanto de condições naturais como organizativas.
O efeito destes desenvolvimentos deverá conduzir a uma diversificação da oferta e a um
aumento da especialização e dos custos de produção e marketing destas atividades.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos no sector com influência em todos
os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Novas atividades – referidas acima;
2. Novas dinâmicas organizativas e de marketing – referidas acima;
3. Novos equipamentos – acessórios de todos os tipos para as diversas atividades;
4. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
90
A cadeia de valor do sector náutico é bastante simples. As atividades de suporte e as
atividades primárias de inbound, produção (tanto eventos como atividades) e outbound são
controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, por associações e entidades
locais, estando a entrar no setor um grupo dinâmico de pequenas empresas, muitas vezes
detidas por cidadãos estrangeiros. A atividade de marketing e vendas está completamente
dependente das entidades compradoras, sejam públicas ou empresas de comunicação ou
multinacionais. O grosso do valor setorial é gerado pela produção e pelo marketing.
Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor da realização de
ventos e das atividades que não estão a ser aproveitadas.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor é atualmente composto no Algarve por associações e pequenas empresas com
estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos, e de capital; e tomadoras de
preços nos diversos mercados; mas com conhecimentos das diversas atividades bastante
desenvolvidos.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e
depende exclusivamente de decisões comerciais destas entidades.
No entanto, existe alguma evidência que este setor se está a desenvolver e que as empresas
estão a tomar decisões suscetíveis de alterar a sua dimensão. Será possível, não provável,
que exista algum de crescimento da dimensão média das empresas e uma consolidação do
setor.
Em contrapartida é de esperar que a atividade produtiva das empresas se vá desenvolvendo
em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos. Os proveitos
podem-se ir aumentando o que associado a um eventual aumento dos preços de venda dos
produtos pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito da introdução de mais atividades e o
desenvolvimento de sistemas de gestão de recursos gerem mais economias de escala,
podendo as empresas aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da
lucratividade do setor para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing
estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior
aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
91
Os mercados da indústria de pesca algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza das
atividades e a localização geográfica.
O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Portugal Ocidente Outros
Navegação / eventos Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal
Navegação / corrente Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Outros / eventos Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário
Outros / corrente Mercado primário Mercado primário Mercado marginal
O mercado nacional é, nesta fase de desenvolvimento deste sector, o mercado mais
importante, logo seguido pelos mercados ocidentais, designadamente europeus. São
mercados concorrenciais onde existem alguns mercados secundários interessantes. O poder
dos clientes é pouco significativo.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos
intervenientes é significativo.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva, estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade
de existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, importa fazer uma análise estrutural por país dos principais
mercados efetivos ou potenciais do setor.
Portugal é o mercado doméstico, mais próximo e a fonte do maior número de turistas para
o Algarve. Tem um número razoável de praticantes destas atividades pelo que é
um mercado interessante e prioritário para uma atividade na fase de
desenvolvimento. Apresenta um problema que é a reduzida dimensão do
mercado publicitário e de eventos.
Espanha segue-se a Portugal como o mercado mais importante, tendo um setor
desenvolvido e uma procura significativa. Existem muitas complementaridades e
possibilidades de desenvolvimento conjunto de eventos e outras atividades
empresariais.
Seguem-se os países da do norte da Europa Ocidental, como o Reino Unido, a Holanda, a
Alemanha, a Irlanda e os países escandinavos. São grandes mercados, com um
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
92
número elevado de praticantes das diversas atividades e com uma despesa em
publicidade e eventos significativa. Existem muitas complementaridades
suscetíveis de serem exploradas com empresas desses mercados.
Depois são importantes os EUA, o maior mercado publicitário do mundo para estas
atividades.
Os outros mercados são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou são
mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a custos de
transportes. Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em
consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores finais podem agrupar-se segundo variáveis económicas, demográficas,
psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado de acordo com
a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de
fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a
criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Navegadores ocasionais – segmento muito importante na navegação de recreio, com
um efeito de arrasto muito grande para outras atividades turísticas, são pouco
sensíveis ao preço e muito ao serviço (instalações, oferta complementar, segurança);
2. Navegadores dedicados – segmento muito importante na navegação de recreio e em
eventos, com um efeito de arrasto grande para outras atividades turísticas, são mais
sensíveis ao preço e menos ao serviço (instalações, oferta complementar,
segurança);
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
93
3. Praticantes ocasionais de outras atividades – segmento fundamental na prática de
outras atividades, são pouco sensíveis ao preço, procurando a novidade a
experiência e estando interessados na oferta complementar;
4. Praticantes dedicados e profissionais de outras atividades – segmento menos
importante na prática e muito importante nos eventos, são sensíveis à qualidade dos
eventos, estando pouco interessados em ofertas complementares;
5. Empresas de marketing e eventos – segmento muito importante na dinamização de
novas atividades, estão fundamentalmente interessadas nas condições dos locais e
financeiras da realização de eventos;
6. Grandes empresas – segmento importante no financiamento de eventos, estão
fundamentalmente interessadas no público dos eventos;
7. Entidades públicas – segmento algo importante na dinamização de práticas e
eventos, estão interessadas no número e audiência dos eventos;
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Mas a competição depende de um conjunto muito alargado de empresas e
serviços que se relaciona com a oferta turística de um país ou região como um todo. Por isso
esta análise será feita quando for feita a análise do setor turístico.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça que o setor enfrenta é a perda de vantagens competitivas devido ao
possível atraso histórico de desenvolvimento. O setor precisa de se desenvolver
rapidamente.
OPORTUNIDADES
O setor está numa fase de rápido desenvolvimento pelo que existe um grande número de
oportunidades. Salientam-se:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
94
1. Mais facilidade de acesso ao domínio público;
2. Infraestruturas e serviços de apoio;
3. Uma marina na costa Atlântica do Algarve ou Alentejo, a meio caminho entre as
marinas de Lagos e de Tróia;
4. Apoio público ao associativismo e a eventos;
5. Crescimento diversificado da procura;
6. Novas atividades;
7. Novas dinâmicas organizativas e de marketing;
8. Novos equipamentos e acessórios;
9. Inovação empresarial.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O setor é tão dinâmico e tem tantas atividades e oportunidades diferentes que empresas de
diversas características podem ter sucesso no sector. O único fator indispensável parece ser
conhecimento da atividade e dos mercados.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
95
OUTROS FORNECEDORES E DE SUPORTE
O setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar engloba um conjunto muito
diversificado de atividade de que se podem destacar atividades industriais de suporte (por
exemplo fabricação de alimentos para aquicultura, de artigos têxteis, de cordoaria e redes e
de artigos de desporto), de construção, comerciais, de transportes, de alojamento, de
informação e comunicação, de consultoria científica e técnica, administrativas e de
investigação e desenvolvimento, entre outras.
O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas
necessidades. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe respondem.
O fundamental é saber se os fornecedores dos produtos e serviços destas atividades, a que
as empresas locais do cluster têm acesso, têm capacidade para satisfazer a procura do
cluster local do mar de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou vantagens
significativas para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses fornecedores. O
que se procura é a exceção.
É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem
competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.
É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise
por amostragem evidencia três factos importantes:
1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são
transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver
vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar
barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;
2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo
internacionalmente fornecedores com relações qualidade-preço bastante diferentes
– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,
nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade-
preço que desejar;
3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,
podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais
em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a
segmentos das indústrias atrás mencionadas).
Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
96
Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros
tiver facilidade em recorrer diretamente a fornecedores internacionais tem uma vantagem
competitiva face aos concorrentes locais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
97
AGROALIMENTAR E FLORESTA
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do agroalimentar e floresta inclui as
seguintes atividades:
Produção agroalimentar e florestal
Valorização do mercado turístico de proximidade
Desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio
Transformação dos produtos agroalimentares e florestais
Investigação para valorização da cadeia agroalimentar e florestal
Serviços e produtos complementares à cadeia de valor
As atividades incluídas parecem refletir corretamente o cluster, salvaguardando o facto de
não dar importância ao setor comercial, designadamente exportador.
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do
cluster os seguintes CAEs:
01 Agricultura, produção animal, caça e atividades dos serviços relacionados
02 Silvicultura e exploração florestal
10 Indústrias alimentares (exceto os incluídos no setor do mar)
11 Indústria das bebidas
4611 Agentes do comércio por grosso de matérias-primas agrícolas e têxteis,
animais vivos e produtos semiacabados (parte)
4617 Agentes do comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco
(parte)
462 Comércio por grosso de produtos agrícolas brutos e animais vivos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
98
463 Comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco (exceto os
incluídos no sector do mar)
4711 Comércio a retalho em estabelecimentos não especializados, com
predominância de produtos alimentares, bebidas ou tabaco
472 Comércio a retalho de produtos alimentares, bebidas e tabaco, em
estabelecimentos especializados (exceto os incluídos no sector do mar)
47810 Comércio a retalho em bancas, feiras e unidades móveis de venda, de
produtos alimentares, bebidas e tabaco
512 Transportes aéreos de mercadorias e transportes especiais (parte)
52101 Armazenagem frigorífica (parte)
72110 Investigação e desenvolvimento em biotecnologias (parte)
77310 Aluguer de máquinas e equipamentos agrícolas
94995 Outras atividades associativas, n.e. (parte)
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster a partir de setores
consistentes, consideraram-se os seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia
de valor do cluster e consequente análise obrigatória:
Produção agroalimentar e florestal
Transformação e comercialização dos produtos agroalimentares e florestais
Investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio
Serviços e produtos complementares
Uma nota para salientar que nesta classificação a produção agrícola, silvícola e animal está
separada da indústria agroalimentar. Tal separação permite facilitar a análise e a exposição.
Outra nota para referir que todas as atividades de investigação, desenvolvimento e
inovação foram agrupadas num único setor, pela mesma razão de facilidade de análise e
exposição.
Outra nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar e
floresta um setor de valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe um
setor de valorização do mercado turístico de proximidade no cluster de mar, pescas e
aquicultura. No entanto, como a estrutura destes setores de valorização do mercado
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
99
turístico de proximidade é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a estrutura
do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de
proximidade será feita durante a análise do cluster do turismo.
Estes setores serão analisados sequencialmente a seguir.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
100
PRODUÇÃO AGROALIMENTAR E FLORESTAL
ESTRUTURA
O setor da produção agroalimentar é um setor lato que abrange a agricultura, a silvicultura
e a produção animal. Destes subsetores a agricultura é o mais relevante para o Algarve.
Se à lista das atividades agrícolas potencialmente mais importantes no Algarve, for
acrescentada a silvicultura e a produção animal, determina-se o conjunto de produtos ou
atividades que é importante analisar. Estas são: a produção de citrinos, frutos secos, frutos
vermelhos e as bagas, ervas e aromáticos, legumes (designadamente de produção
intensiva), outra fruta, vinho e a produção silvícola e animal.
Os principais mercados da produção agroalimentar e florestal algarvia são os mercados de
Portugal e da Europa Ocidental. Os condicionantes últimos do comportamento destes dois
mercados não são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e determinação de lucratividade das empresas e ao ambiente português e europeu
no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor agrícola europeu é regulado e subsidiado pela União Europeia, de uma forma
diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Este enquadramento, que tem
como um dos seus objetivos assegurar o rendimento dos agricultores, tem vindo a mudar,
deixando de ter como outro objetivo o de garantir a estabilidade da produção e dos preços
e passando a ter o de manter uma atividade agrícola viável que preserve os ambientes
rurais vivos e saudáveis.
Este enquadramento procura garantir rendimentos a todos os agricultores, não aos mais
eficientes ou produtivos. Procura proteger a atividade, não a produção. Assim valoriza a
terra e a atividade agrícola independentemente da sua produção. E valoriza
proporcionalmente mais as propriedades mais pequenas em relação às maiores.
O Algarve é uma região maioritariamente de minifúndios e com agricultores envelhecidos.
Neste contexto a principal consequência dinâmica da política agrícola europeia é dificultar e
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
101
destruir os incentivos para o emparcelamento, a criação de propriedades de maior
dimensão e a adoção de culturas e de processos mais modernos e rentáveis.
Como não se perspetiva nenhuma alteração substancial da política agrícola europeia,
importa saber se o contexto da sua aplicação pode mudar de forma que altere esta
dinâmica. E, de facto, este contexto está a mudar devido ao envelhecimento continuado dos
agricultores e consequente diminuição do número de pessoas afetas à agricultura.
Continuando esta tendência, a oferta de terra acabará por aumentar e o seu preço por
diminuir, anulando os efeitos perversos da política europeia. Só então a agricultura algarvia
se poderá modernizar, passando a basear-se em propriedades de maiores dimensões
orientadas para a produção e o mercado.
O mesmo se passa, ao nível da floresta. O valor económico da terra florestal diminuiu mas o
preço de mercado ainda não acompanhou a descida deste valor. Existem apoios públicos à
exploração silvícola mas só quando se der a correção do preço da terra é que haverá um
crescimento da dimensão média das explorações silvícolas, um melhor aproveitamento dos
apoios e uma racionalização da atividade económica.
Além das regulações europeias, o setor agrícola é afetado por regulações nacionais e
regionais sobre uso da terra. Quanto maior for a quantidade de terra reservada para a
agricultura (maior a oferta de terra), menor será o preço da terra agrícola e mais rápido será
o processo de modernização da agricultura algarvia.
Mas no Algarve, principalmente no litoral e no sul do barrocal, as zonas agrícolas mais
produtivas, o valor da terra para desenvolvimento imobiliário e turístico é muito superior ao
valor da terra para agricultura. E os detentores desta terra acreditam que a sua utilização
pode eventualmente vir a mudar.
Este diferencial e estas expetativas fazem com que o valor percebido das terras agrícolas
seja superior ao seu valor agrícola e que não haja muitas transações de terras agrícolas. Isto
atrasa o processo de reconversão da estrutura fundiária e os investimentos com períodos de
recuperação mais longo, como de árvores de fruto.
Não se perspetiva nenhuma redução do diferencial de preços entre o valor da terra afeta ao
turismo e o da terra afeta à agricultura. Mas talvez possa haver alguma atuação das
autoridades políticas, administrativas e judiciais no sentido de diminuir as expectativas de
conversão de terra agrícola em terra de construção. E alguma medida que aumente o custo
da detenção de terra agrícola não utilizada.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
102
E, no que diz respeito à atividade florestal, este processo poderá ser acelerado por
mudanças regulamentares. A floresta é mais desregulamentada e menos incentivada que a
agricultura e a pecuária mas, devido aos desajustamentos económicos e ecológicos na
composição atual da floresta portuguesa, esta situação deverá mudar brevemente. Espera-
se que a recente legislação sobre espécies e manutenção da floresta seja reforçada e
aplicada mais eficazmente. Estas mudanças podem penalizar os proprietários mais
pequenos e menos eficientes e força-los a colocar as propriedades no mercado.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo, mas a
médio prazo a alteração do contexto em que se aplicam as existentes, podem mudar o seu
impacto, favorecendo a modernização da agricultura e pecuária algarvia. Na silvicultura o
processo poderá ser ainda mais rápido.
FATORES ECONÓMICOS
Os principais produtos do setor, acima referidos, com a exceção dos silvícolas, têm uma
elasticidade rendimento igual ou superior à unidade. A sua procura aumenta, pois,
sustentadamente.
Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito das condições económicas e da
evolução dos custos de produção, designadamente dos salários e das rendas fundiárias, dos
locais que têm vantagens competitivas na sua produção, países europeus, países da bacia
do Mediterrâneo e países com climas parecidos com os do Algarve. Em termos gerais
espera-se que nestes locais os custos salariais aumentem sustentadamente, criando em
termos gerais uma diminuição da oferta dos produtos mais intensivos em trabalho (frutos
vermelhos e bagas, ervas e aromáticos e legumes) e uma reafetação da terra para a
produção dos produtos menos intensivos em trabalho (citrinos, frutos secos, outra fruta,
vinho e produtos animais). Assim a oferta destes últimos produtos deve aumentar.
Desta dinâmica resulta uma tendência para o aumento dos preços dos produtos mais
intensivos em trabalho e para a diminuição ou estabilização dos menos intensivos.
No que respeita aos produtos da silvicultura a dinâmica económica é bastante diferente.
Eram, tradicionalmente e de forma ainda refletida na floresta algarvia, fornecedores de
energia e de matérias-primas, designadamente para a agricultura, cuja utilidade e valor
económico se reduziu substancialmente nas últimas décadas. Existem alguns produtos com
maior procura, designadamente algumas madeiras para usos industriais e marcenaria, mas a
sua produção é reduzida.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
103
Espera-se a continuação dos preços baixos da generalidade da produção das florestas com
alguns produtos com preço mais elevados e eventualmente em crescimento.
No Algarve a população agrícola está envelhecida e em redução. Existe uma grande escassez
de mão de obra local capaz de assegurar atividades regulares e não existe de todo mão de
obra para assegurar as atividades sazonais mais intensivas em trabalho. Chega-se a utilizar
mão de obra itinerante internacional para assegurar estas últimas atividades.
Não se prevê nenhuma alteração desta situação. Assim, o preço da mão de obra deve
continuar a aumentar, aumentando os custos de produção, designadamente das atividades
mais intensivas em trabalho. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à
frente), os custos de produção poderão aumentar lentamente. O investimento em
tecnologia mais capital intensivo poderá atenuar esta evolução, uma solução desejável e
possível para as empresas maiores e mais capitalizadas.
Assim, prevê-se, a longo prazo, uma subida lenta mas sustentada dos custos do trabalho. O
custo de capital deverá manter-se. A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de
mão de obra como do custo de capital (aumento das taxas de juro).
Embora não se perspetive, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura
económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual à de longo
prazo.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de
produção das produções do sector, havendo situações em que a lucratividade dos produtos
pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor. Em primeiro lugar, tem havido um interesse crescente pela alimentação
saudável e “autêntica” no ocidente. Os consumidores procuram mais os produtos
percebidos como mais saudáveis, os produtos cultivados ou criados de forma mais natural e
sustentável, designadamente os produtos biológicos, e os produtos distintos que refletem
fatores imateriais.
Tal manifesta-se nos segmentos de consumidores mais sensíveis a questões de saúde ou
com mais rendimento, tanto grupos de maior rendimento e maior idade, como casais com
filhos e mesmo grupos mais jovens, mesmo que de menor rendimento. Todos estes grupos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
104
procuram crescentemente produtos saudáveis, naturais e com identidade. Esta tendência
favorece a agricultura algarvia.
Os efeitos desta tendência sobre a produção animal são indeterminados, havendo uma
grande possibilidade de serem negativos, uma vez que estes produtos serão prejudicados
pela tendência para o saudável, sem terem a identidade forte que lhes permita minimizar
este efeito. Poderá, no entanto, haver alguns subsetores que se ajustem a estas mudanças.
O segundo tipo de fatores com impacto na procura relativa de diferentes produtos do setor
resulta da atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração
da estrutura familiar, e favorece a procura de produtos prontos a utilizar, sejam
disponibilizadas no comércio a retalho ou em restaurantes.
Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e
potenciais significativos tanto na mão de obra como no capital. Ao nível da mão de obra, a
situação atual caracteriza-se por uma oferta reduzida, tanto com qualificações escolares
baixas e formação tradicional como com qualificações elevadas e experiência efetiva. A
tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da
mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e procura de
mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.
Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade
das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e,
fundamentalmente de aquisição de terra. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto
prazo. A última é estrutural, parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de
forma muito lenta.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura de muitos produtos e uma redução
de alguns. O acesso e os custos dos fatores continuarão a ser um problema.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e
outbound, apesar de estarem em atualização constante, estão relativamente atualizadas. As
tecnologias de produção estão desatualizadas na generalidade das explorações, em
resultado dos reduzidos níveis históricos de investimento.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound
deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de logística, transporte, resultantes
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
105
da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor. O do segmento produtivo da
introdução na região e nas explorações de tecnologias já atualmente utilizadas
internacionalmente pelo setor.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
e outbound da evolução competitiva das empresas de logística, transportadoras, comerciais
e industriais e do financiamento do setor de investigação e desenvolvimento. O da produção
da estrutura da propriedade, das dinâmicas competitivas e do financiamento do setor.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir um aumento da intensidade
capitalística do setor, a uma diminuição da utilização de trabalho, a um aumento da
produtividade, a uma diminuição do ciclo produtivo, a uma redução dos custos de produção
e distribuição e a um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica.
Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e
pontual de incorporação de inovações científicas e tecnológicas. Tal terá influência em
todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destacam-se:
1. Sistemas de recolha de dados e de monitorização – drones, sensores e localizadores
GPS, fixos ou móveis, para recolha de informações sobre o solo (grau de humidade,
quantidade de azoto e pH), ar (humidade), fontes de água, máquinas e
equipamentos (localização e necessidades de manutenção, animais (localização e
saúde via RFID) e colheitas (evolução e saúde);
2. Sistemas telemáticos – equipamentos de comunicação ligados a sensores e
localizadores, para transmissão dos dados obtidos a bases de dados e sistemas
informáticos centralizados de conhecimento;
3. Sistemas de conhecimento e gestão de ecossistemas – modelos computorizados
dinâmicos de ecossistemas agrícolas que permitem analisar o equilíbrio global das
explorações;
4. Novas formas de produção de etanol – máquinas e processo que melhoram a taxa e
a velocidade de transformação;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
106
5. Ecossistemas fechados – modelos de gestão agrícola baseados na minimização dos
inputs, designadamente energia e adubos;
6. Controlo biológico de pestes – novas variedades de espécies e modelos de combate
a pestes e parasitas;
7. Agricultura e pecuária de hiperprecisão – gestão da produção minimizando a
utilização de inputs;
8. Novas máquinas e equipamentos tradicionais – novos motores, características
técnicas e funcionalidades, resolvendo problemas de compactação e pulverização do
solo e permitindo a mecanização de novas operações;
9. Robôs (agbots) e equipamentos autónomos e driveless – novas máquinas capazes de
automatizar completamente partes dos diferentes processos produtivos;
10. Adoção de espécies mais rentáveis – introdução de espécies bem adaptadas ao
clima, de que se salientam alguns frutos vermelhos como a framboesa;
11. Seleção de variedades – técnicas de iteração e reprodução in vitro para cruzamento
e seleção rápida otimizada de novas variedades de animais e plantas;
12. Criação de variedades – criação de variedades novas de plantas e animais mais
resistentes a doenças, secas e pesticidas, com menos necessidades de água e azoto e
com outras características desejáveis, utilizando a microbiologia e a engenharia
genética (incluindo não só substituição de genes mas também alteração de partes
de genes);
13. Sistemas de comercialização e de gestão de mercados – sistemas informáticos
integrados de comercialização bilaterais ou multilaterais;
14. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor agroalimentar e florestal é bastante simples e equivalente ao das
pescas. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound, produção e outbound
são controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, pelas empresas de
agrícolas e pecuárias. A atividade de marketing e vendas está completamente dependente
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
107
das empresas compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado
nas atividades de produção, de marketing e vendas.
Existem algumas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante, designadamente para explorações de grande dimensão e nos
subsetores da floresta e da produção intensiva agroalimentar.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor agroalimentar e florestal algarvio é principalmente composto por pequenas e
médias empresas com estruturas de gestão básicas; com poucos recursos humanos,
tecnológicos e de capital; e tomadoras de preços nos diversos mercados. Existem também
muitos produtores para quem a agricultura é uma atividade secundária ou complementar.
No entanto existem algumas explorações detidas por empresas de maior dimensão que
praticam uma atividade mais moderna e intensiva. O peso económico destas empresas não
é elevado mas o seu impacto de difusão de novas tecnologias e técnicas é muito
importante.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas e do
setor é geralmente baixa e depende exclusivamente de decisões que as empresas possam
tomar sobre a sua própria dimensão e estrutura produtiva.
No entanto, salvaguardando a possibilidade já referida de alguns agricultores envelhecidos
abandonarem a atividade, nada indicia que as empresas possam tomar decisões suscetíveis
de alterar a sua dimensão. Fatores legais (incentivos europeus), tecnológicos (reduzidas
economias de escala na tecnologia actual) e financeiros (baixa lucratividade e dotação de
capital endógeno) tornam elevado o preço da terra e improvável qualquer movimento de
aumento da rivalidade, de crescimento da dimensão média das empresas ou de
consolidação do setor.
Em contrapartida é de esperar que a estrutura produtiva das empresas existentes se vá
desenvolvendo em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e
recursos. Os custos podem-se ir reduzindo, o que associado a um eventual aumento dos
preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento
sustentado da lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito da descida do preço da terra, da entrada de novos
produtores, designadamente de maior dimensão, e da introdução de novas tecnologias e do
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
108
aumento do preço do trabalho gerem mais economias de escala e incentivos para a
consolidação.
As empresas poderão aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da
lucratividade do setor e capitais externos para gerar um movimento de melhoria do esforço
de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação
e de maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria agroalimentar e florestal algarvia podem dividir-se de acordo com a
natureza dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos
principais mercados.
Algarve Portugal Europa Ocidental
Outros
Citrinos Mercado secundário
Mercado prioritário
Mercado prioritário
Mercado secundário
Frutos secos Mercado prioritário
Mercado secundário
Mercado prioritário
Mercado marginal
Frutos vermelhos e bagas Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado prioritário
Mercado secundário
Ervas e aromáticos Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado prioritário
Mercado secundário
Legumes Mercado prioritário
Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado marginal
Outra fruta Mercado prioritário
Mercado prioritário
Mercado marginal
Mercado marginal
Vinho Mercado prioritário
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado marginal
Pecuária Mercado prioritário
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado marginal
Floresta Mercado marginal
Mercado prioritário
Mercado importante
Mercado secundário
A importância destes diferentes mercados depende das características físicas e percebidas
do volume de produção dos diferentes produtos. Por exemplo, produtos de menor valor e
produção destinam-se aos mercados de proximidade devido a custos de marketing e
distribuição, enquanto produtos de maior valor ou produção destinam-se a mercados de
grande consumo devido à possibilidade de obter um maior preço de venda que dilua estes
custos de marketing e distribuição.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
109
O mercado algarvio é um mercado pequeno concorrencial, dominado por grandes
operadores, grandes cadeias de comercialização e grandes indústrias alimentares. Mas onde
o comércio local, o comércio de produtos regionais e a hotelaria e restauração tem também
um grande peso. É um destino prioritário para produtos relativamente indistintos e para
frutos secos, por poderem ser incorporados na oferta regional distintiva.
O mercado nacional é um mercado maior que o algarvio e, tirando o menor peso da
hotelaria e restauração, tem as mesmas características. É um destino primário para
produtos de menor valor e grande produção. Como é um mercado aberto, onde podem
constantemente entrar novos competidores e produtos substitutos, as pressões deste
mercado comprador sobre o preço e a margem dos produtos do setor é significativo.
O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial dominado por
grandes operadores. Mas dada a especificidade de algumas produções agroalimentares
algarvias e a grande dimensão deste mercado, existem alguns produtos em que o Algarve
tem vantagens comparadas. Trata-se, sobretudo de citrinos e de produtos de grande valor.
Além disso neste mercado podem existir alguns clientes secundários bastante atrativos.
Destes salientam-se os clientes do setor da hotelaria e restauração, onde o poder dos
clientes é pouco significativo e os preços e as margens estão menos pressionados.
Os outros mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É um grande comprador da produção algarvia do setor. A proximidade, o conhecimento e a
preferência por alguns produtos algarvios tornam o mercado nacional muito interessante.
A análise faz-se em duas partes: primeiro o mercado de consumo e depois o industrial.
O mercado de consumo de citrinos é um mercado maduro, muito competitivo, de dimensão
média e que cresce muito lentamente. Consome quase todos os citrinos e tem uma
preferência explícita pela laranja algarvia.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
110
Não parece haver ineficiências nos canais de distribuição mas a laranja algarvia talvez possa
ser mais valorizada, pelo menos no que diz respeito aos fatores associados ao produto como
marca.
O mercado de frutos secos é igualmente um mercado maduro, muito competitivo, de
dimensão média e que cresce muito lentamente. Consome muitos frutos secos e tem uma
preferência efetiva por alguns frutos secos algarvios, como as amêndoas. Todavia não
conhece alguns produtos, como a alfarroba, e as preferências efetivas por outros produtos
não são conscientes.
Parece novamente haver espaço para a valorização dos aspetos intangíveis de alguns
produtos algarvios.
O mercado de frutos vermelhos e bagas é um mercado em desenvolvimento, de dimensão
pequena e que cresce rapidamente. Consome quase todos os frutos vermelhos e bagas. É
fundamentalmente abastecido com importações mas a produção nacional e algarvia está a
penetrar no mercado.
O segmento de mercado de produtos frescos tem uma dimensão ainda reduzida e está
numa fase mais atrasada de desenvolvimento de canais. Tal é particularmente verdade no
caso da hotelaria e restauração, designadamente no Algarve, que tem uma procura elevada
que os canais existentes só satisfazem a preços muito elevados.
Parece haver espaço para a penetração de canais.
O mercado de ervas e aromáticos tem características muito parecidas com o de frutos
vermelhos e bagas em termos de canais mas tem uma oferta muito maior.
Parece novamente haver espaço para a penetração de canais.
O mercado de legumes em Portugal é um mercado muito competitivo, de dimensão média e
que cresce muito lentamente.
Não parece haver ineficiências quer em termos de valorização do produto quer de
exploração de canais.
O mercado da outra fruta tem as mesmas características e inexistência de ineficiências.
O mercado de vinho é um mercado extremamente maduro e competitivo. A oferta é muito
elevada e diversificada e os canais estão completamente desenvolvidos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
111
A produção algarvia, dadas as suas características, pode competir como um produto de
nicho, direcionado para consumidores que valorizam a diferença e a identidade.
Parece haver espaço para a valorização dos aspetos intangíveis do vinho algarvio.
O mercado de produtos pecuários tem características muito próximas do mercado de
legumes ou do de outra fruta. Não parece haver ineficiências a aproveitar.
O mercado de produtos florestais algarvios é muito reduzido.
A situação nos mercados industriais é completamente diferente e composta por três grupos
de empresas. Por um lado, existe um grupo reduzido de compradores estruturados e com
dimensão, cuja procura está concentrada nos citrinos, na outra fruta fresca, principalmente
para sumos e conservas, e na madeira. Por outro, lado existe um grupo alargado de
compradores intermédios. Por fim, um grupo mais alargado de muito pequenos produtores,
artesanais ou quase, que fazem operações básicas de transformação, principalmente de
frutos secos e frutos vermelhos e bagas.
O segmento dos grandes produtores é muito competitivo, de dimensão média e cresce
muito lentamente. Os canais de distribuição são controlados pelos compradores, estão
desenvolvidos e são eficientes.
Sendo a procura destes mercados derivada, importa referir que o subsegmento mediado de
consumidores alimentares nacionais, mesmo que mediado pela indústria alimentar,
apresenta algumas características específicas (produtos ao gosto português) que exigem
adequação da oferta à procura final. Tal minimiza os efeitos da concorrência internacional
sobre os preços. Aparentemente este mercado ainda está numa fase de desenvolvimento,
tanto em termos de procura final nacional, como em termos de exportações, como em
termos da estrutura dos clientes imediatos, a indústria alimentar.
Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se na transformação e na distribuição
posterior enquanto os custos se distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de
todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há alguma, mas pouca, evidência de os
transformadores terem lucros extraordinários na aquisição de produtos algarvios. Mas não
se perspetivam novos critérios de segmentação ou estratégias de diferenciação que
permitam melhorar a lucratividade do segmento. E não parecem existir possibilidades de
integração.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
112
Os segmento dos compradores intermédios, formados pelas empresas nacionais e
internacionais que compram localmente estes produtos qualquer que seja o seu destino,
são muito competitivos, podendo considerar-se quase de concorrência perfeita.
O segmento dos pequenos produtores é muito pouco desenvolvido. Os canais de
distribuição, quando o transformador é diferente do produtor, estão muito menos
desenvolvidos e são ineficientes. Toda a evidência aponta para que, considerados os custos
de oportunidade de trabalho não remunerado e de incentivos públicos, este segmento
destrua valor económico. Enquanto a dimensão e a organização destes transformadores não
mudar, este segmento é pouco apelativo.
ESPANHA
É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional. Dada a população e o rendimento
per capita, o valor do mercado espanhol é mais de cinco vezes maior que o do mercado
português.
Os mercados espanhóis são de maior dimensão que os nacionais mas têm características
semelhantes, com ofertas e preferências parecidas com as nacionais. Assim importa
salientar as principais diferenças.
Por um lado, os segmentos de mercado de produtos frescos e ervas e aromáticos têm uma
dimensão maior e estão numa fase mais avançada de desenvolvimento de canais. Assim
parece haver uma procura latente.
Por outro lado, as empresas espanholas que atuam nos canais de comercialização do setor
estão bastante desenvolvidas e integradas. A exportação para estes mercados espanhóis
dificilmente não será mediada por empresas espanholas de distribuição.
Depois, as empresas espanholas têm, além disso, uma presença grande nos mercados
internacionais de produtos do setor, fazendo de Espanha um exportador líquido e fazendo
com que a sua procura ultrapasse a procura final do mercado espanhol. São por isso um
mercado de grande dimensão para empresas nacionais com estratégias de liderança de
custos e um obstáculo muito grande para empresas nacionais com estratégias de
diversificação.
Por fim, existe uma procura industrial e intermédia muito maior e diversificada. Uma parte
dos produtores algarvios já vende a sua produção a estes compradores. E, embora os
problemas que o setor tem com os grandes compradores industriais nacionais sejam
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
113
idênticos aos que tem com os grandes compradores espanhóis, existe maior concorrência
no mercado industrial pelo que devem existir menos lucros extraordinários.
Note-se, todavia, que sendo o mercado consumidor e industrial muito desenvolvido em
Espanha, existe sempre a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação ou
possibilidades de integração ou de estabelecimento de parcerias. Os custos de transportes
internacionais não são significativos.
FRANÇA
É um mercado ainda maior e mais desenvolvido que o espanhol. Dada a população e o
rendimento per capita, o valor do mercado francês é mais de dez vezes maior que o do
mercado português.
Os mercados franceses têm características muito parecidas com as dos mercados espanhóis.
Assim importa salientar as principais diferenças.
Estas prendem-se fundamentalmente com o facto de a França ter um retalho e setor de
hotelaria e restauração mais diversificado e sofisticado que o espanhol. E de estes setores
estarem mais abertos a produtos diferentes e de qualidade. E de os canais de distribuição
para estes setores serem relativamente abertos a novas entradas.
Trata-se, portanto, de um mercado em que existem oportunidades de mercado suscetíveis
de serem exploradas, principalmente as oportunidades relacionadas com produtos de
elevado valor sujeitos ou não a prévias transformações primárias.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos. Existe portanto a
necessidade de valorizar os intangíveis da produção algarvia e a possibilidade de surgirem
novos critérios de segmentação ou possibilidades de integração ou de estabelecimento de
parcerias.
ITÁLIA
Um mercado com dimensão igual à do francês e com características entre as do francês e as
do espanhol. Existem oportunidades de mercado, mas a sua exploração é mais difícil que em
França.
REINO UNIDO
Um mercado com dimensão igual à do francês mas, dado não ter produtores concorrentes
de muitos produtos algarvios, tem características relevantes bastante diferentes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
114
De facto, o mercado britânico de produtos agrícolas é globalmente um mercado
desenvolvido e com algumas características estruturais próximas do francês mas menos
sofisticado e diversificado em termos de produtos consumidos e de canais de transformação
e distribuição. E, no que respeita a muitos produtos algarvios, como alguns frutos secos,
frutos vermelhos e bagas, ervas e aromáticos e mesmo legumes, esta menor sofisticação
ainda é mais vincada.
Assim, tal como no caso do mercado francês, trata-se de um mercado em que existem
oportunidades de mercado não satisfeitas. E, no caso britânico, tanto no mercado de
consumo como no mercado industrial. Particularmente interessantes são as oportunidades
relacionadas com todos os produtos de elevado valor sujeitos ou não a prévias
transformações primárias. Os custos de transportes internacionais ainda não são
significativos.
HOLANDA
É um mercado maior, mais desenvolvido e muito diferente do nacional. Dada a população e
o rendimento per capita, o valor do mercado holandês é mais de três vezes maior que o do
mercado português.
Além disso a Holanda é um dos maiores produtores e o maior exportador agropecuário da
Europa. A sua produção e distribuição agropecuária dedica-se a produtos de elevado valor e
utiliza tecnologias avançadas. E desenvolveu uma indústria alimentar significativa.
Mas a Holanda não produz a generalidade dos produtos produzidos no Algarve.
O mercado de consumo é um mercado de menor dimensão e menos desenvolvido que os
anteriores. Existem oportunidades de mercado não satisfeitas, particularmente nos
produtos de elevado valor.
Em contrapartida, o mercado industrial e intermédio é de grande dimensão, muitas vezes
integrado com o produtor e complementar do algarvio. Existem imensas possibilidades de
mercado, inclusivamente através do desenvolvimento de parcerias.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
ALEMANHA
É um mercado muito maior que os anteriores e mais desenvolvido que o nacional. Dada a
população e o rendimento per capita, o valor do mercado alemão é mais de catorze vezes
maior que o do mercado português.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
115
O mercado alemão tem características próximas do britânico (menos sofisticado que o
francês) e do holandês (produtor agrícola de ponta). Assim existem as mesmas
oportunidades que nestes mercados: produtos não produzidos localmente e oferta
complementar.
Note-se, todavia, que as empresas alemãs, francesas e espanholas que atuam nos canais de
comercialização para venda ao consumidor final estão bastante desenvolvidas e integradas
a montante. A penetração via exportação na grande distribuição dificilmente não será
mediada por grandes empresas europeias, designadamente alemãs.
No que diz respeito às vendas para o pequeno retalho, hotelaria e restauração, os canais
também estão bem desenvolvidos mas estão mais abertos a novas entradas.
Existe sempre a possibilidade de utilizar novos critérios de segmentação ou possibilidades
de integração ou de estabelecimento de parcerias particularmente no mercado de produtos
de mais valor.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
IRLANDA
É um mercado de dimensão aproximada do português e menos desenvolvido que os
anteriores.
Os canais de comercialização de produtos estão menos desenvolvidos que nos outros
países, havendo necessidades não satisfeitas a preços possíveis e, logo, possibilidades para
o aproveitamento de oportunidades.
Os custos de transportes internacionais ainda não são significativos.
POLÓNIA
É um mercado cerca de duas vezes maior que o português e menos desenvolvido que os
anteriores.
O mercado polaco é um mercado de reduzida dimensão mas em rápido desenvolvimento.
Tal como nos outros mercados mais próximos do centro da Europa, os mercados
agroalimentares são muito competitivos e de margens reduzidas. Mas são menos
estruturados que os anteriores, existe uma presença portuguesa no setor da distribuição e a
possibilidade de uma oferta complementar.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
116
Nalgumas situações será possível gerar lucros extraordinários. Existe sempre a possibilidade
de penetrar canais e de utilizar novos critérios de segmentação ou possibilidades de
integração. E a do estabelecimento de parcerias.
Os custos de transportes internacionais podem ser um obstáculo porque já começam a ser
significativos para os produtos de menor valor.
SUÉCIA
É um mercado mais de duas vezes maior que o português e com características próximas do
britânico.
Existe o mesmo tipo de oportunidades mas os custos de transportes internacionais podem
ser um obstáculo porque já são significativos para alguns produtos.
OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA
Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já
abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a
custos de transportes ou à elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não
muito diferenciada da portuguesa (Grécia).
Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,
designadamente na área dos produtos de elevado valor.
OUTROS MERCADOS EUROPEUS
Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os
mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a
custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para
ofertas diferenciadas.
OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS
A situação é equivalente para os outros mercados europeus. Pode, no entanto destacar-se a
importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à sua
dimensão. Estes são os EUA, o Canadá, o Brasil, os países do Médio Oriente, Angola, a China,
o Japão, a Coreia do Sul, outros países do Extremo Oriente e a Austrália.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
117
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado
de acordo com a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de
mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão
permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito
importante na hotelaria e restauração e no comércio. São pouco sensíveis ao preço e
muito à qualidade e ao serviço;
2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito
importante no consumo de produtos de menor valor elevado na hotelaria e
restauração e no comércio e importante no consumo de todos ou outros produtos
no comércio. São sensíveis ao preço e à qualidade;
3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento muito
importante no consumo de produtos de menor valor. São muito sensíveis ao preço e
sensíveis à qualidade;
4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento
importante no consumo de produtos valor elevado na hotelaria e restauração. São
muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;
5. Consumidores não educados/apreciadores rendimento médio e baixo – segmento
importante para os produtos preparados. Mais sensíveis ao preço que à qualidade;
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo
com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é mais fácil.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
118
Os segmentos mais importantes são:
1. Vendedores em mercados – de pequena dimensão e geralmente com pequena
expressão nas vendas estão interessados em preço, qualidade e regularidade do
abastecimento de produtos de elevada procura e total;
2. Frutarias e mercearias – de pequena e média dimensão e com um peso ainda
elevado nos produtos algarvios, em Portugal ou noutros países europeus, estão
interessados em preço, qualidade e regularidade do abastecimento de produtos de
elevada procura e total;
3. Comércio de grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média
dimensão, estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento por
espécie e total, produtos diversificados e, se possível, tratamentos primários;
4. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão, estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada
procura e, nalguns casos, tratamentos primários;
5. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão, estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e de produtos de elevada
procura e, nalguns casos, tratamentos primários;
6. Indústria alimentar – de grande dimensão estão interessados em preço e
regularidade do abastecimento de alguns produtos.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado
Consumidores finais Consumidores intermédios
Portugal 2, 4, 6 1, 2, 4, 5
Espanha 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6
França 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 3, 4, 5, 6
Itália 1, 2, 3, 4, 6 1, 2, 4, 5
Reino Unido 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6
Holanda 1, 3, 5 2, 3, 5, 6
Alemanha 1, 3, 4, 5, 6 2, 3, 5, 6
Irlanda 2, 4, 6 1, 2, 5
Polónia 2, 3, 5, 6 4, 5
Suécia 3, 4, 5, 6 2, 3, 4, 5, 6
Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
119
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria agropecuária algarvia enfrenta fundamentalmente quatro tipos de
competidores: produtores tradicionais, pequenas e médias empresas modernas, grandes
empresas agrícolas e grandes empresas integradas.
Os produtores tradicionais que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram
fundamentalmente famílias; com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos;
com capacidades fundamentalmente relacionadas com a produção; e com estratégias
tomadoras de preços e de minimização de custos.
Estes produtores tradicionais continuam a ser muito importantes mas perderam peso para
os outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e estrutura de custos
desfavorável. A rentabilidade estrutural destas empresas, antes de subsídios, é muito
reduzida ou mesmo negativa.
As pequenas e médias empresas modernas dominam agora a produção na Europa. Têm uma
estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na
diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing ou via especialização em produto.
Normalmente especializam-se num número reduzido de produtos e processos.
As mais pequenas diferenciam-se ainda mais sendo, por exemplo, as principais produtoras
de produtos biológicos.
As grandes empresas agrícolas são o segundo grupo com maior peso na indústria europeia.
São normalmente empresas que procuram gerar economias de escala para competir via
custos. Podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia, estão a
investir fortemente nestas áreas.
Por fim as grandes empresas integradas associam a atividade agropecuária com outras,
principalmente as de transformação e comercialização de peixe e de transformados de
peixe. Têm uma estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e
estratégias genéricas baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e alavancagem
do marketing.
COMPETIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
120
A competição, em termos de mercados competidores, varia de produto para produto.
Salientem-se, no entanto, a China, os EUA, o Brasil, a Nova Zelândia, os países da Europa do
Sul seguidos de diversos países da América e Ásia.
A estrutura da indústria de cada um destes países produtores é variada mas inclui sempre os
tipos de perfis de empresas referidos acima. O peso de cada um destes tipos de empresa
varia de país para país mas existe evidência que o peso dos produtores tradicionais é maior
nos países menos desenvolvidos economicamente e mais protegidos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Alteração desfavorável do enquadramento regulamentar;
2. Aumento dos custos de produção;
3. Integração ou consolidação dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
1. Diminuição do preço da terra, favorecendo o emparcelamento e o aumento da
dimensão média das explorações agrícolas;
2. Aumento da procura e alteração dos preços relativos da generalidade dos produtos,
havendo a possibilidade de aumentarem os preços nalguns produtos em que os
produtores algarvios têm vantagens comparadas;
3. Reorientação da produção para produtos de valor mais elevado;
4. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
121
5. Aproveitamento das potenciais melhorias logísticas para reduzir custos e aumentar
valores de venda;
6. Atualização tecnológica da produção;
7. Introdução de novas tecnologias de gestão da produção;
8. Introdução de novas tecnologias produtivas, como produção integrada de etanol,
controlo biológico de pestes, agricultura e pecuária de hiperprecisão, novas
máquinas e equipamentos tradicionais, robôs (agbots) e equipamentos autónomos e
driveless;
9. Atualização das espécies e variedades;
10. Introdução de novas variedades;
11. Utilização de novos sistemas de comercialização e de gestão de mercados;
12. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas;
13. Valorização da identidade regional de algumas produções;
14. Aproveitamento dos mercados locais para produtos de maior valor acrescentado;
15. Melhores prazos e serviços de entrega;
16. Redirecionamento da produção de mais alto valor para mercados da Europa
Ocidental;
17. Integração da agricultura e principalmente da pecuária com tratamentos primários
dos produtos de maior valor para a restauração;
18. Estabelecimento de parcerias na Holanda ou Alemanha;
19. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes e criação de novas
segmentações;
20. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
122
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anteriores mostra que existem dois elementos fundamentais:
capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a
financiamento para investir em novos equipamentos. Os conhecimentos técnicos e
produtivos também são fundamentais.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
123
TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS AGROALIMENTARES E FLORESTAIS
ESTRUTURA
O setor da transformação e comercialização dos produtos do setor agroalimentar e florestal
inclui tanto a indústria e comércio alimentar, especializados ou não, como a indústria e
comércio não alimentares que utilizam produtos do setor. O setor sobrepõe-se ao setor de
transformação e comercialização de produtos do mar. Esta análise duplica pois uma grande
parte da análise prévia desse setor.
O setor é composto por um conjunto muito diversificado de empresas de que se destacam:
Agentes e outros representantes;
Comércio alimentar grossista;
Comércio alimentar grossista especializado (designadamente em restaurantes);
Grande comércio alimentar a retalho;
Comércio alimentar a retalho especializado;
Restauração e hotelaria;
Indústria alimentar;
Comércio grossista não especializado;
Grande comércio a retalho;
Comércio a retalho especializado;
Indústria não alimentar.
A generalidade destas empresas e as estruturas de mercado que materializam em diversos
setores e países já foram analisadas previamente. O que não foi analisado foi a dinâmica
concorrencial do setor.
A importância deste setor para o cluster do mar resulta em primeiro lugar de estar a jusante
dos principais setores do cluster, como a agricultura, a pecuária e a silvicultura entre outros.
Assim tem uma natureza logística e comercial fundamental para garantir o escoamento e
potenciar a produção do cluster.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
124
Depois, sendo normalmente os produtores algarvios dos setores agroalimentares já
analisados, pequenos e pouco sofisticados, o setor da comercialização e transformação
assume uma natureza dinamizadora e inovadora da atividade destes produtores. Este setor
é o principal responsável pela transmissão de inovações de produtos e processos aos
produtores a montante.
Assim interessa saber se o setor está a cumprir eficientemente estas funções, se existem
inovações ou desenvolvimentos significativos na estrutura ou nos processos do setor que
possam ser aproveitados pelas empresas fornecedoras, designadamente as algarvias, e se é
possível desenvolver mais as empresas algarvias do setor.
Para o efeito as empresas do setor vão ser divididas em três tipos: de comércio alimentar,
de indústria alimentar e outras, não alimentares.
Os principais mercados do setor são os de Portugal, de Espanha, da Europa Ocidental e
Internacionais. Os condicionantes do comportamento destes mercados não são
significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que as estruturas
comerciais algarvias estão muito integradas com as nacionais e com as espanholas, estando
estas integradas com as europeias. Esta análise foca assim dois níveis de macro ambiente, o
algarvio e o ibérico.
FATORES POLÍTICOS
Na Europa a regulação do setor de transformação e comercialização dos produtos
agroalimentares é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente ao nível da
regulamentação de processos e de composição e da rotulagem dos produtos. Podem
pontualmente existir pequenos incentivos públicos para empresas de transformação e
comercialização, mas estes são sobretudo para empresas que utilizam processos mais
tradicionais e artesanais.
Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia
qualquer perspetiva, de curto prazo ou longo prazo, de alteração do enquadramento
regulamentar vigente, nem em termos institucionais nem em termos formais.
Em contrapartida, os incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam
financeiros ou de acesso, assumem muitas vezes um caráter demasiado restritivo,
procurando fundamentalmente apoiar produtores e comerciantes muito pequenos, sem
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
125
grande viabilidade económica. Os incentivos procuram mais, de facto, alcançar objetivos de
natureza social ou cultural do que económica. Muitas vezes não existe uma racionalidade
económica para a atribuição destes incentivos. Subsidia-se a atividade, não a redução de
custos ou a produção. É pouco provável, mas é possível, que este sistema seja alterado.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza regulamentar mas pode haver
uma alteração da natureza dos incentivos, favorecendo a atividade empresarial e a
produção.
FATORES ECONÓMICOS
A utilização dos diferentes tipos de comércio e dos diferentes produtos industriais do setor
não depende muito de fatores de carácter económico que não o rendimento. O peso do
valor acrescentado bruto do setor nos produtos internos brutos de diferentes países tende a
ser estável. Mas o aumento do rendimento estimula a procura de formas mais sofisticadas
de comércio e de produtos, sejam de luxo, sejam menos massificados. Assim é de prever
que nos países ocidentais o comércio se continue a tornar mais complexo e menos
massificado. É de esperar uma procura acrescida para produtos novos e distintos, de
preferência com identidades específicas.
Na indústria, que atualmente é relativamente transacionável e intensiva em mão de obra,
têm-se verificado duas tendências recentes: a de deslocalização e a de automatização,
designadamente via robotização. Esperando-se uma continuação das dinâmicas de
globalização, de aumento do preço do trabalho e de desenvolvimento tecnológico, é
consequentemente de esperar a continuação destas tendências.
Note-se que o setor em Portugal está relativamente atrasado nestes movimentos pelo que o
custo da mão de obra no Algarve ainda é muito competitivo em termos europeus. Assim
existe uma oportunidade de crescimento rápido das empresas algarvias por emulação de
boas práticas produtivas e aproveitamento de vantagens comparadas.
Estes setores comerciais e industriais são bastante concorrenciais, sendo normalmente
constituídos por um conjunto restrito de líderes, que atuam de acordo com modelos de
concorrência monopolística, e um conjunto alargado de seguidores. Esta estrutura resulta
da existência de economias de escala e de domínio limitadas na logística e no marketing das
unidades e empresas do setor.
Esta estrutura deve manter-se mas o grande desenvolvimento recente de um setor logístico
autónomo das grandes empresas industriais e comerciais, deve continuar, diminuindo as
vantagens dos maiores operadores em benefício de operadores especializados e online.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
126
Em resumo, no longo prazo espera-se uma diminuição da utilização do comércio
massificado e a continuação da deslocalização da indústria.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor
reforçam os fatores económicos acima referidos. Por um lado espera-se um aumento da
procura de comércio e de produtos diferenciados e por outro lado espera-se uma
diminuição da utilização de trabalho em atividades indiferenciadas e pouco intensivas em
capital e conhecimento.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes tipos de
unidades do setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de
busca de produtos com um carácter distintivo e a alteração da estrutura familiar, favorece a
procura de produtos mais transformados (de mais fácil utilização), de mais qualidade,
sofisticação e identificação local e menos consumidores de tempo de escolha, compra e
transporte.
No que respeita ao Algarve e à oferta de fatores produtivos, não se encontram
constrangimentos efetivos ou potenciais significativos, nem na mão de obra. A este último
nível a situação atual caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com
qualificações escolares baixas e uma oferta reduzida mas crescente de mão de obra com
qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de
mão de obra não qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem
experiência. Não se deve vir a verificar nenhum desequilíbrio entre oferta e procura de mão
de obra, podendo o emprego vir a manter-se mas com uma diferente composição.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias padrão. As tecnologias inbound e
outbound são tecnologias relativamente modernas e em atualização constante. As
tecnologias de comercialização e produção são mais diversificadas e com diferentes graus
de sofisticação.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound
deverá passar por alterações no setor dos transportes. O do outbound deverá concentrar-se
na logística de proximidade. E o da produção deverá ser mais generalizado, abrangendo
desde novos produtos e novos processos produtivos e comerciais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
127
De facto, o potencial de desenvolvimento do segmento produtivo das empresas comerciais
e industriais é muito significativo e abrange todo o conjunto de atividades desde a
mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos das vendas e do marketing.
Espera-se que as tecnologias de informação e comunicação, a robotização, a inteligência
artificial e o “big data” mudem de uma forma substancial o setor, a médio prazo.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes. O do inbound e
outbound, do desenvolvimento dos transportes e da logística e do financiamento do
investimento no setor, com a associada modernização de equipamentos e processos. O da
produção do comércio e da indústria da dinâmica competitiva das empresas.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos
de inbound e de outbound. O efeito deverá ser um aumento do valor acrescentado das
empresas industriais e comerciais de pequena e média dimensão. Mas estas terão de ter a
capacidade para conseguir uma significativa incorporação científica e tecnológica e um
aumento da sua intensidade capitalística.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em
todos os aspetos da sua cadeia de valor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e
equipamentos associados;
2. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns
automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística;
3. Conceção de produtos – novos produtos transformados e novas tecnologias de
conservação de alimentos;
4. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e
equipamentos de processamento de alimentos;
5. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de
gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;
6. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens
para o sector comercial, designadamente no segmento do retalho;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
128
7. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos e marketing relacional e de conteúdos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor de transformação e comercialização de produtos agroalimentares
e florestais algarvio é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias
de inbound, produção, comercialização e outbound são controladas, dentro das restrições
regulamentares existentes, pelas empresas de comercialização e industriais. A atividade de
produção dos inputs do setor é normalmente assegurada por pequenos ou médios
produtores.
Existem três grupos de empresas a atuar no setor: um grupo restrito de grandes empresas
comerciais e industriais normalmente nacionais, espanholas ou europeias; um grupo mais
alargado de pequenas empresas comerciais principalmente nacionais e espanholas; e um
grupo grande mas sem expressão económica significativa de micro empresas
industriais/artesanais portuguesas. Salvaguardando a dimensão mais reduzida do mercado
algarvio e o maior peso das microempresas, esta estrutura é semelhante à observada na
generalidade dos países da Europa.
As atividades de marketing destas empresas podem ser autónomas, se destinadas a
pequenos compradores, ou completamente dependente, se destinadas a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades
de produção e comercialização e de marketing e vendas.
Existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a montante, designadamente nos setores produtores de imputs. A
integração a jusante, exceto na indústria da celulose, é mais difícil.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio é composto por pequenas empresas locais com estruturas de gestão
básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção
determinada pelas instalações; e com um marketing geralmente pouco inovador. Estas
empresas concorrem com empresas espanholas e europeias de diversas dimensões e graus
de desenvolvimento.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
129
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das pequenas empresas é baixa e a
das microempresas é nula ou negativa. A lucratividade destas empresas e do setor depende
exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das empresas. No
longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria dimensão e
estrutura produtiva podem ser mais significativas e aumentar a sua lucratividade.
No entanto, nada indicia que as empresas possam tomar decisões susceptíveis de alterar a
sua dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de
capital) tornam improvável qualquer movimento de crescimento da dimensão média das
empresas ou de consolidação.
Em contrapartida é de esperar que as empresas que façam um investimento continuado em
novos equipamentos, produtos, marketing e áreas de exploração melhorem a sua quota de
mercado produtiva. Os seus custos podem ir-se reduzindo o que associado a um eventual
aumento dos preços de venda dos produtos pode levar a um aumento sustentado da
lucratividade destas empresas. E é de esperar que as empresas que não acompanhem esta
tendência e mantenham a atividade concentrada na produção de produtos de menor valor
acrescentado e margem e não invistam na sua modernização acabem por fechar.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem
maior lucratividade nas empresas que sigam estratégias de diferenciação e agressividade
comercial, podendo estas empresas aproveitar os recursos libertados pelo possível aumento
da lucratividade para gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico
e de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de maior aumento da
lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados do setor podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a
localização geográfica. Esta análise resulta das análises que foram feitas anteriormente a
respeito dos setores da agricultura, pecuária e floresta.
Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais
concorrenciais, fechados e menos lucrativos que os especializados. E outra para referir que
o comércio alimentar é mais competitivo e com menores margens que o comércio não
alimentar e a indústria.
O mercado nacional é um mercado concorrencial mas dominado por um pequeno número
de grandes operadores, grandes cadeias industriais e de comercialização. Até há pouco
tempo as empresas deste mercado estavam protegidas pela existência de uma preferência
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
130
de produtos nacionais (p.e. na alimentação preparada) mas esta preferência está a perder
importância devido à uniformização das preferências dos consumidores nacionais e
europeus e devido ao facto de as empresas internacionais terem adotado estratégias de
ajustamento do produto aos mercados nacionais e regionais.
Existem alguns mercados secundários menos concentrados, nomeadamente o distribuição
de menor dimensão e o da hotelaria e restauração, mas são pouco importantes em termos
de peso na indústria.
Como esta é uma indústria aberta, onde podem constantemente entrar novos competidores
e produtos substitutos, as pressões neste setor sobre os preços e as margens são
significativas.
O mercado da Europa Ocidental e da América do Norte são igualmente mercados
concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão destes mercados
relativamente ao algarvio, poderão existir alguns nichos de mercado ou clientes secundários
bastante atrativos.
Destes salientam-se os clientes da saudade, os clientes com preferência marcada pelo
distinto e autêntico e os setores do retalho alimentar e da hotelaria e restauração de gama
mais elevada, onde o poder dos clientes é pouco significativo e os preços e as margens
estão menos pressionados. Este pode ser um mercado primário para o setor.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS, DOS CONSUMIDORES E DOS COMPETIDORES
A análise estrutural dos principais mercados, consumidores e competidores efetivos ou
potenciais do setor, foi feita na análise dos setores anteriores.
Apenas uma nota para referir que nesta indústria os mercados mais massificados são mais
concorrenciais, fechados e menos lucrativos que os especializados.
A relevância e lucratividade dos mercados depende da distância, da população, do
rendimento per capita e da apetência relativa por produtos diferenciados específicos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
131
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças que o setor enfrenta são concorrenciais, dependem do crescimento
da concorrência por parte de competidores agressivos com dimensão, estrutura de gestão e
um marketing agressivo.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades competitivas relacionadas com novas tecnologias e
sistemas organizativos e de gestão. Mas dada a dimensão dos principais competidores
internacionais, as maiores oportunidades parecem ser as que resultam de estratégias de
especialização internacional em produtos e mercados e de estratégias de nicho.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Para estas estratégias os fatores críticos de sucesso são capacidade de desenvolver
estratégias eficientes de marketing e gerir muito bem essas estratégias, a nível de
operações e comercial.
A dimensão das empresas é secundária. O acesso a fornecedores de tecnologias e serviços
de marketing é essencial.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
132
INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS E EQUIPAMENTOS DE APOIO
ESTRUTURA
O setor da investigação e desenvolvimento de novos produtos e equipamentos de apoio ao
cluster agroalimentar e florestal tem um objeto muito lato, realiza um conjunto muito
diverso de atividades e é composto por um conjunto igualmente diverso de entidades.
O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, desde a logística de
inbound até à logística de outbound e a todas as atividades de suporte. As atividades que
realiza vão desde a investigação pura até à oferta de serviços de inovação ou à oferta de
matérias-primas e equipamentos. As entidades do setor vão desde departamentos de I&D,
produção e marketing de empresas produtoras a empresas fornecedoras e laboratórios e
universidades, abrangendo as empresas dos setores já tratados mas também entidades
comerciais, logísticas, de armazenagem, de investigação e desenvolvimento em
biotecnologias, de aluguer de máquinas e equipamentos agrícolas e outras atividades
associativas.
Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de
produtos: investigação e desenvolvimento de novos produtos e investigação e
desenvolvimento de novos equipamentos. O output do primeiro subsetor são sobretudo
serviços enquanto o do segundo são sobretudo vendas de produtos de natureza tangível.
Por uma questão de abrangência e relevância considera-se que a expressão “novos
produtos” inclui também novos processos.
Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve, de Portugal, da Europa
Ocidental e dos EUA. Pontualmente pode haver transações com mercados do resto da
Europa, África e a América do Sul.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio, tanto no que diz
respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do
desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.
Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e
dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
133
No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem
sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de
investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma
ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.
Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e
das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica
conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,
com o crescimento das vendas ou com os lucros.
Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar
quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras
entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona
eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias
dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.
Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D
independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de
mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos
projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor
esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente
distribuídos entre projetos.
Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos
de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas
entidades e nos projetos com mais valor económico.
Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos
assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma
natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades
direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por
pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.
E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de
serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de
serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à
ótima.
Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o
desenvolvimento do sector da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
134
claro: um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos
inovação e menos eficiência.
O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de
serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do
cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.
Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a
necessidades diferentes das empresas.
A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e
estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma média ou
grande empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada
administrativamente. Mas uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos
projetos que muitas vezes podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes
qualificações académicas. E muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade
financeira e de gestão para endogeneizar os resultados de um grande projeto.
Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas
empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações
adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as médias e grandes empresas no futuro. O
desenvolvimento do cluster é impedido.
Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer
perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em
termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado
para um sistema mais racional.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o
desenvolvimento do setor e do cluster.
FATORES ECONÓMICOS
A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente
em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois
um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:
1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;
2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
135
3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para
satisfazer de forma viável essa necessidade;
4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;
5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a
potencial inovação;
6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de
desenvolver a inovação;
7. A adequada organização e gestão do projeto.
Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas
com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.
Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior
número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental
sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários
para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só
empresas com capacidade de gestão e com recursos ou capacidade de os obter,
provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal
permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das
empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior
necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.
As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar
globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade
de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas
abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do
aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.
Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no
curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise
anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de
I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização
dos preços e da lucratividade no longo prazo.
No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante
considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e
conhecimento e na robotização.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
136
Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala
e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as
plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro
lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a
internacionalização das pequenas e médias empresas.
Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para
grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de
informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de
tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de
sistemas e equipamentos.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do
setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a
ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da
procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em setores mais abertos ao comércio
internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência
produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais
no setor da comercialização e transformação do que no sector produtivo.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura
das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de
processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de
equipamentos devem diminuir.
Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os
projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem
crescer mais.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e
experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas sectoriais com formação científica
e capacidade de desenvolver I&D incremental.
A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão-de-obra mais qualificada mas
prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
137
necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre
oferta e procura de mão-de-obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.
FATORES TECNOLÓGICOS
Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,
metodológico e tecnológico.
Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de
rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a
crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de
investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,
orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada
vez mais difícil.
No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de
produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa
que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente
acompanhadas e apreendidas pelo setor e que serão listadas na secção seguinte.
O potencial de desenvolvimento do sector de I&D é muito mais significativo e pode
influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a
mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.
Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica
competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades
respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da
qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D.
Poderá haver um aumento da incorporação científica e tecnológica nos resultados da
pesquisa; e um aumento da complexidade organizativa das entidades do setor.
Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos
do setor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
138
1. Big data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e
produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e
qualitativos.
2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços
colectivos;
3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar
soluções interativas para problemas complexos e jogos;
4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas
repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;
5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de
camadas de matéria prima, importante na produção de protótipos;
6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos
informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;
7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização
e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica
ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou
propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos
grandes gigantes tecnológicos;
8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às
necessidades de utilização, já em fase de crescimento;
9. Estratégias de marketing – inovação generalizada de exploração de nichos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de
suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.
As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades
ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
139
caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos
compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades
de produção.
Existem grandes possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante, designadamente no setor transformador bem como a
possibilidade de spin offs.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e médias entidades com estruturas de
gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção
determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco
eficientes.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou
negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre markups dos sobre os custos dos
projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do
volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo
prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,
organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso
externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável
qualquer movimento de mudança destas entidades.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise
da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.
No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e
internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos
sobre a produção em pequenas explorações de diversos produtos agrícolas típicos do
Algarve podem gerar lucros significativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a
possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
140
Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos
países com produções semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e
de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de
inovações e tecnologias agrícolas, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.
Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma
de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes
mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito
elevada.
Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados
efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor
de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado
pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se
fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que
existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes
segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.
Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de
produto.
EUROPA
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.
Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D
de qualidade, mas a oferta de I&D relativa a produtos mediterrâneos em países
mediterrâneos é pouco competitiva, muito influenciada por entidades públicas. Existe a
possibilidade de obter boas margens.
Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,
já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos
bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades
de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
141
projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,
principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.
EUA
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais
desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano
da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.
A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos
acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.
As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.
OUTROS MERCADOS
Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades
pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, do Chile e de outros países
equiparados da América do Sul e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países
lusófonos; dos países do Norte de África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia
do Sul, de outros países do Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem
oportunidades de nicho para produtos específicos.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.
Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar
consumidores finais de consumidores intermédios.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem
agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é
fácil.
Os segmentos mais importantes são:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
142
1. Pequenos produtores agrícolas e pecuários – apenas estão interessados em I&D
imbuída em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e os
resultados imediatos da sua aplicação;
2. Pequenos e médios produtores florestais – apenas estão interessados em I&D
imbuída em serviços; e têm grande preocupação com o preço;
3. Médios produtores agrícolas e pecuários – normalmente interessados em pequenos
projetos de I&D incremental e em I&D imbuída, estão interessados em preço,
resultados rápidos e I&D relativa a produtos de elevada procura e valor;
4. Grandes produtores agrícolas, pecuários e florestais – interessados em todos os tipos
de I&D; preocupam-se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr
riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;
5. Grande comércio grossista e retalhista – igualmente interessados em todos os tipos
de I&D, mas principalmente a respeitante a produtos de grande procura;
preocupam-se com o preço e com os resultados; estando mais dispostos a correr
riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;
6. Pequeno e médio comércio generalista – apenas estão interessados em I&D imbuída
em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e com os resultados
imediatos da sua aplicação;
7. Pequeno e médio comércio especializado – interessados em todos os tipos de I&D,
mas principalmente em pequenos projetos incrementais; preocupam-se com o
preço, com os resultados e a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de
I&D e menos dispostos a correr riscos de negócio e em adiar a rentabilidade;
8. Indústria alimentar – igualmente interessados em todos os tipos de I&D, tanto em
projetos incrementais como disruptivos de qualquer dimensão; preocupam-se com o
preço, com os resultados e com a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos
de I&D e de negócio e em adiar a rentabilidade;
9. Indústria não alimentar – as mesmas características da alimentar mas com menos
interesse na diversidade;
10. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –
interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja nos seus
produtos ou serviços seja no seu esforço de marketing; preocupam-se com os
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
143
resultados da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e em adiar a
rentabilidade
11. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de
atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de
negócio e a adiar a rentabilidade;
12. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que
gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e
permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos
de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.
Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o da média produção e do grande
comércio, logo seguido pela indústria alimentar Os outros segmentos têm pouco peso ou
uma procura direcionada para pequenos projetos.
Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de
avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:
indústria alimentar e não alimentar; grande comércio; indústria de bens de equipamento,
de inputs e de prestação de serviços ao setor; instituições de I&D; grandes produtores
agrícolas, pecuários e florestais; empresas de I&D; médios produtores; e pequeno e médio
comércio especializado. Os outros segmentos têm menos peso.
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de
equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso
das empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a
indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.
PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
144
A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento, de inputs e de
prestação de serviços ao setor.
As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são
fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de
investigação públicos.
Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,
e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e
estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm
normalmente uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do
mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades
na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.
As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente
especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.
Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo
negativa.
As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o
terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,
desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,
como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e
estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em
muitos casos, via especialização em produto.
A investigação e desenvolvimento. Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade
estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de
projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande
dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de
negócio.
A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.
A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a
indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
145
eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em
capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
produtiva e de marketing.
Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos
e tecnológicos, e de conhecimento; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e
grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização
da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na
investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande
segmento do mercado.
A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos
ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a
concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.
Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de
crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas
necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da
adequação da oferta à procura e à concorrência.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades são:
1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as
necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
146
2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,
estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas
e equipamentos;
3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;
4. Especialização e divisão do trabalho
5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e
tratamento de informação e produção de conhecimento;
6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;
7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de
espaços inteligentes e o machine learning;
8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o
desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços
de subcontratação;
9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam
grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas
empresas de I&D;
10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica e de marketing das instituições de I&D. Todo o marketing desde o
desenvolvimento da oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente
estas oportunidades.
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
147
SERVIÇOS E PRODUTOS COMPLEMENTARES
Tal como do setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar, o setor dos
serviços e produtos complementares do cluster agroalimentar e florestal engloba um
conjunto muito diversificado de atividade de que se podem destacar atividades industriais,
de construção, comerciais, de transportes, de informação e comunicação, de consultoria
científica e técnica, administrativas e de investigação e desenvolvimento, entre outras.
O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas
necessidades. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe respondem.
O fundamental em termos analíticos é saber se os fornecedores dos produtos e serviços
destas atividades a que as empresas locais do cluster têm acesso têm capacidade para
satisfazer a procura do cluster local de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou
vantagens significativas para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses
fornecedores. O que se procura é a exceção.
É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem
competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.
É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise
por amostragem evidencia três factos importantes:
1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são
transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver
vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar
barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;
2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo
internacionalmente fornecedores com relações qualidade-preço bastante diferentes
– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,
nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade-
preço que desejar;
3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,
podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais
em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a
segmentos das indústrias atrás mencionadas).
Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
148
Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros
tiver facilidade em recorrer a fornecedores internacionais diretamente tem uma vantagem
competitiva face aos concorrentes locais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
149
TURISMO / LAZER
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster do turismo e lazer inclui os seguintes
setores:
Atividades de alojamento
Atividades do património imobiliário
Atividades culturais e de animação
Atividades da alimentação
Atividades dos produtos locais
Atividades de saúde e bem-estar
Como já referido, o setor do turismo náutico e outras atividades de animação relacionadas
está incluído no cluster do mar, pescas e aquicultura, por razões analíticas. No entanto este
setor tem um efeito dinâmico importante neste cluster do turismo, semelhante ao do setor
das atividades culturais e de animação, que convém não esquecer.
A RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do agroalimentar e floresta um setor de
valorização do mercado turístico de proximidade. Também existe um setor de valorização
do mercado turístico de proximidade no cluster de mar, pescas e aquicultura. No entanto,
como a estrutura destes setores é idêntica entre clusters e está muito relacionada com a
estrutura do cluster do turismo, a análise deste setor de valorização do mercado turístico de
proximidade será feita durante esta análise do cluster do turismo.
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do
cluster os seguintes CAEs:
41 Promoção imobiliária; construção de edifícios (parte)
429 Construção de outras obras de engenharia civil (parte)
43 Atividades especializadas de construção (parte)
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
150
511 Transportes aéreos de passageiros
55 Alojamento
56 Restauração e similares
68 Atividades imobiliárias (parte)
71 Atividades de arquitetura, de engenharia e técnicas afim; atividades de
ensaios e análises técnicas
77 Atividades de aluguer (parte)
79 Agências de viagem, operadores turísticos, outros serviços de reservas e
atividades relacionadas
81 Atividades relacionadas com edifícios, plantação e manutenção de jardins
(parte)
8230 Organização de feiras, congressos e outros eventos similares
8553 Escolas de condução e pilotagem (parte)
85592 Escolas de línguas (parte)
86905 Atividades termais
90 Atividades de teatro, de música, de dança e outras atividades artísticas e
literárias (parte)
91 Atividades das bibliotecas, arquivos, museus e outras atividades culturais
(parte)
93 Atividades desportivas, de diversão e recreativas (parte)
9604 Atividades de bem-estar físico (parte)
9609 Outras atividades de serviços pessoais, n.e. (parte)
96092 Atividades dos serviços para animais de companhia (parte)
96093 Outras atividades de serviços pessoais diversas, n.e. (parte)
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
151
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster, consideraram-se os
seguintes setores como indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster e consequente
análise obrigatória:
Atrações, entretenimento e lazer
Alojamento
Alimentação e bebidas
Valorização do mercado turístico de proximidade
Agências de viagens e operadores turísticos
Transportes e comunicações
Atividades do património imobiliário
Serviços complementares e de suporte
Aparentemente esta divisão sectorial é bastante diferente da divisão da RIS3 - ALGARVE
2014-2020, Mas, como se verá durante a análise, todos os setores da RIS3 - ALGARVE 2014-
2020 estão incluídos nesta divisão.
Uma nota para referir que no setor da valorização do mercado turístico de proximidade
estão incluídas as atividades dos produtos locais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
152
ATRAÇÕES, ENTRETENIMENTO E LAZER
ESTRUTURA
O setor das atrações, entretenimento e lazer divide-se em três subsetores que se definem
como:
Atrações – locais que os turistas querem visitar, como praias, cidades, locais históricos e
culturais (incluindo industriais e económicos), atrações naturais, parques de diversão,
museus, galerias, jardins e parques;
Entretenimento – atividades culturais e de animação em que os turistas querem
participar, como festivais, concertos, conferências exposições, teatros, eventos
desportivos, manifestações religiosas, eventos gastronómicos e enológicos, discotecas e
clubes noturnos;
Lazer – locais onde se realizam atividades de descontração, saúde e bem-estar que os
turistas desejam, como golfe, corridas, marinas, piscinas, parques naturais, locais de
pesca e de observação da natureza.
Dada a sua natureza o setor assume o caráter do setor motor do cluster do turismo, É
devido a ele que os turistas se deslocam a uma região. Logo é o setor mais importante do
cluster.
O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem ou têm possibilidade de oferecer quase
todos os produtos relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de
todos os seus produtos, com um natural enfâse em produtos associados ao sol e mar.
Os principais mercados do setor são o nacional, o espanhol e o inglês, logo seguido por
muitos outros mercados da Europa ocidental. Tem no entanto potencial de captar outros
mercados emissores.
Uma nota muito importante para referir que, no turismo, mais do que em qualquer outro
cluster, existem dois níveis de competição: um entre empresas e outro entre regiões. Assim
para analisar a dinâmica competitiva do cluster é necessário compará-la com a dinâmica
competitiva de outros clusters. Tal será feito na análise da concorrência.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
153
oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura e determinação de
preços.
FATORES POLÍTICOS
O potencial turístico de uma região depende das suas atrações e atividades de
entretenimento e lazer. Quanto maior e melhor for a sua oferta, quanto mais numerosas,
com mais qualidade e interesse e de fácil acesso forem as suas atrações e atividades de
entretenimento e lazer, maior é o potencial da região. Ora, esta oferta depende
criticamente do seu enquadramento legal e de decisões políticas.
Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar da sua
construção, operação e gestão. A este nível não se distinguem diferenças nem se
perspetivam alterações significativas entre as diferentes regiões turísticas europeias.
Depende depois da forma como esse enquadramento é aplicado. A este nível o Algarve tem
dois problemas: o caráter burocrático e demorado de diversas atividades administrativas,
centrais e locais, e a lentidão do sistema judicial. Talvez os recentes esforços para simplificar
muitos processos administrativos, designadamente os de licenciamento, contribuam para
melhorar a situação.
A oferta também depende de incentivos públicos. A este nível o Algarve tem dois problemas
fundamentais de âmbito nacional: por um lado já não é uma região de convergência e por
outro as atividades turísticas não são normalmente abrangidas pelos sistemas de incentivos.
Embora esta situação seja, em tese, aceitável, é demasiado restritiva, impedindo o apoio ao
desenvolvimento de atividades alternativas e de maior valor acrescentado e o
desenvolvimento de uma oferta mais completa e integrada. Não se perspetivam, no
entanto, possibilidades de esta situação se alterar.
Existe depois um problema de âmbito mais local: a generalidade dos eventos públicos locais
são mais dirigidos para o público local do que para os turistas. Talvez esta situação mude
endogenamente.
A oferta depende depois da disponibilização de espaços do domínio público a turistas, seja
por administração direta seja por concessão a terceiros. Também aqui existe uma
desadequação entre a oferta e a procura. Os espaços de administração direta são
normalmente geridos de uma forma ineficiente e museológica, i.e. conservadora e passiva.
O acesso ou utilização de espaços concessionados é muitas vezes limitado de uma forma
excessiva.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
154
Existe uma forma eficiente e ativa de gerir estes espaços que poderá vir a ser gradualmente
adotada e beneficiar a atratividade do Algarve. Já há regiões europeias bem avançadas
nesta estratégia, adaptando modelos originados nos EUA.
A atração de uma região depende a seguir de quão fácil é aceder às suas atrações e
atividades. E a este nível existem dois problemas grandes no Algarve: por um lado a falta de
informação em quantidade e de qualidade sobre estas atrações e atividades e, por outro, as
dificuldades de transporte. E existe um potencial não aproveitado que resulta da tolerância
dos costumes nacionais designadamente “vis-à-vis” com os costumes de outros países da
bacia do mediterrâneo.
A generalidade da informação turística algarvia é transmitida em material de marketing e
vendas, diminuindo a sua credibilidade e impacto. Os serviços físicos e digitais de
informação turística são escassos, pouco presentes e ativos e de qualidade variável. A
reformulação destes serviços é uma oportunidade.
O segundo problema, o de transportes, é o mais importante para este setor económico, e
resulta fundamentalmente da inexistência de uma rede abrangente e integrada de
transportes públicos de âmbito regional e das suas consequências a nível de
congestionamento de trânsito e de dificuldades de estacionamento. A criação de uma
autoridade regional de transportes é uma oportunidade fundamental.
O último fator político e legal importante é a segurança, que está ligada à segurança pública
e à estabilidade política. A este nível a situação no Algarve não apresenta problemas
significativos mas existem algumas regiões concorrentes do Algarve onde a situação está a
melhorar. Tal representa uma ameaça importante para o Algarve.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo existem algumas oportunidades na gestão dos espaços públicos, na melhoria
do sistema de informação turística e da rede de transportes públicos, e nos mercados do
Norte de África.
FATORES ECONÓMICOS
As atrações e atividades de entretenimento e lazer são complementares entre si, sofriam
até recentemente o efeito de Baumol, têm uma elasticidade rendimento superior à unidade
e, em muitos casos, são de utilização pontual e sazonal.
A complementaridade destas atividades resulta de os turistas se deslocarem em grupos,
nomeadamente familiares, para os destinos turísticos, suportando custos de deslocação que
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
155
têm de ser compensados por benefícios individuais de realizar atividades no destino.
Quanto mais atividades um turista realizar mais benefícios globais retira da deslocação.
Mas nem todos os membros de um grupo retiram a mesma utilidade das mesmas atividades
e, além disso, a realização de uma dada atividade está sujeita a utilidades marginais
decrescentes. Assim, a otimização da experiência turística exige a disponibilização de um
leque alargado e diversificado de atividades que apelem às preferências diferenciadas dos
turistas e lhes permitam manter um nível de satisfação elevado durante um período o mais
longo possível.
Embora a generalidade dos destinos turísticos tenha alargado e diversificado a sua oferta de
atrações, entretenimento e lazer, este alargamento tem sido insuficiente em muitos casos,
estando as consequências destes fatores determinantes da atratividade e tempos de estadia
nos diversos destinos turísticos bem patentes na diminuição do crescimento e das durações
dos destinos de sol e mar que não o fizeram. Existe pois uma oportunidade de mercado.
As atrações e atividades eram, e a maioria continua a ser, bens de Baumol, isto é, a sua
produção não regista ganhos significativos de produtividade enquanto os seus custos
salariais aumentam por pressão da restante economia. Os custos e preços relativos destas
atividades estão sempre a aumentar.
Este fator impõe restrições orçamentais que limitam a procura destas atrações e atividades,
diminuem os tempos de estadia e diminuem a procura e o volume de negócios de atividades
complementares, como as de alojamento e alimentação e bebidas.
E como se prevê a longo prazo uma subida lenta mas sustentada dos custos do trabalho,
sem a existência de alterações tecnológicas os custos de produção poderão continuar a
aumentar lentamente.
A otimização da oferta de atrações, entretenimento e lazer impõe a existência de uma
grande preocupação com o custo das atrações e atividades e individuais, que está a ser
respondida com as inovações tecnológicas e de metodologias operacionais e de gestão
(analisadas à frente), e com alterações do composto de atrações e atividades, que tem de
incluir algumas de custo e preço mais reduzido.
Em muitos destinos com especificidades históricas e culturais mais próprias este equilíbrio
da oferta é relativamente fácil e está a ser ativamente promovido.
Depois, a procura destes produtos tem normalmente uma elasticidade rendimento superior
à unidade. Mas esta elasticidade não se refere à quantidade consumida por consumidor mas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
156
à relação qualidade preço dos produtos consumidos. Os turistas querem tanto consumir
mais como consumir melhor.
O grupo das atrações e atividades de qualidade percebida mais baixa tem elasticidades
rendimento mais reduzidos, enquanto o de qualidade percebida mais alta tem elasticidades
rendimento acima da unidade. Assim a oferta de atrações, entretenimento e lazer tem de
ser constantemente atualizada.
Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da
dinâmica competitiva. Estamos perante uma ameaça ou uma oportunidade para alguns
destinos.
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do
aumento da procura destes produtos. Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer
grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços
conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.
Depois, as atrações e atividades de entretenimento e lazer são normalmente de utilização
pontual. Tal limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua
qualidade e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal
de consumidores avessos ao risco, limita a procura.
Existe valor na atividade de eliminação desta assimetria de informação que é
tradicionalmente assegurada por grandes marcas internacionais, intermediários e
operadores turísticos e entidades credenciadoras. Como devido à desintermediação o papel
dos intermediários e operadores turísticos é cada vez mais reduzido, existe um problema
acrescido de informação mas uma oportunidade que pode ser aproveitada. O investimento
e envolvimento de agentes internacionais, conhecidos nos mercados emissores são
fundamentais.
Por fim as atrações e atividades turísticas são muitas vezes sazonais, o que novamente exige
uma alargada e diversificada de atividades que apelem às preferências diferenciadas ao
longo do ano dos turistas e lhes permitam manter um nível de satisfação elevado no maior
número de períodos do ano possíveis.
Esta diversificação é uma oportunidade.
FATORES SOCIAIS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
157
Existem novos fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam
significativamente a evolução do setor. Em termos demográficos salientam-se o
envelhecimento da população; o prolongamento do celibato; a diminuição do número de
crianças por família; e o aumento do número de famílias monoparentais.
Em termos culturais salientam-se:
O interesse pela novidade, diversidade, customização e participação;
O aumento do valor económico percebido das crianças;
A aversão ao risco;
A preocupação com a saúde e o exercício;
A afirmação de identidades étnicas e de género;
As preocupações ambientais e sociais.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura total de atrações e atividades mas um
impacto anda maior na composição dessa procura, favorecendo atrações e atividades
diferenciadas, segmentadas e participativas mas com serviços complementares para os
grupos etários a que se não dirigem, que ofereçam garantias reais e percebidas de
segurança e de respeito ambiental e social.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos na oferta ao setor, exceto na mão de obra. A este nível a
situação atual caracteriza-se, como em muitos outros setores, por uma oferta ainda elevada
de mão de obra com qualificações escolares baixas e formação tradicional e uma oferta
reduzida de técnicos com qualificações elevadas e experiência efetiva. A tendência parece
ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e de aumento da mão de obra
qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e procura de mão de obra
pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.
FATORES TECNOLÓGICOS
Todo o setor das atrações, entretenimento e lazer está a passar por um período de intensas
alterações tecnológicas em resultado de inovações nas tecnologias de informação e da
robotização. A cadeia de valor do setor que utilizava tecnologias bastante intensivas em
mão de obra, está a tornar-se cada vez mais intensiva em capital.
As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em
contrapartida, as tecnologias de produção estão em mutação acelerada, em resultado dos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
158
elevados níveis de investimento neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar
relativamente atrasado a este nível.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e
outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de vendas (bilhética) e
transportes. O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de
investigação científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção
do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da
capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a
uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da
importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade
capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação – instrumentos
digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, bilhética
digital e virtual, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade
aumentada;
2. Atrações e atividades novas e diferentes – em resultado das inovações digitais
referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das tecnologias de
espaços inteligentes, de drones e de sensores electrónicos;,
3. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas
repetidas;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
159
4. Novos equipamentos – máquinas, equipamentos e acessórios eventualmente
inteligentes de todos os tipos para a realização das diversas atrações e atividades e a
sua segurança;
5. Seguros customizados – InsurTech;
6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades
primárias de produção e outbound são controladas, dentro das restrições regulamentares
existentes, pelas empresas do setor. As atividades de inbound e vendas estão mais
dependente de empresas intermédias, agências de viagens e outros operadores turísticos,
mas esta dependência está a diminuir devido à desintermediação e digitalização destas
atividades.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de inbound e de marketing.
E parece existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nestas duas últimas
atividades.
Dado o carácter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem
geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e
outras cadeias de valor.
Existe, no entanto um forte incentivo para a integração vertical a montante nos subsetores
de atrações e entretenimento, ou seja, entre a cadeia de valor destes subsetores e a cadeia
de valor de produtores de conteúdos, designadamente empresas cinematográficas e
culturais. E um incentivo menor para a integração vertical a jusante da cadeia de valor de
algumas atividades de entretenimento com a cadeia de valor da indústria publicitária.
Existe igualmente um forte incentivo para a concentração do setor, como forma de
ultrapassar os problemas de informação que os seus consumidores enfrentam.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor das atrações, entretenimento e lazer é composto, na generalidade dos países
europeus, por um conjunto muito diversificado de entidades: entidades públicas;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
160
organizações não-governamentais sem fins lucrativos; e grandes, pequenas e médias
empresas.
Cada tipo de entidade tende a concentrar-se nas atividades que potenciam o seu acesso a
recursos específicos e a vantagens comparadas da sua natureza organizativa. Assim:
As entidades públicas tendem a concentrar-se na gestão de espaços do domínio público
– como praias, cidades, locais históricos e culturais, museus, atrações naturais, jardins e
parques;
As organizações não-governamentais sem fins lucrativos na realização de eventos
públicos e de acesso gratuito – como festivais e concertos, conferências, exposições,
eventos desportivos e manifestações religiosas;
As grandes empresas em atrações e atividades de maior procura e intensivas em capital
– galerias, golfe, pistas de corridas e marinas;
As médias empresas em atrações e atividades de acesso restrito e especializadas – golfe,
parques de diversão, jogo e festivais;
As pequenas empresas em atividades de acesso restrito e menos intensivas em capital –
concertos, teatro, eventos gastronómicos e enológicos, discotecas e clubes noturnos.
O controlo de recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos
dos diferentes tipos de entidades fazem com que a dinâmica competitiva dos seus
subsetores sejam completamente diferentes, com consequências a nível do impacto das
suas atrações ou atividades e a nível da sua lucratividade.
As entidades públicas tendem a controlar recursos únicos, logo têm a possibilidade de ter
um mercado não contestável dentro de determinados limites geográficos. No entanto têm
objetivos múltiplos, alguns dos quais de natureza não económica, que as levam a seguir
estratégias conservadoras de procurar garantir o acesso e prioritizar a conservação e
manutenção e não estratégias de potenciação económica.
Em consequência as suas áreas de ação tendem a incluir poucos serviços adicionais aos
nucleares e a ser geridas de uma forma passiva e pouco lucrativa. Todavia existem exemplos
de modelos de gestão mais desenvolvidos que conseguem conciliar melhor os diversos
objetivos e otimizar o potencial económico de recursos únicos.
As organizações não governamentais tendem a controlar recursos intangíveis muito
escassos, logo também têm um mercado não contestável limitado. Contudo enfrentam os
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
161
mesmos problemas de objetivos e estratégias das entidades públicas, a que se acrescentam
problemas organizacionais, decisionais e de restrição de acesso que limitam ainda mais a
sua atividade e lucratividade. Não se perspetivam grandes possibilidades de existirem
alterações nas estratégias deste tipo de entidades.
As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,
humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e
seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Em
consequência têm, estruturalmente, uma lucratividade elevada.
As médias empresas têm mais limitações de recursos que as grandes mas dispõem de
vantagens de flexibilidade e especialização que também lhes permitem ter tendencialmente
lucros extraordinários positivos.
As pequenas empresas atuam normalmente em mercados mais abertos e concorrenciais,
sem quaisquer limitações de acesso e sem quaisquer vantagens de dotação de recursos.
Assim, tendem a adotar estratégias de seguidores, a tomar preços e a não ter lucros
extraordinários sustentados. A opção por estratégias mais claras de diferenciação poderá
contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.
Uma eventual consolidação de algumas indústrias contribuiria para melhorar as estruturas
de gestão; a qualidade dos recursos humanos e tecnológicos; a dotação de capital; e a
lucratividade do setor.
E existem alguns fatores, legais, económicos e tecnológicos, que sugerem que muitas
empresas talvez possam tomar decisões susceptíveis de alterar a sua dimensão via
crescimento orgânico ou F&A. Mesmo que isto não aconteça, é de esperar que a estrutura
produtiva das empresas se vá desenvolvendo em resultado do investimento continuado em
novos equipamentos e recursos. Os custos podem ir-se reduzindo e a procura aumentando,
o que pode levar a um aumento sustentado da lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito de novos sistemas de gestão de recursos e de novas
tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas aproveitar os recursos
libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para gerar um movimento de
melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das
empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
162
Os mercados da indústria de atrações, entretenimento e lazer podem dividir-se de acordo
com a natureza dos seus produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a
relevância dos principais mercados.
Portugal Europa Ocidental Outros
Atrações públicas Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Atrações privadas Mercado primário Mercado primário Mercado marginal
Entretenimento consolidado Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário
Entretenimento emergente Mercado secundário Mercado primário Mercado marginal
Lazer Mercado primário Mercado primário Mercado primário
O mercado nacional é um mercado concorrencial, onde os grandes e médios operadores
turísticos ainda têm um peso significativo e onde é elevada a concorrência de outras
atrações e atividades de entretenimento e lazer nacionais e internacionais. As grandes
vantagens competitivas do Algarve neste mercado são o que o diferencia das outras regiões
nacionais, designadamente o clima e a cultura, incluindo a sua grande dimensão que lhe
permite ter uma oferta mais diversificada.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos
produtos do setor são significativas. O poder dos clientes é significativo e a lucratividade do
mercado não é elevada.
O mercado da Europa Ocidental é um mercado concorrencial dominado por grandes
operadores, onde os digitais estão a crescer substancialmente. Dada a proximidade, a
dimensão, a diversidade e o poder de compra relativo deste mercado relativamente ao
nacional, é um mercado prioritário para quase todos os subsetores do cluster.
Salientam-se em especial os mercados tradicionais nas ilhas britânicas, para os quais existe
uma boa adequação da oferta à procura e que têm uma lucratividade elevada. E também os
mercados mais emergentes, sobretudo no Norte da Europa, que procuram atividades mais
diversificadas que, embora tenham uma menor lucratividade no curto prazo, têm efeitos de
atenuação da sazonalidade e de sustentação da dinamização da oferta no longo prazo. E o
mercado espanhol, muito parecido com o português mas mais dinâmico e lucrativo.
Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes
secundários bastante atrativos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
163
Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Devido a custos de
deslocação e à intensidade competitiva estes mercados são menos atrativos. Mantém-se,
no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos,
designadamente no Norte de África e nos PALOP.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o maior mercado do sector das atrações, entretenimento e lazer algarvio, o que torna o
mercado nacional muito interessante.
O mercado está particularmente interessado em atrações públicas e privadas (devido a
razões de identidade e disponibilidade) e em atividades de lazer (devido a razões de
competitividade custo, proximidade e conhecimento).
O mercado de atrações é muito contestado, havendo uma oferta nacional e internacional
significativa a competir por este mercado, que cresce lentamente.
O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios
de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e
rendimento da família do consumidor final. O segmento simultaneamente mais competitivo
e com mais potencial é o de famílias de classe média mas existem novas estratégias viáveis
de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.
O mercado está numa fase de desenvolvimento de canais. Os proveitos da sua cadeia de
valor concentram-se atualmente na produção e no distribuição mas o peso relativo da
distribuição pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de
toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver
alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização.
Os mercados de entretenimento e de lazer são igualmente contestados, com uma oferta
nacional e internacional significativa a competir por estes mercados, que crescem mais
rapidamente que o anterior.
Os mercados têm os mesmos segmentos, definíveis demográfica e economicamente, que o
anterior e novamente o segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial
é o de famílias de classe média.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
164
Os mercados estão numa fase de desenvolvimento de canais. Os proveitos das suas cadeias
de valor concentram-se atualmente na produção, havendo ainda um grande espaço para o
desenvolvimento das atividades de suporte e para a distribuição. Os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem cada vez mais novas
estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo
de vida, a orientação sexual e a identidade de género ainda não aproveitadas.
O mercado tem compradores intermédios e derivados mas estes segmentos são pouco
significativos. Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários
ou possibilidades de integração.
REINO UNIDO
É o percursor do turismo, do turismo de massas e do turismo algarvio, um dos maiores
mercados emissores europeus e o maior mercado emissor internacional do Algarve. Devido
a fatores geográficos e históricos a procura turística, designadamente de sol e mar, é muito
elevada em todas as classes económicas e demográficas. Trata-se de um mercado
importante, sofisticado e diversificado.
A procura é muito estratificada e os diferentes destinos são conotados social e
economicamente. Isto torna difícil a um mercado destino captar clientes de novos
segmentos. No entanto, como é um mercado sofisticado, distingue entre diferentes zonas e
épocas, tornando viável o posicionamento de novas ofertas. Tal é reforçado pela grande
dinâmica social e cultural do mercado, criando constantemente novos segmentos da
procura.
Em termos de atrações, entretenimento e lazer é um mercado que se divide num grande
segmento de consumo de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes
últimos segmentos têm um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado
por muitos destinos. Tal como no caso do mercado espanhol, a diferenciação e
complementaridade da oferta é importante.
Assim é um mercado em que existem oportunidades de mercado não satisfeitas.
O mercado do Reino Unido também é importante devido ao peso que os seus
intermediários e transportadores têm. O mercado tem canais bem desenvolvidos. Os
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
165
proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e distribuição mas
o peso relativo da produção pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na
comercialização. Os custos de transportes internacionais não são significativos.
O Brexit não deverá ter consequências relevantes na procura do mercado.
ESPANHA
Compete pelo lugar de terceiro maior mercado do setor algarvio e é um dos maiores
mercados europeus. Este mercado é de maior dimensão que o nacional mas têm
características semelhantes. Assim importa salientar as principais diferenças.
No mercado de atrações o valor da identificação histórica e cultural é menor, aumentando a
importância da diferenciação e complementaridade. O desenvolvimento dos canais está
mais avançado, aumentando a importância dos intermediários, sejam operadores físicos ou
digitais. E as estratégias de segmentação podem ser mais finas que no caso do mercado
nacional, devido à dimensão deste mercado e à importância da indústria próxima que o
serve.
Nos mercados de entretenimento e lazer a situação é semelhante mas ainda mais extrema.
A importância da diferenciação e complementaridade, da segmentação e dos canis é ainda
mais importante.
Os custos de transportes internacionais não são significativos.
IRLANDA
O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão e menos desenvolvido mas com
características parecidas com o britânico.
Os canais de distribuição estão menos desenvolvidos que no Reino Unido o que favorece o
Algarve e do Sul de Espanha, dada a sua proximidade e a existência de um peso significativo
no setor dos transportes aéreos.
Os segmentos de procura diferenciada de atrações, entretenimento e lazer têm uma
importância relativamente pequena, devido à dimensão do mercado global, mas existem
alguns tipos de afinidades, designadamente de natureza religiosa, que podem ser
explorados.
Existem algumas, poucas, oportunidades de mercado não satisfeitas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
166
ALEMANHA
É um mercado grande e mais diversificado que os anteriores do setor das atrações,
entretenimento e lazer, o que o torna muito interessante.
O mercado está interessado tanto em atrações como em entretenimento e lazer (devido a
razões de competitividade custo).
Os mercados de entretenimento e lazer são muito contestados, havendo uma larga oferta
internacional a competir por estes mercados, que crescem a um ritmo interessante.
O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O
segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe
média e dos jovens adultos.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de
segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.
O mercado tem canais bem desenvolvidos e com um grande peso internacional. Os
proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e na distribuição
mas o peso relativo da produção pode crescer mais. Os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na
comercialização.
Dada a sua localização no centro da Europa, é um mercado que em termos de transportes e
custos tem um alcance alargado. Os custos de transportes europeus não são significativos
mas as redes de transportes aéreos e as relações comerciais dos operadores turísticos estão
menos ligadas ao Algarve que as britânicas.
HOLANDA
O mercado holandês é um mercado tradicional do turismo algarvio mas com menor
dimensão que o britânico. As outras características do mercado holandês, a nível de
procura, segmentos e redes de distribuição, são mais parecidas com as do mercado alemão
do que com as do mercado britânico.
Existem algumas oportunidades de mercado não satisfeitas e a necessidade de trabalhar nas
redes de inbound.
FRANÇA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
167
A França tem uma grande oferta e procura turística. A sua grande oferta, designadamente
no sol e mar, limita o interesse para os outros destinos de sol e mar do seu
segmento de turismo de massas.
Mas, até por causa disto, os segmentos mais diferenciados do mercado não são muito
visados pela oferta da generalidade dos mercados destino. O investimento
promocional neste mercado pode ter efeitos significativos, como comprova a
própria realidade algarvia.
Tal como o mercado alemão, o francês está tanto interessado em atrações como em
entretenimento e lazer (devido a razões de competitividade custo). E embora os seus
mercados de atrações, entretenimento e lazer sejam contestados, havendo uma larga oferta
internacional a competir por estes mercados, existe a possibilidade de apresentar ofertas
viáveis principalmente no setor das atrações e entretenimento.
Os canais de distribuição e as redes de transportes internacionais deste mercado estão
menos desenvolvidas que nos mercados anteriores, criando oportunidades de negócio.
SUÉCIA E PAÍSES ESCANDINAVOS
São mercados de elevado poder de compra e sofisticação, com características parecidas
com as do holandês mas com ainda menos ligações a nível de canais.
Existem muitas oportunidades a nível de segmentação, oferta e redes a explorar.
POLÓNIA E PAÍSES DO LESTE DA UNIÃO EUROPEIA
São mercados que globalmente têm uma dimensão significativa e estão a crescer
significativamente, o que os torna muito interessantes.
Estes mercados estão interessados em todo o tipo de atrações, entretenimento e lazer.
Os mercados de entretenimento e lazer são muito contestados, havendo uma oferta
internacional significativa a competir por estes mercados. No mercado de atrações existe
uma maior possibilidade de diferenciação o que alavanca a possibilidade de captar clientes.
Os mercados têm diversos segmentos, definíveis nacional, demográfica e economicamente.
Os segmentos com mais potencial são os de procura diferenciada, de jovens adultos e
principalmente de casais sem filhos mas existem estratégias viáveis de segmentação de
mercados relacionadas com o estilo de vida.
Os mercados estão numa fase de desenvolvimento de canais, que presentemente estão
muito ligados com os canais alemães. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
168
atualmente na produção e na distribuição mas o peso relativo da produção pode crescer
ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as
atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros
extraordinários ou rendas na comercialização.
OUTROS MERCADOS DA UNIÃO EUROPEIA
Os outros mercados da UE são mercados menos interessantes que os mercados já
abordados por razões de dimensão, de localização ou de oferta relevante. Ou são mercados
de menor dimensão ou são mercados de difícil acesso devido a custos de transportes ou à
elevada intensidade competitiva ou de elevada oferta local não muito diferenciada da
portuguesa (Itália e Grécia).
Podem no entanto surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas,
designadamente na área dos produtos frescos de elevado valor.
OUTROS MERCADOS EUROPEUS
Os outros mercados Europeus são igualmente mercados menos interessantes que os
mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a
custos de transportes e custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para
ofertas diferenciadas.
OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS
A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto
destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,
devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais agrupavam-se tradicionalmente de acordo com variáveis
económicas, sociais e demográficas, no que é chamada uma segmentação horizontal. Mais
recentemente as segmentações psicográficas e comportamentais têm a tornar-se cada vez
mais relevantes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
169
O cruzamento de variáveis económicas, demográficas e psicográficas permite obter
múltiplos segmentos de mercado de acordo com a capacidade financeira e física do
consumidor, os seus interesses, a importância que dá ao produto, a facilidade que tem de
mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado.
Os critérios de segmentação económicos são bem conhecidos e relacionam-se
fundamentalmente com o rendimento. Acontece o mesmo com os critérios de segmentação
demográfica que se relacionam com a fase do ciclo de vida do consumidor.
Os critérios psicográficos e motivacionais são menos conhecidos mas permitem a
segmentação dos consumidores nos seguintes grupos principais:
1. Consumidores de relax – procuram fundamentalmente atividades de lazer e são o
segmento mais importante nos destinos de sol e mar; o seu valor para outras
atividades do setor é reduzido;
2. Consumidores de afinidade – procuram identificação e pertença através de visitas a
atrações e participação em atividades de entretenimento e lazer; o seu valor é
elevado para todas as áreas do setor;
3. Consumidores de afirmação – procuram reforçar o seu estatuto seguindo outros
consumidores; o seu valor é elevado para o entretenimento e o lazer;
4. Consumidores de conhecimento – procuram conhecer visitando atrações e
participando em atividades; têm um valor elevado para estes dois subsetores;
podem ser o segmento menos sazonal;
5. Consumidores sensoriais e estéticos – procuram visitar e viver novas experiências
visitando atrações e participando em atividades; tal como os do segmento anterior
têm um valor elevado para estes dois subsetores; são um segmento pouco sazonal.
A conjugação destes três tipos de critérios permite a definição de segmentos finos de
consumidores e uma análise mais adequada da procura bem como o “fine tuning” da oferta.
Atualmente existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais
segmentos de consumidores, de que se destacam:
Oferta crescente e agressiva para os consumidores de relax de todos os níveis de
rendimento;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
170
Oferta insuficiente para os consumidores de relax monoparentais de rendimento
médio ou baixo;
Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,
designadamente os de base étnica;
Procura decrescente dos consumidores de relax de rendimento médio e menor
idade;
Procura crescente dos consumidores de afinidade (pertença) de rendimento médio e
idade elevada;
Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de
rendimento médio e mesmo baixo.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também
podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do
setor, podem agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A
segmentação é fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Agências de viagens – já foram o grande intermediário do setor, estão a perder peso
mas mantêm uma importância elevada nalgumas atividades e segmentos do
mercado devido à sua função informativa; estão interessadas em margem, qualidade
e produtos de elevada procura;
2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no sector, designadamente nos
produtos de consumo de massas, podendo ser melhor potenciadas por fornecedores
de atrações, entretenimento e lazer devido à sua capacidade de micro segmentar
alvos do marketing; recebem comissões pelo que estão disponíveis para qualquer
oferta mas são pouco eficientes para ultrapassar problemas de informação;
3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros
intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso
crescente no setor, estão interessadas em qualidade e produtos de elevada procura;
4. Empresas de hotelaria e restauração – procuram complementar a oferta, sendo
adicionalmente um dos melhores gatekeeprs do sector; interessadas em qualquer
produto;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
171
5. Empresas comerciais não especializadas – complementam a sua oferta com produtos
turísticos, estão interessados em margens considerando qualquer produto;
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos canais de compra por mercado
Direta Tradicionais Digitais
Portugal Muito importante Pouco importante Importante
Reino Unido Importante Importante Pouco importante
Espanha Importante Pouco importante Importante
Irlanda Importante Importante Importante
Alemanha Pouco importante Importante Muito importante
França Pouco importante Importante Muito importante
Holanda Pouco importante Importante Muito importante
Escandinavos Pouco importante Importante Muito importante
Leste Importante Importante Muito importante
Outros Importante Muito importante Importante
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia de atrações, entretenimento e lazer enfrenta fundamentalmente três
tipos de competidores: grandes destinos cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e
mar e destinos emergentes, cidades e regiões.
As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,
localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e
lazer. A regra é que quanto menor for a região mais especializada é e tem de ser a sua
oferta e mais dificuldades terá em atenuar a sazonalidade.
Os grandes destinos cosmopolitas têm uma oferta consolidada de atrações e fazem um
esforço substancial para manter uma oferta agressiva de entretenimento. O seu ponto fraco
é a sua oferta de atividades de lazer.
As grandes regiões turísticas de sol e mar têm uma oferta consolidada de atividades de
lazer, mantêm uma oferta de diversificada de entretenimento de qualidade variável e estão
a potenciar as suas atrações. O seu ponto fraco é a sazonalidade, que lhes limita a massa
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
172
crítica nalgumas alturas do ano e lhes impossibilita concorrerem em muitas circunstâncias
com as grandes cidades nalguns setores do entretenimento.
Os destinos emergentes têm uma oferta mais especializada de atrações, lazer e, em menor
escala, entretenimento. Esta especialização está-lhes a permitir captar quota de mercado.
Estes novos destinos são muitas vezes vendidos a preços elevados e são, talvez, o
concorrente atualmente mais lucrativo.
Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do
mercado, assim só parece importante voltar a referir a empresa que as grandes empresas
integradas de conteúdos, atrações, publicidade e entretenimento têm para o setor. As
empresas e entidades que dominam o setor são muito importantes mas estão a perder peso
devido à sua falta de flexibilidade, reconhecimento de marca e recursos. A rentabilidade
estrutural destas empresas é a mais elevada do setor.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são todas as regiões turísticas
de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e às costas
atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a Espanha, a
França, a Grécia a Turquia e os países balcânicos. Existem depois uma série de outros
destinos no Norte de África, nas Caraíbas e no Atlântico. E os destinos tradicionais de sol e
mar do Norte da Europa.
A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de
cada um dos subsetores varia de região para região mas o peso do lazer é sempre muito
elevado. Os fatores de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam
bastante em sentidos inversos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao
setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
173
1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da
intensidade competitiva e de crescimento da oferta;
2. Melhoria das condições de segurança na Bacia do Mediterrâneo;
3. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;
4. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Simplificação de muitos processos administrativos e da sua aplicação;
2. Melhor gestão das atrações de responsabilidade do Estado;
3. Aproveitamento da tolerância nacional para criar uma oferta dirigida a segmentos
menos bem acolhidos noutras zonas;
4. Melhoria do sistema de informação turística;
5. Melhoria do sistema regional de transportes;
6. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;
7. Atrações e atividades diferenciadas e participativas com serviços complementares;
8. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;
9. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de
certificação ou criação ou colaboração com marcas reputadas;
10. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
7. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação de
atrações;
8. Novas atrações e atividades, mutas vezes com base digital;
9. Automatização e robotização da produção e novos equipamentos;
10. Seguros customizados;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
174
11. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços
para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários;
12. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais
dinâmicos e de maior valor acrescentado;
13. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:
capacidade de estratégia e marketing para criar ofertas atrativas e viáveis, capacidade de
gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a financiamento para
investir numa oferta mais diversificada, incluindo marketing e equipamentos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
175
ALOJAMENTO
ESTRUTURA
O setor do alojamento inclui um conjunto de recursos de alojamento que vão desde hotéis e
aldeamentos a parques de campismo e caravanismo.
Dada a sua natureza o setor assume o caráter de suporte do setor anterior mas é o que gera
maior valor acrescentado. É devido a ele que os turistas geram a maior parte do emprego e
rendimento turístico. Logo é um setor muito importante do cluster.
O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem todos os tipos de alojamento
relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de todos.
Os principais mercados do setor são os mesmos do setor anterior, com algumas alterações
da magnitude e mesmo ordem de importância. A dinâmica destes mercados depende muito
da dinâmica referida a propósito do setor anterior, com algumas características próprias.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A determinação de
preços é endógena.
FATORES POLÍTICOS
O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alojamento. Quanto
maior e melhor for esta oferta, maior é o potencial da região. Ora, esta oferta depende
criticamente do seu enquadramento legal.
Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar da sua
construção, operação e gestão. Isto a dois níveis: o primeiro é o da afetação de zonas para
desenvolvimento turístico e construção de alojamentos e o segundo é o do licenciamento
da construção e da atividade.
A afetação de zonas ao desenvolvimento turístico coloca problemas de trade-off entre
desenvolvimento qualitativo e quantitativo. Muitas regiões já cresceram mais
extensivamente do que o desejável, prejudicando a qualidade da sua oferta. A este nível os
problemas do Algarve são fundamentalmente históricos, colocando no entanto a região em
desvantagens competitivas face a novos destinos concorrentes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
176
A este nível não se distinguem diferenças nem se perspetivam alterações significativas entre
as diferentes regiões turísticas europeias.
O licenciamento da construção e atividade e a sua aplicação concreta é importante para
minimizar os custos do desenvolvimento e construção e otimizar o ajustamento da oferta à
procura. Como já referido, a este nível o Algarve tem dois problemas: o caráter burocrático
e demorado de diversas atividades administrativas, centrais e locais, e a lentidão do sistema
judicial. Talvez os recentes esforços para simplificar muitos processos administrativos,
designadamente os de licenciamento, contribuam para melhorar a situação.
Note-se que este problema coloca dificuldades gravíssimas a um destino em que uma parte
substancial dos alojamentos já está próxima da amortização total, pelo que precisa de ser
remodelada ou renovada, e está na posse de pequenos proprietários privados, pelo que as
decisões de remodelar ou renovar são dificultadas por problemas de coordenação.
O último fator político importante é a segurança, que está ligada à segurança pública e à
estabilidade política. A este nível a situação no Algarve não apresenta problemas
significativos mas existem algumas regiões concorrentes do Algarve onde a situação está a
melhorar. Tal representa uma ameaça importante para o Algarve.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo existe a necessidade de resolver o problema dos licenciamentos e das decisões
sobre remodelações e renovações do construído.
FATORES ECONÓMICOS
O alojamento é um setor de suporte pelo que a sua dinâmica depende fundamentalmente
da dinâmica do setor de atrações, entretenimento e lazer.
Existem no entanto fatores económicos, já referidos na análise do setor anterior, que
afetam especificamente a composição da procura de alojamento. Estes fatores são
fundamentalmente o de que a procura de alojamento tem uma elasticidade rendimento
superior à unidade e os serviços de alojamento serem, em muitos casos, de utilização
pontual e sazonal.
O facto de a procura destes serviços ter, normalmente, uma elasticidade rendimento
superior à unidade não se refere, novamente, à quantidade utilizada por consumidor mas à
relação qualidade preço dos serviços utilizados. Os turistas querem tanto utilizar mais como
ter melhor serviço.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
177
O alojamento de qualidade percebida mais baixa tem elasticidades rendimento mais
reduzida, enquanto o de qualidade percebida mais alta tem elasticidades rendimento acima
da unidade. Assim a oferta de alojamento tem de ser constantemente atualizada e
valorizada.
Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da
dinâmica competitiva. É o que acontece no Algarve em que uma parte do parque de
alojamento já tem uma certa idade e em que existem problemas legais, administrativos e de
estrutura da indústria que dificultam esta renovação. Estamos perante uma ameaça para
alguns destinos tradicionais incluindo o Algarve.
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do
aumento da procura destes produtos. Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer
grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e dos preços
conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.
O alojamento enfrenta também o problema de ser normalmente de utilização pontual, o
que limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua qualidade
e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal de
consumidores avessos ao risco, limita a procura.
Este problema é menor que no caso das atrações, entretenimento e lazer devido a maior
peso do alojamento num pacote turístico, mas não deixa de existir. Assim continua a existir
valor na atividade de eliminação desta assimetria de informação.
Estas atividades, que eram tradicionalmente asseguradas por grandes marcas
internacionais, intermediários e operadores turísticos, são mais difíceis de prestar num
ambiente de desintermediação da compra de serviços de alojamento.
Existem alternativas de mercado para resolver este problema, como entidades
credenciadoras e certificadoras e seguros, criando uma oportunidade de mercado para
estas entidades e os alojamentos e regiões que sirvam.
Note-se que este problema de assimetria de informação é particularmente grave no caso do
Algarve devido ao peso do turismo mais ocasional e ao grande peso dos alojamentos de
pequenos proprietários privados assumem no conjunto do seu alojamento. É certamente
este problema que explica o diferencial de preços entre o alojamento local e as outras
formas de alojamento.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
178
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor das atrações,
entretenimento e lazer também afetam procura total e a composição da procura de
alojamento.
São cada vez mais procurados alojamentos diferenciados e com serviços complementares,
designadamente para crianças, que ofereçam garantias reais e percebidas de segurança e de
respeito ambiental e social.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos na oferta ao setor, nem mesmo na mão de obra. A este nível a
situação atual caracteriza-se por uma oferta crescente de mão de obra qualificada e com
experiência efetiva. Sem dúvida que grande parte desta mão de obra se desloca
sazonalmente para o Algarve mas tal não representa um problema. O mesmo acontece
noutras regiões.
FATORES TECNOLÓGICOS
Existem algumas alterações tecnológicas no setor do alojamento em resultado de inovações
nas tecnologias de informação e da robotização. A cadeia de valor do setor que utilizava
tecnologias bastante intensivas em mão de obra, está a tornar-se cada vez mais intensiva
em capital.
As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em
contrapartida, as tecnologias de produção estão em mudança, em resultado da introdução
de novas tecnologias neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar relativamente
atrasado a este nível.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e
outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de reservas e transportes.
O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação
científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção
do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da
capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a
uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
179
importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade
capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas – instrumentos digitais
incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, reservas digitais
e virtuais, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade aumentada;
2. Alojamentos com novas configurações e funcionalidades– em resultado das
inovações digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das
tecnologias de espaços inteligentes, de drones e de sensores electrónicos;
3. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a
automatização inteligente de tarefas repetidas;
4. Seguros customizados – InsurTech;
5. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades
primárias de produção e outbound são controladas, dentro das restrições regulamentares
existentes, pelas empresas do setor. As atividades de inbound e vendas estão mais
dependentes de empresas intermédias, agências de viagens e outros operadores turísticos,
mas esta dependência está a diminuir devido à desintermediação e digitalização destas
atividades.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, de inbound e de marketing.
E parece existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nestas duas últimas
atividades.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
180
Dado o caráter mito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem
geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e
outras cadeias de valor.
Mas existe um incentivo para a concentração do setor, como forma de ultrapassar os
problemas de informação que os seus consumidores enfrentam.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SECTOR
O setor do alojamento é assegurado, na generalidade dos países europeus, por empresas e
particulares. Cada tipo de entidade tende a concentrar-se no segmento que potencia os
seus recursos e as suas vantagens comparadas. Assim:
Os particulares tendem a concentrar-se na disponibilização de quartos e de
apartamentos, isolados ou m aldeamentos, com ou sem serviços incluídos;
As pequenas empresas em alojamentos de nicho, normalmente com um componente
reduzido de serviços;
As médias empresas em alojamentos de maior qualidade e mais segmentados, com um
maior componente de serviços e de atividades de lazer;
As grandes empresas em maiores unidades de alojamento, com um componente
alargado de serviços e dirigidos a múltiplos segmentos de mercado.
Os recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos dos
diferentes tipos de entidades fazem com que a sua dinâmica competitiva seja
completamente diferente, com consequências a nível da qualidade do serviços e perspetivas
de desenvolvimento futuro.
Os privados vêm normalmente a disponibilização de alojamento como uma atividade
complementar que gera benefícios apreciáveis. O seu grau de empenhamento de recursos
na atividade não é elevado e concentra-se nos seus aspetos comerciais e operacionais.
Usam nos seus esforços comerciais canais informais e digitais e são tomadores de preços e
seguidores de tendências. Flexibilizam e diversificam o mercado mas criam-lhe alguns
problemas reputacionais. Não têm uma rentabilidade elevada.
As pequenas empresas atuam normalmente em mercados mais formais, sem qualquer
vantagem de dotação de recursos. Assim, tendem a adotar estratégias de seguidores, a
tomar preços e a não ter lucros extraordinários sustentados. A opção por estratégias mais
claras de diferenciação poderá contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
181
As médias empresas dispõem de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes
permitem ter tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores
e diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada.
As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,
humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e
seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Em
consequência têm, estruturalmente, uma lucratividade elevada.
Uma eventual consolidação de algumas pequenas empresas e a formalização da atividade
dos particulares contribuiria para resolver algumas deficiências destas entidades e melhorar
a lucratividade do setor. Importante seria o desenvolvimento do associativismo e de uma
indústria de prestação de serviços comerciais, de manutenção, operacionais e de gestão do
património de proprietários privados. E de entidades certificadoras e seguradoras que
melhorassem a difusão de informação.
Não existem indícios que esta estrutura de se possa alterar nem via crescimento orgânico
nem via F&A. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo.
A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de alojamento podem dividir-se de acordo com o tipo de alojamento e a
localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Portugal Europa Ocidental Outros
Estabelecimentos hoteleiros Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário
Aldeamentos turísticos Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Apartamentos turísticos Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal
Resorts Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário
Turismo de habitação Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Turismo no espaço rural Mercado secundário Mercado primário Mercado secundário
Campismo e de caravanismo Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Pode também dividir-se de acordo com as entidades que detêm e gerem as unidades de alojamento
e a este nível saliente-se a importância que o mercado português e espanhol em para o segmento de
particulares.
O mercado nacional é um mercado concorrencial, onde os grandes e médios operadores
turísticos ainda têm algum peso mas em que as vendas diretas, sem intermediários, são
mais importantes. As grandes vantagens competitivas do Algarve neste mercado são a
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
182
proximidade, o conhecimento do comprador e o que o diferencia das outras regiões
nacionais, designadamente o clima e a cultura, incluindo a sua grande dimensão que lhe
permite ter uma oferta mais diversificada.
Como é um mercado aberto, onde podem constantemente entrar novos competidores e
produtos substitutos, as pressões deste mercado comprador sobre o preço e a margem dos
produtos do setor são significativas. A concorrência é elevada, o poder dos clientes é
significativo e a lucratividade do mercado não é elevada.
O mercado da Europa Ocidental é um mercado concorrencial dominado por grandes
operadores, onde os digitais estão a crescer substancialmente. Dada a proximidade, a
dimensão, a diversidade e o poder de compra relativo deste mercado relativamente ao
nacional, é um mercado prioritário para quase todos os subsectores do cluster.
Salientam-se em especial os mercados tradicionais nas ilhas britânicas, para os quais existe
uma boa adequação da oferta à procura e que têm uma lucratividade elevada. E também os
mercados mais emergentes, sobretudo no Norte da Europa. E o mercado espanhol, muito
parecido com o português mas mais dinâmico e lucrativo.
Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes
secundários bastante atrativos.
Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Devido a custos de
deslocação e à intensidade competitiva estes mercados são menos atrativos. Mantém-se,
no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos,
designadamente no Norte de África e nos PALOP.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor. Dado que as características dos
mercados por país deste setor são muito idênticas às dos mercados por país do setor
anterior, a análise vai-se focar sobretudo nas diferenças face ao setor anterior.
PORTUGAL
É o maior mercado do setor de alojamento algarvio, o que torna o mercado nacional muito
interessante.
Devida ao seu reduzido poder de compra, a maior parte do mercado está particularmente
interessado em alojamento de menor custo e com um reduzido componente de serviço.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
183
Procura muito os apartamentos turísticos e os aldeamentos, arrendando muitas vezes os
alojamentos diretamente a particulares.
Devido ao seu conhecimento do mercado e a compras repetidas não enfrenta os problemas
de assimetria de informação que o arrendamento deste tipos de alojamento normalmente
cria.
Além dum grande segmento de famílias de classe média, o mercado tem diversos
segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios de segmentação
utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e rendimento da
família do consumidor final e o estilo de vida. O segmento simultaneamente mais
competitivo e com mais potencial é o já referido de famílias de classe média mas existem
novas estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o
estilo de vida que podem contribuir para resolver problemas de sazonalidade.
O mercado tem canais desenvolvidos. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se
atualmente no alojamento mas o peso relativo da distribuição pode crescer mais. Os custos
distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e
de suporte.
O mercado tem compradores intermédios e derivados mas estes segmentos são pouco
significativos. Não se encontra em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários
ou possibilidades de integração.
REINO UNIDO
É o maior mercado internacional do alojamento algarvio com uma procura sofisticada e
diversificada.
A procura é muito estratificada e os diferentes destinos são conotados social e
economicamente. No entanto, como é um mercado sofisticado e conhecedor do Algarve,
distingue entre diferentes zonas e épocas, tornando viável o posicionamento de novas
ofertas. Tal é reforçado pela grande dinâmica social e cultural do mercado, criando
constantemente novos segmentos da procura.
Em termos de alojamento é um mercado que se divide num grande segmento de consumo
de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes últimos segmentos têm
um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado por muitos destinos. A
diferenciação e complementaridade da oferta são importantes. É um mercado em que
existem oportunidades de mercado não satisfeitas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
184
O mercado do Reino Unido também é importante devido ao peso que os seus
intermediários e transportadores têm. O mercado tem canais bem desenvolvidos,
recorrendo no entanto mais ao arrendamento direto de apartamentos que outros mercados
internacionais (devido ao conhecimento do local).
Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se na produção e distribuição e o seu peso
relativo devem manter-se. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece, no entanto, haver alguma
evidência de lucros extraordinários ou rendas na comercialização. Os custos de transportes
internacionais não são significativos.
ESPANHA
O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, tendo um comportamento
intermédio entre o britânico e o português.
O desenvolvimento dos canais está mais avançado que no caso português mas menos que
no caso britânico, tendo tanto o arrendamento direto como os intermediários, sejam
operadores físicos ou digitais, importância.
E as estratégias de segmentação podem ser mais finas que no caso do mercado nacional,
devido à dimensão deste mercado e à importância da indústria próxima que o serve.
Os custos de transportes internacionais não são significativos.
IRLANDA
O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão e menos desenvolvido mas com
características parecidas com o britânico.
Os canais de distribuição estão menos desenvolvidos que no Reino Unido o que favorece o
Algarve e do Sul de Espanha, dada a sua proximidade e o seu peso nos transportes aéreos.
Os segmentos de procura diferenciada de alojamento têm uma importância relativamente
pequena, devido à dimensão do mercado global. Existem algumas, poucas, oportunidades
de mercado não satisfeitas.
OUTROS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL
Globalmente são um mercado grande e diversificado, o que o torna muito interessante.
Os mercados estão interessados em todo o tipo de alojamentos e são dos mais interessados
em turismo de habitação e rural porque valorizam o componente identitário e de
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
185
conhecimento do turismo. São mercados são muito contestados, havendo uma larga oferta
internacional a competir por eles.
O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O
segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe
média e dos jovens adultos.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de
segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida e interesses
que se podem aplicar ao alojamento.
O mercado recorre muito a canais de distribuição que estão bem desenvolvidos. Os
proveitos da sua cadeia de valor concentram-se atualmente na produção e na distribuição
mas o peso relativo da produção pode crescer mais. Os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na
comercialização.
Os custos de transportes europeus não são significativos mas as redes de transportes aéreos
e as relações comerciais dos operadores turísticos destes países estão menos ligadas ao
Algarve que as britânicas.
OUTROS MERCADOS EUROPEUS
Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou
são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes e
custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Mas podem sempre surgir oportunidades pontuais para ofertas diferenciadas.
OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS
A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto
destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,
devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
186
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Ao contrário do que se passa com as atrações, entretenimento e lazer em que os critérios
psicográficos e comportamentais são importantes, no alojamento os critérios económicos e
demográficos continuam a ser os mais importantes.
Mesmo assim, continua a ser possível utilizar um cruzamento de variáveis económicas,
demográficas e psicográficas para obter segmentos de mercado baseados na capacidade
financeira e física do consumidor, nos seus interesses, na importância que dá ao produto, na
facilidade de mudar de fornecedor e na sensibilidade ao preço e ao serviço associado.
A conjugação de critérios económicos, demográficos e psicográficos permite a definição de
segmentos finos de consumidores e uma análise mais adequada da procura bem como o
“fine tuning” da oferta.
Existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais segmentos de
consumidores, paralelas às que existiam no setor das atrações, entretenimento e lazer, de
que se destacam:
Oferta crescente e agressiva para os consumidores de relax de todos os níveis de
rendimento;
Oferta insuficiente para os consumidores de relax monoparentais de rendimento
médio ou baixo;
Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,
designadamente os de base étnica;
Procura decrescente dos consumidores de relax de rendimento médio e menor
idade;
Procura crescente dos consumidores de afinidade (pertença) de rendimento médio e
idade elevada;
Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de
rendimento médio e mesmo baixo.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também
podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
187
setor, podem agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A
segmentação é fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Agências de viagens – já foram o grande intermediário do setor, estão a perder peso
mas mantêm uma importância elevada nalguns tipos de alojamento e segmentos do
mercado devido à sua função informativa e capacidade financeira; estão
interessadas em margem, qualidade e produtos de elevada procura;
2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no setor, designadamente nos
alojamentos de consumo de massas e de particulares, podendo ser melhor
potenciadas devido à sua capacidade de micro segmentar alvos do marketing e
recolher e transmitir informação sobre a qualidade dos diversos alojamentos
disponíveis; recebem comissões pelo que estão disponíveis para qualquer oferta e
são cada vez mais eficientes a ultrapassar problemas de informação;
3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros
intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso
crescente no setor estão interessadas em qualidade e produtos de elevada procura.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos canais de compra por mercado
Direta Tradicionais Digitais
Portugal Muito importante Pouco importante Importante
Reino Unido Importante Muito importante Muito importante
Espanha Importante Pouco importante Importante
Irlanda Importante Muito importante Importante
Alemanha Pouco importante Muito importante Muito importante
França Pouco importante Muito importante Muito importante
Holanda Pouco importante Muito importante Muito importante
Escandinavos Pouco importante Muito importante Muito importante
Leste Pouco importante Muito importante Muito importante
Outros Pouco importante Importante Muito importante
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
188
A indústria algarvia do alojamento enfrenta fundamentalmente os mesmos três tipos de
competidores que a indústria das atrações, entretenimento e lazer: grandes destinos
cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e mar e destinos emergentes, cidades e
regiões.
As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,
localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e
lazer. As diferenças em termos de alojamento não são substanciais.
Mas mantém-se para o alojamento a regra de que quanto menor for uma região mais
especializada é e tem de ser a sua oferta e mais dificuldades terá em atenuar a
sazonalidade.
Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do
mercado.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são igualmente todas as
regiões turísticas de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e
às costas atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a
Espanha, a França, a Grécia a Turquia e os países balcânicos.
A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de
cada um dos subsetores varia de região para região mas não significativamente. Os fatores
de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam bastante em sentidos
inversos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao
setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da
intensidade competitiva e de crescimento da oferta;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
189
2. Melhoria das condições de segurança na Bacia do Mediterrâneo;
3. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;
4. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Simplificação e aceleração de muitos processos administrativos e da sua aplicação;
2. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;
3. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;
4. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de
certificação e da criação ou colaboração com marcas reputadas;
5. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão-de-obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
6. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas;
7. Novas configurações e funcionalidades nos alojamentos;
8. Novos equipamentos, automatizados e robotizados;
9. Seguros customizados;
6. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços
para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários;
7. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais
dinâmicos e de maior valor acrescentado;
8. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
190
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:
capacidade de marketing, capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais
complexas e acesso a financiamento para investir em novos edifícios e equipamentos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
191
ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS
ESTRUTURA
O setor da alimentação e bebidas inclui um conjunto de estabelecimentos que vão desde os
restaurantes a pubs e espaços de fast food e take away.
Dada a sua natureza o setor assume o caráter de suporte dos setores anteriores mas gera
quase tanto valor acrescentado como o do alojamento. Logo é igualmente um setor muito
importante do cluster.
O Algarve e a indústria algarvia do turismo oferecem todos os tipos de estabelecimentos
relevantes do setor. Por isso é necessário fazer uma análise profunda de todos.
Os principais mercados do setor são os mesmos do setor anterior, com algumas alterações
da magnitude e mesmo ordem de importância. A dinâmica destes mercados depende muito
da dinâmica referida a propósito dos setores anteriores, com algumas características
próprias.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A determinação de
preços é endógena.
FATORES POLÍTICOS
O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alimentação e
bebidas. Quanto maior e melhor for esta oferta, maior é o potencial da região. Ora, esta
oferta depende criticamente do seu enquadramento legal.
Depende em primeiro lugar do enquadramento legislativo e regulamentar do licenciamento
dos estabelecimentos de restauração e bebidas.
Ao nível dos estabelecimentos de restauração não se distinguem diferenças nem se
perspetivam alterações significativas do enquadramento das diferentes regiões turísticas
europeias. Existem no entanto algumas regiões, e alguns municípios algarvios, onde o
licenciamento destes estabelecimentos é muito demorado, dificultando a necessária e
constante renovação do mercado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
192
Ao nível das bebidas já existem diferenças significativas na facilidade de obter licença para a
abertura e nos horários de abertura dos estabelecimentos de bebidas, bem como nos
impostos que afetam o setor. Este facto sempre foi uma oportunidade para o Algarve.
Em resumo, a situação está estável e não se esperam grandes alterações no curto prazo
nem no médio prazo, existindo a possibilidade de ser resolvido o problema da morosidade
nos licenciamentos.
FATORES ECONÓMICOS
O setor da alimentação e bebidas é um setor de suporte pelo que a sua dinâmica depende
fundamentalmente da dinâmica do setor de atrações, entretenimento e lazer.
Existem no entanto fatores económicos, já referidos na análise dos setores anteriores, que
afetam especificamente a composição da procura de alimentação e bebidas. Estes fatores
são fundamentalmente o de que a procura de alojamento tem uma elasticidade rendimento
superior à unidade e os serviços de alojamento serem, em muitos casos, de utilização
pontual e sazonal.
O facto de a procura destes serviços ter, normalmente, uma elasticidade rendimento
superior à unidade não se refere, novamente, à quantidade utilizada por consumidor mas à
relação qualidade preço dos serviços utilizados. Os turistas querem tanto utilizar mais como
ter melhor serviço.
Os estabelecimentos de qualidade percebida mais baixa têm elasticidades rendimento mais
reduzidas, enquanto os de qualidade percebida mais alta têm elasticidades rendimento
acima da unidade. Assim a oferta de estabelecimentos tem de ser constantemente
atualizada e valorizada.
Nalguns destinos esta atualização é mais lenta, por dificuldades administrativas ou da
dinâmica competitiva. É o que acontece nalgumas zonas do Algarve em que existem
problemas administrativos que dificultam esta renovação. Estamos perante uma ameaça
para alguns destinos tradicionais incluindo o Algarve.
Perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo uma continuação do
aumento da procura destes produtos e serviços. Como não se perspetiva, a curto prazo,
qualquer grande perturbação da conjuntura económica europeia, a dinâmica da procura e
dos preços conjuntural deverá ser igual à de longo prazo.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
193
A alimentação e bebidas também enfrenta o problema de ser normalmente de utilização
pontual, o que limita a disponibilidade dos turistas para procurarem informação sobre a sua
qualidade e potencia problemas de assimetria de informação o que, num contexto normal
de consumidores avessos ao risco, limita a procura.
Mas este problema é menor do que no caso das atrações, entretenimento e lazer e do
alojamento porque a decisão de compra é normalmente tomada no local, com mais
informação circunstancial disponível. Mas continua a existir valor na atividade de eliminação
desta assimetria de informação.
Existem alternativas para resolver este problema como sistemas de informação turística e
sistemas de mercado, como entidades credenciadoras e certificadoras, criando uma
oportunidade de mercado para estas entidades e os estabelecimentos e regiões que sirvam.
O segmento mais alto do setor da alimentação exige uma massa crítica de clientes de
grande capacidade aquisitiva. Esta massa é facilmente atingível em regiões turísticas onde a
zona de captação de clientes de um restaurante topo de gama é grande devido a facilidades
de transporte e acesso. Isto é atualmente um problema no Algarve que tem uma rede de
transportes com bastantes deficiências.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor do alojamento
também afetam procura total e a composição da procura de alojamento.
São cada vez mais procurados estabelecimentos diferenciados e com serviços
complementares, designadamente para crianças, que ofereçam garantias reais e percebidas
de segurança e de respeito ambiental e social.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos na oferta ao setor, nem mesmo na mão de obra. A este nível a
situação atual caracteriza-se por uma oferta crescente de mão de obra qualificada e com
experiência efetiva. Sem dúvida que grande parte desta mão de obra se desloca
sazonalmente para o Algarve mas tal não representa um problema. O mesmo acontece
noutras regiões.
FATORES TECNOLÓGICOS
Existem algumas alterações tecnológicas no setor da alimentação e bebidas em resultado de
inovações nas tecnologias de informação e da robotização. A cadeia de valor do setor que
utilizava tecnologias bastante intensivas em mão de obra, está a tornar-se cada vez mais
intensiva em capital.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
194
As tecnologias inbound e outbound são tecnologias relativamente padrão e atualizadas. Em
contrapartida, as tecnologias de produção estão a mudar lentamente, em resultado da
introdução de novas tecnologias neste segmento da cadeia. O Algarve parece estar
relativamente atualizado a este nível.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e
outbound deverá concentrar-se na adoção de novas tecnologias de reservas e transportes.
O do segmento produtivo em novas tecnologias resultantes da aplicação de investigação
científica pura e aplicada e de novas tecnologias ao setor.
Estes desenvolvimentos dependerão de três tipos de condicionantes e atores. O do inbound
e outbound do financiamento e desenvolvimento do setor de transportes. O da produção
do financiamento e da dinâmica competitiva das empresas e entidades do setor.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da
capacidade e rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a
uma diminuição dos custos variáveis dos sistemas de produção. Haverá um aumento da
importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade
capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas – instrumentos digitais
incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, reservas digitais
e virtuais, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e realidade aumentada;
2. Estabelecimentos com novas configurações e funcionalidades – em resultado das
inovações digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das
tecnologias de espaços inteligentes, de drones e de sensores eletrónicos;
3. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a
automatização inteligente de tarefas repetidas;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
195
4. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante simples. Tanto as atividades de suporte como as
atividades primárias de inbbound, produção e outbound são controladas, dentro das
restrições regulamentares existentes, pelas empresas do setor. As empresas intermédias,
agências de viagens e outros operadores turísticos, têm um peso muito reduzido e restrito a
segmentos muito altos do mercado. As plataformas digitais têm uma importância crescente
na intermediação e divulgação de informação.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção e de marketing. E parece
existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nesta última atividade.
Dado o caráter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem
geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e
outras cadeias de valor.
Mas existe um incentivo para a concentração nalguns segmentos mais indiferenciados do
setor, como forma de ultrapassar os problemas de informação que os seus consumidores
enfrentam.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor da alimentação é assegurado, na generalidade dos países europeus, por pequenas,
médias e grandes empresas especializadas e por estabelecimentos hoteleiros. Cada tipo de
entidade tende a concentrar-se no segmento que potencia os seus recursos e as suas
vantagens comparadas. Assim:
As pequenas empresas dedicam-se a todos os segmentos do mercado, podendo seguir
qualquer tipo de estratégia, de liderança de custos ou de diferenciação;
As médias empresas a ofertas padronizadas de qualidade média, seguindo normalmente
estratégias de diferenciação;
As grandes empresas, normalmente grandes cadeias, dedicam-se a ofertas padronizadas
geralmente dedicadas aos segmentos médios baixos e baixos do mercado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
196
Apesar dos diferentes recursos, objetivos, estratégias e práticas e processos organizativos
dos diferentes tipos de entidades fazerem com que a sua dinâmica competitiva seja
completamente diferente, com consequências a nível da qualidade do serviços e perspetivas
de desenvolvimento futuro, não existe evidência de diferenças estruturais na sua
rentabilidade.
Todavia, muitas pequenas empresas, quando não têm qualquer vantagem de dotação de
recursos ou competitivas, tendem a adotar estratégias de seguidores, a tomar preços e a ter
menores lucros extraordinários e maiores riscos de negócio. A opção por estratégias mais
claras de diferenciação poderá contribuir para uma melhoria das margens destas empresas.
As médias empresas dispõe de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes
permitem ter tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores
e diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada.
As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,
humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e
resolver problemas de informação. Podem seguir as estratégias de negócio e de
investimento adequadas a cada atividade. Em consequência têm, estruturalmente, uma
lucratividade elevada.
Uma eventual modernização da gestão de algumas pequenas empresas contribuiria para
resolver algumas deficiências destas entidades e melhorar a lucratividade do setor.
Não existem indícios que esta estrutura de se possa alterar nem via crescimento orgânico
nem via F&A. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá desenvolvendo.
A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de alimentação e bebidas podem dividir-se de acordo com o tipo
de estabelecimentos. Sendo um mercado de proximidade, a origem geográfica dos
consumidores só é relevante na medida em que se materializa em diferentes preferências.
Em quase todas as regiões turísticas o mercado nacional de alimentação e bebidas é
mercado aberto e concorrencial. Como é um mercado aberto, onde podem constantemente
entrar novos competidores e produtos substitutos, as pressões do mercado comprador
sobre o preço e a margem dos produtos do setor são significativas. A concorrência é
elevada, o poder dos clientes é significativo e a lucratividade do mercado é média.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
197
A análise dos diferentes tipos de estabelecimento não mostra evidência de diferenças
significativas entre a lucratividade dos diferentes tipos de estabelecimentos ou segmentos
de clientes. Talvez se possa defender que o segmento mais elevado do mercado é mais
lucrativo e o mais baixo é menos, mas questões de enviesamento de dados por razões
fiscais e de tipo de gestão tornam esta diferença discutível.
Em termos de zonas de origem dos consumidores o mercado nacional é o que tem mais
peso mas com uma despesa média mais reduzida. Os mercados do Reino Unido e da Europa
Ocidental têm uma dimensão, diversidade e poder de compra relativo que os tornam
prioritários para quase todos os estabelecimentos do setor e com uma lucratividade
elevada. Estão, todavia a ser prejudicados pelos pacotes turísticos com tudo incluído que
diminuem a dinâmica da procura e prejudicam a emergência de ofertas mais especializadas
e de maior qualidade.
Em todos estes mercados da Europa Ocidental existem alguns segmentos de clientes
secundários bastante atrativos.
Os restantes mercados são menos importantes e secundários. Mantém-se, no entanto, a
possibilidade de existirem mercados e segmentos de mercado atrativos, designadamente no
Norte de África e nos PALOP.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor. Dado que as características dos
mercados por país deste setor são muito idênticas às dos mercados por país do setor das
atrações, entretenimento e lazer, a análise vai-se focar sobretudo nas diferenças face a esse
setor.
PORTUGAL
É o maior mercado do setor algarvio de restauração e bebidas, o que o torna muito
interessante.
Devida ao seu reduzido poder de compra, a maior parte do mercado está particularmente
interessado em menor custo e com um reduzido componente de serviço. Procura muito os
take aways e restaurantes de menor custo.
Além dum grande segmento de famílias de classe média, o mercado tem diversos
segmentos, definíveis demográfica e economicamente. Os critérios de segmentação
utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com o tipo e rendimento da
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
198
família do consumidor final e o estilo de vida. O segmento simultaneamente mais
competitivo e com mais potencial é o já referido de famílias de classe média mas existem
novas estratégias viáveis de segmentação de mercados, particularmente relacionados com o
estilo de vida e idade que podem contribuir para resolver problemas de sazonalidade.
O mercado tem canais desenvolvidos. Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se
atualmente na produção mas o peso relativo da distribuição pode crescer mais. Os custos
distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e
de suporte.
O mercado não tem compradores intermédios e derivados significativos. Não se encontra
em qualquer ponto da cadeia de valor lucros extraordinários ou possibilidades de
integração.
REINO UNIDO
É o maior mercado internacional dos estabelecimentos algarvios de alimentação e bebidas,
com uma procura grande e diversificada.
A procura é muito estratificada e os diferentes destinos e estabelecimentos são conotados
social e economicamente. No entanto, como é um mercado sofisticado e conhecedor do
Algarve, distingue entre diferentes zonas, estabelecimentos e épocas, tornando viável o
posicionamento de novas ofertas. Tal é reforçado pela grande dinâmica social e cultural do
mercado, criando constantemente novos segmentos da procura.
Em termos de alimentação e bebidas é um mercado que se divide num grande segmento de
consumo de massas e em diversos segmentos de consumo diferenciado. Estes últimos
segmentos têm um grande potencial que não está a ser devidamente aproveitado por
muitos destinos. A diferenciação e complementaridade da oferta são importantes. É um
mercado em que existem oportunidades de mercado não satisfeitas.
Os proveitos da sua cadeia de valor concentram-se na produção e o seu peso relativo devem
manter-se. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as
atividades primárias e de suporte.
ESPANHA
O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, tendo um comportamento
intermédio entre o britânico e o português.
A criação de ofertas dirigidas a este mercado e a utilização de estratégias de segmentação
mais finas podem melhorar os resultados deste mercado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
199
IRLANDA
O mercado irlandês é um mercado com menor dimensão mas com características parecidas
com o britânico.
Os segmentos de procura diferenciada de estabelecimentos de bebidas têm uma
importância significativa, devido às especificidades da procura deste mercado. Existem
algumas, poucas, oportunidades de mercado não satisfeitas.
OUTROS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL
Globalmente são um mercado grande e diversificado, o que o torna muito interessante.
Os mercados estão interessados em todo o tipo de estabelecimentos e são dos mais
interessados em estabelecimentos de qualidade e que reflitam a entidade regional porque
têm poder de compra e valorizam o componente identitário e de conhecimento do turismo.
Estes mercados são muito contestados, havendo uma larga oferta internacional a competir
por eles. No Algarve a oferta está menos dirigida a estes mercados que ao britânico,
havendo margem para melhorias.
O mercado tem diversos segmentos, definíveis demográfica e economicamente. O
segmento simultaneamente mais competitivo e com mais potencial é o de famílias de classe
média, dos jovens adultos e de idosos.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
o tipo e rendimento da família do consumidor final mas existem novas estratégias viáveis de
segmentação de mercados, particularmente relacionados com o estilo de vida.
Os proveitos da cadeia de valor do mercado concentram-se atualmente na produção mas o
peso pode crescer ainda mais. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver alguma evidência de
lucros extraordinários ou rendas na comercialização.
OUTROS MERCADOS EUROPEUS
Os outros mercados Europeus são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou
são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a custos de transportes e
custos de transação (Ucrânia e Rússia).
Tal como nos outros mercados podem surgir oportunidades para ofertas diferenciadas.
OUTROS MERCADOS INTERNACIONAIS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
200
A situação é equivalente para os outros mercados internacionais. Pode, no entanto
destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais,
devido à sua dimensão. Estes são o Brasil, os países do Norte de África e os PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Tal como nas atrações, entretenimento e lazer e ao contrário do que se passa com o
alojamento, os critérios psicográficos e comportamentais são muito importantes.
Assim, continua a ser possível utilizar um cruzamento de variáveis económicas,
demográficas e psicográficas para obter segmentos relevantes de mercado de acordo com a
capacidade financeira do consumidor, os seus interesses e preferências, a importância que
dá ao produto e ao serviço e a sensibilidade que têm ao preço.
A conjugação de critérios económicos, demográficos e psicográficos permite a definição de
segmentos mais finos, uma análise mais adequada da procura e o “fine tuning” da oferta.
Existem algumas oportunidades ou ameaças em alguns dos potenciais segmentos de
consumidores, de que se destacam:
Oferta crescente e agressiva para os consumidores indiferenciados de todos os níveis
de rendimento mas particularmente para famílias de classe média;
Oferta insuficiente para os consumidores indiferenciados monoparentais de todos os
níveis de rendimento;
Oferta insuficiente para diversos grupos de consumidores de afinidade,
designadamente os de base étnica;
Oferta crescente e agressiva para consumidores de afinidade de rendimento médio e
alto;
Procura crescente dos consumidores de afinidade de rendimento médio e alto;
Procura crescente dos consumidores de conhecimento e sensoriais e estéticos de
rendimento alto, médio e mesmo baixo.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
201
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são operadores turísticos mas que também
podem ser plataformas comerciais ou de comunicações digitais ou outras empresas do
setor, têm pouco peso no setor. No entanto convém referi-los porque geram oportunidades
de negócio:
Os segmentos mais importantes são:
1. Agências de viagens – nunca tiveram um grande papel no setor, mas estão a
defender a sua posição com estratégias mais agressivas e diversificadas de que
alguns tipos de estabelecimento topo de gama e diferenciados podem beneficiar;
têm um potencial elevado devido ao seu peso no cluster, à sua função informativa e
à sua capacidade financeira; estão interessadas em margem, qualidade e produtos
diferenciados;
2. Plataformas digitais – têm um peso crescente no setor, designadamente nos
estabelecimentos mais diferenciados, podendo ser melhor potenciadas devido à sua
capacidade de micro segmentar alvos do marketing e recolher e transmitir
informação sobre a qualidade dos diversos estabelecimentos; recebem comissões
pelo que estão disponíveis para qualquer oferta e são cada vez mais eficientes a
ultrapassar problemas de informação;
3. Transportadores internacionais – procuram combater o papel dos outros
intermediários, oferecendo cada vez mais uma oferta integrada com um peso
crescente no setor, estando interessados em qualidade e produtos de elevada
procura.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos canais de compra por mercado
Direta Tradicionais Digitais
Portugal Muito importante Pouco importante Importante
Reino Unido Importante Muito importante Muito importante
Espanha Muito importante Pouco importante Importante
Irlanda Importante Muito importante Importante
Alemanha Importante Muito importante Muito importante
França Importante Muito importante Muito importante
Holanda Importante Muito importante Muito importante
Escandinavos Importante Muito importante Muito importante
Leste Importante Muito importante Muito importante
Outros Importante Importante Muito importante
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
202
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
regionais, embora se tenham de analisar também os competidores individuais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia da alimentação e bebidas enfrenta os mesmos três tipos de
competidores que a indústria das atrações, entretenimento e lazer: grandes destinos
cosmopolitas, grandes regiões turísticas de sol e mar e destinos emergentes, cidades e
regiões.
As diferenças entre estas regiões relacionam-se muito com a sua dimensão relativa,
localização geográfica e características da respetiva oferta de atrações, entretenimento e
lazer e de alimentação e bebidas.
As diferenças em termos de alimentação e bebidas podem ser substanciais sendo que
quanto menor for uma região mais especializada é e tem de ser a sua oferta e mais
dificuldades terá em atenuar a sazonalidade.
Os intervenientes individuais no mercado já foram abordados na análise da lucratividade do
mercado.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais mercados diretamente competidores do Algarve são igualmente todas as
regiões turísticas de sol e mar do Sul da Europa, desde a Turquia e os Balcãs até à Espanha e
às costas atlânticas de Portugal e da Espanha. Salienta-se o Norte de Portugal e a Galiza, a
Espanha, a França, a Grécia, a Turquia e os países balcânicos.
A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da algarvia. O peso de
cada um dos subsetores varia de região para região mas não significativamente. Os fatores
de competitividade, diversidade e qualidade da oferta e preço variam bastante em sentidos
inversos.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao
setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
203
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Redução relativa da procura dos consumidores de relax num quadro de aumento da
intensidade competitiva e de crescimento da oferta;
2. Aumento dos custos de produção, designadamente de trabalho;
3. Melhoria da oferta e agressividade comercial dos concorrentes.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Simplificação de muitos processos administrativos e da sua aplicação;
2. Oferta mais segmentada, diversificada, integrada e de qualidade;
3. Inovação tecnológica para controlar custos e diversificar a oferta;
4. Resolução de problemas de assimetria de informação através de sistemas de
informação turística ou da credenciação e certificação;
5. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão de obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
5. Novos sistemas e metodologias de marketing, divulgação e reservas;
6. Aproveitamento dos canais de distribuição menos eficientes, através de esforços
para os melhorar e criar relações e parcerias com intermediários e do reforço da
utilização de plataformas digitais;
7. Novas configurações e funcionalidades nos estabelecimentos;
8. Novos equipamentos, automatizados e robotizados;
6. Redirecionamento da oferta e dos esforços de marketing para mercados e
segmentos mais dinâmicos e de maior valor acrescentado, incluindo os da Europa
Ocidental fora das Ilhas Britânicas;
7. Melhoria da estrutura produtiva e de gestão das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
204
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:
capacidade de gestão para gerir eficientemente operações mais complexas e acesso a
financiamento para investir em novas ofertas e esforços de marketing.
A dimensão média das empresas não é particularmente importante mas a sua capacidade
de gestão e marketing é fundamental. O recurso à subcontratação de serviços de qualidade
é essencial. Tal permitiria às empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as
ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
205
VALORIZAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO DE PROXIMIDADE
ESTRUTURA
O setor da valorização do mercado turístico de proximidade inclui as atividades de produção
e venda local a turistas de bens e serviços relacionados com as atividades económicas locais
não turísticas, principalmente atividades tradicionais e específicas das diversas regiões
turísticas.
No Algarve este mercado está muito relacionado com os clusters do mar e da agricultura,
cujas atividade são as que se podem valorizar para turistas.
Existe a ideia que o segmento mais importante deste mercado é o da venda de bens,
designadamente de produtos tradicionais, mas o segmento de serviços, que se aproxima do
das atrações, tem um potencial tão grande ou maior.
Assim os principais produtos deste setor podem dividir-se em bens e serviços.
Os principais mercados do setor são os mercados de Portugal, da Europa Ocidental, da
América do Norte e do Brasil. Os condicionantes últimos do comportamento dos dois
primeiros mercados não são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere sempre ao ambiente algarvio, tanto no que diz respeito à oferta como no que diz
respeito à procura e à determinação de preços. Tal resulta de o alcance deste mercado, por
definição, ser local.
FATORES POLÍTICOS
As atividades de valorização do mercado turístico de proximidade são atividades industriais,
muitas vezes artesanais, de prestação de serviços e comerciais que estão sujeitas a um
enquadramento regulamentar padrão e a incentivos específicos.
Na Europa a regulamentação é descentralizada e manifesta-se fundamentalmente a nível
dos processos utilizados e da composição e rotulagem dos produtos. Uma análise detalhada
da situação a nível nacional e europeu não indicia qualquer perspetiva de curto ou longo
prazo de alteração do enquadramento regulamentar vigente, nem em termos institucionais
nem em termos formais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
206
Sendo estas atividades importantes para proteger e manter atividades tradicionais, o
equilíbrio social e o património intangível de uma região, são incentivadas e subsidiadas a
nível europeu e nacional. Os incentivos são sobretudo para produtores mais pequenos que
utilizam processos mais tradicionais e artesanais.
Estes incentivos, designadamente em Portugal e no Algarve, sejam financeiros ou de acesso,
assumem muitas vezes um caráter muito limitativo, impondo critérios de acesso ligados a
processos artesanais para os quais não existe uma racionalidade relacionada com fatores de
qualidade do produto ou económicos. Incentiva-se a atividade arcaica, não a redução de
custos ou produção.
Além disso estão bastante direcionados para a criação de serviços alternativos e
complementares que os pequenos produtores não têm capacidade de gerir.
Assim a situação é ineficiente. O setor está pouco orientado para o mercado e as estruturas
e estratégias das suas empresas não ineficazes. É pouco provável, mas é possível, que este
sistema seja alterado, racionalizando os incentivos e favorecendo a orientação do setor para
o mercado e a produção.
FATORES ECONÓMICOS
Os diferentes tipos de bens e serviços do setor têm procura crescente mas com evoluções
diferenciadas. A procura de serviços, designadamente dos relacionados com atrações e
entretenimento, é menor mas está a crescer mais que a de bens.
Sendo as elasticidades rendimento dos produtos do setor superiores à unidade e
perspetivando-se um crescimento lento mas sustentado do rendimento per capita dos
consumidores europeus e mundiais é de prever no longo prazo pelo que estas tendências
devam continuar.
No entanto, o efeito destas tendências tem sido mais de aumento dos preços do setor do
que de crescimento da quantidade transacionada. Isto porque a quantidade transacionada a
só crescerá substancialmente se a oferta for feita em condições de qualidade, quantidade e
marketing ajustada aos modernos canais de distribuição. A oferta de pequenos eventos e de
bens com pouca produção terá sempre problemas em ser respondida.
No que respeita aos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma diminuição da mão de
obra disponível devido ao envelhecimento e uma subida lenta mas sustentada dos custos do
trabalho e a manutenção dos custos de capital. Sem a existência de alterações tecnológicas
(analisadas à frente) e organizativas, os custos de produção poderão aumentar lentamente.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
207
A curto prazo prevê-se um aumento tanto dos custos de mão de obra como do custo de
capital (aumento das taxas de juro).
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura dos produtos do setor que
exige uma reformulação da oferta. Nas atuais circunstâncias os custos dos fatores
produtivos devem aumentar. Só a alteração da dimensão e intensidade capitalística da
produção pode reduzir os custos de produção e os de comercialização, os mais importantes.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam a evolução do setor
reforçam os fatores económicos acima referidos. A procura de diversidade, de identidades
desconhecidas, do autêntico, a vontade de participar e as novas estruturas familiares, levam
a um aumento da preferência e da procura destes produtos. Tal manifesta-se mais nos
segmentos de consumidores mais sensíveis a questões de afinidade, conhecimento e
sensoriais, com mais rendimento, seja qual for a idade.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
sector. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração
da estrutura familiar, favorece a procura de bens e serviços mais sofisticados.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares
baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas
e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não
qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio
entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente
composição.
Espera-se uma redução da mão de obra produtiva utilizável e eventualmente maior
disponibilidade de mão de obra mais qualificada mas não identificada com o setor.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias tradicionais. As tecnologias inbound e
outbound são as de canais tradicionais, incluindo o retalho e a venda direta. As tecnologias
de produção são muito diversificadas mas tradicionais e pouco sofisticadas. No Algarve as
tecnologias estão muito desatualizadas, em resultado de regulamentações restritivas da
mecanização e de reduzidos níveis de investimento neste segmento da cadeia.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
208
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia possibilidades de
desenvolvimento em todos. O potencial futuro desenvolvimento do segmento inbound e
outbound deverá concentrar-se na atualização de canais e o da produção na adoção de
tecnologias mais recentes.
O potencial de desenvolvimento do segmento produtivo é muito mais significativo e
abrange todo o conjunto de atividades desde a mecanização da produção e a diversificação
dos serviços até à inovação em todos os aspetos do marketing.
Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente do financiamento do investimento
no setor e da dinâmica competitiva das empresas.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos e
a um aumento do valor acrescentado das empresas padrão. Poderá haver um aumento da
importância da incorporação científica e tecnológica; e um aumento da intensidade
capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativas inovações tecnológicas com influência particular na
estrutura produtiva e de distribuição das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica.
Esta cruza-se muito com a oferta tecnológica disponível nos setores de produção e
comercialização dos clusters do mar e do agroalimentar e com a oferta tecnológica
disponível no setor das atrações e entretenimento do cluster do turismo. Destacam-se:
1. Novas dinâmicas organizativas – densificação do mercado e o uso crescente da
subcontratação de serviços profissionais especializados em plataformas digitais;
2. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação – instrumentos
digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS, microtargeting, bilhética
digital e virtual, comércio online, sistemas de pagamento FinTech, realidade virtual e
realidade aumentada;
3. Sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e
equipamentos associados;
4. Sistemas, processos e equipamentos logísticos – software de gestão, armazéns
automáticos e inteligentes e novos sistemas de gestão logística e de entregas;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
209
5. Conceção de produtos – novos produtos transformados e novas tecnologias de
conservação de alimentos;
6. Conceção de atrações e atividades novas e diferentes – em resultado das inovações
digitais referidas acima e do big data, da inteligência artificial, da IoT, das tecnologias
de espaços inteligentes, de drones e de sensores eletrónicos;,
7. Processos e tecnologias de processamento industrial – novas tecnologias e
equipamentos de processamento e conservação de alimentos;
8. Sistemas de gestão de produção – sensores e sistemas de inteligência artificial de
gestão de cadeias de abastecimento e processos produtivos;
9. Sistemas de gestão comercial – tecnologias, processos transacionais e abordagens
para o sector comercial, designadamente no segmento do retalho.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Concluída esta macro análise vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante simples. Todas as atividades primárias e de suporte
são controladas, dentro das restrições regulamentares existentes, por empresas produtoras.
A atividade de marketing e vendas é geralmente autónoma. O grosso do valor setorial é
gerado pelas atividades de produção e de marketing e vendas.
Existem algumas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante, designadamente com as de outros setores turísticos e
comerciais, e ainda existem maiores possibilidades de integração a montante, com
produtores de conteúdos e gestores de atrações e entretenimento.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da valorização do mercado turístico de proximidade é composto por micro
empresas com estruturas de gestão muito básicas; com poucos recursos humanos,
tecnológicos e de capital; com a produção determinada pelas instalações; e com um
marketing geralmente pouco inovador.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa e
depende exclusivamente da capacidade de diferenciação e de comercialização das
empresas. No longo prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua própria
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
210
dimensão e estrutura produtiva e de gestão podem ser significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto, nada indicia que as empresas vão tomar decisões suscetíveis de alterar a sua
dimensão no curto prazo. Fatores financeiros (baixa lucratividade e reduzida dotação de
capital) e envelhecimento dos recursos humanos tornam improvável qualquer movimento
de crescimento da dimensão média das empresas ou de consolidação do setor.
Em contrapartida é de esperar que as empresas mais agressivas façam um investimento
continuado em novos equipamentos, produtos, marketing, e melhorem a sua estrutura
produtiva e de gestão. Os seus custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual
aumento dos preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um
aumento sustentado da lucratividade destas empresas. É de esperar que as empresas que
não acompanhem esta tendência e mantenham a atividade concentrada em produtos de
menor valor acrescentado acabem por encerrar. Até porque podem entrar novas empresas,
de maior dimensão, no setor, aumentando a pressão competitiva.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem
maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os
recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de
melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das
empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor. E espera-se que o
setor se oriente mais para o mercado e os clientes e menos para as estruturas tradicionais e
o produto.
Espera-se um maior crescimento do setor dos serviços que dos bens.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a localização
geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Portugal Europa América do Norte
Brasil
Pescas Mercado primário
Mercado primário
Mercado secundário
Mercado secundário
Agricultura Mercado primário
Mercado primário
Mercado secundário
Mercado secundário
Extração de sal Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Indústria alimentar Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado secundário
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
211
Indústria naval Mercado secundário
Mercado primário
Mercado marginal
Mercado marginal
Outros Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado marginal
O mercado nacional é um mercado concorrencial onde existem muita oferta. O interesse
pelo Algarve tem de passar pela diferenciação. Existem alguns mercados secundários mas o
poder dos clientes é significativo.
O mercado da Europa Ocidental é igualmente um mercado concorrencial mas, dada a
dimensão deste mercado, existem alguns clientes bastante atrativos. Este é globalmente um
mercado primário.
Os mercados da América do Norte e do Brasil têm características semelhantes mas menor
importância, devido a um menor conhecimento do Algarve e a problemas de deslocações.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o mercado mais próximo e tem custos de transporte e logísticos reduzidos. Embora devido
a um rendimento per capita e a uma população reduzidas não seja um mercado grande, tem
um grande peso no turismo algarvio e logo no setor. Devido a fatores culturais e à existência
de ofertas concorrentes, não é ainda um mercado onde a procura dirigida ao Algarve seja
muito significativa. Tem no entanto um grande potencial de crescimento e de realização de
compras repetidas.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na produção e os custos distribuem-se
uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte.
Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros extraordinários ou rendas na
comercialização.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
212
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são
fundamentalmente os psicográficos, existindo muitas estratégias viáveis de segmentação de
mercados, particularmente nos serviços.
Os mercados intermédios, formados pelas empresas que compram localmente estes
produtos qualquer que seja o seu destino, são muito competitivos, podendo considerar-se
quase de concorrência perfeita. No entanto a produção não tem estrutura nem dimensão
para responder a esta procura.
Existe portanto a possibilidade de surgirem novos critérios de segmentação e de inovação
de produto.
MERCADOS EUROPEUS
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes para o setor.
Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por
produtos distintos e de qualidade. Note-se que devido a problemas de transporte a procura
ou aquisição presencial de bens é limitada, podendo no entanto ser suportada por
instrumentos de venda e distribuição online.
AMÉRICA DO NORTE E BRASIL
A situação na América do Norte é equivalente à europeia mas com menor dimensão.
Existem mercados de afinidade que podem ser muito significativos.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado
acordo com a importância que cada segmento dá ao produto e a sensibilidade que têm ao
preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos
tipo.
Os segmentos mais importantes são:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
213
1. Consumidores educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento muito
importante, são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;
2. Consumidores educados/apreciadores de rendimento médio – segmento muito
importante, são sensíveis ao preço e à qualidade;
3. Consumidores educados/apreciadores de rendimento baixo – segmento importante,
são muito sensíveis ao preço e menos sensíveis à qualidade;
4. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento elevado – segmento
pouco importante para os produtos nacionais mas que podem originar compras de
moda, são muito pouco sensíveis ao preço e à qualidade mas sensíveis ao serviço;
5. Consumidores não educados/apreciadores de rendimento médio e baixo – segmento
pouco importante, são sensíveis ao preço mas não à qualidade.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas, podem agrupar-se de acordo
com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Grande comércio alimentar grossista – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento total e em produtos de elevada
procura;
2. Comércio grossistas especializados em restaurantes – de pequena e média dimensão
estão interessados em qualidade, regularidade do abastecimento e produtos
diversificados e inovadores;
3. Grande comércio alimentar a retalho – de grande dimensão estão interessados em
preço, qualidade, regularidade do abastecimento de produtos de elevada;
4. Comércio alimentar a retalho especializado – de pequena dimensão estão
interessados em diversidade e novidades;
5. Pequeno comércio e estabelecimentos turísticos – procuram complementar a sua
oferta, podendo distribuir quase todo o tipo de bens e serviços.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
214
A importância relativa dos segmentos varia de nacionalidade para nacionalidade mas a
importância do pequeno comércio e dos estabelecimentos turísticos é fundamental pata os
mercados internacionais enquanto a importância do comércio especializado é fundamental
para os consumidores nacionais.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham de analisar também competidores integrados.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia de valorização do turismo de proximidade enfrenta fundamentalmente
competidores algarvios sob a forma de empresas industriais exteriores ao Algarve e
empresas de prestação de serviços de atrações e entretenimento, que se dedicam a
produtos sem relações identitárias com o Algarve.
As vantagens destas empresas têm mais a ver com os seus recursos, estruturas e marketing
que com os produtos. Normalmente especializam-se em produtos e consumo de massas
adaptados aos diferentes locais mas sem autenticidade intrínseca ou de produção. A
rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu mercado é muito
concorrencial.
Dado que o mercado destas empresas é extremamente concorrencial e aberto, elas estão
sempre a procurar estratégias de diferenciação e recursos em que possam basear estas
estratégias. Podem por isso ser consideradas potenciais parceiros dos sectores tradicionais
algarvios.
COMPETIDORES POR MERCADO
Em termos de mercados, os principais mercados produtores mundiais são a China e diversos
países do Extremo Oriente no caso dos bens e empresas europeias no caso dos serviços. São
mercados concorrenciais em que a indústria devera continuar a crescer.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
215
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor é o envelhecimento dos seus recursos humanos, a escassez de
mão de obra e conhecimento e o aumento do preço destes recursos, levando a um aumento
dos custos de produção. A concorrência também é um problema.
OPORTUNIDADES
As oportunidades são mais variadas:
1. Alteração do sistema de incentivos – favorecendo a orientação para o mercado, a
produção e o crescimento da dimensão dos produtores;
2. Crescimento endógeno da dimensão dos produtores;
3. Novas dinâmicas organizativas – densificação do mercado com o uso crescente da
subcontratação de serviços profissionais especializados até através de plataformas
digitais; com a integração da cadeia de valor do sector com outras cadeias de valor a
montante; e com o reforço das parcerias comerciais e de marketing;
4. Crescimento da procura – designadamente de serviços relacionados com atrações e
entretenimento e de maior qualidade;
5. Subida ou manutenção a um nível elevado dos preços;
6. Atualização de tecnologias e metodologias - sistemas e metodologias de marketing,
divulgação e apresentação; sistemas, processos e equipamentos logísticos; processos
e tecnologias de processamento industrial; sistemas de gestão de produção; e
sistemas de gestão comercial;
7. Conceção de produtos e atrações e atividades novas e diferentes;
8. Reorientação da oferta – para mercados de maior valor como os da Europa
Ocidental.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento de
produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e gerir eficientemente
estas oportunidades.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
216
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em equipamento e em marketing.
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
217
AGÊNCIAS DE VIAGENS, OPERADORES TURÍSTICOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS
ESTRUTURA
O setor das agências de viagem, operadores turísticos e serviços turísticos inclui todas as
empresas e outras entidades que se dedicam à intermediação turística, seja realizando
atividades comerciais ou informativas. Inclui os serviços de informação turística.
No Algarve utilizam-se todos os tipos de serviços destas entidades. Mas a maior parte dos
intervenientes do mercado são exteriores, sejam nacionais ou internacionais.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta se refere,
exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e
ao ambiente internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
A atividade de intermediação turística é uma atividade regulada que se manifesta no
estabelecimento de requisitos para aceder a diversas atividades e na definição de requisitos
processuais.
Uma análise detalhada da situação a nível nacional, europeu e internacional não indicia
qualquer vantagem ou desvantagem da indústria algarvia, nem qualquer perspetiva de
curto ou longo prazo de alterações do enquadramento regulamentar vigente, nem em
termos institucionais nem em termos formais.
FATORES ECONÓMICOS
Os serviços de intermediação turística têm um crescimento paralelo ao do próprio turismo,
por isso a dinâmica económica deste setor é paralela ao dos sectores anteriores.
O que tem mudado substancialmente é a forma como estes serviços são prestados, com a
diminuição da importância dos serviços pessoais e presenciais e o aumento da importância
dos serviços digitais. Tal gera economias de escala e favorece a diferenciação, criando uma
nova estrutura industrial e dinâmica concorrencial que será abordada na análise do micro
ambiente.
FATORES SOCIAIS
O que foi referido a propósito dos fatores económicos aplica-se aos fatores sociais de
natureza cultural e demográfica.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
218
Saliente-se, todavia, o crescimento da relevância e peso dos grupos sociais que procuram a
diferença, a customização e mesmo a exclusividade; e dos que preferem procurar a sua
própria informação turística e construir as suas próprias férias recorrendo a instrumentos
online.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
setor. A atual e previsível dinâmica cultural e demográfica, designadamente de alteração da
estrutura familiar, favorece a procura de produtos mais diferenciados e sofisticados, sejam
disponibilizadas online ou por operadores tradicionais.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
nem potenciais significativos na mão-de-obra. A tendência parece ser de redução da oferta
de mão de obra não qualificada e de aumento da mão-de-obra qualificada o que favorece o
setor.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza intensivamente tecnologias de informação e
comunicação. Todas as tecnologias estão em constante atualização. As tecnologias de
inbound são normalmente mais tradicionais, continuando a usar os contactos pessoais, mas
as tecnologias de outbound são cada vez mais digitalizadas.
A análise detalhada das dinâmicas do setor indicia que o futuro desenvolvimento
tecnológico do setor deverá passar por um reforço da capacidade e qualidade destas
tecnologias, mormente em resultado investigação científica pura e aplicada ao setor e aos
seus processos de inbound e outbound, aquisições e prestações ou vendas. Poderá haver
um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da
intensidade capitalística do setor.
Existe um grande potencial de desenvolvimento do segmento outbound que abrange todo o
conjunto de atividades desde a individualização e automatização da oferta até à inovação
em todos os aspetos do marketing. Estes desenvolvimentos dependerão da dinâmica
competitiva das empresas e do financiamento do investimento no setor.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma redução dos custos e
a uma diversificação do setor. Deverá haver uma crescente pressão para o aumento do
valor acrescentado pelas entidades do setor a que só as mais desenvolvidas conseguirão
responder.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
219
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos tecnológicos com influência em
todos os aspetos da sua cadeia de valor mas particularmente sobre o seu outbound.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas e metodologias de marketing, divulgação e apresentação de ofertas –
novos instrumentos digitais incluindo redes sociais, comunicações móveis, GPS,
microtargeting, reservas digitais e virtuais, sistemas de pagamento FinTech,
realidade virtual e realidade aumentada;
2. Estratégias de marketing e comerciais – inovação generalizada de exploração de
nichos dos mercados comprador e vendedor e de customização intensiva.
3. Crescimento extensivo - expansão dos destinos, atrações, atividades e alojamentos
menos procurados e exploração de novos;
4. Desintermediação, automatização e robotização – tecnologias de automatização
inteligente de tarefas de prestação de informação e comerciais;
5. Seguros customizados – InsurTech.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
O setor das agências de viagem, operadores turísticos e serviços turísticos era até há pouco
tempo um setor diversificado com três subsetores distintos: um subsetor é um
intermediário puro, comprando e vendendo posteriormente serviços turísticos; outro
assume funções de organização e agenciamento, comprando ou vendendo por conta do
consumidor ou produtos; e um terceiro assume meramente funções de disseminação de
informação.
Mas, mais recentemente sugiram e afirmaram-se como players fundamentais os
intermediários digitais, que cobram valores fixos ou comissões. Todas as empresas
tradicionais destes subsetores foram afetadas pela revolução das tecnologias e informação
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
220
e comunicação e por estes challengers, perdendo quota de mercado para as novas
empresas de base online e tendo de mudar substancialmente de estratégias.
O subsetor intermediário perdeu peso porque deixou de ter a mesma relevância para os
estabelecimentos de alojamento, que agora dispõe de intermediários e instrumentos
digitais para alcançar os clientes. Continua, no entanto, a ser um subsetor relevante para
consumidores mais idosos e com mais aversão às tecnologias de informação e comunicação
e ao risco. E está a investir crescentemente nos canais digitais.
O subsetor de agentes perdeu peso devido à possibilidade de escolha e compra direta. Teve
consequentemente de especializar e diversificar cada vez mais a sua oferta, especializando-
se em destinos e tipos de turismo e oferecendo serviços customizados. Continua a ser um
subsetor com um peso significativo em segmentos de menor dimensão da oferta e da
procura.
O setor de informações migrou quase completamente para a internet, oferecendo cada vez
mais informação gratuita e financiando-se com publicidade, mas perdendo o peso
reputacional que tinha.
Assim o sector está fracionado, com múltiplos subsetores e cadeias de valor. Existem
imensas hipóteses de integração vertical, de novos modelos de negócios e de novas
estratégias.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
Presentemente a lucratividade do setor está concentrada em dois tipos de empresas: as
grandes plataformas digitais que beneficiam de um grande mercado e de economias de
escala e as pequenas empresas muito especializadas e diferenciadas que beneficiam de
oferecerem serviços com maior valor acrescentado e preço. As empresas médias, sem
estratégias claras, têm ma lucratividade muito baixa.
A capacidade de aproveitar vantagens competitivas, definir e seguir modelos de negócio e
estratégias de diferenciação e as vendas são fundamentais para a lucratividade. No longo
prazo as decisões que as empresas possam tomar sobre a sua estratégia e estrutura podem
ser mais significativas e aumentar a sua lucratividade. E é de esperar que as empresas que
não acompanhem esta tendência e mantenham modelos ultrapassados e a atividade
concentrada em produtos de menor valor acrescentado fechem.
No longo prazo espera-se que o efeito de novas estratégias e políticas de marketing gerem
maior lucratividade nas empresas mais agressivas, podendo estas empresas aproveitar os
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
221
recursos libertados pelo possível aumento da lucratividade para gerar um movimento de
melhoria do esforço de marketing estratégico e de aumento da dimensão média das
empresas, de consolidação e de maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos e a
localização geográfica de origem dos consumidores. O quadro seguinte analisa a relevância dos
principais mercados.
Portugal Reino Unido Europa Ocidental
Outros
Intermediação Mercado secundário
Mercado primário
Mercado primário
Mercado secundário
Agenciamento Mercado marginal
Mercado secundário
Mercado primário
Mercado secundário
Informação Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado secundário
Mercado secundário
O mercado nacional é um mercado concorrencial, composto por um pequeno número de
operadores, grandes agências de viagens e pequenas empresas de agenciamento. Dada a
proximidade do Algarve o poder dos clientes é significativo. As pressões deste mercado
comprador sobre o preço e a margem dos produtos do setor são significativas.
Os mercados do Reino Unido e da Europa Ocidental são igualmente mercados
concorrenciais dominados por grandes operadores. Mas dada a dimensão deste mercado
relativamente ao setor do turismo algarvio, poderão existir alguns clientes secundários
bastante atrativos. Além disso existem muitas estratégias de especialização e diferenciação
disponíveis. O mercado pode ser interessante para pequenas empresas.
Os restantes mercados são secundários. Devido a custos de transação e à intensidade
competitiva estes mercados são pouco atrativos. Mantém-se, no entanto, a possibilidade de
existirem segmentos de mercado mais atrativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor, dividindo estes .
PORTUGAL
É o mercado mais próximo e consequentemente o que conhece melhor o Algarve e menos
necessidade tem de intermediação, agenciamento ou informação. Além disso devido a um
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
222
rendimento per capita não é um mercado com um grande poder de compra e capacidade de
adquirir produto de maior valor acrescentado.
O mercado é muito competitivo e cresce muito lentamente. Os proveitos da cadeia de valor
concentram-se na produção. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver alguma evidência de
lucros extraordinários no segmento da hotelaria.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são
fundamentalmente psicográficos e não parece que existam novas estratégias viáveis de
segmentação de mercados.
REINO UNIDO
É o maior mercado do turismo algarvio e consequentemente um que conhece bem o
Algarve. Devida a alguma distância geográfica e cultural tem, ainda, alguma necessidade de
intermediação, potenciada pela grande capacidade financeira e comercial dos
intermediários britânicos. É um mercado que consome muitos serviços de agenciamento
mas fundamentalmente para destinos mais desconhecidos.
O mercado é muito competitivo e cresce lentamente. Os proveitos da cadeia de valor
concentram-se na distribuição. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver evidência de lucros
extraordinários no segmento da hotelaria.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são
fundamentalmente psicográficos e não parece que existam novas estratégias viáveis de
segmentação de mercados.
EUROPA OCIDENTAL
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes.
Devida a alguma distância geográfica e cultural têm, ainda, necessidade de intermediação,
potenciada pela grande capacidade financeira e comercial dos intermediários, e de serviços
de agenciamento e informação.
Os mercados são muito competitivos e crescem lentamente. Os proveitos da cadeia de valor
concentram-se na distribuição. Os custos distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Parece haver evidência de lucros
extraordinários no segmento da hotelaria.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
223
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a estes mercados são
fundamentalmente psicográficos e parece que existem estratégias viáveis de segmentação
de mercados que não estão a ser seguidas.
OUTROS
Os outros mercados Europeus e internacionais são mercados menos interessantes que os
mercados já abordados. Ou são mercados de menor dimensão ou de difícil acesso devido a
custos de transportes e custos de transação.
Tal como nos outros mercados da UE podem sempre surgir oportunidades pontuais para
ofertas diferenciadas.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios, tendo sempre em
consideração os quatro grupos de produtos da pesca acima identificados.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas e demográficas
mas as psicográficas e comportamentais são neste momento mais importantes. O que está
em causa fundamentalmente é a utilização das plataformas online e da internet, por um
lado, e a preferência pela flexibilidade em contrapartida de maior risco, por outros.
A criação de vários segmentos de mercado acordo com todos estes os critérios permite a
criação de diversos comportamentos tipo, de que os mais importantes são:
1. Consumidores tradicionais – segmento que consume produtos padronizados e tem
uma certa aversão ao risco, preferindo recorrer a intermediários tradicionais;
2. Consumidores seletivos – segmento que consome produtos diferenciados e
customizados, preferindo recorrer a agentes;
3. Consumidores padrão – segmento que consome produtos padronizados e tem uma
certa aversão ao risco mas domina e confia nos canais online, preferindo recorrer à
aquisição online, seja direta ou a intermediários;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
224
4. Consumidores aventureiros – segmento que quer customização e individualização e
está à vontade com as compras online, preferindo recorrer à aquisição online, seja
direta ou junto de agentes.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A importância relativa destes segmentos varia de país para país mas a sua ordem de
importância é geralmente proporcional á dimensão do mercado do país.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
A análise e caracterização dos competidores já foi feita. Assim aqui só vão ser sintetizados
os aspetos fundamentais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia enfrenta fundamentalmente quatro quatro de competidores:
intermediários puros, agentes, entidades informativas e plataformas digitais.
As grandes agências de viagens que, até há pouco tempo dominavam a indústria, continuam
a ser muito importantes mas perderam peso para os outros tipos de empresas devido à sua
falta de flexibilidade e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade estrutural destas
empresas é ainda positiva mas muito mais reduzida.
As empresas de agenciamento, são cada vez mais especializadas mas têm um peso maior.
Têm uma estrutura mais intensiva em capital e conhecimento e estratégias baseadas na
diferenciação via adaptação ao cliente ou, num menor número de casos, via especialização
em produto. Investem bastante em marketing e operações. Estas empresas têm maior
rentabilidade que as agências de viagens.
As empresas informativas estão num mercado muito concorrencial e usam normalmente
um modelo de negócio, baseado em publicidade, que tem muitos problemas. Exceto no
caso de grandes empresas digitais a rentabilidade destas empresas é baixa.
Por fim as grandes plataformas digitais comissionistas têm um peso crescente no setor.
Começaram por se dedicar a produtos de consumo de massas mas estão a abranger cada
vez mais segmentos do mercado. Têm uma estrutura mais intensiva em capital,
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
produtiva e de marketing. Estas empresas quando são grandes têm a maior rentabilidade do
setor e estão a crescer.
COMPETIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
225
Em termos de mercados, os principais concorrentes são agências de viagens e agentes
europeus e nacionais e plataformas digitais norte-americanas.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor é a existência de fortes economias de escala das grandes
plataformas digitais, que têm uma vantagem custo que poderá ser inultrapassável para os
competidores em muitos segmentos do mercado.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades são:
1. O crescimento de uma nova procura de serviços diversificados, diferenciados e,
mesmo, customizados e personalizados;
2. Desintermediação, automatização e robotização;
3. O fracionamento e processo de reconfiguração da indústria que cria oportunidades
para novas abordagens;
4. Novos sistemas e metodologias de marketing e outbound, incluindo de divulgação e
apresentação de ofertas e de vendas, pricing e recebimentos;
5. Orientação para novos segmentos de mercado e crescimento extensivo para novos
destinos, atrações, atividades e alojamentos menos procurados.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica, tecnológica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o
desenvolvimento de produtos até à promoção e distribuição será essencial para gerar e
gerir eficientemente estas oportunidades. O conhecimento especializado também é
fundamental.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
226
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em conhecimento e marketing.
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
227
TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES
ESTRUTURA
O setor algarvio dos transportes e comunicações dedica-se a todo o tipo de atividades de
transporte que se classificam para efeitos de análise em transportes internacionais de
passageiros e mercadorias; transportes de mercadorias; transportes privados de
passageiros; e transportes públicos de passageiros. A região não tem serviços próprios de
comunicações, sendo estes serviços assegurados concorrencial e eficientemente por
empresas nacionais e internacionais.
Os mercados do setor da construção são todas as entidades, empresas e consumidores que
atuam na região, qualquer que seja a sua atividade e origem, nacional ou internacional.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que, devido à
dinâmica do setor, esta análise se refere apenas ao ambiente algarvio tanto no que diz
respeito à oferta, à procura e à determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor dos transportes depende muito de dois fatores de natureza política e legal: a
disponibilização de infraestruturas; e a coordenação e regulação dos transportes públicos.
O Algarve está bem servido da generalidade de infraestruturas, em que continua a investir.
As grandes regionais infraestruturas, desde as aeroportuárias às rodoviárias e logísticas, são
em qualidade e quantidade adequada. O aeroporto está a ser melhorado e a sua capacidade
vai aumentar. A existirem deficiências nestas infraestruturas talvez se possa mencionar um
terminal para navios de cruzeiro de grande dimensão, uma marina na costa ocidental e a
modernização da Linha do Algarve. Mas não existem planos para realizar estes
investimentos a breve prazo.
A nível local a infraestruturas são de natureza mais desigual, havendo muitas deficiências
em termos de acessos, estacionamento, terminais de transportes públicos e logísticos e
ciclovias. Mas, aparentemente esta situação está a ser resolvida lentamente.
Em contrapartida, a coordenação dos transportes públicos de passageiros é um grande
problema, talvez o maior ou segundo maior problema (a seguir à necessidade de
reconversão de muitos alojamentos) do turismo algarvio. As entidades fornecedoras de
transportes públicos são de diversa natureza e têm âmbitos geográficos de atuação
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
228
diversos, não havendo uma coordenação efetiva destas entidades e das suas atividades a
nível regional.
Assim os transportes públicos de âmbito regional são escassos, extremamente demorados
e, normalmente, com um mau serviço. Esta situação estimula a utilização dos transportes
privados, sobrecarregando e congestionando as infraestruturas rodoviárias e criando
problemas de estacionamento. Prejudica a mobilidade e o acesso a diversas atividades
turísticas, impedindo uma maior diferenciação destas atividades e um aumento da
qualidade da oferta turística algarvia.
Felizmente a criação da autoridade de transportes pode contribuir para resolver este
problema. E pode, ainda, ajudar a promoção pública da criação de novas linhas aéreas, que
também é importante.
A regulação dos transportes públicos é normalmente padrão mas existe um ponto em que
não está a contribuir para o desenvolvimento do Algarve. Sendo esta uma região turística de
natureza sazonal, tem uma necessidade imperiosa de reforçar a sua oferta de transportes
públicos na época alta o que é prejudicado pelas recentes restrições aos serviços online de
aquisição e partilha de viagens em veículos privados. Toda a legislação nacional e toda a
prática algarvia de regulação de serviços de táxi também está desadaptada da região.
Uma análise destes fatores não indicia qualquer perspetiva de alteração deste
enquadramento.
FATORES ECONÓMICOS
A procura de transportes depende fundamentalmente expansão da atividade económica e
em especial da turística. A procura do setor é quase completamente derivada. E estas
atividades estão a crescer pelo que a procura de transportes deve continuar a crescer.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e dos inputs do setor. Sem a existência de alterações
tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar lentamente.
Convém referir que o setor é de intensidade capitalística elevada, logo muito dependente
do custo de capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas
de juro, havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as
internacionais.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
229
FATORES SOCIAIS
Existem diversos fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam
significativamente a evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de vida e
exigência dos consumidores têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o
conforto e a segurança dos transportes. Em segundo lugar as preocupações ambientais têm
conduzido a uma maior preocupação com as externalidades dos transportes privados
motorizados e aumentado a procura relativa de transportes públicos. Por fim, a atual e
previsível dinâmica demográfica, designadamente de alteração da estrutura familiar,
favorece igualmente a procura de transportes públicos.
O que foi dito para os transportes públicos está a acontecer, por razões de eficiência
económica, com a subcontratação de serviços de transportes de mercadorias, que está a
crescer significativamente.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos nem na mão de obra. A situação atual caracteriza-se por uma
por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações baixas e formação
tradicional. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e
de aumento da mão de obra mais qualificada. O equilíbrio entre oferta e procura de mão de
obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos transportes públicos de
maior qualidade. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão de obra.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor dos transportes está a passar por uma revolução. Esta afeta
tanto os meios de transporte, e consequentemente da produção, como as tecnologias
inbound e outbound, de contratação e prestação de serviços de transporte.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento do segmento da produção
deverá concentrar-se em novos meios de transporte, elétricos e autónomos. O do segmento
de inbound em sistemas de partilha baseados em sistemas e plataformas digitais. E o do
outbound em sistemas de utilização on demand.
Todas as tecnologias mecânicas, de construção, informáticas, financeiras e de seguros serão
relevantes. E a aplicação de desenvolvimentos científicos fundamental.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
230
Estes desenvolvimentos dependerão da dinâmica dos setores fornecedores relevantes, da
aplicação da ciência pura e aplicada e da evolução competitiva das empresas financeiras,
seguradoras e transportadoras.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do
parque automóvel privado (e da natureza dos investimentos em infraestruturas associados)
e do tempo de fornecimento de transportes públicos, dos custos fixos de transporte (por
contrapartida dos variáveis); a um aumento da importância da incorporação científica e
tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a
importância das economias de escala e consequentemente provocar um aumento da
dimensão média das empresas do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Novos sistemas e equipamentos de transportes – driveless cars, drones, robôs e
equipamentos associados;
2. Novos sistemas motrizes – motores GPL e eléctricos;
3. Novos sistemas, processos e equipamentos logísticos e de transportes – novos
sistemas e softwares de gestão de frotas e de redes;
4. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas
informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand;
5. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos e do marketing relacional e de conteúdos.
6. Financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS e sistemas
FinTech e InsurTech;
7. Sistemas de gestão comercial – novas tecnologias, processos transacionais e
abordagens para o setor comercial, designadamente no segmento do aluguer e no
da partilha.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
231
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
Existem diversas cadeias de valor no setor dos transportes públicos terrestres mas são todas
bastante simples. As atividades de suporte e as atividades primárias de inbound, produção e
outbound são controladas pelas empresas de transportes. O grosso do valor setorial é
gerado nas atividades de produção e o marketing é pouco importante.
No transporte marítimo e aéreo os operadores turísticos e o marketing são mais relevantes.
No transporte de mercadorias acontece o mesmo com os operadores logísticos, o marketing
e os serviços associados aos transportes.
Não existem muitas possibilidades de integração vertical entre a cadeia de valor do setor e
cadeias de valor a jusante ou a montante, exceto no caso de pequenos serviços de
transportes de passageiros bidirecionais para eventos ou estabelecimentos de grande
dimensão e no caso dos transportes de mercadorias (como empresa logísticas).
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio local dos transportes públicos terrestres integra empresas de âmbito
nacional e internacional mas é maioritariamente composto por pequenas e médias
empresas públicas e privadas com âmbitos geográficos de atuação delimitados e com
estruturas de gestão básicas e com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital. A
sua competitividade depende da localização, organização e custos de produção,
designadamente salariais.
No caso dos transportes locais, a atividade das empresas tem um carácter monopolístico
regulado, dependendo a sua lucratividade do potencial dos mercados locais e dos
regulamentos ou contratos que regem a sua atividade.
No caso dos transportes regionais, a atividade das empresas locais está limitada, não
permitindo a geração de economias de rede, o que limita a lucratividade deste segmento.
Os transportes internacionais, designadamente os aéreos, são uma indústria mais aberta e
competitiva não obstante todos os problemas de entrada, lucratividade e saída resultantes
das necessidades de escala e de capital. A lucratividade do setor depende muito da procura
das diferentes ligações, sendo os mercados com grande procura lucrativos e os com
pequena procura pouco lucrativos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
232
Tal coloca problemas de risco na criação de novas rotas. Existe aqui o potencial para a
alteração das tarifas aeroportuárias, de forma a incentivar os investimentos de longo prazo
nestas novas rotas.
A indústria dos transportes de mercadorias tem uma estrutura concorrencial e diversificada,
com uma lucratividade padrão.
A atividade global de transportes tem riscos de negócio e financeiros reduzidos. A
lucratividade do setor varia sazonalmente e com os ciclos turísticos, económicos e
financeiros. As grandes empresas conseguem diversificar melhor estes riscos.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor não é
geralmente significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão
dos seus custos. Estas decisões estão a melhorar sustentada mas lentamente. No longo
prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais rápida de
novas tecnologias gerem mais economias de escala e rede, podendo as empresas aproveitar
os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para gerar um
movimento de melhoria do esforço de gestão e de aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de transportes algarvia podem dividir-se de acordo com o tipo
de transporte e o âmbito geográfico. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais
mercados.
Local Regional Nacional Internacional
Aéreo de passageiros Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado secundário
Mercado primário
Aéreo de mercadorias Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado primário
Terrestre públicos Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Mercado secundário
Terrestre de mercadorias Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Terrestre privados Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Mercado primário
Aquáticos Mercado secundário
Mercado marginal
Mercado marginal
Mercado primário
O quadro anterior sumariza a situação atual, não referindo algumas especificidades
importantes, como a situação do mercado espanhol que se aproxima mais do nacional que
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
233
do internacional. Não refere também o potencial de desenvolvimento de alguns mercados
designadamente o de transporte aéreo ligeiro de âmbito regional e nacional.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por zona dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
MERCADO LOCAL
Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transportes terrestres e alguns
aquáticos. A oferta destes serviços de transporte é limitada e insuficiente para sustentar o
crescimento do cluster.
MERCADO REGIONAL
Tem igualmente uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transportes
terrestres. Devido a uma oferta inadequada e insuficiente de transportes públicos, existe
uma pressão grande para a utilização de transportes privados o que cria problemas
infraestruturais e de desenvolvimento do cluster.
Existe algum potencial de mercado para transporte aéreo ligeiro que não está a ser
utilizado. Tal refere-se tanto a pequenos aviões como a helicópteros, designadamente para
transporte privado.
O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.
Os proveitos e os custos da cadeia de valor destes transportes concentram-se na
fundamentalmente na produção. Parece, no entanto, haver alguma evidência de lucros
extraordinários ou rendas no marketing e comercialização.
MERCADO NACIONAL
Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transporte terrestre a que
responde uma oferta mais adequada de transportes públicos.
Existe algum potencial de mercado para transporte aéreo ligeiro que está a ser explorado
mas que ainda o pode ainda ser mais.
O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.
MERCADO INTERNACIONAL
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
234
Tem uma procura grande e diversificada de todos os tipos de transporte mas principalmente
dos aéreos e de alguns marítimos. Existe uma resposta adequada mas insuficiente a alguns
mercados, designadamente fora da parte mais ocidental da Europa.
Estes problemas de oferta estão relacionados com limitações físicas e económicas dos
meios aéreos que poderão ser resolvidas com medidas que aumentem o valor de nódulo de
rede do Aeroporto de Faro e com políticas tarifárias de incentivo à criação de novas rotas.
O transporte de mercadorias é competitivo, suficiente e eficiente.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais, com um ênfase
especial nos ligados ao turismo.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores podem agrupar-se de acordo com variáveis económicas, demográficas,
psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos de mercado de acordo com
a importância que cada segmento dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de
fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado. Esta divisão permite a
criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos mais importantes são:
1. Empresas – segmento muito importante no segmento dos transportes de
mercadorias, procuram soluções robustas e consistentes, sendo muito sensíveis às
condições de entrega e transporte, ao tempo de transporte e ao preço;
2. Consumidores locais – segmento muito importante no segmento dos transportes
terrestres e aquáticos locais, procuram soluções flexíveis, sendo sensíveis à
disponibilidade, tempos de deslocação e preço;
3. Turistas de segmento baixo - segmento muito importante em todos os segmentos
dos transportes, estão menos interessados em flexibilidade e horários, mas
valorizando muito a consistência e os tempos de deslocação; o preço é mais
importante para os transportes aéreos e a qualidade para os terrestres;
4. Turistas de segmento alto – segmento importante nos transportes aéreos mas
menos importante nos transportes públicos, estão interessados em flexibilidade,
consistência, tempos de deslocação e conforto.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
235
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Sendo a atividade da generalidade do setor dos transportes restrita geograficamente, o
setor algarvio dos transportes públicos não tem concorrência. Assim só a indústria dos
transportes de mercadorias é que enfrenta concorrência, a dos operadores nacionais e
internacionais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria dos transportes de mercadorias enfrenta fundamentalmente três tipos de
competidores: pequenas e médias empresas de transportes, grandes empresas de
transportes e grandes operadores logísticos integrados.
As empresas que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram fundamentalmente as
pequenas e médias; com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos; com
capacidades fundamentalmente relacionadas com o transporte; e com estratégias de
adaptação ao cliente e de minimização de custos.
Estas empresas continuam a ser muito importantes mas perderam peso para os outros tipos
de empresas devido à estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade estrutural destas
empresas é positiva mas reduzida.
As grandes empresas de transportes têm uma estrutura mais intensiva em capital,
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via marketing ou via
especialização em produto. Muitas complementam a atividade produtiva com serviços
técnicos. Estas empresas têm maior rentabilidade que as empresas tradicionais.
Por fim está a desenvolver-se um grupo de empresas logísticas que seguem um modelo de
integração da construção com a manutenção e reparação. São normalmente empresas que
procuram conquistar quotas de clientes e dos clientes para ganhar dimensão, gerar
economias de domínio e de escala para aumentar a rentabilidade e minimizar riscos.
Estas empresas, podendo ser mais ou menos intensivas em conhecimento e tecnologia,
estão a investir fortemente nestas áreas. A rentabilidade destas empresas é mais elevada
que a das outras empresas.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais competidores do setor algarvio dos transportes de mercadorias estão em
Portugal, Espanha e na Europa Ocidental.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
236
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças ao setor provêm da evolução cíclica da procura e das pressões
concorrenciais. O crescimento estrutural do custo dos fatores, designadamente do capital, é
outra ameaça significativa.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:
1. Melhoria da coordenação regional dos transportes públicos;
2. Alguns investimentos pontuais em infraestruturas;
3. Melhoria da qualidade e disponibilidade dos transportes públicos;
4. Desregulação da contratação de serviços de transportes em veículos privados;
5. Aumento da procura de transportes;
8. Novos sistemas e equipamentos de transportes;
9. Novos sistemas motrizes;
10. Novos sistemas, processos e equipamentos logísticos e de transportes;
11. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização, incluindo sistemas
de carsharing e use on demand;
12. Menos veículos automóveis privados;
13. Mais rotas aéreas internacionais;
14. Desenvolvimento dos transportes aéreos ligeiros regionais.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
237
O principal fator crítico de sucesso num setor com elevado risco financeiro é a dimensão das
empresas e a coordenação entre empresas. Isto é reforçado pelas exigências financeiras e o
risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas exige.
As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter
financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
238
ATIVIDADES DO PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO
ESTRUTURA
O setor das atividades do património imobiliário inclui um conjunto de subsetores que vão
desde a promoção imobiliária até à manutenção de edifícios e jardins. Salientam-se os
seguintes subsetores:
Promoção imobiliária;
Construção de edifícios;
Construção de outras obras de engenharia civil;
Atividades especializadas de construção;
Atividades imobiliárias;
Atividades de arquitetura, de engenharia e técnicas afins;
Atividades de ensaios e análises técnicas;
Atividades relacionadas com edifícios, plantação e manutenção de jardins.
Dada a sua natureza, o setor assume o caráter de suporte do cluster do turismo mas tem
uma dinâmica própria com grandes efeitos multiplicadores macroeconómicos e de
desenvolvimento económico. Logo é um setor muito importante do cluster.
A indústria algarvia do setor dedica-se a todo o tipo de atividades de construção, mas dada
a análise prévia do setor do alojamento importa sobretudo tentar distinguir entre as
atividades de construção, as de reabilitação e as de serviços relacionados com edifícios.
Os principais mercados do setor são os do Algarve mas o nacional e espanhol também tem
alguma relevância.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente, refere-se que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio e nacional no que diz
respeito à oferta e ao ambiente nacional e europeu no que diz respeito à procura. A
determinação de preços é endógena.
FATORES POLÍTICOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
239
O potencial turístico de uma região também depende da sua oferta de alojamento que
depende da sua oferta de atividades imobiliárias. Quanto maior e melhor for esta oferta,
mais eficiente será a disponibilização de alojamento.
Ora, a oferta de atividades imobiliárias depende do seu enquadramento legislativo e
regulamentar. Tanto o regime de licenciamento das empresas para o exercício da atividade
como o enquadramento judicial da atividade são definidos a nível nacional e relativamente
padrão.
Existem problemas com o caráter burocrático e demorado de diversas atividades
administrativas e com a lentidão do sistema judicial que diminuem a eficiência do setor mas
não eliminam a sua eficácia. Talvez os recentes esforços políticos para simplificar muitos
processos administrativos, designadamente os de licenciamento, contribuam para melhorar
a situação.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo podem ser eliminados alguns problemas de licenciamento e judiciais.
FATORES ECONÓMICOS
O setor do imobiliário turístico é um setor de procura derivada pelo que a sua dinâmica
depende fundamentalmente da dinâmica do turismo, em particular do setor de alojamento.
E perspetiva-se uma continuação do aumento da procura de alojamento na região.
Mas a composição da procura do setor do alojamento está a alterar-se, crescendo mais a
procura de reabilitação e de atividades relacionadas com edifícios do que de construção
nova. Os turistas querem tanto mais alojamento como ter melhores alojamentos, em
melhor estado e com mais serviços.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza demográfica e cultural que afetam o setor do imobiliário são
igualmente uma reflexão dos que afetam o do alojamento e reforçam as tendências de
redirecionamento da procura atrás referidas.
E reforçam a procura de atividades imobiliárias relacionadas com alojamentos diferenciados
e com serviços complementares, designadamente para crianças, que ofereçam garantias
reais e percebidas de segurança e de respeito ambiental e social.
Relativamente à oferta de fatores produtivos existem alguns constrangimentos potenciais
significativos na oferta regional ao setor de mão de obra que pode ser compensada
facilmente com mão de obra de outras regiões do país. Existe uma oferta crescente de mão
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
240
de obra qualificada.
O custo do capital pode vir a aumentar, colocando alguns problemas ao subsetor da
construção nova, o mais intensivo em capital, mas sem efeitos nos outros subsetores.
FATORES TECNOLÓGICOS
As inovações tecnológicas neste setor são relativamente menores do que em muitos outros
setores já analisados. Existem diversas inovações que afetam partes do processo produtivo
e do produto, mas que não parecem ter um potencial disruptivo da estrutura da indústria.
Assim a cadeia de valor do setor não se deve alterar significativamente.
O efeito destas inovações tecnológicas deverá conduzir a um aumento da capacidade e
rapidez dos sistemas inbound e outbound e a um aumento da qualidade e a uma diminuição
dos custos variáveis e dos ciclos produtivos dos sistemas de produção. Haverá um aumento
da importância da incorporação científica e tecnológica e um aumento da intensidade
capitalística do setor. Mas a cadeia de valor do setor não se deve alterar significativamente.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
mas sem uma grande influência na cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das
empresas do setor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
concreta disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Alojamentos com novas configurações e funcionalidades – incluindo alojamentos
inteligentes em resultado das inovações digitais referidas acima e do big data, da
inteligência artificial, da IoT e das tecnologias de espaços inteligentes;
2. Novos equipamentos automatizados e robotizados – máquinas e acessórios para a
automatização inteligente de tarefas repetidas e drones e sensores eletrónicos para
a gestão de obra;
3. Novos processos construtivos – como a modelização 3D e o smart building,
incorporando as novas tecnologias na produção e gestão da produção;
4. Novos materiais – além de muitos componentes base virem a ser objeto de pré
fabricação, aparecerão novos compostos cerâmicos e bioplásticos, colas e tintas
sintéticas e biológicos e materiais de isolamento;
5. Seguros customizados – InsurTech;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
241
6. Sistemas de transportes e logística – equipamentos diversos e sistemas de gestão.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante simples. As atividades de suporte e as atividades
primárias de produção e inbound são controladas, dentro das restrições regulamentares
existentes, pelas empresas do setor. As atividades de outbound estão muito dependentes
de empresas compradoras, designadamente estabelecimentos turísticos, mas também de
particulares.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção e de outbound. E parece
existir alguma evidência da existência de lucros extraordinários nesta última atividade.
Dado o carácter muito específico destas atividades e dos recursos que utilizam, não existem
geralmente muitas possibilidades de integração vertical entre as cadeias de valor do setor e
outras cadeias de valor.
Mas existe um incentivo para a concentração do setor, como forma de ultrapassar os
problemas de economias de escala organizativas e de conhecimento.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor do imobiliário é assegurado por empresas privadas de diversas dimensões. As
pequenas empresas tendem em concentrar-se em construção ou serviços especializados,
sendo muitas vezes fornecedoras de serviços às empresas maiores. As médias empresas
tendem a dedicar-se à construção de projetos de dimensão reduzida à reabilitação ou a
serviços imobiliários. As grandes empresas normalmente dedicam-se à construção nova de
maiores dimensões ou à promoção imobiliária.
Os recursos, os objetivos, as estratégias e práticas e os processos organizativos dos
diferentes tipos de empresas fazem com que a sua dinâmica competitiva seja
completamente diferente, com consequências a nível de desenvolvimento futuro.
As pequenas empresas atuam num mercado altamente competitivo e com margens baixas.
Assim, usam nos seus esforços comerciais canais informais e pessoais e são tomadoras de
preços. Têm uma necessidade absoluta de se diferenciar para manter a sua lucratividade. E
as que o conseguem têm normalmente resultados interessantes, seja na construção ou nos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
242
serviços. Em contrapartida são as empresas mais afetadas pelos ciclos económicos.
Flexibilizam e diversificam o mercado mas criam-lhe alguns problemas reputacionais.
As médias empresas tendem a ter alguma autonomia estratégica e de marketing, atuando
normalmente em nichos onde a sua flexibilidade lhes garante vantagens competitivas.
Dispõem de vantagens de flexibilidade e especialização que lhes permitem ter
tendencialmente lucros extraordinários positivos. São importantes inovadores e
diversificadores da oferta e têm uma rentabilidade elevada. São normalmente empresas em
transição para maiores dimensões e atividades mais alargadas.
As grandes empresas tendem a dispor de uma grande dotação de recursos organizativos,
humanos e financeiros o que lhes permite aproveitar economias de escala e domínio e
seguir as estratégias de negócio e de investimento mais adequadas a cada atividade. Podem
competir via capacidade produtiva e custo e têm uma lucratividade estrutural positiva mas
muito sujeita a flutuações cíclicas, macroeconómicas ou de mercado. Têm dificuldade em
competir no mercado da reabilitação.
Não existem indícios que esta estrutura se possa alterar nem via crescimento orgânico nem
via fusões e aquisições. E parece difícil que a estrutura produtiva das empresas se vá
desenvolvendo. A lucratividade do setor e dos seus segmentos parece estável.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria do imobiliário podem dividir-se de acordo com o tipo de atividade final e a
localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Algarve Portugal Espanha
Promoção Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal
Construção Mercado primário Mercado primário Mercado secundário
Reabilitação Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal
Serviços Mercado primário Mercado primário Mercado marginal
Pode também dividir-se de acordo com as categorias de alojamento a que se dedicam, sendo assim
a relevância dos mercados dada pela dinâmica do tipo de alojamento.
Do quadro anterior retira-se que a indústria imobiliária algarvia está muito orientada para o
mercado algarvio, que conhece e onde tem vantagens competitivas. O mercado nacional é
um mercado interessante mas muito concorrencial. As empresas algarvias têm neste
mercado vantagens competitivas de proximidade e conhecimento, podendo explorar alguns
nichos de mercado. As atividades onde a indústria algarvia tem mais vantagens competitivas
são no setor dos serviços imobiliários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
243
Aplica-se o mesmo, com menos vantagens competitivas, ao mercado espanhol. Nos outros
mercados europeus, devido a custos de deslocação e à intensidade competitiva, não
existem vantagens competitivas de qualquer natureza.
Mantém-se, no entanto, a possibilidade de existirem mercados e segmentos de outros
mercados atrativos, designadamente no Norte de África e nos PALOP.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por região dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
ALGARVE
É um mercado aberto, dinâmico e geralmente interessante dum ponto de vista de volume
de negócios. O subsetor da construção está muito desenvolvido e tem margens mais
reduzidas e concentradas na promoção. O subsetor da reabilitação está menos
desenvolvido, está a crescer mais e tem margens mais elevadas. O subsetor dos serviços é
um dos mais desenvolvidos e competitivos do país, com potencial para se expandir nacional
e internacionalmente.
PORTUGAL
É um mercado de maior dimensão mas com características parecidas com o algarvio.
O subsetor da construção é muito competitivo e difícil acesso para as empresas algarvias,
devido a questões de conhecimento local e de competitividade custo.
O subsetor da reabilitação está mais desenvolvido que o algarvio mas ainda vai crescer
muito mais, abrindo a possibilidade de algumas empresas algarvias se expandirem nesta
atividade.
O subsetor dos serviços está em crescimento e desenvolvimento mas ainda tem algum
atraso relativamente aos padrões internacionais. Uma vez que este setor está mais
desenvolvido no Algarve que na generalidade das regiões do país, existe um potencial de
expansão para a indústria algarvia.
Todo o mercado tem canais comerciais bem desenvolvidos. Uma parte substancial dos
proveitos da sua cadeia de valor concentram-se no inbound (promoção) e outbound
(comercialização), enquanto os custos se distribuem-se uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte, com um grande peso dos de
produção.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
244
ESPANHA
O mercado espanhol também é de grande dimensão e valor, com características parecidas
com o mercado nacional. Mas o seu setor de reabilitação, designadamente no sul, está mais
atrasado que o nacional e o de serviços mais desenvolvido. Assim este mercado é mais
interessante para o subsetor algarvio da reabilitação e menos para o dos serviços.
O desenvolvimento dos canais está tão avançado como em Portugal, criando dificuldades de
penetração mas as vantagens de custo podem compensar este problema. E as estratégias
de segmentação podem ser mais finas que no mercado nacional, devido à dimensão deste
mercado.
Os custos de transportes internacionais não são significativos.
OUTROS MERCADOS
Os outros mercados são mercados menos interessantes que os já abordados. Ou são
mercados mais desenvolvidos e competitivos ou de difícil acesso devido a custos de
transportes e custos de transação.
Pode, no entanto, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para
oportunidades pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os países do Norte de África e os
PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores mais relevantes do setor imobiliário do cluster do turismo são sobretudo
empresas do setor do alojamento mas também empresas de outros setores e particulares.
A melhor forma de segmentar o mercado consiste em dividi-lo em primeiro lugar de acordo
com o tipo de entidade e depois com base em variáveis económicas. As variáveis
demográficas e psicográficas podem ser úteis para obter segmentos de mercado ainda mais
finos para efeitos de marketing, mas são pouco relevantes para a presente análise.
Os segmentos mais importantes são:
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
245
1. Grandes empresas de alojamento – de grande dimensão estão interessadas em
preço, consistência e qualidade; vão procurar crescentemente serviços de
reabilitação e continuar a subcontratar outros serviços imobiliários;
2. Empresas médias de alojamento – de média dimensão estão interessados em preço
e qualidade, estando dispostas a sacrificar alguma consistência; vão procurar
crescentemente serviços de reabilitação e subcontratar cada vez mais outros
serviços imobiliários bem como a construção de serviços relacionados com produtos
diversificados e inovadores;
3. Empresas médias – a sua atividade está menos ligada ao edificado que muitas vezes
é arrendado pelo que estão menos interessadas em serviços de construção e
reabilitação e mais interessadas em outros serviços imobiliários, dando uma grande
importância ao preço e à consistência;
4. Empresas pequenas e particulares – de pequena dimensão estão interessados em
preço e qualidade, estando dispostas a sacrificar alguma consistência; procuraram
historicamente mais construção, mas vão começar a procurar crescentemente
reabilitação e outros serviços, cada vez mais mas diversificados.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
regionais e nacionais, embora se tenham de analisar também os competidores
internacionais.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia do imobiliário enfrenta fundamentalmente a competição de empresas
nacionais do setor. A organização e a estrutura das empresas não são muito diferentes mas
existem algumas diferenças entre a indústria algarvia e a sua competição a nível de dotação
de recursos.
As diferenças relativas entre o potencial das empresas algarvias e da sua concorrência
dependem de dois fatores importantes: mão de obra e experiência acumulada.
Ao nível da mão de obra as diferenças estão relacionadas com a disponibilidade e o custo da
mão de obra no setor da construção e reabilitação, e são desfavoráveis ao Algarve. Ao nível
de experiência acumulada as diferenças estão relacionadas com o domínio de know how
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
246
produtivo e comercial nos outros serviços imobiliários, e são em médias favoráveis ao
Algarve.
COMPETIDORES POR MERCADO
Os principais mercados competidores da indústria imobiliária do Algarve são os nacionais e
os de Espanha. A estrutura da indústria de cada um destes países não difere muito da
algarvia. O peso de cada um dos subsetores varia de região para região mas não
significativamente.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece ao
setor e às suas empresas, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser a concorrência
nacional e espanhola e o aumento dos custos dos recursos produtivos, designadamente do
trabalho e do capital. O setor é muito dependente do ciclo económico pelo que enfrenta um
risco de curto prazo.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Simplificação e aceleração de muitos processos administrativos e da sua aplicação;
2. Aumento da procura de serviços de reabilitação e da subcontratação de outros
serviços imobiliários;
3. Oferta mais segmentada, diversificada e de qualidade;
4. Novos tipos de alojamentos com novas configurações e funcionalidades, exigindo
uma oferta capaz;
5. Inovação tecnológica, novos equipamentos automatizados e robotizados, novos
processos construtivos e novos materiais para controlar custos e diversificar a oferta;
6. Alteração da composição da força de trabalho e melhor gestão da mão de obra,
permitindo a utilização de novas tecnologias e reduzindo custos;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
247
7. Seguros customizados;
7. Consolidação, integração e melhoria da estrutura produtiva das empresas;
8. Redirecionamento dos esforços de marketing para mercados e segmentos mais
dinâmicos, menos desenvolvidos e de maior valor acrescentado.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem três elementos fundamentais:
capacidade organizativa e de gestão para criar e gerir uma estrutura flexível capaz de
responder a uma procura mais intermitente e diversificada; capacidade logística e produtiva
necessária para gerir eficientemente mais e mais complexas operações; e capacidade de
marketing para interagir e conquistar uma procura com uma natureza diferente.
O acesso a financiamento para investir na promoção de novos edifícios e adquirir
equipamentos vai ser menos importante mas ainda fundamental.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria à
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
248
SERVIÇOS COMPLEMENTARES E DE SUPORTE
Tal como nos clusters anteriores, o setor dos serviços complementares e de suporte do
cluster do turismo engloba um conjunto muito diversificado de atividade de que se
destacam atividades de serviços como:
Atividades de aluguer;
Escolas de condução e pilotagem;
Escolas de línguas;
Atividades de bem estar físico;
Outras atividades de serviços pessoais, não especificados;
Atividades dos serviços para animais de companhia;
Outras atividades de serviços pessoais diversas, não especificadas.
O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas
necessidades secundárias. O cluster impulsiona a procura destas atividades que lhe
respondem.
O fundamental então é saber se os fornecedores locais destas atividades ou serviços
respondem adequadamente à procura do cluster de uma forma eficiente, se existem
algumas lacunas ou vantagens significativas para o cluster na utilização dos serviços ou
produtos desses fornecedores. O que se procura é a exceção.
É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem
competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.
É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise
por amostragem evidencia quatro factos importantes:
1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são
transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver
vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar
barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;
2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo
internacionalmente fornecedores com relações qualidade preço bastante diferentes
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
249
– quem quiser e tiver vantagens económicas pode recorrer aos mercados locais,
nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação qualidade
preço que desejar;
3. Não existe nenhuma atividade em que a região tenha vantagens competitivas claras,
podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas atividades industriais
em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente as ligadas a
segmentos das indústrias atrás mencionadas);
4. Nalgumas atividades a oferta algarvia é menos diversificada que nas regiões que se
posicionam num segmento mais alto do mercado, mas tal parece resultar da
eficiente adequação da oferta à procura e não parece colocar qualquer problema
competitivo para o Algarve.
Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
250
TIC E INDÚSTRIAS CRIATIVAS
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das TIC e indústrias criativas inclui as
seguintes atividades:
Serviços de gestão, segurança e distribuição digital
Desenvolvimento de soluções à medida
Smart Cities e gestão eficiente dos recursos
Apoio ao desenvolvimento e fixação de negócio
Desenvolvimento de TIC’s setoriais e transversais
Atividades criativas de aplicação transversal
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do
cluster os seguintes CAEs:
1812 Outra impressão (parte)
1813 Atividades de preparação de impressão e de produtos média
321 Fabricação de joalharia, ourivesaria, bijutaria e artigos similares; cunhagem
de moedas
581 Edição de livros, de jornais e de outras publicações
582 Edição de programas informáticos
59 Atividades cinematográficas, de vídeo, de produção de programas de
televisão, de gravação de som e de edição de música
62 Consultoria e programação informática e atividades relacionadas
63 Atividades dos serviços de informação
74 Outras atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares
9003 Criação artística e literária
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
251
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um
conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como
indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu
desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:
Tecnologias de informação, comunicação e conhecimento
Atividades criativas
O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento inclui todas as
atividades de desenvolvimento, gestão e transmissão de informação e conhecimento,
incluindo especificamente os serviços de gestão, segurança e distribuição digital, o
desenvolvimento de soluções à medida, o desenvolvimento de TIC’s setoriais e transversais,
as Smart Cities e gestão eficiente dos recursos e o apoio ao desenvolvimento e fixação de
negócio. A natureza destas atividades e os recursos que utilizam são basicamente os
mesmos, constituindo de facto um setor único.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
252
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E CONHECIMENTO
ESTRUTURA
O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento é um setor lato que
abrange subsetores diversos como o de infraestruturas de comunicação, o de hardware, o
de desenvolvimento de software e o de desenvolvimento e gestão de aplicações e
plataformas.
Destes subsetores, e de um ponto de vista de dinâmica de cluster, os mais relevantes para o
Algarve são o de desenvolvimento de tecnologias e o de desenvolvimento e gestão de
aplicações e plataformas. Estes dois subsetores, embora relativamente diferenciados, usam
os mesmos recursos e incluem todas as atividades referidas pelo RIS3 - ALGARVE 2014-2020
como relevantes. Assim esta análise focar-se-á neles.
Os principais mercados do setor são os mercados do Algarve, o nacional e o internacional. O
mercado do Algarve é substancialmente distinto destes dois últimos, cujos condicionantes
últimos do comportamento não são significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e determinação de lucratividade das empresas e aos ambientes algarvio, português e
internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento é aberto e com
poucas regulações específicas. Esta situação deve manter-se.
Todavia é um setor incentivado e subsidiado a nível da União Europeia, de uma forma
diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Por razões já referidas, o apoio
ao setor no Algarve é menor que a nível nacional. Este enquadramento, que tem como
objetivo promover o desenvolvimento económico, deve manter-se.
O setor também é apoiado, indiretamente, a nível regional e nacional, através do
lançamento de projetos públicos de desenvolvimento de plataformas digitais. Embora o
sucesso destas políticas seja muito variável e discutível, elas devem continuar.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
253
FATORES ECONÓMICOS
Os produtos do setor permitem que os seus consumidores beneficiem de ganhos tanto
resultantes da satisfação de necessidades existentes e latentes como de acréscimos de
produtividade, e da associada economia de recursos. Enquanto se continuarem a registar
estes ganhos a procura do setor deverá continuar a aumentar.
Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito das condições económicas, da
evolução dos custos de produção, designadamente dos salários da mão de obra qualificada,
e da dinâmica empresarial e do financiamento do setor. Em termos gerais, espera-se que a
oferta de mão de obra especializada continue a crescer mas que os custos salariais da mão
de obra qualificada aumentem sustentadamente em todo o mundo. Novas tecnologias de
produção podem compensar este aumento, pelo que a oferta destes produtos deve
aumentar.
Um fator importante na dinâmica do setor prende-se com os diferentes processos
produtivos usados nos seus dois subsetores e as suas consequências em termos de
economias de escala. O subsetor de desenvolvimento de tecnologias é um subsetor
intensivo em trabalho onde não existem muitas economias de escala enquanto o de gestão
de desenvolvimento e gestão de aplicações e plataformas é mais intensivo em capital e
gerador de economias de escala. Daqui resultam estruturas de mercado diferentes,
fracionadas no primeiro subsetor e oligopolísticas no segundo.
Desta dinâmica resulta uma tendência para o aumento dos preços dos produtos mais
intensivos em trabalho e para a estabilização ou mesmo diminuição dos menos intensivos.
No Algarve o preço da mão de obra deve continuar a aumentar, aumentando os custos de
produção, designadamente das atividades mais intensivas em trabalho. Sem a existência de
alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar
lentamente. O investimento em tecnologia mais capital intensivo poderá atenuar esta
evolução, uma solução desejável e possível para as empresas maiores e mais capitalizadas.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de
produção das produções do setor, havendo situações em que a lucratividade dos produtos
pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.
FATORES SOCIAIS
Os fatores de natureza cultural e demográfica afetam significativamente a evolução do
setor. Em primeiro lugar, a crescente diferenciação cultural e de interesses entre diferentes
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
254
grupos sociodemográficos e psicográficos tem conduzido ao nascimento de segmentos de
consumidores cada vez mais pequenos, criando procuras cada vez mais diferenciadas.
Em segundo lugar, os grupos mais novos e tecnológicos utilizam cada vez mais estas
tecnologias em todas as suas atividades de interação social e económica, estimulando o
crescimento da sua procura.
Depois os consumidores querem cada vez mais produtos adaptados às suas necessidades e
interesses, crescendo a customização e a personalização.
Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e
potenciais significativos, principalmente a nível de mão de obra. Ao nível da mão de obra, a
situação atual caracteriza-se por uma oferta internacional crescente, designadamente de
mão de obra com qualificações elevadas e experiência efetiva.
A tendência no Algarve parece ser de redução da oferta de mão de obra não qualificada e
de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O desequilíbrio entre oferta e
procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente composição. Este
problema não é fundamental porque pode ser ultrapassado com a contratação online de
trabalho qualificado.
Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade
das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e,
fundamentalmente de marketing. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto prazo. A
última é estrutural, parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de forma
muito lenta.
Em resumo, espera-se um aumento da exigência e da procura. O acesso e os custos dos
fatores continuarão a ser um problema.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias relativamente consolidadas mas estas
tecnologias estão em mudança rápida. Esta mudança está-se a verificar gradualmente nas
tecnologias inbound e outbound, que cada vez são mais digitalizadas e personalizadas, e
mais rapidamente nas tecnologias de produção, que são cada vez mais mecanizadas e
automatizadas. As tecnologias de produção estão desatualizadas na generalidade das
empresas algarvias, em resultado dos reduzidos níveis históricos de investimento.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
255
deverá concentrar-se na evolução de tecnologias já existentes, em resultado de esforços de
inovação incremental. O do segmento produtivo da introdução de novas tecnologias e da
aplicação de investigação científica pura e aplicada ao setor.
Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente da evolução competitiva das
empresas do setor e do seu financiamento. O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos
deverá conduzir um aumento da intensidade capitalística do setor, a uma diminuição da
utilização de trabalho, a um aumento da produtividade, a uma diminuição do ciclo
produtivo, a uma redução dos custos de produção e distribuição e a um aumento da
importância da incorporação científica e tecnológica.
Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e de
incorporação de inovações tecnológicas. Tal terá influência em todos os aspetos da sua
cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destacam-se:
1. Novos sistemas de recolha e transmissão de informação – sensores, localizadores,
periféricos e dispositivos de comunicação mais pequenos e autónomos, permitindo
aumentar a quantidade de informação processada pelos sistemas de conhecimento;
2. Novos sistemas telemáticos associados a sistemas de conhecimento e gestão de
sistemas – equipamentos de comunicação ligados a sensores e localizadores
transmitem os dados obtidos a bases de dados e sistemas centralizados de
tratamento de informação, produção de conhecimento e tomada de decisões;
3. Integração e interação física-digital – sistemas para ligar os sistemas digitais com os
físicos e para interagir, como a realidade virtual e realidade aumentada;
4. Internet of things – conexão e gestão conjunta de todos os dispositivos mecânicos e
digitais de um dado local ou utilizador;
5. Novas linguagens de programação – conjunto alargado de linguagens mais naturais e
mais especializadas, incluindo linguagens para escrever programas noutras
linguagens;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
256
6. Crescimento do cloud computing – reforço da computação centralizada,
designadamente devido ao crescimento do número de pequenos dispositivos com
mais capacidade de recolha e transmissão de informação que de processamento;
7. Novos sistemas de geração automática de conhecimento e tomada de decisões –
crescimento do machine learning e da inteligência artificial;
8. Codificação automática – utilização de sistemas inteligentes e robots para
programar;
9. Novos sistemas de segurança – seja exclusivamente para garantir a segurança como
os sistemas de encriptação seja para permitir criar produtos digitais seguros como o
blockchain;
10. Novas plataformas de contratação e afetação de recursos – crescimento e
complexificação das plataformas mundiais de contratação;
11. Sistemas automáticos de gestão de plataformas – abrangendo desde a atualização
de conteúdos até à segurança;
12. Novos sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação –
desenvolvimento de técnicas de segmentação e targeting e de mecanismos de
implementação do marketing mix e do esforço de comunicação e vendas;
13. Novos sistemas de pagamentos – FinTech.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante bastante simples e digitalizada. Todas as atividades de
suporte e primárias de inbound, produção e outbound são controladas integralmente pelas
empresas do setor, recorrendo a mercados físicos e digitais. O grosso do valor setorial é
gerado nas atividades de produção e de marketing.
A cadeia de valor do desenvolvimento tecnológico está normalmente fracionada recorrendo
as empresas lideres de mercado (que controlam as atividades de marketing e de gestão de
projetos) à aquisição de imputs e à subcontratação de serviços a servidores a montante.
Existem algumas dúvidas sobre as vantagens da integração vertical nesta cadeia de valor.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
257
A cadeia de valor do subsetor de desenvolvimento e gestão de plataformas é igualmente
simples e digitalizada mas mais integrada. Continua a haver subcontratação mas existem
menos aquisições de imputs fundamentais. A maior integração desta cadeia de valor resulta
da maior complexidade e peso dos esforços de I&D tecnológico e do maior peso do
marketing no valor acrescentado desta cadeia.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento divide-se em dois
subsetores com características estruturais completamente diferentes. O subsetor do
desenvolvimento tecnológico é um setor aberto e concorrencial, geralmente sem grandes
barreiras à entrada ou à saída nem grande poder dos fornecedores ou dos clientes, e
consequentemente sem economias de escala.
A exceção é a existência de algumas barreiras à entrada (devido às necessidades de capital)
e economias de escala (devido ao investimento em marketing e vendas) no segmento
superior do setor, composto pelas empresas que produzem e comercializam aos
consumidores finais.
Uma consequência desta estrutura de mercado é a inexistência de lucros extraordinários
sustentados. Esta situação deve manter-se.
O subsetor do desenvolvimento e gestão de plataformas é um setor onde existem fortes
economias de escala devido ao elevado peso dos custos de desenvolvimento e demais
custos fixos nos custos totais. Nestas circunstâncias cada segmento do mercado tende a ser
servido por um conjunto muito limitado de fornecedores, eventualmente um único se o
segmento de mercado for pequeno.
Assim a lucratividade das empresas que atuam neste subsegmento depende
fundamentalmente da relação entre a sua estrutura de custos médios de longo prazo e a
dimensão do seu mercado. As empresas que atuam em segmento grandes tendem a ter
lucros extraordinários positivos acontecendo o inverso com as que atuam em segmentos
pequenos.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas deste
último setor é geralmente baixa em Portugal e no Algarve, dependo exclusivamente de
decisões estratégicas que as empresas possam tomar sobre os seus mercados alvo.
No longo prazo espera-se que o efeito das inovações tecnológicas e do desenvolvimento de
mais soluções tecnológicas parcelares e integráveis, diminuam o montante do capital de
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
258
capital necessário para entrar nesta indústria o que aumentará a sua intensidade
competitiva, podendo erodir os resultados económicos da empresas instaladas e do
subsetor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo os seus segmentos e a localização
geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Algarve Portugal Internacional
Desenvolvimento Mercado secundário Mercado prioritário Mercado prioritário
Plataformas Mercado prioritário Mercado secundário Mercado marginal
A importância destes três diferentes mercados depende da dimensão e características da
procura e da capacidade da oferta algarvia.
O mercado algarvio de desenvolvimento tecnológico é um mercado pequeno e
concorrencial, onde não existem por grandes empresas produtoras de soluções integradas
para venda a consumidores finais. As empresas algarvias do setor só têm um interesse
secundário em dirigir a sua atividade e oferta a empresas que não são mais que
fornecedoras de segunda ou terceira linha. Daí terem um maior interesse em mercados com
maior potencial, como o mercado nacional e, prioritariamente, o internacional.
Em contrapartida o mercado de desenvolvimento e gestão de plataformas tem uma procura
com necessidades específicas que só podem ser adequadamente satisfeitas por empresas
que conheçam a realidade dessa procura. O conhecimento destas necessidades é uma
grande vantagem competitiva para as empresas algarvias do setor. Esta vantagem atenua-se
ao nível nacional, devido à concorrência acrescida, e desaparece a nível internacional,
devido à concorrência de empresas com vantagens a nível de dotação de recursos e
aproveitamento de economias de escala.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural dos principais
mercados efetivos ou potenciais do setor.
ALGARVE
O mercado algarvio é um mercado dividido entre um grande cluster de turismo maduro e
sofisticado e outros clusters mais pequenos e menos desenvolvidos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
259
O cluster do turismo gera um mercado maduro, muito competitivo, tendo as suas empresas
e entidades uma procura elevada e diversificada de soluções tecnológicas e de plataformas.
Infelizmente existem poucas empresas neste setor com uma dimensão suficientemente
grande para suportarem o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas integradas. A
sua procura neste subsegmento é fundamentalmente de soluções testadas e funcionais, que
existem em abundância. Normalmente as empresas fornecedoras locais apenas têm espaço
para a prestação de serviços de implementação e customização de soluções e de
desenvolvimento de pequenas soluções para problemas idiossincráticos pontuais.
A situação é diferente no setor das plataformas em que as necessidades locais são muitas
vezes mal satisfeitas pelas soluções internacionais existentes no mercado. É o que acontece,
por exemplo, com as plataformas de sharing ou de informação turística. Infelizmente
continua a haver um problema de dimensão das empresas ou entidades do setor turístico
que limita a sua capacidade económica para suportarem o desenvolvimento destas novas
plataformas mais adequadas às necessidades da região. E existem muitas dúvidas sobre a
rentabilidade privada destas plataformas.
Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de coordenação ou cooperação.
As empresas dos outros setores não geram uma procura de tecnologias nem de plataformas
suficientemente grande para suportar o desenvolvimento de soluções específicas com
potencial de expansão posterior. Mas como não parece haver ineficiências nos canais
internacionais de distribuição ou subcontratação da indústria de desenvolvimento, existem
mercados alternativos.
Os canais de distribuição algarvios do setor ainda estão numa fase de desenvolvimento. Os
do subsegmento de desenvolvimento ainda são muito controlados pelas empresas
vendedoras e fornecedoras, mas esta situação tenderá a corrigir-se com o desenvolvimento
do mercado. Mesmo agora não há evidência de lucros extraordinários em qualquer ponto
da cadeia de valor do subsetor.
Em contrapartida os canais do subsegmento de plataformas ainda são menos desenvolvidos
e são ineficientes, sendo muito controlados pelos compradores, designadamente por
entidades públicas. Esta situação prejudica muito a qualidade dos produtos e serviços do
setor.
Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se no marketing enquanto os custos se
distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
260
de suporte. Assim, há alguma evidência de os intermediários terem lucros extraordinários
na aquisição de serviços algarvios.
PORTUGAL
O mercado nacional é um mercado maior e mais complexo que o algarvio. De um ponto de
vista da procura existem três segmentos particularmente interessantes para as empresas
algarvias que são: as empresas do cluster do turismo; as empresas produtoras de soluções
integradas para venda a consumidores finais; e as empresas gestoras de plataformas
especializadas.
O cluster nacional do turismo é globalmente maior e mais diversificado que o algarvio, com
empresas e entidades com uma procura elevada e diversificada de soluções tecnológicas e
de plataformas.
Continuam a existir neste mercado poucas empresas com uma dimensão suficientemente
grande para suportarem o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas integradas. A
sua procura neste subsegmento continua a ser fundamentalmente de soluções testadas e
funcionais, deixando apenas espaço para as empresas locais prestarem serviços de
implementação e customização de soluções e de desenvolvimento de pequenas soluções
para problemas idiossincráticos pontuais.
No entanto a natureza das soluções procuradas neste mercado é muito parecida com as
procuradas pelo mercado com o algarvio. Assim, a abordagem integrada deste mercado e
do algarvio permite obter a massa crítica necessária para suportar o desenvolvimento de
algumas soluções tecnológicas.
As empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais e mesmo
os fornecedores nacionais de primeira linha destas empresas são um mercado muito
interessante para as empresas algarvias de desenvolvimento tecnológico. Têm uma
dimensão maior que as algarvias, estruturas de gestão e marketing mais desenvolvidas, mais
experiência acumulada e estão próximas. Assim podem materializar um primeiro passo de
um processo de entrada no mercado e de crescimento de muitas empresas algarvias.
A situação no setor e no mercado das plataformas é parecida com a do cluster do turismo.
Existem necessidades de mercado mal satisfeitas pelas soluções locais, nacionais e
internacionais existentes no mercado, que podem ser satisfeitas de uma forma mais
eficiente com uma abordagem integrada do mercado nacional e algarvio. É o que
novamente acontece, por exemplo, com as plataformas de sharing ou de informação
turística.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
261
Neste mercado integrado continua a haver um problema de dimensão das empresas ou
entidades do setor turístico que limita a sua capacidade económica para suportarem o
desenvolvimento destas novas plataformas mas em contrapartida existem entidades
especializadas no desenvolvimento e gestão de plataformas que estão interessadas em
ganhar quota de mercado e de clientes diversificando a sua oferta. Existe aqui uma
necessidade e uma oportunidade de cooperação ou integração.
As empresas dos outros setores não geram uma procura de tecnologias nem de plataformas
suficientemente grande para suportar o desenvolvimento de soluções específicas com
potencial de expansão posterior. E mesmo que gerassem não se encontra nenhuma
vantagem comparada que as empresas algarvias possam ter para satisfazer esta procura.
Os canais de distribuição nacionais do setor estão numa fase de desenvolvimento mais
avançado que os algarvios. Os do subsegmento de desenvolvimento são menos controlados
pelas empresas vendedoras e fornecedoras, e a situação está a corrigir-se rapidamente com
o desenvolvimento do mercado. E não há evidência de lucros extraordinários em qualquer
ponto da cadeia de valor do subsetor.
Os canais do subsegmento de plataformas estão muito mais desenvolvidos que os algarvios,
sendo o setor controlado por empresas gestoras de plataformas e não por entidades
públicas.
Os proveitos da cadeia de valor neste mercado estão mais distribuídos pela produção e pelo
marketing enquanto os custos se continuam a distribuir uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há menos evidência de os
intermediários terem lucros extraordinários.
MERCADO INTERNACIONAL
É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional.
O subsegmento de desenvolvimento tecnológico é muito aberto e competitivo, com canais
desenvolvidos e de fácil entrada. Dadas as facilidades de entrar neste mercado,
inclusivamente através de plataformas e outros instrumentos digitais, constitui um mercado
natural para as soluções parcelares deste subsetor e para as empresas de soluções
integradas que já tenham sido testadas.
A grande dificuldade em desenvolver atividade neste mercado é a fase de passagem da fase
de venda a segmentos especializados através de canais digitais ou pessoais para a fase de
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
262
venda a segmentos de grande dimensão. Aí os custos de marketing são muitas vezes
proibitivos.
É um mercado sem grandes barreiras ou poderes restritivos da concorrência, onde não
existem evidências de grandes lucros extraordinários em qualquer subsetor ou fase da
cadeia de valor.
O subsegmento de desenvolvimento e gestão de plataformas é de muito mais difícil acesso,
exigindo quantidades significativas de capital. Só grandes empresas ou soluções
completamente inovadoras têm possibilidade de penetrar neste mercado.
É um mercado que pode gerar lucros extraordinários significativos, principalmente nas
atividades de marketing.
Nestes subsegmentos as maiores hipóteses da indústria algarvia estão em segmentos de
mercado ligados ao turismo, aproveitando a curva de experiência e aprendizagem que lhes
proporcionam os mercados algarvios e nacionais.
Dentro dos mercados internacionais poderão ser particularmente interessantes para as
empresas algarvias os mercados em que haja uma grande procura do setor turístico ou uma
grande proximidade. Assim parece ser de salientar o mercado espanhol inglês, americano,
francês e italiano.
Os outros mercados são igualmente mercados menos interessantes que os mercados já
abordados por serem de menor dimensão ou de difícil acesso. Pode, no entanto, destacar-
se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à
sua dimensão e proximidade. Estes são os países do Norte de África, o Brasil e os PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais do setor. Nesta
caracterização importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores finais do setor dividem-se de acordo com o subsegmento do setor. O
subsetor de desenvolvimento tecnológico tem fundamentalmente empresas como
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
263
consumidores. E o de desenvolvimento e gestão de plataformas tem fundamentalmente
particulares.
As empresas podem dividir-se de acordo com variáveis económicas e financeiras mas a
divisão mais relevante é de acordo com o setor em que atuam:
1. Empresas e entidades turísticas – segmento muito importante tanto no setor da
hotelaria e restauração como no das atrações, entretenimento e lazer, e importante
nos outros setores o cluster; procura sobretudo soluções integradas e testadas tanto
de desenvolvimento tecnológico como de plataformas mas pode pontualmente
considerar soluções mais parcelares ou inovadoras; são sensíveis ao preço e muito à
qualidade do produto;
2. Empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais e de
plataformas – segmento muito importante no segmento de desenvolvimento
tecnológico; têm processos sistemáticos e diversificados de procurement
especializado que privilegiam o cumprimento de requisitos funcionais e os custos;
3. Outras empresas do setor das tecnologias de informação, comunicação e
conhecimento – parecidas com as produtoras de soluções integradas para venda a
consumidores finais mas geralmente menos sofisticadas e mais preocupadas com os
preços;
4. Outras empresas – parecidas com as empresas do cluster do turismo mas mais
diversificadas e interessadas em ofertas de empresas especializadas nos seus
sectores.
Os consumidores particulares, por seu lado, podem agrupar-se de acordo com variáveis
económicas, demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos
de mercado de acordo com a importância que cada segmento dá aos produto e serviços, a
facilidade que têm de mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço
associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos são diversos mas, por uma questão de relevância podem referir-se os
seguintes:
1. Consumidores tecnológicos de elevado rendimento – segmento muito importante
nas plataformas e aplicações, procuram qualidade e consistência, estando dispostos
a pagar por elas; são pouco sensíveis ao preço e muito à qualidade e ao serviço;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
264
2. Consumidores tecnológicos de baixo rendimento ou mais jovens – segmento
igualmente importante nas plataformas e aplicações, não estão dispostos a pagar
diretamente pela utilização de plataformas, estando mais abertos a suportar
publicidade e gastar mais tempo a procurar informação e serviços digitais;
3. Consumidores não tecnológicos – segmento muito importante nas plataformas,
tendem a utilizar as grandes plataformas consolidadas especializadas no seu
segmento sociodemográfico e interesses; são sensíveis ao preço e pouco sensíveis à
qualidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado
Desenvolvimento Plataformas
Turismo Importante Importante
Soluções integradas e plataformas Secundário Importante
Outras do setor Importante Secundário
Outras empresas Secundário Secundário
Tecnológicos com rendimento Marginal Importante
Tecnológicos sem rendimento Marginal Importante
Outros Marginal Secundário
Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia das tecnologias de informação, comunicação e conhecimento enfrenta
fundamentalmente três tipos de competidores: pequenas e médias empresas de
desenvolvimento; grandes empresas produtoras de soluções integradas para venda a
consumidores finais; e empresas gestoras de plataformas.
As pequenas e médias empresas tecnológicas que, até há pouco tempo dominavam a
indústria, eram fundamentalmente empresas com poucos recursos económicos, humanos e
tecnológicos; com grandes capacidades técnicas fundamentalmente relacionadas com a
produção; e com estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
265
Estas empresas continuam a ser muito importantes mas afastaram-se dos consumidores
finais devido à sua falta de dimensão e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade
estrutural destas empresas é ainda elevada devido à escassez relativa de recursos técnicos
mas a mais reduzida do setor.
As grandes empresas produtoras de soluções integradas para venda a consumidores finais
dominam agora a gestão do desenvolvimento e o marketing em todo o mundo. Têm uma
estrutura mais intensiva em capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na
diferenciação via flexibilidade e marketing ou via especialização em produto. Normalmente
especializam-se num número pequeno de produtos e processos para eliminar problemas de
coordenação e minimizar o risco de negócio. Mas também podem procurar gerar economias
de escala para competir via custos. As mais pequenas diferenciam-se ainda mais, sendo as
principais produtoras de produtos de nicho.
As empresas de plataformas são mais diversificadas e vão desde as grandes plataformas que
dominam o setor a nível mundial a pequenas empresas de âmbito exclusivamente local. O
fundamental da sua atividade é a obtenção, processamento e disponibilização de
informação pelo que têm um componente produtivo puro mais importante que o das outras
empresas do setor.
O conhecimento, a tecnologia e as capacidades de gestão são fundamentais para estas
empresas que procuram fundamentalmente competir via custos através do aproveitamento
de economias de escala. Para conseguir tal estão interessadas em qualquer ganho de quota
de mercado ou de quota de cliente, enveredando por estratégias de customização e
personalização automatizada da sua oferta. Podem ser mais ou menos intensivas em
conhecimento tecnológico mas são mais intensivas em conhecimento de mercado e dos
consumidores.
COMPETIDORES POR MERCADO
A competição, em termos de mercados competidores, varia de segmento para segmento.
Salientem-se, a importância dos EUA e da China nas plataformas e de uma multiplicidade de
países europeus e em vias de desenvolvimento no subsetor do desenvolvimento.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
266
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser o crescimento dos
custos de produção, designadamente dos relacionados com a mão de obra, e a pressão
concorrencial resultante de competidores geradores de economias de escala.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Aumento da procura direta e derivada dos produtos e serviços do setor, havendo a
possibilidade de aumentarem os preços nalguns produtos em que as empresas
algarvias têm vantagens comparadas;
2. Reorientação da produção para produtos e clientes mais sofisticados e de valor mais
elevado;
3. Orientação para desenvolvimentos utilizadores de novas tecnologias;
4. Satisfação das necessidades do cluster turístico;
5. Aproveitamento das necessidades do cluster turístico local e nacional para a
acumulação de experiência e conhecimento;
6. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas e utilização de novos
sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação;
7. Aproveitamento de canais de distribuição menos eficientes e criação de novas
segmentações;
8. Utilização de novas plataformas de contratação e afetação de recursos e de sistemas
automáticos de gestão de plataformas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
267
A análise dos elementos anteriores mostra que existem três elementos fundamentais:
conhecimentos técnicos, capacidade de gestão para gerir eficientemente projetos mais
complexas e capacidades de marketing para orientar a atividade para os mercados mais
atrativos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
268
ATIVIDADES CRIATIVAS
ESTRUTURA
O setor das atividades criativas é um setor lato que abrange atividades muito diversas que
vão desde a criação de pequenos conteúdos publicitários escritos até à produção e
distribuição de grandes blockbusters cinematográficos.
Destas atividades, e de um ponto de vista de dinâmica de cluster, os mais relevantes para o
Algarve são o de criação e produção de conteúdos de qualquer formato. Assim esta análise
focar-se-á nestas atividades, mencionando sempre que relevante questões relacionadas
com a distribuição.
A estrutura deste setor é muito parecida com a do sector anterior, dividindo-se entre um
subsetor concorrencial de produção de conteúdos de menor dimensão e um subsetor
menos contestável de produção e distribuição de grandes conteúdos integrados. Haverá
uma preocupação em referir como é possível entrar e competir em ambos os subsetores.
Os principais mercados do setor são idênticos aos do setor anterior, os mercados do
Algarve, o nacional e o internacional. O mercado do Algarve é substancialmente distinto
destes dois últimos, cujos condicionantes últimos do comportamento não são
significativamente diferentes.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e determinação de lucratividade das empresas e aos ambientes algarvio, português e
internacional no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor das atividades criativas é aberto e com poucas regulações específicas. Esta situação
deve manter-se.
Todavia, é um setor incentivado e subsidiado a nível da União Europeia, de uma forma
diferenciada para diferentes produtos, processos e regiões. Por razões já referidas, o apoio
ao setor no Algarve é menor que a nível nacional. Este enquadramento, que tem como
objetivo promover o desenvolvimento económico, deve manter-se.
O setor também é apoiado, indiretamente, a nível regional e nacional, através do
lançamento de projetos públicos de proteção e desenvolvimento de elementos
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
269
identificadores da região. Embora o sucesso destas políticas seja muito variável e discutível,
elas devem continuar.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política.
FATORES ECONÓMICOS
Os outputs do setor permitem que os seus consumidores finais beneficiem de ganhos
resultantes da satisfação de necessidades existentes e latentes. Este facto é aproveitado por
empresas que utilizam intensamente diversos conteúdos nas suas atividades de marketing.
Enquanto se continuarem a registar estes ganhos a procura do setor deverá aumentar.
Em contrapartida, a oferta desses produtos depende muito da disponibilidade de recursos
qualificados, da evolução dos custos de produção, designadamente dos salários da mão de
obra qualificada, e da dinâmica empresarial e do financiamento do setor. Em termos gerais,
espera-se que a oferta de mão de obra especializada continue a crescer mas que os custos
salariais da mão de obra qualificada aumentem sustentadamente em todo o mundo. Novas
tecnologias de produção podem compensar este aumento, pelo que a oferta destes
produtos deve aumentar.
O setor da produção de atividades criativas é geralmente um setor intensivo em trabalho
onde não existem muitas economias de escala. Todavia existem economias de escala e
barreiras à entrada nas ultimas fases da cadeia de valor do setor, em resultado das grandes
necessidades de capital que a integração e distribuição de conteúdos de maiores dimensões
exige. Daqui resulta uma estrutura de mercado dual, fracionada nas primeiras fases da
cadeia de valor e oligopolística nas últimas.
Desta dinâmica resulta uma tendência para a existência de algum poder de mercado nestas
últimas empresas que reduzem os resultados das primeiras.
No Algarve o preço da mão de obra deve continuar a aumentar, aumentando os custos de
produção, designadamente das atividades mais intensivas em trabalho. Sem a existência de
alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos de produção poderão aumentar
lentamente. O investimento em mais conhecimento e tecnologia poderá atenuar esta
evolução, uma solução desejável e possível para todos os produtores de conteúdos.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento diferenciado da procura e dos custos de
produção das produções do setor, havendo situações em que a lucratividade dos produtos
pode aumentar ou diminuir em função das vantagens comparativas dos produtores.
FATORES SOCIAIS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
270
Os fatores de natureza cultural e demográfica afetam significativamente a evolução do
sector.
Em primeiro lugar, a crescente diferenciação cultural e de interesses entre diferentes grupos
sociodemográficos e psicográficos tem conduzido ao nascimento de segmentos de
consumidores cada vez mais pequenos, criando procuras cada vez mais diferenciadas.
Muitos destes consumidores valorizam conteúdos identificativos, associados com lugares,
experiências e comportamentos que têm de ser produzidos.
Depois os consumidores querem cada vez mais produtos adaptados às suas necessidades e
interesses, crescendo a necessidade de customização e de personalização de conteúdos.
Por fim, os grupos mais novos e tecnológicos utilizam cada vez mais aplicações e
plataformas em todas as suas atividades de interação social e económica, criando uma
procura derivada de conteúdos.
Relativamente à oferta de fatores produtivos, encontram-se constrangimentos efetivos e
potenciais significativos, principalmente a nível de mão de obra, embora a situação atual se
caracterize por uma oferta internacional crescente, designadamente de mão de obra com
qualificações elevadas e alguma experiência.
No Algarve ainda há mão de obra disponível mas a tendência parece ser de redução da
oferta de mão de obra mais experiente e menos qualificada e de aumento da mão de obra
qualificada mas sem experiência.
O desequilíbrio entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma
diferente composição.
Ao nível do custo de capital, a situação é de alguma dificuldade em financiar a generalidade
das operações produtivas e grande dificuldade em financiar as operações de investimento e
de marketing. As primeiras dificuldades são pontuais e de curto prazo. A última é estrutural,
parecendo, no entanto, estar a evoluir favoravelmente mas de forma muito lenta.
Em resumo, espera-se um aumento da exigência e da procura. O acesso e os custos dos
fatores continuarão a ser um problema.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor utiliza tecnologias relativamente consolidadas mas em
mudança incremental. Esta mudança verifica-se nas tecnologias inbound e outbound, que
cada vez são mais digitalizadas, e ainda mais rapidamente nas tecnologias de produção, que
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
271
são cada vez mais mecanizadas e automatizadas. As tecnologias de produção estão
desatualizadas na generalidade das empresas algarvias, em resultado dos reduzidos níveis
históricos de investimento em conhecimento e capital.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O futuro desenvolvimento do segmento inbound e outbound
deverá concentrar-se na evolução de tecnologias já existentes, em resultado de esforços de
inovação incremental. O do segmento produtivo pode ainda evoluir em resultado da
introdução de novas tecnologias e da aplicação de investigação científica pura e aplicada ao
setor.
Estes desenvolvimentos dependerão fundamentalmente da evolução competitiva das
empresas do setor e do seu financiamento. O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos
deverá conduzir um aumento da intensidade capitalística do setor, a uma diminuição da
utilização de trabalho, a um aumento da produtividade, a uma diminuição do ciclo
produtivo, a uma redução dos custos de produção e distribuição e a um aumento da
importância da incorporação científica e tecnológica.
Em resumo, esperam-se desenvolvimentos significativos de convergência tecnológica e de
incorporação de inovações tecnológicas. Tal terá influência em todos os aspetos da sua
cadeia de valor e da estrutura produtiva e de custos das empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destacam-se:
1. Novos tipos de conteúdos – cada vez mais móveis e baseados em tecnologias digitais
e outras novas tecnologias como as laser;
2. Novos conteúdos especificamente adequados à integração e interação física-digital –
interfaces de interação entre sistemas digitais e físicos, como a realidade virtual e
realidade aumentada;
3. Novos sistemas e equipamentos automáticas de produção de conteúdos – utilizando
robôs, o machine learning e a inteligência artificial;
4. Novas plataformas de contratação e afetação de recursos – crescimento e
complexificação das plataformas mundiais de contratação;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
272
5. Novos sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação –
desenvolvimento de técnicas de segmentação e targeting e de mecanismos de
implementação do marketing mix e do esforço de comunicação e vendas.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor é bastante bastante simples e digitalizada. Todas as atividades de
suporte e primárias de inbound, produção e outbound são controladas integralmente pelas
empresas do setor, recorrendo a mercados físicos e digitais. O grosso do valor setorial é
gerado nas atividades de produção e de marketing.
A cadeia de valor das atividades iniciais da cadeia está normalmente fracionada recorrendo
as empresas lideres de mercado (que controlam as atividades de marketing e de gestão de
projetos) à aquisição de imputs e à subcontratação de serviços a empresas e profissionais a
montante. Existem algumas dúvidas sobre as vantagens da integração vertical nesta cadeia
de valor.
A cadeia de valor das atividades finais da cadeia de valor é igualmente simples e digitalizada
mas mais integrada. Continua a haver subcontratação mas existem menos aquisições de
imputs fundamentais. A maior integração desta cadeia de valor resulta do maior peso do
marketing e fundamentalmente da distribuição no valor acrescentado da cadeia da parte
final da cadeia.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
A parte inicial da cadeia de valor do setor das atividades criativas é aberta e concorrencial,
geralmente sem grandes barreiras à entrada ou à saída nem grande poder dos fornecedores
e, consequentemente, sem economias de escala. A exceção é a existência de algumas
barreiras à entrada (devido às necessidades de capital), poder dos clientes (devido à
estrutura oligopolística do mercado) e economias de escala (devido ao investimento em
marketing e vendas) no segmento superior do setor, composto pelas empresas que
produzem e comercializam aos consumidores finais.
Uma consequência desta estrutura de mercado é a inexistência de lucros extraordinários
sustentados na fase inicial da cadeia. Esta situação deve manter-se.
Na fase final da cadeia existem fortes economias de escala devido ao elevado peso dos
custos de desenvolvimento, distribuição e demais custos fixos nos custos totais. Nestas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
273
circunstâncias cada segmento do mercado tende a ser servido por um conjunto muito
limitado de fornecedores, eventualmente um único se o segmento de mercado for
pequeno.
Assim a lucratividade das empresas que atuam neste subsegmento depende
fundamentalmente da relação entre a sua estrutura de custos médios de longo prazo e a
dimensão do seu mercado. As empresas que atuam em segmento grandes tendem a ter
lucros extraordinários positivos acontecendo o inverso com as que atuam em segmentos
pequenos.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade da generalidade das empresas deste
último setor é geralmente baixa em Portugal e no Algarve, dependo exclusivamente de
decisões estratégicas que as empresas possam tomar sobre os seus mercados-alvo.
No longo prazo espera-se que o efeito das inovações tecnológicas e do desenvolvimento de
mais soluções tecnológicas parcelares e integráveis, diminuam o montante do capital de
capital necessário para entrar nesta indústria o que aumentará a sua intensidade
competitiva, podendo erodir os resultados económicos da empresas instaladas e do
subsetor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo os seus segmentos e a localização
geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Algarve Portugal Internacional
Fases iniciais Mercado secundário Mercado secundário Mercado prioritário
Fases finais Mercado prioritário Mercado secundário Mercado marginal
A importância destes três diferentes mercados depende da dimensão e características da
procura e da capacidade da oferta algarvia.
O mercado algarvio das fases iniciais é um mercado pequeno e concorrencial que, apesar de
não existir grande poder dos clientes, tem uma rentabilidade reduzida. As empresas
algarvias do setor só têm um interesse secundário em dirigir a sua atividade e oferta a
empresas pequenas que não são mais que fornecedoras de segunda ou terceira linha de
empresas maiores ou de pequenos segmentos de consumidores finais. Daí terem um maior
interesse em mercados com maior potencial, como o mercado nacional e, prioritariamente,
o internacional.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
274
Além disso os mercados destas atividades procuram produtos distintos que só podem ser
adequadamente produzidos por empresas que conheçam elementos produtivos e criativos
que permitam criar esses produtos distintos. O conhecimento desses elementos, da cultura
e da estética algarvia, é uma grande vantagem competitiva para as empresas algarvias do
sector. Esta vantagem materializa-se ao nível regional (devido aos mercados turísticos de
proximidade) e fundamentalmente ao nível internacional, devido à existência de grandes
mercados diversificados.
O mercado das fases finais da cadeia tem uma procura com necessidades diferenciadas que
só podem ser adequadamente produzidos por empresas que conheçam essas necessidades.
O conhecimento das necessidades locais é uma grande vantagem competitiva para as
empresas algarvias do setor. Esta vantagem materializa-se fundamentalmente ao nível
regional, atenua-se ao nível nacional, devido à concorrência acrescida, e desaparece ao nível
internacional, devido à existência de à concorrência de empresas com vantagens a nível de
dotação de recursos e aproveitamento de economias de escala.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural dos principais
mercados efetivos ou potenciais do setor.
ALGARVE
O mercado algarvio é um mercado dividido entre um grande cluster de turismo maduro e
sofisticado, algumas pequenas empresas distribuidoras de conteúdos e outros clusters e
setores mais pequenos e menos desenvolvidos.
O cluster do turismo gera um mercado maduro, muito competitivo, tendo as suas empresas
e entidades uma procura elevada e diversificada de muitos conteúdos diversificados.
Infelizmente não existem muitas empresas capazes de suportar uma procura de conteúdos
integrados destinados ao mercado. A maior procura neste segmento é fundamentalmente
de conteúdos de aplicação local. Todavia, existem situações, designadamente nas atrações,
em que existe uma necessidade de grandes projetos de desenvolvimento de conteúdos
adequados às necessidades da região.
Este é um mercado prioritário mas o problema de dimensão das empresas ou entidades do
setor turístico limita a sua capacidade económica para suportarem o desenvolvimento
destes projetos. E existem muitas dúvidas sobre a rentabilidade privada destes projetos.
Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de coordenação ou cooperação.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
275
As empresas de distribuições de conteúdos são normalmente pequenas e de âmbito de
atuação regional ou local. Geram uma procura relevante de conteúdos mas não suportam
muitas produções replicáveis. Existe no entanto uma oportunidade ou possibilidade de
crescimento de algumas destas empresas e uma oportunidade secundária.
As empresas dos outros setores geram uma procura de pequenos conteúdos mas não
geram uma procura suficientemente grande para suportar o desenvolvimento com
potencial de expansão posterior.
Os canais algarvios de distribuição do setor ainda estão numa fase de desenvolvimento,
sendo muito controlados pelas empresas vendedoras e fornecedoras, mas esta situação
tenderá a corrigir-se com o desenvolvimento do mercado.
Os proveitos desta cadeia de valor concentram-se no marketing enquanto os custos se
distribuem uniformemente ao longo de toda a cadeia e de todas as atividades primárias e
de suporte. Assim, há alguma, evidência de os intermediários terem lucros extraordinários
na aquisição de conteúdos algarvios.
PORTUGAL
O mercado nacional é um mercado maior e mais complexo que o algarvio. De um ponto de
vista da procura existem os mesmos três segmentos interessantes para as empresas
algarvias que são: as empresas do cluster do turismo; as empresas distribuidoras de
conteúdos; e as empresas de outros setores.
O cluster nacional do turismo é globalmente maior e mais diversificado que o algarvio, com
empresas e entidades com uma procura elevada e diversificada de conteúdos.
Continuam a existir neste mercado poucas empresas com uma dimensão suficientemente
grande para suportarem o desenvolvimento de grandes projetos destinados ao mercado. A
procura deste segmento continua a ser fundamentalmente de pequenos conteúdos de
aplicação local.
No entanto a natureza das necessidades deste mercado é muito parecida com as do
mercado algarvio. Assim a abordagem integrada deste mercado e do algarvio permite obter
a massa crítica necessária para suportar o desenvolvimento de algumas atividades criativas
da fase final da cadeia de valor.
As empresas distribuidoras constituem um mercado muito interessante para as empresas
algarvias de atividades criativas. Têm uma dimensão maior que as algarvias, estruturas de
gestão e marketing mais desenvolvidas, mais experiência acumulada e estão próximas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
276
Assim podem materializar um primeiro passo de um processo de entrada no mercado e de
crescimento de muitas empresas algarvias.
Estas empresas têm necessidades mal satisfeitas pelas soluções locais, nacionais e
internacionais existentes no mercado, que podem ser satisfeitas de uma forma mais
eficiente com uma abordagem integrada do mercado nacional e algarvio. É o que
novamente acontece, por exemplo, com na área da publicidade, da produção digital ou de
informação turística.
Neste mercado integrado continua a haver um problema de dimensão das empresas mas
existem entidades especializadas interessadas em ganhar quota de mercado e de clientes
diversificando a sua oferta. Existe aqui uma necessidade e uma oportunidade de cooperação
ou integração.
As empresas dos outros setores não geram uma procura de suficientemente grande para
suportar o desenvolvimento de grandes projetos integrados com potencial de expansão
posterior. E mesmo que gerassem não se encontra nenhuma vantagem comparada que as
empresas algarvias possam ter para satisfazer esta procura.
Os canais de distribuição nacionais do setor estão numa fase de desenvolvimento mais
avançado que os algarvios. Os canais são menos controlados pelas empresas vendedoras e
fornecedoras, e a situação está a corrigir-se rapidamente com o desenvolvimento do
mercado. E não há evidência de lucros extraordinários em qualquer ponto da cadeia de
valor.
Os canais do subsegmento de plataformas estão muito mais desenvolvidos que os algarvios,
sendo o setor controlado por empresas gestoras de plataformas e não por entidades
públicas.
Os proveitos da cadeia de valor neste mercado estão mais distribuídos pela produção e pelo
marketing enquanto os custos se continuam a distribuir uniformemente ao longo de toda a
cadeia e de todas as atividades primárias e de suporte. Assim, há menos evidência de os
intermediários terem lucros extraordinários.
MERCADO INTERNACIONAL
É um mercado maior e mais desenvolvido que o nacional.
A procura de conteúdos parcelares faz-se num mercado muito aberto e competitivo, com
canais desenvolvidos e de fácil entrada. Dadas as facilidades de entrar neste mercado,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
277
inclusivamente através de plataformas e outros instrumentos digitais, constitui um mercado
natural para as empresas algarvias.
A grande dificuldade em desenvolver atividade neste mercado é a fase de passagem da fase
de venda a segmentos especializados através de canais digitais ou pessoais para a fase de
venda a segmentos de grande dimensão, onde os custos de marketing são proibitivos.
É um mercado sem grandes barreiras ou restrições da concorrência, onde não existem
evidências de lucros extraordinários em qualquer subsetor ou fase da cadeia de valor.
Dentro dos mercados internacionais poderão ser particularmente interessantes para as
empresas algarvias os mercados em que haja uma grande procura do setor turístico ou uma
grande proximidade. Assim parece ser de salientar o mercado espanhol, inglês, americano,
alemão, nórdico, francês e italiano.
Os outros mercados são igualmente mercados menos interessantes que os mercados já
abordados por serem de menor dimensão ou de difícil acesso. Pode, no entanto, destacar-
se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades pontuais, devido à
sua dimensão e proximidade. Estes são os países do Norte de África, o Brasil e os PALOP.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização dos mercados importa caracterizar os seus principais
tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização importa
diferenciar consumidores finais de intermédios. A conjugação das duas caracterizações
permite determinar os perfis dos diversos mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores finais do setor dividem-se de acordo com subsegmentos. O subsetor de
desenvolvimento tecnológico tem fundamentalmente empresas como consumidores. E o de
desenvolvimento e gestão de plataformas tem fundamentalmente particulares.
As empresas podem dividir-se de acordo com variáveis económicas e financeiras mas a
divisão mais relevante é de acordo com o setor em que atuam:
1. Empresas e entidades turísticas – segmento muito importante tanto no setor da
hotelaria e restauração como no das atrações, entretenimento e lazer, e importante
nos outros setores o cluster; procura sobretudo conteúdos de aplicação
individualizada mas pode pontualmente considerar soluções mais integradas e de
mercado ou inovadoras; são sensíveis ao preço e muito à qualidade do produto;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
278
2. Empresas distribuidoras – segmento muito importante na procura de atividades da
fase inicial da cadeia; têm processos sistemáticos e diversificados de procurement
especializado que privilegiam o cumprimento de requisitos funcionais e os custos;
3. Outras empresas – parecidas com as empresas do cluster do turismo mas mais
diversificadas e interessadas em ofertas de empresas especializadas.
Os consumidores particulares, por seu lado, podem agrupar-se de acordo com variáveis
económicas, demográficas, psicográficas e comportamentais obtendo-se vários segmentos
de mercado de acordo com a importância que cada segmento dá aos produto e serviços, a
facilidade que têm de mudar de fornecedor e a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço
associado. Esta divisão permite a criação de diversos comportamentos tipo.
Os segmentos são diversos podendo, por uma questão de relevância, referir-se os seguintes:
1. Consumidores utilitários – segmento muito importante nos conteúdos informativos,
procuram qualidade e consistência, estando dispostos a pagar por elas; são muito
sensíveis ao preço e à qualidade e menos ao serviço;
2. Consumidores culturais e identitários – segmento importante nos conteúdos
identitários, interessam-se muito pelos suportes dos conteúdos; e são pouco
sensíveis ao preço e ao serviço e muito à qualidade;
3. Consumidores turísticos – segmento muito importante nos conteúdos ligados às
atrações; são sensíveis ao preço e à qualidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / importância relativa por mercado
Fases iniciais Fases finais
Turismo Importante Importante
Distribuição Importante Secundário
Outras empresas Importante Secundário
Utilitários Marginal Importante
Identitários Marginal Importante
Turísticos Marginal Importante
Os outros mercados podem ser considerados mercados de nicho ou oportunidade.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
279
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia das atividades criativas enfrenta fundamentalmente dois tipos de
competidores: pequenas e médias empresas de criação de conteúdos e grandes empresas
produtoras de produção e distribuição de conteúdos.
As pequenas e médias empresas que, até há pouco tempo dominavam a indústria, eram
fundamentalmente empresas com poucos recursos económicos, humanos e tecnológicos;
com grandes capacidades técnicas fundamentalmente relacionadas com a criação e
produção; e com estratégias tomadoras de preços e de minimização de custos.
Estas empresas continuam a ser muito importantes mas afastaram-se dos consumidores
finais devido à sua falta de dimensão e estrutura de custos desfavorável. A rentabilidade
estrutural destas empresas mantém-se ainda elevada devido à escassez relativa de recursos
técnicos e à reduzida concorrência mas compara muito desfavoravelmente com a média do
sector.
As grandes empresas produtoras e distribuidoras dominam agora a gestão do
desenvolvimento e o marketing em todo o mundo. Têm uma estrutura mais intensiva em
capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
e marketing ou via especialização em produto. Normalmente especializam-se num número
pequeno de produtos e processos para eliminar problemas de coordenação e minimizar o
risco de negócio. Mas também podem procurar gerar economias de escala para competir
via custos.
As mais pequenas diferenciam-se ainda mais, sendo as principais produtoras de produtos de
nicho.
COMPETIDORES POR MERCADO
A competição, em termos de mercados competidores, varia de segmento para segmento.
Salientem-se, a importância dos EUA e da China nas plataformas e de uma multiplicidade de
países europeus e em vias de desenvolvimento no subsetor do desenvolvimento.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
280
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser o aumento dos
custos de produção e as dificuldades de acesso a fatores produtivos. A pressão
concorrencial resultante de competidores geradores de economias de escala também é uma
grande ameaça.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Crescimento da procura das atividades do setor;
2. Reorientação da produção para produtos e clientes mais sofisticados e de valor mais
elevado;
3. Satisfação das necessidades do cluster turístico e aproveitamento das necessidades
do cluster turístico local e nacional para a acumulação de experiência e
conhecimento;
4. Novos tipos de conteúdos mais móveis e baseados em tecnologias digitais e outras
novas tecnologias como as laser;
5. Novos conteúdos especificamente adequados à integração e interação física-digital
(realidade virtual e realidade aumentada);
6. Novos sistemas e equipamentos automáticas de produção de conteúdos que
reduzem os custos de produção e permitem diversificar a oferta;
7. Novas plataformas de contratação e de afetação de recursos;
8. Melhoria da gestão e do marketing estratégico das empresas e utilização de novos
sistemas e metodologias de marketing e de transmissão de informação.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do sector interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem que respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
281
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anteriores mostra que existem três elementos fundamentais:
capacidade criativa e conhecimentos técnicos; capacidade para gerir eficientemente
projetos mais complexos; e capacidades de marketing para orientar a atividade para os
mercados mais atrativos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual ou as empresas
recorreriam muito mais à subcontratação de serviços de qualidade. Tal permitiria às
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
282
CIÊNCIAS DA VIDA / SAÚDE / RECUPERAÇÃO
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das ciências da vida, saúde e
recuperação inclui as seguintes atividades:
Atividades de saúde humana
Atividades de lazer e bem-estar
Investigação aplicada e baseada nos recursos locais
Investigação focada nos nichos de mercado alvo
Desenvolvimento de produtos farmacêuticos e afins
Atividades de desporto de alto rendimento
Só uma nota para referir que a RIS3 - ALGARVE 2014-2020 inclui no cluster do turismo um
sector de saúde e bem-estar. A opção tomada para efeitos de análise externa aquando da
definição da cadeia de valor do cluster do turismo, por razões de semelhanças estruturais
dos setores e dinâmicas dos clusters, foi separar o setor da saúde do setor do bem-estar e
tratar o setor do bem-estar como um subsetor do setor das atrações, entretenimento e
lazer, do cluster do turismo, e tratar o setor da saúde como um setor do cluster da saúde.
Assim não é necessário voltar a abordar o setor das atividades de lazer e bem-estar.
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes setores do
cluster os seguintes CAEs:
21 Fabricação de produtos farmacêuticos de base e de preparações
farmacêuticas
72110 Investigação e desenvolvimento em biotecnologia
86 Atividades de saúde humana
87 Atividades de apoio social com alojamento
88 Atividades de apoio social sem alojamento
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
283
931 Atividades desportivas
96040 Atividades de bem-estar físico
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um
conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como
indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu
desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:
Atividades de saúde humana
Atividades de desporto de alto rendimento
Atividades de investigação e desenvolvimento
Nesta estrutura o setor das atividades de lazer e bem estar, tanto as atividades de apoio
social como as de bem estar físico e as atividades de investigação, incluem a investigação
aplicada e baseada nos recursos locais, a investigação focada nos nichos de mercado alvo e
o desenvolvimento de produtos farmacêuticos e afins. Esta agregação resulta tanto da
indisponibilidade de dados para autonomizar setores mais desagregados como do facto de
os setores agregados terem uma natureza semelhante à do setor agregado. A natureza das
suas atividades e os recursos que utilizam são basicamente os mesmos, constituindo de
facto setores únicos e integrados.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
284
ATIVIDADES DE SAÚDE HUMANA
ESTRUTURA
O setor algarvio da saúde tem uma estrutura mista, com um segmento público e um
segmento privado. O segmento público é constituído por unidades produtivas de
propriedade do estado com receitas maioritariamente originárias da administração central.
O segmento privado é constituído por unidades produtivas de propriedade privada com
receitas fundamentalmente e crescentemente provenientes de sistemas de seguros de
saúde públicos e privados.
Cada segmento e composto por diversos tipos de unidades de produção que vão desde
pequenas unidades de enfermagem e clínica geral até grandes hospitais com diversas
especialidades. O setor oferece quase todas as atividades de saúde humana.
O principal mercado do setor é constituído pelos residentes no Algarve, sendo o mercado
turístico um mercado secundário e o mercado internacional um mercado presentemente
marginal. Cada um destes dois últimos mercados divide-se em dois segmentos diferentes de
acordo com a existência ou não de mecanismos de pagamento público ou por seguros dos
custos dos serviços prestados pelo setor aos consumidores desses mercados.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e
determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor da saúde é um setor misto, público e privado. O subsetor público de saúde, o com
maior peso, é gerido administrativa e centralizadamente. Todas as atividades estratégicas,
de investimento e de desenvolvimento e financeiras são decididas pelo poder central, tendo
as diferentes unidades produtivas uma autonomia basicamente operacional. Estão a ser
feitos esforços para alterar esta situação, procurando que as unidades produtivas tenham
mais autonomia e respondam mais a incentivos de mercado mas estes esforços têm falhado
sistematicamente.
Assim a oferta do subsetor público destina-se fundamentalmente à satisfação das
necessidades correntes da população nacional, tal como entendidas pelo poder político.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
285
Esta oferta pode estender-se a outros mercados ao abrigo de acordos internacionais de
reciprocidade no acesso a serviços de saúde.
Mas o ponto fundamental é que o subsetor tem os clientes garantidos por razões
económicas pelo que não necessita de se orientar para o mercado ou para o consumidor.
Assim, não tem estratégias competitivas, não procura diferenciar-se e inova muito pouco.
Nada indicia que esta situação se vá alterar no curto ou médio prazo, devendo a oferta do
subsetor continuar a desenvolver-se de acordo com critérios políticos.
O subsetor privado de saúde está sujeito a regulamentações particularmente restritivas de
licenciamento, de processos, de serviços, de seguros, de preços e de responsabilidades. No
entanto está completamente orientado para o mercado, fazendo esforços sistemáticos de
desenvolvimento e implementação de estratégias competitivas.
O enquadramento do subsetor deve manter-se, mantendo-se os fundamentos e
constrangimentos políticos e legais da sua atividade e a dinâmica de mercado regulado de
desenvolvimento da oferta do subsetor.
Existem muitos países da Europa e do mundo com sistemas equiparados ao português mas
também existem muitos outros com sistemas em que a produção de saúde é maioritária ou
totalmente privada, concentrando-se a intervenção do estado na regulação e na garantia de
acesso a cuidados de saúde seja através da subsidiação direta destes cuidados, seja através
da criação ou regulação de sistemas de seguros de saúde de cobertura universal, públicos
ou privados.
Em todos estes países, devido a fatores económicos e sociais discutidos à frente, a
prestação de cuidados de saúde está a sujeita a pressões de custos que geralmente estão a
ser geridas através de racionamentos implícitos do acesso aos cuidados de saúde (aumento
do tempo de atendimento e limitação dos serviços disponíveis). Existiriam soluções
alternativas para lidar com este problema, designadamente a utilização do mecanismo de
preços ou a orientação dos desenvolvimentos tecnológicos e organizativos do setor para a
redução de custos, mas a elevada intervenção e subsidiação do Estado impede ou dificulta a
utilização destas soluções.
Assim existe um grande espaço para uma concorrência agressiva, via custos ou qualidade,
ganhar uma quota de mercado significativa nestes mercados. E nada impede que em muitos
casos esta concorrência se localize no Algarve onde existem vantagens competitivas
designadamente ao nível dos custos da mão de obra. E pode acontecer que os próprios
decisores políticos tenham no médio prazo interesse no desenvolvimento desta oferta
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
286
alternativa. Tal pode gerar um crescimento significativo da procura dos serviços de saúde no
Algarve.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo existe a possibilidade de reformas nos sistemas públicos de prestação de
cuidados de saúde ou de o acesso a cuidados de saúde estimular a procura da oferta privada
do setor.
FATORES ECONÓMICOS
Os serviços de saúde têm uma elasticidade rendimento elevada e uma elasticidade preço
muito baixa. Estas elasticidades provocam duas dinâmicas que condicionam toda a evolução
do setor. A elasticidade rendimento gera uma procura crescente de serviços de saúde em
todo o mundo. A elasticidade de preço diminui os incentivos de mercado para a orientação
do setor e dos seus fornecedores para tecnologias e metodologias de menores custos. Esta
última dinâmica é agravada pela intervenção e subsidiação pública.
A consequência destas dinâmicas é um aumento sistemático e muito significativo dos custos
do setor.
Esta situação inflacionária está a tornar insustentáveis financeiramente os sistemas públicos
de saúde e está a aumentar a insatisfação de muitos consumidores e eleitores com muitos
sistemas privados. Existe a necessidade de sistemas alternativos, de ofertas alternativas.
O acesso a serviços de saúde é, em muitos casos, garantido por seguros de saúde, públicos e
privados. Mas estes seguros estão sujeitos a problemas graves de assimetria de informação
incluindo moral hazard e, principalmente, adverse selection. Devido a esta razão não existe
nenhum grande país do mundo em que o acesso a cuidados de saúde seja garantido por um
sistema de seguros de saúde facultativo. A regra é que quanto o acesso é garantido por
seguros, estes cubram um elenco pré determinado de cuidados e sejam obrigatórios e
universais.
Mas esta situação acaba sempre por prejudicar alguns segmentos dos consumidores, sejam
os que teriam prémios mais reduzidos por não terem pré-condições clínicas, ou os que não
desejam beneficiar da adverse selection, ou os que não beneficiarão de algumas coberturas,
ou os que têm necessidades de coberturas não abrangidas pelas dos seguros existentes.
Todos estes segmentos de consumidores têm um forte incentivo para evitar a subscrição
dos seguros de saúde obrigatórios e universais. E podem criar uma procura cada vez mais
significativa para seguros e prestadores diferenciados.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
287
No entanto a existência de uma procura potencial não implica a existência de uma procura
efetiva. Para isto acontecer têm que se verificar algumas condições, entre as quais está a de
que a qualidade percebida da oferta satisfaz os requisitos dos consumidores. E este
problema da diferença entre a qualidade efetiva e percebida é particularmente grande no
setor da saúde.
De facto os consumidores de cuidados de saúde têm muito poucos conhecimentos técnicos
e científicos que lhes permitam avaliar objetivamente a qualidade das ofertas alternativas
de cuidados de saúde. Assim tendem a avaliar estas qualidades através de informação de
contexto, como a sobre a imagem de marca da companhia de seguros ou do hospital que faz
a oferta ou a reputação do país e da região onde se localizam.
A este nível, a oferta algarvia tem muitos problemas. Internacionalmente as suas empresas
de saúde não são conhecidas, a região não é um pólo de prestação de cuidados de saúde
reconhecido e o sistema judicial nacional é muito pouco considerado. Só investimentos
maciços em comunicação e publicidade e parcerias internacionais poderão resolver estes
problemas.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e dos medicamentos e o crescimento mais acelerado
dos equipamentos, designadamente dos com mais incorporação de tecnologia e mais
inovadores. Os custos de produção poderão continuar a aumentar.
Em resumo, espera-se um aumento da procura e dos custos do setor. A procura
internacional pode aumentar substancialmente se algumas condições exigentes forem
satisfeitas.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor. Todos estes fatores, sejam o aumento do nível de vida e exigência dos
consumidores, o envelhecimento da população ou a alteração da estrutura familiar, têm
conduzido a um aumento da procura e a maior preocupação com a qualidade, o serviço e os
resultados dos cuidados de saúde. A procura de serviços mais diferenciados e
personalizados também tem aumentado.
Mantendo-se a dinâmica destes fatores, deverá continuar aumentar a procura de mais e
melhores serviços. Os clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade
e de resultados. E compensações por erros e deficiências.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
288
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos nem na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta adequada de mão de obra ao nível nacional, com alguns
problemas na sua distribuição pelo país. Este é mais um problema dos prestadores públicos
que dos privados. A tendência parece ser de aceleração da oferta de mão de obra
qualificada.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos produtos de maior
qualidade. E não se esperam problemas de oferta de recursos que não o aumento dos seus
custos.
FATORES TECNOLÓGICOS
A cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias e metodologias cada vez mais
desenvolvidas e eficazes mas muitos prestadores têm dificuldade em utilizá-las
eficientemente devido a problemas organizativos e processuais.
Tanto as tecnologias inbound e outbound como as tecnologias de produção ou prestação de
cuidados de saúde mudaram muito nas últimas décadas e continuam a mudar rapidamente.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro de desenvolvimento do segmento inbound
deverá concentrar-se em novas tecnologias de comunicações e obtenção de informação, de
aquisições e de logística. Poderá haver uma tendência crescente para a realização de muitas
atividades que previamente eram consideradas de produção neste segmento,
designadamente atividades de classificação e seleção de pacientes. O desenvolvimento do
segmento produtivo dependerá da aplicação de investigação científica pura e aplicada a
novos medicamentos e equipamentos e métodos de diagnóstico e tratamento. Espera-se
uma continuação da diminuição do ciclo médio de produção e o alargamento do tipo de
serviços prestados, cobrindo mais situações clínicas com melhores resultados. O
desenvolvimento do segmento de outbound dependerá de novas tecnologias financeiras e
de seguros.
As tecnologias de produções mudaram e estão a mudar todos os níveis: nos métodos
(crescimento do ambulatório); nos medicamentos e equipamentos; e nos modelos
produtivos (com os novos sistemas de triagem e o crescimento da dimensão dos grandes
hospitais e o nascimento de unidades de atendimento imediato de maior dimensão e mais
diversificadas).
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
289
Estes desenvolvimentos continuarão mas dependerão de três tipos de condicionantes. O do
inbound fundamentalmente do desenvolvimento dos setores relevantes. O da produção da
aplicação da ciência pura e aplicada e da dinâmica competitiva do setor. E o do outbound da
evolução competitiva das empresas financeiras e seguradoras.
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição do ciclo
produtivo; a um aumento da importância da incorporação científica e tecnológica; e um
aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a importância das economias
de escala e consequentemente provocar um aumento da dimensão média das empresas. Os
custos de produção poderão diminuir para alguns tipos de cuidados e atividades mas os
custos globais deverão continuar a aumentar.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Novos sensores biométricos e médicos para utilização corrente – permitem medir
sem custos significativos muitas variáveis médicas como o sono, a temperatura, o
ritmo cardíaco, a tensão arterial, o nível de açúcar e outros compostos no sangue;
2. Soluções de comunicação e interação entre médicos e pacientes – sistemas baseados
em tecnologias de informação e comunicação que permitem e facilitam a
comunicação e interação em tempo real, podendo usar dados de novos sensores e
sistemas de processamento automático da informação obtida pelo médico;
3. Novos equipamentos e metodologias de obtenção de informação de diagnóstico –
tecnologias utilizando uma grande diversidade de práticas que podem ir desde
técnicas de realização de testes genéticos até a utilização de biossensores e
endoscopias fluorescentes;
4. Novos equipamentos e metodologias de diagnóstico – utilizando novas técnicas
como a realidade aumentada e a inteligência artificial;
5. Novos medicamentos – incluindo medicamentos impressos em 3D, medicamentos
personalizados e hormonas sintéticas, entre outros;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
290
6. Novos equipamentos e terapias – incluindo manipulação genética, cirurgia robótica,
novos materiais e a bioeletrónica;
7. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos – utilizando
novas TICs como a internet of things for healthcare;
8. Novos sistemas de financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS
e sistemas FinTech e InsurTech;
9. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas
informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise macro vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do subsetor público do setor da saúde é bastante simples. Todas as
atividades são controladas pelas unidades produtoras. Há uma hierarquização de
prestadores, tendo algumas unidades menores a função de gatekeepers das maiores
unidades.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas
grandes unidades hospitalares, sendo as outras atividades menos importantes. As
possibilidades de integração vertical neste subsetor já foram totalmente exploradas.
A cadeia de valor do subsetor privado é mais desenvolvida, havendo uma distinção clara
entre prestadores de cuidados de saúde e empresas seguradoras. Continua a haver uma
hierarquização de prestadores mas os mais pequenos estão a consolidar-se em unidades
maiores e mais integradas.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas
grandes clínicas e unidades hospitalares, mas as atividades de suporte, outbound e
marketing têm também uma importância significativa. O setor segurador tem uma
rentabilidade padrão enquanto o de prestação de cuidados de saúde tem uma rentabilidade
mais elevada.
Algumas das possibilidades de integração vertical neste subsetor já foram exploradas mas
esta integração pode ainda vir a ser aprofundada.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
291
O setor algarvio da saúde divide-se num subsetor público, com uma rentabilidade negativa
devido a questões de eficiência e de pricing, e num subsetor privado, com diversos
segmentos e tipos de empresas com rentabilidades variadas.
A estrutura do subsetor privado caracteriza-se pela existência de algumas barreiras à
entrada (conhecimento e licenciamento) e economias de escala (organização, distribuição e
marketing) que crescem com a complexidade dos cuidados, isto é, são maiores para os
hospitais que para os consultórios.
Daqui resulta que a estrutura do subsetor é tanto mais concentrada quanto mais complexas
e integradas são as atividades que realiza. E a intensidade competitiva diminui com a
concentração. A associação deste facto com a elevada elasticidade preço do setor cria uma
lucratividade crescente com a complexidade dos cuidados, e gera rentabilidades elevadas
para os hospitais.
Esta situação apenas é atenuada por algum poder de mercado das companhias seguradoras
que funcionam como um estabilizador dos preços do setor e sustentam muitas pequenas
unidades produtivas devido às suas economias de rede, recursos financeiros e capacidade
de marketing e compras.
O esforço de integração em curso visa anular este problema para a rentabilidade das
empresas do setor. Mas não existem casos históricos internacionais de sucesso neste
esforço de integração porque o mercado de seguros é mais contestável que o de prestação
de cuidados de saúde. Assim é de esperar que esta situação se mantenha.
As empresas individuais do setor dividem-se em pequenas e grandes empresas. As
pequenas têm estruturas de gestão básicas e poucos recursos humanos, tecnológicos e de
capital. A sua competitividade depende do conhecimento e reputação dos seus
profissionais, da sua localização e dos seus custos de produção, designadamente de rendas
e salários.
As grandes empresas têm estruturas mais desenvolvidas, mais recursos e estão mais
integradas. Têm uma vantagem de escala nas operações mais complexas, no marketing e
nas vendas via seguradoras.
Globalmente a atividade destas empresas tem um risco de negócio e financeiro reduzido.
Mas a lucratividade do setor varia com os ciclos económicos e financeiros e com eventuais
dependências de serviços prestados ao setor público.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
292
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é
significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a gestão do seu
esforço de marketing, vendas e de produção. Estas decisões estão a melhorar sustentada
mas lentamente.
No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade da estrutura produtiva das
empresas, designadamente de serviços menos complexos, se vá desenvolvendo em
resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos e da
consolidação. Os custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento dos
preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento
sustentado da lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais
rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas
aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para
gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico, de captação de
novos mercados, de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de
maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria de saúde algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza
dos produtos e a localização geográfica. O quadro seguinte analisa a relevância dos
principais mercados.
Algarve Turistas Estrangeiros
Cuidados de saúde Mercado primário Mercado secundário Mercado secundário
Seguros Mercado primário Mercado secundário Mercado marginal
Os mercados nacionais e algarvios de prestação de cuidados privados de saúde são
mercados concorrenciais onde existe uma oferta diversificada e completa. O crescimento
destes mercados está a desacelerar e os seus custos a aumentar, o que tem pressionando as
margens do subsetor. Mesmo assim continua a ser um mercado interessante e rentável.
Como o mercado de seguros é um mercado aberto, onde podem entrar constantemente
novos competidores e onde alguns fornecedores fundamentais têm um poder significativo,
as pressões sobre o preço deste mercado comprador têm gerado alguma concorrência-
preço e afetado a margem das empresas do mercado.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
293
Os mercados de prestação de cuidados de saúde a turistas são mercados de necessidade e
muito sazonais. As opções destes consumidores são limitadas e são cobrados preços de
mercado pelos serviços prestados. É um mercado interessante e lucrativo quer para o
subsetor público quer para o privado.
Em contrapartida o mercado de seguros é, presentemente muito pequeno. Os turistas vêm
cobertos com seguros públicos e privados adquiridos nos mercados emissores e dificilmente
sentem a necessidade ou adquirem seguros localmente. Existem no entanto algumas
inovações ao nível de InsurTech que podem desenvolver este mercado.
Caso estas inovações se materializem, a competitividade custo da região face aos mercados
emissores criará uma oportunidade de mercado interessante e lucrativa.
Os mercados internacionais de cuidados de saúde são mercados grandes, com uma procura
elevada e diversificada, podendo as empresas do Algarve ter vantagens competitivas
nalgumas atividades e segmentos. É pois um mercado interessante.
No entanto, a abordagem a este mercado, por razões de confiança já referidas, terá de ser
feita através de parcerias, tornando o mercado de seguros pouco viável e interessante.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
ALGARVE
O mercado algarvio é o maior mercado do setor da saúde e é, devido a razões de
proximidade e processuais, o mercado natural do setor.
É um mercado com uma procura grande e diversificada de cuidados de saúde e uma procura
mais reduzida de seguros de saúde. Uma parte do mercado de cuidados de saúde está
reservada por questões de preço para serviços prestados pelo setor público mas existe uma
parte significativa servida pelo setor privado.
Esta prestação privada de cuidados de saúde pode ser coberta por seguros públicos de
saúde e copagamentos do serviço nacional de saúde ou por seguros privados. Os sistemas
públicos de seguros e os copagamentos são principalmente significativos nos meios
auxiliares de diagnóstico, no diagnóstico e tratamento de algumas doenças crónicas e
nalguns tratamentos ambulatórios ou domiciliários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
294
Os seguros privados são importantes em todas as atividades, sendo a diferença entre as
partes do mercado cobertas ou não por seguros privados mais relacionada com a situação
socioeconómica dos consumidores que com os serviços prestados.
A existência de uma procura não satisfeita pelo setor público, seja subsidiada ou não, torna
o mercado muito interessante para os prestadores de saúde.
Tanto o mercado de prestação de cuidados de saúde como o mercado de seguros de saúde
são mercados maduros, em que existe uma procura sustentada e em que os investimentos
de reposição se começam a sobrepor aos iniciais.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se fundamentalmente na produção, i.e. na
prestação de cuidados de saúde, mas o marketing e os seguros ainda têm algum peso. Os
custos concentram-se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros
extraordinários no setor.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
variáveis sociodemográficas e psicográficas e não parece que existam novas estratégias
viáveis de segmentação de mercados.
Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração dos seguros com a prestação
de cuidados de saúde mas existem dúvidas sobre as suas vantagens económicas públicas e
privadas.
MERCADO TURÍSTICO
Os mercados de prestação de cuidados de saúde a turistas são mercados pequenos e muito
especializados em situações de emergência. Nestes mercados existe alguma concorrência
entre o setor público e o privado uma vez que os serviços prestados aos turistas são
valorizados a preços de mercado mas estão quase universalmente cobertos por seguros
públicos (resultantes de acordos internacionais de reciprocidade na prestação de cuidados
de saúde públicos) ou privados (resultantes de seguros de viagem ou outros).
Nestas circunstâncias o mercado de turistas acaba por ser um mercado que valoriza mais a
qualidade e a segurança que o preço o que o torna interessante tanto para o setor público
como para o setor privado.
Dada a pouca informação que os turistas têm sobre os prestadores locais de saúde a sua
escolha é muito condicionada pelos seguros de que dispõe, tornando os acordos de rede
das unidades prestadoras de cuidados de saúde com as seguradoras um elemento
fundamental de concorrência.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
295
O mercado de seguros, pelo contrário, é pequeno e pouco interessante. Como referido os
turistas vêm cobertos com seguros públicos e privados adquiridos nos mercados emissores
pelo que raramente adquirem seguros locais. Mas os desenvolvimentos da InsurTech,
designadamente a possibilidade de surgirem seguros mais diversificados, customizados e
accionáveis on demand, podem inverter esta situação e permitir o desenvolvimento deste
mercado.
MERCADOS INTERNACIONAIS
Os mercados internacionais, constituídos por consumidores de todo o mundo que procuram
serviços de saúde fora do seu país de origem, são mercados grandes, diversificados e em
crescimento.
Os consumidores destes mercados procuram serviços que, devido a restrições da oferta,
não conseguem obter nos seus países ou que, devido a diferentes vantagens competitivas,
têm uma melhor relação qualidade/ preço que nos seus países.
Assim estes mercados são potencialmente mais interessantes nos países com serviços
públicos de saúde com mais problemas de sustentabilidade financeira e de oferta ou com
serviços de saúde mais caros. Esta procura potencial pode ser muito interessante para a
indústria algarvia da saúde, designadamente a privada que não enfrenta limitações na
aquisição de recursos e tem vantagens custo face a muitos países ocidentais com custos
salariais médios mais elevados.
No entanto este potencial é mediado pela aversão ao risco dos consumidores que faz com
que estes não procurem cuidados de saúde de qualidade desconhecida. E a indústria de
saúde algarvia não é conhecida internacionalmente, fazendo com que a qualidade dos seus
serviços seja desconhecida.
Assim, o aproveitamento destes mercados potenciais exige um investimento significativo no
marketing da indústria que pode ser feito de duas formas: investimentos maciços em
publicidade ou parcerias e acordos com prestadores de serviços de saúde e seguradoras
internacionais.
Tendo em conta a dimensão relativa da indústria algarvia, esta segunda alternativa é mais
eficiente.
No entanto esta última abordagem torna o mercado de seguros pouco viável e interessante.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
296
Em termos de mercados internacionais podem salientar-se o Reino Unido, a França, a Itália,
a Espanha, os EUA, os países do Norte de África e os PALOP. São países com mercados
grandes ou problemas de restrições, de qualidade ou de custos e preços.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais. Nesta caracterização
importa diferenciar consumidores finais de consumidores intermédios ou seguradores.
PERFIS DOS CONSUMIDORES FINAIS
Os consumidores finais podem agrupar-se de acordo com as variáveis económicas,
demográficas, psicográficas e comportamentais anteriormente referidas. No entanto, o mais
importante neste setor são as necessidades que os diferentes segmentos de mercado
procuram satisfazer. E a divisão de acordo com estas necessidades permite a criação de
diversos segmentos tipo com comportamentos muito característicos.
Os segmentos mais importantes são:
1. Consumidores de cuidados correntes e custo – é o segmento mais importante do
mercado e composto por consumidores que procuram cuidados correntes ou padrão
(os normalmente disponibilizados pelos sistemas de saúde dos países ocidentais),
com garantias de qualidade e ao melhor preço possível; são os principais clientes dos
sistemas públicos e só adquirem serviços de prestadores privados se
comparticipados por sistemas públicos; compreende a maior parte dos
consumidores regionais e nacionais e uma parte substancial dos turistas;
2. Consumidores de cuidados de qualidade – são um segmento mais pequeno de
consumidores que procuram cuidados de mais qualidade, serviço ou tempestividade,
com garantias de qualidade; são os principais clientes dos sistemas de seguros
privados; compreende uma parte dos consumidores regionais, nacionais, turísticos e
internacionais;
3. Consumidores de cuidados avançados – é um segmento ainda mais pequeno mas
crescente de consumidores que procuram cuidados avançados (não normalmente
disponibilizados pelos sistemas de saúde dos países ocidentais) ou mais tempestivos,
com garantias de qualidade e ao melhor preço possível; são os principais clientes de
seguros privados catastróficos podendo pontualmente adquirir diretamente
cuidados de saúde a prestadores privados; compreende uma parte dos
consumidores regionais, nacionais e internacionais;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
297
4. Consumidores de inovação – o segmento mais pequeno, de consumidores que
procuram uma última oportunidade, qualquer que seja a sua eficácia ou preço;
compreende parte dos consumidores regionais, nacionais e internacionais.
PERFIS DOS CONSUMIDORES INTERMÉDIOS
Os consumidores intermédios, que geralmente são empresas de seguros mas também
podem ser entidades seguradoras públicas, são muito importantes neste setor. O único
critério relevante de segmentação destes intermediários é entre os que buscam serviços de
caráter abrangente e os que procuram serviços especializados.
Os primeiros desenvolver uma oferta alargada regional formada por redes de prestadores
ou hospitais enquanto os segundos procuram complementar a sua oferta nacional ou
internacional com serviços de maior qualidade ou menor custo.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado
Consumidores Consumidores finais Consumidores intermédios
Algarve Alta Média
Portugal Alta Média
Turistas Baixa Alta
Internacionais Baixa Alta
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia da saúde enfrenta fundamentalmente a competição de prestadores de
saúde europeus, designadamente espanhóis, ingleses e suíços. Devido a razões de custos a
concorrência é particularmente significativa no segmento dos cuidados avançados e de
inovação.
Estas empresas concorrentes têm normalmente uma estrutura mais intensiva em capital,
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via especialização ou
marketing.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
298
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças ao setor provêm do aumento dos custos de produção, das crescentes
exigências de capital e das pressões dos clientes sobre a qualidade de serviços e a eficácia
dos tratamentos.
Os custos do setor estão a aumentar tanto por causa do aumento dos fatores produtivos
como por causa da necessidade de prestar cada vez mais cuidados e serviços acessórios e
complementares.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:
1. Crescente procura de nacionais, turistas e consumidores internacionais com
necessidades não satisfeitas a custos aceitáveis pelos sistemas de saúde dos
respetivos países;
2. Possibilidade de explorar novos mercados internacionais e novos segmentos de
mercado com ofertas mais especializadas que aproveitem vantagens comparadas de
custos;
3. Contratos com seguradoras internacionais para a prestação de serviços
especializados avançados mas não experimentais;
4. Novos modelos empresariais, com o reforço da subcontratação e a criação de
parcerias complementares internacionais;
5. Crescimento da dimensão média das empresas prestadoras de cuidados de saúde;
6. Novas tecnologias e equipamentos de informação, comunicação, interação e
diagnóstico;
7. Novos medicamentos, equipamentos e terapias;
8. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos;
9. Novos sistemas de financiamento e seguros;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
299
10. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O principal fator crítico de sucesso num setor com grandes exigências de gestão e elevado
risco financeiro e de negócio é a dimensão das empresas. Isto é reforçado pelas exigências
financeiras e o risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas
exige.
As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter
financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
300
ATIVIDADES DE DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO
ESTRUTURA
O setor algarvio das atividades de desporto de alto rendimento é constituído por um
conjunto alargado de entidades, maioritariamente empresas, que disponibilizam
infraestruturas e serviços a agentes desportivos.
Estas entidades e agentes são de diferentes tipos e dimensões, procurando um conjunto
alargado de infraestruturas e serviços que vão desde campos de futebol até testes clínicos.
As condições climatéricas do Algarve são as ideais para muitos desportos em muitas alturas
do ano e a oferta algarvia de infraestruturas e serviços é bastante alargada.
O principal mercado do setor é constituído por clientes nacionais, europeus e
internacionais.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à
oferta e ao ambiente dos mercados atrás referidos no que diz respeito à procura e
determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
O setor das atividades de desporto de alto rendimento está sujeito a regulamentações
gerais de licenciamento e processos que não são particularmente restritivas.
Em contrapartida o setor tem muitas vezes de utilizar instalações públicas e o domínio
público, pelo que a sua disponibilidade é importante para o setor. E a este nível pode
enfrentar muitas dificuldades burocráticas de acesso e de utilização.
O setor é livre, com liberdade de entrada e comercial. Mas as atividades do setor têm um
cariz ou origem desportiva, pelo que as normas da sua prática foram desenvolvidas por
entidades desportivas, muitas vezes de caráter associativo, quase sempre estrangeiras. Aqui
existe pois uma dependência de terceiros.
Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto ou médio
prazo de alteração deste enquadramento. Não se prevê em particular uma melhor oferta de
bens públicos relevantes.
FATORES ECONÓMICOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
301
O setor das atividades de desporto de alto rendimento nasceu como um setor económico e
comercial autónomo há pouco tempo mas tem-se desenvolvido rápida e substancialmente.
Têm sido autonomizados e transacionados cada vez mais processos e metodologias e o
setor está cada vez mais especializado e baseado no mercado via contratação e
subcontratação de serviços. E o setor está agora unificado internacionalmente.
A procura destas atividades depende fundamentalmente da expansão da atividade
desportiva de alta competição, seja em que área for. E estas atividades desportivas estão a
crescer pelo que a procura destas atividades de suporte também está a crescer.
Mas, estando muitos mercados a atingir um estádio de maturidade, a oferta deve começar a
diferenciar-se mais e a procura deve aumentar de uma forma diferenciada por tipo de
atividade e cliente. Espera-se assim, um maior aumento no segmento das atividades
orientadas para desportos com menos peso económico e para entidades desportivas de
menor dimensão.
Perspetiva-se ainda um crescimento sustentado nos mercados relevantes. Como não se
perspetiva, a curto prazo, qualquer perturbação da conjuntura económica internacional, a
dinâmica da procura conjuntural será igual à de longo prazo.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho e das infraestruturas e a manutenção dos custos de
equipamentos. Sem a existência de alterações tecnológicas (analisadas à frente), os custos
de produção poderão aumentar lentamente.
Convém referir que o subsetor das infraestruturas está muito dependente do custo de
capital, das taxas de juro. A curto prazo prevê-se um aumento cíclico das taxas de juro,
havendo o risco de as taxas de juro nacionais subirem substancialmente mais que as
internacionais.
Em resumo, no longo prazo espera-se um aumento da procura e dos custos do setor.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor. Em primeiro lugar, o aumento do nível de intensidade competitiva e do
estatuto dos desportistas têm conduzido a uma maior preocupação com a qualidade, o
conforto e a segurança destas atividades. Em segundo lugar as preocupações ambientais
têm conduzido a uma maior preocupação com os processos produtivos, os materiais
utilizados e os consumos destas atividades.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
302
As entidades clientes do setor deverão querer cada vez mais garantias da qualidade. A
importância da reputação e dos sinais visíveis de qualidade das empresas prestadoras de
serviços deverá aumentar. O valor dos equipamentos necessário também, criando uma
maior necessidade de capital circulante e um aumento do risco financeiro do negócio e uma
tendência para o aumento da dimensão média das empresas.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos nem na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta ainda elevada de mão de obra com qualificações escolares
baixas e formação tradicional e uma oferta reduzida de técnicos com qualificações elevadas
e experiência efetiva. A tendência parece ser de redução da oferta de mão de obra não
qualificada e de aumento da mão de obra qualificada mas sem experiência. O equilíbrio
entre oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se mas com uma diferente
composição.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura, maior nos serviços novos e de
qualidade. E espera-se uma alteração da composição da oferta de mão de obra.
FATORES TECNOLÓGICOS
Toda a cadeia de valor do setor das pescas utiliza tecnologias padrão. As tecnologias
inbound e outbound são relativamente tradicionais. As tecnologias de produção mudaram
muito rapidamente nas últimas décadas e ainda estão a mudar rapidamente.
A análise detalhada das dinâmicas dos três segmentos indicia perspetivas de
desenvolvimento diferentes. O potencial futuro desenvolvimento dos segmentos inbound e
outbound deverá concentrar-se em novas tecnologias de financiamento, logística, de
seguros e transportes. O do segmento produtivo da aplicação de investigação científica pura
e aplicada ao setor.
As tecnologias destas atividades mudaram a todos os níveis, tanto nos processos (cada vez
mais estruturados e quantificados) como nos equipamentos (com o desenvolvimento e
utilização maciça de equipamentos especializados e mesmo individualizados).
A continuação destes desenvolvimentos dependerá de três tipos de condicionantes e
atores. O do inbound do desenvolvimento dos setores relevantes. O da produção da
aplicação da ciência pura e aplicada e das tecnologias dos equipamentos. E o do outbound
da evolução competitiva das empresas financeiras, seguradoras e transportadoras.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
303
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a um aumento da qualidade
e eficácia das atividades; a um aumento da importância da incorporação científica e
tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor. Pode aumentar a
importância das economias de escala e consequentemente provocar um aumento da
dimensão média das empresas do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência em todos os aspetos da sua cadeia de valor e da estrutura produtiva e de
custos das suas empresas.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Novos sensores, equipamentos e metodologias de obtenção de informação –
permitem medir sem custos significativos muitas variáveis biométricas e físicas;
2. Novos equipamentos e metodologias de modelização e avaliação de performances –
utilizando novas técnicas como a inteligência artificial e a realidade virtual e
aumentada;
3. Novos sistemas de gestão de unidades produtivas e de equipamentos – utilizando
novas TICs como a internet of things for healthcare;
4. Novos sistemas de financiamento e seguros – sensores e sistemas peer to peer e GPS
e sistemas FinTech e InsurTech;
5. Sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização – big data e sistemas
informáticos integrados de marketing, FinTech, sharing e use on demand.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente vai-se analisar o micro ambiente, o ambiente da
indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor das atividades de desporto de alto rendimento é simples. As
entidades produtoras controlam todas as atividades da cadeia de valor mas focam a
atividade de gestão nas atividades de inbound e outbound e na realização de atividades
produtivas parcelares. A gestão do composto de atividades de uma entidade desportiva é
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
304
gerida por ela, recorrendo a um conjunto mais ou menos alargado de prestadores de
serviços para realizarem atividades parcelares. Ou seja, a prestação de serviços está
fragmentada entre múltiplas empresas com pouco poder sobre os clientes. Assim o poder
dos clientes é grande e o valor gerado pelo setor baixo.
O grosso do valor setorial é gerado nas atividades de produção, designadamente nas
atividades técnicas muito especializadas e nas grandes instalações desportivas, sendo as
outras atividades menos importantes.
As possibilidades de integração vertical no setor são pequenas mas existem grandes
possibilidades de integração horizontal que estão pouco exploradas.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio das atividades de desporto de alto rendimento está dividido em dois
subsetores: o das infraestruturas e o dos serviços. O subsetor das infraestruturas é
composto por um conjunto limitado de entidades, algumas das quais de elevada dimensão
mormente a nível de capital, especializadas na gestão de instalações desportivas. O subsetor
dos serviços é composto por um conjunto mais alargado e diversificado de pequenas e
médias empresas.
A estrutura do subsetor das infraestruturas caracteriza-se pela existência de algumas
barreiras à entrada (capital e licenciamento) e economias de escala (produção) que crescem
com a dimensão das infraestruturas. Daqui resulta que a estrutura do subsetor deveria ser
tanto mais concentrada quanto maiores as infraestruturas que utiliza.
Infelizmente existem algumas entidades, desportivas e outras, que disponibilizam
infraestruturas para estas atividades como forma de as rentabilizar, criando uma
concorrência adicional. Por esta razão a lucratividade média deste subsetor não é muito
elevada embora com uma grande variância.
De facto, uma gestão eficiente das melhores infraestruturas permite-lhes dirigirem uma
oferta de valor elevado para os melhores clientes, possibilitando uma boa rentabilidade. E
uma gestão pouco agressiva pode conduzir a taxas de ocupação reduzidas e gerar uma má
rentabilidade.
O subsetor dos serviços é um subsetor mais aberto, com menos barreiras à entrada e à
saída e sem poder significativo de compradores ou fornecedores. Consequentemente é um
subsetor concorrencial, com grande rivalidade e intensidade competitiva e uma
rentabilidade padrão.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
305
As empresas do setor dividem-se em pequenas e grandes empresas. As pequenas têm
estruturas de gestão básicas e poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital. A sua
competitividade depende do conhecimento e reputação dos seus profissionais, da sua
localização e dos seus custos de produção, designadamente de rendas e salários.
As grandes empresas têm estruturas mais desenvolvidas, mais recursos e estão mais
integradas. Têm uma vantagem de escala nas operações mais complexas, no marketing e
nas vendas via seguradoras.
Globalmente a atividade destas empresas tem riscos de negócio e financeiros elevados,
variando a lucratividade do subsetor com os ciclos económicos e financeiros.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é
significativa e dependente de decisões que as empresas tomam sobre a sua dimensão e a
gestão do seu esforço de marketing, vendas e produção. Estas decisões estão a melhorar
sustentada mas lentamente.
No longo prazo é desejável que a dimensão e a complexidade da estrutura produtiva das
empresas, designadamente de serviços mais complexos e integrados, se vá desenvolvendo
em resultado do investimento continuado em novos equipamentos e recursos e da
consolidação. Os custos podem-se ir reduzindo o que associado a um eventual aumento dos
preços de venda dos produtos (referido na secção anterior) pode levar a um aumento
sustentado da lucratividade do setor.
No longo prazo espera-se que o efeito de alterações na procura e da incorporação mais
rápida de novas tecnologias gerem mais economias de escala, podendo as empresas
aproveitar os recursos libertados pelo previsível aumento da lucratividade do setor para
gerar um movimento de melhoria do esforço de marketing estratégico, de captação de
novos mercados, de aumento da dimensão média das empresas, de consolidação e de
maior aumento da lucratividade do setor.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Os mercados da indústria algarvia podem dividir-se de acordo com a natureza dos produtos
e a localização geográfica.
O quadro seguinte analisa a relevância dos principais mercados.
Algarve Portugal Internacional
Infraestruturas Mercado secundário Mercado primário Mercado primário
Serviços Mercado primário Mercado secundário Mercado secundário
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
306
O mercado algarvio é um mercado de proximidade mas onde a procura é pequena, pouco
sofisticada e muito sensível ao preço. Como o crescimento deste mercado é reduzido e o
mercado é aberto, onde podem entrar constantemente novos competidores e onde alguns
fornecedores fundamentais têm um poder significativo, as pressões sobre o preço deste
mercado comprador têm gerado alguma concorrência preço e afetado a margem das
empresas do mercado.
Além disso o desenvolvimento de ofertas diferenciadas e integradas para este mercado é
difícil. Mesmo assim continua a ser um mercado rentável, principalmente no subsetor dos
serviços.
O mercado nacional tem muitas semelhanças com o algarvio mas é um mercado maior e em
maior crescimento e onde, devido a razões climatéricas, é mais fácil o desenvolvimento de
ofertas diferenciadas. Assim é um mercado rentável e interessante, principalmente no
subsetor das infraestruturas.
Os mercados internacionais são mercados grandes, com uma procura grande e diversificada,
podendo as empresas do Algarve ter vantagens competitivas nalgumas atividades e
segmentos dos dois subsetores. É pois um mercado interessante.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Feita a análise da indústria, apresenta-se a seguir uma análise estrutural por país dos
principais mercados efetivos ou potenciais do setor.
ALGARVE
O mercado algarvio é um mercado com uma procura reduzida de infraestruturas e uma
procura maior e mais diversificada de serviços. Os consumidores deste mercado são
entidades desportivas de dimensão média ou reduzida, com as suas próprias instalações,
que recorrem intensivamente ao mercado para obter muitos serviços mas que ainda não
procuram muitos serviços mais sofisticados ou integrados.
Tanto o mercado de infraestruturas como o de serviços são mercados de transição entre a
fase de crescimento e a fase de maturidade, em que existe uma procura sustentada que se
pode começar a sofisticar e diferenciar.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na produção, i.e. na
prestação de serviços, sendo o peso das outras atividades pequeno. Os custos concentram-
se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros extraordinários no setor.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
307
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
variáveis económicas, como dimensão, e não parece que existam novas estratégias viáveis
de segmentação de mercados.
Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração horizontal mas existem dúvidas
sobre as suas vantagens económicas públicas e privadas.
MERCADO NACIONAL
O mercado nacional é um mercado de maior dimensão e com uma procura mais sofisticada
e diversificada. Os consumidores deste mercado são entidades desportivas de dimensão
média ou grande, com as suas próprias instalações mas que recorrem ao mercado para
obter instalações em determinadas alturas e para obter muitos serviços, alguns dos quais
mais sofisticados e integrados.
Tanto o mercado de infraestruturas como o de serviços já estão na fase de maturidade, em
que existe uma procura sustentada que já se sofisticou e diversificou.
Os proveitos da cadeia de valor concentram-se na fundamentalmente na produção, i.e. na
cedência de instalações e na prestação de serviços, sendo o peso das outras atividades mais
reduzido. Os serviços complementares e acessórios têm um peso importante. Os custos
concentram-se igualmente na produção. Não se encontra evidência de lucros
extraordinários no setor.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados relacionam-se fundamentalmente com
variáveis económicas, como dimensão, e não parece que existam novas estratégias viáveis
de segmentação de mercados.
Existem ainda algumas, poucas, possibilidades de integração horizontal mas existem dúvidas
sobre as suas vantagens económicas públicas e privadas.
MERCADOS INTERNACIONAIS
Os mercados internacionais, constituídos por entidades de todo o mundo que procuram
atividades de desporto de alto rendimento fora do seu país de origem, são mercados
grandes, diversificados e em crescimento.
Os consumidores destes mercados procuram instalações e serviços que, devido a restrições
climatéricas ou da oferta, não conseguem obter nos seus países ou que, devido a diferentes
vantagens competitivas, têm uma melhor relação qualidade/preço que nos seus países.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
308
Assim estes mercados são mais interessantes nos países com custos de trabalho e de capital
elevados e com climas diferentes dos do Algarve. Todavia o aproveitamento destes
mercados potenciais exige um investimento significativo no marketing e vendas da
indústria.
Em termos de mercados internacionais podem salientar-se o Reino Unido, os Países
Escandinavos, a Holanda, a Alemanha, os países do Norte de África e os PALOP. São países
com mercados grandes ou problemas de restrições, de qualidade ou de custos e preços.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores efetivos ou potenciais.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores podem agrupar-se fundamentalmente de acordo com variáveis
económicas.
Os segmentos mais importantes são:
1. Praticantes individuais – é um segmento importante do mercado de muitas
infraestruturas menos padrão e muito importante no mercado de muitos serviços;
compõe-no desportistas que procuram atividades com garantias de qualidade e ao
melhor preço possível;
2. Entidades pequenas – são um segmento importante do mercado de serviços,
procurando atividades de menor sofisticação e qualidade, mas pouco importante no
das instalações; preocupam-se mais com o custo global que com os serviços
complementares ou acessórios;
3. Entidades médias – são um dos segmentos mais importantes tanto no mercado de
infraestruturas como no de serviços; procuram atividades mais sofisticadas,
integradas e de qualidade e também se preocupam com o custo global e relativo;
4. Entidades grandes – são também um dos segmentos mais importantes tanto no
mercado de infraestruturas como no de serviços; procuram atividades mais
sofisticadas mas pouco integradas com serviços, preocupando-se muito com a sua
qualidade e com os serviços acessórios e complementares e pouco com o preço
relativo.
CONSUMIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
309
Estrutura dos consumidores / preponderância relativa por mercado
Individuais Pequenas Médias Grandes
Algarve Baixa Alta Média Baixa
Portugal Média Média Alta Média
Internacionais Alta Baixa Média Alta
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia da saúde enfrenta fundamentalmente a competição europeia,
designadamente de espanhóis, franceses e países do Norte da Europa. Devido a razões de
custos médios a concorrência é particularmente significativa no segmento das instalações.
Estas empresas concorrentes têm normalmente uma estrutura mais intensiva em capital,
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via especialização ou
marketing.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças ao setor provêm do aumento dos custos de produção, das crescentes
exigências de capital e economias de escala e do poder dos clientes e da intensidade
competitiva num mercado potencialmente saturado.
Os custos do setor estão a aumentar tanto por causa do aumento dos fatores produtivos
como por causa da necessidade de prestar cada vez mais serviços acessórios e
complementares.
OPORTUNIDADES
O setor tem muitas oportunidades de que se destacam:
1. Crescente procura de entidades nacionais e internacionais;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
310
2. Possibilidade de explorar novos mercados e segmentos de mercado com ofertas
especializadas que aproveitem vantagens comparadas de custos;
3. Novos sensores, equipamentos e metodologias de obtenção de informação e de
modelização e avaliação de performances;
4. Novos sistemas de gestão de infraestruturas e equipamentos;
5. Novos sistemas de marketing, vendas, propriedade e utilização;
6. Crescimento da dimensão média das empresas do setor.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O principal fator crítico de sucesso num setor com grandes exigências de gestão e elevado
risco financeiro e de negócio é a dimensão das empresas. Isto é reforçado pelas exigências
financeiras e o risco de negócio que o aproveitamento das oportunidades acima listadas
exige.
As empresas têm de ser de dimensão significativa para poder diversificar riscos, obter
financiamentos competitivos e suportar estruturas de gestão e de suporte caras.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
311
ATIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ESTRUTURA
O setor das atividades de investigação e desenvolvimento do cluster das ciências da vida,
saúde e recuperação não é muito diferente do setor da investigação e desenvolvimento de
novos produtos e equipamentos de apoio ao cluster agroalimentar e florestal.
Tal como aquele tem um objeto muito lato, realizado por um conjunto muito diverso de
atividades e é composto por um conjunto igualmente diverso de entidades.
O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, incluindo a logística
de inbound, a logística de outbound e todas as atividades de suporte, mas concentrando-se
na produção.
As atividades que realiza vão desde a investigação pura e aplicada até à oferta de serviços
de inovação, de desenvolvimento de equipamentos e de desenho de infraestruturas. Dada a
natureza do cluster o âmbito destas atividades é bastante alargado, indo desde o
desenvolvimento de novos medicamentos até a sistemas inteligentes de avaliação e
melhoria de performances físicas.
As entidades do setor vão desde departamentos de I&D, produção e marketing de empresas
produtoras a empresas fornecedoras e laboratórios e universidades, abrangendo as
empresas dos setores já tratados na análise deste cluster mas também entidades
comerciais, logísticas, de armazenagem, de investigação e desenvolvimento tecnológico, de
aluguer de máquinas e equipamentos e outras atividades associativas.
Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de
produtos: investigação e desenvolvimento de novos produtos e investigação e
desenvolvimento de novos equipamentos e instalações. Os outputs do primeiro subsetor
são sobretudo serviços enquanto o do segundo são sobretudo vendas de produtos de
natureza tangível. Por uma questão de abrangência e relevância considera-se que a
expressão “novos produtos” inclui também novos processos.
Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve, de Portugal, da Europa
Ocidental e dos EUA. Pontualmente podem haver transações com mercados do resto da
Europa, Africa e a América do Sul.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
312
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio tanto no que diz
respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do
desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.
Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e
dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.
No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem
sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de
investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma
ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.
Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e
das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica
conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,
com o crescimento das vendas ou com os lucros.
Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar
quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras
entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona
eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias
dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.
Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D
independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de
mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos
projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor
esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente
distribuídos entre projetos.
Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos
de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas
entidades e nos projetos com mais valor económico.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
313
Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos
assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma
natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades
direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por
pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.
E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de
serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de
serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à
ótima.
Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o
desenvolvimento do setor da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é claro:
um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos inovação
e menos eficiência.
O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de
serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do
cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.
Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a
necessidades diferentes das empresas.
A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e
estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma média ou
grande empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada
administrativamente. Mas uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos
projetos que muitas vezes podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes
qualificações académicas. E muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade
financeira e de gestão para endogeneizar os resultados de um grande projeto.
Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas
empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações
adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as médias e grandes empresas no futuro. O
desenvolvimento do cluster é impedido.
Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer
perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em
termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado
para um sistema mais racional.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
314
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o
desenvolvimento do setor e do cluster.
FATORES ECONÓMICOS
A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente
em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois
um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:
1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;
2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;
3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para
satisfazer de forma viável essa necessidade;
4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;
5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a
potencial inovação;
6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de
desenvolver a inovação;
7. A adequada organização e gestão do projeto.
Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas
com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.
Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior
número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental
sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários
para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só
empresas com capacidade de gestão e com recursos ou capacidade para os obter,
provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal
permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das
empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior
necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.
As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar
globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade
de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
315
abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do
aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.
Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no
curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise
anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de
I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização
dos preços e da lucratividade no longo prazo.
No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante
considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e
conhecimento e da robotização.
Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala
e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as
plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro
lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a
internacionalização das pequenas e médias empresas.
Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para
grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de
informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de
tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de
sistemas e equipamentos.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do
setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a
ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da
procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em setores mais abertos ao comércio
internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência
produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais
no setor da comercialização e transformação do que no setor produtivo.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura
das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de
processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de
equipamentos devem diminuir.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
316
Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os
projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem
crescer mais.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e
experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas sectoriais com formação científica
e capacidade de desenvolver I&D incremental.
A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão de obra mais qualificada mas
prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência
necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre
oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.
FATORES TECNOLÓGICOS
Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,
metodológico e tecnológico.
Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de
rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a
crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de
investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,
orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada
vez mais difícil.
No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de
produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa
que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente
acompanhadas e apreendidas pelo setor e que serão listadas na secção seguinte.
O potencial de desenvolvimento do setor de I&D é muito mais significativo e pode
influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a
mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.
Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica
competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades
respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da
qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D. Poderá haver um aumento da
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
317
incorporação científica e tecnológica nos resultados da pesquisa; e um aumento da
complexidade organizativa das entidades do setor.
Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos
do setor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Big Data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e
produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e
qualitativos.
2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços
coletivos;
3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar
soluções interativas para problemas complexos e jogos;
4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas
repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;
5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de
camadas de matéria-prima, importante na produção de protótipos;
6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos
informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;
7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização
e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica
ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou
propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos
grandes gigantes tecnológicos;
8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às
necessidades de utilização, já em fase de crescimento;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
318
9. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de
suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.
As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades
ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No
caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos
compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades
de produção.
Neste setor em concreto existem algumas possibilidades de integração vertical entre a
cadeia de valor do setor e cadeias de valor a jusante, designadamente no setor das
atividades de desporto de alto rendimento, bem como a possibilidade de spin offs.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e medias entidades com estruturas de
gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção
determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco
eficientes.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou
negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre mark ups dos sobre os custos dos
projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do
volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo
prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,
organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso
externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável
qualquer movimento de mudança destas entidades.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
319
O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise
da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.
No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e
internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos
sobre alguns desportos de alto rendimento que mais procuram o Algarve podem gerar
lucros significativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a
possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.
Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos
países com economias semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e
de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de
inovações e tecnologias de saúde e desporto, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.
Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma
de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes
mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito
elevada.
Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados
efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor
de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado
pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se
fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que
existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes
segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.
Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de
produto.
EUROPA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
320
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.
Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D
de qualidade, mas a oferta de I&D é pouco competitiva, muito influenciada por entidades
públicas. Existe a possibilidade de obter boas margens.
Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,
já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos
bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades
de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por
projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,
principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.
EUA
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais
desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano
da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.
A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos
acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.
As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.
OUTROS MERCADOS
Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades
pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, de outros países da América do Sul
e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países lusófonos; dos países do Norte de
África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia do Sul, de outros países do
Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem oportunidades de nicho para
produtos específicos.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.
Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar
consumidores finais de consumidores intermédios.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
321
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem
agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é
fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Pequenas empresas de serviços – estão interessados em I&D imbuída em produtos e
serviços; e têm grande preocupação com o preço e os resultados imediatos da sua
aplicação;
2. Médias e grandes empresas de serviços – normalmente interessados em pequenos
projetos de I&D incremental e em I&D imbuída, estão interessados em preço,
resultados rápidos e I&D relativa a produtos de elevada procura e valor;
3. Médias e grandes empresas de infraestruturas – interessados em todos os tipos de
I&D; preocupam-se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr
riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;
4. Grande comércio grossista e retalhista – igualmente interessados em todos os tipos
de I&D, mas principalmente a respeitante a produtos de grande procura;
preocupam-se com o preço e com os resultados; estando mais dispostos a correr
riscos de I&D e de negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;
5. Pequeno e médio comércio generalista – apenas estão interessados em I&D imbuída
em produtos e serviços; e têm grande preocupação com o preço e com os resultados
imediatos da sua aplicação;
6. Pequeno e médio comércio especializado – interessados em todos os tipos de I&D,
mas principalmente em pequenos projetos incrementais; preocupam-se com o
preço, com os resultados e a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de
I&D e menos dispostos a correr riscos de negócio e em adiar a rentabilidade;
7. Indústria – igualmente interessados em todos os tipos de I&D, tanto em projetos
incrementais como disruptivos de qualquer dimensão; preocupam-se com o preço,
com os resultados e com a diversidade; estando mais dispostos a correr riscos de
I&D e de negócio e em adiar a rentabilidade;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
322
8. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –
interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja em
produtos ou serviços ou no esforço de marketing; preocupam-se com os resultados
da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e adiar a rentabilidade
9. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de
atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de
negócio e a adiar a rentabilidade;
10. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que
gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e
permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos
de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.
Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o das pequenas e médias
empresas. Os outros segmentos têm pouco peso ou uma procura direcionada para
pequenos projetos.
Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de
avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:
indústria; grande comércio; indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de
serviços; instituições de I&D; grandes empresas de serviços e infraestruturas; empresas de
I&D; médias empresas; e pequeno e médio comércio especializado. Os outros segmentos
têm menos peso.
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de
equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso
das empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a
indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.
PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
323
A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento, de inputs e de
prestação de serviços ao setor.
As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são
fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de
investigação públicos.
Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,
e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e
estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm
normalmente uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do
mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades
na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.
As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente
especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.
Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo
negativa.
As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o
terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,
desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,
como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e
estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em
muitos casos, via especialização em produto.
A investigação e desenvolvimento Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade
estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de
projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande
dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de
negócio.
A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.
A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a
indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
324
eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em
capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
produtiva e de marketing.
Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos
e tecnológicos, e de conhecimentos; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e
grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização
da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na
investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande
segmento do mercado.
A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos
ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a
concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.
Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de
crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas
necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da
adequação da oferta à procura e à concorrência.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades são:
1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as
necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
325
2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,
estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas
e equipamentos;
3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;
4. Especialização e divisão do trabalho
5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e
tratamento de informação e produção de conhecimento;
6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;
7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de
espaços inteligentes e o machine learning;
8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o
desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços
de subcontratação;
9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam
grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas
empresas de I&D;
10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento da
oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente estas oportunidades.
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
326
ENERGIAS RENOVÁVEIS
DELIMITAÇÃO
PERSPETIVA DE CLUSTER
De acordo com o RIS3 - ALGARVE 2014-2020, o cluster das ciências energias renováveis
inclui as seguintes atividades:
Atividades de biomassa
Atividades de energia eólica
Atividades de energia solar
Investigação aplicada e baseada nos recursos locais
Investigação focada e demonstração ao mercado
Atividades Industriais e serviços complementares
PROPOSTA DE INDÚSTRIAS POR CAE
Sendo necessário, para efeitos de recolha de dados estatísticos, definir que CAEs
correspondem a estas atividades, foram considerados na análise dos diferentes sectores do
cluster os seguintes CAEs:
20591 Fabricação de biodiesel
252 Fabricação de reservatórios, recipientes, caldeiras e radiadores metálicos
para aquecimento central
253 Fabricação de geradores de vapor (exceto caldeiras para aquecimento
central)
256 Tratamento e revestimento de metais; atividades de mecânica geral
2711 Fabricação de motores, geradores e transformadores elétricos
2811 Fabricação de motores e turbinas, exceto motores para aeronaves,
automóveis e motociclos
35 Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio
3821 Tratamento e eliminação de resíduos não perigosos
721 Investigação e desenvolvimento das ciências físicas e naturais
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
327
PROPOSTA DE CADEIA DE VALOR
Sendo necessário, para efeitos de análise, definir a dinâmica de cluster e trabalhar um
conjunto limitado de setores consistentes, consideraram-se os seguintes setores como
indutores da dinâmica da cadeia de valor do cluster ou fundamentais para suportar o seu
desenvolvimento e, consequente, de análise obrigatória:
Atividades de produção de energias renováveis
Atividades de investigação e desenvolvimento
Atividades industriais e serviços complementares
Esta agregação resulta tanto da indisponibilidade de dados para autonomizar setores mais
desagregados como do facto de os setores agregados terem uma natureza semelhante à do
setor agregado. A natureza das suas atividades e os recursos que utilizam são basicamente
os mesmos, constituindo de facto setores únicos e integrados.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
328
ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS
ESTRUTURA
O setor algarvio de produção de energias renováveis dedica-se fundamentalmente à
produção de energia elétrica a partir da biomassa, da energia eólica e da energia solar. A
produção de metano é absolutamente marginal e não direcionada para o mercado e a de
biodiesel é inexistente.
Todo o setor da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis tem garantida a
aquisição da sua produção a preços pré-determinados. Consequentemente a análise deste
setor foca-se fundamentalmente nas suas atividades de inbound, produção e suporte.
O único mercado do setor é o mercado elétrico nacional.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se refere, exceto
quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio no que diz respeito à oferta e
determinação de lucratividade e ao ambiente nacional no que diz respeito à procura e
determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
Dada a importância económica fundamental da eletricidade, a existência de grandes efeitos
de rede e economias de escala na sua distribuição e as grandes barreiras à entrada e saída
na indústria de produção de energia elétrica, o setor da produção e distribuição de
eletricidade é fortemente controlado pelos Estados em quase todo o mundo.
Em Portugal aplica-se um enquadramento regulamentar, definido pelas autoridades
europeias e nacionais, cujos principais pilares, que são comuns a outros países, são a
liberalização controlada dos mercados comerciais, a forte limitação do acesso e
regulamentação da distribuição e a concorrência controlada por autorizações e
licenciamentos da produção e por preços de venda determinados politicamente.
A estes pilares acrescenta-se um esquema de tributação dos consumidores de eletricidade
para subsidiação dos produtores de energias renováveis, que beneficiam de um preço de
venda da sua produção muito favorável. E acrescenta-se ainda, a habitual regulamentação
de licenciamentos, processos e mercados.
O funcionamento e os incentivos deste esquema regulatório dependem criticamente de
cinco fatores: da evolução da procura de energia (que será analisada na secção seguinte),
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
329
das autorizações de construção de novas unidades produtoras de energia, da evolução do
preço dos combustíveis fósseis (que será analisada na secção seguinte), do poder político
dos produtores e, principalmente, da relação de poder entre estes e os consumidores de
energia.
As autorizações de construção são influenciadas pela necessidade de satisfazer a procura e
de manter um composto de fontes produtoras diversificado e com um custo aceitável. O
poder dos produtores pode influenciar este composto mas é fundamentalmente utilizado
para manter o mercado protegido e os preços da energia elétrica a um nível que preserve a
lucratividade do setor e dos seus diversos subsetores. Estes fatores parecem estar em
equilíbrio estacionário.
A relação de poder entre produtores e consumidores é o fator chave de determinação dos
preços e, consequentemente, do funcionamento concreto e dos incentivos de todo o
sistema. Os produtores desejam que o preço médio da energia e em especial da energia que
produzem seja a mais elevada possível, o que prejudica os interesses dos consumidores.
Esta tensão é intrínseca ao sistema e, desde há bastante tempo, tem sido arbitrada pelo
Estado de uma forma que beneficia mais os produtores, designadamente os de energias
alternativas, que os consumidores.
Qualquer alteração desta relação de força pode gerar um movimento de redução dos preços
da energia o que criará pressões adicionais para a substituição de energias renováveis (mais
caras) por energias baseadas em combustíveis fósseis (mais baratas).
Uma análise detalhada destes fatores não indicia qualquer perspetiva de curto prazo de
alteração deste enquadramento nem da forma concreta que assume. A situação parece ser
de equilíbrio estacionário, havendo uma aceitação generalizada (ou resignada) do sistema e
dos seus parâmetros.
Existe, no entanto, a médio ou longo prazo, a possibilidade da alteração de um destes
fatores, como uma diminuição da procura ou uma queda adicional dos preços dos
combustíveis fósseis, colocar os preços da energia elétrica sob pressão. E uma diminuição
dos preços do setor colocará em causa o sistema de subsidiação das energias renováveis.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política no curto prazo mas a
médio prazo choques no sistema podem colocar sob pressão os preços pagos aos
produtores de energias renováveis.
FATORES ECONÓMICOS
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
330
Os custos de produção da energia elétrica são determinados pelo seu custo marginal de
longo prazo. Ora a fonte de energia marginal é a produzida a partir dos combustíveis fósseis.
Isto porque as unidades de produção deste tipo de energia têm custos de produção
inferiores aos das outras fontes com capacidade produtiva expansível. E os custos dos
combustíveis fósseis estão num mínimo de longo prazo, em resultado de um crescimento
significativo e sustentável da oferta destes combustíveis (devido principalmente ao
fraturamento hidráulico e à extração de petróleo de xistos betuminosos). Portanto o custo
da energia deve continuar baixo.
A procura de eletricidade tem uma elasticidade rendimento ligeiramente inferior à unidade
e uma elasticidade preço muito reduzida. A procura cresce com o rendimento nacional.
Uma vez que se espera uma continuação do crescimento económico estrutural e a
manutenção dos custos de produção de energia a partir de combustíveis fósseis, é de
esperar que a procura de eletricidade continue a aumentar.
Como não se perspetiva, a curto prazo, qualquer grande perturbação da conjuntura
económica europeia ou nacional, a dinâmica da procura e dos preços conjuntural será igual
à de longo prazo.
No que respeita ao preço dos fatores produtivos, prevê-se a longo prazo uma subida lenta
mas sustentada dos custos do trabalho que, devido à pequena intensidade em trabalho do
setor, será pouco relevante para o custo total de produção de energia. Um eventual e
possível aumento conjuntural dos custos de capital terá maiores efeitos sobre os custos do
setor.
FATORES SOCIAIS
Existem fatores sociais de natureza cultural e demográfica que afetam significativamente a
evolução do setor, designadamente estimulando em geral a sua procura global e a procura
de energias renováveis em particular.
Estes fatores prendem-se fundamentalmente com o aumento das preocupações ambientais
e com a ideia de que os combustíveis baseados no carbono são prejudiciais para o
ambiente. Daqui decorre uma transferência da procura de energia das fontes diretamente
utilizadoras de carbono, como os combustíveis fósseis, para as fontes não diretamente
utilizadoras de carbono, como a eletricidade e principalmente para as fontes que não
utilizam nem indiretamente carbono, como a eletricidade produzida a partir de fontes
renováveis.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
331
Este tipo de fatores tem impacto no valor que muitos grupos de consumidores, e
consequentemente distribuidores e comercializadores de energia, estão dispostos a pagar
por energia elétrica principalmente pela produzida a partir de fontes renováveis.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto no capital. O setor é muito intensivo em capital, existindo
em Portugal um risco elevado de surgirem dificuldades financeiras que possam limitar o
acesso a capital e aumentar o seu custo, com um impacto significativo nos custos do setor.
Não existem problemas com a oferta de mão de obra.
Em resumo, espera-se um aumento adicional da procura de eletricidade, maior na
produzida a partir de fontes renováveis.
FATORES TECNOLÓGICOS
A produtividade do setor está muito dependente de duas questões tecnológica: a primeira é
a taxa de conversão da energia das fontes alternativas em energia elétrica e a segunda é a
armazenagem de energia.
As taxas de conversão de energia são determinadas pelas tecnologias atuais permitindo
hierarquizar a eficiência e o custo das principais fontes alternativas, de acordo com a
seguinte ordem: combustíveis fósseis, energia eólica, energia solar e energia das marés. Esta
ordem é também a ordem da maturidade ou proximidade da máxima eficácia teórica de
cada fonte de energia. Assim a ordenação da produtividade deve manter-se mas os ganhos
na taxa de conversão dos combustíveis fósseis devem ser menores que na energia eólica
que serão menores que na energia solar e assim sucessivamente.
A armazenagem é fundamental para valorizar a energia, permitindo a sua disponibilização
aos distribuidores e consumidores quando há procura. Existe uma investigação enorme nas
tecnologias de armazenagem de energia, tendo-se verificado recentemente a existência de
avanços significativos que devem continuar.
Estes avanços nestas tecnologias podem melhorar bastante a eficiência na produção de
energias alternativas reduzindo o seu custo e aumentando a sua competitividade para níveis
mais aproximados dos das energias fósseis.
A sua concretização depende da continuação da investigação pura e aplicada que
dependerá fundamentalmente das dinâmicas competitivas das empresas do setor e do
financiamento do setor de investigação e desenvolvimento.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
332
O efeito destes desenvolvimentos tecnológicos deverá conduzir a uma diminuição dos
custos de produção e distribuição; a um aumento da importância da incorporação científica
e tecnológica; e um aumento da intensidade capitalística do setor.
Em resumo, esperam-se significativos desenvolvimentos científicos e tecnológicos no setor
com influência na estrutura produtiva e de custos das empresas e na sua competitividade.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Sistemas de recolha de dados e monitorização do funcionamento de equipamentos –
drones e sensores eletrónicos;
2. Novas turbinas e novos tipos de turbinas eólicas mais eficientes – turbinas de vortex,
turbinas flutuantes de alta altitude, turbinas de túnel de vento e elípticas e mini
turbinas, entre muitas outras;
3. Novos painéis solares e tipos de painéis solares – construídos com novos materiais,
mais camadas e, eventualmente utilizando uma tecnologia de feixes de luz;
4. Novas tecnologias de armazenamento de energia – baseadas em baterias ou em
propriedades físicas de formações geológicas específicas.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor das energias alternativas algarvio é bastante simples. Tanto as
atividades primárias como as atividades de suporte são controladas, dentro das restrições
regulamentares existentes, pelas empresas produtoras. A atividade de marketing e vendas é
reduzida e com uma natureza contratual. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades
de investimento, financiamento e produção.
No atual quadro regulamentar não existem possibilidades de integração vertical mas
existem possibilidades de integração horizontal que podem beneficiar as empresas
produtoras, melhorando a oferta e diminuindo riscos de negócio.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
333
O setor algarvio das energias alternativas é atualmente composto por médias unidades
produtoras, propriedade de médias e grandes empresas com estruturas de gestão
desenvolvidas; com recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção máxima
pré-determinada regulamentar e contratualmente e a produção efetiva dependente de
condições climatéricas; e tomadoras de preços.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas do setor depende
exclusivamente de decisões do regulador e da eficiência produtiva das próprias empresas.
É de esperar que a eficiência produtiva das empresas vá aumentando em resultado do
investimento continuado em novos equipamentos e que os seus custos se vão reduzindo, o
que fará com que exista um potencial de melhoria da rentabilidade setorial, dependente da
evolução dos preços de venda.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
O mercado da indústria de energias alternativas algarvia é o nacional, sendo a rentabilidade
dos mercados igual à do setor.
ANÁLISE DOS MERCADOS
O mercado da indústria de energias alternativas algarvia é o nacional, sendo a
caracterização dos mercados igual à do setor.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
O mercado do setor das energias alternativas é um mercado industrial regulado em que o
comprador é uma empresa de distribuição.
Assim os aspetos relevantes a considerar na determinação da oferta dos produtores
algarvios são características económicas e comerciais do produto, de que se destacam:
Altura do dia e do ano em que se dá o fornecimento;
Consistência do fornecimento;
Componente de carbono da produção.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Note-se todavia que todos os produtores têm garantido o escoamento da
sua produção a preços predeterminados pelo que a verdadeira concorrência não se faz via
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
334
preço ou mesmo produto em sentido lato mas via acesso a fontes de energias alternativas,
locais onde é possível instalar parques eólicos ou solares.
PERFIS DOS COMPETIDORES
A indústria algarvia das energias alternativas enfrenta fundamentalmente três tipos de
competidores: grandes empresas produtoras nacionais e internacionais, médias empresas
especializadas e investidores de oportunidade.
As grandes empresas são normalmente empresas com atividade internacional e em
múltiplas áreas da produção de energia. Têm bastantes recursos económicos e financeiros,
humanos e tecnológicos; boas ligações institucionais; conhecimento do mercado e da
indústria; capacidades de financiamento, desenvolvimento e produção; e estratégias de
crescimento, de oferta alargada e de minimização de custos.
Estas empresas continuam a ser muito importantes mas perderam algum peso para os
outros tipos de empresas devido à sua falta de flexibilidade e rapidez. No entanto
continuam a ter grandes vantagens competitivas e uma rentabilidade estrutural elevada.
As médias empresas especializadas começaram a nascer com a explosão das energias
alternativas mas já têm um peso significativo. Têm uma estrutura mais intensiva em
conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na especialização de produto.
Pontualmente têm menos ligações institucionais e acesso a capital que as grandes empresas
mas podem ser mais eficientes e inovadoras nas suas áreas de atuação.
A rentabilidade destas empresas é mais variável e tendencialmente menor que a das
grandes empresas.
Os investidores de oportunidade são um grupo transitório na indústria. São normalmente
grandes investidores, individuais ou empresariais, incluindo entidades financeiras, que
aproveitam uma oportunidade de desenvolvimento para criar uma unidade produtiva para
posterior venda a uma empresa do setor. Podendo ser mais ou menos intensivos em
conhecimento e tecnologia, têm sempre fortes ligações institucionais e acesso a capital. A
rentabilidade destas empresas é normalmente reduzida mas a rentabilidade das operações
financeiras que as geram é elevada.
COMPETIDORES POR MERCADO
Em termos de mercados, os principais competidores dos produtores algarvios são nacionais,
mas alguns países da União Europeia, como a Espanha e o Reino Unido, e do resto do
mundo, como os EUA e a China, podem ter uma atividade importante no sector.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
335
A estrutura da indústria de cada um destes países é variada mas inclui sempre os três tipos
de perfis de competidores referidos acima.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
empresas do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
As principais ameaças para as empresas algarvias do setor parecem ser uma eventual
redução do preço de eletricidade, designadamente da com origem em fontes renováveis e o
aumento do custo de capital em caso de crise financeira.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades para as empresas algarvias do setor parecem ser:
1. Aumento da procura tanto para a eletricidade em geral como para a de fontes
alternativas em particular;
2. Sistemas de recolha de dados e monitorização do funcionamento de equipamentos;
3. Novas tecnologias com melhores taxas de conversão e novas tecnologias de
armazenamento de energia;
4. Sistemas de produção híbridos capazes de garantir uma produção mais estável,
aumentando a produção nos picos de procura;
5. Novas turbinas e novos tipos de turbinas eólicas mais eficientes;
6. Novos painéis solares e tipos de painéis solares;
7. Concentração ou integração e aumento da dimensão média das empresas.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Conhecendo-se as ameaças e oportunidades do setor interessa conhecer as condições que
uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Inclui tanto
elementos relacionados com os potenciais consumidores que têm de ser satisfeitos como
elementos relacionados com a empresa que ela necessita de ter para responder
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
336
eficientemente ao consumidor e explorar com sucesso uma determinada oportunidade de
mercado.
A análise dos elementos anterior mostra que existem dois elementos fundamentais:
dimensão elevada para aproveitar economias de escala e diversificar risco de negócio e
capacidade de obter financiamento para investir em novas operações e equipamentos.
Numa situação ideal a dimensão média das empresas seria superior à atual. Tal permitiria às
empresas aproveitar melhor as oportunidades e minimizar as ameaças.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
337
ATIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ESTRUTURA
O setor das atividades de investigação e desenvolvimento do cluster das energias
alternativas algarvio não é muito diferente dos outros setores de investigação e
desenvolvimento algarvios.
O objeto do setor são todas as atividades da cadeia de valor do cluster, mas concentrando-
se na atividade produtiva. As atividades que realiza vão desde a investigação pura e aplicada
até à oferta de serviços de inovação, de desenvolvimento de equipamentos e de desenho de
infraestruturas. As entidades do setor incluem departamentos de I&D e produção de
empresas produtoras e fornecedoras, laboratórios e universidades.
Por uma razão de compreensibilidade, este setor é dividido em dois subsetores ou tipo de
produtos: investigação e desenvolvimento de novos equipamentos e serviços e investigação
e desenvolvimento de novas unidades. O output do primeiro subsetor são sobretudo
produtos de natureza tangível serviços enquanto o do segundo são sobretudo serviços de
apoio ao investimento.
Os principais mercados deste setor são os mercados do Algarve e de Portugal.
Pontualmente pode haver transações com mercados da Europa Ocidental, dos EUA, do
resto da Europa, de África e da América do Sul.
ANÁLISE DO MACRO AMBIENTE
Entrando a análise externa na análise do macro ambiente convém referir que esta análise se
refere, exceto quando mencionado o contrário, ao ambiente algarvio tanto no que diz
respeito à oferta como no que diz respeito à procura e determinação de preços.
FATORES POLÍTICOS
A atividade de investigação & desenvolvimento é considerada promotora do
desenvolvimento económico e bastante incentivada a nível europeu, nacional e regional.
Estes incentivos assumem a forma de subsídios e deduções fiscais para as empresas e
dotações orçamentais para laboratórios e equivalentes e universidades.
No entanto, na União Europeia e principalmente em Portugal, os incentivos assumem
sempre a forma de uma comparticipação pública total ou parcial nas despesas de
investigação e desenvolvimento. Além disso estes incentivos exigem quase sempre uma
ligação das entidades que desenvolvem as atividades de I&D ao SCTN.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
338
Assim estes incentivos têm como objeto direto financiar as despesas das atividades de I&D e
das entidades do SCTN, não os resultados da atividade de I&D. E existe evidência empírica
conclusiva que internacionalmente a despesa em I&D não está relacionada com a inovação,
com o crescimento das vendas ou com os lucros.
Este enquadramento cria dois tipos de incentivos perversos. Por um lado, ao beneficiar
quase da mesma forma todas as entidades ligadas ao SCTN em detrimento das outras
entidades, independentemente do seu histórico ou potencial de I&D, não seleciona
eficientemente as entidades de I&D mais produtivas e com mais sucesso para destinatárias
dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente distribuídos entre entidades.
Por outro lado, ao tratar quase da mesma forma todos os projetos de I&D
independentemente do seu potencial económico (risco do projeto e valor esperado de
mercado do seu resultado), destrói a relação entre os proveitos e os custos esperados dos
projetos de I&D, não selecionando eficientemente os projetos de I&D com mais valor
esperado como destinatários dos incentivos. Os recursos económicos não são corretamente
distribuídos entre projetos.
Muitos recursos humanos altamente qualificados estão a trabalhar em entidades e projetos
de I&D de segunda classe, não estando disponíveis a preços competitivos para trabalhar nas
entidades e nos projetos com mais valor económico.
Uma consequência de todo este enquadramento, e do elevado peso que os fundos públicos
assumem no financiamento das atividades de I&D, é que a oferta de I&D assume uma
natureza dual. Uma parte é subsidiada e assegurada administrativamente por entidades
direta ou indiretamente ligadas ao SCTN. Outra parte é assegurada no mercado por
pequenas empresas privadas que operam fora do sistema.
E, devido ao desvio de recursos de I&D para as entidades ligadas ao SCTN, a oferta de
serviços de I&D no mercado é inferior à potencial. E, consequentemente, a quantidade de
serviços de I&D adquirida no mercado pelas empresas produtoras, do cluster, é inferior à
ótima.
Esta distorção do mercado tem duas consequências dinâmicas que impedem o
desenvolvimento do setor da I&D e do próprio cluster. O efeito sobre o setor da I&D é claro:
um mercado mais pequeno implica menos empresas, menos concorrência, menos inovação
e menos eficiência.
O efeito sobre o cluster é mais difícil de perceber. Aparentemente a diminuição da oferta de
serviços de I&D no mercado não é prejudicial para o desenvolvimento das empresas do
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
339
cluster porque esta diminuição é compensada pela oferta assegurada administrativamente.
Todavia, a natureza das duas ofertas é completamente diferente pelo que responde a
necessidades diferentes das empresas.
A oferta assegurada administrativamente é sempre de projetos maiores, mais formais e
estruturados e de maior componente científico do que a oferta de mercado. Uma grande
empresa poderá ter interesse e beneficiar da oferta assegurada administrativamente. Mas
uma pequena empresa terá mais interesse em muito pequenos projetos que muitas vezes
podem ser levados a cabo por um profissional sem grandes qualificações académicas. E
muitas vezes essa pequena empresa não tem capacidade financeira e de gestão para
endogeneizar os resultados de um grande projeto.
Assim a distorção do mercado prejudica o esforço de I&D e de inovação das pequenas
empresas mais dinâmicas. E sem este esforço não haverá externalização de inovações
adaptadas ao tecido empresarial nem vão surgir as grandes empresas no futuro. O
desenvolvimento do cluster é impedido.
Uma análise detalhada da situação ao nível europeu e nacional não indicia qualquer
perspetiva de curto prazo ou longo prazo de alteração do enquadramento vigente, nem em
termos institucionais nem em termos formais. Mas pode ser que este sistema seja alterado
para um sistema mais racional.
Em resumo, não se esperam grandes alterações de natureza política, o que inibirá o
desenvolvimento do setor e do cluster.
FATORES ECONÓMICOS
A investigação e desenvolvimento é uma atividade que, além de cara por ser muito exigente
em capital humano, é de elevado risco técnico e de mercado. A sua rentabilização exige pois
um conjunto de condições de minimização de risco que vão desde:
1. A existência de uma necessidade produtiva ou de mercado não satisfeita;
2. A existência de uma potencial inovação capaz de satisfazer essa necessidade;
3. A existência de um modelo de negócios capaz de utilizar essa inovação para
satisfazer de forma viável essa necessidade;
4. A existência dos recursos necessários para implementar esse modelo de negócio;
5. A disponibilidade dos conhecimentos científicos, técnicos e de mercado sobre a
potencial inovação;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
340
6. A disponibilidade de recursos humanos, técnicos e financeiros capazes de
desenvolver a inovação;
7. A adequada organização e gestão do projeto.
Analisando estas condições verifica-se que as quatro primeiras são condições relacionadas
com a procura de I&D e as três últimas estão relacionadas com a sua oferta.
Das quatro primeiras condições, aparentemente as três primeiras existem em cada maior
número no cluster. E indiciam um aumento da procura de I&D. A questão fundamental
sobre a procura respeita pois à quarta condição. Que empresas têm os recursos necessários
para implementar novos modelos de negócios baseados numa inovação? Aparentemente só
empresas com capacidade de gestão e de com recursos ou capacidade de os obter,
provavelmente menos as empresas pequenas que as empresas médias e grandes. Tal
permite concluir que a procura de I&D está a aumentar mas mais no segmento das
empresas de maior dimensão. Estas empresas têm, de facto, uma cada vez maior
necessidade de eficiência produtiva e diferenciação, o que exige cada vez mais I&D.
As três últimas questões, relativas à oferta, também se parecem estar a verificar
globalmente. Há cada vez mais facilidade de obter conhecimento e recursos e capacidade
de gestão. Estão-se também a verificar avanços metodológicos e tecnológicos em muitas
abordagens e técnicas de I&D que a facilitam e embaratecem, independentemente do
aumento do custo do capital humano. Portanto a oferta de I&D também deve aumentar.
Os preços da I&D dependem, como em qualquer outra atividade, da procura e da oferta no
curto prazo e dos custos de produção no longo prazo. Tendo em consideração a análise
anterior é de esperar um aumento da atividade, dos preços e da lucratividade do setor de
I&D no curto prazo e um maior aumento da atividade com uma diminuição e estabilização
dos preços e da lucratividade no longo prazo.
No que respeita à composição da procura, ao tipo de I&D que será procurado, é importante
considerar os efeitos da globalização e da revolução nas tecnologias de informação e
conhecimento e na robotização.
Estes movimentos criam por um lado uma tendência para a geração de economias de escala
e o aumento da dimensão das grandes empresas universais que podem desenvolver as
plataformas tecnológicas e estratégicas em que se baseia a nova economia. Mas por outro
lado tornam mais fácil a adoção de novos modelos de negócios, a diferenciação e a
internacionalização das pequenas e médias empresas.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
341
Assim é de esperar que a procura de I&D se divida cada vez mais em I&D orientada para
grandes projetos nas áreas de tecnologia de ponta, principalmente em sistemas de
informação e comunicação e em novos equipamentos, e em pequenos projetos nas áreas de
tecnologia tradicional, principalmente em novos produtos e processos e na customização de
sistemas e equipamentos.
FATORES SOCIAIS
Os fatores sociais de natureza empresarial que afetam significativamente a evolução do
setor reforçam os fatores económicos acima referidos. Em primeiro lugar a I&D tem vindo a
ser crescentemente percebida como essencial, levando a um aumento da preferência e da
procura. Tal manifesta-se mais nas empresas em sectores mais abertos ao comércio
internacional e mais competitivos, onde a necessidade de diferenciação e eficiência
produtiva é mais importante. É possível por esta razão que a procura de I&D aumente mais
no setor da comercialização e transformação do que no sector produtivo.
Este tipo de fatores também tem impacto na procura relativa de diferentes produtos do
setor. A atual e previsível dinâmica empresarial, designadamente de alteração da estrutura
das empresas, favorece a procura de dois tipos de I&D: o desenvolvimento de produtos e de
processos de negócio mais diferenciados e sofisticados. Os pequenos projetos de I&D de
equipamentos devem diminuir.
Na atual fase de desenvolvimento de muitas pequenas e médias empresas é possível que os
projetos incrementais tenham mais peso que os disruptivos, mas estes últimos devem
crescer mais.
Relativamente à oferta de fatores produtivos não se encontram constrangimentos efetivos
ou potenciais significativos exceto na mão de obra. A este último nível a situação atual
caracteriza-se por uma oferta muito reduzida de técnicos com qualificações elevadas e
experiência efetiva e uma oferta reduzida de especialistas setoriais com formação científica
e capacidade de desenvolver I&D incremental.
A tendência parece ser de aumento da oferta desta mão de obra mais qualificada mas
prevê-se uma grande dificuldade em fornecer a estes quadros qualificados a experiência
necessária para serem autónomos em pequenas e médias empresas. O desequilíbrio entre
oferta e procura de mão de obra pode vir a manter-se e mesmo a agravar-se.
FATORES TECNOLÓGICOS
Todo o setor da I&D está a passar por uma fase de desenvolvimento estrutural,
metodológico e tecnológico.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
342
Estão-se a desenvolver novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de
rentabilização da I&D; está a aumentar a especialização e a divisão do trabalho; e está a
crescer a importância das parcerias internacionais e entre empresas e centros de
investigação. O setor está cada vez mais estruturado, densificado e, internacionalmente,
orientado para o mercado. O trabalho de I&D é cada vez mais fácil. A gestão de I&D é cada
vez mais difícil.
No Algarve o setor de I&D está bem inserido internacionalmente e tem capacidade de
produção. Aparentemente só precisa de se orientar mais pelo mercado. Tal não significa
que não existam uma série de inovações recentes que devam ser permanentemente
acompanhadas e apreendidas pelo sector e que serão listadas na secção seguinte.
O potencial de desenvolvimento do setor de I&D é muito mais significativo e pode
influenciar todo o conjunto de produtos, processos e atividades do cluster, desde a
mecanização da produção até à inovação em todos os aspetos do marketing.
Este desenvolvimento depende, como já implícito, de um único condicionante: da dinâmica
competitiva das entidades de I&D e da sua orientação para o mercado. Caso estas entidades
respondam ao desafio, o efeito da introdução das inovações deverá ser um aumento da
qualidade e uma redução dos custos dos projetos de I&D. Poderá haver um aumento da
incorporação científica e tecnológica nos resultados da pesquisa; e um aumento da
complexidade organizativa das entidades do setor.
Em resumo, pode haver desenvolvimentos tecnológicos com influência em todos os aspetos
do setor.
OFERTA TECNOLÓGICA
Tendo a análise do macro ambiente pode avançar-se para a listagem da oferta tecnológica
disponível e previsível. Entre esta destaca-se:
1. Big Data – sistemas automáticos e inteligentes de tratamento de informação e
produção de conhecimento, que serão cada vez mais humanizados, i.e. visuais e
qualitativos.
2. Crowdsourcing – sistemas e metodologias de mobilização e agregação de esforços
colectivos;
3. Reinforcement learning – sistemas de inteligência artificial capazes de encontrar
soluções iterativas para problemas complexos e jogos;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
343
4. Automatização e robotização – tecnologias de automatização inteligente de tarefas
repetidas, também de aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de recolha e tratamento de dados;
5. Impressão 3D – tecnologia de produção automatizada de peças por sobreposição de
camadas de matéria-prima, importante na produção de protótipos;
6. Realidade virtual e realidade aumentada – tecnologias de projeção visual de objetos
informáticos com uma aplicação generalizada à I&D e à pesquisa de marketing
designadamente em termos de cenarização, simulação e ensaios;
7. IoT e tecnologia de espaços inteligentes – tecnologias e metodologias de localização
e acompanhamento do movimento e do estado de objetos e da dinâmica
ocupacional de espaços físicos delimitados como residências, fábricas ou
propriedades agrícolas, que estão numa fase de criação de padrões sob pressão dos
grandes gigantes tecnológicos;
8. Machine learning – tecnologias de adaptação de equipamentos e sistemas às
necessidades de utilização, já em fase de crescimento;
9. Estratégias comerciais e de marketing – inovação generalizada de exploração de
nichos.
ANÁLISE DO MICRO AMBIENTE
Feita a análise do macro ambiente analisar-se-á o micro ambiente, o ambiente da indústria.
CADEIA DE VALOR
A cadeia de valor do setor de I&D algarvio é bastante simples. Tanto as atividades de
suporte como e as atividades primárias são controladas por entidades produtoras de I&D.
As atividades de inbound e outbound têm um peso negligenciável. No caso das entidades
ligadas ao SCTN a atividade de marketing e vendas é muito pouco eficiente e agressiva. No
caso das pequenas entidades de mercado, pode ser autónoma se destinada a pequenos
compradores, ou completamente dependente se destinada a grandes empresas
compradoras, industriais ou comerciais. O grosso do valor setorial é gerado nas atividades
de produção.
Neste setor em concreto existem algumas possibilidades de integração vertical entre a
cadeia de valor do setor e cadeias de valor a jusante, designadamente no setor das
atividades de desporto de alto rendimento, bem como a possibilidade de spin offs.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
344
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DO SETOR
O setor algarvio da I&D é composto por pequenas e médias entidades com estruturas de
gestão básicas; com poucos recursos humanos, tecnológicos e de capital; com a produção
determinada pelos recursos humanos; e com uma estratégia e um marketing pouco
eficientes.
No curto prazo e nestas circunstâncias a lucratividade das empresas e do setor é baixa ou
negativa, sendo o lucro o resultado da diferença entre markups dos sobre os custos dos
projetos e os custos de estrutura. Assim a lucratividade depende quase exclusivamente do
volume de negócios e da capacidade de financiamento de projetos das entidades. No longo
prazo as decisões que as entidades possam tomar sobre a sua própria dimensão,
organização e orientação para o mercado podem ser significativas e aumentar a sua
lucratividade.
No entanto, nada indicia que as entidades possam tomar estas decisões sem um impulso
externo. Fatores legais, económicos, organizativos e financeiros tornam improvável
qualquer movimento de mudança destas entidades.
LUCRATIVIDADE ESTRUTURAL DOS MERCADOS
O mercado do setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve. Portanto a análise
da lucratividade atual do setor e do mercado coincide.
No caso de o setor se tornar mais orientado para o mercado e se expandir nacional e
internacionalmente, existem mercados importantes onde os conhecimentos específicos
sobre alguns desportos de alto rendimento que mais procuram o Algarve podem gerar
lucros significativos.
ANÁLISE DOS MERCADOS
Como acima referido o setor de I&D algarvio é sobretudo o mercado do Algarve mas existe a
possibilidade de expansão nacional e de internacionalização do setor.
Os mercados relevantes para este efeito são em primeiro lugar os de Portugal, depois os dos
países com economias semelhantes às algarvias, como os países da Bacia do Mediterrâneo e
de outras zonas temperadas, e em terceiro lugar os mercados dos grandes produtores de
inovações e tecnologias de saúde e desporto, como os EUA, a Holanda ou a Alemanha.
Estes mercados têm estruturas e mercados de I&D muito diferenciados mas a melhor forma
de penetrar parece ser quase sempre em parceria com entidades locais. Em muitos destes
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
345
mercados o poder das entidades de I&D é bastante grande, sendo a sua lucratividade muito
elevada.
Assim apresenta-se a seguir uma breve análise estrutural por país dos principais mercados
efetivos ou potenciais do setor.
PORTUGAL
É o mercado mais próximo, física e comercialmente. É um mercado prioritário para o setor
de I&D algarvio dado ter a mesma estrutura e à facilidade de entrada. É um mercado
pequeno mas permite ganhos em termos de experiência e de rede.
Os critérios de segmentação utilizados e adequados a este mercado relacionam-se
fundamentalmente com o tipo de empresa e, tirando o setor e a dimensão, não parece que
existam novas estratégias viáveis de segmentação de mercado. Mas existem grandes
segmentos de mercado, designadamente de pequenas e médias empresas, não satisfeitos.
Existe portanto a possibilidade de utilizar uma estratégia de segmentação e de inovação de
produto.
EUROPA
Os mercados europeus, pela sua dimensão, proximidade e sofisticação são mercados muito
interessantes para o setor da I&D algarvio, designadamente os da Bacia do Mediterrâneo.
Nestes mercados existe uma procura grande e diversificada e uma grande apetência por I&D
de qualidade, mas a oferta de I&D é pouco competitiva, muito influenciada por entidades
públicas. Existe a possibilidade de obter boas margens.
Existem duas estratégias de penetração nestes mercados. Uma abordagem mais tradicional,
já seguida por muitas entidades portuguesas ao abrigo de projetos europeus ou de acordos
bilaterais, o desenvolvimento de parcerias com laboratórios e equivalentes e universidades
de regiões mediterrâneas. A outra é o estabelecimento de parcerias ou o trabalho por
projeto ou por subcontratação para grandes empresas tecnológicas e de I&D do setor,
principalmente da Holanda e da Alemanha, mas também da França.
EUA
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas a oferta de I&D é muito mais
desenvolvida. No entanto como os custos salariais são muito elevados no setor americano
da I&D, existe igualmente a possibilidade de obter margens interessantes.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
346
A entrada neste mercado é mais difícil que nos mercados europeus mas permite ganhos
acrescidos de experiência científica, técnica e de marketing.
As estratégias de entrada possíveis são as mesmas que nos mercados europeus.
OUTROS MERCADOS
Pode, ainda, destacar-se a importância que alguns mercados podem ter para oportunidades
pontuais, devido à sua dimensão. Estes são os do Brasil, de outros países da América do Sul
e Central; de Angola, de Moçambique e de outros países lusófonos; dos países do Norte de
África e do Médio Oriente; da China, do Japão, da Coreia do Sul, de outros países do
Extremo Oriente; e da Austrália. São mercados onde existem oportunidades de nicho para
produtos específicos.
ANÁLISE DOS CONSUMIDORES
Depois da análise e caracterização estrutural dos mercados importa caracterizar os
principais tipos ou segmentos de consumidores, clientes ou parceiros efetivos ou potenciais.
Sendo os clientes e destinatários da I&D entidades coletivas, não é importante diferenciar
consumidores finais de consumidores intermédios.
A conjugação das duas caracterizações permite determinar os diferentes perfis dos diversos
mercados, segmentos e nichos.
PERFIS DOS CONSUMIDORES
Os consumidores, clientes ou parceiros que geralmente são entidades coletivas, podem
agrupar-se de acordo com a área de negócio, a dimensão e a estratégia. A segmentação é
fácil.
Os segmentos mais importantes são:
1. Médias empresas produtoras – estão interessadas em I&D imbuída em produtos e
serviços e em projetos de I&D incremental; e têm grande preocupação com o preço
e os resultados rápidos da sua aplicação;
2. Grandes empresas produtoras – interessados em todos os tipos de I&D; preocupam-
se com o preço e os resultados; estando mais dispostos a correr riscos de I&D e de
negócio e menos interessados na rentabilidade imediata;
3. Investidores de oportunidade – estão interessados em I&D imbuída em produtos e
serviços e em pequenos projetos de I&D incremental; e têm grande preocupação
com o preço e os resultados rápidos da sua aplicação;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
347
4. Indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor –
interessadas em investigação suscetível de ser imbuída na sua oferta, seja em
produtos ou serviços ou no esforço de marketing; preocupam-se com os resultados
da I&D; e estão dispostas a correr riscos de I&D e de negócio e adiar a rentabilidade,
5. Instituições de I&D – interessadas em colaborações e parcerias que gerem volume de
atividade e novos conhecimentos; estão dispostas a correr riscos de I&D e de
negócio e a adiar a rentabilidade;
6. Empresas de I&D - interessadas em colaborações, parcerias e subcontratações que
gerem volume de negócios, tragam novos conhecimentos e áreas de atividade e
permitam uma complementaridade da oferta; estão menos dispostas a correr riscos
de I&D e de negócio e a adiar a rentabilidade.
CONSUMIDORES POR MERCADO
A importância relativa dos segmentos acima referidos varia de país para país.
Em Portugal e no Algarve o segmento mais importante é o das médias empresas. Os outros
segmentos têm pouco peso ou uma procura direcionada para pequenos projetos.
Na Europa todos os segmentos estão presentes. A sua importância relativa é difícil de
avaliar mas podem, tentativamente, salientar-se, por ordem, os seguintes segmentos:
grandes empresas; indústria de bens de equipamento e de prestação de serviços;
instituições de I&D; grandes empresas de serviços e infraestruturas; empresas de I&D;
médias empresas; e investidores de oportunidade. Os outros segmentos têm menos peso.
A situação nos EUA é equivalente à europeia mas o peso da indústria de bens de
equipamento e de prestação de serviços ao setor é claramente o maior e o peso das
empresas de I&D ultrapassa o das instituições de I&D.
ANÁLISE DOS COMPETIDORES
Depois da caracterização estrutural e dos consumidores importa analisar e caracterizar os
competidores. Nesta caracterização importa diferenciar fundamentalmente competidores
na indústria embora se tenham que analisar também competidores integrados como a
indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor.
PERFIS DOS COMPETIDORES POR MERCADO
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
348
A indústria algarvia de I&D enfrenta fundamentalmente três tipos de competidores:
instituições de I&D, empresas de I&D e indústria de bens de equipamento e de prestação de
serviços ao setor.
As instituições de I&D dominam a indústria em Portugal e na Europa, são
fundamentalmente entidades ligadas à academia ou a laboratórios ou centros de
investigação públicos.
Têm normalmente como pontos fortes uma boa base de recursos, humanos e tecnológicos,
e de conhecimento; capacidades relacionadas com a investigação e grandes projetos; e
estratégias de valorização da I&D mais do que de valorização da sua aplicação. Têm
normalmente uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam da sua estrutura organizativa e da relativa independência do
mercado que lhes retiram flexibilidade e eficácia em pequenos projetos e criam dificuldades
na aplicabilidade de muitos resultados de I&D.
As entidades de segunda linha neste segmento de competidores normalmente
especializam-se em produtos e processos locais, garantindo uma reserva de mercado.
Mesmo assim, a rentabilidade estrutural destas entidades é muito reduzida ou mesmo
negativa.
As empresas de R&D são um competidor cada vez mais importante e diversificado embora o
terceiro em termos de peso no setor. Podem realizar muitos tipos de atividade e de I&D,
desde a adaptação e configuração de sistemas e equipamentos até à investigação pura,
como por exemplo na genética. Têm uma estrutura mais intensiva em capital e tecnologia e
estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade produtiva e de marketing e, em
muitos casos, via especialização em produto.
A investigação e desenvolvimento. Os seus pontos fortes são a flexibilidade e capacidade
estratégia e organizativa e a orientação para o mercado. Podem desenvolver todo o tipo de
projetos de I&D e utilizar todas as formas de financiamento possíveis.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes cria uma grande
dependência dos resultados da I&D e lhes cria um grande problema de risco de I&D e de
negócio.
A rentabilidade estrutural destas empresas é elevada mas o seu risco também.
A indústria de bens de equipamento, de inputs e de prestação de serviços ao setor domina a
indústria nos EUA e mesmo nalguns países da Europa e tem um peso muito grande no setor,
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
349
eventualmente o maior. As empresas do segmento têm uma estrutura mais intensiva em
capital, conhecimento e tecnologia e estratégias baseadas na diferenciação via flexibilidade
produtiva e de marketing.
Tem como pontos fortes uma boa base ou capacidade de mobilização de recursos, humanos
e tecnológicos, e de conhecimentos; capacidades relacionadas com o desenvolvimento e
grandes projetos; e estratégias de valorização da aplicação I&D mais do que de valorização
da própria I&D. Normalmente também têm uma boa reputação de mercado.
Os seus pontos fracos resultam do seu modelo de negócio que lhes retira o interesse na
investigação pura e em pequenos projetos customizados. Não operam num grande
segmento do mercado.
A rentabilidade estrutural destas empresas é a normal do mercado, podendo nalguns casos
ser mais elevada devido a economias de escala ou ao valor de direitos de propriedade.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
A análise externa atrás realizada relevou uma série de desafios que o ambiente oferece às
entidades do setor, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos seus
mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
Aqui faz-se a sua listagem e avaliação.
AMEAÇAS
A principal ameaça ao setor da investigação e desenvolvimento é a dinâmica dos clientes e a
concorrência de novas empresas com abordagens, metodologias e tecnologias novas.
Embora o financiamento da I&D seja sempre um problema e exista um problema de
crescimento dos custos do capital humano e uma desadequação da mão de obra às tarefas
necessárias, não se encontram ameaças sérias ao setor que não sejam ao nível da
adequação da oferta à procura e à concorrência.
OPORTUNIDADES
As principais oportunidades são:
1. Melhor organização e gestão das entidades, orientando a oferta para as
necessidades do mercado e para projetos de maior aplicabilidade;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
350
2. Aumento da procura de I&D principalmente de projetos muito grandes e pequenos,
estes principalmente em novos produtos e processos e na customização de sistemas
e equipamentos;
3. Novos modelos de financiamento, de pooling de recursos e de rentabilização da I&D;
4. Especialização e divisão do trabalho
5. Novos sistemas automáticos, inteligentes e descentralizados de obtenção e
tratamento de informação e produção de conhecimento;
6. Novas tecnologias de cenarização, modelização e de realização de ensaios e testes;
7. Novos produtos e sistemas de suporte à atividade de I&D como a IoT e tecnologia de
espaços inteligentes e o machine learning;
8. Novas estratégias empresariais, procurando o financiamento de mercado, o
desenvolvimento de parcerias e colaborações, a utilização e prestações de serviços
de subcontratação;
9. Enfoque em novos tipos de projetos e em colaborações com empresas, sejam
grandes empresas de bens de equipamento, inputs e serviços sejam pequenas
empresas de I&D;
10. Alargamento do âmbito geográfico da atividade.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O aproveitamento das oportunidades exige fundamentalmente uma grande capacidade
estratégica e de marketing das empresas. Todo o marketing desde o desenvolvimento da
oferta até à promoção será essencial para gerar e gerir eficientemente estas oportunidades.
Depois, será importante que as empresas tenham capacidade financeira suficiente para
investir em recursos humanos e técnicos e em marketing.
Não será tão importante a dimensão das empresas como a sua capacidade de obter de
forma eficiente os recursos necessários.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
351
ATIVIDADES INDUSTRIAIS E SERVIÇOS COMPLEMENTARES
Tal como do setor de outros fornecedores e de suporte do cluster do mar e o sector dos
serviços e produtos complementares do cluster agroalimentar e florestal, este setor das
atividades industriais e serviços complementares engloba um conjunto muito diversificado
de atividades de que se podem destacar atividades industriais, de construção, comerciais,
de transportes, de informação e comunicação, de consultoria científica e técnica,
administrativas e de investigação e desenvolvimento, entre outras.
O papel destas atividades não é o de dinamizadoras do cluster mas de resposta às suas
necessidades. O cluster impulsiona procura por estas atividades que lhe respondem.
O fundamental é saber se os fornecedores dos produtos e serviços destas atividades a que
as empresas locais do cluster têm acesso têm capacidade para satisfazer a procura do
cluster local de uma forma eficiente, se existem algumas lacunas ou vantagens significativas
para o cluster na utilização dos serviços ou produtos desses fornecedores. O que se procura
é a exceção.
É igualmente importante saber se alguma destas atividades tem alguma vantagem
competitiva local que lhe permita desenvolver-se, beneficiando da procura do cluster.
É impossível e irrelevante analisar detalhadamente todas estas atividades. Mas uma análise
por amostragem evidencia três factos importantes:
1. Os produtos e serviços locais, nacionais e internacionais destas atividades são
transacionados em mercados livres, sem barreiras de acesso – quem quiser e tiver
vantagens económicas pode adquirir estes produtos ou serviços sem enfrentar
barreiras legais, administrativas ou concorrenciais;
2. Os fornecedores locais e nacionais são de qualidade e preço médio, havendo
internacionalmente fornecedores com relações qualidade preço bastante diferentes
– quem quiser, e disso tirar vantagens económicas, pode recorrer aos mercados
locais, nacionais e internacionais para adquirir produtos e serviços com a relação
qualidade-preço que desejar, sendo certo que a generalidade dos produtos e
equipamentos utilizados pelo setor são produzidos em condições técnicas em que
existem economias de escala significativas;
3. Não existe nenhuma atividade em que a região do Algarve tenha vantagens
competitivas claras, podendo eventualmente argumentar-se que existem algumas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
352
atividades industriais em que Portugal poderá ter essas vantagens (designadamente
as ligadas a segmentos das indústrias atrás mencionadas).
Nestas circunstâncias não é relevante aprofundar a análise destes setores.
Faz-se apenas uma nota para referir que quem devido a conhecimentos linguísticos e outros
tiver facilidade em recorrer a fornecedores internacionais diretamente tem uma vantagem
competitiva face aos concorrentes locais.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
353
ANEXO A: METODOLOGIA GERAL
Os trabalhos a concurso têm a natureza de estudos estratégicos pelo que a definição dos
modelos conceptuais de análise estratégica e de definição estratégica a utilizar na sua
realização é fundamental.
Assim foi essencial decidir qual seria o modelo teórico de análise e definição estratégica
mais adequado. Para tal fez-se uma cuidada análise das peças concursais, dos documentos
disponíveis sobre o processo que conduziu ao lançamento do concurso e de diversa
informação sobre a realidade concreta das empresas que em última instância se pretende
beneficiar.
MODELO ESTRATÉGICO TEÓRICO
Com base neste trabalho concluiu-se que o modelo teórico adequado seria um modelo
confrontação de uma análise externa com uma análise interna para seleção de vantagens
competitivas, estratégias, políticas e tecnologias. Apresenta-se a seguir um esquema desse
modelo.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
354
Como se propõe a utilização deste modelo, é importante a sua descrição detalhada.
O modelo tem duas fases: análise e definição, sequenciais mas iterativas
ANÁLISE ESTRATÉGICA
A fase de análise abrange os seguintes aspetos:
a) A determinação das condicionantes e potenciais alterações da oferta nos setores e
mercados abrangidos e potenciais aumentos ou diminuições da procura dirigida aos
setores, aos mercados e às empresas abrangidas – oportunidades e ameaças;
b) A determinação das condições necessárias para uma empresa responder com sucesso a
cada oportunidade – fatores críticos de sucesso;
c) A determinação do potencial dos recursos e capacidades de diferentes empresas dos
setores abrangidos para satisfazerem ou não essas condições – forças e fraquezas;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
355
d) A avaliação da capacidade dessas empresas satisfazerem os fatores críticos de sucesso
melhor que a concorrência – vantagens competitivas;
e) A determinação do grau de sustentabilidade dessas vantagens competitivas – vantagens
competitivas sustentáveis e competências fundamentais;
f) A discussão e listagem das oportunidades e ameaças tendo em consideração os
associados fatores críticos de sucesso e as forças e fraquezas, vantagens competitivas e
competências fundamentais da empresa – análise SWOT.
A ANÁLISE EXTERNA
A análise começa pela análise externa, a descrição da situação e da dinâmica dos sectores e
dos mercados abrangidos e onde as empresas relevantes atuam ou poderão vir a atuar.
Incluirá a obtenção e o tratamento de informação sobre esses setores e mercados.
A análise externa começa por obter informação e fazer uma análise dos seguintes aspetos
de todos os sectores e mercados abrangidos:
O macro ambiente: os fatores e tendências políticas, económicas, sociais e tecnológicas
que afetam e podem alterar os setores;
O micro ambiente: a lucratividade estrutural do setor e do mercado tendo em
consideração a sua intensidade competitiva, a ameaça da entrada de novos
competidores, o poder dos fornecedores, o poder dos clientes e a relevância de
produtos substitutos;
Os mercados: o tamanho, evolução recente e fase do ciclo de vida; a estrutura de
proveito, custos e lucros; a evolução dos preços e custos; os principais critérios de
segmentação e segmentos;
Os consumidores: os diferentes perfis demográficos, psicográficos e comportamentais, a
importância que cada um dá ao produto, a facilidade que têm de mudar de fornecedor,
a sensibilidade que têm ao preço e ao serviço associado ao produto e o seu
comportamento de consumidores.
Os competidores: recursos, capacidades e estratégias.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
356
Desta análise resulta uma avaliação dos desafios que o ambiente oferece às empresa dos
setores abrangidos, as oportunidades e ameaças relevantes que enfrentam nos setores e
nos seus mercados, e que podem eventualmente vir a aproveitar ou combater.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
Deve igualmente resultar uma listagem dos fatores críticos de sucesso, que são as condições
que uma empresa abstrata tem de respeitar para poder satisfazer uma procura. Abrangem
de uma forma integrada todos os elementos que permitem satisfazer essa procura, desde a
conceção de produtos até à tecnologia e ao serviço pó venda. Podem dividir-se em dois
conjuntos de elementos:
a) Elementos relacionados com o consumidor: as suas necessidades, desejos e
comportamentos;
b) Elementos relacionados com a empresa: os recursos e capacidades que necessita de ter
para responder eficientemente ao consumidor.
A análise do primeiro conjunto de elementos baseia-se fortemente na análise do
comportamento do consumidor de que já falamos. A análise do segundo conjunto de
elementos é um processo aberto, criativo, tecnológico e económico.
Desta análise resulta uma lista das oportunidades e ameaças relevantes que uma empresa
abstrata enfrenta no setor e no mercado e das condições que essa empresa tem de ter para
as aproveitar ou combater.
A ANÁLISE INTERNA
A análise continua com a análise interna, a descrição e avaliação dinâmica das empresas dos
setores abrangidos.
O seu principal objetivo é identificar os recursos e as capacidades relevantes dessas
empresas.
Para tal começa por se fazer uma análise dos seguintes aspetos:
A estratégia das empresas: a sua razão de ser, valores, visão e objetivos estratégicos e
estratégias;
A atividade corrente: produtos vendidos, preços e receitas, mercados e processos de
marketing;
Os recursos correntes: financeiros, físicos, tecnológicos, humanos, intangíveis e
estruturais de que dispõe;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
357
As capacidades correntes: que atividades conseguem realizar e com que eficiência;
Os recursos adicionais que as empresas podem obter;
As capacidades que pode desenvolver ou melhorar.
FORÇAS E FRAQUEZAS
Desta análise resulta uma avaliação do que as empresas dos setores abrangidos conseguem
fazer melhor e pior, das suas forças e fraquezas.
VANTAGENS COMPETITIVAS E COMPETÊNCIAS FUNDAMENTAIS
Num ambiente competitivo as forças e fraquezas de uma empresa são tão mais importantes
quanto mais distintas das forças e fraquezas da concorrência e quanto mais duradouras.
Assim a segunda parte da análise interna é a classificação das forças e fraquezas e a
determinação de vantagens competitivas e competências fundamentais.
A análise deve começar por procurar capacidades distintivas, capacidades únicas ou
extraordinárias que a distinguem da concorrência.
Depois deve tentar perceber em que medida estas capacidades lhe permitem desenvolver
uma oferta que oferece mais valor aos consumidores do que a oferta da concorrência. Deve
perceber se as capacidades dão origem a vantagens competitivas.
A seguir a análise deve determinar quais são os recursos e capacidades em que se baseiam
essas vantagens competitivas e se são sustentáveis no longo prazo, se são vantagens
competitivas sustentáveis.
Por fim perceber qual a competência fundamental que suporta essa vantagem competitiva
sustentável. Uma competência fundamental é um conhecimento ou capacidade partilhado
em toda a oferta de uma empresa e que será a base do seu processo de definição e
implementação de estratégias e estratégias de marketing.
A ANÁLISE SWOT
Segue-se a análise SWOT, que é a sistematização das análises anteriores. É a listagem,
eventualmente em formato matricial, das oportunidades e ameaças que uma empresa
enfrenta tendo em consideração os associados fatores críticos de sucesso e as forças e
fraquezas, vantagens competitivas e competências fundamentais da empresa.
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
358
Tanto a análise da envolvente externa macro como setorial são feitas utilizando as
metodologias padrão de análise, como a análise PEST e a análise de Porter. A análise PEST é
focada nos seguintes aspetos ambientais: políticos e jurídicos; económicos; sociais,
demográficos e culturais; e tecnológicos.
A análise interna é igualmente levada a cabo com instrumentos padrão, como a análise de
recursos, funcional e da cadeia de valor.
Toda a análise é quantificada e fundamentada.
DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA
Da fase de análise resulta pois um quadro com todos os elementos necessários para se
passar para a fase de definição de estratégias.
No quadro deste modelo uma estratégia terá quatro componentes:
a) a estratégia genérica – uma descrição da forma como uma empresa vai gerar valor e
competir com as suas concorrentes (seguindo a abordagem de Porter) e dos fatores em
que se vai basear e sustentar essa postura concorrencial (building blocks of sustainable
competitive advantage),
b) a estratégia de marketing – uma descrição dos mercados e dos segmentos de mercado
em que uma empresa vai atuar e do seu posicionamento em cada mercado e segmento,
c) a estratégia de desenvolvimento – uma descrição dos recursos, capacidades e
competências fundamentais para manter a sustentabilidade da competitividade de uma
empresa e da forma como vão ser protegidos e desenvolvidos,
d) a estratégia de investimento – uma descrição do montante que uma empresa pretende
investir e a sua divisão em grandes blocos funcionais.
PROCESSO DE DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA
A reflexão estratégica abrange os seguintes aspetos:
a) A definição da razão de ser, dos valores, da visão e dos objetivos de uma empresa – a
Declaração de Missão;
b) Um levantamento e listagem exaustiva e quantificada de potenciais estratégias puras e
respetivos fatores críticos de sucesso – criação estratégica;
c) A confrontação destas potencia estratégias e dos respetivos fatores críticos de sucesso
com a SWOT para determinar a sua viabilidade – avaliação estratégica;
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
359
d) A avaliação e ordenação das estratégias viáveis e a consequente seleção da estratégia –
seleção estratégica;
e) As políticas funcionais necessárias para suportar essa estratégia – seleção de políticas.
MISSÃO
A missão resulta da fase da avaliação e da vontade dos stakeholders da empresa.
CRIAÇÃO, AVALIAÇÃO E SELEÇÃO ESTRATÉGICA
Segue-se todo o processo de seleção da estratégia de uma empresa. Este processo terá as
três etapas acima referidas: criação, avaliação e seleção.
O conteúdo de cada uma destas etapas é:
a) Criação – processo criativo e técnico de definição de estratégias possíveis, tendo cada
uma destas estratégias de ser completa (com os quatro componentes acima referidos),
consistente, quantificada (em termos de objetivos e de investimentos) e calendarizada.
b) Avaliação – processo técnico de determinação da viabilidade económica e da
sustentabilidade de cada estratégia possível, comparando o que é necessário para
implementar com sucesso cada estratégia com os recursos e as vantagens competitivas
e competências fundamentais da empresa;
c) Seleção – processo técnico de avaliação do resultado esperado e dos riscos subjacente a
cada opção e escolha da opção mais desejável.
Deste processo resulta a escolha fundamentada e formal de uma estratégia.
AS POLÍTICAS FUNCIONAIS
A seleção de políticas funcionais inclui a definição das principais orientações dessas políticas
e dos investimentos que lhes serão afetos, designadamente uma listagem dos objetivos
funcionais, estratégias funcionais, principais medidas e ações funcionais e respetivos
orçamentos. Desta definição de políticas funcionais resulta, pois, uma procura de recursos
entre os quais estão tecnologias.
APLICAÇÃO DO MODELO
O modelo teórico anteriormente apresentado é um modelo muito poderoso e eficaz que se
pode aplicar a diversos tipos de objetos de análise estratégica (como empresas,
organizações públicas, associações privadas ou projetos).
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
360
LIMITAÇÕES DA APLICAÇÃO A UM SETOR
Todavia, a experiência mostra que o modelo tem três grandes limitações:
Não se pode aplicar diretamente a um setor, tem de se aplicar às empresas integrantes
desse setor. Tal resulta de a análise interna ter de determinar as forças e fraquezas,
vantagens competitivas e competências fundamentais da entidade que compete no
mercado. E quem compete no mercado são as empresas, não os setores. Do nosso
conhecimento, os estudos estratégicos que ignoraram este facto não foram bem
sucedidos.
Só se pode aplicar a um objeto de cada vez. Tal resulta de o processo de análise interna
e os seus resultados serem necessariamente diferente de empresa para empresa.
Tem objetivos prescritivos, não prospetivos. Nada garante que as empresas sigam a
estratégia ideal.
Estas limitações são relevantes porque nos setores abrangidos pelo Concurso existe uma
multiplicidade de empresas, todas diferentes entre si. E é impossível aplicar o modelo a
todas estas empresas, uma a uma.
SOLUÇÃO
A solução que se propõe é que durante a aplicação do modelo, na fase de análise externa,
se faça:
1. Um levantamento exaustivo das empresas algarvias dos sectores abrangidos;
2. Uma caracterização detalhada dessas empresas, recorrendo a bases de dados
estatísticas, eventualmente complementadas com inquéritos dirigidos a essas empresas;
3. Uma taxionomia dessas empresas em função de categorias classificativas relevantes
para determinar as suas opções estratégicas potenciais e ideais bem como a
probabilidade de as seguirem;
4. O estudo desses grupos taxionómicos.
E que depois, a definição estratégica se aplique a esses grupos taxionómicos e se extrapole
para o universo das empresas.
Esta extrapolação pode basear-se em métodos de cenarização ou em métodos
probabilísticos.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
361
Tanto num caso como noutro os parâmetros de extrapolação serão obtidos a partir da
caracterização detalhada das empresas realizada no ponto 2 da solução proposta.
SEQUÊNCIA DA APLICAÇÃO
Na metodologia proposta anteriormente existem algumas atividades relacionadas com
trabalhos de Estudos de Mercados Estratégicos que têm de ser realizadas durante a
elaboração do Roadmap Tecnológico. São fundamentalmente atividades relacionadas com a
análise de mercados e de consumidores.
Tal não levanta nenhum problema na execução dos trabalhos, antes pelo contrário facilita a
sua eficácia.
Em contrapartida torna algumas partes da presente proposta técnica redundantes porque
estas atividades serão descritas duas vezes, no “Roadmap” e no “Estudos de Mercados”.
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
362
ANEXO B: FONTES
ESTATÍSTICAS
Instituto Nacional de Estatística
EUROSTAT
Instituto do Emprego e Formação Profissional
QUALITATIVAS
CCDRA, RIS3 Algarve 2014-2020, Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização
Inteligente (2015)
Jornal do Algarve (vários artigos)
O Algarve Económico (vários artigos)
Algarve Primeiro (vários artigos)
Sul Informação (vários artigos)
Agricultura & Mar Actual (vários artigos)
Revista da Marinha (vários artigos)
Boletim Algarve Conjuntura (vários artigos)
Estratégia Marítima da União Europeia para a Área do Atlântico
Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020
Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa 2014-2020
Turismo 2020, Cinco Princípios para uma Ambição
Food and Agriculture Organization of the United Nations
Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos
Direção Geral de Agricultura e Pescas do Algarve
Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
Associação Portuguesa de Aquicultores
Centro de Formação das Pescas e do Mar
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
363
Instituto de Emprego e Formação Profissional
Turismo de Portugal
Entidade Regional de Turismo do Algarve
Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa
Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco
Associação Turismo do Algarve
Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal
Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
Docapesca, Portos e Lotas, SA
Jerónimo Martins, SGPS, SA
Sonae Distribuição, SGPS, SA
Aeroportos de Portugal, SA
Comboios de Portugal, EPE
BRISA – Auto Estradas de Portugal, SA
STCP, SA
EVA Transportes, SA
Sopromar - Centro Náutico, Lda
Insonso - Sal Marim, Lda
Estabelecimentos Teófilo Fontaínhas Neto - Comércio e Indústria, SA
Nautiber - Estaleiros Navais do Guadiana Lda
Conserveira do Sul, Lda
Hubel Agrícola, SGPS, SA
Avigel – Conglados, Lda
Mondeim Tâmega Park – Empreendimentos Turísticos, SA
Magnólia Golf & Wellness Hotel
Mundo Aquático – Parques Oceanográficos de Entretenimento Educativo, SA
Análise externa dos setores estratégicos da RIS3 Algarve
364
Caixa Central-Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL
Drive On Holidays - Comércio e Aluguer de Veículos, Lda
Tap - Transportes Aéreos Portugueses, SGPS S.A
EDP - Energias de Portugal, SA
Associação Integralar – Intervenção de Excelência no Sector Agro-Alimentar (PortugalFoods)
Meo - Serviços de Comunicações e Multimédia, SA
Universidade do Algarve
Universidade do Minho
Universidade de Aveiro