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CORREIOS IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO Nº 6652001 DR/BSB SINDJUS-DF Ano XIII – Nº 16 – Agosto de 2004 Órgão Informativo do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Df Os bastidores da negociação da GAJ Entrevista com o diretor geral do STF, Miguel Fonseca Os bastidores da negociação da GAJ Entrevista com o diretor geral do STF, Miguel Fonseca Págs. 5 ,6 e 7 E X C L U S I V O Veja os principais pontos do Plano de Carreira em discussão Págs. 8, 9 e 10 Bibliotecas do Judiciário e do MPU no DF têm acervo de 300 mil livros Págs. 11 e 12 Timor Leste cria o seu Judiciário a partir do zero Pág. 13, 14 Jornal 15.qxd 10-08-2004 11:17 Page 1

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CORREIOSIMPRESSO ESPECIAL

CONTRATONº 6652001 DR/BSB

SINDJUS-DF

Ano XIII – Nº 16 – Agosto de 2004ÓÓrrggããoo IInnffoorrmmaattiivvoo ddoo SSiinnddiiccaattoo ddooss TTrraabbaallhhaaddoorreess ddoo PPooddeerr JJuuddiicciiáárriioo ee ddoo MMiinniissttéérriioo PPúúbblliiccoo ddaa UUnniiããoo nnoo DDff

Os bastidores danegociação da GAJ

Entrevista com o diretor geral do STF, Miguel Fonseca

Os bastidores danegociação da GAJ

Entrevista com o diretor geral do STF, Miguel Fonseca

Págs. 5 ,6 e 7

E X C L U S I V O

Veja os principaispontos do Plano

de Carreira em discussão

Págs. 8, 9 e 10

Bibliotecas doJudiciário e do MPU

no DF têm acervo de 300 mil livros

Págs. 11 e 12

Timor Leste criao seu Judiciárioa partir do zero

Pág. 13, 14

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ANUNCIO

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Publicação do Sindicato dos Trabalhadoresdo Poder Judiciário e do Ministério Públicoda União no DF

SDS – Ed. Venâncio V – Bl. R Salas 108/110/111/113/114

CEP 70393-900 - Brasília - DFPABX (61) 224 9392

Homepage:www.sindjusdf.org.br

CCoooorrddeennaaddoorreess GGeerraaiiss

Ana Paula Barbosa Cusinato (MPDFT)

Roberto Policarpo Fagundes (TRT)

Wilson Batista de Araújo (TRE)

CCoooorrddeennaaddoorreess ddee

AAddmmiinniissttrraaççããoo ee FFiinnaannççaass

Berilo José Leão Neto (STJ)

Cledo de Oliveira Vieira (TRT)

Edilson Franklin Medeiros (TST)

CCoooorrddeennaaddoorreess ddee AAssssuunnttooss

JJuurrííddiiccooss ee TTrraabbaallhhiissttaass

Antônio Francisco Machado Costa (MPM)

Jailton Mangueira Assis (TJDFT)

Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDFT)

CCoooorrddeennaaddoorreess ddee FFoorrmmaaççããoo ee

RReellaaççõõeess SSiinnddiiccaaiiss

Ademário Oliveira Nogueira Filho (TJDFT)

Nilton José Cordeiro Monteiro (TJDFT)

Thayanne Fonseca Pirangi Soares (TSE)

CCoooorrddeennaaddoorreess ddee CCoommuunniiccaaççããoo,,

CCuullttuurraa ee LLaazzeerr

Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF)

Valdir Nunes Ferreira (MPF)

Welton Ferreira Damasceno (TJDFT)

RReeddaattoorr ee eeddiittoorr rreessppoonnssáávveell

Antônio Carlos Queiroz,

Reg. Prof. DF 00645 JP

CCoollaabboorraaddoorraa

Cynthia de Lacerda Borges

DDiiaaggrraammaaççããoo

MP

IImmpprreessssããoo

ArtGraf

TTiirraaggeemm

10.000 exemplares

ex

pe

di

en

te EDITORIAL

[email protected]

Não deveria ser motivo de celeuma o anúncio feito pelo controladorgeral da República, ministro Waldir Pires, da adoção da chamada sin-dicância patrimonial dos servidores públicos, entre outras medidas

que o governo pretende acionar para prevenir a corrupção e a lavagem dedinheiro.

Em primeiro lugar porque, diferentemente do que deram a entender algunsjornais, a iniciativa não inclui o monitoramento diário das contas bancáriasdos servidores. Segundo esclareceu o ministro, "o governo não pode, nãodeve e não vai monitorar a conta bancária de ninguém; pretende, sim, pormeio das sindicâncias patrimoniais, investigar, como é do seu dever, os indí-cios de enriquecimento ilícito, para impedir que o crescimento repentino einjustificado do patrimônio pessoal de alguns se dê em função de subtraçãocriminosa do patrimônio público".

Pires acrescentou que as operações suspeitas já são regularmente comuni-cadas pelos bancos ao Banco Central e ao Conselho de Controle de AtividadesFinanceiras, nos termos da Lei de Combate à Lavagem de Dinheiro. A novi-dade será a normatização das investigações provocadas por denúncias oupelo alerta provocado por depósito muito altos, fora do perfil de movimenta-ção usual do servidor. Essas investigações incluirão o pedido à Justiça de que-bra do sigilo bancário do suspeito.

Em segundo lugar, separar o joio do trigo, isto é, os servidores corruptosdos que são honestos, é de grande interesse para a esmagadora maioria do fun-cionalismo. Por ignorância e preconceito da chamada opinião pública, asdenúncias de corrupção de alguns servidores sempre respingam sobre o con-junto dos servidores, perpetuando o ditado segundo o qual os justos pagampelos pecadores.

Por essa razão, medidas com o objetivo de prevenir e reprimir as práticasde corrupção merecem nosso apoio. Mais concretamente: medida efetivas,que produzam resultados e não iniciativas como foi a criação da própriaControladoria, no governo FHC, anunciada apenas como resposta conjuntu-ral a um clamor público contra a corrupção. A população e os servidores jáestão fartos de promessas e de propaganda enganosa e, por isso, exigemmenos blablablá e mais ação.

Para construir um país verdadeiramente republicano é preciso moralizar oserviço público. E arquivar a idéia de que os honestos devem pagar pelosdesonestos.

Os justos não devemcontinuar pagandopelos pecadores

Foto capa: Agência Focus

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JOSÉ GERALDO DE SOUSA JUNIOR*

Nem o pai-nosso resistiu ao processo do endividamento:

a expressão"perdoai

as nossas dívidas" foi adaptada para

"perdoai as nossas ofensas"

Opresidente do Conselho Federalda Ordem dos Advogados doBrasil anunciou que a entidade

vai ingressar, no Supremo TribunalFederal, com ação de descumprimento depreceito fundamental, prevista na Lei nº9882/99, com o objetivo de concretizar oartigo 26 do Ato das Disposições Cons-titucionais Transitórias, segundo o qual,"no prazo de um ano a contar da promul-gação da Constituição, o CongressoNacional promoverá, através deComissão mista (com força legal deComissão Parlamentar de Inquérito,NR), exame analítico e pericial dos atos efatos geradores do endividamento exter-no brasileiro".

A iniciativa é extremamente relevanteporque abre a perspectiva de questiona-mento do processo de endividamento quevem estrangulando as economias dos paí-ses pobres ou em desenvolvimento, com oaviltamento das condições de existênciadas pessoas. Ela se insere no contexto dachamada "crise da dívida", conseqüenteao debate que se esforça por desnudar alógica perversa, escondida por trás dofenômeno, da prática onzenária do capita-lismo financeiro internacional.

Em oposição às abordagens de "ajus-tamento estrutural", que se rendem aoautomatismo e à preocupação de preser-var o sistema econômico internacional, odebate põe em causa os modos de articu-lação de um processo que acabou condu-zindo a um acumulado contínuo e irres-gatável, mais útil para realizar razões dehegemonia política que objetivos pro-priamente econômicos.

Realimentada pelo mecanismo pro-gressivo do anatocismo, repudiado desdeas primeiras legislações do velho direitoromano, a capitalização dos juros tornafictícia a própria expressão contábil dadívida, assumindo um caráter "metafísi-co". Não é por outra razão, lembra Hugo

Assmann (Dívida Externa. A Escravidãodo Século XX, Humanidades, anoV/1988, nº 17, Brasília, Editora UnB),que a esta espécie de fetichização nãopôde resistir sequer a sacralidade cristã.A expressão "perdoai as nossas dívidas"do pai-nosso foi adaptada para "perdoaias nossas ofensas", contrariando o ensi-namento do evangelista Mateus (6, 14-15), fiel à tradição solidária do Jubileu.

A iniciativa da OAB vai permitir, poroutro lado, trazer para o campo jurídico a

atualização de categorias historicamentedesenvolvidas para proteger o devedor"da lesão enorme, da lesão enormíssima,do estado de perigo, da excessiva onerosi-dade da usura, do anatocismo", conformesustenta José Carlos Moreira Alves, oinfluente ministro aposentado doSupremo Tribunal Federal, sugerindo eri-

gir-se o favor debitoris - instrumento juris-prudencial de proteção ao devedor - emprincípio geral de direito (As Normas deProteção ao Devedor e o Favor Debitoris -do Direito Romano ao Direito Latino-Americano, Notícia do Direito Brasileiro,Nova Série, nº 3, 1º semestre de 1997,Faculdade de Direito da UnB, Brasília).

O Brasil enfrenta, na conjuntura atual,um impasse na esfera da governabilidade,entre a manutenção de uma política eco-nômica conformada às estratégias de pre-servação do equilíbrio da economia inter-nacional e as exigências de investimentosem programas sociais para superar os obs-táculos da pobreza e redescobrir as possi-bilidades de inclusão e de revitalização dotrabalho. Além do problema jurídico dadívida externa, para o qual não faltamargumentos doutrinários (RonaldoRebello de Britto Poletti, Dívida Externa:Um Problema Jurídico, Revista JurídicaConsulex, ano VIII, nº 173, 31.03.04), éinadiável considerá-la a partir de seupotencial destrutivo, ativado pelo que osociólogo português Boaventura deSousa Santos chama de fascismo finan-ceiro, porque subjuga os mais pobres aoseu mecanismo inexorável.

Trata-se de interpelar os países credo-res ricos e as organizações multilateraistambém credoras, a partir de uma concer-tação entre os países devedores pobres ouem desenvolvimento e, deste modo,desencadear uma política internacional,por meio da instalação de fóruns demo-cráticos, tendo como horizonte a perspec-tiva libertária de remissão da própria dívi-da ou de sua conversão em investimentoseconômicos e sociais sustentáveis.

JOSÉ GERALDO DE SOUZA JUNIOR, PRO-FESSOR DA FACULDADE DE DIREITO DAUNB E SEU EX-DIRETOR, COORDENA O

PROJETO "O DIREITO ACHADO NA RUA".

Dívida externa: prática onzenária do capitalismo internacional

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Odiscreto diretor geral do Su-premo Tribunal Federal, MiguelFonseca, cumpriu um destacado

papel nas negociações da proposta de rea-juste da GAJ com o governo, representan-do o ministro Jobim em quase todas asdiscussões técnicas com os representan-tes do ministério do Planejamento e daCasa Civil. Como diretor geral do TSE, nagestão do ministro Nelson Jobim, ele jáhavia participado do esforço para a apro-vação da Lei 10.475/2002, que reestrutu-rou o PCS. Nesta entrevista exclusiva aoJornal do Sindjus, Miguel Fonseca con-ta os detalhes das negociações do aumen-to da GAJ, e reconhece que essa foi umagrande vitória da categoria, que soubebuscar a solução para driblar o reajustezero que o governo pretendia lhes impor.

Jornal do Sindjus - Gostaríamos queo Sr. recapitulasse os bastidores dasnegociações que levaram à conquista doreajuste da GAJ.

Miguel Fonseca - O processo come-çou quando o Sindjus apresentou o reque-rimento ao STF, no dia 10 de maio de2004. O sindicato já vinha fazendo con-versações com a administração doSupremo e também com os outros tribu-nais no sentido de elevar o percentual daGratificação de Atividade Judiciária, queatualmente está em 12%. A idéia originaldo Sindjus era de que a GAJ fosse elevadapara 50%. Mas, depois dos primeiros exa-mes do assunto, se viu que havia a possi-bilidade de elevar a GAJ para 30%, por-que havia uma defesa técnica para isso. Apretensão era de restabelecer a equipara-ção salarial que sempre houve entre osservidores do Judiciário e do MPU. Osservidores do MPU sempre pegaramcarona na remuneração dos servidores doJudiciário, mas em 2002 a situação seinverteu. Eles pegaram carona para apro-var o novo Plano de Cargos e Saláriosdeles, mas acabaram passando na frente

do percentual da GAJ, que ficou estabele-cida na Lei 10.475 em 12%, enquanto aGratificação de Atividade do MinistérioPúblico da União ficou estabelecida em30%, na Lei 10.476.

Jornal do Sindjus - À época, o quepesou nessa decisão foi o quantitativo deservidores do Judiciário, não foi?

Miguel Fonseca - Sempre, sempre.Nas negociações, sempre aparece o argu-mento de que o Judiciário é muito grande.Quando se tenta fazer a equiparação sala-rial com o pessoal do TCU, da Câmara, doSenado, eles sempre dizem que sãoórgãos pequenos. O próprio MPU usaesse argumento, pois seus servidores for-mam um grupo pequeno em comparaçãocom os do Judiciário, que chegam a maisde 100 mil. Qualquer pequeno aumentoou reajuste que se dê para o pessoal doJudiciário tem um impacto grande noorçamento. O argumento é sempre esse.

Jornal do Sindjus - Os servidores doJudiciário iniciaram a campanha sala-rial reivindicando o reajuste geral a que

têm direito. Mas o governo insistia noreajuste zero!

Miguel Fonseca - O governo haviaacenado com o reajuste zero para o fun-cionalismo, e preferiu fazer reajustes porcategoria. Os servidores do Judiciárioficariam de fora se não fosse essa idéia debatalhar e postular a elevação da GAJ. Ostécnicos do governo diziam o seguinte: sefossem comprometer todo o recurso orça-mentário de que dispunham para dar umaumento linear, agravariam a desigualda-de que havia e ainda há entre as diversascarreiras. Por isso os aumentos diferen-ciados. Aqui no Judiciário isso caiu comouma luva, porque o aumento da GAJ é de12% para 30%.

Jornal do Sindjus - Voltando ao iní-cio... no dia 10 de maio, dia em que oministro Jobim assumiu a presidência,protocolamos um requerimento pedindoo reajuste da GAJ. O que fez o Supremodepois disso?

Miguel Fonseca - As negociaçõescom o governo se iniciaram no dia 14 de

A história da conquista da GAJ

ENTREVISTA MIGUEL FONSECA

Fotos: Agência Focus

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maio, no Ministério do Planejamento,numa reunião de que participei acompa-nhado pelo Policarpo (Roberto Policarpo,coordenador geral do Sindjus). Houveoutra reunião no dia 17 de maio, com osecretário de Recursos Humanos daAdministração Pública Federal, SérgioMendonça. Nesse encontro, os técnicosda Secretaria e os representantes doExecutivo reconheceram a consistênciatécnica do nosso pleito, embora negassema possibilidade de conceder o reajuste emvirtude das dificuldades orçamentárias.

Jornal do Sindjus - Foi a partir dessasconversas que o sindicato avaliou que senão fossem tomadas medidas concretas, osservidores amargariam o reajuste zero. Emnossos boletins cobramos ações efetivasdos presidentes dos tribunais...

Miguel Fonseca - No dia 27 de maio,houve uma reunião no gabinete do presi-dente do STF, ministro Jobim, da qualparticiparam os presidentes dos tribunaissuperiores e o presidente do TJDF, e todosconsideraram justo o pleito dos servido-res, e emprestaram o seu apoio ao minis-tro Jobim para desenvolver tratativas jun-to às autoridades do Poder Executivo ejunto ao Congresso Nacional. Ainda emmaio, o presidente do Supremo foi recebi-do em audiência no Palácio do Planalto,pelo ministro-chefe da Casa Civil, JoséDirceu. Nesse encontro, eles iniciaram asnegociações para elevar a GAJ. E ali ficouagendada uma outra reunião, dessa vez,com a presença também do ministro daFazenda, Antônio Palocci, e do ministrodo Planejamento, Guido Mantega. Nes-ses encontros preliminares, embora aindasem sinalização por parte do Executivo daviabilidade orçamentária para 2004, elessempre alegaram que havia dificuldadesorçamentárias, que ia ser muito difícilpagar de uma vez só, ainda mais em 2004.Diziam que o valor era muito alto e come-çaram a falar de escalonamento, de parce-lamento, alongamento do tempo para opagamento disso. Começaram a falar detrês, quatro parcelas, coisas que foramcausando arrepios!

Jornal do Sindjus - Mas o governo jáacenava com a possibilidade de concederalgum reajuste?

Miguel Fonseca - O governo alegavaque não estava conseguindo fechar o orça-mento e ainda teria que contemplar as nos-sas pretensões. Embora nesses encontroscom os ministros José Dirceu, Mantega ePalocci não houvesse ainda sinalizaçãosobre a viabilidade orçamentária para 2004e 2005, o ministro Jobim negociou o ime-diato encaminhamento ao Congresso

Nacional do projeto de lei da majoração daGAJ. No dia 15 de junho, por meio daMensagem nº 28, o ministro Jobim encami-nhou o projeto ao presidente da Câmara dosDeputados. O projeto foi firmado por ele epelos presidentes dos tribunais superiores edo TJDF. Na Câmara dos Deputados rece-beu o número 3804 e é conhecido agoracomo Projeto de Lei nº 3804.

Jornal do Sindjus - O envio do ante-projeto foi importante, mas o governoainda apresentava sinais de resistência.Quais?

Miguel Fonseca - Já no dia seguinte,16 de junho, fomos a uma reunião com aárea técnica do Ministério do Plane-jamento, no gabinete do Dr. Sérgio Men-donça, a quem levamos uma cópia do PL3804. Novos esclarecimentos foramprestados, e ele ficou de levar o assunto àconsideração do ministro Guido Mantegae de efetuar algumas simulações sobre ahipótese de escalonamento, para diluir no

tempo o impacto orçamentário resultantedo PL. No dia 17, a gente já queria o resul-tado da conversa dele com o ministroMantega, mas não houve informação. Nodia 18 também não houve informação.Por isso, nessa mesma data, eu fui recebi-do em audiência pelo subsecretário paraassuntos jurídicos da Casa Civil, o Dr.Tóffoli, quando discutimos as planilhaspreviamente elaboradas no Supremo comas hipóteses de escalonamento. Essas pla-nilhas foram encaminhadas pela CasaCivil à Secretaria de Orçamento Federal(SOF) para convalidar os cálculos quehavíamos elaborado no STF, inclusivecom a ajuda do Sindjus e da Fenajufe. Nodia 23 de junho, eu me reuni com o Sr.Israel Stal, assessor da área pessoal daSOF, que solicitou a abertura dos dadosconstantes das planilhas por órgão doJudiciário. Isto é, a indicação da quantida-de de ativos, inativos e pensionistas, etambém do total de servidores para cada

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referência remuneratória. A solicitaçãodele foi atendida no mesmo dia. Com aajuda do Sindjus, nós entramos em conta-to com todas as áreas de recursos huma-nos dos órgãos do Judiciário e obtivemosas informações com todo o detalhamentopedido pelo Ministério do Planejamento.

Jornal do Sindjus - Nessas conver-sações, o governo continuou batendo natecla das dificuldades financeiras...

Miguel Fonseca - Na semana de 28 dejunho a dia 2 de julho, a junta orçamentá-ria, composta pelos chefe da Casa Civil epelos ministros da Fazenda e doPlanejamento, reuniu-se em mais de umaoportunidade para discutir a situação

orçamentária da União em 2004 e no anode 2005. A dificuldade era maior em 2005do que 2004. No dia 2 de julho, o Dr.Tóffoli, da Casa Civil, nos informou quehavia dificuldades nas negociações noâmbito do Executivo para se chegar aopatamar de R$ 400 milhões. Mas, pelosmenos, já estava sinalizado um valor.Ocorre que essa quantia correspondia àcorreção da GAJ de 12% para 21% . Noentanto, quando eles se referiam aos R$400 milhões, eles estavam pensando em2005 e não em 2004, tanto que não aceita-ram que o reajuste fosse retroativo a maio.Inicialmente, a nossa leitura é que nãohavia problemas para 2004. Só depoisfomos descobrir que a disposição delesera de pagar a primeira parcela em 2005, enão a partir de 2004. E aí foi outra luta. Osexercícios de cálculos remetiam semprepara um escalonamento a ser efetuado emtrês parcelas, e aí a integralização da GAJem 30% ocorreria somente em julho de

2006. Em contraposição a isso, a repre-sentação da categoria postulava a vigên-cia a partir de maio de 2004 e a integrali-zação ainda em 2005.

Jornal do Sindjus - A situação pare-cia chegar a um impasse...

Miguel Fonseca - Bom, diversosencontros de negociações ainda se reali-zaram, com os interlocutores doExecutivo e do Judiciário, entre esses e aslideranças sindicais, e entre esses perso-nagens e o deputado Sigmaringa Seixas,destacado defensor da causa dos servido-res do Judiciário. Ainda em julho, oministro do Planejamento, acompanhadodo secretário de Recursos Humanos da

administração federal, Sérgio Mendon-ça, com quem nós iniciamos as negocia-ções na área técnica, foi recebido emaudiência pelo presidente do Supremo.Ele novamente se referiu às dificuldadesorçamentárias. Mas ouviu do ministroJobim um veemente apelo no sentido deencontrar uma solução aceitável, que des-se ao ministro condições de negociar coma representação sindical. Em seguida, emreunião na Casa Civil, após exaustivassimulações de escalonamento - e eu possodizer que foram dezenas de simulações -chegou-se à seguinte formulação: eleva-ção da GAJ de 12% para 20% a partir dejulho de 2004 e de 20% para 30%, a partirde novembro de 2005, o que representadispêndios adicionais de R$ 167 milhõesem 2004 e R$ 420 milhões em 2005.

Jornal do Sindjus - Mas pouco antesda definição final, houve grandes dificul-dades nas negociações, não foi?

Miguel Fonseca - Sim, porque o Exe-

cutivo continuava alegando dificuldadesfinanceiras e procurava estender ao máxi-mo o escalonamento, sem querer liberarnada em 2004. E nós trabalhávamos paraantecipar ao máximo, pois as lideranças sin-dicais afirmavam que de outra maneira nãoaceitariam a proposta. Até que consegui-mos fazer recuar a primeira parcela parajulho. Por isso é que eu digo que o fato de ter-mos conseguido 20% a partir julho de 2004,foi uma grande vitória para a categoria.

Jornal do Sindjus - Mas, nesse mo-mento, o governo apresentou a proposta?

Miguel Fonseca - Ainda com a resis-tência da área econômica, o presidente daRepública precisou ser consultado para

autorizar os R$ 420 milhões. Foi precisoque o ministro José Dirceu e o ministroJobim conversassem com ele. Fechado oacordo, o ministro Jobim chamou o Sindjuse a Fenajufe para fazer o anúncio da propos-ta. E, como vocês se lembram, o ministroJobim disse que não havia mais qualqueroutra possibilidade de melhorar a propostanegociada. Diante dessa informação, aslideranças ficaram de consultar a categoriapara deliberar. No mesmo encontro, acor-dou-se que, se a categoria aceitasse a pro-posta, os interlocutores do Judiciáriofariam gestões com o Executivo e com oLegislativo para a aprovação do substituti-vo do projeto de lei ainda em agosto.

Jornal do Sindjus - Nossa avaliaçãoé de que a mobilização foi muito impor-tante para a conquista dessa vitória. Oque o Sr. acha?

Miguel Fonseca - Acho que sim etambém foi importante ter confiado nosinterlocutores do Judiciário.

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AComissão Interdisciplinar doJudiciário, criada para elaborarestudos e oferecer propostas

para a revisão do Plano de Cargos eSalários dos Servidores do PoderJudiciário, avança na elaboração do ante-projeto de lei que, após submetido à cate-goria, deverá ser encaminhado aoCongresso Nacional. O Plano de Car-reira deverá substituir a Lei nº 9.421, de24 de dezembro de 1996, alterada pelaLei nº 10.475, de 26 de junho de 2002,que atualmente regulamenta as carreirasdo Judiciário.

A Comissão, criada a partir de reivin-dicação do Sindjus, tem prazo até o dia 17de agosto para concluir os trabalhos. Paraesclarecer a categoria, informamos nessaedição os principais pontos que estãosendo discutidos, alguns deles polêmi-cos. Serão realizadas assembléias seto-riais para ouvir os servidores e é impor-tante que todos participem, oferecendocontribuições.

O Sindjus propôs o estudo de um novo

Plano de Carreira com a intenção de equi-parar os vencimentos das carreiras doJudiciário com os de outras semelhantesdo Legislativo e do Executivo. Para tanto,a Comissão Interdisciplinar está avalian-do os planos de carreira de outras catego-rias, como os servidores do SenadoFederal, da Câmara dos Deputados, doTribunal de Contas da União (TCU) e doMinistério da Ciência e Tecnologia. Odiagnóstico balizará a proposta do novoPlano de Carreira do Judiciário.

Para otimizar os trabalhos, aComissão Interdisciplinar se subdividiuem dois Grupos Temáticos (GTs): o GTde Desenvolvimento de RecursosHumanos, que trata de questões como asatribuições e a valorização dos trabalha-dores, entre outras, e o GT de Remu-neração, que cuida de pontos relativos asalários, gratificações etc.

Estruturação - Os integrantes daComissão Interdisciplinar consideramque o debate não deve limitar-se aoaumento da tabela de vencimentos, mas

estender-se a uma discussão ampla deestruturação das carreiras. Há uma gran-de defasagem do Judiciário em relação aoutros setores com atribuições seme-lhantes, o que torna o trabalho daComissão um desafio.

Entre os pontos fundamentais queestão sendo tratados pela ComissãoInterdisciplinar destacam-se: a remune-ração, o programa de capacitação, o regu-lamento de promoções e a ocupação defunções. "Precisamos definir, por exem-plo, as atribuições dos cargos ou especia-lidades dos auxiliares, técnicos e analis-tas, definir os conceitos das áreas doJudiciário e resolver a defasagem sala-rial, que é uma questão urgente", enfatizaRoberto Policarpo, o coordenador geraldo Sindjus.

GAJ deve ser de 50% - No capítulosobre a remuneração, o texto do novoPlano de Cargos e Salários deve prever oaumento da Gratificação de AtividadeJudiciária (GAJ) para 50% do vencimen-to básico do cargo efetivo.

NETTO COSTA

Servidores do Judiciário discutem novo Plano de Carreira

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cia

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Portaria do STF instituiu ComissãoFoi no último dia 18 de maio que o ministro Nelson Jobim, então presidente inte-

rino do Supremo Tribunal Federal (STF), assinou a Portaria nº 74, criando aComissão Interdisciplinar para elaborar estudos e oferecer propostas de revisão doPlano de Cargos e Salários dos Servidores do Poder Judiciário da União. Cumpriu-se, assim, uma antiga reivindicação do Sindjus. A Comissão é composta por repre-sentantes dos seguintes órgãos e entidades, sob a coordenação do primeiro:

!Supremo Tribunal Federal (STF);!Tribunal Superior Eleitoral (TSE);!Superior Tribunal de Justiça (STJ);!Conselho de Justiça Federal (CJF);!Superior Tribunal Militar (STM);!Tribunal Superior do Trabalho (TST);!Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT);!Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério

Público da União (Fenajufe);!Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público

da União no Distrito Federal (Sindjus).

Ocupações de funções - A propostaprevê que as funções comissionadas de1 a 6 deverão ser ocupadas exclusiva-mente por servidores do quadro de car-reiras, com critérios específicos. Mas,será que a exigência de nível superiorpara o preenchimento de funçõescomissionadas de natureza gerencial é omelhor critério?

Paralelamente ao Plano de Carreiradiscute-se a criação de um Banco deTalentos em cada órgão, como forma desubsidiar a escolha de servidores para aocupação de funções.

Auxiliar - As atribuições relativas aocargo de auxiliar têm sido terceirizadaspelos órgãos do Judiciário. O Sindjusquer garantir a permanência dessas atri-buições, inclusive como forma de acabarcom o processo de terceirização que,além de comprometer a qualidade do ser-viço público, tem sido uma forma de bur-lar o concurso público.

Permuta/redistribuição - São mui-tos os pedidos dos servidores que dese-

Sindjus-DF e Fenajufe integram aComissão Interdisciplinar do Judiciário

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jam mudar de Estado. Por isso, o Sindjusreivindica mudanças na legislação, per-mitindo essa possibilidade.

Estágio - A representação dos servi-dores na Comissão conseguiu excluir daproposta o dispositivo que proibia aspromoções durante o estágio probatório.

Adicional de qualificação - O sindi-cato entende como imprescindível anecessidade de qualificar os servidoresdas carreiras, mediante a sua participa-ção em cursos de pós-graduação emáreas de interesse dos órgãos doJudiciário. No entanto, deve ser assegu-

rada aos servidores uma contrapartida,um incentivo àqueles que se propõem aaprofundar seus estudos em cursos volta-dos para as atividades dos órgãos. Outrareivindicação é que as administraçõesdevem possibilitar ao servidor cursarmestrado e doutorado, concedendo alicença para capacitação.

Gratificações específicas - Os Ofi-ciais de Justiça e os Agentes de SegurançaJudiciária têm demandas próprias, entreas quais uma gratificação específica e adefinição de suas atribuições.

Fique atento. Participe das assem-

bléias setoriais que o Sindjus promoverána primeira quinzena de agosto em seulocal de trabalho. Vale lembrar que não é adireção do sindicato quem vai aprovar onosso Plano de Carreira. A categoria,mobilizada e participante é que dará apalavra final.

Precisamos de sua opinião para dar-mos passos firmes rumo à valorizaçãode nossas carreiras. Acesse também apágina www.sindjusdf.org.br paraacompanhar os trabalhos da ComissãoInterdisciplinar e dar a sua opinião e assuas sugestões.

Em 1974 :

" O Executivo cria o Plano de Classificação deCargos (PCC) e determina que cada Poder institua oseu. O Judiciário cria, então, o Grupo de ApoioJudiciário, com todos os cargos específicos, e impor-ta do Executivo os modelos de outros Grupos, com-postos por servidores de nível médio e responsáveispor atividades de nível superior, como os médicos,odontólogos etc. " Nesse período, cada grupo de cargos tinha um padrãode ingresso diferenciado e às vezes, no mesmo grupo, oscargos entravam em padrões diferentes.

Em 1988:

" A Constituição Federal determina o fim da ascensão,pela qual os servidores podiam mudar de classe medianteconcurso interno, se tivesse vaga na outra classe. " A Constituiu proibiu também o provimento derivado,ou redistribuição por permuta.

Em 1996:

" A Lei 9.421 transformou todos os cargos em apenastrês; auxiliar, técnico e analista judiciário. " Todos os servidores entravam no 1º padrão da 1ª clas-se do respectivo cargo. " Os cargos têm todos a mesma estrutura: três classes equinze padrões. " Havia sobreposição dos últimos cinco níveis de umaclasse sobre os cinco primeiros da outra. Exemplo: o auxi-liar entrava no A -1 e saía no C-05; o técnico entrava no A-11 e saía no C-25; o analista entrava no A-21 e saía no C-35. " A referida lei criou as funções comissionadas, deníveis 1 a 10, com valores diferenciados para osoptantes que recebiam a remuneração do cargo efeti-

vo mais 70% do valor da FC;" As FCs deveriam ser preferencialmente ocupadas porservidores das carreiras judiciárias;" Seriam considerados cargos em comissão as FCs deníveis 6 a 10, ocupadas por servidor sem vínculo com aadministração pública;" A lei criou a Gratificação de Atividade Judiciária(GAJ) e o Adicional de Padrão Judiciário (APJ);" A promoção de um padrão para o seguinte exigia ape-nas o interstício mínimo e a aprovação na avaliação dedesempenho;" A lei vedava a promoção durante o estágio probatórioe o servidor, se aprovado, seria promovido para o 3ºpadrão da Classe A de sua carreira;

Em 2002:

" A Lei 10.475 reforçou o valor dos vencimentos, " Extinguiu o APJ;" A promoção do último padrão de uma classe para oprimeiro padrão da classe seguinte passou a exigir:interstício mínimo, aprovação na avaliação de desempe-nho e participação em curso de aperfeiçoamento;" A lei vedou a promoção durante o estágio probatório eo servidor, se aprovado, passou a ser promovido para o 4ºpadrão da Classe A de sua carreira;" Disciplinou a divisão das FCs nos níveis de 1 a 6 edeterminou que 80% delas sejam ocupadas por servido-res de carreira; o restante é destinado a servidores ocu-pantes de cargo de provimento efetivo ou titulares deempregos públicos;" Criou as CJ 1 a 4 em substituição aos antigos cargosem comissão e destinou pelo menos 50% delas aos servi-dores das carreiras judiciárias;"Vedou a criação de emprego público e a terceirizaçãodas atribuições que coincidam com as das carreiras doJudiciário.

Histórico dos PCS do Judiciário

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Grandes ou pequenas, com instala-ções modernas ou mais antigas,aconchegantes ou menos confor-

táveis. Quem se aventurar a percorrer asbibliotecas dos órgãos do Judiciário e doMinistério Público da União irá constatara enorme diversidade das suas instala-ções. Mas algumas coisas elas têm emcomum: o fato de todas serem bibliotecasinstitucionais, já que a sua função princi-pal é dar apoio às atividades-fim de seusrespectivos órgãos.

Outro ponto em comum entre elas é oacervo especializado em Direito. Direitoeleitoral (forte no TSE), do trabalho(especialidade do TST), militar (STM),constitucional (no STF) etc. Ou seja, oconjunto dos acervos das 17 bibliotecaspesquisadas (ver quadro abaixo) abrangetodas as áreas do Direito.

Os acervos dessas bibliotecas conta-bilizam 284.219 livros, sem incluir osperiódicos. Esse número corresponde acerca de duas vezes o acervo da bibliotecado Senado Federal (150 mil volumes) e équase equivalente ao acervo da bibliotecada Câmara dos Deputados (300 millivros), a maior de Brasília.

Além do empréstimo - Além dos tra-dicionais serviços prestados por qualquerbiblioteca, a maioria dessas bibliotecasoferece alguns serviços e produtos espe-ciais. A do MPT é a única a autorizar oempréstimo de periódicos, pois, geral-mente, esse tipo de publicação só pode serconsultado in loco. A biblioteca do STJdesenvolve uma "pesquisa exaustiva",cujo objetivo é evitar dizer "não" ao usuá-rio quando alguma obra é solicitada. Seisbibliotecários fazem a pesquisa e "vãoaos livros" até encontrar o que a pessoaquer. Segundo a bibliotecária-chefe,Rosa Maria de Abreu Carvalho, esse ser-viço é o diferencial da sua instituição.

A PRDF oferece uma visita orienta-da aos novos integrantes, servidores eestagiários da Procuradoria, mostrandoas instalações e os serviços da bibliote-ca. Segundo a bibliotecária, AucileneMarins, esse tipo de visita é sempre ofe-recida, principalmente aos novos esta-

giários, pois tem caráter obrigatóriopara eles.

No TJDFT, existe uma coleção defitas de vídeos com matérias que saíramna mídia sobre o tribunal desde 1998 até2003. No STM, uma das bibliotecáriasrealiza diariamente a leitura de cinco jor-

nais de maior circulação no País, selecio-nando matérias de interesse da JustiçaMilitar para o arquivo. O clipping é reali-zado desde 1962.

Filmes e livros - Uma das estratégiasda biblioteca do CJF para atrair o públicoé organizar, quinzenalmente, no horário

(Re) Descobrindo as bibliotecasA REPORTAGEM DA JORNAL DO SINDJUS PESQUISOU TODAS AS BIBLIOTECAS DO JUDICIÁRIO E DO

MPU NO DF PARA QUE VOCÊ CONHEÇA O QUE ELAS OFERECEM ALÉM DOS LIVROS DE DIREITO

MARINA MEDLEG SIMON

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do almoço, sessões de cinema para osservidores, no auditório da própriabiblioteca.

Confeccionar um "Guia do Usuário" emarcadores para livros foi o meio encon-trado pela biblioteca do TRF para divul-gar suas normas e atividades. Nessa mes-ma linha, a Coordenadoria de Biblioteca eEditoração (Cobli) do TSE fornece um kitaos novos servidores. Composto por ummanual do usuário, o kit traz também umguia detalhado sobre como realizar pes-quisas nas diversas áreas das bases dedados da Cobli, um fôlder com explica-ções rápidas sobre pesquisas em geral nabiblioteca e um "SOS Pesquisa", outrofôlder com mais dicas sobre pesquisas.Ou seja, não há desculpas para não reali-zar as pesquisas com êxito. Além disso, aCobli distribui um boletim mensal, comsumários de artigos, títulos das novasaquisições e artigos.

As bibliotecas do STF, da PGR e doCJF também fazem questão de manterbem informados os usuários de seu acer-vo. Para tanto, distribuem fôlderes comexplicações sobre serviços, produtos eobras, de forma resumida e didática.

Se a opção não for pela mídia impres-sa, a maioria das bibliotecas procuraoutras formas de disseminar informaçõesrelevantes para os servidores da casa.Muitas utilizam murais, mas o meio maisutilizado na comunicação interna é aIntranet. Todas as bibliotecas a utilizampara divulgar, sobretudo, as novas aquisi-ções. A Intranet também é utilizada parapesquisas, principalmente pelas bibliote-cas que não dispõem de link para pesqui-sas na página eletrônica do órgão.

"A gente não quer só Direito..." -Todas as bibliotecárias deixam claro quea Literatura não é prioridade de seus acer-vos. Em algumas bibliotecas obras literá-rias simplesmente não existem ou nãoestão catalogadas. No STJ e no STF, porexemplo, só há livros de Direito.Segundo Edine de Moura, coordenadorada biblioteca do STF, a principal preocu-pação é adquirir obras jurídicas. Por-tanto, o orçamento prioriza obras dessaárea para tentar manter a atualização numramo vasto, dinâmico e crescente.

Mas algumas bibliotecas desenvol-vem formas alternativas para manter umacervo de literatura: por doação de ser-vidores, procuradores, desembargado-res, etc. Sete das 17 bibliotecas pesqui-sadas se incluem nesse caso, principal-mente para atender pedidos de usuáriosque se interessam também pela leituracomo lazer.

O maior acervo de Literatura é o doSTM: mais de mil livros. Lá é mantido oClube do Livro, formado pelos servido-res da casa desde 1985. Para se associar aoClube e poder retirar as obras, o usuárioprecisa doar dois livros no ato da inscri-ção. Segundo as bibliotecárias LucianaHuming e Wilza Rosa, o Clube é bastanteprocurado.

Na PRDF também existe um projetocomo esse, o Clube de Leitura, iniciadono começo do ano, que já contabiliza 177livros para um universo de 122 servidoresna Procuradoria. PGR, MPDFT, TSE,TRT e JF também investem nessa linha. Oacervo de Literatura é geralmente modes-to, mas costuma ser muito procuradopelos usuários. A Justiça Federal estámontando um pequeno acervo de obrasliterárias, principalmente para dar apoioaos funcionários ou aos seus filhos quecursam o segundo grau.

Pérolas - "Orationes" de Cícero, edi-tada em 1556, é a obra mais rara dasbibliotecas do Judiciário e do MPU noDistrito Federal. O livro pertence ao STFe integra um acervo de 1.500 obras raras,que estão acomodadas em sala especial,climatizada, com termômetro e higrôme-tro para controlar a temperatura e a umi-dade. O STJ também segue esse rigor notratamento às obras antigas.

Destaque também para uma pérola doDireito que se encontra no STM: uma edi-

ção de 1891 da primeira ConstituiçãoRepublicana, com os cortes (arestas daspáginas) em fios de ouro. Herança fami-liar de um funcionário da casa, doada em2002, a obra foi restaurada no laboratóriodo próprio tribunal.

Outras obras raras estão espalhadaspelos demais órgãos. Infelizmente, nemsempre o tratamento e acomodação sãoideais e os livros, muitas vezes, se encon-tram em estado lastimável.

Rubi - As bibliotecas do STF, STJ,STM, TST, TJDFT e PGR integram aRede Virtual de Bibliotecas, RVBI, siglapronunciada como "rubi", a pedra precio-sa. A rede é gerenciada pela biblioteca doSenado e abrange, no total, 15 bibliotecasdos Três Poderes, incluindo a da Câmarados Deputados, ministérios e outrosórgãos públicos do Distrito Federal. Pormeio da RVBI, qualquer pessoa pode pes-quisar, numa única base de dados, o acer-vo de todas as bibliotecas da rede. Ou seja,o usuário pesquisa de uma tacada só cercade 1 milhão de itens, entre livros, periódi-cos, obras raras e multimeios. A vanta-gem do dispositivo é tornar a consultaextremamente prática e rápida. Para abiblioteca, a vantagem é participar de umsistema que é referência mundial, e utili-zar um software de pesquisa super-moderno, com boa potencialidade, alémde compartilhar informações com asdemais bibliotecas.

Órgão Acervo Endereço eletrônico Pesquisa pela (livros) Internet/Intranet

STF 80 mil www.stf.gov.br/institucional/biblioteca/abiblioteca.asp SimSTJ 52 mil www.stj.gov.br/webstj/Institucional/biblioteca SimTJDF 35.606 www.tjdf.gov.br/Biblio/index.htm SimPGR 16 mil www.pgr.mpf.gov.br/pgr/biblioteca SimTRF 15 mil www.trf1.gov.br/setorial/biblioteca/default.htm SimMPDFT 15 mil Não tem link para a biblioteca Só na IntranetTSE 13 mil www.tse.gov.br SimCJF 11 mil www.cjf.gov.br/Bvirtual SimSTM 9.505 Não tem link para a biblioteca Só na IntranetTST 8,5 mil Não tem link para a biblioteca Só na IntranetTRT 6.150 www.trt10.gov.br/Info_biblioteca.php Só na IntranetTRE 6 mil www.tre-df.gov.br/biblioteca/bibliot_01.htm SimMPT 4,5 mil Não tem link para a biblioteca Só na IntranetPRR 4 mil www.prr1.mpf.gov.br SimJF 3 mil Não tem link para a biblioteca Só na IntranetPR/DF 2.804 www.prdf.mpf.gov.br/biblio SimMPM 2.154 www.mpm.gov.br Sim

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Amais recente democracia domundo tenta construir seusistema judiciário com ajudainternacional. O Timor Les-

te, país da Ásia que declarou independên-cia da Indonésia em 1999, luta para solidi-ficar as leis do país. Os problemas sãomuitos: faltam juízes, advogados e outrosprofissionais do Direito. Quando a Or-ganização das Nações Unidas (ONU)assumiu a administração do país, pelasmãos do brasileiro Sérgio Vieira de Melo,encontrou o Timor sem juízes e poucaspessoas com experiência na área. Osgovernantes eleitos pelo povo em maio de2002 querem ajuda brasileira para formaro sistema.

A Agência Brasileira de Cooperação(ABC) do governo brasileiro está elabo-rando um projeto para mandar juízes,promotores, servidores da Justiça eassessores legislativos ao novo país. Aidéia é adaptar as sugestões ao modelojudiciário montado pelo Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), que capacita profissionais doDireito, fornece instalações, equipamen-tos e tecnologia de informação.

País mais pobre da Ásia, rodeado por17 mil ilhas da Indonésia, o Timor Lestetem uma população de 891 mil pessoas -sendo que 500 mil têm até 20 anos. Os 24anos de ocupação provocaram a destrui-ção total do país. A estimativa é de que250 mil pessoas foram mortas e outras250 mil tenham se refugiado para evitar amorte. No dia do plebiscito que decidiupela independência, pelo menos 1.400pessoas foram massacradas por milíciasindonésias, que também tocaram fogonas casas. Cinco anos depois, o cenário eo clima no país são outros: existe umagrande vontade dos organismos interna-cionais e de voluntários para garantir apaz aos timorenses.

Cooperação - A ABC montará a pri-meira missão de cooperação Brasil-TimorLeste. Serão escolhidos profissionais dedestaque na área. Mas antes, o governo do

Timor precisará declarar se está de acor-do. E o PNUD precisa dizer quanto libera-rá de dinheiro para pôr em prática o proje-to. A tendência, segundo diplomatasouvidos pelo Jornal do Sindjus, é que nãohaverá objeções à missão. Já há brasilei-ros atuando na área, por meio de contratoscom a ONU. A experiência, segundo eles,tem sido exemplar.

Um dos interesses do governo doTimor Leste pelos profissionais brasilei-ros é a semelhança entre os sistemas judi-ciários dos dois países. A base é o DireitoCivilista, inspirado no Direito Português.Juízes, promotores e assessores quedesempenharem suas funções no Timordeverão formar colegas timorenses. Nãoficarão limitados às atividades da corte.

O Embaixador do Brasil no TimorLeste, Kywal de Oliveira, diz que o Brasilcomeçará a atuar mais efetivamente na

ajuda à reformulação judicial a partir des-te semestre. "Alguns promotores, juízes eservidores serão enviados para desempe-nhar funções no Timor", afirmou. OBrasil, como membro eleito do Conselhode Segurança das Nações Unidas no biê-nio 2004/2005, tem se empenhado nadefesa dos interesses dos países em desen-volvimento, particularmente os do terri-tório africano, além do Timor Leste.

Democracia - Graças à ajuda interna-cional, o país já avançou na consolidaçãoda democracia, mas ainda precisa demedidas como o fortalecimento do PoderJudiciário para solidificá-la. Essa avalia-ção foi feita por representantes doConselho para uma Comunidade deDemocracias, criada em 2000 para pro-mover a democracia nos países. Eles visi-taram o Timor em maio deste ano. A reco-mendação é que o país invista no treina-

Como o Timor Leste constrói seu Judiciário

CRISTINA LIMA

A brasileira Dora Martins diante do Tribunal de Recursos

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mento de policiais, juízes, advogados eoutros profissionais da área. Sugere aindaque dê mais suporte à independência doJudiciário e crie o cargo de ombudsmanda Justiça e dos Direitos Humanos. A pro-moção da educação civil e a melhoria doacesso à informação pública devem serincrementadas.

A ONU ajudou o país a montar aAssembléia Constituinte, que tem 87 par-lamentares, sendo que 25% são mulheres.Um avanço para um país que foi domina-do pela Indonésia, país muçulmano, ondea mulher é discriminada, tem a cidadanialimitada e é considerada ser inferior.

No Timor, colonizado pelos portu-gueses no século XV, cerca de 80% dapopulação é católica.A questão da língua éum problema. Os timo-renses falam tétum(um dos 35 dialetosexistentes no país) e obahasa indonésio.Apenas 10% da popu-lação falam português.Poucos falam inglês.

Mas os parlamen-tares ainda têm poucaatuação. A Constitui-ção do país já foi lança-da, mas ainda faltamleis sólidas, compatí-veis com a nova reali-dade. O empecilho é afalta de experiência. Emesmo se houvessemuitos juízes e profis-sionais do Direito, elesteriam sido formados de acordo com asleis indonésias, que não servem mais paraa democracia do Timor.

Leis orgânicas foram redigidas, masainda não saíram do papel. Os parlamen-tares têm dificuldades em criar leis e ava-liar as que surgem do Executivo. A Lei deTrânsito existe, mas os motoristas timo-renses ainda desrespeitam princípiosbásicos, como andar com cinto de segu-rança e transportar crianças no banco detrás. Em nenhuma parte da capital, Dili,há sinais de trânsito.

Untaet - Antes de formar os própriosprofissionais do Direito, a AutoridadeTransitória das Nações Unidas para oTimor Leste (Untaet) nomeou umacomissão para o serviço judicial de transi-ção, com dois advogados internacionais etrês timorenses. Em abril de 2000, já eram16 juízes, responsáveis por 85 casos.Após a administração da Untaet, em

2002, a Missão das Nações Unidas deApoio no Timor Leste (Unmiset) assumiuas ações de ajuda ao país. Hoje, oMinistério da Justiça assumiu as questõesrelacionadas ao Judiciário. O Timor temum Tribunal de Recurso, criado em maiodo ano passado, e quatro TribunaisDistritais, com 17 juízes de julgamento,seis juízes de investigação, nove procura-dores e nove defensores públicos.

A inexistência de juízes especializa-dos nos tribunais timorenses torna tudomais difícil. Os juízes lidam com casoscivis, criminais e laborais, simultanea-mente. A única exceção ocorre nosPainéis Especiais para os Crimes Graves,que cuidam exclusivamente dos crimes

ocorridos no período da ocupação indo-nésia - genocídio, homicídio, crimessexuais, tortura, crimes de guerra e crimescontra a humanidade. Os PainéisEspeciais, no entanto, são formados porum coletivo de juízes, sendo dois juízesinternacionais e um juiz timorense paracada painel.

Um dos juízes internacionais noPainel de Crimes Graves foi a brasileiraDora Martins (foto), juíza do Tribunal deJustiça de São Paulo. A magistrada brasi-leira representou o Brasil no Timor Lestedurante um ano, julgando os processos ecolaborando com a estruturação doJudiciário e a garantia dos direitos huma-nos. Dora observou que o principal pro-blema é formar o juiz. "Os juízes que atua-vam no país eram indonésios com forma-ção precária. E os atuais juízes são muitonovos, com idades variando entre 25 e 35anos. Ainda pensam como se estivessem

numa ditadura", contou. Tradições - O desconhecimento da

população em relação ao funcionamen-to do novo sistema judicial também éuma fonte de problemas. Acostumado auma forma tradicional de justiça, noqual o chefe da aldeia decidia os confli-tos que surgiam entre os habitantes -mesmo os casos mais graves, comohomicídio e estupro - e impunha ime-diatas sanções, o povo que vive nasaldeias ainda resiste à Justiça formal.Para a população, não e fácil compreen-der que alguém que transgrediu a leifique em liberdade à espera de um jul-gamento que pode demorar anos. Porisso, não é raro que, em alguns casos, a

justiça seja feita pelaprópria família da víti-ma. Esse comporta-mento se reflete na ati-tude dos próprios juí-zes e procuradorestimorenses, que ten-dem a usar a prisão pre-ventiva como regra, enão como exceção. NoTimor, as investiga-ções são feitas peloMinistério Público.

A polícia começa ase estruturar aos poucospara garantir os direitosdos cidadãos. O majorda Polícia Militar doDistrito Federal, Fran-cisco Carlos da SilvaNiño, consultor técnicopara o adjunto do

comandante geral da Polícia Nacional doTimor Leste (PNTL), diz que estão sendoformados mais de três mil homens parafazer a segurança pública nos 13 distritosque compõem o Timor. Eles tambémterão funções no trânsito, policiamentomarítimo e imigração. "A idéia é formar2.800 policiais em dois anos", afirmou.

Hoje, 32 policiais militares brasilei-ros ajudam os novos governantes a rees-truturar a polícia do Timor. Eles formamos futuros integrantes da Unidade deIntervenção Rápida da PNTL. É como sefosse o Batalhão de Operações Especiaisda PMDF. Entre eles, a capitã KedmaMascarenhas, da Polícia Militar de Goiás,também consultora na área de segurança.Ela lembra que a maioria dos crimescometidos pelos timorenses é de estuproincestuoso. "As mulheres são muito des-valorizadas. Garotas são estupradas pelopai, tio ou irmão", conta.

A juíza Dora Martins com o presidente do Timor, Xanana Gusmão

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Para combater a macaqueação do Halloween - oDia das Bruxas dos americanos -, que andaassolando o comércio e as escolas brasileiras,

um grupo de artistas e intelectuais constituiu em julhodo ano passado em São Luiz do Paraitinga, São Paulo,a Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), umaONC, isto é, Organização Não-Capitalista.

O objetivo é resgatar do esquecimento o Saci-Pererê e outras figuras do imaginário popular(como a Iara, o Curupira e a Mula Sem Cabeça) paraafirmar a identidade cultural brasileira. Não se tra-ta de uma campanha xenófoba, mas de um movi-mento de contestação à "arrogância, (à) prepotên-cia e (à) destruição de que é portadora a indústriacultural do império", mais especificamente, doimpério dos Estados Unidos da América.

O movimento já fez duas grandes conquistas: aoficialização do "Dia do Saci" pelas Câmaras deVereadores de São Luiz do Paraitinga e de SãoPaulo. A data escolhida foi o 31 de outubro, exata-mente para coincidir com o Dia das Bruxas, con-frontando-o. Há iniciativas similares em curso emoutras cidades, como Juiz de Fora, em Minas, eCuritiba, no Paraná. Mas a meta é muito mais ambi-ciosa. A Sosaci está passando um abaixo-assinado aser encaminhado ao ministro da Cultura, GilbertoGil, com a sugestão de que ele encampe a luta pelacriação do "Dia Nacional do Saci e seus amigos".

Antropofagia - "Halloween - ou "raloim", naversão nacional - só com carne seca!", pregam osfiliados à Sosaci, demonstrando o espírito combati-vo, galhofeiro e antropofágico da proposta. Ex-plicando: o principal símbolo do Halloween é oJack-O'Lantern, uma máscara esculpida numa abó-bora para servir de lanterna. Em vez de assustar osincautos na escuridão da noite, a idéia inovadora éespantar a fome com uma abóbora recheada de car-ne seca, fina iguaria da culinária brasileira.

Entre os sócios fundadores da Sosaci encon-tram-se alguns pesos pesados da resistência culturalbrasileira, como o fotógrafo e documentaristaVladimir Sacchetta e o violeiro Ivan Vilela. Vilela,que comanda uma Orquestra Filarmônica de Violasna Unicamp e que recentemente lançou o cedêCaipira, com os cantores Suzana Salles e Lenine dosSantos, acaba de passar em concurso na Universi-dade de São Paulo, tornando-se o primeiro catedrá-tico de viola caipira no País, um marco na história damúsica brasileira de raiz.

Trilha de Lobato - A iniciativa dos observado-res de Saci segue uma trilha inaugurada no iní-

UMA ORGANIZAÇÃO NÃO-CAPITALISTA CRIADA EM SÃOPAULO PROPÕE O SACI-PERERÊ COMO SÍMBOLO DARESISTÊNCIA CULTURAL BRASILEIRA

Botando as bruxas pra correr

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ciodo século passado pelo escritorMonteiro Lobato. Inconformadocom a importação acrítica de ninfas,elfos, gnomos e anões da Europa, ogenial criador de Emília e Narizinhopropôs que aquelas "niebelungices,mudas à nossa alma" fossem substi-tuídas por "sacis-pererês, caiporas,mães d'água, e mais duendes criadospela imaginação popular".

Em 1917, Lobato promoveu,nas páginas do jornal "O Estado deS. Paulo", uma pesquisa sobre ascaracterísticas e as aprontações doSaci. Recebeu centenas de cartasde todos os recantos do País, mate-rial que depois reuniu no livro "OSaci-Pererê - Resposta a umInquérito", descrevendo o perfil donegrinho de uma perna só, de cara-puça vermelha, que gora ninhadas,queima balões, rouba as espigas equebra os pés de milho, embaraçaas crinas dos cavalos e assusta osviajantes nas estradas, entre outrasaporrinhações.

Esse é o personagem que a Sosaciescolheu para espantar a invasão dasbruxas e outros monstros norte-ameri-canos. Assombração por assombra-ção, o melhor é ficar com as nossas!

Para saber mais e se filiar, acesse a página eletrônica daSociedade dos Observadores deSaci no seguinte endereço: www.sosaci.org

Algumas assombrações genuinamente brasileiras

CCUURRUUPPIIRRAA - Gênio da ecologia, protetor das florestas brasileiras, o Curupira - ou Currupira- tem o corpo de moleque, vasta cabeleira vermelha, os pés virados para trás e os calcanha-res para frente, para enganar os que o seguem. Costuma andar montado num porco-do-mato.O nome, de origem tupi-guarani, significa "corpo de menino". Curupira é mais conhecidona Amazônia. No Sul, recebe os nomes de Caapora e Caiçara. BBOOIITTAATTÁÁ - Outro gênio ecológico, protege os campos castigando os que botam fogo navegetação. O padre Anchieta já dizia que nas praias e beiras de rios era comum encontrar oBoitatá, também conhecido como Baitatá, Batatal, Batatão, Biatatá, Bitatá, Batatá e FogoCorredor. Seu nome vem do tupi-guarani mboy (cobra) tatá (fogo). Ou seja, é "cobra defogo". Aparece como uma cobra de fogo ou, às vezes, num tronco em brasa. IIAARRAA - Iara significa "senhora", em tupi. Mas seu nome vem de ig (água) iara , quer dizer,"senhora das águas". Conhecida também por "Mãe D'Água", é uma espécie de sereia dosrios e lagos. Para os índios não era uma moça bonita, de vasta cabeleira, mas um ser mascu-lino, o Ipupiara ("o que mora no fundo das águas"), que costumava virar canoas e assombraras pessoas. Pescadores e lavadeiras eram suas vítimas. Com a chegada do europeu, associa-ram esse gênio das águas às sereias, e ele virou uma mulher linda, moradora de um paláciono fundo do rio, que encanta e atrai os homens. MMAAPPIINNGGUUAARRII - Praticamente desconhecido fora da Amazônia, o Mapinguari, morador dafloresta, sobrevive especialmente no Acre. Trata-se de um homem agigantado (dizem tam-bém que é um macacão, ou uma preguiça gigante, que anda em pé), negro, com longos pêlosque o protegem até contra tiros (só o umbigo é desprotegido). Tem pés de burro virados paratrás, braços gigantes e unhas em garra. Sua boca, enorme, é na barriga, em posição vertical. Édescrito como muito mau, ataca homens e engole suas cabeças. Mas ele só ataca os caçado-res que matam por prazer e os seringueiros que trabalham nos domingos. MMUULLAA SSEEMM CCAABBEEÇÇAA - Mula mesmo, sem cabeça, negra, com uma cruz de cabelos bran-cos.Tem um facho luminoso na ponta da cauda. Mata quem encontra a coices.Desencantada, é uma linda mulher nua, que tem amores criminosos ou que teve relaçõescom um padre.

Fonte: Mouzar Benedito

Um espectro ronda a indústria da cultura. Como já ocorre-ra durante a I Guerra Mundial - quando os chamados " povoscivilizados" se matavam entre si nos campos da Europa,como lembra Monteiro Lobato em seu Inquérito, escrito em1917 -, o espectro do Saci voltou para dar nó na crina daspotências que invadem os outros países com uma "indústriacultural" predadora e orquestrada.

O Saci é reconhecido como uma força da resistência cul-tural a essa invasão. Na figura simpática e travessa do insigneperneta, esbarram hoje, impotentes, os x-men, os pokemon,os raloins e os jogos de guerra, como esbarravam ontem patosassexuados e ratos com orelhas de canguru.

É tempo, pois, do Saci expor abertamente seus objetivos,lançando um manifesto e denunciando o verdadeiro espectro:o espectro do imperialismo cultural. Para tanto, outrosexpoentes do imaginário cultural brasileiro - como o Boitatá,a Iara, o Curupira e o Mapinguari - reuniram-se e redigiram opresente manifesto.

A cultura popular é um elemento essencial à identidade de

um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário dopovo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, represen-tam a tentativa de destruir a identidade do nosso país. A histó-ria de todas as culturas até hoje existentes é a história de opres-sores e oprimidos. Hoje, como ontem, o Saci apóia, em qual-quer lugar e em qualquer tempo, qualquer iniciativa no senti-do de contestar a arrogância, a prepotência e a destruição deque é portadora a indústria cultural do império.

O Saci não se reivindica como símbolo único e incontestá-vel da cultura popular brasileira. O Saci trabalha pela união epelo entendimento das várias iniciativas culturais que devol-vam ao nosso povo a valorização de sua identidade cultural. OSaci não dissimula suas opiniões e seus objetivos e proclama,abertamente, que estes só podem ser alcançados por um amplomovimento de resistência cultural, denunciando os malefíciosda indústria cultural imperialista. Que ela trema à idéia de umaresistência cultural popular. Nesta, o Saci nada tem a perder anão ser seus grilhões. E tem um mundo a ganhar.

Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!

Manifesto de fundação da Sosaci

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Há quase oito anos, a Vara daInfância e Juventude do DistritoFederal convocou a Universi-

dade de Brasília para entrar no combate àviolência. A universidade aceitou o desa-fio. Assinaram então um convênio paraque a UnB passasse a implantar medidassócio-educativas na recuperação dejovens que ainda não haviam cometidoinfrações graves. Teria sido mais um con-vênio, mais uma tentativa, não tivesse opessoal da UnB percebido algo quemudou definitivamente a forma de tratardo problema: para reeducar os garotos demaneira consistente, seus pais tambémteriam que ser reeducados. Daí então nas-ceu a Escola de Pais e Filhos.

"Percebemos logo que medidassócio-educativas não bastavam. O garotovoltava pra casa e encontrava a mesmafalta de afeto e compreensão que havialevado a família a adotar medidas expul-sivas - conta Clenira Ordoñez Souza, quepercebeu e implantou o que pode se cha-mar de "passe de mágica" nessa área. "Amágica acontece quando pais se colocam

no lugar dos filhos e filhos no dos pais",explica Daniela Natália Faraco Acosta,estudante de pedagogia, que estagiou noprograma no último semestre, comple-tando: "Daí vem a compreensão".

Reincidência mínima - Desde então700 garotos entre 14 e 18 anos, 93% delesmeninos, e algo em torno de mil pais, ouresponsáveis, já passaram pela Escola dePais e Filhos. O índice de reincidência éde 10%. Mesmo assim, no índice estãoincluídos garotos enviados à Escola pelojuiz da Vara da Infância e Juventude oupela Secretaria de Estado da Ação Social,mas que não apareceram. Não foi regis-trado nenhum caso de alguém que, indouma primeira vez, tenha desistido. Pelocontrário. Muitos terminam o semestrelamentando não poder voltar.

"Meu irmão chegou emburrado, avi-

sando que não queria participar, e hojelembra com saudade dos dias passadosali", diz Clara da Silva, irmã mais velha deM.A.S., de 15 anos. Os dois foram "alu-nos" no último semestre. Eles moramcom a mãe e mais três irmãos no Cha-parral, área localizada na QNM, emTaguatinga Norte, conhecida pela violên-cia. Ela conta que o irmão andava comgente "barra pesada" e foi parar na Escolaporque assumiu ser dono de uma arma deum rapaz maior de idade de sua turma.

A história do irmão de Clara é umclássico da Escola, tanto pelos motivosque o levaram para lá quanto pela mudan-ça por que passou. Saía da cama ao meio-dia, não ia mais à escola, fugia da respon-sabilidade e freqüentava uma turma "bar-ra pesada". Hoje ele trocou a freqüênciana turma pela freqüência na sala de aula.

ESCOLA DE PAIS E FILHOS

A EXPERIÊNCIA EDUCACIONALQUE ENSINA PAIS E FILHOS AENCURTAR SUAS E DISTÂNCIASPARA O TAMANHO DE UM ABRAÇO

Os educadorestambém têm queser educados

Os educadorestambém têm queser educados

JOÃO ALBERTO FERREIRA

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Acorda às 7h e vai ao colégio, procuraandar de banho tomado e bem vestido,para "me dar ao respeito", como afirma.Ele está atrás de um curso profissionali-zante para aprender a consertar rádios etevês, "para me valorizar".

Aprendendo a conversar - Por suavez, a história de Clara é outro clássico, aíno que diz respeito ao aprendizado de paise responsáveis. "Sabe da maior?", per-gunta, já com a resposta na ponta da lín-gua: "Aprendi a conversar com ele". NaEscola, Clara lembrou o que é adolescer,como seus colegas de aprendizado. Comoprimeiro resultado, não há mais gritos emcasa. "Nos falamos sem alterar a voz",afirma. E sobre qualquer assunto, mesmoaqueles de que o irmão não gosta. "Euagora vou pelas bordas. Começo falandode assuntos de que ele gosta e termino

puxando para o tema que desejo", revela osegredo.

"Nosso programa é feito para mudar ocomportamento dos pais (ou responsá-veis) em relação aos filhos, e dos filhosem relação aos pais, por meio de oficinasque abrem oportunidades de experimen-tar, compreender e fazer novas opções devida, tudo com uma abordagem lúdica",explica a nova coordenadora da Escola,Sizue Imanishi, que substituiu Clenira.Sizue trabalhou com crianças durantelongos anos, primeiro como consultorado Fundo das Nações Unidas para aInfância e Juventude (Unicef) naAmérica Central, e depois promovendo,para o Fundo, os direitos das crianças eadolescentes no Brasil.

As oficinas, que constituem o verda-deiro diferencial dessa Escola em relaçãoaos outros convênios firmados pela Varada Infância e Juventude, são chamadaspor alguns de vivências. De fato, mais separecem com terapia de grupo. "A oficinacria um espaço catártico", traduz a esta-giária Daniela. A cada 15 dias, as oficinasreúnem pais e filhos num mesmo ambien-te. Os garotos vão a Escola uma vez porsemana durante o semestre. Eles revezama oficina com a medida sócio-educativapropriamente dita, o trabalho, orientadopor um tutor bem treinado, nos váriosdepartamentos da UnB.

Laços afetivos - Nas oficinas são uti-lizadas várias ferramentas de trabalho,quase todas já experimentadas no campoda psicologia, com um objetivo bem cla-ro: restabelecer os laços afetivos dentro

da família. No início da primeira das oitooficinas do semestre, o que se vê são paise filhos sentados distantes uns dos outros,pais que não se dirigem aos filhos e filhosque não se dirigem aos pais. Pais que par-tem do princípio de que o problema não édeles, mas dos garotos; e filhos que se jul-gam vítimas involuntárias da incom-preensão paterna. É comum ver pais degarotos que já vivem fora de casa e já nãose falam há anos.

O tema da primeira reunião: "Ser dife-rente é a nossa riqueza". Cai como ummorteiro sobre espíritos endurecidos.Clara lembra bem da palestra que a fezrefletir sobre a responsabilidade que lhecabia no distanciamento do irmão: "Foiuma palestra sobre porcos-espinhos se

protegendo do frio. Eles juntaram seuscorpos para se aquecer e fugir da intempé-rie que atingia a todos igualmente. Unsmorreram por causa dos espinhos e outrosficaram feridos. Então perceberam, pormeio do sofrimento, que podiam se aque-cer e passar pela tempestade se estives-sem juntos, mas mantendo uma distânciasegura. A essa distância segura chama-mos respeito à diferença".

Na mesma palestra, todos são convida-dos a se darem as mãos e, assim, se apresen-tar uns aos outros. É o início da quebra dogelo afetivo. A partir daí, o toque estará pre-sente em todas as vivências do grupo. Numaoutra vivência, com o tema "Adolescendo",os pais são convidados a dramatizar sua dis-tante adolescência. "Muitos se surpreen-dem ao ver que haviam se esquecido de queforam adolescentes um dia, surpreendem-

se mais ainda ao lembrarcomo eram", diz Clenira.Memória refrescada, elesfazem uma dramatizaçãode sua adolescência paraos filhos. Agora é a vez deos garotos ficarem surpre-sos, dando-se conta de queseus pais foram como elesum dia.

Ninho comum -Falar ali vai se tornandoalgo mais fácil do queparece na chegada.Talvez pelo mesmo moti-vo que fez do AlcoólicosAnônimos uma institui-ção de sucesso. Todostêm os mesmos proble-mas. Ninguém é umestranho no ninho.Muitos pais discrimina-dos em sua vizinhança, epor isso com vergonha

do comportamento dos filhos, falamabertamente pela primeira vez quandopercebem que estão entre iguais.

Os trabalhos vivenciais sucedem-se:um se chama "Quem sou eu?" e estimulatodo mundo a falar de si; outro, "Umaquestão de Interpretação", convida todosa respeitar a opinião do outro; e aindaoutro, "Pisou na Jaca?", ensina, como nosamba de Paulo Vanzolini, que a vida con-tinua e que todos devem "se levantar, sacu-dir a poeira e dar a volta por cima, porqueum homem de moral não fica no chão".

A oitava vivência é conhecida por"Um desconhecido chamado "meufilho". Aí já estamos na última vivência eas distâncias se encurtaram na maioriadas vezes para o tamanho de um abraço.

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Imagine a cena: o marido chega bêba-do em casa. A mulher está na cozinha.Ele liga a televisão. As imagens são

de violência. O noticiário apela para o sen-sacionalismo. O homem se altera. Discutecom a mulher, bate nela. Essa é a realidadede milhares de lares brasileiros. Oumelhor, do mundo. Uma em cada trêsmulheres do planeta será espancada, abu-sada sexualmente, estuprada, mutilada,assassinada, escravizada ou sofreráalgum outro tipo de violência ao longo desua vida. A violência dentro de casa é aprincipal causa de morte e deficiênciasentre mulheres de 16 a 44 anos e mata maisdo que o câncer e os acidentes de trânsito.

O alarme foi feito pela AnistiaInternacional no relatório "Está em suasmãos. Pare a violência contra as mulhe-res". A divulgação do documento, emmarço, marcou o início de uma campanhamundial da organização de direitos huma-nos em favor do sexo feminino. O movi-mento chama a atenção para a responsabi-lidade do Estado, da sociedade e dos indi-víduos diante do problema.

Campanhas - Para mudar esse cená-rio, só mesmo um conjunto de ações que

envolvem governos e sociedade. Uma dasformas de prevenção seria debater mais otema e escutar as vítimas - e acreditar noque elas contam. Em março último, oSindjus aderiu à campanha do LaçoBranco, iniciada nos anos 90, no Canadá,e que já se estendeu por mais de 30 países.Fitas brancas foram distribuídas paraserem usadas no pulso. Esta é apenas umadas formas de sensibilizar a comunidadepara difundir a idéia de que as agressõescontra as mulheres devem ser denuncia-das o mais rápido possível.

Dados fornecidos pelo MinistérioPúblico do Distrito Federal apontam quesó na Delegacia da Mulher (Deam) do DFforam registradas 3.871 ocorrências em2003. Ao todo, 5.830 crimes - em cadaregistro pode haver mais de um crime. Amaioria é de ameaça (2.254), seguida delesão corporal (1.341). Em geral, são pra-ticados pelo marido. Ao todo, são 9.539mulheres vítimas de violência no DF, deacordo com registros em todas as delega-cias.

No final da década de 80, o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (-IBGE) constatou que 63% das vítimas de

agressões físicas no ocorridas no espaçodoméstico eram mulheres. Pela primeiravez, reconhecia-se oficialmente esse tipoespecífico de crime.

As agressões continuadas levaram oMPDF a instalar, em abril, a Promotoriade Justiça de Defesa dos Direitos daMulher. A nova promotoria, que duranteseis meses funcionará em caráter experi-mental, será integrada com outros órgãosde defesa da mulher, como associações,conselhos, delegacias, movimentossociais e entidades representativas.Depois de agosto, se tornará efetiva.Diferentemente dos promotores crimi-nais, que agem com base nos inquéritospoliciais remetidos pelas delegacias, oatendimento dos promotores da área serádirecionado a outros tipos de denúncias,como o mau atendimento na rede pública,assédio moral e sexual, e discriminação.

Prevenção - A promotora MárciaMilhomens, que divide os trabalhos com opromotor Wilson Koresawa, conta quepelo menos uma mulher procura o MPDFa cada dia para denunciar agressões. Emalguns casos, ocorrências são registradasna Deam, que se preocupa em tipificar o

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

CRISTINA LIMA

Mulheres exigem puniçõesmais rigorosas

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crime cometido. Na Promotoria daMulher, o atendimento vai além. "Nossotrabalho também é psicossocial. Senãofica difícil prevenir novos crimes", afir-ma Milhomens.

Para atuar em conjunto com aPromotoria, foi formado o Núcleo dePerícia Social. Mas ainda será preciso fir-mar parcerias para incrementar o traba-lho. Os promotores acabam virando con-selheiros. Chamam o agressor, definepensões alimentícias e até encaminham,nos casos mais graves, as mulheres para aCasa Abrigo, alojamento reservado paraaquelas que correm risco de morte.

Na avaliação da promotora, o trabalhoserá mais eficiente caso a sociedade seempenhe no combate à violência domés-tica. "Não adianta só marginalizar oagressor porque ele estará inserido navida da mulher para sempre, por meio dosfilhos. Muitos também foram vítimas deagressões. É preciso tratar a família comoum todo", opina Márcia Milhomens.

Se de um lado a sociedade tateia noaprendizado ao combate à violênciadoméstica, o Congresso Nacional, pormeio de organismos que defendem asmulheres, caminha a passos largos. Emjunho, foi aprovado o projeto de lei deautoria da deputada Iara Bernardi (PT/S),que tipifica a violência doméstica noCódigo Penal Brasileiro.

Punição e correção - Mas, na avalia-ção da advogada Iaris Ramalho Côrtes,assessora técnica do Centro Feminista deEstudos e Assessoria (Cfemea), muitoainda precisa ser feito. A lei em vigor ain-da permite que o criminoso seja julgadoem juizados especiais. As penas converti-das podem ser transformadas em presta-ção de serviço à comunidade."Precisamos atender as recomendaçõesda Organização das Nações Unidas(ONU) para o assunto e aprovar um novoprojeto de lei com base não só punitiva,mas também corretiva", disse. Iarisdefende mais rigor no cumprimento dapena de acordo com o tipo de crime come-tido pelo agressor, seja lesão corporal gra-ve ou ameaça.

Esse projeto está em fase de elabora-ção por meio de um grupo ministerial. Apartir dele, o Poder Executivo enviarámensagem ao Congresso Nacional paratransformá-lo em projeto de lei e, por fim,em legislação. "Precisamos de prevenção

e não esperar que haja o espancamentopara o Estado poder agir", defendeu IarisRamalho. As penas, segundo a advogada,seriam as mesmas que constam noCódigo Penal, como as de lesões corpo-rais, homicídios etc.

Para isso, as entidades não-governa-mentais buscam recursos para uma cam-

panha nacional de prevenção à violênciadoméstica. Elas também participam dacampanha "Quem financia a baixaria écontra a cidadania", da Comissão deDireitos Humanos da Câmara dosDeputados e de organizações da sociedadecivil para a promoção dos direitos huma-nos e da dignidade do cidadão na mídia.

Cenas representando situações deextrema violência física e também moralinvadem as telas da televisão em todas ashoras do dia e da noite. É a estética da vio-lência. Até mesmo o jornalismo se rendeàs fórmulas de sucesso sensacionalista enos brinda todos os dias com doses cadavez maiores de cenas realistas, nas quaispolícia e televisão atuam juntas em caça-das aos bandidos dos morros cariocas ouda periferia paulistana. Assistimos aovivo e em cores o close da cara do bandi-do, que ocupa seu espaço na mídia e dáentrevista.

Baixaria - O deputado federalOrlando Fantazzini (PT/SP), que encabe-ça a campanha, utiliza estudos científicosde vários países para provar que há rela-ção entre a violência doméstica e os pro-gramas televisivos. "Crianças submeti-das a uma hora de programa com violên-cia por dia têm alto potencial para come-ter agressões", comenta. A intenção doparlamentar é que seja adotado umCódigo de Ética da TV. "Enquanto nãotem, queremos fazer uma pressão moralaos patrocinadores da baixaria", explicaFantazzini.

Junto com as mulheres, as criançassão as maiores vítimas da violênciadoméstica. Segundo o Ministério daSaúde, as agressões constituem a princi-pal causa de morte de jovens entre 5 e 19anos. A maior parte dessas agressões pro-vêm do ambiente doméstico. O Unicefestima que, diariamente, 18 mil crianças eadolescentes são espancados no Brasil.

E a televisão tem influência sobre ospequenos, que um dia poderão se tornaradultos agressivos. Psicólogos dizem quequanto mais tarde a criança se iniciar nomundo da TV, melhor.

ServiçoPROMOTORIA DE DEFESA DOSDIREITOS DA MULHER: 343-9375DELEGACIA DA MULHER (DEAM):244-4583/3400

O que é violênciadomésticaO presidente Luiz InácioLula da Silva sancionouno dia 18 de junho a Lei10.886/04, que tipifica aviolência doméstica noCódigo Penal Brasileiro.De acordo com o pará-grafo 9º acrescentado aoartigo 129 do Código, tra-ta-se de lesão (ofensa àintegridade corporal ou àsaúde) praticada poralguém contra ascen-dente, descendente,irmão, cônjuge ou com-panheiro, ou com quemconviva ou tenha convi-vido, ou, ainda, prevale-cendo-se o agente dasrelações domésticas, decoabitação ou de hospi-talidade. Apena previstaé de detenção de seismeses a um ano. Nos ter-mos do parágrafo 10,amplia-se de um terço apena nos casos de lesãocorporal de natureza gra-ve e de lesão seguida demorte.

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Cresce a consciência dos valoreshistóricos presentes não só emobjetos, monumentos ou autori-

dades, mas também nos saberes e fazerespopulares, nos modos de viver e convi-ver na cultura cotidiana e na arte - mesmofora dos mercados - em suas diversas lin-guagens

A maioria do povo brasileiro só lem-bra da idéia de patrimônio quando se falade riqueza pessoal. E geralmente quandotem algum corrupto denunciado emcasos ilícitos de aumento de renda (semorigem clara) ou mesmo, sendo riquezalícita, dentro das regras do lucro regula-mentar.

O patrimônio quase sempre é umvolume precioso, alheio, pois quem malsobrevive de salário não tem grandes

sobras para guardar ou acumular. Semfalar num certo machismo de ser patri-mônio pelo "pátrio poder" masculino,visto como o herói varão que trabalha,caçador, guerreiro, e assim é o "único"gerador de herança familiar e de posses.Eis o pecúlio do senhor todo poderosopatriarca, pai. Mas a coisa mudou e amulher não é mais a caricatura antiga deusar o "matrimônio" por interesse exata-mente de olho no patrimônio. Hoje, sãomuitas as mulheres que abastecem o ditocujo e se apresentam senhoras cabeças defamílias.

No futebol, locutores antigos goza-vam o jogador que fazia um gol contracom o rebuscado "atentou contra o patri-mônio". Na história, patrimônio é asso-ciado a "coisa velha de museu", geral-

mente em ruínas, pelo descaso crônicodo Estado. O patrimônio público viraquase um entulho de luxo sem despertarvínculos com o cotidiano dos moradoresnem mesmo com a trajetória histórica dacidade, do Estado ou do País.

Criação do Iphan - Lentamente, opanorama da atitude cultural do brasilei-ro frente ao patrimônio muda. Quase nomesmo ritmo das intempéries que cor-roem monumentos e cupins devoradoresde altares sacros, a cultura do PatrimônioVivo toma nova forma em políticas públi-cas. Desde a criação do Instituto doPatrimônio Histórico e ArtísticoNacional (Iphan), em 13 de janeiro de1937, a mobilização da sociedade pres-siona para o aumento da consciência queao valorizar obras, objetos, fazeres e

Patrimônio, pátria amada

e o salve-salve

Patrimônio, pátria amada

e o salve-salve

TT CATALÃO

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saberes cresce com a própria auto-esti-ma de um país que precisa lembrar paramelhor resistir ao desmanche de suaidentidade.

Em 1936, o então Ministro daEducação e Saúde, Gustavo Capanema,encomendou a Mário de Andrade umanteprojeto de Lei para a salvaguardadesses bens e confiou a Rodrigo MeloFranco de Andrade a tarefa de implanta-ção do Serviço do Patrimônio.Integraram esse primeiro núcleoManuel Bandeira, Afonso Arinos,Lúcio Costa e Carlos Drummond deAndrade. Quando Rodrigo decidiuorganizar idéias e sistematizar meiospara a criação de uma base legislativa, emeios para a preservação do patrimôniohistórico, o Brasil engatinhava noEstado Novo de Getúlio Vargas, e o ran-ço do "nacionalismo fechado" marcouum pouco essa luta histórica.

Nas últimas décadas, a desconfian-ça aumentou pela febre do pseudomo-derno que adota a terra arrasada comodogma e assim coloca a tradição exa-cerbada, um sintoma agudo de atituderetroativa - um tanto confirmada pelasposturas de culto ao passado dos retró-grados. O passado, na era do consumorápido-rasteiro-ralo, também criouuma falsa aparência de "estar paradono tempo", do recuo reacionário ou dapoeira inoportuna.

Fútil + útil - Na febre do "novis-mo" a qualquer preço e da novidadeefêmera embalada no mesmo balaio doque seria novo, o fútil se enrola com oútil e a tradição deixa de ser referênciahistórica com valores quem contam avida pelos objetos, saberes, fazeres,feitos, palavras, modos de existir, arte,

manias e construções.Na sociedade o patrimônio é consi-

derado como conjunto de bens, mate-riais e não materiais, mas com valor deuso e de troca, que podem pertencer aum indivíduo ou a uma empresa, públi-ca ou privada.

Em ação conjunta com o Iphan, oMinistério da Cultura conta com oPrograma Monumenta, inspirado noêxito de uma experiência precursoraem Quito, capital do Equador, que em1994 foi beneficiada com financia-mento do Banco Interamericano deDesenvolvimento para a reconstruçãoda cidade, praticamente destruída porum terremoto em 1987. Em 1995, oPrograma chegou ao Brasil para consi-derar, nacionalmente, o patrimôniocomo expressão da magnífica plurali-dade étnica, cultural, histórica e geo-gráfica que caracteriza a formação doPaís. É a celebração da nossa mestiça-gem sob a herança arquitetônica eurbanística de portugueses e bandei-rantes, negros e índios, asiáticos, tra-balhadores rurais e urbanos vindos daEuropa, tropeiros e garimpeiros.Culturas que se diluem e se renovamentrelaçadas e surgem diferentes eincorporadas ao exuberante painel dapaisagem natural.

Patrimônios - A idéia do tomba-mento também remete a um inventárioque signifique riqueza (como os seto-res administrativos de uma repartiçãopública fazem para controlar os bens).Hoje, porém, o conceito se amplia emcamadas mais sutis de valor.Considera-se "riqueza" uma pinturacorporal indígena, um sotaque, umrepertório de usos gráficos, um ritmo

(como o samba foi recentemente pro-posto, pelo ministro Gilberto Gil daCultura, ao tombamento como bemimaterial).

O tombamento pode ser aplicadoaos bens móveis e imóveis, de interes-se cultural ou ambiental, quais sejam:fotografias, livros, mobiliários, uten-sílios, obras de arte, edifícios, ruas,praças, cidades, regiões, florestas,cascatas etc. Somente é aplicado aosbens materiais de interesse para a pre-servação da memória coletiva.

Entre as definições adotadas paraas diversas configurações de patrimô-nio, o Instituto Estadual do PatrimônioHistórico e Artístico de Minas Geraisusa como patrimônio natural: rios,cavernas, montanhas, flora e fauna, deuma região ou de um país; patrimônioedificado: bens imóveis, sendo elescasas, igrejas, museus, edifícios repre-sentativos da evolução histórica ouexemplares de determinado períodoou manifestação cultural; a garantia desua preservação depende também dapreservação do entorno, de forma agarantir sua distinção e percepção nocontexto onde se insere.

O patrimônio urbanístico é o for-mado pelas estruturas urbanas e/ouconjuntos urbanos de especial impor-tância, que guardem homogeneidadepaisagística e ambiental ou sejam refe-renciais formadores da personalidadeúnica de um lugar; podem ser repre-sentados por praças, bairros, cidades,incluindo sua paisagem. Sendo quebens móveis são os objetos que fazemparte do patrimônio e que, por suascaracterísticas manuais, podem serremovidos sem dificuldades; formam

Forte de Santo Antônio da Barra, SalvadorCerâmica popularForte do Castelo, Belém

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conjuntos de elementos artísticos, arte-fatos culturais e objetos significativospara a memória, abrangendo nãosomente as obras de arte como tambémos materiais de arquivo, documentos etodos aqueles objetos que possuem umvalor especial para a comunidade, sejade ordem afetiva, simbólica ou históri-ca. E bens integrados, também chama-dos elementos artísticos ou artes apli-cadas, constituem a ornamentação quecompõe a ambiência arquitetônica dasedificações; de natureza escultóricae/ou pictural, são cantarias, pilastras,colunas, arcos-cruzeiros, púlpitos,balaustradas, retábulos, forros policro-mados, painéis parietais e outros.

Já o patrimônio imaterial ou intan-gível são as manifestações de naturezaimaterial que constituem importantesreferências culturais e relacionam-se àidentidade, à maneira e à ação dos gru-pos sociais. Nesse conceito estão asformas de expressão e os modos decriar, fazer e viver, considerando ossaberes (conhecimentos e modos defazer enraizados no cotidiano dascomunidades), as celebrações (rituaise festas que marcam a vivência coleti-va do trabalho, da religiosidade, doentretenimento e de outras práticas davida social), as formas de expressão(manifestações literárias, musicais,plásticas, cênicas e lúdicas) e os luga-res (mercados, feiras, santuários, pra-ças e demais espaços onde se concen-tram e se reproduzem práticas cultu-rais coletivas).

O patrimônio documental é forma-do pelos documentos que constituem oacervo histórico e as fontes de compro-vação de fatos históricos e memorá-

veis. Materializado sob diversas for-mas e diferentes bases, esse patrimônioconstitui muitas vezes o principal acer-vo dos arquivos públicos e bibliotecas.

O caso Brasília - Recentemente, acapital da República teve a opiniãopública mobilizada contra um projetoda Câmara Legislativa que pretendiamonopolizar as decisões sobre o patri-mônio na região. A gravidade reside nofato de a Câmara ser exatamente umadas principais ameaças ao que preten-dia, digamos, "preservar". O Iphan ajui-zou, nos últimos dois anos, 206 açõescontra atos da administração pública,das quais cerca de 50 foram julgadas emprimeira instância a favor do órgão depreservação. São, aproximadamente,25 normas, que, segundo o Iphan, ferema Constituição e têm de ser revistas.

Entre os mais discutíveis estão osque dispõem sobre o Plano Diretor dePublicidade, a alteração de uso deáreas, como no Setor de ClubesEsportivos Sul, e as construções indivi-duais em coberturas chamadas "o séti-mo andar privativo". Sem falar da tole-rância à ocupação irregular de terraspúblicas, loteamentos eleitoreiros e ofato, por exemplo, de a orla norte doLago Paranoá encontrar-se quase todafechada, fato que já dura anos. Das 103pontas-de-picolé, com terrenos custan-do em média R$ 1 milhão, apenas qua-tro continuam livres para uso coletivodo espelho d'água.

O tombamento de Brasília começouem 1961, quando a Lei Santiago Dan-tas, provocada por Juscelino Kubits-chek, previu que qualquer alteração noplano original da recém-criada Brasíliadeveria ser autorizada pelo governo

federal. Em 1987 a lei de proteção localexigida pela Unesco foi aprovada e acidade transformada em PatrimônioMundial. Em 1990 Brasília foi tombadapelo Iphan, considerando quatro esca-las consolidadas pela Portaria 314, que,segundo a proposta idealizada peloarquiteto Lúcio Costa, devem conviverharmoniosamente: a escala bucólica,campo inserido na cidade; a escalamonumental, palácios e casas oficiais; aresidencial, superquadras predefini-das; e a escala gregária, muito espaçopara interação social tanto nas quadrasquanto no parque.

Consciência - O fato de Brasília sero primeiro monumento arquitetônicodo século XX reconhecido pela Unescocomo Patrimônio Cultural daHumanidade provoca a reflexão espe-cial de se incorporar o patrimôniocomo matéria viva e de permanenterelação com o cotidiano de todos. Não ésó o preservar pelo ufanismo oba-obada pátria amada, mas pela realidade emque, quando esquecemos, permitimosa manipulação da nossa vida; quandolembramos, conseguimos resistir paradiagnosticar o presente com projeçãono futuro, e assim escapamos da arma-dilha da perda da memória que abate aauto-estima e tenta colocar povo enação para baixo, como zeros em dig-nidade e valor cultural.

A importância maior é de que, pelopatrimônio popular e imaterial, enfim,podemos assumir que somos sujeitosda história (mesmo os aparentementeperdedores) e que há valor cultural emexpressões fora dos circuitos consa-grados pelo mercado ou mesmo pelaestética oficial.

Heitor Villa-Lobos, o maior compositor brasileiroMuseu da Inconfidência, Ouro Preto

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