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• Sexta-feira Janeiro • Ípsilon Cinema Livros Música Exposições Teatro/Dança Os anos da sinc r Com a Internet alcançámos uma forma de estar e pensar tão antiga quanto os Veda hindus: uma realidade sincrónica, viral, não-linear. A contemporaneidade absoluta é agora. Vanessa Rato Chamava-se “Le Temps, Vite”, ou se- ja “O Tempo, Rápido”, e inaugurou no Centro Pompidou, em Paris, no ano 2000, em plena vertigem da en- trada no novo milénio. Na entrevista que deu para o catálogo, Umberto Eco usava a expressão: contemporanei- dade absoluta. “Todas as sociedades, como todos os indivíduos, vivem so- bre a memória. Sem memória não há duração, não há alma”, dizia. Expli- cando: “Todas as épocas tentaram captar toda a memória possível por todos os meios possíveis, como se a memória dos anciãos não fosse sufi- ciente.” O desenho, a escrita e os livros; o teatro e a dança; a arquitectura e a estatuária; a pintura, a fotografia e o cinema; os museus e as bibliotecas... “Hoje, o que é que acontece? O arqui- vo, tanto quanto a memória que con- tém, tornou-se enorme. A Internet encerra a memória de todo o univer- so. Donde o problema da escolha, da filtragem. É preciso aprender a ames- trar esta memória para que ela não nos subjugue.” A Internet, pois, esse não-tempo contínuo, espécie de super-consci- ência extática, onde o Big Bang está constantemente a criar o universo, hoje. Onde as Torres Gémeas e os Budas de Bamyian caem e voltam a erguer-se todos os dias. Onde os bai- larinos de Pina Bausch hão-de dan- çar uma e outra vez “A Sagração da Primavera” ao som de “Thriller”, de Michael Jackson, porque estranha- mente resulta, como se sempre ti- vesse sido assim. Onde Leonardo da Vinci e Picasso são contemporâneos de Warhol, Bansky, Jagdish Swami- nathan, Subodh Gupta e todos os artistas conhecidos e desconhecidos de antes, agora e por vir. Onde arte é arte, mas também tatuagem e por- nografia, ao mesmo nível. Onde, vistos de cima, Telheiras e Brooklyn são e não são a mesma coisa. Onde o jardim babilónico que falta plantar no Dubai é fabuloso no mesmo mo- mento em que o atentado de agora em Carachi é um horror a cair-nos em cima com todo o pó, os mortos e o sangue (e, afinal, onde é que fica Carachi?, perguntamos ao tipo que, ao mesmo tempo, temos na outra ponta de um chat Lisboa-Bombaim, um tipo que não conhecemos mas que, em segundos – quando esque- cermos Carachi – , nos vai fazer che- gar o filme que está a montar e es- treia daqui a um mês em Los Ange- les). “Convém não esquecer que a con- temporaneidade é, por vezes, uma ilusão. Assim, no momento em que dispomos da contemporaneidade ab- soluta, podemos também ser mario- netas da ilusão da contemporaneida- de”, dizia Eco. Modernidade, pós-moderni dade, altermodernidade Foi há dez anos. Entretanto, ao que tudo indica, a maior parte de nós habituou-se a fazer da ilusão, do caos e de todos os nivelamentos, por baixo ou por cima, uma experiência positi- va, e isso foi suficiente para o nasci- mento de um novo universo global, de uma nova forma de estar e pensar tão antiga quanto a filosofia holística dos Veda hindus: uma forma de estar e pensar sincrónica, em vez de dia- crónica, viral, não-linear – um univer- so de contemporaneidade absoluta, de facto. Tão absoluta que se tornou categoria, em si. “Nos primeiros anos do século XXI a arte flutuou livre de qualquer liga- ção à História e à teoria. Tornou-se, de certa forma, numa categoria artís- tica em si. Um campo independente”, dizia-nos há semanas o crítico e his- toriador norte-americano Hal Foster. Continuando: “Apesar de haver uma longa história de vanguardas moder- nas e de a vanguarda se ter definido sempre através da ruptura com o pas- sado, na verdade, sempre ficou ligada ao passado. Já a arte contemporânea, especialmente porque é uma arte glo- bal, perfila-se como uma vasta pre- sença que vemos mais como um gran- de campo horizontal.” E depois a pergunta recorrente: “Terá a tensão entre o presente e o passado sido es- ticada ao ponto de ruptura?” E a res- posta: “Acho que sim.” “Ao longo dos últimos 20 anos, a arte tornou-se internacional e depois global. Hoje há todo o tipo de tradi- ções e histórias da arte a considerar. Não há uma, duas ou três linhas que possamos traçar ao longo do tempo e que funcionem e possam conferir um sentido narrativo ao presente. De uma forma ou outra [até há algum “Le Temps, Vite”, a exposição que o Pompidou inaugurou na vertigem da entrada no novo milénio, foi um prognóstico do estado da arte nos anos 00 RUI GAUDÊNCIO

Anos de Sincronia Absoluta

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  • 16 Sexta-feira 8 Janeiro 2010 psilon

    Cinema Livros MsicaExposies Teatro/Dana

    Os anos da sincr

    Com a Internet alcanmos uma forma de estar e pensar to antiga quanto os Veda hindus: uma realidade sincrnica, viral, no-linear.

    A contemporaneidade absoluta agora. Vanessa Rato

    Chamava-se Le Temps, Vite, ou se-ja O Tempo, Rpido, e inaugurou no Centro Pompidou, em Paris, no ano 2000, em plena vertigem da en-trada no novo milnio. Na entrevista que deu para o catlogo, Umberto Eco usava a expresso: contemporanei-dade absoluta. Todas as sociedades, como todos os indivduos, vivem so-bre a memria. Sem memria no h durao, no h alma, dizia. Expli-cando: Todas as pocas tentaram captar toda a memria possvel por todos os meios possveis, como se a memria dos ancios no fosse sufi-ciente.

    O desenho, a escrita e os livros; o teatro e a dana; a arquitectura e a estaturia; a pintura, a fotografia e o cinema; os museus e as bibliotecas... Hoje, o que que acontece? O arqui-vo, tanto quanto a memria que con-tm, tornou-se enorme. A Internet encerra a memria de todo o univer-

    so. Donde o problema da escolha, da filtragem. preciso aprender a ames-trar esta memria para que ela no nos subjugue.

    A Internet, pois, esse no-tempo contnuo, espcie de super-consci-ncia exttica, onde o Big Bang est constantemente a criar o universo, hoje. Onde as Torres Gmeas e os Budas de Bamyian caem e voltam a erguer-se todos os dias. Onde os bai-larinos de Pina Bausch ho-de dan-ar uma e outra vez A Sagrao da Primavera ao som de Thriller, de Michael Jackson, porque estranha-mente resulta, como se sempre ti-vesse sido assim. Onde Leonardo da Vinci e Picasso so contemporneos de Warhol, Bansky, Jagdish Swami-nathan, Subodh Gupta e todos os artistas conhecidos e desconhecidos de antes, agora e por vir. Onde arte arte, mas tambm tatuagem e por-nografia, ao mesmo nvel. Onde,

    vistos de cima, Telheiras e Brooklyn so e no so a mesma coisa. Onde o jardim babilnico que falta plantar no Dubai fabuloso no mesmo mo-mento em que o atentado de agora em Carachi um horror a cair-nos em cima com todo o p, os mortos e o sangue (e, afinal, onde que fica Carachi?, perguntamos ao tipo que, ao mesmo tempo, temos na outra ponta de um chat Lisboa-Bombaim, um tipo que no conhecemos mas que, em segundos quando esque-cermos Carachi , nos vai fazer che-gar o filme que est a montar e es-treia daqui a um ms em Los Ange-les).

    Convm no esquecer que a con-temporaneidade , por vezes, uma iluso. Assim, no momento em que dispomos da contemporaneidade ab-soluta, podemos tambm ser mario-netas da iluso da contemporaneida-de, dizia Eco.

    Modernidade, ps-modernidade, altermodernidadeFoi h dez anos. Entretanto, ao que tudo indica, a maior parte de ns habituou-se a fazer da iluso, do caos e de todos os nivelamentos, por baixo ou por cima, uma experincia positi-va, e isso foi suficiente para o nasci-mento de um novo universo global, de uma nova forma de estar e pensar to antiga quanto a filosofia holstica dos Veda hindus: uma forma de estar e pensar sincrnica, em vez de dia-crnica, viral, no-linear um univer-so de contemporaneidade absoluta, de facto. To absoluta que se tornou categoria, em si.

    Nos primeiros anos do sculo XXI a arte flutuou livre de qualquer liga-o Histria e teoria. Tornou-se, de certa forma, numa categoria arts-tica em si. Um campo independente, dizia-nos h semanas o crtico e his-

    toriador norte-americano Hal Foster. Continuando: Apesar de haver uma longa histria de vanguardas moder-nas e de a vanguarda se ter definido sempre atravs da ruptura com o pas-sado, na verdade, sempre ficou ligada ao passado. J a arte contempornea, especialmente porque uma arte glo-bal, perfila-se como uma vasta pre-sena que vemos mais como um gran-de campo horizontal. E depois a pergunta recorrente: Ter a tenso entre o presente e o passado sido es-ticada ao ponto de ruptura? E a res-posta: Acho que sim.

    Ao longo dos ltimos 20 anos, a arte tornou-se internacional e depois global. Hoje h todo o tipo de tradi-es e histrias da arte a considerar. No h uma, duas ou trs linhas que possamos traar ao longo do tempo e que funcionem e possam conferir um sentido narrativo ao presente. De uma forma ou outra [at h algum

    Le Temps, Vite, a exposio que o Pompidou inaugurou na vertigem da entrada no novo milnio, foi um prognstico do estado da arte nos anos 00

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  • psilon Sexta-feira 8 Janeiro 2010 17

    cronia absoluta

    g Depois mil discusses sobre se seramos, finalmente, ps-modernos, podamos pr esse ponto de interrogao na gaveta, tornado caduco por um singular evento: a actual crise econmica mundial. Nem modernos nem ps-modernos. Submersa em nova crise, a humanidade teria visto nascer a primeira era cultural do mundo globalizado

    f Entretanto, um conceito relegado h 40 anos para os circuitos acadmicos mais obscuros voltava ao centro das discusses estticas mais actuais (talvez como reaco a todos os nivelamentos): a obra-prima. Ultrapassado o espectro do modernismo, voltmos a poder ligar-nos grande tradio da obra-prima, dizia-nos h seis anos o crtico e ensasta norte-americano Arthur C. Danto

    e A Internet o no-tempo contnuo onde as Torres Gmeas e os Budas de Bamyian caem

    e voltam a erguer-se todos os dias, onde os bailarinos de Pina Bausch ho-de danar

    uma e outra vez A Sagrao da Primavera ao som do Thriller, onde da Vinci e Picasso

    so contemporneos de Warhol, Bansky, Subodh Gupta e todos os artistas conhecidos e

    desconhecidos de antes, agora e por vir

    h Ainda que o Brasil e a ndia se tenham juntado discusso, a modernidade foi um conceito ocidental. Hoje o labirinto muito

    mais complexo e as cidades j no chegam: preciso um nmada global, um errante

    cultural procura do inverso do enraizamento absoluto, encenando as suas

    razes em contextos heterogneos

    tempo] ramos todos hegelianos. At o ps-modernismo se definia em relao ao modernismo, at as neo-vanguardas se definiam em relao s vanguardas histricas. Os artistas pensavam no seu trabalho em relao aos precedentes. Os novos artistas j no trabalham assim. Tudo parece estar a ser empurrado para um arqui-vo histrico que nem sequer parece ser j muito consultado. De certa for-ma, o perodo pr-guerra parece o sculo XIX de hoje e o sculo XIX pa-rece a Renascena.

    Posto de outra forma: ser que a modernidade se transformou na nos-sa antiguidade? Foi uma das pergun-tas lanadas pela mais recente edio da mtica Documenta de Kassel. H dois anos, sob o tema geral Migrao da forma, Roger M. Buergel, director artstico da mais importante mostra de arte contempornea do mundo, propunha, tambm ele, com esta per-

    gunta, uma reflexo sobre a possibi-lidade da passagem de presente a passado de uma era que podemos defender como sendo ainda a nossa. Propunha mais: a transformao da Modernidade num equivalente da Antiguidade clssica, ali onde se arti-culou o conceito do que o Ocidente entenderia como arte.

    A Modernidade como ciclo (re)fun-dador que se abriu e fechou no tem-po, matria passvel j de revisitao arqueolgica? Buergel explicou num breve texto o que o levou questo: A modernidade, ou o seu destino, exercem uma influncia profunda nos artistas contemporneos. Parte da atraco pode derivar de ningum saber realmente se est viva ou mor-ta. Parece estar em runas depois das catstrofes totalitaristas do sculo XX (exactamente as mesmas catstrofes que de alguma forma instigou). Pa-rece totalmente comprometida pela

    aplicao brutalmente parcial das suas demandas universais (liberdade, igualdade, fraternidade) ou pelo sim-ples facto de a modernidade e o co-lonialismo terem andado, e provavel-mente ainda andarem, de mos da-das. Ainda assim, a imaginao das pessoas est cheia das vises e for-mas da modernidade. Resumindo, parece que estamos tanto dentro co-mo fora da modernidade, to repeli-dos pela sua violncia mortal como seduzidos pelas suas mais imodestas aspiraes ou potenciais: que possa, apesar de tudo, haver um horizonte planetrio para todos os vivos e os mortos.

    Foi um salto at, j este ano, nos ser proposto o passo seguinte: a aber-tura de uma nova era cultural, uma outra modernidade uma Altermo-dernidade.

    Na IV edio da trienal da Tate, Ni-colas Bourriaud, co-fundador do Pa-

    lais de Tokyo, de Paris, lanava o de-bate ao dizer que, depois de vrias vidas a interrogar gigantes Heideg-ger, Wittgenstein, Benjamin, Baude-laire, Bataille, Lyotard, Foucault, Bau-drillard, Derrida, Lipovetsky... e depois de mil discusses sobre se se-ramos, finalmente, ps-modernos, podamos pr esse ponto de interro-gao na gaveta, tornado caduco por um singular evento: a actual crise eco-nmica mundial.

    Nem modernos nem ps-moder-nos. Submersa em nova crise, no final da primeira dcada do sculo XXI a humanidade teria visto nascer a pri-meira era cultural do mundo globali-zado.

    Nem uma viso linear da Histria, como a do modernismo, nem uma imagem desta a avanar em espirais de eternos retornos, como defendido pelo ps-modernismo; agora, uma viso da Histria constituda por ml-

    tiplas temporalidades simultneas em que a vida e a arte surgem como ex-perincias positivas de desorientao, traando linhas em todas as direces de tempo e de espao e, assim, explo-rando todas as dimenses do presen-te. Por outras palavras: uma era em que se age e cria a partir de uma viso de caos articulado.

    Ainda que, poca, pases como o Brasil e a ndia se tenham juntado discusso, a modernidade foi um conceito ocidental. Hoje vivemos num labirinto mais complexo e temos que extrair dele significados espec-ficos para o sculo XXI. A moderni-dade de hoje no nem pode ser to-talizadora nem continental, disse-nos a dada altura Bourriaud, enumerando os depois em que te-mos estado mergulhados nos ltimos 35 anos: ps-modernismo, ps-femi-nismo, ps-colonialismo, ps-poltico, ps-histrico... Acabamos com a

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  • 18 Sexta-feira 8 Janeiro 2010 psilon

    O Centro de Exposies do CCB fi cou refm da coleco Berardo

    Jorge Queiroz, Carlos Roque, Bruno Pacheco e Leonor Antunes (da esquerda para a direita): alguns dos artistas portugueses que fi zeram do estrangeiro casa e local de trabalho

    sensao de estar em eterna nos-talgia do passado, o que redunda nu-ma preguia de pensar. Pareceu-me produtivo tentar decretar o fim desse conforto, tentar periodizar de outra forma.

    A civilizao-arquiplagoJ no se trata do flneur oitocen-tista, aquele que se deixa perder na observao da vida das cidades. Hoje as cidades no chegam. preciso um nmada global, ou, em rigor, um er-rante cultural procura do inverso do enraizamento absoluto, com as suas razes sempre em movimento, encenando-as em contextos hetero-gneos, negando-lhes qualquer valor como origem, traduzindo ideias, transcodificando imagens, transplan-tando comportamentos, trocando, mais do que impondo.

    Uma nova flnerie como tcnica de gerao de criatividade e conheci-

    mento. Uma tcnica ligada via-gem clssica, sim, mas tambm (ou, sobretudo) a esse outro tipo de viagem da era da hipermobilidade da In-ternet, em que nasce-mos a conceber for-mas de entender o que o espao do humano para l das formas cls-sicas no Oci-dente, e em que o hipertex-to se generali-zou como pro-cesso de estru-turao de pensamento, uma janela a abrir directa-mente para ou-tras, infinitas, todas ligadas.

    A dcada de SerralvesSerralves, o acontecimento da dcada H um antes e um depois da inaugurao do Museu de Arte Contem- pornea de Serralves. A ab-ertura do edifcio projectado por Siza Vieira, a programao desen-hada por Vicente Todol, Joo Fernandes e Ulrich Loock, a coleco e a parceria entre o Estado e os privados, fazem da instituio um ex-emplo ainda nico em Portugal. o acontecimento da dcada. scar Faria

    CCB: a melhor opo? Depois de vrias indecises, divergncias e de-misses, a deriva do Centro Cultural de Belm parou. O Estado entre-gou o seu Centro de Exposies ao Museu Berardo de Arte Moderna e Contempornea e o CCB fi cou refm de uma coleco. Hoje ainda h quem se questione: foi a melhor opo? Jos Marmeleira

    Portugueses em trnsito Com as bolsas e as residncias, a circulao dos artistas portugueses no estrangeiro tornou-se um facto. Concor-rem e vo, naturalmente. Uns voltam, outros permanecem em trnsi-to e h quem v fi cando, depois de fazer do exterior o lugar central da sua actividade. Como Leonor Antunes, Bruno Pacheco, Carlos Roque ou Jorge Queiroz. J.M.

    Culturgest e Project Room, trabalho de prospeco O ciclo Project Room no CCB (2000-2002), comissariado por Jrgen

    Bock, e a Culturgest com a programao de Miguel Wandschneider trouxeram realidade local exposies memorveis, afi rmando uma sin-tonia com outros contextos e um raro trabalho de prospeco. O pblico, esse, pde conhecer as obras de artistas como Renn Green ou Allan

    Sekula, Angela de La Cruz ou Atlas Group. J.M.

    Porto do-it-yourself Perante a ausncia de espa-os no Porto, os artistas mobilizaram-se e

    criaram os seus prprios espaos, alternativos aos contextos insti-tucional e galerstico da cidade, onde durante uma dcada foi possvel fazer, organizar e ex-perimentar. Eis uma da histria da arte portuguesa criada pelo

    solidrio e prtico esprito do-it-yourself. J.M.

    Um corpus para a arte em Kassel De cin-co em cinco anos, em Kassel, Alemanha,

    tem lugar a Documenta, exposio que procura defi nir um corpus para a arte produzida nas ltimas dcadas. A reviso organizada, em 2002, sob o comissariado do nigeriano Okwui Enwezor foi a primeira com carcter global, acentuando a dimenso poltica da edio ante-rior, com curadoria da francesa Catherine David. O.F.

    Escultura no espao pblico, modo de usar A ideia tem incio em 1977. De dez em dez anos, durante cem dias, decorre a iniciativa Es-cultura. Projectos em Mnster. A ltima edio, 2007, comissariada por Brigitte Franzen, Kasper Knig e Carina Plath, sublinhou a ne-cessidade de um debate alargado sobre questes relacionadas com a escultura no espao pblico. O.F.

    Uma histria da arte realmente contempornea H muito que se esperava uma histria que tivesse em conta os desenvolvimentos artsticos do sculo XX sob um ponto de vista terico esclarecido. Em 2004, quatro dos mais singulares historiadores da arte actuais Hal Foster, Rosalind Krauss, Yve-Alain Bois e Benjamin Buchloh publicaram Art Since 1900. Uma obra polmica, ainda espera de resposta. O.F.

    Cinema vs. arte contempornea O fenmeno de fl uxos e interpenetra-es entre o cinema e as artes plsticas no novo; existe pratica-

    mente desde o nascimento da imagem em movimento. Mas, ao longo da ltima dcada, assistimos a uma quase in-verso de papis, com os cineastas a tomarem os mu-seus de assalto e os artistas plsticos a usarem cada vez mais estratgias prximas do cinema. V.R.

    Room no CCB (200Bock, e a Culturg

    Wandschneiderexposies memtonia com outrode prospecoas obras de artis

    Sekula, Angela d

    Porto do-it-youros no Po

    criaalttuonpopeda

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    O edifcio de Siza Vieira, a programao e o modelo de parceria com o Estado fazem de Serralves um exemplo ainda nico em Portugal

    A exposio de Bacon comissariada por Vincente Todol trouxe a Portugal um dos mais relevantes artistas do sculo XX

    A programao de Miguel Wandschneider na Culturgest permitiu ao pblico descobrir obras como a de Angela de La Cruz

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    aoa longo da ltima dvevv rso de papis, comses us de assalto e os avez mais estratgias p

    o; e ste p at camento. Mas, ,,,,quase in-

    m os mu-em cada.

    E se a cultura do sculo XXI fosse inventada a partir daqueles trabalhos que se lanam a si mesmos o desafio de apagar as suas origens e falar de multiplicidades de enraizamentos su-cessivos ou simultneos? Este proces-so de rasura, diz Bourriaud, parte da condio do errante, uma figura central da nossa precria era e que aparece insistentemente no corao da criao artstica contempor-nea.

    O ps-modernismo saiu da de-presso da Guerra Fria rumo a uma preocupao neurtica com as ori-gens tpicas da era da globalizao. este modelo de pensamento que hoje est em crise, esta verso mul-ticultural da diversidade cultural que tem que ser questionada, no a favor de um universalismo de princpios nem de um novo esperan-

    to modernista, mas no enquadramen-to de um novo movimento moderno

    cnica ligada via-m, mas tambm) a esse outro

    m da era dade da In-nasce-

    er for-der o

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  • psilon Sexta-feira 8 Janeiro 2010 19

    Amadeo em contexto Em Amadeo de Souza-Cardoso Dilogo de Vanguardas (Fundao Calouste Gulbenkian, 2006), a obra do pintor portugus foi pela primeira vez exposta em contexto com a arte europeia dos anos 10 graas a um trabalho de investigao extraordinrio, que permitiu tirar a medida da qualidade inques-tionvel de Souza-Cardoso. Lusa Soares de Oliveira

    Bacon em Serralves Com um trabalho de comissariado assinado por Vicente Todol, a grande exposio sobre os espaos claus-trofbicos da pintura de Francis Bacon (Caged Uncaged, Museu de Serralves, 2003) trouxe a Portugal a obra de um grande pintor da segunda metade do sculo XX. L.S.O.

    As imagens em movimento de Joo Tabarra Na Galeria Z dos Bois, em 2006, esteve uma das exposies mais belas e inquietantes da dcada, para l das referncias, das citaes, da fi co, da poltica, do quotidiano. Amorosa e exemplarmente pensada e concebida com imagens em movimento. G, de Joo Tabarra, foi uma oferta dolorosa ao espectador. J.M.

    O resistente Robert Frank Fotografi as, livros e colagens de fotogra-fi as e textos numa exposio do CCB (2001) que mostrou uma uma obra resistente, livre, sempre aberta ao rejuvenescimento das ima-gens pela experimentao, a intuio e a poesia: Hold Still- Keep Going, de Robert Frank. J.M.

    A instalao-puzzle de Francisco Tropa O modelo da instalao LOrage, de Francisco Tropa (Centro de Arte Moderna da Gul-benkian, 2003), veio de A vida: Modo de Usar, romance-puzzle de Georges Perec. Foi um dos momentos mais relevantes da dcada que agora termina. Do mesmo artista pode ainda citar-se o projecto Assembleia de Euclides, em processo desde 2005. O.F.

    Dan Brown no momento certo Em 2001, numa exposio em Serralves, Dan

    Graham demonstrou as razes por que o rock uma religio. Por c, esta foi a exposio da dcada. Nela reuniam-se, sob o comissariado de Marianne Brouwer e Corinne Dis-erens, trabalhos realizados entre 1965 e 2000. Uma mostra feita no momento certo, quando a obra do artista norte-americano comeou a

    ser redescoberta. O.F.

    A obra de Amadeo Souza-Cardoso foi fi nalmente exposta no contexto da arte europeia dos anos 10

    baseado na heterocronia e na liber-dade de explorar, diz Bourriaud.

    D o exemplo de um conceito que crimos a partir da natureza: O ar-quiplago o exemplo da relao en-tre o uno e o mltiplo. uma entidade abstracta; a sua unidade deriva de uma deciso [humana] sem a qual nada seria lido a no ser um espraiar de ilhas unidas por nenhum nome comum. A nossa civilizao, que leva as marcas da exploso multicultural e da proliferao de estratos culturais, parece-se com uma constelao sem estrutura, espera da sua transforma-o em arquiplago.

    Tudo isto ao mesmo tempo que um conceito relegado h 40 anos para os circuitos acadmicos mais obscuros voltava ao centro das dis-cusses estticas mais actuais (talvez como reaco a todos os nivelamen-tos): a obra-prima.

    Ultrapassado o espectro do mo-

    dernismo, em que a arte se tomou sujeito de si mesma, estamos de novo capacitados a voltar a ligar-nos grande tradio da obra-prima na procura das vises mais formid-veis, dizia-nos h seis anos o crtico e ensasta norte-americano Arthur C. Danto.

    Na mesma altura, em Paris, Jean Galard deixava-nos com uma per-gunta: Passmos por uma poca de relativismo tal que houve uma per-turbao no julgamento, uma esp-cie de pnico. Uns viveram isso mui-to bem, dizendo que era a liberdade, a diversidade das culturas, das obras, das orientaes. Mas, agora, h um contra-golpe, uma demanda por de-terminadas chaves que permitam o reconhecimento das obras que va-lem o olhar. E, no final de contas, perguntamos: no h mesmo uma forma de nos pormos de acordo em relao a certos princpios?

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