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Antigénio Específico da Próstata: novos
aspetos no diagnóstico e na monitorização
de patologias prostáticas
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia
Monografia do 2º ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre
em Análises Clínicas
Trabalho realizado sob a orientação de:
Professora Doutora Georgina Correia da Silva
Professora Auxiliar – Departamento de Ciências Biológicas da
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Janeiro 2019
i
Agradecimentos
Após a finalização desta monografia, pretendo agradecer de forma sincera e
em geral a todos os que contribuíram para a realização da mesma.
Destaco a Prof. Georgina Correia da Silva, minha orientadora da monografia
com título, “Antigénio Específico da Próstata: novos aspetos no diagnóstico e na
monitorização de patologias prostáticas”. Sem ela teria sido impossível que eu
conseguisse finalizar as minhas unidades curriculares e monografia. Obrigado por
acreditar em mim.
Agradeço ao Diretor do curso de 2º ciclo de Mestrado em Análise Clínicas, Dra.
Maria São José Nascimento, por se ter preocupado com a minha situação especial e
ter feito tudo para eu entregar dentro dos prazos.
Agradeço também à Andreia Gouveia dos Serviços Académicos por me ter
ajudado nas burocracias de entregar todos os documentos em ordem.
ii
Resumo
A próstata é um órgão masculino propenso a várias patologias sendo em geral
referidas a prostatite, a Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) e o Carcinoma da
Próstata (CaP).
O Carcinoma da Próstata é uma importante causa de morte por cancro nos
países ocidentais e em Portugal. Estão identificados vários fatores de risco entre os
quais, a idade, a origem étnica, a hereditariedade, etc… O carcinoma da próstata pode
cursar com ausência de sintomatologia e mesmo quando existem sintomas, eles
podem ser pouco específicos por serem semelhantes aos da HBP.
O diagnóstico do carcinoma da próstata passa pelo toque retal, pelo
doseamento no soro do antigénio específico da próstata (PSA), biópsia (sendo
confirmatória de cancro) e por outros métodos de diagnóstico. Muitos tumores são
indolentes, sem qualquer repercussão na qualidade de vida e sem consequências,
enquanto que outros são agressivos e, se detetados tardiamente podem ser fatais. A
quantificação do PSA não permite a distinção entre tumores indolentes e tumores de
alto grau, para além de não apresentar especificidade para a deteção de CaP o que
pode levar a biópsias desnecessárias. Assim, casos de prostatite, HBP e o trauma da
próstata (por exemplo após toque retal ou biópsia) podem dar origem a aumento dos
níveis de PSA. Por isso a utilidade deste biomarcador como um ensaio de diagnóstico
é controversa devido às suas limitações.
O desenvolvimento de bio marcadores mais específicos do que o PSA é uma
necessidade no contexto clínico. Assim, estão a surgir novos biomarcadores séricos,
urinários e de outros produtos biológicos, sendo relevantes para vários cenários da
patologia, alguns dirigidos para a triagem primária, outros para a estratificação de risco
e deteção de carcinomas de alto grau.
Esta monografia foca a caraterização das patologias HBP e CaP, novos
métodos de diagnóstico, a aplicação dos biomarcadores atuais e o potencial dos
novos biomarcadores laboratoriais que poderão melhorar o diagnóstico e tratamento
destas patologias.
Palavras-chave: Próstata, antigénio específico da próstata, diagnóstico, tratamento,
novos biomarcadores de cancro da próstata
iii
Abstract
The prostate is a male organ prone to various pathologies namely, prostatitis,
Benign Prostatic Hyperplasia (BPH), Prostate Carcinoma (CaP), among others.
Prostate Carcinoma (CaP) is an important cause of cancer death in Western
countries and in Portugal. A number of risk factors have been identified, including age,
ethnicity, heredity, etc. Prostate carcinoma may be present without associated
symptoms and even when there are symptoms, they may be unspecific because they
are similar to the BPH.
The diagnosis of prostate carcinoma is rectal examination, serum determination
of prostate-specific antigen (PSA), biopsy (confirming cancer), and other new methods
of diagnosis. Many tumors are indolent, without any repercussions on quality of life and
without consequences, while others are aggressive and if detected late can be fatal.
The quantification of PSA does not allow the distinction between indolent tumors and
high-grade tumors, in addition to lacking specificity for the detection of CaP which can
lead to unnecessary biopsies. Thus, cases of prostatitis, BPH and prostate trauma (eg
after rectal examination or biopsy) may result in increased PSA levels. Hence the
usefulness of this biomarker as a diagnostic assay is controversial because of its
limitations.
The development of bio-markers more specific than PSA is a necessity in the
clinical setting. Thus, new biomarkers of serum, urine and other biological products are
emerging, being relevant to several pathology scenarios, some aimed at primary
screening, others for risk stratification and detection of high-grade carcinomas.
This monograph focuses on the characterization of HBP and CaP pathologies,
new diagnostic methods, the application of current markers and the potential of new
laboratory markers that can improve the diagnosis and treatment of these pathologies.
Key words: Prostate, prostate-specific antigen, diagnosis, treatment, new prostate
cancer biomarkers
iv
Índice Geral
Agradecimentos---------------------------------------------------------------------------------------------i
Resumo-------------------------------------------------------------------------------------------------------ii
Abstract-------------------------------------------------------------------------------------------------------iii
Índice Geral-------------------------------------------------------------------------------------------------iv
Índice de Figuras------------------------------------------------------------------------------------------vi
Lista de Abreviaturas-------------------------------------------------------------------------------------vii
1. Introdução------------------------------------------------------------------------------------------------1
2. Incidência e epidemiologia---------------------------------------------------------------------------2
3. Considerações anatómicas -------------------------------------------------------------------------5
4. Antigénio Especifico da Próstata (PSA)----------------------------------------------------------8
4.1. Cuidados na colheita da amostra e valores de referência--------------------- 10
4.2. Velocidade do PSA-----------------------------------------------------------------------10
4.3. Tempo de duplicação do PSA---------------------------------------------------------11
4.4. Densidade do PSA-----------------------------------------------------------------------11
4.5. PSA ajustado à idade-------------------------------------------------------------------11
4.6. Método de doseamento utilizado no laboratório de estágio-------------------12
5. Hiperplasia Benigna da Próstata —--------------------------------------------------------------13
5.1. Sintomas -----------------------------------------------------------------------------------16
5.2. Exame físico – toque rectal (DRE) --------------------------------------------------19
5.3. Tratamento---------------------------------------------------------------------------------20
5.3.1. Bloqueadores alfa-adrenérgicos---------------------------------------------------21
5.3.2. Inibidores da 5-alfa-redutase--------------------------------------------------------22
5.3.3. Terapêutica de associação----------------------------------------------------------22
5.3.4. Fitoterapia-------------------------------------------------------------------------------23
5.3.5. Terapêutica cirúrgica-----------------------------------------------------------------23
6. Carcinoma da Próstata -----------------------------------------------------------------------------25
v
6.1. Fatores de risco do carcinoma da próstata----------------------------------------26
6.2. Diagnóstico do carcinoma da próstata ---------------------------------------------27
6.3 Tratamento do carcinoma da próstata -----------------------------------------------28
7. Novos biomarcadores--------------------------------------------------------------------------------30
8. Conclusões e perspetivas---------------------------------------------------------------------------38
9. Referências bibliográficas---------------------------------------------------------------------------39
vi
Índice de figuras
Figura 1. Probabilidade de diagnóstico no carcinoma da próstata por faixa etária-------3
Figura 2. Incidência de neoplasias no homem-----------------------------------------------------4
Figura 3. Mortalidade por cancro da próstata por regiões em Portugal----------------------4
Figura 4. Vista lateral da próstata----------------------------------------------------------------------5
Figura 5. Anatomia zonal da próstata-----------------------------------------------------------------7
Figura 6. Fotografia de corte histológico corado com Hematoxilina-Eosina (200x)-----14
Figura 7. Consequências dos 3 diferentes estádios de desenvolvimento da HPB------15
Figura 8. LUTS (do inglês Lower Urinary Tract Symptoms) ----------------------------------17
Figura 9. Toque retal, Digital Retal Examination (DRE)----------------------------------------19
Figura 10. Esquema representativo da resseção transuretral da próstata----------------25
Figura 11. Fotografia de corte histológico de uma biópsia prostática-----------------------26
Figura 12. Novos biomarcadores---------------------------------------------------------------------31
Figura 13. Amostras para biomarcadores no carcinoma da próstata-----------------------32
Figura 14. ProgensaTM PCA3 test------------------------------------------------------------------34
Figura 15. Teste TMPRSS2:ERG--------------------------------------------------------------------36
vii
Lista de abreviaturas
HBP Hiperplasia Benigna da Próstata
CaP Carcinoma da Próstata
INE Instituto Nacional de Estatística
DGS Direção-Geral de Saúde
PSA Antigénio Especifico da Próstata (Prostate Specific Antigen)
DRE Toque Retal (Digital Rectal Examination)
WHO Organização Mundial de Saúde (World Health Organization)
vPSA Velocidade do PSA
TDPSA Tempo de duplicação do PSA
TRUS Ultrassonografia transretal (Transrectal Ultrasound)
tPSA PSA Total
ECLIA Electrochemiluminescence immunoassay
anti-PSA Anticorpo anti-PSA
DHT Hormona Di-hidrotestosterona
FGF Fatores de Crescimento Fibroblástico
bFGF Fator de Crescimento Fibroblástico básico
EGF Fator de Crescimento Epidérmico
IGF Fator de Crescimento tipo Insulina
TFG-β1 Fator Transformador de Crescimento beta
STUI Sintomas do Trato Urinário Inferior
LUTS Lower Urinary Tract Symptoms
IPSS The International Prostate Symptom Score
RTU-P Ressecção transuretral da próstata
PIN Neoplasia Intraepitelial Prostática
TAC Tomografia Axial Computorizada
RM Ressonância Magnética
AUC Area Under Curve
FDA Food and Drug Administration
IFIS Intraoperative Floppy Íris Syndrome
5-ARI Inibidores da 5-alfa-redutase
viii
PCA3 Prostate Cancer Antigen
PHI Prostate Health Index
CLIA Clinical Laboratory Improvement Amendment
ETS Erythroblastosis virus E26 transforming sequence
hK2 Calicreína Humana 2
1
1. Introdução
O diagnóstico precoce do cancro da próstata é um tema de enorme
importância, pois a esperança média de vida das populações tem vindo a crescer e a
incidência desta patologia está relacionada com o grupo etário. O aumento do número
de casos de patologias da próstata incluindo a Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP)
e o Carcinoma da Próstata (CaP) é uma realidade em Portugal e é cada vez mais
relevante a intervenção dos vários profissionais de saúde nomeadamente dos médicos
especialistas em Urologia e dos médicos nos Centros de Saúde na consulta de
Medicina Geral e Familiar. A HBP está associada ao maior número de consultas em
qualquer serviço de Urologia e está cada vez mais presente nas consultas dos médicos de
cuidados primários. Os profissionais de saúde devem estar atentos às mudanças na
abordagem e tratamento que ocorreram nos últimos anos e atuar de acordo com a
condição de HBP ou CaP.
Sendo o cancro da próstata uma das principais causas de morte nos homens, o
diagnóstico nos estádios iniciais tem impacto na diminuição da mortalidade e
morbilidade, por isso, é de extrema relevância a existência de testes para o
diagnóstico numa fase inicial da doença. No entanto, a apresentação dos tumores é de
uma grande heterogenia, já que existem tumores indolentes e outros de grande
agressividade e a progressão da doença é distinta em vários subgrupos de pacientes
o que resulta numa complexidade no diagnóstico e tratamento. O diagnóstico precoce
e a avaliação da agressividade do tumor permitem decisões terapêuticas atempadas e
uma melhoria da taxa de sobrevivência.
O doseamento do antigénio específico da próstata (PSA) no soro, o toque retal
e a biópsia, continuam a ser considerados como intervenções determinantes para o
diagnóstico. No entanto a quantificação do PSA não permite a distinção entre tumores
indolentes e tumores de alto grau para além de não distinguir CaP de outras condições
benignas como a hiperplasia benigna da próstata, o que pode levar a biópsias
desnecessárias.
O desenvolvimento de biomarcadores mais específicos é então uma
necessidade no contexto clínico. Assim, estão a surgir novos biomarcadores séricos,
urinários e de outros produtos biológicos, alguns dirigidos mais para a triagem
primária, outros mais para a estratificação de risco e deteção de carcinomas de alto
grau.
2
2. Incidência e Epidemiologia
O tamanho da próstata vai aumentando com a idade podendo originar um
quadro de HBP, que é uma situação clínica distinta do CaP. Um aumento prostático
palpável aparece em 80% dos homens com 80 anos (Bell et al, 2015); embora nem
sempre associado a sintomatologia. Em estudos necrópsicos a HBP histológica está
ausente abaixo dos 30 anos e a sua incidência aumenta com a idade.
O crescente número de novos casos de cancro destaca a relevância da
prevenção primária para o seu controlo, sendo importante investir, entre outros fatores,
nos conhecimentos da população sobre saúde. Um estudo realizado em 2012 na
população portuguesa revelou o conhecimento relacionado com o cancro, incluindo a
perceção do risco, a consciência das causas do cancro e os comportamentos
preventivos (Costa et al., 2016). Um total de 47,5% dos entrevistados identificou o
cancro da mama como o mais frequente em Portugal, 72,0% apontaram o estilo de
vida como a principal causa de cancro e 40,2% selecionaram não fumar como o mais
importante comportamento preventivo. Os homens, indicaram o cancro da mama com
menor frequência e do pulmão como o mais frequente e os homens com maior nível
educacional referiram o cancro da próstata menos frequentemente. De acordo com o
que se verifica noutros países, o estudo indicou a necessidade de intervenções de
conscientização e prevenção primária em Portugal.
Em países com população mais idosa, nomeadamente nos mais
desenvolvidos, o cancro da próstata pode atingir os 15% de todos os tumores no sexo
masculino. O risco de um homem de 50 anos ser diagnosticado com cancro da
próstata é de 1:476 casos e o risco para um homem de mais de 76 anos é 1:6 casos
tal como mostra a figura 1. Contudo, a probabilidade de se morrer por cancro da
próstata é bastante menor. Em média, apenas 1 em cada 33 homens morrerá devido a
esta doença.
3
Figura 1. Probabilidade de diagnóstico no carcinoma da próstata por faixa etária, Disponível em https://www.mgfamiliar.net/DECIDIR/prostata.html,( acedido em 18/05/2018)
Ao contrário de outros tumores, o CaP aumenta de forma uniforme e constante
com a idade. Esta patologia é raramente diagnosticada em homens com menos de 40
anos. Estudos epidemiológicos realizados recorrendo a autópsias mostram uma
incidência de 59% na idade >79 anos (Bell et al, 2015).
Muitos carcinomas da próstata são indolentes e sem consequências, enquanto
que outros são agressivos e, se detetados tardiamente ou não tratados, podem ser
fatais. Esta variabilidade biológica dificulta as decisões terapêuticas. De facto, uma
percentagem significativa poderá apresentar uma evolução muito lenta, sem qualquer
repercussão na qualidade de vida. É difícil saber-se, no momento do diagnóstico, se
um carcinoma da próstata é do tipo agressivo ou se, pelo contrário, é um tipo de tumor
que nunca se irá manifestar por ter uma evolução muito lenta (indolente).
O carcinoma da próstata é o carcinoma de maior incidência nos homens e o
terceiro com a maior taxa de mortalidade (depois do cancro do pulmão e do cancro
colo-retal como é demonstrado na figura 2.
4
Figura 2. Incidência de neoplasias no homem. Disponível em
http://globocan.iarc.fr/Pages/summary_table_site_sel.aspx, (acedido em 18/05/2018)
Para as previsões a médio prazo, há um estudo que estima o número de casos
de cancro da próstata e mortalidade em Portugal em 2020 (Pina et al., 2017). As
previsões foram realizadas com recurso a modelos de regressão de Poisson e
projeções da população fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística. Cerca de
8600 casos de cancro e 1700 mortes podem ser esperados em Portugal em 2020.
Apesar de aumentar a incidência e diminuir a mortalidade, há uma grande
variabilidade em relação às diferentes regiões do país tal como é demonstrado na
figura 3.
Figura 3. Mortalidade por cancro da próstata por regiões em Portugal. Direção Geral de
Saúde. Programa Nacional para as doenças oncológicas; 2017.
5
3. Considerações anatómicas
A glândula está localizada entre a base da bexiga, as ampolas dos canais
deferentes e o reto (anterior), o púbis (posterior) e a musculatura do pavimento pélvico
(inferior), rodeando uma porção da uretra (figura 4). Está ligada superiormente ao colo
vesical e inferiormente é limitada pelo diafragma urogenital. Está separada do reto
pela fáscia de Dennonvilliers. A base da próstata está em continuidade com o colo
vesical e o vértice repousa no diafragma urogenital. Lateralmente relaciona-se com os
músculos elevadores do ânus. As respetivas artérias são provenientes de ramos da
artéria ilíaca interna (vesical inferior e hemorroidária média). A drenagem venosa
processa-se via complexo venoso dorsal de Santorini, que recebe a veia dorsal
profunda do pénis e ramos vesicais, antes de confluir nas veias ilíacas internas. A
inervação vem do plexo pélvico.
Figura 4. Vista lateral da próstata (Netter. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Artmed, 2000.)
O tamanho da próstata é pouco maior do que uma noz. A próstata normal
mede 3-4 cm na base, 4-6 cm de eixo cefalocaudal e 2-3 cm de eixo ântero-posterior.
O peso da próstata permanece relativamente constante (aproximadamente 1-2 gr) até
a puberdade, altura em que aumenta para aproximadamente 20-25 gr (no jovem
adulto). O aumento progressivo do peso da glândula após os 30 anos deve-se em
6
grande parte à hiperplasia epitelial e do estroma, que é muito frequente nas
populações ocidentais.
A principal função da próstata é produzir o líquido prostático, um fluido claro
ligeiramente alcalino (pH 7,29) responsável, entre outras funções, pela liquefacção do
coágulo seminal após ejaculação. Nas secreções prostáticas, o conteúdo proteico é
menor que 1%, e inclui algumas enzimas proteolíticas e o antigénio específico da
próstata - Prostate Specific Antigen (PSA). Portanto, durante a ejaculação é secretado
um fluído prostático rico em nutrientes e proteases, que em conjunto com as
secreções dos testículos, vesículas seminais, glândulas uretrais e bulbouretrais
formam o sémen.
O órgão pode ser classificado em termos de anatomia zonal da próstata
(McNeal, 1998), em quatro zonas glandulares (figura 5), uma classificação que é muito
utilizada na patologia.
Zona periférica que corresponde a aproximadamente 70% do volume da próstata. É
nesta região onde se situam mais de 70% dos casos de CaP;
Zona central corresponde a cerca de 25% do volume da próstata e envolve os canais
deferentes. As neoplasias nesta região contribuem para cerca de 25% da totalidade
dos tumores.
Zona de transição corresponde a 5-10% do volume prostático e compreende dois
pequenos lobos independentes entre si. Esta região raramente está associada a CaP
e a HBP ocorre mais nesta zona.
Zona fibromuscular anterior corresponde a cerca de 5% da totalidade da próstata e
normalmente não possuiu elementos glandulares, sendo formada essencialmente por
músculo e tecido fibroso.
7
Figura 5. Anatomia zonal da próstata. Adaptado de McNeal et al., (1988).
Histologicamente, a próstata é constituída genericamente por um componente
glandular, formado por células secretoras endoluminais, células secretoras basais e
células neuroendócrinas; e por um componente estromal, constituído por colagénio,
músculo liso e tecido fibroso.
8
4. Antigénio específico da próstata (PSA)
O antigénio específico da próstata - PSA (Prostate Specific Antigen), é uma serina
protease do grupo das calicreínas (hK3) sintetizada pelas células epiteliais da próstata
e segregada no líquido seminal, com uma função fluidificante e de liquefação do
coágulo seminal.
Uma pequena proporção de PSA entra nos vasos sanguíneos da próstata e atinge
a circulação. Por isso, existe no plasma um valor reduzido (na ordem dos ng/mL).
Qualquer alteração da arquitetura normal da próstata; seja um estado inflamatório e/ou
infecioso - prostatite que é geralmente causada por infeções de vírus ou bactérias ou
como consequência de uma infeção urinária mal tratada; trauma, hiperplasia benigna
ou carcinoma, pode conduzir ao aumento na quantidade de PSA circulante. Assim, o
PSA tem baixa especificidade para o diagnóstico de CaP, podendo aumentar
significativamente em situações como a HBP e prostatite, logo se poderá afirmar que o
PSA é específico para a próstata, mas não para carcinoma da próstata. No entanto,
apesar de ser considerado específico da próstata, demonstrou-se recentemente a sua
produção em baixas concentrações por outras glândulas (Filella et al., 1996).
Desde sua descoberta (em 1979), e a aprovação pela FDA - Food and Drug
Administration, nos Estados Unidos em 1986 e até os dias de hoje, tornou-se uma
análise importante para diagnóstico precoce, tratamento e seguimento de pacientes
com neoplasia prostática. Para além da sua utilidade como marcador tumoral na
deteção de carcinoma da próstata, o valor do PSA constitui um dos principais fatores
preditivos de progressão de HBP, juntamente com a idade e volume da próstata.
Através de uma análise ao sangue é possível quantificar os níveis de PSA. No
entanto, este valor pode variar de acordo com diversas situações. Em geral considera-
se que os níveis de PSA no sangue de um homem saudável deverão ser inferiores a 4
ng/mL. Aparentemente e classicamente um valor inferior a 4 não mereceria biópsia,
um valor superior a 10 seria francamente suspeito e um valor entre 4 e 10 situa-se na
chamada “zona cinzenta”. Atualmente, o valor deve ser enquadrado numa série de
outros parâmetros e cabe ao médico avaliar caso a caso. No entanto, um aumento
significativo está associado a uma maior probabilidade de ocorrência de um carcinoma
da próstata. Contudo, como já referido, isso pode não significar a existência do
carcinoma. Por outro lado, um valor do PSA inferior a 4 ng/mL não exclui a presença
de carcinoma (Welch et al., 2005). O aumento do tamanho da próstata devido a HBP,
casos de prostatite e trauma da próstata (por ex. após toque retal, biópsia ou
9
tratamento a laser) podem dar origem a um aumento dos níveis de PSA com duração
e magnitude variáveis. No oposto, certos medicamentos para tratar a HBP como, por
exemplo, o finasteride (inibidor seletivo da 5-alfa-redutase do tipo II) ou dutasteride
(inibidor da 5-alfa-redutase do tipo I e II), podem baixar os níveis de PSA.
De facto, uma importante lacuna do PSA como marcador tumoral é a
incapacidade para descriminar entre patologia benigna e maligna, bem como para
distinguir os tumores agressivos dos de baixo grau (indolentes). Esta desvantagem
pode ser parcialmente minorada utilizando as isoformas e derivados, como a fração
livre e complexada, bem como análise da velocidade de aumento e o ajuste à idade.
No sangue, o PSA circula complexado a proteínas inibidoras das proteases
(alfa-1-anti-tripsina e alfa-2-macroglobulina), permanecendo, uma pequena fração livre
que diminui nos casos de CaP (Fillela et al., 2001). A soma do PSA complexado e do
PSA Livre corresponde ao PSA total, que é o valor determinado na análise de rotina
mas a proporção entre o PSA livre e o PSA total fornece mais informação já que a
relação PSA Livre /Total é menor nos pacientes com cancro. Assim, a relação PSA
Livre/ Total é utilizada para discriminar aumentos de PSA devidos a HBP e CaP. É
usada para apoio à decisão de biopsia quando o valor de PSA Total se situa entre 4-
10ng/ml e com palpação negativa (Norma Direção Geral Saúde nº 060/2011 de
29/12/2011 atualizada a 13/07/2017). Em indivíduos com toque retal normal e PSA
entre 4 e 10 ng/ml, um limiar de 25% de PSA livre pode detetar 95% dos cancros e
evitar 20% de biópsias.
Os valores de referência para a relação PSA Livre/Total não estão bem
estabelecidos. Contudo, quando estão abaixo de 0,20 parecem estar correlacionados
com cancro da próstata, enquanto que os valores acima de 0,20 parecem estar
associados a doenças benignas.
Na vigilância de pacientes diagnosticados com CaP, o PSA constitui o teste de
eleição para monitorização da doença, sendo a utilização mais apropriada deste
marcador tumoral (Norma Direção Geral Saúde nº 060/2011 de 29/12/2011 atualizada
a 13/07/2017). As principais aplicações para a determinação do PSA são a
monitorização da progressão da doença e da eficiência da terapêutica. A diminuição
dos valores para níveis não detetáveis proporciona informações acerca do êxito da
terapêutica hormonal, radioterapia ou remoção cirúrgica radical da próstata.
O tempo de semivida e a clearence metabólica do PSA foi determinada em
estudos de pacientes que realizaram uma prostatectomia radical. Verificou-se ser
10
necessário um intervalo no mínimo de 2-3 semanas para os valores de PSA séricos
serem indetetáveis após uma prostatectomia radical.
4.1. Cuidados na colheita da amostra e valores de referência
De acordo com a Norma Direção Geral Saúde nº 060/2011 de 29/12/2011
atualizada a 13/07/2017: “As amostras para o doseamento do PSA devem ser colhidas
preferencialmente antes de qualquer manipulação prostática (toque retal, cistoscopia,
ecografia ou biopsia). Na impossibilidade de colheita anterior, é prudente aguardar
vários dias após toque retal e algumas semanas após biopsia ou manipulação
cirúrgica, tempo necessário para que seja eliminada pelo rim a fração complexada
com a alfa-1-anti-tripsina, uma vez que a fração livre é rapidamente depurada. As
amostras devem ser centrifugadas e refrigeradas nas 3 horas que se seguem à
flebotomia (sobretudo para as determinações do PSA livre que é mais lábil que o
Total). Na impossibilidade do seu processamento nas 24 horas que se seguem à
colheita, as amostras devem ser congeladas a -20ºC ou -70ºC, se conservadas por
longos períodos de tempo.”
Os dois padrões utilizados habitualmente nos doseamentos do PSA são
rastreáveis respetivamente à WHO International Standards e à Hybritech, Inc.
Standard, sendo este último a base de adoção, dos valores de 4,0 ng/ml, como valor
de referência. Pelo que seria desejável que no doseamento do PSA todos os
laboratórios utilizassem métodos rastreáveis àqueles padrões.
4.2. Velocidade do PSA (vPSA)
A velocidade do PSA- vPSA (variação do PSA com o tempo) é definida como um
aumento absoluto de PSA (ng/mL/ano), tendo como valor universalmente aceite < 0,75
ng/mL/ano (Thanigasalam et al., 2009). Ou seja, a vPSA traduz a evolução no tempo
do valor de PSA. No caso de CaP, a subida de PSA nos anos que antecedem o
diagnóstico é mais rápida do que num homem sem cancro. Os indivíduos com uma
progressão anual de 0,75 ng/ml parecem ter um risco aumentado de CaP. Contudo,
esta progressão deve ser interpretada com precaução. Esta velocidade só deve ser
considerada significativa se observada em várias determinações no mesmo laboratório
ao longo de 18 meses.
11
Em doentes com PSA entre 4 e 10 ng/mL e velocidade de PSA igual ou
superior a 0,75ng/mL/ano, pode suspeitar-se de CaP. No entanto, não foi provado que
a vPSA seja um bom marcador de prognóstico do resultado da terapêutica, quando
adicionado apenas ao PSA (Heidenreich et al., 2008). Não foi demonstrado que esta
determinação anteveja quais os homens que, no futuro, vão desenvolver CaP, nem
que esta seja uma determinação que quando comparada com o PSA, isoladamente,
tenha mais sensibilidade ou especificidade, mas pode ser importante na deteção de
pacientes com maior risco de mortalidade, assim como, auxiliar na vigilância ativa da
progressão do carcinoma (Loeb e Catalona, 2007).
4.3. Tempo de duplicação do PSA
O Tempo de duplicação do PSA (TDPSA) mede o aumento exponencial do PSA
no tempo. Ambos, vPSA e TDPSA, têm um valor prognóstico em pacientes já tratados,
mas não acrescentam informação quando comparados com PSA Total (Heidenreich et
al., 2008).
4.4. Densidade do PSA
Este parâmetro é uma estandardização em função do volume da próstata = PSA
sérico / volume da próstata, baseada no facto de que o tecido maligno produz mais
PSA que o mesmo volume de tecido hiperplásico.
O PSA sobe aproximadamente 0,12 ng/ml por grama de tecido de HBP, indivíduos
com próstatas volumosas por HBP podem ter PSA elevado. Este parâmetro já está em
desuso.
4.5. PSA ajustado à idade
Pensa-se que a subida do PSA com a idade resulta do aumento do volume da
próstata devido à HBP, a maior incidência de prostatites subclínicas e aumento da
prevalência de cancros microscópicos sem repercussão clínica. Utilizando o percentil
95 da curva normal de distribuição, foram atribuídos valores máximos em quatro faixas
etárias: 40 a 49 anos = 2,5 ng/ml; 50 a 59 anos = 3,5 ng/ml; 60 a 69 anos = 4,5 ng/ml;
70 a 79 anos = 6,5 ng/ml. Os valores de referência ajustados á idade aumentam a
sensibilidade nos indivíduos mais jovens e aumentam a especificidade nos mais
idosos (Richardson e Oesterling, 1997).
12
Resumindo, a utilização do PSA no rastreio em indivíduos assintomáticos é
alvo de controvérsia e aguarda estudos que evidenciem inequivocamente os
benefícios de um diagnóstico precoce perante os efeitos nefastos de falsos positivos.
De facto, os dados epidemiológicos mostram que a aplicação da análise no rastreio de
indivíduos assintomáticos resultou num acentuado aumento da prevalência de CaP,
sobretudo à custa do diagnóstico numa fase incipiente da doença, que foi responsável
pelo “sobrediagnóstico” e “sobretratamento” (cirúrgico, radioterapia ou castração
médica) de homens portadores de um carcinoma indolente que pouco interferiria na
sua esperança de vida.
O PSA sérico revolucionou a nossa capacidade de deteção do CaP. Mas as
estratégias atuais incluem o uso eficiente do toque retal, o PSA sérico e a
ultrassonografia transretal (TRUS) com biópsias sistematizadas.
4.6. Método de doseamento utilizado no laboratório de estágio
No Laboratório onde realizei o estágio (Laboratório de Análises Clínicas Prof.
Doutor Nunes Oliveira) o doseamento do PSA Total (tPSA) foi realizado no analisador
cobas e601. Este ensaio é um teste de diagnóstico in vitro quantitativo para a
determinação do antigénio específico da próstata Total (livre + complexado) (tPSA) em
soro e em plasma.
O princípio do teste utiliza a técnica de sandwich:
1ª incubação - 20µl de amostra, um anticorpo monoclonal biotinilado específico
anti-PSA e um anticorpo monoclonal específico anti-PSA marcado com complexo
de ruténio reagem e formam um complexo sandwich.
2ª incubação: após a adição das micropartículas revestidas de estreptavidina, o
complexo formado liga-se à fase sólida pela interação da biotina e da
estreptavidina.
A mistura de reação é aspirada para a célula de leitura, onde as micropartículas são
fixadas magneticamente à superfície do elétrodo. Os elementos não ligados são
removidos com ProCell/ProCell M. A aplicação de uma corrente elétrica ao elétrodo
induz depois uma emissão quimioluminescente que é medida por um
fotomultiplicador.
Os resultados são determinados com base numa curva de calibração gerada
especificamente pelo analisador, através de uma calibração de 2 pontos, e numa
curva principal incluída no código de barras do reagente.
13
5. Hiperplasia Benigna da Próstata
A hiperplasia benigna da próstata (HBP) é uma das patologias mais frequentes nos
homens com mais de 50 anos e designa o aumento de volume da glândula prostática,
que é acompanhado de vários sintomas do trato urinário inferior que são
característicos e resultam da obstrução do fluxo urinário. Está associada ao
envelhecimento e embora raramente seja uma condição de risco de vida, interfere
muito com a sua qualidade. O aumento progressivo da esperança média de vida
transforma esta patologia num problema de saúde pública.
A HBP está relacionada com a existência de vários fatores, que podem ser fatores
intrínsecos como a idade, dependência de androgénios e estrogénios e variáveis do
tipo genético, familiar e étnico e fatores extrínsecos como a dieta, tabagismo, consumo
de álcool, hábitos de higiene e modo de vida (Bratt, 2002; Raheem e Parsons, 2014)
A próstata depende da influência dos androgénios que são requeridos para as
atividades funcionais, o crescimento normal e a homeostasia do órgão. Os efeitos
androgénicos resultam da interação com o receptor de andrógenio (AR), um fator de
transcrição nuclear que quando ativado regula a transcrição de vários genes. O
principal androgénio é a testosterona, uma hormona esteroide sexual produzida pelas
células de Leydig dos testículos. Na próstata, a testosterona é convertida a 5-α-
dihidrotestosterona (DHT), forma androgénica mais ativa, pela ação da enzima 5-α-
redutase tipo 2. Os estrogénios estão também envolvidos na HBP porque atuam
sinergicamente com a testosterona e com a DHT.
A HBP é caracterizada histologicamente por uma hiperplasia celular epitelial e do
estroma. A avaliação microscópica revela um padrão de crescimento nodular
composto de quantidades variáveis de estroma e epitélio (figura 6). Assim, por
aumento do número de células que integram a constituição normal da próstata, ocorre
a formação de micronódulos, que crescem e vão confluindo entre si para originar
macronódulos o que resulta num padrão típico de crescimento celular característico.
Quando o tecido hiperplásico atinge um grande volume pode causar obstrução ao
fluxo urinário e interferir com a qualidade de vida.
A hiperplasia benigna desenvolve-se principalmente na área periuretral da zona
de transição, enquanto que os carcinomas da próstata surgem mais frequentemente
na zona periférica.
14
Figura 6. Fotografia de corte histológico corado com Hematoxilina-Eosina (200x) ilustrando as características da HBP. Adaptado de Chughtai et al., (2016).
Na prática clínica, a HBP manifesta-se por um conjunto de sintomas não
específicos relacionados com a hiperplasia. Estas alterações iniciam-se por volta da 3ª
década da vida e a sua prevalência vai aumentando com a idade para aos 85 anos
alcançar os 90%. (Bratt, 2002).
As alterações que a glândula prostática sofre resultam da intervenção de
diversos fatores que acabam por provocar um desequilíbrio nos mecanismos
moleculares responsáveis pela regulação dos processos celulares com diminuição da
morte celular e aumento da proliferação.
Para além da influência dos androgénios e estrogénios, a regulação do
crescimento prostático resulta da interação entre oncogenes, genes supressores e
fatores de crescimento que atuam sobre o ciclo celular, estimulando a proliferação ou
que induzem a morte celular programada por apoptose (La Vignera et al., 2016). Os
principais fatores com ação mitogénica pertecem à família dos fatores de crescimento
fibroblástico (FGF) nomeadamente o fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF).
Estão ainda descritos outros fatores de crescimento também com papel indutor de
proliferação nomeadamente o fator de crescimento epidérmico - EGF e o fator de
crescimento tipo insulina - IGF (Soulitzis et al., 2006). Por outro lado, os principais
fatores envolvidos na inibição da proliferação celular ou na indução da apoptose são
algumas proteínas supressoras de tumor, como a p53 e pRb que inibem seletivamente
a mitose e o fator transformador de crescimento beta (TFG-1) que induz a apoptose,
tanto das células epiteliais como do estroma (Li et al., 2004).
As alterações têm início com uma hiperplasia micronodular (HBP microscópica)
que graças ao estímulo permanente da hormona DHT sofre um crescimento nodular
(HBP macroscópica), para depois dos 50 anos e sob a influência não só da DHT, mas
15
também dos estrogénios, se verificar um aumento de volume da glândula que pode
provocar obstrução ao fluxo urinário e terminar na retenção urinária (HBP clínica).
Podemos considerar então que a HBP microscópica cursa sem sintomas, que
aparecem com a HBP macroscópica e são significativos na HBP clínica (Gandaglia et
al., 2013).
O aumento de volume da glândula prostática não é suficiente para definir a
HBP, pois ele pode ocorrer sem sintomatologia associada e sem obstrução. Da
combinação destas variáveis (aumento de volume, hiperplasia histológica, obstrução e
sintomatologia) é que resulta a HBP; podendo estar todas estas condições presentes
ou só algumas (figura 7).
- HBP microscópica (Hiperplasia) – há evidência histológica de proliferação
celular. Não apresenta sintomas.
- HBP macroscópica (Sintomas) – há aumento de volume da próstata
consequência da HBP microscópica. Muitas vezes sem sintomas obstrutivos, mas com
sintomas irritativos.
- HBP clínica (Obstrução) – na sequência da HBP macroscópica há obstrução
do fluxo que pode levar à retenção urinária.
Figura 7. Consequências dos 3 diferentes estádios de desenvolvimento da HPB
Como consequência da HBP ocorre obstrução infravesical, por compressão da
parte posterior da uretra e o espessamento da parede da bexiga devido à hipertrofia
compensadora. Com a obstrução, a capacidade contráctil do músculo detrusor da
16
bexiga vai diminuindo, levando à falha do músculo vesical. A bexiga é incapaz de
armazenar a urina e contrai-se quando contém pequenas quantidades de urina, o que
causa micções com maior frequência e a sensação de urgência em urinar. Se a
obstrução persistir, chega-se à hiperdistensão das fibras musculares do detrusor e à
fase de retenção com distensão, que pode manifestar-se por retenção aguda de urina
ou incontinência por regurgitação. Para além disso, a próstata hiperplasiada apresenta
uma densidade vascular elevada e por vezes surgem quadros de hematúria.
Uma história clínica cuidadosa e um exame físico dirigido são fundamentais no
diagnóstico. A anamnese deverá ter em conta outras causas possíveis de alterações
da função miccional e comorbilidades que possam afetar o tratamento, caracterizando
a natureza e duração dos sintomas e intervenções cirúrgicas anteriores. A medicação
do doente deve ser revista já que medicamentos como por exemplo os anticolinérgicos
diminuem a contractilidade vesical e os simpaticomiméticos alfa aumentam a
resistência ao fluxo urinário (Black et al., 2006).
Os exames auxiliares de diagnóstico são por exemplo a análise sumária de
urina e análise microscópica do sedimento urinário para diferenciar entre HBP,
infeções do trato urinário e tumores do sistema urinário. Poderá ainda ser executado o
estudo dos níveis de creatinina (e se se justificar de acordo com a creatininemia uma
ecografia renal), uma urofluxometria para avaliar as características do fluxo urinário,
ecografia vesical (avaliação do resíduo urinário) e prostática transrectal (TRUS). Na
avaliação dos níveis de PSA, deve ser notado que em cerca de 25% dos casos de
HBP o PSA está acima dos 4 ng/ml, muito embora seja pouco frequente acima dos 10
ng/ml.
5.1. Sintomas
A próstata tem tendência a aumentar com a idade. Devido à localização desta
glândula, este crescimento pode acarretar sintomas do foro urinário: jato urinário mais
fraco, dificuldade em urinar (esforço), micção a dois tempos, compasso de espera para
iniciar a micção, aumento da frequência urinária. Cerca de 1/3 dos homens com 50
anos têm sintomas atribuíveis à HBP. Os sintomas do trato urinário inferior (STUI)
referidos na figura 8, também conhecidos pela sigla LUTS (do inglês Lower Urinary
Tract Symptoms) afetam a qualidade de vida, interferindo com as atividades diárias
normais e com o sono.
Os LUTS estão associados à idade. Os homens idosos têm pelo menos um
dos sintomas a seguir descritos. Os sintomas podem ser fracos e não incomodativos.
17
Porém em alguns casos, os LUTS progridem e persistem durante longos períodos.
Este tipo de sintomatologia pode não estar só relacionada com a próstata, por
exemplo a disfunção da bexiga também provoca um quadro similar e o diagnóstico
diferencial é importante.
Figura 8. LUTS (do inglês Lower Urinary Tract Symptoms). Adaptado de Gratzke et al., (2015).
Existe atualmente uma pontuação internacional de classificação de sintomas –
“The International Prostate Symptom Score” (IPSS) que é composta por 8 itens, sete
são questões sobre sintomas e um item é uma questão sobre qualidade de vida. Esta
classificação IPSS é pontuada de 0-35 para os sintomas com a informação obtida
através de inquérito protocolizado e está organizada em três grupos:
• 0 - 7 sintomas ligeiros
• 8 - 19 sintomas moderados
• 20 - 35 sintomas graves
18
O inquérito deve idealmente ser preenchido pelo paciente. O somatório das 7
primeiras questões dará uma noção geral da gravidade dos sintomas.
Os LUTS classificam-se em sintomas obstrutivos (de esvaziamento) ou
irritativos (de armazenamento):
Sintomas obstrutivos (de esvaziamento):
- Hesitação, significando o atraso no início da micção, refletindo o tempo que o
músculo detrusor da bexiga demora a vencer a resistência do trato de saída vesical ou
uma hipocontractibilidade;
- Jato urinário intermitente e mais fraco, lento e com pouca força;
- Esforço abdominal para urinar;
- Sensação de esvaziamento incompleto, que indica que existe já descompensação do
músculo detrusor que dá origem a um volume de urina residual (volume residual pós-
miccional);
- Gotejamento terminal e pós-miccional, que resulta de uma debilidade (relacionada
com o envelhecimento) do músculo bulbo-esponjoso, cuja função é ajudar o
esvaziamento uretral;
- Retenção urinária aguda, em casos extremos desenvolve-se uma incapacidade para
urinar;
Sintomas irritativos (de armazenamento):
- Frequência, quando surge a necessidade de urinar a curtos intervalos de tempo;
- Sensação de peso ou dor suprapúbica;
- Noctúria (ou poliúria noturna), é a necessidade de urinar frequentemente durante a
noite que afeta muito a qualidade de vida;
- Urgência ou imperiosidade, é uma vontade súbita de urinar, podendo estar associada
a episódios de incontinência
- Incontinência urinária paradoxal ou de regurgitação, é a apresentação da bexiga que
não se consegue esvaziar, mas que vai perdendo urina por regurgitação quando a sua
capacidade máxima é atingida;
19
- Hematúria, apresentação mais frequente nas situações mais avançadas da doença
podendo ser macroscópica, habitualmente indolor.
Com a progressão da doença, a HBP pode apresentar-se envolvendo retenção
urinária completa, infeção do trato urinário, hematúria e insuficiência renal.
5.2. Exame físico – toque retal (DRE)
Um exame que permite examinar a próstata e de fácil avaliação uma vez que a
glândula se encontra na parede oposta ao reto (figura 9). Após o toque retal, o médico
deve ficar com uma ideia aproximada do volume prostático e das características a
seguir referidas.
Figura 9. Toque retal, Digital Retal Examination (DRE)
O toque rectal permite avaliar a ampola rectal, o tónus do esfíncter anal e as
características da próstata tais como:
- Dimensões: transversal, longitudinal e protrusão posterior.
- Consistência: uma ligeira pressão sobre a superfície permite avaliar uma
aparência mole ou duro-elástica, se a apresentação é dura é sugestiva de carcinoma.
- Dor ao toque. sugere prostatite.
- Simetria: na HBP a glândula geralmente apresenta simetria ao contrário da
situação de carcinoma.
- Mobilidade: o médico tenta movimentar a próstata no sentido vertical e lateral.
Uma próstata com carcinoma pode estar fixa aos tecidos vizinhos.
20
- Limites anatómicos: as vesículas seminais não são normalmente palpáveis.
O toque rectal típico da HBP é o de uma próstata aumentada de volume, de
consistência duro-elástica, móvel, de limites bem definidos e indolor.
5.3. Tratamento
Até há alguns anos e porque a terapêutica cirúrgica era a única eficaz, só os
urologistas tratavam esta condição. Na atualidade existem outras abordagens e a
tendência é para uma redução do intervalo entre o diagnóstico e a terapêutica e uma
diminuição da frequência da cirurgia. O aparecimento de terapêuticas
medicamentosas eficazes levou a que médicos não urologistas abordem com eficácia
a patologia. Assim, os objetivos atuais do tratamento são tranquilizar o doente,
eliminar ou atenuar os sintomas e atrasar ou evitar a cirurgia.
A progressão de HBP não é idêntica em todos os casos, podendo por vezes
ocorrer uma estabilização ou mesmo uma regressão da sintomatologia. Assim os
homens com uma HBP não complicada e com LUTS ligeiros, que condicionem pouco
a qualidade de vida deverão ser cuidadosamente monitorizados. Isso não significa a
ausência de intervenção terapêutica ou cirurgica, mas um adiamento até que seja
julgada conveniente. Esta monitorização deve ser acompanhada de alterações simples
do estilo de vida e de alguns comportamentos:
- Principalmente a partir do final da tarde, redução da ingestão hídrica (com o
cuidado de que o doente não desidrate).
- Evitar permanecer sentado durante longos períodos para reduzir a congestão
pélvica: hiperdistensão vesical.
- Esvaziar a bexiga com regularidade (micção pelo relógio - estabelecer por
exemplo um intervalo de duas horas para esvaziar a bexiga).
- A dieta parece ser relevante tal como sugerido por um estudo em que se
verificou que os homens que consumiam mais de dez porções de tomate por
semana reduziram em 18% o risco de cancro de próstata (Er et al., 2014). Evitar
alimentos e bebidas irritantes ou diuréticos como por exemplo a cafeína e o
álcool.
- Fazer uma compressão uretral no final da micção para evitar o gotejamento
pós-miccional.
21
- Revisão da terapêutica; alguns fármacos agravam ou desencadeiam
sintomatologia obstrutiva (por exemplo os simpaticomiméticos como os
descongestionantes nasais que podem provocar uma retenção urinária aguda
num quadro de HBP).
- Tratar a obstipação, que por vezes é um fator agravante da sintomatologia.
Em suma, o tratamento da Hiperplasia Benigna da Próstata pode ser dividido em
terapêutica medicamentosa (Bloqueadores alfa-adrenérgicos, Inibidores da 5 Alfa-
reductase, Fitoterapia) ou tratamento cirúrgico. O início da terapêutica depende
essencialmente do grau de incómodo da sintomatologia urinária. O tratamento
cirúrgico utiliza-se quando a terapêutica não se mostra eficaz ou quando estamos
perante insuficiência renal, retenção urinária, infeções urinárias de repetição ou
episódios frequentes de hematúria. Os tratamentos devem ser escolhidos de modo
individualizado em função do estado geral, história clínica e antecedentes patológicos,
idade, estadio da doença, tolerância aos fármacos e risco cirúrgico.
Em geral as estratégias farmacológicas com aceitação consensual na prática
clínica envolvem a Inibição do tónus simpático da próstata e colo vesical e a
supressão da estimulação androgénica do crescimento prostático.
5.3.1. Bloqueadores alfa-adrenérgicos
A uretra e a bexiga apresentam uma inervação simpática relevante com elevada
densidade de recetores adrenérgicos alfa responsáveis pela sua contração. Os alfa-
bloqueadores actuam bloqueando os dois subtipos de receptores α1-adrenérgicos RA-
α1A e os RA-α1D com o subsequente relaxamento do músculo liso e o aumento do
fluxo urinário. O bloqueio destes recetores resulta num relaxamento do trato de saída
vesical e num aumento do fluxo urinário.
Os fármacos bloqueadores alfa-adrenérgicos atuam assim no componente
dinâmico do ciclo miccional. Outro mecanismo proposto é a sua interferência na
apoptose da população celular da glândula. Os fármacos mais utilizados atualmente
são bloqueadores seletivos: Alfusozina, Doxasozina, Tamsulosina, Terazosina.
As taxas de sucesso são mais reduzidas em doentes com próstatas mais
volumosas. Os efeitos secundários são geralmente pouco intensos e pouco frequentes
como hipotensão postural, cefaleias, astenia, tonturas, congestão nasal e ejaculação
retrógrada (Tamsulosina).
22
Não existem estudos que demonstrem que este grupo de fármacos altere a
história natural da doença, mas melhoram a sintomatologia e o fluxo urinário. No
entanto a probabilidade de retenção urinária aguda ou de necessidade de cirurgia
mantém-se constante. Não modificam o volume prostático e não alteram os valores de
PSA.
5.3.2. Inibidores da 5-alfa-redutase
A relação dos androgénios com a hipertrofia prostática é conhecida há longos
anos. Sabe-se que o principal androgénio a nível intraprostático é a hormona
dihidrotestosterona (DHT), metabolito da testosterona após a ação da enzima 5-alfa-
redutase. Existem duas isoformas desta enzima com localizações diferentes: o tipo I
predomina no epitélio e o tipo II no estroma.
Os fármacos deste grupo, ao inibirem a enzima, promovem uma diminuição dos
níveis de DHT com a consequente alteração do estímulo trófico. Assim, ocorre uma
diminuição progressiva do volume prostático acompanhada de uma redução de cerca
de 50% do nível sérico de PSA.
Ao utilizar o PSA no diagnóstico precoce do carcinoma da próstata, o seu valor
deve ser duplicado em indivíduos medicados com inibidores da 5-alfa-redutase. A
relação PSA Livre /Total permanece inalterada pelo que pode continuar a ser utilizada
no eventual diagnóstico de CaP.
Este tipo de fármacos leva à diminuição do volume prostático, daí que os
melhores resultados sejam obtidos em glândulas mais volumosas. Após alguns meses
melhoram a sintomatologia e o fluxo urinário, com máximos atingidos aos seis meses.
Estão publicados alguns estudos que demonstram que este tipo de fármacos
diminui a probabilidade de retenção urinária aguda e a necessidade de cirurgia.
Os efeitos secundários são essencialmente de âmbito sexual como diminuição
da líbido, disfunção eréctil, disfunção ejaculatória e ginecomastia.
Os fármacos deste grupo atualmente disponíveis são: Finasteride (inibidor
seletivo da 5-alfa-redutase do tipo II) (Etzioni et al., 2005) e o Dutasteride (inibidor da
5-alfa-redutase do tipo I e II) (Takeshita et al.,2017)
5.3.3. Terapêutica de associação
Como os dois grupos de fármacos anteriormente descritos apresentam diferentes
mecanismos e tempos de ação a associação dos dois poderá ser benéfica. Em
23
próstatas volumosas a administração concomitante de um bloqueador alfa e um
inibidor da 5-alfa-redutase tem uma eficácia superior à sua administração isolada. O
estudo MTOPS demonstrou uma maior eficácia no alívio dos sintomas bem uma
diminuição da necessidade de abordagem cirúrgica depois de cinco anos de
tratamento combinado (Kaplan et. al., 2016).
É particularmente útil fazer esta associação durante os primeiros seis meses;
permitindo que o bloqueador alfa exerça o seu efeito de melhoria sintomática rápida
enquanto o inibidor diminui o volume prostático. Passado este período pode tentar-se
a suspensão do bloqueador alfa e monitorizar a evolução.
5.3.4. Fitoterapia
Em alguns países a utilização de agentes fitoterapêuticos na HBP é muito.
popular. São utilizados extratos de raízes, sementes, frutos ou outras partes de
plantas. A sua composição é complexa, contendo vários tipos de compostos:
fitoesteróis, ácidos gordos, terpenóides e fito estrogénios (Allkanjari e Vitalone, 2015).
São vários os mecanismos de ação propostos para explicar ação destes agentes: a
inibição da 5-alfa-redutase, uma ação anti-inflamatória por interferência na síntese das
prostaglandinas e a alteração da proliferação e crescimento celulares (Dedhia e
Mcvary 2008; Sharma et al., 2017).
5.3.5. Terapêutica cirúrgica
A abordagem cirúrgica da HBP evoluiu muito nos anos, com a utilização de
técnicas minimamente invasivas. Os principais tipos de cirurgia para HBP são:
ressecção transuretral endoscópica da próstata (RTU), trigonocervicoprostatectomia,
vaporização com laser verde, enucleação com laser de hólmio, termoterapia com
microondas, ablação com radiofrequência (TUNA) e cirurgia aberta.
As indicações para a abordagem cirúrgica são:
- LUTS com interferência na qualidade de vida e resistentes à terapêutica médica ou
por insistência expressa do doente de uma atitude mais interventiva.
24
- Retenção urinária aguda recorrente. A prostatectomia poderá não se realizar
imediatamente após o episódio agudo. Os riscos cirúrgicos são menores após espera
de algumas semanas.
- Infeções urinárias e prostatites de repetição.
- Hematúria macroscópica resistente à terapêutica com inibidores da 5-alfa-redutase.
- Dilatação do aparelho urinário superior com deterioração da função renal.
- Litíase ou divertículos.
A cirurgia aberta é normalmente realizada através de uma incisão infra umbilical
mediana ou suprapúbica. Obriga a um internamento de 3 a 5 dias, e é em geral
aplicada para próstatas volumosas. Consiste na remoção do adenoma prostático que
motiva a obstrução (Rigatti et al., 2007).
Consoante a via de abordagem teremos uma técnica de:
Prostatectomia ou adenomectomia suprapúbica ou transvesical (abertura
da bexiga e enucleação do adenoma do interior da mesma) - ideal quando é
necessária uma intervenção vesical simultânea.
Prostatectomia ou adenomectomia retropúbica ou transcapsular (abertura
transversal da cápsula prostática e enucleação direta do adenoma).
Prostatectomia ou adenomectomia transvesicocapsular (incisão
simultânea da cápsula prostática e parede vesical).
O volume prostático, a coexistência de litíase vesical volumosa ou divertículos
podem ser indicações para este tipo de cirurgia, bem como a impossibilidade de
colocar o doente na posição de litotomia, necessária para as técnicas endoscópicas.
A Ressecção Transuretral da Próstata permanece a cirurgia gold standard para a
HBP. Nesta cirurgia a remoção da próstata hiperplasiada ocorre através da introdução
do ressectoscópio através da uretra (figura 10). As dimensões e morfologia prostáticas
são determinantes neste tipo de cirurgia. Próstatas com uma procidência (lobo médio)
no pavimento vesical podem ser difíceis de ressecar completamente.
25
Figura 10. Esquema representativo da Ressecção Transuretral da Próstata (RTU-P). Disponível em https://nunotomada.pt/?diseases=hiperplasia-benigna-da-prostata (acedido em 30/11/2018)
6. Carcinoma da próstata
O carcinoma da próstata é o tumor mais diagnosticado no homem, tal como
referido anteriormente. É uma doença complexa, de etiologia múltipla e diversa e de
grande heterogeneidade. Existe uma grande variabilidade na apresentação dos
tumores o que torna a individualização das decisões difícil. Muitos tumores são
indolentes e sem consequências, enquanto outros são agressivos e, se detetados
tardiamente ou não tratados, levam à morte.
O carcinoma da próstata ocorre quando algumas das células da próstata se
reproduzem de forma muito mais rápida do que o normal, resultando na formação de
um tumor. Estas células podem eventualmente sofrer metastização e invadir partes
distantes do organismo, particularmente os ossos, produzindo tumores secundários.
Uma grande parte dos tumores desenvolvem-se nos estágios iniciais sem apresentar
sintomas. Portanto o CaP pode não provocar qualquer sintoma e quando existem, eles
podem ser pouco específicos porque são semelhantes aos da HBP tais como
diminuição ou enfraquecimento do fluxo urinário; urinar com mais frequência
principalmente à noite; hematúria e impotência.
As diferentes zonas da próstata são atingidas de modo diferente. Cerca de
70% dos carcinomas localizam-se na zona periférica, 10-20% na zona de transição e
5-10% na zona central. Cerca de 95% dos CaP são adenocarcinomas e ocorrem nas
26
células epiteliais do tecido glandular. Com menor frequência encontram-se outros
tumores como os neuro endócrinos, de pequenas células e tipo ductal.
As características citológicas do CaP incluem núcleos aumentados e
hipercromáticos com nucléolos proeminentes (Tewari et al., 2014). Muitas vezes o
citoplasma é abundante, pelo que, a relação núcleo-citoplasma é importante, sendo a
classificação baseada no aspeto arquitetural (figura 11). A camada de células basais
está ausente, ao contrário do que acontece na glândula normal, HBP, ou lesões
percursoras de CaP.
Figura 11. Fotografia de corte histológico de uma biópsia prostática corado com Hematoxilina-Eosina, que mostra o padrão histológico de carcinoma da próstata. Disponívelhttps://www.pathpedia.com/education/eatlas/histopathology/prostate/adenocarcinoma (acedido 30/11/2018).
A coloração por imunohistoquímica da queratina de alto peso molecular é muito
relevante, já que, preferencialmente, cora as células basais. A ausência de coloração
apoia o diagnóstico de CaP.
6.1 Fatores de risco do carcinoma da próstata
Estão identificados vários fatores de risco tais como a idade, a origem étnica e
a hereditariedade.
Idade: O carcinoma da próstata é mais comum depois dos 50 anos. O risco vai
aumentando com a idade.
27
Raça/Etnia: Os homens de raça negra apresentam uma maior probabilidade de
desenvolverem a doença. Os Afro-americanos têm um risco maior que os caucasianos
e tendem a apresentar a doença em estádios mais avançados.
Historia familiar:. Quando existe um familiar direto com carcinoma de próstata o risco
duplica, e com dois ou mais familiares diretos diagnosticados o risco aumenta em 5-11
vezes (Steinberg et al,1990). O carcinoma da próstata hereditário define-se quando
três ou mais familiares diretos foram diagnosticados antes dos 55 anos. Estima-se que
a sua prevalência seja de 9% (Carter et al,1992).
Dieta: alguns estudos sugerem que uma alimentação rica em gorduras duplica o risco
relativo de CaP (Mandair et al., 2014).
Obesidade: Esta condição está associada a um aumento do risco de casos de cancro
em geral. No caso da próstata, a obesidade está associada a um aumento do risco de
tumores de alto grau, o que possivelmente está relacionado a baixos níveis de
androgénios (Ferro et al., 2017).
A exposição ao cádmio, presente no tabaco, baterias alcalinas e soldaduras,
aumenta igualmente o risco (Auffenberg et al, 2017).
6.2 Diagnóstico do carcinoma da próstata
O exame físico permite avaliar o estado geral do doente, nomeadamente a
observação da região supra- púbica procurando identificar sinais de distensão vesical
e o toque retal (Digital rectal examination – DRE). Qualquer endurecimento da próstata
deve alertar para o carcinoma da próstata com necessidade de investigação. A doença
avançada com metástases ganglionares pélvicas pode causar edema dos membros
inferiores. Sinais de compressão medular em função do tipo de lesão podem provocar
diminuição da força muscular ou espasticidade dos membros inferiores e hiperreflexia
do reflexo bulbo-cavernoso.
A melhor posição para efetuar um toque retal com intenção de avaliar a próstata é
decúbito dorsal com as coxas em abdução e os joelhos fletidos. Após a explicação da
manobra ao doente e obter o seu consentimento, o dedo indicador da mão direita, bem
lubrificado, deve massajar ligeiramente o esfíncter anal e em seguida ser introduzido
na ampola rectal. A mão esquerda sobre a região supra- púbica permite avaliar
simultaneamente a área vesical.
28
As biópsias são normalmente obtidas bilateralmente, a meia distância entre a linha
média e o bordo lateral da próstata (Trabulsi et al., 2012). Aumentando o número de
biópsias, aumenta a probabilidade de deteção. Frequentemente os tumores são
multifocais e apresentam histologicamente alguma variabilidade no grau de
diferenciação. O sistema de Gleason é um sistema de classificação usado na
Patologia que descreve padrões de crescimento tumoral e que se baseia na
observação da arquitetura da próstata sob baixa ampliação ao microscópio (Epstein et
al., 2014).
A ecografia transretal fornece uma medição mais rigorosa do volume prostático, é
necessária para o cálculo da densidade de PSA e permite detetar alterações com
maior precisão. É um exame fundamental na orientação das biópsias e pode dar
indicações sobre o estadio em caso de carcinoma. Permite a distribuição espacial das
punções e a punção direta de lesões suspeitas. A ecografia transrectal também é
usada na criocirurgia e braquiterapia. A ecografia transabdominal permite avaliar as
dimensões da glândula e detetar alterações como por exemplo cálculos e divertículos.
A imagiologia da pelve (TAC, RM) é importante essencialmente para a exclusão
de metástases ganglionares. Em casos de suspeita, auxiliam na orientação da
citologia aspirativa. São de custo elevado e sensibilidade limitada (30-40%). Os
pacientes para estas técnicas imagiológicas são doentes com cintigrama
osteoarticular negativo, tumores T3 ou PSA>20ng/ml e grau primário de Gleason 4 ou
5 (Priester et al, 2017).
O cintigrama ósseo é um exame frequentemente utilizado já que o CaP metastiza
habitualmente para os ossos. As metástases para os tecidos moles (ex. pulmão,
fígado) são mais raras. O cintigrama ósseo pode ser omitido em doentes
assintomáticos, sem qualquer terapêutica e com PSA inferior a 10 ng/ml.
6.3. Tratamento do carcinoma da próstata
O tratamento adequado ainda é objeto de controvérsia. Faltam estudos
aleatórios e bem concebidos. O dilema persiste na doença localizada, pela incerteza
da eficácia relativa das diversas modalidades de tratamento. As decisões baseiam-se
no grau e estadio do tumor, expectativa de vida, possibilidade de cada modalidade
proporcionar sobrevivência livre de doença, morbilidade e preferências do paciente e
médico.
29
Vigilância ativa (“watchful waiting”)
Nenhum estudo demonstrou inequivocamente o benefício terapêutico da
prostatectomia radical quando o CaP é diagnosticado muito precocemente. Os
doentes são, muitas vezes, mais idosos e com outras patologias. Os pequenos
tumores, bem diferenciados, frequentemente existentes nestas idades, estão
relacionados com baixas taxas de crescimento. Alguns estudos demonstram que a
vigilância ativa, isoladamente, pode ser uma forma adequada de seguir doentes
selecionados.
Prostatectomia radical
Esta técnica origina frequentemente incontinência urinária e disfunção eréctil. O
renascimento da prostatectomia radical com alterações da técnica resultou do melhor
conhecimento da anatomia cirúrgica da pelve com a descrição da anatomia do
complexo venoso dorsal. Estas modificações reduziram a perda de sangue o que
tornou possível uma dissecção mais precisa. Para além disso, existe um maior
conhecimento da anatomia do ápex da próstata e respetivas relações com as
estruturas vizinhas. A descrição do trajeto dos nervos cavernosos conduziu a
modificações com preservação da potência.
A morbilidade associada com a prostatectomia radical pode, em parte, estar
relacionada com a experiência do cirurgião. As complicações intraoperatórias mais
importantes são hemorragias e lesões do reto e uretra. As peri operatórias incluem a
trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar e infeção da sutura. As
complicações tardias são a disfunção eréctil e a incontinência urinária. A idade é o
fator isolado mais importante na recuperação da continência e a preservação de um
ou ambos os feixes neuro vasculares pode permitir a manutenção da função eréctil em
pacientes sexualmente potentes antes da intervenção. A recuperação da função
sexual acontece, geralmente, entre os 6 e 12 meses após prostatectomia radical.
O prognóstico está relacionado com a anatomia patológica da peça. As
metástases surgem em doentes com gânglios pélvicos positivos. O envolvimento das
vesículas seminais resulta, numa grande percentagem de falência do tratamento.
Existem vários nomogramas para previsão do estadio patológico final na
prostatectomia radical, baseados nos níveis de PSA, toque retal e classificação de
Gleason da biópsia. Os pacientes com tumores confinados à glândula têm uma
probabilidade de 70 a 85% de sobrevivência livre de doença aos 10 anos. Os que
30
apresentam extensão extracapsular focal têm 85% e 75% de sobrevivência livre de
doença aos 5 e 10 anos, respetivamente. Os CaP com Gleason > 7 têm um maior
risco de progressão que tumores com classificações mais baixas.
Radioterapia externa
As técnicas padrão de radioterapia externa necessitam de pontos de referência
ósseos ou de TAC para definir o alvo. Em 20-41% dos pacientes, a radioterapia
tradicional não proporciona cobertura adequada do orgão. Os avanços da imagiologia
e o uso de software tridimensional podem auxiliar no tratamento permitindo a
aplicação de doses mais elevadas ao orgão, sem exceder os limites de tolerância dos
tecidos circundantes, adequando a radiação à forma da glândula (radioterapia
conformacional tridimensional). Assim os tecidos normais são muito menos irradiados
e a toxicidade é minorada. A taxa de respostas positivas, medidas pelo PSA, também
é melhor.
Braquiterapia (radioterapia intersticial)
A radioterapia interna ou braquiterapia é uma técnica especial de tratamento com
radiações que se baseia na introdução de uma fonte radioativa (radioisótopo) dentro
(braquiterapia intersticial) ou próximo do tumor ou na massa tumoral. Tem a vantagem
de aplicação de doses elevadas ao tumor, poupando os órgãos adjacentes, com
aumento do ganho terapêutico e diminuição da morbilidade. Os resultados obtidos em
tumores de pequeno volume e baixo grau são encorajadores.
7. Novos biomarcadores
O diagnóstico precoce do carcinoma da próstata tem impacto na mortalidade e
morbilidade, por isso, é de extrema importância o uso de testes para o diagnóstico
numa fase inicial da patologia. Contudo, o diagnóstico precoce não é recomendado
como teste de rotina e só deve ser pedido após aconselhamento detalhado sobre as
suas implicações.
Devido à heterogeneidade dos tumores e a uma distinta progressão da doença de
paciente para paciente o diagnóstico e o tratamento do CaP são por vezes complexos.
Considerando a frequente ausência de sintomas no estádio inicial e que as atuais
31
ferramentas diagnósticas não invasivas (PSA e toque retal), apresentam uma série de
insuficiências e dúvidas e que a biópsia prostática quando negativa muitas vezes não
ajuda ao diagnóstico, é fundamental a descoberta de outros testes.
A quantificação do PSA não permite a distinção entre tumores indolentes e
tumores de alto grau para além de, como já referido, não apresentar especificidade
para a deteção de cancro de próstata e distinção da condição de outras como a HBP,
o que pode levar a biópsias desnecessárias.
A expansão dos conhecimentos sobre a biologia do CaP (Thu et al, 2018) e a
aplicação das tecnologias de biologia molecular e proteómica (Tanase et al., 2017).
originou uma nova e emergente área de potenciais biomarcadores (Prensner et al.,
2012), (figura 12). A exploração do uso de novos biomarcadores passa por vários tipos
de amostras nomeadamente tecido prostático, fluído seminal, sangue e urina (figura
13).
Figura 12. Novos biomarcadores. Aplicação na distinção de várias situações clínicas (Prensner et al., 2012)
33
A utilização de metodologias de análise mais abrangentes (microarrays,
espectrometria de massa e sequenciação) levou à descoberta de vários
biomarcadores urinários que podem auxiliar na decisão de realização da biópsia ou no
planeamento de uma estratégia terapêutica. A colheita de urina constitui uma
abordagem promissora para o desenvolvimento de novos biomarcadores já que as
células cancerígenas e alguns derivados são libertados em fluidos prostáticos e
posteriormente na urina. Estes biomarcadores incluem células, DNAs, RNAs e
proteínas.
O antigénio carcinoma da próstata 3, (Prostate Cancer Antigen - PCA3) é o
primeiro marcador urinário baseado em RNA aprovado pela FDA (Food and Drug
Administration) e auxilia na deteção do carcinoma na repetição da biópsia. O teste
SelectMDx é baseado na deteção de RNA mensageiro de DLX1 e HOXC6 na urina
após a massagem prostática, e ajuda na deteção de cancro da próstata de alto risco
na biópsia.
Os exossomas têm sido um alvo de estudo nos últimos anos pelas suas
aplicações e crescente potencial biomarcador. Os exossomas são nanovesiculas
rodeadas por uma bicamada lipídica, com diâmetro compreendido entre 50 e 150 nm
sendo o seu conteúdo composto por proteínas, ácidos nucleicos (RNA e DNA) e
lípidos, os quais possibilitam a troca de informação entre células vizinhas ou
fisicamente distantes Os exossomas derivados do cancro da próstata, também contêm
RNAs e proteínas específicas para cancro da próstata (por exemplo, PCA3 e
TMPRSS2-ERG), e podem ser fontes promissoras de novas descobertas de
biomarcadores. O teste ExoDx é um teste comercialmente disponível baseado na
deteção de três genes (PCA3, ERG e SPDEF) em exossomas em urinas.
Marcadores como o proPSA (uma parte do índice de Saúde Prostática – “Prostate
Health Index” - PHI) e o PCA3 (parte do PCA3 Progensa) foram recentemente
aprovados pela FDA para uso clínico. Outros marcadores que não foram ainda
aprovados pela FDA estão disponíveis em laboratórios certificados pela CLIA (Clinical
Laboratory Improvement Amendment).
PCA3
O gene Prostate Cancer Antigen (PCA3) é altamente sobreexpresso por
células cancerígenas prostáticas. O PCA3 não é influenciado por inflamação, idade,
volume prostático ou a toma de inibidores da 5α-redutase. É sobretudo utilizado para
34
decidir sobre a necessidade de repetir a biopsia prostática em doentes com
doseamento de PSA entre 4 e 10 ng/ml, mas com uma biopsia prévia negativa.
Este gene específico da próstata é um biomarcador que pode ser encontrado em
amostras de urina colhidas após o toque retal. Um teste de amplificação de ácidos
nucleicos in vitro denominado ProgensaTM PCA3 test (figura 14) foi desenvolvido
pela Gen-Probe Inc. (San Diego, Califórnia, EUA.
Figura 14. ProgensaTM PCA3 test http://www.pca3.org/learn-about-pca3 (acedido
29/01/2019)
O teste mede o PCA3 mRNA e o PSA mRNA. É calculada a proporção de
níveis de mRNA de PCA3 para PSA (PCA3 Score) para gerar uma pontuação. A razão
entre os dois define um valor que sugere a probabilidade de existir CaP. O PCA3
Score é calculado como a proporção de cópias de RNA de PCA3 para cópias de RNA
de PSA, multiplicada por 1000. À medida que o PCA3 Score aumenta,
a probabilidade de uma biópsia positiva aumenta. Se a pontuação estiver abaixo do
limite de 25, o resultado deverá ser interpretado como negativo. Um resultado negativo
está associado à diminuição da probabilidade de biópsia positiva.
Se a pontuação estiver acima ou igual a 25, o resultado deve ser interpretado como
positivo. Devido à variabilidade do ensaio, as amostras com pontuações próximas do
ponto de corte de 25 (entre 18 a 31) podem produzir
interpretação de positivo ou negativo e devem, portanto, ser analisadas com cuidado e
poderá ser aconselhada uma repetição do teste. Para valores superiores a 35 a
especificidade e a sensibilidade são de 72 e 58% respetivamente.
35
Este teste mostrou-se superior ao PSA Total e Livre para o diagnóstico de CaP.
Alguns dados indicam que a precisão diagnóstica do PCA3 foi maior que a do PSA.
Por outro lado, a utilidade clínica e superioridade do PCA3 não foi demonstrado em
pacientes submetidos à primeira biópsia. Além disso, a sua utilidade como teste
prognóstico para a agressividade do CaP ainda está a ser investigada (Marks et al.,
2007).
Teste TMPRSS2:ERG (urina ou tecido)
O gene ERG é um membro da família de fatores de transcrição ETS
(Erythroblastosis virus E26 transforming sequence). O gene TMPRSS2 (que codifica
uma serino-protease transmembranar do tipo 2) é específico da próstata e expresso
em células epiteliais luminais prostáticas normais e cancerígenas. Em 2005, foram
descobertos no carcinoma da próstata as fusões entre o gene TMPRSS2 e o gene
ERG. A fusão TMPRSS2:ERG, está presente em cerca de 50% dos tumores (Tomlins
et al., 2005) e origina a produção de múltiplos tipos de mRNA de fusão. A maioria das
isoformas proteicas sintetizadas a partir da fusão TMPRSS2:ERG está truncada, mas
alguns estudos demonstraram que pacientes que apresentaram a proteína de fusão
tiveram um risco significativamente maior de tumores em estádios clínicos mais
avançados e maior recorrência (Mosquera et al., 2008).
A importância clínica para o diagnostico e para o prognóstico continua a ser
controversa mas os genes de fusão são detetáveis em cerca de metade dos casos de
CaP e constituem, um bom indicador em tumores mais agressivos (Tomlins et al.,
2011). Um relatório recente de um estudo prospetivo multicêntrico concluiu que o
TMPRSS2-ERG também tinha valor preditivo mais elevado, que o PCA3 (Sanda et al.,
2017). O estudo da presença de TMPRSS2:ERG poderá realizar-se designadamente,
em análise da urina (figura 15) pós toque retal (Koo et al., 2016).
36
Figura 15. Teste TMPRSS2:ERG https://www.nature.com/articles/srep30722/figures/1 (acedido
29/01/2019)
Teste Progensa com T2: ERG (urina)
Alguns investigadores tentaram melhorar a avaliação de risco do CaP combinando
os testes de urina para PCA3 do Progensa com T2: ERG, e níveis séricos de PSA e
desenvolveram o Mi-Prostate Score. Este teste é oferecido pela Mlabs da
Universidade de Michigan e foi validado por vários estudos. A AUC foi
significativamente maior do que os modelos que incorporam apenas PCA3 e PSA para
a predição de CaP ou de doença de alto grau na biópsia e o teste proporciona um
aumento de sensibilidade e especificidade (Sanda et al.,. 2017).
Teste PROSTARIXTM (urina)
O PROSTARIX é um teste urinário comercialmente disponível desenvolvido
pela Metabolon Inc. (Durham, NC, EUA) em concordância com Bostwick Laboratories
(Glen Allen, VA, EUA). Este teste urinário não invasivo mede um painel de quatro
metabolitos (alanina, glutamato, glicina, sarcosina) por cromatografia e espectrometria
de massa após um toque retal vigoroso. Este produto foi desenvolvido para ajudar na
deteção de CaP no primeiro ou subsequente conjunto de biópsias em pacientes com
37
nível de PSA entre 2-15 ng / ml e DRE negativo ou suspeito. O teste mostrou
sensibilidade e especificidade aumentadas em relação ao PSA sérico e a sua precisão
diagnóstica foi melhorada pela adição de dados clínicos num modelo de regressão
logística.
Teste ProMark e 4K Score
Outros testes que podem reduzir biópsias de próstata desnecessárias e que
parecem ser importantes para identificar doenças agressivas são o ProMark®
(baseado em tecido) e o 4K Score® (em sangue). O ProMark® (Metamark Genetics,
Inc., Cambridge, MA) é um teste com valor prognóstico para a agressividade do CaP;
deteta 8 proteínas (DERL1, CUL2, SMAD4, PDSS2, HSPA9, FUS, pS6 (S6
fosforilada), YBOX1). O teste 4K Score® (OPKO Lab, Nashville, TN) é um exame de
sangue que ainda não foi aprovado pelo FDA e mede PSA Total, PSA Livre e
Calicreína Humana 2 (hK2) para estabelecer a probabilidade de detetar um CaP
agressivo (score Gleason 7 ou superior). Um algoritmo é gerado combinando os
resultados dos testes sanguíneos com os parâmetros do paciente (idade, toque retal e
resultados anteriores da biópsia). Para ambos os testes, os estudos de validação
demonstraram a melhoria do diagnóstico de CaP e auxilio nas decisões clínicas para
CaP localizado, estratificando os pacientes para vigilância ativa (“watchful waiting”) ou
intervenções terapêuticas.
Teste Oncotype DX
O teste Oncotype DX® (Genomic Health, Inc., Redwood City, CA) foi
desenvolvido como um ensaio baseado em biópsia para prever patologia adversa e
distinguir entre doença indolente e agressiva. O teste por RT-PCR avalia a expressão
de 12 genes implicados na carcinogenese de CaP (angiogenese, proliferação,
organização celular) e usa amostras de tecido obtidas de biópsias por agulha e
incluídas em parafina. O Genomic Prostate Score (0-100, scores mais altos indicam
doença mais agressiva) foi validado como um preditor de doença agressiva e ajuda a
identificar pacientes de alto risco e a iniciar uma terapia imediatamente adaptada.
38
Teste Prolaris
Outro teste clinicamente validado em vários cortes para identificar uma doença
agressiva é o Prolaris® (Myriad Genetic Laboratories, Salt Lake City, UT). Este ensaio
mede a expressão de 31 genes de progressão do ciclo celular selecionados pela sua
associação à proliferação celular de células de CaP, contra 15 genes residentes em
tecido fixado em formol obtido por biópsia de próstata ou prostatectomia radical. O
valor do teste como um preditor significativo para avaliação de risco além dos critérios
clínico-patológicos convencionais em biópsias de próstata e progressão da doença,
recidiva ou mortalidade específica por carcinoma da próstata em espécimes de
prostatectomia radical foi demonstrado em cortes múltiplos. Assim, é uma ferramenta
importante para a avaliação do prognóstico que ajuda no aconselhamento sobre o
prognóstico e a necessidade de monitorização ou terapia adjuvante.
8. Conclusões e perspetivas
As tecnologias proteómicas proporcionaram uma grande evolução na descoberta
de biomarcadores, provando que o uso de um único biomarcador é insuficiente para
um diagnóstico e prognóstico precisos. O mesmo se aplica ao CaP, no qual o poder de
diagnóstico e prognóstico do PSA foi superado por painéis de biomarcadores, com
uma melhor diferenciação entre o CaP indolente e o agressivo. Alguns desses painéis
já foram desenvolvidos para uso clínico e aprovados pela FDA. O futuro dependerá da
existência de plataformas proteómicas para implementação de análises de alto
rendimento para biomarcadores de tecidos e biofluídos. Muitos estudos pré-clínicos e
clínicos já estão a utilizar estas ferramentas para a diferenciação entre tumores
benignos e malignos, mas também para a compreensão dos mecanismos de
carcinogenese e progressão da doença.
O futuro poderá passar pela transição de biópsias de tumor para o
desenvolvimento de painéis complexos baseados em fluídos, com poder superior
sobre biomarcadores únicos e com uma complexidade estatística subjacente que deve
ser ensaiada em ensaios clínicos. A assinatura proteómica pode ser uma grande
contribuição para a abordagem personalizada do diagnóstico e tratamento São ainda
necessários processos de validação rigorosos e a aplicação dos resultados em
ensaios clínicos. O futuro também é promissor para novos marcadores, como
microRNAs, exossomas de próstata ou produtos de fusão como TMPRSS2-ERG. Os
39
exossomas específicos da próstata (prostasomes) têm um conteúdo específico de
proteínas para o CaP e auxiliam na descoberta de novos biomarcadores. De qualquer
modo, se alguns dos novos marcadores já tiverem provado ou vierem a provar a sua
utilidade, para os novos painéis, será ainda necessário um estudo mais aprofundado
antes que possam ser utilizados por rotina na prática clínica.
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Trabulsi EJ, Halpern EJ, Gomella LG. Ultrasonography and Biopsy of the Prostate. In: Kavoussi LR, Partin AW, Novick A.; et al. Campbell-Walsh Urology. 10ªed Filadélfia: Elsevier, 2012. P. 2735-2747.
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Relatório de Estágio
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia
Janeiro 2019
i
Agradecimentos
Após a finalização deste relatório, pretendo agradecer de forma sincera e em
geral a todos os que contribuíram para a realização do mesmo.
Destaco a Dra. Conceição Senra Furtado, do Laboratório Professor Doutor
Joaquim Jorge Nunes de Oliveira & Cia., S.a. Sem ela teria sido impossível ter aprendido
tanto sobre o que de tudo se faz num laboratório de análises clínicas e por toda a força
e empenho para que eu conseguisse finalizar o meu estágio e relatório.
Agradeço ao Diretor Técnico do Laboratório, Dr. Jorge Nunes de Oliveira por me
ter dado a oportunidade de realizar este estágio no seu laboratório tendo-me dado a
liberdade de utilizar tudo o que achava necessário para ter as devidas competências.
Agradeço também à Dra. Lucília por me ter orientado no departamento de
Microbiologia e Hematologia, à técnica Salomé, à técnica Alice que me ajudou muito no
departamento de Bioquímica e Imunologia, e a todos os outros funcionários que me
fizeram sentir bem-recebida.
ii
Resumo
Este relatório de estágio do Mestrado de Análises Clínicas pretende descrever
todo o trabalho feito durante o estágio, entre 3 de janeiro a 13 de abril, perfazendo as
450 horas obrigatórias. O estágio foi realizado no Laboratório Professor Doutor Joaquim
Jorge Nunes de Oliveira & Cia., S.a.
Neste relatório descrevo quais análises clínicas realizei nos diferentes
departamentos em que tive contacto e os seus respetivos métodos, nomeadamente na
microbiologia, hematologia, bioquímica e imunologia.
Abstract
This internship report from the Master of Clinical Analysis aims to describe all the work
done during the internship, from January 3 to April 13, making up the 450 mandatory
hours. The internship was carried out at the Professor Joaquim Jorge Nunes de Oliveira
& Cia., S.a.
In this report I describe what clinical analyzes I performed in the different departments in
which I came in contact and their respective methods, namely in microbiology,
hematology, biochemistry and immunology.
iii
Índice Geral
Agradecimentos ---------------------------------------------------------------------------------------------i
Resumo e Abstract ----------------------------------------------------------------------------------------ii
Índice geral--------------------------------------------------------------------------------------------------iii
Índice de figuras -------------------------------------------------------------------------------------------vi
Índice de tabelas ------------------------------------------------------------------------------------------vii
Lista de Abreviaturas ------------------------------------------------------------------------------------viii
Colheitas -----------------------------------------------------------------------------------------------------1
1. Sangue ---------------------------------------------------------------------------------------------1
2. Urina ------------------------------------------------------------------------------------------------4
3. Critérios de rejeição de amostras ------------------------------------------------------------5
Microbiologia ------------------------------------------------------------------------------------------------6
Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------6
Aparelho utilizado --------------------------------------------------------------------------------------6
Análise microbiológica de produtos ----------------------------------------------------------------8
1. Urina --------------------------------------------------------------------------------------------------8
2. Exsudado nasal ou orofaríngeo --------------------------------------------------------------10
3. Expetoração ---------------------------------------------------------------------------------------12
4. Exsudado auricular ------------------------------------------------------------------------------14
5. Exame bacteriológico de fezes ---------------------------------------------------------------15
6. Aspirados de líquidos biológicos -------------------------------------------------------------17
7. Exame micológico -------------------------------------------------------------------------------18
8. Exsudados purulentos --------------------------------------------------------------------------20
9. Exsudado vaginal, cervical --------------------------------------------------------------------22
10. Exsudado uretral e estudo do esperma-----------------------------------------------------25
11. Estudo Citobioquímico do Esperma (Espermocultura) ---------------------------------26
Bioquímica -------------------------------------------------------------------------------------------------28
Introdução-----------------------------------------------------------------------------------------------28
Aparelho utilizado-------------------------------------------------------------------------------------28
iv
Hidratos de Carbono---------------------------------------------------------------------------------29
Lípidos---------------------------------------------------------------------------------------------------29
Eletrólitos-----------------------------------------------------------------------------------------------32
Função Hepática--------------------------------------------------------------------------------------35
Enzimas musculares---------------------------------------------------------------------------------39
Enzimas pancreáticas-------------------------------------------------------------------------------40
Função Renal------------------------------------------------------------------------------------------41
Função eritroide, metabolismo do ferro---------------------------------------------------------44
Proteínas------------------------------------------------------------------------------------------------48
Eletroforese de proteínas ---------------------------------------------------------------------------51
Análise de urinas -------------------------------------------------------------------------------------53
Pesquisa de drogas de abuso ---------------------------------------------------------------------56
Exame a fezes -----------------------------------------------------------------------------------------57
Hematologia -----------------------------------------------------------------------------------------------58
Introdução----------------------------------------------------------------------------------------------58
Hemograma, plaquetas e reticulócitos----------------------------------------------------------58
Contador hematológico Sismex XT 2000i------------------------------------------------------59
Interpretação de histogramas ----------------------------------------------------------------------60
Validação dos hemogramas -----------------------------------------------------------------------61
Citologia -------------------------------------------------------------------------------------------------62
Velocidade de sedimentação ----------------------------------------------------------------------63
Hemoglobina glicosilada ----------------------------------------------------------------------------64
Imuno-hematologia -----------------------------------------------------------------------------------65
Estudo da hemóstase --------------------------------------------------------------------------------69
Imunologia -------------------------------------------------------------------------------------------------74
Introdução----------------------------------------------------------------------------------------------74
v
Áreas de estudo --------------------------------------------------------------------------------------74
Marcadores tumorais---------------------------------------------------------------------------------76
Serologia infeciosa -----------------------------------------------------------------------------------77
Testes Serológicos de Imunologia----------------------------------------------------------------87
Reações de deteção de Treponema pallidum -------------------------------------------------88
Referências bibliográficas -----------------------------------------------------------------------------90
vi
Índice de figuras
Figura 1. Mesa de trabalho------------------------------------------------------------------------------1
Figura 2. Diferentes tubos utilizados e restante material----------------------------------------3
Figura 3. Vitek 2 Compact-------------------------------------------------------------------------------6
Figura 4. Carta de identificação (esquerda) e Carta de antibiograma (direita)-------------7
Figura 5. Clue cells---------------------------------------------------------------------------------------24
Figura 6. Cobas 6000------------------------------------------------------------------------------------28
Figura 7. Capillarys sebia 2-----------------------------------------------------------------------------52
Figura 8. Perfil eletroforético e zonas de localização das proteínas-------------------------53
Figura 9. Urisys 2400------------------------------------------------------------------------------------54
Figura 10. Sismex XT 2000i----------------------------------------------------------------------------60
Figura 11. Histograma-----------------------------------------------------------------------------------61
Figura 12. Alifax Test 1----------------------------------------------------------------------------------63
Figura 13. Biorad D10-----------------------------------------------------------------------------------65
Figura 14. Aparelho VIDAS blue----------------------------------------------------------------------77
Figura 15. Marcadores clínicos da hepatite A-----------------------------------------------------82
Figura 16. Marcadores bioquímicos presentes nas várias fases de uma infeção por
hepatite B---------------------------------------------------------------------------------------------------83
vii
Índice de tabelas
Tabela 1: Classificação de amostras segundo o critério de Murray e Washington------13
Tabela 2: Interpretação dos grupos sanguíneos--------------------------------------------------67
Tabela 3: Análises imunológicas realizadas no Cobas e601 e e411-------------------------74
Tabela 4: Interpretação de resultados dos marcadores tumorais----------------------------76
Tabela 5: Parâmetros determinados no Vidas blue----------------------------------------------78
viii
Lista de abreviaturas
ACTH Hormona adrenocorticotrófica
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
PSA Prostate Specific Antigen
AFP Alfa-feto proteína
PTH Paratormona
hGR Hormona de crescimento
AST Aspartato Aminotransferase
LDH Desidrogenase lática
CK Creatinina quinase
CK-MB Creatinina quinase fração MB
PAP Fosfatase ácida prostática
HCL Ácido clorídrico
NaOH Hidróxido de sódio
UFC/mL Unidades Formadoras de colónias por mililitro
b.a.a.r. Bacilos álcool ácido-resistentes
KOH Hidróxido de potássio
LDL Low Density Lipoproteins
HDL High Density Lipoproteins
VLDL Very Low Density Lipoproteins
IDL Intermediate Density Lipoproteins
LP(a) Lipoproteína a
ALT Alanina amino-transferase
ᵧ - GT Gama-glutamil transferase
ALP Fosfatase alcalina
ix
ATP Adenosina trifosfato
ADP Adenosina difosfato
NADPH nicotinamida-adenina-dinucleótido-fosfato
LDH Lactato desidrogenase
TGF Taxa de filtração glomerular
CTFF Capacidade total de fixação de ferro
IgG, IgA e IgM Imunoglobulinas G, A e M
PCR Proteína C reativa
HGB Hemoglobina
RBC/PLT Red Blood Cells/Plaquetas
HDF método da focagem hidrodinâmica
4DIFF Diferencial
WBC/BASO White Blood Cells/Basófilos
RET Reticulócitos
DNA Deoxyribonucleic Acid
RNA Riboxynucleic Acid
HbA1c Hemoglobina glicosilada
HbF Hemoglobina Fetal
Rh Rhesus
T.P. Tempo de protrombina
INR Razão Normalizada Internacional
ISI Índex de Sensibilidade Internacional
APTT Tempo de Tromboplastina Ativada
TSH Hormona Estimulante da Tiroide
T3 Triiodotironina
T4 Tetraiiodotironina
x
Anti-Tg Anticorpo Anti-tiroglobulina
Anti-TPO Anticorpo Anti-tiroperoxidase
FSH Hormona foliculoestimulante
LH Hormona Luteinizante
D.H.E.A.-S Sulfato de DiHidroEpiAndrosterona
β – HCG Human Chorionic Gonadotropin
CEA Carcino Embryotnic Antigen
CA 15.3 Carbohydrate Antigen 15.3
CA 19.9 Carbohydrate Antigen 19.9
CA 125 Carbohydrate Antigen 125
ELISA Enzyme Linked Immunoabsorbent Assay
ELFA Enzyme Linked Fluorescent Assay
E2 Estradiol
HAV Vírus da Hepatite A
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
CMV Citomegalovírus
ANAs Anticorpos Antinucleares
SRC Síndrome da Rubéola Congénita
HBV Vírus da Hepatite B
Ag HBs Antigénio de superfície
Ag HBc Antigénio de core
Ag HBe Antigénio de early
HCV Vírus da Hepatite C
SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
SLE Lúpus Eritematoso Sistémico
TPHA Treponema Pallidum Hemaglutination Assay
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 1
Colheitas
No primeiro mês de estágio comecei na parte da manhã a fazer colheitas e da
parte da tarde no departamento de microbiologia. Como é evidente na primeira semana
estive a observar o técnico de análises a colher e a adaptar os hábitos e os doentes à
minha presença.
As colheitas neste laboratório e nos seus vários postos de colheita são efetuadas
a partir das 7h30min até ás 10h30min. Claro que na sede há colheitas durante todo o
horário de abertura, sendo que há colheitas que podem ser efetuadas a qualquer hora.
No fim da manhã chegam à sede do laboratório as várias amostras biológicas
dos diversos postos de colheitas. Também aprendi como se processa a receção e
registo das amostras. Aprendi como se processa a amostra desde que chega até dar o
resultado analítico final ao clínico.
Neste laboratório seguimos o Manual de Boas Práticas.
1. Sangue
Geralmente utilizamos o sangue venoso nas análises bioquímicas, imunológicas
e endocrinológicas, é facilmente obtido de uma veia da fossa antecubital com agulha e
seringa e sistema de vácuo. Nesta região a veia preferida é a mediana, visto ser
habitualmente grande e fixa aos tecidos. Outras veias que poderão ser puncionadas são
as dos pulsos, das costas das mãos, a veia femural e a veia jugular, embora punção
seja mais dolorosa e tenha mais probabilidade de causar hematoma.
Para a realização da punção da veia mediana, o braço do utente deverá ser
posicionado sobre o braço da cadeira de colheita, para que a veia seja submetida a um
certo grau de tensão e tenha uma mobilidade reduzida. A pele deve ser desinfetada com
álcool a 70% e deixar secar. Aplica-se ao braço um garrote sem causar desconforto.
Deve evitar-se a aspiração rápida do sangue para evitar a hemólise. Liberta-se o garrote
antes de se retirar a agulha. Após a sua remoção faz-se pressão diretamente no local
da punção com algodão esterilizado embebido em álcool, mantendo o braço direito ou
ligeiramente elevado. Após o estancamento completo da hemorragia, aplica-se o
adesivo (figura 1).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 2
Figura 1. Mesa de trabalho (imagem obtida durante o estágio)
Após a colheita o sangue é transferido para os tubos adequados. Na maioria dos
exames bioquímicos, imunológicos e endocrinológicos há necessidade de soro, obtido
por coagulação do sangue total, utilizando-se para isso um tubo de colheita sem
anticoagulante com gel ativador. O soro resulta do sobrenadante do sangue após
coagulação e centrifugação. A centrifugação da amostra só deverá ser realizada após
coagulação completa da mesma.
Para algumas determinações, por exemplo Hormona adrenocorticotrofina
(ACTH), é necessário plasma, utilizando-se para isso um tubo de colheita com
anticoagulante EDTA, que atua por formação de um quelato com cálcio, impedindo a
perda dos fatores de coagulação. A amostra é centrifugada, separada e congelada no
posto de colheita.
Para algumas determinações, por exemplo Hemoglobina glicosilada, é
necessário sangue total colhido com EDTA.
Para as determinações do estudo da hemóstase utiliza-se o sangue colhido com
citrato sódico.
Ver figura com os diferentes tubos utilizados (figura 2).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 3
Figura 2. Diferentes tubos utilizados e restante material (imagem obtida durante o
estágio)
Para algumas determinações são necessários cuidados especiais:
Para certas determinações é preferível evitar-se a determinação em
ocasiões particulares: PSA depois do exame retal, biópsia, prostectomia
ou massagem prostática; AFP para rastreio pré-natal após
amniocentese;
Para certas determinações é preferível a colheita a uma determinada
hora: ACTH e cortisol (9 horas da manhã); PTH (colheita depois das 7
horas da manhã);
Para certas determinações é necessário um repouso de 30 minutos antes
da colheita: hormona de crescimento (hGR) e prolactina;
Para certas determinações é necessário um jejum mais prolongado, de
12 horas: triglicerídeos, homocisteína;
Para certas determinações é especialmente importante evitar-se a
hemólise: sobretudo, glucose, AST, LDH e potássio, mas também
insulina (diminui falsamente os resultados), bilirrubinas, CK, CK-MB,
homocisteína, fármacos, fosfatase ácida prostática (PAP) e ACTH;
Para certas determinações é imprescindível a refrigeração imediata:
fosfatase ácida prostática (PAP), hormona de crescimento (hGR);
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 4
Para certas determinações deve proteger-se o tubo seco com papel
alumínio, evitando a exposição da amostra à luz: vitamina B6 e
catecolaminas.
Certas determinações devem ser efetuadas o mais próximo possível
após colheita: C3c, fosfatase ácida prostática (PAP);
Certas amostras devem ser congeladas se não efetuadas no dia da
colheita: soro para pesquisa de Auto anticorpos por imunofluorescência
indireta.
2. Urina
Para determinações urinárias é necessário a colheita da Urina TipoII ou de uma
urina de 24 horas.
A Urina TipoII é colhida pelo próprio utente, devendo ser a primeira urina da
manhã ou urina retida na bexiga há mais de duas horas. Deverá ser colhida em jejum.
A colheita deve ser efetuada para um recipiente específico cedido pelo laboratório.
Urinas contaminadas com sangue menstrual devem ser rejeitadas.
A urina de 24 horas poderá ser utilizada para as seguintes determinações:
creatinina, clearance da creatinina, proteínas totais, microalbuminúria, ureia,
ácido úrico, cálcio, fósforo inorgânico, magnésio, α-amílase, ionograma. Para a
sua correta obtenção o utente deverá rejeitar a primeira urina da manhã, colhendo de
seguida toda a urina até ao dia seguinte (primeira urina da manhã seguinte inclusive),
devendo a colheita ser efetuada para um recipiente próprio fornecido pelo laboratório.
Para algumas determinações são necessários cuidados especiais:
Para certas determinações é preferível evitar-se a determinação em ocasiões
particulares: microalbuminúria após exercício intenso, cirurgia, infeção urinária
ou patologia renal aguda;
Para certas determinações não congelar a urina: microalbuminúria;
Certas determinações devem ser efetuadas o mais próximo possível após
colheita: β2-microglobulina.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 5
3. Critérios de rejeição de amostras
Utilizam-se os seguintes critérios de rejeição de amostras:
Ausência de identificação ou identificação incorreta;
Mau acondicionamento ou transporte;
Volume insuficiente;
Amostras significativamente hemolisadas.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 6
Microbiologia
Introdução
No departamento de microbiologia estive 4 semanas e fiz um pouco de tudo o
que neste departamento se faz com a orientação da chefe do departamento, Dra. Lucília
e das técnicas de laboratório que lá trabalham.
Neste departamento de microbiologia chega todo o tipo de amostras biológicas,
como urinas, exsudados orofaríngeos, exsudados vaginais, expetorações, exsudados
purulentos (pus de ferida), fezes ou qualquer outro tipo da amostra biológica que seja
de interesse clínico.
Conforme o tipo de amostra, ela é direcionada primeiro para semear nos meios
de cultura apropriados dependendo do tipo de microrganismo que queremos isolar. Só
depois é que fazemos os exames a fresco e/ou coloração destes produtos pois no
contacto com a lâmina o produto perde a esterilidade.
Aparelho utilizado
Vitek 2 Compact
O aparelho Vitek 2 Compact (figura 3) é utilizado no laboratório para a
identificação de isolados bacterianos e realização de antibiogramas.
Figura 3. Vitek 2 Compact
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 7
Para este sistema existem 2 tipos de cartas (figura 4):
Cartas de identificação: cada carta desta possui poços com substratos
bioquímicos desidratados.
o GN – Identificação de Gram negativo;
o GP _ Identificação de Gram positivo;
Cartas de antibiograma: cada carta desta possui poços com substratos de
antibióticos.
o Ast – N244 – Antibiograma para Gram negativo
o Ast – P586 – Antibiograma para Enterococcus spp.
o Ast – P619 – Antibiograma para Staphylococcus spp.
o Ast – N222 – Antibiograma para Pseudomonas spp.
Figura 4. Carta de identificação (esquerda) e Carta de antibiograma (direita)
Todos os microrganismos isolados das diversas amostras e, com interesse
clínico, são identificados e é feito o respetivo antibiograma por este sistema, permitindo
uma maior segurança nos resultados. As cartas são seladas, o que permite reduzir ao
máximo o risco de contaminações.
O procedimento para a realização dos testes de identificação dos
microrganismos isolados e dos seus testes de sensibilidade aos antibióticos, através do
sistema Vitek 2 Compact, é executado segundo as indicações do fornecedor.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 8
Análise microbiológica de produtos
1. Urina
Introdução
As Infeções do Trato Urinário (ITU/UTI) são divididas em:
1. urinárias e
2. outras.
As urinárias são as a) cistites (infeções baixa) ou b) pielonefrites (infeção
alta).
As 2. Outras são a) prostatite, b) orquite e c) epididimite.
As ITU são classificadas em ITU complicadas e ITU não complicadas.
As ITU complicadas têm como grupos de risco os algaliados, imunosuprimidos,
anormalidades no trato urinário e exposição a antibióticos.
As ITU não complicadas os grupos de risco são ser do género mulher, idosos e
jovens.
As bactérias que mais frequentemente afetam o trato urinário destacam-se as
Gram Negativas da família da Enterobateriaceae a que pertence a Escherichia coli
(UPEC-E: coli uropatogénica), Klebsiella spp., Proteus spp. e outras desta família; e de
outra família a Pseudomonas aeruginosa.
Nas Gram Positivas destacam-se o Staphylococcus spp (mais frequente o S.
saprophyticus), o Enterococcus spp e o Streptococcus spp Grupo B.
Colheita da amostra
A urina é um produto biológico que se pensava que era totalmente estéril, mas
estudos recentes confirmam que não é bem assim. Durante a micção, a passagem pela
a uretra arrasta alguns microrganismos qua a colonizam, podendo causar alguns
problemas na interpretação do resultado da urocultura.
Existem vários tipos de colheita:
- Colheita asséptica do segundo jato de micção
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 9
- Colheita da Urina 24h
- Colheita supra-púbica
- Colheita por algaliação – cateter vesical
- Colheita com saco pediátrico
Cuidados a ter na colheita asséptica do segundo jato de micção:
- Lavagem dos genitais externos (água e sabão)
- Recolha da primeira micção do dia diretamente para um recipiente estéril (sem entrar
em contato com os órgãos genitais)
- Excluir o primeiro jato de urina
- Tapar o recipiente e evitar a sua exposição à luz e ao calor até à entrega no laboratório,
idealmente nas primeiras 2h. Caso, não seja possível a amostra deve ser refrigerada.
Procedimento laboratorial
1. Exame direto:
Exame direto a fresco do sedimento urinário:
Centrifugação de 10ml de urina a 3000 rpm /15 minutos e do sedimento fazer o
exame citológico.
Observação ao microscópio ótico do sedimento urinário, podendo ser observadas
células epiteliais do trato urinário inferior ou superior, leucócitos, eritrócitos, cilindros,
cristais, bactérias e fungos
2. Exame cultural:
Serve para isolar o agente bacteriano responsável pela infeção urinária
As urinas são semeadas em meio Gelose CPS ID3 da BioMèrieux- meio
cromogénico.
3. Quantificação e identificação bacteriana:
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 10
Após a incubação na estufa de 37ºC, as placas são observadas e é feita
a contagem de colónias, de acordo com o descrito no folheto informativo do
meio. Caso o resultado da cultura seja de significado clínico, procede-se para a
identificação e antibiograma de acordo com as características macro e
microscópicas da bactéria isolada no aparelho Vitek 2 Compact.
Interpretação de Resultados
Se as condições de colheita e de transporte forem adequadas, contagens de
10 000 (104 UFC/mL) a 100 000 (105 UFC/mL) podem ser significativas de infeção.
Podem-se seguir os seguintes critérios:
Nº de UFC/ mL > 105 infeção urinária
Nº de UFC/mL < 104 contaminação uretral ou vaginal
Nº de UFC/mL entre 104 – 105 deve ser avaliada segundo os critérios clínicos
Uma urina contaminada geralmente apresenta mais do que um tipo de
colónias, diz-se que a urina é não valorizável e tem p.m.p (população microbiana
polimorfa). Quando uma urina está com suspeita de estar infetada, geralmente
tem um só tipo de colónias. Exceto no caso de doentes algaliados, em que se
valorizam até 3 microrganismos diferentes.
2. Exsudado nasal ou orofaríngeo
Introdução
As infeções do trato respiratório superior provocam 10 milhões de mortes / ano
em todo Mundo, sendo a doença mais comum pela qual os indivíduos recorrem aos
cuidados médicos em Países Industrializados. Estas infeções podem ser de origem
bacteriana ou víria.
As infeções da nasofaringe e orofaringe encontram-se colonizadas por uma flora
polimorfa Gram Positiva.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 11
Dentro da flora comensal há vários microrganismos potencialmente patogénicos,
Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e leveduras.
Colheita da amostra
Exsudado nasal ou orofaríngeo é colhido com zaragatoa.
Procedimento laboratorial
Exame direto:
Coloração de Gram
- avaliação da flora
- deteção de leucócitos e células epiteliais
Exame cultural:
Os exsudados nasais são semeados em CPS + Gelose Chocolate + PolyVitex
(PVX) e em MRSA2 (meio cromogénico) quando for pedido pelo clínico e deixar
incubar 18 a 24h na estufa a 37ºC.
Fazer a Prova da Coagulase, se necessário
Fazer a Prova da Catalase, se necessário
Interpretação de resultados
O isolamento de Staphylococcus aureus, Moraxella catarrhalis, S. pyogenes,
entre outros, pode não ter significado de uma infeção por estes agentes, visto que eles
fazem parte da flora normal da nasofaringe. Devemos ter em atenção a desequilíbrios
na flora saprófita e procurar ver se existe algum predomínio de algum tipo de colónias,
ou se há colónias potencialmente sugestivas de patogénicos como Streptococcus
pneumoniae, Haemophlus influenzae e Neisseria meningitidis.
No exsudado faríngeo, a pesquisa é orientada para os Streptococcus beta –
hemolítico do grupo A de Lancefield (S. pyogenes).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 12
3. Expetoração
Introdução
Este produto biológico envolve bactérias tanto do trato respiratório superior como
do trato respiratório inferior que não deviam ter passado para essa zona. Esta parte do
aparelho respiratório é protegida por ex. por epitélio ciliado e produz um muco.
As infeções do trato respiratório inferior podem ser agudas ou crónicas.
As agudas envolvem a traqueia e a árvore bronquial (traqueítes, bronquites e
bronquiolites) e/ou o tecido pulmonar (alveolite, pneumonia e tosse convulsa).
As crónicas são a tuberculose, abcessos pulmonares, fibrose quistíca,
nocardiose e etc.
Entre os sintomas mais comuns estão a tosse e a produção de expetoração.
As bactérias mais frequentes, nas infeções comuns são:
- Streptococcus pneumoniae;
- Haemophilus influenzae;
- Moraxella catharralis;
No caso de bronquites crónicas, a predominância dos isolados é de Haemophilus
influenzae e S. pneumoniae.
Nos imunodeprimidos, os agentes mais comuns para isolar são Klebsiella spp,
Pseudomomnas spp.
Colheita da amostra
Amostra representativa (tosse profunda, primeira da manhã, lavagem da boca
com água).
Natural ou induzida
São 3 amostras de 3 dias diferentes pois é mais fiável para a pesquisa de
micobactérias e fungos.
Claro que não deve ser usado para o diagnóstico de anaeróbios.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 13
Transporte em frasco estéril, manipulada até 2h após a colheita ou refrigerada.
Aspirados traqueais devem ser encarados na mesma forma que a expetoração
no que diz respeito à análise.
Procedimento laboratorial
Exame direto
- Avaliação macroscópica e microscópica da expetoração
- Escolher a parte mais purulenta da Amostra e não a saliva
- Efetuar 3 lâminas por cada amostra de cada dia perfazendo um total de 9
lâminas. Faz-se uma para a coloração de Gram, outra para a coloração de Ziehl-
Neelsen (b.a.a.r.) e outra para se quisermos repetir.
Para avaliar a qualidade da amostra a partir do exame direto, observa-se
ao microscópio (sem luz) a coloração Gram com a objetiva de 10x
Se é Boa: <10 cel. epiteliais; 25 neutrófilos
ou Neut. /cel. epiteliais > 5:1
Tabela 1: Classificação de amostras segundo o critério de Murray e Washington
Sendo uma Boa amostra podemos fazer o exame cultural
Exame cultural:
Os meios usados são Columbia agar + 5% sangue de carneiro, CPS e Gelose
Chocolate + PolyViteX.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 14
Interpretação dos resultados
Se o número de leucócitos é baixo, o Ziehl é negativo e a flora bacteriana na
placa é polimorfa, então o exame cultural não tem significado clínico.
Se houver um número elevado de leucócitos e a flora é monomórfica ou com
predomínio claro, devemos proceder à identificação e teste de suscetibilidade a
antibióticos.
4. Exsudado auricular
Introdução
Este produto biológico também pertence ao trato respiratório superior, o ouvido
interno e médio.
A otite média é uma patologia muito comum em latentes e crianças, uma vez
que, a trompa de Eustáquio ainda está muito aberta. A maioria destes episódios tem
origem viral e os patogénicos bacterianos são originários da nasofaringe, tais como, o
Streptococcus pneumoniae ou Haemophilus influenzae, e algumas vezes Streptococcus
pyogenes ou Moraxella catarrhalis ou Proteus mirabilis.
A otite externa é semelhante ás infeções da pele e dos tecidos moles, com a
agravante de o canal auditivo ser estreito e tortuoso. O ambiente húmido e temperado
favorece a colonização por Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, e alguns
oportunistas Gram negativos, como a Pseudomonas aeruginosa e Proteus mirabilis.
Colheita da amostra
Ouvido externo:
Colher exsudado auricular com uma zaragatoa.
Ouvido interno:
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 15
O exsudado é colhido pelo otorrinolaringologista e enviado ao laboratório em
recipiente estéril.
Procedimento laboratorial
Exame direto:
Observação do esfregaço corado de Gram
Exame cultural:
Semear em Columbia agar + 5% sangue de carneiro, Gelose Chocolate +
PolyViteX e meio Gelose CPS ID3 da BioMérieux.
Interpretação de resultados
Após o período de incubação das placas, fazer a leitura das mesmas e realizar a
identificação e o respetivo teste de suscetibilidade a antibióticos das colónias suspeitas.
5. Exame bacteriológico de fezes
Introdução
As infeções do trato gastrointestinal podem ser devidas a bactérias e/ou pelas
toxinas produzidas por elas no hospedeiro, por ex.:
Gastroenterite,
Bacteriemia,
Febre tifoide
A principal via de transmissão é a via fecal-oral.
Os principais veículos de transmissão são a água e a comida contaminada.
Os principais sintomas destas infeções são diarreia, vómitos, náuseas, dores
abdominais e às vezes febre.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 16
Normalmente estas infeções são autolimitadas, mas ás vezes alguns doentes
com diarreias infeciosas precisam de estudos de diagnóstico e tratamento.
De entre os microrganismos mais comuns nas infeções do trato gastrointestinal
encontram-se Salmonella sp, Shigella sp, Campylobacter sp.
Podendo também ser devido E. coli (serotipos EPEC, EHEC, ETEC, EIEC),
Vibrio cholerae (outras Vibrionaceae), Yersinia enterocolitica, Bacillus cereus,
Clostridium perfringens.
Colheita da amostra
Devem ser colhidas 3 amostras de 3 dias diferentes e alternados e conservadas
no frigorífico até entrega no laboratório.
Procedimento laboratorial
Exame macroscópico:
Deve-se registar se as fezes são fezes formadas ou diarreicas, se têm a presença de
muco, se têm a presença de sangue ou outra observação considerada importante (por
ex. a presença de parasitas).
Exame direto:
Coloração de Gram
Exame cultural:
As fezes são semeadas em caldo Selenito F (caldo de enriquecimento), meio CPS,
Gelose Hektoen Enteric Agar(HE).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 17
Exame parasitológico:
Método de Willis:
Num tubo de centrifuga deitar uma solução saturada de cloreto de sódio, e juntar um
pouco de fezes;
Perfazer o volume do recipiente até formar um menisco convexo no topo;
Sobre o tubo colocar uma lamela e deixar repousar por 20 minutos;
Colocar a lamela sobre a lâmina e ver ao microscópio.
Interpretação de resultados
Se houver crescimento de colónias suspeitas no meio Hektoen Enteric Agar que é
um meio moderadamente seletivo e diferencial, isto é, aparecimento de colónias
azuladas ou com produção de H2S que é indicado pela presença de colónias com centro
preto, faz-se a identificação no Vitek 2 Compact podendo suspeitar de Salmonella sp e
Shigella sp.
6. Aspirados de líquidos biológicos
Introdução
Existem alguns aspirados de líquidos biológicos mais comuns vindos de cirurgias
ou de biopsias. Como por exemplo, aspirado líquido da anca, aspirado do joelho,
aspirado de líquido sinovial.
Estes aspirados devem ser sempre tratados com cuidado pois à partida são
produtos estéreis. Devem ser manipulados na câmara de fluxo laminar e com o bico de
Bunsen ligado.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 18
Colheita da amostra
Colheita é feita por médicos e colocada em recipiente estéril.
Procedimento laboratorial
Quando o produto vem em seringa devemos primeiro rejeitar as primeiras gotas,
esterilizar à chama.
Exame cultural
Semear em meio Columbia agar + 5% sangue de carneiro (sementeira de 4 quadrantes).
Fazer um Caldo de enriquecimento em Soja (vortexar e colocar na estufa a 36%)
Fazer coloração de Gram
Interpretação de resultados
Verificar o crescimento e aspeto das colónias no meio.
Verificar se o meio de enriquecimento está límpido ou turvo. Deixar a incubar na estufa
a 36ºC durante 24h. se não tiver turvo esperar durante 15 dias e verificar todos os dias.
Se estiver turvo então fazer um Gram
7. Exame micológico
Introdução
Os fungos patogénicos mais comuns em doenças infeciosas da pele glabra,
cabelo e unhas são os dermatófitos e geralmente as micoses causadas por estes fungos
são de localização única e autolimitada. Estes fungos possuem predileção por locais
quentes e húmidos (virilhas, axilas, região interdigital).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 19
Colheita da amostra
O exame micológico depende muito da colheita do produto patológico.
A quantidade de produto é muito importante para um bom resultado.
No caso de lesões múltiplas devem ser efetuadas colheitas separadas.
Material de colheita:
Raspador de Vidal
Bisturi, lâmina sem fio de corte
Lâmina de vidro
Pinça
Tesoura
Zaragatoa
Fita adesiva
Conservar:
Temperatura ambiente
24 horas (Em 12 meses pode manter a viabilidade)
Lesões na pele (escamas e crostas)
Minimizar as contaminações secundárias passando álcool a 70%;
Raspar vários pontos da pele principalmente os bordos da lesão;
Raspar vigorosamente com material não cortante, não provocar hemorragia;
Fita adesiva (exame direto)
Couro cabeludo e barba
Remover os cabelos atingidos com pinça, das zonas de alopecia, incluindo a
raiz, quebrados na região de emersão do folículo piloso
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 20
Colher as escamas
Observar sob lâmpada de Wood (U.V. 360nm) se necessário para ver as hifas.
Lesões nas unhas
Remover partículas de unha afetada, na zona de contacto com o tecido são:
Material de hiperqueratose e do bordo livre não é ideal, retirar esse material até à matriz
ungueal.
Lavar com álcool a 70%
Colher o pus, no caso de perioníquia, leito ungueal.
Onicomicoses superficial branca (mancha esbranquiçada):
Raspar por cima da lesão com bisturi.
Procedimento laboratorial
Exame cultural:
Os produtos são semeados em Gelose Sabouraud Gentamicina Clanfenicol 2
Interpretação de resultados
Os resultados obtidos diferem em consonância com o tipo de produto. No caso
de amostras de pelo, cabelo e pele é habitual a presença de dermatófitos (ex.
Microsporum spp, Trichophyton spp. Epidermophyton spp. e nalguns casos de Candida
sp e Malassezia (Candida albicans é um fungo de origem endógena).
8. Exsudados purulentos
Introdução
As secreções (pus) provenientes de supurações superficiais e de abcessos são
heterogéneas tanto pela natureza dos agentes bacterianos como pela fisiopatologia da
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 21
infeção. As infeções, quer endógenas quer exógenas, são sobretudo devidas a bactérias
aeróbias e a fungos.
Colheita da amostra
Limpar a ferida com uma zaragatoa embebida em soro fisiológico estéril;
Com uma zaragatoa recolher o exsudado ou pus da ferida;
Colocar a zaragatoa no meio de transporte;
Com outra zaragatoa fazer o esfregaço em duas lâminas.
Procedimento laboratorial
Exame direto:
Coloração de Gram
Exame cultural:
A amostra é semeada em Columbia agar + 5% sangue de carneiro, Gelose CPS
ID3, Gelose Sabouraud Gentamicina Cloranfenicol 2 e caldo de enriquecimento Todd-
Hewiit (agitar com ajuda do agitador mecânico-Vortex).
Interpretação de resultados
Caso haja crescimento de colónias suspeitas de causar infeção ou colónias
puras, é fazer a identificação e respetivo antibiograma no Vitek 2 Compact.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 22
9. Exsudado vaginal, cervical
Introdução
As infeções genitais são infeções que ocorrem no trato genital
feminino/masculino provocadas por um agente etiológico capaz de provocar síndromes
clínicos e doenças.
O trato genital é dividido em trato genital inferior e superior. No inferior as
infeções são adquiridas sexualmente ou por contato direto tanto na mulher como no
homem (mais na uretra). As infeções no trato genital superior frequentemente é uma
extensão da primoinfeção do trato genital inferior e os microrganismos que colonizam a
vagina/ cérvix migram pela cavidade uterina e colonizam os seus órgãos.
As infeções são classificadas em exógenas e endógenas.
As exógenas são adquiridas através da transmissão sexual de microrganismos
patogénicos dando origem ás doenças sexualmente transmissíveis (DST). Podem ser
provocadas por bactérias Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia
trachomatis, Treponema pallidum, Haemophilus ducray, por parasitas Trichomonas
vaginalis e por vírus Herpes simples vírus, HPV, HIV.
As infeções endógenas resultam de desequilíbrios da flora normal do paciente
podendo provocar Vaginose Bacteriana e quando provocada por fungos é devido á
Candida albicans.
As síndromes clínicas mais comuns na mulher são vaginite, cervicite, uretrite,
doença inflamatória pélvica, úlceras genitais e proctite, e no homem são uretrite,
epididimite, úlceras genitais, orquite, prostatite e proctite. Podem surgir infeções
múltiplas. Doenças mais frequentes na mulher Vaginose Bacteriana, Candidíase
(Candida albicans), Tricomoníase (Trichomonas vaginalis). A Vaginose Bacteriana é
devido ao aumento Gardnerrella vaginalis, bactéria normal da flora normal da flora
vaginal e outros microrganismos; esse aumento é devido a lavagens sucessivas,
múltiplos parceiros sexuais e antibióticos.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 23
No caso das grávidas, no 3º trimestre de gravidez (35 semanas), faz-se a
pesquisa de Streptococcus agalactiae (estreptococo beta – hemolítico do grupo B), para
prevenir a contaminação materno-fetal. Esta bactéria é responsável por meningites,
septicemias e pneumonias no recém-nascido.
Colheita da amostra
Para obtermos o exsudado vaginal basta introduzir a zaragatoa na vagina.
Para o exsudado cervical já é preciso introduzir o espéculo sem lubrificante ou
humedecido com soro fisiológico, colher o exsudado do fundo do saco posterior e/ou
paredes vaginais com a zaragatoa inserida alguns milímetros passando o canal cervical
e depois é rodada firmemente. Repetir a operação com 2ª zaragatoa e efetuar o
esfregaço após a colheita.
Procedimento laboratorial
Exame a fresco:
Pesquisa de Trichomonas vaginalis e leveduras no exame a fresco de exsudado
vaginal.
Coloração de Gram:
Visualização da flora
Exame cultural:
Semear as amostras dos exsudados em Columbia agar + 5% sangue de
carneiro, Gelose de Chocolate + PolyViteX, Gelose CPS ID 3 e Gelose chromID
Candida.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 24
Interpretação de resultados
Após a observação dos meios de cultura é feita a identificação e antibiograma
das colónias suspeitas.
O diagnóstico da Gardnerella vaginalis é feito pela presença de pelo menos três
dos quatro seguintes critérios (critérios de Amsel): corrimento branco ou cinzento,
homogéneo e viscoso; fluido vaginal pH>4,5; liberação de odor amina, semelhante a
peixe; microscopia.
Ao microscópio optico, a observação do Gram apresenta densos agregados de
bacilos Gram negativo ou Gram variável, em células epiteliais e à volta delas. Esta
células são designadas “clue cells” (figura 5).
Figura 5. Clue cells (imagem obtida durante o estágio)
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 25
10. Exsudado uretral e estudo do esperma
Introdução
No homem os principais agentes de infeção são Clamydia Trachomatis (parasita
intracelular obrigatório), Neisseria gonorrhoeae (homem é o único hospedeiro),
Enterobacteriaceae e Pseudomonas sp, na prostatite.
A Neisseria gonorrhoeae dá sintomas no homem de disúria e exsudado uretral
purulento e como complicações são epididimite, prostatite e abcesso periuretral.
Colheita da amostra
No homem a colheita do exsudado uretral deve ser feita antes da primeira urina
da manhã, inserir o cotonete no orifício uretral, e rodar 360 graus durante 5-10 segundos
para colher algumas células epiteliais.
Para o estudo do esperma é pedir ao homem para ejacular para um frasco estéril
de boca larga.
Procedimento laboratorial
Exame direto:
Coloração Gram com diplococos Gram-negativo no citoplasma de células
inflamatórias.
Fazer das colónias quando o meio de transporte é líquido senão esperar 24h e
fazer do meio Gelose de Chocolate + PolyViteX.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 26
Interpretação de resultados
Quando colónias suspeitas fazer Gram e prova da oxidase.
Em casos de infeção gonocócica urogenital a prova da oxidase é positiva e os
diplococos Gram negativo no Gram são geralmente suficientes para estabelecer um
diagnóstico presuntivo.
11. Estudo Citobioquímico do Esperma (Espermocultura)
Introdução
Este tipo de exame é para avaliação multiparamétrica do Esperma.
A espermocultura é usado sobretudo na investigação da infertilidade e na eficácia
da vasectomia.
Aplica-se a amostras biológicas de esperma nas quais se pretende determinar
Volume, Cor, Cheiro, Liquefação aos 60 minuto, Viscosidade, pH, Mobilidade aos 30`,
Morfologia, Contagem do número de Espermatozoides.
Colheita da amostra
A colheita e tratamento da amostra devem cumprir com rigor o descrito no
Manual de Colheitas, isto é, recomenda-se que a colheita seja efetuada após um
período de 3 dias de abstinência sexual, idealmente colhida no próprio laboratório, mas
quando colhida no domicílio do paciente seja entregue de imediato e a amostra é
incubada a 37ºC durante 30`.
Procedimento laboratorial
Para medir o Volume deve-se transferir por decantação a amostra para uma
pipeta graduada e proceder à sua medição.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 27
Deve-se observar a Viscosidade na decantação da amostra para a pipeta e
também na pipeta de pasteur.
A Contagem dos espermatozoides é na camâra de Newbeaur.
A coloração com eosina é para ver a Vitalidade,etc…
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 28
Bioquímica
Introdução
Neste departamento chega tubos de soro e frascos de urina para análise. Na
triagem de produtos, os tubos são centrifugados a 3500 rpm durante 15 minutos e
posteriormente distribuídos pelos vários sistemas automáticos para análise.
Aparelho utilizado
Sistema cobas 6000
O sistema cobas 6000 (figura 6) que contem o sistema cobas c501 e e601 é
o aparelho utilizado para a realização da maioria das análises no departamento de
bioquímica. Este aparelho utiliza como métodos a espetroscopia UV e visível,
turbidimetria, potenciometria e imunoturbidimetria.
Figura 6. Cobas 6000
As amostras são processadas a partir de racks introduzidas, e são identificadas
através de código de barras. Assim o aparelho distingue entre amostras de doentes
(soro e urina), controlos, calibradores, e amostras para fazer os brancos dos reagentes.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 29
Hidratos de carbono
Glucose
Método
O aumento da absorvência a 340 nm é proporcional à concentração de glucose
na amostra.
O doseamento da glucose é feito em jejum e pós-prandial, uma ou duas horas
após a refeição, a fim de testar a elevação do valor da glucose no indivíduo e a sua
estabilização respetivamente.
Também se faz a Prova de Tolerância Oral à Glucose, por exemplo nas grávidas
e diabéticos. Nesta prova o doente ingere 75g de glucose, sendo feita a colheita 2 horas
após a toma ou, no caso das grávidas, é feita a colheita aos 60 e aos 120 minutos para
despiste da Diabetes Gestacional.
Interpretação do resultado
A glucose juntamente com os ácidos gordos, são os mais importantes
fornecedores de energia do organismo. A sua concentração é mantida através de um
controle preciso de processos fornecedores e utilizadores de glucose.
Alterações no metabolismo da glucose correspondem, na maioria das vezes, a
uma hiperglicemia, e com menor frequência, hipoglicémia.
Esta análise permite o despiste de várias patologias como a Diabetes mellitus, e
a diabetes gestacional.
Lípidos
Colesterol
Introdução
O colesterol é sintetizado de modo permanente em todo o organismo e é um
componente essencial das membranas celulares e das lipoproteínas. É igualmente, um
percursor para a síntese de hormonas esteroides, ácidos biliares e de vitamina D.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 30
Método
É utilizado um método enzimático por espectrofotometria, para medir o colesterol
no soro e plasma humanos.
Os ésteres de colesterol são clivados através da ação do colesterol esterase e
produzem colesterol livre e ácidos gordos. Com a ajuda do colesterol oxidase, o
colesterol é transformado em colest-4-en-3-ona e peróxido de hidrogénio. O peróxido
de hidrogénio produzido origina uma coloração vermelha através da reação com a 4-
aminofenazona e o fenol, sob a ação catalítica da peroxidase. O colesterol é então
medido espetrofotometricamente a 540/600 nm e como um aumento na absorvência é
proporcional à concentração de colesterol no soro.
Interpretação de resultados
Os valores de referência estabelecidos são:
- Normal: < 200 mg/dl;
- Risco cardiovascular moderado: 200-239 mg/dl;
- Risco cardiovascular elevado: > 240 mg/dl.
A avaliação destes valores para diagnóstico deve ser feita em conjunto com os
doseamentos de lipoproteínas (LDL e HDL).
Colesterol LDL e HDL
Os lípidos sintetizados no fígado e intestino têm de ser transportados para os vários
tecidos para desempenharem as suas funções biológicas. Devido à sua insolubilidade,
estes são transportados no plasma em complexos macromoleculares – as lipoproteínas.
Estas são partículas esféricas com lípidos não-polares (triglicéridos e esteres do
colesterol) no seu interior e lípidos polares (fosfolípidos e colesterol livre) orientados
para a superfície. Também contêm uma ou mais proteínas específicas à superfície,
designadas por apolipoproteínas.
Existem 6 categorias de lipoproteínas:
Quilomicrons;
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 31
VLDL – Very Low Density Lipoproteins – Lipoproteínas de
densidade muito baixa;
IDL – Intermediate Density Lipoproteins – Lipoproteínas de
densidade intermédia;
LDL – Low Density Lipoproteins – Lipoproteínas de densidade
baixa;
HDL – High Density Lipoproteins – Lipoproteínas de alta
densidade
LP(a) – Lipoproteína a
Colesterol HDL
Método
A determinação do colesterol HDL é feita por um ensaio enzimático do soro.
Interpretação de resultados
Um valor de colesterol HDL inferior a 45 mg/dl significa um risco mais elevado
de arteriosclerose que está associada a um maior risco de doença cardíaca e de doença
coronária. Enquanto um valor maior que 45 mg/dl é um fator favorável ao não
desenvolvimento de arteriosclerose.
Colesterol LDL
Método
A sua determinação é feita segundo a fórmula de Fredwald:
Colesterol LDL= Colesterol Total – HDL- Triglicerídeos / 5
Esta fórmula, contudo, só é valida para um valor de triglicerídeos menor ou igual
a 400 mg/dl.
Interpretação de resultados
Triglicerídeos elevados apresentam risco aterogénico. Assim, um valor de
triglicerídeos maior que 200mg/dl, apresenta um risco de aterosclerose mais elevado,
enquanto que um valor abaixo de 100 mg/dl apresenta um baixo risco.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 32
Eletrólitos
Não há quase processos metabólicos que não dependam ou não sejam afetados
por eletrólitos. Dentro dos eletrólitos principais temos: Na+, K+, Cl-, HCO3-, Mg 2+,
Ca2+, H2PO4- e SO4 2-. A maioria circula sob a forma livre, enquanto alguns como o
Mg2+ e o Ca2+ circulam ligados a proteínas, como a albumina.
Sódio, Potássio e Cloretos
Método
A determinação destes eletrólitos é feita pelo módulo ISE do aparelho. Este
módulo possui elétrodos específicos para cada ião. É desenvolvido um potencial
elétrico de acordo com a Equação de Nernst para cada ião específico. Quando
comparado com uma referência interne, este potencial elétrico é convertido em
voltagem e seguidamente na concentração de iões da amostra.
Magnésio
Método
É utilizado um método direto no qual os iões de magnésio formam um complexo
colorido com azul de xilidil em ambiente básico. A cor produzida é medida a 520/800
nm, sendo proporcional à concentração de magnésio na amostra.
Sódio
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Soro: 136 – 146 mmol/L;
Urina: 40 – 220 mmol/ dia.
Quando o valor de sódio no soro se encontra abaixo do valor de referência,
estamos perante uma hiponatrémia. A hiponatrémia pode ocorrer devido a perdas
excessivas, por exemplo, pelo trato gastrointestinal, sem que haja uma reposição
apropriada dos eletrólitos, cirrose, síndrome nefrótico, insuficiência cardíaca
congénita, entre outros.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 33
No caso de o valor de sódio se encontrar acima dos valores de referência
estamos perante uma hipernatrémia. A principal causa da hipernatrémia é a
desidratação.
Potássio
Interpretação de resultados
O ião potássio, é o catião mais abundante logo a seguir ao sódio, pelo
que a sua determinação é muito importante nalguns tipos de patologias. A
alteração da homeostasia do potássio traz sérias consequências a vários níveis,
como por exemplo, a nível cardíaco.
Valores de referência:
Soro: 3,5 – 5,1 mmol/L;
Urina: 25 – 125 mmol/ dia.
Quando o valor de potássio se encontra inferior aos valores de referência,
estamos perante uma hipocalémia comum em casos de alcalose metabólica.
Uma hipercalémia, isto é, um valor de potássio superior aos valores de
referência, é comum em casos de acidoses metabólica ou em caso de desidratação.
Cloretos
Interpretação de resultados
O cloreto é o anião extracelular mais abundante. Geralmente, os valores
do ião cloreto acompanham o ião sódio. A determinação dos cloretos é, assim,
importante como diagnóstico diferencial de desequilíbrios eletrólitos.
Valores de referência:
Soro: 98 – 106 mmol/ L;
Urina:110 – 250 mmol/dia.
Um valor de cloretos menor de 98 mmol/L, significa que estamos perante uma
hipoclorémia, comum em casos de acidose metabólica. Um valor de cloretos superior
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 34
ao valor de referência, uma hiperclorémia, é comum em casos de desidratação e
acidose metabólica.
Magnésio
Interpretação de resultados
O magnésio é o quarto catião mais abundante no organismo e o segundo a nível
intracelular.
Este catião é um cofator de mais de trezentas enzimas no organismo.
Valores de referência:
Soro – Homem: 1,8 – 2,6 mg/dl
Mulher: 1,9 – 2,5 mg/dl
Urina – 73 – 122 mg/dl
A hipomagnesiémia deve-se na maioria das vezes a perdas no trato GI, como
em diarreias e a nível renal.
A hipermagnesiémia tem como causa principal a administração de fármacos,
como ciclosporinas e diuréticos.
Cálcio
Introdução
O cálcio existe em três estados fisiológicos no plasma: ionizado, ligado a
proteínas plasmáticas e complexado com pequenos iões.
O cálcio livre é fração biologicamente ativa, sendo a sua concentração regulada
pela PTH e a 1,25-dihidroxivitamina D.
Interpretação de resultados
Uma diminuição na concentração de cálcio, hipocalémia, está presente em
casos de hipoalbuminémia, uma vez que a albumina liga-se ao cálcio, ou em casos de
insuficiência rena crónica.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 35
A hipercalcémia está presente principalmente no hiperparatiróidismo primário.
Fósforo
Introdução
O plasma contem fósforo inorgânico e orgânico, mas apenas o inorgânico é
medido. O fósforo inorgânico é o componente principal da hidroxiapatite no osso e,
por isso, desempenha um importante papel no suporte estrutural do corpo.
A maior parte do fósforo corporal é intracelular. O metabolismo do fósforo está
intimamente ligado ao cálcio. Fisiologicamente, quando o cálcio sobe no soro, o
fósforo desce, sendo este controlo feito a nível renal.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Soro: 2,5 – 4,5 mg/dl
Urina: 0,4 – 1,3 g/24h
A hipofosfatémia pode ser devido à mudança do fósforo do fluído extracelular
para o fluído intracelular. Esta mudança pode ocorrer devido à estimulação da secreção
de insulina induzida por hidratos de carbono, a qual estimula o transporte de glucose e
fosfato para as células sensíveis à insulina, onde, por sua vez, o fosfato é incorporado
em açucares e ATP.
A hiperfosfatémia poderá ser causada, maioritariamente, por insuficiência
renal.
Função hepática
Bilirrubinas
Introdução
Após o final do seu ciclo de circulação, os eritrócitos são decompostos no
sistema reticulo endotelial (baço e medula óssea). Assim o ferro é removido, o grupo
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 36
heme presente nos eritrócitos é convertido em bilirrubina (não conjugada). Este
processo corresponde aproximadamente a 80% da bilirrubina (não conjugada)
produzida diariamente. As outras formas de bilirrubina incluem a decomposição da
mioglobina e citocromos.
Uma vez produzida, a bilirrubina (não conjugada) é transportada, por ligação à
albumina, até ao fígado. Esta fração de bilirrubina é hidrofóbica, não podendo, como tal,
ser eliminada por via renal. Designa-se por bilirrubina não conjugada ou indireta (por
não ser diretamente determinada por simples adição ao ácido sulfanílico diazotado).
A entrada da bilirrubina não conjugada no fígado é feita à custa de
transportadores existente na membrana dos hepatócitos (bilitranslocase). Uma vez no
fígado, a bilirrubina é duas vezes conjugada com ácido glucorónico, por intermédio da
enzima bilirrubina-UDP-glucoronosil-transferase1. Forma-se, assim, a bilirrubina
conjugada. Ao contrário da bilirrubina não conjugada, a bilirrubina conjugada é
hidrofílica, podendo, como tal, ser eliminada por via renal. A bilirrubina conjugada é
também designada por bilirrubina direta (por ser doseada diretamente por simples
adição do ácido sulfanílico diazotado).
Método
A absorvência da bilirrubina total a 540nm é proporcional à concentração de
bilirrubina no soro. Para a determinação da bilirrubina direta faz-se a leitura da
absorvência a 570 nm.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Bilirrubina total: 0,3 – 1,0 mg/dl;
Bilirrubina direta: < 0,5 mg/dl.
O doseamento da bilirrubina tem interesse para o estudo de doenças hepáticas onde
pode ocorrer um aumento das bilirrubinas (icterícia) ou doença colestática.
Enzimas hepáticas:
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 37
Aspartato amino-transferase sérica (AST) e Alanina amino-transferase
sérica (ALT)
As aminotransferases constituem um grupo de enzimas que catalizam a
conversão de aminoácidos em 2- oxo- ácidos pela transferência de grupos amino.
A AST é uma enzima encontrada em vários órgãos e tecidos, como fígado,
coração e músculo esquelético.
A ALT é uma enzima encontrada predominantemente no fígado, porém em
quantidades moderadas no rim e pequenas quantidades no coração e musculatura
esquelética. Em geral, a maior parte da elevação da ALT deve-se à presença de doença
hepática.
Método
Para a determinação destas enzimas hepáticas, o método utilizado é cinética
enzimática com desenvolvimento de cor, que é lida a 340 nm, sendo a cor desenvolvida
proporcional à concentração das enzimas no soro.
Interpretação de resultados
AST ALT
Homem < 35 U/L < 45 U/L
Mulher < 31 U/L < 34 U/L
As patologias hepáticas são as principais responsáveis pelo aumento das
transaminases no soro.
Nas hepatites virais e no caso de necrose hepática, os valores destas enzimas
elevam-se antes do aparecimento dos sinais clínicos e dos sintomas. A atividade das
enzimas nestes casos pode ser bastante elevada, chegando a alcançar valores 100
vezes maiores ou mais que o referido valor referência. A ALT é mais específica do
fígado.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 38
Gama-glutamil transferase (ᵧ - GT)
A ᵧ - GT pertence a um grupo de peptidases que catalisam a transferência de
aminoácidos de um péptido para outro e atuando, assim, como transferases de a.a.
A ᵧ - GT existe em todas as células do organismo, exceto nos músculos. A
enzima existente no soro parece ter essencialmente origem no sistema hepatobiliar.
Método
A ᵧ - GT catalisa a transferência do grupo gama-glutamil-3-carboxi-4-nitroanilido
para a glicilglicina, produzindo 5-amino-2-nitrobenzoato. A alteração da absorvência a
410/480 nm deve-se à formação de 5-amino-2-benzoato, e é diretamente proporcional
à atividade da ᵧ - GT na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Homens: < 55 U/L;
Mulheres: < 38 U/L.
O aumento de atividade desta enzima parece ser um marcador sensível de doença
hepatobiliar. A ᵧ - GT apresenta valores bastante elevados quando na presença de uma
obstrução intra ou pós-hepática. O seu aumento aparece em doentes com hepatite
infeciosa. Em doentes com cirrose alcoólica e na maioria dos doentes que consomem
grandes quantidades de álcool, a ᵧ - GT encontra-se também elevada, desempenhando
um papel importante na deteção do alcoolismo e sua monitorização.
Fosfatase alcalina (ALP)
A fosfatase alcalina é constituída por um grupo de enzimas estritamente
relacionadas e com atividade máxima de pH 10.
A atividade desta enzima está presente na maioria dos órgãos e está associada a
membranas e superfícies celulares localizadas na mucosa do intestino delgado e
túbulos contornados proximais do rim, ossos (osteoblastos), fígado e placenta.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 39
Método
A fosfatase alcalina é medida segundo ensaio de cinética enzimática.
Interpretação de resultados
Valor de referência: 30 – 120 U/L
A determinação desta enzima tem particular interesse no despiste de duas
patologias: doença hepatobiliar e doenças ósseas associadas ao aumento da atividade
dos osteoclastos. Nestas duas patologias, podemos verificar um aumento sérico da
fosfatase alcalina.
Durante a gravidez e fase de crescimento das crianças, poderá haver um ligeiro
aumento dos valores séricos desta enzima.
Enzimas musculares
Creatinina quinase (CK)
A CK é um dímero composto por subunidades M-musculo e/ou B-cérebro que se
associam para formar as iso enzimas CK-MM, CK-MB e CK-BB. Estes catalisam a
fosforilação reversível da creatina por ATP. O magnésio é um ião ativador formando
complexos com ATP e ADP.
A atividade da CK é maior nos músculos estriado e cardíaco.
Método
O método usado para a determinação desta enzima, é uma reação de cinética
enzimática com produção de NADPH leva ao aumento da absorvência a 340/600 nm,
que é diretamente proporcional à quantidade da enzima no soro.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Homens: ≤ 171 U/L
Mulheres: ≥ 145 U/L
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 40
O valor da CK encontra-se muito elevado em todos os tipos de distrofia muscular,
como por exemplo, na distrofia de Duchenne.
A atividade da CK aumenta após danos no miocárdio, com aumento significativo das
frações MM e MB.
Lactato desidrogenase (LDH)
A lactato desidrogenase do soro consiste na atividade de cinco iso enzimas,
LDH-1 a LDH-5, diferenciáveis na base da respetiva composição sub-unitária. Visto a
concentração da LDH nos tecidos ser 500 vezes superior à existente no plasma, a
ocorrência de danos numa pequena porção de tecido pode conduzir a um aumento
significativo da sua atividade no soro. Por isso, o papel principal da LDH total, reside na
deteção de lesões reduzidas no tecido.
Método
A LDH catalisa a oxidação do lactato em piruvato, juntamente com a redução de
NAD+ a NADH. O aumento do NADH é medido a 340 nm e é diretamente proporcional
à atividade enzimática da amostra.
Interpretação de resultados
Devido à sua distribuição alargada, a elevação da LDH pode ocorrer numa série
de condições patológicas, como enfarte do miocárdio, hemólise, entre outras, sendo por
isso a LDH de importância no diagnóstico de enfarte do miocárdio e anemia hemolítica.
Enzimas pancreáticas
α – Amílase
Esta enzima encontra-se em maior concentração nas glândulas salivares (tipo-S), e
no pâncreas (tipo-P).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 41
Método
Esta enzima é determinada segundo o método da cinética enzimática.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Soro: 22 – 80 U/L
A concentração desta enzima aumenta exponencialmente em casos de
pancreatite aguda e em doenças do trato biliar.
Função Renal
Creatinina
A creatinina está presente em quase todos os fluídos corporais e é filtrada livremente
pelo glomérulo. Posteriormente, não sofre reabsorção pelos túbulos renais e sofre uma
pequena, mas significativa, secreção tubular. Este facto concreto faz com que a
creatinina seja um analito de eleição para a avaliação da taxa de filtração glomerular
(TFG) e da função renal.
Método
A creatinina forma um composto amarelo-alaranjado com o ácido pícrico num
meio alcalino. A taxa de alteração na absorvência é proporcional à concentração de
creatinina na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência séricos:
Homens < 50 anos: 0,84 – 1,25 mg/dl
Homens > 50 anos: 0,81 – 1,44 mg/dl
Mulheres: 0,66 – 1,09 mg/dl
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 42
Valores de referência urinários:
Homens: 1100 – 2000 mg/24h
Mulheres: 800 – 1300 mg/24h
A creatinina no soro varia em função da idade, peso corporal e sexo do indivíduo.
A creatinina está mais elevada em indivíduos que possuem uma massa muscular
aumentada.
Clearance da creatinina
A clearance da creatinina é o marcador mais preciso da TGF. Obtém-se pela
seguinte fórmula:
Esta prova tem os mesmos interferente no doseamento plasmático, mas os
mesmos são reduzidos ou anulados, uma vez que a recolha é feita em Urina de 24h.
A depuração da creatinina tem sido considerada uma das provas mais sensíveis
disponíveis para indicar a presença de insuficiência renal, devido à rápida queda dos
seus valores. Valores abaixo de 10 ml/min indicam a necessidade de diálise.
Ureia
A ureia é o produto metabólico nitrogenado existente em maior quantidade no
organismo, proveniente do catabolismo proteico. A biossíntese da ureia a partir da
amónia derivada de a.a. é feita exclusivamente a nível hepático no ciclo da ureia.
Método
A determinação da ureia é feita por um método enzimático pela urease com
desenvolvimento de cor que é proporcional à concentração de ureia no soro.
Interpretação de resultados
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 43
Valores aumentados de ureia normalmente são patognomónicos de patologia
renal.
Os níveis de ureia podem estar diminuídos na gravidez e na doença hepática
grave.
Ácido úrico
O ácido úrico é o produto principal do catabolismo das purinas no ser humano,
e é formado a partir da xantina sob a ação da xantina-oxidase. A maior parte da
formação do ácido úrico ocorre no fígado e é eliminado através dos rins.
Método
Sob ação da uricase e posteriormente da peroxidase, há desenvolvimento de cor
que vai ser proporcional à concentração de ácido úrico no soro.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Homem: 3,5 – 7,2 mg/dl
Mulher: 2,6 – 6,0 mg/dl
Urina: 250 – 750 mg/24h
A gota é a patologia causada pela hiperuricemia, podendo ser devido a vários
fatores, como secreção renal, excesso de purinas na dieta, entre outros.
Microalbuminúria
A microalbuminúria é agora considerada um importante fator indicador do
declínio da função renal em sujeitos diabéticos.
Podemos considerar uma microalbuminúria diabética quando há deteção de
excreção de albumina em pelo menos 2 de 3 amostras obtidas num prazo de 6 meses.
Método
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 44
Quando uma amostra é misturada com o tampão e solução antissoro, a albumina
humana reage especificamente com antissoros de albumina anti-humanos para produzir
agregados insolúveis. A absorvência destes agregados é proporcional à concentração
de albumina na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência
Normal: < 30 mg/24h;
Microalbuminúria: < 30 – 300 mg/dl;
Albuminúria: > 300 mg/24h.
A microalbuminúria é definida como um aumento da excreção urinária de albumina
acima do valor de referência para sujeitos não diabéticos, mas não detetável noutros
testes para a determinação de proteína urinária.
Função eritroide, metabolismo do ferro
O ferro usado para a formação da hemoglobina vem da dieta (1mg) e da
reciclagem de ferro de eritrócitos senescentes. O ferro circula no sangue acoplado a
uma beta-globulina, denominada transferrina. Os percursores eritroides na medula
óssea utilizam parte do ferro disponível e, do restante, cerca de 60% é armazenado na
medula óssea, fígado e baço sob a forma de ferritina e os outros 40% sob a forma de
hemossiderina.
A bilirrubina é um pigmento amarelo-alaranjado derivado da destruição
eritrocitária, conjugado no fígado e excretado na bílis e urina. Esta molécula provém da
degradação do grupo de heme, da mioglobina e citocromos. Sendo insolúvel no plasma,
esta proteína é transportada ligada à albumina até aos hepatócitos. Aí é conjugada com
o ácido glucorónico, tornando-a hidrossolúvel. A sua posterior libertação no intestino
serve para saponificar as gorduras.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 45
Ferro
Método
O ferro forma um complexo de cor azul em meio tamponado. O aumento na
absorvência é diretamente proporcional à quantidade de ferro.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
Homem: 50 – 170 µg/dl;
Mulher: 30 -160 µg/dl.
A deficiência em ferro é uma das causas de anemia mais prevalentes a nível
mundial tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, embora
em causas por causas diferentes.
A hemossiderose e a hemocromatose são patologias por excesso de ferro.
Capacidade total de fixação de ferro (CTFF)
Método
A capacidade total de fixação de ferro é calculada segundo a seguinte fórmula:
CTFF = Fe sérico – Capacidade de fixação do ferro não saturado
Interpretação de resultados
Valores de referência: 240 – 450 µg/dl.
A determinação da CTFF é importante para o diagnóstico de anemia ferropénica
e monitorização do metabolismo do ferro.
Transferrina
Método
O método usado é semelhante ao da determinação do ferro. A amostra é misturada
com tampão e solução antissoro, a transferrina humana reage especificamente com
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 46
anticorpos transferrina anti-humanos para produzir agregados insolúveis. A absorção
destes agregados é proporcional à concentração de transferrina na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência: 200 – 400 mg/dl
A determinação da transferrina é importante principalmente para o diagnóstico de
anemia ferropénica. Mas a determinação da concentração da transferrina tem o seu
maior valor semiológico no diagnóstico diferencial das anemias e na monitorização da
resposta ao tratamento das patologias secundárias às alterações do metabolismo do
ferro, conjuntamente com a determinação da sideremia (determinação do ferro sérico),
ferritina e taxa de saturação da transferrina.
Saturação da transferrina
Método
A saturação da transferrina é calculada pela seguinte fórmula:
Interpretação de resultados
A saturação da transferrina é importante para o diagnóstico da anemia
ferropénica, uma vez que o seu valor se encontra reduzido neste caso.
Ferritina
Método
Esta determinação é efetuada no aparelho Vidas blue, fotoquimioluminescência
(sandwich), utilizando dois anticorpos monoclonais anti ferritina de ratinho.
Interpretação de resultados
O nível de ferritina sérica é um indicador da quantidade de ferro no organismo.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 47
A queda do nível de ferritina sérica pode ser um sinal de um défice de ferro,
precedendo o aparecimento de uma anemia ferropénica. Clinicamente, provou-se ser
útil um valor limite de 20 µg/L na deteção de uma deficiência de ferro pré-latente. Este
valor constitui uma indicação fiável do esgotamento das reservas de ferro que podem
ser mobilizadas para a síntese da hemoglobina. Segundo a definição, existe deficiência
de ferro quando se regista uma queda para valores abaixo do limiar de 12 µg/L. Estes
dois valores não requerem mais nenhuma elucidação laboratorial, nem mesmo quando
o hemograma está morfologicamente normal. Se a diminuição do nível de ferritina for
acompanhada de anemia hipocrómica microcítica, está-se perante uma manifesta
deficiência de ferro.
A sobrecarga férrica (ferritina > 400 µg/L) é caraterística de transfusões e
hemodiálise repetidas e de doenças como a hemocromatose, talassemia, anemia
sideroblástica, carcinoma hepatocelular (citólise hepática; a determinação de ferritina é
um indicador importante de metástases no fígado), carcinoma pulmonar, carcinoma do
cólon, carcinoma da próstata, leucemia aguda e linfoma de Hodgkin. Nestes casos o
doseamento da ferritina sérica ajuda no diagnóstico e vigilância dos doentes. Como se
trata de uma proteína de fase aguda positiva, os níveis de ferritina também aumentam
quando ocorre inflamação, o que provoca uma retenção de ferro nos macrófagos
mononucleares da medula óssea, baço e fígado.
Assim o doseamento da ferritina permite distinguir anemias hipocrómicas por
carência de ferro (diminuição da ferritina) das anemias inflamatórias (ferritina
aumentada).
Valores de referência
Homens: 30 - 400 µg/L (ng/mL)
Mulheres: 13 – 150 µg/L (ng/mL)
Vitamina B12
A vitamina B12, ou cianocobalamina, é obtida exclusivamente de fontes
alimentares de origem animal, como carne, ovos e leite.
Método
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 48
Determinação efetuada no aparelho Cobas e601, eletroquimioluminescência
(competição)
Ácido fólico ou folato
O ácido fólico, ou folato, é obtido de fontes alimentares que incluem frutas,
vegetais e carnes orgânicas. Ao contrário da vitamina B12, o ácido fólico é uma vitamina
afetada pelo calor, suscetível a perda de ação, se os alimentos forem cozinhados tempo
demais. É absorvido através do intestino delgado e armazenado no fígado.
Método
Também efetuada no Cobas e601
As determinações da vitamina B12 ou do ácido fólico são importantes em
termos de diagnóstico para o reconhecimento de deficiências nestes parâmetros,
principalmente no quadro de diagnósticos diferenciais em casos de anemia macrocítica
ou megaloblástica. Essas anemias caracterizam-se pela maturação anormal de
percursores dos eritrócitos na medula óssea, pela presença de megaloblastos e pela
diminuição do tempo de vida dos eritrócitos. Como tanto o défice de vitamina B12 como
o de ácido fólico podem causar anemia megaloblástica, é aconselhável determinar a
concentração dos dois parâmetros para diagnosticar devidamente a etiologia da
anemia.
Proteínas
Proteínas totais
O doseamento das proteínas totais tem interesse para o diagnóstico de diversas
doenças renais, hepáticas e nutricionais.
Método
O doseamento das proteínas totais é feito em meio alcalino, onde os iões
cúpricos formam complexos cor violeta com as proteínas. A absorvência desta solução
é lida a 540nm, sendo diretamente proporcional à quantidade de proteínas totais
presentes na amostra.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 49
Interpretação de resultados
Valores de referência: 6,6 – 8,3 g/dl.
Depois deste doseamento, podemos aprofundar o estudo das proteínas no soro
com outros métodos mais específicos, como eletroforese, entre outros.
Proteinúria
O glomérulo filtra as proteínas plasmáticas. O grau de filtração através da membrana
é em função do peso molecular, carga iónica e concentração plasmática. Geralmente,
o transporte de proteínas através da membrana diminui progressivamente com o
aumento do tamanho da proteína e da carga negativa.
Método
O vermelho de Pirogallol é combinado com molibdato para formar o complexo
vermelho com uma absorvência máxima a 470 nm. A análise é baseada na mudança
da absorvência que ocorre quando o complexo de molibdato-vermelho de Pirogallol liga
grupos amino básicos de moléculas de proteínas. Um complexo azul púrpura é formado
com uma absorvência máxima a 600 nm. A absorvência deste complexo é diretamente
proporcional à concentração de proteínas na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência: 0,05 – 0,08 g/24h.
Pode, no entanto, este valor ser mais elevado, até 0,30 g/24h em praticantes de
desporto.
A proteinúria ocorre em 4 situações específicas:
Permeabilidade glomerular acrescida, maioritariamente albumina;
Reabsorção tubular deficiente, em que as proteínas são de peso molecular
baixo;
Concentração acrescida de proteínas de baixo peso molecular, tais como as
cadeias leves das imunoglobulinas,
Secreção anormal de proteínas para trato urinário.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 50
C3 e C4
O sistema de complemento consiste em cerca de 20 proteínas do plasma, que
desempenham um papel importante na inflamação ao facilitarem a fagocitose.
Método
As amostras são misturadas com tampão Tris e antissoro C3 ou C4 de cabra.
Este antissoro vai reagir especificamente com o C3 ou C4 humano respetivamente,
produzindo agregados insolúveis. A formação destes agregados vai ser proporcional à
sua concentração no soro.
Interpretação de resultados
Os valores de C3 e C4 aumentados estão normalmente associados a uma
resposta inflamatória de fase aguda, a necrose tecidular ou doença renal.
Imunoglobulinas – IgG, IgA e IgM
Estas imunoglobulinas estão presentes no soro. A IgG é a que se encontra em
maior quantidade no soro e a IgM a com menor concentração no soro.
Método
Quando uma amostra é misturada com tampão Tris e solução antissoro IgG, IgA
ou IgM de cabra, a IgG, IgA ou IgM humano reage especificamente com anticorpos IgG,
IgA ou IgM anti-humanos para produzir agregados insolúveis. A absorção destes
agregados é proporcional à concentração de IgG, IgA ou IgM na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência:
IgG: 700 – 1600 mg/dl;
IgA: 70 – 400 mg/dl;
IgM: 40 – 230 mg/dl
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 51
Proteína C reativa (PCR)
A PCR é uma glicoproteína produzida durante a inflamação aguda ou a
destruição dos tecidos. A proteína deve o seu nome à capacidade de reagir com o
polissacarídeo C somático de Pneumococos e precipita-lo.
Método
Quando uma amostra é misturada com tampão Glicina e suspensão de látex, a
PCR reage especificamente com anticorpos PCR anti-humanos revestidos nas
partículas de látex para produzir agregados insolúveis. A absorção destes agregados é
proporcional à concentração de PCR na amostra.
Interpretação de resultados
Valores de referência: < 5,0 mg/L.
Os níveis de PCR no soro podem subir após um enfarte do miocárdio, lesão,
infeção, inflamação, cirurgia ou proliferação neoplásica.
Eletroforese de Proteínas
A eletroforese das proteínas é o método mais comum para rastrear anomalias
nas proteínas séricas. Pode ser muito útil na investigação de gamopatias monoclonais
(ex. Mieloma Múltiplo), reações inflamatórias agudas e crónicas, cirrose hepática,
síndrome nefrótico e outras situações.
A eletroforese de proteínas é feita no aparelho Capillarys sebia 2 (figura 7)
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 52
Figura 7. Capillarys sebia 2
Método
A eletroforese das proteínas é uma técnica para pesquisar modificações no perfil
das proteínas das amostras. O sistema utiliza o princípio da eletroforese capilar em
solução livre. Com esta técnica, as moléculas carregadas são separadas pela sua
mobilidade eletroforética, num tampão alcalino com um pH específico. A separação
também ocorre em função do pH do eletrólito e do fluxo eletro-osmótico.
O sistema tem oito capilares a funcionar em paralelo, permitindo oito análises
em simultâneo. É preparada uma diluição da amostra com tampão e injetada, por
aspiração, na extremidade do ânodo do capilar. A separação é efetuada aplicando alta
voltagem aos bornes de cada capilar. A deteção direta das proteínas é efetuada a 200
nm, na extremidade do cátodo do capilar.
Resultados
Valores de referência
Albumina 59 – 72.4%
α1 - globulinas 1.0 – 3.20%
α2 – globulinas 7.4 – 12.6%
β – globulinas 7.5 – 12.9%
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 53
ᵧ - globulinas 8.0 – 15.8%
Figura 8. Perfil eletroforético e zonas de localização das proteínas. A figura da direita
indica a posição que o fibrinogénio ocupa quando presente (seta).
Análise de Urinas
Análise de Urina TipoII
A análise à urina é, normalmente, um dos primeiros testes num doente com
suspeita de patologia renal. A urina tipo II consiste no estudo das suas caraterísticas
físico-químicas e exame citológico de sedimento. A amostra é a primeira urina da
manhã.
Método
Para a determinação semi-quantitativa de pH, leucócitos, nitritos, proteínas,
glucose, corpos cetónicos, urobilinogénio, bilirrubina e sangue na urina, é utilizado o
analisador URISYS 2400 (figura 9).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 54
Figura 9. Urisys 2400
Exame microscópio do sedimento
O exame microscópio permite identificar, caraterizar e semi-quantificar os elementos
figurados, clinicamente significativos:
Células epiteliais de descamação: tubulares renais e de transição do urotélio
assim como pavimentosas, não tendo significado patológico. Normalmente têm
origem na uretra feminina e masculina;
Células hematopoiéticas: leucócitos e eritrócitos;
Cilindros: estruturas proteicas, cuja a matriz original é constituída pela proteína
de Tamm-Horsfall, moldadas nos túbulos contornados distais e nos tubos
coletores. A sua presença está sempre associada a proteinúria;
Este analisador utiliza tiras de
teste com os parâmetros
anteriormente assinalados e faz
uma leitura colorimétrica.
Após a passagem por este
sistema, todas as urinas com
aspeto turvo e com reação
positiva para leucócitos e
eritrócitos são selecionadas
para serem centrifugadas a
1500 rpm durante 5 min. Após a
centrifugação são observadas
ao microscópio.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 55
Cristais: resultam de precipitação de sais excretados pelos rins. A sua presença,
na maior parte dos casos, designadamente os de fosfato, oxalato e urato, que
aparecem frequentemente nas urinas normais, têm pouco significado clínico.
São considerados patológicos os cristais que estão relacionados com alterações
metabólicas, designadamente os de Tirosina e de Leucina (doenças hepáticas
graves), assim como os de Cistina (urinas com pH entre 6,0 e 7,4 – cristais
hexagonais amarelo-acastanhados). A presença destes últimos carateriza a
cistinúria, que é uma doença autossómica recessiva.
Interpretação de resultados
O exame da urina é sempre o primeiro passo no doente suspeito de ter
deterioração da função renal. Verifica-se a aparência, a coloração pálida até à presença
de pigmento. Esta indica a hemoglobina e a mioglobina que conferem uma coloração
rosa-vermelha ou castanha, dependendo da concentração. A turvação na amostra
fresca indica infeção ou pode ser devida a partículas de gordura no doente com
síndrome nefrótico.
A gravidade específica indica a concentração de urina. A medição do pH pode
ser útil em doentes com acidose tubular renal e formação de cálculos.
A proteinúria é um dos sinais mais comuns em doentes com doença renal. A tira
reativa tem um limite de deteção de cerca de 150mg/ml; é evidente que são necessários
métodos mais sensíveis para detetar a proteinúria incluindo a microalbuminúria.
A presença de esterase leucocitária é indicativa de piúria. A deteção de nitritos
é indicativa da presença de bactérias que degradam o nitrato excretado na urina. A
combinação destes dois testes é de valorizar em doentes com infeção do trato urinário.
A presença de hemoglobina livre ou eritrócitos na urina indica a presença de
doença renal ou da bexiga. A hematúria pode estar presente em várias doenças renais,
doença das células falciformes, vasculites e uma séria de infeções, doenças urológicas
da bexiga, da próstata, dos ureteres, doença oncológica pélvica ou uretral e cálculos
renais.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 56
Pesquisa de drogas de abuso
Colheita da amostra:
Urina espontânea
Método:
Imunoensaio competitivo qualitativo
Cocaína
A cocaína, um derivado das folhas da planta de coca, é um potencial estimulante
do sistema nervoso central e um anestésico local. A cocaína é excretada na urina
primariamente como benzoilecgnonina, num curto período de tempo. A
benzoilecgnonina pode ser detetada após 24 a 60 horas depois da exposição a esta
droga.
THC Canabinóides
A marijuana é um agente alucinogénio derivado da porção florida da planta do
cânhamo. Fumar é o método primário de utilização da marijuana/cannabis. Quando a
marijuana é ingerida, a droga é metabolizada pelo fígado, e o metabolito urinário da
marijuana é o ácido 11-nor-delta-9-tetrahidrocanabinol-9-hidroxilico e o seu glucuronido.
Isto significa que a deteção de canabinóides incluindo o seu metabolito carboxil, indica
o consumo de marijuana/cannabis. A eliminação dos metabolitos urinários ocorre dentro
das 72 horas após a toma.
Opiáceos
Os opiáceos, tais como a heroína, morfina, e codeína, são derivados de uma
resina de ópio da papoila. A heroína é rapidamente metabolizada em morfina. Por
consequência, a presença na urina de morfina ou o seu metabolito glucoronido, indicam
a utilização destes opiáceos.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 57
Método
Este teste para as moléculas anteriormente mencionadas é um imunoensaio de
um só passo no qual a droga quimicamente marcada (droga conjugada) compete com
a droga que poderá estar presente na urina, para os mesmos sítios de ligação do
anticorpo. O dispositivo teste consiste numa tira membrana com droga conjugada na
banda teste, acondicionada num alojamento plástico. Um teste positivo apresenta
somente uma banda corada (a banda controlo) enquanto um teste negativo apresenta
duas bandas coradas.
Exame a fezes
Pesquisa de sangue oculto
A pesquisa de sangue oculto tem como objetivo a pesquisa de hemorragias a
nível gastrointestinal, e como rastreio de neoplasias, especialmente do cólon.
Método
O teste usado é um teste rápido imunocromatrográfico qualitativo para a deteção
de sangue oculto nas fezes, nos casos de suspeita de carcinoma coloretal. O método
utiliza uma combinação única de corante monoclonal conjugado e uma fase sólida de
anticorpos policlonais para identificarem seletivamente a hemoglobina humana.
Interpretação de resultados
A presença de sangue nas fezes pode se devida a várias causas além da
hemorragia coloretal, tais como, hemorroidas, fissura anal e hematúria. O teste é
positivo quando há presença de hemoglobina, o que não exclui a presença de uma dieta
rica em carne, dando origem a falsos positivos. Este é um dos problemas principais do
teste.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 58
Hematologia
Introdução
No departamento de Hematologia estive os meses de março e abril e fiz um
pouco de tudo o que neste departamento se faz com a orientação da chefe do
departamento, Dra. Conceição e das técnicas de laboratório que lá trabalham.
A Hematologia é uma ciência que estuda os elementos figurados do sangue:
eritrócitos, leucócitos e plaquetas; avalia o estado de normalidade destas células
sanguíneas, dos órgãos hematopoiéticos e as doenças a eles relacionados.
A este departamento do laboratório chega vários tipos de tubos com amostras
biológicas para proceder à sua análise. Dentro destes tubos temos, o tubo de EDTA
para contagens hematológicas e o tubo de citrato para a hemóstase.
Hemograma, plaquetas e reticulócitos
A Hematologia de rotina é uma das áreas mais requisitadas pelos clínicos.
Dentro de um laboratório, esta inclui algumas das análises mais pedidas: Hemograma,
Plaquetas e Velocidade de Sedimentação. Os resultados obtidos revestem-se de uma
importância elevada especialmente em conjugação com os resultados provenientes das
restantes áreas.
Estas análises são realizadas em aparelhos automatizados:
Hemograma, Plaquetas e Reticulócitos - Sysmex XT-2000i
Velocidade de Sedimentação – Alifax
Estes aparelhos permitem uma rápida e precisa obtenção de resultados,
suplantando os métodos manuais.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 59
1. Contador hematológico Sismex XT 2000i
Princípio do aparelho
Neste aparelho, são executados os seguintes pedidos: Hemograma, Plaquetas
e Reticulócitos. Para isso, utilizam-se amostras de sangue total colhido em tubos de
EDTA.
Para fazer Hemograma, Plaquetas e Reticulócitos, a amostra é dividida em 5
partes dentro do aparelho a fim de executar 5 diluições diferentes, sendo depois
encaminhada para os respetivos canais diferenciados:
Canal HGB – diluição 1.375; metodologia SLS-Hb que permite fazer a
determinação de Hemoglobina. A quantificação é feita pela leitura de
absorvência do pico a 535 nm e do pico adjacente a 560 nm.
Canal RBC/PLT – diluição 1:500; este aparelho conta e deteta o tamanho dos
Eritrócitos e das Plaquetas usando o método da focagem hidrodinâmica
(HDF).
Canal 4DIFF – diluição 1:52
Canal WBC/BASO – diluição 1:50
Canal RET/PLT-O – diluição 1:255
Estes 3 últimos canais utilizam a metodologia por citrometria de fluxo por laser
semicondutor. Este laser semicondutor ilumina o espécime e separa as células de
acordo com os seus sinais:
Forward scartter – esta intensidade luminosa indica-nos o Volume celular;
Side scatter – dá-nos a informação do conteúdo celular, como o núcleo e
grânulos;
Side fluorescence – indica a quantidade de DNA e RNA celulares.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 60
Figura 10. Sismex XT 2000i
Interpretação de histogramas
O resultado de um pedido de Hemograma, Plaquetas e Reticulócitos é composto
por:
Eritrograma
Leucograma
Plaquetas
Reticulócitos
Na linha inferior temos os alarmes (flags), os quais nos permitem chamar a atenção
para os resultados fora dos valores de referência ou com alterações nos histogramas
(figura 11) que evidencia possíveis alterações morfológicas. A continuação do estudo
do hemograma é feita, geralmente, através da observação de esfregaço de sangue
periférico e, por interação com resultados obtidos de outros departamentos (ex.
Bioquímica).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 61
Figura 11. Histograma
Validação dos hemogramas
A validação dos hemogramas é um processo complexo e de grande importância
e complexidade.
Se o hemograma estiver dentro dos valores de referência, o hemograma é
validado;
Se o hemograma não estiver dentro dos valores de referência, mas houver
histórico do doente e os valores anómalos corresponderem ao histórico do doente, o
hemograma é igualmente validado. Se o hemograma não estiver dentro dos valores de
referência e não houver histórico do doente ou os valores forem dispares do histórico, é
então repetido o hemograma manualmente e de os valores persistirem é feito o
esfregaço sanguíneo para confirmação dos valores do aparelho.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 62
Citologia
Coloração de Wright
Introdução
Esta coloração é utilizada para corar os esfregaços de sangue periférico. As lâminas
são coradas para a observação de 3 situações:
a pedido do clínico;
confirmação de resultados do hemograma;
pesquisa de hematozoários (para uma contagem de parasitémia e definição da
espécie do parasita).
Método
Os corantes hematológicos, em geral, baseiam-se na mistura de Romanowsky:
azul de metileno (corante básico) + eosina (corante ácido), permitindo a coloração
simultânea do núcleo e citoplasma das células. Enquanto o corante básico confere cor
azul violácea dos neutrófilos, a eosina confere cor vermelha ou laranja à hemoglobina e
aos grânulos eosinófilos.
Tradicionalmente, o citoplasma corado de azul e os grânulos de púrpuras são
chamados basófilos, enquanto que os grânulos violeta ou púrpura-rosados são
chamados de azurófilos. Por outro lado, células predominantemente rosas são
chamadas acidófilas e componentes corados de laranja, eosinófilos.
A coloração pode ser dividida em duas fases:
Fixação – feita pelo metanol, que é quando a solução de wright é aplicada na
lâmina por 2 minutos;
Coloração – obtém-se adicionando água destilada sobre o corante durante 2
minutos.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 63
Velocidade de Sedimentação
Introdução
A Velocidade de Sedimentação é considerada um teste não específico. No
entanto, é um importante indicador indireto da resposta inflamatória aguda, aumentando
na presença de infeções e processos inflamatórios crónicos e agudos.
No laboratório, usamos um método automatizado para a medição da velocidade
de sedimentação: Alifax Test 1 (figura 12).
Figura 12. Alifax Test 1
Método
O Alifax Test 1 é um analisador automático fechado, que determina o valor de
V.S. no tubo primário de EDTA tripotássico. Através de uma agulha de aspiração, o
sangue é aspirado do tubo. Posteriormente passa para um capilar, o qual é centrifugado
a 20G, a uma temperatura constante de 37ºC. A leitura é feita usando fotometria de
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 64
infravermelhos a um comprimento de onda de 950 nm. Os impulsos elétricos captados
usando um detetor de fotodíodos, estão diretamente relacionados com a concentração
de eritrócitos presentes no capilar. O número de impulsos medidos por metade do tempo
é usado para delinear a curva de sedimentação para cada amostra. Estes valores são
depois convertidos para valores comparados ao método de Westergreen.
Hemoglobina glicosilada
Introdução
Este doseamento é realizado como um parâmetro útil na monitorização a longo
prazo de doentes diabéticos. Tal facto deve-se à não variação da HbA1c com a
alteração do nível de glucose no sangue. De igual modo, devido ao mecanismo de
formação, esta permite-nos obter uma retrospetiva a longo prazo dos níveis de glucose
no sangue.
A formação de hemoglobina glicosilada é irreversível, e o nível no sangue
depende do tempo de vida do eritrócito (média 120 dias) e da concentração de glucose
no sangue.
A hemoglobina glicosilada é formada por condensação da glucose com a porção
N-terminal da valina de cada cadeia da hemoglobina A, resultando numa base de Schiff
instável. Posteriormente, sofre um rearranjo de Amadori formando a HbA1c.
Método
O doseamento desta hemoglobina é feito por Cromatografia Líquida de Alta
Pressão, que usa uma coluna composta por resina de troca iónica de caráter catiónico
de fase reversa. A leitura das frações obtidas é realizada a 415 nm e 500 nm. Podem
assim obter-se as seguintes frações: HbA1c, HbA1, HbF, HbA2 e hemoglobina
variantes.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 65
Figura 13. Biorad D10
Este aparelho (figura 13) é capaz de diluir, hemolisar e remover a base de Schiff
(resultado da reação responsável pela formação da hemoglobina glicosilada)
automaticamente. Esta remoção é feita com tetrapolifosfato (pH 6,0) durante 2 minutos
a 48ºC. Após 4,2 minutos obtêm-se o cromotograma.
Interpretação de resultados
Os valores normais de hemoglobina glicolisada são entre 4% e 6%. Quando os
valores estão acima de 7%, existe a associação a um risco maior de complicações
crónicas, e indica também uma diabetes descontrolada.
Imuno-hematologia
Sistema ABO
Introdução
O sistema ABO é um dos parâmetros de maior importância dentro da imuno-
hematologia, tendo implicações a nível de transfusões e de transplantação. Os
antigénios ABO são expressos a nível da membrana eritrocitária, endotelial e epitelial,
desempenhando um papel muito importante como antigénios de histocompatibilidade.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 66
Existem 4 grupos sanguíneos: A, B, AB e O. Os epítopos antigénicos são
determinados por hidratos de carbono ligados a polipéptidos ou lípidos, formando
respetivamente glicoproteínas ou glicolípidos. A cada antigénio corresponde uma
isoaglutinina (Anti-A ou Anti-B), a qual está ausente num soro de um sujeito com o
respetivo antigénio sobre os eritrócitos.
Serologicamente, temos 2 subgrupos principais do antigénio A: A1 e A2. A
predominância é de A1 com cerca de 80% e os restantes pertencem ao grupo A2.
Existem ainda outros subgrupos A, mas refletem mutações no gene A.
Método
O método usado é a aglutinação direta com um reagente que indica a presença
do antigénio correspondente.
Os reagentes usados para determinar os grupos sanguíneos são anticorpos
monoclonais IgM; Anti-A, Anti-B e Anti-AB. Os clones usados neste método são:
Anti-A – clone Birma-I
Anti-B – clone LB-2
Anti-AB – clones Birma-I, ES4 e ES15
Para a determinação do grupo de sangue, colocam-se três gotas da amostra de
sangue numa placa, às quais se junta uma gota de Anti-A a uma, uma gota de Anti-B a
outra e uma gota de Anti-AB na última gota da amostra. Mistura-se e observa-se a
presença ou ausência de aglutinação. O resultado é positivo quando há aglutinação e
negativo na sua ausência.
Interpretação de resultados
+ corresponde a aglutinação
- corresponde à ausência de aglutinação
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 67
Tabela 2: Interpretação dos grupos sanguíneos
Sistema Rh (Rhesus)
Introdução
Este sistema é muito complexo e, por essa razão, classificam-se os indivíduos
como Rh Positivo e Rh Negativo, dependendo da presença ou ausência de Antigénio D.
Quando um indivíduo não possui antigénios do sistema Rh, o sistema imunitário
facilmente estimulado produz anticorpos quando na presença de glóbulos vermelhos e
de antigénio positivo. Estas situações podem ocorrer na gravidez ou numa transfusão,
podendo dar origem à Doença Hemolítica do Recém-nascido ou reações hemolíticas
graves.
Existem ainda indivíduos que têm uma expressão mais fraca do que o habitual
do antigénio D, o que pode ser problemático em transfusões sanguíneas. A expressão
D-fraco indica indivíduos com um número reduzido de antigénio D, enquanto D-parcial
indica indivíduos com falta de epítopos D ou em que estes estão alterados.
Método
O reagente Anti-D tem os seguintes anticorpos:
anticorpo IgM (clone TH28)
anticorpo IgG (clone MS 26)
A técnica usada é igual á do sistema ABO, ou seja, aglutinação. O procedimento é
o mesmo e é realizado ao mesmo tempo, sendo que a aglutinação corresponde a Rh
positivo e a ausência de aglutinação corresponde a Rh negativo.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 68
Coombs Direto e Indireto
Introdução
O teste de Coombs é um dos principais testes serológicos imuno-hematológicos
para detetar anticorpos capazes de se unir ao seu antigénio homólogo eritrocitário sem
desencadear a aglutinação das hemácias.
Este teste é utilizado para a deteção de reações transfusionais: anemias
hemolíticas autoimunes e anemias hemolíticas induzidas por fármacos.
Os anticorpos “fixos” sobre as hemácias são detetados com ajuda de um soro
com antiglobulinas humanas. Este reagirá com os anticorpos à superfície das hemácias
sensibilizadas, provocando a aglutinação entre elas.
O Coombs Direto tem como objetivo detetar os anticorpos incompletos fixos in
vivo sobre as hemácias do sujeito. O Coombs Indireto tem como objetivo a pesquisa
no soro de anticorpos incompletos, incapazes de se ligarem sobre as hemácias e assim
ficarem suscetíveis de serem detetados pelo teste de Coombs Direto.
Método
O reagente Coombs usado tem os anticorpos dos seguintes clones celulares:
18833, 18896, 12011D10.
O reagente usado permite reconhecer anticorpos do tipo IgG e do tipo IgM. Os
anticorpos do tipo IgM que cobrem as hemácias fixam o complemento in vivo (e in vitro
se a reação se processar em presença de complemento). Este reagente deteta a
presença de frações de complemento à superfície da hemácia, pois contém anti-C3d.
A técnica baseia-se no princípio da hemaglutinação.
Interpretação de resultados
Quando positivo, isto é, quando há aglutinação pode significar:
Coombs direto
Nas crianças – anemia hemolítica por imunização feto-maternal;
Nos adultos – anemias hemolíticas adquiridas.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 69
Coombs indireto
Imunização feto-maternal devido à presença de antigénio do sistema Rhesus ou
outros sistemas;
Imunização pós-transfusional (politransfusões).
Estudo da Hemóstase
Coagulação
O sistema hemostático protege o sistema vascular e permite, em caso de lesão,
que os tecidos sejam reparados e as suas funções sejam restabelecidas. A reconstrução
depende de interações complexas entre a parede dos vasos, as plaquetas e os
processos de coagulação e fibrinólise.
É um dos mecanismos de defesa mais básicos do organismo pois preserva a
integridade da circulação e limita a perda de sangue.
O mecanismo de hemostasia encontra-se em equilíbrio dinâmico entre os fatores
ativadores e inibidores da coagulação. Sempre que, por qualquer razão, haja um
desequilíbrio, este pode vir a desencadear a ocorrência de fenómenos trombóticos ou
hemorrágicos.
Os testes in vitro permitem distinguir 2 vias da cascata: via intrínseca e via
extrínseca.
Atualmente considera-se que in vivo ambas as vias são ativadas e, portanto, a
cascata deve ser considerada como um todo.
Estudo da ativação da coagulação
Tempo de Protrombina
Amostra: Plasma citratado; o anticoagulante presente no tubo, citrato trissódico, é
indicado para o estudo da coagulação, uma vez que preserva os fatores lábeis da
coagulação (V e VIII).
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 70
Introdução
A medição do Tempo de Protrombina (T.P.) serve como um teste de triagem
rápido e sensível para detetar transtornos de coagulação na via extrínseca e a via
comum. Assim sendo, com este método é possível avaliar os Fatores II, V, VII, X e
fibrinogénio.
O T.P. é adequado para:
regulação e controlo da terapia anticoagulante oral;
diagnóstico de deficiência congénitas e adquiridas de fatores de coagulação;
controlo da atividade de síntese hepática no fígado.
O T.P. é mais utilizado na monitorização dos anticoagulantes orais. A terapêutica
anticoagulante tem como objetivo prevenir fenómenos tromboembólicos. Os utentes sob
terapêutica anticoagulante que realizam o controlo de sangue no laboratório têm como
principais diagnósticos a fibrilação auricular, prótese mecânica valvular, embolia
pulmonar, trombose venosa profunda, enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular
cerebral. Os anticoagulantes orais mais utilizados são os cumarínicos como a varfarina
(Varfine) e os derivados cumarínicos.
Método
No Tempo de Protrombina, o processo de coagulação é desencadeado
mediante a incubação do plasma com quantidades ótimas de tromboplastina e cálcio.
Posteriormente, faz-se a medição do tempo, em segundos, até à formação do coágulo
de fibrina.
O resultado é dado em tempo (segundos), taxa de protrombina (%) e Razão
Normalizada Internacional (INR). Obtemos a taxa de protrombina através da seguinte
fórmula:
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 71
Para a obtenção do valor de INR aplica-se a seguinte fórmula:
O Índex de Sensibilidade Internacional (ISI) é dado pelo fabricante, podendo diferir
de lote para lote.
Interpretação de resultados
Para um paciente Normal deveremos ter:
tempo entre os 12s a 15s, mas depende do aparelho e do lote do reagente
taxa de 100%
INR de 1,0
No entanto, para um paciente com controlo da terapia de anticoagulante, temos
valores diferentes. No caso de um doente com trombose venosa profunda, embolia
pulmonar e doenças arteriais, com enfarte do miocárdio, deveremos ter um INR entre
2,0 e 3,0. Em pacientes com válvulas cardíacas não biológicas, e embolias sistémicas
deveremos ter um INR entre 2,5 e 3,5.
Em termos gerais, e excluindo a terapia de anticoagulantes, o seu aumento poderá
ser devido a:
Anomalia congénita – raro
Deficiência em fatores: VII, V, X, II ou fibrinogénio;
Desfibrinogenémia congénita,
Anomalia adquirida – Frequente;
Hepatopatia;
Avitaminose K;
Diminuição grave de fibrinogénio (exemplo: por diminuição da síntese hepática,
coagulação, intravascular disseminada, destruição por plasmina);
Desfibrinogenémia adquirida, como na cirrose.
O estudo destas causas poderá ser mais aprofundado a nível da coagulação,
através do doseamento de fatores da coagulação.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 72
Tempo de Tromboplastina Ativada (APTT)
Amostra: Plasma citratado
Introdução
O Tempo de Tromboplastina Ativada explora a via intrínseca da coagulação.
Este método consiste no tempo de coagulação de um plasma sem plaquetas
recalcificado em presença de fosfolípidos e de um ativador do sistema de contato
da coagulação.
A determinação do APTT é sensível a deficiências em pré-calicreína,
quininogénio de alto peso molecular, Fatores VIII, IX, XI, XII, e também, deficiências
em Fatores II, V, X e fibrinogénio. Para além desta função, pode igualmente ser
usado como monitorização da terapia com heparina, sendo o aumento do resultado
proporcional ao nível de heparina.
Método
Esta determinação é realizada incubando o plasma com uma quantidade
otimizada de fosfolípidos de feijão de soja com um ativador superficial (ácido
elágico), o qual provoca a ativação dos Fatores do sistema de coagulação intrínseco.
O processo de coagulação é desencadeado com a adição de iões cálcio até à
formação de fibrina.
O resultado expressa o tempo que demora desde o início do processo até à
formação de fibrina.
Interpretação de resultados
Patologias associadas ao aumento da APTT
Com tempo de APTT normal:
Fator VIII: Hemofilia A, Doença de Von Willebrand;
Fator IX: Hemofilia B:
Fator XI: Doença de Rosenthal;
Fator XII: Pré-calicreína e Quininogénio de Alto Peso Molecular.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 73
Associado a um tempo de APTT alongado:
Deficits congénitos em Fatores X, V, II e fibrinogénio;
Hepatopatia;
Coagulação intravascular disseminada;
Anticoagulantes circulantes
Fibrinogénio
Amostra: Plasma Citratado
Introdução
O fibrinogénio é o percursor da fibrina, a qual é formada por clivagem deste
percursor pela trombina. Estes monómeros de fibrina reúnem-se, formando a complexa
teia de fibrina do coágulo.
Método
O método usado é o de Clauss, no qual o plasma citratado é coagulado com uma
quantidade em excesso de trombina. O tempo de coagulação depende da quantidade
de fibrinogénio na amostra, sendo inversamente proporcional.
Interpretação de resultados
Podemos encontrar níveis baixos de fibrinogénio nos casos de
hipofibrinogenémia ou afibrinogenémia adquiridas ou congénitas. As primeiras podem
ser devidas a: coagulação intravascular disseminada, hepatopatias, perda de volume
vascular, ou aumento de catabolismo.
Quanto aos níveis mais altos, podem ocorrer temporariamente, uma vez que o
fibrinogénio é uma proteína de fase aguda, ou com o reflexo de hipercoagulabilidade.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 74
Imunologia
Introdução
No departamento de Imunologia estive nos meses de março e abril e fiz um
pouco de tudo o que neste departamento se faz com a orientação da chefe do
departamento, Dra. Conceição e das técnicas de laboratório que lá trabalham.
Neste departamento de imunologia chega todo o tipo de amostras biológicas
para proceder à respetiva análise. Dentro destas amostras temos os tubos de gel de
soro (tampa amarela) e, alguns casos, urinas. Na triagem de produtos, os tubos de gel
destinados às provas de imunologia são centrifugados a 3500 rpm durante 15 minutos
e posteriormente distribuídos pelos vários sistemas automáticos para análise.
Os parâmetros doseados estão distribuídos pelos seguintes aparelhos: Cobas
6000 secção de imunologia e sistema Cobas e601, e Cobas e411.
O Cobas e601 e Cobas e411 são analisadores de múltiplos canais,
automatizados, de acesso aleatório, para análises imunológicas. Foram concebidos
para efetuar determinações quantitativas e qualitativas in vitro de uma ampla variedade
de substâncias analisadas através do recurso à tecnologia de
eletroquimioluminescência. A tecnologia de eletroquimioluminescência utilizada no
Cobas, recorre a duas espécies reativas, a Tripropilamina como iniciador das reações
redox e o Ruténio como marcador quimioluminescente.
Áreas de estudo
Tabela 3: Análises imunológicas realizadas no Cobas e601 e e411
Sistema Análise Aparelho
TSH
T3
Tiroideia T4 Cobas e601
T3 livre
T4 livre
Anti-Tg (Ac. Anti-tiroglobulina)
Anti-TPO (Ac. Anti-tiroperoxidase)
FSH
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LH Cobas e601
Hormonas de Progesterona
Fertilidade β – HCG
Prolactina Cobas e411
β – HCG
Diagnóstico α – fetoproteína Cobas e411
pré-natal β – HCG livre
ACTH
Hormonas da Cortisol Cobas e411
função
Suprarrenal
D.H.E.A.-S, Sulfato de
DiHidroEpiAndrosterona
Hormona
gastrointestinal
Insulina Cobas e411
Interpretação de resultados
Os resultados são avaliados em conjunto dentro de cada função endocrinológica.
Assim sendo, cada sistema é analisado como um todo e não cada parâmetro
isoladamente.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 76
Marcadores tumorais
Os marcadores tumorais são moléculas encontradas no sangue, tecidos ou urina
que podem ser produzidas ou induzidas por células neoplásicas, refletindo o seu
crescimento ou atividade. São utilizadas, por isso, para o rastreio de grupos de alto risco,
avaliação do volume tumoral, avaliação da resposta à terapêutica, deteção de recidiva
e avaliação de prognóstico.
Estas substâncias permitem conjuntamente com outros parâmetros ou exames,
ajudar a diagnosticar e monitorizar determinados tipos de tumores.
Método
Por eletroquimioluminescência, os marcadores tumorais são doseados no
aparelho automático Cobas e411 e o Antigénio carcinoma-embrionário (CEA) é no
Cobas e6000.
Interpretação de resultados
Os resultados são analisados tendo em conta o histórico do doente e a
totalidade dos resultados obtidos noutros departamentos. Os resultados alterados são
verificados e repetidos caso se torne necessário. Deve-se ter também em conta que
os marcadores tumorais conhecidos e utilizados são também produzidos por células
normais e os seus níveis são influenciados por um grande número de parâmetros.
Tabela 4: Interpretação de resultados dos marcadores tumorais
Marcador Tumoral Aplicação
α – fetoproteína Hepatocarcinoma e ovário
Antigénio carcinoma-embrionário (CEA) Mama, pulmão, cólon/reto
CA 15.3 Mama
CA 19.9 Ovário, endométrio, tubo digestivo
CA 125 Ovário, endométrio
Antigénio prostático específico (PSA) Próstata
β – HCG Placenta, testículo
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Serologia infeciosa
Método
A serologia infeciosa é feita maioritariamente no aparelho VIDAS blue, e no
Cobas e411
Figura 14. Aparelho VIDAS blue
O VIDAS blue é um sistema multiparamétrico de imunoensaio que permite a
realização de diversos testes em simultâneo. São determinados assim, vários
parâmetros ao mesmo tempo.
O aparelho VIDAS blue utiliza cones que constituem a fase sólida da reação e
estão sensibilizados com antigénios ou anticorpos, e barretes que contêm os reagentes
necessários à reação.
O princípio de doseamento associa o método imune enzimático sandwich ELISA
(Enzyme Linked Immunoabsorbent Assay) em duas etapas com uma deteção final em
fluorescência ELFA (Enzyme Linked Fluorescent Assay). Este método assegura uma
excelente sensibilidade e especificidade.
A amostra inicialmente é incubada com um anticorpo ou antigénio marcado com
a enzima fosfatase alcalina. De seguida, ocorrem etapas de lavagem de forma a
remover os componentes e o anticorpo/antigénio em excesso. Na etapa final de
revelação, a enzima do conjugado catalisa a reação de hidrólise do substrato 4-metil-
umbeliferilfosfato em 4-metil-umbeliferona, do qual resulta emissão de fluorescência a
450 nm após excitação a 370 nm. A emissão de fluorescência é proporcional à
quantidade de antigénio ou anticorpo presente na amostra.
A tabela que se segue resume os parâmetros determinados neste equipamento.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 78
Tabela 5: Parâmetros determinados no Vidas blue
Parâmetro Método
β2 – microglobulina
Citomegalovirus, IgG
Citomegalovirus, IgM
Estradiol (E2)
Ferritina
HAV, anticorpo, IgM
HAV, anticorpo Total
HIV1 e HIV2 Fotoquimioluminescência (sandwich)
HBc, anticorpo IgM ELFA
Rubéola, IgM
Rubéola, IgG
Testosterona Total
Toxoplasmose, IgG
Toxoplasmose, IgM
Citomegalovírus (CMV)
O citomegalovírus (CMV) pertencente à família herpesviridae, vírus de genoma
DNA, é comum em todas as populações humanas, provocando infeções que ficam
latentes durante toda a vida do hospedeiro, com reativações ocasionais e com infeções
recorrentes. A seroprevalência de anticorpos em adultos está compreendida entre os 40
e os 100%, apresentando uma correlação inversa com o estatuto socioeconómico. A
maioria dos indivíduos adquire a infeção primária logo durante a infância, no convívio
com outras crianças no infantário.
A transmissão da infeção ocorre principalmente por via vertical (mãe-filho), e
ainda em consequência de transfusões ou transplantes de órgãos, em indivíduos
imunodeprimidos. O vírus tem um período de incubação de 4 a 12 semanas.
A infeção pelo CMV na maioria dos casos conduz a uma infeção assintomática,
contudo, o grupo de maior risco são as grávidas uma vez que há um grande risco para
o feto se a primoinfeção acontecer durante a gravidez podendo haver morte do feto. A
infeção sendo o principal agente de infeção congénita. O CMV também pode conduzir
a infeções severas nos imunodeprimidos.
Depois de uma infeção primária (IgG positiva, IgM já negativa), o indivíduo pode
ser reinfectado por um vírus de CMV exógeno ou por reativação do vírus latente. A
reativação do vírus latente poderá dever-se a stress, doença grave, gravidez, etc…
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 79
Interpretação de resultados
O primeiro passo para diagnosticar a infeção por CMV é normalmente dado
através da deteção dos anticorpos anti-CMV IgM e IgG.
A determinação dos anticorpos anti-CMV IgG é geralmente utilizada para avaliar
inicialmente o estado serológico de um indivíduo. As amostras reativas para estas IgG
indicam uma infeção primária, recente ou passada. Contudo a anti-CMV IgG apresenta
algumas limitações:
Indivíduos com infeção CMV aguda podem não exibir IgG detetável na fase
precoce da infeção;
As amostras que contêm anticorpos antinucleares (ANAs) ou outros anticorpos
podem dar resultados falsos positivos;
Um aumento de anti-CMV IgG pode ocorrer em pacientes com outras
patologias, devido à reatividade cruzada antigénica dentro da família de
herpesvírus (sarampo, varicela, herpes simples);
Pacientes com infeção pelo vírus Epstein-Barr podem mostrar maior
reatividade a CMV.
As amostras reativas para os anticorpos anti-CMV IgM indicam uma infeção aguda,
recente ou reativa, estando estes anticorpos presentes em 70% das primoinfeções. As
anti-CMV IgM persistem, em geral, 16 a 20 semanas após a infeção e podem aparecer,
de forma inconstante, durante reativações.
Toxoplasmose
A toxoplasmose é uma infeção comum provocada pelo parasita protozoário
Toxoplasma gondii, parasita oportunista em grávidas e em imunodeprimidos.
Cerca de 1/3 da população mundial está infetada. As principais formas de
transmissão são através da ingestão de carne crua ou malcozinhada contendo quistos,
ou por contacto com fezes de gatos infetados (hospedeiros definitivos).
Em pessoas imunocompetentes as infeções são normalmente assintomáticas,
sendo que o maior risco ocorre em mulheres grávidas. Se a infeção ocorrer no primeiro
trimestre da gravidez pode-se gerar um quadro agudo que termina com a morte do feto
ou num atraso físico e mental profundo do recém-nascido.
Interpretação de resultados
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 80
O diagnóstico da toxoplasmose é baseado principalmente na deteção de
anticorpos da classe IgG e IgM anti-Toxoplasma gondii.
Se a IgG e IgM derem negativo significa que não houve contato com o parasita.
Se apenas a IgG der positiva significa que houve infeção, porém esta não é
recente pois os níveis máximos são alcançados entre a 6ª e a 8ª semana, em seguida
decrescendo gradualmente ao longo de meses ou anos.
A deteção de anticorpos IgM pode indicar uma infeção aguda, recente ou reativa
e IgG negativa. Os indivíduos infetados exibem, tipicamente, níveis detetáveis de IgM
imediatamente após a ocorrência dos sintomas.
Se tanto a IgG e IgM derem negativas significa que houve uma infeção recente
ou reativação, sendo aconselhada a determinação da avidez da IgG para determinar
quando se deu esta infeção.
Rubéola
A rubéola é causada por um vírus de genoma RNA pertencente à família
Togaviridae.
O período de incubação do vírus é de 2 a 3 semanas e a transmissão ocorre
através de gotículas de saliva ou pelas secreções nasofaríngeas. O indivíduo infetado
é contagiosos 8 dias antes a 8 dias após o início dos sinais clínicos.
A doença carateriza-se por linfo adenopatias, erupções maculopapulosas, febre
moderada, artralgias e mal-estar geral. Contudo, a importância desta doença está
relacionada com a sua capacidade de provocar malformações graves no feto cuja a mãe
foi infetada durante a gravidez, mais particularmente quando a primoinfeção ocorre
durante o primeiro trimestre. A partir da 20ª semana as sequelas no feto são raras. O
vírus pode ser transmitido através da placenta e pode ter como resultado a morte do
feto ou causar malformações graves fetais, vulgarmente designadas por Síndrome da
Rubéola Congénita (SRC). A SRC é uma causa importante de cegueira, surdez, doença
cardíaca congénita, microcefalia e atraso mental. Algumas destas sequelas aparecem
2 a 4 anos após o nascimento.
Atualmente o programa de vacinação de crianças e a vacinação de mulheres em
idade fértil que não estejam imunes à infeção pelo vírus da rubéola, reduziram
consideravelmente a incidência de infeção aguda pelo vírus da rubéola, bem como a
incidência de SRC. A vacinação não pode ser feita a grávidas e recomenda-se que,
após vacinação, a mulher não engravide durante 3 meses.
Interpretação de resultados
É feita a pesquisa de anticorpos IgM e IgG para a rubéola. A deteção dos
anticorpos IgG é importante na avaliação do estado imunológico e no diagnóstico de
infeção por rubéola. A presença de anticorpos IgG normalmente indica a presença de
imunidade que pode ter sido induzida por uma infeção passada ou vacinação. Na
presença de imunidade de um resultado positivo é necessário realizar uma segunda
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 81
colheita espaçada de mais ou menos de 2 semanas da primeira. Nesta segunda
colheita, se os títulos de anticorpos forem estáveis, estamos perante uma infeção antiga,
caso haja um aumento dos títulos de anticorpos poderá significar uma primoinfeção.
Contudo, para confirmar uma primoinfeção é necessário proceder à determinação da
avidez das IgG. A presença de anticorpos IgM pode indicar, na maioria dos casos uma
infeção aguda (primoinfeção recente) e, mais raramente pode estar relacionada com
situações de reinfeção ou casos em que as IgM persistem durante mais tempo que o
normal. A sua duração na circulação sanguínea é de 3 a 6 semanas após os sintomas,
após o qual tendem a desaparecer.
A pesquisa de IgM é de grande utilidade no diagnóstico de infeção em recém-
nascidos, pois a sua presença indica infeção congénita, já que esta classe de anticorpos
não atravessa a placenta.
Hepatite A (HAV)
A hepatite A é causada por um vírus de genoma RNA, da família dos picornavírus
que entra no organismo através do aparelho digestivo e multiplica-se no fígado,
causando neste órgão a inflamação denominada de hepatite A.
O modo de transmissão é devido às más condições de higiene e sobrelotação,
ocorrendo por via fecal-oral, através da água, alimentos ou talheres contaminados com
dejetos contendo o vírus; ou mais raramente, por contato direto (contatos anais, saliva,
sangue). Trata-se da hepatite mais contagiosa. Durante o período de incubação (20 a
40 dias), a doença não se manifesta.
Inicialmente assemelha-se a uma gripe com febre, mialgias e mal-estar, depois
aparece a icterícia, a falta de apetite e os vómitos.
Interpretação de resultados
O teste para a deteção dos anticorpos anti-HAV totais mede os anticorpos IgG e
IgM. Assim, o teste anti-HAV total é positivo mesmo no início da doença, devido às
IgM=infeção recente, apesar dos anti-HAV IgG só se tornarem positivos cerca de 2
semanas após o início da doença (figura 15). Um elevado título anti-HAV total pode
persistir por toda a vida devido à positividade das IgG, o que proporciona proteção
contra a doença em caso de reinfeção. Após a vacinação, também é possível a deteção
de anticorpos IgG anti-HAV durante anos. A verdadeira indicação do teste é, portanto,
a demonstração da imunidade à hepatite A após infeção ou imunização passiva
(vacinação). Um teste anti-HAV total negativo exclui uma hepatite A recente ou passada,
ou vacinação prévia. Não existe um valor definido para considerar que o indivíduo é
imune à hepatite A; no entanto, um título anti-HAV total > 10-20 UI/mL é visto geralmente
com evidência de imunidade.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 82
Figura 15. Marcadores clínicos da hepatite A
Hepatite B (HBV)
A hepatite B é causada por um vírus de genoma DNA de cadeia dupla,
pertencendo à família Hepadnaviridae.
A hepatite B é considerada a hepatite mais perigosa. O vírus pode ser transmitido
por via parental, sexual (principal via de transmissão na Europa) ou vertical (principal
via de transmissão na Ásia). Encontra-se em elevada concentração no sangue de
indivíduos infetados, sendo dez vezes mais transmissível por via sanguínea que o vírus
da hepatite C e 100 vezes mais transmissível que o vírus HIV, bastando uma simples
picada para que haja o contágio e sendo capaz de sobreviver no sangue seco mais de
uma semana. Apresenta um período de incubação de 30 a 180 dias (média 10
semanas), findo os quais se inicia a proliferação a nível dos hepatócitos, para os quais
apresenta tropismo. De acordo com a idade e a resposta biológica do hospedeiro,
poderá então instalar-se uma hepatite aguda.
O diagnóstico laboratorial da infeção pelo HBV baseia-se na deteção serológica
de antigénios virais e dos respetivos anticorpos, bem como do DNA viral.
Interpretação de resultados
A infeção por este vírus pode apresentar-se clinicamente de duas formas:
infeção aguda (com ou sem sintomatologia) e infeção crónica (com ou sem
sintomatologia). Uma infeção aguda pode ou não evoluir para uma infeção crónica,
dependendo do tipo de vírus, principalmente da resposta imunológica do hospedeiro. O
diagnóstico e monitorização da evolução da infeção, isto é, se evolui para a cronicidade
ou não, é feita pela quantificação dos vários anticorpos e antigénios (figura 16)
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 83
Figura 16. Marcadores bioquímicos presentes nas várias fases de uma infeção por
hepatite B
É um vírus com um invólucro externo e um núcleo interno de genoma DNA de cadeia
dupla, mas replica-se através de um intermediário de RNA. O invólucro viral contém 3
proteínas que se correlacionam com o Ag HBs (de superfície). A camada interna
correlaciona-se com o Ag HBc (de core) presente na nucleocápside; contém o DNA em
camada dupla e a enzima DNA polimerase, que se relaciona com o Ag HBe (de early).
O Ag HBc nunca é detetado no sangue, apenas detetando-o nos hepatócitos. O
organismo reage produzindo anticorpos contra os três antigénios: anti- HBs, anti-HBe
e anti-HBc.
Ag HBs (de superfície) - é o primeiro a surgir no sangue, após o período de
incubação. Na hepatite crónica este antigénio está sempre presente (por
definição, trata-se de hepatite crónica se Ag HBs positivo por mais de 6 meses
após o período de incubação), enquanto que o Ag HBe só está presente em
80% dos casos. A cronicidade sem Ag HBe presente é geralmente mais grave.
Ag HBe (de early) - o paciente torna-se infecioso, portanto é considerado um
marcador de replicação e infecciosidade do HBV. É detetado em fases de
replicação viral, indicando que se trata de uma hepatite aguda ativa. Desaparece
de circulação pouco depois do aparecimento dos sintomas e depois do Ag HBs,
dando-se a seroconversão para anti-HBe na fase de recuperação. Mas pode
estar presente numa infeção crónica indicando uma replicação ativa. A deteção
de Ag Hbe é, pois, útil, em associação com o teste Ac anti-HBe, para
monitorizar a evolução da infeção por HBV.
Ac Anti-HBs - A presença destes anticorpos em circulação induz normalmente
imunidade para o vírus da hepatite B ou exposição anterior ao vírus. É usado
normalmente para verificar a eficácia da vacinação contra o vírus da hepatite B.
Surgem 1 a 2 semanas após a infeção ou na fase de recuperação da infeção
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 84
aguda, após o desaparecimento do AgHBs indicando a evolução da doença
para a cura.
Ac anti-HBe - a fase de recuperação da infeção aguda da hepatite B, o Ag HBe
é o primeiro marcador serológico a ficar negativo, sendo substituído pelos Ac
anti- HBe. Este anticorpo corresponde ao declínio da infecciosidade.
Ac anti-HBc total – Os anticorpos anti-HBc são os primeiros a serem detetados
e podem estar presentes numa infeção aguda, crónica ou infeção antiga.
Quando aparecem em conjunto com o Ac anti-HBs significa infeção passada,
com imunidade.
Resumindo:
São marcadores de infeção aguda ativa, o Ag HBs, Ag HBe (marcador de
replicação viral e nas fases mais avançadas, Ac anti-HBc (total ou IgM).
São marcadores de cura Ag HBs negativo, Ag HBe negativo, Ac anti-HBe
positivo, Ac anti-HBc e muito mais tarde o Ac anti-HBs positivo.
É marcador de infeção crónica Ag HBs positivo por mais de 6 meses.
É marcador de vacinação Ac anti-HBs positivo.
Hepatite C
O vírus da hepatite C é um vírus RNA de cadeia simples, com invólucro,
pertencendo à família Flaviviridae.
A sua transmissão é principalmente através do sangue (partilha de seringas em
toxicodependentes e transfusões) e de produtos derivados de sangue (transplante de
órgãos) contaminados com o vírus e, em menos grau através das secreções do corpo
humano (contato sexual) ou por via vertical.
A infeção pelo HCV evolui para uma hepatite crónica em cerca de 80% dos casos
e nestes casos pode conduzir a cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular.
Interpretação de resultados
Atenção que a determinação de anticorpos anti-HCV é efetuado no Cobas 6000.
Estes anticorpos surgem entre 15 e 6 meses após a infeção e são indicativos de uma
infeção recente ou passada.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 85
HIV
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um vírus de genoma RNA
pertencente à família dos retrovírus. Até á data foram identificados dois tipos, HIV1 e
HIV2, ambos agentes causais pelo Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA).
A sua transmissão é principalmente por via sexual, por contato com sangue
contaminado, perinatal e transplacentário. A infeção por este vírus é uma infeção crónica
uma vez que o hospedeiro é incapaz de eliminar o vírus.
Interpretação de resultados
Deteção de anticorpos anti-HIV1, anti-HIV2 e antigénio p24; é, portanto, um
método indireto de diagnóstico.
Quando a transmissão do HIV ocorre o sistema imunitário desenvolve anticorpos
contra o vírus, que podem ser detetados por testes de rastreio cerca de 2 a 8 semanas
após a exposição ao vírus. Contudo, se a exposição ao vírus é mais recente, o nível de
anticorpos pode ser demasiado baixo e terá de se repetir a pesquisa de anticorpos.
Assim o modo a ultrapassar este problema, surgiram os testes de rastreio de 4ª geração
que permitem a determinação simultânea do antigénio p24, e dos anticorpos para o
HIV1 e HIV2.
Os níveis de antigénio p24 são tipicamente elevados no início da infeção
(período entre a contaminação e o aparecimento de anticorpos) e assim, a combinação
da deteção do antigénio e dos anticorpos aumenta a probabilidade de deteção da
infeção pelo HIV, diminuindo o intervalo entre a contaminação e o diagnóstico.
Caso o resultado do teste seja positivo, reativo=>0,25, é necessário primeiro a
repetição do teste do imunoensaio. Após repetição, o resultado deve ser confirmado
com o teste Western-blot; que eu por acaso não fiz no meu laboratório. Neste teste
ocorre igualmente uma reação imune enzimática em fase sólida, mas é possível
descriminar para que antigénios virais existem anticorpos na amostra em estudo, uma
vez que os antigénios virais são previamente separados entre si através de uma
eletroforese em gel de poliacrilamida, antes de serem transferidos para o suporte sólido
(membrana de nitrocelulose). Consoante o perfil de anticorpos presente na amostra,
assim a amostra é classificada como positiva, indeterminada ou negativa.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 86
Testes serológicos de imunologia
Diagnóstico imunológico de gravidez
A Gonodotrofina Coriónica Humana (HCG) é uma hormona produzida pela
placenta na mulher grávida. Os níveis séricos são detetados a partir do 13ºdia após a
nidação do embrião no útero. Esta hormona só é excretada na urina durante a gravidez
e só é detetada na urina a partir da 5º semana usando uma reação de aglutinação direta.
Método
O método usado é uma reação de aglutinação direta com partículas de látex
revestidas de anticorpos monoclonais anti-HCG. Estas partículas interagem com a HCG
presente na urina provocando uma aglutinação visual macroscópica.
Reação de Waaler-Rose
Os fatores reumatoides são um grupo de anticorpos dirigidos à porção Fc da
molécula de IgG. Apesar de se encontrarem numa série de doenças reumáticas, tais
como o Lúpus Eritematoso Sistémico (SLE) e Síndrome de Sj¨ogren, e também
nalgumas doenças não reumáticas, o seu papel é essencial no diagnóstico da artrite
reumatoide. Estima-se que 80% dos doentes com artrite reumatoide tenham o fator
reumatoide positivo.
Método
A reação de Waaler-Rose é um método de hemaglutinação para a determinação
semi-quantitativa do fator reumatoide no soro humano.
São utilizados eritrócitos de carneiro sensibilizados com IgG de coelho e que
aglutinam na presença do fator reumatoide na amostra.
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Antigénios febris
Os testes de antigénios febris são suspensões normalizadas de bactérias
utilizadas para identificar e quantificar anticorpos específicos que se desenvolvem
durante algumas infeções febris, tais como a Brucelose, Salmonelose e certas
Rickettsioses. Estes testes são aplicações serológicas para as reações clássicas da
Reação de Widal para o diagnóstico da febre tifoíde e a Reação de Weil-Felix em que
os antigénios preparados a partir de Proteus são usados para detetar anticorpos anti
Rickettsias.
Método
Os testes de antigénios febris utilizam como método uma reação de
aglutinação direta entre uma suspensão de bactérias inativadas e tingidas, e o soro do
paciente. O antigénio da suspensão aglutina na presença do correspondente anticorpo
homólogo nas amostras ensaiadas.
Reação de Widal
Diagnóstico da febre tifoide.
Antigénios usados:
Salmonellla typhi H (H: d);
Salmonella typhi OU (OU:9,12);
Salmonella paratyphi AH (H: a);
Salmonela paratyphi AO (OU:1,2,12);
Salmonella paratyphi BH (H: b);
Salmonella paratyphi BO (OU: 1,4,5, 12).
Os títulos superiores a 1/80 para os antigénios da Salmonella são indicativos de
doença recente.
As reações com o Antigénio O (somático) ocorrem mais precocemente, em geral,
após a primeira semana de infeção; as reações com antigénio H (flagelares) são mais
tardias e persistem durante algum tempo. Esta reação consiste num ensaio de
aglutinação entre os antigénios O e antigénio H comerciais e a amostra de soro.
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Reação de Paul-Bunnel
Este teste é usado para detetar a infeção pelo vírus Epstein-Barr, o qual causa
a mononucleose infeciosa. Esta reação deteta a presença de anticorpos heterófilos.
Método
O reagente apresenta uma suspensão de partículas de látex de poliestireno, as
quais são revestidas por glicoproteína purificada de bovino. O anticorpo heterófilo
associa-se ao anticorpo correspondente do látex, resultando numa aglutinação visível.
Reações de deteção de Treponema pallidum
A Sífilis é causada pela espiroqueta Treponema pallidum, bactéria gram-negativa.
1) Teste Venereal Disease Research Laboratory (VDRL)
Trata-se de um método não-treponémico. Permite a deteção de anticorpos IgM e IgG
contra o antigénio cardilipina-lecitina-colesterol. Este teste possui a função de rastreio
ou de monitorização terapêutica; portanto é um teste sensível, mas pouco específico.
Método
As reaginas plasmáticas, anticorpos dirigidos contra o antigénio de fonte não
treponémica, produzem agregação com o antigénio, aglutinando com as partículas de
carvão.
As amostras positivas por este método devem ser analisadas por provas
treponémicas, como o TPHA antes de confirmar a infeção. Podem surgir falsos-positivos
nalgumas situações, tais como: toxicodependência, outras doenças venéreas ex.
mononucleose infeciosa, gravidez e doenças autoimunes ex.: lúpus eritematoso
sistémico.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 89
2) TPHA
O teste TPHA é um teste treponémico e utiliza o treponema como antigénio,
detetando anticorpos contra o mesmo. Este teste é um teste confirmatório de alta
especificidade.
Método
Os anticorpos dirigidos contra o Treponema pallidum presentes no soro humano
provocam a aglutinação de hemácias de ave em suspensão, sensibilizadas com um
preparado antigénico de Treponema pallidum.
Raquel Catarina de Abreu Moreira Maia 90
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