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0 Antologia Antologia Antologia Antologia Poética 3.0 Poética 3.0 Poética 3.0 Poética 3.0 Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Clarice Lispector e Clarice Lispector e Clarice Lispector e Vinicius de Moraes. Vinicius de Moraes. Vinicius de Moraes. Vinicius de Moraes. Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues. Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues. Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues. Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues.

Antologia Poética 3.0

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Livro com poesias de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Vinicius de Moraes.

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Antologia Antologia Antologia Antologia Poética 3.0Poética 3.0Poética 3.0Poética 3.0

Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Com Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Clarice Lispector e Clarice Lispector e Clarice Lispector e

Vinicius de Moraes.Vinicius de Moraes.Vinicius de Moraes.Vinicius de Moraes.

Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues.Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues.Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues.Das autoras Hemely Lima e Daniela Damasceno Domingues.

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos Agradecemos ao Professor Ricardo de Andrade, por nos dar a extraordinária honra de estar desenvolvendo este livro, baseado nas obras de três grandes autores da nossa literatura brasileira.

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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ÍndiceÍndiceÍndiceÍndice

Parte 1 – Carlos Drummond de Andrade .................................................................................. 3

Biografia ..................................................................................................................................... 3

José ............................................................................................................................................. 4

Desejos ....................................................................................................................................... 5

Cortar o tempo .......................................................................................................................... 6

A um ausente ............................................................................................................................. 7

Memória .................................................................................................................................... 8

Para Sempre ............................................................................................................................... 9

Inconfesso Desejo ...................................................................................................................... 10

Receita de Ano Novo ................................................................................................................. 11

Os Ombros Suportam o Mundo ................................................................................................ 12

As sem-razões do amor ............................................................................................................. 13

Parte 2 – Clarice Lispector ......................................................................................................... 14

Biografia ..................................................................................................................................... 14

Há Momentos ............................................................................................................................ 16

Meu Deus me dê à coragem ...................................................................................................... 17

Tudo é o olhar ............................................................................................................................ 18

A lucidez perigosa ...................................................................................................................... 19

Teu Segredo ............................................................................................................................... 20

A Perfeição ................................................................................................................................. 21

Dá-me a Tua Mão ...................................................................................................................... 22

As Crianças Chatas ..................................................................................................................... 23

O Segredo ................................................................................................................................... 24

Isso é muita sabedoria............................................................................................................... 25

Parte 3 – Vinicius de Moraes ..................................................................................................... 26

Biografia ..................................................................................................................................... 26

Soneto do amigo ........................................................................................................................ 28

Pela luz dos olhos teus .............................................................................................................. 29

Poética ....................................................................................................................................... 30

A Felicidade ................................................................................................................................ 31

Eu não existo sem você ............................................................................................................. 32

Ternura ....................................................................................................................................... 33

Chega de Saudade ..................................................................................................................... 34

Amor em paz .............................................................................................................................. 35

O Velho e a Flor ......................................................................................................................... 36

Soneto a quatro mãos ............................................................................................................... 37

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Parte 1Parte 1Parte 1Parte 1---- Carlos Drummond de Carlos Drummond de Carlos Drummond de Carlos Drummond de AndradeAndradeAndradeAndrade

BiografiaBiografiaBiografiaBiografia Nasceu em Minas Gerais, em uma cidade cuja memória viria a

permear parte de sua obra, Itabira. Posteriormente, foi estudar em

Belo Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no Colégio Anchieta. Formado em farmácia,

com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no

Brasil. No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, "Alguma poesia" (1930), o seu

poema Sentimental é declamado na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil", feita no

curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos

Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto, no contexto da política de difusão da literatura

brasileira nas Universidades Portuguesas. Durante a maior parte da vida, Drummond foi

funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu

falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha,

a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade. Além de poesia, produziu livros infantis,

contos e crônicas.

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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JoséJoséJoséJosé

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

E agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, protesta?

E agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio à utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual Bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja do galope,

você marcha, José!

José, para onde?

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DesejosDesejosDesejosDesejos

Desejo a vocês...

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mau humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com amigos

Crônica de Rubem Braga

Viver sem inimigos

Filme antigo na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico

Frango caipira em pensão do interior

Ouvir uma palavra amável

Ter uma surpresa agradável

Ver a Banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir a palavra não

Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho.

Sarar de resfriado

Escrever um poema de Amor

Que nunca será rasgado

Formar um par ideal

Tomar banho de cachoeira

Pegar um bronzeado legal

Aprender uma nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Pôr-do-Sol na roça

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas de alegria

Uma tarde amena

Calçar um velho chinelo

Sentar numa velha poltrona

Tocar violão para alguém

Ouvir a chuva no telhado

Vinho branco

Bolero de Ravel

E muito carinho meu.

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Cortar o tempoCortar o tempoCortar o tempoCortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,

a que se deu o nome de ano,

foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade

de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

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A um ausenteA um ausenteA um ausenteA um ausente

Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste

e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonou a vida geral, a comum aquiescência

de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação

até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave

do que o ato sem continuação, o ato em si,

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,

simples apertar de mãos, nem isso, voz

modulando sílabas conhecidas e banais

que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

porque o fizeste, porque te foste.

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MemóriaMemóriaMemóriaMemória

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão

Mas as coisas findas

muito mais que lindas,

essas ficarão.

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Para SemprePara SemprePara SemprePara Sempre

Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite,

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.

Morrer acontece

com o que é breve e passa

sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo -

de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.

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Inconfesso DesejoInconfesso DesejoInconfesso DesejoInconfesso Desejo

Queria ter coragem

Para falar deste segredo

Queria poder declarar ao mundo

Este amor

Não me falta vontade

Não me falta desejo

Você é minha vontade

Meu maior desejo

Queria poder gritar

Esta loucura saudável

Que é estar em teus braços

Perdido pelos teus beijos

Sentindo-me louco de desejo

Queria recitar versos

Cantar aos quatros ventos

As palavras que brotam

Você é a inspiração

Minha motivação

Queria falar dos sonhos

Dizer os meus secretos desejos

Que é largar tudo

Para viver com você

Este inconfesso desejo.

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Receita de Ano NovoReceita de Ano NovoReceita de Ano NovoReceita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vira-se;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)

Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.

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Os Ombros Suportam o MundoOs Ombros Suportam o MundoOs Ombros Suportam o MundoOs Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficou sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

É toda certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

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As semAs semAs semAs sem----razões do amorrazões do amorrazões do amorrazões do amor

Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam).

a cada instante de amor.

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ParteParteParteParte 2222---- ClaricClaricClaricClarice Lispectore Lispectore Lispectore Lispector

BiografiaBiografiaBiografiaBiografia

De origem judaica, Clarice foi à terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Nasceu na cidade de Tchetchelnik enquanto seus pais percorriam várias aldeias da Ucrânia por conta da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921. Chegou ao Brasil quando tinha dois meses de idade, e sempre que questionada de sua nacionalidade, Clarice afirmava não ter nenhuma ligação com a Ucrânia - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" - e que sua verdadeira pátria era o Brasil.

A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai todos mudaram de nome, exceto Tânia, sua irmã. O pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia, sua irmã, Elisa; e Haia, por fim, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante. Com dificuldades de relacionamento com Rabin e sua família, Pedro decide mudar-se para Recife, então a cidade mais importante do Nordeste.

Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância no bairro de Boa Vista. Estudou no Ginásio Pernambucano de 1932 a 1934. Falava vários idiomas, entre eles o francês e o inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.

Sua mãe morreu em 21 de setembro de 1930 (Clarice tinha apenas nove anos), após vários anos sofrendo com as consequências da Sífilis, supostamente contraída por conta de um estupro sofrido durante a Guerra Civil Russa, enquanto a família ainda estava na Ucrânia. Clarice sofreu com a morte da mãe, e muitos de seus textos refletem a culpa que a autora sentia e figuras de milagres que salvariam sua mãe.

Quando tinha 15 anos seu pai decidiu se mudar para o Rio de Janeiro. Sua irmã Elisa conseguiu um emprego no ministério, por intervenção do então ministro Agamemnon Magalhães, enquanto seu pai teve dificuldades em achar uma oportunidade na capital. Clarice estudou em uma escola primária na Tijuca, até ir para o curso preparatório para a Faculdade de Direito. Foi aceita para a Escola de Direito na então Universidade do Brasil em 1939. Viu-se frustrada com muitas das teorias ensinadas no curso, e descobriu um escape: a literatura. Em 25 de maio de 1940, com apenas 19 anos, publicou seu primeiro conto "Triunfo" na Revista Pan.

Três depois, após uma cirurgia simples para a retirada de sua vesícula biliar, seu pai Pedro morre de complicações do procedimento. As filhas ficam arrasadas com as circunstâncias da morte tão inesperada, e como consequência Clarice se afasta da religião judaica. No mesmo ano, Clarice chama a atenção (provavelmente com o conto "Eu e Jimmy") de Lourival Fontes, então chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda (órgão responsável pela censura no Estado Novo de Getúlio Vargas), e é alocada para trabalhar na Agência Nacional, responsável por distribuir notícias aos jornais e emissoras de rádio da época. Lá conheceu o escritor Lúcio Cardoso, por quem se apaixonou (não correspondido, já que Lúcio era homossexual) e de quem se tornou amiga íntima.

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Em 1943, no mesmo ano de sua formatura, casou-se com o colega de turma Maury Gurgel Valente, futuro pai de seus dois filhos. Maury foi aprovado no concurso de admissão na carreira diplomática, e passou a fazer parte do quadro do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem como esposa de diplomata, Clarice morou na Itália onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira. Também morou em países como Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, países para onde Maury foi escalado. Apesar disso, sempre falou em suas cartas a amigos e irmãs como sentia falta do Brasil.

Em 10 de agosto de 1948, nasce seu primeiro filho, Pedro, em Berna na Suíça. Quando criança Pedro se destacava por sua facilidade de aprendizado, porém na adolescência sua falta de atenção e agitação foram diagnosticados como esquizofrenia. Clarice se sentia de certa forma culpada pela doença do filho, e teve dificuldades para lidar com a situação.

Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, o segundo filho de Clarice e Maury, em Washington, D.C., nos Estados Unidos.

Em 1959 se separou do marido que ficou na Europa e voltou permanentemente ao Rio de Janeiro com seus filhos, morando no Leme. No mesmo ano assina a coluna "Correio feminino - Feira de Utilidades", no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer. No ano seguinte, assume a coluna "Só para mulheres", do Diário da Noite, como ghost-writer da atriz Ilka Soares.

Provoca um incêndio ao dormir com um cigarro acesso em 14 de setembro de 1966, seu quarto fica destruído e a escritora é hospitalizada entre a vida e a morte por três dias. Sua mão direita é quase amputada devido aos ferimentos, e depois de passado o risco de morte, ainda fica hospitalizado por dois meses.

Em 1975 foi convidada a participar do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria, em Cali na Colômbia. Fez uma pequena apresentação na conferência, e falou do seu conto "O ovo e a Galinha", que depois de traduzido para o espanhol fez sucesso entre os participantes. Ao voltar ao Brasil, a viagem de Clarice ganhou ares mitológico, com jornalistas descrevendo (falsas) aparições da autora vestida de preto e coberta de amuletos. Porém, a imagem se formou, dando a Clarice o título de "a grande bruxa da literatura brasileira". Seu próprio amigo Otto Lara Resende disse sobre a obra de Lispector: "não se trata de literatura, mas de bruxaria." [2]

Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia nove de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi enterrada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro. Até a manhã de seu falecimento, mesmo sob sedativos, Clarice ainda ditava frases para a amiga Olga Borelli.

Durante toda sua vida Clarice teve diversos amigos de destaque como Fernando Sabino, Lúcio

Cardoso, Rubem Braga, San Tiago Dantas e Samuel Wainer, entre diversos outros literários e

personalidades.

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Há MomentosHá MomentosHá MomentosHá Momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto

a falta de alguém que o que mais queremos

é tirar esta pessoa de nossos sonhos

e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.

Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes

não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor

das oportunidades que aparecem

em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante

é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida

quando perdoar os erros

e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar

duram uma eternidade.

A vida não é de se brincar

porque um belo dia se morre.

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Meu Deus me dê à coragemMeu Deus me dê à coragemMeu Deus me dê à coragemMeu Deus me dê à coragem

Meu Deus, me dê à coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios

de Tua presença. Dê-me a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com

que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar

com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça

com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu

corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de

companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar

com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços

meu pecado de pensar.

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Tudo é o olharTudo é o olharTudo é o olharTudo é o olhar

Não te amo mais

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis

Tenho certeza que

Nada foi em vão

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada

Não poderia dizer mais que

Alimento um grande amor

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

Eu te amo!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais...

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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A lucidez perigosaA lucidez perigosaA lucidez perigosaA lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande

que me anula como pessoa atual e comum:

é uma lucidez vazia, como explicar?

Assim como um cálculo matemático perfeito

do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer

vendo claramente o vazio.

E nem entendo aquilo que entendo:

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

e não me alcanço.

Além do que:

que faço dessa lucidez?

Sei também que esta minha lucidez

pode-se tornar o inferno humano

- já me aconteceu antes.

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Teu SegredoTeu SegredoTeu SegredoTeu Segredo

Flores envenenadas na jarra. Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital.

Nunca vi mais belas e mais perigosas. É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido

contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu.

Assim como tu és o meu.

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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A PerfeiçãoA PerfeiçãoA PerfeiçãoA Perfeição

O que me tranquiliza

é que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

não transborda nem uma fração de milímetro

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidão

nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós

como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,

a perfeição.

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Antologia Poética 3.0 Editora Master Books, 2011

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DáDáDáDá----me a Tua Mãome a Tua Mãome a Tua Mãome a Tua Mão

Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha

busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música

existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que

estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios

da matéria primordial está à linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a

respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Page 24: Antologia Poética 3.0

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As Crianças ChatasAs Crianças ChatasAs Crianças ChatasAs Crianças Chatas

Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real. O filho que está de noite com

dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde com doçura: dorme. Ele

diz: mas estou com fome. Ela insiste: durma. Ele diz: não posso, estou com fome. Ela repete

exasperada: durma. Ele insiste. Ela grita com dor: durma seu chato! Os dois ficam em silêncio

no escuro, imóveis. Será que ele está dormindo? - pensa ela toda acordada. E ele está

amedrontado demais para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor

e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não aguento a resignação Ah, como

devoro com fome e prazer à revolta.

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O SegredoO SegredoO SegredoO Segredo

Há uma palavra que pertence a um reino que me deixa muda de horror. Não espantes o nosso

mundo, não empurres com a palavra incauta o nosso barco para sempre ao mar. Temo que

depois da palavra tocada fiquemos puros demais. Que faríamos de nossa vida pura? Deixa o

céu à esperança apenas, com os dedos trêmulos cerro os teus lábios, não a digas. Há tanto

tempo eu de medo a escondo que esqueci que a desconheço, e dela fiz o meu segredo mortal.

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Isso é muita sabedoriaIsso é muita sabedoriaIsso é muita sabedoriaIsso é muita sabedoria

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso:

não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que

havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos

negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca

por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes,

nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa.

Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase

sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito,

quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... O

de mais nada fazer.

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Parte 3- Vinicius de MoraesVinicius de MoraesVinicius de MoraesVinicius de Moraes

Biografia

Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lídia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancistaOtavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.

Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.

No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.

No final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco

O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espetáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão, quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boêmio que o impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi anistiado (post-mortem) pela Justiça em 1998. A Câmara dos Deputados brasileira aprovou em Fevereiro de 2010 a promoção póstuma do poeta ao cargo de "ministro de primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22.06.2010 e recebeu o número 12.265.

Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.

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Na década de 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.

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Soneto do amigoSoneto do amigoSoneto do amigoSoneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica...

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Pela luz dos olhos teusPela luz dos olhos teusPela luz dos olhos teusPela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar Ai que bom que isso é meu Deus Que frio que me dá o encontro desse olhar Mas se a luz dos olhos teus Resiste aos olhos meus só pra me provocar Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar Meu amor, juro por Deus Que a luz dos olhos meus já não pode esperar Quero a luz dos olhos meus Na luz dos olhos teus sem mais Pela luz dos olhos teus Eu acho meu amor que só se pode achar Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

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PoéticaPoéticaPoéticaPoética

De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vive Do sul cativo O este é meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: – Meu tempo é quando.

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A FelicidadeA FelicidadeA FelicidadeA Felicidade

Tristeza não tem fim Felicidade sim A felicidade é como a pluma Que o vento vai levando pelo ar Voa tão leve Mas tem a vida breve Precisa que haja vento sem parar A felicidade do pobre parece A grande ilusão do carnaval A gente trabalha o ano inteiro Por um momento de sonho Pra fazer a fantasia De rei ou de pirata ou jardineira Pra tudo se acabar na quarta-feira Tristeza não tem fim Felicidade sim A felicidade é como a gota De orvalho numa pétala de flor Brilha tranquila Depois de leve oscila E cai como uma lágrima de amor A felicidade é uma coisa boa E tão delicada também Tem flores e amores De todas as cores Tem ninhos de passarinhos Tudo de bom ela tem E é por ela ser assim tão delicada Que eu trato dela sempre muito bem Tristeza não tem fim Felicidade sim A minha felicidade está sonhando Nos olhos da minha namorada É como esta noite, passando, passando Em busca da madrugada Falem baixo, por favor, Pra que ela acorde alegre com o dia Oferecendo beijos de amor.

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Eu não existo sem vocêEu não existo sem vocêEu não existo sem vocêEu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim Que nada nesse mundo levará você de mim Eu sei e você sabe que a distância não existe Que todo grande amor Só é bem grande se for triste Por isso, meu amor Não tenha medo de sofrer Que todos os caminhos Me encaminham pra você Assim como o oceano Só é belo com luar Assim como a canção Só tem razão se se cantar Assim como uma nuvem Só acontece se chover Assim como o poeta Só é grande se sofrer Assim como viver Sem ter amor não é viver Não há você sem mim Eu não existo sem você.

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TernuraTernuraTernuraTernura

Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentando Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.

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Chega de SaudadeChega de SaudadeChega de SaudadeChega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela Que sem ela não pode ser Diz-lhe, numa prece, que ela regresse Porque eu não posso mais sofrer Chega de saudade, a realidade é que sem ela Não há paz, não há beleza É só tristeza e a melancolia Que não sai de mim, não sai de mim, não sai Mas, se ela voltar, se ela voltar Que coisa linda, que coisa louca Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos que eu darei na sua boca Dentro dos meus braços Os abraços hão de ser milhões de abraços Apertado assim, colado assim, calado assim Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim Não quero mais esse negócio de você viver assim Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim.

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Amor em pazAmor em pazAmor em pazAmor em paz

Eu amei Eu amei, ai de mim, muito mais Do que devia amar E chorei Ao sentir que iria sofrer E me desesperar Foi então Que da minha infinita tristeza Aconteceu você Encontrei em você a razão de viver E de amar em paz E não sofrer mais Nunca mais Porque o amor é a coisa mais triste Quando se desfaz.

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O Velho e a FlorO Velho e a FlorO Velho e a FlorO Velho e a Flor

Por céus e mares eu andei, Vi um poeta e vi um rei Na esperança de saber O que é o amor. Ninguém sabia me dizer, Eu já queria até morrer Quando um velhinho Com uma flor assim falou: O amor é o carinho, É o espinho que não se vê em cada flor. É a vida quando Chega sangrando aberta em pétalas de amor.

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Soneto a quatroSoneto a quatroSoneto a quatroSoneto a quatro mãosmãosmãosmãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado Tudo que fala em mim de amor foi dito Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito me tornou escravizado. Tão pródigo de amor fiquei coitado Tão fácil para amar fiquei proscrito Cada voto que fiz ergueu-se em grito Contra o meu próprio dar demasiado. Tenho dado de amor mais que coubesse Nesse meu pobre coração humano Desse eterno amor meu antes não desse. Pois se por tanto dar me fiz engano Melhor fora que desse e recebesse Para viver da vida o amor sem dano.