Upload
vuongkhanh
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Nonada: Letras em Revista
E-ISSN: 2176-9893
Laureate International Universities
Brasil
Mattes, Marlene
ALEMÃO E PORTUGUÊS EM CARTAS PESSOAIS ANTIGAS DE IMIGRANTES
ALEMÃES NO SUL DO BRASIL. SUA LÍNGUA, SUA CULTURA
Nonada: Letras em Revista, vol. 2, núm. 21, octubre, 2013
Laureate International Universities
Porto Alegre, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=512451671011
Como citar este artigo
Número completo
Mais artigos
Home da revista no Redalyc
Sistema de Informação Científica
Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
ALEMÃO E PORTUGUÊS EM CARTAS PESSOAIS ANTIGAS DE IMIGRANTES
ALEMÃES NO SUL DO BRASIL. SUA LÍNGUA, SUA CULTURA
Marlene Mattes1
RESUMO: O presente estudo constitui uma análise de cartas pessoais produzidas em língua
portuguesa por descendentes de alemães nas décadas de 20 a 50, no estado do Rio Grande do
Sul, apresentando um recorte da pesquisa realizada na Ludwig-Maximilians-Universität
München, Alemanha, como parte da pesquisa de Pós-Doutorado. O estudo, especificamente,
caracteriza o gênero carta pessoal; apresenta a realidade histórico-social da época no Rio
Grande do Sul; verifica fatores linguísticos (interlíngua) centrados no texto escrito
responsáveis tanto pela contextualização, quanto pela conexão conceitual-cognitiva e
pragmática do texto; verifica possíveis transferências do idioma alemão na produção escrita
em português. Explicita-se a realidade do imigrante alemão em relação a: 1. sua competência
não somente linguística quanto comunicativa; 2. seu contexto histórico ; 3. sua caracterização
no processo de aquisição do português como língua estrangeira. A fundamentação teórica
compreende: a Linguística de Texto, a Sociolinguística (bilinguismo) bem como a Linguística
Descritiva e, finalmente, a História.
Palavras-chave: Alemão. Cartas pessoais. Interlíngua. Bilinguismo.
GERMAN AND PORTUGUESE IN OLD PERSONAL LETTERS BY GERMAN
IMMIGRANTS IN SOUTH BRAZIL: THEIR LANGUAGE AND CULTURE
ABSTRACT: The present study consists of an analysis of personal letters produced in
Portuguese by German descendants from the 1920s to the 1950s in the state of Rio Grande do
Sul, Brazil. It contains a part of the research carried out at the Ludwig-Maximilians-
Universität Munich, in Germany, originally included in a post-doctoral investigation.
Specifically, the study characterizes the genre personal letter; presents the socio-historical
reality of the time in Rio Grande do Sul; checks linguistic factors (interlingua) centered in the
written text which are responsible for the contextualization as well as for the conceptual-
cognitive and pragmatic connection of the text; checks possible transferences from the
German language in the written production in Portuguese. The immigrant’s reality is made
explicit as to: 1. his linguistic and communicative competence; 2. his historical context; 3. his
characterization in the process of acquiring Portuguese as a foreign language. The theoretical
foundation includes: Text Linguistics, Sociolinguistics (bilingualism) as well as Descriptive
Linguistics and, finally, History.
Keywords: German language. Personal letters. Interlingua. Bilingualism.
1 INTRODUÇÃO
1 Pós-Doutora em Linguística Aplicada pela Ludwig-Maximilians-Universität München – Alemanha, Doutora
em Linguística Geral pela Eberhard-Karls-Universität Tübingen - Alemanha. É professora adjunto do Centro
Universitário Ritter dos Reis – Porto Alegre (RS). Pesquisa principalmente Linguística Aplicada e
Psicolinguística - Aquisição da Linguagem. E-mail: [email protected]; [email protected]
Manuscritos começam a se tornar raridade em nossa sociedade caracterizada pelo
mundo virtual, por esta razão mesma já motivam leitores, principalmente pesquisadores. As
cartas pessoais em alemão oferecem uma riqueza de aspectos não somente linguísticos como
culturais, os quais fascinam quem se interessa pela cultura, pela língua alemã. Páginas de
cartas trocadas entre pessoas de uma mesma família, incluindo amigos e colegas de trabalho,
em uma comunidade de descendentes de alemães, os quais viviam no Rio Grande do Sul nas
décadas de 1920 a 1950 são objeto de estudo nesta pesquisa. O estado do Rio Grande do Sul
recebeu grande fluxo de alemães, os quais começaram a chegar ao Brasil a partir de 1824,
período em que começa a se desenhar lentamente o cenário da troca das cartas.
Esta pesquisa foi desenvolvida na Ludwig-Maximilians-Universität de Munique –
Alemanha, em nível de pós-doutorado, contando com a colaboração especial do professor Dr.
Wulf Oesterreicher, romanista e linguista. Desde 2003 é membro da Bayerischen Akademie
der Wissenschaften, e desde 2010 é membro da Deutschen Aksdademie für Sprache und
Dichtung. A pesquisa foi realizada com a colaboração da Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Programa de Pós-Graduação em Letras
do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), Porto Alegre, RS. Este estudo procurou
resgatar a realidade linguística dos descendentes de alemães, na medida em que, através da
análise de cartas familiares, das décadas de 1920 a 1950, constrói o quadro linguístico do
falante de português influenciado pelo idioma alemão, isto é, a sua interlíngua. Sabe-se que
são em número reduzido os estudos sobre a língua portuguesa em cartas pessoais antigas,
tanto como segunda língua quanto como língua estrangeira, tomando como referência
especificamente os descendentes de alemães no estado. E, quanto à perspectiva diacrônica em
cartas pessoais, não encontramos estudos divulgados até o momento, os quais tenham sido
realizados exatamente com os mesmos objetivos deste estudo. Os textos aqui considerados
apresentam uma interlíngua, com marcas de um provável bilinguismo ou, no mínimo,
influências do sistema formal do alemão falado nas comunidades de imigrantes no interior do
Rio Grande do Sul. Os autores selecionados compreendem, em relação à Linguística de
Texto, predominantemente: Eugenio Coseriu (Tübingen – Alemanha); em relação às
Tradições Discursivas: Wulf Oesterreicher (Munique – Alemanha), Brigitte Schlieben-Lange
(Tübingen – Alemanha); Aquisição da Língua Estrangeira: Wolfgang Klein (Alemanha).
2 CARTAS
As cartas foram escritas em mais de uma localidade, compreendendo a capital do
estado, Porto Alegre, cidades da chamada grande Porto Alegre, interior do Rio Grande do Sul,
e uma única cidade de outro estado: Rio de Janeiro. As cidades e municípios (incluindo
bairros) são: Porto da Olaria, Porto Alegre, Montenegro, Caxias, Caracol, Hamburgo Velho,
São Sebastião do Caí, Campo do Meio, Maratá, Bagé, Iraí, Rio de Janeiro, Barão. As cartas,
correspondendo às décadas de 20, 30, 40 e 50, foram ordenadas cronologicamente,
computadas do seguinte modo: década de 20 – 13 cartas; década de 30 – 37 cartas; década de
40 – 08 cartas; década de 50 – 06 cartas.
3 ASPECTOS LINGUÍSTICOS
Os textos revelam a projeção, o uso dessas duas línguas, sendo que uma aparece
totalmente sem corresponder, contudo, plenamente, em sua forma, ao gênero selecionado para
uso na carta – o português; e a outra língua – o alemão – deixa marcas. Aspectos fonéticos e
gráficos, lexicais, coesivos, semânticos, sintáticos, idiomáticos, estilísticos, sociolinguísticos,
pragmáticos, da oralidade e hipercorreção foram analisados. Aqui temos um recorte apenas do
universo de aspectos analisados.
Cumpre destacar que nosso posicionamento decisivo na análise dos textos das cartas
considera a compreensão das construções linguísticas que colaboram para o entendimento da
carta pelo leitor, logo não é a apresentação de um texto correto, segundo o respeito às normas
da língua, que decidirá a sua aceitação como texto legível e aceitável, mas a possibilidade de
depreensão do sentido da intenção comunicativa depreendido pelo leitor (abordagem
comunicativa). Interessa, pois, conhecer como era a vida familiar naquela época, como os
problemas sociais podiam trazer implicações ao dia-a-dia na vida em família, em comunidade
(perspectiva cultural); como tais questões eram tratadas, como tudo era dito/falado/escrito –
perspectiva eminentemente linguística.
A seguir verificaremos alguns dos aspectos selecionados, acompanhados de exemplos
das cartas:
3.1 Dialeto
O dialeto do Hunsrück no Rio Grande do Sul, considerando-se a própria História que
o condicionou à região, pôde se manter entre os colonos e até hoje se fazem perceber suas
raízes. Também é denominado “Riograndenser Hünsrückisch”. Na época em que os primeiros
imigrantes para cá vieram, na Alemanha ainda não unificada, havia muitos dialetos regionais,
os quais eram falados por pessoas não letradas. Paralelamente, o Hochdeutsch era falado pela
classe culta, o qual é entendido como o alemão falado sem influência de qualquer dialeto
(KLEINSCHMITT, 2006 p.17). Na Alemanha, na região do Hunsrück, falava-se o dialeto em
questão, o qual ainda hoje pode ser ouvido lá.
Hipoteticamente, as marcas fonéticas do alemão poderiam ser transpostas para a
pronúncia em português e se refletir na forma gráfica. É o que se verifica, por exemplo, na
grafia de palavras com /r/,/rr/,/h/ e sons nasais, entre outros. Considere-se que:
(...) ao mesmo tempo que a comunicação intensa entre membros de uma
comunidade leva à manutenção de suas características, a falta de contato
linguístico entre comunidades favorece o desenvolvimento de diferenças
linguísticas. Tendemos a falar como aquelas pessoas com quem mais
falamos (BELINE, 2002, p.129).
Assim, podemos inferir que, não sendo possível falar somente alemão, o habitante das
comunidades aqui consideradas necessitavam falar português, segundo a imitação que lhes era
possível fazer, já que o maior número de cartas denuncia baixa escolaridade, segundo o
conceito por nós adotado. Assim, podemos inferir que, não sendo possível falar somente
alemão, o habitante das comunidades aqui consideradas necessitava falar português, segundo
a imitação que lhe era possível fazer, já que o maior número de cartas denuncia baixa
escolaridade, segundo o conceito por nós adotado.
4 LÍNGUA NA SOCIEDADE. VARIAÇÃO
Uma das particularidades da sociedade brasileira é a coexistência de culturas distintas
ocupando o mesmo espaço. Nela, cada grupo étnico tem o seu valor, a sua tradição e a sua
língua que são passadas de geração a geração como parte de uma herança familiar e como
parte de socialização do seu grupo. No sul do Brasil, há muitos descendentes de alemães,
italianos, poloneses e, em menor número, japoneses. O modo de falar de cada pessoa dentro
do seu grupo social pode ser diferente, cada um pode ter uma forma especial de pronunciar as
palavras, de falar, é uma forma variada. Em uma mesma língua a variação pode, portanto, se
dar em um mesmo lugar , é a variação diatópica, pode se dar conforme a situação em que se
está falando “– variação diafásica, e, finalmente, tem-se a variação diatrástica, conforme o
falante” (COSERIU, 2007, p.103). Esta última forma é aqui considerada.
A variação no nível morfológico, isto é, no nível das palavras, via de regra, não altera
o significado. Muda a denominação e não a essência, ou seja, um mesmo objeto ou uma
mesma situação podem receber nomes diferentes, mas têm o mesmo significado. No que se
refere à língua portuguesa em relação à língua alemã é o que ocorre neste contexto. Müller
(1978), na obra Colônia alemã. Histórias e memórias, apresenta um pouco do vocabulário
empregado na região de imigração alemã:
Um pouco sobre o material escolar.
O aluno precisava muito pouco. Uma ‘Tafel’, a lousa, um ‘Griffel’, estilete
para escrever, o ‘Lesebuch’, o livro de leitura, um ‘Heft’, um caderno de
linhas duplas. Embora a aula fosse de português a nomenclatura era alemã
(MÜLLER, 1978, p. 131-2).
4.1 Sotaque
O sotaque, como marca individual, provavelmente sempre se faz perceber na
linguagem falada. Deve-se destacar que as marcas da língua alemã observadas na fala e na
grafia em língua portuguesa devem ser consideradas como uma forma de identidade e jamais
como preconceito, como pode ocorrer por parte de pessoas desinformadas – fato comum em
nossa sociedade.
5 LINGUAGEM FALADA, ORALIDADE
Quando as pessoas falam, elas se expressam de modo diferente de quando escrevem.
Em Ciências da Linguagem, ou em Linguística, estudos sobre o modo como as pessoas falam
constituem um fenômeno, a oralidade:
Ao falar o falante dispõe de muitos meios de expressão, os quais ajudam a
fala, tornam a fala mais clara: mímica, gesto, elementos de prosódia
(entonação, pronúncia, altura da voz, etc), tais elementos faltam na escrita ou
devem, de alguma forma, ser substituídos. Textos escritos – logo, são
independentes de pessoa e de seu (presente ou ausente) carisma”.
(SCHLIEBEN-LANGE, 1983, p. 46).
Heller (1995, p. 168), em Was ändert sich an der deutschen Rechtschreibung? (O que
muda na ortografia do alemão?), lembra-nos que muitas medidas mais ‘severas’ são tomadas
em maior número em relação à escrita do que à oralidade, pois a língua escrita “tem a função
de preservar expressões da língua por longos períodos de tempo e em/entre grandes distâncias
espaciais”.
No que se refere à expressão gráfica, ocorre, por exemplo, a não distinção de formas
verbais como passaram e passarão, logo a troca dos tempos verbais se estabelece. O tempo
indicado pelas formas em -ão registram ação futura e não uma ação do passado, como o
contexto permite inferir, o que exigiria o morfema –am.
Como passarão de natal por lá, nós fizemos um pinheirinho elle esta bem
bonito, gahaste muito presente nós aqui gahemos pouco porque o pelsnikel
estava muito areado este anno A com certeza tu vaes hoje no baile não hé,
hoje tem baile no Sport nós vamos, sábado tinha baile no Zequinha nós não
fomos porque o B e o B sairão de sócio mas diserão que estava muito bom A
agora não tem mais baile Zéquinha para nós. (D30 C4 L11-20) (grifo nosso)
Nota: Vide anexo com Legenda.
6. ESCOLHA DAS PALAVRAS, LÉXICO
Troca do verbo estar pelo verbo ser: ‘mas era tão triste porque não encontrei com a
minha bôa professora’. Pode ser entendida pela dificuldade de aprendizagem do emprego de
um ou outro verbo, já que em alemão somente o verbo ser (sein) desempenha as duas funções.
Diz-se no contexto: estou/estava. Em alemão diz-se: Ich bin hier. (eu estou aqui = verbo
ser/sein funcionando como estar em português) e Ich bin Student (eu sou estudante = verbo
ser/sein uso igual ao da língua portuguesa com o verbo ser).Logo, pode-se compreender o fato
em função de a língua alemã usar o mesmo verbo tanto para indicar ação (estar em português)
quanto estado de ser (ser em português).
6.1 Expressões idiomáticas
As cartas apresentam muitas expressões idiomáticas, para as quais nem sempre há
correspondência exata para a língua portuguesa. Tal fato implica a tradução literal da língua
alemã com muita probabilidade de correspondência entre as duas línguas em alguns casos.
Constatamos a frequência do uso de determinadas expressões, como no exemplo a
seguir, cuja expressão correspondente em alemão a ‘ich bin Hals über Kopf’ é ‘nós estamos
de cerviço pra cima da cabeça’: (109) (...) “a A disse que hoje ella não // escreve porque não
tem tempo // n[ós] estamos de cer/viço pra cima da // cabeça.” (D30 C13 L47). (grifo nosso)
Em português a expressão usual correspondente seria: Eu estou por aqui de trabalho.
É expressão típica da oralidade, pois exige o complemento gestual, qual seja, movimentar a
mão aberta (palma da mão para baixo) em sentido horizontal, à frente da testa, da esquerda
para a direita, reforçando-se o sentido de: por aqui, situando no espaço.
7. ESTILO
O estilo das cartas familiares é simples, reflexo de um modo espontâneo e
frequentemente sentimental de exposição de fatos. Portanto, recursos característicos de estilo
são muito pouco – ou quase nada – explorados. Permanecem, naturalmente, as seleções,
escolhas lexicais próprias do gênero, próprias de cartas.
A análise do estilo pode se referir a aspectos fonético-fonológicos e
prosódico-pragmáticos; semântico-lexicais; pragmáticos (emissor-receptor-
signo) ou pragmático-referencial (representação da realidade), mas também
abranger todos os aspectos; pode referir-se ao estilo de uma língua, de uma
época, de um autor, de uma obra, de um gênero, de um tipo de texto, de um
texto narrativo (...) (LEWANDOVSKY, 1994, p.1100 ).
Um recurso muito explorado em textos em geral, e também presente aqui nas cartas, mesmo
que em pequeno número, são as figuras de linguagem, as quais são raras nas cartas
analisadas.
A figura de linguagem chamada pleonasmo, caracteriza-se por uma repetição, que
nada de novo acrescenta à informação, como assinar a assinatura, sendo o que se percebe
em:
(139) “(...) se o B for lá, diz para elle que é quase impossível dele ir agora para lá para só
assignar a assinatura, para elle esperar atpe que um dia papae for para lá(...)” (D20 C10b
L40) (grifo nosso)
Outra figura se denomina eufemismo, ou seja, uma maneira atenuada de expressar
fatos ou ideias que possam ferir a sensibilidade do leitor, como notícia de falecimento:
(140) “ (...) Já fazem mais de trez semanas que Deus chamou para si meu querido pae, mas,
contudo, parece que foi viajar e que tem de voltar, não tendo eu realizado de um todo que
não mais se acha entre nós Deus o guarde e o contemple em sua Santa bênção, pois orgulho-
me de ter tido não só um bom e exmplar pae, como também um muito grande amigo. ‘Que a
terra lhe seja léve’...”(D20 C03 L12-3) (grifo nosso)
Na perspectiva de falantes de duas línguas: alemão e português, os(as) autores (as) das
cartas configuram-se como bilíngues. Assim sendo utilizam alternativamente duas línguas.
Conforme cada falante “o domínio de uma ou duas línguas varia em função dos diversos
aspectos da comunicação: expressão oral- expressão escrita, compreensão oral-compreensão
escrita” (LANCHET, 1977, p.56 ). O léxico dos falantes, o vocabulário usado irá diferir tanto
em função da sua capacidade individualizada de armazenamento dos itens lexicais, quanto do
nível de língua/linguagem usado no seio familiar e no ambiente de trabalho (em casos
específicos das cartas). Há fatos linguísticos observados em mais de um autor, os quais se
apresentam de modo específico na interlíngua produzida.
8 ASPECTOS CULTURAIS
Em relação aos aspectos culturais, sobre a Colônia alemã no Rio Grande do Sul,
consideraram-se basicamente obras de Telmo Lauro Müller (1978, 1994, 2001), Jean Roche
(1969) e textos de Martin Norberto Dreher (2008). Consideraremos neste espaço os seguintes
pontos: Vida em sociedade – Posição da mulher; Saúde – Medicina; Relações sociais;
Religiosidade – Comunhão; Lazer – Kerb; Clima – Enchentes.
8.1 Vida em sociedade - posição da mulher
Nas cartas, em determinadas situações, percebe-se o caráter lúdico de alguém que se
ocupa dos afazeres domésticos, ou até mesmo crítico, acerca desta realidade. Exemplo:
(185) A eu estou muito triste por// não poder ir passar uns dias // aleg{re}s
comtigo, mas tu sabes que eu // sou o mandalete e tenho que aju // dar a
fazer a lida da casa, mas dei{x}a A quando eu tirar a sor // te grande boto
outra em meu // lugar e me vou. (D30 C20 L12-4)
8.2 Saúde – medicina
Em família, geralmente as experiências bem sucedidas da cura de males que afligem a
vida das pessoas, é uma experiência compartilhada: “desde quando elle botou o emplasto de
marnelada na cabeça foi que nen tirando a tontura e não voltou mais tu viu como ella estava,
agora tu já sabe quando algue de casa tem tontura é um santo remédio”.
8.3 Relações sociais
A formalidade nas relações sociais causava muitos constrangimentos, no sentido de as
pessoas não manifestarem sentimentos espontaneamente, exceto, impondo exceção à regra.
Observe-se, no exemplo que segue, a visita do namorado, cuja situação era considerada como
uma ocasião especial:
(186) (...) nós aqui // de natal fomos muito bem fize // mos um pinheirinho
fico / u muito // bunitinho, mas tu já sabes eu caprichei // bastante porque eu
tinha tençoes de // mandar o B entrar e mandei // mesmos mas tedigo ele en /
trou mas // ficou tão encabulado que tu nen imaginas // porque mamãe e
papae estava na // sala (...) (D30 C13 L08-13) .
8. 4. Religiosidade – comunhão
O sentimento de religiosidade observável na comunidade alemã, a partir das cartas e
da literatura em geral, se confirma também em Woll (2001, p. 22):
Como cristão ele [o alemão camponês] aprendeu que, sem a mão de Deus,
nada pode alcançar. Por este motivo mostra-se humilde e agradecido. Pela
manhã ele inicia seu dia de trabalho com o pedido de bênção e encerra –o à
noite com a oração de agradecimento.
Dentre os eventos da Igreja Católica, a realização de procissões constitui-se como
oportunidade para fortalecimento da crença, da fé: “Tinha qui festa na igreja de são Geraldo,
eu não fui nem uma noite fui so aprossição”. As maiores festas se constituem na celebração da
Páscoa e do Natal:
As grandes festas religiosas são, sem dúvida, aquelas em que se nota mais
claramente a originalidade dos teuto-brasileiros em relação ao resto da
população do Rio Grande do Sul. Torna-se inútil lembrar o fervor com que
colonos celebram o Natal e a Páscoa, as duas maiores festas do ano litúrgico;
as igrejas e os templos recebem uma multidão que os superlota e acompanha
os ofícios com devoção. Essas festas, a que se associam divertimentos
familiares, assinalam-se por um ritual que conquistou os meios teuto-
brasileiros” (ROCHE, 1969, p.641).
8. 5. Lazer - Kerb
O autor da carta informa ainda acerca do cardápio nas festas o qual incluía: “Cucas,
doces, pepinos em conserva, carne de porco assada, linguiça e chucrute, e regadas a vinho e
cerveja”. Quanto à decoração, o Kerbbaum vinha a ser o pinheiro enfeitado de papel
colorido, ostentado defronte do local da realização do Kerb; no salão havia guirlandas de
papel crepom e/ ou bandeirinhas de várias cores; no forro havia uma coroa angalanada
confeccionada com ramas e fitas de papel ou de tecido de seda, a Kerbkranz , sendo o ornato
principal da festa. Descreve o autor que, do centro da coroa, pendia uma garrafa de cerveja ou
de vinho enfeitada para ser leiloada entre os presentes. Pode-se afirmar que o Kerb ainda hoje
constitui um “momento de rememoração do passado, de afirmação dos laços de pertença e de
coesão social nas localidades em que era [é] comemorado”.
8. 6 Clima. Enchentes
O estado do Rio Grande do Sul apresenta uma hidrografia marcada por nascentes de
rios em elevações, na serra. A vida em muitas cidades sofre transtornos, quando se dá o
período de chuvas frequentes, causador de enchentes devido ao transbordamento dos rios.
Contudo, em períodos de ‘normalidade’, “Os rios da região são aproveitados para navegação,
irrigação de áreas de agricultura, abastecimento urbano e geração de energia”.
(GEOGRAFIA. Projeto Araribá. Vol. 6. São Paulo: Moderna, 2006, p. 224).
Ocorrendo as enchentes, o ano de 1941 tornou-se histórico, pois foi quando a chuva
em excesso fez transbordar os rios, tornando esta a mior enchente de todos os tempos. Sabe-se
que a referida enchente é, portanto, memorável, tendo sido a maior ocorrida na cidade de
Porto Alegre durante os meses de abril e maio daquele ano. O acontecimento privou grande
número de pessoas não somente de habitar sua própria casa, mas também do acesso à energia
elétrica e água potável. Tanto as chuvas intensas nas cabeceiras dos rios afluentes quanto a
intensidade dos ventos, causando o represamento das águas, constituem a causa do
problema. No interior do estado a enchente também aconteceu e, mais uma vez, é o barco o
meio de transporte possível, também na capital. As cartas enviadas para a cidade de
Montenegro fazem frequentemente menção ao fato. O nome Montenegro significa "Travessia
do Caminho do Rio". Esta região abrangia desde a ilha de Santa Catarina até a margem
esquerda do rio Jacuí. A enchente ocorreu causando problemas principalmente no transporte,
criando dificuldades na mobilidade de uma à outra cidade, conforme as justificativas nas
cartas, também para o não comparecimento a eventos nas diferentes localidades.
O adiamento do evento religioso mencionado deu-se devido às chuvas intensas, fato
documentado na História como causa das enchentes memoráveis que assolaram a região na
época. ‘o padre transfirio devido as enchentes, A enchente aqui fui muito grande, disseram
que a 16 annos não tinha enchente assim’ (grifo nosso).
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dialeto falado pelos imigrantes é um dos que compõem a constelação de dialetos da
região da qual são provenientes:
No Oeste, ‘o franco do Mosela se encontra com o ‘hessische’ , e ao Sul, com
o ‘pfälsische ‘, dialetos falados no Palatinado, no Sul de Sarre e no Sudoeste
do Hunsrück. Hessisch e pfälsische são ‘dialetos franco do Reno’”.
(SAMBAQUY-WALLNER, 1998, p.28) (grifo nosso)
Esta mesma língua de origem passa a ser substituída, em alguns contextos, como as cartas,
pela língua que os integra na comunidade à qual pertencem:
(...) migrantes que integram uma comunidade nova substituem, às vezes, por
muito tempo, aquela que eles deixaram. O falar ‘bilíngue’ desses novos
locutores da língua do país que os acolhe, que se caracteriza pelo emprego
alternado das duas línguas, toma, para todo locutor aloglota que entra em
contato com uma segunda língua, formas mistas ou marcadas pela L1, mais
discretamente ou menos, que evoluirão em função das situações e dos
modelos que encontrarem” (DEL RÉ (et al), 2006, p.103)
Os aspectos coesivos incluem, em grande medida, o gênero das palavras o qual também é
marcado de forma equivocada, o que se compreende ao se considerar que a língua alemã
apresenta três gêneros e a língua portuguesa, dois. O emprego dos pronomes (referenciação) é
pouco problemático. A preocupação metalinguística está presente em alguns textos, na
medida em que os autores (as) usam de recursos específicos para se fazerem compreender no
cuidado com as regras. A revisão do texto é um dos recursos. Embora haja esta preocupação,
dentre os fatores pragmáticos, a aceitabilidade é muito transparente no texto, como em: “(...)
não arepara os eros que tiver(...)”; “(...) desculpa-me a má caligrafia e os erros,(...)”.
O fenômeno da hipercorreção é observável no que se refere a fatos de língua de
natureza diversa. Há a preocupação do autor (a) em corresponder à norma do texto escrito,
embora se trate de um texto parllato escrito, na denominação de Giovani Nencioni. (apud
OESTERREICHER, 2001. p. 201).
Não se estabelece comparação entre as duas línguas, pois ambas constituem sistemas
linguísticos próprios. Logo, o falante destas duas línguas necessariamente demonstrará uma
competência linguística ímpar, ou seja, dominará as duas línguas em escala diferenciada.
Poderá produzir seu texto em alemão com ou sem influência da língua portuguesa e,
comprovadamente através desta pesquisa, mostra-se capaz de produzir texto em LP, com
transparente influência da língua falada pelos seus antecedentes, fato que, no entanto, em nada
diminui o seu valor na sociedade. A língua portuguesa das cartas é testemunho de um
determinado estágio de aquisição da língua estrangeira, sem ainda se poder contar, por
conseguinte, com seu domínio completo logicamente.
Por estas razões acima citadas é que não se pode conceber juízo de valor quanto ao
desempenho do falante de alemão ao apresentar a sua interlíngua. Tal atitude será considerada
incondicionalmente como preconceito linguístico. O autor das cartas desempenha em
português satisfatoriamente, quando se faz entender em suas intenções comunicativas. O que
importa fundamentalmente é a sua capacidade de expressão e comunicação nessa língua
estrangeira, e não o nível de competência linguística (conforme a dicotomia
competência/desempenho) que possa ser atingido em relação a essa mesma língua portuguesa.
Ao demonstrar sotaque em sua pronúncia, ou tradução literal de expressões do alemão, por
exemplo, nada mais estará fazendo do que respeitar sua própria identidade cultural através
das marcas da sua língua materna. Tal fato não minimiza o seu valor, de forma alguma, na
comunidade linguística à qual pertence. E, se, por ventura, ouvir de alguém que está falando
‘mal português’, estará sem dúvida falando com alguém que desconhece as questões
linguísticas que subjazem à língua construída pelo falante de alemão aqui caracterizado, logo
só poderá se mostrar incapaz de compreender uma realidade vivida por uma comunidade que
se comunica através de dois idiomas, demonstrando, portanto, posicionamento
preconceituoso, por si só inqualificável, bem como incapacidade para avaliar a riqueza
cultural, o legado cultural que esta realidade linguística representa. Esta afirmação cabe não
somente ao alemão, mas a línguas estrangeiras em geral.
Finalmente, enfatizamos que todo este estudo, rico em aspectos de análise linguística e
extralinguística, estaria incompleto se não ressaltasse a sua relação com a cultura, a qual tem
espaço também na análise dos fatores pragmáticos. Não compreendemos todo e qualquer
estudo de língua dissociado da realidade cultural na qual a língua se insere e a qual ela própria
ajuda a construir. É inconcebível considerar o falante de uma ou mais línguas, sem a sua
relação com a cultura da(s) língua(s) que fala(m). Sendo língua uma questão de identidade
cultural, é preciso considerá-la como a memória coletiva de uma sociedade linguística. Na
medida em que se aprende uma língua estrangeira adquirem-se conhecimentos sobre outra
cultura. E, no encontro com outra cultura, habilitamo-nos a refletir sobre a própria cultura,
encerrando-se assim o ciclo (MERTEN, 1995).
Conclui-se que a interferência exercida pela língua alemã na produção de texto em
português evidencia o nível de competência linguística alcançado pelo autor das cartas. Não
poderemos explicitar mediante qual processo tal competência foi atingida, pois o corpus não
nos permite qualquer afirmação a respeito. Houve aquisição ou aprendizagem? Algumas
cartas demonstraram maior familiaridade com o ato da escrita que outras, apresentaram até
mesmo texto em uma terceira língua, francês.
E, quando o imigrante e seus descendentes falam, a cadeia sonora produzida permite
que se reconheça a fala de quem tem o alemão como primeira língua. No que se refere à
nasalidade, a pronúncia do /r/ e /rr/ e à entonação o brasileiro reconhece imediatamente o
teuto-brasileiro. O sotaque que se destaca marca uma entonação própria da língua germânica,
que, somente em situações determinadas, se assemelha ao português. E este é o ponto
principal. Parece ser o sotaque a melhor forma de identidade cultural. Tal como afirmamos
anteriormente, quem não reconhecer o valor linguístico da fala do imigrante, o valor do seu
sotaque, nada mais estará fazendo que mostrando o seu posicionamento marcado pelo
preconceito e pela falta de cultura. É importante ratificar-se a afirmação.
Enriquecedoras sob o ponto de vista linguístico são as contribuições desta realidade
linguística da região sul do Brasil para o mapa linguístico do Estado. Concorrem também aqui
as marcas da imigração italiana no Rio Grande do Sul.
Segundo as Tradições Discursivas pudemos caracterizar a situação linguística
específica, objeto de nosso estudo, como a manifestação da oralidade no escrito. E a
Linguística de Texto nos permitiu reconhecer, nas cartas, os aspectos linguísticos que
contribuíram para a construção do sentido no texto, seja pelo respeito às regras da gramática
da língua, seja pela recuperação dos enunciados mal formados pela cumplicidade entre autor e
leitor, já que ambos compartilham de informações prévias conhecidas especialmente por eles.
E, finalmente, é através dos conceitos de aquisição da língua estrangeira que pudemos
configurar o quadro linguístico da maioria dos informantes deste estudo. A cultura recebe o
mesmo peso da análise linguística aqui empreendida no que se refere à construção da
identidade cultural do informante. Sem o conhecimento da cultura na qual o autor da carta se
insere, torna-se impossível a compreensão do posto e do pressuposto no texto. Inferir
significados é caminho árduo a ser percorrido, quando não se conta com o conhecimento do
extralinguístico. Alia-se a esta constatação o fato de que a língua inexiste sem a cultura de
quem a fala e a cultura inexiste sem a língua através da qual se dá a conhecer, pois corre o
risco de perecer.
O imigrante no sul do Brasil consegue viver a sua cultura com respeito às suas origens.
Os seus antepassados revivem na prática das suas tradições e o homem de hoje é o
responsável por esta continuidade. Mesmo plenamente adaptado à vida do gaúcho, integrado à
sociedade rio-grandense, consegue partilhar seu modo de ser germânico com o que de novo
criou para si, espelhado na realidade gaúcha.
REFERÊNCIAS
BELINE, Ronald. A variação linguística. In: FIORIN, José (Org.) Introdução à Linguística. I.
Objetivos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
COSERIU, E. Textlinguistik. Eine Einführung. Tübingen: Narr, 2007. 4. Auflage.
DEL-RÉ, Alessandra et al. (Org.) Aquisição da linguagem. Uma abordagem psicolinguística.
São Paulo: Contexto, 2006.
DREHER, Martin. Espaços e formas de cura. In: GRÜTZMANN, Imgart; DREHER, Martin
Norberto; FELDENS, Jorge Augusto. Imigração Alemã no Rio Grande do Sul. Recortes. São
Leopoldo: Oikos: UNISINOS, 2008.
DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. [Trad.: Barros, Ferreti, Schmitz, Cabral, Salum
Khedi]. São Paulo: Cultrix, 1977.
GÄRTNER, Angelika. Lesekurs Deutsch im Bereich der Geisteswissenschaften fur
Studierende an brasilianischen Universitäten. Curso de alemão Instrumental na área de
ciências humanas para estudantes em universidades brasileiras. Porto Alegre: DAAD,
Goethe Institut, 1997. Digitado.
GEOGRAFIA. Projeto Araribá. Vol. 1 e 6. São Paulo: Moderna, 2006.
GRÜTZMANN, Imgart; DREHER, Martin Norberto; FELDENS, Jorge Augusto. Imigração
Alemã no Rio Grande do Sul. Recortes. São Leopoldo: Oikos: UNISINOS, 2008.
KLEINSCHMITT, Sybille. Deutsch in Lateinamerika – Hunsrückisch in RioGrande do Sul.
Nordstedt: Grin, 2006.
LANCHET, Jean-Yvon. Psicolinguística e Pedagogia das línguas. Rio de Janeiro: Zahar,
1977.
LEWANDOWSKI, Th. Linguistisches Wörterbuch. Heidelberg, Wiesbaden: Quelle & Meyer,
1994.
MARTINS, Nilce S. Introdução à Estilística. São Paulo: T.A. Queiroz, 1997.
MÜLLER, Telmo Lauro. Colônia alemã. Histórias e memórias. Caxias do Sul: Universidade
de Caxias do Sul e Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1978.
OESTERREICHER, Wulf. La recontextualización de los géneros medievales como tarea
hermenêutica. In: JACOB, Daniel und KABATEK, Johannes (eds) Lengua medieval y
tradiciones discursivas en la Península Ibérica. Descripción gramatical-pragmática histórica
– metodologia. Frankfurt am Main/ Madrid: Vervuert/Iberoamericana 2001.
PIETROFORTE, Antonio; LOPES, Ivã. A semântica lexical. In: Fiorin, J.L.(Org.) Introdução
à Linguística. II. Princípios de Análise. São Paulo: Contexto, 2005.
ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. [Trad.: Emery Ruas]. Porto
Alegre: Ed. Globo, 1969.
SAMBAQUY-WALLNER, Virginia. A língua alemã em São José do Hortêncio, RS. Caxias
do Sul: EDUCS, 1998.
SCHLIEBEN-LANGE, Brigitte. Tradition des Sprechens. Frankfurt am Main: Kohlhammer,
1983.
TARALLO, Fernando (Org.) Fotografias sociolinguísticas. São Paulo: Ed. da Unicamp,
1989.
WOLL,Johanna; MERZENICH,Margret; GÖTZ,Theo. Feste und Bräuche im Jahreslauf.
Stuttgart: Ulmer, 2001.
WOLF, Norbert. Albrecht Dürer.1471-1528. Das Genie der deutschen Renaissance. Köln:
Taschen, 2010.
ANEXO
L E G E N D A
SINAL SIGNIFICADO
/ Divisão na palavra
// Divisão na construção
//// Quebra de página na transcrição das cartas
(XX) Passagem ilegível
“ “ Transcrição de uma passagem
(...) Parte não transcrita de um enunciado
# Falta letra, sílaba ou palavra
[ ] Letra, sílaba ou palavra grafada na vertical