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Giovanni Alves - UNESP 1
“Segunda-Feira Ao Sol", de Fernando Léon de Aranoa
(2000)
Análise do FilmeVersão 2.0
(76 Slides)
Projeto “Cinema Como Experiência Crítica”www.telacritica.org
Giovanni Alves - UNESP 2
Estrutura Narrativa
Numa pequena cidade industrial ao norte da Espanha, na região
da Galicia, um grupo de amigos, ex-operários metalúrgicos da
indústria naval (Santa, José, Lino e Amador), se reúne no Bar
Naval, pequeno bar de outro ex-operário (Rico), onde
conversam e compartilham frustrações com seus dramas
cotidianos.
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Estrutura Narrativa
Lino busca emprego fixo através de entrevistas; Santa é obrigado pela justiça a pagar uma luminária quebrada durante a greve;
José acompanha o drama cotidiano da mulher, operária precária da indústria de conservas de atum, que parece insatisfeita com a
relação conjugal; Amador, abandonado pela mulher, afoga o vazio existencial bebendo com os companheiros no Bar Naval.
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Eixo Temático
Globalização e Reestruturação Produtiva
Luta de Classe e Resistência Operária
Precarização do Trabalho e Desemprego
Desemprego Estrutural
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Desemprego e exclusão social
“Segunda-Feira ao Sol”, de Fernando Aranoa, é um drama de personagens vitimas do desemprego em
massa no setor naval, atingidos pela globalização e reestruturação produtiva na Espanha na última
metade da década de 1990. O Estaleiro Aurora na região da Galicia, norte da Espanha, foi comprado por investidores coreanos que decidem construir
em seu lugar um hotel de luxo. Lino, José, Santa e Amador são vítimas do desemprego por
reestruturação, perdendo seus postos de trabalho em virtude do fechamento da empresa. Estão
desempregados há mais de 12 meses, configurando portanto, desemprego de longa duração. Na
verdade, Santa, José e Amador estão desalentados e não procuram mais emprego, contentando-se com o seguro social ou com as parcas economias pessoais
(ao buscar empréstimo num banco José parece querer abrir um pequeno negócio). Lino é o único
que ainda busca uma vaga de emprego fixo.
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A sociedade do trabalho abstrato
A sociedade burguesa é sociedade do trabalho,
que reproduz, em escala ampliada, o não-
trabalho. Isto ocorre porque o eixo estruturante
da sociedade burguesa, não é o trabalho vivo
como trabalho concreto, mas sim, o trabalho
abstrato (o trabalho vivo é um pressuposto
ineliminável tendencialmente negado). Deste
modo, a sociedade burguesa é a sociedade do
trabalho abstrato e não a sociedade do trabalho
propriamente dito. O que significa que, em sua
etapa de crise estrutural, é candente o
movimento de negação do trabalho vivo pelo
trabalho abstrato, o tipo de trabalho que produz
valor, telos estranhado da processualidade
sistêmica do capital.
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A sociedade do trabalho abstrato
O desemprego como expressão social da
sociedade do trabalho abstrato (isto é, do
trabalho estranhado que produz valor), é, em
si, mera abstração, que oculta, por trás de
indicadores estatísticos (números-fetiches que
começam a dançar por sua própria iniciativa,
como diria Marx), dramas de homens e
mulheres concretos, tragédias pessoais
singulares, isto é , a própria negação em
processo do ser humano-genérico.
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A individualidade de classe
Os personagens de “Segunda-Feira ao Sol” são expressões supremas da individualidade de classe.
É importante salientar que um dos aspectos da alienação/estranhamento dos indivíduos sociais nas condições do sócio-metabolismo do capital é
que eles estão subsumidos à classe social. Diz Marx e Engels: “A classe autonomiza-se em face
dos indivíduos, de sorte que estes últimos encontram suas condições de vida preestabelecidas
e têm, assim, sua posição na vida e seu desenvolvimento pessoal determinados pela classe;
tornam-se subsumidos a ela.”(“A Ideologia Alemã”, K. Marx e F. Engels).
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A individualidade de classe
A sociedade burguesa provoca o surgimento do individuo de classe em contraposição ao individuo
pessoal. O individuo de classe encontra-se submetido às contingências das condições de vida no capitalismo, caracterizadas pela concorrência e
pela luta dos indivíduos entre si. Diz Marx e Engels: “Assim, na imaginação, os indivíduos parecem ser mais livres sob a dominação da
burguesia do que antes, porque suas condições de vida parecem acidentais; mas na realidade, não são
livres, pois estão mais submetidos ao poder das coisas.” (“A Ideologia Alemã”, K. Marx e F. Engels)
Enquanto Lino descansa, sonhando conseguir o emprego, José preenche o bilhete de loteria,
apostando na contingência da sorte.
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Homens à deriva
Na primeira cena de “Segunda-Feira Ao Sol”, no ferryboat Lady Espana, da estação de Ria,
que os conduz ao outro lado da cidade, sob o sol de segunda-feira, Santa, José e Lino começam a
semana buscando dar um sentido à vida. Na sociedade burguesa, o “sentido à vida” é dado
pela busca de emprego. Estamos diante de homens à deriva, desefetivados em suas
determinações humano-genéricas. O ferryboatLady Espana é a metáfora do mundo capitalista. Só os que têm capacidade aquisitiva têm acesso aos serviços do ferryboat. Santa resiste, a seu modo, à ditadura do valor de troca. Não é o barco que está à deriva, mas alguns de seus
ocupantes desempregados.
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Homens à deriva
O trabalho estranhado é o eixo estruturante da sociabilidade moderna que é caracterizada pela
imersão dos indivíduos de classe na contingência da sorte ou do azar; além disso, ela é caracterizada pela exclusão de acesso dos indivíduos de classe a bens e serviços privatizados (que exigem deles, portanto, capacidade aquisitiva) e exclusão deles do acesso à produção social através do emprego. Por exemplo, nesta cena, enquanto José preenche um bilhete de
loteria e Santa entra no ferryboat sem pagar, discutindo com o bilheteiro, Lino lê no jornal, um
aviso de emprego e se defronta com os requisitos de contratação que tendem a excluir do mercado de
trabalho homens como ele, desempregados de meia-idade. Diz ele: “O único problema é o limite de idade. Até 35” (no anúncio de jornal exige-se, por exemplo,
boa aparência, limite de idade, carro próprio e conhecimentos de informática).
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O mito da empregabilidade
Na abertura do filme “Segunda-Feira ao Sol”, Lino se prepara, com ansiedade, para
uma entrevista, buscando acreditar que ainda existe uma esperança de emprego
digno. Enquanto José e Santa desistiram de buscar emprego, Lino ainda tenta uma
colocação no mercado de trabalho. Próximo da conclusão do filme, Lino se
prepara para outra entrevista. Ele coloca tintura no cabelo para parecer mais jovem.
Inclusive tenta aprender noções de informática com o filho adolescente. Na
verdade, Lino sabe que o mercado de trabalho possui regras perversas: exige novas qualificações e exclui homens (e
mulheres) mais velhos.
A empregabilidade
representa a
facilidade de
colocação ou
recolocação
no mercado de
trabalho.
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A crise da família fordista
O personagem Paulino Ribas parece possuir uma
família estruturada. Sua mulher é do lar e parece não
estar no mercado de trabalho. O filme não sugere
nenhuma crise conjugal entre Lino e sua esposa. A
única sombra de angústia é a falta de emprego, fonte
de identidade social e de renda monetária. O filho
adolescente de Lino, quase adulto, parece ser um
jovem desempregado, imerso em empregos precários
ou “bicos” ocasionais. Os pais não sabem por onde ele
anda. É interessante que em “Segunda-Feira Ao Sol”,
duas gerações, pai e filho, se encontrem na mesma
encruzilhada do desemprego. A estrutura da família
Ribas tende a refletir o ideal fordista clássico: o
homem trabalhando na fábrica e a mulher cuidando
do lar e dos filhos. Mas, com o desemprego de Lino,
homem- provedor, a família parece viver às custas do
seguro-desemprego.
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A Parábola da Austrália
Outra parábola de “Segunda-Feira ao Sol” é a parábola da Austrália como um lugar
distante e sonho de felicidade. No imaginário de Santa, em seu diálogo com Lino, sob o sol de segunda-feira, a Austrália é um lugar do
sonho. Diz ele: “Aqui ganhamos uma ninharia. Lá, você recebe a sua parte.” Ou ainda: “As pessoas também são mais bem
humoradas.” Talvez a Austrália imaginária de Santa seja o Eldorado, utopia sonhadora
dos velhos navegadores espanhóis, desbravadores do Novo Mundo nos
primórdios da modernidade do capital. Não podemos esquecer que a Espanha, em tempos idos, no século XV e XVI, foi
potência imperial, onde a indústria naval construiu caravelas grandiosas que
desbravaram o Novo Mundo, abrindo a aurora da modernidade do capital.
Clique para Assistir
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A Parábola da Austrália Como Utopia Socialista
Ao divagar, sob o sol da Galicia, Santa
constrói fantasias sobre um “lugar” distante, a
utopia da Austrália. A Austrália de Santa é um
“não-lugar”. É uma parábola do socialismo,
antípoda do mundo capitalista. Na sociedade
do capital operários e empregados “ganham
uma ninharia”. Na “Austrália” você recebe a
sua parte, as pessoas são mais bem humoradas
e o clima é formidável. Santa transpõe para o
plano da fantasia, o ideal socialista, de “cada
um segundo sua capacidade, a cada um
segundo sua necessidade”.
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A Parábola da Austrália e a Sociedade de Classe
Na parábola da Austrália, Santa utiliza a
palavra antípoda para expressar as
diferenças entre os dois mundos sociais.
Segundo ele, “Antípoda” quer dizer “o
contrário”. A degradação da sociabilidade
no mundo burguês atinge as duas
dimensões crucias da pessoa humana,
trabalho e afetividade. Ao tratar do
contraste, diz ele: “Lá tem trabalho, aqui
não; lá você transa, aqui não”. No mundo
do desemprego, que é o mundo da
desefetivação humano-genérica, o homem
é castrado de sua atividade vital: ele não
trabalha e ele não transa – no sentido
pleno da palavra.
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A sociedade do fetichismo
Em “Segunda-Feira ao Sol” as metáforas com elementos da natureza se destacam, a começar pelo
próprio título. Tal recurso estilístico do diretor Fernando Aranoa sugere que a sociedade burguesa
tardia sob o capitalismo global, ao fechar os horizontes de modernização, tendeu a se naturalizar,
ou melhor, a impor a homens e mulheres uma “segunda natureza” estranhada e fetichizada. E outra coisa: numa situação de crise estrutural do capital e
de derrota social e política da classe proletária, o fetichismo da mercadoria tende a se agudizar. Por isso,
tendemos a obnubilar ou perder a consciência histórica e a ficarmos inertes na presentificação
crônica. Ao ficarmos imersos em valores-fetiches e objetos-fetiches, tendemos a considerar tudo natural(eis o ponto de vista da economia política, criticado
por Karl Marx)
Giovanni Alves - UNESP 18
A sociedade do fetichismo
A percepção da sociedade burguesa como “segunda natureza”
é, ao mesmo tempo, falsa e verdadeira. É falsa na medida em
que os fatos sociais são fatos históricos, que tiveram uma
gênese historicamente determinada, produto de atos
históricos, da luta de classes e, portanto, passiveis de
superação através da luta política e social dos sujeitos
coletivos. Por outro lado, é uma percepção verdadeira tendo
em vista que, enquanto constituída por fatos sociais, a
sociedade burguesa possui uma legalidade sociológica, isto é,
uma objetividade (e exterioridade) social que exerce, quase
como uma “segunda natureza”, determinada coercitividade
sobre homens e mulheres. Os fatos sociológicos do mundo do
capital funcionam, deste modo, como “circunstâncias legadas
e transmitidas do passado”, como diria Marx.
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Fetichismo e linguagem
O fetichismo da mercadoria, germe de toda forma de fetichismo
social no mundo burguês, é um tipo de naturalização perversa,
tendo em vista que aparece com maior intensidade e amplitude no
mais alto estágio de desenvolvimento civilizatório do mundo
burguês (como diria Lukács, a sociedade capitalista é a “sociedade
mais social”). O fetichismo social torna-se elemento da consciência
e da ontologia do ser social capitalista, permeando inclusive as
formas de linguagem. Em “Segunda-Feira ao Sol”, o uso constante
da linguagem parabólica, analógica ou metafórica é sintoma de um
fato histórico-sociológico: a derrota política e social da classe
proletária na época do capitalismo global, que propicia agudo
processo de desefetivação proletária que se manifesta através da
precarização da capacidade de expressão linguistico-comunicativa.
Além disso, expõe a suprema contradição sócio-histórica entre o
agudo fetichismo da mercadoria disseminado nas condições de alto
grau de desenvolvimento das possibilidades civilizatório humano-
genéricas.
Parábola = narrativa alegórica
que transmite uma mensagem indireta,
por meio de comparação ou analogia.”
Analogia = relação ou semelhança
entre coisas ou fatos.
Metáfora = designação de um objeto
ou qualidade mediante uma palavra
que designa outro objeto ou qualidade
que tem com o primeiro uma relação
de semelhança.
Giovanni Alves - UNESP 20
José e Ana
José Suarez, ex-metalúrgico naval do
Estaleiro Aurora, é casado com Ana,
operária da indústria de conservas de
atum, com estatuto salarial precário,
que trabalha no turno da noite, em
condições degradantes. Ana reclama do
baixo salário, da empresa e da chefia
asquerosas. Ela sofre com dores nas
pernas, pois é obrigada a ficar quase
oito horas em pé na linha de produção.
As vezes, ao chegar em casa, não sente
mais as pernas. Ana é uma proletária
que vive em processo de desefetivação
fisico-corporal. É através de José que
conhecemos Ana.
Giovanni Alves - UNESP 21
José e a sereia
Em sua primeira cena no filme, Ana aparece
tirando o odor de peixe do corpo. É uma situação
degradante para uma mulher. Em certo
momento, logo ao chegar do trabalho, José
abraça a esposa, com carinho. Ana diz: “Me
largue. Estou com cheiro de peixe”. José retruca:
“Não está com cheiro de peixe. Está com cheiro de
sereia”. É mais um elemento metafórico do filme:
sereias não têm pernas. Talvez seja esta sua
rotina cotidiana, ao chegar em casa, no alvorecer,
após a jornada de trabalho noturno.
Giovanni Alves - UNESP 22
Trabalho e afetividade
José é um homem deslocado do mercado de trabalho e do mercado de afetos. José exclama: “O
que sou? Para que droga eu sirvo?” Ele parece estar inseguro a respeito dos sentimentos da
mulher. O desemprego contribui para a perda de auto-estima e contribui para a insegurança
afetivo-sexual. Ana trabalha e ele, não; o que tende a romper com o padrão familiar tradicional. A
crise de emprego atinge os laços sociais e afetivos de homens e mulheres. Ao dar um par de sapatos
de luxo de presente, “expropriados” de uma mansão de classe média, José busca reconquistar o
carinho e a atenção da mulher.
Giovanni Alves - UNESP 23
O sonho de José
Em “Segunda-Feira ao Sol”, José é uma pessoa inerte: apenas divaga, ao lado de Santa e dos companheiros de bar. “A vida é sonho”, diria Calderón de La Barca. Por exemplo, logo na
abertura do filme, José preenche um bilhete de loteria. Talvez sua utopia pessoal seja ganhar na loteria. José não se ilude mais com os anúncios de emprego ou a ideologia da empregabilidade.
Enfim, ele apenas sonha com a sorte, afinal, vive-se no mundo da aguda contingência.
Giovanni Alves - UNESP 24
A sociedade da simulação e do engodo
É perceptível em José certa indignação contra a
ordem das coisas e seus constrangimentos sistêmicos.
É o que poderia explicar sua rebeldia inusitada
diante do gerente do banco, quando, certa manhã,
ao lado de Ana, foi tentar contrair um empréstimo
de US$ 8.000 (talvez buscando, sob pressão da
mulher, montar um pequeno negócio). José se
indigna não apenas contra a documentação exigida,
que expõe seu deslocamento no papel de macho
provedor (Ana é a pessoa na ativa), mas ele se rebela
contra a sociedade da simulação e do engodo: o
banco simula que analisa as solicitações de
empréstimos, não deixando de ser isto mais um
engodo (e preconceito) contra homens e mulheres
sem capacidade aquisitiva. O anuncia dizia ser fácil
a obtenção de empréstimos. “Sabe como é que são os
anúncios...”, diz o gerente do banco.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 25
A sociedade da simulação e do engodo
Tal como a sociedade do trabalho abstrato, que simula
oferecer empregos (e nos ilude com a ideologia da
empregabilidade), quando, ao mesmo tempo, elimina postos
de trabalho à exaustão, através, da reestruturação produtiva,
José exclama, depois para Ana: “Acha que somos retardados
porque não temos dinheiro...”. E Ana pondera com realismo:
“Em que mundo vives? É assim que funciona...”. Subjacente à
critica indignada contra os procedimentos sistêmicos da
ordem burguesa, que discrimina homens sem capacidade
aquisitiva, está o ressentimento moral de José diante da perda
de sua identidade social (e afetiva).
Giovanni Alves - UNESP 26
O engodo burocrático
Na agência de empregos, Lino observa o
drama de um desempregado com
dificuldades para obter o seguro-
desemprego. Ele está imerso na malha
burocrática estatal, tão impessoal e
insensível quanto a lógica do capital e do
trabalho abstrato.
Giovanni Alves - UNESP 27
O engodo da concertação social
Ao lado da expressão de espanto
de Lino, observando o drama
trágico do desempregado diante
do Estado burocrático, cartazes
da agencia de emprego destacam
a lógica da concertação social que
expõe o acerto entre capital e
trabalho. Esta candente imagem
do filme “Segunda-Feira ao Sol”
expõe o contraste entre o mundo
do capital e do trabalho abstrato
e a ideologia da “colaboração de
classe”. É o contraste reiterativo
entre o discurso da ideologia e as
aflições do mundo real.
Giovanni Alves - UNESP 28
Homens desefetivados
O conflito entre José e Ana expõe sua crise
de identidade pessoal e seu
desacomodamento diante do novo papel da
mulher. Ë uma diferença social de gênero
que oculta uma relação de poder. Ao dizer
para Ana, “se é tão esperta não sei porque
fica enchendo latas com atum”, José busca
atingir a auto-estima da mulher. Na
verdade, o problema não é de gênero, mas
de classe social.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 29
“Caia na real!”
O diálogo de José e Ana sugere um contraste de
atitudes pessoais diante do mundo do capital. José
é um homem deslocado da lógica sistêmica. Está
imerso numa crise de auto-estima e ressentido com
sua condição de pária social. É um homem
desefetivado, que perdeu o sentido de realidade.
Não admite ser julgado e se indigna com as
simulações do mundo sistêmico. Ana parece
apenas se adaptar ao mundo existente. Ela adota
uma atitude pragmática.
Giovanni Alves - UNESP 30
“Caia na real!”
Pouco antes, num diálogo entre Santa e Nata, filha de Rico,
a jovem de 15 anos tenha dito para o ex-metalúrgico
desempregado (após cobrar uma comissão por um “bico”
que conseguira para Santa): “O mundo é assim, Santa. Caia
na real!”. Ora, simulação e interesse são elementos
estruturais da sociabilidade estranhada que permeia as
relações de negócios e as relações afetivas no mundo
burguês. Podemos nos interrogar: existiria uma questão de
gênero no contraste de atitudes pessoais que salientamos
acima? Em “Segunda-Feira ao Sol”as mulheres parecem
ser mais pragmáticas diante do mundo ilusório do capital.
Estão sempre alertando os homens “É assim que
funciona..” Ou então: “Caia na real..”. Enquanto Santa e
José são homens desefetivados pelo trabalho estranhado.
Giovanni Alves - UNESP 31
Trabalho socializado e Apropriação privada
É interessante que os personagens desefetivados de
“Segunda-Feira ao Sol” estão imersos no sócio-
metabolismo do capital, com suas candentes
contradições sociais, exprimindo através de seus atos
cotidianos, atitudes sistêmicas marcadas pelo
individualismo possessivo. Uma situação curiosa é a
cena em que Nata “subcontrata” Santa para servir de
baby-sitter. Por outro lado, Santa incorpora seus
amigos desempregados em sua atividade de serviço e
não quer “socializar” o produto do trabalho. O que a
cena sugere é que o mundo do capital é, objetivamente,
um mundo da contradição viva entre a intensa
socialização da produção da vida e a apropriação
privada do produto do trabalho social. Os
personagens de “Segunda-Feira ao Sol” não têm
consciência desta aguda contradição sistêmica.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 32
As divagações de Santa
Santa, como José, também divaga e sonha. Ele é a figuração típica de um proletário industrial, ex-soldador
metalúrgico, que trabalhou no Estaleiro Aurora por quatro anos e conseguiu ser líder operário. Santa não apenas divaga, mas blefa e goza. Por exemplo, para cortejar
Ângela, a moça vendedora de queijo suíço no supermercado, diz ser especialista em queijo. Inclusive,
blefa dizendo saber falar suíço. Diz saber pilotar um barco, apesar de só ter ocupado o posto de cozinheiro num barco.
Giovanni Alves - UNESP 33
As palavras e as coisas
Santa brinca com os significados das palavras, dizendo conhecer sua etimologia. É o que faz, por
exemplo, com a palavra “critério” e “antípodas”. Mas ele apenas blefa, ao dizer que “critério” vem do latim “criterium” e significa...”critério”. (com “antípodas”, diz significar “anti-podas”, “o contrário”). Ora, Santa elabora sua própria simulação (para ele, a linguagem é o meio). Ao blefar, ele simula. Mas, parafraseando
Marx (ao tratar do economista burguês David Ricardo), diríamos que a simulação está nas coisas e não nas palavras que exprimem as coisas. Talvez seja
a forma de resistência íntima de Santa à lógica da simulação estrutural do mundo social do capital.
Santa é quase um Dom Quixote de la Mancha, um Quixote do capitalismo global, embora consiga
discernir com clareza, diferentemente do personagem de Cervantes, o que é real e o que é imaginário. Ele
possui sonhos e cria fantasias para si e para os outros. Talvez não acredite nelas, mas elas expressam a sábia
ironia de uma desilusão.
Giovanni Alves - UNESP 34
A subversão do valor de troca
Santa transgride, sempre que pode, o valor de troca(Santa é quase um Carlitos pós-moderno). Talvez seja expressão de sua condição irremediável de
homem despossuido de capacidade aquisitiva. Por exemplo, logo no inicio do filme, entra no ferryboatsem apresentar o bilhete. Bebe sem pagar no Bar
Naval, utilizando-se inclusive do caça-níquel e come batatinhas fritas no supermercado. Como
salientamos, Santa, para sobreviver, simula e engoda: engana a dona da pensão, dizendo que a
amante que freqüenta seu quarto, é sua irmã. Entretanto, é importante salientar que sua
simulação e engodo não significam exploração do próximo. Pelo contrário, o que Santa busca é
socializar territórios (inclusive, no final do filme, “seqüestram” o ferryboat Lady Espanha) e
compartilhar interesses comuns.
Giovanni Alves - UNESP 35
A função heuristica de Santa
O personagem de Javier Barden nos cativa com sua humanidade obliterada. Santa possui uma função
heurística em “Segunda-Feira Ao Sol” (como o Carlitos de Charles Chaplin): ele desvela, sem o saber, através de sua tragédia pessoal e sua forma de ser, as agudas
contradições sociais da civilização burguesa. Por exemplo, ao ser obrigado a pagar, a título de
indenização, uma luminária destruída, Santa e sua tragédia expõe, de certo modo, a justiça burguesa como a justiça abstrata; ou ainda, ao expor, com ácida ironia e
humor corrosivo, a sociedade burguesa como a sociedade da simulação e do engodo (por exemplo,
numa cena, no Bar Naval, após chegar de uma entrevista, Lino diz que “talvez liguem” para ele, confirmando a contratação. Santa exclama: “...
brindemos a ‘talvez liguem’”).
Heuristica: arte de inventar, de fazer descobertas;
ciência que têm por objeto a descoberta dos fatos
Giovanni Alves - UNESP 36
Fantasia e humor corrosivo
Santa cria fantasias. Por exemplo, constrói para Lino uma Austrália imaginária; para Lazarito, o vigia, inventa
a estória de que o Estaleiro Aurora foi socializado; e contesta a burocracia estatal com humor corrosivo (num
certo momento, na agência estatal de emprego, ele nos diz: “Já que não nos dão trabalho, podiam nos dar uma chupada”). Aliás, “Segunda-Feira ao Sol” sugere uma
incisiva critica da ordem burocrática do Estado-Providência. Por exemplo, é candente a cena em que um trabalhador desempregado, quase em lágrimas, não tem
acesso ao beneficio porque ainda não possui a documentação necessária.
Giovanni Alves - UNESP 37
A tragédia jurídica de Santa
Um drama trágico (e quase cômico) persegue Santa em “Segunda-Feira ao Sol”. Ele é obrigado, por
ordem judicial, a ressarcir uma luminária destruída num ato de protesto contra o fechamento do
Estaleiro Aurora. O valor da indenização é de US$ 40.00. O valor irrisório significa que a pena possui tão-somente caráter disciplinar. Ele é obrigado a pagar apenas para cumprir pena por ter atentado
contra a propriedade privada. A tibieza do advogado de Santa, incapaz de contra-argumentar e defender o cliente, e a lógica obtusa do juiz, expõe,
em poucos minutos, a engrenagem da justiça burguesa. Estamos diante de uma situação absurda,
quase non-sense, que oculta uma lógica férrea (e abstrata) de dominação e de manipulação (a lógica
abstrata da justiça burguesa é flagrante, por exemplo, quando o juiz se recusa a considerar o contexto concreto em que ocorreu o incidente, ou
seja, Santa quebrou a luminária durante uma manifestação grevista).
Giovanni Alves - UNESP 38
A ilusão da justiça burguesa
“Segunda-Feira ao Sol” desvela a ilusão da justiça burguesa. Após pagar a indenização em juízo, Santa
volta a quebrar outra luminária “Urban Light”, localizada nas imediações da empresa. Na verdade, é um desagravo íntimo contra as engrenagens férreas do sistema do capital e a lógica abstrata da justiça burguesa. O que vale é o ato moral. É claro que o
gesto solitário de Santa não possui, em si, dimensão política. É quase um gesto pré-político, um ato de
vandalismo, solitário e anônimo. Mas possui para ele, um significado concreto, de valor íntimo profundo. É
quase um ato de vingança íntima e modo de afirmação moral da sua individualidade pessoal que
resiste à lógica sistêmica do capital.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 39
Luta de classe e derrota operária
Como sujeito pessoal que resiste, Santa condensa em si, a experiência concreta da luta de classes e da derrota
política e sindical dos metalúrgicos do Estaleiro Aurora. Não nos esqueçamos que, logo na abertura do
filme, Fernando Aranoa, diretor do filme, nos apresenta, numa cena quase-documental, ao som do
acordeão lírico de Lucio Godoy, elementos da resistência de classe dos metalúrgicos navais contra o fechamento do Estaleiro Aurora. Primeiro, a cena da
passeata de operários e o levantamento da barricada e, logo depois, sua dissolução pela repressão policial, que utiliza gás lacrimogêneo. Uma névoa branca ocupa a
tela, sugerindo uma névoa de terror que nos transporta para outra temporalidade histórica: o
espaço-tempo da globalização neoliberal. A cena de abertura de Los Lunes Ao Sol é a cena de conclusão
trágica de uma forma histórica de luta de classe.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 40
O Partido do Proletariado
No detalhe, cartazes do Partido
Comunista Espanhol. Talvez o Estaleiro
Aurora tivesse uma base operária
comunista organizada, dando a direção
política que conduziu a luta contra o
fechamento do estaleiro naval.
Giovanni Alves - UNESP 41
Marcas urbanas
As marcas do tempo passado, da luta de classe e da luta sindical (e política) dos operários
metalúrgicos, estão presentes no decorrer do filme, não apenas por meio da presença (e do drama trágico) dos ex-operários metalúrgicos
(Santa, José, Lino e Amador), mas das pichaçõesnos muros (as inscrições Naval em Lucha, por
exemplo), que se contrasta com o abandono (e a demolição) do estaleiro desativado. O espaço
urbano preserva marcas visíveis de um passado vivo, que ainda se desenrola, diante de nós,
através do tempo presente trágico dos metalúrgicos desempregados.
Giovanni Alves - UNESP 42
Sociedade Midiática
A sociedade burguesa é uma sociedade midiática.A imagem na tela possui um poder de
reflexividade que nos fascina. Aparecer na TV é símbolo de sucesso e poder, poder de ilusionismo social, de manipulação e simulação. Numa das cenas no Bar Naval, diante de um Programa de Televisão, o desempregado José observa: “Deve
ser demais aparecer na TV. Imaginem o que é apresentar um Programa. Vai lá, fala umas
bobagens e vive como um rei. Sabem quanto ele ganha para isso?”. A seguir, Lino diz: “Eu já apareci na televisão. Fiz um comercial quando
era menino. Eu era uma criança bonita.”
Giovanni Alves - UNESP 43
Sociedade Midiática
O personagem Lino parece enredado na trama do tempo. Como desempregado, tem dificuldade de conseguir emprego devido a idade. De repente,
rememora o comercial de refrigerante que fizera quando criança. O refrigerante, segundo Lino,
chamava-se “Borbulhas”. Ninguém no Bar Naval conseguiu lembrar-se da marca deste refrigerante.
Lino observou: “Não durou muito. Faliram”. Ora, o sucesso midiático parece ser tão fugaz quanto
qualquer “borbujas”. Em seguida, Santa, sempre irônico, observa: “Também já apareci na TV. Quando
fecharam o estaleiro.”
Giovanni Alves - UNESP 44
Sociedade Midiática
Mais tarde, noutra cena, Santa brinca, na madrugada, com seus parceiros de
bar, simulando, diante de uma vitrine de loja com aparelhos de TV em exposição,
um programa de auditório: “É um concurso de cretinos espanhóis”. Mais
uma vez, através de sua ironia corrosiva e humor caustico, expõe a função da mídia manipuladora na sociedade do capital: a cretinização das massas. O
Escola de Frankfurt (Adorno e Horkeimer) salientaram a técnica
midiática como ideologia e instrumento de imbecilização das massas.
Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 45
Sociedade do Estranhamento
Noutra cena magistral de “Segunda-Feira ao Sol”, ao assistirem o futebol,
com a visão pela metade, Aranoa sugere a desefetivação parcial do
trabalhador desempregado, que só tem acesso à metade da realidade.
Apesar disso, eles simulam assistir a cena completa, da jogada e do gol. Exclamam: “Que golaço!”, mesmo
não tendo acompanhado sua conclusão derradeira.
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O Mito de Yashin
Nesta cena, Serguei, imigrante soviético desempregado, imerso em reminiscências do passado glorioso da ex-URSS, nos fala
do goleiro Yashin, o “Aranha Negra”. Diz ele: “O melhor goleiro do mundo. Sempre vestido de preto. Todos tinham medo
dele. Quando os jogadores adversários faziam gol pediam desculpas a ele. Até a bola tinha medo de Yashin. Ele desviava a bola com o olhar.” O mito de Yashin é um mito de um passado glorioso onde o homem, e não a máquina abstrata do mercado
se impunha pela presença. Na verdade, os ex-operários metalúrgicos perderam não apenas a perspectiva de emprego, mas a dimensão política de utopia social, contida na promessa
frustrada do socialismo real.
Lev Yashin (Лев Яшин) (22 de outubro de 1929, Moscou, atual Rússia - 20 de março de 1990, Moscou, Rússia) foi goleiro soviético, considerado por
muitos como o melhor que já existiu na história do futebol. Conhecido também pelo apelido de Aranha Negra (na América do Sul) ou Pantera Negra
(na Europa), devido ao seu uniforme todo preto. Yashin defendeu o Dínamo de Moscou por toda a sua carreira de 22 anos, onde ingressou em 1949.
Conquistou cinco campeonatos soviéticos (1954, 1955, 1957, 1959 e 1963) e três copas da URSS (1953, 1967 e 1970).Pela seleção soviética jogou as
Copas de 1958, 1962 e 1966. Na última, ajudou a levar sua equipe à quarta colocação. Conquistou também a medalha olímpica em Melbourne (1956) e
a Eurocopa em 1960. Segundo a lenda Yashin defendeu 150 pênaltis em sua carreira. Ele se aposentou com 42 anos, em 1971, passando a treinar
equipes juvenis e trabalhar como professor de educação física, além de ter sido técnico do Dínamo e da seleção. Em 1986 perdeu uma perna por causa
de uma lesão no joelho. Morreu quatro anos depois por causa de um câncer de estômago.Em uma eleição realizada em 1998 pela Fifa, o goleiro
soviético foi escolhido o goleiro do século 20.
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A Fábula da “Cigarra e da Formiga”
Algumas parábolas e fábulas se destacam no filme “Segunda-Feira ao Sol”, tais como a fábula “A Cigarra e a Formiga”, lida por Santa ao acalentar uma criança. Nesta
cena, Santa recusa a ideologia das fábulas infantis (e da ideologia em geral), que tende a inverter a situação de
classe e ocultar os mecanismos da exploração e acumulação do capital. Diz o livro de estórias: “Era uma vez um lugar onde viviam uma cigarra e uma formiga. A formiga era
trabalhadora e a cigarra, não. Só queria cantar e dormir, enquanto a formiga trabalhava. O tempo passou. A
formiga trabalhou o verão inteiro, armazenou tudo que pôde e quando chegou o inverno, a cigarra ficou morrendo
de fome e frio, enquanto que a formiga tinha de tudo.” Nesse momento, Santa retruca: “Que formiga filha da
mãe!” e prossegue a leitura: “A cigarra bateu na porta da formiga, que lhe disse: ‘cigarrinha, cigarrinha! Se tivesse trabalhado como eu não estaria com fome e com frio’. E não abriu a porta para ela.” Finalmente, Santa exclama: “Quem escreveu isso? Não é bem assim! A formiga é uma
filha da mãe especuladora! Aqui não diz porque uns nascem cigarras e outros formigas. E quem nasce cigarra, está
ferrado. Isso eles não falam aqui.”
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A Fábula da “Cigarra e da Formiga”
A fábula “A Cigarra e a Formiga”, elabora um elo ideológico entre trabalho e riqueza, ocultando as mediações
sócio-metabólicas de segunda ordem, isto é, as relações sociais de produção baseadas na propriedade privada e na divisão hierárquica do trabalho que impedem que a classe
trabalhadora possa “armazenar tudo que pôde”. Na verdade, sob o capitalismo, a riqueza não é apropriada
pelo trabalho, mas sim pelo capital. É por isso que Santa exclama: “Não é bem assim!”. A sociedade burguesa não é a sociedade do trabalho, mas sim a sociedade do dinheiro,
do trabalho abstrato como fonte de valor. A força de trabalho é explorada e os que estão subsumidos à classe
proletária, como diz Santa, “estão ferrados”. A ideologia oculta, portanto, a estrutura de classes sociais e os
mecanismos da exploração capitalista. “Isso eles não falam aqui”, diz ele.
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Deus e Nós
Certa vez, no Bar Naval, Amador, embriagado,
dissera: “A questão não é se nós acreditamos em Deus.
A questão é se Deus acredita em nós. Porque se Deus
não acredita em nós, estamos ferrados.” É o problema
da práxis social, da ação coletiva capaz de fazer
historia e mudar o mundo. Deus é a projeção alienada
da capacidade humana, como nos dissera Ludwig
Feuerbach. É a essência humana estranhada. Ao
divagar sobre Deus, Amador reflete, de certo modo,
sobre o homem e a ação coletiva.
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A parábola dos Irmãos Siameses
A parábola dos “Irmãos Siameses”, contada pelo
desempregado Amador, sugere uma reflexão sobre o
fracasso histórico das experiências de luta operária no
século XX. Na madrugada, quase em delírio etílico,
Amador, levado por Santa, sentado no chão em frente do
seu prédio de apartamentos, busca elementos para
explicar sua tragédia pessoal (e de classe). Amador não
consegue se expressar de modo direto. “Era difícil
entende-lo”, como observou, certa vez, Santa. Amador
utilizava parábolas para traduzir sua “filosofia da
historia”. Disse ele: “Como os siameses. Não sabe quem
são? Siameses de Sião. Com duas cabeças. Se abraçam para
nascer porque têm medo de nascer. Mas depois não
conseguem se soltar, separar-se. E um deles ganha.
Empurra o outro, que cai. E ri. Só que ele também está
caído, entende? Porque estão grudados. Os dois caem,
entende? Claro, é como se ele dissesse: ‘Vá se ferrar!’”.
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A parábola dos Irmãos Siameses
Os “irmãos siameses” são a metáfora da classe dos trabalhadores assalariados, a classe dos produtores,
cujo poder social provém de sua solidariedade e união de classe. É um principio ontológico destacado
nos escritos políticos de Karl Marx e Friedrich Engels sobre o sindicalismo. Aliás, sob o modo de
produção capitalista, a organização de classe, a união e solidariedade de classe, expressa através de
movimentos sindicais e políticos, é condição do próprio desenvolvimento da individualidade
proletária, que entregue, por si só, à contingência do mercado, tende a degradar-se física e moralmente.
Giovanni Alves - UNESP 52
A parábola dos Irmãos Siameses
É o que observou Karl Marx numa mensagem da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), a I
Internacional, em 1867: “Frente à força do capital, a força humana individual desapareceu e o operário nada
mais é do que uma engrenagem da máquina nas fábricas. Para reconquistar sua individualidade, os operários
devem se unir e constituir sindicatos para defender seu salário e sua vida”. Antes, numa Resolução da I
Internacional, Marx salientara, mais uma vez, o valor fundamental (e fundante) da união e solidariedade de
classe: “A única potência social que os operários possuem é seu número. Mas a quantidade é anulada pela
desunião. Esta desunião dos operários se engendra e perpetua por uma concorrência inevitável.” Mais tarde, Santa irá expressar a sabedoria de Amador: “Como os gêmeos siameses que são grudados. Nós somos iguais. Estamos grudados. Se um cai. Todos caem. E se um se ferra...pronto...todo mundo se ferra. Pois somos iguais.
Como os siameses.”
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Tempo de homens partidos
O filme “Segunda-feira ao Sol” é um relato de homens partidos onde podemos apreender, de modo sinuoso e elíptico, o significado sombrio dos novos tempos da
globalização neoliberal. Num certo momento, no Bar Naval, numa discussão entre Santa e Reina, ex-
metalúrgico do Estaleiro Aurora, que se encontra empregado como vigilante (ou seja, tornou-se “técnico de segurança”) e que incorporou a ideologia da globalização neoliberal, conseguimos conhecer a trama complexa de
luta de classe que conduziu a derrota dos operários navais. É irônico como, diante da precarização candente da força de trabalho, surgem novos (e pomposos) nomes para ocupações precárias. Por exemplo, “vigia” torna-se
“técnico de segurança”.
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A Ideologia da Globalização
O diálogo entre Reina e Santa no Bar Naval
esclarece, com vigor, o significado da abertura do
filme e contém interessantes elementos de
ideologia, no discurso de Reina, e de
desvelamento da causalidade imediata e do
significado da derrota de classe dos metalúrgicos
do Estaleiro Aurora, no discurso de Santa.
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Demissão Voluntária e Ideologia do trabalho
Santa faz uma réplica a Reina, desmontando a lógica
abstrata (e ideológica) da argumentação dele. Sugere
uma critica aos Programas de Demissão Voluntária que
joga os trabalhadores no mundo da contingência e do
acaso, iludindo-os com um montante dinheiro como
gratificação. Por isso, José está imerso num mundo de
sorte e azar. É o mundo da individualidade de classe. Por
outro lado, Reina está imerso no mundo da ideologia
neoliberal que culpabiliza os indivíduos pela sua
desgraça. Para Reina, “quem trabalha tem sempre
sorte”. Reina é o ex-operário que incorporou a ideologia
da empregabilidade e o culto ao trabalho estranhado.
“Trabalho é liberdade” (Arbeit ist Freiheit). Mas Santa
desvela o verdadeiro problema do mundo do capital: a
resistência do trabalho e a luta de classes que conseguiu
expor a situação.
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Memória social e luta de classe
Ao dizer “Conseguimos expor a situação”, Santa explicita a função
social (e o valor) da luta de classes. De imediato, Reina contesta:
“Mas todos já se esqueceram”. Coloca-se, neste momento, o
problema da memória social que tende a ser dilapidada pela
dinâmica sócio-metabólica do capital. A luta de classe “expõe a
situação”, mas a sociedade do capital possui uma dinâmica social que
repõe a situação de ocultação dos antagonismos de classe social que
compõe o mundo burguês. A busca de preservar a memória social da
luta de classe é um elemento fundamental. Eric Hobsbawn observou:
“A destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que
vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas, é um
dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX.
Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente
contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da
época em que vivem.”
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A luta contra o esquecimento
Na verdade, o breve século XX extendeu a
temporalidade reiterativa do capital. A
destruição do passado de luta de classe busca
ocultar que, houve uma vez, uma unidade de
classe em luta contra a exploração do capital.
Mais do que nunca, a luta contra o capital é uma
luta contra o esquecimento. Reina diz: “Mas
todos já se esqueceram”. Adorno e Horhkeimer
observou na “Dialética do Esclarecimento” que
“não se trata de conservar o passado, mas de
recuperar as esperanças pretéritas.”
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A cisão de classe
Ora, “Segunda-Feira ao Sol” é uma reflexão sobre a derrota histórica de classe, elemento causal significativo
para explicar o sentimento de angústia e deriva do desempregados de longa duração. O que o filme nos transmite é que houve uma cisão de classe, ou seja, o
capital conseguiu dividir a categoria metalúrgica, contribuindo para sua derrota sindical. Como observara Marx, “a quantidade é anulada pela
desunião. Esta desunião dos operários se engendra e perpetua por uma concorrência inevitável.” A
concorrência leva as individualidades de classe a ficarem imersos na contingência.
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Laços geracionais e solidariedade de classe
Reina e Rico assinaram a rescissão contratual,
compartilhando a idéia de que não havia
alternativas. Sucumbiram à lógica do
capitalismo flexível, isto é, do capitalismo de
curto prazo. Santa desvela a conseqüência das
escolhas pessoais de Rico e Reina. Diz ele:
“Vocês assinaram a demissão dos seus filhos.
Eram os empregos deles que estavam em jogo e
nós os perdemos.” Na verdade, Santa busca,
com seu discurso de classe, expor o que o capital
tende a fraturar, isto é, os vínculos não apenas
entre tempo presente e tempo passado, mas
entre tempo presente e tempo futuro.
Giovanni Alves - UNESP 60
A “selva” do mercado
Reina diz: “Hoje eu venho aqui, mas amanhã posso ir
lá”. O que determina é o mercado e a lógica da
concorrência. Nesse caso, não há, nem poderia haver
mais, entre eles, solidariedade de classe, ou seja, lealdade
e compromisso, qualidade morais que são de longo
prazo por natureza. Na lógica do capitalismo neoliberal,
as qualidades morais, as relações sociais duráveis que
caracterizavam a solidariedade de classe e ligavam os
homens no local de trabalho, tendem a perder sentido.
Por isso, se o bar Naval não conseguir oferecer melhores
preços, perderá clientes. Como observou Reina, “eu
venho aqui mas se o bar da frente for mais barato, passo
a ir lá” . Enfim, não há – nem pode haver – lealdade e
compromisso mútuo na “selva” do mercado. É
interessante que, nesse momento, Santa retruca, com
vigor, discordando peremptoriamente de Reina. Não
quer se resignar à deriva do desemprego e sua corrosão
do caráter.
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Giovanni Alves - UNESP 61
A ilusão do propositivismo
Santa desmitifica a idéia de competividade e expõe a
irracionalidade do mercado cuja única finalidade é o lucro.
Observa que os operários fizeram concessões e adotaram
atitudes propositivas para garantir o emprego. Mas nada
adiantou contra a voracidade do capital global e o interesse
do lucro especulativo. Diz ele: “O estaleiro é competitivo!
Trabalhamos rápidos. Nos oferecemos para fazer hora extra
sem cobrar. Que mais podíamos fazer? Só que o estaleiro está
onde está. O terreno vale uma fortuna. E por quê? Porque
fica à beira-mar. Não viram as escavadeiras? Vão construir
hotéis e apartamentos de luxo e depois vender aos cretinos
dos coreanos que gozam da nossa cara.”
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Perspectiva ético-moral e solidariedade de classe
Santa, ex-operário metalúrgico qualificado, ao contrário
de Reina, adota uma perspectiva de solidariedade de
classe, traduzida num gesto de lealdade e compromisso
mútuo contra a lógica mercantil. Diz ele: “Não vou ao
bar da frente, nem que sirvam bebida de graça! Há três
anos venho aqui e continuarei vindo! Mesmo que Rico
tenha assinado a rescisão.” Enfim, Santa demonstra
possuir uma alma imensa: não culpa seus ex-
companheiros metalúrgicos, mesmo que a ação
contingente deles tenha significado a fragmentação do
coletivo de classe e inclusive a degradação do trabalho de
seus filhos. Há uma profunda perspectiva ético-moral na
ação de Santa.
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A centralidade do trabalho
No discurso de Santa explicita-se um compromisso
ético-moral de solidariedade de classe baseado na
centralidade do trabalho. Ele não pode aceitar que o
estaleiro seja fechado porque representa o trabalho
operário e como ele diz, “com o nosso trabalho não
se brinca”. É uma atitude moral que é base da luta
de classes e da resistência contra a voracidade do
capital que busca em seu movimento, negar o
trabalho vivo em prol do trabalho morto.
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A Lógica da Globalização e Crise do sindicalismo
Diante da lógica do capital global especulativo, o que podem fazer
os sindicatos? Nesse momento, Santa expõe um dos principais
elementos de crise do sindicalismo com a mundialização do capital
e a predominância do capital financeiro. Num primeiro momento
Santa diz que o estaleiro não podia fechar porque era “nosso
trabalho”. Entretanto, a seguir, ele observa que o estaleiro “está
onde está”, isto é, num terreno que é mercadoria. A deslocalização
da atividade industrial para regiões de baixos salários e o
crescimento de atividades de serviços que exploram recursos da
natureza através da indústria do turismo teve um crescimento
significativo na época da globalização
Giovanni Alves - UNESP 65
A natureza do capital
Santa está intrigado, de certo modo, com a lógica
irracional do capital. Ele não consegue entende-la a
partir de sua ótica humanista. Aliás, na perspectiva do
homem é impossível entender a lógica do capital, que é
intrinsecamente irracional e anti-humanista. Diz Santa:
“Posso trabalhar num bar, mas se demitirem todo
mundo, quem vai beber? É isso que mais me intriga.”
Enfim, é a suprema contradição do capital que produz,
a partir de seu desenvolvimento sistêmico, crises de
superprodução. A crise do capital possui, cada vez mais,
um lastro de superprodução que se interverte em
buscas desvairadas de formas de desvalorização de
capital e de força de trabalho, buscando a partir deste
movimento contraditório, repor sua taxa de exploração.
Giovanni Alves - UNESP 66
A Ideologia Propositivista
Na época da crise estrutural do capital
cresce o poder da ideologia que busca
obliterar a perspectiva para além do capital,
incentivando, por um lado, atitudes de
concertação social, que ocultam o caráter
estrutural da luta de classes e do
antagonismo capital e trabalho; e por outro
lado, atitudes pró-ativas e propositivistas que
sugerem existir alternativa sustentável para
a crise estrutural do capital no interior da
ordem burguesa. Por isso, Reina contesta o
espírito critico de Santa exclamando: “Ele
só sabe criticar”. A personalidade de Reina
é antípoda à personalidade de Santa.
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Amador e a desefetivação proletária
Amador é um personagem interessante. Ele é a
própria expressão da desefetivação proletária.
A desefetivação proletária que se expressa, por
exemplo, através de parábolas. O processo de
desefetivação se expressa na capacidade
cognitivo-linguistica (Entwirklichung significa
“privar de realidade e/ou de efetividade”).
Amador expõe a situação-limite dos
companheiros desempregados do Bar Naval.
Amador é a síntese do Nada, da completa perda
de sentido de realidade; por isso ele divaga de
modo elíptico e parabólico, sobre a essência da
forma de ser do mundo burguês. Apesar disso,
busca manter a dignidade humana. Ele diz:
“Não caí. Eu me joguei”
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Diz Marx, que sob o modo de produção
capitalista, “a realização efetiva do trabalho
aparece como desefetivação [Entwirklichung]
do trabalhador, a objetivação como perda e
servidão do objeto, a apropriação como
estranhamento [Entfremdung],
como exteriorização [Entäusserung].”
Giovanni Alves - UNESP 68
Amador e a desefetivação proletária
Santa e Amador são a expressão em si da suprema
desefetivação proletária na ordem burguesa. São
homens sem capacidade aquisitiva, imersos no
mundo das mercadorias, que exige ingresso (ou
dinheiro) para o acesso aos bens vitais. O homem
desempregado não possui lar. É preciso ingresso
para entrar no próprio lar. É um homem
desacomodado no mundo do capital, que o obriga a
permanecer preso no território, incapaz de deslocar-
se, pois falta-lhe capacidade aquisitiva.Clique para Assistir
Giovanni Alves - UNESP 69
Amador e a desefetivação proletária
Amador é o personagem que expõe a aguda
desefetivação proletária. Ao deixa-lo em casa, após
uma noite no bar Naval, Santa vislumbra a tragédia
de Amador expressa no abandono de seu próprio lar.
Sem o fornecimento da água e sem mulher, que o
abandonou após ele ter sido desempregado, Amador
vive em condições precárias. É um homem solitário
que perdeu a gana de viver. As condições de seu lar
expressam sua subjetividade desefetivada,
desumanizada, inclusive no sentido da perda das
relações afetivos-humanas. A tragédia de Amador é o
espectro da desefetivação que ronda Santa, pois ele
está ameaçado de ir para a prisão. Reina observa:
“Na cadeia não tem mulher. Quem vai levar comida?”
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Giovanni Alves - UNESP 70
Amador e a desefetivação proletária
O suicídio enigmático de Amador (suicídio ou
queda repentina?) traduz o ponto final de uma vida
sem sentido; vale dizer, sem sentido, mas, como
salientamos, com plena consciência dos impasses da
condição pós-moderna (mesmo que a consciência
critica de Amador assumisse a forma parabólica).
Amador talvez tenha sido como Santa, um grande
agitador sindical no local de trabalho. No decorrer
do filme, ele oculta de seus companheiros que foi
abandonado pela mulher. Sentado num cantinho no
balcão do bar Naval, é um tipo calado e solitário.
Enfim, não possui mais gana de viver.
Giovanni Alves - UNESP 71
Desefetivação proletária e tempo de vida
Amador tem um tique neurótico-obsessivo. Ele sempre
implica com a luminária do banheiro do bar, que
possui um temporizador. A luz não se apaga ao sair,
mas depois de certo tempo. Ora, Amador não entende
a lógica do temporizador. Supõe que ela gasta mais
energia elétrica. Eis mais uma metáfora do diretor
Fernando Aranoa: o que é o homem desempregado?
Por que ele não se “apaga” mesmo após ser
“desligado” de sua fonte de vida, o trabalho? Talvez
Amador tenha decidido apagar sua própria luz. É
interessante que, no velório de Amador, o último a sair
foi Santa que esquece (e volta logo a seguir) para
apagar a luz. Outro fato curioso: os companheiros de
amador perdem sua urna funerária. Perdido na vida.
Perdido na morte.
Giovanni Alves - UNESP 72
Homens sem dinheiro
Na sociedade burguesa, a capacidade aquisitiva
torna-se um elemento fundamental para o
usufruto das riquezas da civilização humana. Na
medida em que o mundo burguês é uma
sociedade do trabalho, a aquisição de renda
monetária, ter dinheiro, depende, em geral, do
acesso ao mercado de trabalho. Os proletários
precários e desempregados são homens com
pouca (ou nenhuma) capacidade aquisitiva que
impede que eles possuam cultivar o bom gosto e
as benesses do processo civilizatório. A
civilização é o processo de redução das barreiras
naturais. Ao não terem acesso às riquezas da
civilização, os proletários desefetivados, estão
imersos no mundo da barbárie social e da
segunda natureza que se impõe a eles.
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Giovanni Alves - UNESP 73
“Que dia é hoje?”
Ao perderem a noção de tempo, os trabalhadores desempregados expressam uma forma de desefetivação. Homens e mulheres desempregados são indivíduos humano-pessoais afetados de negação. No filme, por exemplo, é Santa quem
sempre se interroga: “Que dia é hoje?”. E, aliás, para eles, todo dia é segunda-
feira ao sol.
Giovanni Alves - UNESP 74
O sonho de voar
O filme “Segunda-Feira ao Sol, expõe os impasses de vida dos personagens, proletários desempregados, imersos em
trabalhos precários. Eles não conseguem ir além de si próprios. São homens e mulheres com “pés-de-chumbo”,
demasiadamente territorializados, inclusive em seus afetos, que se contrastam, por exemplo, com a
modernidade do capital, tão fugaz quanto liquida (ou gasosa). Em tempos de globalização e de “modernidade liquida” (na acepção de Zygmut Baumann), só resta aos desempregados, imersos numa territorialização precária,
“volare” (ou seja, voar) como diz a canção dos Gipsy King, cantada no bar-karaokê por Lino, Nata, Santa,
Rico e José. Diz a música: “Y volando, volando feliz/Yo me encuentro mas alto /Mas alto que el sol/Y mientras que el mundo/Se aleja despacio de mi/Una musica dulce. Se ha
tocada solo para mi.”
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Giovanni Alves - UNESP 75
Socialismo Real
Serguei explica o débâcle da União Soviética
através da linguagem de mercado. O socialismo
real “quebrou”como uma empresa. Ao não
conseguir romper com o círculo férreo do
mercado mundial, a União Soviética sucumbiu
à lógica do capital. Para os indivíduos de classe,
como Serguei, está-se diante de um fato
contingente. Como ele diz: “É a vida”.
Giovanni Alves - UNESP 76
Humor e Tragédia
O humor do personagem Serguei, o
desempregado russo de “Segunda-Feira Ao
Sol” nos cativa, primeiro, pela ingenuidade
lancinante, quase expressão da idéia de um
socialismo num só país; e depois pela
tragédia que sugere o desmonte de uma
fantasia: “socialismo real”. Ele ‘o
personagem que conta piadas em “Segunda-
Feira Ao Sol”, preservando o bom humor
diante da tragédia histórica. Apesar do
fracasso da experiência soviética, Serguei
não acredita, como Reina, que o capitalismo
é melhor que o socialismo.
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Giovanni Alves - UNESP 77
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Versão 2.0
Ultima atualização: março de 2007
1ª. Edição: 2006
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