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Aplicação do método de kernel aplicado à análise espacial de focos de queimada na Região Hidrográfica do Paraguai.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
CAMILA CAROLINE BRAUN DA CRUZ
EDER DAMASCENO GOMES
SARA CORTEZ DE MORAES
Método de Kernel aplicado à análise espacial dos focos de queimada da
Região Hidrográfica da Bacia do Paraguai
CUIABÁ/MT
2015
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
CAMILA CAROLINE BRAUN DA CRUZ
EDER DAMASCENO GOMES
SARA CORTEZ DE MORAES
Método de Kernel aplicado à análise espacial dos focos de queimada da
Região Hidrográfica da Bacia do Paraguai
Projeto apresentado à Universidade
Federal de Mato Grosso, curso de
Engenharia Sanitária e Ambiental,
como parte dos requisitos necessários
para obtenção de nota da disciplina
de Poluição do Ar, sob a orientação
do Prof. Dr. Paulo Modesto Filho.
CUIABÁ/MT
2015
3
RESUMO
Na Região Hidrográfica do Pantanal encontra-se o bioma Pantanal e o cerrado,
que historicamente são considerados para o desenvolvimento da pecuária e
agricultura. O desenvolvimento dessas atividades está intimamente ligado à
modificação da paisagem por meio do desmatamento e das queimadas. Desta
forma, este trabalho tem como objetivo identificar, quantificar e analisar
espacialmente os focos de calor durante os anos de 2010 a 2014, nos meses
de julho a novembro, a fim de avaliar as áreas de maior densidade de focos. A
partir da identificação destes focos gerou-se um mapa de densidade utilizando
o método estatístico de Kernel para a área de estudo. Os resultados foram
agrupados em 5 classes: Muito alta, alta, média, fraca e muito fraca. Verificou-
se que o ano de maior número de focos foi 2010, com 12.240 , e o menor foi o
ano de 2011, com 3829. As áreas de maior incidência de focos foram a região
do pantanal, em cidades de forte cultura pantaneira ligada principalmente à
agropecuária. A região possui predominantemente pontos isolados de focos de
calor, podendo representar queimadas isoladas naturais ou com característica
antropogênica.
Palavras-chave: Método De Kernel; Queimadas; Região Hidrográfica do
Paraguai; Geoprocessamento.
4
Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 6
2. Objetivos ..................................................................................................... 7
3. Revisão Bibliográfica ................................................................................... 8
3.1. Queimadas e sua problemática ............................................................. 8
3.1.1. Poluentes presente nas queimadas e suas implicações na saúde .... 8
3.1.1.1. Material Particulado ..................................................................... 9
3.1.1.2. Aldeídos .................................................................................... 11
3.1.1.3. Ácidos Inorgânicos .................................................................... 11
3.1.1.4. Hidrocarbonetos e Hidrocarboneto aromáticos policíclicos
(PAHs) 13
3.1.2. Perdas de Nutrientes do solo ....................................................... 13
3.2. Sensoriamento remoto ........................................................................ 14
3.2.1. Radiação eletromagnética ............................................................ 14
3.2.2. Espectro eletromagnético ............................................................. 15
3.2.3. Atenuação atmosférica ................................................................. 17
3.2.4. Comportamento espectral de objetos naturais ............................. 19
3.2.5. Sistema sensor ............................................................................. 20
3.3. Monitoramento de queimadas no Brasil ....................................... 21
3.4. Estimação da densidade pelo método de Kernel ................................ 23
4. Objetivos ...................................................................................................... 24
5. Material e Métodos ....................................................................................... 24
5.1. Área de estudo .................................................................................... 24
5.2. Base de dados .................................................................................... 26
6. Resultados e discussão ............................................................................ 28
7. Conclusão ................................................................................................. 33
5
8. Bibliografia ................................................................................................ 34
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Ilustração do comprimento de Onda ................................................. 15
Figura 2: Ilustração gráfica do espectro elétromagnético ................................. 16
Figura 3: Ilustração do comportamento da energia solar ................................. 18
Figura 4: Ilustração da janela atmosférica de acordo com os gases ................ 18
Figura 5: Ilustração da interação do objeto com os comprimentos de onda .... 20
Figura 6 - Estimador da intensidade de distribuição dos pontos ...................... 24
Figura 7 - Regiões hidrográficas brasileiras ..................................................... 25
Figura 8 - Mapa de localização da área de estudo ........................................... 26
Figura 9 - Distribuição espacial dos focos de calor na região hidrográfica do
Paraguai ........................................................................................................... 29
Figura 10 - Região de densidade Alta .............................................................. 30
Figura 11 - Região de densidade Muito Alta .................................................... 30
Figura 12 - Imagens da cidade de Corumbá-MS com a atmosfera cinza
decorrente de queimadas ................................................................................. 32
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Caracterização de cada uma das classes de Material Particulado... 10
Tabela 2 - Distribuição dos focos de calor para o período seco entre os anos de
2010-2014 ........................................................................................................ 31
6
1. INTRODUÇÃO
O Pantanal, maior planície alagada do planeta, está localizado na parte
central da Bacia do Alto Paraguai, possui uma área de 138.083 km² e ocupa o
território de dois estados Brasileiros Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (Silva
e Abdon, 1998) Ele é considerado um Patrimônio Nacional e uma Reserva da
Biosfera. Possui ainda poucas Unidades de Conservação sendo 2 federais
(Parque Nacional do Pantanal e Estação Ecológica do Taiamã) e 3 estaduais
(Parque Estadual do Rio Negro, Parque Estadual do Guirá, Monumento Natural
Estadual do Morro de Santo Antônio) (ANA, 2006).
As queimadas são eventos bastante comuns no pantanal mato-grossense,
na qual a maior parte é realizada com vista à renovação das pastagens. O
período do ano com maiores registros dessa atividade é entre os meses de
julho a novembro. (MACEDO, 2009)
A problemática da queimada encontra-se não apenas na perda da
vegetação e no desmatamento, mas existe todo um contexto por traz dela que
envolve desde a saúde da população das redondezas que pode ser afetada
com desde doenças menos complexas como alergia a poluentes, tosse e
irritação na garganta e narinas, até problemas de pneumonia, bronquite e
cânceres (nos casos mais extremos de exposição prolongada em grandes
concentrações). (ARBEX, 2011) Outro problema grave também relacionado
com essa atividade encontra-se relacionado com o solo, que em temperaturas
elevadas perde nutrientes, matéria orgânica, tem a sua microbiota morta,
fatores que levam o solo a ficar infértil e inadequado para o cultivo, ocorrendo a
desertificação, e fragilização da área. (ALBUQUERQUE et. al., 2001)
Para que as queimadas sejam reduzidas na área do Pantanal (assim como
em todos os outros biomas), é necessário que haja um monitoramento e assim
identificação das áreas mais frágeis, com mais tendência de haver eventos de
queimadas, e toda uma preparação para o controle dessa atividade. Devido a
grande extensão do seu território, é difícil e caro realizar esse monitoramento in
loco, porém há ferramentas como o sensoriamento remoto, que auxiliam nessa
atividade de forma a torná-las menos custosas e mais rápidas. No Brasil a
entidade que auxilia nesse monitoramento é o INPE (Instituto Nacional de
7
Pesquisas) que confecciona mapas com locação dos focos de incêndio e
também mantém atualizado periodicamente o número de queimadas
registradas, e os municípios em que foram encontradas. (IBAMA, s.d.)
O modelo estatístico de Kernel, atualmente, tem sido disseminado para uso
em dados de característica pontual. Este modelo não utiliza um ponto qualquer
como referência para criar intervalos, e sim, as próprias observações. Ou seja,
a densidade será considerada a partir do número de pontos máximo e mínimo
distribuídos por unidade de área. O método tem o objetivo de determinar a
densidade de pontos em uma determinada área, utilizando equações
diferenciais. Desta forma, obtém-se um mapa com escalas de cores mostrando
a densidade dos pontos. (NICOLAS, 2013)
Por tratar dados de forma não paramétrica, ou seja, sem seguir uma função
linear. Este método tem se mostrado eficiente para trabalho com dados
ambientais, já que estes apresentam esta característica. (PRICILA, 2014)
2. OBJETIVOS
Identificar, quantificar e analisar dados de queimadas fornecidos pelo
INPE, disponibilizados no formato SHAPE, do período de 2010-2014,
Utilizar o método estatístico de Kernel, aplicado por meio de técnicas de
geoprocessamento, para confeccionar mapas de densidades, divididas
por classes;
Relacionar a maior densidade de focos de queimadas com as atividades
desenvolvidas na região;
Avaliar a eficácia da aplicação do método de Kernel para análise
espacial de focos de queimada.
8
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Queimadas e sua problemática
O fogo em áreas vegetais podem ter duas origens, natural, quando ocorrer
raios sobre as árvores e campos, ou, como na maioria dos casos surgem de
atividades humanas. (COUTINHO, 1976).
Em áreas rurais o fogo é muito utilizado com vários fins agropastoris, como
renovação de áreas de pastagem, na remoção de material acumulado, no
preparo do corte manual em plantações de cana-de-açúcar etc. (ASSOCIAÇÃO
CAATINGA,) Essa metodologia sempre foi muito empregada, uma vez que
trata-se de uma técnica simples, de baixo custo, que dispensa tecnologias e
mão de obra qualificada e por sua vez tem alta eficiência e resultados rápidos,
porém quando se tira os olhos de interesses individuais e utiliza-se um olhar
macro percebe-se os grandes problemas que carregam consigo, (dificuldade
de controle e confinamento na área de interesse, problemas de poluição do ar,
dentre outros) que na maioria das vezes não compensam a facilidade da
técnica). (OLIVEIRA, 2005)
Essa técnica consiste na queima da biomassa (matéria orgânica produzida
numa determinada área), produzindo água e dióxido de carbono como mostra a
equação abaixo:
[CH2O] + O2 → H2O + CO2
Nos quais CH2O representa a biomassa, o O2 o combustível da reação,
que irão ter como subprodutos além do CO2, monóxido de carbono (CO),
óxidos de nitrogênio (NO e NO2) e hidrocarbonetos (compostos contendo
essencialmente carbono e hidrogênio). Estes gases se misturam com outros
gases da atmosfera e se propagam por extensas regiões levadas pelos ventos.
A fumaça pode se propagar por uma área de 4,5 milhões de quilômetros
quadrado. (MARQUI, 2011)
3.1.1. Poluentes presente nas queimadas e suas implicações na
saúde
9
Estudos científicos apontam que a queimada é a maior fonte de
produção de gases tóxicos, material particulado e gases do efeito estufa do
planeta. Diversos são os elementos químicos surgidos das reações de queima,
sendo que o tipo e concentração dos mesmos podem variar de acordo com o
local, as características da biomassa ali encontrada, tipo e assim a composição
do solo. Dentre esses diversos poluentes encontrados, alguns se destacam,
sendo eles: Material Particulado, Aldeídos, Ácidos Inorgânicos,
Hidrocarbonetos e Hidrocarboneto aromáticos policíclicos (PAHs). (MARQUES
& SANTOS, 2012)
Diversos estudos estão sendo realizados nas últimas décadas com relação à
problemática dos poluentes encontrados na atmosfera com a saúde da
população e animais. A grande parte dos resultados encontrados pelos
cientistas mostram a estreita relação aumento da concentração dos poluentes
e os problemas respiratórios e cardiovasculares, crescimento fetal, aumento na
mortalidade e hospitalizações, (principalmente em idosos e crianças).
(TOLEDO & NARDOCCI, 2011)
A seguir serão apresentados os principais compostos poluentes derivados das
queimadas, as principais substancias, a causa da sua produção e os impactos
causados na saúde da população.
3.1.1.1. Material Particulado
O material particulado são partículas sólidas ou líquidas presentes no ar
(exceto a água pura). (CAMARINHA, 2010). Os MP são agrupados em classes
que variam de acordo com o tamanho, formato, área de superfície e
composição química. Os efeitos na saúde humana e seu local de ação variam
de acordo com as características químicas de cada composto e o seu tamanho.
A composição dos MPs é bem variada, podem incluir diversos
compostos como núcleo de carbono elementar ou orgânico, compostos
inorgânicos, como sulfatos e nitratos, metais de transição sob a forma de
óxidos, sais solúveis, compostos orgânicos, como hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos, e material biológico, como pólen, bactérias, esporos e restos
animais. (ARBEX et. al., 2012)
10
O MP pode permanecer na atmosfera por um longo período de tempo,
ou se depositarem logo em alguma superfície devido à ação da gravidade. Sua
trajetória dependerá de seu tamanho, relacionado com o diâmetro
aerodinâmico. Esse por sua vez pode variar entre 10-³ μm a 100 μm.
(MARQUES & SANTOS, 2012)
A classe entre os particulados mais estudados, são os inaláveis (MP10)
que possuem diâmetros aerodinâmico até 10 μm, e pode ser dividido,
basicamente, em dois subgrupos: os particulados finos, com diâmetro
aerodinâmico inferior a 2,5 μm, (MP2,5) e os particulados respiráveis, com
diâmetros entre 2,5 μm, e 10 μm, (MP2,5-10). Essa divisão é de extrema
importância uma vez que cada classe de partículas apresenta uma composição
físico-químicas diferente. (CAMARINHA, 2010)
Em uma queimada, o surgimento do MP10 da classe dos respiráveis se
dá através da condensação após combustão de gases, combustão incompleta
de material inorgânico, fragmentos de vegetação e cinzas. Essas partículas
não são transportadas e contém principalmente cinzas e material do solo. Já a
classe das partículas finas (MP2,5) é proveniente da condensação por
combustão incompleta de material orgânico. Esses elementos são
transportados através de longas distâncias. (ARBEX, 2004) A seguir encontra-
se uma tabela que relaciona as classes de materiais particulados, e suas
implicações na saúde.
Tabela 1: Caracterização de cada uma das classes de Material Particulado.
Poluentes Fontes Penetração no sistema
respiratório Fisiopatologia
MP10
Fontes antropogênicas: poeira da rua e de estradas, atividades agrícolas e de construções. Fontes
Nariz, garganta
Diminui a atividade mucociliar e dos macrófagos. Produz irritação nas vias respiratórias. Causa estresse oxidativo e, em consequência, inflamação pulmonar e sistêmica. Exposição crônica produz remodelamento brônquico e DPOC. Pode ser cancerígeno.
MP2,5 Queima de combustíveis fósseis e de biomassa,
usinas termoelétricas
Alvéolos
MP0,1 Alvéolos, tecido pulmonar,
corrente sanguínea
11
3.1.1.2. Aldeídos
Os aldeídos é um grupo de compostos químicos provenientes da
oxidação parcial dos álcoois. Os principais compostos desse grupo formados
durante a queima da biomassa sãos formaldeído e a acroleína, que são
provenientes da combustão incompleta da biomassa. (ARBEX et al., 2001)
Esses compostos são extremamente irritantes para a mucosa do ser
humano. Esses compostos ainda possuem sua problemática referente a cada
tipo de composto, os formaldeídos, por exemplo, podem ser carcinogênico e
também pode aumentar a carcinogenicidade de outros compostos como o
HPAs (Hidrocarboneto aromáticos policíclicos) Essa substância dentro do
corpo humano pode rapidamente ser transformado em ácido fórmico e
eliminado muito lentamente (Arbex, 2001).
O ácido fórmico é um composto irritante e corrosivo para a pele e
mucosas; quando em concentrações agudas os sintomas podem incluir
salivação, vômito sanguinolento, sensação de dormência na boca, diarreia e
dores severas. Após a exposição pode ocorrer colapso circulatório, depressão
do sistema nervoso central e morte. A exposição ocupacional pode causar
albuminúria e hematúria (Companhia Petroquímica do Nordeste, 2009).
3.1.1.3. Ácidos Inorgânicos
Os ácidos inorgânicos são representados por três principais compostos,
o monóxido de carbono (CO), o Ozônio (O3) e os óxidos de nitrogênio (NOx),
(apesar de que existem vários outros, mas esses são os que mais se
destacam). O primeiro, CO, é proveniente da combustão incompleta de
material orgânico, e é produzido em maior quantidade quando há a ausência
de chamas (ARBEX et al, 2004)
O monóxido de carbono é um gás tóxico e inodoro, isso agrega uma
grande problemática, uma vez que quando inalado em grande quantidade,
pode ser fatal. A ação desse composto no organismo ocorre através da grande
afinidade que ele tem com a proteína do sangue que é responsável pelo
transporte do oxigênio (Heme). Essa proteína tem uma afinidade muito maior c
com o monóxido de carbono, do que com o oxigênio, fazendo com que haja a
substituição dos compostos a ser carreado e consequentemente uma anomalia
12
conhecida como carboxihemoglobina (COHb) que diminui a capacidade do
sangue de transportar oxigênio. Em elevadas concentrações e um período
razoavelmente longo de exposição ao composto (entre 3 e 4 horas) causam
nos seres humanos sinais de desorientação e fadiga. Já em concentrações
baixas o CO causa prejuízos ao raciocínio e a percepção, produz cefaleia,
diminuição dos reflexos, redução da destreza manual, e sonolência. Em
elevadíssimas concentrações podem ocasionar ate mesmo a morte de
indivíduos (ARBEX, 2011).
Já o ozônio é um produto secundário dos óxidos de nitrogênio e
hidrocarbonetos. Em altas concentrações pode reduzir a função pulmonar e
reduzir a resistência respiratória a infecções. Já em baixas concentrações, o
ozônio pode causar sintomas como tosse, dispneia, excesso de escarro,
irritação na garganta, náuseas, diminuição da resistência pulmonar a exercícios
físicos. Quando exposto por longos tempos, pode produzir diminuição da
função pulmonar e doença pulmonar obstrutiva crônica (ARBEX, et. al, 2001).
Os óxidos de nitrogênio (NOx) são proveniente da oxidação em altas
temperaturas do nitrogênio presente no ar. Nesse grupo são compreendidos os
Óxidos de Nitrogênio (NOx) e os Dióxidos de Nitrogênio (NO2), sendo que o
primeiro (NO) é produzido em uma quantidade mais significativa do que o
segundo, porém, quando são lançados na atmosfera, todo o NO é convertido
em NO2, fazendo com que esse seja muito mais representativo e de
importância em estudo do que o NO. o. No entanto, quando lançado na
atmosfera o NO é completamente convertido a NO2, que é um gás menos
reativo quando comparado ao NO. O NO2 reage com todas as partes do corpo
expostas ao ar (pele e mucosas), com efeitos tóxicos principalmente nos
pulmões e no sistema respiratório periférico (CAMARINHA, 2010). O NO2
provoca diversas doenças respiratórias, o seu nível de intensidade dependerá
do tempo de exposição e das concentrações do poluente presente no ar. Essas
injurias variam desde simples inflamações na garganta, até traqueítes,
bronquites crônicas, enfisema pulmonar, espessamento da barreira alvéolo-
capilar e broncopneumonias químicas (ARBEX, 2001).
13
3.1.1.4. Hidrocarbonetos e Hidrocarboneto aromáticos
policíclicos (PAHs)
Os hidrocarbonetos é uma composição de hidrogênio e carbono, sendo
que todas aqueles que0 possuem um anel formado por 6 carbonos são
conhecidos como (PAHs). O grupo dos hidrocarbonetos tem como
representante principal o composto de benzeno, vinculado à combustão
incompleta de material orgânico. O benzeno é um composto altamente tóxico
que age diretamente sobre o organismo bem como seus produtos derivados da
biotransformação. (COSTA & COSTA, 2002).
Já a segunda classe os PAHs surgem principalmente da condensação
após combustão dos gases e da combustão incompleta de material orgânico. O
maior representante desse grupo são os Benzopirenos (BaP). Esses
compostos frequentemente são encontrados na fração orgânica dos Materiais
particulados finos. Alguns compostos dessa classe são carcinogênicos. A
formação dos HPAs se dá através da fragmentação de compostos de carbono
durante a combustão com chamas da biomassa em presença de baixas
concentrações de oxigênio (ARBEX, 2001).
Como foi dito dentre os diversos compostos que existem o mais
estudado é o Benzopirenos, uma vez que sua substancia ativa pode contribuir
para o desenvolvimento do câncer em seres humanos (ARBEX et. al, 2004).
3.1.2. Perdas de Nutrientes do solo
É sabido que a queima de áreas causam a redução da produtividade do
solo, uma que o uso de fogo causa a alteração significativa de alguns atributos
químicos, físicos e microbiológicos do solo. (Maia et al., 2003) Além disso, essa
atividade contribui intensamente para o processo erosivo, e consequentemente
em áreas que margeiam mananciais, ocorre o assoreamento dos mesmos.
(ALBUQUERQUE et al., 2001)
O grau de aquecimento que o solo irá sofrer, dependerá do tipo (árvores,
arbustos, etc.) e características da biomassa (espessura das arvores, teor de
umidade do local, textura, etc.), da intensidade do fogo, das propriedades do
solo. Algumas características do solo, como capacidade de troca de cátions,
disponibilidade de nutrientes, atividade microbiológica são dependentes da
14
matéria orgânica, fator que começa a ser alteradas quando aquecida a 200ºC e
é completamente consumida a uma temperatura de 450ºC. Diversos autores
fizeram estudos sobre o teor da redução de matéria orgânica após a passagem
do fogo e encontraram valores de perdas altíssimas na concentração, teores
entre 50 a 75,5% do total. Já o nitrogênio alguns autores afirmam que pode ser
perdido um teor de 60 a 80% para a atmosfera (BATISTA, 1997).
Pesquisas mostram que outros compostos também podem ser perdidos
para atmosfera, tais como N, S e P podem ser volatizados durante um
incêndio. Já alguns cátions que não possuem características volatilizantes
como Ca, Mg, K e Na podem ser transferidas de lugar pela fumaça (BATISTA,
1997).
3.2. Sensoriamento remoto
O sensoriamento remoto é um conjunto de análises que permite a extração
de informações sobre características da superfície terrestre, sem que precise ir
a loco, apenas com a utilização de ferramentas tecnológicas. Essa técnica
envolve os seguintes passos a serem seguidos: detecção das características,
feitas geralmente por aparelhos de sensoriamento, aquisição dos mapas,
analise e interpretação dos mesmos, definindo assim a quantidade de energia
eletromagnética que foi emitida ou refletida pelos objetos terrestres e
registradas pelos sensores remotos (MOREIRA, 2001).
A quantidade de energia eletromagnética que será retida ou refletida pelos
objetos, dependerá das propriedades químicas, físicas e biológicas de cada
objeto, e podem ser identificadas nas imagens e nos dados de sensoriamento
remoto. Portanto a base de dados do sensoriamento remoto é baseada na
quantidade de energia eletromagnética envolvida no sistema, (energia refletida
e retida), e a partir disso pode-se determinar as características de cada objeto
(MOREIRA, 2001).
3.2.1. Radiação eletromagnética
A radiação é um processo de transmissão de energia por ondas
eletromagnéticas através de um meio material, ou também através do vácuo.
Essas ondas eletromagnéticas são formadas por um campo elétrico e um
campo magnético. (STEFFEN, 1996)
15
A energia eletromagnética é transmitida por qualquer corpo que tenha uma
temperatura acima do zero grau absoluto (0 Kelvin). A energia eletromagnética
é emitida por qualquer corpo que possua temperatura acima de zero grau
absoluto (0 Kelvin). Dessa forma pode-se evidenciar que todo e qualquer corpo
que possua uma temperatura acima do zero absoluto pode ser uma fonte de
emissão de energia eletromagnética (MOREIRA, 2001).
O Sol e a Terra são as duas principais fontes naturais de energia
eletromagnética utilizadas no sensoriamento remoto da superfície terrestre. A
energia eletromagnética não precisa de um meio material para se propagar,
sendo definida como uma energia que se move na forma de ondas
eletromagnéticas à velocidade da luz (c = 300.000Km s, onde ”c” é a
velocidade da luz.) (STEFFEN, 1996).
A distância entre dois pontos semelhantes, como mostra a Figura 1, define
o comprimento de onda e, o número de ondas que passa por um ponto do
espaço num determinado intervalo de tempo, define a frequência da radiação
eletromagnética (STEFFEN, 1996).
Figura 1: Ilustração do comprimento de Onda
3.2.2. Espectro eletromagnético
A partir de estudos pode-se definir um gradiente com as várias energias
eletromagnéticas e as frequências ou comprimentos de onda. Esse gradiente é
chamado de espectro eletromagnético, no qual há diversas regi A energia
eletromagnética pode ser organizada em forma de gradiente em função dos
comprimentos de onda ou de suas frequências. Essa disposição em forma de
gráfico é denominado espectro eletromagnético. Nele há diversas regiões
definidas e cada região é relacionada com um intervalo de comprimento de
onda ou frequência. Cada uma das regiões definidas é determinada em função
16
do tipo de processo físico que dá origem a energia eletromagnética, do tipo de
interação que ocorre entre a radiação e o objeto sobre o qual esta incide, e da
transparência da atmosfera em relação à radiação eletromagnética. A seguir
encontra-se exposto um gráfico que demonstrando o espectro
eletromagnéticon(MOREIRA, 2001).
Figura 2: Ilustração gráfica do espectro eletromagnético
Regiões participantes do espectro eletromagnético (MOREIRA, 2001):
Radiação Gama: é a energia emitida por materiais radioativos, ela é
extremamente penetrante, e devido a essa sua característica é muito
requisitada na medicina para tratamentos como radioterapia e em
alguns processos industriais, radiografia industrial.
Raio X: produzido a partir do freamento de elétrons de grande
energia eletromagnética. Também é muito usado na medicina para
exames como raio X e também é utilizado em alguns processos
industriais. Ao contrário do anterior esse tem um médio poder de
penetração.
Ultravioleta (UV): sua principal fonte na terra é através da energia do
Sol, essa é uma energia que é nociva aos seres vivos, porém por
sorte quase toda ela que é emitida pelo sol é absorvida pela camada
de ozônio atmosférico.
Visível (LUZ): é o conjunto de energias eletromagnéticas que são
capazes de ser captados visualmente pelos seres humanos. Os
17
diferentes comprimentos de onda existentes dão a percepção das
diferentes cores e tons que é produzida pela luz.
Infravermelho (IV): pode ser encontrado em diversos locais como:
fluxo solar ou mesmo em fontes convencionais de iluminação
(lâmpadas incandescentes) e emissão eletromagnética de objetos
terrestres. O infravermelho pode ter diferentes comprimentos de
onda .
Micro-ondas: são radiações eletromagnéticas produzidas por
sistemas eletrônicos (osciladores). Os feixes de micro-ondas são
emitidos e detectados pelos sistemas de radar (radio detection and
ranging).
Radio: São as ondas utilizadas em telecomunicações e radiodifusão.
3.2.3. Atenuação atmosférica
Quando a energia eletromagnética atravessa a atmosfera terrestre, ela pode
passar por três processos: ou ela pode ser absorvida, ou refletida, ou
espalhada. A principal fonte de absorção das radiações, são devido aos gases
presentes na atmosfera, deve-se destaque que cada substancia tem uma
capacidade de absorção diferente, lembrando que a atmosfera absorve quase
todo o teor de radiação que é emitido, antes dela chegar à superfície terrestre
(STEFFEN, 1996).
A figura reproduzida abaixo, mostra o comportamento do espectro da
energia do sol em dois momentos: energia solar incidente no topo da atmosfera
e energia solar incidente na superfície terrestre. Como dito anteriormente os
gases presentes na atmosfera absorvem uma grande quantidade de energia
que entra na terra, porém os comprimentos de onda e o teor de absorção vai
variar de acordo com o tipo de composto, sabendo disso pode-se observar no
gráfico que existem diversas áreas sombreadas, essa representa as absorções
causadas pelos diversos gases presentes. São quatro os principais gases
absorventes: o vapor d’água, oxigênio, ozônio e gás carbônico (STEFFEN,
1996).
18
Figura 3: Ilustração do comportamento da energia solar
Em algumas regiões do espectro eletromagnético a energia
eletromagnética quase não é afetada pela atmosfera e suas características, ou
seja é como se a atmosfera não existisse às energias eletromagnéticas
presentes no sol ou na superfície terrestre. Estas regiões são conhecidas como
janelas atmosféricas (NOVO, 1989).
Essas janelas atmosféricas possuem grande importância, uma vez que
ela possibilita a reflexão da radiação pela Terra e podem ser aproveitadas
pelos detectores de energia eletromagnética, e, portanto é onde ocorre o
sensoriamento remoto dos objetos terrestres. Abaixo encontra-se uma figura
que apresenta as janelas atmosféricas e as regiões afetadas pelos principais
gases atmosféricos (NOVO, 1989).
Figura 4: Ilustração da janela atmosférica de acordo com os gases
19
A energia eletromagnética ao atingir a atmosfera é por esta espalhada, e
parte desta energia espalhada retorna para o espaço, vindo a contaminar a
energia refletida ou emitida pela superfície e que é detectada pelos sensores
orbitais. (STEFFEN, 1996)
3.2.4. Comportamento espectral de objetos naturais
Quando um objeto recebe uma incidência de energia eletromagnética, o
material que o compõe interagirá com essa energia, e uma parte dela será
absorvida por ele, e o restante será refletido (NOVO, 1989).
Os percentuais de absorção, reflexão e transmissão da energia dependerá
das características do objeto, podendo ser total ou parcial, mas sempre
obedecendo a lei de Lavoisier da conservação da matéria. As capacidades de
interação da energia com cada objeto é denominado de refletância,
transmitância e absorbância e são representadas por um número que varia de
0 a 1 (NOVO, 1989).
O comportamento espectral de um objeto é um conjunto de valores que um
objeto pode assumir com relação à capacidade de reflectância de um objeto ao
longo do espectro eletromagnético, essa definição é conhecida como
assinatura espectral do objeto. Essa assinatura irá definir as feições do objeto.
Já a forma, intensidade e a localização de cada banda de absorção é que irá
definir cada objeto (MOREIRA, 2001).
20
Figura 5: Ilustração da interação do objeto com os comprimentos de onda
Cada objeto apresentará uma resposta diferente quanto a interação com
a energia eletromagnética incidente, devido as suas propriedades
diferenciadas. É graças a essas diferentes respostas dada por cada objeto, que
é possível se fazer o reconhecimento e assim a leitura e interpretação dos
mapas de sensoriamento remoto, pois são reconhecidos devido a variação da
porcentagem de energia refletida em cada comprimento de onda. A Figura 2
apresenta as respostas dadas de alguns objetos bastante frequentes nas
imagens de sensoriamento remoto como, água, solo, areia, vegetação e
nuvens com relação a reflectância (MOREIRA, 2001).
O conhecimento do comportamento espectral dos objetos terrestres é
muito importante para a escolha da região do espectro sobre a qual pretende-
se adquirir dados para determinada aplicação (MOREIRA, 2001).
3.2.5. Sistema sensor
Na definição dada pelo INPE “Os sensores remotos são dispositivos
capazes de detectar a energia eletromagnética (em determinadas faixas do
espectro eletromagnético) proveniente de um objeto, transformá-las em um
sinal elétrico e registrá-las, de tal forma que este possa ser armazenado ou
transmitido em tempo real para posteriormente ser convertido em informações
que descrevem as feições dos objetos que compõem a superfície terrestre.” Ou
21
seja, eles fazem leituras do percentual de energia eletromagnética refletido por
um objeto na terra, e a partir dos dados coletados é possível fazer a verificação
dos componentes da superfície terrestre (NOVO, 1989).
Existem dois tipos de coletas de dados, por sistemas imageadores os quais
após a leitura confeccionam mapas com as localizações das informações na
superfície da terra e as não-imageadoras os quais representam os dados
através de dígitos ou gráficos (NOVO, 1989).
3.3. Monitoramento de queimadas no Brasil
Em territórios muito amplos como por exemplo no caso do Brasil, um
monitoramento rígido in loco para o controle de queimadas é dificultado, devido
aos vários fatores como a necessidade de uma quantidade de fiscais muito
grande o que torna o procedimento caro e inviável. Dessa forma o uso de
tecnologias e ferramentas como o sensoriamento remoto, pode auxiliar nesse
desafio, e torná-los mais rápidos e eficazes. Nesse tópico encontra uma
pequena caracterização desse trabalho de monitoramento descrito pelo
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA)
O responsável por fazer esse monitoramento e disponibilizar informações
para a população é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que utilizam
imagens e dados de todos os satélites que possuem sensores óticos operando
na faixa termal-média de 4um e que o INPE consegue receber. Atualmente,
são processadas operacionalmente, na Divisão de Satélites e Sistemas
Ambientais - DSA do INPE as imagens AVHRR dos satélites polares NOAA-15,
NOAA-16, NOAA-18 e NOAA-19, as imagens MODIS dos satélites polares
NASA TERRA e AQUA, as imagens dos satélites geoestacionários GOES-12,
GOES-13 e MSG-2. Cada satélite de órbita polar produz pelo menos um
conjunto de imagens por dia, e os geoestacionários geram algumas imagens
por hora.
O INPE faz um monitoramento diário, e esses dados registrados são
compilados em um mapa de tendência. Esse mapa mostra qual a frequência de
focos de queimadas para uma mesma região no período de interesse
(geralmente tempo de seca).
22
A relação de foco de calor x queimadas, não é direta nas imagens de
satélite. Isso acontece por que um foco indicando a existência de um fogo em
um pixel, esse por sua vez pode variar de 1km x 1km ou até mesmo de 5km x 4
km dependendo da resolução. Nessa representação pode haver uma ou mais
queimadas distintas em um único pixel. Ainda mais, quando a queimada é
muito extensa, pode ser que ela seja detectada em alguns pixels vizinhos, ou
seja, uma única queimada pode estar sendo representada por vários focos.
Como vimos anteriormente, é grande o numero de satélites que fazem esse
monitoramento, porém ainda são encontradas diversas situações que
queimadas não são identificadas pelos satélites. Isso pode ocorrer por alguns
fatores conhecidos: quando o fogo abrange menos de 30m, ou o fogo atinge
apenas a vegetação na parte baixa de uma floresta bem densa, sem que seja
afetada a copa das árvores, outra situação é quando há uma grande
quantidade de nuvens cobrindo a área, em caso de queimada de duração
curta, em situações que o fogo ocorre ao pé de uma montanha porém o satélite
esta registrando o outro lado da estrutura e por ultimo quando há a imprecisão
na localização do foco de queima, que no melhor caso é de cerca de 1 km, mas
podendo chegar a 6 km.
O erro na localização dos focos de queimadas apresentados em trabalhos
de validação indicam que o erro na média é ~400 m. No Brasil uma importante
iniciativa para o monitoramento foi o Prevfogo, no qual por meio do Núcleo de
Pesquisa e Monitoramento (NPM), em parceria com o Grupo de Queimadas do
Inpe, emite boletim de monitoramento de focos de calor dos biomas Cerrado e
Amazônia. Esse NPM tem objetivos desenvolver rotinas de monitoramento de
focos de calor utilizando informações geoespaciais, bem como promover,
apoiar e participar de pesquisas relacionadas a incêndios florestais. As
atividades de monitoramento do NPM se baseiam em elaborar novas rotinas de
monitoramento de focos de calor, por meio de consultas à plataforma do Inpe.
A plataforma do INPE conta ainda com uma gama de informações que
podem ser acessadas por toda a população. Essa plataforma conta com
diversos link que apresentam a situação atual do numero de queimadas na
America do Sul, e ela é atualizada periodicamente. Nela encontram-se listados
quais os municípios com maiores quantidades de focos, e quantos são tanto
desse ano, quanto dos anos anteriores.
23
Outro link que apresenta informações de grande relevância é “Situação nas
áreas protegidas”, que apresenta quantas unidades de queimadas apresentam
nas áreas de proteção, não apenas no Brasil, mas também em outros países.
Há também Sistema de informações geográficas e Banco de Dados de
todos os focos, Sistema de informações geográficas e banco de dados de
focos nas áreas protegidas, análise e previsão de risco de fogo e meteorologia,
Boletins diários de avaliação do fogo na Amazônia e Cerrado, como foi dito
antes que é da responsabilidade do Núcleo de Pesquisa e Monitoramento,
Notas informativas sobre incêndios florestais nas Unidades de Conservação
Federais, Informações meteorológicas atuais relevantes ao risco de fogo da
vegetação.
3.4. Estimação da densidade pelo método de Kernel
O método de Kernel faz parte da estatística não paramétrica e tem o
objetivo de estimar curvas de densidades levando em consideração a
distância de um valor central, o núcleo (PORTAL ACTION, 2014).
Para DRUCK et. al. (2004), ao analisar esse padrões de distribuição é possível
determinar se os eventos possuem um padrão sistemático ou aleatórios.
Assim, o método pode determinar conglomerados espaciais, onde os pontos
estão mais concentrados, considerando uma distribuição estocástica,
normalmente um processo de Poisson. As distribuições pontuais possuem as
seguintes características:
O tamanho das áreas em que os eventos acontecem não é levada
em consideração, ou seja, essas áreas são consideradas como um
ponto no espaço do estudo;
Os pontos estão associados à ocorrência dos eventos considerados;
Ao aplicar o método de Kernel ajusta-se um função bi-dimensional sobre os
eventos considerados, compondo uma superfície cujo valor será proporcional à
intensidade de amostras por unidade de área. Essa função realiza uma
contagem de todos os pontos dentro de uma região de influência, ponderando-
os pela distância de cada um à localização de interesse, como ilustrado na
figura abaixo:
24
Figura 6 - Estimador da intensidade de distribuição dos pontos
Fonte: Análise Espacial de Dados Geográficos (2004)
Este método é utilizado para fornecer uma visão geral da distribuição de
primeira ordem dos eventos. Trata-se de um indicador de fácil uso e
interpretação.
4. OBJETIVOS
Analisar dados de queimadas fornecidos pelo INPE, disponibilizados no
formato SHAPE, do período de 2010-2014, utilizando o método
estatístico de Kernel, aplicado por meio de técnicas de
geoprocessamento.
Relacionar a maior densidade de focos de queimadas com as atividades
desenvolvidas nas cidades;
Avaliar a eficácia da aplicação do método de Kernel para análise
espacial de focos de queimada.
5. MATERIAL E MÉTODOS
5.1. Área de estudo
A região hidrográfica do Paraguai faz parte das 12 Regiões Hidrográficas
brasileiras definidas pela Resolução n°.32, de 25 de outubro de 2003, do
Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Está localizada na porção
oeste do País, compreendendo os territórios do Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul. A área total também inclui territórios bolivianos e paraguaios.
25
Figura 7 - Regiões hidrográficas brasileiras
Fonte: MMA (2006)
Esta região possui uma área de 362.259 km², sendo 33% desta área no
território brasileiro, contendo o Pantanal que é considerado Patrimônio
Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Reserva da Biosfera pela Unesco
no ano de 2000.
A bacia possui 91 municípios, sendo os centros populacionais são
representados por Cuiabá (MT) com 551 mil habitantes, Várzea Grande (MT)
com 253 mil, Rondonópolis (MT) com 195 mil, Corumbá (MS) com 104 mil e
Cáceres (MT) com 88 mil habitantes (ANA, 2014)
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em sua publicação “Caderno da
Região Hidrográfica do Paraguai”, o clima predominante desta área é o clima
de Savana, com temperaturas médias anuais variando entre 22,5°C e 26,5°C.
O mês de novembro é o mais quente (média de 27°C) e o julho, o mais frio
(média de 21°C). A precipitação média anual é de 1.398mm, variando entre
800 e 1.600mm, sendo os maiores valores observados nas áreas de planalto.
26
O período chuvoso ocorre entre outubro e abril, devido aos ventos de
quadrante norte da massa equatorial continental (2006).
Segundo dados do PAE (2004) o uso e ocupação do solo dessa região
hidrográfica são divididos da seguinte forma: pastagem (16%), agricultura
(10%), campos naturais (25%), floresta (27%), água (15%), cerrado (6%),
núcleos urbanos e outros (1%). As principais atividades desenvolvidas na
Região Hidrográfica estão relacionadas historicamente com a agropecuária,
embora em diversas regiões, tanto no Mato Grosso como no Mato Grosso do
Sul, exista o uso localizado mais intensivo para mineração, turismo, pesca e
industrial. Em termos da ocupação das terras, a atividade mais intensa se
refere à pecuária, seguida pela atividade agrícola. Parte da pecuária extensiva
também se utiliza de parcela significativa dos campos naturais, especialmente
na planície pantaneira, que corresponde a 25,7% da área dos
estabelecimentos agropecuários, e em pastagens artificiais, 38,8% das terras
ocupadas pela atividade. O rebanho bovino tem grande expressão,
especialmente na região do planalto, onde soma cerca de 14 milhões de
cabeças.
Figura 8 - Mapa de localização da área de estudo
5.2. Base de dados
27
Os dados de focos de calor foram obtidos pelo portal do INPE – Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, pela DPI – Divisão de Processamento de
Imagens, no sítio do instituto, em formato shapefile, a fim de ser trabalhado no
ambiente do programa ARCGIS®.
Os dados de hidrografia forma obtidos no HIDROWEB, o portal da
Agência Nacional de Águas (ANA), e trabalhada na escala 1:250000. Os dados
de municípios, estados e bacias hidrográficas foram retirados do portal de
dados geográficos do Ministério de Meio Ambiente (MMA).
A delimitação da bacia foi feita utilizando as informações do Caderno da
Região Hidrográfica do Paraguai, que consiste em um material feito pelo
Ministério do Meio Ambiente que compila informações científicas do âmbito
ambiental à respeito desta região.
Os dados de foco de calor foram analisados do período dos anos 2010-
2014, restritamente dos meses de julho a novembro, devido ao período de seca
e maior incidência dos incêndios.
Os shapefiles de focos de incêndio foram obtidos dos estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do sul, e compilados por meio da ferramenta merge, de
forma a obter um único shapefile com todos os focos de calor dos 5 anos
estudados. Utilizando a forma do contorno da bacia, a ferramenta intersection
foi utilizada de forma a deixar apenas os pontos inseridos na área de interesse
(a bacia). Assim que verificada a consistência do resultado do programa, o
shapefile com os dados compilados foi trabalhada pela ferramenta localizada
no ArcToolBox, na área de Spacial Analisys Tools, Denstity o algoritmo do
método de Kernel foi selecionado. Assim, o produto final foi obtido, ou seja, um
mapa com 5 classes diferentes de cores que expressavam a densidade dos
focos de calor na área. O produto final possui tonalidades de cores diferentes,
divididos da seguinte forma: Vermelho significa densidade muito alta; Vermelho
em tom mais claro significa densidade alta; Laranjado significa densidade
média; Laranjado em tom mais escuro significa densidade baixa; Amarelo
significa densidade muito baixa.
28
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A relação foco versus queimada não é direta nas imagens de satélite. Um
foco indica a existência de fogo em um pixel, em que pode haver uma ou várias
queimadas distintas, onde a indicação será de um único ponto, no entanto, se a
queimada for extensa, ela será detectada em alguns pixeis vizinhos, ou seja,
vários focos estarão associados a uma única grande queimada (INPE, 2011).
A região hidrográfica teve o maior número de foco de incêndios no ano de
2010, com um total de 12240 focos, e o menor número em 2011 com 3829
focos.
A compreensão da distribuição espacial dos focos de calor é de suma
importância para que se possa identificar as áreas mais frágeis da bacia na
época de seca e direcionar as ações de controle combate de incêndios. Na
figura abaixo encontra-se a distribuição dos pontos nos meses julho a agosto,
no período de cinco anos, 2010-2014. Percebe-se que os pontos estão
distribuídos em toda a região. No entanto, com a diminuição da escala, os
pontos tornam-se mais espaçados entre si, tendo em algumas áreas
aglomerações consideráveis. Estas áreas serão consideradas para o algoritmo
que aplicará o método de Kernel na bacia.
29
Figura 9 - Distribuição espacial dos focos de calor na região hidrográfica
do Paraguai
O mapa de densidade de focos de incêndio (Figura 5) apresentou
densidades muito altas na região do pantanal, em Corumbá-MS, sendo que,
este município tem uma área muito grande, os focos de calor estão distribuídos
em toda a sua área variando da densidade fraca a muito alta. A densidade alta
foi percebida na região de Barão de Melgaço-MT. A densidade média foi
percebida nas regiões de Porto Murtinho-MS e Nossa Senhora do Livramento-
MT
30
Figura 10 - Região de densidade Alta
Figura 11 - Região de densidade Muito Alta
A tabela abaixo, estruturada a partir de dados do INPE, mostra outras
cidades que apresentaram focos de calor de densidade média a fraca.
31
Tabela 2 - Distribuição dos focos de calor para o período seco entre os anos de 2010-2014
UF NOME 2010 2011 2012 2013 2014
MS Corumbá 2124 516 5510 1033 661
MT Barão de Melgaço 1042 218 198 302 113
MT Cáceres 534 584 572 141 76
MS Porto Murtinho 928 536 228 443 117
MT Chapada dos Guimarães 24 39 23 20 16
MT Santo Afonso 74 9 61 24 25
MT Santo Antônio do Leverger 74 9 61 24 25
MT Cuiabá 343 52 97 112 34
MT Nova Marilândia 15 34 12 2 20
MT Pedra Preta 375 15 16 11 24
MT Rosário Oeste 554 67 225 121 69
MT Várzea Grande 46 28 24 20 23
MS Bodoquena 28 18 7 6 4
Na maior parte da região hidrográfica de interesse os focos são de
densidade muito fraca. Este fato pode ser explicado pelas queimadas naturais
do Cerrado por conta das condições climáticas, vegetacionais, edáficos e
culturais (MMA, 2011).
As densidades muito alta e alta obsevadas na região de Corumbá e Barão
do Melgaço podem ser explicadas pela principal atividade econômica que
essas cidades tem em comum: a agropecuária. Esta atividade está
historicamente envolvida com a prática de queimadas para realizar a limpeza
de terrenos e lavouras, e à eliminação pelo fogo de pastagem ressecada e
resíduos de plantas não úteis (BOEIRA, 2011).
É importante salientar que as queimadas são prejudiciais ao meio ambiente,
trazendo-lhe malefícios de diversas formas, dentre os quais pode-se destacar a
poluição do ar atmosféricos, pela liberação de gases nocivos ao bem-estar da
saúde ambiental. Acrescentando o que Cruz afirma “tal prática causa a
formação de fuligem que contém substâncias carcinogênicas, mutagênicas e
teratogênicas prejudiciais à saúde humana e ao próprio solo, causando o
empobrecimento destes, etc.” (2002). A problemática das queimadas é o
movimento dos gases poluentes pelos ventos, que os levam até as áreas
32
urbanas juntando-se aos gases já presentes na atmosfera urbana decorrentes
da atividade industrial e uso de combustíveis fósseis. Assim, mesmo que o foco
de queimada não esteja próximo da área urbana, os dados ainda poderão ser
refletidos na saúde da população.
No portal de notícias da cidade de Corumbá-MS consta diversas notícias
sobre a poluição atmosférica na época de seca causada pelas queimadas.
Inclusive existe um acervo de imagens tiradas do mirante Cristo Redentor da
cidade mostrando a cor cinzenta da cidade em épocas de queimada.
Figura 12 - Imagens da cidade de Corumbá-MS com a atmosfera cinza decorrente de queimadas
Fonte: Gazeta do Pantanal e Diário Online (2013)
Nos portais de notícia da cidade de Barão de Melgaço não foram
encontradas notícias sobre problemas enfrentados pela cidade com as
queimadas. Assim, pode-se deduzir que os reflexos das queimadas que
ocorrem na área do município são percebidos em outras cidades da região, ou
dissipam-se antes de chegar à área urbana.
33
7. CONCLUSÃO
O método se mostrou muito eficiente para a análise da densidade dos
pontos na bacia e detecção das áreas mais afetadas. Assim, os mapas de
densidade confeccionados podem ser usados para ações de gestão ambiental
e preservação das áreas de biomas como o pantanal e cerrado que estão
historicamente ligados à prática de queimadas. Com a localização das áreas
mais críticas é possível direcionar as ações e realizar conexões lógicas entre
os focos e as atividades econômicas desenvolvidas.
A densidade de Kernel pode ser utilizada também para estudos
envolvendo Áreas de Proteção Ambiental (APAs), áreas de regiões de mata
ciliar, perícia ambiental e controle da poluição do ar. Os focos de queimada
também podem ser estudados a fim de se conhecer a origem da poluição
atmosférica em épocas de estiagem.
34
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