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APONTAMENTOS DE ESGRIMA CEDIDOS PARA OS ALUNOS DO ANO LECTIVO 2009/2010 1

Apontamentos de Esgrima - Parte 1

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Esgrima - Apontamentos

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APONTAMENTOS DE ESGRIMA CEDIDOS PARA OS ALUNOS DO ANO LECTIVO 2009/2010

O Formador de EsgrimaPaulo Alexandre Moreira Machado

Maj Inf

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ÍNDICE GERAL

ÍNDICE GERAL.......................................................21. Introdução.................................................................................................................42. A Esgrima – Considerações Gerais.........................................................................4

2.1. Evolução Histórica........................................................................................62.2. A Realidade Nacional..................................................................................11

3. As Qualidades e Habilidades Básicas da Esgrima..........................................13A) Movimentos e Posições Fundamentais na Esgrima.................................14B) Os Ataques................................................................................................19C) As Paradas................................................................................................20D) As Respostas e Contra-respostas..............................................................20E) As Acções Preparatórias...........................................................................21F) Preparações de Ataque..............................................................................21G) Os Contra-Ataques...................................................................................21H) Remise e Reprise......................................................................................22

4. As Metodologias de ensino e Treino da Esgrima............................................22

5. As armas..........................................................................................................24A Espada........................................................................................................24O Florete........................................................................................................25O Sabre..........................................................................................................25

6. O Equipamento................................................................................................27O Gillet..........................................................................................................27A Máscara......................................................................................................27A Luva e Sapatos...........................................................................................27

Terreno de Jogo......................................................................................................30Convenções – Forma de tocar................................................................................31

Glossário.................................................................................................................32Salas de Armas em Portugal...................................................................................43Actualidades...........................................................................................................50Record......................................................................................................................50Infordesporto...........................................................................................................50F.P.E........................................................................................................................50Links.......................................................................................................................51

NOTA: Este documento contém o primeiro bloco de cinco blocos de apontamentos. Os restantes blocos de apontamentos de esgrima serão cedidos gradualmente aos alunos, respeitando a sequência do planeamento das matérias.

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Blo

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co 1

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1.1. INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

A Esgrima pode ser definida como

manejar uma arma branca, procurando

atingir o adversário sem por ele ser tocado.

Praticada como desporto, está incluída no

programa dos Jogos Olímpicos desde a sua

criação, em 1896. A sua prática é

regulamentada pela Federação

Internacional de Esgrima (FIE), fundada

em 1913. É um excelente meio de manter o

gosto pelo esforço físico, de exercitar a

inteligência, o golpe de vista, os reflexos e

o sentido táctico. Desenvolve tanto as

faculdades morais como as aptidões

físicas, tanto o espírito de luta como o

vigor e a destreza.

A esgrima em si tem uma origem de, pelo

menos, três mil anos. Um templo egípcio

construído em 1170 a C. mostrava alguns

guerreiros semi-despidos, empunhando

armas pontiagudas, com bicos de

protecção.

Desde sempre o homem teve necessidade,

para se defender ou não, de esgrimir

diferentes instrumentos.

Figura 1 - Assalto entre dois atiradores

2.2. A ESGRIMA – CONSIDERAÇÕES GERAISA ESGRIMA – CONSIDERAÇÕES GERAIS

A origem das lutas surge como uma forma de autodefesa visando a resolução de

situações conflituosas. Regras cada vez mais estritas foram sendo elaboradas com o

objectivo de controlar a violência e a excitação, diminuindo os riscos de possíveis

acidentes no que vem a ser o novo fenómeno social moderno que são os desportos.

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Por outro lado assistimos também ao discurso, que defende a utilização das lutas como

prática de actividade física, capaz de canalizar a agressividade, incutir valores de

respeito ao outro e as regras, que serão, em última análise, recurso pedagógico para

diminuir e controlar a violência.

A Esgrima parece ser a primeira forma de luta praticada a ser encarada como meio de

educação física. Ela era praticada principalmente dentro das instituições militares e fez

parte da formação dos primeiros instrutores de educação física. Apesar disso, não foram

encontrados estudos nesta área no âmbito do processo de ensino-aprendizagem.

Na sua origem podemos referir-nos às lutas tanto como uma ginástica preparatória para

a guerra, presente em rituais diversos, como pelo sentido natural da sua presença lúdica

no desenvolvimento humano, forma específica de actividade, significante e com função

social. As actividades físicas, sejam elas lúdicas ou não, são fenómenos de cultura,

indissociáveis dos outros fenómenos de civilização (Ullman, 1997). Podemos então

afirmar que o ensino e treino das lutas pode contribuir para a prática das actividades

físicas enquanto cultura corporal do movimento, contribuindo para formação global do

indivíduo.

Olhando a partir de Portugal, encontramos já preocupações com o desenvolvimento do

corpo em diversas instituições educativas dos séculos XVII e XVIII. Nos

estabelecimentos escolares destinados aos filhos das famílias privilegiadas, os planos de

estudo contemplavam exercícios como a esgrima, a dança e a picaria, actividades físicas

entendidas como adequadas à aristocracia e que, por isso, tenderam a ser cada vez mais

oferecidas em colégios destinados aos mais abastados (Ferreira, 2000; Crespo, 1991).

Em 1919, o Ministério da Guerra determinava a elaboração das bases de uma unidade

de formação de esgrima a incluir no futuro Instituto de Educação Física do Exército.

Assim, concretizando-se anseios vindos de militares e civis, entrava em funcionamento,

em 1922, a Escola de Esgrima do Exército e era criado o Curso Normal de Educação

Física pelo Ministério da Informação Pública, em 1921, dois anos depois integrado na

Escola Normal Superior de Lisboa com a redução dos estudos de três para dois anos.

Não tardou, no entanto, que as Escolas Normais Superiores fossem extintas (1930),

tendo sido criadas, em sua substituição, as secções pedagógicas das Faculdades de

Letras de Lisboa e de Coimbra, que não tinham condições para superar uma excessiva

generalização pedagógica (Crespo, 1991).

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Durante muitos anos o ensino das lutas esteve restrito ao que se fazia nas instituições

militares, nos clubes ou academias e neste caso quem dirigia os considerados treinos, na

grande maioria das vezes não seriam professores de educação física e quando isto

ocorria, não havia muita diferença entre o que era proposto, pois o formato competitivo

ou de defesa pessoal falavam mais alto. A prática desportiva, considerando as

competições oficiais como parâmetros de regras a serem seguidas, ainda é uma

realidade encontrada em determinados estabelecimentos de formação de professores de

educação física. Devemos ter consciência que qualquer actividade física desportiva não

é nem nociva nem virtuosa em si, ela transforma-se segundo o contexto.

2.1.2.1. EEVOLUÇÃOVOLUÇÃO H HISTÓRICAISTÓRICA

Não é possível falar de esgrima sem considerarmos todas as suas formas de expressão

ao longo dos séculos. Impõe-se um resumo histórico com a finalidade de sublinhar a

riqueza desta modalidade.

Desde sempre o homem, para se defender e compensar sua inferioridade, improvisou e

inventou armas. Utilizando-se de bastões, lanças e objectos de ponta, desenvolveu

movimentos de ataque e defesa, passando assim a esboçar rudimentos de diversas

modalidades desportivas actuais, entre elas, a Esgrima.

Etimologicamente o termo “Esgrima” provém do italiano “Scrima”, que significa “a

eliminar”. Quando a arte da esgrima italiana se difundiu pela Europa, surgiu o termo

francês “Escrémie”, que deriva do verbo “Escrémir”, significando luta de espada. Da

Alemanha surge o termo “Schirman”, cuja tradução é “Proteger”.

Podemos dividir a história da esgrima em quatro períodos: o primeiro da pré-história ao

século XVI, o segundo do século XVI até meados do século XVIII, o terceiro até ao

século XIX e o quarto do século XIX até aos nossos dias (Ribeiro, 2007).

No Egipto, no Templo de Medinet-Abou construído por Ramsés III no alto Egipto,

existem baixos-relevos de guerreiros empunhando armas pontiagudas com bicos de

protecção e utilizando máscaras, pelo que se supõe ter chegado a haver torneios

próprios, de autênticas competições (Azinhais, 1975).

 Os primeiros princípios teóricos do manejo de armas terão surgido na Índia, tendo sido

compilados num livro relacionando Deuses e Heróis mitológicos com diferentes armas.

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Na obra “Ilíada”, de Homero, é já empregue o termo “hoplomachies” para designar o

combate homem a homem nos concursos organizados nas festas públicas.

Em Atenas, a “hoplomacia” – ciência das armas – acentuava a necessidade de aceitar o

conselho dos mais hábeis, chamados “Mestres de Armas”, na determinação dos golpes a

aplicar ou para parar o adversário. Estes mestres de armas seriam pagos pelos ginásios

que organizavam os concursos para os homens e as crianças. Começou-se a utilizar o

escudo, ao qual é atribuído uma grande importância e simbolismo.

Os Romanos contribuíram bastante para o desenvolvimento da esgrima. Começaram a

treinar os seus soldados individualmente, com método rigoroso e científico, não

esquecendo os próprios efeitos psicológicos (Azinhais, 1975). Foram então criados

ginásios onde se praticava a esgrima. Os mestres de esgrima (“Doctores Gladiatorium”)

treinavam os gladiadores e os legionários para a técnica do gládio. Apelavam

principalmente ao golpe de ponta. A prática da esgrima servia não apenas para melhorar

o exército, mas também para entretenimento dos jovens que se juntavam para jogar.

Os Romanos aliaram ao escudo grandes e resistentes armaduras, assim como uma cota

de ferro e aço, que utilizavam por baixo das armaduras, protegendo o corpo contra as

flechas e auxiliando nos confrontos contra o bastão, a lança e o machado.

Com a queda do Império Romano as tribos Germânicas espalharam-se por toda a

Europa, sendo aqui a esgrima utilizada não apenas para a guerra mas também para

duelos pessoais e para resolver questões judiciais. As armas voltam às suas primitivas

funções e para defender os próprios direitos estabelecidos pelas leis. Os Bárbaros

impõem o direito do mais forte e introduzem o duelo judiciário, chamado o “Juízo de

Deus” (Azinhais, 1975)

No século XIV apareceu a “espada a duas mãos”, armas mais sólidas, mais longas e

mais pesadas. O objectivo era impor uma maior força para “furar as armaduras e cortar

os membros do adversário.

Ainda no século XIV, com a chegada da pólvora à Europa e com o aperfeiçoamento das

armas de fogo deu-se uma enorme revolução na esgrima. De facto, com a introdução

das armas de fogo, na Batalha de Crecy, em 1346, o valor da espada como arma de

guerra começou a declinar. Mas ao contrário do que se poderá pensar, o aparecimento

das armas de fogo provocou uma evolução na esgrima. O uso das armas de fogo fez

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com que se abandonassem as armaduras, cuja protecção contra as armas de fogo não era

tão eficaz e provocava a lentidão das tropas. A espada passaria a ser utilizada, em

primeiro lugar, com a finalidade de resolver questões de honra. Eram os chamados

duelos de morte. Um cavaleiro nunca sabia quando lhe seria feito um desafio, pelo que,

por precaução, a nobreza dedicava muito tempo e dinheiro a aprender a arte da espada.

Desta forma os nobres procuraram um manejo mais hábil da espada, de forma a

controlarem o povo e a burguesia, que perante a impossibilidade de adquirir armaduras

devido ao seu elevado preço se tinham especializado na habilidade do manejo da arma.

Neste século os alemães consideraram que a excitação e o desafio do duelo poderiam

atingir-se sem derramar sangue. Iniciaram então um movimento tendente a desenvolver

a esgrima como desporto. Inventaram armas de treino para bater-se em duelo e foram os

primeiros a introduzir um juiz para dirigir os combates e decidir do vencedor. Só que a

esgrima da forma que os alemães a vislumbravam e praticavam não foi adoptada de

bom grado pelos outros países, pelo que os duelos continuaram a dominar.

O documento escrito mais antigo que se conhece data de 1410 e trata-se de um resumo

dos conhecimentos da esgrima na Idade Média. Deve-se ao mestre italiano Fiori dei

Liberi e denomina-se “Flos Duellatorum in armis, sine armis, equester, pedester”.

A esgrima desenvolveu-se em quase todos os países da Europa, sendo de destacar a

Espanha, onde assumiu grande relevo, adquirindo conotações místicas e de grande

complexidade, sob a orientação de mestres como Narvaez e Thibault.

O conceito germânico de esgrimir como desporto difundiu-se amplamente nos séculos

quinze e dezasseis, mas havia pouca uniformidade na execução. As armas eram mais

pesadas que as modernas, umas de bronze e outras de ferro, umas actuavam por corte

(modelo inglês) e outras apenas por estocada, aperfeiçoadas pelos italianos, que dariam

origem ao “rapière”. Os franceses usavam outro tipo de arma, uma espada curta, de

forma similar a um punhal, mas um pouco mais larga. Os espanhóis usavam todas as

armas mencionadas, segundo as necessidades especiais do momento do duelo.

No século XVI surge a “Rapière”, uma arma larga, direita, de dois fios e ponta aguda,

que os alemães rapidamente adoptaram e que viria também a ser a arma do duelo por

excelência. Diferenciava-se pelo seu comprimento, lâmina fina e não servia para cortar.

O aperfeiçoamento da espada tornou-a mais simples e leve, sendo o golpe dado apenas

com a ponta. A leveza da arma fez surgir um estilo complexo e defensivo.

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O abandono da arma a duas mãos e das pesadas armaduras mudaria o cenário do

combate. A partir daqui a prática da esgrima toma a sua verdadeira essência – o

desenvolvimento da técnica; na Itália, com o desenvolvimento dos mestres italianos, a

esgrima assiste a um grande desenvolvimento da sua técnica.

Por volta do século XVII a escola francesa abandona a “Rapière” italiana e espanhola

para adoptar o “Florete Francês”. Este surge como uma espada usada para o treino, que

possuía uma ponta de segurança feita de couro num formato de uma flor presa à ponta,

que ficou conhecida como “Le Flereut”. Seria uma arma mais leve do que a “Rapière”.

Dá-se o desenvolvimento de uma escola baseada na subtileza do movimento e na

prática, sendo introduzidas noções como esgrima em linha e guarda.

A descoberta da imprensa permite o aparecimento e a divulgação dos tratados de

esgrima (Azinhais, 1975), pelo que, resultado em parte do elevado número de

publicações relacionadas com a modalidade, no final do século XVII se assiste a um

aperfeiçoamento da esgrima.

Os séculos XVIII e XIX são extremamente importantes no desenvolvimento da esgrima

como desporto, com a invenção da máscara e a organização de inúmeros torneios. A

máscara era semelhante à actual, constituída por uma malha de ferro protegendo toda a

face e parte lateral e superior da cabeça.

As escolas de esgrima mais proeminentes seriam as de França, Itália e Espanha. A

escola francesa baseava-se no conceito de agilidade enquanto o fundamento da escola

italiana era o uso da força. Os espanhóis combinaram as escolas francesa e italiana e

conseguiram dar um aspecto mais científico ao combate.

É interessante constatar que esta evolução terá uma relação com os acontecimentos do

final do século XVIII, como a Revolução de 1789, onde os movimentos científicos e

filosóficos já não se limitariam a um pequeno grupo de elite, mas ter-se-ão antes

vulgarizado. Nos diferentes países da Europa os filósofos e pedagogos por um lado e os

técnicos de esgrima por outro debruçaram-se sobre a educação em geral e sobre os

métodos de treino físico em particular. A nova pedagogia tende a considerar não apenas

o domínio da teoria, mas atribui grande importância à prática.

A literatura e o teatro romântico também contribuíram decisivamente para que os

torneios e os duelos ficassem “na moda”.

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No final do século XIX, mais precisamente em 1896, em Atenas, a esgrima surge no

calendário dos Jogos Olímpicos, já como desporto de competição, desde a primeira

edição da era moderna, por iniciativa do Barão Pierre de Coubertin.

O objectivo principal no decorrer de um assalto de esgrima sempre foi “tocar primeiro”.

Mas a dificuldade de julgamento do árbitro impôs a invenção de um aparelho que

permitisse interpretar os golpes numa fracção de segundo. A electricidade viria a

facilitar a solução do problema e consequentemente um progresso considerável na

esgrima de competição. A ideia de utilizar um circuito eléctrico que ligasse os

adversários a um aparelho de controlo que indicasse qual dos dois atiradores seria

tocado primeiro terá surgido do francês “Lacan et Souzy”. Mas o primeiro aparelho em

circulação foi construído pelo suíço “M. L. Pagan” e experimentado em Novembro de

1931. O emprego deste aparelho foi tornado obrigatório em 1934 no Campeonato da

Europa de Budapeste. O aparelho referido aplicava-se apenas à espada e foram

necessários cerca de vinte anos até surgir um outro que se aplicasse ao florete eléctrico.

O projecto foi adoptado e aplicado em regulamento definitivo em 1958.

A sinalização eléctrica veio modificar completamente a técnica e a táctica nas

competições. Antes do aparecimento do material eléctrico o julgamento era somente

humano. A regra de ouro era “tocar sem ser tocado”.

Nos últimos dois séculos todas as regras e convenções de esgrima foram desenvolvidas.

Os duelos entraram então em declínio como o meio de resolver disputas, uma vez que se

tornou uma actividade proibida.

No início do século XX criaram-se as primeiras federações nacionais de esgrima e em

1913 nasceu a Federação Internacional de Esgrima, em cuja reunião esteve, a título

“oficioso” um representante de Portugal (Azinhais, 1975).

Efectuam-se os primeiros Campeonatos da Europa, a princípio individualmente e logo a

seguir por equipas e às três armas, a que se sucederam os Campeonatos do Mundo.

Em 1924 efectua-se a primeira prova olímpica feminina de esgrima, que se torna uma

das primeiras modalidades a admitir senhoras nos Jogos Olímpicos, o que origina a

polémica que viria a afastar o barão Pierre de Coubertin dos jogos que ele criara

(Azinhais, 1975).

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Segundo o Tratado de Masaniello Parise, que constituiu um texto de estudo de todas as

gerações de esgrimistas italianos desde 1884, a esgrima pode ser considerada como

“expressão do instinto inerente ao homem de dominar os movimentos do seu corpo e da

arma que tem na sua mão, da forma que lhe pareça mais eficaz, para defender-se de

quem o assalta, e vencê-lo”. Com esta definição poderemos dizer que a esgrima nasceu

com o próprio homem. Para De Molière (Le Bourgeois Gentilhome), “esgrimir é a arte

de tocar sem ser tocado. A necessidade de tocar o adversário sem ser tocado converte a

esgrima numa arte difícil e complicada. Os olhos que observam e previnem, o cérebro,

que considera e decide, a mão que executa a decisão tendo que pôr em harmonia a

precisão com a velocidade, para infundir a vida necessária à espada”. Daqui se deduz

ser a esgrima uma arte capaz de conduzir o homem na escola da humildade, do

cavalheirismo no âmbito do pensamento e da acção, do equilíbrio, da beleza, da

completa harmonia e controlo do corpo (Rodrigues, 1984).

Hoje em dia, a esgrima é praticada por crianças e adultos, de ambos os sexos e sem

limite de idade, permitindo diversão e competição utilizando a inteligência e a destreza

de movimentos, na busca de "tocar sem ser tocado". Actualmente realizam-se

competições oficiais masculinas e femininas nas modalidades Florete, Espada, e Sabre.

Neste final de século, os países que mais se destacam são França, Itália, Hungria,

Polónia, Alemanha, Rússia, Ucrânia e China.

2.2.2.2. A RA REALIDADEEALIDADE N NACIONALACIONAL

A esgrima moderna em Portugal foi fortemente influenciada pela Espanha nos séculos

XVI e XVII. O grande apogeu da esgrima espanhola coincidiu praticamente com o

domínio dos Filipes em Portugal e como era natural os primeiros tratados de esgrima

portugueses conhecidos, escritos no século XVII, referem-se aos grandes mestres

espanhóis (Azinhais, 1975).

De entre grandes nomes da esgrima nacional há a destacar aquele que é considerado o

grande mestre das últimas gerações, mestre António Pinto Martins, que em finais do

século XIX fundou o Centro Nacional de Esgrima, instituição tutelada pelos Ministérios

da Guerra e da Marinha. Foi este grande mestre formou discípulos notáveis, grandes

nomes da esgrima portuguesa, como Henrique da Silveira, Eça Leal, João Sasseti,

Frederico Paredes e Gustavo Carinhas.

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Deve ser também salientado o valioso trabalho executado pela Escola de Esgrima do

Exército, na qual trabalharam “mestres” como Veiga Ventura, Gonçalves Mendes e

Óscar Mota, lançando, entre outros, mestres como Campos Andrada, Herculano

Pimentel, Martins Correia, etc.(Azinhais, 1975).

A presença de esgrimistas portugueses em provas internacionais e nacionais permitiu o

registo de bons resultados na história da esgrima portuguesa, tendo contribuído

significativamente para o desenvolvimento desta modalidade.

Em 1912, em Estocolmo, quando os portugueses participam pela primeira vez em Jogos

Olímpicos, está lá um esgrimista português, Fernando Correia, um dos fundadores do

Comité Olímpico Português.

Com a eclosão da Grande Guerra, não se realizam os Jogos Olímpicos de 1916, que

iriam ter lugar em Berlim, e as grandes provas desportivas multidisciplinares só voltam

a realizar-se em 1919, com os Jogos Interaliados de Paris, em que tomam parte as

equipas representativas dos 18 países vencedores. Portugal apresentou equipas de sabre

e de espada, obtendo nada menos do que 3 medalhas de prata, individualmente (Jorge

Paiva) e por equipas em espada e em sabre. No ano seguinte, os portugueses voltam a

apresentar-se nas provas de espada dos Jogos Olímpicos de Antuérpia, classificando-se

na quarta posição.

Em 1922 é criada a Federação Portuguesa de Esgrima, em Lisboa.

Nos Jogos Olímpicos de 1924 voltam a classificar-se em 4º lugar e em 1928, em

Amesterdão, no 3º lugar. Ausente em 1932, em Los Angeles, por querelas internas, a

equipa comparece em 1936, em Berlim, onde é semi-finalista por equipas e Henrique da

Silveira é 5º classificado, após ter feito figura de possível vencedor (Azinhais, 1975).

Pode dizer-se que os esgrimistas desse tempo pertenciam à elite da esgrima mundial.

Esta modalidade, que sempre assumiu um carácter elitista, torna-se mais acessível a

partir de 1939 com os Centros Especiais da ex-Mocidade Portuguesa, criados nos liceus

de Lisboa, Porto, Coimbra, Guarda, Santarém e Viana do Castelo.

Após a II GM, os grandes atiradores que se haviam batido nos Jogos Olímpicos

envelheceram e os mestres de armas não conseguiram acompanhar o desenvolvimento

das novas tácticas e técnicas.

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Nos terceiros Campeonatos do Mundo de Esgrima, organizados em Lisboa, no Pavilhão

Carlos Lopes, em 1947, despertam pouco mais que a curiosidade de alguns

espectadores. Em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres, foi medíocre a actuação dos

esgrimistas portugueses, que não conseguiram ultrapassar as primeiras eliminatórias.

A partir daqui, a esgrima em Portugal baixa de nível técnico e não consegue impor-se a

nível mundial.

Só após o 25 de Abril de 1974, com a implementação dos planos de desenvolvimento, a

esgrima inicia um importante período de desenvolvimento e expansão. É a partir de

então que o Estado começa a ter consciência do progresso que a esgrima começa a

revelar e a conceder-lhe apoios capazes de levar os portugueses a competir com os

melhores atiradores europeus.

Actualmente a esgrima está, graças ao incessante e insistente trabalho de atletas,

treinadores e dirigentes, a ganhar a qualidade de outrora. O nível de alguns atiradores

portugueses é excelente e há jovens atiradores já com um palmarés invejável, como é o

caso de João Gomes e Joaquim Videira. Pelas suas prestações o pódio torna-se natural,

bem como as nomeações para os Jogos Olímpicos. A continuidade deste trabalho de

qualidade e abnegação só pode resultar no aparecimento de mais excelentes atiradores e

treinadores.

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