If you can't read please download the document
Upload
francisco-serpa
View
109
Download
3
Embed Size (px)
Citation preview
Apontamentos:
Escudo
Volume 1: Portugal (1910-1932)
Nuno Couto
Apontamentos: Escudo
1
Para a
Renata
Apontamentos: Escudo
2
Apontamentos: Escudo
3
A compreenso e o estudo de uma coleco so algo nunca terminados. A capacidade de com-
preender o porqu de determinadas escolhas em termos de metais e volume de emisses s
se compreendem pelo estudo do estado econmico e financeiro do momento. Por outro lado,
importante compreender e perceber o porqu de determinados smbolos usados nas moe-
das e nas notas e a razo de determinadas referncias a certas figuras e momentos da nossa
histria.
Assim, para melhor acompanhar a minha coleco pessoal, meti mos obra para melhor
compreender o que tinha minha frente. Desta forma, a coleco tem no s as histrias rela-
cionadas com a aquisio desta ou daquela pea, mas tambm se capaz de explicar porque
surgiram moedas de ferro, ou porque so tantas as moedas comemorativas do tempo dos
descobrimentos. No ser um guia completo, ser mais uma pequena introduo. Ser como
que um resumo tipo American Express, passe a publicidade para uma qualquer viagem, um
bom ponto de partida.
A organizao foi cronolgica, procurando-se explicar os smbolos colocados em cada moeda,
as comemoraes e as suas caractersticas tcnicas. Cada moeda tem uma ficha tcnica com
numerao pessoal. As notas surgem de acordo com a sua introduo (data impressa) fazen-
do-se uma descrio das vrias assinaturas presentes, caractersticas tcnicas e por fim, descri-
o da bibliografia da personagem invocada. Tal como nas moedas foi colocado uma caixa de
ficha tcnica por chapa. Embora no sejam notas, foi dada ateno s Cdulas da Casa da Mo-
eda e da Santa Casa da Misericrdia de Lisboa aceites para todo o pas em determinado mo-
mento.
Como para compreender estas peas necessrio compreender os seus autores, foi colocada
uma curta biografia dos escultores destas belas peas. Em relao s notas optou-se por des-
crio das tipografias responsveis pela produo das notas. Sempre que surgiu um tipo de
metal ou liga novo foi tambm feito a sua caracterizao.
Organizou-se para mais fcil consulta toda a obra em vrios volumes: Portugal 1910-1932,
Portugal 1933-1986, Portugal 1987-2001, Portugal Emisses especiais, erros e variaes e
outras curiosidades e Legislao. Ser posteriormente produzidos volumes referentes s emis-
ses realizadas nas Colnias no mesmo perodo.
Espero que a sua leitura seja to interessante como a sua produo.
Apontamentos: Escudo
4
Apontamentos: Escudo
5
Os subscritores do decreto fundador do escudo (da esquerda para a direita): Tefilo Braga, Antnio Jos de Al-meida, Bernardino Machado, Jos Relvas, Antnio Xavier Correia Barreto, Amaro de Azevedo Gomes, Manuel de Brito Camacho.
Aps a substituio de todos os grandes smbolos de regime, faltava substituir a moeda cor-
rente. De facto, sem grande fantasia que se pode imaginar algumas das grandes figuras do
regime republicano a discutir a vergonha que poderia transparecer de um regime republicano
ter como moeda o Real com bustos de antigos monarcas.
O antigo sistema criado cinco sculos antes embora tendo sofrido vrias
evolues e revolues estava caduco e era perfeitamente desadequado.
Tal como referido no decreto fundador, era j desadequado o sistema,
o toque de moedas de prata e ouro. De facto, o valor de 1 real era irris-
rio, levando a utilizao para valores correntes a um mnimo de dois ze-
ros. Para alm deste facto a moeda estava muito desvalorizada quando
comparada com as moedas das grandes potncias europeias (fruto das
desvalorizaes aps a crise do Ultimato). Assim, a nova moeda, teria o
valor nominal equivalente a 1000 ris.
O sistema foi totalmente revolucionado com novas moedas em ouro (1$, 2$, 5$ e 10$), em
prata ($10, $20, $50 e 1$) e bronze-nquel (4, 2, 1 e 0,5 centavos). Destas as de ouro nunca
seriam produzidas e as de bronze-nquel sofreriam ainda vrias alteraes at serem produzi-
das.
Outro dos problemas invocados em relao ao Real, era a existncia de diferentes toques de
prata na amoedao e ser este toque pouco conveniente para a produo aquela poca de
moeda (916/1000 para as moedas de 500 e 1000 ris; 835/1000 para as restantes). Assim,
definiu-se para as de 1$ toque de 900 milsimas (semelhante ao utilizado na Espanha) e de
835 milsimas para as restantes. Este toque seria depois reformulado (lei 220 de 30/06/1914)
passando as de 1$ tambm a ter toque de 835 milsimas.
Embora definindo cuidadosamente os custos de produo da nova numria a lei no enume-
rou vrios pontos importantes: quando entrariam em circulao as novas moedas (pressupe-
se que poderia ser a partir da data da sua publicao, mas as primeiras moedas s comeam a
circular em 1913), data de recolha da numria monrquica, possvel perodo de transio (
referido um perodo de trs a quatro anos para toda a nova numria ser produzida, algo im-
possvel com as condies financeiras do estado e capacidade produtiva da Casa da Moeda
poca), regras e datas para os concursos a abrir para os novos desenhos (situao que condu-
ziria a grande celeuma posteriormente), a questo das moedas de ouro poderem ser cunhadas
a ttulo particular (trocando ouro puro por moeda) sem qualquer definio do aspeto da moe-
Jos Simes de Almeida Escultor portugus (1880-1950) for-mado na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1903, onde trabalhou como docente posteriormente. Responsvel pelo busto oficial da Repblica e por vrias obras em monumentos nacio-nais (como o Palcio de So Bento, Cmara Municipal de Lisboa ou Mo-numento ao Marqus de Pombal). A sua ligao ao desenvolvimento do busto oficial levou-o a participar no concurso para as primeiras moedas de escudo, tendo o estudo sido escolhido para as moedas de prata ento cria-das.
Apontamentos: Escudo
6
da ou volumes de circulao (de facto, estas moedas nunca passaram das provas). Todas estas
indefinies so um bom exemplo da incapacidade de governar um pas verdadeiramente in-
governvel e ser verdadeiramente visvel para incapacidade de cumprir em praticamente
todos os pontos esta lei criadora do Escudo. Fica no entanto para a histria este documento
como o primeiro do Escudo moeda que quase chegou aos cem anos de vida e acompanhou
Portugal em praticamente todo o sculo XX.
Das moedas previstas neste decreto s seriam produzidas as de prata ($10, $20, $50 e 1$). Em
relao s moedas de 1$, refira-se novamente a reforma em relao ao toque em prata ocor-
rido posteriormente. As moedas com autoria de Jos Simes de Almeida eram muito seme-
lhantes entre si. Assim, no anverso surgia o valor facial na base do escudo republicano envolvi-
cunhagem na base e no campo a efgie da Repblica com barrete frgio com ramos de trigo a
olhar esquerda.
O Braso de Armas
O Braso de Armas de Portugal pode ser descrito heraldicamente do seguinte modo:
de prata, com cinco escudetes de azul, postos em cruz, cada um carregado por cin-co besantes de prata, postos em aspa; bordadura de vermelho carregada de sete cas-telos de ouro; o escudo sobreposto a uma esfera armilar, rodeada por dois ramos de oliveira de ouro, atados por uma fita verde e vermelha
Quanto ao seu significado, a explicao lendria do escudo de prata carregado de escudetes azuis besantados de prata nasceria da mtica batalha de Ourique, na qual segunda a lenda, Cristo teria aparecido a D. Afonso Henriques prometendo-lhe a vitria, se adotasse por armas as suas chagas (em nmero de cinco, donde os cinco escudetes); sobre a origem dos besantes,
diz-se ser a representao dos trinta dinheiros pelos quais Judas vendeu Jesus aos romanos (dobrando-se o nmero cinco no escudete central, por forma a totalizar trinta e no vinte cinco). Contudo, sabe-se pelos selos rgios e numism-tica que o nmero de besantes mudou bastante ao longo da primeira dinastia, logo havendo um significado herldico, no poderia ser esse. Outros afirmam ser a prova da sobe-rania portuguesa face a Leo, pelo direito que assistia ao soberano de cunhar moeda prpria - de que os besantes
mais no so que a constatao herldica desse facto.
A bordadura de vermelho carregada de sete castelos de ouro representa, segundo a tradio, o antigo reino mouro do Algarve, conquistado por Afonso III em 1249; a sua origem, porm, muito mais obscura, sendo que, por Afonso III ser irmo de Sancho II, no podia usar armas limpas - e dessa forma, para marcar a diferena face s armas do pai e do irmo, foi buscar s armas maternas (de Castela), o elemento central para o distinguir (os castelos em bordadura vermelha, tal como as armas de Castela eram um castelo de ouro sobre fundo vermelho). Para alm disso, a bordadura, em certos momentos da histria, j possuiu mais do que os sete cas-telos atuais.
Por fim, a esfera armilar de ouro, smbolo pessoal de D. Manuel I representa a expanso mar-
tima dos Portugueses ao longo dos sculos XV e XVI. Historicamente, a associao da esfera
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Escudete&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Azure_(her%C3%A1ldica)http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Besante&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Sautorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Guleshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Castelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Castelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Or_(her%C3%A1ldica)http://pt.wikipedia.org/wiki/Esfera_armilarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Oliveirahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vert_(her%C3%A1ldica)Apontamentos: Escudo
7
armilar a D. Manuel deu-se aquando da sua investidura no Ducado de Beja por D. Joo II, em
1484, logo aps o assassnio do seu irmo D. Diogo, Duque de Viseu, tendo D. Joo concedido a
D. Manuel, por empresa a esfera armilar, e por mote a misteriosa palavra Spera (que, pela
confuso entre o p e o dgrafo ph, com valor de f, acabou sendo lida como Sfera, criando um
jogo de palavras entre a esfera, como representao do mundo, e a espera de D. Manuel para
alcanar um trono ao qual nunca havia pensado chegar).
Efgie da Repblica
A imagem da Repblica foi adotada como smbolo da Repblica Portuguesa, na sequncia da implantao do novo regime, a 5 de Outubro de 1910. A imagem da Repblica Portuguesa foi representada de vrias formas, seguindo o modelo genrico da Liberdade de Eugne Delacroix, individualizando-se, apenas, pelas cores vermelha e verde das suas roupas (cores da nova Bandeira Nacional). A partir de 1912 o busto da Repblica, esculpido por Simes de Almeida, torna-se o padro oficial da imagem da Repblica Portuguesa, sendo usado como efgie nas moedas de escudo e de centavos e colocado nas reparties pblicas.
O busto da Repblica passou a ser considerado um dos smbolos nacionais de Portugal, a par do retrato oficial do Presidente da Repblica, do braso de armas, da bandeira e do hino. Tor-nou-se obrigatria a existncia de uma reproduo do busto da Repblica, em local de desta-que, em todos os edifcios pblicos. Entretanto, ao contrrio do que aconteceu com os restan-tes smbolos nacionais, o uso da imagem da Repblica foi caindo em desuso, sendo, hoje, raro.
Ficha Tcnica
Peso: 2,5 g Dimetro: 20 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composio: Ag 835 Autor: Jos Simes de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano Cunhagem Cdigo 1915 3 419 000 005.01
Apontamentos: Escudo
8
Inocncio Camacho Rodrigues
Antnio Jos Gomes Netto
Henrique Matheus dos Santos
Jos Paixo Castanheira das Neves
Joo Pereira Cardoso
Joo da Mota Gomes Jnior
Jos Flix da Costa
Ficha Tcnica
Peso: 5 g Dimetro: 24 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composio: Ag 835 Autor: Jos Simes de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano Cunhagem Cdigo 1913 539 775 002.01 1916 706 225 002.02
Ficha Tcnica
Peso: 12,5 g Dimetro: 30 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composio: Ag 835 Autor: Jos Simes de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano Cunhagem Cdigo 1912 1 695 000 001.01 1913 4 443 298 001.02 1914 4 991 790 001.03 1916 5 079 935 001.04
Apontamentos: Escudo
9
Augusto Jos Cunha
Duarte Augusto Abrantes Bizarro
Francisco Maria da Costa
Manuel Antnio Dias Ferreira
Ruy Ennes Ulrich
A introduo da nova numria, bem como das novas notas era tudo menos simples. As dificul-
dades em criar novas notas associada s necessidades impostas pela falta de dinheiro metlico
levaram ao lanamento para a circulao em 7/1911 e 12/1912 de duas chapas de notas em
ris (5000 ris chapa 7 e 20000 ris chapa 9) j fabricadas e em armazm na Casa da Moeda
surgiu o aproveitamento das notas criadas para o valor de 5000 ris com a
efgie de Alexandre Herculano previamente produzidas em Londres
(Bradbury, Wilkinson & Co Ltd) alterando o valor monetrio para o atual 5$.
Neste contexto nasceu a primeira nota republicana (5$00 Ouro chapa 1
Alexandre Herculano com data de 29 de Julho de 1913) emitida a partir de
10 de Outubro de 1914.
Esta nota tal como outras de baixo valor emitidas neste perodo (durante a
Primeira Grande Guerra e nos anos de ps-guerra) tiveram como objetivo
minimizar os problemas causados pela falta de moeda metlica. A profuso
de chapas em diferentes valores (alguns a sobreporem-se moeda metli-
ca) assim como de posteriormente de cdulas levou praticamente ao colap-
so do sistema financeiro portugus s resolvido com a reforma de Salazar.
As chapas foram gravadas na casa londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltdque ficou responsvel
pela estampagem. O desenho do retrato de Alexandre Herculano e da Torre de Belm (verso)
foram da autoria do gravador da Casa da Moeda Armando Pedroso. A frente com estampagem
calcogrfica em violeta sobre fundo tipogrfico azul e amarelo de linhas ondeadas que se cru-
zam. Em ambos os processos foram aplicada ornamentao em guilhoch em linha branca e
preta. O reverso em castanho, totalmente em tcnica calcogrfica com trabalho de torno
geomtrico em linha branca, fundo tipogrfico com linhas ondulantes paralelas verticais, ao
centro em amarelo o qual se esbate para verde nos lados.
Dire-
tor
Portugal mas nas edies posteriores a 12/01/1921 foi realizado aps novo contrato na firma
estampadora.
O papel foi fabricado pelo papeleiro francs Perrigot-Masure
nico elemento de segurana a marca de gua com uma cabea de Minerva, de perfil a olhar o
em letra sombreadas bordadas de
um reflexo claro.
Bradbury Wilkinson & Co Ltd Antiga companhia inglesa de produo
de notas, selos e certificados de aes.
A companhia original foi fundada em
1856 por Henry Bradbury (1831-60).
Em 1861 a companhia estabeleceu-se
em New Malden no Surrey onde se
manteve at 1986 quando a De La Rue
a adquiriu. A Bradbury Wilkinson foi a
firma criadora das notas de polmero
com o material Tyvek da Du Pont. Esta
nova forma de fazer notas foi utilizada
pela primeira vez nas notas de 1 pound
para a Ilha de Man.
Apontamentos: Escudo
10
Alexandre Herculano
Alexandre Herculano de Carvalho e Arajo, foi um poeta, historiador, jornalista portugus da era do romantismo (natural de Lisboa 1810 Santarm 1877). Marcado na infncia pelas inva-ses francesas e consequente influxo de ideais liberais que estiveram na base da Revoluo de 1820 foi aluno do Colgio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Nery, ento instalados no Con-vento das Necessidades em Lisboa at aos 15 anos. Aqui recebeu uma formao de ndole es-sencialmente clssica, mas aberta s novas ideias cientficas. Impedido de prosseguir estudos universitrios (o pai cegou em 1827, ficando impossibilitado de prover ao sustento da famlia)
Apontamentos: Escudo
11
ficou disponvel para adquirir uma slida formao literria que passou pelo estudo de ingls, francs, italiano e alemo, lnguas que foram decisivas para a sua obra literria.
Com apenas 21 anos, participou, em circunstncias nunca intei-ramente esclarecidas, na revolta de 21 de Agosto de 1831 do Regimento n. 4 de Infantaria de Lisboa contra o governo ditato-rial de D. Miguel I, o que o obrigar, aps o fracasso daquela revolta militar, a refugiar-se num navio francs fundeado no Tejo e posteriormente ao exlio em Inglaterra e Frana. Mais tarde juntou-se a D. Pedro IV na Ilha Terceira, alistado como soldado no Regimento dos Voluntrios da Rainha. Neste contexto comba-teu no cerco do Porto, tendo como soldado, participado em aes de elevado risco e mrito militar.
Nomeado por D. Pedro IV como segundo bibliotecrio da Biblio-teca do Porto, a permaneceu at ter sido convidado a dirigir a Revista Panorama, de Lisboa, revista de carcter artstico e cientfico de que era proprietria a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos teis, patrocinada pela prpria rainha, de que foi redator principal de 1837 a 1839. Em 1842 retomou o papel de redator principal e publicou o Eurico o Presbtero, obra maior do romance histrico em Portugal no sculo XIX.
Mas a obra que vai transformar Alexandre Herculano num dos maiores portugueses do sculo XIX a sua Histria de Portugal, cujo primeiro volume publicado em 1846. Obra que introduz a historiografia cientfica em Portugal, no podia deixar de levantar enorme polmica, sobre-tudo com os sectores mais conservadores, encabeados pelo clero. O prestgio que a Histria de Portugal lhe granjeara leva a Academia das Cincias de Lisboa a nome-lo seu scio efetivo e a encarreg-lo do projeto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica (recolha de docu-mentos valiosos dispersos pelos cartrios conventuais do pas), projeto que empreende de 1853 a 1854.
Herculano permanecer fiel aos seus ideais polticos e Carta Constitucional no aderindo ao movimento do Setembrismo. Apesar de estreitamente ligado aos crculos do novo poder Liberal (foi deputado s Cortes e preceptor do futuro Rei D. Pedro V), recusou fazer parte do primeiro Governo da Regenerao, chefiado pelo Duque de Saldanha. Recusou honrarias e condecora-es e, a par da sua obra literria e cientfica, de que nunca se afastou inteiramente, preferiu retirar-se progressivamente para um exlio que tinha tanto de vocao como de desiluso. Ain-da desempenhando o cargo de Presidente da Cmara de Belm (1854 de 1855), cargo que abandona rapidamente. Em 1867, aps o seu casamento com D. Mariana Meira, retira-se defi-nitivamente para a sua quinta de Vale de Lobos (arredores de Santarm) para se dedicar (qua-se) inteiramente agricultura e a uma vida de recolhimento espiritual. Em Vale de Lobos, Her-culano exerce um autntico magistrio moral sobre o Pas. Na verdade, este homem frgil e pequeno, mas dono de uma energia e de um carcter inquebrantveis era um exemplo de fide-lidade a ideais e a valores que contrastavam com o pntano da vida pblica portuguesa. Aquando da segunda viagem do Imperador do Brasil a Portugal, em 1867, Herculano entendeu retribuir, em Lisboa, a visita que o monarca lhe fizera em Vale de Lobos, mas devido sua dbil sade contraiu uma pneumonia dupla de que viria a falecer, em Vale de Lobos, em 13 de Se-tembro de 1877.Encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jernimos.
Apontamentos: Escudo
12
Torre de Belm
A Torre de Belm um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Localiza-se na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belm. Inicialmente cercada pelas guas em todo o seu permetro, progressivamente foi envolvida pela praia, at se incorporar hoje terra firme.
O monumento destaca-se pelo nacionalismo implcito, visto que todo rodeado por decoraes do Braso de armas de Portugal, incluindo inscries de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais caractersticas remetem princi-palmente arquitetura tpica de uma poca em que o pas era uma potncia global (a do incio da Idade Moderna).
Originalmente sob a invocao de So Vicente, padroeiro da cidade de Lisboa, designada no sculo XVI pelo nome de Baluarte de So Vicente a par de Belm e por Baluarte do Restelo, esta fortificao integrava o plano defensivo da
barra do rio Tejo projetado poca de D. Joo II de Portugal (1481-95), integrado na margem direita do rio pelo Baluarte de Cascais e, na esquerda, pelo Baluarte da Caparica.
A estrutura s viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de D. Manuel I de Portugal (1495-1521), tendo como arquiteto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas guas do rio, fronteiro antiga praia de Belm, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as ndias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca que, poca, tambm dirigia as j adiantadas obras do vizi-nho Mosteiro dos Jernimos.
Concluda em 1520, foi seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a funo no ano seguinte.Com a evoluo dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi, gradualmente, perden-do a sua funo defensiva original. Ao longo dos sculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalizao telegrfico e farol. Os seus paiis foram utilizados como masmorras para presos polticos durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580-1598), e, mais tarde, por D. Joo IV de Portugal (1640-1656).
Sofreu vrias reformas ao longo dos sculos, principalmente a do sculo XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim. Classifi-cada como Monumento Nacional por Decreto de 10 de Janeiro de 1907, considerada como Patrimnio Mundial pela UNESCO desde 1983. Naquele mesmo ano integrou a XVII Exposio Europeia de Arte Cincia e Cultura.
Apontamentos: Escudo
13
Manuel de Arriaga (Presidente da Repblica) e Antnio dos Santos Lucas, ministro das Finanas em 1914, subscri-tores das leis 220 e 927 de 1914, a primeira que altera o toque de prata das moedas de 1$ e cria a moeda come-morativa de Implantao da Repblica, a segunda que autoriza a emisso da moeda comemorativa.
Curiosamente as primeiras moedas de 1 escudo surgem apenas em 1914. Embora previstas na
lei 122 fundadora do escudo, as dificuldades financeiras tinham j provocado uma pequena
alterao no toque de prata (dos iniciais 900 milsimas passou a 835 milsimas como as res-
tantes) publicado no ponto 20 da lei 220 de 1914 (lei do oramento de estado desse ano). As
restantes caractersticas tcnicas (peso, dimetro) mantiveram-se, facto que permitia poupar
uma percentagem de prata no desprezvel em cada pea. As dificuldades no contexto da pri-
meira grande guerra faziam-se sentir e embora estivesse previsto que as moedas de mais bai-
xo valor tivessem cunho prprio para comemorao da implantao da repblica, na verdade
apenas o primeiro milho de moedas de 1 escudo teve essa benesse. Os ganhos obtidos com
esta amoedao (descrito na mesma lei em 613 616$, aps retirados os custos respetivamente
de 21 980 kg prata 377 640$, 4 145 kg de cobre 1 244$ e custos de produo 7 500$ receita
de 1 000 000$). Este lucro significativo poca explica o abandono de moedas comemorativas
em valores monetrios inferiores conforme inicialmente previsto. Estes valores monetrios
foram empregues em despesas com a defesa nacional.
Ficha Tcnica
Valor: 5$00 Chapa: 1 Frente: Alexandre Herculano Verso: Torre de Belm Marca de gua: Cabea de Minerva Medidas: 146x95 mm Impresso:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emisso:10-10-1914 ltima emisso: 22-08-1928 Retirada de circulao: 07-04-1931 Data Emisso Combinaes de Assinaturas 29-07-1913* 1 900 000 10 30-10-1914 2 100 000 12 31-10-1916 2 100 000 10 26-03-1918 1 900 000 11 17-06-1919 1 200 000 12 25-06-1920 2 000 000 12 01-02-1923 10 540 000 10 * Existe com a palavra OURO a preto e a vermelho.
Apontamentos: Escudo
14
A necessidade de encontrar rapidamente o tema a ser colocado nas novas moedas (a lei tinha
sido publicada em Fevereiro e as moedas deveriam sair em Outubro)
decorreu um concurso para a seleo do desenho para a nova moe-
da. Esse concurso provocaria grande celeuma por incumprimento de
datas de apresentao de alguns dos concorrentes. A seleo inicial-
mente teria recado sobre moeda com o tema Ptria, ficando o tema
Alvorada em segundo. Por motivos desconhecidos, o certo que
vingou o segundo tema. Este de autoria de Francisco Santos uma
bela composio do novo estilo art noveau. Nesta composio, uma
das mais belas da numria da Repblica encontramos um fundo com
o nascer do Sol, e em primeiro plano a figura da esfinge da Repblica
vestida com a nova bandeira republicana e ostentando na mo direi-
ta uma tocha. A Republica Portuguesa como a luz e guia de uma nova
era.
O curioso foi o reverso selecionado ter tambm ficado em segundo
lugar no concurso (mas no concurso para as moedas de ouro termi-
nado em 5 de Dezembro de 1913). Neste reverso o escudo nacional assenta num fascio roma-
no e circundado por vergnteas de louro e carvalho. Foi assim criada a primeira moeda co-
memorativa do escudo, curiosamente com dois autores. As duas primeiras moedas cunhadas
em 28 de Agosto de 1914 encontram-se atualmente no Museu Numismtico da Casa da Moe-
da.
As moedas de 1 escudo apresentavam 37 mm de dimetro, 25 g de peso e bordo serrilhado. As
moedas correntes com autoria de Jos Simes de Almeida eram semelhantes s de $10, $20 e
$50 j referidas. A moeda comemorativa, apresentava no anverso direita do campo, tendo
em fundo o Sol nascente sobre a Terra, a figura simblica da Repblica, de meio corpo es-
querda, envolvida na bandeira nacional e empunhando uma tocha acesa na mo direita, tendo
por baixo a inscrio 5 de Outubro de 1910, em trs linhas e, na orla superior, a legenda
Repblica Portuguesa, entre pares de estrelas. O reverso apresentava ao centro do campo, o
escudo das Armas Nacionais assente num fascio romano de varas e machado, circundado por
vergnteas de louro e de carvalho entrelaadas em baixo por um lao e, na orla inferior, o
valor 1 Escudo.
Implantao da Repblica
A Repblica Portuguesa foi proclamada em Lisboa a 5 de Outubro de 1910. Nesse dia foi orga-
nizado um governo provisrio, que tomou o controlo da administrao do pas, chefiado por
Tefilo Braga, um dos teorizadores do movimento republicano nacional. Iniciava-se um proces-
so que culminou na implantao de um regime republicano, que definitivamente afastou a
monarquia.
Este governo, pelos decretos de 14 de Maro, 5, 20 e 28 de Abril de 1911, imps as novas re-
gras da eleio dos deputados da Assembleia Constituinte, reunida pela primeira vez a 19 de
Junho desse ano, numa sesso onde foi sancionada a revoluo republicana; foi abolido o direi-
to da monarquia; e foi decretada uma repblica democrtica, que veio a ser dotada de uma
nova Constituio, ainda em 1911.
Francisco dos Santos Escultor portugus (1878-1930). Aluno de Simes de Almeida (tio), na Escola de Belas-Artes de Lisboa onde se matriculou em 1893. Em 1903 partiu para Paris, onde frequentou o atelier de Charles Verlet e, mais tarde, em Roma. A, em 1906, executou a esttua Crepsculo (hoje no Museu do Chia-do). Regressou a Portugal em 1909 e participou, no ano seguinte, no con-curso da Cmara Municipal de Lisboa para eleio do busto oficial da Rep-blica portuguesa, do qual saiu vence-dor. Em 1913 esculpiu Salom, considerada a sua obra-prima (tambm no Museu do Chiado). Entre 1915 e 1917 realiza Um Beijo e Nina (no mesmo Museu) e, em 1920, concebeu Prometeu (no Jardim Constantino, frente Assem-bleia Distrital de Lisboa).
Apontamentos: Escudo
15
A implantao da Repblica resultante de um longo processo de mutao poltica, social e
mental, onde merecem lugares de destaque os defensores da ideologia republicana, que con-
duziram formao do Partido Republicano Portugus (PRP), no final do sculo XIX.
O Ultimato ingls, de 11 de Janeiro de 1890
e a atitude da monarquia portuguesa pe-
rante este cato precipitaram o desenvolvi-
mento deste partido no nosso pas. De 3 de
Abril de 1876, quando foi eleito o Diretrio
Republicano Democrtico, at 1890, altura
em que se sentia a reao contra o Ultima-
to e a crtica da posio da monarquia, a
oposio ao regime monrquico era hete-
rognea e desorganizada. Contudo a mas-
sa eleitoral deste partido conseguiu uma
representao no Parlamento em 1879,
apesar de pouco significativa, numa altura em que a oposio ao regime era partilhada nome-
adamente com os socialistas, tambm eles pouco influentes entre a populao.
Em 1890, o partido surgiu quase do vazio, para um ano depois do Ultimato publicar um mani-
festo, elaborado pelo Diretrio, em que colaboraram: Azevedo e Silva; Bernardino Pinheiro;
Francisco Homem Cristo; Jacinto Nunes; Manuel de Arriaga e Tefilo Braga. Este manifesto saiu
a 11 de Janeiro de 1891, umas semanas antes da tentativa falhada de implantar a Repblica de
31 de Janeiro.
Aps o desaire desta tentativa, o partido enfrentou grandes dificuldades; no entanto, a 13 de
Outubro de 1878, fora eleito o primeiro representante republicano, o deputado Jos Joaquim
Rodrigues de Freitas.
Nos ltimos quinze anos de vida da monarquia portuguesa o Diretrio do Porto e o P.R.P., ape-
sar de algumas divergncias, trabalharam em conjunto. Na cidade do Porto o peridico A Voz
Pblica desempenhou um papel importante em prol da propagao dos ideais republicanos, tal
como os de Duarte Leite, lente da Academia Politcnica. Em Lisboa circulavam O Mundo, desde
1900, e A Luta, desde 1906.
Aps um perodo de grande represso, o movimento republicano entrou de novo na corrida das
legislativas em 1900, conseguindo quatro deputados: Afonso Costa, Alexandre Braga, Antnio
Jos de Almeida e Joo Meneses.
Nas eleies de 28 de Agosto de 1910 o partido teve um resultado arrasador, elegendo dez
deputados por Lisboa. E a 5 de Outubro desse ano era proclamada a Repblica Portuguesa, na
sequncia de revoluo militar com incio em Lisboa.
A revoluo republicana de 5 de Outubro de 1910 foi preparada por elementos da burguesia,
profissionais liberais com um nvel de instruo elevado, muitos deles ligados Maonaria ou
Carbonria, e alguns oficiais de patente relativamente baixa. Com o eclodir do golpe a 4 de
Apontamentos: Escudo
16
Outubro, outras camadas da populao lisboeta aderiram, prestando auxlio aos revoltosos e
negando-o aos fiis monarquia.
No que diz respeito s operaes militares, a queda do regime monrquico foi decidida num
pequeno ponto da capital. Concentrados na Rotunda sob o comando de Machado Santos, os
poucos efetivos da revolta contaram com a ajuda preciosa da populao, que espontaneamen-
te colaborava com informaes, expresses de estmulo e mesmo o desejo de combater a seu
lado, a ponto de, a certa altura, no haver armas para todos os que aderiam.
Em vrias localidades do Pas, levadas as notcias pelo telgrafo, a Repblica ia sendo procla-
mada, quando era ainda incerto o desfecho dos acontecimentos em Lisboa. Os combates dura-
ram menos de dia e meio. Desmoralizado desde o Regicdio, e com D. Manuel II a partir apres-
sadamente para o exlio, o regime monrquico quase no foi capaz de se defender. O nico
resistente digno de referncia foi Henrique de Paiva Couceiro, que ainda chegou a pr em peri-
go as posies dos revolucionrios. A adeso da Marinha ao golpe, porm, foi decisiva no asse-
gurar da vitria republicana.
Ficha Tcnica
Peso: 25 g Dimetro: 37 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composio: Ag 835 Autor: Jos Simes de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 e 220 de 30/06/1914 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano Cunhagem Cdigo 1915 1 817587 006.01 1916 4 406 374 006.02
Apontamentos: Escudo
17
Inocncio Camacho Rodrigues
Henrique Matheus dos Santos
Jos Paixo Castanheira das Neves
Jlio Oliveira Bastos
Joo Pereira Cardoso
Joo da Mota Gomes Jnior
Jos Flix da Costa
Augusto Jos Cunha
Duarte Augusto Abrantes Bizarro
Francisco Maria da Costa
Manuel Antnio Dias Ferreira
Ruy Ennes Ulrich
A falta de moeda metlica agravou-se com o despoletar da Primeira Grande Guerra. Para su-
prir essa necessidade foram criadas vrias novas notas. A primeira chapa criada sobre os aus-
pcios da Repblica (dado que a anterior foi herdada da Monarquia), foi a Chapa 1 de 20$00
que prestou homenagem a Almeida Garrett.
Ficha Tcnica
Peso: 25 g Dimetro: 37 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composio: Ag 835 Autor:Francisco dos Santos e Jos Simes de Almeida Decreto-lei: 220 de 30/06/1914 e 927 de 03/10/1914 Ano Cunhagem Cdigo 1914 (ND) 1 000 000 004.01
Apontamentos: Escudo
18
Nesta chapa surge na frente o retrato oval do poeta, romancista,
autor dramtico e poltico portugus Almeida Garrett (1799-1854)
ladeado por figuras simblicas da Glria e da Justia ladeiam. O
desenho foi realizado nas oficinas do Banco de Portugal pelo gra-
vador Armando Pedroso e includo depois nas chapas elaboradas
pela casa Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, de Londres, quetambm
procedeu estampagem das notas.
Na frente, sobre um fundo multicolor irisado impresso tipografi-
camente e composto de pontos, linhas ondulantes verticais e tra-
balho de torno geomtrico em linha escura, est estampado por
processo calcogrfico (talhe-doce) um desenho com os motivos
principais, a castanho, com aplicaes de guilhoch, em linha bran-
ca. Em cada um dos lados da nota, a meio, observa-se uma cabea
numismtica de perfil para o centro. O verso tem um fundo retan-
gular, impresso tipograficamente em cores irisadas, com uma
composio em moir. Sobre este fundo sobressai um grande or-
nato. Estampado calcograficamente, a azul, com larga aplicao de
guilhoch em linha branca. O texto complementar (data, chapa, srie,
nu Diretor e chancelas) foi
impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi
fabricado na Socit Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-
Carimbo Reino de Portugal No seguimento do assassinato do Presidente da Repblica, Sidnio Pais, em14/12/1918, aumentou considera-velmente a instabilidade poltico-militar em Portugal.No dia 19/01/1919, no Porto, foi proclamada a Monarquia, a chamada Monarquia do Norte, ficando Paiva Couceiro frente da designada Junta Governati-va do Reino. Este movimento de restaurao damonarquia teve grande acolhimento em todas as cidades do norte do pas, exceptoChaves. Termi-nou em 13/02/1919com a entrada dos exrcitos republicanos no Porto.Neste curto perodo de menos de um ms, a Junta Governativa do Reino mandou-carimbar algumas notas da repblica, em escudos, e so conhecidos exem-plares deste cato em Chapas 1 de 20$00, com os carimbos Reino de Portugal e 19 de Janeiro de 1919.A ttulo de curiosidade, refere-se ainda que a Monarquia do Norte emitiu tambm umasrie filatlica.
Apontamentos: Escudo
19
Marie, de Frana. Fazia parte de um contrato, assinado em Lisboa em 19/11/1915, que englo-
bava tambm papel para as notas: 50$00 (Ch. 2); 20$00 (Ch 2) e 5$00 (Ch 3). Como elementos
de segurana a marca de gua na parte superior direita com um desenho em claro e escuro
de uma cabea simbolizando a Primavera, voltada para a direita, e na inferior, a meio, a legen-
u retas e em letras escuras sobre fundo claro.
Almeida Garrett
Escritor romntico portugus (1799-1854). Iniciador do Romantismo, refundador do teatro
portugus, criador do lirismo moderno e da prosa moderna, jornalista, poltico, legislador, Gar-
rett um exemplo de aliana inseparvel entre o homem pol-
tico e o escritor, o cidado e o poeta. considerado, por muitos
autores, como o escritor portugus mais completo de todo o
sculo XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no
teatro e na prosa, inovando a escrita e a composio em cada
um destes gneros literrios.
Joo Batista da Silva Leito de Almeida Garrett nasceu em
1799 no Porto, no seio de uma famlia burguesa, que se refugia
em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar segunda invaso
francesa. Nos Aores, recebeu uma educao clssica e ilumi-
Apontamentos: Escudo
20
nista, orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceio, Bispo de Angra, ele prprio escritor. Em
1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentao das ideias liberais. Em 1820, finalista
em Coimbra, recebe com entusiasmo e otimismo a notcia da revoluo liberal. Em 1821, repre-
senta o Cato e publica em Coimbra O Retrato de Vnus, obras marcadas ainda por um estilo
arcdico. Arcdicos so igualmente os poemas que escreve durante este perodo e que sero
insertos, em 1829, na Lrica de Joo Mnimo. Em 1822, nomeado funcionrio do Ministrio do
Reino, casa com Lusa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a rea-
o miguelista da Vila-Francada, obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do
Romantismo ingls, e depois em Frana, onde se torna correspondente de uma filial da casa
Lafitte. Contacta ento com a literatura romntica (Byron, Lamartine, Vtor Hugo, Schlegel,
Walter Scott, Mme de Stal), redescobre Shakespeare e influenciado pelas recolhas de cancio-
neiros populares, comea a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poe-
mas Cames e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romntico, fruto da meta-
morfose esttica em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica tambm o Bosquejo da
Histria da Poesia e Lngua Portuguesa, como introduo antologia de poesia portuguesa
Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um perodo de trguas, regressa a Portugal e mostra-se
confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o
programa vintista. Dedica-se ao jornalismo poltico nos jornais O Portugus e O Cronista. Em
1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em In-
glaterra. Em 1829, publica em Londres a Lrica de Joo Mnimo e o tratado Da Educao. Em
1830, publica o tratado poltico Portugal na Balana da Europa, onde analisa a histria da crise
portuguesa e exorta unidade e moderao. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorpora-
se no exrcito liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do
Porto, o romance histrico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas refor-
mas administrativas. Em 1834, nomeado cnsul-geral em Bruxelas, numa espcie de terceiro
exlio motivado pelo cada vez maior desencanto em relao poltica portuguesa (a diviso
dos liberais, a corrida aos cargos pblicos), onde contacta com a lngua e a literatura alems
(Herder, Schiller e Goethe). Tambm exerceu funes diplomticas em Londres e em Paris. Em
1836, regressa a Lisboa, separa-se de Lusa Midosi e funda o jornal O Portugus Constitucional.
No mesmo ano, aps a Revoluo de Setembro, incumbido pelo governo setembrista de Pas-
sos Manuel da organizao do Teatro Nacional. Nesse mbito, desenvolver uma ao notvel,
dirigindo a Inspeo Geral dos Teatros e o Conservatrio de Arte Dramtica, intervindo no pro-
jeto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo
um repertrio dramtico nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena
(1840), O Alfageme de Santarm (1842), Frei Lus de Sousa (1843). por esta altura que inicia
um romance com Adelaide Deville, que morrer em 1841, deixando-lhe uma filha (episdio que
inspirar o Frei Lus de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e
membro da comisso de reforma do Cdigo Administrativo. No ano de 1843 publica o 1. vo-
lume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradio popular. Em 1845, lana o livro de
poesias lricas Flores sem Fruto e o 1. volume do romance histrico O Arco de Sant'Ana. Em
1846, sai em volume o "inclassificvel" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano
antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crtica considera iniciada
a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um perodo de distanciamento face vida
poltica, regressa com a Regenerao, movimento que prometia conciliao e progresso. Nesse
ano, funda o jornal A Regenerao, aceita o ttulo de visconde e reassume o seu papel de depu-
Apontamentos: Escudo
21
tado, colaborando na proposta de reviso da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, mi-
nistro dos Negcios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias lricas Folhas Cadas, re-
cebido com algum escndalo: o poeta era, na poca, uma figura pblica respeitvel (deputado,
ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenes, e muitos
souberam ver na obra ecos da paixo do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em
1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos vtima de cancro.
Bernardino Machado (Presidente da Repblica) e Antnio Jos de Almeida, Ministro das Finanas em 1917, subs-critores da lei 679 de 1917, a qual reformulou as caractersticas das moedas de $01, $02 e $04 escudos. Na refor-ma da liga de bronze operada em 1920 (lei 950) Antnio Jos de Almeida era o presidente e o novo Ministro das Finanas era Antnio Joaquim Ferreira da Fonseca.
A falta de numerrio corrente e a dificuldade de implementar vrias das decises previstas no
decreto fundador do escudo, surgiu em 1917 a necessidade de reformular as moedas de me-
nor valor. Estas circunstncias eram agudizadas pelas dificuldades impostas pela Primeira
Grande Guerra e seriam seguidas da introduo de Cdulas para fazer face grande carncia
de numerrio e de Notas de pequeno valor ($50 e 1$) pois as moedas de prata entretanto
produzidas escasseavam dado que o seu valor do peso em prata da moeda era j muito supe-
rior ao valor previsto.
Ficha Tcnica
Valor: 20$00 Chapa: 1 Frente: Almeida Garrett Verso: Escudo da Repblica Portuguesa Marca de gua: figura simblica da Primavera Medidas: 184x121 mm Impresso:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emisso:14-10-1916 ltima emisso: 12-11-1919 Retirada de circulao: 24-06-1929 Data Emisso Combinaes de Assinaturas 05-01-1915 520 000 11 14-04-1915 960 000 11 27-04-1917 520 000 10 14-12-1917 500 000 10 26-03-1918 400 000 10
Apontamentos: Escudo
22
Assim, o primeiro passo para esta reforma que visava resolver a falta de numerrio circulante
oficial (dada a proliferao de cdulas das mais diversas provenincias sem curso legal oficial),
foi a reforma das pequenas moedas previstas no decreto fundador. Desta forma, suspendeu-se
a moeda de 0,5 centavos. As moedas de $01 e $02 passaram a ser em bronze, mantendo-se
apenas a de $04 no previsto cupronquel.
As moedas de 1 e 2 centavos a nvel de desenho foram semelhantes,
sendo produzidas de acordo com desenho do gravador da Casa da
Moeda Alves do Rego. As moedas apresentavam no anverso o valor
facial em posio central no campo sobre a legen
le
cunhagem. O reverso apresentava o escudo nacional. As moedas de 4
centavos diferiam por apresentar no reverso a efgie da Repblica em
perfil a olhar a esquerda. As moedas de 4 centavos foram desenvolvi-
das tendo em considerao desenho aprovado em concurso aberto de
acordo com a lei de 1911 de autoria de Francisco dos Santos.
Estas moedas teriam no entanto, vida curta. Tal esteve na gnese de
uma das histrias mais interessantes da numismtica republicana.
Assim, em 1922 surge ordem de recolha destas moedas, cujo valor em metal e custo de produ-
o era bem superior ao valor representado. A verdade que algumas moedas de centavo de
1922 acabaram por sair da Casa da Moeda (conhecendo-se atualmente seis exemplares) sendo
atualmente a moeda mais rara e cara da Repblica (curiosamente a de menor valor corrente).
Nestas moedas surgiu ainda uma variante que vale a pena atentar. Assim, a moeda de 1 centa-
vo de 1920 apresenta uma variante com P aberto. Para se reparar deve-se atentar no P da
palavra Portuguesa, o qual em algumas peas no est fechado.
Ficha Tcnica
Peso: 8 g Dimetro: 19 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Bronze Composio: Cu 960 Sn 20 Zn 20 (em 1920-21: Cu 960 Zn 40) Autor:Alves do Rego Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 e 950 de 28/02/1920 Ano e taxa de recolha: 1927 (42,9%) Ano Cunhagem Cdigo 1917 2 250 000 007.01 1918 22 996 000 007.02 1920 12 535 000 007.03 1921 4 949 000 007.04
Domingos Alves do Rego Gravador da Casa da Moeda e Papel Selado (1873-c. 1960), natural de Leiria. Foi admitido na CMPS em Novembro de 1894, tendo sido nome-ado 2. gravador em Janeiro de 1910 e posteriormente promovido a 1. gravador em Abril de 1914 (devido aposentao de Venncio Alves), onde ficaria como chefe da oficina de gravu-ra at 1931. Uma das suas primeiras obras foi o retrato de D. Manuel II para as estampilhas postais, seria depois o gravador responsvel por dar vida s primeiras moedas do Escudo republi-cano, em todos os metais, prata, bronze e at nos cunhos do ouro de 1920, que nunca chegaria a circular.
Apontamentos: Escudo
23
Bernardino Machado (Presidente do Concelho), Afonso Costa (Ministro das Finanas), Artur R. Almeida Ribeiro (Ministro do Interior) e Alexandre Braga (Ministro da Justia e dos Cultos), subscritores do decreto 3296 de 15 de Agosto de 1917.
A falta de dinheiro circulante era uma situao gritante. A incapacidade para responder a este
problema com a produo de novo numerrio era igualmente grande. Tal resultou na prolife-
rao em todo o pas com produo sobre a responsabilidade das mais diversas entidades
(pblicas como Cmaras Municipais, Juntas de Freguesia), Santas Casas e empresas privadas
(lojas e indstria). A necessidade aguou o engenho e surgiram solues bastante originais
Ficha Tcnica
Peso: 5,5 g Dimetro: 23 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Bronze Composio: Cu 960 Sn 20 Zn 20 (em 1920-21: Cu 960 Zn 40) Autor:Alves do Rego Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 e 950 de 28/02/1920 Ano e taxa de recolha: 1927 (48,8%) Ano Cunhagem Cdigo 1918 4 295 000 010.01 1920 10 108 000 010.02 1921 678 500 010.03
Ficha Tcnica
Peso: 7 g Dimetro: 25 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Cupronquel Composio: Cu 750 Ni 250 Autor:Anv Alves do Rego, Rev Francisco dos Santos Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 Ano e taxa de recolha: 1927 (44,4%) Ano Cunhagem Cdigo 1917 4 980 750 008.01 1919 10 066 673 008.02
Apontamentos: Escudo
24
desde as simples cdulas, a moedas de porcelana (Cmara de Vila Nova de Gaia) a alguns to-
kens feitos com peas plsticas e selos. Estes meios de urgncia de colmatar a falta de moeda
proliferaram em Portugal primeiro aps o Ultimato de Inglaterra, e novamente aps o final da
Primeira Grande Guerra.
Uma tentativa de regulamentar esta situao surgiu com o Decreto 3296 de 15 de Agosto de
1917. Neste decreto foram retiradas de circulao as moedas de prata monrquicas ainda em
curso e para melhor substituir estas eram criadas por decreto cdulas a serem produzidas em
sries pela Casa da Moeda do valor de $02 e $10 (s as segundas seriam criadas) e pela Santa
Casa de Misericrdia de Lisboa cdulas de $05. As moedas de menor valor ainda do tempo da
Monarquia tinham ordem de ser recolhidas com troca pelas novas moedas de bronze e cu-
pronquel recm-criadas e pelas novas cdulas.
Este decreto faz ainda meno no artigo 4. proibio de outras instituies de produzir e
emitir para circulao cdulas, o que indicia a grande proliferao deste meio de pagamento. A
verdade que esta proibio teve pouca importncia dado ainda ser possvel encontrar diver-
sos exemplos em todo o pas deste modo de pagamento. De acordo com este decreto foram
produzidas cdulas de 1917 a 1922. A Santa Casa da Misericrdia s emitiria um tipo de cdu-
las pois reforma legislativa posterior retirou-lhe o poder de emisso. A Casa da Moeda emitiria
4 tipos de cdulas de $10 baseando-se neste decreto, acompanhando a regncia de trs go-
vernadores da Casa da Moeda.
A Santa Casa da Misericrdia emitiu com data de 20 de Agosto as suas sries de cdulas de 5
centavos. Com base verde apresentava a identificao da Santa Casa da Misericrdia, o decre-
to de 15 de Agosto de 1917, o valor facial (5 centavos 5), data de emisso e assinatura dos
responsveis pela Santa Casa. O verso, apresentava cor semelhante e era preenchido pelo
nmero de srie em posio central (em numerao rabe e por extenso), no alto a legenda
Repblica Portuguesa a envolver o escudo nacional, sobre o valor facial por extenso Cinco cen-
tavos. Na base vrias representaes aludindo atividade caritativa da Santa Casa no campo
da Sade. Estas cdulas apresentavam em posio lateral rea no impressa com selo branco
com o emblema da Santa Casa da Misericrdia de Lisboa.
As cdulas da Casa da Moeda comearam a ser produzidas sob a governao de Santos Lucas
(o qual assinou o primeiro tipo, classificado como MAS 2). Esta cdula teve por base chapa
utilizada em cdulas de 500 ris produzidas aps o Ultimato Ingls. Na frente surgia uma bela
composio com o corpo central preenchido por um lenol com as legendas: Casa da Moeda;
Dez Centavos envolvido pelas palavras Bronze, identificao do decreto que autorizava e a
assinatura do Presidente do Concelho de Administrao Antnio Santos Lucas e a identificao
da srie e nmero respetivo. Este lenol era segurado por duas figuras simblicas. De realar
Apontamentos: Escudo
25
que o escudo apresentado era coroado ( semelhana da cdula monrquica). O reverso apre-
sentava belo trabalho de guilhoch com o escudo a ocupar posio central.
Em 1919 sob a presidncia de Jos da Costa Pereira Silva foi produzida nova srie de cdulas
de 10 centavos. Estas de maiores dimenses apresentavam um desenho simples. Na frente o
escudo laureado republicano ocupava posio central no cimo do desenho e no campo princi-
pal as informaes habituais. O reverso apresentava uma construo com referncias ao estilo
manuelino.
A terceira srie de 10 centavos surgiu em 1920 sob a presidncia interina de Anbal Lcio de
Azevedo. Esta srie apresentava uma bela representao com a frente fazendo referncia ao
comrcio, navegao e indstria. O reverso com construo com a efgie da Repblica em po-
sio central. Pela primeira vez nas cdulas de 10 centavos aparece a assinatura do desenha-
dor no canto inferior esquerdo (D. Mota).