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MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO FUNDACENTRO FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO I Seminário sobre aposentadoria especial como um instrumento de proteção à segurança e saúde do trabalhador Conferências proferidas MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO FUNDACENTRO FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO Conferências proferidas

Aposentadoria Especial

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Seminário sobre aposentadoria especial

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  • M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    I Seminrio sobre aposentadoria especial como um instrumento de

    proteo segurana e sade do trabalhador

    Conferncias proferidas

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    Conferncias proferidas

  • I Seminrio sobre aposentadoria especial como um instrumento de proteo segurana e sade

    do trabalhador

    Conferncias proferidas

  • Presidente da RepblicaDilma Rousseff

    Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

    Fundacentro

    PresidenteEduardo de Azeredo Costa

    Diretora ExecutivaDalva Maria de Luca Dias

    Diretor TcnicoJfilo Moreira Lima Jnior

    Diretor de Administrao e FinanasHilbert Pfaltzgraff Ferreira

  • Coordenao tcnicaCristiane Queiroz Barbeiro Lima tecnologista do Servio de Ergonomia,

    Fundacentro

    I Seminrio sobre aposentadoria especial como um instrumento de proteo segurana e sade do trabalhador

    2010

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

    So Paulo

  • Ficha Tcnica

    Transcrio do evento: Cristiane Queiroz Barbeiro Lima tecnologista do Servio de Ergonomia, Fundacentro Maria Aparecida Buzzini Moura tecnologista do Servio de Gerenciamento de Riscos, Fundacentro

    Alex de Lima Sonoda estagirio em Cincias Sociais do Servio de Medicina, Fundacentro

    Coordenao Editorial: Glaucia FernandesReviso de textos: Karina Penariol Sanches Walquiria Schafer (estagiria)

    Reviso da reimpresso: Gisele de Lima Barbosa (estagiria)Projeto grfico, design miolo e capa: Gisele Almeida

    Foto capa: Andrea Brancaccio (www.sxc.hu)

    Disponvel tambm em: www.fundacentro.gov.brQualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Servio de Documentao e Biblioteca SDB / Fundacentro

    So Paulo SPErika Alves dos Santos CRB-8/7110

    CIS Classificao do Centre International dInformations de Scurit et dHygiene du TravailCDU Classificao Decimal Universal

    1234567Seminrio Sobre Aposentadoria Especial Como um Instrumento de 1234567890Proteo Segurana e Sade do Trabalhador (1. : 2008 : So 1234567890Paulo).1234567890Seminrio sobre Aposentadoria Especial Como um Instrumento 1234567de Proteo Segurana e Sade do Trabalhador : [conferncias1234567proferidas] / I Seminrio Sobre Aposentadoria Especial Como um 1234567Instrumento de Proteo Segurana e Sade do Trabalhador, So 1234567Paulo, Brasil ; 25 setembro 2008 ; coordenao tcnica Cristiane 1234567Queiroz Barbeiro Lima. So Paulo : Fundacentro, 2010.123456789062 p. : il. ; 23 cm.1234567890ISBN 978-85-98117-58-4

    12345678901. Aposentadoria especial - Reunies de segurana e sade. 2. 1234567Incapacidade para o trabalho - Reunies de segurana e sade. 3. 1234567Previdncia social - Reunies de segurana e sade. I. Lima, Cristiane 1234567Queiroz Barbeiro. II. Ttulo.

    CISVyp Veq (207)

    CDU369.261.2(81)(063)

  • A coordenao do seminrio contou com o incentivo e as sugestes da Dra. Maria Maeno, pesquisadora do Servio de Medicina da Fundacentro, CTN/SP, da Dra. Leda Ferreira Leal, chefe do Servio de Ergonomia da Fundacentro, CTN/SP, e do Dr. Antonio Ricardo Daltrini, gerente da Coordenao de Sade no Trabalho da Fundacentro, CTN/SP.

    Agradecimentos

  • Sumrio

    Apresentao ..........................................................................................................................09

    Programao...........................................................................................................................11

    Conferncias proferidas ........................................................................................................13

    1. Aposentadoria especial como instrumento de proteo segurana e sade dos trabalhadorespor Cristiane Queiroz Barbeiro Lima ...........................................................................15

    2. A aposentadoria especial e a desconstruo de Direitos Sociais, o regime geral da previdncia socialpor Antonio Jos de Arruda Rebouas .........................................................................19

    3. Percia mdica: o reconhecimento do direito e a vigilncia da sade e segurana do trabalhadorpor Bruno Gil de Carvalho Lima ..................................................................................25

    4. Aposentadoria especial, evoluo normativa e desafiospor Domingos Lino ..........................................................................................................29

    5. O conceito de insalubridade e a NR 15 Limite de exposio ocupacional e avaliao ambientalpor Luiza Nunes Cardoso ...............................................................................................33

    6. Aposentadoria especial e insalubridade: questes para reflexopor Jorge Mesquita Huet Machado ...............................................................................39

  • 7. NR 15 Atividades e operaes insalubrespor Clia Pereira Nbrega ..............................................................................................43

    8. Trabalhadores da construo civilpor Waldemar Pires de Oliveira ....................................................................................47

    9. Trabalhadores metroviriospor Wagner Fajardo Pereira ...........................................................................................49

    10. Aposentadoria especial dos eletricitriospor Csar Nicolau Vargas .............................................................................................51

    11. O trabalhador mineiropor Joo Aparecido Trevisan Neto .............................................................................55

    Lista de participantes............................................................................................................59

  • 9A aposentadoria especial, de acordo com a legislao vigente, um benefcio concedido ao segurado da Previdncia Social que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condies especiais que prejudiquem sua sade ou sua integridade fsica.

    um direito concedido pela Previdncia Social aps 1960, estabelecido pela Lei n 3.807 de 26 de agosto de 1960 Lei Orgnica da Previdncia Social e atualmente um instrumento garantido pelo art. 201 da Constituio Federal de 1988.

    No decorrer desses quarenta e oito anos, sucessivas alteraes na regulao dos critrios e dos requisitos necessrios ao acesso a esse direto foram anunciadas, em especial na dcada de 1990, restringindo a definio de condies especiais somente ao conceito de insalubridade. As condies de trabalho perigosas e penosas, at ento consideradas, foram desprezadas para fins de concesso do direito.

    Diante da intensificao do trabalho, da precarizao das formas de emprego e dos novos riscos trazidos pelas inovaes tecnolgicas, seria a aposentadoria especial um recurso necessrio nos dias atuais? Quais seriam os atuais conceitos que tornariam a aposentadoria especial um instrumento efetivo para a poltica de segurana e sade do trabalhador? Como discutir esse recurso como instrumento de proteo segurana e sade do trabalhador?

    Na procura de respostas a essas questes que, por meio do projeto Aposentadoria Especial como instrumento de proteo Segurana e Sade do Trabalhador, a Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho (Fundacentro), atravs de seu Centro Tcnico Nacional, resolveu promover discusses com os vrios setores da sociedade em busca de reflexes e de novas propostas de polticas pblicas efetivas de interveno no campo da segurana e sade do trabalhador.

    Apresentao

  • 10

    O I Seminrio sobre aposentadoria especial como um instrumento de proteo segurana e sade do trabalhador teve como objetivo colocar em discusso os atuais requisitos e critrios de concesso da aposentadoria especial, fazendo reviso sobre a efetividade, as dificuldades e as limitaes tcnicas e prticas na aplicao desse direito, bem como subsidiar novas propostas de regulamentao a respeito.

    O pblico participante foi composto por cento e seis profissionais e trabalhadores atuantes no campo da Segurana e Sade do Trabalhador.

    O planejamento e a coordenao tcnica ficaram a cargo de Cristiane Queiroz Barbeiro Lima, qumica, mestre em Engenharia, tecnologista da Fundacentro, lotada no Servio de Ergonomia.

    O seminrio foi realizado no dia 25 de setembro de 2008 no auditrio Edson de Barros Hatem, no Centro Tcnico Nacional da Fundacentro.

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    9h - 9h45Abertura Dr. Jurandir Boia Rocha Presidente da Fundacentro

    Domingos Lino coordenador geral de benefcios por incapacidade da Previdncia Social

    Dr. Paulo Kaufmann mdico do trabalho do Cerest do Estado de So Paulo

    Elisete Berchiol da Silva Iwai gerente regional do Instituto Nacional do Seguro Social de So Paulo (INSS/SP)

    9h45 - 10h45Coordenao Dr. Antonio Ricardo Daltrini mdico do trabalho, gerente da

    coordenao de sade no trabalho da Fundacentro, CTN/SP

    Mesa Dificuldades encontradas na aplicao dos atuais requisitos e critrios de concesso da aposentadoria especial

    Cristiane Queiroz Barbeiro Lima qumica, mestre em Engenharia, tecnologista do Servio de Ergonomia da Fundacentro, CTN/SP

    Dr. Antonio Jos de Arruda Rebouas advogado, assessor sindical e especialista em Previdncia Social

    10h45 -11h Intervalo

    Programao

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    11h - 12hCoordenao Dr. Paulo Kaufmann mdico do trabalho do Centro de Referncia

    em Sade do Trabalhador do Estado de So Paulo (Cerest/SP)

    Mesa Apresentao da proposta em desenvolvimento no Departamento de Polticas de Segurana e Sade Ocupacional do Ministrio da Previdncia Social

    Dr. Bruno Gil de Carvalho Lima mdico perito do Instituto Nacional do Seguro Social de So Paulo (INSS/SP)

    Domingos Lino coordenador geral de benefcios por incapacidade da Previdncia Social

    12h - 13h30 Intervalo para almoo

    13h30 - 15h30Coordenao Dra. Maria Maeno mdica sanitarista, pesquisadora do Servio de

    Medicina da Fundacentro, CTN/SP

    Mesa O conceito de insalubridade e a Norma Regulamentadora 15 do Ministrio do Trabalho e Emprego

    Dra. Luiza Nunes Cardoso qumica, pesquisadora do Servio de Agentes Qumicos da Fundacentro, CTN/SP

    Dr. Jorge Mesquita Huet Machado mdico sanitarista, doutor em sade pblica, tecnologista da Fiocruz, Ministrio da Sade

    Engenheira Clia Pereira Nbrega auditora fiscal da Superin-tendncia Regional do Trabalho e Emprego de So Paulo

    15h30 - 16h Intervalo

    16h - 18hCoordenao Dra. Leda Leal Ferreira mdica, chefe do Servio de Ergonomia

    da Fundacentro, CTN/SP

    Mesa Estabelecendo o dilogo social por meio de propostas trazidas pelos trabalhadores da construo civil, metrovirios, eletricitrios e mineiros

    Waldemar Pires de Oliveira presidente da Confederao Nacional dos Trabalhadores da Indstria da Construo (Conticon)

    Wagner Fajardo Pereira secretrio geral do Sindicato dos Metrovirios de So Paulo

    Csar Nicolau Vargas representante da Federao Nacional dos Trabalhadores Urbanitrios (FNU/CUT)

    Joo Trevisan Neto secretrio geral da Confederao Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral (CNTSM/CUT)

  • Conferncias proferidas

  • 1 Aposentadoria especial como instrumento de proteo segurana e sade dos trabalhadores

    por Cristiane Queiroz Barbeiro Lima

    Qumica, mestre em Engenharia, tecnologista do Servio de Ergonomia da Fundacentro, CTN/SP

    Esta apresentao aborda como se desencadeou uma anlise perante um instrumento previsto pela Previdncia Social no tratamento das situaes de trabalho consideradas insalubres. Comenta as dificuldades de aplicao e as atuais limitaes desse instrumento, bem como prope novas formas de conduo e aplicao do mesmo.

    A aposentadoria especial um direito concedido pela Previdncia Social do governo brasileiro. Hoje, de acordo com a Lei n 8.213/1991, definida como: [...] aquela concedida ao segurado que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condies especiais que prejudiquem sua sade ou integridade fsica.

    A premissa que se deve adotar para a abordagem da aposentadoria especial a de que a sade um direito que se concretiza por meio de aes de preveno de acidentes e doenas relacionadas ao trabalho, considerando os conceitos de promoo da sade e do bem-estar social e entendendo que a aposentadoria especial apenas parte de um conjunto de aes em favor da segurana e sade do trabalhador.

    Acrescente-se que a aposentadoria especial , enquanto reduo do tempo de expo-sio s situaes de trabalho com potencial de causar danos, uma medida de preveno e precauo. um instrumento que pode considerar o fator idade relacionando-o ao desgaste fsico e mental e s exigncias de determinadas atividades.

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    Os conceitos que permeavam este instrumento, at meados dos anos 1990, eram consideraes sobre insalubridade, periculosidade e penosidade. Aps as alteraes de 1995, prevaleceu somente o conceito de insalubridade tal como definido na Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT), que leva em considerao apenas os limites de tolerncia relacionados aos agentes qumicos, fsicos e biolgicos.

    A partir desse ponto, temos visto algumas incoerncias nas regras estabelecidas para a concesso desse benefcio, como, por exemplo, o contedo do Decreto ser diferente do contedo da Instruo Normativa, diretamente relacionada e complementar ao tema.

    Consta no texto do anexo IV do Decreto n 3.048, de 06 de maio de 1999, com alterao dada pelo Decreto n 4.882, de 18 de novembro de 2003, que:

    a) Para os agentes qumicos, a concesso devida exposio do trabalhador ao agente presente no ambiente de trabalho e no processo produtivo quando em nvel de concentrao superior aos limites de tolerncia estabelecidos.

    So aproximadamente oitenta substncias contempladas e as atividades listadas no texto, nas quais pode haver a exposio, so exemplificativas.

    Alerta-se que, para algumas dessas substncias contempladas, no existe limite de tolerncia legalmente estabelecido e tampouco outra referncia para concesso.

    b) Para os agentes fsicos, a concesso devida exposio acima dos limites de tolerncia especificados para rudo e temperaturas anormais (somente o calor). Para os agentes vibraes, radiaes ionizantes e presso atmosfrica anormal, o texto coloca que a concesso deve ser concedida s atividades descritas.

    Ressalta-se que o texto do Decreto no corresponde ao texto da Instruo Normativa diretamente relacionada, IN n 29 INSS/PRES de junho de 2008, que solicita uma avaliao quantitativa tambm para vibraes e radiaes ionizantes.

    c) Para os agentes biolgicos, a concesso devida exposio aos agentes citados unicamente nas atividades relacionadas com micro-organismos e parasitas infecto-contagiosos vivos e suas toxinas. Entretanto, as atividades relacionadas desa-parecem do texto do Decreto publicado em 2003 e, ainda na Instruo Normati-va, IN n 29 INSS/PRES de junho de 2008, consta a seguinte redao:

    A partir de 6/03/1997, (estabelecimentos de sade) as atividades exercidas em contato com pacientes portadores de doenas infectocontagiosas oucom manuseio de materiais contaminados; as atividades de coleta, in-dustrializao do lixo e trabalhos em galerias, fossas e tanques de es-goto, desde que exista exposio a micro-organismos e parasitas in-fectocontagiosos vivos e suas toxinas.

    A IN de 2008 exige a comprovao da exposio desde 1997 sendo que, at 2003, o Decreto previa as atividades relacionadas.

    Mais uma vez, a IN apresentou informaes no explicadas no Decreto diretamente relacionado.

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    d) Para a associao de agentes, a concesso devida exposio que esteja acima do nvel de tolerncia, considerando o enquadramento relativo ao agente que exigir menor tempo de exposio para:

    4.0.1 Fsicos, Qumicos e Biolgicos: minerao subterrnea cujas atividades sejam exercidas afastadas das frentes de produo 20 anos.

    4.0.2 Fsicos, Qumicos e Biolgicos: trabalhos em atividades permanentes no subsolo de mineraes subterrneas em frente de produo 15 anos.

    Esta redao apresentada a partir do Decreto de 2003, mudando o conceito de exposio a mltiplos agentes ou de fatores de risco sade, levando a considerar os agentes isoladamente, impondo limites de tolerncia e descaracterizando a anlise por atividade, definitivamente.

    Analisando a sua estrutura enquanto entendimento da relao adoecimento-exposio ocupacional, bem como mtodo de preveno, considera-se que a atual legislao tem apresentado limitaes importantes, principalmente no que diz respeito:

    a) definio de Condies especiais, que passa a considerar somente o conceito de insalubridade baseado nos limites de tolerncia;

    b) viso unicausal em detrimento dos mltiplos fatores de risco presentes nas atividades de trabalho;

    c) individualizao do potencial de risco, levando em considerao somente um agente e uma exposio por trabalhador;

    d) aos laudos com apenas informaes sobre a existncia de tecnologia de proteo coletiva ou individual que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerncia e que deveriam recomendar a adoo pelo estabelecimento respectivo, pois, em especial, o Equipamento de Proteo Individual (EPI) no elimina a presena do agente no ambiente de trabalho;

    e) autodeclarao do empregador, que veio com a Lei n 9.732/1998, a qual, ao mesmo tempo, ressalta, no seu art. 19, inciso II, que contraveno penal, punvel com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurana e higiene do trabalho. Ora, estar com exposio ocupacional acima dos limites de tolerncia que caracterizariam a aposentadoria especial no seria, na maioria das situaes encontradas, estar em desacordo com as normas de segurana e higiene do trabalho? Apontam-se tambm as seguintes dificuldades tcnicas na aplicao das regras de concesso:

    Aplicao dos limites de tolerncia de acordo com a Norma Regu-lamentadora do Ministrio do Trabalho e Emprego, NR 15, que se encontra desatualizada, principalmente no estabelecimento dos limites de tolerncia para substncias qumicas adotados em 1978;

    Comprovao da eficcia dos equipamentos de proteo individual (EPI);

    Limitadas informaes sobre as demonstraes ambientais e os vrios entendimentos sobre o tempo de trabalho permanente e as suas relaes cientficas com dose-resposta;

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    Aplicao das demonstraes ambientais e descrio de atividades, em especial para contratos de trabalho temporrio e para os terceirizados;

    Preenchimento do Perfil Profissiogrfico Previdencirio (PPP), documento solicitado pela Previdncia Social para comprovao de demonstraes ambientais que, entre outros problemas, solicita informaes reduzidas e induzidas sobre as situaes de trabalho encontradas.

    Contudo, esta anlise levou seguinte pergunta: Como discutir este recurso como instrumento de proteo segurana e sade do trabalhador?

    Como sugesto inicial, prope-se, mediante a premissa do risco presumido (previsto e provvel), a aplicao do conceito da precauo (da cautela antecipada) e a valorizao do trabalhador que tem a necessidade de utilizar o EPI, discutindo circunstncias de trabalho que, mesmo em condies razoveis de controle, atualmente preconizadas e admitidas, ainda ofeream riscos sade ou integridade fsica do trabalhador.

    O trabalhador que precisa usar o EPI para se proteger, que lida constantemente com o potencial de dano, na tenso constante de proteger-se e proteger o coletivo, que necessita constantemente de capacitao na aplicao das medidas de segurana prescritas e obrigatrias, deve ser reconhecido.

    As situaes de trabalho que inicialmente mereceriam discusso poderiam ser:

    1 - Na possibilidade de contato com agentes cancergenos ou altamente txicos;

    2 - No risco alto de acidentes graves;

    3 - No risco alto de desgastes fsicos, emocionais e mentais;

    4 - Na associao de fatores de risco (quando existe a presena de mais de um agente com potencial de causar danos sade).

    Como as situaes de trabalho mudam com o passar do tempo, futuras anlises destas atividades podem revelar menos fatores de riscos presentes, de modo que os riscos sade e integridade fsica do trabalhador se tornaro to baixos, a ponto de ser possvel ter uma vida saudvel, de acordo com a idade, aps os 30/35 anos de contribuio para a sociedade por meio do trabalho.

    Finaliza-se com as seguintes afirmaes:

    Sade um direito que se conquista com aes concretas e realistas.

    Direitos so conquistados e jamais perdidos!

    Assumir dificuldades e limitaes da realidade o princpio da transformao!

  • 2 A aposentadoria especial e a desconstruo de direitos sociais, no regime geral da previdncia social

    por Antonio Jos de Arruda Rebouas

    Advogado, Assessor Sindical e Especialista em Previdncia Social

    A desconstruo de direitos sociais, em nosso entender, constitui o processo pelo qual o sistema dominante, utilizando formas e meios distintos (vrios dos quais dissimulados ou, at mesmo, ocultos), acaba por solapar, distorcer ou esvaziar a proteo social visada pela legislao, a comear pela dilapidao da Constituio Federal, passando pelo desmonte de Leis, Decretos e outros instrumentos normativos que compem o chamado arcabouo jurdico.

    A Constituio Federal de 1988 resultou da composio de interesses e objetivos mltiplos, no raro antagnicos, celebrando-se um grande pacto nacional.

    Embora no alcanando o ideal, em nossa opinio fez por merecer o epteto de Constituio Cidad. No cabe, aqui, registrar os avanos a que chegou dada a amplitude do assunto.

    O movimento sindical e os setores comprometidos com a sociedade e a nacionalidade esforaram-se por consolidar os avanos constitucionais, empenhando-se na elaborao, nesse sentido, de Leis Federais, Constituies Estaduais, Lei Orgnica de cada Municpio e assim por diante.

    Como exemplo, a par de muitos outros, podemos apontar a Lei n 8.213/91 cuja redao original baseou-se, em grande parte, no texto que as representaes sindicais e seus tcnicos apresentaram ao Congresso Nacional.

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    Merecem destaque ainda, no mbito da Seguridade Social, a Lei Orgnica da Sade, de n 8.080/90, e a Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS), de n 8.742/93.

    Sucede que interesses e presses internacionais, aliados aos de grupos intestinos, vm destruindo os alicerces da Carta de 1988 e da legislao infraconstitucional a pretexto da necessidade e da urgncia de reformas que, alis, no terminam.

    Reforma da Previdncia Social, reforma trabalhista e outras tantas pretextam validar o desmantelamento de leis de cunho remarcadamente social e at de instituies pblicas. Tm levado brutal perda de direitos dos cidados.

    H diversas formas de desconstruo de direitos sociais.

    Desconstruo no mbito constitucional

    No que interessa aposentadoria especial dos beneficirios do INSS, a Carta de 1988, por meios e instrumentos variados, vem sendo desfigurada ao longo dos anos, conforme apontaremos agora, em carter meramente ilustrativo, dada a exiguidade do tempo disponvel.

    O 1 do art. 201 da Carta Magna dispunha, originariamente:

    vedada a adoo de requisitos e critrios diferenciados para a concesso de aposentadoria aos beneficirios do regime geral de previdncia social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condies especiais que prejudiquem a sade ou a integridade fsica, definidos em lei complementar.

    A Emenda Constitucional n 20, publicada em 16 de dezembro de 1998 dez anos depois passou a estabelecer, em seu art. 15:

    At que a lei complementar a que se refere o art. 201, 1, da Constituio Federal, seja publicada, permanece em vigor o disposto nos arts. 57 e 58 da Lei n 8213, de 24 de julho de 1991, na redao vigente data de publicao desta Emenda.

    No se compreende, luz do senso mediano das pessoas, o fato de o Congresso Nacional, ao invs de simplesmente aprovar a referida lei complementar, preferir a constitucionalizao da lei ordinria n 8213/91. Mas h uma situao, anterior e subjacente, para explicar o ocorrido dentro da racionalidade.

    Com efeito, Medidas Provisrias depois convertidas em Leis (Lei n 9.032, de 28/04/1995; Lei n 9.528, de 10/12/97; Lei n 9.732, de 11/12/98) prepararam o terreno para o advento da Emenda Constitucional n 20/98, uma vez que:

    Eliminaram o direito obteno da aposentadoria especial pelo critrio da atividade profissional (no mais importando a natureza da atividade, mas, sim, unicamente o requisito da exposio a agentes fsicos, qumicos e biolgicos);

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    Eliminaram o direito ao benefcio especial nos casos de trabalhos penosos ou perigosos;

    Eliminaram o direito de se converter o tempo de servio exercido em atividade comum no tempo de contagem especial e vice-versa;

    Criaram a exigncia de comprovao, a cargo do segurado, perante o INSS, de requisitos exagerados e de atendimento quase impossvel (e, ainda, no propiciando ao segurado os instrumentos minimamente necessrios para tanto): exerccio de trabalho habitual e permanente, no ocasional nem intermitente, sob condies especiais nocivas sade ou integridade fsica.

    Logo, ao constitucionalizar os artigos 57 e 58 da lei, a Emenda n 20/98 fortificou os retrocessos provocados pelas anteriores medidas provisrias, altamente injustas e antissociais, depois convertidas em leis.

    Outra forma de desconstruo opera-se no campo das leis federais, dos regu-lamentos e de outros instrumentos.

    Desconstruo no mbito legal

    Sempre enfocando a aposentadoria especial, observamos que a Lei n 8.213, de 1991, tem sofrido grandes alteraes, evidentemente para pior.

    Para constatao da deforma, basta confrontar o texto original do seu art. 57 com o atualmente em vigor, sobretudo com as alteraes trazidas pela Lei n 9.032, de 1995, e pela Lei n 9.732, de 1998.

    Houve, tambm, a adio de vrios pargrafos ao art. 57, dificultando ainda mais a vida dos segurados.

    No s.

    A Lei n 8.213, de 1991, inicialmente dispunha que a relao de atividades profissionais nocivas sade ou integridade fsica deveria ser objeto de lei especfica (art. 58), ou seja, aprovada pelo Congresso Nacional.

    Mas a Lei n 9.528, de 1997, retirou a prerrogativa do Parlamento para determinar que tal listagem passasse esfera de competncia do Poder Executivo, inviabilizando-se, com esse artifcio, a discusso do tema por parte da sociedade e de todos os seus representantes junto ao Congresso Nacional.

    A relao dos agentes, a partir da Lei n 9.528/97, foi delegada ao Poder Executivo, que poder alter-la como e quando quiser, de acordo com a vontade poltica de cada governo.

    Um exemplo outro, mais demolidor, consiste na Lei n 9.732/98, aprovada dias antes de publicada a Emenda n 20/98: ela desferiu golpe mortal na aposentadoria especial ao modificar a redao do 6 do art. 57 da Lei n 8.213/91.

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    Ao faz-lo, estabeleceu que:

    O benefcio previsto neste artigo [aposentadoria especial] ser financiado com os recursos provenientes da contribuio de que trata o inc. II do art. 22 da Lei 8212, de 24/07/91, cujas alquotas sero acrescidas de 12, 9 ou 6 pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a servio da empresa permita a concesso de aposentadoria especial aps 15, 20 ou 25 anos de contribuio, respectivamente.

    A viabilidade da aposentadoria especial restou praticamente morta a partir da majorao das alquotas.

    A empresa que reconhecer a existncia, no quadro de empregados, de trabalhadores sujeitos a condies agressivas sade ou integridade fsica dever recolher alquotas mais elevadas com acrscimo de 6%, 9% ou 12%, conforme o caso incidindo sobre a remunerao mensal de cada empregado nessa situao.

    A alterao legal criou um conflito de interesses entre o empregador e o segurado.

    Que empresa age em seu desfavor, autodeclarando fato gerador de maior onerao?

    A par disso tudo, medidas provisrias e leis acrescentaram diversos pargrafos ao artigo seguinte, de n 58, da mesma Lei n 8.213, de 1991, acarretando sensveis prejuzos aos trabalhadores que desempenham atividades sob condies especiais de risco sade ou integridade fsica.

    A Lei n 8.213, de 1991, foi primeiramente regulamentada pelo Decreto n 357 do mesmo ano.

    Diversos decretos, posteriormente, modificaram a regulamentao, com iguais fins e efeitos, no cabendo enumer-los nesta singela exposio.

    Das normas fantasmas

    Existem at normas secretas, as denominadas OI (Orientaes Internas), que desvirtuam a aplicao das leis e dos segurados e seus dependentes.

    Secretas porque no so divulgadas mediante publicao no Dirio Oficial da Unio.

    Complicando a situao, h um recente e incompreensvel acordo de cooperao tcnica, celebrado em 11 de maro de 2008, proposto pelo Conselho Nacional de Justia (CNJ), segundo o qual o INSS expediria suas normas secretas (OI), repassando-as diretamente ao CNJ, o qual, por sua vez, emitiria recomendaes a todos os Juzes e Tribunais para acat-las.

    Da desconstruo pelo sistema implantado

    O sistema implantado com base na Tecnologia da Informao (informtica) tambm embaraa, e muitas vezes impossibilita, o efetivo exerccio de direitos pelos segurados que pretendem a aposentadoria especial.

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    Os modelos e os formulrios limitam o registro de dados e informaes, ainda que necessrios e importantes para o esclarecimento das condies especiais de trabalho.

    Alm disso, os segurados empregados e trabalhadores avulsos no podem acompanhar a confeco dos documentos exigidos pelo INSS, como o laudo tcnico, o Perfil Profissiogrfico Previdencirio (PPP) e vrios outros produzidos pelas empresas.

    No conseguem, sequer, obter cpia fiel dos inmeros documentos que competem a cada empresa elaborar, a seu exclusivo critrio, para a obteno da aposentadoria especial por parte dos segurados.

    E no se tem notcia, at hoje, de fiscalizao alguma promovida pelo INSS a respeito do cumprimento efetivo, por qualquer empresa, das obrigaes que lhes so cometidas pela legislao especfica.

    Alm disso, o sistema interpreta, a seu modo, a forma e o contedo dos documentos fornecidos ao INSS, adotando concluses no raro arbitrrias e despropositadas e, assim, negando direitos aos pretendentes.

    Das outras modalidades de desconstruo

    Outras formas de desconstruo existem por intermdio de especialistas, mestres e autores de textos e livros que defendem interpretaes singulares da legislao, reduzindo o seu alcance.

    H operadores do Direito, inclusive Magistrados, que se afastam dos princpios constitucionais, preterindo os valores e os fins sociais que informam a verdadeira Previdncia Social, sob diferentes pretextos, inclusive o da celeridade processual.

    Finalizando

    As perdas sofridas pelos segurados e seus dependentes com as reformas ocorridas nos ltimos quinze anos por certo somam bilhes de reais ante o xito do processo demolidor.

    o que temos a dizer, perguntando: o que vamos fazer?

  • 3 Percia mdica: o reconhecimento do direito e a vigilncia da sade e segurana do trabalhador

    por Bruno Gil de Carvalho Lima

    Perito Mdico do INSS

    Com o intuito de impulsionar a percia mdica previdenciria a atuar no campo da fiscalizao da sade e segurana do trabalhador, pretende-se desenvolver um trabalho no somente de reconhecer o direito de quem tem ou de negar a pretenso de quem gostaria de ter acesso ao benefcio e no preenche os requisitos legais, mas de proteger a sade do trabalhador.

    A nova estratgia do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) fiscalizar a boa aplicao dos recursos da Previdncia Social, no apenas pelo infortnio, que o que o seguro cobre, mas com o objetivo de verificar se algum deliberadamente deixou de cumprir uma norma de segurana ocupacional e isto repercutiu em uma doena ocupacional e num gasto de recurso previdencirio. Sendo assim, faz-se cumprir a funo que a Previdncia Social tem dentro da Seguridade Social, promovendo tambm um reflexo importante sob o ponto de vista financeiro, isto , tornando-se ambientes de trabalho mais saudveis, tem-se menos incapacidades e menos demandas por benefcios previdencirios.

    A Lei n 10.876, de 2004, recente e dispe sobre as prerrogativas da percia mdica da Previdncia Social. A percia mdica uma carreira nova e representa a reverso do processo, que teve impulso na dcada de 1990, de terceirizao dessa atividade na Previdncia Social, que trouxe muitos problemas de atuao. Um deles a concesso de benefcios indevidos.

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    sabido que muitos mdicos credenciados que faziam percias buscaram vantagens esprias mediante a concesso de benefcios indevidos. Necessrio reconhecer, ainda, a fragilidade e a falta de iseno de um profissional que realiza tal atividade no consultrio privado, fora de uma Agncia da Previdncia Social. Atualmente, quando o perito mdico do quadro faz uma avaliao tcnica, sem interesse pessoal, pode acertar e tambm pode errar, mas eventuais incorrees no resultaro de interesse pessoal na concesso ou na denegao do benefcio.

    A carreira de mdico perito recente. Foram contratados, de 2005 at 2008, aproximadamente 5.000 mdicos em todo o Brasil e nem todos entram sabendo fazer percia mdica ou mesmo esto cientes do quanto esta atividade se diferencia de fazer assistncia mdica. Alm disso, nem todos esto imbudos do compromisso da funo de fiscalizao da insalubridade nos ambientes de trabalho.

    importante ressaltar que a inspeo de ambientes de trabalho para fins previ-dencirios est prevista e necessrio que seja feita, mas, para tanto, tem que haver recursos materiais e estrutura para o trabalho. Por exemplo, a viabilizao de transporte adequado para deslocamento at os locais de trabalho a serem vistoriados.

    A Lei n 10.876/2004 prev tambm que cabe percia mdica a execuo das demais atividades definidas em regulamento, incluindo a anlise dos processos de aposentadoria especial.

    As anlises dos processos de aposentadoria especial por exposio a agentes nocivos, que antes eram feitas por tcnicos do seguro social, hoje so de competncia da percia mdica, cabendo ainda aos tcnicos do seguro social o enquadramento por atividade, que foi possvel at 1995. A partir desta data, como o enquadramento somente por agente nocivo, percia mdica que compete analisar.

    Faz-se necessrio capacitar a percia mdica para esta atividade, sendo im-portante compreender a diferenciao entre o mdico assistente e o perito mdico. O mdico assistente diagnostica, prognostica a doena, prope o tratamento, faz acompanhamento peridico e concede alta, quando for o caso. O perito mdico tem que conhecer a legislao e seguir a norma que est positivada. Trata-se de reconhecer o direito conforme a legislao. Diante de uma legislao que endureceu e restringiu o acesso ao benefcio, no possvel ao servidor pblico, luz do princpio do Direito Administrativo da Legalidade, querer fazer o que ele individualmente ache razovel ou entenda como justia social, pois tal conduta poder ser identificada como irregular em uma auditoria.

    A porcentagem de benefcios por incapacidade em que o indeferimento se d por deciso mdica no chega a 75%. Para o restante, a negativa da Autarquia ocorre por outros motivos que a percia no controla, embora possa at ser constatada a incapacidade laborativa. Por exemplo, a falta de qualidade de segurado ou o no cumprimento da carncia so parmetros avaliados pelo concessor e que podem vedar a concesso do benefcio mesmo quando o perito exara um laudo reconhecendo a incapacidade laborativa. Isto significa que, de quatro pessoas com benefcios por incapacidade indeferidos, pelo menos para uma a negativa no por deciso mdica.

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    A aposentadoria especial vista por muitos como um privilgio, pois o trabalhador ganha o direito de se aposentar com 15, 20 ou 25 anos de atividade, enquanto que os demais permanecem 30 ou 35 anos trabalhando. Ela no regra, a exceo em que se permite a adoo de critrios diferenciados para salvaguardar a sade e a integridade fsica do trabalhador que labora em condies muito desfavorveis. Constitui verdadeiro resgate do trabalhador que, se tivesse que se dedicar por 35 anos a um ofcio to insalubre, no teria sade para chegar a gozar sua aposentadoria pelas regras comuns.

    A Emenda Constitucional n 20 coloca que a lei deve disciplinar a cobertura do risco de acidente do trabalho a ser atendida, concomitantemente, pelo Regime Geral e pelo setor privado. Isto permitiu a aplicao da alquota diferenciada para financiar o benefcio.

    A aplicao das alquotas diferenciadas de 3%, 6% e 9% foram pensadas em funo de que, na situao anterior, quando no havia a alquota diferenciada, em comparao com a atual, havia certa facilidade para o trabalhador ter acesso aposentadoria especial. Sob o ponto de vista do empregador, no havia restrio para o preenchimento do formulrio SB-40 e/ou de outros instrumentos solicitados pelo INSS para a concesso do benefcio, pois no ocorreria qualquer despesa a mais para este e, ainda, diante da aposentadoria precoce de um empregado, restaria um posto de trabalho em aberto, com a oportunidade de contratar um trabalhador mais jovem por um menor salrio e que poderia ser treinado de acordo com a tecnologia atual, favorecendo a gesto do empregador: maior produtividade, sem ter despesas, que seriam pagas pelo Estado.

    Junto com a alquota diferenciada, foi institudo o Perfil Profissiogrfico Previdencirio (PPP), que, na sua concepo, teve a participao da Receita Previdenciria. No formulrio so exigidas informaes sobre a Guia de Recolhimento do FGTS e Informaes Previdncia Social (GFIP), os recolhimentos decorrentes da exposio a agentes nocivos e o emprego de Equipamentos de Proteo Coletiva e Equipamentos de Proteo Individual (EPC/EPI), que vo ou no permitir o enquadramento para concesso do benefcio.

    Se todos agissem conforme a honestidade e a verdade dos fatos, tudo ficaria conforme o aspecto legal. Mas o que passou a acontecer que a empresa comeou a preencher o PPP de uma forma que lhe permitisse no pagar a alquota, impedindo a concesso do benefcio. Ainda, o perito mdico, quando vai analisar o PPP, no consegue tirar informaes suficientes para atestar de fato a exposio ocupacional aos agentes nocivos, conforme o previsto nas Normas Regulamentadoras do Ministrio do Trabalho e Emprego.

    Alm disso, o Ministrio do Trabalho tambm no efetivo na fiscalizao, de maneira que o Programa de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA) da NR 9 e o Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO) da NR 7 ainda no se tornaram rotina na vida do trabalhador ou muitas vezes so meras formalidades com o intuito de cumprir as normas trabalhistas, mas sem repercusso prtica visvel.

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    Contudo, o prejudicado tem sido o trabalhador, que trabalha em um ambiente insalubre e no recebe o benefcio.

    O que recentemente foi possvel ao INSS fazer, dentro da sua competncia, foi somente considerar as informaes sobre EPI, que a forma mais barata de investir no ambiente de trabalho, aps dezembro de 1998. Isto deve estar facilitando o processo de concesso do benefcio para os perodos anteriores a 1998.

    Alm disso, acrescentou-se no padro grfico do PPP o campo 15.9, em que as exigncias propostas sobre a utilizao de EPI nas Normas Regulamentadoras NR 6 e NR 9 so explicitadas. Essa foi uma tentativa de fazer com que o trabalhador, perante a no concordncia com as informaes colocadas no PPP, pudesse denunciar o fato ao INSS.

    Com relao s denncias, o perito mdico tem a chance de obter muitas informaes sobre as incongruncias nas documentaes de sade e segurana, seja por meio dos processos de auxlio-doena, ou de aposentadoria especial, e tem, ainda, o dever, conforme o artigo 195 da Instruo Normativa 20 de 2007, de atuar coordenadamente com o Ministrio Pblico do Trabalho, o Ministrio Pblico Federal, o Conselho Regional de Medicina, a Procuradoria Federal especializada junto ao INSS e a Receita Federal do Brasil, solicitando a estes as providncias necessrias no sentido da punio em cada caso.

    Finalizando, um exemplo de atuao do perito mdico capaz de contribuir para a sade e segurana ocupacional. Ao analisar um PPP, ele se deparou com informaes de GFIP zero (sem alquota para aposentadoria especial a recolher), agente fsico rudo acima do limite de tolerncia, sem emprego de EPC eficaz e com EPI eficaz. Na checagem do Certificado de Aprovao do EPI (CA), constatou-se que o mesmo era referente a cinturo de couro! Diante dessa irregularidade, solicitou o Laudo Tcnico de Condies Ambientais de Trabalho (LTCAT), que servira de base ao preenchimento do PPP, identificando que o problema no estava nas informaes constantes do LTCAT, mas no preenchimento falso do PPP. Ento, foi reconhecido o direito do trabalhador e encaminhada notificao Receita Federal do Brasil e Procuradoria Federal Especializada para apurao da falsidade ideolgica constatada.

  • 4Aposentadoria especial, evoluo normativa e desafi os

    por Domingos Lino

    Coordenador geral de monitoramento de benefcios por incapacidade

    Diante da necessidade de regulamentar, bem como de aprimorar os critrios para a concesso de aposentadoria especial, o Ministrio da Previdncia Social criou um Grupo de Trabalho (GT) composto por representantes dos Ministrios da Previdncia Social (MPS), incluindo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Trabalho e Emprego (MTE), incluindo a Fundacentro, da Sade (MS) e da Fazenda (MF), tendo por objetivos:

    I Avaliar os requisitos e os critrios para a concesso de aposentadoria especial;

    II Proceder ao exame comparativo da legislao brasileira, bem como o tratamento dado ao tema por outros pases; e

    III Elaborar a proposta de anteprojeto de lei complementar nos termos do disposto no 1 do art. 201 da Constituio.

    O GT, coordenado pelo Departamento de Sade e Segurana Ocupacional da Secretaria de Previdncia Social, visando obter subsdios discusso, solicitou ao MPS a contratao de um especialista na rea para analisar o tratamento dado ao tema por outros pases, bem como a extrao dos dados relativos concesso de aposentadoria especial junto com a Dataprev1.

    1 Dataprev uma empresa de tecnologia e informaes da Previdncia Social.

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    O grupo efetivou a anlise da legislao pertinente, a coordenao realizou reunies com representantes das confederaes de empregadores e das centrais sindicais de trabalhadores e, de posse das informaes processadas pela Dataprev, bem como da anlise internacional produzida pelo especialista, iniciou a elaborao de minuta de propostas a ser encaminhada ao Senhor Ministro da Previdncia Social.

    A proposta ser baseada em princpios que devem abranger o conjunto dos trabalhadores e no categorias especficas e, para perceber a aposentadoria especial, o trabalhador deve estar exposto de forma efetiva e permanente aos riscos constantes do Anexo IV do Decreto n 3.048, de 1999, a ser revisado.

    A apresentao, em tela, apresenta o histrico sobre a aplicao da aposentadoria especial, demonstrando as mudanas de conceitos e regras para concesso desses benefcios, bem como o nmero de benefcios concedidos por tempo de contribuio, mdia de idade do beneficirio e tempo de concesso, de 1990 a 2006.

    Os dados revelam enorme queda no nmero de concesses a partir de 1991, saindo de aproximadamente 52 mil benefcios por ano para os 1.000 benefcios concedidos no ano de 2006.

    A coordenao do grupo de trabalho procurou identificar as expectativas dos empre-gadores e dos trabalhadores com relao s mudanas na regulamentao do benefcio.

    Os empregadores manifestaram-se no sentido de que:

    1. Exija-se a comprovao da efetiva exposio;

    2. O foco seja na preveno e no na indenizao;

    3. No haja a incluso das atividades penosas e perigosas;

    4. Ocorra a simplificao da documentao (PPP-SB40);

    5. No haja o retorno da aposentadoria por categoria;

    6. A ampliao de agentes de risco seja feita aps estudos balizados; e

    7. Demonstrem preocupaes com possveis aumentos da contribuio previden-ciria, considerando racional a continuao da contribuio adicional.

    Os trabalhadores pontuaram as seguintes preocupaes:

    1. As atuais dificuldades na comprovao da exposio, inclusive no preen-chimento do PPP;

    2. O no recolhimento da contribuio adicional pelos empregadores;

    3. A manuteno e a ampliao dos agentes de riscos;

    4. A fiscalizao insuficiente e desintegrada;

    5. A necessidade de preveno;

    6. A necessidade de estudos e pesquisas; e

    7. Alguns setores reivindicam o retorno da aposentadoria por categoria.

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    Embora ainda no exista uma proposta acabada, apresentamos as linhas bsicas que nortearo a proposta sobre a aposentadoria especial a ser debatida no mbito do MPS e posteriormente encaminhada ao ministro.

    Linhas bsicas do anteprojeto de aposentadoria especial:

    Abranger o conjunto dos trabalhadores e no as categorias especficas;

    Exposio de forma efetiva e permanente aos riscos constantes do anexo do decreto.

    Reconhecimento dos agentes nocivos, quer sejam qumicos, fsicos e/ou biolgicos, e de suas associaes;

    Contribuio dos empregadores, visto ser esta uma exigncia constitucional;

    Comprovao dos agentes mediante processo acompanhado via PPP pelos trabalhadores e seus sindicatos;

    Continuar possibilitando o perodo de converso da atividade especial para o tempo comum, estabelecendo uma contribuio adicional.

    O Poder Executivo dever definir a relao de agentes nocivos, devendo-se comprovar a exposio a estes agentes, alm de estabelecer a obrigatoriedade das empresas de informar a existncia desses agentes e de possibilitar o acompanhamento pelos trabalhadores das informaes prestadas PPP.

    Informa-se que, neste ano de 2008, foi instituda uma Comisso Interministerial Tripartite de Sade e Segurana no Trabalho, sob a coordenao do Departamento de Polticas de Sade e Segurana Ocupacional da Previdncia Social, para a implementao da Poltica Nacional de Segurana e Sade do Trabalhador. As informaes sobre os temas apresentados esto disponibilizadas na pgina da internet do MPS: .

  • 5O conceito de insalubridade e a NR 15 Limite de exposio ocupacional e avaliao ambiental

    por Luiza Nunes Cardoso

    Doutora em qumica e pesquisadora da Coordenao de Higiene do Trabalho da Fundacentro

    Para aplicao da NR 15 Atividades e operaes insalubres, necessrio, para a maioria dos casos, fazer uma avaliao ambiental e comparar com o padro estabelecido, o limite de tolerncia.

    A NR 15 estabelece por volta de 100 limites de tolerncia e atualmente parte-se de 10 produtos ou 10 matrias-primas para produzir tudo o que conhecemos hoje.

    Essas matrias-primas so: o petrleo, o gs natural, o carvo mineral, a biomassa, os minrios de uma forma geral, o sal, o fosfato, o enxofre, o ar e a gua. A partir da surgem os produtos bsicos. Estes so produzidos principalmente pela indstria de primeira gerao: petroqumicas e qumicas de primeira gerao, como a Petrobras, e assim por diante.

    O grfico do Chemical Abstracts Service (CAS), de 1999, sobre os registros de todas as substncias qumicas, apresenta uma corrida exponencial a partir da dcada de 1990 por causa do aumento de produo e de conhecimento da rea e tambm pelo registro das sequncias dos grandes projetos genomas do mundo inteiro.

    No dia a dia, identifica-se a utilizao de 220 mil produtos e cerca de 300 novos produtos so adicionados ao ano na Unio Europeia.

    Em 2008, o CAS registrou 38 milhes de substncias orgnicas e inorgnicas e 60 milhes de sequncias.

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    Segundo dados fornecidos pela comunidade europeia, cerca de 30 mil substncias so produzidas acima de uma tonelada e 5 mil so superiores a 100 toneladas. A produo brasileira de 1999, por exemplo, para o cloro foi de 1.100 toneladas aproximadamente; para o cloreto de vinila, foi de 426 toneladas; para o benzeno, foi de 886 toneladas; e para o ciclohexano, foi de 64,7 toneladas.

    Segundo a OIT, em 1991, ns tnhamos 2.200 limites de tolerncia para agentes ambientais e 110 para os indicadores biolgicos (substncias encontradas na urina e no sangue).

    Contudo, observa-se que os riscos devidos aos agentes qumicos so produzidos muito rapidamente, enquanto que o controle do risco introduzido lentamente ou no introduzido.

    A primeira substncia da qual se discutiu o limite de tolerncia foi o monxido de carbono, em 1883, e s eram feitos testes de intoxicao aguda em animais.

    A primeira tabela de limites foi publicada em 1912 e continha 20 substncias. Nos Estados Unidos, em 1921, Kobert publicou uma tabela com 33 substncias. Em 1930, observou-se que a maior parte dos limites estabelecidos eram baseados apenas em experincias de curta durao em animais, com exceo de: mina de ouro, frica do Sul, 1920 exposio slica; mina de Zinco e Chumbo, Missouri (EUA), 1917; e Greenburg, 1926 exposio crnica ao benzeno. O Ministrio do Trabalho da antiga Unio Sovitica legislou sobre as concentraes mximas aceitveis, que eram 12 substncias.

    A primeira grande lista ocorreu em 1942, publicada pela American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), instituio que surgiu com hi-gienistas pertencentes ao governo americano e que, com o passar dos anos, foi associando outros profissionais. Atualmente, sabe-se que a maior parte dos higienistas dessa associao so profissionais ligados indstria. No incio era uma associao bem restrita. Eram conhecidos 63 contaminantes atmosfricos e havia a ressalva de que os valores da tabela no deveriam ser considerados como concentraes seguras recomendadas.

    Em 1945, surge o termo concentraes mximas permissveis e so publicados 132 contaminantes atmosfricos com referncias bibliogrficas.

    Na 8 reunio da ACGIH em 1946, ocorre a publicao da sua segunda lista, trazendo 131 substncias e 13 poeiras minerais, baseada em Cook e no Comit Z-37 da American Standards Association, com nfase na reviso anual.

    Foi em 1948 que as concentraes mximas permissveis foram chamadas de limites de tolerncia e, a partir de 1958, a ACGIH apresenta a definio de LT, colocando que representa condies sob as quais se acredita que quase todos os trabalhadores podem estar repetidamente expostos, dia aps dia, sem efeito adverso. A nfase dada aos limites de tolerncia provocou uma reao por parte dos britnicos, que entendiam ser apenas limites de referncia, e houve uma tentativa

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    de desenvolver o termo para concentraes tericas mximas permissveis. O uso de limite de tolerncia provocou, na poca, uma discusso sobre o quanto este refletia o conceito de que o homem uma mquina padronizada. Admitiam que a preocupao em manter a exposio abaixo dos limites originou uma tendncia na Amrica de considerar a substituio de produtos perigosos como a ltima ao na proteo sade, em vez de ser a primeira.

    O conceito de pico, limite de exposio alta e intermitente, surgiu em 1966 durante o 15 Congresso Internacional de Sade Ocupacional e, em 1969, a Inglaterra, apesar das crticas ao conceito de limites de tolerncia, comeou a fazer uso destes e tomou como referncia a ACGIH.

    Em 1970 criada a Occupational Safety and Health Act (OSHA), rgo regulamentador e de fiscalizao do trabalho nos EUA, e o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), instituio com objetivo de desenvolver pesquisas e critrios, bem como recomendaes de padres na rea de sade ocupacional que deveriam ser utilizados pela OSHA como referncia.

    A OSHA estabelece a sua primeira lista de limites de exposio permissveis (PELs) baseada na tabela de LTs da ACGIH de 1968, pois a NIOSH no havia desenvolvido pesquisas suficientes para o estabelecimento de limites de referncia e, aps esta data, os LTs tiveram grande difuso mundial.

    A ACGIH atualmente referncia mundial no desenvolvimento de limites de tolerncia, embora seja uma organizao no governamental e tenha uma forte conotao das indstrias.

    interessante que, na literatura tcnica dos anos 1970, encontram-se colocaes do tipo que os limites devem ser selecionados para assegurar a continuidade da existncia dos processos de produo e minimizar ou, se possvel, erradicar os perigos da ocupao. E, em 1980, a Organizao Mundial da Sade publica um livreto que discute o limite de exposio ocupacional baseado em questo de sade.

    No Brasil, os limites de tolerncia so estabelecidos em 1978, com o surgimento da NR 15. Utilizou-se da lista de limites de tolerncia da ACGIH de 1977. Os limites foram adaptados para jornadas de trabalho de 48 horas, j que, nos EUA, a jornada era de 40 horas semanais.

    A OSHA, em 1989, no levou em conta as fundamentaes de pesquisa e de dados mais restritivos recomendados pela NIOSH para 68 substncias e continuou fazendo um trabalho em conjunto com a ACGIH. Atualmente, encontram-se vrias denominaes e diferentes entendimentos sobre os limites de tolerncia: limite de exposio ocupacional, limite mximo permissvel etc. Cada denominao tem uma definio completamente diferente. As listas de valores de limites estabelecidos variavam entre os pases, algumas vezes dentro de um s pas, como acontece nos EUA, que tem 3 listas: uma da ACGIH, uma da OSHA e uma da NIOSH.

    Ocorreram vrios movimentos para estabelecer critrios de uniformizao e fixao dos padres. O primeiro foi um simpsio internacional em 1959, o segundo, em 1963, e o terceiro, em 1977, no qual surgiu uma diretriz internacional. O

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    comit internacional preparou o volume 601 da Srie de Informes Tcnicos sobre mtodos utilizados para estabelecer nveis admissveis de exposio ocupacional a agentes nocivos e estabeleceu duas etapas. A primeira visando ao desenvolvimento de limites de exposio profissional recomendados por motivos de sade, levando-se em considerao a absoro pelo organismo e a resposta, entre outros fatores. E a segunda seria a converso desses limites de sade em limites ou normas operacionais discutidos de forma tripartite e caracterizando os limites tambm por motivos tecnolgicos etc.

    Atualmente, existem definies para diferentes tipos de limites:

    a) Mdia moderada pelo tempo, que aquele valor que voc acredita que o tra-balhador fica exposto durante 8 horas;

    b) A exposio de curta durao; e

    c) A exposio de valor teto.

    A ACGIH utiliza a definio de concentrao mdia ponderada pelo tempo (TLV-TW) para uma jornada diria de 8 horas e semanal de 40 horas, na qual praticamente todos os trabalhadores podem estar repetidamente expostos, dia aps dia, sem efeito adverso. Adota a exposio de curta durao STEL, exposio mdia ponderada pelo tempo de 15 minutos, que no pode ser excedida em tempo algum, durante um dia de jornada, mesmo que a mdia ponderada pelo tempo de 8 horas no exceda o TLV-TWA. Pode ocorrer at 4 vezes por dia e com intervalos de no mnimo 60 minutos; e o valor teto, concentrao que no pode ser excedida durante nenhum momento da exposio ocupacional, estabelecido para substncia cuja ao no organismo seja rpida, por exemplo, o cido clordrico (HCl) e o dixido de nitrognio (NO2).

    A OSHA utiliza o termo limite de exposio permissvel (PEL-TWA), que a exposio mdia dos trabalhadores aos contaminantes atmosfricos em uma jornada de trabalho de 8 horas dirias e 40 horas semanais e que no pode ser excedida. A referncia o controle do ambiente, no podendo o ambiente ser ultrapassado, no tendo nada a ver com a sade. A Rssia adota o conceito de concentrao mxima aceitvel (MAC), concentrao que, no caso de exposio diria de trabalho de 8 horas, ou durante outro perodo, mas no mais que 41 horas semanais, no causar qualquer dano ou desvio do estado normal de sade, detectvel pelos mtodos correntes disponveis, seja durante o prprio trabalho ou em tempo mais longo, em si ou nas geraes futuras.

    No Brasil, a NR 15 Operaes e atividades insalubres adota como definio de limite de tolerncia aquela concentrao ou intensidade mxima ou mnima relacionada com a natureza e o tempo de exposio ao agente que no causar dano sade do trabalhador durante sua vida laboral (vlido para jornada de 48 horas por semana, o valor teto o limite que no pode ser ultrapassado em momento algum da jornada de trabalho; e o valor mximo, em cada uma das concentraes obtidas

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    nas referidas amostragens, no deve ultrapassar os valores obtidos na equao, sob pena de ser considerada situao de risco grave e iminente). O Quadro n 1 do Anexo 11 da NR 15 apresenta 135 limites de tolerncia e classifica 11 substncias como asfixiantes simples, e o Anexo 12 apresenta limites de tolerncia para poeiras minerais.

    Ressalta-se que, na discusso sobre critrios para o estabelecimento de limites, h que se colocar em pauta que:

    Para substncias cancergenas e sensibilizantes no h limite seguro de exposio;

    Os padres de exposio estabelecidos no so baseados em sade. Desde 1975, a OSHA faz clculo de custo e benefcio para o estabelecimento de um padro legal. Tais clculos so baseados no quanto vai diminuir o custo mdico e no aumento da produtividade com o novo limite estabelecido;

    Os efeitos sade vm de exposies combinadas a diversos fatores de risco.Contudo, a prtica efetiva da higiene no trabalho deve passar por um bom

    reconhecimento dos riscos, observao e conversa com os trabalhadores, exame das queixas de sade, avaliao qualitativa dos riscos, avaliao das medidas de controle. Se isto tudo for bem feito, pode se chegar concluso de que necessrio se fazer uma avaliao quantitativa. Neste caso, os limites devem ser considerados como guias para se avaliar o ambiente e no como certificado de que o ambiente ou no insalubre.

    A ACGIH era uma caixa preta muito fechada, no entanto, na dcada de 1990, sob presso da sociedade americana em saber como chegavam naqueles limites, seus arquivos foram se abrindo. Com a abertura destes arquivos, dois trabalhos importantssimos foram publicados, citando-se os de Ziem e Castleman, que tiraram a concluso de que, em 90% dos ndices estabelecidos pela ACGIH, no existiam estudos, a longo prazo, com humanos tampouco com animais. Roach e Rappaport (1990), aps extensos estudos sobre a documentao da ACGIH, encontraram dados de danos sade por diversos contaminantes em concentraes bem menores que os TLVs estabelecidos pela ACGIH.

    A partir de 1975, a OSHA foi obrigada a estabelecer um clculo de custo-benefcio para definir o limite de tolerncia. Tais clculos so baseados no quanto vai diminuir o custo mdico e no aumento da produtividade com o novo limite estabelecido.

    Este modo de pensar fez com que, em mais de trs dcadas de existncia da OSHA, a agncia estabelecesse novos limites permissveis de exposio para apenas dezesseis agentes ou grupos de agentes. Oito deles nos anos 1970, trs nos anos 1980, quatro nos anos 1990 e somente um no sculo XIX. Em comparao com a primeira lista publicada, existem substncias que tiveram seu limite de tolerncia reduzido, como, por exemplo, o butadieno, que baixou em mil vezes, e o cloreto de vinila, que reduziu em torno de quinhentas vezes.

    Portanto, refora-se que, devido s falhas no estabelecimento dos limites de segurana, a concentrao ambiental de determinadas substncias, nesses valores, no deve ser admitida como nvel seguro de exposio para os trabalhadores.

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    Deve-se valorizar o bom reconhecimento de risco, as queixas de sade, a avaliao qualitativa, a avaliao das medidas de controle e, principalmente, as informaes trazidas pelos trabalhadores que devem participar dessas discusses. Os limites devem ser considerados como um guia de como deve ser avaliado o ambiente e no como um certificado de que um ambiente insalubre ou no.

    Para fins de aposentadoria especial, teramos que avaliar e estimar a concentrao de dada substncia em toda a vida laboral. Mas os ambientes de trabalho s tm uma substncia? Um nico agente est presente? Quantas avaliaes teriam que ser feitas para cobrir esse perodo de 35 anos? Em uma coqueria h milhares de substncias qumicas e algumas delas so cancergenas. Deve-se avaliar o qu? Alm dos riscos qumicos, temos o calor que interfere muito. A gasolina tem duas centenas de substncias qumicas, inclusive benzeno, o que eu vou avaliar?

    Por exemplo, uma avaliao ambiental de um setor de uma fbrica de tintas apresentou a concentrao de doze substncias qumicas que, considerando-as isoladamente umas das outras, no ultrapassaram os limites de tolerncia da NR 15, limite brasileiro, e apenas uma, o tolueno, teve o seu limite ultrapassado se considerar o limite da ACGIH. Agora, considerando que todas estas substncias agem no sistema nervoso central, se se fizer a somatria, o limite de tolerncia ultrapassado tanto nos critrios da legislao brasileira, como da ACGIH. Portanto, em geral, se o trabalho for com milhares de substncias, se eu fosse capaz de analisar todas estas substncias, com certeza ultrapassariam os limites. No caso, por exemplo, de uma coqueria ou de um posto de gasolina, possvel que cada uma das substncias, individualmente, cadastre o nvel de exposio, s que visivelmente so ambientes insalubres.

    Outra situao a considerar : O que mais importante avaliar: uma exposio de curta durao ou uma de 8 horas?

    Segundo a NIOSH, considera-se que h riscos na exposio quando se pode afirmar com 95% de confiana que, em pelo menos 5% dos dias de trabalho, o valor de comparao pode ser excedido. Portanto, como deve ser feita a escolha de dias, perodos, turnos de trabalho e trabalhadores para a realizao das coletas de uma vida laboral?

  • 6Aposentadoria especial e insalubridade: questes para refl exo

    por Jorge Mesquita Huet Machado

    Mdico Sanitarista, Doutor em Sade Pblica, Tecnologista da Fiocruz, Ministrio da Sade

    Em termos polticos, importante ressaltar que a discusso da aposentadoria especial deve passar pelo conceito de previdncia como seguro social para prover sade e no somente como uma relao custo-benefcio, assim como deve adotar critrios universais voltados para toda a populao trabalhadora, pois a constituio brasileira no trabalha somente com a noo de CLT e sim com todo o universo de trabalhadores.

    O pensamento de que deve haver um fundo especfico de pagamento a partir da sobretaxa e de tipos especficos de emprego, por exemplo, empregos menos qualificados, proporo de empregos terceirizados, emprego de fora de trabalho autnoma, emprego em que h um baixo nmero de trabalhadores por setor e uma alta concentrao de tecnologia, causando uma reduo de emprego. No necessariamente os recursos precisam vir de contribuies previdencirias, h vrias outras formas de se fazer um fundo especfico.

    Por outro lado, verifica-se que os atuais critrios para a concesso das aposentadorias especiais esto com uma base tcnica inadequada, de modo que a grande maioria dos trabalhadores no tem conseguido alcanar esse direito, porque fica incapaz para o trabalho ou morre antes do tempo previsto.

    O Perfil Profissiogrfico Previdencirio (PPP), tomado como um instrumento de controle do trabalhador na declarao das suas condies de trabalho, no funciona, pois, se o trabalhador for contestar o que est escrito e assinado pela

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    empresa, ele mandado embora, tem sempre outro para o seu lugar. O trabalhador no tem possibilidade de controle da qualidade dessa informao. Sem contar que no so contemplados os riscos ergonmicos, nem, tampouco, a associao dos fatores de riscos presentes.

    Contudo, nem todo trabalho insalubre. Tem trabalho que cumpre sua funo social de incluso e realizao profissional e pessoal.

    O lema Sade no se vende no para ser adotado de modo que no se faa mais a discusso da insalubridade ou para se adotar a postura do no falo mais sobre o pagamento de insalubridade. Muito pelo contrrio, pois, em geral, quando se trabalha, j est se vendendo a fora de trabalho, portanto, faz sentido discutir a insalubridade e o que ela representa no contexto do mundo do trabalho.

    No campo dos problemas tcnicos, a prpria definio de insalubridade conflituosa. Segundo o Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa, insalubridade a qualidade de insalubre, que, por sua vez, no salubre, o que origina doena; doentio. O termo insalubridade, no caso em foco, so qualidades particulares em que o trabalho exercido, que podem ou no ser consideradas origem ou causas de doenas.

    Em sntese, a insalubridade consiste em situaes de exposio ocupacional a agentes, a fatores ou a situaes potencialmente patognicas que originam doenas, sendo sua gradao relacionada probabilidade e gravidade do evento mrbido em questo. Orienta-se por critrios epidemiolgicos, como a mortalidade precoce, a invalidez permanente e o absentesmo-doena, para a configurao de insalubridade e mesmo por critrios qualitativos de exposio a situaes de risco.

    Cabe, portanto, serem estabelecidas quais as condies em que o trabalho origina doena. A legislao trabalhista atual peca pela simplicidade e pela anacronicidade no estabelecimento de uma relao causal, pois so privilegiadas em textos legais e regulamentos as causas que podem ser comprovadas no ambiente e no corpo humano diante de critrios da fisiopatologia clssica monocausal. Ou seja, a monocausalidade passa a ser o limite dos marcos regulatrios existentes. Entretanto, a multicausalidade do processo sade e doena, seus condicionantes sociotcnicos, as doenas dos lugares, a complexidade dos contextos geradores de doenas so cada vez mais estudados e originam modelos de causalidade mais prximos da realidade vivenciada no cotidiano das pessoas.

    Devem ser revistas, ainda, situaes especficas em que estejam estabelecidas interaes entre situaes de risco no sentido de gerao de doenas, nos casos dos riscos qumicos, fsicos e biolgicos, constantemente revisados internacionalmente. Os sobrevalorizados limites de tolerncia so sistematicamente diminudos com o passar do tempo e a experincia de exposies consideradas no patognicas para a maioria dos trabalhadores as mostra patognicas de forma crnica e caem por terra certezas fundamentadas em observaes sumrias e pouco registradas. Condies de trabalho de turnos noturnos em horrios alternados so exemplos de situaes largamente estudadas que impactam na sade dos trabalhadores e nunca foram consideradas como insalubres.

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    As leses por esforos repetitivos, as LERs, e os distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, os DORTs, representam hoje os problemas de sade relacionados ao trabalho de maior prevalncia no mundo. Apesar dessa constatao, seus condicionantes no esto previstos como risco ou situaes insalubres, mesmo sendo comprovada a relao dessa pandemia com fatores biomecnicos e psicossociais presentes no ambiente de trabalho. Deve-se apontar tambm a promoo de uma discusso a respeito da adoo de padres ambientais diferentes de padres ocupacionais de exposio. No deveria haver esta distino.

    Estas defasagens tcnicas das normas reguladoras da insalubridade geram uma desordem do ponto de vista das relaes de trabalho, pois contemplam alguns em detrimento de outros que tambm fariam jus aos adicionais, criando uma distoro salarial entre similares, o que, no limite, geraria uma tendncia ao abandono de determinada funo e busca daquela que est sendo premiada, alm da desvalorizao profissional daquele que se mantm em funo insalubre.

    Ressalta-se que os critrios para concesso de aposentadorias deveriam ser sistematicamente atualizados e em funo das situaes reais em que se vive no trabalho e no to somente por presses polticas ou interesses especficos. Uma comisso de estudos e anlises sobre aposentadoria especial deveria ser de participao ampliada e de atuao permanente.

    Considerando, hoje, a possibilidade de debatermos um novo marco regulatrio desenvolvido a partir das experincias vividas pelos trabalhadores e de suas lutas por melhores condies de trabalho, devemos ampliar essa formulao para uma normatizao que leve em conta a natureza do trabalho, ou seja, uma anlise das situaes e das relaes de trabalho no contexto socioambiental em que ele exercido. Portanto, o processo de trabalho deve ser avaliado para ser estabelecida ou no a insalubridade. Nesse sentido, devem ser includas anlises sociotcnicas participativas nos mtodos das avaliaes de insalubridade.

    Alm do mais, em conjunto com as anlises sobre as aposentadorias, deve-se pensar no trabalho do idoso, nas questes que envolvem gnero e trabalho e considerar a equidade como valor a ser perseguido para definio de uma poltica de aposentadoria.

  • 7NR 15 Atividades e operaes insalubres

    por Clia Pereira Nbrega

    Auditora Fiscal do Trabalho Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego de So Paulo

    Em 1977, a Lei n 6.514 alterou o Captulo V da Consolidao das Leis do Trabalho (CTL) e, em seu artigo 189, estabeleceu que so consideradas atividades ou operaes insalubres aquelas que, por sua natureza, condies ou mtodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos sade acima dos limites de tolerncia (LT) fixados em razo da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposio aos seus efeitos. Por meio do artigo 190, reforou-se que o Ministrio do Trabalho, hoje Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), deveria aprovar o quadro de atividades e operaes insalubres e normas sobre os critrios de caracterizao da insalubridade, bem como os limites de tolerncia aos agentes agressivos, os meios de proteo e o tempo mximo de exposio do empregado a esses agentes. Fato que ocorreu pela Portaria Ministerial n 3.214, em 1978, com a publicao da Norma Regulamentadora NR 15 Atividades e operaes insalubres, includa em um conjunto de 32 normas.

    A NR 15 traz a exigncia das avaliaes quantitativas e do uso dos limites de tolern-cia em seus Anexos 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12; caracteriza a insalubridade nas atividades mencio-nadas nos anexos 6 e 14; e propem inspees nos locais de trabalho, com descries das situaes encontradas, exigncia pelo menos qualitativa, nos anexos 7, 9, 10 e 13.

    A qualidade das avaliaes quantitativas est principalmente na utilizao de metodologias adequadas e laboratrios credenciados, em especial, para determinadas

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    substncias qumicas. As avaliaes qualitativas dependem muito do conhecimento do profissional que est avaliando, embora este conhecimento tambm seja de grande importncia nas avaliaes quantitativas. Dependendo do agente ambiental, o adicional de insalubridade varia entre 10% (grau mnimo), 20% (grau mdio) e 40% (grau mximo) do salrio mnimo regional. Est previsto na CLT que os adicionais no so cumulativos e, mediante o direito a vrios adicionais, por vrios agentes/riscos, o empregado pode optar entre estes.

    Com a publicao da NR 9 Programa de preveno dos riscos ambientais (PPRA), em 1994, o MTE passou a dar maior nfase para as aes de reconhecimento, avaliao e controle do que para os adicionais de insalubridade.

    Entretanto, a crtica com relao NR 9 que, embora esta traga uma orientao geral em reconhecer, avaliar e controlar os riscos, estes se resumiriam aos agentes qumicos, fsicos e biolgicos, no contemplando os fatores ergonmicos e os de acidentes. Nas inspees do dia a dia, os auditores fiscais tm solicitado a avaliao e o controle de todos os riscos, alm dos riscos qumicos, fsicos e biolgicos. Destaca-se que a NR 9 trouxe o conceito de nvel de ao e a discusso dos riscos com a Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA), bem como a integrao com o Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO).

    Mas a NR 15 no tem sido ignorada. Quando um auditor identifica um problema de insalubridade, solicitado um laudo tcnico e, se a empresa no efetua o devido pagamento, lavrado o Auto de Infrao. O valor da multa varia em funo do nmero de trabalhadores da empresa e do grau da infrao determinado na NR 28, que varia de 1 a 4. Se houver diversos graus de insalubridade, o pagamento no cumulativo, sempre pago sobre o maior grau. Quando a condio de insalubridade envolve muitos trabalhadores, em geral, em vez de notificao e punio, chamam-se os representantes dos trabalhadores e, em conjunto com representantes da empresa, expem-se as situaes encontradas e propem-se as possveis negociaes e correes.

    Contudo, uma das grandes dificuldades que enfrentamos na verificao do artigo 191 da CLT, que disciplina a eliminao ou a neutralizao da insalubridade, que pode ocorrer:

    I com a adoo de medidas de controle que conserve o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerncia;

    II com a utilizao de Equipamento de Proteo Individual (EPI) que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerncia.

    Na prtica, o que se verifica o fornecimento indiscriminado de EPIs.

    As dificuldades e as limitaes das aes dos fiscais esto, principalmente, na aplicao dos limites de tolerncia previstos pela NR 15, que esto desatualizados, e na verificao da eliminao ou da neutralizao da insalubridade pelo EPI.

    Como se verifica a eficcia dos EPIs? Hoje, solicita-se somente o Certificado de Aprovao (CA). E o uso adequado, o conhecimento do risco pelo trabalhador, o tempo de utilizao dos EPIs? Quais so os procedimentos para que o auditor verifique todos estes fatores?

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    Quando um trabalhador afirma que a empresa no paga um determinado adicional porque fornece o EPI, a fiscalizao exige o cumprimento da NR 9 e, para o efetivo pagamento do adicional devido, orientamos que o trabalhador procure a justia do trabalho. Um exemplo de limitao da ao fiscal quando uma empresa encontra-se em situaes diversas de insalubridade que variam entre graus mnimo, mdio e mximo e que, em negociao com representantes da categoria, resolve pelo pagamento de insalubridade de grau mdio para todos. Neste caso, alguns ficam prejudicados e outros, em vantagem. Como intervir se existe o aceite por parte dos trabalhadores?

    Outra situao difcil de enfrentar quando a lei tenta proteger uma determinada situao e pode acabar prejudicando, como no caso dos trabalhos sob condies hiperbricas, trabalhos sob ar comprimido, insalubridade de grau mximo, que permite somente pessoas com idade entre 18 e 45 anos. Um trabalhador que est na atividade e atinge 45 anos normalmente despedido. Em rarssimas situaes so deslocados para outras atividades na empresa.

    Ainda com relao ao pagamento da insalubridade, encontra-se dificuldade na questo de horas trabalhadas. H empresas que pagam adicional de insalubridade proporcional s horas trabalhadas. A interpretao que se tinha at agora que determinado trabalhador poderia estar exposto atividade considerada insalubre ou no, e no se pensava o adicional em funo das horas de exposio na atividade insalubre. Horas extras em atividades insalubres s so permitidas com o aval do Ministrio do Trabalho e Emprego.

    Com relao mais diretamente concesso da aposentadoria especial, percebe-se que ocorrem falta de dilogo interinstitucional, uniformizao de procedimentos, critrios de interpretaes etc. A quem compete a exigncia legal do fornecimento dos documentos aos trabalhadores? Por exemplo, com relao ao Perfil Profissiogrfico Previdencirio (PPP), quando a empresa no fornece ao trabalhador, o INSS orienta o trabalhador a procurar o MTE. No entanto, cabe fiscalizao do MTE, de acordo com o artigo 157 da CLT, exigir do empregador o cumprimento das Normas de Segurana e Medicina do Trabalho. O que se faz solicitar o PPRA (NR 9), que adotado como documento base para elaborao do PPP para entrar no assunto e induzir ao cumprimento do PPP, entretanto no obrigao da auditoria fiscal do MTE a cobrana deste instrumento desenvolvido pela Previdncia Social.

    Finalizando, compete Comisso Tripartite Paritria Permanente (CTPP Portaria n 393, de 09 de abril de 1996) o processo de reviso das normas regulamentadoras j existentes e/ou a elaborao de novas regulamentaes na rea de segurana e sade no trabalho. A reviso da NR 15 j est pautada, mas ainda no tem data de incio marcada.

  • 8Trabalhadores da construo civil

    por Waldemar Pires de Oliveira

    Presidente da Confederao Nacional dos Trabalhadores da Indstria da Construo (Conticon)

    Falar sobre as atividades na construo civil levantar a realidade de uma obra a comear pela grande rotatividade dos trabalhadores nos locais de trabalho do setor.

    Toda obra tem risco. Risco grave e eminente. Ao passar por uma obra, qualquer pessoa pode ver o trabalhador pendurado ou em cima de um andaime, tomando sol ou chuva. Qualquer pessoa pode ver, no h necessidade de laudo algum.

    Na prtica, a categoria se caracteriza em penosa, insalubre e muito perigosa. O trabalhador da construo civil no consegue se aposentar e os motivos so que, primeiramente, somente 40% dos trabalhadores tm emprego formal e previdncia social; depois, devido s condies de vida e trabalho um trabalhador de 35 anos se parece com algum de 60 anos; o envelhecimento precoce.

    Um trabalhador da construo civil no consegue morar nos centros urbanos. Em geral, moram na periferia e levam duas horas para chegarem ao trabalho e depois mais duas horas para voltar para casa, pois o nvel salarial bastante baixo.

    Pensar em uma aposentadoria especial para a categoria muito importante, porque as questes sociais de qualidade de vida e trabalho tm que ser analisadas em conjunto. No se quer defender este instrumento por conta de querer privilgios, mas por merecimento, reconhecimento e justia. Seria muito importante que

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    houvesse uma pesquisa oficial para saber quantos trabalhadores da construo civil conseguem se aposentar por tempo de contribuio ou at mesmo por idade, pois a realidade que se v que a maioria acaba se afastando das atividades por incapacidade ao trabalho. Apresentam problemas de coluna, de joelho etc.

    Concluindo, o trabalhador da construo civil tem um servio pesado, penoso, insalubre e ainda serve como um experimento, pois os novos materiais e tecnologias chegam e somente depois que os trabalhadores adoecem que os estudos acontecem e que as causas so relacionadas.

  • 9Trabalhadores metrovirios

    por Wagner Fajardo Pereira

    Presidente da Federao Nacional dos Metrovirios e Secretrio Geral do Sindicato dos Metrovirios de So Paulo

    A categoria dos metrovirios muito jovem e as dificuldades enfrentadas em relao aposentadoria destes trabalhadores surgiram com maior nfase nos ltimos 10 anos.

    A primeira dificuldade que se encontra nas discusses de sade a de conseguir ser ouvido pelos interlocutores da empresa e dos rgos pblicos. A situao que se verifica que muitos dos trabalhadores metrovirios que esto expostos s condies insalubres no so devidamente identificados e reconhecidos. O exemplo mais evidente o da Companhia do Metr de So Paulo, que h muito tempo no tem elaborado os laudos de insalubridades necessrios para a avaliao das condies de trabalho na empresa, e os poucos laudos tcnicos existentes esto completamente desatualizados.

    Outro aspecto em que h dificuldades para os trabalhadores nas discusses e no entendimento sobre a exposio ao risco eltrico que atinge uma quantidade significativa de trabalhadores metrovirios. No h um consenso no entendimento sobre a exposio permanente e habitual ao risco, pois a empresa no quer reconhecer oficialmente o risco, e o INSS faz de tudo para evitar a antecipao da aposentadoria. No h documentos que tragam uma definio clara do que a exposio habitual e permanente, ficando os entendimentos por conta da interpretao de cada um, que a fazem de acordo com os seus interesses, desconsiderando a condio do trabalhador.

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    Em recente conversa entre os representantes dos trabalhadores metrovirios e os mdicos peritos do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), ouvimos de um perito a afirmao de que, nos trabalhos de manuteno noturna realizados pelos trabalhadores metrovirios nas vias, prximas ao terceiro trilho, que alimentam eletricamente os trens, se a energia de alta voltagem desligada nos momentos dos reparos necessrios, no h presena do risco eltrico. Sabe-se que o risco se evidencia exatamente pela possibilidade da presena da energia de alta voltagem por qualquer motivo. Entretanto, essa discusso retrata, no mnimo, a falta de noo de risco ou a m-f de alguns destes profissionais.

    Uma das limitaes da lei que regulamenta a aposentadoria especial que a interpretao tcnica, que pode levar ou no concesso do benefcio, depende somente do profissional que est analisando o caso ou a situao.

    Fato importante que se coloca que no trabalho dos metrovirios existe uma associao de riscos presentes. H exposio s poeiras, s fuligens de freio, s atividades subterrneas, aos riscos de atropelamentos, s variaes de iluminao, s variaes climticas etc. Isto, em nossa opinio, tem que ser tratado como condio especial que deve ser considerada para a concesso de aposentadoria especial.

    Por fim, preciso deixar registrado que a principal reivindicao da categoria que ela quer ser ouvida e que se leve em considerao a realidade das condies ambientais de trabalho retratadas, discutindo e incluindo, na legislao e nos procedimentos da percia do INSS, a associao de riscos nas atividades de trabalho.

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    Aposentadoria especial dos eletricitrios

    por Csar Nicolau Vargas

    Coordenador da Intersindical dos Eletricitrios do Sul do Brasil (Intersul) Representante da Federao Nacional dos Urbanitrios (FNU/CUT)

    A concesso de aposentadoria especial por categoria deixou de existir com o advento da Lei n 9.032 de 28 de abril de 1995. At esta data, os eletricitrios tinham direito aposentadoria especial devido s condies que o trabalho lhes impunha.

    O trabalho exercido no sistema eltrico de potncia considerado perigoso, conforme Lei n 7.369 de 20 de setembro de 1985, regulamentado pelo Decreto n 93.412 de 14 de outubro de 1986, em seu artigo 2, pargrafo 2, que diz:

    So equipamentos ou instalaes eltricas em situao de risco aqueles de cujo contato fsico ou exposio aos efeitos da eletricidade possam resultar incapacitao, invalidez permanente ou morte.

    O eletricitrio precisa de muita ateno devido aos altos riscos que ele enfrenta, e isto ocasiona um estresse psicolgico muito grande.

    Para a realizao do trabalho em condies perigosas, exige-se do executante, alm dos atributos tcnicos, ateno redobrada, reflexos aguados, agilidade e fora em determinados casos. Convm salientar que o corpo humano, aos seus 40 anos de idade, inicia um processo de envelhecimento em diferentes componentes de aptido fsica. Estudos demonstram que, nesta idade, h uma diminuio gradativa da estatura cor-poral devido perda de massa ssea, diminuio de massa muscular e, conse-

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    quentemente, perda gradativa da fora muscular, atingindo o desempenho neuromotor e diminuindo a potncia aerbica em consequncia da diminuio do seu metabolismo. Estas limitaes comprometem a execuo de determinadas tarefas consideradas perigosas e presentes no sistema eltrico de potncia, aumentando a possibilidade de ocorrncias de acidentes. A idade, portanto, um fator importante nas atividades dos eletricitrios. O setor eltrico apresenta em mdia 17 mortes por ano.

    Por outro lado, o setor entende que todo o trabalho que envolva manuteno e/ou operao no sistema eltrico de potncia merecedor de adicional de penosidade por considerarmos um trabalho rduo, difcil, incmodo e doloroso. Estes servios exigem trabalhos em posies incmodas, como no exemplo dos tcnicos de manuteno das linhas de distribuio ou de transmisso que trabalham suspensos em postes ou torres metlicas e, muitas vezes, tambm trabalham em reas de difcil acesso, exigindo esforos fsicos no carregamento de equipamentos, exposio ao calor, entre outras funes atribudas ao eletricitrio, aqui no mencionadas.

    A execuo de determinadas tarefas para os trabalhadores que atingem certo grau de envelhecimento nas variveis antropomtricas, neuromotoras e metablicas se torna difcil e ainda mais rdua devido ao avano da idade, comprometendo a segurana no trabalho e o aumento na obteno de doenas ocupacionais.

    Outro fator a ser considerado o uso dos equipamentos de proteo individual (EPIs) que o trabalho exige, impedindo o pleno exerccio das funes fisiolgicas, como o tato, a respirao, a audio, a viso e a ateno, levando sobrecarga fsica e mental dos trabalhadores. Em alguns EPIs, h dvidas quanto eficcia na neutralizao do agente nocivo, como o caso dos protetores auriculares. Nesse aspecto, os problemas revelam tambm que o rudo no causa somente problemas auditivos, mas tambm problemas cardacos e na estrutura ssea devido s ondas sonoras propagadas no ambiente.

    A exposio aos campos eletromagnticos tambm outro fator nocivo categoria eletricitria. A Comisso Internacional para a Proteo das Radiaes No Ionizantes (CIPRNI), entidade ligada Organizao Mundial da Sade, realizou estudos sobre o caso e indicou o princpio da precauo devido aos problemas que a radiao pode ocasionar sade em decorrncia do tempo de exposio. Outros cientistas dizem que os campos magnticos produzem, no corpo humano, correntes eltricas e voltagens mais altas do que as produzidas pelo prprio corpo. Alguns estudiosos alegam que a exposio aos campos eletromagnticos reduz a taxa de melatonina no sangue. Investigadores em diversas partes do mundo (Unio Sovitica, Mxico, EUA, Alemanha) constataram vrios problemas ao trabalhador exposto ao campo eletromagntico, nos sistemas nervoso, circulatrio e gastrointestinal, tais como: elevao da presso arterial sistlica, arritmia sinusal e taquicardia verificada em ECG, reduo da ateno, nuseas, diminuio da libido, entre outros.

    A realidade do setor que a maioria dos trabalhadores se aposenta doente e, quando se aposenta, perde o plano de sade que a empresa pagava quando estava na ativa.

    Outro item que preocupa so os laudos ambientais. Em vrios casos, a causa da no concesso de aposentadoria especial. Em algumas empresas do setor, o laudo

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    no condiz com a realidade, comprometendo o direito do trabalhador. Nota-se certa irresponsabilidade de alguns tcnicos na elaborao do laudo e na impunidade dos rgos competentes sobre este assunto.

    Diante do exposto, os eletricitrios vm propor:

    a) Que as atividades reconhecidas como perigosas, penosas e insalubres sejam inquestionveis para a concesso da aposentadoria especial, independentemente do uso de EPIs;

    b) Que o uso dos EPIs no seja considerado um neutralizador do agente nocivo no ambiente, mas sim atenuante, e que, com o uso destes, a considerao de atividade penosa seja devida;

    c) A incluso da radiao eletromagntica na relao de agentes nocivos que trata dos agentes patognicos causadores de doenas profissionais ou do trabalho, conforme previsto no Decreto n 6.042, de 12 de fevereiro de 2007, e tambm na NR 15;

    d) A promoo da seleo dos tcnicos para a realizao dos laudos ambientais, submetendo-os a uma avaliao anual atravs de provas especficas, impondo-lhes o comprometimento com a tica e a moral em suas relaes de trabalho, sujeitos a punies severas;

    e) Garantia de acesso dos sindicatos dos trabalhadores aos laudos ambientais da empresa, dando-lhes poderes para elaborar, questionar e intervir perante rgos competentes, caso haja divergncia.

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    O trabalhador mineiro

    por Joo Aparecido Trevisan Neto

    Secretario Geral da Confederao Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral

    Para comear a falar sobre o trabalho na minerao, importante colocar que, sem o trabalhador mineiro, no teramos casas, carros, insumos agrcolas e minerais para alimentao, eletrodomsticos e tudo mais que tem trazido melhoria na qualidade de vida e no conforto para as pessoas. Para se ter uma ideia da importncia do setor no Brasil, em 2007, o setor cresceu 5,95%, chegando perto de 8% do produto interno bruto (PIB) do pas. A tendncia continuar neste ritmo com o desenvolvimento do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal. Entretanto, s aparecer um trabalhador mineiro e o meio ambiente comea a mudar, este o censo comum. Somos vistos como o patinho feio pelos ambientalistas.

    Os mineiros trabalham a cu aberto e tambm no tero da terra, quando a minerao subterrnea. A slica, poeira que est presente em quase todos os minerais, um agente qumico constante em nossas vidas, seja na minerao subterrnea ou a cu aberto. Mas no s a slica que enfrentamos, existem muitos outros problemas, a informalidade dos trabalhadores no setor um deles.

    Em geral, os mineiros formais esto nas grandes e mdias mineradoras e em algumas atividades da construo civil, nas metalrgicas e na extrao do petrleo. Os trabalhadores informais do setor esto nas lavras clandestinas, nos gar