Apostila Boa 2008 Atualizada

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Direito Comercial III Jos Mauro Catta Preta

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TTULOS DE CRDITO Professor: Jos Mauro Catta Preta Siglas utilizadas: CH = Cheque CPC = Cdigo de Processo Civil CCC = Cesso Civil de Crdito CC/02 = Cdigo Civil de 2002 DC = Duplicata EB = Endosso em Branco EC = Endosso Cauo EP = Endosso ao Portador LC = Letra de Cmbio LU (ou LUG) = Lei Uniforme de Genebra sobre Letra de Cmbio e Nota Promissria NO = No ordem NP = Nota Promissria PFA= Protesto por Falta de Aceite PFATH = Protesto por Falta de Aceite em Tempo Hbil PFP = Protesto por Falta de Pagamento PFPTH = Protesto por Falta de Pagamento em Tempo Hbil. PNE = Proibio de Novo Endosso PP = Por Procurao (Endosso mandato) RIP = Pstumo (Rest in Peace) SG = Sem Garantia TC = Ttulo de Crdito I - INTRODUO Ttulo de Crdito uma espcie do gnero ttulo executivo extrajudicial. A regra que todas as pessoas, capazes, signatrias do ttulo tornam-se devedoras. O artigo 585 CPC - Especifica quais so os ttulos executivos extrajudiciais. Eles existem em numerus clausus. Os ttulos de crdito so diferentes dos outros ttulos executivos por terem garantias especficas dadas pelo legislador, tendo em vista sua funo econmica. Os ttulos de crditos so sempre criados por lei, portanto a lei precede a sua existncia. Ns no podemos cri-los, mas somente utilizar os j criados pelo legislador. Quando a lei os cria, ela vai dizer quais os requisitos o ttulo criado deve preencher. Deve, portanto, observar o formalismo exigido pela lei. I.1 Escopo da disciplina Direito Comercial III O escopo da presente disciplina limita-se aos seguintes ttulos de crdito Ttulo de Crdito Letra de Cmbio Nota Promissria Cheque Duplicata Fonte legislativa pertinente Lei Uniforme de Genebra, bem como legislao interna Lei Uniforme de Genebra, bem como legislao interna Lei Uniforme de Genebra, bem como legislao interna, unificado pela lei interna do cheque Lei interna, to-somente, uma vez que se trata de ttulo criado no Brasil.

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I.1.1 Letra de cmbio e nota promissria Tiveram a mesma origem no contrato de cmbio, originado na Idade Mdia e, por isso, so tambm conhecidos por CAMBIAIS. Eles so regulamentados pela mesma legislao: Decreto 2.044, de 1908 e Lei Uniforme de Genebra, promulgada pelo Decreto 57.663, de 1966, que revogou parcialmente o Decreto anterior, naquilo em que houve coliso. Todos os demais ttulos de crdito so denominados CAMBIARIFORMES. I.1.2 Cheque um ttulo de crdito imprprio, justamente porque o termo crdito pressupe tempo para pagar, enquanto cheque ordem de pagamento vista. Era regulado pelo Decreto 2.591, de 1912 e pela Lei Uniforme de Genebra, promulgada pelo Decreto 57.515, de 1966, que revogou a lei interna naquilo em que houve coliso com a mesma. O Congresso Nacional fundiu os dois diplomas legais, criando a Lei n 7.357, de 1985. O cheque, atualmente, regulado to-somente por esta lei. I.1.3 Duplicata Foi criada no Brasil e implementada tambm em alguns pases da Amrica do Sul. Portanto, em relao duplicata, no h direito uniforme. Ela regulada internamente pela Lei n 5.474-68 I.2 Crdito: Conceituao, Funo e Elementos I.2.1 Conceitos I.2.1.1) Conceito jurdico: Crdito um vnculo jurdico entre sujeito ativo e sujeito passivo pelo qual o ativo pode exigir o cumprimento da obrigao. Ou seja, o direito que o credor (sujeito ativo) tem de exigir do devedor (sujeito passivo), o cumprimento de uma obrigao. Onde h crdito h obrigao. I.2.1.2) Conceito econmico: Crdito a troca de um bem (ou valor) presente por um bem (ou valor) futuro, uma troca feita no tempo. A maioria das operaes de crdito decorre, basicamente, de dois contratos: compra e venda a prazo e mtuo (emprstimo de coisa fungvel). O sentido que nos interessa este. I.2.2 Elementos do crdito Em uma operao de crdito, h basicamente, dois elementos: I.2.2.1) Confiana (creditum = ato de f): o credor da prestao futura confia no devedor. A confiana est implcita no crdito. A confiana pode no repousar exclusivamente na pessoa do devedor, repousando, por exemplo, no fiador. medida que houve intensificao na concesso do crdito, a este elemento foram agregadas garantias, que podem ser: I.2.2.1.1) Garantias pessoais ou fidejussrias: fiana e aval. Nas garantias pessoais, todo o patrimnio do garantidor responde pela garantia dada. I.2.2.1.1.1) Fiana (fiador e afianado) - um contrato (bilateral), tem benefcio de ordem, exige outorga uxria e garantia acessria. A fiana no precisa estar em um ttulo de crdito, pode ser uma clusula contratual, pode ser um contrato de fiana, pode ser uma carta de fiana. Ela pode existir para proteger um ttulo de crdito. A fonte da obrigao na fiana um contrato (ato bilateral de vontade).

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I.2.2.1.1.2) Aval (avalista e avalizado) uma manifestao unilateral de vontade, no comporta benefcio de ordem, depende de outorga uxria e a obrigao do avalista permanece ainda que nula a obrigao do devedor principal. uma garantia prpria de ttulo de crdito, ou seja, no contrato essa garantia no tem validade. A pessoa do avalista vai, nesta condio, assinar um ttulo de crdito. Se assinar um contrato, no ser avalista. O aval s vlido quando constar em um ttulo de crdito. S se presta essa garantia a pessoa fsica ou jurdica em um corpo de ttulo de crdito. A fonte da obrigao no aval uma manifestao unilateral de vontade. Aval Fiana So espcies do gnero cauo; Em regra, so gratuitos; nada impede, contudo, que sejam onerosos; So garantias pessoais fidejussrias; Exceto no regime de separao absoluta, tanto o aval quanto a fiana exigem outorga uxria (CC, art. 1.647, III). O cnjuge no autorizado sem justo motivo pode requerer ao juiz que supra essa autorizao (art. 1.648). O aval sem outorga anulvel, mas quem tem legitimidade para pleitear a anulao to-somente o cnjuge que no autorizou em at 02 anos depois de terminada a sociedade conjugal (art. 1.649). O ato ratificvel a qualquer tempo. A lei no exige que a autorizao seja dada no prprio TC. Contudo, recomendvel que o credor assim o faa, pois, se for dada em instrumento parte, poder ser anulada por ato entre os cnjuges. A autorizao no obriga o cnjuge autorizante, mas to-somente o autorizado. Art. 903: aplicabilidade do CC/02 a obrigaes cambiais. O Brasil o nico pas que exige outorga uxria para uma manifestao unilateral de vontade. Na vigncia do CC/16, no havia necessidade de outorga para aval. Neste sentido, vide art. 3 da Lei n 4.121/62: pelos ttulos de dvida assinados por um s dos cnjuges responde os bens particulares do signatrio e os comuns at o limite da meao. O aval uma forma de garantia prpria e Contrato previsto no Cdigo Civil, artigos 818 a 839. exclusiva dos ttulos de crdito. Qualquer obrigao lcita pode ser garantida por fiana, inclusive TC; A fonte da obrigao uma manifestao A fonte da obrigao um contrato, isto , o fiador unilateral de vontade, isto , o avalista se se obriga to-somente perante o credor originrio obriga perante o pblico em geral. da obrigao. No comporta benefcio de ordem, isto , Comporta benefcio de ordem (art. 827), isto , o credor, poca do vencimento poder salvo disposio contratual expressa, o fiador pode optar por cobrar diretamente do avalista o exigir no caso de no cumprimento da obrigao, seu crdito. Jurisprudncia: no cabe que o credor cobre primeiro o afianado. Cabe denunciao da lide em execuo denunciao da lide, podendo-se executar o fundada em TC, inclusive contra avalista; afianado nos mesmos autos da execuo principal. se o avalista pagar o TC e recuper-lo, pode, em sede de execuo autnoma, executar o avalizado. Como regra geral, deve ser lanado um contrato acessrio que depende, para sua diretamente no ttulo e continua valendo existncia, do contrato principal, desse modo, sendo mesmo sendo nula a obrigao do nula a obrigao do afianado, se extingue tambm avalizado, exceto se houver vcio de forma. a obrigao do fiador. Pode ser feita tambm em uma carta de fiana dirigida ao credor. O aval garante dvida lquida, certa e Art. 821. As dvidas futuras podem ser objeto de exigvel no vencimento. O aval no garante fiana; mas o fiador, neste caso, no ser dvida futura. demandado seno depois que se fizer certa e lquida a obrigao do principal devedor. Aval obrigao autnoma e Art. 824. As obrigaes nulas no so suscetveis independente da obrigao do de fiana, exceto se a nulidade resultar apenas de avalizado. Nula a obrigao do avalizado, incapacidade pessoal do devedor. Pargrafo persiste a obrigao do avalista, exceto se nico. A exceo estabelecida neste artigo no a nulidade advm de vcio de forma (art. abrange o caso de mtuo feito a menor. 32); Em razo da autonomia de sua obrigao, Art. 837. O fiador pode opor ao credor as excees

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o avalista no pode opor ao credor que lhe forem pessoais, e as extintivas da excees pessoais exclusivas do obrigao que competem ao devedor principal, se avalizado (ex.: dvida de jogo); no provierem simplesmente de incapacidade pessoal, salvo o caso do mtuo feito a pessoa menor. A execuo por obrigao decorrente de Lei n 8.009/90, art. 3, inciso VII, com redao aval no pode recair sobre bem de dada pela Lei n 8.245/91: a execuo por famlia. obrigao decorrente de fiana concedida em contrato de locao pode recair sobre bem de famlia. Em relao a esta ltima diferena, vide RE 352.940-4, SP, julgado em 25/04/05, relatado pelo Ministro Carlos Veloso. No recepo do art. 3, VII, da Lei n 8.009/90, com redao dada pela Lei n 8.245/91, pelo artigo 6 da CR/88, com redao dada pela EC n 26, de 2000. Princpio da Isonomia. Onde existe a mesma razo fundamental prevalece a mesma regra do direito. Contudo, esta parece no ser a posio dominante do STF, principalmente aps a aposentadoria do Ministro Carlos Veloso. 1.2.2.1.2) Garantias reais: penhor, hipoteca, anticrese e alienao fiduciria: Bem ou bens dado(s) em garantia do adimplemento da obrigao. 1.2.2.1.2.1) Penhor (CC, artigos 1.431 a 1.472): devedor, ou algum por ele, entrega ao credor um bem mvel em garantia da obrigao. Como regra, a posse do bem mvel fica com o credor, salvas as excees previstas em lei. O ttulo de crdito pode ser dado em penhor (empenhado), uma vez que um bem mvel. 1.2.2.1.2.2) Hipoteca (CC, artigos 1.473 a 1.505): devedor, ou algum por ele, grava um bem imvel do nus da hipoteca que vai constar do registro de imveis, junto ao registro correspondente ao imvel hipotecado. A posse do bem permanece com o devedor. 1.2.2.1.2.4) Anticrese (CC, artigos, 1.506 a 1.510): o contrato pelo qual o devedor - conservando ou no a posse do imvel - atribuiu ao credor, a ttulo de garantia da dvida, os frutos e rendimentos oriundos do imvel. Trata-se de um direito real de garantia, podendo o credor, denominado anticresista, perceber os frutos ou rendimentos do imvel e, conforme o caso, reter este, at o cumprimento da obrigao. 1.2.2.1.2.3) Alienao Fiduciria: a transferncia feita pelo devedor ao credor da propriedade resolvel e da posse indireta de um bem mvel infungvel, como garantia do seu dbito, at o adimplemento da obrigao principal (pagamento da dvida garantida). um negcio jurdico composto de duas relaes jurdicas: uma obrigacional, expressando o dbito contrado, e outra real, apresentada pela garantia, isto , o fiduciante aliena o bem ao fiducirio que o recebe, no para t-lo como prprio, mas com o fim de restitu-lo ao fiduciante com o pagamento da dvida. Exemplo: A deseja adquirir um automvel de B, mas no possui dinheiro suficiente para pag-lo vista. Ambos recorrem, ento, a uma instituio financeira, que d crdito para A para que compre o bem, alienando-o fiduciariamente a ela, instituio financeira, a ttulo de garantia. Na documentao do automvel, este aparecer como registrado em nome de A, porm com a clusula de que se acha vinculado ao negcio fiducirio referido. I.2.2.2) Tempo lapso entre a entrega do bem presente e a prestao futura. I.2.3 Funo do Crdito Atualmente vivemos em uma economia creditcia. A funo do crdito salvar o capital da esterilidade, fecundar o capital. Um capital estagnado estril, pois no produz riqueza alguma.

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Portanto, para salvar da esterilidade o capital, necessrio fornecer crdito. O crdito concedido para aqueles que querem produzir. O crdito confere poder de compra pessoa que no o tem ou no deseja pagar naquele momento. I.3 Acepo econmica dos ttulos de crdito: funo, histria e requisitos I.3.1 Funo econmica dos ttulos de crdito Os ttulos de crditos foram os meios criados pelo Direito para dotar a economia dos meios para circulao fcil e segura do crdito. Aplicando as regras do Direito Comum, leia-se Direito Civil, para transmitir direitos, com certeza, no haver uma circulao fcil ou segura do crdito. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, os ttulos de crdito chamam-se instrumentos negociveis, o que demonstra o carter de fcil negociabilidade deste documento.O ttulo de crdito o documento na qual vai materializar-se aquela prestao futura. Materializado, o credor pode negociar esse papel. I.3.2 Consideraes histricas sobre ttulos de crdito A satisfao do crdito teve, nos primrdios do direito romano, mecanismos severos que o sustentassem. Como o crdito era muito pessoal, a inadimplncia atingia a pessoa do devedor inadimplente, que poderia at perder seu status de cidado e ser vendido como escravo. Posteriormente, esse rigorismo foi atenuado pela Lex Poetelia Papiria, deslocando da pessoa do devedor para o seu patrimnio os efeitos da insolvncia. PAIVA, Ivana Gadelha (2002) Antecedentes histricos da lei uniforme de Genebra. Material de consulta fornecido pelo professor Abimael Carvalho na disciplina de Ttulos de crdito da UFC. No Direito Romano, o capital no circulava atravs do crdito, pois a obrigao consistia em uma ligao pessoal entre credor e devedor, aderia ao corpo do devedor. A partir do evento da Lex Poetelia Papiria, substituiu-se a garantia pessoal e corporal do devedor pela do seu patrimnio, conquanto permanecesse formal e rgida a transmisso do crdito atravs da cesso. ROQUE, Sebastio Jos (2002) Direito Comercial III: Ttulos de crdito. Material de consulta fornecido pelo professor Abimael Carvalho na disciplina de Ttulos de crdito da UFC. Na prtica, havia duas formas de burlar a prescrio terica: 1) O credor ordena ao devedor no sentido de que este contrate com um terceiro com o qual ele, credor, tem interesse de contratar. O devedor, ento, pagava ao terceiro pela prestao fornecida ao credor. 2) eram dadas procuraes (???) A cesso civil conquista do direito moderno. Foi regulada pela primeira vez no Cdigo Civil de Napoleo. A partir de ento, todos os cdigos civis passaram a regulamentar o instituto. (???) Em Roma, houve a cesso de crdito, ainda que formal e rgida? I.3.3 Requisitos econmicos dos ttulos de crdito

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O Direito ao criar o ttulo de crdito, dota a economia de meios para circulao fcil e segura do crdito. Ele vence a barreira do tempo, fazendo com que a prestao futura se materialize na presente atravs do ttulo de crdito. O credor no precisa esperar o pagamento do devedor. O credor pode negociar a prestao futura que est materializada no ttulo. Ex.: pode-se descontar no banco o ttulo. Para que o ttulo cumpra sua funo (promover a circulao fcil e segura do crdito), tem que atender dois requisitos: I.3.3.1) Que a aquisio do ttulo de crdito implique a aquisio do direito nele materializado: A pessoa que adquire o ttulo est adquirindo o direito que est nele materializado, nem mais nem menos. I.3.3.2) Que a posse do ttulo (bem mvel) seja necessria e, s vezes, suficiente para o exerccio do direito nele contido. I.4 Ttulos civis versus ttulos de crdito Cumpre distinguir o direito materializado em um ttulo civil comum e o materializado em um ttulo de crdito. Direito em um quirgrafo comum - O direito existe at sem o documento, que, embora til e, s vezes, necessrio como prova, no imprescindvel para a existncia do direito. Ex: locao, posse (usucapio). H outros meios de prova desses direitos. - O direito pode ser transferido sem o documento que pode ou no acompanhar a respectiva cesso de direito. - O direito pode ser exigido sem o documento, valendo a quitao (recibo) dada pelo credor ao devedor, como prova oponvel erga omnes da extino do direito. Exemplo: Se o credor no notificado da transferncia e paga para o antigo credor que lhe d a quitao, seu ato vlido (art. 292/CC). - A respectiva cesso transfere um direito derivado. O mesmo direito que do cedente, deriva para o cessionrio. Significa que o cessionrio fica vulnervel s defesas que o devedor tinha contra o credor original. O cessionrio sucessor do cedente (art. 294/CC). Conseqncia: No h segurana na transferncia. Direito em um ttulo de crdito - Materializada a prestao futura em um ttulo de crdito, sem esse ttulo o direito no existe. O direito depende do ttulo para existir. O ttulo constitutivo do direito. - O direito s pode ser transferido com a entrega do ttulo a quem se transfere. No h como transferir o direito sem a entrega do ttulo. - O direito s pode ser exigido com a apresentao e a entrega do ttulo ao devedor que satisfaz a obrigao. Exemplo: O devedor A paga ao credor primrio B sem exigir a entrega do ttulo de crdito. Acontece que B negociou o ttulo que agora se encontra em posse de X. Quando este apresentar o ttulo, A ter de pag-lo, ainda que apresente a quitao dada por B. - O direito do endossatrio (adquirente do ttulo) autnomo e independente em relao ao direito que foi do portador anterior do ttulo. Dessa forma, o cessionrio fica invulnervel perante o devedor.

I.4.1 Consideraes acerca da ltima diferena Existem dois meios para transferir o direito de crdito: I.4.1.1) Cesso Civil (ou Cesso de Crdito): um contrato, isto , um acordo de vontades, regulado pelos artigos 286 a 298 do Cdigo Civil.

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I.4.1.2) Endosso: um meio especfico, prprio dos ttulos de crdito, porm no nico. Deve ser acompanhado da tradio. No um contrato, um ato unilateral de vontade. A conseqncia da transferncia de direito em cada uma dessas formas muito diferente. Na cesso civil, o cessionrio deve notificar ao devedor para que no pague ao cedente. Fazendo isso, se o devedor pagar ao cedente a quitao dada pelo mesmo no vale. O devedor pagou mal e ter que pagar novamente. Se o devedor no fosse notificado, a quitao dada pelo cedente valeria (art. 292 CC). I.4.1.3) Outras conseqncias Jurdicas: I.4.1.3.1) Cesso Civil A ----------------------------------- B ---------------------------------- C Devedor Credor Cessionrio Primitivo (cedente) C ter o mesmo direito de B. Tudo o que seria oponvel contra B pode ser oposto contra C. Todas as excees (defesas) que o devedor tinha contra o credor primitivo podero ser alegadas contra todos os cessionrios, uma vez que o direito destes derivado. I.4.1.3.1) Endosso A ----------Tc---------- B ----------Tc--------- C ----------Tc---------- D --------Tc------- (...) X Devedor Credor Cessionrio 1 Cessionrio 2 Cessionrio X Primitivo (cedente) O credor do ttulo de crdito pode cobrar de todos os que o assinaram, pois a responsabilidade solidria. O endossante no pode usar contra o credor, no exemplo acima, X, as excees que tinha contra B, pois o direito transferido autnomo. Ou seja, se A (devedor) assina um ttulo de crdito em favor de B (credor / cedente) e este, o endossa para C (cessionrio 1), que por sua vez o endossa para D (cessionrio 2), chegado o ttulo posse de X, as eventuais defesa que A tem contra B so inoponveis a X. Se, a ttulo de exemplo, A d um recibo a B, no poder op-lo a X. II TEORIA GERAL DOS TTULOS DE CRDITO II.1 Ttulos de crdito: conceituao jurdica e requisitos II.1.1 Conceitos jurdicos de ttulo de crdito Observados todos os aspectos introdutrios, cumpre conceituar juridicamente o termo ttulo de crdito. II.1.1.1) Conceito de Cesare Vivante: do italiano o conceito que encontra maior aceitao doutrinria. tambm o conceito abraado pelo Cdigo Civil de 2002 e o que mais agrada ao professor. Diz o doutrinador italiano: Ttulo de crdito o documento necessrio para o exerccio do direito literal e autnomo nele contido.

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Cumpre, por oportuno, trazer colao o artigo 887 do Cdigo Civil, verbis: Art. 887. O ttulo de crdito, documento necessrio ao exerccio do direito literal e autnomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. redundante a ltima parte do dispositivo. Ora, se o ttulo de crdito criado por lei, bvio que somente produzir efeitos quando preencher os requisitos previstos pela lei criadora. Vale ressalvar que os dispositivos sobre ttulos de crdito do Cdigo Civil s se aplicam subsidiariamente s leis especiais (art. 903/CC) II.1.1.2) Conceito de Jos Maria Whitaker: "Ttulo de crdito um documento capaz de realizar, imediatamente, o valor nele materializado." O conceito dado pelo brasileiro muito criticado pelo professor. Inicialmente porque, se o ttulo materializa uma operao de crdito, provvel que no seja possvel realizar, incontinenti, o valor nele materializado, pelo simples fato de no ter expirado a data prevista para a realizao da prestao. Em segundo lugar, o conceito pouco contempla os requisitos gerais dos ttulos de crdito. Estes sero analisados a seguir. II.1.2 Requisitos gerais dos ttulos de crdito (retirados da definio de Vivante) II.1.2.1) Cartularidade / Incorporao: da propriedade do documento deriva a titularidade da pretenso ante o devedor. a conexo entre documento e direito, prpria dos ttulos de crdito. Assim, um indivduo que tenha contra outro uma razo de dbito, transfunde esse seu compromisso em um documento, com base no qual se compromete a efetuar a prestao a favor de qualquer um que se encontre na posio de proprietrio do prprio documento. A conexo direito-documento irreversvel, no sentido de que a aquisio do direito se torna um efeito da aquisio do documento: a titularidade de um ocasiona a titularidade do outro, ou seja, da propriedade do ttulo deriva a titularidade da pretenso creditcia ante o devedor, uma vez que o direito est materializado na crtula. Assim, Vivante nos mostra que o ttulo de crdito um documento de apresentao, ou seja, o credor deve apresent-lo para satisfazer seu direito. Uma vez que a prestao futura materializada no documento, h um entrelaamento entre eles, a tal ponto que um no existe sem o outro. Ferri chamou isso de funo legitimatria, pois quem tem a propriedade do documento est legitimado a adquirir o direito nele consignado. Noutros termos, ao adquirir um documento, adquire-se o direito nele contido e, dessa forma, aquele que adquiriu o ttulo tem a legitimidade de cobrar o direito que est materializado no ttulo. II.1.2.2) Literalidade: Manifesta-se como uma forma de proteo do interesse do devedor cartular que posto a salvo de qualquer exigncia do portador do ttulo que no encontre correspondncia no texto do documento, seja com referncia ao objeto, seja quanto modalidade da prestao. Significa que a letra do ttulo expressa o contedo e, ao mesmo tempo, os limites da pretenso acionvel do portador. Assim, o devedor cartular poder opor ao portador s as defesas baseadas no contexto literal do ttulo e, entre elas, principalmente, a relativa no correspondncia entre a pretenso do portador e os dados constantes no ttulo. A explicao evidente: se a titularidade do direito no repousa sobre uma relao jurdica estabelecida com o devedor, nem sobre a sucesso dessa relao, mas sobre a propriedade do ttulo, natural que

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os limites do direito sejam expressos pela letra do documento, tendo em vista a incorporao do crdito ao documento. A literalidade no exclui a possibilidade de o ttulo estar vinculado a um negcio estranho a ele. Exemplo: Ao realizar um contrato e assinar um ttulo de crdito, as partes acordaram o valor de R$ 500.000,00, porm, quando da redao do ttulo houve um equvoco e se registrou o valor de R$ 50.000,00. Em caso de execuo, s podero ser cobrados 50 mil, pois o ttulo no vale mais nem menos do que est nele contido. Os demais R$ 450.000,00 devero ser cobrados em sede de processo de conhecimento, com base no contrato, se este no possuir os requisitos bsicos dos ttulos de crdito, hiptese em que o credor poder promover execuo com base no contrato. O ttulo vinculado a um negcio jurdico estranho chamado ttulo dependente. Em obedincia ao princpio da literalidade, no corpo do ttulo dependente deve constar expressamente o negcio jurdico ao qual se vincula. Exemplo: nota promissria vinculada ao contrato de compra e venda do imvel X celebrado entre A (comprador) e B (vendedor). Suponhamos agora que este ttulo, emitido por A em favor de B, circule atravs de endossos, chegando s mos de Z. Na contingncia de uma execuo ajuizada em desfavor de A, ainda assim este poder opor a Z a inexecuo do contrato celebrado com B para tentar se furtar ao pagamento do ttulo. II.1.2.3) Autonomia: a independncia da situao creditria, de cada um dos portadores do ttulo, da situao dos portadores precedentes, tanto sob o aspecto da titularidade, quanto do contedo do direito mencionado no ttulo. As declaraes cambirias constam da assinatura da figura interveniente no ttulo, no sendo necessria explicao sobre o teor da declarao, bastando a aposio da assinatura. Cada declarao cambiria implicar a assuno de obrigaes, isto , quem apuser sua assinatura num ttulo de crdito ficar obrigado e poder ser chamado a pagar seu valor. So vrias as declaraes cambirias: emisso, saque, aceite, aval e endosso; todas elas se fazem pela assinatura no ttulo e representam obrigaes cambirias. Essas obrigaes so autnomas, no podendo uma subordinar-se ou condicionar-se a outras. Noutros termos, cada assinatura aposta no ttulo representa uma obrigao autnoma em relao s demais. Quando num ttulo houver diversos coobrigados, vrios avalistas e endossantes, todos podero ser cobrados, no podendo um alegar que s pagar se os outros tambm pagarem. Pelo mesmo motivo, as obrigaes cambirias so tambm solidrias. Neste sentido, cumpre trazer luz o artigo 265 do Cdigo Civil, verbis: Art. 265. A solidariedade no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Esta solidariedade cambial decorre da lei, ao contrrio da solidariedade civil decorre do acordo de vontades. Neste sentido, vale colacionar o artigo 47 da Lei Uniforme de Genebra, verbis: Art. 47. Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra so todos solidariamente responsveis para com o portador. Na Idade Mdia intensificou-se o uso da letra de cmbio. Esta se prestava a provar a existncia de um contrato de cmbio, a existncia de uma relao contratual, sendo, portanto, um instrumento probatrio. No sculo XIX, o ttulo de crdito deixou de ser um instrumento probatrio vinculado a um contrato de cmbio para ser um instrumento constitutivo do direito. Assim ganhou a caracterstica da autonomia. Para melhor entender esse requisito, vamos analis-lo em dois aspectos:

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II.1.2.3.1) Antes do ttulo circular: A e B tm uma relao econmica qualquer em razo da qual B se torna credor de A. A emitiu um ttulo de crdito para B. Existiro, portanto, duas relaes conexas, porm autnomas: ------ > Relao fundamental ou causal ou causa debendi ------ > Relao cartular A ----------Tc------- B -------------------Numa relao direta ou imediata, essa autonomia muito tnue, pois entre A e B h uma relao direta, isto , a autonomia do direito cartular de B menos ntida. Se B no recebe espontaneamente de A a prestao devida, e move uma execuo contra A com base no ttulo de crdito (relao cartular), A pode embargar a execuo alegando a relao fundamental. Noutros termos, A pode obstruir o direito cartular de B, uma relao extracartular, isto , a relao fundamental. Isso se deve ao princpio da economia processual. Na hiptese de A, a despeito de possuir provas de que no devedor, ser obrigado a pagar a prestao em razo da execuo movida por B com fundamento no ttulo de crdito emitido em seu favor, teria de ajuizar nova ao de conhecimento para que seja declarado o pagamento indevido, pois a vedao ao enriquecimento sem causa princpio geral de direito. A necessidade de propositura de nova ao feriria o principio da economia processual. Destarte, lcito ao A opor a relao causal em sede de embargos execuo fundada em ttulo de crdito. Essa possibilidade existe, portanto, no porque o direito de B deixou de ser autnomo, mas em funo de economia processual. O direito de B autnomo, pois a execuo movida contra A se fundar exclusivamente no ttulo de crdito. Se o direito cartular de B no fosse autnomo, a execuo teria que fazer referncia causa debendi, o que no acontece. Como B tem o ttulo de crdito, ele no tem que provar que credor de A em razo de uma determinada relao fundamental, isto , inverte-se o nus da prova, cabendo a A o nus de provar que no devedor. Cumpre salientar que no direito brasileiro a prova exclusivamente testemunhal somente admissvel quando o valor do contrato no for superior a 10 salrios mnimos (art. 401/CPC). II.1.2.3.2) Depois de o ttulo circular Relao cartular Relao cartular

A -----------Tc-------- B -----------Tc--------- C ---------------------- ----------------------Relao causal 1 Relao causal 2 (causa debendi) (causa subjacente do endosso) O direito de C independente e autnomo em relao ao direito que foi de B. C no adquiriu o mesmo direito que foi de B. Ao contrrio, C adquiriu o direito que est materializado no ttulo de crdito. A relao fundamental no circula, mas sim permanece imvel, esttica entre as partes contratantes. Entre B e C h outra relao fundamental distinta da relao fundamental entre A e B. Ao contrrio do que acontece na cesso civil, C no sucessor de B. Se C move uma execuo em desfavor de A este no pode opor a C as excees pessoais que tem contra B. Este o chamado princpio da inoponibilidade de excees pessoais, que permite que o ttulo circule com segurana. Este princpio encontra-se positivado nos seguintes dispositivos legais: Lei interna sobre LC e NP (Decreto n 2.044/1908):

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Art. 51. Na ao cambial, somente admissvel defesa fundada no direito pessoal do ru contra o autor, em defeito de forma do ttulo e na falta de requisito necessrio ao exerccio da ao. LUG (promulgada pelo Decreto n 57.663/66): Artigo 17 - As pessoas acionadas em virtude de uma letra no podem opor ao portador as excees fundadas sobre as relaes pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. Lei do Cheque (Lei n 7.357/85): Art. 25 Quem for demandado por obrigao resultante de cheque no pode opor ao portador excees fundadas em relaes pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor. Estas normas, que visam dar segurana circulao do ttulo de crdito, podem, por vezes, ensejar alguma injustia. Pode haver, por exemplo, um conluio entre B e C que, na verdade, no esto realizando nenhum negcio jurdico, mas ainda assim B endossa o ttulo para C para que, nas mos deste, o A no possa opor as excees pessoais que tem contra B. Porm, para o legislador, o mais importante a segurana da circulao do ttulo de crdito. Na cesso civil, este princpio no vige, pois A (devedor) pode usar contra terceiros (cessionrios) todas as defesas pessoais que tinha contra B (cedente) art. 294 do novo CC e 1072 do CC de 1916. Isso demonstra a insegurana da cesso civil. Se existe uma autonomia de direito, existe autonomia das obrigaes, o que um corolrio do princpio da autonomia das obrigaes cambiais, segundo o qual cada signatrio do ttulo crdito assume uma obrigao autnoma e independente das demais. Em relao ao cheque, o princpio denomina-se apenas princpio da autonomia das obrigaes, uma vez que o cheque no pode ser chamado cambial. Este princpio encontra-se positivado nos seguintes dispositivos legais: Lei interna sobre LC e NP (Decreto n 2.044/1908): Art. 43 As obrigaes cambiais, so autnomas e independentes umas das outras. O significado da declarao cambial fica, por ela, vinculado e solidariamente responsvel pelo aceite e pelo pagamento da letra, sem embargo da falsidade, da falsificao ou da nulidade de qualquer outra assinatura. LUG (promulgada pelo Decreto n 57.663/66): Artigo 7 Se a letra contm assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictcias, ou assinaturas que por qualquer outra razo no poderiam obrigar as pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigaes dos outros signatrios nem por isso deixam de ser vlidas. (...) Artigo 32 O dador de aval responsvel da mesma maneira que a pessoa por ele afianada. A sua obrigao mantm-se, mesmo no caso de a obrigao que ele garantiu ser nula por qualquer razo que no seja um vcio de forma. Se o dador de aval paga a

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letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra. Lei do Cheque (Lei n 7.357/85): Art . 13 As obrigaes contradas no cheque so autnomas e independentes. Pargrafo nico - A assinatura de pessoa capaz cria obrigaes para o signatrio, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictcias, ou assinaturas que, por qualquer outra razo, no poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado. (...) Art . 31 O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigao, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vcio de forma. Pargrafo nico - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque. Exemplo: na cesso civil de A para B, este absolutamente incapaz. A cesso vlida, pois B sujeito de direitos e pode receber cesso, ele no pode ser sujeito de obrigaes. Assim, se B fizer uma cesso do direito que recebeu de A para C, tal cesso nula e todas as demais subseqentes, pois B no poderia ter feito cesso por ser absolutamente incapaz. Em conseqncia, em obrigaes cambiais, cada assinatura de um ttulo, obriga o signatrio solidariamente com os demais. O credor pode cobrar de um ou outro ou de todos. Essa solidariedade dos signatrios de um ttulo de crdito decorre da lei (art. 47 da LUG). A obrigao assinada, por exemplo, por um absolutamente incapaz nula. Contudo, os demais signatrios podem ser executados normalmente. Este princpio visa a garantir a segurana dos ttulos de crditos. Ver art. 13 e 31, Lei 7357/85 - A lei se contenta com a aparncia. II.1.2 Requisitos especiais dos ttulos de crdito So os requisitos peculiares de alguns ttulos de crditos. II.1.2.1) Independncia: se revela na circunstncia de ser o ttulo de crdito completo, isto , bastar a si mesmo. O ttulo de crdito independe de qualquer outro documento estranho a ele para que se possa exercer o direito nele materializado. O ttulo no faz remisso a nenhum outro documento. Ex.: cheque, nota promissria, letra de cmbio (Ex. ttulo de crdito dependente: ao de S/A). A nota promissria em regra, independente. Mas ela pode se tornar dependente. Ex.: A compra um apartamento de B e assina uma nota promissria e escreve no nota promissria que ela est vinculada venda do apto. B endossa a nota promissria para C e para C executar, ele precisa do contrato ao qual a nota promissria est vinculada para saber a extenso do direito da nota promissria. II.1.2.2) Abstrao: ttulo de crdito abstrato o que no faz referncia causa que lhe deu origem. Ex.: letra de cmbio, nota promissria e cheque. Em contraposio ao ttulo de crdito abstrato, temos o ttulo de crdito causal que no abstrai a causa que lhe deu origem, isto ,

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consta do ttulo sua causa original. Ex.: duplicata de compra e venda, duplicata de prestao de servios. A duplicata emitida nesses dois contratos. No que tange duplicata, cumpre, por oportuno, trazer luz o artigo 172 do Cdigo Penal, verbis: Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que no corresponda mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao servio prestado. (Redao dada pela Lei n 8.137, de 27.12.1990) Pena - deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redao dada pela Lei n 8.137, de 27.12.1990) A duplicata que no emitida em conseqncia da venda de mercadoria ou de prestao de servios chamada duplicata fria e sua emisso configura crime. Ainda com relao duplicata, ela o nico ttulo de crdito no mundo em conseqncia do qual uma pessoa pode ser executada sem ter manifestado sua vontade no ttulo. Noutros termos, o nico ttulo em que possvel suprir o aceite. Exemplo: contrato de compra e venda mercantil do qual se origina uma duplicata. Em decorrncia do contrato, surge para o vendedor a obrigao de entregar a mercadoria e para o comprador a de pagar o preo. Se o devedor da duplicata (no caso o vendedor), prova que entregou regularmente a mercadoria, com a nota fiscal e o comprovante da entrega da mercadoria assinado pelo comprador (canhoto da nota fiscal), ele pode protestar o ttulo e executar o sacado (comprador), ainda que sem a assinatura deste aposta na duplicata. II.2 Natureza Jurdica dos ttulos de crdito Quando se fala em natureza jurdica de um determinado instituto, est se falando em fontes. Fontes das obrigaes so: 1) Lei (em 1 lugar) sempre a fonte mediata; 2) Contrato (ato bilateral de vontade); 3) Ato unilateral de vontade; 4) Atos ilcitos. Ex.: A lei do cheque estabelece que ele ordem de pagamento a vista, considera-se no escrita qualquer meno contrria. O devedor de um cheque ps-datado solicita ao credor que apresente o cheque antes do prazo estipulado. O cheque retorna sem fundos. O credor entra em contato com o devedor que, por sua vez, reitera o pedido. Novamente o credor apresenta o cheque que retorna mais uma vez sem fundos. A conta do devedor encerrada. Este ajuza uma ao de indenizao por perdas e danos e danos morais contra o credor que no teria respeitado o prazo estipulado em acordo bilateral, o que teria causado prejuzos a ele, devedor. O juiz julga procedente o pedido e condena o credor ao pagamento de uma indenizao. Pergunta-se: qual a fonte da obrigao de indenizar? Poder-se-ia alegar que foi o costume comercialmente consolidado de emisso de cheque ps-datado. Poder-se-ia, ainda, alegar que foi o acordo bilateral de vontades celebrado entre credor e devedor para a concesso de prazo para a apresentao do cheque. Contudo, no primeiro caso, o costume contra legem, isto , contraria a lei. Logo, no poderia ser fonte de obrigaes. No segundo caso, o negcio jurdico contraria norma de ordem pblica. Logo, o acordo nulo de pleno direito.

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OBS: A prescrio para o ttulo de crdito comea a contar da data nele registrada e no da ps datada. II.2.1 Usos e costumes comerciais internacionais (INCOTERMS) 1 Na seo correspondente s disposies gerais do captulo das provas, o CPC assim estabelece: Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, provar-lhe- o teor e a vigncia, se assim o determinar o juiz. A Lei n 8.934/94, que dispe sobre o registro pblico de empresas mercantis e atividades afins, estabelece que compete Junta Comercial atestar os usos e costumes: Art. 8 s Juntas Comerciais incumbe: (...) VI - o assentamento dos usos e prticas mercantis. Os usos e costumes comerciais so fontes das obrigaes. Tem-se como exemplos de usos e costumes utilizados no Direito Comercial internacional, os INCOTERMS. Eles so os termos utilizados para definir contratos distncia, nas relaes internacionais e s vezes at dentro do mesmo pas. So usos e costumes comerciais que no contrariam a lei, logo, so fontes de obrigaes. Os mais comuns so: II.2.1.1) CF (ou CFR) Cost and Freight (... named port of destination) Custo e Frete (...porto de destino designado) O vendedor assume todos os custos anteriores ao embarque internacional, bem como a contratao do frete internacional, para transportar a mercadoria at o porto de destino indicado. Destaque-se que os riscos por perdas e danos na mercadoria so transferidos do vendedor para o comprador ainda no porto de carga (igual ao FOB, na "ship's rail"). Assim, a negociao (venda propriamente dita) est ocorrendo ainda no pas do vendedor. O termo CFR exige que o vendedor desembarace as mercadorias para exportao. Esse termo s pode ser usado no transporte aquavirio (martimo, fluvial ou lacustre). II.2.1.2) CIF Cost, Insurance and Freight (... named port of destination) Custo, Seguro e Frete (...porto de destino designado) O vendedor tem as mesmas obrigaes que no "CFR" e, adicionalmente, que contratar o seguro martimo contra riscos de perdas e danos durante o transporte. Como a negociao ainda est ocorrendo no pas do exportador (a amurada do navio, no porto de embarque, o ponto de transferncia de responsabilidade sobre a mercadoria), o comprador deve observar que no termo "CIF" o vendedor somente obrigado a contratar seguro com cobertura mnima. O termo CIF exige que o vendedor desembarace as mercadorias para exportao. Esse termo s pode ser usado no transporte aquavirio (martimo, fluvial ou lacustre). Exemplo: A, comprador, celebra contrato de compra e venda com B, vendedor, CIF porto de santos. Em razo deste negcio, A emite NP para B no valor da compra. Este TC encontra-se expressamente vinculado ao contrato de compra e venda. Inclusive, esta vinculao consta expressamente do texto do TC. B endossa a NP para C. As mercadorias sofrem avarias durante o1

Para maiores informaes sobre INCONTERMS, bem como tabela completa das siglas, ver arquivo anexo: INCOTERMS Termos Internacionais de Comrcio.

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percurso. A as recebe avariadas. C executa a NP. A poder opor a C a inexecuo do contrato para se furtar ao pagamento da NP. Se, ao contrrio, as mercadorias se tivessem avariado aps a entrega a A, este nada poderia opor a C, dado que o contrato foi cumprido regularmente por B. Analogamente, se A tem um recibo de B, oriundo de uma negociata outra que o contrato de compra e venda ao qual o ttulo se vincula, isso no poderia ser oposto a C. Noutros termos, A pode opor a C to-somente as excees pessoais fundadas no contrato ao qual o ttulo se vincula e no qualquer exceo pessoal. II.2.1.3) FOB Free on Board (... named por of shipment) Livre a Bordo (...porto de embarque designado) Nesse termo, a responsabilidade do vendedor, sobre a mercadoria, vai at o momento da transposio da amurada do navio ("ship's rail"), no porto de embarque, muito embora a colocao da mercadoria a bordo do navio seja tambm, em princpio, tarefa a cargo do vendedor. O termo FOB exige que o vendedor desembarace as mercadorias para exportao. Ressalte-se que o transportador internacional contratado pelo comprador (importador). Logo, na venda "FOB", o exportador precisa conhecer qual o termo martimo acordado entre o comprador e o armador, a fim de verificar quem dever cobrir as despesas de embarque da mercadoria. Esse termo s pode ser utilizado no transporte aquavirio (martimo, fluvial ou lacustre). II.2.1.4) FAS Free Alongside Ship (... named port of shipment) Livre no Costado do Navio (...porto de embarque designado) A responsabilidade do vendedor se encerra quando a mercadoria colocada ao longo do costado do navio transportador, no porto de embarque nomeado. A contratao do frete e do seguro internacionais fica por conta do comprador. O vendedor o responsvel pelo desembarao das mercadorias para exportao. Esse termo s pode ser utilizado no transporte aquavirio (martimo, fluvial ou lacustre). II.2.3 Teorias das Fontes do Direito Cambirio A letra de cmbio surgiu sc. XIII, durante a Idade Mdia, e no tinha as caractersticas que tem hoje. Ela era apenas um documento probatrio da relao causal que era um contrato de cmbio. Posteriormente, o ttulo de crdito deixou de ser um documento probatrio, para se tornar um documento constitutivo de um direito distinto de sua causa. Ele passa a ser capaz de moldar todo tipo de contratos, no s compra e venda. A Alemanha foi a primeira a dar a ltima evoluo aos ttulos de crditos em uma lei de 1848 sobre letras de cmbio e notas promissrias. Duas grandes teorias se formaram para tentar explicar a natureza jurdica das obrigaes cambiais: II.2.3.1) Teoria contratualista: Para essa teoria, a fonte do direito cartular um contrato cambirio, isto , um acordo de vontades entre o emitente do ttulo A e credor do ttulo B. Essa teoria no explica o fato de que quando o ttulo circula, A no pode opor a C as excees pessoais que tem contra B, j que a fonte da obrigao contratual seria o contrato realizado entre A e B. Tambm no explica o fato de que o adquirente de boa-f no obrigado a restituir um ttulo a quem dele foi injustamente desapossado. A lei legitima a posse do terceiro de boa f. LUG (promulgada pelo Decreto n 57.663/66): Artigo 16

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O detentor de uma letra considerado portador legtimo se justifica o seu direito por uma srie ininterrupta de endossos, mesmo se o ltimo for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como no escritos. Quando um endosso em branco seguido de outro endosso, presume-se que o signatrio deste adquiriu a letra pelo endosso em branco. Se uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o portador dela, desde que justifique o seu direito pela maneira indicada na alnea precedente, no obrigado a restitu-la, salvo se a adquiriu de m-f ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave. Se a fonte do direito cartular fosse contratual, a posse do terceiro que, ainda que de boaf, adquirir um ttulo de crdito de algum que no seu legtimo proprietrio, seria viciada. Como a teoria contratual no consegue justificar estes aspectos, ela logo perde fora e d lugar a outra. II.2.3.2) Teoria no contratualista (Einert - 1839): prega que a fonte da obrigao cambiria, do direito cartular, uma manifestao unilateral de vontade do signatrio, manifestao esta que abstrata, isto , cuja causa se abstrai, e no causal. Por essa teoria, A no vai se obrigar perante B, mas perante o pblico em geral. Esta teoria justifica perfeitamente os dois aspectos suscitados acima e, por isso, teve grande penetrao doutrinria. Contudo, foi questionado o fato de poder o devedor primitivo do ttulo de crdito opor as eventuais excees pessoais que contra o credor tivesse, o que no poderia acontecer no caso de ser a fonte da obrigao uma manifestao unilateral de vontade. Tlio Ascarelli justificou esta possibilidade utilizando o j estudado princpio da economia processual, o que uma justificativa bastante aceitvel. A teoria no contratualista se subdivide em duas outras, de acordo com o momento em que surge a obrigao cartular do emitente do ttulo de crdito: II.2.3.2.1) Teoria da Criao (Kuntze): a obrigao cambiria surge no momento em que a devedor assina o ttulo de crdito e sua eficcia fica submetida a uma condio suspensiva, qual seja, o ttulo de crdito entrar em circulao, ainda que contra a vontade do emissor. Os efeitos dessa teoria so graves, pois se o ttulo for roubado, perdido ou extraviado logo aps a sua emisso, entrando, em seguida, em circulao, j existir a obrigao cambiria para o devedor. II.2.3.2.2) Teoria da Emisso (Stobbe): a obrigao cambiria surge no momento em que o subscritor assina o ttulo e, voluntariamente o coloca em circulao. Destarte, nas hipteses de o ttulo ser roubado, furtado, perdido ou extraviado antes de entrar em circulao, no haver para o emissor a obrigao cambiria. O pargrafo nico do art. 905 do Cdigo Civil, localizado no captulo Ttulos ao Portador (lembrando que ttulos de crdito no so ttulos ao portador; estes, hoje em dia, so bem escassos; ex.: bilhete de loteria premiado) abraa a teoria da criao, ao menos no que tange aos ttulos ao portador e revela a tendncia do legislador brasileiro: Art. 905. O possuidor de ttulo ao portador tem direito prestao nele indicada, mediante a sua simples apresentao ao devedor. Pargrafo nico. A prestao devida ainda que o ttulo tenha entrado em circulao contra a vontade do emitente.

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O art. 909, por sua vez, aproxima-se da teoria da emisso, mas no ilegtima a propriedade do terceiro de boa-f. Art. 909. O proprietrio, que perder ou extraviar ttulo, ou for injustamente desapossado dele, poder obter novo ttulo em juzo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Pargrafo nico. O pagamento, feito antes de ter cincia da ao referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato. O legislador adotou a teoria no contratualista, e temperou os rigores da teoria da criao com nuances da teoria da emisso. O portador injustamente desapossado do ttulo ao portador dispe de uma ao judicial para tentar recuperar o ttulo. Trata-se da ao de anulao e substituio de ttulos ao portador (CPC, arts. 907 a 913), prevista no Captulo III, do Ttulo de Procedimentos Especiais de Jurisdio Contenciosa. II.2.3.2.3) Teoria da Aparncia (Massa e Jacob): consoante esta teoria, em alguns casos, o direito eleva o aparente condio de real, a lei empresta ao que aparente a condio de real. Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de s valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Da infere-se que a entrega da prestao s exonera o devedor quando feita ao credor legtimo ou quem de direito o represente. Essa a regra. Contudo, Art. 309. O pagamento feito de boa-f ao credor putativo vlido, ainda provado depois que no era credor. Se o devedor paga a algum que, aparentemente, era o verdadeiro credor (credor putativo), se exonera da obrigao. Em matria de ttulos de crdito, a lei cambial torna legtima a posse daquele que, de boa-f, adquire o ttulo de quem no o verdadeiro proprietrio, no obrigado a restitu-lo (LUG, art. 16, supra). O terceiro de boa-f no obrigado a devolver o ttulo de crdito quele que de quem foi injustamente desapossado. Exemplo: art. 39 da lei do cheque: Art. 39 O sacado que paga cheque ordem obrigado a verificar a regularidade da srie de endossos, mas no a autenticidade das assinaturas dos endossantes. A mesma obrigao incumbe ao banco apresentante do cheque a cmara de compensao. O sacado (banco) tem a obrigao de verificar a regularidade do endosso, mas no a autenticidade da assinatura, pois se presume, pela aparncia, que ela verdadeira. Os endossantes podem no ser clientes do banco. II.2.3.3) - Teoria mista (Vivante): no se filiou a nenhuma das duas teorias, criando a sua prpria. Consoante esta, a vontade do subscritor, do emissor, tem um duplo sentido. Perante o portador imediato B, o emissor A do ttulo se obriga pelo contrato. Portanto, ao ser cobrado por B, A pode opor a ele as defesas pessoais que eventualmente tenha.

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Perante terceiros, por exemplo C, (portadores mediatos), A quis se obriga pela manifestao unilateral de vontade e, por isso, no pode opor a eles as excees pessoais que eventualmente tenha contra o credor direto. Vivante afirma, portanto, que a vontade do emitente, que una e indivisvel, tem duplo sentido: contrato e manifestao unilateral de vontade. Contudo, isso inconcebvel, pois a declarao de vontade indivisvel, no pode ter duplo sentido. Por isso, a teoria de Vivante no conseguiu muitos adeptos e nem se sobrepor em relao as demais. II.3 Classificao dos Ttulos de Crdito II.3.1 Quanto circulao (CC) II.3.1.1) Ttulos ao Portador TCs no se enquadram aqui: Praticamente no existem mais. So aqueles em que o nome do beneficirio (titular do direito nele materializado) no consta do referido ttulo. So os de mais fcil circulao, pois se transfere pela simples tradio (CC, art. 904). Presume-se titular do direito aquele que est na posse do ttulo. Depois da lei n 8.021/90 quase no existem mais. Podem ser citados o bilhete de loteria premiado e algumas aplices da dvida pblica. S pode ser emitido ttulo ao portador com expressa autorizao legal. II.3.1.2) Ttulos Nominativos TCs no se enquadram aqui. Novo CC: Art. 921. ttulo nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. A pessoa que pode exercer o direito decorrente do ttulo aquela que tem o seu nome lanado no registro do emitente. Ex.: aes nominativas das S/A. o ttulo de mais difcil circulao. Vejamos o que dispe o art. 31 da Lei n 6.404/76: Art. 31. A propriedade das aes nominativas presume-se pela inscrio do nome do acionista no livro de "Registro de Aes Nominativas" ou pelo extrato que seja fornecido pela instituio custodiante, na qualidade de proprietria fiduciria das aes. 1 A transferncia das aes nominativas opera-se por termo lavrado no livro de "Transferncia de Aes Nominativas", datado e assinado pelo cedente e pelo cessionrio, ou seus legtimos representantes. 2 A transferncia das aes nominativas em virtude de transmisso por sucesso universal ou legado, de arrematao, adjudicao ou outro ato judicial, ou por qualquer outro ttulo, somente se far mediante averbao no livro de "Registro de Aes Nominativas", vista de documento hbil, que ficar em poder da companhia. 3 Na transferncia das aes nominativas adquiridas em bolsa de valores, o cessionrio ser representado, independentemente de instrumento de procurao, pela sociedade corretora, ou pela caixa de liquidao da bolsa de valores. II.3.1.3) Ttulo ordem Aqui se enquadram os TCs: So aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, mas, podem ser transferidos atravs do endosso seguido da tradio. A circulao no to simples quanto aquela relativa aos ttulos ao portador nem to solene quanto a relativa aos ttulos nominativos. Basta o endosso mais a tradio. A clusula ordem (ex.: formulrio de cheque pague-se a fulano ou sua ordem), com o passar do tempo, se tornou nsita, isto , da natureza dos ttulos de crdito. Mesmo que o formulrio de cheque emitido pelo banco no a contenha, o ttulo poder ser validamente transferido por endosso, por expressa previso legal. Assim, vejamos:

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Lei do Cheque (Lei n 7.357/85 art. 17: 1 dispositivo da lei sobre endosso): Art . 17 O cheque pagvel a pessoa nomeada, com ou sem clusula expressa ordem, transmissvel por via de endosso. (...) LUG (art. 11: 1 dispositivo da lei sobre endosso): Artigo 11 Toda letra de cmbio, mesmo que no envolva expressamente a clusula ordem, transmissvel por via de endosso. (...) II.3.1.4) Ttulo no ordem: Quando o criador do ttulo de crdito tiver inserido expressamente a clusula no ordem ou equivalente, estar se valendo da exceo regra acima enunciada. Por ser a clusula ordem nsita aos ttulos de crdito, apenas o emissor do ttulo pode excepcionar a regra inserindo de maneira expressa a clusula no ordem, ou equivalente (ex.: intransfervel, intransmissvel, etc.) no ttulo. Lei do Cheque (Lei n 7.357/85 art. 17, 1): Art . 17 (...) 1 O cheque pagvel a pessoa nomeada, com a clusula no ordem, ou outra equivalente, s transmissvel pela forma e com os efeitos de cesso. LUG (art. 11: 1 dispositivo da lei sobre endosso): Artigo 11 (...) Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras "no a ordem", ou uma expresso equivalente, a letra s transmissvel pela forma e com os efeitos de uma cesso ordinria de crditos. Tal ttulo de crdito s poder ser transferido pela forma e com os efeitos de uma cesso ordinria de crditos (contrato). Nesse caso, o emissor do ttulo poder alegar contra o cessionrio as defesas que tem contra cedente, pois ser contrato de cesso com todos os seus efeitos. O cedente no responde pela solvncia do devedor, salvo expressa estipulao em contrrio. Noutros termos se, no contrato de cesso, no houver clusula estipulando que o cedente permanece responsvel pela solvncia do devedor, o cedente no tem que pagar para o cessionrio se este no conseguir receber do devedor. No endosso, ao contrrio, regra que o cedente responde solidariamente com o devedor pelo pagamento do ttulo. II.3.2 Quanto natureza (Carvalho de Mendona): Leva em conta o contedo da relao atestada pelo ttulo de crdito. II.3.2.1) Ttulos de crdito propriamente ditos (prprios): So todos aqueles ttulos que atestam uma verdadeira operao de crdito. Crdito a troca de um bem presente por um bem futuro. Consoante j explanado, A maioria das operaes de crdito decorre, basicamente, de dois contratos: compra e venda

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prazo e mtuo (emprstimo de coisa fungvel). Qualquer ttulo de crdito que servir para representar esta operao ser prprio. Exemplos de ttulos de crdito prprios: - Decreto 2.044 de 31/12/1908 - Letra de Cmbio e Nota Promissria revogou a parte do Cdigo Comercial de 1850 que disciplinava esse assunto. - Lei uniforme de Genebra sobre Letra de Cmbio e Nota Promissria: Essa lei foi promulgada pelo decreto 57.663/66 e revogou o decreto 2.044 naquilo em que este conflitante com aquele. - Decreto-Lei 167, de 1967 Ttulos de Crditos Rurais: Cdula de Crdito Rural, Nota Promissria Rural e Duplicata Rural. Todo ttulo de crdito denominado cdula sempre admite que, no seu corpo, seja dada garantia real, a cdula pode sempre estar garantida por hipoteca ou penhor. Nenhum outro ttulo pode trazer este tipo de garantia. - Lei 5.474, de 18/06/1968 Duplicata: um ttulo criado no Brasil e desconhecido em grande parte do mercado internacional. um ttulo de crdito causal que trs consigo a causa que lhe d origem. A causa pode ser uma compra e venda ou uma prestao de servio. Se a duplicata no corresponder efetivamente a uma dessas duas operaes, sua emisso caracteriza crime previsto no art. 172 CP. - Decreto-Lei 413, de 1969 Cdula de Crdito Industrial e Nota de Crdito Industrial: lei supletiva lei criadora dos ttulos de crdito comerciais. - Lei 6.840, de 1980 Cdula de Crdito Comercial e Nota de Crdito Comercial - Lei 10.931, de 02/08/2004 Cdula de Crdito Bancrio, Cdula de Crdito Imobilirio e Letra de Crdito Imobilirio: A cdula de crdito bancrio tem sido largamente utilizada pelos bancos porque, at ento, estes vinham perdendo demandas judiciais reiteradamente em funo de o extrato de conta corrente no ser documento hbil para demonstrar a liquidez da dvida, por ser um documento unilateral produzido pelo banco. Destarte, no possvel ajuizar execuo fundada somente em extrato bancrio, pois o ttulo, para ser executivo, deve ser lquido, certo, e exigvel. Para se proceder ao acertamento da dvida era, portanto, necessrio ajuizar ao ordinria. Outro problema: bancos capitalizam juros, o que vedado. CCB permite que o extrato de conta corrente seja documento hbil para fundamentar execuo (art. 28). Para executar obrigados indiretos (endossante, avalistas de endossantes), o portador, em regra deve protestar o ttulo no curto prazo que a lei concede. Se no fizer o protesto, o portador decai do direito de executar os obrigados indiretos. Em matria destes ttulos, a lei dispensa o protesto para execuo dos obrigados indiretos. (!!!) No s a cdula de crdito bancrio (art. 44)? II.3.2.2) Ttulos de crdito impropriamente ditos (imprprios): So aqueles que no atestam uma operao de crdito. Ainda assim, so considerados ttulos de crdito, porque circulam com as mesmas garantias dos ttulos de crdito. II.3.2.2.1) Ttulos que conferem ao seu portador a livre disposio de mercadorias. Exemplos: - Decreto 1.102, de 21/11/1903 Conhecimento de Depsito e Warrant Carvalho de Mendona elaborou o projeto. Tal decreto criou os armazns gerais no Brasil

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estabelecimentos comerciais destinados guarda de mercadorias, ao depsito de mercadorias. So normalmente localizados em pontos estratgicos, por exemplo, em regies porturias, ou aeroporturias, onde as mercadorias aguardam exportao. Quando o armazm recebe a mercadoria, ele emite dois ttulos em favor do depositante que podem estar unidos ou separados. Um o conhecimento de depsito (ttulo imprprio) e o outro o warrant (ttulo de crdito prprio) O artigo 15 do Decreto 1.102 dispe sobre as formalidades do conhecimento de depsito e warrant. O conhecimento de depsito o ttulo que representa a mercadoria que est depositada. Confere a livre disposio da mercadoria, isto , representa a propriedade da mercadoria. Para transferi-la, basta que o proprietrio endosse o conhecimento de depsito. O Warrant confere um direito de crdito sobre a mercadoria, um direito de penhor sobre a mercadoria ao depositante. Se o proprietrio pretende empenhar a mercadoria, ele endossa o warrant em favor, por exemplo, de um banco. O banco se torna credor pignoratcio das mercadorias. Uma vez emitidos os ttulos, essas mercadorias no podem ser penhoradas (ato judicial), o que pode ser objeto de penhora so os ttulos (conhecimento de depsito e warrant) Decreto 1102/03, art. 17. Art. 21 - O armazm s entrega a mercadoria com a apresentao dos dois ttulos de crdito. Art. 22 - O armazm pode entregar a mercadoria s com a apresentao do conhecimento de depsito desde que deposite o valor da dvida constante do warrant, mais juros, despesas de armazenamento e impostos. Art. 18, 1 - endosso em branco - o endossante no indica a pessoa para quem est endossando. 2 - o endosso dos ttulos de crdito unidos confere todos os direitos do endossatrio. Se forem endossados separados, conferem direitos distintos. Obs: O warrant considerado TC prprio, pois ele confere crdito. - Decreto 19.473 de 10/12/1930 Conhecimento de transporte (ou de carga ou de frete): emitido pela transportadora. Ele representa a mercadoria, isto a propriedade, a ser transportada. Do conhecimento consta o nome do remetente e do destinatrio da mercadoria. Esse conhecimento imprescindvel para a retirada da mercadoria no local de destino. Para transferir a propriedade da mercadoria, endossa-se o conhecimento de frete. II.3.2.2.2) Ttulos de exao: so destinados a pagamento imediato. Exemplo: cheque no ttulo de crdito prprio porque ele ordem de pagamento vista (considera-se no escrita qualquer meno contrria), ele no molda uma operao prazo. tambm objeto de direito uniforme, unificado com a lei interna brasileira, do que resultou a lei do cheque brasileira. II.3.2.2.3) Ttulos que atribuem ao seu titular a qualidade de scio: so as aes da S/A - Lei 6.404/76. Para professor e tambm para mim a ao no ttulo de crdito. Para ser fiel classificao foram de Carvalho de Mendona, a ao foi colocada como ttulo de crdito. Contudo, muito embora as aes confiram ao seu titular um crdito (direito de votar, receber dividendos, etc.), jamais seriam enquadradas na definio de Vivante, abraada pelo CC brasileiro. II.4 - Da novao operada mediante a entrega de ttulos de crdito Em razo de diversos negcios, so emitidos ttulos de crdito. Pergunta-se: a entrega de um ttulo de crdito faz ou no operar a novao (meio indireto de extino da obrigao)? A entrega do ttulo em razo de negcio celebrado opera a novao? O art. 360 do CC dispe que:

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Art. 360. D-se a novao: I - quando o devedor contrai com o credor nova dvida para extinguir e substituir a anterior; A --------Tc-------- B -------------------- ------ > Relao fundamental ou causal ou causa debendi ------ > Relao cartular A entrega do ttulo faz desaparecer a obrigao decorrente da relao fundamental? Caso se admita que sim, A ter apenas a opo de ajuizar uma execuo contra B fundada no ttulo. No poder desfazer o negcio celebrado, posto que a obrigao decorrente da relao causal foi extinta por novao. Caso contrrio, A poder: - Executar B com base no ttulo de crdito; ou - Anular o negcio (ajuza ao anulatria); Imagine-se a seguinte situao: compra e venda de imveis. B compra de A um apartamento no valor de R$ 1.000.000,00. Supondo haver contrato de compra e venda. Forma de pagamento: R$ 100.000,00 de sinal e o restante dividido em nove prestaes mensais de R$ 100.00,00 cada um representados por 9 notas promissrias emitidas pelo comprador em favor do devedor. A entrega das notas faz operar a novao da obrigao decorrente da compra e venda? H que se indagar, por conseguinte, se, a entrega do ttulo faz ou no operar a novao da obrigao decorrente da relao fundamental: 1) de modo geral (sem contrato escrito)? 2) quando o negcio celebrado mediante contrato escrito? Em regra, a entrega do ttulo no faz operar a novao, porque a novao no se presume. O art. 361 do CC/02 prev que deve haver o nimo de novar expresso ou tcito mas inequvoco. Pode-se ento afirmar que, em princpio, a simples entrega do ttulo de crdito, no opera a novao, salvo se o contrato assim dispuser. Noutros termos, a entrega do ttulo de crdito, em regra, se d em carter pro solvendo, isto , no opera a novao. O ajuste em contrrio pode acontecer, por exemplo, com a insero no contrato da clusula pro soluto. No exemplo anterior: (...) representadas por 9 notas promissrias pro soluto; ou (...) representadas por 9 notas promissrias. O vendedor, neste ato, d quitao ao comprador. Nestes casos, a novao est sendo contratada (pro soluto significa, neste contexto, a ttulo de pagamento). OBS: Se a lei prever, como na lei de S/A, no se opera a novao.

III INTEGRAO DAS LEIS UNIFORMES NO DIREITO BRASILEIRO III.1) Cdigo Comercial de 1850 O primeiro diploma brasileiro que cuidou de Letra de Cmbio e Nota Promissria foi o Cdigo Comercial de 1850. Previa e disciplinava a letra de cmbio, letra da terra e nota promissria (arts. 314 a 427). Com este Cdigo, o Brasil adotou o sistema francs a respeito de

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ttulos de crdito. Foi uma cpia, sobretudo, do Cdigo Napolenico. Este sistema j estava ultrapassado pelo sistema alemo cuja lei principal havia sido promulgada em 1848. O Cdigo Comercial brasileiro de 1850 encontra-se atualmente quase todo revogado. Vige hoje to-somente a parte referente ao direito martimo. O Cdigo Comercial vem sendo revogado desde muito antes do Cdigo Civil de 2002. A lei de ttulos de crdito revogou grande parte dele. A lei de falncias tambm o revogou no que tange a esta matria. O Cdigo Civil de 2002 tambm ceifou grande parte. No sistema francs, adotado pelo Cdigo Comercial de 1850 a Letra de Cmbio s podia ser emitida (que emite o sacador, o sacado contra quem a letra foi emitida) se o sacado estivesse em outra localidade (outra cidade, por exemplo) que o sacador. Havia, portanto, o requisito de distino de locais. Para flexibilizar este requisito, o Cdigo Comercial brasileiro de 1850 criou a Letra da Terra. Este ttulo de crdito era praticamente idntico Letra de Cmbio, com a diferena nica de que poderia ser sacada contra uma pessoa situada na mesma provncia do sacador. III.2) Decreto n 2.044, de 31 de dezembro de 1908 (Lei Saraiva) Com o desenvolvimento brasileiro, o governo requisitou a um professor da UFMG, Antnio Saraiva, estudioso do direito alemo, que providenciasse um projeto de lei envolvendo LC e NP. O projeto foi feito, consoante o direito alemo, e promulgado pelo Decreto 2.044, de 31 de dezembro de 1908, conhecido como Lei Saraiva. O Brasil filiava-se ao que havia de mais moderno em matria de direito cambial, extinguia a Letra da Terra e eliminava o requisito de distino de locais para a Letra de Cmbio. III.3) Conferncias de Haia (1910 e 1912) H hoje uma dualidade de sistemas jurdicos em matria de ttulos de crdito. H o chamado direito do bloco continental, representado pelos pases da Europa continental (Frana, Alemanha, Itlia, etc), pases latino-americanos (Brasil, Argentina, Mxico, etc.), dentre outros (Japo), e o sistema common law, no-signatrios das leis comerciais uniformes, representados pela Inglaterra e antigas colnias (EUA, Canad, ndia, dentre outros). O ideal seria ter um Direito Comercial uniforme para disciplinar as relaes comerciais internacionais, alm das internas. Contudo, este ideal est muito distante da realidade, devido grande disparidade econmica e poltica entre os pases. Vrias Conferncias foram realizadas na busca por este direito uniforme. III.3.1) Conferncia de Haia de 1910 poca da promulgao da Lei Saraiva, pases do bloco continental, principalmente Itlia e Alemanha, se articulavam para criar um direito cambial uniforme. Em 1908, a pedido de Itlia e Alemanha, o governo holands convocou uma Conferncia para a cidade de Haia, visando a elaborao de uma lei uniforme sobre LC e NP. A Conferncia foi instalada com a presena de 32 pases em 1910. O resultado desta Conferncia foi um anteprojeto de lei que deveria ser levado pelos representantes aos seus respectivos pases para anlise e posteriores propostas de emendas. A prxima Conferncia seria destinada a acertar o diploma a ser adotado pelos pases participantes. III.3.2) Conferncia de Haia de 1912 Instala-se nova Conferncia. O resultado foi a produo de um projeto de lei que o Brasil chegou at a manifestar sua adeso, pouco tempo depois, atravs de um decreto. Havia tima

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perspectiva de adoo do projeto. Este s no foi adotado pelos pases participantes porque em 1914 aconteceu a Primeira Guerra Mundial, o que paralisou os trabalhos at que o ambiente poltico se tornasse novamente propcio discusso da matria. III.4) Conveno de Genebra de 1930 Pases foram novamente convocados, desta vez na cidade de Genebra, na Sua. O projeto, que j estava pronto, foi discutido. O Brasil foi representado pelo professor de Direito Comercial do Par, Deoclsio de Campos, na discusso do projeto. O Brasil assina em 1930, juntamente com outros pases do bloco continental (EUA e Inglaterra enviaram observadores), 3 (trs) convenes (o Decreto 57.663/66 apenas promulga estas convenes): III.4.1) Conveno Principal Lei Uniforme sobre LC e NP. Foi redigida em Ingls e Francs. um tratado internacional em que as Altas Partes (pases) Contratantes se comprometem a adotar em seus respectivos territrios a Lei Uniforme que constitui o Anexo I da Conveno (obrigao de fazer). Esta obrigao poder ficar subordinada a certas reservas recolhidas entre as mencionadas no Anexo II da Conveno. A motivao da criao das reservas foi a impossibilidade de, em alguns pontos, conciliar o sistema alemo com o sistema francs. III.4.1.1) Anexo I (78 artigos): a lei propriamente dita. Dispositivos legais sobre LC e NP. Ao seu fim, inicia o Anexo II. III.4.1.2) Anexo II (23 artigos): Contm as reservas. As reservas adotadas pelo Brasil encontram-se previstas no art. 1 do Decreto 57.663/66. Estas podem ser de 3 tipos: III.4.1.2.1) Modificativa: permite modificar o dispositivo de lei. Ex.: reserva do art. 4 do Anexo II, adotada por Frana, Blgica, Holanda, Peru e Argentina, quando esta ltima manifestou sua adeso ao tratado. III.4.1.2.2) Supressiva: permite suprimir o dispositivo de lei. Ex.: reserva do art. 3 do Anexo II, adotada pelo Brasil, dentre outros pases. III.4.1.2.3) Explicativa: permite explicar o dispositivo de lei, isto , descer a minudncias. Analogamente a como, de acordo com a atual Constituio brasileira, o Decreto opera em relao lei. Ex.: reserva do art. 11 do Anexo II. III.4.2) Conveno destinada a regular conflitos de lei em matria de LC e NP uma Conveno de Direito Internacional Privado. Destina-se a solucionar conflitos de lei no espao. Ex.: cidado X, residente em Belo Horizonte, tem 16 anos de idade e, portanto, relativamente incapaz segundo o CC/02 brasileiro, sendo anulveis os negcios jurdicos que celebra. Estando em Tquio (Japo outro pas signatrio da LUG), X assina uma nota promissria para um cidado japons Y. A praa de pagamento constante da nota promissria foi Paris, isto , ela ser paga em Paris. X no paga amigavelmente. Y ajuizou execuo em Paris, pois l a praa de pagamento. Quando o brasileiro foi citado, no Brasil, alegou que sua obrigao era anulvel, em razo de sua idade na data da assinatura da nota, consoante a legislao brasileira. O Cdigo Civil japons, entretanto, prev que o maior de 16 anos plenamente capaz.

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A soluo para esta situao encontra-se no art. 2, alnea 2, desta conveno. Como X aps sua assinatura no Japo, ele ser considerado capaz e sua obrigao no ser anulvel, ainda que o Cdigo Civil francs dispuser em contrrio. CPC: Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, provar-lhe- o teor e a vigncia, se assim o determinar o juiz. Exceo ao jura novit curia. A parte que alegar o direito estrangeiro, no caso acima, o cidado japons Y dever provar sua vigncia, atravs de traduo juramentada do diploma a ser aplicado. Os tradutores juramentados encontram-se habilitados nomeados junto Junta Comercial. o que dispe o art. 8 da Lei n 8.934/94, verbis: Art. 8 s Juntas Comerciais incumbe: (...) III - processar a habilitao e a nomeao dos tradutores pblicos e intrpretes comerciais; III.4.3) Imposto do Selo Apenas um artigo: Fica dispensado o uso obrigatrio de selo para validade das obrigaes cambiais. Contexto: alguns pases signatrios da lei uniforme, inclusive o Brasil, exigiam o selo, comprado em reparties fazendrias, no ttulo de crdito para que as obrigaes cambiais fossem vlidas. Era uma forma de o governo arrecadar fundos. A Inglaterra, que compareceu somente como observadora, tambm assinou (apenas) esta Conveno. III.5) Conveno de Genebra de 1931 sobre cheque Em 1931 o Brasil aderiu s Convenes assinadas em Genebra em matria de cheque. No tem a mesma relevncia da Conveno sobre LC e NP, uma vez que, como ser visto a seguir, foi unificada com a lei interna brasileira sobre cheque (Decreto 2.591, de 1912) pela atual lei do cheque Lei 7.357, de 1985. III.6) Decretos 57.595 e 57.663, ambos de 1966 O Brasil permaneceu doze anos inadimplente em relao obrigao que assumiu. Somente em 1942, atravs de uma nota dirigida ao Secretrio das Naes Unidas, o Brasil aderiu formalmente Lei Uniforme, adotando 13 reservas entre as 23 disponibilizadas. Contudo, ainda assim o Brasil continuou adotando sua lei interna. Em 1964 o governo militar, verificando que todos os outros signatrios da Conveno haviam cumprido a obrigao prevista no tratado, determinou ao Congresso Nacional que aprovasse as Convenes assinadas pelo Brasil. O Congresso, ento, promulga o Decreto Legislativo 54/64, aprovando as Convenes assinadas em Genebra em 1930 e 1931. Contudo, o Decreto no mandou cumprir as convenes, apenas aprovando-as. Em 1966, o Congresso fechado. Castello Branco, ento promulgou a Lei as Convenes, atravs dos Decretos 57.595 e 57.663. Foram publicadas no Dirio Oficial da Unio as respectivas tradues das Convenes. Cumpre lembrar que no houve traduo feita pelo Brasil, tendo sido copiada a de Portugal. Nesse momento, houve caos doutrinrio no Brasil. Posicionamentos de juristas e doutrinadores foram fortemente cindidos. Pode-se apontar, pelo menos, dois posicionamentos defendidos:

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O primeiro, liderado por Antnio Mercado Jnior, professor de SP, defendia que as LUs estavam vigentes e revogavam o direito interno naquilo em colidissem com este. Outra parte da doutrina entendia que as LUs no estavam vigentes no Brasil porque o pas assumiu um compromisso de adot-las, desde que ratificadas pelo Congresso Nacional que deveria fazer uma lei para tanto. Exemplo de conseqncia de se dotar um ou outro posicionamento: lei interna sobre cheque previa prazo prescricional de 5 anos para executar cheques. A LU previa apenas 6 meses. Em 1968 foi consultado pelo Ministrio da Fazenda, em funo da presso dos bancos, o Consultor Geral da Repblica que opinou favoravelmente primeira corrente. Em 1971, em sede de recurso extraordinrio, o STF julgou um caso envolvendo cheque e abraou o mesmo entendimento defendido pelo Consultor Geral da Repblica, podo fim controvrsia. III.6.1 Decreto 57.595, de 1966, unificado com o Decreto 2.591, de 1912, pela Lei 7.357, de 1985 Lei do Cheque At a promulgao da Lei do Cheque (lei 7.537), acontecia com o cheque o mesmo que acontece hoje com as LC e NP. Contudo, sobre presso dos bancos, o Congresso Nacional fundiu os dois diplomas atravs da Lei do Cheque. Esta Lei no poderia e no pode revogar o Tratado assinado em matria de Cheque, isto , no pode conter disposio contrria ao Tratado. Caso se quisesse deixasse de adotar o Tratado, este teria de ser denunciado ao Secretrio da Liga das Naes. Contudo, o legislador da Lei do Cheque foi cauteloso e previu, no art. 63 da Lei, a primazia das Convenes sobre a Lei interna. Contudo, at hoje ningum detectou nenhum conflito entre a lei interna e as Convenes. III.6.2 Decreto 57.663, de 1996, que derroga o Decreto 2.044, de 1908, onde houver conflito com este ltimo Letra de Cmbio e Nota Promissria Da obra do professor Antnio Mercado Jnior, podem-se extrair trs regras de aplicao da Lei Uniforme. So elas:

1) H reserva? Deve-se indagar se h reserva adotada pelo Brasil em relao aodispositivo do Anexo I que ser aplicado. Se houver reserva supressiva, veja regra 2. Se houver reserva modificativa (derrogatria) ou explicativa, veja regra 3. Se no houver reserva, aplica-se a disposio correspondente do Anexo I.

2) H reserva supressiva. Cancela-se a disposio do Anexo I afetada pela reserva,substituindo-a pela lei cambial brasileira ou outra lei referente (Cdigo Civil, por exemplo).

3) H reserva modificativa (derrogatria) ou explicativa. Se h lei brasileira para asubstituio aplica-se a lei substitutiva. Caso contrrio, aplica-se a disposio correspondente do Anexo I. Esta ltima regra no consenso na doutrina brasileira. Fran Martins, por exemplo, defende que no segundo caso, deve-se aplicar o texto da reserva. H que se ressalvar que o Decreto 2.044/1908, naquilo em que no foi revogado pela LU, continua vigente. Todos os princpios fundamentais da LU (inoponibilidade de excees pessoais, autonomia das obrigaes pessoais, dentre outros) so encontrados tambm no Decreto. Juzes preferem aplicar o Decreto.

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Ex.: o Decreto 2.044, no artigo 36 fala em ao anulatria de ttulo de crdito, usada para o caso de algum ter seu ttulo de crdito perdido, extraviado ou roubado e ir justia pedindo uma sentena que o anule e o substitua. Tal sentena favorvel muito difcil, pois se houver contestao do devedor, o juiz julgar prejudicado o pedido. IV DECLARAES CAMBIAIS (MANIFESTAES DE VONTADE) IV.1) Criao dos ttulos de crdito A partir de que momento o papel, sem nenhum valor econmico, torna-se ttulo de crdito, passando a ter valor econmico? A partir do momento em que recebe a declarao cambial originria. Em sua essncia, a cambial (LC e NP) sempre uma promessa de pagamento. Em sua essncia, todo TC uma promessa de pagamento. Essa promessa apresenta-se sob a forma de: - ordem de pagamento; ou - promessa de pagamento. NOTA PROMISSRIA n 01 Valor: R$ 100.000,00 Vencimento: 31/08/2006 No dia trinta e um de agosto de dois mil e seis PAGAREI (EMOS) por esta via nica de Nota Promissria a Liliana Colina, CPF X, ou a sua ordem, a quantia de cem mil reais em Ub/MG. Belo Horizonte, 10 de maro de 2006. Emitente: Eliane Castro Rua das Abelhas, n 0. Belo Horizonte/MG ______________________________ ASSINATURA DA ELIANE

A Nota Promissria exterioriza-se na forma de uma promessa de pagamento. Eliane Castro a emitente da nota, tambm chamada de subscritora. Liliana Colina a beneficiria. LETRA DE CMBIO Via nica Valor: 100.000,00 Vencimento: 11/09/2006 No dia onze de setembro de dois mil e seis PAGAR (O) Llian Carvalho a Lusa Vaz, CPF X, por esta nica via de letra de cmbio a importncia de cem mil reais em Barbacena/MG. Muria, 10 de maro de 2006 A: Llian Carvalho Rua alfa, n 612-B Belo Horizonte/MG _________________________________ ASSINATURA DA CAROLINA LARA

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A Letra de Cmbio, por sua vez, exterioriza-se na forma de uma ordem de pagamento que seu criador (sacador) dirige ao sacado em favor de um tomador (beneficirio). Esta ordem de pagamento pode ser vista ou a prazo. Carolina Lara a sacadora da letra. A letra emitida contra Llian Carvalho, que a sacada, em favor de Lusa Vaz que a beneficiria, tambm chamada tomadora. Ela a credora originria. O mesmo acontece com o cheque. A diferena reside no fato de que no cheque, o sacado sempre o banco, isto , sempre uma instituio financeira, na qual o emitente do cheque tem conta corrente na qual h recursos disponveis para cobrir o pagamento. O sacador sempre o cliente do banco. A letra de cmbio, ao contrrio, pode ser dirigida contra qualquer pessoa, fsica ou jurdica, podendo o sacador tambm ser qualquer pessoa. Tambm cumpre ressalvar que o cheque sempre ordem de pagamento vista. A Letra de Cmbio pode ser vista ou prazo. IV.2 Declaraes Cambiais Declaraes cambiais so manifestaes de vontade contidas nos ttulos de crdito. Ex.: declaraes de Carolina Lara e Eliane Castro. S se torna um devedor cambial, isto , obrigada a pessoa que assina o ttulo de crdito. A declarao cambial ser regida pela lei vigente data de sua emisso. Assim, se, por exemplo, uma NP foi emitida aps a promulgao do Decreto 2.044/1908 e anteriormente promulgao da LU, a emisso ser regida to-somente pelo Decreto. Contudo, se esta mesma NP for endossada j na vigncia da LU, o endosso ser regido pelas normas relativas ao instituto constantes da LU. O nico ttulo de crdito em que uma pessoa pode ser executada sem ter assinado o ttulo a duplicata. Ainda assim, necessrio que o beneficirio comprove que a mercadoria foi entregue ou o servio prestado para suprir a falta de aceite do sacado. Em nenhum outro ttulo de crdito h como suprir a falta de assinatura para efeito de responsabilidade. Uma nica manifestao de vontade (declarao cambial) suficiente para transformar o papel em ttulo de crdito. a mais importante, uma vez que vai dar vida ao ttulo. Uma vez criado, o ttulo est apto a receber futuras declaraes cambias. Por esta razo foi chamada de declarao (ou manifestao) originria, porque d origem ao ttulo de crdito. Todas as demais declaraes (ou manifestaes) sero sucessivas e eventuais (podero existir ou no). A declarao cambial originria, se intrinsecamente vlida, isto , se emitida por uma pessoa plenamente capaz, alm de criar a cambial, a pessoa signatria se torna devedora. A outra hiptese de a declarao ser cambial ser falsa ou de seu manifestante ser uma pessoa incapaz, isto , a declarao existe extrinsecamente, mas intrinsecamente invlida, ainda assim o ttulo estar criado, mas o pretenso signatrio no se tornar devedor. Em regra, todo signatrio do ttulo de crdito se torna devedor solidrio. No direito civil, a solidariedade decorre de lei ou de contrato (acordo de vontades). Esta solidariedade, nos ttulos de crdito, decorre da lei. LUG: Artigo 47 Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra so todos solidariamente responsveis para com o portador. O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram.

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O mesmo direito possui qualquer dos signatrios de uma letra quando a tenha pago. A ao intentada contra um dos coobrigados no impede acionar os outros, mesmo os posteriores quele que foi acionado em primeiro lugar. Na nota promissria, assumindo que a declarao originria seja intrinsecamente vlida, o criador assume tambm a posio de devedor direto e principal. Na letra de cmbio, ao contrrio, o criador (sacador) um obrigado indireto. Exemplo de conseqncia de ser obrigado direto ou indireto: para executar obrigados indiretos, em regra, h que haver prvio protesto no curto prazo concedido pela lei. Na Letra de cmbio, o sacado no obrigado enquanto no apuser sua assinatura no ttulo. Contudo, se lanar sua assinatura no ttulo, ele deixa de ser mero sacado, sem responsabilidade, para se tornar aceitante, devedor solidrio e obrigado principal e direto do ttulo de crdito. Sua declarao, contudo, no originria. Mesmo se o sacado no assinar o ttulo, isto , se no se tornar aceitante, ainda assim a crtula ser ttulo de crdito, criado no momento da aposio da assinatura do sacador. LUG: Artigo 28 O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra data do vencimento. Na falta de pagamento, o portador, mesmo no caso de ser ele o sacador, tem contra o aceitante um direito de ao resultante da letra, em relao a tudo que pode ser exigido nos termos dos arts. 48 e 49. Se no houver aceite a LC no ter obrigado direto ou principal. Na duplicata, ao contrrio, o obrigado direto o sacado, isto , o comprador de mercadoria ou o tomador de servios, independentemente de aceite uma vez que o sacador comprove a venda ou a prestao de servios. No confundir declarao originria com obrigao principal. s vezes so coincidentes (emissor da nota promissria) outras no (sacador da letra promissria [declarao originria] e aceitante [obrigao principal]). Distines prticas exemplificativas entre obrigaes cambiais diretas e indiretas: LUG Artigo 53 Depois de expirados os prazos fixados: - para a apresentao de uma letra vista ou a certo termo de vista; - para se fazer o protesto por falta de aceite ou por falta de pagamento; - para a apresentao a pagamento no caso da clusula "sem despesas . O portador perdeu os seus direitos de ao contra os endossantes, contra o sacador e contra os outros coobrigados, exceo do aceitante.

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Contra obrigados diretos no se perde o direito de execuo. Pode acontecer de a ao prescrever. Tambm quanto ao prazo prescricional, tambm h diferenas em relao entre obrigados diretos e indiretos. No caso do cheque, no h diferenas. Contudo, vejamos o que prev o art. 70 da LUG, verbis: Artigo 70 Todas as aes contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (trs) anos a contar do seu vencimento. As aes do portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo til, ou da data do vencimento, se se trata de letra que contenha clusula "sem despesas". As aes dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6 (seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele prprio foi acionado. Se no houve protesto, no h nem que se falar em ao. Se, contudo, houve protesto em tempo hbil, a ao contra os obrigados indiretos prescreve em 01 (um) ano, contados da data do protesto do ttulo. Contra os obrigados diretos, a prescrio ocorre em 03 (trs) anos. IV.3) Declaraes em cada uma das cambiais IV.3.1) A Letra de Cmbio: 1) cria-se pelo SAQUE 2) completa-se pelo ACEITE 3) transfere-se pelo ENDOSSO 4) garante-se pelo AVAL IV.3.2) A Nota Promissria: 1) cria-se pela EMISSO 2) transfere-se pelo ENDOSSO 3) garante-se pelo AVAL IV.4) Declaraes cambiais: efeitos e funes Antes de prosseguir com o estudo das declaraes cambiais, cumpre tecer breves consideraes acerca das formalidades a serem observadas quando da emisso das declaraes. Inicialmente, h que se considerar a nomenclatura utilizada pela LU e sua equivalncia com a utilizada por outros diplomas legais. As seguintes associaes podem ser feitas: - Face anterior da letra (LU) = face do ttulo = face = frente; - Face posterior da letra (LU) = verso do ttulo = verso = dorso; A seguir, cumpre salientar que a lei reserva lugares prprios do TC para receber as declaraes cambiais. Exemplo: o saque, o aceite e o aval devem ser lanados na face da LC. Contudo, geralmente a lei no comina nulidade declarao lanada no local no previsto por ela, prevendo apenas que, nestes casos, outras formalidades devam ser observadas.

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Nesta mesma linha de raciocnio, cumpre ressalvar que toda declarao cambial, sem excees no Brasil (em alguns pases h exceo para o aval), para que produza efeitos, deve ser lanada no prprio ttulo de crdito. Fora do TC, so ineficazes. Oportuno ressalvar ainda que o Brasil adota a reserva de n 2 do Anexo II das Convenes sobre LC e NP, segundo a qual lhe facultado dispor acerca de como pode ser suprida a falta de assinatura, desde que por uma declarao autntica escrita na letra se possa constatar a vontade daquele que deveria ter assinado. Assim, qualquer declarao cambial pode ser dada pela prpria pessoa ou por mandatrio com poderes especiais. Neste mesmo sentido, *vide item IV.4.6, pg. 37. IV.4.1) Saque (LC) - uma declarao cambial originria, indispensvel, produtiva de obrigao indireta ou subsidiria de regresso. IV.4.2) Aceite (LC) - uma declarao cambial sucessiva, eventual, produtiva de obrigao direta ou principal. IV.4.3) Emisso (NP) - uma declarao cambial originria e indispensvel, produtiva de obrigao direta ou principal. IV.4.4) Endosso - uma declarao cambial sucessiva, eventual, produtiva de obrigao indireta ou subsidiria de regresso. Sua funo transferir o ttulo de crdito. IV.4.5) Aval - uma declarao cambial sucessiva, eventual, que pode dar lugar a uma obrigao direta ou indireta. O aval uma garantia fidejussria dos ttulos de crdito. O avalista avaliza o pagamento do ttulo de crdito e no a pessoa por quem deu aval. O avalista se obriga da mesma maneira que seu avalizado, isto , sua obrigao tem o mesmo grau da do avalizado. Cabe, ento, ao avalista indicar o avalizado ao qual ser equiparado. Quando assim no o faz, isto , no indica, a lei qu