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Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social Polícia Militar do Espírito Santo Centro de Formação e Aperfeiçoamento (CFA) da Polícia Militar do Espírito Santo Curso de Formação - 2008-08-05

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Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social

Polícia Militar do Espírito Santo

Centro de Formação e Aperfeiçoamento (CFA) da Polícia Militar do Espírito Santo

Curso de Formação - 2008-08-05

Disciplina – CRIMINALÍSTICA

PROCESSUALÍSTICA PERICIAL

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A IMPORTANCIA DA PERICIA

Vamos mostrar nesse tópico o quanto a perícia é importante dentro do conjunto probante, cujos

fatos ficam evidentes na preocupação do legislador, por intermédio de dispositivos que assim

ressaltam diretamente, como também pela interpretação indireta do que a legislação procurou

assegurar.

O artigo 157 do Código de Processo Penal - CPP diz que "o juiz formará sua convicção pela

livre apreciação da prova". Isso nos mostra que o juiz deverá considerar todo o contexto das

provas carreadas para o processo judicial sendo - no entanto - livre para escolher aquelas que

julgar convincentes. É claro que ele, em sua sentença, irá discutir o porquê de sua preferência.

Portanto, não há hierarquia de provas. Todas, em princípio, têm o mesmo valor probante.

Certamente o legislador, nesse artigo, quis assegurar ao magistrado o seu livre convencimento

diante do conjunto das provas, pois anteviu que, se assim não assegurasse, a prova pericial

acabaria prevalecendo, tanto técnica quanto juridicamente, sobre as demais.

E é muito simples explicar essa preferência. Ocorre que a prova pericial é produzida a partir de

fundamentação científica, enquanto que as chamadas provas subjetivas dependem do

testemunho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples

falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, até a situação de má fé, onde exista

a intenção de distorcer os fatos para não se chegar à verdade.

Claramente o artigo 158 do CPP determina: "quando a infração deixar vestígios, será

indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a

confissão do acusado”.

Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância e a relevância que a perícia

representa no contexto probatório, referindo-se, taxativamente, sobre a sua indispensabilidade,

sob pena de nulidade de processos, conforme veremos mais adiante.

Infelizmente, essa previsão legal deixa de ser cumprida em muitas situações, ocasionada pela

falta de estrutura suficiente para atender a demanda, pela carência de equipamentos adequados

e pelo reduzido quadro de peritos, que não conseguem realizar todos os exames.

Além dos problemas estruturais, existem ainda os malefícios de ingerências. e omissões por

parte das autoridades responsáveis pela requisição da perícia que, não a requerendo, estão a

comprometer o esclarecimento do fato delituoso.

Inteligentemente, também está previsto no artigo 182 do CPP, que "o juiz não ficará adstrito

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ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte".

Sem dúvida, já em 1941 o legislador anteviu a importância da prova científica, pois mesmo

prevendo no artigo 157 que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova, deixa

claro no texto que o laudo não deverá ser apreciado como uma verdade absoluta.

Mais uma vez nota-se a importância da prova científica, tamanha foi a preocupação do

legislador em criar mecanismos para que o laudo não fosse usado exclusivamente, em

detrimento de outros meios de prova.

Nestas ressalvas do legislador, podemos entender duas preocupações básicas.

Primeiro que é importante reunirmos o maior número de provas possível acerca de qualquer

delito, seja ela objetiva (científica) ou subjetiva (empírica), a fim de que o juiz tenha o maior

número de informações e, com isso, formar a sua convicção com total segurança. E, segundo, a

falta de estrutura dos órgãos periciais que - àquela época - não tinham condições de atender a

todas as perícias nos mais diversos municípios de nosso país.

A importância é tamanha que o CPP vai mais além, quando trata das NULIDADES, prevendo

em seu artigo 564, inciso III, alínea "b", que "a nulidade ocorrerá nos seguintes casos: ...

por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: ... o exame do corpo de delito nos crimes que

deixem vestígios . . . .".

É inegável a relevância do laudo pericial para o processo criminal demonstrado por todos estes

dispositivos legais. Chegar ao ponto de dizer que o processo criminal poderá ter atos nulos por

conta da falta do laudo pericial é ressaltar sobremaneira a sua necessidade no conjunto

probante.

RESPONSABILIDADE DO PERITO

A responsabilidade do perito no exercício da sua função deve ser dividida em duas partes

distintas. Aquela do ponto de vista legal, onde lhe são exigidas algumas formalidades e

parâmetros para a sua atuação como perito; e as de ordem técnica, necessárias para desenvolver

satisfatoriamente os exames técnico-científicos que lhe são inerentes.

EXIGÊNCIAS FORMAIS

O artigo 112 do CPP trata das incompatibilidades e impedimentos legais que o os peritos

devem declarar nos autos do processo, quando for o caso.

In verbis: “O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça

e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver

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incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a

abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser argüido pelas partes, seguindo-se

o processo estabelecido para a exceção de suspeição”.

Os artigos 275 ao 280 tratam de formalidades aplicáveis aos peritos e intérpretes, destacando-

se os principais a seguir.

Art. 275 - O perito, ainda que não oficial, estará sujeito á disciplina judiciária.

Art. 280 - É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos

juizes.

Como se vê claramente no artigo 275, apesar dos peritos, através dos Institutos de

Criminalística - na sua grande maioria, ainda estarem administrativamente vinculados aos

organismos policiais, são antes de tudo regidos por dispositivos inerentes aos juizes e demais

auxiliares da justiça.

Nota-se, ainda, uma preocupação relevante com o perito não oficial, o chamado perito "ad

hoc", perfeitamente compreensível para aquela época, pois certamente o número de Institutos

de Criminalística e de Medicina Legal eram muito poucos em todo o Brasil.

O artigo 280, tratando da suspeição dos peritos, remete-nos aos artigos 254 e 256 onde estão

elencadas as situações de suspeição dos juizes e que, por força desse dispositivo, aplicam-se

também aos peritos. Vejamos: Art. 254 – “O juiz (leia-se, perito) dar-se-á por suspeito, e, se

não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo

capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver

respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,

sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das

partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou

curador, de qualquer das partes; VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade

interessada no processo”.

Art. 256 – “O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará

pela dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas,

ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz (leia-se

perito) o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo”.

Vê-se, portanto, que tanto o perito oficial quanto os próprios diretores dos Institutos devem

ficar atentos a essas exigências e enquadramentos para o exercício da função pericial, sob pena

de darem causa para nulidades de laudos periciais.

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REQUISITOS TÉCNICOS

Nível Superior

Com o advento da Lei 8862/94 e demais legislações correlatas, para ser perito oficial (perito

criminal ou perito médico legista) é necessária a formação acadêmica.

O caput do artigo 159 (alteração anexa) não expressa textualmente o requisito de formação

superior para ser perito oficial, todavia nem seria necessário, tendo em vista a extensa

legislação periférica determinando tal requisito.

O próprio parágrafo primeiro do artigo 159 - § 1º - não havendo peritos oficiais, o exame será

realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de

preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame) deixa

clara essa exigência para o perito "ad hoc", o que dizer então para o perito oficial.

É importante ressaltarmos que esta exigência de nível superior é uma necessidade técnica, pois

a perícia é calcada na pesquisa científica, e, portanto, imprescindível termos profissionais

capacitados e com formação acadêmica para esse mister pericial, sob pena de vermos a perícia

cair em descrédito no contexto do processo penal.

Dois Peritos (Alteração anexa)

O artigo 159 do CPP, com a redação determinada pela Lei 8862/94, exige que as perícias sejam

feitas por dois peritos oficiais: "Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos

por dois peritos oficiais".

A exigência de dois peritos criminais para realizarem exames periciais, veio regular situação

que já foi objeto até de Súmula do Supremo (Súmula 361: No processo penal, é nulo o exame

realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado, anteriormente,

na diligência de apreensão.), bem como adequar situações de fato que já vinham ocorrendo

em algumas Criminalísticas.

Também para os casos de perito "ad hoc" deve ser realizado por dois profissionais, fato este já

exigido desde a edição do CPP em 1941.

Com a alteração do artigo 159, exigindo - também para o caso de perito oficial - que os exames

sejam realizados por dois peritos, abre-se a possibilidade jurídica de utilizar as orientações do

artigo 180, (art. 180 - Se houver divergência entre os peritos, serão consignados no auto do

exame (grifo nosso) as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá

separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a

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autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos) antes restrito só aos

peritos "ad hoc".

DA REQUISIÇÃO DE PERÍCIA

No modelo brasileiro, vigente em nosso Código de Processo Penal, cabe à Autoridade Policial

(Delegado de Polícia), presidente do Inquérito Policial, requisitar a perícia, conforme

determina o inciso VII do artigo 6° (determinar, se for o caso, que se proceda a exame de

corpo de delito e a quaisquer outras perícias).

Também podem determinar a realização de perícias, o Promotor de Justiça e o Juiz. Todavia,

na grande maioria das ocorrências, onde o Delegado de Polícia primeiro toma conhecimento e

por ser o presidente do inquérito, é quem mais exerce essa obrigação.

Há também os casos de crimes militares (Polícias Militares ou Forças Armadas) onde o oficial

que preside o IPM poderá requisitar os respectivos exames periciais ao Instituto de

Criminalística ou Instituto de Medicina Legal.

A requisição é obrigatória para a realização da perícia, conforme observamos no artigo 158 do

CPP: "Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,

direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado".

Apesar de ser obrigatória a requisição e realização da perícia, a realidade no Brasil ainda nos

mostra que inúmeras infrações que deixam vestígios não são periciadas. As razões são

inúmeras, desde a falta de pessoal para atender a toda a demanda, passando pela falta de

condições técnicas (principalmente equipamentos), até por simples má fé, onde a verdade não

interessa ser esclarecida.

Devemos ressaltar que a requisição da perícia é feita pelo Delegado de Polícia, Promotor de

Justiça ou mesmo pelo próprio Juiz; no entanto, sendo perito oficial, a nomeação do

profissional que irá executá-la, deve ser feita pelo diretor do Instituto de Criminalística ou de

Medicina Legal, conforme determina o artigo 178 do CPP: "No caso do art. 159, o exame será

requisitado pela autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo

assinado pelos peritos".

ISOLAMENTO E PRESERVERVAÇÃO DE LOCAL

Com o advento da Lei 8862/94, passamos a ter uma garantia legal para a preservação e o

isolamento de locais de infrações penais, pela Autoridade Policial, sob pena de

responsabilização futura pelo Juiz.

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No artigo 6°, incisos I e II, ficou expressamente determinada tal obrigatoriedade, senão

vejamos: "Art. 6 - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade

policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e

conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que

tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;"

O isolamento e a conseqüente preservação do local de infração penal é uma garantia que o

perito terá de encontrar a cena do crime conforme fora deixada pelo(s) infrator(es) e vítima(s)

e, com isso, ter condições técnicas de analisar todos os vestígios. É também uma garantia para

a investigação como um todo, pois teremos muito mais elementos a analisar e carrear para o

inquérito e, posteriormente, para o processo criminal.

Ao mesmo tempo em que o artigo 6° e seus incisos I e II determinam ao delegado de polícia

que preserve o local e o corpo de delito, também exige que o perito relate em seu laudo se a

preservação deixou de ser feita ou ocorreu com falhas, conforme expresso no artigo 169:

"In verbis": Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a

infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das

coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos

ou esquemas elucidativos.

Parágrafo Único. “Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e

discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos".

Devemos compreender que esta exigência visa resguardar o local de crime, para que tenha o

devido isolamento e preservação, assegurando a idoneidade dos vestígios a serem analisados.

É importante salientar que o perito não deve deixar de realizar o exame solicitado por falta de

preservação ou qualquer outra alteração. Deve examinar da forma como encontrou e ter o

cuidado de registrar tudo em seu laudo.

O perito criminal deve ter o cuidado de agir o mais tecnicamente possível, sem entrar no

campo da fiscalização do trabalho de outros segmentos policiais. Cada um tem a sua

responsabilidade no processo. Se o perito constatou que o local não foi preservado e isso

trouxe conseqüências para o seu exame, deve simplesmente relatar em seu laudo como uma

informação técnica.

Há um grave problema quanto aos locais de acidentes de trânsito que encontra respaldo na

legislação, quanto a autorização para desfazer esse tipo de local, conforme preceitua a Lei

5.970/73.

"Art. 1° - Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro

tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local. a

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imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele

envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego. "

Como podemos observar esta é uma lei autorizando o descumprimento de outra (o CPP).

Esse dispositivo tem prejudicado sobremaneira os exames periciais em locais de acidente de

trânsito, uma vez que a exceção virou regra, onde inúmeras situações que não justificariam tal

medida acabam tendo os locais desfeitos pelas Polícias Militares e, principalmente, pelas

Polícias Rodoviárias.

À vista disso (supomos) e desobedecendo as determinações contidas no Código de Processo

Penal, o Executivo Federal atribuiu à Polícia Rodoviária Federal a tarefa de realizar "perícias"

nos acidentes de tráfego ocorridos nas rodovias federais. Nesse sentido editou o Decreto n°

1.655, de 03/10/95, inserindo no artigo 1°, o inciso V (V - realizar perícias, levantamentos de

locais, boletins de ocorrências, investigações, testes de dosagem alcoólica e outros procedimentos

estabelecidos em leis e regulamentos, imprescindíveis à elucidação dos acidentes de trânsito) , numa

clara afronta ao CPP, que determina expressamente que todas as perícias criminais sejam

realizadas por peritos oficiais, profissionais de nível superior, abrindo somente a exceção ao

perito "ad hoc" com formação universitária quando não houver perito oficial.

NOVA PERÍCIA

O artigo 181 e seu parágrafo único, que faculta somente ao magistrado o poder de determinar

a revisão do laudo ou fazer um novo exame.

Vejamos o que diz o citado artigo: “Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou

no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir

a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo”.

Parágrafo Único. “A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por

outros peritos, se julgar conveniente”.

Portanto, depois que o perito expediu o seu laudo, somente o juiz poderá determinar a sua

revisão ou mesmo a feitura de um novo exame por outros peritos. O Delegado de Polícia, se

entender que ocorreu algumas das falhas citadas no caput do artigo 181, deverá levantá-las em

seu relatório e sugerir ao Magistrado que tome as providências necessárias.

Especificamente para os IMLs, quando tratar-se de lesões corporais, assim ressalva o "Art. 168

- Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-

se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de oficio,

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ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor”.

“§ 1º N o exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo fie delito, a fim

de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo."

Durante o exame pericial até antes da expedição do laudo, o Delegado, o Promotor, o Juiz e as

partes (estas por meio de petição ao Delegado de Polícia ou ao Juiz, feita pelo advogado),

poderão formular quesitos aos peritos, a fim de que eles respondam em seu laudo, conforme

previsto no artigo 176 – “A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da

diligência”.

Esta prerrogativa das autoridades e partes formularem quesitos, é confirmada no artigo 160 –

“Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que

examinarem, e responderão aos quesitos formulados”, onde expressa a obrigatoriedade ao

perito em respondê-los.

Devemos analisar o que seria até o ato da diligência, para podermos delimitar até onde o perito

poderá atender tal solicitação, sem ferir os dispositivos do artigo 181. Entendemos que os

diretores das Criminalísticas e respectivos peritos signatários poderão receber tais quesitos até

o momento do fechamento do laudo.

PRAZO PARA ELABORACÃO DO EXAME E DO LAUDO

Prazo para elaboração do laudo:

Conforme determina o parágrafo único do artigo 160 – “O laudo pericial será elaborado no

prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a

requerimento dos peritos”.

Muitas perícias requerem exames complementares de laboratório, além de outras análises e que

o perito só poderá começar a sua análise global e respectiva confecção do laudo, após ter todos

esses resultados em mãos, o que demandará tempo.

Evidentemente que na prática os peritos quase nunca utilizam o prazo de dez dias para cada

laudo, tendo em vista o acúmulo do serviço, onde enquanto estão aguardando os resultados de

uma ocorrência, ele já começam a elaborar o laudo de outras perícias.

No dia-a-dia esse dispositivo legal não é muito utilizado pelos peritos, haja vista as condições

de trabalho sempre aquém do ideal. Entretanto devemos ter guardado este recurso legal,

inclusive do pedido de prorrogação, como uma garantia mínima para mantermos a qualidade

da perícia.

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Prazo para elaboração dos exames:

Aproveitaremos esse tópico para comentar os termos do artigo 161 – “O exame de corpo de

delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora”, por ser uma orientação temporal

para a realização dos exames.

O mandamento legal aqui analisado não determina expressamente que os exames devam ser

realizados em qualquer hora e dia, mas admitem essa possibilidade. Tem como objetivo

apressar a realização dos exames e eliminar possíveis omissões na agilidade desse mister. No

entanto, a única razão de não realizar imediatamente qualquer exame, deva ser aquela de

ordem técnica.

Existem casos de exames, especialmente em áreas externas, que somente à luz do dia pode-se

realizar com mais precisão. Nesse caso, deve-se averiguar "in loco" e, constatada a dificuldade,

determinar o completo isolamento do local até o momento possível para realizá-la.

Tratando diretamente dos exames médico-legal, o artigo 162 – “A autópsia será feita pelo

menos 6 (seis) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,

julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto” estipula

claramente um período mínimo de seis horas para que os peritos legistas comecem a realização

da necrópsia.

No entanto, o próprio caput desse mesmo artigo estabelece os casos de exceção para se realizar

o exame antes daquele prazo, ou seja, se os peritos estiverem diante de um corpo que apresente

lesões externas capazes de não deixar nenhuma dúvida sobre o óbito daquela vítima.

Os peritos legistas, em assim procedendo, deverão constar esse fato no corpo do laudo. O

dispositivo aqui menciona "auto circunstanciado", porém aos peritos legistas oficiais deve-se

entender como "laudo pericial".

FOTOGRAFIAS E OUTROS RECURSOS

A fotografia, antes opcional passou a ser obrigatória para local de crime com cadáver, além de

sugerir para outros casos.

"Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados,

bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do

crime”.

“Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,

juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente

rubricados".

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Eis aí um grande recurso visual que em muito auxilia os peritos no seu trabalho pericial. Uma

fotografia ou um desenho qualquer, podem - às vezes esclarecer e convencer acerca de um fato,

muito melhor que uma série de parágrafos escritos.

Mas o espírito da exigência contida no artigo 164, foi o de garantir que o perito registre em seu

laudo a forma como encontrou o local com cadáver, em face de descabida curiosidade (para

não dizer falta de profissionalismo) de muitos policiais que chegam ao local antes dos peritos

e, no afã de identificar a vítima, acabam adulterando uma série de vestígios.

A única obrigação do policial que primeiro chega a um local de crime, é certificar se a vítima

ainda está viva. Se confirmado o óbito, nada mais há que se fazer, a não ser - exclusivamente -

o de preservar os vestígios. Para tanto deve imediatamente isolar o local conforme determinam

os incisos I e II do artigo 6° do CPP.

PRINCIPAIS PERÍCIAS ELENCADAS NO CPP

Já em 1941 o legislador vislumbrou a importância da perícia para o processo criminal que

chegou ao esmero técnico de determinar requisitos mínimos para determinados tipos de

perícias.

Evidentemente, hoje o universo de perícias que deveriam estar elencadas no CPP é bem maior.

Discutiremos as principais que estão e1encadas no Código de Processo Penal Brasileiro.

Perícias de Laboratório

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a

eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com

provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Como se vê, o próprio CPP deixa claro a necessidade de se guardar material para um segundo

ou terceiro exames posteriores nas perícias de laboratório. No entanto, não especifica por

quanto tempo deverá ser guardado esse material. Em nosso entender, deveremos guardá-los até

o processo transitar em julgado na justiça. No entanto, considerando as condições dos

laboratórios nos diversos Institutos de Criminalística e de Medicina Legal, não há como

guardar essas amostras por tanto tempo.

Também como em outros dispositivos, é dada uma valoração muito grande à fotografia e

demais desenhos. Sem dúvida, todos nós peritos sabemos o quão é importante termos

disponível esse tipo de recurso em nossos laudos.

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Dos Crimes Contra o Patrimônio

Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da

coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que

instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Esse dispositivo trata principalmente dos crimes de furto e roubo, onde o perito deve - além de

outros requisitos técnicos - atentar para as situações de arrombamentos ocorridos, possíveis

escaladas (por onde o delinqüente teve acesso ao local do furto ou roubo), que tipo de

instrumento fora usado na prática do rompimento das vias de acesso, a forma como ocorreu e a

época do fato.

Avaliação Econômica/Contábil

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas

ou que constituam produto do crime.

Parágrafo Único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por

meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

Esta exigência de avaliar os bens subtraídos é necessária para servir de orientação ao juiz,

principalmente na aplicação da pena ao réu.

O dispositivo prevê ainda que, se não for possível a avaliação direta, deverá ser feita

indiretamente, por meio das informações que forem possíveis reunir.

Outro exame que entendemos estar incluído nesse artigo do CPP é a perícia contábil, pois

apesar de não estar especificada diretamente, encaixa-se perfeitamente nas definições gerais ali

contidas. É hoje um dos principais exames para determinar a avaliação dos prejuízos causados

por fraudadores e corruptos, especialmente na administração pública.

Perícia de Incêndio

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver

começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a

extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do

fato.

Este é um tipo de perícia extremamente importante - como o são todos os demais - pois

normalmente a extensão dos danos é bastante significativa.

Chamamos a atenção para um fator adicional que os peritos devem ficar atentos no exame

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pericial em local de incêndio, além, é claro, desses todos já determinados na legislação: O

perito deve determinar em seu exame se o incêndio foi acidental (culposo), ou se foi provocado

criminosamente (doloso ou intencionalmente).

Nesse tipo de perícia, temos tido alguns problemas de ordem operacional, quanto à atribuição

legal de qual profissional deverá realizar o exame pericial em local de incêndio.

Especialmente no Espírito Santo, a perícia de incêndio vem sendo realizada pelo Corpo de

Bombeiro Militar, o que contraria frontalmente o CPP, pois os Bombeiros não são peritos

oficiais.

Perícias Documentoscópicas

Art. 174 - No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-

á o seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for

encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa

reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja

autenticidade não houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que

existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí

não puderem ser retirados;

IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a

autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver ausente a pessoa,

mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se

consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Eis aqui um dos maiores setores de perícias da Criminalística. Vejam que a perícia

documentoscópica já era relativamente desenvolvida quando da feitura do CPP, que já previu

uma série de procedimentos a serem observados.

O dispositivo legal previu, basicamente, formalidades no campo da escrita manual – normal

para a época, não incluindo outros tipos de exames que esse setor hoje realiza.

Exames de Eficiência em Objetos

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a

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fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência.

Este exame absorve uma quantidade razoável de tempo, tendo em vista a quantidade de objetos

oriundos das Delegacias que são encaminhados à Criminalística para o competente exame.

Além disso, em inúmeros outros tipos de perícias, esse exame está presente para complementar

o contexto geral de um trabalho mais abrangente feito pelos peritos, principalmente em locais

de morte violenta e arrombamento.

OUTROS DISPOSITIVOS PROCESSUAIS

Necrópsia:

O parágrafo único do artigo 162 - “Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame

externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões

externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno

para a verificação de alguma circunstância relevante”, define procedimentos para os casos de

necrópsia, visando dar uma maior agilidade nos exames periciais em cadáveres. Verificado

pelo legista que os sinais da morte são aparentes e contundentes, a legislação deixa-o a vontade

para que realize os exames apenas externamente.

É claro que o legista deverá ter plena certeza científica desse fato, o que terá de mencionar e

até discutir no seu laudo. Haverá casos em que seria um desperdício de tempo e de meios,

proceder ao exame interno do cadáver, quando todos os vestígios podem ser constatados e

analisados somente pelo exame externo.

Portanto, caberá ao perito legista decidir tecnicamente da necessidade ou não de abrir o corpo

de um cadáver para examinar internamente, lógico, desde que esteja respaldado pelos vestígios

externos.

Exumação:

Artigo 163: Em caso de exumação para exame cadavérico (grifo nosso), a autoridade

providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual

se lavrará auto circunstanciado.

O artigo estabelece normas somente para os casos de exumação, cujo objetivo seja o de

proceder a exame no próprio cadáver. Pode parecer redundância, mas não o é. Poderá haver

exumação, cujo objetivo será o de verificar outros elementos que não seja o exame diretamente

no cadáver.

14

Page 15: apostila criminalística - cfsd - cópia

O artigo não requer diretamente a presença do perito legista, nem do perito criminal. No

entanto, por questões de lógica, por tratar-se do manuseio de cadáver, naturalmente se faz

necessária a presença do perito legista, por força legal da profissão de medicina.

Uma outra dúvida que surge em relação aos casos de exumação, é se há a necessidade e/ou

obrigatoriedade da presença de peritos criminais em tal evento.

Essa é também uma situação que deve ser analisada sob dois aspectos distintos.

Quando a exumação tem por objetivo exclusivo o exame cadavérico, entendemos que não há

necessidade de que os peritos criminais estejam presentes ao ato da exumação, uma vez que -

pericialmente - nada há para eles realizarem. Tratar-se-á, nesse caso, de uma perícia médico-

legal.

Por outro lado, se a exumação tiver objetivando também - ou exclusivamente - a busca de

outros vestígios externos ao cadáver, aí sim, necessariamente a autoridade deverá requisitar a

presença dos peritos criminais, a fim de que eles façam o exame pericial do local, visando

caracterizar os possíveis vestígios que estejam sendo buscados.

No entanto, para qualquer caso de exumação é necessária a presença dos peritos legistas.

Identificação de cadáver:

A questão da identificação de cadáveres está prevista no Código de Processo Penal somente

para os casos de exumação em que a vítima não seja identificada, conforme podemos inferir do

artigo 166.

Art. 166 - Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao

reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repal1ição congênere ou pela

inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se

descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

Parágrafo Único - Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos

encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

No entanto, a partir desse dispositivo legal, procede-se rotineiramente ao reconhecimento de

cadáveres, quando dão entrada nos DMLs sem a respectiva identificação.

Dentro das rotinas administrativas dos Órgãos de perícia e de identificação no Brasil,

poderemos ter a participação de três tipos de profissionais atuando nessa tarefa de

identificação.

Os primeiros a atuarem em casos de cadáver não identificado, são os peritos criminais quando

fazem o exame pericial do local do crime. Nesse momento, ao examinarem o cadáver e não

15

Page 16: apostila criminalística - cfsd - cópia

encontrarem nenhuma identidade formal daquela vítima, deverão providenciar a busca de

qualquer outra informação que venha a auxiliar nesse mister.

Atuam também os papiloscopistas para a coleta das impressões digitais, a fim de tentar efetivar

a identificação através do arquivo de dados cadastrais dos Institutos de Identificação.

E, por fim, com mais intensidade, os peritos legistas é que fazem grande parte dessas

identificações, quando não foi possível pela impressão digital, ao descreverem em detalhe esse

cadáver, associado a quaisquer outras informações que tenham sido coletadas pelos peritos

criminais no local do crime e repassadas ao DML.

Atualmente, a identificação pode ser realizada através do exame de DNA, que somente é utilizado em último caso,

dado ao custo elevado.

Desaparecimento dos Vestígios:

O artigo 167 nos diz: "Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem

desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta".

Esse dispositivo deve ser analisado com critério, pois ele poderia vir a ser utilizado

erroneamente como argumento para o descumprimento do artigo 158.

O artigo 158 é enfático “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de

corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri10 a confissão do acusado” quando diz

que o exame é indispensável. Havendo vestígios, necessariamente deverá ser feito o

competente exame pericial (corpo de delito, entenda-se qualquer tipo de perícia), sob pena de

nulidade de processo conforme prevê a letra b do inciso III do artigo 564 (b - o exame do

corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no art. 167;)

Vejam que esse último dispositivo faz exatamente a ressalva da não nulidade, para a situação

tipificada no art. 167. Por essa razão devemos entender em que circunstância estaria

caracterizada tal situação.

O "haverem desaparecido os vestígios", não é o caso do descumprimento do artigo 158, mas

sim quando, por situações adversas do ponto de vista técnico que levem ao desaparecimento

dos mencionados vestígios, não mais seja possível realizar o competente exame de corpo de

delito.

O perito chamado à Justiça :

Art. 423 assim explicita: “As justificações e as perícias requeridas pelas partes serão

determinadas somente pelo presidente do tribunal, com intimação dos interessados, ou pelo

16

Page 17: apostila criminalística - cfsd - cópia

juiz a quem couber o preparo do processo até julgamento”.

Este é o dispositivo legal que prevê a presença do perito na Justiça, visando atender

requerimento das partes ou no interesse direto do próprio juiz.

É perfeitamente normal que os peritos sejam chamados para prestar esclarecimentos

adicionais, uma vez que o laudo em si pode deixar dúvidas aos usuários, em razão até da

própria linguagem técnica que deve ser utilizada em determinadas situações.

Lei n.º11.690 – 09/06/2008Altera CPP – Vigor 60 dias (a partir de 09/08/2008)

“Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por

perito oficial, portador de diploma de curso superior.”

§ 1º - Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras

de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem

habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2º - Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o

encargo.

§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao

querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

§ 4º - O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos

exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

§ 5º - Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a

quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas

sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as

respostas em laudo complementar;

II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado

pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.

§ 6º - Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à

perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua

17

Page 18: apostila criminalística - cfsd - cópia

guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for

impossível a sua Conservação.

§ 7º - Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento

especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar

mais de um assistente técnico.

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL

a) Considerações iniciais

Um dos grandes e graves problemas das perícias em locais onde ocorrem crimes, é a quase

inexistente preocupação das autoridades em isolar e preservar adequadamente um local de

infração penal, de maneira a garantir as condições de se realizar um exame pericial da melhor

forma possível.

No Brasil, não possuímos uma cultura e nem mesmo preocupação sistemática com esse

importante fator, que é um correto isolamento do local do crime e respectiva preservação dos

vestígios naquele ambiente.

Essa problemática abrange três fases distintas.

A primeira compreende o período entre a ocorrência do crime até a chegada do primeiro

policial. Esse período é o mais grave de todos, pois ocorrem diversos problemas em função da

curiosidade natural das pessoas em verificar de perto o ocorrido, além do total

desconhecimento (por parte das pessoas) do dano que estão causando pelo fato de estarem se

deslocando na cena do crime.

A segunda fase compreende o período desde a chegada do primeiro policial até o

comparecimento do delegado de polícia. Esta fase, apesar de menos grave que a anterior,

também apresenta muitos problemas em razão da falta de conhecimento técnico dos policiais

para a importância que representa um local de crime bem isolado e adequadamente preservado.

Em razão disso, em muitas situações, deixam de observar regras primárias que poderiam

colaborar decisivamente para o sucesso de uma perícia bem feita.

E, a terceira fase, é aquela desde o momento que a autoridade policial já está no local, até

a chegada dos peritos criminais. Também nessa fase ocorrem diversas falhas, em função da

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Page 19: apostila criminalística - cfsd - cópia

pouca atenção e da falta de percepção - em muitos casos - daquela autoridade quanto a

importância que representa para ele um local bem preservado, o que irá contribuir para o

conjunto final das investigações, da qual ele é o responsável geral como presidente do

inquérito.

b) O isolamento e a preservação

Um dos requisitos essenciais para que os peritos possam realizar um exame pericial de maneira

satisfatória, é que o local esteja adequadamente isolado e preservado, a fim de não se perder

qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos atores da cena do crime.

Este é um problema que os peritos encontram quase sempre nos locais de crime, pois não há no

Brasil uma tradição de isolarmos e preservarmos o local de infração penal. Esta falta de

tradição é da própria população que, ao passar por um local, acaba se aproximando de tal

maneira que se desloca por entre os vestígios. Da população, em princípio, é até compreensível

a curiosidade natural em olhar tais fatos, no entanto, as dificuldades são maiores quando a

própria polícia, que é a responsável por esse mister, na grande maioria das situações não

cumpre a sua obrigação prevista em lei.

Com a vigência da Lei 8862/94, a questão do isolamento e preservação de local de crime

mudou de patamar, passando a fazer parte da preocupação daqueles que são elencados como os

responsáveis por essa tarefa, ou seja, por intermédio da autoridade policial.

Tais determinações legais que garantem esse novo status para o local de crime, estão previstos

nos dispositivos a seguir transcritos, do Código de Processo Penal.

Art. 6 - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial

deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das

coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos

criminais;

Art. 169 - Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a

autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a

chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou

esquemas elucidativos.

Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e

19

Page 20: apostila criminalística - cfsd - cópia

discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Como podemos observar, a questão do isolamento e preservação de local de crime está, a partir

da edição da Lei 8862/94, tratada devidamente e a altura da importância que representa no

contexto das investigações periciais e policiais.

O isolamento e a conseqüente preservação do local de infração penal é uma garantia que o

perito terá de encontrar a cena do crime conforme fora deixada pelo(s) infrator(es) e pela

vítima(s) e, com isso, ter condições técnicas de analisar todos os vestígios. É também uma

garantia para a investigação como um todo, pois teremos muito mais elementos a analisar e

carrear para o inquérito e, posteriormente, para o processo criminal.

No entanto, mesmo com a previsão legal, a preservação do local de crime é primeiramente uma

questão de formação profissional dos próprios policiais que, por sua vez, quando passarem -

todos - a proceder corretamente, estaremos iniciando uma cultura de isolamento e preservação

capaz de se fazer respeitar pela própria comunidade. Só depois de todo esse trabalho é que

poderemos dizer que haverá um perfeito isolamento e preservação dos locais de crime.

É preciso ficar muito claro para todos nós o quanto é importante se preservar adequadamente

os vestígios produzidos pelos atores (vítima e agressor) da cena do crime, como única forma de

reunirmos condições para chegar ao esclarecimento total dos delitos.

Qualquer investigação começará com muito mais probabilidade de sucesso se for observado

dois fatores básicos, conforme discutiremos a seguir.

Iniciar imediatamente as investigações a partir do local onde ocorreu aquele delito, pois será ali

que teremos mais chance de encontrar alguma informação, tanto sob os aspectos da prova

pericial, quanto das demais investigações subjetivas, tais como testemunhas, relatos diversos

de observadores ocasionais, visualização da área para avaliar possíveis outras informações de

suspeitos, etc.

A perícia fundamenta o seu trabalho principal nos exames periciais efetuados diretamente no

local onde ocorreu a infração penal. É, a partir do exame geral do local do crime, que

poderemos ter uma visão técnica global de todo o ocorrido.

b.l) Técnicas a serem adotadas

Neste tópico queremos abordar, principalmente, as áreas que devem ser delimitadas e isoladas,

para os casos distintos de crimes de morte violente, de acidente de tráfego e de crimes contra o

patrimônio.

Evidentemente que a preservação dos vestígios será uma conseqüência inicial do correto

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isolamento (delimitação) da área, além da conduta firme e vigilante do policial em não permitir

nenhum acesso ao interior da área isolada.

Para que as autoridades policiais e quaisquer outros policiais tenham condições de fazer um

correto isolamento e conseqüente preservação nos locais de crime, é preciso que detenham

conhecimentos gerais de criminalística para, no mínimo, saberem distinguir tudo o que possa

ser vestígio e, portando, de grande importância ao exame dos peritos.

b.1.I) Local de crimes contra a pessoa (morte violenta)

A área a ser isolada nos casos de crimes contra a pessoa compreenderá, a partir do ponto onde

esteja o cadáver ou de maior concentração dos vestígios até além do limite onde se encontre o

último vestígio que seja visualizado numa primeira observação. Essa área terá formato

irregular, pois dependerá da disposição dos vestígios e também não se poderá estabelecer

tamanho ou espaço prévios.

Dependerá sempre da visualização que o policial fará na área, com o objetivo de observar até

onde possam existir vestígios. Como prudência, é de bom termo proceder ao isolamento

tomando-se um pequeno espaço além do limite dos últimos vestígios, pois nesses tipos de

ocorrências poderá haver elementos técnicos a serem buscados em áreas adjacentes, os

chamados locais mediatos.

Nesses locais de morte violenta a visualização de alguns vestígios, em determinados casos, não

é tarefa fácil, dada as variedades e sutilezas desses elementos presentes numa cena de crime.

Nas situações em que haja vítima no local, a única providência é quanto à verificação se

realmente a vítima está morta. A partir dessa constatação, não se deve tocar mais no cadáver,

evitando-se uma prática muito comum de mexer na vítima e em seus pertences para estabelecer

a sua identificação.

b.1.2) Local de acidente de tráfego

O isolamento e a preservação dos locais de acidente de tráfego também sofrem com as

deficiências verificadas no tópico anterior. Também esse tipo de ocorrência deve merecer todo

o cuidado e atenção para tão importante requisito ao bom exame pericial.

Para esses tipos de locais já há uma dificuldade natural no que diz respeito ao fluxo do sistema

de trânsito, onde vários riscos são verificados no dia-a-dia, chegando a situações em que os

locais são desfeitos por estarem prejudicando o fluxo do tráfego ou estarem oferecendo risco

de ocorrência de outros acidentes. Para tais situações existe a Lei 5.970/73 que autoriza

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desfazer o local.

"Art. 1º - Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro

tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local. a

imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele

envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego”.

Parágrafo único – “Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial lavrará

boletim da ocorrência, nele consignando o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas

as demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade".

Esse dispositivo tem prejudicado sobremaneira os exames periciais em locais de acidente de

tráfego, uma vez que a exceção virou regra, onde inúmeras situações que não justificariam tal

medida acabam tendo os locais desfeitos pelas Polícias Militares e, principalmente, pelas

Polícias Rodoviárias.

À vista disso (supomos) e desobedecendo as determinações contidas no Código de Processo

Penal, o Executivo Federal atribuiu à Polícia Rodoviária Federal a tarefa de realizar "perícias"

nos acidentes de tráfego ocorridos nas rodovias federais. Nesse sentido editou o Decreto n°

1.655, de 03/10/95, inserindo no artigo 1°, o inciso V – “realizar perícias, levantamentos de

locais, boletins de ocorrências, investigações, testes de dosagem alcoólica e outros

procedimentos estabelecidos em leis e regulamentos, imprescindíveis à elucidação dos

acidentes de trânsito”, numa clara afronta ao CPP, que determina expressamente que todas as

perícias criminais sejam realizadas por peritos oficiais, abrindo somente a exceção ao perito

"ad hoc" com formação universitária quando não houver perito oficial.

Voltando a questão do correto procedimento para isolar e preservar os vestígios de um local de

acidente de tráfego, chamamos a atenção para o fato de que o acidente começa a deixar

vestígios - na maioria dos casos - a partir da reação do condutor diante de um obstáculo

qualquer. A partir daquele ponto na pista até o repouso final dos veículos, tudo deve ser

devidamente preservado para o competente exame pericial.

b.I.3) Locais de crimes contra o patrimônio

Esses tipos de ocorrências são tão diversificados que fica difícil estabelecermos um parâmetro

básico para o isolamento e preservação de local. Por essa razão, vamos nos ater aqueles mais

conhecidos e de maior incidência, qual seja, veículos, furtos com arrombamento e roubos.

Os veículos objeto de exames periciais, quando forem produtos de furto ou roubo, devem ser

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devidamente preservados em todo o seu estado como foi encontrado, evitando-se ao máximo

interferir nos vestígios que possam ter em sua estrutura.

Há uma tendência (ou vício) natural dos próprios policiais em abrir o veículo ou entrar em seu

interior, procedimento errado se considerarmos que, fatalmente, com esse tipo de ação estarão

sendo produzidos outros vestígios que, no caso, serão ilusórios e nada terão a ver com os

originalmente produzidos pelo delinqüente.

Nesse contexto dos vestígios que possam existir em um veículo produto de furto ou roubo, um

dos que mais está sujeito a ser destruído são os fragmentos de impressão digital. Também

outros vestígios que poderão estar no interior do veículo, correm esse risco de serem alterados

ou perdidos totalmente pela falta de cuidado com a preservação dos vestígios. No caso de

veículos, em sendo possível, o ideal é que a equipe de perícia faça os exames no local onde

fora encontrado, deixando-se quaisquer outros procedimentos para depois da perícia, tais como

a sua remoção ou chamar o proprietário para buscar o veículo.

Na prática esses procedimentos são difíceis de serem implementados em razão da falta de

estrutura adequada da perícia em atender prontamente a todas as perícias requisitadas, o que

leva a polícia a providenciar o guinchamento do veículo até o pátio da delegacia ou até o

Instituto de Criminalística a fim de ser periciado. É neste manuseio do veículo que os policiais

envolvidos na operação devem ter muita cautela e consciência da importância em terem o

máximo de cuidado para preservar os vestígios naquele veículo.

Os locais de roubos (assaltos) trazem, normalmente, muita dificuldade para a perícia, tendo em

vista a exigüidade de vestígios. Os mais encontrados, quando se trata de roubos em ambientes

fechados, são os objetos e móveis em completo desalinho, causado pela movimentação de

procura de coisas a serem roubadas.

Nesses casos, toda essa disposição dos objetos em desalinho deve ser mantida para que os

peritos possam fazer os exames de toda a situação deixada pelos assaltantes. Os vestígios de

fragmentos de impressão digital são também muito prováveis de serem encontrados,

necessitando de rigorosa preservação. Portanto, caberá aos policiais orientarem os moradores

para que não toquem em nada do que fora manuseado pelos delinqüentes.

Nos furtos com arrombamento nós temos a maior incidência dentro dessa classificação de

crimes contra o patrimônio. São os chamados locais de arrombamento, que ocorrem nas

residências ou prédios públicos e comerciais, um dos que mais ocorrem no cotidiano da

sociedade.

Nesses locais os policiais deverão orientar as vítimas a não tocarem em nada, a fim de evitar a

adulteração ou destruição dos vestígios. Preferencialmente, seria conveniente que as pessoas

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(vítimas) de uma residência furtada sequer entrassem no recinto até que os peritos tenham

realizado a respectiva perícia.

b.2) Procedimentos policiais

Quanto ocorre um delito fatalmente chegará ao conhecimento da polícia, tanto a militar quanto

a civil. Normalmente numa seqüência rotineira, quem primeiro é chamada a atender locais de

crime é a Polícia Militar, tendo em vista o próprio telefone 190 que é muito conhecido.

Porém, isso não é regra sempre, pois qualquer policial que for comunicado de um possível fato

delituoso deverá de imediato tomar as providências para averiguar a ocorrência.

b.2.1) Responsabilidade do primeiro policial

Quando o primeiro policial chega num local de infração penal, ele terá que observar uma rotina

de procedimentos, a fim de não prejudicar as investigações futuras.

Num local onde existam vítimas no local, a primeira preocupação do policial deverá ser em

providenciar o respectivo socorro, a fim de encaminhar para o hospital de atendimento de

emergência. Tomadas as providências de socorro, o policial deve isolar o local e garantir a sua

preservação, não permitindo nenhum acesso ao interior daquela área. Deve ainda, sempre que

possível, rememorar a sua movimentação na área do delito, a fim de informar aos peritos

quando do exame pericial, no sentido de colaborar com eles para que não percam tempo

analisando possíveis vestígios (ilusórios) deixados pelo policial e que nada terá a ver com os

vestígios do crime, mas que demandará tempo de análise por parte dos peritos até chegarem a

essa conclusão.

Porém, para adentrar no local onde está a vítima deve fazê-lo mediante deslocamento em linha

reta. Chegando junto à vítima, fará as verificações para constatar o óbito. Caso esteja viva,

deverá providenciar o socorro o mais urgente possível, deixando de se preocupar - nesta fase -

com possíveis preservações dos vestígios, pois o mais importante é aquela vida que deve ser

salva. No entanto, constatado que a vítima está morta, deve então se preocupar exclusivamente

com a preservação dos vestígios.

Neste caso, não deverá movimentar o cadáver e nem tocá-lo por qualquer motivo, pois, a partir

daquele momento, somente os peritos é que devem trabalhar naquele local, até a sua liberação

à autoridade policial. Assim, deve voltar de maneira mais lenta pelo mesmo trajeto feito

quando da entrada e, ao mesmo tempo, observar o seu percurso para verificar o acréscimo ou

adulteração de qualquer vestígio que ele tenha produzido naquela sua movimentação. Guardará

essas informações para repassar aos peritos quando chegarem ao local.

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Atingindo a área externa da cena do crime, observará visualmente todo o espaço que possa ter

algum vestígio e providenciara o isolamento de toda a área, utilizando fitas amarelas, cordas ou

quaisquer instrumentos que possam propiciar a delimitação da área, no sentido de demarcar os

limites de acesso de quaisquer outras pessoas, inclusive os próprios policiais. Este policial será

o responsável por qualquer irregularidade que venha a ocorrer nesse espaço de tempo, até a

chegada da autoridade policial ou seu representante.

Se esse policial tiver que sair do local por motivos quaisquer, deve passar para a autoridade

policial as informações relativas ao seu deslocamento no interior da cena do crime, a fim de

que esta repasse aos peritos.

b.2.2) Responsabilidade da autoridade policial

Conforme determina o artigo 6° do Código de Processo Penal, cabe à autoridade policial a

obrigatoriedade de dirigir-se, logo que tomar conhecimento, imediatamente para o local do

crime, a fim de tomar várias providências, dentre as quais a de isolar e preservar os vestígios

produzidos naquele evento. No entanto, é importante analisarmos essa obrigatoriedade à luz da

nossa realidade brasileira, onde não há efetivo suficiente em nenhum segmento policial para

atender toda a demanda.

Assim, em muitos casos a autoridade policial não poderá se deslocar até a área onde ocorreu o

delito, porém, nessas situações, deve tomar providências e determinar que um agente seu

compareça e realize aquelas tarefas em seu nome. Portanto, o fato de – mesmo

justificadamente - não puder comparecer ao local do crime, não o exime da responsabilidade

legal.

Nesse sentido o artigo 169 quando fala em "... a autoridade providenciará...", deixa-nos esse

entendimento de que é possível atender o disposto no inciso I do artigo 6° se mandar o seu

agente até o local do crime. Evidentemente que essa é uma interpretação bastante limitada e só

se justificaria em situações que a autoridade policial, comprovadamente, esteja envolvida em

outras atribuições naquele período.

Na realidade, o delegado de polícia tem dupla responsabilidade na questão da preservação e

isolamento de locais de crime, senão vejamos.

A ele é cobrada a obrigatoriedade de comparecer ao local da infração penal e providenciar o

respectivo isolamento e preservação dos vestígios ali produzidos. Esta, podemos dizer, é a

responsabilidade que está diretamente prevista no Código de Processo Penal.

Porém, a partir dessa obrigação decorre uma outra, qual seja, a de que é ele o responsável por

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todo esse processo operacional. E, em sendo, deverá ter o controle dos fatos ocorridos antes da

sua (ou de seu agente) chegada ao local do crime.

Como já vimos, a partir da ocorrência de um delito qualquer, temos alguns interferentes que

devem ser considerados. Em primeiro lugar, em quase todas as situações de crimes em local

público ou de fácil acesso, devemos saber que pessoas - por mera curiosidade - estarão se

aproximando do local e, por conseqüência, alterando os vestígios deixados pelos atores da cena

do crime. Este é um dos interferentes mais difíceis de administrar, haja vista que eles chegam

primeiro que a polícia e não existe nenhum conhecimento ou tradição cultural de se

preocuparem com esse tipo de coisa. São movidos pela curiosidade e, para satisfazê-la acabam

prejudicando o trabalho da polícia e da perícia.

Um outro interferente são os próprios policiais em geral, que chegam antes da autoridade

policial ao local do crime e que - como dissemos - não possuem conhecimentos técnicos

necessários para executarem com regularidade essa atribuição. Acabam também cometendo

erros de procedimento, contribuindo também para alterar vestígios do local de crime. É comum

observarmos nos locais onde tenham vários policiais presentes, as suas despreocupações com

esse atributo, ao ficarem transitando inadvertidamente por toda a área.

Então, mesmo com esses interferentes, caberá ao delegado de polícia averiguar possíveis

responsabilidades por qualquer procedimento inadequado, ocorrido antes da sua chegada ao

local do crime.

Uma outra responsabilidade afeta à autoridade policial, que de certa forma estaria contida nas

normas gerais de isolamento e preservação do local, é o que determina o inciso 11 do citado

artigo 6° “apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos

criminais”, no sentido de coibir uma prática corrente nos locais de crime, onde delegados e

demais policiais acabam recolhendo objetos deixados pelos atores do crime e que deveriam ser

antes periciados no exato local onde foram deixados.

Tudo que for produzido por vítima(s) e agressor(es) numa cena de crime é de suma

importância para o conjunto dos exames periciais, pois sabemos que o resultado de uma perícia

se dará pela análise de todos os elementos encontrados no local do crime. Se qualquer coisa for

retirada antes do perito examinar, certamente perderemos informações importantes para o

conjunto das investigações, tanto pericial quanto policial.

b.3) A imprensa no local do crime

A presença dos profissionais de imprensa nos locais de crime traz alguns problemas, mas

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também determinados benefícios do ponto de vista da investigação pericial.

Os problemas que ocorrem tem - em regra - as mesmas razões já discutidas quanto ao

desconhecimento da importância da preservação do local de crime. Se a maioria dos policiais

desconhece as corretas técnicas de isolamento e preservação, é compreensível que jornalistas

também a desconheçam.

Isso pode até ser verificado quando ocorre um problema dessa natureza e os peritos, ao

chamarem a atenção para tal fato, aproveitarem para esclarecer ao jornalista sobre as técnicas

de isolamento e preservação e sua conseqüente importância no contexto da investigação

pericial.

A presença da imprensa no local de crime não é só problema, existem algumas situações em

que esses profissionais colaboram em muito com a perícia e com a polícia.

Nesse trabalho de parceria com a imprensa e considerando muitas situações de precariedade

das condições de trabalho da perícia, são inúmeros exemplos em que os profissionais da

imprensa colaboram com os peritos na iluminação de locais durante a noite, operam fotografias

ou emprestam filmes, fornecem cópia de imagens filmadas, etc.

Finalmente, porém não menos importante, é preciso que peritos, delegados de polícia, demais

policiais e promotores de justiça quando no local do crime, aproveitem essas oportunidades de

contato com os órgãos de imprensa - tanto no local do crime, como em outras situações - para

esclarecerem a eles o quanto é necessário a correta preservação de um local de crime,

solicitando-lhes que divulguem em seus veículos de comunicação para que a população em

geral passe a também respeitar e preservar esses locais.

b.4) Responsabilidade dos peritos

Também aos peritos foi determinada mais uma responsabilidade a partir da vigência da Lei

8862/94, qual seja, a de que eles devem registrar em seus respectivos laudos se o local estava

devidamente isolado e preservado (Parágrafo único, art. 169: "Os peritos registrarão, no

laudo, as alterações do estado das coisas... ").

Devem os peritos, portanto, se encontrarem um local não isolado ou não adequadamente

preservado, fazer o registro desse fato no seu laudo pericial. Esse registro deve ter a conotação

exclusivamente técnica, pois é assim que determina o sentido da Lei.

A responsabilidade do perito vai muito mais além do mero registro no laudo sobre as condições

de isolamento e preservação. O mesmo parágrafo único, em seu final, determina que os peritos

"... e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

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Vejam que esta parte determinada aos peritos é extremamente difícil, pois eles deverão fazer as

suas análises a partir de vestígios adulterados, acrescentados ou até retirados, a fim de poderem

emitir uma opinião sobre os prejuízos causados ao contexto geral dos exames e, com isso,

cumprirem o disposto no mencionado dispositivo legal.

Apesar da Lei ser enfática e genérica, é claro que os peritos devem usar o bom senso nessas

observações que farão em seus laudos. Na prática, sabemos que muitos locais de crime ainda

que não isolados ou preservados adequadamente ou até mesmo sem ter tido as providências

policiais necessárias anteriores, em quase nada prejudicará o trabalho da perícia. Nesses casos

em que não houve prejuízo para o exame pericial, entendemos que não há necessidade de fazer

o registro determinado no parágrafo único do artigo 169, pois se tomaria inócuo.

LOCAL DE CRIME

Antes de se compreender perfeitamente bem a obrigação que se tem de proteger e conservar as

provas deve-se saber o que é um local de crime, conhecer sua extensão e entender a

necessidade de proteger todo esse local, porque ele é o mais frutífero manancial de

informações, e, na maioria dos casos, todo êxito emana de sua apreciação inteligente, da qual

se obteria as oportunas conclusões.

Se uma investigação termina em fracasso, a causa é comumente um inadequado exame de

local.

Local de Crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que assuma a configuração de delito e

que, portanto, exija as providências da Polícia.

Neste conceito estão compreendidos os crimes de quaisquer espécies, bem como, todo o fato

que chegue conhecimento da polícia, para ser convenientemente esclarecido. Assim, num local

onde teria ocorrido um delito, recebe a designação genérica de Local de Crime ou Local de

Fato, por que se toma necessário elucidar as circunstâncias em que o mesmo se passou.

O local deve ser considerado como elemento precioso, pois objetiva o seu estudo, fornecer ,a

Polícia subsídios de grande valor, devendo pois, ser trabalhado por mãos hábeis e

experimentadas.

A primeira obrigação é delimitar o local de crime, isolando-o e procedendo de maneira que

nenhum vestígio se perca pela má demarcação.

E impossível que um criminoso, por maiores precauções que tenha tornado, pratique uma ação

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delituosa, sem deixar no local do fato, vestígios comprometedores. Cabe aos técnicos encontrar

esses vestígios, avaliá-los e identificá-los através de exames.

Qualquer vestígio, por menor e mais insignificante que pareça que pareça, deve ser levado em

consideração, como uma possível prova material, no caso de ser encontrado em condições

suspeitas, em um local de crime.

A preservação não se limita aos aspectos atribuídos à conservação do estado das coisas, para os

exames dos vestígios, mas se amplia a sua finalidade, no oferecimento à autoridade de um

retrato fiel do local do crime, de modo que se permita a ela, segurança na realização de exames

posteriores, que elucidarão a prática de ação criminosa.

Os vestígios não são normalmente difíceis de serem interpretados, mas na maioria das vezes

são mais difíceis de serem colhidos, em razão da extrema facilidade com que se perdem para

sempre, quando não forem tomadas as precauções adequadas para protegê-los em sua

integridade pelo pessoal especializado.

A arte de colher vestígios constitui o que se denomina "Levantamento do local", cuja

eficiência e valor prático dependem de que seja realizado conforme os ditames da boa técnica,

daí a necessidade de se conservar o local para exames, isto tanto quanto seja possível, nas

condições exatas em que foi encontrado pelos primeiros policiais que ali chegaram, devendo se

evitar a presença de pessoas estranhas à investigação.

Outro cuidado a ser tomado é contra os chamados elementos naturais: sol, chuva, poeira, etc.

Esta proteção envolve toda uma técnica.

O levantamento do local do crime é feito para que de acordo com os elementos materiais

encontrados e colhidos, possa a polícia descobrir o autor de um delito que; talvez nunca fosse

punido se essa precaução não fosse tomada.

O local de crime é de grande interesse, porque oferece os primeiros elementos a polícia, isto é,

os elementos essenciais para a autoridade poder orientar, de modo correto, as investigações.

Esses primeiros elementos são, em suma, as Provas.

Em geral, os vestígios materiais recolhidos nos locais de infração penal, ou provenientes do

exame das pessoas envolvidas num caso criminal tem que ser examinados em laboratórios

especializados.

CLASSIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE CRIME

1) Quanto à natureza do fato: Locais de homicídio, de acidente, de suicídio, de incêndio,

desabamento, arrombamento, etc.

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2) Quanto ao local em si:

Interno -

é o local intra-muro. Ex.: interior de uma casa.

Externo

- é o local extra-muro. Ex.: Campo de futebol de rua.

3) Quanto ao exame:

Preservados, idôneos ou não violados

originalidade com que foram deixados pelo agente, após a prática da infração penal.

Não preservados, inidôneos ou violados

Devemos considerar ainda, os locais em seu ambiente imediato, isto é, a área onde se deu o

fato e seu aspecto mediato que é a área que tem relação com o local imediato.

LEVANTAMENTOS DO LOCAL DE CRIME

Para o Prof. Eraldo Rabelo, levantamento de local de crime “é o conjunto dos exames que se

realizam diretamente no local da constatação do fato, visando à caracterização deste e à

verificação, à interpretação, à perpetuação e à legalização, bem como à coleta, no mesmo, dos

vestígios existentes da ocorrência, no que tiverem de útil para a elucidação e a prova dela e

de sua autoria material”.

Em síntese o levantamento do local de crime é a arte de sé obter vestígios, cuja

eficiência e valor prático dependem de que seja realizado conforme os ditames da boa

técnica.

LEVANTAMENTO DO LOCAL DE CRIME (observações)

Todo objeto tocado ou movido nunca volta a ser colocado em sua posição original.

Outro cuidado a ser tomado é referente aos elementos naturais: sol, chuva, poeira, etc.

O local deve ser atentamente examinado e o ambiente descrito com o máximo de detalhes.

Devem os peritos observar o aspecto de DESORDEM, a situação dos móveis e· utensílios,

fendas e massas em paredes, assoalhos e teto.

Pegadas e impressões digitais devem ser colhidas, descritas e fotografadas.

Manchas, tintados e incrustações devem ser raspadas e enviadas a laboratórios.

Quanto ao cadáver, leva-se em conta, a posição do corpo, estado das vestes, presença de

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armas, manchas de sangue, ferimentos do corpo e a evolução dos fenômenos cadavéricos.

FINALIDADES DO LEVANTAMENTO DO LOCAL DE CRIME

Primeira - Constatar se, efetivamente, houve, ou não, uma infração penal.

Segunda - Qualificação da infração penal.

Terceira - Coleta dos elementos porventura presentes que levem à identificação do(s)

criminoso(s) e à prova insofismável de sua(s) culpabilidade(s).

Quarta - Perpetuação dos indícios materiais suscetíveis de serem utilizados como prova. São

assim caracterizados:

Levantamento descritivo.

Levantamento fotográfico.

Levantamento topográfico: croquis, desenho final, plantas, rebatimentos, esquemas, etc.

Levantamento papiloscópico.

Revelações. Exemplos: impressões digitais, resíduos de tatuagem e exame de documentos.

Decalques. Exemplos: impressões papilares, vestígios de pólvora, etc.

Moldagens.

Quinta - Legalização do indício.

VESTÍGIOS

São todas as marcas, manchas, impressões, pertences, pêlo, etc., encontrados num local de

crime, que se tornarão provas objetivas para elucidação de um fato criminoso, podendo ser

obtido de forma descritiva, gráfica ou fotográfica.

É todo aquele material, suspeito ou não, encontrado no local e que deve ser recolhido e

resguardado para exames posteriores.

Os vestígios quanto à apresentação podem ser:

Propriamente dito: Não necessitam de suporte para existirem.

Ex.: ponta de cigarro, canetas, etc.

Marcas, Manchas e Impressões: Necessitam de suporte.

Ex.: Parede com mancha de de sangue.

Vestígio Falso: é involuntário, ocorre sem que o causador tenha a intenção de provocá-lo

Vestígio Falsificado: é voluntário. Visa desviar a atenção, é feito para iludir a investigação

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propositadamente.

Mascaramento de Vestígio: é quando se altera um vestígio com marcas superpostas.

CORPO DE DELITO

Ê o conjunto dos elementos materiais de uma infração, ou seja, é o conjunto de provas

materiais ou vestígios da existência de fato criminoso.

Ex.: uma arma, um bastão: qualquer material encontrado no local do crime é um corpo de

delito.

SUPORTE

Ê tudo aquilo que recebe um vestígio. Ex.: parede, barro, vidro, areia, etc.

MARCAS E IMPRESSÕES

São vestígios produzidos por contato direto de seres humanos instrumentos e ferramentas, em

pisos, paredes, objetos, pessoas, etc.

Vestígios deixados por Seres Humanos:

IMPRESSÕES:

MARCAS:

Vestígios deixados por Animais:

• MARCAS: dentais, ungueais e pegadas.

INDÍCIOS

É todo vestígio cuja relação com a vítima, o suspeito, as testemunhas, o com o fato, foi

estabelecido.

Art. 239 do CPP - Define indício como a circunstância conhecida e provada tendo relação

com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outras circunstâncias.

A COLETA. ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO DOS VESTÍGIOS

Impressões papilares - manusear o objeto por suas b6rdas; evitar choques e contatos do

objeto com o invólucro; papéis manuseiam-se com pinças.

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Armas de fogo - não introduzir no interior do cano objetos sólidos,tipo arames, pregos, etc.

Cabelos, fibras e pêlos - utilizar pinças e envelopes individuais

Terras e outras sujidades - utilizar pinças esterilizadas, espátulas e envelopes individuais.

Projéteis e estojos - evitar atritos com objetos metálicos; se o projétil se encontrar

incrustado em paredes, móveis e etc. coletar todo o fragmento, onde se encontram alojados.

Peças de roupa - recolher individualmente, evitando-se o excesso de dobras.

Fragmentos de pintura de veículos: acondicionar individualmente em ou plásticos.

Sangue:

Se líquido - colocar em recipiente, junto com anti-coagulante, ou soro

fisiológico.

Em Crostas - recolhidas do suporte, raspada ou dissolvida com soro fisiológico

e, após, colocadas em interior de frascos.

A EVIDÊNCIA MATERIAL

Quando o Perito Criminal é requisitado a levantar um local de crime, uma das tarefas que o

mesmo irá desempenhar, além do levantamento descritivo, fotográfico e topográfico e, via de

regra, após estes, é o reconhecimento, coleta, preservação, análise e interpretação das

evidências materiais ali presentes, produzidas em decorrência da ação criminosa.

Em um local de crime, portanto, evidência material será o cadáver, a porta arrombada, a

impressão digital, a mancha de sangue, a marca de frenagem, ou seja, tudo que guardar relação,

direta ou indireta, com o fato delituoso e que tenha uma existência, ou seja, tamanho, forma e

dimensão.

Identificação e individualização

Dentre todos os tipos possíveis de evidência material encontrados em um local de crime ou

analisados no laboratório, a maioria pode ser somente identificada, isto é, pode-se somente

afirmar que a evidência pertence a uma determinada classe ou grupo, como por exemplo, no

caso de uma marca de pneu, uma fibra de tecido, etc.

Somente poucos tipos de evidência material podem ser individualizados. Individualização,

neste caso, significa que o item de evidência pode ser associado a uma e somente uma fonte de

produção. Nesta categoria podemos incluir as impressões digitais, as marcas de raiamento

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produzidas pelas armas de fogo, o exame de DNA feito em fluidos corporais, o exame físico

feito em marcas de ferramenta, etc.

No entanto, o fato de uma evidência material não ligar um suspeito definitivamente a um local

de crime, assim como a impressão digital ou o exame de DNA, não diminui o valor probatório

desta evidência. A evidência física que é identificada pode auxiliar na investigação criminal de

diversas formas, como por exemplo, corroborando ou desmentindo as informações de uma

testemunha e também auxiliando a autoridade policial como instrumento de interrogatório.

O que a evidência material pode determinar:

Corpo de delito – A evidência material presente em um local de crime é o próprio corpo

de delito deste crime, ou seja, é a prova de que o crime realmente aconteceu. Uma fechadura

danificada é sinal de que houve um arrombamento, etc.

Modus operandi – É a “assinatura” que alguns criminosos deixam no local, quando, ao

cometerem sucessivos crimes, adotam um padrão característico de ação. Este “padrão” pode

ser evidenciado quando a entrada é feita por um local específico, como por exemplo, pelo teto;

quando, mesmo havendo tipos diferentes de valores, o criminoso só “trabalha” com um tipo

específico, como jóias, etc.

Fazer a ligação entre pessoas e entre pessoas e locais – O autor de um crime muitas

vezes deixa no corpo da vítima evidências materiais de seu próprio corpo, como também leva

em seu corpo ou em suas roupas evidências materiais do corpo da vítima. Da mesma forma, o

criminoso deixa evidências materiais também no local do crime, e leva consigo vestígios do

local.

Corroborar ou desmentir o depoimento de um suspeito ou de uma testemunha – A

análise e interpretação de uma evidência material encontrada em um local de crime pode

indicar se os testemunhos são verdadeiros ou não. A título de exemplo, o fato de se encontrar

fragmentos de tinta azul em um local de atropelamento e fuga pode confirmar a informação de

uma testemunha que viu um veículo de cor azul fugindo do local.

Individualizar um suspeito como sendo o autor do crime - Impressões digitais

encontradas em uma arma de fogo, exame de DNA feito em uma amostra de sêmen, são

evidências materiais que permitem à autoridade policial indiciar, com alto grau de segurança,

um suspeito como sendo autor de um determinado crime.

Direcionar o trabalho de investigação – O resultado de um exame feito em uma

evidência material muitas vezes dá à investigação uma nova direção, diferente daquela

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inicialmente adotada. Um estudo sobre os resíduos da combustão da pólvora no orifício de

entrada de projétil feito pela Balística pode determinar uma distância de tiro diferente daquela

inicialmente considerada.

Classificação das evidências materiais

Quanto ao tipo de crime – Nesta categoria podemos classificar as evidências materiais em

evidências próprias de homicídio, arrombamento, de estupro, de acidente de tráfego, etc. Esta

classificação, porém, não é estanque, pois, muitas vezes, encontramos, em um local de

arrombamento, sangue, que é uma evidência comumente encontrada em locais de morte

violenta, etc.

Quanto ao tipo de material – Nos locais de crime vamos encontrar evidências materiais

de vidro (fragmentos, garrafas, etc.), de papel (bilhete, embalagens, etc.), de plástico

(embalagens, vasilhas, etc.), de madeira (lascas, serragem, móveis, etc.), de metal (armas,

ferramentas, etc.).

Quanto à natureza – Pode-se encontrar evidências materiais na forma física, como armas

de fogo, projéteis, marcas de ferramentas, etc.; na forma química, como drogas, e venenos; e na

forma biológica, como manchas de sangue, fios de cabelo e também as impressões digitais

latentes, que são produzidas pelas secreções da pele.

Quanto ao estado físico – Vamos encontrar evidências materiais em estado sólido (armas

de fogo, projéteis, etc.); líquido (sangue, substâncias acelerantes, etc.); gases (produzidos por

reações químicas, como monóxido de carbono, etc).

Quanto ao tipo de dúvida a ser esclarecida – Comumente o esclarecimento de dúvidas

específicas é feito através de quesitos, como no caso de se querer saber se uma impressão

digital é de uma determinada pessoa, se um projétil foi expelido por uma determinada arma de

fogo, etc.

Quanto à forma como a evidência é produzida:

Movimento – no caso de evidência material produzida por luta corporal, em que os

móveis são movimentados de suas posições originais.

Impressão ou endentação – evidências produzidas por

processo estático na forma de impressões digitais, impressões de

calçados e pneus, impressões de ferramentas, etc.

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Rasgos, quebraduras e cortes – evidências na forma de pedaços ou fragmentos

separados de uma peça principal, que podem ser juntados ao original pelo processo de

comparação física.

Estriamento – evidências na forma de marcas de raiamento nos

projéteis, marcas feitas por certas ferramentas cortantes, etc. Estas

evidências são produzidas por processo dinâmico, quando a

superfície de um objeto marca outro objeto, sendo que um deles

estava em movimento em relação ao outro.

Transferência mútua de substância – evidências produzidas quando há contato

entre duas superfícies e, em razão deste contato, ocorre a transferência mútua de

substância, como no caso de estupro, em que há transferência de pêlos pubianos da

vítima para o agressor e vice-versa.

Transferência unilateral de substância – evidências produzidas quando uma

substância é transferida a uma superfície sem haver contato entre elas, como no caso de

resíduo da combustão da pólvora que impregna as mãos do atirador.

Quanto à abordagem laboratorial apropriada:

Identificação – de drogas, de manchas de esperma, etc.

Individualização – confronto de impressões digitais, exames de DNA, etc.

Interpretação/reconstituição – resíduos de combustão de pólvora no orifício de

entrada de projétil, tipos de manchas de sangue, etc.

O Princípio da troca de evidências materiais

Dissemos anteriormente que a evidência material pode fazer ligação entre pessoas e também

entre pessoas e locais de crime.

Este princípio que trata da troca mútua de evidências materiais foi desenvolvido em 1892, em

Lyon – França, pelo cientista forense francês Edmond Locard, e é chamado de “Princípio da

Troca de Locard”.

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Locard dizia que é impossível não haver uma troca mútua de substâncias, no caso evidências

materiais, quando há contato entre duas superfícies, o que exemplifica um dos princípios gerais

da Criminalística, que é o Princípio da Intercomunicabilidade.

Assim, quando o corpo do criminoso entra

em contato com o corpo da vítima, ambos

deixam e levam vestígios um do outro.

Da mesma forma, quando alguém vai a um

local ele sempre deixa neste local

vestígios de sua passagem, como

impressões digitais, marcas de

calçados, etc. e ele sempre leva

consigo, ao deixar o local, vestígios

oriundos deste último, como poeira,

fragmentos vítreos em suas roupas, etc.

LOCAIS DE CRIMES CONTRA A PESSOA

A morte é um processo de desequilíbrio biológico e físico-químico, culminando com o

desaparecimento total e definitivo da atividade do organismo.

Em criminalística, devemos distinguir, fundamentalmente, dois tipos de morte: a natural e a

violenta.

A morte natural é aquela atribuída à velhice ou à decorrência de doenças.

A morte violenta é a produzida por acidente, homicídio ou suicídio.

Ao perito cabe analisar a provável origem da morte, através do exame perinecroscópico do

cadáver.

No entanto, a ausência de vestígios externos no corpo da vítima, representados por ferimentos,

não exclui a possibilidade de morte violenta, o que somente poderá ser comprovada após a

necropsia.

Sempre que houver necessidade, o perito deverá solicitar a presença do legista ao local da

morte, a fim de dirimir dúvida que porventura possa alterar a conclusão do trabalho pericial e

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que, não solucionadas na ocasião do levantamento, sejam difíceis ou até impossíveis de serem

reveladas a posteriori durante a necropsia.

Morte Violenta (Homicídio, Suicídio, Acidente)

A diagnose diferencial entre homicídio, suicídio e acidente, em local de morte, poderá, em

determinados casos, ser estabelecida através do exame pericial do local, da vítima e,

posteriormente, comprovada, ou não, pela necropsia.

Para uma melhor compreensão, dividiremos a matéria de acordo com as peculiaridades de cada

tipo de morte.

EXAME DO LOCAL

O local de morte deve ser examinado, vasculhado em toda sua amplitude, colhendo-se o maior

número possível de elementos que possam vir a colaborar para o esclarecimento do fato. O

perito deverá ser cuidadoso em observar, anotar e, se possível, fotografar os vestígios

existentes no local.

Quando a morte ocorre em local fechado, este deverá ser todo examinado, inclusive

dependências contíguas, dentro do mesmo móvel. Se o local for aberto, a amplitude da

pesquisa será determinada pelos vestígios materiais relacionados com o fato. É recomendável

fazer um esquema do local e/ou fotografá-lo, procurando mostrar a localização da vítima e de

todos os vestígios materiais.

A existência de pontos de impacto de projétil (is) deve ser sempre pesquisada e, quando

possível, procurar estabelecer a distância e a direção do tiro, em relação ao ponto de impacto

do projétil, reconstituindo a trajetória provável. Determinando-se a trajetória e a direção do tiro

é possível, em muitos casos, localizar o ponto ou região de origem do tiro.

EXAME DO CADÁVER

Em um local de morte violenta, o exame do cadáver é de fundamental importância para

interligar os vestígios do ambiente com os do próprio cadáver. Nesse sentido, os peritos

criminais - ainda no local - devem fazer um primeiro exame e, depois, juntamente com os

médicos legistas, complementam o seu trabalho no Departamento Médico Legal (DML).

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a) Exame do cadáver no local (perinecroscópico):

O exame do cadáver no local onde foi encontrado é rotineiro em nossas perícias, a fim de

podermos interligá-lo ou não com os demais vestígios encontrados naquele ambiente.

É importante este exame para, numa primeira análise, sabermos se aquele local foi onde de fato

- a vítima foi agredi da. Somente por intermédio dos vestígios encontrados no cadáver e na área

próxima é que teremos condições de dizer se a vítima foi morta naquele local ou se somente

fora ali depositada (desova).

Inúmeros vestígios no cadáver podem ser registrados, o que leva a um trabalho meticuloso e

sistêmico, na busca da maior quantidade possível de informações que possamos extrair na

vítima. Portanto, assim como no local, devemos observar no cadáver alguns tópicos que

desenvolveremos a seguir:

Os ferimentos são os primeiros vestígios que procuramos na vítima, pois por intermédio

deles é possível interagir e complementar com outras buscas. Em determinadas situações, é

possível constatar-se o tipo de ferimento existente já naquela entrada inicial do local até o

cadáver de que falamos anteriormente;

Sinais de violência são informações primárias que se deve checar quanto a sua existência

ou não no cadáver, pois essas possíveis constatações poderão auxiliar em muito na dinâmica do

local. Entende-se como sendo sinal de violência, a ação sofrida pela vítima em conseqüência

da intensidade dos ferimentos desferidos pelo agressor;

Sinais de luta também se revestem de fundamental importância para auxiliar na montagem

da dinâmica do local. O sinal de luta se caracteriza por vestígios que possam identificar o

envolvimento entre vítima e agressor;

Reação de defesa caracteriza-se pela presença de vestígios, produzidos pela ação da

vítima, na tentativa de evitar os ferimentos desferidos pelo agressor;

Vestígios intrínsecos, tais como sêmen, vísceras, vômitos, salivas, fezes fazem parte da

rotina de busca que os peritos devem empreender durante a perícia no cadáver;

O sangue, um dos principais vestígios intrínsecos, normalmente nos traduz inúmeras

informações importantes quanto ao movimento da vítima na cena do crime, contribuindo

sobremaneira para a determinação da reconstituição da dinâmica. Portanto, recomendamos

especial atenção às manchas de sangue na vítima, observando as suas diversas formas de

produção (escorrimento, gotejamento, concentração, etc.), pois cada uma delas poderá conter

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informações individualizadoras ou, no mínimo, indicativas;

Vestígios extrínsecos, como manchas quaisquer, pêlos depositados, fibras, minerais, terra,

areia, detritos, material orgânico, é comum serem encontrados no cadáver, os quais, por sua

vez, podem nos trazer informações relevantes para a formação da conclusão pericial, ou

mesmo indicar uma possível autoria;

Material do agressor, normalmente presentes nas unhas, mãos e órgãos genitais, podem

nos oferecer pistas para a identificação do agressor;

Observar se anéis, alianças, relógios, etc. foram retirados da vítima, fato que pode ser

averiguado pela marca que esses objetos deixam no local do corpo onde eram usados;

a.1) Exame das Vestes:

Todo o exame feito no cadáver, mencionado até aqui, é acompanhado simultaneamente pelo

exame das vestes, que assumem uma importância destacada sobre vários aspectos, conforme

discutiremos a seguir.

Disposição geral das vestes, quanto a sua forma de acomodação na vítima, observando se

estão repuxadas, abertas, ou fora de alinhamento normal quanto ao seu uso correto no corpo da

pessoa.

Orifícios ou perfurações em qualquer de suas partes, verificando a sua possível

correspondência, quanto a posição, com ferimentos no corpo do cadáver, a fim de poder

caracterizar se a vítima fora ferida com as vestes em seu uso normal ou não.

Botões arrancados ou partes rasgadas são informações que podem evidenciar, por

exemplo, a ocorrência de luta entre vítima e agressor.

Manchas de sangue sob formatos variados, tais como gotejamentos, concentração,

limpadura, respingos, que podem ser comparados com o tipo de lesão sofrida pela vítima, bem

como se ela movimentou-se após ser atingida. Algumas vezes a vítima pode ainda apresentar

manchas de sangue em suas vestes, originadas a partir de ferimentos no agressor.

Buscar a presença de qualquer substância que possa estar presente nas vestes, também

são dados que podem ser esclarecedores dentro do contexto geral dos vestígios.

Examinar o interior de bolsos a fim de verificar a presença de carteira com documentos

da vítima e quaisquer outros objetos porventura existente, onde poderão ser encontrados

elementos bastante significativos para a perícia.

Adotar como rotina a orientação para que as vestes acompanhem o cadáver para o DML,

a fim de subsidiar os peritos médicos legistas em sua necrópsia.

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b) Exame do cadáver no DML:

Concluído todo o exame possível do cadáver no local em que foi encontrado, seu corpo é

liberado pelos peritos e recolhido ao DML para que os médicos legistas façam a necrópsia.

Durante a necrópsia é possível o perito criminal complementar informações de lesões externas

que não puderam ser definidas com clareza quando do exame do local, tendo em vista as

condições adversas do local. No DML, em melhores condições para examinar, pode-se

verificar todas as lesões com maior clareza.

Também as lesões internas do cadáver, especialmente profundidade de lesões pérfuroincisas e

trajetórias de projéteis de arma de fogo, servirão ao perito para complementar informações que

auxiliarão na reconstituição da dinâmica do local do crime.

Quanto às informações que os peritos passam aos legistas durante a necrópsia, temos uma

importante que é quanto as vestes da vítima, que, em muitas situações, são depositárias de

vestígios de disparo de arma de fogo que podem não estar no corpo da vítima (projéteis

secundários por exemplo).

Assim, concluída a necrópsia, tanto o perito criminal quanto o médico legista, terão todas as

informações para a elaboração de seus respectivos laudos periciais. É esta a grande importância

do trabalho conjunto, a fim de termos dois laudos coerentes entre si, contribuindo, dessa forma,

para a busca da verdade por intermédio da discussão científica entre profissionais de áreas

afins.

EXAMES DE LABORATÓRIO

Durante o exame realizado no local do crime, os peritos criminais estarão, simultaneamente,

coletando todos os vestígios que tenham relação com o delito e, nesse contexto, encontrarão

inúmeros vestígios que serão analisados nos laboratórios do Departamento de Criminalística.

a) Tipos de Exames

Assim, no local de crime poder-se-á recolher vários tipos de vestígios que necessitarão de

exames laboratoriais, para que o perito tenha o maior número de informações técnicas quando

da análise geral dos vestígios, visando a reconstituição da cena do crime.

A seguir, discriminaremos alguns tipos de vestígios que, quando recolhidas amostras, são

encaminhados ao laboratório:

sangue

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esperma

fios de cabelo

armas de fogo

projéteis de arma de fogo

tecido humano

facas, estiletes (arma branca)

produtos químicos

fragmentos de impressão digital

ferramentas

pedaços de madeira

segmentos de barras metálicas

outros vestígios

Para cada uma das amostras que forem encaminhadas ao laboratório, os peritos devem

obedecer alguns procedimentos básicos, no sentido de orientar o perito no laboratório sobre o

tipo de exame que deseja ver realizado.

b) Registro e Encaminhamento das Amostras

Esses vestígios recolhidos do local serão devidamente catalogados pelos peritos, a fim de

registrar precisamente a posição e as condições em que foram encontrados, pois todas essas

informações poderão ser importantes na análise geral dos vestígios.

Depois de todo esse cuidado inicial dos peritos no local do crime, esses vestígios (denominados

também de corpo de delito) serão encaminhados aos respectivos setores laboratoriais do

Departamento de Criminalística, a fim de que outros peritos, especialistas naquelas áreas,

façam os exames necessários.

Os peritos devem identificar com precisão cada tipo de amostra a ser encaminhado ao

laboratório, a fim de não correr o risco de misturar os vários resultados posteriormente,

levando a erros de interpretação.

Para cada amostra, os peritos devem informar o tipo de exame que necessitam, ou fazer um

pequeno histórico sobre o material encaminhado a fim de orientar o colega no laboratório.

MANCHASDE SANGUE

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Em um local de crime se deve determinar quais correspondem à vítima e, se for o

caso, quais podem ser do autor.

MORFOLOGIA DA MANCHA

Através das características morfológicas, pode o perito, em certos casos, elaborar uma

provável dinâmica do fato em todo seu desenvolvimento.

Assim temos:

MANCHAS POR PROJECÃO

E quando a projeção do sangue se verifica pela ação da gravidade, variando seu

formato de acordo coma altura da projeção elo suporte atingido

a) GOTAS:

Forma estrelada, bordas irregulares = altura de ± 40 cm.

cercada de gotas menores) = mais de 1,25 cm.

Gotículas = sangue caído de mais de 2m.

Quando as gotas de sangue, caem de + 2 m de altura, deve-se a origem da

queda, para se evitar erros de interpretação.

b) SALPICOS:

A projeção do sangue é feita sob o impulso de uma segunda força pela ação da

gravidade. Verifica-se uma forma alongada na fase final.

MANCHAS POR ESCORRIMENTO

O sangue se apresenta sob forma de poças, charco ou filetes decorrentes da grande

perda do mesmo.

MANCHAS POR CONTATO

São oriundas dos pés e mãos ensangüentados, ao contatarem com diversos tipos de

suportes, vão produzindo impressões que são úteis para análise da dinâmica do fato.

Quando o contato se der com o sangue parcialmente coagulado, poderemos ter

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impressões moldadas.

OUTROS MATERIAIS

MATERIAL FECAL

Identificada preliminarmente pelo odor e características próprias, complementando

por exames laboratoriais mais específicos, tais como: resíduos protéicos (fibras),

hidrocarbonetos (celulose, amido, etc.), lipídicos (ácidos graxos) e resíduo do trato

digestivo (parasitas, secretários).

URINA

Pode ser encontrada na forma líquida ou em mancha, com exame complementar em

laboratório. A importância maior no exame da urina diz respeito aos crimes de

violação e infanticídio, ocasiões em que a urina pode estar associada ao sêmen ou

mecônio.

PÊLOS

Nos locais de morte violenta, a pesquisa de pêlos pode determinar a identidade do

Criminoso, bem como revelar, em certos casos, a presença de luta na ocasião do

crime.

ANÁLISE GERAL DOS VESTÍGIOS

Como já vimos, os peritos que fazem o levantamento pericial no local são os responsáveis por

todo o conjunto de informações à respeito daquela perícia.

Observamos, então, que dentro desse contexto geral dos exames, eles foram subdivididos em

três fases distintas:

A primeira, e talvez a mais importante, é a do exame do próprio local, onde os peritos

examinaram o local imediato, o cadáver e o local mediato, retirando todas as informações que

julgaram necessárias.

A segunda, é a do acompanhamento da necrópsia pelos peritos que realizaram o exame de

local, onde vimos o quanto é importante a interação profissional entre os médicos legistas e os

peritos criminais, pois todos buscam um mesmo objetivo, que é o de melhor realizar a perícia

em questão.

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A terceira, é a dos diversos exames de laboratório que se fizerem necessários e que foram

realizados por outros colegas peritos, especialistas nas respectivas áreas de atuação.

De posse das informações oriundas das três fases mencionadas, os peritos criminais farão a

análise geral dos vestígios, a fim de poder formar as suas convicções técnicas dos fatos que

ocorreram naquele local de crime.

DINÂMICA, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E CONCLUSÃO

Realizados todos os exames, analisados todos os vestígios e resultados laboratoriais, os peritos

terão condições de formar a sua convicção sobre como foi que ocorreu aquele delito, ou seja,

terão informações técnicas suficientes para restabelecer a "cena do crime", o que

convencionamos chamar de dinâmica do local.

Todo o trabalho técnico-científico do perito criminal tem como principal objetivo, determinar o

diagnóstico diferencial da morte (suicídio, homicídio, acidente ou morte natural). Cabe

salientar que a causa da morte só é definida pelo médico legista. Caberá a ele, dentro de seus

conhecimentos de medicina, examinar o cadáver a fim de estabelecer que tipo de lesão

provocou a morte da vítima. Portanto, os peritos criminais são encarregados de fazer a perícia

no local do crime e outros exames complementares que se façam necessários para determinar o

diagnóstico diferencial.

Para chegar a este resultado, os peritos devem basear-se, exclusivamente, em elementos

científicos. Somente afirmar categoricamente qual o diagnóstico quando tiver elementos

(vestígios) científicos suficientes para comprová-lo. Se houver, pelo menos, duas opções

possíveis os peritos não poderão declinar por um diagnóstico.

No entanto, se os peritos tiverem vários vestígios, que por si só não sejam conclusivos, mas

apenas probabilísticos e que, considerados no seu conjunto, levem a uma única possibilidade,

aí então poderão afirmar qual o diagnóstico daquela morte.

Todavia, existem várias situações que, apesar da riqueza de vestígios, mesmo analisando-os em

seu conjunto, não é possível chegar a uma definição quanto ao diagnóstico. Nesse caso, os

peritos não poderão fazer qualquer afirmativa conclusiva quanto a ele.

Em não sendo possível defini-lo (o diagnóstico), restam duas alternativas para auxiliar no

contexto geral das investigações e, posteriormente, a Justiça:

Na primeira situação, os peritos terão condições de eliminar algumas possibilidades e, com

isso, delimitarem o trabalho dos investigadores da polícia.

Na segunda, onde os vestígios forem menos suficientes, os peritos limitar-se-ão a indicar mera

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probabilidade para um dos possíveis diagnósticos.

Como vimos até aqui, para que os peritos criminais realizem um exame satisfatório, do ponto

de vista técnico -pericial, deverão observar uma série de requisitos e procedimentos técnicos, a

fim de que possam - ao final - chegar à plenitude de um resultado possível.

TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL

TIPOS DE LESÕES E INSTRUMENTOS DE CRIMES

I - TIPOS DE LESÕES

As lesões verificadas em uma vítima de crime estão diretamente relacionadas com o tipo de

instrumento que o agressor utilizou para esse intento.

O importante é fixarmos que cada tipo de instrumento deixará características próprias, capazes,

na maioria das vezes, de identificá-lo ou, pelo menos, de chegarmos a um universo muito

menor dos prováveis instrumentos que foram empregados num determinado crime.

Os tipos mais comuns de lesões (ou ferimentos) encontrados nas vítimas seguem a

classificação abaixo:

INCISAS - são aquelas lesões provocadas na vítima de forma superficial, mediante o

emprego de instrumento cortante;

PUNCTÓRIAS - são as feridas em forma de perfurações no corpo da vítima, produzidas

por instrumento perfurante;

CONTUSAS - são as lesões sem forma pré-definida e de relativa intensidade, produzidas

por instrumento contundente;

PÉRFURO-INCISAS - são lesões com um corte na superfície estendendo-se para o

interior do corpo da vítima, produzidas por instrumento pérfuro-cortante;

PÉRFURO-CONTUSAS - são as feridas que rompem a camada inicial da pele e seguem

perfurando pelo interior do corpo até a dissipação de toda a energia mecânica do meio

empregado, as quais são produzidas por instrumentos pérfuro-contundentes;

CORTO-CONTUSAS - são aquelas feridas que além de terem um corte na superfície,

apresentam uma contusão em razão do meio empregado, as quais são produzidas por

instrumentos corto-contundente.

I I - INSTRUMENTOS UTILIZADOS

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Inúmeros são os instrumentos que podem ser utilizados na prática das ações delituosas, ficando

um pouco difícil incluir numa relação ou classificação de todos os possíveis tipos de

instrumentos que venham a ser utilizados para tal finalidade.

Pela imprevisibilidade, na maioria das vezes, desse tipo de ação, os agentes (agressores)

empregam qualquer meio disponível no momento da prática de um crime. As exceções ficam

por conta dos crimes planejados ou premeditados, onde o agressor já definiu previamente qual

o instrumento que utilizará.

Numa classificação abrangente, quanto ao tipo de instrumentos empregados na prática de

crimes, especialmente contra as pessoas, procuraremos evidenciar aquela adotada pelo

Professor Flamínio Fávero.

Tipos de instrumentos mais comuns

CORTANTES - o próprio nome está a esclarecer, são aqueles instrumentos que possuem

gumes afiados pelo menos em um dos seus lados, que provocam, portanto, uma lesão cortante.

Os tipos mais comuns de instrumentos cortantes são: bisturi, navalhas, faca de mesa,

lâminas para barbear, etc.

PÉRFURO-CORTANTES - são aqueles instrumentos que, além de provocaram uma

perfuração ou corte profundo, ainda, nesta ação, efetuam um corte regular na superfície do

tecido humano, ou seja, são instrumentos que possuem uma lâmina de tamanho médio com um

gume afiado.

Exemplos de instrumentos pérfuro-cortantes: tesoura, facas, canivetes, etc.

PERFURANTES - são aqueles de tamanho variável, cuja característica básica é o de

possuírem uma ponta afiada.

Os tipos mais conhecidos desses instrumentos perfurantes são: estiletes, garfos, punhais,

espetos, alfinetes, furadores de papel, saca-rolhas, estoques, floretes, etc.

CORTO-CONTUNDENTES fazem parte de uma classificação de instrumentos de

tamanho considerável e com um gume afiado.

Exemplos de instrumentos corto-contundentes: machados, enxadas, pás, machadinhas,

foices, etc.

PÉRFURO-CONTUNDENTES - são os instrumentos que possuem uma ponta

contundente, capazes de provocar perfurações em função do seu tamanho e massa ou pela

energia nele aplicada.

Dois exemplos apenas para elucidar os extremos desse tipo de instrumento: picaretas ou

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projétil de arma de fogo.

CONTUNDENTES - são instrumentos variados capazes de provocarem contusões nas

pessoas, em função do seu tamanho ou da força neles aplicada.

Exemplos: barras e canos de ferro, cacetetes, bengalas, martelos, pedras, tijolos, chicotes,

peças de metal, etc.

DILACERANTES - classificam-se dessa forma pelo fato de possuírem uma parte com

relativo gume afiado, porém de forma serrilhada.

Alguns exemplos desse tipo de instrumento: serrotes, faca serrilhada (de cortar pão), limas, etc.

CONSTRITORES - são os instrumentos não rígidos, de comprimento variável e suficiente

para pressionar determinadas partes do corpo da pessoa.

Exemplos mais comuns desses instrumentos: cordas, barbantes, toalha, cintos, etc.

III - MEIOS EMPREGADOS NA PRÁTICA DO CRIME

Os meios empregados para a prática de crimes são os mais diversos possíveis, onde, também

de acordo com a classificação do Professo Flamínio Fávero, podem ser classificados em

mecânicos, físicos, químicos, físico-químicos, bioquímicos, biodinâmicos e mistos.

Essa classificação diz respeito ao tipo de energia que tais meios desenvolvem quando

utilizados na prática de um crime. Assim, a seguir vamos exemplificar cada um desses tipos de

energias.

MECÂNICAS:

Por intermédio de instrumentos perfurantes, como furadeiras, agulhas, estiletes, etc;

Por instrumentos cortantes, como navalha, gilete, bisturi, etc;

Por instrumentos contundentes, estes, devido a sua quantidade podem ser subdivididos em

ativos e passivos, tendo como exemplo para ativos um pedaço de barra de ferro utilizada para

agredir alguém e, para os passivos uma viga de concreto em que a vítima foi arremessada sobre

ela, vindo a impactar-se contra esse instrumento contundente;

Por meio de instrumentos pérfuro-cortantes, tais como facas e punhais;

Por instrumentos pérfuro-contundentes, como projéteis e dardos;

Por intermédio de instrumentos corto-contundentes, como enxadas, foice e machado.

FÍSICAS:

Por meio do calor, tendo como conseqüência a insolação ou a queimadura; - Por meio do

frio;

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Por intermédio de temperaturas oscilantes;

Pela pressão atmosférica;

Pela eletricidade na sua forma natural ou industrial;

Por meio da radioatividade, através de raio-x ou rádio;

Por meio da luz ou de som.

QUÍMICAS:

Por intermédio dos produtos cáusticos, corrosivos, venenos, peçonhentos e substâncias

produtoras de toxicomanias.

FÍSICO-QUÍMICAS (as asfixias):

Enforcamento - pelo uso de instrumentos constritores, provocando reação química na

vítima;

Estrangulamento – pelo uso de corda, cordel, ou similar, do agressor, ou quaisquer

instrumentos constritores para constringir o pescoço da vítima, sendo acionado por força

estranha ao do próprio peso da vítima;

Esganadura - pelo uso - principalmente - das mãos do agressor como instrumento físico

para constringir o pescoço da vítima;

Sufocação - pelo uso de qualquer instrumento (ou as próprias mãos do agressor) para

interromper as vias respiratórias da vítima;

Soterramento - causando a sufocação da vítima ao colocá-la sob camada de terra;

Afogamento - pela submersão da vítima em meio líquido;

Gases irrespiráveis - como os venenosos, que impedem a respiração da vítima,

ocasionando a interrupção das vias respiratórias.

BIOQUIMICAS:

Perturbações alimentares - como inanição, doenças de carência (ausência de vitaminas), e

intoxicações alimentares;

Auto-intoxicação - por intermédio de mudanças químicas no organismo ou devidas à

formação de substâncias nocivas ao organismo;

Infecções - provocadas mediante transtornos produzidos pela invasão de micróbios.

BIODINÂMICAS:

Por meio de fenômenos que levem a emoção ou a inibição.

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MISTAS:

Pela fadiga;

Por certas doenças parasitárias;

Por certas formas de sevícias;

Pela associação de energias bioquímicas e biodinâmicas.

CARACTERÍSTICA DE ALGUNS TIPOS DE MORTE

Lesões produzidas por projeteis de arma de fogo

Orifício de entrada

geralmente menor que os orifícios de saída;

bordas invertidas (orientadas de fora para dentro) ;

aspecto (forma):

circular, quando o projétil penetra perpendicularmente ao plano cutâneo;

ovalar, ou em fenda, quando penetra obliquamente;

poligonal, quando é disparado com a "boca" do cano encostada na superfície

cutânea,

duas orlas: contusão e enxugo;

auréola equimótica.;

dependendo da distância pode apresentar zona de enfumaçamento, tatuagem e

chamuscamento.

1 - Zona de chamuscamento (ou de queimadura) - aparece em área adjacente ao O.E. em

disparos efetuados à distância tal que se permita a ação dos gases inflamados em decorrência

da combustão dos explosivos contidos na unidade de munição. A queimadura em geral não

excede o primeiro grau.

2 - Zona de enfumaçamento - aparece em área adjacente ao O.E., representada pela deposição

de fuligem e outros resíduos pulverulentos oriundos da combustão dos explosivos da unidade

de munição, particularmente do propelente. Extensão e concentração variam com a distância

do disparo. Pode ser removida com um tecido umedecido. A forma depende do ângulo de

inclinação da extremidade do cano e o alvo (circular ou elipsóide).

3 - Zona de tatuagem - aparece em área adjacente ao O.E., representada por fração de

grânulos dos explosivos parcialmente incombustos, que penetram nas camadas da epiderme e

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inclusive na derma, em função da força propulsiva das partículas. Forma de depende da

inclinação da extremidade do cano e o alvo (circular ou elipsóide).

Sinais característicos:

Sinal de Hofmann: aparece em disparos efetuados com a "boca" do cano encostada à

pele. A expansão dos gases ocorrerá dentro do "túnel" aberto pelo projétil, as bordas da

lesão ficam dilaceradas, devido ao refluxo de gases e voltadas pra fora. Internamente o

efeito explosivo se manifesta por intensa devastação dos tecidos, formando-se no

trajeto a chamada "câmara de mina de Hofmann".

Orifício de Saída

geralmente maior que o diâmetro da base do projétil ( e maior que os O.E.);

bordas evertidas (orientadas para fora);/

não apresenta orlas nem zonas;

auréola equimótica presente;

aspecto irregular, bordas dilaceradas;

formas predominantes: poligonal, em fenda, elípticas - material orgânico trazido pelo

projetil

Morte por ação do calor

Conceito de queimadura: Lesão corporal provocada pela agentes físicos, químicos ou

biológicos que atuando sobre os tecidos vivos, provocam reações biológicas, locais ou gerais,

cuja gravidade depende de sua extensão e profundidade.

Lesões típicas: Eritemas: sinais vermelhos na pele; Flictemas (bolhas), carbonização.

Morte pela ação do calor: forma mais comum: acidental, o suicídio ocupa um lugar modesto

na casuística, sendo mais comuns em mulheres. O homicídio pela utilização do calor como

fonte de energia é muito raro, sendo o fogo empregado pelo sujeito ativo, em muitos casos,

para destruir o cadáver ou com o objetivo de impedir ou dificultar sua identificação.

Aspectos médico-legais e criminalísticos

Atitude do cadáver queimado - devido à desidratação da pele e retração dos tecidos,

particularmente dos músculos flexores sobre os extensores, o cadáver assume uma postura

conhecida como "posição de boxeador".

Pele - se torna enegrecida, ressecada, e normalmente se rompe ao nível das articulações.

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Na região onde ocorrem desarticulações provocadas pela ação prolongada do fogo, o perito não

deve confundir tais lesões com feridas contusas ou incisas.

Ossos - a ação prolongada do fogo e do calor, produzem redução dos membros e fraturas

dos ossos longos. É necessário se distinguir entre as fraturas pela ação térmicas e outras que

podem existir, provoca das por agentes mecânicos externos contundentes, ativos ou passivos.

Crânio - como nos ossos, este se fratura pela ação do calor. Muitas vezes ocorre verdadeira

explosão da cavidade craniana. O perito deve observar com cuidado e distinguir os tipos de

fratura, se pela ação térmica ou não.

Vias respiratórias - importantíssimo é seu exame necroscópico, para diagnosticar se uma

pessoa pereceu pela ação do fogo ou se já estava morta quando seu corpo foi submetido a ação

do calor.

Reação vital - em pontos do corpo onde não se tenha uma carbonização completa, pode-se

encontrar sinais de reação vital, indicativas que a vítima ainda estava viva quando foi

submetida a ação do calor. Os eritemas são característicos de reação vital.

Afogamento

Conceito - é uma asfixia mecânica onde a massa gasosa é substituída por massa líquida no

momento da inspiração.

Pode se dar por imersão completa ou incompleta (por ex. pessoas epilépticas que morrem

afogadas em lâminas d'água de pequena profundidade ou até mesmo em poças).

Freqüência etiológica: acidente, suicídio, homicídio.

O homicídio, isto é submergir a cabeça da vítima até a morte, é muito raro. Segundo

pesquisas o agressor teria que ter no mínimo duas vezes a força da vítima pra que o fato fosse

consumado.

Características importantes do cadáver do afogado:

Cianose da face (característica de asfixia);

Pele macerada - fenômeno causado pela infiltração de água na epiderme; após 48 horas o

fenômeno é mais evidente, com desgarramento da pele em várias regiões;

“mãos de lavadeira” - a pele dos membros fica enrugada

Lesões por animais aquáticos: peixes e crustáceos atacam partes moles como lábios, globos

oculares em geral. As vezes produzem mutilações maiores.

Presença de corpos estranhos sob as unhas: areia, lama, vegetais e outros materiais, obtidos,

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provavelmente na tentativa da vítima em se agarrar a alguma coisa.

Cogumelo de espuma - em geral, 2 ou 3 horas após o cadáver ser retirado da água aparece

nas cavidades oral e nasais, uma espuma esbranquiçada, as vezes sanguinolenta. Este cogumelo

se forma a partir de gases da putrefação mais o líquido do afogamento.

Outras lesões podem ser encontradas, tais como escoriações e feridas contusas, decorrentes

de atrito contra o leito de rios, choques contra blocos rochosos, troncos, etc. Devido à posição

que o corpo assume, com a cabeça mais baixa que o tronco e os membros largados ficando os

inferiores semi-fletidos, espera-se lesões na região frontal (face), faces anteriores dos joelhos,

dorso das mãos e dos pés.

Dar especial atenção ao exame do local e às vestes da vítima.

Morte por Soterramento

Conceito - Neste tipo de asfixia mecânica a massa gasosa é substituída por substâncias

pulverulentas, tais como terra, areia, lama, etc.

Etiologia - Maioria absoluta: acidental. Muito raramente homicídio.

Sinais característicos - presença de materiais sólidos nas cavidades bucal e nasal, bem como

traquéias e brônquios.

Obs: vítima pode apresentar lesões anexas, decorrentes do processo traumático de

soterramento: escoriações, contusões.

Morte por Confinamento

Conceito - É a morte por asfixia, ocorrida em indivíduos que permanecem em ambientes

fechados sem renovação do ar, consequentemente pobres em O2, e ricos em CO2.

Exemplos - escavações de poços profundos, crianças trancadas em ambientes pequenos.

Sinais: típicos de asfixias.

Morte por Sufocação

Conceito - É a morte por asfixia, onde há uma obstrução mecânica das vias respiratórias, ou de

segmentos da árvore respiratória.

Pode ocorrer por ação mecânica direta, quando a obstrução é feita nos próprios orifícios

respiratórios, e indireta, por exemplo no caso de compressão do tórax, impedindo sua

expansão (asfixia posicional)

Etiologia - acidental e homicida.

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Em geral não há lesões externas, a não ser que o agressor tenha usado as mãos e deixado

escoriações típicas produzidas por unhas.

Presença no local de panos impregnados com saliva, vômito, pode indicar este tipo de

asfixia.

Morte por asfixia - Enforcamento

Conceito - A asfixia se dá por constrição do pescoço, quando o laço é acionado pelo próprio

peso da vítima.

Etiologia - Maioria absoluta: suicida. Na ordem de freqüência, aparecem a natureza acidental e

homicida (raro).

Tipos - suspensão completa e suspensão incompleta.

Vestígios característicos:

O sulco em geral é único, oblíquo, ascendente (de baixo para cima, interrompido ao nível

do nó, apergaminhado, com o bordo superior saliente (bordos desiguais);

Vítima com protusão da língua, cianose facial, presença de fezes, urina e sêmen (quando

ocorre.relaxamento dos esfíncteres);

Objeto constritor e sua amarração (cordas, cintos, faixas, roupas, fios, etc.);

Adjacente ao sulco podem aparecer escoriações e marcas ungueais (unhas).

Morte por asfixia – Estrangulamento

Conceito - A asfixia se dá por constrição do pescoço, quando o laço é acionado não pelo

próprio peso da vítima, mas por força diversa, usando-se uma corda, material semelhante ou

até o antebraço.

Etiologia - Maioria absoluta: homicida. Na ordem de freqüência, aparecem a natureza

acidental e suicida (raro).

Vestígios característicos:

O sulco pode ser único ou não, horizontalizado ou ligeiramente oblíquo, não se apresenta

interrompido ao nível do nó, apergaminhado, com os bordos iguais devido a uniformidade da

compressão;

Vítima com cianose facial;

Objeto constritor (cordas, cintos, faixas, roupas, fios, etc.);

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Adjacente ao sulco podem aparecer escoriações e marcas ungueais (unhas).

Morte por asfixia - Esganadura

Conceito - A asfixia se dá por constrição do pescoço, quando são utilizadas as mãos. É uma

modalidade especial de estrangulamento.

Etiologia – exclusivamente homicida.

Vestígios característicos:

No pescoço não aparecem sinais externos de compressão (como sulcos) e sim escoriações e

equimoses produzidas pela pressão violenta dos dedos e unhas (marcas ungueais), nas faces

anterior e laterais;

Vestígios de luta no local.

Morte por Precipitação

Neste tipo de morte, estão enquadradas as precipitações voluntárias, acidentais e a criminosa

(forçada).

Os autores, em geral, procuram fazer a diagnose diferencial a partir da distância entre o ponto

de lançamento e o ponto de impacto.

Portanto, é mister que o perito, ao efetuar o levantamento pericial, procure determinar a

distância percorrida pelo corpo, desde o ponto de projeção até o ponto final de repouso.

Outro detalhe importante é verificar a não existência de possíveis obstáculos entre esses dois

pontos que pudessem ter ocasionado a mudança da trajetória normal da queda.

A grande dificuldade de diagnose é entre a queda voluntária e a queda criminosa (forçada), já

que, em ambos os casos, poderá ter um impulso inicial; nas quedas acidentais, via de regra, não

se apresenta tal impulso.

Baseados na afirmação acima, diremos que, nos casos de queda acidental, o corpo sofrerá

precipitação em sentido quase que perpendicular, em relação ao ponto final de repouso, ficando

ambos os pontos (inicial e de repouso) pouco distanciados.

Por outro lado, nas quedas voluntárias ou criminosas, haverá um impulso inicial, o qual, na

maioria das vezes se diferenciará, sendo o voluntário mais acentuado que o criminoso. A

trajetória será sempre oblíqua.

ALGUNS FENÔMENOS CADAVÉRICOS

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Livores Cadavéricos ou Manchas Hipostáticas - formados pela deposição do sangue nas

regiões situadas nos níveis mais baixos (passam de móveis para fixos com o decorrer do

tempo). Importância: posição do cadáver.

Rigidez cadavérica - ocorre por mudanças químicas experimentadas pelo corpo após a

morte, representa uma desidratação da musculatura esquelética. Não há consenso sobre seu

inicio

Mancha verde abdominal - inicio da putrefação. Aparece entre 18 e 24 após a morte, na

fossa ilíaca direita, região correspondente ao segmento seco-apendicular do intestino grosso

(apêndice).

Espasmo cadavérico - em algumas oportunidades, o cadáver apresenta-se com uma

contratura muscular das mãos e braços, produzida de forma instantânea, imediatamente após

cessarem as funções vitais. Comum em suicidas encontrados empunhando fortemente arma de

fogo ou apenas com a(s) mão(s) ainda na posição em que efetuaram o disparo.

Putrefação – É a decomposição do corpo por ação de bactérias do intestino grosso. Ao

decompor proteínas, lipídios e glicídios através de suas enzimas, elas produzem gases, alguns

com odor desagradável. A evolução da putrefação varia de acordo com o corpo e o ambiente.

A decomposição é mais rápida no ar, depois na água e depois no solo. São fatores que

antecipam a putrefação: Alta temperatura do ambiente; Alta umidade do ar; Água contaminada,

nos casos de afogamento; Obesidade; Edema; dentre outros.

Fenômenos conservativos:

Mumificação - Por desidratação dos tecidos, o cadáver se conserva. Típico de terrenos

secos e clima quente.

Saponificação - no cadáver que permanece na água ou em terreno úmido, as gorduras

experimentam transformações que lhe conferem uma aparência saponácea. Em certas

oportunidades assegura razoável grau de conservação.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

LEGISLAÇÃO

Art. 158 do CPP - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de

delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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Art. 171 do CPP - Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a

subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios,

indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato

praticado.

FURTO - significa a ação de subtrair fraudulentamente uma coisa que pertence a outra pessoa.

• Dispositivo do Código Penal, Art. 155.

• Furto Simples - quando não há violência, nem rompimento de obstáculo.

• Furto Qualificado - quando, por exemplo, com o emprego de força o indivíduo rompe ou

destrói o obstáculo para subtrair a coisa.

PRINCIPAIS MODALIDADES DE FURTO QUALIFICADO

Ventana - é a entrada do meliante através de janela deixada aberta, ou que é aberta por ele,

quebrando os vidros ou cortando-os.

Escalada - Aqui muros são escalados por meio de cordas, árvores ou escadas, e o ladrão

passa ao telhado, penetrando no imóvel através de destelhamento.

Arrombamento - Neste, portas, janelas e até paredes e forros são destruídos para

possibilitar o acesso ao interior do imóvel, alvo do furto. Nestes casos os meliantes empregam

alavancas (pés-de-cabra), machados, formões, macacos hidráulicos e mecânicos, etc.

Chave Falsa - O emprego da cópia da chave original, de gazua, ou para alguns, a própria

chave original quando usada por alguém não autorizado.

ELEMENTOS A CONSIDERAR

• Vidros quebrados

• Marcas de ferramentas – compressão, atrito

Tipo genérico da ferramenta

Individualização – desgaste pelo uso, defeitos característicos, etc.

• Impressão de pegadas e de pneus

• Impressões digitais

• Simulação de arrombamento

• Modus operandi

Tipo de crime - A pessoa escolherá sempre o mesmo tipo de crime, tais como: furto

em apartamento de último andar; roubo de prédios comerciais; tráfico de drogas; furto

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de jóias em residências; dentre outros. Exceto algumas oportunidades que possam

surgir para a prática de outros tipos de crimes, o delinqüente procurará se especializar

numa mesma modalidade, pois ficará mais fácil para ele essa prática.

Forma de acesso ao local do crime - Para facilitar o seu acesso ao local onde pretenda

praticar o crime, o delinqüente irá procurar adentrar sempre pelo mesmo tipo de via,

como o arrombamento de porta; o quebramento de placa de vidro de janela; a passagem

por abertura de janela do tipo vitrô; abertura de buraco na parede; entrada através do

telhado, etc.

Ferramentas empregadas - Após já ter o tipo de crime definido e a forma de acesso

ao interior do local, utilizará sempre um determinado tipo de ferramenta para auxiliar

na execução do rompimento da via de acesso, tal como uma chave de fenda, um alicate

de pressão, etc.

Objetivo criminoso - Também, na grande maioria dos “delinqüentes continuados”,

observaremos que ele visa sempre furtar/roubar determinados tipos de bens, tais como

jóias e dinheiro; aparelhos de som e televisão; eletrodomésticos; roupas; armas de fogo;

dentre outros. Poderá associar mais de um objetivo, dependendo da facilidade e

oportunidade encontrada.

Comportamento pessoal - É comum verificarmos que o delinqüente se comporta de

forma rotineira quando está no interior do imóvel realizando o seu intento. Existem

aqueles que, na busca do que procuram, espalham tudo que está a sua frente, outros

agem de forma mais organizada. Acontece muito de abrirem o refrigerador e despensa

para se alimentarem, onde alguns acabam jogando no piso o restante da comida. Casos

mais patológicos acontecem, onde encontra-se até aqueles delinqüentes que defecam ou

urinam no interior da residência, como se fosse a sua “marca registrada”.

TIPOS MAIS COMUNS DE OCORRÊNCIAS

• Furto em residência, prédios comerciais e outras edificações.

• Furto de (ou em) veículos

• Roubos (assaltos) em geral

Em residências e outros estabelecimentos

Em veículos

• Latrocínio

• Danos materiais

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• Exercício arbitrário das próprias razões

• Exercício ilegal de profissão

• Meio ambiente

• Engenharia legal

• Alteração de limites

• Jogos de azar

• Incêndios

• Local de constatação de drogas

• Local de lenocínio (prostituição)

• Maus tratos contra animais

• Parcelamento irregular do solo

• Furto de energia, água, telefone e TV a cabo.

• Furto de combustíveis

Furto em residência, prédios comerciais e outras edificações

Procurar, inicialmente, durante o exame preliminar, possíveis trajetórias e escaladas que o

delinqüente empreendeu para chegar até o interior do imóvel, principalmente quando existir

outros obstáculos antes das aberturas do imóvel, como muros, portarias de prédios, portas de

garagens, escadas, árvores, etc.;

Procurar ter em mente que o exame pericial servirá para qualificar o furto, buscando, dessa

forma, encontrar todos os possíveis vestígios caracterizadores dessa ação;

Sempre devemos procurar caracterizar os meios empregados para o acesso ao interior do

imóvel. Arrombamento da via de acesso e, às vezes, um outro para a fuga, são comuns de

ocorrerem, onde deve ser verificado sempre o sentido de produção, para estabelecer a dinâmica

de ação do autor;

Se houve o emprego de violência contra aquele imóvel para poder viabilizar o acesso ao

interior. As marcas de ferramenta nos respectivos arrombamentos para verificar os seus

desenhos e poder confrontar com possíveis ferramentas que ainda se encontrarem nas

proximidades, ou, no futuro, a polícia efetuar a prisão do autor, poder checar com a sua versão

sobre o tipo de ferramenta utilizada, ou apreender aquelas que estiverem em seu poder;

Se não houver vestígios de arrombamento, procurar outras possibilidades de acesso, tais

como o emprego de chave falsa; a utilização da própria chave que o agente teve acesso após

observar o morador; uma janela aberta, dentre outras possibilidades de acesso e que possam ser

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Page 60: apostila criminalística - cfsd - cópia

caracterizados, com o objetivo de determinar a forma e meios de acesso do delinqüente ao

interior do imóvel;

Verificar se existe outros arrombamentos no imóvel, especialmente nas portas internas e

seus respectivos sentidos de produção;

Buscar todos os tipos de vestígios possíveis, dentre os quais: fragmentos de impressão

digital, vidros quebrados, limalhas metálicas, serragem, fibras, fragmentos de tecidos, restos de

vegetais, tinta, etc., ou seja, qualquer coisa que possa ter sido produzida, deixada ou

manuseada pelo delinqüente;

Verificar e procurar constatar os objetos furtados do interior do imóvel, tentando

caracterizar alguns dos bens que foram retirados pelos vestígios deixados, como a marca de

sujidade de um aparelho de som sobre uma estante e com os fios de conexão rompidos;

Verificar se há estrias em cofres, fechaduras ou madeiras, em razão de ferramentas

utilizadas pelos ladrões;

Procurar sempre constatar o modus operandi utilizado pelo agente da infração, ou seja, que

tipo de técnica ele utilizou para atingir o seu objetivo, tais como: extração do tambor de

fechaduras, corte de vidros para acessar a fechadura, ripas e alizares de portas arrancados,

marcas de compressão nos alizares em função de alavanca para destrancá-la, etc;

Exame geral do ambiente interno, onde os peritos devem descrever com detalhes toda a

desordem (desalinho dos objetos, móveis e utensílios) encontrada, tais como, gavetas retiradas

dos encaixes, roupas jogadas no piso, garrafas de bebidas vazias, alimentos mexidos ou

consumidos parcialmente, documentos e pertences pessoais espalhados pelo ambiente, dentre

outros.

LOCAL DE CONSTATAÇÃO DE DROGAS

Trata do exame pericial no local onde foi encontrada a droga;

Posteriormente o exame para identificação da droga, feito em laboratório.

LOCAL DE LENOCÍNIO

Exame para constatação de casas de prostituição

MAUS TRATOS CONTRA ANIMAIS

Exames diversos para constatação de maus tratos contra animais

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PARCELAMENTO IRREGULAR DE SOLO

Constatação de parcelamentos irregulares em solos urbanos e/ou rurais

FURTO DE ENERGIA, ÁGUA, TELEFONE, TV A CABO

Exames específicos para constatar cada tipo de furto desses bens e serviços, de acordo com

a particularidade de cada um

FURTO DE COMBUSTÍVEIS

Exame das bombas medidoras, de acordo com a finalidade do posto:

postos comerciais

postos restritos

INCÊNDIOS

Exames diversos para determinar as causas do incêndio - se intencional ou não - sua

abrangência e quantificação dos danos

Art. 173 do CPP - No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que

houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a

extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do

fato.

MEIO AMBIENTE

Crimes contra a fauna

Crimes contra a flora

Crimes de poluição (atmosfera, hídrica, do solo, sonora)

Crimes contra o ordenamento urbano

Crimes contra o patrimônio cultural

ENGENHARIA LEGAL

desabamento de obras civis;

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deslizamentos de terra;

vícios de construção (falhas ou irregularidades em construções);

exames em equipamentos mecânicos e/ou elétricos;

avaliação de imóveis;

análise de orçamento;

acidente de trabalho.

PERÍCIA EM CRIMES DE TRÂNSITO

TIPOS DE PERÍCIA

Colisão (veículos em movimento)

Choque ou Abalroamento (Obstáculo fixo)

Atropelamentos

Saída de Pista

Desvio de direção

Capotamento

Tombamento

CONCEITOS

Tráfego - É o movimento ou deslocamento de pedestres, veículos ou animais, sobre vias

terrestres, considerado quanto a cada unidade de per si, ou seja, as chamadas unidades de

tráfego.

Trânsito - Movimento ou transporte de veículos, pessoas ou cargas, segundo percursos

geralmente preestabelecidos, considerado quanto ao conjunto das citadas unidades de tráfego.

Diferença entre TRÁFEGO e TRÂNSITO

O tráfego é a consideração da unidade veicular (veículos, pessoas, animais) por

si só, enquanto que o trânsito é a consideração no seu conjunto, ou seja, o movimento das

unidades veiculares.

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Page 63: apostila criminalística - cfsd - cópia

Unidades de Tráfego

Para fins de investigação de acidente de tráfego, são considerados como unidades de

tráfego os veículos automotores, os pedestres, os veículos de tração animal, os veículos de

tração ou propulsão humana e os animais de porte (montados, arrebanhados ou soltos).

Acidente de Tráfego

Qualquer acidente envolvendo um ou mais veículos, um dos quais, pelo menos, deve se

encontrar em movimento no momento do acidente, ocorrido sobre uma via terrestre e do

qual resulte morte, ferimentos ou danos à propriedade.

OBJETIVO

Buscar a causa determinante

• Causa determinante em um acidente de tráfego é aquela sem a qual o acidente não teria

ocorrido. Pode ser entendido também como o fator preponderante propiciador do acidente.

ROTEIRO DOS EXAMES

Uma das primeiras coisas que os peritos criminais devem verificar é quanto à natureza do

acidente, conforme já descritos nos tipos de acidentes. Por exemplo: colisão, saída de pista,

etc.

Delimitar a área do acidente propriamente dita e a área de aproximação.

Determinar o local do ponto de colisão, amarrando-o (marcando) a dois pontos fixos.

O ponto de colisão é evidenciado pelos seguintes elementos - barro, terra, detritos,

peças, crostas de tinta, fragmentos de vidros, etc., que se desprendem dos veículos em face

do impacto.

Em algumas situações não haverá ponto de colisão e sim área de colisão, tendo em vista

alguns fatores que envolvem aquele acidente.

Examinar a superfície de rolamento, quanto ao tipo: de asfalto, cascalho, terra batida,

areia, etc.; condições físicas: conservada, desnivelada, com buracos, graxa, óleo, seca,

molhada, em conserto, etc.; topografia: reta ou curva, plana ou inclinada, etc.; limitações:

meio-fio, acostamento, cercas, etc.; sinalizações: horizontal (marcada no leito da via) ou

vertical (placas nas margens).

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Identificar, examinar e amarrar (marcar) os vestígios encontrados, tais como o ponto de

colisão e de repouso, marcas de frenagem, etc., registrando com precisão a respectiva

localização, viabilizando possível reprodução simulada.

Quando da presença de cadáver, proceder a sua identificação, localização das lesões,

posição e respectivas vestes, para comparar com os danos no veículo e poder traçar a dinâmica

do acidente.

Exame da área de forma minuciosa, observando as condições atmosféricas, de iluminação,

de tráfego e de visibilidade.

Exame dos veículos envolvidos, quanto aos aspectos: da identificação geral; situação em

relação ao local; ponto de impacto, avarias, sistemas elétrico, de direção e de segurança

(freios); situação dos pneumáticos; condições de visibilidade oferecida; equipamentos

obrigatórios.

Fotografia geral do veículo e de todos os vestígios.

Veículo evasor, quando for o caso, deve ser adotado alguns procedimentos visando a sua

identificação, tais como: a) as marcas pneumáticas determinam a bitola (distância entre as

marcas laterais do veículo) do veículo, sendo possível, às vezes, em caso de marcas de

rolamento por impressão ou desenho, identificar a marca dos pneus, ou até, em caso de

defeitos, possibilitar a identificação dos pneus; b) peças, crostas de tinta e fragmentos de vidro

desprendidos do veículo podem ajudar a identificá-lo de maneira irrefutável, através do exame

de justaposição, ou reduzir o número de suspeitos, em caso de determinar-lhe a cor ou a marca;

c) vestígios transportados pelo veículo, tais como manchas, impregnação de tinta, fibras,

tecidos, sangue, cabelo, os quais permanecem no veículo e que, no momento da apreensão do

veículo suspeito, serão comparados.

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ANEXO

CRIMINALÍSTICA – Perguntas e Respostas

01) Que significa Corpo de delito?

Corpo de delito, antigamente, significava o cadáver da vítima. Atualmente o significado se

estendeu a toda pessoa, ou coisa, sobre que recai a ação criminosa. Entende-se como o

conjunto dos elementos materiais de uma infração.

02) Que é exame de Corpo de delito?

Exame de corpo de delito é o conjunto de meios materiais de comprovação da existência dos

elementos essenciais de um fato típico.

03) Este exame é obrigatório?

Sim. De acordo com o art. 158 do nosso C.P.P. “quando a infração deixar vestígios, será

indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão

do acusado”. O direto é a própria constatação do fato. O indireto faz-se por outros meios de

prova, de acordo com o estabelecido no art. 167 do citado diploma legal.

04) A confissão do acusado supre este exame?

Não. Aliás, este exame não é suprido por nenhum outro tipo de prova.

05) Que é um vestígio?

Os dicionários definem vestígio como sendo sinal deixado no local por onde se passa. Para a

Criminalística, vestígio é todo aquele material, suspeito ou não, encontrado no local, e que

deve ser recolhido e resguardado para exames posteriores.

06) O vestígio em si, é valioso?

Não, ele por si mesmo não é valioso. A sua interpretação, essa sim é uma operação importante,

pois é através dela que o Perito vai formar a sua convicção, e oferecer os seus esclarecimentos

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à Justiça. O vestígio devidamente interpretado e relacionado com o caso é chamado Indício.

07) Que são indícios?

Indício é todo vestígio cuja relação com a vítima ou com o suspeito, ou com a testemunha, ou

com o fato, foi estabelecida. É um vestígio classificado e interpretado, que passa a significar

uma prova indiciária.

A Legislação processual brasileira considera indício toda circunstância conhecida e provada

que, tendo relação com o fato autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra a outras

circunstâncias.

08) Como podem ser recolhidos os vestígios?

Pela importância que poderão apresentar, todos os vestígios deverão ser cuidadosamente

observados e colhidos. Esta coleta deve ser feita com precauções especiais para cada caso.

Assim, o sangue, se ainda líquido, deve ser colocado em frascos com conservantes. Fios de

cabelos ou pedaços de fibra, em pequenas caixas ou envelopes. Garrafas ou copos em caixas

especiais que preservem suas superfícies, em caso de haver impressões digitais, e seus

conteúdos. Armas de fogo, ou brancas, em suportes especiais, semelhantes a tábuas de pirulito,

onde vários pinos de madeira, devidamente colocados nos orifícios da tábua, seguram a arma e

preservam a sua superfície.

09) - O indício material prova, por si, a culpabilidade?

O indício não prova necessariamente a culpabilidade. Identificar no local do crime a impressão

digital de um indivíduo não demonstra que esse indivíduo tenha cometido o crime, mas,

simplesmente, que se encontrava no local num determinado momento.

10) O indício material deve ser interpretado?

Sim, o indício deve ser interpretado. A presença do tóxico no cadáver demonstra o

envenenamento, não o crime; a impressão digital permite afirmar a presença de alguém no

local, não o roubo; a mancha de esperma atesta as relações sexuais, não a violência. Por isso

deve-se considerar mais o operador do que a técnica.

11) - Quais as principais definições de Criminalística?

A Criminalística pode ser definida como "a disciplina que tem como objetivo o

reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecos relativos ao crime ou à

identidade do criminoso. Os exames dos vestígios intrínsecos (na pessoa) são da alçada da

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medicina legal".

No sentido restrito a Criminalística deve ser entendida como disciplina isolada e paralela à

Medicina Legal, à Toxicologia e a Criminologia, que utiliza freqüentemente e simultaneamente

a química, a física e a biologia, com técnicas próprias, adaptadas a circunstâncias particulares.

12) - Quais as disciplinas, ciências e artes que a integram?

A Criminalística se vale de todas as disciplinas, artes e ciências. Dentre estas poderíamos citar

a Química, a Física, a Biologia, a Matemática, a Medicina Legal, a Toxicologia, a

Criminologia e Psiquiatria Legal, Antropologia, Estatística e, atualmente, a Informática.

13) - Qual o objetivo da Criminalística?

Oferecendo um número infinito de possibilidade para averiguação dos fatos da identidade do

criminoso, a Criminalística tem como objetivo principal, "a pesquisa dos meios de prova na

luta contra o crime".

14) - Que é morte natural?

É aquela atribuída a fatores patológicos, na grande maioria dos casos, ou provocada por

defeitos congênitos.

Vale ressaltar que, por definição, a morte natural deveria ser a fisiológica, por atrofia do

organismo, sem qualquer lesão ou estados mórbidos. Entretanto, sua existência é duvidosa.

15) - Que é morte violenta?

É aquela decorrente da ação traumática, principalmente de origem externa, caracterizada por

homicídios, suicídios e acidentes. Pode, também, advir de ação traumática de origem interna,

como por exemplo, no esforço.

16) - Que é morte suspeita?

E aquela da qual há dúvida quanto a sua natureza jurídica. Nestes casos deve ser feita a

necropsia, que deverá esclarecer o problema.

17) - Que são exames cadavéricos ou tanatoscópicos?

Também chamados "Necropsias", são exames no cadáver destinados a determina a “causa-

mortis" a fim de constar no Atestado de óbito.

Nas mortes violentas e, quando há dúvidas, numa morte suspeita, da natureza jurídica desta

(homicídio, suicídio ou acidente), os exames são realizados no Instituto Médico-Legal.

Nos casos em que a vítima estava doente e morreu sem assistência médica, o cadáver será

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examinado no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO).

18) Que é Tanatologia?

É a parte da Medicina Legal que estuda a morte e todas as questões que lhe são referentes.

19) Qual a diferença entre inumação e exumação?

Inumação é o ato pelo qual o cadáver é colocado em sepulturas, em jazigos ou túmulos, vinte e

quatro horas após a morte. Nos casos de moléstia infecciosa, grave ou epidêmica, o

sepultamento deverá ser imediato, após a constatação da morte.

Exumação é a retirada do cadáver de sua sepultura, o que ocorre quando alguma dúvida é

levantada acerca da natureza jurídica da morte da vítima.

20) Que é Cronotanatognose?

É a parte da Tanatologia que permite a determinação do tempo da morte, baseada em sinais de

cronologia variáveis, pois dependem de fatores individuais e mesológicos.

Pode ser feita através dos seguintes fenômenos cadavéricos:

a. Quando o cadáver ainda está quente, sem rigidez nem manchas hipostáticas, a morte é

recente, datando, no máximo, de 2 horas;

b. Estando o cadáver com temperatura sensivelmente inferior a 370C, rigidez do maxilar

inferior e da nuca, primeiras manchas hipostáticas - morte há pouco mais de 2 horas;

c. Apresentando o cadáver temperatura pouco superior ao ambiente, rigidez total, livores

generalizados e ausência de manchas verdes - morte há pouco mais de 8 horas;

d. Cadáver frio, rigidez e livores, mancha verde abdominal se iniciando - morte entre vinte e

trinta horas;

Após o primeiro dia, servirão de guia para o cronotanatognose:

- desaparecimento de rigidez (dois ou três dias após a morte);

- evolução dos fenômenos putrefatores.

21) Como podem ser os fenômenos cadavéricos?

Podem ser Abióticos (negativos da presença de vida) e Transformativos (que indicam

alterações no cadáver).

Entre os primeiros podemos citar os imediatos (perda da consciência, imobilidade, inexistência

de respiração e circulação) e os consecutivos (evaporação tegumentar, resfriamento do corpo,

rigidez e hipostáse).

Entre os segundos temos os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e conservadores

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(saponificação e mumificação).

22) Que são livores cadavéricos?

Também chamadas hipóstases ou manchas hipostáticas, são manchas decorrentes do acúmulo

das partes sólidas do sangue, nas regiões do cadáver, próximas à superfície por sobre a qual

está, por atuação da gravidade.

23) Qual a importância das manchas hipostáticas?Elas são importantes para o Perito, pois, por elas ele poderá dizer se o cadáver foi ou não,

retirado de sua posição original.

Assim, se o cadáver ficou inicialmente em decúbito dorsal, as manchas hipostáticas aparecerão

na região posterior dele. Se após, ele foi retirado desta posição, as hipóstases também mudarão

de lugar deixando, entretanto, vestígios nas regiões onde estavam anteriormente.

24) Como distinguir lesões produzidas em vida e depois da morte?

O cadáver pode sofrer lesões que podem ser de origem acidental, produzidas por animais, e

ainda propositalmente, por simulação, sadismo ou cólera (espostejamento).

Nas lesões "post-mortem" não há reações vitais, hemorragias e, tampouco, coagulação do

sangue.

25) De que depende a rapidez da putrefação?

Depende das condições exteriores, às quais está submetido o cadáver, tais como: ar, umidade,

temperatura e natureza do terreno.

A temperatura ambiente, quanto mais elevada, mais rápida a evolução putrefática. O ar seco e a

falta de umidade inibem a putrefação.

26) As vestes das vítimas são importantes para o Perito?

Evidentemente por intermédio delas o Perito poderá tirar conclusões. Orifícios, rasgões,

manchas, correspondência ou não com as lesões encontradas no cadáver, são algumas

informações que elas poderão fornecer.

27) Quais as diferenças entre mumificação e saponificação?

Mumificação é a interrupção dos fenômenos putrefáticos, quando o cadáver sofre forte

dessecação, quer naturalmente (desertos), quer artificialmente, por meio de substâncias

químicas, como no caso dos Egípcios.

Saponificação é a transformação do cadáver em uma substância especial amarelada

(semelhante a sabão) e chamada Adipocera. Isto geralmente ocorre quando o cadáver fica em

terreno argiloso, mal ventilado e encharcado, além de ser facilitado por condições individuais,

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tais como as intoxicações pelo álcool e pelo fósforo.

DO LOCAL DE CRIME

28) Que é um "Local de Crime"?

"Local de Crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que assume a configuração de delito

e que, portanto, exige as providências da Polícia". .

29) Como podem ser os locais de acordo com a sua natureza?Neste aspecto os locais se classificam em local de homicídio, local de suicídio, local de furto,

local de arrombamento, local de incêndio, local de atropelamento com morte, etc.

30) E de acordo com o lugar da ocorrência?De acordo com o lugar de ocorrência os locais podem ser internos e externos.

Local interno - é a área compreendida em todo ambiente fechado; isto é aquele que se fixa

entre limites. Deste modo; assim é considerado um terreno baldio que seja cercado ou murado.

Local externo - é todo aquele cuja área não é restrita, como por exemplo, vias públicas,

logradouros, terrenos baldios, etc.

31) Como se subdividem os Locais?

Os locais internos ou externos se subdividem em mediatos, imediatos e relacionados.

Local mediato - são as adjacências do local propriamente dito, isto é, do local onde ocorreu o

fato.

Local imediato - é a área onde ocorreu o fato ou o crime.

Local relacionado - é aquele que se refere a uma mesma ocorrência e oferece pontos comuns

de contacto. Exemplo: um selo é fabricado num local e vendido e apreendido em outro.

32) Como pode ser o "Local de crime" quanto ao exame?

Quanto ao exame, o "local de crime" pode ser dividido em idôneo e inidôneo.

Local idôneo - é aquele que não foi violado, isto é, aquele que não sofreu nenhuma alteração

desde a ocorrência do fato.

Local inidôneo (ou violado) - é aquele que foi alterado, isto é, que sofreu alguma alteração

após a ocorrência do fato.

33) Que significa "Levantar um local”?

Levantar um local é estudar sistematicamente um lugar onde ocorreu um fato criminoso, ou

não, por meio de observação pessoal, descrição, desenho, fotografia, moldagens, e até mesmo,

filmagens e vídeos-teipes.

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34) Que é isolamento de um local?

É a preservação do sítio onde ocorreu o evento, deixando cada coisa na posição em que foi

encontrada, evitando tocar em qualquer parte dele, ou em algo ali existente. Evidentemente o

local "interno" á mais fácil de isolar que o "externo".

35) Qual a importância de um "Local de Crime"?

O local de crime á de grande importância porque oferece os primeiros, elementos a Polícia.

Nele podem ser encontrados elementos essenciais, para que os Peritos possam orientar

eficazmente suas investigações. Esta é a razão pela qual deve ser isolado devidamente até a

chegada das autoridades competentes.

DOS EXAMES EM CASOS DE CRIMES CONTRA A PESSOA

36) Quais os principais locais de crimes contra a pessoa, do interesse da Criminalística?

Dentre aqueles crimes previstos no Código Penal Brasileiro, relativos àquelas infrações penais

que atingem o homem física ou moralmente, a Criminalística se interessa, principalmente, por

aqueles cometidos contra a vida e os relativos às lesões corporais.

37) Como podem ser os locais de crimes contra a vida?

Podem ser: locais de homicídios, locais de suicídio, locais de aborto e locais de infanticídios.

38) Que outros locais de morte são de interesse da Criminalística?

Outros locais de morte que interessam a Criminalística são aqueles decorrentes de mortes

acidentais, em suas mais diversas espécies: afogamento, eletroplessão ou eletrocussão,

precipitação, por acidente de trânsito, por arma de fogo, por explosivos, etc.

39) Quais os meios empregados nos homicídios?

São os mais diversos possíveis. Dentre eles poderíamos citar o emprego de armas brancas, de

armas de fogo, de armas improvisadas, instrumentos de trabalho e outros objetos. Há ainda,

homicídios por envenenamento, por precipitação, por atropelamento, por explosivo, por

asfixia, por energias de ordem física, química e bioquímica.

40) Como pode ser a morte por asfixia?

As asfixias são causadas pela interrupção da respiração, o que impede a entrada do oxigênio

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nos pulmões e a eliminação do gás carbônico. Os principais tipos são por enforcamento, por

estrangulamento, esganadura, afogamento, sufocação, soterramento e gases irrespiráveis.

41) O que deve ser observado em locais de morte por enforcamento?

Inicialmente o Perito deve verificar a existência de sinais de violência, e que o laço da corda

(fio, corda, lençol, etc.) ao redor do pescoço da vitima tenha sido constrito pelo próprio peso do

corpo. O sulco que aparece naquela região anatômica é em sentido oblíquo, de baixo para

cima, interrompido ao nível do nó (nos casos típicos), e com profundidade desigual.

42) Como pode ficar o laço em relação ao pescoço do enforcado?

O laço pode ficar situado na nuca, que é a posição típica. Ele pode ser visto, ainda, nas laterais

do pescoço e na parte anterior, que são posições atípicas. Geralmente dá uma única volta ao

redor do pescoço, podendo porém, exibir várias, ou nenhuma, como no caso da simples alça.

ao nó, este pode ser corrediço, fixo, ou mesmo inexistente.

Quanto 43) Como pode ficar o cadáver após o enforcamento?

O cadáver pode ficar totalmente suspenso (suspensão completa), ou parcialmente (suspensão

incompleta ou parcial). Pode, ainda. ficar ajoelhado, sentado sobre as pernas ou normalmente,

e deitado em decúbito dorsal ou ventral.

Geralmente exibe cianose da face e profusão da língua.

44) - Nos casos em que a suspensão não é completa, como se explica a consumação da

ação?

Antes que o laço possa impedir mecanicamente a passagem do ar e do sangue, ele geralmente

provoca uma excitação externa, o que desencadeia, por via reflexa, estimulação dos centros

bulbares e ocasionando por inibição a cessação definitiva das funções respiratórias e

circulatórias. E a chamada morte reflexa devido ao REFLEXO DE HERING.

45) - De acordo com a natureza jurídica, como pode ser o enforcamento?

O enforcamento pode ter origens homicidas, suicidas, acidentais.

46) - Como caracterizar o homicídio no caso de enforcamento?

No caso de enforcamento por homicídio, haverá sinais de luta no local e no corpo da vítima.

Pode ocorrer uma simulação de suicídio, quando na verdade. a morte foi anterior, e de outra

natureza jurídica.

O homicídio por enforcamento requer superioridade de força, desfalecimento da vítima,

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preparo de engenho mecânico, ou fator surpresa. .

47) E o enforcamento acidental?

Pode ocorrer quando um cavaleiro, ao galopar é arrancado da sela, por corda ou cipó, existente

à sua frente, a altura do pescoço. Ainda, quando no trajeto de uma queda, a pessoa tem esta

interrompida por fio elétrico, corda, ou equivalente, que lhe atinge o pescoço.

48) E no caso de suicídio?

O enforcamento é principalmente de origem suicida. Entretanto, vale ressalvar os casos que o

suicida, antes de enforcar-se, foi ferido ou feriu-se, e ainda, do cadáver exibir lesões

decorrentes de "lesões acidentais, ou por tentativa anterior ao suicídio, ou produzidas quando o

enforcado, agonizante, se debatia em convulsões".

49) - O que caracteriza a asfixia por estrangulamento?

Na morte por estrangulamento o laço no pescoço da vítima é acionada por força estranha ao

peso de seu corpo. O sulco que aparece por decalque no pescoço, é contínuo, não sendo

interrompido ao nível do nó.

50) - Do ponto de vista jurídico como pode ser o estrangulamento?

Juridicamente o estrangulamento pode ser por homicídio, por acidente, por suicídio.

Pode ser esclarecido pela presença ou ausência do laço e pelo número de voltas deste.

51) Como caracterizar o estrangulamento homicida?

Pode ser caracterizado por sinais de luta no local ou no cadáver da vítima, indicando tentativa

da mesma em se livrar que outrem lhe apertasse o pescoço com corda, fio, gravata, cinto,

arame, etc.

É conseguido pela superioridade de forças (infanticídio) por agressores múltiplos e pelo fator

surpresa.

52) Quando ocorre o estrangulamento acidental?

Ocorre quando num acidente do trabalho ou em caso fortuito uma gravata, corda ou xale

existente ou não no pescoço da vítima são puxados por mecanismos, ou outra força qualquer,

asfixiando-a.

São sempre referidas, nestes casos, as mortes já ocorridas com vaqueiros, cujos pescoços foram

presos no meio da corda jogada para laçar o boi. Às vezes, este estrangulamento é tão violento

que chega, até, a separar a cabeça do tronco.

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Há possibilidade de ocorrer com crianças através do cordão da chupeta.

53) E o estrangulamento por suicídio?

O estrangulamento suicida dificilmente ocorre. Neste caso a vítima, após passar um laço pelo

próprio pescoço, joga um peso amarrado na outra extremidade da corda (ou equivalente), do

plano onde está para um inferior. Poderá ela também usar a força muscular.

O sulco encontrado no pescoço da vítima (único ou múltiplos) é horizontal, completo e de

profundidade uniforme.

54) - Que se entende por esganadura?

Esganadura é a modalidade de asfixia na qual é usada a força muscular, sobretudo na região

anterior do pescoço da vítima, através de mãos, pés ou antebraço (golpe vulgarmente

conhecido por gravata).

A esganadura, essencialmente homicida, é muito freqüente no infanticídio. Era antigamente

chamado estrangulamento pelas mãos.

55) - Juridicamente como pode ser a esganadura?

Pode ser por homicídio, por suicídio e por acidente.

266) Como fica caracterizada a esganadura homicida?

Nesta, além dos sinais externos no pescoço da vítima, tais como escoriações e equimoses,

decorrente da violência da pressão, sinais, aliás, que podem não estar presentes, deve-se

procurar evidentes sinais de luta, no local. A esganadura homicida é muito freqüente nos

atentados sexuais.

56) E a esganadura acidental?

Esta modalidade de asfixia é quase impossível. Pode ocorrer em pessoas nas quais o reflexo de

Hering se processa com extrema facilidade, provocando morte inibitória.

Estes casos são dificilmente distinguidos daqueles de origem homicida.

57) A esganadura suicida pode ocorrer?

Sim, quando da manipulação do pescoço pela própria vitima, provocando assim, morte reflexa,

por inibição vagal.

58) - Como ocorre a asfixia por afogamento ou submersão?

No afogamento ou submersão, as vias respiratórias são inundadas pela água ou outro líquido,

asfixiando a vítima. Na boca e nariz desta aparece um cogumelo de espuma, devido ao plasma

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que passa para os alvéolos, enchendo toda a árvore respiratória. Há, ainda, o enfisema aquoso

do pulmão.

59) De acordo com a natureza jurídica, como pode ser o afogamento?

O afogamento pode ser de origem: homicida, suicida e acidental. O homicídio é freqüente

como casos de infanticídios, na morte de crianças, ébrios e indivíduos tomados de surpresa.

Quando outras lesões, estranhas ao afogamento, não são encontradas no cadáver, pode tratar-se

de suicídio ou de acidente, o que não exclui a hipótese de homicídio.

Da mesma forma, se estas lesões são encontradas, as hipóteses levantadas, além de homicídio,

podem ser de acidente ou de suicídio.

60) Quais as diferenças entre o verdadeiro afogado e o falso?

O verdadeiro afogado é aquele que foi submetido a submersão, e que exibe todas as

características disso decorrente, e já referidas. O afogado falso, apenas, imerso na água, já

morto, ou quando ainda vivo teve o processo de afogamento interrompido por parada cardíaca.

É o método utilizado na dissimulação de homicídio.

O afogado verdadeiro é chamado, também, de afogado azul, tendo em vista a cianose do rosto,

que é ausente no pálido rosto do afogado falso, também chamado afogado branco.

61) Como pode ocorrer a asfixia por gases irrespiráveis?

Através de monóxido de carbono, ar confinado e por gases letais, tais como o gás de cozinha,

de iluminação, etc. Geralmente de origem acidental, existem casos de suicídios e de

homicídios.

62) Como se dá a asfixia por sufocação?

A sufocação ocorre por bloqueio da passagem do ar nas vias respiratórias. Pode ser praticada

por introdução de objetos nas vias respiratórias (rolhas, algodão), ou por simples pressão sobre

o rosto com almofadas, lenços, ou travesseiros (métodos diretos).

A sufocação pode, ainda, ser feita pela compressão do tórax, o que impede a sua expansão

(método indireto).

63) Qual a natureza jurídica da sufocação?

A sufocação é geralmente decorrente de ação homicida, principalmente nos crimes sexuais ou

nos infanticídios. Morte acidental por sufocação é possível nos "casos de epiléticos e

alcoolizados que dormem com travesseiros sobre o rosto, ou emborcados sobre o mesmo, ou

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nos casos de crianças que dormem com os pais na mesma cama".

O suicídio é muito raro, e geralmente partindo de alienados.

64) Como ocorre o soterramento?

Ocorre quando substâncias sólidas tais como areia, farinha, arroz ou trigo penetram nas vias

respiratórias. Desta forma ocorre a asfixia.

Geralmente é de origem acidental, podendo, entretanto, tratar-se de homicídio, que é de difícil

caracterização.

65) Que vem a ser Eletroplessão?

Eletroplessão (do gr. plessiên - golpear, impactar) é a morte por ação lesiva da eletricidade.

Esta ação depende do tempo em que ela age; de sua natureza alternada ou contínua (sendo a

primeira mais perigosa); da intensidade e. da superfície de contacto com o corpo.

A resistência ômica da. pele é menor quando ela está molhada

A morte pode vir por fibrilação venticular e parada cardíaca em diástole. Pode ocorrer

depressão bulbar, quando de tensões maiores, o que ocasiona parada respiratória.

66) A eletroplessão é somente de natureza acidental?

Não, apesar da predominância desta sobre as demais. Os casos de homicídios dolosos são

raros. Entretanto, aqueles culposos são mais freqüentes, nos casos de defesa contra invasores,

em casas ou terrenos, quando seus proprietários eletrificam a cerca ou muro.

Os suicídios por eletroplessão ocorrem, mas não são freqüentes. Como execução judicial é

utilizada nos Estados Unidos, na chamada Cadeira Elétrica.

67) Nos casos de morte decorrente de projétil disparado de arma de fogo, como distinguir

a natureza jurídica do fato?

Partindo dos dados colhidos, o Perito procura chegar a uma conclusão através da interpretação

dos mesmos. Não há regras absolutas pelas quais se possa determinar de pronto, se os disparos

foram de origem homicida, suicida ou acidental. É necessário estudar cada caso concreto em

seus indícios e circunstâncias.

Muito importante é que o Perito examine a sede e número das lesões, bem como direção e

distância dos disparos, verificando a compatibilidade desses indícios com as várias hipóteses.

Vale ressalvar questões tais como:

1) A conclusão de que a vítima atirou não é suficiente para a afirmação de suicídio, pois ela

pode ter, antes, atirado em alguém;

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2) A sede, aparentemente impossível, da lesão, não exclui o suicídio, visto que, a vítima pode

preparar engenhos mecânicos para disparar a arma;

3) A pluralidade de lesões não afasta a hipótese de suicídio, pois casos ocorreram com quatro

ou mais disparos;

4) A ausência de zonas de chamuscamento, tatuagem e esfumaçamento pode, ou não, indicar

homicídio;

5) O uso de duas armas indica inicialmente homicídio, podendo ser ainda suicídio;

6) A arma na mão da vítima pode ser simulação ou suicídio.

68) E quando considerar o caso como acidente?

Quase na totalidade dos casos, os acidentes com arma de fogo ocorrem por disparo único. Os

casos de disparos múltiplos são devido a armas automáticas.

Entretanto, é necessário lembrar que apenas são considerados "acidentes", aqueles casos em

que a arma dispara sem a interferência humana (sozinha, por efeito do calor, ou por queda, por

exemplo).

Havendo interferência humana, não dolosa, o crime fica na. esfera culposa, numa daquelas

relações bem conhecidas de imperícia, imprudência ou negligência, não sendo de desprezar a

hipótese do dolo.

69) Como esclarecer a natureza jurídica da morte nos locais de precipitação?

Precipitação é queda de um indivíduo de um lugar relativamente alto sobre outro mais baixo,

podendo provocar-lhe a morte.

Estes locais, sempre duplos, isto é, aquele onde o corpo caiu e aquele de onde a vítima se

precipitou, devem ser bem examinados, principalmente o segundo, pois pode dar ao Perito

indícios sobre a natureza jurídica do fato.

Três hipóteses podem ser apreciadas: a queda acidental, a queda forçada (homicídio) e a queda

voluntária (suicídio). Esta terceira é a mais freqüente.

Alguns autores ensinam que conforme a distância do corpo à base do lugar de onde caiu será

possível indicar a natureza jurídica do fato. Quando esta distância for pequena será acidente.

Sendo ela considerável, teremos o homicídio. A distância relativamente maior indica o

suicídio, pois seria levado em conta o impulso dado pela vítima, ao se jogar.

De nossa parte cremos serem estas observações válidas, mas não taxativas. O Perito

dificilmente saberá em que condições se iniciou a queda. A vítima poderá ter sido jogada com

impulso (simulação de suicídio), ou se jogar, apenas mergulhando de cabeça, ou ainda, coagida

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a pular em condições não conhecidas.

70) Que é esgorjamento?

É o que resulta de incisões profundas na porção anterior do pescoço, produzidas com auxílio de

instrumento cortante ou corto-contundentes.

O esgorjamento pode ter origem homicida ou suicida, e difere do degolamento, que é o

seccionamento do pescoço por sua parte posterior.

71) Que examinar em local de infanticídio?

- Diz o art. 123 do nosso Código Penal que constitui infanticídio matar sob a influência do

estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.

Nos locais de infanticídio o Perito procurará sinais de violência no cadáver, indagando do

Médico Legista se o feto estava vivo quando sofreu a violência, o que será esclarecido através

das docimácias respiratórias.

72) Quais são os agentes mecânicos externos que podem provocar lesões corporais e

mortes?

São instrumentos que podem se classificar quanto a sua natureza em cortantes, perfurantes,

contundentes, pérfuro-cortantes, corto-contundentes e pérfuro-contundentes.

Todo objeto, mesmo sem ter esta destinação específica, pode ser usado como arma.

73) Como funcionam os instrumentos cortantes?

Por apresentarem um ou dois bordos cortantes eles produzem lesões incisas, isto é, aquelas

mais ou menos retilíneas, com pouca profundidade, de bordos nítidos e afastados. São

geralmente provocadas por facas, bisturis, canivetes, navalhas, lâminas de metal ou de vidro,

etc.

74) - Como atuam os instrumentos corto-contundentes?

Estes instrumentos apresentam bordos cortantes sendo, porém, mais pesados do que os

cortantes. Justamente por este maior peso, quando eles atuam pelo gume, além de cortar eles

provocam contusões na vítima. Os mais comuns são o facão, o machado, a foice, a enxada, etc.

Vale referir que, nestes casos, geralmente partes ósseas são atingidas, sofrendo fraturas.

75) E no caso dos instrumentos perfurantes?

Estes instrumentos são longos, exibem pouco diâmetro, sendo dotados de ponta aguda.

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Produzem ferimentos penetrantes, superficiais ou profundos, cujo orifício de entrada varia de

aspecto de conformidade com o objeto que o produziu. Os mais utilizados são a flecha, o

florete, o punhal, tesoura, etc.

76) E o que dizer dos instrumentos pérfuro-cortantes?

Estes são caracterizados por exibirem lâmina com borda cortante e ponta aguda. Produzem,

portanto, ferimentos incisos e penetrantes, com entrada de forma correspondente a do

instrumento, em sua secção reta. Os mais comuns são a faca-peixeira, a espada, o canivete, a

faca de mesa, etc.

77) Como podem ser os instrumentos contundentes?

Produzindo contusões estes instrumentos são em número incontável. Podem se classificar em:

Órgãos naturais de defesa - mãos, pés, dentes, chifres, cascos, unhas; Instrumentos usuais de

defesa ou ataque - bastão, chicote, soqueira (soco inglês), vara, porretes, etc; Instrumentos

ocasionais - martelo, tijolo, garrafa, cadeira, coronha de amas, mão de pilão, pedras, barra de

ferro, etc.

78) - Como podem ser produzidas, ainda, as lesões contusas?

As lesões contusas podem ser produzidas, ainda, por choques de regiões anatômicas do corpo

contra superfícies rígidas, nas quedas, nos atropelamentos, nas ocorrências de veículos, nas

explosões, nos desabamentos e desmoronamentos.

79) Quais os tipos de lesões contusas?

As lesões contusas podem ser: Escoriações, equimoses, hematomas, bossas sanguíneas, feridas

lácero-contusas, fraturas e luxações de ossos, além de ruptura de órgãos internos.

90) Como atuam os instrumentos pérfuro-contundentes?

Estes instrumentos atuam de modo inverso à sua classificação, pois que primeiro contundem a

região anatômica atingida, e após a perfuram, principalmente, o caso dos projéteis disparados

de arma de fogo e das lanças.

91) Basicamente, quanto à origem, como podem ser as manchas?

As manchas encontradas nos locais de crime podem ser não biológicas e biológicas, estas

quando provierem de organismos vivos. É preferível esta divisão, a fim de evitar a confusão

feita por alguns autores, que classificam de inorgânica, substâncias tais como a cera, a estearina

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e o escermacete.

92) Que são manchas de sangue?

São aquelas provenientes deste líquido, localizadas no corpo ou nas vestes da vítima, do autor

do crime, sobre o solo, nas paredes ou sobre objetos. São geralmente encontradas nos locais de

crime contra a pessoa.

93) - Como podem se apresentar as manchas de sangue?

As manchas de sangue podem se apresentar de diversas formas, dependendo da quantidade de

sangue extravasado, do tipo de terreno (cimento, areia, barro), de como chegou ao solo

(projeção) e em outras superfícies, etc.

Nos locais a cor do sangue pode mudar com o tempo de exposição ao ar, com a putrefação e

com o suporte onde estiver.

94) - Como podem ser as manchas de sangue?

Podem ser:

1. Por escorrimento - São aquelas alongadas que podem se formar sobre o cadáver, a partir do

ferimento, ou sobre um suporte qualquer, desde que com inclinação, no final podem formar

poças.

2. Por projeção - Conforme a forma tomada pelas gotas de sangue, ao tocar o suporte, é

possível determinar com aproximação, a altura que caiu, o sentido da queda, onde se

encontrava a pessoa que o perdeu, e se estava parada ou em movimento.

3. Por contacto - Não são freqüentes em local de crime. Quando existem, provenientes de

mãos, dedos ou pés, devem ser devidamente analisadas, pois podem servir para um confronto

posterior, através de medidas.

4. Por impregnação - São aquelas encontradas facilmente nas vestes da vítima, algumas vezes

nas do criminoso, ou em qualquer tecido (toalhas, lençóis) existentes no local, e onde o sangue

se impregnar.

5. Por limpeza - Feitas em bordos de objetos ou em tecidos, estas. manchas irregulares indicam

que o criminoso limpou a arma utilizada antes de guardá-la, ou mesmo as mãos.

LOCAL DE FURTO

95) Que é furto e como pode ser?

O vocábulo FURTO vem do latim "FURTTUM" que significa a ação de subtrair

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fraudulentamente uma coisa que pertence a outra pessoa.

Está contida no nosso Código Penal, Art. 155 e pode ser simples (caput) ou qualificado (§ 4º e

seus incisos).

É simples quando não há violência, nem rompimento de obstáculo.

É qualificado quando, por exemplo, com o emprego de força o indivíduo rompe ou destrói o

obstáculo para subtrair a coisa.

96) Quais são as principais modalidades do furto qualificado?

São: VENTANA - é a entrada do meliante através de janela deixada aberta, ou que é aberta por

ele, quebrando os vidros ou cortando-os.

ESCALADA - Aqui muros são escalados por meio de cordas, árvores ou escadas, e o ladrão

passa ao telhado, penetrando no imóvel através de destelhamento.

ARROMBAMENTO - Neste, portas, janelas e até paredes e forros são destruídos para

possibilitar o acesso ao interior do imóvel, alvo do furto. Nestes casos os meliantes empregam

alavancas (pés-de-cabra), machados, formões, macacos hidráulicos e mecânicos, etc.

CHAVE FALSA - O emprego da cópia da chave original, de gazua, ou para alguns, a própria

chave original quando usada por alguém não autorizado.

97) Como são feitos os exames periciais nestes "locais"?

Chegando nestes locais de crime o Perito deverá dividir os exames em externos e internos.

Nos exames externos ela verificará o trajeto feito pelo arrombador na escalada, e o modo

empregado para romper o obstáculo, tudo anotando e fotografando.

Nos exames internos deverão ser pesquisadas impressões digitais, palmares, plantares,

manchas, marcas, pegadas, bem como outros indícios encontrados no local. Tudo isso deve ser

feito após minucioso levantamento fotográfico.

Quando o criminoso deixa no local os instrumentos por ele utilizado para a perpetração do

delito, estes deverão ser cuidadosamente recolhidos, pois poderão fornecer indícios valiosos.

O estudo das vias de acesso poderá levar o perito a desmascarar certos tipos de furtos

simulados. Assim, a realidade material pode não corresponder aos vestígios encontrados.

98) Que é latrocínio?

É o crime mais grave previsto em nossa legislação penal, isto é, matar alguém para roubar.

99) Que é toxicologia?

É uma ciência multidisciplinar que se encarrega dos tóxicos, de suas propriedades, modo de

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ação e modos de combater sua ação danosa.

Podendo ser estudada sob o aspecto clínico e industrial, a toxicologia pode, ainda, ser analisada

do ponto de vista forense. A toxicologia forense se encarrega de esclarecer as intoxicações,

visando estabelecer, ou não, implicações jurídicas.

Ela já é estudada como especialidade autônoma, sendo exercida por peritos criminais

toxicologistas (Farmacêuticos), a serviço da Polícia ou da Justiça e por esta razão é considerada

como integrante do universo da Criminalística.

100) Que vem a ser um tóxico?

Chamado ainda, por alguns, de "veneno", tóxico é toda substância que atuando no organismo,

provoca uma disfunção que poderá levar até a morte.

D O C UM E N TOS C O P I A

101) Que é um documento?

É a expressão da vontade de assertiva ou de negativa de uma ou mais pessoas devidamente

registrada sobre um suporte, com a finalidade de servir como meio de prova.

De acordo com o art. 232, de nosso Código do Processo Penal, consideram-se documentos

quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.

102) Que são documentos contestados?

São todos aqueles levados à polícia ou à justiça, sob a alegação de falso, no todo ou em parte.

103) Que vem a ser Documentoscopia?

É a parte da Criminalística que tem por finalidade o exame dos documentos, verificando a sua

autenticidade e (ou) a sua autoria.

Anteriormente era referida como exames em documentos suspeitos, questionados ou

contestados, ou, ainda como perícias caligráficas.

104) Que é um documento autêntico?

É aquele que está revestido das formalidades legais, emanado de Quem estava devidamente

autorizado para isso.

"Documento autêntico é aquele que reproduz sem qualquer modificação desautorizada ou

anacrônica, as condições originais de sua produção, tendo emanado de pessoa ou pessoas

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autorizadas a produzi-lo".

105) Que são escritas autênticas?

São aquelas procedentes do próprio indivíduo.

106) Quais os exames componentes da Documentoscopia?

São os exames grafoscópicos e os mecanográficos; as alterações documentais; os exames em

papel moeda; exames de selos, papéis, tintas, bem como dos instrumentos gráficos.

107) Que do documentos questionados?

Também denominados de peças-motivo, peças contestadas, peças questionadas, peças de

exame, são os documentos sobre os quais incidirão os exames periciais grafosc6picos e

documentoscópicos.

108) Que são peças de confronto?

São documentos autênticos utilizados pelos Peritos nos exames comparativos com as peças

contestadas.

Estas peças, além da irrefutável autenticidade, deverão ter adequabilidade, isto é, serem

semelhantes em características à peça questionada. Deverão ser, ainda, contemporâneas às

peças-motivo, e em número suficiente para observações mais acuradas.

109) Qual a distinção feita entre peças-padrões e peças-testes?

São todas peças de confronto. Porém, enquanto as peças-padrões são peças autênticas já

existentes, as peças-testes são obtidas quando dos exames solicitados, da pessoa(s)

interessada(s) e com aquela finalidade específica.

BALÍSTICA

110) Que é Balística?

É a ciência que estuda as armas de fogo, o alcance e direção dos projéteis delas disparados,

bem como o efeito que eles produzem.

111) Como identificar a arma que teria disparado determinado projétil?

Utilizando um microscópio balístico, o perito busca, as coincidências de marcas e micro-

estriamentos deixados pelos canos e pelas culatras nos projéteis e nas cápsulas, visando

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identificar a arma que os tenha deflagrado, e buscando a interpretação da trajetória e a

distância do disparo. 

112) - Como são denominadas as zonas ou orlas que aparecem ao redor dos orifícios de

entrada de projétil de arma de fogo, quando em alvo humano?

Podem ser: zona de contusão e enxugo; aréola equimótica; zona de tatuagem; de

esfumaçamento; de queimadura e de compressão dos gases. As duas primeiras são

consideradas efeitos primários do tiro, enquanto que as demais são em decorrência dos efeitos

secundários.

113) - O que caracteriza a zona de contusão e enxugo?

O projétil, ao ser disparado, animado de força viva e de movimento rotativo, atinge a epiderme

do tecido vivo, comprimindo-a. Este tecido, menos elástico do que a derme, rompe-se

primeiro, ficando escoriado em volta do ponto de impacto. Ao mesmo tempo o projétil,

atritando-se nele, se limpa dos resíduos em si aderidos. Os projéteis disparados das armas não

raiadas produzem estas mesmas zonas.

114) Que vem a ser aréola equimótica?

Presente com maior ou menor intensidade esta zona é provocada pelo rompimento de vasos

sangüíneos capilares da derme, quando a pele é comprimida e distendida pelo impacto do

projétil. Ocorre, assim, um extravamento de sangue ao redor do orifício de entrada, visível

exteriormente. É de grande valia para o diagnóstico das lesões produzidas em vida, ocasião em

que segue a evolução comum das equimoses, ou seja, passando do colorido vermelho ao

amarelo.

115) Como se produz a zona de tatuagem?

Esta zona é decorrente da incrustação de grânulos de pólvora incombusta, parcial ou

totalmente, na epiderme, ao redor do orifício de entrada.

A presença desta zona, sua intensidade e tamanho, bem como sua forma, dizem da distância e

direção do disparo.

116) O que caracteriza a zona de esfumaçamento?

Esta zona é caracterizada pelo depósito, em torno do orifício de entrada, da fumaça

proveniente da combustão da pólvora do cartucho. Seu colorido varia de acordo com o tipo da

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pólvora usada. Toma geralmente a forma estrelada e está presente nos disparos encostados e à

queima-roupa.

Peças de vestuários podem impedir a formação destas zonas na epiderme, mas são localizadas

nas ditas peças.

117) Em que consiste a zona de queimadura?

A zona de queimadura, também conhecida como zona de chama, ou de chamuscamento, é

provoca da pela queima dos gases superaquecidos, provenientes da combustão da pólvora.

Entretanto, como são rapidamente resfriados, somente têm faculdade de provocar queimaduras

quando da proximidade da boca do cano da arma, do alvo (de oito a dez centímetros, ou mais,

dependendo da arma e da munição).

Estão presentes nos disparos à queima-roupa e nos encostados.

118) Como é produzida a zona de compressão dos gases?

É produzida pelos gases resultantes da combustão da pólvora, e que acompanham o projétil.

Devido a elasticidade da pele, a depressão assim formada é logo desfeita, e esta zona somente

é visível logo após o disparo.

119) O que caracteriza o orifício de saída?

É caracterizado por lesões de bordos regulares ou irregulares, voltados para fora (evertidos).

Quando é encontrado, o disparo é dito transfixante ou transpassante.

120) Qual a diferença entre trajetória e trajeto de um projétil?

Trajetória é o caminho percorrido pelo projétil no ar.

Trajeto é o caminho feito por ele dentro de objeto ou de corpo humano.

121) Que é um ricochete?

É o desvio que sofre um projétil quando impacta contra superfície rígida, podendo atingir um

alvo não desejado, ou mesmo, o próprio atirador.

122) Como se classificam os disparas de arma curta, de acordo com a distância entre a

boca do cano e o alvo humano atingido pelo projétil?

Classificam-se em encostados, à queima-roupa e à distância.

123) O que caracteriza os disparos encostados?

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Encostados são aqueles disparos em que a boca do cano da arma se apóia no alvo humano,

principalmente quando encontra plano ósseo subjacente. Desta maneira os gases que escapam

acompanham o projétil mas, devido ao grande volume, refluem, rompendo e dilacerante os

tecidos para fora. O orifício de entrada fica assim, bem maior e irregular, com os bordos

estrelados e voltados para fora, sendo chamados "buraco de mina” ou "sinal de Hoffmann".

Nestas lesões as várias orlas ou zonas características se superpõem é se confundem.

124) E os disparos à queima-roupa?

Nestes, a boca do cano da arma fica numa distância do alvo que pode ir de 20cm a 7Ocm,

dependendo do comprimento do cano referido e do tipo do cartucho. Nas lesões assim

produzidas o orifício de entrada é regular, com bordos voltados para dentro, e ao redor dele é

possível pesquisar todas as zonas produzidas pelos resíduos resultantes da queima da carga de

espoletamento e de projeção.

Esta denominação vem do tempo das cargas de pólvora negra quando seus produtos de

combustão, sólidos, expelidos ainda a queimar, inflamavam a roupa das vítimas de disparos.

125) Como identificar os disparos à distância?

Nos disparos à distância o orifício de entrada é geralmente menor do que o calibre do projétil

que o produziu. Exibe os bordos regulares (nos disparos perpendiculares), e voltados para

dentro.

Nestas lesões apenas duas zonas são encontradas: a zona de contusão e enxugo e a aréola

equimótica.

126) O que ocorre nos disparos oblíquos ao alvo?

Nos disparos oblíquos ao alvo a lesão de entrada apresenta-se alongada, e as orlas que a

circundam exibem forma elipsóide excêntrica, cuja área maior é voltada para o lado do

disparo, e o eixo maior coincidente com o da trajetória.

Mesmo quando em alvo não humanos estes orifícios de entrada, maiores do que o calibre do

projétil podem levar o leigo a pensar em calibre muito maior.

127) Do ponto de vista do disparo, como distinguir homicídio de suicídio?

Não existem regras gerais, e cada caso deve ser estudado particularmente. Entretanto, alguns

pontos podem ser observados desde o início dos exames. São eles:

1) Número de orifícios de entrada de projéteis. Localizar várias entradas de projéteis não

significa necessariamente tratar-se de homicídio. Casos de suicídio com dois, três. quatro e

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cinco disparos já foram registrados.

2) Presença ou ausência de efeitos secundários de disparos. A ausência desses elementos

indicará forçosamente a hipótese de homicídio, pois a vítima não poderia afastar tanto a arma

de si, a ponto de não se manifestarem ditos vestígios; 3) Localização das lesões de entrada.

Apesar de existirem zonas eletivas para disparos nos casos de suicídio, tais como têmporas,

ouvido, boca e coração, outras zonas já foram utilizadas como alvo nestes gestos.

128) É possível determinar a direção de onde proveio um projétil disparado de arma de

fogo?

Sim, desde que o projétil produza dois pontos fixos de impacto, sendo o primeiro transpassante

e o segundo, o que reteve o projétil, ou ainda com ambos transpassante. Com esses dois pontos

é possível determinar a linha de direção mais provável do disparo.

IDENTIFICAÇÃO VEICULAR

129) Como são adulterados os veículos furtados para posterior comercialização?

São alterados de várias maneiras:

1. Adulteração de documentos sem adulterar as numerações existentes no veículo. Podem

mesmo ser feitos novos documentos, com recibos falsos de compra e venda;

2. Adulterações das próprias numerações gravadas nos veículos. Este tipo de adulteração pode

apresentar tantos métodos que seria impossível citar todos aqui. Daí relacionarmos os

principais:

a) Regravação simples, que pode ser total ou parcial;

b) Adição e subtração de caracteres;

c) Subtração da peça suporte da numeração;

d) Recobrimento da numeração original e gravação de outra numeração em local diverso;

e) Superposição da chapa metálica ao chassi original;

f) Recobrimento da peça suporte da numeração com metal de baixa fusão em forma de solda e

sobre esta, a gravação de urna nova numeração;

g) Troca de chassi, motor e carroceria entre dois ou mais veículos.

130) - Como são feitas as perícias nos veículos furtados?

Estas perícias visam determinar se o mesmo sofreu, ou não, adulterações. Consistem em

confrontar as numerações existentes no chassi e repetida na plaqueta da carroceria. Verificada

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a não autenticidade das numerações identificadoras, o Perito passa para os exames químico-

metalográficos, a fim de levantar vestígios da numeração anterior.

131) Qual o fundamento do exame químico-metalográfico utilizado na revelação dos

vestígios de gravação da numeração?

O exame em pauta se fundamenta no seguinte: quando é feita a cunhagem a frio sobre o metal,

a estrutura cristalina deste, nas porções contíguas e subjacentes, imediatas à impressão, sofrem

alterações. A pressão sofrida pelo metal, nessas regiões, torna-o mais denso, sendo que este

adensamento sobre as porções pressionadas atinge profundidades apreciáveis na estrutura

cristalina.

Estas deformações sofridas pela estrutura cristalina do metal, não visíveis, mas latentes, podem

ser reveladas através de reativos químicos adequados.

132) O que é “Modus operandi”?

É a maneira de operar, de agir de alguém. No que tange à Criminalística, muitos crimes

poderão ser esclarecidos quando o Perito consegue estabelecer o “Modus Operandi” do

criminoso, pelas características de grande tipicidade que ele poderá deixar no local, ensejando

o levantamento de substanciais informações que se conectem com a psicodinâmica daquele

delinqüente, e com a sua personalidade.

133) De que maneira o estudo do “Modus operandi” pode auxiliar a Criminalística?

O “Modus operandi” racionalmente aproveitado se constitui em magnífico auxílio na

investigação criminal, ao formar dados sobre os criminosos que procedem sempre da mesma

maneira, deixando traços de sua personalidade.

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