Apostila de Filosofia - Josias 2014 V2

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  • INTRODUO A FILOSOFIA

    Prof: JOSIAS ALVES DA COSTA e-mail: [email protected]

    BRASLIA 2013

    Instituto Educacional Evanglico do Centro-Oeste

    [email protected]

    [email protected]

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    Cadeia temtica das aulas

    Aula do dia 23 de Abril de 2014

    Tema:

    Introduo a Filosofia e a Filosofia da Religio

    1. O que filosofia? Definio e conceitos

    2. O que filosofia da religio? E

    3. Os principais filsofos antiguidade e da ps-modernidade

    4. A filosofia da religio e os pressupostos cristos

    Aula do dia 30 de Abril de 2014

    Tema:

    Epistemologia

    1. Teorias da Verdade e Ps-modernismo

    2. Racionalidade e Ceticismo

    3. A Estrutura da Justificao

    4. Filosofia e Mitologia

    Aula do dia 07 de Maio de 2014

    Tema:

    Teologia filosfica e Filosofia da Religio

    1. A Existncia de Deus

    2. O Problema do Mal e a Coerncia do Tesmo

    3. A Criao, A Providencia e Os Milagres.

    4. Trindade, Encarnao e Particularismo Cristo.

    Aula do dia 14 de Maio de 2014

    Tema:

    tica: pressupostos filosficos e teolgicos.

    1. tica, Moralidade e Responsabilidades.

    2. O carter Social da Formao Moral

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    3. Dilemas ticos do Fim do Sculo XIX

    4. Teorias tico-normativos: Egosmo e Utilitarismo

    5. REGISTRO DE ATIVIDADES PARA COMPLEMENTO DA DISICIPLINA

    Atividades a serem desenvolvidas em cumprimento da disciplina de Introduo a Filosofia: Declarao de leitura da apostila tcnica da disciplina Resenha informativa do livro Teoria do Conhecimento e Teoria da Cincia Autor: Urbano Zilles, paginas 162 a 196.

    Prazo de entrega: 06/06/2014

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    SUMRIO DEFINIO DE FILOSOFIA ......................................................................................................... 6 A IMPORTNCIA DA FILOSOFIA ................................................................................................ 7 REAS DE ATUAO: ................................................................................................................. 7 FILOSOFIA E MITO ...................................................................................................................... 9 COSMOGONIA E COSMOLOGIA ................................................................................................ 9 MITO (GR. MYTHOS: NARRATIVA, LENDA) ............................................................................ 10 OS PR-SOCRTICOS .............................................................................................................. 12 FILOSOFIA DA RELIGIO .......................................................................................................... 12 FILOSOFIA COMO MOVIMENTO AGREGADOR E CONSTITUIDOR DA EXPERINCIA HUMANA. .................................................................................................................................... 15

    FILOSOFIA COMO FORMA DE VIDA .................................................................................... 15 FILOSOFIA COMO DOUTRINA SOBRE A VIDA ................................................................... 15 FILOSOFIA COMO SABER ACERCA DAS COISAS ............................................................. 16 O VERBO FILOSOFAR PODE SER USADO COM TRS SIGNIFICADOS DISTINTOS: .... 16

    A METAFISICA............................................................................................................................ 16 O QUE METAFSICA: ......................................................................................................... 17 CONCEITOS ........................................................................................................................... 17 A METAFSICA DE ARISTTELES ....................................................................................... 19

    O CONTEDO A SEGUIR PAUTADO POR VRIOS CONCEITOS FORMANDO UM PERCURSO NO CONTEDO. ................................................................................................... 20 O FILSOFO HEGEL (SC. XIX), UM RACIONALISTA, DISSE QUE A REALIDADE RACIONALIDADE. ...................................................................................................................... 27 HABILIDADES DE RACIOCNIO ................................................................................................ 32 HABILIDADES DE FORMAO DE CONCEITOS .................................................................... 34 EPISTEMOLOGIA ....................................................................................................................... 35

    TEORIAS DA VERDADE E PS-MODERNISMO ................................................................. 35 RACIONALIDADE E CETICISMO .......................................................................................... 37 A ESTRUTURA DA JUSTIFICAO ...................................................................................... 39

    Aquele que est morto........................................................................................................ 40 Est Justificado do Pecado ................................................................................................ 41 Para que sejas justificado ................................................................................................... 42 O que o contexto nos apresenta? ...................................................................................... 42

    TEOLOGIA FILOSFICA E FILOSOFIA DA RELIGIO ............................................................ 44 CINCO VIAS QUE PROVAM A EXISTNCIA DE DEUS EM SANTO TOMS DE AQUINOA.. 47

    Argumentao sobre a existncia de Deus ............................................................................ 50 O PROBLEMA DO MAL E A COERNCIA DO TESMO ........................................................... 53

    O Mal Prova que Deus no Existe? ........................................................................................ 54 Considere Todas as Evidncias ............................................................................................. 56

    1. O argumento cosmolgico. ............................................................................................. 56 2. O argumento teleolgico. ............................................................................................... 56 3. O argumento ontolgico. ................................................................................................ 57 4. O argumento moral. ........................................................................................................ 57 5. O argumento antropolgico. ........................................................................................... 57

    O que o mal? ........................................................................................................................ 58 A CRIAO, A PROVIDNCIA E OS MILAGRES. .................................................................... 67

    A CRIAO ............................................................................................................................ 67 A verso de quem l ........................................................................................................... 69

    TEORIAS DE CRIAO DO UNIVERSO............................................................................... 70 Teoria Cientfica .................................................................................................................. 70 Teoria Crist de Criao do Mundo .................................................................................... 72 Teoria Egpcia ..................................................................................................................... 72 Teoria Grega da Criao .................................................................................................... 73

    A PROVIDENCIA .................................................................................................................... 73 Deus preserva todas as coisas .......................................................................................... 74

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    Deus age em todas as coisas ............................................................................................ 76 O Concursus e os Atos Bons 3 ........................................................................................ 77 O Concursus e os Atos Maus .......................................................................................... 78 Deus governa todas as coisas ........................................................................................... 81

    OS MILAGRES ....................................................................................................................... 83 TRINDADE, ENCARNAO E PARTICULARISMO CRISTO. ................................................ 84

    A TRINDADE .......................................................................................................................... 84 Analisando algumas objees ............................................................................................ 85 A Trindade no Antigo Testamento ...................................................................................... 86 A Trindade no Novo Testamento ........................................................................................ 88 Jesus Cristo ........................................................................................................................ 89 Avaliao bblica ................................................................................................................. 89 Jesus no o Arcanjo Miguel ............................................................................................ 91 Jesus no "um deus" ....................................................................................................... 91 Esclarecendo termos mal interpretados ............................................................................. 91 Esclarecendo textos mal interpretados .............................................................................. 94 Textos e termos mal aplicados ao Esprito Santo .............................................................. 99 Refutao: .......................................................................................................................... 99 Refutao: ........................................................................................................................ 100 Argumentos mal aplicados para se batizar somente em nome de Jesus ........................ 101

    A ENCARNAO ................................................................................................................. 102 PARTICULARISMO CRISTO ............................................................................................. 109

    DEFINICIN ..................................................................................................................... 109 CONCEPTOS E IDEAS CLAVE ....................................................................................... 110

    TICA: PRESSUPOSTOS FILOSFICOS E TEOLGICOS. ................................................. 113 DEFINIO ........................................................................................................................... 113 CDIGOS DE TICA............................................................................................................ 113 A TICA EM AMBIENTES ESPECFICOS........................................................................... 113 ANTITICA ........................................................................................................................... 114 O QUE TICA NA FILOSOFIA: ......................................................................................... 114 RESPONSABILIDADES. ...................................................................................................... 115

    Responsabilidade social ................................................................................................... 116 Responsabilidade civil ...................................................................................................... 116

    O CARTER SOCIAL DA FORMAO MORAL ................................................................. 116 Carcter pessoal da moral................................................................................................ 117

    Dilemas ticos do Fim do Sculo XIX ....................................................................................... 118 Teorias tico-normativos: Egosmo e Utilitarismo .................................................................... 125

    O que Egosmo: ................................................................................................................. 125 O que Egocentrismo: ..................................................................................................... 126 Piaget e o egocentrismo ................................................................................................... 127

    Conceito de utilitarismo ......................................................................................................... 127 REFERENCIAS ......................................................................................................................... 129

  • 6

    INTRODUO A FILOSOFIA E A FILOSOFIA DA RELIGIO

    DEFINIO DE FILOSOFIA

    difcil dar-se uma definio genrica de filosofia, j que esta varia no

    s quanto a cada filsofo ou corrente filosfica, mas tambm em relao

    histrica. Atribui-se a Pitgoras a distino entre o saber e a filosofia, que

    seria a "amizade ao saber", a busca do saber. Com isso se estabeleceu, j

    desde sua origem, uma diferena de natureza entre a cincia, enquanto saber

    especfico, conhecimento sobre um domnio do real, e a filosofia que teria um

    carter mais geral, mais abstrato, mais reflexivo, no sentido da busca dos

    princpios que tornam possvel o prprio saber. No entanto, no

    desenvolvimento da tradio filosfica "filosofia" foi frequentemente usado para

    designar a totalidade do saber, a cincia em geral, sendo a metafsica a cincia

    dos primeiros princpios, estabelecendo os fundamentos dos demais saberes.

    O perodo medieval foi marcado pelas sucessivas tentativas de

    conciliao entre razo e f, entre a filosofia e os dogmas da religio revelada,

    passando a filosofia a ser considerada theologiae, a serva da teologia, na

    medida em que fornecia as bases racionais e argumentativas para a

    construo um sistema teolgico, sem, contudo, poder questionar a prpria f.

    O pensamento moderno recupera o sentido da filosofia como

    investigao dos primeiros princpios, tendo, portanto, um papel de fundamento

    da cincia e de justificao da ao humana. A mente a partir do Iluminismo,

    vai atribuir filosofia exatamente esse papel de investigao de pressupostos,

    de conscincia de limites, de crtica da cincia e da cultura. Pode-se supor que

    essa concepo, mais contempornea tem razes no ceticismo, que, ao duvidar

    da possibilidade da cincia e do conhecimento, atribuiu filosofia um papel

    quase que exclusivamente questionados.

  • 7

    Na filosofia contempornea, encontramos assim, ainda que em

    diferentes correntes e perspectivas, como investigao crtica, situando nvel

    essencialmente distinto do da cincia, embora intimamente relacionado a esta,

    j que descobertas cientficas muitas vezes suscitam questes e reflexes

    filosficas e frequentemente problematizam teorias cientficas. Essa relao

    reflexiva entre a filosofia e os outros campos do saber fica clara, sobretudo, nas

    chamadas "filosofia de": filosofia da cincia, filosofia da arte, filosofia da

    histria, filosofia da educao, matemtica, filosofia do direito etc.

    A IMPORTNCIA DA FILOSOFIA

    A Filosofia surge com a necessidade humana de compreender o

    mundo e buscar um sentido para sua existncia. um conjunto de concepes

    a respeito do homem e do seu papel no universo; as atitudes reflexivas, crticas

    e especulativas em busca da verdade ou de certezas que possam orientar a

    ao humana. O filsofo tem como objeto de estudo a essncia do ser. Ele

    estuda as possibilidades e os limites do conhecimento, a origem e a finalidade

    das coisas, a natureza de Deus, o sentido da vida. um profissional que tem

    no ato de pensar sua principal ferramenta.

    Seu pensamento transmitido pela linguagem escrita e oral. Por este

    motivo dever apaixonado pela leitura, desenvolver raciocnio abstrato e

    prezando a oratria e a habilidade e clareza vocabular. A caracterstica

    principal do filsofo e a curiosidade, a inquietao e a paixo pela sabedoria.

    Isto projeta-o na busca de uma explicao para os fatos e fenmenos que

    ocorrem a sua volta e faz avizinhar-se das pesquisas e produes cientficas

    dos diversos campos de saber. O campo de atuao vasto, mas pouco

    reconhecido.

    REAS DE ATUAO:

    Pesquisa (investiga todos os campos do conhecimento, refletindo sobre

    os valores que definem o comportamento humano); magistrio (em escolas e

    universidades): crtica (faz comentrios a obras artsticas, literrias ou

  • 8

    cientficas; escreve livros e artigos); gerenciamento editorial (seleciona ttulos e

    participa da edio de obras); consultoria (presta assessoria a empresas no

    que se refere tica, poltica, linguagem, educao, religio; participa de

    palestras, seminrios e conferncias).

  • 9

    FILOSOFIA E MITO

    A filosofia ocidental teve seu incio na Grcia antiga. A palavra

    "filosofia" filosofia palavra de origem grega. Philo vem de philia a ver com

    companheirismo, amor fraterno, amizade. Sophia vem de sophos, que quer

    dizer sbio. Assim, em geral, quando se parte da etimologia da palavra, temos

    que "filosofia" o amor ao saber, a amizade profunda sabedoria; e o filsofo,

    ento, aquele que tem um apreo especial pela sabedoria.

    A filosofia, nesta perspectiva grega, uma atividade que visa levar ao

    saber. E sua histria, para a maioria dos manuais, tem como primeiro

    adversrio o mito, que, aos olhos do filsofo, no estaria preocupado em levar

    ao saber, ao conhecimento, tomando aqui a palavra conhecimento como saber

    verdadeiro, no contraditrio, que no busca causas em relaes

    sobrenaturais, mas em relaes naturais.

    A palavra mito tambm tem uma origem grega, ela vem de mythos. H

    dois verbos que confluem para mytheo, que tem a ver com a conversa

    designao, e mytheyo, que tem a ver com a narrao, com o contar algo para

    outro. O mito narra algo que inquestionvel para quem est inserido fielmente

    na atividade de ouvi-lo. Ele tem a funo de dizer algo que tal pessoa acredita

    sem pensar muito de modo a coloc-lo em dvida. Seu papel de informar e

    dar sentido existncia de quem cr nele, mas, principalmente, o de socializar

    as pessoas e criar uma comunidade que forma o "ns", os que se organizam

    socialmente da mesma forma exatamente porque, entre o que possui de

    comum, o mito no s alguma coisa forte, mas exatamente a narrativa

    (nica) que diz o que comum para este "ns".

    COSMOGONIA E COSMOLOGIA

    As cosmogonias so de certa forma, narrativas sobre as origens do

    mundo. Em geral elas esto presentes nos mitos, isto quando no so a sua

    essncia. Falam de unio sexual entre deuses, que geram o mundo, ou unio

  • 10

    sexual entre deuses e humanos, que em geral criam situaes complexas e

    do o enredo a uma histria que explica divises, guerras, cimes, paixes e

    disputas sobre a justia, etc.

    As cosmologias j esto mais para o campo do pensamento filosfico

    do que para o pensamento mitolgico. Para vrios autores da histria da

    filosofia, elas so a origem do pensamento filosfico, e outros, mais propensos

    a verem continuidade do que rupturas na histria do pensamento tendem a ver

    as cosmologias como o incio do pensamento cientfico. As cosmologias so

    teorias a respeito da natureza do mundo.

    As cosmogonias so genealogias. Diferentemente, as cosmologias so

    conhecimento a respeito de elementos primordiais, mas naturais. O

    pensamento cosmolgico remete phsis, a palavra grega que tem a ver com

    o que eterno e de onde tudo surge, nasce, brota. Trata-se de um elemento

    gera todos os outros elementos naturais, que so perecveis.

    MITO (GR. MYTHOS: NARRATIVA, LENDA)

    1. Narrativa lendria, pertencente tradio cultural de um povo, que explica

    atravs do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do

    universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores bsicos do

    prprio povo. Ex.: o mito de sis e Osris, o mito de Prometeu etc. O surgimento

    do pensamento filosfico cientfico na Grcia antiga (sc.Vl a.C.) visto como

    uma ruptura com o pensamento mtico, j que a realidade passa a ser

    explicada a partir da considerao da natureza pela prpria, a qual pode ser

    conhecida racionalmente pelo homem, podendo essa explicao ser objeto de

    crtica e reformulao; da a oposio tradicional entre mito e logos

    2. Por extenso, crena no-justificada, comumente aceita e que, no entanto,

    pode e deve ser questionada do ponto de vista filosfico. Ex.: o mito da

    neutralidade cientfica, o mito do bom selvagem, o mito da superioridade da

    raa branca etc. A critica ao mito, nesse sentido_ produziria uma

    desmistificao dessas crenas.

  • 11

    3. Discurso alegrico que visa transmitir uma doutrina atravs de uma

    representao simblica. Ex.: o mito ou alegoria da caverna e o mito do Sol, na

    Repblica de Plato.

  • 12

    OS PR-SOCRTICOS

    Os pensadores pr-socrticos viveram no "mundo grego", mas nem

    todos antes de Scrates. Alguns sim, outros no. Eles viveram entre o sculo

    sete e o meio do sculo quarto A.C. Scrates nasceu em 470 e morreu em 399

    A.C. (todas as datas, antes de Cristo, so, na sua maioria, estimativas). Uma

    boa parte desses pensadores foram, antes de tudo, cosmlogos. E vrios deles

    trabalharam em um sentido reducionista, isto , tentaram encontrar uma

    substncia nica, ou fora exclusiva, ou princpio bsico capaz de ser

    apresentado como o elemento efetivamente real e primordial do cosmos.

    A filosofia dos Pr-socrticos (Filsofos da Natureza) voltava o seu

    pensamento para a origem (racional) do mundo, do cosmos. Ou seja, estes

    filsofos dedicavam-se s investigaes cosmolgicas, buscando a arch (o

    princpio fundamental de todas as coisas). De seus escritos quase tudo se

    perdeu, restando apenas poucos fragmentos a respeito da Cosmologia: estudo,

    teoria ou descrio dos cosmos, do universo.

    FILOSOFIA DA RELIGIO

    Dentro das divises que existem na filosofia, existe a Filosofia da

    Religio, que tem por objetivo estudar a dimenso espiritual que o homem

    possui desde uma perspectiva filosfica, que adquirida atravs dos estudos,

    indagando e pesquisando sobre toda a essncia que o fenmeno religioso

    exerce sobre o homem, colocando sempre em pauta a pergunta que todos

    fundamentalmente apreciam O que , afinal, a religio?.

    Quem estuda a filosofia da religio, geralmente usa o mtodo histrico-

    crtico, que compara as vrias religies no tempo e no espao, buscando seus

    aspectos comuns e suas diferenas, verificando sempre como constituda a

    essncia do fenmeno religioso; o comparativo faz estudo comparando as

    lnguas, querendo encontrar palavras que so utilizadas para que descreva e

  • 13

    expresse o sagrado e suas razes comuns; o filosfico e o antropolgico

    procuram reconstrurem o passado religioso tirando como base a etnologia.

    Para que consiga obter uma soma de elementos favorveis para

    alcanar uma concluso correta do que a essncia da religio e de suas

    caractersticas universais, sendo assim a Filosofia da Religio dever realizar

    uma adequada conjugao desses mtodos. Entre as pessoas a Filosofia da

    Religio no bem uma prioridade, podendo citar que nos tempos atuais o que

    predomina com grande vultuosidade a conscincia ditada pelo saber

    cientfico, pela tcnica e pela crtica iluminista, ignorando uma postura

    consideravelmente de pensamentos religiosos, no entanto, nas ltimas

    dcadas a teologia minou em quase todas as teologias, que para o cristo a

    nica coisa que restou foi o recurso que podem possuir atravs da bblia.

    Os que contestam os pensamentos religiosos, bem como o prprio

    atesmo, somente compreendem-se dentro do paradigma monotesta, apesar

    de no poder ignorar uma ruptura evidente com a tradio metafsica e

    teolgica. A filosofia moderna com a devida conscincia foi distanciada da

    teologia, na qual ficou para trs assuntos que transcenderiam a arte e a

    literatura, assim sendo, no havendo referncia positiva ou at mesmo as

    crticas para a tradio religiosa, no seria somente o problema que envolveria

    a Deus se tornaria impensvel e incompreensvel, mas a prpria racionalidade

    ocidental.

    Todos possuem dentro de si muitas indagaes referentes religio

    num todo, e quando se inicia um estudo em relao entre religio e razo,

    sempre se coloca frente a f religiosa que busca as explicaes, mas quando

    adentramos em suas anlises, pode verificar que a mesma no objeto de

    explicao.

    certo que dentro de uma racionalidade, ela situa-se totalmente capaz

    em esclarecer, ela procura dar sentido para a vida, sempre na medida em que

    a interpretamos, no entanto, a racionalidade torna-se uma condio necessria,

    mas jamais suficiente ao vigor de uma f religiosa. Essa f religiosa que todos

    buscam no depende nica e exclusivamente de uma prova ou de uma

  • 14

    justificativa filosfica, a linguagem religiosa sempre foi e ser atravs de

    smbolos e estes no se desfazem atravs de um sistema filosfico.

  • 15

    FILOSOFIA COMO MOVIMENTO AGREGADOR E

    CONSTITUIDOR DA EXPERINCIA HUMANA.

    FILOSOFIA COMO FORMA DE VIDA

    O termo filosofia pode designar, antes de tudo, uma forma de vida:

    a filosofia entendida como vida filosfica, como viver filosoficamente; assim

    entendiam a filosofia, por exemplo, os filsofos cnicos e cirenaicos e, em

    muitos aspectos, os prprios filsofos esticos.

    Esta acepo do termo filosofia ainda ressoa na nossa linguagem

    quando dizemos que algum conduz a sua vida com muita filosofia; esta

    mesma acepo do termo filosofia recolhida nas acepes 3 e 4 do termo

    filsofo no Dicionrio AURLIO:

    Filsofo aquele que procede sempre com sabedoria e reflexo, que

    segue uma filosofia de vida.

    Filsofo aquele que vive tranqilo e indiferente aos preconceitos e

    convenes sociais.

    FILOSOFIA COMO DOUTRINA SOBRE A VIDA

    O termo filosofia pode designar tambm uma doutrina sobre a vida:

    a filosofia entendida, sobretudo, como resposta ao problema do sentido da vida

    e da existncia humana.

    aquilo que no fim do sculo XIX e comeo do sculo XX chamou-se

    de filosofia da vida (Lebensphilosophie); o mesmo DILTHEY no alheio a

    esta ideia da filosofia.

  • 16

    FILOSOFIA COMO SABER ACERCA DAS COISAS

    O termo filosofia poder designar, finalmente, um saber acerca das

    coisas: a filosofia entendida como conhecimento intelectivo (no sentido mais

    amplo desses termos) acerca das coisas (abrangendo entre as coisas o

    homem e a sua vida).

    Esta terceira acepo do termo filosofia a que nos interessa

    especialmente, ainda que no unicamente; a ela aponta sobretudo, como

    temos dito, o termo filosofia na sua origem: a filosofia entendida como saber

    que busca a dimenso ltima e radical da vida e das coisas.

    Pois bem, para poder dar uma definio mais estrita do que a filosofia

    enquanto saber que busca a dimenso ltima e radical da vida e das coisas,

    necessrio, antes de tudo, que digamos em que consiste essa dimenso

    ltima e radical das coisas (incluindo nelas a vida mesma) que busca esse

    saber, essa sabedoria, que chamamos de filosofia.

    O VERBO FILOSOFAR PODE SER USADO COM TRS SIGNIFICADOS

    DISTINTOS:

    Como simples sinnimo de pensar. s vezes, os acontecimentos da

    vida nos fazem filosofar.

    Como sinnimo de saber viver virtuosamente. Aqui filosofar viver com

    sabedoria.

    Como o filosofar propriamente dito, que teve incio da Grcia, em torno

    dos sculos VI e V a.C. Por essa poca comeou-se a pensar a natureza, o ser

    humano , o conhecimento, os mitos, as verdades, a cultura e toda a forma de

    viver passa a ser questionada.

    A METAFISICA

  • 17

    O QUE METAFSICA:

    Metafsica um ramo da filosofia que estuda a essncia do mundo. Se

    ocupa em procurar responder perguntas tais como: O que real? O que

    natural? O que sobrenatural? O ramo central da metafsica a ontologia, que

    investiga em quais categorias as coisas esto no mundo e quais as relaes

    dessas coisas entre si. A metafsica tambm tenta esclarecer as noes de

    como as pessoas entendem o mundo, incluindo a existncia e a natureza do

    relacionamento entre objetos e suas propriedades, espao, tempo,

    causalidade, e possibilidade. (http://dicionarioinformal.com.br/metaf)

    CONCEITOS

    Metafsica uma palavra com origem no grego e que significa "o que

    est para alm da fsica". uma doutrina que busca o conhecimento da

    essncia das coisas. Estudos que vo alm da natureza, alm do fsico, alm

    daquilo que se possa ver ou tocar.

    O termo metafsica foi consagrado por Andrnico de Rodes a partir da

    ordenao dos livros aristotlicos referidos cincia dos primeiros princpios e

    primeiras causas do ser.

    Para Aristteles a metafsica , simultaneamente, ontologia, filosofia e

    teologia, na medida em que se ocupa do ser supremo dentro da hierarquia dos

    seres. Neste sentido, foi recolhida pela filosofia tradicional at Kant, que se

    interrogou sobre a possibilidade da metafsica como cincia.

    A interpretao da metafsica como estudo do "sobrenatural" de

    origem neoplatnica. A tradio escolstica identificou o objeto de estudo da

    metafsica com o da teologia, ainda que tenha distinguido as duas pelos

    mtodos usados: para explicar Deus, a metafsica recorre razo e a teologia

    revelao.

    Na Idade Moderna, ocorre uma clara separao entre a concepo

    aristotlica e a neoplatnica: a metafsica como ontologia se converte em teoria

    das categorias, teoria do conhecimento e teoria da cincia (epistemologia);

  • 18

    como cincia do transcendental, se converte em teoria da religio e das

    concepes do mundo.

    No sculo XVIII a metafsica era considerada equivalente a uma

    explicao racional da realidade e no sculo XIX pura especulao perante o

    carter positivo das cincias. A partir de Heidegger e Jaspers, os pensadores

    interessados na problemtica do ser se esforaram por elaborar uma noo de

    metafsica factvel e atual.

    A obra A Fundamentao da Metafsica dos Costumes, da autoria de

    Kant (um importante nome no estudo da metafsica) aborda a problemtica da

    moralidade humana.

    A palavra metafsica possui origem grega e significa: meta: depois de,

    alm de e fsica/physis: natureza ou fsico, e trata-se de um ramo da filosofia

    que se ocupa em estudar a essncia do mundo. Pode ser definida como o

    estudo do ser ou da realidade, e se destina a buscar respostas para perguntas

    complexas como: O que realidade? O que a vida? O que natural? O que

    sobre-natural? O que nos faz essencialmente humanos?

    William James conceituou metafsica como sendo "apenas um esforo

    extraordinariamente obstinado para pensar com clareza". Trata-se de uma

    viso simplista e equivocada de pessoas que s conseguem perceber a vida

    por meio de dimenses prticas. Os homens em geral sentem-se mais

    vontade quando pensam sobre como fazer uma coisa ou outra, do que pensar

    no motivo pelo qual esto fazendo. por isso que a poltica, a engenharia e a

    indstria so consideradas mais naturais pelos homens do que a filosofia, por

    exemplos. A metafsica no est interessada, de maneira nenhuma, por esse

    "comos" da vida humanas, mas sim pelos "porqus", por aquelas questes que

    uma pessoa pode passar a vida inteira para formular, sem muitas vezes

    encontrar uma resposta satisfatria.

    Para se formular um pensamento metafsico preciso pensar, sem

    estar baseado em dogmas ou de forma superficial, nos bsicos e intrigantes

    problemas da existncia dos homens. So problemas bsicos por serem

    fundamentais para a vida humana e porque muitos aspectos da vida dependem

    deles. Tomemos como exemplo a religio, ,ela no metafsica, porm quando

  • 19

    nos questionamos sobre o motivo das crenas e das prticas religiosas e sua

    influencia no viver dirio, passamos a pensar metafisicamente.

    Sob o ttulo de a Metafsica Aristteles escreveu uma de suas

    principais obras e o primeiro grande trabalho com relao ao que vem a ser

    metafsica. O objeto de estudo dessa obra no ser algum, mas o estudo do

    ser enquanto ser. (Gabriela E. Possolli Vesce)

    A METAFSICA DE ARISTTELES

    No conjunto de obras denominado Metafsico, Aristteles buscou

    investigar o ser enquanto ser. Significa que buscou compreender o que

    tornava as coisas o que elas so. Nesse sentido, as caractersticas das coisas

    apenas nos mostram como as coisas esto, mas no definem ou determinam o

    que elas so. preciso investigar as condies que fazem as coisas existirem,

    aquilo que determina o que elas so e aquilo que determina como so.

    Em sua metafsica, Aristteles fala acerca dos primeiros princpios. Os

    primeiros princpios dizem respeito aos princpios lgicos, a saber: o princpio

    de identidade, da no contradio e do terceiro excludo. O princpio de

    identidade auto evidente e determina que uma proposio sempre igual a

    ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princpio da no contradio afirma que

    uma proposio no pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. No se

    pode propor que um tringulo possui e no possui trs lados, por exemplo. O

    princpio do terceiro excludo afirma que ou uma proposio verdadeira ou

    falsa, e no h uma terceira opo vivel. Tais princpios, deste modo,

    garantem as condies que asseguram a realidade das coisas.

    Alm dos princpios, de acordo com Aristteles, existem quatro causas

    fundamentais que tambm so condies necessrias para que as coisas

    existam. As causas so: material, formal, eficiente e final. A causa material a

    matria da qual feita a essncia das coisas. A causa formal diz respeito

    forma da essncia. A causa eficiente aquela que explica como a matria

  • 20

    recebeu determinada forma. A causa final aquela que determina a finalidade

    das coisas existirem e serem como so.

    Para compreender a conceituao das causas, pode-se pensar numa

    pedra que rola a montanha. A causa material o minrio da pedra, a causa

    formal a inclinao da montanha, a causa eficiente o empurro feito na

    pedra e a causa final a vontade da pedra de atingir o nvel mais baixo. Assim,

    os primeiros princpios e as quatro causas so as condies bsicas para que

    as coisas existam e possam ser conhecidas.

    Disto, Aristteles investiga sobre o que as coisas so. Nesse ponto,

    visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Plato, que afirmava

    que a essncia das coisas est num mundo inteligvel. Para Aristteles, a

    essncia das coisas est nas prprias coisas e no separada num mundo das

    formas e ideias perfeitas, isto , a essncia est na substncia. A substncia,

    para ele, a fuso da matria com a forma. Uma escultura de madeira, por

    exemplo, a fuso da madeira (matria) com o projeto do arteso (forma).

    A partir dessa concepo, era ainda necessrio que Aristteles desse

    conta do problema do movimento, pois a substncia possui a matria que

    est em constante movimento (transformao) e a forma (que imvel). Para

    superar tal problema, ele usa a ideia de potncia e ato. As substncias

    possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a

    gasolina, por exemplo, inflamvel. Significa afirmar que ela possui potencial

    para pegar fogo, porm preciso pelo menos uma fasca para que a potncia

    se torne realidade, ato.

    Com isto, a metafsica de Aristteles visa mostrar que o Estar em

    movimento possui mais importncia do que o Ser imvel de Plato.

    (Filipe Rangel Celeti)

    O CONTEDO A SEGUIR PAUTADO POR VRIOS CONCEITOS FORMANDO UM PERCURSO NO CONTEDO.

  • 21

    Origem existencial da Filosofia - importante saber o que so os

    conceitos 'mitologia' e 'filosofia' assim como mostrar o que os diferenciam.

    Neste item aparece o conceito 'logos'. O conceito 'existencial' refere-se

    natureza, a existncia das coisas do mundo e no ao existencialismo

    contemporneo relacionado ao sofrimento e emoes humanas. Aparecem

    tambm os conceitos 'narrativa' e 'causa', 'transcendente' e 'imanente'.

    Origem histrica da Filosofia - Deste item, os conceito mais importantes

    so 'democracia', 'poltica', 'linguagem alfabtica'.

    Noes de Lgica - Os conceitos so bem demarcados: 'inferncia',

    'verdade', 'validade', 'raciocnio dedutivo' e 'raciocnio indutivo'.

    Concepo de ser humano na Antigidade - Qual a relao entre os

    conceitos 'alma' e 'razo'; e a relao entre 'corpo' e 'desejo'. Lembrar que, de

    acordo com Aristteles, o homem um ser racional e no um ser de desejo. E

    que por ser racional, o homem um ser poltico, pois capaz de decidir sobre

    as coisas da plis com racionalidade.

    O homem como ser poltico na Antigidade - O que significa 'poltico'

    para Plato e Aristteles? Lembrar que, para Plato, o conceito 'poltica' est

    vinculado ao conceito 'idia' e a tica 'virtude cincia' e para Aristteles, est

    vinculado ao que possibilita chegar no 'justo meio'.

    tica e poltica na Antigidade - Qual o significado dos conceitos

    'prazer ' e 'virtude' e o que eles tm a ver com Scrates e os sofistas. Ainda

    neste item: o que significa 'verdade' e 'opinio'; e tambm 'universal' e 'relativo',

    e 'subjetivo' e 'objetivo'.

    Conhecimento sensvel e conhecimento inteligvel - Lembrar que estes

    conceitos, 'sensvel' e 'inteligvel', esto relacionados ao Tema do

    Conhecimento na Antigidade. Eles no esto relacionados nem com a

    concepo de ser humano nem com a tica ou a poltica. Lembrar que apesar

    de sensvel lembrar o termo empirismo e inteligvel lembrar o termo

    racionalismo, estes tipos de conhecimento no so considerados concepes

    filosficas.

    Na Antiguidade ainda no Tema do Conhecimento - O que 'ceticismo'

    e o que 'dogmatismo'. Lembrar que os cticos advogavam a impossibilidade

  • 22

    do conhecimento e os dogmticos a possibilidade do conhecimento absoluto na

    forma de dogmas ou axiomas.

    Renascimento - O que homem para os humanistas renascentistas? A

    questo 02 do vestibular UFMG/2006 foi sobre este tpico. A probabilidade de

    cair novamente muito pequena, mas no impossvel. Para ver a questo

    clique aqui.

    Maquiavel e problema do poder - Neste item, voc ter que saber o

    que 'repblica', por que para Maquiavel a 'poltica' est desvinculada da 'tica

    crist'. Qual a relao entre o 'poder' e aristocracia e a 'liberdade' e o povo

    (sditos). Por que no se devem desprezar os conflitos quando se trata de

    formar uma repblica.

    O homem senhor da natureza - Conceitos: 'razo', 'leis da natureza',

    'penso, logo existo', 'dvida hiperblica', 'princpio fundamental'.

    Dever e liberdade em Kant - Conceitos importantes: 'dever' e

    'imperativo categrico', 'tica racional', 'liberdade' e 'autonomia'.

    Revoluo cientfica sec. XVII - O que ' revoluo'? 'Fenmeno' e

    'causa' do fenmeno.

    Racionalismo e empirismo - O conceito 'racionalismo' relacionado a

    Descartes e o conceito 'empirismo' relacionado a Hume.

    A questo da subjetividade - Relacionada ao Tema do Conhecimento,

    a 'subjetividade' tem a ver com 'solipsismo epistemolgico' de Descartes, ao

    'Penso, logo existo.'

    A existncia na contemporaneidade - A 'existncia' um conceito que

    est relacionado ao 'existencialismo' de Kierkeggard a Sartre.

    O homem como objeto da Cincia - O homem como objeto de

    experincias; o sagrado invadido internamente e externamente, o homem

    como fora de trabalho agregado ao capital; o homem como objeto de

    experincias.

    A crtica conscincia: Marx, Nietzsche e Freud - Eles so chamados

    de 'mestres da suspeita' pois eles foram os primeiros filsofos a suspeitarem da

    'razo iluminista'. Perceberam os limites e os defeitos da racionalidade

    humana.

  • 23

    Totalitarismo e democracia - 'Totalitarismo' no 'ditadura' e nem

    'tirania'; 'democracia' est relacionada s diferentes opinies e a liberdade em

    express-las. Democracia emana do povo, totalitarismo o reino do 'terror' e

    'banalizao da violncia'.

    Positivismo - 'Cincia como religio' em Comte.

    Crtica ao positivismo - Conceitos: 'falsificacionismo' de Popper,

    'paradigmas' de Kuhn.

    A crise da razo - O primeiro sinal visvel a todos desta crise foi o

    afundamento do Titanic, posteriormente a Primeira e Segunda Guerra Mundial,

    o Holocausto e finalmente as bombas atmicas no Japo. E para completar

    esta crise, vimos os atentados terroristas aos EUA e a Guerra do Iraque. Estas

    foram demonstraes da incapacidade da razo humana para resolver

    problemas humanos. Mas, ateno: a crise da razo um tema que no

    Contedo Programtico que esta em o tema do conhecimento na

    contemporaneidade e no na tica ou na poltica.

    Razo "A razo pode lutar corpo a corpo com os terrores, e derrub-

    los." Eurpedes Os conflitos que mais chamam a ateno nas notcias tendem

    ou a ser de natureza poltica e militar, ou a envolver a luta entre as pessoas e o

    ambiente natural quando, nas inundaes, nas secas e nas pragas, este se

    torna hostil.

    Mas subjacente a estes, e deles distinta uma vez que se trata de uma

    luta cujas propores so as da prpria histria, encontra-se outra luta, uma

    luta profunda e muito importante porque d forma aos destinos humanos de

    longo prazo. Trata-se da luta das ideias, exprimindo-se em termos de

    ideologias, poltica e enquadramentos conceituais que determinam convices

    e morais.

    A nossa compreenso da situao humana e as escolhas que fazemos

    na gesto das indisciplinadas e difceis complexidades da existncia social

    assentam em ideias geralmente, ideias sistematizadas em teorias. So as

    idias que, em ltima instncia, arrastam as pessoas para a paz ou a guerra,

    que do forma aos sistemas em que vivem e que determinam o modo como os

    escassos recursos mundiais so partilhados. As ideias tm importncia e, por

  • 24

    conseguinte, tambm a tem a questo da razo, atravs da qual as idias

    vivem ou morrem.

    Vista a certa luz, a razo o armamento das ideias, a arma empregue

    nos conflitos travados entre pontos de vista. Isto indica que, num certo sentido,

    a razo um absoluto que, corretamente utilizado, pode pr termo a disputas e

    guiar-nos at verdade. Mas a razo, entendida desta forma, tem sempre

    inimigos. Um deles a religio, que afirma que a revelao, vinda de alm-

    mundo, veicula verdades que no podem ser descobertas pela investigao

    humana, situada no seu seio.

    Outro desses inimigos o relativismo, a opinio de que as diferentes

    verdades, as diferentes opinies, as diferentes formas de pensar so todas

    igualmente vlidas, no existindo um ponto de vista com autoridade, do qual

    elas possam ser avaliadas. Os grandes debates ocorridos entre cincia e

    religio constituem expresses clssicas deste conflito subjacente que existe

    entre concepes concorrentes acerca do lugar e natureza da razo. A maior

    parte da cincia e da filosofia encontra-se do lado que afirma que a razo,

    apesar das suas imperfeies e falibilidades, fornece uma norma qual os

    pontos de vista concorrentes tm de se submeter para apreciao.

    Os defensores da razo so, assim, hostis s opinies "ps-

    modernistas" agora em voga, que afirmam a existncia de autoridades mais

    poderosas do que a razo, como a raa, a tradio, a natureza ou as entidades

    sobrenaturais. Pensava-se, outrora, que as caractersticas e valores humanos

    permaneciam inalterados, mas a engenharia social e as outras formas de

    engenharia tornaram-nos variveis manipulveis e, em resultado disso,

    perdemos as premissas com base nas quais raciocinvamos acerca dos fins e

    dos meios.

    O poder da tecnologia oferece-nos mltiplas escolhas e, desta forma,

    usurpa os pontos de partida fixos do passado; assim, andamos deriva,

    indecisos quanto a valores e objetivos. Nestas circunstncias, as vozes das

    sereias fazem-se ouvir mais alto: acreditemos em deuses, dizem elas, ou

    poes, ou configuraes planetrias, como forma de nos orientarmos. Ou, na

    linguagem ps-modernista: reconheamos que s h "discursos", cada um to

  • 25

    vlido como o anterior. Poder ser verdade que a experincia humana agora

    mais fragmentada e assediada por ironias do que outrora foi, e que isso debilita

    a confiana. Mas, ainda assim, dizem os defensores da razo, a razo continua

    a ser, de longe, o melhor guia na procura do conhecimento, e portanto, apesar

    dos seus defeitos e limitaes, no nos devemos distanciar dela.

    H muitas pessoas que rejeitam completamente esta opinio. A

    civilizao ocidental est em crise, dizem, precisamente porque acreditamos na

    razo. Vivemos na escravido de um ideal utpico de sociedade racional,

    sugerido em primeiro lugar pelos pensadores iluministas, no sculo XVIII; mas

    o resultado, contrrio s esperanas de pessoas como Voltaire, no libertou a

    humanidade; antes a escravizou num corporativismo burocrtico que cambaleia

    incontido por um desgnio moral, de desastre em desastre.

    O argumento anti-racionalista diz mais ou menos o seguinte: Os

    filsofos iluministas procuraram resgatar as pessoas da arbitrariedade do poder

    real ou clerical, substituindo-o pelo governo da razo. Mas o seu sonho ruiu

    devido s limitaes da prpria razo. O que aconteceu foi apenas um

    aumento da influncia das elites tcnicas. O mundo, em suma, tornou-se um

    feudo dos gestores. Os detentores do capital no controlam o capital, os

    eleitores no controlam a poltica tudo governado por gestores que, e s

    eles, sabem como manipular as complexidades estruturais da sociedade. E os

    objetivos dos gestores lucro, vitrias eleitorais no obedecem moral.

    Este corporativismo tecnocrata aplicava-se tanto ao antigo Bloco de

    Leste como se aplica ao Ocidente. Na verdade, dizem tais crticos, a distino

    Leste-Oeste, como a distino entre Esquerda e Direita, no sequer uma

    distino verdadeira, mas uma fico da estratgia gestora atravs da qual a

    Era da Razo se sustenta a si mesma. Basta elaborar uma lista dos problemas

    da civilizao contempornea para que qualquer pessoa consiga apresentar

    argumentos reveladores.

    Os crticos da razo fazem-no bastante eloquentemente. Os polticos,

    lembram-nos eles, conseguem safar-se dizendo disparates literais porque o

    que conta a forma, e no o contedo, do que dizem. Os governos

    prosseguem com despudor no poder, apesar dos seus insucessos, porque

  • 26

    deixou de vigorar o conceito de responsabilidade. A televiso, a publicidade e o

    culto de heris artificiais, como o caso das estrelas de telenovelas, cegam as

    pessoas para a situao difcil que o mundo vive. Estes fenmenos, assim

    como muitos outros, constituem sintomas de grande mal-estar. Piores ainda

    so exemplos como o comrcio de armas, incentivado por governos que

    proferem declaraes pias sobre paz e liberdade, mas que subvertem ambas

    ao participarem naquilo que no seno contrabando legal de armas.

    E isto apenas uma parte da histria, na qual prospera a autoridade

    militar estabelecida bria de obsesses com a gesto e a tecnologia e

    muitos locais do mundo se encontram perpetuamente envolvidos em guerras.

    Embora este compndio de problemas no contenha novidades, falar deles

    serve para nos manter alerta. Contudo, a culpa dos problemas mundiais no

    pode ser atribuda a um conceito e muito menos ao conceito de razo,

    preferido do Iluminismo , mas a pessoas.

    A razo meramente um instrumento que, corretamente utilizado,

    ajuda as pessoas a fazer inferncias a partir de determinadas premissas, sem

    inconsistncias. O importante escolher premissas slidas e essa uma

    responsabilidade exclusivamente humana. Atribuir culpa "razo" to

    desprovido de sentido como atribuir culpa "memria" ou "percepo". Foi o

    racismo dos nazis, e no a lgica que eles aplicaram na expresso real do seu

    dio, que causou o Holocausto.

    Pretendem os crticos afirmar que o uso da razo mau, sem

    quaisquer reservas? Imagino-os a utilizar os seus processadores de texto, a

    atender o telefone, a tomar antibiticos para a garganta inflamada, a acionar

    interruptores para conseguir calor e luz, ao cair da noite fria. Estes produtos da

    razo so todos desprezveis? A confuso que grassa no pensamento dos

    crticos da razo revela-se quando analisamos a alternativa que propem.

    Oferecem-nos uma lista de virtudes, que deveramos colocar no lugar

    da razo; uma destas listas inclui o seguinte: "esprito, desejo, f, emoo,

    intuio, vontade, experincia." Reparamos imediatamente que todas elas, com

    exceo da ltima, a no serem governadas pela razo, so exatamente aquilo

    que alimenta o fanatismo e as guerras santas.

  • 27

    O FILSOFO HEGEL (SC. XIX), UM RACIONALISTA, DISSE

    QUE A REALIDADE RACIONALIDADE.

    1. A razo cumulativa: na batalha interna entre teses e antteses, a razo vai

    sendo enriquecida, vai acumulando conhecimentos cada vez maiores sobre si

    mesma, tanto conhecimento da racionalidade do real (razo objetiva) quanto

    como conhecimento da capacidade racional para o conhecimento (razo

    subjetiva).

    2. A razo traz esperana: a razo possui fora para no se destruir a si

    mesma em suas contradies internas; ao contrrio, supera cada uma delas e

    chega a uma sntese harmoniosa de todos os momentos que constituram a

    sua histria.

    Vrios filsofos franceses, como Michel Foucault, Jacques Derrida e

    Giles Delleuze, ao estudarem a histria da filosofia, das cincias da sociedade,

    das artes e das tcnicas, disseram que, sem dvida, a razo histrica - isto ,

    muda temporalmente -, mas essa histria no cumulativa, evolutiva,

    progressiva e contnua. Pelo contrrio, descontnua, se realiza por saltos e

    cada estrutura nova da razo possui um sentido prprio, vlido apenas para

    ela.

    Dizem eles que uma teoria (filosfica ou cientfica) ou uma prtica

    (tica, poltica, artstica) so novas justamente quando rompem as concepes

    anteriores e as substituem por outras completamente diferentes, no sendo

    possvel falar numa continuidade progressiva entre elas, pois so to diferentes

    que no como nem por que compar-las e julgar uma delas mais atrasada e a

    outra mais adiantada.

    Assim, por exemplo, a teoria da relatividade, elaborada por Einstein,

    no continuao evoluda e melhorada da fsica clssica, formulada por

    Galileu e Newton, mas uma outra fsica, com conceitos, princpios e

    procedimentos completamente novos e diferentes. Temos duas fsicas

    diferentes, cada qual com seu sentido e valor prprios.

  • 28

    No se pode falar num processo, numa evoluo ou num avano da

    razo a cada nova teoria, pois a novidade significa justamente que se trata de

    algo novo, to diferente e to outro que ser absurdo falar em continuidade e

    avano. No h como dizer que as ideias e as teorias passadas so falsas,

    erradas ou atrasadas: elas simplesmente so diferentes das atuais porque se

    baseiam em princpios, interpretaes e conceitos novos.

    Uma concepo semelhante foi desenvolvida pelo norte-americano

    Thomas Kuhn, filsofo da cincia que estuda a histria do pensamento

    cientfico para mostrar que as cincias no se desenvolvem num processo

    contnuo e cumulativo e sim por 'saltos' ou revolues. Essas revolues

    acontecem quando uma teoria cientfica entra em crise e acaba sendo

    eliminada por outra, organizada de maneira diferente.

    Em cada poca de sua histria, a razo cria modelos ou paradigmas

    explicativos para os fenmenos ou para os objetos do conhecimento, no

    havendo continuidade nem pontos comuns entre eles que permitam compar-

    los. Agora, em lugar de um processo linear e contnuo da razo, fala-se na

    inveno de formas diferentes de racionalidade, de acordo com critrios que a

    prpria razo cria para si mesma. A razo grega diferente da medieval que,

    por sua vez, diferente da renascentista e da moderna. A razo moderna e a

    iluminista tambm so diferentes, assim com a razo hegeliana diferente da

    contempornea.

    Enfim, os filsofos ditos ps-modernos (como, por exemplo, o francs

    Lyotard e o norte-americano Rorty) consideram a filosofia e a cincia prticas

    culturais tpicas do Ocidente cuja pretenso de realizar a razo ou o

    conhecimento racional infundada e irrealizvel. Por qu? Porque a razo tem

    a pretenso de ser o conhecimento verdadeiro da realidade, mas esta no

    existe, pois no h fatos, dados ou coisas e sim maneiras de falar ou 'jogos de

    linguagem' com que inventamos meios para exprimir o que pensamos e

    sentimos.

    Chamamos tais jogos de racionais ou de verdadeiros simplesmente

    enquanto funcionam ou so teis para nossos fins e os abandonamos por

    outros quando deixam de funcionar ou de ser teis para nossos fins. A prova

  • 29

    de que no h a razo est na multiplicidade de filosofias contrrias umas s

    outras e nas mudanas das teorias cientficas. Razo, racionalidade,

    objetividade, verdade so mitos ocidentais, 'crenas tribais' como as de

    quaisquer outros povos. (Convite Filosofia, Marilena Chau).

    O mito uma forma de narrativa que no explica racionalmente a

    origem das coisas e a realidade, pois utiliza lendas e histrias sagradas para

    interpret-las. tido como verdade por causa da pessoa que a relata, um poeta

    escolhido pelos deuses, que lhe dirige a partir de vises sobre o passado que

    permite que a origem das coisas seja desvendada.

    Aps algum tempo, as pessoas passaram a questionar a veracidade

    dos mitos contados pelos poetas, pois conseguiram perceber que as

    explicaes dadas sobre a origem de todas as coisas eram contraditrias e

    limitadas. Para a percepo das contradies e limites, contaram com algumas

    condies:

    Os gregos realizaram algumas viagens martimas e perceberam que os

    locais habitados por deuses, heris, tits e outros seres mitolgicos, como dizia

    o mito, eram povoados na verdade por outros seres humanos.

    Os gregos conseguiram calcular o tempo inventando o calendrio como

    forma de prever frio, calor, sol, chuva, seca e outros fatores climticos que

    antes acreditavam ser alterados pelos deuses.

    Tambm inventaram a moeda para realizarem trocas abstratas sem a

    necessidade de trocar uma mercadoria por outra; inventaram a escrita

    alfabtica para firmar com mais clareza assuntos que antes eram firmados

    verbalmente; inventaram a poltica para que cada pessoa pudesse expor seus

    pensamentos.

    Por ltimo, o surgimento da vida urbana que favoreceu o artesanato, o

    comrcio e o nascimento de classes de comerciantes.

    A filosofia dessa forma surge para explicar racionalmente a origem e as

    transformaes que ocorrem. Inicialmente, os filsofos acreditavam que tudo o

    que havia era originado a partir da natureza physis.Mas o que seria o "pensar

    bem"? Antes: o que constitui o ato de pensar?

  • 30

    Lipman coloca esta segunda pergunta pgina 13 do livro, mas no

    a que ele a responde. H uma resposta que chama a ateno pgina 140:

    "pensar fazer associaes e pensar criativamente fazer associaes novas

    e diferentes".

    Em passagem anterior a esta, Lipman afirma a mesma coisa sobre o

    que o pensar, explicitando-a um pouco mais:

    "Pensar o processo de descobrir ou fazer associaes e disjunes. O

    universo feito de complexos (no h, evidentemente, realidades simples)

    como as molculas, as cadeiras, as pessoas e as idias, e estes complexos

    tm ligaes com algumas coisas e no com outras. O termo genrico para

    associaes e disjunes relacionamentos. Considerando que o significado

    de um complexo encontra-se nos relacionamentos que este tem com outros

    complexos, cada relacionamento, quando descoberto ou inventado, um

    significado, e grandes ordens ou sistemas de relacionamentos constituem

    grandes corpos de significados". (LIPMAN, 1995. p. 33).

    Nas duas passagens Lipman est afirmando que pensar o processo

    de descobrir relaes existentes na realidade e represent-las em nossas

    conscincias e que isso nos permite atinar para os significados ou os sentidos

    que, de alguma forma, esto dados na mesma.

    Esta no uma tarefa fcil, pois a realidade complexa nas suas

    relaes e inter-relaes. Mas a nica forma de apreender o seu sentido

    estar apreendendo as relaes que a constituem. E, se estas relaes so

    dinmicas, isto , est sempre se refazendo e se modificando, o nosso

    pensamento precisa estar atento e precisa ser competente para apreend-las

    neste seu dinamismo.

    Lipman indica, ainda, uma possibilidade especial do pensar: a de produzir ou

    criar novas relaes e, portanto, a de os seres humanos estarem produzindo

    novas significaes ou novos sentidos para a realidade e, por conseguinte,

    para suas prprias vidas, visto que fazem parte do processar-se da realidade.

    A forma atravs da qual os seres humanos concretizam sentidos ou

    direes na realidade sempre a sua prtica, a sua ao. Ao mesmo tempo

    em que vo agindo e pensando reflexivamente o seu agir, os seres humanos

  • 31

    podem estar representando as relaes implicadas na realidade e podem estar

    representando intelectualmente novas relaes. Tanto as relaes percebidas

    quanto as relaes criadas ou construdas so trabalhadas na conscincia

    como indicadoras das direes (sentidos) da prtica humana.

    A ao tem, como componente importante e necessrio, o processo do

    pensar. No s o pensar que determina a ao, mas o pensar, nos seres

    humanos, um dos determinantes da ao. O pensar produz sentidos,

    direes, significaes na e para a ao. Da a importncia de que o pensar

    seja bem "produzido", isto , seja construdo com rigor, sistematizao,

    profundidade, com examinao constante e sria e com disposio constante a

    revises (auto-correo), levando em conta as vrias situaes na sua

    globalidade e, dentro de cada realidade situacional, as relaes dadas e as

    possveis.

    Um pensar assim, para Lipman, um pensar bem, um pensar de

    ordem superior que crtico e criativo.

    A expresso mais utilizada por Lipman, neste livro, para se referir ao

    pensar bem pensamento de ordem superior que ele ope expresso

    pensamento de ordem inferior. Algumas afirmaes suas podem nos ajudar a ir

    entendo o que ele quer dizer com esta expresso que, assim como outras, diz

    ele, so contagiadas pela inexatido ( p. 37) :

    Diferentes observadores atribuem diferentes propriedades ao

    pensamento de ordem superior, mas, em geral, o que parecem querer dizer

    que este pensamento conceitualmente rico, coerentemente organizado e

    persistentemente investigativo. (LIPMAN, 1995, p. 37)

    Podemos acrescentar que o pensamento de ordem superior no

    equivale somente ao pensamento crtico, mas fuso dos pensamentos crtico

    e criativo. ( idem, p. 38)

    Em um esclarecedor quadro, pgina 43, Lipman indica algumas

    caractersticas do pensar de ordem superior que, a, tambm chamado de

    pensar complexo. Ele envolve caractersticas do pensar crtico, como utilizao

    de critrios, produo de juzos ou julgamentos, auto-correo, sensibilidade ao

    contexto e outras. Envolve, tambm, caractersticas do pensar criativo, como

  • 32

    sensibilidade aos critrios sem se deixar aprisionar por eles, capacidade de

    auto-transcendncia, isto , capacidade de "ir alm ou transcender a si mesmo"

    (nota da p. 44), ou seja, capacidade de produzir novas relaes e no apenas

    constatar as relaes j dadas.

    claro que aquilo que denominamos aqui de pensamento complexo

    inclui o pensamento recursivo, o pensamento metacognitivo, o pensar auto-

    corretivo e todas aquelas formas de pensamento que envolvem a reflexo

    sobre sua prpria metodologia, enquanto examinam, ao mesmo tempo, seu

    tema principal. (idem, p.43).

    Essas so caractersticas do pensamento crtico; mas o pensamento

    de ordem superior inclui, tambm, o pensamento criativo, como j foi

    assinalado acima.

    Como caractersticas do pensamento criativo, Lipman aponta

    habilidade, talento, julgamento criativo, inventividade, produo de alternativas

    ou hipteses plausveis, etc. Tais caractersticas so indicadas em vrios

    momentos desta obra.

    Apesar da afirmao de que o pensamento criativo faz parte

    indissocivel do pensamento de ordem superior e que ele fundamental para o

    prprio pensamento crtico, Lipman se detm mais amplamente no estudo das

    caractersticas deste ltimo.

    Vejamos o que ele diz a respeito das habilidades que compem o grupo das

    habilidades de raciocnio.

    HABILIDADES DE RACIOCNIO

    Comecemos com as seguintes palavras de Lipman:

    "Raciocnio o processo de ordenar e coordenar aquilo que foi descoberto

    atravs da investigao. Implica em descobrir maneiras vlidas de ampliar e

    organizar o que foi descoberto ou inventado enquanto era mantido como

    verdade." (LIPMAN, 1995, p. 72).

    Mas o que foi descoberto atravs da investigao?

  • 33

    Informaes, por certo, que so organizadas nos nossos juzos ou nos nossos

    "julgamentos", conforme citao anterior.

    Ora, os nossos juzos so afirmaes (ou negaes) que produzimos a respeito

    de uma situao, de um fato, de algo, aps termos feito uma anlise

    investigativa: descobrimos alguma "verdade" a respeito e a afirmamos com

    base na investigao feita.

    Ns expressamos os juzos atravs de proposies ou oraes.

    Pois bem, diz Lipman, quando ordenamos e coordenamos os nossos juzos de

    tal forma que, a partir deles, ns ampliamos aquilo que havamos descoberto

    na investigao, ns estamos fazendo um raciocnio.

    O conhecimento origina-se da experincia. Uma maneira de ampli-lo sem, no

    entanto, recorrer a experincias adicionais, atravs do raciocnio.

    Considerando aquilo que conhecemos, o raciocnio nos permite descobrir

    coisas adicionais afins.

    A partir de um argumento solidamente formulado, onde iniciamos com

    premissas verdadeiras, descobrimos uma concluso igualmente verdadeira que

    "inferida" em consequncia destas premissas.

    Nosso conhecimento baseia-se na experincia do mundo; por meio do

    raciocnio que ampliamos este conhecimento, preservando-o. (idem, p. 66).

    O raciocnio , pois, o processo do pensamento atravs do qual ns

    produzimos nossas concluses a partir de algo j sabido. Isso, todas as

    pessoas fazem inclusive crianas pequenas.

    Mas h raciocnios mais simples e raciocnios mais complexos, isto , aqueles

    que fazem parte do pensamento de "ordem superior". Um dos objetivos de uma

    educao para pens-lo deve ser o de ajudar crianas e jovens a serem

    capazes de realizar raciocnios mais complexos. Para tanto importante

    promover o fortalecimento das habilidades de raciocnio que envolve, por

    exemplo, a utilizao de inferncias bem fundamentadas, a apresentao de

    razes convincentes, a revelao de suposies latentes, a determinao de

    classificaes e definies defensveis e a organizao de explicaes,

    descries e argumentos coerentes. ( LIPMAN, 1995, P. 46).

  • 34

    HABILIDADES DE FORMAO DE CONCEITOS

    A formao de conceitos implica na organizao de informaes para

    grupos relacionais e, ento, analisar e esclarec-los para facilitar sua utilizao

    na compreenso e no julgamento.

    O pensamento conceitual envolve relacionar conceitos entre si a fim de

    formar princpios, critrios, argumentos, explicaes, etc. (LIPMAN, 1995, p.

    72).

    Esta organizao de informaes que construmos em nossa

    conscincia pode ser expressa por palavras, por sentenas e por esquemas,

    diz Lipman, p. 67. Trata-se de conjuntos de informaes relacionadas entre si

    e que formam um sentido, um significado.

    Pense-se, por exemplo, na palavra mesa. Se "dominamos", ou

    compreendemos o significado que esta palavra expressa, sinal de que somos

    capazes de "ver" um conjunto de aspectos que, reunidos e interligados, nos

    do a idia, o conceito, do que constitui uma mesa. No s. Na verdade, ns

    ficamos de posse de um conjunto significativo de informaes inter-

    relacionadas (de um conceito) que nos ajuda a nos entendermos mutuamente

    quando falamos de mesas e nos ajuda a identificarmos como mesa os objetos

    que se nos apresentam com um conjunto de dados interligados desta mesma

    forma.

    Ns podemos ir formando conceitos a partir de nossas relaes diretas

    com as coisas, objetos, situaes, etc., dentro de contextos situacionais

    culturais de uso e de significao ou, tambm, podemos formar conceitos sem

    estarmos em relao direta, fsica, com os objetos.

    Em ambas as situaes, para sermos capazes de formar conceitos em ns

    mesmos, precisamos ser capazes de relacionar ideias entre si; "esmiuar"

    ideias que estejam juntas, isto , analisar; junt-las de novo, isto , sintetizar;

    esclarecer significados; explicar; etc..

    Esta uma listagem de habilidades que auxiliam na habilidade maior de

    formao de conceitos que se pode encontrar nos textos de Lipman.

  • 35

    EPISTEMOLOGIA

    TEORIAS DA VERDADE E PS-MODERNISMO

    Quando no havia distino clara entre filosofia e cincia, era natural

    que os filsofos se afirmassem como as pessoas mais aptas a oferecer algo

    mais prximo da verdade. A concentrao na epistemologia, principalmente no

    momento em que a epistemologia parecia ter sido convocada a fornecer as

    bases ltimas da justificao do conhecimento, encorajou a ideia confusa de

    que o lugar em que se procurariam as verdades finais e mais bsicas, nas quis

    todas as outras verdades seja da cincia, da moralidade ou do senso comum

    se baseariam, seria a Filosofia. A juno que Plato fez, dos universais

    abstratos com entidades de valor superior, reforou a confuso da noo de

    verdade com as verdades mais elevadas; a confuso evidente no ponto de

    vista (que Plato enfim questionou) de que s um exemplar perfeito de

    universal ou de forma a forma em si. Assim, s a circularidade (o universal ou

    conceito) perfeitamente circular, s o conceito de mo a mo perfeita, s a

    verdade totalmente verdadeira.

    Temos, aqui, uma confuso profunda, um erro de classificao que,

    aparentemente, foi condenado a prosperar. A verdade no um objeto, e por

    isso no pode ser verdadeira; a verdade um conceito, e atribuvel de modo

    compreensvel a coisas tais como sentenas, pronunciamentos, crenas e

    proposies, entidades essas que tm um contedo proposicional. um erro

    pensar que, se algum procura entender o conceito de verdade, esse algum

    est necessariamente tentando descobrir verdades gerais importantes sobre

    justia ou sobre os fundamentos da fsica. O erro permeia at a ideia de que

    uma teoria da verdade deva nos dizer, de algum modo, o que verdadeiro, em

    geral, ou ao menos como descobrir as verdades.

    No de estranhar que tenha havido reao! A filosofia prometia muito

    mais do que ela, ou qualquer outra disciplina, podia dar. A reao de Nietzsche

    ficou famosa; os pragmticos americanos tambm reagiram, s que de outro

  • 36

    modo. Dewey, por exemplo, rejeitou de modo bastante adequado a ideia de

    que os filsofos tinham intimidade com algum tipo especial ou fundamental de

    verdade, sem a qual a cincia no pudesse progredir. Mas combinou essa

    modstia virtuosa com uma teoria absurda sobre o conceito de verdade;

    visando ridicularizar as pretenses de acesso superior s verdades, ele sentiu

    necessidade de atacar o prprio conceito clssico. O ataque, moda da poca,

    assumiu a forma de uma redefinio convincente. Uma vez que a palavra

    Verdade tem uma aura de algo valioso, o truque das definies convincentes

    redefini-la de modo que ela seja algo daquilo que se aprovam algo pelo que

    possamos nos guiar, frase de Rorty apoiado em Dewey. Desse modo, Dewey

    afirmou que uma crena ou teoria verdadeira apenas e to somente se

    promover questes humanas. (Donald Davidson, Verdade. In: Livro anual de

    psicanlise XX, 2006: 275-280)

    No latim, verdade veritas, ou, a conformidade de um relato com o

    fato. Ou seja, veritas quando o que se diz de algo a expresso de um fato,

    do ocorrido. Veritas a verdade na tradio do Direito.

    No grego, o termo utilizado para verdade a-letheia, algo desvelado,

    no coberto, no oculto, ou no esquecido. Verdade, portanto, na perspectiva

    do grego aquilo que est exposto, luz. a verdade segundo a tradio

    filosfica. Algo que est exposto sempre encobre algo de si mesmo, aonde na

    aparncia h sempre a dissimulao. Portanto, para a filosofia, verdade no

    encerra a busca e a pesquisa, porque esta verdade que se apresenta, ou que

    se descreve, nunca est completa ou esgotada.

    No hebraico, verdade emunah, o cumprimento do que foi pactuado,

    prometido, vaticinado. a verdade segundo a Teologia, que se fundamenta na

    revelao. Neste contexto, no se discute a verdade, posto que foi objeto de

    revelao, partindo de ser superior. E a, esta verdade no se objeta, no se

    discute, apenas aceita-se.

    Ocorre, entretanto, que se afirmar que algo verdade, tal afirmao

    discurso, e todo discurso pode ser posto em suspenso. As palavras, bem

    articuladas, logicamente bem colocadas, e enfaticamente bem pronunciadas,

  • 37

    podem dar a colorao que se desejar, construindo-se nesta articulao

    enunciados com status de verdade.

    No mbito da justia instrumental, por exemplo, o esforo do jurista

    conquistar por meio de seu discurso e suas descries, relativas a um

    processo, a confiana dos que ouvem e julgam, a ponto de admitirem tratar-se

    de uma verdade o que est sendo apresentado. A outra parte no processo, por

    outro lado, tambm envidar todos os esforos no mesmo sentido, e, assim

    sendo, o embate se d pelas vias do discurso, na perspectiva do

    convencimento em direo a uma verdade. Contudo, o fato de obter sucesso

    neste processo de convencimento no significa que se alcanou a verdade.

    Vemos assim que aquilo que se aponta como verdade ser sempre objeto de

    desconfiana.

    A mdia, por meio de seus diversos instrumentos, quer ganhar a

    confiana de seus ouvintes, leitores e telespectadores, isto , convenc-los que

    o que est sendo dito e apresentado verdade, e deve ser assim admitido, de

    tal forma que se desdobre em aes positivas em relao ao que foi veiculado

    pela mdia. A mdia, inclusive, pode elevar um homem simples condio de

    dolo, como tambm, destruir moralmente um homem ilibado. Ou seja, elevar

    uma mentira condio de verdade, por simples recurso discursivo.

    Nas correntes filosficas contemporneas (que tem sido a esteira moral

    contempornea), aonde se abandonou qualquer tipo de fundamento verdade,

    o que tem prevalecido uma teoria de verdade segundo o pragmatismo: no

    h referncias, nem essncias que precisam ser atingidas, posto que verdade

    interpretao, ponto-de-vista. Para o pragmtico, verdade consenso, o

    til, o que produzir o melhor resultado.

    RACIONALIDADE E CETICISMO

    A Racionalidade como Soluo de Todos os Males do Mundo. A

    racionalidade pode ser definida como o hbito de considerar todos os nossos

    desejos relevantes, e no apenas aquele que sucede ser o mais forte no

  • 38

    momento. (...) A racionalidade completa , sem dvida, ideal inatingvel; porm,

    enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunticos, claro

    que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o progresso

    slido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto prtica como

    terica. Pregar uma moralidade altrustica parece-me um tanto intil, porque s

    falar aos que j tm desejos altrusticos. Mas pregar racionalidade um tanto

    diferente, porque ela nos ajuda, de modo geral, a satisfazer os nossos prprios

    desejos, quaisquer que sejam. O homem racional na proporo em que a sua

    inteligncia orienta e controla os seus desejos.

    Acredito que o controle dos nossos atos pela inteligncia , afinal, o

    que mais importa e a nica coisa capaz de preservar a possibilidade de vida

    social, enquanto a cincia expande os meios de que dispomos para nos ferir e

    destruir. O ensino, a imprensa, a poltica, a religio - numa palavra, todas as

    grandes foras do mundo - esto atualmente do lado da irracionalidade; esto

    nas mos dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de

    desencaminh-lo. O remdio no est em nada heroico nem cataclsmico, mas

    nos esforos dos indivduos no sentido de uma opinio mais sadia e equilibrada

    das nossas relaes com o prximo e a sociedade. inteligncia, cada vez

    mais divulgada, que devemos recorrer para a soluo dos males de que sofre o

    nosso mundo.

    Ceticismo um estado de quem duvida de tudo, de quem descrente.

    Um indivduo ctico caracteriza-se por ter predisposio constante para a

    dvida, para a incredulidade.

    O ceticismo um sistema filosfico fundado pelo filsofo grego Pirro

    (318 a.C.-272 a.C.), que tem por base a afirmao de que o homem no tem

    capacidade de atingir a certeza absoluta sobre uma verdade ou conhecimento

    especfico. No extremo oposto ao ceticismo como corrente filosfica encontra-

    se o dogmatismo.

    O ctico questiona tudo o que lhe apresentado como verdade e no

    admite a existncia de dogmas, fenmenos religiosos ou metafsicos.

    O ctico pode usar o pensamento crtico e o mtodo cientfico

    (ceticismo cientfico) como tentativa de comprovar a veracidade de alguma

  • 39

    tese. No entanto, o recurso ao mtodo cientfico no uma necessidade

    imperiosa para o ctico, podendo muitas vezes preferir a evidncia emprica

    para atestar a validade das suas ideias.

    Bertrand Russell, in 'Ensaios Cpticos: Os Homens Podem Ser Racionais?'

    A ESTRUTURA DA JUSTIFICAO

    O termo Justificao tambm conhecido como "absolvio divina".

    Justificao um termo jurdico que descreve aquele aspecto particular da

    salvao que consiste em libertao da culpa e penalidade de pecado. o

    aspecto legal da salvao ante Deus como Legislador. aquele aspecto no

    qual o crente se torna to perfeito quanto se ele nunca tivesse pecado (cf. Rm

    8:33,34). Podemos entender de forma mais ampla o que Justificao,

    analisando Dt 25:1: "Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juzo

    para que os juzes os julguem, ao justo justificaro e ao injusto condenaro."

    Aqui est claro que nenhuma melhoria moral includa. Os juzes no faziam

    melhor qualquer pessoa, mas declaravam o que era certo aos olhos da lei. Um

    tribunal humano ou juiz podem fazer justia, justificando o inocente; no entanto,

    Deus mantm justia e aumenta a graa, justificando o descrente: "Mas, quele

    que no pratica, porm cr naquele que justifica o mpio, a sua f lhe

    imputada como justia." (Rm 4:5). Portanto, Justificao aquele aspecto da

    Salvao atravs da qual somos declarados justos.

    Em Romanos 3, verso 7, o apstolo Paulo estabelece uma relao

    entre as palavras 'morto' e 'justificado': "aquele que est morto" tambm "est

    justificado" do pecado! Ou seja, a primeira condio (morto) implica na segunda

    (justificado). Satisfeita a primeira condio a segunda estabelecida.

    A palavra justificao de origem latina composta de justus e facere

    e significa fazer justo em portugus.

    As palavras justificado e justia so tradues de palavras gregas

    semelhantes. Temos o verbo dikaiun que 'declarar justo', 'justificar'. O

  • 40

    substantivo dikaosis que 'justificao', 'justia', e o adjetivo dikaios, que

    qualifica que 'justo'.

    Uma traduo precisa dos termos que fazem referncia justificao

    auxilia em muito a interpretao dos escritos de Paulo, porm, s os termos

    tomados de maneira isolada no revelam a grandeza das idias centrais que

    compe a doutrina da justificao.

    Para entendermos a extenso das expresses supracitadas devemos

    atentar mais para o contexto nas quais elas foram citadas, do que para o

    significado denotativo da palavra.

    Este estudo no se limita a apresentar um trabalho de concluses.

    Antes, procuramos apresentar ao leitor o raciocnio que se deve percorrer para

    chegar s concluses que apontaremos no decorrer deste estudo.

    Aquele que est morto

    Em Romanos 3, verso 7, o apstolo Paulo estabelece uma relao

    entre as palavras 'morto' e 'justificado': "aquele que est morto" tambm "est

    justificado" do pecado! Ou seja, a primeira condio (morto) implica na segunda

    (justificado). Satisfeita primeira condio a segunda estabelecida.

    Antes de ser feita a declarao ... porque aquele que est morto est

    justificado do pecado, Paulo enfatiza de maneira contundente a 'morte'

    daqueles que creem em Cristo (esto) conforme diz a escritura ( Rm 6:1 -6).

    Para entendermos precisamente a declarao paulina devemos ter a

    resposta da seguinte pergunta: Quem est morto?

    A resposta est no versculo dois do captulo seis da carta aos

    Romanos: Ns, ou seja, Paulo e os cristos!

    "Ns, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda

    nele?" (Rm 6:2 )

    No versculo acima o apstolo esclarece aos leitores da carta aos

    Romanos que todos eles esto mortos para o pecado, ou seja, eles no mais

    vivem para o pecado.

    Efetivamente os cristos esto mortos: mortos para o pecado.

  • 41

    Caso algum argumentasse contra esta realidade (mortos para o

    pecado), Paulo contra argumenta de quatro maneiras diferentes para se fazer

    compreensvel.

    a) Os que foram batizados foram batizados na morte de Cristo (Rm 6:3 );

    b) Pelo batismo na morte todos foram sepultados com Cristo (Rm 6:4 );

    c) Todos foram plantados juntamente com Cristo, e ( Rm 6:5 );

    d) Uma vez que, todos sabiam que haviam sido crucificados com Cristo.

    Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele

    crucificado... (Rm 6:6 )

    Diante dos elementos que foram apresentados restam as seguintes

    concluses: vocs esto mortos! "Pois morrestes, e a vossa vida est oculta

    com Cristo em Deus" ( Cl 3:3 ).

    Ora, se j morremos com Cristo...( Rm 6:8 ). Assim tambm vs

    considerai-vos como mortos para o pecado... ( Rm 6:11 ).

    Quando o apstolo Paulo diz: considerai-vos, no significa

    simplesmente imaginar como se estivessem mortos para o pecado, antes os

    cristos deviam estar cnscios, vivendo esta nova realidade. Paulo no

    apregoou um 'faz de conta', antes ele anunciou verdades eternas.

    Aquele que cr em Cristo vive esta nova realidade em verdade: aps

    encontrar a cruz de Cristo, morreu para o pecado e est efetivamente

    justificado do pecado.

    Observe que a palavra considerai do versculo onze significa contar

    com, descansar em. Aliado ao significado da palavra, est o contexto, que

    demonstra que os cristos efetivamente esto mortos para o pecado.

    Est Justificado do Pecado

    J que os cristos efetivamente morreram para o pecado como foi

    observado em ( Rm 6:2 ), conclui-se que quem est justificado perante Deus

    necessariamente j morreu para o pecado.

    De outro modo: aquele que est vivo para o pecado no est justificado

    do pecado. Portanto, s possvel ser justificado do pecado quando se est

    morto para ele.

  • 42

    A condio 'justificado do pecado' real e efetiva, pois decorre da

    primeira, que estar morto para o pecado ... porque aquele que est morto

    est justificado do pecado.

    Dentro deste contexto de 'morte para o pecado' e 'justificado do

    pecado' torna-se possvel determinarmos qual o real significado das palavras

    justificao e justificar.

    Qual a melhor traduo para as palavras dikaun e dikaosis? Seria

    fazer justo? criar justo? Ou declarar justo?

    O pargrafo seguinte nos auxiliar na escolha da traduo que melhor

    se adequa ideia apresentada pelo contexto.

    Para que sejas justificado

    Quando Paulo faz a citao de um versculo do salmista Davi, nos

    auxilia em muito na compreenso da extenso do significado da palavra

    justificado.

    Neste salmo Davi demonstrou que reconhecer os prprios erros a

    melhor maneira de declarar sem palavras que Deus justo Contra ti, contra ti

    somente pequei, e fiz o que mal tua vista, para que sejas justificado quando

    falares, e puro quando julgares ( Sl 51:4 ). Ele assume os seus erros para que

    Deus seja justificado ao falar.

    O que o contexto nos apresenta?

    Davi assumiu os seus erros para fazer Deus justo?

    Davi assumiu os seus erros para criar Deus justo?

    Ou Davi assumiu os seus erros para declarar que Deus justo?

    O contexto nos aponta a terceira opo. O homem declara a justia de

    Deus quando reconhece os seus prprios erros.

    O salmista reconhece sua condio em decorrncia do seu pecado:

    ...contra ti, contra ti somente pequei..., com um objetivo bem definido: declarar

    a justia de Deus ... para que sejas justificado quando falares....

  • 43

    O apstolo cita este salmo para declarar que Deus verdadeiro, ou

    seja, ao citar este salmo, Paulo tem a inteno ntida de fazer uma declarao

    sobre um dos atributos de Deus: Deus verdadeiro, ou: sempre seja Deus

    verdadeiro!

    De maneira nenhuma. Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem

    mentiroso como est escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e

    venas quando fores julgado (Rm 3:4 )

    O apstolo Paulo ao declarar que Deus verdadeiro cita o salmista

    para dar sustentabilidade sua declarao. Paulo demonstra que a sua

    declarao conforme as Escrituras.

    Temos dois elementos no texto, que se somados, evidenciam a idia

    que a palavra justificado procura transmitir:

    Davi reconhece os seus erros para declarar que Deus justo;

    Paulo utiliza o salmo para dar peso a sua declarao: Deus

    verdadeiro e todo homem mentiroso.

    Desta forma temos que, a palavra justificado se traduz por declarar

    justo.

    Declarar: Dar a conhecer; expor; proclamar publicamente, anunciar

    solenemente; revelar, julgar, considerar, nomear, etc.

    O apstolo Paulo fez a citao de um salmo onde a palavra justificado

    engloba a mesma idia que ele procura transmitir com os termos dikaun e

    dikaosis.

    FONTE: Dicionrio Teolgico Brasileiro Lzaro Soares de Assis

  • 44

    TEOLOGIA FILOSFICA E FILOSOFIA DA RELIGIO

    Se nos debruarmos na longa discusso tillichiana quanto relao

    entre teologia e filosofia, parece ficar claro que no faz sentido fazer a pergunta

    quem est certa, a teologia ou a filosofia?. O que devemos fazer, como em

    todo fenmeno relacional, verificar o momento ou a importncia do tipo de

    relao que as duas cincias esto submetidas de poca para poca e com

    quais critrios podemos fazer tal verificao. Talvez a maior importncia de

    todo do pensamento de Tillich a este respeito no seja meramente a grande

    relevncia de seu carter normativo, mas muito mais, a impossibilidade de

    tratarmos esta questo sem antes declararmos as bases ou os pressupostos

    de que previamente lanamos mo ao trat-la, e que determinaro em ltima

    anlise nossa viso.

    Consideradas no universo das disciplinas metodolgicas (inseridas no

    universo das cincias do pensamento, do ser e da cultura), a filosofia do

    sentido (Sinnphilosophie) o fundamento de todo sistema das cincias; a

    metafsica o esforo de expressar o Incondicional em termos de smbolos

    racionais; e a teologia a metafsica tenoma. [1] A teologia reivindica que o

    carter teonmico do pensamento ou seja, o pensamento como tal est

    enraizado no absoluto como o fundamento e abismo do sentido. A teologia

    toma como seu explcito objeto aquilo que pressuposto implcito de todo

    conhecimento. Dessa forma, teologia e filosofia, religio e conhecimento esto

    mutuamente abraados. Enfatizando a relevncia existencial da relao entre

    filosofia e teologia, Tillich chega a dizer que a filosofia existencial faz de um

    modo novo e radical a pergunta cuja resposta dada (e no pela) f na

    teologia. [2]

    A questo do relacionamento entre filosofia e teologia tem sido muito

    desdenhada ultimamente em nosso contexto contemporneo, porque ela, em

    ltima anlise, se relaciona com a questo da filosofia primeira, envolvendo o

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    retorno metafsica uma questo considerada hoje como ultrapassada e fora

    de moda. O prefixo mgico meta na palavra metafsica empregado para

    designar algo fora ou alm da experincia humana, aberto imaginao

    arbitrria, apesar de todo o mundo saber que significa apenas o livro que vem

    depois da fsica na coleo de Aristteles. Quanto a isso, devemos dizer o

    seguinte: a questo do ser, que a questo da filosofia primeira ou

    fundamental, refere-se ao que est mais prximo de ns do que qualquer outra

    coisa. T