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TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO Esta apostila segue rigorosamente o esboço do livro: Teologia do Novo Testamento, do professor George Eldon Ladd, e Teologia do Novo Testamento de Leonhard Goppelt e foi organizada por Adelmilson Julio Pereira São Paulo, 20 de outubro de 2006.

Apostila de Teologia Bíblica do Novo Testamento

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TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO

Esta apostila segue rigorosamente o esboço do livro: Teologia do Novo Testamento, do professor George Eldon Ladd, e Teologia do Novo Testamento

de Leonhard Goppelt e foi organizada por Adelmilson Julio Pereira

São Paulo, 20 de outubro de 2006.

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TEOLOGIA BIBLICA DO NOVO TESTAMENTO

1. História: Durante a década de 1920 um novo ponto de vista começou a ganhar corpo entre os estudantes de teologia do Novo Testamento. O resultado dessa nova busca trouxe um avivamento na teologia bíblica nos círculos acadêmicos teológicos. A principal busca resultou na recuperação da idéia da revelação, levando os estudiosos na área teológica, principalmente do EUA, a concluírem que a Bíblia é a palavra de Deus. Uma obra de grande importância nessa época foi o livro de W. Wrede que afirmou em 1901 que o Jesus descrito em Marcos não era a figura do Jesus liberal histórico, mas um ser messiânico, sendo portanto, divino e filho de Deus. Por outro lado, a teologia do Novo Testamento recebeu importantes destaques nos últimos 30 anos, principalmente dos Estados Unidos. Após anos de crítica, muitos estudiosos e críticos de modalidades teológicas diferentes concluíram que a única área que sobreviveria na teologia bíblica seria aquela defendida por G. E. Ladd. Veja por exemplo o comentário de J. D. Smart que falou do futuro da teologia justamente nos segmentos evangélicos representado por Ladd, a quem se refere explicitamente. Para ele o sucesso da teologia bíblica estava na combinação da erudição histórica – completa, detalhada e atualizada – com uma devoção profunda enraizada em uma fé bíblica. Sem dúvida o segmento de Ladd é aquele segmento tido como evangélico. Foi Ladd que fez com que muitos fundamentalistas aceitassem a crítica histórica como, por exemplo, a datação do Novo Testamento. Para J. Reumann o teste definitivo para qualquer teologia bíblica é se esta nos capacita a ter fé e obediência à palavra de Deus, e esta preocupação estava no coração do professor Ladd. Os inúmeros estudiosos da teologia bíblica que em muitos seminários continuam a ler a teologia do Novo Testamento de Georg Eldon Ladd continuam a nutrir os objetivos da fé e da obediência a Deus. Todos os evangélicos de modo geral, farão o melhor possível se cultivarem a fé em Jesus Cristo e a obediência às propostas do evangelho. Cabe a nos Adventistas da Promessa em nossos seminários teológicos conduzir nossos alunos a uma experiência de fé em Cristo por meio do estudo sério e sistemático da teologia. 2. Origem do conceito “Reino de Deus” no Antigo Testamento: O Reino de Deus é o domínio soberano de Deus, Sl. 22.28; 103.19; 1Cr. 29.11; Ex. 15.18; Is. 6.5; Dn. 4.25. O estabelecimento do Reino de Deus no A.T é tanto em âmbito nacional, como no caso de Israel, como em âmbito universal, Ex. 19. 5-6; Sl. 2.1-5, 8-11; Is. 2.2-4; Zc. 14.9. Esses atos são apresentados no A.T. como ato, obra e feitos relacionados à história de Israel, Ex. 15.18; 14.13; Sl. 22.27-29; 74.12; 98.2-3; 103.7; 103.19; Is. 7.17 a luz de 10.5-7, 12, 17. O domínio de Deus é apresentado desde o ato da criação em Gn. 1.27-28, em sua posição absoluta, Sl. 8.5-7; através da redenção do povo de Israel no Egito e a instituição da aliança, Ex. 19. 5-6. Podemos encontrar ainda o conceito de Deus como sendo o rei que domina sobre a criação, sobre a história humana em termos de ser o Senhor da própria

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história. Como Senhor da história está julgando a todos nessa vida, e todos haverão de prestar contas com Ele no futuro, Gn. 18.25; Sl. 75.7; 96.13; 1 Sm. 2.10. Goppelt divide a origem do poder régio de Deus em alguns grupos:

1. Os salmos de ascensão, onde Yahweh se tornou rei, Sl. 47, 93, 96-99; 2. Nos atos salvificos de Yahweh na vida de Israel, Ex. 15.18; Sl. 44.1-5; 145.1,

13; 146.10; 74.12; 3. A profecia assume um caráter escatológico por intermédio da proclamação

das boas-novas, Is. 52.7-10;

3. Origem do “Reino de Deus” no Novo Testamento: Para os evangelistas, o reino de Deus foi inaugurado na pessoa e obra de Jesus Cristo, sendo, portanto, uma realidade presente e futura. Em Marcos 13 vezes Em Mateus 27 vezes Em Lucas 12 vezes Em João 02 vezes No Novo Testamento temos o uso do sentido reino territorial, Mt. 4.8; Lc. 4.5; Mt. 12.25; Mc. 3.24; Lc. 11.17, ou no sentido de dignidade real, Lc. 19.12, 15. O termo aparece ainda como reino do diabo, Mt. 12.26; Lc. 11.18, ou reino dos homens, Mc. 11.10, At. 1.6; e por fim o reino de Jesus Cristo, Mt. 13.41; 16.28; Lc. 1.33; 22.30; 23.42, cuja natureza deste reino não é mundana, Jo. 18. 36. O reino de Deus e o reino de Cristo assumem íntima identidade, Lc. 22.29; Cl. 1.13; 1Co. 15.24. 4. O Reino Escatológico (futuro): Em Mc. 9.1; 9.43-48; 14.25; Lc. 13.28, Jesus fala de um evento futuro, e quando Jesus fala de Basiléia, ele pensa quase sempre no juízo final. O teólogo Joaquim Jeremias vê nos textos de Mc. 1.15; Mt. 10.7; Lc. 10.9, 11, uma forma escatológica do Reino de Deus. Para ele essa aproximação significa: “a hora escatológico de Deus chegou. Já para Ladd, a vinda do Reino de Deus inaugura a era Vindoura, Mt. 6.10; Lc. 19.11. Assim para G. E. Ladd, entrar na vida eterna e entrar no reino de Deus, são sinônimos de entrar e pertencer a Era Vindoura. Esta Era Vindoura será marcada pela destruição total e final do diabo e seus anjos, Mt. 25.41, a criação de uma nova sociedade, Mt. 13.36-43, e a perfeição absoluta, Lc. 13.28-29. Ao mesmo tempo em que Joaquim Jeremias entende que o Reino de Deus é um reino escatológico, defende que é também um reino presente, pois já no presente a consumação do reino está por irromper-se, Lc. 7.22 ss. 4.16-21. A figura da figueira que brota, Mc. 13.28 ss. Vinho novo que não pode ser posto em odres velhos, Mc. 2.22 ss. As vestes festivas do filho pródigo, Lc. 15.22 ss. Mt. 22.11. Esses textos indicam a erupção de uma nova era ou de um novo tempo, que ele chama de tempo da salvação, pois o Salvador chegou, no aqui e agora. Jesus fala que a hora é agora, Jo. 5.22; Mt. 7.24-30; Mt. 8.5-13. 5. O Reino de Deus na perspectiva da redenção Para os teólogos G. E. Ladd e H. N. Ridderbos, o Reino de Deus tem dois momentos: Um cumprimento das promessas do Antigo Testamento na missão histórica de Jesus e uma consumação no fim dos tempos, inaugurado na era vindoura. Um momento é o aqui e agora, o outro, é lá futuro.

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6. O Ensino de Jesus sobre o reino de Deus no A.T. Is. 40.9; 52.7; Lc. 4.18-19, 21. Mc. 3.27, como um eco, de Is. 49.24-25 em comparação com Mt. 12.28. Mt. 11.2-5 em comparação com Is. 35.3-10. Mt. 6.9-10 em comparação com Ez. 36.16-38. veja outros textos, Mc. 8.31; Sl. 22; 60; Pv. 2.5; Is. 52.13-15; 53. 10-12; Dn. 12.13; Mt. 5.12; Dn. 12.2-3. Comparar Mc. 8.31; 9.31; 10.32 com 6.2. Ver Mc. 13.26, 14.62 com Sl. 110.1; Dn. 7.13, Sl. 2.7. Ver ainda Ex. 4.22; Is. 52.13; 42.1; Dn. 7.13-14. 7. A Necessidade do Reino de Deus: Após batismo Jesus Cristo iniciou sua missão e ministério que foram assim narrados por Marcos, Mc. 1.14 -15; e Mateus, Mt. 4.23; e Lucas registra um incidente em Nazaré onde Jesus se identificou com o cumprimento da profecia de Is. 61.1, veja Lc. 4.18-21. 8. O Dualismo Escatológico: Os profetas do Antigo Testamento ansiavam pelo dia do Senhor e por uma visitação divina para purificar o mundo do mal e do pecado e, para estabelecer o reino perfeito de Deus na terra. Embora seja discutido com termos diferentes pelos profetas do A.T, o reino de Deus em muitos textos se refere ao seu estabelecimento na terra, em outros textos, o reino é futuro e escatológico. Veja os textos, Am. 9.13-15; Is. 65.17. É provável que os profetas e escritores da Bíblia entendessem que o reino de Deus seria estabelecido no presente e no futuro, veja Mt. 12.32; Mc. 10.30; Rm. 8.18; Ap. 10.6 (BJ); Mc. 3.20; Lc. 1.33, 55; Hb. 1.8; Gl. 1.5; 1 Pd. 4.11; Ap. 1.18; Lc. 20.35; Mt. 24.3; 30-31; 13.39, 40, 49 e 13. 42-43. Em resumo, esta era presente que abrange o período desde a criação até o dia do Senhor, que nos evangelho é designado em termos de parousia de Cristo a ressurreição e o julgamento é a era da existência humana em fraqueza e mortalidade, do mal do pecado e da morte. O século futuro será a realização de tudo aquilo que o reino de Deus significa, será a vida eterna com Deus, a nova terra, onde o domínio de Deus e suas bênçãos serão constantes em sua plenitude, Mt. 19.28. 9. Satanás e os demônios Logo após batismo, Jesus foi impelido pelo Espírito ao deserto a fim de ser tentado pelo diabo (Mt. 4.1). Em uma das tentações, Jesus foi levado a um monte muito alto de onde lhe foi mostrado os reinos do mundo e a glória deles. Em seguida o diabo disse a Jesus conforme (Lc. 4.6). Em todos os Evangelhos, Satanás é descrito como um espírito mal, sobrenatural, que chefia uma hoste de espíritos maus caídos chamados demônios. Ele é descrito nas Escrituras Sagradas como príncipe dos demônios (Mc. 3.22). Nos Evangelhos Sinópticos, a principal função de Satanás é opor-se ao propósito redentor de Deus. Na narrativa da tentação, Satanás reivindica um poder sobre o mundo e essa reivindicação não foi questionada por Jesus. A tentação consistiu no esforço de desviar Jesus de sua missão divinamente concedida como servo sofredor para que Satanás ganhasse poder caso Jesus se submetesse a ele. Essa mesma idéia também é expressa por Paulo em (2Co. 4.4). Um fato importante a ser considerado pelo estudioso (a) das escrituras é que nem no judaísmo nem no Novo Testamento, esse reino contrário e opositor do mal que se opõe ao Reino de Deus torna-se um dualismo absoluto. Os anjos caídos

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perdem toda a sua força diante do poder de Jesus Cristo e de seus anjos. No Novo Testamento todos os poderes espirituais, como os que mencionamos acima, foram criados por Deus e estão sujeitos ao seu poder. Um dia Satanás e seus anjos serão totalmente destruídos e o mal jamais voltará a existir na nova sociedade recriada por Jesus Cristo nosso Senhor! Nos Evangelhos Sinópticos a atividade de Satanás é vista sob vários aspectos. Em certa ocasião, uma mulher que andava curvada há dezoito anos foi mencionada como uma pessoa a quem satanás mantinha presa (Lc. 13.16). Mas as atividades de Satanás são direcionadas principalmente ao campo ético. Veja por exemplo a parábola do joio e do trigo, onde, o trigo representa os filhos de Deus e o joio os filhos do maligno (Mt. 13.38). Além disso, como já vimos em aulas anteriores o propósito expresso de Satanás é sufocar a palavra do reino, retirando-a dos corações que se mostram demasiadamente duros para recebê-la (Mc. 4.15). Durante a tentação, Satanás procurou desviar Jesus de sua missão redentora e, por intermédio de Pedro, insistiu que o papel do Messias não poderia ser o sofrimento e a morte (Mc. 8.33). Satanás apossou-se de Judas (Lc. 22.3); e desejou lançar suas mãos sobre Pedro (Lc. 22.31). Esse apanhado sobre o mal satânico fornece o fundamento cósmico sobre a missão de Jesus e para sua proclamação do Reino de Deus. O propósito de nosso estudo é demonstrar basicamente que a teologia do Reino de Deus trata essencialmente do conflito e da vitória deste reino sobre o reino de Satanás. Um fato digno de consideração em nosso estudo é que nem os Evangelhos Sinópticos nem o restante do Novo Testamento demonstram qualquer interesse especulativo, quer em relação a Satanás quer em relação aos demônios, nem com a revelação dos nomes dos demônios. O Novo Testamento tem um interesse prático e redentor, pois reconhece o poder sobrenatural do mal, mas sua preocupação centraliza-se na obra redentora de Deus em Cristo, libertando os homens dessas forças malignas. 10. Os demônios Nos Evangelhos sinópticos, a evidência mais característica do poder de Satanás é a habilidade demonstrada pelos demônios de apossar-se do centro de controle da personalidade dos indivíduos. Os demônios são representados claramente como espíritos sobrenaturais malignos. No início de seu ministério em Cafarnaum Jesus defrontou-se face a face com o poder demoníaco. O demônio reconheceu Jesus imediatamente e declarou conforme (Mc. 1.24). A possessão demoníaca manifesta-se de vários modos. Algumas vezes esteve associada a outras aflições de natureza física; como por exemplo, uma pessoa muda (Mt. 9.32), outra cega e muda (Mt. 12.12), e ainda outra com epilepsia (Mt. 17.15). Há somente um lugar em que a possessão demoníaca encontra-se identificada como uma doença mental e, é justamente o endemoninhado gadareno. O registro diz que ele habitava nos túmulos e era insano, pois após os demônios saírem dele, foi encontrado vestido e em seu perfeito juízo (Mc. 5.15). A disfunção foi devida o fato do centro de sua personalidade ter caído sobre a influência dos poderes satânicos. Não podemos associar a demência com endemoninhamento, pois existem pessoas com problema mentais e outras que são possuídas pelos demônios. É bom lembrar que o diabo usa a doença mental para oprimir as pessoas, mas Jesus em seu ministério curou tantos os doentes quantos os endemoninhados (Mc. 1.32), sendo a possessão demoníaca distinta da epilepsia e da paralisia (Mt. 4.24), da enfermidade e da lepra (Mt. 10.8). Jesus curou doentes e expulsou

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demônios e o ato de ter autoridade sobre os espíritos malignos causou espanto por parte dos fariseus (Mc. 1.27). 11. O Mundo Embora Jesus partilhasse da atitude geral do Novo Testamento acerca da era presente como o domínio de Satanás, Jesus não considerou o mundo criado como mal. Apesar de estar em uma cultura mundial onde o grego predominava, Jesus e os escritores do Novo Testamento tinham uma visão hebraica do mundo. Ele considerava Deus como criador, e tanto o homem quanto o mundo fazem parte de sua criação (Mc. 13.19; Mt. 19.4). Jesus usou muitos exemplos da natureza para elucidar seus ensinamentos (Lc. 12.22 ss.; 12.4-7). Mas sua preocupação estava na coroa da criação: O ser humano. A prova disso foi o fato de Jesus comer, andar e pregar para pecadores (Mt. 9.10; Lc. 15.1-2). Apesar de o diabo ser considerado o deus desse século, o mundo ainda continua sendo propriedade de Deus e objeto de seu amor. Cristo morreu por amor ao mundo (ser humano pecador). 12. A Humanidade Jesus veio para restaurar aquilo que a humanidade perdeu com o castigo, domínio e presença do pecado no mundo. Jesus na verdade considerou a humanidade muito mais valiosa do que o restante da criação e do mundo animal. O ser humano na condição de criatura de Deus tem maior valor do que os pássaros ou os lírios do campo (Mt. 6.26-30); 10. 31). Deus se importa com a humanidade; os próprios cabelos da cabeça de cada pessoa estão todos contados (Mt. 10. 30). Como criatura de Deus - a humanidade tem a obrigação de servi-lo e não pode fazer reivindicação nenhuma a seu Mestre. Quando realizamos tudo que tínhamos para fazer, não fizemos mais do que a obrigação de servos e servas de Deus no desempenho de nossa função (Lc. 17.7-10), pois, o ser humano é totalmente dependente de Deus (Mt. 5.36; 6.27). Um homem pode acumular riquezas, mas não pode garantir o uso delas (Lc. 12.16-21; Mt. 10.28). Jesus considerou todos os homens e mulheres como pecadores e todos precisam se arrepender ou ao contrário, perecerão (Lc. 13.1-5). Até mesmo Israel, o povo do pacto, está perdido; Jesus veio para buscá-lo e salvá-lo (Mt. 10.6; 15. 24; Lc. 19.10). O valor último de cada pessoa só pode ser encontrado em sua relação com Deus, um exemplo disso é a parábola do rico fazendeiro de Lc. 12.15-21, sendo loucura ganhar o mundo inteiro e perder a salvação (Mt. 16.26). Assim a humanidade foi criada para ser a filiação de Deus. Deus tem prazer no ser humano, não devido àquilo que é em si mesmo, pois não passa de um pecador perdido, mas por ser capaz de responder ao amor de Deus a ponto dos céus se alegrarem com o arrependimento de um pecador. 15.7). 13. O Reino de Deus

• As interpretações acerca do Reino de Deus assumem uma variedade de formas. De Agostinho aos reformadores, o ponto dominante foi que a igreja era o reino. Esse ponto de vista não encontra tanto apoio hoje em dia até mesmo entre os teólogos católicos.

• A antiga perspectiva liberal é representada pela obra de Harnack onde o reino de Deus é interpretado como a pura religião profética ensinada por Jesus.

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• Em 1892, Johannes Weiss publicou um livreto intitulado a pregação de Jesus acerca do Reino de Deus, onde argumentou que o Reino de Deus era totalmente futurista e escatológico.

• Albert Schweitzer partiu do ponto de vista de J. Weiss, interpretou toda a carreira de Jesus a partir da escatologia do Reino que se instauraria no futuro imediato, uma interpretação que ele intitulou de Escatologia Consistente.

• Na Inglaterra, o Reino de Deus foi interpretado como a Escatologia Realizada, por C. H. Dodd. Ele não descartou a escatologia futurista, mas apresentou o reino com a chegada de Jesus Cristo, o “Totalmente Outro”.

• G. W. Kümmel entendia que o significado primordial do Reino de Deus era o eschaton, ou seja, a nova era.

• J. Jeremias defendeu uma posição distinta de Dodd. Em lugar da escatologia realizada ele defendeu uma escatologia em processo.

14. O Significado da expressão (Basiléia Tou Teou) Basiléia Tou Theou (Reino de Deus) Os estudiosos não manifestam uniformidade de opinião quanto ao significado básico da palavra BASILEIA. Muitos defendem a opinião de que basiléia seja o escathon – a ordem escatológica final. Apesar da expressão basiléia tou theou significar o escathon, o Reino de Deus é entendido como presente e futuro. Jesus é Rei, mas ainda não o é a partir da escatologia final. É o já, mais ainda não. 15. O Reino dos Céus Lc. 15.18, “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti”. Raramente essas expressões foram usadas na literatura rabínica, ela é enfatizada no ensino de Jesus. 16. O Reino escatológico Jesus deixa claro em seus ensinos que o Reino de Deus consiste no dualismo escatológico das duas eras, a vinda do R.D (Mt. 6.10) e o seu aparecimento (Lc. 19.11). a vinda do R.D em sua plenitude significa a destruição total e final do diabo e seus anjos (Mt. 25.41); a formação de uma sociedade redimida (Mt. 13. 36-43) e a comunhão perfeita com Deus (Lc. 13.28-29), e isso acontecerá por ocasião do glorioso retorno de Cristo. 17. O Reino Presente Jesus considerou o seu ministério como o cumprimento das promessas do Antigo Testamento na história, Veja Is. 61.1-2 e Lc. 4.21. Jesus respondeu a João com Is. 35.5-6 e Mt. 11.2-6. Na era presente os inimigos do Reino de Deus não são agora as nações hostis e ímpias como no A.T; mas sim os poderes espirituais malignos. A vitória do Reino de Deus é uma vitória do mundo espiritual: O triunfo de Deus sobre Satanás (1 Co. 15.25). 18. A Nova era de salvação Georg Werner Kümmel é da opinião de que o evangelista Marcos no início do seu evangelho caracteriza a pregação de Jesus Cristo como a proclamação da boa

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nova de Deus, acrescentando ao anúncio “o reino está próximo”, arrependei-vos e crede no evangelho! Mc. 1.14, ss. 1 Já Leonhard Goppelt entende que a reivindicação de que o reino de Deus venha no presente é levantada por Jesus, em primeiro lugar em relação as suas atividades milagrosas, Lc. 11.20; Mt. 12. 28.2 Para G. E. Ladd, o significa do termo BASILEIA TOU THEOU, é abrangente e complexo, entretanto, pode ser entendido como 1) o domínio ou o governo de Deus, 2) A ação real de Deus em Cristo para destruir os seus inimigos e salvar o seu povo; 3) O futuro reino de Deus no qual o povo de Deus será reunido para desfrutar as bênçãos do seu reino. O fato mais marcante na proclamação que Jesus fez do Reino foi sua irrupção presente na história em sua própria pessoa e missão. Daí a expressão BASILEIA TOU THEOU designa um novo estado de bênção redentora da qual o homem pode tornar-se participante por meio da aceitação da mensagem de Jesus a respeito do Reino de Deus. 19. O Reino como um Estado de Bênção Presente O Reino de Deus é um estado presente na vida dos que aceitaram a Jesus Como salvador e matém o firme propósito de segui-lo, Mt. 23.13; Lc. 11.52; Mt. 21.31. Em Mt. 11.11-13, Jesus afirma que o Reino está presente e o poder de Deus está operando poderosamente entre os seres humanos e esse fato exige uma reação igualmente poderosa e radical por parte dos homens. Jesus em muitos momentos descreveu esta reação com cenas violentas tais como as registradas em Mc. 9.43, 47; Lc. 14.26. 20. O Reino como um Dom Presente Na consumação escatológica, o reino é algo a ser livremente herdado pelos justos, Mt. 25.34 (é presente e é futuro). Mt. 24.46; Mc. 10.17, 30. O reino é um tesouro de preço inestimável, Mt. 13.44-46; Mt. 6.33; Mc. 10.15 e Lc. 18.16-17. O reino de Deus deve ser buscado, Lc. 12.31; Mt. 7.7. 21. O Reino de Deus como um Dom da Salvação Nos Evangelhos a palavra salvação ou salvar fazem referência a uma bênção futura e presente, Mc. 10.17-30; Mc. 8.35; Mt. 10.39; Lc. 17.33, ou descrita também como a entrada na vida eterna, Mc. 9.43; Mt. 25.46; Mt. 25.21, 23. A salvação futura representa a redenção do corpo e a restauração da comunhão com Deus, Mt. 25.21, 23; 13. 30, 39. A missão de Jesus na terra era de salvar as ovelhas perdidas de Israel, Mt. 10.6; 15.24. Veja que o filho perdido foi considerado morto mais reviveu, Lc. 15.24. Para Zaqueu Jesus afirmou: “Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” .Lc. 19.9-10.

1 Síntese Teológica do Novo Testamento, Pg. 37.

2 Teologia do Novo Testamento, Pg. 96.

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Na salvação presente Jesus se apresenta como o modelo pastoral, Lc. 19.10, Ez. 34.16, 22; Jr. 10.21; 12.10-11; 23.1-2; Jd. 12; Jr. 25.34-36; 50.6; Ez. 34.1-10, e Deus está preocupado com a salvação presente do seu rebanho, por isso dirige fortes ameaças aos pastores fraudulentos. A principal preocupação de Jesus era com a coroa da criação: O ser Humano. Ele dispensou boa parte de seu tempo para cuidar dos perdidos, dando-lhes a promessa de uma salvação presente, Mc. 2.15-17; Lc. 15.1-2, 7. Jesus fez muitos milagres dando-nos claras demonstrações que a presença do reino presente antecede em parte a glória futura. Quando Jesus curou as pessoas, Ele apontava para o futuro onde não haverá enfermidades, Ap. 21.3-4. Veja Mc. 5.34; 10.52; Lc. 8.36; Mc. 5.23. Mesmo assim, a cura não representa a salvação futura para o pecador ou para o curado. Veja Lc. 17.14 ss. De todas as pessoas que foram curadas por Jesus somente um recebeu a palavra de Salvação por parte de Jesus, Lc. 17.19, 48, 50. 22. A dádiva do perdão Jesus não ensinou uma nova doutrina de perdão. Ele trouxe aos pecadores perdidos uma nova experiência de perdão e não somente prometeu perdão, Ele perdoou os pecadores, Lc. 7.48. Os profetas prometeram o perdão para os pecadores, Is. 33.24; Mq. 7. 18-20; Jr. 31.31-34; Ez. 18.31; 36.22-28; Zc. 13.1, mas, Jesus os perdoou. 23. A dádiva da justiça Mt. 6.33; Mt. 5.20 (uma justiça maior do que a dos escribas e fariseus é nos exigida). Entre o fariseu e o publicano, o último desceu justificado para sua casa. A justiça de Cristo nos é conferida no tempo presente, Lc. 18.14, aos que têm fome e sede de justiça, Mt. 5.6. Em resumo, este é o significado da presença do Reino como uma nova era de salvação - Receber o reino de Deus, submeter-se ao seu domínio, receber a dádiva do reino e entrar na alegria de suas benesses. A era do cumprimento é agora, mas o tempo da consumação ainda espera o século futuro. 24. O Dualismo Joanino 24.1. Os dois mundos Enquanto os Evangelhos sinópticos apresentam um dualismo horizontal, ou seja, duas eras coexistindo de forma linear, João apresenta um dualismo vertical: Um contraste entre o mundo de cima e o mundo de baixo, ou o mundo superior e o mundo inferior, Veja, Jô. 8.23. O mundo de baixo tem o diabo como governador, 16.11, mas Jesus é apresentado como Luz em meio às trevas desse mundo, 11.9 e tem autoridade que vem de cima, 18.36. Ao cumprir sua missão Jesus retornaria para o Pai, segundo João, 13.1. O dualismo ainda pode ser visto nos seguintes versículos, 3.13; 6.38; 6.33, 41, 50, 51, 58. 25. As trevas e a luz

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O mundo inferior é o mundo das trevas, mas o mundo de cima é o mundo da luz, 1.5; 8.12; 9.5; 11.9; 12.35, 46. Os que recebem Cristo se tornam filhos da luz, 12.36, e devem praticar a verdade vindo para a luz, 3.19-20. Para João o ponto alto do mal é o ódio contra a luz que brilha em meio às trevas e essa luz é Cristo. 26. A Carne e o Espírito Um outro contraste entre esses mundos é o que se faz entre a carne e o espírito. A carne pertence ao reino de baixo enquanto o espírito pertence ao reino de cima; a carne para João não é em si mesma pecaminosa, 1.14; mas representa a fraqueza e jamais poderá levar o ser humano ao reino superior, 3.6. 27. O Kosmos João usa o termo kosmos para designar as coisas criadas de forma geral, 17.5, 24; ou a terra em particular, 11.9; 16.21; 21.25. A terra não é em si mesma ruim, pois foi o próprio Senhor quem a fez, 1.3 e, o cosmos pode ainda ser entendido como o gênero humano, 12.19; 18. 20; 7.4; 14.22. Nesses termos Jesus veio para salvar o mundo, 4.42; e para tirar o seu pecado, 1.29; dando-lhe vida, 6.33. 27.1. O kosmos: A humanidade em inimizade com Deus João apresenta um conceito novo para cosmos que não tem paralelo nos Evangelhos Sinópticos, 7.7; 17.25; 1.10. Quando João menciona que Cristo fez o kosmos, 1.10, fica entendido que Cristo fez a humanidade. Quem está afastado de Cristo está escravizado pelo príncipe dos poderes malignos, 12.31; 14.30; 16.11. Os discípulos de Jesus Cristo não devem sair do mundo (geográfico), mas ser diferente da mentalidade do mundo, 17.14, pois são diferentes porque mudaram o rumo de seus objetivos: Agora eles pertencem a Cristo e não ao mundo corrompido. Deus escolheu pessoas do mundo e formou uma nova sociedade em Cristo, 15.19; 17.14 e, para João há uma evidente separação entre a mentalidade do mundo e a mentalidade do crente em Cristo, sendo que a única maneira de ser salvo é mediante a proclamação do evangelho, 20.31. O mundo não pode receber o Espírito de Deus, 14.17, mas os crentes em Cristo o recebem. 28. Satanás Já falamos em outra oportunidade acerca desse tema. Cabe aqui esclarecer que, no Evangelho de João, Jesus não é apresentado em constante luta com os demônios como nos Sinópticos. Para João o diabo é o pai da mentira e do engano, 8.39 e Jesus veio trazer consigo a verdade, 1.17. O diabo tenta vencer Cristo, mas é vencido categoricamente, 14.30; 12.31, 16.11. 29. O Pecado

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Em João, o Espírito Santo convence o ser humano do princípio do pecado e, não dos pecados, mas, do pecado original, da natureza caída, 16.18, 8.34. Deus veio com a Luz (Cristo) para clarear as trevas e as trevas não puderam vencê-la, 1.5. Só por meio de Cristo os homens podem tornar-se filhos dessa luz, 12.36. Para João a incredulidade é pecado. Com a vinda de Cristo, os que não acreditaram nele tiveram uma clara aversão a Ele, 3.19-21; 8.24 sendo a incredulidade parte da essência do pecado, 16.9. 30. A Morte A morte para João é a característica deste mundo, mas a vida veio a este mundo procedente de cima, a fim de que todos os seres humanos escapem da morte e entrem para a vida eterna com Deus, 5.24. 31. O Dualismo Escatológico Na dimensão vertical o mundo de baixo é o reino das trevas, do poder de Satanás, do pecado e da morte. Já o mundo de cima é o mundo do Espírito, da Luz e da Vida. Na missão de Jesus Cristo o mundo de cima com sua vida e luz invadiu o mundo de baixo que é das trevas e de Satanás e libertou os seres humanos das trevas, do pecado e da morte e lhes deu a Vida do Espírito. Para João, o dualismo escatológico consiste no cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento na pessoa de Jesus. Jesus veio trazer a verdadeira libertação para Israel, 8.33-58, especialmente 33, 36, 56. João ainda cita o casamento como símbolo da messianidade de Jesus, conferir Is. 54.4-8; 62.4-5 com João 2.11. Apocalipse descreve como bodas, 19.9. Jesus é o templo, 2.19-20 e até a adoração deve ser substituída, João 4.20-24. João apresenta uma escatologia realizada (Dodd), entretanto, ele em alguns textos nos informa que a escatologia também é futurista, 3.36; 5.39. Veja também 12.25. 32. A OBRA DE CRISTO – A EXPIAÇÃO Para o apóstolo Paulo, a morte de Jesus Cristo é tema central em seus escritos e “teologia”. 1 Co. 15. 3-4 é claro: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” Além disso Paulo menciona a morte de Cristo quando usa termos como: seu sangue, sua cruz ou sua crucificação. 32.1.O Amor de Deus A morte de Jesus Cristo foi sem dúvida a revelação suprema do amor de Deus. Paulo não lida com a história da cruz como sendo um mero evento da história humana, mas como a transformação da mais infame e cruel forma de execução humana na suprema manifestação do amor de Deus, Veja 2 Co. 5.10; Rm. 5.8; 8.3, 32.

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Ao mesmo tempo em que reconhecemos a cruz como obra de um Pai amoroso, temos que reconhecer a necessidade da expiação uma vez que a ira de Deus se manifesta contra toda impiedade, Rm. 1.18 ss. 32.2. Sacrificial Para o apóstolo Paulo a morte de Cristo foi sacrificial, Ef. 5.2; 2 Co. 5.21. Em Rm. 3. 25, Jesus Cristo é a propiciação pelos nossos pecados e este termo é entendido nas Escrituras Sagradas como sendo a remoção da ira mediante a oferta de um presente.3 Somos justificados, Rm. 5.9; e temos a redenção, nos aproximamos de Deus e obtemos a paz pelo seu sangue, Ef. 1.7; Ef. 2.13; Cl. 1.20. 32.3. Vicária Ele morreu por nós, 1 Ts. 5.9; Rm. 8.32; Ef. 5.2Gl. 3.13; Mc. 10.45. Vicária significa expiação que se faz em lugar de4. 32.4. Substitutiva Cristo se fez pecado por nós sem jamais ter pecado, 2 Co. 5.21; 14. Cristo não morreu apenas como meu representante, mas em meu lugar. Quem deveria subir na rude cruz era o ser humano, mas Ele subiu em seu lugar. 32.5. Propiciatória A morte de Cristo não está relacionada somente com o ser humano, mas aponta também em direção a Deus, sendo, portanto, propiciatória. Propiciação é a oferta de Deus dirigida contra o pecado e, o Pai enviou Jesus o filho como sacrifício expiatório,5 Rm. 3.24-25. Há controvérsias acerca do tema propiciação, mas, Paulo indica em Rm. 1.18 que é do céu que se manifesta a ira de Deus, demonstrando a universalidade do pecado, 2.5; 3.20. O destino justo por parte de Deus dos que rejeitarem o sacrifício de Jesus Cristo é a morte, 1.32; 2.12; 6.23, ao mesmo tempo em que esse sacrifício de Cristo livrará os salvos da morte eterna, de maneira que eles não esperarão a ira de Deus, mais a vida eterna, 1 Tss. 5.9. 32.6. Redentora Um outro objetivo da morte de Jesus Cristo é a redenção, e isso é expresso pelas palavras comprar e adquirir. O termo usado para resgate tem o sentido tanto no grego clássico como em Mc. 10.45, de dinheiro, a fim de resgatar algo que esteja em penhor, dinheiro pago para resgatar prisioneiros de guerra, Veja Tito 2.14. Já em 1 Tm. 2.6; sendo que esse termo dá idéia clara de substituição. Veja ainda Rm. 3.24-25; Ef. 1.7. Leon Morris resume a doutrina da redenção da seguinte forma: a) O estado de pecado, para fora do qual a humanidade deve ser redimida. Isso é

3 O Novo Dicionário da Bíblia, de D.G. Douglas, pagina 1330.

4 Dicionário de Teologia, pagina 140.

5 Dicionário de Teologia, página 110.

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semelhante à escravidão que a humanidade não é capaz de romper; assim a redenção contém a intervenção de uma pessoa de fora, que paga o preço que os seres humanos não podem pagar. b) O preço que é pago. O pagamento é necessário na idéia da redenção; e Cristo pagou o preço de nossa redenção. c) O estado resultante do crente e isso se expressa em um paradoxo. Somos redimidos para a liberdade, como filhos de Deus; mas essa liberdade significa servir a Deus. A grande questão é que o pecado já não tem domínio sobre os redimidos, pois a redenção proporciona condições de fazer a vontade de Jesus Cristo. 32.7. Triunfante A morte de Jesus Cristo representa o completo triunfo sobre as forças malignas e sobre os poderes cósmicos. Um dos propósitos da missão de Cristo é destruir toda potestade e força, 1 Co. 15.24-25; Cl. 2.15 33. A OBRA DE CRISTO – A JUSTIFICAÇÃO Paulo emprega muitos termos para se referir a obra de Cristo. Um dos mais importantes que predomina a cartas aos Gálatas e aos Romanos é a justificação. 33.1. A Importância da Doutrina Apesar de ser debatido e contrariado por muitos estudiosos, principalmente da ala liberal alemã, os estudantes da tradição da Reforma, fazem da doutrina da justificação o centro do pensamento paulino e sendo indispensável. Justificação é o Direito legal de estar diante de Deus. Mas o que é justificação? Justificação é o ato legal da parte de Deus pela qual Ele considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencentes a nós e declara-nos justos diante dele. Rm. 8.30; 3.26, 28; 5.1; Gl. 2.16. O que o ser humano merecia da parte de Deus (o castigo) não recebeu, e o que o ser humano não merecia da parte Deus (a vida eterna) Deus por sua misericórdia o concedeu. 33.2. A Base da Justificação Hoje em dia a idéia grega como pano de fundo para os escritos de Paulo já foi superada até mesmo por muitos teólogos liberais. Está confirmada a idéia de que o pano de fundo para os escritos do Novo Testamento em especial os escritos paulinos é hebraico. No Antigo Testamento ser justificado é estar de acordo com a norma dada, e pode ser entendido como ser declarado justo. Em alguns lugares o termo é usado no contexto das relações familiares, Gn. 38.26; 1 Sm. 24.17; 26.23, o contrário é a condenação, 2 Sm. 4.11, uma vez que Mefibosete não tinha direito de esperar a gentileza do novo rei, 2 Sm. 19.28. A idéia não está vinculada apenas à ética cristã, mas está no campo relacional. É fidelidade de um relacionamento. Assim sendo, a justiça torna-se uma palavra de grande importância teológica. Justiça é o padrão que Deus determinou para a conduta humana. O homem justo é aquele que, no juízo de Deus, está de acordo com os padrões divinos, e assim se encontra em um relacionamento justo com Deus. O homem justo é compreendido envolvido em uma questão forense, ou seja, o juiz declara esse homem justo, ou livre da culpa, veja a obrigação do juiz, Dt. 25.1; 1 Rs. 8.32, Sl. 9.4; 33.5; Jr. 11.20, Ex. 23.7. Já no judaísmo a justiça é entendida a partir do cumprimento da Torá – Lei, onde o ser humano não tem condições de chegar a essa perfeição. Quando Paulo

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afirma que Deus justifica o ser humano em Cristo essa idéia é chocante, Rm. 4.5. Para o apóstolo o Deus justo, Rm. 3.26, e a justificação vem separadamente das obras da lei, Gl. 2.16; 3.11, a justificação é pela fé, Gl. 2.16. 33.3. A Justificação é escatológica Deus é o legislador e o justo juiz e somente ele pode declarar uma pessoa justa ou injusta do ponto de vista soteriológico. O resultado do juízo final será uma declaração de justiça que significará a absolvição de toda culpa ou a prova de culpabilidade e subseqüente condenação, Veja Rm. 8.33, 34. Deus pronunciará o veredicto , Rm. 2.13 e precisamos dar conta de nossas ações, Mt. 12.36-37. Somente seremos livres da ira se formos justificados por Deus, Rm. 5.1, 9; 1 Co. 6.11, e com isso o ser humano passa a ser livre da ira divina e livre da condenação eterna, Rm. 8.1. A doutrina da justificação significa que Deus pronunciou o veredicto escatológico de absolvição sobre o ser humano no presente, antecipando-se ao juízo final. Essa justificação não significa perfeição ou ausência de pecados, mas a declaração de que Deus não mais considera o pecado de uma pessoa imputado contra ela, 2 Co. 5.19. O homem crente em Cristo não é visto simbolicamente como justo, mas literalmente justo, pois Cristo foi morto em seu lugar, 2 Co. 5.21. 33.4. A justificação é forense Muitos estudiosos relacionam a justificação defendida por Paulo como uma justificação forense, ou seja, usada nos tribunais. Se entendermos forense como tendo a idéia de um juiz pronunciando o veredicto e absolvendo o ser humano da culpa, após pagar pelo delito cometido, a idéia está errada, pois Deus pronunciou o seu veredicto quando atendemos o chamado eficaz, e quem pagou por nossos delitos foi Jesus Cristo. Agora se forense estiver relacionado com uma linguagem de tribunais aí, a idéia está correta. Sem praticarmos um ato de justiça o justo juiz nos declara justos em Cristo, Rm. 8.33-34, Veja ainda, 2 Co. 3.9; 5.21. 33.5. O Fundamento e os meios da justificação Para Paulo a lei é presente da graça divina, Veja Rm. 2.13; 3.20. A lei mostra o pecado, 7.7-12; o ser humano jamais poderá ser livre do pecado pelas obras da Lei, Gl. 2.16; 3.11 e quem buscar ser justo pela Lei decaiu da graça, Gl. 5.4, e a morte de Cristo foi vã para essa pessoa, Gl. 2.21. O fundamento da justificação não é a obediência a Lei, mas a morte de Jesus Cristo na rude Cruz, Rm. 5.9; Veja ainda, 3.21-26. Sendo assim o fundamento da justificação do ser humano é o sacrifício de Jesus Cristo e o meio pelo qual o ser humano torna-se justo é a fé em seu sacrifício, 3.28. 33.6. Justificação e pecados subseqüentes Os pecados cometidos posteriormente à rendição ao Senhor Jesus Cristo pode ser resolvido da seguinte forma: Todos os pecados são perdoados por Deus em Jesus Cristo pelo fato da justificação ser escatológica, ou seja, aponta para o futuro. Sendo assim, em Cristo todos os pecados são perdoados. O ser humano não é somente justificado dos pecados cometidos antes do tempo de fé, mas é justificado de toda a culpa.

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33.7. Imputação Ver Rm. 4.5; 4.8; 2 Co. 5.21 34. A OBRA DE CRISTO – A RECONCILIAÇÃO A doutrina da reconciliação está intimamente relacionada à doutrina da justificação. Na justificação o pecador é absolvido de toda culpa, já na reconciliação o ser humano justificado é restaurado e elevado à plena comunhão com Deus. A reconciliação é necessária pelo distanciamento que todo ser humano teve de Deus, a partir do pecado, Rm. 3.23; 6.23 e somente a reconciliação pode resolver o problema do distanciamento que o homem tem de Deus. 341. É Deus quem reconcilia o ser humano por meio do sacrifício de Cristo Os textos paulinos acerca da reconciliação não deixam margem para crer que o ser humano participa ativamente da reconciliação. É Deus que, em seu amor infinito nos reconciliou pelo sacrifício da cruz. Como vimos no tema justificação e expiação, o sacrifício de Cristo é central na teologia e pregação de Paulo. Agora aparece a reconciliação como tema central. Veja por exemplo os textos, Rm. 5.10; Cl. 1.21. 34.2. O caráter da reconciliação Para o apóstolo Paulo a reconciliação tem um caráter confirmado em sua teologia. Não dá para precisar o porquê o apóstolo não menciona que Deus se reconciliou com o ser humano, mas somente o ser humano se reconciliou com Deus. Veja por exemplo o texto de 2 Co. 5.19. Paulo define a reconciliação como ato exclusivo de Deus em Jesus Cristo, iniciado por seu eterno amor, pelo qual Deus não imputa sobre nós humanos os nossos pecados e os coloca sobre Jesus Cristo. Em Cristo nos tornamos amigos de Deus e não mais inimigos como éramos no passado. A barreira do pecado foi rompida em Cristo e eliminada em seu sacrifício. Deus libertou o ser humano da culpa e da dívida, que foi rasgada na cruz, veja Cl. 2.13 ss. Ladd entende que a reconciliação mexeu com ambas as partes, de um lado, o homem teve acesso a Deus, por outro lado Deus não nos olha como pecadores, mas como pessoas compradas, lavadas e redimidas pelo sangue do cordeiro. Quando olhamos para Deus não o vemos, conforme Jo. 1.18; mas o enxergamos por meio do rosto do crucificado. Quando Deus nos olha, Ele não vê os nossos pecados, mas o rosto de seu Filho, “E Jesus clamou e disse: Quem crê em mim crê não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim vê aquele que me enviou”. João 12.44-45. DENNEY argumenta que, “na experiência do perdão, na realidade, não somos apenas reconciliados com Deus, mas Deus é reconciliado conosco. Ele não é reconciliado no sentido que ganhamos algo dele contra a sua vontade, mas no sentido de que sua vontade de nos abençoar é realizada com base no que Cristo fez.” Essa posição não é explicitamente defendida por Paulo nem por muitos estudiosos das Escrituras Sagradas da atualidade. A posição mais aceita é que Deus nos reconciliou consigo mesmo através do sacrifício de Cristo. 34.3 O aspecto subjetivo da reconciliação A reconciliação é, antes de tudo, um ato divino objetivo, pelo qual Deus removeu a barreira do pecado que separava o homem da Divindade, e tornou possível a restauração da comunhão com Ele. Este ato foi realizado quando éramos por natureza inimigos de Deus e distantes de sua glória, 2 Co. 5.20. O teólogo

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presbiteriano Charles Hodge defende que o homem jamais consegue se reconciliar com Deus por iniciativa própria, essa iniciativa é sempre de Deus, veja Rm. 7.8ç Cl. 1.21. 34.4. Os resultados da reconciliação A justificação é o pronunciamento divino de absolvição do pecador; e a reconciliação é a restauração ao relacionamento que resulta da justificação, sendo, portanto, o direito legal de ter comunhão com Deus por Jesus Cristo. Uma vez que a reconciliação é restaurada, o ser humano sai do estado de rebelião e passa a ter paz com Deus, Rm. 5.1. Os principais resultados são:

1. Paz com Deus; Paz com os seres humanos (Judeus e gentios, negros e brancos, homem mulher, animais e ser humano etc...), Ef. 2.14-16. Em Cristo há paz em todos os sentidos. 35. A MISSÃO MESSIÂNICA A principal missão de Jesus Cristo era a de preparar a humanidade para o futuro reino de Deus. Jesus falou em muitas ocasiões acerca do futuro reino escatológico quando os justos seriam separados dos ímpios. Por essa razão Jesus sempre exigiu uma decisão por parte do ser humano. A decisão que cada um tomava a favor do Rei, significava uma decisão também em favor do reino que viria, o Reino porvir, conseqüentemente experimentava o perdão de seus pecados, e compreendia já no tempo presente, as bênçãos do Reino Futuro, ainda que parcialmente. Os que aceitaram e ainda aceitam a Jesus Cristo como Rei, são livres da escravidão de Satanás e do domínio do pecado e passam a viver a liberdade do Reino de Deus que chegou com a vinda do Cristo. A missão de Cristo é central na Bíblia e chave para entender o glorioso plano da redenção. A presença de Jesus na terra, sua missão do início ao fim, nos garante o reino Futuro. Temos certeza que esse reino virá, e podemos experimentá-lo no presente de forma salvadora. Para a igreja primitiva a morte de Jesus Cristo foi à consumação de sua missão salvadora na terra. Paulo menciona que Jesus Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, veja, 1 Co. 15.1-8. 1. “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; 2. por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. 3. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, 4. e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. 5. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. 6. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem. 7. Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos 8. e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo.” Paulo está citando Sl. 22.1; Is. 53.1 ss. 35.1. O Evento da crucificação Do ponto de vista humano e político, Jesus Cristo foi um fracasso. Foi pego pelo poder religioso e político e condenado a morte, entretanto, a Bíblia faz referência que a crucificação foi à vitória em todos os sentido. Veja os textos de Jo. 11.47-48; Mc. 14.64.

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35.2. Como Jesus encarava a morte? Os evangelistas descrevem Jesus tendo plena consciência de sua morte na cruz do calvário. Veja Mc. 8.31; 9.12, 31; 10.33; Mt. 17.12; 20.18, 19; Lc. 17.25. 35.3. A expectativa de Jesus em relação à morte A morte de Jesus Cristo tem um espaço especial na revelação dos evangelhos. Todos os evangelistas dedicam boa parte dos seus escritos para narrarem à paixão de Cristo. Para eles a paixão de Cristo era central no plano redentivo e não era descrita como derrota, mas como plano de Deus. No batismo Jesus é contado com os pecadores, Ele não tinha pecados, mas se fez semelhantes aos seus irmãos, Mt. 3.15; Is. 53.11. Quando a voz de Deus é ouvida por ocasião do batismo de Cristo, o texto se combina plenamente com Sl. 2.7; Is. 42.1. Em muitas outras ocasiões Jesus deixou claro a sua expectativa acerca da morte que se aproximava, Mc. 2.20; 10.38; Lc. 12.50; Mc. 14.27. Veja as alusões de Zacarias acerca da paixão de Cristo que, nos textos é descrito como o pastor de Israel, Zc. 13.7; 13.1; 12.10. 35.4. O Significado da Cruz A cruz de Cristo é central nos evangelhos e tem um significado substitutivo, Ele morreu por nós e tinha plena consciência dessa morte. Como vimos, a centralidade da cruz na Bíblia é vista não como instrumento de punição, mas como vitória e triunfo. Jesus Cristo tinha plena consciência de sua missão sacrificial, Mc. 9.31, “Porque estava ensinando os discípulos. Ele lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles vão matá-lo; mas três dias depois ressuscitará". Jesus sabia que sua morte, ressurreição e glorificação faziam parte de sua missão salvadora no mundo (Mt. 17.22-23; Mc. 14.21; Lc. 24.25-26, 44-47), e levou sua missão totalmente submissa a vontade do Pai até o glorioso triunfo na cruz. 35.5. Conclusão:

O artista inglês Holman Hunt, em seu famoso quadro “A luz do Mundo” pintado em 1853, retratou a decisão humano de abrir o coração ao chamado de Jesus Cristo com o texto de Ap. 3.20, que diz: “Escutem! Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e nós jantaremos juntos.” Segundo o artista, o coração humano é uma casa, e todo ser humano dirige sua própria casa (vida); além do mais os recintos dessa casa são nossos e ninguém pode entrar sem a nossa permissão. Em frente a nossa casa está o Senhor Jesus batendo na porta que não tem maçaneta para o lado de fora, somente por dentro. Ele deseja entrar. Temos duas decisões: Deixar Cristo entrar ou deixá-lo do lado de fora. O que fazer agora? Abrir a porta pelo lado de dentro? Jesus continua batendo em seu coração te convidado para o evangelho que vai te regenerar, justificar e santificar a fim de que você tenha plena segurança e aguarde sua gloriosa volta. Veja que esse é um ato único e individual, urgente e indispensável para a sua salvação. Abra a porta hoje, tenha uma vida de santidade, renuncie as propostas do mundo que você atendeu, volte sua mente e seu coração para Jesus, “Assim, como diz o Espírito Santo, se hoje ouvirdes a minha voz não endureça o teu coração”. Hb. 3.7. Querido estudante, Jesus te ama e investiu pesado em você. Ele jamais desistirá de você. Se seus amigos, seus pais, seu namorado ou namorada, marido, esposa ou parentes desistiram de você, tenha certeza, Jesus não desistiu de você, abra o teu coração, levante a cabeça, mude

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sua vida, pois esse é o conselho da palavra de Deus para você: “Ainda que uma mãe se esqueça do seu próprio filho, eu (JESUS) não me esquecerei de você” Is. 49.15. Vá em frente, a cruz é central nessa missão, Jesus está nessa caminhada. Não se esqueça: a teologia só tem sentido se for cristológica, ou seja, Jesus Cristo é o centro dela. 36. A CRISTOLOGIA DOS QUATRO EVANGELHOS Os quatro evangelistas do Novo Testamento registram Jesus Cristo de quatro maneiras e visões diferentes: O Evangelho de Mateus é sem dúvida um grande documento neotestamentário da igreja cristã. Mateus significa “dom de Deus”, foi o autor, também conhecido como Levi. Antes de ser discípulo de Jesus Cristo era publicano, ou cobrador de impostos. A data da escrita está entre 63-70 d.C, escrito de Antioquia da Síria, destinado aos judeus. O Versículo chave é 27.37 e a palavra chave é cumprir, 5.17. De modo geral, Mateus apresenta Jesus Cristo como o Rei, sendo, portanto, o Evangelho do Rei. Já o Evangelho de Marcos é caracterizado como o Evangelho da ação e não dos longos discursos. As expressões “imediatamente” e “logo” são palavras-chave do evangelho e dá-nos a idéia de que Jesus mostrava constantemente atarefado, na qualidade de servo-trabalhador. No grego temos a palavra eutheos (imediatamente) que só no primeiro capítulo aparece 11 vezes. No Evangelho todo aparece 41 vezes. Sendo que em Mateus aparece 18 vezes e em Lucas 7. Jesus nos lábios de Marcos é o poderoso e autorizado Filho de Deus, fazendo milagres, curas, exorcismo, perdão de pecados e salvação. Marcos é o primeiro dos Evangelhos, escrito no final da década de 50, início de 60 d.C. Foi escrito provavelmente de Roma, antes da morte de Paulo e Pedro. A palavra-chave é ação, entendida nas seguintes expressões, imediatamente e logo, apresentando O Cristo sempre em serviço. Se Mateus é o Evangelho do Rei, Marcos é o Evangelho do servo sofredor de Isaias. O Cristo de Marcos trabalha, pois, é destinado a um público gentílico romano, onde o servo sempre trabalha no cumprimento de sua missão. Já Lucas é sem dúvidas uma pessoa de cultura elevada, capaz de escrever em vários estilos. Seu parágrafo de abertura está escrito num estilo clássico, enquanto que em outras partes ele usa uma linguagem semelhante à da Septuaginta (Versão dos LXX). Fica evidente que ele entendia ser este um estilo adequado para o texto religioso que elaborava. Seu principal interesse é pela história da salvação, a história que Deus realizou em Jesus Cristo para trazer a salvação aos pecadores. Lucas deixa claro que esta salvação está disponível aos pecadores. Ele tem uma grande preocupação pelos de má reputação, negligenciados na religião contemporânea, mas que podiam encontrar a paz na salvação de Deus. Lucas registra várias profecias do sofrimento e da morte de Cristo e dedica muito espaço a isso. Lucas se preocupa ainda com muitas pessoas que seriam negligenciadas pela maioria dos escritores do seu tempo – crianças, mulheres e pobres. Embora estas pessoas fossem geralmente consideradas como tendo pequena importância, Lucas demonstra a especial solicitude de Jesus para com elas. Em suma, Lucas tem o propósito de:

• Convencer seus leitores sobre a exatidão histórica das tradições cristãs (1.3,4).

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• Estava interessado em estabelecer a inocência política de Jesus sob as leis romanas (8.43 ss)

Lucas é o Evangelho da certeza histórica. Escrito antes de 70 d.C, provavelmente 63, d.C; é destinado a Teófilo e ao público gentio. Foi escrito provavelmente de Roma onde estava na companhia de Paulo e é o mais elevado grego do Novo Testamento. Lucas apresenta a visão grega acerca do ser humano. Para os gregos o importante era o homem perfeito, e Lucas apresenta Jesus como sendo o homem perfeito.

Referências sobre o Evangelho de João

• O autor deste Evangelho foi testemunha ocular de Jesus Cristo. • O grego do evangelho é simples semelhante ao usado nas cartas. • Os documentos históricos do Cristianismo e alguns pais da igreja

fizeram uso do Evangelho e atribuíram a João, sendo que os primeiros a atribuí-lo a João foram: Taciano e Justino o Mártir, bem como Teófilo de Antioquia, cerca de 181 d.C.

• Policarpo de Esmirna e Papias foram contemporâneos de João e atribuíram a ele o Evangelho e as cartas.

O Evangelho de João é sem dúvida um importante documento da igreja cristã. É o Evangelho pneumático, onde o Espírito Santo fica com a igreja após a ascensão do Cristo de Deus. Um outro fato interessante da perspectiva Joanina é que o autor descreve no capítulo um do Evangelho, uma interpretação do capítulo oito de Provérbios. Enquanto em Provérbios oito a sabedoria (Sofia do grego) trás a existência as coisas e é pré-eterna, em João um é a palavra (logos do grego). Parece que João se recusou a chamar Jesus Cristo de Sofia por ser uma palavra feminina e opta por logos por ser masculina.

36.1. A Cristologia em Mateus Para Mateus Jesus Cristo é narrado como sendo o Filho de Deus, Veja, Mt. 14.33; 16.16-19, note que Mateus tem cuidado com a narrativa do batismo de Jesus e com a resposta ao jovem rico, Mt. 3.14-15; 19.16-17. Mateus tem uma cristologia, por assim dizer, mais elevada do que a narrativa de Marcos e Lucas. Para Mateus, o termo Filho do Homem e Filho de Deus são títulos semelhantes usados para se referir a Cristo, sendo também a esperança de Israel. Um outro fato interessante na apresentação de Mateus é sua ênfase na linhagem de Jesus como sendo da mesma linhagem de Davi e maior do que profetas, monarcas e instituições, Mt. 12.6, 41, 42; veja também a genealogia de Jesus registrada em Mateus, 1.1-2. Mateus apresenta Jesus como Filho de Davi em torno de sete vezes enquanto que Marcos e Lucas apresentam duas vezes. Mateus ainda relaciona José pai de Jesus como filho de Davi, 1.20. Outro tema de grande importância em Mateus, principalmente nos dois primeiros capítulos é a descrição de Jesus como sendo um segundo Moisés. Moisés foi perseguido por faraó, Jesus foi perseguido por Herodes. Segundo Marcos Alexandre, há uma clara relação entre Jesus e Moisés nos sinópticos e isso pode ser visto com mais evidencia em Mateus. Moisés subiu no Monte Sinai para receber a Lei, Jesus subiu no Monte a fim de cumprir a Lei, Mt. 5.1, veja a tabela abaixo:

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MOISÉS JESUS • A Matança dos meninos hebreus por

ordem de Faraó • O assassinato de inocentes em

Belém por ordem de Herodes • O êxodo dos israelitas da Terra do Nilo • O Êxodo de Jesus para o Egito • Moisés deixa o povo para receber a Lei • Jesus deixa a multidão e fica a

sós com os seus discípulos • 40 dias de jejum no Monte Sinai e lá

recebeu a Lei • 40 dias de jejum no deserto e

preparou-se para ensinar a Lei • O povo na peregrinação pelo deserto foi

tentado • Jesus também foi tentado no

deserto • O povo não conseguiu passar pelas

provações no deserto • Jesus é o novo Moisés – Encarna

o Novo Povo de Deus e o faz vencedor

• Moisés desce do Monte e entrega a Lei ao povo

• Jesus desce do Monte e começa a pôr em prática o Sermão do Monte

O rosto de Moisés brilhou na presença de todos os israelitas, Jesus em Mt. 17.1 ss, no Monte Horebe também se transfigurou diante de Pedro Tiago e João. Há ainda um paralelo entre a entrega da Lei em Ex. 20, com o sermão da montanha de Mt. 5.1.ss. A Cristologia de Mateus tem muitas semelhanças com as demais cristologias dos evangelhos Sinópticos. Sua particularidade consiste registrar o papel de Jesus como aquele em quem a história e a esperança de Israel vieram a se cumprir, dando ainda destaque na função de Jesus como Filho de Deus, sem pecado, Senhor, Rei, Juiz e sempre presente, o Deus conosco. 36.2. A Cristologia em Marcos

Enquanto Mateus narra Jesus Cristo como Rei, Marcos o narra como Servo Sofredor, e age com toda autoridade, Mc. 2.1-12, 9.2-8. Cristo tinha consciência de sua missão , sendo aquele que venceria Satanás e seu reino, entretanto, sua missão era sofrer e ser rejeitado por seu próprio povo. Apesar de ser o Deus entre os homens, compartilhou das emoções e aflições humanas, 3.5; 6.5-6; 8.12; 9; 19; 10.14; 14.33-36; 15.34.

Mesmo tendo conhecimento sobrenatural, 2.8; 5.30; 8.17; 13.2; tinha sono, característica humana, 4.38. O reino de Deus já chegou em Cristo e está por vir, é o “já mas ainda não”. O reino de Deus começa pequenino em Marcos, sendo comparado a um grão de mostarda, 4.30; ou a uma semente que frutifica por si só, 4.26-27. Com essas duas parábolas Marcos está nos ensinando o segredo do Reino de Deus, vedado aos homens, mas revelado aos discípulos, 3.31-32; 4.11. 36.3. A Cristologia em Lucas Lucas narra Jesus como sendo o homem perfeito, suas palavras para com Jesus não são “ofensivas”, pois este era o mais perfeito de todos. Cristo em Lucas e Atos está relacionado mais à soteriologia do que a cristologia, sendo a igreja responsável pela proclamação das boas novas a todos os povos. Em Lucas encontramos o Cristo da igreja, em Atos a Igreja de Cristo; em Lucas a ressurreição de Cristo, em Atos os ensinamentos acerca da ressurreição, em seguida o Pentecostes, em que o Espírito Santo, agora presente na igreja, assume a missão

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que Jesus começou, 1.1. Lucas é o teólogo da Historia da Redenção, Lc. 24.6-7, 26-27, 44-47. O propósito de Deus proclamado no Antigo Testamento, cumpriu-se na vida da Igreja com a proclamação da redenção, conforme At. 1.4-8. A igreja proclama a mensagem soteriologica em Jerusalém, Judéia, Samaria, Antioquia, Chipre, Ásia Menor, Europa, Roma e posteriormente em todos os cantos do mundo. O livro de Atos termina com uma igreja atuante e triunfante em Cristo. 36.4. A Cristologia em João João difere um pouco dos evangelhos sinópticos acerca da narração de Cristo. O Evangelho de João é considerado um evangelho pneumático, ou seja, um evangelho espiritual. Há ainda o problema geográfico, enquanto os sinópticos relatam o ministério de Jesus na Galileia, João o relata em suas visitas a Jerusalém. Os sinópticos têm uma seqüência geográfica enquanto que João tem uma seqüência biográfica. Enquanto os sinópticos usam parábolas, João é caracterizado pelos longos discursos. João faz discursos teológicos interpretativos e não os ditos de Cristo propriamente, veja, por exemplo, a expressão, ego eimi: Eu sou o pão da vida, 6.36; o bom pastor, 10.11; a ressurreição e a vida, 11.25; o caminho a verdade e a vida, 14.6; a videira verdadeira, 15.1; a preexistência do logos, 8.58. Enquanto os sinópticos sendo mais antigos retratam em alguns capítulos a doutrina das ultimas coisas, João sendo o último evangelho descreve o inicio das coisas, “No princípio era o Verbo...” Os estudiosos da tradição são favoráveis que o evangelho de João foi escrito no final do primeiro século com a finalidade de combater a doutrina gnóstica que afirmava que Jesus não veio em carne, I Jo. 4.2. 37. A HUMANIDADE SEM CRISTO O pano de fundo do pensamento de Paulo não era grego, mas judaico. Dessa maneira o dualismo Paulino não era cosmológico, mas um dualismo escatológico. Paulo está ciente de que se encontra em um intervalo entre duas eras. Toda obra de Deus caminha para realização perfeita do Reino de Deus no século futuro. Como isso acontece na prática? Quem não pertence a Cristo na presente era continua sob o domínio do pecado e da velha era onde predomina o mal e a morte, já os que pertencem a Jesus Cristo, as bênçãos da Nova Era ou da era futura já estão sobre eles. 37.1. O Mundo 1º. No Antigo Testamento o mundo poderia ser entendido como: céu, terra ou toda a extensão, Sl. 8.6; 18. 15 a; 44.24. Para Paulo a idéia de mundo designa a totalidade de tudo que existe, Rm. 1.20; Ef. 1.4; 1 Co. 3.22; 8.4-5. 2º. Kosmos pode significar nos escritos de Paulo à terra inabitada, a moradia da humanidade ou o cenário da história. É o cenário onde os homens nascem, 1 Tm. 6.7; onde os santos convivem com os ímpios, 1 Co. 5.10 b. Promessa de herança a Abraão, Rm. 4.13; agora é o cenário da proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, Rm. 1.8; Cl. 1.6. O mundo pode ser entendido como a morada dos que não tem esperança e dos que estão sem Deus, Ef. 2.12. 3º. Kosmos refere-se à humanidade, à totalidade da sociedade humana que habita a terra. 4º. Kosmos pode ser entendido como o relacionamento da humanidade com Deus. Há uma clara distinção nesse relacionamento: a humanidade é decaída e Deus é perfeito.

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5º. Kosmos pode significar as relações dos seres humanos na terra, abrangendo todas as atividades humanas. A doutrina de Paulo acerca do mundo está calcada no pano de fundo hebraico e não grego. Mundanismo para o apóstolo consiste em adorar a criatura no lugar do Criador de todas as coisas, Rm. 1.25, e no fato de encontrar a glória nas coisas criadas incluindo o ser humano em vez de encontrar e prestar essa glória a Deus. O mundo só é pecador quando exalta a si mesmo acima de Deus e se recusa a se humilhar e reconhecer seu Senhor como criador. Quando o ser humano é redimido por Cristo, deixa simplesmente de fazer parte do mundo pecador e torna-se cidadão do Reino de Deus. 37.2. Poderes Espirituais O apóstolo Paulo tinha convicção que a humanidade estava sob o domínio dos poderes sobrenaturais, quer seja do bem quer seja do mal. Nesse contexto os anjos são vistos como seres engajados no serviço de Deus, Gl. 3.19; 1 Co. 4.9; 11.10; 1 Tm. 5.21; 3.16; 2 Ts. 1.7. Por outro lado há anjos caídos que se tornaram inimigos de Deus e dos santos, Rm. 8.38; 1 Co. 6.3, Cl. 2.18. Paulo faz menção tanto de demônios quanto de anjos em ralação à idolatria. Mesmo reconhecendo que os ídolos nada são, 1 Co. 8.4-6, e não tendo nenhum poder inerente, os ídolos têm o poder de sedução dada por Satanás ou por demônios, pois oferecer sacrifício aos ídolos, é entendido nos escritos de Paulo como sendo adoração aos demônios, 1 Co. 10. 19-21, e que nos últimos tempos esses espíritos enganadores estariam cada vez mais ativos para afastar os seres humanos da verdade do Evangelho, 1 Tm. 4.1-3. Já o arquiinimigo de Deus é um espírito maligno que às vezes é chamado de diabo, Ef. 4.27; 6.11; 1 Tm. 3.7, mas no geral é chamado de Satanás. É o príncipe das potestades do ar, Ef. 2.2; o deus desse século, 2 Co. 4.4; que procura desviar o crente do Evangelho, 1 Ts. 3.5; e obstruir os servos de Deus em suas atividades cristãs, 1 Ts. 2.18; levantar falsos apóstolos para perverterem a verdade do Evangelho, 2 Co. 11.14-15, Ef. 6.11, 12, 16. Esses espíritos que agem sob permissão de Deus estão sempre tentando ir além dos limites impostos por Deus e quando há permissão, fazem ataques físicos aos servos de Deus, 2 Co. 12. 7. No final dessa presente era, o propósito de Satanás é concentrar suas forças em uma pessoa, que é chamado por Paulo de homem iníquo que, tentará em um esforço final destruir a obra de Deus e levar os seres humanos a adorarem o maligno, 2 Ts. 2.4-10. Em geral Paulo usa muitas terminologias para se referir às forças malignas, como seguem:

a) potestade (arché), 1 Co. 15.24; Ef. 1.21; Cl. 2.10; b) potestades (archai), Ef. 3.10; 6.12; Cl. 1.16; 2.15; Rm. 8.38; c) autoridade (exousia), 1 Co. 15.24; Ef. 1.21; Cl. 2.10; d) autoridades (exousiai), Ef. 3.10; 6.12; Cl. 1.16; 2.15; e) poder (dynamis), 1 Co. 15.24; Ef. 1.21; f) poderes (dynameis) Rm. 8.38; g) tronos (thronoi), Cl. 1.16; h) principado (kyriotes), Ef. 1.21; i) principados (kyriotetes), Cl. 1.16; j) príncipes das trevas deste século, Ef. 6.12; k) hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais, Ef. 6.12; l) potestades das trevas, Cl. 1.13;

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m) todo nome que se nomeia, Ef. 1.21 e n) dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, Fl. 2.10

37.3. Stoicheia A expressão grega (στοιχειον) pode designar, elementos de aprendizado, princípios fundamentais, abecedário, substâncias elementares.6 Quando Paulo usa essa expressão em Gl. 4.3, 9, Cl. 2.8, 20, pode estar se referindo a toda sabedoria do ser humano, incluindo suas religiões, crenças etc...Mesmo não conseguindo chegar a um conceito preciso da expressão usada por Paulo, podemos concluir que o confronto com as forças malignas acontece constantemente na vida dos seres humanos e dos crentes em especial, de uma forma muito mais sutil do que temos aprendido ao longo da nossa formação cristã. Satanás usa o ensino sistemático para aprisionar pessoas. Voltar às doutrinas erradas biblicamente que acreditávamos antes de conhecer o Reino de Deus é voltar a ser escravo dos rudimentos do mundo. Esse presente século maligno e a totalidade da existência humana estão sob o domínio desses poderes maus, e o Reino de Deus somente pode se realizar por meio da derrota e da sujeição desses poderes. 37.4. Adão Paulo entende que em Adão toda a humanidade pecou. Assim como por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado à morte, por um homem (Cristo) a salvação veio a todo homem. Daí a idéia de solidariedade da raça, em Adão e em Cristo, 1 Co. 15. 21; Rm. 5.12. 37.5. Revelação Natural Para Paulo todo ser humano tem uma noção de Deus, pois, recebeu a revelação natural ou a revelação geral de Deus. Para o apóstolo o ser humano rejeita a Deus, entretanto, não é inocente diante dele, Rm. 1.21. O próprio homem opta por trocar o Criador pela adoração à criatura e, por isso, torna-se culpado. 37.6 Pecado Paulo usa diversos termos para se referir ao pecado ao mesmo tempo em que esses termos são quase sinônimos. Veja abaixo algumas delas:

a) impiedade (asebeia), Rm. 1.18; b) recusa da adoração a Deus (adikia), Rm. 1.20-23; c) a jactância como pecado. A auto-justificação dos judeus que guardavam a lei

para serem salvos; d) o pecado como erro do alvo divino (hamartia), Rm. 5.12; e) o pecado como quebra deliberada da Lei (parabasis), Rm. 2.23; 5.14; f) o pecado como desdém da Lei (anomia), Rm. 6.19; g) o pecado como lapsos individuais (paraptoma), Rm. 4.25; 5.15; Ef. 2.1; h) o pecado como desobediência (parakoe), Rm. 5.19; 2 Co. 10.6 e i) o pecado como uma personificação: Em Rm. 7, Paulo fala do pecado como

um poder hostil e independente do ser humano (essa é uma linguagem usada exclusivamente na Carta aos Romanos).

6 Léxico do N.T grego/português pagina 193.

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37.7. Lei Paulo considera a Lei como um padrão divino, Rm. 7.12, 14. O que faz da Lei um instrumento de condenação é a fraqueza e o pecado humano, 5.13; 4.15; 7.19 e não sua desqualificação. O pecado humano é tão grave que a Lei que é boa, torna-se dispensação da morte, 2 Co. 3.17; da escravidão ao mundo, Gl. 4.1-10, 21-31. Paulo conclui sua teologia da Lei afirmando em Romanos e Gálatas que, a Lei só tem sentido em Cristo, por isso, precisa ser interpretada e entendida em Cristo Jesus. A Lei não justifica o se humano, pois está relacionada na santificação. Quem justifica é Cristo. 37.8 Carne

Paulo entende o termo carne como sendo a rebelião da humanidade para com Deus, daí o pecado do homem resultou em queda. O termo grego é sarx, que em algumas passagens também é entendida como um poder hostil e alheio o qual o homem precisa se libertar, Rm. 8.5-8; a carne luta contra o Espírito, Gl. 5.17; e provoca morte, Gl. 6.8. 37.9. Inimigos

Com os seus pecados os homens estão afastados de Deus, Cl. 1.21; Ef. 2.12; 4.8. O ser humano em seu estado de pecado torna-se inimigo de Deus, sendo, portanto, colocado sob sua ira, Rm. 5.9; Ef. 2.3. 37.10. Morte Os seres humanos pecadores estão em um estado de morte, Ef. 2.1, 5; Cl. 2.13. Paulo afirma que o homem sem Deus é como os que perecem, 1 Co. 1.18; 2 Co. 2.15. 37.11. Ira Em Paulo, a ira de Deus não é uma emoção que diz como Deus está se sentindo; antes, ela nos diz como Ele age em relação ao pecado e aos pecadores. A ira é a reação pessoal de Deus. Veja que o dia do juízo será um dia de ira para os perdidos, Rm. 2.5; 1 Ts. 1.10. Deus se manifestará com castigo, 2 Ts. 1.8-9; Ef. 5.6; Cl. 3.6. Os homens sem Cristo são filhos da ira, Ef. 2.3 e a ira de Deus é revelada contra toda impiedade dos homens, Rm. 1.18. 38. A NOVA VIDA EM CRISTO Em 2 Co. 5.17 Paulo afirma: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo”. A afirmação paulina, de que, em Cristo, o que é velho já passou e tudo se fez novo é um enunciado escatológico. O novo aeon que chegou com Cristo, traz a criação de um novo ser humano. Essa nova criação não se refere à recriação no mundo físico, pois, essa aguarda a parousia, mas, a chegada de uma Nova Era de salvação, onde a velha era será suplantada pela presença de Jesus Cristo. Em Cristo há libertação do presente século, Gl. 1.4; os seres humanos não precisam mais viver de acordo com a maneira antiga, Rm. 12.2; a nova aliança está à disposição da humanidade, 1 Co. 11.25; e Deus já realizou uma nova criação em Cristo para as boas obras, Ef. 2.10. A idéia é que os seres humanos em Cristo ainda vivem na era antiga por estarem no mundo (terra) que tem a presença do pecado, mas já pertencem à era

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futura, com sua nova criação, e deve viver uma vida que seja expressão da nova existência em Cristo. 38.1. Em Cristo Apesar de ter tido muitas discordâncias ao longo da interpretação bíblica, a expressão em Cristo, usada por Paulo pode ser entendida como estar em uma nova esfera de vida. Eu estou em Cristo a partir do momento que vivo os valores que Cristo ensinou. Com uma vida justificada e santidade por Cristo o ser humano experimenta a novidade do novo aeon. A velha era coexiste com a nova era. Os crentes vivem em um sistema da velha era, dominada pelo pecado e suas influências, mas sua mente vive na nova era, na proposta redentora da nova existência em Cristo e vivemos hoje, na esperança do glorioso retorno de Jesus Cristo. 38.2. No Espírito Aqui voltamos a trabalhar com a dualidade paulina. Quem está em Cristo também está no Espírito, enquanto o que está em Adão, também está na carne. A vida no Espírito significa existência escatológica, ou seja, vida na nova era, uma vez que a presença do Espírito Santo na igreja é um evento escatológico. Veja por exemplo o texto de 1 Co. 6. 11, “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”. O termo lavar pode incluir o ato simbólico do batismo, mas seu significado primário é a purificação do pecado. A justificação é o ato de absolvição, já a santificação é o fato da dedicação a Deus. Tanto a justificação quanto a santificação são vistos como fatos que já aconteceram na vida dos que estão no Espírito. Do mesmo modo, os gentios que outrora não estavam purificados, foram santificados no Espírito Santo, Rm. 15.16. É também no Espírito Santo que os crentes são selados para o dia da redenção, Ef. 4.30; e por meio de Cristo, mas também no Espírito, os seres humanos têm acesso a Deus o Pai, Ef. 2.18, e os crentes são edificados a ponto de formar uma morada para Deus, 2.22. Estar no Espírito significa estar no Reino de Deus, Rm. 14.17; Cl. 1.13. O século futuro foi inaugurado com a presença do Espírito Santo, primeiramente no ministério de Jesus Cristo, Mt. 12.28, e posteriormente na vida da Igreja conforme narrativa de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos. Daí ao se referir à vida cristã, a oração deve ser feita no Espírito, Ef. 6.18; o amor deve ser exercido no Espírito, Cl. 1.8; o ministério do Evangelho deve ser realizado em Espírito, 1 Co. 12.3. 38.3 Não estar na carne Mais uma vez aparece o dualismo paulino, ou seja, a velha era, na carne – do pecado e da morte; e a nova era, no Espírito – da justiça e da vida. Os que estão no Espírito continuam a viver em sua carne mortal e humana, Gl. 2.20, mas entraram em uma nova esfera, a da vida no Espírito. Os crentes que estão no Espírito, não estão mais na carne, Rm. 8.9. 38.4. Mortos para a carne Quando uma pessoa passa a viver no Espírito, é liberta do domínio da carne, e segundo Paulo a carne já foi crucificada, Gl. 5.24, veja ainda Gl. 2.20, 6.14.

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38.5. Morrer – viver com Cristo Mais uma vez Paulo usa a expressão de morrer e ressuscitar com Cristo, Rm. 6.1-11. Esse ressuscitar com Cristo não está associado simplesmente a uma ressurreição escatológica, mas uma vida presente em Cristo, no aqui e agora. Outro fato digno de consideração é a compreensão do velho aeon, quando o pecado reinava na vida do ser humano, já no novo aeon, o domínio do pecado foi rompido, Rm. 6-12, 14. Os crentes devem entender essa proposta do Evangelho e romper com o pecado, 17, 18, 22. 38.6. Circuncisão A circuncisão é entendida no Novo Testamento como uma circuncisão espiritual e não física como no Antigo Testamento. A metáfora é usada como se referindo a Cristo em sua crucificação, Cl. 2.11-12; Rm. 2.29; Cl. 3.9. 38.7. A morte para o mundo Quando o crente se rende a Cristo, significa que ele morreu para os elementos do mundo, Cl. 2.20. O cristão deve viver sua vida como uma pessoa transformada e não como um mero mundano. O crente em Jesus deve ter uma ética do reino de Deus, pois sua vida está escondida em Cristo, Cl. 3.3. 38.8. Cristo habita em nós O homem renovado está tanto em Cristo quanto no Espírito e, tanto o Espírito Santo quanto Cristo habitam nele, veja Rm. 8.9-10, Gl. 2.20; Cl. 1.29; 3.4 e Ef. 3.17. Paulo fala com muito mais freqüência do Espírito Santo habitando no interior do crente redimido por Cristo, como sugerem os textos a seguir: Rm. 5.5; 2 Co. 1.22; 5.5; Gl. 3.5; 1 Ts. 4.8; Rm. 8.15; 1 Co. 2.12; 12.13; 2 Co. 11.04; Gl. 3.2; Rm. 8.23; Rm. 8.9, 11; 1 Co. 3.16; 6.19; 2 Tm. 1.14; Rm. 8. 9, 14, 16, 26 e Gl. 4.6. Concluindo o pensamento de Paulo acerca da Nova Vida em Cristo, fica evidente que, a união com Cristo, em sua morte e sua ressurreição, o habitar de Cristo no Espírito e a benção da vida eterna são modos diferentes de descrever a mesma realidade: a pessoa que se tornou uma nova criatura em Jesus Cristo e entrou na nova era de salvação e da vida. A nova vida é experimentada no domínio do Espírito, e Paulo faz menção da vida humana fora do Espírito como um estado de morte, Ef. 2.1. O homem é conclamado a se renovar no Espírito, Ef. 4.23-24, e essa possibilidade é garantida em Cristo, Cl. 3.10, daí o crente pode andar em novidade de vida, Rm. 6.4, e andar segundo o Espírito, 8.4; Gl. 5.16. O poder do Espírito que habita no crente não é um poder espontâneo, todo poderoso; requer uma resposta humana. Andar segundo o espírito significa viver cada momento e tomar cada decisão segundo a orientação do Espírito que habita em seu interior. Andar no Espírito é andar em tensão entre o Espírito e a carne. Embora a carne tenha sido crucificada com Cristo, em princípio pode ainda estar ativa, ter poder na vida do crente, e este precisa estar constantemente vigilante para manter a carne sob o controle do Espírito: “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” Gl. 5.17. A crucificação e a morte da carne não significa que esta não deve mais ser levada em conta na experiência cristã. O crente nunca será o homem que deseja ser – livre da tentação, da luta e da tensão. O velho

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ego está sempre presente; somente por meio de um constante andar segundo o Espírito, é que o domínio da carne pode ser subjugado. 39. Tiago

Estudaremos nesse último tópico da cadeira de Teologia Bíblica do NovoTestamento os aspectos da carta de Tiago. Existem no Novo Testamento muitas pessoas com esse nome, mas, ao que tudo indica, o escritor da carta de Tiago foi o irmão mais velho de Jesus nascido de José e Maria, sendo Jesus o primeiro e Tiago o segundo filho. Pelas indicações de Paulo em 1 Co. 15.7, sabemos que Tiago teve a experiência de ver Jesus Cristo ressurrecto e, possivelmente tenha se convertido, tornando-se líder da igreja em Jerusalém, At. 15.13; 21.12; Gl. 1.19. Ladd conclui que a epistola foi escrita por Tiago, o irmão de Jesus, de Jerusalém, endereçada a judeus cristãos que estavam sendo oprimidos por seus compatriotas judeus. A tradição confirma que Tiago foi martirizado por judeus em 62 d.C. 39.1. Teologia Prática Apesar de ser contestada por alguns na história da Igreja Cristã, como por exemplo, Martinho Lutero que considerava a carta de Tiago uma carta de palha, sua teologia é essencialmente prática e importante para compreender o pensamento da igreja de Jerusalém. Tiago se preocupa com a prática pastoral e não com longos discursos ou argumentos teológicos. Em sua epístola ele encoraja os crentes judeus cristãos que, eram pobres em sua maioria e oprimidos pelos ricos da época. Um fato importante da carta é o tratamento dispensado a Jesus, Tg. 1.1; 2.1; e sua preocupação escatológica, 5.7-8; 1.12; 5.20 e 2.5. 39.2. A Igreja Tiago usa o termo sinagoga para se referir a igreja, entretanto, instrui os anciãos da igreja na prática pastoral, 2.2; 5.14; 5.16; 5.20. Veja a preocupação que Tiago tem com o ensino e a atividade docente na igreja, 3.1; 3.2. 39.3. A Tentação O problema da tentação é marcante na epístola de Tiago. Sua preocupação está no fato de os crentes de sua época culparem a Deus por seus pecados e tentações. Tiago revela que o ser humano peca quando engodado pelos seus próprios desejos, 1.14. Até mesmo as coisas boas quando assumem o principal lugar de nossa vida podem nos conduzir ao pecado, Lc. 12.16 ss. 39.4. A Vida Cristã Tiago está preocupado com a vida cristã no sentido prático. Veja 1.18, 21, em comparação com 1.15. Essa palavra é usada na medicina e também em algumas partes do Novo Testamento, Mc. 10.15, Jo. 3.3, Rm. 6.4, Ef. 2.1, 2 Co. 5.17, Tt. 3.5. É Interessante que, embora Tiago atribua a fonte da tentação ao ser humano, ele reconhece a existência do diabo e conclui que o Diabo também é uma fonte de tentação, 4.7. Os crentes são convocados por Paulo a resistir no dia mal, Ef. 6.13. Tiago assim como Paulo trabalha com a tensão do “Já, mas ainda não”. Pela vontade divina nascemos de novo, 1.18, 1.21; mesmo assim os crentes estão sujeitos a vários tipos de tentações bem como a provações, 1.2, 5.19, 2.5, 1.12. Na vida cristã, Tiago entende que o crente deve cumprir a Lei dada pelo Rei eterno, 2.7-8, 1.25. A base do julgamento será a mesma Lei real, 2.12; e a Lei que ele se refere é sem dúvida a Lei do Decálogo, 2.9-11. Tiago menciona que todas as

Page 28: Apostila de Teologia Bíblica do Novo Testamento

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pessoas devem ser tratadas igualmente pela igreja, 2.1 ss; pois o amor é o maior dos mandamentos, 2.8; Mt. 22.39. 39.5. A Tensão entre Tiago e Paulo Há um problema a ser resolvido entre Paulo e Tiago, veja, por exemplo, Rm. 3.20 e Gálatas em comparação com Tg. 2.14-18. Para resolver o problema a solução mais aceita pelos eruditos, uma vez que a Bíblia no pode se contradizer, é: A fé que Paulo defende não é a fé que Tiago condena e a Lei que Paulo condena não é a Lei que Tiago exalta. Fé para Paulo é a aceitação do evangelho e o compromisso pessoal com Cristo, já, para Tiago, é a aceitação do monoteísmo, 2.19. Paulo critica o legalismo, ou seja, a salvação mediante as obras da Lei, Tiago critica a fé vazia, sem compromisso ético, ou no dizer de Bonhoefer, a graça barata. Em síntese, Tiago e Paulo estão lidando com duas situações diferentes: Paulo, com a auto-justificação e Tiago com a ortodoxia morta. Sem dúvidas há na epístola de Tiago uma grande riqueza pastoral que diz respeito a vida prática, mesmo esquecidas por muitos estudiosos.