Upload
kissila-oliveira
View
16
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
TOXICOLOGIA OCUPACIONAL
Profª DSc. Rita Wetler Tonini
1- TOXICOLOGIA
A Toxicologia é a ciência que tem como objeto de estudo o efeito
adverso de substâncias químicas sobre os organismos vivos, com a finalidade
principal de prevenir o aparecimento deste efeito, ou seja, estabelecer o uso
seguro destas substâncias químicas.
Trata-se de uma Ciência multidisciplinar, onde os conhecimentos estão
inter-relacionados. Envolvendo assim, especialistas com diferentes formações
profissionais
A Toxicologia se apóia em 3 elementos básicos:
i) O agente químico (AQ) capaz de produzir um efeito;
ii) O sistema biológico (SB) com o qual o AQ irá interagir para produzir o
efeito;
iii) O efeito resultante, que pode ser adverso (ou tóxico) para o SB.
TOXICOLOGIA QUÍMICA
BIOQUÍMICA
BIOLOGIA
PATOLOGIA
FARMACOLOGIASAÚDE PÚBLICA
FÍSICA
FISIOLOGIA
2- ÁREAS DA TOXICOLOGIA
Toxicologia Ambiental: efeitos nocivos produzidos por substâncias
químicas presentes no macro ambiente dos seres vivos.
Toxicologia Ocupacional: efeitos nocivos produzidos pelas substâncias
químicas presentes no meio ocupacional (micro ambiente) do homem.
Toxicologia de Alimentos: estuda os efeitos adversos produzidos por
agentes químicos presentes nos alimentos, sejam estes de origem biogênica
ou antropogênica.
Toxicologia de Medicamentos: efeitos adversos decorrentes do uso
inadequado de medicamentos, da interação medicamentosa ou da
susceptibilidade individual.
Toxicologia Social: efeito nocivo dos agentes químicos usados pelo
homem em sua vida de sociedade seja sob o aspecto individual ou social.
Ecotoxicologia: estudo dos efeitos adversos de agentes químicos ou
físicos no ecossistema.
Todas estas áreas poderão ser estudadas sob três aspectos distintos: o
clínico, o analítico e o experimental.
3- AGENTE TÓXICO
Diz-se de qualquer substância química que, interagindo com um
organismo vivo, é capaz de produzir um efeito tóxico, seja este uma alteração
funcional ou a morte.
Toda a substância química é potencialmente tóxica, este potencial pode
se transformar em risco com base em 3 fatores:
- Dose recebida
- Sensibilidade do receptor à concentração recebida
- Via de contato
Todas as substâncias são venenos, não há uma que não seja. A dose
correta é que diferencia um veneno de um remédio (PARACELSUS-1493-
1541).
3.1- Classificação dos Agentes Tóxicos
- Quanto à natureza: Naturais ou Sintéticos
- Quanto ao órgão ou sistema onde atuam: Hepatotóxico, Neurotóxico,
Nefrotóxico, Genotóxico, etc.
- Quanto às características físicas: Sólidos, Líquidos, Gases, vapores,
partículas
- Quanto às características químicas: Halogênios, Metais, Produtos alcalinos,
Hidrocarbonetos alifáticos, HPAs, etc.
4- TOXICIDADE
Toxicidade é capacidade do agente químico, de produzir maior ou menor
efeito nocivo sobre os organismos vivos, em condições padronizadas de uso.
- Substância muito tóxica: causará dano a um organismo se for
administrada em quantidades muito pequenas.
- Substância de baixa toxicidade: somente produzirá efeito quando a
quantidade administrada for muito grande.
4.1- Fatores que influem na toxicidade
- Fatores ligados ao agente químico:
- propriedades físico-químicas (solubilidade, grau de ionização,
coeficiente de partição óleo/água, tamanho molecular, estado físico, etc.);
- impurezas e contaminantes;
- fatores envolvidos na formulação (veículo, adjuvantes)
- Fatores relacionados com o organismo:
- espécie, linhagem, fatores genéticos;
- fatores imunológicos, estado nutricional, dieta;
- sexo, estado hormonal, idade, peso corpóreo;
- estado emocional, estado patológico
- Fatores relacionados com a exposição:
- via de introdução;
- dose ou concentração
- Fatores relacionados com o ambiente:
- temperatura, pressão, radiações, luz, umidade, etc.
5- INTOXICAÇÃO
É um conjunto de efeitos nocivos representado pelos sinais e sintomas
que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação do agente
químico com o sistema biológico. Corresponde ao estado patológico provocado
pelo agente tóxico, em decorrência de sua interação com o organismo.
Efeito tóxico
=
Dose da substância
+
Tempo contato
Suficientes para quebrar a homeostasia do organismo
5.1- Fases da intoxicação
Fase de Exposição: corresponde ao contato do agente tóxico com o
organismo. Representa a disponibilidade química das substâncias químicas e
passíveis de serem introduzidas no organismo.
Fase Toxicocinética: consiste no movimento do AT dentro do
organismo. É formada pelos processos de absorção, distribuição,
armazenamento e eliminação (biotransformação e excreção). Todos esses
processos envolvem reações mútuas entre o agente tóxico e o organismo,
conduzindo à disponibilidade biológica.
Fase Toxicodinâmica: corresponde à ação do AT no organismo.
Atingindo o alvo, o agente químico ou seu produto de biotransformação
interage biológicamente causando alterações morfológicas e funcionais,
produzindo danos.
Fase Clínica: corresponde à manifestação clínica dos efeitos resultantes
da ação tóxica. É o aparecimento de sinais e sintomas que caracterizam o
efeito tóxico e evidenciam a presença do fenômeno da intoxicação.
5.1.1- Fase de exposição
Exposição é a medida do contato entre o AT e a superfície corpórea do
organismo e sua intensidade depende de fatores, tais como:
5.1.1.1- Via ou local de exposição: As principais vias de exposição, através
das quais os AT são introduzidos no organismo são:
- via gastrintestinal (ingestão)
- via pulmonar (inalação)
- via cutânea (contato)
Embora não tão importante para a Toxicologia como estas três, existe
também a via parenteral. A via de introdução influi tanto na potência quanto na
velocidade de aparecimento do efeito tóxico. A ordem decrescente de eficiência
destas vias é: via endovenosa > pulmonar > intraperitoneal > sub-cutânea >
intra muscular > intra-dérmica > oral > cutânea.
Estas vias ganham maior ou menor importância, de acordo com a área da
Toxicologia em estudo. Assim, a via pulmonar e a cutânea são as mais
importantes na Toxicologia Ambiental e Ocupacional, a via gastrointestinal na
Toxicologia de Alimentos, de Medicamentos, em casos de suicídios e
homicídios, e a via parenteral tem certa importância na Toxicologia Social e de
Medicamentos (Farmacotoxicologia).
5.1.1.2- Duração e freqüência da exposição: A duração de uma exposição é
importante na determinação do efeito tóxico, assim como na intensidade
destes. Geralmente a exposição pode ser classificada, quanto à duração em:
- exposição aguda: exposição única ou múltipla que ocorra em um
período máximo de 24 horas
- exposição sub-aguda: aquela que ocorre durante algumas semanas
(até 1 mês)
- exposição sub-crônica: aquela que ocorre durante alguns meses
(geralmente entre 1 e 3 meses)
- exposição crônica: ocorre por um tempo maior do que 3 meses.
Quanto à freqüência da exposição observa-se que, geralmente, doses
ou concentrações fracionadas podem reduzem o efeito tóxico, caso a duração
da exposição não seja aumentada. Assim, uma dose única de um agente que
produz efeito imediato e severo, poderá produzir menos do que a metade ou
nenhum efeito, quando dividida em duas ou mais doses, administradas durante
um período de várias horas ou dias. No entanto, é importante ressaltar que a
redução do efeito provocado pelo aumento de freqüência (ou seja, do
fracionamento da dose) só ocorrerá quando:
i) A velocidade de eliminação é maior do que a de absorção, de modo
que os processos de biotransformação e/ou excreção ocorram no espaço entre
duas exposições;
ii) O efeito tóxico pela substância é parcial ou totalmente revertido antes
da exposição seguinte.
Se nenhuma destas situações ocorrerem, o aumento de freqüência
resultará em efeitos tóxicos crônicos.
5.2 - Fase toxicocinética
Nesta fase tem-se a ação do organismo sobre o agente tóxico,
procurando diminuir ou impedir a ação nociva da substância sobre ele. É de
grande importância, porque dela resulta a quantidade de AT disponível para
reagir com o receptor biológico e, consequentemente, exercer a ação tóxica. A
fase toxicocinética é constituída dos seguintes processos:
- Absorção
- Distribuição
- Eliminação: biotransformação e excreção
Pode-se notar que, nesta fase, o agente tóxico deverá se movimentar
pelo organismo. Para tal, terá que, frequentemente, transpor membranas
biológicas. Assim, é muito importante o conhecimento dos fatores que influem
no transporte das substâncias químicas pelas membranas.
Fatores que influem no transporte por membranas: podem ser agrupados
em duas classes distintas: os relacionados com a membrana, e aqueles
relacionados com a substância química.
Fatores relacionados com a membrana
- Estrutura da membrana
- Espessura da membrana
- Área da membrana
Dentre estes 3 fatores, destaca-se a estrutura da membrana. Sabe-se
que a membrana biológica é constituída de uma bicamada lipídica, contendo
em ambos os lados, moléculas de proteínas que penetram e às vezes
transpõem esta camada. Os ácidos graxos presentes na camada lipídica não
possuem uma estrutura cristalina rígida, ao contrário, na temperatura fisiológica
eles têm características quase fluídas. Portanto, o caráter fluído das
membranas (e sua permeabilidade) é determinado principalmente pela
estrutura e proporção relativa de ácidos graxos insaturados presentes na
região. Este modelo denominado de “mosaico fluído”, foi proposto por SINGER
& NICOLSON em 1972 e é o mais aceito atualmente.
Fatores relacionados com a substância química
Lipossolubilidade: Devido à constituição lipoprotéica das membranas
biológicas, as substâncias químicas lipossolúveis, ou seja, apolares, terão
capacidade de transpo-la facilmente, pelo processo de difusão passiva. Já as
substâncias hidrossolúveis não transporão estas membranas, a não ser que
tenham pequeno tamanho molecular e possam ser filtradas, através dos poros.
Grau de ionização ou de dissociação: A maioria dos agentes tóxicos são
ácidos fracos ou bases fracas que possuem um ou mais grupos funcionais
capazes de se ionizarem. A extensão desta ionização dependerá do pH do
meio em que a substância está presente e do seu próprio pKa. É importante
relembrar que a forma ionizada é polar, hidrossolúvel e com pouca ou nenhuma
capacidade de transpor membranas por difusão passiva.
Quando o pH do meio é igual ao pKa de um composto, a metade deste estará
na forma ionizada e a outra metade na forma não-ionizada. Importante
ressaltar que o pKa sozinho não indica se um composto tem caráter ácido ou
básico, já que os ácidos fracos tem pKa elevado, mas as bases fortes também
o tem. Da mesma maneira os ácidos fortes tem pKa baixo assim como as
bases fracas.
5.2.1- Absorção: É a passagem do AT do meio externo para o meio interno,
atravessando membranas biológicas. O meio externo na absorção pode ser o
estômago, os alvéolos, o intestino, ou seja, dentro do organismo, mas fora do
sangue. Existem três tipos de absorção mais importantes para a Toxicologia.
5.2.1.1- Absorção pelo trato gastrintestinal (TGI) ou Oral: Uma vez no
TGI, um agente tóxico poderá sofrer absorção desde a boca até o reto,
geralmente pelo processo de difusão passiva. São poucas as substâncias que
sofrem a absorção na mucosa bucal, principalmente porque o tempo de contato
é pequeno no local. Estudos feitos experimentalmente, no entanto, mostram
que cocaína, estricnina, atropina e vários opióides podem sofrer absorção na
mucosa bucal. Esta absorção é dependente, principalmente, da
lipossolubilidade (quanto maior, mais fácil será a absorção) e resulta em níveis
sanguíneos elevados, já que as substâncias não sofrerão a ação dos sucos
gastrintestinais.
Não sendo absorvido na mucosa bucal, o AT tenderá a sofrer absorção
na parte do TGI onde existir a maior quantidade de sua forma não-ionizada
(lipossolúvel). De maneira geral, os ácidos fracos não se ionizam em meio
ácido, como o do estômago, sendo assim absorvidos na mucosa gástrica,
enquanto as bases fracas por não se ionizarem no pH intestinal, serão
absorvidas no local.
Embora a maioria dos AT sofram absorção no TGI por difusão passiva,
existem alguns que serão absorvidos por processo especial, mais
precisamente por transporte ativo. Exemplo: o chumbo é absorvido por
transporte ativo e utiliza o sistema que transporta o cálcio; o tálio é
transportado pelo sistema carregador responsável pela absorção de Fe, etc.
5.2.1.2- Absorção Cutânea: A pele íntegra é uma barreira efetiva contra
a penetração de substâncias químicas exógenas. No entanto, alguns
xenobióticos podem sofrer absorção cutânea, dependendo de fatores tais como
a anatomia e as propriedades fisiológicas da pele e propriedades físico-
químicas dos agentes.
A pele é formada por duas camadas: a epiderme que é a camada mais
externa da pele; e a derme, que é formada por tecido conjuntivo, onde se
observa a presença de vasos sangüíneos, nervos, folículos pilosos, glândulas
sebáceas e sudoríparas. Estes três últimos elementos da derme permitem o
contato direto com o meio externo, embora não existam dados que
demonstrem haver absorção através das glândulas citadas. As substâncias
químicas podem ser absorvidas, principalmente, através das células
epidérmicas (absorção transepidérmica) ou folículos pilosos (absorção
transfolicular).
Fonte: http://www.colegioweb.com.br
i) Absorção transepidérmica: é o tipo de absorção cutânea mais
frequente, devido ao elevado número de células epidérmicas existente, embora
não seja uma penetração muito fácil para os AT devido à proteção da camada
queratinosa.
ii)Absorção transfolicular: Algumas substâncias químicas podem
penetrar pelos folículos pilosos, alcançando rapidamente a derme. É uma
penetração fácil para os agentes químicos, uma vez que eles não necessitam
cruzar a camada de queratina da pele. Qualquer tipo de substância química,
seja ela lipo ou hidrossolúvel, ionizada ou não, gás ou vapor, ácida ou básica,
pode penetrar pelos folículos. É uma absorção também importante para alguns
metais.
5.2.1.3- Absorção pelo trato pulmonar: A via respiratória é a via de maior
importância para Toxicologia Ocupacional. A grande maioria das intoxicações
Ocupacionais é decorrente da aspiração de substâncias contidas no ar
ambiental. O fluxo sangüíneo contínuo exerce uma ação de dissolução muito
boa e muitos agentes químicos podem ser absorvidos rapidamente a partir dos
pulmões. Os agentes passíveis de sofrerem absorção pulmonar são os gases
os vapores e os aerodispersóides. Estas substâncias poderão sofrer absorção,
tanto nas vias aéreas superiores, quanto nos alvéolos.
Gases e Vapores
i) Vias Aéreas Superiores (VAS): Geralmente não é dada muita atenção
para a absorção destes compostos nas vias aéreas superiores. Deve-se
considerar, no entanto, que muitas vezes a substância pode ser absorvida na
mucosa nasal, evitando sua penetração até os alvéolos. A retenção parcial ou
total dos agentes no trato respiratório superior está ligada à hidrossolubilidade
da substância. Quanto maior a sua solubilidade em água, maior será a
tendência de ser retido no local. Visto sob este ângulo, a umidade constante
das mucosas que revestem estas vias, constitui um fator favorável. Há, no
entanto, a possibilidade da ocorrência de hidrólise química, originando
compostos nocivos, tanto para as vias aéreas superiores quanto para os
alvéolos. Ex.: dióxido de enxofre (SO2) + H2O ácido sulfúrico.
Isto é importante porque estes produtos formados, além dos efeitos
irritantes, favorecem também a absorção deles ou de outros agentes pela
mucosa já lesada. Assim, nem sempre, a retenção de gases e vapores nas vias
aéreas superiores é sinônimo de proteção contra eventuais efeitos tóxicos.
ii) Alvéolos: Nos alvéolos pulmonares duas fases estão em contato, uma
gasosa formada pelo ar alveolar; e outra líquida representada pelo sangue. As
2 fases são separadas por uma barreira dupla: o epitélio alveolar e o endotélio
capilar. Diante de um gás ou de um vapor, o sangue pode se comportar de
duas maneiras diferentes: como um veículo inerte, ou como meio reativo. Em
outras palavras, o agente tóxico pode dissolver-se simplesmente por um
processo físico ou, ao contrário, combinar-se quimicamente com elementos do
sangue. No primeiro caso tem-se a dissolução do AT no sangue, que é
puramente física e no segundo caso a reação química, ocorre aqui uma fixação
entre o AT e o sangue que dependerá da afinidade química entre estes dois
elementos. São várias as substâncias químicas que se ligam quimicamente ao
sangue são monóxido de carbono (CO), chumbo, mercúrio, etc.
Material particulado ou aerodispersóides:
Aerodispersóides são partículas sólidas ou líquidas de pequeno tamanho
molecular, que ficam em suspensão no ar, por um período longo de tempo.
Geralmente, somente as partículas com diâmetro menor ou igual a 1m
atingirão os alvéolos e poderão sofrer absorção. As partículas que possuem
diâmetro maior ficarão retidas nas regiões menos profundas do trato
respiratório. A penetração e retenção dos aerodispersóides no trato pulmonar
depende de fatores como:
Diâmetro da partícula: o diâmetro das partículas nem sempre indica o
seu comportamento no aparelho respiratório. É importante considerar o
diâmetro aerodinâmico que é função do tamanho (diâmetro físico) e da
densidade da partícula. Quanto maior o diâmetro aerodinâmico, menor a
penetração ao longo das vias aéreas superiores. Assim, se existem duas
partículas com o mesmo diâmetro físico, a de maior densidade terá o maior
diâmetro aerodinâmico e penetrará menos ao longo das vias aéreas superiores
(VAS).
Hidrossolubilidade: devido à umidade existente nas VAS, as partículas
hidrossolúveis tenderão a ficar retidas na parte superior do trato pulmonar, sem
alcançar os alvéolos.
Condensação: o tamanho das partículas no aparelho respiratório pode
ser alterado pela aglomeração ou por adsorsão de água, originando partículas
maiores. Influem na condensação a carga da partícula, as propriedades físico-
químicas da substância, o tempo de retenção no trato respiratório, etc.
Temperatura: ela pode aumentar o movimento browniano (movimento
natural e ao acaso de partículas coloidais pequenas), o que provocará maior
colisão das partículas e, consequentemente, sua maior condensação e maior
retenção.
Mecanismos de Remoção dos Aerodispersóides do Trato Pulmonar:
Nem todas partículas que se depositam no aparelho pulmonar serão retidas
nele. Se assim fosse, calcula-se que, após 20-30 anos de trabalho, os mineiros
deveriam ter cerca de 1 kg de partículas retidas em seus pulmões. No entanto,
os estudos detectaram apenas cerca de 20g o que demonstra um eficiente
sistema de remoção ou de “clearence” pulmonar. Os mecanismos de remoção
vão depender do local de deposição. Assim:
Região nasofaríngea: as partículas são removidas pelo muco, associado
ao movimento dos cílios, que vibram em direção à faringe. É o chamado
movimento mucociliar. Na região nasofaríngea a velocidade de clearence é
muito rápida. A remoção ocorre em minutos.
Região traqueobronquial: o processo de remoção é o mesmo anterior
(movimento mucociliar), sendo que a tosse, ocasionada pela presença de
corpo estranho na região, pode auxiliar nesta remoção. Algumas substâncias
tais como o SO2, amônia e também a fumaça de cigarro diminuem a velocidade
de remoção nesta região, mas, normalmente, nesta região, a velocidade de
remoção é rápida, e esta ocorre em minutos ou horas. Em regiões mais
profundas dos brônquios esta velocidade de remoção é moderada (cerca de
horas).
Região alveolar: os epitélios dos bronquíolos e dos alvéolos são
desprovidos de cílios. O muco está presente devido à secreção das células
epiteliais. Esse muco se move em direção ao epitélio ciliado. Sabe-se que este
mecanismo é capaz de remover as partículas em direção às vias aéreas
superiores e que ele é estimulado pela presença das próprias partículas nos
alvéolos.
Outro mecanismo de remoção é a fagocitose, realizada pelos macrófagos
presentes em grande número na região. Os fagócitos contendo as partículas
podem migrar em duas direções: - até aos brônquios onde são eliminados pelo
movimento mucociliar (que é o mais comum); ou até ao sistema linfático,
através da penetração pelas paredes dos alvéolos. A fagocitose pode remover
até 80% das partículas presentes nos alvéolos. Na região alveolar a velocidade
de clearence é lenta, podendo levar de dias até anos para ocorrer. Ela vai
depender do tipo de partícula e do mecanismo de remoção. As partículas
presentes nos alvéolos, que não foram removidas ou absorvidas, podem ficar
retidas na região, causando as chamadas Pneumoconioses.
5.2.2- Distribuição: Após a entrada do AT na corrente sangüínea, seja através
da absorção ou por administração direta, ele estará disponível para ser
distribuído pelo organismo. Normalmente a distribuição ocorre rapidamente e a
velocidade e extensão desta dependerá principalmente dos seguintes fatores:
- Fluxo sangüíneo através dos tecidos de um dado órgão;
- Facilidade com que o tóxico atravessa a membrana e penetra nas
células de um tecido.
Assim, aqueles fatores que influem no transporte por membranas,
discutidos anteriormente, serão importantes também na distribuição. Alguns
agentes tóxicos não atravessam facilmente as membranas celulares e por isto
tem uma distribuição restrita enquanto outros, por atravessá-las rapidamente,
se distribuem através de todo organismo. Durante a distribuição o agente
alcançará o seu sítio alvo, que é o órgão ou tecido onde exercerá sua ação
tóxica, mas poderá, também, se ligar a outros constituintes do organismo,
concentrando-se em algumas partes do corpo.
Em alguns casos, estes locais de maior concentração são também os
sítios de ação e disto resultam efeitos altamente prejudiciais. É o caso do
monóxido de carbono (CO), para o qual o sangue representa tanto o local de
concentração quanto o de ação tóxica. Felizmente para o homem, no entanto,
a grande maioria dos AT atinge seus maiores níveis em locais diferentes do
sítio alvo (exemplo: Pb é armazenado nos ossos e atua nos tecidos moles).
Este acúmulo do AT em outros locais que não o de ação, funciona como uma
proteção ao organismo, uma vez que previne uma elevada concentração no
sítio alvo. Os agentes tóxicos nos locais de concentração estão em equilíbrio
com sua forma livre no sangue, e quando a concentração sangüínea decai, o
tóxico que está concentrado em outro tecido é liberado para a circulação e daí
pode atingir o sítio de ação.
A importância do sangue no estudo da distribuição é grande, não só
porque é o principal fluído de distribuição dos AT, mas também por ser o único
tecido que pode ser colhido repetidamente sem distúrbios fisiológicos, ou
traumas orgânicos. Além disto, como o sangue circula por todos os tecidos,
algum equilíbrio pode ser esperado entre a concentração do fármaco no
sangue e nos tecidos, inclusive no sítio de ação. Assim, a concentração
plasmática fornece melhor avaliação da ação tóxica do que a dose (a não ser
quando a concentração plasmática é muito baixa em relação à concentração
nos tecidos).
A distribuição do AT, através do organismo ocorrerá de maneira não
uniforme, devido a uma série de fatores que podem ser reunidos em dois
grupos:
- Afinidade por diferentes tecidos, e
- Presença de membranas
5.2.1- Afinidade por diferentes tecidos
- Ligação às proteínas plasmáticas (PP): Várias proteínas do plasma
podem se ligar à constituintes do corpo (ex.: ácidos graxos, triptofano,
hormônios, bilirrubinas, etc.) e também aos xenobióticos. A principal proteína,
sob o ponto de vista da ligação a xenobióticos, é a albumina. Algumas
globulinas têm também papel relevante na ligação aos agentes estranhos,
especialmente àqueles de caráter básico. Destaca-se aqui a 1 glicoproteína
ácida.
Com exceção das substâncias lipossolúveis de caráter neutro, que
geralmente se solubilizam na parte lipídica das lipoproteínas, a ligação de
fármacos às proteínas plasmáticas é feita, usualmente, pela interação de
grupos polares ou não polares dos AT com o(s) grupamento(s) protéico(s). Ex.:
os fármacos de caráter ácido se ligam em um único sítio de albumina,
possivelmente ao nitrogênio do aminoácido terminal, que é no homem, o ácido
aspártico.
O elevado peso molecular das proteínas plasmáticas impede que o
complexo AT-PP atravesse pelas membranas dos capilares restringindo-o ao
espaço intravascular. Assim, enquanto ligado às proteínas plasmáticas, o AT
não estará disponível para a distribuição no espaço extravascular. Deve-se
observar, no entanto, que esta ligação é reversível (geralmente feita por pontes
de hidrogênio, forças de van der Waals, ligação iônica), e à medida que o
agente livre se difunde através da membrana capilar, a fração ligada se
dissocia das proteínas tornando-se apta para ser distribuída. Esta ligação atua,
portanto, graduando a distribuição dos xenobióticos e, consequentemente, a
chegada ao sítio de ação.
- Ligação Celular: Embora não tão estudado como a ligação às proteínas
plasmáticas, a ligação a outros tecidos exerce um papel muito importante na
distribuição desigual dos agentes pelo organismo. Sabe-se a quantidade total
de albumina plasmática no homem corresponde a cerca de 0,4% do peso
corpóreo. A água corpórea total corresponde a 60% do peso corpóreo, logo
pode-se deduzir que os restantes 40% do peso corpóreo é de tecido não
hidratado. Assim, a ligação de AT a componentes teciduais poderá alterar
significativamente a distribuição dos xenobióticos, já que a fração de AT ligada
aos tecidos será inclusive maior do que a ligada às proteínas plasmáticas. Sob
o aspecto de ligação a xenobióticos, o tecido hepático e o renal têm um papel
especial. Eles possuem elevada capacidade de se ligarem aos agentes
químicos e apresentam as maiores concentrações destes (e também de
substâncias endógenas), quando comparados com outros órgãos.
5.2.2- Presença de membranas
- Barreira Hematencefálica: esta barreira, que protege o cérebro da
entrada de substâncias químicas, é um local menos permeável do que a
maioria de outras áreas do corpo. Assim, em contraste com outros tecidos, o AT
tem dificuldade em se mover entre os capilares, tendo de atravessar não
somente o endotélio capilar, mas também a membrana das células gliais, para
alcançar o fluído intersticial. Uma vez que este fluído é pobre em proteínas, o
AT não pode usar a ligação protéica para aumentar a distribuição dentro do
SNC. Estes fatos juntos atuam como um mecanismo de proteção, que diminui
a distribuição e ação dos tóxicos no SNC, já que eles não entram no cérebro
em quantidades significativas. A eficiência da barreira hematoencefálica varia
de uma área do cérebro para outra. Não está claro se a maior permeabilidade
destas áreas decorre de um suprimento sanguíneo mais rico ou de uma
permeabilidade mais adequada da barreira ou dos dois fatores juntos.
Os princípios que regem o transporte das substâncias através de
membranas são também os que comandam a entrada de tóxicos no cérebro.
Assim, somente a forma livre estará apta para entrar no cérebro, desde que
seja lipossolúvel
- “Barreira” Placentária: Durante anos, o termo “barreira” placentária
demonstrou o conceito que a principal função da placenta era proteger o feto
contra a passagem de substâncias nocivas provenientes do organismo
materno. Sabe-se hoje que ela possui funções mais importantes, tais como a
troca de nutrientes e gases, como O2, CO2, etc.. Este material vital necessário
para o desenvolvimento do feto é transportado por processo ativo, com gasto
de energia. Já a maioria dos xenobióticos que consegue passar através da
placenta, o faz por difusão passiva. Atualmente sabe-se que a placenta não
representa uma barreira protetora efetiva contra a entrada de substâncias
estranhas na circulação fetal. Embora não totalmente efetiva na proteção do
feto contra a entrada de AT, existem alguns mecanismos de biotransformação
de fármacos, que podem prevenir a passagem placentária de alguns
xenobióticos.
5.2.3- Armazenamento: Os agentes tóxicos podem ser armazenados no
organismo, especialmente em dois tecidos distintos:
Tecido adiposo: Como a lipossolubilidade é uma característica
fundamental para o transporte por membranas, é lógico imaginar que os
agentes tóxicos de uma maneira geral poderão se concentrar no tecido
adiposo. Os xenobióticos são armazenados no local através da simples
dissolução física nas gorduras neutras do tecido.
Tecido Ósseo: Um tecido relativamente inerte como o ósseo pode
também servir como local de armazenamento de agentes químicos
inorgânicos, tais como flúor, chumbo e estrôncio. O fenômeno de captura dos
xenobióticos pelos ossos pode ser considerado essencialmente um fenômeno
químico, no qual as mudanças ocorrem entre a superfície óssea e o líquido que
está em contato com ela. O líquido é o fluído extracelular e a superfície
envolvida é a matriz inorgânica do osso. Assim, por exemplo, o fluoreto pode
ser facilmente colocado no lugar da hidroxila e o Pb e Sr no lugar do Ca. O
armazenamento de xenobióticos no tecido ósseo poderá, ou não, provocar
efeitos tóxicos no local. O Pb não é nocivo para os ossos, mas o flúor pode
provocar fluorose óssea e o Sr radioativo, osteosarcoma e outras neoplasias.
Este armazenamento não é irreversível. O agente tóxico pode ser liberado dos
ossos por trocas iônicas ou descalcificação. Se, no lugar do cálcio, o osso
contiver um AT, este será deslocado para a corrente sangüínea, aumentando a
sua concentração plasmática.
5.2.4- Eliminação: Se aceita atualmente, que a eliminação é composta de dois
processos distintos: a biotransformação e a excreção.
5.2.4.1- Biotransformação: Pode-se conceituar Biotransformação como
sendo o conjunto de alterações maiores ou menores que um agente químico
sofre no organismo, visando aumentar sua polaridade e facilitar sua excreção.
Trata-se de um dos mecanismos de defesa, do organismo vivo, que busca
impedir ou minimizar a ação farmacológica ou tóxica de um fármaco sobre ele.
A intensidade e duração de uma ação tóxica são determinadas, principalmente,
pela velocidade de biotransformação do agente no organismo. Segundo alguns
autores, se não existisse a biotransformação, o organismo humano levaria
cerca de 100 anos para eliminar uma simples dose terapêutica de
pentobarbital, que é um fármaco muito lipossolúvel. A biotransformação pode
ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico como, por exemplo, no intestino,
rins, pulmões, pele, etc. No entanto, a grande maioria das substâncias, sejam
elas endógenas ou exógenas serão biotransformadas no fígado.
Mecanismos da Biotransformação: A biotransformação pode ocorrer
através de dois mecanismos:
i) Mecanismo de Ativação da Biotransformação: produz metabólitos com
atividade igual ou maior do que o precursor, isto pode aumentar a toxicidade da
substância.
ii) Mecanismo de Desativação: quando o produto resultante é menos
ativo (tóxico) que o precursor, esta situação é a de ocorrência mais comum
para os xenobióticos. Os termos Metabolização e Detoxificação são
comumente encontrados na literatura científica, como sinônimos de
biotransformação. Hoje, no entanto, se guarda o termo metabolização para os
elementos essenciais endógenos do organismo e sabe-se que detoxificação
não é sinônimo de Biotransformação. Isto porque detoxificação significa
diminuição de toxicidade e nem todas as reações de biotransformação, como
citado acima, produzirão metabólitos menos tóxicos ou ativos que o seu
precursor.
Importância da Biotransformação para as Análises Toxicológicas: A
forma mais comum de se encontrar o agente tóxico em material biológico é
como produto biotransformado. Assim, conhecendo a biotransformação do AT,
sabe-se o que procurar na amostra enviada ao laboratório. Além disto,
conhecendo-se a biotransformação e os metabólitos formados, fica mais fácil
saber que tipo de amostra é a mais indicada para ser requisitada. Exemplo: a
metanfetamina, um anorexígeno do grupo anfetamínicos usado como “bolinha
é biotransformada no organismo, produzindo anfetamina, que é excretada
pelos rins. Assim, quando da ingestão ou intoxicação com a metanfetamina,
que é excretada na urina. Assim, o material biológico enviado para análise deve
ser uma amostra de urina, e o produto principal a ser pesquisado deverá ser a
anfetamina. Os solventes clorados do tipo CHCl3 e CCl4 são pouco
biotransformados no organismo e quando isto ocorre o produto formado é
geralmente o CO2, que será, assim como os precursores, eliminados pelo ar
expirado. Logo não adianta solicitar ou receber amostras de urina para serem
analisadas.
5.2.4.2- Excreção: Este processo é, muitas vezes, denominado
Eliminação, embora pelo conceito atual a eliminação é também o processo de
biotransformação. A excreção pode ser vista como um processo inverso ao da
absorção, uma vez que os fatores que influem na entrada do xenobiótico no
organismo podem dificultar a sua saída. Basicamente existem três classes de
excreção:
i) Através das secreções: tais como a biliar, sudorípara, lacrimal,
gástrica, salivar, láctea.
ii) Através das excreções: tais como urina, fezes e catarro.
iii) Pelo ar expirado.
Excreção Urinária: Trata-se do processo de excreção mais importante
para a Toxicologia. Os glomérulos filtram substâncias lipossolúveis ou
hidrossolúveis, ácidas ou básicas, desde que tenham PM menor do que
60.000. A filtração glomerular é um dos principais processos de eliminação
renal e está intimamente ligada a outro processo que é a reabsorção tubular.
As substâncias, após serem filtradas pelos glomérulos, podem permanecer no
lúmem do túbulo e serem eliminadas, ou então podem sofrer reabsorção
passiva através da membrana tubular. Isto vai depender de alguns fatores, tais
como a hidrossolubilidade; o pKa da substância e pH do meio. De modo geral,
as substâncias de caráter alcalino são eliminadas na urina ácida e as
substâncias ácidas na urina alcalina. Isto porque nestas condições as
substâncias se ionizarão, tornando-se hidrossolúveis e a urina é, em sua maior
parte, formada de água.
Outro processo de excreção renal é a difusão tubular passiva.
Substâncias lipossolúveis, ácidas ou básicas, que estejam presentes nos
capilares que circundam os túbulos renais, podem atravessar a membrana por
difusão passiva e caírem no lúmem tubular. Dependendo do seu pKa e do pH
do meio, elas podem, ou não, se ionizarem e, consequentemente, serem
excretadas ou reabsorvidas.
O terceiro processo de excreção renal é a secreção tubular ativa.
Existem dois processos de secreção tubular renal, um para substâncias ácidas
e outro para as básicas, estando estes sistemas localizados, provavelmente, no
túbulo proximal. A secreção tubular tem as características do transporte ativo,
ou seja, exige um carregador químico, gasta energia, é um mecanismo
competitivo e pode ocorrer contra um gradiente de concentração. Algumas
substâncias endógenas, tais como o ácido úrico, são excretadas por este
mecanismo e a presença de xenobióticos excretados ativamente, pode
interferir com a eliminação de substratos endógenos. A Penicilina é um
exemplo de xenobiótico secretado ativamente pelos túbulos. O uso de
Probenecid (fármaco excretado pelo mesmo sistema) evita que este antibiótico
seja secretado muito rapidamente do organismo. Geralmente, o que ocorre no
organismo é uma combinação dos três processos de excreção renal, para
permitir uma maior eficácia na eliminação dos xenobióticos.
Excreção Fecal e Catarral: Não são processos muito importantes para a
Toxicologia. Os AT encontrados nas fezes correspondem à fração ingerida e
não absorvida ou então ao AT que sofreu secreção salivar, biliar ou gástrica. As
partículas que penetram pelo trato pulmonar podem ser eliminadas pela
expectoração no TGI e, se não forem reabsorvidas, serão, também, excretadas
pelas fezes.
Secreção Biliar: Dentre as secreções orgânicas, a mais significativa para
a excreção de xenobióticos é a biliar. O fígado tem uma posição vantajosa na
remoção de substâncias exógenas do sangue, principalmente daquelas
absorvidas pelo trato gastrintestinal. Isto porque, o sangue proveniente do TGI,
através da circulação porta, passa inicialmente pelo fígado, e somente depois
entra na circulação sistêmica. No fígado parte do xenobiótico pode ser
biotransformado e os metabólitos ou mesmo o produto inalterado pode ser
secretado pela bile no intestino.
Existem, sabidamente, três sistemas de transporte ativo para a secreção
de substâncias orgânicas na bile, a saber, para substâncias ácidas, básicas e
neutras. É quase certa a existência de outro sistema para os metais. Uma vez
secretado no intestino, os xenobióticos podem sofrer reabsorção ou excreção
pelas fezes. Não se conhece o mecanismo que determina se a excreção será
urinária ou biliar. Esquematicamente temos:
Fígado
BileIntestino
Estômago
CirculaçãoSistêmica
Fígado
BileIntestino
Estômago
CirculaçãoSistêmica
Este é o chamado ciclo entero hepático e a morfina é um exemplo típico
de xenobiótico que apresenta tal ciclo. Ela é conjugada com ácido glicurônico
no fígado e o glicuronídeo de morfina é secretado pela bile no intestino. Neste
local, pela ação da enzima -glicuronidase, a morfina é liberada e reabsorvida.
O glicoronídeo que não for lisado será excretado pelas fezes.
Outras secreções: A eliminação através da secreção sudorípara já é
conhecida há muitos anos. Sabe-se que substâncias tais como iodo, bromo,
ácido benzóico, ácido salicílico, chumbo, arsênio, álcool, etc., são excretadas
pelo suor. O processo parece ser o de difusão passiva e podem ocorrer
dermatites em indivíduos suscetíveis, especialmente quando se promove a
sudorese para aumentar a excreção pela pele.
A secreção salivar é significativa para alguns xenobióticos. Os
lipossolúveis podem atingir a saliva por difusão passiva e os hidrossolúveis
podem ser eliminados na saliva, em velocidade proporcional ao seu peso
molecular, através de filtração. Geralmente as substâncias secretadas com a
saliva sofrem reabsorção no TGI.
Existe um interesse em relação à secreção de xenobióticos no leite,
pois, através a amamentação, estes compostos acabam sendo ingeridos por
recém-nascidos. Geralmente as substâncias apolares sofrem difusão passiva
do sangue para o leite e como esta secreção é mais ácida do que o sangue
(ela tem pH = 6,5), os compostos básicos tendem a se concentrarem mais aí.
Já os compostos ácidos têm uma concentração láctea menor que a sangüínea.
Várias substâncias são, sabidamente, eliminadas pelo leite: DDT, PCB (difenil
policlorados), Pb, Hg, AAS, morfina, álcool, etc.
Excreção pelo ar expirado: Gases e vapores inalados ou produzidos no
organismo são parcialmente eliminados pelo ar expirado. O processo envolvido
é a difusão pelas membranas que, para substâncias que não se ligam
quimicamente ao sangue, dependerá da solubilidade no sangue e da pressão
de vapor. Estes xenobióticos são eliminados em velocidade inversamente
proporcional à retenção no sangue, que é estimada pelo coeficiente de partição
ar alveolar/sangue (K). Assim, gases e vapores com K elevado (pouco solúveis
no sangue) são rapidamente eliminados, enquanto os de K baixo (muito
solúveis no sangue) são lentamente excretados pelo ar expirado. A frequência
cardíaca influi na excreção das substâncias de K alto, enquanto a frequência
respiratória influencia a excreção de agentes de K baixo. Em relação à pressão
de vapor, os líquidos mais voláteis serão, quase exclusivamente, excretados
pelo ar expirado.
Fatores que influem na velocidade e via de excreção:
- Via de Introdução: a via de introdução influi na velocidade de absorção, de
biotransformação e, também, na excreção.
- Afinidade por elementos do sangue e outros tecidos: geralmente o agente
tóxico na sua forma livre está disponível à eliminação.
- Facilidade de ser biotransformada: com o aumento da polaridade a
secreção urinária está facilitada.
- Frequência respiratória: em se tratando de excreção pulmonar,
aumentando-se a freqüência respiratória, as trocas gasosas ocorrerão mais
rapidamente.
- Função renal: sendo a via renal a principal via de excreção dos
xenobióticos, quaisquer disfunção destes órgãos interferirá na velocidade e
proporção de excreção.
5.3- Fase toxicodinâmica
Esta é a terceira fase da intoxicação e envolve a ação do agente tóxico
sobre o organismo. O AT interage com os receptores biológicos no sítio de
ação e desta interação resulta o efeito tóxico. O órgão onde acontece a
interação agente tóxico-receptor (sítio de ação) não é, necessariamente, o
órgão onde se manifestará o efeito. Além disto, mesmo que um AT apresente
elevadas concentrações em um órgão, não significa obrigatoriamente, que
ocorrerá aí uma ação tóxica. Geralmente os AT se concentram no fígado e rins
(locais de eliminação) e no tecido adiposo (local de armazenamento), sem que
haja uma ação ou efeito tóxico detectável.
Quando se considera a complexidade dos sistemas biológicos (do ponto
de vista químico e biológico), pode-se imaginar o elevado número de
mecanismos de ação existentes para os agentes tóxicos. Alguns destes
mecanismos, os principais em Toxicologia, são resumidos a seguir:
5.3.1- Interferência com o funcionamento de sistemas biológicos
- Inibição irreversível de enzimas: O exemplo clássico deste mecanismo
são os inseticidas organofosforados, que inibem irreversivelmente a
acetilcolinesterase (AChE). Assim, impedem que a acetilcolina (Ach), um dos
mais importantes neurotransmissores do organismo, seja degradada em colina
e ácido acético, após transmitir o impulso nervoso através da sinapse. Ocorrerá
acúmulo de Ach e, consequentemente, os efeitos tóxicos decorrentes deste
acúmulo.
- Inibição reversível de enzimas: Geralmente, os AT que atuam através
deste mecanismo são anti-metabólitos, ou seja, quimicamente semelhantes ao
substrato normal de uma enzima. Assim, o agente tóxico é captado pela
enzima, mas não consegue ser transformado por ela, interrompendo assim
reações metabólicas essenciais para o organismo. É uma inibição reversível
porque o próprio organismo ao final da exposição é capaz de revertê-la. O
exemplo clássico é a dos inseticidas carbamatos, que inibem também a AChE,
só que reversivelmente. Outro exemplo são os antagonistas do ácido fólico
(usados no tratamento de tumores malignos e como herbicidas). Estas
substâncias inibem enzimas envolvidas na síntese das bases púricas e
pirimídicas, impedindo que haja síntese de DNA e multiplicação celular. Como
estes fármacos não têm ação seletiva, podem causar efeitos tóxicos em uma
série de tecidos e órgãos.
- Síntese letal: Neste tipo de mecanismo de ação, o agente tóxico é,
também, um antimetabólito. Ele é incorporado à enzima e sofre transformações
metabólicas, entrando em um processo bioquímico, surgindo como resultado
um produto anormal, não funcional e muitas vezes tóxico. Em outras palavras,
há a síntese de substâncias que não são farmacologicamente úteis e,
dependendo da concentração deste produto anormal, pode haver morte celular,
tecidual ou de sistemas biológicos. Tem-se como exemplo, o ácido fluoracético
(CH2-F-COOH), usado como rodenticida e que atua no organismo tomando o
lugar do ácido acético no ciclo do ácido cítrico. Os processos metabólicos
desenvolvem-se até a formação de ácido fluorocítrico (no lugar do ácido
cítrico). Este produto anormal inibe a aconitase, enzima responsável pela etapa
seguinte do ciclo. Assim, há formação de um substrato anormal, tóxico, que
impede o desenvolvimento do ciclo do ácido cítrico, indispensável para o
suprimento de energia de quase todos os organismos vivos.
- Seqüestro de metais essenciais: Vários metais atuam como cofatores
em diversos sistemas enzimáticos, como os citocromos, envolvidos nos
processos de oxi-redução. Destacam-se o Fe, Cu, Zn, Mn e Co. Alguns
agentes tóxicos podem atuar como quelantes, ou seja, se ligam ou seqüestram
os metais, impedindo que eles atuem como cofatores enzimáticos. Desta
maneira, o processo biológico, no qual estas enzimas atuam, ficará prejudicado
ou mesmo interrompido. É o caso dos ditiocarbomatos. Eles se complexam
com metais, formando complexos lipossolúveis e impedindo a ação enzimática.
- Interferência com o transporte de oxigênio: A hemoglobina (Hb),
pigmento responsável pelo transporte de O2 dos alvéolos para os tecidos e da
retirada de CO2 dos tecidos para os pulmões, é constituída de uma parte
protéica (globina) e outra não protéica (heme). Na fração heme, tem-se
basicamente, um complexo, formado por uma molécula de Fe2+ ligada a quatro
moléculas de protoporfirina. Quimicamente o ferro possui 6 valências de
coordenações, portanto no heme restam ainda 2 coordenações livres. Em
situações normais, uma delas é ligada à globina formando a hemoglobina e a
outra é ligada ao O2, dando origem a oxemoglobina (HbO2), pigmento normal
do sangue. Existem alguns agentes tóxicos que alteram a hemoglobina,
impedindo o transporte de oxigênio. São três os pigmentos anormais do
sangue, ou seja, formas de Hb que são incapazes de transportar O2:
- Carboxemoglobina (HbCO): que pode ser causada pelo CO,
diclorometano, etc.
- Metemoglobina (MeHb): resultante, por exemplo da exposição a
anilina, acetaminofeno, nitritos,etc.
- Sulfemoglobina (SHb): a droga oxidante metaclorpramida é exemplo de
um agente sulfemoglobinizante.
No caso de carboxemoglobina, o monóxido de carbono, que tem 210
vezes mais afinidade pela Hb do que o O2 liga-se à sexta coordenação do Fe2+,
deslocando o O2. A HbCO é incapaz de exercer a função respiratória e efeitos
decorrentes desta hipóxia vão aparecer no indivíduo exposto.
Existem vários xenobióticos tais como os nitritos, anilina e
acetaminofeno, que uma vez no sangue, oxidam os íons Fe2+ da hemoglobina,
formando a chamada metemoglobina. O Fe3+ da MeHb perde a capacidade de
se ligar na 6a coordenação com o O2 e, assim, este pigmento não cumprirá,
também, a função respiratória. Dentro deste grupo de agentes tóxicos, que
agem interferindo com o transporte de O2, estão, ainda, os agentes que
provocam a lise das hemácias. Com a hemólise, a hemoglobina é extravasada
para o meio extracelular, onde é desnaturada. Haverá assim menor quantidade
de Hb e logicamente menor transporte de O2 para os tecidos.
5.3.2- Interferência com o sistema genético
- Ação citostática: Alguns agentes tóxicos impedem a divisão celular e,
consequentemente, o crescimento do tecido. Esta ação pode ser desenvolvida
através de distintos mecanismos, tais como a inibição enzimática ou o encaixe
entre as duplas hélices do DNA. Neste último caso estão as substâncias
denominadas de Alquilantes, que ao se intercalarem entre as bases de cada
hélice, inibem o crescimento celular; são usadas no tratamento do câncer, mas
não têm ação seletiva.
- Ação mutagênica, carcinogênica e teratogênica: Certas substâncias
químicas têm a capacidade de alterar o código genético, ou seja, de
produzirem um erro no código genético. Se esta alteração ocorrer nos genes
de células germinativas (que formam os gametas), pode ocorrer um efeito
mutagênico. Este efeito possui um período de latência relativamente grande, se
manifestando apenas algumas gerações após a ação. Isto porque, geralmente,
a mutação ocorre em genes recessivos e só será manifestada se houver o
cruzamento com outro gene recessivo que tenha a mesma mutação.
Logicamente, os estudos que comprovam esta ação é bastante difícil de
ocorrer e de se avaliar, o que faz com que, atualmente, poucas substâncias
sejam consideradas comprovadamente mutagênicas. O mais comum é existir
suspeita de ações mutagênicas.
A ação carcinogênica vem sendo mais intensamente estudada nos
últimos anos. Nesta ação os xenobióticos provocam alterações cromossômicas
que fazem com que as células se reproduzam de maneira desordenada. Esta
reprodução incontrolável não produz células harmônicas e perfeitas. Embora o
mecanismo exato de desenvolvimento do câncer não seja totalmente
conhecido, se aceita que esta ação ocorra em duas fases distintas: a
conversão neoclássica ou fase de iniciação, e o desenvolvimento neoclássico
ou promoção. Na fase de iniciação, um xenobiótico ou produto de
biotransformação promove a alteração ao nível do DNA. Esta lesão origina a
chamada célula neoplástica, que através da interferência de outras substâncias
químicas e/ou fatores, muitas vezes desconhecidos, sofre processo de
crescimento, originando o neoplasma e o câncer instalado. Entre as duas fases
do processo carcinogênico existe, geralmente, um período de latência que
pode variar de meses a anos.
A teratogênese resulta de uma ação tóxica de xenobióticos sobre o
sistema genético de células somáticas do embrião/feto, levando ao
desenvolvimento defeituoso ou incompleto da anatomia fetal.
(NOTA: neoplasma: massa ou colônia anormal de células. A neoplasia pode ser
benigna, situação na qual o tumor não é invasivo, ou maligna, quando o tumor
é invasivo).
5.3.3- Interferência com as funções gerais das células
- Ação anestésica: é a interferência no transporte de oxigênio e
nutrientes para as células. O xenobiótico se acumula na membrana de certas
células, impedindo que haja a passagem destes nutrientes. As células mais
sensíveis a esta deficiência são as do SNC, por necessitarem de maior
quantidade destes compostos essenciais.
5.3.4- Interferência com a neurotransmissão
Na realidade, muitos dos mecanismos agrupados aqui podem decorrer
de inibição enzimática, ou seja, poderiam ser classificados no primeiro grupo
de ação tóxica citado.
Vários agentes tóxicos atuam alterando a transmissão neurológica
através da interferência nos neurotransmissores envolvidos, que pode ocorrer
ao nível pré-sináptico, sináptico e/ou pós-sináptico. Exemplos:
- Bloqueio dos receptores de diferentes sinapses (curare);
- Inibição do metabolismo dos neurotransmissores (praguicidas
organofosforados);
- Bloqueio na síntese ou metabolismo de neurotransmissores (mercúrio);
- inibição da liberação da liberação pré-sináptica dos neurotransmissores
(toxina botulínica - Clostridium botulinum);
- Estimulação da liberação de neurotransmissores (anfetamina)
- Bloqueio da recaptura dos neurotransmissores para as células pré-
sinápticas (imipramina, anfetamina).
5.4- Fase Clínica
Essa fase é caracterizada pela exteriorização dos efeitos do agente tóxico, ou seja, o aparecimento de sinais e sintomas da intoxicação ou alterações laboratoriais causadas pela substância química. No diagnóstico das intoxicações, deve-se lembrar que um mesmo órgão pode ser afetado por uma grande variedade de agentes tóxicos, e que uma única substância química pode atingir vários órgãos ou produzir diferentes efeitos relacionados a um mesmo órgão.
5.4.1 - Classificação dos efeitos tóxicos
5.4.1.1- Quanto ao tempo de aparecimento dos sintomas
- Efeitos Imediatos ou agudos: são aqueles que aparecem
imediatamente após uma exposição aguda, ou seja, exposição única ou que
ocorre, no máximo, em 24 horas. Em geral são efeitos intensamente graves.
- Efeitos crônicos: são aqueles resultantes de uma exposição crônica, ou
seja, exposição a pequenas doses, durante vários meses ou anos. O efeito
crônico pode advir de dois mecanismos:
i) Somatória ou Acúmulo do Agente Tóxico no Organismo: a velocidade
de eliminação é menor que a de absorção, assim ao longo da exposição o AT
vai sendo somado no organismo, até alcançar um nível tóxico.
ii) Somatória de Efeitos: ocorre quando o dano causado é irreversível e,
portanto, vai sendo aumentado a cada exposição, até atingir um nível
detectável; ou, então, quando o dano é reversível, mas o tempo entre cada
exposição é insuficiente para que o organismo se recupere totalmente.
- Efeitos retardados são aqueles que só ocorrem após um período de
latência, mesmo quando já não mais existe a exposição. Exemplo: efeitos
carcinogênicos que têm uma latência a 20-30 anos.
Deve-se, no entanto, fazer distinção entre exposição a curto prazo
(aguda) ou a longo prazo (crônica) e os efeitos agudos e crônicos. Por
exemplo, uma exposição a curto prazo (aguda) pode determinar um efeito
crônico, ou seja, a exposição a uma única dose de triortocresilfosfato (TOCP)
pode produzir, no homem, lesão persistente no SNC.
5.4.1.2- Quanto à gravidade
- Efeitos reversíveis e irreversíveis: O efeito reversível desaparece quando
cessa a exposição, enquanto o irreversível persiste mesmo após o término da
exposição. São exemplos de efeitos irreversíveis os carcinomas, as mutações
e cirrose hepática. A manifestação de um ou outro efeito depende,
principalmente, da capacidade do tecido lesado em se recuperar. Assim, lesões
hepáticas são geralmente reversíveis, já que este tecido tem grande
capacidade de regeneração, enquanto as lesões no SNC são, geralmente,
irreversíveis, uma vez que as células nervosas são pouco renovadas.
5.4.1.3- Quanto à abrangência da lesão
- Efeitos locais: O efeito local refere-se àquele que ocorre onde acontece
o primeiro contato entre o agente tóxico e o organismo. Os xenobióticos que
possuem ação irritante direta sobre os tecidos, reagem quimicamente, no local
de contato, com componentes destes tecidos. Dependendo da intensidade da
ação pode ocorrer irritação, efeitos cáusticos ou necrosantes. Os sistemas
mais afetados são pele e mucosas do nariz, boca, olhos, garganta e trato
pulmonar. Destacam-se nesse grupo, a ação dos gases irritantes (gás
mostarda, NO2, cloro) e lacrimogênicos (acroleína, bromo, cloro). Outra ação
irritante de tecidos é a dermatite química. Os xenobióticos que apresentam esta
ação tóxica (substâncias vesicantes como as mostardas nitrogenadas ou
agentes queratolíticos como o fenol) lesam a pele e facilitam a penetração
subsequente de outras substâncias químicas.
- Efeitos sistêmicos: são produzidos em local distante do sítio de
penetração do toxicante, portanto, exigem uma absorção e distribuição da
substância, de modo a atingir o sítio de ação, onde se encontra o receptor
biológico. Existem substâncias que apresentam os dois tipos de efeitos. (ex.:
benzeno, chumbo tetraetila, etc.).
5.4.1.4- Quanto ao tipo de alteração provocada
-Efeitos morfológicos: os efeitos morfológicos referem-se às mudanças
micro e macroscópicas na morfologia dos tecidos afetados. Muitos desses
efeitos são irreversíveis como, por exemplo, a necrose e a neoplasia
- Efeitos funcionais: em geral, representam mudanças reversíveis nas
funções dos órgãos-alvo. Essas mudanças geralmente são detectadas antes
ou em exposições a baixas doses quando comparadas às alterações
morfológicas.
- Efeitos bioquímicos: apesar de todos os efeitos tóxicos estarem
associados a alterações bioquímicas, quando se faz referência a efeitos
bioquímicos, significa que os efeitos manifestam-se sem modificações
morfológicas aparentes. Por exemplo, a inibição da acetilcolinesterase
decorrente da exposição a inseticidas organofosforados ou carbamatos.
5.4.1.5- Quanto ao tipo de célula alterado
- Efeitos somáticos e germinativos: Os efeitos somáticos são aqueles
que afetam uma ou mais funções vegetativas do indivíduo atingido, e os efeitos
germinais correspondem às perturbações determinadas nas funções de
reprodução, que atuam sobre a integridade dos descendentes e
desenvolvimento de tumores.
5.4.2- Efeitos resultantes da interação de agentes químicos
O termo interação entre substâncias químicas é utilizado todas as vezes
em que uma substância altera o efeito de outra. A interação pode ocorrer
durante a fase de exposição, toxicocinética ou toxicodinâmica. Como
consequência destas interações podem resultar diferentes tipos de efeitos:
- Adição: É aquele produzido quando o efeito final de 2 ou mais agentes é
quantitativamente é igual à soma dos efeitos produzidos individualmente.
- Sinergismo: Ocorre quando o efeito de 2 ou mais agentes químicos
combinados, é maior do que a soma dos efeitos individuais.
- Potenciação: Ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado
por atuar simultaneamente, com um agente “não tóxico”.
- Antagonismo: Ocorre quando dois agentes químicos interferem um com a
ação do outro, diminuindo o efeito final. É, geralmente, um efeito desejável em
toxicologia, já que o dano resultante (se houver) é menor que aquele causado
pelas substâncias separadamente. Existem vários tipos de antagonismo:
i) Antagonismo químico: (também chamado neutralização) ocorre quando o
antagonista reage quimicamente com o agonista, inativando-o. Este tipo de
antagonismo tem um papel muito importante no tratamento das intoxicações.
ii) Antagonismo funcional: ocorre quando dois agentes produzem efeitos
contrários em um mesmo sistema biológico atuando em receptores diferentes.
iii)Antagonismo não-competitivo, metabólico ou farmacocinético: é quando
um fármaco altera a cinética do outro no organismo, de modo que menos AT
alcance o sítio de ação ou permaneça menos tempo agindo.
iv)Antagonismo competitivo, não-metabólico ou farmacodinâmico: ocorre
quando os dois fármacos atuam sobre o mesmo receptor biológico, um
antagonizando o efeito do outro. São os chamados bloqueadores e este
conceito é usado, com vantagens, no tratamento clínico das intoxicações.
6- DOENÇAS OCUPACIONAIS
Doença ocupacional é designação de várias doenças que causam
alterações na saúde do trabalhador, provocadas por fatores relacionados com
o ambiente de trabalho. A doença ocupacional está diretamente ligada à
modificação na saúde do trabalhador por causa da atividade desempenhada
por ele ou da condição de trabalho às quais ele está submetido. Dessa forma,
as doenças ocupacionais podem ser classificadas como:
- Doença Profissional (Tecnopatia): é a modificação na saúde do
trabalhador, desencadeada pelo exercício da sua atividade profissional.
- Doença do Trabalho (Mesopatia): é a modificação na saúde do
trabalhador, desencadeada em função de condições especiais em que o
trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente.
6.1- Classificação dos principais riscos ocupacionais
Uma doença ocupacional é adquirida quando um trabalhador é exposto
em excesso a riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos ou de
acidentes, sem nenhuma proteção compatível.
As classes de riscos e sua gravidade no ambiente de trabalho é
representada de acordo com o quadro abaixo:
Exemplo das classes de agentes e de gravidade dos riscos
representados em um mapa de risco empresarial:
Levando em consideração a natureza dos riscos, bem como a sua forma
de atuação no organismo humano, segue a relação de agentes que podem ser
encontrados no ambiente de trabalho:
Riscos Físicos (cor verde):Riscos Físicos (cor verde): Consideram-se agentes de risco físico as
diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores. Ex.
ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e não-ionizantes,
vibração, etc.
- Ruídos- Ruídos
Conseqüências: fadiga nervosa; irritabilidade; perda temporária ou
definitiva da audição, etc.
Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento da máquina;
isolamento de ruído); Proteção individual (Equipamento de Proteção Individual
– EPI - protetor auricular);
Medidas médicas: exames audiométricos periódicos, afastamento do
local de trabalho, revezamento.
Medidas educacionais: orientação para o uso correto do EPI, campanha
de conscientização.
Medidas administrativas: tornar obrigatório o uso do EPI, controlar seu
uso.
- Vibração- Vibração
Conseqüências: alterações neurovasculares nas mãos; problemas nas
articulações das mãos e braços; osteoporose (perda de substância óssea);
lesões na coluna vertebral; dores lombares.
Medidas de controle: Revezamento dos trabalhadores expostos aos
riscos (menor tempo de exposição).
- Radiações- Radiações
Conseqüências:perturbações visuais (conjuntivites, cataratas);
queimaduras; lesões na pele; câncer; etc.
Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento da fonte de radiação.
Ex: biombo protetor para operação em solda, pisos e paredes revestidas de
chumbo em salas de raio-x); Proteção individual: EPI (ex: avental, luva,
perneira e mangote de raspa para soldador , óculos para operadores de forno).
Medida administrativa: ex: dosímetro de bolso para técnicos de raio-x.
Medida médica: exames periódicos.
- Calor - Calor
Conseqüências: desidratação; erupção da pele; fadiga física; distúrbios
psiconeuróticos; problemas cardiocirculatórios.
- Frio- Frio
Conseqüências: feridas; rachaduras e necrose na pele; agravamento de
doenças reumáticas; predisposição para doenças das vias respiratórias.
Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento das fontes de
calor/frio; Proteção individual (EPI - ex: avental, bota, capuz, luvas especiais).
Riscos Químicos (cor vermelha): Riscos Químicos (cor vermelha): Substâncias, compostos ou
produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela via
respiratória, ou serem absorvidos pelo organismo através da pele ou por
ingestão. Ex. ácidos ou bases fortes, brometo de etila, solventes, metais
pesados, vapores, gases e produtos químicos em geral.
- Poeiras- Poeiras
- Poeiras minerais- Poeiras minerais: Ex: sílica, asbesto (amianto), carvão mineral.
Consequências: silicose (quartzo), asbestose (amianto), pneumoconiose
dos minérios de carvão.
- Poeiras vegetais:- Poeiras vegetais: Ex: algodão, bagaço de cana-de-açúcar.
Consequências: bissinose (algodão);bagaçose (cana-de-açúcar)
- Poeiras alcalinas:- Poeiras alcalinas: Ex: calcário
Consequências: doenças pulmonares obstrutivas crônicas; enfisema
pulmonar
- Fumos: - Fumos: Partículas sólidas produzidas por condensação de vapores
metálicos. Ex: fumos de óxido de zinco nas operações de soldagem com ferro.
Consequências: doença pulmonar obstrutiva, febre de fumos metálicos,
intoxicação específica de acordo com o metal.
- Névoas: - Névoas: Partículas líquidas resultantes da condensação de vapores ou
da dispersão mecânica de líquidos. Ex: névoa resultante do processo de
pintura a revólver, sprays ou aerossóis.
- Gases: - Gases: Estado natural das substâncias nas condições usuais de
temperatura e pressão. Ex: hidrogênio, ácido nítrico, butano, etc.
- Vapores- Vapores
Conseqüências: Irritantes (irritação das vias aéreas superiores. Ex: ácido
clorídrico, ácido sulfúrico, soda cáustica, cloro, etc.); Asfixiantes (dor de
cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Ex: H2, N2, CH4,
CO2 , CO, etc.); Anestésicos (ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos
a diversos órgãos, ao sistema formador de sangue (benzeno), etc. Ex: butano,
propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno,
tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc.).
Medidas de controle: Proteção coletiva (Ventilação e exaustão,
substituição do produto químico utilizado por outro menos tóxico, redução do
tempo de exposição, estudo de alteração de processo de trabalho,
conscientização dos riscos no ambiente); Proteção individual (EPI como
medida complementar. Ex: máscara de proteção respiratória para poeira, para
gases e fumos; luvas de borracha, neoprene para trabalhos com produtos
químicos, afastamento do local de trabalho).
Riscos Biológicos (cor marrom): Riscos Biológicos (cor marrom): Consideram-se como agentes de
risco biológico seres vivos que possam causar doenças ao trabalhador e
deterioração de produtos. Ex. bactérias, vírus, fungos, helmintos, protozoários
e outros parasitas.
- Agentes Biológicos diversos- Agentes Biológicos diversos
Conseqüências: AIDS, hepatite, leptospirose, tuberculose, brucelose,
malária, febre amarela, micoses, parasitoses, infecções intestinais, entre
outras.
Medidas de controle: saneamento básico (água e esgoto), controle
médico permanente, uso de EPI, higiene rigorosa nos locais de trabalho e
pessoal, uso de roupas adequadas, vacinação, treinamento, sistema de
ventilação/exaustão.
Existem diferentes vias de penetração no organismo humano, com
relação à ação dos riscos biológicos
Cutânea: ex: a leptospirose é adquirida pelo contato com águas
contaminadas pela urina do rato;
Digestiva: ex: ingestão de alimentos deteriorados;
Respiratória: ex: a pneumonia é transmitida pela aspiração de ar
contaminado.
Riscos Ergonômicos (cor amarela Riscos Ergonômicos (cor amarela):): Qualquer fator que possa
interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando
desconforto ou afetando sua saúde. Ex. levantamento de peso, ritmo excessivo
de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada, falta de iluminação
ou ventilação, etc.
- Diversas causas- Diversas causas
Conseqüências: cansaço físico; dores musculares, LER/DORT,
estresse, depressão, hipertensão arterial, alteração do sono, doenças
nervosas, taquicardia, doenças do aparelho digestivo (gastrite e úlcera),
ansiedade, problemas de coluna, etc.
Medidas de controle: Ajuste entre as condições de trabalho e o homem
sob os aspectos de praticidade, conforto físico e psíquico por meio da melhoria
no processo de trabalho, melhores condições no local de trabalho,
modernização de máquinas e equipamentos, melhoria no relacionamento entre
as pessoas, alteração no ritmo de trabalho, ferramentas adequadas, postura
adequada, etc.
Riscos de Acidente (cor azul): Riscos de Acidente (cor azul): Qualquer fator que coloque o
trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade, e seu bem
estar físico e psíquico. Ex. máquinas e equipamentos sem proteção ou
defeituosos, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado,
armazenamento inadequado, animais peçonhentos, ferramentas inadequadas
ou defeituosas.
- Arranjo físico deficiente:- Arranjo físico deficiente: É resultante de: prédios com área insuficiente;
localização imprópria de máquinas e equipamentos; má arrumação e limpeza;
sinalização incorreta ou inexistente; pisos fracos e/ou irregulares.
- Máquinas e equipamentos sem proteção:- Máquinas e equipamentos sem proteção: Máquinas obsoletas; sem
proteção em pontos de transmissão e de operação; comando de liga/desliga
fora do alcance do operador; máquinas e equipamentos com defeitos ou
inadequados; EPI inadequado ou não fornecido.
- Ferramentas inadequadas ou defeituosas:- Ferramentas inadequadas ou defeituosas: Ferramentas usadas de
forma incorreta; falta de fornecimento de ferramentas adequadas; falta de
manutenção.
- Eletricidade:- Eletricidade: Instalação elétrica imprópria, com defeito ou exposta; fios
desencapados; falta de aterramento elétrico; falta de manutenção.
- Incêndio ou explosão:- Incêndio ou explosão: Armazenamento inadequado de inflamáveis e/ou
gases; manipulação e transporte inadequado de produtos inflamáveis e
perigosos; sobrecarga em rede elétrica; falta de sinalização; falta de
equipamentos de combate ou equipamentos defeituosos.
Conseqüências: danos físicos, como fraturas, queimaduras, contusões,
choques elétricos,etc.
Medidas de controle: Proteção Individual (uso de EPI quando aplicáveis),
Proteção Coletiva (sinalização dos perigos, extintores de incêndio, manutenção
de equipamentos, treinamento adequado dos funcionários, fornecimento de
ferramentas adequadas).
6.2 Principais doenças ocupacionais
As doenças mais comuns são as do sistema respiratório, do sistema
ósseo e da pele. Os cuidados são essencialmente preventivos, pois a maioria
das doenças ocupacionais é de difícil tratamento. São exemplos principais
destas doenças:
6.2.1 - Doenças respiratórias: se destacam as pneumoconioses, que são
doenças por inalação de poeiras, substâncias que o organismo pouco
consegue combater com seus mecanismos de defesa imunológica e/ou
leucocitária, diferentemente do que ocorre com microorganismos que podem
ser fagocitados, digeridos ou destruídos pela ação de anticorpos e de células
de defesa por meio das enzimas lisossomais e outros mecanismos.causadas
pela inalação de poeiras. Suas variações incluem:
Antracose - poeira de carbono
Pneumoconiose dos mineiros de carvão (também conhecida como
"pulmão negro") - poeira de carvão
Asbestose – poeira de asbesto (amianto)
Fibrose de bauxita - poeira de bauxita
Beriliose - poeira de berílio
Siderose - poeira de ferro
Bissinose - poeira de algodão
Bagaçose – bagaço de cana-de-açúcar
Siderose - misto de poeira contendo sílica e ferro
Silicose (também conhecida como doença de "Grinder") - poeira de sílica
Outro exemplo é a asma ocupacional, causada por substâncias
agressivas inaladas no ambiente de trabalho. Estas se depositam nos pulmões,
provocando falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e lacrimejamento.
6.2.2- Perda auditiva induzida por ruído (PAIR): Diminuição gradual da
audição decorrente da exposição contínua a níveis elevados de ruídos no
ambiente de trabalho. Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por
exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional,
disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão
sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda auditiva
neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de
pressão sonora de origem ocupacional.
Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e
referem-se a determinados ramos de atividades e, portanto, não há registros
epidemiológicos que caracterizem a real situação A maior característica da
PAIR é a degeneração das células ciliadas do órgão de Corti. Recentemente
tem sido demonstrado o desencadeamento de lesões e de apoptose celular em
decorrência da oxidação provocada pela presença de radicais livres formados
pelo excesso de estimulação sonora ou pela exposição a determinados
agentes químicos. Características:
É sempre neurossensorial, uma vez que a lesão é no órgão de Corti da
orelha interna.
É geralmente bilateral, com padrões similares. Em algumas situações,
observam-se diferenças entre os graus de perda das orelhas.
Geralmente, não produz perda maior que 40dB(NA) nas freqüências
baixas e que 75dB(NA) nas altas.
A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso.
A presença de PAIR não torna a orelha mais sensível ao ruído; à medida
que aumenta o limiar, a progressão da perda se dá de forma mais lenta.
A perda tem seu início e predomínio nas freqüências de 3, 4 ou 6 kHz,
progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 kHz.
Em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6 kHz,
geralmente atingirão um nível máximo, em cerca de 10 a 15 anos.
O trabalhador portador de PAIR pode desenvolver intolerância a sons
intensos, queixar-se de zumbido e de diminuição de inteligibilidade da fala, com
prejuízo da comunicação oral.
6.2.3- Intoxicações exógenas: pode ser definida como a consequência
clínica e/ou bioquímicas da exposição a substâncias químicas encontradas no
ambiente ou isoladas. Como exemplo, dessas substâncias intoxicantes
ambientais, podemos citar o ar, água, alimentos, plantas, animais peçonhentos
ou venenosos. Por sua vez, os principais representantes de substâncias
isoladas são os pesticidas, os medicamentos, produtos químicos industriais ou
de uso domiciliar.
- Agrotóxicos: Os agrotóxicos podem causar diversos efeitos sobre a
saúde humana, sendo muitas vezes fatais. Classicamente tais efeitos são
divididos em intoxicação aguda e intoxicação crônica. A exposição ocupacional
e/ou ambiental é normalmente responsável pelas intoxicações crônicas. Estas
podem se manifestar de varias formas, tais como: problemas ligados à
fertilidade, indução de defeitos teratogênicos e genéticos e câncer. Também
são relatados efeitos deletérios sobre os sistemas nervoso, respiratório,
cardiovascular, geniturinário, gastrointestinal, pele, olhos, além de alterações
hematológicas e reações alérgicas a estas substâncias.
- Chumbo (saturnismo): a exposição contínua ao chumbo, presente em
fundições e refinarias, provoca, em longo prazo, um tipo de intoxicação que
varia de intensidade de acordo com as condições do ambiente (umidade e
ventilação), tempo de exposição e fatores individuais (idade e condições
físicas).
- Mercúrio (hidrargirismo): o contato com a substância se dá por meio da
inalação, absorção cutânea ou via oral; ocorre normalmente com trabalhadores
que lidam com extração do mineral ou fabricação de tintas
- Solventes Orgânicos (benzenismo): por serem tóxicos e agressivos,
podem contaminar trabalhadores de refinarias de petróleo e indústrias de
transformação tanto por via cutânea quanto respiratória.
- Monóxido de Carbono (CO): Gás incolor, sem cheiro e potencialmente
perigoso. Liga-se fortemente à hemoglobina, (proteína que transporta O2 no
sangue para os tecidos), competindo com o oxigênio e provocando hipóxia,
podendo ocasionar lesão cerebral e morte. O monóxido de carbono pode ser
emitido por diversas fontes, como escapamento de veículos (perigo em lugares
fechados, como garagens), aquecedores a gás, fogões, aquecedores e queima
de praticamente qualquer substância em locais fechados. Os sintomas incluem:
Inicialmente, dor de cabeça, náusea, vômitos, coriza. Posteriormente,
distúrbios visuais, confusão mental, síncope (desmaio), tremores, coma,
disfunção cardiopulmonar e morte.
6.2.4- LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteo-
musculares Relacionados ao Trabalho): Conjunto de doenças que atingem
principalmente os nervos, músculos, tendões, articulações. O problema é
decorrente do trabalho com movimentos repetitivos, esforço excessivo, má
postura e estresse, entre outros. Abrangem 30 doenças, como a tendinite
(inflamação em tendão), a tenossinovite, sinovite, peritendinite, epicondilite,
tenossinovite estenosante (DeQuervain), contratura de Dupuytren, dedo em
gatilho, cisto, entre outras. A bursite é uma das LER que mais acometem
trabalhadores, esta doença causa inflamação da pequena bolsa de conteúdo
líquido que recobre as articulações, conhecida como bursa, que funciona como
amortecedor. A área do ombro é a mais atingida, devido ao maior esforço
aplicado sobre ela. Esta inflamação provoca dor intensa, capaz de impedir a
realização das mais simples tarefas e de afetar a qualidade de vida.
As LERs são classificadas em quatro estágios ou graus:
- LER grau I: A dor aparece durante os movimentos ou com a postura
inadequada que compromete um dado grupo muscular; cessando após alguns
minutos em repouso. Por exemplo, dor no ombro ou parte anterior do braço,
tendinite do ombro e tendinite bicipital respectivamente.
- LER grau II: nesse estágio a dor é mais persistente, bem localizada,
podendo ser um pouco difusa ou irradiar para todo o braço, mas o quadro
ainda é leve, exemplo: dor no punho Direito, tendinite do punho e tenossinovite
de MSD.
- LER grau III: Doença grave, de difícil controle, doença arrastando por
vários meses ou anos. Dor crônica que às vezes não cede com medicação
nem com o repouso; dor espontânea que exacerba com certos movimentos e
com o nervosismo. Pode haver perturbação do sono. A dor insuportável, às
vezes, é precedida de formigamentos, pontadas, choques, agulhadas,
queimação, perda de força na mão etc.
- LER grau IV: São exemplos a Síndrome de Distrofia Reflexa (SDR),
Ombro Congelado, etc; casos esses, bastante graves, onde o paciente nem
mesmo consegue mexer com o ombro doente. A dor pode se tornar
insuportável, e até atividades comuns da vida diária, como escovar dentes e
cabelos, tornam-se impraticáveis. Nessa última fase, muitos pacientes recebem
injeções de drogas potentes para aliviar a dor e alguns chegam até a passar
por cirurgias.
Estas patologias representam 84,77% do total de doenças do trabalho,
no entanto, é importante ressaltar que todas elas podem ser evitas com
exercícios simples de ginástica e equipamentos certos na hora do trabalho.
6.2.5- Dermatite ocupacional ou dermatose ocupacional: Toda alteração de
pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada,
mantida ou agravada por tudo aquilo que seja utilizado na atividade profissional
ou exista no ambiente de trabalho. São provocadas por uma reação do
organismo diante da exposição a agentes alergênicos, causando dermatites
alérgicas; ou agentes irritantes, causando dermatites de contato. Os principais
sintomas são coceira na pele, erupções vermelhas e formação de bolhas que
podem estourar formando crostas e descamações. Se a pele não for tratada,
poderá escurecer ficando grossa e rachada. Podem ser causadas por:
- Agentes Químicos: responsáveis por cerca de 80% das dermatoses
ocupacionais, destacando-se os ácidos, bases, cimento, borracha, derivados
de petróleo, óleos de corte, cromo e seus derivados, níquel, cobalto, madeira e
resina epóxi.
- Agentes Biológicos: bactérias, fungos, leveduras e insetos,
especialmente nos trabalhos de manipulação de couro ou carne animal;
tratadores de aves e porcos; peixeiros; açougueiros; jardineiros; balconistas de
bar; barbeiros, entre outros.
- Agentes Físicos: calor, frio, vibrações, eletricidade, radiações
ionizantes e não ionizantes, microondas, laser e agentes mecânicos.
Fatores como a temperatura ambiental e umidade influenciam o
aparecimento de dermatoses, como infecções por bactérias (piodermites) e
fungos (micoses). O trabalho ao ar livre é frequentemente sujeito à ação da luz
solar, picadas de insetos e contato com plantas irritantes ou alergênicas. O
tratamento envolve, principalmente, evitar o contato com a substância que
desencadeou a reação, além de medicamentos que aliviam os sintomas.
O quadro inflamatório deve ser tratado com o uso de corticóides tópicos
ou sistêmicos, dependendo da gravidade. A aplicação de cremes hidratantes
nas peles secas aumenta sua resistência. Em caso de infecção secundária,
faz-se a administração de antibióticos e anti-histamínicos. Geralmente a
dermatite desaparece depois de duas ou três semanas, mas podem recorrer se
o antígeno não puder ser identificado ou evitado.
6.2.6- CVS (Computer Vision Syndrome ou Síndrome de Visão de
Computador): Sintomas oculares que aparecem durante ou após a
permanência prolongada diante da tela do computador, incluindo olhos irritados
ou vermelhos, coceira, olhos ressecados ou lacrimejamento, cansaço ocular,
sensibilidade à luz, dificuldade de conseguir foco, visão de cores alteradas,
visualição de halos ao redor de objetos, visão embaçada ou dupla. Existem
ainda outros sintomas, como dor de cabeça, dor na nuca ou nas costas e
espasmos musculares. Atinge principalmente os profissionais da área de
informática, ou outros trabalhadores que façam uso constante de
computadores. Algumas medidas podem reduzir ou evitar os sintomas
relacionados com esta síndrome:
- Posicionar a tela do computador entre 50 e 60 cm de distância dos
olhos, mantendo o topo do monitor na altura dos olhos ou abaixo.
Posicionar os papéis próximos à tela, com o auxílio de um suporte,
quando estiver digitando.
- Iluminar o ambiente de trabalho.
- Minimizar os reflexos da tela, alterando a posição do computador,
usando cortinas nas janelas e filtro anti-reflexo.
- Piscar os olhos frequentemente.
- Manter a tela sempre limpa.
- Descansar 5 minutos para cada hora de trabalho, tirando a visão da
tela e olhando para longe.
- Usar óculos, se necessário.
6.2.7- Câncer: O câncer ocupacional é originado devido à exposição a agentes
carcinogênicos presentes no ambiente de trabalho, mesmo após a cessação da
exposição; representa de 2% a 4% dos casos de câncer. Os fatores de risco de
câncer podem ser externos (ambientais) ou endógenos (hereditários), estando
ambos inter-relacionados e interagindo de várias formas para dar início às
alterações celulares presentes na etiologia do câncer. Alguns tipos de agentes
causadores são:
- Agentes químicos: Agrotóxicos; Amianto (ou asbesto); Sílica; Benzeno;
Xileno; Tolueno. Profissionais expostos a estes agentes são, principalmente,
agricultores, operários da indústria química e construção civil, trabalhadores de
laboratório, mineradores etc.
- Agentes físicos: Radiação ionizante: partículas alfa, beta, raios gama,
raios-X, nêutrons e outros. Os trabalhadores afetados são os da indústria
nuclear ou aqueles que trabalham próximos a equipamentos que emitam
radiação (por exemplo: em instituições médicas ou em laboratórios). O dano
pode ocorrer ao nível celular ou molecular, quando o controle do crescimento é
rompido, permitindo o aumento descontrolado de células cancerosas, uma vez
que a radiação ionizante tem a habilidade de quebrar os elos químicos dos
átomos e moléculas, produzindo um potente carcinógeno. Radiação não-
ionizante: exemplo, luz solar que é composta de: Radiação ultravioleta (UV),
invisível aos olhos; Luz visível; Radiação infravermelha, que é a principal fonte
de calor, mas também não é visível. Os trabalhadores afetados são os que
executam suas atividades ao ar livre ou em áreas onde recebem grande reflexo
da luz solar, ou ainda, trabalhadores que utilizam intensa radiação de UV,
como soldadores.
Fatores que influenciam o desenvolvimento do câncer ocupacional são a
dose diária absorvida; o tempo de exposição; idade; doença preexistente;
suscetibilidade individual; predisposição genética; outros fatores, como tipo de
alimentação, estresse e fumo.
A prevenção do câncer de origem ocupacional deve abranger:
- Remoção da substância cancerígena do local de trabalho, os
compostos cancerígenos devem ser substituídos por outros mais seguros.
– Controle da liberação de substâncias cancerígenas resultantes de
processos industriais para a atmosfera.
– Controle da exposição de cada trabalhador e uso rigoroso dos
equipamentos de proteção individual (máscaras e roupas especiais).
- Boa ventilação do local de trabalho, para evitar o excesso de produtos
químicos no ambiente.
- Trabalho educativo visando a aumentar o conhecimento dos
trabalhadores a respeito das substâncias com as quais trabalham, além dos
riscos e cuidados que devem ser tomados ao se exporem a essas substâncias.
- Eficiência dos serviços de medicina do trabalho, com a realização de
exames periódicos em todos os trabalhadores que devem ter direito à saúde
integral por tempo indeterminado
- Proibição do fumo nos ambientes de trabalho, pois a poluição
tabagística ambiental potencializa as ações da maioria dessas substâncias.
6.2.8- Estresse ou Stress: “Stress” é um dos termos mais utilizados
atualmente, tanto pela comunidade científica como pelo público em geral, no
entanto, continua a não existir um significado comum unanimemente aceito.
Este termo provém do latim, e tem como significado apertar, comprimir,
restringir. A expressão existe na língua inglesa desde o século XIV sendo
utilizada, durante bastante tempo, para exprimir uma pressão ou uma
contração de natureza física. Apenas no século XIX o conceito se alargou,
passando a significar também as pressões que incidem sobre um órgão
corporal ou sobre a mente humana.
O estresse ocupacional pode ser definido como um conjunto de
perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico associado às experiências de
trabalho. Normalmente, é resultante da incapacidade de lidar com as fontes de
pressão no trabalho, tendo como consequências problemas na saúde física,
mental e na satisfação no trabalho, afetando o indivíduo e as organizações. As
fontes de pressão podem ser os relacionamentos com colegas ou superiores,
excesso de trabalho, horário inadequado, baixa remuneração, barulho, calor,
vibração, falta de espaço ou privacidade, etc.
Os sintomas do estresse causado pelas condições de trabalho podem
variar desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade, distúrbios do sono
e descontrole emocional até doenças psíquicas, hipertensão, taquicardia,
gastrite e úlcera gástrica.
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.abcdasaude.com.br
http://www.brasilescola.com
AMDUR, M. O.; DOULL, J.; KLAASEN, C. D. - Casareth and Doull's Toxicology-The basic science of poison. 5º ed.,New York:Pergamon Press, 1996.
ARIËNS, E.J.; LEHMANN,P.A.; SIMONIS,A.M. - Introduccion a la Toxicologia General. Ed. Diana, México, 1978
Brasil, Ministério da Saúde. (2006). Pneumoconioses. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 76 p.
Brasil. Ministério da Saúde. (2005) Vigilância do câncer Ocupacional e ambiental. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro: INCA, 64p.
http://bvsms.saude.gov.br
CAIAFFO, G. A..(2003) Estresse ocupacional: estudo realizado junto aos funcionários da SUDEMA. Trabalho de Conclusão de Estágio, Curso de Bacharelado em Administração. Universidade Federal da Paraíba, 68p.
LARINI, L. - Toxicologia - 2ª Ed., Editora Manole, 1993.
LEITE, E. M. A & AMORIM, L. C. A. (2006) Noções Básicas de Toxicologia. Depto. Análises clínicas e toxicológicas, Faculdade de Farmácia - Universidade Federal de Minas Gerais, 50p.
FREDDY HAMBURGUER; JOHN A. HAYES; EDWARD W. PELIKAN - A guide to general Toxicology., Karger Continuing Education series, V.5, 1983
ERNEST HOGGSON & PATRICIA E. LEVI - Introduction to Biochemical Toxicology. 2º ed. Appleton & Lange Norwalk, Connecticut, 1992
FERNÍCOLA,N.A.G.G. - Nociones basicas de Toxicologia, ECO/OPAS, México, 1985
http://medeseg.com.br
Mendes, R. (1988). O IMPACTO DOS EFEITOS DA OCUPAÇÃO SOBRE A SAÚDE DE TRABALHADORES. Rev. Saúde Públ. São Paulo, 22 (4).pp 311-326.
OGA, S. (Ed.) - Fundamentos de Toxicologia. Atheneu:São Paulo, 1996