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Apostila do Curso de Biologia da Conservação
com Ênfase em Monitoramento de Fauna
1- Fundamentos da Biologia da Conservação
A Biologia da Conservação tem suas raízes nas muitas culturas que ao
longo de milhares de anos através de suas crenças religiosas e filosóficas
relacionam o valor das espécies a vida natural (Hargrove,1986; Callicott,
1994). Filósofos como Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau
elegeram a natureza como um elemento importante para o
desenvolvimento moral e espiritual do homem (Callicott, 1990).
Defensores da vida natural, tais como John Muir e Aldo Leopold,
trabalharam pela preservação das paisagens e manutenção da saúde dos
ecossistemas naturais. Segundo os adeptos da Hipótese de Gaia, a Terra
apresenta as propriedades de um “super organismo” cujos componentes
biológicos, físicos e químicos interagem para manter as características da
atmosfera e do clima (Lovelock, 1988). Muitos que defendem esta tese
pedem a interrupção total ou parcial das atividades industriais que
perturbam a interação parcial ou total dos componentes da terra. Com
uma visão mais ponderada e técnica um silvicultor chamado Gifford
Pinchot (1865-1946), propôs uma tese onde afirmava que os elementos da
natureza a biodiversidade de animais e plantas e a água potável e até as
paisagens seriam tidos como recursos naturais e que estes recursos
deveriam ser democratizados e utilizados de forma racional. Uma
evolução deste conceito é o da administração de ecossistemas que
prioriza a saúde dos ecossistemas e das espécies silvestres (Grumbine,
1994b; Noss e Cooperrider, 1994). Semelhantemente ao que defendia
Pinchot a proposta mais atual de desenvolvimento sustentado pede o
desenvolvimento de recursos naturais para atender as necessidades
humanas de forma a não prejudicar as comunidades biológicas e
considerar também as necessidades das futuras gerações (Lubchenco et
al.,1991;IUCN/UNEP/WWF, 1091). A Biologia da Conservação
fundamenta-se hoje em pressupostos básicos (Soulé, 1985). Pressupostos
estes que representam um conjunto de proposições éticas e ideológicas
que sugerem abordagens científicas e aplicações práticas.
A diversidade de organismos é positiva:
O ser humano tem atração pela diversidade, isso fica claro quando
pensamos na importância que damos a jardins zoológicos, jardins
botânicos, aquários, etc. Esta predisposição a diversidade pode ter uma
explicação evolutiva, ao buscar uma diversidade de animais e vegetais
para caça e coleta respectivamente, o homem primitivo protegeu sua
descendência da extinção em tempos de catástrofes naturais, quando
havia escassez de diversas fontes de alimentos. Esta predisposição
genética para a diversidade biológica chama-se biofilia.
A extinção prematura de populações e espécies é negativa:
Naturalmente durante a evolução do nosso planeta, muitas espécies
foram extintas por processos naturais, e outras a partir daí evoluíram e
deram origem a novas espécies. Porém este equilíbrio foi quebrado
quando o homem começou a alterar significativamente o meio ambiente
expandindo seus domínios e caçando maciçamente algumas espécies, até
levá-las a extinção.
A complexidade ecológica é positiva:
A co-evolução é um fenômeno ecológico que Só acontece na natureza,
dentro de um ecossistema onde comunidades de animais ou plantas
interagem de tal forma em relações de pregador-presa, parasitismo, ou
simbiose, que as obriga a evoluir, ou co-evoluir, formando novas espécies.
A evolução é positiva:
A adaptação evolutiva é um processo que muitas vezes leva a formação de
novas espécies aumentando assim a diversidade biológica. Porém, devido
ao desequilíbrio causado pelo homem, sobretudo com a redução
significativa de muitas populações e dos próprios biomas onde estas
comunidades estão inseridas, esta capacidade evolutiva acaba sendo
prejudicada.
A diversidade biológica tem valor em si:
Independente do valor econômico que o homem possa dar a algumas
espécies, o verdadeiro valor de qualquer espécie está na sua própria
existência, na história evolutiva e na sua função ecológica que ocupa.
2- Diversidade Biológica
Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (1989), a diversidade
biológica é “a riqueza da vida na Terra, os milhões de plantas, animais e
microorganismos, os genes que eles contêm e os intrincados ecossistemas
que eles ajudam a construir no meio ambiente.” Desta maneira
entendemos a existência de três níveis compondo a diversidade biológica:
Nível das espécies: a diversidade biológica inclui todas as formas de vida,
desde a bactéria mais simples até a criatura mais complexa.
Nível da variação genética: a diversidade biológica inclui a variação
genética entre as espécies, tanto entre populações geograficamente
separadas como entre indivíduos de uma mesma população.
Nível de comunidade e ecossistemas: a diversidade biológica também
compreende a variação de comunidades biológicas onde as espécies
vivem e os ecossistemas onde as comunidades se encontram e interagem.
Diversidade das espécies:
Uma espécie pode ser definida de dois modos, primeiro, uma
espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos que é
morfológica, fisiológica ou bioquimicamente distinta de outros grupos em
algumas características (definição morfológica de espécie). Cada vez mais
as diferenças de DNA estão sendo utilizadas para distinguir espécies que
parecem quase idênticas, como é o caso das bactérias, segundo, uma
espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos que podem
potencialmente procriar entre si, mas que não procriam com indivíduos de
outros grupos (definição biológica de espécie).
Os biologistas freqüentemente têm dificuldade de distinguir as
variações de uma única espécie das variações entre as espécies
aparentadas. O problema está na capacidade de algumas espécies
aparentadas em cruzar e gerar híbridos, a hibridação é comum entre
espécies de plantas em habitats alterados.
Os taxonomistas descreveram apenas de 10% a 30% das espécies
existentes no mundo e muitas espécies serão extintas antes de serem
descritas. Os esforços de identificação devem se concentrar em áreas com
alta diversidade de espécies, onde devem ser treinados grandes
contingentes de taxonomistas. (Raven e Wilson, 1992).
Taxonomia é a ciência que classifica os seres vivos. O objetivo da
taxonomia moderna é criar um sistema de classificação que reflita a
evolução de grupos de espécies desde seus ancestrais. Identificando a
relação entre as espécies, os taxonomistas ajudam os biologistas de
conservação a identificar as espécies ou grupos que são, pela evolução,
únicos ou de valor especial para a conservação.
Classificação moderna:
As espécies semelhantes são agrupadas em um gênero, os gêneros
semelhantes são agrupados em uma família, as famílias similares são
agrupadas em uma ordem, as ordens similares são agrupadas em uma
classe, as classes similares são agrupadas em uma divisão, para as plantas,
ou filo para os animais. Os filos ou divisões são agrupados em um reino.
Os biologistas do mundo todo têm usado uma padronização para
dar nomes às espécies. Este sistema de denominação conhecido como
nomenclatura binominal foi desenvolvido no século XVIII por um
biologista sueco chamado Carolus Linaeus. Os nomes científicos das
espécies são compostos de duas palavras. O nome do gênero é o que
identifica aquele grupo dentro de uma família, já o nome específico é o
nome particular da espécie dentro daquele gênero. Os nomes científicos
seguem um padrão. A primeira letra do nome do gênero é sempre
maiúscula, já o nome da espécie deve ser escrito em letra minúscula. Os
nomes científicos sã oescritos sempre em itálico ou sublinhados. Os
nomes científicos podem vir seguidos do nome do cientista os descreveu.
Por exemplo, veremos a classificação sistemática do jacaré-de-papo-
amarelo Caiman latirostris (DAUDIN, 1801)
Classe: Reptilia; Ordem: Crocodylia; família: Alligatoridae; Subfamília:
Alligatorinae; Gênero: Caiman; Espécie: Caiman latirostris.
3- Conservação de Populações e Espécies
Os programas de conservação de espécies geralmente são criados
para salvar espécies cujas populações estão em declínio ou ameaçadas e
extinção.
As espécies, principalmente animais de topo de cadeia como, por
exemplo, os grandes felinos, necessitam de um território muito grande
para sobreviver. Os Parques Naturais, no geral, não apresentam as
dimensões necessárias para a manutenção destas populações por muito
tempo. E muitas vezes as populações estão de tal forma reduzida, que sua
manutenção se torna incerta.
Shaffer (1981) define o numero de indivíduos necessários para
assegurar a sobrevivência de uma espécie como sendo sua população
viável mínima (PVM): “Uma população viável mínima para qualquer
espécie em um determinado habitat é a menor população isolada que
tenha 99% de chances de continuar existindo por 1.000 anos, a despeito
dos efeitos previsíveis de aleatoriedade genética, ambiental e
demogtafica, e de catástrofes naturais”. Ou seja: Uma PVM é a menor
população que tenha grande chance de sobreviver no futuro.
Para se chegar a um número preciso da PVM de uma determinada
espécie, é necessário um estudo demográfico detalhado da população e
uma analise ambiental da área. Isso pode custar muito e exigir meses ou
até anos de pesquisa (Thomas, 1990). Alguns biólogos têm sugerido de
500 a 1000 indivíduos para vertebrados como o numero a ser protegido.
Esta quantia parece ser a adequada para que se consiga preservar uma
variabilidade genética (Lande, 1988). Para espécies com tamanhos
populacionais extremamente variáveis, tais como certos invertebrados e
plantas anuais, tem-se sugerido a proteção de uma população de cerca de
10.000 indivíduos, como estratégia eficaz.
Uma vez que uma população viável mínima tenha sido determinada
para certa espécie, a área dinâmica mínima (ADM), ou seja, a extensão de
habitat adequado para manter esta PMV pode então ser calculada. A ADM
pode ser estimada através de um estudo dos tamanhos de áreas dos
indivíduos e dos grupos (Thiollay, 1989). As estimativas são de que
reservas de 10.000 a 100.000 ha são necessários para a preservação de
populações de mamíferos de pequeno porte (Schonewald-Cox, 1983). Já
para a preservação das onças do Pantanal, por exemplo, a superficie
envolvida é enorme. Uma única onça ocupa 14.200 ha (Crawshaw e
Quigsley, 1991).
Perda de Variabilidade Genética
A variabilidade genética é importante na medida em que permite
que as populações se adaptem a um ambiente em transformação.
Indivíduos com certos alelos ou combinações de alelos podem ter as
características necessárias para sobreviver e reproduzir em situações
novas. Dentro de uma população, certos alelos podem ter uma freqüência
que varia de comum a muito rara. Em populações pequenas, as
freqüências podem ser diferentes de uma geração para outra,
aleatoriamente, dependendo simplesmente do acasalamento e
reprodução dos indivíduos. Este é um processo conhecido como deriva
genética. Quando a freqüência de um alelo em uma população pequena é
baixa, este tem grandes chances de se perder a cada geração que passa.
Considerando, teoricamente, uma população isolada na qual a dois alelos
por gene Wrigth (1931) propôs uma formula para expressar a expectativa
de declínio de heterozigozidade (indivíduos possuindo duas formas de
alelos do mesmo gene) por geração em função de determinado tamanho
efetivo de população.
De acordo com esta equação, uma população de 50 indivíduos
demonstraria um declínio em heterozigozidade de 1% por geração, devido
à perda de alelos raros. Uma população de 10 indivíduos teria um declínio
de 5% por geração.
Esta fórmula demonstra que perdas significativas de variabilidade
genética podem ocorrer em populações pequenas isoladas. Entretanto, a
migração de indivíduos de outras populações e a mutação regular dos
genes tendem a aumentar a variabilidade genética em uma população e a
equilibrar os efeitos da deriva genética. Mesmo uma baixa freqüência de
movimentos entre populações minimiza a perda de variabilidade genética
associada ao pequeno tamanho de população (Lacey, 1987). Se apenas um
novo imigrante chegar, a cada geração, em uma população isolada de 100
indivíduos, a deriva genética será mínima.
Pequenas populações sujeitas à deriva genética são mais suscetíveis
a efeitos genéticos deletérios, tais como depressão endogâmica, perda da
flexibilidade evolucionária e depressão exogâmica. Estes fatores podem
contribuir para um declínio no tamanho da população e para uma maior
probabilidade de extinção (Ellstrand e Elam 1993; Loeschcke et al. 1994).
Depressão endogâmica:
Causada pelo acasalamento entre parentes próximos, tais como pais
e sua crias, irmãos e primos, e a auto-fertilização em espécies
hermafroditas podem resultar na depressão endogâmica, caracterizada
por um número menor de cria ou por cria fraca estéril (Ralls et al., 1988).
Depressão exogâmica:
Quando uma espécie é rara ou seu habitat é danificado pode
ocorrer o cruzamento de espécies próximas, o que não ocorreria em
condições normais devido a fatores comportamentais, fisiológicos e
morfológicos, a cria resultante do cruzamento de indivíduos de espécies
diferente é freqüentemente fraca e estéril devido à falta de
compatibilidade dos cromossomos e sistemas enzimáticos herdados dos
pais diferentes.
Perda da flexibilidade evolucionária:
Alelos raros e combinações incomuns de alelos que, em
determinado momento não ofereceriam vantagem alguma, podem mais
tarde ser considerados adequados para determinadas condições
ambientais. A perda da variabilidade genética em uma população
pequena, pode limitar a capacidade da população em conviver com
mudanças em longo prazo no ambiente, tais como poluição, novas
doenças ou a mudança climática global (Allendorf e Leary, 1986). Sem
variabilidade genética suficiente, uma espécie pode chegar à extinção.
Monitoramento de populações:
O modo para se conhecer a situação das espécies raras de interesse
especial, é o seu censo no campo e o monitoramento de sua população ao
longo do tempo. Fazendo repetida e regularmente o censo de uma
população, as mudanças ocorridas através do tempo podem ser
determinadas (Simberloff, 1988; Schemske et al., 1994).
Esforços de monitoramento podem também ser direcionados para
espécies sensíveis, tais como as borboletas, usando-as como indicadores
da estabilidade, ao longo prazo, das comunidades ecológicas (Sparrow et
al., 1994).
Inventario:
Um inventario é simplesmente uma contagem do numero de
indivíduos de uma população. Repetindo um inventario em sucessivos
intervalos de tempo, pode ser determinado se uma população permanece
estável, se está crescendo ou diminuindo.
Estudos demográficos:
São realizados utilizando-se de indivíduos conhecidos de uma
população para determinar suas taxas de crescimento, reprodução e
sobrevivência. Podem ser estudadas tanto uma população completa como
uma amostra.
Metapopulação:
Com o passar do tempo, populações de uma espécie podem se
tornar extintas em uma escala local, e novas populações podem se formar
em áreas próximas. Estas espécies podem ser caracterizadas por uma ou
mais populações centrais, com densidade razoavelmente estáveis, e várias
áreas satélites com populações flutuantes (Bleich et al., 1990). Populações
nas áreas satélites podem se tornar extintas em anos desfavoráveis, mas
as áreas são recolonizadas por migrantes da população central quando as
condições se tornam mais favoráveis.
Reintrodução:
Um programa de reintrodução compreende soltar indivíduos
retirados do ambiente selvagem ou criados em cativeiro, dentro de uma
área de sua ocorrência histórica onde esta espécie não mais existe ou está
em declínio (kleiman, 1996).
O principal objetivo de um programa de reintrodução é criar uma
nova população no ambiente original.
Dois outros tipos de programas de liberação também são usados.
Programa de acréscimo: consiste em liberar indivíduos em uma população
existente para aumentar seu tamanho e seu pool genético. Estes
indivíduos liberados podem ser indivíduos selvagens ou criados em
cativeiro.
Programa de introdução: consiste em transportar animais ou plantas para
áreas fora de sua extensão histórica na esperança de estabelecer novas
populações (Conant, 1988). Esta abordagem pode ser adequada quando o
ambiente dentro da extensão histórica de uma espécie se deteriorou a tal
ponto da espécie não conseguir mais sobreviver ali, ou quando o fator que
causa o declínio original ainda está presente, tornando a reintrodução
impossível. A introdução de uma espécie para novos sítios deve ser
cuidadosamente pensada, para assegurar que a espécie não danifique seu
novo ecossistema ou prejudique populações de qualquer espécie
ameaçada no local. Também deve ser tomado cuidado para garantir que
os indivíduos liberados não tenham contraído doenças enquanto em
cativeiro que poderiam se espalhar e dizimar populações selvagens.
Comportamento social em animais soltos:
Os programas de reintrodução, acréscimo e introdução precisam
considerar a organização social e o comportamento dos animais que estão
sendo liberados. Quando animais sociais como mamíferos e alguns
pássaros, crescem num ambiente selvagem, eles aprendem sobre seu
ambiente e como interagir socialmente com outros membros de sua
espécie. Os animais criados em cativeiro podem não ter as habilidades
necessárias para sobreviver no seu ambiente natural, assim como as
habilidades sociais para encontrar comida de maneira cooperativa,
perceber o perigo, encontrar parceiros e criar seus filhotes. Para superar
estes problemas de socialização os animais criados em cativeiro podem
necessitar de um treinamento prolongado, tanto antes como depois da
soltura.
4- Conservação de Comunidades
A conservação de comunidades biológicas intactas é o método mais
eficaz, e único capaz, de preservação da diversidade biológica como um
todo. As comunidades biológicas podem ser preservadas através do
estabelecimento de áreas protegidas, implementação de medidas de
conservação fora de áreas protegidas, e restauração de comunidades
biológicas em habitats degradados.
Mesmo as comunidades mais intactas como as do fundo oceânico
ou áreas intocadas da Amazônia podem sofrer a influencia da ação do
homem através do aumento do nível dióxido de carbono ou com o
conseqüente aquecimento global, porém, por outro lado mesmo nos
ambientes mais modificados pelo homem ainda encontramos
remanescentes da biota original.
Alguns conservacionistas argumentam que as comunidades e
ecossistemas, muito mais que as espécies, deveriam ser alvos de esforços
de conservação (McNaughton, 1989; Scott, et al. 1991; Reid, 1992;
Grumbine; 1994b). A conservação das comunidades pode preservar
grande quantidade de espécies em uma unidade auto-sustentável,
enquanto que o resgate de espécies alvo é muitas vezes difícil, caro e
ineficaz, especialmente em um país com um numero gigantesco de
espécies, como Brasil. O uso de US$ 1 milhão na proteção e manejo de um
habitat pode preservar mais espécies a longo prazo do que se conseguiria
com a mesma quantia sendo gasta no esforço de salvar uma única espécie
notável.
Analise de lacunas
Uma forma de se determinar a eficácia dos programas de
conservação de comunidades e ecossistemas é comparar as prioridades
de biodiversidade com as áreas de proteção existentes e aquelas
propostas (Scott, et al. 1991). Este trabalho visa identificar “lacunas” na
preservação da biodiversidade que precisam ser preenchidas com novas
áreas protegidas. Silva e Dinnouti, 2001, levantaram a área em unidades
de conservação de uso indireto (ou proteção integral), em cada uma das
13 ecorregiões da Mata Atlântica ou Campos Sulinos. Eles concluíram que
além da área coberta por unidades de conservação ser reduzida, ela está
mal distribuída, pois inclui apenas uma pequena parte da variabilidade
ambiental existente nos dois domínios.
Corredores de Habitat
São corredores de vegetação, ou faixas de terra protegidas,
utilizados para conectar áreas protegidas isoladas a um grande sistema,
permitindo que plantas e animais se dispersem de uma reserva para outra
garantindo o fluxo gênico entre populações isoladas aumentando assim a
variabilidade genética das populações. Estes corredores podem servir
também para a migração sazonal de espécies em busca de comida.
Embora sendo talvez a única maneira de salvar da extinção muitas
populações de espécies isoladas, por questões políticas e financeiras estes
corredores podem não sair do papel. Outro problema seria a disseminação
de espécies daninhas invasoras e exóticas e a propagação de doenças para
populações até então saudáveis. E ainda existe o risco expor os animais
que trafegariam nos corredores a maiores riscos de serem caçados ou
predados, já que caça dores e predadores tendem a concentrar-se em rota
de animais selvagens.
5- Conservação e desenvolvimento sustentável
Os esforços para preservar a biodiversidade, às vezes se chocam
com as necessidades humanas. O desenvolvimento sustentável seria
aquele desenvolvimento que satisfaz tanto as necessidades humanas de
recursos e emprego presentes e futuras, enquanto minimiza seu impacto
sobre a diversidade biológica (WCED 1987;WRI/IUCN/UNEP, 1992).
Segundo alguns economistas ambientais, desenvolvimento, que se refere
a progressos na organização sem aumento de consumo de recursos, é
nitidamente diferente de crescimento, que é o aumento da quantidade de
recursos utilizados (Costanza e Daly, 1992).
O desenvolvimento sustentável, para ser de fato sustentável, deve prover
investimento na estrutura de unidades de conservação para melhorar a
proteção da diversidade biológica, promover o desenvolvimento
financeiro e social de populações tradicionais e priorizar meios de
produção com tecnologias limpas e manejos racionais de recursos
naturais.
2- Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
“Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação.
Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;
II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral;
III - diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas;
IV - recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora;
V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais;
VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais;
VII - conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características;
VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas;
IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais;
X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais;
XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável;
XII - extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis;
XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original;
XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original;
XV - (VETADO)
XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz;
XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade;
XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade; e
XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.
CAPÍTULO II DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA – SNUC
Art. 3o O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei.
Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.
Art. 5o O SNUC será regido por diretrizes que:
I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;
V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores
ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.
Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:
I – Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema;
II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o Sistema; e
III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. (Redação dada pela Lei nº 11.516, 2007)
Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que, concebidas para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista nesta Lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara distinção.
CAPÍTULO III DAS CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas:
I - Unidades de Proteção Integral;
II - Unidades de Uso Sustentável.
§ 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.
§ 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
Art. 8o O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação:
I - Estação Ecológica;
II - Reserva Biológica;
III - Parque Nacional;
IV - Monumento Natural;
V - Refúgio de Vida Silvestre.
Art. 9o A Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas.
§ 1o A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico.
§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
§ 4o Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de:
I - medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados;
II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;
III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;
IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de um mil e quinhentos hectares.
Art. 10. A Reserva Biológica tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
§ 1o A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico.
§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.
§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e
restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
§ 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.
Art. 12. O Monumento Natural tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
§ 1o O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.
§ 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 3o A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento.
Art. 13. O Refúgio de Vida Silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.
§ 1o O Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários.
§ 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da
propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 3o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.
§ 4o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de conservação:
I - Área de Proteção Ambiental;
II - Área de Relevante Interesse Ecológico;
III - Floresta Nacional;
IV - Reserva Extrativista;
V - Reserva de Fauna;
VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
§ 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas.
§ 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental.
§ 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade.
§ 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais.
§ 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.
Art. 16. A Área de Relevante Interesse Ecológico é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.
§ 1o A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas.
§ 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.
Art. 17. A Floresta Nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
§ 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
§ 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.
§ 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
§ 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes.
§ 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.
Art. 18. A Reserva Extrativista é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
§ 1o A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.
§ 3o A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área.
§ 4o A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade,
às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento.
§ 5o O Plano de Manejo da unidade será aprovado pelo seu Conselho Deliberativo.
§ 6o São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional.
§ 7o A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
Art. 19. A Reserva de Fauna é uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.
§ 1o A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2o A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração.
§ 3o É proibido o exercício da caça amadorística ou profissional.
§ 4o A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos.
Art. 20. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
§ 1o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da
qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações.
§ 2o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 3o O uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais será regulado de acordo com o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica.
§ 4o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.
§ 5o As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável obedecerão às seguintes condições:
I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área;
II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento;
III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e
IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área.
§ 6o O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de
amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade.
Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.
§ 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis.
§ 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento:
I - a pesquisa científica;
II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;
III - (VETADO)
§ 3o Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade.
CAPÍTULO IV DA CRIAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.
§ 1o (VETADO)
§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.
§ 3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.
§ 4o Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que trata o § 2o deste artigo.
§ 5o As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.
§ 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.
§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica.
Art. 22-A. O Poder Público poderá, ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento e obras públicas licenciadas, na forma da lei, decretar limitações administrativas provisórias ao exercício de atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, para a realização de estudos com vistas na criação de Unidade de Conservação, quando, a critério do órgão ambiental competente, houver risco de dano grave aos recursos naturais ali existentes. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005) (Vide Decreto de 2 de janeiro de 2005)
§ 1o Sem prejuízo da restrição e observada a ressalva constante do caput, na área submetida a limitações administrativas, não serão permitidas atividades que importem em exploração a corte raso da floresta e demais formas de vegetação nativa. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005)
§ 2o A destinação final da área submetida ao disposto neste artigo será definida no prazo de 7 (sete) meses, improrrogáveis, findo o qual fica extinta a limitação administrativa. (Incluído pela Lei nº 11.132, de 2005)
Art. 23. A posse e o uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais nas Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável serão regulados por contrato, conforme se dispuser no regulamento desta Lei.
§ 1o As populações de que trata este artigo obrigam-se a participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção da unidade de conservação.
§ 2o O uso dos recursos naturais pelas populações de que trata este artigo obedecerá às seguintes normas:
I - proibição do uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de práticas que danifiquem os seus habitats;
II - proibição de práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos ecossistemas;
III - demais normas estabelecidas na legislação, no Plano de Manejo da unidade de conservação e no contrato de concessão de direito real de uso.
Art. 24. O subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação.
Art. 25. As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos.
§ 1o O órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação.
§ 2o Os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1o poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente.
Art. 26. Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.
Parágrafo único. O regulamento desta Lei disporá sobre a forma de gestão integrada do conjunto das unidades.
Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo.
§ 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
§ 2o Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente.
§ 3o O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação.
§ 4o § 4o O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais categorias de unidade de conservação, observadas as informações contidas na decisão técnica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio sobre:
I - o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;
II - as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado;
III - o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e parentes silvestres; e
IV - situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade. (Redação dada pela Lei nº 11.460, de 2007)
Art. 28. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.
Parágrafo único. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais.
Art. 29. Cada unidade de conservação do grupo de Proteção Integral disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e, na hipótese prevista no § 2o do art. 42, das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.
Art. 30. As unidades de conservação podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão.
Art. 31. É proibida a introdução nas unidades de conservação de espécies não autóctones.
§ 1o Excetuam-se do disposto neste artigo as Áreas de Proteção Ambiental, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, bem como os animais e plantas necessários à administração e às atividades das demais categorias de unidades de conservação, de acordo com o que se dispuser em regulamento e no Plano de Manejo da unidade.
§ 2o Nas áreas particulares localizadas em Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais podem ser criados animais domésticos e cultivadas plantas considerados compatíveis com as finalidades da unidade, de acordo com o que dispuser o seu Plano de Manejo.
Art. 32. Os órgãos executores articular-se-ão com a comunidade científica com o propósito de incentivar o desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e a ecologia das unidades de conservação e sobre formas de uso sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das populações tradicionais.
§ 1o As pesquisas científicas nas unidades de conservação não podem colocar em risco a sobrevivência das espécies integrantes dos ecossistemas protegidos.
§ 2o A realização de pesquisas científicas nas unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, depende de aprovação prévia e está sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração.
§ 3o Os órgãos competentes podem transferir para as instituições de pesquisa nacionais, mediante acordo, a atribuição de aprovar a realização de pesquisas científicas e de credenciar pesquisadores para trabalharem nas unidades de conservação.
Art. 33. A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento.
Art. 34. Os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas físicas que desejarem colaborar com a sua conservação.
Parágrafo único. A administração dos recursos obtidos cabe ao órgão gestor da unidade, e estes serão utilizados exclusivamente na sua implantação, gestão e manutenção.
Art. 35. Os recursos obtidos pelas unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral mediante a cobrança de taxa de visitação e outras rendas decorrentes de arrecadação, serviços e atividades da própria unidade serão aplicados de acordo com os seguintes critérios:
I - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na implementação, manutenção e gestão da própria unidade;
II - até cinqüenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na regularização fundiária das unidades de conservação do Grupo;
III - até cinqüenta por cento, e não menos que quinze por cento, na implementação, manutenção e gestão de outras unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral.
Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei.
§ 1o O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento.
§ 2o Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação.
§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo.
CAPÍTULO V DOS INCENTIVOS, ISENÇÕES E PENALIDADES
Art. 37. (VETADO)
Art. 38. A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos ou resultem em dano à flora, à fauna e aos demais atributos naturais das unidades de conservação, bem como às suas instalações e às zonas de amortecimento e corredores ecológicos, sujeitam os infratores às sanções previstas em lei.
Art. 39. Dê-se ao art. 40 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a seguinte redação:
"Art. 40. (VETADO)
"§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre." (NR)
"§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (NR)
"§ 3o ...................................................................."
Art. 40. Acrescente-se à Lei no 9.605, de 1998, o seguinte art. 40-A:
"Art. 40-A. (VETADO)
"§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural." (AC)
"§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena." (AC)
"§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade." (AC)
CAPÍTULO VI DAS RESERVAS DA BIOSFERA
Art. 41. A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações.
§ 1o A Reserva da Biosfera é constituída por:
I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e
III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis.
§ 2o A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado.
§ 3o A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria específica.
§ 4o A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade.
§ 5o A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e a Biosfera – MAB", estabelecido pela Unesco, organização da qual o Brasil é membro.
CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes.
§ 1o O Poder Público, por meio do órgão competente, priorizará o reassentamento das populações tradicionais a serem realocadas.
§ 2o Até que seja possível efetuar o reassentamento de que trata este artigo, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das populações tradicionais residentes com os objetivos da unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de
subsistência e dos locais de moradia destas populações, assegurando-se a sua participação na elaboração das referidas normas e ações.
§ 3o Na hipótese prevista no § 2o, as normas regulando o prazo de permanência e suas condições serão estabelecidas em regulamento.
Art. 43. O Poder Público fará o levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo de definir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco anos após a publicação desta Lei.
Art. 44. As ilhas oceânicas e costeiras destinam-se prioritariamente à proteção da natureza e sua destinação para fins diversos deve ser precedida de autorização do órgão ambiental competente.
Parágrafo único. Estão dispensados da autorização citada no caput os órgãos que se utilizam das citadas ilhas por força de dispositivos legais ou quando decorrente de compromissos legais assumidos.
Art. 45. Excluem-se das indenizações referentes à regularização fundiária das unidades de conservação, derivadas ou não de desapropriação:
I - (VETADO)
II - (VETADO)
III - as espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Público;
IV - expectativas de ganhos e lucro cessante;
V - o resultado de cálculo efetuado mediante a operação de juros compostos;
VI - as áreas que não tenham prova de domínio inequívoco e anterior à criação da unidade.
Art. 46. A instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infra-estrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais.
Parágrafo único. Esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não indenizadas.
Art. 47. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou que faça uso de recursos hídricos, beneficiário da proteção proporcionada por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.
Art. 48. O órgão ou empresa, público ou privado, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica, beneficiário da proteção oferecida por uma unidade de conservação, deve contribuir financeiramente para a proteção e implementação da unidade, de acordo com o disposto em regulamentação específica.
Art. 49. A área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral é considerada zona rural, para os efeitos legais.
Parágrafo único. A zona de amortecimento das unidades de conservação de que trata este artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.
Art. 50. O Ministério do Meio Ambiente organizará e manterá um Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, com a colaboração do Ibama e dos órgãos estaduais e municipais competentes.
§ 1o O Cadastro a que se refere este artigo conterá os dados principais de cada unidade de conservação, incluindo, dentre outras características relevantes, informações sobre espécies ameaçadas de extinção, situação fundiária, recursos hídricos, clima, solos e aspectos socioculturais e antropológicos.
§ 2o O Ministério do Meio Ambiente divulgará e colocará à disposição do público interessado os dados constantes do Cadastro.
Art. 51. O Poder Executivo Federal submeterá à apreciação do Congresso Nacional, a cada dois anos, um relatório de avaliação global da situação das unidades de conservação federais do País.
Art. 52. Os mapas e cartas oficiais devem indicar as áreas que compõem o SNUC.
Art. 53. O Ibama elaborará e divulgará periodicamente uma relação revista e atualizada das espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção no território brasileiro.
Parágrafo único. O Ibama incentivará os competentes órgãos estaduais e municipais a elaborarem relações equivalentes abrangendo suas respectivas áreas de jurisdição.
Art. 54. O Ibama, excepcionalmente, pode permitir a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinadas a programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas, de acordo com o disposto nesta Lei e em regulamentação específica.
Art. 55. As unidades de conservação e áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores e que não pertençam às categorias previstas nesta Lei serão reavaliadas, no todo ou em parte, no prazo de até dois anos, com o objetivo de definir sua destinação com base na categoria e função para as quais foram criadas, conforme o disposto no regulamento desta Lei.
Art. 56. (VETADO)
Art. 57. Os órgãos federais responsáveis pela execução das políticas ambiental e indigenista deverão instituir grupos de trabalho para, no prazo de cento e oitenta dias a partir da vigência desta Lei, propor as diretrizes a serem adotadas com vistas à regularização das eventuais superposições entre áreas indígenas e unidades de conservação.
Parágrafo único. No ato de criação dos grupos de trabalho serão fixados os participantes, bem como a estratégia de ação e a abrangência dos trabalhos, garantida a participação das comunidades envolvidas.
Art. 57-A. O Poder Executivo estabelecerá os limites para o plantio de organismos geneticamente modificados nas áreas que circundam as unidades de conservação até que seja fixada sua zona de amortecimento e aprovado o seu respectivo Plano de Manejo.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica às Áreas de Proteção Ambiental e Reservas de Particulares do Patrimônio Nacional. (Redação dada pela Lei nº 11.460, de 2007)
Art. 58. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que for necessário à sua aplicação, no prazo de cento e oitenta dias a partir da data de sua publicação.
Art. 59. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 60. Revogam-se os arts. 5o e 6o da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965; o art. 5o da Lei no 5.197, de 3 de janeiro de 1967; e o art. 18 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.
Brasília, 18 de julho de 2000.”
3- Biomas Continentais Brasileiros
Introdução:
Os biomas são as maiores unidades ambientais. Eles são paisagens
de fauna e de flora específicas cuja variedade e diversidade resultaram de
climas e de diferentes histórias geológicas.
A Biodiversidade Brasileira:
O Brasil é um subcontinente rico em ambientes muito diversos, que
abrigam uma biodiversidade que representa entre 15% e 20% das espécies
vegetais, animais e de microorganismos do mundo.
O Conceito de Bioma:
O termo fitofisionomia foi proposto praticamente ao mesmo tempo
em foi proposto o termo formação. O termo bioma, proposto mais tarde,
apenas adicionou a fauna à uniformidade fitofisionômica e climática,
características desta unidade biológica.
Várias modificações conceituais foram apresentadas por diversos
autores, ao longo do tempo, acrescentando outros fatores ambientais ao
conceito original, como o solo, por exemplo. Walter propôs um conceito
essencialmente ecológico, considerando bioma como uma área de ambiente
uniforme, pertencente a um zonobioma, o qual é definido de acordo com a
zona climática em que se encontra. Este conceito considera ainda outros
fatores ambientais ecologicamente importantes, como altitude e solo,
distinguindo, então, orobiomas e pedobiomas.
Outro fator a ser considerado seria o fogo natural (pirobiomas).
Bioma e domínio morfoclimático e fitogeográfico não são sinônimos, uma
vez que este último não apresenta necessariamente um ambiente uniforme.
Bioma Amazônia:
Historia Geológica do Rio Amazonas
Desde o inicio do Paleozóico, a bacia do Amazonas estava encravada
entre os dois escudos pré-cambrianos, o Escudo do Brasil e o Escudo das
Guianas. Mesmo assim o Rio Amazonas na sua forma presente é muito
jovem, tem possivelmente menos de 3 milhões de anos.
Até a época recente, a bacia do Amazonas encontrava-se sempre
dividida em pelo menos três bacias independentes: o alto, o médio e o
baixo Amazonas. No Devoniano e no Carbonífero o mar penetrou até a
altura do atual Rio Juruá. A formação carbonífera Juruá acompanha hoje o
médio Amazonas em duas bandas estreitas. Esta formação representa as
terras mais ricas em nutrientes do Amazonas, além de ser repleta de
depósitos de gás e de minerais ferrosos. No fim do Carbonífero elevou-se a
barreira Gurupá, na altura do Rio Xingu, que separou a bacia do baixo
Amazonas do resto das bacias. Enquanto esta barreira e a barreira do Purus
o médio amazonas tornou-se uma bacia freqüentemente fechada, no oeste,
na região do alto Amazonas formou-se a grande bacia do Acre, que
desaguava no Pacífico. Na bacia central existia um grande lago chamado
“Lago de Belterra”. Desde o Mioceno, com a elevação dos Andes, o
contato com o Pacífico foi se restringindo e uma abertura para o recém
formado Oceano Atlântico foi estabelecendo, de modo que o Lago Belterra
foi pouco a pouco drenado. Acredita-se que a rede fluvial na sua forma
presente originou-se no Plioceno, cerca de 3 milhões de anos atrás,
especialmente sob a influencia dos níveis muito baixos do mar, que
levaram os rios a uma grande atividade erosiva.
O Rio Amazonas atual, com mais de 3.500km de comprimento,
atravessa a antiga bacia rasa e conseqüentemente a diferença de altitude no
percurso do rio é de somente 0,5 centímetros por quilômetro. Durante as
repetidas épocas inter-glaciais, o nível do mar subia de 4 a 5 metros, um
longo e estreito golfo do mar penetrava até a altura de Manaus, com
ramificações nos grandes tributários. Durante as épocas glaciais ao
contrário, quando o nível do mar caía até 150 metros abaixo do nível atual.
Os grandes rios como o Amazonas, e tributários como o Rio Negro
cavavam leitos que até hoje têm mais de 100 metros de profundidade. Hoje
em dia, em certas condições, a onda da maré atlântica, chamada de
Pororoca, pode chegar a uma distancia de até 800 quilômetros do mar.
As águas da bacia do Amazonas apresentam características das suas
origens geológicas. Os rios procedentes do Escudo das Guianas são em sua
maioria rios de águas pretas. Estes rios tais como o Rio Negro, têm uma
carga mínima de nutrientes, uma acidez bastante alta e uma coloração
marrom, devido aos ácidos húmicos. Os rios que drenam o Escudo
Brasileiro, tais como o Rio Tocantins, o Rio Xingu e outros são chamados
de rios de águas claras. Eles são também pobres em nutrientes,
provenientes das antigas terras pré-cambrianas lixiviadas, mas não têm a
cor marrom, finalmente o Rio Solimões, o Rio Amazonas abaixo de
Manaus e o Rio Madeira, são rios de águas brancas. A grande massa de
águas do Rio Amazonas vem das terras altas neozóicas andinas e são ricas
em nutrientes e sedimentos, que lhe proporcionam uma coloração turva. A
transparência dos três tipos de águas são as seguintes: águas brancas,
visibilidade de 0,5 a 1,5m; águas pretas, visibilidade de 1,3 a 2,3m; águas
claras de 1,1 a 4,3m. Acrescentamos ainda que por sua coloração escura, a
água dos rios pretos é até 2°C mais quente que a dos outros tipos de água.
A história geológica da Mata Amazônica data do Eoceno. Durante
as épocas glaciais, muito mais secas e com temperaturas médias anuais de
até 5ºC mais baixas, a floresta de hoje se encontrava invadida pelo cerrado,
enquanto a flora montanhosa, por exemplo, o pinheiro Podocarpus, se
espalha temporariamente pelas planícies da bacia. Durante o Pleistoceno, a
floresta Amazônica permaneceu fechada, sendo que provavelmente não se
chegou a mais de quatro meses sem chuva, o limite para a existência de
uma mata pluvial. O atual regime climático definiu-se em torno de 7.000
anos atrás. Com a subida do nível do mar, as várzeas e os igapós se
estabeleceram na sua extensão presente, em torno de 7.700 anos atrás.
Limites e Parâmetros
A mata pluvial amazônica é uma mata de planície, seu limite de altitude
estando em geral situado a 200 metros. Além desta altitude a mata pluvial
se transforma numa mata de sopé, a mata subandina do Peru e da Bolívia. É
preciso assinalar que este tipo de mata pluvial é às vezes, mais rica em
espécies que a da planície.
Os limites de temperatura ocorrem entre as isotermas de médias
anuais de 24 a 27ºC e os limites da pluviosidade anual estão entre as
isoietas de 1.800 a 3.500 mm, mesmo que taxas de pluviosidade de até
10.000 mm anuais não sejam raras. Não existe sazonalidade em termos de
temperaturas e não existem também meses com menos de 100 mm de
chuva. Na medida em que estes limites são ultrapassados no sul e no
noroeste da mata Amazônica, o clima fica mais sazonal e ocorre uma
transição gradual para um tipo de mata Amazônica semi-decídua ou um
cerrado.
Tendo em vista estas delimitações, a mata fluvial de planície
propriamente dita cobre uma área aproximada de 6 milhões de quilômetros
quadrados.
Acredita-se que até 40% das chuvas que caem na Amazônia são
provenientes da condensação dos vapores de água produzidos pela própria
floresta. Os rios da bacia carregam, entretanto, águas provenientes de
outras regiões climáticas com alternância de estações chuvosas e secas.
Predominam na bacia Amazônica brasileira os rios que vêm do hemisfério
sul, sendo que os rios que nascem ao norte do equador têm uma influencia
muito menor. Portanto durante as chuvas do verão meridional, as águas do
Rio Amazonas e de muitos tributários podem crescer até 15 metros. Esta
imensa onda de inundação estacional imprime um ritmo decisivo sobre a
biota nas várzeas e nos igapós. A própria dinâmica destas inundações
podem causar durante os anos deficientes em chuvas do El Niño, flutuações
ecológicas importantes na Amazônia.
É evidente que neste grande território são encontrados diferentes
tipos de solo, determinando uma variedade de expressão da mata pluvial.
A mata Amazônica é quase sempre uma mata fechada com copas de
arvores ultrapassando os 20 m de altura. Portanto, podemos acrescentar
outros parâmetros microclimáticos específicos com efeitos ecológicos
importantes. Em baixo do dossel não existe movimento de vento e a
umidade alcança normalmente 100%. A luminosidade no chão escurecido
da floresta pode estar bem abaixo dos 2% da luz do dia. No que diz respeito
a estes três parâmetros, a mata pluvial atlântica apresenta condições bem
menos extremas.
Matas alagadas
Extensas áreas da floresta amazônica são alagadas pelas enchentes
do Rio Amazonas e de seus afluentes. A duração média destas enchentes é
de seis meses e o nível da água ultrapassa os 10 m. Este é um dos
fenômenos característicos unicamente da Amazônia. A área que sofre estas
inundações acompanha o Rio Amazonas e os trechos baixos dos seus
tributários, numa faixa de 20 a 100 quilômetros de largura. Esta floresta
periodicamente inundada se chama várzea, quando de trata de áreas de
águas brancas e de deposição de sedimentos ricos em nutrientes. Os
chamados igapós encontram-se em áreas com águas pretas ou claras, com
substratos lixiviados pobres em nutrientes ou sujeitos a erosão. A várzea é
claramente localizada nas margens do Rio Solimões e do Rio Amazonas.
Os igapós clássicos acompanham o baixo Rio Negro, mas algumas áreas de
inundação que acompanham alguns rios de águas claras, como o baixo Rio
Xingu e também os igarapés, canais de ramificação do delta do Rio
Amazonas, são considerados como ambientes de igapó. As florestas do tipo
igapó podem ser encontradas em áreas que são permanentemente alagadas,
enquanto o ritmo das cheias e das vazantes é muito mais claro nas várzeas.
A vegetação da várzea é muito mais rica que a vegetação dos igapós
de água preta, por causa da fertilidade das águas brancas e dos solos
aluvionais por elas trazidos.
Um dos aspectos mais interessantes na ecologia das matas de
inundação é a dependência da vegetação arbórea em relação à fauna de
peixes para a dispersão das frutas e das sementes. Neste caso os peixes
comprem a função das aves e dos mamíferos na dispersão de sementes em
outras formações vegetais, na Amazônia vivem em torno de 1.500 espécies
de peixes.
A fauna de vertebrados superiores terrestres das florestas é pobre em
espécies e predominam animais com adaptações anfíbias.
As águas das florestas alagadas são ricas em répteis aquáticos. As
tartarugas são importantes herbívoros da vegetação aquática e os jacarés,
predadores, são considerados importantes reguladores ecossistêmicos nas
várzeas. Não podemos deixar de falar na serpente sucuri, Eunectes
murinus, que pode chegar a 9 m de comprimento.
A floresta de terra firme
História Geológica Recente
A maioria da floresta amazônica é constituída de uma “floresta de terra
firme”. Esta é uma floresta que nunca é alagada e se espalha por uma
grande planície de 130 até 200 m de altitude nos sopés das montanhas. A
grande planície corresponde aos sedimentos deixados pelo grande lago
“Belterra” ocupou uma grande parte da bacia Amazônica durante o
Mioceno e o Plioceno, entre 25 e 03 milhões de anos atrás, o silte e as
argilas depositados neste antigo lago foram submetidos a um leve
movimento de inclinação epeirogônico, enquanto os Andes se ergueram e
os rios modernos começaram a cavar seus leitos.
As flutuações climáticas do Pleistoceno se manifestaram numa
secessão repetida de climas, “frio-seco” e “quente-úmido” ou “quente-
seco”. A ultima fase “frio-seco” data de 18.000 a 12.000 anos atrás, quando
o clima de uma parte da Amazônia era semi-árido. Em seguida houve o
retorno do clima quente-úmido que chega ao máximo em torno de 7.000
anos atrás, no Holoceno.
O Ciclo da Matéria Vegetal
Nos solos pobres da mata de terra firme, a reciclagem da abundante matéria
vegetal é feita através de um circuito curto. Os minerais resultantes da
decomposição não se acumulam no solo, como ocorre nas matas das
regiões temporadas. Eles são recapturados pelas densas redes de fungos, as
chamadas micorrizas, e devolvidos as raízes das arvores. Este fenômeno
simbiótico entre as micorrizas e as arvores é o principal ele ecológico que
possibilita a existência da rica mata de terra firme. Embaixo da
serrapilheira e das colônias de micorrizas, o solo da floresta é
extremamente oligotrófico, e às vezes contém até taxas nocivas de
alumínio.
Vertebrados terrestres
Especialmente rica é a fauna de anuros, que possuem interessantes
adaptações reprodutivas, como o Colosthetus, que desova no chão e os
girinos são levados para os igarapés pelos pais. Os Leptodactylus
constroem ninhos de espuma para os girinos.
A fauna de lagartos é caracterizada por várias espécies de Anolis.
Destacam-se também as lagartixas Gekkonidae.
A mata Amazônica é a terra dos grandes mutuns (Gracidae) de
muitos inhambus (Tinamidae) de tucanos e araçaris (Ramphastidae) de
araras e papagaios (Psittacidae) pica-paus (Picidae) e de muitos
passeriformes.
Entre os mamíferos, os roedores aparecem em maio número,
seguidos por marsupiais dos gêneros Marmosa, Caluromys, etc. A fauna de
primatas também é bastante variada.
Bioma Cerrado:
Localização
Os cerrados cobriam cerca de 22 milhões de quilômetros quadrados,
ocupando em torno de 22% do território brasileiro. A área central dos
cerrados se encontra no planalto central brasileiro e áreas vizinhas.
O clima
Como ocorre com todas as savanas, nas regiões do cerrado há uma
estação seca pronunciada. No Planalto Central Brasileiro, a estação seca vai
do início de junho ao final de outubro e a pluviosidade é cerca de 1400 mm
por ano. Em certas áreas do cerrado no planalto brasileiro, ocorrem geadas
durante o inverno seco. O limite cerrado - caatinga no nordeste encontra-se
nos valores de pluviosidade anual de menos de 800 mm por ano.
A insolação no cerrado é muito alta sem uma cobertura vegetal
contínua, e as temperaturas podem oscilar até 45ºC em 24 horas.
Condições extremas que combinam uma temperatura maior que 30ºC
e uma umidade atmosférica abaixo de 20% podem ocorrer. Nestas
condições o cerrado é freqüentemente atingido pelo fogo.
Vegetação xerofítica
Para sobreviver à falta estacional de água, sejam elas ervas, escrubes
(arbustos, bromeliáceas, cactáceas, etc.) ou árvores, têm características
xeromórficas. Em outras palavras, são adaptadas a escassez de água e
apresentam formas que refletem esta adaptação. As árvores e arbustos
possuem freqüentemente caules e ramos tortuosos, troncos com cascas
grossas, muitas vezes com vestígios de carvão deixados pelas queimadas.
Varias árvores têm um tipo de tronco subterrâneo, uma estrutura lenhosa
inchada que rebrota na época das chuvas, chamadas de xilopódio. As raízes
lenhosas de um pé de mata-barata, Andira laurifólia, cobrem uma área com
diâmetro de 10 m.
As folhas geralmente são grossas, duras, coriáceas e ásperas ao tato.
As árvores são total ou parcialmente decíduas: perdem as folhas na estação
seca. Em busca de água, as raízes das plantas podem chegar a 20 m
profundidade. Provavelmente as raízes das plantas do cerrado levam anos
para alcançar um lençol freático profundo. Durante este tempo necessitam
de estruturas xerofíticas para superar a escassez de água. Entretanto os
cerrados ocupam muitas vezes solos rasos. Quase sempre há nos cerrados
uma vegetação rasteira de capins e outras plantas herbáceas, alem de
escrube baixo, interrompida por trechos irregulares de solo nu.
Sucessão ecológica
Existe toda uma transição entre cerrados muito abertos, campestres e
cerrados densos, predominantemente arbóreos, que constituem verdadeiras
florestas. Estes são comumente chamados de cerradões. Os ecossistemas do
cerrado são um complexo heterogêneo de vegetação xerofítica, que migrou
de acordo com as flutuações do clima no Quaternário. Os cerrados são
comumente classificados segundo seu aspecto, nas categorias de campo
limpo, campo sujo, campo cerrado, cerrado propriamente dito e cerradão.
Eles apresentam um gradiente, do cerrado que apresenta uma ou outra
árvore, até o cerradão, que é um tipo de floresta.
As veredas
Em áreas baixas a alternância entre a estação seca e a estação úmida
pode ser extrema. As chamadas veredas chegam a ser submersas
temporariamente durante o verão para depois serem submetidas durante i
inverno a condições áridas, muitas vezes estremas. As veredas encontram-
se em varias regiões do cerrado, sendo as palmeiras buriti (Mauritia
flexuosa) e buritirana (Mauritiella aculeata). Os ambientes de vereda
constituem um ambiente úmido onde as áreas alagadas predominam e o
próprio cerrado aparece como um arquipélago dentro dos pântanos. As
veredas são ilhas de maior densidade e diversidade animal dentro dos
cerrados.
Os solos
Os solos do cerrado freqüentemente são profundos, do tipo latossolos
vermelhos ou amarelos, mas às vezes são litossolos rasos. São solos pobres
em sais minerais, com um pH baixo e alto teor de alumínio. Os solos dos
cerradões são mais ricos em cálcio e magnésio, com valores de pH mais
altos. por isso se considera que a falta de nutrientes e até a ação fisiológica
do alumínio livre sejam responsáveis pelo baixo porte e outras
características da vegetação do cerrado.
Vegetação
Considera-se que o cerrado contém cerca de 10.000 espécies de
plantas superiores. Entre elas, 4.400 (44%) são endêmicas. Uma das causas
desta altíssima taxa de endemismo é provavelmente a evolução de espécies
adaptadas especialmente as condições do solo distrófico, rico em alumínio.
Entre as muitas árvores do cerrado estão o pau santo (Kielmeyera
coriacea), o pau de tucano (Salvertia convallariaeodora), o faveiro ou
sucupira branca (Pterodon pubescens), os paus terra (qualea spp). As
árvores do cerrado geralmente não apresentam epífitas. Entre as plantas de
menos porte e arbustos estão os gravatás (bromeliáceas) e canelas de emas
(velloziaceae). A vegetação herbácea está sempre presente e constitui-se
principalmente de gramíneas.
As queimadas
O fogo muitas vezes é um fator ecológico natural. Raios e vulcões
sempre provocaram fogo natural na vegetação. No fim do Cretáceo quando
o teor de oxigênio na atmosfera era mais de 50% maior do que é hoje,
queimadas catastróficas eram muito mais freqüentes e alcançavam
dimensões globais. Considera-se que um galho de árvore de 1 cm de
diâmetro que contem menos de 15% de umidade é vulnerável e inflamável
numa queimada. As plantas ali existentes sofrem, em média a cada 3 anos,
os efeitos da presença do fogo. As árvores são protegidas do fogo
principalmente pela casca grossa. Algumas espécies chamadas de pirófitas,
tais como a Bowdichia nítida mostram uma resistência grande contra
incêndios.
Formigas e cupins
Os cerrados são savanas de cupins, muito mais típicas que as savanas
africanas. Na quase ausência dos grandes mamíferos herbívoros, a
reciclagem da produção vegetal é feita principalmente pelas formigas e
cupins. Uma grande parte da fauna dos cerrados alimenta-se destes insetos;
além disso os cupinzeiros fornecem um ambiente especifico para muitos
animais.
Entre os insetos, as formigas saúvas (Atta spp) têm uma grande
importância nos cerrados: elas cortam as folhas das plantas e mobilizam
grande quantidade de terra na construção seus ninhos. Dentro dos ninhos o
material vegetal serve para o cultivo de fungos, dos quais as formigas se
alimentam. Os restos de vegetais e de fungos, bem como toda a sorte de
detritos, permanecem dentro dos ninhos. Esta matéria orgânica decompõe-
se em nutrientes minerais que são reabsorvidos e reaproveitados pelas
raízes das plantas.
Os cupins, com seus ninhos de barro podem ser encontrados, podem
ser encontrados em qualquer lugar, seja construindo elevações sobre a
superfície do solo, seja como uma estrutura semi-esférica sobre os troncos
e galhos das arvores. Os cupins são muito importantes na reciclagem do
rico material lenhoso dos cerrados.
Fauna de vertebrados
A fauna dos cerrados é variada, mas, a sua biomassa e o numero de
espécies são relativamente baixos, em comparação com a fauna da floresta
úmida. Cerca de 85% dos mamíferos do cerrado têm menos de 5
quilogramas.
Entre os répteis destacam-se as cascavéis (Crotalus spp), o calango
verde (Ameiva ária), é o lagarto mais conspícuo das formações abertas do
Brasil. Encontra-se também a lagartixa (Gymnodactylus geckoides). O
cerrado é caracterizado pela relativa diversidade de rapteis
Amphisbaenidae (“cobras de duas cabeças ou cobras cegas”), espécies
fossoriais , cavadoras, que sobrevivem nas secas e incêndios nas suas tocas.
Varias aves importantes do cerrado andam pelo chão e voam pouco:
a siriema (Cariama cristata), a perdiz (Rhynchotus rufescens), a codorna
(Nuthura maculosa). A ema (Rhea americana) é a maior ave brasileira; não
voa mas corre muito bem. Ela é útil comendo pequenas cobras e outros
animais, mas está se tornando rada no planalto central. Nos cerrados densos
encontra-se o jacu pomba (Penelope superciliaris). A maioria das aves do
chão podem ser caracterizadas como seguidoras de fogo. Elas costumam
concentrar-se em áreas queimadas. A cor predominante entre as aves do
cerrado é um pardo marrom. Muitas aves são associadas aos cupinzeiros. O
papagaio de cara amarela (Amazona xanthops) faz ninho nos grandes
cupinzeiros terrestres. A jandaia rei (Aratinga áurea) nidifica nos
cupinzeiros construídos nas arvores. A coruja do campo ou buraquira
(Speotyto cunicularia) escava túneis na base dos cupinzeiros que lhe
servem de ninho. Várias espécies de roedores habitam o cerrado. Eles são
bastante sparsos e nem o mais comum deles, o rato de rabo peludo
(Bolomys lasiurus) forma grandes populações. Entre os mamíferos de
grande porte prevalecem as espécies que preferem formações abertas e
semi-abertas. O mais bem sucedido é a raposa (Cerdocyon thous). Também
encontramos o lobo guará (Chysocyon brachyurus) e a onça parda ou
suçuarana (Felis concolor) e ainda o grande tatu canastra (Priodontes
giganteus), o tamanduá bandeira (Myrmercophaga tridactylus). Dois
primatas vivem no cerrado, o bugio do cerrado (Allouatta caraya), muito
raro, e o saqüi de cara preta (Callithrix penicillata).
Vários autores mencionam a predominância das cores cinzentas nos
animais do cerrado como uma possível adaptação mimética aos ambientes
pós-queimada. Merece ser enfatizado também o fato de que a forma mais
comum de alimentação dos mamíferos do cerrado é a insetívora.
Bioma Mata Atlântica:
Biodiversidade
A Mata Atlântica apresenta a maior biodiversidade do mundo, são
encontradas no sul da Bahia, 250 espécies de árvores por hectare. A Mata a
mais rica flora de bromélias e orquídeas do mundo e a fauna mais rica de
anfíbios. Das mais de 1.300 espécies de arvores, 54% são endêmicas. Das
bromélias 74% são endêmicas da Mata Atlântica, da mesma forma 40% das
espécies de vertebrados são endêmicas e das 261 espécies de mamíferos
27% são endêmicas. Das 10 espécies de primatas, nove estão em perigo de
intenção.
Extensão
A Mata atlântica propriamente dita estendia-se por mais de 4000
quilômetros ou 27 graus de latitude, numa faixa relativamente estreita
desde o Rio Grande do Norte até Santa Catarina, basicamente d, ividida em
três trechos. PE-AL, nos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas é uma
floresta chamada de “brejos”, que ocupava várias serras com um clima
mais úmido. Desta floresta não sobrou quase nada. Ao sul da
desembocadura do Rio São Francisco, o trecho BA-ES ocupa o litoral sul
da Bahia até o Rio Doce. Esta é uma floresta de tabuleiro altos de 20 a 100
metros, pertencendo à formação arenosa Barreiras, de origem pliocênica.
Sendo de fácil acesso a floresta BA-ES foi muito derrubara e sobrevive em
pequenas áreas protegidas.
Depois de interrupção na altura do Cabo Frio e da foz do Rio Paraíba
do Sul, Rio de Janeiro para o Sul, o trecho RJ-SP da Mata Atlântica ocupa
uma faixa relativamente estreita nas encostas íngremes da Serra do Mar e
de outras cadeias de montanhas que acompanham o litoral atlântico. A
mata do Estado do Rio de Janeiro está limitada a Serra dos Órgãos e a Serra
da Mantiqueira, a ultima, estendendo-se para o Estado de Minas Gerais. A
Serra do Mar apresenta ainda hoje uma mata pluvial que se estende por
1000 Km, apresentando uma largura de algumas dezenas de quilômetros ao
longo dos litorais paulista, paranaense e catarinense. A extensão mais
meridional da mata encontra-se na Serra Geral (RS).
A altura das serras chega a mais de 2000m na Serra dos Órgãos e na
Serra da Mantiqueira, mas raramente excede os 1000 m na serra do Mar.
Vários maciços isolados, tais como a Serra da Juréia e várias ilhas do
litoral, apresentam também uma densa floresta pluvial. Os maiores e mais
conservados maciços da Mata Atlântica de planície encontram-se nas Ilhas
do Cardoso (SP) e de Superagui (PR).
Rumo ao interior do continente, no planalto brasileiro, a floresta
atlântica tem uma composição cada vez mais pobre em espécies, que vivem
em condições climáticas mais secas. Este é um tipo de floresta de árvores
semi-decíduas proveniente do inventario florístico da Mata Atlântica. No
sudoeste antes da influencia humana, este tipo de mata, freqüentemente
interrompida por grandes clareiras, acompanhava também os grandes rios.
O limite da Mata Atlântica no interior do sul do Brasil é difuso, difícil de
precisar e muito controvertido. Porém a mata pluvial densa e ombrófila do
litoral é a própria Mata Atlântica, centro de evolução e fonte de distribuição
do riquíssimo acervo biótico deste bioma.
História Geológica
Existem provas fósseis de que alguns gêneros de árvores da Mata Atlântica
já estavam presentes na área no Eoceno, há cerca de 50 milhões de anos
atrás, enquanto isso, a Serra do Mar se levantava, chegando as alturas
máximas da Serra da Mantiqueira somente a 4 ou 5 milhões de amos atrás.
Foi esta longa história de variação ambiental contínua que explica em parte
a grande variedade diversidade de espécies da Mata Atlântica.
No auge do clima quente e úmido nas primeiras fazes do Plioceno
existia um contato entre as matas nascentes na Amazônia e do Atlântico.
Porém este contato foi interrompido pelo resfriamento subseqüente do
clima global.
O soerguimento final da Serra do Mar correspondeu ao inicio da
glaciação Antártica. O clima do continente sul Americano tornou-se mais
seco, e foi aí que as florestas Atlânticas separaram-se da Mata Amazônica
pelo cinturão dos cerrados.
No fim do Plioceno, as áreas glaciais estenderam-se pelo globo e a
Serra do Mar passou por flutuações entre períodos glaciais e interglaciais
com uma freqüência de cerca de 100.000 anos.
No sul, a mata pluvial se retraiu, sendo parcialmente suplantadas
pelas florestas de araucária.
O clima contemporâneo quente e úmido instalou-se provavelmente
em torno de 6.500 anos atrás, quando a cobertura vegetal presente começou
a recompor-se na forma existente.
Fisionomia Florística
A fisionomia da Mata Atlântica é definida pelas principais espécies de
plantas que a compõem e apresenta variações com a altitude. A
variabilidade norte-sul não é muito grande, pelo menos quando se trata da
vegetação arbórea, apesar do fato da Mata pluvial Atlântica estender-se ao
sul até as ultimas cordilheiras litorâneas, por milhares de quilômetros.
A Mata Atlântica pluvial do Sudeste é uma floresta de montanhas,
com grande declividade e com e com melhor desenvolvimento ao nível das
neblinas quase permanentes. As árvores formam um dossel de 15 a 20
metros de altura com relativamente poucas árvores emergentes de até 40m.
A declividade permite a penetração de bastante luz no interior da floresta.
Por isso, na mata atlântica as arvores têm troncos mais grossos e menos
altos que os da floresta Amazônica, e o sub-bosque de arbustos é mais
denso. O solo aparece coberto por uma densa vegetação nas áreas de menor
declividade, mas é limpo nas encostas abruptas, devido à forte erosão. As
epífitas são mais abundantes, se comparadas com as da Amazônia,
enquanto a presença das palmeiras é menos pronunciada.
Diversidade vegetal
Os gêneros de árvores mais importantes são as leguminosas Dalbergia,
Piptadenia e Myrocarpus, as bignoniáceas, Tabebuia, Tecoma e
Jacaranda, as lauráceas Ocotea e Nectandra.
As Restingas
Nos cordões arenosos e nas dunas que separam a Mata Atlântica do Mar
desenvolveu-se uma vegetação pioneira. Mudanças freqüentes no nível do
mar impedem o desenvolvimento de uma mata fechada madura. Esta é uma
floresta baixa de arbustos e árvores contorcidas, espinhosas e xerofíticas,
misturada com brejos e lagoas. A área da restinga estende-se em áreas que
foram expostas após o ultimo afastamento do mar, há cerca de 5.000 anos
atrás. Calcula-se que menos de 3% da vegetação é típica de especifica para
a restinga. A restinga é mais rica em espécies e mais e mis parecida com a
Mata Atlântica, na medida em que os cordões distanciam-se do mar. Nas
costas mais abrigadas as restingas são separadas do mar pelo manguezal.
As restingas sempre acompanham a Mata Atlântica, mas no Rio de
Janeiro, especialmente onde existe a grande descontinuidade da mata, as
restingas têm um desenvolvimento especial.
Entre as árvores predominam as espécies de Myrtaceae, tais como a
Eugenia e a Myrcia. Xerófitas da família Euphorbiaceae.
Nas depressões entre os cordões onde o solo é mais úmido e as vezes
encharcado, encontra-se a caixeta Tabebuia cassinoides e a palmeira gerivá
Syagrus romanzoffiana.
Entra a fauna das restingas existem várias espécies endêmicas de
répteis, tais como o lagarto Liolaemus. Já entre os insetos se destaca a
borboleta-da-praia, Parides ascanius.
Herpetofauna da mata Atlântica
Entre os anfíbios, a fauna dos anuros, as pererecas e os sapos, com
304 espécies é a mais rica do mundo. O gênero mais rico em espécies é o
da perereca Hyla. Uma família de após os Brachycephalidae, vive somente
na Mata Atlântica.
Entre os répteis de mata Atlântica temos o teiú Tupinambis, o maior
lagarto brasileiro, e várias espécies endêmicas de Tropidurus e Mabuya. O
gênero Enyalius, pequeno lagarto arborícola, é especialmente rico em
espécies.
Entre as serpentes podemos destacar as endêmicas de ilhas como a
jararaca ilhoa Bothrops insularis da Ilha da Queimada Grande (SP) e as
cobras corais (Micrurus).
Nos rios vivem espécies de cágados Phrynops e nas corrediras do alto das
montanhas vive o cágado pescoço de cobra Hydromedusa maximiliani.
Aves da Mata Atlântica
A mata atlântica contém 688 espécies de aves, das quais umas 200 são
endêmicas. Somente na Serra da Mantiqueira (RJ-MG) foram registradas
mais de 300 espécies.
Bioma Caatinga:
Dimensões, Clima e definições
O bioma das caatingas abrange os estados de Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte e Paraíba. As regiões interioranas dos estados de Bahia,
Pernambuco, Alagoas e Sergipe pertencem também a este bioma.
Metade das caatingas recebe menos de 700 mm de chuva por ano, e a
sazonalidade é extrema. Entre 50 e 70% das chuvas concentram-se nos três
meses do verão. A temperatura é quente e bastante estável nas caatingas,
oscilando entre 26 e 28ºC. Temperaturas muito altas em torno de 40ºC
ocorrem ocasionalmente em áreas restritas, tais como o baixo rio São
Francisco. A temperatura pode baixar 4ºC, porem isso só ocorre nos
relevos mais altos.
Uma faixa de vegetação transicional chamada de “agreste” se
interpõe entre a Mata Atlântica litoral e o interior seco, o “sertão”. Além
disso existem, espalhados mela área, vários locais mais úmidos, tais como
na caatinga de Pernambuco, chamados de “brejos”. Existem também varias
áreas elevadas, chamadas de “chapadas” e “ilhas de morros” cobertos por
uma vegetação do tipo cerrado. A mais elevada destas chapadas é o Pico de
Jabre (PB), que chega até 1.099 m de altitude. Algumas são muito extensas
como a chapada do Araripe e o Maciço de Borborema.
Os fitossociólogos subdividem a área em vários tipos de caatinga.
Tais como:
1- Floresta de caatinga.
2- Floresta de caatinga media.
3- Floresta de caatinga baixa.
4- Caatinga arbustiva baixa.
Existem vários subtipos e varias outras categorias. A discussão em
torno deste assunto é indicativa da complexidade deste bioma. As
florestas de brejos e o cerrado das chapadas fazem a feição de
mosaico das caatingas serem ainda mais evidente.
As águas da caatinga
Por causa do clima semi-árido, a maioria dos cursos de água é
intermitente e secam por um período de sete a nove meses no ano.
Quando a chuva chega, muitos se tornam torrentes de vida curta que
podem mesmo ser catastróficos. Existem, porém, indícios que
durantes fases mais úmidas do Quaternário, muitos destes rios
intermitentes tiveram um fluxo permanente e continuo. Na situação
de hoje os rios temporários são povoados por insetos aquáticos de
desenvolvimento rápido, por moluscos e especialmente por pequenos
peixes guarás ornamentais da família dos Rivulidae. Levantamentos
recentes acharam nas caatingas 12 espécies do gênero
Simpsonichthys, 11 de Cynolebias e uma espécie de Rivulus. Estes
peixes colocam na lama ovos resistentes a seca, que eclodem depois
rapidamente quando chegam as chuvas. Eles podem desenvolver-se
em poucas semanas a partir de ovos que podem ficar vários anos na
lama seca dos açudes e das poças de água.
O Rio São Francisco é um grande e longo rio com 2.700
quilômetros de comprimento, o terceiro maior rio do Brasil. Ele é um
rio alóctone, que é alimentado por nascentes situadas fora da área de
clima árido. Atualmente o São Francisco está desaguando no Oceano
Atlântico, porém existem indícios que durante as fases mais secas do
Pleistoceno acabava-se na caatinga, tornando-se temporariamente um
rio endorréico.
O Rio São Francisco possui uma rica fauna de peixes, com 116
espécies. Como em outros rios da América do Sul, a família
predominante é a Characinidae. Calcula-se que a taxa de
endemismos entre os peixes do São Francisco seja em torno de 50%.
As dunas que acompanham o São Francisco ambientes
ecologicamente importantes, principalmente no que diz respeito a
herpetofauna.
História Geológica
As caatingas têm uma história bastante antiga, sendo originaria
do Mioceno seco, há 12 ou 14 milhões de anos atrás. Naquele tempo
a área da caatinga se encontrava coberta por sedimentos deixados
pela grande transgressão Cretácica. Com a aridização progressiva
iniciou-se um processo de pediplanação pela ação erosiva dos rios
torrenciais, que acabaram por levar para o mar a maioria destas
camadas Cretácicas, desnudando a velha rocha-mãe Pré-Cambriana.
As chapadas que hoje se sobressaem no relevo das caatingas são
formações residuais desta cobertura mesozóica.
Conseqüentemente as caatingas são um complexo de terras
interplanálticas e inter-montanhosas caracterizadas por solos rasos,
pedregosos, e freqüentemente por lajedos cristalinos.
A flora
A vegetação predominante da caatinga é xerofítica e decídua,
plenamente adaptada à escassez periódica de água. Os arbustos e
escrubres, na maioria deles sem folhagem durante a maior parte do
ano, chegam somente a uma média de 4 m de altura. As famílias
predominantes são Cactaceae, Bromeliaceae, Euphorbiaceae, e a
Leguminosae.
As espécies mais comuns são os cactos, o mandacaru Cereus
jamacaru. Considerado com a espécie mais típica das caatingas,
assim como o xique-xique Pilosocereus gounellei, e as diferentes
espécies de coroa de frade Melocactus e a palma de espinhos
Opuntia. Muitos cactáceas são endêmicas. Uma das mais típicas
bromélias da caatinga é a macambira Bilbergia fosteriana. Todas
esta xerófitas mantêm suas partes vegetativas durante a estação seca.
Poucos arbustos tal como o juazeiro Ziziphus joazeiro, o icô
Capparis yco e o umbuzeiro Spondias tuberosa também guardam as
folhas durante o inverno seco.
Entre as muitas espécies de árvores caducifólias, duas são
típicas por acumulas água nos troncos. São estas as chamadas
barrigudas , Ceiba glaziovii, e a Cavanillesia arborea com seus 30
metros de altura e um diâmetro de 3 m, é a mais alta árvore da
caatinga.
A taxa de endemismos entre as plantas superiores da caatinga chega
a 30%.
A Fauna das Caatingas
As poucas semanas de vegetação exuberante são aproveitadas por
dezenas de espécies de insetos das ordens Lepidoptera,Coleoptera,
Diptera, Hymenoptera. Outros artrópodes, especialmente vários
Arachnida e Orthoptera permanecem ativos também durante a seca.
Até agora foram identificadas nas caatingas 17 espécies de
escorpiões, entre elas 4 espécies endêmicas.
Na época seca os anfíbios procuram abrigo em microhabitats
mais protegidos da dessecação, tais como buracos no solo, o interior
de cactos e bromélias. Quando chove, milhares de indivíduos de
mais de 20 espécies se reúnem a noite em volta das águas novamente
acumuladas.
Os répteis também são mais ativos durante a estação úmida.
Durante esta época proliferam as jararacas da caatinga Bothrops
erythromelas, a cascavel Crotalus diurssus e a coral Micrurus
ibiboboca. Os batixós Tropidurus hispidus, a lagartixa de lajeiro ou
leixa Tapinurus semitaeniatus e os calangos dos gêneros Ameiva e
Cnemidophorus estão entre os lagartos mais comuns das caatingas. O
sinimbu Iguana iguana e o teiú Tupinambis merianae são os maiores
lagartos da região.
As 10 espécies de Amphisbaenidae, cobras de duas cabeças,
são também típicas cãs caatingas; quatro delas são consideradas
endêmicas.
Já foram registradas 510 espécies de aves na caatinga. A
família dos Tyrannidae, com 75 espécies, é a melhor representada.
Somente um terço das aves da caatinga são espécies típicas de
espaços abertos.
A mastofauna das caatingas é considerada uma variante do
cerrado. Encontram-se ma caatinga 10 espécies de marsupiais, a mais
freqüente sendo a cuíca Monodelphis domesticus. Nas caatingas
vivem quatro espécies de tatus. O único macaco que sobrevive nas
matas secas é o sagüi Callithrix jaccus, que se alimenta também da
goma das plantas xerofíticas. O único predador freqüente nas
caatingas é o gato do mato pequeno Leopardus tigrinus, mesmo que
algumas espécies de felinos possam ser encontradas de vez em
quando.
Preservação
A caatinga foi o bioma menos estudado e injustamente o mais
negligenciado. Porém, ele é um dos grandes biomas que se encontra
inteiramente no Brasil. Recentemente as caatingas foram
oficialmente reconhecidas como um dos três principais biomas de
florestas secas do mundo.
O perigo mais concreto e imediato é o continuo desmatamento
da vegetação nos poucos brejos úmidos dos remanescentes, porque
estes brejos são locais com fauna endêmica e servem também de
refúgios de fauna durante as estações de seca. Proteção urgente
também é necessária para algumas áreas especiais, tais como as
dunas de Xique-Xique no Rio São Francisco, que possuem uma
herpetofauna especialmente rica.
Bioma Pantanal:
O Pantanal do Mato Grosso, apresentando 136.700 Km², é a maior
área alagada do mundo. Sendo uma imensa bacia intra-continental, sua
elevação é de apenas 80 a 150 m acima do nível do mar.
Origem Geológica:
O Pantanal é um remanescente de uma lagoa intra-continental
neogênica. O grande lago funcionou desde o Cretáceo como berço de
evolução da riquíssima fauna da Bacia Amazônica. Quando o Rio Madeira
conseguiu no início do Pleistoceno, cavar seu leito repleto de cataratas e
separar a Serra Três Irmãos do Escudo Brasileiro, só então a maior parte
deste paleo-pantanal foi drenada para o mar. Sobraram somente as áreas
meridionais, fora da influencia dos afluentes amazônicos, retidas por
cadeias de rochas eruptivas mesozóicas. O Pantanal surgiu devido a um
abaixamento tectônico durante o Quaternário, e uma camada de
aproximadamente 500 m de areia e argila foi depositada na depressão,
enquanto a sua hidrologia sofreu flutuações hidrológicas extremas. A arraia
pintada, Patamotrygon, um peixe de antigo parentesco marinho, é uma
testemunha viva da complicada historia aquática do Pantanal.
Entre as matas fechadas da Amazônia e da borda atlântica de um
lado e dos Andes do outro, o Pantanal formou parte do grande corredor
terrestre através do qual se espalhou pelo continente os grandes animais da
América do Norte que no final do Plioceno, atravessaram a re ente conexão
entre os dois continentes.
Durante as fases de aridez das eras glaciais, a bacia do Pantanal
encontrava-se sem escoamento para o atlântico, tornando-se uma bacia
endorréica de lagoas salgadas.
Fluxos de água:
A drenagem deste delta inteiro pelo médio Paraguai, através da barra
estreita e rasa do Fecho dos Morros do Sul, se fez com muita dificuldade.
Porém grande quantidade e água estagnada atrás desta barragem, tornam o
Pantanal um labirinto imprevisível de águas paradas e correntes,
temporárias ou permanentes. Calcula-se que no clima atual somente 8% da
água acumulada na depressão do Pantanal chega a se escoar Rio Paraguai
Abaixo, enquanto 45 bilhões de metros cúbicos de água ficam parados
dentro da bacia. Em anos chuvosos, cerca de 78% do Pantanal encontra-se
temporariamente coberto por água.
O Pantanal está situado em uma região de clima semi-árido onde a
pluviosidade média anual de menos de 1.100 mm é ultrapassada por uma
evaporação direta e evapotranspiração através da vegetação que chega a
uma media anual de mais de 1.400 mm. As chuvas concentram-se em
poucos meses de verão e são seguidas por um longo inverno seco. O que
permite manter o aporte de águas e evitar a aridez são os rios que nascem
em áreas de clima mais úmido e alcançam o Pantanal.
O Rio Paraguai e outros rios pantaneiros têm declividade muito
pequena, da ordem de 0.7 a 6.5 cm por quilometro. As águas que se
acumulam no período chuvoso se escoam com muita lentidão, e em
conseqüência, as enchentes, que são máximas ao norte nos meses de março
e abril, chegam para o sul do Pantanal somente em julho e agosto. O
percurso das enchentes leva entre 130 e 150 dias, o que representa um
fluxo no rio de 9 a 11 cm por segundo. Para os olhos não treinados parece
que o rio está estagnado. Enquanto isso, enormes quantidades de água
perdem-se por evaporação para a atmosfera. O Pantanal pode ser
considerado a maior “janela” de evaporação de água doce do mundo.
As diferenças do nível da água entre as estações de seca e de cheias
são em media de 4 m, podendo em anos de muita cheia chegar a 6 m, mas
devido à pequena declividade podem chegar a grande maioria do pantanal.
Nestas ocasiões, os rios Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Miranda
e outros, assim como seus inúmeros afluentes, ultrapassam seus leitos. As
áreas alagadas formam uma densa rede de lagoas, baias, baixadas alagadas,
interligadas por cursos de águas perenes, os “corixos” ou as efêmeras
“vazantes”. Somente os terrenos situados de 2 a 4 metros acima dos
alagados, chamados de “cordilheiras”, além de poucos “capões” escapam a
inundação.
Quando as águas voltam ao normal, varias baías e lagoas
permanecem, enquanto as vazantes e as baixadas secam. Uma rica
vegetação de ervas espalha-se pelas baixadas, aproveitando a camada de
lodo nutritivo deixado pela inundação. O Pantanal apresenta um mosaico
de solos aluvionais hidromórficos bem lavados e de solos salinos com uma
lixiviação deficiente. Em cada ciclo de precipitação-evaporação, os sais
minerais acumulam-se, resultando numa certa salinização dos solos e das
baías.
Plantas da fase aquática:
As plantas flutuantes são os principais produtores primários nas águas do
Pantanal. A vegetação de macrófitas é abundante e variada. Entre as plantas
flutuantes encontram-se as Victoria cruziana, destacam-se também os
aguapés Eichhornia azurea e E. crassipes, Reussia subovata e R.
rotundifolia, a alface d’água, Pistia stratiotes, as espécies de “Cruz de
Malta” Ludwigia, a euforbiácea flutuante Phyllanthus, a quebra-pedra, as
pteridófitas flutuantes, a orelha de onça Salvinia auriculata, Azolla
filiculoides, Marsilea polycarpa e Ceratopteris thalictroides. Estas formam
uma cobertura densa denominada “batume”, ou verdadeiras ilhas flutuantes
chamadas de “camalote”.
Fauna aquática:
A fauna bentônica coletada em algumas lagoas é constituída por ricas
populações de vermes oligoquetos e de larvas de insetos. Nas lagoas a
diferença de tamanho, profundidade, salinidade e duração sazonal se
manifesta também numa grande variedade de microflora e da fauna.
Destacam-se as ricas populações de caramujos aruas, os cardumes de pitu e
as variadas espécies de caranguejos Trichodactylus, Dilocarcinus, entre
outros.
Uma grande variedade de peixes se alimenta da vegetação aquática e
da rica fauna bentônica de invertebrados. Dentre os peixes muitas são
espécies amazônicas com ampla distribuição. Com as cheias, estes peixes
penetram nos pântanos, ricos em matéria vegetal e lodo nutritivo, para
depois na chegada as vazante, migrarem de volta para seus rios, onde
desovam. Essas migrações são conhecidas como piracemas. Os peixes de
piracema nadam centenas de quilômetros durante esta migração sazonal.
Os pacus (Mylosoma e Piaractus) e outros caracídeos alimentam-se de
frutas de arvores e de sementes levadas pelas águas; o cascudo,
Plecostomus, é um comedor de detritos; as piranhas, Serrasalmus, são
micro-carnívoras ferozes; o pintado, Pseudoplatystoma, o dourado,
Salminus e o jaú, Paulicea, são predadores de outros peixes. Típica das
baías que secam no inverno é a pirambóia, Lepidosiren, um pequeno peixe
dipnóico, capaz também de respiração pulmonar.
A diversidade de peixes endêmicos do pantanal é baixa em
comparação com a bacia amazônica, isso se deve provavelmente à
qualidade da água sempre turva dos rios, além disso, todos os rios
pantaneiros comunicam-se entre si durante as grandes cheias, sendo
permanente a mistura de faunas.
Entre os comedores de vegetação destacam-se as capivaras,
Hydrochoerus hydrochaeris, e de búfalos, Bubalus bubalus, descendentes
ferais dos búfalos domésticos. O cágado, Platemys, é também um
vegetariano. A ariranha, Pteronura brasiliensis, importante predador
piscívoro, outrora abundante, foi quase exterminada por caçadores. Um
grande predador é o jacaré Caiman yacaré. Os jacarés têm papel importante
nas águas pantaneiras, onde funcionam como predadores reguladores da
fauna piscícola, e as vezes, agentes relevantes na ciclagem de nutrientes.
Onde à muitos jacarés tem poucas piranhas. Quando dizimados peles
coureiros, a população de piranhas aumenta em detrimento de outras
espécies de peixes, podendo até ser perigosa a humanos. Um outro
predador importante é a sucuri, Eunectes notaeus. A víbora do pantanal,
Dracaena paraguayensis, um lagarto de mais de um metro de comprimento
é um comedor de moluscos.
As aves do Pantanal:
A fauna de aves aquáticas e anfíbias do Pantanal está entre as mais
ricas do mundo. Destacam-se diversos patos e marrecos com três espécies
do gênero Dendrocygna, filtradores de pequenos animais e algas.
Pelo menos seis espécies de garças e socós (Ardeidae) formam
grandes colônias nas arvores da mata ciliar. Cada uma delas é especializada
na caça de varias presas, tais como peixes, anfíbios e pequenos répteis.
Ajaia ajaja, o lindo colhereiro cor de rosa é um filtrador especializado.
As cegonhas brasileiras como, maguari ou joão-grande (Euxenura
maguari) o tuiuiú (Jabiru mycteria) e o cabeça-seca (Mycteria americana),
alimentam-se de presas anfíbias ou procuram animais dentro no lodo.
Na época da seca, entre agosto e outubro, as grandes aves do
Pantanal se reúnem em “ninhais” para nidificar.
4- MONITORAMENTO DE FAUNA
Introdução: O Monitoramento de Fauna tem sido costumeiramente
exigido como uma das condicionantes ambientais a serem executadas pelo
Plano Básico Ambiental (PBA) no licenciamento dos grandes
empreendimentos no Brasil.
MASTOFAUNA
1-Introdução: Estão descritas atualmente no Brasil mais de 650 espécies de mamíferos, o
que representa aproximadamente 12% da mastofauna mundial. Sendo
assim, o Brasil é o país com maior número de espécies de mamíferos em
toda a região neotropical.
2-Metodologia:
2.1- Pequenos Mamíferos Terrestres O monitoramento de pequenos mamíferos terrestres pode ser feito através
do método de captura-marcação-recaptura. Sendo instalado um número
pré-determinado de armadilhas tipo live trap, (Shermans e gaiolas de
arame), dispostas duas a duas alternadamente (sherman/ gaiola), ao longo
de uma linha de transecto em cada sítio amostral, estas sendo, dispostas
distantes 20 metros umas das outras.
▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ ▪
•] [• • • • • • • •
•
20m
▪ - Shermans
• - Gaiolas
Esquema de distribuição de armadilhas tipo Live trap, instaladas em
transecto.
Quando não é possível a colocação de todas as armadilhas em um único
transecto, elas podem ser colocadas em dois transectos.
Sempre que possível, as armadilhas do tipo Sherman devem ser instaladas
no alto de árvores ou arbustos (aproximadamente 1,5 m do solo), para
maximizar as chances de captura da fauna que utiliza exclusivamente o
extrato arbóreo/arbustivo.
As armadilhas do tipo Sherman podem ser iscadas com uma mistura de
farinha (fubá e paçoca de amendoim), sardinha e banana, pode-se oferecer
também uma fruta hidratante. Já as gaiolas podem ser iscadas com abacaxi
embebido em óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scotti).
Podem ser utilizados concomitantemente ao uso das armadilhas tipo live
trap, o método de pitfall traps. Método este, empregado para captura de
espécimes da herpetofauna. Todos os indivíduos capturados devem ser
identificados a menor categoria taxonômica possível, além de coleta de
dados que inclui morfometria, peso, sexo, análise das condições
reprodutivas, estimação de faixa etária e marcação para individualização
utilizando-se de brincos metálicos numerados.
Modelo de Tabela - Esforço de captura por área e total empregado para
pequenos mamíferos terrestres, através de armadilhas tipo live trap
(Sherman e gaiolas).
Esforço amostral - pequenos mamíferos
Área de
estudo
Sitio 1
Sitio 2
...
Sherman Gaiola Dias Total
Sitio
amostral
Nº de
armadilhas
Nº de
armadilhas
Nº de
dias
(Armadilhas X Nº de dias=
esforço)
Total armadilhas/ dia
Legenda: sitio 1 ...
Modelo de Tabela - Esforço de captura por área e total empregado para
pequenos mamíferos terrestres, através de armadilhas Pitfall trap.
Esforço amostral - pequenos mamíferos
Área de
estudo Pitfall (60 L) Dia
s Total (Baldes)
Sitio 1 Coordenadas
geográficas
1 (baldes X Nº de dias=
esforço) Sítio 2 Coordenadas
geográficas
3 (baldes X Nº de dias=
esforço) ... Coordenadas
geográficas
2 (baldes X Nº de dias=
esforço) Legenda I – Sítio 1...
Modelo de Tabela - Pequenos mamíferos registrados.
NOME
POPULAR
DI
ET
A
ATIVI
DADE
STA
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HABIT
AT
TIPO
DE
REGI
STRO
LOCA
L DE
REGIS
TRO
NOME
POPULAR
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A
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TIPO
DE
REGI
STRO
LOCA
L DE
REGIS
TRO
Ordem
Família
Nome científico
Legenda: DIETA: On – onívoro; In – insetívoro; Fr – frugívoro; Gr –
graminívoro; Pe – piscívoro; Se – semente; ATIVIDADE: No – noturno;
Ma – manhã; Cr – crepuscular; HABITAT: MA – Mata Atlântica; CE –
Cerrado, AM – Floresta Amazônica; CA – Caatinga; PA – Pantanal; To –
todos; Ma – Mata (Florestal); Mg – Mata de Galeria; Cs - Campos sulinos;
Ab – área aberta; Pc – Planícies costeiras; As – Área de Serra. TIPO DE
REGISTRO: Af- armadilha fotográfica; Sh – Sherman; Ga – Gaiola; Pt –
Pitfall; ; ; LOCAL DE REGISTRO: I – Sítio amostral ... STATUS:
Categorias de ameaça segundo IUCN (2010)
2.2-Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte
Para o registro de médios e grandes mamíferos prioriza-se a utilização de
métodos não invasivos. Os animais devem ser encontrados por meio de
buscas ativas (censo), a fim de obter registros diretos (visualização e
vocalização) e indiretos mor meio de vestígios (fezes, tocas, pegadas,
carcaças, etc.), entrevistas com moradores locais e armadilhas fotográficos,
parcelas de areia para impressão de pegadas e método de buscas ativas por
pegadas principalmente em lugares que apresentam substratos propícios
para passagem e impressão de pegadas, como margens de córregos e
estradas.
As armadilhas fotográficas devem ser instaladas priorizando-se lugares em
que sejam encontrados indícios da passagem de animais como, por
exemplo, proximidade a cursos d’água (córregos, ribeirões, etc.) e estradas
ou “trilheiros” deixados pela mastofauna terrestre. As armadilhas
fotográficas devem ser iscadas com atrativos para frugívoros (mamão,
manga, laranja, abacaxi, banana, tubérculos como batata-doce), carnívoros
(enlatados para felinos domésticos e bacon) e ungulados (sal grosso).
Devem ser realizados censos a procura de vestígios e/ ou visualizações.
2.3-Mamíferos Alados
Para amostragem de morcegos (quirópteros), devem ser utilizadas redes,
mist-net. As redes devem ser abertas ao entardecer (18:00 h) e podem ser
fechadas à meia noite (24:00 h).
As amostragens devem ser realizadas em locais propícios para captura de
morcegos tais como, pomares, proximidade com água, bordas de floresta e
interior de mata. Todos os indivíduos capturados devem ser identificados a
menor categoria taxonômica possível, devem ser feitas suas morfometrias,
pesados, sexados, analisadas as condições reprodutivas, estimado suas
faixas etárias e marcados com anilhas metálicas numeradas.
ORNITOFAUNA
1-Introdução:
A diversidade de espécies de aves do Brasil é uma das maiores do mundo,
ocupando o terceiro lugar em número de espécies da avifauna no cenário
mundial. Segundo dados divulgados pelo Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos (CBRO, 2011) existem hoje no País 1832 espécies de aves,
dentre táxons residentes e migratórios ou visitantes. Em 2005, o número de
espécies de aves catalogadas em território nacional correspondia a 57% das
espécies de aves registradas para toda a América do Sul, e 10% destas
espécies eram endêmicas do Brasil (SICK, 2001; MARINI & GARCIA,
2005). Toda esta diversidade de espécies deve-se ao mosaico de habitats
representado pelos seus seis biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga,
Pantanal, Campo Sulino e Amazônia) e suas diversas fitofisionomias.
2- Metodologia:
Metodologias de campo empregadas: ponto fixo, transecto de varredura e
captura em rede de neblina devem ser utilizados para obter dados sobre a
riqueza e abundância das espécies de aves.
2.1- Transecto com pontos de amostragem ou Ponto Fixo
Devem ser realizados pontos fixos em cada sítio amostral, com
permanência de 10 minutos em cada ponto. Neste período de tempo serão
anotadas todas as espécies avistadas e/ou ouvidas em cada amostragem. As
amostragens devem ser realizadas no período mais ativo das aves, pela
manhã, entre 6:00 e 9:00 horas. Quando possível, as vocalizações das
espécies serão gravadas com auxílio do gravador digital para posterior
revisão e identificação de espécies não identificadas no campo. Deve ser
empregado o Índice Pontual de Abundância (IPA) (BLONDEL et al., 1970)
para estimar a abundância de cada espécie identificada nos pontos de
amostragens. As caminhadas realizadas entre cada um dos pontos fixos
devem ser incluídas como parte do método transectos de varredura.
2.2- Transecto de Varredura
Devem ser realizados transectos de varredura por intermédio de
caminhadas realizadas com velocidade média de 1,5km/h, anotando-se
todos os contatos obtidos com espécies da avifauna, seja por avistamento
e/ou identificadas por meio de vocalizações. Esta metodologia deve ser
aplicada com caráter qualitativo.
2.3- Redes de Neblina: Captura e Marcação de Indivíduos
Esta metodologia de campo deve ocorrer concomitantemente com as
metodologias de Ponto Fixo e transecto de Varredura. Podem ser utilizadas
redes de neblina de (12,0m x 2,5m) abertas em bateria linear em cada um
dos sítios amostrais pré-selecionados. Em cada um dos sítios amostrais, as
redes devem ser abertas durante um número determinado de horas,
totalizando um esforço amostral previsto em horas/rede de amostragem. A
localização das redes de neblina deve ser georreferenciada com auxilio do
GPS. Todos os espécimes capturados devem receber anilhas coloridas, e
terem seus dados morfométricos coletados. Esta metodologia de avaliação
possui caráter qualitativo e quantitativo. Para cada espécie capturada deve
ser calculado o índice de abundância, utilizando-se do número de capturas
para cada 100 horas de rede (DEVELEY, 2003).
A identificação taxonômica dos espécimes é feita pela coloração da
plumagem de cada indivíduo utilizando-se de literatura adequada (livro
guia de campo), pelo canto (zoofonia), registros fotográficos, vestígios
(penas, pegadas, e outras). A nomenclatura científica pode seguir os
registros do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2011).
Listas secundárias da avifauna da região estudada também podem ser
utilizadas como registros.
As espécies devem ser averiguadas em relação à distribuição geográfica,
buscando identificar as espécies endêmicas.
A classificação quanto ao do grau de sensibilidade de cada espécie ao
ambiente também deve ser averiguado.
2.4- Informações Complementares da Avifauna
É importante classificar os microhabitats ou estrato florestal que as
espécies utilizam, como por exemlpo: chão; sub-bosque; dossel; aéreo;
brejo; vegetação rasteira; água e beira de água;
As aves podem ser classificadas quanto a alimentação em: frugívoras,
carnívoras, detritívoras, insetívoras, nectarívoras, granívoras, piscívoras e
onívoras.
HERPETOFAUNA
1- Introdução
A herpetofauna costuma desempenhar um papel muito importante nos
ecossistemas. Os anfíbios, por exemplo, são considerados excelentes
indicadores da qualidade ambiental. Por estarem quase sempre associados
ao meio aquático, os anfíbios apresentam forte sensibilidade a alterações na
qualidade do hábitat (GASCON, 1991; DUELLMAN & TRUEB, 1994;
JOLY & MORAND, 1994; HECNAR & M’CLOSKEY, 1996). Isso se
deve a características peculiares a sua biologia, como ciclo de vida bifásico,
dependência de condições de umidade para a reprodução, pele permeável,
padrão de desenvolvimento embrionário, aspectos da biologia populacional
e interações complexas nas comunidades em que se inserem (VITT et al.,
1990; SKELLY, 1997; WAKE, 1998). Grande parte das espécies também
se relaciona fortemente com a vegetação próxima aos corpos d’água, sendo
extremamente suscetível a quaisquer alterações que a estrutura deste tipo
de vegetação venha a sofrer (PARRIS, 2004; RENKEN et al., 2004). Os
répteis também desempenham importante papel ecológico no ambiente em
que vivem, sendo que boa parte das espécies é constituída por predadores,
muitas vezes de topo de cadeia trófica, e outros são consumidores
secundários, alimentando-se principalmente de insetos. Há ainda alguns
que são herbívoros, funcionando como consumidores primários nas cadeias
tróficas ou atuando como dispersores para várias espécies de plantas. Por
ocorrerem muitas vezes em densidades relativamente altas, esses animais
possuem papel de grande importância no funcionamento dos ecossistemas
brasileiros (MARTINS, MOLINA, 2008).
Atualmente, são conhecidas aproximadamente 6771 espécies de anfíbios e
9300 espécies de répteis no mundo (FROST, 2011; UETZ &
HALLERMAN, 2011). Destas, 877 de anfíbios e 721 de répteis ocorrem no
território brasileiro (SBH, 2011a; 2011b). É na Mata Atlântica que se
encontra a maior diversidade de anfíbios no território brasileiro, totalizando
mais de 400 espécies descritas, sendo mais de 80% delas endêmicas deste
bioma, e muitas inseridas nos 20 gêneros também endêmicos
(DUELLMAN, 1999; HADDAD et al., 2008). Neste bioma também se
concentra a maior diversidade de serpentes do Brasil, além de diversas
espécies de lagartos, anfisbenas e quelônios (RODRIGUES, 2005).
Existem cerca de 200 espécies de répteis na Mata Atlântica, sendo que
cerca de 40 são endêmicas (BROOKS et al., 2002; RODRIGUES, 2005).
Das 20 espécies de répteis ameaçadas no Brasil, 13 delas ocorrem na Mata
Atlântica (MARTINS, MOLINA, 2008).
Apesar da riqueza da herpetofauna existente no Brasil, o nível de
conhecimento é ainda insatisfatório e muito fragmentado, sendo
insuficientes os estudos realizados e bastante regionalizados (FEIO &
CARAMASCHI, 2002; DRUMMONT et al., 2005), considerando que os
estudos sobre este grupo se concentram na sua grande maioria próxima aos
grandes centros de pesquisas existentes (BÉRNILS et al., 2009;
NASCIMENTO et al., 2009).
2- Metodologia
No levantamento de dados primários são utilizadas duas metodologias:
captura passiva através de Armadilhas de Interceptação e Queda (AIQ), e
captura ativa através de Procura Visual Limitada por Tempo (PVLT), além
de registros de Encontro Ocasional ou de Terceiros (EOT).
2.1- Armadilha de Interceptação e Queda (AIQ)
O método de captura passiva por Armadilhas de Interceptação e Queda
consiste de recipientes enterrados no solo (pitfalls) até ao nível de sua
abertura, interligados por cercas-guia (drift-fences) (CORN, 1994)
dispostas de forma radial, com um balde central e outros três baldes
colocados a uma distância de aproximadamente 5 m e a 120° de angulação.
Este desenho foi selecionado por possibilitar que se interceptem indivíduos
em qualquer direção de deslocamento. Cada ponto amostral formado como
citado acima constitui uma estação de armadilhas. Em cada sítio amostral é
colocado um número determinado de estações de forma a amostrar o maior
número possível de ambientes em cada área, levando-se em consideração
características do terreno estudado.
As cercas devem ser instaladas com aproximadamente 5 m de extensão e
1m de altura e com cerca de 10 cm da base enterradas, evitando que os
animais passem abaixo delas. O animal que se depara com a cerca,
geralmente acompanha a mesma, caindo no recipiente que esteja na direção
do seu deslocamento. Os recipientes utilizados para compor as armadilhas
de queda podem ser baldes com volume de 60 litros, que recebem pequenas
perfurações na base com brocas de 6 mm para facilitar o escoamento da
água em dias de chuva, sendo colocados pedaços de isopor que
permitissem aos animais se refugiar do calor em áreas abertas ou evitar que
se afogassem devido à pluviosidade.
Estes tipos de armadilhas são muito utilizadas para a amostragem de
anfíbios e répteis (SEMLITSCH et al., 1981), como trabalhos de inventário
e monitoramento, tendo a vantagem de amostrar animais que dificilmente
são encontrados pelo método de procura visual (CAMPBELL &
CHRISTMAN, 1982; CORN, 1994).
As armadilhas devem ser vistoriadas diariamente na parte da manhã e,
sempre que possível, ao final da tarde, antes de se iniciarem buscas ativas.
No término das amostragens, caso as AIQ continuem instaladas para futura
campanha, todos os baldes devem ser fechados e lacrados para evitar que
animais caiam nas armadilhas no período entre as campanhas de
monitoramento.
2.2- Procura Visual Limitada por Tempo (PVLT)
Este método de busca ativa consiste em percorrer cada ponto de
amostragem ao acaso, procurando espécimes por um determinado tempo ou
em transecções estabelecidas (VANZOLINI, 1967; HEYER et al., 1994;
CRUMP & SCOTT, 1994; ZANI & VITT, 1995). A PVLT deve ser
realizado das 07 às 12 horas no período diurno e entre 17 e 22 horas no
período noturno em vários pontos da área. Esta técnica cobre um terreno
significativamente maior e mais diversificado que as AIQ, i.e., explorando
visualmente áreas como tocas no solo e galerias de roedores, formigueiros
e cupinzeiros, serapilheira, abrigos sob pedras, troncos caídos, restos de
habitações humanas, trilhas e estradas, fendas de rochas, moitas de capim,
sobre pedras ao longo de córregos, ribeirões e brejos, e outros
microhábitats disponíveis, oferecendo assim a possibilidade de registrar
espécies diferentes, que poderiam possivelmente cair dentro da AIQ, mas
que escapariam facilmente (e.g. serpentes de grande porte ou anuros da
família Hylidae que pode escalar os baldes devido aos seus discos adesivos
digitais). No caso dos anfíbios, devido à preferência por ambientes úmidos,
locais como poças, lagoas, riachos, outros corpos d’água, assim como áreas
de isolamento direto (bromélias), afloramentos rochosos e quaisquer outros
microhábitats favoráveis ao encontro destes animais também devem ser
vistoriados.
A procura ativa no período diurno é importante, principalmente, para a
visualização de desovas registradas, assim como o registro de répteis
termorregulando ou forrageando nesse período. As buscas ativas
crepusculares e noturnas devem ter como objetivo principal a amostragem
de anfíbios através de procura ativa visual ou auditiva e também a procura
de serpentes de hábitos crepusculares e noturnos. A procura visual deve ser
realizada com auxílio de lanterna focal para a localização exata dos
exemplares da herpetofauna. Também devem ser registrados e, quando
necessário, coletados os répteis que se encontravam em atividade neste
período ou em repouso em seus abrigos e nos arredores dos corpos d’água.
A captura eventual e o manuseio de répteis devem ser auxiliados pela
utilização de gancho, garrotes de borracha e laços, ou realizadas
manualmente, com uso de luva de raspa de couro.
O período de amostragem através da PVLT amplia o tempo de coleta de
dados para maximizar o índice de captura de espécimes.
2.3- Encontros Ocasionais e por Terceiros (EOT)
Neste método são considerados todos os exemplares de anfíbios e de
répteis encontrados fora dos métodos de amostragem normalmente
utilizados, i.e., PVLT e AIQ. Especificamente, são incluídos os registros
efetuados durante os deslocamentos dos pesquisadores para chegar aos
pontos de amostragem (a pé ou de carro) – Road sampling – e aqueles
feitos por pesquisadores de outros grupos de vertebrados atuando no
mesmo monitoramento ou ainda de animais cedidos por moradores locais
sendo encontrados vivos ou mortos.
3- Identificação dos espécimes
Todos os animais capturados pelos métodos usados devem ser identificados
e registrados. Para a identificação das espécies não reconhecidas
previamente, deve ser consultada literatura científica pertinente, com
chaves dicotômicas, quando disponíveis. Também devem ser utilizados
guias de campo disponíveis, evitando coletas desnecessárias, por se chegar
a uma determinação ainda em campo. Contudo, em muitos casos, a
identificação só é possível com a comparação de material adicional. Por
este motivo e para a manutenção de exemplares-testemunho, alguns
espécimes deverão ser fixados, preservados e depositados em coleções
científicas. Quando se fizer necessária a coleta dos espécimes, eles deverão
ser acondicionados em sacos plásticos contendo vegetação local para evitar
a desidratação dos exemplares. Após a coleta, os animais deverão ser
anestesiados e mortos com xilocaína a 5%, sendo em seguida fixados em
formalina a 10% e conservados em álcool à 70%. Dados secundários
também podem ser utilizados, através de fotografias com procedências
confirmadas de animais das áreas estudadas e que não coubesse dúvidas
quanto à identificação taxonômica.
4-Análise dos Dados
A estimativa da riqueza e freqüência das espécies de anfíbios e répteis será
obtida através da combinação dos três métodos de amostragem – AIQ,
PVLT e EOT. A combinação de diferentes métodos de amostragem é
essencial para capturar uma parcela significativa da biodiversidade, uma
vez que cada método possui um viés próprio.
Para cada sítio de amostragem, os dados coletados devem ser analisados
em termos de riqueza, composição e frequência (absoluta e relativa) das
espécies de anfíbios e de répteis registradas durante o monitoramento.
Nos sítios amostrais onde existem lagoas, brejos e corpos d’água lênticos
ou lóticos, os dados sobre abundância das espécies de anfíbios que são
encontrados vocalizando nestes ambientes devem ser analisados
separadamente, uma vez que estes dados podem exercer uma tendência em
superestimar ou subestimar as análises comparativas entre os sítios
amostrados. Portanto, as abundâncias para as populações de cada espécie
encontradas nestes ambientes, devem ser estimadas através do índice de
vocalização (SHIROSE et al., 1997; CROUCH & PATON, 2002;
NELSON & GRAVES, 2004). O índice zero será utilizado quando não for
possível ouvir nenhum indivíduo vocalizando; o índice 1 quando
vocalizações forem ouvidas distintamente sem nenhuma sobreposição
temporal entre elas; o índice 2 quando forem ouvidas vocalizações e houver
sobreposição temporal entre elas, mas o número de indivíduos vocalizando
pode ser estimado. O índice 3 deve ser registrado quando ocorrerem
vocalizações contínuas, sem que houvesse possibilidade de estimar o
número de indivíduos que vocalizavam ou isso fosse muito difícil e
impreciso. Devem ser testadas as diferenças interespecíficas nos Índices de
Vocalização com ANOVA one-way e com a comparação Tukey posthoc
para determinar qual espécie difere na intensidade de vocalização (SOKAL
& ROHLF, 1981).
As curvas do coletor devem ser construídas para o grupo dos anfíbios e
répteis em cada localidade estudada, a fim de estimar se o número de
espécies encontradas esteve próximo da riqueza esperada para as áreas. As
curvas devem ser feitas através do método de curvas de acumulações de
espécies construídas a partir da média de 1.000 aleatorizações dos dias de
coleta com o programa EstimateS V. 8.2.0, através do estimador Jackknife
2 (COLWELL, 2006).
A análise da diversidade de espécies será calculada através do índice de
Menhinick. O índice de diversidade de Menhinick (Db) é estimado através
da seguinte equação:
Onde “s” é o número de espécies amostradas e “N” é o número total de
indivíduos de todas as espécies.
A Freqüência relativa das espécies deve ser calculada através da seguinte
equação:
Onde “n” é o número total de indivíduos de uma dada espécie e “N” é o
número total de indivíduos. A freqüência relativa é expressa em
porcentagem.
ENTOMOFAUNA
1- INTRODUÇÃO
O sucesso e a eficácia das ações de manejo em ecossistemas têm sido
testados com grupos de bioindicadores (CHRISTENSEN et al., 1996).
Geralmente os programas com grupos bioindicadores estão relacionados a
grupos de plantas ou vertebrados, e podem incluir insetos. TSCHARNTKE
et al. (1998) sugere que estudos de pequenas comunidades que oferecem
informações sobre riqueza de espécies e interações ecológicas podem ser
utilizados como ferramenta para avaliação de qualidade do habitat. Os
artrópodes correspondem a 75% dos animais sobre a terra, sendo que 89%
são insetos (BUZZI & MIYAZAKI, 1993). Os insetos são utilizados em
estudos de avaliação de impacto ambiental e de efeitos de fragmentação
florestal, pois, além de ser o grupo de animais mais numeroso do globo
terrestre, são importantes pelas funções ecológicas que exercem nos
ecossistemas naturais atuando como predadores, parasitos, fitófagos,
saprófagos, polinizadores, entre outros (ROSENBERG et al., 1986).
O processo de polinização, desempenhado principalmente pelas abelhas, é
um dos mais importantes serviços do ecossistema, promovendo o fluxo
gênico entre as espécies vegetais, podendo determinar a estrutura genética
dessas populações (WASER et al., 1996). Estima-se que existam no
mundo de 20 a 30 mil espécies de abelhas (MICHENER, 2000). As abelhas
da subtribo Euglossina (Hymenoptera: Apidae) são tipicamente
neotropicais e com maior diversidade em sistemas florestais, sendo
responsáveis pela polinização de um grande número de famílias de
angiospermas. Uma das principais características destas abelhas é a relação
dos machos com espécies da família Orchidaceae e outras fontes de
compostos aromáticos (ROUBIK, 1989). Esse grupo apresenta forte
dependência de áreas naturais e podem ser consideradas bioindicadores de
qualidade ambiental (SILVA et al., 2009). Têm sido estudadas por suas
características como facilidade de captura, de identificação taxonômica e
abundância ao longo do ano (POWELL & POWELL, 1987).
Existem cerca de 9.538 espécies descritas de formigas (Hymenoptera:
Formicidae), distribuídas por todas as regiões do planeta (BOLTON, 1995).
As formigas são citadas como possível grupo indicador de biodiversidade e
de perturbação ambiental. Por apresentarem ampla distribuição geográfica,
as espécies são localmente abundantes, possuem importância funcional nos
variados níveis tróficos, a separação em morfo-espécies é relativamente
fácil por ocuparem nichos diversificados no ecossistema (OSBORN et al.,
1999).
A ordem Coleóptera possui aproximadamente 350.000 espécies descritas e
representam 40% do total de insetos (TRIPLEHORN & JOHNSON, 2005).
Os besouros têm sido sugeridos como grupo indicador em estudos sobre
diversidade de insetos ou artrópodos, sendo grupos importantes na
reciclagem de nutrientes do solo, no controle de alguns parasitos de
vertebrados e na dispersão de sementes (KLEIN, 1989). Apresentam
grande variabilidade morfológica, taxonômica, comportamental e ecológica
e são abundantes e sensíveis a mudanças ambientais (NIEMELÄ, 2001).
Os invertebrados apresentam respostas demográficas e dispersivas mais
rápidas do que organismos com ciclos de vida mais longos e podem ser
amostrados em maior quantidade do que os organismos maiores. No
entanto, ainda existem dificuldades taxonômicas em muitos, se não na
maioria, dos grupos. NEMÉSIO (2009) publicou uma revisão da subtribo
Euglossina em domínio de Mata Atlântica no Brasil, com chave de
identificação para todas as espécies presentes no bioma. As abelhas dessa
subtribo já vêm sendo recomendadas como grupo indicador de mudanças
ambientais por apresentarem grande abundância e diversidade em diversas
épocas do ano, serem bem dispersas e comparáveis entre sítios, devido a
sua importância ecológica, facilidade de captura e sensibilidade a
alterações do ambiente (SILVA et al., 2009).
2- METODOLOGIA
A temperatura e umidade devem ser aferidas nos dias de amostragem com
auxílio de Termo-higrômetro manual. A temperatura e umidade podem ser
registradas no período da manha 8:00h e 13:00h, e a temperatura máxima
deve ser registrada até até as 15:30h.
2.1- Coleta e Amostragem
2.1.1- Redes Entomológicas Manuais
Em cada sítio amostral, devem ser feitas varreduras em caminhadas lentas
durante todo período diurno de atividade das abelhas, iniciando a partir de
7:30h. As abelhas devem ser campeadas nos recursos disponíveis: flores,
resina, barro, fezes, carniça e suor, sendo coletadas sempre que possível.
2.1.2- Procura Ativa por Ninhos
A busca por ninhos deve ser feita através de varreduras em ziguezague e
observação dos possíveis locais de nidificação existentes. A base e o tronco
das árvores devem ser analisados, até 10,0 m de altura. Operárias
representantes devem ser coletadas para identificação.
2.1.3- Coleta com Armadilhas de Iscas Aromáticas
Os machos de Euglossina devem ser amostrados utilizando quatro
fragrâncias artificiais, ou iscas odoríferas: eugenol, vanilina, eucaliptol e
salicilato de metila. Para atração dos machos pedaços de papel absorvente,
um para cada isca, podem ser amarados com pedaços de barbante e
umedecidos com os respectivos compostos e colocados dentro de
armadilhas confeccionadas com garrafa PET de 2L, segundo CAMPOS et
al. (1989)
Desenho esquemático da armadilha de isca aromática utilizada para a
coleta de abelhas da subtribo Euglossina.
Em cada área deve ser instalado um conjunto de armadilhas a 2,0 m do
solo, as armadilhas devem ser vistoriadas entre 7:00h e 15:30h, em
intervalos de aproximadamente duas horas. Durante as vistorias, as abelhas
encontradas nas armadilhas devem ser transferidas para frascos mortíferos
e as armadilhas contendo substâncias mais voláteis devem ser recarregadas
para manter sua atratividade. O mesmo conjunto de armadilhas pode ser
deixado em campo no período da noite, para a coleta de abelhas que
apresentem hábitos noturnos e sejam atraídas pelas essências.
2.1.4- Coleta com Armadilhas Pitfall
Para a coleta de Formicidae e Coleoptera, podem ser utilizados copos
plásticos de 300 ml, com uma mistura de 50 ml de água e detergente. Os
pitfalls devem ser dispostos em transectos lineares, distantes 5 m um do
outro. Em cada área deve ser instalado um número determinado de
transectos, totalizando determinado número de pitfalls por área. Os
indivíduos coletados nos pitfall devem ser triados, sendo analisada apenas a
macrofauna (acima de 2mm, segundo CORREIA & OLIVEIRA, 2000).
Todas as abelhas, formigas e besouros capturados serão levados ao
laboratório e identificados com o auxilio de chaves taxonômicas, literatura
pertinente e por comparação com exemplares de coleção de referência.
Destaca-se a lacuna existente no país para identificação de invertebrados.
Bibliografia Consultada:
Biologia da Conservação - RODRIGUES RICHARD B. PRIMACK & Efraim
Ed. PLANTA
Biomas do Brasil – Uma História Natural Ilustrada - Ed. Pensoft
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm
Contato:
Biólogo Marcus Pinto Silveira
CRBio-02 38.469/02
Especialista em Gestão Ambiental
Instrutor de Treinamento em Desenvolvimento Profissional
CNPJ: 11.654.686/0001-50
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