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O Futuro do Melhoramento Genético Vegetal no Brasil IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA E DAS LEIS DE PROTEÇÃO DE CONHECIMENTO Antônio Maria Gomes de Castro Suzana Maria Valle Lima Maurício Antônio Lopes Maria Amália Gusmão Martins Magali dos Santos Machado 2005 ESSE DOCUMENTO É UMA VERSÃO PRELIMINAR, DE CIRCULAÇÃO RESTRITA. SUGESTÕES OU COMENTÁRIOS PODEM SER ENVIADOS PARA: [email protected] OU PARA [email protected]

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O Futuro do Melhoramento Genético Vegetal no BrasilIMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA E DAS

LEIS DE PROTEÇÃO DE CONHECIMENTO

Antônio Maria Gomes de CastroSuzana Maria Valle LimaMaurício Antônio Lopes

Maria Amália Gusmão MartinsMagali dos Santos Machado

2005ESSE DOCUMENTO É UMA VERSÃO PRELIMINAR, DE CIRCULAÇÃO RESTRITA. SUGESTÕES OU

COMENTÁRIOS PODEM SER ENVIADOS PARA: [email protected] OU [email protected]

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O Futuro do Melhoramento Genético

Vegetal no Brasil

Impactos da biotecnologia e das leis de proteção de conhecimento

Antônio Maria Gomes de Castro1 Suzana Maria Valle Lima2

Maurício Antônio Lopes3 Maria Amália Gusmão Martins4

Magali dos Santos Machado5 1 Engenheiro Agrônomo, PhD, Pesquisador da Embrapa SPD. 2 Psicóloga, PhD, Pesquisadora da Embrapa SPD 3 Engenheiro Agrônomo, PhD, Pesquisador da Embrapa Cenargen 4 Engenheira Agrônoma, Dra., Técnica de Nível Superior da Embrapa SPD 5 Psicóloga, MSc, Técnica de Nível Superior da Embrapa DGP

Page 3: APOSTILA EMBRAPA

2

Sumário Conteúdo Página

Agradecimentos 6

Relação de Tabelas 9

Relação de Quadros 12

Relação de Figuras 13

Apresentação 20

Capítulo 1: Para onde vai o melhoramento genético de plantas e o mercado de sementes no Brasil?

23

Capítulo 2: Transformações no Sistema Nacional de Desenvolvimento de Cultivares e Produção de Sementes

27

O Melhoramento Genético no Brasil: Antecedentes 28

Recursos Genéticos Vegetais 29

Avanços do Melhoramento Genético Vegetal no Brasil 32

Impactos do Melhoramento Genético no Desempenho da Agricultura Brasileira 35

Mudanças no Contexto: A Reforma do Estado e o Arcabouço Legal de Proteção do Conhecimento no Brasil

36

A Reorganização do Estado e os Novos Papéis das Instituições de C&T no Brasil 37

Legislações de Proteção da Propriedade Intelectual no Brasil 39

A Lei de Propriedade Industrial 41

A Lei de Proteção de Cultivares 43

Impactos da Biotecnologia no Processo de Melhoramento Genético 45

A Biotecnologia e o Melhoramento Genético 45

Biotecnologia, Recursos Genéticos e Agrobiodiversidade 47

Consequências das Mudanças Analisadas no Caso Brasileiro 48

Capítulo 3: Marco conceitual e metodológico do estudo 52

Compreensão do futuro: abordagens e conceitos 53

Enfoque sistêmico 55

Teoria geral de sistemas 55

Identificação de padrões no comportamento e de relações entre variáveis de interesse

58

Identificação de fatores críticos de desempenho 60

Utilização da prospecção na formulação de estratégias 61

Page 4: APOSTILA EMBRAPA

3

Conteúdo Página Marco conceitual específico do estudo 63

Estratégia Metodológica 65

Análise diagnóstica 67

Análise prognóstica dos setores de inovação tecnológica 68

Capítulo 4: Modelagem do Desempenho do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes

75

Aplicação do enfoque sistêmico como forma de compreensão da realidade 76

O Modelo Geral do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes 77

O modelo de determinação de desempenho do SNPCS 80

Amplitude da base genética 87

Novos negócios 90

Capacidade e desempenho dos setores público e privado de P&D 93

Custo e Oferta de Semente Competitiva 97

Uso de semente melhorada e posicionamento de cada segmento de P&D no mercado

99

Comentários finais sobre a modelagem do SNPCS 101

Capítulo 5: Diagnóstico do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS): A Visão dos Melhoristas

102

A pesquisa e o mercado de sementes até a década de noventa 102

Mudanças no Contexto da Pesquisa e do Mercado de Sementes 104

Modelagem do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes(SNPCS 106

Setores Público e Privado de P&D: Pontos Fortes e Fracos 108

As Relações entre os Sistemas Público e Privado de P&D 110

Capítulo 6: Mudanças Recentes na produção de cultivares e sementes: Indicadores Secundários

121

O Setor de produção de cultivares, no Brasil: empresas e capacidades 122

A capacidade brasileira em biotecnologia voltada para o agronegócio 123

Empresas produtoras de cultivares 125

A dinâmica de fusões e aquisições de empresas : concentração no mercado de cultivares e sementes

129

Desempenho do setor de produção de cultivares 131

Preço da semente básica 149

O Setor de sementes no Brasil: empresas e principais produtos 156

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4

Conteúdo Página Número de empresas produtoras de sementes 157

Produção de sementes melhoradas 159

Preço da semente comercializada 161

Capítulo 7: O setor de produção e comercialização de cultivares e sementes: a visão das empresas

178

Descrição das empresas produtoras participantes da pesquisa 179

Relações de produtores de sementes com seus fornecedores, antes e após a Lei 181

Relações com os compradores de sementes, antes e depois da LPC 199

As mudanças no setor de sementes, na visão das empresas 208

Capítulo 8: O futuro da “base genética” para produção de cultivares 216

Acesso a Organismos 218

O Acesso a Conhecimento sobre Variabilidade Genética em Organismos Vegetais 231

O Intercâmbio de Organismos Vegetais Portadores de Variabilidade Genética 239

O Intercâmbio de Conhecimentos sobre a Variabilidade Genética 245

Intensidade de Uso de Cultivares 249

Amplitude da Base Genética Disponível para o Melhoramento 257

Capítulo 9: Melhoramento Genético e Novos negócios 263

Processos de geração de conhecimento em melhoramento genético 263

Importância de processos de melhoramento genético 264

Domínio de processos de melhoramento genético 271

Importância e domínio de processos: necessidades de competências 277

Suporte operacional disponível para processos de melhoramento genético 282

Produtos do melhoramento genético 294

Produtos e sua inserção no processo de desenvolvimento de cultivares 294

Domínio de processos necessários para obtenção de produtos do melhoramento genético

299

Necessidades de desenvolvimento de competências para novos produtos do melhoramento genético.

302

Produtos do melhoramento genético e suas funções 304

Capítulo 10: Capacidade, desempenho e espaços de atuação dos sistemas de P&D público e privado

312

Proteção e Registro de Cultivares 312

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5

Conteúdo Página Proteção de Cultivares 312

Registro de Cultivares 315

Proteção e registro de cultivares: participação futura vs. participação atual 318

Importância estratégica de diferentes espécies vegetais, no futuro 320

Conclusão 328

Capítulo 11: Cenários para o mercado de sementes 330

Metodologia utilizada 330

Atores relevantes 332

Incertezas críticas 334

Cenários do mercado brasileiro de sementes para 2010 338

Cenário 1 - Aprofundamento da crise econômica e social e o mercado brasileiro de sementes

338

Cenário 2 - Avanços e recuos 342

Cenário 3 - Recuperação acelerada sustentada 346

Formulando estratégias tecnológicas para o mercado de sementes 350

Atores mais influentes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica 350

Variáveis mais importantes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica 351

Capítulo 12: Conclusões: Para Onde Vai o Melhoramento Genético e o Mercado de Sementes no Brasil

354

Amplitude da base genética 354

Novos negócios – processos 355

O mercado de sementes 357

Atores mais influentes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica 358

Variáveis mais importantes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica 360

Referências Bibliográficas 360

Anexo 1: Questionário para os produtores de sementes 371

Anexo 2: Questionário Delphi – 1ª rodada 375

Page 7: APOSTILA EMBRAPA

6

Agradecimentos

Um trabalho cobrindo tantas facetas de um sistema extremamente complexo e aindatentando antever situações futuras desse sistema é impossível de realizar, sem contar com acolaboração de muitos talentos e experiências. Foram muitas e generosas as contribuiçõesrecolhidas durante todo o processo de coleta de informação primária e secundária, análise einterpretação desta informação e formulação de inferências que compõem esta obra. Osautores registram os seus mais reconhecidos agradecimentos a essas pessoas, e suasorganizações, pelo tempo, comentários críticos e sabedoria que cada uma delas ofereceu emmomentos distintos desse trabalho:

• Pesquisadores da Embrapa e Institutos, professores de Universidades, especialistasem melhoramento genético, entrevistados sobre o melhoramento genético emercado de sementes no Brasil:

Nome InstituiçãoAntônio Cordeiro de Araújo Assessor, Câmara dos DeputadosCharles Roland Clement INPAClara Goedert Embrapa-Recurs.GenéticosCláudio Lopes de Souza Jr. ESALQ-USPElcio Perpetuo Guimarães Embrapa-Arroz e FeijãoErnesto Paterniani ESALQ-USPFrancisco Bahia UnimilhoJoão Luiz Alberini FT-Pesquisas e SementesJoão Luiz Giglioli Produtor de soja -GOJoaquim Geraldo Caprio da Costa Embrapa-Arroz e FeijãoJosé Amaury Buso Embrapa-HortaliçasJosé Branco de Miranda Filho ESALQ-USPLevi de Moura Barros Embrapa-Agroindústria TropicalMagno Antônio Patto Ramalho UFLAManoel Abilio de Queiróz Embrapa-Semi-ÁridoMaria José Peloso Embrapa-Arroz e FeijãoPaulo César Tavares de Melo Consultor IICA/CNPHPedro Scheeren Embrapa-TrigoSidney Netto Parentoni Embrapa-Milho e Sorgo

• Produtores de sementes filiados à Abrasem, que gentilmente responderam oquestionário;

• Especialistas em melhoramento genético de plantas, que atuam nos centros depesquisa da Embrapa, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), nasUniversidades Brasileiras e nas empresas privadas que participaram do PainelDelphi nas suas duas rodadas, durante as quais formularam uma visão coletiva sobreo futuro do melhoramento genético de plantas no Brasil:

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7

NOME INSTITUIÇÃO ESPECIALIDADEAlberto Carlos Queiróz Pinto EMBRAPA/ CPAC FruteirasAntônio Vander Pereira Embrapa Gado de Leite ForrageirasArione da Silva Pereira Embrapa/ CPACT HortaliçasCarlos Eduardo Lazarini da Fonseca EMBRAPA / DPD FruteirasCarlos Eduardo de O. Camargo IAC Trigo, aveiaCláudio Takao Karia EMBRAPA / CPAC ForrageirasDario Garrapaglia Embrapa/ Cenargen FlorestaisEdson Barcelos Embrapa Amazônia Ocidental DendêEmílio da Maia de Castro EMBRAPA/ CNPAF ArrozErnesto Paterniani ESALQ / USP MilhoEuclides Minella Embrapa /Trigo Cevada, trigoFernando Antônio de Souza Aragão Embrapa /CNPH HortaliçasJairo Vidal Vieira Embrapa /CNPH HortaliçasJoão Luiz Alberini FT Pesquisa e Sementes LTDA Feijão, sojaJoaquim de Aparecido Machado SYNGENTA MilhoJosé Amauri Buso EMBRAPA / CNPH HortaliçasJosé Branco de Miranda Filho ESALQ/ USP MilhoJosé Francisco Ferraz de Toledo EMBRAPA SOJA SojaLeonardo Silva Boiteux Embrapa/ CNPH HortaliçasLeonardo de Britto Giordano EMBRAPA / CNPH HortaliçasLeones Alves de Almeida EMBRAPA SOJA SojaLevi de Moura Barros Embrapa/ CNPAT FruteirasLuis Carlos Federizzi Agronomia UFRGS AveiaMagno Antônio Patto Ramalho UFLA ( LAVRAS) FeijãoManuel Carlos Bassoi EMBRAPA /Soja SojaManuel Xavier dos Santos EMBRAPA/CNPMS MilhoMárcio Elias Ferreira EMBRAPA/ CENARGEN Arroz, feijãoMaria Elisa A. G. Zagatto Paterniani IAC MilhoMaurício Antônio Lopes EMBRAPA / DPD Milho, sorgoMessias Gonzaga Pereira UENF RJ Milho, cacau, feijãoOrlando Peixoto de Morais EMBRAPA / CNPAF ArrozPaulo César Tavares de Melo ESALQ /USP HortaliçasPedro Luiz Scheeren EMBRAPA/ CNPT TrigoPéricles de C. F. Neves EMBRAPA/ CNPAF ArrozPlínio Itamar de Souza EMBRAPA/ CPAC SojaRicardo Magnavaca Aventis Seeds Brasil LTDA Milho, sorgoRomeu A. S. Kiihl Embrapa soja SojaSandra Cristina Kothe Milach Embrapa trigo/ UFRGS Aveia, trigoSidney Netto Parentoni EMBRAPA/ CNPMS MilhoVeridiano dos Anjos Cutrim Embrapa CNPAF Arroz

• Pesquisadores da Embrapa SNT (Clóvis Terra Wetzel, Raul Rosinha e Juan CarlosBresciani), pela suas participações durante as etapas de validação de instrumentosdesta pesquisa e participação na elaboração dos Cenários do Setor de Sementes,apresentado no Capítulo 11.

• Pesquisadores da Embrapa DPD, Hortaliças, Cenargen e Arroz e Feijão (CarlosEduardo Lazarini da Fonseca, Luis Fernando Vieira, José Amauri Buso, Leonardode Britto Giordano, Márcio Elias Ferreira, Orlando Peixoto de Morais, Maria José

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8

Peloso), pela participação na formulação do modelo conceitual do estudo e das diversas etapas de validação de instrumentos.

Ao Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, pelo continuado suporte físico e motivacional durante todas as etapas de execução do estudo. A equipe registra, entretanto, que eventuais falhas existentes no trabalho são da sua inteira responsabilidade.

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9

Relação de Tabelas

Tabela Página 2.1. Aquisições, Fusões e Alianças ocorridas no Brasil e/ou no exterior, com

influência no Brasil, até Janeiro de 1999. 49

3.1. Estratégia Metodológica utilizada no Estudo. 66

3.2. Especialistas entrevistados por Instituição. 67

3.3. Composição e características do Painel Delphi. 70

3.4. Cenários do contexto relevante do sistema brasileiro de produção de cultivares e sementes - ano de 2010.

72

6.1. Total de empresas em biotecnologia, por segmento de mercado, e percentual por segmento, nos cinco Estados mais importantes.

124

6.3. Principais características de empresas produtoras de sementes, filiadas a Associações Produtoras, em 2000.

156

6.4. Correlações (Pearson) entre preços médios /kg de semente (básica, comercial ou grão), de diversas espécies.

170

6.5. Relação entre preços de sementes básicas e comerciais, e entre sementes comerciais e grãos, para espécies selecionadas, nos anos de 1996, 1998 e 2000.

172

7.1. Mudanças ocorridas em conseqüência da promulgação da LPC, na visão das empresas produtoras de sementes.

209

7.2. Visão das empresas produtoras de sementes sobre mudanças que poderão ocorrer no futuro, como conseqüência da Lei de Proteção de Cultivares.

210

7.3. Visão das empresas produtoras de sementes sobre impactos que mudanças provocadas pela LPC poderão trazer, para o seu negócio.

212

7.4. Dificuldades enfrentadas por empresas, na produção/comercialização de sementes.

213

8.1. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D

220

8.2. Diferenças entre avaliações de acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D

223

Page 11: APOSTILA EMBRAPA

10

Tabela Página 8.3. Comparações entre avaliações sobre o acesso a organismos vegetais

portadores de variabilidade genética no setor público de P&D, considerando diversos segmentos de mercado.

224

8.4. Comparações entre avaliações sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética no setor privado de P&D, considerando diversos segmentos de mercado.

225

8.5. Avaliação sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

235

8.6. Diferenças entre avaliações sobre acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

236

8.7. Comparações entre avaliações sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais no setor público de P&D, considerando diversos segmentos de mercado.

237

8.8. Comparações entre avaliações sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais no setor privado de P&D, considerando diversos segmentos de mercado.

238

8.9. Avaliação da intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

243

8.10. Avaliação da intensidade de intercâmbio de conhecimentos acerca de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

247

8.11. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D

254

8.12. Diferenças entre avaliações da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético em função da competição entre setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010

255

8.13. Avaliações globais, considerando médias das medianas de treze segmentos de mercado para as variáveis ‘acesso a organismos’, ‘acesso a conhecimentos sobre variabilidade’ e ‘intensidade de uso de cultivares’ do bloco Base Genética.

258

8.14. Avaliação da amplitude da base genética para o melhoramento de plantas, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

260

Page 12: APOSTILA EMBRAPA

11

Tabela Página 9.1. Importância de processos utilizados no melhoramento genético,

atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D 267

9.2. Domínio de processos utilizados no melhoramento genético, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D .

275

9.3. Necessidades de competências em processos utilizados no melhoramento genético, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

280

9.4. Evolução do suporte técnico-operativo para processos de melhoramento genético no setor público de P&D.

285

9.5. Evolução do suporte técnico-operacional para processos de melhoramento genético no setor privado de P&D.

288

9.6. Necessidade de investimento em suporte técnico-operativo para processos de melhoramento genético nos setores público e privado de P&D.

292

9.7. Potencial de produtos do melhoramento genético (tecnológicos e pré-tecnológicos) como fonte futura de novos negócios.

295

9.8. Domínio (medianas) de produtos do melhoramento genético (produtos tecnológicos e pré-tecnológicos).

299

9.9. Potencial de produtos do melhoramento genético, diferenciados por função, como base para novos negócios nos setores público e privado de P&D.

307

10.1. Participação percentual do setor público na proteção de cultivares, segundo os três cenários futuros considerados.

313

10.2. Resultados do Painel Delphi: participação percentual do setor público no registro de cultivares, segundo os três cenários futuros considerados.

316

10.3. Importância estratégica atual de diferentes espécies, conforme indicado pela média anual de registro de cultivares a elas relacionadas, de 1999 a 2003, nos dois setores de P&D.

323

10.4. Medianas de avaliações sobre importância estratégia das espécies/grupos de espécies para o setor público e privado, em 2010, e respectiva classificação dentro do setor.

327

11.1. Metodologia adotada para construção de cenários do mercado de sementes no Brasil.

331

11.2. Incertezas críticas do setor de sementes, 2010. 336

Page 13: APOSTILA EMBRAPA

12

Relação de Quadros Quadro Página

4.1. Emergência de novos produtos (exemplos) da biotecnologia. 91 4.2. Exemplos de novos processos oriundos da biotecnologia. 92

5.1. Análise crítica do Modelo do SNPCS. 108 5.2. Comparação entre os setores público e privado de P&D. 110

5.3. Impactos dos eventos emergentes sobre o SNPCS, na visão dos entrevistados

115

6.1. Fusões, aquisições e incorporações. As principais transformações na estrutura da indústria de sementes no mundo e, particularmente, no Brasil, de 1996 a 2001.

133

6.2. Empresas brasileiras adquiridas pelas principais corporações transnacionais (situação em 2001).

135

6.3. Certificações de Proteção de Cultivar pedidas, em análise, provisórias e definitivas. Situação em maio/2001.

139

6.4. Grupos de espécies, com a respectiva relação de espécies componentes, constantes do Registro Nacional de Cultivares (RNC).

143

9.1. Justificativas para a importância atribuída a processos de melhoramento genético.

269

9.2. Justificativas para o domínio atribuído a processos de melhoramento genético.

276

9.3. Justificativas para avaliações de suporte técnico-operacional para alguns processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro (2010).

293

9.4. Produtos diferenciados por função, analisados no Painel Delphi. 305 9.5. Justificativas para o potencial atribuído a produtos da biotecnologia, por

função, como base de novos negócios, no futuro. 311

10.1.

Comparação entre os indicadores da importância estratégica atual e futura de cada espécie/grupo de espécies, para dois setores de P&D.

325

Page 14: APOSTILA EMBRAPA

13

Relação de Figuras

Figura Página 2.1. Evolução da safra brasileira de grãos (soja, milho, arroz, feijão e trigo) no

período 1975-2001. 36

3.1. O futuro como repetição do passado e o futuro incerto. 54

3.2. O conceito de hierarquia de sistemas. 57

3.3. Aplicação do enfoque sistêmico à análise prospectiva. 59

3.4. Usos de resultados de estudos prospectivos para a formulação de estratégia organizacional.

62

3.5. Modelo conceitual do estudo: estado atual e futuro do sistema nacional de produção de cultivares e sementes (SNPCS).

63

3.6. O processo de pesquisa de futuro utilizando a Técnica Delphi. 69

3.7. Atividades exercidas pelos painelistas. 70

3.8. Atividade produtiva desempenhada pelos painelistas. 71

4.1. Aplicação do enfoque sistêmico à análise prospectiva. 76

4.2. Modelo geral (simplificado) do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes.

78

4.3. Modelo de desempenho do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS).

85

4.4. Subsistemas e produtos intermediários e final do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes.

86

4.5. Modelo relacional de variáveis e forças propulsoras e restritivas determinantes da amplitude da base genética no SNPCS.

88

4.6. Modelo de fatores propulsores e restritivos a novos negócios no SNPCS. 93

4.7. Modelo de capacidade e desempenho dos setores público e privado de P&D.

94

4.8. Representação do custo e oferta da semente competitiva. 97

4.9. Modelo de uso de sementes melhoradas e posicionamento dos produtores de cultivares.

99

Page 15: APOSTILA EMBRAPA

14

Figura Página 5.1. Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes, até a década de

80. 104

5.2. Proposta de modelo do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes, em sua configuração atual

107

6.1. Participação percentual de cada categoria de obtentor, na proteção de cultivares de espécies selecionadas.

128

6.2a. Participação (%) de diferentes empresas, no mercado de sementes de milho, 2000

132

6.2b. Participação(%) de diferentes empresas, no mercado de sementes de soja, 2000.

134

6. 3. Número de certificados de proteção emitidos e de registros incluídos na Listagem Nacional de Cultivares, para organizações públicas e privadas, de janeiro de 1998 a setembro de 2001.

138

6.4. Participação (%) de diversas empresas públicas, e do setor privado como um todo, na proteção de cultivares, até setembro de 2001.

140

6.5. Proporção de espécies de cultivares protegidas, até setembro de 2001. 141

6.6. Participação percentual dos setores público e privado como obtentores de Certificados de Proteção, por espécie, no período de 1998 a 2001.

142

6.7. Percentual de registros por grandes grupos de espécies, de 1998 a 2001. 144

6.8. Principais obtentores dos certificados de registro, de 1998 a 2001. 145

6.9. Principais obtentores de registros realizados pelo setor público, 1998 a 2001.

145

6.10. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, por grupo de espécies, de 1998 a 2001.

146

6.11. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de maior expressão econômica para o país, de 1998 a 2001.

147

6.12. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de grãos, de 1998 a 2001.

148

6.13a.

Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de olerícolas, de 1998 a 2001.

150

6.13b.

Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de olerícolas, de 1998 a 2001.

151

6.14. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de frutíferas, de 1998 a 2001.

152

6.15. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de forrageiras, de 1998 a 2001.

153

Page 16: APOSTILA EMBRAPA

15

Figura Página 6.16. Preço médio/kg de sementes básicas, de 1996 a 2001, espécies

selecionadas 155

6.17. Variação percentual nos preços médios/kg de sementes básicas, espécies selecionadas, por biênio do período 1996-2001

155

6.18. Número de empresas produtoras de sementes, por região, em 2000 157

6.19. Evolução do número de empresas produtoras de sementes, de 1990 a 2000. 158

6.20. Variação percentual no número de empresas produtoras de sementes, por Estado, de 1990 a 1995 e de 1995 a 2000.

159

6.21. Variação percentual na produção de sementes melhoradas, em culturas selecionadas, nas safras de 85-86 a 89-90, 90-91 a 94-95 e 95-96 a 99-00.

160

6.22a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de soja, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

162

6.22b.

Variação percentual no preço médio /kg de semente de soja, de 1994 a 2001.

162

6.23a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de milho, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

164

6.23b.

Variação percentual no preço médio/kg de semente de milho, de 1994 a 2001.

164

6.24a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de arroz de sequeiro, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

165

6.24b.

Variação percentual no preço médio/kg de semente de arroz de sequeiro, de 1994 a 2001.

165

6.25a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de arroz irrigado, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

166

6.25b.

Variação percentual no preço médio/kg de semente de arroz irrigado, de 1994 a 2001.

166

6.26a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de algodão, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

167

6.26b.

Variação percentual no preço médio/kg de semente de algodão, de 1994 a 2001.

167

6.27a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de trigo, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

173

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16

Figura Página 6.27b

. Variação percentual no preço médio/kg de semente de trigo, de 1994 a 2001.

173

6.28a.

Projeção de preços médios /kg de sementes de feijão, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994-2001).

174

6.28b.

Variação percentual no preço médio/kg de semente de feijão, de 1994 a 2001.

174

6.29a.

Preços médios por kg de sementes básicas, sementes comerciais e grãos, de espécies selecionadas, de 1996 a 2001.

175

6.29b.

Preços médios por kg de sementes básicas, sementes comerciais e grãos, de trigo e feijão, de 1996 a 2001.

176

6.30. Variação percentual no preço médio/kg de sementes básicas, de sementes comerciais e de grãos, para espécies selecionadas, no período de 1996 a 2001.

176

7.1. Ano de entrada no negócio, das empresas participantes da pesquisa. 179

7.2. Estado(s) em que atua cada empresa 180

7.3. Principal produto das empresas de produção e comercialização de sementes, na amostra.

181

7.4a. Quantidade de sementes de soja (ton/ano) produzidas 182

7.4b. Quantidade de sementes de forrageiras e milho (ton/ano) produzidas 182

7.5. % médio de sementes básicas fornecido, por tipo de fornecedor 183

7.6a. Percentual médio de sementes de milho fornecido, por tipo de fornecedor. 186

7.6b. Percentual médio de sementes de soja fornecido, por tipo de fornecedor. 186

7.7a. Percentual médio de sementes de forrageiras fornecido, por tipo de fornecedor

187

7.7b. Percentual médio de sementes de arroz fornecido, por tipo de fornecedor 187

7.8. Vantagens de cada fornecedor (Embrapa ou outro fornecedor) de sementes básicas, antes e após a promulgação da LPC

188

7.9a. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de forrageiras, antes e depois da LPC.

190

7.9b. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de milho, antes e depois da LPC.

190

7.9c. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de soja, antes e depois da LPC.

191

7.10. Formas de relacionamento entre empresas e fornecedores de sementes básicas, antes e após a LPC.

192

Page 18: APOSTILA EMBRAPA

17

Figura Página 7.11. Facilidade de acesso a novas tecnologias, de acordo com o principal

fornecedor de sementes básicas, antes e depois da LPC. 193

7.12a.

Importância da pesquisa pública, conforme o fornecedor principal (Embrapa vs. outros fornecedores) de sementes básicas, antes e após a LPC.

198

7.12b.

Importância da pesquisa pública, conforme o fornecedor principal (Empresas públicas (Embrapa+fundações e similares) vs. outros fornecedores) de sementes básicas, antes e após a LPC.

198

7.13. Principal comprador de sementes, antes e após a LPC. 199

7.14. Ocorrência/não ocorrência de venda direta a produtores rurais, pelas empresas de sementes, antes de 1977, depois de 1997 e em ambos os períodos (para cada empresa).

200

7.15. Principal comprador de sementes, antes e após a LPC. 201

7.16. Relação da vantagem “melhor preço pago” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

202

7.17. Relação da vantagem “regularidade de compra” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

204

7.18. Relação da vantagem “menor risco” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

205

7.19. Acesso a redes de distribuição como vantagem de diferentes categorias de compradores, antes e após a promulgação da LPC.

207

7.20. Formas de relacionamento das empresas produtoras de sementes com seus compradores, antes e após 1997.

208

8.1. Modelo causal de amplitude da base genética. As setas vermelhas indicam relações negativas e setas pretas, relações positivas, entre as variáveis.

218

8.2. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor público de P&D.

221

8.3. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D

222

8.4. Avaliação sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor público de P&D.

233

8.5. Avaliação sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais – em função da capacidade tecnológica e avanço nas vertentes de inovação biotecnológica -, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D .

234

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18

Figura Página 8.6. Avaliação da intensidade de intercâmbio de organismos vegetais

portadores de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

242

8.7. Avaliação da intensidade de intercâmbio de conhecimentos acerca de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

246

8.8. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, no setor público de P&D

252

8.9. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D.

253

8.10. Avaliação da amplitude da base genética para o melhoramento de plantas – atualmente e em 2010, no setor público e privado de P&D

259

9.1. O processo de desenvolvimento de cultivares. 265

9.2. Importância atual e futura de processos de melhoramento genético, em dois setores de P&D.

266

9.3. Domínio de processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro, do setor público de P&D.

271

9.4. Domínio de processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro, do setor privado de P&D.

272

9.5. Necessidade de competências em processos de melhoramento genético nos dois setores de P&D.

281

9.6. Suporte operacional para pesquisa em processos de melhoramento genético no setor público de P&D, atual e em 2010.

282

9.7. Suporte operacional para pesquisa em processos de melhoramento genético no setor privado de P&D, atual e em 2010.

283

9.8. Necessidade de investimento em suporte operacional a processos de MG, nos dois setores de P&D.

289

9.9. Potencial de produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético, como fonte de novos negócios em 2010, para os setores público e privado de P&D.

296

9.10. Domínio atual e futuro de processos necessários para a obtenção de produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético, como fonte de novos negócios em 2010, para o setor público de P&D.

300

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19

Figura Página 9.11. Domínio atual e futuro de processos necessários para a obtenção de

produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético como fonte de novos negócios em 2010, para o setor privado de P&D.

301

9.12. Necessidade de desenvolvimento de competências para novos produtos geradores de novos negócios, nos setores público e privado de P&D no Brasil.

303

9.13. Potencial de produtos oriundos da biotecnologia, diferenciados por função, como base para novos negócios, nos dois setores de P&D, em 2010.

308

10.1. Resultados do Painel Delphi: participação percentual dos setores público e privado na Proteção de Cultivares, segundo os cenários alternativos.

314

10.2. Resultados do Painel Delphi: participação percentual atual e futura do setor público na proteção de cultivares junto ao SNPC, por segmento de produção, segundo os cenários alternativos propostos no Painel.

315

10.3. Resultados do Painel Delphi: participação percentual dos setores público e privado no Registro de Cultivares, atual e segundo os cenários alternativos.

317

10.4. Participação percentual atual e futura do Setor Público no Registro de Cultivares, por segmento de produção, segundo os cenários alternativos propostos no Painel.

318

10.5. Variação percentual, em relação à situação atual de proteção e registro de cultivares, pelos setores público e privado de P&D, em três cenários.

319

10.6a.

Variação percentual na participação do setor público, em proteção de diferentes espécies (passíveis de proteção), em relação à participação atual, em três cenários.

322

10.6b.

Variação percentual na participação do setor público, em registro de diferentes espécies, em relação à participação atual, em três cenários.

322

10.7. Importância estratégica futura das espécies/grupos de espécies para o Setor Público.

324

10.8. Importância estratégica futura das espécies/grupos de espécies para o Setor Privado.

324

10.9. Distribuição de medianas de importância estratégica de diversas espécies/ grupo de espécies para os dois setores de P&D.

328

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20

Apresentação

No início dos anos noventa, o setor de sementes era pouco estudado nas pesquisas sobre a modernização do sistema agroalimentar brasileiro. Propriedade intelectual ainda não se aplicava num setor visto como eminentemente o terreno do setor público. O Sistema Nacional de Pesquisa Agrícola sob a coordenação de EMBRAPA dominava a coleta e a preservação de material genético, bem como o seu melhoramento e o lançamento de cultivares. Em soja, foi complementado por melhoramento conduzido em cooperativas e pequenas empresas nacionais; em trigo houve até concorrência na forma das variedades introduzidas a partir do CYMMIT; e em milho, com base nos segredos industriais de híbridos, surgiu um setor empresarial privado dominado pela firma nacional Agroceres, ela mesma um produto da pesquisa pública. As multinacionais de sementes, naquela época ocupavam basicamente nichos de elite neste mercado de milho. Na virada do milênio, como no resto da economia, este setor sofreu profundas transformações e agora são precisamente as sementes que viraram o eixo das maiores tensões já vistas em torno do sistema agroalimentar, no embate em torno dos transgênicos. Mesmo no início dos anos ’90 foi possível detectar importantes mudanças na própria EMBRAPA. Com a formação dos seus quadros, através de uma política sustentada de qualificação dos seus pesquisadores, houve simultaneamente uma diminuição de recursos orçamentários para pesquisa e uma mudança no perfil das suas competências, agora afinado com a fronteira das biotecnologias e da informática. Ao mesmo tempo, a EMBRAPA foi talvez a empresa pública que em forma pro-ativa mais aprofundasse uma reflexão sobre o seu papel no contexto tão dramaticamente cambiante dos anos ’90, na sua adoção dos princípios de planejamento estratégico e de estudos prospectivos. Assim, se nos anos ’80 a EMBRAPA resistiu esforços de implementar uma política de proteção intelectual aplicada aos recursos genéticos, em meados dos anos ’90 a empresa se mostrou mais ajustada ao novo quadro institucional que foi implantado neste período. Em pouco anos, em conformidade com a sua adesão à OMC, o Brasil tramitou uma Lei de Patentes, uma Lei de Proteção de Cultivares, criou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e, em concordância com a Convenção da Biodiversidade (CDB) elaborou Projetos de Lei de Acesso aos Recursos Genéticos. Ao mesmo tempo, a primeira geração de sementes (milho, soja, algodão) transgênicas com características agronômicas (de resistência a herbicidas e a insetos, sobretudo), começou a ser comercializada nos Estados Unidos. O novo patamar de competitividade estabelecido pelas biotecnologias no setor de sementes, bem como as sinergias entre estas e os insumos químicos, levaram a uma incorporação do setor privado de sementes pelas grandes empresas agroquímicas, elas mesmas alvo de um processo rápido de concentração. Nos Estados Unidos, a Dekalb foi comprada pela Monsanto e a Pioneer pela Dupont e no Brasil a Agroceres, bem como outras empresas menores foram compradas pelo Monsanto, seguidas por aquisições por parte das outras transnacionais do setor. Em poucos anos, com esta transformação no quadro institucional e a reestruturação do mercado de sementes, o Brasil parecia pronto para receber a nova geração de sementes transgênicas.

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Mas nestes anos também, a dinâmica do sistema agroalimentar tinha se mudado com a crescente legitimação da base produtiva em função da demanda, que por sua vez refletia a força de dois novos atores no cenário global – os supermercados e as ONGs ligadas ao consumo e ao cidadão. Na Europa, os supermercados se declararam livres de transgênicos e as ONGs globais se empenharam em boicotes e campanhas mediáticas. Em 1998, no Brasil, a IDEC e a Greenpeace conseguiram embargar a liberação de transgênicos, já aprovada pela CNTBio. Desde então a comercialização de transgenicos no Brasil permaneceu ilegal, o que não impediu que uma importante parte da safra de soja, sobretudo no Sul, fosse plantada com transgênicas trazidas clandestinamente de Argentina. O que parecia, portanto, uma transição suave no setor sementes tanto institucional quanto na organização do mercado e nas relações entre o setor público e privado, se tornou palco das maiores tensões e polarizações já vistas no sistema agroalimentar. De ter sido um setor altamente especializado e escondido a montante da cadeia, as sementes, hoje, são alvo de um numero crescente de estudos, de reportagens e de debates. No calor destes debates, muitas vezes, as análises e os dados se tornam reféns de posições pré-estabelecidas. Ao mesmo tempo, a transformação tão radical do quadro institucional e do mercado gera novas questões ainda não adequadamente respondidas. Este trabalho O Futuro do Melhoramento Genético Vegetal no Brasil, que tenho o prazer e o privilegio de prefaciar, marca um esforço notável de avançar na compreensão desta nova realidade. Ao tentar responder à questão: “Onde vai o Melhoramento Genético de Plantas e o Mercado de Sementes no Brasil?”, esta equipe de EMBRAPA apresenta uma resenha cuidadosa da literatura e investiga hipóteses chaves sobre a relação entre a implementação do novo quadro institucional e as mudanças na organização e dinâmica do mercado de sementes. Temas fundamentais como a divisão de trabalho entre o setor público e privado, processos de concentração industrial, impacto da legislação de cultivares sobre oferta e preços de sementes, o funcionamento de royalties, formas de articulação na cadeia, são todos esmiuçados com um tratamento e interpretação cuidadosos dos dados disponíveis. A análise do pensamento das empresas de sementes é particularmente valiosa por se basear em respostas de um em quatro das empresas identificadas. Ao mesmo tempo, o estudo assume ambições maiores ao tentar vislumbrar as implicações de distintos cenários de futuro para o setor de sementes. Esta análise foi conduzida com base num painel Delphi de experts que visa estabelecer uma visão coletiva de acordo com os cenários apresentados. Ao mesmo tempo, a equipe incorpora opiniões discordantes, reproduzindo os argumentos dos próprios experts que é particularmente rica em captar a complexidade das questões em jogo. Transparência é a marca desta pesquisa e os autores incluem os nomes dos membros de painel, destacando a preponderância do setor público e, sobretudo, do sistema EMBRAPA. O estudo termina com uma instigante visão do futuro do mercado de sementes no Brasil em 2010 sob os três cenários – aprofundamento da crise econômica e social; avanços e recuos; e recuperação acelerada sustentável – elaborada com base na reflexão anterior e com o apoio de especialistas deste setor.

Este trabalho, repleto de análises cuidadosas de dados por um lado e de depoimentos de atores estratégicos por outro, se tornará, sem dúvida, uma referência constante para os

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estudiosos do tema. Não apenas explora com juízo as questões e conclusões da literatura existente, mas apresenta, em condições laboratoriais, o ator historicamente dominante - o sistema público de pesquisa diretamente envolvido no melhoramento genético vegetal – em pleno processo de reflexão sobre o seu papel no novo contexto institucional e de mercado neste setor de sementes, elo cada vez mais estratégico do sistema alimentar.

Prof. John Wilkinson (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

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Capítulo 1 Para onde vai o melhoramento genético de plantas e o mercado de sementes no Brasil?

O desenvolvimento de cultivares tem sido uma das principais formas de intervenção da pesquisa agropecuária para modificar a eficiência dos sistemas produtivos agropecuários em todo o mundo. Para a pesquisa agropecuária pública, é um dos produtos tecnológicos mais importantes e, certamente, o que tem trazido grandes retornos sociais e econômicos para os clientes e para o agronegócio brasileiro. O mercado brasileiro de sementes é altamente dependente, não apenas dos avanços que a inovação tecnológica gerada pelo melhoramento genético de plantas possa proporcionar, como também das turbulências que possam modificar o desempenho das organizações envolvidas.

Nos últimos anos, essa turbulência tem se manifestado na forma de eventos que têm modificado o equilíbrio desse mercado tecnológico, alterando as relações entre a oferta e a demanda de tecnologias e entre os atores desse sistema. Estes novos eventos incluem, entre outros, as novas leis de propriedade intelectual e de patentes de materiais vivos, os avanços nas técnicas de melhoramento genético utilizando a biotecnologia, o crescimento econômico do mercado de cultivares e a grande participação de conglomerados multinacionais no mercado de sementes. Estes eventos modificam as relações, o desempenho e o espaço que as instituições públicas e privadas de pesquisa agropecuária ocupam no mercado, e induzem uma reflexão mais aprofundada, sobre que impactos e desdobramentos poderão trazer, para a atividade de pesquisa no Brasil, no âmbito dos setores público e privado.

Em ambientes altamente turbulentos é necessário estruturar a reflexão sobre a natureza e a direção das mudanças, para ajustar o rumo das organizações. Mudanças profundas de contexto requerem, por parte das organizações, compreensão ampliada sobre a natureza das mudanças e reposicionamento estratégico, para que as organizações sejam comandantes e não vítimas da mudança. A complexidade da turbulência oriunda do contexto, atuando sobre diversas dimensões sociais, políticas, tecnológicas, econômicas e sobre sistemas complexos, demanda um tipo de reflexão sobre o futuro muito mais estruturada que aquelas que as organizações têm tradicionalmente realizado. A natureza do problema que se apresenta demanda a aplicação de ferramentas analíticas muito mais poderosas e sofisticadas da que as utilizadas até o presente.

Esta reflexão deve encarar o novo cenário de competição/cooperação entre pesquisa pública e privada, por espaços neste mercado de tecnologia, as possibilidades de rupturas e reformulação de relações, a reconfiguração de espaços e formas de atuação, e identificar oportunidades e ameaças futuras, sob o ponto de vista da pesquisa pública e da atuação governamental nesse setor. Torna-se necessário analisar as mudanças recentes, as causas dessas mudanças e os seus impactos sobre a produção de cultivares, de sementes e sobre as instituições públicas e privadas de P&D.

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Foi esta a orientação do presente estudo. Partiu-se de uma pergunta genérica (Onde vai o melhoramento genético de plantas e o mercado de sementes no Brasil?), fixou-se um horizonte temporal de cerca de 10 anos adiante (2010) e aplicaram-se técnicas de análise sistêmica, para conhecer a realidade atual das organizações que fazem pesquisa em melhoramento genético de plantas e que compõem o mercado de sementes no país. Nesse processo, realizou-se uma varredura sobre a informação disponível e, ao mesmo tempo, coletou-se o estoque de conhecimento tácito, que era mantido pelos especialistas brasileiros no tema. Realizou-se um diagnóstico sistemático do que se passou, nos dez anos anteriores, em relação ao germoplasma, ao melhoramento genético de plantas e ao mercado brasileiro de sementes.

A partir desse diagnóstico foi possível aplicar técnicas de estudo de futuro, para antecipar como as mudanças recentes vão modificar as organizações, seus processos, produtos e desempenhos, e as relações entre elas. Foram realizados estudos de cenários alternativos e painel Delphi, concentrando-se em variáveis de grande importância estratégica e de alto grau de incerteza. Os resultados obtidos são importantes subsídios para a formulação de estratégia sobre o posicionamento futuro e reconfiguração da pesquisa pública em germoplasma, na produção de cultivares e seus impactos no mercado de sementes.

Os resultados desse esforço de três anos de pesquisa são apresentados nesta obra: no Capítulo 2 examina-se o contexto das organizações de P&D em melhoramento genético de plantas, com a identificação de possíveis macro-influências de eventos emergentes sobre o melhoramento genético de plantas e sobre o mercado de sementes no Brasil. A análise concentra-se em eventos que foram julgados de grande influência sobre a pesquisa em melhoramento genético, tais como as mudanças no arcabouço legal de proteção à propriedade intelectual; os avanços da biologia molecular e seus impactos sobre o melhoramento de plantas; o crescimento e concentração do mercado de cultivares e sementes; a reorganização do Estado e os novos papeis das instituições de C&T no Brasil.

O arcabouço conceitual e metodológico aplicado neste trabalho é detalhadamente apresentado e justificado no Capítulo 3. Os fundamentos e técnicas que se aplicam para promover a compreensão do futuro são apresentados, enfatizando-se as principais, o uso de cenários e a técnica Delphi. É evidenciado o uso do enfoque sistêmico e das técnicas de análise de sistemas, como forma de ampliar o conhecimento sobre o desempenho atual e passado do setor estudado, separando seus elementos essenciais. A partir daí, são derivadas a estratégia metodológica aplicada no trabalho e apresentadas as principais etapas de execução dessa metodologia.

O sistema nacional de produção de cultivares e sementes, uma abstração criada para interpretar o objeto do estudo, é apresentado no Capítulo 4, sob a forma de modelo de sistema. Aplicando-se técnicas de modelagem de sistemas, descreve-se a realidade do setor de germoplasma, da pesquisa em produção de cultivares e do mercado de sementes como um complexo de atores e de variáveis interconectados, com o propósito de suprir o agronegócio brasileiro de sementes de alta qualidade e desempenho. A questão do desempenho do sistema como um todo e dos seus subsistemas de germoplasma, produção de cultivares e mercado de sementes é analisada, buscando-se determinar variáveis críticas de desempenho desse sistema. Tais variáveis críticas são as bases para a formulação da prospecção de futuro do sistema nacional de produção de cultivares e sementes.

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O conhecimento tácito existente no setor é resumidamente apresentado no Capítulo 5, a partir da apresentação dos resultados das entrevistas realizadas com cientistas selecionados pela sua larga experiência no tema e de alguns produtores de sementes. As opiniões, os receios, as expectativas e as visões de futuro do setor são registradas, tendo como referência os eventos emergentes que estão promovendo as mudanças no sistema nacional e nas suas organizações.

A questão das sementes é tratada nos Capítulos 6 e 7, ambos em relação à configuração passada e presente. No primeiro, o setor de produção e comercialização de cultivares e sementes é escrutinado, a partir da informação secundária disponível nas diversas fontes de informação escrita e eletrônica. Aspectos quantitativos sobre número de empresas, produção de cultivares, produção de sementes, evolução de preços nos últimos 10 anos são apresentados, sempre tendo como referência o ano de 1997, quando foi promulgada a nova lei de proteção à propriedade intelectual. No Capítulo 7, registra-se a visão das empresas produtoras de sementes, produzida a partir da realização de uma pesquisa direta, que cobriu a opinião de 25% dos produtores brasileiros de sementes afiliados a ABRASEM. Outra vez, a promulgação da Lei de Propriedade Intelectual em 1997 foi tomada como ponto de inflexão, investigando-se qual o teor de mudanças no setor, sob o ponto de vista dos produtores, a partir da entrada em vigor da referida lei. As relações comerciais antes e depois de 1997 também são examinadas nesse Capítulo.

O futuro do sistema nacional de produção de cultivares e de sementes começa a ser discutido no Capítulo 8, inicialmente a partir da situação da disponibilidade de base genética para o melhoramento. A pergunta básica desse Capítulo é “o que acontecerá com a amplitude da base genética em 2010, a partir da promulgação da lei de propriedade intelectual?” Quais as mudanças futuras esperadas de acesso a organismos portadores de variabilidade genética e ao conhecimento sobre esta, intercâmbio de organismos e conhecimentos entre, e dentro, de setores público e privado de P&D, e, no final, o que acontecerá com a amplitude da base genética, em diferentes cenários de desenvolvimento social, econômico e tecnológico? A questão do futuro do uso do germoplasma como insumo do melhoramento é detalhadamente escrutinada.

A discussão sobre o futuro do sistema avança para o setor produtor de cultivares, as organizações públicas e privadas de P&D, onde o melhoramento genético de plantas é realizado. Este é o escopo do Capítulo 9, investigar a evolução futura dos processos e produtos do melhoramento genético, sob a ótica da evolução da biotecnologia e da lei de propriedade intelectual. Ao mesmo tempo em que o painel de 40 especialistas no tema avalia a importância atual e futura de processos e produtos, em distintos cenários sociais e econômicos, é também feita a avaliação do grau de domínio desses processos científicos e da capacidade de recursos humanos e de infra-estruturas, no âmbito do setor público e privado de P&D, para executar os referidos processos e gerar os produtos mencionados. Concluindo, avaliam-se as oportunidades futuras para a pesquisa pública e privada, em termos de processos e produtos que possam gerar negócios tecnológicos.

A questão do desempenho atual e futuro das estruturas pública e privada de P&D é examinada no Capítulo 10. A atual capacidade dos setores público e privado de P&D, de registrar e proteger cultivares, dentro do conjunto de normas e regulamentos que regem a produção e comercialização de cultivares no Brasil, é representada e quantificada por indicadores específicos de desempenho. A partir desses indicadores, o desempenho futuro das estruturas pública e privada de P&D é antevista, detalhando-se

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este desempenho pelas principais atividades do agronegócio, como soja, milho, arroz, feijão, etc. Fechando o capítulo, o painel traça uma avaliação futura dos espaços a serem ocupados preferencialmente pela pesquisa pública e privada, em relação às diversas atividades do agronegócio brasileiro.

O futuro do setor de sementes é tratado no Capítulo 11, sendo nesse caso empregada a técnica de cenários alternativos. A partir dos cenários sociais e econômicos do contexto, utilizados como referência no Painel Delphi, são construídos cenários alternativos para o setor de sementes para o ano de 2010. O resultado destaca as variáveis de comportamento mais incerto, e constrói hipóteses plausíveis de futuro para estas variáveis. Este é um exercício que certamente contribuirá para colocar luzes sobre os riscos e incertezas que estão associados a um dos pilares mais importantes do agronegócio brasileiro.

No conjunto, esta é uma obra que poderá interessar uma gama variada de profissionais: interessará ao pesquisador em melhoramento genético, pelo seu detalhado exame da evolução de processos científicos e seus impactos na geração de produtos; o administrador público e privado encontrará um exemplo aplicado de uso de técnicas de inteligência empresarial, como a prospectiva, e suas principais ferramentas, os cenários e a técnica Delphi; os gestores das organizações componentes do sistema nacional de produção de cultivares e sementes encontrarão farta informação para orientar a formulação de suas estratégias organizacionais; os estudantes de graduação e pós-graduação nos temas correlatos terão informação, conceitos e metodologias, para inspirar e referenciar os seus estudos.

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Capítulo 2 Transformações no Sistema Nacional de Desenvolvimento de Cultivares e Produção de Sementes

O desenvolvimento de cultivares é uma das atividades mais relevantes da pesquisa agropecuária brasileira, apresentando grandes retornos econômicos e sociais para os clientes dos segmentos público e privado atuantes no setor. A produção de cultivares, resultado do processo de melhoramento genético de plantas, representa uma das principais formas de atuação de instituições públicas de P&D no país, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, os Institutos Estaduais e as Universidades, bem como de grande número de empresas privadas dedicadas ao mercado de sementes.

Nos últimos anos, muitos eventos têm modificado o equilíbrio deste segmento de inovação, alterando as relações entre a oferta e a demanda de tecnologias. Estes novos eventos incluem: a) a implementação do novo arcabouço legal de proteção do conhecimento, representado pelas legislações de propriedade industrial (patentes), proteção de cultivares e, mais recentemente, pela discussão da legislação de acesso ao patrimônio genético; b) os avanços nas técnicas biotecnológicas aplicadas ao melhoramento genético, incluindo os marcadores moleculares, a engenharia genética e, mais recentemente, a genômica; c) a dinâmica do mercado de cultivares que, em função do crescimento da agricultura brasileira e da abertura de novas perspectivas tecnológicas se torna a cada dia mais sofisticado e competitivo; d) o processo de integração industrial decorrente da revolução biotecnológica, levando a uma crescente participação de conglomerados transnacionais no mercado de sementes; e) o intenso processo de reorganização do estado, que tem gerado desafios e pressões consideráveis para as instituições dedicadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação no Brasil. O conjunto desses eventos modifica as relações, o desempenho e o espaço que as instituições públicas e privadas ocupam no mercado, e induzem uma reflexão mais aprofundada sobre quais desdobramentos e impactos poderão ser provocados nos segmentos de desenvolvimento de cultivares e produção de sementes, que são vitais para o desempenho e a competitividade da economia do país.

Este novo cenário de mudanças e de incerteza tem gerado a necessidade de reposicionamento estratégico da pesquisa pública no Brasil. Todavia, para se reposicionarem, as organizações de pesquisa vão demandar informações, atualmente não disponíveis, acerca da evolução futura dos eventos emergentes que estão promovendo mudanças no desempenho do setor. Para obter e organizar estas informações, foi desenvolvido um estudo prospectivo sobre o desempenho presente e futuro do sistema nacional de produção de cultivares e sementes, tendo como principais objetivos:

a) Realizar um diagnóstico do sistema nacional de produção de cultivares e sementes, identificando eventos relevantes e principais fatores críticos de desempenho atual e passado do sistema;

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b) Identificar os principais eventos causadores de mudanças no sistema e no correspondente mercado de tecnologia e analisar os seus impactos presentes e futuros;

c) Determinar oportunidades e ameaças futuras à inserção estratégica da pesquisa pública nesse mercado tecnológico;

d) Desenvolver possíveis cenários alternativos sobre as relações entre a pesquisa pública e a privada, e destas com o mercado de cultivares, para orientar o posicionamento estratégico da pesquisa pública no tema;

e) Identificar oportunidades e ameaças futuras, sob o ponto de vista da pesquisa pública em geral, para orientar o posicionamento estratégico da Embrapa.

As seguintes questões fundamentaram este estudo prospectivo: 1. Que impactos terão os eventos relacionados, sobre os segmentos do agronegócio de cultivares e sementes atendidos pela pesquisa agropecuária pública? 2. Face às mudanças indicadas, quais deverão ser os novos espaços e papéis da pesquisa agropecuária pública e privada, considerando os segmentos de desenvolvimento de cultivares e produção de sementes? e, 3. Como será, no futuro, a articulação da pesquisa pública e privada, com os mercados de cultivares e sementes? Tal conhecimento será essencial para possibilitar às organizações de pesquisa a elaboração de estratégias de reconfiguração da sua prática de melhoramento genético de plantas, permitindo modificar estruturas, métodos e capacidades, ocupando novos nichos e buscando novas oportunidades em resposta a possíveis trajetórias futuras do setor. A seguir apresenta-se a análise dos eventos que influenciam o desempenho presente e futuro do sistema nacional de produção de cultivares e sementes, que serviram de norteamento para o estudo prospectivo aqui descrito.

2.1 Melhoramento Genético no Brasil: Antecedentes

O melhoramento de plantas tem sido definido como “a ciência e a arte de modificar as plantas em benefício da sociedade” (Paterniani, 2003). Na verdade, o melhoramento genético se iniciou com a própria invenção da agricultura há cerca de 10.000 anos, que foi em grande parte baseada na domesticação de plantas e animais e na gradual adaptação de modelos e processos de produção. Em função do desconhecimento dos fundamentos biológicos dos caracteres de interesse, é natural que o homem tenha utilizado mais arte e criatividade ao longo do processo de domesticação e adaptação das espécies para utilização prática. Associado às observações e aos conhecimentos empíricos ao longo de milhares de anos, os resultados foram de grande significado para a sobrevivência da espécie humana. Já no século 19 certos conhecimentos sobre nutrição das plantas estavam disponíveis, porém progressos substanciais sobre a herança dos caracteres e sobre o material genético só ocorreram no século 20, que foi marcado por descobertas que tiveram profundo impacto na maneira de se operar o melhoramento de plantas. No início do século houve a redescoberta das leis de Mendel, por volta de 1910 aconteceu a descoberta da heterose e na década de 20 foram desenvolvidas as bases dos métodos clássicos de melhoramento. A década de 30 foi marcada pela descoberta da mutagênese e da aplicação dos métodos estatísticos ao melhoramento

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genético, seguidos, na década seguinte pelos grandes avanços na genética quantitativa. A segunda metade do século 20 foi marcada pelos avanços na fisiologia, bioquímica, cultura de tecidos, culminando com os impressionantes progressos na biologia molecular, verificados nas décadas de 80 e 90 (Paterniani, 2003; Borém, 1998, Borém e Milach, 1999).

A eficiente aplicação dos princípios e conhecimentos fundamentados na genética e outros campos do conhecimento, associada às demais técnicas agronômicas, conduziram ao desenvolvimento sem precedentes da agricultura moderna. Nos últimos cem anos os melhoristas de plantas foram bastante eficientes na utilização desses conceitos e ferramentas para alcance de dois grandes objetivos: a) eliminação dos defeitos da planta, como suscetibilidade às doenças e às pragas, porte inadequado, baixa qualidade do produto colhido, má adaptação ao ambiente de cultivo etc.; e b) aumento da capacidade produtiva da planta pelo emprego da heterose, aumento do índice de colheita, etc. Ao perseguir o primeiro objetivo, a meta, em muitos casos, foi não deixar que a capacidade intrínseca de produzir da planta fosse encoberta pelos seus defeitos, como suscetibilidade a moléstias e insetos, intolerância a estresses abióticos, etc. (Pereira, 2003). Estima-se que cerca de 50% dos incrementos obtidos na produtividade das diferentes culturas devem-se ao melhoramento genético, enquanto os outros 50% são atribuídos à melhoria das práticas de manejo como fertilização, definição do número adequado de plantas por unidade de área, controle de insetos, doenças e plantas daninhas, além de outras práticas culturais (Fehr, 1987). A instrumentação e a mecanização, que avançaram sobremaneira na segunda metade do século 20, tornaram ainda mais rápida e cômoda a aplicação de muitas dessas práticas, que além de impactarem os sistemas produtivos, também potencializaram a capacidade de trabalho dos melhoristas. Duvick (1984), a partir de sua experiência em melhoramento de milho, indicou que os maiores avanços que presenciou foram a crescente ênfase em instrumentação, com maquinaria agrícola e computadores nos programas de melhoramento; a prática de duas ou mais gerações ao ano, diminuindo o tempo para a obtenção de novas variedades e o aumento na rapidez da comunicação entre melhoristas ao redor do mundo, através dos recursos disponibilizados pela tecnologia da informação.

A Revolução Verde certamente foi uma das maiores demonstrações do impacto econômico e social que o melhoramento de plantas pode gerar (Borém e Milach, 1999). Nesse caso, a introdução de genes para baixa estatura em trigo e, em seguida em outros cereais como arroz, possibilitou aumentos significativos na capacidade adaptativa e na produtividade dessas espécies. Essas mudanças também levaram a uma maior utilização de fertilizantes nitrogenados e outros insumos, mesmo nos países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China. Essas mudanças tiveram profundo impacto na agricultura e levaram a aumentos significativos na produção mundial de alimentos (Borlaug, 1971, Dalrymple, 1972).

2.1.1. Recursos Genéticos Vegetais

As atividades de melhoramento genético vegetal, têm tradicionalmente se baseado no acesso a diferentes categorias de recursos genéticos como fonte inicial de variação para

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o desenvolvimento de variedades de plantas, cada vez mais adequadas às necessidades do homem. Centenas de materiais genéticos são avaliados para a seleção de genótipos a serem utilizados em cruzamentos dirigidos, fazendo com que as variedades modernas incorporem no seu genoma genes de origens e de fontes variadas ao longo do processo de melhoramento. Por recursos genéticos para agricultura e alimentação entende-se os materiais genéticos de valor atual ou potencial utilizados em sistemas de produção agrícola e pertencentes às seguintes categorias: a) espécies silvestres; b) espécies de parentes silvestres das plantas cultivadas; c) raças locais de plantas; d) variedades primitivas ou obsoletas; e) variedades de plantas modernas; f) linhagens de melhoramento e populações experimentais; g) linhagens com características genéticas e citogenéticas especiais. Recursos genéticos de algumas destas categorias podem ser encontrados tanto em condições in-situ como em condições ex-situ, tais como as espécies silvestres, os parentes silvestres de plantas cultivadas, as raças locais e as variedades primitivas ou obsoletas (Santos, 2001).

Na busca de novas características, o melhoramento alimenta-se da diversidade genética, conseqüência da diversidade biológica, mas, de forma alguma, satisfaz-se com a diversidade nacional ou regional. O melhoramento mais primitivo, praticado por nossos antepassados remotos, tratava de agregar espécies à matriz de cultivos. Nessa fase, plantas desconhecidas tornaram-se alguns dos cultivos que mais influenciam a vida humana e, às vezes, plantas invasoras passaram a ser aproveitadas, quando, por exemplo, demonstravam maior rusticidade e maior gama de adaptação que as formas incipientemente cultivadas e tinham algo a oferecer, como alimentos, medicamentos, ou até qualidades estéticas. Esse processo de busca de novas opções na biodiversidade, por mais antigo que seja, nunca foi interrompido e não tende a esgotar-se (Valls, 2003). Nesse processo, o homem domesticou cerca de cem a duzentas das milhares de espécies vegetais existentes na biodiversidade. Destas, menos de 15 atualmente suprem a maior parte da dieta humana (Conway & Barbier, 1990), podendo ser agrupadas como cereais (arroz, trigo, milho, sorgo e cevada), raízes e caules (beterraba, cana-de-açúcar, batata, mandioca e inhame), legumes (feijão, soja e amendoim) e frutas (citros e banana) (Borém e Milach, 1999).

Paterniani (2003) indica que, embora o interesse pela preservação de variedades venha de longa data, merecendo especial destaque os trabalhos de Vavilov na primeira metade do século passado, foi a partir da década de 50 que a comunidade científica passou a valorizar cada vez mais o patrimônio genético global, resultando no desenvolvimento de bancos de germoplasma que mantém coleções de praticamente todas as espécies cultivadas, inclusive os seus parentes silvestres. Tais bancos constituem um valioso repositório de material genético disponível para os intercâmbios e introduções para os programas de melhoramento nos diferentes países. Apenas os Centros Internacionais de Pesquisa que congregam o CGIAR (Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional) conservam atualmente mais de 650,000 amostras de variedades locais (landraces), de variedades tradicionais, de espécies não domesticadas, de cultivares obsoletas e fora de uso, de novos materiais em fase de desenvolvimento e de linhas avançadas que são insumos para o processo de melhoramento. Estas amostras representam cerca de 40% do acervo global de recursos genéticos das principais culturas alimentares e forrageiras de importância global e regional (CGIAR, 2003).

Embora o Brasil seja detentor de uma das maiores biodiversidades do mundo, é um País dependente de recursos genéticos de outras regiões para sua produção agrícola e alimentação e, portanto, altamente dependente de intercâmbio com outros países. A

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agropecuária brasileira, bastante diversificada em função da diversidade ecológica do país, jamais progrediria não fosse a importação sistemática e crescente de recursos genéticos, principalmente, aqueles associados a componentes essenciais da dieta do brasileiro, como o arroz, o trigo, o milho, a cana-de-açúcar, a batata, dentre outros. Esta dependência certamente persistirá no futuro, uma vez que a pesquisa voltada para o desenvolvimento de novas variedades vegetais e raças animais sempre necessitará dos materiais genéticos portadores de características de adaptação ecológica, como resistência às pragas e às doenças que ocorrem no país e adaptação às condições de estresses abióticos que ocorrem nas diversas regiões produtivas (Valls, 2001, 2003).

A Embrapa, imbuída da preocupação mundial sobre a progressiva erosão e perda dos recursos genéticos, criou uma Unidade referência, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para tratar de forma objetiva e organizada das atividades de introdução, de coleta, de intercâmbio, de caracterização, de conservação, de documentação e da informação de recursos genéticos no país, englobando espécies vegetais autóctones e exóticas, além de raças de animais naturalizadas em perigo de extinção e de microrganismos. Ao se criar esta unidade, o objetivo foi aumentar a variabilidade dos recursos genéticos, de forma a suprir os programas de melhoramento com o germoplasma necessário para o desenvolvimento de novas variedades de plantas e de raças de animais, além de conservar esse material a longo prazo, garantindo disponibilidade de variabilidade genética para uso futuro.

Assim, a Embrapa mantém uma Coleção de Base, em câmaras frias (-20oC), com cerca de 70 mil acessos na forma de sementes e 2 mil acessos in vitro de material de propagação vegetativa, representando vários produtos importantes para a agricultura brasileira, além de espécies silvestres de uso potencial. A rede de Bancos Ativos de Germoplasma coordenada pela Embrapa, que começou em 1976 com pouco mais de 10 Bancos, conta hoje com um total de 166 Bancos Ativos, englobando 152 gêneros e 221 espécies de vegetais, animais e de microrganismos. Os Bancos de Germoplasma estão localizados em Unidades de pesquisas da Embrapa, em Empresas Estaduais e em Universidades e neles se realizam pesquisas e manejo dos recursos genéticos, objetivando conciliar os esforços de conservação da biodiversidade com o desenvolvimento agrícola sustentável. Nos últimos trinta anos, a Embrapa logrou estabelecer um sistema de introdução e quarentena de germoplasma, o qual já movimentou mais de 334.000 acessos, além de ter evitado a entrada de mais de 100 espécies de pragas no país, que causariam sérios danos à agricultura brasileira, como já ocorreu no passado, com a entrada no país do fungo da ferrugem do cafeeiro, do bicudo do algodão, entre outros.

As atividades em recursos genéticos vegetais no Brasil têm sido essenciais na mudança da agricultura de subsistência para uma agricultura com elevados níveis de produção e crescente capacidade competitiva. Entretanto, o desafio de desenvolver variedades melhoradas é dinâmico, uma vez que novos desafios como estresses bióticos e abióticos, mudanças de hábitos e mercados, etc, ocorrem continuamente. Assim, melhoramento genético contínuo das culturas é necessário, para se manter ou elevar os atuais níveis de produção, produtividade, diversidade e qualidade, e isto requer esforços, na procura constante de novas fontes de variabilidade genética e incorporação de novos genes e funções biológicas para desenvolvimento de cultivares que atendam às demandas e expectativas da sociedade.

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2.1.2. Avanços do Melhoramento Genético Vegetal no Brasil

O melhoramento de plantas no Brasil está entre os melhores do mundo, com contribuições expressivas ao longo de todo o século XX, com especial destaque para a formação de recursos humanos e para o desenvolvimento de grande diversidade de plantas adaptadas às condições tropicais. Em todas as espécies cultivadas no Brasil o melhoramento genético produziu progressos genéticos consideráveis, que foram descritos e discutidos em detalhes por vários autores, como Nass et al. (2001), Ramalho (2001) e Vencovsky e Ramalho (2000). A seguir são apresentados alguns exemplos marcantes da trajetória e dos progressos do melhoramento genético no país, destacando principalmente os avanços obtidos na segunda metade do século XX.

Milho

O caso do melhoramento genético do milho sintetiza bem a trajetória desse segmento de inovação no Brasil nas últimas décadas. Machado (1996) indicou que a história do melhoramento do milho no Brasil coincide com o que melhor se praticava nos programas de genética e melhoramento nos países desenvolvidos. Assim, as equipes que aqui se formavam puderam praticar e transmitir conhecimentos que construíram o suporte de metodologias e de recursos humanos dos diversos programas de melhoramento hoje em andamento no Brasil.

O Instituto Agronômico de Campinas e a Universidade Federal de Viçosa iniciaram o estudo das cultivares de milho a partir de materiais e raças locais, tendo também introduzido variedades e linhagens de programas americanos. A partir do programa da Universidade Federal de Viçosa se criou a primeira empresa privada nacional de sementes de milho, a Sementes Agroceres S.A., que se tornou um dos maiores grupos privados atuando em produção de sementes no Brasil, até ser adquirida pela empresa multinacional Monsanto em fins da década de 90. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz deu importantes contribuições no estudo e desenvolvimento de métodos de melhoramento e desenvolvimento de cultivares, tendo coletado, avaliado e conservado uma imensa coleção de raças e variedades de milho.

Com a criação da Embrapa, o seu Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo - CNPMS iniciou amplo programa de melhoramento de milho, tendo realizado, como atividades de base, diversas introduções e avaliações de germoplasma de adaptação tropical do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo - CIMMYT, localizado no México. Este esforço permitiu a identificação de fontes de variabilidade com ampla adaptação e elevado potencial produtivo, como variedades melhoradas para o mercado, além de linhas puras para programas de produção de híbridos (Lopes et al., 1995).

Café

O café é outra cultura que representa bem o pioneirismo e a competência brasileira em melhoramento genético vegetal (Guerreiro Filho, 2001; Ramalho, 2001). Esta espécie foi introduzida no Brasil em Belém - PA, por Francisco de Mello Palheta em 1727. Ele conseguiu algumas sementes de Coffea arabica, cultivar Arábica existente na antiga Guiana Francesa. Do Pará o café foi levado ao Maranhão e a estados vizinhos, tendo chegado à Bahia em 1770. Há indícios de que a introdução no Estado de São Paulo

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ocorreu por volta de 1790, também de sementes oriundas da cultivar Arábica. A partir daí, a cultura prosperou na região Sudeste, sobretudo devido às condições mais favoráveis de clima e solo, e ao trabalho do imigrante que substituiu o escravo. Foi em 1933 que se iniciou o programa de melhoramento do cafeeiro no Brasil, com os trabalhos de hibridação realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Para dar suporte a esse trabalho, foram realizadas várias pesquisas básicas sobre taxonomia, citogenética e biologia floral, as quais contribuíram para a maior eficiência do programa de melhoramento. Um fato marcante para a cafeicultura brasileira foi a seleção de uma planta em uma plantação de Urupês, SP, que originou a cultivar Mundo Novo. Em 1944, foram implantados os primeiros experimentos de avaliação das progênies derivadas dessa planta, que constituem atualmente o principal germoplasma em uso pelos cafeicultores (Carvalho e Fazuoli, 1993, citados por Ramalho, 2001). No final da década de quarenta foram realizadas as primeiras hibridações entre os cultivares Caturra Amarelo X Mundo Novo originando o cultivar Catuaí, cujas progênies foram distribuídas a partir de 1964. A vantagem dessa cultivar é a associação da rusticidade do Mundo Novo com o menor porte do "Caturra". Considerando que mais de 95% da área plantada atualmente no país utiliza progênies selecionadas das cultivares Mundo Novo e Catuaí, pode-se fazer uma estimativa do que representou o melhoramento genético e a introdução das linhagens melhoradas na cafeicultura brasileira (Ramalho, 2001). Este extraordinário trabalho de melhoramento resultou na obtenção de ganhos consideráveis em produtividade, dos mais expressivos entre todos os programas de melhoramento vegetal de que se tem conhecimento, com ganhos estimados em cerca de 295% em produtividade, quando as cultivares mais recentes são comparadas àquelas mais antigas (Mendes, 2003).

Eucalipto

Ramalho (2001) relata outro exemplo de sucesso do trabalho dos melhoristas brasileiros - o eucalipto, nossa principal fonte de carvão vegetal, de celulose, além de fonte de madeiras que cada vez mais ocupam espaço na produção de móveis e outras utilidades. O gênero Eucalyptus é originário da Austrália, e sua introdução no Brasil ocorreu em 1903, através da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em seguida foi estimulado o seu plantio por fornecer em menor tempo combustível para a ferrovia, além de madeira para postes e dormentes.

Os primeiros plantios apresentavam baixa qualidade e por isso, em 1941, o Instituto Agronômico de Campinas começou o trabalho de seleção para a produtividade. Contudo, foi só a partir dos anos sessenta, por iniciativa de algumas empresas privadas e também do setor público, que o melhoramento recebeu maior atenção, e passou a ser realizado sistematicamente. Após um século da introdução do eucalipto, o Brasil é responsável por cerca de 22% da área plantada com a cultura no mundo, se destacando como gerador de tecnologia e país de destaque na produtividade dos plantios florestais.

Com o advento da clonagem em escala comercial, grande ênfase foi dada à seleção e propagação das árvores superiores resultantes dos programas de melhoramento, e também dos plantios comerciais já estabelecidos. As florestas clonais obtidas a partir de então apresentaram ganhos significativos, especialmente em produtividade e

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uniformidade (Rezende, 2001). Portanto, o melhoramento genético do Eucalyptus no Brasil tem pouco mais de 40 anos, ou seja, um tempo muito curto para o melhoramento genético de uma espécie perene.

Ramalho (2001) sumariza como os avanços conseguidos correspondem a uma das maiores realizações da ciência brasileira: “Para se ter uma idéia dos avanços conseguidos, a área plantada com eucalipto em 1960 era de 700 mil ha e no final dos anos noventa atingiu um espetacular incremento de 5 vezes, isto é, 3,5 milhões de ha. A produtividade que em 1960 era de aproximadamente 20 m3/ha/ano, nas empresas florestais, passou para 40 m3/ha/ano. Desse acréscimo pode-se inferir que pelo menos 50% foi devido ao melhoramento genético. Considerando o preço atual de US$ 50,00 por m3 da madeira e a área plantada anualmente de 500 mil ha, o melhoramento genético contribuiu anualmente com um aumento de US$ 25 milhões na renda das empresas. Aliado a esse fato, pode-se imaginar os milhares de hectares de florestas nativas que foram preservadas com o cultivo do eucalipto. Também merece destaque a contribuição da celulose como um dos principais itens na pauta de exportações brasileiras, tendo atingido em 1999, 7,6 milhões de toneladas”.

Soja

O desenvolvimento de tecnologia para a cultura da soja é uma das grandes conquistas brasileiras nas últimas quatro décadas. Hoje o país é o segundo produtor mundial desta oleaginosa, com um volume, em 2003, superior a 50 milhões de toneladas, o que é excedido apenas pelos Estados Unidos da América, o principal produtor mundial. Até meados da década de 70, a área cultivada era pequena e situava-se basicamente nos estados do Sul do País. Posteriormente ocorreu significativa expansão na área cultivada, representada principalmente pela sua migração para as áreas de cerrado, do Centro-Oeste e, posteriormente, para nichos na Região Norte do Brasil.

Esta espetacular expansão da cultura da soja no Brasil só foi possível devido à obtenção de novas cultivares adaptadas a essas regiões, em conjunção com melhorias nas práticas de manejo, como plantio direto, inoculação de sementes com estirpes de Rhizobium para fixação biológica do nitrogênio, mecanização, etc. As cultivares disponíveis para cultivo no sul do Brasil até 1970 eram fotossensíveis, isto é, exigiam dias longos para florescerem. Quando semeadas nas condições de dias curtos, próximo à linha do Equador, floresciam precocemente, cresciam e produziam pouco. Foi necessário desenvolver cultivares insensíveis ao comprimento do dia e tolerantes ao alumínio, elemento tóxico presente nos solos do cerrado. Melhoristas brasileiros conseguiram em um período relativamente curto obter essas cultivares, o que tornou o cultivo da soja no cerrado uma realidade (Ramalho, 2001).

A contribuição do melhoramento genético da soja foi discutida por Vencovsky e Ramalho (2000) que enfatizaram: “Em 1961 a produtividade de grãos por área era de 1,127 t/ha. Em 1980 esse valor subiu para 1,727 t/ha, passando a 2,367 ton/ha em 1998. O coeficiente de regressão abrangendo esses 38 anos resulta num valor de b = 31,6 kg/ha/ano, de incremento na produtividade. Cumulativamente, isso corresponde a um aumento de 1,2 ton/ha de grãos de soja, decorrente do aprimoramento da tecnologia. Admitindo que 50% desse incremento é devido ao melhoramento genético obtém-se 600 kg/ha, no período de tempo considerado”.

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Outras culturas

A contribuição do melhoramento de plantas no Brasil tem sido significativa em várias outras espécies, como arroz; feijão; sorgo; algodão; raízes e tubérculos; fruteiras temperadas e tropicais; espécies forrageiras; hortaliças etc. Ramalho (2001), Queiroz (2001), Queiroz et al. (1999) e Paterniani (1999) relataram a contribuição do melhoramento genético no Brasil, descrevendo os significativos avanços alcançados pelos programas de melhoramento genético brasileiros no âmbito de diversas culturas e cadeias produtivas.

2.1.3. Impactos do Melhoramento Genético no Desempenho da Agricultura Brasileira

Nos últimos vinte anos, o salto da produção agropecuária brasileira não teve paralelo em nenhum país do mundo. Mais que a produção, a produtividade e qualidade de culturas atingiram e em alguns casos superaram o de outras nações grandes produtoras de alimentos no mundo. As taxas de crescimento do PIB agropecuário brasileiro, publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), refletem estes avanços. No período de 1990 a 2002, o PIB agropecuário do país cresceu a 3,18% a.a., enquanto o PIB total cresceu 2,71%. De 1999 a 2002, o PIB agropecuário cresceu quase o dobro do PIB total do país, 4,29% e 2,32%, respectivamente (Gasques e Bastos, 2003).

Além das políticas macroeconômicas, setoriais e da tecnologia, a organização do agronegócio tem sido um fator essencial para o seu sucesso. Em essência, consiste na capacidade de se articular em busca de vantagens comparativas, construídas principalmente pela tecnologia e pela inovação e não pelo menor custo dos fatores (Wedekin, 2002). A organização do agronegócio tem possibilitado uma busca da redução de custos, o que é uma questão crucial na produção de commodities, pois estas requerem amplo volume de operação para a obtenção de ganhos nas economias de escala, e assim diminuir os custos unitários de produção e distribuição. Além desse esforço, a estratégia adotada, de diferenciação de produtos e de serviços, tem se mostrado decisiva na competitividade do agronegócio. Nesse caso, tem -se procurado oferecer novos produtos e agregar valor às commodities tradicionais, por meio da qualidade e da incorporação de novos atributos (Gasques et al., 2004b).

A mais evidente e decisiva contribuição da pesquisa à expansão do agronegócio relacionou-se ao aumento da produção agrícola e pecuária nos últimos anos, o que garantiu uma oferta crescente de produtos e matérias-primas. A produção nacional de grãos tem crescido a taxas médias anuais elevadas – 9,49% em 2003 (Gasques et al., 2004b) – e esse aumento da produção ocorre quase exclusivamente apoiado no crescimento da produtividade, uma vez que a área pouco tem se alterado, conforme se vê na Figura 2.1, abaixo (Rodrigues, 2004).

A principal mola propulsora da mudança da agricultura brasileira foi o uso de tecnologias geradas pelas instituições de pesquisa no país, com destaque especial para os produtos dos programas de melhoramento genético desenvolvidos pelas instituições públicas de pesquisa agropecuária no país. Os resultados desses programas trouxeram contribuições importantes na qualidade de vida da sociedade brasileira, dentre as quais

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se destaca a redução de 5,5% ao ano no custo da cesta básica, nos últimos 25 anos; a estabilidade de preços pela regularidade de oferta de produtos como carne, feijão, leite, que eram altamente sensíveis à sazonalidade (Bonelli, 2002).

Relatório elaborado pelo International Food Policy Research Institute (IFPRI) em colaboração com a Universidade da Califórnia (2001) mostra que as instituições de pesquisa agropecuária, principalmente através dos seus programas de melhoramento genético, vem tendo papel decisivo nos resultados obtidos pela agropecuária brasileira. Esse papel é compartilhado por instituições públicas e privadas, que atuam em parceria ou isoladamente na pesquisa. Bentema, Ávila e Pardey estimaram que a Embrapa é responsável por 52% de P&D em agricultura no Brasil; os governos estaduais, por 20% e as Universidades, por cerca de 21% (período da estimativa: 1996) (Alston, 2001).

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Produção

Figura 2.1. Evolução da safra brasileira de grãos (soja, milho, arroz, feijão e trigo) no período 1996/1997 a 2003/2004. (Fonte: Rodrigues, 2004).

2.2. Mudanças no Contexto: A Reforma do Estado e o Arcabouço Legal de Proteção do Conhecimento no Brasil

Até a década de noventa, o Sistema Brasileiro de Melhoramento Genético e Desenvolvimento de Cultivares funcionou em ambiente marcado pela estabilidade. Até então, a pesquisa agrícola era considerada como um bem público, que beneficia a sociedade em geral e não gera recursos para a entidade geradora da nova tecnologia (Pessoa e Bonelli, 1997). Um bem público caracteriza-se por reduzida possibilidade de apropriabilidade de retornos, baixo grau de especificidade para a organização geradora, alto grau de incerteza e de risco e indivisibilidade, ou retornos crescentes no uso. Essas

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características fariam com que o investimento em pesquisa agrícola em geral, e em melhoramento genético em particular, fossem menores do que o ideal.

Sob essas condições, e na ausência de mecanismos de apropriabilidade, como aquele representado pelas leis de propriedade intelectual, o melhoramento genético brasileiro desenvolveu-se como pesquisa eminentemente pública. Os mecanismos de apropriabilidade existentes, nesse ambiente, eram constituídos por: 1. Acumulação de aprendizado e experiência; 2. O acesso, em condições favoráveis, aos recursos complementares exigidos para a viabilização comercial da invenção e 3. A criação de barreiras que dificultassem ou inviabilizassem a entrada de competidores nos mercados considerados relevantes. Entre estas últimas, destaca-se a “patente biológica”, representada pelos híbridos; a associação das variedades a uma marca; a posse ou acesso a uma rede de distribuição e comercialização (Carvalho, 1997).

Nos últimos anos, muitos eventos têm modificado o equilíbrio deste mercado tecnológico, alterando as relações entre a oferta e a demanda de tecnologias. Estes novos eventos incluem: a) a reorganização do Estado e a redefinição de papéis das instituições de C&T no Brasil; b) a discussão e a aprovação de novas legislações de proteção à propriedade intelectual – lei de patentes, proteção de cultivares e acesso ao patrimônio genético; c) os avanços nas técnicas de melhoramento genético utilizando a biotecnologia; d) o crescimento do mercado de cultivares e a grande participação de conglomerados multinacionais no mercado de sementes. Estes eventos modificam as relações, o desempenho e o espaço que as instituições públicas e privadas ocupam no mercado, e induzem a uma reflexão mais aprofundada, sobre que impactos e desdobramentos poderão trazer para a atividade pública de pesquisa no Brasil (Castro et al., 2002).

2.2.1. A Reorganização do Estado e os Novos Papéis das Instituições de C&T no Brasil.

No período compreendido entre os anos 50 e o final da década de 90 o Brasil passou por grandes transformações. Dois grandes ciclos de crescimento produzidos pela substituição das importações, um nos anos cinqüenta e outro nos anos setenta, foram a base do processo de industrialização no país. Períodos de rápido avanço e crescimento foram entrecortados por períodos de recessão e crise, muitas vezes causados pela fragilidade ou inexistência de uma mínima inserção internacional. Inflação alta e fragilidade externa foram dilemas recorrentes, mas não suficientes para impedir que o Brasil se tornasse uma das principais economias do mundo. Como decorrência das mudanças da economia global, a partir da década de 80, esgota-se o modelo de substituição de importações, o que trouxe grandes desafios e dificuldades de posicionamento do País. A partir dos anos 90, em função da reduzida capacidade de investimento estatal, iniciou-se um grande esforço de privatização e transformação do monopólio estatal numa economia de livre mercado. O processo buscou ajustar a ação do Estado a uma nova filosofia, mais fortemente apoiada nas forças do mercado e da livre iniciativa, do que na concentração das atividades no âmbito do poder público. Em 1994, o Brasil implementou o Plano Real, um abrangente programa de estabilização monetária, que conseguiu, além do estabelecimento de uma política cambial bastante

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restrita, a atração de investimentos estrangeiros, o aumento do poder de compra da população e uma significativa distribuição de renda. (MCT, 2001).

Com a estabilização da economia, principal resultado do Plano Real, uma série de reformas estruturais foram realizadas, com o objetivo de redefinir o papel do Estado Brasileiro. Tais reformas levaram a uma maior inserção internacional, necessidade premente em um mundo em franca mudança, profundamente influenciado pela abertura de mercados e pelos rápidos e marcantes avanços no âmbito da tecnologia da informação, da biologia avançada, da automação e instrumentação de sistemas, etc.

A maior demanda por inovação leva ao estabelecimento de uma nova e diversificada gama de atores, concentrados em assistência técnica, prestação de serviços, realização de análises, produção de vacinas, licenciamento para produção de sementes e produtos diversos. Com a entrada de novos atores e a reconfiguração dos papéis dos atores tradicionais, passou-se a uma nova condição, bem mais complexa, na qual novas e importantes questões surgem, como a redefinição do espaço normalmente ocupado pela pesquisa pública, a emergência de novas áreas do conhecimento, que abrem novas fronteiras e atraem o investimento privado para atividades até então praticadas predominantemente no âmbito do setor público. Esse novo cenário leva a uma desorganização dos espaços da pesquisa pública e cria novos espaços para o investimento privado, estabelecendo um novo equilíbrio que ainda não está claramente definido (Salles Filho et al., 2000).

Apesar das incertezas acerca do futuro da distribuição de funções entre poder público e iniciativa privada no Brasil, há que se reconhecer que o déficit público brasileiro tende a induzir políticas de redução do tamanho do Estado, com extinção de funções e transferência de papéis e atribuições à iniciativa privada. As fortes restrições orçamentárias às atividades desenvolvidas pelo Estado têm significado, para as instituições brasileiras de C&T, não somente redução de recursos de custeio e investimento, como também diminuição e obsolescência progressiva das competências. De acordo com Salles-Filho (2000), essa política tem como conseqüências:

• Dificuldade para obtenção de competência e independência tecnológica em novas áreas de investigação, tais como a biotecnologia. Essa dificuldade pode ter importantes implicações sobre a atividade de melhoramento genético, já que a competitividade brasileira nas tecnologias de base, como desenvolvimento de cultivares e de novos sistemas de produção, será cada vez mais dependente da capacidade de incorporação de tecnologias avançadas, especialmente no campo das modernas biotecnologias;

• Aumento dos arranjos institucionais que privilegiam a parceria entre instituições e captação de recursos de outras fontes. Essas conseqüências não são indesejáveis em si mesmas, mas podem levar a vieses, na definição do portfólio de projetos das organizações, com eventual substituição da lógica de produção de bens públicos por uma lógica privada, determinada por parceiros ou financiadores;

• Criação ou reativação de produção para a venda, com o risco de que parte dos talentos e energia (escassos) das organizações públicas de pesquisa sejam gradualmente desviados para objetivos secundários àquelas.

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Na esteira das grandes mudanças em âmbito global, a separação entre pesquisa pública e privada tem encontrado soluções polêmicas em muitos países. Assim, o setor privado tem tradicionalmente se dedicado a pesquisa de natureza química e mecânica, tendendo a ser mais aplicada que à pesquisa pública. Essa, por sua vez, se ocupa mais da pesquisa gerencial e biológica. Arranjos institucionais baseados na separação simplista entre pesquisa básica e aplicada, como no famoso caso do Plant Breeding Institute na Inglaterra, podem se revelar um equívoco, ao desmantelar organizações de pesquisa que se dedicam à execução interdisciplinar e sistêmica de bem-sucedidos projetos de inovação tecnológica (Carvalho, 1992). No Brasil, uma tentativa de separação entre atividades públicas e privadas foi feita, com a edição do Plano Diretor para a Reforma do Estado, em 1995. Esse Plano previa quatro modalidades de atuação para o Estado (núcleo estratégico, agências executivas, organizações sociais e produção para o mercado). A pesquisa agrícola brasileira, pela lógica daquele Plano, teria sua principal organização (a Embrapa) enquadrada na categoria de serviços a serem privatizados. (Salles-Filho, 2000).

Com a alternância de poder no âmbito do Governo Federal em 2003, fica ainda mais evidente que o desenho do Estado Brasileiro ainda está em desenvolvimento, o que torna impossível vislumbrar claramente o futuro das instituições e seus novos papéis, principalmente o que deve ser mantido como atribuição do Estado e o que deverá ser transferido à iniciativa privada. Apesar deste quadro ainda incerto, é possível antever que a C&T continuará a receber atenção e patrocínio do Estado, embora as relações entre este e as instituições de pesquisa devam se modificar. Em um cenário pessimista, o Estado reduz sua participação a níveis mínimos, apenas por escassez geral de recursos e de falta de organização para gerenciar a atividade de C&T em prol do desenvolvimento do país. Num cenário otimista, o Estado pode até incrementar o seu apoio, porém com um nível de intervenção e controle muito mais estritos que os atualmente verificados, definindo papéis, atribuições, prioridades e modificando as atuais participações governamentais e da iniciativa privada no processo de C&T.

Qualquer que seja o cenário prevalente, este incorpora mudanças, que podem ocorrer com algum controle por parte das instituições de C&T brasileiras, ou fora do controle destas. A reflexão sobre os atuais papéis e desempenhos da pesquisa pública é a única forma segura que as instituições de C&T dispõem para serem comandantes, e não vítimas, do processo.

2.2.2. Legislações de Proteção da Propriedade Intelectual no Brasil

Muito embora uma grande variedade de mecanismos de proteção à propriedade intelectual esteja em vigor há varias décadas na maioria dos países industrialmente mais avançados (Fehr, 1987; Wolf, 1998, Kelly, 1998, Lopes, 1998, Sampaio, 1998), apenas nos anos 90 o tema passou a ser debatido mais profundamente no Brasil e em diversos outros países de economia emergente. Este movimento foi provocado pela última revisão do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, conhecida como rodada Uruguai do GATT, que expandiu substancialmente os limites de acordos comerciais multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Este acordo incluiu pela primeira vez o item propriedade intelectual, constante do Acordo TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights), que estabeleceu que todos os países signatários, dentre os quais o Brasil, deveriam adotar, dentro de prazos pré-

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estabelecidos, um sistema de proteção à propriedade intelectual para plantas e microorganismos (Sampaio, 1998; MCT, 2001).

Direitos de Propriedade Intelectual são justificados como expressão legal de privilégio concedido pelo Estado para apropriação dos benefícios econômicos de uma invenção ou criação, em troca da sua disponibilização em benefício da sociedade. O pressuposto teórico da concessão de tal privilégio é que a perspectiva do monopólio oferecido pelo Estado para exploração da inovação fomentará o investimento em Pesquisa & Desenvolvimento e estimulará a criatividade, resultando em mais tecnologias, criações literárias, etc, que não poderão ser apropriadas por terceiros ou copiadas, sem permissão do inventor ou criador dos bens protegidos. O objetivo maior da instituição de instrumentos de proteção seria o de estimular o espírito criativo e construtivo, não permitindo competição daqueles que apenas copiam e não arcam com qualquer custo de desenvolvimento do bem. Outra conseqüência desejável que essas leis ensejariam seria a facilitação do processo de transferência de tecnologia (Carvalho, 1992).

O tema proteção do conhecimento é, por várias razões, crítico para a discussão do marco institucional da Ciência e Tecnologia no Brasil, à luz da nova dinâmica gerada pela globalização. Mecanismos de apropriabilidade legal se tornaram, por diversas razões, parte essencial da formação de arranjos institucionais no processo de inovação. Estes mecanismos regulam a divisão dos direitos, contribuindo para a redução dos riscos de oportunismo, da incerteza inerente ao processo de inovação e, assim, dos custos de P&D e da exploração comercial. Da mesma forma provêem estímulos para a atividade inventiva e mesmo inovativa, na medida em que acenam com a possibilidade de ganhos para os atores envolvidos, institucionais ou individuais, além de criarem efeitos cumulativos e prospectivos, uma vez que asseguram aos envolvidos a continuidade no desenvolvimento futuro de uma inovação, melhorando-a e desdobrando-a em outras inovações. Por fim, criam competências para elaborar contratos e negociar elementos cada vez mais importantes na promoção dos arranjos coletivos para inovação e aprendizado (MCT, 2001).

Embora a legislação brasileira tenha-se diversificado nos últimos anos, com a implementação da Lei dos Direitos de Propriedade Industrial, de no. 9279, de 14/05/1996, onde se inserem as patentes, os desenhos industriais, marcas, etc.; da Lei de Proteção de Cultivares – LPC, de no. 9456, de 25/04/1997; da Lei dos Direitos Autorais, de no. 9610, de 19/02/1998, e da Lei de Direitos dos Programas de Computadores, de no. 9609, de 19/02/1998, há vários aspectos que precisam ser aprimorados, visando maior agilidade e adequação à realidade brasileira. O Brasil dispõe, com estas legislações, de um quadro jurídico abrangente e atualizado do ponto de vista do direito e do comércio internacional, mas o próximo passo é colocar em vigor mecanismos que promovam a interação entre as instituições de pesquisa e o setor industrial, mais qualificado para levar essas invenções ao mercado. Assim, é necessário investir no aparelhamento de universidades e institutos de pesquisa, para fazer face à adequada regulação – legal e administrativa – da inovação.

Paralelamente, mas não alheio às discussões sobre patentes e proteção de cultivares, um outro tema foi objeto de profunda reflexão e debate no Brasil - a Biossegurança. Com o avanço, em âmbito mundial, das técnicas biomoleculares e da engenharia genética, começaram a surgir produtos transgênicos, e o Governo Federal se preocupou em criar uma legislação para regulamentar as ações neste campo, tendo sido então aprovada em 3 de janeiro de 1995 a Lei n.º 8974, conhecida como a Lei de Biossegurança (Brasil,

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1995). A principal característica desta lei, no que tange à parte de plantas, é a regulamentação da obtenção e disseminação das plantas geneticamente modificadas, que contêm um gene exógeno em sua constituição gênica. Para executá-la foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, que acompanha toda e qualquer ação desenvolvida no país com organismos geneticamente modificados – OGM’s (Carraro, 1999). Apesar da existência desta legislação, o país ainda não foi capaz de aprovar a utilização comercial de qualquer planta transgênica em função do questionamento legal da competência da CTNBio para aprovação final. Este e diversos outros fatos e circunstâncias, revisados por Lopes e Sampaio (2004), levaram à elaboração de uma nova Legislação de Biossegurança para o país que, espera-se, seja aprovada pelo Congresso Nacional e entre em vigor em 2004.

Outro tema de grande relevância é o acesso e a utilização do patrimônio genético no Brasil. O Brasil, como parte da Convenção sobre a Diversidade Biológica - CDB e na condição de País megadiverso, tem empreendido esforços para adequar suas políticas públicas às exigências da utilização e da conservação dos recursos biológicos. Parte do processo de consolidação da legislação afeita ao tema se deu com a edição da Medida Provisória nº 2.186-16 e do Decreto nº 3.945, ambos de 2001. A Medida Provisória nº 2.186-16 regulamenta dispositivos da Constituição Federal e da Convenção sobre a Diversidade Biológica, e o Decreto nº 3.945 define a composição e estabelece as regras de funcionamento do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGEN, órgão com a responsabilidade de coordenar a implantação das políticas para gestão do patrimônio genético e estabelecer normas técnicas para a sua gestão. Com a publicação da Medida Provisória n.º 2.186-16, em 23 de agosto de 2001, alterou-se a legislação atinente ao patrimônio genético, relevante à conservação da diversidade biológica, à integridade do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado. A partir desses instrumentos, o acesso e a remessa ao patrimônio genético existente no País passou a depender de deliberação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, ficando sujeito à repartição de benefícios, nos termos e nas condições legalmente estabelecidos (MMA, 2003).

2.2.3. A Lei de Propriedade Industrial

A discussão sobre a propriedade industrial no país é antiga. O Brasil aprovou a primeira “Lei de Patentes” ainda no século XIX (1830), tendo sido o único país da América Latina a assinar a Convenção de Paris (1883). Todavia, somente após vinte e três anos (1990) ratificou a versão mais recente deste tratado (1967) (Gueiros Jr., 2002). Aprovada em 14 de maio 1996, a nova Lei de Patentes no Brasil - Lei nº 9279 (Brasil, 1996) entrou em vigor em 1997. Assim, as empresas estrangeiras puderam pleitear carta-patente para seus produtos, podendo emitir royalties referentes às suas atividades no Brasil, ao invés de lucro. A Lei permitiu ampliação do campo de tutela das patentes para produtos farmacêuticos, químicos e biotecnologia (Rocha, 1998), o que foi festejado pelos investidores estrangeiros de modo geral. Após a nova legislação, mais de três mil pedidos de patentes foram registrados apenas para medicamentos, sendo 97% por estrangeiros. Os pedidos em todos os campos totalizaram 10 mil nos primeiros seis meses do ano 2000, como informado pela FIAS (Serviço de Assessoramento sobre Investimentos Estrangeiros/ Corporação Financeira Internacional e do Banco Mundial) (Gueiros Jr., 2002).

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Todavia, o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) ainda carece de infra-estrutura compatível com essa novidade legal – basta dizer que ainda hoje a solicitação de uma patente pode demorar longos períodos para ter seu procedimento finalizado. A Lei protege o produto ou processo, em geral, por 20 anos, a contar da data de “pedido da patente” no INPI, porém este prazo inclui toda fase de testes, revisão e aprovação do produto, que leva em média 12 anos, restando 8 anos para exploração comercial do produto ou processo. Findo esse prazo a patente cai em domínio público (Teixeira, 1997).

A possibilidade de que a Lei de Propriedade Industrial contribua efetivamente para a formulação e a execução de políticas, e para indução de investimentos e empregos, diz respeito ao tratamento dispensado a três matérias: a exploração local do objeto da patente (fabricação local versus importação irrestrita), a importação paralela (importação direta pelo titular ou licenciado versus importação por terceiros) e a licença compulsória contra o titular da patente que não estiver explorando seu objeto no território nacional. No Brasil, a Lei de Propriedade Industrial associa de forma inédita os três mecanismos – fabricação local, licença compulsória e importação paralela – com o fim de privilegiar, sempre que economicamente viável, sua produção em território nacional, face ao mercado brasileiro, facultando alternativamente a importação – não exclusiva do titular. Essa condição, prevista no artigo 68, tem o mérito de evitar a criação de reserva de mercado ou monopólio de importação. O caráter estratégico do artigo 68 não tem passado sem contestação. Recentemente, sua manutenção tem sido questionada pelos EUA, especialmente após medidas do Governo Federal relativas ao licenciamento compulsório para medicamentos em casos de emergência nacional, especialmente os que compõem o tratamento gratuito contra a AIDS (MCT, 2001, Sampaio, 1998).

A manutenção desses instrumentos é fundamental não apenas do ponto de vista socioeconômico, mas também para o desenvolvimento científico e tecnológico, na medida em que força a produção local, abrindo a perspectiva de maior acesso à informação. Como se sabe, mesmo com a produção local, não há garantias de que haja efetiva transferência de tecnologia. Entretanto, o licenciamento compulsório pode levar à capacitação tecnológica de empresas e instituições locais. Outro ponto que merece destaque refere-se ao uso de instrumentos de propriedade intelectual por parte de universidades e organizações públicas de pesquisa. Sua aplicação no Brasil é, entretanto, ainda pouco difundida, sendo necessário criar uma cultura para tanto. Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), embora nos anos noventa tenha havido um crescimento do número de pedidos de patentes ligados a universidades brasileiras, eles permanecem em patamares muito aquém do potencial (foram cerca de quatrocentos pedidos na década de 90) (MCT, 2001). Neste particular, cumpre notar que o significativo e crescente número de artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros não tem representado um aumento de registro de cartas patentes nacionais no INPI (Gueiros Jr., 2002).

É possível que uma das razões para o fraco desempenho do Brasil seja a falta de estímulo aos pesquisadores para busca de patentes e outros títulos de proteção intelectual. Nicolsky (2002), citado por Gueiros Jr. (2002), indica que as instituições de ensino superior avaliadas pela CAPES (Sistema de Avaliação – Coleta de Dados CAPES/MEC, Sistema Nacional de Pós-Graduação) têm valorizado a produção intelectual bibliográfica do corpo docente, deixando de atribuir relevância às patentes ou outros títulos de proteção intelectual. Daí o elevado índice de publicação de artigos e o

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reduzido índice de desenvolvimento de inovações tecnológicas, na forma de produtos e processos protegidos.

A situação brasileira contrasta também com a situação nas universidades norte-americanas que em 1997 fizeram mais de 2000 depósitos de patentes. Metade das patentes das universidades americanas, desenvolvidas com recursos federais são licenciadas, provendo um aporte de recursos de mais de US$ 20 bilhões e gerando cerca de 180 mil empregos diretos e indiretos. Obviamente, não é o instrumento em si que possibilita números como esses, mas ele é vital para o próprio crescimento do sistema de CT&I (MCT, 2001).

A aprovação ainda recente da Lei de Propriedade Industrial pode ser a causa principal da ampla desconexão entre a produção intelectual brasileira e o índice de depósitos de patentes nacionais. No entanto, há necessidade de se alterar a realidade de que as universidades e institutos de pesquisa brasileiros, de modo geral, incentivam a produção acadêmica expressa em publicações de artigos científicos, o que não assegura o desenvolvimento tecnológico nacional e a conseqüente geração de riquezas.

2.2.4. A Lei de Proteção de Cultivares

Ao longo de mais de duas décadas o tema “Proteção de Cultivares” foi discutido no Brasil, mas a grande motivação para aprovação de legislação pertinente no Brasil teve origem com a ratificação do "Acordo sobre os Aspectos da Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio – TRIPs", firmado entre a OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) e a OMC (Organização Mundial de Comércio), que entrou em vigor em janeiro de 1995 e obrigou os países membros a elaborarem legislação “sui-generis” de proteção vegetal. Em 25 de abril de 1997, o governo brasileiro promulgou a primeira legislação que garantiu os direitos dos obtentores de novas variedades vegetais, a Lei nº 9.456, regulamentada pelo Decreto nº 2.376, de 5 de novembro de 1997 (Brasil, 1997).

O arcabouço geral da lei brasileira segue o modelo aprovado pela Convenção Internacional para Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV), de acordo com a sua versão de 1978. A UPOV (www.upov.org) é uma organização internacional com sede em Genebra (Suíça), responsável pela implementação da Convenção Internacional de Proteção de Novas Variedades de Plantas. Sua convenção original foi adotada em Paris em 1961, tendo sofrido revisões em 1972, 1978 e 1991. Atualmente existem em vigor as convenções de 1978 e de 1991, que oferecem a possibilidade de proteção para cultivares através de patentes ou sistema sui generis.

Com a adesão a UPOV/78, o Brasil obtém a garantia de que os direitos dos obtentores de novas cultivares serão respeitados pelos países que tenham aderido à UPOV, da mesma forma como são protegidos os direitos dos nacionais desses países. Ou seja, as cultivares desenvolvidas no Brasil não poderão ser exploradas comercialmente nos países filiados à UPOV, sem o pagamento de direitos aos melhoristas brasileiros. Caso o Brasil não aderisse à UPOV, os acordos de reciprocidade deveriam, necessariamente, ser negociados com cada país (Ferreira Garcia, 2002).

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A UPOV determina as características básicas da legislação de proteção das obtenções vegetais para os países membros, estando cada Estado membro livre para estabelecer seus próprios critérios a nível nacional. A Ata UPOV/78 deixa um espaço de interpretação bastante amplo, ao estabelecer que a proteção conferida aos obtentores se refere à obrigação que tem terceiros de solicitar o consentimento do titular para produzir com fins comerciais, colocar a venda ou comercializar material de reprodução ou de multiplicação vegetativa da variedade protegida. O ponto principal, da convenção de 1978, é o que prevê o livre acesso do agricultor e do melhorista na utilização da variedade desenvolvida, como expresso no artigo 5.3: "A autorização do obtentor não é necessária para a utilização da variedade como fonte inicial de variação com a finalidade de criar outras variedades, nem para a comercialização destas. Porém, essa autorização é exigida quando a utilização repetida da variedade é necessária para a produção comercial de uma outra variedade".

Também é permitido que melhoristas utilizem o material protegido como fonte de variação genética e que o pequeno produtor rural possa trocar ou doar as sementes por ele cultivadas a outro pequeno produtor rural, desde que não o faça com fins comerciais. A proteção se estende a todos os gêneros ou espécies vegetais. Os países que seguem a convenção de 1978 iniciam a proteção com, no mínimo, cinco espécies, durante os oito anos subseqüentes (Sampaio, 1998, Lopes, 1998).

Com base nas peculiaridades da convenção de 1978, a lei brasileira preservou uma série de privilégios. Um deles é o privilégio do agricultor, permitindo ao mesmo reservar material de plantio para uso próprio, sem que tenha que pagar “royalties” ao titular da proteção. Outro privilégio preservado é o do pequeno produtor rural, pelo qual se permite que ele produza sementes e negocie estas sementes através de doação ou troca com outros pequenos produtores. Esse grupo está fora do alcance das obrigações introduzidas com a Lei de Proteção de Cultivares. Ainda preservaram-se privilégios para o melhorista, ou seja, qualquer empresa ou indivíduo que trabalhe com melhoramento de plantas pode fazer uso de material protegido para desenvolver pesquisa científica ou para utilizá-lo em seus trabalhos de melhoramento vegetal, sem que, com isto, tenha necessidade de pedir autorização ao titular da proteção. No Brasil, o prazo de proteção é de 15 anos para a maioria das espécies, principalmente de grãos (oleaginosos, cereais e outros). Para as videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais, incluindo seus porta-enxertos, esse prazo estende-se para 18 anos (Folle e Machado, 2003).

Os critérios de proteção constantes na nossa legislação consistem em exigir: a distinção da variedade, ou seja, a cultivar tem que se distinguir das demais variedades por uma característica importante ou por várias características, cuja combinação lhe dê a qualidade de "variedade nova"; a homogeneidade das variedades, ou seja, as cultivares não devem conter variações muito importantes de uma cópia para outra e estabilidade, que deve estar presente na sua identidade desde o inicio até o término de todos os ciclos de multiplicação. Além disso, é preciso que se atenda ao critério da novidade, o que significa que não podem ter sido oferecidas à venda no país, há menos de doze meses em relação ao pedido de proteção ou em outros países, a mais de seis anos, se árvores ou videiras e quatro anos para as demais espécies. A proteção recai sobre o material de reprodução da variedade. O direito do obtentor nasce novamente a toda geração, ao contrário do direito de patente que é esvaziada à primeira venda do material (Ferreira Garcia, 2002).

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A Lei também criou, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC, a quem atribuiu a competência pela proteção de cultivares no país. Assim, a proteção de cultivares teve sua efetiva implantação no Brasil a partir de dezembro de 1997, quando o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares aprovou e disponibilizou os instrumentos necessários à formulação dos pedidos de proteção junto ao Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Sampaio, 1998; Lopes, 1998; Folle e Machado, 2003).

Um instrumento complementar à Lei de Proteção de Cultivares foi o Registro Nacional de Cultivares - RNC. O RNC, instituído pela Portaria nº 527, de 31 de dezembro de 1997, e, em complemento, pelas Portarias nº 264 e nº 294, ambas de 1998, modifica substancialmente os extintos sistemas brasileiros de registro de cultivares e de avaliação e recomendação de cultivares. Como novidade, o RNC trouxe a obrigatoriedade de que toda cultivar, independente da espécie, para ser comercializada, como semente ou mudas no país, deverá estar inscrita no Registro Nacional de Cultivares . Esta legislação também introduz o conceito de valor de cultivo e uso, o VCU. Ou seja, a cultivar para entrar no mercado de sementes e mudas, tem que ter comprovada alguma qualidade agronômica ou de uso proposto, que justifique a sua inclusão no sistema brasileiro de produção de sementes e mudas (Folle e Machado, 2003).

Carraro (1999) apresenta uma revisão dos impactos da Lei de Proteção Cultivares no agronegócio brasileiro. O autor indica que após uma análise do ambiente anterior à LPC no negócio de Sementes no Brasil e uma verificação dos principais aspectos do novo arcabouço legal do setor, pode-se vislumbrar um novo cenário para as atividades relacionadas ao setor de sementes no Brasil. Desde a pesquisa até a fiscalização, passando pela produção, serviços e vendas e chegando até o consumidor final, o agricultor, todos são afetados, de diferentes maneiras, pela nova realidade criada pela legislação.

Na verdade, são muitas as implicações da adoção de leis de proteção a cultivares, baseadas em mecanismos de proteção internacionais, como é o caso da UPOV. Os maiores beneficiados, neste contexto serão os que detêm maior conhecimento e poder econômico, para o desenvolvimento da pesquisa de novos produtos. Ferreira Garcia, (2002) indica a necessidade de se ter cautela ao se analisar os benefícios da legislação brasileira para os diferentes agentes envolvidos no processo de geração de uma nova variedade: melhoristas, governo, institutos de pesquisa, entre outros.

2.3 Impactos da Biotecnologia no Processo de Melhoramento Genético

2.3.1. A Biotecnologia e o Melhoramento Genético

A biotecnologia moderna surgiu como uma das mais extraordinárias estratégias de desenvolvimento científico e tecnológico, perpassando uma grande diversidade de áreas e disciplinas e abrangendo temas tão diversos como a saúde humana e animal, a agricultura e a pecuária, a indústria de alimentos, o meio ambiente e ecologia, serviços, etc. Uma das perspectivas mais importantes da indústria biotecnológica é o

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desenvolvimento de novos produtos para o uso humano, como alimentos, matérias primas industriais, medicamentos, etc. Quando comparada à indústria farmacêutica, química ou de informática, a biotecnologia é uma indústria ainda muito nova e por isso apresenta grandes perspectivas de desenvolvimento. No tocante à produção de alimentos, as estratégias tradicionais de melhoramento genético vegetal e animal produziram, através da seleção, características desejáveis e melhoria de desempenho desses recursos alimentares durante décadas. A biotecnologia e suas novas ferramentas de manipulação e transferência gênica traz neste final de século novas perspectivas de potencialização dos métodos tradicionais de melhoramento genético e exploração da biodiversidade e variabilidade genética. Isto permite o rápido e preciso desenvolvimento de plantas e animais melhorados com grande diversidade de atributos e com rapidez e escala nunca imaginados.

Diversos condicionantes limitam a aplicação da biotecnologia nos países em desenvolvimento, especialmente recursos financeiros limitados, falta de informação, infra-estrutura deficiente de pesquisa, acesso limitado à tecnologia, grupos organizados pregando a oposição ideológica à biotecnologia, seu possível efeito na biodiversidade e no meio ambiente, suas implicações na segurança alimentar e em fatores sócio-econômicos, etc. No entanto, é em países em desenvolvimento que esta tecnologia pode impactar mais, especialmente do ponto de vista de segurança alimentar e qualidade ambiental. Os produtores e consumidores em países desenvolvidos já são ricos e bem alimentados, ao contrário da maioria daqueles em países em desenvolvimento, que poderiam se beneficiar enormemente da aplicação de métodos e produtos biotecnológicos para potencialização da sua agricultura.

Enquanto o foco dominante da biotecnologia comercial está na transferência de genes para resistência a herbicidas e proteção de plantas contra alguns poucos tipos de insetos, o desafio real dos países em desenvolvimento está em melhoria do rendimento e adaptação das culturas às condições ambientais limitantes, especialmente as que prevalecem nos trópicos. A agricultura tropical é mais complexa que a agricultura desenvolvida em regiões temperadas. Agricultores na África, Ásia e América Latina perdem grande parte de suas colheitas em razão da ocorrência de pragas, doenças e estresses abióticos variados, como seca, salinidade, deficiência nutricional (P e N principalmente), toxidez de alumínio e outros. Ademais, se a agrobiotecnologia puder ajudar os agricultores a produzir mais alimentos nas áreas já em uso, o resultado seria redução da degradação, maior preservação das áreas de mata natural ainda restantes, maior preservação de nascentes e maior preservação da biodiversidade. Se a produtividade do agricultor em áreas marginais ou limitantes pudesse ser melhorada através da utilização de plantas transgênicas, a produção de alimentos seria impulsionada, melhorando a situação nutricional das comunidades rurais e das cidades. A possibilidade de se introduzir e/o ou modular caracteres de plantas que permitam a superação destes problemas poderá ter um grande impacto em regiões tropicais. Melhorias embutidas nas sementes geneticamente alteradas poderiam levar a ganhos de adaptação a ambientes limitantes com redução no uso de insumos caros ou indesejáveis do ponto de vista ambiental, como fertilizantes e defensivos.

Características tais como a resistência/tolerância a estresses bióticos/abióticos mais relevantes são determinados por muitos genes e por interações complexas genótipo-ambiente, cuja compreensão é ainda bastante insuficiente. Assim, deve-se evitar otimismos exagerados. No entanto, uma análise da literatura atual mostra grandes possibilidades para o futuro, uma vez que os projetos de genoma, prospecção gênica e

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genética funcional revelam uma verdadeira riqueza de genes e mecanismos que poderão potencializar em muito a capacidade de resolução de problemas. O Brasil deve, portanto fortalecer programas voltados para conhecimentos de genomas e prospecção de genes, uma vez que o entendimento de mecanismos biológicos complexos abrirá, em médio prazo, perspectivas de superação de grande parte dos problemas mais sérios da agricultura tropical.

2.3.2. Biotecnologia, Recursos Genéticos e Agrobiodiversidade

O grande avanço alcançado pela Biologia Molecular e Celular nos últimos anos tem permitido o desenvolvimento de novas alternativas que, se integradas ao melhoramento tradicional, podem gerar novos instrumentos auxiliares ao melhoramento genético e aumentar o conhecimento de mecanismos genéticos básicos, ainda pouco compreendidos. Em especial, o aprimoramento das tecnologias de DNA recombinante e os recentes desenvolvimentos no âmbito de vários projetos de genoma vegetal tem gerado um crescente interesse na aplicação desses conhecimentos para geração de nova variabilidade genética, útil em programas de melhoramento de plantas. A utilização dos novos recursos e ferramentas biotecnológicas para estudo de mecanismos biológicos e estabelecimento das relações entre estrutura (genes) e função biológica (caracteres) será extremamente dependente de recursos genéticos apropriadamente desenhados para análises mais detalhadas.

Os nossos recursos genéticos além, de insumos importantes para o melhoramento, são recursos que têm despertado grande interesse para estudos de mecanismos de controle de expressão gênica e de determinação de caracteres de importância nos trópicos. Assim, emergem conceitos como o de Bancos de Caracteres, que são conjuntos de recursos genéticos gerados a partir da identificação de genótipos contrastantes para diversos caracteres de importância agronômica (adaptação a estresses bióticos e abióticos, qualidade, etc), seguido do desenvolvimento de suas progênies F1 e segregantes além de linhas recombinantes. O desenvolvimento de Bancos de Caracteres gerará recursos genéticos adequados para alimentar projetos de melhoramento genético e biotecnologia e terão grande utilidade para estudos de mecanismos de determinação de caracteres via mapeamento gênico, clonagem, análise funcional de genes, tecnologia de transgênicos e desenvolvimento de cultivares com atributos agronômicos superiores.

A Genética Genômica é uma nova ciência que surgiu nos últimos anos, a partir do estímulo do Projeto Genoma Humano, e tem o intuito de buscar o entendimento da estrutura dos genomas a partir do sequenciamento de DNA em larga escala. Esta nova ciência migra agora para novas fases, com o surgimento da Genética Genômica Comparativa, que busca entender similaridades estruturais de diferentes genomas e a Genética Genômica Funcional, que busca identificar, a partir dos conjuntos completos de seqüências, as proteínas responsáveis por cada função em cada espécie, e em casos cuja resposta é desconhecida, prever a função mais provável. Vários processos de Genética Genômica Funcional, utilizando genética direta ou reversa, têm sido desenvolvidos. Os mais comuns são o uso de transposons, T-DNA e RNA anti-senso, para demonstração que a ruptura do gene causa um fenótipo mutante especifico. Hoje existem milhares de genes de vários organismos seqüenciados cuja função biológica

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precisa ser determinada. Um processo para auxiliar na determinação massiva da função de um grande número desses genes é a caracterização dos níveis de expressão utilizando a técnica de microrranjos (microarrays). A tecnologia de microrranjos de cDNA é baseada em estratégias através das quais clones de cDNAs são precisamente imobilizados em placas de vidro e subseqüentemente hibridizados com sondas marcadas com diferentes tipos de fluorescência. Essa metodologia auxiliará a análise funcional de um grande número de genes em um curto espaço de tempo, permitindo um acesso sem precedentes a áreas chaves da medicina, da saúde humana, da agropecuária etc.

2.4 Conseqüências das Mudanças Analisadas no Caso Brasileiro

Apesar do curto espaço de tempo decorrido desde a implementação da LPC, o Brasil tornou-se altamente atrativo para as grandes empresas interessadas na biotecnologia e nas plantas geneticamente modificadas. Muitas empresas multinacionais que antes operavam aqui somente na área de agroquímicos passaram a investir em melhoramento genético e produção de sementes. Empresas nacionais foram compradas ou absorvidas, restando poucas, além das instituições públicas, no setor de pesquisa de espécies como soja e milho principalmente (Tabela 2.1)(Carraro, 1999).

Com a LPC houve um aumento significativo de investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento no Brasil e a entrada de um grande volume de tecnologias de ponta, sobretudo na área da biotecnologia (Carraro, 1999). Houve também a liberação de um certo estoque tecnológico que vinha se acumulando nos últimos anos enquanto se debatia mais fortemente a nova legislação. Os obtentores vegetais se organizaram fundando a BRASPOV, Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais, com sede em Brasília, e que objetiva a defesa de seus interesses e a aplicação irrestrita da nova Legislação (Carraro, 1999, Carraro, 2001; Folle e Machado, 2003).

As conseqüências de adoção das leis de propriedade intelectual, em outros países, demonstram que estas transcendem o simples incentivo à pesquisa, como quer a argumentação econômica clássica sobre o assunto. Assim, Velho (1992) afirma que, nos países adotantes, a lei teve como conseqüência um aumento da oferta de variedades, mas não por melhorias significativas de qualidade e sim por simples diferenciação cosmética.

Esse autor também aponta que nos EUA a lei permitiu que o setor privado (indústria de sementes) pressionasse por uma nova divisão de trabalho, na qual as organizações públicas têm ficado, cada vez mais, confinadas às atividades básicas (como o desenvolvimento de materiais básicos ou produtos pré-tecnológicos), enquanto a fase final da pesquisa – a liberação de novas variedades – fica para o setor privado. Velho (1992) comenta que esse fato tira das mãos do setor público não só a decisão sobre o padrão de desempenho das novas variedades como também a coordenação estratégica dos programas nacionais de melhoramento genético.

Carvalho (1992) também afirma que nos EUA a lei teve como efeito o direcionamento do setor público para a pesquisa básica. Carvalho (1996, 1997), em uma análise da experiência internacional com a legislação de proteção de cultivares, analisando os casos do Canadá, Argentina e Espanha, afirma que essas leis:

• No Canadá, não levaram a uma concentração na indústria de sementes, nem a aumento de preços ou controle no volume de oferta de sementes melhoradas;

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• Na Espanha, o incentivo à P&D foi diferenciado por tipo de cultura e região. Tiveram aumento de oferta interna o girassol e os cereais de inverno. Não se verificou o abandono de variedades de domínio público, ou não protegidas, como trigo duro, arroz, cevada, aveia e girassol. Nesse país, o setor público pode proteger o material que gera, mas não pode restringir a sua utilização (isto é, não detém o direito de exclusividade);

• Na Argentina, melhorou o acesso a variedades estrangeiras. O temor de desnacionalização da indústria de sementes, por outro lado, tem como contraponto, nesse país, a majoritária participação de empresas nacionais na titularidade de direitos. Por outro lado, o estímulo à P&D Argentina concentrou-se nas culturas do trigo, soja e alfafa.

Tabela 2.1. Aquisições, Fusões e Alianças ocorridas no Brasil e/ou no exterior, com influência no Brasil, até Janeiro de 1999. (Carraro, 1999)

Adquirente Vendedor ou cessionário Produto/objeto Ano

Monsanto FT-Pesquisa e Sementes Soja 1996

Agroceres S A Milho e Sorgo 1997

Cargill S A (Internacional ) Milho 1998

Braskalb/Dekalb Milho e Sorgo 1998

Delta & Pine Land andCo. E Grupo Maeda Formando a MDM

Algodão 1998

Dow AgroScience Dina Milho Milho 1998

Sementes Colorado Milho 1998

FT-Pesquisa e Sementes Milho 1998

Sementes Hatã Milho 1998

SEDOL Sementes 1998

DuPont Pioneer Milho 1999

Dois Marcos Soja 1999

AgrEvo Cargill S A ( EUA, Canadá e UK ) Milho 1998

Granja 4 Irmãos Arroz 1998

Mitla Melhoramento Milho 1999

Sementes Ribeiral Milho e Soja 1999

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No Brasil, até meados da década de 90, a transferência da tecnologia de base genética em variedades era tradicionalmente realizada via pequenas e médias empresas, e em híbridos, principalmente de milho, via empresas de capital nacional, como a Agroceres, transnacionais, como a Cargill, a Pioneer, a Braskalb, a Zeneca, a Dow Elanco e a Novartis, e empresas pequenas e de médio porte, agrupadas na UNIMILHO, que é um consórcio de empresas produtoras de sementes que utilizam material genético de milho licenciado pela EMBRAPA. Fundações privadas também exercem um papel importante no processo de validação e comercialização de sementes de espécies autógamas, como soja, arroz, feijão e o algodão.

Um dos aspectos mais marcantes da revolução biotecnológica no Brasil foi o intenso movimento de aquisições e fusões de empresas no setor de sementes (Tabela 2.1). Após a aprovação e regulamentação da Lei de Proteção de Cultivares, ocorreu no País um movimento nunca observado de concentração, inicialmente em setores mais competitivos, como o de sementes de milho e soja. Somente as aquisições das empresas Agroceres, Braskalb e Cargill fizeram com que a Monsanto passasse a deter cerca de 65% do mercado nacional de sementes de milho.

Uma das razões para essas fusões, que tem levado à formação de mega-empresas na área biológica, é a necessidade de grandes investimentos em pesquisa biotecnológica, em especial nas áreas farmacêutica, da nutrição e da agricultura, onde, aparentemente, a competição será mais acirrada. A integração de áreas com intuito de incorporar os avanços biotecnológicos está na base do processo de fusões, uma vez que deverá produzir sensível redução de custos e maior concentração de recursos em áreas prioritárias. Ademais, o avanço na área biotecnológica indica a possibilidade de surgimento de novos negócios e possibilidades nunca antes imaginados para a agricultura, como o desenvolvimento em plantas (e animais) de polímeros, medicamentos e diversas moléculas de valor industrial.

No Brasil, o forte movimento de fusões iniciado em 1997 arrefeceu-se nos anos 1999/2000 em função das questões levantadas internacionalmente, principalmente a reação do público na Europa contra alimentos que contenham componentes geneticamente modificados. No entanto, com a superação destas dificuldades espera-se que o processo de integração na indústria de sementes (e no setor agroalimentar em geral) continue, com possíveis reduções de investimentos privados em pesquisa agrícola no País, uma vez que a maior parte das inovações deverão continuar sendo geradas nos grandes laboratórios nos países desenvolvidos e adaptadas localmente. Vale lembrar que as grandes empresas não se interessam em desenvolvimento de pesquisa tecnológica mais sofisticada no Brasil, uma vez que já dispõem de infra-estrutura para tal em suas matrizes.

Uma grande preocupação em relação ao processo de concentração no setor de sementes é a possibilidade das grandes empresas transnacionais virem a adotar no Brasil as práticas correntes em seus países de origem. Em muitos países desenvolvidos houve uma forte tendência de abandono da atividade agrícola com um marcante reflexo na estrutura fundiária. Nos EUA, em 1973, havia 1 milhão de produtores comerciais de milho. Em 1995 existiam apenas 630 000. Em 1992, produtores americanos de milho operavam em média cerca de 450 acres, comparados com os 200 acres do início da década de 70 (National Corn Growers Association, 1993). Hoje, os produtores de milho e soja em países desenvolvidos produzem em áreas maiores e são mais sofisticados. As empresas, por conseqüência, se especializaram no atendimento deste mercado de alto

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conteúdo tecnológico e alto retorno de investimentos. Na área de melhoramento de milho nos EUA, todo o esforço é concentrado em apenas dois complexos de germoplasma de alto potencial produtivo, o que estreitou a base genética de praticamente toda a indústria de híbridos a níveis extremamente perigosos. Não há porque imaginar que as grandes corporações adotariam práticas de melhoramento genético mais prudentes e menos rentáveis no Brasil, se não o fazem nos países de origem. Portanto, não se deve esperar que estas grandes corporações venham a se adaptar a estilos menos rentáveis de negócios no Brasil, ajustando suas linhas de produção para oferta de produtos regionalizados ou de “especialidade”, que atendam a nichos específicos de menor volume de demanda e, em muitos casos, de menor rentabilidade.

Portanto, ao se analisar o processo de concentração em áreas estratégicas para a competitividade do País, é imprescindível avaliar a extensão dos benefícios e riscos envolvidos. No caso da Indústria de Sementes pode-se citar, os seguintes benefícios:

1. Novas tecnologias poderão atingir maior número de produtores, pela maior disponibilização no mercado;

2. Maior e mais rápido impacto na produtividade das culturas;

3. Rápida incorporação de novas tecnologias ao sistema produtivo, mantendo a atividade competitiva frente ao mercado globalizado;

Dentre os riscos prováveis, no caso de concentração (oligopolização) da indústria de sementes, ressalta-se:

1. Redução do nível de atividade de pesquisa em genética vegetal no País com aumento da importação de “soluções” das matrizes;

2. Redução na diversidade de oferta de materiais genéticos para os produtores em função da redução no nível de competição no mercado e redução da capilaridade de oferta pela eliminação de empresas regionais;

3. Redução da diversidade genética no conjunto de materiais ofertados, com a conseqüente vulnerabilização do sistema produtivo. Como exemplo, cita-se a epidemia causada por Helminthosporium maydis, em milho, em 1970 nos EUA. A utilização de um único tipo de citoplasma macho estéril na produção de sementes por toda a indústria, causou enormes prejuízos à economia americana, devido à suscetibilidade do germoplasma de base a este patógeno.

4. Crescimento do melhoramento genético imediatista, centrado prioritariamente no lucro das empresas;

5. Redução na competitividade do mercado e aumento do preço de sementes;

6. Redução, e eventual eliminação, da oferta de materiais genéticos de menor valor agregado (híbridos triplos, híbridos duplos e variedades de milho, por exemplo).

7. Integração genética-biotecnologia para imposição de “vendas-casadas”, eliminação de concorrência e crescente domínio tecnológico por pequeno número de empresas.

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Capítulo 3

Marco conceitual e metodológico do estudo

As necessidades de tecnologia de usuários específicos, ou da sociedade como um todo, são definidas pelos objetivos da sociedade. Estes, por sua vez, são influenciados por características dos sistemas sociais, como valores, padrões de consumo, que determinam problemas, necessidades e prioridades em relação à tecnologia. Todas essas variáveis têm comportamento dinâmico e provocam modificações nas demandas dos usuários da tecnologia. Por isso, é fundamental que as variáveis que interferem neste processo sejam monitoradas. A prospecção tecnológica é a resposta a esta necessidade.

A geração de tecnologia é um processo de médio a longo prazo. Uma vez tomada a decisão de iniciar uma pesquisa, passarão alguns meses, ou até mesmo anos, para que algum produto desse empreendimento seja obtido. Quando o objetivo do pesquisador é a expansão do conhecimento, a preocupação sobre as necessidades futuras de potenciais usuários de seus resultados é menor. Quando, entretanto, o pesquisador tem em mente atender a necessidades de algum segmento social específico, é fundamental antever hoje qual será, no futuro, o padrão de necessidades tecnológicas dessa clientela.

As organizações tentam, já há algumas décadas, incorporar a compreensão de futuro dentro de seus processos de planejamento, de modo a tomar, hoje, decisões que lhes permitam tirar o melhor partido das oportunidades futuras como também antecipar e superar ameaças. As técnicas de análise prospectiva foram desenvolvidas para suprir esta necessidade.

A oferta adequada de tecnologias à clientela requer a utilização de técnicas prospectivas das necessidades futuras de tecnologia, como orientação para o esforço de P&D. Tais técnicas se agrupam sob a denominação prospecção tecnológica ou análise prospectiva.

A análise prospectiva é um conjunto de conceitos e técnicas para a previsão do comportamento futuro de variáveis sócio-econômicas, políticas, culturais e

tecnológicas. No âmbito da gestão da inovação objetive identificar as demandas atuais, potenciais e futuras do mercado de tecnologias de um centro de P&D.

A análise prospectiva é uma base sólida para a sustentabilidade institucional. É ela que vai permitir a compreensão e percepção, de forma sistemática, do comportamento de variáveis do ambiente organizacional, relevantes para a definição de rumos e estratégia institucionais.

Para operacionalizar a análise prospectiva, é necessário conhecer as forças do contexto que, no momento presente, estão moldando o futuro de interesse da organização. Neste caso, a análise de sistemas é o enfoque a adotar. Conseqüentemente, a teoria geral de sistemas, consubstanciada no enfoque de sistemas, e as bases conceituais de estudos de

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futuro foram escolhidas como base conceitual desse projeto. Nesse Capítulo, examinam-se estes marcos conceituais, para em seguida derivar desse conjunto de teorias a metodologia aplicada no estudo.

3.1 Compreensão do futuro: abordagens e conceitos

O conceito de futuro tem relação com algumas dimensões fundamentais (Marinho e Quirino, 1995). A primeira delas é o tempo, cuja percepção e medida estão, em algumas sociedades, relacionadas com os ciclos da natureza. Esta percepção do tempo (e de seus indicadores) como ligada a fenômenos naturais que se repetem, leva a um conceito de futuro como uma seqüência natural do passado e do presente.

Outra dimensão importante diz respeito ao progresso tecnológico. Esta dimensão traz uma perspectiva de evolução e mudança para as sociedades industriais, o que rompe com a idéia anterior de futuro como continuação do passado. Implica em um ambiente turbulento, em constante mutação, no qual os estudos de futuro se tornam, ao mesmo tempo, mais difíceis e necessários.

As noções de incerteza e de ambiente turbulento se combinam para originar o conceito de futuro adotado neste trabalho. Por este conceito, o futuro é visto como o resultado da interação entre tendências históricas e a ocorrência de eventos hipotéticos.

DEFINIÇÃO DE FUTURO

Futuro é o resultado da interação entre tendências históricas e eventos hipotéticos (Bruce B. Johnson, citado por Castro et al., 1998)

Este conceito de futuro está fortemente ligado à chamada “visão prospectiva”, em estudos de futuro. Por outro lado, incorpora também elementos da escola americana de estudos de futuro (forecasting ou estudos tendenciais) ao considerar as tendências históricas para desenvolver sua análise.

A definição de prospecção tecnológica enfatiza a dimensão prospectiva ou a necessidade de extrapolar, no futuro, desempenhos passado e atual de variáveis e estruturas. A visão prospectiva pode ser implementada com base em algumas premissas e com ferramentas correspondentes a cada uma delas. Pode-se considerar o futuro como uma extensão do passado, aplicando-se neste caso métodos extrapolativos. Pode-se explorar cenários de futuros alternativos e utilizar as técnicas Delphi e estudos de cenários. A abordagem pode ter caráter normativo, utilizando-se as técnicas exploratórias com uso normativo (Johnson et al, 1994).

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Assim, a análise prospectiva é uma forma de se conhecer o comportamento atual e prospectivo dos componentes de um sistema, entendendo as relações formais e informais entre eles e em que grau esses comportamentos afetam o desempenho do conjunto. Pode-se conhecer a eficiência interna dos componentes, a distribuição dos benefícios, os impactos dessas variáveis no desempenho dos produtos do sistema, tanto no presente quanto de forma prospectiva. Tal conhecimento pode ser utilizado pelos próprios componentes ou por instituições de desenvolvimento, no sentido de gerenciar o desenvolvimento do sistema.

A idéia de futuros tendencial e alternativo é uma forma interessante de se organizar a reflexão sobre o futuro. Ao formular o futuro como uma continuação do passado (o que é uma hipótese plausível, porém de baixa probabilidade de ocorrência, uma vez que a turbulência é admitida não como hipótese, mas como fato) o estudioso do futuro pode obter uma referência para orientar os seus estudos. O futuro tendencial, expresso na parte (A) da Figura 3.1, funciona como um marco de referência, que pode auxiliar na construção de visões alternativas de futuro, como está expresso na parte (B) da Figura.

PASSADO PRESENTE FUTURO PASSADO PRESENTE FUTUROSPOSSÍVEIS

FUTURO: ÚNICO E CERTO FUTURO: VARIADO E INCERTOFUTURO: ÚNICO E CERTO FUTURO: VARIADO E INCERTO

(B) (A)

Figura 3.1. O futuro como repetição do passado e o futuro incerto

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Esta forma de conceitualizar o futuro permite derivar algumas dimensões de análise, que funcionam como hipóteses sobre as quais se podem orientar a formulação de metodologia. Estas dimensões são:

• Extrapolativa: aonde chegaremos?

O futuro é a extrapolação do passado, com caráter determinista. Nesta dimensão, a turbulência não é considerada como fator interferente para a construção do futuro, que é apenas a continuação do passado.

• Exploratória: onde poderemos chegar?

O futuro tem possibilidades alternativas de evolução, dada pela conjugação de forças do presente e do passado. Nesta dimensão, se promove a exploração da complexidade, para extrair possíveis alternativas de futuro, a partir da evolução de diferentes rotas para fatos presentes.

• Normativa: onde queremos chegar?

O futuro pode ser construído à feição dos interesses de segmentos sociais. Esta construção é dependente dos valores desses segmentos. Nesta construção, os segmentos interessados utilizam poder e iniciativa, para tornar concreta a visão de futuro preferencial.

As duas abordagens de estudos de futuro – a clássica e a prospectiva – não são excludentes, e na verdade apresentam complementaridade. Em geral, nos estudos de futuro é necessário combinar todas as dimensões. A tendencial, como hipótese inicial de como o futuro poderia ser, caso não houvesse que se considerar a turbulência; a exploratória, como forma de inclusão explícita da turbulência provocadora de mudanças e a normativa, como forma de orientar a ação futura, formulando estratégia. A ênfase a ser dada em cada uma das dimensões está na dependência dos objetivos da análise, das disponibilidades de séries de dados e do horizonte temporal a ser adotado pelo estudo.

Quer utilizem princípios do estudo tendencial clássico ou de prospecção, os estudos do futuro não podem prescindir de: 1) identificar padrões no comportamento das variáveis presentes no sistema sob estudo; 2) identificar relações entre estas variáveis. Para atender a estas necessidades, a teoria geral de sistemas e particularmente as técnicas de análise de sistemas são de grande utilidade e serão brevemente apresentadas a seguir.

3.2 Enfoque sistêmico

3.2.1. Teoria geral de sistemas

A motivação para o enfoque sistêmico nasceu da insatisfação com as limitações do reducionismo, com a conseqüente aplicação do conceito de sistemas e das suas ferramentas analíticas na ciência. As leis mecanicistas do reducionismo não eram

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consideradas adequadas para explicar as relações entre as entidades econômicas, ou as complicadas interações de variáveis biológicas ocorrendo dentro dos seres vivos. Começaram a surgir novas leis, que complementavam aquelas já postas pelo reducionismo, ajudando no entendimento das complexas relações e interações da natureza (Castro, 1988).

Foi o biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, quem inicialmente estabeleceu a Teoria Geral dos Sistemas (Bertalanffy, 1950; 1968; 1977) e posteriormente, em diversos artigos e foros científicos, ajudou a consolidar esta nova metodologia científica. A motivação principal era a busca de novas leis, que fossem mais aplicáveis ao estudo dos seres vivos, menos contaminadas pela rigidez das leis da física clássica newtoniana e, portanto, mais favoráveis ao conhecimento da suas complexas relações e interações.

De início, notou-se a existência de interfaces entre as ciências sociais, a física e a biologia, que não eram consideradas pelo reducionismo. Por outro lado, os campos não-físicos do conhecimento não estavam suficientemente cobertos pelos conceitos e ferramentas do reducionismo. Notou-se que havia entidades cujo comportamento geral não era um simples somatório das suas partes componentes, mas o resultado de complexas interações de um todo indivisível. Esta última constatação deu origem ao conceito de sistema, um conjunto de partes inter-relacionadas.

Os pressupostos básicos da Teoria Geral dos Sistemas são:

a) existe uma tendência para a integração das varias ciências naturais e sociais;

b) esta integração orienta-se em direção à teoria dos sistemas;

c) esta teoria dos sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente as ciências sociais;

d) ao desenvolver princípios unificadores que perpassam os universos particulares das diversas ciências, a teoria dos sistemas aproxima-se dos objetivos da unidade da ciência (Bertalanffy, 1950).

Pela teoria dos sistemas, o todo (ou o sistema) é o produto de partes interativas, cujo conhecimento e estudo deve acontecer sempre relacionando o funcionamento dessas partes em relação ao todo. Pode-se esboçar uma definição para o que seja um sistema:

DEFINIÇÃO DE SISTEMA

Um sistema é um conjunto de partes (ou componentes) interativos, no qual o investigador está interessado (Milsun, citado por Jones, 1970).

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Um colorário dessa definição é a noção de limite de sistema, ou seja, uma abstração que é aplicada pelos estudiosos para separar um determinado sistema de seu particular interesse, de todos os demais que compõem o universo. Como a natureza é em geral um enorme complexo de componentes interativos, e esta abrangência nem sempre é de interesse de um determinado estudioso, a idéia de estabelecer limites permite a apreciação de conjuntos menores de componentes interativos, facilitando o entendimento do seu funcionamento.

Do conceito de limite deriva-se um outro muito importante para o estudo dos sistemas, o de hierarquia. Enquanto o conceito de limite está relacionado com os objetivos a alcançar, o conceito de hierarquia decorre do fato de existirem na natureza sistemas dentro de sistemas, numa ordem decrescente, onde um determinado sistema passa a ser um subsistema numa escala hierárquica mais alta e contém outro subsistema numa escala mais baixa. Em termos didáticos, poder-se-ia imaginar sistemas em camadas hierárquicas.

A noção de hierarquia tem aplicação na análise de sistemas. Em geral, a explicação do funcionamento do sistema é encontrada a um ou dois níveis hierárquicos inferiores (ou superiores, no caso das ciências sociais). A análise de sistemas apresenta neste ponto interface com o reducionismo, caracterizando a complementaridade dos dois enfoques.

A representação de um sistema em qualquer outra forma que não a da própria entidade é denominada de modelo. Os modelos podem assumir diversas formas, desde os modelos físicos e os diagramas, até aos modelos conceituais, dos quais os modelos matemáticos (ou quantitativos) são a expressão mais útil para o cientista.

C é lu la

C o m u n id a d e

T e c id o

O r g a n is m o

P o p u la ç ã o

Figura 3.2. O conceito de hierarquia de sistemas

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O conceito de modelo é comum a toda a metodologia científica. De fato, em qualquer enfoque aplicado, é através de modelos que a ciência tem se expressado para compreender a natureza dos fenômenos. Os modelos matemáticos, portanto, têm cumprido com a função de universalizar o conhecimento, de forma inequívoca. Não é por acaso que o enfoque sistêmico tem se apoiado principalmente nestes tipos de modelos. A complexidade dos sistemas é simplificada nos modelos que os representam, como forma de facilitar o entendimento do seu funcionamento. Embora se possa elaborar modelos sem a concepção sistêmica, os modelos de sistemas são os mais efetivos para aumentar a compreensão dos fenômenos. Assim, o enfoque sistêmico pode ser aplicado na metodologia de pesquisa de muitas formas, como será posteriormente visto.

Os conceitos de sistema, limite, hierarquia e modelo são os que podem oferecer melhores oportunidades de aplicação, como base conceitual para os estudos prospectivos. A aplicação do enfoque sistêmico na prospecção tecnológica é fundamentada na utilização dos conceitos de sistemas e das suas ferramentas de análise para a caracterização das tendências tecnológicas, econômicas ou sociais. O desenvolvimento agrícola e as necessidades de tecnologias para apoiar esse desenvolvimento são vistos como um conjunto de processos inter-relacionados, afetados por um complexo de fatores que transcendem o campo disciplinar. A interdisciplinaridade é uma imposição para o equacionamento dessa complexidade.

3.2.2. Identificação de padrões no comportamento e de relações entre variáveis de interesse

A agricultura e a pesquisa agropecuária têm sido recentemente caracterizadas como um processo de apoio ao desenvolvimento do negócio agrícola como um todo e são definidas não apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas a todos os processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus consumidores. O sistema mais abrangente é denominado de negócio agrícola, complexo agroindustrial ou agribusiness (Davis & Golberg, 1957; Zylbersztajn, 1994). É composto por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As cadeias produtivas possuem entre os seus componentes ou subsistemas os sistemas produtivos, nos quais ocorre a produção dos produtos agropecuários. É possível ainda definir outros subsistemas, dentro do agronegócio e das cadeias produtivas, como é o caso presente do SNPCS.

Quando se vai analisar estes sistemas, para elaborar visões futuras de seus desempenhos, a dificuldade encontrada pelo analista é o de identificar as variáveis de maior interesse, que representem o desempenho do sistema analisado, o padrão de comportamento dessas variáveis e as relações entre elas. O enfoque sistêmico pode agregar as ferramentas necessárias para solucionar esta dificuldade metodológica. Na Figura 3.3, ilustra-se a complexidade inerente a este processo de análise e como o enfoque sistêmico pode ser utilizado como ferramenta analítica.

Utilizando os princípios da análise de sistemas e cadeias produtivas, propõe-se (Castro et al., 1995; e Castro et al. 1999) que um sistema pode ser caracterizado por seu desempenho, ou sua capacidade de transformar insumos em produtos. Este desempenho

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pode ser representado por fatores críticos de desempenho, conforme indicado pelas setas na Figura 3.3. Por sua vez, estes podem ser afetados pelas forças propulsoras e restritivas. Uma força propulsora ou restritiva é qualquer variável (ou um grupo de variáveis, denominado de estrutura) que afeta fortemente o desempenho de um sistema, de um modo positivo ou negativo. As forças propulsoras, portanto, mantêm uma correlação positiva com o fator crítico, enquanto as forças restritivas apresentam uma correlação negativa com aquele fator.

DESEMPENHO

FUTURO

DO

SISTEMA

CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL)CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL)

CENÁRIOS DO AGRONEGÓCIOCENÁRIOS DO AGRONEGÓCIO

SNCP

SP

FATOR FATOR CRITICO CRITICO

FATORCRITICO

FORÇAS FORÇAS RESTRITIVASRESTRITIVAS

FORÇASFORÇASPROPULSORASPROPULSORAS

SN=SISTEMA NATURAL CP=CADEIA PRODUTIVA SP=SISTEMA PRSN=SISTEMA NATURAL CP=CADEIA PRODUTIVA SP=SISTEMA PRODUTIVOODUTIVO

FORÇAS FORÇAS RESTRITIVASRESTRITIVAS

FORÇASFORÇASPROPULSORASPROPULSORAS

Figura 3.3. Aplicação do enfoque sistêmico à análise prospectiva

Ao utilizar a abordagem descrita na Figura 3.3, se estará aplicando uma das ferramentas mais poderosas do enfoque sistêmico, a análise de sistemas. Um sistema está analisado quando se definem: os seus objetivos, razão pela qual ele opera; os seus insumos, elementos entrando no sistema; os seus produtos, elementos saindo do sistema; os seus limites; os seus componentes, elementos internos que transformam insumos em produtos; os fluxos, movimento de elementos entre os seus componentes, definindo as variáveis de estado e as taxas de fluxo, que podem ser utilizadas para se medir o comportamento dinâmico e o desempenho do sistema (Sarávia, 1986).

Além destes elementos, se estará decompondo a complexidade do sistema estudado em hierarquias, com limites bem definidos e utilizando-se as técnicas de modelagem de sistemas. Estas ferramentas ajudam na identificação e descrição das relações entre fatores críticos e suas forças propulsoras e restritivas, na construção de uma rede de relações de causa e efeito que terá um impacto sobre o desempenho do sistema que está sob análise. Determinar esta rede é um passo essencial para a análise diagnóstica de um sistema, mas especialmente, para sua análise prospectiva ou prognóstica (Castro et al., 2002; Lima et al., 2002).

O comportamento das variáveis, em um sistema, pode apresentar determinados padrões, os quais podem ser caracterizados por sua sazonalidade, tendência, ciclicidade e aleatoriedade (Makridakis e Wheelwright, 1989). Em um sistema produtivo, por exemplo, a produção da matéria-prima pode ser significativamente maior em

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determinados meses do ano do que em outros. Este seria um exemplo de sazonalidade. Por outro lado, uma tendência pode ser exemplificada pelo aumento do consumo da matéria-prima, a medida que a população aumenta. Ciclicidade, por sua vez, teria como exemplo a redução do consumo desta matéria-prima, na entressafra, retornando depois ao seu valor normal (a tendência). Aleatoriedade, por sua vez, corresponde a um aumento de preços ocorrendo no caso de se uma seca dizimar as plantações de um determinado Estado produtor desta matéria-prima.

A identificação destes padrões é estratégia metodológica típica de estudo tendencial clássico. Os modelos matemáticos permitem identificar os padrões de sazonalidade, as tendências, os ciclos e a aleatoriedade com grande precisão. Permitem também a extrapolação para o futuro, de sazonalidade, tendências e ciclos. A aleatoriedade não pode ser prevista, mas pode ser incorporada a estes modelos como um indicador da incerteza, no futuro. Estes padrões, no entanto, podem – e devem, sempre que possível – ser identificados também em estudos que utilizem a abordagem prospectiva, ou seja, quando se adota o enfoque de futuro com múltiplas possibilidades de ocorrência.

Deve-se enfatizar que o conhecimento do comportamento passado e presente dos fatores críticos de desempenho de um sistema, constitui elemento básico para que se possa realizar a sua análise prognóstica.

3.2.3. Identificação de fatores críticos de desempenho

As diferentes abordagens ao estudo do futuro possuem uma estratégia metodológica em comum: entender a estrutura de relações, entre variáveis relevantes ao desempenho do sistema, como um primeiro passo para a compreensão do futuro, ou dos futuros possíveis.

Assim, van der Heidjen (1997) fala em descobrir as forças impulsoras fundamentais e as estruturas (múltiplas) por trás dos eventos. Makridakis e Wheelwright (1989) falam também na descoberta de relações (impactos causais) e sua utilização para fazer predições.

Utilizando os princípios de análise de sistemas, propõe-se (com base em Castro et al., 1995; e Castro et al. 1998) que um sistema pode ser caracterizado por seu desempenho, ou sua capacidade de transformar insumos em produtos. O desempenho de um sistema, por sua vez, pode ser afetado pelos chamados “fatores críticos”. Um fator crítico é qualquer variável (ou grupo de variáveis, ou estrutura) que afeta de forma relevante o desempenho de um sistema, de um modo positivo ou negativo.

O conceito de fator crítico

FATOR CRÍTICO: é qualquer variável (ou conjunto de variáveis) de grande impacto, positivo ou negativo, sobre o desempenho de um sistema.

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Outros dois conceitos são importantes: o de forças propulsoras e o de forças restritivas aos fatores críticos. Estas forças são definidas como variáveis (ou grupo de variáveis ou estruturas) que influenciam cada fator crítico ao desempenho, de modo positivo (força propulsora) ou de modo negativo (força restritiva). As chamadas forças propulsoras, portanto, mantêm uma correlação positiva com o fator crítico, enquanto que as forças restritivas apresentam uma correlação negativa com aquele fator (Castro et al., 2001).

A descrição das relações entre fatores críticos e suas forças propulsoras e restritivas permite observar que o que se procura é identificar uma rede de relações de causa e efeito, que terá um impacto sobre o desempenho do sistema que está sob análise. Determinar esta rede é um passo essencial para a análise diagnóstica de um sistema, mas especialmente, para sua análise prospectiva ou prognóstica.

3.3 Utilização da prospecção na formulação de estratégias

Os resultados dos estudos prospectivos servem à gestão estratégica. Enquanto a análise prospectiva procura responder a questão “o que pode acontecer no futuro?”, a estratégia tenta, a partir desse questionamento, definir escolhas do tipo “quem sou eu? ; o que posso fazer?; o que vou fazer?; como vou fazer?. Assim, análise prospectiva e estratégia assumem uma vinculação estreita, onde a qualidade desta última é função direta da primeira.

Análise prospectiva Estratégia

Tem como propósito responder a questão “o que pode acontecer no futuro?”

É a forma de se definir rumos da organização, a partir de cenários futuros.

Tem como propósito responder questões do tipo “quem sou eu? ; o que posso fazer?; o que vou fazer?; como vou fazer?.

Conseqüentemente, a análise prospectiva gera o insumo básico, a base de informação sobre como o futuro pode se apresentar, para a formulação de estratégia, seja de organizações, setores ou segmentos produtivos. Esta base de informação se torna mais importante, a medida que se define estratégia para posições mais distantes no futuro, e que se trabalha em ambientes com maior nível de turbulência.

A pesquisa é um dos ramos de atividade humana com grandes índices de risco, submetida a ambientes de alta turbulência (em geral, mais conhecimento é demandado em países menos desenvolvidos, onde as velocidades e intensidades das mudanças são quase sempre maiores) e cujos produtos são esperados no longo prazo. Todas estas

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características a tornam uma cliente preferencial de estudos prospectivos, como ferramenta de gestão estratégica.

Uma vez realizados os estudos prospectivos, qualquer que seja a técnica empregada são produzidas visões alternativas de futuro, que podem modificar frontalmente as demandas sociais, econômicas e/ou ambientais sobre uma determinada organização. Estas possibilidades de futuro podem ser tão díspares, que exijam uma total reconfiguração da organização, afetando a sua própria missão, ou apenas ajustes incrementais em objetivos, cujo atingimento dependerá de correspondentes ajustes na operação da organização. Esta formulação reforça a importância das visões alternativas de futuro, ou cenários, como uma importante ferramenta de gestão organizacional.

O processo de incorporação de resultados de estudos prospectivos na estratégia das organizações é conhecido como estratégia, formulação de estratégia ou planejamento estratégico. A Figura 3.4 descreve como este processo pode ser representado.

ProcessoProcesso de de formulaçãoformulação de de estratégiasestratégiasutilizandoutilizando--se alternativas de futurose alternativas de futuro

Análisedo

entornoCenário 1

(Ameaças, oportunidades,fortalezas, debilidades

brechas)

Cenário 2 Cenário 3(Ameaças…)

Formulação da missão, objetivos, políticasValidação da missão, objetivos, políticas

Formulação de estratégias

Conjuntode estratégias 1

Conjuntode estratégias 2

Conjuntode estratégias 3

Planos, Programas, Projetos 1 Planos, Programas, Projetos 2

Formulação da missão, objetivos, políticasValidação da missão, objetivos, políticas

Formulação de estratégias

Conjuntode estratégias 1

Conjuntode estratégias 2

Conjuntode estratégias 3

Planos, Programas, Projetos 1 Planos, Programas, Projetos 2

(A) (B) (C)

(Ameaças…)

Figura 3.4. Usos de resultados de estudos prospectivos para a formulação de estratégia organizacional. Fonte: Castro et al. (2001)

Observe-se na Figura 3.4 que a partir dos três cenários construídos pela análise prospectiva, que contemplam ameaças e oportunidade e ao mesmo tempo, confronta-se estas oportunidades e ameaças com os pontos fortes e fracos da organização e formula-se a missão mais adequada para a instituição enfrentar os cenários plausíveis elaborados. A partir daí, são elaborados conjuntos alternativos de estratégias (com respectivos objetivos, diretrizes, planos, programas e potenciais projetos), que possam promover a eficácia da organização, contribuindo para o alcance da missão proposta no cenário específico.

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Na fase de implementação, o processo de monitoramento estratégico, determina qual dos cenários elaborados explica melhor o momento presente e futuro próximo da organização e determina o conjunto de estratégias mais adequado para orientar a gestão e os rumos institucionais.

3.4 Marco conceitual específico do estudo

A partir dos conceitos e metodologias pertinentes à prospectiva e ao enfoque sistêmico, foi desenvolvido um marco conceitual específico para estudar o comportamento, e o desempenho atual e futuro do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes. O estudo se limitou a trabalhar com o melhoramento genético vegetal, não incluindo questões sobre o melhoramento genético de animais. Inicialmente, foram propostas as seguintes questões:

a) que impactos terão os eventos emergentes, anteriormente relacionados, sobre os segmentos do agronegócio atendidos pela pesquisa agropecuária pública?

b) face às mudanças indicadas, quais deverão ser os novos espaços e papéis da pesquisa agropecuária pública e privada em melhoramento genético no Brasil?

c) como será, no futuro, a articulação da pesquisa pública e privada com o mercado de cultivares e de sementes?

d) quais serão os novos negócios (ou novas oportunidades) para a P&D pública e privada, como conseqüência das mudanças? e) qual deverá ser o posicionamento estratégico das instituições de P&D, em função das mudanças?

Na Figura 3.5, é apresentado o modelo conceitual do estudo, contemplando seus principais elementos. Considerando-se a existência de um sistema nacional de produção de cultivares e sementes (SNPCS), pode-se distinguir neste sistema dois subsistemas componentes, o subsistema público e o subsistema privado de P&D em germoplasma e produção de cultivares. Estes subsistemas admitem dois estados possíveis, um estado atual e um futuro, representando como estes subsistemas se apresentam no momento passado e presente, e como poderão se apresentar no futuro, uma vez impactados pelos eventos emergentes descritos anteriormente.

E v e n t o s E m e r g e n t e s n o A m b ie n t eE x t e r n o

E v e n t o s E m e r g e n t e s n o A m b ie n t eE x t e r n o

S is t e m a p ú b l ic o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( a t u a l)

S is t e m a p ú b l ic o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( a t u a l)

S is t e m a p r iv a d o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( a t u a l)

S is t e m a p r iv a d o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( a t u a l)

S is t e m a p ú b l ic o d e G e r m o p la s m a , M e lh o r a m e n t o

E S e m e n t e s ( fu t u r o )

S is t e m a p ú b l ic o d e G e r m o p la s m a , M e lh o r a m e n t o

E S e m e n t e s ( fu t u r o )

S is t e m a p r iv a d o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( f u t u r o )

S is t e m a p r iv a d o d e G e r m o p la s m a ,

M e lh o r a m e n t o e S e m e n t e s ( f u t u r o )

Figura 3.5. Modelo conceitual do estudo: estado atual e futuro do sistema nacional de produção de cultivares e sementes (SNPCS).

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Os subsistemas público e privado são compostos por organizações governamentais e privadas de P&D, interessadas no melhoramento genético de plantas para a produção de cultivares. No setor público, destacam-se a Embrapa, as organizações estaduais e institutos de pesquisa agropecuária, as universidades públicas dedicadas ao ensino e a pesquisa no tema. No setor privado, despontam as grandes empresas multinacionais, as empresas nacionais, as ONGs e as universidades privadas.

Na Figura 3.5, também se representam, por setas, as relações atuais e futuras entre os dois subsistemas. Não somente a configuração das organizações poderá mudar, como resultante dos eventos emergentes, como também a natureza das relações entre estes dois subsistemas. O entendimento dessas mudanças é fundamental, para se formular políticas e estratégias de gestão.

Conseqüentemente, a partir desse modelo, foram levantados pontos para esclarecimento, avaliados como as mais importantes para a formulação de futuras estratégias para o setor:

a) os eventos emergentes mais importantes, que ocorreram na última década, como já apresentado no item 2;

b) a estrutura, capacidades, métodos adotados e desempenhos passado, atual e futuro dos sistemas público e privado de germoplasma e produção de cultivares no Brasil;

c) as relações atuais e passadas entre estes dois subsistemas e dos impactos dos eventos emergentes sobre o futuro desta relação;

d) os impactos passado, atual e futuro, dos eventos emergentes sobre os sistemas público e privado e seus desempenhos;

e) cenários plausíveis sobre os novos papéis da pesquisa pública e privada no mercado de tecnologia de cultivares e sementes e sobre as suas relações futuras.

A partir desses pontos, elaboraram-se as seguintes questões, avaliadas como as mais importantes para orientar o foco do tema em estudo:

a) que impactos terão os eventos emergentes sobre o sistema nacional de produção de cultivares e sementes e seus segmentos?

b) como serão no futuro, as relações entre a pesquisa pública e privada, com o mercado de cultivares?

c) face as mudanças indicadas, quais deverão ser os novos espaços e papeis da pesquisa agropecuária pública e privada?

d) que novos negócios tecnológicos podem ser derivados das transformações em curso no sistema nacional de produção de cultivares e sementes?

e) qual o posicionamento estratégico da Embrapa em um sistema em transformação?

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Observa-se que as questões elaboradas têm como foco a orientação sobre os rumos que a P&D pública e privada deverão tomar, face às transformações que atualmente ocorrem no seu ambiente externo. Nas questões estão contidas as ameaças que as mudanças podem trazer (redefinição de espaços de atuação, novos tipos de relações, necessidades de desempenhos modificados, desenvolvimento de novas capacidades), mas ao mesmo tempo contempla o rol de oportunidades que toda a mudança também proporciona (abertura de novos campos, novos negócios, novas fontes de renda, novos clientes).

3.5 Estratégia Metodológica

Os principais métodos e técnicas aplicados aos estudos prospectivos foram descritos por Castro et al. (2001) e são os seguintes (em ordem crescente de importância):

• Ábaco de Regnier

• Análise Estrutural

• Jogo de Atores

• Matriz de Impacto Cruzado

• Modelos de Simulação

• Método Delphi

• Construção de cenários

Os quatro primeiros métodos constituem-se muito mais em técnicas aplicadas em exercícios prospectivos do que métodos estruturados para se proceder a um estudo completo. Os dois últimos são os mais aplicados internacionalmente e podem ser utilizados isoladamente, para um estudo completo, embora, em geral, os estudos prospectivos empreguem combinações dos diversos métodos.

No presente trabalho, a estratégia metodológica adotada foi baseada na aplicação estruturada dessas técnicas prospectivas, a partir da análise sistêmica do desempenho passado e presente do sistema estudado. As técnicas de análise de sistemas e de modelagem foram empregadas inicialmente em modelos conceituais que serviram de base à análise diagnóstica. Esta fase diagnóstica teve como produto fatores críticos de desempenho do sistema analisado, que foram utilizados posteriormente para a formulação da análise prospectiva.

Além das metodologias específicas de análise de futuro, aplicadas na etapa prognóstica do estudo, foram usadas técnicas de indução de criatividade e participação. A Tabela 3.1 apresenta de forma resumida, o conjunto de métodos e técnicas que compõe a estratégia metodológica deste trabalho.

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Tabela 3.1. Estratégia Metodológica utilizada no Estudo

Metodologia/ Técnica

Especificação da metodologia/ técnica

• Trabalho em equipe Reuniões de equipe interdisciplinar, apoiadas por informação secundária e primária, para análise e síntese nas diversas etapas do estudo.

• “Brainwriting e brainstorming” Aplicação de técnicas de geração de idéias em reuniões técnicas, para elaboração de modelos de variáveis e suas relações e impactos sobre o desempenho do SNCPS.

• Levantamento de dados secundários (bibliográficos e Internet)

Coleta e interpretação de informação escrita e eletrônica sobre o ambiente do SNPCS e as principais forças indutoras de mudança e sobre aspectos de desempenho do próprio sistema.

• Entrevistas Coleta de informação primária sobre o SNPCS e seu desempenho, e sobre o efeito das mudanças no ambiente externo no sistema. Aplicação de questionário semi-estruturado e posterior aplicação de técnicas de análise de conteúdo.

• Painéis Reuniões técnicas com especialistas, para discussão de temas técnicos específicos ou para validação de conceitos e instrumentos desenvolvidos no trabalho.

• Seminários técnicos Reuniões técnicas com especialistas para apresentação e avaliação de resultados parciais do trabalho.

• “Position papers” Preparação de trabalhos escritos analíticos sobre temas centrais para o estudo, como sobre o impacto dos eventos emergentes no ambiente externo e sua influencia nas transformações do SNPCS.

• Modelagem Construção de modelos conceituais e de estruturas do SNPCS e das relações entre variáveis.

• Matriz de impactos cruzados Técnica complementar aplicada para analisar a relação entre as variáveis causais e dependentes do sistema.

• Aplicação da Técnica Delphi Método de estudo de futuro, baseado em questionários interativos e painéis de especialistas (ver Figura 3.7).

• Contextualização por cenários Aplicação de método de estudo de futuro como técnica auxiliar do questionário Delphi.

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3.5.1. Análise diagnóstica

Para realizar o diagnóstico do sistema (desempenho atual e passado) foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com especialistas em germoplasma, melhoramento genético, biotecnologia e mercado de sementes. Além da sua particular experiência e reputação em um desses campos de trabalho, estes especialistas foram selecionados procurando-se ter no rol dos entrevistados participantes dos setores público e privado de P&D e, dentro destes grupos, representantes de organizações específicas, tais como a Embrapa, as organizações estaduais de pesquisa, as Universidades e as empresas privadas. Foram entrevistados 19 especialistas dentro do perfil descrito (Tabela 3.2 e Anexo 1).

Tabela 3.2. Número de especialistas entrevistados por Instituição.

Instituição

Unidade

Número

Embrapa

Embrapa-AgroInd.Tropical Embrapa-Milho e Sorgo Embrapa-Arroz e Feijão

Embrapa-Trigo Embrapa-Recursos Genéticos

Embrapa-Semi-Árido Embrapa-Hortaliças

1 1 3 1 1 1 1

IICA IICA/ Embrapa-hortaliças 1 Universidade de São Paulo ESALQ 3

Universidade de Lavras Escola de Agronomia 1 Unimilho Direção 1

FT-Pesquisas e Sementes Área de P&D 1 Instituto de Pesquisas da

Amazônia INPA 1

Fazenda Produtor de sementes 1 Câmara Legislativa Federal Assessoria Parlamentar 1

Total

- 19

Ainda no que se refere ao diagnóstico do sistema, foi realizado um levantamento junto aos produtores de sementes do Brasil. Neste trabalho, a partir do cadastro de produtores de sementes da ABRASEM, foram obtidos 80 questionários, referentes a uma amostra de cerca de 20% do universo. O questionário aplicado é apresentado no Anexo 2.

O Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes foi modelado e analisado, incluindo nesta análise os mercados de cultivares e sementes, aplicando-se técnicas de modelagem e análise de sistemas, identificando componentes, relações entre componentes, fluxos de informação e capital, insumos e produtos e processos internos dos componentes mais relevantes. Utilizou-se de informação secundária, obtida em ABRASEM (1990 a 1999) e Embrapa (2001).

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Resultou desse processo um modelo de variáveis, estruturas e relações, das quais se identificaram os fatores críticos de desempenho do sistema. Para buscar relações de causa e efeito entre as variáveis identificadas e determinar os fatores críticos, empregou-se a matriz de impactos cruzados.

Os modelos resultantes, bem como o processo de sua elaboração são apresentados nos próximos capítulos.

3.5.2. Análise prognóstica dos setores de inovação tecnológica

A metodologia de prospecção foi a Técnica Delphi, desenvolvida por pesquisadores da Rand Corporation (Wrigth, citado por Castro et al., 1995; Castro et al., 1998; Lima et al. 2000), aplicada a partir do produto da análise sistêmica de desempenho passado e presente do segmento em estudo, que determinou fatores críticos de desempenho do sistema. A forma de operação de uma pesquisa Delphi está representada na Figura 3.6.

A Técnica Delphi se operacionaliza pela formação de um painel de especialistas (Painel Delphi) e pela elaboração de um questionário interativo, aplicado em várias rodadas sucessivas. Apresenta as seguintes características (Linstone & Turoff, 1975):

• Busca de consenso entre especialistas sobre eventos futuros;

• Avaliação intuitiva coletiva baseada em: a) uso estruturado do conhecimento; b) experiência; c) criatividade ; d) anonimato;

• Trabalha em ambientes com séries históricas deficientes;

• Enfoque interdisciplinar; perspectivas de mudanças em tendências (rupturas);

• Tratamento estatístico simples;

• Reavaliação de respostas para novo questionário;

Na operacionalização do Painel Delphi, selecionam-se especialistas, que respondem a questionário especialmente preparados para este tipo de técnica. A escolha dos especialistas é ao mesmo tempo um diferenciador desta metodologia de pesquisa e um dos fatores chave de sucesso. Embora estes especialistas não tenham que necessariamente ter conhecimento formal, devem ter um conhecimento aprofundado, de forma a opinar com autoridade sobre os temas investigados.

Na operacionalização do Painel Delphi referente ao presente estudo, selecionaram-se 40 especialistas em melhoramento genético e biotecnologia, a partir de uma base de dados com cerca de 300 nomes de profissionais trabalhando no tema no Brasil. Foram realizadas três rodadas sucessivas de seleção, até se chegar a cerca de 50 nomes, considerados com o melhor perfil para participar do Painel Delphi, dos quais se concretizou a participação de 40 painelistas.

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T é c n ic aT é c n ic a D e lp h iD e lp h i: E ta p a s: E ta p a s

In íc ioR e sp o sta s

ere to rn o

A n á lise

H áH áa c o rd oa c o rd o ?

C o n c lu sã og e ra l

R e la tó riop a ra o sp a ra o s

e s p e c ia lis ta sR e la tó rioR e la tó rio

fin a lf in a lF im

S im

N ã o

E la b. D eq u e s tio n./s e le ç ã o d e

e s p e c ia lis ta s

Figura 3.6 - O processo de pesquisa de futuro utilizando a Técnica Delphi.

Na escolha dos especialistas, foram ponderadas as variáveis: conhecimento dos especialistas nos temas abordados no Painel Delphi; a capacidade de imaginar possibilidades futuras de ocorrência de eventos (relacionadas ao melhoramento genético) e suas conseqüências; a capacidade de relacionar eventos de diversas naturezas (tecnológicas, econômicas, sociais) e seus impactos sobre o melhoramento genético. No Painel, solicitou-se também informação sobre experiência do profissional no tema, contribuições relevantes, área de atuação e tipo de organização de origem. Foram selecionados profissionais da iniciativa privada (empresas privadas e multinacionais), da universidade pública e privada, das empresas estaduais de pesquisa agropecuária e da Embrapa.

A composição dos especialistas participantes do painel e suas principais características estão apresentadas na Tabela 3.3. As Figuras 3.7 e 3.8 apresentam uma síntese do tipo de função desempenhada pelos painelistas e da atividade econômica no âmbito do agronegócio ao qual os mesmos estão vinculados.

Pelas informações contidas na Tabela 3.3 e Figuras 3.7 e 3.8, pode-se deduzir sobre a grande experiência profissional (média de 25 anos como profissional e 22 anos como melhorista), alto grau de formação acadêmica (cerca de 88% são doutores) e atuação profissional nas principais explorações do sistema pesquisado (grãos, fruteiras, hortaliças, forrageiras, espécies florestais). Tais elementos garantem a qualidade do painel e reforçam as opiniões obtidas a partir da pesquisa, como fonte para a formulação de estratégias para o sistema.

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Tabela 3.3. Composição e características do Painel Delphi

Origem do painelista

Local de atuação

Instituição

%

Região

%

Centros da Embrapa 72,5 Norte 2,5

Empresas estaduais de pesquisa

5,0 Nordeste 2,5

Universidades 15,0 Centro oeste 42,5

Empresas privadas 7,5 Sudeste 25,0

- - Sul 22,5

A relação dos painelistas e respectivas instituições é apresentada no Anexo 3.

Principais atividades exercidas pelos painelistas (a primeira indicada corresponde à atividade principal)

Pesquisa e Ensino29%

Ensino e Pesquisa

13%Gerência de

P&D e Pesquisa13%

Exclusivamente Pesquisa

25%

Pesquisa e Gerência de

P&D 20%

Figura 3.7. Atividades exercidas pelos painelistas

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Espécies com que trabalham os painelistas

Grãos diversos19%

Soja10%

Milho15%

Forrageiras5%

Espécies florestais5%

Trigo5%

Mais de um grupo de espécies

8%

Fruteiras8%

Olerícolas15%

Arroz10%

Figura 3.8. Atividade produtiva desempenhada pelos painelistas.

A preparação dos questionários é outro fator chave de sucesso desse tipo de estudo. Estes tinham uma clara definição de objetivos, horizonte temporal determinado e definiam precisamente quais os resultados desejados. As questões foram baseadas em análise do sistema em estudo, apoiadas por cenários futuros. Foram preparados questionários distintos para as duas rodadas do Painel.

O questionário Delphi preparado para a primeira rodada (ver Anexo 4) tinha horizonte temporal de 8 anos (2002-2010). Era composto de 4 blocos de perguntas fechadas, com escalas de 1 a 10 para formulação das respostas. As questões eram apoiadas por três cenários futuros (ver Tabela 3.4), os conceitos mais importantes foram definidos para maior claridade, e havia espaço para complementações das respostas pelos especialistas. Os blocos componentes foram, respectivamente:

Bloco 1: Base Genética - trata da questão do germoplasma, do intercâmbio de material e conhecimentos sobre germoplasma, do uso de variedades como fonte de variabilidade genética no melhoramento e do impacto futuro dessas variáveis sobre a base genética utilizada no melhoramento de plantas nos setores público e privado de P&D.

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Tabela 3.4. Cenários do contexto relevante do sistema brasileiro de produção de cultivares e sementes - ano de 2010

Cenário 1 – Aprofundamento da crise econômica e social

Pressionado pela longa recessão internacional e pela balança de pagamentos deficitária, que vulnerabiliza o pais, aprofunda-se a crise econômica e social. Há escassez de investimentos externos e o país tem que contar com exportações para manter suas importações estratégicas e atender ao serviço da sua dívida interna e externa. Por outro lado, ocorre um exacerbado fechamento dos mercados externos, com um grande conjunto de medidas protecionistas, pelos principais compradores de commodities brasileiras. Os indicadores econômicos e sociais sofrem declínio, a inflação retorna, gerando programas de controle que restringem investimentos governamentais, crédito e o consumo interno. Os acordos regionais (Mercosul e Alca) estão em operação, mas se revelam deletérios para a economia nacional, pois as barreiras protecionistas são mantidas, com prejuízos para a competitividade nacional. A competição por recursos públicos é exacerbada e setores com menor apelo popular e político sofrem as maiores restrições. Há desemprego generalizado e constantes manifestações populares contra o governo. No agronegócio, as prioridades se voltam para as cadeias produtivas exportadoras de commodities, tais como soja, café, e carnes, ao mesmo tempo em que produtos destinados ao abastecimento do mercado interno passam por dificuldades causadas pelo baixo poder aquisitivo do mercado.

Cenário 2 - Avanços e recuos

A instabilidade internacional alterna ciclos freqüentes e de curta duração de calmarias e turbulências, reduzindo o crescimento econômico e o desenvolvimento mais sustentável. Nesse quadro de períodos de avanços e recuos, não se criam espaços para atacar os problemas estruturais do País, sendo a defesa da economia e da estabilidade econômica a prioridade política predominante. Face às condições de instabilidade econômica, a divida interna e externa crescem. Observa-se pequeno crescimento anual do PIB; os indicadores sociais (queda em taxas de mortalidade, de natalidade, de educação, etc.) mostram pequenos sinais de melhora. Depois de grande confiança e abertura entre mercados, no começo da década, esse movimento foi bastante reduzido. As negociações para estabelecimento de blocos regionais prosseguem, de modo lento. O Mercosul está tentando recuperar a credibilidade que perdeu, pela ação descoordenada dos países envolvidos naquele bloco, como conseqüência das várias crises econômicas que assolaram a AL na década. A Alca ainda depende de várias negociações para estabelecer-se de modo completo. Os benefícios desses acordos, para o país, ainda são pequenos. No agronegócio, busca-se alternativas para alguns (ainda poucos) produtos de valor agregado, mas a pauta de exportação de commodities ainda se configura como bastante importante para o país. O mercado interno recupera lentamente sua importância na economia, e se mostra gradualmente mais exigente, em relação à qualidade e características especiais dos alimentos.

Cenário 3 – Recuperação acelerada sustentada

Depois do choque na economia mundial, no início da década, que provocou inicialmente uma recessão mundial, as economias mais importantes do planeta estão em fase de crescimento estável e sustentado. Nesse período, o Brasil fortaleceu enormemente seu mercado interno, reduzindo paralelamente a dependência de investimentos estrangeiros. Por outro lado, esses têm crescido aceleradamente, como conseqüência do tamanho do mercado consumidor, pelas condições de segurança oferecidas pelo país, e pelo menor risco para esses investimentos. Os indicadores sociais apresentam acentuadas melhoras, quando comparados aos da década passada. A mão-de-obra sofreu sensível qualificação, e o país tem hoje, em sua pauta de exportações, um portfólio considerável de produtos com maior valor agregado. Os acordos regionais (Mercosul e Alca) estão consolidados, com grandes benefícios para a exportação e o turismo nacionais, mas também novos desafios para a competitividade dos produtos brasileiros. Mundialmente, cresce a abertura de mercados iniciada no final dos anos noventa, com menor número de medidas protecionistas nos principais países compradores. O agronegócio tem experimentado também crescente demanda, e diversifica sensivelmente a sua pauta de produtos de valor agregado, como conseqüência de maiores exigências do mercado consumidor interno, do acesso a alimentos mais sofisticados de uma maior parte da população, do número crescente de compradores externos, e do enorme avanço da indústria do turismo, a qual agregou 30% a mais de consumidores desses produtos, nos últimos cinco anos.

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Bloco 2: Novos Negócios e Oportunidades para a P&D - a questão central é o avanço futuro dos processos de melhoramento genético, dos seus produtos, especialmente os novos, e das oportunidades para a geração de novas frentes de trabalho e negócios na pesquisa pública e privada em melhoramento genético. O bloco também examina as questões relacionadas com capacidade e infra-estrutura dos setores público e privado de P&D, para aproveitar as oportunidades e neutralizar ameaças oriundas das mudanças em curso.

Bloco 3: Capacidade e Desempenho do Sistema de P&D – examina-se o desempenho recente dos sistemas público e privado de P&D em termos de capacidade de produzir, registrar e proteger cultivares e elaboram-se cenários futuros de desempenho em relação a estes indicadores.

Bloco 4: Espaços da P&D Pública e Privada no Brasil – a tentativa deste bloco de encerramento do questionário é investigar a percepção dos painelistas sobre possíveis espaços futuros da P&D pública e privada, em relação às atividades econômicas setoriais do agronegócio.

O questionário foi formalmente validado em um painel de validação, composto por 16 especialistas do setor. A partir da validação, foi elaborada a versão final do questionário, aplicada durante o seminário no qual realizou-se a primeira rodada da pesquisa Delphi.

Em geral, os participantes de um Painel Delphi recebem por correio o questionário Delphi e uma vez preenchidos com as respostas, os enviam aos coordenadores da pesquisa. Este procedimento, entretanto, apesar de conveniente em termos de custos, sofre da limitação de apresentar perdas de respondentes ao longo do processo de pesquisa. Para reduzir estas perdas, e garantir a maior participação possível dos especialistas selecionados, optou-se pela realização de um seminário sobre a pesquisa, realizado em Brasília, durante o qual a primeira rodada da pesquisa Delphi foi executada.

O seminário constou de uma apresentação do projeto, esclarecimentos sobre a Técnica Delphi e sobre o questionário a ser preenchido. A parte informativa foi realizada em cerca de duas horas e o preenchimento do questionário Delphi ocupou outras duas horas.

Os dados dos questionários foram tabulados, gerando uma base de dados informatizada, para ser analisada estatisticamente. Foram obtidos medianas, quartis e distância entre quartis, para se avaliar o grau de dispersão das respostas e extrair-se uma medida de consenso entre os painelistas.

A interpretação dos resultados foi feita considerando-se uma distância entre quartis menor ou igual a 2,5 como delimitadora de consenso. Questões que ficaram abaixo do limite estabelecido foram consideradas como tendo alcançado consenso do painel e não foram repetidas na segunda rodada. Para aquelas além do limite estabelecido, elaborou-se uma nova questão, dentro do questionário preparado para a segunda rodada.

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Na preparação de questionários para a segunda rodada, consideraram-se apenas as questões onde houve dispersão de respostas e elaborou-se uma nova questão, onde a mediana do painel e a própria resposta do painelista era informada. O painelista era solicitado a examinar esta informação, refazer sua avaliação e justificar sua resposta, caso não concordasse com a posição expressa pelo painel.

O questionário da segunda rodada foi processado de maneira semelhante ao aplicado na primeira rodada. Os resultados são apresentados nos capítulos seguintes.

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Capítulo 4 Modelagem do Desempenho do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes

Uma das questões cruciais para a formulação de cenários futuros é a caracterização do sistema que será prospectado, de suas variáveis e estruturas componentes e as relações entre estas variáveis. É somente a partir da compreensão dessa complexa rede de relações de causas e efeitos que se pode determinar como funciona um sistema, quais as variáveis que definem o seu comportamento e a partir daí estabelecer algum mecanismo de reflexão para formular cenários sobre esse comportamento no futuro.

A compreensão do passado e do presente é a base para a antevisão do futuro. Todas as abordagens disponíveis para a prospecção de futuro possuem procedimentos metodológicos para trabalhar o conhecimento do presente, separando dentre milhares de fatos e eventos de natureza social, econômica, ambiental, científica e tecnológica, aqueles de maior relevância para a construção do futuro do tema em estudo.

A análise prospectiva em geral se apóia na premissa da complexidade e na necessidade de explorar e entender esta teia de relações complexas, para se estabelecer possíveis alternativas de futuro. Várias abordagens estão disponíveis na literatura sobre o tema.

Essas abordagens são de natureza bastante diversificada. Castro et al. (2001) mencionam como técnicas disponíveis para realizar esta análise as Técnicas do Iceberg (Van der Heidjen, 1997), a Matriz de Motricidade e Dependência (Vieira, 1999), a Matriz de Impacto Cruzado. Godet (1994) aponta ainda as técnicas MICMAC, como componentes de um método denominado Análise Estrutural. Todas estas abordagens buscam decifrar a complexidade dos sistemas, identificando as variáveis-chaves que representem o seu comportamento passado e presente, para formular as hipóteses de comportamento futuro.

Todavia, em muitos casos, as abordagens empregadas em geral não distinguem graus de hierarquias entre as variáveis, setores e eventos, ou seja, não consideram o caráter sistêmico das relações entre esses elementos, tornando difícil a criação de um marco lógico sobre o passado e o presente, que possa apoiar a formulação de hipóteses de futuros plausíveis.

Neste ponto reside um fator crítico de qualidade dos estudos prospectivos (Castro et al., 2002). Sem um bom mapeamento das forças e eventos importantes que determinaram o passado e moldam o presente, é impossível traçar boas visões de futuros plausíveis, com robustez suficiente para orientar a formulação de estratégias. Visão de futuro sem conhecimento das ocorrências e decorrências passadas e presentes é exercício de adivinhação e ficção, é conhecimento mágico. Pode até se confirmar, mas a forma de se chegar a esta visão dificilmente poderá ser incorporada na metodologia científica e gerencial.

É baseada nesta dificuldade operacional que o enfoque sistêmico e suas ferramentas têm sido propostos como metodologia para diagnosticar os eventos e fatos passados e presentes, dos quais serão derivadas as variáveis críticas para a definição do futuro.

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Olhar e conceber a realidade como sistemas, aplicando a esta realidade as ferramentas disponíveis para a sua compreensão é uma forma de produzir visões de futuro mais adequadas para a construção de estratégias.

4.1 Aplicação do enfoque sistêmico como forma de compreensão da realidade

Quando se olha para a realidade, esta se apresenta como um confuso emaranhado de fatos, eventos e relações, ocorrendo em dimensões temporais e espaciais distintas, e raramente prontamente perceptíveis ao analista. Este conjunto deve ser decifrado, transformado em algo organizado e com sentido, para se extrair dessa complexidade a informação estratégica para gerar decisão.

O enfoque sistêmico possui no seu conteúdo lógico as ferramentas necessárias para solucionar esta dificuldade metodológica. Técnicas analíticas, como a modelagem de sistemas, permitem uma organização da realidade complexa, de forma a se conectar as diversas dimensões envolvidas. Na Figura 4.1, ilustra-se a complexidade inerente a este processo de análise e como o enfoque sistêmico pode ser utilizado como ferramenta analítica.

DESEMPENHO

FUTURO

DO

SISTEMA

CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL)CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL)

CENÁRIOS DO AGRONEGÓCIOCENÁRIOS DO AGRONEGÓCIO

SNCP

SP

FATOR FATOR CRITICO CRITICO

FATORCRITICO

FORÇAS FORÇAS RESTRITIVASRESTRITIVAS

FORÇASFORÇASPROPULSORASPROPULSORAS

SN=SISTEMA NATURAL CP=CADEIA PRODUTIVA SP=SISTEMA PRSN=SISTEMA NATURAL CP=CADEIA PRODUTIVA SP=SISTEMA PRODUTIVOODUTIVO

FORÇAS FORÇAS RESTRITIVASRESTRITIVAS

FORÇASFORÇASPROPULSORASPROPULSORAS

Figura 4.1. Aplicação do enfoque sistêmico à análise prospectiva

Utilizando os princípios da análise de sistemas e cadeias produtivas, propõe-se que um sistema pode ser caracterizado por seu desempenho, ou sua capacidade de transformar insumos em produtos (Castro et al., 1995; e Castro et al. 1999). Este desempenho pode ser representado por fatores críticos de desempenho, conforme representado pelas setas na Figura 4.1. Por sua vez, estes podem ser afetados pelas forças propulsoras e restritivas. Uma força propulsora ou restritiva é qualquer variável (ou grupo de variáveis, ou estrutura) que afeta fortemente o desempenho de um sistema, de um modo positivo ou negativo. As forças propulsoras, portanto, mantêm uma correlação positiva com o fator crítico, enquanto as forças restritivas apresentam uma correlação negativa com aquele fator.

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Ao utilizar a abordagem descrita na Figura 4.1, se estará aplicando uma das ferramentas mais poderosas do enfoque sistêmico, a análise de sistemas. Um sistema está analisado quando se definem: os seus objetivos, a razão pela qual ele opera; os seus insumos, os elementos entrando no sistema; os seus produtos, elementos saindo do sistema; os seus limites; os seus componentes, elementos internos que transformam insumos em produtos; os fluxos, movimento de elementos entre os seus componentes, definindo as variáveis de estado e as taxas de fluxo, que podem ser utilizadas para se medir o comportamento dinâmico e o desempenho do sistema (Sarávia, 1986).

Além destes elementos, se estará decompondo a complexidade do sistema estudado em hierarquias, com limites bem definidos e utilizando-se as técnicas de modelagem de sistemas. Modelagem é a técnica que configura a realidade como um sistema e constrói modelos para representá-la de forma diferente da dela própria. Os modelos construídos são representações pictóricas, conceituais, matemáticas ou qualquer outra forma de representação que possa ser utilizada para aumentar a compreensão da realidade.

As ferramentas de análise e modelagem de sistemas ajudam na identificação de componentes de um sistema e na descrição das relações entre estes, de forma a se determinar os fatores críticos de desempenho, aquelas variáveis de maior importância para determinado comportamento do sistema. Neste exercício, são também determinadas as forças propulsoras e restritivas aos fatores críticos, ou seja, as variáveis que se relacionam com estes, potencializando ou deprimindo o seu desempenho. Ao final do processo de modelagem, em geral se obtém uma rede de relações de variáveis causa e efeito, que descreve o desempenho do sistema que está sob análise. Determinar esta rede é um passo essencial para a análise diagnóstica de um sistema, especialmente para sua análise prospectiva.

Os modelos podem assumir diversas feições, indo do tipo concreto, ao modelo do tipo conceitual, abstrato. Os modelos matemáticos são em geral preferidos pela ciência, pela sua menor ambigüidade e maior precisão na caracterização dos sistemas. Todavia, em trabalhos de análise diagnóstica de sistemas, são muito empregados modelos conceituais abstratos, do tipo diagramas relacionais, indicando variáveis componentes do sistema e relações entre as variáveis, representadas por fluxos de informação ou energia ou capital ou matéria.

A análise de sistemas foi empregada no presente trabalho, consubstanciada pela modelagem do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes. Este processo de análise e os resultados produzidos serão apresentados nos próximos itens.

4.2 O Modelo Geral do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes

O processo de modelagem do SNPCS foi realizado com a finalidade de definir fatores críticos de desempenho do sistema. A partir desses fatores críticos, foi possível elaborar a pesquisa Delphi, mais especificamente os blocos de questões componentes do questionário Delphi, cujos resultados são apresentados nos próximos capítulos.

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A lógica sistêmica desenvolvida neste projeto é que o SNPCS é um sistema aberto, cujo objetivo é suprir o mercado brasileiro dos produtos tecnológicos cultivares vegetais e sementes melhoradas. O sistema é composto por organizações públicas e privadas de P&D, por organizações produtoras e de comercialização de cultivares e sementes e por consumidores desses produtos tecnológicos, os produtores agrícolas do agronegócio brasileiro. Estes componentes do sistema estão conectados por fluxos de capital, material e informação, sendo estes fluxos determinados pelo desempenho dos diversos componentes e de suas interações.

O SNPCS é influenciado por um contexto social, econômico, político e científico, onde são gerados eventos de diversas naturezas, que funcionam como turbulências e provocam mudanças no comportamento do sistema. Foi visto no Capítulo 2 alguns desses vetores de transformação, como por exemplo, a emergência de uma nova lei de proteção da propriedade intelectual no mundo e no Brasil, afetando as organizações de P&D e suas relações com as demais organizações do sistema.

O processo de modelagem do SNPCS foi realizado em diversas etapas, conforme já relatado brevemente no Capítulo 3. De início, elaborou-se um modelo bastante simplificado do sistema, com a finalidade de orientar o processo. Este modelo geral inicialmente produzido está apresentado na Figura 4.2.

Figura 4.2. Modelo geral (simplificado) do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes.

Observação: as setas indicam fluxos de materiais e de informação entre as organizações e outros grupos sociais componentes do sistema, representados pelas caixas.

Sistema público de coleta e

conservação de germoplasma

Sistema público de coleta e

ervação de germoplasma

Sistema privado de coleta e

conservação de germoplasma

cons

Sistema privado de coleta eservação de

germoplasma

Sistema público de P&D em

MelhoramentoGenético

con

Sistema público de P&D em

MelhoramentoGenético

Sistema privado de P&D em

MelhoramentoGenético

Sistema privado de P&D em

MelhoramentoGenético

Produção ecomercialização

de híbridos

Produção ecomercialização

de híbridos

Produção ecomercialização de variedades

Produção ecomercialização de variedades

Produção e comercializaçãode olerícolas e

frutas

Produção e comercializaçãode olerícolas e

frutas

Sistemas produtivos de

híbridos

Sistemas produtivos de

híbridos

Sistemas produtivos de

cultivares

Sistemas produtivos de

cultivares

Sistemas produtivos de olerícolas e

frutas

Sistemas produtivos de olerícolas e

frutas

AMBIENTE INSTITUCIONAL:LEIS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, AMBIENTAL, BIODIVERSIDADE

AMBIENTE ORGANIZACIONAL: FINANCIAMENTO E ESTRUTURA PARA P&D

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O modelo simplificado apresentado na Figura 4.2 foi inicialmente desenvolvido pela equipe do projeto e posteriormente validado em entrevistas com especialistas em melhoramento de plantas de grande experiência na atividade (ver Capítulo 5). Nestas entrevistas, além de comentar o modelo, os especialistas eram solicitados a dar sua visão sobre o funcionamento do SNPCS, sobre as transformações a partir dos estímulos do contexto do sistema, sobre oportunidades e ameaças oriundas do processo de mudança e sobre pontos fortes e fracos das diversas organizações componentes e do sistema como um todo.

O modelo define, no Brasil, os setores público e privado, com a missão de coleta e conservação de germoplasma, P&D em melhoramento genético de plantas, produção e comercialização de cultivares e sementes e os sistemas produtivos de plantas, clientes dos cultivares e sementes produzidos pelo sistema. Distingue subsistemas de produção, comercialização e uso de híbridos, de cultivares e de frutas e hortaliças. Esta segmentação é feita considerando-se as características dos mercados desses produtos tecnológicos, os quais se hipotetizou que poderiam ser afetados de forma diferente pelas mudanças em curso no contexto do sistema.

O segmento “Produção e Comercialização de Híbridos” se distingue dos demais por produzir cultivares e sementes híbridas, produto tecnológico que praticamente dispensa a proteção da propriedade intelectual, pela impossibilidade de reutilização, pelos compradores, dos materiais ofertados ao mercado. A principal atividade desse segmento é a produção de cultivares e sementes híbridas de milho, embora outras espécies agrícolas, de menor expressão econômica, façam parte desse grupo.

O segundo segmento (e o de maior número de espécies) é o de Produção e Comercialização de Variedades. Este agrupamento é o mais afetado pelas mudanças na legislação de propriedade intelectual, uma vez que os produtos tecnológicos desse segmento dependem de normas de proteção, para remunerar os detentores da inovação. A soja é o principal representante desse segmento.

O terceiro segmento foi criado para acomodar um grupo de espécies que, embora de menor densidade econômica no mercado de cultivares e sementes, possui grande importância potencial para o agronegócio brasileiro. O segmento Produção e Comercialização de Olerícolas e Frutas é composto por espécies que se propagam por híbridos e por variedades, porém apresenta características tecnológicas e econômicas bem diferenciadas dos demais segmentos. Sob o ponto de vista de produção de cultivares e sementes, este é o segmento de menor densidade econômica.

No contexto do SNPCS encontram-se: a) um ambiente institucional, composto por leis e normas que afetam o desempenho das organizações componentes do sistema; b) um ambiente organizacional, composto por outras organizações que possuem interfaces com aquelas pertencentes ao SNPCS. No rol do ambiente institucional, destacam-se como de maior importância às leis de proteção da propriedade intelectual, da biodiversidade e a de proteção ambiental, todas diretamente relacionadas com a coleta e conservação de germoplasma e com a produção e proteção de cultivares e sementes. No contexto organizacional, destacam-se as organizações fontes de financiamento de P&D, de grande relevância principalmente para o setor público.

As setas apresentadas na Figura indicam as relações entre os segmentos componentes, sem determinar a intensidade dessas relações. Por relações, entendam-se fluxos de

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informação, de materiais ou de capital entre as organizações componentes dos diversos segmentos. Por exemplo, o segmento de germoplasma intercambia materiais genéticos e informação entre, e dentro, dos setores publico e privado. Os produtores de cultivares híbridas, de variedades e de frutas e olerícolas estão em contacto constante com o mercado consumidor desses produtos, conectados por transações comerciais e fluxos de informação.

Em realidade, o sistema possui algumas organizações com atuação nos três segmentos (germoplasma, produção de cultivares e de sementes e comercialização de produtos tecnológicos). A Embrapa é um exemplo de organização dessa natureza. Outras, operam em algumas dessas funções (só P&D, ou comercialização). Em geral, quando uma organização opera em todas as funções, apresenta estruturas internas diferenciadas para cada uma delas. Na Embrapa, por exemplo, a conservação de germoplasma é atribuição principal de um centro especializado, a Embrapa Cenargen, o melhoramento genético é feito por diversos centros especialistas (Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Soja, Embrapa Hortaliças, Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa Trigo,etc. ) e a comercialização de sementes por uma estrutura especializada em negócios tecnológicos (Embrapa SNT).

Sob o ponto de vista do modelo simplificado, estas nuances de operação não desqualificam o modelo na forma que o mesmo se apresenta, uma vez que as funções do sistema (gestão de germoplasma, melhoramento genético e produção e comercialização de sementes) são as realmente importantes sob o ponto de vista da presente pesquisa, devendo estar representadas no modelo. É de menor importância se estas funções se concentram numa mesma instituição ou em instituições distintas.

O modelo apresentado na Figura 4.2 é muito genérico para se constituir em uma ferramenta analítica de aprofundamento do conhecimento sobre o funcionamento e desempenho atual e futuro do SNPCS. Todavia, este modelo foi de muita utilidade como uma ferramenta de comunicação com os especialistas e como um gerador de questões, durante o trabalho inicial de análise diagnóstica do sistema. Foi também o material intermediário, para apoiar a construção de um modelo mais aprofundado de análise do funcionamento, das relações entre as causas e efeitos do processo de mudança do sistema e da representação do seu desempenho. Este passo é apresentado no próximo item.

4.3 O modelo de determinação de desempenho do SNPCS

Uma vez validado o modelo geral do SNPCS representado na Figura 4.2, o próximo desafio da pesquisa era identificar variáveis que pudessem representar o desempenho desse sistema, de forma a se buscar que fatores estariam influenciando esse desempenho no passado e presente e, a partir desse conhecimento sobre o funcionamento do sistema, poder elaborar cenários futuros sobre o comportamento do sistema, quando submetido às turbulências do contexto.

Na etapa seguinte, foram aplicadas técnicas de análise de sistemas, visando à construção de um modelo de variáveis de desempenho e dos seus fatores influenciadores. Nesse exercício, utilizou-se como ponto de partida as variáveis portadoras de mudanças no

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contexto do SNPCS, apresentadas no Capítulo 2, e o diagnóstico do sistema, apresentado nos Capítulos 4 e 5. A base para a construção do modelo foi a informação primária, obtida em entrevistas com especialistas dos setores público e privado, sintetizando a experiência e o conhecimento desses profissionais no tema; uma pesquisa direta (“survey”), aplicado a uma amostra representativa dos produtores de sementes do Brasil e a informação secundária, coletada nas diversas fontes bibliográficas e eletrônicas disponíveis.

O modelo foi construído em equipe, aplicando-se técnicas de geração de idéias, tais como brainstorming e brainwriting. Foi desenvolvido em forma de diagrama relacional de variáveis, onde se buscou construir a lógica de relações de causas e efeitos entre variáveis do contexto portadoras de mudança, variáveis desempenho do SNPCS e variáveis intermediárias, influenciadoras do desempenho do SNPCS.

O modelo construído é apresentado na Figura 4.3. Para definir as relações entre as variáveis do modelo, utilizou-se a Matriz de Impactos Cruzados (Castro et al., 2001; Godet, 1994). Esta matriz analisa a influência cruzada de variáveis, estimando o grau de impacto e a direção desse impacto. Na construção do modelo, foi elaborada uma matriz de 40x40 variáveis, sendo examinadas cerca de 1600 relações entre variáveis, para se elaborar o produto do exercício.

O modelo é constituído de variáveis e de estruturas. Uma estrutura é definida como sendo um evento de qualquer natureza, representado por um conjunto de variáveis, das quais se conhece pouco sobre a natureza de atuação. No modelo, Razão cultivares protegidas /registradas é um exemplo de variável, enquanto Redução do Estado, Leis de propriedade intelectual são exemplos de estruturas.

Antes de se examinar as relações de causa e efeito entre as diversas variáveis e estruturas do modelo, é necessário determiná-las. Abaixo, apresentam-se estes elementos e definem-se os seus significados para o sistema analisado. São consideradas as variáveis e estruturas do contexto, causadoras de mudanças no sistema, e as variáveis e estruturas do SNPCS, em geral dependentes daquelas do contexto.

Variáveis e estruturas componentes do modelo

Biotecnologia – representa os avanços científicos, metodológicos e tecnológicos da biologia molecular, capazes de impactar o melhoramento genético de plantas.

Redução do estado – política de retirada do Estado de funções, atribuições, estruturas que estavam anteriormente sob sua responsabilidade.

Leis de propriedade intelectual – conjunto de normas legais que regulam direitos de propriedade intelectual e a apropriação de benefícios econômicos e sociais da inovação no país.

Novos processos de P&D – conhecimentos e metodologias derivadas do avanço do conhecimento da biologia molecular, que podem ser aplicadas em P&D vegetal e animal.

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Uso de variedades em melhoramento genético – utilização de variedades, comerciais ou não, como fonte de caracteres para o melhoramento genético.

Disponibilidade de caracteres para melhoramento genético – disponibilidade de fatores de variabilidade genética identificados em germoplasma vegetal, para uso em programas de melhoramento genético.

Novos arranjos institucionais – interações e associações entre organizações públicas e privadas, para atividades de P&D.

Competição em P&D – disputa de clientes de mercados tecnológicos por organizações públicas e ou privadas de P&D.

Novos produtos – emergência de produtos comerciais como resultado direto da pesquisa em biotecnologia. Esses produtos poderão representar uma importante fonte de negócios, no futuro.

Novos negócios - transações comerciais a partir de produtos que não fazem parte, tradicionalmente, do portfólio de P&D.

Amplitude da base genética – diversidade e qualidade da base de caracteres genéticos utilizada para a produção de cultivares e híbridos.

Foco em commodities de escala - Priorização de espécies produzidas em escala para o mercado consumidor interno e externo, na gestão do processo de melhoramento genético.

Investimento em P&D - disponibilidade de recursos financeiros para implementar capacidade da estrutura de P&D, pública e privada.

Capacidade do setor público - disponibilidade de profissionais qualificados (inclusive em áreas de ponta), equipamentos e infra-estrutura adequados, para a realização de processos relacionados ao melhoramento genético, no setor público de P&D.

Capacidade do setor privado - disponibilidade de profissionais qualificados (inclusive em áreas de ponta), equipamentos e infra-estrutura adequados para a realização de processos relacionados ao melhoramento genético, no setor privado de P&D.

Intensidade de pesquisa (privada) - grau de esforço de pesquisa básica e aplicada (incluindo geração de conhecimentos) , desenvolvida no país, pela estrutura de P&D privada.

Busca de alternativa de recursos - identificação e utilização de fontes alternativas às tradicionais, para financiamento da pesquisa pública.

Razão cultivares protegidos setor privado/público - proporção entre número de cultivares protegidas pelo setor de P&D privado e o número de cultivares protegidas pelo setor de P&D público.

Razão cultivares registrados setor privado/publico - proporção entre número de cultivares registradas pelo setor de P&D privado e o número de cultivares registradas pelo setor de P&D público.

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Importação de tecnologia (privada) - uso, no país, de material genético básico e processos de melhoramento genético desenvolvidos em outros países, pelo setor de P&D privado.

Entrada de novos concorrentes - ingresso, no mercado brasileiro, de novas empresas de melhoramento genético e de produção e comercialização de sementes.

Custo de sementes hortícolas - custo de produção da semente comercial de hortícolas.

Custo de sementes híbridas - custo de produção da semente comercial de híbridos.

Custo de sementes variedades - custo de produção da semente comercial de variedades.

Número de produtores de sementes - quantidade de produtores de sementes comerciais.

Mecanismos de controle do mercado - busca de vantagem competitiva no mercado, pelo uso de mecanismos de venda casada, coordenação da CP (venda da semente e compra da produção) ou de vinculação via transgenia.

Semente competitiva de hortícolas - oferta de semente de espécies hortícolas, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado.

Semente competitiva de híbridos - oferta de semente de espécies híbridas, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado.

Semente competitiva de variedades - oferta de semente de variedades, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado.

% participação sementes de hortícolas do setor público – posicionamento no mercado de sementes, de variedades de hortícolas produzidas pelo setor público.

% participação sementes de híbridos do setor público – posicionamento no mercado de sementes, de híbridos produzidos pelo setor público.

% participação sementes de variedades do setor público– posicionamento no mercado de sementes, de variedades produzidas pelo setor público.

Capilaridade da oferta de semente - abrangência da rede de pontos de venda de sementes no Brasil.

Intensidade de uso de tecnologia - grau de uso de inovação tecnológica no processo produtivo agropecuário.

% de uso de semente melhorada - fração de sementes melhoradas, em relação à sementes próprias, utilizada pelos produtores rurais.

Desempenho do agronegócio - capacidade do agronegócio de transformar insumos em produtos, com eficiência, qualidade e competitividade.

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Redução doEstado

Leis de propriedade intelectual

Biotecnolo-gia

Figura 4.3 Modelo de desempenho do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS).

Novos processos

P&DNovos

produtos

Capac.Setor

privado

Capac. Setor

público

Busca altern . de recursos

Investimento em P&D

Uso variedades

em MG

Intensidade de uso de

tecnologia

Novos negócios

Custo de sem.

hortícolas% partic. hortícolas

publicoSemente compet.

hortícolasRazão cultivares protegidos

pri/pub

razão

cultivares registrados

pri/pub.

Capilaridade oferta semente

Foco commodit

ies de escala

Amplitude base

genética % partic. híbridos publico

Número produtor sementes

Semente competit. híbridos

Custo de sem.

híbridas

Competiçãoem P&D

Disponibi-lidade

caracteres p/ MG

% partic. variedades

publico

Entrada novos concorrentes

Semente competit.

variedadesCusto de

sem. variedades

Novos arranjos institucionais

Mecan. de controle do

mercado

Desempenho do

agronegocio

Importação tecnologia (privada)

Intensidade pesquisa (privada)

% Uso semente

melhorada

Reduç . Estado

LPC LPC

Semente competitiva: oferta de sementes nos volumes, preços e qualidade demandados pelo mercado.

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Como já apontado anteriormente, a Figura 4.3 apresenta o modelo concebido, mostrando as relações entre as variáveis e estruturas componentes do SNPCS. Em vermelho e na parte superior da Figura, são representadas as 3 variáveis do contexto causadoras de mudanças no sistema (redução do estado, biotecnologia e leis de propriedade intelectual). Em amarelo, as variáveis representativas do desempenho do sistema, ou fatores críticos de desempenho do SNPCS. As demais variáveis e estruturas representadas no modelo funcionariam como forças propulsoras ou restritivas ao desempenho, sendo representadas em caixas sem coloração.

O modelo representa três segmentos (ou subsistemas) distintos do SNPCS: a) o segmento de coleta, de processamento e de conservação de germoplasma, matéria prima para o melhoramento genético de plantas; b) o segmento de pesquisa e produção de cultivares, onde o melhoramento genético de plantas é realizado e os cultivares são gerados; c) o segmento de produção e comercialização de sementes, onde os cultivares produzidos são incorporados como tecnologia ao agronegócio do país.

Cada um desses subsistemas do SNPCS é afetado de forma distinta pelas variáveis transformadoras do ambiente externo e tem indicadores de desempenho específicos. O comportamento de todo o sistema depende da integração dos seus segmentos e pode ser afetado por mudanças ocorrendo em seus componentes. Os subsistemas geram produtos intermediários que são apropriados pelo subsistema seguinte, gerando o produto final do sistema, o cultivar comercial de alta eficiência e qualidade, o cultivar competitivo. A Figura 4.4 representa, de forma esquemática, esta relação entre subsistemas e seus produtos intermediários e final.

Subsistem a de co leta , processam ento e conservação de germ oplasm a

Subsistem a de P& Dpúblico e pr ivado em m elhoram ento genético de p lantas

Subsistem a de produção e com ercia lização de sem entes e m udas

C aracteres para m elhoram ento

C ultivares m elhoradas

Sem entes com petitivas de variedades

C adeias produtivas do agronegócio

P roduto in term ed iário

P roduto in term ed iário

P roduto fina l

Figura 4.4. Subsistemas e produtos intermediários e final do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes.

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O SNPCS foi modelado de forma semelhante à Figura 4.4 no modelo inicial, anteriormente apresentado na Figura 4.2. Naquele modelo, não se explicitavam os produtos intermediários e final de cada subsistema, como ocorre no modelo agora discutido. O presente modelo ajuda a caracterizar o SNPCS como um grande sistema tendo como objetivo produzir sementes competitivas, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado, às cadeias produtivas do agronegócio e tendo nos seus subsistemas o objetivo da produção dos insumos necessários para que este desempenho possa ser alcançado: a) a produção de caracteres ou disponibilidade de fatores de variabilidade genética identificados em germoplasma vegetal, para uso em programas de melhoramento genético; b) as cultivares protegidas e/ou registradas, capazes de gerar a produção de sementes competitivas.

Para compreender as relações de causas e efeitos de variáveis que estão afetando o desempenho dos subsistemas e do SNPCS é necessário se examinar com maior grau de detalhes o que estaria ocorrendo no modelo representado pela Figura 4.3. Para facilitar este exame, o modelo expresso pela referida figura será desmembrado em segmentos de natureza afim, de forma a se poder aumentar a compreensão dos mesmos. Isto será feito nos itens seguintes.

4.4 Amplitude da base genética

Um dos fatores críticos identificados para o desempenho do SNPCS é a disponibilidade de ampla variabilidade de caracteres genéticos para o melhoramento de plantas, de forma a oferecer alternativas para diversas vertentes e estratégias dos programas de melhoramento. Esta disponibilidade de caracteres é diretamente utilizada pelo subsistema de P&D em melhoramento genético, para a produção de cultivares.

A idéia de amplitude de base genética nasce da necessidade de dotar o melhorista com o máximo possível de variabilidade para enfrentar os desafios de adaptação de cultivos em diferentes condições ecológicas, agronômicas, sociais e econômicas. Esta variabilidade poderá ser aplicada para aclimatar plantas em ambientes com diferentes suprimentos de água, fotoperíodos, características físicas e químicas de solos, umidades relativas e temperaturas, somente para mencionar uns poucos desafios enfrentados por programas de melhoramento vegetal.

No campo das práticas agronômicas, pode-se explorar resistências e tolerâncias a doenças produzidas por diferentes tipos de patógenos (fungos, bactérias, vírus, nematóides); diferentes tipos de pragas(insetos de raiz, caules, flores e frutos); de níveis de rusticidade e de eficiência biológica e econômica diferenciados. Pode-se ainda pensar em variados graus de demandas de nutrientes, de ciclos mais longos ou mais curtos, com taxas de partição de metabólicos diferenciadas, diferentes características morfológicas e muito mais.

Não se pode deixar de mencionar a questão de características de qualidade de produtos, traduzidas em forma, cor, sabor, textura, capacidade de cocção, características químicas (conteúdos de acidez, de vitaminas, de proteínas, de carboidratos, alcalóides, flavonoides, pigmentos) que muitas vezes diferenciam produtos e que determinam sua inserção competitiva no mercado. Para cada uma dessas características deveria existir um gene (ou grupo de genes) determinante conhecido e a amplitude da base genética

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torna-se o fator determinante para determinado objetivo de melhoramento poder ser alcançado.

Novos

processos de P&D

Capacidade do Setor privado

Capacidade do Setor público

Uso de variedades

em MG

Amplitude da base genética

Competiçãoem P&D

Disponibilidade de caracteres p/

MG

Novos arranjos

institucionais

Impacto positivo -

Impacto negativo - Figura 4.5. Modelo relacional de variáveis e forças propulsoras e restritivas determinantes da amplitude da base genética no SNPCS.

Para se elaborar o modelo de variáveis do SNPCS e o segmento apresentado na Figura 4.5, utilizaram-se informações da literatura disponível sobre o tema, entrevistas a especialistas e técnicas de análise de sistemas, para gerar as variáveis componentes. As relações entre as variáveis foram trabalhadas aplicando a matriz de impactos cruzados.

A partir das 3 principais variáveis promotoras de mudanças do contexto (Biotecnologia, representando os avanços científicos, metodológicos e tecnológicos da biologia molecular, capazes de impactar o melhoramento genético de plantas; Redução do estado – política de retirada do Estado de funções, atribuições, estruturas que estavam anteriormente sob sua responsabilidade; Leis de propriedade intelectual – conjunto de normas legais que regulam direitos de propriedade intelectual e a apropriação de benefícios econômicos e sociais da inovação no país), definiram-se dois possíveis impactos dessas variáveis: a) um sobre a competição em P&D, ou seja, na disputa de clientes de mercados tecnológicos por organizações públicas e/ ou privadas de P&D; b) nos arranjos institucionais, gerando novas interações e associações entre organizações públicas e privadas, para atividades de P&D.

Analisando-se as relações entre as variáveis (a partir de agora todas serão assim denominadas) verifica-se que a competição em P&D vai afetar negativamente tanto a

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disponibilidade de caracteres para melhoramento genético, quanto a formação de novos arranjos institucionais. Isto se explica pelo fato de a competição entre organizações de pesquisa, seja no âmbito das organizações públicas ou privadas, seja entre as públicas e privadas, inibe a formação de alianças estratégicas, impedindo a proliferação de novos arranjos institucionais para a produção conjunta. Ao mesmo tempo, como o acervo de materiais genéticos está em geral distribuído entre as organizações componentes do sistema, a competição entre as organizações afeta o intercâmbio, reduzindo-o na proporção que aumenta esta competição. Sem este intercâmbio, a disponibilidade de caracteres para o melhoramento genético é negativamente afetada.

A competição em P&D não é, todavia, um fator meramente restritivo, uma vez que esta competição pode funcionar como um indutor para o incremento da capacidade dos setores público e privado. No modelo analisado, a competição em P&D funciona como um indutor, sendo o aumento da competição possivelmente proporcional ao aumento da capacidade. Da mesma forma, os novos arranjos institucionais podem potencializar intercâmbios técnicos e científicos, proporcionando avanços na capacidade dos setores de P&D.

Uma outra variável relacionada com a competição em P&D é a que se refere ao uso de variedades no melhoramento genético. Com maior competição, decresce a disponibilidade de caracteres genéticos, crescendo a necessidade e estímulo para o uso de variedades anteriormente produzidas como base principal do melhoramento.

As capacidades dos setores público e privado estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento e utilização de novos processos de P&D no melhoramento genético. Estes novos processos, em geral promovidos pelo avanço na biologia molecular, são dependentes de aumentos de capacidades em conhecimento e infra-estruturas. Como são, em geral, mais eficientes que os processos tradicionais, para identificar caracteres de utilidade para o melhoramento genético, podem influenciar positivamente esta disponibilidade de caracteres.

No topo do modelo, a amplitude da base genética é direta e negativamente influenciada pelo uso de variedades no melhoramento genético, e positivamente influenciada pela disponibilidade de caracteres e por novos arranjos institucionais. A lógica neste caso é direta, uma vez que novos arranjos influenciam positivamente cooperação, fluxo de materiais e de informação, o que proporciona acesso e disponibilidade de caracteres para melhoramento. Uso de variedades, por outro lado, contribui diretamente para diminuir a amplitude da base.

O modelo de relações de variáveis (o presente e os demais a serem apresentados) não tem a pretensão de se constituir em uma construção única e absoluta da realidade do sistema, sendo apenas um mecanismo para melhorar a compreensão do sistema. Conseqüentemente, é dentro desses limites que o mesmo deve ser entendido e aplicado. Todavia, foi possível, a partir dele determinar um fator crítico de desempenho do sistema e se elaborar questões para se pensar o futuro da questão do germoplasma no Brasil e seus impactos sobre a produção de cultivares e sementes, como será apreciado nos capítulos seguintes.

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4.5 Novos negócios

Uma das dimensões considerada como oportunidade, gerada no bojo das mudanças no ambiente do SNPCS, foi a possibilidade de novos negócios tecnológicos para as organizações públicas e privadas de P&D. Por novos negócios entende-se as transações comerciais a partir de produtos que não fazem parte, tradicionalmente, do portfólio de P&D.

Antes de descrever o modelo, é interessante se examinar mais a fundo a questão dos novos negócios, ou seja, qual o significado desta variável para as organizações de P&D e suas relações com o melhoramento genético. Tradicionalmente, as instituições de pesquisa trabalham em regime de escassez de recursos. Em geral, e principalmente no setor público de P&D, as organizações dispõem de recursos financeiros para suportar o pagamento de salários dos pesquisadores, obrigações sociais, despesas de manutenção da estrutura física, mas carecem de recursos financeiros para suportar as despesas específicas na manutenção dos projetos, como materiais para experimentos, equipamentos específicos, despesas de deslocamento, comunicação e gerência dos projetos.

No setor público, a principal fonte de financiamento da P&D é o tesouro nacional (ou estadual). A redução do estado, as crises econômicas, o aumento dos problemas sociais e a competição por recursos públicos para serem investidos na solução desses problemas, são alguns dos fatores que criam condições para a redução dos investimentos em pesquisa. Esta redução de investimentos do estado via de regra tem ocorrido na manutenção e mais raramente na estrutura de pesquisa. Esta política mantém a estrutura viva, porém afeta tremendamente a sua produção, o que certamente terá efeitos prejudiciais à sustentabilidade das organizações, no longo prazo.

Os novos negócios emergem neste contexto, como uma forma de minorar os problemas de fluxo de caixa das organizações de P&D. Nos últimos anos, tornou-se popular nas instituições publicas de P&D, iniciativas de captação de recursos, buscas de fontes alternativas, todas com o propósito de aliviar a carência de financiamento dos projetos de P&D, causada pelo afastamento do Estado desta questão.

Novos negócios são uma fonte importante de captação de recursos. Os recursos privados buscam as áreas de fronteira do conhecimento, na expectativa de retornos maiores, uma vez obtidos bons resultados na geração de inovação. Mesmo financiadores governamentais ou indiretamente vinculados a governos têm predileção por estas áreas de expansão da fronteira do conhecimento, na expectativa de maximizar benefícios sociais e econômicos para as aplicações do Estado.

A biologia molecular tem se constituído em uma das mais promissores fontes de retorno a investimentos privados e públicos de P&D. Toda uma revolução científica está atualmente em curso, baseada na expansão do conhecimento nesta área. Oliver (2000) fala numa era da biotecnologia, em substituição à era da informática. Esta promessa se traduz tanto em produção de bens com valor de mercado, como na geração de produtos

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e tecnológicos e novos processos metodológicos, de valor para a geração de rendas para as organizações de P&D.

No Quadro 4.1 são apresentados alguns exemplos extraídos da literatura relevante de novos produtos gerados pela biotecnologia, nos campos da medicina e da agricultura, que pode vir a constituir futuras fontes de novos negócios tecnológicos para as organizações de P&D e em empreendimentos comerciais, para as empresas privadas.

Quadro 4.1. Emergência de novos produtos (exemplos) da biotecnologia.

Produtos por campo de atividade

Medicina

Agricultura

• Órgãos para transplante em humanos

produzidos por animais. • Vegetais produtores de vacinas para

inoculação em populações pobres. • Farmacogênicos, capazes de orientar a

recomendação de drogas para genótipos individuais.

• Criação de vida em laboratório.

• Clonagem de mamíferos • Árvores com crescimento

acelerado, impactando o mercado mundial de madeira.

• Fibras e adesivos extrafortes, produzidos por “fábricas” de animais e insetos.

• Novos materiais para vestuário e decoração, repelentes a tinta, sujeira e manchas.

• Novas fontes de energia, mais eficientes, baratas e não poluentes.

• Matéria prima orgânica substitutiva do petróleo e derivados no plástico, com propriedade biodegradável (sabugo de milho).

• Plantas resistentes à seca e a solos salinos.

Meio ambiente

• Bactérias transformadoras de lixo orgânico em metano, álcool, açúcar. • Novos materiais para fabricação de produtos e embalagens, capazes de auto-

regeneração e de adaptação as condições ambientais.

Fonte: Oliver, 2000.

De forma análoga, no Quadro 4.2 são apresentados exemplos de novos processos oriundos do avanço da biotecnologia, que podem gerar direta ou indiretamente novos negócios para as organizações de pesquisa.

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Quadro 4.2. Exemplos de novos processos oriundos da biotecnologia.

Novos processos

• Banco de caracteres de valor social e econômico. • Novas metodologias de identificação e isolamento de novos genes. • Novos genes identificados. • Metodologias para modificação de genes in vitro. • Metodologias para introdução de novos genes em variedades novas ou antigas. • Avaliação de novos genótipos

Fonte: Fontes & Sampaio, 1997, adaptado.

Uma vez contextualizados a importância dos novos negócios para a P&D e a sua relação com a biotecnologia, pode-se agora examinar este segmento do modelo geral do SNPCS. A Figura 4.6 apresenta o modelo de relações de variáveis propulsoras e restritivas a novos negócios no SNPCS, destacando variáveis precursoras mais afetadas pelo avanço da biotecnologia, pelas leis de proteção à propriedade intelectual e pela redução do estado. Estes eventos ocorrem no contexto do SNPCS, porém apresentam grande capacidade de promover mudanças no âmbito interno do sistema.

Como já apresentado anteriormente, a redução do estado e a nova lei de propriedade intelectual afetam simultaneamente a competição, o investimento e a capacidade do setor público de P&D. O impacto é indiretamente proporcional (maior redução, menores investimentos, competição e capacidade), uma vez que redução do Estado implica em menos investimentos financeiros em estrutura pública de pesquisa e em custeio de projetos de P&D. A lei de proteção de cultivares torna a competição mais forte entre as organizações de P&D, notadamente entre as públicas e as privadas, por criar atrativos para a entrada de novos concorrentes na pesquisa. Recorde-se que a lei de propriedade intelectual funciona como um redutor de risco ao investimento em inovação, por criar mecanismos de apropriação de benefícios da inovação pelo proprietário da inovação.

O investimento em P&D funciona como influenciador central de algumas variáveis importantes de desempenho do sistema. Influencia direta e proporcionalmente a capacidade (setores público e privado) que por sua vez influencia diretamente a emergência de novos processos e novos produtos. Ao mesmo tempo, é retroalimentado por essas variáveis, de forma que pode gerar um círculo vicioso: mais investimento em P&D – mais capacidade – mais novos processos e produtos – mais capacidade – mais investimentos em P&D. A biotecnologia também influencia de forma direta tanto a capacidade, como a emergência de novos processos e produtos.

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Biotecnolo-gia

Redução do estado

Leis de propriedade intelectual

Novos processos

P&DNovos

produtos

Capacidade do Setor privado

Capacidade do Setor público

Investimento em P&D

Novos negócios

Competiçãoem P&D

Disponibilidade de caracteres p/

MG

Entrada de novos

concorrentes

Impacto positivo -

Impacto negativo - Figura 4.6. Modelo de fatores propulsores e restritivos a novos negócios no SNPCS

Os novos processos e produtos são a principal fonte de inovação, capazes de gerar recursos para a P&D pública e privada. Por isso, são as principais forças impulsoras de novos negócios. Os novos processos ainda influenciam a disponibilidade de caracteres para melhoramento genético, que poderá no futuro constituir-se em importante fonte de rendas para a P&D.

4.6 Capacidade e desempenho dos setores público e privado de P&D

O desempenho de sistemas pode ser medido por diversos atributos, devendo estes atributos estar relacionados com os seus objetivos. São atributos comumente utilizados nestas medições a eficiência do sistema, a qualidade dos processos e produtos, a competitividade dos produtos de um determinado sistema em relação a outro de natureza similar e outros indicadores, sempre relacionados à natureza e propósitos do sistema.

No trabalho de Castro et. al. (1999, 2000), a eficiência de um sistema é definida como sendo a razão entre produtos desse sistema e os insumos totais necessários para esta produção. Tratada como razão, a eficiência seria afetada tanto pelo numerador (quantidade de produto do sistema), quanto pelo denominador (quantidade de insumos empregada na produção). Esta formulação gera três possibilidades de incrementar a

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eficiência: a) pelo aumento de produto; b) pela diminuição de insumos; c) pelas duas alternativas anteriores, ocorrendo ao mesmo tempo.

Já a qualidade do produto é outro importante indicador de desempenho, uma vez que pensar isoladamente o desempenho medido por eficiência pode ser enganoso. Um determinado sistema poderia aumentar sua eficiência as custas das características do produto (por exemplo, produzindo mais, porém num padrão de qualidade inferior). Um determinado sistema produtivo poderia aumentar a quantidade de saída do sistema, porém num padrão abaixo das expectativas dos clientes do sistema, em relação às características do produto.

A competitividade se estabelece quando um sistema consegue produzir com custos semelhantes, porém com maior qualidade, ou com qualidade idêntica, porém a custos mais baixos. Esta simplificação da questão é elementar, porém um aprofundamento conceitual foge aos propósitos desse item. A questão da competitividade tem sido objeto de vasta discussão na literatura especializada, sendo os trabalhos de Porter (1985) referência no tema.

Aplicando estes conceitos ao SNPCS, pode-se caracterizar o seu desempenho como:

a) eficiência - capacidade do sistema de gerar cultivares e sementes com determinado quantitativo de insumos;

b) qualidade – capacidade do sistema de gerar cultivares e sementes capazes de atender as especificações dos clientes;

c) competitividade – capacidade do SNPCS de gerar cultivares e sementes com melhores características de qualidade demandadas pelos clientes que outros sistemas competidores e, ou, a custos mais baixos que a concorrência.

Biotecnologia

Redução do estado

Leis de propriedade intelectual

Capacidade do Setor privado

Capacidade do Setor público

Obtenção de

alternativa de

recursos

Investimento em P&D

Competiçãoem P&D

Entrada de novos

concorrentes

Novos arranjos

institucionais

Importação tecnologia (privada)

Intensidade da

pesquisa (privada)

Razão cultivares registrados privado

/públicoRazão cultivares

protegidos privado/ público

Impacto positivo -

Impacto negativo -Figura 4.7. Modelo de capacidade e desempenho dos setores público e privado de P&D.

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Para acomodar todas estas demandas, criou-se o conceito de semente competitiva, definida como a oferta de sementes no volume, no preço e na qualidade demandados pelo mercado. Ampliando-se o conceito, tornando-o mais geral poder-se-ia substituir semente por material propagativo, o que incluiria as mudas e outras formas utilizadas no agronegócio para realizar os plantios.

A competitividade do SNPCS será obtida a medida que este sistema possa produzir material propagativo (cultivares, sementes e mudas) para o agronegócio brasileiro em condições competitivas com outros sistemas competidores. Todavia, pode-se também pensar a competitividade entre segmentos do SNPCS, como por exemplo, os segmentos público e privado de P&D; os segmentos nacionais e multinacionais de produção e distribuição de sementes e mudas.

Por uma peculiaridade desse sistema, a competição está ocorrendo não entre dois sistema distintos, mas dentro de um mesmo sistema. Ela se expressa pela competição entre a P&D pública e a privada, de um lado a Embrapa, empresas e institutos estaduais de pesquisa e as universidades brasileiras e do outro, as empresas e universidades privadas e as grandes corporações internacionais, interessadas no mercado de suprimentos de insumos para o agronegócio brasileiro, notadamente defensivos, fertilizantes, herbicidas, sementes e mudas.

Começando a descrição do modelo da Figura 4.7, o avanço da biotecnologia, a redução do estado e as leis de propriedade intelectual são variáveis do ambiente externo que induzem mudanças no sistema. Estas variáveis vão atuar nas capacidades do setor público e privado, vão afetar os investimentos em P&D, os novos arranjos institucionais e a competição entre os diversos atores do sistema. A redução do estado afeta restritivamente o investimento público em P&D, mas impulsiona novos arranjos institucionais, uma vez que obriga as organizações públicas a buscar alianças para suprir suas deficiências estruturais e de capacidades.

As leis de propriedade intelectual incentivam a entrada de novos concorrentes, aumentado a competição na P&D. Também impulsionam novos ingressos de recursos na P&D, uma vez que tendem a diminuir os riscos do investimento em inovação tecnológica, por oferecer proteção aos proprietários da inovação. A entrada de novos concorrentes, principalmente em se tratando de grupos multinacionais, impulsiona a importação de tecnologia, gerada pelas matrizes dessas organizações internacionais.

Os avanços na biotecnologia, embora influenciando as variáveis já mencionadas anteriormente, vai impactar mais fortemente na capacidade das organizações de pesquisa, tanto do setor público quanto do setor privado. Para efeito de simplificação do modelo, considerou-se este efeito apenas nestas duas variáveis. O efeito é direto, indicando que, quanto mais avança a biotecnologia, maior capacidade tem as organizações de P&D em desenvolver processos e produtos tecnológicos, sejam estes cultivares protegidos ou registrados.

A capacidade dos setores público e privado de P&D são variáveis centrais para o desempenho desses setores de produção de cultivares. Estas são influenciadas por um complexo de fatores, além dos já comentados. Investimentos em P&D, novos arranjos institucionais, sob a forma de parcerias e outras alianças estratégicas, obtenção de alternativas de recursos são todas variáveis impulsoras de capacidade, nos dois setores. Investimento em P&D tem a particularidade de apresentar feed-back , ou seja, aumenta

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a capacidade mas também é afetado positivamente por este aumento. Uma outra variável, esta vinculada apenas à capacidade do setor privado, é a intensidade de P&D privada, que impulsiona (e é também impulsionada por) a capacidade do setor privado de P&D.

A capacidade do setor privado pode ser restringida por importação de tecnologia. Com a entrada de novos concorrentes na P&D, principalmente de grupos multinacionais, alguns desses novos entrantes podem priorizar a importação de tecnologia de suas matrizes, em lugar da produção local. O crescimento desse fenômeno certamente traria impactos negativos na capacidade local da estrutura de P&D privada, por afetar negativamente a intensidade de pesquisa privada.

Por último, resta analisar o desempenho dos sistemas público e privado de P&D. Considerando que o principal produto dessas organizações são cultivares melhoradas, uma forma de se representar o desempenho de cada subsistema é pela quantidade e qualidade de seus produtos, ou seja, o número e qualidade das cultivares produzidas. A qualidade desses cultivares pode ser indicada pela taxa de adoção dos mesmos pelo mercado de sementes e mudas, como será apresentado no próximo item. Por hora, será considerada a questão da quantidade de material produzida por cada setor, que pode ser representada pelas cultivares protegidas e registradas pelos dois subsistemas.

O registro de cultivares é prática antiga no Brasil e permite que um determinado cultivar seja legalmente comercializada no País. A proteção é uma prática recente e garante ao titular a propriedade intelectual da cultivar registrada. O processo de proteção foi implementado a partir da promulgação da nova lei de propriedade intelectual, a partir de 1997, e a relação de cultivos passíveis de proteção vem sendo paulatinamente incrementada.

O processo de registro é muito mais simples e barato que o processo de proteção. Por outro lado, as variedades híbridas já possuem uma proteção natural, uma vez que não se pode reutilizar as sementes colhidas para plantios posteriores. Por isso, tem havido um interesse menor pela proteção das variedades híbridas, por parte dos detentores da inovação. Isto implica que o registro é aparentemente um indicador mais fidedigno da produção dos subsistemas público e privado de P&D em melhoramento genético. Todavia, o modelo expresso pela Figura 4.7 considera estes dois indicadores, para representar a quantidade de produção de cultivares de cada subsistema.

Com base no número de cultivares protegidos e registrados pelos setores público e privado, criou-se dois indicadores de desempenho, a razão cultivares protegidas pelo setor privado em relação ao setor público e da mesma maneira, razão cultivares registradas entre os dois setores. Com estes números, é possível avaliar o desempenho, pela comparação relativa da produção dos dois setores.

O desempenho medido por estes indicadores é direta e proporcionalmente influenciado pela capacidade de cada setor. A razão de cultivares protegidas nos dois setores é também diretamente influenciada pela razão de cultivares registradas, uma vez que, um acréscimo de registros influencia diretamente a proteção de cultivares.

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4.7 Custo e Oferta de Semente Competitiva

A parte final do modelo (Figura 4.8) representa o que ocorre depois da produção de cultivares pela estrutura de P&D, ou seja, a transformação de uma cultivar produzida pela pesquisa em material de plantio (sementes e mudas) pela estrutura de produção e comercialização de sementes. Este processo ocorre no âmbito das fazendas de produção, em geral pertencentes a organizações nacionais, que recebem da pesquisa o material básico e a partir deste, produzem a semente (ou muda) comercial, que será vendida ao produtor.

razão cultivares

registrados pri/pub.

Semente compet.

hortícolas

Custo de semente

hortícolas

Semente competit. híbridos

Custo de semente híbridas

Razão cultivares protegidos

pri/pub

Semente competit.

variedades

Custo de semente

variedades

Capacidade setor

privado

Capacidade setor

público

LPC

Foco em commodities

de escalaAmplitude

base genética

Nº de produtores de semente

Impacto positivo -

Impacto negativo -

Figura 4.8. Representação do custo e oferta da semente competitiva.

Em geral, o produtor de sementes e mudas se articula com a pesquisa pública para obter as sementes básicas (a partir desse ponto, a análise será focada na semente) de cultivares que necessita para produzir a semente comercial. Há também produtores articulados com grupos privados de P&D, notadamente as multinacionais. Para os primeiros, a existência de uma estrutura de P&D pública, que disponibilize a inovação sob a forma de cultivares, é essencial à sua sobrevivência. Não é por acaso que a entrada de grandes corporações multinacionais no negócio da semente é ameaçador para este segmento, uma vez que estes novos atores vão ocupar o espaço antes trabalhado por estes produtores e com possibilidade de cortar o seu suprimento de tecnologia.

A análise desse subsistema começa a partir do ponto em que o cultivar é registrado e/ou protegido por uma instituição pública ou privada de P&D, e as sementes básicas das cultivares são liberados para a multiplicação, transformando-se em material de plantio. O produto final desse subsistema é a semente competitiva, de hortícolas, híbridos e variedades das diversas espécies agrícolas. O conceito de semente competitiva foi definido anteriormente e é transcrito a seguir, para facilitar a compreensão da presente análise.

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Semente competitiva de hortícolas - oferta de semente de espécies hortícolas, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado;

Semente competitiva de híbridos - oferta de semente de espécies híbridas, nos volumes, preço e qualidade demandados pelo mercado;

Semente competitiva de variedades - oferta de semente de variedades, no volume, no preço e com a qualidade demandados pelo mercado.

A produção da semente competitiva inclui questões de preços e de qualidade. O preço da semente comercial é determinado pelo seu custo e pelas margens de lucratividade estabelecidas pelo produtor da semente. Incide neste custo, além do processo produtivo, o custo da semente básica, que é determinado pelo detentor do registro e, ou, proteção. Contudo, o preço da semente comercial representa em geral, um percentual pouco expressivo no custo de produção dos plantios comerciais, de forma que esta variável possivelmente tem uma menor influência sobre a competitividade das sementes.

Já a questão da qualidade é central na competitividade da semente. Esta não se traduz apenas por características físicas de qualidade (tais como pureza, índice de germinação), mas principalmente pelas características genéticas que a semente é portadora. Fatores como potencial de produtividade, adaptabilidade a determinadas condições ecológicas, resistências a pragas, doenças e estresses abióticos, características físicas e químicas de produtos agrícolas, são alguns dos requisitos de qualidade de uma semente, que foram introduzidos pela instituição de P&D durante o processo de inovação tecnológica que gerou o material e que serão julgados pelo mercado.

Conseqüentemente, a qualidade da semente vai depender diretamente do desempenho e da capacidade dos setores publico e privado de P&D em melhoramento genético, da amplitude da base genética disponível para gerar variabilidade e caracteres para o melhoramento e em menor escala, da dimensão da estrutura de produtores de sementes. Estas influências diretas vão determinar as características dos materiais produzidos e vão gerar sementes competitivas, a medida em que as especificações dos clientes de sementes comerciais sejam atendidas.

Algumas particularidades no modelo da Figura 4.8 merecem menção: a lei de proteção de cultivares vai influenciar mais diretamente os custos das sementes de variedades e de hortícolas, uma vez que os híbridos dispensam, via de regra, a proteção legal, por suas características de desenvolvimento. Já as sementes competitivas de variedades poderão beneficiar-se de estratégias internas dos setores publico e privado de P&D (possivelmente mais do setor privado) em privilegiar como foco estratégico as commodities produzidas em larga escala no agronegócio brasileiro. Este foco poderá promover maiores avanços no desempenho dessas commodities, em detrimento de atividades agrícolas de cunho social.

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4.8 Uso de semente melhorada e posicionamento de cada segmento de P&D no mercado

Completa o SNPCS é composta as organizações de distribuição e comercialização de sementes mudas, que fazem interface com os compradores desse insumo, os produtores agrícolas do agronegócio brasileiro. São parte desse complexo de comercialização: produtores de sementes comerciais, nacionais e multinacionais; estruturas de comercialização de insumos; importadores de sementes; entre outros.

É neste ambiente que a competição é travada, sendo os produtores brasileiros os alvos dessa batalha. Nesta arena, as questões não são puramente técnicas, uma vez que questões tais como informação, acesso, posicionamento, foco, atividade, questões típicas de uma estratégia de negócio, passam a influenciar no desempenho final de uma determinada cultivar produzida pela pesquisa, determinando seu posicionamento no mercado de sementes.

A Figura 4.9 representa o desempenho da parte final do SNPCS, onde este sistema se integra a um sistema mais amplo, o agronegócio brasileiro, este último composto pelas diversas cadeias produtivas. O modelo representa esta interface, ligando o desempenho do agronegócio a duas variáveis representativas do desempenho do SNPCS, a percentagem de uso de sementes melhoradas e a intensidade de uso de tecnologias pelas unidades produtivas do agronegócio.

Semente competitiva: oferta de sementes nos volumes,preços e qualidade demandados pelo mercado.

Capacidade do setor privado

% partic. hortícolas

publico Capilaridade oferta

semente

Semente compet.

HortícolasPriv./Pub

% partic. híbridos publico

Número produtor sementes

Semente competit. Híbridos

Priv./Pub.

Capacidade do setor público

% partic. variedades

publico

Semente competit.

Variedades Priv./Pub.

% Uso semente

melhorada

Mecanismos de controle do mercado

Impacto positivo -

Impacto negativo -

Figura 4.9. Modelo de uso de sementes melhoradas e posicionamento dos produtores de cultivares.

O desempenho do agronegócio não depende apenas das duas variáveis indicadas no modelo da Figura 4.9. Certamente, algumas dezenas de variáveis se combinam para determinar este desempenho. Todavia, para efeito de simplificação, somente estão

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sendo consideradas no presente modelo as variáveis relacionadas com a questão dos cultivares e das sementes, variáveis tecnológicas trabalhadas pela P&D em melhoramento genético. A intensidade de uso de tecnologia nas diversas cadeias produtivas é variada e o uso de sementes melhoradas é mais alto onde a produção agrícola é feita com padrão de tecnologia intensiva. Pode-se portanto afirmar que o desempenho do agronegócio é função dessas duas variáveis.

O percentual de uso de semente melhorada é dependente de uma série de variáveis. Uma muito importante é a estrutura da rede de comercialização de sementes, no que tange à sua capilaridade. Portanto, a capilaridade da oferta de sementes é uma variável diretamente relacionada com a percentagem de uso de sementes melhoradas, sendo esta também diretamente influenciada pelo número e distribuição de produtores de sementes. Quanto mais próxima do produtor se situe esta estrutura, maiores as probabilidades de uso da semente melhorada. Neste quesito, os grupos multinacionais possuem uma estrutura em geral mais capilar e por isso, apresentam maiores vantagens competitivas em relação à pequenas empresas distribuidoras e ao setor público de P&D.

O uso de sementes melhoradas é também diretamente influenciado pela oferta de sementes competitivas de hortícolas, de híbridos e de cultivares. A lógica dessa relação é a de que, quanto maior a produção de cultivares protegidas e registradas, independente da sua procedência, maiores serão as possibilidades de oferta de material com qualidade e preço nas especificações da clientela.

Por último, o posicionamento das cultivares produzidas pela P&D pública, medido pelo percentual de adoção de cada tipo de cultivar pelo mercado, é uma variável que pode impulsionar o percentual de uso de sementes melhoradas. Como o setor público não tem finalidades de lucro direto, os benefícios auferidos a partir das novas cultivares introduzidas são distribuídos entre os diversos setores envolvidos no mercado da semente, inclusive o produtor das cadeias produtivas. Conseqüentemente, não há, em geral, um encarecimento de preços associado ao desenvolvimento tecnológico, como é comum quando a inovação é introduzida com o propósito de geração de lucro. Esta melhoria de qualidade, associada a baixos incrementos em preços, funciona como um possível incentivo ao uso de sementes melhoradas pelos produtores.

Obviamente, toda a parte superior do modelo da Figura 4.9 é influenciada pela capacidade dos setores público e privado de P&D. Estas influências foram analisadas nos itens anteriores e são reapresentadas para efeito de conexão com o subsistema apresentado anteriormente.

A diferença em relação às análises anteriores se refere às influências que a capacidade dos setores público e privado de P&D em melhoramento genético exercem sobre a participação desses setores no mercado de cultivares e sementes. As relações mostram impactos negativos da capacidade de cada um dos setores sobre o desempenho do outro setor no mercado. Isto significa admitir que existe competição entre os setores público e privado de P&D pelo mercado de cultivares e sementes, estando o posicionamento de cada um desses setores determinado pela capacidade relativa. Conseqüentemente, o fator que irá definir posicionamentos futuros no mercado será a forma como a gestão de capacidades será conduzida em cada setor.

Finalizando a análise, os mecanismos de controle de mercado podem alterar eventuais posicionamentos do setor público de P&D no mercado de sementes. Em entrevistas

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realizadas, vários dos entrevistados mencionaram a emergência de pacotes integrados de oferta de insumos e sementes por parte das novas empresas entrantes no SNPCS, gerando vantagens competitivas para estas organizações, principalmente em relação a grupos nacionais especializados somente em produção de sementes. Estes mecanismos, por oferecerem possíveis vantagens aos produtores rurais compradores de sementes, podem modificar posições dos competidores, não apenas no mercado de sementes, mas também no mercado de cultivares.

Como a pesquisa pública é um dos segmentos nacionais do SNPCS que oferece somente sementes aos produtores rurais, esta poderá também ser afetada nos próximos anos no seu posicionamento no mercado de cultivares e sementes. Esta questão deve ser investigada mais a fundo, de forma a definir-se estratégias apropriadas para a manutenção da sustentabilidade das organizações de P&D governamentais num futuro próximo.

4.9 Comentários finais sobre a modelagem do SNPCS

O modelo geral de relações de variáveis e os segmentos de modelos do SNPCS, apresentados anteriormente, são aproximações da realidade, baseadas em visões dos autores desse trabalho, dos seus entrevistados e na interpretação das diversas fontes consultadas. Tem como finalidade orientar um estudo de futuro, baseado na Técnica Delphi, cujo questionário foi elaborado com base nos diversos diagnósticos realizados e no modelo apresentado neste capítulo.

Um exercício de modelagem é sempre uma aproximação da realidade. Esta é sempre muito mais complexa do que os modelos que a mente humana consegue elaborar, para representá-la. Os objetivos do trabalho, a formação da equipe de analistas, suas crenças e valores são fatores que podem orientar a análise da realidade na direção de determinadas questões, ao mesmo tempo em que outras facetas dos sistemas são desconsideradas.

Em síntese, este trabalho de modelagem não tem a pretensão de se constituir na mais completa representação do sistema de produção de cultivares e sementes no Brasil, em todas as suas possíveis facetas e nuances. Tem sim, o propósito de construir uma guia para se estudar variáveis chave de um dos setores do agronegócio brasileiro mais afetados pela turbulência nos últimos anos. Neste contexto, o modelo desenvolvido foi de grande utilidade para orientar a pesquisa Delphi, constituindo-se numa base conceitual importante na definição das questões a abordar no Painel de Especialistas, cujos resultados serão apresentados nos capítulos seguintes.

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Capítulo 5 Diagnóstico do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS): A Visão dos Melhoristas

Esse capítulo irá apresentar os resultados das 19 entrevistas realizadas com especialistas em recursos genéticos, soja, milho, trigo, arroz, feijão, frutas, hortaliças e culturas perenes. Desses 19 atores, nove estão vinculados à Embrapa, quatro a Universidades públicas, dois a empresas privadas nacionais, um a um instituto público de pesquisa e dois com outras vinculações (um produtor e um assessor parlamentar). Havia, portanto, uma predominância de atores do setor público, entre os entrevistados.

As entrevistas foram gravadas e realizadas com o apoio de um roteiro de questões. A primeira parte da entrevista visava à validação do modelo do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes. Nessa parte, o modelo era apresentado e o entrevistado era solicitado a criticá-lo (em seus componentes e nas relações propostas) e a apresentar sugestões para seu aperfeiçoamento. Na segunda parte, o entrevistado apontava pontos fortes e fracos de cada componente. Na terceira, falava sobre tendências de mudanças no sistema, e em relações entre componentes, como conseqüência de mudanças no contexto e no próprio mercado de sementes. Ao final, criticava e sugeria alterações sobre os fatores que estão impactando o sistema (isto é, o avanço no conhecimento científico, as alterações no papel do Estado, a promulgação das leis de propriedade intelectual e a concentração no mercado de sementes). As entrevistas realizadas foram analisadas por meio da técnica descrita por Bardin (1977) denominada análise de conteúdo. Os resultados obtidos em decorrência dessa análise serão apresentados nos tópicos seguintes.

O capítulo encontra-se estruturado em duas partes. Na primeira, integrada pelos tópicos “A pesquisa e o mercado de sementes até a década de noventa” e “Mudanças no contexto da pesquisa e do mercado de sementes”, buscou-se contextualizar o Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes. Na segunda parte, integrada pelos demais tópicos, foram descritas e analisadas as opiniões dos entrevistados referentes às questões abordadas nas entrevistas.

O leitor deve ter em vista que o capítulo centra-se na visão de pesquisadores e melhoristas, atores-chave dentro do sistema analisado. O conhecimento da percepção desses atores é importante, porque mudanças em contextos organizacionais trazem sempre a emergência de novas visões ou práticas de trabalho, que podem ter impactos (desejáveis ou não) sobre o desempenho da P&D ou das organizações envolvidas. No entanto, observa-se que a opinião expressa pelos diversos entrevistados, nesse capítulo, não necessariamente corresponde à visão dos autores.

5.1 A pesquisa e o mercado de sementes até a década de noventa

Até a década de noventa, o Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS) funcionou em ambiente marcado pela estabilidade. Até então, a pesquisa

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agrícola era considerada como um bem público, que beneficia a sociedade em geral e não gera recursos para a entidade geradora da nova tecnologia (Pessoa e Bonelli, 1997). Um bem público caracteriza-se por reduzida possibilidade de apropriabilidade de retornos, baixo grau de especificidade para a organização geradora, alto grau de incerteza e risco e indivisibilidade ou retornos crescentes no uso (isto é, para um mesmo investimento na inovação, o custo será rateado por maior número de unidades de produto por uma firma grande do que por uma firma pequena1). Essas características fariam com que o investimento em pesquisa agrícola em geral, e em melhoramento genético, em particular, fossem menores do que o ideal.

O principal insumo para o melhoramento genético é constituído pelos recursos genéticos disponibilizados para os melhoristas. Por recursos genéticos para agricultura e alimentação entendem-se os materiais genéticos de valor atual ou potencial utilizados em sistemas de produção agrícola e pertencentes às seguintes categorias: a) espécies silvestres; b) espécies de parentes silvestres das plantas cultivadas; c) raças locais de plantas; d) variedades primitivas ou obsoletas; e) variedades de plantas modernas; f) linhagens de melhoramento e populações experimentais e g) linhagens com características genéticas e citogenéticas especiais. Recursos genéticos de algumas destas categorias podem ser encontrados tanto em condições in-situ como em condições ex-situ, tais como as espécies silvestres, parentes silvestres de plantas cultivadas, raças locais e variedades primitivas ou obsoletas.

As atividades de melhoramento genético vegetal têm tradicionalmente se baseado no acesso a estas diferentes categorias de recursos genéticos como fonte inicial de variação para o desenvolvimento de variedades de plantas cada vez mais adequadas às necessidades do homem. Centenas de materiais genéticos são avaliadas para a seleção de genótipos a serem utilizados em cruzamentos dirigidos, fazendo com que as variedades modernas incorporem no seu genoma genes de origens e fontes variadas ao longo do processo de melhoramento.

Nesse contexto, o êxito da pesquisa em melhoramento genético depende de que sejam feitos ensaios em diversos ambientes e da troca (ou livre intercâmbio) de materiais genéticos entre os melhoristas. Esses requisitos, por sua vez, induzem os executores da pesquisa a formarem parcerias, para realização dos vários ensaios requeridos. No caso da pesquisa pública brasileira, os diferentes papéis das organizações de pesquisa que compõem o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA)2 atuavam como um importante direcionador dos arranjos institucionais requeridos para o melhoramento genético no país.

O produto da pesquisa em melhoramento genético é constituído pela semente, a qual detém a informação genética relativa às características de uma variedade. Já se disse que “a semente é a melhor embalagem para a tecnologia”. Esse produto somente pode ser obtido na fase terminal do processo de melhoramento, definindo-se, portanto, como um insumo desenvolvido e acabado a ser imediatamente utilizado pelos produtores.

No Brasil, a transferência da tecnologia de base genética em variedades era tradicionalmente realizada vias pequenas e médias empresas, e em híbridos, 1 Essa característica faz com que a atividade de P&D seja atrativa somente para grandes organizações, que por sua vez direcionarão seus esforços para mercados com um maior número de consumidores. 2 O SNPA compreende a Embrapa, as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAs), e as Universidades Públicas Brasileiras.

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principalmente o milho, via empresas de capital nacional, como a Agroceres, transnacionais, como a Cargill, a Pioneer, a Braskalb, a Zeneca, a Dow Elanco e a Novartis, e empresas pequenas e de médio porte, agrupadas na UNIMILHO, que é um consórcio de empresas produtoras de sementes que utilizam material genético de milho licenciado pela EMBRAPA.

A Figura 5.1 mostra uma representação gráfica desse sistema. Nele, o subsistema público de P&D em Recursos Genéticos fornecia o insumo (recursos genéticos), para o desenvolvimento de cultivares, realizado pelo sistema de P&D (também público). Desenvolvidas as cultivares, essas eram repassadas, na forma de sementes básicas, para empresas (a maioria nacionais) de produção e comercialização de sementes. As sementes comerciais assim produzidas eram repassadas para cooperativas, revendas, armazéns ou comercializadas diretamente com produtores rurais. O sistema de produção e comercialização de sementes, na Figura 5.1, foi segmentado com base em Wilkinson e Castelli, 2000. O sistema produtivo agrícola segue segmentação semelhante.

Sistema público de P&D em

Melhoramento Genético

Sistema de produção e comercialização de variedades

Sistemas produtivos de

variedades (soja, etc.)

AMBIENTE INSTITUCIONAL

AMBIENTE ORGANIZACIONAL: FINANCIAMENTO E ESTRUTURA PARA P&D

Sistema de produção ecomercialização

de híbridos

Sistemas produtivos de híbridos

(milho, etc.)

Sistema de produção ecomercialização. de

olerícolas/frutas

Sistemas produtivos agrícolas (batata, maçã,etc.)

Sistema público de P&D em Recursos Genéticos

Figura 5.1. Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes, até a década de 80.

O ambiente institucional desse sistema era bastante simplificado, não existindo leis que garantissem, por exemplo, o retorno pelo investimento em P&D (leis de propriedade intelectual). Quanto ao ambiente organizacional, o financiamento de pesquisa era papel predominantemente do Estado, que também era o principal ator na formação e aperfeiçoamento da infra-estrutura de P&D relativa ao sistema.

5.2 Mudanças no Contexto da Pesquisa e do Mercado de Sementes

A partir da década de 90, vários eventos emergiram, no contexto do SNPCS, os quais provocaram – e ainda vêm provocando – alterações nos componentes do sistema e das relações entre eles. Esses eventos são os seguintes:

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Avanços no conhecimento científico e tecnológico, pela emergência de ferramentas de manipulação e transferência gênica, na pesquisa em melhoramento genético. Essas ferramentas, originadas na biotecnologia, aumentam sobremaneira a rapidez e precisão com que se pode realizar o desenvolvimento de plantas e animais melhorados, com grande diversidade de atributos. Podem ter efeitos positivos sobre o rendimento das culturas, em situações adversas, apoiar a redução de degradação em ecossistemas sensíveis e permitir a redução no uso de insumos caros ou indesejáveis do ponto de vista ambiental, como fertilizantes e defensivos. Por outro lado, são técnicas que têm sido amplamente questionadas, em seus aspectos técnicos, morais e éticos. Observa-se também que os países em desenvolvimento possuem menos recursos – laboratórios, técnicos capacitados, etc. – para o uso mais extensivo dessas técnicas, no melhoramento genético;

A reorganização do papel do Estado no Brasil: essa reorganização, iniciada na década de 80 e ainda não concluída, significou redução do tamanho do Estado, com extinção de funções e transferência de papéis e atribuições à iniciativa privada; concentração do Estado em atribuições normativas, fiscalizadoras e em áreas estratégicas; financiamento para P&D baseado cada vez mais em fundos competitivos, com aumento nos mecanismos de controle de eficiência e eficácia, redução das fontes tradicionais de financiamento e maior ingerência dos patrocinadores e órgãos de fomento sobre as prioridades e resultados da C&T. De modo geral, isso significou recursos mais reduzidos para a pesquisa, aumento de parcerias no setor de P&D e a necessidade de que outras fontes de recursos fossem identificadas, pelos vários grupos de pesquisa brasileiros;

As novas Leis de Patentes e Proteção de Cultivares: A propriedade intelectual passou a ser debatida mais profundamente no Brasil a partir da última revisão do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, conhecida como rodada Uruguai do GATT, que expandiu substancialmente os limites de acordos comerciais multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Como resultado dos compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito dos citados acordos multilaterais, um longo debate foi iniciado no país em torno do tema propriedade intelectual, culminando com a instituição de duas leis – a de No. 9.279 de 14 de maio de 1996, conhecida como Lei de Patentes, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial e a de Nº 9.456, de 25 de abril de 1997, que regula a Proteção de Cultivares. O objetivo maior da instituição de instrumentos de proteção seria o de estimular o espírito criativo e construtivo, não permitindo competição daqueles que apenas copiam e não arcam com qualquer custo de desenvolvimento do bem. Outra conseqüência desejável que essas leis ensejariam seria a facilitação do processo de transferência de tecnologia (Carvalho, 1992).

Promulgadas em 1997, as leis de proteção de cultivares sinalizaram ser a pesquisa não um “bem público”, mas um bem pelo qual se poderia esperar retorno econômico direto. Essa sinalização certamente é importante como um incentivo para a entrada de novas organizações de P&D no setor.

Uma indicação de que esse foi o caso é apresentada por Wilkinson (2002) e Wilkinson e Castelli (2000). Estudando as modificações ocorridas no mercado de sementes de milho e soja, a partir de 1997, esses autores apontam as mudanças em participação no mercado de sementes, de empresas nacionais e estrangeiras, antes e após a promulgação da lei de proteção de cultivares.

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A partir de 1997, verifica-se uma entrada forte de empresas transnacionais no mercado brasileiro de sementes, e um grande movimento de fusões e aquisições entre essas e as empresas brasileiras já existentes no setor. Assim, por exemplo, no caso do milho, enquanto até o final da década de 80, 40% do mercado estivesse nas mãos da Agroceres, com sua compra pela Monsanto, no final da década de 90, essa última empresa passa a deter 65% do mercado, com apenas 5% de participação de empresa de capital nacional (Unimilho, um consórcio de 17 empresas, franqueado da Embrapa). No caso da soja, ocorre um movimento de menor expressão, embora na mesma direção: a quase inexistência de empresas estrangeiras, antes de 1997, é substituída por 20% de participação dessas, em 1999, ao mesmo tempo em que se observa uma redução da participação da Embrapa (de 70 para 65%).

A concentração no mercado de sementes pode levar a várias conseqüências, algumas bastantes desejáveis, como a rápida incorporação de novas tecnologias aos sistemas produtivos, outras bastantes danosas, como a redução do nível de atividade de pesquisa genética no País com aumento da importação de “soluções” das matrizes de empresas transnacionais. Lopes (2001), Carvalho (1992) e Velho (1992) apontam várias dessas conseqüências.

As mudanças descritas acima estão redefinindo o Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS). Em particular, o papel dos sistemas de P&D em recursos genéticos e em melhoramento genético, público e privado – assim como as relações entre esses componentes – estão sendo alterados pelas mudanças em curso. A Figura 5.2 apresenta, esquematicamente, uma proposta para a configuração atual do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes. As alterações, em relação ao sistema apresentado na Figura 5.1, se referem aos sistemas de P&D. Os demais componentes, nessa proposta do sistema atual, permanecem com a mesma configuração da década de 80 (embora também tenham tido mudanças qualitativas profundas, motivadas pela modernização da agropecuária brasileira, e pelas mudanças em perfis de agricultores e consumidores, no período).

5.3 Modelagem do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS)

As mudanças descritas no tópico anterior estão redefinindo o Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS). Em particular, o papel dos sistemas de P&D em recursos genéticos e em melhoramento genético, público e privado – assim como as relações entre esses componentes – estão sendo alterados pelas mudanças em curso. A Figura 5.2 apresenta, esquematicamente, uma proposta para a configuração atual do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes.

Esse modelo foi apresentado aos 19 melhoristas entrevistados, aos quais se solicitou avaliação de sua adequação como representação do SNPCS, bem como sugestões para que o mesmo pudesse ser aperfeiçoado.

Os entrevistados consideraram que o modelo proposto representa adequadamente os componentes do SNPCS, de uma maneira geral. Cabe porém, salientar algumas das sugestões apresentadas. Com relação ao Sistema de P&D em Melhoramento Genético foi sugerido que o sistema privado fosse menor em relação ao público, fosse dividido

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em nacional e multinacional e que se estabelecesse diferentes graus de dependência em relação ao público (p.ex. dependente, parcialmente dependente ou independente). No Sistema de Produção e Comercialização foi sugerida a inclusão de florestas, culturas perenes, frutíferas nativas e forrageiras, além de se desmembrar o componente Variedades por produtos. Por último, no Sistema Produtivo os entrevistados sugeriram dividir produção de variedades em convencionais e transgênicas. O Quadro 5.1 sumariza as principais sugestões feitas.

Figura 5.2. Proposta de modelo do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes, em sua configuração atual.

É importante ressaltar que nenhuma das sugestões foram apresentadas por mais de 3 entrevistados e que elas retratam, de alguma forma, as suas respectivas áreas de atuação.

Vários entrevistados, embora não tenham feito sugestões formais de alterações no modelo, manifestaram certa dificuldade com a segmentação feita no componente de produção e comercialização de sementes, isto é, na divisão (proposta por Wilkinson e Castelli, 2000) desse mercado em um segmento de híbridos, outros de variedades e outro de olerícolas e frutas. A dificuldade maior está no fato de que esses segmentos, assim definidos, não são excludentes: por exemplo, existem híbridos e variedades de olerícolas.

As relações propostas no modelo também foram consideradas representativas da realidade. Apenas duas sugestões emergiram, relacionadas ao aumento da intensidade das relações entre a P&D pública (recursos genéticos e melhoramento) e o segmento de produção/comercialização de olerícolas/frutas e entre os sistemas público e privado de P&D em recursos genéticos. Essas alterações nas relações propostas foram sugeridas por dois dos entrevistados.

AMBIENTE ORGANIZACIONAL: FINANCIAMENTO E ESTRUTURA PARA P&D

Sistema público de coleta e

conservação de germoplasma

Sistema privado de coleta e

conservação de germoplasma

Sistema público de P&D em

Melhoramento Genético

Sistema privado de P&D em

Melhoramento Genético

Segmento prod./comercialização

de híbridos

Segmento prod./comercialização de variedades

Segmento prod./comercializaçãode olerícolas e

frutas

Sistemas produtivos de

híbridos (ex.: milho)

Sistemas produtivos de

cultivares (Ex.: arroz,

Sistemas produtivos de oler. e frutas(ex: batata)

AMBIENTE INSTITUCIONAL: LEIS DE PROP. INTELECTUAL, BIODIVERSIDADE

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Quadro 5.1. Análise crítica do Modelo do SNPCS.

COMPONENTE DO MODELO SUGESTÕES SISTEMA PRIVADO DE P&D EM

MELHORAMENTO GENÉTICO dividir em (sistema) nacional e

multinacional; estabelecer graus de dependência

com o sistema público (dependente, parcialmente dependente ou independente).

diminuir em relação ao público. SISTEMA PÚBLICO DE P&D EM

MELHORAMENTO GENÉTICO representar as principais instituições

componentes; segmentar em: de P&D, de P e de D; incluir sistema associativo de P&D.

SISTEMA DE PRODUÇÃO / COMERCIALIZAÇÃO DE SEMENTES

em Variedades, desmembrar por produtos;

incluir: florestas, culturas perenes, frutíferas nativas e forrageiras.

SISTEMA PRODUTIVO dividir produção de variedades em convencionais e transgênicas.

As opiniões dos entrevistados mostraram a adequação do modelo do SNPCS, apresentado anteriormente, para a descrição desse sistema e das relações entre seus componentes. Nesse sentido, com pequenos ajustes, o modelo pode ser utilizado para investigar o sistema, do ponto de vista de seu desempenho, por exemplo.

5.4 Setores Público e Privado de P&D: Pontos Fortes e Fracos

Os entrevistados também foram solicitados a apontar os pontos fortes e fracos dos sistemas público e privado de P&D.

O Sistema Público de Germoplasma destaca-se em relação ao privado no investimento na formação dos seus pesquisadores, que apresentam alto nível de especialização. Um dos pontos fracos apontados diz respeito à caracterização de germoplasma coletado, ainda considerada deficiente. A amplitude dos bancos de germoplasma, junto com a caracterização deficiente, dificulta as decisões sobre quantidade de amostras a manter, considerando parâmetros como o uso e a variabilidade. A preocupação com a erosão genética e a contaminação possível do germoplasma em grandes bancos públicos foi também mencionada, por um dos entrevistados.

Os entrevistados apontaram o sistema privado de germoplasma como sendo mais objetivo na seleção do material, gerando menor risco de perda e custos menores. Possui uma estrutura suficiente, que permite o uso dinâmico do germoplasma, bem como acesso rápido a germoplasma de interesse e linhagens importadas. Por exemplo, na visão de um dos entrevistados

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“Acontece que de uns anos para cá as multinacionais estão entrando com germoplasma diferenciado... Diferenciado porque? Eles têm acesso aos programas de pesquisa no mundo inteiro, então eles trazem linhagens da Tailândia, das Filipinas, da Colômbia, do México, onde tiver coisa que vai bem para resolver o problema aqui no Brasil eles trazem. Trazem, incorporam e trabalham. Eles fazem isso aí de uma maneira muito ágil, muito rápida. Com isso as coisas vão complicar... porque no sistema público a gente não tem acesso a esses germoplasmas e mesmo se tiver, não temos agilidade para importar”.

O principal ponto fraco apontado diz respeito à (pouca) diversidade, uma vez que esse sistema focaliza espécies de trabalho potencialmente rentáveis: “...as empresas privadas, mais objetivamente, na minha idéia, eles não tem amplitude de germoplasma,[e possuem] poucas variedades das espécies de interesse, com variações específicas do trabalho, quer dizer, manutenção...”

O setor público de P&D, na visão dos entrevistados, norteia-se por objetivos sociais, atuando em um ambiente altamente complexo em termos econômicos, sociais e ambientais. Caracteriza-se por possuir uma infra-estrutura não muito sofisticada, investimentos financeiros modestos e muita burocracia e falta de agilidade. Em relação à carreira, apesar da mesma não ser tão atraente, o setor investe pesadamente na formação dos seus pesquisadores. Na pesquisa, o setor público investe na geração completa, utilizando, na maioria das vezes, métodos de melhoramento convencionais, sem, no entanto, patentear genes.

Em contraparte, o setor privado de P&D tem como foco o lucro. Caracteriza-se por uma infra-estrutura de última geração, maior acesso a financiamento, impulsionando o pesquisador a se dedicar mais tempo à pesquisa e, conseqüentemente, ser mais ágil em inovação. Na pesquisa, o setor privado investe na adaptação, focada em cultivos rentáveis, por meio de métodos de pesquisa de ponta, como a transgenia, por exemplo. A ênfase na adaptação é apontada por um entrevistado:

“um [sic] sistema de pesquisa privado... já chega com o material acabado, aqui faz uns testes... eles só liberam aquilo quando acham que tem potencial, baseado em uma séries de parâmetros, esse material aqui vai ser avaliado, ele vem para cá para teste, pré-teste comercial, praticamente...”.

A comparação entre os setores de P&D está resumida no Quadro 5.2.

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Quadro 5.2. Comparação entre os setores público e privado de P&D.

SISTEMA PÚBLICO SISTEMA PRIVADO • Objetivos econômicos, sociais e de

preservação ambiental • Lucro

• Muita burocracia / papel • Mais tempo para se dedicar à pesquisa • Recursos financeiros menores • Maior acesso a financiamento

• Infra-estrutura menos sofisticada • Infra-estrutura de última geração • Carreira menos atraente • Carreira mais promissora

• Maior competência / formação • Menor investimento em formação • Geração completa • Adaptação

• Sem patente de genes • Com patentes de genes • Métodos de melhoramento

convencionais • Métodos mais arrojados

• Menos ágil • Mais ágil em inovação • Pesquisa em muitos cultivos • Pesquisa em cultivos rentáveis

• Isolamento na cadeia • Possibilidade de “venda casada” • Pouca associação no próprio sistema e

além dele • Fusões e incorporações

5.5 As Relações entre os Sistemas Público e Privado de P&D

Na opinião de grande parte dos entrevistados, as mudanças no contexto e no mercado de sementes estão modificando as relações entre os sistemas público e privado de P&D, e mesmo dentro do próprio sistema público. Essa percepção é claramente manifestada pelos entrevistados:

“...como essas variedades não tinham proteção, então o custo era baixo, de uma maneira tal que os produtores, sobretudo os grandes, .. não fossem estimulados a re-utilizar as sementes, o que vai acontecer agora; os custos das sementes vão ser bem mais altos, aí vai estimular as empresas que antes não estavam apostando nisso, vem ser um competidor, agora sim muito mais forte ... do sistema público, porque aí eles vão entrar para valer nesse mercado, e aí eles vão competir com aquelas vantagens que mencionei antes ...”

“O germoplasma hoje de qualquer cultura ele está preso porque, ele está preso dentro de duas linhas, do sistema público e dentro das multinacionais. Só que quem está no meio, fica perdido, não tem como abastecer de germoplasma.”

“Nós da Universidade, estamos preocupados com o que vai acontecer no futuro, a gente não sabe direito como vai ser nosso relacionamento com as multinacionais. Então vamos dizer o seguinte: Eu desenvolvo uma população de milho com alta tolerância à acidez, então se a Universidade de Goiânia me pede uma amostra dessa população... Se a Embrapa pedir... Se uma multinacional

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pedir, não é bem assim, nós vamos negociar, essa pesquisa custou dinheiro e eu tenho que conseguir dinheiro para reverter na pesquisa. É mais ou menos o que a Embrapa faz. Agora, e a Universidade como fica em relação à Embrapa. Se a Embrapa repassar alguma coisa como empresa, ela vai cobrar. E se a Universidade repassar alguma coisa para a Embrapa, como faz? Entra de graça ou cobra?... Porque não posso estabelecer uma regra geral, tudo que sair da Universidade para a Embrapa é tudo gratuito e de imediato, não pode ser assim. E vice versa. Esse direcionamento tem que ficar mais claro, não sei se é possível...”.

Enfim, os entrevistados referiram-se a novas formas de relacionamento, entre os setores público e privado de P&D, e desses com os produtores de sementes. No primeiro caso, embora a maioria dos entrevistados assumissem sempre a premissa da competição aumentada entre os dois setores, também admitem e sugerem o aumento de novos arranjos institucionais para a pesquisa, baseados na complementaridade de demandas.

Aparece bastante, também, nas entrevistas (ver Boxes 5.1, 5.2 e 5.3), a preocupação com a redefinição dos papéis entre os setores público e privado:

“Por exemplo, uma empresa privada não vai trabalhar com mandioca, não vai trabalhar com feijão de corda, não tem interesse para eles, e produtos que tem interesse localizado... Na Amazônia, tem juta, ...guaraná, dendê, são muitos localizados, aí cabe ao setor público...”

Embora tais comentários estejam presentes de forma dispersa nas entrevistas, pode-se perceber preocupações diferenciadas entre os grupos de entrevistados.

Para os especialistas das universidades e em recursos genéticos, o impacto das mudanças no contexto institucional e organizacional sobre o desempenho do SNPCS estará gerando restrições ao livre intercâmbio de germoplasma, em função da competição entre os sistemas público e privado de P&D; dificuldades para estabelecimento de parcerias para pesquisa em melhoramento genético, uma vez que “todos são competidores” e preferência, por parte das agências de financiamento de pesquisa, por projetos utilizando métodos biotecnológicos. Para esse grupo, há uma perplexidade sobre como será a orientação da pesquisa nesses novos tempos: como será o relacionamento com parceiros, tradicionalmente realizado dentro de um ambiente de abertura e acesso ilimitado à informação, que ocorre agora dentro de um contexto em que a competição é uma realidade, do ponto de vista desses atores? Até onde deve ir seu trabalho? Em que produtos devem concentrar-se?

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BBOOXX 55..11

Melhoramento genético na visão de especialista em milho A entrevista de um especialista em melhoramento genético de milho, do setor público, foi selecionada para representar a visão desse segmento. Esse especialista, como se verá, está especialmente preocupado com questões de interações entre e dentro dos setores público e privado de P&D, após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, e aponta várias estratégias que poderiam, a seu ver, ser de interesse do setor público, no novo ambiente criado pela Lei.

Inicialmente, o entrevistado destaca a importância da existência dos dois setores, mesmo no caso do milho – em que o setor privado domina 80% do mercado – e enfatiza as diferenças de visão e prioridades desses setores:

“...No caso do milho, especificamente, tem que levar em conta que 80% do mercado de sementes, querendo ou não, está no sistema privado. Então isso pode dar a noção de que o sistema público não interessa existir no país. Porque se você tem 80% do setor e você não trabalha nada para esses 80% e você trabalha com os outros 20%, isso pode dar a entender que não dá razão para existir.”

“... seja Universidades, Embrapa ou as empresas públicas, elas se dispõem a assumir coisas a longo prazo. A pesquisa privada, no máximo, de médio prazo. Então se você quiser ter grandes ganhos lá na frente, isso só vai acontecer se tiver uma pesquisa pública forte. Se estiver só na mão do setor privado, a coisa não vai andar. A questão de multidisciplinaridade... é a grande vantagem da pesquisa pública. Existe um grupo de pessoas que estão trabalhando a longo prazo e que não dá produtos imediatos. A empresa privada não tem isso. Ela está tentando assumir na medida que a pressão aumenta, por exemplo... Então isso vale para todos os aspectos da pesquisa privada... ela vai para a demanda de imediato. Ele não vai fazer nada de longo prazo, nada de interesse do país e nada de interesse social, que é outro ponto que deve ser considerado, obviamente o sistema privado é movido a lucro“... em todo o lugar do mundo, a pesquisa pública deve trabalhar primeiro para aqueles que não tem acesso ao setor privado. Então no caso de milho, especificamente, é um programa de variedades, um programa para pequena agricultura. Então, isso seria um dos componentes do sistema público.”.

Segundo o entrevistado, nesse novo ambiente ainda não estão claras as regras que regem (ou irão reger) as relações entre as diferentes organizações envolvidas. Essa falta de clareza nessas regras pode alterar fluxos de material e informação, entre essas organizações, tendo reflexos fortes sobre os programas de melhoramento genético:

“...essa questão do sistema do germoplasma público, a primeira coisa é a clareza. Definir qual o material que está no banco do germoplasma. ...Ele pode ser mandado a vontade e não tem nenhuma restrição, tem que ficar muito claro isso, porque hoje para as pesquisas que estão dentro da Embrapa, apesar de existir a legislação, não está claro o que você pode mandar e o que você não pode mandar e como pode fazer. ...O que a Embrapa fez historicamente em todas as culturas? Ela teve uma grande integração no livre fluxo do germoplasma entre essas instituições. Hoje com a questão de propriedade intelectual tem de ter um acordo na transferência de material. ... Basicamente, a chance de um programa de melhoramento de desenvolver material é ter base, ter teste, parceria e integração. Então toda essa mudança nesse fluxo de germoplasma, vai mudar o programa de melhoramento e vai mudar a percepção que essas pessoas tem da Embrapa.”

“Vou dar um exemplo, participei de um dia de campo.... com cerca de 1500 pessoas .... No caso do milho, nos últimos vinte anos, nós enviamos para empresas públicas e privadas 15000 amostras de variedades de híbridos de milho. Isso dá uma média de 800 amostras por ano, então quando a gente vai no dia de campo e vê aqueles milhos, aqueles germoplasma lá, 90% do que está ali, tem alguma coisa que partiu da Embrapa e que essas empresas utilizaram e aí vem o grande x da questão: a Embrapa não tem o crédito por isso. Então um ponto importante na questão da propriedade intelectual ... é questão do crédito. Você estando documentado é importante porque você sabe de onde veio, mas por outro lado, essas restrições vão impedir essa parceria...”.

“... então o que acontece com o arcabouço legal hoje? Se eu mando uma variedade que já está lançada e tal, não tenho nenhuma restrição legal, porque ela já está no comércio, se eu mando um material que não está comercial, existe uma série de restrições legais em cima disso, então com certeza, se não tiver uma maneira de ficar muito claro para os parceiros de como isso funciona, quais os direitos e obrigações, então qual a vantagem de interagir com a Embrapa?”

O entrevistado também enfatiza que as relações de empresas privadas nacionais ou de outras organizações de pesquisa (empresas estaduais e universidades) com a sua organização (Embrapa) são distintas. A diferença de

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objetivos e de autonomia em projetos de P&D, dessas empresas/organizações, leva a diferentes necessidades de regras e normas de interação:

“Tem uma série de empresas nacionais que dependem da gente, que não tem programa próprio de pesquisa, ..., são totalmente dependentes da Embrapa. Existem empresas que são parcialmente dependentes da Embrapa e que tem programa de pesquisa e existem empresas, que são as grandes multinacionais, que são completamente independentes da Embrapa... o sistema estadual de pesquisa é completamente dependente da Embrapa em termos de germoplasma e com essa lei de propriedade intelectual, a Embrapa vai matar a galinha de ovos de ouro dela”.

“Porque dentro da questão pública, tem instituições que vão chegar ao final das cultivares e tem instituições que não, elas estão só em P[pesquisa], não tem nenhum D[desenvolvimento]... as universidades vão receber material que nunca vai desenvolver um cultivar, não vai lançar nada, vão ser igual uma guardiã daquilo. Então as restrições disso aí podem ser muito menores do que uma [que vá desenvolver cultivares] e tudo mais”.

“A Embrapa tem que estabelecer muito bem o que ela quer, o crédito... Garantia que o trabalho seja reconhecido e segundo, garantia do livre acesso desse material, e para isso eles precisam de uma folha assinada. Uma ATM precisa ser assinada pela Embrapa, pelo Chefe da Unidade para mandar uma coisa que simplesmente em alguns casos a Embrapa precisa só do crédito. Não precisa da coisa jurídica, não precisa da coisa legal, não vai chegar a cultivar. Então, acho que isso está sendo tratado só em um saco só, tudo no contexto só. ... [Para] aqueles que dependem da Embrapa existe um outro ponto, como por exemplo, na avaliação de ensaios: é uma questão simplesmente de teste de material. Não está muito claro em termos de normas, das regras que estão aí e o que separa isso de uma utilização comercial ou de pesquisa...”

Finalmente, o entrevistado aponta para diversos caminhos para a estratégia de melhoramento genético no setor público, considerando a complementaridade de capacidades, nos setores público e privado, os produtos e processos que cada setor deve obter e dominar, e alternativas de relacionamento que permitam explorar bem todas essas dimensões:

“A capacidade final de geração de produtos do sistema privado, é infinitamente superior ao sistema público... e a parte mais cara da pesquisa, talvez não seja tanto a geração, mas é o que a gente chama de desenvolvimento de produto. Então cada vez mais, em todas as áreas, a Embrapa tem que achar uma maneira de fazer a pesquisa e deixar que a empresa privada faça o desenvolvimento do produto. Isto tem que estar contemplado no modelo e volto a insistir que a forma que está aí de propriedade intelectual inviabiliza completamente este tipo de parceria de pesquisa e desenvolvimento. Em termo de manipulação de germoplasma e em termos de gerar produtos novos, a capacidade do sistema público ou da Embrapa é infinitamente superior ao sistema privado. Isso aí não tenho menor dúvida. O que vai fazer diferença sai do sistema público”.

“Na questão de produtos, ...as variedades vão sair do sistema público. Existe alguma tendência de alguém do setor privado querer fazer isso, mas 99% no caso das variedades de milho, ou praticamente 100% dos produtos que são utilizados por pessoas ou grupos de baixo poder de aquisitivo, eles vão sair do sistema público. Então isso aí é a primeira coisa. Produto que venha de programa de longa duração, ele vai sair também do sistema público. No caso de gene por exemplo, produtos que só tem interesse para o país ou que seja produto de pesquisa local, vamos dizer: insuficiência de nutrientes, eu acho que aí é que está o nicho da pesquisa pública, não ficar competindo com Round Up porque os grupos de fora já viram isso.”

“... em termos de produtos acabados, a Embrapa deve ir ao híbrido ou não deve? Acho que deve, porque se ela não chegar na ponta final ela não reatroalimenta todo o sistema. Todo o sistema de germoplasma é uma pirâmide, germoplasma melhorado, germoplasma não melhorado, e no caso de alógamas, linhagens e depois os híbridos. Então você chega lá em cima e produz coisa de elite que volta para base e começa novamente todo o processo. .... Ela não pode sair fora da parte final. Ela tem que dominar todo o processo.”

“Para não ir, tem uma alternativa muito interessante: novas formas de relacionamento. Vou te dar um exemplo: o que ela tem feito no setor privado no caso de alógama, principalmente. Ela é quase o” paizão “: ela faz o germoplasma básico, o germoplasma melhorado, desenvolve linhagens, faz híbrido. E não é só fazer híbrido, fazer híbrido é fácil. O caro e difícil é o desenvolvimento, [a Embrapa] faz marketing e praticamente vende para a empresa. No fundo, se for olhar o sistema de pesquisa privado ligado à Embrapa, ele depende 90% da Embrapa. ...Tem que ter uma maneira [de tornar as empresas privadas menos dependentes]... [a Embrapa] vai lançar o primeiro híbrido simples... e então quando a Embrapa libera um híbrido simples para um cliente ..., deveria oficialmente liberar [os] parentais para quem quiser utilizar, desde que não fizessem aquela combinação. Isso é uma maneira de garantir que qualquer pessoa que estivesse utilizando esse germoplasma melhorado, esse germoplasma básico da Embrapa, ela faria isso por vias legais, não por vias ilegais.”

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As opiniões dos especialistas em frutas, hortaliças e culturas perenes refletiam preocupações decorrentes, principalmente, da provável especialização da pesquisa por ambiente (pesquisa pública em ambientes mais desfavoráveis – Nordeste, Norte) ou por espécie (pesquisa privada com espécies lucrativas, pesquisa pública com espécies de interesse social). Para os especialistas em grãos (soja, milho, trigo, arroz e feijão), as preocupações estão direcionadas para a crescente exigência de atributos de qualidade, nas cultivares lançadas, como fator de competitividade, e para a necessidade (do ponto de vista do produtor de sementes) de lançamento de maior número de cultivares melhoradas anualmente, apontando, inclusive, para novos arranjos institucionais entre os componentes do sistema, como, por exemplo, associações entre produtores de sementes e pesquisadores. Esse grupo demonstrou apreensão sobre a influência do contexto em relação ao mercado de sementes. As principais tendências apontadas, em função dessa preocupação, foram: o pouco uso de sementes melhoradas das culturas de subsistência, já que haveria um aumento do preço de sementes; grande poder econômico de transnacionais, derivado do controle dos componentes da cadeia produtiva a jusante e a montante dos sistemas produtivos e perda de competitividade das transnacionais pelo seu foco em transgênicos, o qual está sendo extremamente questionado pela opinião pública. Uma síntese das principais tendências e impactos dos eventos emergentes, sobre o SNPCS, acima descritas, é apresentada no Quadro 5.3

Do material analisado, transparece a clara percepção, dos atores entrevistados, com o momento de transição pelo qual passa atualmente o SNPCS. O grupo de entrevistados apresenta também uma preocupação evidente com os novos papéis reservados para a pesquisa pública. Embora reconheçam que a existência de um setor “hegemônico” de pesquisa – como menciona um dos entrevistados – seja fator de paralisação de espírito crítico e de visão sistêmica, prejudicando assim, ao final, a competitividade da agricultura brasileira, enfrentam uma situação que crêem levar vulnerabilidade ao agronegócio. Nessa concepção, o setor público de P&D aparece como necessário do ponto de vista estratégico, social e mesmo econômico.

Do ponto de vista tanto do sistema público como do sistema privado de P&D, no Brasil, entender melhor o que está ocorrendo com o sistema, assim como compreender a dinâmica das variáveis que determinam seu comportamento, atualmente e no futuro, é questão essencial para o estabelecimento de estratégias corretas para a P&D.

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Quadro 5.3. Impactos dos eventos emergentes sobre o SNPCS, na visão dos entrevistados Impacto Formas do impacto

Efeitos sobre germoplasma

• Erosão genética em bancos de germoplasma, pelo acúmulo de amostras e deficiências de manutenção (no sistema público);

• Fluxo lento de germoplasma, no sistema público, vs fluxo rápido no setor privado;

• Ênfase em coleta e conservação de germoplasma, e não em caracterização;

• Restrição, na prática, ao livre intercâmbio de germoplasma.

Novos produtos • Banco de caracteres; • Genes; • Componentes químicos, em espécies medicinais.

Novas exigências para competitividade

• Exigência crescente de atributos de qualidade, nas cultivares lançadas, como fator de competitividade;

• Preocupação com agregação de qualidade à cultivar (por exemplo, alto teor de fibra, propriedades terapêuticas).

Arranjos institucionais entre os componentes do sistema

• Dificuldades para estabelecimento de parcerias para pesquisa em melhoramento genético (todos são competidores);

• Associação entre pesquisa pública e empresas privadas (Fundações, convênio Monsanto);

• Associações entre produtores de sementes e pesquisadores.

Tendências no mercado de sementes

• Culturas de subsistência: pouco uso de sementes melhoradas (por exemplo, feijão, uso de apenas 10% de sementes melhoradas);

• Existência de venda casada (especialmente milho e soja); • Grande poder econômico de transnacionais derivado do controle dos

componentes da cadeia produtiva a jusante e a montante dos sistemas produtivos;

• Necessidade de trabalho regional para sucesso comercial (produtores de sementes de milho);

• Perda de competitividade das transnacionais pelo seu foco em transgênicos;

• Necessidade (do ponto de vista do produtor de sementes) de lançamento de maior número de cultivares melhoradas de milho, soja, feijão, anualmente;

• Separação entre mercados e sistemas de P&D; • Concentração levando a aumento de preços da semente; • Vulnerabilidade das CPs brasileiras às decisões de transnacionais (pelo

controle dessas a montante e a jusante dos SPs); • No caso de hortícolas, empresas pequenas trabalhando em nichos

expressivos.

Papéis dos setores público e privado

• Especialização da pesquisa por ambiente (pesquisa pública em ambientes mais desfavoráveis – Nordeste, Norte).

Financiamento da pesquisa em melhoramento

• Preferência por projetos utilizando métodos biotecnológicos, por parte de agências de financiamento de pesquisa.

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Melhoramento genético de hortaliças Nesse Box são apresentadas as principais observações de dois melhoristas do segmento de melhoramento genético de hortaliças, um deles com atuação no setor público, o outro com experiência no setor privado. Os entrevistados descrevem assim os setores público e privado de melhoramento genético de hortaliças, no Brasil:

“O sistema privado [de melhoramento genético] hoje está basicamente na SAKATA e na SVS. O sistema público de melhoramento de espécies por sementes elas estão na Embrapa, em algumas universidades: Jaboticabal, ... Botucatu tem um programa forte e IAC ainda mantém alguma coisa e o que mais, acho que só.”

Em relação aos esforços de melhoramento genético de hortaliças, pelos setores público e privado de P&D, os seguintes comentários foram registrados:

“...hoje, se nós considerarmos o esforço de melhoramento feito pela iniciativa pública versus o feito pela iniciativa privada, é bem provável do sistema público estar mais forte que o sistema privado. Por que? Hoje nós temos, basicamente, duas empresas fazendo melhoramento genético de hortaliças no Brasil: A SVS (que comprou a ASGROW e a HORTICERES), mas vários melhoristas já deixaram essa empresa ... [e] a SAKATA, que é a antiga AGROFLORA ...As empresas nacionais e capitais nacionais, digamos assim, elas não tem esforço de melhoramento, portanto, se nós somarmos os esforços que a Embrapa e a Universidade estão fazendo ...versus o que a SVS e a SAKATA estão fazendo, a SVS ela só faz melhoramento um pouquinho na HORTICERES, já que o componente que era da ASGROW eles tinham um programa muito pequeno de melhoramento e o melhorista principal deles saiu..”

“...no caso específico de batata, nós temos o desenvolvimento externo de cultivares. A produção de batata semente pode ser feita no Brasil. E muitas delas são. ... nós temos essa dependência já de décadas, talvez sessenta, setenta, oitenta anos, de nós comprarmos boa parte das cultivares [de batata] que nós utilizamos no Brasil no exterior. Agora, nós temos caso de sucesso também... no Rio Grande do Sul nós temos mais ou menos 35 mil hectares de uma cultivar desenvolvida no Brasil chamada “Baronesa” e ela criou um conceito de qualidade associado com a película rosa na batata, diferente dos outros casos no Brasil. Então, com isso, nós temos um caso de sucesso, porque não são muitas cultivares no mundo que tem 35 mil hectares dessa cultivar em produção...[Quanto á participação de cultivares de batata nacionais, no agronegócio] eu estimaria que isso não passa de vinte cinco por cento ..., [de] 90% [no caso da cebola e da cenoura”.

O esforço do setor público, em melhoramento genético de hortaliças, apesar de muito promissor em algumas áreas, tem se ressentido de reduções em sua abrangência, devido em parte a alterações na capacidade de financiamento do Estado:

“...em 1981, um [pesquisador da] Embrapa fez um levantamento sobre os programas de melhoramentos de cebola. A cebola é uma cultura que... movimenta por ano mais de um bilhão de dólares, é uma cultura de agricultura familiar; só entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são trinta mil famílias envolvidas com essa cultura, com três, quatro membros, são 120 mil pessoas envolvidas com a cultura; ... em 81, quando a Embrapa fez este levantamento ... tinha oito programas públicos, dois privados e doze melhoristas dedicados exclusivamente a estes programas. Eu fiz um levantamento similar ...e fiquei boquiaberto ao ver que hoje não tem nenhum programa atuando efetivamente como um programa exclusivo de melhoramento de cebola e ... nenhum melhorista trabalhando com cebola: todos os programas que existiam há quase 20 atrás praticamente foram descontinuados”.

Em relação ao sub-sistema de coleta e conservação de germoplasma, nos setores público e privado de P&D, os melhoristas entrevistados apontam que:

“O sistema público de coleta e conservação de germoplasma ... a meu ver, não atende de forma plena. ... na Embrapa, essas curadorias ... não funcionam. Por que não funcionam? ... porque ele partiu de um conceito errôneo de que o curador deveria ficar no Cenargen. O curador tem que estar onde a coleção está. ... do ponto de vista de conservação [se tem] muita coisa guardada em câmaras, mas não estão relacionando, a Embrapa nem sabe que existe e boa parte deles não estão caracterizados. ... as pessoas acham que o germoplasma é dela (eu coletei) e na verdade é um germoplasma institucional, não é de ninguém, é da instituição e eventualmente do país. Outros também tem e nós não sabemos o que tem. Ou porque eles não participam de projetos [com a organização do entrevistado]..., ou porque eles não sabem que eles têm. Então, para mim, mereceria uma análise do que [se quer] com esse germoplasma. ...O germoplasma [está sendo guardado] para que? ... Então, eu vou fazer o serviço rotineiro, duro, que tem pouco retorno do ponto de vista de satisfação pessoal. E [depois] eu entrego isso fácil para

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a iniciativa privada e aí eles usam ... e privatizam o germoplasma e inclusive a informação. Acho que isso é um ponto para se discutir nessa discussão toda.”

“...a SVS coletou muito no Brasil, não sei se está no Brasil. A HORTICERES tinha, sempre teve,...um bom germoplasma, tenho a impressão que até coleta eles chegaram a fazer do ponto de vista de cebola, cenoura...A SAKATA, antes de ser SAKATA, a AGROFLORA era uma empresa genuinamente nacional ... e eles tiveram acesso a praticamente todo o germoplasma que uma empresa... poderia ter, pegando germoplasma da ESALQ, pegando germoplasma do IAC, pegaram germoplasma da Embrapa e coletaram muito germoplasma e posteriormente, a SAKATA comprou a um preço muito baixo o melhor germoplasma de hortaliças tropicais do mundo.”

Tanto no setor privado como no público, os entrevistados visualizam maiores dificuldades de intercâmbio, após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, como se vê a seguir:

“Do ponto de vista privado no Brasil nós não temos melhoramento de batata, mas as empresas privadas que representam as cultivares européias que eu poderia colocar entre aspas como sistema privado de conservação de germoplasma, esses não repassam os cultivares. Então, hoje nós estamos adquirindo cultivares de batata, sim. Na base da amizade. ... as restrições ao acesso ao germoplasma privado de batata estão aumentando muito. O Centro Internacional de Batata tem nos fornecido germoplasma, nós já tivemos o problema de mais de um ano de não receber, por questão de nós não aceitarmos os termos do Material Transfer Agreement, mas hoje eles nos mandam. .. Mas eles também já tem restrições daqueles materiais comerciais que os países colocam na coleção deles, com a cláusula de não repassarem para terceiros países sem antes ter a autorização do país obtentor. Isso para cultivares comerciais mais novos ou protegidos dos países de origem.”

“...eu acho que a Embrapa criou ou tem em andamento normas que regem a disponibilização de germoplasma que de certa forma auto protegem os grupos de pesquisadores da Embrapa que manipulam com o germoplasma, mas que de outro lado já impedem um pouco o intercâmbio como havia antigamente... na verdade no passado este intercâmbio ... existia quase que uma como uma mão única: o setor público sempre dava para a iniciativa privada e a iniciativa privada nunca dava para o setor privado, ou o setor público captava na iniciativa privada através de compra de germoplasma no mercado ou coleta de germoplasma sem nenhum tipo de acordo sobre o uso, utilização em seus programas de melhoramento... Hoje a grande mudança é que o setor público também está tentando se proteger ... eu acho que a complexidade criada por essas leis, por esses mecanismos todos vai levar de forma ... a um impasse sobre o ponto de vista do uso livre de germoplasma para os novos desenvolvimentos”

“...as empresas multinacionais em geral elas ... estão buscando desesperadamente por novos materiais do terceiro mundo nos países que ainda tem programa de melhoramento de hortaliças; [as empresas multinacionais] coletam esses materiais e fazem coleções locais e remetem copias das coleções para outras bases que são todas Empresas globais e com isso transferem material e genes com características importantes para outras regiões de clima semelhantes; no caso no Brasil,muitas empresas multinacionais que estão aqui hoje, ... tem base também na Ásia, na Índia na Tailândia.... Então essa remessa de germoplasma ela é livre e... as vezes burla as normas existentes no país de transferência de material e de recebimento ...”

A busca por material novo é tão intensa que pode levar inclusive a práticas ilegais, como relata um dos entrevistados:

“...o oposto é o normal: uma empresa [privada] pede e quer já receber e quando não recebe acha ruim, ... e normalmente ela consegue, através de algum tipo de acordo ... ou no próprio mercado. Quando as vezes tem dificuldade de conseguir por via normal, ela vai ao mercado e compra o material e se beneficia daquilo que ela está querendo; ou como já aconteceu (ainda acho que acontece)e a empresa pública lança o material, [a empresa privada] ... adquire o material, coloca na linha de produção, muda o nome e já entra imediatamente com esse produto no mercado com outro nome”

O movimento de fusões e aquisições, bem como a concentração no mercado de sementes recebem os seguintes comentários:

“...é curioso dizer que as empresas globais hoje, como a ... que congrega seis grandes marcas de sementes de hortaliças no mundo, havia uma até uma certa concorrência entre marcas, porque antes de ocorrer fusão elas eram concorrentes, então as tentativas de fusão entre culturas que foram implementadas ... nunca funcionou muito bem e então fica travado esse sistema internamente e o melhorista de uma coligada tem dificuldade de transferir um germoplasma para uma outra num pais ou entre países...”

“...é [provável] que continue havendo essa concentração, mas ao mesmo tempo o que a gente percebe aqui ... talvez como uma luzinha lá no fundo do túnel é que algumas empresas pequenas [estão] atuando em nichos expressivos de mercado, as empresas estão é conseguindo sobreviver e tendo uma grande oportunidade de atuar

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no mercado junto aos grandes grupos que concentram grandes empresas, o que de certa forma elimina a concorrência ...

Em relação às novas técnicas derivadas da biotecnologia, os entrevistados apontam que:

“Os avanços [em] melhoramento genético usando a biotecnologia... eu separaria em duas partes. A parte de marcadores... nós temos mais acesso que o sistema privado tem. ... Mas na parte de coisas patenteáveis é o contrário. ... Tudo aquilo que tiver relacionado com transgenia, vai cair para o sistema privado, ele vai ficar cada vez mais forte. Tudo aquilo que tiver relacionado com marcadores moleculares, uso, enfim, no melhoramento para que ele fique mais ágil, eu acho que no Brasil a tendência é o sistema público ter maior capacidade em fazer”.

“[Há] dificuldade, hoje, ... de introduzirmos algumas técnicas, porque nós não tivemos a criação de competência ... em marcadores moleculares. Agora, do ponto de vista de procedimentos estamos utilizando basicamente o que os demais sistemas públicos de melhoramento do mundo estão usando.”

Ainda relacionado com o aspecto de competências do pesquisador em melhoramento genético, para enfrentar um novo ambiente de competição, observaram que há necessidade de obtenção de conhecimentos, de habilidades e de atitudes sobre demandas do mercado e sua importância, para a formulação e execução correta de programas de melhoramento:

“...o que eu observo no pesquisador [no setor público] é que falta a visão do mercado, o pesquisador continua falando muito, eu quero que o tomate seja assim, minha visão é que a cebola seja assim, enquanto que a empresa privada não pensa assim, a empresa privada em programa de melhoramento ... norteado pela mercado e o feed back disso vem de homens de campo que estão monitorando as culturas, vem das reuniões internas onde os melhoristas participam ativamente com o pessoal de campo que recolhem todas essas informações e que alimentam o sistema de melhoramento e que dá este dinamismo voltado para o mercado. ...”

“os melhoristas novos .. estão chegando ... altamente treinados dentro das novas estratégias biotecnológicas, todo mundo só fala em marcadores etc... e tal.. proteômicas genômicas etc. e tal. mas exatamente nesta parte que é necessário ter um conhecimento maior de mercado de produto e perfil de produto, das inter-relações hoje que existem entre o que o mercado quer e o que o pesquisador pretende atender existe um distanciamento talvez porque o pesquisador público ele tem a dificuldade hoje, em vista de problemas orçamentários, de estar mais junto ao produtor...”

Os entrevistados analisaram também, o que poderia ser interessante como estratégia para os setores públicos de melhoramento genético no Brasil. Para realizar sua análise, lançam mão da experiência conhecida de outros países, que já enfrentaram o dilema entre privatização ou manutenção de capacidade estatal, no setor de P&D em melhoramento genético:

“...[no caso da batata], o melhoramento foi privatizado muito mais na Europa do que nos Estados Unidos e Canadá. EUA é o país mais capitalista do mundo, e até hoje, [tem] programa de melhoramento privado de batata, o resto é tudo, público. ...A Holanda desmanchou o programa público de melhoramento de batata e passou para todas as empresas. ... eles só fazem em empresas, porque lá eles estão interessados em vender batata semente e para ter batata semente tem que ter cultivar. Então, não é questão de ter cultivar por ter cultivar, é para o sistema onde está atrelado a exportação de batata semente. Exportação para o Brasil, para América Central, para Ásia, para África, etc. Então, nos EUA é o contrário, a parte pública continua sendo a parte mais forte, no Canadá a mesma coisa, o Chile a mesma coisa, na Argentina a mesma coisa, no Japão, a mesma coisa, na Polônia ainda a mesma coisa. ....Então, esses países que são tradicionais exportadores de batatas para nós, a Suécia, a Alemanha e a Holanda, esses sim, privatizaram fortemente os produtos de batata.”

“...Mas de certa forma nós estamos perdendo muito em nós não integrarmos o sistema público de melhoramento e onde nós poderíamos fazer cultivares como no EUA são feitas. Por exemplo: vários Estados se unem, ...e eles liberam cultivares regionais. Para mim, no Brasil nós vamos ter cultivares não regionais, ... para mim é impensável que o Instituto Agronômico de Campinas tenha um programa de melhoramento de batata em São Paulo, a EPAGRI tem um para Santa Catarina, o IAPAR para o Paraná. Eu acho que, se eles querem contribuir tem que ser quase que um programa nacional de melhoramento genético de batata...

“Mas nós temos condição de ser um grande exportador de cultivares de batata. ... temos condições ambientais, temos capacidade intelectual instalada, nós temos melhoristas na universidade, [na} Embrapa, [nas] empresas estaduais, ... se colocássemos todo mundo trabalhando de forma conjunta poderíamos aumentar o número de clones avaliados, etc. ... Se aliássemos ...o sistema público brasileiro com o sistema público chileno,por exemplo ...daqui a dez anos ... teríamos o sistema público de melhoramento genético com muito mais força na parte de hortícolas/sementes. “

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BBOOXX 55..33 A Visão de Especialistas em Frutícolas

Dois entrevistados eram especialistas em frutícolas, do setor público. Uma primeira consideração desses entrevistados, diz respeito ao ambiente de competição entre os setores público e privado de P&D . O comentário abaixo mostra que esse ambiente sempre existiu, e que a Lei de Proteção de Cultivares pode ter servido para dificultar algumas práticas do passado:

“...nós no Brasil ... sempre trabalhamos pensando nas variedades, pensando em ajudar os agricultores. Só que ao fazer isso, você não ajuda os agricultores, você vai ajudar as empresas no setor privado, e vou dar um exemplo: ... a Embrapa fez uma variedade de melão, ... fez um grande evento e entregou para todo mundo. [A variedade era] resistente a vírus; nenhuma empresa de sementes de melão tinha resistência a vírus, em pouco tempo todas elas apareceram com melão resistente a vírus, com nomes ...interessantes; olha, se você fizer um [teste] vai ver que veio tudo [da variedade pública], alguns dizem abertamente ... e não fizeram nada de errado, porque está lá nas prateleiras de domínio público”.

Uma das conseqüências potenciais da Lei de Proteção de Cultivares, o aumento de preço de sementes, teve os seguintes comentários desses especialistas:

“eu acredito agora [que] com a lei de proteção ela está exercitada plenamente a tendência de aumentar o custo de sementes, porque estando protegido eles vão aumentar a margem de lucro seguramente.”

“...veja só, na hora que deixar o sistema privado exclusivamente sem controle (não o controle de governo [e sim] controle por leis de mercado, se não tiver concorrência para o setor privado, ... ele vai subir o preço das coisas, vai colocar o preço que ele quer. Vou dar um exemplo ... concreto: ... um quilo de melancia sem sementes no Brasil [custa hoje] três mil e quinhentos a cinco mil reais; ... ora, ... em um hectare, você vai gastar ai mil e duzentos reais em dinheiro de semente, um hectare de melancia vai ter que ter dois mil reais de receita bruta, você vai gastar mil e duzentos só na semente, desestimula você [desde] logo ..., e pelos estudos que estou fazendo no meu trabalho, ... essa parte [a margem] pode ser muitas ... vezes menor, o camarada vende pelo preço que ele quer...”

Não se acredita, por outro lado, que esse aumento será homogêneo para todas as espécies:

“É claro que isso vai ser basicamente em cima das variedades tipo soja, arroz, trigo. Das hortícolas não saberia dizer... No caso das perenes, não vai afetar não, não vai ter custo adicional não, porque no caso das culturas perenes, primeiro por que elas não estão protegidas. A primeira perene deve ser café, talvez passa por maçã, até chegar nas tropicais... talvez cacau, ... em nenhuma dessas, ... são programas de longo prazo, no momento que criou a proteção, a empresa pública vai estar no direito de proteger seu germoplasma, e as empresas privadas não tem germoplasma de perene; para montar isso aí, vai ser difícil, a não ser que eles trabalhem em parceria, alguma empresa privada que entra no melhoramento, mas fortemente na perene, se entrar, que não acredito, vai ter que entrar seguramente em parceria, exatamente para utilizar o germoplasma que não tem...”

Foi destacada a importância da definição de estratégias, para programas de melhoramento público, mais do que a questão de processos técnicos (biotecnologia versus melhoramento convencional):

“Olha, em melhoramento não tem muito segredo técnico, a questão é a estratégia... estratégia em cima do germoplasma que dispõe, do objetivo e do tempo que dispõe para chegar lá, esse sistema vai depender muito da espécie, é multivariado.”

Ainda assim, o entrevistado acredita que a biotecnologia é realmente um fator que pode alterar as estratégias dos setores público e privado e as suas relações:

“Agora, o fato novo são as chamadas técnicas de biotecnologia, esse aí que é um fato novo, pois você vai depender de alguns outros aspectos, aí você precisa de material que já tá patenteado, aí você vai começar a depender de patentes de genes...[você pode patentear o seu gene], mas ... no sistema de transferência, padrão que se utiliza mais, os vetores de transferência são necessários, já estão lá, é melhor você usar e pagar do que ... tentar desenvolver tudo de novo.”

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Sobre a questão dos transgênicos, considera-se como uma técnica importante, mas que não resolverá, sozinha, a questão do melhoramento genético. Além disso, a polêmica sobre transgênicos envolve interesses nem sempre claros:

“Acontece que fazer a planta transgênica é uma parte só, a outra é colocar no campo e avaliar, quando chegar a hora de colocar no campo e avaliar, cadê o germoplasma adaptado?”

“é uma técnica poderossíma, importantíssima, vai dar muitas contribuições, apesar de muitas bobagem que se diz contra, mas não vai resolver nada sozinho, é um instrumento para análise... [Tem] o grupo dos prós e dos contras. E prós são aqueles que estão ganhando com isso, e aqueles que conhecem e sabem da importância. Dos contras são aqueles que não sabem nada, e aqueles que sabem muito e estão fora do negócio, por isso dá um jeito de ...... Porque esses sistemas aqui, as próprias empresas, nem todas estão utilizando o sistema, usam o sistema convencional [de melhoramento genético]. ..... Não são todas as empresas de sementes que tem produtos transgênicos ou produtos com biotecnologia... Se começaram a fazem propaganda e eles perderem, vão dar um jeito de boicotar. É guerra entre eles...”

A competição entre as empresas privadas é compensada, por outro lado, por um movimento de fusões e incorporações que permite redução de custos e concentra o foco do setor privado, em oposição à uma pulverização de esforços no setor privado.

Quanto a produtos e processos, e os impactos que os eventos emergentes no ambiente externo podem ter sobre eles, um dos entrevistados acredita que haverá impactos, embora não esteja seguro sobre qual a sua direção. O entrevistado também aponta para dificuldades em transformar o processo de produção de variedades:

“eu acho que deve ir mais a frente, nem que seja como parceria nos “royalties”, mas a gente não pode parar aqui [nas sementes básicas] e entregar... se você ficar nesse básico aqui, primeiro você não vai conseguir que alguém pague de uma vez só um volume alto de recursos por aquilo que você obteve, ninguém vai pagar isto, não é? ... Atualmente nós temos dois processos [P&D e produção de mudas e sementes], nós temos produção de nossas variedades, ele não é protegida, nós tentamos fazer, fizemos licitação para tentar incubar, para tentar sair disso, recebendo “royalties”, aí começa os programas legais que é ..... mais de um ano e não diz como é que faz...[Outra dificuldade é que] lá na minha região a [empresa do entrevistado] tem um nome muito poderoso, então a muda só interessa se for da [empresa do entrevistado]. Agente diz que tem produtores tais e tais, mas não interessa... ”

Finalmente, apontaram-se diversos problemas para que os sistemas públicos se adaptem a um ambiente de propriedade intelectual e segredo industrial:

a) Dependência de pessoal externo: “É um trabalho difícil, porque é com bolsista, ...trabalhamos muito com bolsista ...como nós estamos em processos industriais,... que supostamente tem algum segredo, e [é] um entra e sai toda hora, porque a gente precisa deles...

b) Avaliação de projetos de pesquisa por pessoal externo: “[A sociedade deveria ajudar a] definir para onde ir. Agora o projeto ..... quando entra um cara para dizer que a metodologia é boa ou ruim, tudo mundo as vezes .... se você tá querendo uma coisa nova, você vai entregar para o cara que é de fora? E aí, como faz isso?”

c) Falta de orientação sobre cooperação técnica, no novo ambiente: “Esses caras [pesquisadores de países que competem com o Brasil] vem constantemente, recebemos nesses três anos vários, ... vem acordo de sei lá, eles chegam lá, como eu falei, gera sempre uma relação que deixa a gente sempre sem saber como comportar... mas eu tentei, por exemplo, nunca foi ninguém nosso para a Índia. Olha, tem 26 anos já que já trabalho com [espécie], nunca fui lá, na Índia, fui em Moçambique para outras coisas, para trabalho não... tem que ter autorização do Ministro sei lá das quantas, ou seja, quem autoriza qualquer pessoa lá é o Ministro, aqui qualquer pessoa autoriza, vai lá e entra e acabou-se, a diferença taí.”

d) Fiscalização de uso de produtos e serviços: “a questão é: como controla isso? Como se controla essa venda, se o caro vendeu e não disse para nós, como a gente vai saber, porque a sistema de burla fiscal aqui no Brasil é tão grande, que ... ele pode dizer que vendeu um aparelho desses e dizer que vendeu outro, onde não tem obrigação de pagar “royalties”. Esse setor aqui, confesso é muito complexo, porque na [empresa do entrevistado] não tem nenhum profissional e até é difícil você contratar um profissional para ensinar para nós, porque esse profissional ganha até dez mais lá fora”.

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Capítulo 6 Mudanças recentes na produção de cultivares e sementes: indicadores secundários

Vários autores (Carvalho, 1992, 1996, 1997; Velho, 1992; Wetzel, 1999; Uitdewillingen, 1999; Lopes,2001; Nodari, 2001; e Wilkinson e Castelli, 2000) têm apontado os impactos potenciais da lei de proteção de cultivares (e da concentração no mercado de sementes) sobre os diversos componentes do SNPCS. Dentre os possíveis impactos destacam-se:

Para o setor de P&D em melhoramento genético:

• Possível aumento do investimento em P&D, pelo retorno garantido aos obtentores de cultivares;

• Maior interação entre empresas para obtenção de licenciamentos cruzados;

• Novos arranjos institucionais para a produção de cultivares entre empresas públicas e transnacionais;

• Estreitamento da base genética, pelo foco em lucro (característico do setor privado);

• Competência de P&D em melhoramento genético controlada por transnacionais;

• Redução da circulação de germoplasma;

• Controle do intercâmbio de conhecimento, resultados de pesquisa e germoplasma;

• Prioridade no melhoramento genético para espécies de plantas com maior potencial de retorno econômico;

Para o setor de produção de sementes melhoradas:

• Aumentos dos custos das sementes básicas ;

• Saída do mercado de empresas nacionais produtoras de sementes;

• Diminuição/estagnação da produção de sementes melhoradas de cultivares públicos detida por capital brasileiro;

• Redução da produção nacional de sementes.

Para os sistemas produtivos agrícolas:

• Aumentos nos preços da semente melhorada;

• Mercado informal mais dependente da indústria de sementes ou limitado a uma base genética obsoleta;

• Aumento do volume de uso de sementes próprias.

Este capítulo focaliza o setor de produção de sementes brasileiro, procurando descrever, por meio de vários indicadores secundários, a situação desse setor no Brasil, no ano em que se concluiu o

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diagnóstico, base para o estudo do futuro do setor . Também se procura analisar o comportamento desses vários indicadores, em busca de evidências de alterações provocadas pela promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997.

A produção de cultivares e sementes segue a seguinte lógica no Brasil: inicialmente, o setor de P&D público e privado disponibiliza novas cultivares, por meio de sementes básicas, ao setor de produção e comercialização de sementes comerciais. Esse setor multiplica as sementes básicas, conforme especificações do setor de P&D, gerando sementes comerciais, que servirão de insumo para os diversos sistemas produtivos do agronegócio. No caso de sistemas produtivos de grãos (arroz, feijão, soja, milho, etc.), esses sistemas produtivos também vão produzir e comercializar sementes (grãos) aos seus consumidores. Esse capítulo segue uma lógica análoga à descrita: inicialmente, a primeira parte descreve e discute alguns indicadores selecionados, referentes ao setor de P&D, responsável pela produção de sementes básicas. Em seguida, análise similar é feita, com relação a indicadores do setor de produção e comercialização de sementes (comerciais).

6.1 O Setor de produção de cultivares, no Brasil: empresas e capacidades

Até a década de noventa, o Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS) funcionou em ambiente marcado pela estabilidade. Até então, a pesquisa agrícola era considerada como um bem público, que beneficiava a sociedade em geral e não gerava recursos para a entidade criadora da nova tecnologia (Pessoa & Bonelli, 1997). Não havia, portanto, nenhuma lei que restringisse ou incentivasse a realização de pesquisa. Nessa situação, havia um predomínio da pesquisa agropecuária pública – com poucas empresas privadas atuando no País.

Até essa época, pode-se dizer que havia muita confiança de que os recursos públicos para a pesquisa, oriundos principalmente do Tesouro Nacional, se não eram ilimitados, apresentavam-se em quantidade suficiente para garantir tranqüilidade às empresas públicas de pesquisa. Não havia questionamentos sobre o papel do Estado, em relação ao setor privado, e era praticamente inexistente a competição pelos recursos destinados à pesquisa agropecuária.

Do ponto de vista tecnológico, também se trabalhava dentro do paradigma bem estabelecido do chamado melhoramento genético convencional, com suas ferramentas derivadas da genética quantitativa (especialmente seleção e cruzamentos).

A promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, e os avanços oriundos da biotecnologia, a partir da década de noventa, modificam sensivelmente o ambiente institucional de empresas produtoras de cultivares e sementes, induzindo alterações, até o momento não totalmente definidas, nos papéis desempenhados pelos setores público e privado de P&D, e a divisão de trabalho entre os dois setores.

Essa seção descreve a situação das empresas produtoras de cultivares, em 2001, nos setores público e privado. Também será descrita a capacidade em biotecnologia voltada ao agronegócio,

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naquele ano, na pressuposição de que a competência em processos mais avançados (biotecnológicos), é um indicador da capacidade do país, em produção de cultivares.

6.1.1. A capacidade brasileira em biotecnologia voltada para o agronegócio

Em 2001, por solicitação do Ministério da Ciência e Tecnologia, a Fundação Biominas realizou estudo sobre o Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia (Fundação Biominas, 2001). Esse levantamento identificou 304 empresas que atuavam na área, no Brasil, naquele ano. Desse total, 74 empresas privadas se dedicavam à saúde humana e 37, ao agronegócio (melhoramento de plantas, transgênicos, produtos florestais, plantas ornamentais e medicinais, bioinseticidas; biofertilizantes, inoculantes, flores). Dois segmentos também importantes (e relacionados ao agronegócio), identificados pelo estudo, são compostos por multinacionais e organizações públicas (66 empresas) e por fornecedores de equipamentos, insumos e suprimentos necessários à pesquisa biotecnológica (51 empresas).

Essas empresas e organizações estão localizadas na região Sudeste (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro), com 81% delas atuando nessa região, seguidas pelas empresas (9%) que atuam na região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). As empresas restantes se localizam na região Centro-Oeste (Brasília, Goiás e Mato Grosso do Sul, com 5% das empresas) e Norte-Nordeste (Pernambuco, Bahia, Paraíba e Belém, com 3%). Uma pequena parte das empresas não possuía informação completa sobre sua localização (2%).

A Tabela 6.1 apresenta o total dessas empresas, por segmento de mercado (isto é, ramo de negócio a que se dedicam, conforme a categorização adotada pelo estudo da Fundação Biominas), e também o percentual de empresas, por segmento e por Estado. Estão destacadas, na tabela, os segmentos de “agronegócio” e “ multinacionais, públicas, fármacos, agro”, por serem os segmentos provavelmente mais relacionados ao agronegócio, foco do presente livro.

Cerca de 92% das empresas de biotecnologia no setor de agronegócio estão localizadas nos cinco Estados considerados na Tabela 6.1, sendo que São Paulo e Minas Gerais têm a maior concentração dessas empresas. São Paulo também é o Estado com maior concentração de empresas no segmento “multinacionais, públicas, fármacos, agro”, o outro segmento onde é possível encontrar empresas dedicadas à produção de cultivares.

Esse mesmo estudo, em entrevistas realizadas junto a 50 empresas de biotecnologia – incluindo-se nessa amostra 12 empresas ligadas ao agronegócio e, dessas, pelo menos cinco ligadas a melhoramento genético de espécies vegetais (Embrapa Milho e Sorgo, Milenia, Monsanto, Proclone e Syngenta Seeds) investigou as atividades das empresas, sua capacidade, em termos de recursos humanos, de cooperação e de captação de recursos, e diversos aspectos do ambiente institucional que podem representar limitações ao seu desempenho.

A partir de survey junto às 304 empresas iniciais, e das entrevistas com a amostra mencionada, o estudo conclui que:

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“...em sua diversidade, o parque nacional de empresas de Biotecnologia está, em geral, apto do ponto de vista tecnológico e empresarial e fortemente inclinado a investir no momento atual e nos próximos anos em seu crescimento e fortalecimento empresarial. ... São indicadores quantificáveis ou qualificáveis desta conclusão:

Tabela 6.1. Total de empresas em biotecnologia, por segmento de mercado, e percentual por segmento, nos cinco Estados mais importantes

Percentual por segmento, por Estado Segmento de mercado

Total deempresas SP MG RJ PR DF

Saúde humana 74 28 49 16 5 0 Saúde humana,animal e vegetal 14 37 45 0 0 14 Saúde animal 14 18 38 0 7 0 Agronegócio 37 35 22 8 13 14 Meio ambiente 14 14 64 14 0 7 Instrumental complementar 11 47 4 0 9 9

Química fina/ enzimas 18 29 2 0 5 0

Biomateriais, biomedicina 15 13 59 7 0 0 Fornecedores 51 76 14 2 2 0 Multinacionais,públicas,fármacos, agro 66 53 11 14 5 2

(Fonte: Fundação Biominas, 2001, adaptado)

“A observável capacidade de geração, absorção, adaptação e transformação de tecnologias transferidas e/ou adquirida: 90% das empresas...possuem P&D internalizado, 93% busca sistematicamente fontes externas de conhecimento e inovação, 30% obteve ou busca patente e... [há] quase uma patente por empresa, no grupo observado...”

“...Quase 100% das empresas ...possuem abertura e tradição em cooperação tecnológica, ...possuindo vínculos, relações e intercâmbios com dezenas de universidades e centros de pesquisa nacionais e internacionais...”

“[O] parque nacional é capaz de gerar...riqueza...estima-se...que seu faturamento varie entre 5,4 e 9 bilhões de reais...correspondendo ...a 0,9 a 1,5% do PIB brasileiro...[gerando} 27.824 postos de trabalho.”

É interessante observar, também, que em relação ao aspecto específico de competências dos recursos humanos em biotecnologia, as empresas entrevistadas mencionaram apenas a área de nanotecnologia como apresentando deficiência, nesse aspecto.

A seguir, será descrita a situação de instituições-chave do setor de produção de cultivares, no Brasil, em 2001. As empresas selecionadas fazem parte do parque nacional de empresas de biotecnologia, que acaba de ser descrito.

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6.1.2. Empresas produtoras de cultivares

Em 2001, o mercado de produção de cultivares – isto é, de empresas que desenvolvem sementes básicas, por meio de pesquisa & desenvolvimento – possuía as seguintes instituições-chave (Silveira, 2001):

a) No setor público: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Instituto Agronômico de Campinas;

b) No setor privado: Monsanto, Pioneer/DuPont e Novartis (Syngenta).

Esse mercado, altamente concentrado, dedica-se principalmente à produção de cultivares de milho, de algodão, de arroz, de soja e de girassol . O setor privado resultou de fusões e aquisições de empresas nacionais de produção de cultivares, pelas empresas transnacionais. A dinâmica de fusões e aquisições foi tratada no Capítulo 2. Nessa seção, pretende-se descrever a infra-estrutura, as capacidades e os projetos (especialmente em biotecnologia) dessas empresas.

Embrapa

A Empresa, na avaliação de Silveira (2001), possui quatro centros de pesquisa capacitados a realizar “P&D na fronteira científica”: Embrapa Cerrados, Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Soja e Embrapa Trigo. Não por acaso, essas são as unidades da Embrapa que se dedicam às espécies com cadeias produtivas maduras e fortes, tanto no mercado nacional como no internacional. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia é o quinto centro de investigação apto a realizar pesquisa na fronteira científica, e é o responsável pelo melhoramento e manutenção de coleções de recursos genéticos, insumo básico para a P&D em cultivares.

Além disso, na avaliação do mesmo autor, estão também capacitados (embora em grau menor), os seguintes centros de pesquisa: Pecuária Sul (com melhoramento de forrageiras) e Arroz e Feijão. A empresa conta ainda com um serviço de beneficiamento e fornecimento de sementes básicas.

Segundo Fonseca e Silveira (2002) o Brasil é considerado como um centro de excelência de pesquisa agropecuária, entre os países em desenvolvimento, justamente pela qualidade e eficácia da investigação que vem sendo realizada pela Embrapa, desde a sua criação, na década de setenta.

Os projetos da Embrapa, no desenvolvimento de cultivares, envolvem tecnologias genômicas, de análise de diversidade genética, fingerprints, pureza de híbridos, utilização de marcadores de alto desempenho, polimorfismo, etc. (Silveira, 2001). As cultivares são desenvolvidas, em geral, visando maior produtividade, estabilidade de produção, resistência a pragas e doenças, tolerância a herbicidas e a estresses ambientais, melhoria de qualidade nutricional. Esses projetos têm utilizado tanto processos típicos de melhoramento convencional como os derivados da biotecnologia.

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A empresa tinha, em 2001, um orçamento aproximado de 250 milhões de dólares (Fonseca e Silveira, 2002). Em 2000, já investia 6,7 milhões de dólares (gastos diretos), em seu programa de biotecnologia. Além de importantes parcerias com empresas e fundações nacionais, a Embrapa também estabeleceu cooperação com empresas multinacionais (Cyanamid, Monsanto e Agrevo) para desenvolver cultivares de soja transgênicas tolerantes aos herbicidas imazapur (“Clear Field”), glifosato (“Roundup Ready”), e amônio glifosato (“Liberty Link”), respectivamente (Ávila et al, 2002).

A empresa tem procurado atualizar sua prática de pesquisa à realidade do novo quadro regulatório estabelecido em 1997. Desse ano até o ano 2001, a Embrapa já havia protegido 114 cultivares junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, sendo 18 de soja, 18 de milho, 9 de trigo, 9 de algodão, duas de batata e duas de feijão. (Silveira, 2001).

Segundo o site do Centro de Pesquisa Nacional em Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) da Embrapa, sua equipe “tem avançado na produção de plantas geneticamente modificadas resistentes a pragas e com capacidade de produzir fármacos e biopolímeros. Vários estudos estão sendo conduzidos para analisar a segurança destas plantas para o meio ambiente e saúde animal e humana. ... Novas ferramentas têm sido aplicadas nas análises de genomas (genômica) ...para a identificação, o isolamento e a caracterização de genes que estão envolvidos em processos biológicos que controlam a produtividade de características de importância econômica, em plantas, animais e microorganismos. ... O Centro vem concentrando seus esforços para construir bancos de clones de DNA/cDNA, e de seqüências (ESTs), de vários tecidos de plantas, animais e microorganismos, os quais serão utilizadas para análise funcional em etapas conseguintes dos projetos em andamento.” (Embrapa, 2003).

Ainda segundo a mesma fonte, o Cenargen “possui capacidade instalada para executar sequenciamento de DNA em alta-escala e para processar as seqüências obtidas automaticamente... [e]... infra-estrutura para a realização de experimentos em Genômica Funcional. O Laboratório de Espectrometria de Massa vem realizando experimentos para detectar proteínas expressas diferencialmente por espécies/variedades expostas a estresses bióticos”.(Embrapa, 2003).

Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

Esse instituto desenvolve melhoramento genético de hortaliças, de café, de algodão e de graníferas, na maioria dos projetos, por técnicas convencionais. Processos mais avançados, originados na biotecnologia já estão sendo utilizados, especialmente em relação a citros, a cana e a café (Silveira, 2001).

Algumas importantes iniciativas de pesquisa biotecnológica, como os projetos dos Genomas Xylella e Cana contam com a participação de grupos de pesquisa do IAC. Há alguns projetos desenvolvidos com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para obtenção de cultivares geneticamente modificados de madeira para produção de papel. Existem outros projetos de base biotecnológica, não voltados à produção de cultivares, mas que certamente aumentarão a capacidade técnica do Instituto; esses projetos também são desenvolvidos com parcerias externas (Embrapa, Unicamp).

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Monsanto

A Monsanto veio para o Brasil na década de 50 e, a partir de 1996, estabeleceu-se na área de pesquisa e beneficiamento de sementes de soja, de milho, de sorgo e de girassol. A partir desse ano, incorporou algumas empresas de P&D brasileiras (como a FT-Sementes, a divisão vegetal da Agroceres, a Sementes Hatã e o Grupo MAEDA). Inaugurou um complexo de sementes em Uberlândia, em 2000, e possui um centro avançado de P&D e de beneficiamento de sementes de milho, de sorgo e de girassol (Monsanto, 2003).

Até 2001, a Monsanto já havia investido 100 milhões de dólares no mercado de milho brasileiro, e aumentou sua participação no mercado de sementes de soja de 12 para 18% (Wilkinson e Castelli, 2000).

A empresa conta com oito centros exclusivamente dedicados à P&D, cinco à P&D e processamento de sementes, e seis somente a esta última atividade, operando nos Estados do Paraná, de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul (Monsanto, 2003).

A empresa orienta sua estratégia de negócios para a produção de cultivares transgênicas. No Brasil, onde plantas geneticamente modificadas não estão liberadas para comercialização, a Monsanto investe no desenvolvimento da soja Roundup Ready, tolerante ao herbicida glifosato, em parceria com a Embrapa.

Sendo originalmente uma empresa dedicada à produção e venda de defensivos agrícolas, a Monsanto concentra seus esforços na obtenção de cultivares de soja, de milho e de algodão tolerantes ao herbicida Roundup Ready. Dois dos cinco produtos apresentados na página eletrônica da empresa, no entanto, consistem no milho (YeldGard) resistente à uma praga européia e o algodão Bollgard, resistente às lagartas que atacam essa lavoura.

Pioneer/Dupont

A empresa possui três unidades de beneficiamento de sementes no Brasil, e também produz e comercializa sementes de milho híbrido, de soja e de sorgo. Sua estratégia de negócios era voltada para o desenvolvimento de produtos diferenciados. Silveira (2001) cita, entre esses produtos, os grãos com alto teor de óleo e proteína para uso na alimentação de animais, híbridos de milho com características especiais para a produção de silagem de plantas inteiras e de grãos úmidos.

Possui uma unidade de produção, em Itumbiara, e investiu, nessa unidade, mais de 8 milhões de dólares, de 2000 a 2002. Tem planos para duplicar investimento em P&D em milho e soja, até 2007, e dobrou o número de cientistas em melhoramento de milho, em 2001. Também está instalando sua primeira estação de pesquisa de soja, em Cristalina (Glat, 2002).

Em 2001, a Pioneer (sementes de milho e soja), que foi adquirida pela Dupont em 1999, detinha 10% do mercado de sementes de soja e 14% das sementes de milho.

A produção de cultivares no Brasil, resultante do esforço em P&D, vem sendo realizada, principalmente, pelas quatro empresas descritas acima. A Figura 6.1 apresenta a participação percentual, em 2001, de cada categoria de obtentor, na proteção de espécies selecionadas. Como

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se pode observar na Figura 6.1, naquele ano as empresas estrangeiras tiveram atuação mais destacada na proteção de cultivares de soja e batata, mas também lançaram cultivares de algodão e arroz. A Embrapa e parceiros sobressaíram na proteção dessas duas últimas espécies (algodão e arroz), mas não deixaram de lançar outras cultivares: de batata, de soja e de trigo. Nessa Figura, o IAC faz parte da categoria “órgãos públicos”, e aparece como o obtentor de cultivares protegidas de arroz, de cana, de feijão (sendo responsável pela maior proporção de cultivares lançadas dessa espécie) e de trigo.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

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80,00

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Algodão Arroz Batata Cana Feijão Soja Trigo

Espécie

Embrapa/Parceiros Órgãos públicos Cooperativas Fundações Empresas privadas nacionais Empresas privadas estrangeiras

Figura 6.1. Participação percentual de cada categoria de obtentor, na proteção de cultivares de espécies selecionadas. (Fonte: Wetzel, 2001, adaptado).

O setor de cultivares e sementes vem sofrendo alterações profundas em sua matriz organizacional, já há algum tempo. Uma dessas alterações, supostamente aprofundada pela promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, é a concentração, nesses mercados, o que significa o controle majoritário do mercado por um número reduzido de grandes empresas. A próxima seção analisa e discute esse fenômeno, focalizando especialmente os acontecimentos após a promulgação da LPC.

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6.1.3. A dinâmica de fusões e aquisições de empresas : concentração no mercado de cultivares e sementes

A concentração crescente verificada no mercado de cultivares e sementes (e que foi detalhadamente analisada no Capítulo 2) é um fenômeno mundial que se iniciou como decorrência dos avanços biotecnológicos no campo da manipulação gênica. Embora se torne visível apenas no final dos anos 90, o movimento de fusões, aquisições e incorporações envolvendo empresas de sementes, defensivos e fármacos iniciou-se ainda no final dos anos 70.

Segundo o relatório de pesquisa intitulado “Inovações Biotecnológicas e a Indústria de Sementes”, coordenado por José Maria da Silveira (apud Wilkinson e Castelli, 2000), os dois movimentos de agregação acontecem por motivos diferentes. O primeiro movimento de aquisições teria acontecido por três principais motivos: empresas farmacêuticas procuravam diversificar seus negócios; empresas baseadas no comércio de commodities procuraram diversificar suas atividades e usavam a indústria de sementes como fonte de informação para sua atividade principal; e empresas agroquímicas viram possibilidades de crescimento com a biotecnologia. Surgiram então as primeiras grandes empresas como a Cargill, a Ciba-Geigy, a ICI, a Dekalb, a Rhône Poulenc, a Sandoz e a Upjohn.

O segundo movimento, que acontece a partir de 1994, é mais radical e leva à formação de grupos de empresas ainda maiores. Nessa etapa, consolidam-se os oito maiores grupos de empresas na área de sementes. Entre elas está a Monsanto, a Aventis, a DowAgro Science e a Syngenta, formada pela união da Novartis e da AstraZeneca. Entre as companhias produtoras de sementes que foram objeto de aquisição estão algumas brasileiras. A Monsanto adquiriu cinco empresas brasileiras - entre elas a Agroceres, maior empresa de capital nacional privado do setor - a DowAgro Science, cinco e a Aventis, quatro.

Segundo Wilkinson e Castelli (2000), Monsanto, DuPont, ICI e Ciba-Geigy (estas duas últimas hoje incorporadas à Syngenta) são empresas que realizaram grandes investimentos em P&D desde a década de 80. Esses autores explicam o último movimento em direção às aquisições pelo papel promissor demonstrado pelas novas biotecnologias. Os altos investimentos em P&D feitos por essas empresas só podem ser justificados com grande expansão dos lucros, por isso a busca do mercado de insumos agrícolas internacional. A estratégia dessas organizações é entrar no setor de sementes com produtos de maior valor agregado. Não por acaso os grandes investimentos em P&D de transgênicos são feitos exatamente por essas gigantescas corporações a partir da junção de empresas de diferentes especialidades, mas voltadas para produtos que podem ser aplicados no mesmo mercado.

De fato, as grandes corporações do mercado de sementes possuem estruturas que integram vários sistemas industriais que se complementam. Em 1998, as 10 maiores companhias de sementes controlavam aproximadamente 33% dos US$23 bilhões do comércio de sementes no mundo. Dessas, as três maiores (DuPont, Monsanto, Novartis) eram responsáveis por 20% do mercado global de sementes. Ao mesmo tempo, as 10 maiores companhias agroquímicas controlavam 91% dos $31 bilhões do mercado de agroquímicos. As maiores 5 Gene Giants (AstraZeneca, DuPont, Monsanto, Novartis e Aventis) eram responsáveis por aproximadamente 60% do

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mercado mundial de defensivos, 23% do mercado de sementes e, potencialmente, 100% do mercado de transgênicos (Rafi, 1999). Todavia, até 1994 nenhum dos Gene Giants apareceram na lista das principais corporações de sementes e, na realidade, três destas cinco maiores companhias nem mesmo existiam, uma vez que a AstraZeneca é o resultado da fusão da Zeneca e da Astra; Rhone Poulenc e Hoechst transformaram-se Aventis; Ciba-Geigy e Sandoz transformaram-se na atual Novartis e a DuPont incorporou a Pioneer Hi-Bred.

Rearranjos institucionais no âmbito do SNPCS

Embora exista uma forte e direta relação de causa-efeito entre os avanços biotecnológicos propiciados pela emergência de ferramentas de manipulação gênica para a pesquisa em melhoramento genético e as transformações observadas no mercado de sementes, no Brasil tal relação somente se concretiza num ambiente de mercado adequadamente regulamentado, ou seja, onde haja uma relativa garantia quanto à apropriação dos resultados do investimento em pesquisa.

O processo de rearranjo institucional começa a atingir as empresas de sementes brasileiras a partir de 1994, à luz das discussões sobre a futura Lei de Patentes. Mas o movimento de aquisições se intensifica de fato a partir da introdução de mecanismos regulatórios de garantia da propriedade intelectual, no caso, após a edição da Lei de Proteção de Cultivares (nº 9.456, de 25 de abril de 1997). A lei oferece um abrigo legal para a apropriação de lucros a partir de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. A ação das grandes empresas transnacionais ligadas à biotecnologia agrícola foi intensificada a partir de então, com a entrada de grandes grupos agroquímicos no segmento de variedades, até aqui de predomínio público. O processo de concentração, no Brasil, se deu sobretudo via aquisições e incorporações.

Em 1997 o Brasil possuía 579 empresas de sementes. Aos poucos, as maiores destas empresas - como a Agroceres, a Horticeres, a Mitla, a FT Sementes e Pesquisa, dentre outras, foram sendo incorporadas pela Monsanto, DuPont, Aventis e outras. Com um mercado que movimenta US$1.200.000.000,00 anuais com sementes (sem contar as importações), o Brasil se apresenta como um importante mercado, atraindo empresas petroquímicas, agroquímicas e farmacêuticas. O setor de sementes brasileiro é altamente internacionalizado. O incremento da ação dessas empresas fica patente pela visualização da quantidade de pedidos de autorização para testes com plantas transgênicas submetidos à CTNBio, pelo volume de atos de concentração processados pelo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência1 e mediante a observação da estrutura empresarial do setor de sementes.

Para a análise do ambiente institucional privado do SNPCS brasileiro à luz dos três macro-eventos do ambiente externo - redução do Estado, biotecnologia e novas leis de propriedade intelectual - propostos como determinantes na dinâmica do modelo aqui apresentado, os avanços no campo biotecnológico e a regulamentação da propriedade intelectual parecem se constituir em elementos de forte influência, ou mesmo de determinação, das transformações observadas.

1 Embora nesse Sistema somente se registre aquelas modificações organizacionais de maior vulto, referentes à aquisição de empresas nacionais de pesquisa genética e de produção de sementes, fusões de empresas, incorporações, etc.

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O impacto da LPC sobre o mercado brasileiro de sementes foi amplamente pesquisado por Carvalho (1998) e Wilkinson e Castelli (2000). Em ambos os estudos, foi adotada a divisão do setor de sementes em três subsetores: o mercado de híbridos, o de variedades e o de hortaliças. O mercado de híbridos desde os anos 50 vem sendo privatizado. A base genética de variedades, historicamente, provém do setor público. Na área de hortaliças, há uma pulverização com forte dependência de importações.

As principais transformações na estrutura da indústria de sementes no Brasil e no mundo utilizadas na elaboração do Quadro 6.1 foram baseadas em Carvalho (1996), Araújo e Mercadante (1999), ASA (1999), Wilkinson e Castelli (2000) e em informações levantadas junto à Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça2.

O Quadro 6.1 deixa claro que grande parte das empresas privadas nacionais, atuando em P&D e, ou, em produção de sementes, passaram para as mãos de empresas transnacionais, nos anos após a promulgação da LPC. O Quadro 6.2 mostra as empresas brasileiras de médio e grande porte incorporadas até 2001 pelos grandes grupos privados atuantes no mercado brasileiro de sementes.

O resultado da movimentação de compras, aquisições e fusões verificadas nos últimos sete anos, para o mercado brasileiro, é uma mais que visível concentração, com presença marcante do capital privado, sobretudo para segmentos específicos, tais como, por exemplo, tabaco, olerícolas e forrageiras, mesmo que nesses dois últimos segmentos ainda haja espécies cujo melhoramento se deve quase que totalmente à P&D pública, como é o caso do amendoim, da batata-doce, do grão-de-bico, do capim elefante, do estilosante e outras.

Essa concentração é também evidenciada quando se considera a participação percentual dessas empresas em alguns dos principais mercados brasileiros de sementes. As Figuras 6.2a e 6.2b apresentam as participações de diferentes empresas, no mercado de sementes de milho, no ano 2000, e soja, noas anos de 2000 e 2002. Nesse último caso, observa-se que o incentivo econômico, possibilitado pela Lei de Proteção de Cultivares, eliminou alguns obtentores do mercado, mas também atraiu outros, que não existiam no início da década.

6.1.4. Desempenho do setor de produção de cultivares

Uma das conseqüências da nova legislação de proteção de cultivares - Lei N° 9.456, de 25 de Abril de 1997 e Decreto N° 2366, de 05 de novembro de 1997 - sobre o sistema de produção de novas cultivares melhoradas foi a criação do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC, que detém a competência para a proteção de cultivares no País, o registro de cultivares e a coordenação do Sistema Brasileiro de Sementes e Mudas.

O SNPC começou a funcionar efetivamente a partir de 1998, ano seguinte à aprovação da Lei de Proteção de Cultivares. Na atual estrutura do Ministério da Agricultura, Pecuária e

2 O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, mecanismo interinstitucional responsável pela legislação antitruste, é apoiado por três órgãos, a saber: Secretaria de Direito Econômico - SDE, do Ministério da Justiça; Secretaria de Acompanhamento Econômico - SEAE, do Ministério da Fazenda, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, autarquia vinculada ao Ministério da Justiça. Segundo a legislação em vigor, o sistema é acionado preventivamente, em situações em que ocorra fusão ou aquisição (atos de concentração) em que qualquer dos participantes ou grupo econômico ao qual esteja vinculado tenha registrado faturamento superior a R$400 milhões no último balanço ou represente uma parcela de mercado superior a 2%, ou por denúncia, nos casos de práticas anti-concorrenciais.

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Figura 6.2a: Participação (%) de diferentes empresas, no mercado de sementes de milho, 2000(Fonte: Wilkinson e Castelli, 2000)

Monsanto60%Pioneer/Dupont

14%

Novartis11%

Unimilho5%

Dow/Mycogen5% Zeneca

3%Agr-Evo

2%

Abastecimento, é um órgão integrante da Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo. Como órgão aplicador da Lei nº 9.456 e filiado à União Internacional para Proteção das Obtenções Vegetais - UPOV3, com sede em Genebra, Suíça, o SNPC tem seus princípios básicos fundados, dentre outros, na ética, no sigilo e na segurança do conhecimento e guarda de informações, de material de propagação e dos direitos de propriedades a si confiados.

Pela lei brasileira, a cultivar protegida só pode ser produzida, beneficiada, armazenada, comercializada com a devida autorização do obtentor, e o mesmo pode cobrar uma retribuição pecuniária sobre a utilização da sua variedade. O vislumbre de um mecanismo regulatório para a questão da propriedade intelectual concernente ao desenvolvimento de cultivares melhoradas incentivou algumas multinacionais a investir em programas de pesquisa no Brasil. Se for certo que a pesquisa demanda grandes investimentos, a partir da LPC estaria garantido o retorno desses investimentos. Além do investimento em pesquisa, as prerrogativas garantidas pela nova legislação incentivam a compra de importantes empresas locais, com o objetivo de apropriação de seus acervos de linhagens e germoplasma.

3 Em 2001, a UPOV era composta de 49 países, dentre eles Japão, EUA, Canadá, Austrália e Brasil e todos os integrantes da Comunidade Européia. Os governos desses países mantêm bases semelhantes à mantida pelo MAPA/SNPC. Tais bases podem ser acessadas a partir dos links encontrados na página eletrônica da UPOV: http://www.upov.org/.

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Quadro 6.1. Fusões, aquisições e incorporações. As principais transformações na estrutura da indústria de sementes no mundo e, particularmente, no Brasil, de 1996 a 2001. Ano Repercussão Fato 1996 Nacional

Incorporação, pela Monsanto, da FT-Sementes, empresa paranaense dedicada à pesquisa e melhoramento, principalmente de soja, que possuía valioso estoque de material genético.

1996 Mundial Fusão da Ciba-Geigy AG e da Sandoz AG, numa operação de US$ 36 bilhões, resultando na suíça Novartis, considerada a maior do Mundo no campo farmacêutico e da biotecnologia.

1996 Mundial A AgrEvo adquire a Plant Genetics Seeds, da Bélgica (por US$ 550 milhões). Adquiriu, por US$ 650 milhões, a área de sementes da Cargill Seeds, com instalações de pesquisa em 14 estados americanos e no Canadá.

1997 Nacional

Incorporação, pela Monsanto, da divisão vegetal da Agroceres, a maior empresa brasileira de pesquisa e comercialização de sementes melhoradas (US$ 150 milhões).

1997 Mundial A Monsanto incorpora a Calgene (US$ 240 milhões). 1998 Nacional

Mycogen Coorporation (California, EUA), que responde pelos negócios do grupo Dow AgroSciences do Brasil (sementes e mudas) e controla indiretamente a empresa brasileira ByoSementes Ltda, adquire as cotas totais da Híbridos Hatã Ltda, Híbridos Colorado Ltda, FT Biogenetica de Milho Ltda, todas voltadas para sementes de milho híbrido.

1998 Nacional Mycogen adquire a Dinamilho Carol Produtos Agrícolas Ltda (32 milhões). 1998 Mundial

e Nacional

Monsanto adquire diversas empresas de sementes, como a Delta & Pine (sem representante no Brasil), por US$ 1,7 bilhões, e finaliza a compra da Dekalb, iniciada em 1996, por US$ 3,7 bilhões. Dekalb: segunda maior empresa de sementes dos Estados Unidos, representada no Brasil pela Braskalb Agropecuária Brasileira Ltda, cujo total de cotas representativas do capital social é também adquirido pela Monsanto em 1998

1998 Nacional

A fusão da Defensa (RS) com a Herbitécnica (PR), que passam a ser controladas, em grande parte, pela israelense Makhteshim-Agan, representou o crescimento de um grupo que atua também em biotecnologia e produção de herbicidas e outros agrotóxicos, no Brasil.

1998 Mundial A Monsanto buscou uma fusão com a American Home Products Corp (AHP), do ramo farmacêutico, numa operação da ordem de US$ 37,8 bilhões.

1998 Mundial O grupo Monsanto, dos Estados Unidos, adquire a divisão internacional de sementes da Cargill na América Latina, Europa, Ásia e África por US$ 1,4 bilhão. As divisões Cargill nos EUA , Canadá e Reino Unido (Pinazza e Alimandro) não são incorporadas nessa compra.

1998 Nacional

A AgrEvo adquire o banco de melhoramento genético de sementes de arroz do Grupo Josapar (RS). A AgrEvo é uma joint-venture das alemãs Hoechst AG e Schering AG. É uma das líderes mundiais no campo da biotecnologia, atuante no ramos dos agrotóxicos e fertilizantes.

1998 Nacional

A Dow Agroscience adquire a brasileira Dinamilho, por meio de sua subsidiária Mycogem (US$ 32 milhões).

1998 Nacional A SVS do Brasil Sementes Ltda adquire a divisão de sementes de hortaliças da Agroceres. 1999 Nacional Dinamilho incorpora a ByoSementes, sócia-quotista majoritária.) 1999 Mundial

e Nacional

A DuPont Co., maior indústria química dos EUA, compra a Pioneer Hi-Bred International Inc., a maior empresa de sementes dos EUA, responsável por 42% das vendas de sementes de milho e 17% de soja naquele país (US$ 7,7 bilhões). Na transação, foi envolvida a Pioneer Sementes do Brasil que por sua vez, adquiriu o banco genético de sementes da empresa goiana Sementes Dois Marcos.

1999 Nacional A Monsanto contrata parceria com a EMBRAPA para o desenvolvimento de tecnologia 2000 Nacional

Acordo comercial entre Monsanto e Coodetec - cooperativa central, integrada por 33 cooperativas singulares do Paraná, desenvolvendo pesquisa em MG vegetal - para licenciamento de tecnologia, por 14 anos. O acordo não resulta em aumento de participação no mercado de nenhuma das requerentes.

2001 Nacional

Bayer CropScience (BCS) surge no Brasil, após a união dos negócios de Proteção das Plantas da Bayer com a Aventis CropScience.

Fonte: Carvalho (1996), Araújo e Mercadante (1999), ASA (1999), Wilkinson e Castelli (2000), Ministério da Fazenda, 2003.

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Embrapa Coodetec Monsoy/Monsanto Fundação MT Emgopa DoisMarcos/Dupont

Outros

Obtentores

2000 2002 Figura 6.2b: Participação de diferentes obtentores, no mercado de sementes de soja, em 2000 e 2002. (a partir de dados fornecidos pelo Serviço de Negócios Tecnológicos, Embrapa, em julho de 2004).

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Quadro 6.2. Empresas brasileiras adquiridas pelas principais corporações transnacionais (situação em 2001). Corporação Empresa Incorporada

Monsanto (EUA) Agroceres (milho e soja) FT Pesquisa e Sementes (soja) Sementes Teresaba Grupo Maeda (joint ventures) Braskalb/Dekalb (milho e sorgo)

DuPont (EUA) Sementes Dois Marcos Melhoramento Aventis (Alemanha e França) Granja 4 Irmãos

Mitla Melhoramento Sementes Fartura Sementes Ribeiral

Dow AgroScience (EUA) Dinamilho Carol Prod Sementes Colorado FT Pesquisa e Sementes (milho) Sedol Sementes Hatã

AstraZêneca (Suécia e Grã-Bretanha) Sakata Seed Corp. (Japão) Agroflora

Sakata Seed do Brasil Savia AS de CV (Mexico) Horticeres

Elaborado a partir de Carvalho (1998), Araújo e Mercadante (1999), Wilkinson e Castelli (2000).

Do ponto de vista prático, a LPC mostrou os seus primeiros resultados à medida que os produtores que produziram e comercializaram sementes de cultivares protegidas sem autorização das empresas obtentoras foram denunciados à Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais - BRASPOV. Cerca de 90 casos na safra de 2000 foram denunciados. Em 2001, vários processos de denúncias foram encaminhados ao SNPC, tendo sido alguns deles já julgados e condenados. Nestes casos, os infratores são penalizados com multa e as sementes, confiscadas. Todos estes processos ocorreram no cultivo da soja, porém, já começaram a surgir denúncias em algodão e em trigo (Linha Verde, 2001):

[...] Houve uma evidente diminuição do uso de sementes certificadas e fiscalizadas, logo após a implementação da Lei de Proteção de Cultivares, justamente nas culturas nas quais ocorreram os maiores investimentos e desenvolvimento de novas cultivares. Essa diminuição se traduz em óbvia utilização de sementes ilegais, sejam contrabandeadas, sejam produzidas sob o falso rótulo de "semente de uso próprio". O conceito da semente de "uso próprio" foi inserido na lei de proteção com vistas a viabilizar ao produtor de sementes, que estaria satisfeito com aquela variedade, que não mais necessitasse de adaptações às novas condições de seu terreno, em especial os de pequeno e médio portes, a reserva das sementes produzidas para nova utilização no ano seguinte.

Ocorre, porém, que muitos se oportunizam dessa abertura legal para produzir grande quantidade de sementes e comercializá-las ilegalmente. Para a fiscalização, torna-se impossível coibir tais ações, uma vez que essas sementes estão armazenadas sob o rótulo de sementes de uso próprio.

Por outro lado, uma das conseqüências da LPC, a médio e longo prazos, pode ser uma mudança na proporção de cultivares protegidas e registradas pelos setores público e privado de P&D. O cadastramento obrigatório dessas cultivares, no SNPC, permite que se utilize os dados sobre registro e proteção como indicadores de desempenho desses setores. Esse é o foco da próxima seção.

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Proteção e registro de cultivares: indicadores do desempenho do setor de P&D

Uma das formas de se avaliar o desempenho da pesquisa na produção de novas variedades melhoradas seria a aferição do volume de resultados finais viáveis produzidos. Obviamente, a confiabilidade e consistência desses dados dependem em muito da existência de uma base de dados estruturada e institucionalizada, de amplitude nacional - preferencialmente, um mecanismo oficial do quadro regulatório das cultivares melhoradas. Assim, embora não se constituindo num processo de avaliação direta, tal levantamento seria capaz de fornecer elementos suficientemente fortes para a indicação de tendências de desempenho de cada setor, com relação a espécies vegetais ou a grupos de espécies. Observe-se também que esses são indicadores intermediários de desempenho, uma vez que apenas a adoção de determinada cultivar, nos sistemas de produção agrícola, pode ser considerado como indicador final de desempenho desses setores.

Esta pesquisa utilizou as duas bases de dados disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC: a Listagem Nacional de Cultivares Protegidas (LNCP) e a Listagem Nacional de Cultivares Registradas (LNCR), que fornecem informações sobre as cultivares protegidas e registradas, listadas por espécie. São indicados, para cada cultivar de determinado grupo de espécies: o número de código da cultivar, o nome da cultivar, o nome da instituição obtentora (no caso da LNCP) ou requerente (no caso da LNRC), a data inicial da proteção/registro, o período de proteção.

Nesta pesquisa, a avaliação do desempenho em P&D das organizações envolvidas na produção de cultivares melhoradas baseou-se em ambas as bases. Todavia, por uma questão de amplitude (número de espécies listadas) e de volume de dados (número de casos), a LNCR constituiu-se, ao longo do levantamento, na base de referência. Os dados relacionados à proteção e registro serão apresentados e discutidos separadamente, em itens específicos desta seção.

De modo geral, as principais diferenças entre proteção e registro dizem respeito a:

função - enquanto o Certificado de Proteção visa à proteção da propriedade intelectual, assegurando os direitos de exploração comercial do uso (royalties) sem habilitar a cultivar para produção e comercialização, a inclusão no Registro Nacional de Cultivares habilita a cultivar para produção e comercialização no Brasil;

aspectos legais - a Proteção tem legislação própria e está vinculada a ordenamentos internacionais de proteção intelectual, enquanto o registro de cultivares tem fundamento na Legislação Brasileira de Sementes;

custo - a emissão de certificados de proteção tem custas, enquanto o processo de registro não tinha custos à época da presente pesquisa. O valor do registro passou a ser cobrado pelo SNPC.

Embora toda cultivar comercializada necessite, obrigatoriamente, estar registrada junto ao SNPC, o fato de uma cultivar constar na LNCR não assegura que a mesma tenha sido de fato comercializada, podendo o cadastramento ser tido feito apenas por razões de segurança ou precaução, com vistas a uma possível futura oportunidade de comercialização.

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O volume total dos registros relacionados a determinado detentor, público ou privado, fornecerá indícios quanto ao nível do seu desempenho como produtor de germoplasma melhorado de uma espécie ou grupo de espécies. Obviamente, em função da funcionalidade da base de dados utilizada, também estarão sendo computados aqueles casos em que as cultivares tenham sido geradas fora do Brasil, nos centros de pesquisa e laboratórios das multi e transnacionais atuantes no mercado brasileiro de sementes.

As informações apresentadas nesta seção, a seguir, constituem um diagnóstico da distribuição dos registros, sob forma de gráficos, e foram obtidas a partir da análise e sistematização de dados fornecidos pelas listagens disponibilizadas pelo SNPC através do próprio site do órgão (SNPC, 2001).

As espécies analisadas para efeito do nosso diagnóstico referem-se a 307 itens protegidos e a 5.731 itens (cultivares de interesse agrícola) da Listagem Nacional de Cultivares, embora nesta última base esteja listado um total de 10.774 cultivares.

A Figura 6.3 compara os volumes de certificados de proteção emitidos e os registros incluídos na Listagem Nacional de Cultivares, para organizações públicas e privadas no período de janeiro de 1998 a setembro de 2001.

Na Figura 6.3, o grande volume de registros do setor público observado no primeiro ano (1998) foi em parte causado pela inclusão de todas as cultivares então presentes no mercado. Note-se que, para efeitos de análise, este comportamento deve ser considerado atípico, face aos resultados observados nos anos seguintes. Como conseqüência dessa inclusão inicial, pode-se esperar que no conjunto de cultivares inicialmente registradas haja um considerável número daquelas já superadas e não mais comercializadas. Todavia, o volume de iniciativas de registro do setor privado mantém-se relativamente constante nos primeiros 3 anos após a LPC, o que não ocorre com relação ao setor público. Em 1999, 2000 e 2001, esse volume correspondeu à cerca de cinco vezes o volume de registros efetuados pelo setor público, nos mesmos anos.

A Figura 6.3 serve para que se visualize a distribuição desses conjuntos de dados - proteção e registro - no tempo (1998-2001) e entre setores (público e privado). Para que possam ser tomados como indicativos de capacidade e de desempenho, estes dados deverão ser analisados por espécie ou grupo de espécies, de modo a ser compreendida a lógica e o contexto de suas variações. Os resultados apresentados a seguir fornecem esses indicativos para os principais grupos considerados por ocasião da modelagem do SNPCS.

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Setor Público - Protegidas Setor Público - Registradas Setor Privado - Protegidas Setor Privado - Registradas

Figura 6. 3. Número de certificados de proteção emitidos e de registros incluídos na Listagem Nacional de Cultivares, para organizações públicas e privadas, de janeiro de 1998 a setembro de 2001.

6.1.4.1 Cultivares Protegidas por Espécie

O Certificado de Proteção emitido pelo SNPC é definido como um "bem móvel para todos os efeitos legais e única forma de proteção de cultivares e de direito que poderá obstar a livre utilização de plantas ou de suas partes de reprodução ou de multiplicação vegetativa no País" (Machado, 2001).

A divulgação das espécies passíveis de proteção - descritores mínimos, abertura dos pedidos de proteção e entrada em vigor - obedece ao seguinte cronograma: no momento da entrada em vigor da LPC, pelo menos 5 espécies serão passíveis de proteção; após 3 anos (ou seja, em 2001), pelo menos 10 espécies; após 6 anos, pelo menos 18 espécies; após 8 anos, pelo menos 24 espécies.

Em junho de 2001, havia 16 espécies divulgadas: algodão, arroz, batata, feijão, milho, soja, sorgo, trigo - cana, maçã, café, forrageiras, videira e alface. Todavia, apenas 10 dessas espécies constavam na LNCP (Ver Quadro 6.3).

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Quadro 6.3. Certificações de Proteção de Cultivar pedidas, em análise, provisórias e definitivas. Situação em maio/2001.

Situação Nome da Espécie

Total de Pedidos Em

Análise Certificado Provisório

Certificado Definitivo

Algodão 22 5 2 11 Arroz 24 0 4 18 Batata 34 3 0 22

Cana de açúcar 27 0 2 25 Feijão 10 1 0 8 Maçã 2 0 2 0 Milho 19 0 10 9 Soja 169 17 19 118

Sorgo 5 0 2 3 Trigo 30 3 9 18 Total 342 29 50 232

Fonte: Machado, 2001.

Uma vez que o número de certificados de proteção emitidos para determinado obtentor poderá fornecer indicativos sobra a sua capacidade de P&D, bem como sobre o seu desempenho enquanto produtor de germoplasma melhorado, interessa para esta pesquisa, no que concerne à proteção de cultivares, identificar a proporção em que os setores público e privado participam enquanto obtentores, com relação a espécies isoladas ou a grupos de espécies (grãos, olerícolas, ornamentais, fibras, oleaginosas, forrageiras, etc).

No conjunto das 307 cultivares protegidas, o setor público participa com 43,3% e o setor privado com 56,7% (ver Figura 6.4). A P&D do setor público é representada principalmente pela Embrapa (35% do total de protegidas), seguida das organizações estaduais de pesquisa (OEPAs) (3,6%), universidades (2%) e outras organizações públicas (2,3%). Uma visão geral da distribuição entre setores é dada pela Figura 6.5.

Os 307 certificados de proteção emitidos até setembro de 2001 contemplam 10 das 16 espécies então passíveis de proteção, sendo que as três espécies com maior número de cultivares sob proteção - soja, trigo e cana-de-açúcar - correspondem a mais de 2/3 do total de certificados (ver Figura 6.5). A participação dos dois setores na proteção de algumas espécies de alta importância econômica é analisada em separado, a seguir.

Os dados relativos às espécies protegidas foram analisados com relação à distribuição anual dos Certificados, predominância de espécies (freqüência relativa), participação dos setores público e privado e especificação dos principais obtentores para cada espécie.

A distribuição agregada anual dos Certificados de Proteção já foi mostrada na Figura 6.3, onde se pôde observar certa regularidade de comportamento desde o primeiro ano (1998) para o setor privado e a partir do segundo ano para o setor público, ressaltando que, durante o primeiro ano, apenas cinco espécies encontravam-se liberadas para proteção: algodão, arroz, batata, cana-de-açúcar e feijão. No que concerne a presente pesquisa, as informações relevantes se referem à participação percentual dos setores público e privado, enquanto obtentores de cultivares protegidas de espécies de interesse da pesquisa agropecuária. Estes dados constaram nos questionários aplicados no Painel Delphi como indicadores da situação atual (isto é, até 2001),

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funcionando como referencial para as estimativas dos respondentes sobre as participações futuras do setor público.

A Figura 6.6 traz a participação percentual dos setores público e privado como obtentores de Certificados de Proteção no período de 1998 a setembro de 2001. No período considerado, enquanto o setor público de P&D tinha mais cultivares de milho, arroz, feijão e sorgo protegidas, o setor privado dedicou-se mais à proteção de soja, trigo, batata, cana-de-açúcar, maçã e algodão.

A próxima seção busca analisar a situação, em 2002, das cultivares encontradas na categoria de cultivares registradas, no SNPC, em 2001, por espécie.

Embrapa27%

Embrapa com outros9%

Oepas4%

Universidades2%

Outras organizações públicas2%

Setor Privado56%

Embrapa Embrapa com outros Oepas Universidades Outras organizações públicas Setor Privado

Figura 6.4. Participação (%) de diversas empresas públicas, e do setor privado como um todo, na proteção de cultivares, até setembro de 2001.

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A rroz8%

S oja50%

Trigo9%

Cana-de-A çucar9%

A lgodão5%

B atata7%

Feijão3%

M ilho6%

S orgo2%

M aç ã1%

A rroz S oja Trigo Cana-de-A ç uc ar A lgodão B atata Feijão M ilho S orgo M aç ã

Figura 6.5. Proporção de espécies de cultivares protegidas, até setembro de 2001.

6.1.4.2 Cultivares Registradas por Espécie

Em termos políticos e econômicos, o Registro Nacional de Cultivares é um instrumento de ordenamento do mercado que visa a proteger o agricultor da venda indiscriminada de sementes e mudas de cultivares que não tenham sido testadas nas condições de exploração agrícola no Brasil. A finalidade e alcance do registro de cultivares é disciplinar a utilização de cultivares que tenham uma aplicação marcante na agricultura nacional (SNPC, 2000).

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S eto r P úb lico S e to r P riv ado

Figura 6.6. Participação percentual dos setores público e privado como obtentores de Certificados de Proteção, por espécie, no período de 1998 a setembro de 2001.

Em termos mais concretos, o RNC é uma base de dados alicerçada na organização de dados precisos sobre as características de cultivares, sistematizada de modo a fornecer informações capazes de assegurar a identidade genética e a qualidade varietal de cultivares habilitadas para produção e comercialização, em todo território nacional, resguardando as cultivares melhoradas contra a degradação decorrente de misturas mecânicas, cruzamentos, trocas de nomes (denominação) e outras ocorrências acidentais.

Os registros da Listagem Nacional de Cultivares somavam 10.774 itens à época em que se realizou o diagnóstico para a formulação, no âmbito desta pesquisa, do pré-modelo do SNPCS (setembro/2001). As espécies de interesse agrícola analisadas neste trabalho correspondem a 5.731 registros e estão distribuídas, para fins de análise, em nove grandes grupos: 1) Alcool/Açúcar; 2) Forrageiras; 3) Frutíferas; 4) Grãos; 5) Olerícolas; 6) Fibras e 7) Tabaco. No Quadro 6.4 são apresentadas as espécies vegetais que foram incluídas em cada um desses grupos.

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Quadro 6.4. Grupos de espécies, com a respectiva relação de espécies componentes, constantes do Registro Nacional de Cultivares (RNC).

Grupo de Espécies Espécies componentes do grupo

ALCOOL/AÇÚCAR Cana-de-açúcar

FORRAGEIRAS Andropogon, Brachiaria, Brachiaria brizantha, Brachiaria decumbens, Brachiaria dictyoneura, Brachiaria humidicola, Brachiaria ruziensis, Calopogônio, Capim-bermuda, Capim bufell, Capim colonião, Capim de Rhodes, Capim elefante, Capim gordura, Capim Kikuyo, Capim lanudo, Capim Nilo, Capim Pojuca, Centrosema, Estilosante, Grama, Grama japonesa, Grama-batatais, Grama Santo Agostinho, Guandu Forrageiro, Paspalum

FRUTÍFERAS Abacate, Abacaxi, Acerola, Ameixa, Amora, Banana, Caju, Caqui, Carambola, Coco, Figo, Goiaba, Jabuticaba, Laranja, Limão, Maçã, Melão, Mamão, Manga, Maracujá, Melancia, Nêspera, Pêra, Pêssego, Tangerina, Uva, Uva de mesa.

GRÃOS Arroz, Aveia, Café, Café conilon, Centeio, Cevada, Feijão, Feijão caupi, Milheto, Milho, Soja, Sorgo, Trigo, Triticale

OLERÍCOLAS Abóbora, Abóbora-menina, Abobrinha, Acelga, Acerola, Agrião, Agrião d'água, Agrião do Seco, Aipo/Salsão, Alcachofra, Alface, Alho, Alho Poró, Almeirão-chicória, Amendoim, Aspargos, Batata, Batata doce, Berinjela, Beterraba, Brócolis, Cebola, Cebolinha, Cebolinha Francesa, Cenoura, Chicória, Coentro, Cominho Verdadeiro, Couve, Couve manteiga, Couve Brócolis, Couve Chinesa, Couve-comum, Couve-de-Bruxelas, Couve-flor, Ervilha, Espinafre, Fava, Feijão-vagem, Grão-de-bico, Jiló, Lentilha, Mandioca, Moranga, Morango, Mostarda, Nabo, Pepino, Pimenta, Pimenta doce, Pimenta-de-bugre, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Salsa, Tomate.

FIBRAS Algodão, Linho

TABACO Fumo e Tabaco

É importante sublinhar que uma considerável fração dos 10.774 itens da LNC refere-se ao grupo FLORICULTURA. Como exemplo, temos que o número de cultivares registradas de violetas (Viola spp.), com 385 registros, é ainda maior que os da terceira espécie agrícola mais freqüente do nosso levantamento – soja (Glycine max)4, com 355 registros. Os diversos gêneros conhecidos popularmente por cravo, lírio, petúnia, begônia e ciclâmen resultam em 954 registros, o que representa mais do que todo o grupo FRUTÍFERAS, com seus 926 registros.

Em termos agregados, a participação do setor público nesses 5.731 registros referentes a espécies de interesse agrícola é notadamente inferior à participação do setor privado. Entre janeiro de 1998 e setembro de 2001, tem-se apenas 21% de participação do setor público, contra 79% de presença do setor privado nos registros da LNCR.

A distribuição dos itens de registro por grandes grupos de espécies é mostrada na Figura 6.7, onde olerícolas, grãos e frutíferas se destacam como grupos majoritários.

4 As espécies agrícolas com maior número de cultivares registradas são o milho, com 554 itens, o tomate, com 438, e a soja, com 355.

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Grãos28%

Forrageiras2%

Olerícolas47%

Frutíferas16%

Híbridos0%

Fibras1%

Tabaco4%Oleaginosas

1%

Álcool/Açucar1%

Álcool/Açucar Oleaginosas Tabaco Fibras Forrageiras Híbridos Frutíferas Grãos Olerícolas

Figura 6.7. Percentual de registros por grandes grupos de espécies, de janeiro de 1998 a setembro de 2001.

Devido ao maior volume de itens de registro estar concentrado no grupo Olerícolas (47%), as empresas com atuação nesse segmento de sementes passam a ter mais visibilidade que as demais, a medida que, em termos absolutos, o número das cultivares registradas por cada uma delas chega a ser maior do que o número total de cultivares das espécies do grupo grãos.

Na Figura 6.8, aponta-se quem são os principais obtentores das 5731 cultivares registradas. Do setor público, a Embrapa participa com 9% do total de registros, seguida pelo Instituto Agronômico de Campinas, com 6% desses .

A Figura 6.9 considera apenas as organizações do setor público com seus 1.187 registros na LNCR. A Embrapa participa com 45% dos itens registrados, seguida do Instituto Agronômico de Campinas - IAC (30%). A participação da Embrapa se dá na forma de única titular (37%), como principal titular em parceria com outros parceiros públicos (7%) ou como parceira em situações em que o titular é uma outra organização pública (1%). As organizações estaduais de pesquisa agropecuária têm uma participação de 18% e as universidades comparecem com 3% dos itens de registro desse setor.

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145

Outras empresas privadas58%

Outras organizações públicas5%

Embrapa9%

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Sementes Sakama Ltda5%

Feltrin Imp. de Sementes5%

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Sakata Seed Feltrin Imp. de Sementes Sementes Sakama Ltda Agristar do BrasilOutras empresas privadas Outras organizações públicas Embrapa IAC

Figura 6.8. Principais obtentores dos certificados de registro, de 1998 a 2001.

O epas18%

Univers idades3%

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EMBR APA+parceiros7%

Parceiros+EMBRAPA1%

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38%

EMBRAPA45%

O epas Univ ersidades O utras instituições IAC EM BRAPA (sem parceiros)

EM BRAPA+parceiros Parceiros+EM BRAPA

Figura 6.9. Principais obtentores de registros realizados pelo setor público, 1998 a 2001.

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146

A Figura 6.10 mostra a participação dos setores público e privado na LNCR, por grupo de espécies. A participação privada é dominante em todos os grupos, notadamente no grupo das olerícolas. No grupo Fibras estão incluídas as espécies algodão (Gossypium hirsutum L. var. latifolium Hutch; Gossypium hirsutum L. var. marie galante (Watt) Hutch; Gossypium hirsutum L.; e Gossypium spp) e linho (Linum usitatissimum L. e Linum perenne L.). No grupo Álcool/Açúcar está incluída apenas a espécie cana-de-açúcar (Saccharum spp.) e, no grupo Tabaco, as espécies fumo (Nicotiana tabacum L.) e tabaco (Nicotiana affinis hort.). As espécies pertinentes aos demais grupos estão listadas nas Figuras 6.12, 6.13a e 6.13b, 6.14 e 6.15.

Como deixa patente a Figura 6.10, com relação as olerícolas, o fato de um volume majoritário de registros estar concentrado em apenas um grupo faz com que a participação significativa de grandes corporações nos demais grupos seja diluída. Todavia, a análise de cada grupo, em separado, torna visível essas organizações. Para a elaboração do quadro referencial utilizado no questionário Delphi, foram considerados os dados de registro referentes a um grupo de espécies agronômicas de grande expressão econômica e às espécies forrageiras, como mostrado na Figura 6.11.

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Espécies

Publico Privado

Figura 6.10. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, por grupo de espécies, de 1998 a 2001.

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147

Observa-se, na Figura, a predominância do setor público, no período considerado, no registro de cultivares de algodão, de trigo, de arroz e de feijão. Os setores público e privado registraram número quase equivalente de cultivares de soja, de 1998 a 2001.

As Figuras 6.12, 6.13a e 6.13b, 6.14 e 6.15 mostram a participação percentual dos dois setores, público e privado, por espécie, para os seguintes grupos de espécies: grãos, olerícolas, frutíferas e forrageiras, respectivamente.

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Espécies

Setor Público Setor Privado

Figura 6.11. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de maior expressão econômica para o país, de 1998 a 2001.

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Grã

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Público Privado

Figura 6.12. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de grãos, de 1998 a 2001.

A informação apresentada anteriormente indica que:

a) há um predomínio do setor privado para todos os grupos de espécies, em termos de participação no lançamento de cultivares: para grãos (57%), olerícolas (96%), frutíferas (69%) e forrageiras (76%).

b) O mercado de olerícolas está totalmente dominado pelo setor privado; nesse mercado, observa-se também uma perfeita divisão de trabalho, em relação às diferentes espécies. Assim, há espécies cujas cultivares são registradas apenas por um setor, e espécies que são registradas apenas pelo outro. As espécies dominadas pelo setor público são: batata-doce, amendoim, lentilha, grão-de-bico e feijão-caupi.

c) Em relação a grãos, o setor público apresenta predomínio no registro de cultivares de algodão, arroz, café, café conilon, centeio, cevada, feijão comum, trigo e triticale, enquanto o setor privado domina o registro de cultivares de sorgo, soja e milho;

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149

d) No segmento de frutíferas, o setor público tem maior proporção de registro de cultivares de abacate, ameixa, caju, caqui, carambola, manga, nêspera, pêra e pêssego; por outro lado, o domínio do setor privado é observado para melão (nesse caso, de 96% das cultivares registradas), melancia, maracujá, mamão, jabuticaba, figo e coco;

e) Em relação a forrageiras observa-se algo semelhante - mas em menor grau - ao já comentado para olerícolas: uma divisão de trabalho, por espécie, entre os setores público e privado de P&D. Assim, enquanto o setor público registrou 100% das cultivares de estilosante, capim-pojuca, capim nilo e capim-elefante, o setor privado também fez o mesmo para paspalum, grama-batatais, grama Santo Agostinho, grama japonesa, grama, capim-bermuda, capim lanudo, capim kikuyo, capim-gordura, capim de Rhodes, calopogônio e outras variedades de braquiaria.

Como já foi anteriormente descrito, a predominância do setor privado também é observada no que se refere à proteção de cultivares, de 1998 a 2001, onde esse setor detinha 56% das cultivares protegidas. Nesse período, enquanto o setor público de P&D tinha mais cultivares de milho, de arroz, de feijão e de sorgo protegidas, o setor privado dedicou-se mais à proteção de soja, de trigo, de batata, de cana-de-açúcar, de maçã e de algodão.

Assim, pode-se concluir que em 2001 havia uma predominância de cultivares registradas e protegidas, por parte do setor privado e, dependendo da espécie considerada, havia também uma polarização entre os dois setores, para olerícolas e forrageiras.

Embora a simples proteção ou o registro de cultivares não signifique, diretamente, o domínio de mercado, em termos de adoção dessas cultivares para a produção rural, a proporção de registros ou proteção é um importante indicador do desempenho do setor de P&D na produção de cultivares que serão utilizadas pelo mercado de sementes (tratado em outra seção, a seguir). Outro indicador importante, que também pode ser afetado pela promulgação da LPC, é o preço da semente básica. O comportamento desses preços, nos últimos anos, é analisado na próxima seção.

6.1.5. Preço da semente básica

Um indicador de saída do sistema de produção de cultivares é o preço da semente básica cobrado às empresas produtoras e comercializadoras de sementes. A literatura, como já apontado, menciona o aumento desse preço como um dos prováveis efeitos (negativos) da Lei de Proteção de Cultivares. Esse aumento é logicamente derivado do fato de que, a partir da Lei, o setor de P&D que produz sementes básicas passa a ter direito a receber royalties pelo uso da semente melhorada.

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Público Privado

Figura 6.13a. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de olerícolas, de 1998 a 2001.

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Figura 6.13b. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de olerícolas, de 1998 a 2001.

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Espécies de frutíferas

Setor Público Setor Privado

Figura 6.14. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de frutíferas, de 1998 a 2001.

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Figura 6.15. Participação (%) dos setores público e privado na LNCR, para espécies de forrageiras, de 1998 a 2001.

A Figura 6.16 apresenta o preço médio, por kilograma de semente básica, para espécies selecionadas (soja, milho, arroz de sequeiro, arroz irrigado, algodão, trigo e feijão), de 1996 a 2001. Observa-se, na Figura, que as diversas espécies apresentam diferentes comportamentos no preço de suas sementes básicas.

Ao longo do período, as espécies com preço mais elevado, por ordem decrescente do preço médio, são: milho, feijão, algodão, arroz de sequeiro, soja, arroz irrigado e trigo. A variação em preço médio, de 1996 a 2001, foi de RS$ 0,58 (trigo) a R$ 7,27 (milho). O crescimento desses preços, no período, por outro lado, segue outra lógica: as espécies com maior crescimento em preço de sementes básicas são: trigo (100%), arroz irrigado (95%), algodão (81%) e arroz de sequeiro (67%). Soja, com um crescimento de 33%, milho, com 42% e feijão, com 51%, foram as espécies com menor crescimento em preços de sementes básicas, de 1996 a 2001.

A Figura 6.17 apresenta as variações percentuais em preços médios de sementes básicas, para as sete espécies, por biênio. Os picos de crescimento, para cada espécie, são: para soja, o biênio 96-97; para milho, o período 2000-2001; para o arroz de sequeiro e o arroz irrigado, o biênio 97-98, sendo que nesse último caso, o biênio 2000-2001 também apresenta forte crescimento; para o algodão, maior crescimento ocorreu de 2000 a 2001; trigo e feijão apresentam forte aumento de

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154

preços de 1998 a 1999, e o primeiro desses também apresenta um pico marcante de crescimento de 2000 a 2001. No geral, todas as espécies apresentam crescimento negativo em pelo menos um dos biênios considerados e o trigo mostra dois períodos de crescimento negativo.

Para algumas das espécies, há forte indicação da pouca influência da promulgação da Lei, sobre o comportamento de preços médios/kg de sementes básicas. Esse é o caso da soja, que apresenta inclusive crescimento negativo, logo após a promulgação da Lei.

Arroz de sequeiro, arroz irrigado, feijão e milho são as espécies que indicam da influência da Lei, pelo maior crescimento positivo observado, nos biênios que se seguem ao da promulgação desta. Considerando-se os valores percentuais em cada período, essa indicação é mais forte para arroz de sequeiro e arroz irrigado, e um pouco mais débil, para milho e feijão .

A segunda parte desse capítulo, que se inicia na próxima seção, tratará do setor de produção e comercialização de sementes, aquele setor que se responsabiliza por multiplicar a semente básica, produzida pelo setor de produção de cultivares que acaba de ser analisado, e vendê-la como uma semente comercial.

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Figura 6.16. Preço médio/kg de sementes básicas, de 1996 a 2001, espécies selecionadas (a partir de dados fornecidos pelo SNT, Embrapa, em julho de 2003).

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Figura 6.17. Variação percentual nos preços médios/kg de sementes básicas, espécies selecionadas, por biênio do período 1996-2001 (a partir de dados fornecidos pelo SNT, Embrapa, em julho de 2003).

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156

6.2 O Setor de sementes no Brasil: empresas e principais produtos

O setor de produção e comercialização de sementes contava, em 2000, com um total de 499 empresas. Essas empresas estavam vinculadas a oito associações de produtores de sementes, todas filiadas à ABRASEM (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes).

As oito associações estão nos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso e de Goiás. A Tabela 6.3 apresenta as principais características das empresas de sementes, em cada uma dessas associações.

Tabela 6.3. Principais características de empresas produtoras de sementes, filiadas a Associações Produtoras, em 2000.

Três espécies mais importantes, em % de empresas dedicadas à espécie, por associação Associação

Estado

Número de empresas associadas

Nº médio de

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%

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Aprosesc SC 122 3,37 Soja 68,00 Trigo 36,00 Hortícolas 52,00

Apasem PR 25 2,28 Soja 81,44 Trigo 78,35 Aveia 39,18

APPS SP 97 3,04 Milho 39,53 Soja 25,58 Hortícolas 20,93

Apsemg MG 43 1,81 Soja 52,86 Milho 24,29 Feijão 22,86

Aprossul MS 70 1,7 Soja 60,47 Arroz 30,23 Trigo 27,91

Aprosmat MT 43 2,3 Soja 85,71 Arroz 26,19 Algodão 11,90

Agrosem GO 42 1,45 Soja 71,93 Arroz 42,11 Feijão 33,33

Fonte: Anuário da Abrasem, 2000.

Em 2000, os vários Estados brasileiros contavam com associações de empresas produtoras de sementes, cada uma com 25 a 122 afiliadas. Em geral, as empresas se dedicavam a mais de uma espécie vegetal. A soja é a espécie mais importante para sete das oito associações; no único Estado em que não figura como a mais importante (São Paulo), ainda é a segunda colocada em importância.

Trigo é a segunda espécie em importância global (isto é, considerando-se todas as associações e a proporção de empresas que se dedicam a essa cultura, em cada associação). É a segunda ou terceira espécie cultivada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e no Mato Grosso do Sul.

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157

Em terceiro lugar, em importância geral, aparece o arroz. Essa cultura é a segunda colocada (em proporção de empresas que se dedicam a ela), em Goiás, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.

A Figura 6.18 apresenta as empresas produtoras de sementes, conforme a região em que atuam. Como se pode observar, o maior número dessas empresas tem sede na região Sul, em segundo lugar aparece o Centro-Oeste e, por último, a região Sudeste.

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Figura 6.18. Número de empresas produtoras de sementes, por região, em 2000 (Fonte: Anuário da Abrasem, 2000).

6.2.1. Número de empresas produtoras de sementes

Um dos fatores que tem preocupado os diferentes estudiosos do setor de sementes, especialmente em relação à Lei de Proteção de Cultivares, diz respeito à redução de empresas produtoras de sementes, no setor, como conseqüência da LPC. Este possível impacto foi apontado, por exemplo, por Wilkinson e Castelli (2000), que afirmam ser a saída de produtores de sementes do mercado brasileiro (por falência ou busca de novos mercados), uma das prováveis resultantes da Lei.

Por essa razão, procurou-se investigar este impacto, analisando-se a série histórica de número de empresas associadas à Abrasem, de 1990 a 2000 (ano em que o diagnóstico foi realizado). Essa série histórica é apresentada na Figura 6.19.

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Figura 6.19. Evolução do número de empresas produtoras de sementes, de 1990 a 2000. (Fonte: Anuários Abrasem, 1990-2001).

A tendência de crescimento negativo do número de empresas produtoras de sementes, como se pode ver na Figura, pode ser verificada durante toda a década de noventa. Para tentar entender melhor se esta queda poderia estar relacionada com a LPC, calculou-se o crescimento entre 1990 e 1995, e entre 1995 e 2000, obtendo-se os valores de variações percentuais correspondentes a-13,67%, no primeiro período, e de -24,73, no segundo período. Este resultado parece indicar que a segunda metade da década caracterizou-se por fatores que levaram à redução mais acelerada, no número de empresas produtoras de sementes.

Essa desaceleração acentuada, no entanto, não foi comum a todos os Estados. Na Figura 6.20, apresenta-se a variação percentual de número de empresas produtoras de sementes, por Estado, entre 1990 a 1995 e entre 1995 a 2000.

Cinco Estados apresentam crescimento negativo, tanto em um como em outro período. Apresentam crescimento negativo maior no segundo período (1995 a 2000): Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. O Paraná apresentou crescimento negativo mais acentuado de 1990 a 1995, enquanto que São Paulo teve o mesmo crescimento (negativo) nos dois períodos.

Outro padrão de crescimento é o de crescimento negativo em um dos períodos e crescimento positivo no outro. Mato Grosso e Minas Gerais tiveram crescimento positivo no primeiro

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159

período e crescimento negativo, de 1995 a 2000. Em ambos os casos, a redução de empresas, no segundo período, foi marcadamente superior ao aumento dessas, de 1990 a 1995.

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1990-1995 1995-2000

Figura 6.20. Variação percentual no número de empresas produtoras de sementes, por Estado, de 1990 a 1995 e de 1995 a 2000. (Fonte: Anuários Abrasem, 1990, 1995, 2000)

Finalmente, o único Estado a apresentar crescimento positivo, no segundo período, foi Goiás. Em um padrão totalmente distinto dos demais Estados, Goiás apresentou crescimento negativo do número de empresas, de 1990 a 1995 e um aumento nesse número, bastante superior à redução verificada nesses cinco anos, no período que vai de 1995 a 2000.

A grande maioria dos Estados, portanto, apresentou crescimento negativo (e superior ao do período anterior), de 1995 a 2000. Embora não se possa afirmar que essa redução seja direta ou tão somente influenciada pela LPC, este indicador fortalece a posição dos que associam esta redução à Lei. Outros indicadores serão analisados nas seções seguintes.

6.2.2. Produção de sementes melhoradas

A produção de sementes melhoradas, realizada por essas empresas, é uma proxy para o desempenho do setor de sementes. Por essa razão, e porque a literatura (Wilkinson e Castelli, 2000) aponta a redução da oferta de sementes como uma possível conseqüência da LPC,

Page 161: APOSTILA EMBRAPA

160

procurou-se investigar melhor esse indicador. A Figura 6.21 apresenta a variação percentual de produção de sementes melhoradas, no Brasil, para as principais commodities, em três períodos: de 1985 a 1990, de 1990 a 1995 e de 1995 a 2000.

(80)

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tes

Soja Trigo Arroz Milho Algodão FeijãoEspécies

85-86 a 89-90 90-91 a 94-95 95-96 a 99-00

Figura 6.21. Variação percentual na produção de sementes melhoradas, em culturas selecionadas, nas safras de 85-86 a 89-90, 90-91 a 94-95 e 95-96 a 99-00. (Fonte: Anuários Abrasem, 1984-2000.)

A Figura 6.21 indica que:

1. Com exceção da soja, todas as espécies apresentam crescimento negativo, já na segunda metade da década de 80;

2. Na década de 90, apresentam crescimento negativo, durante toda a década, as culturas de soja, trigo e feijão;

3. Entre estas, a soja apresenta crescimento negativo mais acentuado na segunda metade da década de 90; trigo e feijão apresentam crescimento mais acentuado (embora negativo), na primeira metade;

4. Trigo e algodão apresentam maior crescimento (negativo), de 1990 a 1995; milho, por outro lado, também apresenta maior crescimento neste período, embora esse seja, excepcionalmente, positivo;

5. Arroz e algodão são as duas culturas que apresentam crescimento positivo, no final da década de 90.

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161

Estes resultados indicam que a produção de sementes melhoradas tem se reduzido, de maneira geral, ao longo dos anos. Esta redução, por outro lado, já se verifica na década anterior a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares. Não há também um padrão de redução/crescimento muito claro, entre as diversas culturas, que permita associar essa tendência, de modo inequívoco, à promulgação da LPC.

No caso da soja, uma das razões da redução na produção de sementes foi a introdução de novas tecnologias de plantio que diminuíram a necessidade de sementes de 80 para 50 quilogramas por hectare, mantendo-se ou mesmo aumentando a produtividade. No caso do trigo, a redução explica-se, provavelmente, pela queda no preço internacional desse grão, o que estimulou a sua importação (e diminuiu o plantio).

6.2.3. Preço da semente comercializada

Um importante indicador para o setor de sementes corresponde ao preço cobrado pelo kg de sementes, em um determinado período. Esse indicador da situação do setor, no ano em que se iniciou a pesquisa (2001), será analisado nessa seção.

Além disso, vários autores (Carvalho, 1992; Velho, 1992; Wilkinson e Castelli, 2000, Lopes, 2001) apontam o aumento de preço das sementes comerciais como uma mudança potencial resultante da promulgação da Lei de Proteção de Cultivares. Por isso, esse indicador foi analisado e os resultados encontrados são descritos a seguir.

Para a análise, tomou-se uma série histórica de preços mensais, por kilograma de sementes, para espécies selecionadas (soja, milho, arroz de sequeiro, arroz irrigado, algodão, trigo, feijão), de 1994 a 2001. Estes preços mensais foram transformados em preços médios anuais, para facilitar a análise, especialmente em relação à variação percentual anual destes preços.

Em uma primeira análise, a projeção de preços médios, considerando-se os valores de 1994 a 1997, foi comparada com dados reais referentes a todo o período. O objetivo dessa análise era identificar inflexões, nos preços, a partir de 1997, ano da promulgação da LPC.

Analisou-se também o crescimento anual do preço médio do kg de sementes, para cada cultura. De igual modo, se a Lei tivesse tido uma conseqüência relevante sobre estes preços, esperava-se por crescimentos positivos e maiores (em comparação com os verificados nos anos anteriores), a partir de 1997.

As Figuras 6.22a e 6.22b apresentam as duas análises, em relação à soja. A primeira Figura indica que, nos primeiros quatro anos considerados, a soja apresentava um crescimento positivo e acelerado (a exceção é o biênio 94-95), e esse crescimento foi reduzido, a partir de 1997, com uma certa estabilização, no final do período. A projeção de preços, a partir de dados reais de 1994 a 1997, para o período 1997-2001, indica que os preços deveriam estar maiores do que na realidade estavam, nesse último período. Por exemplo, o preço médio praticado em 2000 era de R$ 0,50; se a tendência de preços apresentada de 94 a 97 se mantivesse, no entanto, este preço médio deveria estar por volta de R$ 0,58 (uma diferença de 16%, portanto, em relação ao preço real).

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R2 = 0,8401

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94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.22a. Projeção de preços médios /kg de sementes de soja, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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Figura 6.22b. Variação percentual no preço médio /kg de semente de soja, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

Page 164: APOSTILA EMBRAPA

163

O milho foi a segunda espécie analisada. As Figuras 6.23a e 6.23b apresentam as análises (projeção de preços e variação percentual, no período 1994-2001).

No caso do milho, parece ter ocorrido a inflexão no preço da semente comercial, esperada como resultado da promulgação da LPC. Assim, a partir de 1997 observa-se um crescimento positivo e maior dos preços médios dessa semente, sendo o maior crescimento observado de 2000 a 2001. A diferença de preço real e projetado, em 2000, para dar um exemplo, foi de aproximadamente 10% (R$ 2,40, o preço real, e R$2,20, o preço projetado).

Idêntica análise foi realizada para o arroz de sequeiro e para o arroz irrigado. Estas duas espécies apresentam comportamento de preços distintos, como se verá a seguir. As Figuras 6.24a e 6.24b apresentam projeção de preços e variação percentual para o arroz de sequeiro, no período 1994 a 2001. As Figuras 6.25a e 6.25b apresentam os mesmos indicadores para o arroz irrigado, no mesmo período.

O arroz de sequeiro parece ter sido outra espécie que sofreu o efeito da LPC, nos preços médios anuais de sementes. Para essa espécie, observa-se um crescimento elevado logo após a promulgação da lei (no biênio 98-99), estabilizando-se os preços em seguida. A projeção para o período 1997 a 2001, feita a partir dos dados reais de 1994 a 1997, indica que, mantida a tendência verificada no primeiro período, os preços médios por kg de semente, praticados no segundo, seriam mais baixos do que em realidade o foram. Novamente tomando como exemplo o ano 2000, a diferença entre o preço real do kg de sementes (R$ 0,81) e o preço projetado (cerca de R$ 0,72) é de cerca de 12,5% do valor desse último.

O arroz irrigado apresenta comportamento diverso do arroz de sequeiro, no que se refere aos preços médios de suas sementes. A partir de 1997, o que se observa é um crescimento positivo, mas menor do que seria de se esperar, caso se mantivesse a tendência do período de 1994 a 1997. Os crescimentos positivos, a partir de 1997, variam de 1% (no biênio 1998-1999) a 4,6% (no biênio 1999-2000). Assumindo-se um crescimento linear de preços médios, o preço projetado para o ano 2000 seria de R$0,62, cerca de 11% maior do que o preço praticado, de R$0,56 por kg de semente.

Outra espécie analisada foi o algodão. De forma interessante, o que se observa aí é a ocorrência de outro padrão de crescimento, não observada para nenhuma outra espécie (ver Figuras 6.26a e 6.26b). Para o algodão, o crescimento observado no período de 1997 a 2001 foi muito próximo ao esperado, quando se considera a tendência de crescimento observada no período anterior (1994 a 1997). No primeiro período (94-97), havia um padrão de crescimento positivo a taxas decrescentes, até 1998, como se pode observar na Figura 6.9b. A partir daí, outro ciclo semelhante ao iniciado em 94 começa, aparentemente com uma nova seqüência de crescimentos positivos com taxas decrescentes de crescimento.

Dos dados referentes ao algodão não é possível inferir, com segurança, se a LPC não teve efeito sobre os preços médios de sua semente, porque exatamente após 1997 (ano da promulgação da Lei) ocorre um crescimento positivo bem maior aos verificados nos biênios anteriores. Portanto, é impossível determinar se esse é um ciclo devido a especificidades da cultura ou se a LPC teve maiores influências sobre esse crescimento.

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R2 = 0,9858

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Figura 6.23a. Projeção de preços médios /kg de sementes de milho, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01Anos

Figura 6.23b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de milho, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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165

R2 = 0,8333

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Anos

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94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.24a. Projeção de preços médios /kg de sementes de arroz de sequeiro, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01Anos

Figura 6.24b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de arroz de sequeiro, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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R2 = 0,6781

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Anos

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94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.25a. Projeção de preços médios /kg de sementes de arroz irrigado, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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Figura 6.25b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de arroz irrigado, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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R2 = 0,979

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Anos

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/Kg

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94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.26a. Projeção de preços médios /kg de sementes de algodão, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01Anos

Figura 6.26b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de algodão, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

Page 169: APOSTILA EMBRAPA

168

O trigo foi outra espécie analisada, conforme apresentado nas Figuras 6.27a e 6.27b. Para essa espécie, o comportamento de preços não segue exatamente um padrão de crescimento linear, havendo variações muito marcantes nos preços, de um ano para outro. No período que vai de 1994 a 1997, esses preços apresentaram crescimento positivo, nos dois primeiros biênios, e negativo, no último (96-97). Após 1998 verifica-se novo crescimento positivo e alto, mas inferior ao verificado, por exemplo, no biênio 95-96. Este crescimento positivo é observado também nos dois últimos biênios, a taxas decrescentes.

Os preços reais distanciam-se bastante dos preços projetados, a partir do período inicial que vai de 1994 a 1997. Tomando-se novamente o ano 2000 como exemplo, o preço real nesse ano, correspondente a R$ 0,38, é 12 % inferior ao preço projetado para o mesmo ano (R$ 0,43). De novo, é impossível concluir, pelo comportamento dos preços analisados, se houve uma clara influência da LPC sobre esse comportamento.

Finalmente, analisou-se o comportamento de preços de sementes comerciais de feijão, de 1994 a 2001. As Figuras 6.28a e 6.28b apresentam os dados utilizados para essa análise. O crescimento de preços de sementes de feijão, no período, é o que mais foge do padrão linear hipotetizado inicialmente. Na verdade, os dados exibem uma tendência de crescimento exponencial, considerando-se todo o período. Esse crescimento aumentou sensivelmente após 1997, e o biênio de maior crescimento é o de 1998 a 1999.

Para o caso do feijão, portanto, há uma clara inflexão no padrão anterior, após 1997, o que indica uma influência importante da Lei de Proteção de Cultivares, para essa espécie.

A análise acima tinha dois objetivos: mostrar a situação de preços de sementes das principais commodities brasileiras e tentar identificar indícios da influência da LPC, promulgada em 1997, sobre esses preços. O primeiro objetivo, de natureza descritiva, com certeza foi atingido. No entanto, os dados não permitem conclusões inequívocas sobre a influência da Lei. Isto porque o comportamento de preços de sementes é com certeza multideterminado: há inúmeras variáveis ou estruturas que podem ter correlação positiva ou negativa com estes preços, como por exemplo: alterações na demanda (nos mercados-alvo) destas commodities, preços nacionais ou internacionais do produto das cadeias produtivas para as quais a semente é um insumo; rentabilidade dessas cadeias, etc.

A análise feita é obviamente bastante simplista: assume-se que as relações entre as variáveis que determinam preço, em um dado período – no caso, o que vai de 1994 a 1997 – serão mantidas no período seguinte (1997 a 2001), a única exceção sendo a promulgação da Lei em 1997, alterando fundamentalmente o ambiente institucional e os custos dessas cadeias.

Em um mundo governado por essas premissas, o comportamento observado para arroz de sequeiro, feijão e milho seria clara indicação da influência da Lei. E resultados como os mostrados pelas demais espécies (soja, arroz irrigado, algodão e trigo) indicariam que a Lei não exerceu nenhuma (ou exerceu pouca) influência sobre esses preços.

No entanto, reconhece-se as debilidades das premissas de estabilidade utilizadas na análise. Assim, não é possível afirmar com certeza se os crescimentos positivos observados após 1997 são tão somente influência da promulgação da Lei. Outros estudos, que adotem modelos multivariados e dinâmicos, são necessários para responder com maior segurança a essa questão.

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169

Finalmente, é interessante observar que as commodities para as quais se obteve indicações da influência da lei, são justamente aquelas orientadas, prioritariamente, para o mercado interno e para parcelas mais pobres da população. Se o crescimento verificado é conseqüência da Lei, especula-se que a razão para isso seja que, dentro do mercado interno, há menos turbulência e possivelmente mais estabilidade para que essa influência se manifeste, ao contrário do observado para outras commodities em que variáveis exógenas ao mercado brasileiro podem moderar ou reduzir aquela influência.

Comparação entre o preço de sementes básicas e o preço de sementes comerciais

Os preços de sementes básicas e de sementes comerciais são, obviamente, resultantes da influência de diversas variáveis – tais como a demanda existente por essas sementes, os preços de diferentes concorrentes, os custos de produção e fiscalização e os próprios preços de comercialização dos produtos finais das cadeias produtivas para as quais essas sementes servem como insumo. A influência da Lei de Proteção de Cultivares se dá, de forma mais direta, sobre a questão de custos de produção (de sementes comerciais e grãos), pela exigência de pagamentos de royalties sobre a semente melhorada pelo setor de P&D.

As análises aqui realizadas não são suficientes para manejar essa multideterminação dos preços de sementes básicas, comerciais e grãos. No entanto, servem como uma primeira aproximação das relações existentes entre estes fatores, no SNPCS. Por isso, faz-se a seguir uma breve descrição e discussão dessas relações, para sete espécies (soja, milho, arroz de sequeiro, arroz irrigado, algodão, trigo e feijão).

As Figuras 6.29a e 6.29b apresentam os preços médios por kilograma de sementes básicas, de sementes comerciais e de grãos, no período de 1996 a 2001. A simples inspeção visual dessas figuras permite identificar que as relações entre o preço de cada tipo de semente são diferentes, para cada espécie considerada. De forma geral, pode-se afirmar que as sementes básicas apresentam preço mais alto que as sementes comerciais e essas, maiores que o obtido por grãos. Essa relação é a esperada, em razão de ganhos de escala obtidos pela produção e comercialização de cada tipo de semente.

A inspeção visual desses gráficos indica que existem relações, provavelmente significativas, entre as sementes de algodão, de feijão, de soja e de milho. Aparentemente, não há uma relação clara para os diferentes tipos de sementes das demais espécies.

Uma análise de correlação desses dados gerou os resultados apresentados na Tabela 6.4. Os resultados apresentados nesta Tabela confirmam em parte o que a inspeção visual já indicava. A ausência de relações é confirmada para arroz de sequeiro e trigo. Por outro lado, apesar dos poucos dados disponíveis para a análise, observam-se fortes correlações entre:

c) as sementes básicas e as sementes comerciais de algodão, de arroz irrigado, de feijão, de milho e de soja;

d) as sementes básicas e os grãos de arroz irrigado e de milho;

e) as sementes comerciais e grãos de milho.

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170

Para as espécies que apresentam relação positiva e significativa entre sementes básicas e sementes comerciais, um aumento no preço das primeiras deve refletir no preço das segundas. No caso do arroz irrigado e do milho, o aumento no preço de sementes básicas reflete também no preço dos grãos. Somente no caso do milho verifica-se o caso em que um aumento nas sementes comerciais pode ser acompanhado de um aumento nos preços de grãos.

Tabela 6.4. Correlações (Pearson) entre preços médios /kg de semente (básica, comercial ou grão), de diversas espécies.

ESPÉCIE Semente Básica

Semente Comercial

Semente Comercial 0,81* 1,0 Algodão Grãos 0,26 0,15

Semente Comercial -0,21 1,0 Arroz de sequeiro Grãos 0,08 0,49

Semente Comercial 0,98*** 1,0 Arroz irrigado Grãos 0,81* 0,57

Semente Comercial 0,81** 1,0 Feijão Grãos 0,27 0,15

Semente Comercial 0,94*** 1,0 Milho Grãos 0,95** 0,95**

Semente Comercial 0,80** 1,0 Soja Grãos 0,14 0,41

Semente Comercial -0,20 1,0 Trigo Grãos -0,30 0,10

* Significativo ao nível de α<=0,10; ∗∗ Significativo ao nível de α<=0,05; ∗∗∗ Significativo ao nível de α<=0,01

(Fonte: FGV/IBRE, 2003. e dados fornecidos pelo SNT, Embrapa, em 2003 )

Durante o período considerado (1996 a 2001), como variaram os preços de sementes básicas, comerciais e grãos? A Figura 6.30 apresenta esses resultados, para as sete espécies analisadas. Dessa análise pode-se afirmar que:

a) Em relação ao preço de sementes básicas, as maiores variações, no período, correspondem ao trigo, arroz irrigado, algodão, milho e arroz de sequeiro; apresentam preço de sementes básicas mais estáveis a soja e o feijão;

b) No caso das sementes comerciais, as maiores variações ocorrem com milho, algodão, feijão e arroz de sequeiro, mantendo-se com preços de sementes comerciais mais estáveis o trigo, o arroz irrigado e a soja;

Page 172: APOSTILA EMBRAPA

171

c) Finalmente, no caso de preços de grãos, variam em percentual maior, no período, os preços de arroz de sequeiro, arroz irrigado e milho; trigo, feijão, algodão e soja mantém preços de grãos mais estabilizados, de 1996 a 2001.

Observa-se, no caso, que a soja, entre todas as espécies analisadas, é a que tem logrado reduzir a variabilidade nos preços de seus insumos e produtos, durante todo o período. Dentre todas, essa é a espécie cujas sementes básicas e comerciais tem sido altamente dependentes do setor público, o que talvez explique essa maior estabilidade.

Uma outra análise diz respeito às proporções do preço de cada tipo de semente, em relação ao preço observado para outros tipos. Para esta análise, calculou-se um indicador simples, correspondente ao diferencial (em porcentagem) do preço de um insumo, em relação ao produto que ele gera. Isso significa calcular-se o diferencial do preço de sementes básicas, em relação às sementes comerciais, e o diferencial do preço de grãos, em relação ao preço de sementes comerciais. Isso foi feito para os anos de 1996, 1998 e 2000. A intenção era tentar identificar se havia diferença, nessa proporção, ao redor do ano de 1998. Os resultados dessa análise são apresentados na Tabela 6.5, para os anos de 1996, 1998 e 2000.

A Tabela 6.5 mostra que há pouca estabilidade na relação de preços de sementes básicas, comerciais e grãos, para a maioria das espécies consideradas. As exceções são para as seguintes relações:

a) Sementes básicas e comerciais de milho e soja; e

b) sementes comerciais e grãos de algodão e milho.

Há uma grande variabilidade nessas proporções. Assim, enquanto o milho apresenta preços de sementes comerciais superiores a 200% do preço de sementes básicas (na média), há espécies (como a soja), em que esse diferencial fica por aproximadamente 40 a 55%.

A Tabela indica claramente porque é interessante ser um produtor de sementes básicas ou comerciais, para determinadas espécies. É o caso do milho, que apresenta grandes diferenciais entre sementes básicas e comerciais, e entre essas e grãos. Essa última diferença pode ter a seguinte explicação: o milho é uma das espécies com mercado mais competitivo e atraente para empresas privadas; a concorrência nesse mercado implica no lançamento de cultivares de forma mais intensa e freqüente que o observado para outras espécies. Por essa razão, ocorre de forma mais rápida a alta nos preços de sementes básicas e comerciais, o que não se reflete no preço de grãos.

O ano de 1996, anterior à lei, pode ser tomado como linha de base, na análise dos dados da Tabela 6.5. A LPC pode ter reflexos na relação de preços dos diferentes tipos de sementes, a depender da influência deles na formação do preço dos produtos seguintes. Assim, o aumento no preço da semente básica, pelo pagamento de royalties, poderia significar que estas aumentem mais do que a semente que se origina dela (semente comercial). Nesse caso, a relação percentual entre esses preços aumenta. Se, por outro lado, ocorre um aumento da semente comercial, mas não da semente básica, então ocorreria uma diminuição do valor dessa relação. Com o aumento de ambas (básica e comercial), a relação entre esses preços tende a reduzir-se, em relação a um valor de linha de base (como é o caso da relação no ano de 1996).

Page 173: APOSTILA EMBRAPA

172

Em relação ao ano de 1996, no ano de 1998 podem ser observados aumentos no preço de sementes básicas (em relação ao preço de sementes comerciais) para arroz de sequeiro, arroz irrigado e feijão; aumentos no preço de sementes comerciais (em relação ao preço de grãos) para algodão, arroz de sequeiro, soja e trigo. Então, embora seja difícil estabelecer uma relação direta entre a promulgação da LPC e essas relações, há indícios de que ela possa ter ocorrido, por ter provocado alterações nos preços de sementes básicas e comerciais, especialmente.

Tabela 6.5. Relação entre preços de sementes básicas e comerciais, e entre sementes comerciais e grãos, para espécies selecionadas, nos anos de 1996, 1998 e 2000.

Espécie

Relação (%) entre preços de:

1996

1998

2000

Sementes básicas/ sementes comerciais 90,91 77,57 63,49 ALGODÃO

Sementes comerciais/ grãos 41,67 47,11 52,92 Sementes básicas/ sementes comerciais -6,12 42,86 22,20 ARROZ

SEQUEIRO

Sementes comerciais/ grãos 134,33 7,26 67,01 Sementes básicas/ sementes comerciais -12,44 27,01 18,03

ARROZ IRRIGADO

Sementes comerciais/ grãos 101,00 -14,92 14,12 Sementes básicas/ sementes comerciais 16,91 37,29 15,10 FEIJÃO

Sementes comerciais/ grãos 93,89 40,48 177,73 Sementes básicas/ sementes comerciais 248,57 206,22 216,01 MILHO

Sementes comerciais/ grãos 1066,67 1106,25 790,74 Sementes básicas/ sementes comerciais 56,16 54,31 44,95 SOJA

Sementes comerciais/ grãos 40,38 105,21 43,90 Sementes básicas/ sementes comerciais 40,19 15,63 63,16 TRIGO

Sementes comerciais/ grãos 88,38 142,12 218,88

(Fonte: FGV/IBRE, 2003. e dados fornecidos pelo SNT, Embrapa, em 2003 )

Page 174: APOSTILA EMBRAPA

173

R2 = 0,6818

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

0,5

94 95 96 97 98 99 2000 2001

Anos

Preç

o m

édio

/Kg

de s

emen

tes

94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.27a. Projeção de preços médios /kg de sementes de trigo, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

Varia

ção

perc

entu

al n

o pr

eço

méd

io p

or K

g de

sem

ente

s

94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01Anos

Figura 6.27b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de trigo, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

Page 175: APOSTILA EMBRAPA

174

R2 = 0,3659

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

94 95 96 97 98 99 2000 2001

Anos

Preç

o m

édio

/Kg

de s

emen

tes

94-97 94-01 Linear (94-97)

Figura 6.28a. Projeção de preços médios /kg de sementes de feijão, no período de 1997 a 2001, a partir de dados reais do período de 1994 a 1997 e preços reais praticados em todo o período (1994 2001). (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

-5

0

5

10

15

20

25

Varia

ção

perc

entu

al p

or K

g de

sem

ente

s

94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01Anos

Figura 6.28b. Variação percentual no preço médio/kg de semente de feijão, de 1994 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003)

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175

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0,2

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1

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2

4

6

8

10

12

Figura 29a. Preços médios por kg de sementes básicas, sementes comerciais e grãos, de espécies selecionadas, de 1996 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003 e dados fornecidos pelo SNT, em 2003)

1996 199 2000

Anos7 1998 1999 2001

Preç

o m

édio

/kg

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

0

0,1

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0,3

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0,6

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0,8

1996 1997 1998 1999 2000 2001

Anos

Preç

o m

édio

/Kg

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

1996 1997 1998 1999 2000 2001nosA

Preç

o m

édio

/kg

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

1996 1997 1998 1999 2000 2001 1996 1997 1998 1999 2000 2001

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1997 19 2001

Preç

o m

édio

/Kg

MILHO

1996 98 1999 2000Anos1996 1997 1998 1999 2000 2001 1996 1997 1998 1999 2000 2001

0

0,5

1

1,5

2

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Preç

o po

r Kg

SOJA

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

1996 1997 1998 1999 2000 2001Anos1996 1997 1998 1999 2000 2001

Page 177: APOSTILA EMBRAPA

176

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1996 1997 1998 1999 2000 2001Anos

Preç

o m

édio

/Kg

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

0

0,2

0,4

0,6

0,8

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1996 1997 1998 1999 2000 2001Anos

Preç

o m

édio

/Kg

Sementesbásicas

Sementescomerciais

Grãos

TRIGO FEIJÃO

Figura 6.29b. Preços médios por kg de sementes básicas, sementes comerciais e grãos, de trigo e feijão, de 1996 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003 e dados da Embrapa, SNT, em 2003).

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Varia

ção

perc

entu

al n

o pr

eço

méd

io

Algodão Arroz desequeiro

Arroz irrigado Feijão M ilho Soja Trigo

Espécies

Sem entesbásicas

Sem entescom ercia is

G rãos

Figura 6.30. Variação percentual no preço médio/kg de sementes básicas, de sementes comerciais e de grãos, para espécies selecionadas, no período de 1996 a 2001. (Fonte: FGV/IBRE, 2003, e dados da Embrapa, SNT, 2003).

Page 178: APOSTILA EMBRAPA

177

Para sintetizar a análise realizada neste capítulo, observa-se que as informações apresentadas indicam que:

Em relação ao setor de produção de cultivares:

• há razoável capacidade e infra-estrutura no setor, tanto para a P&D pública como para a P&D privada;

• observa-se grande polarização no setor de produção de cultivares, entre o setor público, e empresas transnacionais, motivada pela concentração observada após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares; praticamente inexiste um setor privado nacional de produção de cultivares;

• o setor público tem apresentado bom desempenho, medido pelo número de cultivares protegidas ou registradas, mas quando se consideram os grupos de espécies, o setor privado apresenta predomínio em todos os grupos;

• para alguns grupos de espécies, verifica-se forte polarização, com algumas espécies componentes sendo exclusivamente trabalhadas por um ou outro setor (público ou privado); esse é o caso dos grupos de olerícolas e frutíferas;

• o setor público predomina, em registro de cultivares, para algumas espécies de grãos e frutíferas

Em relação ao setor de produção de sementes:

• o número de empresas produtoras de sementes vem decrescendo, embora esta tendência seja observada em anos anteriores à promulgação da LPC. Por isso, não se pode claramente deduzir a influência da lei, sobre essa tendência;

• a influência da lei também não pode ser afirmada, a partir da análise da produção de sementes melhoradas (que também apresentou queda, anterior à lei), ou do preço da semente comercializada;

• há indícios de alguma influência da lei nas relações entre os preços de sementes básicas, comerciais e de grãos.

Page 179: APOSTILA EMBRAPA

178

Capítulo 7 O setor de produção e comercialização de cultivares e sementes: a visão das empresas A introdução da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, pode certamente produzir mudanças no setor de produção de sementes, e nas relações desse setor com seus fornecedores de sementes básicas (as organizações de P&D, públicas e privadas), e também com seus clientes (revendedores de sementes e produtores rurais). A possibilidade de ocorrência dessas mudanças é mencionada por diversos autores (Carvalho, 1992, 1996, 1997; Velho, 1992; Wetzel, 1999; Uitdewillingen, 1999; Lopes, 2001; Nodari, 2000; e Wilkinson e Castelli, 2000).

Visando uma melhor compreensão da situação das empresas produtoras de sementes, antes e após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, a Embrapa realizou uma pesquisa junto a essas empresas, em 2000, com os seguintes objetivos:

a) Identificar o estado de vários indicadores do negócio de produção de sementes – tais como a quantidade produzida, produto principal, etc. – antes e após a promulgação da lei.;

b) Identificar alterações na relações entre empresas produtoras de sementes, seus fornecedores de material básico e seus compradores de sementes, após 1997.

Nesta pesquisa, os dados foram levantados, por questionário, junto a empresas produtoras de sementes associadas à ABRASEM (Associação Brasileira de Produtores de Sementes) até 2000. Do cadastro fornecido pela Associação faziam parte 499 empresas. O questionário foi enviado a todas essas empresas por endereço eletrônico ou convencional, constantes desse cadastro. No entanto, desse total foram retornados, por erro de endereço, cerca de 192 questionários que, apesar de vários esforços, não lograram chegar a seus destinatários. Portanto, apenas cerca de 307 questionários chegaram às empresas produtoras de sementes.

Do total de 307 questionários enviados, foram retornados 81, dos quais dois foram eliminados, por versarem sobre mudas e fertilizantes e, portanto, fugirem do foco do questionário. A taxa de retorno obtida foi então de 16%, se se considera a população total de 499 empresas, e de 26%, se se considera o total de questionários aplicados. Tanto uma taxa como a outra indicam boa representatividade da amostra final.

Esse capítulo relata os resultados principais dessa pesquisa. Na primeira parte, são descritas as empresas que participaram do survey realizado. Na segunda e terceira partes, são apresentadas e discutidas as avaliações das empresas, sobre alterações nas suas relações com o setor de P&D e com seus clientes, respectivamente; na parte final, é analisada a visão das empresas sobre mudanças já ocorridas e futuras, como conseqüência da Lei.

Page 180: APOSTILA EMBRAPA

179

7.1 Descrição das empresas produtoras participantes da pesquisa

A maioria das 79 empresas produtoras de sementes, participantes da pesquisa, entrou no negócio entre 1981 e 1985. No entanto, a última década mostra um crescimento acentuado de novas empresas no setor (com cerca de 40% das empresas tendo iniciado seu negócio nesse período), conforme apresentado na Figura 7.1. Além disso, 20% dessas empresas entraram no negócio a partir de 1996, próximo, portanto, da promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997.

Em termos de Estados em que atuam, observa-se uma concentração das empresas na região Centro-Sul, compreendendo os estados do Paraná, do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Minas Gerais e de Santa Catarina; em segundo lugar aparece a região Centro Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás; e finalmente, uma pequena parcela de empresas tem atuação inter-regional(isto é, atuam tanto na região Sul-Sudeste como no Centro-Oeste), conforme se apresenta na Figura 7.2. Essa composição é compatível com a da população de empresas produtoras de sementes (ver Capítulo 6).

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

% d

e re

spos

tas

Até 1970 De 1971 a 1975 De 1976 a 1980 De 1981 a 1985 De 1986 a 1990 De 1991 a 1995 De 1996 a 1998Ano de entrada

Figura 7.1. Ano de entrada no negócio, das empresas participantes da pesquisa.

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180

0,00

5 ,00

10 ,00

15 ,00

20 ,00

25 ,00%

de

resp

osta

s

G O G O -M G -S P

M G M G -R S -S P

M S M S -M T M S -M T -P R

M T P R P R -S C R S S C S P

E stad o (sed e d a firm a)

Figura 7.2. Estado(s) em que atua cada empresa.

Em relação ao produto principal dessas empresas, a Figura 7.3 torna clara a predominância de firmas dedicadas à produção de sementes de soja, como produto principal, seguidas por aquelas empresas que produzem sementes de milho, de forrageira e de arroz. Soja, milho e arroz, ao lado de trigo, são também as espécies mais freqüentemente comercializadas, na população de empresas (ver Capítulo 6). Para as empresas com participação mais expressiva na amostra, observa-se ainda que uma proporção igual de empresas produtoras de sementes de soja, antes e após 1997; o mesmo se observa em relação a sementes de milho. Por outro lado, observa-se um aumento no número de empresas produtoras de sementes de forrageiras e arroz, nos dois períodos. Considerando-se todas as culturas, 77% das empresas apresentavam o mesmo tipo de produto principal, nos dois períodos (antes e depois da promulgação da lei), como seria esperado.

Para as espécies predominantes na amostra, observa-se um crescimento expressivo na quantidade produzida de sementes, antes e após 1997, tanto para sementes de forrageiras, como para as de milho e soja (Figuras 7.4.a e 7.4.b). Esse crescimento na produção, no entanto, é provavelmente o que seria de se esperar com o crescimento estrutural da demanda anual por sementes comerciais.

As empresas produtoras de semente se constituem em um dos componentes do SNPCS. Sua participação, nesse sistema, se dá pela multiplicação da semente básica, gerada e fornecida pelo setor de P&D, e a posterior comercialização dessas chamadas “sementes comerciais”, diretamente a produtores rurais ou por intermediação de terceiros (em geral, armazéns e revendas agropecuárias e empresas transnacionais).

Uma preocupação importante da presente pesquisa consistia em identificar quais os possíveis reflexos da Lei de Proteção de Cultivares sobre essas relações entre os produtores de sementes e seus fornecedores (setor de P&D) e seus clientes. Os resultados sobre essas alterações serão apresentados a seguir.

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181

7.2 Relações de produtores de sementes com seus fornecedores, antes e após a Lei Inicialmente, as empresas foram solicitadas a informar o percentual de sementes – do produto principal de cada empresa – fornecido por diferentes fornecedores de sementes básicas. As alternativas de fornecedores apresentadas no questionário incluiam: a) Embrapa; b) Empresa privada nacional; c) Empresa privada estrangeira; d) Cooperativas; e) Fundações, Institutos, Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária; f) a própria Empresa.

A Figura 7.5 apresenta o % médio de sementes (do produto principal) fornecido por cada um dos possíveis fornecedores.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

% d

e re

spos

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soja

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Sem

resp

osta

Produtos principais

Até 1997 Depois de 1997

Figura 7.3. Principal produto das empresas de produção e comercialização de sementes, na amostra.

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5000

10000

15000

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50000

Ton/

ano

Antes de 1997 Depois de 1997Período

Figura 7.4a. Quantidade de sementes de soja (ton/ano) produzidas.

0

5 0 0

1 0 0 0

1 5 0 0

2 0 0 0

2 5 0 0

3 0 0 0

3 5 0 0

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Ton/

ano

F o rra g e ira s (n = 6 ) M i lh o (n = 6 )C u lt iv a r

A n te s d e 1 9 9 7 D e p o is d e 1 9 9 7

Figura 7.4b. Quantidade de sementes de forrageiras e milho (ton/ano) produzidas.

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183

0

5

10

15

20

25

30

35

% m

édio

de

sem

ente

s fo

rnec

ido

Embrapa Empresa privadanacional

Empresa privadaestrangeira

Cooperativas Fundações,Secretarias,

OEPAS, Institutos

Própria empresa

Fornecedor principal

Até 1997 Depois de 1997

Figura 7.5. Percentual médio de sementes básicas fornecido, por tipo de fornecedor.

Considerando-se o percentual médio de sementes fornecidas, nos dois períodos (antes e depois da Lei de Proteção de Cultivares), a Embrapa desponta como principal fornecedor (percentual médio de 32%) da maioria das empresas que participaram da pesquisa, independente do produto principal transacionado por cada uma delas. Em segundo lugar aparecem as fundações, secretarias, empresas estaduais e institutos (média de 16%); em terceiro lugar, a própria empresa de sementes (10%); em quarto lugar aparecem as empresas privadas nacionais (8,75%) e, em último, as empresas privadas estrangeiras e as cooperativas, ambas fornecendo um percentual médio de 7,5% das sementes do produto principal, nos dois períodos considerados.

Por outro lado, verifica-se também diferenças na situação de cada fornecedor, quando se compara sua participação no fornecimento de sementes, nos dois períodos. Assim, a Embrapa, as fundações, secretarias, institutos e empresas estaduais, e as empresas privadas estrangeiras apresentaram crescimento na sua participação, depois de promulgada a Lei (de 4%, no caso da Embrapa, e de 7%, no caso dos outros dois fornecedores). O uso de sementes produzidas pela própria empresa e de sementes fornecidas por empresas privadas nacionais apresentou decréscimo (embora pequeno, nos dois casos), após 1997. Além disso, embora Embrapa e Fundações e similares continuassem como os fornecedores mais importantes, após a Lei, as empresas privadas estrangeiras passaram do último para o terceiro lugar, como fornecedores principais. A própria empresa, empresas privadas nacionais e cooperativas ocupam o quarto, quinto e sexto lugares, respectivamente, no fornecimento de sementes, após 1997.

fornecidas por empresas privadas nacionais apresentou decréscimo (embora pequeno, nos dois casos), após 1997. Além disso, embora Embrapa e Fundações e similares continuassem como os fornecedores mais importantes, após a Lei, as empresas privadas estrangeiras passaram do último para o terceiro lugar, como fornecedores principais. A própria empresa, empresas privadas nacionais e cooperativas ocupam o quarto, quinto e sexto lugares, respectivamente, no fornecimento de sementes, após 1997.

O fornecimento de sementes básicas deve também ser examinado à luz das peculiaridades de cada espécie. Para tanto, analisou-se o percentual médio fornecido por O fornecimento de sementes básicas deve também ser examinado à luz das peculiaridades de cada espécie. Para tanto, analisou-se o percentual médio fornecido por

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184

tipo de fornecedor, para as espécies mais representadas na amostra da pesquisa, isto é, para milho, soja, arroz, forrageiras. Os dados apresentados abaixo indicam um padrão diverso de fornecimento de sementes, para cada espécie.

Os resultados para milho e soja são apresentados nas Figuras 7.6a e 7.6.b, respectivamente. Para milho, a Embrapa, as empresas privadas estrangeiras e as fundações e similares são os principais fornecedores. Após a promulgação da Lei, em 1997, observa-se um sensível decréscimo da participação da Embrapa e de fundações e similares, e um (ainda) pequeno aumento na participação de empresas privadas estrangeiras. Segundo a Embrapa (1999), “a produção de sementes híbridas de milho constitui o território do melhoramento das empresas privadas, estrangeiras ...e nacionais... Nesse segmento, a participação da Embrapa é modesta, com cerca 9,46% (sic) do mercado, na safra 98/99, mas em cultivares, destinadas aos pequenos agricultores, é alta, com 69% (pp.4) ”. O percentual médio obtido para o fornecimento de sementes de milho, na amostra pesquisada, é de 66%, o que indica que esses produtores possivelmente trabalhem com cultivares de milho.

De qualquer modo, a Figura 7.6a indica também decréscimo na participação da Embrapa e de fundações e similares, no fornecimento de sementes, após a promulgação da LPC. Também se observa um aumento na participação de empresas privadas estrangeiras e da utilização de sementes produzidas na própria empresa (essa última com um aumento superior à primeira).

No caso da soja, observa-se que:

a) antes da LPC, os principais fornecedores de semente eram, pela ordem: Embrapa, fundações e similares, as cooperativas, as empresas privadas nacionais, a própria empresa produtora de sementes e, por último, as empresas privadas estrangeiras;

b) após a promulgação da lei, essa ordem é a seguinte: Embrapa, fundações e similares, empresas privadas nacionais, cooperativas, as próprias empresas e, ainda em último lugar, as empresas privadas estrangeiras;

c) no entanto, comparando-se os dois períodos (antes e depois da lei), o que os dados indicam é que houve um decréscimo da participação da Embrapa e das cooperativas, nesse fornecimento. Para empresas nacionais e para a própria empresa, a situação permaneceu igual. A participação de fundações e similares e de empresas privadas estrangeiras, por outro lado, apresentou acréscimo de 9 pontos percentuais, no caso das primeiras, e de 3 pontos, no caso das últimas.

Embora o número de empresas produtoras de sementes de forrageiras e de arroz seja pequeno, na amostra pesquisada, os dados das Figuras 7.7a e 7.7b são uma primeira indicação do padrão de fornecimento de sementes básicas, para as firmas que se dedicam a esses produtos. Para forrageiras, os principais fornecedores são a própria empresa e a Embrapa, observando-se uma participação muito pequena (e sem variação, nos dois períodos), de fundações e similares. Após a promulgação da LPC, houve um crescimento sensível da Embrapa (de 25 pontos percentuais), e uma redução do uso de sementes produzidas pela própria empresa (de 5 pontos percentuais).

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185

No caso do arroz, a empresa privada nacional aparece como principal produtor, pela primeira vez, antes da LPC, seguida pela Embrapa e por fundações e similares. Após a promulgação da lei, no entanto, observa-se uma redução da participação de todos os fornecedores.

Quais as vantagens oferecidas por cada fornecedor? As empresas participantes da pesquisa indicaram as vantagens apresentadas na Figura 7.8, na sua escolha do fornecedor, antes e depois da promulgação da Lei.

Tanto para a Embrapa como para outros fornecedores, a consideração à imagem do fornecedor aparece como um motivo muito relevante: essa é apontada como a principal vantagem de qualquer dos fornecedores, embora seja indicada por uma proporção maior dos que escolhem a Embrapa, em qualquer período. Esta vantagem apresentou crescimento, no número de indicações, para ambos os fornecedores analisados, depois da LPC.

A Embrapa apresentou crescimento na indicação das seguintes vantagens, como fornecedor: acesso à rede de distribuição (23 pontos percentuais), regularidade no fornecimento (17 pontos) e assistência técnica (5 pontos). Os preços das sementes básicas fornecidas, uma importante vantagem da Embrapa antes da LPC, tiveram reduzida a sua indicação de modo notável, após 1997.

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186

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

% m

édio

de

sem

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rnec

ido

E m b ra pa E m p re sa n a c io n a l E m p re sa e stra n ge ira C o o p e ra tiv a F u n da ç õe s, O E P A s,e tc .

P ró p r ia e m p re sa

P rin c ip a l fo rn e c e d o r d e s em e n te s

A n tes d e 1 9 9 7(n = 5 )

D e p o is d e 1 9 9 7(n = 7 )

Figura 7.6a. Percentual médio de sementes de milho fornecido, por tipo de fornecedor.

0

5

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Antes de 1997(n=36)

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Figura 7.6 b. Percentual médio de sementes de soja fornecido, por tipo de fornecedor.

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187

0

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tes

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E m brapa E m presa nacional E m presaestrangeira

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P rópria em presa

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Antes de 1997(n=4)

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Figura 7.7a. Percentual médio de sementes de forrageiras fornecido, por tipo de fornecedor.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

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de

sem

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E m brapa E m presa nac iona l E m presa estrange ira C oopera tiv a F undações, O E P A s,e tc .

P róp ria em presa

P rin c ip al fo rn eced o r d e sem en tes

A ntes de 1997(n= 2)

D epo is de 1997(n= 3)

Figura 7.7b. Percentual médio de sementes de arroz fornecido, por tipo de fornecedor.

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Acesso a rede dedistribuição

Compra/comercializasementes

Figura 7.8. Vantagens de cada fornecedor (Embrapa ou outro fornecedor) de sementes básicas, antes e após a promulgação da LPC.

O mesmo padrão descrito para a Embrapa – com pequenas alterações, que serão comentadas a seguir – é observado para outros fornecedores: crescimento na indicação das vantagens referentes à imagem, regularidade de fornecimento, assistência técnica e acesso a redes de distribuição, e decréscimento na indicação de “preços” como uma vantagem, desse fornecedor, após a promulgação da Lei de Cultivares.

As diferenças entre um e outro fornecedor estão na posição relativa das vantagens de regularidade, de assistência técnica e de acesso a redes, antes e após a LPC. Para a Embrapa, essas vantagens ocupavam o quarto, terceiro e quinto lugares, antes da Lei, e passaram a ocupar o segundo, quarto e terceiro lugares, após 1997; para outros fornecedores, essas vantagens ocupavam o segundo, terceiro e quinto lugares, antes da LPC e , após a promulgação da lei, passaram às terceira, segunda e quarta posições.

De qualquer modo, o padrão observado indica que o fator “preço da semente básica” deixou de ser uma vantagem importante, para ambos os tipos de fornecedores. Estes parecem estar compensando a ausência dessa vantagem por um esforço em fornecer serviços adicionais às empresas produtoras de sementes.

Uma diferença de padrão, entre os fornecedores, diz respeito à vantagem relativa ao financiamento do processo produtivo. Enquanto a Embrapa não oferece esta vantagem, em nenhum período, outros fornecedores, que a oferecem, têm reduzido essa vantagem (já pequena), após a LPC.

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Para entender melhor as estratégias utilizadas pelos fornecedores, antes e após a Lei, convém analisar estas vantagens também sob o ponto de vista de diferentes espécies. As Figuras 7.9a, 7.9b e 7.9c apresentam as vantagens de cada fornecedor, no que se refere a forrageiras, milho e soja.

A primeira espécie analisada – forrageiras – apresenta um número bastante reduzido de empresas que indicam a Embrapa como principal fornecedora. Os dados que se referem a este fornecedor, por isso, devem ser encarados com cautela. Eles indicam apenas duas vantagens (imagem e compra de sementes) como vinculadas a esse fornecedor.

No caso de outros fornecedores de sementes básicas de forrageiras, no entanto, observa-se cinco vantagens: imagem do fornecedor, assistência técnica, financiamento do processo produtivo, acesso a redes de distribuição e regularidade no fornecimento, todos apresentando crescimento, após a LPC.

No caso do milho, as vantagens do fornecedor Embrapa são: imagem, preço, assistência técnica e regularidade de fornecimento. Todas essas vantagens aparentemente não variaram, com a promulgação da lei, para esse fornecedor. Outros fornecedores de sementes básicas de milho apresentam como vantagens: imagem, assistência técnica, preço e acesso (todas aumentando em importância após a LPC), além da regularidade do fornecimento e financiamento do processo produtivo (ambas tendo sua importância reduzida após a Lei).

A soja é a espécie para a qual todos os fornecedores apresentam maior número de vantagens. A Embrapa só não financia o processo produtivo nem compra sementes das empresas produtoras, mas oferece as demais vantagens. Com exceção de preço, que se reduz sensivelmente como vantagem, após a LPC, todas as demais vantagens aumentam de importância, com a promulgação da Lei.

Por outro lado, outros fornecedores de sementes básicas de soja apresentam todas as vantagens consideradas na análise. Assistência técnica, preço, descontos e financiamento do processo produtivo apresentam redução de sua importância como vantagem, após 1997. Todas as demais apresentam crescimento desta importância.

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Fornecedor/Período

Preço Desconto Regularidade Imagem Subsídio Financiamento Assistência técnica Acesso a redes de distribuição

Compra de sementes

Figura 7.9a. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de forrageiras, antes e depois da LPC.

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F o r n e c e d o r /p e r ío d o

P re ç o D e s c o n to R e g u la r id a d e Im a g e m S u b s íd io F in a n c ia m e n to A s s is tê n c ia té c n ic a A c e s s o a re d e s d e d is tr ib u iç ã o

C o m p ra d e s e m e n te s

Figura 7.9b. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de milho, antes e depois da LPC.

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F o rn e c e d o r/p e río d o

P re ç o D e s c o n to R e g u la rid a d e Im a g e m S u b s íd io F in a n c ia m e n to A s s is tê n c ia té c n ic a A c e s s o a re d e s d e d is tr ib u iç ã o

C o m p ra d e s e m e n te s

Figura 7.9c. Principais vantagens de diferentes fornecedores (Embrapa – outros fornecedores) de sementes básicas de soja, antes e depois da LPC.

Alguns pontos em comum, independente da espécie ou do fornecedor considerado:

• A imagem do fornecedor aparece como a grande vantagem dos fornecedores, tendo aumentado de importância, após a LPC;

• Vantagens que implicam redução de lucro do fornecedor (ou, na forma inversa, aporte de recursos), tais como descontos em preços, subsídios ou financiamento do processo produtivo, bem como a compra de sementes, parecem pouco utilizados, por qualquer dos fornecedores e para todas as espécies. No caso da soja, verifica-se um início (ainda incipiente) de uso desses serviços, após a LPC;

• O preço da semente fornecida não aparece como vantagem no caso de forrageiras e tem sua importância reduzida, para a maioria dos demais casos, após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares.

Um outro aspecto que mereceu análise corresponde ao relacionamento entre empresas produtoras de sementes e seus fornecedores de sementes básicas, e como esse relacionamento foi alterado, após a LPC. Uma dimensão particularmente importante desse relacionamento diz respeito à sua formalização em contratos; é interessante também identificar a proporção de relações formalizadas que implicam exclusividade no fornecimento de sementes básicas. As informações sobre esses pontos, apresentadas pelas empresas produtoras de sementes, são apresentadas na Figura 7.10.

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Figura 7.10. Formas de relacionamento entre empresas e fornecedores de sementes básicas, antes e após a LPC.

O que a Figura 7.10 permite concluir é que houve um aumento da formalização nas relações com os fornecedores de sementes básicas, após a promulgação da Lei. Esse crescimento é particularmente expressivo para a situação de contratos sem exclusividade, embora também se observe, já, um aumento de contratos com exclusividade. A informalidade nas relações, que caracterizava cerca de 33% dos casos, antes da lei, reduz-se à metade, após 1997.

Finalmente, uma vez que os fornecedores de sementes básicas pertencem ao setor de P&D, no SNPCS, procurou-se também identificar: a) a facilidade de acesso a novas tecnologias de produção de cultivares e sementes, nos últimos anos e b) a importância da pesquisa pública (realizada por Embrapa, Empresas Estaduais de pesquisa, Universidades Federais e Estaduais), para o negócio da empresa.

Quanto ao acesso a novas tecnologias, as avaliações das empresas são apresentadas na Figura 7.11, de acordo com o fornecedor principal de sementes básicas (e, portanto, possívelmente o segmento de P&D com que a empresa mais se relaciona).

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Antes de 1997 Depois de 1997 Antes de 1997 Depois de 1997Fornecedor/período

Muito difícil Difícil Fácil Muito fácil

Figura 7.11. Facilidade de acesso a novas tecnologias, de acordo com o principal fornecedor de sementes básicas, antes e depois da LPC.

O acesso a novas tecnologias mostra-se, em geral, fácil, qualquer que seja o principal fornecedor de sementes básicas. Antes da LPC, a Embrapa apresentava uma vantagem de sete pontos percentuais, em termos de acesso a novas tecnologias por seus clientes produtores de sementes, do que outros fornecedores. Após a Lei, no entanto, a situação parece ter se invertido, com um maior acesso observado para aquelas empresas que se relacionam com outros fornecedores. De modo similar, o número de empresas que indicam dificuldade de acesso (pontos 1 e 2 da escala de facilidade de acesso utilizada na avaliação) aumentam, para a Embrapa, em comparação com outros fornecedores.

A situação descrita acima, comparando a Embrapa com outros fornecedores (isto é, empresas privadas nacionais e estrangeiras, fundações e similares, cooperativas e a própria empresa) é bastante semelhante, quando a comparação é entre Empresas públicas (Embrapa e fundações e similares) e os demais fornecedores: o acesso é considerado fácil para qualquer fornecedor e reduz-se para as empresas públicas, após 1997.

A respeito do acesso a novas tecnologias, o questionário também perguntava “como a empresa [produtora de semente] espera ter acesso a essas novas tecnologias”. As respostas fornecidas pelas empresas indicam que pretendem obter esse acesso por meio de parcerias, convênios, franquias, pagamentos de royalties, contratos com os detentores de cultivares protegidas. Como exemplo das respostas fornecidas destacam-se:

“Parceria com as principais empresas de tecnologia de semente existentes no país, desde que não seja abusivo o contrato para multiplicação, como por exemplo a exclusividade”.

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“Somos franqueados da Embrapa e esperamos continuar como tal. A Embrapa tem excelentes materiais. Quanto aos transgênicos [citados na pergunta como exemplo de nova tecnologia] consideramos um grande avanço, porém, num primeiro momento, que pode durar alguns anos, julgamos que materiais não transgênicos terão enorme espaço ainda. Tem muito agricultor, neste país, que ainda não teve acesso a semente melhorada. Daqui há quantos anos ele terá condições de utilizar tecnologia de ponta (OGM)?”

“Quando evidentemente estiverem no mercado [as novas tecnologias], através de contratos formalizando os negócios, com consumidores e fornecedores”.

O julgamento das empresas produtoras de sementes, em relação à importância da pesquisa pública, é notavelmente mais positivo do que o relatado para o acesso a novas tecnologias. As Figuras 7.12a e7.12b apresentam estas avaliações, a primeira considerando como fornecedor principal a Embrapa e outros fornecedores, a segunda considerando as Empresas públicas (Embrapa + fundações e similares) e demais fornecedores.

As duas figuras são bastante semelhantes: a importância da pesquisa pública é elevada, independente do fornecedor. Embora sejam um pouco menos generosos, em sua avaliação, que as empresas atendidas por empresas públicas, empresas com outros fornecedores também consideram ser muito elevada a importância da pesquisa pública, com no mínimo 75% dessas empresas avaliando essa importância no ponto mais elevado da escala; se se somam os pontos mais positivos (3 e 4) da mesma escala, então o percentual que considera no mínimo “importante” a pesquisa pública passa para 93% (no caso de empresas que têm outro fornecedor, após a LPC). De modo geral, a promulgação da lei parece ter alterado muito pouco essa avaliação das empresas.

As empresas foram ainda solicitadas a apresentarem comentários que desejassem, sobre o papel da pesquisa pública. Esses comentários foram agregados nas seguintes categorias:

1. Papel da pesquisa pública (passado, presente e futuro): consiste em avaliações do que representou, representa ou pode representar a pesquisa pública para o país ou para a agricultura. Exemplos dessas avaliações:

“Foi a base da tecnologia hoje existente”

“ A pesquisa agropecuária no Brasil precisa ser intensificada, para benefício do povo brasileiro”.

“É o fator que impulsiona, impulsionou e impulsionará sempre o desenvolvimento de profissionais, de produtores, de regiões e por conseqüência de nosso país, para o crescimento global da economia e lideranças mundiais...”

2. Importância estratégica para equilibrar ação de empresas multinacionais: avaliações que focalizam a importância da pesquisa pública para manter o independência nacional sobre tecnologia agropecuária. Exemplos:

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“[A pesquisa pública] é de interesse estratégico para nosso país. A tendência mundial é o agrupamento de empresas multinacionais que podem atender interesses conflitantes com nosso país”.

“Pesquisa pública nacional é de suma importância. Veja o caso da semente de soja, se não fosse Embrapa, Emgopa, Fundação MT, Unisoja, todo merado de semente de soja já estaria em poder da Monsanto, Dupont, etc...”

“A pesquisa de empresas como a Embrapa, IAPAR e outros tem fundamental importância para que não fiquemos na mão das empresas particulares que hoje através de fusões tem um grande poderio de “aviltar” os preços e controlar as tecnologias de modo a “comandarem” ao seu bem-querer os mercados”.

3. Foco da pesquisa pública: envolve avaliações que sugerem rotas alternativas para a ação da pesquisa pública. Exemplos:

“Desenvolvimento de novos germoplasmas de resistência a doenças e insetos”.

“Deve cada vez mais ser direcionada ao potencial do respectivo mercado”.

“A pesquisa pública poderia desenvolver seu trabalho também as [sic] culturas de menor importância econômica e expô-las nas regiões agrícolas de minifúndios...”

4. Apoio político e disponibilidade de recursos para a pesquisa pública: comentários que atestam a crença dos participantes da pesquisa de que existe hoje pouco respaldo (de parte do governo) e restrições de recursos (materiais e financeiros) para a P&D pública. Exemplos:

“Entendemos que a pesquisa pública deveria ter mais incentivo por parte do governo federal,...”.

“[A pesquisa pública] faz o que pode, devido á restrição de recursos financeiros e materiais.”

“Falta apoio do estado a esses órgãos, precisando ter mais investimento”.

5. Vantagem oferecida pela pesquisa pública para as empresas produtoras de sementes; comentários que focalizam benefícios diretos da P&D pública para essas empresas. Exemplos:

“Não temos pesquisa própria, somos dependentes de terceiros. Preferimos continuar com pesquisa pública pelas facilidades de acesso e conhecimento do negócio.”

“A empresa privada de forrageira atualmente não tem condições de financiar totalmente a pesquisa por causa da desorganização do setor”.

6. Segmentos atendidos pela pesquisa pública: avaliações sobre quais grupos sociais estão sendo atendidos pela pesquisa pública. Nessa categoria, em particular, as empresas produtoras de sementes não apresentam consenso, como demonstram os comentários abaixo:

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“....pois é ela quem dá sustentação ao desenvolvimento do pequeno produtor, principalmente”.

“[O papel da pesquisa pública] é de extrema importância, porém o modelo adotado pela Embrapa em nossa região – Fundação MT, era assustador, pior que o das multinacionais... Embrapa trabalhava para uma minoria de empresários e não era transparente o seu objetivo social”.

“[A pesquisa pública] será o futuro das pequenas empresas...”

“A pesquisa pública está sendo manobrada por grandes produtores, impossibilitando a produção de sementes pelos pequenos produtores, exigindo grande produção de semente certificada.”

7. Burocracia na pesquisa pública: são comentários críticos sobre a lentidão da P&D pública no alcance de resultados. Exemplos:

“[A pesquisa pública é] muito lenta, burocratizada e poucos resultados (sic) pelos dispêndios feitos”

“Os trabalhos dentro de uma pesquisa pública são mais lentos que os de uma pesquisa privada”.

O questionário trazia ainda uma questão solicitando sugestões, dos respondentes, para a pesquisa em cultivares. Essas sugestões podem ser sintetizadas nas seguintes categorias:

1. Qualidade de sementes;

2. Melhor divulgação de resultados de pesquisas;

3. Regionalização da pesquisa, cultivares adaptadas às diferentes regiões do país;

4. Realização de trabalho de pesquisa em parceria com produtores de sementes;

5. Divulgação antecipada de cultivares novas;

6. Maiores recursos para a pesquisa e valorização dos pesquisadores na área;

7. Lançamento de cultivares específicas:

a. Aumento de proteínas nas cultivares de soja;

b. Novas cultivares (forrageiras) para a pecuária;

c. Cultivares de milho simples para o Paraná;

d. Cultivares transgênicas, principalmente soja, para competir com outros países;

e. Variedades resistentes à seca;

f. Cultivares com maior resistência a doenças e pragas.

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8. Consideração das dificuldades de produção dos materiais, por parte das empresas produtoras de sementes, na pesquisa por novos cultivares;

9. Uso de contratos, com produtores de sementes, com cláusulas de exclusividade;

10. Aumento da parceria com produtoras de sementes de todas as categorias;

11. Contato mais próximo da pesquisa com o segmento produtivo (de sementes);

12. Exclusividade do uso de recursos obtidos com royalties para financiamento da P&D pública.

Sintetizando os resultados dessa seção, observou-se que, na percepção dos produtores de sementes:

• Houve um aumento sensível na participação de empresas privadas estrangeiras no fornecimento de sementes, após a LPC;

• A principal vantagem dos diferentes fornecedores é a sua imagem, antes e após 1997; o preço da semente tem sua importância reduzida, como vantagem oferecida pelo fornecedor, após a lei. A diferença entre fornecedores se dá em relação a outras vantagens (diversas da imagem e do preço)

• No caso da soja – espécie mais representada, entre as empresas de sementes participantes da pesquisa – a Embrapa oferece todas as vantagens, à exceção de financiamento da produção e compra de sementes; os demais fornecedores apresentam também essas últimas vantagens;

• Verificou-se uma maior formalização no relacionamento com fornecedores, após a promulgação da Lei;

• Em avaliações sobre acesso a tecnologia e importância da pesquisa pública, as empresas apresentaram julgamentos bastante positivos desses dois aspectos de seu relacionamento com as empresas fornecedoras de sementes.

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S e m n e n h u m aim p o rtâ n c ia

P o u c o im p o rta n te Im p o rta n te M u ito im p o rta n te

Figura 7.12a. Importância da pesquisa pública, conforme o fornecedor principal (Embrapa vs. outros fornecedores) de sementes básicas, antes e após a LPC.

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S e m n e n h u m aim p o r tâ n c ia

P o u c o im p o rta n te Im p o rta n te M u ito im p o rta n te

Figura 7.12b. Importância da pesquisa pública, conforme o fornecedor principal (Empresas públicas (Embrapa+fundações e similares) vs. outros fornecedores) de sementes básicas, antes e após a LPC.

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7.3 Relações com os compradores de sementes, antes e depois da LPC

A presente pesquisa focalizou ainda vários aspectos do relacionamento das empresas produtoras de sementes com seus clientes. Inicialmente, procurou-se identificar quem seriam esses clientes, os quais foram arrolados nas seguintes categorias (a partir de entrevistas realizadas com produtores de sementes): pequenos, médios e grandes produtores rurais; armazéns e revendas agropecuárias; e empresas multinacionais. As indicações (percentuais) dos diferentes tipos de clientes são apresentadas na Figura 7.13.

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A n tes de 1997 D epo is de 1997

Figura 7.13. Principal comprador de sementes, antes e após a LPC.

A Figura indica pequenas alterações no padrão de venda, a cada categoria de comprador. Quando se observam categorias isoladas (isto é, pequenos ou médios ou grandes produtores rurais ou armazéns ou multinacionais), verifica-se que, no geral houve queda para pequenos produtores, grandes produtores e armazéns (de 3 a 8%), e crescimento para médios produtores e multinacionais (de 5 e 1%, respectivamente). Para as categorias compostas : “médios e grandes produtores”, e “médios produtores e armazéns”, houve também redução na sua participação na compra de sementes (de 1%, nos dois casos); as categorias, também compostas, de “pequenos e médios produtores”, e de “médios e grandes produtores e armazéns”, experimentaram crescimento em sua participação, de 5 e 4%, respectivamente. Outras categorias compostas também apresentaram crescimento de 4%.

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É possível também separar as diferentes categorias de compradores, entre aqueles que são produtores rurais, para os quais a semente é um insumo, no processo produtivo, e as demais categorias (revendas, armazéns e multinacionais), que compram a semente para revendê-la.

A venda da semente comercial a pequenos, médios e grandes produtores, isoladamente ou em companhia de outras categorias de compradores, foi classificada como “venda direta a produtores”. A Figura 7.14 apresenta a ocorrência/não ocorrência de venda direta a produtores, em três situações: empresas que mantiveram a venda direta antes e após 1997; empresas que apresentavam esse tipo de venda, antes de 1997, e empresas que apresentavam esse tipo de venda, após a LPC.

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Figura 7.14. Ocorrência/não ocorrência de venda direta a produtores rurais, pelas empresas de sementes, antes de 1977, depois de 1997 e em ambos os períodos (para cada empresa).

Na Figura 7.14 é possível observar que há um crescimento da ocorrência de venda direta a produtores rurais, depois da lei. Esse crescimento corresponde a 11 pontos percentuais, uma alteração não desprezível. Pode resultar da LPC ou de outros fatores que caracterizavam a situação das empresas, no período. Pode também significar uma estratégia de negócios, frente à presença de compradores com maior poder de barganha (como multinacionais), no mercado.

Considerando-se apenas as empresas que realizavam venda direta antes de 1997 e que continuaram a realizá-la depois dessa data, observa-se que esse grupo corresponde a 57% do total de empresas (contra 43% que não apresentaram essa consistência, nos dois períodos).

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A Figura 7.15 apresenta as mesmas categorias de compradores de sementes comerciais, pelas principais espécies com que trabalham as empresas produtoras de sementes da amostra (forrageiras, milho e soja), antes e após a lei de proteção de cultivares.

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F o r ra g e ira s M i lh o S o jaC u lt iv a r /é p o c a

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M é d io sp ro d u to re s

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E m p re s a sm u lt in a c io n a is

P e q u e n o s e m é d io sp ro d u to re s

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O u tra s re s p o s ta s

Figura 7.15. Principal comprador de sementes, antes e após a LPC.

A Figura evidencia os diferentes padrões de compra, conforme cada espécie. O padrão claramente mais complexo é observado para a soja, com uma diversidade maior de compradores. Um outro ponto a ressaltar é que todas as três espécies têm suas sementes compradas pela categoria revenda e armazéns agrícolas, e para pequenos e médios produtores (seja isoladamente, seja em categorias compostas). Grandes produtores, no entanto, só aparecem como compradores de soja e forrageiras.

Antes da LPC, a maior parte das empresas produtoras de sementes de forrageiras vendiam seu produto para grandes produtores rurais (40%), outras categorias compostas (40% e para pequenos e médios produtores (20%). A partir de 98, verifica-se a entrada de novos compradores no negócio, sendo as sementes compradas quase de modo balanceado por todos eles: grandes produtores, armazéns, pequenos e médios produtores, e médios produtores e armazéns dividem de modo quase igual 67% da compra de sementes, sendo os 33% restantes divididos entre outras categorias compostas. Isto é, se alguma influência da LPC ocorreu, nesse padrão de compra, foi no sentido de diversificação de clientela das empresas produtoras de sementes (seja como resultado de iniciativa das próprias empresas ou de seus compradores).

No caso do milho, observa-se algo semelhante. Antes da LPC, revendas e armazéns agrícolas eram o principal comprador das sementes de 71% das empresas; em segundo lugar, empatadas, vinham as empresas que destinavam seu produto para pequenos produtores (14%) e para médios produtores e armazéns (14%). Após a lei, reduz-se a participação de revendas e armazéns (para 56%), a categoria médios e armazéns não é

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202

mais compradora, e médios produtores, e outras categorias compostas passam a responder, cada uma, por 11% da compra de sementes das empresas, indicando, novamente, uma diversificação de categorias de compradores de sementes de milho.

A soja, no entanto, não apresenta uma alteração tão marcada de seu mix de compradores, antes e depois da LPC, talvez porque já apresentasse, antes da lei, um padrão bastante diversificado. No entanto, excetuando-se a categoria médios produtores (a primeira, tanto antes como depois da Lei, e que apresenta crescimento razoável, depois de sua promulgação), verifica-se uma participação mais igualitária de todas as outras categorias. Portanto, o que parece ter ocorrido, após a LPC, nos três casos, foi uma ampliação do mix de compradores, em variados graus.

Procurou-se investigar também as vantagens oferecidas pelas diferentes categorias de compradores, conforme a avaliação das empresas produtoras de sementes, antes e depois da LPC. Essas vantagens poderiam se referir a melhor preço pago, regularidade na compra, menores exigências de desconto, menor risco e acesso à rede de distribuição. Dessas vantagens, a que corresponde a “menores exigências de desconto” praticamente não foi apontada para nenhuma categoria de compradores.

A Figura 7.16 apresenta a atribuição da vantagem “melhor preço pago”, para as diferentes categorias de compradores, antes e após a promulgação da Lei.

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Figura 7.16. Relação da vantagem “melhor preço pago” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

O preço, segundo a avaliação das empresas, antes da lei era uma vantagem para os que tinham como compradores de suas sementes pequenos produtores, grandes produtores (como categorias isoladas) e médios produtores e revendas (categoria composta). Essa vantagem permanece, no caso de pequenos produtores, mesmo depois do advento da LPC. Grandes produtores deixam, em sua maioria, de apresentar essa vantagem. A

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203

categoria composta de médios produtores e revendas aumentou razoavelmente essa vantagem, após a LPC. É interessante observar que multinacionais detêm maior poder de barganha na negociação do preço, já que para essa categoria de compradores essa característica não aparece como vantagem .

A vantagem “preço pago” reduziu-se para todas as categorias isoladas de compradores, após a LPC. Para as categorias compostas, duas apresentaram crescimento (pequenos+médios; médios+revendas), duas mostraram queda (médios+grandes produtores, outras respostas).

Em relação à regularidade de compra, como vantagem de cada categoria de comprador, as avaliações das empresas são apresentadas na Figura 7.17.

Regularidade na compra é um atributo que caracteriza de modo mais igualitário todos os tipos de compradores. A menor regularidade, tanto antes como depois da LPC, é observada para a categoria composta de médios produtores e revendas (a mesma que apresenta a maior vantagem, com relação a preço pago, como se viu anteriormente).

Antes da lei, as categorias de pequenos+médios produtores, médios produtores e grandes produtores foram as mais apontadas, como possuindo comportamento regular de compra. Após a lei, médios+grandes produtores, grandes produtores, empresas multinacionais e pequenos produtores tiveram, proporcionalmente, maior percentual de indicações em relação a essa vantagem.

O padrão de crescimento/queda, considerando o ano base de 1997, para essa vantagem, foi exatamente o inverso do observado para o preço pago: as categorias isoladas apresentaram crescimento, de 1997 para 1998. Das categorias compostas, as que haviam apresentado crescimento, nas indicações relativas a preço pago, apresentaram queda, em relação à regularidade de compra; o contrário se observou para as categorias compostas que haviam apresentado queda, em relação a preço pago, que apresentaram crescimento, em relação à regularidade.

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Regularidade Antes de 1997 Regularidade Depois de 1997

Figura 7.17. Relação da vantagem “regularidade de compra” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

Outra vantagem investigada, em relação aos diferentes compradores, corresponde a de “menores riscos”. As avaliações sobre essa vantagem são apresentadas na Figura 7.18.

Antes de 1997, foram mais apontadas, proporcionalmente, como apresentando menores riscos, as seguintes categorias de compradores: médios+grandes produtores, médios produtores+revendas e médios produtores. Com menor proporção de indicadores, antes da Lei, figuravam os grandes produtores (já que as multinacionais não foram apontadas como categoria de comprador, antes de 1997).

Depois desse ano, as multinacionais conquistaram o primeiro lugar, em relação a essa vantagem, por parte das empresas que as indicaram como principal comprador; em segundo lugar, aparece a categoria médios+grandes produtores, seguida pela de médios produtores+revendas.

Não se observa um padrão claro de crescimento/queda, antes e depois da LPC, para essa vantagem. A comparação com o padrão observado para as vantagens anteriores também leva a conclusões pouco claras, sobre as relações entre elas.

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Figura 7.18. Relação da vantagem “menor risco” com diferentes categorias de compradores de sementes, antes e depois da LPC.

Finalmente, as empresas produtoras de sementes foram solicitadas a avaliar o acesso a redes de distribuição como uma vantagem, para cada categoria de comprador. Os julgamentos dos respondentes, sobre esse aspecto, são apresentados no Figura 7.19.

Essa característica, aparentemente, não é uma vantagem que caracterize a maioria das categorias de compradores. Revendas e armazéns e grandes produtores são as categorias mais apontadas como possuindo essa vantagem, antes da LPC. Todas as demais categorias são pouco apontadas como a apresentando, antes da Lei. Depois de sua promulgação, além das categorias já mencionadas, as de pequenos e de médios produtores aparecem como também se relacionando a uma boa rede de distribuição.

Uma observação interessante é que essa vantagem não foi relacionada à categoria das multinacionais.

Em termos de crescimento/queda da vantagem, para cada categoria de comprador, observa-se crescimento nessa vantagem para pequenos produtores, médios produtores, revendas, armazéns e pequenos+médios produtores. As demais categorias apresentaram queda, em relação a essas vantagens.

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206

Sintetizando as diferenças de vantagens, por categorias de compradores, pode-se apontar que:

a) Para as empresas ouvidas, as categorias de médios produtores e médios+pequenos produtores são as que apresentam maiores vantagens, como compradores, tanto antes como depois da promulgação da LPC;

b) A vantagem da regularidade de compra foi a mais apontada para maior número de categorias de compradores;

c) A categoria de pequenos produtores apresenta como vantagens, em primeiro lugar, a regularidade de compra; em segundo, o preço pago;

d) Acesso à rede de distribuição é a vantagem menos observada, nas diferentes categorias (à exceção de descontos, já comentado);

e) Grandes produtores e multinacionais apresentam como vantagem comum a regularidade de compra, após a LPC;

f) Multinacionais apresentam ainda grande vantagem em termos de menores riscos oferecidos às empresas de sementes.

A forma de relacionamento das empresas produtoras de sementes, com seus compradores, foi também objeto de investigação. As alternativas de resposta permitiam às empresas indicar se esse relacionamento era informal, formalizado em contratos e, nesse último caso, se havia cláusulas de exclusividade governando a relação. As avaliações sobre essa questão são apresentadas na Figura 7.20.

De forma semelhante a observada para o relacionamento com fornecedores, a relação das empresas produtoras de sementes com seus clientes parece tender a uma maior formalização, após a promulgação da LPC. Embora as relações informais ainda sejam maioria, a realização de contratos cresceu, no total de 23 para 37%. Após 1997, portanto, quase 40% das vendas já se dão por contratos formais, 10% desses incluindo cláusulas de exclusividade.

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Acesso a rede Antes de 1997 Acesso a rede Depois de 1997

Figura 7.19. Acesso a redes de distribuição como vantagem de diferentes categorias de compradores, antes e após a promulgação da LPC.

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Figura 7.20. Formas de relacionamento das empresas produtoras de sementes com seus compradores, antes e após 1997.

7.4 As mudanças no setor de sementes, na visão das empresas

Procurou-se também investigar, por meio de questões abertas, a percepção das empresas sobre: as mudanças ocorridas, após 1997; as mudanças esperadas no futuro; o impacto que teriam as mudanças já ocorridas e por ocorrer e as principais dificuldades que as empresas enfrentam atualmente, na produção e comercialização de sementes.

Em relação à primeira dessas questões, a relativa a mudanças já ocorridas no setor, após 1997 (e, portanto, após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares), as empresas foram, no geral, otimistas, apontando um maior número de mudanças favoráveis que desfavoráveis ao setor.

Os comentários dos representantes das empresas, em relação a mudanças já ocorridas, após a LPC, são apresentados na Tabela 7.1. A maioria dos comentários apontam para uma reorganização profunda do setor produtor de sementes. Em geral, essas avaliações indicam um cenário favorável para a atuação das empresas, em relação a vários aspectos: melhores preços, maior qualidade de sementes básicas e comerciais, maior oferta de cultivares, maior profissionalismo, organização do setor e acesso à tecnologia. Essas conseqüências positivas, por outro lado, ocorrem ao lado de acirrada competição,

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209

da concentração de empresas e da redução no número de empresas produtoras e da oferta de sementes; aponta-se ainda o crescimento no mercado clandestino de sementes.

Tabela 7.1. Mudanças ocorridas em conseqüência da promulgação da LPC, na visão das empresas produtoras de sementes. CATEGORIA SUB-

CATEGORIA Exemplos de comentários

Cobrança de royalties “Pagamento de royalties.” “Pagamento de royalties.” “Cobrança de royalties pelos detentores.”

Melhores preços “Melhores preços para venda.” “Comercialização por um preço melhor.” “ Elevação dos preços.

Elevação de custo “Elevação do custo de produção de sementes. “Aumento do custo de produção.” “Alto custo sementes básicas.”

QUANTO A PREÇOS, CUSTOS E MARGENS

DE LUCRO

Diminuição da margem de lucro

“Excesso de produtores de semente com conseqüente diminuição da margem de lucro.” “As margens estão cada vez menores. Em função da bolsa branca, royalties, etc.”

Melhor qualidade das sementes

“A qualidade das sementes é melhor. “Melhora na qualidade da semente ofertada. “Melhoria na qualidade dos produtos. “A qualidade das sementes é melhor.

QUANTO À QUALIDADE DE

SEMENTES (BÁSICAS E COMERCIAIS)

Melhores cultivares “Melhores cultivares adaptados a regiões nossas.” “Produção de melhores cultivares.”

Competição “Aumento da concorrência de fornecedores” “Aumento da concorrência no mercado de sementes, devido aos pacotes das empresas distribuidoras de defensivos e adubos.”“ “Maior concorrência.”

Concentração de empresas

“Como produzimos semente de milho não temos problemas com a proteção de cultivares. A mudança principal que houve foi a concentração das empresas, que para nós foi ótimo.” “Houve uma concentração grande de empresas se unindo, na área de milho, aonde ocorre um controle maior na distribuição de sementes.”

Redução no número de empresas produtoras

“Houve uma drástica redução de empresas produtoras de sementes, principalmente no grupo Unimilho do qual fazemos parte; esta redução deve-se principalmente aos problemas de crédito à agricultura pós-94. O mercado era super ofertado (96/97 e 97/98).” “Redução do número de produtores de sementes.”

QUANTO À ESTRUTURAÇÃO

ORGANIZACIONAL, NO SETOR DE SEMENTES

Alteração do relacionamento entre as empresas

“A principal mudança é a alteração do relacionamento entre as empresas produtoras de sementes e as empresas de pesquisa e desenvolvimento de cultivares.”

Maior profissionalismo

“Maior profissionalização da minha empresa, como produtora de sementes.” “Maior profissionalismo na produção e venda.”

QUANTO À ORGANIZAÇÃO DO

SETOR DE SEMENTES Maior organização do setor

“Modernização do setor (gestão, pesquisa, produtos, etc.)” “Maior organização do setor.”

QUANTO À OFERTA DE SEMENTES

Redução na oferta de sementes

“Queda da oferta de sementes.”

QUANTO Á OFERTA DE CULTIVARES

Crescente número de cultivares

“Crescente número de novas cultivares.” “Aumento significativo de novas cultivares.” “Número maior de variedades.” “Surgiram novas e muitas variedades de espécies cultivadas.”

QUANTO AO ACESSO A TECNOLOGIA

Acesso à tecnologia “Maior acesso a tecnologia de semente.”

Contrabando de sementes

“Contrabando de transgênicos.” “Concorrência desleal de sementes contrabandeadas” “Mercado clandestino de sementes – crescente.”

QUANTO AO USO DE SEMENTES

FISCALIZADAS

Diminuição na utilização de sementes fiscalizadas

“Redução na utilização de sementes fiscalizadas e certificadas.”

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210

As empresas produtoras de sementes também apontaram as mudanças que esperam que venham ainda a ocorrer, como conseqüência da Lei de Proteção de Cultivares. A visão das empresas sobre essas mudanças é apresentada na Tabela 7.2.

Tabela 7.2. Visão das empresas produtoras de sementes sobre mudanças que poderão ocorrer no futuro, como conseqüência da Lei de Proteção de Cultivares.

CATEGORIA SUB-CATEGORIA

Exemplos de comentários

Melhor rentabilidade “Melhor rentabilidade das empresas nas vendas. “ “Melhor rentabilidade. “

Maiores lucros “Maiores lucros. “ “Melhor retorno financeiro. “

Melhores preços para venda “Melhores preços para venda. “

QUANTO A PREÇOS, CUSTOS E MARGENS DE

LUCRO

Elevação de custo “Preços maiores (custos também). “ Melhor qualidade das sementes

“Qualidade cada vez maior. “ “Em termos de melhoria de qualidade de produto e ferramenta para auxiliar o programa de melhoramento convencional. “ “Melhor qualidade dos padrões de comercialização das sementes no mercado, novas variedades. “

QUANTO À QUALIDADE DE SEMENTES (BÁSICAS

E COMERCIAIS)

Melhores cultivares “Novas cultivares mais adaptadas e produtivas. “ “Cultivares mais produtivas e adaptadas às regiões produtoras. “

QUANTO À

VALORIZAÇÃO DA SEMENTE MELHORADA

Valorização de sementes “Trabalho para valorização da semente produzida com origem e qualidade Mudar a cultura do produtor. “ “Valorização de sementes. “ “Valorização da pesquisa e da semente como insumo propulsor de riquezas. “

Consolidação das empresas por marcas

“Centralização da comercialização das sementes por marcas: Ex.: Embrapa, Unisoja, UFV, Syrgenta, Agrevo etc. “ “Prevaleça a marca, sendo proprietários da marca buscando sempre novos convênios. “ “Consolidação de várias empresas em algumas marcas, as melhores. “

Redução no número de empresas produtoras

“Concentração da produção de sementes em poucas empresas. “ “Menos empresas. “

Mercado regionalizado “Mercado regionalizado altamente competitivo. “ “O mercado tenderá a ser mais regionalizado. “

Cultivares mais regionalizadas

“Regionalização de cultivares. “ “Adaptação de variedades mais regionalizadas. “

Surgimento de empresas regionais

“Surgimento de empresas regionais”. “Na minha opinião haverá um crescimento muito grande das empresas regionais, que poderão reproduzir variedades que tem maior adaptação nas suas regiões. “

QUANTO À ESTRUTURAÇÃO

ORGANIZACIONAL, NO SETOR DE SEMENTES

Alteração do relacionamento entre as empresas

“Melhorar as parcerias. “ “Teremos que optar por parceria, que ofereça exclusividade, tecnologia, produtos de ponta e transmita confiança para ganhar financeiramente. “

QUANTO À ORGANIZAÇÃO DO

SETOR DE SEMENTES

Maior organização do setor “Organização no mercado. “ “Mercado mais organizado. “

Controle da produção e oferta de sementes

“Controle de oferta de sementes. “ “Maior controle de produção de sementes (oferta, etc.). “ “Controle da produção e oferta de sementes. “

QUANTO A CONTROLE E

FISCALIZAÇÃO DE SEMENTES Maior fiscalização “Que haja fiscalização sobre os “ensacadores” clandestinos de sementes, que

prejudicam os produtores credenciados. “ “Maior fiscalização. “

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211

Várias dessas avaliações se referem a um aprofundamento de mudanças que as empresas já observam, atualmente: melhores preços; elevação de custo; melhor qualidade de sementes e de cultivares; redução no número de empresas; alteração no relacionamento entre empresas; maior organização do setor. Em comum com as avaliações de mudanças já ocorridas, observa-se também grande número de comentários sobre a reorganização estrutural do setor de sementes. Algumas das mudanças esperadas para o futuro, no entanto, diferem das que já se verificam: consolidação das marcas de sementes, regionalização dos mercados de sementes, valorização das sementes melhoradas e maior controle e fiscalização de sementes.

Tanto as mudanças apontadas como já ocorridas como as que são esperadas no futuro são consistentes com muitas das previsões feitas pela literatura, sobre as conseqüências da lei: por exemplo, a redução de número de empresas e de oferta de sementes foi indicada por Wilkinson e Castelli (2000) como possível efeito da LPC; Uitdewillingen (1999) apontou para um possível aumento no profissionalismo do setor de sementes, como outro resultado; Wetzel (1999) indicou que a fiscalização das sementes seria um potencial problema para o setor, contribuindo para a elevação dos custos das sementes.

Também se verifica aí concordância entre a visão de empresas produtoras de sementes e a de pesquisadores da área de melhoramento genético (por meio de entrevistas, descritas no Capítulo 5) sobre as conseqüências da LPC. Essas concordâncias se dão em relação aos seguintes pontos (ver Lima et al., 2002):

1. Necessidade de lançamento de maior número de cultivares, anualmente;

2. Exigências crescentes de qualidade de sementes e de cultivares;

3. Necessidade de trabalho regional para sucesso comercial;

4. Aumento no preço de sementes.

As empresas também avaliaram os impactos que as mudanças já ocorridas e por ocorrer poderiam trazer, para o seu negócio. A visão das empresas, em relação a esse aspecto, são apresentadas na Tabela 7.3.

Novamente se verifica que muitas das categorias e sub-categorias que apareceram nas questões sobre mudanças já ocorridas, e por ocorrer, são re-apresentadas quando as empresas consideram os impactos da LPC sobre seu negócio. São novamente enfatizadas as possibilidades de maiores ganhos, de maiores custos, de maior qualidade de sementes, de reestruturação do setor, de maior profissionalismo, e de um ambiente de cooperação com o setor de P&D. Uma tendência já apontada anteriormente, como “concentração no mercado de sementes” aparece agora em uma forma mais extrema, ou seja, a de “monopólio de sementes e serviços”; de modo similar, a redução do número de empresas é implicada na sub-categoria “maior segurança”, que indica que as empresas sobreviventes contarão com maior segurança de mercado.

Na visão das empresas, um impacto positivo sobre o seu negócio se refere a um provável aumento no investimento de P&D, como resultado do retorno desse investimento. Esse impacto é consistente com o que a literatura econômica argumenta, a respeito dos efeitos positivos de leis de propriedade intelectual (Carvalho, 1992).

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212

Tabela 7.3. Visão das empresas produtoras de sementes sobre impactos que mudanças provocadas pela LPC poderão trazer, para o seu negócio.

CATEGORIA SUB-CATEGORIA

Exemplos de comentários

Maior Rentabilidade “Maior rentabilidade e viabilidade do negócio”.

“Maior rentabilidade”

“Melhor rentabilidade”

“Organização e disciplinamento do mercado de sementes com melhoria da rentabilidade.”

Maior Retorno do Capital Investido

“Melhor remuneração para o setor. Tanto para o produtor de sementes quanto para o fornecedor de sementes básicas.”

“Maior retorno do valor investido na produção de sementes.”

“Maior retorno do capital investido. “

“Melhor remuneração.”

QUANTO A PREÇOS, CUSTOS E MARGENS

DE LUCRO

Aumento do Custo “Aumento do custo de produção.”

QUANTO À QUALIDADE DE

SEMENTES (BÁSICAS E COMERCIAIS)

Melhor Qualidade “Semente de melhor qualidade e controle.”

“Garantia de qualidade de produção, devido ao controle de variedade.”

“Maior procura por sementes de qualidade por parte dos agricultores e cooperativistas.”

“Identificar o trabalho em busca de oferecer cada vez mais qualidade do produto final para o cliente.”º

Monopolização “Monopólio de sementes e serviços entre cinco empresas multinacionais e as empresas menores nacionais ficarão a mercê das grandes.”

“Monopolização da comercialização.”

QUANTO À ESTRUTURAÇÃO

ORGANIZACIONAL, NO SETOR DE

SEMENTES

Parcerias “Possibilidade de parcerias com obtentores cada vez mais duradouras.”

“Esperamos poder realizar parcerias com as empresas/ órgãos detentores das cultivares, visando melhorias na qualidade das sementes oferecidas ao consumidor.”

“Maior assédio por parceiros”

Maior Profissionalismo “Profissionalismo de todo um setor com garantias reais de qualidade aos clientes. “

“Maior profissionalismo da nossa parte.”

Mercado mais Organizado

“Mercado mais organizado.”

“Organização e disciplinamento do mercado de sementes com melhoria da rentabilidade.”

QUANTO À ORGANIZAÇÃO DO

SETOR DE SEMENTES

Mais Segurança “Mais segurança pois haverá uma seleção natural em cima da qualidade.”

“Maior segurança de mercado.”

QUANTO A INVESTIMENTOS EM

PESQUISA

Maior Investimento “Maior investimento em pesquisa, bem como retorno deste investimento.”

Finalmente, as empresas foram solicitadas a relatar suas principais dificuldades atuais na produção e comercialização de sementes. Seus comentários sobre essa questão são apresentados na Tabela 7.4.

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213

Tabela 7.4. Dificuldades enfrentadas por empresas, na produção/comercialização de sementes.

CATEGORIA SUB-CATEGORIA

Exemplos de comentários

QUANTO À POLÍTICA AGRÍCOLA

Falta de Política Agrícola

“Falta de política agrícola, obriga os produtores de insumo a financiar a produção. Risco alto atrelado à própria. “ “Não temos política agrícola. “ “A falta de uma política agrícola de preços de grãos condizente e consequentemente sazonalidade na demanda de sementes, gerando incertezas. “

Falta de Informações “Na produção é a falta de disponibilidade de informações sobre o assunto, poucos dados pesquisados. “ “Poucas informações oferecidas pela Apassul, referente a preços e quantidades que serão produzidas. “ “Obter informações sobre as novas variedades lançadas e informar ao agricultor. “ “Falta de padronização de informações entre nossa empresa para com os parceiros. “

QUANTO AO PLANEJAMENTO DA

PRODUÇÃO DE SEMENTES Dimensionarmento do

mercado “Dimensionar o tamanho do mercado. “ “Na produção a maior dificuldade é dimensionar o volume a ser produzido por cultivar. “

Concorrência de Preços “Concorrência desleal, pois há muitos agricultores que ensacam o grão de uma cultivar protegido e, sem pagar taxas para a secretaria da agricultura, Apassul, sem pagar “Royalties” para a empresa obtentora do material, comercializam por preços mais baratos dificultando nosso trabalho. “ “Concorrência das Multis, referentes a produtos e à prazo de pagamento. “ “Concorrência desleal de produtores que não utilizam tecnologia de produção de sementes, não tendo qualidade e sim preços. “ “Concorrer com outras empresas ou produtores que comercializam produtos fora dos padrões como, mistura varietal, pureza baixa, etc., fazendo com que estes fiquem abaixo dos custos de mercado. “

QUANTO A CONCORRÊNCIA ENTRE

EMPRESAS PRODUTORAS E

COMERCIALIZADORAS DE SEMENTES

Concorrência pelo uso de sementes salvas, ilegais ou transgênicas

“Concorrência principalmente com as sementes conhecidas como crioulos em determinadas regiões, que não investem em pesquisa e royalties.” “Concorrer com sementes salvas e ilegais. “ “Concorrência com semente doméstica e das transgênicas. “ “A concorrência desleal de agricultores que não são produtores de sementes. “ “Concorrência com a comercialização de sementes ”saco branco”, ou seja, produto salvo pelo agricultor. “ “O principal problema é a concorrência com o mercado ilegal/paralelo de sementes de forrageiras, devido à falta de fiscalização do comércio, que praticamente inexiste” “Concorrência dos transgênicos. “

QUANTO A QUALIDADE

DEMANDADA DOS PRODUTOS

Qualidade dos Produtos e valorização das sementes

“Produtos com baixa qualidade. “ “Preço é mais considerado que a qualidade. “ “O mercado brasileiro de sementes de forrageira demanda por sementes de baixo valor cultural, o que dificulta o desenvolvimento de produtos de maior qualidade. “ “O mercado pouco exigente em qualidade e sim em “preços” (em relação as classes de sementes). “

Royalties elevados “Os Royalties são muito elevados. “ QUANTO A CUSTOS E

LIQUIDEZ Baixa Liquidez “Falta de liquidez. “

“Liquidez e pontualidade dos pagamentos. “ “Liquidez baixa. “

QUANTO A FISCALIZAÇÃO DE

SEMENTES

Baixa Fiscalização “Baixa fiscalização na entrada de produtos de outros estados. “ “Na produção temos como contornar, mas a comercialização é problemática em função de haver muito grão, muita semente pirata, contrabando, gato por lebre, e muitos agricultores não entendem que semente (o que tem numa semente, carga genética) é um insumo de grande importância, e também com relação a fiscalização é muito precário. Fiscaliza-se quem é organizado. Quem é picareta não é fiscalizado. Nem CREA nem SEAB nem ninguém. Além deles fugirem dos impostos, controles, análises, etc., tumultuam os preços. E se aproveitam da ignorância de alguns produtores. “

Como se apresenta na Tabela 7.4, as dificuldades enfrentadas pelas empresas podem ser agrupadas nas seguintes categorias:

Page 215: APOSTILA EMBRAPA

214

1. Falta de política agrícola, na determinação de preços e apoio de crédito aos produtores;

2. Dificuldade para o planejamento da produção de sementes, provocada pela falta de informações sobre preços, quantidades demandadas, novas variedades, o que possibilitaria um melhor dimensionamento do volume de produção, a cada ano;

3. Concorrência entre empresas produtoras/comercializadoras de sementes, pela redução de preços ou redução de custos, pela utilização de sementes salvas ou próprias, ilegais ou transgênicas, em alguns casos, ou pela utilização simplesmente de práticas ilegais;

4. Reduzida demanda por qualidade de produto, por parte do produtor rural, que valoriza mais o atributo “preço”, na decisão de compra;

5. Situação financeira restritiva, provocada por elevado valor dos royalties cobrados e pela baixa liquidez, para parte das empresas de sementes; e

6. Inexistência ou deficiência de fiscalização de sementes trazidas ilegalmente de outros estados, de sementes “piratas”, de modo geral; e também fiscalização de produtores ilegais de sementes.

Dessas categorias, a que foi mais enfatizada pelas empresas foi a de concorrência entre elas. Esse fator parece ser especialmente maléfico, para as empresas que participaram dessa pesquisa.

Entre as dificuldades apontadas, muitas não parecem ter ligação com a Lei de Proteção de Cultivares, e poderiam ser apontadas independentemente da existëncia dessa Lei. É o caso, por exemplo, da falta de política agrícola e da dificuldade de planejamento da produção.

Por outro lado, quando se consideram, ao mesmo tempo, dificuldades, mudanças ocorridas e por ocorrer e impactos da Lei (tabelas 7.1, 7.2 e 7.3), então se torna claro que a maioria das dificuldades está relacionada com a emergência do quadro regulatório referente à propriedade intelectual, como condicionante dos negócios dessas empresas. A Lei tornou possível e atrativo, por exemplo, um mercado de sementes ilegais e contrabandeadas, pela elevação dos custos na produção de sementes.

A comparação entre os comentários apresentados nas diversas questões discutidas nessa seção permite concluir que as seguintes dificuldades atuais são resultados da Lei:

1. Concorrência, muitas vezes desleal, entre produtores de sementes; essa dificuldade foi apontada também como resultado já ocorrido a partir da LPC;

2. Elevação de custos na produção de sementes, apontada também como mudança já ocorrida e que se espera seja acentuada, no futuro;

3. Dificuldades relativas à fiscalização de sementes, dificuldades estas relacionadas ao crescente mercado paralelo de sementes, ao contrabando de transgênicos e ao uso de sementes salvas, uma mudança já ocorrida, como conseqüência da LPC.

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Quanto à dificuldade provocada atualmente pela reduzida demanda por qualidade, por parte dos produtores rurais, esse fator está em aparente contradição com mudanças já ocorridas e por ocorrer, a partir da LPC, no que se refere à oferta de sementes e cultivares com maior qualidade. Acredita-se que esses comentários tenham a ver com a procura por sementes de preços mais baixos, mencionadas nos comentários sobre concorrência no setor de sementes. Assim, embora a lei aparentemente tenha permitido um aumento em qualidade de sementes e cultivares, existe ainda um segmento de produtores rurais que privilegiam o preço das sementes, em sua decisão de compra.

Em geral, os produtores de sementes se revelaram otimistas em relação ao futuro: assim, várias das dificuldades atuais apontadas seriam solucionadas no futuro, quando se consideram todos os comentários das empresas, nessa seção: assim, as empresas acreditam que, no futuro, haverá maior valorização do atributo qualidade de sementes, por parte dos produtores rurais, além de uma maior e mais eficiente fiscalização de sementes.

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Capítulo 8 O futuro da “base genética” para produção de cultivares

As organizações no mundo moderno estão submetidas a grandes pressões, representadas pelas mudanças econômicas e políticas que estabeleceram um novo ambiente competitivo, na última década. Com a liberalização econômica, a globalização e o avanço muito rápido do desenvolvimento tecnológico, os mercados se tornaram muito dinâmicos, mais transparentes e, como conseqüência, as organizações têm que se tornar cada vez mais globais, mutáveis e flexíveis para permanecerem competitivas. Tais mudanças trouxeram ainda alterações significativas no tratamento dos direitos de propriedade intelectual em diversos setores importantes, incluindo o melhoramento genético e a indústria de sementes.

A Lei de Proteção de Cultivares (LPC) e os instrumentos legais dela decorrentes, implementados a partir da segunda metade da década de 90, abriram, em um primeiro momento, espaço considerável para investimentos privados na geração de cultivares das principais culturas econômicas, e ampliaram a perspectiva de negócios resultantes da introdução de genes por técnicas de transformação genética. Esse cenário atraiu a atenção de grandes corporações internacionais pelo melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares e promoveu mudanças significativas na composição do mercado de sementes brasileiro. Em função disso, criou-se uma expectativa muito grande em relação ao fluxo de recursos genéticos vegetais e de informações e conhecimentos acerca da variabilidade genética disponível para melhoramento genético no país.

Um dos argumentos clássicos apresentados durante o debate que antecedeu a aprovação da Lei de Proteção de Cultivares (LPC) em diversas partes do mundo é que o setor privado seria estimulado a investir em pesquisa aplicada no setor de melhoramento genético – principalmente na fase terminal de liberação de novas variedades – pois teriam garantido, a partir da nova legislação, o retorno de seus investimentos. Muitos outros argumentos em favor da aprovação da LPC decorrem direta ou indiretamente deste suposto aumento de investimentos.

Diversos setores da iniciativa privada defendem ainda que, a partir da aprovação da LPC e do aumento de investimentos do setor privado em melhoramento genético, o setor público poderia aumentar e concentrar seus esforços de pesquisa em áreas mais básicas, de maior risco e nem sempre atraentes ao capital privado. No entanto, a eliminação gradativa do setor público do processo de desenvolvimento de cultivares, à semelhança do que ocorreu na Europa (Webster, 1989) e Estados Unidos (Plowman, R.D., 1993; Butler, 1996), implica em uma transformação estrutural profunda de todo o aparato de pesquisa em recursos genéticos e melhoramento de plantas no país, cujas conseqüências não são facilmente previsíveis. Na medida em que instituições públicas de pesquisa tenham suas atividades diminuídas ou mesmo terminadas, a pesquisa fundamental para o desenvolvimento de novas cultivares em países em desenvolvimento certamente será prejudicada.

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Por outro lado, o novo referencial jurídico e o correspondente estabelecimento de políticas relativas aos direitos de propriedade intelectual nas diversas instituições públicas de pesquisa têm recebido atenção substantiva para se evitar que o novo cenário produza efeitos não desejados para a atividade de pesquisa de interesse público, como constrangimento à livre circulação de conhecimentos, revisões socialmente perversas nas prioridades de pesquisa, restrições dissimuladas, ou não, ao intercâmbio de recursos genéticos, dentre outros (Embrapa, 1996). Assim, uma política obsessiva de utilização de direitos de propriedade intelectual para obtenção de vantagens comerciais imediatas, encerra o perigo de se sucumbir a uma lógica de sobrevivência essencialmente privada que, no limite, retiraria da instituição pública sua própria razão de ser.

Este capítulo se referencia nesses cenários e explora aspectos relacionados à base genética disponível, nos setores público e privado de P&D no Brasil, para melhoramento genético vegetal e desenvolvimento de cultivares. Base genética é aqui entendida como o conjunto de caracteres genéticos que pode ser utilizado para o melhoramento genético, fator fundamental para a qualidade do processo de desenvolvimento de cultivares. Esta amplitude é influenciada pela disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento e pelo uso de cultivares já desenvolvidas, como insumo para o processo de desenvolvimento de novas cultivares.

Disponibilidade de variabilidade genética corresponde ao acesso à variabilidade genética necessária para melhoramento genético, em fontes próprias ou externas. Essa disponibilidade é função de:

a. Acesso a organismos (vegetais) portadores da variabilidade genética;

b. conhecimento sobre essa variabilidade. Esse conhecimento consiste em informação sistematizada sobre características úteis (levando em conta aspectos sociais, econômicos e, ou, ambientais) de organismos vivos, que pode ser aplicada em processos de melhoramento genético; e

c. intercâmbio de organismos portadores de variabilidade, ou de conhecimento sobre essa variabilidade.

As variáveis mencionadas acima são influenciadas, de maneira diversa, pela competição entre os setores de P&D, pela capacidade desses setores e por avanços originados na biotecnologia, de acordo com o Modelo da Figura 8.1.

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COMPETIÇÃO ENTRE

SETORES DE P&D

CAPACIDADE DOS SETORES

DE P&D

AVANÇOS DABIOTECNOLOGIA

ACESSO A ACESSO A ORGANISMOSORGANISMOS

ACESSO A ACESSO A CONHECIMENTOCONHECIMENTO

SOBRESOBREORGANISMOSORGANISMOS

INTERCÂMBIOINTERCÂMBIODE DE

ORGANISMOSORGANISMOS

INTERCÂMBIO DE INTERCÂMBIO DE CONHECIMENTOCONHECIMENTO

SOBRE SOBRE ORGANISMOSORGANISMOS

DISPONIBILIDADEDE VARIABILIDADE

GENÉTICA

USO DE USO DE CULTIVARES COMOCULTIVARES COMO

INSUMO DO INSUMO DO MELHORAMENTOMELHORAMENTO

GENÉTICOGENÉTICO

AMPLITUDEAMPLITUDEDA BASE DA BASE GENÉTICAGENÉTICA

Figura 8.1. Modelo causal de amplitude da base genética. As setas vermelhas indicam relações negativas e setas pretas, relações positivas, entre as variáveis.

A seguir apresenta-se a análise detalhada de cada um dos aspectos do Modelo, analisados por meio do Painel Delphi e segmentados de acordo com os seguintes enfoques:

1. Acesso a Organismos;

2. Acesso a conhecimento sobre variabilidade;

3. Intercâmbio de Organismos;

4. Intercâmbio de Conhecimento sobre Variabilidade;

5. Intensidade de Uso de Cultivares e,

6. Amplitude da Base Genética.

8.1 Acesso a Organismos

O acesso a organismos (vegetais) portadores de variabilidade genética é afetado pela competição entre os setores público e privado de P&D e pela capacidade desses setores. Foi solicitado ao painel Delphi que avaliasse, em uma escala de 1 a 10, como está e como estará no futuro (em 2010) o acesso a esses organismos, por setor de P&D. As estimativas sobre esse acesso foram solicitadas por segmento de mercado (ver Quadro 8.1) e para cada um dos cenários oferecidos.

Para facilitar a compreensão da questão, foram oferecidas as seguintes definições:

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• Competição em P&D: busca de posição privilegiada em um determinado mercado, pela pesquisa pública e privada.

• Capacidade de um setor de P&D: disponibilidade de profissionais qualificados (inclusive de áreas de ponta), além de equipamentos e infra-estrutura adequados para realização de processos relacionados ao melhoramento genético de cada setor.

O processo de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares é altamente dependente da amplitude da base genética disponível, que por sua vez é influenciada pelo acervo de recursos úteis disponíveis, na forma de materiais coletados e caracterizados, mantidos nos bancos de germoplasma, e por cultivares já desenvolvidas que, para muitas espécies, são insumo importante para o desenvolvimento de novas cultivares. A capacidade de acessar esses organismos portadores de variabilidade, por coleta ou por intercâmbio, é fator fundamental para o sucesso de qualquer programa de melhoramento genético vegetal, seja no setor público ou privado de P&D.

Foi estimado o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, nos setores público e privado de P&D, atualmente e em cada um de três cenários apresentados em 2010, para dezesseis segmentos de mercado selecionados1. Na avaliação, para cada cenário, os painelistas levaram em conta a situação atual e antevista (2010), das variáveis competição e capacidade, que influenciam no acesso. Capacidade de um setor de P&D e competição em P&D foram definidos anteriormente. Na primeira rodada da pesquisa, o painelista apenas emitia sua opinião individual. Na segunda rodada, foi solicitado a fornecer nova avaliação, considerando a faixa de respostas da maioria dos especialistas e a sua própria avaliação anterior. Em ambas as rodadas, a importância de cada espécie ou segmento de mercado, do ponto de vista de acesso a organismos portadores de variabilidade genética era avaliada em uma escala de 1 a 10, onde 1 representava acesso quase nulo e 10 acesso muito extenso. Para facilitar a análise a seguir, essa escala foi dividida em faixas, como segue: acesso extenso: medianas de 9 a 10; alto acesso: medianas de 7 a 8.99; médio acesso: medianas de 5 a 6.99; pequeno acesso: medianas de 3 a 4.99; acesso quase nulo: medianas de 1 a 2.99.

As Figuras 8.2 e 8.3 apresentam os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.1 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5). Para facilitar análises mais detalhadas, a Tabela 8.2 apresenta diferenças entre as diversas avaliações de acesso. As Tabelas 8.3 e 8.4 explicitam ainda a evolução percentual entre as avaliações de acesso no momento atual e nos cenários pessimista e otimista.

A Tabela 8.1 indica razoável consenso nas avaliações do setor público de P&D, excetuando-se aquelas para o cenário atual nas hortaliças batata, tomate e cebola, além da uva, nos cenários tendencial e otimista, milho nos cenários tendencial e otimista, cebola e trigo no cenário otimista. Para o setor privado de P&D o alcance de consenso foi inferior ao setor público. Não se obteve consenso entre os painelistas para estimativas de acesso a organismos portadores de variabilidade nos segmentos milho, arroz, trigo, tomate, cebola e uva (cenário atual). Curiosamente, o consenso decresceu dos cenários 1 e 2 (consenso para 1 Esses segmentos de mercado são os seguintes: soja, milho, arroz, feijão, trigo, batata, tomate, cebola, citros, melão, uva, forrageiras e algodão.

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6 segmentos de mercado) para o cenário 3 (consenso para apenas um segmento de mercado, citros). Tabela 8.1. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

Acesso a organismos portadores de variabilidade genética

No setor público de P & D No setor privado de P & D Futuro (2010) Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A)

Cenário 1

(B)

Cenário 2

(C)

Cenário 3

(D)

Atual (E) Cenário

1 (F) Cenário

2 (G) Cenário

3 (H)

Soja 7 * 5 * 6 * 7 * 5 * 4 * 5 * 5 Milho 6 * 5 * 6 6 5 4,5 5,5 6 Arroz 7 * 6 * 6 * 7 * 5 5 * 6 * 6 Feijão 8 * 6 * 7 * 8 * 5 * 5 * 6 * 6 Trigo 7 * 6 * 6 * 7 * 5 5 * 5 * 6 Batata 5,5 5 * 6 * 6,5 * 5 * 4,5 5 * 6 Tomate 5 4 5 * 6 * 5 4 5 6,5 Cebola 6 5 * 6 * 7 5 4,5 5,5 7 Citros 7 * 5 * 7 * 7 * 5 * 4 6 * 7 * Melão 6 * 5 * 6 * 7 * 5 * 5 * 6 7 Uva 6 5 * 6 * 7 5 4 6 7

Forrageiras 6,5 6 * 7 * 8 * 4 * 4 6 6 Algodão 6 * 5 * 5,5 * 6,5 6 * 5 * 6 7

Média 6.3 5.2 6.1 6.8 5.0 4.5 5.6 6.3

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual 2.5

Os resultados de consenso estão bastante compatíveis com a composição do painel, que contou com maior número de especialistas do setor público do que do setor privado de P&D. Obviamente, o conhecimento e a percepção acerca da dinâmica do setor é mais homogênea neste setor, o que certamente influenciou o alcance de consenso. Consequentemente, o conhecimento e a capacidade de antevisão da dinâmica futura do setor privado para os diferentes segmentos de mercado é mais heterogênea entre os painelistas, o que aumenta a dispersão dos dados e reduz o consenso. Ademais, há que se considerar o hermetismo do setor privado em relação a informações de cunho estratégico. Via de regra, componentes deste setor não publicizam suas estratégias, ao contrário de componentes do setor público, que tem postura mais aberta e transparente, em relação a esta questão.

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Acesso a organismos portadores de variabilidade genética no setor público

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.2. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor público de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo, a 10 - extenso acesso).

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Acesso a organismos portadores de variabilidade genética no setor privado

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.3. Avaliação do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo, a 10 - extenso acesso).

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Tabela 8.2. Diferenças entre avaliações acerca do acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D (diferenças calculadas a partir de medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

Acesso a organismos portadores de variabilidade genética Diferença entre

avaliações de importância no setor público

Diferença entre avaliações de importância

no setor privado

Diferença entre avaliações de importância entre os setores

público e privado Segmento

de Mercado B - A C - A D - A F - E G - E H - E A - E B - F C - G D - H

Soja -2 -1 0 -1 0 0 2 1 1 2 Milho -1 0 0 -0,5 0,5 1 1 0,5 0,5 0 Arroz -1 -1 0 0 1 1 2 1 0 1 Feijão -2 -1 0 0 1 1 3 1 1 2 Trigo -1 -1 0 0 0 1 2 1 1 1 Batata -0,5 0,5 1 -0,5 0 1 0,5 0,5 1 0,5 Tomate -1 0 1 -1 0 1,5 0 0 0 -0,5 Cebola -1 0 1 -0,5 0,5 2 1 0,5 0,5 0 Citros -2 0 0 -1 1 2 2 1 1 0 Melão -1 0 1 0 1 2 1 0 0 0 Uva -1 0 1 -1 1 2 1 1 0 0

Forrageiras -0,5 0,5 1,5 0 2 2 2,5 2 1 2 Algodão -1 -0,5 0,5 -1 0 1 0 0 -0,5 -0,5

A análise conjunta dos dados, a partir da média das medianas, na última linha da Tabela 8.1, tem valor apenas indicativo de tendência geral, em função das diferenças entre as várias espécies vegetais do ponto de vista de processos de melhoramento e práticas de mercado (Quadro 8.1). Esta média indicou influências dos cenários (C1 – pessimista, C2 – tendencial, C3 – otimista) e do ambiente (P&D pública ou P&D privada) no acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, para o conjunto dos segmentos de mercado identificados.

A média das medianas das avaliações de acesso atual a organismos portadores de variabilidade genética na P&D pública (6.3) foi maior que na P&D privada (5.0), como era de se esperar. Neste aspecto, a percepção dos painelistas corresponde à percepção corrente de que no ambiente público há maior fluxo de germoplasma que no ambiente privado. Quando se avalia a média das medianas para os diferentes cenários na P&D pública (C1 = 5.2; C2 = 6.1 e C3 = 6.8) versus os mesmos cenários na P&D privada (C1 = 4.5; C2 = 5.6 e C3 = 6.3) a tendência se repete, indicando que, independentemente do cenário futuro, o acesso a organismos portadores de variabilidade genética na P&D pública será, na percepção dos painelistas, consistentemente maior que na P&D privada.

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Em linhas gerais, as tendências detectadas na análise conjunta mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e das expectativas da dinâmica futura do setor. Com a manutenção das dificuldades financeiras e o possível aprofundamento da crise econômica, o setor público de P&D é de imediato atingido, com a redução de recursos que viabilizam coleta e conservação de recursos genéticos, bem como manutenção de competências e infraestrutura atualizada para cumprimento dos seus objetivos. Sem coleta e desenvolvimento de novas fontes de variabilidade não haverá aumento na disponibilidade de variabilidade genética. Ademais, carência de recursos poderá levar a dificuldades em conservação, com consequente redução na disponibilidade de materiais.

Tabela 8.3. Comparações entre avaliações sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética no setor público de P&D, atualmente e no futuro, considerando diversos segmentos de mercado (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

No setor público de P & D Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A)

Cenário Pessimista

(B)

Cenário Otimista

(C)

Atual x Cenário Pessimista

(%)

Atual x Cenário Otimista

(%) Soja 7 * 5 * 7 * -29 0

Milho 6 * 5 * 6 -17 0 Arroz 7 * 6 * 7 * -14 0 Feijão 8 * 6 * 8 * -25 0 Trigo 7 * 6 * 7 * -14 0 Batata 5,5 5 * 6,5 * -9 9 Tomate 5 4 6 * -20 20 Cebola 6 5 * 7 -17 17 Citros 7 * 5 * 7 * -29 0 Melão 6 * 5 * 7 * -17 17 Uva 6 5 * 7 -17 17

Forrageiras 6,5 6 * 8 * -8 23 Algodão 6 * 5 * 6,5 -17 8

* Avaliação com distância entre quartis ≤ 2.5

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Tabela 8.4. Comparações entre avaliações sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética no setor privado de P&D, atualmente e no futuro, considerando diversos segmentos de mercado (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

No setor privado de P & D Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A)

Cenário Pessimista

(B)

Cenário Otimista

(C)

Atual x Cenário Pessimista

(%)

Atual x Cenário Otimista

(%) Soja 5 * 4 * 5 -20 0

Milho 5 4,5 6 -10 20 Arroz 5 5 * 6 0 20 Feijão 5 * 5 * 6 0 20 Trigo 5 5 * 6 0 20 Batata 5 * 4,5 6 -10 20 Tomate 5 4 6,5 -20 10 Cebola 5 4,5 7 -10 40 Citros 5 * 4 7 * -20 40 Melão 5 * 5 * 7 0 40 Uva 5 4 7 -20 40

Forrageiras 4 * 4 6 0 50 Algodão 6 * 5 * 7 -17 17

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual a 2.5

O setor privado não tem expressivo papel na coleta e conservação de germoplasma para a maioria das espécies de importância econômica e, via de regra acessa variabilidade através de diversas formas de intercâmbio. Assim, os resultados da análise conjunta, que mostram, na média das medianas, resultados bastante próximos para acesso nos dois setores de P&D, indicam a percepção dos painelistas de que, no futuro, independentemente dos cenários, não se espera grande acirramento na competição entre os setores pelo germoplasma per-se.

As avaliações do painel para cada cada segmento de mercado, contidas nas Tabelas 8.1 e 8.2 e nas Figuras 8.2 e 8.3, permitem avaliação mais detalhada da percepção dos painelistas acerca das influências dos cenários (C1 – pessimista, C2 – tendencial, C3 – otimista) e do ambiente de P&D (público ou privado) sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, levando em conta especificidades de cada espécie analisada e o respectivo mercado de sementes. As medianas, considerando as espécies individualmente nos três cenários, indicaram acesso superior para o setor público para praticamente todas as espécies consideradas (soja, milho, arroz, feijão, trigo, batata, cebola, citros, melão, uva e forrageiras). Apenas tomate e algodão tiveram resultado semelhante para os dois setores.

Os resultados, a despeito da baixa magnitude das diferenças entre as medianas para os dois setores em diferentes cenários, estão coerentes com a visão de que continuará cabendo ao

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setor público, prioritariamente, a coleta, o acesso e a conservação e desenvolvimento de nova variabilidade, muito embora se destaquem nichos onde o setor privado acessa com mais intensidade, como hortaliças e algodão. Via de regra, germoplasma de espécies que ocupam espaços muito competitivos e dinâmicos são “monopolizados” pelo setor privado, muito embora com participação do setor público, como indicado pelos dados.

Exemplos interessantes são o milho, as hortaliças e, mais recentemente, o algodão. O mercado de milho tem particularidades, uma vez que é bastante diversificado no Brasil, com empresas extremamente sofisticadas dedicadas a produção de híbridos, convivendo com empresas de pequeno e médio porte inclusive do setor público que se ocupam de variedades de polinização aberta e híbridos, especialmente os híbridos duplos. A soja e o trigo, além do algodão, tradicionalmente no domínio público, já despontam como nichos de grande interesse para o setor privado, em função das tendências de desenvolvimento de mercados rentáveis viabilizados por componentes biotecnológicos, muitas vezes úteis a processos de integração vertical na indústria (semente + defensivo + processamento).

Surpreendem os valores de mediana para arroz e feijão, especialmente na P&D privada. Estes não são, definitivamente, segmentos de mercado que possam se comparar à soja, milho, e outras commodities. O melhoramento destas culturas ainda está fortemente centrado no setor público, e não se percebe ainda tendências de interesse mais exacerbado do setor privado nesses nichos.

Surpreende também o resultado para as forrageiras, talvez pela própria complexidade deste grupo e, possivelmente, pelo desconhecimento de grande parte dos painelistas a respeito deste mercado. O Brasil tem possibilidades de ocupar espaços significativos no mercado mundial de carne bovina e o mercado de forrageiras deverá evoluir na medida que este potencial se realiza. Talvez por ser um mercado muito diversificado (em termos de número de espécies forrageiras) e bastante desorganizado (em termos de comercialização) não se perceba ainda o interesse e os movimentos futuros neste nicho por parte do setor privado, em comparação com o setor público.

Ao se analisar as medianas referentes a avaliações de acesso na P&D pública (Tabela 8.1, coluna A) e na P&D privada (coluna E), verifica-se que as medianas referentes ao setor público são sempre maiores que as medianas para o setor privado. Tendência semelhante se verifica para os três cenários (colunas B, C, D versus F, G, H). A Tabela 8.2 apresenta as diferenças entre avaliações no setor público (cenários futuros – cenário atual), no setor privado (cenários futuros – cenário atual) e entre os dois setores em todos os cenários. Em praticamente todas as comparações, a percepção do acesso a variabilidade genética é favorável ao setor público. Por exemplo, na comparação do cenário atual entre os dois setores (Tabela 8.22, coluna A-E) a diferença entre ambos é sempre favorável ao setor público, variando a magnitude desta diferença de zero (0) para as espécies algodão e tomate, a 3 para o feijão (Tabela 8.2, coluna A-E). Neste aspecto a percepção dos painelistas corresponde à percepção corrente de que o ambiente público é mais favorecido quanto ao acesso ao germoplasma que o ambiente privado. Para qualquer cenário futuro (Tabela 8.2, colunas B-F, C-G e D-H) as magnitudes das diferenças entre o setor público e privado são menores em relação às diferenças detectadas para o cenário atual (coluna A-E), indicando a percepção dos painelistas de que o setor privado estará cada vez mais apto a

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acessar variabilidade genética, aumentando sua capacidade para atuar neste segmento e competindo com o setor público.

Os resultados indicativos de tendência global de aproximação entre os dois setores de P&D no tocante a intensidade de acesso a organismos não se alinha à expectativa de que o setor público de P&D gradualmente assuma maiores responsabilidades por coleta, conservação, caracterização e desenvolvimento de nova variabilidade genética em relação ao setor privado. Por esta lógica, caberia ao setor público papel crescentemente importante na conservação e geração de nova variabilidade, a ser disponibilizada ao setor privado para incorporação aos materiais a serem disponibilizadas ao mercado. Isso significaria menor competição do setor privado neste segmento, o que contraria os resultados da pesquisa, que indicam que o setor privado estará, cada vez mais, se preparando para aumentar sua competência para acesso a nova variabilidade, sua conservação e desenvolvimento dos próprios materiais básicos, tornando-se gradualmente independente do setor público.

Tal percepção pode estar relacionada aos novos desenvolvimentos em áreas de fronteira, como a engenharia genética e genômica, cada vez mais dependentes de programas de inovação sustentados em novos recursos biológicos, além da concretização do arcabouço legal de proteção ao conhecimento (leis de patentes e proteção de cultivares) que tendem a dificultar o acesso a recursos, especialmente os mais caracterizados e valorados. Outras possibilidades a serem exploradas para interpretação desta visão mais otimista dos painelistas para o desempenho do setor privado, podem ser: 1. Com cenários mais competitivos, a concorrência será acirrada e garantias de disponibilidade de variabilidade diminuem, fazendo com que o setor privado tenha que buscar mais variabilidade para garantir sucesso de seus programas; 2. Com a entrada do setor privado em segmentos antes não explorados (autógamas), o que se intensificará em cenários mais favoráveis, cresce o interesse e o esforço privado em acessar nova variabilidade.

Apesar do pouco aumento nas medianas para o setor público, em função da melhoria de cenários, não se pode concluir que o setor perderá a capacidade de acessar a variabilidade, caracterizá-la e conservá-la para uso próprio e disponibilização a outros usuários. Muito provavelmente, as medianas não alcançaram patamares mais altos, nos cenários tendencial e otimista, em função do grande pessimismo em relação à disponibilidade de recursos que permitam ao setor público cumprir efetivamente seu papel, além da visão de que, com a melhoria de cenários, aumenta o interesse privado e a competição em diversos dos segmentos de mercado avaliados. Outro aspecto importante a ser considerado é o cenário internacional de intercâmbio e acesso, em função das incertezas no aspecto legal. Praticamente todas as espécies tratadas tem seus centros de origem e reservas de variabilidade fora do território nacional, o que pode significar dificuldades substanciais de acesso num ambiente de acirramento das relações internacionais no âmbito desse tema.

Neste particular, há que se considerar as provisões do Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura, que tem como objetivos principais a conservação e o uso dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura, e a justa e eqüitativa distribuição dos benefícios que resultem de seu uso. Isso deverá ser feito em harmonia com a Convenção de Biodiversidade para promoção de uma agricultura sustentável e para a segurança alimentar (FAO, 2003). O Tratado Internacional foi

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aprovado pelos paises membros na 31ª sessão da conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), realizada em Roma, em novembro de 2001. Entretanto, este só entrará em vigor 90 dias depois que 40 países ratifiquem sua assinatura. Em fevereiro de 2003, um total de 82 países já haviam assinado e 14 ratificado (o Brasil assinou, mas ainda não ratificou). Uma das conseqüências diretas da implementação do Tratado Internacional em relação aos programas de melhoramento é o intercâmbio de germoplasma. As provisões contidas no Tratado pautam as diretrizes para este intercâmbio, considerando uma distribuição justa e eqüitativa dos benefícios advindos de seu uso.

Em seu artigo 6 – uso sustentável dos recursos fitogenéticos - o Tratado indica uma série de alternativas para o uso sustentável dos recursos fitogenéticos através do aumento da capacidade de pesquisa e de melhoramento genético para atender aos temas do aumento da produção e à melhoria de vida do meio rural. Entre as ações propostas estão:

1) buscar políticas agrícolas que promovam o desenvolvimento e a manutenção de sistemas agrícolas diversos que melhorem o uso sustentável da biodiversidade;

2) estimular pesquisas que melhorem e conservem a biodiversidade através da maximização da variação entre e dentro de espécies;

3) promover, onde seja apropriado, o uso do melhoramento com a participação de agricultores, aumentando a capacidade de produzir variedades para as diferentes condições, incluindo as áreas marginais;

4) ampliar a base genética das culturas e aumentar a gama de diversidade genética disponível aos agricultores.

Estas provisões do Tratado certamente privilegiam conservação e acesso, o que deveria ser razão para otimismo, especialmente quando se considera cenários mais favoráveis de desenvolvimento. É certo que os painelistas tinham algum conhecimento da situação internacional relacionada a este tema e, possivelmente, acerca do tratado. No entanto, deve-se levar em conta que muitos melhoristas poderiam não estar cientes dos detalhes e das provisões previstas. Por exemplo, as diretrizes do Tratado são aplicáveis a todos os recursos genéticos e incluem o acesso multilateral e a distribuição dos benefícios para as culturas mais importantes como o arroz, a batata, a cevada, o feijão, a mandioca, o milho, o sorgo, o trigo etc. Isso evita que os melhoristas tenham que realizar contratos para ter acesso às amostras de recursos genéticos destas culturas. Além disso, também estabelece as regras de uso dos recursos genéticos armazenados nos bancos de germoplasma dos Centros Internacionais do CGIAR.

Em resumo, o Tratado deverá beneficiar direta ou indiretamente todos os países seus signatários, através do estabelecimento de diretrizes para a conservação e o uso sustentável dos recursos genéticos. Também, deverá favorecer os melhoristas em suas estratégias de intercâmbio de germoplasma. Assim, os resultados deverão ser analisados também em função das incertezas ainda reinantes em função do tratado, especialmente em relação a sua definitiva implementação, a quais países que se disporão a aderir a ele e a quais relações

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que se estabelecerão no tocante à “distribuição de benefícios”, uma questão um tanto polêmica, prevista no mesmo.

Finalmente, há que se mencionar que em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram diversas observações relevantes, dentre as quais se destacam (transcrição literal):

• “No cenário 1, com o aprofundamento da crise econômica, o setor público de P&D é o primeiro a ser atingido, de forma drástica, com a redução de recursos que viabilizam coleta e conservação. Sem coleta não há aumento de variabilidade genética e sem conservação, que para um grande número de espécies não é viável em câmaras frias, e as que estão em câmaras frias necessitam de serem multiplicadas antes das sementes se tornarem inviáveis, haverá perdas importantíssimas nos germoplasmas já coletados.”

• “O setor privado nunca teve importância expressiva na coleta e conservação. Este setor sempre se utilizou muito do intercâmbio com o setor público, que sempre teve importância expressiva na coleta, conservação e caracterização. Portanto considero, logicamente ao meu ver, que as respostas foram um tanto conservadoras, deixando o setor privado bem próximo ao público no tema “acesso a organismos”. É nítido para mim que o Setor público ficará no futuro (2010) com extrema responsabilidade por coleta, conservação, caracterização, desenvolvimento de novas linhagens e genótipos e, em parceria/negócio com o setor privado, disponibilizando esses materiais para incorporação nas cultivares já desenvolvidas pelo setor privado.”

• “Para o segmento milho, cada vez mais a variabilidade está nas mãos das empresas privadas, portanto o setor público terá mais dificuldade de ter acesso a novos materiais. Também menos capacidade em termos de recursos humanos. para o segmento trigo, o setor público domina em todo mundo, portanto o intercâmbio de material vai continuar bastante livre, não se esperando grandes mudanças no futuro.”

• “As discrepâncias entre os valores dispersos para milho, batata e forrageiras provavelmente se devem a falta de conhecimento profundo da situação do mercado e melhoramento dessas espécies. A maior discrepância de valores nesse quadro ocorreu no cenário 1 (pessimista), setor privado de P&D, situação futuro 2010. Na minha lógica, com o agravamento da crise e na expectativa que P&D vão crescer no setor privado no futuro, com surgimento de novas empresas amparadas pela Lei de Proteção de Cultivares, a tendência seria que as empresas se fechassem para troca de germoplasma. Concordo com os colegas que essa medida não poderá ser extrema para que as próprias empresas não sofram as conseqüências de não renovar o seu germoplasma pela troca c/os parceiros.”

• “Para o segmento milho no cenário 1 (pessimista), o setor público conta com amplas possibilidades de acesso à variabilidade, que é mantida por centros de conservação de germoplasma nacionais e internacionais como o CIMMYT. Já no

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cenário 3 (otimista) – com desenvolvimento da área, com a criação de novos materiais genéticos, poderá ampliar as oportunidades para o setor público. No entanto, o setor privado sempre deverá ter maior acesso à variabilidade genética pelo seu desenvolvimento dinâmico. Este setor sempre contará com os recursos genéticos de instituições nacionais e internacionais.”

• “Para o caso do milho, a variabilidade genética disponível, tanto para o setor público como para o setor privado é extensa e tende sempre a se ampliar pelas novas variedades e combinações genéticas que vão sendo obtidas. Na verdade, não há nenhum programa de melhoramento genético de milho que sofra limitação de variabilidade genética. Pelo contrário, nenhum programa está conseguindo explorar toda a variabilidade existente. Isso explica porque programas relativamente modestos conseguem obter sucessos ou ganhos genéticos comparáveis a programas mais amplos.”

• “Embora a cultura do feijão seja em grande parte de subsistência, e a produção de semente seja realizada predominantemente pelo setor público, acreditamos que independente do cenário haverá maiores restrições ao intercâmbio de germoplasma no futuro do que atualmente.”

• “O acesso aos organismos portadores da variabilidade genética no setor privado, é bastante restrito no caso de forrageiras tropicais, pois não há grande número de empresas executando atividades de pesquisa. Praticamente toda a variabilidade genética disponível esta sendo conservada pelo setor público. Não há interesse de empresas em executar atividades de coleta de germoplasma de forrageiras, pois a maioria das espécies de interesse são gramíneas africanas. Creio que em um cenário de aprofundamento da crise essa situação se manterá, pois as empresas privadas não irão investir em pesquisa própria.”

A síntese das percepções do painel sobre o acesso atual e futuro a organismos portadores de variabilidade genética pode ser:

As estimativas de acesso a organismos portadores de variabilidade genética são afetadas pelos cenários, em diferentes graus. A visão do painel em relação à capacidade do setor público de P&D de acesso a organismos portadores de variabilidade genética é em geral pessimista. Para o setor privado a visão do painel é mais otimista, o que indica melhoria na capacidade de acesso, em especial em um cenário tendencial ou mais favorável. Tanto no plano atual, quanto no futuro, a percepção é que o acesso é mais intenso para o setor público, o que confirma a visão de que cabe prioritariamente a este setor a responsabilidade pela manutenção de acervo estratégicos de variabilidade genética. São distinguidos setores ou grupos de cultivos com diferentes potenciais de acesso à variabilidade genética, quando se considera os setores publico e privado de P&D.

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8. 2 O Acesso a Conhecimento sobre Variabilidade Genética em Organismos Vegetais

O conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais é afetado pela competição entre os setores público e privado de P&D, pela capacidade desses setores e pelo avanço de processos biotecnológicos. Para facilitar a compreensão dos painelistas e a análise do tema, foram oferecidas definições de competição em P&D e capacidade de um setor de P&D (ver seção 1).

Também foi fornecida aos painelistas a seguinte definição de “acesso a conhecimento sobre variabilidade genética”: acesso a informação sistematizada sobre características úteis (em termos sociais, econômicos e/ou ambientais) de organismos vivos, que pode ser aplicada em processos de melhoramento genético. É acesso direto, e não por meio de intercâmbio.

Utilizando uma escala de 1 a 10, o Painel analisou como está e como estará no futuro (em 2010) esse conhecimento, por setor de P&D. As estimativas sobre esse conhecimento foram feitas por segmento de mercado e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos.

Informações qualificadas e sistematizadas acerca da variabilidade genética disponível são fundamentais para o sucesso de programas de melhoramento genético. O acesso a conhecimento nesta área tende a ser afetado na medida em que se consolidam procedimentos relativos a proteção da propriedade intelectual no Brasil. Os instrumentos legais implementados tendem a estimular investimentos privados na geração de cultivares das principais culturas de importância econômica, além de ampliar a perspectiva de negócios resultantes da introdução de genes por técnicas de transformação genética nas cultivares brasileiras.

Este cenário atraiu a atenção das grandes empresas internacionais vinculadas ao melhoramento genético e vem promovendo mudanças significativas na composição de forças no mercado de sementes brasileiro, com possíveis consequências na geração e no fluxo de informações associadas a este setor. Há portanto uma expectativa muito grande em relação à dinâmica de geração de informações e ao fluxo de conhecimentos sobre variabilidade genética disponível para o melhoramento no país. Este aspecto poderá se tornar mais importante que o próprio fluxo dos organismos portadores de variabilidade, uma vez que tratados internacionais e acordos (FAO, 2003) buscarão manter o fluxo de germoplasma relativamente aberto, o que não ocorrerá em relação a informações qualificadas e estratégicas associadas a estes recursos. Assim, o controle da informação associada a estes recursos deverá se tornar aspecto fundamental no futuro.

Em função destes cenários, foi estimado o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais para cada um dos segmentos de mercado priorizados no estudo, considerando os setores público e privado de P&D. Na avaliação, os painelistas levaram em conta o momento atual e três cenários futuros, para o ano de 2010, das variáveis competição e capacidade, que influenciam o acesso a conhecimentos nessa área. Na avaliação, considerou-se apenas o acesso direto (excluindo intercâmbio) a informação sistematizada sobre caracterísiticas úteis (em termos sociais, econômicos e, ou, ambientais) de organismos vivos, aplicável a processos de melhoramento genético.

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As Figuras 8.4 e 8.5 apresentam os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.5 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5). Para facilitar análises mais detalhadas, a Tabela 8.6 apresenta todas as possíveis diferenças entre as avaliações de acesso, considerando segmentos de mercado, setor de P&D e cenários. As Tabelas 8.7 e 8.8 explicitam ainda a evolução percentual entre as avaliações de acesso no momento atual e nos cenários pessimista e otimista.

A Tabela 8.5 indica grande consenso nas avaliações do setor público de P&D, excetuando-se as avaliações para o cenário atual no segmento uva, e no cenário otimista para milho e uva. Para o setor privado de P&D, o consenso foi inferior àquele detectado para o setor público. Considerando-se o cenário atual, não se obteve consenso entre os painelistas para estimativas de acesso a conhecimento nos segmentos cebola, melão, uva e forrageiras. Apesar de não ter havido consenso para alguns segmentos de mercado no cenário 1 (soja, milho, batata, cebola, citros, e forrageiras) e cenário 2 (melão e uva) houve total consenso entre os painelistas para avaliações no cenário otimista.

É interessante notar as diferenças em termos de alcance de consenso entre as avaliações de acesso a conhecimento e acesso a organismos, em especial para o setor privado de P&D (Tabela 8.1). Enquanto a capacidade do painel de antever a dinâmica futura do setor privado para acesso a organismos foi mais heterogênea e menos consensual, o mesmo não ocorreu em relação ao acesso a conhecimento, especialmente para o cenário otimista. Assim, a despeito da composição do painel, que conta com maior número de representantes do setor público e da maior dificuldade em se acessar informações de cunho estratégico do setor privado, há consenso de que crescerá a competência dos dois setores de P&D para acesso a conhecimentos sobre variabilidade, especialmente em cenários mais otimistas.

A análise conjunta dos dados, a partir da média das medianas, na última linha da Tabela 8.5, tem valor apenas indicativo de tendência geral, em função das diferenças entre as várias espécies vegetais do ponto de vista de processos de melhoramento e práticas de mercado. Esta média indicou influências dos cenários (C1 – pessimista, C2 – tendencial, C3 – otimista) e do ambiente (P&D pública ou P&D privada) no acesso a conhecimentos sobre variabilidade genética, para o conjunto dos segmentos de mercado identificados. A média das medianas das avaliações de acesso atual na P&D pública (6.6 – médio acesso) foi praticamente igual à da P&D privada (6.3 – médio acesso). Já as médias das medianas para os diferentes cenários na P&D pública (C1 = 5,6; C2 = 6,7 e C3 = 7,8) versus os mesmos cenários na P&D privada (C1 = 5,6; C2 = 7,0 e C3 = 8,3) indicam tendência de maior acesso a conhecimento pela P&D privada, especialmente nos cenários tendencial e otimista, muito embora as diferenças sejam pequenas e as avaliações se situem na faixa de médio a alto acesso.

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Acesso a organismos portadores de variabilidade genética no setor público

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.4. Avaliação sobre o acesso a organismos vegetais portadores de variabilidade genética, por obtenção direta via coleta ou acessibilidade a acervos de conservação, atualmente e em 2010, no setor público de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

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Acesso a conhecimento sobre variabilidade genética em organismos vegetais no setor privado

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.5. Avaliação sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais – em função da capacidade tecnológica e avanço nas vertentes de inovação biotecnológica, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo a 10 - extenso acesso).

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Tabela 8.5. Avaliação sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Acesso a conhecimento sobre variabilidade genética em organismos vegetais

No setor público de P & D No setor privado de P & D Futuro (2010) Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A) Cenário 1

(B) Cenário 2

(C) Cenário 3

(D)

Atual (E) Cenário 1

(F) Cenário 2

(G) Cenário 3

(H) Soja 7 * 6 * 7 * 8 * 7 * 6 7 * 8 *

Milho 7 * 6 * 7 * 8 8 * 6 8 * 9 * Arroz 7 * 6 * 7 * 8 * 6 * 5 * 6 * 8 * Feijão 7 * 6 * 7 * 8 * 6 * 5 * 6 * 7 * Trigo 8 * 6,5 * 7 * 8 * 7 * 6 * 7 * 8 * Batata 6 * 5 * 6 * 7 * 6 * 6 7 * 8 *

Tomate 6 * 5 * 6 * 8 * 6,5 * 6 * 8 * 9 * Cebola 6 * 5 * 6 * 7 * 7 5,5 7,5 * 9 * Citros 7 * 6 * 8 * 9 * 6 * 5 7 * 8 * Melão 5,5 * 5 * 6 * 7 * 6,5 6 * 8 9 * Uva 7 5 * 7 * 8 6,5 6 * 7 9 *

Forrageiras 6 * 5 * 6 * 7,5 * 5 4 6 * 8 * Algodão 7 * 6 * 7 * 8 * 6,5 * 6 * 7 * 8 * Médias 6.6 5.6 6.7 7.8 6.3 5.6 7.0 8.3

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual a 2.5

É interessante comparar a percepção dos painelistas quanto as tendências de acesso a organismos portadores de variabilidade versus acesso a conhecimento. Enquanto a média das medianas para acesso a organismos ficou em patamares de médio acesso para a P&D pública (C1 = 5.2; C2 = 6.1 e C3 = 6.8) e pequeno a médio acesso para a P&D privada (C1 = 4.5; C2 = 5.6 e C3 = 6.3) (Tabela 8.1), as estimativas de acesso a conhecimento saltaram, em ambos os setores para as faixas de médio a alto acesso, com ligeira vantagem para o setor privado. No conjunto, estas tendências indicam a percepção de que, apesar do futuro mais incerto em relação a questões de acesso aos organismos per-se, crescerá a importância estratégica do conhecimento acerca da variabilidade útil para o melhoramento genético e o desenvolvimento de cultivares, com tendência geral de melhor desempenho do setor privado em relação ao setor público.

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Tabela 8.6. Diferenças entre avaliações sobre acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Acesso a conhecimento sobre variabilidade genética em organismos vegetais Diferença entre

avaliações de importância no setor público

Diferença entre avaliações de importância

no setor privado

Diferença entre avaliações de importância entre os setores

público e privado Segmento

de Mercado B - A C - A D - A F - E G - E H - E A - E B - F C - G D - H

Soja -1 0 1 -1 0 1 0 0 0 0 Milho -1 0 1 -2 0 1 -1 0 -1 -1 Arroz -1 0 1 -1 0 2 1 1 1 0 Feijão -1 0 1 -1 0 1 1 1 1 1 Trigo -1,5 -1 0 -1 0 1 1 0,5 0 0 Batata -1 0 1 0 1 2 0 -1 -1 -1

Tomate -1 0 2 -0,5 1,5 2,5 -0,5 -1 -2 -1 Cebola -1 0 1 -1,5 0,5 2 -1 -0,5 -1,5 -2 Citros -1 1 2 -1 1 2 1 1 1 1 Melão -0,5 0,5 1,5 -0,5 1,5 2,5 -1 -1 -2 -2 Uva -2 0 1 -0,5 0,5 2,5 0,5 -1 0 -1

Forrageiras -1 0 1,5 -1 1 3 1 1 0 -0,5 Algodão -1 0 1 -0,5 0,5 1,5 0,5 0 0 0

(medianas derivadas de avaliações na escala 1 – acesso quase nulo, a 10 - extenso acesso).

As avaliações do painel para cada cada segmento de mercado, contidas nas Tabelas 8.5 a 8.8 e nas Figuras 8.4 e 8.5, permitem análise mais detalhada da percepção dos painelistas acerca das influências dos cenários e dos ambientes de P&D no acesso a informações sobre variabilidade genética, levando em conta especificidades de cada espécie analisada e seu respectivo mercado.

As medianas, considerando as espécies individualmente nos três cenários, indicaram estimativas de acesso a conhecimento bastante semelhantes nos dois ambientes de P&D, como demonstrado na Tabela 8.6 (colunas A-E, B-F, C-G e D-H), que apresenta diferenças com magnitude de –2 a 1. Os resultados, a despeito da baixa magnitude das diferenças entre as medianas para os dois setores em diferentes cenários, contrastam com aqueles obtidos para acesso a organismos (Tabela 8.2), onde a diferença era quase sempre mais favorável ao setor público. Esta comparação indica, portanto, a percepção de que, no geral, o setor público se manterá um pouco mais competitivo na coleta, no acesso, na conservação e no desenvolvimento de nova variabilidade, enquanto o setor privado tenderá a ser um pouco mais competitivo no acesso a informações acerca dessa variabilidade.

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Tabela 8.7. Comparações entre avaliações sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais no setor público de P&D, atualmente e no futuro, considerando diversos segmentos de mercado.

No setor público de P & D Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A)

Cenário Pessimista

(B)

Cenário Otimista

(C)

Atual x Cenário Pessimista

(%)

Atual x Cenário Otimista

(%) Soja 7 * 6 * 8 * -14 14

Milho 7 * 6 * 8 -14 14 Arroz 7 * 6 * 8 * -14 14 Feijão 7 * 6 * 8 * -14 14 Trigo 8 * 6,5 * 8 * -19 0 Batata 6 * 5 * 7 * -17 17 Tomate 6 * 5 * 8 * -17 33 Cebola 6 * 5 * 7 * -17 17 Citros 7 * 6 * 9 * -16 29 Melão 5,5 * 5 * 7 * -9 27 Uva 7 5 * 8 -29 14

Forrageiras 6 * 5 * 7,5 * -17 25 Algodão 7 * 6 * 8 * -14 14

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual a 2.5

É importante ressaltar, no entanto, que as diferenças detectadas para os dois aspectos analisados não indicam posição hegemônica para nenhum dos setores de P&D nos três cenários futuros considerados. Da mesma forma, as Tabelas 8.7 e 8.8 que mostram a evolução percentual nas estimativas de acesso a conhecimento, considerando os cenários extremos (pessimista e otimista) em comparação ao cenário atual, não apontam nenhuma tendência de posicionamento hegemônico de qualquer dos dois setores de P&D

Resumindo, os dados referentes às estimativas de acesso a conhecimento acerca da variabilidade útil ao melhoramento genético e ao desenvolvimento de cultivares indicam posicionamento bastante semelhante dos setores público e privado de P&D, com ligeira vantagem para o último, especialmente em cenários mais otimistas. Estes resultados estão compatíveis com a visão de que a informação e o conhecimento serão cruciais para o bom posicionamento competitivo em qualquer ambiente de inovação, uma vez que são passíveis de proteção e controle, o que faz com que todos os setores procurem alcançar posição competitiva e hegemônica no seu acesso. Portanto, pode-se vislumbrar um ambiente de grande competição por informação e conhecimento acerca da variabilidade, especialmente em cenários mais favoráveis ao desenvolvimento do setor de melhoramento genético e de desenvolvimento de cultivares.

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Tabela 8.8. Comparações entre avaliações sobre o acesso a conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais no setor privado de P&D, atualmente e no futuro, no setor privado de P&D, considerando diversos segmentos de mercado.

No setor privado de P & D Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A)

Cenário Pessimista

(B)

Cenário Otimista

(C)

Atual x Cenário Pessimista

(%)

Atual x Cenário Otimista

(%) Soja 7 * 6 8 * -14 14

Milho 8 * 6 9 * -25 13 Arroz 6 * 5 * 8 * -17 33 Feijão 6 * 5 * 7 * -17 17 Trigo 7 * 6 * 8 * -14 14 Batata 6 * 6 8 * 0 33 Tomate 6,5 * 6 * 9 * -8 38 Cebola 7 5,5 9 * -21 29 Citros 6 * 5 8 * -17 33 Melão 6,5 6 * 9 * -8 38 Uva 6,5 6 * 9 * -8 38

Forrageiras 5 4 8 * -20 60 Algodão 6,5 * 6 * 8 * -8 23

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual 2.5

Finalmente, é necessário mencionar que em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram diversas observações relevantes, dentre as quais destacam-se:

• “No caso de forrageiras, o setor público é o que detém os materiais caracterizados, sendo que quase nada é realizado neste sentido pelo setor privado.”

• “O acesso ao conhecimento depende menos do cenário político e mais do domínio de tecnologia e estratégias inteligentes.”

• “O acesso ao conhecimento será mais protegido que o acesso ao germoplasma.”

• “O acesso do conhecimento sobre a variabilidade genética, na cultura do feijão atualmente não é grande, em função principalmente do reduzido número de melhoristas com dedicação total a cultura. ... não acredito que o setor privado irá ampliar o seu interesse pela cultura do feijoeiro, principalmente o interesse em aumentar o conhecimento sobre a variabilidade genética nesta cultura.”

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Como uma síntese sobre a visão do painel, pode-se derivar:

Deverá crescer a importância estratégica do conhecimento acerca da variabilidade útil para o melhoramento genético e para o desenvolvimento de cultivares, com tendência geral de melhor desempenho, quanto ao acesso, do setor privado em relação ao setor público. A visão do painel é, em geral, otimista, tanto para o setor público quanto para o setor privado de P&D. O conhecimento futuro cresce nos dois setores, no cenário otimista; no cenário tendencial, cresce ou mantém-se constante para o Setor Privado e mantém-se constante no Setor publico, decaindo em ambos, no cenário mais pessimista. Apesar da visão otimista e da evolução percentual nas estimativas de acesso a conhecimento, não se detectou percepção de posicionamento hegemônico de qualquer dos dois setores de P&D para os segmentos de mercado analisados, o que indica expectativa de grande ênfase em acesso a informação e conhecimento acerca da variabilidade genética, especialmente em cenários mais favoráveis.

8.3 O Intercâmbio de Organismos Vegetais Portadores de Variabilidade Genética

O aumento da competição entre os setores público e privado de P&D pode afetar o livre intercâmbio de organismos vegetais e, ou, de conhecimento sobre esses organismos entre esses setores. Esse intercâmbio, por sua vez, afeta a disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento. O Painel analisou como está, e como estará, em 2010, a intensidade de intercâmbio de organismos portadores de variabilidade genética, dentro de cada setor de P&D (público e privado), e entre estes setores. As estimativas sobre esta intensidade, dentro e entre setores, para cada cenário oferecido foi feita utilizando-se a escala proposta de 1 a 10.

Nos primórdios da história, as espécies de plantas cultivadas e raças animais atravessaram as fronteiras políticas dos países por meio de interações ecológicas ou por interferência humana. Países desenvolvidos e em desenvolvimento dependem das espécies de plantas e animais exóticos introduzidos para a produção sustentável de produtos de origem agrícola. Por exemplo, a batata, o tomate, o milho, o amendoim, o girassol, as abóboras, o cacau, a seringueira, o feijão (Phaseolus), a mandioca, todas estas espécies de origem americana, são intensivamente cultivadas em outras regiões do mundo, tendo inclusive levado à origem de centros secundários de diversidade genética em algumas delas, após sua introdução.

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Por outro lado, dezenas de espécies exóticas cultivadas nas Américas tem seu centro de origem em outras regiões do mundo, tais como o trigo, a cevada, a soja, o arroz, a cana-de-açúcar, o sorgo, o dendê, o coco, os citros, a manga, dentre muitas outras. Esta dependência dos países por plantas e animais exóticos, significa que nenhum país é auto-suficiente, por mais rico que seja em recursos biológicos autóctones (Valls, 2001, 2003).

O intercâmbio internacional de recursos genéticos tem sido praticado sem maiores formalidades e fundamentado na reciprocidade de tratamento entre instituições, normalmente sob a coordenação de instituição nacional credenciada, no caso do Brasil a Embrapa. Deste sistema de intercâmbio, se beneficiam empresas de produção de sementes do setor privado, instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento, universidades, centros internacionais de pesquisa agrícola, dentre outros. Este acesso facilitado aos recursos genéticos para agricultura e alimentação tem sido uma das principais razões para o contínuo lançamento de novas cultivares, responsáveis pelo aumento da oferta de alimentos e produtos do setor primário.

Entretanto, todas as nações caminham para um paradoxo o qual se pode chamar de "competição-cooperação". Cada nação sente-se pressionada a coletar recursos genéticos mundiais o tanto quanto possível, e ao mesmo tempo cada uma delas depende de muitas outras em termos de suprimento desse recurso natural, de natureza dinâmica e ampla distribuição geográfica. A natureza complexa dessa relação pode ser percebida pelo fato adicional de que esse paradoxo é de percepção diferenciada conforme a situação ecológica-econômica de cada país. (Machado, 2001).

Em um ambiente internacional cambiante, influenciado por interesses estratégicos em recursos biológicos, por avanços em vertentes tecnológicas altamente dependentes de variabilidade genética e pela consolidação do arcabouço legal de proteção do conhecimento, são inevitáveis alterações nas relações entre os países e entre organizações de cada país por acesso a organismos portadores de variabilidade genética. Em função deste cenário de mudanças, foi estimada a intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética, nos setores público e privado de P&D no Brasil, atualmente, e em cada um de três cenários apresentados em 2010.

Na avaliação, para cada cenário, os painelistas levaram em conta a situação atual, e antevista (2010), para a intensidade de intercâmbio de organismos vegetais em função da competição entre os setores público e privado e da sua influência no livre intercâmbio desses organismos. A pesquisa foi realizada em duas rodadas, e, em ambas, a intensidade de diferentes formas de intercâmbio era avaliada em uma escala de 1 a 10, onde 1 representava intercâmbio quase nulo e 10 intercâmbio muito extenso.

A Figura 8.6 apresenta os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.9 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5). Houve consenso entre os painelistas quanto à intensidade de intercâmbio nas três diferentes formas avaliadas para o momento atual e para o cenário 2. Não houve consenso no cenário pessimista para as avaliações de intensidade de intercâmbio entre organizações do setor público e entre

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oranizações do setor privado. Também não houve consenso para as avaliações de intercâmbio entre organizações públicas e privadas no cenário otimista.

É interessante notar que as avaliações de intercâmbio entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, mais que o dobro das avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Ainda, o intercâmbio neste ambiente é pouco afetado pelos cenários, se mantendo com mediana 6 nos cenários pessimista e tendencial e mediana 7 nos cenários atual e otimista. Por outro lado, a visão é pessimista quando se considera as outras formas de intercâmbio, com previsão de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, à exceção do cenário otimista, onde o intercâmbio apenas se mantém nos níveis atuais. Ao contrário do intercâmbio setor público versus setor público que é o mais intenso, o intercâmbio setor privado versus setor privado é o menos intenso, em todas as situações. Mesmo num cenário otimista, o intercâmbio dentro do setor privado diminuiria.

Em linhas gerais, as tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e expectativas da dinâmica futura do intercâmbio de materiais genéticos no setor de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares. Tradicionalmente, cabe ao setor público de P&D as maiores responsabilidades por coleta, conservação e desenvolvimento de nova variabilidade genética bem como esforços de caracterização e agregagação de informações que, via de regra, são amplamente compartilhadas. No entanto, em setores comercialmente mais atrativos, como milho e hortaliças, o setor privado tem papel destacado na geração de nova variabilidade e informações, que são utilizados como ativos essenciais para manutenção de posições competitivas no mercado, razão porque são raramente compartilhados com quaisquer outras organizações.

As avaliação pessimistas, mas menos negativas para intercâmbio de organismos entre organizações do setor público e do setor privado se devem certamente mais à lógica privada de não compartilhar que à lógica pública de compartilhar mais livremente organismos portadores de variabilidade. Este fluxo desigual é provavelmente a razão pelas avaliações negativas para esta forma de intercâmbio em qualquer cenário.

É interessante notar que, independente da possibilidade de novos desenvolvimentos em áreas de fronteira, como a engenharia genética e genômica, cada vez mais dependentes de programas de inovação sustentados em novos recursos biológicos, ou da concretização das legislações de proteção ao conhecimento, como a lei de proteção de cultivares, os painelistas não anteciparam dificuldades no intercâmbio de recursos entre organizações do setor público. É possível que esta visão seja um tanto conservadora, uma vez que há indícios de que a concorrência por recursos genéticos se torne mais acirrada no futuro, com redução da disponibilidade de variabilidade, especialmente daqueles materiais genéticos melhor caracterizados e mais valorados.

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Intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética

0123456789

10

Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Med

iana

s (1

-10)

Entre setores públicos Entre setores privados Entre público e privado

Figura 8.6. Avaliação da intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Outro cenário possível é que, com a redução da disponibilidade de recursos que permitam ao setor público cumprir efetivamente seu papel, as organizações deste setor assumam gradualmente a lógica privada, buscando participar mais diretamente do mercado como estratégia de sobrevivência. Neste caso, se intensificaria a competição em todos os níveis, com inveitável redução no intercâmbio de recursos, mesmo entre organizações do setor público.

Muito embora a pesquisa não tenha tratado especificamente do intercâmbio internacional, há que se considerar a necessidade de se manter um nível de relacionamento adequado neste nível, uma vez que, para praticamente todas as espécies de grande importância econômica, o Brasil é dependente de variabilidade e avanços obtidos em outros países. Isto pode significar dificuldades substanciais de acesso, num ambiente de acirramento das relações internacionais, ou de incorporação da lógica competitiva privada pelas organizações do setor público, que tem maior reesponsabilidade pela manutenção de níveis adequados de intercâmbio internacional.

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Tabela 8.9. Avaliação da intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética

Formas de

intercâmbio Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Entre organizações do setor

público de P&D 7 * 6 6 * 7 *

Entre organizações do setor privado de P&D 3 * 2 2,5 * 2 *

Entre organizações do setor público e organizações do

setor privado de P&D 4 * 3 * 3 * 4

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual 2.5

Finalmente, deve-se mencionar que em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram diversas observações relevantes, dentre as quais destacam-se:

• “A competição entre organização do setor privado de P&D é sempre maior em condição de menor disponibilidade de recursos no mercado. Portanto, considero como sendo bastante provável um menor intercâmbio nessa situação.”

• “Entendemos que a legislação de proteção da proprieade intelectual irá proporcionar maior segurança, valorização e reconhecimentos aos detentores/obtentores, possibilitando maior intercâmbio com o devido reconhecimento dos direitos de cada um e a justa remuneração, quando for o caso.”

• “A tendência é o controle completo do germoplasma. Para algumas culturas como fumo, por exemplo, a interações entre empresas é quase inexistente e deverá continuar assim. Pode ser que para outras culturas, para as quais eu não tenha tanto conhecimento, o intercâmbio seja maior... Por outro lado, no setor público o intercâmbio sempre será o maior e entre público x privado, ficará intermediário.”

• “A intensidade de intercâmbio de organismos portadores de variabilidade é bastante razoável atualmente e deverá se manter sem alteração nos cenários indicados, pelo menos para commodities como soja, feijão, arroz. Esta intensidade é menor para plantas alógamas como o milho.”

• “Apesar da crise econômica e da pouca motivação de alguns pesquisadores e estudiosos da área de melhoramento genético, ainda acho que teremos avanço na intensidade de intercâmbio, melhorando sensivelmente a base genética de muitas das espécies de importância econômica em nosso país. Os contatos com pesquisadores e instituições e empresas privadas nacionais e internacionais tendem a melhorar e facilitar esses intercâmbios.”

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• “Em uma situação de maiores dificuldades as empresas tendem a buscar maior nível de parceria para sobreviver. Em ambientes mais favoráveis as empresas estarão menos propensas à parceria e intercâmbios.”

• “A crescente competição entre as instituições do setor privado deverão levar a uma contínua restrição no intercâmbio de germoplasma.”

• “O intercâmbio de germoplasma poderia ser melhor. Em realidade o setor privado, como já mencionado, tem pequena participação no melhoramento do feijoeiro, que é a espécie com a qual trabalho. Mesmo assim, o intercâmbio tem sido possível. Mantive a minha nota na situação atual porque, mesmo considerando a pequena participação do setor privado, ainda é possível se utilizar algum germoplasma desse setor, sobretudo com relação a arquitetura de plantas. Atualmente o setor privado utiliza, na minha opinião, grande parte do germoplasma do setor público.”

• “Considerando que a Legislação de Proteção da Propriedade intelectual estará consolidada, as parcerias entre os setores estarão fortalecidas e a competição entre os setores públicos e privados se reduzirá em diferentes nichos. O intercâmbio de organismos será maior, não ao contrário do intercâmbio de conhecimento. Da mesma forma, haverá associação entre empresas do setor privado, aumentando o intercâmbio entre as instituições do setor privado.”

• “Ainda considero e acho que haverá avanço no intercâmbio de material entre os setores de P&D público e privado porque a interdependência parece crescer de ano para ano.”

Como síntese desta seção, pode-se derivar o conteúdo do quadro seguinte:

As tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e expectativas da dinâmica futura do intercâmbio de materiais genéticos no setor de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares. As avaliações de intercâmbio entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, mais que o dobro das avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Ainda, o intercâmbio neste ambiente é pouco afetado pelos cenários, se mantendo com medianas mais altas, independentemente da situação. Por outro lado, a visão é pessimista quando se conside as outras formas de intercâmbio, com previsão de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, à exceção do cenário otimista, onde o intercâmbio apenas se mantém nos níveis atuais. Ao contrário do intercâmbio setor público versus setor público que é o mais intenso, o intercâmbio setor privado versus setor privado é o menos intenso, em todas as situações. Mesmo num cenário otimista, o intercâmbio dentro do setor privado diminuiria, segundo a percepção dos painelistas.

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8.4 O Intercâmbio de Conhecimentos sobre a Variabilidade Genética

O aumento da competição entre os setores público e privado de P&D pode afetar o livre intercâmbio de organismos vegetais e, ou, de conhecimento sobre esses organismos entre esses setores. Este intercâmbio, por sua vez, afeta a disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento. O Painel analisou como está, e como estará em 2010, a intensidade de intercâmbio de conhecimento sobre a variabilidade genética de organismos vegetais, dentro de cada setor de P&D (público e privado), e entre setores. Solicitou-se ao Painel fazer suas estimativas sobre esta intensidade, dentro e entre setores, e também, para cada cenário oferecido, utilizando uma escala de 1 a 10, onde 1 significava “intercâmbio quase nulo” e 10 “intercâmbio muito intenso”.

A ênfase na produção de informações e conhecimentos acerca da variabilidade genética utilizável em programas de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares deverá ser intensificada, na medida em que se consolida o arcabouço legal de proteção à propriedade intelectual, em especial as leis de patentes e proteção e cultivares. Uma vez que dificilmente as organizações poderão se tornar autosuficientes na produção de nova variabilidade, e de informações e conhecimentos acerca de variabilidade útil para o melhoramento genético, há grande interesse na dinâmica futura dos processos de intercâmbio relacionados ao desenvolvimento de cultivares.

Curiosamente, o fluxo de informações acerca da variabilidade genética deverá se tornar ainda mais importante que o próprio fluxo dos organismos per se, o que torna o intercâmbio da informação associada aos recursos questão de grande interesse e importância estratégica. Na verdade, espera-se que se estabeleçam mecanismos que facilitem ou mantenham o fluxo de organismos portadores de variabilidade, ao mesmo tempo que se aprimorem os mecanismos de proteção do conhecimento e controle do fluxo e intercâmbio de informações, de acordo com a lógica “informação é poder”.

Em um ambiente internacional cada vez mais dinâmico, interesses estratégicos por recursos biológicos e informações a eles associadas levarão a intensa competição e, possivelmente, conflitos entre países e organizações. O fato é que avanços em vertentes tecnológicas, altamente dependentes de variabilidade genética, e a consolidação do arcabouço legal de proteção do conhecimento levam a inevitáveis alterações nas relações entre os países e entre organizações de cada país, por acesso a informações estratégicas acerca da variabilidade genética. Os fluxos que no passado eram relativamente livres certamente se tornarão limitados por barreiras legais e, principalmente, pelo interese econômico que passa a nortear todos os processos de inovação baseados na biologia.

Em função destes cenários de mudanças globais, que influenciam cada país e suas organizações, procurou-se estimar a intensidade de intercâmbio de informações e conhecimentos associados a organismos vegetais portadores de variabilidade útil a programas de melhoramento genético, nos setores público e privado de P&D no Brasil, atualmente e em cada um de três cenários apresentados em 2010.

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Na avaliação para cada cenário, os painelistas levaram em conta a situação atual e antevista (2010) para a intensidade de intercâmbio de informações em função da competição entre os setores público e privado e da sua influência no livre intercâmbio dessas informações. Na pesquisa levou-se em conta apenas o intercâmbio doméstico, muito embora acessibilidade a informações obtidas internacionalmente possam indiretamente afetar o fluxo interno de informações. A pesquisa foi realizada em duas rodadas e, em ambas, a intensidade de diferentes formas de intercâmbio era avaliada em uma escala de 1 a 10, onde 1 representava intercâmbio quase nulo e 10 intercâmbio muito intenso.

A Figura 8.7 apresenta os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.10 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5). Apenas para o cenário 2 houve consenso entre os painelistas quanto à intensidade de intercâmbio nas três diferentes formas avaliadas – a. Entre organizações do setor público de P&D, b. entre organizações do setor privado de P&D e c. entre organizações do setor público e organizações do setor privado de P&D. Contrariamente, não houve consenso quanto à intensidade de intercâmbio de conhecimentos nas três diferentes formas avaliadas para o cenário otimista.

Intensidade de intercâmbio de conhecimento sobre variabilidade genética de organismos

vegetais

0123456789

10

Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Entre setores públicos Entre setores privados Entre público e privado

Figura 8.7. Avaliação da intensidade de intercâmbio de conhecimentos acerca de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Semelhantemente às estimativas de intercâmbio de organismos, o intercâmbio de informações entre organizações do setor público são, em qualquer cenário,

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consistentemente maiores que as avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Ainda, o intercâmbio atual no ambiente público (mediana 8) jamais é superado pelo intercâmbio em qualquer dos cenários, muito embora se mantendo com medianas altas (6.5 no cenário pessimista, 7 no cenário tendencial e 7,5 no cenário otimista.

Da mesma forma, a visão dos painelistas é pessimista quando se considera as outras formas de intercâmbio, com previsão consistente de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, qualquer que seja o cenário. Ao contrário do intercâmbio setor público versus setor público que é o mais intenso, o intercâmbio setor privado versus setor privado é o menos intenso, em todas as situações. Mesmo num cenário otimista, o intercâmbio dentro do setor privado, e até entre o setor público e o setor privado, diminuiriam em relação à situação atual.

Tabela 8.10. Avaliação da intensidade de intercâmbio de conhecimentos acerca de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Intensidade de intercâmbio de conhecimento sobre variabilidade genética de organismos vegetais

Formas de

intercâmbio Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Entre organizações do setor

público de P&D 8 * 6,5 7 * 7,5

Entre organizações do setor privado de P&D 3 2 2 * 2,5

Entre organizações do setor público e organizações do

setor privado de P&D 5 * 4 * 4 * 4

* Avaliação com distância entre quartis menor ou igual 2.5

Uma conclusão óbvia, portanto, é que independentemente do cenário futuro, não há expectativa de que o intercâmbio de informações no setor privado seja intensificado. Em linhas gerais, a percepção do painel é bastante coerente com as expectativas em relação ao futuro do intercâmbio de informações no setor de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares. Espera-se que o setor público de P&D mantenha a ênfase em acesso e geração de nova variabilidade genética bem como em caracterização e agregagação de informações que, via de regra, são amplamente compartilhadas.

Da mesma forma que ocorre em intercâmbio de organismos portadores de variabilidade (Tabela 8.9), a avaliação pessimista, mas menos negativa para intercâmbio de informações entre organizações do setor público e do setor privado se deve também à lógica privada, de acessar toda a informação possível no setor público, mas raramente compartilhar a sua própria informação. Este fluxo desigual leva provavelmente a avaliações negativas para esta forma de intercâmbio em qualquer cenário.

Da mesma maneira observada para o intercâmbio de organismos, verifica-se aqui que, independente dos novos desenvolvimentos em fronteiras tecnológicas muito competitivas e altamente dependentes de informações qualificadas acerca de recursos biológicos – como a

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engenharia genética e a genômica – os painelistas não anteciparam grande acirramento na competição por informações entre organizações do setor público. Apesar de haver uma queda nas medianas para todos os cenários, esta queda é relativamente pequena e quase iguala a situação atual no cenário mais otimista (medianas 7.5 x 8.0). Novamente há que se refletir acerca desta percepção, visto que, com a menor disponibilidade de recursos, as organizações públicas são cada vez mais forçadas a assumir a lógica privada, buscando participar mais diretamente do mercado como estratégia de acesso a novos recursos e sobrevivência. Se esta realidade se concretiza, haveria intensificação da competição em todos os níveis e inevitável redução no intercâmbio de informações, mesmo entre organizações do setor público.

Finalmente, há que se mencionar que em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram diversas observações relevantes, dentre as quais destacam-se:

• “Acho que sempre há um intercâmbio entre as empresas de P&D. Acho que novos pesquisadores estão muito pessimistas.”

• “Para que haja maior intercâmbio de organismos é necessário que haja antes maior intercâmbio de conhecimentos sobre estes organismos. Não da para trocar/intercambiar o que não é conhecido.”

• “Num cenário de recuperação acelerada, onde o conceito e a legislação de propriedade intelectual são aceitos e manejados a competição entre os setores públicos e privados de P&D se reduz pela ocupação de diferentes nichos de mercado e apropriação conjunta dos resultados obtidos, o intercâmbio de conhecimento também deverá ser ampliado de forma considerável para, em conjunto, definirem os produtos a serem gerados. Da mesma forma, isso poderá acontecer entre empresas do setor privado, pois as regras estarão definidas.”

O quadro abaixo sintetiza a percepção do Painel sobre este tópico:

As tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e expectativas em relação à dinâmica futura do intercâmbio de informações sobre variabilidade útil para o desenvolvimento de cultivares. As avaliações de intercâmbio de conhecimento entre organizações do setor público são , em qualquer cenário, consistentemente maiores que as avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. O intercâmbio atual no ambiente público jamais é superado pelo intercâmbio em qualquer dos cenários, visão que se repete de forma ainda mais pessimista para as outras formas de intercâmbio, com previsão consistente de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, qualquer que seja o cenário Independentemente do cenário futuro, não há expectativa de que o intercâmbio de informações no setor privado seja intensificado, o que indica tendência de acirramento da competição por informações e conhecimentos estratégicos no setor privado.

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8.5 Intensidade de Uso de Cultivares

A lei de proteção de cultivares (25/4/1997) criou a figura de “cultivar essencialmente derivada ”, e concede o direito de proteção a esse tipo de cultivar, o que possivelmente incentiva o uso de cultivares já desenvolvidas, no processo de melhoramento genético. Considerando que o uso de cultivares já desenvolvidas, como insumo para o melhoramento genético, é afetado pela competição entre os setores e pela disponibilidade de variabilidade genética, foi solicitado ao Painel analisar, em uma escala de 1 a 10, como está, e como estará, a intensidade desse uso no ano de 2010. As estimativas sobre esta intensidade foram realizadas por segmento de mercado e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos.

O melhoramento genético vegetal é essencialmente um processo que se desenvolve passo a passo e faz uso de recursos genéticos coletados na natureza, de populações, de clones e de linhagens caracterizados, além de variedades ou de cultivares ultrapassadas ou obsoletas para uso comercial mas que são úteis como fonte de variabilidade para a criação de novas variedades. O cerceamento do uso de qualquer dessas fontes de variabilidade pode ter conseqüências negativas para o desenvolvimento tecnológico na agricultura, pois que afetaria a capacidade de desenvolvimento e lançamento de novas cultivares mais produtivas e adaptadas.

Neste particular, o Brasil aderiu à versão da UPOV de 1978, documento que permite que as variedades protegidas sejam livremente utilizadas como fonte inicial de variação para outros programas de melhoramento (privilégio dos melhoristas). Além disso, os agricultores podem guardar as sementes de variedades protegidas para novos plantios, sem terem que negociar com os detentores deste direito (privilégio dos agricultores). No entanto, deve-se chamar a atenção da necessidade de autorização do obtentor da variedade original para que uma cultivar derivada possa ser colocada em comercialização.

Do ponto de vista técnico, a questão mais polêmica e complicada se refere ao estabelecimento das diferenças mínimas entre uma cultivar essencialmente derivada e a cultivar ancestral protegida. Estas diferenças mínimas não são facilmente estabelecidas e a própria lei brasileira não determina com precisão qual é a margem mínima de características que separa ambas, o que seria fundamental para que o órgão competente, no caso o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC, estabeleça critérios técnicos e legais de diferenciação.

Muito embora critérios técnicos e procedimentos legais para derivação essencial no Brasil não estejam definidos, a utilização de variedades comerciais no desenvolvimento de novas cultivares é prática bastante utilizada em melhoramento de diversas espécies, com destaque para o milho, especialmente pela iniciativa privada. Ainda que as metodologias usadas na iniciativa privada não sejam diferentes da iniciativa pública, as ênfases e objetivos dos programas privados atendem a algumas pressões. É crescente a necessidade de retorno adequado aos investimentos em pesquisa, respostas rápidas aos progressos dos concorrentes, novas demandas dos produtores, além da necessidade de estar sempre com novidades para a clientela.

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Outro aspecto que pesa muito em uma empresa privada é a segurança dos produtos lançados em termos de resistência a doenças e tolerância a alguns estresses, para se evitar processos jurídicos. A produtividade das lavouras de produção de sementes muitas vezes é que determina se um bom híbrido será ou não lançado, bem como os aspectos de tipo e qualidade das sementes. Portanto, um melhorista de empresa privada deve estar muito atento as demandas de mercado e técnicas de produção de sementes, pressões que muitas vezes forçam os melhoristas a lançarem mão de fontes mais seguras e conhecidas de variabilidade, que permitam ganhos mais rápidos e previsíveis. Como o maior esforço de pesquisa atual neste segmento de mercado é na iniciativa privada, a tendência de intenso uso de materiais comerciais e base genética cada vez mais estreita predomina.

Em função desta realidade, foi estimada a intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas para cada um dos segmentos de mercado listados priorizados pelo estudo, considerando os setores público e privado de P&D. Na avaliação, os painelistas levaram em conta, no momento atual e em três cenários futuros, para o ano de 2010, as variáveis competição entre os setores, além da capacidade de acesso e intercâmbio de organismos portadores de variabilidade, e à informação a eles associada, fatores que direta ou indiretamente afetam a decisão de se utilizar variedades como fonte de variabilidade para o melhoramento genético.

A pesquisa foi realizada em duas rodadas, sendo que na primeira rodada o painelista apenas emitia sua opinião individual. Na segunda rodada foi solicitado a fornecer nova avaliação, considerando a faixa de respostas da maioria dos especialistas e a sua própria avaliação anterior. Em ambas as rodadas, a importância de cada espécie ou segmento de mercado, do ponto de vista de intensidade do uso de cultivares no melhoramento, era avaliada em uma escala de 1 a 10, onde 1 representava intensidade quase nula e 10 intensidade muito alta. Para facilitar a análise a seguir, esta escala foi dividida em faixas, como segue: intensidade muito alta, medianas de 9 a 10; alta intensidade, medianas de 7 a 8.99; média intensidade, medianas de 5 a 6.99; pequena intensidade, medianas de 3 a 4.99; uso quase nulo, medianas de 1 a 2.99.

As Figuras 8.8 e 8.9 apresentam os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.11 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5). Para facilitar análises mais detalhadas, a Tabela 8.12 apresenta todas as possíveis diferenças entre as avaliações de intensidade, considerando segmentos de mercado, setor de P&D e cenários.

A Tabela 8.11 indica grande consenso nas avaliações do setor público de P&D. Não houve consenso apenas para as avaliações referentes ao segmento milho, no cenário atual, arroz e feijão no cenário 2 e uva no cenário atual. Para o setor privado de P&D o alcance de consenso foi inferior àquele detectado para o setor público. Considerando-se o cenário atual, não se obteve consenso entre os painelistas para estimativas referentes aos segmentos milho, feijão, tomate, cebola e uva. Apesar de ter havido consenso para todos os segmentos de mercado no cenário 2, não se alcançou consenso para a maioria dos segmentos no cenário 1 e para as principais commodities no cenário otimista (soja, milho e arroz).

A análise conjunta dos dados, a partir da média das medianas, na última linha da Tabela 8.11, tem valor apenas indicativo de tendência geral. Apesar das diferenças entre as várias

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espécies vegetais, do ponto de vista de processos de melhoramento e de viabilidade de se acessar a varibilidade a partir da reciclagem de variedades, é interessante notar que a média das medianas indicou grande proximidade das avaliações, independentemente das influências dos cenários (C1 – pessimista, C2 – tendencial, C3 – otimista) e do ambiente (P&D pública ou P&D privada) para o conjunto dos segmentos de mercado identificados. A média das medianas das avaliações de acesso atual na P&D pública (6.5 – média intensidade) foi praticamente igual à da P&D privada (6.8 – média intensidade). Igualmente, as médias das medianas para os diferentes cenários na P&D pública (C1 = 6,4; C2 = 6,8 e C3 = 6,9), versus os mesmos cenários na P&D privada (C1 = 6,3; C2 = 6,8 e C3 = 7,3), indicam grande proximidade das estimativas, especialmente nos cenários pessimista e tendencial, com destaque apenas para a pequena tendência de aumento da intensidade de uso no setor privado, no cenário otimista.

As avaliações do painel para cada segmento de mercado, contidas nas Tabelas 8.11 e 8.12 e nas Figuras 8.8 e 8.9, permitem análise mais detalhada da percepção dos painelistas acerca das influências dos cenários e dos ambientes de P&D, na intensidade de uso de cultivares como fonte de variabilidade genética, levando em conta especificidades de cada espécie analisada.

As medianas, considerando as espécies individualmente nos três cenários, indicaram estimativas nas faixas de média e alta intensidade de uso de cultivares nos dois ambientes de P&D, como demostrado na Tabela 8.12 (colunas A-E, B-F, C-G e D-H). A magnitude de todas as diferenças calculadas se situam na faixa –2 a 1, não havendo qualquer tendência de mudanças marcantes na intensidade de uso de cultivares em função dos cenários. Ademais as comparações não indicam posição hegemônica para nenhum dos setores de P&D nos três cenários futuros considerados.

Em suma, os dados referentes às estimativas de intensidade de uso de cultivares no melhoramento genético indicam posicionamento bastante semelhante dos setores público e privado de P&D, com ligeira vantagem para o último, especialmente para os segmentos mais competitivos (soja e milho) e no cenário mais otimista.

É interessante notar a tendência de pequena redução na intensidade de uso de cultivares em milho, nos cenários mais otimistas em relação à situação atual e ao cenário pessimista. Embora as estimativas sejam altas (medianas 8 e 7, respectivamente), esta pequena redução pode ilustrar preocupação com o uso excessivo desta prática, que pode levar ao estreitamento da base genética e à vulnerabilidade. Em cenários muito pessimistas, quando os riscos são consideráveis, os melhoristas são pressionados a lançarem mão de fontes mais seguras e conhecidas de variabilidade, que permitam ganhos mais rápidos e previsíveis. Já em cenários mais otimistas, há a possibilidade de se arriscar mais, lançando mão de estratégias inovadoras na busca de variabilidade que não estreite a base genética do programa de melhoramento.

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Intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas no setor público

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.8. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, no setor público de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – uso quase nulo a 10 - uso muito intenso).

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Intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas no setor privado

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

55,5

66,5

77,5

88,5

99,510

Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras Algodão

Segmento de Mercado

med

iana

s

Atual 1 Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Figura 8.9. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, no setor privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – uso quase nulo a 10 - uso muito intenso).

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254

Tabela 8.11. Avaliação da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético – em função da competição entre os setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – uso quase nulo, a 10 - uso muito intenso).

Intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas

No setor público de P & D No setor privado de P & D Futuro (2010) Futuro (2010) Segmento

de Mercado

Atual (A) Cenário 1

(B) Cenário 2

(C) Cenário 3

(D)

Atual (E) Cenário 1

(F) Cenário 2

(G) Cenário 3

(H) Soja 7 * 7 7 * 7 * 8 * 7 8 * 8,5*

Milho 6 6 * 6 * 7 8 8 7 * 7

Arroz 7 * 6 * 7 7 * 6 * 6 6 * 7

Feijão 6,5 * 7 * 7 7 * 6 5 6 * 7

Trigo 7 * 6 * 7 * 7 * 7 * 7 * 7 * 8 *

Batata 7 * 7 * 6 * 7 * 6 * 6 * 6,5 * 7,5 *

Tomate 6 * 6 7 * 6,5 * 7 7 7 * 7,5 *

Cebola 6 * 6 6 * 6 * 6 5,5 * 6,5 * 7 *

Citros 7 * 7 * 7, 5 * 8 * 7 * 7 7 * 8 *

Melão 6,5 * 6 * 7 * 7 * 6 * 6 7 * 7 *

Uva 7,5 7 * 7 * 6,5 * 7 6 7 * 7 *

Forrageiras 6 * 6 * 7 * 6,5 * 7 * 5 * 6 * 7 *

Algodão 7 * 6,1 * 7 * 7 * 7 * 7 * 7 * 7 *

Média 6.5 6.4 6.8 6.9 6.8 6.3 6.8 7.3

* Avaliação com distância entre quartis <= 2.5 indica consenso entre os especialistas consultados

Um outro aspecto importante a ser considerado na utilização de cultivares como fonte de variabilidade, se refere à produção de híbridos, já que, normalmente, um híbrido comercial, para ter heterose, é oriundo do cruzamento de um ou mais grupos heteróticos distintos, o que pode prejudicar ou dificultar a utilização dessa fonte de variabilidade. Como indicado por Magnavaca (1998) não resta dúvida de que desenvolver linhagens de milho a partir de híbridos de linhagens elites tem permitido progressos contínuos na seleção de híbridos superiores. O uso de F2 de híbridos simples de linhagens elites, de um mesmo grupo heterótico, para derivar linhagens, é a grande arma da iniciativa privada.

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255

Tabela 8.12. Diferenças entre avaliações da intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, como fonte de variabilidade para o melhoramento genético em função da competição entre setores e da disponibilidade de variabilidade genética, atualmente e em 2010 (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – uso quase nulo a 10 - uso muito intenso).

Intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas Diferença entre

avaliações de importância no setor público

Diferença entre avaliações de importância

no setor privado

Diferença entre avaliações de importância entre os setores

público e privado Segmento

de Mercado B - A C - A D - A F - E G - E H - E A - E B - F C - G D - H

Soja 0 0 0 -1 0 0,5 -1 0 -1 -1,5

Milho 0 0 1 0 -1 -1 -2 -2 -1 0

Arroz -1 0 0 0 0 1 1 0 1 0

Feijão 0,5 0,5 0,5 -1 0 1 0,5 2 1 0

Trigo -1 0 0 0 0 1 0 -1 0 -1

Batata 0 -1 0 0 0,5 1,5 1 1 -0,5 -0,5

Tomate 0 1 0,5 0 0 0,5 -1 -1 0 -1

Cebola 0 0 0 -0,5 0,5 1 0 0,5 -0,5 -1

Citros 0 0,5 1 0 0 1 0 0 0,5 0

Melão -0,5 0,5 0,5 0 1 1 0,5 0 0 0

Uva -0,5 -0,5 -1 -1 0 0 0,5 1 0 -0,5

Forrageiras 0 1 0,5 -2 -1 0 -1 1 1 -0,5

Algodão -0,9 0 0 0 0 0 0 -0,9 0 0

O uso das linhagens elites de um programa, de uma forma recorrente, no sentido de que as linhagens superiores selecionadas se tornam parentais de novas combinações para se obter novos F2, tem gerado progressos contínuos em híbridos. No entanto, é necessário muito cuidado na separação de grupos heteróticos para não dificultar a fase posterior ao desenvolvimento das linhagens, ou seja, a determinação das heteroses específicas. A variabilidade deve ser grande, mas dentro dos grupos heteróticos. Este ponto dá origem a principal crítica quanto à utilização de híbridos comerciais como fonte de linhagens. Ao se autofecundar estes híbridos pode-se desenvolver linhagens excelentes, mas que levam a um processo muito caro para se definir a heterose.

Por fim, vale mencionar que, embora as estimativas de intensidade de uso de variedades pelo setor privado estejam de acordo com o esperado, estimativas igualmente altas para o setor público surpreendem. Assumindo que o setor público não opera sob as pressões competitivas do mercado, pressões que muitas vezes forçam os melhoristas a lançarem mão de fontes mais seguras e conhecidas de variabilidade, que permitem ganhos muito rápidos e previsíveis, não se vê razões claras para que este setor venha a dedicar grande esforço a esta fonte de variabilidade, como parece indicar o painel. Caberia ao setor público acessar novas fontes de variabilidade, aumentanto o “pool” de recursos disponíveis e contribuindo para reduzir o intenso uso de um “pool” limitado de variabilidade, que pode levar a perigoso estreitamento da base genética.

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256

Finalmente, há que se mencionar que, em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram diversas observações relevantes, dentre as quais destacam-se:

• “Características genéticas quantitativas levam muitos e muitos anos para serem incorporados em uma cultivar. São “n” cruzamentos, “z” retrocruzamentos, etc, anos de seleção e muitos recursos para chegar a um certo número de cultivares que inicialmente vão para o mercado, e após alguns anos se tornam base para o desenvolvimento de outras novas cultivares, através da incorporação de novas características e assim, sucessivamente. Acredito que o uso de cultivares no melhoramento genético seria menor somente se as características qualitativas fossem o principa alvo do melhoramento.”

• “As novas tecnologias de domínio de recombinação genética, baseadas na biotecnologia, intensificarão o uso de cultivares já desenvolvidas.”

• “A Lei de Proteção de cultivares respalda o uso de material genético comercial em programas de melhoramento, se for comprovado que será para o uso em cruzamentos e não diretamente como variedade. Assim, não vejo porque isso não vá ocorrer, independente do cenário e do setor público ou privado. Se o cultivar comercial está no mercado, o melhorista de outro programa pode adquirir a semente, comprando-a, e usá-la em cruzamentos em seu programa.”

• “Em minha opinião o uso de variedades será pouco afetado pelos cenários considerados.”

• “Para o feijão, a participação do setor privado no desenvolvimento de cultivares é extremamente reduzida, razão porque o correspondente emprego de cultivares melhorados é também reduzido.”

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257

A síntese sobre esta questão é a seguinte:

As estimativas de intensidade de uso de cultivares no melhoramento genético indicam posicionamento bastante semelhante dos setores público e privado de P&D, com ligeira vantagem para o último, especialmente para os segmentos mais competitivos (soja e milho) e para o cenário mais otimista. As comparações entre os setores de P&D, os segmentos de mercados e os cenários não indicaram qualquer tendência de mudanças marcantes, ou posicionamento hegemônico, na intensidade de uso de cultivares nos três cenários futuros considerados. Surpreendem as estimativas de intensidade média-alta de utilização desta fonte de variabilidade pelo setor público, considerando a expectativa de que este setor se dedique a acessar novas fontes de varibilidade, aumentanto o pool de recursos disponíveis e contribuindo para reduzir o perigo de estreitamento da base genética.

8.6. Amplitude da Base Genética Disponível para o Melhoramento

Foi solicitado ao Painel avaliação sobre como está, e como estará, a amplitude da base genética nos setores público e privado de P&D, em 2010. Nesta avaliação foram consideradas as respostas fornecidas anteriormente para os determinantes dessa amplitude (acesso a organismos detentores de variabilidade genética; conhecimento sobre essa variabilidade; intercâmbio de organismos e de conhecimento; uso de cultivares já desenvolvidas, no melhoramento genético). As estimativas sobre essa amplitude, por setor de P&D e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos, foram feitas utilizando a escala anteriormente mencionada.

A amplitude da base genética é fundamental para o sucesso de qualquer programa de melhoramento e desenvolvimento de cultivares. Esta amplitude é influenciada pelo pool de recursos disponíveis para uma determinada espécie, que pode conter variadas fontes, como por exemplo:

• Populações de base genética ampla;

• Populações de base genética estreita;

• Linhagens endogâmicas;

• Sintéticos de linhagens;

• Top-crosses;

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258

• Híbridos de linhagens;

• Variedade comerciais de vários tipos;

• Cruzamento de linhagens com populações;

• Cruzamentos com materiais exóticos;

• Cruzamento de linhagens aparentadas;

Disponibilidade de variabilidade genética corresponde ao acesso à variabilidade genética necessária para o melhoramento genético, nas formas acima exemplificadas ou em outras formas, em fontes próprias ou externas. Essa disponibilidade é função de:

a. Acesso a organismos vegetais portadores da variabilidade genética;

b. Conhecimento sobre essa variabilidade. Este conhecimento consiste em informação sistematizada sobre características úteis (em termos sociais, econômicos e, ou, ambientais) de organismos vivos, que pode ser aplicada em processos de melhoramento genético; e

c. Intercâmbio de organismos portadores de variabilidade, ou de conhecimento sobre esta variabilidade.

Para verificar a situação destas variáveis para os diversos segmentos de mercado listados e caracterizados no Quadro 8.1, nos setores público e privado de P&D, os painelistas levaram em conta o momento atual e três cenários futuros, para o ano de 2010, gerando as estimativas que foram anteriormente discutidas e que estão resumidas na Tabela 8.13.

Tabela 8.13. Avaliações globais, considerando médias das medianas de treze segmentos de mercado para as variáveis ‘acesso a organismos’, ‘acesso a conhecimentos sobre variabilidade’ e ‘intensidade de uso de cultivares’ do bloco Base Genética.

No setor público de P & D No setor privado de P & D Futuro (2010) Futuro (2010)

Variáveis Analisadas Atual (A)

Cenário 1

(B)

Cenário 2

(C)

Cenário 3

(D)

Atual(E) Cenário

1 (F) Cenário

2 (G) Cenário

3 (H)

Acesso a organismos portadores de

variabilidade genética 6.3 5.2 6.1 6.8 5.0 4.5 5.6 6.3 Acesso a conhecimento

sobre variabilidade genética em organismos

vegetais 6.6 5.6 6.7 7.8 6.3 5.6 7.0 8.3 Intensidade de uso de

cultivares já desenvolvidas

6.5 6.4 6.8 6.9 6.8 6.3 6.8 7.3

Após avaliação dos parâmetros acima, apresentados de forma mais detalhada nas Tabelas 8.1 a 8.8, 8.11 e 8.12, acrescidos da avaliação da situação do intercâmbio de organismso e conhecimentos sobre a variabilidade genética, detalhados nas Tabelas 8.9 e 8.10, os painelistas foram solicitados a avaliar como está, e como estará, a amplitude da base genética nos setores público e privado de P&D, em 2010.

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259

A Figura 8.10 apresenta os resultados das avaliações dos painelistas para esta questão. A Tabela 8.14 apresenta as mesmas avaliações, indicando segmentos nos quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5).

Amplitude da base genética para melhoramento

0

12

34

5

67

89

10

Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Público Privado

Figura 8.10. Avaliação da amplitude da base genética para o melhoramento de plantas – atualmente e em 2010, no setor público e privado de P&D (medianas derivadas de avaliações na escala 1 – base muito estreita, a 10 - base muito ampla).

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260

Tabela 8.14. Avaliação da amplitude da base genética para o melhoramento de plantas, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

Amplitude da base genética para melhoramento Setor de P&D

Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Público 7 * 6 * 7 * 8 *

Privado 5 * 4 6 7

* Avaliação com distância entre quartis <= 2.5

Os dados indicam consenso entre os painelistas nas avaliações do setor público de P&D para todos os cenários o que não ocorreu nas avaliações do setor privado de P&D, para o qual se obteve consenso apenas na situação atual. A amplitude da base genética para o setor público de P&D é maior em relação ao setor privado para todos os cenários considerados. A diferença em favor do setor público é mais acentuada na situação atual e menor nos cenários tendencial e otimista.

A seguir avaliou-se a coerência dessas avaliações de amplitude de base gnética com a avaliações dos determinantes desta amplitude (acesso a organismos detentores de variabilidade genética; conhecimento sobre essa variabilidade; intercâmbio de organismos e de conhecimento; uso de cultivares já desenvolvidas, no melhoramento genético).

ACESSO A ORGANISMOS DETENTORES DE VARIABILIDADE GENÉTICA

O painel indicou que o acesso a organismos portadores de variabilidade genética é afetado pelos cenários, em diferentes graus. A visão do painel em relação à capacidade do setor público de P&D de acesso a organismos portadores de variabilidade genética é em geral pessimista. Para o setor privado a visão do painel é mais otimista, indicando melhoria na capacidade com acesso, em especial em um cenário tendencial ou mais favorável, o que está coerente com os resultados apontados na Tabela 8.14. Tanto no plano atual, quanto no futuro, o acesso é mais intenso para o setor público, o que confirma a visão de que cabe prioritariamente a este setor a responsabilidade pela manutenção de acervo estratégicos de variabilidade genética, o que está compatível com a visão de que a amplitude da base genética será maior no setor público de P&D.

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261

ACESSO A CONHECIMENTO SOBRE VARIABILIDADE

O painel indicou que deverá crescer a importância estratégica do conhecimento acerca da variabilidade útil para o melhoramento genético visando o desenvolvimento de cultivares, com tendência geral de melhor desempenho, quanto ao acesso, do setor privado em relação ao setor público. Possivelmente, o crescimento da amplitude da base genética de cenários desfavoráveis para cenários otimistas reflita um maior investimento em conhecimento da base genética, o que, em última análise, contribui para a elevação da variabilidade útil aos programas de desenvolvimento.

Apesar da visão otimista e da evolução percentual nas estimativas de acesso a conhecimento, não se detectou percepção de posicionamento hegemônico de qualquer dos dois setores de P&D para os segmentos de mercado analisados, o que indica expectativa de grande ênfase em acesso à informação e ao conhecimento acerca da variabilidade genética, especialmente em cenários mais favoráveis. Estes dados estão também compatíveis com os resultados acima, uma vez que, pelo menos para cenários mais favoráveis não se percebe posição hegemônica de nenhum dos dois setores em relação a base genética disponível para o melhoramento.

INTERCÂMBIO DE ORGANISMOS PORTADORES DE VARIABILIDADE ÚTIL

As tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e das expectativas da dinâmica futura do intercâmbio de materiais genéticos no setor de melhoramento genético e de desenvolvimento de cultivares. As avaliações de intercâmbio entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, mais que o dobro das avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Ainda, o intercâmbio no ambiente público é pouco afetado pelos cenários, se mantendo com medianas mais altas independentemente da situação. Isso certamente se reflete nas altas estimativas de amplitude de base genética disponível no setor público.

Por outro lado, a visão é pessimista quando se considera as outras formas de intercâmbio, com previsão de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, à exceção do cenário otimista, onde o intercâmbio apenas se mantém nos níveis atuais. Ao contrário do intercâmbio setor público versus setor público, que é o mais intenso, o intercâmbio setor privado versus setor privado é o menos intenso, em todas as situações. Mesmo num cenário otimista, o intercâmbio dentro do setor privado diminuiria, segundo a percepção dos painelistas. Da mesma forma, este resultado é compatível com a visão dos painelistas acerca da amplitude da base genética no setor privado, especialmente em cenários menos favoráveis.

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INTERCÂMBIO DE CONHECIMENTOS ACERCA DE VARIABILIDADE ÚTIL

As tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e expectativas em relação à dinâmica futura do intercâmbio de informações sobre variabilidade útil para o desenvolvimento de cultivares. As avaliações de intercâmbio de conhecimento entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, consistentemente maiores que as avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. O intercâmbio atual no ambiente público jamais é superado pelo intercâmbio em qualquer dos cenários, visão que se repete de forma ainda mais pessimista para as outras formas de intercâmbio, com previsão consistente de redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, qualquer que seja o cenário.

Independentemente do cenário futuro, não há expectativa de que o intercâmbio de informações seja intensificado, o que indica tendência de acirramento da competição por informações e conhecimentos estratégicos neste setor. Assim, este resultado está compatível com a visão dos painelistas acerca da amplitude da base genética nos dois setores. Onde há maior intensidade de intercâmbio de informações, há também maior disponibilidade de base genética útil para o melhoramento.

INTENSIDADE DE USO DE CULTIVARES JÁ DESENVOLVIDAS

As estimativas de intensidade de uso de cultivares no melhoramento genético, indicam posicionamento bastante semelhante dos setores público e privado de P&D, com ligeira vantagem para o último, especialmente para os segmentos mais competitivos (soja e milho) e para o cenário mais otimista. As comparações entre setores de P&D, segmentos de mercados e cenários não indicaram qualquer tendência de mudanças marcantes, ou posicionamento hegemônico, na intensidade de uso de cultivares nos três cenários futuros considerados, muito embora as estimativas para intensidade de uso deste recurso sejam relativamente altas para ambos os setores.

Vale lembrar que as estimativas de intensidade média-alta de utilização desta fonte de variabilidade pelo setor público – como indicado pelos painelistas – é incompatível com a expectativa de que este setor se dedique a acessar novas fontes de variabilidade, aumentando o pool de recursos disponíveis e contribuindo para reduzir o perigo de estreitamento da base genética. Assim, há certa incoerência entre as estimativas do painel para alta intensidade de uso de cultivares e aumento da amplitude da base genética disponível para o melhoramento neste ambiente, muito embora não se possa creditar apenas a este parâmetro a definição da base genética disponível. Já para o setor privado, muito possivelmente as estimativas menores de amplitude da base disponível se deve ao uso intenso da reciclagem de cultivares como forma de apressar e tornar mais previsível o processo de melhoramento genético.

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263

Capítulo 9 Melhoramento Genético e Novos negócios

As mudanças que vem ocorrendo no contexto do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes podem significar tanto ameaças e oportunidades para os setores de P&D (público e privado). Novos desenvolvimentos, especialmente aqueles derivados dos avanços em biotecnologia, podem originar novos processos e novos produtos do melhoramento genético vegetal.

Novos processos podem abreviar e tornar mais preciso o melhoramento genético; podem também gerar novos produtos, que não façam parte, tradicionalmente, do portfólio de P&D de cada setor.

Pode-se conceber que novos negócios sejam impulsionados por esses novos processos e novos produtos, pela disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento e pela competição entre os setores públicos e privados de P&D.

Por essa razão, é importante identificar a relevância e o potencial futuro de processos (tradicionais e novos), utilizados na P&D em desenvolvimento de cultivares, bem como a competência institucional (em termos de recursos humanos e infra-estrutura), atual e futura, para manejar esses processos. É essencial também que se possam identificar os produtos, no futuro, que terão maior potencial, como base para novos negócios, em cada setor.

Este capítulo busca entender esses aspectos de novos produtos e novos processos, para os setores de P&D brasileiros. Na primeira parte do capítulo, analisam-se diversas dimensões relativas a processos de melhoramento genético (tradicionais e de ponta): importância atual e futura; domínio dos processos e suporte operacional para os processos. Na segunda, e última parte, são analisados os potenciais e capacidades para manejar novos produtos, oriundos da biotecnologia.

9.1 Processos de geração de conhecimento em melhoramento genético

A atividade conhecida como melhoramento genético vegetal utiliza vários processos para a obtenção de cultivares melhoradas. Estes processos de geração de conhecimento envolvem métodos mais tradicionais – como, por exemplo, a coleta e introdução de germoplasma, ou a identificação de caracteres de valor econômico – até métodos mais avançados, como, por exemplo, a transgenia.

Neste trabalho, o processo de desenvolvimento de cultivares foi concebido – a partir de modelagem do processo com um grupo de melhoristas da Embrapa – como se apresenta na Figura 9.1. Nessa Figura são mostrados (do lado esquerdo da Figura), os processos tradicionais utilizados no melhoramento genético vegetal. No lado direito, são

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264

apresentados os processos derivados da biotecnologia moderna. Ao centro da Figura, apresentam-se produtos originados pelos diferentes processos (novos genes, novos genótipos, produtos pré-tecnológicos e variedades comerciais). Esse último produto é o que tradicionalmente é buscado, atualmente, por ambos os setores de P&D.

Os processos mostrados na Figura 9.1 (ao lado de alguns de seus subprocessos mais relevantes) foram avaliados pelos participantes do Painel Delphi, em relação às seguintes características:

• Importância atual e futura;

• Domínio atual e futuro;

• Suporte operacional disponível, atualmente e no futuro.

A seguir, apresenta-se a visão dos painelistas, sobre esses atributos dos processos de melhoramento genético.

9.1.1. Importância de processos de melhoramento genético

Os painelistas foram solicitados a avaliar a importância que os processos de melhoramento genético (apresentados na Figura 9.1), têm hoje e terão, no futuro (2010), como oportunidade de negócios para os setores público e privado de P&D, em duas rodadas. A importância de cada processo, como oportunidade de negócios, era avaliada com base em uma escala de 10 pontos (1=importância quase nula; 10=enorme importância). Para facilitar a análise a seguir, esta escala foi dividida em faixas, como segue: enorme importância, medianas de 9 a 10; alta importância, medianas de 7 a 8,99; importância média, medianas de 5 a 6,99; pequena importância, medianas de 3 a 4,99; importância quase nula, medianas de 1 a 2,99.

A Figura 9.2 apresenta os resultados das avaliações dos painelistas, para essa questão, atualmente e no futuro, nos setores público e privado de P&D. A Tabela 9.1 apresenta as mesmas avaliações, indicando processos para os quais se obteve consenso (distância entre quartis igual ou menor que 2,5), e diferenças entre as diversas avaliações de importância. Obteve-se consenso para praticamente todas as avaliações relativas à importância atual (com exceção dos processos de seleção, de transgenia, de di-haplóides via cultura de tecidos, de hibridação somática, de clonagem e do uso de nanometodologias) e para todas as relativas à importância futura no setor público (exceção para os processos de hibridação somática e uso de nanometodologias).

Menor consenso foi obtido em relação à importância futura de processos no setor privado; neste setor, os processos de coleta e introdução e caracterização de germoplasma; estabelecimento de bancos de caracteres; seleção; genômica estrutural; proteômica; di-haplóides via cultura de tecidos; hibridação somática; clonagem e uso de nanometodologias não alcançaram consenso entre os painelistas.

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265

Germoplasma Vegetal Acesso/caracterização de

diversidade genética

Figura 9.1. O processo de desenvolvimento de cultivares (elaborado pelos autores, com a assessoria de Carlos Lazarini da Fonseca e Leonardo Giordano).

FIGURA 1: O processo de desenvolvimento de cultivares (Lazarini, Lopes e Giordano, 2002)

Identificação de características

de valor econômico

Cruzamentos e/ou Seleção

Identificação e avaliação de novos

genótipos

VVaarriieeddaaddeess ccoommeerrcciiaaiiss

Seleção Genotípica

Impressões digitais

Mapeamento genético

Transgenia

Clonagem

NovosGenes

Novos Genótipos

Produtos Pré- tecnológicos (insumos)

Análise funcional para identificação da relação

função gênica e estrutura

Di-haploidia, via cultura de tecidos

Hibridação somática, via cultura de tecidos

Sistema genéticode controle de polinização

Pré-melhoramento

Processos convencionais

Novos processos Novos processos

Pgenético rodutos do melhoramentoProdutos do melhoramento

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266

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Med

iana

s

Col

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a

Con

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ação

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Prot

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ra d

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Clo

nage

m

Uso

de

nano

met

odol

ogia

s

Figura 2: Importância atual e futura de processos de melhoramento genético, em dois setores de P&D

Importância Atual Importância Futura - Setor Público Importância Futura - Setor Privado

Figura 9.2. Importância atual e futura de processos de melhoramento genético, em dois setores de P&D

Atualmente, possuem enorme importância os processos de cruzamento e seleção e de avaliação de novos genótipos, ambos com mediana 9. Em segundo lugar aparecem os processos de caracterização de germoplasma, de identificação de caracteres e de seleção (mediana 7).

No futuro, os processos de cruzamento e seleção e avaliação de novos genótipos continuarão com a mesma importância atual, mas outros processos emergem com nível similar de importância. No setor público, caracterização de germoplasma, identificação de caracteres e estabelecimento de bancos de caracteres serão os processos emergentes. Além destes, nesse setor de P&D, aparecem os processos de seleção, de coleta e introdução de germoplasma, de conservação, de genômica estrutural, de genômica funcional e de proteômica (mediana 8).

Quanto ao setor privado de P&D, serão também de enorme importância a transgenia (mediana 10), e a identificação de caracteres (mediana 9). Terão também muita importância os processos de genômica funcional, de caracterização de germoplasma, de estabelecimento de bancos de caracteres, de genômica estrutural e de proteômica.

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267

Tabela 9.1. Importância de processos utilizados no melhoramento genético, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D (Medianas e diferenças entre medianas).

IMPORTÂNCIA FUTURA

DIFERENÇAS ENTRE AVALIAÇÕES DE IMPORTÄNCIA PROCESSOS

IMPORTÂNCIA ATUAL

(A)

SETOR PÚBLICO

(B)

SETOR PRIVADO

(C)

B-A

C-A

B-C

Coleta/introdução de germoplasma 6,5 8* 6,5 1,5 0 1,5

Conservação de germoplasma 6,5 8,5* 6,5* 2 0 2

Caracterização de germoplasma 7* 9* 8 2 1 1

Identificação de caracteres 7* 9* 9* 2 2 0

Estabelecimento de bancos de caracteres 6 9* 8 3 2 1

Seleção 7 8* 7 1 0 1

Cruzamentos e seleção 9* 9* 9* 0 0 0

Avaliação de novos genótipos 9* 9* 9* 0 0 0

Genômica estrutural 5* 8* 8 3 3 0

Genômica funcional 5* 8* 8,5* 3 3,5 -0,5

Proteômica 5* 8* 8 3 3 0

Transgenia 5 7* 10* 2 5 -3

Di-haplóides via cultura de tecidos 5 7 7 2 2 0

Hibridação somática via cultura de tecidos 4 6 7 2 3 -1

Clonagem 6 7* 8 1 2 -1

Uso de nanometodologias 3 6 7 3 4 -1

* Avaliação com distância entre quartis <=2.5.

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268

Para ambos os setores, possuirão alta, ou enorme importância, portanto, os seguintes processos: cruzamento e seleção; identificação e avaliação de novos genótipos; caracterização de germoplasma; identificação de caracteres; estabelecimento de bancos de caracteres; clonagem; seleção; genômica estrutural; genômica funcional; e proteômica.

Os dois setores se distinguem, no futuro, em relação aos processos de: coleta e introdução; conservação de germoplasma (ambos com importância superior no setor público) e transgenia, hibridação somática e uso de nanometodologias(essas últimas com importância superior no setor privado).

Quando se compara a importância atual com a importância futura dos processos de melhoramento genético, em cada setor, observa-se que:

a) No setor público, crescerão significativamente em importância os processos de uso de nanometodologias, de estabelecimento de bancos de caracteres e de genômica funcional, estrutural e proteômica;

b) No setor privado, o maior crescimento em importância corresponde aos processos de uso de nanometodologias e transgenia, seguidos pelo crescimento observado para genômica funcional, estrutural, proteômica e hibridação somática.

Em suas justificativas sobre as avaliações discordantes do grupo, na segunda rodada, os painelistas fizeram as observações apresentadas no Quadro 9.1.

Considerando-se em conjunto as avaliações sobre importância de processos (atual e futura), com as justificativas apresentadas pelos painelistas para discordância da faixa de opinião do grupo, observa-se que:

• A importância atual do processo de identificação e avaliação de novos genótipos (mediana = 9) deve ser considerada com cautela, para o caso das forrageiras tropicais, devido ao “estágio inicial do melhoramento ...[dessas espécies]... e a forma de propagação apomítica ou vegetativa ...[da maioria delas]”;

• Embora a importância atual do processo de identificação de caracteres de valor econômico não seja tão relevante (Mediana = 7), na medida em que esse processo se desenvolve, sua importância tende a crescer bastante (chegando a uma importância extremamente elevada para os dois setores);

• Três processos que possuem importância menor atualmente, como base de novos negócios – a saber, os processos de acesso (coleta/introdução de germoplasma), conservação e caracterização de germoplasma vegetal – terão importância alta para o setor público e, pelo menos um deles (caracterização), para o setor privado. Essa importância irá depender, por outro lado, dos arranjos institucionais que se estabeleça entre as organizações interessadas. Os painelistas indicaram ainda que duas forças para reduzir a importância destes processos, no futuro, são representadas pelo livre acesso a germoplasma, nos centros internacionais, e a redução da capacidade do Estado na manutenção de recursos genéticos;

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269

Quadro 9.1. Justificativas para a importância atribuída a processos de melhoramento genético.

COMENTÁRIOS SOBRE PROCESSOS ESPECÍFICOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO Processo Justificativa Identificação e avaliação de novos genótipos

• De importância menor para o melhoramento genético de forrageiras tropicais, que utiliza métodos mais simples (como a clonagem de genótipos) (importância atual)

• Ainda falta muito (menor importância atual)

Identificação de caracteres de valor econômico

• Alta importância, por ser a prioridade número 1 de qualquer programa de melhoramento (importância atual)

• Tema ainda em desenvolvimento (importância atual menor)

Transgenia • Importância atual é quase nula pela proibição, no Brasil, de sua comercialização

Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

• Importância no futuro deve ser maior do que atualmente, em que a técnica é restrita a um número pequeno de espécies (como trigo e arroz) e cultivares bem sucedidas não tem sido obtidas por esse processo

• Inicialmente promissor, atualmente quase abandonado. Poderá evoluir (importância atual)

• Acesso (coleta/introdução) de germoplasma

• Conservação de germoplasma vegetal

• Caracterização de germoplasma vegetal

• Atualmente, não tem importância em termos de negócios; no futuro, podem se tornar grandes oportunidades de negócios (dependendo dos arranjos institucionais a serem estabelecidos)

Conservação de germoplasma vegetal

• Sua importância deve crescer, mas não muito, uma vez que o germoplasma nos centros internacionais é de livre acesso

• Tendência é o setor público não dispor de recursos suficientes para o crescente aumento de recursos genéticos (menor importância no futuro).

Clonagem • Alta importância atual, no melhoramento de culturas perenes

• Ainda incipiente, poderá evoluir (importância atual e futura (setor privado))

Seleção (a partir de bancos de germoplasma)

• De importância menor para o melhoramento genético de forrageiras tropicais, que utiliza métodos mais simples (como a clonagem de genótipos) (importância atual)

• Atualmente, os bancos são pouco utilizados; são utilizados germoplasmas comerciais e disponíveis em programas de melhoramento.

• Bancos são pouco utilizados atualmente e não há razão aparente para que isso se altere.

• Improvável identificar material genético direto dos bancos de germoplasma

• Seleção significa selecionar e utilizar diretamente e não apenas genes por serem transferidos em material elite. (importância futura, no setor privado)

Hibridação somática via cultura de tecidos

• Muito pouco utilizada em arroz; no futuro, não deve ser diferente.

• Ainda embrionário, poderá evoluir. (Importância atual)

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

• Ainda muito embrionário (menor importância atual)

Uso de nanometodologias • Ainda muito problemático e especulativo. Poderá evoluir para 2.0 (Importância futura, nos dois setores)

COMENTÁRIOS GERAIS As novas tecnologias estão na base tanto do controle proprietário quanto da geração de variabilidade genética nova. (Essa é a justificativa para a manutenção de avaliações da primeira rodada, algumas delas de importância igual a 10, no futuro, no setor privado, de novas tecnologias)

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270

• A discordância quanto à importância atual (Mediana = 7) do processo de seleção (a partir de bancos de germoplasma), deve-se ao fato de que, segundo um dos respondentes, pelo menos “em milho, existe uma grande distância entre características desejáveis em uma variedade comercial e o que se encontra nos acessos de bancos de germoplasma. Por isso, principalmente no setor privado, não se utiliza praticamente nada oriundo dos bancos diretamente, por exigir grande investimento de tempo e recursos. No futuro com o uso rotineiro de novas tecnologias auxiliares no melhoramento, espera-se um incremento em programas de seleção a partir de germoplasma não-melhorado, principalmente no setor privado.” Consoante com essa opinião, os painelistas indicaram que deve haver um crescimento da importância desse processo, para os dois setores (Mediana =8, no setor público e 9, no setor privado).

• Quanto à clonagem (importância atual =6), a falta de consenso na avaliação atual, e na avaliação futura do setor privado, é provavelmente devida ao fato de que este processo é mais utilizado para culturas perenes.

É importante ressaltar a observação de um painelista sobre a elevada importância por ele atribuída aos processos derivados da biotecnologia, que seria devida a que esses processos “estão na base tanto do controle proprietário”, garantindo assim retorno econômico importante para o setor privado, “como da geração de variabilidade genética nova”. Se essa afirmação é verdadeira, estes processos iriam liberar o setor privado da dependência de acesso a organismos vegetais e à variabilidade genética possível de ser encontrada nesses organismos.

Conclusões Gerais

Todos os processos crescem em importância, no futuro, em relação à situação atual, nos dois setores de P&D. As exceções se referem aos processos de coleta e introdução, de conservação de germoplasma e de seleção, que permanecerão com importância igual à atual, no setor privado.

Os dois setores de P&D apresentam importância futura elevada e igual para uma série de processos de melhoramento genético. No entanto, há processos para os quais a importância será superior para o setor público (coleta/introdução e conservação de germoplasma); o oposto se verifica para transgenia e hibridação somática (importância futura maior para o setor privado).

Em geral, o crescimento em importância dos processos, em relação à situação atual, é a mesma para os dois setores ou superior para o setor público. As exceções são para os processos de genômica funcional, de transgenia, de hibridação somática, de clonagem e de uso de nanometodologias, com crescimento superior, na visão dos painelistas, no setor privado.

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271

9.1.2. Domínio de processos de melhoramento genético

Os painelistas também realizaram avaliação sobre o domínio dos processos do melhoramento genético, apresentados na Figura 9.1, atualmente e no futuro, em cada setor. Para os efeitos dessa avaliação, definiu-se que um processo é considerado dominado quando existe total conhecimento de todas as suas etapas, permitindo que ele seja executado com máxima eficiência.

Essa avaliação foi realizada com base em uma escala de 10 pontos (1=domínio quase nulo; 10=domínio total). Para facilitar a análise a seguir, esta escala foi dividida em faixas, como segue: total domínio, medianas de 9 a 10; alto domínio, medianas de 7 a 8,99; domínio regular, medianas de 5 a 6,99; pequeno domínio, medianas de 3 a 4,99; domínio quase nulo, medianas de 1 a 2,99.

Os resultados desta avaliação estão apresentados nas Figuras 9.3 e 9.4 e na Tabela 9.2.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

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D om ínio A tua l - P úblico D om ín io F uturo - P úblico

Figura 9.3. Domínio de processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro, do setor público de P&D.

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Figura 4: Domínio de processos de melhoramento, atuamente e no futuro, do setor privado de P&D

Dom ínio Atual - Privado Dom ínio Futuro - Privado

Figura 9.4. Domínio de processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro, do setor privado de P&D.

No setor público, não alcançaram consenso as avaliações de domínio dos processos: obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos; hibridação somática; clonagem; estabelecimento de bancos de caracteres; transgenia; genômica estrutural e funcional; e uso de nanometodologias.

Por outro lado, observa-se o alcance de consenso por maior número de avaliação de domínio de processos, no setor privado. Só não atingiram consenso, neste caso, as avaliações relativas a: transgenia; caracterização de germoplasma; e obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos.

Os processos com alto domínio atual, no setor público, são: conservação; cruzamentos e seleção; identificação e avaliação de novos genótipos; acesso (coleta e introdução) de germoplasma e seleção (a partir de banco de germoplasma); todos com medianas entre 7 e 8.

Nesse setor, os processos com menor domínio correspondem aos de estabelecimento de bancos de caracteres, de transgenia, de genômica funcional, de genômica estrutural, de proteômica e de uso de nanometodologias. As avaliações de domínio atual desses processos situam-se entre medianas 3 e 4,5.

Há um menor número de processos com alto domínio atual, no setor privado. São eles: cruzamento e seleção, identificação e avaliação de novos genótipos (ambos compartilhando avaliação de domínio atual idêntica à observada para o setor público), e identificação de caracteres.

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273

Genômica funcional e estrutural, proteômica e uso de nanometodologias são os processos com menores avaliações de domínio atual, também no setor privado.

Um ponto interessante consiste em comparar os dois setores, em termos de domínio atual dos vários processos. Esta comparação permite identificar que ambos possuem mesmo domínio atual para identificação e avaliação de novos genótipos, cruzamento e seleção, obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos e hibridação somática. O setor público apresenta domínio atual superior em conservação de germoplasma, acesso (coleta/introdução) a germoplasma e seleção (a partir de bancos de germoplasma). Para todos os demais processos, a avaliação de domínio atual é favorável ao setor privado, notadamente para transgenia, clonagem, identificação de caracteres de valor econômico e proteômica.

Quando se analisa o domínio dos processos, no futuro, no setor público, segundo os painelistas, serão de mais alto domínio: acesso (coleta e introdução) a germoplasma, conservação de germoplasma e cruzamento e seleção, os quais já apresentam alto domínio atualmente. No setor privado, um maior número de processos possuirão elevado domínio, a saber: identificação de caracteres de valor econômico, cruzamento/seleção, identificação e avaliação de novos genótipos, transgenia e clonagem; desses, os três primeiros são também os de maior domínio atual, nesse setor.

No setor público, no futuro, os processos menos dominados (mediana =6) serão os genômica funcional, proteômica e uso de nanometodologias; no setor privado, aparecem com menor domínio (mediana =6) os processos de hibridação somática e uso de nanometodologias.

Tanto para o setor público como para o setor privado, observa-se crescimento do domínio de todos os processos, quando se compara o domínio atual com o domínio futuro. O domínio cresce pelo menos 0,5 ponto, do presente para o futuro. No entanto, há processos para os quais são atribuídos crescimentos notáveis, como é o caso de:

a) no setor público: estabelecimento de bancos de caracteres, clonagem, genômica estrutural, transgenia e proteômica;

b) no setor privado: estabelecimento de bancos de caracteres, genômica estrutural, genômica funcional e proteômica.

Por outro lado, os painelistas avaliaram os processos seguintes como apresentando pouco crescimento em domínio, do presente para o futuro:

a) no setor público: identificação e avaliação de novos genótipos; conservação de germoplasma; cruzamento e seleção e seleção (a partir de bancos de germoplasma). Note-se que estes processos apresentam também alto domínio atual, havendo portanto pouca oportunidade para que cresçam em domínio, no futuro.

b) No setor privado: cruzamentos e seleção (alto domínio atual) e hibridação somática.

A visão de futuro dos painelistas, em termos de domínio de processos, nos dois setores, é francamente favorável ao setor privado. O setor público será, segundo sua avaliação, mais competente em: acesso (coleta/introdução) a germoplasma, conservação de

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274

germoplasma (dois processos para os quais já possui alto domínio, atualmente) e em hibridação somática. O domínio dos processos de cruzamento/seleção, caracterização de germoplasma, estabelecimento de bancos de caracteres, será igual, nos dois setores, segundo os painelistas.

Para todos os demais processos observa-se uma previsão de domínio maior no setor privado. Essa diferença é notável para: transgenia e genômica funcional.

Cada painelista também apresentou seus argumentos, na pesquisa Delphi, para aqueles casos em que mantiveram suas avaliações de domínio de processos, mesmo considerando a sua discordância, com o grupo total de painelistas. Estes argumentos são apresentados no Quadro 9.2, em sua relação a cada processo.

As observações feitas sugerem consistência com os argumentos anteriormente apresentados para a importância dos diversos processos de melhoramento genético. Os principais aspectos apontados pelos painelistas dizem respeito a:

a) valorização de processos ligados ao acesso, à conservação e à caracterização de germoplasma, em conseqüência das leis de propriedade intelectual;

b) Incerteza quanto à realização do potencial de novos processos derivados da biotecnologia, no manejo de características resultantes de interações complexas entre genes;

c) Domínio restrito, no caso de alguns processos, à determinadas espécies. Para estes processos, não seria talvez adequado falar em domínio do processo por um setor, mas sim pelos grupos de pesquisa, dentro de cada setor, que se dedicam ao melhoramento de determinadas espécies; no caso, foi mencionado, especificamente, o processo de obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos, para as culturas de cevada e trigo.

d) Embora aparentemente dominado, o processo de seleção (a partir de bancos de germoplasma), parece ser de mais restrita utilização, pelos requerimentos de tempo e recursos envolvidos, como já mencionado. No entanto, um dos painelistas menciona a expectativa de que técnicas auxiliares de melhoramento facilitarão o uso do processo, no futuro, “especialmente no setor privado”. Essa divergência entre visões refletiu-se na ausência de consenso quanto ao domínio desse processo, no futuro, no setor privado.

Um dos painelistas apresentou a seguinte observação, para as elevadas avaliações de domínio feitas por ele, para o setor privado, no futuro, em comparação com o setor público: segundo esse painelista “a tendência é a privatização de P&D”. A premissa aparentemente embutida nesta afirmação é que o enfraquecimento do setor público, no futuro, levaria a uma menor capacidade de manutenção de competência, especialmente em relação aos processos originados na biotecnologia.

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275

Tabela 9.2. Domínio de processos utilizados no melhoramento genético, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D (Medianas e diferenças entre medianas).

SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO

PROCESSOS

Domínio atual (A)

Domínio futuro

(B)

Domínio atual (C)

Domínio futuro

(D)

Diferença em

domínio atual, entre

setores (A-C)

Diferença em domínio

futuro, entre

setores (B-D)

Setor Público,

diferença entre

futuro e atual (B-A)

Setor Privado, diferença

entre futuro e

atual (D-C)

Coleta/introduçãode germoplasma 7* 9* 5,5* 7 1,5 2 2 1,5

Conservação de germoplasma 8* 9* 5,5* 8 2,5 1 1 2,5

Caracterização de germoplasma 5,5* 8* 6 8* -0,5 0 2,5 2

Identificação de caracteres 6* 8* 7* 9* -1 -1 2 2

Estabelecimento de bancos de caracteres 4,5 8* 5* 8 -0,5 0 3,5 3

Seleção 7* 8* 6* 7 1 1 1 1

Cruzamentos e seleção 8* 9* 8* 9* 0 0 1 1

Avaliação de novos genótipos 7,5* 8* 7,5* 9* 0 -1 0,5 1,5

Genômica estrutural 3,5 7* 4* 8* -0,5 -1 3,5 4

Genômica funcional 4 6* 4,5* 8 -0,5 -2 2 3,5

Proteômica 3* 6* 4* 7* -1 -1 3 3

Transgenia 4 7 6,5 9* -2,5 -2 3 2,5

Di-haplóides via cultura de tecidos 5 7* 5 7,5* 0 -0,5 2 2,5

Hibridação somática via cultura de

tecidos 5* 7 5* 6 0 1 2 1

Clonagem 5 8 6,5* 9 -1,5 -1 3 2,5

Uso de nanometodologias 3 5* 3,5 6 -0,5 -1 2 2,5

* Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

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Quadro 9.2. Justificativas para o domínio atribuído a processos de melhoramento genético.

COMENTÁRIOS SOBRE PROCESSOS ESPECÍFICOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO Processo Justificativa • Acesso

(coleta/introdução) de germoplasma

• Conservação de germoplasma vegetal

• Caracterização de germoplasma vegetal

No caso da introdução, conservação, caracterização de germoplasma a tendência é da valorização dessas atividades no setor privado e público. A possibilidade de proteção de cultivares aumentará o interesse por essas atividades. Esta percepção fez com que meu conceito ficasse um pouco acima do limite provável.

Seleção (a partir de bancos de germoplasma)

Seleção em bancos de germoplasma é um processo simplesmente dominado e aplicado pela grande maioria dos programas de melhoramento (domínio atual, nos dois setores)

Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos, Seleção (a partir de bancos de germoplasma), Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional, Transgenia, Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos, Clonagem, Genômica estrutural , Genômica funcional, Hibridação somática via cultura de tecidos

• Não acredito que nós estejamos dominando esta[s] técnica[s] atualmente e daqui a 8 anos, nosso futuro, apesar de em ciência, oito anos, ser um tempo relativamente longo, não acredito que iremos dominar na amplitude que alguns colegas colocaram todas essas técnicas. Novamente tomando como exemplo os transgênicos, tivemos sucesso com alguns poucos genes maiores de resistência a insetos e vírus. Tenho dúvida se teremos o mesmo sucesso com caracteres poligênicos e que não são seletivamente neutros, como os anteriormente mencionados.

• Todas essas técnicas estão ainda muito incipientes. Podem evoluir no futuro.

Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

Naquelas espécies onde foi tentado e existem trabalhos o processo (técnico) esta sendo utilizado na prática, tanto por programas públicos como privados, portanto discordo da maioria. (domínio atual do processo). Ex.: cevada, trigo, etc.

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

Mantenho minha avaliação por considerar genoma funcional, o segmento que deve ser mais explorado, principalmente por instituições com recursos limitados ou de tecnologia, dentro das modernas técnicas da biotecnologia, juntamente com a genotipagem por meio do uso de marcadores.

COMENTÁRIOS GERAIS Respostas discrepantes justificam-se pelo viés em trabalhar com algumas espécies onde o avanço nessas áreas já está consolidado. A tendência é a privatização de P&D (o painelista justifica diversas avaliações de domínio elevado, no setor privado, em comparação com o setor público).

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Conclusões Gerais

Todos os processos serão mais dominados, no futuro, em relação à situação atual, nos dois setores de P&D, sem exceções.

Os setores se diferenciam, em relação ao domínio atual dos diferentes processos, embora existam alguns desses com igual domínio atual nos dois setores. São bem mais dominados, atualmente, pelo setor público: coleta, introdução e conservação de germoplasma. O setor privado é superior, atualmente, no domínio de transgenia.

Em relação ao domínio futuro, o setor público continuará bem superior no domínio da coleta e introdução de germoplasma; o setor privado, além da transgenia, terá domínio bem mais elevado do que o setor privado em genômica funcional.

Estabelecimento de caracteres, genômica estrutural, proteômica terão domínio marcadamente maior do que atualmente, para ambos os setores; o setor privado irá crescer bastante em seu domínio de genômica funcional, enquanto que o setor público terá marcante crescimento em seu domínio de transgenia.

9.1.3. Importância e domínio de processos: necessidades de competências

A importância futura e o domínio atual dos processos de melhoramento genético, são dimensões importantes para a derivação de estratégias de desenvolvimento, ou aquisição de competências, nos dois setores. Sabendo-se qual a importância futura de cada processo, e a discrepância atual, em termos de domínio destes processos, pode-se estabelecer as necessidades de competências, por setor.

Por essa razão, foi criado um indicador de necessidades de competências, derivado das avaliações de importância futura e domínio atual. Este indicador é semelhante ao utilizado em outras áreas que investigam necessidades de capacitação (por exemplo, Borges-Andrade e Lima, 1983). Nessa formulação, a necessidade de competência em um processo é dada pela combinação de sua importância, em 2010, combinada (por multiplicação) com a discrepância atual em domínio daquele processo. A discrepância atual corresponde à diferença entre um domínio ideal (igual a 10 na escala de domínio) e o domínio atual, de cada setor, do processo.

A necessidade de competência pode ser representada por uma equação, como segue:

N = If * (10 – Da), onde

N=necessidade de competências, If = importância futura do processo,

Da = domínio atual do processo.

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278

A Figura 9.5 apresenta a necessidade de competência para cada processo de melhoramento genético, por setor de P&D. Avaliações semelhantes e derivadas são apresentadas na Tabela 9.3.

Para facilitar a análise, é interessante estabelecer faixas permitindo a priorização dessas necessidades. Considerando os valores originas de importância e domínio, verifica-se que uma necessidade igual a 30 pode ser obtida pelos seguintes pares de importância e domínio: 10/7, 5/4 e 6/5. Portanto, essa necessidade é obtida quando se tem alta importância, mas elevado domínio, ou importância mediana e domínio mediano. Processos com valores de necessidade igual ou inferior a 30, portanto, seriam os menos prioritários, em termos de necessidades de competências.

Por outro lado, uma necessidade igual ou superior a 50 pode ser obtida por pares de avaliação de importância e de domínio iguais a 10/5 ou 7/3, ou seja, total importância e domínio regular; ou importância elevada e domínio quase nulo. Essas seriam situações com maiores necessidades de competências.

Finalmente, processos com uma necessidade igual ou superior a 40 (mas inferiores a 50) seriam aqueles com os seguintes pares de valores de importância e domínio: 10/6; 8/5 e 5/2. Estas avaliações referem-se a processos com total ou elevada importância e domínio regular; ou com importância mediana e quase nenhum domínio. Processos com necessidade igual ou superior a 40, e inferior a 50, portanto, estariam em uma faixa intermediária de necessidades de competências.

Utilizando-se estas faixas, pode-se identificar como apresentando as maiores necessidades de competência, no setor público, os seguintes processos: proteômica (necessidade =56), genômica estrutural (52), estabelecimento de bancos de caracteres (49,5), genômica funcional (48), transgenia (42), uso de nanometodologias(42) e caracterização de germoplasma(40,5). Com exceção de transgenia e de uso de nanometodologias, que possuem importância futura regular (e pequeno domínio atual), todas as demais avaliações correspondem a processos com elevada importância futura e pequeno domínio atual.

Ainda nesse setor, observa-se que apresentam necessidades de competência igual ou inferior a 30 os processos de seleção (24), coleta/introdução de germoplasma (24), identificação e avaliação de novos genótipos (22,5), cruzamentos/seleção (18) e conservação de germoplasma (17). Todos estes processos possuem importância futura elevada (igual a 8 ou 9), mas também são os mais dominados (domínio entre 7 e 8 pontos).

Processos com necessidade entre 30 e 40 pontos situam-se em faixa intermediária de prioridade, seja para desenvolvimento, seja para aquisição de competência. São eles: identificação de caracteres (36), obtenção de di-haplóides (35), clonagem (35) e hibridação somática (30). Estes processos apresentam, em comum, um domínio atual regular.

No setor privado, são os seguintes os processos com maior necessidade de competência: proteômica (48), genômica estrutural (48), genômica funcional (46,75), uso de nanometodologias (45,5) e estabelecimento de bancos de caracteres (40). Estes processos apresentam importância futura entre 7 e 8,5 pontos, e domínio atual pequeno

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279

(3,5 a 4,5). A exceção é o estabelecimento de bancos de caracteres, com domínio atual regular (5).

No setor privado é maior o número de processos com necessidade de competência igual ou inferior a 30. São eles: coleta/introdução (29,25), conservação de germoplasma (29,25), seleção (28), clonagem (28), identificação de caracteres (27), identificação e avaliação de novos genótipos (22,5) e cruzamentos e seleção (18). Estes processos possuem importância regular a alta e domínio atual entre regular e alto.

Transgenia, obtenção de di-haplóides e hibridação somática, com uma necessidade igual a 35, e caracterização de germoplasma (necessidade =32), situam-se na faixa intermediária de necessidades de competências. É interessante observar que o processo de transgenia, de importância futura igual a 10, tem necessidade de competência relativamente baixa, pois já é razoavelmente dominado pelo setor privado.

Em geral, existem mais processos na faixa de maior necessidade (acima de 40 pontos) no setor público, em comparação com o setor privado. Os dois setores compartilham cinco processos. O setor público, nesta faixa, apresenta necessidades altas também em relação a transgenia e caracterização de germoplasma.

O setor privado também apresenta um maior número de processos na faixa de necessidade mais baixa, quando comparado ao setor público. De novo, cinco processos de baixa necessidade são compartilhados pelos dois setores. No setor privado, além destes cinco, apresentam baixa necessidade os processos de clonagem e identificação de caracteres de valor econômico.

Entre os processos que apresentaram necessidades maiores ou iguais a 30, nos dois setores, verificam-se as seguintes situações:

a) processo com necessidades iguais nos dois setores: obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos;

b) processos com necessidade maior no setor privado, em comparação com o público:

• hibridação somática (Mediana – setor privado =35);

• uso de nanometodologias (Mediana – setor privado =45,5)

c) processos com necessidade maior no setor público, em comparação com o privado:

• Identificação de caracteres (Mediana – setor público =36);

• Caracterização de germoplasma (Mediana – setor público =40,5);

• Transgenia (Mediana – setor público =42);

• Genômica funcional (Mediana – setor público =48);

• Estabelecimento de bancos de caracteres (Mediana – setor público=49,5);

Page 281: APOSTILA EMBRAPA

280

• Genômica estrutural (Mediana – setor público=52); e

• Proteômica (Mediana – setor público=56).

Tabela 9.3. Necessidades* de competências em processos utilizados no melhoramento genético, atualmente e em 2010, nos setores público e privado de P&D.

PROCESSOS NECESSIDADE DE COMPETÊNCIA

SETOR PÚBLICO

SETOR PRIVADO

Mediana (A) Classificação Mediana (B) Classificação

DIFERENÇA DE COMPETËNCIA

ENTRE SETORES

(B-A)

Coleta/introdução de germoplasma 24 10° 29,25 8° 5,25

Conservação de germoplasma 17 13° 29,25 8° 12,25

Caracterização de germoplasma 40,5 6° 32 7° -8,5

Identificação de caracteres 36 7° 27 10° -9

Estabelecimento de bancos de caracteres 49,5 3° 40 4° -9,5

Seleção 24 10° 28 9° 4

Cruzamentos e seleção 18 12° 18 12° 0

Avaliação de novos genótipos 22,5 11° 22,5 11° 0

Genômica estrutural 52 2° 48 1° -4

Genômica funcional 48 4° 46,75 2° -1,25

Proteômica 56 1° 48 1° -8

Transgenia 42 5° 35 5° -7

Di-haplóides via cultura de tecidos 35 8° 35 6° 0

Hibridação somática via cultura de tecidos 30 9° 35 6° 5

Clonagem 35 8° 28 9° -7

Uso de nanometodologias 42 5° 45,5 3° 3,5

* Necessidade =Importância futura do processo no setor * (10 - domínio atual do processo no setor)

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281

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F ig u ra :N e c e s s id a d e d e c o m p e tê n c ia s e m p ro c e s s o s d e m e lh o ra m e n to g e n é t ic o n o s d o is s e to re s d e P & D (N e c e s s id a d e = im p o rtâ n c ia fu tu ra * d o m ín io a tu a l)

(2 ª ro d a d a )

Figura 9.5. Necessidade de competências em processos de melhoramento genético nos dois setores de P&D.

Conclusões Gerais

Em geral, existem mais processos na faixa de maior necessidade de desenvolvimento de competências no setor público que no setor privado. Nesta faixa, os dois setores compartilham cinco processos.

Na faixa de necessidades mais altas, o setor público apresenta maior necessidade que o setor privado em relação aos processos de transgenia e caracterização de germoplasma.

O setor privado apresenta maior número de processos na faixa mais baixa de necessidade de desenvolvimento de competências do que o setor público. Ambos os setores compartilham idêntica e baixa necessidade para cinco processos.

Para o setor privado, observa-se necessidade baixa e inferior à do setor público para clonagem e identificação de caracteres de valor econômico.

Page 283: APOSTILA EMBRAPA

282

9.1.4. Suporte operacional disponível para processos de melhoramento genético

A execução dos processos de melhoramento genético (tanto convencional quanto derivados da biotecnologia) depende da existência de laboratórios, de equipamentos e de infra-estrutura adequados. Estes elementos podem ser conceituados como o “suporte técnico e operacional” de um setor de P&D para realizar melhoramento genético.

Para cada um dos processos de melhoramento genético listado na Figura 9.1, os participantes do painel Delphi estimaram o nível de suporte técnico e operacional, nos setores público e privado de P&D, atualmente e em cada cenário descrito para 2010. No caso do setor privado, consideraram-se também as disponibilidades de suporte técnico e operacional existentes fora do país. Utilizou-se uma escala de 1 a 10 para que os painelistas fizessem suas avaliações, onde 1 representava Suporte quase nulo e 10, Suporte total.

A disponibilidade de suporte para pesquisa, utilizando os diversos processos de melhoramento genético, foi realizada considerando-se o momento atual e três cenários futuros, para o ano de 2010, tanto para o setor público como para o setor privado de P&D. As Figuras 9.6 e 9.7 resumem as avaliações do painel.

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Suporte operacional a processos de melhoramento genético, atual e em três cenários, no setor Público

(2ª rodada)

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Figura 9.6. Suporte operacional para pesquisa em processos de melhoramento genético no setor público de P&D, atual e em 2010.

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Suporte operacional a processos de melhoramento genético, atual e em três cenários, no setor Privado

(2ª rodada)

Atual Privado 1 Privado 2 Privado 3 Privado

Figura 9.7. Suporte operacional para pesquisa em processos de melhoramento genético no setor privado de P&D, atual e em 2010.

Uma primeira constatação, a partir da comparação entre as Figuras 9.6 e 9.7, é a percepção dos painelistas sobre um maior aparelhamento atual do setor privado de P&D para a pesquisa em melhoramento genético, em relação ao setor público. De fato, a média das medianas das avaliações de disponibilidade de suporte operacional para o setor privado foi de 5,93, enquanto para o setor público esta média foi de 4,96. Esta percepção já havia sido manifestada anteriormente em entrevistas realizadas com outros especialistas não participantes do presente painel, quando estes apontavam o setor privado de P&D em melhoramento genético como melhor aparelhado em laboratórios e equipamentos de pesquisa que o setor público (Lima et al., 2002).

Confirmando este fato, somente em relação ao processo de conservação de germoplasma, é apontado um melhor aparelhamento por parte do setor público. As condições são consideradas equivalentes em três outros processos (coleta/introdução de germoplasma, seleção e avaliação de novos genótipos), e o setor privado é considerado melhor estruturado para a pesquisa em todos os demais processos trabalhados. Certamente, a existência de estrutura de coleta e conservação de germoplasma na Embrapa, desenvolvida ao longo dos 30 anos de vida da empresa, é o fator diferencial para embasar esta percepção.

Despertam atenção, os baixos valores assinalados à disponibilidade atual de suporte técnico-operacional, tanto em termos da média geral de cada setor, como em relação a alguns processos específicos de melhoramento. No setor público, o grau médio de satisfação das necessidades de suporte seria em torno de 50%, enquanto no setor privado, este valor chegaria a cerca de 60%. Processos de melhoramento mais inovadores, tais como o uso de nanometodologias, da transgenia, da genômica estrutural e funcional, da proteômica e dos bancos de caracteres, tiveram a disponibilidade de

Page 285: APOSTILA EMBRAPA

284

suporte para a pesquisa avaliada em grau deficiente. Esta avaliação foi mais severa para o setor público, porém os valores obtidos não são muito diferentes para a pesquisa privada. Mesmo processos de melhoramento mais tradicionais, como cruzamento e seleção, que são praticados desde os primórdios da pesquisa em melhoramento genético, tiveram a disponibilidade de suporte avaliada em nível regular a bom.

Como decorrência deste fato, a infra-estrutura de apoio técnico para a pesquisa de ponta em melhoramento genético atualmente disponível no País se constituiria em um gargalo importante ao seu desenvolvimento, uma vez que esta pesquisa é muito dependente de equipamentos e instalações específicas para cada processo utilizado. Esta questão será examinada com mais detalhes nos itens seguintes, inclusive complementando-a com a visão de como este apoio poderá evoluir nos próximos 10 anos. Para efeito de maior detalhamento, as visões de futuro serão trabalhadas em cenários alternativos do ambiente das instituições de P&D e separadas por setor público e privado.

9.1.4.1. Suporte operacional futuro para o setor público de P&D

A análise da disponibilidade futura de suporte técnico-operacional, para os processos de melhoramento genético, foi realizada considerando-se cenários alternativos de futuro do entorno das organizações de P&D, uma vez que esta estrutura é dependente de como o entorno econômico, social e governamental irá evoluir. Os cenários, e as respectivas avaliações, foram localizados no ano de 2010, ou seja, oito anos adiante do momento em que ocorreram. A Tabela 9.4 mostra como o painel avaliou a evolução do suporte técnico-operacional em cada processo.

O consenso entre os painelistas, indicado na Tabela, apresenta média de 66%, considerando todas as avaliações realizadas. Há aparentemente maior consenso para avaliações referentes a processos mais tradicionais (como por exemplo coleta e introdução de germoplasma, ou cruzamentos e seleção) do que para processos biotecnológicos modernos (caso da genômica funcional e da transgenia, por exemplo).

Os resultados mostram que o painel considera existir um alto grau de dependência entre o desenvolvimento de infra-estrutura de pesquisa no tema e o avanço do desenvolvimento econômico e social do país. Em todos os processos pesquisados, a visão predominante é de acentuada melhora de suporte técnico-operativo, quando os cenários do entorno evoluem. Ilustrando este fato, pode-se apontar as diferenças de avaliação no nível de suporte de alguns processos, de mais de 100%, entre o momento atual e 2010, no cenário mais positivo.

Os números apresentados na tabela confirmam a importância que é atribuída pelo painel aos cenários, quando se trata do aparelhamento da pesquisa pública. No cenário pessimista, as avaliações sobre a disponibilidade de suporte técnico e operacional chegam a variar em até menos 25% em relação à situação atual. Quando o cenário futuro é otimista, esta variação é até 150% superior à avaliação feita para o suporte nos dias atuais.

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Tabela 9.4. Evolução do suporte técnico-operativo para processos de melhoramento genético no setor público de P&D.

Medianas Variação percentual (%)

Processo

Situaçãoatual

Cenário pessimista

Cenário otimista

Atual x cenário

pessimista

Atual x cenário otimista

Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal

6* 5 8* -17 33

Conservação de germoplasma vegetal 7* 7* 8* 0 14 Caracterização de germoplasma vegetal 5* 5,5* 8* 10 60 Identificação de caracteres de valor econômico

5* 5* 8* 0 60

Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional (bancos de caracteres)

4 4* 7* 0 75

Seleção (a partir de bancos de germoplasma)

6* 5 7* -17 17

Cruzamentos e seleção 7* 6* 9* -15 28 Identificação e avaliação de novos genótipos

7* 6* 8* -15 14

Genômica estrutural para identificação de novos genes e processos biológicos

4* 6,5* 8 62 100

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

3,5 3 7* -14 100

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

3* 3* 6* 0 100

Transgenia 4 3 7 -25 75 Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

6 5,5* 7 -8 16

Hibridação somática via cultura de tecidos

5 4 7 -20 40

Clonagem via cultura de tecidos 5 4,7* 7 -10 40 Uso de nanometodologias 2* 2* 5 0 150

* Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

Num cenário tendencial, onde o entorno das organizações de P&D em 2010 apresentaria características sociais e econômicas semelhantes as vigentes na época da pesquisa (2002), a Figura 9.6 mostra que a avaliação do painel é de que haveria melhoria do suporte técnico e operacional para a maioria dos processos analisados. Os processos tradicionais, tais como a conservação de germoplasma, a seleção, o cruzamento e seleção entre outros, estariam atingindo um nível regular (com medianas de 5 a 7), enquanto os processos mais inovadores (por exemplo genômica, transgenia, nanometodologias) teriam níveis de suporte variando de deficiente a regular (com medianas de 3 a 7).

Page 287: APOSTILA EMBRAPA

286

É importante fazer uma reflexão sobre esta visão de futuro. As expectativas atuais de avanços tecnológicos que sustentem a melhoria de eficiência e de competitividade dos sistemas produtivos agrícolas estão baseadas em promessas de quebras de paradigma, relacionados com a evolução da biologia molecular. Esta evolução se traduz por novos conceitos e processos, que incorporam os conhecimentos produzidos pela pesquisa básica, transformando-os em novas ferramentas, capazes de gerar produtos tecnológicos diferenciados. A biologia molecular, das quais a genômica e a proteômica são ramos extremamente promissores para a agricultura e a medicina, e a nanociência são exemplos de áreas de avanço de fronteira do conhecimento, e que, na visão de Busch (2001), estão transformando o próprio conceito de ciência, além de serem reconhecidas como as áreas mais promissoras para basear a geração futura de novas tecnologias e produtos tecnológicos.

Embora a visão do painel sobre o futuro da disponibilidade de suporte técnico-operacional para o melhoramento genético seja otimista, com cenários de melhoria para a prática de todos os processos de melhoramento genético, a visão é comparativamente muito mais otimista para os processos tradicionais de melhoramento, cujas medianas alcançam níveis de regular a bom. Os processos mais relacionados com a fronteira do conhecimento, como a biologia molecular e a nanociência, somente alcançam uma avaliação de nível regular, ocorrendo cenário onde este suporte estaria em nível deficiente.

Confirmada esta visão, a infra-estrutura de apoio a pesquisa estaria limitando o desenvolvimento científico e tecnológico do setor público em 2010, quando possivelmente nossos concorrentes internacionais já estariam dominando estas novas ferramentas científicas. Tal fato poderia ter reflexos na competitividade das nossas principais cadeias produtivas, aquelas que hoje geram os ingressos de divisas, essenciais para a saúde econômica do país. Assim, urge modificar este quadro, começando paulatinamente a investir em infra-estruturas de suporte para estas áreas de fronteira no setor público de P&D, de forma a modificar para melhor os cenários antevistos pelo painel. A questão dos investimentos em suporte técnico operacional será tratada nos próximos itens.

9.1.4.2. Suporte operacional futuro para o setor privado de P&D

O suporte técnico-operacional também foi avaliado em relação aos diversos processos de melhoramento genético no âmbito das instituições privadas de P&D. Como no caso anterior analisado, os resultados mostram que o painel também considera existir um alto grau de dependência entre o desenvolvimento de infra-estrutura de pesquisa no tema e o avanço do desenvolvimento econômico e social do país. Em todos os processos pesquisados, a visão predominante é de acentuada melhora de suporte técnico-operativo, quando os cenários do entorno evoluem. A Tabela 9.5 mostra como o painel avaliou a evolução do suporte técnico-operacional em cada processo.

O consenso entre painelistas, em relação às avaliações dessa Tabela, tem média de 55%. É maior nas avaliações sobre situação atual e sobre o cenário otimista. As diferenças entre consenso nos dois setores de P&D ocorrem de modo mais acentuado para avaliações referentes aos cenários pessimista e tendencial (para os quais avaliações

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287

sobre o suporte técnico-operacional, no setor privado, apresentam menos consenso do que as mesmas avaliações para o setor público).

Os números na Tabela 9.5 confirmam a importância que é atribuída pelo painel ao fator cenário do entorno, quando se trata do aparelhamento da pesquisa privada. No cenário pessimista, as avaliações sobre a disponibilidade de suporte técnico e operacional chegam a variar de até menos 27% em relação à situação atual. Quando o cenário futuro para o entorno é otimista, esta variação é até 75% superior a avaliação feita para o suporte nos dias atuais.

Os números são menos contundentes que no caso da P&D pública, possivelmente pelo fato de a P&D privada já dispor no presente de melhor infra-estrutura para fazer melhoramento genético, que a organização pública de pesquisa. De fato, o painel só aponta uma vantagem em disponibilidade de infra-estrutura de suporte para o setor público no processo de conservação de germoplasma, em que a Embrapa desenvolveu uma rede muito atuante, capitaneada pela Embrapa-CENARGEN.

As áreas de fronteira do conhecimento são as que apresentam menores escores de avaliação, tanto atualmente, como no futuro. Proteômica e nanometodologias teriam infra-estruturas deficientes (medianas 4,5 e 4 respectivamente). Todavia, estas mesmas medianas alcançariam níveis regular a bom em 2010, em uma situação de cenário otimista. Esta avaliação difere da que foi realizada para o setor público de P&D, no qual, mesmo em um cenário otimista, a evolução do suporte seria menos intensa.

Um particular desse setor é o impacto que um cenário econômico e social desfavorável pode ter sobre o suporte para a pesquisa. Neste caso, haveria, segundo o painel, uma perda de suporte em relação à situação atual, para a maioria dos processos de melhoramento, mesmo os mais tradicionais, como cruzamentos e seleção. Tal fato não ocorre com a mesma intensidade no setor público, o que poderia indicar a percepção de que, em momentos de crise, é o Estado o suporte para que a pesquisa seja mantida.

Conclusões Gerais

Em geral, as avaliações indicam que o setor privado tem mais disponibilidade de suporte técnico-operacional que o setor público, na situação atual e nos diversos cenários apresentados.

As avaliações são dependentes dos cenários, observando-se menor disponibilidade de suporte no cenário mais pessimista e maior, no cenário otimista.

Tanto para o setor público como para o setor privado de P&D, as avaliações sobre suporte são mais favoráveis quando se referem a processos mais tradicionais do que aqueles derivados da biotecnologia moderna.

No futuro, o setor público apresentará maior crescimento em disponibilidade de suporte para processos mais convencionais do melhoramento genético do que para processos mais modernos; o oposto se verifica para o setor privado de P&D, na visão dos painelistas.

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288

Tabela 9.5. Evolução do suporte técnico-operacional para processos de melhoramento genético no setor privado de P&D.

Medianas Variação percentual (%)

Processo

Situaçãoatual

Cenário pessimista

Cenário otimista

Atual x cenário

pessimista

Atual x cenário otimista

Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal

6* 5 7 -17 17

Conservação de germoplasma vegetal 6 5,5 7,5 -8 25 Caracterização de germoplasma vegetal

6* 6 8 0 33

Identificação de caracteres de valor econômico

6,5* 6* 8* -8 23

Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional (bancos de caracteres)

6* 5* 8* -17 33

Seleção (a partir de bancos de germoplasma)

6 5 7* -17 17

Cruzamentos e seleção 8* 7* 9* -12 12 Identificação e avaliação de novos genótipos

7* 7* 9* 0 28

Genômica estrutural para identificação de novos genes e processos biológicos

6 5 8* -17 33

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

5,5 4,5 8* -18 45

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

4,5* 4* 7* -11 56

Transgenia 7 6 9* -14 28 Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

5* 5* 7,5 0 50

Hibridação somática via cultura de tecidos

5,5* 4* 7 -27 27

Clonagem via cultura de tecidos 6* 6 8* 0 33 Uso de nanometodologias 4 4 7* 0 75

* Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

9.1.4.3. Necessidade de investimento em suporte operacional

O investimento futuro em suporte operacional para os diversos processos de melhoramento genético deve estar balizado pela importância futura do processo e pela disponibilidade atual. A questão da importância e da disponibilidade foi examinada nos itens anteriores. Esta seção examinará a questão da necessidade atual e futura de investimentos neste tópico.

Page 290: APOSTILA EMBRAPA

289

Para equacionar esta análise, foi construído um indicador de necessidade de investimento em suporte técnico operacional, representado por NI, expresso pela fórmula seguinte:

NI = ISF * (10 – DSA), onde

NI= necessidade de investimento em suporte técnico operacional, ISF = Importância do processo no futuro (2010);

DSA = suporte atual ao processo.

O parâmetro 10 é o valor máximo da escala de avaliação, correspondente ao máximo de disponibilidade de suporte. Portanto, o coeficiente (10 - Suporte atual) mede a deficiência de suporte técnico operacional para a pesquisa nos diversos processos, que precisará ser suprida por investimentos específicos. A Figura 9.8 apresenta o valor de NI em cada processo de melhoramento genético, nos setores público e privado de P&D.

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Necessidade de investimento em suporte operacional a processos de MG, nos dois setores(2ª rodada)

Necessidade de investimento - Setor Público Necessidade de investimento - Setor Privado

Figura 9.8. Necessidade de investimento em suporte operacional a processos de MG, nos dois setores de P&D.

Page 291: APOSTILA EMBRAPA

290

De uma maneira geral, há uma equivalência relativa de valores de NI nos setores público e privado, no que tange às maiores necessidades de investimento para processos. Tanto em um setor quanto em outro, as maiores necessidades de investimento em suporte são para os processos proteômica, genômica estrutural e funcional, estabelecimento de bancos de caracteres e uso de nanometodologias.

Os processos menos demandantes de investimentos seriam os de cruzamento e seleção, de avaliação de novos genótipos, de conservação de germoplasma e de coleta e conservação de germoplasma. Uma primeira evidência a ser derivada dessa avaliação do painel é a de que o investimento deveria ser mais intenso em infra-estruturas de suporte para os processos mais modernos, embora algum investimento devesse ser direcionado para suportar os processos tradicionais de melhoramento.

Uma segunda evidência é a da maior necessidade de investimentos em infra-estrutura de suporte no setor público de P&D, em comparação ao setor privado. Somente em relação a quatro processos de melhoramento (conservação de germoplasma, di-haplóides via cultura de tecidos, hibridação somática, avaliação de novos genótipos) o setor privado de P&D necessitaria investimentos iguais ou superiores aos demandados pelo setor público. Em todos os demais processos avaliados, os investimentos deveriam ser mais intensos no setor público. Há casos em que o NI apurado para o processo no setor público é quase 100% superior ao valor apurado para o mesmo processo no setor privado, como no caso do estabelecimento de bancos de caracteres.

Embora o critério adotado para definir as prioridades de investimento pelo NI seja relativo à escala de valores apurados na computação quantitativa do indicador, esta forma de indicação de prioridades de investimentos pode oferecer boas pistas para orientar uma estratégia de estruturação dos ambientes públicos e privados de P&D em melhoramento genético. Como se observa na Tabela 9.6, as necessidades de investimento no setor público de P&D variam de alta necessidade (8 processos) para média necessidade (8 processos), enquanto no setor privado as necessidades de investimento são principalmente de média necessidade (13 processos), com apenas 2 processos sendo avaliados como de alta necessidade de investimento e um processo com avaliação de baixa necessidade.

Esta avaliação do painel confirma a percepção dos melhoristas do setor público, sobre o melhor aparelhamento da iniciativa privada, quando comparado com o setor público de P&D, em termos de laboratórios, de equipamentos e de outras facilidades para apoiar a realização das pesquisas em melhoramento (Lima et al., 2002). Esta percepção foi externada em diversos depoimentos colhidos em fase anterior ao Painel Delphi e está quantificada nos resultados anteriormente apresentados.

Os resultados indicam que o setor público necessitará investir mais pesadamente em infra-estrutura para apoiar os processos mais inovadores, tais como:

• Uso de nanometodologias;

• Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos;

• Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos;

• Transgenia;

• Genômica estrutural para identificação de novos genes e processos biológicos.

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Os processos mais tradicionais, tais como cruzamento e seleção, acesso e conservação de germoplasma, necessitariam investimentos médios. Tal avaliação certamente indica a preocupação futura dos painelistas com a manutenção e, ou, complementação das estruturas de suporte técnico operacional a estes processos, que continuariam a ter importância como ferramenta para o melhoramento genético no setor.

No setor privado de P&D, somente dois novos processos de melhoramento, a proteômica e a nanometodologia demandariam um nível alto de investimento, estando os demais processos em situação de manutenção e, ou, complementação de estrutura de suporte. Tal fato indica que o setor privado possivelmente já assumiu a liderança na preparação de sua infra-estrutura para as mudanças de paradigmas que estão atualmente em curso na área de biologia molecular.

Finalmente, os painelistas apresentaram comentários sobre suas avaliações individuais, em relação à disponibilidade de suporte técnico-operacional, quando estas avaliações discrepavam das realizadas pelo grupo de painelistas. As justificativas para estas avaliações discrepantes são apresentadas no Quadro 9.3. Tais justificativas indicam que se deve atentar, ao considerar os resultados anteriormente apresentados sobre suporte técnico, para os seguintes aspectos:

1) a disponibilidade de suporte técnico-operacional varia com o setor de P&D, a espécie e o processo considerados; assim, por exemplo, os painelistas indicam que quando uma tecnologia (leia-se processo) ainda não é bem desenvolvida ou bem dominada, ou quando um processo é bem conhecido e utilizado em relação a uma espécie (mas não em relação a outras), as necessidades de suporte irão variar;

2) o desenvolvimento constante de novas tecnologias vai trazer, inevitavelmente, a necessidade de maior suporte técnico-operacional, mesmo em áreas onde atualmente este parece estar bem;

3) existem relações entre os processos, de maneira que um processo pode ser beneficiado pelo desenvolvimento em outro processo; estas relações podem afetar as necessidades de suporte técnico-operacional;

4) as discrepâncias de avaliação, especialmente em relação ao setor privado, podem ser resultado de uma polarização nesse setor (também dependente do processo considerado): empresas privadas estrangeiras podem eleger como prioridade o suporte a atividades que têm sido tradicionalmente consideradas como mais afeitas ao setor público (como a conservação de germoplasma); por outro lado, empresas privadas nacionais, com maiores dificuldades para obtenção de recursos, podem terceirizar certos processos (como o de cruzamentos e seleção), dispensando assim a necessidade de suporte técnico-operacional, em algumas áreas de pesquisa.

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Tabela 9.6. Necessidade de investimento em suporte técnico-operativo para processos de melhoramento genético nos setores público e privado de P&D.

Prioridades de investimento Processo Setor Público

Setor privado

Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal M M Conservação de germoplasma vegetal M M Caracterização de germoplasma vegetal A M Identificação de caracteres de valor econômico A M Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional (bancos de caracteres)

A M

Seleção (a partir de bancos de germoplasma) M M Cruzamentos e seleção M B Identificação e avaliação de novos genótipos M M Genômica estrutural para identificação de novos genes e processos biológicos

A M

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

A M

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

A A

Transgenia A M Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos M M Hibridação somática via cultura de tecidos M M Clonagem via cultura de tecidos M M Uso de nanometodologias A A Legenda: A = Alta necessidade de investimento em suporte técnico operacional – NI > 40; M = Necessidade média de investimento em suporte técnico operacional – 20 > NI < 40; B = Baixa necessidade de investimento em suporte técnico operacional – NI < 20

Conclusões Gerais

Os setores público e privado compartilham maior necessidade de investimento nos mesmos processos: proteômica, genômica estrutural e funcional, estabelecimento de bancos de caracteres e uso de nanometodologias.

De igual modo, os dois setores apresentam menores necessidades de investimento nos processos de cruzamento e seleção, de avaliação de novos genótipos, de conservação de germoplasma e de coleta e conservação de germoplasma.

O setor privado apresenta maior número de processos na faixa mais baixa de necessidade de desenvolvimento de competências do que o setor público. Ambos os setores compartilham idêntica e baixa necessidade para cinco processos.

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Quadro 9.3. Justificativas para avaliações de suporte técnico-operacional para alguns processos de melhoramento genético, atualmente e no futuro (2010).

Processo Justificativa Setor público, cenário 1 (pessimista) • conservação de germoplasma vegetal • caracterização de germoplasma vegetal • identificação de caracteres de valor

econômico, • estabelecimento de bancos de caracteres

Setor público, cenário 2 • estabelecimento de bancos de caracteres

“Mantido o atual cenário, será muito difícil a conservação e caracterização do germoplasma vegetal e muito pior na identificação de caracteres. Todos novos bancos de germoplasma, das espécies principais, ainda não estão bem caracterizados para uso nos programas. As etapas seguintes requerem mais dinheiro, mais tempo e mais gente.”

Setor privado, cenário atual, 1 e 2: • conservação de germoplasma vegetal

“O suporte técnico operacional para a conservação de germoplasma vegetal é de grande prioridade nas empresas privadas, tanto no Brasil como no exterior; é digna de visitação a estrutura em câmaras frias e ...... e segurança do processo de conservação de germoplasma.”

Setor público, cenário 1 (pessimista) • Seleção e cruzamento

“... no cenário 1 [pessimista], achamos que as dificuldades de algumas empresas privadas ... não permitirão que as mesmas invistam nesta área de Seleção e Cruzamento, preferindo a aquisição, introdução ou troca de material já melhorado.”

Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos “A obtenção de di-haplóides, via cultura de tecidos, já é uma prática rotineira para as culturas de trigo e cevada, na Embrapa-Trigo... Seu uso em outras culturas, depende de adequação e adaptação da metodologia”. A obtenção de di-haplóides já é uma rotina em programas de melhoramento de arroz no Brasil.”

Setor público, cenário 3: • conservação de germoplasma vegetal

“A conservação do germoplasma do arroz no país é bem desenvolvida. A seleção a partir de bancos de germoplasma terá suporte melhor e crescerá com a melhoria de cenário”. Uma core collection, marcadores moleculares, etc, darão suporte para uma utilização mais eficiente.”

COMENTÁRIOS GERAIS “Em algumas áreas, como clonagem e di-haplóides para espécies onde essas técnicas já estão consolidadas, acredito que o agravamento do cenário futuro não deverá trazer conseqüências tão graves, visto que o suporte técnico já existente continuará a ser efetivo. Onde as tecnologias têm ainda muito para melhorar, isso certamente não ocorrerá, pois a constante adaptação às novas técnicas se fará necessária.” “Considero que exista infra-estrutura sendo subutilizados ou que alguns desses temas não têm sido o foco principal das linhas de pesquisa, quando se pensa em perspectivas para incremento de apoio técnico-operacional (infra-estrutura e mão-de-obra qualificada) para estes temas.” “No caso do setor privado, onde as discrepâncias nos valores foram maiores, o meu pensamento não se restringe a algumas empresas multinacionais do setor de sementes, mas sim a todo o universo de empresas (inclusive com a entrada no processo produtivo de novas empresas). Nessa situação o suporte técnico operacional, [no setor privado] não é muito grande.”

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A análise anterior tratou dos processos de melhoramento genético e sua relevância como base para novos negócios em P&D. A próxima seção examina, principalmente, o potencial de produtos originados por estes processos, incluindo as funções que tais produtos desempenham, na atividade agrícola, como base para esses novos negócios.

9.2 Produtos do melhoramento genético

Os produtos tradicionais do melhoramento genético vegetal têm sido as variedades comerciais. Novos produtos são aqueles diferentes dessa pauta tradicional e resultantes do avanço do conhecimento científico.

Tais produtos podem ser classificados, em termos de sua inserção no processo de desenvolvimento de cultivares, em produtos tecnológicos e produtos pré-tecnológicos. Produtos pré-tecnológicos são produtos intermediários do processo de desenvolvimento de cultivares. Produtos tecnológicos se constituem nos produtos finais deste processo.

Os produtos do melhoramento genético também podem ser classificados de acordo com sua natureza e função (por exemplo, aumento de produtividade, um atributo geral; ou qualidade de madeira e fibras, um atributo mais específico).

Nesta seção, os produtos do melhoramento genético serão analisados de acordo com essas duas dimensões: sua inserção no processo, e sua função na atividade agrícola.

9.2.1. Produtos e sua inserção no processo de desenvolvimento de cultivares

Os produtos do processo de melhoramento genético foram classificados em tecnológicos (produtos finais, como variedades comerciais, híbridos, clones) e pré-tecnológicos (produtos intermediários do processo, tais como populações, cruzamentos, linhagens, bancos de caracteres, genes e bancos de informação genômica). As alterações no contexto do SNPCS, os novos papéis que serão certamente assumidos pelos diferentes setores de P&D, a competição entre os setores e o acesso a recursos, em cada um deles, podem determinar mudanças no portfólio de produtos da P&D pública e privada, que têm, ambas, focalizado essencialmente a produção de variedades comerciais e híbridos. Sucintamente, os diferentes produtos podem passar a ser interesse, como base para novos negócios, para os diferentes setores.

Foi solicitado aos painelistas realizar uma avaliação sobre o potencial de cada um dos produtos de melhoramento genético, discriminados na Tabela 9.7 a seguir, como base de novos negócios para os setores de P&D, público e privado, no futuro (2010). As avaliações foram realizadas, utilizando uma escala de 1 a 10 pontos (em que o ponto 1 representava potencial muito reduzido, e o ponto 10 representava enorme potencial).(Ver, alternativamente, a Figura 9.9).

Novamente, verifica-se que o consenso é maior para o setor público, 78% das avaliações de produtos mostram consenso, do que no setor privado, 44% de consenso.

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Comparando o consenso sobre o potencial futuro dos produtos, nos dois setores, verificam-se as seguintes situações, para os diferentes produtos:

a) sem consenso em nenhum setor: cruzamentos;

b) consenso apenas no setor público: variedades comerciais, populações, linhagens e bancos de caracteres;

c) consenso apenas no setor privado: genes;

d) com consenso, nos dois setores: híbridos, clones e bancos de informação genômica.

Tabela 9.7. Potencial de produtos do melhoramento genético (tecnológicos e pré-tecnológicos) como fonte futura de novos negócios.

PRODUTO Potencial do produto como base para novos negócios para o setor

de P&D público (2010)

Potencial do produto como base para novos negócios para o setor de P&D privado (2010)

PRODUTOS TECNOLÓGICOS:

Variedades comerciais 8* 8,5

Híbridos 8* 10*

Clones (incluindo variedades

apomíticas ou de propagação

vegetativa) 8* 8*

PRODUTOS PRÉ-TECNOLÓGICOS:

Populações 8* 6

Cruzamentos 7 7

Linhagens 8* 8

Bancos de caracteres 8* 7

Genes 8 9*

Bancos de informação genômica 8* 8*

* Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

O primeiro comentário a fazer, após o exame da Figura 9.9 é a alta importância atribuída pelo painel a praticamente todos os produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético, tanto para o setor público, quanto para o setor privado de P&D. As medianas de avaliação de importância se distribuem entre 6 e 10, estando o valor médio próximo de 8, o que na escala adotada classifica-se como entre importante e muito importante.

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Genes Banco deInformaçãogenômica

Potencial do produto como base para novos negócios para os setores público e privado de P&D(2ª rodada)

Potencial do produto para novos negócios - setor público (2010) Potencial do produto para novos negócios - setor privado (2010)

Figura 9.9. Potencial de produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético, como fonte de novos negócios em 2010, para os setores público e privado de P&D.

Observa-se que a avaliação de importância dos produtos para a P&D pública é quase igual, com apenas um dos produtos, cruzamentos, apresentando um valor menor. Tal avaliação indicaria que a visão futura do Painel é a de que tanto produtos tradicionalmente explorados, até o presente por estas organizações (variedades comerciais e híbridos), como produtos pré-tecnológicos (genes, bancos de caracteres e informação genômica), teriam o mesmo potencial para se transformarem em fontes de negócios, e, conseqüentemente, potenciais geradores de recursos financeiros para financiar as pesquisas.

Tal percepção, entretanto, é distinta quando se trata da pesquisa privada. Há diferenças marcantes nas avaliações do potencial de produtos, com os híbridos, as variedades comerciais e os genes despontando como os produtos de maior potencial, enquanto as populações, os cruzamentos e os bancos de caracteres são avaliados como os menos atrativos, sob o ponto de vista de novos negócios.

Certamente, a lógica que rege estes dois ambientes de pesquisa foi considerada como pano de fundo para embasar as avaliações dos painelistas. O setor privado, orientado por questões de mercado e de lucratividade, busca alternativas de produtos que possam satisfazer estas condições. O setor público adiciona ao foco no mercado outras preocupações, como o avanço do conhecimento e as questões relacionadas ao desenvolvimento social, que nem sempre são plenamente satisfeitas pelo foco único no mercado. A aplicação de múltiplos critérios nessa valoração certamente torna a avaliação de futuro mais complexa para o setor público, o que possivelmente explica uma avaliação de potencial de produtos mais difusa do que a realizada para o setor privado.

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Os híbridos e variedades representam os produtos core das organizações privadas que realizam P&D em melhoramento genético. Os resultados dos seus projetos de P&D são traduzidos por novos materiais genéticos, que são incorporados em sementes e outros materiais propagativos, ofertados ao mercado como material de plantio. O híbrido tem a preferência das grandes corporações do mercado de sementes e das organizações privadas de P&D, pela sua característica de ser “naturalmente” protegido, ou seja, dispensar a proteção legal da lei de proteção à propriedade intelectual, uma vez que, no seu desenvolvimento tecnológico é possível manter em segredo os diversos componentes utilizados no processo de melhoramento. Ao mesmo tempo, o produtor não pode utilizar a colheita de material híbrido como semente para plantio da próxima lavoura, o que cria uma relação comercial mais interessante para as empresas.

Uma outra característica importante para o setor privado é que híbridos e variedades são produtos mais próximos do consumidor, conseqüentemente, com maiores possibilidades sob o ponto de vista da geração de lucros. Tais características certamente explicam a avaliação do painel, ao indicar estes produtos como os de maior potencial futuro para o setor privado de P&D. Como conseqüência, pode-se antever que haverá competição entre os setores público e privado de pesquisa, em relação ao mercado destes produtos, uma vez que eles também foram indicados como de grande importância futura para a pesquisa pública. Esta constatação levanta a questão estratégica sobre quais seriam os portfólios de produtos mais adequados para cada setor de P&D.

A informação da Figura 9.9 pode ser resumida da seguinte forma:

• Para o setor público, com exceção do produto cruzamentos (mediana 7), todos os demais produtos apresentam alto potencial (mediana 8) como base para novos negócios;

• No setor privado, possuem maior potencial: híbridos (mediana 10), genes (mediana 9), variedades comerciais (mediana 8,5), clones (mediana 8), linhagens (8) e bancos de informação genômica (8); os produtos cruzamentos, bancos de caracteres (mediana 7), e populações (mediana 6), são os que apresentam menor potencial como base para novos negócios, para este setor, em 2010.

O resumo acima mostra que o painel considera quase todos os produtos como fontes de novos negócios para o setor público, e seis deles como potenciais fontes para o setor privado (adotando-se a mediana 8 como o ponto inferior de um conjunto de produtos com alto potencial). Alguns produtos pré-tecnológicos, como cruzamentos, bancos de caracteres e populações foram apontados como de pouca possibilidade de negócios no setor privado, porque “o agricultor compraria sementes”, isto é, como a ligação desse setor é com o agricultor, seu foco estaria em produtos finais, e não em produtos intermediários. Por isso, nenhuma empresa privada investiria no mercado de produtos pré-tecnológicos. No caso do setor público, as populações de algumas espécies poderiam ser importantes, pelo caráter social das mesmas. Tais opiniões minoritárias diferem levemente da tendência geral do painel, em atribuir importância para estes produtos.

Como os híbridos e as variedades já despontam no presente como os principais produtos do melhoramento genético para os dois setores de P&D, e se manteriam dessa forma no futuro, as oportunidades para novos negócios seriam, realmente, os genes e os bancos de informação genômica, ambos produtos pré-tecnológicos e baseados na evolução da biologia molecular. Neste caso, como estes produtos seriam igualmente importantes para os dois setores de P&D, é de se esperar alguma competição por este

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novo mercado. A competição será vencida pela estrutura que melhor se preparar, para apropriar-se dos avanços científicos desse novo paradigma.

Dois produtos foram considerados como de maiores possibilidades para o setor público: os bancos de caracteres (onde o setor público apresenta atualmente maior vantagem, em função do controle maior sobre os bancos de germoplasma) e as populações, produto aparentemente de valor mais baixo como fonte potencial de novos negócios para a iniciativa privada.

Na definição de estratégia para cada setor, deve ser considerado o grau de competição que cada um está preparado para enfrentar (e que seria vantajoso para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro). É provável que o setor privado mantenha seu foco nos produtos tradicionais (variedades e cultivares de espécies mais comerciais) e tenha interesse em abrir alguma nova frente de produtos, para diversificar seus portfólios de negócios. O setor público certamente também continuará a explorar os produtos tradicionais, principalmente aqueles menos atrativos para a iniciativa privada, como fruteiras, hortaliças e outros cultivos regionais ou de importância social. No entanto necessitará criar novos portfólios de produtos, para compensar os espaços de negócios que serão ocupados pela P&D privada.

Recorde-se que uma das principais limitações da pesquisa pública é o seu financiamento e que a identificação de novas fontes de recursos complementares é um dos fatores mais prementes, para a sustentabilidade do setor.

A formulação de estratégia para a exploração de novos negócios depende do potencial dos produtos, analisada nesta seção, mas depende também da forma como evoluirá o domínio dos processos técnico-científicos para a obtenção destes produtos nas estruturas de P&D. Esta questão será examinada na próxima seção.

Conclusões Gerais

Todos os produtos tecnológicos (variedades comerciais, híbridos e clones) apresentam alto potencial, para os dois setores de P&D; os híbridos se destacam, entre estes produtos, como os de maior potencial para o setor privado do que para o setor público.

Entre os produtos pré-tecnológicos, o setor público pode considerar todos (à exceção de “cruzamentos”), como base para novos negócios. Para o setor privado, apenas genes, linhagens e bancos de informação genômica apresentam maior potencial.

Entre os produtos pré-tecnológicos, “bancos de caracteres” apresentam maior potencial para o setor público; enquanto “genes” teriam maiores probabilidades como base de novos negócios, no setor privado.

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9.2.2. Domínio de processos necessários para obtenção de produtos do melhoramento genético

Para os mesmos produtos (pré-tecnológicos e tecnológicos) cujo potencial futuro foi analisado na seção anterior (Figura 9.9), estimou-se o grau de domínio, atual e futuro (2010), nos setores público e privado de P&D, dos processos necessários para a obtenção de cada um deles. Para os efeitos dessa avaliação, definiu-se que um processo é considerado dominado quando existe total conhecimento de todas as suas etapas, permitindo que o mesmo seja executado com máxima eficiência.

Essa avaliação foi realizada com base em uma escala de 10 pontos (1=domínio quase nulo; 10=domínio total). Para facilitar a análise a seguir, essa escala foi dividida em faixas, como segue: total domínio, medianas de 9 a 10; alto domínio, medianas de 7 a 8,99; domínio regular, medianas de 5 a 6,99; pequeno domínio, medianas de 3 a 4,99; domínio quase nulo, medianas de 1 a 2,99.

Os resultados dessa avaliação estão apresentados nas Figuras 9.10 e na Tabela 9.8.

Tabela 9.8: Domínio (medianas) de produtos do melhoramento genético (produtos tecnológicos e pré-tecnológicos)

Domínio atual Domínio futuro PRODUTO

Público Privado Público Privado PRODUTOS TECNOLÓGICOS:

Variedades comerciais 9* 9 9* 9*

Híbridos 8* 9* 9* 9*

Clones (incluindo variedades apomíticas ou de propagação vegetativa) 8* 8* 9* 9*

Populações 8* 7,5* 9* 8,5*

Cruzamentos 8* 8,5* 9* 9*

Linhagens 8,5 8* 9* 9*

Bancos de caracteres 6 7* 8* 8,5*

Genes 5* 6 7,5* 9*

Bancos de informação genômica 4 5 7* 8*

* Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

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Novos Produtos

Domínio Atual Público Domínio Futuro Público

Figura 9.10. Domínio atual e futuro de processos necessários para a obtenção de produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético, como fonte de novos negócios em 2010, para o setor público de P&D. Em relação ao consenso entre painelistas, os resultados apresentados na Tabela 9.8 indicam que ele é elevado, para os dois setores. É interessante observar que o consenso é menor, em geral, nas avaliações de domínio atual do que nas de domínio futuro (este obteve 100% de consenso, para os dois setores de P&D). No setor público, as divergências se referem aos produtos: linhagens, bancos de caracteres e bancos de informação genômica. No setor privado, embora se apresente uma mediana elevada, para o produto variedades comerciais, este produto não apresenta consenso, em relação ao domínio atual dos processos necessários para sua obtenção, o mesmo ocorrendo para os bancos de caracteres, os genes e os bancos de informação genômica.

O setor público, segundo a avaliação do painel, já possui atualmente domínio dos processos para a produção dos principais produtos da P&D, notadamente os produtos tradicionais como as variedades comerciais e os híbridos, entre outros. Este domínio é menor no que tange a produtos dependentes de processos baseados em biologia molecular, como banco de caracteres, genes e bancos de informação genômica, cujo domínio atual dos processos de obtenção é avaliado como sendo muito inferior (menos de a metade), em relação à avaliação feita para os produtos tradicionais.

Como conseqüência desta avaliação, a visão de futuro é que este domínio teria um ligeiro acréscimo (de 8 para 9) para muitos produtos tradicionais e um forte acréscimo

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301

para os produtos pré-tecnológicos, como os bancos de informação genômica e genes, no âmbito da P&D pública. O domínio de processo mais baixo, antevisto pelo painel, se situaria nos níveis regular a bom, apresentando um forte acréscimo de desempenho, segundo a percepção dos especialistas.

A mesma avaliação realizada para a pesquisa privada revela resultados muito parecidos com os obtidos para a pesquisa pública, com valores de avaliação de domínio atual e de domínio futuro um pouco mais altos, para algumas das variáveis. Este resultado está expresso na Figura 9.11.

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Híbridos Clones Populações Cruzamentos Linhagens Bancos caracteres Genes Banco deInformaçãogenômica

Novos Produtos

Domínio Atual Privado Domínio Futuro Privado

Figura 9.11. Domínio atual e futuro de processos necessários para a obtenção de produtos tecnológicos e pré-tecnológicos do melhoramento genético como fonte de novos negócios em 2010, para o setor privado de P&D.

De forma semelhante à avaliação para o setor público, os processos de menor domínio atual e futuro são aqueles relacionados com a biologia molecular, como os bancos de informação genômica, os genes e os bancos de caracteres. Embora as medianas de avaliação denotem uma pequena vantagem de domínio relativo do setor público, a diferença é muito pequena para ser considerada significativa. Também nesse caso, o painel considerou que haverá grandes avanços do setor privado de P&D, para preparar-se para os novos negócios que a pesquisa em biologia molecular poderá trazer. Essa evolução seria de 60%, no domínio dos processos para gerar bancos de informação genômica.

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Conclusões Gerais

Todos os produtos tecnológicos (variedades comerciais, híbridos e clones) apresentam alto domínio para os dois setores de P&D; entre estes produtos, os híbridos se destacam apresentando maior domínio pelo setor privado do que para o setor público.

Entre os produtos pré-tecnológicos, o setor público possui elevado domínio dos processos necessários à obtenção de populações, de cruzamentos e de linhagens; o setor privado apresenta elevado domínio destes dois últimos produtos.

No futuro, todos os processos necessários à obtenção de produtos do melhoramento genético – tecnológicos e pré-tecnológicos – estarão dominados, nos dois setores, na visão dos painelistas.

Confirmada esta visão, o melhoramento genético no Brasil poderá se manter entre os mais avançados do mundo, balanceando o domínio dos métodos tradicionais com aqueles fundamentados na fronteira do conhecimento.

Olhar isoladamente o potencial ou o domínio de produtos do melhoramento genético, no entanto, torna difícil a formulação de estratégias tecnológicas para os setores de P&D. Por essa razão, a próxima seção analisa essas dimensões de forma integrada.

9.2.3 Necessidades de desenvolvimento de competências para novos produtos do melhoramento genético.

Da mesma forma como foi feito em relação aos processos do melhoramento genético (ver seção 9.1.3), foi desenvolvido um índice específico para avaliar a necessidade de desenvolvimento de competências para novos produtos, o NP (Índice de Desenvolvimento de Competências para Novos Produtos).

A necessidade de competência para novos produtos pode ser representada por uma equação, como segue:

NP = Pf * (10 – Dap), onde

NP=necessidade de competências para novos produtos Pf = potencial futuro do produto,

Dap = domínio atual de processos necessários ao desenvolvimento do produto.

A Figura 9.12 apresenta os resultados desse exercício.

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Híbridos Clones Populações Cruzamentos Linhagens Bancoscaracteres

Genes Banco deInformaçãogenômica

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Necessidade de investimento em desenvolvimento de competências - Público

Necessidade de investimento em desenvolvimento de competências - Privado

Figura 9.12. Necessidade de desenvolvimento de competências para novos produtos geradores de novos negócios, nos setores público e privado de P&D no Brasil.

O cálculo do indicador levou em consideração a importância do produto e o domínio dos processos para obtê-lo e foi realizado utilizando-se a fórmula anteriormente apresentada. Coerentemente com as análises de importância e domínio de processos, que apresentaram resultados semelhantes, o exercício mostra a necessidade de investimentos em competências muito semelhantes para os dois setores de P&D, com o setor privado apresentando, em geral, menor necessidade do que o setor público.

Conseqüentemente, os produtos genes, banco de informação genômica e bancos de caracteres são os de maior demanda futura em desenvolvimento de competências. No setor público de P&D, enquanto as necessidades de desenvolvimento de competência nesses produtos são estimadas por um NP variando de 30 a 45, nos demais produtos este indicador varia de 8 a 15, ou seja, uma diferença relativa de cerca de 5,5 vezes entre o produto de menor e maior NP. No setor privado, embora as necessidades de desenvolvimento de competências sejam comparativamente inferiores ao setor público, os NP mais baixos oscilam de 8 a 15 para os produtos tradicionais e de 20 a 40, para os produtos relacionados à biologia molecular.

Essa constatação sugere que será necessário um grau de desenvolvimento de competências quase de manutenção do atual estoque disponível, em relação aos produtos tradicionalmente explorados pelo melhoramento genético nos dois setores de P&D, tais como variedades, híbridos, cruzamentos, populações, e cerca de cinco vezes mais investimentos em capacitação, e outras formas de desenvolvimento de

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competências, para os produtos mais inovadores, como genes, banco de caracteres e bancos de informação genômica. É importante lembrar que foi apontado por alguns especialistas que o domínio em áreas de fronteira do conhecimento, como o caso do banco de caracteres e do banco de informação genômica, no setor público é atualmente baixo. Por esta opinião, estaríamos no início do conhecimento do genoma.

Conclusões Gerais Tanto no setor público como no privado, deve-se investir no desenvolvimento de competências relativas a:

a) Bancos de caracteres;

b) Genes;

c) Bancos de informação genômica.

Ambos os setores devem também manter as competências disponíveis nos demais processos necessários à obtenção dos demais produtos de seu portfólio.

Foi ainda lembrado por alguns especialistas que as empresas privadas de P&D no Brasil, sobretudo as transnacionais, já apresentam domínio quase completo para obtenção de novos genes e manipulação de bancos de informação genômica, aproveitando suas estruturas externas de P&D. Estas empresas estariam fazendo investimentos consideráveis nestes segmentos, devido a perspectiva de obtenção de patentes rentáveis.

Os produtos do melhoramento genético, como já mencionado, podem também ser diferenciados pela função que exercem, na atividade agrícola. O painel Delphi também fez avaliações a respeito dessas diferentes funções. Os resultados são analisados na próxima seção.

9.2.4 Produtos do melhoramento genético e suas funções

Novos produtos comerciais têm surgido como resultado direto da pesquisa em biotecnologia. Estes produtos poderão representar uma importante fonte de negócios, no futuro. Tais produtos podem ser analisados segundo a função (por exemplo, aumento de produtividade) que realizam.

Produtos com novas funções, gerados por processos biotecnológicos, como os estudados nesta seção, são os chamados bio-materiais (Oliver, 2000) e prometem causar grande impacto futuro em áreas as mais diversas: agricultura, saúde, reprodução humana.

Os painelistas avaliaram o potencial de vários desses produtos, descritos pela sua função, como base de novos negócios para a P&D agrícola, no futuro, nos setores público e privado. Esses produtos foram adaptados de Machado (2001) e Oliver (2000), e estão descritos, sucintamente, no Quadro 9.4.

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305

Quadro 9.4. Produtos diferenciados por função, analisados no Painel Delphi .

PRODUTOS FUNÇÃO Produtividade Atributo geral: aumento de eficiência produtiva de diferentes espécies

Fontes de energia Uso de plantas como fonte de energia renovável

Controle de ervas, pragas e doenças Resistência à competição ou a patógenos

Integração de características

Produtos contendo mais de uma característica (maior produtividade e resistência a um inseto, por exemplo)

Tolerância e adaptabilidade

Capacidade de adaptação a variáveis ambientais desfavoráveis

Alimentos mais nutritivos

Agregação ou incremento de elementos nutricionais a matérias primas de produtos alimentares

Alimentos: facilidade de processamento

Agregação de atributos (às plantas) que permitam facilidade de processamento

Árvores com crescimento acelerado

Agregação de atributo de crescimento acelerado a espécies florestais

Qualidade:madeira e de fibras

Agregação de atributos de qualidade a madeiras e fibras de valor econômico

Processos industriais:soluções agronômicas

Substituição de processos industriais por soluções agronômicas (por exemplo, modificação na fibra e na cor do algodão)

Alimentos: alergenicidade Alimentos com menor grau de alergenicidade.

Integração químicas/genéticas Resistência (genética) a soluções agrícolas químicas.

Menor perecibilidade Agregação de atributos que garantam maior vida-de-prateleira.

Maturação uniforme Controle de tempo de maturação, para diferentes espécies

Impacto ambiental: alimentação animal

Agregação de atributos que reduzam impacto ambiental produzido por alimentação animal.

Amidos, proteínas e óleos

Aumento ou agregação de atributos que permitam a produção de componentes importantes da alimentação humana

Anticorpos e polímeros

Agregação de atributos que permitam a produção de anticorpos e polímeros por plantas

Substâncias terapêuticas / antioxidantes

Aumento ou agregação de atributos que permitam a produção desses elementos por espécies vegetais.

Fonte: adaptado de Machado (2001) e Oliver (2000).

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306

Essa avaliação era realizada com base em uma escala de 10 pontos (1=potencial muito reduzido; 10=enorme potencial). Os resultados desta avaliação estão apresentados na Tabela 9.9 e na Figura 9.13.

Observa-se um maior número de consensos nas avaliações do potencial desses produtos, no setor privado, em comparação com o setor público. Neste último só alcançaram consenso as avaliações relativas a produtos com as seguintes funções: produtividade, alimentos mais nutritivos, facilidade de processamento em alimentos, soluções agronômicas para processos industriais, integração química-genética, menor perecibilidade de alimentos.

No setor privado, é mais fácil relatar que ficaram fora do critério de consenso os seguintes produtos: controle de ervas, pragas e doenças; amidos, proteínas e óleos; substâncias terapêuticas e antioxidantes; segurança quanto a alergenicidade em alimentos; anticorpos e polímeros.

Tanto no setor público como no privado, todos os dezoito produtos analisados obtiveram avaliações que indicam um potencial elevado ou muito elevado, como base de novos negócios para a P&D agrícola. A menor avaliação correspondeu a uma mediana igual a 7, notando-se uma concentração de todas as avaliações no extremo superior da escala utilizada.

Quanto ao potencial desses produtos, em cada setor, observa-se a seguinte situação, no setor público:

a) Produtos com potencial muito elevado (medianas =9): produtividade e novas fontes de energia, baratas e não-poluentes;

b) Produtos com potencial elevado:

• Medianas entre 7,1 e 8: Controle de ervas, pragas e doenças; integração de características; tolerância e adaptabilidade; alimentos mais nutritivos; facilidade de processamento; árvores com crescimento acelerado; qualidade de madeiras e fibras; soluções agronômicas para processos industriais; segurança quanto à alergenicidade.

• Medianas iguais a 7: produtos com a função de integração química-genética; menor perecibilidade de alimentos; maturação uniforme; impacto ambiental: alimentação animal; amidos, proteínas e óleos; anticorpos e polímeros; substâncias terapêuticas e antioxidantes.

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307

Tabela 9.9. Potencial de produtos do melhoramento genético, diferenciados por função, como base para novos negócios nos setores público e privado de P&D.

POTENCIAL DO PRODUTO COMO BASE DE NOVOS NEGÓCIOS PRODUTOS

DIFERENCIADOS POR FUNÇÃO SETOR PÚBLICO

SETOR PRIVADO

Mediana Classificação Mediana Classificação

Diferença de potencial, entre

setores

Produtividade 9* 1° 9* 1° 0

Fontes de energia 9 1° 7* 3° 2 Controle de ervas, pragas e doenças 8 2° 9 1° -1

Integração de características 8 2° 9* 1° -1

Tolerância e adaptabilidade 8 2° 8* 2° 0

Alimentos mais nutritivos 8* 2° 9* 1° -1

Alimentos: facilidade de processamento 8* 2° 8* 2° 0

Árvores c/ cresc. Acelerado 8 2° 9* 1° -1

Qualidade: madeira e de fibras 8 2° 9* 1° -1

Processos industriais: soluções agronômicas 8* 2° 8* 2° 0

Alimentos: alergenicidade 7,5 3° 8 2° -0,5

Integração químicas/genéticas 7* 4° 8* 2° -1

Menor perecibilidade 7* 4° 9* 1° -2

Maturação uniforme 7 4° 8* 2° -1

Impacto ambiental: alimentação animal 7 4° 7* 3° 0 Amidos, proteínas

e óleos 7* 4° 9 1° -2 Anticorpos e

polímeros 7 4° 8 2° -1 Subst. terapêuticas /

antioxidantes 7 4° 9 1° -2 * Avaliação com distância entre quartis ≤2.5.

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Potencial do produto como base para novos negócios em 2010 - setor Público

Potencial do produto como base para novos negócios em 2010 - setor Privado

Figura 9.13. Potencial de produtos oriundos da biotecnologia, diferenciados por função, como base para novos negócios, nos dois setores de P&D, em 2010.

O setor privado, conforme se pode observar na descrição que se segue, apresenta maior número de produtos, com funções diferenciadas e potencial muito elevado. Neste setor, os produtos e suas diferentes funções foram avaliados do seguinte modo:

a) Produtos com potencial muito elevado (medianas =9) - aqueles produtos com as seguintes funções: produtividade; controle de ervas, pragas e doenças; integração de características; alimentos mais nutritivos; árvores com crescimento acelerado; qualidade de madeiras e fibras; menor perecibilidade; amidos, proteínas e óleos; substâncias terapêuticas e antioxidantes.

b) Produtos com potencial elevado:

• Medianas entre 7,1 e 8: produtos com a função de tolerância e adaptabilidade; facilidade de processamento de alimentos; soluções agronômicas para processos industriais; segurança quanto à alergenicidade; integração química-genética; maturação uniforme; anticorpos e polímeros.

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309

• Medianas iguais a 7: novas fontes de energia, baratas e não-poluentes; impacto ambiental (alimentação animal).

A comparação de avaliações do potencial desses produtos, entre setores, indica que existem produtos que apresentam potencial igual, tanto para a P&D pública como para a P&D privada. São eles: produtividade (mediana =9); tolerância e adaptabilidade (8); alimentos (facilidade de processamento) (8); soluções agronômicas para processos industriais (8) e impacto ambiental (alimentação animal) (7).

Apresenta potencial superior como base para novos negócios na P&D pública, o produto referente a novas fontes de energia, baratas e não poluentes (9).

Os seguintes produtos apresentam potencial superior para o setor privado, em comparação com o setor público: menor perecibilidade (9), amidos, proteínas e óleos e substâncias terapêuticas e antioxidantes (9); controle de ervas, pragas e doenças (9); integração de características (9); alimentos mais nutritivos (9); árvores com crescimento acelerado (9); qualidade de madeiras e fibras (9); integração química-genética (8); maturação uniforme (8); anticorpos e polímeros (8); segurança quanto à alergenicidade de alimentos.

Os painelistas também indicaram razões para discordâncias individuais na avaliação do potencial de produtos da biotecnologia, em comparação com as percepções do grupo de painelistas como um todo. As justificativas para estas discordâncias, e os produtos a que se referem, são apresentadas no Quadro 9.5.

Esses comentários permitem que se atente para os seguintes aspectos, para compreender as avaliações sobre o potencial de produtos oriundos da biotecnologia, como base para novos negócios de P&D, no futuro:

a) Para alguns produtos, tais como aqueles relativos à função de controle de ervas, de pragas e de doenças, as motivações dos setores público e privado de P&D poderiam se concentrar em um ou dois desses controles, conforme o setor. Por exemplo, conforme um dos painelistas, o setor público estaria mais preocupado com controle de pragas e de doenças, e o setor privado, com o controle de ervas daninhas. Este foi um dos produtos de potencial elevado para os dois setores, mas para o qual não se obteve consenso. É possível que isso se deva ao fato de que a formulação da questão não permita a separação dos diferentes interesses dos dois setores;

b) A substituição de processos industriais por soluções agronômicas terá um maior ou menor potencial a depender da comparação dos custos destas soluções com o custo da alternativa de aperfeiçoamento do próprio processo industrial. A esse respeito, se poderia mencionar que técnicas de melhoramento baseadas em biotecnologia poderiam tornar mais rápida e barata a solução agronômica que a solução industrial, com possíveis efeitos benéficos também sobre o meio ambiente, como é o caso do algodão colorido;

c) As relações entre o setor de P&D pública e o setor produtivo, no caso de certos produtos – um painelista menciona especialmente os que se relacionam à produção florestal, o que implicaria em substituição de soluções industriais por

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310

soluções agronômicas – poderiam representar uma limitação ao potencial desses produtos, como base de novos negócios de P&D, nesse setor.

d) Os painelistas apontaram ainda crenças pessoais generalizadas, na competência de um ou outro setor, para justificar avaliações elevadas de potencial, por setor.

Conclusões Gerais

Todos os produtos apresentados aos painelistas apresentaram potencial elevado ou muito elevado, para ambos os setores de P&D.

Para o setor público, apresentam potencial mais elevado os produtos que permitam aumento de produtividade ou que se constituam em fontes de energia renováveis, baratas e não-poluentes.

Para o setor privado, já existe um mais amplo espectro de produtos com potencial mais elevado: os que permitam maior produtividade, integração de características, maior qualidade nutricional e menor perecibilidade; os que produzam amidos, proteínas e óleos ou substâncias terapêuticas e, ou, antioxidantes; e árvores com crescimento acelerado.

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311

Quadro 9.5: Justificativas para o potencial atribuído a produtos da biotecnologia, por função, como base de novos negócios, no futuro.

COMENTÁRIOS SOBRE PROCESSOS ESPECÍFICOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO Processo Justificativa • Árvores com crescimento acelerado • Qualidade de madeiras e fibras • Soluções agronômicas para processos

industriais

Projetos de P&D na área florestal são de longo prazo. Pelo menos com base nos últimos 50 anos as instituições públicas não têm mostrado tendência para todos os projetos da mesma forma, existe pouca prática de integração entre empresas públicas e indústria.

• Integração de características, setor público

• Alimentos de qualidade: segurança quanto à alergenicidade, setor público

• Alimentos de qualidade: segurança quanto à alergenicidade, setor privado

• Substituição de processos industriais por soluções agronômicas (por exemplo, modificação na fibra e na cor do algodão), setor privado.

A indústria terá maior capacidade de integrar características úteis que o setor público.

Proteção vegetal: Controle de ervas daninhas, pragas e doenças, setor público.

... a estratégia comercial para controle de ervas daninhas é bem diferente para pragas e doenças. Novos produtos, oriundos da biotecnologia, que tenham características de resistência e/ou imunidade a pragas e doenças é de grande interesse do setor público e não tanto do privado. Enquanto que produtos ligados ao controle de erva daninha são de interesse do setor privado e não do público. Vejam que as empresas químicas do mundo compraram as empresas de sementes.

Substituição de processos industriais por soluções agronômicas, setor público e privado Produção florestal: melhor qualidade de madeira e de fibras, setor privado;

Para muitas questões a solução ajustando o processo na indústria é mais rápida, barata e duradoura do que uma ação via melhoramento genético.

COMENTÁRIOS GERAIS Sou mais entusiasta a respeito do setor público que a maioria. Isso porque acredito que para sobreviver, o setor público terá que ser bem mais agressivo e tenderá a seguir o mesmo caminho do mercado em algumas áreas de desenvolvimento tecnológico.

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312

Capítulo 10 Capacidade, desempenho e espaços de atuação dos sistemas de P&D público e privado Este capítulo discute as respostas do Painel Delphi às questões relativas, respectivamente, à proteção e ao registro de cultivares de algumas espécies/grupos de importância econômica para o agronegócio brasileiro, tais como soja, milho, arroz, feijão, trigo, algodão, batata, tomate, cebola, citros, melão, uva e forrageiras. Discute também a questão, mais abrangente, da importância estratégica que terão no futuro, as diferentes espécies, para os setores público e privado de P&D.

A atenção a dados relativos à proteção e ao registro de cultivares melhoradas se justifica por serem esses dados indicadores da capacidade e do desempenho das organizações públicas e privadas atuantes na produção de germoplasma melhorado, bem como dos espaços de atuação dessas organizações, ou seja, das espécies em que se concentram os seus esforços de melhoramento.

Complementarmente, o Painel Delphi procurou identificar como se alterariam estes espaços, no futuro, questionando os painelistas sobre a importância estratégica de cada espécie para os setores público e privado de P&D. Importância estratégica, no contexto da pesquisa, era definida como o potencial de retorno (econômico e, ou, social) do investimento em melhoramento genético, atribuído à espécie, para cada setor de pesquisa & desenvolvimento, no ano 2010.

A primeira parte deste Capítulo trata da questão de mudanças na participação de proteção e registro de cultivares, nos dois setores de P&D, no futuro (em três cenários). A importância estratégica das diferentes espécies, em 2010, na visão dos painelistas, é apresentada na segunda parte do Capítulo.

10.1 Proteção e Registro de Cultivares

As Tabelas 10.1 (Proteção de cultivares) e 10.2 (Registro de cultivares), mostradas a seguir, são baseadas nas mesmas tabelas utilizadas na consulta aos painelistas. Na segunda e terceira coluna encontram-se indicados os valores percentuais de participação dos dois setores, de janeiro de 1998 até setembro de 2001; aos painelistas foi solicitado que indicassem, nas três últimas colunas, o provável percentual de participação futura (ano 2010) do setor público, sob as condições oferecidas pelos três diferentes cenários.

Os resultados obtidos no Painel alcançaram um alto nível de consenso, sobretudo quanto ao registro de cultivares, onde apenas uma das 39 avaliações possíveis não foi consensual.

10.1.1 Proteção de Cultivares

A participação percentual futura do setor público na proteção de cultivares foi percebida como indicado na Tabela 10.1.

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O percentual geral de consenso obtido pelo Painel para os itens desta questão foi de 82 %. É importante observar que, com relação às espécies passíveis de proteção à época de realização da pesquisa (para as quais há indicação da participação atual), houve significativo consenso do Painel, sendo o único caso de dissenso concernente ao segmento milho. Quanto ao percentual de participação futura dos segmentos cebola, e uva (espécies não passíveis de proteção à época de realização da pesquisa), apenas na perspectiva do Cenário 1 não foi obtido consenso. Com relação aos segmentos “forrageiras” e “citros”, que também não eram passíveis de proteção na ocasião do levantamento, não foi alcançado consenso entre os painelistas nas perspectivas oferecidas pelos cenários 1 e 2. Para o segmento “melão”, que também não era passível de proteção, obteve-se consenso apenas no cenário 2(tendencial).

Embora a percepção geral expressa pelo Painel seja de retração na participação futura do setor público na Proteção de Cultivares, esta participação se mantém praticamente constante para os segmentos de feijão e trigo, em qualquer cenário, e também no caso do segmento soja, em que se verifica queda mais acentuada na participação do setor público apenas no cenário pessimista (cenário 1). No segmento batata, verifica-se um pequeno aumento da estimativa de participação deste setor, nos cenários tendencial (2) e otimista (3).

Com a finalidade de tornar mais clara a percepção do Painel sobre a participação de cada setor de P&D, na proteção de cultivares, extraiu-se um percentual médio para a situação atual e nos três cenários, de cada setor, independentemente do segmento de mercado. Esses dados são apresentados na Figura 10.1. Tabela 10.1. Participação percentual do setor público na proteção de cultivares, segundo os três cenários futuros considerados.

Situação Atual (em %) ¹ Situação Futura para o Setor Público (em %) ²

Segmento de Mercado Setor

Público Setor

Privado Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Soja 39 61 30* 39* 37,5* Milho (híbrido) 89 11 70* 70* 70 Arroz 75 25 70* 70* 67,5* Feijão 62 38 60* 60* 60* Trigo 38 62 38* 39* 32,5* Batata 9 91 9* 10* 10* Tomate³ - - 15* 20* 20* Cebola³ - - 30 20* 30* Citros³ - - 35 40 40* Melão³ - - 17,5 20* 30 Uva³ - - 25 20* 30* Forrageiras³ - - 40 45 42,5* Algodão 40 60 30* 40* 32,5* (1) Fonte: SNPC, Setembro de 2001 (2) A informação solicitada se refere apenas ao setor público. A soma da participação percentual dos dois setores, para cada segmento (espécie/grupo), deve totalizar 100%. (3) Espécies não passíveis de proteção à época de realização da pesquisa. * Avaliações com distância entre quartis ≤25 Observa-se pouca diferença atualmente, na participação dos dois setores. Nos diferentes cenários, a participação do setor público tende a ser menor do que a observada atualmente e bem inferior à do setor privado – que melhora sensivelmente sua participação – em qualquer caso. O cenário mais favorável para o setor público é um cenário otimista (cenário 3), caso em que se reduz sua distância, em relação à

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314

participação do setor privado, na proteção de cultivares (39%, em média, para o setor público, 61% para o setor privado).

Os mesmos dados da Tabela 10.1 são apresentados na Figura 10.2. Nesta Figura se pode observar com maior clareza que enquanto o painel foi conservador e mais pessimista para as espécies passíveis de proteção à época da pesquisa, para as quais o setor público apresentava mais elevada participação, tendência oposta é verificada para as espécies ainda não passíveis de proteção (tomate, cebola, citros, melão, uva e forrageiras). Para estas espécies, o painel teve uma percepção de diferenciação, nos diversos cenários apresentados e, em geral, uma avaliação de crescente participação do setor público, nos cenários tendencial e otimista (2 e 3).

No que se refere às chamadas “espécies sociais” (arroz, feijão, trigo), o Painel entende que os trabalhos de melhoramento continuarão a ser desenvolvidos pela pesquisa pública. Foi também mencionado, no âmbito do Painel, o fato de que o número de empresas privadas envolvidas em melhoramento de arroz seria muito pequeno. De fato, o volume de pedidos de Certificados de Proteção (CP) e de Certificados de Registro (CR) para arroz junto ao SNPC são, predominantemente, oriundos do setor público. No caso da proteção de cultivares, do total de sete organizações obtentoras, três provêm do setor público, com 66% dos CPs. No caso do registro de cultivares, 13 das 19 organizações obtentoras provêm do setor público, detendo 87% dos CRs.

Não se pode, todavia, deixar de considerar o fato de que 34% dos CPs de arroz são hoje detidos por obtentores privados. Além disto, segundo os dados de Vieira (2003), que compara o número de programas de melhoramento genético de grãos desenvolvidos pelos setores público e privado em 1992 e 2002, se no ano de 1992 o setor privado não apresentava nenhum programa de Melhoramento Genético (MG) específico para arroz, em 2002 o número de programas havia chegado a quatro. Considerando que o registro de cultivares reflete uma situação posterior à indicada na proteção, a presença da iniciativa privada em 1/3 dos CPs de arroz merece alguma atenção.

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Figura 10.1. Resultados do Painel Delphi: participação percentual dos setores público e privado na Proteção de Cultivares, segundo os cenários alternativos.

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Figura 10.2. Resultados do Painel Delphi: participação percentual atual e futura do setor público na proteção de cultivares junto ao SNPC, por segmento de produção, segundo os cenários alternativos propostos no Painel.

No caso do milho, prevê-se um decréscimo significativo na participação percentual do setor público nos Cenários 1 e 2. Todavia, há que se observar que, embora 90% dos Certificados de Proteção atuais tenham sido requeridos pela Embrapa, o mercado de sementes melhoradas de milho é dominado pelo setor privado, como bem reflete o percentual de CRs emitidos para a indústria (83%) (ver a seguir).

10.1.2 Registro de Cultivares

Como já mencionado anteriormente, considera-se que a LNCR, pela sua vinculação à fase de comercialização e pelo volume de dados que acumula, fornece dados relevantes, os quais podem ser traduzidos como indicadores de tendência dos níveis de capacitação e desempenho em P&D das organizações (ou grupos de organizações) envolvidas.

O percentual de consenso obtido pelo Painel para os diversos itens da questão relativa ao registro de cultivares foi de 97% (ver Tabela 10.2). O único item onde não se verificou consenso refere-se à cultura do algodão, na perspectiva do Cenário 3.

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316

Tabela 10.2. Resultados do Painel Delphi: participação percentual do setor público no registro de cultivares, segundo os três cenários futuros considerados.

Situação Atual (em

%) ¹ Situação Futura para o Setor Público (em

%) ²

Segmento de Mercado Setor

Público Setor

Privado Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Soja 48 52 40* 40* 40* Milho 15 85 15* 15* 20* Arroz 81 19 73* 75* 70* Feijão 69 31 65* 69* 70* Trigo 63 37 60* 60* 50* Batata 24 76 20* 24* 24,5* Tomate 1 99 1* 5* 5* Cebola 14 86 10* 12* 15* Citros 34 66 30* 30* 32* Melão 4 96 4,5* 5* 9* Uva 13 87 10* 12,5* 14* Forrageiras 28 72 28* 28* 30*0 Algodão 59 41 50* 50* 42,5 (1) Fonte: SNPC, Setembro de 2001 (2) A informação solicitada se refere apenas ao setor público. A soma da participação percentual dos dois setores, para cada segmento (espécie/grupo), deve totalizar 100% * Avaliações com distância entre quartis ≤25

De modo geral, mantém-se a tendência de decréscimo de participação do setor público também para o registro de cultivares. No entanto, esta tendência é menos homogênea do que a observada para a proteção de cultivares (Tabela 10.1). Com exceção da soja, para a qual o decréscimo é o mesmo, nos três cenários, para os demais segmentos de mercado observa-se uma influência clara dos diferentes cenários, na alteração da participação do setor público.

Algumas espécies apresentam decréscimo, em relação à situação atual, nos três cenários: nesse caso estão os segmentos de soja, arroz, citros e algodão.

Para a cebola, observa-se decréscimo de participação do setor público, em relação à situação atual, nos cenários 1 e 2; no cenário otimista (3), a participação prevista para esse setor é igual à que se observa hoje.

Existem ainda outros segmentos (feijão, batata e uva) para os quais a tendência é que a participação do setor público permaneça similar a observada hoje, com decréscimo apenas no cenário pessimista.

Em alguns segmentos, observa-se a mesma participação atual, em alguns cenários, acompanhada por crescimento da participação do setor público (em relação a presente situação), pelo menos no cenário otimista. É o caso do milho (crescimento no cenário 3), do tomate (crescimento nos cenários 2 e 3), do melão (crescimento no cenário 3), e de forrageiras (crescimento no cenário 3).

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317

A tendência (geral),de decréscimo no registro de cultivares, percebida pelos painelistas, é apresentada na Figura 10.3, que apresenta o percentual médio de participação de cada setor, nos três cenários, independentemente do segmento de mercado. Semelhantemente ao ocorrido no caso da proteção de cultivares, o Painel prevê um decréscimo da participação percentual futura do Setor Público no número de certificados de registro, decréscimo este bastante acentuado no caso do Cenário 2.

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Atual Cen. 1 Cen. 2 Cen. 3Registro de cultivares (atual e futuro)

Público Privado Figura 10.3. Resultados do Painel Delphi: participação percentual dos setores público e privado no Registro de Cultivares, atual e segundo os cenários alternativos.

Os dados apresentados na Tabela 10.2 são mostrados em forma gráfica na Figura 10.4. Aí é possível verificar que:

a) para as chamadas “espécies sociais” (arroz e feijão), o setor público ainda detém participação significativa (superior a 60%), em qualquer cenário;

b) há um padrão semelhante ao observado para a proteção de cultivares, no caso das espécies ainda não passíveis de proteção (tomate, cebola, citros, melão e forrageiras). Este padrão é confirmado por correlações maiores estimadas entre as avaliações nos diferentes cenários, para proteção e registro. Estas correlações são significativas e, evidentemente, superiores às observadas quando se incluem todos os segmentos de mercado, ou quando se incluem apenas as espécies já protegidas.

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Atual Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

Espécies sociais

Figura 10.4. Participação percentual atual e futura do Setor Público no Registro de Cultivares, por segmento de produção, segundo os cenários alternativos propostos no Painel.

10.1.3. Proteção e registro de cultivares: participação futura vs. participação atual

Os dados gerais sobre proteção e registro de cultivares (situação atual e previsões dos painelistas) foram utilizados para se calcular a variação percentual da estimativa, em cada cenário, em relação à situação atual de proteção e registro. Os percentuais de crescimento resultantes são apresentados na Figura 10.5.

A Figura 10.5 deixa claros os distintos padrões, nas estimativas sobre o futuro, para os casos de proteção e registro de cultivares, pelos dois setores. Tanto para a proteção como para o registro de cultivares, observa-se decréscimos em taxas decrescentes, para os cenários 1, 2 e 3 respectivamente, no setor público. O inverso é, portanto, previsto para o setor privado. Por outro lado, o padrão de estimativas é de decréscimos muito maiores para a proteção do que para o registro de cultivares. No caso de registro, a variação percentual (em relação à situação atual) é pequena, para qualquer cenário.

No entanto, esse padrão de variação percentual da participação do setor público, em cada cenário, em relação à situação atual, não permanece o mesmo para todas as espécies, nos dois casos (proteção e registro). As Figuras 10.6a e 10.6.b mostram esta variação, para os diferentes segmentos de mercado, para proteção e registro, respectivamente.

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Proteção Proteção Registro Registro

Setor Público Setor Privado Setor Público Setor PrivadoProteção e registro, por setor de P&D

Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Figura 10.5. Variação percentual, em relação à situação atual de proteção e registro de cultivares, pelos setores público e privado de P&D, em três cenários. Em relação à proteção de cultivares, a Figura 10.6a indica que a participação futura do setor público, em comparação com a atual, apresentará:

• decréscimo, nos três cenários, para soja, milho, arroz e feijão;

• decréscimo no cenário 1 (pessimista), para todos os segmentos de mercado, à exceção do trigo e da batata, em que a participação neste cenário será idêntica à observada atualmente;

• no cenário 2, o maior decréscimo é para milho;

• batata, na visão dos painelistas, apresentará crescimento da participação do setor público, nos cenários 2 e 3;

• os maiores decréscimos, em relação à situação atual, ocorrem para soja (cenário 1), milho (nos três cenários), trigo (cenário 3) e algodão (cenários 1 e 3). Em todos estes casos, o decréscimo é maior do que 15%.

Em relação ao registro de cultivares, a comparação entre a situação atual e a prevista pelos painelistas, em diferentes cenários, é apresentada na Figura 10.6b. Esta comparação indica que a participação do setor público, no registro de cultivares, nos distintos cenários, em relação à situação atual mostrará:

• decréscimo, nos vários cenários, para soja, arroz, trigo, citros e algodão;

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• decréscimo no cenário 1 (pessimista) para a maioria das espécies; as exceções são milho, tomate e forrageiras, para as quais se prevê participação similar à atual, e melão, com previsão de crescimento mesmo neste cenário;

• crescimento da participação para milho, cebola, uva e forrageiras (no cenário 3), para tomate (nos cenários 2 e 3), para melão (em qualquer cenário);

• os decréscimos de participação são em geral pequenos (inferiores a 20%); as exceções são referentes à uva no cenário 1 (23%) e cebola, neste mesmo cenário (29%);

• crescimentos superiores a 100% são observados para melão (cenário 3) e tomate (cenários 2 e 3)..

A comparação do que é previsto como participação futura, em relação à situação atual de cada espécie (Figuras 10.6a e 10.6b) permite concluir que apenas no caso do arroz o mesmo padrão é observado, tanto para proteção como para registro de cultivares.

Na próxima seção serão analisados os resultados referentes à importância estratégica de diferentes espécies vegetais, no futuro, na visão dos painelistas.

10. 2 Importância estratégica de diferentes espécies vegetais, no futuro

O último bloco do questionário explorava a questão dos espaços de atuação dos setores público e privado de P&D, no Brasil, para melhoramento genético vegetal e desenvolvimento de cultivares.

Solicitou-se aos painelistas que avaliassem a importância estratégica para a P&D, pública ou privada, de espécies ou grupos de espécies, em 2010. Importância estratégica de uma espécie foi definida como o potencial de retorno (econômico e, ou, social) do investimento em melhoramento genético, atribuído a essa espécie, em cada setor de P&D.

Como um indicador da importância estratégica atual que os dois setores de P&D atribuem a diferentes espécies/grupos de espécies, estimou-se a média anual de registro de cultivares específicas, de 1999 a 2003, nos dois setores. Também se classificaram estas médias por ordem decrescente. A Tabela 10.3 apresenta as médias anuais e aponta a posição de cada espécie, na classificação por ordem decrescente, para os setores público e privado de P&D.

Os dados desta Tabela indicam que a importância estratégica atual de espécies/grupos de espécies é:

1. Para o setor privado de P&D:

a. Mais elevada para grãos, olerícolas, tomate, milho, tabaco, frutíferas, melão, soja, uva, cebola e sorgo;

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b. Moderada para feijão, forrageiras, trigo, batata, florestais, fibras, algodão;

c. Baixa para café, aveia, arroz, banana, cevada, mandioca, caju, abacaxi e manga, citros, centeio e laranja.

2. Para o setor público de P&D:

a. Elevada para grãos, soja, arroz, feijão, milho, olerícolas, trigo, café;

b. Moderada para forrageiras, algodão, citros, frutíferas, sorgo, fibras, laranja, uva, batata;

c. Baixa para espécies florestais, aveia, cebola, cevada, mandioca, manga, tomate, banana, melão, abacaxi, caju, centeio e tabaco.

E o que os painelistas pensam, em relação ao futuro? Como vai se alterar a importância estratégica das diferentes espécies?

Conforme pode ser observado na Figura 10.7, abaixo, para o setor público de P&D, as avaliações dos painelistas indicam que, no futuro, as espécies/grupos de espécies podem ser agrupadas em três conjuntos, em função da sua importância estratégica:

• altamente estratégicas (medianas entre 7,5 e 8): arroz, café, feijão, citros, soja, trigo, manga, caju, banana, uva, mandioca e cacau.

• importância estratégica futura moderada (medianas 6 e 7): algodão, batata, forrageiras, milho, abacaxi, melão, seringueira, dendê, espécies florestais, outras oleaginosas, outras fruteiras, outras olerícolas, aveia, cebola e sorgo.

• baixa importância estratégica futura para o setor público (medianas entre 3 e 5): cevada, ornamentais e tabaco.

A Figura 10.8 apresenta as medianas da importância estratégica das espécies ou grupos de espécies para a P&D privada. Também para o setor privado, as espécies ou grupos de espécies podem ser agrupados, em relação a sua importância estratégica futura, em três conjuntos:

• altamente estratégicas (medianas entre 8 e 10): milho, soja, ornamentais, algodão, batata, tabaco, melão e espécies florestais;

• importância estratégica moderada (medianas entre 6 e 7): arroz, cebola, cevada, forrageiras, sorgo, trigo, uva, outras olerícolas, citros, cacau, manga, abacaxi, banana, seringueira e outras oleaginosas;

• baixa importância estratégica (medianas entre 4 e 5,5): aveia, café, feijão, caju, dendê, outras fruteiras e mandioca.

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Figura 10.6a. Variação percentual na participação do setor público, em proteção de diferentes espécies (passíveis de proteção), em relação à participação atual, em três cenários.

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Soja Milho Arroz Feijão Trigo Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva Forrageiras AlgodãoSegmentos

Cenário 1Cenário 2Cenário 3

Figura 10.6b. Variação percentual na participação do setor público, em registro de diferentes espécies, em relação à participação atual, em três cenários.

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Tabela 10.3. Importância estratégica atual de diferentes espécies, conforme indicado pela média anual de registro de cultivares a elas relacionadas, de 1999 a 2003, nos dois setores de P&D.

Setor Privado Setor Público Espécie/grupo de espécies Média anual Posição Média anual Posição

Café 3,33 19° 14,67 8° Citrus 0 - 5,33 10° Fibras 3,83 17° 3,83 13°

Florestais 4,33 16° 2,83 16° Forrageiras 10,33 13° 6 9° Frutíferas 33 6° 4,5 11°

Grãos 146,5 1° 111,83 1° Olerícoras 121,33 2° 15,67 6°

Tabaco 46,83 5° 0 - Abacaxi 0,17 25° 0,67 24° Algodão 3,83 18° 6 9°

Arroz 2,17 20° 22 3° Aveia 3,33 19° 2,5 17°

Banana 0,83 21° 1 22° Batata 4,67 15° 3 15° Cajú 0,33 24° 0,67 25°

Cebola 16,33 10° 2,33 18° Centeio 0 - 0,33 26° Cevada 0,67 22° 2 19° Feijão 11,67 12° 20,67 4°

Laranja 0 - 3,83 13° Mandioca 0,5 23° 2 19°

Manga 0,17 26° 1,33 20° Melão 31,5 7° 0,83 23° Milho 84,17 4° 18 5° Soja 31,33 8° 33,5 2°

Sorgo 15,17 11° 4,17 12° Tomate 92,67 3° 1,17 21° Trigo 5,17 14° 15,17 7° Uva 17,67 9° 3,17 14°

Fonte: SNPC, 2003.

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Figura 10.7. Importância estratégica futura das espécies/grupos de espécies para o Setor Público. (Colunas em vermelho: espécies com DIQ<=2.5).

A Figura 10.8 apresenta as medianas da importância estratégica das espécies ou grupos de espécies para a P&D privada. Também para o setor privado de P&D, as espécies ou grupos de espécies podem ser agrupadas, em relação a sua importância estratégica futura, em três conjuntos. As espécies/grupo de espécies altamente (medianas entre 8 e 10) estratégicas, no futuro, foram: milho, soja, ornamentais, algodão, batata, tabaco, melão e espécies florestais. Com mediana variando entre 6 e 7, ficaram as seguintes espécies/grupos de espécies: arroz, cebola, cevada, forrageiras, sorgo, trigo, uva, outras olerícolas, citros, cacau, manga, abacaxi, banana, seringueira e outras oleaginosas. Com baixa importância estratégica futura(medianas entre 4 e 5,5) estão: aveia, café, feijão, caju, dendê, outras fruteiras e mandioca.

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Milho Algodão Melão Cebola Sorgo OutrasOlerícolas

Manga Seringueira Café Dendê

Figura 10.8. Importância estratégica futura das espécies/grupos de espécies para o Setor Privado. (Obs.: colunas em vermelho: avaliações com DIQ<=2,5).

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A comparação entre os dados da Tabela 10.4 e das Figuras 10.7 e 10.8 é resumida no Quadro 10.1.

Quadro 10.1: Comparação entre os indicadores da importância estratégica atual e futura de cada espécie/grupo de espécies, para dois setores de P&D.

Avaliação de importância estratégica

Situação futura Situação futura, em comparação com

atual

Espécies/grupos, no setor privado

Espécies/grupos, no setor público

Elevada Igual à atual Milho, tabaco, melão, soja

Soja, arroz, feijão, café, citros

Elevada Maior do que a atual Batata, espécies florestais e algodão

Uva, mandioca, manga, banana, cajú

Moderada Menor do que a atual Olerícolas, uva, cebola, sorgo

Milho, olerícolas, forrageiras, algodão

Moderada Igual à atual Forrageiras, trigo, fibras Frutíferas, sorgo, batata

Moderada Maior do que a atual Arroz, banana, cevada, abacaxi, manga, citros

Espécies florestais, aveia, cebola, melão, abacaxi

Baixa Menor do que a atual Frutíferas, feijão -

Baixa Igual à atual Café, aveia, mandioca, caju.

Cevada, tabaco

A comparação dos indicadores de importância estratégica atual e futura mostra que existe já uma divisão de trabalho (motivada por interesses e objetivos distintos) nos dois setores de P&D. Por exemplo, enquanto no setor privado se destacam atualmente aquelas espécies que permitem hibridação, o setor público focaliza mais espécies chamadas “sociais” (como arroz e feijão) e que tenham importância comercial elevada (caso da soja). Algumas destas espécies se mantém com a mesma importância, no futuro, enquanto outras aumentam ou perdem sua importância, nos dois setores.

A Tabela 10.4 apresenta as medianas da importância estratégica futura das espécies/grupos de espécies estudadas, para os dois setores de P&D, bem como a classificação destas medianas, por setor.

Como pode ser observado no quadro 10.1, a avaliação da importância estratégica das espécies, ou grupos de espécies, para a P&D pública, obteve 80% de consenso. As seguintes espécies/grupos de espécies não apresentaram consenso em relação a sua importância estratégica futura para a P&D pública: algodão, arroz, ornamentais, soja, sorgo e melão. Os painelistas não apresentaram justificativas que pudessem contribuir

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para o entendimento do não consenso nas espécies/grupos de espécies citadas, nesse setor.

Para a P&D privada, conforme as medianas apresentadas na Tabela 10.4 , a avaliação da importância estratégica das espécies, ou grupos de espécies, alcançou 63% de consenso. As seguintes espécies/grupos de espécies não apresentaram consenso em relação a sua importância estratégica futura: café, cevada, feijão, citros, manga, abacaxi, banana, uva, seringueira, dendê e outras fruteiras. As justificativas apresentadas pelos painelistas procuraram explicar o não consenso devido à crença na necessidade de um maior investimento do setor privado nessas espécies e grupos de espécies (café, manga, banana), pelo demorado retorno econômico propiciado por culturas perenes (caso da seringueira e dendê), e pelo alto risco representado por determinado grupo de espécies (caso de outras fruteiras).

É interessante observar a distribuição de diferentes medianas, pelo conjunto de espécies consideradas, nos dois setores de P&D. Esta distribuição é apresentada na Figura 10.9. Aí se pode observar com clareza que:

a) o setor público apresenta, nas avaliações de importância estratégica futura, uma menor amplitude de medianas (variando entre 3 e 8) do que o setor privado (a variação é entre 4 e 10);

b) por outro lado, as medianas mais altas concentram um maior número de espécies no setor público, enquanto que o inverso é observado para o setor privado: há menor número de espécies avaliadas nas medianas mais elevadas;

c) a distribuição de medianas no setor privado é mais próxima de uma curva normal, com poucas medianas nos extremos e uma concentração nos pontos médios, e mais desviada para o pólo superior de avaliação, no setor público.

A Tabela 10.4 permite concluir que terão importância similarmente elevada, no futuro, para os dois setores de P&D, as seguintes espécies ou grupos de espécies: algodão, batata, forrageiras, milho, soja, melão e espécies florestais. Por outro lado, o setor privado considera maior o potencial de retorno das seguintes espécies, em relação ao setor público: ornamentais, tabaco, sorgo, cebola, cevada. E o setor público considerará como de importância estratégica um grande número de outras espécies ou grupos, menos valorizadas pela iniciativa privada: arroz, café, feijão, citros, cacau, trigo, manga, caju, abacaxi, banana, uva, seringueira, dendê, mandioca, outras oleaginosas, outras fruteiras e outras olerícolas.

Essas características da distribuição, nos dois setores, indicam um maior foco do setor privado, que se concentra em poucas e selecionadas espécies (milho, soja, ornamentais), enquanto que o primeiro conjunto de espécies mais estratégicas, no setor público, compreende nada menos do que onze espécies.

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Tabela 10.4. Medianas de avaliações sobre importância estratégia das espécies/grupos de espécies para o setor público e privado, em 2010, e respectiva classificação dentro do setor.

Setor Público Setor Privado Espécie/Grupo de Espécies Mediana Classificação Mediana Classificação Algodão 7 3° 8 * 4°

Arroz 8 1° 7 * 5° Aveia 6* 4° 5,5* 7° Batata 7* 3° 8* 4° Café 8* 1° 5 8°

Cebola 6* 4° 7* 5° Cevada 5* 5° 7 5° Feijão 8* 1° 5 8°

Forrageiras 7* 3° 7* 5° Citros 8* 1° 6 6° Milho 7* 3° 10* 1

Ornamentais 5 5° 8,5* 3° Soja 8 1° 9* 2

Sorgo 6 4° 7* 5° Tabaco 3* 6° 8* 4° Cacau 7,5* 2° 6* 6° Trigo 8* 1° 7* 5°

Manga 8* 1° 6 6° Caju 8* 1° 5* 8°

Abacaxi 7* 3° 6 6° Banana 8* 1° 6 6°

Uva 8* 1° 7 5° Melão 7 3° 8* 4°

Seringueira 7* 3° 6 6° Dendê 7* 3° 5 8°

Espécies florestais 7* 3° 8* 4° Mandioca 8* 1° 4°* 9°

Outras oleaginosas 7* 3° 6* 6° Outras fruteiras 7* 3° 5 8°

Outras Olerícolas 7* 3° 7* 5° * Avaliações com DIQ≤2,5.

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1098,587,5765,5543Medianas

Setor público Setor privado

Figura 10.9. Distribuição de medianas de importância estratégica de diversas espécies/ grupo de espécies para os dois setores de P&D

10.3 Conclusão

Finalizando este capítulo, pode-se afirmar que na visão dos painelistas, haverá em geral um decréscimo, no futuro, da participação do setor público, tanto na proteção como no registro de cultivares. No entanto, este decréscimo varia com o segmento de mercado considerado. Em alguns cenários, em proteção de cultivares, há igual crescimento previsto para soja e batata. Para milho, uva, forrageiras, tomate e melão, somente também em alguns cenários, há igual crescimento previsto para registro de cultivares dessas espécies.

A importância estratégica das espécies, no futuro, não parece ser muito distinta da observada hoje. Há um número maior de espécies com alta importância estratégica no setor público, quando comparado com o setor privado. Os dois setores (público e privado) podem competir em relação a algodão, batata , forrageiras, milho, soja, melão e espécies florestais, para os quais estas espécies podem ter, no futuro, alta importância estratégica (social e, ou, econômica). Há um enorme espaço para a atuação dos dois setores, em relação a outras espécies que podem ser de maior interesse para cada setor específico (como, por exemplo, o arroz e o café, altamente valorizadas pelo setor público, mas de importância menor para o setor privado, ou inversamente, o tabaco e as

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espécies ornamentais, mais valorizadas por esse último do que pelo setor público de P&D).

Finalmente, observa-se que para algumas espécies de alta importância estratégica, no futuro, para o setor público, na visão dos painelistas, prevê-se que haverá aumento da participação deste setor no registro de cultivares de feijão e de uva (e decréscimo nessa participação, para arroz, soja e trigo); para algumas espécies de importância estratégica futura moderada, os painelistas apostam em crescimento no registro de cultivares de cebola, de forrageiras, de milho e de melão, no cenário otimista, igual à participação de hoje para cebola e decréscimo apenas para o caso do algodão.

Esta última observação indica que o julgamento dos painelistas discriminou entre espécies e cenários, não havendo também uma tendência francamente pessimista – ou, no outro extremo, exageradamente otimista – para as avaliações realizadas.

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Capítulo 11 Cenários para o mercado de sementes

A parte final do Sistema Nacional de Produção de Cultivares e Sementes (SNPCS) é composta pelo subsistema Mercado Nacional de Sementes. Este subsistema utiliza os produtos tecnológicos finais do processo de melhoramento genético de plantas, os cultivares e híbridos, multiplicando o material básico produzido pela pesquisa pública e privada e realizando a distribuição e comercialização do material produzido pela pesquisa. É nesta etapa do processo que a inovação tecnológica produzida pela P&D é avaliada e, caso possua vantagem competitiva sobre a tecnologia anteriormente em uso, adotada pelos clientes finais do sistema, os produtores agrícolas. É também neste subsistema que ocorre o processo de competição entre os diversos atores do SNPCS (pesquisa pública e privada, produtores de sementes, vendedores de sementes e outros insumos) de forma que os sinais emitidos no âmbito desse mercado vão influenciar fortemente os demais componentes do SNPCS.

Conseqüentemente, para apresentar uma análise sistêmica do SNPCS, era necessário prospectar o futuro do mercado de semente. Face à maior ênfase conferida neste trabalho à questão do melhoramento genético e das cultivares, optou-se por um tratamento metodológico distinto do anteriormente adotado, aplicando-se neste caso a técnica de cenários. Como limites ao exercício, buscou-se determinar alternativas de futuro de variáveis críticas contidas no modelo do SNPCS, apresentado no Capítulo 4 (Figura 4.3), complementadas por outras variáveis críticas definidoras do mercado de sementes, mas que pudessem ter alguma possível influência futura sobre o melhoramento de plantas.

Este capítulo descreve a metodologia empregada na elaboração dos cenários, em complemento ao já apresentado no Capítulo 3 e apresenta os resultados obtidos, no formato de três cenários para o mercado brasileiro de sementes em 2010.

11.1 Metodologia utilizada

No Capítulo 3 já foi apresentada a abordagem metodológica geral adotada neste trabalho. Todo o marco conceitual e metodológico ali apresentado é aplicado, em diferentes graus, no presente exercício. Todavia, resta acrescentar alguns passos metodológicos que foram especificamente introduzidos na metodologia, para produzir os cenários apresentados a seguir.

Como premissa, adotou-se como referência para a reflexão sobre o futuro do mercado de sementes os mesmos cenários do contexto político e econômico que foram desenvolvidos como base para o trabalho do Painel Delphi, cujos resultados estão apresentados nos Capítulos 8 e 9. Recordando, estes cenários foram denominados

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respectivamente “Aprofundamento da crise econômica e social, Avanços e recuos, Recuperação acelerada sustentada” e têm a finalidade de criar uma base de raciocínio que apóie a reflexão sobre o desempenho futuro das variáveis específicas dos cenários sobre o mercado de sementes. Estes cenários “âncoras” serviram como tema para os cenários alternativos do mercado de sementes brasileiro.

Foi conformado um grupo específico de especialistas sobre o mercado brasileiro de sementes, que se juntaram à equipe do projeto para a construção dos cenários alternativos. O processo de construção constou de seminários, cujas atividades desenvolvidas e métodos estão expressos na Tabela 11.1.

Tabela 11.1. Metodologia adotada para construção de cenários do mercado de sementes no Brasil.

Atividade Método

Apresentação do projeto e do modelo do SNPCS

Exposição e debates.

Apresentação do diagnóstico do setor de sementes

Exposição e debates, tendo como referência os Capítulos 6 e 7.

Identificação de incertezas críticas Discussão grupal e síntese.

Identificação de atores relevantes Discussão grupal e síntese.

Geração de estados futuros alternativos (matriz de analise morfológica)

Discussão grupal e síntese. Uso dos 3 cenários âncora como tema. Uso da matriz de análise morfológica.

Definição de cenários Discussão grupal e síntese.

Teste de consistência dos cenários Discussão grupal e síntese.

Elaboração de proposta de estratégia e redação dos cenários alternativos.

Discussão grupal e síntese. Revisão final dos resultados obtidos.

Utilizando-se a informação produzida anteriormente e apresentada nos Capítulos 2, 6 e 7 (principalmente nestes dois últimos) e o modelo geral do SNPCS (ver Figura 4.3), o mercado de sementes foi analisado, buscando-se determinar variáveis críticas e atores relevantes.

Na seqüência, foram mapeados os atores com maior influencia no setor. Atores são grupos sociais formais ou informais que participam direta ou indiretamente do negocio de sementes no Brasil, influenciando com suas ações o comportamento do mercado. Estes atores eram principalmente organizações públicas ou privadas e segmentos sociais organizados.

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Uma vez determinados os atores relevantes, tratou-se de determinar as variáveis críticas, aquelas de maior importância para o desempenho futuro do sistema. Este passo tinha como finalidade a determinação das incertezas críticas, variáveis, do subsistema em estudo, de muita importância no seu desempenho e com um baixo grau de previsibilidade futura.

As incertezas críticas são as variáveis que vão definir os estados futuros dos cenários. Para tanto, aplicando-se as técnicas de análise morfológica, construiu-se a matriz de estados futuros plausíveis para as incertezas críticas selecionadas. Para cada incerteza crítica foram elaborados de 2 a 4 estados futuros da variável, para o ano de 2010.

Utilizando-se os três cenários do contexto político e social como temas (“Aprofundamento da crise econômica e social, Avanços e recuos, Recuperação acelerada sustentada”) selecionou-se, dentre os diversos estados futuros plausíveis das incertezas críticas, um estado mais adequado para o tema. O conjunto obtido ao final deste exercício, depois de passar pelo exame de consistência, é o respectivo cenário alternativo para o tema.

11.2 Atores relevantes

A análise de atores relevantes ao mercado foi realizada para orientar a reflexão sobre os desdobramentos futuros dos eventos, em função da capacidade destes diversos atores operarem no mercado a seu favor, exercendo influência futura sobre as transformações no sistema. Atores são representados neste caso por grupos sociais, formal ou informalmente organizados, bem como instituições, capazes de promover mudanças, a partir de suas ações e intervenções no mercado.

A seguir, apresentam-se os grupos sociais e instituições, considerados como atores mais relevantes para o mercado brasileiro de sementes, com suas respectivas áreas de influência.

Consumidores finais (segmentos de consumidores) e Produtores Rurais (Consumidores de sementes) – grupos sociais ainda pouco organizados, mas de grande influência direta e indireta sobre o mercado de sementes. Os consumidores finais, pela capacidade de determinar características de qualidade de produtos agrícolas (como por exemplo, preferência por feijão preto), têm influência indireta sobre o mercado de sementes, uma vez que vão determinar as características que as sementes devem determinar aos produtos agrícolas. Os produtores rurais são os consumidores finais do mercado de sementes e vão refletir, nas suas decisões de escolha de sementes, as especificações de qualidades dos consumidores de alimentos e outros produtos agrícolas. O grau de organização e capacidade de influência desse segmento é muito variado, dependendo da cadeia produtiva na qual o produtor está inserido.

Poder Público Regulador e Fiscalizador Brasileiro( MAPA, MAPA/ SNPC, Secretarias Estaduais de Agricultura, SDE/ CADE, Congresso, Ministério Público, MMA, Comissões Estaduais de Sementes e Mudas, Receita Federal, Fazenda Estadual, ANVISA, Procon) – este conjunto de organizações federais e estaduais tem importante

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papel coordenador, normativo e fiscalizador do mercado brasileiro de sementes. Da atuação desses atores dependem, a qualidade futura das sementes produzidas e comercializadas no País, bem como o desempenho do mercado, em eficiência e eficácia, tomando-se como missão deste mercado suprir o agronegócio de sementes competitivas (em qualidade, em quantidade e em preços compatíveis com as necessidades). Pela faculdade de desenvolver leis, normas, controles e procedimentos referentes à produção e comercialização de sementes, bem como promover a fiscalização e o controle do funcionamento do mercado, a forma de atuação futura desses atores possivelmente poderá resultar em cenários mais ou menos otimistas do futuro do mercado.

Agentes de Inovação Tecnológica (Setor público de P&D, Setor Privado de P&D) – neste grupo de atores estão incluídas as organizações públicas e privadas de pesquisa agropecuária, responsáveis pelo avanço científico e tecnológico do setor. Destacam-se as Universidades, os Institutos Estaduais de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa e as organizações de P&D privadas, em geral ligadas a grupos transnacionais com interesse no setor de venda de insumos ao agronegócio. Estes atores desempenham papéis de alta relevância no mercado, uma vez que a competição entre os diversos produtos tecnológicos oferecidos aos clientes é fortemente baseada na imagem de eficiência biológica e econômica das sementes ofertadas. Outro ponto a considerar é a intensa competição existente entre estes atores por espaços no mercado.

Associações Setoriais (Abrasem, Braspov, Associações Estaduais de Produtores de Sementes, Associações de Produtores Rurais/ Industriais, Cooperativas) - as associações representam grupos organizados com interesse econômico no mercado de sementes. Em geral, representam os interesses da indústria de insumos e de segmentos de produtores rurais. Costumam atuar no âmbito legislativo, sob a forma de lobbies em torno de idéias e temas de interesse setorial e com mecanismos de propaganda e relações públicas, para mobilizar atitudes favoráveis do ambiente externo às suas teses e interesses. Pela capacidade de mobilização, são atores de grande influência neste mercado.

Produtores de Sementes (Produtores rurais, Cooperativas, Fundações, Instituições públicas, Empresas privadas nacionais e internacionais) – este grupo de atores é de grande importância, porém de menor influência sobre as transformações no mercado de sementes. Há segmentos dentro de segmentos (por atividade ou tipo de semente produzida, por região trabalhada, por origem e nacionalidade dos atores) e as relações, desempenhos e tipos de influência sobre o mercado podem variar, de acordo com cada segmento. De uma forma geral, estes atores tendem muito mais a sofrer as influências do que a influenciar a transformação do mercado de sementes.

Agentes de Comercialização (Revendedores, Cooperativas, Agentes de venda direta) – outro grupo de atores com perfil semelhante ao do grupo anterior. Por funcionarem como elo de ligação entre produtores e usuários de sementes, tendem mais a adaptarem-

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se às transformações no mercado, buscando manter seus espaços de comercialização. Sua influência, por esta razão, é possivelmente menor que a dos demais grupos.

Órgãos reguladores e Fóruns Internacionais: (OMC, UPOV, ISTA (International Seed Testing Association), AOSCA (Association of Seed Certification Agencies), Federação Internacional de Sementes, OECD) – Embora figurando no contexto externo mais distante do sistema, estes atores têm grande influência sobre as transformações ocorrendo no âmbito do mercado brasileiro de sementes, pela capacidade política de influenciar os executivo e legislativo do País. Destes, a OMC, pelo seu papel de fórum de negociação do comércio internacional é um dos mais importantes deste grupo. De perfil semelhante, embora com influência menos direta, podem-se mencionar os Sistemas de certificação (alimentar/ ambiental), tais como o IBD (Instituto de Biodinâmica) e a Codex Alimentarius.

ONGs e outros segmentos da sociedade civil organizada: (ETC, GreenPeace, SlowFood, IDEC, AS-PTA) – atores que atuam muito mais mobilizando o contexto com campanhas e propagandas veiculadas em meios de comunicação de massa, em torno das suas teses e interesses. Pela capacidade de influenciar a opinião pública, podem indiretamente influenciar o executivo e o legislativo, provocando importantes impactos no mercado.

Agentes dos setores agroalimentar e agroindustrial: Empresas de agroquímicos, Empresas farmacêuticas, Empresas de biotecnologia; Empresas do setor de alimentos – este grupo de atores mobilizam grandes somas de investimentos em pesquisa e infra-estrutura de negócios e têm grande interesse no mercado, não apenas brasileiro, mas também internacional. São os mais submetidos a processos competitivos e por isso muito dependentes de inovação tecnológica e gerencial, para jogar na arena da competição dos negócios. Como inovação tecnológica é um dos fatores chave de incerteza e de transformação, este grupo de atores é talvez, juntamente com as entidades governamentais de regulação e de inovação tecnológica e gerencial, um dos mais influentes a atuar no mercado brasileiro de sementes.

11. 3 Incertezas críticas

A análise de incertezas críticas teve como referência a análise do setor de sementes no Brasil, apresentadas nos Capítulos 6 e 7, e o conhecimento dos especialistas participantes do trabalho. Por definição, é considerado como incerteza crítica - uma variável (ou estrutura, isto é, um conjunto de variáveis) de grande influência sobre o desempenho futuro do sistema em estudo e com baixa previsibilidade de comportamento. A Tabela 11.2 apresenta as incertezas críticas selecionadas pela equipe elaboradora, com algumas explicações sobre os significados de cada uma delas.

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As três primeiras incertezas críticas apresentadas (Lei de propriedade intelectual e quadro regulatório do mercado de sementes, Redução do estado, Biotecnologia) já foram amplamente discutidas no Capítulo 2 deste trabalho. São todas variáveis do contexto do sistema e vão afetar fortemente a inovação, influenciando indiretamente os produtos tecnológicos ofertados ao mercado de sementes. Apresentam variados graus de previsibilidade, pois é atualmente impossível determinar um único cenário futuro para qualquer uma destas variáveis.

As três incertezas críticas seguintes (Dinâmica do processo de inovação biotecnológica; Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia; Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia) são derivadas da questão do avanço da biotecnologia. Na dependência de como este avanço vá se concretizar, pode se traçar diversos cenários futuros para a incorporação de processos biotecnológicos na produção de cultivares para o mercado de sementes, gerando alternativas para a oferta de produtos inovadores ao mercado. Esta dinâmica é ainda pouco clara para se desenhar cenários determinísticos, principalmente no que se refere à posição dos consumidores sobre o uso de produtos gerados a partir do uso de técnicas de biologia avançada, como, por exemplo, a transgenia.

A forma como os atores do mercado de sementes vão se estruturar e suas estratégias de gestão são possíveis fontes de incertezas, como são representadas pelas variáveis: Estratégias corporativas em gestão do negócio de sementes; Integração vertical na indústria (a semente como veículo); Percentual de participação dos setores público e privado. Estas variáveis podem assumir diversos formatos, a partir das alternativas de cenários de outras variáveis anteriormente apresentadas, como, por exemplo, a forma que a propriedade intelectual vai tomar nos próximos anos. As estratégias corporativas podem assumir diferentes feições, a partir dos desdobramentos do marco de referência legal, dos avanços tecnológicos e do próprio comportamento futuro do mercado de sementes e de produtos agrícolas. O posicionamento das organizações no mercado de sementes poderá variar, em função destes fatores e das estratégias adotadas.

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Tabela 11.2. Incertezas críticas do setor de sementes, 2010.

INCERTEZA CRÍTICA DEFINIÇÃO

Lei de propriedade intelectual e quadro regulatório do mercado de sementes

Conjunto de normas para proteção e remuneração da inovação tecnológica em geral e no mercado de sementes em particular. Solidez do quadro regulatório relacionado ao mercado de sementes em relação à Lei de sementes.

Redução do estado Diminuição do tamanho do estado em estrutura e funções. Biotecnologia Ramo da ciência básica baseada no conhecimento do

funcionamento dos componentes celulares, notadamente o DNA e RNA.

Dinâmica do processo de inovação biotecnológica

Velocidade e forma como as inovações biotecnológicas serão geradas pelo sistema de C&T, influenciada por variáveis sociais e econômicas, como por ex., a existência de fundos para a pesquisa em biotecnologia.

Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia

Velocidade e forma como os produtos da inovação biotecnológica serão incorporados no sistema (SNPCS), influenciada por variáveis sociais e econômicas, como por ex., a percepção do consumidor sobre os produtos da biotecnologia.

Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia

Forma como a opinião pública vai se posicionar sobre os produtos da inovação biotecnológica, influenciada por informação, debates e propaganda de grupos contra e a favor dessa inovação.

Estratégias corporativas em gestão do negócio de sementes

Escolhas que as organizações do sistema vão fazer sobre o que produzir (espécies); mercados; regiões; públicos-alvo; padrões de qualidade; mix de serviços e tecnologias; grau de customização no mercado; forma de produção (própria, terceirizada, contrato); forma de comercialização.

Estrutura produtiva de sementes no país

Número de produtores de sementes e de obtentores; grau de formalização contratual; tamanho médio dos empreendimentos (em área, em recursos financeiros); relacionamento entre as empresas.

Custo real da semente (R$) Custo de produção da semente no âmbito do produtor.

Semente competitiva Semente ofertada em volume, preço e qualidade demandados pelo mercado.

Percentual de uso de semente melhorada

Percentuais de uso de sementes melhorada, de uso próprio, contrabandeadas; Eficácia da atuação dos LPC, CDC, CADE/ SDE.

Percentual de participação dos setores público e privado

Percentual de participação no mercado de sementes brasileiro dos setores público e privado (nacional e internacional).

Integração vertical na indústria (a semente como veículo)

Insumo e processamento; Estratégias comerciais e tecnológicas; Posicionamento.

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Uma outra fonte de incerteza é como a estrutura produtiva de sementes vai se conformar nos próximos anos. O futuro das organizações que produzem sementes, como também o resultado da operação destas organizações, é incerto, uma vez que estão submetidas a turbulências de caráter político, econômico, social e tecnológico. Tais turbulências, expressas em parte pelas incertezas críticas anteriormente descritas, podem gerar diferentes cenários de estrutura produtiva, de custos e de qualidade das sementes oferecidas ao agronegócio brasileiro.

Finalmente, todas estas incertezas vão definir como resultado o percentual em que o mercado fará uso de semente melhorada. A semente melhorada é um dos avanços tecnológicos importantes para conferir competitividade aos produtos do agronegócio brasileiro. É possível hipotetizar que maior adoção de sementes melhoradas pelos produtores agrícolas brasileiros deve se relacionar com produtos agrícolas mais competitivos. Todavia, esta taxa de adoção de sementes melhoradas é dependente de todo o conjunto de variáveis componentes da Tabela 11.1, e, conseqüentemente, a partir do desempenho futuro destas variáveis, será possível traçar várias alternativas de futuro para o seu comportamento.

Na seqüência, as incertezas críticas apresentadas foram trabalhadas numa matriz de análise morfológica e foram construídos, a partir desta análise, três cenários alternativos, tomando-se como tema os mesmos cenários do contexto político e econômico brasileiro que foram desenvolvidos como base para o trabalho do Painel Delphi. Recordando, estes cenários foram denominados respectivamente “Aprofundamento da crise econômica e social”, “Avanços e recuos”, “Recuperação acelerada sustentada”. Cada um deles representa uma visão plausível de futuro do contexto do mercado brasileiro de sementes e serviu para posicionar a reflexão sobre o futuro deste mercado.

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11.4 – Cenários do mercado brasileiro de sementes para 2010

11.4.1. Cenário 1 - Aprofundamento da crise econômica e social e o mercado brasileiro de sementes

O contexto político, econômico e social

Pressionado pela longa recessão internacional e pela balança de pagamentos deficitária, que vulnerabiliza o pais, aprofunda-se a crise econômica e social. Há escassez de investimentos externos e o país tem que contar com exportações para manter suas importações estratégicas e atender ao serviço da sua dívida interna e externa. Por outro lado, ocorre um exacerbado fechamento dos mercados externos, com um grande conjunto de medidas protecionistas, pelos principais compradores de commodities brasileiras. Os indicadores econômicos e sociais sofrem declínio, a inflação retorna, gerando programas de controle que restringem os investimentos governamentais, o crédito e o consumo interno. Os acordos regionais (Mercosul e Alca) estão em operação, mas se revelam deletérios para a economia nacional, pois as barreiras protecionistas são mantidas, com prejuízos para a competitividade nacional. A competição por recursos públicos é exacerbada e setores com menor apelo popular e político sofrem as maiores restrições. Há desemprego generalizado e constantes manifestações populares contra o governo. No agronegócio, as prioridades se voltam para as cadeias produtivas exportadoras de commodities, tais como soja, café, e carnes, ao mesmo tempo em que produtos destinados ao abastecimento do mercado interno passam por dificuldades causadas pelo baixo poder aquisitivo do mercado.

Lei de propriedade intelectual e quadro regulatório do mercado de sementes

Há uma crescente rejeição, por parte da opinião pública, a respeito da adesão do país às leis de proteção à propriedade intelectual estabelecidas na década de noventa. Há uma falha total dos mecanismos de fiscalização e nenhum dos detentores de propriedade intelectual consegue auferir os benefícios previstos em lei. Há um descrédito geral na legislação, como mecanismo regulador da propriedade intelectual, razão pela qual novas espécies vegetais não foram incluídas sob o amparo dessas leis.

Devido a um quadro econômico e político desfavorável, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) não consegue se estruturar para dar cumprimento às responsabilidades estabelecidas pelo conjunto da legislação relacionado ao mercado de sementes, nem consegue repassar para os Estados as diversas funções regulatórias estabelecidas nessas legislações.

Redução do estado

Movido por crescentes pressões, tanto da opinião pública, quanto de questões de natureza econômica, o Estado retoma muitas das funções anteriormente privatizadas, mas se mostra incapaz de exercê-las. Muitas das funções regulatórias e fiscalizadoras não são executadas, devido à desarticulação e à baixa capacidade do poder público. A

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estrutura de pesquisa pública se torna gradualmente obsoleta, sem senso estratégico, à mercê da sua própria capacidade de mobilizar recursos. Setores que ainda mantêm alguma capacidade competitiva direcionam o esforço da pesquisa para cadeias produtivas mais dinâmicas.

Biotecnologia

Apesar do grande investimento internacional feito em biotecnologia, durante essa década, e do entusiasmo de centenas de equipes ao redor do mundo, o avanço obtido pela ciência nacional foi muito aquém do esperado. Muitos genomas foram seqüenciados, mas este conhecimento não foi transformado em aplicação prática, em tecnologias que pudessem ser agregadas ao setor produtivo. As aplicações para o melhoramento genético não evoluíram muito, no Brasil, desde o começo da década.

Dinâmica do processo de inovação biotecnológica

A capacidade de investimento dos setores público e privado nacional é muito baixa, levando o país a uma grande dependência de inovações obtidas internacionalmente. Programas nacionais de inovação estão restritos a segmentos de grande interesse privado, para os quais soluções não podem ser importadas. Há progressiva ampliação do uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) incorporados pelas multinacionais, muito embora a validação e os testes de biossegurança no país sejam limitados ou não realizados.

Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia

Há razoável aceitação social dos alimentos transgênicos, embora a fiscalização sobre seus impactos à saúde e ao meio ambiente sejam deficientes. Leis e regulamentos sobre o tema são aprovados, porém a sua implementação e fiscalização ocorrem a passos mais lentos do que o necessário, para garantir a segurança dos alimentos derivados da biotecnologia. Assim, apesar do consumo de organismos geneticamente modificados pela sociedade, os sistemas de fiscalização são pouco eficientes, não conseguindo fiscalizar os cultivos e a adequação da rotulagem de sementes e dos alimentos.

Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia

A deterioração da situação econômica do País desvia a atenção da sociedade para questões e necessidades mais urgentes. A despeito das inovações biotecnológicas ainda despertarem reações contrárias internacionalmente, a oposição a estes produtos se arrefece no País. Permanece a falta de informação e conhecimento sobre o tema na sociedade e inexistem processos regulatórios eficientes. As empresas transnacionais, a despeito da situação econômica do País, se interessam pelo mercado brasileiro, especialmente em função da menor pressão contrária da opinião pública e do potencial de mercado para seus produtos.

Estratégias corporativas em gestão do negócio

As empresas interessadas no negócio de sementes concentram seu foco em poucas commodities de escala e em algumas espécies com alto valor agregado, direcionadas aos mercados interno e externo. A produção de sementes é concentrada no Centro-sul do país, centrada em produtos de adaptação ampla.

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As empresas nacionais de sementes não adotam o padrão mínimo de qualidade exigido por lei, embora este padrão seja pouco rigoroso. Algumas empresas, principalmente as transnacionais, produzem acima deste padrão.

Para algumas commodities e nichos economicamente mais atrativos, as empresas oferecem, além da semente, dos serviços e das tecnologias agregadas (outros insumos, assistência técnica e crédito). O grau de customização de produto é em geral incipiente, com exceção de algumas espécies, como, por exemplo, o milho. Predomina a forma de produção de sementes em área própria, havendo pouca produção terceirizada e contratada. A comercialização das sementes é feita por diversas formas, como venda direta, distribuidores, revendedores e leilões.

Apesar da baixa capacidade geral, o governo ainda é o principal agente de compra e distribuição, para as áreas carentes (N e NE).

Estrutura produtiva de sementes no país

O número de produtores de sementes é baixo, assim como o número de obtentores de cultivares, ocorrendo muita concentração no segmento produtor de sementes. O grau de formalização contratual nas transações do setor é baixo, com pouca observância às clausulas contratadas.

Existe pouca diversidade de tamanhos de empresas, predominando aquelas com alguma capacidade de investimento. As empresas locais/ regionais tendem a desaparecer, predominando empresas de maior porte e com ampla área de atuação.

Decresce a concorrência entre as empresas do setor. Cresce a demanda por envolvimento do setor público, especialmente para atendimento às áreas e aos nichos não atendidos pelo setor privado.

Custo real da semente

O custo médio real da semente tende a decrescer, em função do contexto econômico e do quadro regulatório e normativo incerto, que viabiliza a oferta de produtos de menor qualidade, incluindo produtos ilegais, pressionando o sistema como um todo a ofertar produtos de baixo custo.

Observa-se um aumento do uso de sementes próprias e de grãos, em substituição às sementes melhoradas, o que pressiona adicionalmente os preços das sementes no mercado, com implicações na sua demanda e custo.

Semente competitiva

O sistema produtivo trabalha com taxa de ociosidade, suprindo as necessidades quantitativas do mercado de sementes.

Existe uma baixa relação entre preço de semente e preço de produto, naquelas poucas commodities de escala e nichos de alto valor econômico.

A estratégia das empresas, ao privilegiar produtividade das colheitas, gera produtos que, em alguns casos, não atendem a critérios de qualidade.

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É incipiente a associação entre marca/ imagem e atributos de qualidade, exceto para aquelas empresas tradicionais, especialmente as transnacionais.

Percentual de uso de semente melhorada

Os produtores mais tecnificados, competindo no mercado internacional de commodities, são os principais usuários de sementes melhoradas.

Ampliam-se os nichos de produtores, principalmente pequenos e médios, associados à produção agrícola menos competitiva, que utilizam sementes próprias.

Verifica-se uma grande variação entre regiões e entre espécies, na utilização de sementes melhoradas. As espécies inseridas em cadeias produtivas mais competitivas têm alta taxa de utilização de sementes melhoradas, enquanto espécies alimentares, de consumo popular, sujeitas a menor competição, apresentam baixa taxa de utilização.

Devido à pressão por baixos custos e pouca efetividade dos mecanismos de controle e fiscalização do mercado, cresce a participação de sementes ilegais, incluindo aquelas contrabandeadas.

Percentual de participação dos setores público e privado

O setor público detem uma participação expressiva no mercado de cultivares, porém a sua participação no mercado de sementes é muito pequena, basicamente concentrada nas regiões mais carentes e nos cultivos de forte cunho social. Algumas organizações locais/regionais ainda desenvolvem cultivares, mas sua participação de mercado não é relevante. Ainda mais, há pouca parceria entre empresas públicas no desenvolvimento e na viabilização dos seus produtos no mercado.

O setor privado, nacional e internacional, é amplamente majoritário no setor de sementes de commodities, mesmo utilizando materiais obtidos e desenvolvidos pelo setor público.

O setor público, ainda que precariamente, concentra seus esforços em produtos de importância social e de baixo retorno econômico. O setor mantem alguma competitividade no grande mercado de sementes comerciais, muito embora sua capacidade de investimento em inovação esteja comprometida.

Integração vertical na indústria (a semente como veículo)

Sem nenhuma política governamental para o setor, cresce fortemente a utilização de estratégias de integração vertical pelo setor privado estrangeiro. O setor nacional de sementes comerciais praticamente desaparece. O setor público de pesquisa, em função das dificuldades financeiras e gerenciais, abandona o melhoramento genético de commodities de expressão econômica e se dedica a poucos nichos de espécies sociais.

Internacionalmente, o processo de integração na indústria tende a se acelerar, provocando forte dependência do agronegócio nacional por insumos produzidos pelas multinacionais.

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Funções estratégicas anteriormente sob responsabilidade do setor público passam a ser exercidas pelo setor privado internacional (p. ex., enriquecimento e uso de germoplasma).

11.4.2. Cenário 2 - Avanços e recuos

A instabilidade internacional alterna ciclos freqüentes e de curta duração de calmarias e de turbulências, reduzindo o crescimento econômico e o desenvolvimento mais sustentável. Nesse quadro de períodos de avanços e de recuos, não se criam espaços para atacar os problemas estruturais do País, sendo a defesa da economia e da estabilidade econômica a prioridade política predominante. Face às condições de instabilidade econômica, as dívidas interna e externa crescem. Observa-se pequeno crescimento anual do PIB; os indicadores sociais (queda em taxas de mortalidade, de natalidade, de educação, etc.) mostram pequenos sinais de melhora. Depois de grande confiança e abertura entre mercados, no começo da década, este movimento foi bastante reduzido. As negociações para estabelecimento de blocos regionais prosseguem, de modo lento. O Mercosul está tentando recuperar a credibilidade que perdeu, pela ação descoordenada dos países envolvidos naquele bloco, como conseqüência das várias crises econômicas que assolaram a AL na década. A ALCA ainda depende de várias negociações para estabelecer-se de modo completo. Os benefícios desses acordos, para o país, ainda são pequenos. No agronegócio, busca-se alternativas para alguns (ainda poucos) produtos de valor agregado, mas a pauta de exportação de commodities ainda se configura como bastante importante para o país. O mercado interno recupera lentamente sua importância na economia, e se mostra gradualmente mais exigente, em relação à qualidade e às características especiais dos alimentos.

Lei de Propriedade Intelectual e quadro regulatório do mercado de sementes

Tem aumentado de modo estável, embora lento, o número de espécies vegetais sob amparo da Lei de Proteção de Cultivares; paralelamente, há crescente pressão internacional para que os produtos do melhoramento genético sejam apropriados pela sociedade de modo legal; por outro lado, há grandes dificuldades, por parte dos detentores de direitos sobre cultivares, em exercer a fiscalização que lhes compete, minando assim o atrativo inicial das leis de propriedade intelectual.

Existe um arcabouço regulatório mínimo no setor de sementes. Alguns dispositivos apresentam defeitos, o que, na maior parte das vezes, não têm muita influência no sistema produtivo e de distribuição de sementes. No entanto, mais que os defeitos, o mais importante é o cumprimento da norma legal: por um lado existe um descumprimento por parte dos próprios produtores, que teoricamente seriam os mais beneficiados, e por outro, existe uma incapacidade do setor oficial para cumprir com todas as funções e obrigações que o conjunto da legislação lhe outorga.

O governo continua restringindo suas intervenções na economia ao aspecto regulatório-fiscalizador, por causa da política de ajuste do Estado, para redução do déficit público.

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Todavia, não se consegue definir um balanço claro para os esforços público e privado em diversos setores da economia.

A estrutura de pesquisa pública é mantida nos níveis do início da década. O financiamento público é gradualmente direcionado a prioridades sociais e o esforço em áreas estratégicas do agronegócio é crescentemente dependente da capacidade de mobilização de recursos privados.

Redução do estado

Segue a política de ajuste do Estado, para redução do déficit público; o governo continua restringindo suas intervenções na economia ao aspecto regulatório-fiscalizador, diminuindo sua presença na execução. A estrutura de pesquisa pública é mantida nos níveis do início da década, limitada a áreas estratégicas do agronegócio.

Biotecnologia

O esforço de pesquisa internacional em biotecnologia prossegue em ritmo estável. O país mantém posição competitiva em pesquisa genômica. Embora diversas aplicações do conhecimento tenham sido geradas e testadas, poucas se viabilizaram comercialmente.

Persistem as dúvidas e incertezas com relação à transgenia e intensificam-se os esforços para a aplicação de instrumentos e conceitos biotecnológicos às estratégias convencionais (melhoramento genético, controle integrado de pragas, etc)

Dinâmica do processo de inovação biotecnológica

Apesar da capacidade de investimento limitada, ainda há esforços, público e privado, nacionais para incorporação de inovações da biotecnologia ao desenvolvimento de novas cultivares melhoradas para características relevantes (aumento de produtividade, resistência a doenças, etc.). A expectativa de que os produtos transgênicos devam superar a fase crítica, de não aceitação por ambientalistas e pelo próprio mercado, movem o processo de inovação a passos lentos.

Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia

Os temas relacionados com a biossegurança e com os organismos geneticamente modificados são discutidos pela sociedade, mas os produtos derivados da biotecnologia têm limitada aceitação no mercado doméstico. A inserção do Brasil no comércio internacional se fortalece, uma vez que há poucos países ofertantes de produtos não-transgênicos. Leis e regulamentações sobre o tema são aprovadas e implementadas, com razoável fiscalização e rotulagem de sementes e alimentos.

Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia

As incertezas quanto à economia e ao futuro trazem grandes desconfianças no que concerne à biotecnologia. Há pessimismo e uma crise de confiança em relação às empresas – consideradas imediatistas e pouco comprometidas com valores outros que os de natureza econômica. Há ceticismo em relação aos cientistas, considerados demasiadamente alinhados às estratégias das empresas. Ademais, as inovações biotecnológicas continuam despertando reações contrárias internacionalmente – em

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especial nos países desenvolvidos, o que contribui para alimentar a oposição a esses produtos no País.

Estratégias corporativas em gestão do negócio

O foco das empresas relacionadas com o mercado de sementes é principalmente direcionado para commodities de escala, produzidas para alimentar os mercados interno e externo. A produção de sementes segue concentrada no centro-sul do país, com alguma regionalização, mas ainda fortemente centrada em produtos de adaptação ampla.

A maioria das empresas produtoras de sementes segue o padrão mínimo de qualidade exigido por lei, embora as grandes empresas produzam acima deste padrão.

Para os produtores de commodities de grande expressão comercial no agronegócio brasileiro, as empresas oferecem, além da semente, dos serviços e das tecnologias agregadas (outros insumos, assistência técnica e crédito). O grau de customização de produto é crescente. Permanece em alguns nichos a produção de sementes em área própria, enquanto em outros cresce a produção terceirizada e contratada. A comercialização das sementes é feita por diversas formas, como venda direta, distribuidores, revendedores e leilões. O governo se mantem como comprador e distribuidor de sementes, em especial nas áreas carentes (regiões Norte e Nordeste).

Estrutura produtiva de sementes no país

O número de produtores de sementes e de obtentores de cultivares se estabiliza, sendo suficiente para atender à demanda, muito embora não se estabeleça um alto nível de competição. A concentração se acentua em segmentos competitivos como soja, milho e algodão.

O grau de formalização contratual nas transações é mediano, com razoável observância das clausulas contratadas.

Existe grande diversidade de tamanho de empresas em função dos segmentos atendidos, com pequeno número de empresas de atuação nacional, produtoras de sementes de commodities de grande importância comercial, e grande fragmentação e regionalização nos demais segmentos.

A concorrência entre as empresas privadas do setor se mantem em níveis semelhantes aos da década anterior. Consolidam-se parcerias entre o setor público e o setor privado (pequenos e médios produtores incapazes de investir em inovação).

Custo real da semente

O custo real da semente nos segmentos mais dinâmicos do mercado é crescente, devido ao aumento normal dos custos dos insumos, incluindo-se aí a cobrança das taxas tecnológicas e dos royalties incidentes.

Semente competitiva

Existe um razoável equilíbrio entre oferta e demanda de sementes, em termos quantitativos. As variações de preços estão relacionadas à qualidade das sementes. O produto semente se sofistica, agregando funções e valores. Esta sofisticação do produto

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semente, passa a se traduzir numa crescente associação entre o preço da semente e o preço do produto resultante nas cadeias produtivas. O conceito de marca e imagem, como síntese de atributos e funções de qualidade das sementes, é fortalecido, principalmente nos setores de maior competitividade do agronegócio.

Percentual de uso de semente melhorada

A maior parte dos produtores que utilizam mais intensivamente a tecnologia em seus empreendimentos, inseridos em cadeias produtivas mais competitivas, utiliza sementes melhoradas. Ainda existem produtores que utilizam sementes próprias, principalmente em cadeias produtivas menos competitivas.

Com a implementação de políticas sociais e compensatórias, ocorrida em anos recentes, ampliam-se os nichos de produtores (tradicionais e familiares) que utilizam sementes relativas a variedades locais ou crioulas.

Persiste uma grande variação de comportamento entre regiões e entre espécies, no uso de sementes melhoradas. Espécies inseridas em cadeias produtivas mais competitivas têm alta taxa de utilização de sementes melhoradas, enquanto espécies de cadeias produtivas produtoras de alimentos de consumo popular, apresentam baixa taxa de utilização.

Percentual de participação dos setores público e privado

O setor público detém uma participação decrescente no mercado de cultivares de commodities de cadeias produtivas mais competitivas (soja, milho, algodão) e sua participação no mercado de variedades, de forte cunho social, se mantém alta. Algumas organizações locais e regionais intensificam seu esforço no desenvolvimento de cultivares, mas sua participação de mercado ainda é pequena.

Os cultivares produzidos pelo setor privado de P&D, de natureza nacional e internacional, detêm uma participação majoritária no mercado de sementes de commodities, mesmo utilizando materiais genéticos obtidos e desenvolvidos pelo setor público.

Os cultivares do setor público de P&D mantêm alguma competitividade no mercado de sementes comerciais, muito embora sua capacidade de investimento em inovação seja menor em relação ao setor privado de P&D.

Integração vertical na indústria (a semente como veículo)

O setor público de P&D concentra-se na produção de cultivares e sementes básicas, não possuindo outros produtos no seu portfólio para competir com as estratégias comerciais dos competidores privados. Por isso, é menor a articulação com os componentes das cadeias produtivas.

No setor privado, as empresas transnacionais utilizam estratégias de uso do insumo “semente” como veículo para garantir controle (ou mesmo incorporação) de componentes a jusante e a montante das cadeias produtivas (integração vertical), colocando exigências técnicas específicas para os processos de produção agrícola, de produção agroindustrial e de comercialização e distribuição.

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As poucas empresas nacionais de sementes ainda atuantes no mercado não apresentam capacidade de integração vertical e competitividade frente às empresas privadas transnacionais.

Os consumidores de sementes de commodities de grande importância econômica são induzidos a aceitar “pacotes” integrados de insumos e serviços, apresentados como mais eficientes e de melhor qualidade, o que fortalece o movimento de integração vertical.

11.4.3. Cenário 3 - Recuperação acelerada sustentada

Depois do choque na economia mundial, no início da década, que provocou inicialmente uma recessão mundial, as economias mais importantes do planeta estão em fase de crescimento estável e sustentado. Nesse período, o Brasil fortaleceu enormemente seu mercado interno, reduzindo paralelamente a dependência de investimentos estrangeiros. Por outro lado, estes investimentos têm crescido aceleradamente, como conseqüência do tamanho do mercado consumidor, pelas condições de segurança oferecidas pelo país, e pelo menor risco para estes investimentos. Os indicadores sociais apresentam acentuadas melhoras, quando comparados aos da década passada. A mão-de-obra sofreu sensível qualificação, e o País tem hoje, em sua pauta de exportações, um portfólio considerável de produtos com maior valor agregado. Os acordos regionais (Mercosul e Alca) estão consolidados, com grandes benefícios para a exportação e o turismo nacional, mas também novos desafios para a competitividade dos produtos brasileiros. Mundialmente, cresce a abertura de mercados, iniciada ao final dos anos noventa, com menor número de medidas protecionistas nos principais países compradores. O agronegócio tem experimentado também crescente demanda, e diversifica sensivelmente a sua pauta de produtos de valor agregado, como conseqüência das maiores exigências do mercado consumidor interno, do acesso a alimentos mais sofisticados por uma maior parte da população, do número crescente de compradores externos e do enorme avanço da indústria do turismo, a qual agregou 30% a mais de consumidores destes produtos, nos últimos cinco anos.

Lei de Propriedade Intelectual e quadro regulatório do mercado de sementes

O conceito e a legislação de propriedade intelectual são amplamente aceitos e manejados pela sociedade brasileira. A maioria das espécies vegetais de interesse econômico para o agronegócio brasileiro está sob o amparo destas leis. A fiscalização das cultivares protegidas, a cargo dos detentores, foi totalmente resolvida pela criação de associações com essa finalidade, ágeis e eficientes, entre as empresas de P&D que militam no negócio. Dessa maneira, estas empresas têm obtido retorno aos seus investimentos, pela aplicação da Lei.

A legislação se consolida, com base na evolução da lei de sementes e seu regulamento, da Lei de Proteção de Cultivares e de portarias ministeriais, dando forma ao sistema nacional pretendido pela nova legislação de sementes. A norma de produção de semente

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certificada da OECD passa a ser conhecida pela grande maioria dos potenciais exportadores de sementes e é bem aplicada pela autoridade oficial.

Redução do estado

A crise de prestação de serviços estatais (relativos à segurança, à saúde, à educação, à inovação tecnológica e aos serviços essenciais, como fornecimento de energia e comunicações), fez emergir, em nível mundial, a necessidade de um Estado mais eficiente e com maior poder de intervenção nas funções essenciais.

A pesquisa pública em segmentos estratégicos é considerada como fator de desenvolvimento, e, por isso, é fortalecida. Aproveitando-se da imagem positiva de eficiência e eficácia institucional, que a Embrapa desenvolveu ao longo da sua existência, a pesquisa agropecuária é fortalecida em todo o País, e não apenas na Embrapa. Esta última, em função do momento favorável, consegue conduzir a transição interna da primeira geração de pesquisadores, que chegam aos seus limites de tempo de serviço, para uma nova e revigorada geração de talentos científicos e tecnológicos.

Biotecnologia

A partir da metade da década, observou-se mundialmente um crescimento exponencial do conhecimento básico e aplicado, derivado da biotecnologia. O uso integrado da nanociência, da bioinformática e da biogenética tem gerado inúmeros novos processos e produtos que beneficiam enormemente a agricultura, e particularmente, o processo de melhoramento genético no país.

Dinâmica do processo de inovação biotecnológica

O investimento mundial e nacional é cada vez mais intenso, em biotecnologia, no desenvolvimento de novas variedades, cultivares e a conseqüente produção de sementes e mudas. Intensificam-se os programas de inovação biotecnológica, à medida que os produtos se mostram eficazes para substituir com vantagem produtos existentes e obter respostas para problemas não solucionados. Os progressos da biotecnologia avançada e da bioinformática aumentam as possibilidades de respostas biotecnológicas a estas oportunidades. A biodiversidade brasileira também contribui para o aumento das alternativas para expansão da biotecnologia.

Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia

Os temas relacionados com a biossegurança e com os organismos geneticamente modificados são intensamente discutidos e debatidos, e um maior investimento em pesquisa e validação desses produtos ameniza a resistência no mercado interno. O processo de concentração e integração vertical encontra resistência no âmbito dos governos e da sociedade, restringindo a formação de grandes conglomerados hegemônicos. Além disso, ele aumenta a capacidade de zoneamento e segregação de produtos, permitindo a inserção do Brasil no comércio internacional de produtos modificados e não-modificados. Leis e regulamentações sobre o tema são aprovadas e implementadas. Os sistemas regulatórios realizam uma efetiva administração dos riscos apontados dessa inovação, incluindo forte fiscalização e rotulagem de sementes e de alimentos.

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Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia

Com a situação da economia mais tranqüila, e o país em período de crescimento, a sociedade, mais informada e mobilizada, está cada vez mais crítica em relação à segurança alimentar e ambiental. Apesar de ainda haver desconfiança e mobilização contra inovações biotecnológicas, no plano mundial, a grande disponibilidade e fluxo de informações e conhecimentos sobre a segurança destas, reduz as desconfianças e a resistência à incorporação de inovações da biotecnologia no Brasil. Aumenta a confiança da sociedade em relação às empresas e aos cientistas envolvidos com a pesquisa e os negócios em biotecnologia, o que facilita por parte destes, um posicionamento mais claro em relação à segurança de seus produtos oriundos da biotecnologia, para a saúde e o meio ambiente.

Estratégias corporativas em gestão do negócio

Com o avanço do mercado interno e externo de commodities, essas começam a se transformar, gerando grandes segmentos de mercado com produtos diferenciados. A essas, adicionam-se novas espécies com valor comercial, criando-se novos nichos de mercado.

Por esta causa, diversifica-se ainda mais o foco do mercado interno de sementes, com mais empresas dedicando-se à pequena produção, nichos e segmentos, para o mercado interno e para um incipiente mercado externo de sementes.

A qualidade da semente melhora, por pressão do mercado de um mercado mais segmentado e pressionado pela competição existente nas cadeias produtivas.

As empresas oferecem aos seus clientes serviços específicos agregados à semente, com alto grau de customização.

As empresas dedicadas a commodities de alto valor econômico, recorrem cada vez mais à produção de sementes contratada e, ou, licenciada, enquanto as empresas regionais ou especializadas adotam a produção própria.

Predomina a comercialização das sementes por venda direta, em função do avanço das tecnologias de informação (e-commerce) e da contratação da produção. O governo já não atua como comprador ou distribuidor.

Estrutura produtiva de sementes no país

O número de produtores de sementes é crescente, no entanto persiste a concentração em segmentos de grande volume e competitividade. Aumenta também o número de obtentores de cultivares.

O grau de formalização contratual é crescente nas transações do mercado de sementes, com observância das cláusulas contratadas.

Existe grande diversidade de tamanhos de empresas, porém com áreas de atuação mais restritas para as regionais e as entrantes no mercado.

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A concorrência entre as empresas privadas do setor é intensificada. Aumenta a cooperação entre o setor público e o privado, e no setor público as parcerias se consolidam.

Custo real da semente

O custo real da semente se mantém estável e relativamente baixo, devido ao aumento da eficiência do setor produtivo de sementes e à redução na cobrança de royalties e das taxas tecnológicas, em função da atuação ativa do setor público de P&D, como fator de regulação do mercado.

Semente competitiva

Existe equilíbrio entre oferta e demanda no mercado de sementes, em termos quantitativos. O preço da semente é determinado pela sua qualidade. O produto semente se sofistica fortemente, agregando funções e atributos. Pelo alto valor intrínseco da semente, não há uma associação entre o preço desta e o preço do produto resultante. O conceito de marca/ imagem como síntese de atributos e de funções de qualidade é fortalecido.

Percentual de uso de semente melhorada

A grande maioria dos produtores utiliza regularmente sementes melhoradas. Ao mesmo tempo, aumenta gradualmente o seu uso pelos produtores (tradicionais e familiares), reduzindo o uso de sementes próprias não melhoradas, o que contribui para a melhoria da eficiência do agronegócio. Diminui a variação entre regiões, e entre espécies, no uso de sementes melhoradas.

Percentual de participação dos setores público e privado

O setor público detém uma participação pequena, e estável, no mercado de cultivares de commodities de alto valor econômico (soja, milho, algodão) e sua participação no mercado de variedades, de forte cunho social, se mantém alta. Algumas organizações locais e regionais intensificam seu esforço no desenvolvimento de cultivares, mas sua participação de mercado é restrita aos seus limites geográficos de atuação.

O setor privado de P&D, nacional e internacional, tem participação majoritária no mercado de cultivares e de sementes de commodities, mesmo utilizando materiais obtidos e desenvolvidos pelo setor público.

A P&D se fortalece, de uma maneira geral, a partir de uma série de eventos favoráveis, tais como: a) mais cultivares desenvolvidas; b) maior uso de sementes melhoradas pelos produtores; c) maior confiança do produtor agrícola no sistema de certificação; d) maior respeito aos direitos do obtentor da cultivar; e) novas possibilidades de exportação, pela abertura de novos mercados no exterior. O setor privado de P&D consegue se apropriar de mais vantagens oferecidas por esta conjuntura favorável.

Integração vertical na indústria (a semente como veículo)

O governo preocupa-se com a crescente transnacionalização do setor de sementes e resolve interferir a favor do setor de produção nacional de sementes. Com base em investimentos governamentais, o setor estrutura-se e torna-se capaz de enfrentar a

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concorrência de empresas privadas estrangeiras. Começa também a adotar estratégias de integração vertical, reduzindo os espaços ocupados pelo setor privado multinacional.

A pesquisa pública fortalece seus laços com o setor privado nacional, e se mostra capaz de produção continuada de cultivares e sementes básicas de interesse do setor, ao mesmo tempo em que desenvolve melhoramento genético focado nas espécies de interesse do desenvolvimento social.

11.5 – FORMULANDO ESTRATÉGIAS TECNOLÓGICAS PARA O MERCADO DE SEMENTES

Os cenários apresentados nas seções anteriores são uma base conceitual para a formulação de estratégias de diversas naturezas. É possível formular estratégias para a competitividade, considerando-se os diversos atores interessados em explorar este mercado. Pode-se também derivar estratégias de desenvolvimento de políticas públicas, visando o interesse do País. É possível se elaborar estratégias de negócios, no plano individual das organizações públicas e privadas competindo neste mercado. Finalmente, é possível derivar estratégias para a gestão tecnológica nas organizações públicas e privadas de P&D, que atualmente geram produtos tecnológicos direcionados para este mercado.

Todavia, a formulação de estratégias foge aos objetivos desse trabalho. Tal atividade envolveria a análise do ambiente interno da organização para qual a estratégia seria construída, o que implicaria num processo formal e participativo de planificação estratégica. Como tal exercício demanda um processo especifico, resta assinalar alguns elementos nos cenários elaborados, que podem apresentar maior relevância em um processo de elaboração de estratégias. Dado o interesse central desse trabalho, estes elementos são principalmente relacionados com a formulação de estratégias de gestão tecnológica em uma organização de P&D.

Alguns elementos apresentam maior relevância para esta finalidade, tanto dentre os atores envolvidos, que podem influenciar o sentido dos acontecimentos futuros, representados nos diversos cenários, como dentre as variáveis críticas definidoras dos cenários alternativos elaborados. Estes elementos são sinteticamente apresentados a seguir.

11.5.1 – Atores mais influentes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica

As organizações de P&D pública e privada são os principais protagonistas desse mercado, uma vez que o mesmo é extremamente dependente de inovação tecnológica, que é gerada por essas organizações. Em determinados segmentos de maior peso econômico, principalmente aqueles dedicados à exportação de commodities agrícolas, é provável que se estabeleçam processos de competição entre os setores público e privado de P&D, enquanto em segmentos de menor densidade econômica, o setor público deva assumir a ausência e o desinteresse do setor privado. É ainda possível o estabelecimento de cooperação, mesmo em segmentos economicamente mais densos, em função de

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interesses estratégicos das organizações. Conseqüentemente, a formulação de estratégias em organizações de P&D de múltiplos campos de atuação, como a Embrapa, exigirá a eleição de alguns eixos estratégicos gerais, aplicáveis a todo o sistema, e a formulação de estratégias específicas, para cobrir situações de segmentos produtivos do agronegócio. Esta, inclusive, tem sido a forma de se organizar o processo de formulação de estratégia na Empresa.

Além de se monitorarem entre si, as organizações de P&D deverão estar acompanhando a atuação das ONGs e outros segmentos da sociedade civil organizada, tais como ETC, GreenPeace, SlowFood, IDEC, AS-PTA. Pela sua capacidade de mobilização da sociedade e dos meios de comunicação de massa, estes atores podem modificar as demandas tecnológicas e a própria aceitação dos produtos tecnológicos produzidos pela P&D. O avanço da biotecnologia e a questão ambiental são dois óbvios exemplos de temas de alto interesse para a formulação de estratégias e de grande foco de atenção por parte desses atores.

Os consumidores finais (segmentos de consumidores) e os produtores rurais (consumidores de sementes) são outros atores de grande relevância para a formulação de estratégias de gestão tecnológica. Os últimos já são objeto preferencial de atenção por parte das organizações de P&D, não havendo dúvidas que serão influentes na formulação de estratégia. Todavia, os consumidores finais, embora fonte primária de demandas, têm sido menos considerados como influentes neste processo. Muitas decisões sobre estratégias de gestão tecnológicas serão balizadas por idiossincrasias de consumidores de alimentos, razão pela qual a P&D deverá intensificar seus esforços para aumentar a compreensão das necessidades desses atores.

Finalmente, a formulação de estratégias deverá considerar a evolução da atuação dos órgãos reguladores e fóruns internacionais, tais como OMC, UPOV, ISTA (International Seed Testing Association), AOSCA (Association of Seed Certification Agencies), Federação Internacional de Sementes, OECD. Pela sua capacidade de elaborar normas e regulamentos que se tornam diplomas legais no País, estas organizações internacionais podem modificar o equilíbrio de forças internos entre organizações de P&D, modificando as estratégias de cada uma delas.

Os atores mencionados atuarão modificando o comportamento de variáveis críticas para o desempenho do mercado de sementes, gerando oportunidades e ameaças para a P&D pública e privada. As principais variáveis pertinentes para a gestão tecnológica da P&D serão brevemente examinadas.

11.5.2 – Variáveis mais importantes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica

Os cenários anteriormente apresentados foram construídos a partir de treze variáveis, que foram consideradas muito importantes para o desempenho do mercado de sementes e de alto grau de incerteza. Contudo, nem todas estas variáveis têm a mesma importância para a formulação de estratégias para a gestão tecnológica nas organizações públicas e privadas de P&D, que atualmente geram produtos tecnológicos direcionados para este mercado.

Ao determinar importância estratégica de variáveis, automaticamente se indica variáveis que devem receber maior atenção futura, tanto para a formulação de estratégias, quanto para a gestão estratégica da P&D. Embora todas as variáveis contempladas nos cenários

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elaborados sejam importantes, algumas delas destacam-se, por apresentarem maior influência sobre os processos e produtos tecnológicos das organizações de P&D. Elas são: a) Redução do Estado; b) Biotecnologia (Dinâmica do processo de inovação biotecnológica, Dinâmica de mercado para produtos baseados na biotecnologia, Percepção pública em relação aos produtos da biotecnologia); c) Semente Competitiva; d) Percentual de uso de semente melhorada. A variável “Redução do Estado” terá impacto direto sobre a P&D pública e indireto sobre a relação P&D pública/ privada. A partir dos desdobramentos futuros dessa variável, a P&D pública poderá atravessar tempos de extrema fragilidade ou se fortalecer, mantendo-se como um importante fonte de apoio à competitividade do agronegócio brasileiro. Em função dos cenários traçados, as estratégias para o setor público podem variar de estratégias de sobrevivência à estratégias para ocupação de novos nichos e de manutenção dos atuais posicionamentos. A P&D privada poderá se beneficiar da crise econômica, ocupando espaços deixados pela P&D pública, mas será igualmente prejudicada, pela redução do volume de negócios que um ambiente social e econômico poderá trazer. A questão da biotecnologia é central para o futuro do mercado de sementes e se expressa de diversas formas. Além da evolução do conhecimento básico neste tema, terão influência no mercado de sementes a forma como a produção científica da biotecnologia se transformará em tecnologia e será incorporada como inovação no mercado. A percepção pública sobre estes produtos poderá se constituir em força propulsora ou restritiva a estes avanços, dependendo de como a opinião pública venha a se posicionar em relação a esta questão, nos próximos anos. Dado ao alto grau de incerteza relacionado com todas estas variáveis, é possível elaborar muitas estratégias alternativas para a P&D pública se posicionar em relação a esta questão. O avanço da biotecnologia, processos, produtos, capacidades e infra-estruturas de P&D para apoiar a atividade foram detalhadamente estudados e apresentados nos Capítulos 9 e 10. Fica claro por aqueles resultados que as estratégias devem variar em função dos cenários do contexto e da natureza das organizações de P&D, públicas ou privadas. É também patente que qualquer plano estratégico de gestão tecnológica direcionado para o mercado de sementes, deverá contemplar intensamente este conjunto de variáveis. A variável “Semente Competitiva” é importante para a estratégia de gestão tecnológica da P&D pública por representar o veículo para a difusão e transferência de tecnologia. Grande parte da produção tecnológica da P&D é veiculada na semente melhorada e em outros materiais de propagação de plantas. Conseqüentemente, características de qualidade de produto e eficiência produtiva são geradas e transferidas ao setor produtivo via sementes. A semente básica é também uma fonte alternativa de ingressos de recursos financeiros para o custeio da P&D pública. A semente competitiva é ainda um indicador de posicionamento estratégico no mercado de sementes. Pela percentagem de adoção de determinadas cultivares, é possível identificar o posicionamento estratégico da P&D pública e privada, extraindo-se inferências sobre a eficácia organizacional. A partir desse conhecimento, é possível definir estratégias de ocupação de mercados, de cooperação e competição entre as

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organizações de P&D, de forma a alcançar o melhor atendimento do consumidor de sementes. Finalmente, uma variável importante para todas as organizações de P&D atuantes em melhoramento genético, é a que determina o percentual de uso de sementes melhoradas pelos produtores do agronegócio. Embora esta variável não seja afetada unicamente pelo desempenho da P&D, certamente este desempenho, produzindo cultivares de alta eficiência e qualidade, apresentará forte influência sobre a adoção de sementes melhoradas. Como conseqüência, a formulação de estratégias de P&D deverá monitorar e tentar incrementar esta taxa de inovação, em qualquer cenário futuro.

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Capítulo 12 Conclusões: Onde Vai o Melhoramento Genético de Plantas e o Mercado de Sementes no Brasil? Foi esta pergunta o fato gerador deste trabalho. A questão se justifica, pela elevada incerteza que as transformações, apontadas no Capítulo 2, geram para as organizações e para os profissionais envolvidos no melhoramento genético vegetal e no mercado de sementes brasileiro. Como conclusão, vale sintetizar o que foi coletado de informação disponível, do conhecimento tácito e das percepções dos profissionais de grande experiência que militam neste setor.

A síntese será apresentada considerando os grandes subsistemas do SNPCS: a) o subsistema que gerencia o germoplasma e conseqüentemente é responsável pela base genética para o melhoramento; b) o subsistema de P&D em melhoramento genético, no qual poderão ser criadas as oportunidades para novos negócios; c) o subsistema mercado de sementes, no qual o melhoramento genético exercerá a sua influência.

12.1 - Amplitude da base genética

A visão do painel em relação à capacidade do setor público de P&D de acesso a organismos portadores de variabilidade genética é em geral pessimista. Para o setor privado a visão do painel é mais otimista, o que indica melhoria na capacidade de acesso, em especial em um cenário tendencial ou mais favorável. As estimativas de acesso a organismos portadores de variabilidade genética são afetadas pelos cenários, em diferentes graus.

Tanto atualmente, quanto no futuro, a percepção é que o acesso é mais intenso para o setor público, o que confirma a visão de que cabe prioritariamente a este setor a responsabilidade pela manutenção de acervo estratégico de variabilidade genética.

Deverá crescer a importância estratégica do conhecimento sobre a variabilidade útil para o melhoramento genético e para o desenvolvimento de cultivares, com tendência geral de melhor desempenho, quanto ao acesso, do setor privado em relação ao setor público. A visão do painel é, em geral, otimista, tanto para o setor público quanto para o setor privado de P&D. O conhecimento futuro cresce nos dois setores, no cenário otimista;, cresce ou mantém-se constante no cenário tendencial, e decai em ambos, no cenário mais pessimista.

Apesar da visão otimista nas estimativas de acesso a conhecimento, não se detectou percepção de posicionamento hegemônico de qualquer dos dois setores de P&D para os segmentos de mercado analisados, o que indica expectativa de grande ênfase em acesso a informação e conhecimento acerca da variabilidade genética, especialmente em cenários mais favoráveis.

As tendências indicadas pelo painel mostram bastante coerência com a percepção geral acerca do estado atual e expectativas futuras sobre o intercâmbio de materiais genéticos. As

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avaliações de intercâmbio entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, mais que o dobro que as avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Por outro lado, a visão é pessimista quando se considera as outras formas de intercâmbio, com expectativa de redução entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores. A exceção é para o cenário otimista, onde o intercâmbio apenas se mantém nos níveis atuais.

O intercâmbio no setor público é o mais intenso, enquanto é o menos intenso, em todas as situações, no setor privado. Mesmo num cenário otimista, o intercâmbio dentro do setor privado diminuiria.

As avaliações de intercâmbio de conhecimento entre organizações do setor público são, em qualquer cenário, consistentemente maiores que as avaliações obtidas nas demais formas de intercâmbio. Este tipo de intercâmbio no ambiente público no presente jamais é superado por qualquer outro tipo de intercâmbio em qualquer dos cenários. A visão futura é de consistente redução de intercâmbio entre organizações do setor privado de P&D e entre organizações dos dois setores, qualquer que seja o cenário. Há a expectativa que o intercâmbio de informações no setor privado seja reduzido, o que indica tendência de acirramento da competição por informações e conhecimentos estratégicos no setor privado.

As estimativas de intensidade de uso de cultivares no melhoramento genético indicam situação bastante semelhante dos setores público e privado de P&D, com ligeira maior utilização para o último, especialmente nos segmentos mais competitivos (soja e milho) e num cenário mais otimista.

Surpreendem as estimativas de intensidade média a alta de utilização desta fonte de variabilidade pelo setor público, considerando que seria esperado que este setor se dedicasse a acessar novas fontes de variabilidade, aumentando o pool de recursos disponíveis e contribuindo para reduzir o perigo de estreitamento da base genética.

Em síntese, a amplitude da base genética disponível para o melhoramento genético no setor público de P&D é maior, em relação ao setor privado, para todos os cenários considerados. A diferença em favor do setor público é mais acentuada no presente e menor nos cenários tendencial e otimista.

12.2 - Novos negócios – processos

Todos os processos de melhoramento genético crescem em importância, no futuro, em relação à situação atual, nos dois setores de P&D. As exceções se referem aos processos de coleta e introdução, de conservação de germoplasma e de seleção, que permanecerão com importância igual à atual, no setor privado. Há processos para os quais a importância será superior para o setor público (coleta/ introdução e conservação de germoplasma); o oposto se verifica para transgenia e hibridação somática (importância futura maior para o setor privado).

Em geral, o crescimento em importância dos processos, em relação à situação atual, é a mesma para os dois setores ou superior para o setor público. As exceções são para os processos de genômica funcional, de transgenia, de hibridação somática, de clonagem e

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de uso de nanometodologias, cujo crescimento em importância será superior no setor privado.

Os setores se diferenciam, em relação ao domínio atual dos diferentes processos. O setor público tem maior domínio, atualmente, dos processos de coleta, introdução e conservação de germoplasma. O setor privado é superior no domínio de transgenia.

Em relação ao domínio futuro, a percepção é que o setor público continuará bem superior no domínio da coleta e introdução de germoplasma; o setor privado, além da transgenia, terá domínio bem mais elevado do que o setor privado em genômica funcional. Estabelecimento de caracteres, genômica estrutural, proteômica terão domínio marcadamente maior do que atualmente, para ambos os setores; o setor privado irá crescer bastante em seu domínio de genômica funcional, enquanto que o setor público terá marcante crescimento em seu domínio de transgenia.

Em geral, existem mais processos com maior necessidade de desenvolvimento de competências no setor público que no setor privado. Nesta faixa, os dois setores compartilham cinco processos. Na faixa de necessidades mais altas, o setor público apresenta maior necessidade que o setor privado em relação aos processos de transgenia e caracterização de germoplasma.

O setor privado apresenta maior número de processos na faixa mais baixa de necessidade de desenvolvimento de competências do que o setor público. Ambos os setores compartilham idêntica e baixa necessidade de desenvolvimento de competências em cinco processos.

Em geral, as avaliações indicam que o setor privado tem mais disponibilidade de suporte técnico-operacional que o setor público, na situação atual e nos diversos cenários apresentados. As avaliações são dependentes dos cenários, observando-se menor disponibilidade de suporte no cenário mais pessimista e maior, no cenário otimista. Tanto para o setor público como para o setor privado de P&D, as avaliações sobre suporte são mais favoráveis quando se referem a processos mais tradicionais do que aqueles derivados da biotecnologia moderna.

Os setores público e privado compartilham maior necessidade de investimento nos mesmos processos: proteômica, genômica estrutural e funcional, estabelecimento de bancos de caracteres e uso de nanometodologias.

De igual modo, os dois setores apresentam menores necessidades de investimento nos processos de cruzamento e seleção, de avaliação de novos genótipos, de conservação de germoplasma e de coleta e conservação de germoplasma.

Todos os produtos tecnológicos (variedades comerciais, híbridos e clones) apresentam alto potencial, para os dois setores de P&D; os híbridos se destacam, entre estes produtos, como os de maior potencial para o setor privado do que para o setor público.

Entre os produtos pré-tecnológicos, o setor público pode considerar todos (à exceção de “cruzamentos”), como base para novos negócios tecnológicos. Para o setor privado, apenas genes, linhagens e bancos de informação genômica apresentam maior potencial.

Entre os produtos pré-tecnológicos, “bancos de caracteres” apresentam maior potencial para o setor público; enquanto “genes” teriam maiores probabilidades como base de novos

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negócios, no setor privado. O setor público possui elevado domínio dos processos necessários à obtenção de populações, de cruzamentos e de linhagens; o setor privado apresenta elevado domínio destes dois últimos produtos.

Os dois setores de P&D possuem alto domínio para todos os produtos tecnológicos (variedades comerciais, híbridos e clones); A exceção são os híbridos, nos quais o domínio é maior no setor privado do que no setor público.

No futuro, todos os processos necessários à obtenção de produtos do melhoramento genético – tecnológicos e pré-tecnológicos – estarão dominados, nos dois setores, na visão dos painelistas.

Tanto no setor público como no privado, deve-se investir no desenvolvimento de competências relativas a: a) bancos de caracteres; b) genes; c) bancos de informação genômica. Ambos os setores devem também manter as competências disponíveis nos demais processos necessários à obtenção dos demais produtos de seu portfólio.

Na visão dos painelistas, apresentam potencial mais elevado para o setor público de P&D, os produtos tecnológicos que causem impactos no aumento de produtividade agrícola ou que se constituam em fontes de energia renováveis, baratas e não-poluentes. Há todavia, uma gama de oportunidades de menor potencial, porém com possibilidades para uma atuação setorial.

Para o setor privado, já existe um mais amplo espectro de produtos com potencial mais elevado: os que permitam maior produtividade, integração de características, maior qualidade nutricional e menor perecibilidade; os que produzam amidos, proteínas e óleos ou substâncias terapêuticas e, ou, antioxidantes; e árvores com crescimento acelerado.

12.3 - O mercado de sementes

Os cenários apresentados no Capítulo 11 são indicadores do futuro desse mercado no horizonte de tempo estudado. Por isso, representam uma base conceitual para a formulação de estratégias de diversas naturezas. É possível formular estratégias para a competitividade, estratégias de desenvolvimento de políticas públicas, estratégias de negócios e estratégias para a gestão tecnológica nas organizações públicas e privadas de P&D.

Alguns elementos apresentam maior relevância para a formulação de estratégias de gestão tecnológica em uma organização de P&D, tanto dentre os atores envolvidos, como dentre as variáveis críticas definidoras dos cenários alternativos elaborados. Estes elementos são sinteticamente apresentados a seguir.

12.3.1 – Atores mais influentes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica As organizações de P&D pública e privada são os principais protagonistas desse mercado, uma vez que o mesmo é extremamente dependente de inovação tecnológica, que é gerada por essas organizações. Em determinados segmentos de maior peso econômico, principalmente aqueles dedicados à exportação de commodities agrícolas, é provável que se estabeleçam processos de competição entre os setores público e privado de P&D, enquanto em segmentos de menor densidade econômica, o setor público deva assumir a ausência e o

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desinteresse do setor privado. É ainda possível o estabelecimento de cooperação, mesmo em segmentos economicamente mais densos, em função de interesses estratégicos das organizações. Conseqüentemente, a formulação de estratégias em organizações de P&D de múltiplos campos de atuação, como a Embrapa, exigirá a eleição de alguns eixos estratégicos gerais, aplicáveis a todo o sistema, e a formulação de estratégias específicas, para cobrir situações de segmentos produtivos do agronegócio.

Além de se monitorarem entre si, as organizações de P&D deverão estar atentas à atuação das ONGs e outros segmentos da sociedade civil organizada, tais como ETC, GreenPeace, SlowFood, IDEC, AS-PTA. Pela sua capacidade de mobilização da sociedade e dos meios de comunicação de massa, estes atores podem modificar as demandas tecnológicas e a própria aceitação dos produtos tecnológicos produzidos pela P&D. O avanço da biotecnologia e a questão ambiental são dois óbvios exemplos de temas de alto interesse para a formulação de estratégias e de grande foco de atenção por parte desses atores.

Os consumidores finais (segmentos de consumidores) e os produtores rurais (consumidores de sementes) são outros atores de grande relevância para a formulação de estratégias de gestão tecnológica. Os consumidores finais, embora fonte primária de demandas, têm sido menos considerados como influentes neste processo. Muitas decisões sobre estratégias de gestão tecnológicas serão balizadas por idiossincrasias de consumidores de alimentos, razão pela qual a P&D deverá intensificar seus esforços para aumentar a compreensão das necessidades desses atores.

Finalmente, a formulação de estratégias deverá considerar a evolução da atuação dos órgãos reguladores e fóruns internacionais, tais como OMC, UPOV, ISTA (International Seed Testing Association), AOSCA (Association of Seed Certification Agencies), Federação Internacional de Sementes, OECD. Pela sua capacidade de elaborar normas e regulamentos que se tornam diplomas legais no País, estas organizações internacionais podem modificar o equilíbrio de forças internos entre organizações de P&D, modificando as estratégias de cada uma delas.

12.3.2 – Variáveis mais importantes para a formulação de estratégia de gestão tecnológica Embora todas as variáveis contempladas nos cenários elaborados sejam importantes, algumas delas destacam-se, por apresentarem maior influência sobre os processos e produtos tecnológicos das organizações de P&D.

A variável “Redução do Estado” terá impacto direto sobre a P&D pública e indireto sobre a relação P&D pública/ privada. Em função dos cenários traçados, as estratégias para o setor público podem variar de estratégias de sobrevivência à estratégias para ocupação de novos nichos e de manutenção dos atuais posicionamentos. A P&D privada poderá se beneficiar da crise econômica, ocupando espaços deixados pela P&D pública, mas será igualmente prejudicada, pela redução do volume de negócios que o ambiente social e econômico poderá trazer.

A questão da biotecnologia é central para o futuro do mercado de sementes e se expressa de diversas formas. Além da evolução do conhecimento básico neste tema, terá influência no mercado de sementes a forma como a produção científica da biotecnologia se transformará

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em tecnologia e será incorporada como inovação no mercado. A percepção pública sobre estes produtos poderá se constituir em força propulsora ou restritiva a estes avanços, dependendo de como a opinião pública venha a se posicionar em relação a esta questão, nos próximos anos.

A variável “Semente Competitiva” é importante para a estratégia de gestão tecnológica da P&D pública por representar o veículo para a difusão e transferência de tecnologia. Grande parte da produção tecnológica da P&D é veiculada na semente melhorada e em outros materiais de propagação de plantas. Conseqüentemente, características de qualidade de produto e eficiência produtiva são geradas e transferidas ao setor produtivo via sementes. A semente básica é também uma fonte alternativa de ingressos de recursos financeiros para o custeio da P&D pública.

A semente competitiva é ainda um indicador de posicionamento estratégico no mercado de sementes. Pela percentagem de adoção de determinadas cultivares, é possível identificar o posicionamento estratégico da P&D pública e privada, extraindo-se inferências sobre a eficácia organizacional. A partir desse conhecimento, é possível definir estratégias de ocupação de mercados, de cooperação e competição entre as organizações de P&D, de forma a alcançar o melhor atendimento do consumidor de sementes.

Finalmente, uma variável importante para todas as organizações de P&D atuantes em melhoramento genético, é a que determina o percentual de uso de sementes melhoradas pelos produtores do agronegócio. Embora esta variável não seja afetada unicamente pelo desempenho da P&D, certamente este desempenho, produzindo cultivares de alta eficiência e qualidade, apresentará forte influência sobre a adoção de sementes melhoradas. Como conseqüência, a formulação de estratégias de P&D deverá monitorar e tentar incrementar esta taxa de inovação, em qualquer cenário futuro.

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Page 372: APOSTILA EMBRAPA

371

ANEXO 1: Questionário para os produtores de sementes

Page 373: APOSTILA EMBRAPA

372

Questionário: Situação do sistema de produção/comercialização de sementes

Estado em que está sediada a firma:

GO ( ) MG ( ) MS ( ) MT ( ) PR ( ) RS ( ) SP ( ) SC ( ) Ano de entrada no negócio: 19____ ou 20____ Em 1997, foi promulgada a lei de proteção de cultivares. É possível que sua edição tenha provocado

algumas mudanças, a partir daquele ano, no seu relacionamento com os fornecedores de sementes básicas (variedades ou cultivares). As perguntas seguintes tentam identificar que mudanças ocorreram. Por essa razão, elas se relacionam a dois períodos, antes e depois de 1997,

ano da promulgação da lei.

Atenção! É possível que algumas das questões não se apliquem à situação da Empresa, ou que não tenha condições para respondê-las. Nesse caso, assinale um x no quadrado ao lado da alternativa

“NSA”, apresentada para cada questão e período.

QUESTÃO Antes de 1997 Depois de 1997 Produto principal (isto é, que representa maior receita) comercializado

____________________________ NSA: ( )

____________________________ NSA: ( )

Quantidade do produto principal comercializado, por ano (em toneladas):

_______________________________ NSA: ( )

_______________________________ NSA: ( )

Outros produtos com que trabalhava (trabalha):

__________________________________ NSA: ( )

__________________________________ NSA: ( )

Indique o percentual de sementes básicas do produto principal fornecido for cada fornecedor indicado ao lado

Embrapa ( ) Empresa privada nacional ( ) Empresa privada estrangeira ( ) Cooperativa ( ) Fundações, Secretarias, Institutos, Empresas Estaduais ( ) A própria empresa produz suas cultivares ( ) NSA: ( )

Embrapa ( ) Empresa privada nacional ( ) Empresa privada estrangeira ( ) Cooperativa ( ) Fundações, Secretarias, Institutos, Empresas Estaduais ( ) A própria empresa produz suas cultivares ( ) NSA: ( )

Relacionamento com seu principal fornecedor de sementes básicas:

Totalmente informal, não existe contrato ( ) Formal, temos um contrato ( ) Formal, temos um contrato , com cláusula de exclusividade ( ) Outro( ). Indique qual:____________ NSA: ( )

Totalmente informal, não existe contrato ( ) Formal, temos um contrato ( ) Formal, temos um contrato , com cláusula de exclusividade ( ) Outro( ). Indique qual:____________ NSA: ( )

As cultivares disponibilizadas pelo fornecedor principal apresentavam (apresentam) as seguintes vantagens (assinale mais de uma, se fôr o caso):

Melhores preços ( ) Maiores descontos ( ) Regularidade no ( ) Boa imagem junto aos compradores ( ) Outra vantagem ( ) Qual? ____________________________ NSA( ):

Melhores preços ( ) Maiores descontos ( ) Regularidade no ( ) Boa imagem junto aos compradores ( ) Outra vantagem ( ) Qual? ____________________________ NSA( ):

Além de fornecer suas sementes básicas, seu fornecedor principal (assinale mais de uma, se fôr o caso):

Subsidia seu processo de produção ( ) Financia seu processo de produção ( ) Dá assistência técnica para a sua produção de sementes/ mudas ( ) Facilita acesso à uma boa rede de distribuição ( ) Compra e comercializa a semente/muda

Subsidia seu processo de produção ( ) Financia seu processo de produção ( ) Dá assistência técnica para a sua produção de sementes/ mudas ( ) Facilita acesso à uma boa rede de distribuição ( ) Compra e comercializa a semente/muda

Page 374: APOSTILA EMBRAPA

373

produzida por sua empresa ( ) Outro apoio. ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

produzida por sua empresa ( ) Outro apoio. ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

Forma de remuneração utilizada, com seu fornecedor principal (descreva)

_______________________________ _________________________________NSA: ( )

_______________________________ _______________________________ NSA: ( )

Custo/ano (R$) das sementes básicas fornecidas pelo fornecedor principal

_______________________________ _______________________________NSA: ( )

_______________________________ _______________________________ NSA: ( )

A partir de 1997, é possível também que algumas mudanças tenham ocorrido em seu relacionamento com os compradores de sementes/mudas. As questões abaixo tentam identificar que mudanças seriam essas. Também estão elaboradas de modo a entender a situação desse relacionamento, antes e depois de 1997.

QUESTÃO Antes de 1997 Depois de 1997 Principal comprador (isto é, o que representa sua maior receita (assinale apenas uma)

Pequenos produtores rurais ( ) Médios produtores rurais ( ) Grandes produtores rurais ( ) Revenda/armazém agrícola ( ) Empresa multinacional ( ) Outro ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

Pequenos produtores rurais ( ) Médios produtores rurais ( ) Grandes produtores rurais ( ) Revenda/armazém agrícola ( ) Empresa multinacional ( ) Outro ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

QUESTÃO Antes de 1997 Depois de 1997 Relacionamento com seu principal comprador de sementes

Totalmente informal, não existe compromisso de compra e venda ( ) Formal, temos um contrato de compra e venda ( ) Formal, temos um contrato de compra e venda, com exclusividade ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

Totalmente informal, não existe compromisso de compra e venda ( ) Formal, temos um contrato de compra e venda ( ) Formal, temos um contrato de compra e venda, com exclusividade ( ) Qual? ____________________________ NSA( )

A transação comercial com o seu comprador principal apresentava (apresenta) as seguintes vantagens (assinale mais de uma, se fôr o caso):

Melhores preços ( ) Menores descontos ( ) Regularidade na compra ( ) Menores riscos ( ) Maior acesso a rede de distribuição ( ) Outra Qual? ____________________________ __________________________________ NSA( )

Melhores preços ( ) Menores descontos ( ) Regularidade na compra ( ) Menores riscos ( ) Maior acesso a rede de distribuição ( ) Outra Qual? ____________________________ __________________________________ NSA( )

Preço pago, à vista, pelo principal comprador (R$)

Por ton de sementes: _____________ NSA: ( )

Por ton de sementes: _____________ NSA: ( )

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374

Que outras mudanças você acredita que aconteceram, do ponto de vista de seu negócio, de 1997 até agora? Que mudanças você espera que ocorram no futuro, como consequência da lei de proteção de cultivares e de mudanças que se seguiram a ela (como por exemplo, a concentração de empresas no mercado de sementes)? Utilize o verso se necessário

Mudanças já ocorridas: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Mudanças esperadas no futuro: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Que impacto se acredita que essas mudanças (já ocorridas e por ocorrer) trarão, para o negócio da empresa? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Quais são as principais dificuldades que a empresa enfrenta, na produção e comercialização de sementes?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

As tecnologias relativas à produção de cultivares e sementes tem se desenvolvido com muita rapidez, nos últimos anos. Exemplos dessas tecnologias são os transgênicos e aquelas relativas ao desempenho produtivo de cultivares no campo. No caso da empresa, como ela espera ter acesso a essas novas tecnologias:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

O acesso a essas novas tecnologias, para a empresa é Muito fácil ( ) Fácil ( ) Difícil ( ) Muito difícil ( ) Se a resposta anterior foi “difícil” ou “muito difícil”, explique por quê:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Qual a importância da pesquisa pública ( realizada por Embrapa, Empresas Estaduais de pesquisa, Universidades Federais e Estaduais), para o negócio da empresa? Muito importante ( ) Importante( ) Pouco importante ( ) Sem nenhuma importância ( ) Faça os comentários que julgar pertinentes, sobre o papel da pesquisa pública:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Que sugestões a empresa gostaria de fazer, para a pesquisa em cultivares?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO!

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375

ANEXO 2: Questionário Delphi – 1ª rodada

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376

O FUTURO DO GERMOPLASMA E DA PRODUÇÃO DE CULTIVARES NO BRASIL

Questionário Delphi

Nome do Painelista: ..................................................................................................................................................................................................................................

Empresa/ Unidade:....................................................................................... Estado em que trabalha:............................................................................... Tempo (total) de experiência profissional: ......... (anos) Espécies com que trabalha: .................................................................................................................................................................................................................................. Área de especialização: ............................................................... Tempo de experiência na área de especialização: ......... (anos) Último ciclo de educação formal: Graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Pós-Doutorado ( ) Área de atuação (indique a principal com o número 1, as secundárias com o número 2: Pesquisa ( ) Ensino ( ) Gerência de P&D ( ) Consultoria ( ) Telefone para contacto:................................................................ E-mail:........................................................................................

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377

Instruções para participação no Painel

Este painel é parte de um estudo da Embrapa sobre o futuro das atividades relativas

a germoplasma e à produção de cultivares no Brasil e do sistema nacional relacionado. O propósito deste estudo é investigar como será afetado o desempenho desse sistema em geral, e dos setores público e privado de P&D no Brasil, a partir das recentes transformações ocorridas no seu âmbito. Os resultados obtidos serão de grande utilidade para a formulação de estratégias de gestão de P&D no tema estudado.

O presente painel é parte de uma metodologia de estudo de futuro, a Técnica Delphi, que é aplicada para se realizar a reflexão coletiva sobre eventos futuros. As questões são examinadas por especialistas no tema, em questionários estruturados e embasados por cenários futuros do contexto relevante ao tema. É assegurado o anonimato às respostas e, em rodadas sucessivas (em geral 2 ou 3), os painelistas participantes têm oportunidade de conhecer a opinião coletiva dos pares sobre as questões examinadas. Este conhecimento permite a reavaliação de posicionamentos, o que pode favorecer a obtenção de consenso em torno das estimativas produzidas pelo painel.

O presente questionário está estruturado em 4 blocos, considerados como críticos ao desempenho futuro do sistema estudado: 1) Base genética; 2) Novos negócios – Oportunidades; 3) Capacidade e Desempenho do Sistema de P&D; 4) Espaços da P&D pública e privada no Brasil. Em cada um deles, um conjunto de perguntas explora a situação presente e qual poderá ser a situação projetada no ano 2010. Em algumas questões, é solicitado que o painelista avalie o desempenho da variável proposta considerando 3 cenários do contexto social e econômico, um otimista, um tendencial e um pessimista. As avaliações são realizadas atribuindo-se conceitos de 1 a 10 nas afirmações propostas em cada questão.

Para responder, leia atentamente cada questão e assinale o conceito correspondente na escala indicada. Nas questões que admitam cenários alternativos, você deve ponderar o efeito das variáveis indicadas pelos cenários sobre o tópico que você estiver avaliando.

Várias questões pedem por comparações entre os setores público e privado de P&D. Em todas essas questões, definem-se esses setores da maneira como segue:

Setor público de P&D: inclui todas as organizações de pesquisa pública (empresas federais, estaduais, universidades, institutos) que realizam pesquisas sobre

melhoramento genético, que possam impactar o agronegócio brasileiro. Setor privado de P&D: inclui universidades privadas e empresas privadas de capital nacional e internacional, que realizam pesquisas sobre melhoramento genético, no

Brasil e/ou no exterior, que possam impactar o agronegócio brasileiro.

Em caso de dúvidas sobre a natureza das questões, consulte um dos monitores do painel.

Muito obrigado pela sua cooperação!

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378

1 – BASE GENÉTICA

Esse bloco explora a questão da base genética disponível, nos setores público e privado de P&D, no Brasil, para melhoramento genético vegetal e desenvolvimento de cultivares Base genética, nesse bloco, é entendida como o conjunto de caracteres genéticos que pode ser utilizado para o desenvolvimento de cultivares.

1.1 A amplitude da base genética é fundamental para a qualidade do desenvolvimento de cultivares Esta amplitude é influenciada pela disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento e pelo uso de cultivares já desenvolvidas como insumo para o processo de desenvolvimento de cultivares.

Disponibilidade de variabilidade genética corresponde ao acesso à variabilidade genética necessária para melhoramento genético, em fontes próprias ou externas. Essa disponibilidade é função de:

a. Acesso a organismos (vegetais) portadores da variabilidade genética; b. conhecimento sobre essa variabilidade. Esse conhecimento consiste em

informação sistematizada sobre características úteis (em termos sociais, econômicos e/ou ambientais) de organismos vivos, que pode ser aplicada em processos de melhoramento genético; e

c. intercâmbio de organismos portadores de variabilidade, ou de conhecimento sobre essa variabilidade.

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379

1.1.1 O acesso a organismos (vegetais) portadores de variabilidade genética é afetado pela competição entre os setores público e privado de P&D e pela capacidade desses setores1. Analise, em uma escala de 1 a 10, como está e como estará no futuro (em 2010) o acesso a esses organismos, por setor de P&D. Faça suas estimativas sobre esse acesso, na tabela abaixo, por segmento de mercado e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos. Utilize a escala a seguir para fazer sua estimativa:

O acesso a organismos (vegetais) portadores de variabilidade genética útil para

melhoramento, por segmento de mercado, é/será (2010):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase Muito

Nula Extensa

Acesso a organismos portadores de variabilidade genética

No setor público de P&D No setor privado de P&D Futuro (2010) Futura (2010)

Segmento de Mercado

Atual

Cenário 1

Cenário 2

Cenário 3

Atual

Cenário 1

Cenário 2

Cenário 3

Soja Milho Arroz Feijão Trigo

Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva

Forrageiras Algodão

1 Capacidade de um setor de P&D corresponde à disponibilidade de profissionais qualificados (inclusive em áreas de ponta), além de equipamentos e infra-estrutura adequados para a realização de processos relacionados ao melhoramento genético, em cada setor.

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380

1.1.2 O conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vegetais é afetado

pela competição entre os setores público e privado de P&D, pela capacidade desses setores e pelo avanço de processos biotecnológicos. Analise, em uma escala de 1 a 10, como está e como estará no futuro (em 2010) esse conhecimento, por setor de P&D. Faça suas estimativas sobre esse conhecimento, na tabela abaixo, por segmento de mercado e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos. Utilize a escala a seguir para fazer sua estimativa:

O conhecimento sobre a variabilidade genética em organismos vivos, por segmento de

mercado, é/será (2010):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase Nulo Muito Extenso

Conhecimento sobre variabilidade genética em organismos vegetais

No setor público de P&D No setor privado de P&D Futuro (2010) Futura (2010)

Segmento de Mercado

Atual

Cenário 1

Cenário 2

Cenário 3

Atual

Cenário 1

Cenário 2

Cenário 3

Soja Milho Arroz Feijão Trigo

Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva

Forrageiras Algodão

Page 382: APOSTILA EMBRAPA

381

1.1.3 O aumento da competição entre os setores público e privado de P&D pode afetar o livre intercâmbio de organismos vegetais e/ou de conhecimento sobre esses organismos entre esses setores. Esse intercâmbio, por sua vez, afeta a disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento.

Como está e como estará, em 2010, a intensidade de intercâmbio de organismos portadores de variabilidade genética, dentro de cada setor de P&D (público e privado), e entre setores? Faça suas estimativas sobre essa intensidade, dentro e entre setores, e também para cada cenário oferecido. Utilize a escala a seguir para fazer suas estimativas.

A intensidade de INTERCÂMBIO DE ORGANISMOS portadores de variabilidade genética é/será (2010):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quase nula Muito alta

Intensidade de intercâmbio de organismos vegetais portadores de variabilidade genética

Formas de intercâmbio

Situação atual CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3Entre organizações do setor público de

P&D

Entre organizações do setor privado de P&D

Entre organizações do setor público e organizações do setor privado

1.1.4 Como está e como estará, em 2010, a intensidade de intercâmbio de

conhecimento sobre a variabilidade genética de organismos vegetais, dentro de cada setor de P&D (público e privado), e entre setores? Faça suas estimativas sobre essa intensidade, dentro e entre setores, e também para cada cenário oferecido. Utilize a escala a seguir para fazer suas estimativas.

A intensidade de INTERCÂMBIO DE CONHECIMENTO sobre organismos portadores de

variabilidade genética é/será (2010):

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase nula Muito alta

Formas de intercâmbio Intensidade de intercâmbio de conhecimento sobre

organismos vegetais portadores de variabilidade genética

Situação atual

CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3

Entre organizações do setor público de P&D Entre organizações do setor privado de P&D

Entre organizações do setor público e organizações do setor privado

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382

1.1.5 A lei de proteção de cultivares (25/4/1997) criou a figura de “cultivar

essencialmente derivada2”, e concede o direito de proteção a esse tipo de cultivar, o que possivelmente incentiva o uso de cultivares já desenvolvidas, no processo de melhoramento genético. Considerando que o uso de cultivares já desenvolvidas, como insumo para o melhoramento genético, é afetado pela competição entre os setores e pela disponibilidade de variabilidade genética, analise, em uma escala de 1 a 10, como está e como estará a intensidade desse uso no ano de 2010. Faça suas estimativas sobre essa intensidade, na tabela abaixo, por segmento de mercado e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos. Utilize a escala a seguir:

Em 2010, a intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas, no melhoramento genético,

em cada cenário, é/será: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quase Muito Nula Alta

Intensidade de uso de cultivares já desenvolvidas

No setor público de P&D No setor privado de P&D Nos Cenários(2010) Nos Cenários (2010)

Segmento de Mercado

Atual

1 2 3

Atua

l 1 2 3

Soja Milho Arroz Feijão Trigo

Batata Tomate Cebola Citros Melão Uva

Forrageiras Algodão

2 A lei e decretos associados estabelece que a cultivar é essencialmente derivada se for: a) predominantemente derivada da cultivar inicial ou de outra cultivar essencialmente derivada, sem perder a expressão das características essenciais que resultem do genótipo ou da combinação de genótipos da cultivar da qual derivou, exceto no que diz respeito às diferenças resultantes da derivação; b) claramente distinta da cultivar da qual derivou, por margem mínima de descritores, de acordo com critérios estabelecidos pelo SNPC. ...O procedimento técnico de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade permite comprovar que uma.cultivar essencialmente derivada é distinguível de outras cujos descritores sejam conhecidos, homogênea quanto às suas características em cada ciclo reprodutivo e estável quanto à repetição das mesmas características ao longo de gerações sucessivas.

Page 384: APOSTILA EMBRAPA

383

1.1.6 Avalie agora como está e como estará a amplitude da base genética nos setores

público e privado de P&D, em 2010. Considere as respostas que você forneceu anteriormente para os determinantes dessa amplitude (acesso a organismos detentores de variabilidade genética, conhecimento sobre essa variabilidade, intercâmbio de organismos e de conhecimento, uso de cultivares já desenvolvidas, no melhoramento genético). Faça suas estimativas sobre essa amplitude, na tabela abaixo, por setor de P&D e para cada um dos cenários anteriormente oferecidos. Utilize a escala a seguir para fazer sua estimativa:

Em 2010, a base genética para melhoramento, por setor de P&D, em cada cenário, é/ será:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Muito Muito

estreita ampla

Amplitude da base genética para

melhoramento

SETOR DE P&D Situação

atual CENÁRIO

1 CENÁRIO

2 CENÁRIO

3 Público Privado

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384

2: Novos Negócios – Oportunidades

Esse bloco explora oportunidades para os setores de P&D pública e privada, na área de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares, buscando oportunidades que possam ser traduzidas em novos negócios, aqui entendidos como transações comerciais a partir de produtos que não fazem parte, tradicionalmente, do portfólio de P&D. Pode-se conceber que novos negócios sejam impulsionados por novos processos e novos produtos, pela disponibilidade de variabilidade genética para melhoramento e pela competição entre os setores públicos e privados de P&D. Nesse bloco, são focalizados os processos (atuais e novos) que podem ser utilizados na P&D em desenvolvimento de cultivares; são também objeto desse bloco os novos produtos, nessa área, que podem apresentar potencial para novos negócios em P&D.

Page 386: APOSTILA EMBRAPA

385

2.1 Novos processos podem abreviar e tornar mais preciso o melhoramento

genético. A Figura 1 apresenta vários processos do melhoramento genético, incluindo os derivados do melhoramento convencional e os derivados da biotecnologia. A Figura também apresenta os produtos intermediários e finais do melhoramento genético. As questões de número 1.1.1 a 1.1.3 focalizam a importância, o domínio e a disponibilidade de suporte (técnico-operacional) referentes a alguns processos apresentados nessa Figura, nos setores público e privado de P&D.

1.1.1

FIGURA 1: O processo de desenvolvimento de cultivares( adaptado de Lazarini, 2001)

Acesso/caracterização dediversidade genética

Germoplasma Vegetal

Identificação de características

de valor econômico

Cruzamentos e/ou Seleção

Identificação e avaliação de novos

genótipos

VVaarriieeddaaddeessccoommeerrcciiaaiiss

Seleção Genotípica

Impressões digitais genéticas

Mapeamento genético

Transgenia

Clonagem

NovosGenes

Novos Genótipos

Produtos Pré-tecnológicos

(insumos)

Análise funcional para identificação da relação

função gênica e estrutura

Di-haploidia, via cultura de tecidos

Hibridação somática, via cultura de tecidos

Sistema genético de controle de polinização

Pré-melhoramento

Melhoramento convencional

Novos processos

Produtos do melhoramento genético

Page 387: APOSTILA EMBRAPA

386

2.1.1 Que importância os processos de melhoramento genético abaixo têm hoje e

terão, no futuro (2010), como oportunidade de negócios para os setores público e privado de P&D? Dê sua resposta na tabela abaixo, utilizando a seguinte escala (1 a 10) de importância:

COMO OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS, a importância desse processo, atualmente e no futuro (2010),

é/será:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase nula Enorme

Importância no

futuro(2010) COMO OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO

Processo

Importância

atual Setor público de

P&D Setor privado de

P&D Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal

Conservação de germoplasma vegetal Caracterização de germoplasma vegetal

Identificação de caracteres de valor econômico Estabelecimento de acervos caracterizados para análise

funcional (bancos de caracteres)

Seleção (a partir de bancos de germoplasma) Cruzamentos e seleção

Identificação e avaliação de novos genótipos Genômica estrutural para identificação de novos genes e

processos biológicos

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

Transgenia Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

Hibridação somática via cultura de tecidos Clonagem

Uso de nanometodologias Outro processo (número 1). Descrever:

Outro processo (número 2). Descrever:

Page 388: APOSTILA EMBRAPA

387

2.1.2 Um processo é considerado dominado quando existe total conhecimento de todas as suas etapas, permitindo que o mesmo seja executado com máxima eficiência.

Considere os processos expressos na Tabela seguinte. Como está atualmente e como estará no futuro o domínio de cada processo, pelos setores público e privado de P&D? Dê sua resposta, utilizando a seguinte escala de domínio (1 a 10):

O domínio desse processo, atualmente e no futuro (2010), em cada setor de P&D, é/será:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quase nulo Total

SETOR PÚBLICO DE P&D

SETOR PRIVADO DE P&D

Processo

Domínio atual

Domínio no futuro (2010)

Domínio atual

Domínio no futuro (2010)

Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal Conservação de germoplasma vegetal

Caracterização de germoplasma vegetal Identificação de caracteres de valor econômico

Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional (bancos de caracteres)

Seleção (a partir de bancos de germoplasma) Cruzamentos e seleção

Identificação e avaliação de novos genótipos Genômica estrutural para identificação de novos genes e

processos biológicos

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

Transgenia Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

Hibridação somática via cultura de tecidos Clonagem

Uso de nanometodologias Outro processo (número 1). Descrever:

Outro processo (número 2). Descrever:

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388

2.1.3 A execução dos processos de melhoramento genético (tanto convencional quanto

derivados da biotecnologia) depende da existência de laboratórios, equipamentos e infra-estrutura adequados. Esses elementos indicam o “suporte técnico e operacional” de um setor de P&D para realizar melhoramento genético.

Para cada um dos processos listados na tabela abaixo, estime o nível de suporte técnico e operacional, atual e futuro (2010), nos setores público e privado de P&D, atualmente e em cada cenário apresentado. No caso do setor privado de P&D, considere também as disponibilidades de suporte técnico e operacional existentes fora do país. Use a escala a seguir (1 a 10) para dar sua opinião:

O suporte técnico-operacional para esse processo, atualmente e no futuro (2010), em cada setor

de P&D, é/será:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase Nulo Total

Suporte técnico-operacional no

setor público de P&D

Suporte técnico-operacional no setor

privado de P&D Cenários (2010) Atual Cenários (2010)

Processo

Atual 1 2 3 1 2 3

Acesso (coleta/introdução) de germoplasma vegetal Conservação de germoplasma vegetal

Caracterização de germoplasma vegetal Identificação de caracteres de valor econômico

Estabelecimento de acervos caracterizados para análise funcional (bancos de caracteres)

Seleção (a partir de bancos de germoplasma) Cruzamentos e seleção

Identificação e avaliação de novos genótipos Genômica estrutural para identificação de novos genes e

processos biológicos

Genômica funcional para identificação de novos genes e processos biológicos

Proteômica para identificação de novos genes e processos biológicos

Transgenia Obtenção de di-haplóides via cultura de tecidos

Hibridação somática via cultura de tecidos Clonagem

Uso de nanometodologias Outro processo (número 1). Descrever:

Outro processo (número 2). Descrever:

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389

2.2 Novos produtos tecnológicos/pré-tecnológicos3 oriundos de avanços do conhecimento

podem se constituir em alternativas importantes para o desenvolvimento sócio-econômico do agronegócio brasileiro e também para a geração de receitas complementares para a P&D pública. Os produtos tradicionais do melhoramento genético vegetal têm sido as variedades comerciais. Novos produtos são aqueles diferentes dessa pauta tradicional e resultantes do avanço do conhecimento científico.

2.2.1 Indique o potencial de cada um dos produtos de melhoramento genético abaixo

como base de novos negócios para os setores de P&D público e privado, no futuro (2010). Dê sua resposta na tabela abaixo, utilizando a seguinte escala:

O potencial do produto, como base para novos negócios em 2010, em cada setor de P&D, é:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Muito reduzido Enorme

PRODUTO Potencial do produto como base para novos negócios para o setor de P&D público (2010)

Potencial do produto como base para novos negócios para o setor de P&D privado (2010)

PRODUTOS TECNOLÓGICOS: Variedades comerciais

Híbridos

Clones (incluindo variedades apomíticas ou de propagação vegetativa)

PRODUTOS PRÉ-TECNOLÓGICOS: Populações

Cruzamentos

Linhagens

Bancos de caracteres

Genes

Bancos de informação genômica

Outro produto (número 1). Descrever:

Outro produto (número 2). Descrever:

3 Produtos pré-tecnológicos: produtos intermediários do processo de desenvolvimento de cultivares; produtos tecnológicos: produtos finais desse processo.

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390

2.2.2 Para os mesmos produtos, estime o domínio, atual e futuro (2010), nos setores público e privado de P&D, dos processos necessários para a obtenção de cada um deles.

Domínio de um processo significa que existe total conhecimento de todas as etapas desse processo, permitindo que o mesmo seja executado com máxima eficiência. Use a seguinte escala (1 a 10) para dar sua resposta:

O domínio do processo necessário para obtenção do produto indicado, atualmente e no futuro

(2010), em cada setor de P&D, é/será:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase nulo Total

PRODUTO Domínio de processo no setor público de P&D

Domínio do processo no setor privado de P&D

Atual Futuro (2010)

Atual Futuro (2010)

PRODUTOS TECNOLÓGICOS: Variedades comerciais

Híbridos

Clones (incluindo variedades apomíticas ou de propagação vegetativa)

PRODUTOS PRÉ-TECNOLÓGICOS: Populações

Cruzamentos

Linhagens

Bancos de caracteres

Genes

Bancos de informação genômica

Outro produto (número 1). Descrever:

Outro produto (número 2). Descrever:

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391

2.2.3 A literatura tem registrado a emergência de produtos comerciais como resultado

direto da pesquisa em biotecnologia. Esses produtos poderão representar uma importante fonte de negócios, no futuro. Alguns desses produtos são apresentados na tabela a seguir. Indique o potencial de cada um desses produtos, como base para novos negócios, no futuro, para os setores público e privado de P&D. Utilize a seguinte escala para dar sua resposta:

O potencial do produto, COMO BASE PARA NOVOS NEGÓCIOS em 2010, em cada setor de P&D, é:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Muito reduzido Enorme

Potencial do produto COMO BASE PARA NOVOS NEGÓCIOS

(2010)

NOVOS PRODUTOS RELATIVOS A:4

No setor público de P&D

No setor privado de

P&D

Proteção vegetal: Controle de ervas daninhas, pragas e doenças

Proteção vegetal: Integração de soluções químicas e genéticas

Ciclo de vida de produtos: menor perecibilidade

Ciclo de vida de produtos: maturação uniforme

Integração de características (por exemplo, tolerância a herbicida, resistência a insetos e alto teor de proteína)

Características agronômicas superiores: produtividade

Características agronômicas superiores: tolerância e adaptabilidade (por exemplo, tolerância à seca e à salinidade).

Alimentos de qualidade: mais nutritivos

Alimentos de qualidade: facilidade de processamento

Alimentos de qualidade: segurança quanto à alergenicidade

Alimentos de qualidade: controle de impacto ambiental em alimentação animal

Derivados vegetais: amidos, proteínas e óleos

Derivados vegetais: anticorpos e polímeros (“molecular farming”) Produção florestal: árvores com crescimento acelerado Produção florestal: melhor qualidade de madeira e de fibras Substituição de processos industriais por soluções agronômicas (por exemplo, modificação na fibra e na côr do algodão)

Produtos especiais: substâncias terapêuticas e antioxidantes Produtos especiais: novas fontes de energia, baratas e não-poluentes Outro produto (número 1). Descrever:

Outro produto (número 2). Descrever:

4 Baseado em Machado, Joaquim A. (2001). Tendências futuras da biotecnologia: Perspectivas para o Setor Industrial. Modificado pelos autores.

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392

3: CAPACIDADE E DESEMPENHO DO SISTEMA DE P&D

Esse bloco explora a questão do desempenho dos setores público e privado de P&D, no Brasil, no que se refere ao melhoramento genético vegetal e à produção de cultivares, como função da capacidade de cada setor. Desempenho é entendido como a capacidade dos setores de P&D de transformar insumos (variabilidade genética, capacidade técnica, recursos materiais e financeiros) em produtos (cultivares e metodologias para melhoramento genético). É indicado pela participação de cada setor no total de cultivares protegidas e registradas. Capacidade de cada setor de P&D, é entendida como a disponibilidade de profissionais qualificados (inclusive em áreas de ponta), além de equipamentos e infra-estrutura adequados para a realização de processos relacionados ao melhoramento genético, em cada setor.

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393

3.1 A capacidade em P&D é um dos fatores que afetam o número de cultivares protegidas

por cada setor de P&D (público e privado), isto é, a participação de cada setor no total de cultivares protegidas5.

3.1.1 Na Coluna 1 da Tabela abaixo é apresentada a situação atual dessa proteção, em

percentual, por espécie hoje passível de proteção, por setor de P&D (público e privado). Considerando a capacidade de cada setor de P&D (público e privado), faça uma estimativa aproximada, em percentual, de participação do SETOR PÚBLICO, na proteção de cultivares, em 2010, nos três cenários apresentados, para cada segmento de mercado. Embora a informação solicitada se refira somente ao setor público, observe que a soma da participação percentual dos dois setores, para cada segmento, deve totalizar 100% .

Participação (em percentual) em proteção de cultivares

Situação Atual

CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3

SEGMENTO DE MERCADO(a)

SETOR PÚBLICO

SETOR PRIVAD

O

SETOR PÚBLICO DE P&D SETOR PÚBLICO DE P&D SETOR PÚBLICO DE P&D

Soja 39 61 Milho (híbrido) 89 11

Arroz 75 25 Feijão 62 38 Trigo 38 62

Batata 9 91 Tomate - - Cebola - - Citros - - Melão - - Uva - -

Forrageiras - - Algodão 40 60

Outra espécie: Descrever

- -

Fonte: SNPC, Setembro de 2001 (a) As seguintes espécies são hoje passíveis de proteção: soja, milho, arroz, feijão, trigo, sorgo, batata, maçã e

algodão e cana-de-açúcar.

5 Segundo a lei, a proteção assegura ao seu titular o direito à reprodução comercial no território brasileiro. O titular pode autorizar terceiros a realizarem produção com fins comerciais, venda ou comercialização do material de propagação da cultivar.

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3.2 A capacidade em P&D também afeta o número de cultivares registradas por cada setor de P&D (público e privado)6.

3.2.1 Na Coluna 1 da Tabela abaixo é apresentada a situação atual do registro de

cultivares, em percentual, por espécie ou grupo de espécies. Considerando a capacidade de cada setor de P&D (público e privado), faça uma estimativa aproximada, em percentual, de participação do SETOR PÚBLICO, no registro de cultivares, em 2010, nos três cenários apresentados, para cada segmento de mercado. Embora a informação solicitada se refira sómente ao setor público, observe que a soma da participação percentual dos dois setores, para cada segmento, deve totalizar 100% .

Participação (em percentual) em registro de cultivares

Situação Atual CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3

SEGMENTO DE MERCADO SETOR

PÚBLICO SETOR

PRIVADO SETOR PÚBLICO DE

P&D SETOR PÚBLICO DE

P&D SETOR PÚBLICO DE

P&D

Soja 48 52 Milho 15 85 Arroz 81 19 Feijão 69 31 Trigo 63 37

Batata 24 76 Tomate 1 99 Cebola 14 86 Citros 34 66 Melão 4 96 Uva 13 87

Forrageiras 28 74 Algodão 59 41

Outra espécie: Descrever

Fonte: SNPC, Setembro de 2001

6 O registro de cultivares permite que se possa produzir sementes e mudas e comercializá-las (Portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nº 527, de 31/12/1997). Esse registro é feito gratuitamente, até hoje, mas passará a ser pago, a partir de 2002.

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4 – ESPAÇOS DA P&D PÚBLICA E PRIVADA NO BRASIL

Esse bloco explora a questão dos espaços de atuação dos setores público e privado de P&D, no Brasil, para melhoramento genético vegetal e desenvolvimento de cultivares.

4.1 Importância estratégica de uma espécie corresponde ao potencial de retorno

(econômico e/ou social) do investimento em melhoramento genético, atribuído à espécie, em cada setor de P&D Para cada espécie/grupo de espécies na tabela abaixo, avalie a importância estratégica, em 2010, para a P&D em cada setor (público ou privado). Considere o cenário 2 (“avanços e recuos”) para fazer sua avaliação. Utilize a escala a seguir:

Em 2010, a importância estratégica da espécie/grupo para a P&D em cada setor, será: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quase nula Enorme

Espécie/Grupo de Espécies Setor Público Setor Privado Algodão

Arroz

Aveia

Batata

Café

Cebola

Cevada

Feijão

Forrageiras

Citros

Milho

Ornamentais

Soja

Sorgo

Tabaco

Cacau

Trigo

Manga

Caju

Abacaxi

Banana

Uva

Melão

Seringueira

Dendê

Espécies florestais

Mandioca

Outras oleaginosas

Outras fruteiras

Outras Olerícolas

Outra espécie ou grupo. Descrever:

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