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COMPETÊNCIA EM EDUCAÇÃO PÚBLICA PROFISSIONAL Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO A P O S T I L A ANÁLISE E PRODUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS REVISÃO GRAMATICAL DISCIPLINAS Linguagem, Trabalho e Tecnologia Cursos Técnicos: Química, Mecatrônica, Eletrônica, Eletroeletrônica, Administração, Informática, Informática para Internet, Contabilidade, Administração, Automação Industrial e Logística Representação e Comunicação em Língua Portuguesa Representação e Comunicação Organizacional Curso Técnico: Secretariado Autora: Professora Lucivânia A. S. Perico SÃO BERNARDO DO CAMPO AGOSTO - 2011

APOSTILA-Gramatica e Redacao Tecnica-rev

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COMPETÊNCIA EM EDUCAÇÃO PÚBLICA PROFISSIONAL

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

A P O S T I L A

ANÁLISE E PRODUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS REVISÃO GRAMATICAL

DISCIPLINAS Linguagem, Trabalho e Tecnologia

Cursos Técnicos: Química, Mecatrônica, Eletrônica, Eletroeletrônica, Administração, Informática,

Informática para Internet, Contabilidade, Administração, Automação Industrial e Logística

Representação e Comunicação em Língua Portuguesa

Representação e Comunicação Organizacional Curso Técnico: Secretariado

Autora: Professora Lucivânia A. S. Perico

SÃO BERNARDO DO CAMPO AGOSTO - 2011

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LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica

SUMÁRIO 1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO .............................................................. 3 1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA .................................. 4 2. NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ............................................................. 6 2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL ....................................... 7 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 7 3. CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO ..................... 9 3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO ......................................................... 11 QUESTIONÁRIO ................................................................................................ 11 4. INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS .............................. 12 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 16 5. O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA ............................................ 17 5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO .......................................... 20 QUESTIONÁRIO ................................................................................................ 23 6. RESUMO ................................................................................................................... 24 ATIVIDADE ....................................................................................................... 25 7. RESENHA ................................................................................................................. 26 7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA ............................................ 27 REDAÇÃO .......................................................................................................... 28 8. FILME “TEMPOS MODERNOS” ............................................................................ 29 9. REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL ................................................................. 30 9.1 CURRÍCULO ................................................................................................ 30 9.2 CARTA COMERCIAL ................................................................................. 32 9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL) ..................................................... 33 9.4 RELATÓRIO ................................................................................................. 34 9.5 ATA ............................................................................................................... 35 9.6 REQUERIMENTO ........................................................................................ 35 9.7 DECLARAÇÃO ............................................................................................ 36 9.8 OFÍCIO .......................................................................................................... 37 9.9 MEMORANDO ............................................................................................. 38 9.10 CIRCULAR ................................................................................................. 38 9.11 PROTOCOLO ............................................................................................. 39 9.12 RECIBO ....................................................................................................... 40 9.13 ATESTADO ................................................................................................ 40 9.14 AVISO ......................................................................................................... 41 9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS .......................... 41 9.16 CARTA PESSOAL ...................................................................................... 42 10. MORFOLOGIA – REVISÃO ................................................................................. 43 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 45 10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS .......................................................... 46 11. SINTAXE – REVISÃO ........................................................................................... 47 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 48 12. REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL – REVISÃO ............................................... 49 13. CRASE – REVISÃO ............................................................................................... 53 EXERCÍCIOS – REGÊNCIA E CRASE ............................................................ 54 14. CONCORDÂNCIA NOMINAL – REVISÃO ........................................................ 55 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 56 15. CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO ........................................................... 57 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 58 16. ACENTUAÇÃO – REVISÃO ................................................................................ 59 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 60 17. COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL .............................................. 61 17.1 PONTUAÇÃO – REVISÃO ....................................................................... 61 EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 63 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 65

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Autora: Lucivânia A. S. Perico

1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

Nós, seres humanos, temos um nível de sofisticação que nos diferencia de outros seres vivos, que é a capacidade de comunicação. A comunicação é a transmissão e a compreensão de informações entre as pessoas. Comunicar equivale a tornar uma ideia comum entre o emissor e o receptor da mensagem. É chamada de emissor a pessoa que emite a informação e o receptor é a pessoa que a recebe. Para que o processo de comunicação efetiva aconteça, são necessárias oito etapas. Tendo como ponto de partida o emissor, consideram-se três etapas: elaborar uma ideia, codificar e transmitir a mensagem. As cinco etapas seguintes, que envolvem o receptor, são: receber, decodificar, aceitar, usar a informação recebida e dar uma resposta.

Durante esse processo podem ocorrer barreiras, que são ruídos ou interferências que podem causar distorção na comunicação. Essas barreiras podem ser: físicas, semânticas ou de ordem pessoal. As barreiras físicas são as que decorrem do ambiente físico, como barulho e distância. As barreiras semânticas são aquelas que limitam a compreensão das palavras e ações, como o uso de uma linguagem que não seja comum ao emissor e ao receptor. As barreiras de ordem pessoal decorrem da falta de sintonia emocional entre as pessoas que se comunicam.

Vejamos o caso abaixo: Numa cidadezinha pequena do interior... o forró “tava comendo solto”! A moça preparou-se

toda para ir ao baile, que era o único evento da cidade depois de muito tempo. Esperava encontrar o seu “príncipe encantado” no tal baile. Lá chegando, um rapaz franzino, meio “desengonçado”, que transpirava muito, aproximou-se dela e convidou-a para dançar.

Ela não achou o rapaz muito interessante, porém, para não arrumar confusão, pois na cidade isso era considerado “indelicado, acabou aceitando. Mas o rapaz realmente suava tanto, mas tanto, que ela, já não suportando mais, disse:

- Você sua, hein? Diante disso, o rapaz sorriu, apertou-a com força e respondeu: - Também vô sê seu, minha princesa!

Refletindo sobre o texto, que ruído interferiu na comunicação? É importante considerarmos que há dois de tipos de comunicação: verbal e não-verbal. A comunicação verbal falada realiza-se através da fala, como no caso de palestras. A

comunicação verbal escrita ocorre por meio da escrita, como ocorre nas mensagens trocadas por e-mails. A comunicação não-verbal ocorre por intermédio de ações como gestos, expressões faciais, posturas e movimentos corporais.

Saber comunicar-se efetivamente, iniciar e encerrar uma conversação, fazer e responder perguntas, gratificar e elogiar, dar e receber feedback são algumas das principais habilidades de comunicação, e elas são muito valorizadas no mundo do trabalho. As habilidades de fazer e responder perguntas envolvem entonação, volume de voz, expressão facial e gesticulação. As habilidades de gratificar e elogiar referem-se a recompensar emocionalmente alguém para que o outro se sinta valorizado, reconhecido e respeitado, como ocorre quando o elogio é percebido como verdadeiro e adequado. As habilidades de dar e receber feedback fazem parte das principais habilidades de comunicação. O feedback pode ser compreendido como crítica construtiva ou como crítica destrutiva. Como crítica construtiva traz consequências positivas e, como crítica destrutiva faz o contrário, causando dor, tristeza e sofrimento a quem o recebe.

Sabedores de que é possível promover o desenvolvimento pessoal e profissional através da nossa forma de comunicação, torna-se fundamental planejá-la adequadamente, de forma ética e responsável.

Somos seres sociais, devemos cuidar de nossas relações interpessoais em todos os momentos, a fim de criar, manter e melhorar esses relacionamentos. Certamente, podemos entender a comunicação como parte disso.

Conceitualmente, o feedback é “uma forma de comunicação pela qual o receptor da mensagem original transmite ao emissor a maneira como ela foi recebida. Em consequência, a pessoa saberá o efeito de seu comportamento sobre os outros”. Oferecer feedback pode ser um fator que alavanca a modificação interna para o desenvolvimento pessoal, desde que o emissor (a pessoa que faz a crítica)

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saiba realmente fazer a crítica e o receptor (a pessoa que a recebe) esteja aberto a recebê-la como algo construtivo.

Para fazer a crítica construtiva recomenda-se que o emissor descubra a razão de fazê-la, comunique-se diretamente com a pessoa, seja específico, descreva os fatos, assuma seu ponto de vista, observe a contingência, faça referência aos efeitos, crie um clima favorável, vá diretamente ao assunto, escute compreensivamente, foque o objetivo a ser alcançado, resuma ao final. Para receber a crítica de forma construtiva, recomenda-se que o emissor: escute compreensivamente, aceite-a como crítica construtiva, faça perguntas ao emissor, agradeça-lhe e, sempre que possível, solicite a crítica.

A ética também deve pautar o ato de fazer e receber críticas, sob pena de, com críticas mal elaboradas e baseadas em objetivos escusos, gerar prejuízos não só para as relações interpessoais, mas sofrimento físico e mental a quem as recebe. Assim, observamos que o domínio da comunicação eficaz é fundamental para o sucesso pessoal e profissional, para tanto é importante nos comunicarmos com clareza e de maneira apropriada ao ambiente.

1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA

O texto a seguir circulou pela Internet como uma piada. Utilize-o como base para responder as questões dos exercícios 1 e 2 .

Correção ortográfica “O gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores: Seo Gomis, O criente de belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa. Abrasso, Nirso Aproximadamente uma hora depois recebeu outro fax: Seo Gomis, Os relatório di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo que manda treiz miu pessa. Amanhã to xegando. Abrasso, Nirso No dia seguinte, outro fax: Seo Gomis, Num xeguei pucausa de que vendi maiz deis miu em Beraba.To indo pra Brazilha. No próximo fax: Seo Gomis, Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinopolis e de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora. E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente, um homem muito preocupado com o desenvolvimento da empresa e com a cultura dos funcionários, escutou atentamente o gerente e disse:

- Deixa comigo que eu tomarei as providências necessárias. E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso que afixou no mural da empresa, juntamente como os faxes do vendedor: ‘A partir de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si pricupá menos em iscrevê serto mod a vendê maiz.’ Acinado, O Prezidenti’”

(Português Língua e Literatura – pág. 145 e 146) 1. Geralmente, as piadas manifestam uma postura preconceituosa e nos permitem refletir sobre como são avaliadas as pessoas a partir do uso que fazem da língua, seja na sua forma oral ou escrita. a) Embora os “erros” ortográficos chamem imediatamente a atenção de quem lê o texto, o problema percebido pelo gerente nos textos do “Nirso” pode ser entendido de outra maneira. Explique. b) Por que a piada reflete uma visão linguística preconceituosa? 2. O comportamento do gerente deixa implícita sua opinião sobre diferentes variantes da Língua Portuguesa. a) Que opinião é essa? b) De que maneira a atitude tomada pelo presidente da empresa demonstra que o uso de uma variante não pode ser associado ao modo de avaliar o falante que a utiliza?

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Autora: Lucivânia A. S. Perico

Leia o texto e responda as questões que o seguem:

Quem não se comunica... Havia no Rio de Janeiro nos anos 1920 um gramático famoso, professor do Pedro II, inimigo dos galicismos, dos pronomes malcolocados e da linguagem descuidada. Falava empolado e exigia correção de linguagem até em casa com a família. Uma vez, esse gramático foi passar férias em um hotel-fazenda de Teresópolis. Lá, um dia, decidiu dar um passeio a cavalo pelos terrenos da fazenda. Por segurança, ia acompanhado de um cavalariço montado em um burrinho. Pelas tantas, o cavalo do gramático disparou. O cavalariço foi atrás em seu burrinho, gritando: “Doutor, puxe a rédea! Doutor, puxe a rédea!” Nada aconteceu, até que o cavalo saltou um valado e jogou o gramático numa moita de urtiga. Finalmente o cavalariço o alcançou, levantou-o e ajudou-o a se livrar de uns espinhos que se grudaram nele. “Doutor, por que o senhor não puxou a rédea? Eu vinha gritando atrás, doutor, puxe a rédea, doutor, puxe a rédea!” O gramático, já senhor de si, perguntou: “E o que é puxar a rédea?” “É fazer isso, ó”, e fez o gesto explicativo. “Ah! Dissesses sofreia o corcel, eu teria entendido.” (VEIGA, J. J. O Almanach de Piumhy. RJ: Record, 1998.)

(Português Língua e Literatura – pág. 154)

3. No texto transcrito, foram utilizadas duas variedades linguísticas. Quais são elas? Justifique sua resposta com elementos do texto. 4. Falar e escrever bem significa, além de conhecer o padrão formal da Língua Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem ao contexto discursivo. O texto transcrito mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Em que consiste essa inadequação? 5. Você considera que a postura rígida do gramático em relação à “correção da linguagem” a ser utilizada pelos falantes é adequada? Justifique sua resposta.

Artigo: A carreira nas alturas Revista Língua Portuguesa – Ano 5 – nº 63 – Janeiro de 2011

QUESTIONÁRIO

1. Segundo o texto, por que há necessidade do domínio da norma culta da Língua Portuguesa? Justifique.

2. Quais as principais mudanças no

mercado de trabalho que “exigem” um novo perfil profissional?

3. A Língua é um instrumento de

prestígio e marginalização. Explique.

4. Na sua opinião, qual é o principal fator que implica na falta de domínio da norma culta da Língua Portuguesa?

5. De que maneira a leitura deste artigo

pode auxiliar na sua formação profissional?

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LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica

2 NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Todas as pessoas que falam em determinada língua conhecem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento dessa língua. Embora sejam mais ou menos constantes dentro do idioma, essas estruturas básicas podem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações, que às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastante evidentes, recebem o nome genérico de variedades ou variações linguísticas. Entre as causas que mais claramente determinam o surgimento das variações linguísticas destacam-se: o grupo social a que o falante pertence (variação sócio-cultural), o lugar em que ele nasceu ou vive (variação geográfica) e a época (variação histórica).

• Variação Sócio-Cultural Esse tipo de variação pode ser percebido com certa facilidade: por exemplo, alguém diz: “Ta na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase 1) Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos caracterizá-lo, por exemplo, pela sua profissão: um advogado? Um trabalhador braçal da construção civil? Um médico? Um garimpeiro? Um repórter de tv? E quem usaria a frase abaixo? “Obviamente faltou-lhes coragem para enfrentar os ladrões.” (frase 2) Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que, muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito, fizeram-no em condições não adequadas. Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que tiveram possibilidades sócio-econômicas melhores e puderam, por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura, com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua. Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita acima está bastante simplificada, uma vez que há diversos outros fatores que interferem na maneira como o falante escolhe as palavras e constrói as frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a expressão “ta na cara”, mas isso não significa que ele não possa usá-la numa situação informal (conversando com alguns amigos, por exemplo).

• Variação geográfica A variação geográfica é, no Brasil, bastante grande e pode ser facilmente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre, intensidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao conjunto das características da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc. A variação geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no vocabulário, em certas estruturas de frases e nos sentidos diferentes que algumas palavras podem assumir em diferentes regiões do país. Leia, como exemplo, o trecho abaixo, de Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, no qual recria a fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas: “- Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado Mangolô] - Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era moço, isso sim!... Já fui gente! Gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite, fora d’hora, em cemitério... (...) Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não: estou percurando é sossego...”

• Variação histórica As línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas alterações recebem o nome de variação histórica. O trecho abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, exemplifica a mudança da língua ao longo do tempo:

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Autora: Lucivânia A. S. Perico

Antigamente “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.”

2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL Convencionalmente, costumamos como “correta” a língua utilizada pelo grupo de maior prestígio social. Essa é a chamada língua culta, falada e escrita, em situações formais, pelas pessoas de maior instrução. A língua culta é nivelada, padronizada, principalmente pela escola e obedece à gramática da língua –padrão. A língua coloquial, por outro lado, é uma variante espontânea, do cotidiano, sem muita preocupação com as normas. O falante, ao utilizá-la, comete deslizes gramaticais com frequência considerável. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões populares, frases feitas, gírias etc. No quadro a seguir, estão resumidas as diferenças que mais facilmente podem ser observadas entre língua culta e língua coloquial:

USO COLOQUIAL / POPULAR USO CULTO Pronúncia mais descuidada de certas palavras e expressões: nóis, num vô, num qué, cê ta bem?

Maior cuidado com a pronúncia: nós, não vou, não quer, você está bem?

Não utilização das marcas de concordância. Ex.: Os menino vai bem.

Utilização dessas marcas. Ex.: Os meninos vão bem.

Uso constante de a gente no lugar de nós. Uso regular da forma nós. Emprego de expressões do tipo: né, então, aí, pois é.

Raro uso dessas expressões.

Mistura de pessoas gramaticais. Ex.: Você sabe que te enganam.

Uniformidade no uso das pessoas gramaticais. Ex.: Você sabe que o enganam. Tu sabes que te enganam.

Uso “livre” da flexão dos verbos. Ex.: Se ele fazer, se ele por... Eu truxe o seu presente.

Utilização da flexão verbal conforme as normas gramaticais. Ex.: Se ele fizer, se ele puser... Eu trouxe o seu presente.

Uso de gírias. Não utilização de gírias.

EXERCÍCIOS 1.Leia o texto abaixo: “Cedo ou tarde, uma dúvida cruel pinta na sua cabeça: ‘Que profissão escolher?’ Ou ainda: ‘Em que faculdade entrar?’ E é justamente nessas horas que aparece uma porção de gente pra dar os palpites mais infelizes. (...) É por isso que a Editora Abril está lançando o Guia do Estudante. Porque o que ele mais tem é exatamente o que você mais precisa saber: tudo sobre todas as profissões universitárias e técnicas, o mercado de trabalho, os cursos e o nível de todas as faculdades brasileiras, onde e

como conseguir bolsas de estudos e muitas dicas de profissionais bem-sucedidos. Uma verdadeira luz pra você acertar na escolha da profissão que mais faz sua cabeça. O melhor de tudo é que a decisão será sua e de mais ninguém. Com os pés no chão. Sentindo firmeza. Pode contar com o Guia do Estudante pra encarar essa parada. Ele vai dar a maior força pra você.”

(Veja, nº 976)

(Aprender e praticar gramática – pág. 47)

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a) A que grupo social faz parte o consumidor que o anúncio pretende atingir? b) Transcreva alguns trechos do texto que confirmem sua resposta à questão anterior. c) Transcreva do texto um trecho onde se utiliza uma linguagem mais formal. 2.Suponha que você seja um criador de textos de campanhas publicitárias e que tenha sido contratado por uma indústria de calçados para produzir os textos de propaganda de uma nova linha de sapatos. Levando em conta as características próprias da linguagem de cada grupo social, escreva um pequeno texto dirigido a cada um dos seguintes tipos de público consumidor do produto: a) jovens adolescentes urbanos b) homens de elevado padrão sócio-econômico c) crianças de 5 a 8 anos de idade d) mulheres idosas 3.(Univ.Metodista-SP) Leia o trecho abaixo: “Os nossos salário, cum relação ao que nóis fazemo e o lucro que os outros tem, é insignificante. Por que acontece isso? Eu tenho que trabaiá trezentos e sessenta e cinco dias por ano. O outro num trabaia nem... nem cem dias, ganha muito mais. Por que eu sô a máquina que dô descanso pra ele.”

(Luiz Flávio, Os peões do Grande ABC) Transponha a linguagem coloquial para o padrão escrito da linguagem formal. 4.(Unicamp-SP) O jornal “Folha de São Paulo” introduziu com o seguinte comentário uma entrevista com o professor Paulo Freire: “’A gente cheguemos’ não será uma construção errada na gestão do Partido dos Trabalhadores em São Paulo.” Os trechos da entrevista nos quais a “Folha de São Paulo” se baseou para fazer tal comentário foram os seguintes: “A criança terá uma escola na qual a sua linguagem seja respeitada (...) Uma escola em que a criança aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo pela sua (...) Esses oito milhões de meninos vêm da

periferia do Brasil (...) Precisamos respeitar a (sua) sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E, mostrando tudo isso, dizer a ele: ‘Mas para a tua própria vida tu precisas dizer ‘agente chegou’ em vez de ‘a gente chegamos’. Isso é diferente, ‘a abordagem’ é diferente. É assim que queremos trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade.” Responda: a) Qual a posição defendida pelo professor Paulo Freire com relação à correção dos erros gramaticais na escola? b) O comentário do jornal faz justiça ao pensamento do educador? Justifique sua resposta. 5.Provocou polêmica o fato de um livro recomendado pelo Ministério da Educação endossar um erro de português. Na página 15 de “Por uma vida melhor”, o texto afirma: "Você pode estar se perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico". Muita gente viu aí um erro do livro e do próprio Ministério da Educação. Há, porém, quem pense e diga o contrário, como o próprio MEC e a autora da obra, Heloísa Ramos. Do ponto de vista linguístico, de fato, não há sentido em dizer que alguém fala errado apenas porque não obedece à chamada norma culta. Se alguém diz "nós pesca os peixe", será compreendido por seu interlocutor. Para a linguística, o resultado é o que importa. Ao advertir seus leitores-estudantes do risco de "preconceito linguístico", a autora está apontando para o fato de que esse tipo de uso da língua, desconsiderando a norma culta, é mais comum entre pessoas com menos instrução e, portanto, em geral, em posição inferior na escala social. A autora e o MEC defendem o livro com o argumento de que reconhecem as variedades da língua portuguesa e a linguagem dos diversos grupos sociais. (...) (Fábio Santos, Jornal Destak. Disponível em: http://www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=18,96935 consultado em 20/07/2011) Com base nos nossos estudos sobre variação linguística, produza um artigo de opinião, assumindo um posicionamento sobre a polêmica apontada no artigo acima. Imagine que seu artigo será publicado no editorial de um jornal de grande circulação. Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas. Não esqueça do título!

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Autora: Lucivânia A. S. Perico

3 CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO

Sem dúvida alguma, a palavra texto é familiar a qualquer pessoa ligada à prática escolar. Ela aparece com alta frequência no linguajar cotidiano tanto no interior da escola quanto fora de seus limi-tes. Não são estranhas a ninguém expressões como as que seguem: "redija um texto", "texto bem elaborado", "o texto constitucional não está suficientemente claro", "os atores da peça são bons mas o texto é ruim", "o redator produziu um bom texto", etc. Por causa exatamente dessa alta frequência de uso, todo estudante tem algumas noções sobre o que significa texto. Dentre essas noções, algumas ganham importância especial para redação, que se propõe ensinar a ler e a escrever textos.

Nesta lição introdutória, vamos fazer duas considerações fundamentais sobre a natureza do texto:

Primeira consideração: o texto não é um aglomerado de frases. A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma

reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à administração do governo do Estado de São Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de "Raspadinha". Entre os suspeitos figurava o nome de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de secretário de Indústria e Comércio e que negava sua participação na negociata.

O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos:

Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso, foi infeliz ao

rebater as denúncias. "Como São Pedro, nego, nego, nego", disse a um grupo de repórteres, referindo-se à conhecida passagem em que São Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na mesma noite. Esqueceu-se de que São Pedro, naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua vida. (Ano 20. 22:91.)

Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário

ao que ele tinha em mente. A citação, no caso, ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo. Sob o ponto de vista da análise do texto, qual teria sido a razão do equívoco lamentável

cometido pelo secretário? Sem dúvida, a resposta é esta: ao citar a passagem bíblica, o acusado esqueceu-se de que ela faz parte de um texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é autônomo.

Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar conferir-lhe o significado que se deseja. Como bem observou o repórter, no episódio bíblico citado pelo secretário, São Pedro, enquanto Cristo estava preso, foi reconhecido como um de seus companheiros e, ao ser indagado pelo soldado, negou três vezes seguidas conhecer aquele homem. Segundo a mesma Bíblia, posteriormente Pedro arrependeu-se da mentira e chorou copiosamente.

Esse relato serve para demonstrar de maneira simples e clara que uma mesma frase pode ter significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O grande equívoco do secretário, para sua infelicidade, foi o de desprezar o texto de onde ele extraiu a frase, sem se dar conta de que, no texto, o significado das partes depende das correlações que elas mantêm entre si.

Isso nos leva à conclusão de que, para entender qualquer passagem de um texto, é necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que ela de fato tem.

Em outros termos, é necessário considerar que, para fazer uma boa leitura, deve-se sempre levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida.

Entende-se por contexto uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda.

Uma observação importante a fazer é que nem sempre o contexto vem explicitado linguisticamente. O texto mais amplo dentro do qual se encaixa uma passagem menor pode vir implícito: os elementos da situação em que se produz o texto podem dispensar maiores escla-recimentos e dar como pressuposto o contexto em que ele se situa.

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Para exemplificar o que acaba de ser dito, observe-se um minúsculo texto como este: A nossa cozinheira está sem paladar. Podem-se imaginar dois significados completamente diferentes para esse texto dependendo da

situação concreta em que é produzido. Dito durante o jantar, após ter-se experimentado a primeira colher de sopa, esse texto pode

significar que a sopa está sem sal; dito para o médico no consultório, pode significar que a empregada pode estar acometida de alguma doença.

Para finalizar esta primeira consideração, convém enfatizar que toda leitura, para não ser equivocada, deve necessariamente levar em conta o contexto que envolve a passagem que está sendo lida, lembrando que esse contexto pode vir manifestado explicitamente por palavras ou pode estar implícito na situação concreta em que é produzido.

Segunda consideração: todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla.

Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma posição ou participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre alguma intenção por trás.

Observe-se, a título de exemplo, a passagem que segue, extraída da revista Veja do dia 1º de

junho de 1988, página 54.

CRIME: TIRO CERTEIRO Estado americano limita porte de armas.

No começo de 1981, um jovem de 25 anos chamado John Hinckley Jr. entrou numa loja de armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulário do governo com endereço falso e, poucos mi-nutos depois, saiu com um Saturday Night Special - nome criado na década de 60 para chamar um tipo de revólver pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia 30 de março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente Ronald Reagan e outra na cabeça de seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde então está preso a uma cadeira de rodas. (...)

Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um pronunciamento contra o risco

de vender arma para qualquer pessoa, indiscriminadamente. Para comprovar essa constatação, basta pensar que os fabricantes de revólveres, se pudessem,

não permitiriam a veiculação dessa notícia. O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça,

manifesta sempre um posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate. Ao final desta lição, devem ficar bem plantadas as seguintes conclusões:

a) Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos isolados do texto, já que o significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam;

b) Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás

do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão qualquer.

(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 11 a 14)

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3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO

REFINE SEU VOCABULÁRIO CORPORATIVO

No último 28 de março, o jornalista William Bonner recebeu o prêmio “Melhores do Ano”, da TV Globo, na categoria jornalismo. Ao ser perguntado sobre qual era o sabor daquele troféu, especialmente após substituir um dos maiores ícones do jornalismo brasileiro − o apresentador Cid Moreira −, Bonner respondeu enfaticamente: “Eu não substituí o Cid, eu o sucedi. Seria impossível substituí-lo”.

Os verbos “substituir” e “suceder” podem, a princípio, parecer quase sinônimos. No entanto, para Bonner, a opção por “suceder” foi muito mais feliz. “Suceder” soa mais natural que “substituir”, enquanto “substituir” é muito mais apropriado para uma lâmpada do que para uma pessoa. Pequenas sutilezas como essa fazem toda a diferença na comunicação.

Muita leitura e um dicionário sempre à mão na hora de escrever são as principais dicas para quem deseja refinar o vocabulário. É importante ressaltar a diferença entre “refinar” e “rebuscar”. O primeiro conceito está muito mais próximo de “lapidar”, trabalhar para escolher as palavras que melhor exprimem a mensagem desejada. Já o segundo significa “florear, sofisticar sem necessidade”.

Não faz sentido em um jantar familiar dizer “Por obséquio, passe-me o sal”. Note que no exemplo de William Bonner, ele não usa nenhum rebuscamento. No entanto, ele procura a palavra exata para exprimir sua mensagem. O refinamento assemelha-se a um trabalho mais artesanal.

Em entrevista a Folha de São Paulo, Marina Silva também constrói com palavras a sua posição na campanha eleitoral para presidente. “O Brasil precisa de um sucessor, e não de um continuador ou de um opositor. O opositor tende a jogar tudo na lata do lixo, e o continuador acha que já está tudo pronto.”

Escolher as palavras certas pode ser um diferencial positivo na carreira de um profissional. Por isso, mãos à obra.

(Disponível em: http://www.scrittaonline.com.br/artigos/refine-seu-vocabulario-corporativo, consultado em 29/07/10)

QUESTIONÁRIO

1. Por que para o jornalista William Bonner seria impossível substituir Cid Moreira? 2. O profissional deve buscar um vocabulário refinado ou rebuscado? Explique.

3. Para a análise de um texto é necessário que se considere o contexto (relação entre o texto e a

situação em que ele ocorre). Em que contexto está inserida a fala de Marina Silva?

4. Considerando o contexto, para Marina Silva, quem é o “continuador” e quem é o “opositor” (cite nomes)? Justifique sua resposta.

5. Trace um paralelo entre os discursos de William Bonner e Marina Silva justificando a razão de

optarem pelo verbo “suceder”.

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4 INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS Observe os trechos que seguem: Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores. Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

(DIAS, Gonçalves. Canção do exílio)

Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida” “Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”.

(Hino Nacional Brasileiro)

Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia.

(MENDES, Murilo. Canção do exílio)

Os três textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos dois primeiros, o que ocorre é que estes fazem alusão àquele. Os dois primeiros citam o texto de Gonçalves Dias. Com muita frequência um texto retoma passagens de outro. Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isso é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação. Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras que o compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para compreensão global de um texto. A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre textos dá-se o nome de intertextualidade. Compreender um texto implica também acessar conhecimentos prévios, adquiridos em experiências anteriores a que tenhamos sido expostos em nosso convívio social: leituras, filmes, aulas, palestras, sermões, conversas. A intertextualidade acontece quando utilizamos esses conhecimentos para elaborar um novo texto. Essa utilização pode ser em explícita ou implícita. Voltemos aos três textos colocados no princípio desta lição. O poema de Gonçalves Dias possui muitas virtualidades de sentido. Entre elas, a exaltação ufanista da natureza brasileira. Para ele, nossa pátria é sempre mais e melhor do que os outros lugares. Os versos do Hino Nacional retomam o texto de Gonçalves Dias para reafirmar esse sentido de exaltação da natureza brasileira. Já os versos de Murilo Mendes citam Gonçalves Dias com intenção oposta, pois pretendem ridicularizar o nacionalismo exaltado que pode ser lido no poema gonçalvino. Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas: a) para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado; b) para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para polemizar com ele. Em relação ao texto de Gonçalves Dias, o Hino Nacional enquadra-se no primeiro caso, enquanto o de Murilo Mendes encaixa-se no segundo. Quando um texto cita outro invertendo seu sentido, temos uma paródia. Os versos do Hino Nacional parafraseiam versos de Gonçalves Dias; os de Murilo Mendes parodiam-no. Compare agora estas duas estrofes, de dois poemas:

Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! [...]

(Casimiro de Abreu)

Meus oito anos Oh que saudades que eu tenho Da aurora de minha vida, De minha infância querida Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da Rua de Santo Antônio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais! [...]

(Oswald de Andrade)

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O texto de Casimiro de Abreu foi escrito no século XIX, o texto de Oswald de Andrade foi escrito no século XX. As semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles é o mesmo e há versos inteiros que se repetem. Portanto, o texto de Oswald cita o texto de Casimiro, estabelecendo com ele uma relação intertextual. Observe, porém, que o 2º texto tem uma visão diferente da apresentada pelo 1º. No 1º texto, tudo na infância parece perfeito, rodeado por “amor”, “sonhos” e “flores”; já no 2º texto, esses elementos são substituídos por um simples “quintal de terra”, um espaço concreto e comum, se idealização. Além disso, com o verso “sem nenhum laranjais”, Oswald ironiza Casimiro, como que dizendo: na minha infância também havia bananeiras, mas não havia os tais “laranjais” que o Casimiro cita em seu poema. Observe que Oswald, com seu poema, não apenas cita o poema de Casimiro, ele também critica esse poema, pois considera irreal a visão que Casimiro tem da infância. Certamente, na visão de Oswald, infância de verdade, no Brasil, se faz com crianças brincando no quintal de terra, embaixo das bananeiras, e não com crianças sonhando embaixo de laranjais. Podemos dizer que o texto de Oswald é uma paródia do texto de Casimiro. A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a importância da leitura, principalmente daquelas obras que constituem as grandes fontes da literatura universal. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Por isso, cada livro que se lê torna maior a capacidade de apreender, de maneira mais completa, o sentido dos textos. Vamos analisar o poema de Murilo Mendes:

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha

[a Gioconda.

Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de

[verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade!

(MENDES, Murilo. Poemas. In: --. Poesias (1925-1955). Rio de Janeiro, J. Olympio, 1959. p.5)

Observe a seguir o poema de Gonçalves Dias:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

(DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias: poesia. Por Manuel Bandeira. Rio de Janeiro, Agir, 1975. p. 11-2)

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Você leu duas canções do exílio diferentes. A de Gonçalves Dias enaltece a pátria, considera-a superior à terra do exílio. Murilo critica, com mordacidade, o Brasil e julga-se exilado em sua própria terra por não compartilhar dos valores nela vigentes. Cada texto é um pronunciamento sobre dada realidade; cada texto revela a visão de mundo de quem o produz. Mas não é só na literatura que isto acontece! A intertextualidade é uma forma de diálogo entre textos, que pode se dar de forma mais implícita ou mais explícita e em diversos gêneros textuais. O intertexto serve para ilustrar a importância do conhecimento de mundo e como este interfere no nível de compreensão do texto. Ao relacionar um texto com outro, o leitor entenderá que a intertextualidade é uma das estratégias utilizadas para a construção dos mesmos.

Chico Tirando Palha de Milho,2000,acrílica sobre tela

164x125 cm

Caipira Picando Fumo, 1893, Almeida Júnior(1850-99), óleo sobre tela,202x141cm.Pinacoteca de São Paulo, SP, Brasil

No caso específico do anúncio publicitário, por exemplo, o intertexto, quando usado, é uma forma diferente de persuasão, com o objetivo de levar o leitor a consumir um produto e também difundir a cultura. A televisão, muitas vezes, divulga sua programação e estimula sua audiência através de seus próprios produtos comunicacionais fazendo referências uns aos outros. Em alguns episódios de desenhos animados, como os Simpsons, por exemplo, nota-se esta referência. Os desenhos animados também são direcionados, e em alguns casos, principalmente, aos adultos. Prova disto está na utilização de obras da arte (clássica, surrealista, etc.) como elementos que compõem seus argumentos. A maioria das crianças não faz ideia da existência da "Capela Cistina". (É bem verdade que muitos adultos também estão na mesma situação!). Mas tudo isso para dizer que a intertextualidade só faz sentido e, só é percebida, quando o público e/ou audiência a que destinam-se, tem um conhecimento prévio acerca do assunto.

Quanto à intertextualidade na publicidade, pode-se dizer que ela assume a função não só de persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc). Assim, quando há a utilização deste recurso, boa parte do efeito de uma propaganda ou do título de uma reportagem é proveniente da referência feita a textos pré-existentes. Esses textos ora são retomados de forma direta, ora de forma indireta, levando o destinatário a reconhecer no enunciado o texto citado. Veja a seguir outros intertextos:

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Clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade linguística estereotipada por ser muito proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás de todo grande time há um grande treinador”. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio social “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O enunciado do jornal, na época, pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato. Outro exemplo destacado foi o da publicidade do SESI a respeito de um concurso de empresas sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o homem, o trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O trabalho dignifica o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”, ressalta-se em seguida a importância do trabalho em equipe “... o trabalho em equipe o torna um vencedor”. Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O título de uma reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo” que remete ao provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário desse (depois dos fatos negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de todo esforço “suor”, os funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram vítimas do desemprego, o “desamparo”. Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista Agamenon, responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal “O Dia”, cuja característica é o humor, nomeou uma de suas matérias de “Cuba se Fidel”. No mesmo, observa-se a alusão ao palavrão “se fo☺...” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa da semelhança fonética “Fidel e fo☺”. Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma reportagem sobre o turismo na Ilha Grande “A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande” se referindo à passagem bíblica que diz: “A fé move montanha”. Literário: quando o enunciado refere-se a verso(s), a passagem(ns) ou a título(s) de obra. - Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o seguinte enunciado: “Dona Flor e seus dois produtos”, que, por sua vez, se reporta a uma das obras de Jorge Amado intitulada “Dona Flor e seus dois maridos”. Observa-se assim que na publicidade Dona Flor é representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e pelo condicionador. Uma matéria da revista “Isto É” intitulada: “E o vento levou” sobre produtos para cabelo é o título de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados deixam os cabelos leves e soltos. - Exemplo de verso: O título de uma reportagem: “Infinito, mas enquanto durou” se referindo ao verso de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”. Musical: quando a letra de uma música se reporta a outra letra já existente. Num trecho do rap “Sem saúde”, de Gabriel O Pensador, o compositor diz: “... me cansei de lero-lero / dá licença mas eu vou sair do sério...” mencionando uma das músicas de Rita Lee.

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Com base em tudo o que vimos a respeito de intertextualidade, podemos destacar a importância do conhecimento de mundo e como esse fator interfere no nível de compreensão do texto. Pois, embora o aluno-leitor não identifique o intertexto, vai entendê-lo. Mas ao relacionar um texto com outro, compreenderá o texto lido na sua profundidade e por consequência será capaz de refletir sobre o recurso adotado pelo autor para quando for compor textos. Dessa forma, na aula de Português, por exemplo, o aluno compreenderá que a intertextualidade é um das estratégias utilizadas para a construção de um texto. No caso específico da publicidade, quando utiliza a intertextualidade é uma forma diferente de persuasão cuja intenção é de levar o leitor a consumir um produto e de também difundir a cultura. A intertextualidade deve fazer parte do planejamento de texto daquele que escreve, pois, afinal, é a cultura do país e do mundo que estão em movimento. Cabe a ele, então, reconhecer intertextos e a redigir utilizando também esse recurso.

EXERCÍCIOS Leia este anúncio:

1.Que tipo de linguagem é utilizado na construção do texto: a verbal, a visual ou ambas? 2.Leia apenas a frase situada na parte inferior do anúncio. Qual é o seu sentido? 3.Observe a figura central do anuncio: a roupa, os cabelos, o meio-sorriso da pessoa fotografada e o cenário de fundo. Por esse conjunto de elementos, notamos que não se trata de um anúncio comum, pois há nele a voz de outro texto bastante conhecido. Que texto é esse? 4.Ao lançar mão desta intertextualidade, o anunciante pode correr alguns riscos, pois o leitor pode não conhecer a obra de Leonardo da Vinci.

a) Levando em conta que o produto anunciado é um amaciante de roupas (portanto algo refinado, que nem todos utilizam) e que o anúncio foi publicado numa revista de público predominantemente feminino e de classe média, é provável que a maior parte dos leitores perceba o recurso de intertextualidade empregado ou não? Por quê? b) Quanto aos leitores que não conhecem Da Vinci, eles poderiam, mesmo assim, ser atingidos pelo apelo do anúncio, de modo que seu objetivo principal – promover o produto – fosse alcançado? Por quê? 5.Imagine como seria um anúncio tradicional desse produto (“compre...”, “use...”, “experimente...”) e compare ao anúncio lido. Levante hipóteses: que vantagens há, para o anunciante, em criar um anúncio com esse tipo de inovação?

(Português: Linguagens–pág.111, 112 e 113)

6.Retome os poemas “Canção do exílio”. Observe que quando você redige um texto, você elabora seu pronunciamento sobre uma determinada realidade. Por isso, num texto, você deve fazer uma reflexão pessoal e não repetir “lugares-comuns”. Escreva agora sua canção do exílio mostrando como você vê sua pátria. Seu texto deve ser em verso, mas não precisa ter rima. É importante que nele você arrole imagens que indiquem a concepção que você tem de seu país. Sua produção deve ter um título e, no mínimo, 20 linhas.

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5 O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA Todos conhecem as aventuras do Super-homem. Ele não é um terráqueo, mas chegou à Terra, ainda criança, numa nave espacial, vindo de Crípton, planeta que estava para ser destruído por uma grande catástrofe. É dotado de poderes sobre-humanos; seus olhos de raio X permitem ver através de quaisquer corpos, a uma distância infinita; sua força é ilimitada, possibilitando-lhe escorar pontes prestes a desabar e levantar transatlânticos; a pressão de suas mãos submete o carbono a temperaturas tão altas que o transforma em diamante; sua apurada audição permite-lhe escutar o que se fala em qualquer ponto. Pode voar a uma velocidade igual à da luz e, quando ultrapassa essa velocidade, atravessa a barreira do tempo e transfere-se para outras épocas; pode perfurar montanhas com o próprio corpo; pode fundir metais com o olhar. Além disso, tem uma série de qualidades: beleza, bondade, humildade. Sua vida é dedicada à causa do bem. O Super-homem vive entre os homens sob a aparência do jornalista Clark Kent, que é um tipo medroso, tímido, pouco inteligente, míope. Clark Kent é apaixonado por Lois Lane (quando os quadrinhos vieram para o Brasil, o nome dela era Miriam Lane, depois passou a ser Lois), sua colega, que, na verdade, ama loucamente o Super-homem. Já vimos que todo texto é um pronunciamento sobre uma dada realidade. Ao fazer esse pronunciamento, o produtor do texto trabalha com as ideias de seu tempo e da sociedade em que vive. Com efeito, as concepções, as ideias, as crenças, os valores não são tirados do nada, mas surgem das condições de existência. As concepções racistas, por exemplo, aparecem numa época em que certos países, necessitando de mão de obra, iniciam a escravização de negros. A ideia de que certas raças são inferiores a outras não é uma maldade dos brancos, mas uma justificativa apaziguadora da consciência dos senhores de escravos. Essas concepções ganham um impulso maior quando os países europeus, precisando de matérias-primas, iniciam o processo de colonização da África e da Ásia. A colonização é, assim justificada por um belo ideal: expandir a civilização. Todo texto assimila as ideias da sociedade e da época em que foi produzido. Neste momento, você poderia estar dizendo que o texto do Super-homem prova exatamente o contrário, pois nada tem ele a ver com a realidade histórica, na qual não existem super-homens. Quando se afirma que os textos se relacionam com a história, não se quer dizer que eles narram fatos históricos de um país, mas que revelam os ideais, as concepções, os anseios e os temores de um povo numa determinada época. Nesse sentido, a narrativa do Super-homem mostra os anseios dos homens das camadas médias das sociedades industrializadas do século XX, massacrados por um trabalho monótono e por uma vida sem qualquer heroísmo. Esse homem, mediocrizado e inferiorizado, nutre a esperança de tornar-se um ser todo-poderoso assim como Clark Kent, que se transforma em Super-homem. As condições de impotência do homem diante das pressões sociais geram um ideal de onipotência refletido na narrativa do Super-homem. Além disso, as concepções de sociedade em que esse texto foi produzido estão presentes na ideia de Bem. Como nota Umberto Eco, famoso autor italiano, um indivíduo dotado dos poderes do Super-homem poderia acabar com a fome, a miséria e as injustiças do mundo. No entanto, ela não faz nada disso. Ao contrário, o bem que pratica é a caridade, e o mal que combate é o atentado à propriedade privada. Lutar contra o mal é assim combater ladrões. Dedica sua vida a isso. Como se vê, as ideias produzidas num determinado tempo, numa dada época estão presentes no texto. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade. Como ela é dividida pelos interesses antagônicos dos diferentes grupos sociais, produz ideias contrárias entre si. A mesma sociedade que gera as ideias racistas produz ideias antirracistas. Por isso, controem-se nessa sociedade textos que fazem pronunciamentos antagônicos com relação aos mesmos dados da realidade. Há algumas ideias que predominam sobre suas contrárias numa dada época. Elas refletem os interesses dos grupos sociais dominantes. Fazer uma reflexão pessoal é analisar essas ideias de maneira crítica, verificando até que ponto elas têm apoio na realidade. Para entender com mais eficácia o sentido de um texto, é preciso verificar as concepções correntes na época e na sociedade em que foi produzido. Assim, não se corre o risco de considerar, por exemplo, como pronunciamentos idênticos um texto sobre a democracia ateniense e um sobre a democracia nas sociedades capitalistas modernas, que, na verdade, tratam de concepções distintas. As ideias de uma época estão presentes nos significados dos textos. Observe a figura a seguir: quais mudanças discursivas ocorreram ao longo da história?

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Cabe lembrar ainda que as ideias de uma época são veiculadas por textos, uma vez que não existem ideias puras, ou seja, não transmitidas linguisticamente. Assim, analisar as ideias de um texto é estudar o diálogo entre textos, em que um assimila e registra as ideias presentes nos outros. Vamos fazer agora a análise de dois textos cujo discurso mudou ao longo da história. A CARTEIRA PROFISSIONAL (1976) Por menos que pareça e por mais trabalho que dê ao interessado, a carteira profissional é um documento indispensável à proteção do trabalhador. Elemento de qualificação civil e de habilitação profissional, a carteira representa também título originário para a colocação, para a inscrição sindical e, ainda, um instrumento prático do contrato individual de trabalho. A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história de uma vida. Quem a examina, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma advertência.

Alexandre Marcondes Filho MENSAGEM DO SENHOR MINISTRO (1988) Criada em 1932, a Carteira de Trabalho e Previdência Social resistiu ao passar dos anos, assimilando com muita presteza as profundas modificações que se registraram, nestas décadas, na composição, distribuição e qualificação da nossa força de trabalho. Sem nenhum exagero, pode-se afirmar que este documento, por muitos ainda hoje conhecido como “carteira profissional”, converteu-se num dos mais importantes instrumentos à disposição do trabalhador, fazendo as vezes de cédula de identidade, título de crédito, atestado de antecedentes, de boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades. Em sua simplicidade, a CTPS reflete a carreira do trabalhador e sua evolução profissional. Cabe-lhe, pois, protegê-la atenta e cuidadosamente, porque enquanto pelos seus aspectos externos essa Carteira revela traços importantes da personalidade e da formação do seu possuidor, os registros internos, habitualmente insubstituíveis, se constituem nas melhores garantias da preservação e da efetivação dos seus direitos trabalhistas e previdenciários.

Almir Pazzianotto Pinto

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Instituída na década de 1930, a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) apresentava uma dupla função, mantida até hoje: além de resguardar os direitos do trabalhador funcionava também como um tipo de condensação das atividades profissionais deste, servindo de alerta aos empregadores: “Quem a examina, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma advertência.” Atendendo às orientações da CTPS de 1976, um funcionário admitido na LIGHT – nome da empresa estadual de energia elétrica na época – designado para o setor de pessoal da empresa, recebeu a seguinte orientação do seu chefe: “Fique atento à carteira profissional do candidato e ao número de anos que permaneceu em cada empresa; entreviste-o bem próximo, para ver se ele não cheira a cachaça. Conte uma boa piada para fazê-lo rir e avaliar a sua saúde, a partir da qualidade dos seus dentes”. Era esta a postura da empresa diante do trabalhador. O discurso escrito na CTPS foi reformulado e, em 1988, ela passou a ser “atestado de antecedentes, de boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades”. Permanecia o discurso anterior, agora aprimorado. Atualmente, a CTPS possui nas páginas iniciais quatro itens do Art.XXIII, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, absolutamente utópicos para o momento atual: dizendo que “Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.” Mas será que isso é verdade? Em seguida, há um trecho do Decreto-Lei nº229, de 28 de fevereiro de 1967, e na sequência um texto dirigido ao trabalhador, que diz assim: TRABALHADOR Esta é a sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, instituída pelo Decreto nº 22.035, de 29 de outubro de 1932, e posteriormente reformulada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, que aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho. É o documento obrigatório para o exercício de qualquer emprego, seja de natureza urbana, rural, de caráter temporário, permanente, ou mesmo em atividade profissional exercida por conta própria. Nela são registrados os salários e todos os elementos básicos para o reconhecimento de seus direitos perante a Justiça do Trabalho, bem como para a obtenção da aposentadoria e demais benefícios da Previdência Social, tanto para você como para seus dependentes. Além de registrar todas as relações de trabalho de seu portador, comprovando o vínculo que mantém com o empregador, a CTPS garante-lhe também o direito ao Seguro-Desemprego. Além de valer, também, como prova de identidade, conforme dispõe o artigo 40 da Consolidação das Leis do Trabalho, o conjunto de anotações da CTPS e seu estado de conservação espelham a conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das informações que encerra, serve, ao mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de antecedentes, tornando-se instrumento de múltiplas utilidades ao seu portador. Pela sua importância, é seu dever protegê-la e cuidá-la. É o registro de toda a sua vida profissional e a garantia da preservação e validade de seus direitos como trabalhador e cidadão, contribuindo para assegurar o seu futuro e de seus dependentes.

(sem assinatura)

Observamos a mudança no discurso escrito, porém a CTPS permanece sendo, intrinsicamente, um “atestado” de conduta pessoal e profissional, uma vez que “o conjunto de anotações da CTPS e seu estado de conservação espelham a conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das informações que encerra, serve, ao mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de antecedentes (...)”, ou seja, as palavras mudaram, mas os conceitos não. Ao contrário do discurso percebido na figura relacionada ao ensino (1969-2009). O artigo a seguir, extraído da revista Língua Portuguesa, dá conta da análise de campanhas publicitárias e sua relação com o contexto e a história.

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5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO Polêmica mundial envolvendo campanha de agência brasileira mostra a dificuldade em controlar a interpretação dos consumidores

O anúncio Aviões, da WWF, provocou reações indignadas nos EUA contra a agência DM9DDB: texto insensível

Uma das mais tarimbadas agências do país, com vinte anos de janela, a DM9DDB se meteu num vespeiro, mês passado, com a repercussão mundial de uma campanha publicitária criada para a WWF, organização não governamental dedicada à conservação da natureza. A peça, composta pelo impresso Aviões e pelo filme Tsunami, lança uma centena de aviões contra o World Trade Center. No filme, a cena escurece para dar lugar a letreiros com a premissa retórica que sustenta o anúncio: "O tsunami matou 100 vezes mais pessoas do que o 11 de setembro". Em seguida, o apelo à reflexão: "Nosso planeta é poderoso. Respeite e preserve". Além do erro conceitual (tsunamis são fenômenos geológicos, não relacionados à destruição da natureza pelo homem) e da premissa controversa (o paralelo entre ato terrorista e mudança ambiental), a campanha pôs em xeque um dos pilares da retórica publicitária desde a era dos reclames: a interpretação (programada) das mensagens que veicula. Difícil localizar quem interpretou o anúncio da WWF, conforme o planejado pela DM9, como um alerta à devastação. Nos EUA, ela foi recebida antes como afronta ao sofrimento norte-americano no aniversário de oito anos do atentado. Foi condenada não só pela mídia especializada, como a revista nova-iorquina Advertising Age, mas por programas da rede NBC e pelo tradicional New York Times. Na primeira semana de setembro, o caso virou um jogo de empurra entre a agência e o braço local da ONG. Em nota, a DM9DDB alegou que o anúncio foi "fruto somente da inexperiência" dos profissionais envolvidos "de ambas as partes". Por sua vez, o braço brasileiro do WWF divulgou que a peça havia sido rejeitada. Depois, em nota conjunta, ambos admitiram que o anúncio foi aprovado em dezembro de 2008, "equivocadamente". Nenhum reparo prévio, no entanto, impediu que a peça fosse divulgada à imprensa por release da própria DM9, publicada num jornal de São Paulo antes de ter sua veiculação suspensa, inscrita no festival de Cannes e premiada com um diploma Merit pelo One Show, competição internacional da propaganda, o que deu lenha à repercussão mundial do caso. O prêmio foi cancelado, a pedido da agência, mas o estrago já havia sido potencializado por sites e blogs de todo o mundo. Na era da internet, com blogs bisbilhoteiros e repercussão em escala, de site a site, a possibilidade de interpretação indesejada de mensagens publicitárias tem crescido exponencialmente. No início de setembro, a Unimed Porto Alegre viu um anúncio seu virar alvo de blogs de estudantes e publicitários. A campanha "Cuidar", desenvolvida pela agência Escala desde o início do ano, partia do conceito de que, para uma cooperativa de médicos, não mero plano de saúde, cuidar é tão importante quanto curar. Daí desenvolver a série de anúncios em que letras de palavras, como "trabalho", "respeito" e "amor", fossem substituídas pelo corpo humano. No caso de "cuidar", no entanto, a letra i deu lugar a uma modelo esguia e ereta, o suficiente para que blogueiros a vissem como um muro a separar um verbo de um substantivo indesejado.

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Fora de contexto A infeliz coincidência, no entanto, de circulação restrita pois publicada num caderno especial do jornal Zero Hora em 1º de setembro, para comemorar um prêmio recebido pela empresa, espalhou-se pela blogosfera, mas não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed, garante Eduardo Axelrud, diretor de criação da agência gaúcha. - Tirada do contexto, a leitura inadvertida é de fato plausível. Mas para o consumidor, a palavra "cuidar" foi parte de uma sequência de outras palavras que integraram uma campanha de longa duração, que traduz a ideia de que "nossa vida é cuidar da sua", com a qual as pessoas têm familiaridade e entendimento já consolidado ao longo dos anos. Por isso, não teria havido margem a duplo sentido, nem a interpretações escatológicas ou pornográficas - afirma Axelrud. A peça, lida isoladamente, descontextualizada, autorizaria a leitura indesejada. Mas, integrante de um conjunto de ações de marketing e de propaganda, o tropeço se "contamina" pela lógica interna das outras peças que integram a rede de mensagens de uma campanha. O que reduziria, diz Axelrud, a possibilidade de interpretação dúbia. - O anúncio não nos constrangeu. Muito pouca gente que o viu deu atenção ao fato porque ele está num contexto maior de uma campanha que se prolongou no tempo - diz Gerson Luís Silva, gerente de marketing da Unimed Porto Alegre. Funerária A leitura de duplo sentido, porém, pode ser um efeito proposital de certas campanhas. Maior empresa funerária do Rio de Janeiro, com 10% do mercado carioca, a seguradora Sinaf criou uma tradição de humor negro publicitário. Para promover a empresa, a Comunicação Carioca criou uma campanha em 2003 com slogans de duplo sentido:

"Cremação: uma novidade quentinha da Sinaf." "Nossos clientes nunca voltaram para reclamar." "O seguro de vida que você vai dar graças a Deus. Pessoalmente." "Como planejar a morte da sua sogra."

Apesar de produzir mensagens no limite entre a eficiência comunicativa e o mau gosto, o que poderia afugentar os interessados nos serviços da empresa, o tom inusitado dos anúncios subvertia a dificuldade de as pessoas lidarem com a morte. O sucesso da campanha aumentou a procura pelos serviços funerários e facilitou a abordagem dos vendedores da empresa. Passado o impacto inicial, a atual agência da empresa, a Script, atenuou o tom escancarado dos anúncios da seguradora, mas ainda mantém a ironia de antes:

"O melhor plano é viver. Mas vai que dá errado." "Reforme sua casa de olhos fechados." "Se beber, não dirija. Se dirigir, Sinaf." "Um dia você não acorda e está rico." "Sinaf, 25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro."

Podemos qualificar as campanhas da funerária Sinaf como um humor negro, mas com resultados. Café com leite O mais comum, no entanto, é ver mensagens publicitárias que permitem dupla interpretação botarem a perder todo um esforço comunicativo. A Parmalat lançou em 1998 uma campanha para promover sua marca de café solúvel. A ideia era transferir para o café a bem-sucedida imagem da empresa de laticínios, num casamento que reproduzisse a combinação clássica do café-com-leite. A campanha materializou a combinação numa metáfora visual, em que brancos e negros formavam casais. A “azeitona da empada”, no entanto, foi a construção do texto, com involuntária invocação racista: "Um café à altura do leite". - Dizer que o café está à altura do leite é partir da premissa de discriminação ética, de apresentação alegórica que reforça a crença na superioridade do leite, branco, sobre o café, que se toma por metáfora do negro - entende

A campanha da Unimed-RS, em que uma modelo substitui a letra i, dividindo a palavra "cuidar" em um verbo e um substantivo indesejado

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Clóvis de Barros, professor de ética da ECA-USP, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e coordenador do Espaço Ética. Dar orientação argumentativa a uma ideia é um desafio que extrapola o meio publicitário, explica o professor Francisco Platão Savioli, da USP e do sistema Anglo de Ensino. - Bom texto é o que atinge o resultado programado. Bom escritor não é o que escreve correto, mas o que sabe escolher para o seu texto os recursos que obedecem à sua intenção. O controle da forma mais funcional para atingir o efeito desejado é um dos ingredientes da construção textual, mas há outros a controlar, como o respeito por crenças e valores do interlocutor, a adequação à competência interpretativa dos leitores etc. - escreveu ele à Língua. Exemplum A busca do ouro na criação de certas peças publicitárias passa muitas vezes por inverter expectativas, ser provocativo e imprevisível, com o que se define o sucesso ou o fracasso de uma comunicação. Controlar o efeito de suas mensagens virou, por isso, o desafio retórico do mundo da propaganda. Não por acaso, a publicidade bebe na fonte da retórica antiga. A peça criada pela DM9, por exemplo, usou o manjado recurso persuasivo do exemplum, episódio ou caso exemplar apresentado para ilustrar um ponto forte do debate. A recomposição da mecânica discursiva mostraria que a DM9 tinha a tarefa de criar a imagem da devastação da natureza na mente do público-alvo da WWF. Nada parece mais eficiente para dar dimensão de algo do que compará-lo a exemplo palpável e familiar. Efeitos sociais Pensemos num primeiro termo de comparação: o que foi devastador e está fresquinho no imaginário popular? O tsunami, que matou mais de 280 mil pessoas desde 2006. Eureka! Mas o que poderia dar dimensão da magnitude de tal cifra? Compará-lo a uma outra devastação que tenha tido ainda maior impacto na memória coletiva, mas saldo de vítimas bem menor. Que tal o World Trade Center? A sacada parecia genial. Até alguém notar que o rei estava nu. - A publicidade nunca vale por ela mesma mas pelos efeitos que provoca na sociedade. Muito de suas consequências são produzidas em cadeia para além dos resultados mais imediatos no consumo - diz o professor Clóvis de Barros Filho. O mundo da propaganda, diz Barros Filho, provoca efeitos sociais que envolvem três níveis de leitura esperados num consumidor de mensagens comerciais. O primeiro grande efeito procurado é a conversão da mensagem em práticas de consumo. A segunda leitura desejada é a representação simbólica do anunciante, a referência a que a marca passou a ser associada após dada campanha. Mas os publicitários não raro ignoram uma terceira dimensão da interpretação de anúncios, avalia o professor da USP: o da cultura ética. Para o professor, uma mensagem publicitária não só pode alterar o ritmo de vendas e consolidar uma imagem que agrada ao anunciante, como tende a participar de uma determinada maneira de interpretar o mundo e atribuir valor às coisas, que permitem escolhas relativas não só ao consumo. - É possível conceber uma mensagem que se converta em ganho de consumo e, num segundo momento, em construção positiva da marca, mas se inscreva no mundo social de modo a contribuir para a defesa de valores discriminatórios, xenófobos ou que apequenam a existência humana. Esse cuidado deve ser tomado - diz Barros Filho. Valores Foi-se a época em que um anúncio demonstrava a capacidade do produto. Um refrigerante mata a sede, um carro nos leva a um lugar, o sapólio limpa mais. Um dia, veio a sacada e o refri passou a espantar os males da vida, uma cervejinha virou afrodisíaco e um singelo sanduíche, sinônimo de realizações. Até fumante virou atleta nos tempos em que anúncios de cigarro eram parte da paisagem. O mundo sob o prisma da publicidade é sem nódoas ou crises, pois o menor sinal negativo termina anulado pela exibição triunfal do produto. Quando Coca-Cola dá vida a tudo e o primeiro sutiã resume a puberdade, um sinal é dado e consumido. Mas sempre algo trai a dimensão retórica, o fato de a mensagem ser feita para nos convencer a comprar um peixe. Casos como o dos cem aviões, do café à altura do leite ou do humor funerário mostram que o ruído ocorre quando a publicidade tenta vender seu peixe a qualquer preço. Internet estimula sátira a agências e anunciantes Embora recebendo interpretações distintas por parte das pessoas que tiveram contato com seus anúncios, tanto a WWF como a Unimed-RS atribuem a repercussão de suas recentes peças publicitárias ao que consideram uma terra de ninguém: a internet. Veiculadas uma única vez cada um, em jornais locais, as peças "Aviões" e "Cuidar" se multiplicaram em blogs e no twitter. O presidente da DDB Brasil, Sérgio Valente, admitiu o impacto da difusão global de tropeços localizados ao divulgar em setembro um constrangido pedido de desculpas pelos anúncios da campanha "Aviões". - Essas peças publicitárias, ainda que veiculadas uma única vez em veículos locais, acabaram por gerar consequências globais que mostram que o alcance de uma peça publicitária já não é mais apenas local. Eduardo Axelrude, da agência Etapa, que detém a conta da Unimed-RS, também acusa o golpe on-line.

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- A repercussão de casos assim mostra a capacidade da internet de "viralizar", replicar comentários sob pseudônimo, extrapolando a incidência do caso um a um - diz ele. A internet virou um celeiro de sátiras a anúncios, para além dos comerciais de mentirinha criados pelo grupo Desencannes, famoso por inventar paródias publicitárias, como a que simula Ronaldo Fenômeno num anúncio do Santander: "Eu nunca fico no Banco do Brasil". A divertida iniciativa do Desencannes restringe-se à homenagem paródica. Não é o que foi feito por piratas da publicidade que criaram, por exemplo, um site de vídeos para a marca GM, como se a própria montadora apontasse seus produtos como poluidores e recriminasse sua política de distribuição de bônus para executivos. Em outra ação viral, o logotipo do banco Bradesco foi redesenhado para a inserção de aviões colidindo com as torres gêmeas, no 11 de setembro. O comercial das motos Dafra com o ator Wagner Moura foi redublado para desmentir todas as qualidades que a peça publicitária original anunciava sobre a marca.

Ronaldo na paródia do site Desencannes e o logotipo do Bradesco premonitório do 11 de setembro: ação viral

(JUNIOR, Luiz Costa Pereira. Os limites da retórica de mercado. Língua Portuguesa. São Paulo, Ano IV, nº 48, p. 46 – 50. Out. 2009)

QUESTIONÁRIO

1. Considerando a campanha publicitária “Aviões”, da WWF, o que provocou reações indignadas nos EUA contra a agência DM9DDB? Por que o público reagiu assim? 2. Para Eduardo Axelrud, diretor de criação da agência gaúcha Escala, a campanha da Unimed-RS “não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed”. Por que ele alega isso? Você concorda com ele? 3. Analise o sucesso das campanhas publicitárias da seguradora Sinaf, maior empresa funerária do Rio de Janeiro, promovido pela agência Comunicação Carioca. Você acredita que a empresa correu o risco de ser prejudicada pela campanha publicitária? Justifique sua resposta. 4. Comente a fala do professor Francisco Platão Savioli a respeito da construção textual.

5. Estudamos um recurso chamado intertextualidade e a importância de se considerar o conhecimento prévio do leitor (o seu repertório) sobre o assunto. Qual a intertextualidade estabelecida pelo trecho a seguir: “A sacada parecia genial. Até alguém notar que o rei estava nu.”? 6. Percebe-se que a Internet tem um importante papel na divulgação das campanhas publicitárias. Comente-o. 7. O grupo Desencannes ficou famoso por inventar paródias publicitárias, ou seja, comerciais de mentirinha na Internet, a intenção era uma homenagem paródica. Porém, piratas da publicidade criaram propagandas desagradáveis. Quais foram estas propagandas e que prejuízos você acredita que possam trazer para as empresas citadas?

Para a próxima aula, trazer dicionário.

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6 RESUMO

Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos: a) cada uma das partes essenciais do texto; b) a progressão em que elas se sucedem; c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes. O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias essenciais, na progressão e no encadeamento em que aparecem no texto. Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos essenciais do texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários ou julgamentos ao que está sendo condensado. Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de "colagem". Essa "colagem" de fragmentos do texto original não é um resumo. Resumir é apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido. Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do texto. Não é possível ir resumindo à medida que se vai fazendo a primeira leitura. É evidente que o grau de dificuldade para resumir um texto depende basicamente de dois fatores: a) da complexidade do próprio texto (seu vocabulário, sua estruturação sintético-semântica, suas relações lógicas, o tipo de assunto tratado etc.); b) da competência do leitor (seu grau de amadurecimento intelectual, o repertório de informações que possui, a familiaridade com os temas explorados). Alguns procedimentos para diminuir as dificuldades de elaboração do resumo: 1. Ler uma vez o texto, ininterruptamente, do começo até o fim: sem a noção do conjunto, é mais difícil entender o significado preciso de cada uma das partes. Essa primeira leitura deve ser feita com a preocupação de responder à seguinte pergunta: do que trata o texto? 2. Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com interrupções, com o lápis na mão, para compreender melhor o significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e para captar o sentido de frases mais complexas (longas, com inversões, com elementos ocultos), bem como as conexões entre elas. 3. Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade de significação. Em um texto pequeno, normalmente pode-se adotar como critério de segmentação a divisão em parágrafos. Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por exemplo) é conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de cada texto. Em seguida, com palavras abstratas e mais abrangentes, tenta-se resumir a ideia ou as ideias centrais de cada fragmento. 4. Dar a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os segmentos mas encadeá-los na progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.

(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 420 e 421)

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Exemplo: A Receita Federal brasileira vai iniciar um processo de integração com o fisco dos demais países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) para combater as fraudes fiscais que estão ocorrendo nas operações comerciais feitas entre empresas do bloco econômico. Com a globalização, os chamados "preços de transferência" se transformaram no principal alvo das administrações tributárias dos países filiados ao Centro Interamericano de Administradores Tributários (CIAT). Por esse mecanismo, as empresas conseguem fraudar o fisco realizando operações de compra e venda com preços que não correspondem ao valor real dos produtos ou serviços negociados. Em todos os casos, é sempre necessário utilizar um paraíso fiscal - país que apresenta vantagens e isenções tributárias. No caso de uma exportação, a empresa vende seu produto por um preço muito baixo, o que caracteriza uma operação não-lucrativa (portanto, sem incidência de Imposto de Renda). A venda é intermediada por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, que recoloca o preço em seu patamar real e conclui a venda ao comprador. O lucro realizado por essa empresa retorna ao exportador sem ônus fiscal. Na importação, a operação é inversa. O produto é comprado a um preço elevado, reajustado em um paraíso fiscal antes de chegar ao seu destino. O importador alega prejuízo na operação e escapa ao fisco. "A globalização, que agilizou e sofisticou os negócios entre as empresas, criou modernas doenças fiscais. Temos que combatê-las", disse o Secretário da Receita Federal do Brasil, Everardo Maciel, à Folha. Apenas um trabalho conjunto entre os diversos países do Mercosul poderá extinguir ou, pelo menos, neutralizar as fraudes fiscais internacionais.

(Folha de S. Paulo - 18.5.97, com adaptações)

Resumo A globalização da economia, embora tenha agilizado e sofisticado os negócios entre as empresas, também criou algumas "doenças", como fraudes fiscais que estão ocorrendo nas operações comerciais entre empresas do Mercosul. Assim, o Brasil e os países do Mercosul devem trabalhar em conjunto a fim de extinguir, ou ao menos neutralizar, essas fraudes fiscais internacionais.

ATIVIDADE

1º Retome o artigo “Os limites da retórica de mercado”, extraído da revista Língua Portuguesa. 2º Já fizemos anteriormente uma primeira leitura ininterrupta, agora é importante fazer uma segunda leitura e destacar as palavras que você desconhece; logo após, procurar o seu significado no dicionário; 3º Na terceira leitura, grife em cada parágrafo a ideia central (tópico frasal); 4º Por fim, escreva o resumo, com suas próprias palavras, utilizando o menor número de linhas possível.

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7 RESENHA Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem. O objeto resenhado pode ser um acontecimento qualquer da realidade (um jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de livros) ou textos e obras culturais (um romance, uma peça de teatro, um filme). A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva, já que são infinitas as propriedades e circunstâncias que envolvem o objeto descrito. O resenhador deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo que é funcional em vista de uma intenção previamente definida. Imaginemos duas resenhas distintas sobre o mesmo objeto, o treinamento dos atletas para uma copa mundial de futebol: uma resenha destina-se aos leitores de uma coluna esportiva de um jornal; outra, ao departamento médico que integra a comissão de treinamento. O jornalista, na sua resenha, vai relatar que um certo atleta marcou, durante o treino, um gol olímpico, fez duas coloridas jogadas de calcanhar, encantou a plateia presente e deu vários autógrafos. Esses dados, na resenha destinada ao departamento médico, são simplesmente desprezíveis. Com efeito, a importância do que se vai relatar numa resenha depende da finalidade a que ela se presta. Numa resenha de livros para o grande público leitor de jornal, não tem o menor sentido descrever com pormenores os custos de cada etapa de produção do livro, o percentual de direito autoral que caberá ao escritor e coisas do tipo. A resenha pode ser puramente descritiva, isto é, sem nenhum julgamento ou apreciação do resenhador, ou crítica, pontuada de apreciações, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de quem a elaborou. A resenha descritiva consta de: a) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto: - nome do autor (ou dos autores); - título completo e exato da obra (ou do artigo); - nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra; - lugar e data da publicação; - número de volumes e páginas. Pode-se fazer, nesta parte, uma descrição sumária da estrutura da obra (divisão em capítulos, assunto dos capítulos, índices, etc.). No caso de uma obra estrangeira, é útil informar também a língua da versão original e o nome do tradutor (se tratar de tradução). b) uma parte com o resumo do conteúdo da obra: - indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom, etc.); - resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. Na resenha crítica, além dos elementos já mencionados, entram também comentários e julgamentos do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra, etc. Para melhor compreensão da estrutura da resenha, observe a resenha abaixo:

MEMÓRIA - ricas lembranças de um precioso modo de vida O Diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42. Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotado em um caderno de capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina, que se propõe a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.

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O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do texto que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o caderno deveria ser entregue quando acabado. E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos, pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-leite, novena, o Tico-Tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do galo, carta para a família, dor-de-barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão ... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião. Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta, escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida. O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo / a / os / as, conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e empregavam, sem pestanejar, o mais-que-perfeito do indicativo quando de direito... Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de Raquel Braga. Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e cantoneiras imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo uma grande festa para seus leitores.

Marisa Lajolo - Jornal da Tarde, 18 jan. 1986. O texto é uma resenha crítica, pois nele a resenhadora apresenta um breve resumo da obra, mas também faz uma apreciação do seu valor (exemplo, 1º período do 1º parágrafo, 3º parágrafo). Ao comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor sobre ela, estabelecendo um paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de hoje do ponto de vista da capacidade de se expressar por escrito. No último parágrafo comenta o projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a respeito dele. No resumo da obra, a resenhadora faz uma indicação sucinta do conteúdo global da obra ("registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42"), mostra o gênero utilizado pela autora (diário) e, depois, relata os pontos essenciais do livro (um rol dos pequenos acontecimentos da vida da adolescente em férias). A parte descritiva é reduzida ao mínimo indispensável. Apenas o título completo da obra, a editora e o nome da autora são indicados. Estamos diante de uma resenha muito bem-feita, pois se atém apenas aos elementos pertinentes para a finalidade a que se destina: informar o público leitor sobre a existência e as qualificações do livro.

(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 426 a 429)

7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA

Leia o texto abaixo: Durante toda sua carreira como psicólogo, Maslow interessou-se profundamente pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo estudo da psicologia como um instrumento de promoção do bem-estar social e psicológico. Insistiu que uma teoria da personalidade precisa e viável deveria incluir não somente as profundezas, mas também os pontos que cada indivíduo é capaz de atingir. Maslow é um dos fundadores da teoria humanista. Forneceu considerável incentivo teórico e prático para os fundamentos de uma alternativa para o behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que tendem a ignorar ou deixar de explicar a criatividade, o amor, o altruísmo e os grandes feitos culturais, sociais e individuais da humanidade. Maslow estava principalmente interessado em explorar novas saídas, novos campos. Seu trabalho é mais uma coleção de pensamentos, opiniões e hipóteses do que um sistema teórico plenamente desenvolvido. Sua abordagem em psicologia pode ser resumida pela frase de introdução de seu livro mais influente, Introdução é psicologia do ser. (Fadiman, James et alii 1986:280).

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"Está surgindo agora no horizonte uma nova concepção da doença humana e saúde humana, psicologia que acho tão emocionante e tão cheia de maravilhosas possibilidades que cedi à tentação de apresentá-la publicamente mesmo antes de ser verificada e confirmada e antes de poder ser denominada conhecimento científico idôneo." (Maslow, 1968, 27) Agora, observe que o resumo e a resenha são textos diferentes na sua estrutura: RESUMO Maslow sempre se interessou pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo uso da psicologia como um instrumento de promoção do bem-estar social e psicológico. Forneceu incentivo para os fundamentos de uma alternativa para o behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que deixam de explicar a criatividade, o amor, o altruísmo e os outros grandes feitos culturais da humanidade. É um dos fundadores da teoria humanista. RESENHA Obra: Teorias da personalidade. Autor: Fadiman, James et alii in Cap.9 Abraham Maslow e a Psicologia da Auto-Atualização, p. 260 SP Harbra, 1986, 7 e 8. Trata-se de um capítulo que interessa a todos os estudantes que desejam conhecer desde os dados biográficos do autor, como a sua metodologia fundada no humanismo e no crédito de que o ser humano não é tão mau como se pensa. Demonstra interesse pela antropologia social, interessando-se pelo trabalho dos antropólogos sociais, tais como Malinowsky, Mead, Benedict e Linton. Interessou-se pela gestalt e pela teoria e conceitos de auto-atualização. Lidando com questões ligadas a valores, amor de deficiência e do ser, bem como a psicologia transpessoal, afirma que " Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas ou então vazios de esperança e apáticos." (Maslow, 1968:12)

(BARROS, A. J. da Silveira & LEHFELD, N. A. de Souza. Fundamentos de metodologia científica. SP. MAKRON. 2000)

REDAÇÃO

Elabore uma resenha crítica do primeiro livro lido por nós neste semestre. Seu texto deve ter no mínimo 25 linhas, escrito no padrão culto da língua. Não esqueça do título.

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8 FILME “TEMPOS MODERNOS”

“Tempos Modernos” é o último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas". Em sua segunda parte, o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo o conforto e diversão para a burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões. Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado "socialista". Juntamente com O Garoto e O Grande Ditador, Tempos Modernos está entre os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história do cinema.

(Disponível em http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181 , consultado em 11 ago 2011)

ATIVIDADE

Reúna-se com seu grupo para debater e responder às seguintes questões, baseando-se nas cenas do

filme “Tempos Modernos”: 1. Quais as três questões abordadas no filme? 2. Como o funcionário é tratado na fábrica? 3. Ele tem consciência sobre o que está produzindo? 4. Qual a posição do patrão (presidente da fábrica) em relação aos funcionários? 5. Quando Carlitos fica louco e acaba entrando nas engrenagens da fábrica, o que isso representa? 6. Quais são as características da tecnologia (máquinas, ferramentas) utilizadas? 7. Quem decide a maneira (e o tempo) como o trabalho é realizado? 8. Quais questões trabalhistas e sociais mostradas no filme estão presentes na nossa realidade atual?

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9 REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL

O que é redação técnica? Primeiramente, vejamos esses dois termos separadamente: Redação é o ato de redigir, ou seja, de escrever, de exprimir pensamentos e ideias através da

escrita. Técnica é o conjunto de métodos para execução de um trabalho, a fim de se obter um resultado. Logo, para que você escreva uma redação técnica é necessário que certos processos sejam seguidos, como o tipo de linguagem, a estrutura do texto, o espaçamento, a forma de iniciar e finalizar o texto, dentre outros.

Desta forma, a necessidade de certa habilidade e de se ter os conhecimentos prévios para se

fazer uma redação técnica é imprescindível! A redação técnica engloba textos como: ata, circular, certificado, contrato, memorando,

parecer, procuração, recibo, relatório, currículo. Veremos cada um deles na aula de hoje. Mas antes de chegarmos ao ponto, vamos refletir sobre o que é a correspondência. Correspondência é um ato que se evidencia pelo traço de informações e se caracteriza pela

emissão e recepção de mensagens. É um meio de comunicação escrita entre pessoas. É o ato ou estado de corresponder, adaptar, relatar. É uma comunicação efetiva por meio de papéis, cartas ou documentos. Por ampliação de sentido, passou a designar todo o conjunto de instrumentos de comunicação escrita: bilhetes, cartas, circulares, memorandos, ofícios, requerimentos etc.

A redação de textos administrativos inclui a necessidade de dinamizar o texto (por isso, o uso

de verbos próprios, substituindo expressões com verbo auxiliar, exemplo: “foi feito um levantamento” pode ser substituído por “realizou-se um levantamento”), evitar palavras desnecessárias, ampliar o vocabulário, optar pelo simples em lugar do complexo, utilizar frase curta, usar vocabulários conhecidos pelo receptor, aproximar-se da coloquialidade sem desrespeitar a gramática, procurar a inteligibilidade do texto.

São exigências modernas a objetividade e a rapidez na exposição do pensamento. Por isso, mais do que nunca, é preciso buscar clareza de pensamento, expressão objetiva de ideias, vocabulário exato. A linguagem utilizada nas relações comerciais exige o conhecimento de certas fórmulas e praxes em que se deve exercitar o redator comercial.

Observem-se sempre as qualidades da redação como: exatidão, coerência de ideias, clareza e concisão. 9.1 CURRÍCULO Quando uma pessoa precisa comprar algum produto, ela vai ao mercado. Quando uma pessoa precisa vender seu trabalho ou uma empresa precisa encontrar um profissional para atender às suas necessidades, recorre ao mercado de trabalho. Isso quer dizer que, quando um candidato envia um currículo para o mercado de trabalho, ele se expõe como se fosse um produto de uma vitrine.

O currículo é a forma abreviada e aportuguesada da expressão latina “curriculum vitae”, e significa “carreira de vida”. É um documento em que uma pessoa revela sua formação, trajetória profissional e aspectos da personalidade. Por isso, são necessários cuidados éticos na sua elaboração, a fim de vender a imagem do profissional competente que você é. O objetivo do currículo é atrair a atenção do selecionador para que você seja chamado para uma entrevista.

Um dos desafios do currículo é saber comunicar com poucas palavras o máximo de informações. Portanto, é importante usar palavras que agreguem valor.

Geralmente o currículo é composto pelos seguintes itens: dados pessoais, objetivo, qualificações ou resumo profissional, experiência ou histórico profissional, formação, formação complementar e outras informações relevantes. Vamos explicar cada um desses componentes.

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Em dados pessoais, os itens mais importantes são: nome, endereço, números de telefone convencional e/ou celular, endereço eletrônico, nacionalidade, estado civil e idade e/ou data de nascimento.

É importante você mencionar o objetivo, isto é, o cargo ou a área em que quer trabalhar. Na parte de qualificações ou resumo profissional é importante fazer um resumo das informações mais importantes nas atividades exercidas e também nas almejadas; podem ser citados: experiência, conhecimentos, formação e aspectos da personalidade.

No item destinado à experiência ou histórico profissional, deve-se citar o nome da empresa, período de admissão e demissão, cargos assumidos, breve sumário das principais atribuições ou resultados e conquistas em decorrência das atividades. Se você decidir pelo currículo cronológico-funcional, não se esqueça de que as datas devem estar dispostas em ordem decrescente.

Em relação à formação, mencionam-se os cursos técnicos e/ou universitários, incluindo nome da instituição de ensino e ano de conclusão. Na parte de formação complementar, relacionam-se os cursos de idioma, extensão ou especialização relevantes para a formação ou complementação profissional e cultural.

Outras informações relevantes são aquelas que possam representar importante diferencial do candidato e que não foram citadas em nenhum dos itens anteriores, como trabalho voluntário, participação em associações, viagens internacionais que tenham contribuído na evolução da carreira profissional.

Juntamente com o currículo, é interessante enviar a carta de intenção ou carta de apresentação, que é um documento em que o candidato pode declarar sua intenção em relação ao cargo pretendido e/ou complementar alguma informação importante que não teve espaço de ser mencionada no currículo. Redigi-los adequadamente poderá ser um diferencial. Quais itens o currículo deve conter?

1. Nome completo (sem abreviações); 2. Estado civil, nacionalidade e idade (data de nascimento), se tiver filhos, informar quantos;

3. Endereço completo (incluindo o CEP);

4. Telefones para contato e endereço de e-mail;

5. Objetivo (informar apenas um ou especificar em que área deseja atuar);

6. Qualificações (características comportamentais e conhecimentos que permitam a você ocupar

o cargo pretendido);

7. Formação (constando nome do curso, nome da instituição, previsão de término (mês/ano) ou informar quando concluiu. Não informar o Ensino Fundamental.);

8. Experiência Profissional (da mais recente para a anterior): informar a razão social da empresa,

o cargo ocupado (conforme registro na CTPS), ano de ingresso e ano de saída (ou “atual”, caso não tenha se desligado da empresa), se quiser, pode informar brevemente as atividades desenvolvidas (Atenção: se não tiver experiência, não cite este item no currículo);

9. Cursos Extracurriculares (sempre do mais recente para o mais antigo, não esqueça de informar

o nome do curso, o nome da instituição, a carga horária (quantidade de horas (ou meses) total), a previsão de término (mês/ano) ou informar quando concluiu o curso (mês/ano))

10. Outras informações (experiências vivenciadas por você, viagens, trabalho voluntário etc.)

Proposta 1 – CURRÍCULO Após orientações sobre elaboração de currículo, redija o seu, encaminhando-o à vaga de seu interesse.

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9.2 CARTA COMERCIAL Entre os documentos abarcados pela correspondência, destaca-se a carta comercial.

Os elementos de uma carta comercial são: timbre, índice e número, local e data, referência, vocativo, texto, cumprimento final, assinatura, anexo iniciais do redator e do digitador (secretária, datilógrafo), cópia.

Veja o exemplo a seguir:

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Atualmente, o que podemos notar, é que cada vez mais a carta vem sendo substituída pelo e-mail. Portanto, podemos considerar que a mensagem eletrônica passou a ser adotada também como uma redação oficial. Proposta 2 – CARTA COMERCIAL Suponha que você trabalha na empresa Eletron S.A., especializada em artigos eletrônicos. Foi solicitado a você que redigisse uma carga à empresa À Jato Ltda.(responsável pelos serviços de entrega prestados a sua empresa) agradecendo pelos serviços prestados. Espera-se que você utilize linguagem formal e os elementos: local e data, nome da empresa (ou pessoa) a quem a carta se destina, desenvolvimento do assunto, fecho e assinatura do remetente. 9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (e-mail) A mensagem eletrônica é como outra qualquer mensagem escrita. Requer os mesmos cuidados de clareza, simplicidade, coerência, coesão entre as ideias, precisão. Ao redigir um e-mail, o redator ocupa-se em dar resposta aos seguintes elementos: o que (o objeto do texto, da comunicação), para quem (quem receberá a mensagem), para que (objetivo da comunicação), quando ocorreu o fato, ou

TIMBRE

TEXTO

VOCATIVO

LOCAL E DATA

CUMPRIMENTO FINAL

REFERÊNCIA

ÍNDICE E NÚMERO

ASSINATURA

ANEXO

INICIAIS DO REDATOR E DATILÓGRAFO

CÓPIA

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a data em que deve ficar pronto um produto, por exemplo, como o leitor deve proceder, como foram realizados os trabalhos, por exemplo, e por que se está comunicado, por que ocorreu determinado fato, por exemplo. Além desse cuidado com a precisão da informação, o redator deve considerar aspectos relativos à persuasão: com gentileza poderá alcançar melhores resultados do que com rispidez. Assim, nunca é demais um por favor, por gentileza, queira por gentileza, muito obrigado, obrigado por sua atenção, desculpe-nos por... queira por gentileza desculpar... A preocupação em escrever abreviadamente nos e-mails não se justifica, e deve ser evitada. Muitas pessoas que escrevem e-mail acreditam que o efeito de sua mensagem está no número de abreviaturas que utiliza (vc = você; rs = risos; bjs = beijos; msg = mensagem; p.s. = pós-escrito, pq = porque; tb ou tbm = também). A tela está toda à frente do redator. Não deve, porém, escrever 30 linhas se a mensagem suficiente comporta apenas 3 para que as ideias fiquem claras. Ao final do texto, é recomendável colocar o nome e sobrenome, para que o interlocutor possa identificar quem escreveu o e-mail. Proposta 3 – E-MAIL Imagine que você, sem perceber, comprou um produto defeituoso. Elabore um e-mail queixando-se ao fabricante e requerendo a substituição do produto. É importante fornecer todas as informações sobre o produto (local onde comprou, quando comprou, modelo do produto, defeito apresentado, etc.). A linguagem deve ser formal. Lembre-se de empregar corretamente os pronomes de tratamento e bons argumentos para conseguir convencer o seu interlocutor. Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas. 9.4 RELATÓRIO

O relatório é um documento em que são registrados os resultados de uma experiência, de um procedimento ou de uma ocorrência. Pode ser mais simples ou mais complexo, dependendo do que vai ser registrado ou da sua intenção. A linguagem é clara, objetiva e concisa e, em geral, segue os padrões da norma culta. O relatório pode ser usado em ambientes de estudo e também de trabalho.

Um relatório pode apresentar as seguintes partes: - Título: objetivo e sintético - Remetente / Destinatário - Objetivo: introdução ao tema, ao objetivo do trabalho - Referências (obras, sites, fontes consultadas) - Texto principal: desenvolvimento do relatório - Conclusões: resumo, resultados, constatações - Assinatura Veja o exemplo abaixo:

Reprodução Assexuada De: Grupo 5 Para: Professora de Química Objetivo: Registro de experiência para comprovação de reprodução assexuada Referências: CANTO, Eduardo Leite de. Ciências Naturais – aprendendo com o cotidiano. São Paulo: Moderna, 1999. Experimento: 1º Em 24 de abril de 2011, selecionamos uma batata com várias gemas. 2º Cortamos pedaços dessa batata, com uma gema em cada um deles, e os enterramos separadamente em terra fértil e regada. 3º Após algumas semanas, um pé de batata desenvolveu-se a partir de cada pedaço plantado. Conclusão: Constatamos a reprodução assexuada caracterizada por divisões celulares a partir de um único “indivíduo” e pela formação de descendentes geneticamente idênticos àquele que os originou. Grupo 5

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Proposta 4 – RELATÓRIO Examine a sua sala de aula e verifique se há consertos a serem realizados ou a necessidade de alguma reforma. Elabore um relatório, com no mínimo 25 linhas, registrando os resultados da inspeção. Justifique com explicações a requisição de conserto ou sugestão de reforma. Lembre-se de seguir a norma culta e criar um título. Observe o modelo acima. 9.5 ATA A Ata é um registro em que se relata pormenorizadamente o que se passou em uma reunião, assembleia ou convenção. Uma de suas características é que a ata deve ser assinada pelos participantes da reunião em alguns casos (conforme estatuto da empresa), pelo presidente ou secretário, sempre. Logo após, a ata deve ser lavrada.

Proposta 5 – ATA DE REUNIÃO Reúna-se com alguns colegas para redigir uma ata de reunião. Imaginem que vocês trabalham em uma empresa que tem grande número de acidentes causados pelas péssimas condições de trabalho e pela falta de uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) por parte dos funcionários. Redija uma ata informando os problemas apresentados e as medidas adotadas para mudar a postura da empresa, conscientizar os funcionários e solucionar a situação. 9.6 REQUERIMENTO

Antes de nos inteirarmos mais do assunto em questão, seria interessante analisarmos literalmente a palavra requerimento: Requerimento deriva-se do verbo requerer, que, de acordo com seu sentido significa solicitar, pedir, estar em busca de algo. E principalmente, que o pedido seja deferido, ou seja, aprovado.

Podemos fazer um requerimento a um órgão público, a um colégio e a uma infinidade de outros destinatários.

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Ilmo. Sr. Diretor da ETEC Lauro Gomes (Nome da pessoa que solicita o requerimento), aluna regularmente matriculada no segundo semestre do ensino técnico, no curso Técnico em Secretariado, vem respeitosamente solicitar a V. Sª a expedição dos documentos necessários à sua transferência para outro estabelecimento de ensino. Nestes termos, pede deferimento. (Local e data) (Assinatura) Proposta 6 – REQUERIMENTO Imagine que você ingressou em uma faculdade particular muito conceituada, porém não pode arcar com o valor da mensalidade. Redija um requerimento ao Serviço Social solicitando uma bolsa de estudos parcial ou integral. Não esqueça de fornecer seus dados. 9.7 DECLARAÇÃO Declaração é prova escrita, documento, depoimento, explicação. Nela se manifesta opinião, conceito, resolução ou observação.

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Proposta 7 – DECLARAÇÃO Imagine que um colega de curso conseguiu um estágio técnico em uma empresa, e esta pediu uma declaração da ETEC informando que este aluno está regularmente matriculado no curso. Como a secretaria redigiria esta declaração? 9.8 OFÍCIO É a forma de correspondência oficial trocada entre chefes ou dirigentes de hierarquia equivalente ou enviada a alguém de hierarquia superior à daquele que assina. Tem como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e também com particulares. Circula entre Agentes Públicos ou entre um Agente Público e um Particular. A linguagem deve ser formal sem ser rebuscada, pois a finalidade é informar com o máximo de clareza e precisão, utilizando-se o padrão culto da língua.

Quando o ofício tiver mais que uma página, como este, a continuação se dará na página seguinte, com o fecho e a assinatura. O destinatário e o endereçamento ficam sempre na primeira página.

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Proposta 8 – OFÍCIO Suponha que a organização onde você trabalha promoverá uma SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho), com palestras para conscientização dos funcionários visando à prevenção de acidentes, porém o espaço disponível na empresa não comporta todos os funcionários. Redija um ofício à Prefeitura de São Bernardo do Campo solicitando um espaço para a realização das palestras. 9.9 MEMORANDO Na linguagem comercial, significa a nota ou comunicação ligeira entre departamentos de uma mesma empresa, ou entre a matriz e suas filiais e vice-versa, ou entre as filiais. É conhecido também como Comunicado Interno (CI). O memorando pode ainda indicar um livro de apontamentos, ou notas, com a finalidade de registrar fatos ou lembretes.

Proposta 9 – MEMORANDO O chefe do Departamento Pessoal de uma empresa precisa redigir um memorando que comunique a decisão da diretoria de suspender as horas extras dos funcionários da linha de produção (horistas). Como este memorando deverá ser redigido? Escreva-o. 9.10 CIRCULAR

A circular caracteriza-se como uma comunicação (carta, manifesto ou ofício) que, reproduzida em muitos exemplares, é dirigida a várias pessoas ou a um órgão. Serve para transmitir avisos, ordens ou instruções. Em geral, contém assunto de interesse geral.

Tratando-se de carta-circular, o redator deve escrever de maneira que o receptor tenha a impressão de que foi redigida especialmente para ele.

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Proposta 10 – CIRCULAR Imagine que você é síndico de um condomínio e está recebendo muitas reclamações dos condôminos a respeito dos moradores que têm animal de estimação e fazem barulho e suas necessidades dentro do condomínio. Escreva uma circular informando as medidas tomadas por você para solucionar o problema. 9.11 PROTOCOLO Protocolo, na Antiguidade, significava a primeira folha que se colocava aos rolos de papiro, com um resumo do conteúdo do texto manuscrito. Hoje, comercialmente, é assim denominado um livro de registro da correspondência de uma empresa, ou um formulário em que se registra saída ou entrada de objetos / documentos.

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Proposta 11 – PROTOCOLO Pense que você foi admitido numa empresa e o RH solicitou uma série de cópias de documentos pessoais seus para a admissão. Redija um protocolo dos documentos entregues por você ao gerente de RH da empresa. 9.12 RECIBO Significa o documento em que se confessa ou se declara o recebimento de algo. Normalmente, é um escrito particular. Alguns tipos de recibo: recibo de pagamento (indica quitação do pagamento de uma dívida, em sua totalidade ou parcialmente); recibo por conta (sempre parcial); recibo por saldo (indica uma quitação referente a todas as transações até sua data).

Proposta 12 – RECIBO Se você fosse o gerente de RH da empresa da proposta anterior, como escreveria o recibo das cópias dos documentos? 9.13 ATESTADO Atestado é a declaração, o documento firmado por uma autoridade em favor de alguém ou algum fato de que se tenha conhecimento. É um documento oficial com que se certifica, afirma, assegura, demonstra alguma coisa que interessa a outrem.

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Proposta 13 – ATESTADO Imagine que você é encarregado em uma empresa e um dos seus funcionários será promovido e ocupará um cargo em outra área. Redija um atestado informando que o funcionário está apto a exercer a função. 9.14 AVISO O aviso caracteriza-se como informação, comunicado de uma pessoa para outra(s). É empregado no comércio, na indústria, no serviço público e na rede bancária. Serve para ordenar, cientificar, prevenir, noticiar, convidar. Uma forma conhecida de aviso é aquele em que o empregado ou empregador comunica a rescisão do contrato de trabalho e que se constitui no chamado aviso prévio. Como uma das principais funções do aviso é comunicar com eficácia, advindo daí economia de tempo, favorecem a consecução desse objetivo o texto breve e a linguagem clara. Proposta 14 – AVISO A empresa onde você trabalha dará férias coletivas a todos os funcionários. Como esse aviso deverá ser redigido? Escreva-o. 9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS

Expressão Significado Expressão Significado

A PRIORI O que precede A POSTERIORI O que vem depois ASAP (As Soon As Possible)

O mais rápido possível BREAK-EVEN-POINT

Ponto de equilíbrio do custo de um determinado produto

BRAINSTORM Tempestade de ideias BREAK DOWN Parada / quebra BUSINESS Negócio BUY OFF Controle de entrada, controle interno,

controle de produtos CASE Caso exemplar FEEDBACK Retorno / resposta FEELING Tato, faro FOLLOW-UP Acompanhamento FULL TIME O tempo todo GAP Intervalo, defasagem IN LOCO No local JOINT VENTURE Associação de empresas KNOW HOW Tecnologia / conhecimento

técnico MARKET SHARE Participação de mercado

MIX Conjunto de itens STAND BY Dar apoio / esperar SUPLLY CHAIN Rede de fornecedores TARGET Meta, limite, parâmetro TURN OVER Rotatividade de mão de obra TRADE Comércio, negócio

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Proposta 15 – EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS UTILIZADAS Imagine que você é gerente de uma empresa. Escreva aos seus clientes um e-mail falando a respeito dos serviços (ou produtos) oferecidos pela empresa, enfocando as vantagens do cliente ao optar pelos serviços (ou produtos) oferecidos por ela. Utilize no seu texto pelo menos cinco expressões estrangeiras. 9.16 CARTA PESSOAL

A carta é um gênero textual que visa à comunicação escrita e pode ser de diversos tipos: carta familiar, carta pessoal, de agradecimento, de reclamação, de amor etc. Em todas, o que se pretende é estabelecer um diálogo entre o remetente e o destinatário. Compõem a carta os seguintes elementos: local e data, vocativo, texto, desfecho, despedida, assinatura. Proposta 16 – CARTA PESSOAL Redija uma carta pessoal à sua professora, comentando o desempenho do semestre, sugerindo melhorias, apontando aspectos positivos e negativos, o que poderia ser melhorado, o que favoreceu seu aprendizado, o que dificultou o andamento das aulas, enfim: avalie este semestre. Entregue-a à professora!

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10 MORFOLOGIA - REVISÃO Dependendo de estar sozinha ou constituindo frases, a palavra pode ser estudada quanto à sua classe gramatical (morfologia) e quanto à sua função sintática. Classe gramatical (ou classificação morfológica): quando se considera a palavra isoladamente, fora da frase, fora de um contexto. Exemplo: crianças = classe gramatical – substantivo

não = classe gramatical – advérbio Função sintática: quando se considera a palavra na frase, isto é, relacionada a outras palavras, formando um todo significativo. Exemplo: Crianças não brincaram na rua hoje. crianças = função sintática – sujeito não = função sintática – adjunto adverbial de negação Note que quando a palavra está sozinha, isolada, ela só tem classe gramatical, mas na frase ela apresenta, ao mesmo tempo, classe gramatical e função sintática. As possíveis classes gramaticais e funções sintáticas de uma palavra são:

CLASSES GRAMATICAIS FUNÇÕES SINTÁTICAS Substantivo Verbo Sujeito Adjunto adnominal Artigo Advérbio Objeto direto Predicativo Adjetivo Preposição Objeto indireto Complemento nominal Pronome Conjunção Adjunto adverbial Aposto Numeral Interjeição Agente da passiva vocativo Vamos ver, resumidamente, as dez classes gramaticais: SUBSTANTIVO – é a palavra com que damos nomes aos seres em geral. - Concretos (lua, Ceará, alma) e abstratos (vida, fome, medo) - Comuns (rio, menino) e próprios (Campinas, Sônia) - Coletivos (arquipélago – ilhas, legião – soldados, matilha – cães de caça) - Primitivos (mal) e derivados (maldade) - Simples (campo, guarda) e compostos (pontapé, guarda-noturno) Ex.: Aquelas duas cidades pequenas serão inundadas. (substantivo concreto e comum) O rebanho está sendo cuidado pelo pastor. (substantivo concreto e coletivo (bois, ovelhas etc.)) O substantivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (aumentativo e diminutivo). ARTIGO – é a palavra que se coloca antes de substantivos para defini-los ou indefini-los. - Definidos: o, a, os, as - Indefinidos: um, uma, uns, umas Ex.: Entre o viver e o morrer existe uma imensa porta. ADJETIVO – é a palavra que tem por função expressar características, qualidades, estados etc. do substantivo. Ex.: Nesta cidade pequena há um barco antigo. O adjetivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (comparativo e superlativo). NUMERAL – é toda palavra que indica quantidade, posição numa série, múltiplo ou fração. - Cardinal: um, dois, três, mil - Ordinal: segundo, quarto, décimo - Multiplicativo: dobro, triplo - Fracionário: metade, dois quintos

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PRONOME – é a palavra que serve para substituir um substantivo (nome) ou acompanhar o substantivo, definindo-lhe os limites de significação. Ex.: Meu irmão comprou um livro, mas não o leu. meu = pronome que acompanha o substantivo irmão o = pronome que substitui o substantivo livro

Pessoais Caso Reto Caso Oblíquo Possessivos

1ª eu me, mim, comigo meu(s), minha(s) 2ª tu te, ti, contigo teu(s), tua(s) 3ª ele(a) se, si, consigo, o, a, lhe seu(s), sua(s) 1ª nós nos, conosco nosso(s), nossa(s) 2ª vós vos, convosco vosso(s), vossa(s) 3ª eles(as) se, si, consigo, os, as, lhes seu(s), sua(s)

- Tratamento: são determinadas palavras que equivalem a pronomes pessoais. Os pronomes

de tratamento mais usados são:

Pronome Abreviatura Tratamento usado para: Vossa Alteza V. A. Príncipes, duques Vossa Eminência V. Ema. Cardeais Vossa Excelência V. Exa. Altas autoridades civis e militares Vossa Majestade V. M. Reis, imperadores Vossa Santidade V. S. Papas Vossa Senhoria V. Sa. Pessoas graduadas em geral - Demonstrativos: este(s), esta(s) – indicam o que está perto de quem fala

esse(s), essa(s) – indicam o que está perto de quem ouve aquele(s), aquela(s) – indicam o que está longe de quem fala e ouve

- Indefinidos: algum(a), nenhum(a), todo(a), outro(a), muito(a), pouco(a), certo(a), qualquer, alguém, ninguém, algo.

- Relativos: que, qual, quem, onde, cujo

Os relativos referem-se a um substantivo anterior a eles, substituindo-o na oração seguinte, e devem ser usados adequadamente. Onde – refere-se apenas a lugares Quando – refere-se a tempo Quanto – refere-se a valores, números, quantidades

- Interrogativos: que, quem, qual, quanto VERBO – é a palavra que, por si só, indica um fato (em geral, ação, estado ou fenômeno da natureza) e situa-o no tempo. Ex.: O animal ficará furioso nessa jaula. Naquela região chove diariamente. ADVÉRBIO – é a palavra que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio. Advérbio de tempo (hoje, ontem, sempre, brevemente, agora), de lugar (aqui, longe, perto, acima, abaixo, lá), de modo (rapidamente, lentamente, mal), de dúvida (talvez, possivelmente, acaso), de intensidade (muito, pouco, tão, bastante, demais), de negação (não, jamais), de afirmação (sim, certamente).

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PREPOSIÇÃO – é a palavra que liga outras, estabelecendo entre elas certas relações de sentido e de dependência: - Essenciais – só funcionam como preposição: a, com, em, por, ante, contra, entre, sem, após, de, para, sob, trás, desde, perante, sobre, - Acidentais – palavras de outras classes gramaticais que, em certas frases, funcionam como preposição: conforme, como, mediante, segundo, durante, visto etc. Ex.: A praça foi enfeitada para a festa. CONJUNÇÃO – é a palavra que tem por função básica ligar duas orações: e, mas, que etc. Ex.: Faz sol, mas está frio. Ninguém sabe que ele está doente. INTERJEIÇÃO – é toda palavra ou expressão usada para exprimir, de forma intensa, viva e instantânea, nossos estados emocionais: Ah! Oh! Viva! Ai! Oi! Olá! Alô! etc.

EXERCÍCIOS

(Aprender e praticar gramática–pág.83,84,93,105,132,179) 1.Considerando que há substantivos que têm um sentido no singular e outro, diferente, no plural, explique essa diferença em relação às palavras destacadas na frase abaixo: “Onde não se preza a honra se desprezam as honras.” (Marquês de Maricá) 2.Analise a seguinte frase de propaganda: “Para entrar na faculdade que você escolheu, não faça um cursinho. Faça um cursão. Matricule-se no (...)” Fazendo uma interpretação comparativa do emprego de “cursinho” e “cursão”, explique a intenção do criador da frase ao usar essas duas formas. 3.Leia o trecho abaixo, retirado do romance “O retrato”, de Érico Veríssimo: (...) Comecei a examinar a cara do homem pelo espelho. Ele viu que eu estava olhando e perguntou: “Sabe quem sou eu?” Respondi que não. E o homem: “Me chamo Silvino Neves, mas me tratam por Dente Seco”. - E tu, que disseste? [perguntou Rodrigo] - Ora, eu fiquei mais pra lá que mais pra cá, e achei melhor dizer que já conhecia ele de nome. Ensaboei a cara e indaguei assim com ar de quem não quer nada: “Ainda que mal pergunte, que é que o patrício anda fazendo por estas bandas?” E tu sabes o que foi que ele respondeu: “Vim fazer um servicinho por coronel Trindade”. Comecei a passar a navalha no assentador. “Que servicinho?” E ele, mais que depressa: “Dar um susto nuns mocinhos bonitos”. E meio que riu. Quando eu já estava barbeando o bandido (...)

Explique qual foi a intenção de Dente Seco ao usar os diminutivos “servicinho” e “mocinhos”. 4.(E.E. Mauá-SP) A manhã era linda. (A borboleta) veio por ali, modesta e negra, espairecendo as suas borboletices, sob a vasta cúpula de um céu azul, que é azul para todas as asas. Passa pela minha cabeça, entra e dá comigo. Suponho que nunca teria visto um homem, não sabia, portanto, o que era o homem; descreveu infinitas voltas...

(Machado de Assis) Qual a diferença de sentido da palavra “homem” na frase destacada acima? 5.(Esc.Fed. Eng. Itajubá-MG) Dê os adjetivos correspondentes a cada substantivo abaixo: Exemplo: céu – celeste a) sorriso b) alegria c) mão d) rito e) vida e) dedo 6.Considerando que certos adjetivos têm sentidos diferentes se colocados antes ou depois do substantivo, explique a diferença de sentido entre as frases: a) Ele é um falso advogado. Ele é um advogado falso. b) Aquele goleiro é um grande jogador. Aquele goleiro é um jogador grande.

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7.Na frase: “Seu amigo, apesar de rico, só almoça em restaurantes de segunda classe.” A palavra destacada, embora tenha forma de um numeral ordinal, perde, no contexto da frase, o sentido ordinal. Procure explicar qual foi a intenção do falante ao utilizar a referida palavra. 8.Classifique os pronomes destacados nos versos abaixo: “Do Caeté a Vila Rica, tudo ouro e cobre! o que é nosso, vão levando... E o povo aqui sempre pobre!”

(Cecília Meireles) a) tudo b) que c) o 9.Reúna cada par de frase abaixo em um único período, substituindo por um pronome relativo o termo destacado na segunda oração. a) Eu assisti ao filme. Você gosta do filme. b) Eu irei à cidade. Você nasceu nessa cidade. c) Você confia em muitas pessoas. Eu não concordo com essas pessoas. d) Este é o escritor. Os livros desse escritor fazem muito sucesso. e) Não mataram a cobra. Por essa cobra o garoto foi picado. 10.(Unicamp) No texto abaixo, ocorre uma forma que é inadequada em contextos mais formais, especialmente na escrita. “Lula e Meneguelli divergem sobre o pacto. Concordam em negociar, mas Lula só aprova um acordo se o governo retirar a medida provisória dos salários, suspender os vetos à lei da Previdência e repor perdas salariais.”

(Folha de São Paulo, 21/09/90) Indique a forma inadequada e reescreva o trecho em que ocorre, de modo à adequá-lo à modalidade escrita. 11.Observe as frases abaixo: I-Os visitantes devem ser conduzidos ao ônibus. II-Os visitantes devem ser conduzidos no ônibus. a)Explique a diferença de sentidos entre as frases. b) Que termo empregado estabelece esta diferença de sentido?

10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS Completando nossos estudos morfológicos, vale comentar a respeito da significação das palavras. O falante que tem domínio da língua deve ter um vocabulário amplo. SINÔNIMOS: palavras que apresentam, entre si, significados iguais ou aproximadamente iguais. Ex.: surgir = aparecer / língua = idioma ANTÔNIMOS: palavras que apresentam, entre si, significados opostos. Ex.: começar x terminar / falso x verdadeiro HOMÔNIMOS: palavras iguais na forma (pronúncia ou grafia), mas diferentes no significado. Os homônimos podem ser: - Homônimos Homógrafos: iguais na grafia, mas diferentes na pronúncia e no significado. Ex.: governo (/ê/ substantivo) / (/é/ verbo) O seu governo é justo. /ê/ Eu governo com justiça. /é/ No tempo da seca /ê/, o rio seca /é/. - Homônimos Homófonos: iguais na pronúncia, mas diferentes na grafia e no significado. Ex.: cheque (de banco)-xeque (lance do xadrez) concerto (de música)-conserto (de manutenção) PARÔNIMOS: palavras semelhantes na forma (pronuncia e grafia), mas diferentes no significado. Ex.: mandado (ordem judicial) mandato (tempo de um político no cargo) diferir (diferenciar) - deferir (aceitar) emergir (vir à tona) - imergir (afundar) sessão (reunião) seção (departamento, setor, área, divisão) cessão (ceder) E para finalizar, uma historinha que dizem ser verdadeira: “Um certo comerciante (não importa a nacionalidade) escreveu um cartaz e afixou na porta da sua padaria: ‘AOS MEUS EMPREGADOS. A PARTIR DE HOJE, QUERO AS NOSSAS PORTAS SERRADAS ÀS 18h’. Foi atendido. No dia seguinte, ao chegar à loja, encontrou todas as portas pela metade.” 12.O que estava errado na mensagem? 13.Qual a importância de escrever corretamente as palavras?

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11 SINTAXE – REVISÃO

CONSTITUINTES BÁSICOS DA ORAÇÃO SUJEITO Simples: é aquele que tem um único núcleo.

Ex.: As meninas sorriram. Composto: é aquele que apresenta mais de um núcleo. Ex.: O prazer e o sofrer são riscos do amor. Indeterminado: ocorre quando não é possível identificar quem praticou a ação (identifica-se por verbo na 3ª pessoa do plural ou verbo na 3ª pessoa do singular +se) Ex.: Roubaram a bolsa daquela mulher. Precisa-se de mão de obra especializada. Oculto (sujeito elíptico ou desinencial): é determinado pela desinência verbal e não aparece explícito na frase. Ex.: Estamos sempre alertas para com os aumentos abusivos de preços. (sujeito: nós) Inexistente (oração sem sujeito): é designado por verbos que não correspondem a fenômeno da natureza, haver no sentido de existir, fazer indicando tempo ou clima. Ex.: Choveu na Argentina e fez sol no Brasil. Houve um grave acidente na avenida principal. Faz meses que não a vejo.

PREDICADO Verbal: é aquele que tem como núcleo significativo um verbo. Ex.: A noite esfriou. Nominal: é aquele que tem como núcleo um nome, que constitui um predicativo do sujeito. Funciona como elemento de ligação (verbo de ligação) entre sujeito e predicado. Ex.: Ele parece uma estátua. Verbo-nominal: é aquele que apresenta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. Ex.: Joaquim voltou machucado. O juiz declarou o réu inocente.

TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO NOMINAL Adjunto adnominal: é o termo que determina, especifica ou delimita o significado de um substantivo. Ex.: A quente tarde despencava no horizonte. Aposto: é o termo da oração que se relaciona a um nome para explicá-lo ou esclarecê-lo. Ex.: Recife, terra do frevo, está quente. Complemento nominal: é o termo que completa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio). O complemento nominal vem sempre regido por preposição. Ex.: A água é necessária à vida. TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO VERBAL

Objeto direto: é o complemento do verbo transitivo direto. Na voz ativa, é o ser sobre o qual recai a ação verbal. Geralmente, o objeto direto não vem regido por preposição. Ex.: Comprou um lindo chapéu. Eu a conheci no baile. Objeto indireto: é o complemento do verbo transitivo indireto. Vem sempre regido por preposição. Ex.: Gosto de cinema. Pediram-lhe explicações. Agente da passiva: designa o ser que pratica a ação. O agente da passiva vem sempre regido por preposição. Ex.: A natureza foi desprezada pelo homem. Adjunto Adverbial: é o termo que indica uma circunstância do verbo, ou intensifica o sentido de um adjetivo, verbo ou outro advérbio. Ex.: Domingo, brincaremos na cidade. É um filme muito interessante!

VOCATIVO Vocativo: É um termo independente que serve para chamar, invocar, interpelar um ouvinte real ou hipotético. Ex.: Quantos anos você tem, Janaína?

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EXERCÍCIOS

1. Observe atentamente as frases abaixo: I – Cantavam harmoniosamente as crianças. II – As crianças brincavam felizes. a) Indique a função sintática exercida pelos termos destacados nas duas frases. b) Identifique o tipo de predicado presente em cada uma delas. 2. Observe o verbo destacado nas duas frases: I – Ando muito distraída ultimamente. II – Nunca andei tanto para chegar a algum lugar. a) O verbo destacado classifica-se da mesma forma nas duas orações? Justifique sua resposta. b) Considerando a classificação do verbo em destaque nas duas orações, identifique o tipo de predicado existente em cada uma delas. 3. Dê a função sintática dos termos destacados. a) Os dois estavam lá dentro conversando longamente. b) Na hora de pagar a conta foi que dei por falta da minha carteira. c) Pela minha cabeça passavam, em retrocesso, os acontecimentos do dia. d) O famoso cantor via-se, agora, completamente esquecido pelos fãs.

4. Observe as orações abaixo: I – Naquela época já não lhe restavam esperanças. II – Tirou da bolsa um pãozinho e cortou-o em dois. III – Pouco nos importa que ele vá embora. IV – Tenho certeza de que ela ainda te ama. Os pronomes oblíquos destacados são: a. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto b. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj. Direto c. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj. Direto d. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj. Indireto e. ( ) Nenhuma das respostas acima 5. (Fac. Med. Pouso Alegre-MG) Assinale a alternativa em que o verbo destacado não é de ligação: a) A criança estava com fome. b) Pedro parece adoentado. c) Ele tem andado confuso. d) Ficou em casa o dia todo. e) A jovem continua sonhadora.

O homem que se endereçou

(NICOLA, José de. Português: Ensino Médio – Volume 3. 1ª edição. São Paulo, Scipione, 2005.- pág.48 a 51)

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.

(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem do furo na mão & outras histórias) Na mitologia, Narciso é o nome do belo personagem que morre por não conseguir afastar os olhos da própria imagem refletida na água. 6.Considere a oração: “Apanhou o envelope”.

a) Aponte o sujeito e o predicado. Classifique-os. b) Qual a função sintática de “o envelope”? Analise a função de cada palavra.

7.Considere a frase: “Narciso, rua Treze, nº21.” Temos, acima, um exemplo de aposto de especificação (o aposto aparece ligado ao substantivo diretamente, sem pontuação indicando pausa). Aponte-o. 8.Considere a seguinte frase: “Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso...”

a) Dê a função sintática de “Diante de uma casa”. b) Aponte o sujeito. Classifique-o. c) Classifique a forma verbal percebeu quanto a sua transitividade. No caso de pedir um complemento,

aponte-o. 9.Classifique o predicado da oração: “O funcionário parou indeciso”. 10.Analise todos os termos da oração: “Entregou a carta empoeirada”. 11.Analise todos os termos da oração: “A carta ficou empoeirada”. 12.Passe para a voz passiva: “O carteiro colocou a carta na prateleira”.

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12 REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL - REVISÃO Regência Nominal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre substantivos, adjetivos e determinados advérbios e seus respectivos complementos nominais. Essa relação, em geral, vem marcada por uma preposição. Leia a frase abaixo, observando o que há de inadequado nela. Ele tem medo fantasmas. É fácil notar que nela está faltando a preposição de. Essa preposição é regida, ou seja, exigida pela palavra medo (ter medo de) e estabelece a relação entre medo e fantasmas. A frase correta é: Ele tem medo de fantasmas. Como a palavra medo é um nome, dizemos que aí está ocorrendo um caso de regência nominal. Abaixo temos uma lista de nomes que costumam vir acompanhados de um complemento nominal e que exigem o uso de determinadas preposições. Muitos dos nomes aqui apresentados têm exatamente a mesma regência dos verbos dos quais são derivados. Nesses casos, quando você aprender a regência do verbo, estará automaticamente aprendendo a regência do nome cognato. É o que ocorre, por exemplo, com “obedecer” e “obediência”. Na lista a seguir, você encontrará, relacionada ao nome “obediência”, a preposição a. A preposição é a mesma exigida pelo verbo “obedecer”.

adepto a contente com, por, de inofensivo a, para simpatia a, por

alheio a desprezo a, por junto a, de, com tendência a, para

ansioso para, por, de digno de livre de união com, entre, a

apto a, para favorável a paralelo a vazio de

aversão a, por feliz de, por, em, com próximo a, de vizinho a, com, de

ciente de imune a, de referente a

composto por, de indiferente a relativo a

Mais alguns nomes e as preposições que comumente eles exigem: • acessível, adequado, desfavorável, equivalente, insensível, obediente: a • capaz, incapaz, digno, indigno, passível, contemporâneo: de • amoroso, compatível, cruel, cuidadoso, descontente: com • entendido, indeciso, lento, morador, hábil: em • inútil, incapaz, bom: para • responsável: por

Regência Verbal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre verbos e seus respectivos complementos (objetos diretos e indiretos). Essa relação vem sempre marcada por uma preposição, no caso dos objetos indiretos. A regência verbal estuda a relação correta (no sentido prescritivo) que se estabelece entre o verbo (termo regente) e seu complemento ou seu adjunto (termo regido). Exemplo: Todos criticam o projeto VTD OD O verbo criticar exige (rege) objeto direto (OD). Exemplo: Todos desconfiam de você. VTI OI Neste segundo exemplo, o verbo desconfiar exige (rege) objeto indireto (OI) iniciado pela preposição de. Para o estudo da regência verbal é conveniente lembrar: 1.Objeto direto: complemento verbal sem preposição. 2.Objeto indireto: complemento verbal com preposição. 3.Pronome oblíquos o(s), a(s): funcionam somente como objeto direto.

Ex.: Critiquei sua atitude. �Critiquei-a. 4.Pronome oblíquo lhe(s): funciona sempre como objeto indireto. Ex.: O filme agradou ao críticos. � O filme agradou-lhes.

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Regência de alguns verbos (Com algumas modificações, a presente tabela foi extraída do livro Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores, de Maria Margarida de Andrade e Antônio Henriques, São Paulo: Atlas Editora, 1991.)

1. Verbos com variação de regência e sem variação de significado

Verbos - exemplos sentido regência

Casar "Vai casar?" ( Machado de Assis)

Desposar / unir-se / ligar-se / harmonizar-se intransitivo

"...minha ideia é que os homens deviam casar com senhoras viúvas." (Machado de Assis)

idem transitivo indireto

" Titia não quer casar antes dos vinte." (Machado de Assis)

idem transitivo indireto

"...o seu temperamento casava-se bem à vertigem das cargas..." (Euclides da Cunha )

idem transitivo direto e indireto

Esquecer " Mas a mãe nunca pudera esquecer a tribo , e chorava." (Cecília Meireles)

perder a lembrança / abandonar / deixar / elegar

transitivo direto

"Seja franco, doutor, tenho ou não tenho razão de me esquecer de que me lembro das coisas?" (Leon Eliachar - humorista )

idem transitivo direto e indireto

Obs.: Vale o mesmo para os verbos recordar e lembrar. Estamos assinalando apenas os casos de regência mais comuns.

Informar "Informa-os do andamento dos trabalhos..." (Euclides da Cunha)

Comunicar / avisar / noticiar transitivo direto e indireto

" Lamento informar-lhe, doutor , que agora só consigo dormir no seu divã." (Leon Eliachar - humorista )

idem transitivo direto e indireto

Obs.: Vale o mesmo para os verbos certificar e cientificar.

Perdoar "Se perdoou ao filho foi por causa do padre." ( Machado de Assis)

Absolver / desculpar / escusar transitivo indireto

Deus perdoa os pecados. idem transitivo direto

"Você me perdoa a falta de palavra." (Pedro Calmon)

idem transitivo direto e indireto

Obs.: Vale o mesmo para o verbo pagar.

Responder "Interrompo o diálogo na fazenda para responder ao bilhete que acabo de receber ..." (Carlos Drummond de Andrade)

Corresponder / comunicar-se transitivo indireto

"Não sabia respondê-los." (Euclides da Cunha )

idem transitivo direto

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2. Verbos com variação de regência e significado.

Verbos - exemplos sentido regência

Aspirar "A felicidade perfeita a que aspirei..." (Graciliano Ramos)

Desejar / querer anelar / pretender

transitivo indireto

"Aspirou seu indescritível odor de Tempo e História ." (Érico Veríssimo)

Respirar / inalar cheirar / sorver

transitivo direto

“Na manhã sadia, o homem de barbas poentas, entronado na carrocinha, aspirou forte.” (João Alphonsus)

soprar intransitivo

Assistir “Assistimos ao final do jantar (mineiros e precavidos, já tínhamos jantado).” (C.D.A.)

Presenciar / ver transitivo indireto

“sendo enviado a Carlos V, que então assistia em Bruxelas...” (M. Bernardes)

Morar / residir intransitivo

“Somente minha mão assiste o filho enfermo.” (Josué Montello)

socorrer / ajudar atender / assessorar

transitivo direto

“Leonor assistiu-lhe na enfermidade...” (Camilo) idem transitivo indireto

“Ao dono da loja assiste razão de gabar-se...” (C.D.A.) Competir / caber Transitivo indireto

Atender “As mucamas faziam prodígios, atendendo a um e a outro.” (Coelho Neto)

servir transitivo indireto

O juiz não atendeu o pedido. Deferir / aceitar transitivo direto

Custar “Não custava nada levá-lo.” (Fernando Sabino)

Valer / importar transitivo direto

Custa-me dizer que acendeu um cigarro.” (Machado de Assis)

ser penoso / ser difícil transitivo indireto

Declinar “Eram dadas cinco da tarde, a calma declinava...” (Almeida Garrett)

Baixar / desaparecer / pôr-se intransitivo

“Eleito governador, ao volver da campanha, em 1834, declinou da honra...” (Rui Barbosa)

recusar transitivo indireto

“O Latim, declinando tanto, só podia acabar.” (Dirceu – humorista)

flexionar intransitivo

"E declinando o seu nome , apertou pela primeira vez a mão do diretor ..." (Josué Montello)

Dizer / relatar / referir transitivo direto

Deparar "E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa." (Clarice Lispector)

Encontrar / ver / cruzar transitivo indireto

Não deparou solução ao problema. idem transitivo direto e indireto

Depararam-se várias oportunidades de fuga ao preso. Oferecer / aparecer transitivo indireto

Obs.: Não se diz: deparar- se com.

Entender Entendi o raciocínio.

Compreender / captar transitivo direto

Entende de algebra. estar a par / conhecer transitivo indireto

Entende-se bem com a esposa.

comunicar-se / concordar / harmonizar-se

transitivo direto e indireto

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Gostar "De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe?" (Fernando Sabino)

Apreciar / amar / ter afeto Transitivo indireto

Repeli o vinho depois que o gostei. Experimentar / provar transitivo direto

Precisar "Precisa-se de secretária. Pega-se bem. Perdão, paga-se bem." (Leon Eliachar)

Necessitar / carecer transitivo indireto

Convém precisar os fatos. Esclarecer / especificar / determinar

transitivo direto

Proceder "...procedeu, no ponto de vista em que se colocava, com uma lógica cruel." (Machado de Assis)

comportar-se / agir Intransitivo

"procedeu-se a eleições gerais no país." (Afonso Celso ) Convocar / marcar / estabelecer

transitivo indireto

A água procede da montanha. origina-se / vir de intransitivo

O argumento não procede. Valer / ter base / ter fundamento

intransitivo

Querer "As crianças querem mimo." (Caldas Aulete)

desejar aspirar a

transitivo direto

"Querendo com amor ao idioma ..." (Rui Barbosa) Amar / ter afeto / gostar / prezar

transitivo indireto

Visar "...visamos ao mesmo norte ." (Machado de Assis)

Almejar / pretender / querer transitivo indireto

O soldado visou o alvo. Mirar / apontar transitivo direto

O gerente visou o cheque. Assinar / dar o visto transitivo direto

3. Outros verbos

Verbos - exemplos sentido regência

Namorar Todos os dias, à tarde, eu vou namorar Maria Rita.

ter afeto / gostar / amar

transitivo direto

Ela namora muito. idem intransitivo

Obs.: Namorar com alguém é forma incorreta, segundo a norma padrão.

Preferir "Capitu preferiu tudo ao seminário." (Machado de Assis)

ter predileção / escolher

transitivo direto e indireto

Obs.: Não se diz preferir mais alguma coisa do que outra. Preferir mais é redundância; o do que explica-se pela analogia com o verbo gostar.

Simpatizar "Sempre tive a impressão de que, por algum motivo imperdoável, ela não simpatizava comigo." (Rubem Braga)

ter afeto / gostar / amar

transitivo indireto

Obs.: Na norma padrão seria incorreto dizer: simpatizar-se com.

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13 CRASE - REVISÃO

Crase é o fenômeno da contração de duas vogais semelhantes. Emprega-se o acento grave (`) para marcar a crase de dois aa. A regra geral afirma que o acento grave indicativo de crase deve ser usado sempre que o termo regente exigir a preposição a posposta e o termo regido admitir o artigo feminino a(s) anteposto. A correta utilização do acento indicativo de crase é uma questão de análise do enunciado. Trata-se de averiguar se ocorre a preposição "a" e o artigo feminino "a(s)", antes, evidentemente, de uma palavra feminina. Ex.: Ele vai a + a igreja. = Ele vai à igreja. Regra prática: Troca-se a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se, antes da masculina, aparecer ao(s), coloca-se o sinal de crase no a(s) antes da feminina. Ex.: Ele vai à igreja. (Ele vai ao cinema.)

Casos em que não ocorre crase A crase é proibida antes de palavras que não apresentam o artigo a(s). a) Antes de masculinos. Ex.: Ele foi a pé para casa. b) Antes de verbos. Ex.: A torcida começou a gritar. c) Antes de pronomes pessoais (inclusive de tratamento). Ex.: Nada disse a ela nem a você. d) Antes dos pronomes esta(s), quem e cuja(s). Ex.: Essa é a pessoa a quem pedi ajuda. e) Com a no singular + palavra no plural. Ex.: Ele se refere a acusações mentirosas. f) Entre duas palavras repetidas. Ex.: Ficamos cara a cara. g) Antes de nomes de cidades sem especificativo. Ex.: Ele gosta de ir a Fortaleza. Se o nome da cidade estiver caracterizado por um especificativo, ocorre crase. Ex.: Ele gosta de ir à ensolarada Fortaleza.

Casos em que sempre ocorre crase a) Locuções adverbiais femininas de: - tempo � Ex.: Ele chegou à noite e saiu às seis horas.

- lugar � Ex.: Ninguém chegou à cidade. - modo � Ex.: Ele entrou às escondidas no armazém.

b) Locuções prepositivas (à + palavra feminina + de). Ex.: Nós ficamos à espera de ajuda. c) Locuções conjuntivas (à + palavra feminina + que). Ex.: O tempo esfria, à medida que escurece.

Casos em que a crase é facultativa a) Antes de pronomes possessivos femininos. Ex.: A vizinha pediu ajuda à / a minha mãe. b) Antes de nomes de mulher. Ex.: O juiz fez uma advertência à / a Paula. c) Depois da preposição até. Ex.: Eu andei até à / a esquina.

Crase com pronomes demonstrativos e relativos a) Preposição a + pronome demonstrativo a(s) O pronome demonstrativo a(s) aparece seguido de que ou de. Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino que vem antes do a(s). Só ocorre crase se, com o masculino, aparecer ao(s) antes de que ou de. Ex.: Esta casa é igual à que você comprou.

� � Este carro é igual ao que você comprou. b) Preposição a + aquele(s) Critério prático: Troca-se aquele(s) por este(s). Só ocorre crase se aparecer a antes do este(s). Ex.: Ele se refere àquele fato.

� Ele se refere a este fato. Esse critério prático vale também para os demonstrativos aquela(s) e aquilo. c) Crase antes de qual / quais. Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino anterior ao qual/quais. Só ocorre crase se, com o masculino, aparecer ao qual / aos quais. Ex.: Estas são as crianças às quais me refiro.

� � Estes são os alunos aos quais me refiro.

Casos especiais de crase a) Casa – Sem especificativo = sem crase Ex.: Chegamos cedo a casa. Com especificativo = com crase Ex.: Chegamos cedo à casa de meu pai. b) Terra – Com sentido oposto ao de água = sem crase Ex.: Os jangadeiros voltaram a terra. Com sentido de terra natal e planeta = com crase Ex.: Ele voltou à terra dos avós.

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EXERCÍCIOS

1.Leia as frases. I-Quando a desconfiança se instala entre as pessoas, logo vem a insinuação de que a traição está no ar. II-A certeza de que Deus nasceu neste país garante ao povo brasileiro uma esperança que não tem medida. III-No dia tinha pressentimento de que algo muito estranho estava por vir, mas não sabia precisar o que era. As frases transcritas trazem casos de regência nominal ou verbal? Justifique. 2.Os trechos extraídos de redações de alunos do ensino médio apresentam problemas na construção sintática. Leia-os com atenção. I-Aquele foi o dia onde eu descobri que estava apaixonado por ele. II-A mulher na qual Sandoval se referia foi uma das que ele conversou. III-A mulher cuja qual ele conversava... a) Explique que tipo de problemas os enunciados apresentam. b) Reescreva-os de forma a adequá-los à norma culta. 3.Corrija as frases inaceitáveis quanto ao uso das preposições. a) Isto não agradou os hóspedes. b) Nós aspiramos um futuro melhor. c) Podemos assistir o jogo no salão principal. d) Devemos atender os clientes imediatamente. e) Ela não atendeu os pedidos do hóspede. f) Ele ainda não chegou no hotel. g) Ele foi no banheiro e já volta. h) Ela namora com aquele rapaz. i) Ele não respeita aos seus superiores. j) O motorista dormiu no volante. k) Ela passou toda a manhã no sol. l) Só temos TV em cores. 4.(ITA-SP) “O programa Mulheres está mudando. Novo cenário, novos apresentadores, muito charme, mais informação, moda, comportamento e prestação de serviços. Assista amanhã a revista eletrônica feminina que é a referência do gênero na TV”. O verbo “assistir” empregado em linguagem coloquial, está em desacordo com a norma gramatical. Reescreva o último período de acordo com a norma. Justifique a correção.

5.Na frase “Eles teceram vários elogios a minha atuação”, há presença ou não de crase? Justifique. 6.Na frase “Refiro-me a esta moça, e não a que estava aqui antes”, há crase no termo destacado? Justifique sua resposta. 7.Coloque devidamente o acento grave indicativo da crase, quando for necessário: a) Iremos a uma reunião na casa de uns amigos. b) Ficar frente a frente com ele não foi agradável. c) Lorena foi a festa de seus pais contrariada. d) Não compete a mim julgar qualquer pessoa. e) Sentimo-nos completamente a vontade durante toda a estadia na casa deles. 8.É possível que a crase ocorra para evitar ambiguidade de um enunciado. É o que acontece em: “À mãe presenteou a filha.” Qual é a ambiguidade que está sendo eliminada pela crase? 9.Leia o texto a seguir:

A dúvida

“À ou A realizar-se no dia 8 de dezembro...? Para que seu convite de casamento não apresente erros gramaticais e possa, por isso, provocar risinhos de algum convidado mais exigente, escreva:

‘A realizar-se no dia 8 de dezembro...’” (DUARTE, Sérgio Nogueira – Língua viva)

Considerando que a crase é definida como a contração da preposição a com o artigo feminino a, qual é a explicação gramatical para que não ocorra crase na expressão que suscitou a dúvida? 10.(PUC-RJ) Na coluna Língua Viva (22/8/99), o professor Sérgio Duarte chama a nossa atenção para a possibilidade de variação interpretativa de enunciados em função do acento grave. Explique como isso ocorre nos enunciados a seguir: I-Veio à noite de mansinho e encontrou-o dormindo. II-Veio a noite de mansinho e encontrou-o dormindo.

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14 CONCORDÂNCIA NOMINAL - REVISÃO Leia a frase abaixo e observe que ela contém várias inadequações: “O meninos pequeno ganhou outra brinquedos.” Note que os “problemas” apresentados por essa frase referem-se aos desajustes entre as palavras que a constituem. Pela prática sabemos que, na frase acima, é necessário: 1º ajustar as palavras o e pequeno à palavra meninos. 2º ajustar a palavra outra à palavra brinquedos. 3º ajustar o verbo ganhou ao sujeito meninos. Nos casos 1 e 2, o ajuste deve ocorrer entre nomes. Esse processo de adaptação de uns nomes aos outros é o que se chama de concordância nominal. No caso 3, o ajuste deve ocorrer entre o verbo e o sujeito da oração. Esse processo de adaptação chama-se concordância verbal. Na frase em questão, fazendo a concordância nominal e a concordância verbal, temos: “Os meninos pequenos ganharam outros brinquedos.” Principais casos de concordância nominal 1. Adjetivo após vários substantivos a) Se os substantivos são do mesmo gênero

O adjetivo pode concordar com o último substantivo ou ir para o plural

Casa e igreja | antiga. | antigas.

b) Se os substantivos são de gêneros diferentes

O adjetivo pode concordar com o último substantivo ou ir para o masculino plural

Prédio e casa | antiga. | antigos.

2. Adjetivo antes de vários substantivos O adjetivo só pode concordar com o primeiro substantivo. Ex.: Velha casa e prédio. / Velho prédio e casa. Mesmo a) na função de pronome, concorda com a palavra a que

se refere Ex.: Elas mesmas irão lá.

b) na função do advérbio (=realmente) é invariável Ex.: Elas irão mesmo lá. Anexo a) quando adjetivo, concorda com a

palavra a que se refere Ex.: As cartas irão anexas aos contrato.

b) a locução “em anexo” é invariável Ex.: As cartas irão em anexo ao contrato.

Bastante a) na função de pronome indefinido, concorda com a palavra a que se refere (podendo, portanto, ter plural)

Ex.: Eles fizeram bastantes críticas ao projeto. (= muitas)

b) na função de advérbio é invariável Ex.: Todos estão bastante irritados (= muito)

Portanto: bastantes = muitos(as) / bastante = muito(a) Meio a) na função de numeral (=metade), concorda com a

palavra a que se refere Ex.: O trem trouxe duas meias toneladas de pedra.

b) na função de advérbio (=um pouco), é invariável Ex.: A criança ficou meio cansada.

Obrigado a) no masculino: quando é homem quem está agradecendo

Ex.: O professor lhe disse: muito obrigado.

b) no feminino: quando é mulher quem está agradecendo

Ex.: A professora lhe disse: muito obrigada.

Só a) quando significa sozinho / sozinhas = plural Ex.: As mulheres queriam ficar sós na sala. (sozinhas).

b) quando significa apenas / somente = invariável

Ex.: As mulheres queriam ficar só na sala. (apenas)

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3. É bom, é proibido, é necessário + substantivo a) Se o substantivo está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc. concordam com o substantivo. Ex.: É permitida a entrada de crianças. É necessária muita paciência. b) Se os substantivo não está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc. ficam no masculino e no singular. Ex.: É permitido entrada de crianças. É necessário paciência. 4. Alerta / menos a) Alerta é invariável, não tem plural. Ex.: Os vigilantes estavam alerta. Apesar de, a rigor, a palavra alerta ser invariável, atualmente ela vem sendo usada também no plural. Ex.: Todos estavam alertas. b) Menos é invariável, não tem feminino. Ex.: No jogo de ontem havia menos pessoas.

EXERCÍCIOS

(Aprender e praticar gramática – pág. 350 a 353) 1.Reescreva a palavra ou expressão destacada pela palavra que está entre parênteses. Refaça a concordância, se necessário. a) O mensageiro trouxe-nos muitas informações sobre a situação. (bastante) b) Ela tem argumentos suficientes para nos convencer. (bastante) c) Os viajantes estavam muito cansados. (bastante) d) A plateia ficou um pouco revoltada.(meio) e) Ela andou metade da quadra e parou.(meio) f) Essa informação torna desnecessária nossa palavra definitiva.(argumentos) g) Essa região produz bebidas e frutas deliciosas. (queijos) h) Essa região produz bebidas e frutas deliciosas. (queijos) i) Essa região produz deliciosas bebidas e frutas. (queijos) j) Essa região produz deliciosas bebidas e frutas. (queijos) k) As bebidas e as frutas dessa região são deliciosas. (queijos) l) O juiz considerou culpadas a ré e sua amiga. (amigo) 2.Explique os dois sentidos que podem ser atribuídos à seguinte frase: “A vendedora ficou só na sala.”

3.(Univ.Fed.Santa Catarina) Reescreva o período abaixo, corrigindo-o, se necessário, quanto à concordância. Depois, justifique sua resposta. “É proibido a entrada de pessoas estranhas no recinto.” 4.(PUC-PR) Assinale a sequência que completa corretamente estes períodos: - Ela ...... disse que não iria. - Vão ...... os livros. - A moça estava ...... aborrecida. - É ...... muita atenção para atravessar a rua. - Nesta sala, estudam a terceira e quarta ...... do primeiro grau. a) mesmo – anexos – meia – necessário – série b) mesma – anexos – meio – necessária – séries c) mesmo – anexo – meio – necessário – séries d) mesma – anexos – meio – necessário – séries e) mesma – anexos – meia – necessário – séries 5.(Fatec-SP) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas da frase: “É ... discussão entre homens e mulheres ... ao mesmo ideal, pois já se disse ... vezes que da discussão, ainda que ... acalorada, nasce a luz.” a) bom – voltados – bastantes – meio b) bom – voltadas – bastante – meia c) boa – voltadas – bastantes – meio d) boa – voltados – bastante – meia e) bom – voltadas – bastantes – meia

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15 CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO

A concordância verbal estuda as variações que o verbo da oração deve sofrer para se ajustar ao sujeito. Para o estudo da concordância verbal, você deve levar em consideração: o sujeito da oração e a regra de concordância para esse sujeito. Principais regras de concordância verbal 1. Com sujeito simples a) o verbo concorda com o núcleo do sujeito Ex.: Os pássaros destruíram a horta. b) a maior parte de, uma porção de + nome no plural = verbo no singular ou no plural

Ex.: A maior parte dos animais escapou / escaparam.

c) mais de, menos de, perto de + numeral = o verbo concorda com o numeral

Ex.: Mais de um animal escapou. Mais de um animal escaparam.

d) quando o se é pronome apassivador, o verbo concorda com o sujeito (que está na frase)

Ex.: Alugaram-se alguns caminhões. (Alguns caminhões foram alugados)

quando o se é índice de indeterminação do sujeito, o verbo fica na 3ª pessoa do singular

Ex.: Precisou-se de bons reforços.

e) nome próprio no plural = o verbo concorda com o artigo

Ex.: Os Andes ficam na América do Sul.

se não houver artigo, o verbo fica no singular Ex.: Santos localiza-se no litoral paulista. 2. Com sujeito composto a) antes do verbo = verbo no plural Ex.: O navio e a lancha voltaram. b) depois do verbo = verbo no plural ou concordando com o núcleo mais próximo

Ex.: Voltaram / Voltou o navio e a lancha.

c) pessoas gramaticais diferentes: Com a 1ª pessoa (eu/nós) = verbo na 1ª pessoa do plural Sem a 1ª pessoa = verbo na 2ª ou 3ª do plural

Ex.: Ela, tu e eu partiremos. (=nós) Ex.: Ela e tu partirão / partireis.

3. Verbo ser a) Quando o sujeito e o predicativo são de números diferentes (um singular e outro plural), o verbo ser pode ficar tanto no singular como no plural, embora o plural seja mais usual

Ex.: A vida são / é projetos sem fim.

b) Quando o sujeito ou o predicativo referem-se a pessoa, o verbo ser só pode concordar com essa pessoa.

Ex.: O velhinho doente era as angústias da família. Nossa maior alegria são os amigos.

4. Verbos impessoais a) Haver (no sentido de existir / acontecer) = é impessoal, ou seja, fica no singular (tanto sozinho quanto em locução verbal)

Ex.: Não haverá outros interessados? Não poderá haver outros interessados?

b) Fazer (indicando tempo transcorrido / a transcorrer) = é impessoal, ou seja, fica no singular (tanto sozinho quanto em locução verbal)

Ex.: Ontem fez dois meses que ele morreu. Amanhã vai fazer um ano que eu a conheci.

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EXERCÍCIOS

(Aprender e praticar gramática – pág. 366 a 375) 1.Reescreva na lacuna de cada frase a forma verbal (ou formas verbais) que torna(m) correta a concordância. O sujeito está destacado. a) O velho relógio da igreja .... dez horas. (batia / batiam) b) No velho relógio da igreja .... dez horas. (batia / batiam) c) Quando .... seis horas, partiremos. (for / forem) d) A confusão começou quando .... onze horas. (deu / deram) e) O céu e o vento .... outra tempestade. (anunciava / anunciavam) f) .... outra tempestade o vento e o céu. (anunciava / anunciavam) 2.Substitua os verbos existir e acontecer pelo verbo haver. a) Atualmente não existem lugares tranquilos nesta cidade. b) Naquele país aconteceram vários golpes militares. c) Talvez ainda existam ingressos para o jogo de hoje. 3. (Unicamp-SP) No dia 19 de novembro de 1989, a “Folha de São Paulo” publicou a seguinte nota na seção Painel:

Pane Gramatical “Os computadores do TSE emitiam o aviso, ontem, no intervalo dos boletins: ‘Dentro de instantes será divulgado novos (sic) resultados’.” Nesse mesmo dia e no mesmo jornal, lê-se o seguinte: “É exatamente essa grande maioria que chamamos, abstratamente, de povo. São os cidadãos humildes, que vivem de pequenos serviços na periferia das grandes cidades (...) São para esses cidadãos anônimos, que ganharam personalidade dia 15 de novembro, que o novo governo deverá estar voltado”.

(Leo W. Cochrane Jr., “O recado do povo”) a) Que trecho do segundo texto poderia também ser considerado um caso de pane gramatical? b) Reescreva corretamente os dois trechos problemáticos.

4. Complete fazendo a devida concordância do verbo entre parênteses. a) A multidão aglomerada na avenida ___ o trânsito. (atrapalhava/atrapalhavam) b) Livros, apostilas, revistas, nada ___; tudo foi destruído. (escapou/escaparam) c) O bando de meninos ___. (correu/correram) d) Só ___ alguns meninos na sala. (havia/haviam) e) Aqui ___ invernos muito frios. (faz/fazem) f) O relógio da matriz ___ doze horas. (bateu/bateram) g) No relógio da sala ___ onze horas. (deu/deram) h) Os Estados Unidos ___ com a anistia. (concordou/concordaram) i) Santos ___ uma cidade litorânea. (é/são) j) ___ -se de mais gente na lavoura. (precisa / precisam) k) ___ -se quartos para rapazes. (aluga/alugam) l) ___ -se relógios. (conserta / consertam) m) O pessoal ___ animado. (continua/ continuam) n) Um bando de morcegos ___. (voava/voavam) o) Naquela época ___ muitas doenças infecciosas. (havia/haviam) p) Os melhores marceneiros ___ ótimos trabalhos. (faz/fazem) q) ___ dois meses que não o vejo. (faz/fazem) r) Lá ___ muitas obras de arte. (existe/existem) s) Lá ___ muitas obras de arte. (havia/haviam) t) ___ poucos alunos matriculados. (havia/haviam) u) ___ ainda alguns ingressos à venda. (existe/existem) 5. (PUC-SP) Leia o seguinte trecho: “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. (...) Fazia horas que procuravam uma sombra.” (Graciliano Ramos) No texto acima, explique o emprego do verbo fazer na expressão fazia horas.

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16 ACENTUAÇÃO - REVISÃO As regras de acentuação servem, na prática, para orientar o leitor quanto à pronúncia correta das palavras escritas. Tanto a presença do acento (nas palavras que o exigem) quanto na sua ausência (nas palavras que não o admitem) são fundamentais para indicar a pronúncia.

Regras gerais de acentuação 1. Monossílabas tônicas – acentuam-se as terminadas em: a(s): pá, gás e(s): lê, pés o(s): dó, nós Fique atento: monossílabas átonas são as monossílabas pronunciadas “fracamente”, isto é, com pouca intensidade. Elas não são acentuadas. Ex.: Ela estava na festa de aniversário, mas não a vi. As monossílabas tônicas são aquelas pronunciadas com mais intensidade. Ex.: Tu não tens dó de Célia, mas ela não é má pessoa. 2. Oxítonas – acentuam-se as terminadas em: a(s): orixá, renascerás o(s): carijó, bongôs e(s): Xanxerê, através em/ens: porém, manténs 3. Paroxítonas – acentuam-se as terminadas em: i(s), us: táxi, júris, Vênus, lótus um/uns: fórum, álbuns l, n: portável, hífen ps, ã(s): tríceps, dólmã (caso militar) r, x: néctar, bórax (nome de uma substância química) ditongo (seguido ou não de s): convênio, túneis, tábuas, exigência 4. Proparoxítonas: todas são acentuadas: mágico, transgênico, último, pêssegos

Regras complementares de acentuação gráfica 1. Acentuação dos ditongos abertos éi, ói, éu: • São acentuados em palavras monossílabas (exemplos réus, dói) e em oxítonas (exemplos coronéis,

constrói, Ilhéus) • Não são acentuadas em palavras paroxítonas (exemplos paranoico, assembleia) Fique atento: ditongo fechado é pronunciado com a boca mais fechada, nunca é acentuado graficamente (ex.: cadeira, bois, perdeu), já o ditongo aberto é pronunciado com a boca mais aberta, alguns são acentuados, outros não (ex.: caixa, papéis, herói, colmeia, asteroide).

2. i e u na segunda vogal do hiato: • São acentuados desde que estejam sozinhos (ou +s) na sílaba e não sejam seguidos de nh (exemplos

distraída, ruído, graúdo, baús). • Não são acentuados quando precedidos de ditongo (exemplo baiuca) Fique atento: hiato é o encontro de dois sons vocálicos pronunciados em sílabas separadas (ex.: escoar: es-co-ar / traído: tra-í-do / ruim: ru-im) 3. Verbos ter, vir, crer, dar, ler e ver: Formas desses verbos que exigem atenção quanto ao acento gráfico:

Ter Vir Crer Dar Ler Ver Ele tem Ele vem Ele crê Que ele dê Ele lê Ele vê Eles têm Eles vêm Eles creem Que eles deem Ele leem Eles veem 4. Acento diferencial – esse acento é: Obrigatório em dois casos: - na palavra pôr (verbo) para diferenciá-la da preposição por - na palavra pôde (passado do verbo poder) para diferenciá-la de pode (presente do verbo poder) Facultativo em dois casos: - na palavra fôrma/forma, significando “molde ou recipiente” - na palavra dêmos/demos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo do verbo dar)

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EXERCÍCIOS (Coleção Novas Palavras (Vol.1)-pág.307,313,318 e 319) 1. Leia este trecho de reportagem com dois especialistas em recrutamento e seleção de trainees (jovens recém-formados que iniciam a formação profissional nas empresas): “[...] A iniciativa, comprometimento e paixão pelo que faz tambem conta muito na seleção”, diz Sofia do Amaral. Alem desses filtros ha a questão do dominio do Portugues, com testes e, principalmente, redações. Alias, a avaliação de conhecimento da lingua portuguesa tem eliminado muitos candidatos [...].

(Sofia do Amaral. O Estado de S.Paulo, SP, 3/10/2004) Você notou alguma coisa estranha na grafia de algumas palavras desse texto? Identifique-as e faça a correção. 2. Acentue apenas as palavras que exigem acento gráfico:

a) boitata h) nectar o) iris b) latex i) incrivel p) eficacia c) bonus j) cortex q) atomico d) vez k) funil r) benção e) ves l) tenis s) ambiguo f) semen m) a fabrica t) desagua g) item n) ele fabrica

3. Responda objetivamente às perguntas a seguir: a) Por que a palavra jacaré é acentuada, mas jacarezinho não é? b) Por que a palavra indústria é acentuada, mas industrial não? c) As palavras herói, heroico e heroicamente apresentam ditongo aberto. Por que, então, somente a primeira é acentuada graficamente? d) Compare estes nomes próprios: Luiz, Luís, Luíza, Luísa. Por que só o primeiro não é acentuado? e) Considere estas palavras já adequadamente grafadas quanto à acentuação: intuito, gratuito, fortuito. Como é possível concluir que, nas três, a vogal tônica é o u, e não o i?

4. Escreva as frases, substituindo adequadamente o espaço vazio pelas palavras propostas em cada item. a) Use pôr ou por Resolveu � tudo em ordem. Começou � não acatar opiniões � razões indiscutíveis. � isso não vou � em dúvida a competência dele. b) Use pôde ou pode Ontem você � vencê-lo, mas creio que, para a próxima partida, já não � ter tanta certeza disso. 5. (IBGE) Assinale a opção cuja palavra não deve ser acentuada: a) Não ves que eu não tenho tempo? b) É difícil lidar com pessoas sem carater. c) Todo ensino deveria ser gratuito. d) Saberias dizer o conteudo da carta? e) Veranópolis é uma cidade que não para de crescer. 6. (BB) "Alem do trem, voces tem onibus, taxis e aviões". a) 1 acento b) 2 acentos c) 3 acentos d) 4 acentos e) 5 acentos 7. (UF-PR) Assinale a alternativa em que todos os vocábulos são acentuados por serem oxítonos: a) parabéns, vêm, hífen, saí, oásis b) você, capilé, Paraná, lápis, régua c) paletó, avô, pajé, café, jiló d) amém, amável, filó, porém, além e) caí, aí, ímã, ipê, abricó

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17 COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL

É necessário inicialmente termos a noção de texto. Quando falamos em texto, identificamos um uso da linguagem (verbal ou não-verbal) que tem significado, unidade (um conjunto em que as partes se ligam umas às outras) e intenção. Nas diversas situações de comunicação, nosso texto deve apresentar condições de ser lido e interpretado, para tanto, deve ser claro, coerente e coeso. Devemos ter em mente que não escrevemos para nós, mas para outros (interlocutor preferencial), portanto, devemos ler e reler nosso texto, eliminando erros de ortografia, ambiguidades etc. O interlocutor de um texto é o leitor a quem ele se dirige preferencialmente ou, em outras palavras, é o leitor em quem pensa o autor no momento da produção daquele texto. A primeira informação importante a ser considerada no momento da leitura é que todo texto faz referência a uma situação concreta. Essa situação é o contexto. Há diferentes tipos de contexto (social, cultural, estético, político, histórico...) e sua identificação é fundamental para que se possa compreender bem o texto. Para a produção de um bom texto é preciso que o autor domine todos os recursos textuais necessários para estabelecer as relações de sentido entre as ideias que pretende expor. Há dois níveis que o autor precisa dominar: o primeiro deles é o aspecto formal, o segundo é o aspecto da significação. O aspecto formal é alcançado pela escolha das palavras cuja função é articular entre si as partes do texto. A ligação textual obtida através dos elementos linguísticos é chamada coesão textual. O segundo nível, o da significação, é a reunião de ideias, informações e argumentos compatíveis entre si, obtendo como resultado um texto claro, a que chamamos coerência textual. Para manter a coesão, a coerência e a clareza textual é necessário também que o texto esteja bem pontuado, por isso, vamos lembrar os conceitos de pontuação.

17.1 PONTUAÇÃO - REVISÃO Leia as frases abaixo, observando sua pontuação:

Meu amigo saiu, não está aqui. Meu amigo? Saiu, não está aqui. Meu amigo? Saiu não, está aqui. Meu amigo saiu? Não está aqui? - Meu amigo saiu? - Não, está aqui.

Os sinais de pontuação são recursos da língua escrita que visam substituir certos componentes específicos da língua oral, tais como entonação, pausa, gestos e expressão facial, permitindo que a linguagem escrita seja veiculada com maior clareza e eficácia. Vírgula (,) — O emprego da vírgula, na linguagem escrita, não corresponde necessariamente a uma pausa na linguagem oral, e vice-versa. A vírgula é um sinal que liga orações, separa termos das orações e indica a ocorrência de certos fenômenos, tais como inversão, omissão ou intercalação de termos em uma oração. Emprega-se a vírgula para marcar: - Inversão:

• de complementos verbais: A vida, eu compro com as mãos. • de adjuntos adverbiais. À noite, faço um curso de inglês. • de orações subordinadas adverbiais: Embora não pensassem assim, era a mesma coisa.

- Coordenação:

• entre termos da oração com o mesmo valor sintático: Deu-me de presente, livros, revistas de arte e discos.

• entre orações assindéticas: Foi à porta, espiou, correu para dentro assustada. • entre orações sindéticas, com exceção das aditivas: Talvez seja engano meu, mas acho-a agora

mais serena.

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A vírgula deve ser empregada antes da conjunção aditiva e apenas quando esta aparecer repetida várias vezes e quando ligar orações com sujeitos diferente: Queria ver, e abaixava os olhos, e tampava-os com as mãos. O carro desviou-se, e ao cabo de um segundo o ônibus passou. - Intercalação:

• de termos da oração: A aniversariante, meiga, atenciosa com todos, parecia realmente feliz. • de conjunção: Ele é seu pai: respeite-lhe, pois, a vontade. • de expressões explicativas, como: isto é, ou melhor, por • exemplo, etc.: Entregar-lhe os documentos foi, sem dúvida, um erro. • de orações subordinadas adverbiais: Antigamente, quando eu era menino, ouvia histórias deste

lugar. - Supressão de termos: Elipse: Nós moramos no campo, e vocês, na cidade. (elipse do verbo morar) - Isolamento:

• de aposto ou de oração subordinada substantiva apositiva: O resto, as louças, os cristais e os talheres, irão nas caixas menores.

• de vocativo: Você ouviu, Maria, que notícia esquisita? • de nome de lugar anteposto à data: São Paulo, 20 de dezembro de 1994. • de orações subordinadas adjetivas explicativas: Até ele, que é o melhor da turma, não quis

participar do torneio de xadrez. Ponto-e-vírgula (;) — se dá normalmente:

• para isolar orações da mesma natureza: “Este é o dia de todos os santos; amanhã é o de todos os mortos”. (Machado de Assis)

• para organizar enumerações relativamente longas, principalmente quando a vírgula já foi utilizada: São estes os poetas líricos do Arcadismo brasileiro: Gonzaga, o Dirceu; Cláudio Manuel da Costa, o cantor de Nise; e Silva Alvarenga.

• para separar orações quando houver zeugma na segunda: Vocês anseiam pela violência; nós, pela paz.

• para separar os itens de decretos, leis, portarias, etc. Ponto (.) — emprega-se no final de frases declarativas: Os livros foram danificados pelas traças. Dois pontos (:) — Marcam uma pausa para anunciar uma citação, uma fala, uma enumeração, um esclarecimento ou uma síntese. Ex.: “Lembrei-me do nome e do tipo: era João Francisco Gregório, caboclo, robusto, desconfiado...” (Graciliano Ramos) Ponto de interrogação (?) — Usa-se no final de uma frase interrogativa direta e indica uma pergunta. Ex.: E eu? O que é que eu devo fazer? Ponto de exclamação (!) — Usa-se no final de qualquer frase que exprime sentimentos, emoções, dor, ironia, surpresa e estados de espírito. Ex.: Saia daqui já! Reticências (…) — Podem marcar uma interrupção de pensamento, indicando que o sentido da oração ficou incompleto, ou uma introdução de suspense, depois da qual o sentido será completado. No primeiro caso, a sequência virá em maiúscula – uma vez que a oração foi fechada com um sentido vago proposital e outra será iniciada à parte. No segundo caso, há continuidade do pensamento anterior, como numa longa pausa dentro da mesma oração, o que acarreta o uso normal de minúscula para continuar a oração. Ex.: Ah, como era verde o meu jardim... Não se fazem mais daqueles. Foi então que Manoel retornou... mas com um discurso bastante diferente!

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São também usadas para supressão de trecho sem importância no texto: Ex.: “Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliam enormemente o império de sua língua (...). (Celso Cunha) Aspas (“ ”) — Usam-se para delimitar citações; para referir títulos de obras; para realçar uma palavra ou expressão, para destacar palavras estrangeiras, neologismos, gírias, para indicar mudança de interlocutor nos diálogos, etc.: Ex.: Estudou “ballet” por insistência da mãe. Parênteses ( ( ) ) — Marcam uma observação ou informação acessória intercalada no texto, são empregados normalmente para separar palavras ou frases explicativas dentro do período e nas indicações bibliográficas: Ex.: “Depois do jantar (mal servido) Seu Dagoberto saiu do Grande Hotel e Pensão do Sol (Familiar) palitando os dentes caninos”. (Antônio de Alcântara Machado) Travessão (—) — Marca: o início e o fim das falas em um diálogo, para distinguir cada um dos interlocutores; as orações intercaladas; as sínteses no final de um texto. Também usado para substituir os parênteses. Ex.: “– Para onde vais tu?..., perguntou-lhe em voz baixa. – Não sei, filha, por aí!... (Aluisio Azevedo) “– Não quero saber onde mora – atalhou Quincas Borba”. (M. de Assis) “Grande futuro? Talvez naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro político, ou até bispo – bispo que fosse –, uma vez que fosse um cargo...” (Machado de Assis) Parágrafo — Constitui cada uma das secções de frases de um escritor; começa por letra maiúscula, um pouco além do ponto em que começam as outras linhas. Colchetes ([ ]) — utilizados na linguagem científica. Asterisco (*) — empregado para chamar a atenção do leitor para alguma nota (observação). Barra (/) — aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas. Hífen (−) — usado para ligar elementos de palavras compostas e para unir pronomes átonos a verbos.

EXERCÍCIOS

Dinheiro encontrado no lixo

“Organizados numa cooperativa em Curitiba, catadores de lixo livraram-se dos intermediários e conseguem ganhar por mês, em média, R$ 600,00 – o salário inicial de uma professora de escola pública de São Paulo. O negócio prosperou porque está em Curitiba, cidade conhecida dentro e fora do país pelo sucesso na reciclagem do lixo.” Folha de S. Paulo, 22 set.2000 1. Quando se lê esta notícia, nota-se que seu título é ambíguo, ou seja, tem duplo sentido. a) Quais são os dois sentidos do título? b) Crie para a notícia um título que lhe seja adequado e não apresente duplo sentido.

2. Leia o texto abaixo e respostas as questões seguintes:

Novo Computador do Milhão “O SBT decidiu lançar uma nova versão do Computador do Milhão. Os novos micros vêm equipados com processador Celeron de 1 GHz, 128 MB de memória RAM, disco rígido de 20 GB, monitor de 15”, teclado para Internet, Windows XP, estabilizador e kit multimídia.” Revista do CD-ROM, jan. 2002 a) Considerando o texto, é possível identificar a que tipo de leitor se dirige (ou seja, quem é seu interlocutor preferencial)? b) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem identificar o interlocutor preferencial desse texto?

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LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica

3. O texto a seguir foi construído pela enumeração de uma série de elementos conhecidos. Pode-se, porém, pelo conhecimento que se tem de tais elementos, identificar as situações por eles referidas, atribuindo coerência ao texto, apesar de não contarmos com o auxílio dos mecanismos de coesão, observe a importância da pontuação.

Circuito Fechado

“Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. [...]” RAMOS, Ricardo. In: JOSEF, Bella (org.) Os melhores contos de Ricardo Ramos. SP: Global, 1998)

Pela leitura do texto, você deve ter conseguido regatar uma ideia mais geral sobre seu sentido. a) De que trata o texto? b) Apesar de não terem sido utilizados os tradicionais elementos coesivos, a pontuação do texto nos auxilia bastante na construção de pequenas unidades de sentido. Volte ao texto e observe que o autor alterna o uso de vírgulas e pontos. Como interpretar tal alternância? c) Agora, volte novamente ao texto e, separando cada uma das seqüências, identifique a que acontecimento cada uma delas se referem. 4. Reescreva o período a seguir, pontuando-o corretamente. “É fato conhecido por muitos que Paulo Lins escritor carioca viveu na Cidade de Deus onde se desenvolve a trama de seu famoso livro.”

5. Observe o trecho abaixo:

Andorinha Andorinha lá fora está dizendo: - Passei o dia à toa, à toa! Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais

[triste! Passei a vida à toa, à toa!...

BANDEIRA, Manuel. Comente três tipos diferentes de pontuação no trecho: “- Passei o dia à toa, à toa!”. 6. Leia o texto e responda as questões. “Uma vírgula esquecida ou mal usada afeta o sentido da frase. A maldita pode mudar o sentido ou deixar a frase sem sentido. Observe a importância da vírgula no exemplo abaixo: ‘Os técnicos foram à reunião acompanhados da secretária do diretor e de um coordenador.’ (...) Se usarmos a vírgula, mudaremos o sentido da frase (...)”

DUARTE, Sérgio Nogueira. Língua Viva. a) Onde a vírgula deve ser colocada para que o sentido da frase seja alterado? b) Explique a alteração de sentido produzida com a utilização da vírgula. 7. Leia a frase abaixo e explique o emprego das aspas. Em alguns acampamentos de férias no interior de Minas Gerais, quem aprecia a vida no campo pode curtir o frio, ouvindo “causos” à beira da fogueira. 8. Leia o texto. “Era um sujeito realmente distraído: na hora de dormir, beijou o relógio, deu corda no gato e enxotou a mulher pela janela.”

NUNES, Max. A pulga na camisola. a) Explique o uso dos dois-pontos no texto transcrito. b) As duas vírgulas utilizadas no texto têm a mesma função? Justifique sua resposta.

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Autora: Lucivânia A. S. Perico

BIBLIOGRAFIA ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: língua e literatura. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2003. AMARAL, Emília; FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTÔNIO, Severino. Novas palavras, nova edição. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2010. BARRETO, Ricardo Gonçalves. Coleção ser protagonista. 1ª edição. São Paulo: Edições SM, 2010. BUSUTH, Mariângela Ferreira. Redação Técnica Empresarial. 2ª edição. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. São Paulo: Atual, 2003. FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teoria, sínteses das unidades, atividades práticas, exercícios de vestibulares. São Paulo: FTD, 1992. FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª edição. São Paulo: Ática, 2007. GOLD, Miriam. Redação Empresarial – Escrevendo com Sucesso na Era da Globalização. 2ª edição. São Paulo: Pearson, 2002. MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2007. NOGUEIRA, Sérgio. Português sem complicação: regras, dicas e respostas comentadas. Coleção Aula Extra. São Paulo: 2009. SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 2ª edição. Belo Horizonte-MG: Moderna, 2002. VÍDEO Tempos Modernos (Modern Times, EUA 1936). Direção: Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard, 87 min. preto e branco, Continental. LEITURAS COMPLEMENTARES HUNTER, James C.. O Monge e o executivo. Uma história sobre a essência da liderança. Tradução: Maria da Conceição Fornos de Magalhães. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Tradução: Lino Vallandro e Vidal Serrano. São Paulo: Globo, 2009. ORWELL, George. A revolução dos bichos. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Globo, 2003.