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1 Índice Gramática Língua: história e diferenciação........................................................................................2 Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal.....................................12 Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal II..................................20 Estruturas ou períodos lacunares.....................................................................................26 Emprego de pronomes e oralidade..................................................................................34 Linguagem informal e cartas de reclamação...................................................................42 Vozes verbais: voz passiva..............................................................................................48 Formas verbais: gerúndio................................................................................................56 Formas verbais: particípio...............................................................................................60 Formas verbais: infinitivo................................................................................................62 Nominalização (substantivação e adjetivação) ................................................................64 Reorganização sintática...................................................................................................70 Estruturas básicas e complementares..............................................................................74 Estruturas básicas e complementares II...........................................................................80 Emprego dos pronomes relativos....................................................................................85 Redação Paráfrase..........................................................................................................................94 Resumo acadêmico..........................................................................................................99 Recursos de coesão........................................................................................................106 Prática de escrita: Boas maneiras: por favor, leia este texto. .....................................115 Prática de escrita: “O terceiro homem”.........................................................................120 Prática de escrita: “Ó, desprezíveis solteironas!........................... ...............................126 Prática de escrita: “Do costume de comer carne”..........................................................132

Apostila LP1

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Page 1: Apostila LP1

1

Índice

Gramática

Língua: história e diferenciação.................................................................................. ......2

Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal.....................................12

Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal II..................................20

Estruturas ou períodos lacunares................................................................................ .....26

Emprego de pronomes e oralidade..................................................................................34

Linguagem informal e cartas de reclamação...................................................................42

Vozes verbais: voz passiva..............................................................................................48

Formas verbais: gerúndio................................................................................................56

Formas verbais: particípio...............................................................................................60

Formas verbais: infinitivo................................................................................................62

Nominalização (substantivação e adjetivação)................................................................64

Reorganização sintática...................................................................................................70

Estruturas básicas e complementares..............................................................................74

Estruturas básicas e complementares II...........................................................................80

Emprego dos pronomes relativos....................................................................................85

Redação

Paráfrase..........................................................................................................................94

Resumo acadêmico..........................................................................................................99

Recursos de coesão........................................................................................................106

Prática de escrita: “Boas maneiras: por favor, leia este texto.”.....................................115

Prática de escrita: “O terceiro homem”.........................................................................120

Prática de escrita: “Ó, desprezíveis solteironas!”..........................................................126

Prática de escrita: “Do costume de comer carne”..........................................................132

Page 2: Apostila LP1

2

Língua: história e diferenciação

Antes da Torre de Babel

1. Recolhido a seus aposentos numa certa noite do final do século VII a.C.,

Psamético, um dos últimos faraós do Egito, que reinou de 664 a 610 a.C., refletia sobre

as línguas que os homens falavam. Sua riqueza e diversidade, as semelhanças e as

diferenças entre as palavras, as pronúncias, as inflexões de voz, tudo o fascinava,

principalmente a ideia de que essa multiplicidade tinha uma origem comum, uma língua

mãe falada por toda a humanidade num tempo muito remoto, como afirmavam as lendas

da época. O faraó imaginou, então, uma experiência engenhosa e cruel. Convencido de

que, se ninguém ensinasse os bebês a falarem, eles se expressariam naquele idioma

original, determinou que dois irmãos gêmeos fossem tirados da mãe logo ao nascerem e

fossem entregues a um pastor para que os criasse. O pastor recebeu ordens severas, sob

pena de morte, de jamais pronunciar qualquer palavra na presença das crianças.

2. Quando completaram dois anos, o faraó mandou que se deixasse de alimentá-las,

na suposição de que a pressão da fome faria com que pedissem comida em sua "língua

natural". Não se sabe bem o que aconteceu, mas tudo indica que o pastor, movido pela

compaixão, não fez exatamente o que lhe havia sido ordenado. Isso porque o

inverossímil relato enviado ao faraó informava que um dos meninos, faminto, havia

pedido pão em cíntio, idioma falado antigamente na região que viria a ser a Ucrânia.

Assim, satisfeito com o desfecho da impiedosa pesquisa, Psamético decretou que o

cíntio era a língua original da humanidade. Por incrível que pareça, a experiência seria

repetida dezenove séculos mais tarde. O idealizador foi o rei germânico Frederico II

(1194-1250), que, pelo visto, não tinha se convencido das conclusões do faraó.

Certamente vigiado mais de perto, o experimento resultou no inevitável: os dois gêmeos

morreram.

3. De Psamético I aos dias de hoje, passando por Frederico II, muitos outros

homens igualmente curiosos se perguntaram qual teria sido e como seria possível

reviver o idioma do qual brotaram todos os demais. Os estudos linguísticos viriam

confirmar a crença dos antigos. Segundo o linguista Cidmar Teodoro Pais, da

Universidade de São Paulo, a comparação entre as várias línguas do planeta, tanto as

ainda faladas quanto as já desaparecidas, revela efetivamente algumas características

comuns que apontam para a possível existência de uma língua primeira, mãe de todas.

Page 3: Apostila LP1

3

Nesse ponto, a Linguística parece se afinar com as mitologias que descrevem a

dispersão das línguas pelo mundo.

4. A mais conhecida delas é a história bíblica da Torre de Babel. Segundo o Antigo

Testamento, a multiplicação das línguas foi um castigo de Deus à pretensão dos homens

de construir uma torre cujo topo penetrasse no céu.

5. Hoje muitos linguistas históricos estão empenhados em passar da lenda à

verdade histórica, mas a tarefa é de extrema dificuldade. Quem diria, por exemplo, que

há algum parentesco, embora remoto, entre o português e o sânscrito, uma língua falada

na Índia há milhares de anos, e ainda com a sua versão moderna, o hindi? E, no entanto,

o parentesco existe. Descobriram os linguistas que esses idiomas descendem de um

mesmo e único tronco, o indo-europeu, pertencendo, portanto, à grande família das

línguas indo-europeias que inclui também o grego, o armênio, o russo, o alemão, entre

muitas outras. Hoje aproximadamente a metade da população mundial tem como língua

nativa um idioma dessa família.

6. Os linguistas históricos passaram, então, a se dedicar a duas tarefas: uma, refazer

passo a passo a árvore genealógica dessa família, trilhando a história de sua evolução,

outra, reconstituir a língua perdida que dera origem a todas, o indo-europeu.

(...)

7. No século passado, o trabalho dos linguistas apoiou-se fortemente numa lei

formulada em 1822 pelo alemão Jacob Grimm (1785-1863), mais conhecido pelos

contos de fadas que escreveu. A lei de Grimm afirmava ser possível prever como alguns

grupos de consoantes se modificariam, com o tempo, nas línguas indo-europeias. Entre

outras coisas, ele dizia que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazendo-se

vibrar as cordas vocais) tendia a ser substituída por sua equivalente fraca ou surda

(pronunciada sem vibração das cordas vocais). O "b" e o "p"constituem um par desse

tipo, assim como o "d" e o "t". "B" e "d" são fortes, "p" e "t" são fracas, como se pode

comprovar, pronunciando-as com a mão na garganta. Com base nessas leis, foi possível

mostrar, por exemplo, que a forma dhar em sânscrito, que significa “puxar”, “trazer”,

originou o inglês draw, o alemão tragen, o latim trahere e o português “trazer”, todos

com significado semelhante. O "d" da palavra em sânscrito virou "t" nas outras línguas.

Pode-se concluir, ainda, que a palavra em inglês transformou-se menos que as demais,

pois se manteve fiel ao som original do sânscrito. Assim, os linguistas puderam, a partir

da formulação de princípios de transformação, "estabelecer um modelo confiável das

Page 4: Apostila LP1

4

relações familiares entre as línguas", conta o paulista di Giorgi, "construindo um

modelo bastante aceitável do que teria sido a língua ancestral, o proto-indoeuropeu."

8. Até os anos 40, os pesquisadores acreditavam que o berço do indo-europeu

estava situado no norte da Alemanha e da Polônia. As pesquisas mais recentes afirmam

que o proto-indo-europeu era falado há cerca de 6 mil anos na Ásia, e não na Europa

Central. Dois trabalhos, um do americano Colin Renfrew, outro dos russos Thomas

Gamkrelidze e V.V. Ivanov, concordam ao apontar o berço do indo-europeu como o

planalto da Anatólia, uma região que vai da Turquia à República da Armênia. Dali,

movidos pela busca de terras férteis e de novos campos de caça, os indo-europeus

migraram, há uns cinco milênios, seja para a Europa, seja para a Ásia.

9. Muito já foi descoberto com relação a esse distante passado das línguas, mas

muito ainda permanece sem explicação. Como disse Einstein, o mistério é a fonte de

toda verdadeira ciência; desde que, para resolvê-lo, não seja preciso negar comida a

crianças, como fizeram um faraó egípcio e um rei germânico.

Super Interessante

http://super.abril.com.br/superarquivo/1990/conteudo_112118.shtml

Acesso em 05/12/2008.

(Texto adaptado)

Questões a partir da leitura do texto

1. As transformações da língua são um processo natural? Por quê? (Fig.2) (Fig.3)

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2. O português é uma das línguas mais difíceis do mundo? Explique sua resposta. (Fig.

1) (Tabela 1)

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3. A cada nação corresponde, de maneira natural, um idioma que lhe é próprio? (Tabela

2)

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4. Em princípio, seria mais fácil, para um falante de português, falar chinês que

iraniano? (Fig. 1) (Fig. 3)

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5. Comente a seguinte afirmação: “O Português de Portugal não apresenta muitas

variações”. (Fig.4 + “Mirandês”)

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As línguas no mundo (Figura 1)

http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/mundo Acesso em 05/12/2008.

Distribuição das línguas conforme área de origem (Tabela 1)

Área Línguas Vivas

Número Porcentagem

África 2.092 30.3

Américas 1.002 14.5

Page 7: Apostila LP1

7

Ásia 2.269 32.8

Europa 239 3.5

Oceania 1.310 19.0

Total

6.912 100.0

Ethnologue - languages of the world:

http://www.ethnologue.com/ethno_docs/distribution.asp?by=country Acesso em:

05/12/2008.

Número de línguas faladas em alguns países (Tabela 2)

País Total Indígenas Imigrantes Língua Oficial

Argentina 39 25 14 1 (Espanhol)

Austrália 275 231 44 1 (Inglês)

Áustria 19 9 10 1 (Alemão)

Azerbaijão 35 14 21 1 (Azeri)

Bélgica 28 9 19 3 (holandês - 60%, francês – 31% e

alemão – 1%)

Bolívia 39 36 3 3 (Espanhol, Quíchua e Aimará)

Botswana 37 28 9 2 (Inglês e Setswana)

Brasil 200 188 12 1(Português)

Canadá 145 85 60 2 (Inglês e Francês)

China 241 235 6 1 (Chinês Mandarim) (cooficial

com o Inglês em Hong Kong e com

o Português em Macau)

Índia

(23 línguas

427 415 12 23 (Hindi, Inglês e mais 21 línguas

nacionais)

Indonésia 742 737 5 1 (Língua Indonésia)

Nigéria 516 510 6 1 (Inglês)

Papua Nova

Guiné

820 820 0 1 (Inglês)

EUA 311 162 149 Nenhuma língua oficializada a

Page 8: Apostila LP1

8

nível federal. O inglês é de facto.

Porém, vários Estados especificam

o inglês como idioma oficial do

Estado. Alguns Estados também

especificam um segundo idioma

oficial

Ethnologue - languages of the world:

http://www.ethnologue.com/ethno_docs/distribution.asp?by=country Acesso em:

05/12/2008.

A família itálica (Figura 2)

http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/indoeuro/italico Acesso em 05/12/200.

A família

românica

(Figura 3)

Page 9: Apostila LP1

9

http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/indoeuro/italico/romance Acesso em

05/12/2008.

O português em Portugal (Figura 4)

http://www.proel.org/index.php?pagina=mun

do/indoeuro/italico/romance/iberorromance/p

ortugues Acesso em 05/12/2008.

O Mirandês

La Lhéngua Mirandesa, doce cumo ua

meligrana, guapa i capechana, nun yê de onte, detrasdonte ou trasdontonte mas cunta

cun uito séclos de eijistência.

Sien se subreponer a la "lhéngua fidalga i grabe" l Pertués, yê tan nobre cumo eilha

ou outra qualquiêra.

Page 10: Apostila LP1

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Hoije recebiu bida nuôba.

Saliu de l absedo i de l cenceinho an que bibiu tantos anhos. Deixou de s'acrucar,

znudou-se de la bargonha, ampimponou-se para, assi, poder bolar, strebolar i çcampar l

probenir.

Agarrou l ranhadeiro para abibar l lhume de l'alma i l sangre dun cuôrpo bien sano.

Chena de proua, abriu la puôrta de la sue priêça de casa, puso fincones ne l sou ser,

saliu pa las ourriêtas i preinadas..

Lhibre, cumo l reoxenhor i la chelubrina, yá puôde cantar, yá se puôde afirmar.

A la par de l Pertués, a partir de hoije, yê lhuç de Miranda, lhuç de Pertual.

Texto de Apresentação do Projecto Lei de

reconhecimento dos direitos linguísticos da Comunidade Mirandesa.

Assembleia da República

Lisboa, 17 de Setembro de 1998

Tradução

A Língua Mirandesa, doce como uma romã1, bonita e afável

2, não é de ontem, de

anteontem ou transanteontem, mas conta com oito séculos de existência.

Sem se sobrepor à “língua fidalga e grave”, o Português, é tão nobre como ela ou

outra qualquer.

Hoje recebeu vida nova.

Saiu do absedo3 e do cenceinho

4 em que viveu tantos anos. Deixou de encolher-se

5,

despiu-se da vergonha, embelezou-se6 para, assim, poder voar, strebolar

7 e deixar

brilhar8 o porvir

9.

1 meligrana – s.f. Romã. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA.

Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 2 O espanhol registra o adjetivo campechano, que significa afável, franco.

3 absedo – vd. abexedo. abexedo – s.m. Sítio virado a norte; sítio desabrigado. m.q. abissedo,

absedo (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:

http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 4 cenceinho – s.m. Nevoeiro gelado. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA

MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28

jan. 2009). 5 Acrucar-se, v. re., acocorar-se; abaixar-se; encolher-se. (Mirandês – Glossário. Disponível em: http://www.bragancanet.pt/miranda/mirandes/glossario_a.htm Acesso em: 28 jan. 2009). 6 ampimponar – v. Alindar, embelezar. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA.

Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 7 Sem tradução.

Page 11: Apostila LP1

11

Pegou o ranhadeiro10

para avivar o lume da alma e o sangue dum corpo bem são.

Cheia de orgulho11

, abriu a porta da sua casa12

, pôs fincões13

no seu ser, saiu para os

vales14

e planícies15

.

Livre, como o rouxinol16

e a cotovia17

, já pode cantar, já se pode afirmar.

Lado a lado com o Português, a partir de hoje, é luz18

de Miranda, luz de Portugal.

8 çcampar – v. Parar de chover; deixar o céu de estar nubrar deixando brilhar o sol.

(“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 9 Tradução aproximada.

10 ranhadeiro – s.m. Instrumento que serve para espalhar as brasas no forno. (“DICIONAIRO” –

DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/

dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 11 proua – s.f. Vaidade, orgulho. / proua – s.f. Proa de um navio. (“DICIONAIRO” –

DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/

dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). Em português, há proa, do Lat. prora, s. f., parte anterior do navio; frente de qualquer coisa; fig., vaidade, bazófia; presunção; arrogância. (Língua

Portuguesa On-line. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx Acesso em: 28 jan.

2009). 12

preça de casa, prieça de casa – s.f. Vestíbulo da casa, pátio de entrada da casa.

(“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:

http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 13 fincon – s.f. Pedra estreita e alta espetada a pino para dividir as propriedades ou reforçar as

paredes. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:

http://www. mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). Em português, há

fincão, s. m., pau vertical que sustenta a lousa de uma armadilha; esteio; Trás-os-Montes, pedra a pino a servir de marco ou a constituir e adiantar parede ligeira. (Língua Portuguesa On-line.

Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx Acesso em: 28 jan. 2009). 14

ourrieta – s.f. Fonte; terra com água de nascente; vale húmido e fértil. (“DICIONAIRO” –

DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 15

preinada – s.f. Planície, sítio plano. m.q. prainada. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA

LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 16

reissenhor – s.m. Rouxinol. m.q. reixenol. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA

MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 17

chelubrina – s.f. Pequena cotovia. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA

MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28

jan. 2009). 18

lhuç – s.f. Luz. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível

em: http://www. mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009).

Page 12: Apostila LP1

12

Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal

O que é língua padrão?19

A língua padrão é o conjunto de formas consideradas como o modo correto,

socialmente aceitável, de falar ou escrever.

Como surgiu a língua padrão?

A língua padrão é fruto de um processo histórico seletivo sempre ligado aos grupos

sociais hegemônicos. Em outras palavras, a língua padrão, na sua origem, é a língua do

poder político, econômico e social.

Apesar de haver essa padronização, deve-se considerar que a língua padrão não é

uniforme. Entre as suas variações mais importantes, destacam-se as seguintes:

níveis de formalidade: o mesmo usuário da língua, seja na modalidade oral, seja

na escrita, empregará formas linguísticas diferentes, aceitáveis socialmente, em

situações distintas – numa festa e numa cerimônia formal, por exemplo. Observe-se

como nós desenvolvemos a capacidade de nos sintonizarmos linguisticamente com uma

determinada situação – e também para vigiarmos a adequação da fala dos outros...

Oral

Informal - Escuta, gente, eu vou apresentar algumas

coisas novas do produto da gente, tá bom?

Formal - Apresentarei aos senhores alguns aspectos

relacionados ao novo produto de nossa

empresa.

19 Estas considerações foram extraídas de FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de

texto: língua portuguesa para nossos estudantes. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, p.30 e ss.

Page 13: Apostila LP1

13

Modalidade

Escrita

Informal O serviço de inteligência da Polícia Federal

conseguiu brecar um plano para matar o gerente

do Ibama Roberto Scarpari, que está sempre

brigando com madeireiros na região Norte.

Scarpari é desses que grita, esperneia e

incomoda muita gente e, por isso, estava na

mira de fazendeiros criminosos.

Formal O serviço de inteligência da Polícia Federal

conseguiu evitar a concretização de um plano

para matar o gerente do Ibama Roberto

Scarpari, que entra em confronto com

madeireiros na região Norte. Scarpari faz

denúncias de irregularidades e luta pelo

cumprimento da lei, opondo-se a interesses

econômicos e, por isso, era veladamente

ameaçado por fazendeiros criminosos.

língua oral e língua escrita: evidentemente, ninguém fala como escreve. Nesse

sentido, a modalidade oral costuma ser muito mais flexível que a modalidade escrita.

Além disso, é também evidente que, na maioria das vezes, em contextos formais,

ninguém deveria escrever como fala. Afinal, a escrita exige, em muitas situações, maior

formalidade que a língua oral (com exceção de alguns gêneros de texto em que é

comum a informalidade, como blogs).

Na fala, é comum repetirmos ideias, para dar ênfase ou para corrigir o raciocínio, que

nem sempre percorre o caminho mais lógico e econômico. Além disso, empregamos

frequentemente expressões populares, gírias e palavras dispensáveis ou imprecisas, e

nossas frases, às vezes, apresentam lacunas, porque quem nos ouve consegue entender o

que queremos dizer (caso contrário, pode nos interromper e lançar uma pergunta). Por

fim, não é raro desrespeitarmos, na fala, algumas regras gramaticais da norma culta

(quem já não ouviu um “para mim fazer”?).

Nas situações formais de escrita, porém, as marcas de oralidade devem ser

suprimidas, para se compor um texto que baste por si e que expresse ideias de forma

clara e empregue a língua de acordo com as regras da norma culta.

Page 14: Apostila LP1

14

O texto a seguir, uma dissertação de um aluno do ensino médio, é um bom exemplo

de como a língua oral pode influenciar a língua escrita. Nele encontramos algumas

estruturas inapropriadas à modalidade escrita:

O negro na sociedade brasileira

O fato de que as vagas nas universidades públicas continuam a favor da elite já

deixou de ser novidade.

Quem possui uma formação escolar considerada boa, geralmente em escolas

particulares, incluindo ensino fundamental e ensino médio, tem muito mais chances de

ingressar na faculdade do que uma pessoa formada pela rede pública de ensino.

Na sociedade brasileira, há um evidente predomínio de negros na classe baixa,

sendo que essa realidade, junto com o preconceito que existe desde a época de

colonização do Brasil em relação a essa raça, faz com que os negros não vivam em

boas condições.

Consequentemente, eles são incluídos na parcela da população que enfrenta mais

dificuldades em conseguir uma vaga na universidade.

Ocorre que algumas coisas têm sido feitas para converter esse quadro.

Projetos como por exemplo o cursinho para negros na UFSCar já estão sendo

colocados em prática, só que ainda são muito poucos.

Embora sejam evidentemente positivos, esses projetos evidenciam ainda mais o

espaço que o negro ocupa na sociedade, separando-o dos outros pela raça e pela cor.

Portanto o que é importante ressaltar é que, apesar de todas as batalhas sociais em

favor do negro, ainda no século 21 a sua situação não é muito diferente daquela do

início da colonização em território brasileiro. Somente os esforços de todos farão com

que essa situação mude.20

Podem ser destacados os seguintes elementos do texto:

20 CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004, p.22 (com

adaptações).

Page 15: Apostila LP1

15

―Quem possui uma formação escolar considerada boa‖ – costuma-se dizer que,

em contextos mais formais, devemos substituir o verbo “ter” pelo verbo “haver”. Essa é

uma meia verdade. Nem sempre se pode (ou se deve) substituir o verbo “ter” pelo verbo

“haver” ou outros (como o verbo “possuir”). No texto acima, o emprego do verbo “ter”

seria perfeitamente adequado: Quem tem uma formação escolar considerada boa [...]

Ou então poderia haver uma construção equivalente: Quem obteve uma formação

considerada boa [...]

―sendo que essa realidade‖ – a expressão “sendo que”, como explica Domingos

Paschoal Cegalla, “não é expressão recomendável para unir orações. Em alguns casos,

convém dispensá-la por ser inútil; em outros, é preferível substituí-la por uma

conjunção ou por um pronome relativo”21

. Assim, no texto acima, bastaria sua

eliminação, com a adequação da pontuação, para adequar o trecho ao padrão culto

formal: Na sociedade brasileira, há um evidente predomínio de negros na classe baixa.

Essa realidade, [...]

“essa realidade, junto com o preconceito que existe desde a época de colonização

[...]‖ – “junto com” é uma expressão informal. No texto, poderia ser substituída pela

locução “assim como”;

―Ocorre que‖ – “ocorre que” (ou “acontece que”) é expressão típica da fala e

costuma ser empregada com valor adversativo, no lugar de uma conjunção. Veja o

exemplo abaixo, extraído de uma entrevista:

FOLHA - Se o partido radicalizar, o sr. também vai

radicalizar?

ARRUDA - A conversa foi cordial. Eu até brinquei e disse a

eles que queria que me tratassem como o PSDB tratou a Yeda

[Crusius, do PSDB, governadora do Rio Grande do Sul,

ameaçada de impeachment].

FOLHA - Ocorre que se trata de um problema político.

21 Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.370.

Page 16: Apostila LP1

16

ARRUDA - Sim, mas essas imagens são quase todas, ou

todas elas, do governo anterior.22

Note como é perfeitamente possível substituir a expressão “ocorre que” por uma

conjunção ou locução conjuntiva adversativa: “Porém trata-se de um problema

político”.

―algumas coisas‖ – a palavra “coisa”, muito usada na língua oral, deve ser evitada

na língua escrita por ser imprecisa, vaga. Substitua-a por uma palavra adequada ao

contexto: algumas iniciativas têm sido tomadas [...]

―[...] para converter esse quadro.‖ – inadequações vocabulares são muito comuns

na fala, momento em que a elaboração do discurso e sua produção são praticamente

simultâneas. Nada justifica, porém, que equívocos como esses ocorram na escrita. Na

dúvida sobre o significado de uma palavra, consulte o dicionário. O autor do texto, na

realidade, pretendia dizer que algumas iniciativas já foram tomadas para reverter (ou

seja, modificar, alterar) esse quadro.

―como por exemplo‖ – trata-se de redundância. Use apenas “como” ou “por

exemplo”:

Projetos como o cursinho para negros na UFSCar já estão sendo colocados em

prática [...]

OU

Projetos – por exemplo, o cursinho para negros na UFSCar – já estão sendo

colocados em prática [...]

―só que ainda são muito poucos‖ – trata-se de expressão bastante comum na fala e

que exerce a função de conjunção (ou seja, procura ligar orações). Em geral, essa

expressão tem um sentido adversativo (ou seja, de oposição de ideias) e, por isso, pode

ser perfeitamente substituída por uma conjunção ou locução conjuntiva adversativa:

Projetos [...] já estão sendo colocados em prática, mas ainda são muito poucos.

22 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u660429.shtml.

Page 17: Apostila LP1

17

―o que é importante ressaltar é que‖ – a construção “é que” também é típica da

língua oral e tem por objetivo enfatizar ou destacar o que é dito. Na língua escrita, deve

ser dispensada, o que resulta em um texto mais conciso:

Portanto o que é importante ressaltar é que [...]

Medo, só senti uma vez quando gostei de um homem, foi ele que me ensinou a ler.

Ele é que fez tudo.→ Ele próprio fez tudo.

Exercício

Leia os trechos abaixo e elimine, em cada um deles, as estruturas inapropriadas, de

modo a obter um texto de acordo com o padrão culto formal:

a) Até 2011, os investimentos em curso no setor elétrico elevarão a capacidade instalada

no país para 3.000 MW. Ocorre que, com 12% da água doce do mundo, supõe-se que o

Brasil tenha número abundante de rios com quedas d'água suficientes para o

aproveitamento hidrelétrico e esteja apto a eliminar quaisquer problemas de

fornecimento de energia.

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b) Na sexta-feira, a juíza Júnia de Souza Antunes, do TJDFT (Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e Territórios), determinou que a reintegração de posse do plenário da

Câmara Legislativa do Distrito Federal fosse feita. Como não houve acordo com os

manifestantes, a reintegração acontecerá hoje. Só que a PM enviou apenas 12 policiais

para retirar cerca de 60 manifestantes.

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Page 18: Apostila LP1

18

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c) Até esta segunda-feira, a Defesa Civil contabilizava 14.462 pessoas fora de suas

casas, sendo que destas, 4.691 estavam desabrigadas e, portanto, dependiam de abrigos

públicos.

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d) A esquizofrenia provavelmente compreende um grupo de transtornos com causas

heterogêneas e abrange pacientes cujas apresentações clínicas, respostas ao tratamento e

o curso da doença são variados. Há vários fatores que podem determinar a origem da

doença, tais como biológicos, genéticos e psicossociais. Contudo, o que é importante

observar é que nenhum desses fatores isoladamente pode definir se o indivíduo terá ou

não esquizofrenia.

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e) O fim da CPMF foi traumático para o Governo por ter gerado perda na arrecadação.

Seu fim foi precocemente festejado, pois criou expectativa na redução da carga

tributária. Como já era previsto, o Governo Federal tentou compensar o prejuízo e

aumentou todas as alíquotas do IOF incidentes na operação de crédito e de câmbio.

Acontece que esse aumento é claramente inconstitucional.

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Page 19: Apostila LP1

19

f) Duas casas foram atingidas por uma barreira, sendo que uma delas ficou totalmente

destruída. Ninguém ficou ferido, mas três casas vizinhas precisaram ser desocupadas.

De acordo com o responsável pela administração da região sul do município, uma das

barreiras que caiu provocou o rolamento de três pedras que possuíam, no total, 50

toneladas.

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g) Como em todas as artes, há expoentes excelentes e outros medíocres, mas o que é

inegável é que cada vez mais a comédia stand up ganha espaço e adeptos.

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h) O mais inesperado foi que os alunos tinham realmente respostas para todas as

perguntas que lhes tinham sido feitas, sendo que eles eram conhecidos pela falta de

interesse por aquela disciplina.

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Page 20: Apostila LP1

20

Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal II

Veja o quadro abaixo:

EVITE USE

a inadequação vocabular (ou seja, uma

palavra utilizada com significado equivocado)

Ele infligiu as regras.

[infligir. verbo bitransitivo. 1 impor, aplicar

(pena, castigo, repreensão etc.); cominar. 2

causar (algo desagradável) a. 3 obrigar a suportar

(algo lesivo, penoso ou doloroso)].

O texto fala de política.

o dicionário para solucionar quaisquer

dúvidas quanto ao significado das palavras

Ele infringiu as regras.

[infringir. verbo transitivo direto. Desobedecer

a; violar, transgredir, desrespeitar].

O texto trata de política.

EVITE USE

o substantivo “coisa” (ou outras palavras

imprecisas para expressar as ideias)

Ele tratou de várias coisas em sua palestra.

Há várias coisas sendo feitas para melhorar a

saúde no Brasil.

quaisquer outras palavras adequadas ao

contexto

Ele tratou de vários assuntos / temas em sua

palestra.

Há várias iniciativas / medidas sendo tomadas /

implementadas para melhorar a saúde no Brasil.

EVITE USE

a palavra “mesmo” com função de pronome

substantivo (ou seja, para retomar uma

palavra já mencionada no texto)

o pronome adequado

(nesse exemplo, o pronome pessoal “ele”)

Page 21: Apostila LP1

21

Antes de entrar no elevador, verifique se o

mesmo está parado no andar.

Antes de entrar no elevador, verifique se ele está

parado no andar.

EVITE USE

o verbo “ter” no sentido de existir

Tinha dez pessoas na sala.

o verbo “haver” no sentido de existir

Havia dez pessoas na sala.

EVITE USE

o verbo “possuir” para expressar ideia que

não seja de posse

Machado de Assis possui um estilo peculiar.

O menino possuía fome.

A classe possuía vinte alunos.

o verbo “ter”

Machado de Assis tem um estilo peculiar.

ou use o verbo “possuir” para expressar ideia

de posse.

Machado de Assis possuía uma casa no Rio de

Janeiro.

EVITE USE

a construção “é que” (utilizada na fala para

enfatizar uma ideia)

Aquele advogado é que foi contratado para

defender a causa da empreiteira.

uma construção mais concisa, menos prolixa

Aquele advogado é que foi contratado para

defender a causa da empreiteira.

EVITE USE

a expressão “só que” (para ligar orações)

Todos estavam de acordo, só que agora Aníbal

reviu sua posição.

conjunções

Todos estavam de acordo; porém, agora, Aníbal

reviu sua posição.

Page 22: Apostila LP1

22

EVITE USE

as expressões “ocorre que” e “acontece que”

(para ligar orações)

Convidei-o para a reunião. Ocorre que ele não

veio.

conjunções

Convidei-o para a reunião. Contudo, ele não

veio.

EVITE USE

a expressão “sendo que” (para ligar orações)

Vários investidores venderam ações daquela

empresa após a crise, sendo que alguns deles as

recompram agora.

O acidente teve dez vítimas, sendo que duas em

estado bastante grave.

Conjunções, pronomes relativos ou ponto final.

Vários investidores venderam ações daquela

empresa após a crise, e alguns deles as

recompram agora.

O acidente teve dez vítimas, das quais duas em

estado bastante grave.

O acidente teve dez vítimas; duas delas em estado

bastante grave.

EVITE USE

empregar a locução prepositiva “através de”

(que significa “por dentro de”) no sentido de

“por”, “por meio de”, “mediante”

O réu, através de seu advogado, pleiteou sua

absolvição.

as preposições “por” e “mediante” e a locução

prepositiva “por meio de”

O réu, por seu advogado, pleiteou sua absolvição.

Page 23: Apostila LP1

23

EVITE USE

o pronome relativo “onde” quando não se

referir a espaço físico (lugar)

Durante a votação na Câmara, houve uma

discussão entre dois deputados, onde ambos

trocaram graves ofensas.

a expressão “em que”

Durante a votação na Câmara, houve uma

discussão entre dois deputados, em que ambos

trocaram graves ofensas.

Exercícios

1. Leia atentamente a carta a seguir e reescreva-a, adequando-a ao padrão culto formal.

Belo Horizonte, 08 de fevereiro de 2010.

Luís Costa

Diretor de Recursos Humanos

Prezado Sr. Costa:

Venho por meio desta apresentar-me à vaga existente em seu quadro de pessoal para

estágio. Fiquei sabendo disso através do anúncio publicado no caderno de classificados

do jornal Folha de S. Paulo, edição do último dia 02.

Conforme poderá verificar em meu currículo, minha experiência é ainda pequena, sendo

que minha formação profissional é recente, só que tenho facilidade de trabalhar em

equipe.

Atenciosamente,

Amílcar Santiago

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Page 24: Apostila LP1

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2. Leia atentamente o texto a seguir e reescreva-o, adequando-o ao padrão culto formal.

1. O técnico Ney Franco, rebaixado com o Coritiba para a Série B do Campeonato

Brasileiro, deu uma entrevista coletiva, onde disse que o que é importante agora é que

os torcedores sejem compreensivos.

2. Após o apito final da partida, os torcedores, armados com várias coisas, como

pedaços de madeira, bancos e até equipamentos de fotógrafos que estavam no local,

invadiram o gramado e enfrentaram a polícia.

3. O procurador-geral do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), Paulo

Schmitt, defendeu que a diretoria do Coritiba possui culpa nessa batalha campestre que

ocorreu no estádio Couto Pereira.

4. De acordo com Schmitt, a alegação apresentada pelo clube de que tinha informado

a Secretaria de Segurança Pública sobre o alto risco da partida contra o Fluminense não

isenta a responsabilidade dos dirigentes.

5. Schmitt afirmou que essa argumentação é falha, já que era um evento realizado

num espaço privado, sendo que a responsabilidade era dos dirigentes.

6. Durante a semana que antecedeu a partida entre Fluminense e Coritiba, o escritório

do presidente do clube paranaense, Jair Cirino, foi invadido por torcedores.

7. Na ocasião, o mesmo recebeu ameaças e, de acordo com a diretoria do clube

paranaense, a Secretaria de Segurança Pública teria sido avisada dos riscos do jogo.

8. Acontece que, para tentar incentivar o time, que procurava escapar da Série B, o

clube reduziu o preço dos ingressos. Com isso, mais de 32 mil torcedores

compareceram ao estádio ontem, só que um esquema especial de segurança não tinha

sido criado.

9. A polícia informou, ontem, que 700 oficiais foram enviados à região do estádio,

sendo que 50 cuidaram só do gramado do Couto Pereira.

Page 25: Apostila LP1

25

10. Após as primeiras avaliações, os dirigentes do clube afirmaram, através da

assessoria de imprensa, serem necessários cerca de R$ 800 mil para realizar os

investimentos em reparos nas dependências do estádio.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u663193.shtml Texto

adaptado.

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26

Estruturas ou períodos lacunares

Leia o texto a seguir e tente identificar o recurso linguístico responsável pelo humor.

Bilhete complicado

Gumercindo, quando jovem, era daqueles cavalheiros à moda antiga, que gostam

de tudo certinho e no seu devido tempo. Namorava uma linda donzela, por quem estava

realmente apaixonado.

Um dia, quando fazia uma viagem de negócios, Gumercindo entrou em uma loja

e comprou um presente para a namorada: um finíssimo par de luvas de pelica. Porém,

na hora de fazer o embrulho, a balconista se enganou e colocou, na caixa, uma calcinha

de renda. O pacote foi, então, despachado pelo correio com o seguinte bilhete:

“Estou mandando este presente para fazer-lhe uma surpresa. Sei que você não

usa, pois nunca a vi usar. Pena não estar aí para ajudá-la a vestir. Fiquei em dúvida com

relação à cor; no entanto, a balconista experimentou na minha frente e me mostrou que

era a mais bonita. Achei meio larga na frente, mas ela me explicou que era para a mão

entrar mais fácil e os dedos se mexerem bem. Você não deve lavar em casa por

recomendação do fabricante. Depois de usar, passe talco e vire do avesso para não dar

mau cheiro. Espero que goste, pois esse presente vai cobrir aquilo que vou lhe pedir

muito em breve. Receba um afetuoso abraço do seu Gumercindo”.

DIAS, Marcos Vinícius Ribeiro. Humor na Marolândia. Paraguaçu; MG: Papiro, 1996.

A. Por que produzimos estruturas lacunares?

Imagine que você encontre um amigo e lhe pergunte:

— Fez o exercício?

Ao que ele lhe responde:

— Fiz.

Numa situação de fala cotidiana, há muitas características do texto oral que o

diferenciam do texto escrito: entonação da mensagem, modulação da voz, elementos de

Page 27: Apostila LP1

27

verificação (“né”; “entende?”, “viu”, “certo?”), a linguagem gestual e as expressões

faciais que complementam o sentido daquilo que está sendo dito. É o caso, por exemplo,

da resposta “Fiz”. Não há dúvidas quanto ao que foi feito, mas, sintaticamente, a

estrutura está incompleta. Muito do que devemos comunicar não precisa ser dito, já que,

geralmente, a pessoa com quem conversamos está em contato direto conosco e pode

compreender nosso texto oral, amparado em toda a situação de comunicação.

Ainda no caso do exemplo acima, podemos perceber que deve haver um

conhecimento prévio do assunto, que, caso não exista, gerará perguntas como “Que

exercício?”. Esse contato com o interlocutor permite, nas situações de fala, resolver

dúvidas contextuais.

No entanto, para os textos escritos formais, como o interlocutor não está

presente, não pode haver dúvidas acerca da incompletude da nossa mensagem. Mesmo

que, por vezes, não pareça haver, por exemplo, nenhum problema com respeito a qual

seria o sujeito de uma oração, o complemento de um verbo ou de um substantivo, a

escrita não permite a existência de lacunas sintáticas no texto (como veremos mais

adiante). É necessário, portanto, explicitar o sujeito ou o complemento para não

deixarmos lacunas.

Leia o texto a seguir:

CARTA DE RECLAMAÇÃO

Mp3 Nony

Fiz, em 16/11, a aquisição do mp3 Nony modelo NWZ Preto/2GB pelo site

www.nonystyle.com.br e, como consta no site, a entrega era para ser feita em dois dias

úteis. Deveria receber até quarta-feira, mas a transportadora contratada, responsável

pela entrega, alegou que não tinha informações suficientes para realizar. Quando fiz o

cadastro do endereço de entrega, o site não deu possibilidade de passar esse detalhe.

Enfim, a mercadoria foi para entrega e voltou por esse motivo. Entrei em contato com a

Nony, que me informou o motivo da não entrega e afirmou que daria prioridade.

Explicou que receberia a mercadoria em mais dois dias úteis, ou seja, até segunda-feira,

Page 28: Apostila LP1

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dia 23. Aguardei durante o dia inteiro o recebimento da mercadoria, o que não

aconteceu. A Nony me disse que eu deveria esperar mais um dia, e, novamente, nada

aconteceu. Esse posicionamento da Nony só mostra a despreocupação de uma empresa

“renomada” no mercado com seus clientes, o que causa grande desconforto aos seus

consumidores. Após sucessivos contatos com a empresa, recebo sempre a mesma

informação “que devo aguardar”.

Janice Costa

Os termos grifados estão incompletos, pois lhes faltam objetos diretos, sujeitos

ou complementos nominais, que, em alguns casos, são facilmente preenchidos pelo

leitor por conta do contexto.

Exercício

a) Preencha os complementos de deveria receber, realizar, dar, explicar, esperar,

aguardar.

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b) Como seriam preenchidas tais lacunas para que o texto não se torne repetitivo?

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c) Como completar as lacunas de daria prioridade e receberia?

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d) O que acontece no texto devido à falta do sujeito do verbo receber?

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Page 29: Apostila LP1

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______________________________________________________________________

Como você pode observar, determinados usos característicos da oralidade,

quando transpostos para a escrita, nos passam despercebidos, outros, no entanto, podem

causar dificuldades de entendimento do texto. Dentre esses usos, um dos mais

recorrentes é a construção das chamadas frases lacunares, ou seja, frases em que a falta

de algum termo ou complemento gera uma lacuna no texto.

Como já vimos, num contexto escrito formal, tal situação, no entanto, não é

adequada. Se uma determinada palavra exigir um complemento, não se pode escrevê-la

ignorando tal comportamento linguístico.

O esquema sintático básico da língua portuguesa é:

SUJEITO VERBO COMPLEMENTOS DO VERBO CIRCUNSTÂNCIA

em que

Complementos do verbo = objetos direto e/ou indireto; predicativos

Circunstâncias = adjunto adverbial

Esse é o esquema de um período simples, escrito em ordem direta. Veja o

período a seguir:

Eu encontrei meu irmão no clube.

Os campos estão floridos nestes dias.

Segundo a norma culta, algumas categorias desse esquema sintático podem não

estar preenchidas (como as circunstâncias), enquanto outras devem, obrigatoriamente,

estar preenchidas. No exemplo anterior, é aceitável que a circunstância seja omitida para

o leitor, ainda que ocorra alguma alteração quanto ao que foi dito. Por exemplo:

Page 30: Apostila LP1

30

Eu encontrei meu irmão.

Os campos estão floridos.

Por outro lado, se o complemento do verbo for omitido, o entendimento do

período é prejudicado:

Eu encontrei no clube.

Os campos estão nestes dias.

A partir desse exemplo, conclui-se que não se devem omitir os elementos

essenciais à estrutura sintática e à compreensão da mensagem.

Repare que, embora o sujeito não seja considerado um complemento do verbo, a lacuna

decorrente de sua ausência no período poderá trazer problemas quando a forma verbal

for, principalmente, de 3ª pessoa:

Disse que contou fatos da minha vida particular a todos.

O período pode levar o leitor a esses dois preenchimentos:

Você disse que ela contou fatos da minha vida particular a todos.

Ela disse que você contou fatos da minha vida particular a todos.

Além dos verbos transitivos, alguns nomes (substantivos, adjetivos e advérbios)

têm transitividade; portanto, também precisam de um complemento. Assim como no

caso dos verbos transitivos, a omissão do complemento nominal impede o bom

entendimento da oração. Veja os seguintes exemplos:

A necessidade de posse da terra leva muitas pessoas ao MST.

Sujeito Complemento Nominal Verbo Complementos Verbais

Page 31: Apostila LP1

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Nós tínhamos muita necessidade de comunicação.

Sujeito Verbo Complemento Verbal Complemento Nominal

O candidato faltou à entrevista por impossibilidade de locomoção.

Sujeito Verbo Complemento Verbal Circunstância (causal) Compl. Nominal

Os deputados votaram favoravelmente à lei 5075/08.

Sujeito Verbo Circunstância (modo) Complemento Nominal

Aquele advogado foi muito agradável a ela.

Sujeito Verbo Predicativo do Sujeito Complemento Nominal

De maneira geral, serão consideradas lacunares frases nas quais houver a

omissão de complementos verbais e/ou nominais diante de verbos ou nomes

transitivos (ou seja, que exigem complemento) ou de sujeitos em orações cujo sentido

depende desse termo.

Exercícios

1. Nos períodos seguintes, identifique a palavra que está lacunar e proponha-lhe um

complemento adequado.

a. Ao entrar na sala, a duquesa impressionou pela sua beleza.

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b. A carta de intenções do governo foi entregue ontem.

______________________________________________________________________

Page 32: Apostila LP1

32

c. As crianças são alvos fáceis da mídia, pois elas podem ser facilmente induzidas.

______________________________________________________________________

d. O STF decidiu pelo aumento de 91%.

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e. A população ficou muito chocada, pois o governo agiu contrariamente.

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2. Nos trechos a seguir, há frases lacunares: quatro palavras/expressões necessitam de

complementos. Grife-as, acrescente para cada uma o(s) complemento(s) necessário(s).

Não faça outras alterações no texto original.

a. Cara Joana: se um dia você se cansar das panelas, vá para o computador e crie, pois

você escreve textos muito apetitosos. O ato de preparar a comida, ou seja, de alimentar

pessoas, é próximo do sagrado, mas ninguém pensa muito na importância de quem,

todos os dias, coloca o avental e prepara com carinho, levando o contentamento para

quem compartilha. E só faz isso quem realmente gosta.

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b. Vou passar o carnaval bem longe do barulho, mas você, folião, que tem toda aquela

energia, deve se alimentar bem e deixar preparada. Você também pode renovar com

purê de mandioca e parmesão que, misteriosamente, na madrugada, parecem revelar.

Isso, seguramente, trará novas emoções.

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3. No trecho a seguir, há seis palavras que necessitam de complementos. Copie-as,

acrescentando-lhes um complemento adequado.

Page 33: Apostila LP1

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Se você viaja com frequência para o exterior já ouviu falar em jet lag - cansaço e

desconforto após longas viagens. Cientistas da Universidade de Washington, nos

Estados Unidos, acreditam que é possível resolver.

Durante longas viagens de avião, o ideal é mexer para melhorar a circulação.

1. Incline para a direita e depois para a esquerda.

2. Puxe as pernas com o joelho flexionado, em direção ao peito.

3. Apoiando-se no piso do avião, alterne: levante os calcanhares e, depois, a ponta.

4. Dependendo do destino e da duração, é importante dar uma atenção especial e se

preparar com antecedência.

Page 34: Apostila LP1

34

Emprego de pronomes e oralidade

1. O „teu‟ ou „seu‟ no uso com o „você‟?

Em contextos informais de uso da língua portuguesa (tanto na modalidade oral

quanto na modalidade escrita), é bastante comum ocorrer uma inconsistência no

emprego dos pronomes, isto é, o falante costuma oscilar entre o emprego dos pronomes

relativos à 2ª pessoa do discurso (te, teu) e o dos pronomes de 3ª pessoa (lhe, seu).

Veja esta mensagem eletrônica:

Pepe,

Não encontrei teu livro em casa. Você tem certeza de que eu não te devolvi o livro? Eu

não lembro mais, cara. Você já verificou no teu armário da faculdade? Talvez ele

esteja lá.

Porém, segundo a norma culta padrão, o emissor da mensagem deveria ter

optado pelo uso da 2ª ou da 3ª pessoa do singular, o que faria com que o texto ficasse,

por exemplo, da seguinte forma:

Não encontrei seu livro em casa. Você tem certeza de que eu não lhe devolvi o livro?

Você já verificou no seu armário da faculdade? Talvez ele esteja lá.

Essa oscilação que ocorre entre os pronomes de segunda e de terceira pessoa é

bastante frequente na oralidade e deve-se ao fato de que o pronome de tratamento

“você”, ao longo do tempo, assumiu o lugar do pronome pessoal “tu” da 2ª pessoa na

maioria dos contextos de comunicação, no Brasil. Ainda que se refira à segunda pessoa

do discurso, o pronome “você” exige verbo na terceira pessoa, pois ele é derivado do

pronome de tratamento “Vossa Mercê”, e isso contribui para que haja essa “mistura”

durante a enunciação .

Assim como os demais desvios à norma culta, tal ocorrência deve ser evitada em

contextos formais de comunicação.

Page 35: Apostila LP1

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Reveja, no quadro abaixo, os pronomes pessoais do português.

Pronomes Pessoais da Língua Portuguesa

Função sintática Sujeito

(Pronomes retos)

Complementos

(Pronomes oblíquos)

átonos tônicos

Singular

1ª pessoa

2ª pessoa

3ª pessoa

eu

tu

ele, ela

me

te

se, lhe, o, a

mim, comigo

ti, contigo

si, consigo

Plural 1ª pessoa

2ª pessoa

3ª pessoa

nós

vós

eles, elas

nos

vos

se, lhes, os, as

nós, conosco

vós, convosco

si, consigo

Exercício

Selecione o pronome adequado para preencher a lacuna:

a. Eu contei-lhe que perdi ______ casaco? (teu/seu)

b. Eu avisei- que sua inscrição seria negada. (te/lhe)

c. Quando você ouvir o CD que dei de presente, creio que terá uma

surpresa. (te/lhe)

d. A ti, se o assunto for política, só importa o ponto-de-vista. (teu/seu)

e. Já disse, em diversas ocasiões diferentes, que a tua paciência é muito curta?

(te/lhe).

f. Já lhe disse, em diversas ocasiões diferentes, que a paciência é muito

curta? (tua/sua).

g. Você sabe muito bem a parte da tarefa que cabe. (te/lhe).

2. É “para mim fazer” ou é “para eu fazer”???

Outro uso de pronomes que denuncia coloquialidade e é condenado pela norma

culta é o emprego do pronome “mim” antes de verbos no infinitivo. Observe:

a) Minha prima falou para eu aprender alemão.

Page 36: Apostila LP1

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b) Minha prima pediu um favor para mim.

Em “a”, utiliza-se, após a preposição, o pronome pessoal EU antes do verbo no

infinitivo; note que o pronome tem a função de sujeito desse verbo. Já em “b”, utiliza-se

o pronome pessoal MIM após a preposição porque o pronome tem agora a função de

complemento do verbo; nesse caso, objeto indireto.

Essa diferença de emprego dos pronomes ocorre porque os pronomes pessoais

retos ocupam a posição de sujeito da oração; já os pronomes pessoais oblíquos ocupam

a posição sintática de complementos (do verbo ou do nome). Desse modo, diante de

verbos no infinitivo, emprega-se o pronome EU quando ele assumir o papel de sujeito

do verbo.

Disseram que era para eu vir imediatamente.

Ficou combinado de eu concluir o trabalho.

Importante:

Quando não houver verbo no infinitivo após o pronome ou quando houver uma

vírgula adequadamente colocada entre o pronome e o verbo no infinitivo, empregam-se

os pronomes “mim” e “ti” depois da preposição.

Veja os exemplos abaixo:

Não há divergências entre mim e meu chefe/entre meu chefe e mim.

Enviaram uma mensagem engraçada para mim.

Seria bom que não houvesse tensão entre ti e teus familiares.

Saiba que, para mim, trabalhar não é castigo.

O pronome “mim”, nesse caso, não é sujeito do infinitivo “trabalhar”; observe que

houve, na verdade, um deslocamento da estrutura “para mim”. A oração, na ordem

direta, seria assim: “Saiba que trabalhar não é castigo para mim‖. Como houve um

deslocamento do termo acessório, é necessário isolá-lo com as vírgulas.

Exercício

Complete as frases adequadamente, com “eu” ou “mim”:

Page 37: Apostila LP1

37

a. Não sabe como ver sangue é difícil para ______.

b. Para _______ , viajar é das melhores coisas da vida.

c. Andar de bicicleta é ótimo para _____recompor as energias.

d. Não se atrasem por _______.

e. Não se preocupem por _______ estar meio calada.

f. Tragam até _______ o responsável pelo ocorrido.

g. A suspeita recaiu sobre _______, apesar de ser inocente.

h. Há um amor incondicional entre _______ e a natureza.

i. Você disse que era para _______ ir ao mercado.

j. Entregue seu trabalho para ____, para que _____ possa levá-lo à faculdade.

3. Pronomes oblíquos de 3a. pessoa

O emprego de pronomes oblíquos também pode marcar a diferença entre o

registro informal/coloquial da língua e o registro formal, cujo parâmetro é o padrão

culto ou norma culta.

Na terceira pessoa, conforme o quadro apresentado anteriormente, os pronomes

oblíquos são: o(s), a(s), lhe(s) e se. A norma culta estabelece um uso diferenciado para

esses pronomes: “o/a/os/as” são pronomes que funcionam exclusivamente como objetos

diretos (complementos verbais que não exigem preposição); já os pronomes “lhe/lhes”

funcionam sempre como objeto indireto (complementos verbais que exigem

preposição). O pronome “se” pode funcionar como objeto direto ou indireto e tem

sentido reflexivo ou recíproco.

Observe:

Os alunos não puderam ver suas provas, pois o professor deixou-as em casa.

Suj. VTD OD

O fato causava-lhe uma sensação estranha.

Suj. VTDI OI OD

O rapaz vestiu-se de roupas de grife.

Suj VIPr. Pr reflex.

Page 38: Apostila LP1

38

Nas situações informais de comunicação, é frequente empregarem-se

indistintamente os pronomes da 3a. pessoa, sem a observação cuidadosa se estes

desempenham papel de um objeto direto ou de um objeto indireto. Em função disso, na

escrita, é preciso rever o emprego dos pronomes oblíquos de 3a. pessoa.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Emprego de o, a, os, as

Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os pronomes o, a, os, as não

se alteram.

Chame-o agora.

Deixei-a mais tranquila.

Em verbos terminados em r, s ou z, as consoantes finais caem e os pronomes

adquirem as formas lo, la, los, las.

Encontrar a felicidade é o meu maior sonho.

Encontrar ela é o meu maior sonho. (desvio à norma culta)

Encontrá-la é o meu maior sonho.

Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, ão, ões), os pronomes o, a,

os, as adquirem as formas no, na, nos, nas.

Convocaram os réus para a reunião com o advogado.

Convocaram eles para a reunião com o advogado. (desvio à norma culta)

Convocaram-nos para a reunião com o advogado.

Atenção!

Algumas palavras como os pronomes relativos (que, o/a qual, quando, onde), os

advérbios de negação (não, nunca, nem) e algumas conjunções (pois, porque, conforme,

Page 39: Apostila LP1

39

embora) determinam que a colocação pronominal seja anterior ao verbo. Nesse caso, a

próclise torna-se obrigatória.

Exemplos

A taxa de juros estava muito alta, assim, o COPOM determinou que a

abaixassem, pois a haviam aumentado muito nos últimos meses.

A prova estava difícil, embora eu a tenha feito com certa rapidez.

Não o culpe por seus atos extremados, pois o pobre está sob pressão.

Exercícios

1. Dê a função sintática dos pronomes destacados nas seguintes frases:

a. O ator não o convidou para a estréia do filme.

______________________________________________________________________

b. O navio enviou-lhes um sinal.

______________________________________________________________________

2. Reescreva os trechos a seguir, substituindo o termo sublinhado por um pronome

oblíquo.

a. Vamos tentar tranquilizar os colegas.

______________________________________________________________________

b. A oposição tentará combater o senador.

______________________________________________________________________

c. É vergonhoso propor um acordo desses ao credor.

______________________________________________________________________

d. Convidaram a professora para a formatura.

______________________________________________________________________

e. Os parlamentares convocaram os depoentes.

______________________________________________________________________

f. Os livros compõem as obras.

______________________________________________________________________

Page 40: Apostila LP1

40

3. Reescreva os enunciados abaixo, de modo a conferir-lhes maior coesão. Para tanto,

empregue pronomes:

a. Para não correr o risco de topar com o frustrante aviso “ingressos esgotados”, vale a

pena tentar comprar os ingressos antes.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. O filme recria a Revolução dos Cravos sob o ponto de vista dos jovens capitães que

lideraram a Revolução dos Cravos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Se a crise for muito aguda, será difícil contornar a crise.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Resolver o problema é mais difícil que diagnosticar o problema.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Embora tenha escrito a carta ao prefeito, não sei se ele leu a carta.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Complete as frases com o pronome oblíquo adequado:

a. O turista parou num vilarejo e perguntou o caminho. Indicou- ______ ao viajante um

homem encurvado, que parecia comprimido pelo chapéu.

b. O turista parou num vilarejo e perguntou o caminho. Indicou- ______a direção um

homem encurvado, que parecia comprimido pelo chapéu.

c. Em entrevista, a atriz Caterine Deneuve destacou dois filmes de sua carreira: o

musical “Os guarda-chuvas do amor”, obra que ____ projetou internacionalmente, em

1964, e “O Último Metrô”, de 1980.

Page 41: Apostila LP1

41

d. Charlie Dempsey, escocês naturalizado neozelandês, de 84 anos, é membro honorário

da Fifa. Essa condição ____coloca numa situação especial durante o Mundial.

e. Depois de um pedido do cliente, o funcionário reconsiderou o orçamento do portão e

informou-___ que o preço seria revisto.

f. Depois de um pedido do cliente, o funcionário reavaliou o orçamento do portão e

informou-___ a ele.

g. Apesar de todas as orientações do fiscal de provas sobre a devolução do caderno de

questões, o vestibulando não ______ entregou ao fiscal.

h. Apesar de todas as orientações do fiscal de provas sobre a devolução do caderno de

questões, o vestibulando não _____ entregou o material.

5. Reescreva os enunciados a seguir, fazendo as alterações necessárias para adequá-los

ao padrão escrito culto.

a) A gente tem que dar um jeito dessa coisa funcionar, porque, assim, quebrada, não

corta. Sendo que não é porque ele tá quebrado que a gente vai deixar ele num canto,

sem uso. Precisa consertar ele, só que, se ficar caro, talvez, não dê para pagar.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) O computador não tá funcionando, acontece que eu estou precisando muito essa

semana. Tem que pedir pro funcionário do setor pra ele deixar ele em cima da mesa pra

levar pro técnico. Se não der tempo, me avise com urgência.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 42: Apostila LP1

42

Linguagem informal de cartas de reclamação

I – O padrão formal escrito

1. Leia o e-mail abaixo:

Bom dia, Gervásio e Mara,

Tudo bem com vcs? Espero que esteje tudo em ordem. Eu tentei várias vezes enviar

para o Gervásio, mas naum deu. Então tomei a liberdade de enviar para vc, Mara. Entrei

no site do INSS e peguei ótima resposta sua empresa está OK. Vc poderá estar

possuindo a sua Certidão Negativa de Débito na boa.

Atenciosamente,

Lurdes

a. Transforme a redação dessa mensagem, adequando-a ao registro formal da

modalidade escrita da língua.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

II - Cartas de reclamação

Quando uma carta de reclamação é publicada em um jornal, costuma-se editá-la,

eliminando-se eventuais erros gramaticais, suprimindo-se as informações menos

importantes e também as eventuais marcas de oralidade. O resultado é um texto

geralmente mais sintético, mais impessoal e mais adequado à modalidade escrita formal

da língua. Uma característica central dessa edição é o relato do caso em 3ª pessoa.

Page 43: Apostila LP1

43

Veja o passo a passo para a elaboração de uma edição de carta:

identifique e solucione problemas quanto à norma culta: estruturas lacunares,

termos coloquiais, gírias, grafia baseada na oralidade etc.;

identifique e elimine informações pouco relevantes para o propósito da carta;

no momento da escrita, elimine todas as marcas de primeira pessoa;

dê um título à nova carta.

1. Leia as duas cartas a seguir. Observe as marcas de oralidade destacadas na carta I e

como essas marcas foram eliminadas da carta II.

I. Carta original:

Prezado Senhor Editor,

escrevo-lhe porque tenho esperanças de que a publicação desta carta em seu jornal

possa resolver esse pesadelo em que me encontro desde que minha câmera digital

(modelo 123ABC) pifou. Espero que o meu caso deixe espertos futuros consumidores

de produtos da marca HL.

Comprei uma câmera digital da marca HL em dezembro de 2007. A garantia era de

um ano. No dia 2 de janeiro de 2009, quebrou, não funcionava mais nada. Escrevi para

o SAC da HL, no site da empresa, querendo endereços das assistências técnicas

autorizadas. Levei a câmera a uma assistência da lista fornecida, super longe, e fui

informada de que a minha câmera é “blindada” e, por esse motivo, não tem como

reparar.

A HL me ofereceu um desconto para comprar outra. Daí não aceitei. Quando adquiri,

não fui informada dessa limitação do produto. O fabricante deve deixar claro para o

consumidor quais são as características do produto vendido. Já imaginaram se os

celulares, as geladeiras, os automóveis e os aparelhos de som fossem assim? Tudo seria

descartável?

Atenciosamente,

Joana Bruno

Page 44: Apostila LP1

44

II. Carta editada pelo jornal

Consumidor não consegue consertar câmera digital

Joana Bruno conta que adquiriu uma câmera digital da marca HL há pouco mais de

um ano. Depois de a garantia vencer, entretanto, a máquina deixou de funcionar.

“Escrevi para o SAC da HL, no site da empresa, solicitando endereços das assistências

técnicas autorizadas”, relatou a senhora Bruno. A consumidora diz ter sido informada

pela assistência técnica de que sua câmera é „blindada‟ e, por esse motivo, não é

possível repará-la.

Segundo a leitora, a fabricante lhe ofereceu um desconto na compra de outra câmera

digital, mas ela não aceitou a proposta, pois, quando adquiriu a câmera, não foi

informada dessa limitação do produto. “Tenho o direito de escolher entre comprar outra

ou consertar a minha”, ela reclama.

Joana argumenta que o fabricante deve deixar claro para o consumidor quais são as

características do produto vendido. “Já imaginaram se os celulares, as geladeiras, os

automóveis e os aparelhos de som fossem assim? Tudo seria descartável?”, questiona a

consumidora.

Na carta enviada pela consumidora, aparecem várias marcas de informalidade:

a. termos coloquiais (“pifou” por “quebrou” ou “deixou de funcionar”; “não tem como”

por “não há como” ou “não é possível”; “querendo” por “solicitando”; “daí” por

“mas”.);

b. frases lacunares (“quebrou” por “a máquina quebrou”; “reparar” por “repará-la”;

“outra” por “outra câmera digital”; “não aceitei” por “não aceitei a proposta”; “adquiri”

por “adquiri a câmera”.);

c. informações redundantes ou desnecessárias: (“quebrou, não funcionava mais nada”;

“super longe”.).

Page 45: Apostila LP1

45

Exercícios

1. Leia a carta abaixo, enviada ao editor de um jornal de grande circulação.

Oi,

Eu sou a Otília Rocha e comprei um filtro de água Nobreza Pura da marca Purificas. A

minha prima tem e disse que é super bom porque sai água gelada e natural sem

aumentar demais a conta de luz. Eu comprei o filtro, assim, logo depois do Natal. Isso

foi no dia 27 de dezembro do ano passado. Beleza. Eu pedi pro meu namorado instalar

pra mim porque eu não sei mexer com essas coisas de hidráulica. Aí ele instalou e disse

que tava bom só que sempre sai água meio morna! Eu chamei várias vezes a assistência

da Purificas pra consertar, mas não deu: o pessoal da Purificas prometia e nada. Já pedi

quatro vezes, mas não resolvem o meu problema. Aguardo respostas. Muito agradecida.

a. Identifique as marcas de oralidade do texto:

frases lacunares

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

termos coloquiais, gírias

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

grafia baseada na oralidade

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Identifique as informações pouco relevantes para o propósito da carta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 46: Apostila LP1

46

c. Em seguida, faça a edição da carta, visando à publicação na coluna “Reclamações do

consumidor”.

Instruções:

• lembre-se de dar um título à carta editada;

• selecione as informações pertinentes para a edição;

• os eventuais problemas gramaticais devem ser corrigidos e expressões típicas da

oralidade devem ser eliminadas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Leia a carta abaixo, enviada ao editor de um jornal de grande circulação.

Caro Editor,

Fiz, no começo deste ano, uma viagem de Buenos Aires a São Paulo e, para

variar, tive problemas com a Companhia Aérea Escanteio. Minha mala foi

parar sei lá onde. Quando fui registrar queixa da mala perdida, um funcionário

me disse que isso era super comum. Acontece que já passou dois meses e

nada. Uma vez, um primo meu me contou que isso aconteceu com ele

também. Ficou reclamando, reclamando e nada. Ele ficou mega triste, porque

tinha vários perfumes que tinha comprado e nunca foram achados. Liguei

várias vezes para a empresa e me deram várias explicações. Uma delas era que

haveria uma suposta “máfia de extraviadores” que atuavam no aeroporto de

Page 47: Apostila LP1

47

Buenos Aires. Uma funcionária me disse: Dona Delma Viena, há casos em

que a mala é encontrada após três meses de extravio. Outra coisa absurda é o

que eles pedem de detalhes para indenizar você pelo prejuízo. Tive que fazer

um inventário do que tinha na bagagem e quanto valia tudo isso para o meu

reembolso. Acontece que a empresa informou que, pela lei, eu só vou receber

pelo peso da mala. Resolvi fazer um alerta para quem viaja de avião e não

quer se sentir como eu agora. Pouco feliz da vida com a Escanteio.

Atenciosamente,

Delma Viena

Faça a edição da carta, visando à publicação na coluna “Reclamações do consumidor”.

Instruções:

• lembre-se de dar um título à carta editada;

• selecione as informações pertinentes para a edição;

• os eventuais problemas gramaticais devem ser corrigidos e expressões típicas da

oralidade devem ser eliminadas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 48: Apostila LP1

48

Vozes verbais - voz passiva

Voz é a forma assumida pelo verbo para indicar a relação entre ele e seu sujeito.

Há três vozes verbais: ativa, passiva e reflexiva.

Voz ativa – o sujeito é aquele que pratica a ação referida pelo verbo:

Os manifestantes carregavam faixas e cartazes.

sujeito/agente

Voz passiva – o sujeito é aquele que sofre a ação referida pelo verbo:

Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.

sujeito/paciente

Voz reflexiva – o sujeito é aquele que pratica e sofre a ação referida pelo verbo:

Os manifestantes machucaram-se.

sujeito agente e paciente

A Voz passiva pode ser:

a) analítica: formada pelo verbo ser + o particípio do verbo principal.

Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.

Os segredos políticos do governador foram revelados pela imprensa.

b) sintética ou pronominal: formada pelo verbo principal na 3ª pessoa do singular ou

do plural, seguido do pronome apassivador se.

Carregavam-se faixas e cartazes.

Revelaram-se os segredos políticos do governador.

Page 49: Apostila LP1

49

Agente da Passiva - é o termo que indica o ser que pratica a ação quando o verbo está

na voz passiva. É regido pela preposição por.

Passiva analítica: A proposta foi discutida pelos professores.

Passiva sintética: Discutiu-se a proposta.

Passiva analítica: As propostas foram discutidas pelos professores.

Passiva sintética: Discutiram-se as propostas.

Transformação da voz ativa em voz passiva analítica

A transformação de uma oração na voz ativa em uma oração na voz passiva obedece a

um procedimento fixo: o sujeito da voz ativa passa a agente da passiva, ao mesmo

tempo em que o verbo da voz ativa é convertido em uma locução com o verbo auxiliar

ser.

Os manifestantes carregavam faixas e cartazes.

Sujeito agente objeto direto

Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.

Sujeito paciente agente da passiva

Na obtenção da forma passiva do verbo, o auxiliar (ser) assume o tempo e o modo do

verbo da voz ativa (no exemplo em questão, pretérito imperfeito do indicativo),

enquanto esse verbo assume a forma nominal de particípio (carregar – carregados).

Observação: Não pode haver voz passiva sem sujeito determinado e expresso. Por isso,

somente os verbos que têm objeto direto na voz ativa formam a voz passiva: afinal,

é o objeto direto da voz ativa que dá origem ao sujeito da voz passiva. Em outras

Page 50: Apostila LP1

50

palavras: somente os verbos transitivos diretos e os transitivos diretos e indiretos

podem formar a voz passiva.

Transformação da voz ativa em passiva sintética

A construção sintática da voz passiva sintética também obedece a um procedimento

fixo: verbo + se + sujeito paciente.

O pronome se recebe o nome de pronome apassivador ou partícula apassivadora. Essa

forma de voz passiva, assim como a forma analítica, só ocorre com os verbos transitivos

diretos e os transitivos diretos e indiretos:

Voz ativa: Abandonaram aquele carro ali.

Voz passiva analítica: Aquele carro foi abandonado ali.

Voz passiva sintética: Abandonou-se aquele carro ali.

Atenção!

O verbo na voz passiva sintética concorda em número e pessoa com o sujeito da oração:

Vende-se esta casa/ Vendem-se estas casas.

Divulgou-se o relatório/ Divulgaram-se os relatórios.

Observações:

a. Ao lado de verbos de ligação, intransitivos ou transitivos indiretos, o pronome se é

índice de indeterminação do sujeito. Não é o caso, portanto, de voz passiva. O verbo

mantém-se, obrigatoriamente, na 3ª pessoa do singular.

Precisa-se de motoristas.

Vive-se bem neste país.

Morre-se de amores.

Aqui se é feliz.

No dia do casamento, sempre se fica nervoso.

Page 51: Apostila LP1

51

b. Quando o se funciona como partícula apassivadora, é possível converter a oração em

voz passiva analítica.

Vendem-se casas - voz passiva sintética

Casas são vendidas - voz passiva analítica 23

Exercícios

1. Passe os verbos para a voz passiva sintética, fazendo a concordância adequada do

verbo.

a. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) aprovou o jato Embraer 195.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) reconheceu as qualidades técnicas do

jato Embraer 195.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Os diretores negaram o pedido dos funcionários.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. O diretor negou os pedidos dos funcionários.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Nenhum órgão internacional fiscalizará as eleições mexicanas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. Em função dos prejuízos das últimas tempestades, o governo federal disponibilizou

recursos para o Estado de Nova Iorque.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

23 Adaptado de INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998.

Page 52: Apostila LP1

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2. Proponha duas versões na voz ativa das manchetes que seguem, mantendo

aproximadamente o mesmo sentido. Faça as adaptações necessárias.

a) Brasil é eliminado pela França do “carrasco” Zidane.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Ontem, o Centro Pompidou foi encontrado fechado pelos turistas, devido à greve dos

funcionários dos museus de Paris.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. O emprego do “se” apassivador pode tornar o texto mais conciso, menos “pesado”.

No texto que segue, reformule, mediante o emprego do “se” apassivador, as orações

destacadas. Não se esqueça de que o verbo a que se aplica o “se” apassivador concorda

com o sujeito.

Em 1968, foi realizado um documentário sobre Nelson Cavaquinho. Esse

filme é essencial para a compreensão de quem foi esse músico brilhante. Numa das

cenas, especialmente feliz, é cantada a música “Tire o seu sorriso do caminho.”

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Nas orações abaixo, faça o que se pede.

Modelo

Os turistas escalaram aquela montanha sem muitos esforços.

Voz passiva analítica: A montanha foi escalada pelos turistas sem muitos esforços.

Voz passiva sintética: Escalou-se a montanha sem muitos esforços.

a) As garotas leram os poemas em voz alta para o resto da turma.

Page 53: Apostila LP1

53

Voz passiva analítica: _________________________________________________

Voz passiva sintética: _________________________________________________

b) Os familiares da vítima receberam a notícia de sua internação.

Voz passiva analítica: _________________________________________________

Voz passiva sintética: _________________________________________________

c) Divulgaram uma nova tabela de preços para os remédios.

Voz passiva analítica: _________________________________________________

Voz passiva sintética: _________________________________________________

5. Reescreva os fragmentos seguintes na voz passiva mais adequada. Faça somente as

adaptações necessárias.

a) O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro considerou a operação da polícia

militar carioca um sucesso. No primeiro dia útil após a retomada do Complexo do

Alemão das mãos do crime organizado, a vida no conjunto de favelas na zona norte do

Rio de Janeiro parece começar a voltar ao normal. O barulho dos blindados, as rajadas

de tiros e o clima de guerra declarada deram espaço para uma relativa calmaria na

segunda-feira, 29 de novembro.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Alguns moradores da favela reclamam da falta de luz, mas os problemas de

abastecimento não atingem todos os endereços das favelas. “No asfalto”, os pontos de

Page 54: Apostila LP1

54

ônibus estão lotados. Muitas escolas municipais da região continuam fechadas, mas a

secretaria estadual delegou aos diretores de cada unidade a decisão de receber ou não os

alunos. A prefeitura retomou outros serviços públicos, como a varrição das ruas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

6. Você é funcionário de um provedor de internet. Seu chefe pediu-lhe para redigir uma

paráfrase do texto apresentado a seguir, que deverá integrar um relatório formal para os

acionistas da empresa. Você deve transformar a lista de tópicos em um texto corrido,

usando os procedimentos de nominalização e de voz passiva. O primeiro tópico da lista

deverá ser o título da paráfrase. Você pode mudar a ordem dos tópicos, fazer adaptações

e criar elementos que complementem as idéias apresentadas nos tópicos. Siga a

orientação de procedimentos indicada entre parênteses, ao final de cada tópico:

para alterar senha (nominalização: substantivação);

criar senha difícil de adivinhar, pois aumenta a sua segurança (nominalização:

substantivação);

oito caracteres devem compor a senha (voz passiva);

misturar letras e números (nominalização: substantivação);

evitar o uso de informações óbvias como nome ou data de nascimento (voz

passiva);

não utilizar o e-mail como senha (voz passiva);

não informar a senha a ninguém, pois isso pode comprometer sua segurança

(voz passiva).

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 55: Apostila LP1

55

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 56: Apostila LP1

56

Formas Verbais: gerúndio

É preciso cautela no emprego do gerúndio e do particípio: normalmente, verbos nessas

formas verbais não têm sujeito expresso e assumem para si o sujeito da oração principal

do período.

Observe o exemplo com o gerúndio:

Latindo por todo o percurso, o menino viajou com os cachorros.

Ainda que, segundo nosso conhecimento de mundo, seja improvável que o menino

tenha latido durante toda a viagem, a regra do gerúndio estabelece “menino” como

sujeito da ação de latir. Para que a palavra “cachorros” seja o sujeito da ação, devemos

alterar a construção:

O menino viajou com os cachorros, que latiam por todo o percurso.

Ou ainda:

Os cachorros viajaram com o menino, latindo por todo o percurso.

No próximo exemplo, há uma situação diferente:

Nós viajamos com os cachorros, que latiam o tempo todo, deixando-nos irritados.

Nesse caso, o sujeito de “deixando-nos” não é nem o sujeito da oração principal (“nós”)

nem a última palavra da oração principal (“cachorros”), mas a oração como um todo:

causou irritação o fato de a viagem ter ocorrido com os cachorros latindo o tempo todo.

Corrigido, o período ficaria assim:

Nós viajamos com os cachorros, que latiam o tempo todo, o que nos deixou irritados.

Pode acontecer também de o gerúndio vir acompanhado da partícula “se”, que

indetermina o sujeito:

Page 57: Apostila LP1

57

A situação da economia brasileira está bem melhor, considerando-se que a inflação é

praticamente inexistente.

Observe que, nesse exemplo, o sujeito do gerúndio não é o sujeito da oração principal,

mas, sim, um sujeito indeterminado; isso se comprova quando trocamos o gerúndio por

uma construção equivalente:

A situação da economia brasileira está bem melhor, quando se considera que a

inflação é praticamente inexistente.

Se retirarmos a partícula “se”, a oração fica sintaticamente incompleta, porque o sujeito

oculto fica sem referente:

A situação da economia brasileira está bem melhor, quando considera que a inflação é

praticamente inexistente.

Exercícios

1. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do gerúndio.

a. Derramando óleo, o motorista teve que encostar o caminhão na estrada e seguir a pé.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. O abuso na ingestão de medicamentos causa danos ao organismo, sofrendo, às vezes,

consequências irreversíveis.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Usando imagens erotizadas, os publicitários atraem a atenção do público consumidor,

deparando-se com propagandas apelativas, que nada dizem de específico sobre o

produto anunciado.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 58: Apostila LP1

58

d. Crianças com dislexia são identificadas por processos diversos e distintos, tornando

extremamente subjetiva a rotulação de suas dificuldades de aprendizado.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. A redução da emissão de CO2 na atmosfera conta com a participação de empresas

como a Avon Brasil, contribuindo para a solução do problema devido à alteração das

rotas de distribuição de seus cosméticos no país.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. Considerando a população brasileira que frequenta escolas públicas, a dislexia

dificilmente seria diagnosticada com segurança.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Faça o que for necessário para evitar a incoerência e/ou ambiguidade dos seguintes

períodos.

a. Saindo de casa, as luzes ficaram acesas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Caminhando pela calçada, o caminhão atropelou o rapaz.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Atingindo principalmente as populações do interior do país, as autoridades sanitárias

inquietaram-se com o recente aumento de casos de febre amarela no Brasil.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. O cidadão brasileiro não pode deixar de se espantar com as profundas desigualdades

sociais, impedindo a tão almejada paz.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Estipulando a contratação de aprendizes acima de 14 anos, os jovens trabalhadores

são qualificados pela legislação brasileira para futuras ocupações dentro das empresas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 59: Apostila LP1

59

3. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do gerúndio.

a. As dificuldades dos catadores de lixo são imensas, enquanto a solidariedade da

população é proporcionalmente grande e poderia ser vista como apresentando um

exemplo de cidadania.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. A festa da vitória no Campeonato Brasileiro de Futebol foi realizada pelos torcedores,

lotando bares e comemorando o título pelas ruas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Voltando para casa, o salto do sapato de Carmem quebrou e ela teve que caminhar

descalça.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. A falta de rigor na apuração dos responsáveis pelo tráfico de armas prejudica a

população, ficando sujeita a sofrer sérias consequências em seu cotidiano.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 60: Apostila LP1

60

Formas Verbais: Particípio

O particípio deve ser empregado sempre o mais próximo possível do termo a que se

refere.

Observe:

Afastada do cargo, a juíza alegou inocência.

E não:

A juíza alegou inocência, afastada do cargo.

Nesse último exemplo, a proximidade entre os termos “afastada” e “inocência” pode

produzir o sentido de que a inocência foi afastada do cargo, e não a juíza.

Exercícios

1. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do

particípio.

a. Estimulada pelos índices econômicos, as pesquisas mostram que a classe média

passou a consumir mais.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. A alta do IPCA em 2007 assustou a equipe econômica, influenciada pelos preços

agrícolas ao longo do ano.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Planejado com antecedência, o bem-estar dos habitantes das metrópoles não seria

comprometido tão radicalmente pelo desenvolvimento urbano.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Concedidos pelo governo, os pensionistas do INSS receberão três bônus

consecutivos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 61: Apostila LP1

61

e. Preso e torturado durante o regime militar, o processo da Ordem dos Advogados do

Brasil (OAB) a respeito da anistia a militares é relatado pelo ministro do STF (Supremo

Tribunal Federal) Eros Grau.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. Executada pela primeira vez em setembro de 2008, a Orquestra Sinfônica de

Campinas apresentou novamente a peça musical Missa de Nossa Senhora da Conceição,

na Catedral da cidade.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. Eric Shinseki, general norte-americano reformado, foi nomeado pelo presidente

Barack Obama para assumir o Departamento de Assuntos de Veteranos de Guerra,

saudado por ter alertado a administração Bush sobre a necessidade de uma força militar

maior para ocupar o Iraque.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

h. Contratado pelo time na última semana, o jogo simplesmente foi salvo pelo novo

jogador.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

i. Reunidos, em Roma, para o Congresso Internacional de Liturgia, uma decisão do

Papa surpreendeu duzentos bispos de todo o mundo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 62: Apostila LP1

62

Formas Verbais: Infinitivo

O infinitivo, assim como o particípio, deve ser empregado sempre o mais próximo

possível do termo a que se refere.

Observe os exemplos abaixo:

Ao abrir a porta de sua casa, o homem foi surpreendido por um assalto.

O assalto surpreendeu o homem, ao abrir a porta de sua casa.

Observe, agora, este emprego inadequado:

Ao abrir a porta de sua casa, o assalto surpreendeu o homem.

Exercícios:

Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do infinitivo.

Faça as alterações necessárias.

a. Ao aproximar-se da janela, a visão do céu estrelado despertou a jovem.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Ao ler a carta, o rosto da mulher tornou-se pálido.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Ao descobrir que havia sido enganado pelos sócios, o projeto de reforma da empresa

foi rasgado pelo arquiteto.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Por desconhecer os trâmites legais, a permissão para exercer a sua profissão não foi

obtida pelo advogado.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Ao anistiar os militares responsáveis pela ditadura militar, as rédeas da história foram

perdidas pelo país.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 63: Apostila LP1

63

f. Ao observar atentamente a cena, a angústia no rosto dos atores pôde ser vista pelo

público presente no espetáculo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. Ao perceber que estava sendo seguido, a galeria foi o lugar escolhido pelo garoto

para se esconder.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 64: Apostila LP1

64

Nominalização (substantivação e adjetivação)

1. A repetição de palavras e expressões é uma das marcas da oralidade. O período que

segue tem 33 palavras, sete orações e seis repetições de “que”. Reescreva-o, evitando as

repetições e diminuindo o número de orações.

Chegou-se à conclusão de que é interessante que se controlem os juros que o

mercado pratica de modo que o consumidor se certifique de que não há riscos de que ele

se endivide.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Para evitar que se repitam as mesmas estruturas sintáticas ao longo de um texto, é

interessante conhecer alternativas de expressão que permitam apresentar a mesma ideia

por meio de formulações diferentes. Esse é o caso de certas orações que, muitas vezes,

podem ser substituídas por substantivos cognatos (de mesma raiz etimológica) ao verbo

ou cognatos a outra palavra da oração. Repare no exemplo:

É urgente que o governo invista nos hospitais públicos.

É urgente o investimento governamental nos hospitais públicos.

Exercícios

Verbo – núcleo da oração

substantivo cognato

Page 65: Apostila LP1

65

1. Reelabore os períodos de modo a substituir a oração destacada por um substantivo

cognato às palavras em negrito. Faça as adaptações necessárias para manter o sentido o

mais próximo possível da frase original.

Modelo

É inaceitável que se traduza a obra de Fernando Pessoa para o português do Brasil.

É inaceitável a tradução da obra de Fernando Pessoa para o português do Brasil.

a. É ruim que fatos sejam apurados de forma superficial.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Julga-se importante que candidatos de baixa renda ingressem na faculdade.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Atualmente, defende-se que sejam suprimidos da Constituição vários artigos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Não é admissível que se confisquem bens sem o respaldo da lei.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. É indispensável que o equilíbrio das finanças públicas seja recomposto rapidamente.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. O fabricante recomenda que se reponham as peças danificadas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. Espera-se que cumpram as metas de crescimento econômico.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 66: Apostila LP1

66

h.Nunca foi fácil sustentar uma família.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

i. A baixa escolaridade pode levar o povo a conformar-se.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

j. O modelo das provas conforma-se às exigências do Ministério da Educação.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Transcreva as frases, substituindo os termos destacados por um substantivo cognato.

Faça as adaptações necessárias.

a. É sempre melhor poder confiar num amigo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

O deputado confiou um segredo ao colega parlamentar.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Foi preciso regular a velocidade da máquina.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Criaram-se vários documentos para regular a entrada de estrangeiros no país.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Discutiu-se em plenário se a proposta do governo é legal.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Em todo o mundo, se discute a possibilidade de tornar legal o consumo de certas

drogas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. O jogador foi expulso por agredir o lateral.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 67: Apostila LP1

67

Há grupos de jovens que se caracterizam por estarem sempre prontos a agredir gente

inocente.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Os pilares devem sustentar as lajes.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Nunca foi fácil sustentar uma família.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Transcreva as frases a seguir, substituindo os termos destacados por dois substantivos

ou adjetivos cognatos distintos. Faça somente as adaptações necessárias.

a. Para um vestibulando, é angustiante esperar a lista de aprovados.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

As famílias dos presos políticos durante o golpe militar de 1964 ainda esperam notícias

dos desaparecidos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. No centro da cidade, muitas pessoas pedem dinheiro aos transeuntes.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Sempre que se fizer necessário, Dora pedirá ajuda financeira aos seus pais.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. O professor que realizará a palestra hoje à noite traduziu as maiores obras da

literatura francesa.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

É impressionante que alguns leitores brasileiros precisem traduzir as obras literárias

portuguesas.

______________________________________________________________________

Page 68: Apostila LP1

68

______________________________________________________________________

d. Por ter feito um gol aos 48 minutos do segundo tempo, o jogador salvou o time do

vergonhoso empate.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Durante as férias de verão, os bombeiros salvam muitos banhistas que se atrevem a

entrar na água quando o mar está agitado.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Os monitores ajudam os professores durante a aplicação das provas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Cada professora das turmas do maternal precisa de duas pessoas que a ajudem a tomar

conta das crianças.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. Os atletas que aspiram a uma vaga no time titular devem treinar exaustivamente.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Para recuperar a pintura original do quadro, o restaurador precisará aspirar toda a

sujeira que ainda não foi removida.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. As crianças carinhosas gostam muito de agradar os pais e os amigos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Na última recepção em sua casa, Heitor agradou a todos os convidados.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

h. Por mais que Cícero tente economizar, o salário que ele recebe não é suficiente para

sustentar a família.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 69: Apostila LP1

69

A quantidade de madeira encomendada não será suficiente para sustentar a varanda

enorme que está no projeto das arquitetas.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

i. Desde que foram implementados pelo governo, os programas de geração de renda

auxiliam muito as famílias mais carentes.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Ester é uma das pessoas que auxiliam na elaboração de projetos para o

desenvolvimento sustentável daquele município.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 70: Apostila LP1

70

Reorganização sintática

Exercícios

1. Nos períodos abaixo, substitua obrigatoriamente as palavras ou expressões em

destaque por palavras ou expressões sinônimas.

a. As apostas para a Mega da Virada já podem ser feitas em todas as lotéricas do país. A

estimativa da Caixa Econômica Federal é a de que o prêmio para esta edição da loteria

deva atingir R$ 150 milhões. No ano passado, o prêmio foi de R$ 144,9 milhões – o

maior valor já pago pela Mega-Sena.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, continuará no posto, no governo de Dilma

Rousseff. A imprensa noticiou que Jobim recebeu e aceitou o convite da presidente

eleita em reunião, na sexta-feira. Dilma e Jobim acertaram, nesse encontro, a retirada

da área de aviação civil do Ministério da Defesa.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. A produtora T4F acaba de confirmar a vinda do U2 ao Brasil em 2011. O grupo fará

uma apresentação no dia 9 de abril, no estádio do Morumbi, em São Paulo, com a turnê

360º Tour. O show contará com a abertura dos ingleses do Muse. Para a sorte dos fãs

brasileiros, o show não terá pista Vip. Os ingressos para a pista comum saem por R$

180.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Substitua as palavras ou expressões sublinhadas nas orações abaixo por palavras ou

expressões sinônimas. Se necessário, faça outras mudanças. Observe que algumas

modificações de sentido serão inevitáveis.

a. Alguns retornam ao berço convencidos de que ali é um bom lugar para se viver.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 71: Apostila LP1

71

b. Como não há posto de saúde, as pequenas dores são curadas com rezas e chás,

preparados a partir das ervas medicinais plantadas na horta comunitária.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Isolada pelas águas do rio, envolta numa mata fechada, em um terreno montanhoso,

uma pequena comunidade permaneceu por mais de 200 anos esquecida pelo país que

se desenvolveu à sua volta.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Para assegurar sua existência, os moradores se organizaram em uma associação para

pedir ações do governo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Reorganize sintaticamente os períodos abaixo, conservando as mesmas informações.

Inicie conforme a indicação. Substitua obrigatoriamente as palavras ou expressões em

destaque.

a. A comunidade de Pererê, formada por descendentes de um antigo quilombo, fica a

apenas 290 quilômetros de São Paulo, na cidade de Eldorado, numa das mais intocadas

regiões da Mata Atlântica.

Descendentes de um antigo...

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Os moradores de Pererê são quase todos analfabetos e pouco sabem das

transformações que aconteceram no mundo, nos últimos séculos.

As transformações que ...

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 72: Apostila LP1

72

c. A energia elétrica foi instalada no local há apenas seis anos e, mesmo assim, não

alterou os costumes da região.

Os costumes da região ...

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Ao amanhecer, todos os moradores se reúnem num galpão para decidir as áreas de

terra que serão trabalhadas.

Uma reunião num galpão ...

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Antropólogos africanos que visitaram o lugar há dois anos constataram que essa

comunidade mantém, com muito rigor, usos e costumes que existem, até hoje, em

aldeias de Moçambique.

Usos e costumes que ...

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. “Os aspectos religiosos e culturais de Pererê são muito camuflados”, afirma o padre

Francisco Piedade, de Registro, que regularmente visita a comunidade.

A comunidade ...

Page 73: Apostila LP1

73

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 74: Apostila LP1

74

Estruturas básicas e complementares

Observe e compare os dois exemplos:

1. A jovem estudante abriu a porta do seu apartamento. Era madrugada do último dia

08 de março. Ela viu seu namorado em prantos.

2. Na madrugada do último dia 08 de março, quando abriu a porta do seu apartamento,

a jovem estudante viu seu namorado em prantos.

A estrutura 2 contém, num só período composto, todas as informações que, em 1, estão

distribuídas em três períodos simples (ou orações simples).

Como procedemos para chegar de 1 a 2? Como partir de um conjunto de orações

simples e chegar a apenas um período composto (também chamado de oração

complexa)?

Veja esse procedimento no exemplo abaixo:

As algas marinhas são plantinhas aparentemente inúteis. Elas eram chamadas de cisco

do mar pelos pescadores nordestinos. Elas podiam ser apanhadas nas águas rasas das

praias. Elas são afetadas pela poluição dos mares.

Todas as informações acima se referem a algas marinhas. Em vista disso, podemos

transformar as quatro orações em uma só, complexa. Para isso, tomamos a informação

que queremos destacar e a transformamos em estrutura básica.

As algas marinhas são afetadas pela poluição dos mares.

A oração complexa pode ser assim formulada:

Tomamos a informação que se pretende enfatizar e a transformamos em

uma estrutura básica – uma oração cujo verbo comanda o sentido nuclear

do período. Transformamos as demais circunstâncias em estruturas

complementares à básica.

Page 75: Apostila LP1

75

Chamadas de cisco do mar pelos pescadores nordestinos, as algas marinhas,

plantinhas aparentemente inúteis, que podiam ser apanhadas nas águas rasas das

praias, são afetadas pela poluição dos mares.

Observe que a oração em negrito é a única que apresenta uma organização

sintática independente, ou seja, é a única que tem a estrutura sujeito/ predicado. Ela é a

estrutura básica dessa oração complexa. As demais estruturas não são independentes

sintaticamente. São chamadas de estruturas complementares. Observe:

1. chamadas de cisco do mar pelos nordestinos;

2. plantinhas aparentemente inúteis;

3. que podiam ser apanhadas nas águas rasas das praias.

Observe que, no exemplo anterior, as informações complementares estão

separadas da informação básica por meio de vírgulas. Eis uma regra de pontuação das

orações complexas:

Separa-se, por meio de vírgulas, travessões ou parênteses (sinais que não

determinam o final de um período), a estrutura básica das estruturas

complementares.

Veja o seguinte exemplo:

Naquele dia, quando menos esperava, Flávia recebeu uma nova proposta de emprego.

circunstância 1, circunstância 2, oração independente.

Estrutura complementar estrutura complementar estrutura básica.

No caso do exemplo anterior, de acordo com a gramática tradicional, as

circunstâncias são formadas por uma locução adverbial (“naquele dia”) e por uma

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76

oração adverbial temporal (“quando menos esperava”). Novamente, elas são pontuadas

por vírgulas, já que aparecem antes da estrutura básica.

Principais circunstâncias (adverbiais):

1. Finalidade

Viajou para descansar.

2. Tempo

Quando o gerente retornar das férias, o projeto será retomado.

3. Lugar

No local combinado, eles se reencontraram.

4. Modo

O homem agiu sem pensar.

5. Causa

Dormiu porque estava cansado.

Outros tipos de oração e de locução podem desempenhar a função de estrutura

complementar:

Embora ninguém esperasse, choveu.

Estrutura Complementar Estrutura Básica

O menino caiu, quebrando o braço.

Estrutura Básica Estrutura Complementar

Tendo estudado com afinco, os alunos obtiveram boas notas, vendo, assim, que o

esforço foi compensado.

Estrutura Complementar Estrutura Básica Estrutura Complementar

Vimos acima que as estruturas complementares – da maneira como estão

articuladas no período – não podem ocorrer como orações independentes, já que – como

Page 77: Apostila LP1

77

o próprio nome diz – complementam o sentido da estrutura básica e não têm, portanto,

autonomia sintática:

Embora ninguém esperasse.

Quebrando o braço.

Tendo estudado com afinco, vendo assim que o esforço foi compensado.

Também o aposto – termo que “traduz” um substantivo ou pronome – é uma

estrutura complementar. Observe o exemplo:

O réu, filho de deputado, conseguiu, pela terceira vez, adiar o seu julgamento.

aposto circunstância

Estrutura Complementar Estrutura Complementar

Exercícios

1. Identifique a estrutura básica e as estruturas complementares em cada um dos

períodos a seguir.

a. Há cerca de dois anos, a polícia descobriu, a partir de novas e secretas investigações,

que o crime da rua Aurora, um dos mais misteriosos de nosso país, tinha sido

premeditado.

b. Na manhã de terça-feira, João, ainda de olhos fechados, procurou seus óculos, para

ler as pilhas de cartas ainda não abertas.

c. O relatório diz que, apesar de décadas de reformas para proteger a independência

judicial, em muitos países, os padrões de imparcialidade estão se perdendo, como seria

o caso de Rússia e Argentina.

d. O jornalista americano Larry Rohter, a certa altura, em uma comemoração entre

amigos no Rio de Janeiro, em maio de 2004, cantou, com voz desafinada, Apesar de

você.

e. Nos últimos anos, as companhias farmacêuticas passaram a pressionar a FDA, a

agência americana de controle de medicamentos, para aprovar seus produtos.

f. Toda vez que deseja um aumento de salário, o Judiciário envia uma proposta de lei ao

Congresso.

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g. Cientistas espanhóis descobriram, na região de Teruel, leste da Espanha, ossos

fossilizados.

h. Ao passar pela Avenida Paraguassu, na praia de Atlântida, em Capão da Canoa, a 142

quilômetros de Porto Alegre, o arquiteto ficou chocado.

2. Os trechos que seguem são compostos por estruturas complementares. Identifique a

construção sintática que os caracteriza como complementares e, em seguida, formule

uma estrutura básica. Observe a pontuação do novo período criado por você.

a. Observando atentamente o comportamento das personagens,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Quando a mulher apareceu na janela,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Se ela viesse,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Como todos estavam cansados,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Acabada a reunião,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. Já que ela era a única testemunha,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. Devido à denúncia de fraude,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

h. Ao saber da verdade,

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 79: Apostila LP1

79

3. O trecho a seguir teve sua pontuação alterada. Pontue-o adequadamente a partir da

identificação das estruturas básicas e complementares.

Engana-se quem considera ainda hoje que o lixo garante apenas a sobrevivência

dos pobres. Ao contrário do que muitos imaginam ele é fonte de riqueza para uma

parcela expressiva do empresariado. Na cidade de São Paulo duas concessionárias a

EcoUrbis Ambiental S/A e a Loga Ambiental de São Paulo S/A dividem os recursos

gerados pelo espólio do lixo produzido pela população.

Todos os meses a Prefeitura da capital paulista repassa R$ 48 milhões a essas

duas empresas. A EcoUrbis responsável pelo lixo das regiões leste e sul tem entre seus

acionistas majoritários a Construtora Queiroz Galvão a mesma que participa da

construção das linhas dois e quatro do Metrô paulista.

A empreiteira era uma das responsáveis junto com a Camargo Corrêa e OAS

pela obra da estação Pinheiros do metrô que desmoronou em janeiro de 2007 matando

sete pessoas além de destruir a moradia de inúmeras famílias que residiam no entorno

da construção.

(extraído e adaptado de Caros Amigos, dez /2009)

Page 80: Apostila LP1

80

Estrutura Básica e Complementar II

1.Pontue adequadamente os períodos abaixo, levando em conta o que foi aprendido

sobre estruturas básicas e complementares.

a. As questões levantadas pelos alunos durante o debate ainda que necessitem de

análise mais cuidadosa parecem ser muito pertinentes.

b. Os benefícios dos trabalhadores caso o acordo salarial seja cumprido pela

empresa serão inúmeros.

c. A empresa instalou um novo sistema de alarme a fim de reduzir os

constantes roubos de equipamentos.

d. Os camponeses arruinados ainda que houvesse também operários e

artesãos formavam o maior contingente de imigração.

e. Como perderiam seus privilégios os vereadores tentaram impedir a

votação do projeto de lei do executivo.

f. Os empresários afirmam que poderá haver se o governo aumentar os

encargos trabalhistas demissão de trabalhadores.

g. As propostas temáticas postas em discussão pelos deputados governistas ainda

que os deputados de oposição produzissem um grande estardalhaço foram

finalmente votadas.

h. Segundo os economistas o consumo caso o governo reduza as taxas de juros

tenderá a aumentar.

i. A empresa de softwares a fim de reduzir as tentativas de arrombamentos

constantes contratou uma nova firma de segurança.

j. As questões levantadas durante a reunião pelos professores embora gerem

discórdia trouxeram nova luz aos problemas enfrentados.

2. Os trechos abaixo apresentam problemas de construção do período.

Reformule-os, para que eles se tornem períodos completos.

a. Ao passar pela Avenida Paraguassu, na praia de Atlântida, em Capão da

Canoa, a 142 quilômetros de Porto Alegre, o arquiteto, parando a 700 metros

da casa que construíra para os seus pais.

Page 81: Apostila LP1

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_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

b. Espremido politicamente, administrando uma economia que dava sinais de

falência administrativa, o presidente, tendo audácia e jogando-se na reforma.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

c. Apesar de a grande imprensa se pretender sóbria e imparcial na cobertura de

levantes ou rebeliões, terminando quase sempre por transformar os acontecimentos em

espetáculos.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

______________________________________________________

d. Como não havia mais nada a fazer, deixando-se o corpo na mesma posição, à

espera de outro veículo, que o transportasse para o necrotério.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

e. Ao levantar suas âncoras do nublado porto de Gênova, na tarde de sexta-feira,

retomando sua rota de mais um cruzeiro pelas águas do Mediterrâneo, o navio Achille

Lauro – sequestrado por um comando palestino que assassinou um velho paralítico

americano – deixando para trás uma nova vítima.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Page 82: Apostila LP1

82

f. Água francesa de paladar singular, a Perrier, acondicionada em uma garrafa

verde de formato inconfundível e caracterizada pela força de suas bolhas,

que lhe conferem uma personalidade única.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g. Publicado na revista Piauí, em março de 2009, a artigo “Rachaduras do paraíso”,

que foi escrito por Johann Hari.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____________________________________________________

3. A escolha da estrutura básica e das complementares depende do que temos a

dizer, de como pretendemos fazê-lo, de qual fato interessa destacar. Dada uma

sequência de informações (em orações simples), em princípio, qualquer uma

delas pode ser a estrutura básica. Veja o exemplo abaixo.

A macacada estava impaciente e faminta. Ela aguardava destino. Ela estava

empilhada em gaiolas na plataforma da estação. Ela divertia os passageiros

com suas macaquices.

Podemos utilizar cada uma das quatro orações como estrutura básica. Teremos,

então, quatro estruturas.

a. A macacada, aguardando destino, empilhada em gaiolas na plataforma da

estação, divertindo os passageiros com suas macaquices, estava impaciente e

faminta.

b. A macacada, impaciente e faminta, empilhada em gaiolas na plataforma da

estação, divertindo os passageiros com suas macaquices, aguardava destino.

Page 83: Apostila LP1

83

c. A macacada, impaciente e faminta, aguardando destino, estava empilhada em

gaiolas na plataforma da estação, divertindo os passageiros com suas

macaquices.

d. A macacada, impaciente e faminta, aguardando destino, empilhada em gaiolas

na plataforma da estação, divertia os passageiros com suas macaquices.

Nas sequências seguintes, formule diferentes versões do período, selecionando,

a cada vez, uma informação básica diferente.

1) Os diretores do filme estavam assustados com o fisco americano. Decidiram rodar

as cenas na Itália. A Itália tem um fisco menos rigoroso.

a)__________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

b)__________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

c)__________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

2. O processo de desmatamento está bastante adiantado. Esse processo prejudica a

preservação do solo.

a)__________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

Page 84: Apostila LP1

84

b)____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

c)____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

3. Iguape está a 220 quilômetros de São Paulo. Ela foi fundada no século XVI. Ficou

confinada, há um século e meio, entre o oceano Atlântico e a serra do mar.

a)____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

b)____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

c)____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Page 85: Apostila LP1

85

Emprego dos pronomes relativos

Os pronomes relativos são capazes de reproduzir, em uma nova oração, a ideia de uma

palavra/expressão que aparece em outra oração. Observe o exemplo:

Everquest, que se passa em um ambiente medieval, é considerado um clássico dos

games.

Caso desmembrássemos as orações, a palavra “Everquest” seria repetida:

oração I: Everquest é considerado um clássico dos games.

oração II: Everquest se passa em um ambiente medieval.

Ao juntarmos as duas orações em um período complexo, o pronome relativo que

possibilita recuperar o nome do game (Everquest) sem repetir a palavra e sem

estabelecer uma relação semântica entre as partes, diferentemente das conjunções.

Um pronome relativo sempre se refere, portanto, a um termo que o antecede e que ele

substitui dentro do mesmo período.

Sob o comando de Antonio Guterres estão mais de 6.000 funcionários da ONU, que

prestam ajuda a 33 milhões de pessoas.

O pronome relativo deve ser colocado próximo ao termo antecedente; caso

contrário, outro termo pode ser equivocadamente tomado como o seu referente.

Pronomes relativos exemplos

oração 1 oração 2 oração 1

Page 86: Apostila LP1

86

que/quem (precedido

de preposição)

Gostei do filme que entrou em cartaz.

Não conheço o funcionário a quem você entregou o envelope.

o qual/os quais

a qual/as quais

Não me agradam os meios pelos quais alguns políticos

alcançam seus fins.

onde (=em que/no

qual/na qual etc)

Fica em Goiás a caverna onde os estudantes se perderam.

Obs. “onde” só deve ser empregado em referência a lugares

físicos e quando a função sintática for a de locução adverbial.

quando (=em que, no

qual/na qual etc)

Setembro, quando as tardes já são menos frias, é um bom mês

para passeios pela serra.

cujo, cujos

cuja, cujas

As enfermeiras cuidavam dos doentes, cujos parentes se

aglomeravam no saguão.

1. Identifique, nos enunciados seguintes, o referente dos pronomes relativos.

a. A região vem passando por uma transformação urbanística com a desocupação dos

galpões e antigas casas, locais onde há grandes possibilidades de surgirem

empreendimentos.

b. Antes do casamento, Ben Jor fez lenda como um grande namorador. Em suas

músicas, pululam incontáveis musas, a maior parte das quais o cantor conheceu em

shows e com quem nem teve um envolvimento mais profundo.

c. As pessoas que conhecem Maria gostam muito do seu jeito brincalhão.

2. Em cada item a seguir, você encontrará duas orações. Leia-as atentamente e

reescreva-as sob a forma de um único período, utilizando um pronome relativo para

viabilizar essa transformação. Faça todas as alterações necessárias para obter períodos

bem construídos.

a. Desenvolvemos alguns projetos de ação social. Esses projetos de ação social são

bastante viáveis.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 87: Apostila LP1

87

b. Aproveitei as férias para ver alguns filmes. Esses filmes já estavam quase saindo de

cartaz.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Aproveitei o tempo livre para visitar a casa. A Marquesa de Santos nasceu na casa.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Estou de folga em dezembro. Viajarei para Salvador, em dezembro.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Nos enunciados abaixo, elimine a ambiguidade provocada pelo uso inadequado do

pronome relativo.

a) Enviou-me uma caixinha pela irmã que estava bem bonitinha.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Ninguém encontrou a mãe de seu amigo que fugiu de casa.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c) Adorei a cena final do filme que você comentou.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

***

Muitas vezes, é necessário empregar uma preposição antes de pronomes

relativos. A palavra que exige a preposição se encontra na oração que se inicia com o

pronome relativo. Observe:

As empresas em que trabalhei atuam no ramo dos alimentos. (trabalhar em algum

lugar)

oração 1 oração 2 oração 1

Page 88: Apostila LP1

88

Este é um imposto do qual ninguém tem necessidade. (necessidade de alguma coisa)

3. Reúna as seguintes orações num só período por meio de pronomes relativos. Atente

para os casos em que é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.

a. Aproveitei o tempo para ver alguns filmes. Um amigo havia falado entusiasticamente

desses filmes.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Aproveitei a folga no trabalho para escrever uma carta a um deputado. Nas últimas

eleições, depositei confiança nesse deputado.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Temos de criar um país. O bem-estar social deve imperar nesse país.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Não consegui evitar o meu repúdio às palavras de um político conservador. Para esse

político, o problema dos menores abandonados deve ser resolvido com maior repressão

policial.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Complete as lacunas com o pronome relativo adequado. Quando necessário, coloque

a preposição.

a. Não conhecemos os alunos _______ saíram.

b. São situações _____________ sempre penso.

c. É aqui a loja ________ lhe falei.

d. Os garotos,__________ conversei no sábado, são de Ribeirão Preto.

e. O filme, __________ comentamos ontem, está finalmente em cartaz.

oração 1 oração 2

Page 89: Apostila LP1

89

f. A causa __________ lutamos muito finalmente saiu vitoriosa.

g. O senador _________ votei foi eleito.

h. O sistema de segurança _________ a firma optou é bastante eficiente.

i. A mulher _________ vendi meu urso de pelúcia agora quer também as bonecas de

pano.

5. O pronome relativo “cujo” (e suas variações) cumpre duas funções:

a. refere-se a um termo já empregado (antecedente);

b. estabelece uma relação de sentido de posse, pertencimento.

Observe as orações:

I. Aumentou a produção de soja.

II. Os preços da soja subiram.

Nas duas orações, repete-se a palavra “soja”. Na segunda oração, expressa-se

uma relação de que algo pertence à soja. Juntando-se as duas orações, iniciando-se pela

primeira, deve-se empregar o pronome “cujo” e estabelecer a concordância com

“preços”.

Aumentou a produção de soja, cujos preços subiram.

Por ser um pronome relativo que varia em gênero e número, o “cujo” não admite artigo

depois dele:

O turista cujo passaporte (e não “cujo o passaporte”) estiver vencido deverá aguardar na

sala 1.

Os turistas cujos passaportes (e não “cujos os passaportes”) estiverem vencidos deverão

aguardar na sala 1.

O turista cuja mala (e não “cuja a mala”) estiver na alfândega deverá aguardar na sala 1.

oração 1 oração 2

Page 90: Apostila LP1

90

O turista cujas malas (e não “cujas as malas”) estiverem na alfândega deverá aguardar

na sala 1.

Reúna as seguintes orações num só período por meio do pronome relativo cujo (e suas

flexões), iniciando obrigatoriamente pela primeira oração. Atente para os casos em que

é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.

a. Aquele menino disse que não faria o trabalho. O pai do menino é professor.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Aquele é o homem de sorte. A família dele ficou milionária com exportação de café.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. É necessário criar instrumentos para uma política social efetiva. A erradicação da

miséria deve ser o objetivo dessa política social.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Vamos criar grupos de trabalho. A finalidade desses grupos de trabalho será discutir

uma nova política social.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Em toda eleição surgem candidatos oportunistas. Pouco se divulga sobre a vida

desses candidatos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f. A nação ainda não acertou contas com esse passado recente. Os protagonistas desse

passado recente ocupam, ainda hoje, lugar de destaque na política nacional.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Exercícios complementares

1. Em cada item a seguir, você encontrará duas orações. Leia-as atentamente e

reescreva-as sob a forma de um único período, utilizando um pronome relativo para

Page 91: Apostila LP1

91

viabilizar essa transformação. Faça todas as alterações necessárias para obter períodos

bem construídos.

a. Foi feita uma pesquisa sobre o comportamento alimentar do brasileiro. A pesquisa

revelou que há um excessivo consumo de gordura na alimentação.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. A maioria dos países não reaproveita o lixo doméstico. O lixo doméstico é um

dramático problema.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. O lixo doméstico é um dramático problema. A maioria dos países não reaproveita o

lixo doméstico.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Complete com o pronome relativo conveniente, precedido de preposição, se for o

caso.

a. Eis o ponto ____ chegamos.

b. É uma ideologia _______ não simpatizo.

c. Eram sólidos os argumentos ____ se baseava o advogado e ____ nada se pôde opor.

d. A garota ______ vivo querendo sair começou a namorar um amigo meu.

e. Os direitos do consumidor, _______________ a lei 8.078/90 dispõe, mudaram os

costumes do mercado.

f. Deve-se aguardar o momento _____ todos estejam dormindo.

g. A máquina _______ trabalho é nova.

h. Várias pessoas ______ os jornais fazem referência terão suas vidas investigadas.

i. Vários amigos _______ sempre lhes falo estarão hoje à noite na festa.

j. São duas pessoas ________ não tenho amizade.

k. O solo _____________ construímos a casa está cedendo.

l. O falso corretor ________ fomos enganados foi preso ontem em Brasília.

3. Reúna as seguintes orações num só período por meio de pronomes relativos. Atente

para os casos em que é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.

Page 92: Apostila LP1

92

a. Não consegui evitar o meu repúdio às palavras de um político conservador. Segundo

suas palavras, o problema dos menores abandonados deve ser resolvido com maior

repressão policial.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Em toda eleição surgem candidatos oportunistas. Pouco se divulga sobre esses

candidatos.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. É uma pessoa que tem opiniões fortes. Não é possível concordar com as opiniões.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. A polêmica das armas não se distingue de outros debates. Confrontam-se nesses

debates princípios irreconciliáveis.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. No fim dos anos 90, o país caiu vítima de uma crise financeira internacional. Os

brasileiros não tiveram nenhuma responsabilidade por essa crise.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 93: Apostila LP1

93

REDAÇÃO

Page 94: Apostila LP1

94

Paráfrase

paráfrase (do Gr. paráphrasis, desenvolvimento), s. f., ato ou efeito de parafrasear;

explicação ou tradução mais desenvolvida do que o texto ou enunciado original.24

A partir do verbete acima, podemos entender que parafrasear um texto significa

expressar, em uma formulação linguística diferente, as mesmas ideias presentes no texto

original. Em outras palavras, uma paráfrase é feita quando se comunica o mesmo

conteúdo do texto original, alterando-se a estrutura das frases e/ou o vocabulário.

A paráfrase é empregada na elaboração de resumos, fichamentos, relatórios, ou

seja, em circunstâncias em que um texto deve ser compreendido e explicado,

normalmente – mas não necessariamente – de maneira mais breve e concisa.

Leia o trecho abaixo:

“Qual a real utilidade do garfo? Serve para levar à boca a comida que já foi cortada. Por

que precisamos de um garfo para fazer isso? Por que não usamos os dedos? Porque isso

é coisa de „canibal‟, como disse, em 1859, „O homem à janela do clube‟, o anônimo

autor de The habits of good society. Por que é coisa de „canibal‟ comer com os dedos?

Isso não é pergunta. É evidentemente canibalesco, bárbaro, incivil ou o que quer mais

que se queira chamá-lo. Mas esta é exatamente a pergunta: por que é mais civilizado

comer com garfo?”

Agora veja a paráfrase desse trecho:

É questionável tanto a utilidade do próprio garfo quanto o fato de considerarmos

canibalesco ou incivilizado manipular a comida com os dedos para levá-la à boca. É

claro que poderia ser chamado de bárbaro o ato de não se utilizar talheres para comer à

24

Verbete disponível em: Língua Portuguesa On-line, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx. Acesso em: 09 dez. 2008.

Page 95: Apostila LP1

95

mesa. No entanto, mais importante do que isso é se perguntar por que consideramos

mais civilizado o uso do garfo à mesa ao invés das mãos.

Observe também as paráfrases abaixo, elaboradas para explicar artigos do

Código de Defesa do Consumidor:

ART. 23 – A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por

inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Ignorância do defeito: a responsabilidade do fornecedor não pode ser excluída pela

alegação de desconhecimento dos defeitos do produto ou serviço, de suas limitações ou

de sua inadequação a determinada finalidade.

ART. 47 – As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável

ao consumidor.

Na dúvida, a favor do consumidor: as cláusulas contratuais que deem margem à dúvida

deverão ser interpretadas a favor do consumidor.

Nesses últimos casos, temos paráfrases que ampliam o texto, de maneira que ele

se torne mais claro, mais explicado. A paráfrase resulta em um texto novo, cuja

estrutura é diferente do texto original, embora o sentido deva ser mantido. É importante

notar também que a paráfrase é construída a partir de vários procedimentos, um dos

quais é a substituição por palavras ou expressões sinônimas (no segundo texto acima, a

expressão “favorável ao consumidor” foi substituída por “a favor do consumidor”, por

exemplo).

Frise-se, no entanto, que parafrasear não significa apenas substituir palavras de

um texto por sinônimos. Aliás, deve-se tomar bastante cuidado para que não haja

deturpações de sentido. Nem sempre um sinônimo apresentado pelo dicionário para

uma determinada palavra é adequado para substituí-la no texto em que aparece. Um

exemplo:

Page 96: Apostila LP1

96

Fregueses auferem ostráceos ao solicitar aperitivo com aguardente de cereal

gálica

Semanalmente, a partir de agora, os fregueses do refeitório O Pote do Rei (área

ocidente da principal cidade de São Paulo) que solicitarem um aperitivo com a

aguardente de cereal rústica gálica Cîroc terão a possibilidade de saborear um par de

ostráceos que vêm cotidianamente de Santa Catarina – e que é possível degustar com o

fruto do limoeiro ou com um caldo específico realizado pelo diretor da cozinha William

Ribeiro.

O propósito é anunciar a combinação tranquilizante dos resultados. A carta de

líquidos alberga a Cîroc Port, que mescla a aguardente de cereal com Graham‟s White

Port, o fruto do limoeiro e ramos de alevante. Um dos aperitivos da festança vale R$28

e proporciona a prova dos dois ostráceos.

O texto acima foi uma tentativa, bastante equivocada por sinal, de parafrasear o

seguinte texto:

Clientes ganham ostras ao pedir drinque com vodca francesa

A partir desta semana, os clientes do restaurante O Pote do Rei (região oeste da

capital paulista) que pedirem qualquer drinque elaborado com a vodca artesanal

francesa Cîroc poderão degustar duas das ostras que chegam diariamente de Santa

Catarina – e que podem ser saboreadas com limão ou com um molho especial feito pelo

chef William Ribeiro.

O objetivo é promover a harmonização refrescante dos produtos. O cardápio de

bebidas inclui a Cîroc Port, que mistura a vodca Cîroc com Graham‟s White Port, limão

e folhas de hortelã. Cada um dos drinques do festival custa R$ 28 e dá direito à

degustação das duas ostras.

Disponível em: http://guia.folha.com.br/restaurantes/ult10051u662860.shtml

Page 97: Apostila LP1

97

Em que consistiu o equívoco do autor da tentativa de paráfrase? Ele supôs que

bastaria, para parafrasear um texto, substituir as palavras do original por sinônimos.

Contudo, além de alguns dos sinônimos não serem os mais adequados (“festança” no

lugar de “festival” ou “realizado” no lugar de “feito”, por exemplo), o autor equivocou-

se ao procurar sinônimos para termos específicos, que não poderiam ser substituídos:

“ostráceo” não é o mesmo que “ostra”, nem “aguardente de cereal” é o mesmo que

“vodca” e muito menos “fruto do limoeiro” seria o mesmo que limão. Assim, é

necessário bastante cuidado ao se procurar empregar sinônimos para elaborar uma

paráfrase, sob pena de deturpar o sentido do texto original. Por outro lado, ressalte-se

que, algumas vezes, palavras que não são propriamente sinônimas podem ser escolhas

lexicais adequadas para a elaboração de uma paráfrase.

Além de, como já vimos, ampliar o texto original, a paráfrase também pode

servir para condensá-lo. Vejamos um exemplo:

O leitor, se consulta regularmente a internet, sabe que se trata de território livre

para boato, informação interessada, lobbies nem sempre honestos nem legítimos,

fantasias, teorias malucas ou venenosas etc. etc. etc.

O parágrafo acima foi extraído do texto “Quando o erro é anônimo”, do

articulista Clóvis Rossi, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 09 de dezembro de

2008. Várias das expressões acima poderiam ser substituídas por sinônimos: por

exemplo, a oração “se consulta regularmente a internet” poderia ser substituída por uma

expressão formada pelo substantivo “consulta” (consulta frequente à internet); a

repetição da expressão “etc.” poderia ser substituída pela expressão “por exemplo”.

Assim, uma possibilidade de paráfrase do trecho acima poderia ser a seguinte:

A consulta frequente à internet permite ao leitor o conhecimento de que a rede é

um território livre para a veiculação de informações nem sempre confiáveis, por

exemplo.

A paráfrase acima, mantendo as mesmas informações do trecho original,

resultou em economia no número de palavras: de 32 para 28. Isso pode parecer pouco,

mas é uma ferramenta bastante útil para situações em que precisamos reduzir o texto

original.

Page 98: Apostila LP1

98

Uma nova paráfrase poderia reduzir ainda mais o número de palavras e, mesmo

assim, manter as informações:

Quem frequentemente utiliza a internet sabe que as informações ali veiculadas

nem sempre são confiáveis.

Essa segunda paráfrase produziu uma redução do número de palavras para 15,

menos da metade do trecho original, mas conseguiu conservar, em essência, as

informações.

A paráfrase, desse modo, pode ser uma ferramenta bastante útil para a

elaboração de resumos, pois permite a reestruturação do texto original de forma mais

concisa.

Exercício

1. Elabore uma paráfrase do texto “Clientes ganham ostras ao pedir drinque com vodca

francesa”.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 99: Apostila LP1

99

Resumo acadêmico

Resumo é uma condensação fiel das ideias ou informações contidos em um texto.

Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três

elementos:

a) cada uma das partes essenciais do texto;

b) a progressão em que elas se sucedem;

c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.

O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias

essenciais. Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos centrais do

texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários sobre o que está sendo

condensado.

Muitas pessoas julgam equivocadamente que resumir seja apenas reproduzir frases

ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de "colagem" de

fragmentos. Resumir é muito mais do que isso: é apresentar com as próprias palavras os

pontos relevantes de um texto. A mera reprodução de frases do original geralmente

sugere que ele não foi compreendido.

Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do

texto. Assim, não é possível escrever o resumo à medida que se faz a primeira

leitura.

Para elaborar um resumo, aconselhamos os seguintes passos:

1. Ler uma vez o texto, ininterruptamente, do começo ao fim. Isso porque um

texto não é um aglomerado de frases: sem uma noção do conjunto, é mais difícil

entender o significado preciso de cada uma de suas partes. Essa primeira leitura deve ser

feita com a preocupação de responder genericamente à seguinte pergunta: do que trata o

texto? Em outras palavras, deve-se, inicialmente, perceber qual o seu tema. A partir

disso, pode-se julgar quais as partes do texto mais relevantes para a caracterização e

explanação desse tema.

2. Ler uma segunda vez. Essa leitura, no entanto, deve ser feita com interrupções,

com o lápis na mão, para compreender melhor o significado de palavras difíceis (se

Page 100: Apostila LP1

100

preciso, recorra ao dicionário) e para captar o sentido de frases mais complexas (longas,

com inversões, com elementos ocultos). Nessa leitura, deve-se ter a preocupação,

sobretudo, de compreender bem o sentido das palavras relacionais, responsáveis pelo

estabelecimento das conexões (assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá, daí, seu, sua, ele, ela

etc.).

3. Segmentar o texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade de

significação. Na realidade, o que se faz aqui é recuperar o projeto de texto: é como se,

diante de um corpo (ou de uma casa), visualizássemos seu esqueleto (sua estrutura

interna).

Muitas vezes, essa estrutura textual encontra-se presente na própria segmentação do

texto em parágrafos. Assim, ao se resumir, por exemplo, um texto pequeno, pode-se

adotar como primeiro critério de segmentação a divisão em parágrafos. Pode ser que se

encontre uma segmentação mais ajustada que essa; mas, como início de trabalho, o

parágrafo pode ser um bom indicador.

Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por exemplo), é

conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de

cada texto (as subdivisões do conteúdo, as oposições entre os personagens, as oposições

de espaço, de tempo etc.). De qualquer maneira, é sempre válida a busca pela

explicitação do projeto de texto, para que se acompanhe a progressão das ideias, a

construção da argumentação.

Conforme é explicitada essa estrutura, tenta-se resumir a ideia ou as ideias centrais

de cada fragmento, com palavras abstratas e mais abrangentes. Essas palavras

funcionam como sinalizadoras do projeto textual e, a partir delas, pode ser feita a

seleção dos aspectos relevantes para a escrita do resumo.

4. Escrever a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os

segmentos, mas encadeá-los na progressão em que se sucedem no texto, para que sejam

estabelecidas as relações entre eles. Lembre-se de que, muitas vezes, o texto original

apresenta comparações, metáforas, dados e exemplos que podem ser eliminados no

resumo. Contudo, se os dados e exemplos formam a base das ideias do texto original, é

conveniente mantê-los.

Outro elemento fundamental do resumo é a referência contínua ao autor do texto

original. Essa referência pode ser feita de diversas formas. Eis algumas delas:

Page 101: Apostila LP1

101

Segundo Giles Lapouge, (...).

Segundo Lapouge, (...).

Conforme o filósofo, (...).

Para Lapouge, (...).

Lapouge “relata”, “afirma”, “atesta”, “comprova”, “mostra” etc.

FONTE: FIORIN, José L. e SAVIOLI, Francisco P. Para entender o texto. São Paulo:

Ática, 16a. edição, 2003. (texto adaptado)

Análise textual

Vejamos, a seguir, um exemplo de como proceder à realização de um resumo:

A legitimidade da informação

Gilles Lapouge

1 Imagens do nosso planeta: na França, aconteceram eleições dentro de uma

perfeita calma, com a pitada de surpresa necessária para despertar o interesse. No

mesmo dia, em Ruanda (África Negra), 5 mil ou talvez 8 mil hutus foram assassinados

por soldados tutsis; essa mesma Ruanda que, no ano passado, assistiu a um genocídio

traduzido em meio milhão de cadáveres.

2 Ainda no mesmo dia, mas dessa vez na Itália, aconteceram eleições regionais,

enquanto nos Estados Unidos se descobria, com ânsia de vômito, que a carnificina de

Oklahoma City foi obra de americanos de verdade, patriotas, totalmente brancos, que

amam as árvores e os pássaros. Finalmente em Tóquio, o número dois da seita Aum,

Shinri Kyo, suspeito de ter organizado o atentado com gás de combate ao metrô de

Tóquio, foi apunhalado por um fanático de extrema-direita.

3 É difícil para um jornalista descobrir suas âncoras e suas observações entre

tantas imagens incompatíveis, cujo espectro abrange desde a rotina eleitoral à mais pura

erupção de loucura coletiva. Devemos confessar que, às vezes, temos certos escrúpulos

de dedicar extensos comentários a acontecimentos tão clássicos, simplistas e ordenados

Page 102: Apostila LP1

102

quanto as eleições presidenciais, por exemplo, ao mesmo tempo em que a demência do

planeta nos faz assistir, de Tóquio a Michigan e a Ruanda, ao início do apocalipse.

4 Esses acontecimentos tão díspares merecem, no entanto, uma interrogação

comum. A cerimônia eleitoral não terna, tão pouco romântica, ocorrida no domingo, não

extrairia seu mérito precisamente do abominável espetáculo que nos foi oferecido pelo

mundo (Japão, Ruanda), quando a democracia não esteve presente para erradicar os

impulsos de morte e de assassinato que devastam os homens e as sociedades humanas?

5 Sem dúvida, a democracia não tem nada de cômico. Falta-lhe talento. Ela não

conseguiria competir com o genial diretor teatral, trágico e sádico, que joga centenas de

milhares de crianças perdidas nas suaves colinas da África tropical, em Ruanda. É

verdade: falta brilho à democracia. Ela é aborrecida, sem imaginação, repetitiva,

medíocre. E, no entanto...

6 No entanto, ela constitui a última proteção, tão frágil e poderosa ao mesmo

tempo, que as sociedades podem opor ao desencadear de suas pulsões mais sombrias,

mais diabólicas. Pulsões que vemos se desencadear assim que saltam os marcos da

democracia.

7 É o que ocorre em Ruanda, onde massacres se sucederam ao fracasso do pacto

democrático. No Japão, onde o crime do metrô foi perpetrado por uma seita

antidemocrática: militarizada, hierarquizada, fúnebre, secreta e mórbida. E, se a

matança de Oklahoma City foi cometida num país absolutamente democrático, os EUA,

seus atores são homens que declararam guerra principalmente à democracia. Esses

bárbaros brancos, que se autodenominam patriotas, querem voltar aos bons velhos

tempos dos pioneiros, do desbravamento das fronteiras e, em seu ódio irracional por

Washington - quer dizer, pela lei democrática -, matam centenas de cidadãos ao acaso.

8 Nesse sentido é que continua sendo, sem dúvida, legítimo escrever longos

artigos sobre as eleições democráticas na França ou na Itália. Precisamente para tentar

lutar contra essas outras notícias que, de Ruanda a Michigan, só nos falam sobre o

fascínio da morte.

LAPOUGE, Gilles. O Estado de S. Paulo. 26/04/1995

O passo a passo do resumo:

Page 103: Apostila LP1

103

Depois de ler o texto do começo ao fim, vemos que ele trata da legitimidade de

um jornalista escrever sobre eleições democráticas, pois a democracia seria a última

proteção contra as pulsões de morte que assolam as sociedades.

Em seguida, percebemos o movimento do texto: apresentação de imagens

conflitantes; indagação sobre a validade de escrever sobre aquilo que é rotineiro, como

eleições; discussão sobre o mérito da democracia; constatação de que a democracia não

é espetacular; afirmação de que ela é a última proteção contra as pulsões de morte

existentes na sociedade e ilustração com casos recentes; validade de se escrever sobre as

eleições democráticas.

Com base nesse movimento, pode-se dividir o texto em seis partes, ou

segmentos. Complete a tabela que segue:

parte/segmento parágrafos

correspondentes aspectos tratados

Page 104: Apostila LP1

104

Uma possibilidade de resumo:

Conforme os passos até agora apresentados, um resumo do texto acima transcrito

poderia ser redigido da seguinte maneira:

Segundo G. Lapouge, em seu texto publicado n’ O Estado

de São Paulo em 26 de abril de 1995, acontecimentos

contraditórios ocorrem todos os dias no mundo: de um lado,

eleições realizadas na mais absoluta ordem; de outro,

massacres e atos terroristas. Um jornalista, diante desse

quadro, sente escrúpulos em tratar de acontecimentos não-

dramáticos, como eleições.

Para Lapouge, o mérito da rotina eleitoral, entretanto,

surge do contraste com os acontecimentos que revelam os

impulsos de morte. Em seguida, o autor mostra que a

democracia não tem uma dimensão espetacular; no entanto,

é a última proteção contra as pulsões mais sombrias da

sociedade, pois, como o comprovam recentes acontecimentos,

massacres e atos de terror são devidos à falta de democracia

ou ao ódio a ela. Lapouge finaliza seu texto afirmando que a

importância de se escrever artigos sobre eleições

Page 105: Apostila LP1

105

democráticas é decorrente do fato de eles fazerem parte da

luta contra o desejo de matar.

No exemplo de resumo acima apresentado, vale atentar para o modo como o

texto mostra-se dividido e para a proporcionalidade de sua extensão. Em termos de

parágrafos, podemos considerar que o resumo corresponde exatamente a um quarto do

texto de base, uma vez que possui apenas dois parágrafos, que pretendem condensar os

oito parágrafos do texto de Gilles Lapouge. O primeiro parágrafo do resumo é

composto por dois períodos; já o segundo parágrafo, por quatro. Cada período do

resumo, por conseguinte, corresponde à condensação de cada uma das partes do texto

de base. Assim, as duas primeiras partes do texto de base são condensadas no primeiro

parágrafo do resumo e as quatro restantes, no segundo.

Em seguida, apresenta-se um resumo problemático do texto de Giles Lapouge.

Leia o resumo e observe as inadequações.

Na França, aconteceram eleições e em Ruanda, hutus foram

assassinados por soldados tutsis. Coisas semelhantes

aconteceram na Itália e nos EUA. Um jornalista deve

confessar seus escrúpulos. Um jornalista não consegue tratar

das eleições pacíficas porque em outros lugares acontecem

episódios de demência. A democracia não é cômica nem

dramática, ela é aborrecida, mas ela consegue impedir que

ocorram fatos como o de Ruanda e Tóquio e, portanto, um

jornalista pode escrever sobre as eleições da França.

Page 106: Apostila LP1

106

Recursos de Coesão

1. Repetição de uma palavra

Podemos repetir uma palavra (com ou sem o determinante) quando não for

possível substituí-la por outra.

A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos objetivos e aos

interesses da classe dominante. Essa ligação, no entanto, é ocultada por uma inversão:

a propaganda sempre mostra que quem sai ganhando com o consumo de tal ou qual

produto ou idéia não é o dono da empresa, nem os representantes do sistema, mas, sim,

o consumidor. Assim, a propaganda é mais um veículo da ideologia dominante.

2. Repetição do nome próprio, de parte dele ou de termo que qualifique a pessoa

Manuel da Silva Peixoto foi um dos ganhadores do maior prêmio da loto. Peixoto disse

que ia gastar todo o dinheiro em viagens ao exterior.

Marta Suplicy não emplacou nas últimas eleições. Marta ganhou em poucas regiões da

capital.

Luiz Eduardo Greenhalgh pede ao STF acesso aos autos da operação da PF. O ex-

deputado federal é citado no inquérito da Operação Satiagraha como lobista de Daniel

Dantas.

3. Epítetos

Page 107: Apostila LP1

107

Epíteto é a palavra ou frase que identifica com exclusividade a pessoa de quem

se fala.

Ronaldo teve um papel fundamental na final da copa de 2002. O Fenômeno marcou

todos os gols da partida contra a Alemanha.

4. Pronomes

Vitaminas fazem bem à saúde, mas não devemos tomá-las ao acaso.

O colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam muito com a

educação integral.

Aquele político deve ter um discurso muito convincente. Ele já foi eleito seis vezes.

Há uma enorme diferença entre Paulo e Maurício. Este guarda rancor de todos,

enquanto aquele tende a perdoar.

Não consigo encontrar o artigo que foi indicado pelo meu orientador.

5. Advérbios de lugar (aqui, ali, lá, aí)

Ao se empregar um advérbio de lugar, é necessário que se atente ao ponto de

referência de quem fala ou escreve.

Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci: a

"Mona Lisa".

Page 108: Apostila LP1

108

6. Elipse

A elipse é a supressão de um termo que pode ser facilmente depreendido pelo

contexto.

O ministro foi o primeiro a chegar. (Ele) Abriu a sessão às oito em ponto e (ele) fez um

discurso emocionado.

7. Palavras ou expressões sinônimas ou quase sinônimas

Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que

serviram até de porta de galinheiro.

O governo tem-se preocupado com os índices de inflação. O Planalto diz que não

aceita qualquer remarcação de preço.

8. Hiperonímia e hiponímia

Leia os trechos abaixo:

1) Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, esse veículo

estacionava adiante do Palácio do Governo.

2) O professor mandou os alunos desenharem quadrados, retângulos e trapézios. Esses

quadriláteros encontravam-se empilhados uns sobre os outros na mesa dianteira da

sala e os alunos deveriam copiá-los e sombreá-los ―ao natural‖.25

25

Exemplos extraídos de KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2005, p.50.

Page 109: Apostila LP1

109

Qual a relação, nas frases 1 e 2, entre as palavras sublinhadas? É possível notar

que “veículo” é uma palavra mais ampla, mais genérica que “carro”, assim como

“quadrilátero” engloba “quadrados”, “retângulos” e “trapézios”. Isso é o que se chama

HIPERÔNIMO.

HIPERÔNIMO: vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro (p.ex., assento

é hiperônimo de cadeira, de poltrona etc.; animal é hiperônimo de leão; flor é

hiperônimo de malmequer, de rosa etc.)

Se fizermos a “operação inversa”, ou seja, empregarmos um vocábulo mais específico

em relação a outro mais genérico, estaremos diante de um HIPÔNIMO.

HIPÔNIMO: vocábulo de sentido mais específico em relação ao de um outro mais

geral, em cuja classe está contido (p.ex., poltrona é hipônimo de assento; leão é

hipônimo de animal; rosa é hipônimo de flor).

O emprego de hiperônimos, termos mais abrangentes que podem substituir uma

série de outros termos, é um recurso de síntese extremamente útil na escrita, como

elemento coesivo. Quando usamos um hiperônimo para a retomada de um termo mais

específico (o hipônimo), podemos fazê-lo com o acréscimo de um pronome

demonstrativo. Veja:

O príncipe encantado me deu uma rosa muito especial. Essa flor já dura quinze dias e

não perdeu nenhuma pétala.

Page 110: Apostila LP1

110

O hiperônimo “flor” retoma a palavra “rosa”; para deixar a referência mais

explícita, o pronome demonstrativo “essa” é usado, o que deixa o texto ainda mais

coeso. Sempre que esse pronome for utilizado acompanhado de um substantivo (ou

palavra substantivada), usam-se “esse(s)”, “essa(s)”. Veja mais alguns exemplos:

As cadeiras já estavam muito velhas. Esses móveis eram, na realidade, herança de sua

avó materna.

O romance parecia ser extremamente interessante. Uma pena que não tenho tempo

para ler esse livro agora.

9. Substantivação

Ocorre substantivação quando se emprega um substantivo que remete a um

verbo enunciado anteriormente.

Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal testemunho não era

válido por serem parentes do assassino.

Pode também ocorrer o contrário: um verbo retomar um substantivo já

anunciado.

Ele não suportou o desafio diante do próprio filho. Desafiar um homem de bem não era

coisa para se deixar passar em branco.

Exercícios

1. Utilizando os recursos de coesão, substitua os elementos grifados:

Page 111: Apostila LP1

111

O Brasil vive uma guerra civil diária e sem trégua. No Brasil, que se orgulha da

índole pacífica e hospitaleira de seu povo, a sociedade organizada ou não para esse fim

promove a matança impiedosa e fria de crianças e adolescentes. Pelo menos sete

milhões de crianças e adolescentes, segundo estudos do Fundo das Nações Unidas para

a Infância (Unicef), vivem nas ruas das cidades do Brasil.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Para cada frase abaixo, preencha a lacuna com o recurso de coesão sugerido entre

parênteses.

a. Um dos graves problemas das metrópoles são os meios de locomoção. Enquanto

______________________________________ não forem devidamente

aprimorados, tudo permanecerá como está. (palavra sinônima ou quase sinônima)

b. Pelé foi um dos maiores esportistas brasileiros de todos os tempos. Até

hoje_____________ não foi superado. (epíteto)

c. Não se pode comparar São Paulo com o Rio de Janeiro. ____________é uma cidade

de praia, ao passo que _______________ é um grande centro urbano. (uso de

pronomes)

d. Muitas pessoas preferem morar em pequenas cidades do interior._________, apesar

da falta de alternativas culturais, ainda é possível conhecer toda a vizinhança. (advérbio

de lugar)

e. O crescimento desordenado degrada qualquer cidade. _____________ afasta várias

possibilidades de investimentos. (substantivação)

f. Luz, água encanada, telefone ainda não existiam no povoado há uma década. A

chegada_____________________ mudou a vida dos habitantes.(hiperônimo)

3. Reescreva os trechos que seguem, estabelecendo coesão por meio do recurso

indicado.

a. O Chanceler Celso Amorim defendeu-se, ontem, das críticas de que teria traído

aliados tradicionais. O Chanceler Celso Amorim votou a favor da proposta da OMC

Page 112: Apostila LP1

112

para desbloquear as negociações da Rodada Doha, contrariando interesses de outros

países emergentes. (Repetição de parte de nome próprio ou de termo que

identifique pessoa)

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b. Em fotos tiradas durante seu primeiro fim de semana na cadeia, Salvatore Cacciola

aparece vestindo o uniforme do presídio Petrolino Werling de Oliveira, conhecido como

Bangu 8, na zona oeste do Rio. O ex-banqueiro chegou de Mônaco na quinta, exibindo,

sorridente, uma vasta cabeleira e vestindo terno. Na prisão, Salvatore Cacciola é

obrigado a vestir calça jeans e camiseta branca. (elipse)

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c. Ao conceder empréstimos, os bancos têm tomado várias precauções. Conceder

crédito está vinculado à comprovação exaustiva de que, em tempos de crise, o cliente

tem como honrar suas dívidas. (substantivação)

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d. Lançado no último dia 15, um serviço municipal de bicicletas alugadas a baixíssimo

preço virou a coqueluche do verão de Paris. Em Paris, o serviço de aluguel de bikes

ocorre em 750 estações de metrô. (advérbio de lugar)

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e. Lançado no último dia 15, um serviço municipal de bicicletas alugadas a baixíssimo

preço virou a coqueluche do verão de Paris. Em Paris, o aluguel de bikes ocorre em 750

estações de metrô. (palavra sinônima ou quase sinônima)

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 113: Apostila LP1

113

4. No trecho abaixo, utiliza-se um hiperônimo equivocado para fazer referência a um

conjunto de informações. Corrija o problema, utilizando um hiperônimo adequado. Faça

as adaptações necessárias.

Nos anos 60 e 70, foi crescente a conscientização dos jovens em relação à

problemática ambiental. Iniciou-se uma crítica à política econômica tradicional, que

objetivava o crescimento do país sem dar qualquer importância à exaustão dos recursos

naturais. Nos anos 80 e 90, houve as discussões sobre desenvolvimento sustentável

como a grande saída para compatibilizar crescimento e qualidade de vida. Hoje, reduzir

a geração de resíduos, reutilizar os produtos e materiais sempre que possível e reciclar o

lixo por meio da coleta seletiva são limites que todos os cidadãos deveriam adotar.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Nos períodos abaixo, faça a retomada com o hiperônimo e pronome demonstrativo

adequados:

a) As bicicletas são frequentemente usadas pelos estudantes em Barão

Geraldo.___________________, além de fazer bem à saúde, não polui o ambiente.

b) A acerola tem altos índices de concentração de vitamina C. ______________ é

consumida, principalmente, em sucos.

e) Minha batedeira finalmente quebrou. Eu já tinha ______________ há mais de vinte

anos!

6. Sugira pelo menos dois hiperônimos adequados para completar os verbetes:

a) alicate ■ substantivo masculino. ___________________________ para segurar,

prender ou cortar determinados objetos, que se compõe de duas alavancas de ferro ou de

aço que giram em torno de um eixo e cujas extremidades, lisas ou serrilhadas, podem

ser chatas, recurvadas, cilíndricas ou em ponte.

Page 114: Apostila LP1

114

b) hipertireoidismo ■ substantivo masculino. __________________________ em

decorrência da hiperatividade da glândula tireóide, que se manifesta por intensificação

da atividade metabólica do organismo, aumento do volume da tireóide, emagrecimento,

taquicardia e outros sintomas.

c) carnaval ■ substantivo masculino. ________________________ originado/a na

Antiguidade, recuperada pelo cristianismo; começava no dia de Reis (Epifania) e

acabava na Quarta-Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma.

d) cruzada ■ substantivo feminino. ________________________________ para

assegurar o domínio cristão sobre os locais sagrados da Palestina controlados pelos

muçulmanos.

e) angústia ■ substantivo feminino. _________________________________

determinado/a pela percepção de sinais, por antecipações mais ou menos concretas e

realistas, ou por representações gerais de perigo físico ou de ameaça psíquica.

f) constituição ■ substantivo feminino. ____________________________ que rege a

vida de uma nação, geralmente elaborado/a e votado/a por um congresso de

representantes do povo, e que regula as relações entre governantes e governados,

traçando limites entre os poderes e declarando os direitos e garantias individuais.

Page 115: Apostila LP1

115

Produção de texto: resumo

Boas maneiras: por favor, leia este texto.

Desculpe a pergunta, mas onde ficam as boas maneiras no mundo de hoje?

por Luiz Weiss e Lúcia Helena de Oliveira

1. Uma pesquisa de opinião realizada em fins do ano passado junto a 2 mil entrevistados

do Rio de Janeiro e de São Paulo revelou que os brasileiros dessas duas capitais tendem

a guardar dentro de si um forte sentimento saudosista. De fato, muita gente parece

acreditar que se vivia melhor décadas atrás − e um dos motivos dessa suposta qualidade

superior de vida seria o bom trato então vigente entre as pessoas. "Hoje se convive com

o próximo na base da cotovelada", atestava o falecido ator Mário Lago, ecoando um

ponto de vista de tal forma compartilhado nos dias que correm, que dispensa pesquisas

sofisticadas para ser aferido.

2. Um advogado do diabo de maus bofes talvez se sentisse tentado a invocar a idade de

Lago para reduzir a pó seu diagnóstico a golpes desrespeitosos de "isso é coisa de

velho". Porém não é: brasileiras e brasileiros das mais diversas condições e idades, entre

uma cotovelada e outra, assinam embaixo da teoria segundo a qual, no turbilhão das

grandes cidades, não sobra cabeça, nem lugar, nem tempo, nem mesmo dinheiro, para

que se possa praticar como exercício diário o mandamento "respeitai-vos uns aos

outros". Não faltará quem se pergunte − na improvável hipótese de parar para pensar no

assunto − que serventia podem ter as chamadas boas maneiras no mundo atual.

3. Não seriam elas um anacronismo com cheiro de naftalina, algo como uma cartola ou

um par de anáguas na era do jeans e tênis? A própria expressão boas maneiras soa

maneirismos, ademanes, rapapés, salamaleques − em suma, frescuras de tempos idos,

com perdão da má palavra... Essa, porém, é apenas a primeira de uma longa lista de

confusões e mal-entendidos que desfiguram a questão e favorecem o mau

comportamento. É comum confundir boas maneiras e rituais de etiqueta − como se

tratar bem o próximo e saber qual o talher apropriado para comer peixe fossem

rigorosamente a mesma coisa. Na realidade, há muitas diferenças.

Page 116: Apostila LP1

116

4. O que se chama etiqueta é um conjunto de cerimoniais surgido na Europa, há uns

cinco séculos, para pôr as pessoas nos seus devidos lugares, ou seja, para mostrar quem

era nobre e quem era plebeu. Já as boas maneiras são formas de agir que lubrificam o

convívio em sociedade ao permitir que as pessoas se entendam, independentemente de

quaisquer diferenças entre elas. Não foi por outra razão que se desenvolveram de mãos

dadas com o aumento do padrão cultural nos países industriais e no mesmo passo em

que se difundiu a ideia da igualdade de direitos entre os homens. Apesar disso, nada

mais frequente do que fazer das boas maneiras um sinalizador das diferenças sociais.

5. A professora de Filosofia Terezinha Azeredo Rios, da PUC de São Paulo, que

escreveu uma tese sobre o assunto, conta um episódio exemplar: "Certo dia, tomei um

táxi e pedi ao motorista que me levasse à faculdade. Começamos a conversar, e ele me

tratava por „você‟. Em dado momento, perguntou o que eu estava estudando. Pois bem:

a partir do momento em que respondi que não era aluna, mas professora, ele passou a

me chamar de „senhora‟. Isso é, o motorista em questão deve achar, como tanta gente,

que boa educação é algo que convém reservar a pessoas situadas em degraus mais altos

da escada social, como uma roupa que só se usa em ocasiões especiais.”

6. Confundidas como forma de servilismo (quando praticadas de baixo para cima) ou

como máscara da opressão (quando exercidas de cima para baixo), as pobres boas

maneiras acabaram impiedosamente arrastadas ao banco dos réus da revolução nos

costumes que explodiu nos anos 60. E ali, de cambulhada com hábitos arcaicos e de fato

inibidores da naturalidade nas relações humanas − como a secular obrigação imposta

aos filhos de só chamar o pai de senhor −, caíram também em desuso comportamentos

os mais inocentes e civilizados − como o homem abrir a porta de um carro para a

mulher −, acusados, por exemplo, de servir de disfarce hipócrita à dominação machista.

O resultado foi um breu geral.

7. "Traumatizadas pela ideia de repressão, as pessoas resolveram educar os filhos de

forma diferente da que foram educadas", observa a advogada e autora feminista Sílvia

Pimentel, de São Paulo. "Derrubaram-se padrões considerados repressores e muitas

vezes não se conseguiu colocar outros no lugar. Isso pode ter provocado certa baixa no

comportamento dos jovens." Num recente fim de tarde, uma dúzia de alunos de um

colégio progressista da zona oeste paulistana infernizava com seus gritos e cantorias a

vida dos passageiros do ônibus em que viajavam. E nem sequer tomaram conhecimento

Page 117: Apostila LP1

117

do protesto de uma passageira que se levantou para reclamar que "depois de um dia de

trabalho, tenho o direito de ir para casa em silêncio".

8. Certamente não comete delito algum o cidadão que, ao sair para o trabalho, mal

encara o vizinho com quem divide o espaço no elevador. Afinal, adverte o antropólogo

José Guilherme Cantor Magnani, da USP, "não se pode esperar que, num edifício de

apartamentos, onde cada qual vive sua vida, as pessoas se tratem com o afeto e a

cordialidade de vizinhos de cidade do interior". Na realidade, o ato de ignorar o

companheiro de viagem na breve jornada de um décimo andar ao térreo costuma ser a

expressão literal de outra cegueira: o comportamento que consiste em não enxergar os

direitos dos companheiros de vida em sociedade.

9. De alguma forma, as boas maneiras abrem os olhos de cada um para o mundo em

volta − e para as pessoas que o habitam. Promovem a tolerância e previnem atritos,

como chumaços de algodão entre cristais: é sempre mais difícil agredir alguém a quem

se acabou de desejar bom dia ou pedir um favor − e a recíproca, naturalmente, é

verdadeira. Levadas às últimas consequências, boas maneiras salvam vidas − as

estatísticas de acidentes de trânsito no Brasil seriam, com certeza, menos sangrentas se

os motoristas cessassem de atropelar os direitos dos demais motoristas e, sobretudo, dos

pedestres. Ao contrário do que imaginavam os contestadores dos anos 60, os bons

modos, longe de serem modos disfarçados de dominar o próximo, funcionam a favor da

parte mais fraca numa situação de conflito.

10. O que se convencionou chamar qualidade de vida nas sociedades modernas depende

diretamente da prática habitual das boas maneiras, mesmo quando não envolvem

relações pessoa a pessoa. É maior a qualidade de vida onde as pessoas têm a boa

educação de não atirar objetos pela janela do carro − ou onde serão multadas se o

fizerem. Certa vez, o jornalista Zózimo Barroso do Amaral registrou em sua coluna no

Jornal do Brasil, com admiração, o caso de uma moça que se deu o trabalho de limpar o

cocô que seu cachorrinho tinha acabado de fazer no calçadão de Ipanema − algo que

deveria ser rotina e não notícia.

11. Ninguém deixa cascas de banana largadas no chão da sala de visitas. Fora de casa,

porém, é outra conversa; os outros que se danem, como dizem os mais grossos. "As

boas maneiras são prejudicadas quando as pessoas não consideram o que é coletivo,

Page 118: Apostila LP1

118

público, também como seu e cuidam apenas do que é particular, exclusivo", diz a

socióloga Laura Tetti, da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. "Para manter uma

praça limpa, você tem de mandar escrever nos cestos de lixo o lembrete „Cuide como se

fosse seu‟. Se é de todos, não se deve cuidar?"

12. Inimiga ainda maior das boas maneiras e, portanto, da coexistência pacífica em

sociedade é a esperteza − a atitude que parte do princípio de que, com bons modos, não

se consegue nada e termina no jeitinho de quem busca conseguir sempre alguma

vantagem sobre os demais. Esse modo de proceder obedece ao que se pode chamar de

Lei de Gérson, em alusão ao anúncio de uma marca de cigarros veiculado no final de

1976, no qual o meia-esquerda da seleção tricampeã mundial se vangloriava de “levar

vantagem em tudo”. Diga-se, em defesa de Gérson, que ele garante não agir assim na

vida real. “Tanto que, se a campanha tivesse a intenção que depois lhe atribuíram, eu

não teria participado dela”, afirma. Seja como for, o respeito ao outro sempre

desaparece quando, na busca da vantagem a qualquer preço, “tenta-se transformar

procedimentos imorais em algo moralmente correto e socialmente desejável”, nas

palavras do publicitário paulista Roberto Duailibi.

13. Mas é verdade, também, que a astúcia do jeitinho, o drible com que se quer passar

para trás os direitos do próximo, como a sagrada norma de que deve ser atendido

primeiro quem primeiro chegou, sempre existe. “É uma estratégia de sobrevivência

causada pela desigualdade de direitos entre as pessoas na vida diária”, define o cientista

social Paulo Sérgio Pinheiro, da USP. Certamente não faltarão motivos para explicar os

desrespeitos cotidianos às normas da convivência civilizada. No entanto, não adiantará

muito esperar que essas causas se evaporem para, só então, implantar o reino das boas

maneiras. É até uma questão de bom senso. A psicóloga Maria José Néri, do Centro de

Controle do Stress, de Campinas, nota que “quem tem o costume de revidar à falta de

boas maneiras dos outros acaba chegando em casa de noite com os nervos em

frangalhos”. E ensina: “Quem mantém a boa educação acaba levando vantagem”.

Obrigado pela atenção.

WEISS, Luiz; OLIVEIRA, Lúcia Helena de. Boas maneiras: por favor, leia este texto.

Superinteressante, São Paulo, n. 9, jun. 1988. Disponível em:

Page 119: Apostila LP1

119

<http://super.abril.com.br/cotidiano/boas-maneiras-favor-leia-este-texto-

438635.shtml>. Acesso em: 15 dez. 2009 (texto adaptado)

Page 120: Apostila LP1

120

Prática de escrita

O terceiro homem

Peter Norman, o branco solidário com o protesto negro – por Dorrit Harazim

1. Ele nunca mais conseguiu correr a prova dos 200 metros em apenas 20.06

segundos – só naquela Olimpíada de 1968, na Cidade do México. O tempo ficou a

apenas 0.64 segundos do recorde mundial que imortalizaria Michael Johnson trinta anos

depois. Ainda assim, a marca mais notável do atleta australiano Peter Norman não

foram os seus vinte segundos de

velocidade. Ele chegara ao México quase

anônimo, perdido entre outros 5.423

atletas de 112 países e a medalha que

conquistou na pista foi quase um acaso. A

marca pessoal que deixou, não.

2. A prova dos 200 metros fora

vencida pelo colosso americano Tommy

Smith, detentor de onze títulos mundiais

em corridas de curta distância e o bronze

ficara com John Carlos, também

americano, também negro e também aluno

do San Jose State College, da Califórnia.

O aguardado duelo milimétrico entre os

dois americanos simplesmente não

aconteceu, pois Smith desembestou nos

60 metros finais e não teve para mais ninguém – ergueu os braços, sorriu e acenou para

a plateia antes de rasgar a linha de chegada em 19.87 segundos. O compatriota Carlos,

que liderava a prova, desconcertou-se e abriu espaço para o australiano Norman

abiscoitar o segundo lugar.

3. O rasante de Smith causou assombro por ser a primeira vez que um bípede corria

os 200 metros em menos de vinte segundos. Arrebatamento semelhante em estádio

olímpico só ocorreria vinte anos depois, em Seul, na Coreia do Sul, quando o canadense

Ben Johnson ultrapassou a fronteira do possível e correu 100 metros rasos em 9.79

Page 121: Apostila LP1

121

segundos. A marca de Johnson, no entanto, durou apenas algumas horas, até exames

provarem que ele correra dopado.

4. O espanto com o recorde mundial de Smith em 1968 durara menos ainda, pois

durou apenas o tempo de o trio vencedor subir ao pódio para receber as medalhas. O

que ocorreu ali − e foi captado por fotos que deram a volta ao mundo − virou uma

imagem recorrente dos anos 60: dois negros americanos de punho erguido, cabisbaixos

e descalços, em protesto contra o racismo. O que permaneceu nas sombras e adquiriu

relevância só no mês passado, com a morte, por enfarto, de Peter Norman, foi o papel

desempenhado pelo branquela naquele instante da História.

5. O protesto fora planejado pelos americanos ainda no campus da faculdade, na

Califórnia. Caso um deles conquistasse medalha, usaria o pódio como palco para

denunciar a desigualdade racial nos Estados Unidos. Assim, entraram juntos na saleta,

onde os vencedores aguardavam o momento de serem chamados para a premiação, e

foram cuidar do visual. Para espanto do australiano, que se esmerava em ajeitar a juba e

alisar o uniforme, Tommy Smith e John Carlos tiraram os tênis e calçaram meias pretas.

Contaram a Norman que fariam um protesto e explicaram que os pés descalços

simbolizavam os bolsões de pobreza negra dos Estados Unidos. Em seguida, Carlos

enfiou um colar de grãos e Smith amarrou um lenço preto no pescoço. Esclareceram que

os adereços eram referência aos negros linchados da história americana.

6. Norman a tudo ouvia, intrigado.

7. Faltando poucos minutos para serem chamados, os americanos se deram conta,

frustrados, de que Carlos esquecera de trazer o par de luvas negras, elemento essencial

do seu kit-protesto. Os parceiros tinham planejado erguer os punhos aos primeiros

acordes do hino nacional e, sem as luvas, o gesto perderia impacto. Foi então que o

australiano acordou: sugeriu que Smith e Carlos usassem, cada um em mãos diferentes,

apenas uma das luvas do par que restava. E fez mais. Pediu um dos adesivos de defesa

dos direitos humanos, que os americanos ostentavam, grudou-o no peito e declarou-se

pronto para subir ao pódio.

8. “Peter tornou-se meu irmão naquele instante”, diria Carlos anos depois. Não era

uma expressão retórica - seus filhos cresceram chamando de “Uncle Pete” o corredor

mirrado que vivia do outro lado do planeta. “Naquele momento crucial de nossas vidas,

Peter nos compreendeu”, disse Carlos. “O fato de um atleta branco subir ao pódio

Page 122: Apostila LP1

122

olímpico com um adesivo a favor da igualdade racial deu outra dimensão a nosso

protesto.”

9. O público que lotava o Estádio Nacional não percebeu de imediato o que se

passava. Foi com o semblante carregado que os atletas acompanharam o içamento das

bandeiras. Aos primeiros acordes do hino nacional, Smith ainda pareceu entoar a letra.

Depois se calou e abaixou a cabeça. Começou, então, a erguer o braço direito enluvado,

em sincronia com o braço esquerdo de Carlos. A saudação black power tinha invadido

os Jogos Olímpicos.

10. “Aqueles dois caras subiram no metro quadrado de mundo que tinham

conquistado como atletas e deram seu recado sem jogar uma única pedra, sem dar um só

tiro, sem machucar ninguém”, relembraria Norman aos jornalistas que bateram à sua

porta no ano 2000, quando Sydney foi sede da XXIII edição dos Jogos. Estava então

com 58 anos, grisalho e tinha a saúde capenga. Não guardara ressentimento pelo dilúvio

de críticas que se abateu sobre o trio imediatamente após a cerimônia. Dilúvio

proporcional à raça de cada um.

11. Norman foi crucificado pela imprensa de seu país e recebeu reprimenda do

comitê olímpico australiano. Mas continuou apontando desigualdades onde quer que as

visse. “Aqui na Austrália, o tratamento que reservamos à nossa população indígena é

calamitoso”, dizia sempre, referindo-se aos aborígines, que adquiriram direito de voto

só em 1962 e passaram a ser incluídos no censo nacional somente cinco anos depois.

12. Para Smith e Carlos as consequências foram implacáveis e duradouras. De

imediato, o Comitê Olímpico Internacional, o COI, presidido pelo americano Avery

Brundage, proibiu que os dois velocistas tivessem outras participações (ambos estavam

escalados para integrar a equipe americana de revezamento) e exigiu a expulsão da

dupla da Vila Olímpica. O comitê olímpico americano não acatou as determinações. Na

manhã seguinte, o COI alertou que, se as exigências não fossem cumpridas, toda a

equipe americana de atletismo seria barrada das competições. Dessa vez, o recado foi

entendido.

13. Smith e Carlos retornaram aos Estados Unidos como párias, acusados de

introduzir a política no olimpismo e de querer destruir o tecido social de seu país. “Mas

qual país?”, perguntavam em uníssono. “A América branca diz que somos americanos

quando vencemos e que somos negros quando fazemos algo que julga errado.” Quanto à

Page 123: Apostila LP1

123

contaminação dos Jogos pela política, ela já acontecera há bem mais tempo e por meio

de outros punhos: na Munique de 1936, todos os atletas alemães fizeram a saudação

nazista e ninguém reclamou.

14. Apesar dos ataques e do ostracismo, nem Carlos nem Smith mudaram de

posição. Quem mudou foi o curso da história. Às vésperas da Olimpíada de 1984, John

Carlos foi ressuscitado pelo Comitê Organizador dos Jogos de Los Angeles para

promover o esporte junto à juventude negra. Smith foi chamado a treinar uma equipe de

atletismo. Em 1999, a faculdade San Jose State, de onde ambos tinham saído três

décadas antes, inaugurou uma estátua comemorativa ao gesto dos ex-alunos. Como não

poderia haver inauguração sem a presença do terceiro homem, convidaram Norman.

15. No mês passado, coube aos velocistas negros fazer o percurso inverso – não

poderia haver funeral de Peter Norman sem a presença de Tommy Smith e John Carlos.

“O legado do pai de vocês é uma rocha”, disse Smith aos filhos do corredor na

cerimônia em Melbourne. “Não desçam dessa rocha.”

16. Referia-se aos tempos em que a dimensão de um atleta não se reduzia ao

tamanho de sua fortuna nem a de seus contratos publicitários. Tempos em que era

possível ser grande sem ser celebridade. Até hoje, a marca de 20.06 segundos obtida

pelo australiano em 1968 não foi superada por nenhum atleta de seu país.

[revista Piauí, número 2, novembro de 2006.]

Roteiro de leitura

1. Utilize a tabela a seguir para sintetizar a estrutura do artigo “O terceiro homem”, de

Dorrit Harazim.

Projeto de texto – “O terceiro homem”

Parte

Parágrafo(s) Síntese do conteúdo

1ª parte

2ª parte

Page 124: Apostila LP1

124

3ª parte

4ª parte

5ª parte

6ª parte

7ª parte

8ª parte

2. Qual a função principal do 1º parágrafo?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. Explique qual o motivo do uso do pretérito mais-que-perfeito no verbo “chegar”,

marcado no 1º parágrafo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Quais as principais informações apresentadas no 2º parágrafo?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 125: Apostila LP1

125

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. O terceiro e o quarto parágrafos tratam de dois tipos de assombro causados pela

vitória dos atletas americanos. Explique sumariamente os dois motivos pelos quais a

plateia da corrida espantou-se.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

6. A que se refere o termo “ali”, marcado no 4º parágrafo?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

7. Para enfatizar os efeitos das ações dos atletas americanos na Olimpíada de 1968, o

autor do texto as compara com exemplos de acontecimentos esportivos mais recentes.

Exponha esse paralelo.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

8. No quarto parágrafo, lê-se: “O que permaneceu nas sombras e adquiriu relevância só

no mês passado, com a morte, por enfarto, de Peter Norman, foi o papel desempenhado

pelo branquela naquele instante da História”. De acordo com os parágrafos seguintes,

qual foi o papel desempenhado por Norman?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 126: Apostila LP1

126

Prática de escrita

Ó, desprezíveis solteironas!

Hoje sinônimo de independência, ser solteira foi uma situação incompreendida e ridicularizada

durante séculos

Cláudia de Jesus Maia

1. Quem de nós, acima dos 20

anos, não teve ou tem na família

uma recatada “tia velha”? Não é

difícil identificá-las. Zelosas da

educação dos sobrinhos, vigilantes

da moral da família, são filhas, mas

não esposas. Irmãs ou tias, mas

raramente mães. Chegam aos 35

anos sem se casarem, seja por falta

de pretendentes, por pressão familiar

ou por escolha deliberada. No

imaginário coletivo, diz-se que

“ficaram para titia”. E atribuem-se a

elas as piores características:

megeras, amargas, invejosas, inúteis, frustradas.

2. Esses estereótipos envolvendo a “solteirona” vêm de longe. A palavra spinster

(“solteirona”) dá uma pista sobre a principal causa da desvalorização das mulheres

solteiras na Inglaterra do século XVIII. O termo foi usado pela primeira vez em 1719,

na edição inaugural de um jornal chamado exatamente The Spinster. Sob o pseudônimo

Page 127: Apostila LP1

127

de Rachel Woolpack, uma articulista afirmava que, em sua origem, a palavra não era

depreciativa. Referia-se “à louvável „atividade das mulheres obreiras‟” e significava,

literalmente, “fiandeira”, como sugere Ian Watt em seu livro A ascensão do romance:

estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding.

3. Mas, àquela altura, com o desenvolvimento da manufatura têxtil, as solteiras

inglesas viam diminuída a sua importância nas atividades caseiras de fiar e tecer.

Enquanto as casadas iam viver à custa do marido, as solteironas se viram “inúteis

dependentes de alguém” ou obrigadas a trabalhar fora por baixos salários. Viria daí o

sentido pejorativo que ganharam as spinsters.

4. A literatura oferecia fartas caricaturas de solteironas. “Considera-se agora a

solteirona como uma maldição que nenhuma fúria poética consegue superar”,

bombardeava o inglês Richard Allestree no livro The ladies’ calling (algo como “O

chamado das mulheres”), de 1673. Em outras (terríveis) palavras, elas eram “a mais

calamitosa criatura da natureza”.

5. Na França, ganharam outro nome, também nada lisonjeiro: vieille fille

(literalmente, “filha velha”). E apareciam já na literatura clássica do século XVII, em

autores como Thomas Corneille, La Fontaine e Molière, embora de forma superficial e

como personagens secundários.

6. Com as transformações do século XIX, a “decadência” social das mulheres

celibatárias torna-se irreversível. Os processos de urbanização e industrialização

levaram as moças a entrar de forma mais efetiva no mercado de trabalho. Ao mesmo

tempo, diminuía a influência da Igreja, e, assim, essas mulheres – que antes tinham

como destino certo o convento – ficaram restritas ao ambiente doméstico, precisando

contribuir para as finanças do lar. Restava às jovens burguesas dedicarem-se a

atividades como governanta e professora, mais aceitáveis para a sua condição social. As

mais pobres engajavam-se também nas atividades de vendedoras dos grandes

magazines, funcionárias dos correios, enfermeiras ou empregadas domésticas.

7. Como antes, a produção literária acompanhava e alimentava o folclore em torno

das solteironas. A diferença é que, no século XIX, os autores se preocupavam em

aplicar princípios psicológicos no estudo da sociedade, o que ampliou o número de

personagens da vieille fille, diversificou e aprofundou seus tipos. Muitas delas eram

heroínas, vítimas necessárias de uma “seleção natural” e das circunstâncias.

Personagens mais complexas surgiram das penas de Balzac e do grande historiador

francês Jules Michelet, por exemplo.

Page 128: Apostila LP1

128

8. Nada que as redimisse. Fatores como a migração masculina, as guerras e os

altos custos do matrimônio faziam aumentar, na Europa, o número de moças que não

conseguiam encontrar marido, principalmente as instruídas da classe média. Elas

passaram a alimentar um verdadeiro exército de preceptoras e governantas. Muitas iam

buscar trabalho em outros países, como Maria Frieda Kruger Mancini, professora alemã

altamente instruída, com 25 anos de prática de ensino, que veio para o Brasil. Em 1905,

ela anunciava no jornal O Jequitinhonha, de Diamantina (MG), a abertura de cursos de

português, francês, inglês, alemão e italiano, além de lições de piano.

9. No imaginário brasileiro, as mulheres solteiras já mereciam atenção desde os

tempos da Colônia. Segundo o historiador Ronaldo Vainfas, as expressões mais usadas

para nomeá-las eram “celibatárias” – “mulher que aspirava a casar-se ou que optara pela

castidade sem ingressar em religião” – e “mulher solteira” – “mulher que nunca se

casou”, “mulher que não tem marido”, “mulher pública”, quase sinônimo de meretriz,

embora sem a conotação profissional.

10. Mas a idéia de “solteirona” surgiria com maior força somente no final do

século XIX, quando as brasileiras também passam a ocupar de forma mais efetiva o

mundo do trabalho remunerado, espaço até então predominantemente masculino.

Avançavam os setores de prestação de serviços, comércio e burocracia, abrindo

possibilidades de emprego para secretárias, funcionárias públicas, enfermeiras,

vendedoras, datilógrafas, farmacêuticas, assistentes sociais. A partir da década de 1920,

a oportunidade de ingresso em cursos superiores oferecia para as mulheres as carreiras

de médica, advogada, engenheira, promotora e professora.

11. Motivo de orgulho feminino? Naquela época, não. Como ocorreu na Europa, o

estereótipo da solteirona infeliz e frustrada começou a se expandir. Afinal, marido e

filhos eram elementos obrigatórios para o ideal de realização da mulher. Um ideal não

só culturalmente recomendado, mas também garantido por lei. O primeiro Código Civil

brasileiro, que entrou em vigor em 1917, definia o casamento como um contrato feito

entre “indivíduos livres” e baseado em obrigações mútuas: o marido tinha por

incumbência sustentar e proteger a esposa; esta, por sua vez, devia-lhe obediência.

Desposada, a mulher se tornava juridicamente incapaz e só poderia seguir uma carreira

profissional com a autorização do marido.

12. Havia quem julgasse o casamento e o trabalho feminino atividades

incompatíveis. O estado de Santa Catarina chegou a criar uma lei determinando que

toda professora que viesse a se casar perderia o emprego. E não foi uma iniciativa

Page 129: Apostila LP1

129

isolada. “Deve a professora casar e continuar no exercício do cargo? Acho que não. O

magistério primário, quando bem compreendido na sua alta missão social e exercido

com a convicção profissional de um sacerdócio, exige renúncias de quem o professa.

Uma delas, a meu ver, é o matrimônio (...) – o casamento é um entrave ao

desenvolvimento cabal das obrigações que o professorado exige da mulher”, defendia

um artigo da revista Semana Ilustrada, de 1928, a favor da adoção de uma lei

semelhante em Belo Horizonte.

13. As artes também contribuíram para a difusão da imagem da solteirona. Ao

longo do século XX, diversos escritores se dedicaram a essa personagem. Marques

Rebelo, em Oscarina (1931), criou Tia Almira, uma criatura rancorosa e desprezível.

Ondina Ferreira deu vida à Tia Carlota e à Tia Zulmira, em Enganoso é o Coração

(1959), e à casta e rígida Ágata, em Chão de Espinho (1955). Em A Primeira Pedra

(1953), Heloneida Studart criou Olímpia, uma quarentona que trabalhava no escritório

de uma empresa americana. Jorge Amado também teve suas solteironas, como as irmãs

Reis, de Gabriela, Cravo e Canela (1960); a Carmosina, simpática funcionária dos

correios, e a beata Cinira, que tinha arrepios sempre que via um homem sem camisa,

ambas de Tieta do Agreste (1977). Ainda mais populares foram as fofoqueiras irmãs

Cajazeiras, criadas por Dias Gomes para a peça teatral “O Bem-Amado”, nos anos

1960, e depois difundidas por todo o país na novela de mesmo nome (1973).

14. Mas, antes que as solteironas se tornassem fenômeno televisivo, duas figuras

bastante conhecidas, e de certa forma contraditórias, se destacaram na literatura

brasileira: a bondosa Clotilde, criação de Maria José Dupré, em Éramos Seis, e a

independente professora Conceição, personagem de Rachel de Queiroz em O Quinze.

15. Publicado originalmente em 1943, o romance da Sra. Dupré foi leitura

obrigatória para toda uma geração. Dois anos depois, já estava em sua quinta edição.

Posteriormente, foi publicado na série “Vaga-lume”, destinada ao público juvenil, e

transformado em novela televisiva, exibida pelo SBT na década de 1990. Narrada pela

protagonista Lola, a história se passa em São Paulo entre os anos de 1914 e 1942.

Clotilde, personagem secundária, é descrita como uma mulher religiosa, prendada,

corajosa, cheia de iniciativas, mas que vive em função da mãe doente, das irmãs casadas

e dos sobrinhos. A personagem é contraposta à irmã Lola, que tem “tudo”: casa própria,

marido e quatro filhos. Clotilde não tem nada, mas não é uma “inútil dependente”. Ela

sobrevive de seus próprios recursos como doceira. A personagem parece ter nascido

para celibatária, pois não há, no romance, nada que justifique sua solteirice. Clotilde é a

Page 130: Apostila LP1

130

solteirona funcional da família brasileira, aquela que foi “reservada” para cuidar dos

sobrinhos e dos pais idosos.

16. Já Conceição não se enquadra no perfil da solteirona tradicional. Até porque

era uma personagem de Rachel de Queiroz. Filha de uma família da aristocracia rural

nordestina, a autora causava polêmica por suas posições políticas e por um feminismo

avant la lettre. Lançou O Quinze aos 19 anos (1931), com enorme repercussão nacional.

Em seus romances, figuram as personagens femininas mais radicais da época, como a

própria Conceição, que “dizia alegremente que nascera solteirona”. Como tantas

mulheres daquele período, era uma professora que vivia na cidade e, embora

pertencesse a uma família tradicional do sertão, sobrevivia com seus próprios recursos.

Alegre, bonita, benevolente, inteligente e culta, interessava-se por assuntos como

feminismo e socialismo. Pelas leituras que fazia, por sua formação escolar e

profissional, pela “liberdade” e autonomia financeira de que desfrutava, Conceição era

exigente na avaliação dos pretendentes a marido. “Nunca achei quem valesse a pena”,

repetia sempre. O celibato foi sua escolha, como uma forma de assegurar a liberdade.

17. Mulheres como a professora instruída e emancipada de Rachel de Queiroz, ao

contrário da tia funcional Clotilde, eram vistas como um obstáculo ao sucesso e à plena

vigência dos modelos desejados de mãe/esposa/dona-de-casa. As solteironas eram um

elemento desestabilizador. Não só recusavam os papéis destinados a elas, mas

transitavam livremente pelos espaços de trabalho, governando suas vidas e seus

próprios bens. Por isso, eram retratadas como indesejáveis: incapazes de se converter na

“verdadeira mulher”, “ficaram para tia”, “torceram a natureza”, viraram “facão”. Era

principalmente para estas que se dirigiam os discursos de médicos, literatos, advogados

e religiosos, definindo a solteirona como ser desprezível, de quem se devia ter, no

máximo, misericórdia.

18. As pressões feministas a partir dos anos 1960 tornaram o casamento mais

igualitário. Duas leis contribuíram bastante para isso: o Estatuto da Mulher Casada

(1962) e a Lei do Divórcio (1977). A primeira aboliu da legislação o artigo que

afirmava a incapacidade da esposa perante a Justiça, estabelecendo, entre outras coisas,

o princípio do livre exercício de profissão. A segunda permitia o fim da sociedade

conjugal. A Revolução Sexual, também nos anos 1960, criou condições para que as

mulheres aos poucos se libertassem da rigidez de valores como a virgindade e a

castidade. Por fim, a criação da pílula anticoncepcional possibilitou a prática sexual fora

do casamento sem o risco de uma gravidez.

Page 131: Apostila LP1

131

19. Nessas condições, a imagem da solteirona começava finalmente a perder sua

razão de ser. Ao contrário do que ocorreu com nossas mães e tias, o casamento e a

maternidade estão deixando de ser o principal projeto de vida da mulher. Se, antes, o

sinônimo de felicidade e de realização pessoal era encontrar um bom marido, ter uma

casa confortável e filhos bonitos e educados, hoje, grande parte das mulheres deseja e dá

prioridadade à formação escolar, à carreira profissional e à vivência de variadas

experiências. Marido e filhos aparecem em segundo plano, e, em certos casos, há

mesmo uma rejeição à vida conjugal. As estatísticas têm mostrado que, cada vez mais,

as brasileiras se casam mais tarde e muitas sequer desejam ter filhos.

20. O próprio mercado já percebeu um bom filão nessa mudança de

comportamento. Construtoras investem em prédios de apartamentos menores com

serviços especializados. Supermercados apostam em porções e pratos individuais.

Agências de turismo montam pacotes para viajantes solitários. Foi criado até o “Dia do

Solteiro”, 15 de agosto. Em 2007, as propagandas, os jornais e cartões comemorativos

anunciaram que a data seria dedicada a se “badalar” e celebrar a solteirice.

21. A solteirona de hoje pode ser “bonitona e gostosona”, como diz a música de

uma famosa dupla sertaneja, a moça independente das piadas, que se recusa a ter

marido, a mulher livre que pode “ficar com quem quiser”, sem nenhum

constrangimento. Ao contrário de outras épocas, muitas mulheres – como fez a

precursora professora Conceição, de Raquel de Queiroz – assumem orgulhosamente a

condição de solteironas. Com o tempo, a recatada “tia velha” será apenas uma foto

desbotada na parede...

Cláudia de Jesus Maia é professora da Universidade Estadual de Montes Claros e autora

da tese A invenção da solteirona: conjugalidade moderna e terror moral – Minas

Gerais 1890-1948 (UNB, 2007).

Page 132: Apostila LP1

132

Prática de escrita

“Do costume de comer carne”26

Norbert Elias

1. Embora os fenômenos humanos – sejam atitudes, desejos ou produtos da ação

do homem – possam ser examinados em si, independentemente de suas ligações com a

vida social, eles, por natureza, nada mais são do que concretizações de relações e

comportamento, materializações da vida social e mental. Isso se aplica à fala, que nada

mais é que relações humanas transformadas em som, e também à arte, ciência,

economia e política, e não menos a fenômenos que se classificam como importantes em

nossa escala de valores e a outros que nos parecem triviais e insignificantes. Não raro,

são exatamente esses últimos, os fenômenos triviais, que nos dão introvisões claras e

simples da estrutura e desenvolvimento da psique e suas relações, que nos eram negadas

pelos primeiros. As atitudes do homem em relação ao consumo de carne, por exemplo,

são muito esclarecedoras no tocante à dinâmica das relações humanas e às estruturas da

personalidade.

2. Na Idade Média, as pessoas oscilam entre pelo menos três conjuntos de

comportamento no tocante à carne. Aqui, como em centenas de outros fenômenos,

notamos a extrema diversidade de comportamento característico da sociedade medieval,

em comparação com sua equivalente moderna. A estrutura social do medievo admite

bem pouco a difusão de modelos desenvolvidos em um centro social específico, pela

sociedade como um todo. Certos tipos de comportamento predominam por vezes no

seio de uma dada classe social por todo o Mundo Ocidental, ao passo que, em uma

diferente classe ou estamento3, o comportamento difere muito. Por essa razão, as

diferenças comportamentais entre classes distintas na mesma região são, muitas vezes,

mais acentuadas do que as existentes entre representantes regionalmente separados da

mesma classe social. E, se os tipos de comportamento passam de uma classe a outra, o

que decerto ocorre, o que mais os altera, radicalmente mesmo, é o isolamento maior ou

menor entre elas.

3. A relação com o consumo de carne oscila no mundo medieval entre os dois

pólos seguintes: por um lado, na classe alta secular, o consumo de carne é muito alto, se

26

ELIAS, Norbert. “Do costume de comer carne”. In: O processo Civilizador. Civilização como transformação do comportamento. São Paulo: Jorge Zahar, 1994. pp124-129.

Page 133: Apostila LP1

133

comparado com o padrão de nossos tempos. Prevalece a tendência de devorar

quantidades de carne que nos parecem fantásticas. Por outro, nos mosteiros, predomina

a abstenção ascética de toda carne, abstenção essa que resulta de auto-renúncia e não de

carência e é, amiúde, acompanhada de radical depreciação ou restrição à ingestão de

alimentos. Desses círculos partem manifestações de forte aversão à “glutonaria” de

leigos da classe alta.

4. O consumo de carne pela classe mais baixa, os camponeses, é também com

frequência muito limitado – não por necessidade espiritual ou por renúncia voluntária

por causa de Deus ou do além, mas por mera escassez. O gado é caro e, por isso mesmo,

destinado durante longo período apenas às mesas dos dominantes. “Se o camponês

criava gado”, dizia-se, “era principalmente para os privilegiados, a nobreza e os

burgueses”, não esquecendo os religiosos, que variavam do ascetismo a,

aproximadamente, o mesmo comportamento da classe alta secular. São limitados os

dados exatos sobre o consumo da carne pelas classes altas da Idade Média e no início da

era moderna. Havia, sem dúvida, grandes diferenças entre os cavaleiros e os grandes

senhores feudais. Com frequência, o padrão de vida dos cavaleiros mal se diferenciava

daquele em que viviam os camponeses.

5. Um cálculo do uso da carne de vaca em uma corte do norte da Alemanha em

data relativamente recente, o século XVII, indica um consumo de cerca de um quilo de

carne per capita ao dia, além de grandes quantidades de carne de caça, aves e peixes. As

especiarias desempenham papel importante, e as verduras, muito secundário. Outras

informações apontam mais ou menos na mesma direção. Mas o assunto precisa ainda

ser investigado em detalhe.

6. Já outra mudança pode ser documentada com mais exatidão. A maneira como a

carne era servida mudou consideravelmente da Idade Média até a época atual. É das

mais instrutivas a curva dessa mudança. Na casse alta medieval, o animal morto ou

grandes partes dele eram trazidos para a mesa. Não só peixes e aves inteiras, às vezes

com penas, mas, também, coelhos, cordeiros e quartos de veado aparecem na mesa, para

não mencionar pedaços maiores de carne de caça, porcos e bois assados no espeto.

7. O animal é trinchado à mesa. Esse é o motivo porque livros sobre boas

maneiras repetem, até o século XVII e, às vezes, até no século XVIII, que é importante

que o homem educado saiba trinchar bem. “Discenda a primis statim annis secandi

ratio...” (A maneira correta de trinchar deve ser ensinada desde os primeiros anos), diz

Erasmo em 1530.

Page 134: Apostila LP1

134

8. Quando servindo, instrui Courtin, em 1672,

a pessoa deve sempre dar a outrem a melhor porção e conservar para si a

menor, e em nada tocar, exceto com o garfo.Esse é o motivo por que, se uma

pessoa de alta categoria lhe pede algo que está à sua frente, é importante que

você saiba como cortar a carne com elegância e método e identificar os

melhores pedaços, a fim de poder servi-la com civilidade. A maneira de cortar

não é ensinada aqui, uma vez que se trata de assunto sobre o qual foram escritos

livros especializados, nos quais todas as peças são retratadas a fim de mostrar

onde a carne deve ser inicialmente segurada com um garfo para cortá-la, pois,

como dissemos acima, a carne nunca deve ser tocada (...) pela mão, nem

mesmo quando se a come; em seguida, onde a faca deve ser colocada para cortar

a carne; que pedaço deve ser separado inicialmente (...) qual o melhor pedaço e

o pedaço de honra que deve ser servido à pessoa de mais alta categoria presente.

É fácil aprender a trinchar depois de a pessoa ter frequentado três ou quatro

vezes uma boa mesa, e por essa razão não é vergonha pedir desculpa e deixar a

outrem a tarefa que não podemos realizar.

9. O equivalente alemão, o New vermehertes Trincier-Büchlein (Novo e ampliado

manual de trinchamento), impresso em Rintelen, em 1650, diz:

Uma vez que o cargo de trinchador em uma corte principesca não é

considerado o mais baixo, mas figura entre os mais respeitados, a pessoa que o

exerce deve, por conseguinte, ser ou da nobreza ou de outra boa origem, de

corpo espigado em bem proporcionado, bons e fortes braços e mãos ágeis. Em

todos os trinchos públicos, ela deve abster-se (...) de grandes movimentos e de

cerimônias inúteis e tolas (...) e tomar todo cuidado para não ficar nervosa, de

modo a não trazer desonra a si mesma por tremor do corpo e das mãos e porque,

de qualquer maneira, isso não cabe em mesas principescas.

10. O trincho e a distribuição da carne são honras especiais. A tarefa cabe em

especial ao dono da casa ou a hóspedes ilustres, a quem ele solicita que realize o

trabalho. “Os jovens e os de classe inferior não devem interferir no ato de servir, mas

Page 135: Apostila LP1

135

apenas aceitar o que lhes for entregue na sua vez”, diz a Civilité française anônima, de

1714.

11. No século XVII, o trincho da carne deixa gradualmente de ser, na aristocracia

francesa, uma perícia indispensável ao homem do mundo, tal como a caça, a esgrima e a

dança. O trecho citado de Courtin indica esse fato.

12. O fato de desaparecer gradualmente o costume de colocar na mesa grandes

pedaços de animal para serem trinchados liga-se a muitos fatores. Um dos mais

importantes talvez seja a redução gradual do tamanho da unidade familiar; como parte

do movimento de famílias mais numerosas para famílias menores; em seguida, ocorre a

transferência de atividades de produção e processamento, como fiação, tecelagem e

abate de animais, da casa para especialistas, artesãos, mercadores e fabricantes, que as

desempenham profissionalmente, enquanto a família torna-se basicamente uma unidade

de consumo.

13. Nesse caso, também, a tendência psicológica acompanha um processo social

mais amplo: hoje causaria repugnância a muitas pessoas se elas ou outras tivessem que

trinchar meio novilho ou um porco à mesa ou cortar a carne de um faisão ainda

adornado com suas penas.

14. Há mesmo des gens si délicats (pessoas tão delicadas) – pra repetir a frase de

Courtin com referência a um processo correlato –, para quem a visita de açougues, com

o corpo de animais mortos expostos, é sumamente desagradável, e outras que, por

sentimentos mais ou menos racionalmente disfarçados de nojo, se recusam

terminantemente a comer carne. Mas essas são novidades no patamar de repugnância

que ultrapassam o padrão de sociedade civilizada do século XX e, por isso mesmo, são

consideradas “anormais”. Não obstante, não podemos ignorar que foram progressos

desse tipo (se coincidiram com a direção do desenvolvimento social mais amplo) que

deram origem, no passado, a mudanças de padrão e que esse avanço específico no

patamar da repugnância encaminha-se na mesma direção seguida até então.

15. Essa direção é bem clara. A partir de um padrão de sentimento segundo o qual

a vista e o trincho de um animal morto à mesa eram coisas realmente agradáveis, ou

pelo menos não desagradáveis, o desenvolvimento levou a outro padrão pelo qual a

lembrança de que o prato de carne tem algo a ver com o sacrifício do animal é evitada a

todo custo. Em muitos dos nossos pratos de carne, a forma do animal é tão disfarçada e

alterada pela arte de sua preparação e trincho que, quando a comemos, quase não nos

lembramos de sua origem.

Page 136: Apostila LP1

136

16. Será mostrado que as pessoas, no curso do processo civilizatório, procuram

suprimir em si mesmas todas as características que julgam “animais”. De igual maneira,

suprimem suas características em seus alimentos.

17. Nessa área, igualmente, o desenvolvimento é tampouco uniforme em toda

parte. Na Inglaterra, por exemplo, onde muitos aspectos da vida as formas mis antigas

são mais preservadas do que no continente europeu, o ato de servir grandes pedaços de

carne (e com eles a tarefa, que cabe ao dono da casa, de trinchá-la e servi-la) sobrevive

sob a forma do “quarto”, com osso e tudo em maior extensão do que na sociedade

urbana da Alemanha e França. Não obstante, inteiramente à parte o fato de que o quarto

é em si uma forma muito reduzida da colocação na mesa de grandes pedaços de carne,

não deixou de haver reações a ele que assinalam o avanço do patamar da repugnância. A

adoção do “sistema russo” de maneiras à mesa na sociedade, em meados do último

século, foi um movimento nessa direção. “Nossos maiores agradecimentos ao novo

sistema”, diz um livro inglês sobre boas maneiras, The Habits of Good Society (1859),

“são merecidos por ter ele banido aquele barbarismo insuportável – o quarto de boi.

Coisa alguma pode fazer com que um quarto de boi pareça elegante, ao mesmo tempo

em que oculta o dono da casa e o condena ao sofrimento do trincho (...) A verdade é

que, a menos que nosso apetite seja muito voraz, a vista de tanta carne cheirando mal

em seu molho é suficiente para destruí-lo inteiramente, e um enorme quarto de animal

parece escolhido sob medida para repugnar o epicurista. Se absolutamente consumidos,

os quartos devem ser postos em uma mesa lateral, onde ficarão longe da vista” (p.314).

18. A tendência cada vez mais forte de remover o desagradável da vista aplica-se,

com raras exceções, ao trincho do animal inteiro.

19. O ato de trinchar, conforme demonstram os exemplos, outrora constituiu parte

importante da vida social da classe alta. Depois, o espetáculo passou a ser julgado

crescentemente repugnante. O trincho em si não desaparece, uma vez que o animal,

claro, tem que ser cortado antes de ser comido. O repugnante, porém, é removido para o

fundo da vida social. Especialistas cuidam disso no açougue ou na cozinha.

Repetidamente iremos ver como é característico de todo o processo que chamamos de

civilização esse movimento de segregação, esse ocultamento “para longe da vista”

daquilo que se tornou repugnante. A curva que decorre do trincho de grande parte do

animal ou do animal inteiro, passando pelo avanço do patamar da repugnância à vista

dos animais mortos, para a transferência do trincho a enclaves especializados por trás

das cenas, constitui uma típica curva civilizadora.

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20. Resta a ser investigado até que ponto processos parecidos são subjacentes a

fenômenos semelhantes em outras sociedades. Na antiga civilização chinesa, mais que

em qualquer outra, o ocultamento do ato de trinchar por trás das cenas foi efetuado mais

cedo e mais radicalmente do que no Ocidente. Na China, o processo é levado tão longe

que se trincha e corta toda carne em um lugar inteiramente reservado, e a faca é

completamente banida do uso à mesa.