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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS Curso: DIREITO 1º Semestre / 2007 Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA Créditos: 02 Carga Horária: 30 horas Professora: MARIA DAS GRAÇAS FERREIRA DE MEDEIROS A comunicação é uma necessidade básica do ser humano e, por confundir-se com a própria vida, não se tem consciência de sua fundamental importância. É por meio da comunicação diária com pais, irmãos, amigos e das relações diversas com pessoas em vários momentos da vida, que são transmitidos ao indivíduo os valores e padrões de sua cultura. Comunicar, então, é uma atividade intrínseca ao próprio ato de viver. Em cada ato de comunicação que realizamos diariamente, a língua é o código utilizado na maior parte das vezes, sustentando uma dinâmica social que engloba tanto as relações diárias entre os membros da comunidade, quanto as atividades intelectuais. A palavra falada ou escrita, desenhos, sinais de trânsito, gestos, são exemplos de formas (códigos) de comunicação, usadas na transmissão de uma mensagem de uma pessoa a outra. Qualquer mensagem precisa de um meio transmissor, chamado de canal de comunicação, que se refere a um contexto, a uma situação. São os seguintes os elementos da comunicação: Emissor: o que emite a mensagem; Receptor: o que recebe a mensagem; Mensagem: o conjunto de informações transmitidas; Código: a combinação de signos utilizados na transmissão de uma mensagem. A comunicação só se concretizará, se o receptor souber decodificar a mensagem; Canal de Comunicação: por onde a mensagem é transmitida: TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar...; e Referente: a situação a que a mensagem se refere, também chamado de contexto. Na linguagem coloquial, usamos as palavras conforme as situações que nos são apresentadas. Por exemplo, quando alguém diz a frase "Isso é um castelo de areia", pode estar atribuindo a ela sentido denotativo ou conotativo. Denotativamente significa "construção feita na areia da praia em forma de castelo"; conotativamente significa "ocorrência incerta, sem solidez". Denotação: É o uso do signo em seu sentido real. Ex.: Pedra é um corpo duro e sólido, da natureza das rochas. Conotação: É o uso do signo em sentido figurado, simbólico. Ex.: Você tem um coração de pedra . Para que seja cumprida a função social da linguagem no processo de comunicação, há necessidade de que as palavras tenham um significado, ou seja, que cada palavra represente um conceito. Essa combinação de conceito e palavra é chamada de ESO / DIREITO / LÍNGUA PORTUGUESA Profa. Maria das Graças Ferreira de Medeiros 1

Apostila Português jurídico

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS Curso: DIREITO 1º Semestre / 2007Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA Créditos: 02 Carga Horária: 30 horasProfessora: MARIA DAS GRAÇAS FERREIRA DE MEDEIROS

A comunicação é uma necessidade básica do ser humano e, por confundir-se com a própria vida, não se tem consciência de sua fundamental importância. É por meio da comunicação diária com pais, irmãos, amigos e das relações diversas com pessoas em vários momentos da vida, que são transmitidos ao indivíduo os valores e padrões de sua cultura. Comunicar, então, é uma atividade intrínseca ao próprio ato de viver.

Em cada ato de comunicação que realizamos diariamente, a língua é o código utilizado na maior parte das vezes, sustentando uma dinâmica social que engloba tanto as relações diárias entre os membros da comunidade, quanto as atividades intelectuais.

A palavra falada ou escrita, desenhos, sinais de trânsito, gestos, são exemplos de formas (códigos) de comunicação, usadas na transmissão de uma mensagem de uma pessoa a outra. Qualquer mensagem precisa de um meio transmissor, chamado de canal de comunicação, que se refere a um contexto, a uma situação.

São os seguintes os elementos da comunicação: Emissor: o que emite a mensagem; Receptor: o que recebe a mensagem; Mensagem: o conjunto de informações transmitidas; Código: a combinação de signos utilizados na transmissão de uma mensagem. A

comunicação só se concretizará, se o receptor souber decodificar a mensagem; Canal de Comunicação: por onde a mensagem é transmitida: TV, rádio, jornal, revista,

cordas vocais, ar...; e Referente: a situação a que a mensagem se refere, também chamado de contexto.

Na linguagem coloquial, usamos as palavras conforme as situações que nos são apresentadas. Por exemplo, quando alguém diz a frase "Isso é um castelo de areia", pode estar atribuindo a ela sentido denotativo ou conotativo. Denotativamente significa "construção feita na areia da praia em forma de castelo"; conotativamente significa "ocorrência incerta, sem solidez".

Denotação: É o uso do signo em seu sentido real. Ex.: Pedra é um corpo duro e sólido, da natureza das rochas.

Conotação: É o uso do signo em sentido figurado, simbólico. Ex.: Você tem um coração de pedra.

Para que seja cumprida a função social da linguagem no processo de comunicação, há necessidade de que as palavras tenham um significado, ou seja, que cada palavra represente um conceito. Essa combinação de conceito e palavra é chamada de signo. O signo lingüístico une um elemento concreto, material, perceptível (um som ou letras impressas) chamado significante, a um elemento inteligível (o conceito) ou imagem mental, chamado significado. Por exemplo, a "abóbora" é o significante - sozinha ela nada representa; com os olhos, o nariz e a boca, ela passa a ter o significado do Dia das Bruxas, do Halloween. Temos, portanto, o seguinte: Signo = significante + significado. Significado = idéia ou conceito (inteligível)

O emissor, ao transmitir uma mensagem, sempre tem um objetivo: informar algo, demonstrar seus sentimentos ou convencer alguém a fazer algo, entre outros; conseqüentemente, os elementos da linguagem passam a ter funções. Essa aparente multiplicidade pode ser sintetizada em seis funções ou finalidades básicas da linguagem:AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

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Quando queremos estabelecer comunicação com alguém, podemos usar a linguagem com diferentes objetivos, praticando diferentes funções, geralmente com predomínio de uma sobre a outra.

Função referencial

Esta função privilegia o referente, ou situação de que a mensagem trata, buscando transmitir informações objetivas, sem manifestações pessoais, opinativas ou persuasivas. Esta é a função que predomina nos textos científicos e jornalísticos, ou em textos onde há necessidade da informação ser reduzida ao mínimo essencial, como as mensagens telegráficas, avisos e comunicados. Outro exemplo de uso da função referencial é a redação de anúncios classificados dos jornais, nos quais são usadas apenas as palavras essenciais para dar as informações necessárias:

► Hoje está chovendo muito.► Chego amanhã vôo 436 PT Espero carona PT Lauro► A FAE comunica às indústrias e fornecedores que será adquirido o produto “feijão em pó

temperado”, para suprimento do Programa de Alimentação Escolar.► As Faculdades “Objetivo” informam que estão abertas as inscrições para cursos de férias.

Os interessados devem procurar a Coordenação Pedagógica.► Vende-se um microcomputador Semp Toshiba com processador Intel, memória SDRAM,

disco rígido Ultra DMA, Fax Modem 56 k. Seminovo. Valor a combinar.

Exercícios:

1. Escolha um objeto de uso cotidiano, como caneta, caderno ou eletrodoméstico e descreva-o de forma objetiva a partir dos aspectos mais importantes, como utilidade, praticidade etc, utilizando predominantemente a função referencial.

2. Escreva um anúncio de venda de um imóvel, ressaltando as vantagens do negócio de maneira objetiva (sem apelação ou emotividade).

3. Leia atentamente as chamadas de primeira página sobre o mesmo assunto, publicadas em jornais diferentes, procurando detectar os diferentes tratamentos dados às informações, apesar da aparente objetividade.1

Função Emotiva ou Expressiva

Outra forma de usar a linguagem é com o objetivo de expressar ou fazer suscitar sentimentos, emoções: amor, ódio, necessidade, susto, dor etc. Nesse caso a frase está centrada no próprio remetente, que manifesta sua posição pessoal diante de algo. A função emotiva é preferencialmente utilizada na poesia e na música, assim como na publicidade, estreitamente ligada à função apelativa (ou conativa).Compare as frases:

O chocolate branco é um alimento nutritivo, preferido por muitas pessoas. (referencial)Adoro chocolate branco! É tão nutritivo e saboroso! (expressiva)

“Gosto dos que têm fome

1 Adaptado de Infante, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação.

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Ministros se acusam de incompetentesJornal do Brasil

A 231 dias do final do governo Sarney, os ministros da Justiça, Oscar Corrêa, e da Fazenda, Maílson da Nóbrega, acusaram-se mutuamente de malograr no desempenho de suas tarefas. “Os índices inflacionários que estão aí são insuportáveis”, afirmou Corrêa. “Acho que o ministro deveria combater com mais rigor o contrabando”, reagiu Maílson. Segundo Corrêa, 25% de inflação “não é número que se apresente”. Segundo Maílson, Corrêa “até que se esforça”, mas não acaba com o contrabando.

Inflação alta provoca conflito entre ministros

O Estado de São Paulo

Os ministros da Justiça e da Fazenda, Oscar Dias Corrêa, Maílson da Nóbrega, trocaram farpas ontem ao comentar o aumento da inflação. Corrêa criticou a política econômica do governo e defendeu medidas drásticas para conter a disparada dos preços. “O governo deveria agir com maior violência”, afirmou. A resposta de Maílton não tardou: “O ministro poderia ser mais duro na sua luta para acabar com o contrabando no País”.

Corrêa Critica economia e Maílson cobra justiça

Folha de São Paulo

O ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, disse em Porto Alegre que queria ver Oscar Corrêa (da Justiça) combater o contrabando “com todo o vigor”. Maílson respondia a Corrêa que afirmara antes em Brasília: “A inflação é o grande mal do país”. Maílson sugeriu “medidas duras” contra o contrabando, parafraseando Corrêa, que pedira iniciativas rigorosas na área econômica.

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dos que morrem de vontadedos que secam de desejodos que ardem.” (Senhas, Adriana Calcanhoto)

Exercícios1. Apesar da aparente impessoalidade, o texto abaixo contém elementos expressivos (emotivos). Identifique-os e comente-os.

2. Escreva um pequeno texto manifestando a sua opinião sobre a “invasão” dos guardadores de carros nas ruas do centro de Manaus.

Função Apelativa ou Conativa

Podemos também usar a linguagem com atenção no destinatário com o propósito de persuadi-lo, ajustando a mensagem de acordo com o receptor ou destinatário. É a função Apelativa ou Conativa2. Nas mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o leitor, levando-o a adotar determinado comportamento, podendo essa persuasão ser construída de forma sutil.

Exercício:Utilize a função conativa em um texto destinado a adolescentes, persuadindo-os a se prevenirem de DST.

Função fática

O canal de comunicação é o meio pelo qual a mensagem vai do emissor ao receptor. No caso de textos escritos, a própria página é esse canal, pois a comunicação é estabelecida com base em sinais gráficos. A função fática prioriza justamente o canal de comunicação, enfatizando o uso de recursos gráficos, estilísticos e psicológicos, com o objetivo de prender a atenção do receptor. Os recursos psicológicos estão diretamente ligados à legibilidade e à atratividade do texto, assim como à facilidade para a sua decodificação.

2 Conativo vem do latim conãtus, que significa “esforço ou ação que procura impor-se a uma resistência”.

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Ensino e elitizaçãoFolha de São Paulo

A pesquisa divulgada pela Unicamp sobre a situação sócio-econômica dos candidatos a seus exames vestibulares lança luz sobre uma polêmica muitas vezes submersa no emocionalismo e na demagogia. Tendo adotado um vestibular com provas discursivas – que, sem dúvida, avaliam melhor o aluno do que os testes de múltipla escolha – a Unicamp se viu objeto de ataques ao conteúdo pretensamente “elitizante” do novo sistema. O levantamento indica que a mudança no vestibular não alterou significativamente o quadro social dos aprovados. Sem dúvida, continuam a provir, proporcionalmente, da par cela mais privilegiada da população. “A discriminação social está dada”, diz um dos realizadores da pesquisa, “e o vestibular não tem condições de dribá-la.”Com efeito: trata-se, antes de tudo, de melhorar a escola pública, assegurando igualdade de oportunidades a todos os vestibulandos; “facilitar” os exames, com base em algum argumento “antielitista”, seria apenas o rumo de uma maior deterioração da qualidade do ensino superior.

Todos os anos, o leitor da Gazeta Mercantil troca de carro.Freqüentemente, o leitor da gazeta Mercantil troca de som, de televisão, de videocassete, de relógio, de apartamento, de móveis.Muito freqüentemente, o leitor da Gazeta Mercantil troca de whisky, de vinho, de perfume.Quase todos os dias, o leitor da Gazeta Mercantil troca de restaurante, de avião, de hotel, de bar, de livro, de disco.Todos os dias, o leitor da gazeta mercantil troca de calça, de camisa, de gravata, de terno de blazer, de sapa de sapato, de meias.O leitor da Gazeta Mercantil só não troca de jornal. Se você não troca a classe A por nada, anuncie na Gazeta Mercantil.

EU VOCÊ.

Em pesquisa realizada em 15 capitais do país, o Ibope apurou de 75 dos eleitores votariam em

uma mulher para presidente.

O BRASIL ESTÁ MUDANDO. MUDE VOCÊ TAMBÉM.

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Excesso de palavras longas torna a leitura cansativa, enquanto que frases mais simples, em ordem direta, facilitam a leitura. A repetição de palavras, por outro lado, tanto pode prejudicar quanto ajudar na fixação da mensagem, dependendo do propósito do autor.Frases do tipo “Alô! Está me ouvindo?”; “Presta atenção agora...”; “Olha só...”, “Entende?”, “Sabe?...” têm exatamente a finalidade de dar ênfase a determinado aspecto da mensagem. Elas são comuns nas conversas ao telefone, nas cartas e até na comunicação oral, na qual contamos com outros auxiliares, como os olhos e as mãos (cutucar, pigarrear etc.).

Exercício:

1. No texto ao lado há elementosque evidenciam o uso da função fática. Identifique e comente a eficiênciadesses elementos.

2. Utilizando os recursos da função fática, redija um texto dirigido a crianças na faixa de 6 a 8 anos de idade, ressaltando a necessidade deobediência aos sinais de trânsito.

Função Poética

Podemos também usar a linguagem com funções estéticas. É a função poética da linguagem. A poesia, a literatura, a música popular são formas de uso especial da língua, em que se presta atenção à forma usada, escolha das palavras, ao ritmo das frases etc. Muitas vezes, chega-se criar novas palavras, que ajudem a expressar melhor o que o poeta ou compositor quer dizer. Nesse caso, a ênfase é na própria mensagem.Ao usar a função poética, podemos recorrer aos seguintes aspectos da língua:► rima;► repetição;► emprego de palavras com duplo sentido;► criação de palavras;► figuras de linguagem etc.

Exemplo:A paz invadiu o meu coraçãoDe repente me encheu de pazComo se o vento de um tufãoArrancasse meus pés do chãoOnde eu já não me enterro maisA paz fez o mar da revoluçãoInvadir meu destino, a paz

Gilberto Gil eJoão Donato.

Função metalingüística

Quando usamos o código lingüístico para explicar ou definir elementos do próprio código, estamos exercitando a função metalingüística. Essa função ocorre em diversas situações cotidianas, por exemplo, em solicitações como “o que você quer dizer?”

A função metalingüística é aquela que possibilita a um código – língua, sinais de trânsito, linguagem braile – referir-se a si mesmo. É a palavra comentando a palavra, o cinema falando do cinema, a pintura expressando a pintura. Com a finalidade de garantir que o falante e o ouvinte utilizem o mesmo código, a metalinguagem é usada em qualquer aprendizado de uma língua, nas gramáticas e nos dicionários. Podem-se fazer frases cujo objetivo básico é falar sobre a própria linguagem (definições,

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MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃOVÃO BEBER, BEBER ATÉ CAIR.

E DIRIGIR DEPOIS

Ei, você aí, que gosta de carnaval. Que faz questão de pular os quatro dias e as quatro noites. Nesta época do ano os acidentes de trânsito batem recordes assustadores, e acabam com o carnaval de muita gente. Divirta-se. Mas com responsabilidade.Verifique os freios, os amortecedores e os pneus do seu carro. Nas estradas, use cinto de segurança. Não dirija cansado e, principalmente, não beba antes de dirigir.Não dirija depois de beber. Não faça a sua quarta-feira mais cinzenta.Durante o carnaval, e sempre, seja prudente ao dirigir.

O Estado de São Paulo, fevereiro 1989

Exercício:

Utilize a função poética para falar de um objeto de uso diário (uma peça de roupa, um utensílio doméstico etc), e escreva um texto em forma de poema (pode ser com rima ou não).

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conceitos), por exemplo: Frase é qualquer enunciado lingüístico com sentido acabado; O adjetivo acompanha o substantivo e concorda com ele..................................................................

PALAVRAS E VOCABULÁRIO

Segundo Othon Garcia, “palavras são elos numa cadeia de idéias e intenções, interligadas umas às outras por íntimas relações de sentido: dissociá-las da frase é desprovê-las da camada do seu significado virtual, isto é, contextual.”

SEMÂNTICA é o estudo do significado das palavras. Divide-se a semântica em descritiva ou sincrônica, quando estuda a significação em determinado momento ou estado das palavras na língua (ex: o sentido da palavra rapariga, que em Portugal significa “moça do campo”, “moça jovem” e no Brasil tem sentido de “meretriz” em alguns Estados) ; e sincrônica ou histórica, quando busca entender as mudanças de significação por que passam as palavras no decurso do tempo (ex: vilão, antes “camponês”, hoje “bandido”; demagogo, antes “guia do povo”, hoje, “político desonesto”). Um texto é um conjunto de elementos e um conjunto de relações que cria um contexto, uma situação global. É o contexto que dá significação aos elementos, e é no contexto que palavras, frases e parágrafos ganham importância e significação.

A palavra não deve ser confundida com vocábulo, que é a unidade de vocabulário. Para que a unidade vocabular seja empregada adequadamente, é necessário que o seu valor semântico seja conhecido, razão pela qual o conhecimento do vocabulário é fundamental, entendendo-se este como o conjunto de vocábulos empregados em um texto, caracterizadores de uma atividade, técnica ou pessoa.

Uma palavra pode possuir vários sentidos quando empregada em diferentes contextos, chamando-se polissemia a essa variedade de significações. À propriedade de dois ou mais termos poderem ser empregados um pelo outro sem prejuízo de sentido dá-se o nome de sinonímia.Exemplo de polissemia: pena = sofrimento, padecimento; piedade, comiseração, dó; mágoa, desgosto; cominação legal imposta pelo Estado; sanção civil, fiscal ou administrativa; peça que reveste o corpo das aves, pluma; utensílio para escrever.

Dois termos são sinônimos quando um pode substituir o outro em um determinado enunciado e/ou quando esses termos são intercambiáveis em todos os contextos. Como isso é muito difícil de acontecer, costuma-se considerar sinônimos os termos intercambiáveis em contexto específico. Exemplo de sinonímia: dito conceituoso de cunho filosófico = adágio, aforismo, sentença, máxima, provérbio, refrão, apotegma, brocardo.

A hiponímia é considerada uma relação de inclusão de significados em subconjuntos. Por exemplo, no conjunto criminoso está incluso o subconjunto assassino, matador, pistoleiro, carrasco, bandido, celerado etc. A relação entre os termos vai depender do contexto, pois todo matador é um criminoso, mas nem todo criminoso é um matador.

Antonímia é a propriedade de dois ou mais termos apresentarem significações opostas, e homonímia ocorre quando duas ou mais palavras, embora diversas pela significação, apresentam a mesma estrutura fonológica. Ex: rio (acidente geográfico)/ rio (verbo rir); espera (substativo)/ espera (verbo); cozer (cozinhar)/ coser (costurar).

Paronímia é a circunstância da existência de parônimos, palavras que se assemelham quanto à forma, sem nenhuma relação de significado. Ex: infligir (aplicar) / infringir (transgredir); elidir (eliminar)/ ilidir (refutar); emergir (vir á tona) / imergir (mergulhar).

Exercício Sinonímia / Paronímia / Antonímia

Relacionar os PARÔNIMOS com o seu significado

Relacionar quanto à ANTONÍMIA

1. acessório

confirmar

1. pletórico prolixo

2. acoimar

contra a moral, libertino

2. descomedido modesto, sóbrio

3. amoral

aplicar pena ou castigo

3. Imanente necessário

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4. assessório

abastecer

4. dissuasivo estrito

5. assoar

laçada

5. sintético específico

6. assuar

deixar de sentir

6. conciso descoberto, patente

7. deferir

multar, incriminar, acusar

7. nômade espontâneo

8. degradado

indiferente à moral

8. inócuo juízo, sensatez

9. degredado

vaiar, apupar

9. contingente agravado

10. descriminar

estragado, rebaixado

10. acessório analítico

11. dessecar

desterrado, exilado;.

11. cogente moderado

12. dessentir

cortar

12. lauto suasório

13. dissentir

eliminar

13. insânia principal

14. destratar

conceder

14. genérico anêmico

15. diferir

tornar seco

15. isento atenuante

16. discriminar

divergir, discordar

16. lato lesivo

17. dissecar

limpar

17. agravante transcendente

18. distratar

adiar ou ser diferente

18. absconso sedentário

19. elidir

auxiliar

19. misantrópico gregário

20. emitir

que não é fundamental

Relacionar quanto à SINONÍMIA

21. escoimar

ignorante

1. supérsite pródigo

22. evocar

evidente

2. irrito negligente

23. flagrante

inchado

3. defeso incapaz

24. fluir

limpar o nariz

4. putativo tardio

25. fragrante

chamar

5. mandatário litisconsorte

26. fruir

preguiçoso, indolente

6. falaz imaginário

27. ignaro

incluso

7. conubial inautêntico

28. ignavo

refutar

8. dilapidador nulo

29. ilidir

absolver

9. sinalagmático matrimonial

30. imitir

gozar

10.apócrifo terminante, decisivo

31. imoral

Inculto, ignorante

11.colitigante sobrevivente

32. Incerto

correr

12.napto procurador

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33. Incipiente

recordar

13.desidioso enganador

34. incontinente

distinguir

14.serôdio contrato bilateral

35. incontinenti

duvidoso

15.peremptório doce, agradável, suave

36. Infligir

que é amamentado 16.iteração

licencioso, obsceno

37. infringir

puro, íntegro, incorrupto 17.subitâneo

mácula

38. inserto

demanda 18.lindeiro

poder, potência

39. insipiente

mulher que amamenta 19.pendenga

imprevisto, súbito

40. Intemerato

falto de moderação 20.pejado

soslaio

41. intimorato

trabalho 21.irresoluto

conflito, disputa

42. invocar

sem demora 22.esbulhado

titubeante, hesitante

43. latante

aromático 23.ferrete

obrigatório, imperativo

44. lactente

iniciante 24.fescenino

respeito, consideração

45. laço

suspender 25.inopinável

elogioso

46. lasso

por para dentro 26.inopino

Ignorante, tolo

47. lide

romper o trato 27.injuntivo

perspicaz, sagaz

48. lida

por em circulação, expedir 28.inópia

falta, escassez

49. prescrever

destemido, corajoso 29.esguelha

inconcebível

50. proscrever

censurar, notar defeito 30.esguardo

excessivo, demasiado

51. ratificar

frouxo 31.melífico

prudente, ajuizado

52. retificar

ordenar 32.potestade

lutador, guerreador

53. sortir

volumoso 33.apologético

limítrofe

54. surtir

estabelecer o preço 34.nímio

casto, puro

55. sustar

transgredir, violar desrespeitar 35.néscio

repleto, carregado

56. suster

banir 36.atinado

proibido

57. tachar

corrigir 37.solerte

rápido, repentino

58. taxar

ofender 38. pugnaz

repetição

59. vultoso

produzir efeito 39. pudico

espoliado

60. vultuoso

sustentar 40. insciente

ignorante, inepto

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ENRIQUECIMENTO DO VOCABULÁRIO

Dentre os vários modos de enriquecer o vocabulário e ampliar as possibilidades redacionais, a paráfrase e a amplificação constituem-se em recursos dos mais eficazes.

PARÁFRASE3

A paráfrase consiste no desenvolvimento explicativo ou interpretativo de um texto por meio de sua reestruturação. Corresponde a uma espécie de “tradução” do pensamento do autor, sem acréscimos, comentários, omissões e, tanto quanto possível, com outras palavras. A nova versão pode ser sucinta (não resumida) sem deixar de ser fiel ao original, devendo evidenciar o pleno entendimento do texto.

A paráfrase deve seguir, com o máximo de fidelidade e em linguagem clara, a ordem das idéias contidas no original, procurando-se não repetir as mesmas palavras e frases. Quando a paráfrase se constitui em uma “recriação” de um texto em termos mais simples, para facilitar a sua compreensão, dá-se o nome de metáfrase, geralmente utilizada na tradução de poesias.

Exemplo:Citação literal:Na opinião do escritor Amoroso Lima, “o homem possui espontaneamente o amor da luta. O temperamento másculo e belicoso. E afronta o perigo com um desassombro, que as mulheres, em regra, não possuem. Se bem que possuam, geralmente, mais coragem moral.”

Paráfrase:Segundo Amoroso Lima, o temperamento do homem tende mais à belicosidade. O homem desafia o perigo com uma disposição que a mulher geralmente não tem, embora esta, em contrapartida, demonstre possuir mais coragem moral.

AMPLIFICAÇÃO

Consiste essencialmente em repetir, alongar, uma idéia ou tema por meio de metáforas, analogias, ilustrações, redundância (não exagerada) e outros recursos estilísticos, como forma de exercitar a criatividade e os recursos de expressão.

Exemplo:

Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta é uma opção. É tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida, um apelo uma ocasião de amar sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece sob o prazer. (Lionel Bellenger, Os Métodos de Leitura).

Neste texto a idéia-núcleo de “ler” é amplificada por associações, assim como o texto de Rui Barbosa, no qual se desenvolve a idéia-núcleo de “pátria”:

A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito às idéias, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, a língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não infamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não delatam, os que não emudecem, os que não se acobardam, mas resistem, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo.

É preciso ter cuidado para que a amplificação não degenere em tautologia, que é a repetição exagerada da mesma idéia, às vezes por meio da simples inversão (o mar é belo, é belo o mar), ou em roupagem diferente, ou seja, repetir uma idéia com palavras diferentes.

3 Adaptado de GARCIA, Othon. Comunicação em Prosa Moderna.

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1. Elo de ligação2. Acabamento final3. Certeza absoluta4. Número exato5. Quantia exata6. Sugiro, conjecturalmente7. Nos dias 8, 9 e 10, inclusive8. Como prêmio extra9. Juntamente com10. Em caráter esporádico11. Expressamente proibido12. Terminantemente proibido13. Em duas metades iguais14. Destaque excepcional15. Sintomas indicativos16. Há anos atrás17. Vereador da cidade18. Relações bilaterais entre dois países19. Outra alternativa20. Detalhes minuciosos21. A razão é porque22. Interromper de uma vez23. Anexo(a) junto a carta24. De sua livre escolha25. Superávit positivo26. Vandalismo criminoso27. Todos foram unânimes28. A seu critério pessoal29. Palavra de honra30. Conviver junto31. Exultar de alegria32. Encarar de frente33. Comprovadamente certo34. Fato real35. Multidão de pessoas

36. Amanhecer o dia37. Criação nova38. Retornar de novo39. Freqüentar constantemente40. Empréstimo temporário41. Compartilhar conosco42. Surpresa inesperada43. Completamente vazio44. Colocar algo em seu respectivo / devido

lugar45. Escolha opcional46. Continua a permanecer47. Passatempo passageiro48. Atrás da retaguarda49. Planejar antecipadamente50. Repetir outra vez51. Sentido significativo52. Voltar atrás53. Abertura inaugural54. Pode possivelmente ocorrer55. A partir de agora56. Última versão definitiva57. Obra-prima principal58. Gritar / bradar bem alto59. Propriedade característica60. Comparecer em pessoa61. Colaborar com uma ajuda/ auxílio62. Matiz cambiante63. Com absoluta correção/exatidão64. Demasiadamente excessivo65. Individualidade inigualável66. A seu critério pessoal67. Abusar demais68. Exceder em muito69. Preconceito intolerante70. Medidas extremas de último caso

Exercícios 1. Experimente fazer uma paráfrase do trecho abaixo. Perceba que há dentro do texto diversas naturezas de relações entre idéias: ora contradição (antítese ou oposição), ora comparação, ora explicação. Além disso, perceba que o primeiro período do parágrafo resume sua idéia central, por isso é chamado de seu tópico frasal. Faça sua paráfrase respeitando a posição e o sentido do tópico frasal e atentando para o caráter exato das relações entre as idéias.

O teatro, longe de ser apenas veículo da peça, instrumento a serviço do autor e da literatura, é uma arte de próprio direito, em função da qual é escrita a peça. Esta, em vez de servir-se do teatro, é ao contrário material dele. O teatro a incorpora como um de seus elementos. O teatro, portanto, não é literatura, nem veículo dela. É uma arte diversa da literatura. O texto, a peça, literatura enquanto meramente declamados, tornam-se teatro no momento em que são representados, no momento, portanto, em que os declamadores, através da metamorfose, se transformam em personagens. A base do teatro é a fusão do ator com a personagem, a identificação de um eu com outro eu — fato que marca a passagem de uma arte puramente temporal e auditiva (a literatura) ao domínio de uma arte espaço-temporal ou audiovisual. O status da palavra modifica-se radicalmente. Na literatura são as palavras que medeiam o mundo imaginário. No teatro são os atores/personagens (seres imaginários) que medeiam a palavra. Na literatura a palavra é a fonte do homem (das personagens). No teatro o homem é a fonte da palavra.ROSENFELD, Anatol. Prismas do teatro. Ed. Perspectiva, pp. 22-3.

2. O texto seguinte é figurativo. Para fazer sua paráfrase, procure perceber a ordem dos eventos, além de relações como a comparação e a oposição revelada entre certas idéias.

Ergui-me, tateei a roupa no encosto da cadeira, tirei dos bolsos cigarros e fósforo, debrucei-me à janela, fiquei longamente a olhar o pátio escuro, fumando. Como iria comportar-me? Se me dessem tempo

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suficiente para refletir, ser-me-ia possível juntar idéias, dominar emoções, ter alguma lógica nos atos e nas palavras, exibir a aparência de um sujeito mais ou menos civilizado. Mas na situação nova que me impunham, fervilhavam as surpresas, e diante delas ia decerto confundir-me, disparatar, meter os pés pelas mãos. Ali em baixo, a alguns metros de distância, dois vultos, ladeando um portão, semelhavam pessoas embuçadas, gigantes embuçados. Que seriam? Pilares? Deviam ser pilares. Afastei-me, passeei cauteloso, abafando os passos, temendo esbarrar nas cadeiras.RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. José Olympio, 1.º vol., p.52.

3. Com o texto seguinte, extraído do livro O Caráter Nacional Brasileiro, de Dante Moreira Leite, você fará dois exercícios:a) uma paráfrase;b) um aumento do texto (amplificação), inserindo alguns dados ou idéias novas, que se relacionem com os elementos originais do texto.

Embora em certos momentos possam reunir-se, racismo e nacionalismo são conceitos independentes, pois o primeiro apresenta — mesmo quando deformado ideologicamente — um conteúdo biológico, enquanto o segundo tem conteúdo histórico, cultural e político. De um ponto de vista rigorosamente nacional, isto é, que procure englobar toda a população, o conceito de raça é destrutivo, dadas as evidentes diferenças raciais existentes em todos os países. De forma que o racismo, antes de ser uma ideologia para justificar a conquista de outros povos, foi muitas vezes uma forma de justificar diferenças entre classes sociais.

....................................................

Indicação de circunstâncias e relações entre as idéias4

Para expressar de várias maneiras a mesma idéia e/ou as relações entre idéias, a língua dispõe de certos padrões de estruturas frasais, estudados na análise sintática por meio de modelos. Essas estruturas serão trabalhadas aqui pela associação natural de idéias, utilizando-se os moldes frasais adequados à sua expressão. Alguns desses padrões de estruturas frasais serão examinados de modo prático e objetivo neste resumo.

Segundo Garcia5, um grupo de palavras faz parte da mesma área semântica quando, num determinado contexto, têm sentido equivalente ou traço semântico que as aproxime, seja por analogia, similaridade, contigüidade ou causalidade. Muitas palavras, em certas situações, portanto, podem fazer parte da mesma área semântica, o que não significa que sejam sinônimas. As circunstâncias indicadas a seguir, serão trabalhadas a partir de vocabulário específico da área semântica de cada circunstância ou idéia.

CAUSA

Vocabulário da área semântica de causaa) substantivos: motivo, razão, explicação, pretexto, mola, desculpa, móvel, fonte, mãe, raízes,

berço, base, fundamento, alicerces, germe, embrião, semente, gênese, o porquê, etc.b) verbos: causar, gerar, originar, produzir, engendrar, parir, acarretar, provocar, motivar etc.c) conjunções: porque, pois, por isso que, já que, visto que, uma vez que, porquanto, etc.d) preposições e locuções: a, de, desde, por, per; por causa de, em vista de, em virtude de, devido

a, em conseqüência de, por motivo de, por razões de, à míngua de, por falta de, etc.

CONSEQÜÊNCIA, FIM, CONCLUSÃO

Vocabulário da área semântica de conseqüência, fim e conclusão

I. Fim, propósito, intenção a) substantivos: projeto, plano, objetivo, finalidade, desígnio, desejo, desiderato, alvo, meta, intuito,

pretensão, aspiração, anseio, ideal, escopo, fito intento etc.

4 Compilado de GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 20 ed. Rio de Janeiro : FGV, 2001.5 Idem.

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b) verbos: desejar, almejar, aspirar, alimentar esperanças, ansiar, intencionar, planejar, projetar, pretender, estar resolvido a, decidido a, ter em mente, ter em vista, ter em mira, etc.

c) partículas e locuções: com o propósito de, com a intenção de, com a fim de, com o intuito de, de propósito, propositadamente, intencionalmente (além das preposições para, a fim de, e as conjunções finais).

II. Conseqüência, resultado, conclusão a) substantivo: efeito, produto, seqüência, corolário, decorrência, fruto, filho, obra, criação, reflexo,

desfecho, desenlace etc.b) verbos: decorrer, derivar, provir, vir de, manar, promanar, resultar, seguir-se a, ser resultado de,

ter origem em, ter fonte em, etc.c) partículas e locuções: pois, por isso, por conseqüência, portanto, por conseguinte,

conseqüentemente, logo, então, por causa disso, em virtude disso, devido a isso, em vista disso, visto isso, à conta disso, como resultado, em conclusão, em suma, em resumo, enfim.

TEMPO E ASPECTO

Aspecto é a representação mental que o sujeito falante faz do processo verbal como duração; é modalidade da ação, a sua maneira de ser, não devendo ser confundido com o modo verbal propriamente dito.

III. Perífrases (ou locuções verbais) denotadoras de aspecto

a) Duração (progressão, decurso, freqüência) – trata-se do aspecto durativo, que frisa a continuidade ou duração do processo da ação, que pode intensificar-se (aspecto progressivo) ou desenvolver-se simplesmente (aspecto cursivo). Expressa-se pelo verbo auxiliar estar (ou outros que ocasionalmente exerçam sua função, como andar, viver, continuar, ficar, ditos auxiliares modais ou aspectuais), seguido por um gerúndio ou um infinitivo regido pela preposição “a” (esta construção mais comum em Portugal) Ex: estou trabalhando (estou a trabalhar); ele anda falando mal de você; ela vive reclamando; nós continuamos esperando

b) Iteração (repetição) – variante da duração. São usados os auxiliares tornar a, voltar a, e seus equivalentes: tornou a dizer; voltou a tocar no assunto. O prefixo re- muitas vezes acrescenta ao radical a idéia de repetição: refazer, reler, retransmitir.

c) Incoação – idéia de ação iniciada e ainda não concluída. Expressa numa perífrase com o auxiliar começar a (ou equivalente), seguido de infinitivo: eles começaram a discutir. O sufixo –ecer ou –escer tem sentido incoativo: amanhecer, envelhecer, amadurecer, convalescer, recrudescer etc.

d) Cessação (ou termo de ação recente) – usam-se, geralmente, os auxiliares aspectuais acabar de, cessar de, deixar de, parar de: só acabou de escrever a carta hoje; o coração cessou de bater; ele acaba de chegar.

e) Causação – para expressar a idéia de que uma acão é causa de outra, emprega-se o verbo fazer seguido de um infinitivo ou de uma oração substantiva, regida ou não pela preposição com: ele fez (com) que eu me arrependesse; você está fazendo o menino chorar. Também o verbo mandar pode exercer a função causativa, ou se confunde com o de obrigação: mandei a turma sair.

f) Obrigação, compromisso, necessidade – uso dos auxiliares ter de, precisar de, necessitar de (sentido de obrigação e necessidade) e haver de (compromisso): eu tenho de sair; necessito de seus préstimos; hei de conseguir o que desejo; hei de pagar.

g) Volição (desejo, vontade ou intenção- aspecto desiderativo, volitivo ou intencional) – auxiliar típico querer: muitos querem saber, mas poucos querem estudar. Equivalentes, auxiliares desejar, pretender, propor: não desejo prejudicar ninguém; pretendo ser útil; ele se propôs a concluir o trabalho

h) Permissão – auxiliares comuns deixar, permitir e autorizar : “não nos deixeis cair em tentação”; não permita Deus que eu sucumba; autorizou-me a entrar em seu gabinete.

i) Possibilidade e capacidade (aspecto potencial) – uso dos verbos poder e saber: nem todos sabem o que querem; poucos podem fazer o que desejam.j) Conação – exprime o esforço, a tentativa, o impulso ou o movimento para realizar determinada ação. O auxiliar mais empregado é tentar, mas usa-se também ir e vir em sentido similar: o velho tentou responder; vamos ver o que é possível fazer; vou me preparar para os exames.

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k) Iminência – expressa a idéia de ação próxima ou iminente, com o uso dos verbos ir e estar para seguidos de infinitivo: ele vai casar; ele está para casar. O verbo ir seguido de gerúndio pode expressar iminência: o carro ia atropelando o menino; ou progressão: ele vai indo bem; vai vencendo graças ao seu esforço.

l) Resultado ou termo de uma ação – uso dos auxiliares aspectuais acabar por, chegar ao ponto de, vir a seguidos de infinitivo ou gerúndio (no caso de acabar): no ardor da discussão, acabaram por (chegaram a, chegaram ao ponto de) se agredir (ou acabaram se agredindo);

TEMPO, PROGRESSÃO E OPOSIÇÃO

A idéia de progressão, simultaneidade na progressão, traduz-se com o auxílio das conjunções proporcionais à medida que, à proporção que, ao passo que: aprendemos à medida em que vivemos. Ao passo que suscita às vezes idéia de oposição: ao passo que ia envelhecendo, diminuía a vontade.

As mais importante partículas denotas de tempo são as conjunções e locuções conjuntivas, que exprimem:

a) tempo anterior: antes que, primeiro queb) tempo posterior: depois que, assim que, logo quec) tempo imediatamente posterior: logo que, ma, apenasd) tempo simultâneo ou concomitante: quando, enquantoe) tempo terminal ou final: até que, até quandof) tempo inicial: desde que, desde quandog) ações reiteradas ou habituais: cada vez que, toda vez que, todas as vezes que, sempre que

Vocabulário da área semântica de tempo

a) tempo em geral: idade, era, época, período, ciclo, fase, temporada, prazo, lapso de tempo, instante, momento, minuto, hora...

b) fluir do tempo: o tempo passa, flui, corre, voa, escoa-se, foge...c) perpetuidade: perenidade, eternidade, duração eterna, permanente, contínua, ininterrupta,

constante, tempo infinito, interminável, infindável, sempre, duradouro, indelével, imorredouro, imperecível...

d) longa duração; largo, longo tempo, longevo, marcróbio, Matusalém...e) curta duração: tempo breve, curto, rápido, instantaneidade, pressa, rapidez, ligeireza, efêmero,

relance, momentâneo, precário, provisório, transitório, passageiro, presto...f) cronologia, medição, divisão de tempo: cronos, calendário, folhinha, almanaque, cronometria,

relógio, milênio, século, centúria, década, lustro, qüinqüênio, triênio, biênio, ano, mês, dia, tríduo, trimestre, bimestre, semana, anais, ampulheta...

g) simultaneidade: durante, enquanto, ao mesmo tempo, simultâneo, contemporâneo, coexistente, coincidência, coetâneo, ao passo que, à medida que...

h) antecipação: antes, anterior, primeiro, antecipadamente, prioritário, primodial, prematuro, primogênito, antecedência, precedência, prenúncio, preliminar, véspera...

i) posteridade: depois, posteriormente, a seguir, em seguida, sucessivo, por fim, afinal, mais tarde, póstumo...

j) intervalo: meio tempo, interstício, ínterim, entreato, interregno, pausa, entrementes...k) tempo presente: atualmente, agora, já, neste instante, modernamente, hodiernamente, este ano,

este século, hoje...l) tempo futuro: amanhã, futuramente, porvir, porvindouro, em breve, dentro em pouco,

proximamente, iminente, prestes ª..m) tempo passado: remoto, distante, pretérito, tempos idos, outros tempos, priscas eras, outrora,

antigamente...n) freqüência: constante, habitual, costumeiro, usual, corriqueiro, repetição, repetidamente,

tradicional, amiúde, com freqüência, ordinariamente, muitas vezes...o) infrequencia: raras vezes, raro, raramente, poucas vezes, nem sempre, ocasionalmente,

acidentalmente, esporadicamente, inusitado, insólito, de quando em quando, de vez em vez, de vez em quando, de tempos em tempos, uma vez que...

CONDIÇÃO

As orações condicionais mais comuns podem expressar:

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a) um fato de realização impossível (hipótese irrealizável): se me tivessem convidado, teria ido.b) um fato cuja realização é possível, provável ou desejável: se me convidarem, irei.c) desejo, esperança, pesar: se eu soubesse! Se ele deixassse!

A conjunção condicional típica “se” exige o verbo quase sempre no infinitivo: Se não me ouvem, calo-me; se não de acautelas, corres o risco de ferir-te; se não queres ir, não vás.

A conjunção “caso” exige modo subjuntivo: irei, caso me convidem.

“Contanto que” dá à condição um valor mais imperativo: Irei, contanto que me convidem.

As conjunções “uma vez que”, “desde que”, “dado que” equivalem a “contanto que” quando o verbo da oração está no subjuntivo: Irei, desde que me convidem.

Com o valor negativo, “sem que” é sinônimo de “se não”, tornando a condição mais imperiosa: Não irei sem que me convidem. Nesse sentido, pode-se empregar “a menos que”: não irei, a menos que me convidem.

O adjunto adverbial de condição é normalmente introduzido pela preposição “sem”, quando a principal é negativa: não irei sem que me convidem. Sendo a oração afirmativa, a locução em que entra o “sem” passa a ter valor concessivo: irei sem convite.

Também a preposição acidental “mediante” pode introduzir um adjunto adverbial de condição, quando acompanhada de uma partícula intensiva: só irei mediante convite.

OPOSIÇÃO E CONCESSÃO

As expressões denotadoras de oposição e concessão são estabelecidas por contrastes e analogias, traduzindo-se principalmente em antíteses.

AntíteseConsiste em opor a uma idéia outra de sentido contrário: A riqueza envilece os homens, a pobreza, os enobrece. / Aquele que se eleva será rebaixado. / A morte é a porta para a vida.

Para expressar concomitância de ações, fatores ou atributos que se opõem, pode ser utilizada uma construção em que entram a conjunção “se” e os adjuntos adverbiais “por um lado” e “por outro”: Se, por um lado, os filhos nos causam alegria, por outro, nos enchem de preocupações.

Orações coordenadas pela conjunção “mas”, acompanhada pela partícula “também”, assim como a conjunção “ao passo que”, têm o mesmo efeito: Os filhos nos causam alegria, mas também preocupações./ Os tolos falam o que não sabem, ao passo que os sábios calam o que sabem.

Vocabulário da área semântica de oposição

a) substantivos: antagonismo, polarização, tendência contrária, reação, resistência, competição, hostilidade, ânimo hostil, animosidade, antipatia, relutância, teimosia, rivalidade, pirraça, contraposição, contradição, obstáculo, empecilho, óbice, muralha, trincheira, represa, impedimento, contrapeso, contratempo, contrariedade, objeção...;

b) verbos: defrontar-se com, ir de encontro a, ser contrário a, fazer frente a, enfrentar, reagir, embargar, impedir, obstar, objetar, travar, frear, refrear, opor-se a, contrapor-se a ...;

c) adjetivos: contrário, oposto, oponente, antagônico, relutante...;d) preposições, locuções prepositivas e adverbiais: apesar de, a despeito de, sem embargo de, não

obstante, malgrado, ao contrário, pelo contrário, em contraste com, em oposição a, contra, às avessas...;

e) conjunções adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, senão, não obstante...;

f) conjunções subordinativas (na maioria concessivas): embora, se bem que, ainda que, posto que, conquanto, em que pese a, muito embora, mesmo que, mesmo assim, enquanto, ao passo que...;

g) prefixos latinos: contra-, des-, in- (seguido de radical nominal);h) prefixos gregos: anti-, a-, an-.

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COMPARAÇÃO E SÍMILE

Alguns autores distinguem a comparação propriamente dita (gramatical) da comparação metafórica ou símile. O símile se distingue da simples comparação por ser um exagero, uma hipérbole: Fulano é forte como um touro. Recursos expressivos de comparação:

Metáfora Comparação implícita, destituída de partículas conectivas comparativas (como, tal, qual, tal como) ou não estruturada numa frase cujo verbo seja parecer, semelhar, assemelhar-se, sugerir, dar a impressão de ou equivalente: O amor é fogo que arde sem doer / (o amor) é ferida que dói e não se sente...

Embora predominem as metáforas constituídas por substantivos, são freqüentes também as que se fazem com adjetivos (palavras torrenciais, voz cristalina, silêncio sepulcral, dia sonolento) ou com verbos (o dia nascia, a tarde morria, as artes florescem, o regato murmura, a ondas beijam a praia). Também os advérbios admitem metaforização: O adversário reagiu leoninamente.

CatacreseTal como a metáfora, a catacrese se baseia numa relação de similaridade, mas a diferença desta última é que a catacrese, além de estender o sentido de uma palavra além do seu âmbito estrito e habitual, deixa de ser sentida como metáfora, dado o seu uso corrente. É a metáfora tornada hábito lingüístico.

Se não se dispõe de palavra própria para designar uma coisa, cria-se um neologismo ou aproveita-se palavra já existente que designe coisa semelhante, como perna (ou pé) da mesa. Assim, faz-se catacrese quando se diz: enterrar uma agulha na pele (pele não é terra); embarcar no trem (trem não é barco), espalhar dinheiro (dinheiro não é palha), o avião aterrissou no mar (mar não é terra), o azulejo é branco (azulejo deveria ser sempre azul), sacar dinheiro do banco (banco não é saco), encaixar uma idéia na cabeça (cabeça não é caixa), amolar a paciência (paciência não é instrumento cortante) ou, ainda, bico da pena, folha de zinco, braço da cadeira etc.

Há, ainda, certos clichês metafóricos, que podem ou não ser catacreses, muito utilizados na língua corrente. Ex:Partes do corpo humano: boca do túnel, olho d’água, cabeça do prego, cabelo do milho, língua de fogo, mão de direção, pé de árvore, dente de alho, braço de rio, palma de banana, barriga da perna, costas litorâneas, coração da floresta, miolo da questão, ventre da terra, olho do furacão etc.Coisas, objetos e utensílios da vida cotidiana: tapete de relva, cortina de fumaça, espelho da alma (olhos) roda da vida, berço da nacionalidade, leito do rio, laços matrimoniais etc.Animais: ela é uma víbora, uma piranha, uma raposa, uma fera, ele é um touro, uma águia, uma besta, um quadrúpede, uma mula, um cão etc.Vegetais: ela é uma flor, tronco familiar, raízes da nacionalidade, ramo das ciências, árvore genealógica, maçã do rosto, fruto da imprevidência, pomo da discórdia...Fenômenos físicos, aspectos da natureza, acidentes geográficos: aurora da vida, ocaso do homem, explosão de sentimentos, torrente de paixões, vale de lágrimas, monte de asneiras, montanha de papéis, tempestade de injúrias etc.

ParábolaÉ uma espécie de analogia que sugere por analogia ou semelhança uma conclusão moral ou uma regra de conduta em determinado caso.Chama-se “corpo” da parábola a narrativa imaginada, e “alma” à lição moral que dela se tira. Ex:“Como vês a palha no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu? Ou como ousas dizer a teu irmão: deixa que eu tire a palha do teu olho, tendo tu uma trave no teu? Hipócrita: tira primeiro a trave do teu olho, e então tratarás de tirar a palha do olho do teu irmão.” (Mateus, VII, 3-5)Animismo ou personificaçãoSão metáforas constituídas por palavras que denotam ações, atitudes ou sentimentos próprios do homem, mas aplicadas a seres ou coisas inanimadas: o sol nasce, o dia morre, o mar sussurra, as ondas estão raivosas, o dia triste, as árvores cochilam, as águas carregam queixas...

ClichêsSão metáfora estereotipadas, vulgarizadas pelo uso, sem força expressiva: luar prateado, silêncio sepulcral, aurora da vida, flor dos anos, página da vida...Não se deve confundir o clichê metafórico com a frase-feita (ditados, locuções populares), do tipo: alhos e bugalhos, onde a porca torce o rabo, coisas do arco-da-velha, falar com os seus botões, cavalo de batalha, cobras e lagartos, fôlego de sete gatos etc, que refletem a filosofia e os costumes populares de determinado grupo social.

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SinestesiaConsiste em atribuir a uma coisa qualidade que ela não pode ter, senão figuradamente. P. ex: doce e amargo são sensações do paladar, esperança e decepção são sentimentos; Quando se cruzam há sinestesia: doce esperança, amarga decepção, voz fina, cor berrante, voz áspera, sombra macia,olhar duro etc.

MetonímiaDesigna relações reais de ordem qualitativa: como do autor pela obra (ler Machado de Assis), do nome de divindades por suas funções (Ela é uma Vênus = beleza; O cupido o pegou = amor), do atributo notório de uma pessoa por ela mesma (o mártir da independência = Tiradentes), do continente pelo conteúdo (a cidade dormia = seus moradores; todo o mundo sabe disso = as pessoas que vivem no mundo; foi um ano triste = fatos ocorridos durante o ano), do nome de lugar pela coisa ali produzida (uma garrafa de porto = cidade do Porto; um cálice de madeira = ilha da Madeira), da causa pelo efeito ( ganhar a vida = os meios de vida; viver do seu trabalho = dos frutos do trabalho), do abstrato pelo concreto (burlar a vigilância = os vigilantes; se dar bem com a vizinhança = com os vizinhos), do concreto pelo abstrato (ele tem cérebro = inteligência; você não tem coração = bondade, bons sentimentos;

SinédoqueDesigna relações reais de ordem quantitativa, empregando-se: a parte pelo todo (mil cabeças de gado = mil reses; dez bocas a alimentar = dez pessoas; falta-lhe um teto= casa, moradia), do todo pela parte (a cidade está um lixo = parte da cidade); do gênero pela espécie (os mortais = os homens); da espécie pelo gênero (do Mediterrâneo admiro a beleza, do Cáspio, a fúria = mares); do indivíduo pela classe (é um Cícero – grande orador; é um Dom Quixote = um idealista; é uma Capitu = uma dissimulada); da matéria pelo artefato (tangem os bronzes = sinos de bronze; quinteto de metais = instrumentos de metal); do singular pelo plural e vice-versa (o brasileiro é cordial = os brasileiros; o homem é um ser racional = os homens).

Antonomásia Consiste em substituir um nome próprio por um comum ou vice versa. Normalmente o nome comum expressa um atributo notório da pessoa: o Poeta dos Escravos (Castro Alves); O Salvador (Cristo); o Cavaleiro da Triste Figura (D. Quixote).

O TEXTO DISSERTATIVO

Na dissertação, segundo Garcia6, “expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de determinado assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser”. Não há, em princípio, propósito de argumentar ou combater idéias. A dissertação presta-se principalmente a expor, explanar, explicar ou interpretar idéias.

Dissertar é um ato desenvolvido diariamente, quanto se procura justificativa para o custo de vida, questiona-se as práticas ilícitas, expressa-se preocupação com a segurança. A dissertação implica discussão de idéias, raciocínio, organização do pensamento e reflexão. A estrutura básica do texto dissertativo está baseada em três partes constitutivas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Consiste na apresentação de um assunto de forma ordenada, com proposta preferencialmente demonstrativa.

Para compor um bom texto, dois requisitos são fundamentais: ter o que dizer (conteúdo) e saber dizer (organizar o pensamento de forma lógica, clara e coerente). O trabalho de escrever o texto fica mais fácil se, antes de iniciar a redação, o redator já tiver analisado o tema, refletido sobre o mesmo e organizado as idéias que comporão o texto. Depois do levantamento de idéias, da delimitação do tema (escolha de um aspecto a ser abordado dentro do tema geral), definição do objetivo (o que se pretende com o texto), e seleção dos pontos a serem desenvolvidos, a redação propriamente fica mais fácil.

Esquematicamente, as etapas necessárias para a composição organizada de um texto são:

6 GARCIA, Othon. Comunicação em Prosa Moderna.

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1) Escolha ou definição do tema (assunto)2) Registro das idéias3) Delimitação do assunto (se necessário)4) Determinação / Fixação do objetivo5) Seleção e ordenação dos aspectos a serem abordados no desenvolvimento6) Redação da frase-núcleo (opcionalmente no início ou final)7) Desenvolvimento8) Conclusão

INTRODUÇÃO

É o ponto de partida do texto, onde é apresentado o assunto a ser tratado e as questões que serão abordadas dentro desse assunto, encaminhando o leitor para a leitura do texto. É na introdução que o interesse do leitor deve ser despertado. A introdução é o espaço onde se promete, se desperta, se convida, por isso deve ser atraente, funcionando como um chamariz para o texto.

Dois requisitos são considerados fundamentais numa introdução: definição e indicação. Primeiro define-se a questão (informa-se ao leitor do que se trata) e depois se indica o caminho a ser seguido (sob que aspecto o assunto será abordado). A introdução deve expressar a idéia central.

Entre as diferentes possibilidades de elaborar uma introdução, temos;

a) Introdução roteiro – refere-se ao tema a ser discutido e à forma como o texto será organizado:Discute-se muito, hoje em dia, as causas e conseqüências da poluição dos rios; ou A poluição nos rios é um problema muito sério que afeta todos nós. Importa analisar suas causas e conseqüências.

b) Introdução-tese – menciona-se algo que se pretende provar:A poluição nos rios é uma questão que envolve toda a comunidade: população, indústrias, governos.c) Introdução com exemplos – exemplifica-se situações sobre o assunto:O menor C.M.L., 13 anos, está internado na Santa Casa porque foi intoxicado por mercúrio, devido à ingestão de peixe contaminado. Este é apenas um dos casos que evidenciam as conseqüências da poluição nos rios.d) Introdução interrogativa – apresenta questões relacionadas ao tema:

Por que o homem está destruindo seus rios? ou É possível combater os terríveis efeitos da poluição nos rios? ou Com a crescente poluição dos rios, como chegaremos ao próximo milênio?

DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento é a exposição objetiva dos argumentos que fundamentam as afirmações feitas na introdução. Estes devem ser sólidos (baseados em informações coerentes) e de caráter geral, dirigidos à compreensão racional do leitor. O que interessa é a explanação de um raciocínio lógico, e não as emoções pessoais de quem escreve, por isso não cabem as expressões “eu acho”, “eu sinto”, “eu penso”, que denotam um caráter subjetivo, emocional.

O desenvolvimento das idéias indicadas na introdução implica na seleção prévia dos aspectos a serem tratados e na ordenação desses aspectos, que devem estar de acordo com o objetivo proposto. Um bom desenvolvimento deve ter como qualidades7:

b) Organização – tudo converge para uma idéia central, que orienta todo o texto.c) Unicidade – todas as idéias desenvolvidas estão relacionadas com a idéia central. Não se deve

colocar várias idéias em um mesmo parágrafo, nem fragmentar a mesma idéia em vários parágrafos. É fundamental também saber ligar os parágrafos entre si, usando palavras adequadas.

d) Coerência – deve haver uma seqüência lógica entre as idéias contidas nos parágrafos, e essas devem estar ajustadas ao objetivo fixado.

e) Progressão – partir do mais simples para o mais complexo, desenvolvendo progressivamente a exposição ou argumentação.

f) Proporcionalidade – deve haver uma proporção entre a importância da idéia e a extensão de sua abordagem.

g) Clareza e Concisão – deve ser evitada a repetição de idéias e eliminadas as idéias supérfluas.h) Equilíbrio – a atitude do autor deve ser de racionalidade, evitando-se os impulsos emocionais.

7 Adaptado de BARROS, Jaime. Encontros de Redação.

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Há diversas formas de organização do desenvolvimento, entre as quais:

a) Desenvolvimento por Causa e ConseqüênciaEntre as causas da poluição dos rios encontramos o despejo de esgotos e de poluentes industriais. Este fato agrava-se porque o controle por parte das autoridades é pequeno. Como efeito dessa poluição, temos a morte dos peixes, gerando um grande desequilíbrio ecológico. Outra conseqüência é a contaminação de plantações irrigadas por água poluída e, ainda, a intoxicação de pessoas como resultado da ingestão da água e do peixe.

INDICADORES DE CAUSASubstantivos: causa, motivo, razão, explicação, fonte, mãe, raízes, base, fundamento, alicerces, o porquê...Verbos: gerar, originar, produzir, acarretar, motivar, ocasionar, provocar...Conjunções: porque, pois, já que, visto que, uma vez que, porquanto, que...Preposições e locuções: por, por causa de, em vista de, graças a, por motivo de, em virtude de, devido ª..

Indicadores de CONSEQÜÊNCIASubstantivos: conseqüência, efeito, decorrência, resultado, repercussão, produto, reflexo...Verbos: resultar, decorrer, gerar, ser efeito de, ser resultado de...Advérbios e locuções: conseqüentemente, em/como conseqüência, em/como decorrência, em conclusão...

b) Desenvolvimento por Tempo e Espaço

Os feitos do homem começam a tornar realidade a ficção científica. Nas últimas décadas ele colocou instrumentos, animais e seres humanos ao redor da Terra. Veio em seguida a tarefa de liberar um foguete da atração terrestre e fazê-lo penetrar na imensidão do espaço. O vôo a Marte já é uma realidade, e já se pode pensar até em viagens para fora do sistema solar.

INDICADORES DE TEMPOAdvérbios e locuções adverbiais de tempo: agora, já, neste instante, ainda, ao mesmo tempo, antes, ontem, depois, em seguida, breve, amanhã, cedo, logo, afinal, por fim, então, enfim, finalmente, recentementeVerbos: começar, iniciar, terminar, finalizar, concluir...Preposições e locuções prepositivas: após, até, desde, depois de, antes de...Conjunções e locuções conjuntivas: à medida que, ao passo que, à proporção que, enquanto, quando, até que, desde que, logo que, sempre que, assim que etc.

Indicadores de ESPAÇOAdvérbios e locuções adverbiais de lugar: longe, perto, em frente, diante, defronte, atrás, detrás, abaixo, acima, debaixo, dentro, fora, aí, ali, cá, além, lá, à direita, à esquerda, à distância, ao lado...Certas locuções prepositivas:longe de, perto de, junto a, junto de, em frente a, em frente de, defronte de, adiante de, por baixo de, ao redor de, por dentro de, em cima de, por debaixo de ...Adjuntos adverbiais de lugar: no Brasil, na região Norte, no centro-sul, no pantanal, no deserto, na floresta...Verbos: encontrar-se, localizar-se, aparecer, ocorrer, concentrar-se, expandir-se...

c) Desenvolvimento por Comparação e Contraste

Uma coisa é escrever como poeta, outra como historiador. De um lado, o poeta pode contar coisas não como foram, mas como deveriam ter sido; por outro lado o historiador deve relata-las, não como deveriam ter sido, mas como foram, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja.

INDICADORES DE COMPARAÇÃOComo, assim como, bem como, quando (tanto ... quanto), mais, menos, maior, menor, melhor, pior (que)...

Indicadores de CONTRASTEDe um lado... de outro lado, por outro lado, em oposição, em contraste, ao contrário, mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, ao passo que, enquanto...

d) Desenvolvimento por EnumeraçãoInúmeras são as dificuldades com que se defronta o povo brasileiro diante dos graves desequilíbrios ecológicos, em prejuízo da qualidade de vida do cidadão. Entre as causas que dificultam a sua resolução, coloca-se em primeiro lugar a enorme extensão do território nacional; a má distribuição populacional; o baixo nível de conscientização do povo; o mau uso dos recursos pelos empresários e, ainda, a falta de interesse dos governantes em solucionar essas questões.

INDICADORES DE ENUMERAÇÃOEm primeiro lugar, em segundo lugar, depois, finalmente, por último, enfim, outro fator, também, ainda, em seguida, a seguir, a primeira, inúmeros, vários, diversos ...

e) Desenvolvimento por Exemplificação

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A exemplificação não é exatamente uma forma de organização do texto, mas um recurso que pode ser utilizado para esclarecer ou reforçar uma afirmação.

Cada cultura define a seu modo quais as pessoas que devem presentear um casal em núpcias, e com o quê. Em certas tribos africanas, por exemplo, é a família da noiva que recebe presentes, como compensação pela perda de um membro do grupo. Dessa forma, o casamento põe em funcionamento uma complicada teia de obrigações recíprocas, através das quais se estende e renova a solidariedade do grupo social.

INDICADORES DE EXEMPLIFICAÇÃOPor exemplo, como exemplo disso, assim, dessa forma, dessa maneira etc. Há casos em que o exemplo não é introduzido por nenhuma expressão, mas a forma do texto indica o uso de exemplificação.

A passagem do desenvolvimento para a conclusão deve ser natural, de forma que o leitor perceba que, a partir daquele momento, está sendo desenvolvido um raciocínio conclusivo.

CONCLUSÃO8

A conclusão marca o encerramento do seu texto dissertativo, devendo ser coerente com o desenvolvimento e, principalmente, com o objetivo traçado. Há várias maneiras de concluir um texto, podendo-se fazer uma síntese das idéias expostas, marcar um posicionamento, extrair uma dedução, levantar uma hipótese etc. Em regra geral, a extensão da conclusão deve ser proporcional ao texto. Uma redação com trinta linhas, por exemplo, terá uma conclusão com quatro a seis linhas em média.

As palavras de transição do desenvolvimento para a conclusão devem ser expressivas desse processo. Alguns termos indicativos podem ser usados: portanto, logo, assim, dessa forma, dessa maneira, assim sendo, por isso, em síntese, em resumo, em suma, conclui-se, deduz-se, concluindo, deduzindo etc.

Exemplos de algumas formas de conclusão:

Conclusão-resumo

Desta maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve uma série de variáveis que incluem a população, as indústrias e o Estado. Portanto, o problema da poluição nos rios não é tão simples quanto possa parecer. Afeta-nos diretamente e requer uma ação conjunta que envolve toda a comunidade.

Conclusão-proposta

Considerando-se a dimensão do problema da poluição dos rios, algumas medidas se fazem urgentes: é necessário investir em projetos de recuperação dos rios, tal como foi feito na Inglaterra, ao mesmo tempo desenvolvendo projetos que visem o reaproveitamento dos esgotos nos centros urbanos. Além disso, serão necessárias maciças campanhas educativas para a população, e uma fiscalização intensiva por parte das autoridades, como forma de coibir futuros danos ao ambiente.

Conclusão-surpresa

O grande físico inglês Isaac Newton disse uma vez que “a natureza não faz nada em vão”. Assim, os rios vão reagindo à ação destruidora dos homens”...ouTalvez um dia casos como o do garoto C.M.L. não ocorram mais. Cabe a nós lutar por isso....ou Talvez possamos no futuro sentar à beira de um rio, beber da sua água cristalina, banhar-nos na sua pureza. Então descobriremos que o homem primitivo não era tão primitivo assim!

Em síntese, ao escrever sobre determinado assunto, procura-se atingir um objetivo, que deve estar presente em todo o texto, nas fases de introdução, desenvolvimento e conclusão. Cada parte do texto é o elo de uma corrente, onde cada peça depende das demais para compor uma unidade integrada.

8 Adaptado de BARROS, Jayme. Encontros de Redação, e PACHECO, Agnelo de Carvalho. A Dissertação – teoria e prática.

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Exemplo da composição do esquema:

1) Tema: A importância da imprensa2) Delimitação: A função social da imprensa3) Objetivo: Analisar a importância da imprensa na formação de uma visão crítica do público e os obstáculos encontrados para cumprir tal função.4) Seleção e ordenação dos aspectos:

a) A função social da imprensa – transmissão de informações; formação de uma visão crítica;b) Obstáculos encontrados – pressões econômicas, políticas e/ou sociais.

5) Redação da frase-núcleo (introdução)6) Desenvolvimento: detalhamento dos aspectos selecionados

a) transmissão de informações com atualidade, fidelidade e sem omissão; interpretação dos fatos; comprometimento ideológico; educação do público dentro de uma visão crítica e de análise das causas e conseqüências dos fatos.

b) Pressões econômicas dos anunciantes; atrelamento às necessidades de ibope; pressões políticas da censura; liberdade vigiada; pressões sociais pelo nível cultural do público em massa; marginalização de órgãos da “imprensa alternativa”.

7) Conclusão: enfatizar a necessidade de libertação da imprensa para um bom desempenho de seu papel dentro da sociedade.

Para um bom desempenho redacional, algumas falhas comuns devem ser evitadas:

1) Períodos muito longos ou breves – os períodos muito longos tornam o texto cansativo, monótono e muitas vezes confuso. Por outro lado, períodos curtos demais tornam o texto fragmentado. O ideal é tentar equilibrar as coisas.

2) Repetição de palavras – a pobreza de vocabulário faz com que a repetições de palavras em redações seja um dos problemas mais comuns. Em uma redação seja “O voto do analfabeto”, por exemplo, um aluno repetiu 18 vezes a palavra voto, e ainda terminou “fazendo votos” que o analfabetismo terminasse...

3) Expressões vulgares – o uso de gírias e expressões vulgares denota a baixa educação do autor e é inaceitável na redação. Exemplos: “Nós brasileiros estamos de saco cheio de tanta corrupção”; “’O negócio é afiar as garras para enfrentar o vestibular”; “O trabalhador rural está jogado às traças”; “O analfabeto vai na conversa de qualquer político”; “Esperar do Governo é o mesmo que esperar crescer cabelo em ovo”.

4) Os lugares-comuns ou chavões – são formas de expressão tão comumente usadas, que se tornaram representativas de idéias, sensações ou conceitos. A linguagem usada em jornais é repleta desses vícios. Por exemplo, a frase “Nos primórdios da humanidade” é uma das mais usadas em início de redações no vestibular. Outras expressões, como ’Dilúvio de lágrimas”, “Píncaros da glória”, “voz embargada de emoção” são também muito usadas.

NARRAÇÃO

A narração consiste no relato de fatos ou acontecimentos que se sucedem no tempo. O relato de um episódio, real ou fictício, implica interferência de todos ou de alguns dos seguintes elementos (personagens, fatos e circunstâncias). Salvo quem (personagens) e o quê (o fato, a ação, o enredo), sem os quais não há narração, nem sempre todos os elementos característicos da narração estão presentes:

o quê: o fato, a ação (enredo)quem: personagens – protagonista(s) e antagonista(s)como: o modo como se desenrolou o fato ou açãoquando:a época, o momento em que ocorreu o fatoonde: o lugar da ocorrência;porquê: a causa, razão ou motivopor isso: resultado ou conseqüência

Uma estrutura narrativa clássica compõe-se de quatro fases nitidamente marcadas: 9

a) exposição (apresentação do tema); b) complicação (conflito); c) clímax (auge, ápice, ponto alto da narrativa);

9 Adaptado de Othon Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, 2001.

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d) desfecho (desenlace, solução da trama ou conflito).

...................................................................................................................................Toda narrativa consiste numa seqüência de fatos, ações ou situações que, envolvendo participação de personagens, se desenrolam em determinado lugar e momento, durante certo tempo....................................................................................................................................

Enredo ou intriga10

Constitui-se pelo conjunto de fatos que se encadeiam, dos incidentes ou episódios em que as personagens se envolvem, num determinado tempo e ambiente.

Tema e assuntoA matéria do enredo é o tema, resultante do tratamento dado pelo autor a determinado assunto. De acordo com a interpretação de cada autor, diverso é o comportamento das personagens, conflitos e epílogo.

OrdemA ordem no relato dos fatos ou acontecimentos é, normalmente, a cronológica, isto é, a da sua sucessão no tempo. No entanto o autor pode adotar outra, com o intuito de dar maior ênfase a certos incidentes ou pormenores ou provocar suspense, como nos romances policiais, nos quais comumente se utiliza a ordem inversa (começar do final).

Ponto de vistaNuma narração há seres que agem (personagens) e alguém que narra o que está acontecendo (narrador). Quando compomos um texto narrativo, temos de decidir se o narrador vai fazer parte da história (1), sendo, portanto, uma das personagens, ou se ele vai estar fora (2), apenas contando o que acontece.11

ex. 1) A rua estava fria. Era sábado ao anoitecer mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros. Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo. (Luiz Vilela. Tremor de Terra)ex. 2) Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro. (Monteiro Lobato. Cidades Mortas).

Para comunicar a fala e os pensamentos das personagens, o narrador pode usar o discurso direto (1), o indireto (2) e também o discurso indireto livre (3).

(1) Quando o narrador reproduz exatamente o que a personagem falou, dizemos que há discurso direto, marcado, em geral, pela presença dos verbos dicendi12 (dizer, perguntar, indagar, exclamar, responder etc), que podem vir antes ou depois do enunciado, ou intercalados nele. Costuma-se usar os dois pontos quando o discurso direto vem logo em seguida à fala do narrador.Ex: A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele (...); Quando eu alteava a voz, ela reprimia-me: - Mais baixo, mamãe pode acordar.

(2) Quando o narrador, em vez de deixar a personagem falar, reproduz com suas palavras o que foi dito, ocorre o discurso indireto: Ex: Chamou um moleque e bradou-lhe que fosse à casa do Sr. João Chamá-lo; e se não estivesse em casa, perguntasse onde podia ser encontrado.

(3) Quando as falas do narrador e da personagem parecem confundir-se numa só, sem que se saiba claramente a quem elas pertencem, trata-se do discurso indireto livre:Ex: Os trabalhadores passavam para os partidos, conversando alto. Quando me viram sem chapéu, de pijama, por aqueles lugares, deram-me bons-dias desconfiados. Talvez pensassem que estivesse doido.

10 Idem.11 Adaptado de Douglas Tufano. Estudos de Redação, 199012 De acordo com Othon Garcia (Comunicação em Prosa Moderna), os verbos dicendi ou de elocução, cuja principal função é indicar o interlocutor que está com a palavra, incluem vários de sentido geral e muitos de sentido específico. Os 9 mais comuns, de sentido geral, são: de dizer (afirmar, declarar); de perguntar (indagar, interrogar); de responder (retrucar, replicar); de contestar (negar, objetar); de concordar (assentir, anuir); de exclamar (gritar, bradar); de pedir (solicitar, rogar); de exortar (animar, aconselhar); de ordenar (mandar, determinar). Nem sempre os verbos dicendi estão expressos.

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Como poderia andar um homem àquela hora, sem fazer nada, de cabeça no tempo, um branco de pés no chão como eles? Só sendo doido mesmo. (José Lins do Rego, Bangüê).

De acordo com Othon Garcia, o ponto de vista pode ser concebido também no sentido subjetivo, expressando idéias e concepções do autor. Por exemplo, de um ponto de vista filosófico o autor pode externar uma concepção realista, fantasista, fatalista ou otimista da vida e dos homens. De um ponto de vista moral e religioso pode revelar um propósito moralizador, intolerância ou preocupação religiosa, preconceito de ordem moral, racial ou social, cunho sexual, bizarro etc.

Variedades da narraçãoO fato relatado pode ser real ou fictício. A história do gênero humano, a biografia de alguém, uma reportagem policial constituem relatos de fatos reais. O romance, o conto, a novela, são algumas espécies do gênero narrativo de ficção que têm uma técnica especial, mais complexa, para sua composição. O que distingue basicamente a narração da descrição é a presença de elementos atuantes. Pode não haver movimentação, mas haverá tensão e expectativa.

Exercício 1 (em grupo de 3)

Você tem, a seguir, o início e o final de uma narrativa de Luís Fernando Veríssimo (Para Gostar de Ler) que explora o absurdo, o inusitado. Sua tarefa é criar em dois parágrafos um desenvolvimento, de modo que o todo fique coerente. (mínimo 10 linhas cada parágrafo)

O Consumidor acordou confuso. Saíam torradas do seu rádio-despertador. De onde saía então – quis descobrir – a voz do locutor? Saía do fogão elétrico, na cozinha, onde a Empregada, apavorada, recuara até a parede e, sem querer, ligara o interruptor da luz, fazendo funcionar o gravador na sala. O Consumidor sacudiu a cabeça, desligou o fogão e o interruptor, saiu da cozinha, entrou no banheiro e ligou seu barbeador elétrico. Nada aconteceu. Investigou e descobriu que a sua Mulher, na cama, é que estava ligada e zunia como um barbeador. Abriu uma torneira do banheiro para lavar o sono do rosto. Talvez aquilo fosse só o resto de um pesadelo. Pela torneira jorrou café instantâneo.

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Correram para a garagem, entraram no carro, e o Consumidor botou em primeira, apertou o acelerador e um Boeing caiu em cima da casa.

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O fluxo de consciência na narração13

O “fluxo de consciência” é um processo narrativo no qual a preocupação maior é sondar sensações, lembranças, fantasias, introspecções, descrever o que se passa no mistério da consciência e pré-consciência. Por suas características específicas, pode ser dividido em monólogo interior e solilóquio.

O monólogo interior caracteriza-se pelo uso de frases fragmentárias, incoerentes, soltas, caóticas, que se ligam por livre associação. O pensamento é desinibido, desordenado. O seu conteúdo não se dirige a ninguém, não se destina a informar, e esse é ponto principal que o distingue do solilóquio. Exemplo:

“Agora ele olhava as estrelas e via como estavam distantes, o céu às vezes parecia alto às vezes parecia baixo, as estrelas eram gordas e molhadas ou duras e finas como uma dorzinha, aí levou a mão à perna e apalpou, o São Jorge galopava no seu cavalo, as estrelas faiscavam, eram como gritinhos, como grilos na noite, as aranhas se arrastavam peludas, não é bom ficar olhando as estrelas, faz mal, dizia a mãe, por isso não olhava muito tempo seguido para as estrelas, quando era menino, alguma coisa podia acontecer com ele...” (Autran Dourado. A barca dos homens. p. 163)

No solilóquio a personagem fala a alguém ou a si mesma. Ela tenta comunicar-se; a linguagem é cuidada e não caótica. O solilóquio geralmente combina o interior da personagem com o mundo exterior. Há pensamentos livremente associados, mas compreensíveis. Exemplo:

“Quando o cego se foi, começou o mestre a pensar no recado do capitão. Era para ele uma honra que nunca tivera, aquela de saber-se da confiança do homem que realmente admirava. Sem dúvida que Alípio falara do seu nome, dos pequenos trabalhos que fizera. Muito podia fazer. Os gritos da filha não o arredavam de seu pensamento. O capital queria que ele ajudasse os espias para o cerco que pretendia botar no tenente. O que pudesse, com a sua ajuda, ele teria.” (José Lins do Rego. Fogo Morto. p. 118)

Relembrando....

Conforme já mencionado, a introdução dos participantes na narrativa pode ser feita de três diferentes formas:por meio do discurso direto, do discurso indireto e do discurso indireto livre, ou mesmo de forma mesclada. No primeiro caso a própria personagem é que expressa o que está sentindo. O autor respeita inclusive a forma. No segundo, o conteúdo é da personagem, mas as palavras do autor. No terceiro, temos uma mistura das formas anteriores: narrador e personagem fundem-se e passam a falar em uníssono. Não aparece nem a fala do discurso direto nem o conteúdo das palavras do indireto. Há apenas o registro de idéias, reflexões ou sentimentos das personagens. A impressão que se tem é que o autor, enquanto narra, sofre ao mesmo tempo a ação (como se o narrador estivesse pensando em voz alta).

Exemplo de discurso indireto livre:“Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!” (Graciliano Ramos. Vidas secas. p. 99)

A narrativa na redação jurídica e no discurso policial14

Toda narrativa é a exposição de fatos reais ou fictícios, que se passam em determinado lugar e com certa duração, em atmosfera carregada de elementos circunstanciais. A característica básica da narrativa real é o consummatum est, com o verbo no perfeito do indicativo, que indica ter ocorrido e consumado o fato narrado.

Todos os fatos narrados devem estar inter-relacionados em íntima conexão, sendo a disposição dos elementos responsável pela coerência textual. Os elementos estruturais da narrativa policial estão voltados para o relato fiel dos acontecimentos:

1. o quê: o fato que se pretende contar 2. quem: as partes envolvidas

13 Adaptado de Medeiros, João Bosco. Técnicas de Redação. 4 ed. São Paulo : Atlas, 1996.14 Adaptado de Damião, Regina Toledo e Henriques, Antonio. Curso de Português Jurídico. São Paulo:Atlas,1995.

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3. como: o modo como o fato aconteceu4. quando: a época, o momento, o tempo do fato5. onde: o registro espacial do fato6. o porquê: a causa ou motivo do fato7. por isso: resultado ou conseqüência do fato

Assim, na narrativa policial, assim como na jurídica (petições, denúncias, reclamações etc), o texto é caracterizado por períodos curtos, no perfeito do indicativo, indicando o tempo dos acontecimentos e demais circunstâncias que permitam revelar como aconteceram os fatos e o porquê deles, para que dessa narrativa se chegue logicamente a uma conclusão, resultado ou conseqüência do fato vivenciado pelas partes envolvidas. A narrativa policial deve contar os acontecimentos com o máximo possível de precisão e objetividade, ao contrário, nesse caso, da redação jurídica, onde o advogado procura indicar circunstâncias com intenção argumentativa, evidenciando elementos de acordo com sua conveniência.

Exemplo de narrativa policial:A morte da vítima se verificou estando ela a barbear-se semi-deitada, na cadeira do barbeiro, sem atentar para a presença do agressor. Esse o golpeou no pescoço por trás com uma lâmina de barbeiro, com a mão esquerda, seccionando-lhe a jugular em cerca de 15 centímetros, em corte transversal da direita para a esquerda. Ato contínuo, o agressor jogou a lâmina no chão e fugiu em desabalada carreira. Na fuga esbarrou em transeuntes na saída da barbearia, que o viram com roupa suja de sangue na altura superior do tórax e em parte do braço esquerdo. Segundo testemunhas, o agressor tinha uma antiga rixa com a vítima, que lhe devia uma quantia em dinheiro relativa a dívida de jogo. Por conta disso, o agressor já havia ameaçado de morte a vítima por diversas vezes, em várias ocasiões, na frente de testemunhas, inclusive no dia anterior à consumação do ato.

........................Exercício

Construa um texto contendo os 7 elementos básicos da estrutura narrativa, inserindo um parágrafo em forma de discurso policial (linguagem mais direta e descrição objetiva dos fatos), e um parágrafo contendo um solilóquio ( v. exemplo), usando neste (no todo ou em parte do parágrafo) o recurso do discurso indireto livre (v. exemplos). O texto pode ser o relato de um acontecimento real ou fictício, encadeado de forma coerente de modo a possibilitar a inclusão de um trecho onde uma personagem possa expressar-se de forma mais subjetiva. Mínimo 45 linhas.

O TEXTO DESCRITIVO

Descrever é enumerar as características que distinguem um determinado ser de todos os outros. Na descrição compomos uma espécie de “retrato” por meio de palavras, fazendo com que o leitor perceba as características marcantes do ser que estamos escrevendo, de modo a não confundí-lo com nenhum outro.15

Quando descrevemos uma pessoa, um ambiente ou uma paisagem, podemos apontar apenas suas características físicas, exteriores, limitando-nos a uma visão “de fora” (descrição objetiva) ou podemos compor um texto em que se destaquem também suas características psicológicas, interiores (descrição subjetiva). Mesmo uma descrição objetiva, no entanto, pode ser feita de maneira bem pessoal, externando sentimentos de quem descreve. A finalidade da descrição que não seja técnica ou científica, é transmitir a impressão que a coisa vista desperta em nossa mente através dos sentidos.

Quando queremos indicar as características principais de certos objetos, como peças, máquinas, instrumentos, veículos etc., temos de elaborar uma descrição técnica ou informativa, capaz de destacar não só os elementos essenciais do objeto, como também as suas funções mais importantes. Na descrição informativa, o destaque é dado ao que está fora do autor, e o importante é usar palavras que não apresentem dúvidas de interpretação e construir frases que transmitam, de modo claro e inequívoco, as informações desejadas.

O ponto de vista é de suma importância numa descrição, quer literária, quer técnica.16Não consiste apenas na posição física do observador, mas também na sua atitude, na sua predisposição afetiva em face do objeto a ser descrito. O ponto de vista físico é a perspectiva que o observador tem do objeto, a

15 TUFANO, Douglas. Estudos de Redação. 3 ed. São Paulo : Moderna, 1990.16 GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 20 ed. Rio de Janeiro : FGV, 2001.

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qual pode determinar a ordem na enumeração dos pormenores significativos. O ponto de vista mental ou psicológico é o elemento subjetivo, aquele que determina a impressão pessoal, a interpretação do objeto. A predisposição psicológica do observador – sua simpatia ou antipatia – pode resultar em imagens muito diversas do mesmo objeto.

Assim, utilizar a linguagem verbal para construir imagens que representam seres, objetos ou cenas é assumir a atitude lingüística da descrição17. Elaborar um texto descritivo é apresentar um ser, um objeto, um recorte da realidade a partir de um determinado ponto de vista, que será, na maioria das vezes, influenciado pelo nosso estado de espírito na seleção e organização dos dados que formam o texto. Apenas a descrição técnica busca uma objetividade absoluta e, mesmo assim, é praticamente impossível anular totalmente a interferência do produtor do texto. Por isso devemos estar conscientes de que, ao produzir um texto, haverá quase que invariavelmente intromissão de nossa atitude em relação ao objeto descrito na imagem que está sendo produzida. Os limites dessa intromissão vão depender principalmente dos nossos objetivos ao produzir o texto.

Em qualquer caso é recomendável que, antes de redigir, façamos um plano de trabalho. Como apresentar ao leitor os detalhes do que se está descrevendo? Qual a melhor ordem a ser seguida? Que tipo de impressão geral deve ser transmitido? Normalmente o processo descritivo é incorporado ao narrativo (caracterizando personagens e ambientes a partir do ponto de vista do narrador) ou ao processo argumentativo (fornecendo dados para o desenvolvimento da argumentação).

DESCRIÇÃO SUBJETIVA (alguns tipos)

Sua finalidade é transmitir as emoções causadas, a “alma” das coisas. Não é o aglomerado de aspectos e ângulos de um objeto que faz a descrição ser boa. É a seleção, a organização dos pormenores, que vai determinar a sua qualidade.18

Descrição de lugares

Neste processo o autor abrange um plano maior e, como se fosse uma câmera, detêm-se em partes interessantes. Suponhamos que o local seja uma praça. Focaliza-se o movimento dos carros e pedestres, os edifícios vizinhos, as barraquinhas de vendedores etc. No meio de coisas diversas, pode-se deter, por exemplo, nas expressões de um vendedor de bugigangas, sua gesticulação, como num close cinematográfico.

Descrição de cena

Seu conteúdo deve ser captado mediante observação direta das coisas, mas exige também imaginação, invenção, criatividade. Aqui se poderá usar maior quantidade de adjetivos e externar idéias e emoções.

Descrição física e psicológica de pessoas

Há muitos aspectos que identificam uma pessoa. A parte física é talvez a menos dotada de pormenores. É o caráter, os hábitos, os gostos, o temperamento que proporcionam maior riqueza no perfil individualizante da descrição.

Descrição de objetos

Na descrição de objetos, é necessário nos atermos a algo característico, capaz de identificá-lo, o que requer atenção no objeto a ser descrito. A descrição caminha num crescendo, mostrando os vários ângulos, aproximando-se (como uma câmera) daquilo que poderá chamar a atenção.

DESCRIÇÃO OBJETIVA

É a descrição exata, sem floreios, que não busca a emoção estética e trabalha sobretudo com a função referencial, preocupando-se com a eficácia e exatidão da comunicação. O vocabulário será preciso, os pormenores exatos e a linguagem sóbria. Seu objetivo é esclarecer. informar, comunicar. Este é o tipo de descrição usado, por exemplo, em relatórios técnicos e científicos.

17 INFANTE, Ulisses. Do Texto ao Texto - Curso Prático de Leitura e Redação. São Paulo : Spicione, 1991.18 MEDEIROS, João Bosco. Técnicas de Redação. 4 ed. São Paulo : Atlas, 1996.

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A descrição de funcionamento, também conhecida como descrição de processo, é muito utilizada em folhetos informativos que acompanham eletrodomésticos. Seu propósito é mostrar o funcionamento do aparelho, apresentando como características: exposição em ordem cronológica; objetividade; ênfase na ação; indicação de estágios e normas de uso.

Independentemente do tipo de descrição, as características básicas da estrutura descritiva permanecem:1. frases curtas, com muitas elipses verbais, dando mais impressões do que dizendo ações;2. verbos predominantemente no presente e no imperfeito do indicativo;3. abundância de adjetivação – os adjetivos funcionam como atributos (denotativos ou conotativos)

do ser ou coisa descritos;4. vigor nas especificações, procurando-se captar a essência do objeto descrito.

A descrição é empregada largamente na redação jurídica porque a narrativa dos fatos é tecida por meio da descrição desses fatos, buscando os elementos e pormenores que pintem o quadro, segundo a versão da parte processual.19 As narrativas da acusação e da defesa são construídas pela descrição dos fatos e estes elementos descritivos funcionam como argumentos para criar uma imagem simbólica do acusado, seja como um elemento pernicioso à sociedade (acusação) ou procurando destacar suas características positivas, de forma a refutar o retrato acusatório.

No discurso policial o recurso da descrição também é amplamente empregado, uma vez que comumente existe a necessidade de descrever um fato ou um ato nos relatos policiais, devendo este tipo de descrição procurar captar o máximo de pormenores, de forma a recompor o fragmento da realidade retratado com a maior fidelidade possível, preferencialmente com o mínimo de interferência subjetiva.

DESCRIÇÃO - Exercício 1

Amplie as frases abaixo, introduzindo elementos descritivos (objetivos e subjetivos). Por exemplo:

No final das aulas, as crianças saíam pelo velho portão da frente...

No final das aulas, as crianças saíam pelo velho portão da frente, um portão grande, de ferro, meio desbotado pelo sol e pela chuva, e que rangia como se fosse um porteiro rabugento.

1) Assim que amanheceu, saí do hotel e fui dar um passeio pela praia, onde encontrei alguns pescadores. (Como era o hotel? Grande ou pequeno? Novo ou velho? Como era a praia? Estava frio ou calor? Como eram os pescadores?)

2) Estava numa pequena cidade do interior e, à tardinha, fui dar uma volta pela praça.(Como era essa praça? Como estava a tarde? Havia gente na praça? Quem?)

3) No meio da festa, tocaram a campainha. Era ele com uma fantasia que deixou o ambiente em polvorosa! (Quem era ele? Como ele estava fantasiado?)

4) Observe o exemplo:A chuva aumenta e cai sobre o jardim produzindo ruído surdo e apagado... Umas folhas

grandes estremecem suavemente e entre elas assoma com sua cabeça achatada um grande lagarto... que sai correndo a esconder-se entre umas pedras. Deixa a cauda de fora e depois se introduz de todo... As ervas que o peso do lagarto inclinou voltam preguiçosamente a ocupar sua primitiva posição... Com o vento, todas as flores amarelas tremem e se sacodem da água que têm entre suas pétalas... Há caramujos pregados nos muros... O tempo foi desapiedado para com este jardim: secou seus rosais e cinamomos e, em troca, deu vida a plantas traidoras e mal olentes...

Não pára a chuva de cair.(Garcia Lorca. Prova Viva / Ideário Coligido)

Garcia Lorca descreveu valendo-se de uma combinação sensorial: imagens, sons e, em menor grau, aromas montam um quadro melancólico e decadente. Imagine-se nesse mesmo jardim, com os olhos fechados, e descreva-o utilizando imagens auditivas, olfativas e táteis.

19 DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.

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5) Um homem foi flagrado assaltando uma casa em um bairro de classe média alta. Descreva o ambiente (qualquer cômodo da casa), a cena em que o sujeito foi flagrado e as características físicas do indivíduo.

DESCRIÇÃO – Exercício 2

Observe os tipos exemplificados20 e desenvolva um tópico descritivo mesclando aspectos objetivos e subjetivos a partir da frase dada (mínimo 10 linhas cada tipo de descrição):

a) retrato

O Sr. Brito é um dos homens mais notáveis da cidade. No entanto, ninguém lhe dá importância. Tem uma obesidade caída, um desânimo balofo, um desacoroçoado jeito de velho funcionário público pobre que se desespera em casa com as meninas. Triste, cogitativo, anda sempre assim de fazer dó: os braços cheios de embrulhos, o paletó-saco poeirento, os cabelos grisalhos esvoaçando-lhe pelas orelhas, sob o chapéu de palha encardida. (Ribeiro Couto, Baianinha e outras mulheres)

Apesar de já entrado em anos, conservava ainda o espírito jovial dos seus tempos de estudante boêmio....

b) cena dramática

O vento engrossa o vôo, as árvores beijam o chão, e a terra se converte em lama. As cobras, assustadas invadem a estrada. No canal, o lodo movediço rola ao peso da água. Fechados em casa, os homens escoram as paredes com os corpos. O mundo sem estrelas, totalmente negro, não permite que vejamos a mão posta diante dos olhos. Andar, nestas condições, é andar para a morte. (Adonias Filho, Memórias de Lázaro)

Começara a queima. O fogo erguera-se e lambia num anseio titânico os troncos das árvores....

c) paisagem urbana

Comprida, tortuosa, ora larga, ora estreita, a rua abriga umas poucas casas de taipa ou de tijolo, cobertas de telha. às vezes pequeninas, porta e janela apenas, sem reboco, pouco mais altas que um homem. Aqui e acolá casas maiores , mais largas, com grandes beirais, ou uma construção mais nova, de platibanda, com varandas pintadas de branco. (Armando Fontes, Rua do Siriri)

Sábado, de tarde, na cidade, da janela de um vigésimo andar, a gente descobre essa vida inesperada e humilde dos terraços.....

d) ambiente

O salão de visitas era no primeiro andar. Mobília antiga um tanto mesclada; ao centro, grande lustre de cristal, coberto de filó amarelo. Três largas janelas de sacada, guarnecidas de cortinas brancas, davam para a rua; do lado oposto, um enorme espelho de moldura dourada e gasta inclinava-se sobre um sofá. (Aluízio Azevedo, Casa de pensão)

Na sala pequena, uma estante de madeira enchia uma parede. Nas suas prateleiras, livros espalhados...

e) ambiente com figuras

Naquela segunda-feira, o Café Rio Branco parecia até quarto de doente grave. Flávio estava de cara amarrada, o queixo encostado no peito, não abria a boca para nada. Os garçons andavam nas pontas dos pés, carregando as bandejas com o cuidado de quem pega em menino de colo. Ouvia-se, de quando em quando, um suspiro saído do fundo do peito de alguém. (Mário Filho, O Flamengo das horas más)

A sala era imensa. A multidão dos convivas tagarelava em grupos por todos os cantos...

20 Adaptado de Othon Garcia, Comunicação em Prosa Moderna.

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DESCRIÇÃO – Exercício 3

Cesare Lombroso, fundador da Antropologia Criminal, procurava identificar o criminoso pelo levantamento de determinados traços físicos ou pela conformação óssea do crânio. Em L’umo delinqüente, ele assim se exprime:21

Nessa manhã de um soturno dia de dezembro, não foi apenas uma idéia o que tive, mas um relâmpago de clarividência. Ao ver o crânio do salteador Vilela, percebi subitamente a natureza do criminoso. Um ser atávico, reproduzindo os ferozes instintos da humanidade primitiva, dos animais inferiores. Enormes mandíbulas, ossos salientes das maçãs, arcos proeminentes dos supercílios, tamanho exagerado das órbitas, olhar sinistro, nariz tendendo à direita, falta de simetria geral. No comportamento, indolência excessiva, incapacidade de ruborizar – e desejo insano do mal pelo próprio mal.

Analise o contexto:

Porque não lhe quis pagar uma garrafa de cerveja, Pedro da Silva, desocupado, matou com uma facada no coração o seu colega Joaquim de Oliveira, pedreiro, 28 anos, em um bar de Vigário Geral. O assassino foi flagranteado pela polícia ainda na cena do crime, de arma em punho, no sábado último, 20.

Com base na teoria de Lombroso, quanto a haver um perfil caracteriológico para o criminoso, descreva Pedro da Silva, retratando-o física e moralmente: estatura, cor, idade, traços fisionômicos, hábitos, tiques nervosos, gênio e temperamento, confrontando-o com a imagem de Joaquim, seu tipo físico, caráter e hábitos. Imagine e descreva a cena do crime após o acontecido: aspectos do dia ou da noite, hora do crime, características do local (ambiente), pessoas presentes, posição e situação dos antagonistas, caprichando nos pormenores (não demasiadamente), como se estivesse apresentando o criminoso na condição de testemunha ocular de acusação. Mínimo 30 linhas.

ARGUMENTAÇÃO

Organização do pensamento – a lógica do raciocínio verbal 22

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Palavras não criam idéias; estas é que, quando existem, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las, fundindo-as em moldes frasais adequados.Escreve mal o estudante que não aprendeu a por em ordem o seu pensamento. É preciso, pois, dispor de meios de disciplinar-lhe o raciocínio, estimular-lhe o espírito de observação dos fatos e ensiná-lo a criar ou aprovisionar idéias: ensinar, enfim, a pensar, e a ciência das leis ideais do pensamento é a lógica.

Declarações, apreciações, julgamentos, pronunciamentos expressam opinião pessoal, indicam aprovação ou desaprovação. mas sua validade deve ser demonstrada ou provada. Ora, só os fatos provam; sem eles, que constituem a essência dos argumentos convincentes, toda declaração é gratuita, porque infundada, e, por isso, facilmente contestável. Limitando-se apenas a afirmar ou negar sem fundamentação, enuncia-se apenas um discurso estéril, baseado apenas em opinião pessoal, raramente isento de prevenções ou preconceitos.

Toda declaração (ou juízo) que expresse opinião pessoal ou pretenda estabelecer a verdade só terá validade se devidamente demonstrada, isto é, se apoiada ou fundamentada na evidência dos fatos, exceto em certas ordens de declarações que prescindem de prova, como:

a) quando a declaração expressa uma verdade universalmente aceita;b) quando é evidente por si mesma (axiomas, postulados);c) quando tem o apoio de autoridade (testemunho autorizado);d) quando escapa do domínio puramente intelectual;

a. é de natureza puramente sentimental (o coração tem razões...)b. implica a apreciação de ordem estética (gosto não se discute)c. diz respeito à fé religiosa (não se provam dogmas)

Fatos e indícios – observações e inferência

21 Adaptado de Regina Toledo Damião e Antonio Henriques, Curso de Português Jurídico.22 Sintetizado de GARCIA, Othon. Comunicação em Prosa Moderna.

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Fatos não se discutem; opiniões sim. No entanto, convém não confundir fato com indício. Fato é a coisa feita, verificada e observada. Os fatos, devida e acuradamente observados, podem levar à certeza absoluta. Os indícios nos permitem apensa inferência de certeza relativa, pois expressam somente probabilidade ou possibilidade. Os indícios levam a inferências, que são conclusões ou deduções pelo raciocínio apoiadas em indícios. (Ex: fulano é ladrão porque, de repente, começou a ostentar um padrão de vida incondizente com suas conhecidas fontes de renda).

O grau de probabilidade das inferências varia com as circunstâncias, podendo haver as prováveis e as extremamente improváveis. E é o maior ou menor grau de probabilidade que condiciona o nosso comportamento diário e o nosso juízo em face das coisas e pessoas, daí os enganos em que incorremos e as possíveis injustiças que muitas vezes cometemos baseados em inferências. Indícios podem persuadir, mas não provam, constituindo apenas em argumentos dos quais muitas vezes se serve a lei, mas não configuram justiça. E mesmo os fatos, por si só, às vezes não bastam para constituir prova. É preciso que sua observação seja acurada e que sejam adequados, relevantes, característicos, suficientes e fidedignos.

A argumentação, por princípio, deve basear-se nos princípios da lógica, uma vez que argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face da evidência de provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente. Toda argumentação consiste, em essência, numa declaração seguida de prova (fatos, razões, evidências).

A legítima argumentação não se confunde com o “bate-boca” estéril; ela deve ser, ao contrário, construtiva na sua finalidade, cooperativa em espírito e socialmente útil, por isso esteia-se em dois elementos principais: a consistência do raciocínio e a evidência das provas.

Evidência é a certeza manifesta, a que se chega pelo raciocínio (evidência de razão) ou pela apresentação dos fatos (evidência de fato). Os cinco tipos mais comuns de evidência são os fatos propriamente ditos, os exemplos, as ilustrações, os dados estatísticos e o testemunho.

Toda argumentação admite divergência, por isso sua estrutura deve conter dados que provem a validade de uma afirmação ou que a contestem no todo ou em parte.

Ex: O castigo físico é a melhor maneira de educar a criança rebelde.23

a) se for uma argumentação por defesa da proposição, deve-se provar a validade dessa declaração por meio de evidências consistentes que sustentem a afirmação;

b) se for uma argumentação por contestação da proposição, deve-se apresentar elementos que destruam as bases nas quais essa afirmação possa estar sustentada.

c) a refutação de idéias ou argumentos depende de vários fatores e circunstâncias, constituindo um valioso exercício de construção e elaboração do raciocínio lógico indutivo/dedutivo24. Whitaker Penteado, citado por Othon Garcia, sugere algumas formas de refutação:

a. comece a refutar pelo argumento que pareça mais forte;b. procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária;c. leve os argumentos contrários ao máximo de sua extensão;d. veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento apresentado;e. escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o seu

opositor;f. aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados;g. ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor;h. cite exemplos semelhantes, que provem exatamente o contrário dos argumentos que lhe

são apresentados pelo opositor;i. demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada, com a omissão de palavras ou

de sentenças que pudessem indicar o contrário do afirmado;j. analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as

falsidades contidas.

Exercício:

Elabore pequenos textos argumentativos (a favor ou contra) tomando por base as seguintes premissas:

1) Os analfabetos devem votar.2) As leis são inúteis para conter a criminalidade.3) O serviço militar deve ser obrigatório no Brasil.

23 Ver GARCIA, Othon, Comunicação em Prosa Moderna, p. 384 (Estrutura típica da argumentação informal...)24 idem, p. 306/309.

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4) O voto deve ser facultativo.5) Os pais são os culpados por filhos delinqüentes. 6) O castigo físico é a melhor maneira de educar a criança rebelde.7) A liberdade é uma ilusão.8) O criminoso é o resultado de uma sociedade injusta.

Direito é, por excelência, entre as que mais o sejam, a ciência da palavra25. Mais precisamente do uso dinâmico da palavra. Para o advogado, a palavra é o cartão de visita. Segundo Paulo Nader, “a dependência do Direito positivo à linguagem é tão grande, que se pode dizer que o seu

aperfeiçoamento é também um problema de aperfeiçoamento da estrutura lingüística. Um texto de lei mal redigido não conduz à interpretação uniforme. Distorções na linguagem podem levar igualmente a distorções na aplicação do Direito.”

O“Jamais, como em Direito, o conhecido refrão popular “te pego pela palavra” teve tantos foros de verdade. Em qualquer causa, especialmente naquela onde houver incerteza quanto à decisão, a experiência recomenda cautela na escolha das palavras, para que o feitiço não vire contra o feiticeiro...”

Na linguagem forense, há formas consagradas pelo uso e pela praxe; tudo deve ser escrito de modo objetivo, claro, em obediência à lógica e à precisão dos conceitos, eliminando-se indesejáveis filigranas verbais, rebuscamentos de estilo, floreios literários e períodos tortuosos. Enfim, a redação jurídica precisa ser correta, enxuta, limpa de exibicionismos e visar um só alvo: a comunicação técnica, imediata e direta.

O ato comunicativo jurídico, conforme Damião26, exige a construção de um discurso que possa convencer o julgador da veracidade do “real” que pretende provar. Em razão disso, a linguagem jurídica vale-se dos princípios da lógica clássica para organização do pensamento. O discurso jurídico constrói uma linguagem própria que, no dizer de Miguel Reale, é uma linguagem científica.

Uma boa linguagem na área jurídica, observa Damião27, não é sinônimo de afetação, e sim de organização lógica das idéias, predominância de vocábulos denotativos-unívocos – sempre que possível – e bem especificados, quando equívocos. São bem aceitas o emprego de figuras de retórica, elegantes e discretas, como instrumento de persuasão e expressividade do pensamento.

No Direito, é de grande importância o sentido das palavras. Assim, deve-se ter bastante cuidado ao usar as palavras plurissignificativas, evitando-se empregar acepções que não pertençam ao jargão jurídico ou, se empregadas, essas devem ser acompanhadas de especificadores que resguardem o sentido pretendido. São três os tipos de vocabulário jurídico: unívocos, equívocos e análogos.

Unívocos são os que contêm um só sentido, valendo-se deles a codificação para descrever delitos e assegurar direitos, representados pelos termos técnicos do vocabulário especializado. Equívocos são os vocábulos plurissignificantes, identificados conforme o contexto (Ex: seqüestrar em Direito Processual é apreender judicialmente bem em litígio, e em Direito Penal é privar alguém de sua liberdade de locomoção). Análogos são os termos que pertencem a uma mesma família ideológica ou são tidos como sinônimos..

Ao construir as frases, o profissional do Direito deve ter em conta o fator psicológico dos verbos para enfatizar a idéia com os termos acessórios adequados. Assim, conhecer os regimes e acepções dos verbos é ferramenta indispensável na atuação jurídica em seus diversos campos e especializações.

A unidade textual, na redação jurídica, reveste-se de especial importância, considerando-se o dever do profissional da área de facilitar o entendimento do ouvinte/leitor relativamente ao texto. Por isso a necessidade de coesão , ou seja, um nexo seqüencial de idéias entrelaçadas, e a obrigatoriedade de coerência entre essas idéias. A coesão é sempre explícita, ligando o texto por meio de elementos que expressamente costuram as idéias; a coesão, por sua vez, é resultado da estrutura lógica do texto, assegurada pela adequação das idéias.

25 Texto compilado de XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro : Forense, 1994.26 DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.27 Idem.

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Um exemplo de coerência e concisão textual é dado pelo artigo do jurista Walter Ceneviva, publicado na coluna Letras Jurídicas, no jornal Folha de São Paulo, em junho de1993.28

FALTA DE AUTORIDADE

De repente o judiciário começou a ser apontado como um dos maiores vilões da crise brasileira, em visão distorcida e errada de seu papel na vida nacional. Tenho criticado vários atos e segmentos do Judiciário, cujo controle externo defendo. Recentemente escrevi que se os juízes tiverem vontade de trabalhar – expressão com a qual sintetizei aspectos das deficiências judiciais – resolverão muitos dos problemas sociais que enfrentamos na atualidade. Assim sendo, sinto-me à vontade para negar que cabe ao Judiciário a maior culpa pela crise.Em primeiro lugar, tenha-se presente que grande número dos processos civis, fiscais e trabalhistas tem origem em ilegalidades praticadas por administradores públicos, cuja visão caolha faz com que queiram receber créditos governamentais, mas não queiram saldar os respectivos débitos. Eles se esquecem da sabedoria de Vicente Matheus quando trata das facas de dois legumes, pois o Judiciário eficiente tanto permitirá as cobranças reclamadas, quanto forçará o poder público a parar com seus calotes e impedirá as ilegalidades cometidas.Em segundo lugar, acentuo as omissões no cumprimento do dever legal dos outros poderes. Exemplo mais gritante é do próprio Legislativo, que não aprovou as leis suplementares da carta de 1988.O Executivo, por seu lado, baixa instruções, decretos, portarias e toda sorte de medidas administrativas, muitas das quais são flagrantemente ilegais. Forçam os contribuintes a se defenderem em juízo. Agravam o congestionamento judicial. Nenhuma lesão ou ameaça de lesão ao direito individual pode ser excluída de apreciação pelo Poder Judiciário na verdadeira democracia. Se o Executivo quiser que as pessoas diminuam a corrida aos tribunais deve para com as ilegalidades.Assinalo, ainda a distância numérica entre o aparato judiciário brasileiro e o universo ao qual ele deve atender. Há menos de 20.000 juízes para quase 350.000 advogados. O número de processos em andamento se conta aos milhões (só na justiça paulista existem 4 milhões). A deficiência não é culpa exclusiva do Judiciário, embora este tenha boa parte da responsabilidade.A máquina judiciária – fora das áreas da magistratura – é muito mal remunerada nas justiças estaduais. A rotatividade é forte. A baixa remuneração, contraposta à mobilidade da força de trabalho, lidando com leis e instruções freqüentemente conflitantes, mais confunde o processo judicial quando tratado por mão-de-obra desqualificada.Necessário é lembrar da história recente do Brasil, na qual o Judiciário foi fonte principal de defesa dos interesses individuais, ante o mau comportamento dos outros poderes.Lembro o homicídio, ocorrido em 1975, cujo réu – que teve este mês presença meteórica no Ministério da Agricultura – não foi julgado até o presente, como outro exemplo de responsabilidade múltipla. A demora escandalosa não seria possível com o Ministério Público, titular da acusação, atento e diligente. Nunca seria possível sob a legislação aprimorada, sem prejuízo das garantias de ampla defesa, como tem acontecido no freqüentemente citado exemplo italiano. Também não seria possível, é evidente, se os muitos juízes que passaram pelo caso tivessem tido vontade de trabalhar.O Brasil precisa recompor as deficiências de sua economia em crise. A magistratura deve participar desse esforço. Todavia, o brasileiro não pode supor que a lentidão do Judiciário impede a recuperação. O exame atento mostrará a injustiça de lançar todas as culpas sobre as costas dos magistrados. Inocentes, de todos, eles não são. Mas a culpa – melhor será dividi-la com os dois outros poderes, detonadores da confusão em que temos vivido e, portanto, sem autoridade moral para criticarem os homens (e mulheres) da toga.

Destacam-se no texto o papel das palavras de coesão, entre elas:

1º parágrafo: Assim sendo (valor explicativo);2º parágrafo: Em primeiro lugar (abertura do critério enumerativo);3º parágrafo: Em segundo lugar (seqüência enumerativa);4º parágrafo: por seu lado (mudança de enfoque);5º parágrafo: Assinalo, ainda (elemento de adição);7º parágrafo: Necessário é lembrar (elemento de citação);8º parágrafo: Também não seria possível, é evidente (elemento de afirmação);9º parágrafo: Todavia (elemento de oposição);10º parágrafo: e, portanto (elemento de conclusão).

Principais elementos de coesão no discurso jurídico29

Realce, inclusão, adição Negação, oposição ExclusãoAlém disso, ainda, demais, também,vale lembrar, pois, outrossim, agora, de modo geral, por iguais razões, em rápidas pinceladas, inclusive, até, é certo, é porque, é inegável, em outras palavras, sobremais, além desse fator.

Inobstante isso, de outra face, entretanto, no entanto, ao contrário disso, qual nada, por outro lado, por outro enfoque, diferente disso, de outro lado, de outra parte, contudo, de outro lado, diversamente disso

Seguer, exceto, senão, apenas, excluindo, tão-somente

28 Ibidem.29 DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.

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Enumeração, distribuição, continuação

Retificação, explicação Fecho, conclusão

Em primeiro plano, em primeiro lugar, em primeiro momento, a princípio, em seguida, depois (de), finalmente, neste passo, no geral, aqui, neste momento, desde logo, em epítome, de resto, em análise última, no caso em tela, por sua vez, a par disso, outrossim, nessa esfera, entrementes, nessa vereda, por seu turno, no caso presente, antes de tudo.

Isto é, por exemplo, a saber, de fato, em verdade, aliás, ou antes, ou melhor, melhor ainda, como se nota, como se viu, como se observa, com efeito, como vimos, daí por que, ao propósito, por isso, a nosso ver, de feito, como vimos de ver, portanto, é óbvio, pois.

Destarte, dessarte, em suma, em remate, por conseguinte, em análise última, concluindo, em derradeiro, por fim, por conseguinte, finalmente, por tais razões, do exposto, por tudo isso, em razão disso, em síntese, enfim, posto isso, assim, conseqüentemente.

Também expressões de transição desempenham importante papel no discurso jurídico. Por exemplo:

É de verificar-se...Não se pode olvidar-se...Não há olvidar-se...Como se há verificar...Como se pode notar...É de ser revelado...É bem verdade que...Não há falar-se...Vale ratificar (cumpre)...Indubitável é...Não se pode perder de vista...Convém ressaltar... É preciso insistir também no fato de que...

Posta assim a questão, é de se dizer...Registre-se, ainda...Bom é dizer que...Cumpre-nos assinalar que...Oportuno se torna dizer...Mister se faz ressaltar...Neste sentido deve-se dizer que...Tenha-se presente que...Inadequado seria esquecer, também...Assinale, ainda, que...Não é mansa e pacífica a questão, conforme se verá...É de opinião unívoca...

Os verbos, na comunicação jurídica, têm papel de especial relevância, alguns deles com acepção específica na área do direito.

VERBOS COMUMENTE UTILIZADOS NA LINGUAGEM JURÍDICA30:

AB-ROGAR Revogar totalmente uma lei, decreto, regulamento. Cassar, anular ou tornar sem efeito um ato anterior por entrar em vigência novo princípio, preceito, ou costume: Ab-rogar uma lei, decreto, regulamento, costume. V. derrogar.

ACAREAR Defrontar testemunhas cujos depoimentos não são concordantes: Acarear acusados, testemunhas, réus, partes.ACIONAR Intentar ação judicial contra pessoas natural ou jurídica: Acionar uma pessoa, em empresa, uma instituição, uma

sociedade.ACOIMAR Infligir coima, punir, castigar: O réu será acoimado pela própria lei. Os puristas acoimam os estrangeirismos. Ant.:

escoimar.ACORDAR Fazer acordo, ajustar, firmar contrato: As partes acordaram quanto à estipulação do preço. / Concordar, resolver de

comum acordo: Locador e locatário acordaram majorar o aluguel.ADIMPLIR Cumprir, executar um contrato, acordo etc.: Todos adimpliram as cláusulas contratuais. Ant.: Inadimplir.

ADJUDICARFazer adjudicação, declarar judicialmente que alguma coisa pertence a alguém: A sentença adjudicou bens de raiz em pagamento de dívidas contraídas. Transferir bens do domínio de uma pessoa para o domínio de outra (como conseqüência de execução, venda ou secessão): Não foi encontrada pessoa a quem adjudicar a sucessão.

AD-ROGAR Tomar por adoção pessoa sui juris: Ad-rogar uma pessoa desvalida.AGRAVAR Sobrecarregar, onerar: Agravam o povo com inúmeros tributos. Interpor (quem é parte no feito) o recurso de agravo: A

parte agravou do processo, da causa, da questão. APENAR Punir, condenar a pena: O juiz apenou-o com três anos de reclusão. Obs.: Não se deve confundir com penalizar (causar

pena ou desgosto a).

ARRESTARFazer ou decretar arresto, i.e, a apreensão judicial de bens do devedor, como meio preventivo de garantir ao credor a cobrança de seu crédito, até ser decidida a questão (CPC, art. 813): Arrestar bens, a coisa indicada. Também chamado embargo.

ARROLAR Fazer constar em rol ou lista a relação dos bens de um episódio e os títulos dos herdeiros (cf. CPC, arts. 1.031 a 1.038): Arrolar bens, rendas, títulos. Sin.: inventariar.

AUTUARLavrar um auto, i.e., reunir materialmente, em forma de processo (administrativo ou judicial) os dados pertinentes à infração ou ao delito, tais como a indicação da espécie de ação, os nomes do autor e do réu, data de entrada em cartório etc.: Autuar um infrator, um criminoso, um contraventor

ARROGAR Apropriar-se de, tomar como seu: Arrogou os bens do vizinho. / Exigir ou atribuir-se direito indevido, tomar como seu: Ele se arroga direitos que não lhe cabem.

AVERBAR Escrever um termo ou depoimento: averbar as declarações do depoente. B) Escrever à margem de um título, apostilar: Averbar a escritura. c) Registrar: Averbar certidões.

AVENÇAR-SE Fazer avenca, ajuste, contrato, convênio: O comprador avençou-se com o vendedor.AVOCAR Chamar a si, atribuir-se: Eles se avocam o direito de poder escolher.CALUNIAR Imputar falsamente a alguém fato definido como crime ou contravenção: A calúnia sofrida por ele merece reparação.

30 XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro : Forense, 1994.

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CAUCIONAR Assegurar com caução, dar em garantia, para o fiel cumprimento de alguma obrigação assumida; afiançar.CITAR Citar alguém a juízo, para tomar ciência de que, contra ele, foi proposta uma ação e, destarte, se possa defender: Citar o

réu, o interessado.

COMINAR a) Ameaçar com pena ou castigo no caso de infração da lei: Cominaram-lhe penas infamantes. b) Proscrever pena ou castigo: Furto é crime a que a lei comina pena de reclusão de um a quatro anos.

COMUTAR Em Direito Penal, permutar uma pena mais grave por outra mais branda. Comutar pena, castigo, punição. V. indultar.

CORREGERFazer correição, i.e, a diligência que se comete ao corregedor, no sentido de fiscalizar os juizados sob sua jurisdição, vistoriando os cartórios, examinando livros e processos, sindicando erros, abusos e desrespeitos e providenciando medidas cabíveis à boa administração da justiça.

DECAIR Incidir em decadência: Decair do direito, da causa, da posse./ Decaindo os pais do pátrio poder.DELINQÜIR Cometer crime, delito: Os menos abandonados acabaram delinqüindo. Não se conjuga na 1ª. pessoa do indicativo.DEMANDAR Propor demanda, disputar em juízo: Há muito aqueles dois vivem a demandar. / Intentar ação judicial contra: O

advogado sugeriu à esposa que demandasse o marido. V. litigar.

DENUNCIARa)Em Direito Civil, notificar, dar ciência a uma pessoa de determinado ato processo, a fim de que a omissão dessa diligência não acarrete prejuízos aos interessados: Denunciar um terceiro, uma pessoa. B) Em Direito Penal, acusar alguém perante o juiz, para que se dê início à ação penal: Denunciar uma pessoa, o réu, o culpado. / Revelar-se (à justiça), tornar-se conhecido: Ele próprio se denunciou. /O suspeito denunciava-se por suas atitudes.

DEPRECAR Requisitar (o juiz) a colega de outra jurisdição a prática de atou ou diligência necessária ao andamento de um processo: O juiz deprecou ao colega de uma comarca vizinha.

DERROGAR Revogar parcialmente uma lei, decreto, regulamento: A Câmara dos Deputados deverá derrogar a lei. V. ab-rogar.

DESAFORAR a) Isentar do pagamento, de um foro: Desaforar um rendeiro. B) Transferir um processo de um foro para outro: O juiz mandou desaforar a causa. / Renunciar ao privilégios do foro: Desaforou-se o réu ao foro do seu domicílio.

DESAGRAVAR a) Reparar uma ofensa ou insulto: Pediram-lhe que desagravasse o ofendido. b) Dar provimento a um agravo (recurso): Desagravar a parte agravante.

DESCRIMINAR Absolver do crime, excluir a injuridicidade ou condição criminosa de um ato ou fato: O tribunal descriminou o adultério.DIFAMAR Imputar fato ofensivo à reputação de alguém, com o fito de desacredita-lo: Difamou um homem de bem.DISTRATAR Anular o ajuste ou contrato por mútuo consentimento das partes: Comprador e vendedor distrataram o acertado.EMBARGAR Por embargos judiciais apropriados: Embargou uma sentença, um recurso, um despacho, uma penhora.EMENTAR Fazer a ementa ou apontamento de, i.e, o resumo do que se contém num acórdão, sentença, lei, decreto.EXPROPRIAR Desapossar (o proprietário) de sua propriedade, mediante processo movido pelo Estado. Possui acepção mais extensa

do que desapropriar, visto que tanto significa a venda forçada quanto a desapropriação de uma propriedade. EXARAR Lavrar, consignar por escrito: Exarar um despacho, uma sentença, uma certidão.EXTORQUIR Constranger alguém com intuito de obter indevida vantagem econômica: Ele extorquia dinheiro, bens, valores.EXTRADITAR Entregar (um criminoso) por extradição.FRAUDAR Cometer fraude contra alguém ou alguma coisa.GRAVAR Impor gravame, onerar, sujeitar a encargos, hipotecar.HOMOLOGAR Ratificar, confirmar ou provar (autoridade judicial ou administrativa) determinado ato para validá-lo legalmente.ILIDIR Contestar, refutar: O advogado ilidiu a argumentação.IMITIR Fazer entrar (na posse), investir em: Imitiu na posse o novo diretor.IMPETRAR Interpor recurso, requerer medida judicial para assegurar o exercício de um direito: Impetrou habeas-corpus.IMPRONUNCIAR Em Direito Penal, julgar improcedente ou não provada a denúncia ou queixa contra o acusado, evitando envia-lo a

julgamento do Tribunal do Júri: O juiz impronunciou o réu.INADIMPLIR Descumprir a obrigação contratual assumida, não pagar a dívida: O locatário inadimpliu várias cláusulas do contrato.INDICIAR Proceder a imputação criminal contra alguém, submetendo-o a inquérito policial ou administrativo.INDULTAR Conceder indulto a: O criminoso foi indultado.INJURIAR Ofender a dignidade ou o decoro de alguém.INQUIRIR Fazer perguntas a, indagar de alguém (réu) para esclarecimentos de certos fatos: O juiz inquiriu as testemunhas.INSIMULAR Atribuir crime, denunciar: Insimularam-no por suspeição.INTENTAR Propor em juízo: Intentou uma ação.INTERDITAR Declarar interdito, promover a interdição: O viciado foi interditado pela família.

INTERPELAR a) Exigir categoricamente explicações em juízo: O ofendido irá interpelar o ofensor; b) cientificar o devedor de que o credor não pretende prorrogar ou dilatar o pagamento: O credor já interpelou o devedor.

INVENTARIAR Proceder ao inventário de: Inventariou os bens do espólio. LAVRAR Escrever, escriturar, dar por escrito: O juiz lavrou a sentença.LEGISLAR Elaborar leis, legiferar: Nem sempre os políticos legislam bem.LICITAR Oferecer lance em leilão público: Não se apresentou quem quisesse licitar.LITIGAR Ter litígio sobre a coisa; disputa-la pela contestação: Inconformado, o posseiro deu-se a litigar contra o proprietário.LOCAR Alugar, dar de arrendamento: Locou o apartamento para um parente.MALVERSAR Administrar mal ou ruinosamente, dilapidar: Malversou o dinheiro público.NOVAR Efetuar a novação de uma dívida; converter voluntariamente uma obrigação em outra.OB-ROGAR Contrapor-se uma lei a outra: Os projetos de lei apresentados pelos dois advogados ob-rogam.PACTUAR Firmar pacto, ajustar, combinar: Pactuaram para o dia seguinte a assinatura do contrato.PENSIONAR Pagar ou dar pensão: O marido passará a pensionar a ex-mulher com três salários mínimos.PETICIONAR Formular, por escrito, uma petição: Peticionou, em juízo, seus direitos.PRESCREVER Incidir em prescrição: A pena imposta ao réu prescreverá brevemente

PREVARICARa) Em Direito Penal, retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa em lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Os magistrados não devem prevaricar; b) Praticar o adultério: O cônjuge masculino prevaricou. / Corromper, perverter: Prevaricou os bons costumes.

PROLATAR a) Proferir ou lavrar a sentença judicial: O juiz prolatou a sentença; b) Promulgar uma lei: A Câmara prolatou nova lei.

PRONUNCIAR a) Prolatar, despachar, declarar: O juiz acaba de pronunciar a sua sentença; b) Proclamar (o juiz) a autoria do delito de que acusam o réu, para encaminha-lo ao Tribunal do Júri: O juiz pronunciou o réu.

PURGAR Liberar ou extinguir a obrigação pelo respectivo pagamento: O sujeito purgou a mora, a dívida, a condenação.QUERELAR Promover querela, i.e., ajuizar a ação penal privada contra alguém: O queixoso querelou contra o seu ofensor.RECEPTAR Receber, adquirir ou ocultar coisas sabidamente de procedência ilícita ou criminosa: Foi acusado de receptar os furtos.REINCIDIR Tornar a incidir. Em Direito Penal, perpetrar novo crime: reincidir no mesmo crime, em erro, em culpa.

REMIR Resgatar, pagar, liberar: Remir dívida, obrigação, compromisso; b) Expiar: Remir um erro, pecado, culpa; c) Tirar do cativeiro, do poder alheio: Ciro, o Grande, remiu os judeus escravizados. / Liberar, resgatar: Remiu-o da prisão.

REMITIR Perdoar, não exigir, dispensar, renunciar: remitir penas, culpas, dívidas.RESCINDIR Anular, sob conhecimento judicial, os efeitos jurídicos do ato, convenção ou sentença: rescindir contrato, acordo etc.RESOLVER Efetuar a resolução, desfazer, dissolver, anular (contrato, ato jurídico): As partes decidiram resolver o contrato.RESSARCIR Pagar o prejuízo causado, reparar o dano, indenizar: O culpado ressarcirá o prejuízo.REVOGAR Anular ou retirar, licitamente, a eficácia de ato anteriormente praticado: Revogar uma lei, decreto, regulamento.

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SANCIONAR a) Dar sanção, aprovação, confirmação a uma lei; b) Ordenar, impor a pena ou castigo que se dispõe na regra geral.SANEAR Purificar, aperfeiçoar, expurgar falhas, defeitos ou vícios de uma peça processual: Sanear o processo, os autos.

SEQÜESTRARa) Em Direito Processual, fazer ou decretar seqüestro, i.e., a apreensão judicial de um bem determinado sobre o qual exista litígio, pondo-o em depósito a título de garantia (V. arrestar); b) Em Direito Penal, privar alguém de sua liberdade de locomoção, removendo de um lugar e levando-a para onde não deseja ir (V. raptar).

SIMULAR Praticar um ato ou celebrar um contrato sob fingimento, dando aparência legal ao que é ilícito.SONEGAR Ocultar ou deixar de declarar certa coisa: eximir-se ilicitamente ao cumprimento de um dever.SUB-ROGAR Substituir uma coisa ou pessoa por outra, para que, em seu lugar, o objetivo seja cumprido ou satisfeito.SUBSCREVER a) Apor assinatura ou firma num escrito a fim de autenticá-lo, ou para se reconhecer solidário com o que foi realizado; b)

em Direito Comercial, assumir o compromisso de concorrer com ações para compor capital.SUBSTABELECER Transferir a outrem os poderes conferidos num mandato.SUMARIAR Proceder processualmente a formação de culpa do denunciado, para apurar-se a procedência ou não da acusação.TERGIVERSAR Defender na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias, traindo o dever profissional.TESTAR Fazer o testamento.TOMBAR Cadastrar, registrar ou inventariar prédios ou imóveis nos cadastros da municipalidade.TURBAR Ferir ou perturbar direito alheio, impedindo ou procurando impedir, por vias de fato, o seu livre exercício.TUTELAR Exercer a tutela sobre; proteger na qualidade de tutor.USUCAPIR Adquirir o domínio por usucapião ou pela prescrição, da propriedade que se possuía durante um tempo prefixado em lei.VICIAR Tornar defeituoso, falho ou irregular um ato jurídico, levando-o à nulidade ou à anulação.VIGER Vigorar, estar em execução, em uso: Não se pode permitir a infringência das leis que estão vigendo.

VILIPENDIAR Tratar com vilipêndio, i.é, vileza, ultraje ou desprezo, desde que a ação recaia sobre ato ou objeto de culto religioso: O morto foi vilipendiado naquela ocasião.

Alguns verbos são mais apropriadamente utilizados para exprimir algumas relações:

Relação de causalidadeCausar, gerar, acarretar, originar, provocar motivar, permitir etc.Relação de conseqüênciaDerivar, vir de, resultar, ser resultado de, ter origem em, decorrer, provir etc.Relação de oposiçãoObjetar, impedir, contrariar, defrontar-se, ir de encontro a, embargar, obstar, contrastar etc.

RETÓRICA31, FORENSE

RETÓRICA é a arte de exprimir-se bem pela palavra, ou seja, de utilizar todos os recursos da linguagem com o objetivo de provocar determinado efeito no ouvinte. A premissa básica da retórica é que todo discurso é feito com a intenção de alterar uma situação determinada. Como disciplina ensinada e aprendida, a retórica apresenta um sistema de formas de pensamento e de linguagem, que devem ser conscientemente utilizadas.

A arte da retórica nasceu na Sicília, em meados do século V a.C., quando a política dos tiranos deu lugar à democracia. No mundo grego, a oratória veio a ser uma necessidade fundamental do cidadão, que teria de defender seus direitos nas assembléias. Pouco a pouco, começaram a surgir profissionais da retórica -- os primeiros advogados -- que ainda não representavam seus clientes na tribuna, mas orientavam seus discursos, quando não os escreviam totalmente, obrigando os clientes a decorá-los, para realizar uma exposição correta e obter o ganho da causa.

Os primeiros profissionais retores de que há notícia são dois sicilianos de Siracusa, Córax e Tísias, que, no ano de 460 a.C., definiram-na como a arte da persuasão e começaram a sistematizar as regras do discurso forense, para o qual prescreveram três seções: provímion, "proêmio", agones, "pleito" e epílogos, "epílogo".

No mesmo século, os sofistas foram responsáveis por um grande impulso na evolução da retórica. Consideravam que, sendo a verdade relativa, poderia depender da forma do discurso no qual fosse apresentada. Criaram então escolas de retórica, que passaram a ser freqüentadas pelas pessoas que tinham necessidade de falar em público. Platão não compartilhava das idéias dos sofistas e postulava a existência de uma verdade absoluta, inquestionável. Portanto, a linguagem seria fundamentalmente um meio de expressão dessa verdade e das leis da moral.

Aristóteles é o autor do mais importante tratado da antiguidade sobre o tema. Em sua Retórica, estabeleceu como qualidades máximas para o estilo a clareza e a adequação dos meios de expressão ao assunto e ao momento do discurso. Relacionou os métodos de persuasão do júri e da assembléia e classificou-os em três categorias: os que induzem atitude favorável à pessoa do orador, os que produzem emoção e os argumentos lógicos e exemplos. Concordou com Platão quanto aos aspectos morais da retórica e distinguiu três tipos de discurso: deliberativo, para ser pronunciado nas assembléias políticas; forense, para ser ouvido no tribunal; e epidíctico, ou demonstrativo, tais como panegíricos, homenagens fúnebres etc. Cada tipo de discurso se estruturava segundo regras próprias para efetuar a persuasão.

31 Em face da complexidade do assunto, recomenda-se o estudo detalhado em obras especializadas.

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A Roma republicana adotou a teoria aristotélica e em seu sistema legislativo e judicial atribuía grande importância à oratória, disciplina básica em seu sistema de educação. A prática da retórica decaiu no período imperial, em conseqüência da perda das liberdades civis. Os maiores oradores romanos foram Cícero, no século I a.C., e Quintiliano, um século depois. A retórica romana elaborou as práticas gregas e desenvolveu um processo de composição do discurso em cinco fases: a invenção, escolha das idéias apropriadas; a disposição, maneira de ordená-las; a elocução, que se referia ao uso de um estilo apropriado; a memorização; e, finalmente, a pronunciação. A retórica se estruturava assim como uma técnica mecanicista de construção do discurso.

O declínio do Império Romano levou ao desaparecimento dos foros públicos e a retórica civil praticamente se restringiu à elaboração dos panegíricos dos imperadores. A retórica foi também praticada pelos teólogos cristãos, que, quanto ao conteúdo, seguiam com fidelidade as doutrinas ditadas pela igreja, embora imitassem o estilo dos autores clássicos. Por volta do século XVI, era aplicada à redação de cartas. Sob a influência do humanista francês Petrus Ramus foi reduzida principalmente a questões de estilo e se tornou uma coleção de figuras de linguagem. A partir de então ganhou a fama de ser mera ornamentação formal, sem conteúdo. Foi relegada às escolas para ensino do latim e permaneceu por três séculos sem maiores alterações.

Retórica moderna - As transformações registradas na teoria do conhecimento, iniciadas após o Renascimento com René Descartes e John Locke, superaram algumas das idéias da retórica clássica. Nietzsche e filósofos contemporâneos como Thomas Kuhn já não consideram a linguagem como simples espelho da realidade e expressão da verdade absoluta, mas, pelo contrário, acreditam que atua como um filtro que condiciona a percepção.

Devido a essas mudanças na epistemologia, a retórica clássica fornece um modelo capcioso para os estudiosos da linguagem enquanto comunicação ou transmissão de conhecimento. A verdade não é mais definida como idéia prefixada que a linguagem apresenta de forma atraente, mas como idéia relativa a uma perspectiva que é intrínseca à própria linguagem. Pensadores do pós-estruturalismo, que vêem a linguagem como estrutura cultural preexistente, que condiciona o indivíduo, pretendem fazer o exame retórico inclusive de outras formas de discurso relacionadas à linguagem.

Tornam-se objeto desse estudo o cinema, a televisão, a publicidade, o mercado financeiro, os partidos políticos e os sistemas educacionais, estruturas produtoras de discurso e intrinsecamente retóricas, já que instituídas para persuadir e provocar resultados específicos. Outros retóricos modernos compreendem toda comunicação lingüística como argumentação e advogam que a análise e a interpretação do discurso sejam baseadas em um entendimento da reação e da situação social da audiência.

Pode-se dizer, então, que a retórica por definição, é a arte da eloqüência. Como eloqüência no foro visa a persuasão, é evidente que, particularizando o termo nos âmbitos da linguagem forense, deve ser entendida como a arte de apresentar uma idéia ou tese de forma persuasiva. Classicamente a retórica apresenta três partes: invenção – a busca de argumentos, provas, exemplos; disposição – a ordem por que devem argumentos e provas ser encadeados; elocução – a maneira clara e precisa de expor os argumentos e provas, já encontrados e postos em ordem.32

Invenção – conhecida a questão, deve o advogado buscar elementos para sua tese, alguns constantes dos autos (documentos, laudos e depoimentos) outros são argumentos tirados dos primeiros, e constituem a parte criativa do advogado. Nessa fase o advogado procura exemplos que, sendo casos particulares, podem aplicar-se ao caso (jurisprudência).Disposição – De posse dos elementos, o advoga dispô-los-á de forma que persuada o juiz, buscando graduá-los de maneira que os juízes vão aos poucos se convencendo, sem esquecer o enquadramento do fato à lei.Expressão – após a busca dos elementos e a ordem em que devem figurar, o profissional deve redigir o texto em linguagem clara, breve, lógica e, evidentemente, persuasiva.

A oratória33 é a arte de falar em público. Eloqüência é a “força do dizer”, isto é, de influir no ânimo do ouvinte, do dominá-lo a persuadí-lo pelo dom da palavra. O orador judiciário não se distingue dos demais, a não ser pela natureza do seu discurso: defender ou acusar em nome da justiça. A exposição oral ou escrita das idéias de um orador realiza-se no discurso, cujos elementos constitutivos, de modo sumário, são os seguintes:

1) Exórdio – é a introdução ao assunto. Pode ser composto de proposição – onde se anuncia o assunto que vai ser enfocado – e divisão – onde se mostram, separados e resumidos, os

32 NASCIMENTO, Edmundo Dantès. Linguagem Forense. 10 ed. São Paulo : Forense, 1995.33 XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro : Forense, 1994.

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diversos tópicos do assunto. O exórdio propõe a) estabelecer a idéia geral; b) situar o assunto no contexto; c) motivar o destinatário; d) apresentar a proposta temática.

2) Desenvolvimento – é o corpo do discurso propriamente dito, podendo desmembrar-se em narração e argumentação. A narração consiste em expor um determinado fato, e é onde o orador procura conquistar a adesão do auditório. Compreende dois momentos: a explanação das idéias e as provas comprobatórias de sua veracidade. É a fase da reflexão, da fundamentação do trabalho. No discurso jurídico, a matéria probante é a mola mestra da dissertação argumentativa.

3) Peroração – é a parte final do discurso, onde o orador deve arregimentar todo o seu talento e inspiração para convencer em definitivo.

Existe íntima relação entre os vocábulos raciocínio e argumentação porque a expressão verbal do raciocínio chama-se argumento.

Na retórica jurídica, os tipos de raciocínio (argumentos) mais comuns são:

a) Apodítico – é o que se estrutura com tom de verdade absoluta: a argumentação “fecha” as possibilidades contestatórias, sendo apresentada de forma categórica.b) Dialético – neste o raciocínio é aberto a discussões, permitindo controvérsias e

contestações, apesar do autor procurar convencer do que considera mais aceitável.c) Retórico – concilia dados racionais e emocionais; é variante do raciocínio dialético. É o

preferido de políticos e advogados.d) Silogístico – segue a estrutura do silogismo, apresentando duas proposições (premissas)

que se encadeiam para chegar a uma conclusão.

A argumentação é a expressão verbal do raciocínio. Os principais tipos são:

1. Por exclusão – propõe-se várias hipóteses e vai-se eliminando uma por uma, para se fixar em um objetivo.2. Pelo absurdo – consiste em refutar uma asserção, mostrando-lhe a falta de cabimento ao contrariar a evidência.3. De autoridade – apóia-se na validade das declarações de um especialista da questão.

Outras formas de argumentação são: a) contra o homem (ad hominem), baseada no ataque frontal ao adversário, em situação concreta; e b) experimental (a posteriori)¸ quando se parte do resultado ou efeito para conhecer as origens ou causas.

A capacidade argumentativa do profissional vai sobressair na linguagem das alegações finais, geralmente divididas pelo Ministério Público brasileiro em duas partes: o relatório e a argumentação.34

No relatório o Promotor de Justiça tecerá suas argumentações, primeiro reforçando a narrativa da denúncia, enumerando os depoimentos de defesa e examinando os depoimentos acusatórios, tomando-os como base para a argumentação. A seleção das provas tem valor persuasivo para a promotoria.Para a defesa, o momento das alegações finais é decisivo, porque não só deverá refutar a argumentação acusatória, mas ainda convencer o juiz da ausência ou insuficiência de provas condenatórias.

Whitaker Penteado elenca alguns meios de ilidir argumentos:

1. Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele.2. Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária.3. Utilize a técnica de “redução às últimas conseqüências”, levando os argumentos contrários ao

máximo de sua extensão.4. Veja se opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento empregado.5. Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o seu opositor.6. Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados.7. Ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor.8. Cite outros exemplos semelhantes que provem exatamente o contrário dos argumentos que lhe

são apresentados pelo opositor.9. Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada com a omissão de palavras ou de toda

a sentença que diria o contrário do que quis dizer o opositor.

34 DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.

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10. Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as falsidades que contêm.

...........................

A LINGUAGEM NAS PEÇAS JURÍDICAS

De acordo com Xavier35, as petições e requerimentos apresentados durante os processos devem merecer atenção especial:

DAS PARTES – é vício forense nomear-se o Autor e o Réu por “Suplicante” e “Suplicado”. Tais expressões eram usadas quando os recursos eram dirigidos à “Casa da Suplicação”, na antiga organização judiciária de Portugal. Não tem razão de ser no Processo Brasileiro.

DO TRATAMENTO – o tratamento é todo na terceira pessoa, uma vez que o juiz é tratado por V.Exa. Também na terceira pessoa é o tratamento para o requerente. É comum o advogado usar em petições e razões o pronome “nós”. Não se escreve “nós pensamos de modo contrário”, mas sim “o Autor, ou Réu, ou recorrente pensa de modo contrário”. É uma posição ética do advogado que, salvo exceções, diz sempre em nome do cliente e não no seu próprio.

DA TERMINOLOGIA – sem perder de vista a beleza formal, o advogado deve observar a terminologia das leis a que se referir. Os termos adquirem na lei conteúdo semântico próprio, podendo um sinônimo alterar a compreensão do texto.

DA PARAGRAFAÇÃO – a paragrafação de petições confunde-se com os itens, tendo por fim dividir as idéias principais em seu desenvolvimento, isolando-as para sua perfeita compreensão. Da técnica de dividir o arrazoado ou a petição em parágrafos depende o bom entendimento desses: cada parágrafo desenvolve-se em três fases: na introdução enuncia-se a idéia que se vai desenvolver; no desenvolvimento explana-se e exemplifica-se a mesma; na conclusão demonstra-se a veracidade da idéia.

DA ADJETIVAÇÃO – na linguagem jurídica o adjetivo visa a restrição do conceito para conformá-lo à idéia expressa.DOS “QUÊS” – um mau hábito da linguagem jurídica é o uso excessivo dos “quês”, condenado por todos os autores. A oração relativa pode ser substituída pelo particípio presente, particípio passado, relativo “qual”, conjunção, gerúndio, adjetivo demonstrativo, substantivo etc. Ex: O tutor que representa o réu. / O tutor representante do réu; O juiz que prolatou a sentença que o Tribunal reformou. / O juiz prolator da sentença reformada pelo tribunal; A área que está sendo usucapiada. / A área usucapienda; Aguarda que sejam deferidos os requerimentos... / Aguarda serem os requerimentos deferidos; etc.

TIRA-DÚVIDAS

1 - "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.

2 - "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

3 - "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.

4 - "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam idéias.

35 XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro : Forense, 1994.

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5 - Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

6 - Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti.

7 - "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.

8 - "Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido.

9 - "Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter.

10 - "Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado.

11 - Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.

12 - Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória.

13 - O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias.

14 - Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinqüenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro).

15 - Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

16 - Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me.

17 - Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama.

18 - "Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados.

19 - "Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos.

20 - Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo.

21 - Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade.

22 - Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não "em vias de": Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão.

23 - Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.

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24 - O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo (sem acento).

25 - A última "seção" de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso.

26 - Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc.

27 - "Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de.

28 - Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não "qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão.

29 - A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã.

30 - Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro.

31 - O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível) queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo) vicioso, "cabeçário" (cabeçalho).

32 - Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos?

33 - "Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo.

34 - O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.

35 - Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.

36 - "Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui.

37 - A questão não tem nada "haver" com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.

38 - A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais.

39 - Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas.

40 - Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano.

41 - Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória.

42 - "Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram.

43 - Ministro nega que "é" negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa.

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44 - Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.

45 - Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas.

46 - Lute pelo "meio-ambiente". Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, etc. O sinal aparece, porém, em mão-de-obra, matéria-prima, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição, meio-de-campo, etc.

47 - Queria namorar "com" o colega. O com não existe: Queria namorar o colega.

48 - O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não "junto aos") leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não "junto ao") Procon.

49 - As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos.

50 - Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca "imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não "darão-nos") um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formado-me").

51 - Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias.

52 - Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira.

53 - A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu "a luz a" gêmeos.

54 - Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala.

55 - Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.

56 - Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.

57 - O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por.

58 - À medida "em" que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem.

59 - Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam).

60 - Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem.

61 - A moça estava ali "há" muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.)

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62 - Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc.

63 - Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas.

64 - Fique "tranquilo". O u pronunciável depois de q e g e antes de e e i exige trema: Tranqüilo, conseqüência, lingüiça, agüentar, Birigüi.

65 - Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

66 - "Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto.

67 - Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores.

68 - Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia.

69 - Chamei-o e "o mesmo" não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não "dos mesmos").

70 - Vou sair "essa" noite. É este que desiga o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 20).

71 - A temperatura chegou a 0 "graus". Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora.

72 - A promoção veio "de encontro aos" seus desejos. Ao encontro de é que expressa uma situação favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa condição contrária: A queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria.

73 - Comeu frango "ao invés de" peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu.

74 - Se eu "ver" você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos.

75 - Ele "intermedia" a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio.

76 - Ninguém se "adequa". Não existem as formas "adequa", "adeqüe", etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc.

77 - Evite que a bomba "expluda". Explodir só tem as pessoas em que depois do d vêm e e i: Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale "exploda" ou "expluda", substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as formas "precavejo", "precavês", "precavém", "precavenho", "precavenha", "precaveja", etc.

78 - Governo "reavê" confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem "reavejo", "reavê", etc.

79 - Disse o que "quiz". Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos.

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80 - O homem "possue" muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue.

81 - A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa idéia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...

82 - Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém "é comunicado" de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria "comunicou" os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados.

83 - Venha "por" a roupa. Pôr, verbo, tem acento diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo ocorre com pôde (passado): Não pôde vir. Veja outros: fôrma, pêlo e pêlos (cabelo, cabelos), pára (verbo parar), péla (bola ou verbo pelar), pélo (verbo pelar), pólo e pólos. Perderam o sinal, no entanto: Ele, toda, ovo, selo, almoço, etc.

84 - "Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não "inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu.

85 - A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).

86 - Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).

87 - O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.

88 - Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.

89 - "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras).

90 - A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso : A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram punidas").

91 - O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido.

92 - "Haja visto" seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas.

93 - A moça "que ele gosta". Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc.

94 - É hora "dele" chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido...

95 - Vou "consigo". Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não "para si").

96 - Já "é" 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não "são") 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite.

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97 - A festa começa às 8 "hrs.". As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não "kms."), 5 m, 10 kg.

98 - "Dado" os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas idéias...

99 - Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás.

100 - "Ao meu ver". Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.

Concordância

Os defeitos de concordância são bastante graves. Alguns exemplos de erros de concordância:

Vai aqui algumas sugestões... (vão)Aparece candidatos a apregoar suas virtudes... (aparecem)Estejamos alertas. (alerta é invariável)À medida que um país se desenvolve, surge crises internas. (surgem)Apesar de não existir relações entre estes países... (existirem)Houvessem mais hotéis, e o turismo seria mais incrementado... (houvesse)

O pronome apassivador “se”

Comumente, em vez de escrever “constroem-se edifícios”, “divulgam-se notícias”, são usadas as formas erradas “constrói-se edifícios”, e “divulga-se notícias”. Orações desse tipo são passivas e o verbo deve concordar com o sujeito. A sugestão é que seja evitado o uso do “se”, para evitar o risco de erro grave.”

Construiu-se muitas estradas. (construíram-se)Conquista-se mercados, mas não com facilidade. (conquistam-se)Reacendeu-se as esperanças após o seu mandato. (reacenderam-se)Criou-se o homem e dele fez-se as raças. (fizeram-se)Compra-se carros e um grande problema para o país: o congestionamento. (compram-se)

RegênciaOs deslizes mais freqüentes de regência são:

1. Assistir é transitivo indireto no sentido de presenciar e exige preposição “a”:Muitos alunos assistiram o espetáculo. (assistiram ao)O filme foi assistido por grande multidão. (sendo transitivo indireto, não tem passiva: Grande multidão assistiu ao filme.)

2. Visar é transitivo indireto no sentido de objetivar, almejar e exige preposição “a”:Aqueles visavam melhores dias para o país. (visavam a)Eles visavam a paralisação das atividades. (visavam à)

3. Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar e exige preposição “a”.Ela aspira uma vida melhor. (aspira a uma...)O professor aspira uma livre-docência. (aspira a uma...)

4. Implicar é transitivo direto no sentido de resultar, ter como conseqüência e não se usa com a preposição “em”.Isto implica em grandes aborrecimentos. (implica grandes...)A decisão implicará em uma série de medidas. (implicará uma série...)

5. Agradar é transitivo indireto no sentido de ser agradável e pede preposição “a”.Esta medida não agradará os governantes. (agradará aos...)O que agrada o pai não agrada o filho. (agrada ao pai, ao filho)

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6. Preferir no sentido de “querer antes” tem a seguinte construção:Prefiro a Matemática ao Desenho.É errado dizer: Prefiro antes a Matemática do que o Desenho.

Colocação de pronomes oblíquos

Há certas regras que é necessário observar:

1. Não iniciar períodos com pronome oblíquo.Lhe digo que estou certo. (digo-lhe)Me pergunto se errei. (pergunto-me)

2. A negativa atrai o pronome.Não se fala mais. Não lhe dou ouvidos.

3. As conjunções subordinativas e o “que” relativo atraem o pronome.É ele que me diz. Quando me visitaste, adoeci.

Grafia em expressões latinas mais usadas

As expressões latinas devem ser evitadas, a menos que você tenha plena segurança de sua grafia.

ERRADAS CORRETAS

A priore (priori)Renda per capta (per capita)Modus vivendus (vivendi)Pari passo (pari passu)Status quo (statu quo)

Exemplos comuns de erros na grafia de palavras em língua portuguesa:

erradas corretasReaveram a taça (reouveram)O Governo interviu (interveio)O Brasil contribue (contribui)Minas possue (possui)Os estudantes quizeram (quiseram)Que as autoridades se precavenham (se previnam)

aborigene (aborígene) expontâneo (espontâneo) afim de que (a fim de que) mixto (misto)analizar (analisar) obseção (obsessão)atravéz (através) paralizar (paralisar)atráz (atrás) pesquiza (pesquisa)atrazado (atrasado) prazeirosamente (prezerosamente)conciente (consciente) pretenção (pretensão)degladiar (digladiar) previlégio (privilégio)delapidar (dilapidar) sucitar (suscitar)desapercebido (despercebido) suscinto (sucinto)dispender (despender) selvícola (silvícola)explêndido (esplêndido) talvês (talvez)

Acentuação e crase

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As normas que regulam o uso da acentuação e da crase devem ser estudadas para que não sejam cometidos erros primários como colocar crase antes de nome masculino ou antes do sujeito, assim como acentuar uma oxítona terminada em “u” revela ignorância quanto às regras básicas de acentuação.

1. Alguns erros graves de crase:

Aviões à jato. (masculina)Só conseguiremos à longo prazo. (masculina)Iniciaremos as 19 horas. (às)À atacado fica mais barato. (a)Frente à frente. (a)À porretadas. (a)Estaremos lá a uma hora. (à)

2. Alguns erros graves de acentuação:

Eles vem conversar. (vêm)Eles tem consciência. (têm)Eles detém o poder. (detêm)O juís está para chegar. (juiz)Ele mora em Botucatú. (Botucatu)

“Há” e “a”

Nem todos sabem que o “há” é usado para tempo passado e o “a” para o tempo futuro: Nasceu há vinte anos. Irei daqui a duas horas. Alguns exemplos dessa falha: A televisão existe a cerca de vinte anos. (há); De hoje há uma centena de anos, que progresso alcançaremos? (a)

Mau ou mal?

Mau é um adjetivo (o contrário de bom) e, como tal, deve ser empregado junto com um substantivo. Ex: mau comportamento; homem mau.Mal pode ser advérbio ou substantivo. Como advérbio é invariável e o contrário de bem: Ele canta mal. / mal-estar / mal-educado. Como substantivo, admite o artigo e a flexão para o plural (males): O mal deve ser combatido.

Aluga-se ou alugam-se

Na seqüência VERBO+PARTÍCULA “SE”+ SUBSTANTIVO, o verbo concorda com o sujeito: vendem-se casas / vende-se uma casa; alugam-se quartos / aluga-se um quarto; exigem-se documentos. Porém, se vier uma proposição (geralmente “de”) antes do substantivo, o verbo permanece no singular: trata-se de casos isolados; precisa-se de pedreiros.

Meio-dia e meia ou meio-dia e meio?

O correto é meio-dia e meia, pois meia se refere à palavra hora (meia hora), que está subentendida.

Ela está meio irritada ou ela está meia irritada?

Como advérbio, significando pouco, a palavra meio fica invariável: Ela está meio irritada. / Eles ficaram meio nervosos. Quando empregada como adjetivo, meio concorda com o substantivo: Tomei meia garrafa de cerveja. / Ele comeu meia maçã.

Aspirar um cargo ou aspirar a um cargo?

Aspirar no sentido de desejar pede preposição: Aspirar a um cargo. / Aspirar à vitória. / Aspirar a um futuro melhor.Aspirar no sentido de sorver, absorver não tem preposição: Aspirar ar puro.

Faz dez dias que ele saiu ou fazem dez dias que ele saiu?

Quando indica tempo, o verbo fazer é impessoal, permanecendo no singular: Faz dez dias que ele saiu. / Faz cinco minutos que ela chegou.

Menos ou menas coragem?

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Menos é uma palavra invariável: menos injustiças; menos coragem; menos responsabilidade; menos alunas etc.

Quando eu ver ou quando eu vir?

O futuro do subjuntivo do verbo ver é vir (vires, vir, virmos, virdes, virem). Não confunda com o subjuntivo do verbo vir, que é vier (vieres, vier, viermos, vierdes, vierem).

Muito obrigado ou muito obrigada?

O termo obrigado é um adjetivo, e tem que concordar com o gênero do ser a que se refere: a mulher deve dizer obrigada e o homem obrigado.

Por isso ou porisso?

Deve-se usar sempre por isso.

Afim ou a fim?

Escrevemos afim quando queremos dizer semelhante: Temos temperamentos afins.Escrevemos a fim para indicar finalidade (neste caso a expressão é seguida da preposição “de”): Estamos aqui a fim de estudar.

Havia muitos alunos ou haviam muitos alunos?

Quando indica existência o verbo haver é impessoal, ficando no singular: Havia muitos alunos. / Há muitas dúvidas. O verbo existir, no entanto, concorda normalmente com o sujeito: existiam alunos; existem dúvidas.

Ir ao encontro ou ir de encontro?

Ir ao encontro significa aproximar-se, concordar: Fui ao encontro dos amigos. / Essa idéia vai ao encontro das minhas.Ir de encontro significa ir contra, chocar-se: O carro foi ao encontro do muro. / Sua afirmação vai de encontro às nossas idéias.

Pés-de-moleque ou pés-de-moleques?

Num substantivo composto, quando os elementos são ligados por preposição, só o primeiro varia: pés-de-moleque; grãos-de-bico; mulas-sem-cabeça.

Abaixo-assinados ou abaixos-assinados?

Em substantivos compostos, quando o primeiro elemento é um verbo ou palavra invariável e o segundo, um substantivo ou adjetivo, só o último varia: arranha-céus; beija-flores; guarda-sóis; sempre-vivas.

Residente na rua ou residente à rua?

O certo é na rua. Se a palavra rua for substituída por bairro, a regra fica melhor compreendida (Eu moro no bairro São João). A mesma orientação se aplica a residir, residente e sito.

Por que – Por quê – Porquê - Porque

Grafa-se por que (separado e sem acento) em dois casos:a) Nas frases interrogativas (não no fim): Por que saíste agora? / E nós, por que ficamos? b) Quando for substituível por pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais: As dificuldades por que passei foram muitas. / Muitas foram as razões por que lutei.

Grafa-se por quê (separado e com acento), quando essa expressão “bater contra” um ponto final: Saíste agora por quê? / Ninguém sabe por quê.

Grafa-se porquê (junto e com acento) quando essa palavra estiver substantivada (antecedida do artigo): O porquê da questão não foi esclarecido. / Para tudo existe um porquê.

Grafa-se porque (junto e sem acento) nos demais casos: Não fui à aula porque estava doente. / Não sei porque você não respondeu.

A nível ou em nível?

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O certo é em nível. Para ter certeza, basta colocar o adjetivo “alto” ao lado do substantivo “nível”, e logo percebe-se que a construção pede a preposição “em”.

Em vez de ou ao invés de?

Em vez de significa em lugar de, supõe uma substituição: Em vez de sair com a esposa, saiu com a empregada.Ao invés de significa ao inverso, ao contrário, supõe oposição: Ao invés de chutar para frente, chutou para trás.

Sessão – Cessão - Seção

Sessão supõe uma reunião de pessoas: sessão de cinema; sessão espírita.Cessão é o ato de ceder alguma coisa: cessão de direitos.Seção supõe uma divisão, uma repartição: seção de venda; seção pessoal.

Bi-campeão ou bicampeão?

Os prefixos uni, bi, tri, tetra (e outros numerais) e multi não provocam hífen nunca: unilateral, bicampeão, tricampeão, multicoisas etc.

Eminente ou Iminente?

Eminente significa elevado, nobre, sublime: O eminente líder.Iminente significa próximo, imediato: Perigo iminente!

A moral ou o moral?

A moral é o conjunto de normas de conduta (Devemos respeitar a moral.) e também a conclusão que se tira como norma

Aonde – donde - onde

Quando se trata do verbo ir ou sinônimos (encaminhar-se, dirigir-se /sentido de movimentação), emprega-se aonde: Aonde vamos? / Aonde você foi?Quando se trata de outros verbos emprega-se onde: Onde estamos? / No lugar onde ficamos... / De onde saiu isto?O donde é a contração do “de” com o “onde”: Donde veio aquilo?

Entre eu e tu ou entre mim e ti?

O certo é entre mim e ti. Entre , no caso, é uma preposição e, antes dos pronomes eu e tu, não se usa preposição: Ele pensou em mim e ti. / Ela estava entre mim e ti.

Esse ou este / Isto ou isso

Localização de seres no espaçoESTE(s)/ESTA(s): refere-se a algo que esteja perto da pessoa que está falando: Esta minha gravata é nova. / Você gostou deste meu vestido?ESSE(s)/ESSA(s): refere-se a algo que esteja perto da pessoa com quem falamos: Você vai sair com esse vestido? / Essa sua gravata é horrível!

Localização de seres no tempoESTE(s)/ESTA(s): emprega-se em relação ao tempo presente: Este ano foi muito bom. (ano em curso) / Esta é uma data especial: hoje é o meu aniversário. / Neste momento solene...ESSE(s)/ESSA(s): emprega-se em relação ao tempo passaso: Ontem tive muitos aborrecimentos; não gosto de me lembrar desse dia. / Essa é uma data especial, o dia em que você nasceu.

Nas cartasESTE(s)/ESTA(s): refere-se ao local em que se encontra o redator: Envio esta carta para expressar o meu amor...ESSE(s)/ESSA(s): refere-se ao local em que se encontra o destinatário: Espero em breve poder conhecer essa cidade...

Nas dissertações comuns, que não se enquadram nos casos anteriores:

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ESTE/ESTA/ISTO: refere-se a algo que só depois o leitor ou ouvinte fica sabendo o que é (está sendo anunciado): Não esqueça isto: a vida é bela. ESSE/ESSA/ISSO: usa-se em relação a algo que o leitor ou ouvinte já sabe o que é: A vida é bela; isso não deve ser esquecido.

Obs: Nas obras literárias não há grande rigor no uso destas expressões, em virtude da predominância dos valores estilísticos sobre os valores gramaticais.

Haja vista ou hajam vista?

A expressão haja vista pode ser usada sempre no singular, mas também é correta a concordância do verbo haver com o substantivo: Ele é um bom aluno, haja vista sua média; ou Ele é um bom aluno, hajam vista suas médias. A forma haja em vista também é usual.

Todo o ou todo?

Devemos usar TODO O, TODA A, quando essas expressões forem substituíveis, sem quebra de sentido, por “o ... inteiro”, “a ... inteira”: Todo o mundo lamentou a morte do líder. (O mundo inteiro lamentou...) / Ele passou toda a vida estudando. (Ele passou a vida inteira ....)

Devemos usar apenas TODO, TODA, quando essas palavras forem substituíveis por QUALQUER. Todo aluno sabe disso. (Qualquer aluno sabe disso.) / Toda criança gosta de brincar. (Qualquer criança ...)

Obs: Essa diferenciação só é válida para o singular. No plural as palavras TODOS, TODAS sempre serão acompanhadas pelos artigos OS, AS: Todos os dias faço o mesmo trajeto. / Aprendemos de todas as maneiras.

Cruzamento léxico

É freqüente equivocarem-se as pessoas no emprego de palavras na forma e na pronúncia, mas de significação diferente. A esse emprego equivocado de uma palavra por outra chama-se cruzamento léxico.

Alguns exemplos:

ABJEÇÃO degradação.APERCEBER-SE munir-se, prover-se.AVOCAR chamar a si.CENSO recenseamento.CESSÃO ato de ceder.CONCERTO ajuste, pacto, combinação; consonância de instrumentos ou vozes.CONSERTO reparo; ato de consertar.DESAPERCEBIDO não munido; desaparelhado; não abastecido; inapercebido.DESCRIÇÃO ato de descrever.DESPERCEBIDO não notado; não percebIdo.DIAGNÓSTICO determinação de uma doença através dos sintomas; identificação da natureza de

um problema, de uma situação, pela interpretação de seus indícios exteriores.DISCRIÇÃO modéstia, reserva, qualidade do que é discreto. É errônea a forma discreção

(com e). EMIGRAÇÃO saída de um país ou de uma região para outro (a).EMINENTE alto, elevado, notável, sublime.EMISSÃO ato de emitir, de fazer sair.EMITIR expedir; lançar; enunciar; produzir; publicar; pôr moeda em circulação.EXANGUE sem sangue ou esvaído em sangue.EXÂNIME sem alento; desfalecido.EXTREME puro; não contaminado.EXTREMO afastado; longínquo, último.EVOCAR trazer à lembrança; fazer aparecer por meio de preces ou sortilégios.FLAGRANTE ardente, inflamado; evidente, incontestável. Diz-se do fato que ocorre no próprio

momento em que é observado.FRAGRANTE perfumoso, aromático.IMIGRAÇÃO entrada num país ou numa região.IMINENTE que está prestes a acontecer; próximo.IMITIR fazer entrar; meter; investir em.INCIPIENTE principiante, que começa; que está no princípio.INDEFESO desarmado; sem defesa.

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INDEFESSO incansável, laborioso.INERME sem arma; indefeso.INERTE sem movimento, sem atividade, sem ação.INFLIGIR aplicar ou cominar pena.INFRIGIR transgredir, violar, quebrantar, desrespeitar.INSIPIENTE que não sabe; ignorante.INSOLÚVEL que não se dissolve, não se soluciona.INSOLVÍVEL que não pode pagar, que não tem condição ou recurso para pagar suas contas.INTEMERATO íntegro, puro, imaculado, sem mancha.INTIMORATO que não teme, destemido, bravo.INVOCAR chamar em auxílio, suplicar a presença.OBJEÇÃO argumento contrário.PERCEBER entrever, divisar, compreender.PRESCREVER preceituar, determinar, ordenar; perder o efeito.PRESCRIÇÃO ordem, preceito, ditame; extinção de um direito por esgotamento de prazo.PROGNÓSTICO juízo relativo à marcha ou à cura de uma doença.PROSCREVER exilar, degredar, desterrar.PROSCRIÇÃO desterro, banimento.RATIFICAR confirmar, corroborar, validar, autenticar.RELEVAR perdoar, desculpar falta ou erro; absolver; pôr em relevo.REMIÇÃO redenção; resgate; quitação.REMISSÃO perdão; expiação.RETIFICAR corrigir, emendar, tornar reto.REVELAR tirar o véu, tornar conhecido; patentearSALOBRO um tanto salgado, com sabor de sal.SALUBRE salutar, favorável à saúde.SEÇÃO repartição, corte, divisão.SENSO equilíbrio mental, juízo, raciocínio.SESSÃO reunião deliberativa.

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO36

VERBOS DE APLICAÇÃO JURÍDICAOs verbos listados à esquerda são de uso rotineiro na linguagem jurídica; os substantivos à direita freqüentemente se empregam como seus objetos. Efetuar o relacionamento:

Grupo 11 Caucionar Posse2 Glosar Infrator3 Abonar Cargo Público4 Usucapir Cláusula contratual5 Arrolar Firma6 Autuar Lei7 Adimplir Verba8 Imitir Bens de espólio9 Ementar Títulos

10 Prover Imóvel

Grupo 21 Inquirir Incapaz2 Repristinar Argumento3 Malversar Réu4 Lavrar Sentença5 Vilipendiar Ofensa6 Arrestar Testemunha7 Ilidir Processo8 Procrastinar Escritura9 Desagravar Lei

10 Indultar Multa11 Interditar Cadáver12 Prolatar Bem, objeto13 Rerratificar Reunião

36 Idem.

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14 Desafogar Condenado15 Interrogar Fundos públicos

Grupo 31 Derrogar Processo2 Oferecer Ação3 Interpor Flagrante4 Instruir Cheque5 Consignar Lei, decreto6 Propor Ocorrência7 Reformar Recurso8 Cominar Parecer9 Lançar Imposto

10 Instaurar Denúncia11 Endossar Promissória12 Exarar Mercadoria13 Avalizar Pena14 Quebrar Sentença15 Registrar Inquérito

Grupo 41 Hipotecar Coisa, pessoa2 Excutir Réu3 Comutar Habeas corpus4 Substabelecer Bem móvel5 Ressarcir Ofensor6 Novar Mora7 Descriminar Bens (do devedor)8 Resilir Dívida9 Penhorar Bem imóvel

10 Purgar Separação judicial11 Convocar Advogado, colega12 Interpelar Prejuízo13 Sub-rogar Contrato, acordo14 Homologar Núpcias15 Impetrar Pena

D) ADJETIVOS DE APLICAÇÃO JURÍDICA

Faça a correspondência entre os conceitos jurídicos, à esquerda, e os adjetivos.

1 Diz-se daquele que não pode ser penalmente responsável. Apócrifo2 Diz-se do que não tem apoio na regra jurídica. Impúbere3 Diz-se do contrato que favorece desigualmente uma das partes. Sinalagmático4 Diz-se da lei excessivamente severa. Nuncupativo5 Diz-se do contrato que estabelece obrigações recíprocas. Chicaneiro6 Diz-se do juiz que, por interesse ou má fé, descumpre o seu dever. Putativo7 Diz-se do advogado que se vale de meios cavilosos para retardar o

andamento do processo. Impertinente8 Diz-se do devedor que não solve os seus compromissos contratuais. Co-utente9 Diz-se da pessoa que frui, com outra, determinado bem ou coisa. Prevento

10 Diz-se dos móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Derrelito

11 Diz-se do casamento provisoriamente verdadeiro, para que se verifiquem os seus efeitos civis. Alodial

12 Diz-se do terreno que não está sujeito ao pagamento de foro ou laudêmio. Inimputável

13 Diz-se do direito ou dívida que não estão sujeitos à prescrição. Inepto14 Diz-se do casamento ou testamento feito de viva voz, perante seis

testemunhas, em iminência de morte. Inadimplente15 Diz-se de um documento sem autenticidade. Draconismo16 Diz-se de coisa ou bem abandonado, a cuja posse o dono renunciou. Cuntatório17 Diz-se de providência ou medida que tem por objetivo promover a

delonga de um processo. Imprescritível

18 Diz-se da petição que não satisfaz os requisitos formais exigidos pela lei, o que suscita a rejeição do pedido. Leonino

19 Diz-se daquele que, por defecção de idade, ainda não pode contrair justas núpcias. Prevaricador

20 Diz-se do juiz que conhecer primeiro da causa, o que exclui a competência de outros juízes de igual graduação. Fungível

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Efetue a correspondência, selecionando o adjetivo que, conforme a técnica jurídica, seja mais adequado ao substantivo à esquerda. (Obs: os adjetivos estão listados sem levar em conta a concordância nominal).

1 Juiz Aqüestos2 Norma Inepto3 Recurso Fidejussório4 Sentença Prevento5 Petição Saneador6 Dívida Cogente7 Garantia Reipersecutório8 Despacho Terminativo9 Bens Quesível

10 Ação Deserto11 Prazo Noxal12 Testamento Possessório13 Constituto Repristinatório14 Pacto Acusatório15 Libelo Precluso16 Abandono Peremptório17 Bens Preterintencional18 Direito (processual) Hológrafo19 Crime Parafernal20 Lei Comissório

Substitua a locução grifada pelo adjetivo equivalente:

1 Processo de conhecimento2 Direito de posse3 Vício de redibição4 Herança de avô5 Outorga da esposa6 Tutela de tio7 Amizade de irmão8 Valor da moeda9 Bens em dinheiro

10 Produção de rebanhos11 Pensão de alimentos12 Ação no Direito Civil13 Dever de cidadão14 Grau de recurso15 Consentimento da vontade16 Condição de mercador17 Decisão de juiz18 Linguagem de cartório19 Material de guerra20 Direito de falência21 Cumprimento da obrigação22 Auto de penhora23 Prova de testemunha24 Registro de imóveis25 Condição de marido26 Vínculo de empregado27 Idade de casar28 Prisão em casa29 Unidade de prisão30 Honorários de advogado31 Acervo da herança32 Direito sobre a coisa33 Caráter de jogos34 Sindicato de patrão35 Relação de contrato

Faça a correspondência dos termos indicativos de crimes aos seres em que recai a ação:

1 Deicídio Esposa2 Homicídio Rei3 Genocídio Pai 4 Infanticídio Mãe5 Regicídio Recém-nascido6 Mariticídio Pátria7 Filicídio Pessoa humana8 Fratricício Deus

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9 Parricídio Filho10 Uxoricídio Marido11 Matricídio Povo12 Patricídio Irmão

Selecione entre os parônimos, aquele que preenche corretamente a lacuna da frase:

a) Nelson Hungria alcançou o (fastio / fastígio) do saber jurídico.b) O cadáver estava estendido sobre o (catafalco / cadafalso).c) É necessário (sortir / surtir) as despensas.d) O juiz achou melhor (deferir / diferir) a audiência.e) O caminho (angusto / augusto) leva às coisas elevadas.f) O resfriado fê-lo (dessentir / dissentir) o gosto dos alimentos.g) A população encontra-se (inerte / inerme) diante da onda de assaltos.h) Torna-se preciso agir com muita (descrição / discrição).i) Um acordo (vicenal / vicinal) acabará contentando ambas as partes.j) O julgamento provocou grande (reboliço / rebuliço) na cidade.k) Procedendo com calma, poderás (elidir / ilidir) as dificuldades iniciais.l) Imparcialidade é a virtude (cardeal / cardial) dos bons juízes.m) É (emimente / iminente) a chegada dos visitantes.n) Convém (proscrever / prescrever) do texto legal os termos supérfluos.o) O advogado não pode (destratar / distratar) a parte contrária.p) As (primícias / premissas) corretas introduzem o raciocínio e levam à conclusão lógica.q) Os tribunais são juízos de 2ª. (entrância / instância).r) Os floricultores recomendam (estufar / estofar) as orquídeas.s) O magistrado determinou a (emissão /imissão) na posse.t) À saída do julgamento, o povo começou a (assoar / assuar) os condenados.

E) TERMINOLOGIA JURÍDICA

Indique, de acordo com o vocabulário jurídico fornecido, o numeral correspondente ao termo jurídico adequado para o preenchimento das lacunas:

1 Acórdão 18 Usucapião2 Abigeato 19 Litisconsorte3 Exegese 20 Anticrese4 Infortunística 21 Precatória5 Prelação 22 Enfiteuse6 Juntada 23 Delito7 Preempção 24 Fideicomisso8 Litispendência 25 Édito9 Arras 26 Caução

10 Aresto 27 Pandecta11 Peculato 28 Concussão12 Malversação 29 Inadimplemento13 Leguleio 30 Rogatória14 Agnação 31 Digesto15 Hermenêutica 32 Interpelação16 Evicção 33 Edito17 Primogenitura 34

1 O penhor ou sinal dado como garantia de acordo ajustado chama-se ( ).]2 Denomina-se ( ) o vínculo de parentesco ou de consangüinidade que se dá entre os

descendentes varões do mesmo tronco.3 ( ) é o ato de reunir os anexar ao processo uma peça ou documento que lhe era estranho.4 Em Direito Administrativo ( ) é o furto de dinheiros públicos por aquele que os guarda ou

administra.5 ( ) é a qualidade de filho mais velho ou primeiro filho.6 Uma decisão de tribunal tem o nome de ( ) ou ( ).7 ( ) é o mesmo que direito de preferência.8 Em Direito Penal, ( ) significa roubo de gado.9 A preferência, constante em cláusula de contrato, dada ao vendedor para readquirir, preço

por preço, a coisa vendida chama-se, em Direito Civil ou Comercial ( ).10 ( ) é a ciência da interpretação e esclarecimento das leis.11 Designa-se por ( ) a má administração de fundos públicos.

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12 ( ) é a parte da Medicina Legal que estuda a doença e o acidente de trabalho.13 Um processo que não foi decidido, terminado, estando, portanto, em curso, constitui ( );14 ( ) é aquele que se limita a interpretar, servilmente, a letra fria da lei, sem atentar para a

sua intenção.15 Em Direito Civil ( ) é a reivindicação da coisa, ou de direito real, em poder de outrem, que a

detinha.16 A ordem judicial de se tornar público um decreto, uma lei, uma citação denomina-se ( ).17 ( ) exprime o preceito que se contém na lei ou no decreto.18 Constitui ( ) qualquer ocorrência que a lei declara punível.19 ( ) é a carta de um juiz de uma comarca a colega de outra.20 ( ) é a carta, que contém ato judicial, encaminhada por via diplomática a país estrangeiro.21 ( ) é a pessoa que, juntamente com outra(s), participa da mesma causa, na qualidade de

co-réu ou co-autor.22 Chama-se ( ) a garantia de segurança para o cumprimento de alguma cláusula contratual.23 Designa-se por ( ) o direito de aquisição de propriedade pela posse mansa e pacífica

durante certo período.24 ( ) é um pedido categórico de explicações por via judicial.25 O crime praticado por funcionário público, ao cobrar do contribuinte mais do que este deve,

chama-se ( ).26 Classifica-se como ( ) a falta de cumprimento de um contrato ou qualquer de suas

cláusulas.27 ( ) ou ( ) é a compilação das decisões dos antigos juristas romanos, convertidas em lei

por Justiniano.28 ( ) consiste na disposição testamentária pela qual o testador institui dois ou mais herdeiros

ou legatários, impondo a obrigação de, por sua morte, transmitir ao(s) outros(s), a certo tempo ou sob certa condição, a herança ou legado.

29 ( ) é o contrato pelo qual o proprietário de terreno alodial cede a outrem o direito de percepção de toda utilidade desse terreno, em caráter perpétuo, com o encargo de lhe pagar um foro anual e a condição de conservar para si o domínio direto.

30 ( ) é o contrato pelo qual um devedor, conservando ou não a posse do imóvel, dá ou destina ao credor, para segurança, pagamento ou compensação de dívida, os frutos e rendimentos produzidos pelo mesmo imóvel

Relacione os períodos à sua respectiva duração:

1 Vicênio Dez anos2 Qüinqüídio Sete anos3 Bíduo Quatro dias4 Hebdômada Vinte anos5 Lustro Sete dias6 Setênio Cinco anos7 Decêndio Dez dias8 Quatriênio, Quadriênio Dois dias9 Decênio Quatro anos10 Quatríduo Cinco dias

Conservando o mesmo tempo verbal, empregue na resposta a forma pronominal que substitua o(s) complemento(s) do verbo cf. modelo: Pagaste a dívida? Paguei-a; Pagamos aos credores? Pagamos-lhes. Pagariam a dívida ao credor? Pagar-lha-iam.

1 Ele desfaz o compromisso?2 A alteração condiz com a lei?3 Visaremos os cheques?4 Perdoaríamos os nossos detratores?5 O cliente quis os recibos?6 O tribunal aceitará as razões?7 Dar-me-ias a tua palavra?8 Procedeu-se à revisão do processo?9 Os juízos condenaram os réus?10 O interessado quer as provas?

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11 Passaste a procuração ao cliente?

12 Assistimos às audiências?

13 Proporás a ação?

14 Entregaram-te as citações?

15 Obedeceremos às leis?

16 A explicação satisfez ao ofendido?

17 Ele te concedeu a dilatação do prazo?

18 Eles nos contariam a verdade?

19 Dar-nos-eis a permissão?

20 Narrar-me-íeis os episódios?

21 Os juízes sanearão os processos?

22 Redigimos as petições?

23 O motorista conduz a viatura?

24 Estes homens turbam a posse?

25 Exibirás as provas ao juiz?

Identifique o processo de raciocínio – indução ( I ) ou dedução ( D ) - em que se baseiam as conclusões de cada trecho a seguir:

a) Todo corpo mergulhado num fluido sofre um impulso vertical de baixo para cima igual ao peso do volumo de fluido deslocado: por isso os navios flutuam. ( )b) Aquele homem apresenta intensa amarelidão epidérmica: ou está acometido de hepatite ou de icterícia.c) Fulano praticou um delito e foi punido; o mesmo aconteceu com beltrano e sicrano. É válido concluir, portanto, que a lei pune os que a transgridem. ( )d) Após anos de pesquisas, um cientista descobriu uma vacina contra determinada doença. Para certificar-se, fez várias experiências em cobaias e teve inteiro sucesso. Resolveu, então, aplicar a sua descoberta em seres humanos, concluindo que obteria o mesmo êxito. ( )e) Alguém anunciou curar todas as dores por meio secreto e infalível, cobrando alto preço para isso. Denunciado por um “cliente”, foi preso e enquadrado no art. 283 do Código Penal (charlatanismo). Para enquadrar, pela tipicidade, o infrator na lei penal, a que processo de raciocínio se recorre? ( )f) Fulano apropriou-se de uma bicicleta que lhe fora confiada para guardar e, mais tarde, vendeu-a a terceiro. Preso e levado a julgamento, o juiz condenou-o a um ano de reclusão (com direito a sursis) e multa (art. 168 do Código Penal). Qual o processo de raciocínio do juiz para aplicar a lei ao infrator? ( )g) Considera-se a pirâmide um sólido, pois se trata de um corpo de três dimensões limitado por superfícies fechadas. ( )h) Um suinocultor verificou que alguns de seus porcos, após terem bebido da água contaminada de um córrego, morreram horas depois. Mandou então cercar as margens do riacho, por ter concluído que morreriam também todos os porcos se ali fossem beber. ( )

Dado o silogismo: Todo administrador público é um tecnocrata; ora, o prefeito é administrador público;logo, o prefeito é um tecnocrata. Identifique:a) premissa maior: b) premissa menor:c) conclusão:

Desenvolva os entimemas, pela invenção de uma de ambas as premissas, em silogismos de três proposições:

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a) O granizo é um efeito, pois tem causa........................................................................................................................................................................................b) O oxigênio é matéria, pois tem peso........................................................................................................................................................................................c) Este homem possui carteira profissional assinada; logo, está inscrito no FGTS........................................................................................................................................................................................d) O corpo A é igual ao corpo B por serem ambos metades de um todo........................................................................................................................................................................................e) O réo está incurso no art. 158 do Código Penal; logo, é extorsionário........................................................................................................................................................................................f) Pedro é advogado........................................................................................................................................................................................g) O pentágono pode ser inscrito num círculo, pois é figura regular........................................................................................................................................................................................h) Ele deve estar no estrangeiro, pois no Brasil não está........................................................................................................................................................................................i) A lagosta é um crustáceo, pois tem respiração branquial, exosqueleto calcáreo e cefalotórax........................................................................................................................................................................................j) Deve ser aplicada ao réu medida de segurança........................................................................................................................................................................................

Com base nos elementos apresentados a seguir, elabore um texto argumentativo que apresente evidências mais fortes do que as acusatórias, ou que desacreditem aquelas contrárias ao seu ponto de vista.

Um advogado de defesa planeja centrar sua tese na legítima defesa. Ao levantar os dados probantes dos autos, encontra:37

a) três testemunhas que afirmam ter visto seu cliente provocando a vítima;b) declaração dos policiais que efetuaram a prisão em flagrante – logo após o homicídio –

afirmando estar a vítima desarmada;c) c) o laudo medico informa que a vítima foi atacada de inopino e pelas costas, em face da

trajetória das duas balas contra ela disparadas.Percebe o causídico que terá de reformular seu plano de defesa, porque as evidências processuais militam pela culpa do cliente e não autorizam a tese pretendida.

Distinga o que é fato (F) do que é inferência (I). Lembre-se de que fato é a coisa feita, provada, verificada, testada, ao passo que inferência é a dedução pelo raciocínio, baseada em indícios, e não em fatos. Inferência é opinião.

1. Joaquim Carapuça é político muito sagaz. ( )2. Machado de Assiz nasceu no Rio de Janeiro, em 1839. ( )3. Fernando Pessoa é considerado o maior poeta português depois de Camões. ( )4. Joaquim Carapuça está usando uma aliança no dedo anelar esquerdo: deve ter casado. ( )5. O calor está insuportável: o termômetro marca 38º.( )6. São Paulo, segundo o último recenseamento, é a maior cidade do Brasil. ( )7. O Rio de Janeiro é ainda uma cidade maravilhosa, apesar das enchentes e da violência. ( )8. O Rio de Janeiro é a cidade mais linha do mundo. ( )9. Ela comprou um berço na casa de móveis: deve ter filho pequeno. ( )10.Ele fez um curso na Sorbonne: é um grande sociólogo.

37 Extraído de DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.

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Identifique quando é indução ou dedução:

1. Ao longo da história da humanidade verificou-se que todos os homens acabam morrendo. Não houve até agora nenhuma exceção. Conclui-se, portanto, que todo homem é mortal. ( )

2. As leis científicas, regras, normas, princípios, teorias, generalizações enfim, resultam de um processo de raciocínio dedutivo ou indutivo? ( )

3. Quando se aplica um princípio (teoria, regra) a um caso particular, o processo de raciocínio é dedutivo ou indutivo? ( )

4. Se você observar a pontuação adotada em relação às orações subordinadas antepostas à principal e concluir que elas vêm sempre seguidas de vírgula, seu raciocínio foi indutivo ou dedutivo?

5. Mas, se, ao fazer a sua redação, você puser uma oração concessiva (embora...) antes da principal e lhe acrescentar uma vírgula, raciocinou por indução ou dedução? ( )

6. Ao ouvir a sirene de um carro de bombeiro que passa a grande velocidade pela sua rua, você conclui, infere, deduz, induz ou verifica que está havendo um incêndio nas proximidades? ( )

7. Para chegar à generalização de que toda laranja verde é azeda, você armou um silogismo indutivo ou dedutivo? ( )

8. Se, ao sair de casa pela manhã, você leva um guarda-chuva apesar de não estar chovendo, o raciocínio que condicionou sua decisão foi dedutivo ou indutivo? ( )

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APOIO BIBLIOGRÁFICO

BOAVENTURA, Edivaldo M. Como Ordenar as Idéias. 7 Ed. São Paulo : Ática, 1999.BELTRÃO, Odacir; BELTRÃO, Mariúsa. Correspondência – linguagem & comunicação. 19 ed. São Paulo : Atlas, 1995.DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de Português Jurídico. 3 ed. São Paulo : Atlas, 1995.FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Direito, Retórica e Comunicação. São Paulo : saraiva, 1997.HENRIQUES, Antonio; ANDRADE, Maria Margarida. Dicionário de Verbos Jurídicos. São Paulo : Atlas, 1996.GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 20 ed. Rio de Janeiro : FGV, 2001.GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 3 ed. São Paulo : Rideel, 2001.KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: teoria e prática. 8 ed. Campinas :Pontes, 2001.MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Instrumental. 21 ed. Porto Alegre : Sagra-Luzzato, 2000.MATOS, Henrique Cristiano José. Aprenda a Estudar. 7 ed. Petrópolis : Vozes, 2001.MEDEIROS, João Bosco. Técnicas de Redação. 4 ed. São Paulo : Atlas, 1996.NASCIMENTO, Edmundo Dantès. Linguagem Forense. 10 ed. São Paulo : Forense, 1995. NEY, João Luiz. Prontuário de Redação Oficial. 13 ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1988.PENTEADO, Whithaker Jr. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo : Pioneira, s.d.ROSA, José Antonio; NEIVA, Edméa Garcia. Redigir e Convencer. São Paulo, STS, 1995.TUFANO, Douglas. Estudos de Redação. São Paulo : Moderna, 1996.XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. 13 ed. Rio de Janeiro : Forense, 1994.

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