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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE SETRO DE BIODIVERSIDADE E ECOLOGIA DISCIPLINA MASTOZOOLOGIA CLASSE MAMMALIA PROF. GILDA ACIOLI Os mamíferos são os vertebrados mais estudados, apesar do grande conhecimento acumulado durante anos, muito esforço ainda é necessário para se conhecer a real diversidade de espécies, sua classificação, evolução e biologia. O surgimento do âmnio e do ovo com casca (cleidóico) foi o grande avanço evolutivo que permitiu a conquista definitiva do ambiente terrestre pelos vertebrados. Os primeiros mamíferos apareceram a 220 milhões de anos no período triássico de uma linhagem de vertebrados os Sinapsida (répteis predadores ativos que se originaram dos primeiros amniotas há 300 milhões de anos, no paleozóico. Os sinapsida deram origem aos Therapsida que, por sua vez deram origem aos Cynodontia (maior agilidade e especialização da maxila e dos dentes), que originaram os mamíferos atuais. Os mamíferos começaram a se diversificar em um período de apenas 270mil anos, após a extinção dos dinossauros. A explosão dos mamíferos acompanhando o aumento de florestas devido a elevação da temperatura do planeta. Inicialmente surgiram os primeiros primatas na África, há cerca de 50 milhões de anos. A África contribuiu com os macacos, elefantes e seus parentes. Os ancestrais dos gatos surgiram na Eurásia e de lá se dispersaram pelo globo , o camelo, o cavalo e o cão surgiram na América do Norte e chegaram a América do Sul. Com o surgimento do istmo do Panamá há cerca de 3 a 2,5 milhões de anos (Plioceno superior) houve uma grande dispersão de animais em ambas as direções, com um aporte de placentários carnívoros como os felinos, artiodáctilos e perissodáctilos. Aparentemente houve um enriquecimento das faunas tanto do hemisfério norte quanto do hemisfério sul. Entretanto, poucas espécies do hemisfério sul prosperaram no hemisfério norte, embora metade dos mamíferos do heminsfério sul tenham se originado no hemisfério norte. A diversidade biológica do Brasil é ainda pouco conhecida, embora seja considerada a maior do planeta. O estado de conhecimento da diversidade de mamíferos segue a tendência geral, podendo aumentar conforme os inventários sejam intensificados e análises citogenéticas e moleculares sejam implantadas, entretanto segundo SABINO & PRADO (2005), esse conhecimento se encontra

APOSTILA SOBRE MAMÍFEROS

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Page 1: APOSTILA SOBRE MAMÍFEROS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOASINSTITUTO DE CIENCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDESETRO DE BIODIVERSIDADE E ECOLOGIADISCIPLINA MASTOZOOLOGIACLASSE MAMMALIAPROF. GILDA ACIOLI

Os mamíferos são os vertebrados mais estudados, apesar do grande conhecimento acumulado durante anos, muito esforço ainda é necessário para se conhecer a real diversidade de espécies, sua classificação, evolução e biologia.O surgimento do âmnio e do ovo com casca (cleidóico) foi o grande avanço evolutivo que permitiu a conquista definitiva do ambiente terrestre pelos vertebrados. Os primeiros mamíferos apareceram a 220 milhões de anos no período triássico de uma linhagem de vertebrados os Sinapsida (répteis predadores ativos que se originaram dos primeiros amniotas há 300 milhões de anos, no paleozóico. Os sinapsida deram origem aos Therapsida que, por sua vez deram origem aos Cynodontia (maior agilidade e especialização da maxila e dos dentes), que originaram os mamíferos atuais.Os mamíferos começaram a se diversificar em um período de apenas 270mil anos, após a extinção dos dinossauros. A explosão dos mamíferos acompanhando o aumento de florestas devido a elevação da temperatura do planeta. Inicialmente surgiram os primeiros primatas na África, há cerca de 50 milhões de anos. A África contribuiu com os macacos, elefantes e seus parentes. Os ancestrais dos gatos surgiram na Eurásia e de lá se dispersaram pelo globo , o camelo, o cavalo e o cão surgiram na América do Norte e chegaram a América do Sul. Com o surgimento do istmo do Panamá há cerca de 3 a 2,5 milhões de anos (Plioceno superior) houve uma grande dispersão de animais em ambas as direções, com um aporte de placentários carnívoros como os felinos, artiodáctilos e perissodáctilos. Aparentemente houve um enriquecimento das faunas tanto do hemisfério norte quanto do hemisfério sul. Entretanto, poucas espécies do hemisfério sul prosperaram no hemisfério norte, embora metade dos mamíferos do heminsfério sul tenham se originado no hemisfério norte.

A diversidade biológica do Brasil é ainda pouco conhecida, embora seja considerada a maior do planeta. O estado de conhecimento da diversidade de mamíferos segue a tendência geral, podendo aumentar conforme os inventários sejam intensificados e análises citogenéticas e moleculares sejam implantadas, entretanto segundo SABINO & PRADO (2005), esse conhecimento se encontra desequilibrado, com algumas ordens mais diversificadas e com expectativas de aumento do número de espécies, são elas: Rodentia, Chiroptera, Didelphimorphia e Primates. A diversidade de mamíferos no Brasil atinge números expressivos, constituindo-se numa das maiores do mundo. Até pouco tempo atrás, eram conhecidas 22 ordens no mundo, das quais 11 são encontradas no Brasil, representada por 524 espécies nativas. Recentemente esse número elevou-se para 652 espécies, representando um aumento de 24,61%.

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Ordens de mamíferos existente no Brasil, com seus respectivos números de famílias e de espécies.ordem Nº de famílias Nº de espécies Principais

representantes

Didelphimorphia 04 66 Gambás e cuícas

Sirênia 01 02 peixe-boi

Xenarthra (Cingulata e Pilosa)

04 19 Tatus, preguiças e tamanduás

Primates 04 97 macaco

Lagomorpha 01 02 Coelho e lebre

Chiroptera 09 164 morcego

Carnivora 06 164 Raposa, quati, lontra, gato, onças etc

Perissodáctyla 01 01 anta

Artiodactyla 04 12 Porco-do-mato, veado

Cetacea 08 41 Baleia, golfinho

Rodentia 07 235 Rato, capivara, preá, cutia, paca esquilo etc.

As ordens Cingulata (tatus) e Pilosa (preguiças e tamanduás), ainda estão incluídas como ordem Xenarthra.

Apesar do grande conhecimento acumulado durante todos esses anos, muito esforço ainda é necessário para se conhecer a real diversidade de espécies, sua classificação, evolução e biologia.

Os mamíferos constituem um grupo monofilético derivado dos répteis Synapsida, caracterizado pelas seguintes sinapomorfias: presença de glândulas mamárias e pêlos, endotermia, grande desenvolvimento do neocórtex cerebral, um único osso na maxila inferior (dentário), articulação esquamosal- dentário, três ossículos no ouvido médio (bigorna, estribo e martelo) e ossos turbinados. Além destas sinapomorfias, os mamíferos apresentam outras características exclusivas do seu grupo tais como: heterodontia, tecodontia, pavilhão auditivo externo, glândulas cutâneas (sudoríparos, sebáceas e odoríferas), casco, unhas, útero, placenta, viviparidade, saco escrotal, cornos, chifres, diafragma, epiglote, lábios, músculos faciais, cuidado parental altamente desenvolvido, pavilhão auditivo externo etc.

Os mamíferos, com cerca de 4.500 espécies atuais, distribuem-se por quase todo o globo terrestre, ocupando os mais variados hábitats. Apresentam uma grande diversidade morfológica relacionada à diversidade de hábitos alimentares e modos de locomoção. As 22 ordens atuais, refletem essa diversidade: os imensos Mysticeti (baleias-de-barbatanas), são mamíferos plenamente aquáticos e filtradores de plâncton; os morcegos, únicos mamíferos verdadeiramente voadores, têm hábitos alimentares variados, incluindo carnivoria, frugivoria e hematofagia; os roedores, mamíferos dominantes em número de espécies e de indivíduos, são geralmente pequenos, herbívoros e terrestres; os artiodáctilos e perissodáctilos são grandes herbívoros que adquiriram independentemente especialização para a locomoção cursora; os primatas são onívoros, primariamente arborícolas, que desenvolveram a capacidade de manipulação e a inteligência.

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Todas essas especializações refletem-se na morfologia do esqueleto, as características da dentição deverão ser relacionadas com o hábito alimentar.

Sistema esquelético – no sistema esquelético dos mamíferos, há uma maior ossificação, assim como uma redução na quantidade de elementos ósseos, especialmente o crânio que se articula com a 1ª vértebra cervical através de dois côndilos. No ouvido médio, o estribo, que se originou da columela dos répteis, é complementado por dois outros ossículos auditivos: a bigorna, originada do quadrado e o martelo, originado do articular; com isso a mandibular nos mamíferos se articula diretamente com o esquamosal do crânio. A mandíbula é formada por um único osso par, o dentário. As vértebras, geralmente, têm extremidade do centro achatadas ou acélicas, um estado conhecido como anfiplátio. As vértebras cervicais são em número de sete em quase todos os mamíferos, exceto em peixe-boi (Trichecus), preguiça-de-dois-dedos (Choloepus), possuem seis; o Tamanduá (Tamandua), possui oito; e a preguiça-de-três-dedos (Bradypus), que possui nove. As vértebras torácicas são pouco flexíveis e apresentam vários graus de fusão. Variam em número de acordo com o nº de pares de costelas existentes, entre nove e vinte e quatro.Embora os mamíferos possuam basicamente quatro membros pentadáctilos estes podem estar modificados devido a especializações de acordo com o tipo de deslocamento do animal.

Sistema muscular - ocorre uma grande variação nas diferentes formas especializadas, a disposição metamérica dos músculos do tronco desaparece em grande parte ou está obscurecida. Com o desenvolvimento da capacidade de locomoção através do uso do membros, os músculos extrínsecos associados a estas estruturas cobrem grande parte da musculatura do tronco, região torácica. Os músculos brânquias dos vertebrados inferiores desenvolveu-se em músculos da face, do pescoço e do ombro dos mamíferos. Os músculos dérmicos alcançam seu maior desenvolvimento nesse grupo, estes incluem os da expressão facial, das pálpebras, do nariz e dos lábios.

Sistema Digestório – a alimentação, em seu sentido mais amplo envolve 5 etapas principais procura, localização, apreensão, digestão e absorção do alimento.Os vertebrados têm hábitos alimentares diversificados, da herbivoria à predação, com diversos graus de especialização e, consequentemente apresentam diferentes estratégias alimentares. Em geral os carnívoros apresentam mecanismos mais complexos de localização e apreensão do alimento mas, apresenta um processo digestivo relativamente simples, os herbívoros ao contrário necessitam de um sistema digestivo mais complexo, uma vez que os alimentos de origem vegetal, de localização e apreensão relativamente fáceis são de difícil digestão.

O sistema digestório desempenha as funções relativas à apreensão, digestão e absorção e tem sua organização relacionada em parte com a respiração e em parte com os processos digestivos.Estruturalmente o sistema digestório é formado de: lábios móveis, uma cavidade oral contendo glândulas orais, botões gustativos, língua e dentes, uma faringe que termina em esôfago longo, um estômago que pode ser simples como nos morcegos hematófagos ou complexos como nos ruminantes seguido de um intestino subdividido em dois tipos delgado e grosso terminado em um ânus que se abre para o exterior.

Sistema Respiratório – nos mamíferos os pulmões são os órgãos envolvidos com a respiração, sua origem ocorre a partir de uma evaginação da parede ventral da faringe e mantem uma comunicação ventral com ela por meio da traqueia. Os pulmões atingem o seu maior desenvolvimento nos mamíferos, determinado por fatores filogenéticos, hábitos de vida e taxa

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metabólica.Estruturalmente o sistema respiratório é constituído pelas narinas, coanas, glote, epiglote, laringe, traqueia brônquios, bronquíolos e alvéolos (pulmões).Os pulmões localizam-se na cavidade torácica, separada da abdominal pelo diafragma. Os pulmões dos mamíferos são os que apresentam o maior grau de subdivisões internas.

Sistema Cardiovascular – o principal órgão do sistema cardiovascular é o coração, cuja função é bombear o sangue para todo o corpo. O coração dos mamíferos é formado por quatro câmaras, dois átrios e dois ventrículos, entre o átrio e o ventrículo direitos existe uma válvula, a tricúspide, e entre o átrio o ventrículo esquerdos a válvula bicúspide; a função destas válvulas é evitar o refluxo sanguíneo e se encontra envolvido por um tecido membranoso o pericárdio.

O sistema arterial é constituído do arco sistêmico, artérias coronárias, artéria inominada, artéria carótida comum esquerda, artéria subclávia esquerda, artérias pulmonares.

O sistema venoso é constituído pela veia cava posterior, veias cavas anteriores direita e esquerda, veia pulmonar.Pode haver uma ou duas veias pré-cavas e uma veia pós-cava. Todas as veias entram diretamente no átrio direito, devido a absorção do seio venoso nestes animais ter sido absorvido pela parede do átrio durante o desenvolvimento embrionário. O sistema porta-hepático permanece, não existe sistema porta-renal e os eritrócitos são anucleados.

Sistema Urogenital – as fêmeas apresentam dois ovários funcionais, nos Metatheria ocorre a parte inferior do oviduto se expande, formando o útero que é separado, nos placentário no entanto, há vários graus de fusão no útero deste úteros duplos (roedores), bipartido (carnívoros), bicorne (ungulados) até um único útero simples nos primatas.

Sistema nervoso – o sistema nervoso dos mamíferos é o mais desenvolvido de todos os vertebrados. Em muitas espécies, os hemisférios cerebrais. Originados do telencéfalo, possuem circunvoluções na superfície, de forma que há giros e sulcos. A camada externa do cérebro ou córtex, é composta de matéria cinzenta. Os hemisférios direito e esquerdo estão ligados entre si por uma comissura branca e larga, o corpo caloso. O diencéfalo consiste de epitálamo dorsal, um tálamo lateral e um hipotálamo ventral.O hipotálamo controla muitas funções dos mamíferos, inclusive a pressão sanguíneas, o sono, o conteúdo de água, o metabolismo de gorduras e dos carboidratos, a temperatura do corpo e, possivelmente as atividades rítmicas, tais como a muda, migração e secreção hipofisária.O mesencéfalo é menos importante nos mamíferos que nos outros vertebrado. O cerebelo que é centro do controle dos movimentos é mais desenvolvido nos mamíferos.