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Autores: Prof. Wanderlei Sergio da Silva Profa. Maria Aparecida Ventura Fernandes Colaboradores: Profa. Renata Viana de Barros Thomé Profa. Silmara Maria Machado Prof. Nonato Assis de Miranda Estrutura e Funcionamento da Educação Básica

Apostila UNIP

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  • Autores: Prof. Wanderlei Sergio da Silva Profa. Maria Aparecida Ventura FernandesColaboradores: Profa. Renata Viana de Barros Thom Profa. Silmara Maria Machado Prof. Nonato Assis de Miranda

    Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica

  • Professores conteudistas: Wanderlei Sergio da Silva / Maria Aparecida Ventura Fernandes

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Universidade Paulista.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    S586e Silva, Wanderlei Srgio da

    Estrutura e funcionamento da educao bsica / Wanderlei Srgio da Silva; Maria Aparecida Ventura Fernandes. - So Paulo: Editora Sol, 2011.

    104 p., il.

    Nota: este volume est publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Srie Didtica, ano XVII, n. 2-040/11, ISSN 1517-9230.

    1. Educao Bsica 2. Estrutura 3. Funcionamento I. Ttulo

    CDU 373.31

    Wanderlei Sergio da Silva

    Graduado em Geografia pela Universidade de So Paulo (USP), Mestre em Cincias (Geografia Humana) tambm pela USP e Doutor em Geocincias e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP).

    Durante quinze anos trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (IPT) com pesquisas relacionadas s geocincias e ao meio ambiente. Atuou como consultor em trabalhos da rea durante seis anos, totalizando cerca de cem projetos de pesquisa, muitos deles como coordenador de equipe.

    Em 2001 ingressou na Universidade Paulista (UNIP), onde lecionou disciplinas do curso presencial de Turismo relacionadas geografia, ao meio ambiente e ao planejamento, bem como as disciplinas didtico-pedaggicas no curso presencial de Psicologia (Licenciatura).

    Atualmente membro da Coordenadoria de Estgios em Educao e professor nos cursos de Letras e Matemtica da UNIP Interativa, sendo responsvel pelas disciplinas relacionadas a Prtica de Ensino, Didtica Geral, Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica e Planejamento e Polticas Pblicas da Educao.

    Maria Aparecida Ventura Fernandes

    licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP), com especializao em Metodologia e Didtica, e em Matemtica pela UNIPaulistana, com especializao em Estatstica pela Universidade de So Paulo (USP). Possui mestrado em Comunicao pela Universidade Paulista (UNIP).

    Trabalhou durante 27 anos na rea da educao da Prefeitura Municipal de So Paulo como professora do Ensino Fundamental e Mdio, Coordenadora Pedaggica, Diretora de Escola, Supervisora de Ensino e Assessora Tcnica e de Planejamento na Secretaria Municipal de Educao.

    Em 1988 ingressou como professora na Universidade Paulista (UNIP), onde ministrou nos cursos de Pedagogia, Educao Fsica e Cincias Biolgicas (Licenciatura). Foi tambm coordenadora auxiliar do curso de Pedagogia nos campi Luis Ges e Marqus de So Vicente, nos anos de 2000 e 2001.

    Desde 2005 at o presente momento, como professora adjunta, faz parte da equipe da Coordenadoria de Estgios em Educao da UNIP e co-autora do livro Manual do Secretrio de Escola e legislao anexa, distribudo para todas as escolas da rede municipal de ensino de So Paulo.

  • Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitor

    Prof. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e Finanas

    Profa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitrias

    Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Profa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de Graduao

    Unip Interativa EaD

    Profa. Elisabete Brihy

    Prof. Marcelo Souza

    Profa. Melissa Larrabure

    Material Didtico EaD

    Comisso editorial: Dra. Anglica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valria de Carvalho (UNIP)

    Apoio: Profa. Cludia Regina Baptista EaD Profa. Betisa Malaman Comisso de Qualicao e Avaliao de Cursos

    Projeto grco: Prof. Alexandre Ponzetto

    Reviso: Aileen Nakamura Simone Oliveira

  • SumrioEstrutura e Funcionamento da Educao Bsica

    APRESENTAO ......................................................................................................................................................7INTRODUO ...........................................................................................................................................................7

    Unidade I

    1 LEGISLAO NOES BSICAS ................................................................................................................91.1 Ciclo evolutivo de uma lei ...................................................................................................................91.2 Classicao e hierarquia dos diplomas legais .........................................................................11

    1.2.1 Classicao ...............................................................................................................................................111.2.2 Hierarquia .................................................................................................................................................. 12

    2 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL COLNIA ................................................................................. 133 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL IMPRIO ................................................................................. 154 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL REPBLICA ............................................................................ 17

    Unidade II

    5 A PRIMEIRA E A SEGUNDA LDB DO BRASIL ......................................................................................... 285.1 A Primeira LDB: Lei Federal n 4.024, de 20 de dezembro de 1961 ................................. 285.2 A Segunda LDB: Lei Federal n 5.692, de 11 de Agosto de 1971 ....................................... 29

    6 A TERCEIRA LDB LEI FEDERAL N 9.394 DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 .............................. 316.1 Breve histrico do encaminhamento e tramitao ................................................................ 326.2 Ttulos ........................................................................................................................................................ 33

    6.2.1 Ttulo I Da Educao .......................................................................................................................... 346.2.2 Ttulo II Dos Princpios e Fins da Educao Nacional ........................................................... 346.2.3 Ttulo III Do Direito Educao e do Dever de Educar ........................................................ 376.2.4 Ttulo IV Da Organizao da Educao Nacional ................................................................... 386.2.5 Ttulo V Dos Nveis e das Modalidades de Educao e Ensino ......................................... 406.2.6 Ttulo VI Prossionais da Educao ............................................................................................. 466.2.7 Ttulo VII Dos Recursos Financeiros ............................................................................................. 476.2.8 Ttulo VIII Das Disposies Gerais ................................................................................................. 486.2.9 Ttulo IX Das Disposies Transitrias ......................................................................................... 48

    6.3 A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Vigente .................................................................... 487 O SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO ............................................................................................................ 77

    7.1 Tipos de sistemas existentes em relao educao ............................................................ 787.2 Estrutura do Sistema Escolar Brasileiro ...................................................................................... 80

  • 8 TENDNCIAS DA EDUCAO E COMPONENTES CURRICULARES ................................................ 828.1 Sociedade ................................................................................................................................................ 838.2 Educao .................................................................................................................................................. 848.3 Escola ........................................................................................................................................................ 858.4 Objetivos educacionais das escolas .............................................................................................. 858.5 Homem ..................................................................................................................................................... 858.6 Professor .................................................................................................................................................. 858.7 Aluno ......................................................................................................................................................... 868.8 Contedo programtico .................................................................................................................... 878.9 Ensino-aprendizagem ......................................................................................................................... 878.10 Espaos de Aprendizagem .............................................................................................................. 878.11 Classes de alunos ................................................................................................................................ 878.12 Metodologia de ensino .................................................................................................................... 888.13 Recursos didticos ............................................................................................................................. 888.14 Relao professor x aluno .............................................................................................................. 898.15 Avaliao ............................................................................................................................................... 89

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  • 7APRESENTAO

    De modo geral, a disciplina Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica tem como objetivo propiciar as condies para que voc conhea e compreenda o funcionamento do sistema escolar brasileiro, de forma a reconhec-lo como um elemento de reexo sobre a realidade educacional brasileira e a sentir-se estimulado a acompanhar as medidas que realizam alteraes no sistema. Essas condies sero de grande inuncia no pano de fundo de seu futuro prossional.

    Visa, tambm, proporcionar o conhecimento da evoluo histrica da educao brasileira, bem como esclarecer conceitos e palavras-chave para a sua formao, como sistema e sistema escolar, alm de esclarecer alguns dos principais motivos que levaram atual estrutura administrativa e didtica do sistema, entre outros aspectos relevantes.

    INTRODUO

    Educao um tema abrangente, pois envolve diversos aspectos que se articulam, se fundem e se confundem, dando forma a este elemento fundamental a toda e qualquer sociedade. Diante da sua grandiosidade, a educao evidentemente envolve toda uma situao problemtica, fonte de diversas pesquisas acadmicas. Aspectos como famlia, escola, sociedade, ensino, estrutura social, entre outros, so abrangidos pelo tema, criando uma complexidade ao mesmo tempo fascinante e de difcil compreenso.

    Neste livro-texto, apenas um aspecto do tema ser abordado: a estrutura e o funcionamento da educao bsica. Trata-se de um dos aspectos mais importantes, como poder ser notado durante o estudo da disciplina. A ideia esclarecer questes fundamentais para o futuro exerccio prossional do aluno, oferecendo subsdios para responder a perguntas bsicas: como a educao est estruturada no Brasil? Como ela funciona? O que isto tem a ver com a sua formao? E com o seu futuro prossional?

    Desde j, pode-se armar que a estrutura e o funcionamento da educao bsica apoiam-se numa estrutura denida pela legislao. De incio, portanto, so necessrias noes bsicas de legislao para se entender este funcionamento.

    Observao

    A estrutura e o funcionamento da educao bsica so denidos legalmente.

    No entanto, apenas a compreenso histrica do tratamento dado educao nos principais diplomas legais que tratam do assunto no pas poder promover o aprendizado e a compreenso adequada da questo. Por isto, num segundo momento, este aspecto do tema ser devidamente apresentado neste livro-texto.

    Toda esta trajetria se torna necessria para o entendimento dos caminhos trilhados pela legislao educacional at redundar no atual sistema, denido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao

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  • 8Nacional (LDB) vigente no pas atualmente. Os detalhes a respeito do tratamento dado ao assunto nesta lei comporo, portanto, o restante deste texto, com nfase no sistema educacional brasileiro e as tendncias educacionais para um futuro prximo.

    O tema de fundamental importncia para voc, futuro professor, pois a estrutura e o funcionamento da educao bsica representam o pano de fundo de toda a sua atuao prossional no futuro. H assuntos correlatos que permeiam o tema. Por isto, constantemente ser necessrio recorrermos a eles, com o intuito de esclarecer esta questo de to grande importncia para a sua formao.

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    1 LEGISLAO NOES BSICAS

    Uma vez que a estrutura e o funcionamento da educao bsica so denidos pela legislao, torna-se necessrio obter certo conhecimento bsico sobre o assunto. Anal, o que legislao? Por que leva tanto tempo para que as leis sejam elaboradas? Como se d a prevalncia de um diploma legal sobre o outro? Qual o mais importante? Quem legisla?

    Legislao denida como a parte da cincia do Direito que se ocupa especialmente do estudo dos atos legislativos (ORLANDO, P., apud OLIVEIRA, T.N.O.). , tambm, o conjunto das leis que regulam particularmente certa matria (FREIRE, L., apud OLIVEIRA, T.N.O.). Legislao educacional pode ser denida, portanto, como o conjunto de diplomas legais (leis, decretos, decretos-leis, portarias, resolues etc.) e documentos correlatos (pareceres, deliberaes etc.) que regulam a educao.

    Legislar atribuio do Poder Pblico, principalmente do Poder Legislativo. Num regime democrtico, inclusive, indelegvel a outro poder. Assim, ao Poder Legislativo cabe legislar, ao Poder Executivo cabe executar e ao Poder Judicirio cabe julgar.

    Observao

    Legislao o conjunto de leis que regulam certa matria. Assim, legislao educacional o conjunto de diplomas legais que tratam da educao.

    Lembrete

    Num regime democrtico, as funes dos trs poderes so muito bem denidas: o Legislativo legisla, o Executivo executa e o Judicirio julga.

    1.1 Ciclo evolutivo de uma lei

    No caso brasileiro, a estrutura do sistema escolar estabelecida por um diploma legal especco, chamado Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB). Sendo assim, importante contextualizar este diploma legal denominado Lei na estrutura legal vigente no pas, de modo a sabermos qual o seu poder de inuncia sobre outros diplomas legais e o seu grau de importncia na hierarquia legal.

    A partir do surgimento de uma ideia, at passar a vigorar no pas, uma lei passa por etapas de um processo que ser apresentado sucintamente a seguir:

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    Figura 1 Legislao

    Iniciativa: a iniciativa de propor um projeto de lei pode partir de um legislador individualmente (vereador, deputado ou senador), de uma bancada (grupo de parlamentares que representa determinada camada da sociedade) ou de todo o legislativo. Trata-se do lanamento da ideia para discusso, apoio, reformulao ou veto, de acordo com os interesses dos parlamentares;

    Discusso: a partir do lanamento da ideia, o projeto de lei passa a ser discutido no mbito da casa do poder legislativo onde ela surgiu:

    Esfera municipal: Cmara municipal;

    Esfera estadual: Assembleia legislativa;

    Esfera federal: Cmara dos deputados, Senado ou Congresso Nacional.

    O processo de discusso a parte mais prolongada de todo o ciclo evolutivo da lei, pois envolve sugestes de emendas por parte de todos os parlamentares interessados no assunto, num jogo de interesses no qual o assunto de interesse comum tratado por parlamentares de interesses diferentes, dependendo de quem cada um deles representa.

    Votao: aps muita discusso, procurando equilibrar a balana do perde e ganha do processo, o projeto de lei votado no legislativo. Caso seja rejeitado, ele arquivado. Caso seja aprovado, seguir para o Poder Executivo, visando transformar o projeto em lei;

    Sano: a sano de um projeto de lei prerrogativa do chefe do Poder Executivo:

    Esfera municipal: Prefeito;

    Esfera estadual: Governador;

    Esfera federal: Presidente.

    Trata-se da aprovao da deliberao do legislativo, ou seja, a chancela do chefe do executivo para o projeto. Este, ao julgar o documento legal, levar em conta:

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    A constitucionalidade: o projeto constitucional? Encontra apoio na Constituio? No contradiz nenhum dispositivo da Constituio?

    A oportunidade: oportuno que este assunto seja tratado naquele momento?

    A necessidade do Projeto de Lei: este projeto mesmo necessrio?

    Promulgao: trata-se da autenticao da regularidade da lei e a ordem para a sua execuo. um ato do poder executivo, pelo qual a lei adquire fora obrigatria;

    Publicao: divulgao da lei em Dirio Ocial para que se torne conhecida por todos. Recomenda-se o acompanhamento constante daquilo que publicado no Dirio Ocial da Unio, do seu Estado e do seu Municpio, pois aps a publicao no se aceita a justicativa de descumprimento do dispositivo legal por desconhecimento.

    Veto: uma prerrogativa do chefe do Poder Executivo, ou seja, sua manifestao contrria converso do projeto de lei em lei. Somente o chefe do poder executivo pertinente pode vetar determinada lei proposta pelo poder legislativo. O veto pode ser em parte ou na sua totalidade, de modo que, caso ocorra, provocar um novo exame da lei no legislativo, podendo ser rejeitado ou derrubado por voto da maioria dos legisladores. Neste caso, portanto, prevalecer a proposta da maioria do legislativo sobre a opinio do chefe do poder executivo.

    Figura 2 Veto

    Evidentemente este um processo demorado, anal, a tendncia que quanto mais importante for o assunto, mais acalorados sero os debates polticos sobre a lei, pois, neste processo, agentes sociais de interesses diferentes discutem um assunto de interesse comum at chegarem a um texto nal. No caso da atual LDB, por exemplo, o processo durou cerca de oito anos, entre 1988 e 1996.

    1.2 Classicao e hierarquia dos diplomas legais

    1.2.1 Classicao

    Quanto classicao dos diplomas legais, h uma relao direta entre os diferentes nveis de poder, que pode ser assim sintetizada:

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    Diplomas Legais Federais: os mais importantes, que devem prevalecer sobre os demais;

    Diplomas Legais Estaduais: podem complementar os federais de mesma hierarquia, sem contrari-los;

    Diplomas Legais Municipais: podem complementar os estaduais de mesma hierarquia, sem contrari-los.

    1.2.2 Hierarquia

    Quanto hierarquia entre os diplomas legais, a relao que se estabelece a seguinte:

    Constitucionais: as mais importantes;

    Complementares: regulamentam normas constitucionais, ou seja, complementam a Constituio e se aderem a ela, como se fossem suas partes integrantes;

    Ordinrias: leis comuns que regulamentam dispositivos constitucionais, porm sem se aderirem a ela.

    Lembrete

    Aqui est em evidncia apenas a classicao e a hierarquia entre as leis. Outros diplomas legais (decretos, decretos-leis, medidas provisrias, resolues, portarias etc.) tambm apresentam suas classicaes e hierarquias, porm no so objetos deste livro-texto.

    Ficou demonstrado que, quanto hierarquia, as normas constitucionais so as mais importantes. A Constituio entendida como a lei suprema e fundamental do Estado e da vida jurdica de um pas. Nela so estabelecidas as normas fundamentais, s quais todos os demais diplomas legais devem conformar-se, cumprindo o princpio de constitucionalidade.

    Sendo assim, no caso da legislao federal, prevalece a Constituio Federal lei suprema do pas. No caso da legislao estadual, prevalece a Constituio Estadual lei suprema do Estado onde ela vigora. No caso da legislao municipal, prevalece a chamada lei orgnica, que a constituio municipal, ou seja, sua lei suprema, sempre respeitando, tambm, a classicao supracitada em termos de prevalncia de uma esfera governamental sobre a outra.

    A LDBEN uma lei ordinria federal, portanto, subordinada apenas Constituio Federal e a suas leis e decretos-leis complementares. Todo o restante da legislao educacional do pas deve, portanto, seguir as diretrizes e normas nela estabelecidas.

    Em sntese, neste mdulo enfoca-se o termo legislao pelo fato de a estrutura e o funcionamento da educao bsica no Brasil ser denida com base em uma lei. Dessa forma, tendo em mente que legislar

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    atribuio do Poder Pblico, principalmente do Poder Legislativo, podemos dizer que legislao um termo denido como o conjunto das leis que regulam particularmente certa matria, e que legislao educacional, portanto, pode ser denida como o conjunto de diplomas legais e documentos correlatos que regulam a educao.

    2 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL COLNIA

    No Brasil, em pleno sculo XXI, a educao escolar ainda um produto social desigualmente distribudo. O acesso a um padro elevado de qualidade ainda depende de fatores como classe socioeconmica, sexo, etnia, local de residncia etc., fatores esses diretamente ligados, inclusive, ao tipo de rede escolar a ser frequentado, seja pblica, seja particular.

    At algumas dcadas atrs, a escola pblica oferecia uma excelente qualidade de ensino. Na prtica, alunos que frequentavam escolas particulares o faziam por no conseguirem aprovao nas escolas pblicas. No entanto, esta realidade mudou drasticamente nos ltimos 40 anos. Em decorrncia de uma srie de motivos, alguns dos quais ressaltados neste livro-texto, a escola pblica perdeu qualidade, de modo que as escolas particulares passaram a ser o padro de qualidade de ensino do pas. Dessa forma, hoje, as melhores escolas so acessveis apenas para quem pode pagar, e quem no pode acaba tendo que se contentar com uma escola de menor qualidade.

    Toda essa situao tem explicao na histria. O conhecimento dos fatos histricos nos permite entender a realidade atual de forma a se ter uma noo do que est para vir e, assim, evitar possveis problemas. a que reside a importncia deste tpico para a sua formao.

    Pode-se armar que, a partir de certo momento da histria (o advento da repblica), o discurso poltico que insistia sobre a funo homogeneizadora e igualitria da escola, que fabrica cidados iguais, foi-se esvaziando progressivamente de sua substncia. Passou-se a vivenciar uma heterogeneidade provocada pela atual fragmentao da estrutura do sistema escolar brasileiro em vrias redes, reproduzindo e acentuando as desigualdades sociais e comprometendo o desenvolvimento econmico e social do pas.

    Como cada rede se dirige a consumidores diferentes, a estrutura do sistema deixa de ser de livre mercado concorrencial e passa a acentuar, cada vez mais, disparidades sociais que se reetem em estatsticas educacionais muito diferenciadas.

    A atual estrutura da educao bsica o reexo de um histrico de acontecimentos cujas razes remontam ao descobrimento do pas. Por isso, na sequncia, sero apontados os principais fatos histricos do processo, os quais geraram a atual estrutura.

    Observao

    O perodo em que o Brasil foi colnia de Portugal corresponde maior parte da nossa histria, desde o descobrimento (1500) at a proclamao da independncia (1822).

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    Figura 3 Educao no Brasil Colnia (representada por Pedro lvares Cabral)

    A partir do descobrimento at a independncia, o Brasil foi uma colnia de Portugal, de modo que no dispunha de uma constituio prpria. Neste perodo, dentre os principais fatos relacionados educao que ocorreram, destacam-se:

    1549 Chegada dos jesutas ao Brasil: entre o descobrimento e a chegada dos jesutas, a educao formal no existia. Ela se restringia ao seu sentido social e assistemtico, ou seja, entre os indgenas as geraes mais velhas exerciam aes sobre as mais novas, orientando sua conduta e transmitindo conhecimentos, normas, valores, crenas e costumes aceitos pelo grupo. As sociedades indgenas, muito simples, eram separadas umas das outras e possuiam um acervo cultural rudimentar. Os mais jovens aprendiam com os mais velhos por experincia direta, portanto no havia um acervo cultural sucientemente vasto e complexo que exigisse a existncia da educao formal em escolas. A partir da chegada dos jesutas, em 1549, teve incio um longo perodo marcado pela educao para a catequese e a instruo dos gentios por meio de escolas de primeiras letras e colgios. Aps 15 dias da sua chegada, os jesutas criaram a primeira escola brasileira, em Salvador, BA. Desde ento, at serem expulsos da colnia, criaram uma rede de escolas por praticamente todas as cidades onde existiam casas de jesutas. A atuao dos jesutas atendeu aos seus propsitos missionrios e aos propsitos colonialistas de Portugal, educando por meio de escolas elementares, seminrios e colgios.

    1759 Expulso dos Jesutas pelo Marqus de Pombal: aps 210 anos de catequese e primeiras letras, a populao brasileira passou por um processo de tentativa de laicizao do ensino. Os jesutas, nica opo de educao, foram expulsos do pas por Sebastio Jos de Carvalho Melo, o Marqus de Pombal, e, por incrvel que possa parecer, houve um retrocesso, algo inimaginvel numa sociedade to carente em termos de educao. Esta, por determinao da coroa portuguesa, deveria ser posta a servio dos interesses civis e polticos do imprio lusitano, o que realmente veio a ocorrer, em prejuzo da populao brasileira, poca com a sua quase totalidade sem qualquer escolaridade. A princpio, Marqus de Pombal extinguiu os aldeamentos indgenas do Par e do Maranho. Aps trs anos, a medida foi estendida a todo o territrio brasileiro. O argumento de Marqus de Pombal era o de assegurar a liberdade dos ndios, visando facilitar o seu ingresso na sociedade branca e, com isso, defender e povoar o territrio brasileiro. Sua reforma criou as chamadas aulas rgias e o cargo de Diretor Geral de Estudos, que tinha a funo de nomear professores e scalizar o seu ensino. Seu maior intuito era substituir denitivamente o sistema jesutico (medieval) por um sistema mais moderno (cientco), no entanto, ao deixar de destinar recursos nanceiros e professores para efetivar sua proposta, acabou com o ensino jesutico sem criar um substituto altura. Assim, a maioria das escolas fundadas antes e depois da reforma pombalina continuou utilizando a pedagogia jesutica, at porque muitos de seus

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    professores haviam sido formados por ela, e os professores recm-chegados ao Brasil de Portugal eram normalmente hostilizados pelos estudantes e pela populao em geral;

    1808 Chegada da Famlia Real ao Brasil: a partir desta data, com a chegada da famlia real portuguesa ao Brasil, a administrao de D. Joo VI passou a privilegiar os estudos tcnico-militares, prossionais e superiores, em detrimento da instruo elementar. No entanto, houve um ligeiro acrscimo de opes para a escolarizao da populao brasileira, de modo que portas comearam a se abrir em termos polticos, econmicos e sociais, com reexo direto e indireto na educao, embora fossem direcionadas a poucos privilegiados.

    3 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL IMPRIO

    Lembrete

    O perodo em que o Brasil fez parte do imprio portugus est compreendido entre a proclamao da independncia (1822) e a proclamao da repblica (1889).

    Figura 4 Educao no Brasil Imprio (representado por Dom Pedro I)

    1822 Independncia do Brasil: nalmente, em 1822 o pas se tornou independente, ou melhor, deixou de ser colnia e passou a ser parte integrante do imprio portugus. Desde ento, passou a ser regido por normas constitucionais prprias, ou seja, num certo sentido passou a denir o seu prprio futuro em todos os aspectos, inclusive o da educao. Com o advento da independncia, surgia uma nova poltica para a instruo popular.

    Veja a seguir os principais fatos ocorridos no perodo do imprio:

    1824 Promulgao da Constituio do Imprio: com a declarao da independncia, o trono portugus fechou a Assembleia Nacional Constituinte e foi outorgada a primeira Constituio do Brasil de modo imposto unilateralmente, sem participao popular, sequer indireta. Nela, pela primeira vez na histria do pas, reconhece-se o direito de todo cidado brasileiro instruo primria gratuita. Este princpio repetiu-se em quase todas as demais constituies brasileiras, exceto a de 1891, que silenciou a esse respeito. Esta Constituio garantia, tambm, a existncia de colgios e universidades onde se ensinassem os elementos das cincias, belas artes e artes. Mesmo de modo incipiente, a educao no Brasil passava, ento, a ganhar uma forma mais sistemtica e estruturada. Apesar de incluir princpios aparentemente liberais, as elites

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    ignoraram-na completamente, o que se reetia, tambm, no campo educacional. Garantiu-se o direito instruo primria gratuita a toda a populao, mas calou-se, a Constituio, sobre obrigatoriedade de se oferecer esta instruo. Alm disso, onde se l toda a populao, leia-se exceto os escravos, evidentemente. Construam-se poucas escolas, no havia preparo adequado de professores e ainda previa-se a fundao de universidades, o que, no entanto, s veio a ocorrer cerca de um sculo depois;

    1827 Promulgao da Lei das Escolas de Primeiras Letras: ocorreu em 15 de outubro de 1827, data que posteriormente foi adotada com comemorativa do Dia do Professor, mais precisamente a partir de 1963, no governo Joo Goulart. Em termos de legislao ordinria, esta foi a nica lei que tratou do ensino elementar at 1946;

    1834 Reforma Constitucional: descentralizou a responsabilidade administrativa educacional, agravando a situao da instruo no pas. O poder central deveria se preocupar com temas mais importantes, deixando a cargo das provncias a misso de instruir o povo. Na prtica houve uma diviso de responsabilidades, com o governo central se responsabilizando pelo ensino superior j existente e por outras instituies que fossem criadas por lei imperial. Ressalte-se que o governo central no criou nenhum estabelecimento novo nas provncias. A elas coube a instruo primria, no entanto, receberam pouqussima verba para o tema;

    1837 Criao do Colgio Pedro II: poca, neste colgio, foi institudo o modelo dos estudos secundrios;

    Figura 5 Dom Pedro II (homenageado com o nome do colgio)

    1854 Reforma Couto Ferraz: estruturou a instruo primria elementar gratuita, garantida na Constituio, em dois nveis o primrio e o secundrio), restrito ao Municpio da Corte, ou seja, ao Rio de Janeiro. Mesmo aps a promulgao da lei, as escolas de instruo secundrias no foram criadas e as de instruo primria no se desenvolveram, principalmente por falta de recursos e de professores;

    1878 Reforma Lencio de Carvalho: consagrou o regime de exames parcelados no ensino mdio.

    Na prtica, pode-se armar que o imprio pouco ou quase nada fez para alterar a precria situao herdada da gesto pombalina. A burguesia emergente e a aristocracia decadente lanaram um primeiro projeto de escolarizao com certo sucesso, porm este processo no chegou ao povo. Este, quando conseguia manter contato com a educao, restringia-se ao bsico, mesmo assim arcaico e

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    rudimentar. Enquanto isso, o ensino secundrio e o universitrio eram destinados a poucos privilegiados economicamente.

    A seguir, sero apresentados os principais fatos ocorridos a partir da Repblica at a promulgao da atual Constituio da Repblica Federativa do Brasil, em 1988.

    4 A EDUCAO NA HISTRIA BRASIL REPBLICA

    Observao

    O Brasil passou a ser uma repblica federativa independente a partir da proclamao desta repblica (1889) e assim permanece at os dias atuais.

    Figura 6 Educao no Brasil Repblica (representada pelo Marechal Deodoro da Fonseca)

    1889 Proclamao da Repblica: em 1889, aps um golpe militar que deps D. Pedro II, foi proclamada a repblica. A partir de ento, gradativamente a educao passou a crescer em importncia no cenrio poltico e social do pas. No entanto, no incio deste perodo, o advento do novo regime no trouxe signicativas alteraes para a instruo pblica; apenas aps certo amadurecimento que isto viria a ocorrer. A substituio do trabalho escravo ajudou bastante neste sentido. Inclusive, a nova educao passaria a seguir princpios positivistas em lugar da teologia;

    1891 Promulgao da Primeira Constituio da Repblica Brasileira: com a mudana do regime, muda a Constituio. De incio, no entanto, a nova Constituio pouco modicou a partilha de atribuies entre o governo central e os governos locais no que se refere educao e aos demais temas de interesse. Mesmo assim, deve ser ressaltado que ela concedeu competncia ao Congresso Nacional para legislar sobre o ensino superior e estabeleceu o ensino leigo, a ser ministrado nos estabelecimentos pblicos. A partir do momento em que a nova Constituio apregoou a eliminao do ensino religioso, a Igreja Catlica desencadeou um plano para cristianizar as elites, utilizando-se da educao pblica. Criou uma rede de escolas confessionais, j que tinha

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    autorizao para abri-las sem licena, contando com o apoio da oligarquia rural e dos governos provinciais e municipais. O governo central relegou a instruo primria e secundria s provncias e municpios, os quais, em geral, no dispunham nem de recursos nem de vontade poltica para desenvolv-la. A igreja e a iniciativa privada no chegaram a popularizar a educao;

    1924 Criao da Associao Brasileira de Educao (ABE): esta agremiao passou a reunir elementos de todo o pas na discusso de uma poltica nacional de educao, pela primeira vez na histria;

    1930 Fim da Chamada Repblica Velha: Getlio Vargas no poder: por meio de um golpe militar, Getlio Vargas assume o poder, pe m ao sistema oligrquico e esvazia o regionalismo, alm de redenir o papel do Estado a partir de uma ao mais intervencionista em todos os setores da vida nacional, sobretudo na educao. Getlio Vargas era gacho e, como governador de seu estado, havia conseguido pr m cerca de trs sculos quase ininterruptos de guerras. Pessoalmente considerava a educao como prioridade nacional, um instrumento muito til e fundamental para servir aos seus interesses de integrar o territrio do pas, at ento muito fragmentado em termos culturais e polticos;

    1931 Criao do Ministrio da Educao e Sade Pblica e do Conselho Nacional de Educao: pela primeira vez, o pas tinha um ministrio especco e um conselho de governo para tratar dos assuntos da educao. Ainda neste ano, ocorreu a Reforma Francisco Campos, que promoveu a educao em carter nacional;

    Lembrete

    O ex-presidente Getlio Vargas ascendeu ao poder em 1932, por meio de uma revoluo militar. Assim permaneceu at 1945 e retornou ao poder em 1950, dessa vez por meio do voto popular. Foi o grande responsvel pela mudana radical da viso do pas em relao educao, implementando grande parte dos dispositivos legais que permanecem at os dias atuais.

    1934 Constituio outorgada por Vargas: aqui, pela primeira vez, inmeros dispositivos constitucionais foram dedicados educao, dentre os quais se destacam: a difuso, por parte da Unio e dos estados, da instruo pblica em todos os seus graus; a iseno de qualquer tributo aos estabelecimentos particulares de educao gratuita ou prossional, ocialmente considerados idneos; a criao de fundos para auxlio a alunos necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudo, assistncia alimentar, dentria e mdica; estabelecimento da educao como direito de todos; a liberdade de ensino a todos os graus; o planejamento nacional da educao; a ministrao do ensino em idioma ptrio; a tendncia gratuidade do ensino posterior ao primrio; a laicidade do ensino primrio, secundrio, prossional e normal nas escolas pblicas; a exigncia de concursos de ttulos e provas para provimento dos cargos do magistrio ocial; a liberdade de ctedra; a aplicao de recursos na manuteno e desenvolvimento dos sistemas educativos; a destinao de recursos educao nas zonas rurais; a garantia de ensino primrio

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    gratuito aos operrios ou aos lhos destes, por parte das empresas industriais ou agrcolas; o desenvolvimento das cincias, das artes, das letras e da cultura em geral pelos poderes pblicos;

    Observao

    A Constituio de 1934 inovou muito e estabeleceu a maior parte da base da educao no pas que perdura at os dias de hoje. A partir dela a educao passou a ser encarada como um elemento realmente importante para o desenvolvimento da nao.

    Figura 7 Constituio de 1934: marco das conquistas sociais referentes educao no Brasil

    1937 Segunda Constituio outorgada por Vargas: apesar de restringir liberdades individuais, dedicou alguns dispositivos educao, dentre os quais se destacam: a substituio do conceito de educao como direito de todos pelo de educao como dever e direito natural dos pais, atribuindo famlia a responsabilidade primeira pela educao integral da prole e, ao Estado, o dever de colaborar com a execuo desta responsabilidade, suprindo as decincias e lacunas da educao particular; dedicou ateno infncia e juventude ao dispor sobre a garantia da assistncia fsica, moral e intelectual a ser-lhes prestada pelos responsveis e, na falta destes, pelo Estado; a garantia de educao de crianas e adolescentes carentes em estabelecimentos federais, estaduais e municipais; a destinao do ensino pblico pr-vocacional e prossional aos menos favorecidos e o ensino particular acadmico s classes privilegiadas; a obrigatoriedade da educao fsica, do ensino cvico e dos trabalhos manuais em todas as escolas primrias e mdias, como requisito para a sua autorizao e reconhecimento; o estabelecimento de gratuidade e obrigatoriedade do ensino primrio; a instituio, para os mais ricos, de uma contribuio mdica e mensal para o caixa escolar; o estabelecimento da laicidade do ensino ministrado nas escolas primrias e mdias. Esta Constituio omitiu-se, no entanto, quanto aplicao de recursos pblicos para a manuteno e o desenvolvimento do ensino;

    1942 Reforma Gustavo Capanema: por meio dela, surgiram o Ginsio e o Colgio. Dentro do colgio, houve uma subdiviso em dois cursos: o clssico e o cientco;

    1946 Promulgao da Constituio Ps Ditadura Vargas: em 1945, aps a queda da Ditadura Vargas, retoma-se a orientao descentralizadora e liberal da Constituio de 1934. Merece destaque

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    o seguinte dispositivo: estabelecimento de que cabe Unio legislar sobre as diretrizes e bases da educao nacional e organizar o sistema federal de ensino, de carter supletivo, estendendo-se a todo o pas, nos estritos limites das decincias locais (art. 5 e 170). Encontra-se aqui, portanto, o embrio das leis de diretrizes e bases da educao, hoje vigentes, que orientam a estrutura e o funcionamento da educao no pas; o estabelecimento do princpio da obrigatoriedade do ensino primrio para todos, com gratuidade nas escolas pblicas; o estabelecimento da laicidade do ensino primrio e mdio ocial; a prioridade da famlia na educao; a liberdade da iniciativa privada com relao ao ensino; a obrigatoriedade da ministrao do ensino na lngua nacional; a vitaliciedade e a liberdade de ctedra; a aplicao de recursos provenientes de impostos no desenvolvimento do ensino; o desenvolvimento dos sistemas de ensino federal e dos territrios por meio de Fundo Nacional; a autonomia dos estados e do Distrito Federal na organizao de seus sistemas de ensino; a assistncia educacional aos necessitados; a manuteno obrigatria, por parte das empresas, do ensino primrio gratuito aos servidores e seus lhos; a criao de institutos de pesquisas; o amparo cultura como dever do Estado;

    1961 Promulgao da Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB (Lei 4.024): nalmente a educao passa a ter um conjunto de diplomas legais que regula o assunto. Trata-se de um importante passo no sentido da unicao do sistema de ensino e da eliminao do dualismo administrativo herdado do Imprio. Neste ano, tambm foram criados o Conselho Federal de Educao e os conselhos estaduais de educao;

    1964 Implantao da Ditadura Militar: a partir dela, passou a ocorrer uma progressiva centralizao poltica e administrativa, na contramarcha do processo de descentralizao estabelecido pela LDB. Criou-se o Ministrio do Planejamento, que passou a liderar o processo de planejamento da educao;

    Lembrete

    O regime militar instaurado em 1964 perdurou at 1985 no pas, um longo perodo caracterizado pela perda de direitos democrticos que afetou toda a sociedade. A educao, como parte da sociedade, evidentemente foi adequada ao regime de exceo do perodo, o que levou, por exemplo, necessidade de elaborar uma nova LDB, em 1971.

    Figura 8 Implantao do Regime Militar (1964)

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    1967 Promulgao da Constituio: com a mudana imposta pelo regime militar ditatorial, antagnico ao regime que imperava naquele perodo da histria nacional, esperava-se grandes mudanas na Constituio, mas isto no ocorreu no que diz respeito educao. Foram mantidos os principais dispositivos sobre a educao consagrados pela Constituio de 1946, com exceo feita ao dispositivo que trata da aplicao de recursos pblicos no ensino. Merecem destaque, tambm: a ampliao das possibilidades da iniciativa privada em relao ao desenvolvimento do ensino, garantindo amparo tcnico e nanceiro do poder pblico, inclusive por meio de bolsas de estudos; o estabelecimento da faixa etria de obrigatoriedade escolar primria, entre os 7 e os 14 anos;

    1968 Promulgao da Lei n 5.540: organizou e normatizou especicamente o ensino superior;

    1969 Promulgao da Emenda Constitucional n 1: este diploma legal adquiriu peso de Constituio, mas no trouxe, no que se refere educao, grandes novidades. Os principais destaques so os seguintes: acrscimo da expresso dever do Estado ao dispositivo que trata do direito de todos educao, o que passou a garantir este direito; a extino da liberdade de ctedra, restringindo a liberdade de comunicao de conhecimentos; a omisso sobre a aplicao de recursos tributrios ao ensino; a instituio do salrio-educao; manuteno da garantia do ensino primrio gratuito por parte das empresas (comerciais, industriais e agrcolas) aos empregados e lhos destes.

    Figura 9 O regime militar amplia sua rigidez e tolhe cada vez mais os direitos civis (1969)

    1971 Promulgao da Segunda LDB brasileira (Lei n 5692): no cerne da ditadura militar, esta lei apresentava uma tendncia centralizadora e tratava apenas da educao bsica, omitindo-se quanto ao ensino superior, que foi tratado na Lei 5.540/68;

    1982 Promulgao da Lei 7.044: esta lei aboliu a obrigatoriedade da prossionalizao no ensino de segundo grau, prevista na LDB ento vigente no pas e que foi um completo fracasso;

    1983 Promulgao da Emenda Constitucional n 24: esta emenda recuperou o dispositivo constitucional de 1946, que tratava da aplicao de recursos tributrios ao ensino;

    1988 Promulgao da Constituio da Repblica atualmente em vigor: com o m da ditadura militar em 1985, a nova Carta Magna foi promulgada e estabeleceu que a responsabilidade pela organizao dos sistemas de ensino deixava de ser exclusiva dos estados, reconhecendo-se a existncia dos sistemas municipais. Alm disso, estabeleceu a convivncia entre as redes pblica e particular;

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    Figura 10 Liberdade aps duas dcadas de ditadura militar

    1996 Promulgao da atual LDB (Lei 9.394): apoiada na nova Constituio, considerada uma lei completa e ser detalhada no item 6 deste livro-texto.

    Lembrete

    A atual LDB, de caractersticas democratizantes, somente pde ser debatida e implantada aps o regime militar, que ndou-se em 1985.

    Figura 11 Nova LDB: a educao sistematizada

    Saiba mais

    A leitura do livro aqui indicado propiciar um entendimento mais detalhado do assunto, especialmente o seu Captulo 1 A Escola Moderna Chega ao Brasil.

    PILETTI, N. & ROSSATO, G. Educao Bsica: da organizao legal ao cotidiano escolar. So Paulo: tica, 2010.

    Neste tpico, portanto, enfoca-se o histrico da educao no Brasil com nfase nos principais fatos que contriburam para o estabelecimento do atual sistema vigente no pas.

    Os diversos fatos importantes apresentados demonstram que a educao sempre foi relegada a um segundo plano no contexto histrico do pas. Somente muito recentemente, a partir da dcada de

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    1930, que ela passou a ser reconhecida e tratada como um aspecto importante da vida nacional. Por este motivo, em grande parte, ainda convivemos com grandes problemas e diculdades que vm sendo gradativamente confrontados e resolvidos. H, inclusive, no campo das ideias e com base no Plano Nacional de Educao em discusso no Congresso Nacional, uma expectativa de cenrio gradativamente melhor para os prximos anos.

    Com a evoluo do processo histrico, apenas em 1961 o Brasil passou a ter uma lei de diretrizes e bases da educao LDB, ou seja, uma lei especca para denir as bases e as diretrizes que a educao do pas deve seguir. Mudanas polticas importantes que ocorreram desde ento, com a implantao de um regime militar que durou mais de 20 anos e cuja transio para a democracia foi lenta, gradual e restrita, como armavam os militares na poca, reetiram-se na promulgao de outras duas LDBs. Atualmente, vigora a Lei n 9394 de 1996, que ser tratada de modo mais detalhado em mdulo especco deste livro-texto.

    Resumo

    Esta disciplina foi apresentada em duas unidades. Resumidamente, iniciamos a primeira unidade armando que a estrutura e o funcionamento da educao bsica so estabelecidos por uma lei, o que nos leva necessidade de apresentar conceitos bsicos de legislao, visando promover uma aprendizagem adequada do contedo que viria a seguir. Dessa forma, tendo em mente que legislar atribuio do Poder Pblico, principalmente do Poder Legislativo, podemos dizer que Legislao um termo denido como o conjunto das leis que regulam particularmente certa matria, e que Legislao educacional, portanto, pode ser denida como o conjunto de diplomas legais e documentos correlatos que regulam a educao.

    No entanto, por que a aprovao de leis no Brasil to demorada? Quais as etapas pelas quais este diploma legal precisa passar at ser nalmente aprovado? Para responder a tais perguntas, apresentamos o ciclo evolutivo de uma lei, desde o surgimento de uma ideia at sua aprovao para vigorar no pas.

    Nesse processo, uma lei precisa passar por certas etapas: iniciativa, discusso e votao (no Legislativo), sano, promulgao e publicao (no Executivo). O Veto, que tambm um procedimento inerente ao processo, uma prerrogativa do chefe do Poder Executivo, ou seja, corresponde sua manifestao contrria converso do projeto de lei em lei, o que pode ser em parte ou na sua totalidade. Caso ocorra o veto, isto provocar um novo exame da lei no legislativo, podendo o veto ser rejeitado ou derrubado por voto da maioria dos legisladores.

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    Trata-se de um processo longo, no qual todos os setores da sociedade tm a oportunidade de participar por meio de seus representantes eleitos, razo pela qual h tamanha demora. Se, por um lado, a demora pode ser considerada negativa, por outro, ela positiva, pois signica que o processo democrtico est sendo desenvolvido.

    Outro assunto de importncia ao conhecimento, a ttulo de entendimento do contexto onde se insere a LDB diante dos demais diplomas legais existentes no pas, a classicao e hierarquia dos diplomas legais.

    Quanto classicao, h uma relao direta entre os diferentes nveis de poder, que pode ser assim sintetizada:

    Diplomas Legais Federais: os mais importantes;

    Diplomas Legais Estaduais: podem complementar os federais;

    Diplomas Legais Municipais: podem complementar os estaduais.

    Quanto hierarquia, a relao que se estabelece a seguinte:

    Constitucionais: as mais importantes;

    Complementares: complementam a Constituio e a ela se aderem;

    Ordinrias: leis que regulamentam dispositivos constitucionais sem a ela se aderirem.

    A LDB uma lei ordinria federal, portanto, subordinada apenas Constituio Federal e suas leis e decretos-leis complementares. Todo o restante da legislao educacional do pas deve seguir as diretrizes e normas nela estabelecidas.

    No Brasil, em pleno sculo XXI e em que pese os esforos da sociedade envidados nas ltimas dcadas, infelizmente a educao escolar ainda um produto social desigualmente distribudo. O acesso a um padro elevado de qualidade na educao ainda depende de fatores como classe socioeconmica, sexo, etnia, local de residncia etc., fatores esses diretamente ligados, inclusive, ao tipo de rede escolar a ser frequentado, seja pblica, seja particular.

    H algumas dcadas a realidade era bem diferente. A escola pblica oferecia uma excelente qualidade de ensino e os alunos que frequentavam escolas particulares, regra geral, o faziam por no conseguirem aprovao nas escolas pblicas. De fato esta realidade mudou drasticamente nos

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    ltimos quarenta anos. Em decorrncia de uma srie de motivos, alguns dos quais ressaltados neste livro-texto, a escola pblica teve uma perda de qualidade constante no perodo, de modo que as escolas particulares passaram a ser o padro de qualidade de ensino do pas. Hoje, as melhores escolas so acessveis apenas para quem pode pagar, de modo que quem no pode acaba tendo que se contentar com uma escola de menor qualidade, salvo raras excees.

    Toda essa situao tem explicao na histria. O conhecimento dos fatos histricos permite entender a realidade atual de forma a se ter uma noo do que est para vir e, assim, evitar possveis problemas. Poe este motivo, foi apresentada uma sntese dos principais fatos histricos relacionados com a educao no pas, desde o seu descobrimento at os dias atuais.

    Os diversos fatos apresentados, portanto, demonstram que a educao sempre foi relegada a um segundo plano no contexto histrico do pas. Somente muito recentemente, a partir da dcada de 1930, que ela passou a ser reconhecida e tratada como um aspecto importante da vida nacional. Por ser to recente a importncia dedicada educao, em grande parte, ainda convivemos com grandes problemas e diculdades que vm sendo gradativamente confrontados e resolvidos. H, inclusive, no campo das ideias e com base no Plano Nacional de Educao em discusso no Congresso Nacional para as prximas dcadas, uma expectativa de cenrio gradativamente melhor para os prximos anos.

    Exerccios

    Questo 1. (Fundao Carlos Chagas 2011) As Diretrizes Nacionais Gerais para a Educao Bsica estabelecem que os Projetos Poltico-Pedaggicos das unidades escolares, construdos coletivamente, devem contemplar:

    I. O diagnstico da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, contextualizados no espao e no tempo.

    II. As competncias e habilidades requeridas pelo mercado de trabalho, bem como suas mutaes, de tal modo a produzir a exibilidade necessria ao desenvolvimento do ensino.

    III. O perl real dos sujeitos crianas, jovens e adultos que justicam e instituem a vida da e na escola, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconmico, como base da reexo sobre as relaes de vida conhecimento cultura professor estudante e instituio escolar.

    IV. Os fundamentos da gesto democrtica, compartilhada e participativa (rgos colegiados e de representao estudantil).

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    Est correto o que se arma apenas em:

    A) II e IV.

    B) I e III.

    C) I, II e IV.

    D) II e III.

    E) I, III e IV.

    Resposta correta: EJusticativas das armativas:

    I - verdadeira porque o papel do projeto poltico-pedaggico contemplar a realidade concreta dos alunos e de sua comunidade, contextualizando no tempo e no espao e sua realidade social, poltica e cultural.

    II - falsa porque as polticas educacionais no existem em funo do mercado de trabalho, mas esto voltadas tambm para a formao da cidadania e para a difuso da cultura e do saber.

    III - correta porque, segundo as Diretrizes, as unidades escolares devem voltar as suas prticas pedaggicas e sociais para tender as reais necessidades dos sujeitos em sua totalidade e complexidade humana, social e cultural.

    IV - verdadeira porque faz parte da essncia da gesto democrtica a participao da comunidade escolar nas decises administrativas e pedaggicas das unidades escolares.

    Questo 2. (Fundao Carlos Chagas 2011) A sala de aula um dos lugares centrais em qualquer unidade escolar. Nela professores e alunos estabelecem interaes, tecem sociabilidades, configuram o grupo ensino e do sentido ao trabalho efetivamente escolar. De alguma forma, as relaes de ensino-aprendizagem que ocorrem na sala de aula tambm foram normatizadas pelo Legislador, pois a Constituio Federal de 1988 determina que o ensino deve ter como diretrizes, dentre outras:

    I. A igualdade de condies para o acesso e a permanncia na escola.

    II. A formao artstica para a elevao do capital cultural e do bom gosto artstico.

    III. A liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.

    IV. O pluralismo de ideias e de concepes pedaggicas (...).

    Est correto o que se arma apenas em:

    A) II e IV.

    B) III e IV.

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    C) I e II.

    D) I, III e IV.

    E) II, III e IV.

    Resoluo desta questo na Plataforma.

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