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Seu Paulo Paulino da Silva (58 anos) e Berta Lúcia da Silva Melo (50 anos) vivem em uma pequena propriedade de meio hectare no Sitio Lagoa do Surrão, as margens do Rio do Surrão, distante 7 km da Sede do Município de Fagundes/Paraíba. Tiveram quatro filhos: Ana Paula, Jair, Jailson e Maria Aparecida . No início a vida da família era muito difícil, foi necessário seu Paulo ir trabalhar no Rio de Janeiro. Dona Berta, nesse período, ficou criando os animais, trabalhando no roçado e tomando conta dos meninos. Em 2006 as coisas ficaram ainda mais difíceis, eles tiveram que vender o que tinha e se mudar para o Pará. Lá passaram pouco tempo, logo tiveram que retornar, pois os meninos e dona Berta não se adaptaram ao clima da região. Ao retornar pra a antiga propriedade, sem ter mais como comprar seus animais, deram de cara com algumas ancoretas (balde feito com borracha que serve para carregar água), cheias de enxames de abelhas. Seu Paulo e o filho continuaram trabalhando alugado (em outras propriedades), foram aos poucos readquirindo os animais, enquanto sua esposa e a filha ficavam em casa tomando conta dos pequenos animais, cuidando das plantas, do arredor de casa e fazendo cocada, licores de frutas, bolos de mandioca para vender. Durante a safra do cajá e cajarana a família também aproveitava para comercializar as frutas e completar a renda da feira. Em 2007 seu Paulo se surpreendeu, ao abrir as ancoretas e encontrar muito mel dentro. Ele percebeu, com isso, a possibilidade de colocar mais ancoretas e caixotes de madeira para instalar mais enxames. Foi quando o mel surgiu para complementar a renda de família. Segundo seu Paulo os filhos procuraram traba- lho fora porque não encontraram trabalho aqui: Hoje só conto com o trabalho de Berta Lúcia e o meu... as abelhas trabalham de graça pra mim e não tenho trabalho e nem despesas com elas... hoje é uma nova historia”. Paraíba Ano 5 | nº 79 | Agosto| 2011 Fagundes - Paraíba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas APRENDENDO COM AS ABELHAS 1 Dona Berta e seu Paulo ao lado da produção de mel Colméia feita a partir de caixa de Madeira

Aprendendo com as abelhas

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Page 1: Aprendendo com as abelhas

Seu Paulo Paulino da Silva (58 anos) e Berta Lúcia da Silva Melo (50 anos) vivem em uma pequena propriedade de meio hectare no Sitio Lagoa do Surrão, as margens do Rio do Surrão, distante 7 km da Sede do Município de Fagundes/Paraíba. Tiveram quatro filhos: Ana Paula, Jair, Jailson e Maria Aparecida .

No início a vida da família era muito difícil, foi necessário seu Paulo ir trabalhar no Rio de Janeiro. Dona Berta, nesse período, ficou criando os animais, trabalhando no roçado e tomando conta dos meninos.

Em 2006 as coisas ficaram ainda mais difíceis, eles tiveram que vender o que tinha e se mudar para o Pará. Lá passaram pouco tempo, logo tiveram que retornar, pois os meninos e dona Berta não se adaptaram ao clima da região.

Ao retornar pra a antiga propriedade, sem ter mais como comprar seus animais, deram de cara com algumas ancoretas (balde feito com borracha que serve para carregar água), cheias de enxames de abelhas. Seu Paulo e o filho continuaram trabalhando alugado (em outras propriedades), foram aos poucos readquirindo os animais, enquanto sua esposa e a filha ficavam em casa tomando conta dos pequenos animais, cuidando das plantas, do arredor de casa e fazendo cocada, licores de frutas, bolos

de mandioca para vender. Durante a safra do cajá e cajarana a família também aproveitava para comercializar as frutas e completar a renda da feira.

Em 2007 seu Paulo se surpreendeu, ao abrir as ancoretas e encontrar muito mel dentro. Ele percebeu, com isso, a possibilidade de colocar mais ancoretas e caixotes de madeira para instalar mais enxames. Foi quando o mel surgiu para complementar a renda de família.

Segundo seu Paulo os filhos procuraram traba-lho fora porque não encontraram trabalho aqui: “Hoje só conto com o trabalho de Berta Lúcia e o meu... as abelhas trabalham de graça pra mim e não tenho trabalho e nem despesas com elas... hoje é uma nova historia”.

Paraíba

Ano 5 | nº 79 | Agosto| 2011Fagundes - Paraíba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

APRENDENDO COM AS ABELHAS

1

Dona Berta e seu Paulo ao lado da produção de mel

Colméia feita a partir de caixa de Madeira

Page 2: Aprendendo com as abelhas

As Abelhas e seus

conhecimentos

Atualmente a família possui 08 enxame de abelhas situado em 4 caixas de madeira e 04 ancoretas de carregar água. Em um ano as abelhas produzem de 60 a 65 litros de mel. Seu Paulo diz que o que permite a boa produção é a florada da mata que fica perto: “lá tem muita catingueira, juá e entre outras plantas, as que ficam na beira do rio, flora no verão e mata a fome na época que a mata esta seca”.

Seu Paulo utiliza métodos tradicionais, sem nenhum equipamento, para coleta e engar-rafamento do mel. A coleta é sempre no horário da tarde pra noite, utilizando um balde e fumaça, espremendo os favos com um pano. Depois de coar o mel, engarrafa em litros de vidros reutilizáveis.

A comercialização feita na comunidade é responsabilidade de dona Berta, já seu Paulo vende na feira em Campina Grande. A renda com a venda em casa é pouca, o litro de mel é vendido à R$ 12 reais. Já em Campina, como a procura é maior, eles vendem a R$ 8,00 o litro. Seu Paulo comenta: “Nós temos, ainda, muita dificuldade nas vendas por causa da desvalorização dos produtos da agri-cultura. Tem momentos que achamos que não vale nem a pena produzir nessas situações. Da vontade até de desistir, mas a gente vai por aqui caminhando lutando pra que um dia melhore”.

Dona Berta diz que só agora começaram a participar da Associação dos Trabalhadores e Produtores Rurais da Serra Bodopitá: “foi através de lá que a gente começou a participar do FOLIA, mas não pode sair os dois, ou vai um ou outro, porque a casa não pode ficar só”.

No arredor da casa da família é cultivada uma diversidade de frutas: goiaba, pinha, coco, cajara-na, limão, caju, banana, mamão, manga, seriguela, tamarindo e manipeba (mandioca brava), que dona Berta usa pra fazer bolo. Ela fala que tudo no arredor de casa é ela que faz: “Tomo conta dos porcos e das galinhas, planto meus pés de fruta, de rosas, meus pés de coentro, cebolinha, pimentão. Também faço bolo, cocada, todo tipo de licor e ainda participo da igreja evangélica nos domin-gos”. Seu Paulo trabalha no roçado, faz trabalho alugado, cuida das colmeias e colhe cajá e cajarana.

A agricultora se enche de orgulho para falar de seu arredor de casa: “Nós achamos uma beleza tudo isso perto de casa tanto pra gente trabalhar quanto pra gente ir buscar pra comer. Tudo que a gente quer temos aqui é um presente de Deus e sempre vamos cuidar pra ficar assim”.

Seu Paulo faz planos para o futuro: “Pretendo poder melhorar e investir mais nos exames, poder comprar os equipamentos necessários, que ainda não tenho. Gostaria de fazer um treina-mento, porque tudo que sei é muito pouco, para cuidar melhor do mel. Espero que melhore as vendas, pois o preço do produto ainda é muito barato, mas pouco a pouco vou fazendo devagar, se Deus quiser, e espero aprender mais com as abelhas por que foram elas que me ensinaram”.

Seu Paulo e Dona Berta em frente de sua casa

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