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ISBN: 978-972-9171-86-4
Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Ana Lucas Martins
Universidade Europeia |Laureate International Universities
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Escola Superior de Atividades Imobiliárias
Membro da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas
Eduardo Tomé
Universidade Europeia |Laureate International Universities
Área Temática: A9 | Investigação em contabilidade, ensino e formação Palavras-chave: formação contínua, criação de valor, contabilidade, OTOC, Nucase Metodologia: M2 | Case/Field Study
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Resumo
Desde a data de reconhecimento pela legislação portuguesa da profissão de Técnico Oficial de
Contas (TOC), em 1963, que a profissão acumula grandes responsabilidades a nível
contabilístico e fiscal. Atualmente são frequentes as alterações da legislação contabilística e
fiscal. Estas alterações obrigam, naturalmente, a uma constante atualização.
A Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), consciente deste constante desafio à
profissão, consagrou nos seus Estatutos um mecanismo de controlo de qualidade, através da
atribuição de créditos em função da formação. Contudo, a importância atribuída pela OTOC à
formação profissional leva a que esta ordem também disponibilize aos seus membros um
plano anual de formação.
A formação profissional contínua surge na prática como uma boa ferramenta para a
atualização necessária no exercício das funções de TOC. Contudo, não foi encontrado
nenhum estudo que confirme ou refute esta afirmação. A literatura sobre esta temática incide
essencialmente sobre a formação profissional ou sobre a profissão de TOC.
O que este estudo pretende demonstrar é que a formação contínua tem sido vista como um
fator de manutenção de performance e de criação de valor na profissão de TOC. A questão em
estudo será: aferir se a formação contínua é percebida como um instrumento importante na
performance e criação de valor da profissão.
Na metodologia seguida aplicou-se um estudo de caso sobre uma empresa de prestação de
serviços de contabilidade. Esta empresa, portuguesa e de dimensão média, valoriza a
formação contínua e elabora anualmente um plano de formação. A técnica utilizada consistiu
no tratamento e análise estatística dos dados da formação no último triénio.
Os resultados indicam que a adaptação do plano de formação à realidade de cada TOC é uma
boa prática.
Palavras-chave: formação contínua, criação de valor, contabilidade, OTOC, Nucase
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
1. Introdução
A profissão de Técnico Oficial de Contas (TOC) apenas foi reconhecida oficialmente em
1963. Desde essa data, o TOC é um profissional com grandes responsabilidades a nível
contabilístico e fiscal, uma vez que representa o seu cliente perante a Autoridade Tributária.
A legislação contabilística e fiscal, base essencial para o trabalho deste profissional, encontra-
se frequentemente em alteração, obrigando a uma constante atualização por parte dos TOC.
A associação profissional que representa e atualmente regula a atividade dos TOC surgiu em
1995, ainda com a designação de Associação dos Técnicos Oficiais de Contas (ATOC).
Passou posteriormente a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), em 1999, e, mais
recentemente, a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), em 2009.
Uma das funções da OTOC, consagrada nos seus Estatutos, é o controlo de qualidade das
funções exercidas pelos TOC. Um dos mecanismos de controlo utilizados é a exigência de
créditos que são atribuídos em função da frequência da formação pelo TOC ao longo do ano.
Esta presença pode ser presencial ou online.
A formação profissional contínua surge como uma boa ferramenta para a atualização
necessária no exercício das funções de TOC. Torna-se também, em simultâneo, uma garantia
de continuidade no exercício dessas mesmas funções, ao cumprir com os créditos exigidos
pela OTOC.
A formação contínua tem sido vista como um fator de criação de valor em muitos setores de
atividade, sendo mesmo considerada como essencial para a competitividade de alguns destes
setores.
O Bastonário da OTOC reconhece a importância da formação ao longo da vida profissional
dos TOC. Em entrevista ao jornal Pais Económico, no artigo “Grande Entrevista - Domingues
de Azevedo, Bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas – OTOC” (2012), o
Bastonário refere que “Uma das coisas com que nos confrontámos como Ordem foi superar
um bocado o mito da ideia de quem é licenciado não precisa de ter formação. E nós
superámos isso. (…) Uma missão desta natureza é sempre sujeita a um quadro de
notabilidade (a um quadro de alterações) muito mais acentuado do que é uma profissão de
engenheiro, de médico, de advogado. Isto porque não obstante estas serem profissões que
evoluem, a sua evolução é muito mais lenta do que são as alterações fiscais permanentes.
Tudo isto também para dizer que a formação é necessária para as profissões de maior risco,
e o TOC é uma profissão de enorme risco.”
A importância dada pela OTOC à formação profissional leva a que esta ordem profissional
coloque anualmente à disposição dos seus membros um plano de formação. Este plano
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
contempla ações de várias áreas técnicas. Estas destinam-se, algumas a reforçar o
conhecimento já adquirido, e outras a atualizar conhecimentos sobre alterações derivadas da
entrada em vigor de novas normas.
A literatura sobre esta temática incide essencialmente sobre a formação profissional e sobre a
profissão de TOC. Não foram encontradas, a nível nacional, referências sobre a formação
profissional contínua destes profissionais.
Assim, e após a revisão de literatura, surgiu a questão em estudo:
(1) Aferir se a formação contínua é percebida como um instrumento importante na
performance da profissão e criação de valor, constituindo um plano de formação
adequado a cada TOC uma boa prática.
Neste contexto, pretende este estudo investigar a relevância percebida da formação continua
na performance global do TOC e se é possível a adequação de um plano de formação às
necessidades de cada TOC.
A metodologia utilizada será um estudo de caso, com uma análise estatística dos dados da
formação do último triénio.
A estrutura deste estudo, após esta introdução, terá uma secção de fundamentação teórica
sobre a formação profissional, sobre a profissão de TOC e sobre a importância da primeira
nesta profissão. Seguidamente, será exposta a metodologia utilizada no estudo de caso sobre a
implementação dos planos anuais de formação contínua numa empresa de prestação de
serviços de contabilidade, seguida do próprio estudo. Por fim, serão discutidos os resultados e
apresentadas as conclusões sobre o estudo efetuado.
2. Formação Contínua e profissão de Técnico Oficial de Contas
2.1. A formação contínua
No ambiente socioprofissional atual, repleto de transformações tão profundas quanto rápidas,
torna-se essencial dotar os profissionais em exercício de informações atualizadas que lhes
permitam continuar a exercer as suas atividades com a mesma performance, ou mesmo
melhorando-a. Haja embora profissões em que estas mudanças são mais rápidas do que
noutras, o facto é que esta atualização e melhoria se convertem rapidamente em fatores de
diferenciação e de criação de valor para quem as exerce.
Lagarto (2002) defende mesmo que a qualificação da massa laboral e atualização de métodos
e técnicas utilizados e a capacidade de adoção da inovação tecnológica é essencial para a
competitividade dos sectores produtivos.
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
O sistema de formação profissional português tenta adequar-se a esta necessidade através de
várias modalidades de formação. Estas modalidades podem ser a formação presencial e a
formação à distância, realçando-se nesta última a formação online. Relativamente à fase da
vida profissional em que a formação é adquirida, vão ser consideradas neste estudo apenas a
formação inicial e, em particular, a formação contínua.
Os conceitos utilizados no estudo serão os adotados por Portugal & Comissão Interministerial
para o Emprego (2001), através do Instituto de Emprego e Formação Profissional, como
regulador da atividade de formação em Portugal:
“Formação – Conjunto de atividades que visam a aquisição de conhecimentos, capacidades,
atitudes e formas de comportamento exigidos para o exercício das funções próprias duma
profissão ou grupo de profissões em qualquer ramo de atividade económica.”
“Formação presencial – formação que se realiza mediante o contacto direto entre formador
e formando.”
“Formação à distância – Método de formação com reduzida ou nula intervenção presencial
do formador e que utiliza materiais didáticos diversos em suporte escrito, áudio, vídeo,
informático ou multimédia, ou numa combinação destes, com vista não só à aquisição de
conhecimentos como também à avaliação do progresso do formando.”
“Formação inicial – formação que visa a aquisição das capacidades indispensáveis para
poder iniciar o exercício duma profissão. É o primeiro programa completo de formação que
habilita ao desempenho das tarefas que constituem uma função ou profissão.”
“Formação contínua – formação que engloba todos os processos formativos organizados e
institucionalizados subsequentes à formação profissional inicial com vista a permitir uma
adaptação às transformações tecnológicas e técnicas, favorecer a promoção social dos
indivíduos, bem como permitir a sua contribuição para o desenvolvimento cultural,
económico e social.”
Por sua vez, Masie (1997) define a formação online como sendo o uso da tecnologia em rede
para projetar, proporcionar, selecionar, gerir e expandir a aprendizagem.
O conceito de volume de formação utilizado é o definido pelo Instituto Nacional de
Estatística, no Sitio Oficial do Instituto Nacional de Estatistica (2015): “Total de horas de
formação assistidas pelos formandos num determinado período de referência (n.º de horas do
curso x n.º de formandos)”.
Atualmente a formação profissional contínua é essencial, e deve ser incentivada desde a
formação inicial, mesmo que esta seja a nível de ensino superior. Esta linha de pensamento é
seguida por da Silva & da Cunha (2002), que defende que a educação ao longo da vida deve
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
gerir as transições entre as etapas da aprendizagem e diversificar os percursos. A formação
contínua deve ainda preocupar-se com a formação profissional das pessoas, mas também com
a sua formação como cidadão. O mesmo estudo conclui ainda que o grande problema deste
século é a “superabundância” de informação, pelo que o que se deve ensinar é também
sistemas e estratégias de acesso à informação. O ensino deve evitar a aceitação passiva da
informação, mas antes instigar dúvidas e promover competências técnicas associadas à
capacidade de decisão e de adaptação a novas situações.
Muitos outros têm sido os estudos sobre formação profissional e a sua contribuição para a
performance dos participantes. A Tabela 1 faz uma breve apresentação do estado-da-arte
neste campo, enumerando as principais contribuições de cada estudo.
Tabela 1 – Estado-da-arte sobre a contribuição da formação profissional na performance
profissional dos participantes
Estudo Contribuição
Hinrichs, Anja-Christina (2014)
O estudo propõe um modelo de transferência de conhecimento que pressupõe que o sucesso da aprendizagem não ocorre apenas após uma formação bem-sucedida, mas que deve ser enquadrada no que foi aprendido anteriormente em posto de trabalho. Esta nova aprendizagem deve ser integrada no contexto de trabalho antes de terminada a ação de formação, para potenciar a sua eficácia.
Lopes (2012)
Num estudo que incide sobre a formação em associações profissionais na área da contabilidade, demonstra que a evolução da formação em auditoria tem sido positiva, e que tem existido um aumento da assistência dos profissionais às formações. Conclui que, mesmo impulsionados por fatores de ordem económica ou social, os profissionais preocupam-se com a atualização de conhecimentos.
Zumrah, Boyle, & Fein (2012)
O estudo demonstra que quando os colaboradores percebem que a entidade patronal valoriza e se preocupa com o seu bem-estar, esta perceção leva-os a aplicar os conhecimentos, técnicas e atitudes apreendidas na formação no seu posto de trabalho. Também conclui que quando os colaboradores percebem os benefícios da formação, aplicam igualmente o que aprenderam no seu posto de trabalho.
Hussain (2011) A formação apenas é eficaz quando o conhecimento, treino e competências são aplicados em contexto de trabalho. A motivação do participante é, contudo, essencial para a sua eficácia.
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Estudo Contribuição
Marques (2010)
O autor concluiu que a empresa perceciona a formação profissional não só como um instrumento ao serviço do desenvolvimento da empresa, mas também como um meio de socialização, ou seja, um instrumento que permite adquirir novos saberes técnicos, mas também desenvolver capacidades e melhorar comportamentos e atitudes. Para as empresas, a formação é também uma forma de adequar o potencial humano às contingências da atualidade.
Hutchins (2009) O sucesso da formação depende da transferência real dos conhecimentos para o desempenho das funções em posto de trabalho. Esse sucesso deve conduzir ao aumento da produtividade.
Roçadas (2006)
A tese consiste num estudo de caso no setor bancário. O estudo defende a ideia de que para os recursos humanos alcançarem excelentes patamares de qualidade, competência, eficácia e eficiência, é necessário o cumprimento de um plano bem estruturado de formação profissional contínua. Os próprios colaboradores consideram a formação necessária, não apenas pelo domínio de conhecimentos técnicos, mas porque também melhora a competência interpessoal, cada vez mais necessária no mundo atual.
Tomé (2001)
Num estudo comparativo entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE), o autor conclui que os EUA têm mais tradição na área da formação, e que a UE deveria seguir esses passos. Concretamente em relação a Portugal, o autor concluiu que a formação profissional apenas começou a ser consistente, incluindo as estatísticas sobre esta temática, a partir de 1986. O motivo pode estar relacionado com a entrada de Portugal na então CEE, e com o recebimento de verbas desta instituição para essa finalidade.
Sendo o objeto deste estudo a formação adquirida pelos TOC, ao longo da sua atividade
profissional, o foco será a formação contínua. Dentro desta formação serão analisadas as
modalidades de formação presencial e online.
2.2. A profissão de Técnico Oficial de Contas
De acordo com a OTOC, no Sitio Oficial da OTOC (2015), “a profissão de TOC surge pela
primeira vez no ordenamento jurídico português através da exigência de uma figura
consagrada no Código da Contribuição Industrial (1963), em consequência da reforma fiscal
levada a efeito, entre 1958 e 1963. Aquele diploma limita-se a criar a figura de TOC sem que,
no entanto, seja acompanhada de normas jurídicas reguladoras do exercício da profissão,
nem da definição das funções destes profissionais, limitando-se a exigir que as declarações
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
de rendimentos fossem assinadas pelos referidos TOC inscritos na ex Direção Geral das
Contribuições e Impostos (DGCI).”
De acordo com a mesma fonte, o primeiro estatuto dos TOC surge no Estatuto dos Técnicos
Oficiais de Contas (1995), regulando o exercício da profissão. A partir do surgimento do
estatuto profissional, é então criada a comissão instaladora da ATOC, no ano de 1995.
Gonçalves (2013) refere que, com a publicação do Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais
de Contas (1999), a ATOC passou a designar-se CTOC. O Código Deontológico foi aprovado
em 2000. Em 2009, esta associação profissional passou a ordem profissional, com a
aprovação da Alteração ao Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (2009), que
renomeou a câmara para OTOC.
A partir de 2013 passou a ser obrigatório a obtenção prévia de uma habilitação académica de
licenciatura ou superior para inscrição numa ordem profissional. Esta exigência está prevista
na Lei n.o 2/2013 de 10 de janeiro (2013), que estabelece o regime jurídico de criação,
organização e funcionamento das associações públicas profissionais para a inscrição numa
ordem profissional. Esta exigência já existia na OTOC desde 1999, com a publicação dos
respetivos Estatutos.
De acordo com o Sitio Oficial da OTOC (2015), esta entidade reguladora da profissão é, neste
momento, a maior ordem profissional portuguesa, com cerca de 75.000 membros, dos quais
cerca de 73.000 estão ativos na sua profissão.
O conceito de TOC surgiu apenas no Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas
(1999). Segundo estes Estatutos, designam-se por "TOC os profissionais inscritos, nos termos
deste Estatuto, na Câmara, sendo-lhes atribuído em exclusividade o uso desse título
profissional, bem como o exercício das respetivas funções."
O mesmo diploma também regula as responsabilidades legais destes profissionais, que
passam por: (1) planificar, organizar e coordenar a execução da contabilidade das entidades
sujeitas aos impostos sobre o rendimento que possuam ou devam possuir contabilidade
regularmente organizada, respeitando as normas legais e os princípios contabilísticos
vigentes; (2) assumir a responsabilidade pela regularidade técnica, nas áreas contabilística e
fiscal, das entidades referidas; e (3) assinar, conjuntamente com o representante legal das
entidades referidas as respetivas declarações fiscais.
Por fim, a atividade de TOC pode ser exercida: (1) por conta própria; (2) como sócios de uma
sociedade de profissionais; (3) como funcionários públicos; ou (4) no âmbito da prestação de
um contrato de trabalho individual. Em qualquer destas situações, o TOC é responsável,
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
pessoal e diretamente, pela regularidade contabilística e fiscal das entidades perante as quais
assume essa responsabilidade.
3. A importância da formação contínua na profissão de Técnico Oficial de Contas
A evolução da profissão de TOC teve desde 1770 avanços e recuos nas exigências que lhes
eram atribuídas pela legislação, quer ao nível das funções, quer da formação de acesso.
As responsabilidades imputadas aos TOC desde o Código da Contribuição Industrial e, mais
recentemente, pelo Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (1999), bem como
pela legislação fiscal em geral, obriga a que estes profissionais estejam constantemente
atualizados em matérias contabilísticas e fiscais.
Os clientes dos TOC também esperam, com toda a legitimidade, elevado grau de competência
no cumprimento dos serviços prestados por estes profissionais. Poderão inclusivamente estar
em causa contraordenações e mesmo crimes fiscais, caso tal não aconteça.
O estudo de Rodrigues & Gomes (2002) serve de base a uma retrospetiva das exigências de
formação aos TOC, expressa na Tabela 2.
Os períodos sem identificação de entidade reguladora correspondem a períodos de regressão
na regulamentação da profissão. Durante estes períodos, deixou de ser obrigatória a assinatura
dos profissionais da contabilidade nas declarações fiscais, desaparecendo, por este motivo e a
nível legal, a figura de TOC.
Compete igualmente à OTOC, de acordo com os próprios Estatutos, a regulamentação de
mecanismos de controlo de qualidade apoiados num sistema de formação permanente
obrigatória.
Daqui se depreende que a OTOC tem duas funções diretamente relacionadas com esta
temática:
• Por um lado, conceber um sistema de controlo de qualidade associado à formação
contínua;
• Por outro lado, executar ou aprovar formação que permita atingir os mesmos fins.
Quanto à primeira situação, a OTOC aprovou o Regulamento do controlo de qualidade
(2004), onde é criada a obrigatoriedade de existir uma avaliação global da atividade do TOC.
Este diploma regula ainda o exercício da atividade profissional, sendo um dos elementos de
controlo o número de créditos anuais obtido na formação contínua.
Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Tabela 2 – Exigências de formação aos TOC (Fonte: Elaboração própria. Base: Rodrigues & Gomes (2002).)
Período Entidade Reguladora Denominação da
profissão Exigência de formação no
acesso Exigência de formação
para continuidade
1770-1888 Junta de Comércio Guarda-livros Diploma da Aula do Comércio
de Lisboa ou do Porto ou da Escola do Comércio
---
1888-1911 --- --- --- ---
1911-1945
Duas câmaras de peritos contabilistas e posteriormente Sindicato Nacional dos
Contabilistas e Guarda-livros do Distrito do Porto
Perito contabilista --- ---
1945-1964 Sociedade Portuguesa de Contabilidade Técnicos de contas --- ---
1964-1989 DGCI Técnicos Oficiais de
Contas Licenciatura ou Curso de
contabilista ---
1989-1995 --- --- --- ---
1995-1999 ATOC Técnicos Oficiais de
Contas
Bacharelato ou formação superior com um mínimo de
três anos ---
1999-2004 CTOC Técnicos Oficiais de
Contas Licenciatura ---
2004-2009 CTOC Técnicos Oficiais de
Contas Licenciatura
Média de 35 créditos nos últimos 2 anos
(formação profissional)
2009-… OTOC Técnicos Oficiais de
Contas Licenciatura
Média de 35 créditos nos últimos 2 anos
(formação profissional)
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Assim, cada TOC, no exercício da sua atividade deverá obter, de acordo com o regulamento
mencionado, “uma média anual de 35 créditos, nos últimos dois anos, em formação
promovida pela CTOC ou por ela aprovada”.
Estes créditos poderão ser obtidos da seguinte forma:
• Presença em cada “reunião livre” - 0,5 créditos;
• Presença em cada ação de “formação eventual” - 13 créditos;
• Frequência de cada ação de “formação segmentada” - 25 créditos;
• Frequência de cada ação de “formação permanente” - 40 créditos;
• A “formação recorrente” terá um número de créditos igual à formação que lhe está
subjacente;
• A “formação espontânea” terá o número de créditos que previamente lhe for atribuído
pela direção sob proposta do conselho técnico.
Relativamente à situação da execução ou aprovação da formação, a OTOC aprova ações de
formação ministradas por entidades certificadas e acreditadas para a formação profissional.
Elabora igualmente um plano anual de formação que contempla todas as metodologias de
formação previstas no Regulamento do controlo de qualidade (2004).
As ações de formação previstas neste plano anual têm caracter essencialmente técnico,
relacionado com novas normas contabilísticas e fiscais, ou alterações às mesmas. Muitas
ações de formação, devido ao caracter imprevisto das alterações que serão alvo das ações, são
planificadas com uma antecedência mínima, precisamente no sentido de serem ministradas
quando oportuno.
O plano anual de formação contempla ações presenciais, mas também ações de formação à
distância, em formato online.
Por fim, é ainda de salientar que, dada a dispersão dos membros pelo País, a OTOC
contempla no seu plano anual de formação ações geograficamente dispersas.
4. Estudo de caso: o grupo Nucase
4.1. Metodologia do estudo de caso
O objetivo global do presente trabalho é identificar a perceção da importância da formação
contínua dos TOC na performance e criação de valor.
Este processo de investigação exige a eleição de uma metodologia de trabalho.
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Os resultados apresentados neste estudo dizem respeito à análise de observações reais de
eventos, não replicáveis nem elaboradas em laboratório. O controlo foi feito a posteriori, não
sendo os fatores em estudo manipulados a priori. Os eventos são as ações de formação
enquadradas nos planos anuais de formação de uma empresa de serviços de contabilidade.
Desta forma, de acordo com Bryman & Bell (2011), é adequada uma metodologia de um
estudo de campo, e, em particular, de um estudo de caso.
Também segundo Stock & Sales Baptista (2012) um estudo de caso trata da “exploração de
um único fenómeno, limitado no tempo e na ação, onde o investigador recolhe informação
detalhada. É um estudo intensivo e detalhado de uma entidade bem definida, um caso, que é
único, especifico, diferente e complexo.” Este método pode ser utilizado em variadas
situações, incluindo nos estudos de gestão.
Assim sendo, será seguida a metodologia de Yin (2009), aplicável aos estudos de caso. Esta
metodologia está expressa na Figura 1, sendo de seguida explicadas as etapas adequadas ao
presente estudo.
Figura 1 – Metodologia de Yin (2009), aplicável aos estudos de caso
Na fase de planeamento, o estudo foi delineado como estudo de caso, o que também se
enquadra na metodologia de Yin (2009). Segundo esta metodologia, o método de estudo de
caso é usado em diversos campos de investigação, incluído na área de ciências sociais. Trata-
se de um método de pesquisa adequado quando a questão de investigação pretende explicar o
como ou porquê de determinado evento, quando não é necessário controlo das ocorrências
comportamentais, sendo o focus em eventos contemporâneos.
O design passará por um estudo de caso único, com utilização de um método quantitativo e
com recurso a dados secundários fornecidos pela Nucase. Estes dados são relativos à
Preparação
Recolha
Análise
Design
Divulgação
Planeamento
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
formação planeada e executada entre 2012 e 2014. A questão a estudar será a perceção da
importância da formação contínua dos TOC na performance e criação de valor, investigando-
se a adequação do plano anual de formação às características particulares dos TOC.
A preparação para a recolha de dados incluiu uma revisão de bibliografia sobre a temática da
formação profissional e da profissão de TOC, bem como a definição da questão de
investigação. Para a resposta a esta questão de investigação foram definidos os dados a
recolher e analisar. Estes dados são provenientes dos planos anuais de formação da empresa
em estudo nos anos em referência.
Os dados foram recolhidos a partir do arquivo da Nucase, tendo sido fornecidos pelo
Departamento de Recursos Humanos. Os dados foram apresentados de forma individual mas
anónima, e estavam repartidos em dados de caracterização da amostra, como idade, género e
habilitações literárias, e dados referentes ao plano de formação, como as horas de formação
previstas e assistidas e créditos a obter previstos.
Relativamente ao tratamento e análise dos dados, a metodologia seguida foi uma análise
estatística a partir da utilização dos dados agregados, de acordo com as seguintes etapas:
(1) Uma análise relativa à formação contínua global dos TOC da empresa;
(2) Análises específicas tendo em conta:
(a) O género;
(b) O escalão etário;
(c) O nível de habilitações literárias.
Por fim, a divulgação dos resultados teve como objetivo a resposta à questão de investigação.
O caso em estudo permite aferir da possibilidade de, através de um plano anual de formação
bem planificado e adequado ao conjunto de TOC a que se destina, proceder à manutenção da
performance e criar valor para a profissão, sendo uma boa prática empresarial.
4.2. Enquadramento
O Grupo Nucase iniciou a sua atividade em 1978, especializando-se no apoio à gestão de
empresas. Atualmente, é constituído por 5 empresas, num total de 163 profissionais, na sua
maioria com experiência e qualificação superior.
A empresa responsável pela prestação de serviços na área da contabilidade e fiscalidade,
sobre a qual irá incidir o estudo de caso, é a Nucase – Contabilidade e Assistência Fiscal, SA.
Esta empresa tem atualmente 142 colaboradores, 55 dos quais são TOC.
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
A relação com o cliente passa naturalmente pelo TOC que lhe está atribuído. O TOC
responsabiliza-se pelas obrigações do cliente nas áreas da contabilidade e fiscalidade, mas
também presta serviços de consultoria técnica nestas mesmas áreas.
Nestes serviços de consultoria a Nucase tem como objetivo acrescentar valor aos serviços de
contabilidade e fiscalidade prestados. Assume assim uma dupla função, de preocupação com
as obrigações fiscais, mas também incentivando o uso da contabilidade como ferramenta de
gestão.
A formação contínua na profissão de TOC é vista como essencial pela Nucase, sendo por este
motivo o objeto deste estudo de caso a formação contínua nesta empresa.
No Sitio Oficial do Grupo Nucase (2015), a Nucase ilustra a importância da formação
profissional:
“A formação é uma aposta contínua determinante para acompanhar os novos desafios e
constantes alterações e atualizações nos diversos negócios, criando condições para uma
vantagem competitiva sustentável e diferenciadora. Anualmente o nosso plano de formação
constitui uma importante ferramenta, que visa planear adequadamente a formação da
equipa, acompanhando as necessidades específicas que são detetadas e transmitidas por
todas as áreas do Grupo. Entendemos que a chave da evolução, está em qualificar os nossos
colaboradores com as competências necessárias, promovendo o seu desenvolvimento, pessoal
e profissional.”
A começar pela opinião dos próprios Administradores, expressa no Sitio Oficial do Grupo
Nucase (2015), a formação contínua é vista como um instrumento imprescindível para a
elevada performance dos seus colaboradores:
“(…) A Nucase não se poupou a esforços para estar à altura das exigências destas
alterações, reforçou o seu quadro de pessoal qualificado, investiu na modernização dos seus
sistemas de informação, investiu na formação interna e para clientes, agilizou processos
organizativos e tentou encontrar soluções ajustadas às necessidades, exigências e
expectativas dos clientes e dos organismos estatais destinatários dos nossos serviços.”
(António Nunes, Administrador)
“Há que perceber as pessoas que estão connosco e onde podem ser desenvolvidas para
prestar o melhor serviço possível ao cliente mas acima de tudo estar na área operacional. Há
que responder o melhor possível para perceber quais as formações que os nossos
colaboradores necessitam de ter para dar melhores respostas aos nossos clientes. Apesar de
estar na área de recursos humanos, tenho que entender todo o negócio globalmente e apostar
fortemente na nossa formação, no desenvolvimento profissional e conhecimento técnico das
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
diferentes áreas para poder gerir da melhor forma.” (Sónia Nunes, Diretora de Recursos
Humanos)
Ainda pela mesma fonte, também nas opiniões de alguns clientes está implícita a perceção da
criação de valor que a Nucase proporciona:
“A Nucase dá-nos muita segurança e sabemos que estamos em boas mãos, o que é um valor
incalculável para nós.” (Catarina Olin, Cliente)
“A Nucase tem sido um parceiro à altura em todos os momentos, a nível da qualidade do
trabalho que desempenha, das informações que presta e do cumprimento dos prazos.”
(Arménio Mendes, Cliente)
Por fim, e pela mesma fonte, também colaboradores da Nucase salientam a importância da
formação contínua destes profissionais:
“Apesar de ser recorrente ouvir-se falar na simplificação e estabilização da legislação fiscal
/ laboral, verificam-se alterações constantes à legislação, sendo o exemplo mais recente o da
reforma do código do IRC. Considero que a formação é crítica e aplaudo a aposta do Grupo
Nucase na formação dos seus colaboradores.” (João Paulo Dias, Colaborador)
“Atualmente a contabilidade já não é vista como um serviço só para dar resposta às
obrigações fiscais das empresas e empresários, daí que haja necessidade de haver uma
permanente atualização. A formação tem de ser constante para que possamos a dar as
respostas mais adequadas às necessidades dos nossos clientes.” (Domingo Folgado,
Colaborador)
A importância atribuída à formação contínua pela Nucase é anualmente contextualizada num
plano anual de formação. Este plano de formação contempla ações de formação que
permitem, não só atingir os créditos necessários para efeitos do Regulamento do controlo de
qualidade (2004), mas inclui igualmente formação que permite aos TOC a permanente
atualização necessária à manutenção da performance global desejada.
4.3. Análise dos dados sobre a formação
Como referido anteriormente, a Nucase elabora anualmente um plano de formação abrangente
da totalidade dos seus colaboradores.
Este plano inclui ações de formação externas, como as promovidas pela OTOC, mas também
internas, com recurso a formadores especialistas nas respetivas áreas.
O planeamento é feito tendo como base as necessidades de formação dos colaboradores. Estas
necessidades são analisadas quer ao nível técnico, quer, tratando-se de TOC, ao nível do
cumprimento dos créditos anuais necessários para o cumprimento do Regulamento do
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
controlo de qualidade (2004). O plano fica consolidado num documento denominado Plano
Anual de Formação 20xx.
O planeamento da formação é feito de forma exaustiva, pois as ações de formação são
previstas colaborador a colaborador. O plano de formação prevê as ações a frequentar,
respetivas cargas horárias, calendarização e número de créditos.
Ao longo do ano, a formação efetivamente assistida vai sendo registada num documento
denominado Histórico da Formação 20xx.
Os desvios existentes ao longo do ano face ao previsto vão sendo reajustados de forma a
serem cumpridos os objetivos iniciais.
Igualmente, caso surjam alterações pontuais e não previsíveis a nível técnico, contabilístico
ou fiscal, estas ações são acrescidas no momento oportuno.
O presente estudo baseou-se nos planos de formação e nos históricos da formação do último
triénio.
Dado o caracter especifico deste estudo, a análise da formação foi feita exclusivamente em
relação aos TOC.
Apresentam-se na Tabela 3 os dados relativos aos planos de formação e à formação
efetivamente ocorrida durante triénio em questão.
Tabela 3 – Caracterização da Formação Nucase no triénio 2012/14 (Fonte: Elaboração
própria. Dados fornecidos pela Nucase.)
Constata-se que as horas médias de formação efetivamente executadas foram sempre
superiores às inicialmente previstas. Este facto demonstra que, mesmo atingindo os créditos
mínimos necessários em termos previsionais, a Nucase investe na formação à medida que a
mesma se demonstra necessária, em função de alterações contabilísticas e fiscais que ocorrem
ao longo do ano, e por isso sem previsão no início do mesmo.
A Tabela 4 permite-nos aferir que o plano anual de formação tem em conta o número de
créditos necessários a cada TOC para a continuidade da sua função no âmbito do
Regulamento do controlo de qualidade (2004).
Formação prevista
Formação assistida
Taxa de execução
Formação prevista
Formação assistida
Taxa de execução
Formação prevista
Formação assistida
Taxa de execução
Nº médio de horas de formação por colaborador
24,3 37,5 154% 27,0 33,7 125% 21,8 32,8 150%
Nº minimo de horas de formação por colaborador
17,0 12,5 17,0 6,0 17,0 11,5
Nº máximo de horas de formação por colaborador
33,0 47,0 65,0 67,5 41,0 40,5
2012 2013 2014
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Tabela 4 – Créditos previstos na formação contínua no triénio 2012/14 (Fonte: Elaboração
própria. Dados fornecidos pela Nucase.)
Na Figura 2 constata-se que o volume de formação do género feminino é muito superior ao do
género masculino. Contudo, esta análise tem de ter em conta a estrutura dos colaboradores
TOC da empresa, sendo 34% do género masculino e 66% do género feminino, em 2014. Se
for considerada a média de formação por colaborador, a diferença não é notória, sendo uma
média de 31 horas por colaborador do género masculino e uma média de 34 horas por
colaborador do género feminino.
Figura 2 – Volume de formação Nucase por género (Fonte: Elaboração própria. Dados
fornecidos pela Nucase.)
Numa análise em função do escalão etário, verifica-se que o maior volume de formação se
concentra no escalão dos 40-49 anos (ver Figura 3). Este facto deve-se à proporção desta faixa
etária entre os colaboradores, a qual constitui cerca de 56% da estrutura da empresa.
A este nível, observa-se que o escalão etário dos 50-59 anos é o que tem menos
colaboradores, e, contudo, tem o maior volume de formação por colaborador. Este facto
demonstra que o investimento em formação depende mais das necessidades de formação do
colaborador do que do seu escalão etário.
2012 2013 2014Nº créditos médio por colaborador
36,1 39,6 33,0
Nº minimo de créditos por colaborador
25,5 25,5 25,5
Nº máximo de créditos por colaborador
49,5 85,5 61,5
0,0
200,0
400,0
600,0
800,0
1.000,0
2012 2013 2014
Masculino
Feminino
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
Tendencialmente, os colaboradores deste escalão têm menos habilitações literárias que os
anteriores. Em termos médios, um colaborador no escalão 30-39 anos tem uma média de 30
horas anuais de formação, no escalão 40-49 anos tem uma média de 34 horas e no escalão 50-
59 anos têm uma média de 38 horas.
Figura 3 – Volume de formação Nucase por escalões etários (Fonte: Elaboração própria.
Dados fornecidos pela Nucase.)
Por fim, na distribuição do volume de formação em função do nível de habilitações literárias,
que se pode observar na Figura 4, o maior investimento em termos de volume de formação é
nos colaboradores com nível de licenciatura. Estes constituem, em 2014, cerca de 63% dos
colaboradores.
No entanto, em termos médios por colaborador, o investimento maior é nos níveis de
habilitações inferiores (média de 41 horas de formação por ano), que vai baixando até aos
níveis superiores (média de 31 horas de formação por ano).
Figura 4 – Volume de formação Nucase por nível de habilitações literárias (Fonte: Elaboração
própria. Dados fornecidos pela Nucase.)
0
100
200
300
400
500
600
700
2012 2013 2014
30-39 anos
40-49 anos
50-59 anos
0
200
400
600
800
2012 2013 2014
9º ano
12º ano
Bacharelato
Licenciatura
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
5. Discussão
A constante alteração das normas contabilísticas e, em particular, das normas fiscais,
constituindo estas a base essencial de trabalho dos TOC, obriga a uma atualização constante
dos conhecimentos por parte destes profissionais.
A responsabilidade perante os clientes e, em particular, perante a Autoridade Tributária, tem
vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, o que leva a que lacunas na atualização técnica
possam colocar em risco a performance destes profissionais.
A formação profissional é um dos instrumentos mais utilizados e valorizados na prossecução
desta constante atualização.
A questão aqui em causa é até que ponto a formação profissional é vista pelos agentes
intervenientes como instrumento essencial para esta atualização constante de conhecimentos,
manutenção da performance e criação de valor.
Ao longo do estudo, foram apresentados alguns estudos e opiniões sobre esta temática, no
sentido em que, de facto, se trata de um instrumento com grande potencialidade para a
manutenção da performance. Esta opinião é comum ao Bastonário da OTOC, como
representante máximo da ordem profissional da classe, e à Administração da Nucase,
colaboradores e clientes.
A análise dos planos anuais de formação da Nucase e respetivos históricos da formação
demonstram que a formação profissional é tida em conta na estratégia da empresa, e entendida
como um instrumento de manutenção da performance dos TOC da empresa.
Os resultados apresentados demonstram que:
(1) As horas médias de formação efetivamente executadas foram sempre superiores às
inicialmente previstas. Este facto é motivado pela execução de ações de formação que
se tornaram pertinentes durante o ano, e que não eram previsíveis na altura da
elaboração do plano de formação;
(2) O número de créditos previstos em média é sempre superior ao número de créditos
necessários a cada TOC, tendo em atenção a exigência prevista no Regulamento do
controlo de qualidade (2004);
(3) O maior volume de formação concentra-se no escalão dos 40-49 anos, devido ao
maior número de colaboradores se encontrar neste escalão etário. No entanto o escalão
etário dos 50-59 anos é o que tem o maior volume de formação por colaborador;
(4) Relativamente ao género, a média de horas de formação por colaborador não apresenta
uma diferença notória;
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
(5) O volume de formação é superior nos colaboradores com nível de licenciatura, por
constituírem a maioria destes profissionais. No entanto, em termos de volume de
formação por colaborador, o investimento é maior nos níveis de habilitações literárias
inferiores, dada a maior necessidade de formação.
Futuramente, o consenso apresentado neste estudo relativamente à importância da formação
profissional como instrumento de manutenção de performance pode ser analisado tendo ainda
em conta a opinião dos próprios profissionais. Esta análise deve ser relativa à importância que
atribuem à formação na manutenção da sua própria performance, e mesmo à valorização desta
formação pela perceção da criação de valor para os clientes.
6. Conclusão
A profissão de TOC apenas foi oficialmente reconhecida a partir de 1963. A partir dessa data,
compete a estes profissionais a organização e execução da contabilidade das entidades suas
clientes. Trata-se de uma profissão de grande responsabilidade, não só perante os próprios
clientes, mas, e sobretudo, perante a Autoridade Tributária.
O exercício da atividade é dificultado pelas constantes alterações na legislação contabilística e
fiscal, o que obriga os TOC a uma constante atualização.
A OTOC reconhece a importância primordial da formação profissional na constante
atualização da classe, incentivando os seus membros à frequência de ações de formação que
lhes permitam fazer face a estas atualizações. Contudo, a OTOC não se limita a incentivar. A
ordem elabora um plano anual de formação abrangente de várias temáticas ao nível técnico,
quer contabilístico, quer fiscal. Impõe também formações de atualização mínimas que
permitem aos TOC manter e/ou aumentar a sua performance.
Sendo que, genericamente, a formação profissional é vista como um instrumento de elevado
potencial para cumprir o objetivo da atualização, podem contudo existir outras formas de
atingir o mesmo objetivo. O presente estudo demonstrou a importância efetivamente atribuída
à formação profissional contínua no âmbito da manutenção da performance, bem como a
importância de um plano anual de formação que tenha em conta as necessidades específicas
de cada TOC.
O estudo de caso da Nucase, permitiu as seguintes conclusões:
(1) O Departamento de Recursos Humanos assume um papel pró-ativo no diagnóstico das
necessidades que a formação visa responder, para responder às exigências de
atualização técnica da profissão;
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Técnicos Oficiais de Contas: um estudo de caso sobre formação contínua
(2) O planeamento da formação tem em conta as exigências legais de formação
profissional. Mas tem igualmente em conta também as necessidades concretas dos
colaboradores, incluindo as surgidas ao longo do ano e após o inicio da execução do
plano de formação;
(3) O planeamento do volume de formação por colaborador tem particularmente em conta
o escalão etário e o nível de habilitações. São estes os critérios que mais influenciam
as necessidades de formação;
(4) A adequação de um plano anual de formação pode ser adaptada às necessidades
concretas dos TOC a que se destina, constituindo esta adequação uma boa prática na
gestão empresarial.
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