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O DESENHO INFANTIL
DESENHO E ESCRITA
Dentro da nossa cultura (dada a importância que a escrita desempenha nela) o lápis, combina ao mesmo tempo as funções do gesto e da marca. Pelo gesto, ele funciona como qualquer ponta gravante, mas ele deixa uma marca o que duplica a sua função: objecto que se manipula (gestualiza) e em simultâneo deixa “marca” originada por uma finíssima película de grafite que em consequência do gesto praticado, adere à superfície contra a qual o lápis embateu.
DESENHO E CULTURANesta fase o prazer da marca excede o prazer da cor, o
que lhe provoca uma certa indiferença perante a variedade das cores.
Existirão traços permanentes do desenho infantil, independentes da influência cultural? Merleau-Ponty
Segundo Merleau-Ponty a influência está sempre sujeita a factores temporais, culturais, ideológicos.
O momento determinante é aquele em que a criança descobre o laço entre o gesto e a persistência da marca, que confere ao acto significação diferente da actividade dos “gatafunhos”.
FASES DA EVOLUÇÃO
FASES DA EVOLUÇÃOGARATUJA
DOMÍNIO DA LINHA
SIMBOLISMO DESCRITIVO
REALISMO DESCRITIVO
REALISMO VISUAL
REPRESSÃO
GARATUJAGARATUJA
Traçado ocasional, verificação da marca, repetição intencional.
Traçados intencionalmente repetidos denotando uma certa organização do movimento que se repete e consolida. Movimentos da direita para a esquerda, partindo do ombro.
Primeiro diagonal, segundo vertical, depois horizontal. Esta sequência depende da capacidade crescente de
controlar o eixo corporal.Traçado que evolui para formas fechadas a que a
criança dá um nome.
Domínio da linha
DOMÍNIO DA LINHA
Traçado mais controlado, o movimento passa do ombro para o pulso e dedos.
Por vezes antes de começar diz o que vai fazer.Surgem “partes” de um objecto, que para a
criança funciona como o todo. Este fenómeno verifica-se, devido ao pensamento sincrético da criança (Piaget).
Circulo. Adquirida a “forma”, a figura humana ocupa o
interesse principal.
DOMÍNIO DA LINHA CONT:DOMÍNIO DA LINHA (cont)
Pernas e braços, cabelos, etc. tudo se encontra incluído no círculo .
Princípio da diferenciação.Representação das figuras
desenvolve-se num espaço egocêntrico.
Tudo se vai diferenciando a pouco e pouco. O círculo ou figura equivalente, é sucessivamente substituído.
Cor afectiva.
SIMBOLISMO DESCRITIVOSIMBOLISMO DESCRITIVO
Figura humana em esquema rude. Características convencionais: expressão sempre a mesma.
Cor passa a ter a função de corresponder às características reais dos objectos.
O espaço representa-se entre duas linhas : céu e solo, esta segunda por vezes subentendida.
Dimensões afectivas, mudança de ponto de vista de “close up” para “grande plano”.
Maior ligação “visível”entre os objectos representados. Início da narrativa.
REALISMO DESCRITIVOREALISMO DESCRITIVO
Desenhos mais lógicos do que visuais.O seu poder de análise permite-lhe fazer um
“levantamento” sobre as características do objecto . Transparências, planificações, diversidade de pontos
de vista e simultaneidades temporais.Surge um interesse pelos detalhes decorativos, há
como que uma saída da globalidade dos desenhos.
Tentativa do perfil pouco conseguida, conduz à simultaneidade na mesma figura.
REALISMO VISUAL REALISMO VISUAL
A criança passa de uma fase de desenho de memória para o desenho da natureza. Fase do desenho à vista.
De início ainda é bidimensional, mas passa para uma fase tridimensional em que tenta a consistência através da opacidade, sobreposição, tentativas de perspectiva não entendidas mas integradas. Surge o sombreado.
As cores correspondem sistematicamente à realidade.Tentam-se as paisagens.
FASE DA REPRESSÃO FASE DA REPRESSÃO
Pode-se considerar como uma fase do desenvolvimento em que é exigido à criança “integrar-se” e utilizar um código diferente daquele que lhe foi permitido usar até então.
Por vezes a auto-exigência é tão grande, que a criança desiste optando pela expressão escrita.
LUQUET E O REALISMO
LUQUET FOI PIONEIRO NA CLASSIFICAÇÃO DAS ÉTAPAS DE EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL PORÉM, ERROU NA INTERPRETAÇÃO DO REALISMO DA CRIANÇA :
A CRIANÇA É REALISTA NA SUA INTENCIONALIDADE DE REPRESENTAR O REAL
A FORMA COMO O FAZ NÃO É UMA INFERIORIDADE RELATIVAMENTE AO ADULTO MAS SIM UM DIFERENTE
PONTO DE VISTA .
SIMBOLIZAR APTIDÃO PARA:
Segundo Wallon “desenho” só se deverá chamar quando a marca for o motivo do gesto mesmo que a primeira experiência de deixar marca tenha sido fortuita.
A semelhança fortuita não nasce da forma, mas de uma aptidão imprevista e “nova” que leva a criança a encontrar analogia entre a forma e o dado perceptivo, pois a semelhança que ela descobre é muito diferente e afastada da que se encontra nas imagens que lhe são apresentadas.
EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
Segundo Wallon : “pode-se dizer, que em suas origens, o desenho é uma simples consequência do gesto. É o gesto deixando a marca de sua trajectória numa superfície capaz de poder conservá-lo. Mas existem vários níveis nas relações entre o gesto e a marca. Eles não devem ser unilaterais. Não existe origem do desenho senão quando a marca (ou o traçado) se torna o motivo do gesto, mesmo se no começo ela foi fortuita. Deve existir um choque reversivo do efeito sobre a causa. Por sua vez, o efeito deve tornar-se causa”. Revista Enfance 1950 in Widlöcher
O PRIMEIRO DESENHOO primeiro desenho figurativo da criança surge
do encontro entre o desenvolvimento perceptivo motor com o progresso na decifração de símbolos.
Este encontro é profundamente determinado pelos processos de maturidade (aptidões motoras e perceptivas), bem como pelos efeitos sócio-culturais (uso educativo das imagens). Ele não é pois fortuito, mas simplesmente variável, segundo a frequência desses factores.
CARACTERÍSTICA DO DESENHO INFANTIL
Segundo Merleau-Ponty:
O desenho espontâneo é a reprodução da sua visão interior das coisas...o seu desenho exprime globalmente a sua percepção Merleau-Ponty
...o desenho infantil nunca será considerado como uma cópia do mundo que se oferece à criança, mas como um ensaio de expressão. Para a criança o desenho é uma expressão do mundo e nunca simples imitação Merleau-Ponty
SIMPLIFICAÇÃO/DIFERENCIAÇÃO
A criança “simplifica” a sua expressão utilizando formas de grande compreensão, é o caso do círculo que é a figura geométrica de total compreensão. Durante muito tempo o círculo serve para representar múltiplas formas (o corpo todo, as mãos, a cabeça e os braços, etc.). Á medida que a criança vai descriminando o real, vai substituindo o círculo (forma global) por formas descriminadas ex. a figura humana deixa de ser um círculo, para passar a ser um círculo com cabelos, com cabelos e braços, cabelos braços e pernas etc.
Piaget chamou a esta manifestação a lei da diferenciação.
ATITUDE DO EDUCADOR
Criar um clima de liberdade/experimentaçãoFornecer objectos traçantes/cor/espaçoEstimular o visionamento/interpretação das imagensValorizar a acção de acordo com aquilo que ela
representou para a criança (não por aquilo que lhe agrada a ele educador)
Não exigir interpretação/intencionalidade antes que ela surja de forma evidente (perguntar o que vais fazer ou perguntar o que é isto).
Valorizar os esforços, as conquistas, notar as diferenças que vão surgindo (ex. Hoje usaste uma cor nova…).
Entender a forma como a criança se exprime:
TÉCNICAS PARA 3ª INFÂNCIAAtendendo às características do desenho nesta
fase:Preocupação em ingressar num grupo social
alargado através do domínio da linguagem e comportamento social generalizado:
Fomentar trabalhos em pequeno grupo cuja dinâmica funcione como um facilitador da socialização.
Representação gráfica demonstradora das competências intelectuais:
Realismo visual que deverá ser sustentado por situações de observação do real como por exemplo tentativas de desenho à vista
CONT.Desenho de objectos simples mas interessantes
como por exemplo flores, animais, etc.Construção de maquetes sobre o circo, feira,
grandes superfícies, etc. Estas situações têm a vantagem de fomentar também a descoberta/procura de soluções para a representação das árvores, dos macacos, das pessoas, etc.
Aprendizagens de técnicas que valham “por si”do ponto de vista “estético”, exemplo: anilinas e lápis de cera, barro com pano, etc.
CONT.Recorte da silhueta de um objecto reproduzido em
várias cores: claras/escuras, quentes/frias, complementares,etc. Colar os recortes de várias maneiras: em fila, na diagonal, etc.
Aproveitamento de técnicas ocasionais (pintura de borboleta), para criar novas formas.
“O que parece?”, técnica de aproveitamento de rasgagens para construir imagens “do que parece”.
Trabalhos a partir das silhuetas “retiradas”de objectos
incluindo o corpo humano. Estas silhuetas podem ser trabalhadas de diferentes formas : tinta, lápis, colagem.
CONT:Recorte de imagens de revista. Recortar toda a imagem
em tiras, quadrados, etc. Recompor a imagem fazendo pequenas alterações.Técnica da tinta da china em cima de lápis de cera.
Preenche-se uma folha a4 com lápis de cera. Por cima cobre-se tudo com tinta da china preta, deixa-se secar e em seguida raspa-se com uma ponta aguçada fazendo um desenho livre.
Técnica do desenho mistério (giz e lápis de cera). Folha a4, dobrada ao meio coberta de um lado com giz, em seguida lápis de cera. Dobra-se de novo e no verso faz-se um desenho com lápis de carvão carregando bem
CONT.Recortes em repetição (ribombeles) utilizados
de várias formas : base de pintura com rolo, colagens, estampagens etc. Para maior resistência do material pode-se fazer o recorte em cartolina.
Utilização de pasta de papel (cozinha ou higiénico, embalagens de ovos) para grandes maquetes, cobertura de objectos (potes de iogurte, garrafas), objectos em placa, que depois de bem secos pintam-se com tinta de esmalte ou guache envernizado em seguida.
CONT.Construção de colagens a partir de figuras
geométricas realizados com diferentes papeis, tecidos, etc. (mosaicos).
Estampagens de texturas várias: folhas das árvores, tecidos, legumes cortados, rolhas, etc.
Placa de barro ornamentada com incrustações: pedrinhas, folhas secas, etc.
Figura em barro adornada com pano embebido em cola de barro.
CONCLUINDONa terceira infância as propostas feitas
devem ter em consideração o interesse da criança em:
Fazer parte do grupoRepresentar o real tal qual se vêDominar a técnicaFomentar a criatividade não permitindo
que abandone a sua competência para criar as suas próprias formas.