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Estado: Conceito e evolução do Estado moderno.
Unidade 2: Estado: conceito. Origem e Evolução. Tipos de Estado. Crise do Estado contemporâneo
Prof.a Dr.a Maria das Graças Rua
Origem e Etimologia da palavra Estado
Grécia – Pólis = Cidade-Estado
Roma – Civitas/Respública
Status(latim): condição de estabilidade, modo de estar, situação, condição.
Maquiavel utiliza pela primeira vez a palavra Estado(Status), em sua obra “O Príncipe” – 1513 –
mas não define o conceito.
Estado instância institucionalizada de exercício do monopólio legítimo da força física.
WEBER: “ O Estado é uma empresa institucional de caráter político onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vistas ao cumprimento das leis, incidente sobre a populaçãode um dado território” .
EstadoEstrutura organizacional e política, formada por
Mundo moderno e Contemporâneo:formado por organizações
território
povo soberania
governo
Soberania (política): É a qualidade máxima do poder socialatravés da qual as normas e decisões elaboradas peloEstado prevalecem sobre as normas e decisões emanadasde grupos sociais intermediários.
No âmbito interno, a soberania de um Estado traduz asuperioridade de suas diretrizes na organização da vidacomunitária e se expressa como poder extroverso.
No âmbito externo, a soberania traduza idéia de igualdadede todos os Estados na comunidade internacional.
Elementos da soberania: é um poder (faculdade de imporaos outros um comando a que eles ficam a deverobediência) perpétuo (não pode ser limitado no tempo) eabsoluto (não está sujeito a condições ou encargos postospor outrem, não recebe ordens ou instruções de ninguém enão é responsável perante nenhum outro poder).
Características da soberania:é una e indivisível (não pode ser dividida por doisgovernantes ou por vários órgãos);é própria e não delegada (pertence por direito próprioao Rei);é irrevogável (princípio de estabilidade política - opovo não tem direito de retirar ao seu soberano opoder político o poder político que este possui pordireito próprio);é suprema na ordem interna (não admite outro podercom quem tenha de partilhar a autoridade do Estado);é independente na ordem internacional (o Estado nãodepende de nenhum poder supranacional e só seconsidera vinculado pelas normas de direitointernacional resultantes de tratados livrementecelebrados ou de costumes voluntariamente aceites).
Aparato de Segurança Pública
força policial e militar pública e sistemas institucionais associados
(de defesa, proteção, prevenção e punição)
Para exercer a soberania, o Estado dispõe de
Administração Pública(ou Quadro Administrativo Público)
Para gerir a “coisa pública”, o Estado dispõe de
Conjunto de agências e de servidores
profissionais, mantidos com recursos públicos,
cujas atividades devem ser realizadas em
conformidade com que a lei estabelece, e que são
encarregados da decisão e implementação das
normas necessárias ao bem estar social e das
ações necessárias à gestão da coisa pública.
governo
núcleo decisório do Estado,
pelo qual se manifesta o poder soberano do Estado,
e que responde pela gestão da “coisa pública”
Governo é a instância máxima de administração executiva, de um Estado ou uma nação. Governo é corpo decisório que exerce o poder de regrar uma sociedade política. Uma nação sem Governo é classificada como anárquica. Pode existir governo sem Estado, mas não Estado sem governo.
FORMAÇÃO/SURGIMENTO DO ESTADO MODERNO processo multissecular pelo qual o poder político transferiu-se de uma ou várias pessoas para uma instituição.
Processo gradual de centralização/concentração do poder e de institucionalização do mesmo poder: resulta um ordenamento jurídico carregado de imperatividade.
Afirmação do princípio da territorialidade;
Despersonalização das relações de mando político;
Formação do Estado Moderno resultado da crise e transformação da sociedade medieval e do surgimento do capitalismo.
WEBERformação do Estado Moderno é a formação e ampliação da esfera pública e sua separação da esfera privada:
•Separação dos possuidores individuais e grupais dos seus instrumentos privados de violência;
•Gradual eliminação da administração particular da Justiça;
•Desprivatização dos assuntos de interesse geral
1. Período Medieval1.1 - Reinos: constituíam unidades onde o poder político era descentralizado: cada senhor feudal exercia o poder em seu feudo1.1.1 - os feudos compunham o reino mediante relações de suserania e vassalagem1.1.2 - Reino: não tinha limites territoriais claros, nem soberania sobre os feudos: o rei não governava efetivamente sob nenhum aspecto - não era ainda o poder central1.1.3 - Poder central: surge com o fortalecimento da coroa (rei), que aos poucos tira dos senhores feudais o poder de administrar a justiça e de cobrar tributos1.1.4 - evolui até constituir Estado: poder central superior a qualquer outro poder interno ou externo que se exerça sobre um povo e um território
2. Baixa Idade Média (século X a XV): tensão entre o poder central (que começa a se tornar poder público) e o poder local (poder privado dos senhores feudais)
2.1 - Expansão do comércio: renascimento das cidades, florescimento do artesanato, viagens comerciais, circulação do dinheiro, conceito de mercadoria2.2 - Cidades (burgos) procuram se livrar das tributações impostas pelos senhores feudais e da sua interferência na aplicação da justiça e na administração2.2.1 - atividade comercial enfrenta obstáculos: roubos de malfeitores, ataques dos soldados dos feudos, cobrança de pedágio nos feudos e nas pontes, variações nas leis e na moeda de um feudo para o outro2.2.2 - Atores políticos: Coroa, Nobreza feudal, Clero, Burguesia(comerciantes e banqueiros), Trabalhadores livres(artesãos e aprendizes) e servos (camponeses.)
2.3-Renascimento, Renascença ou Renascentismo
período da História da Europa aproximadamente
entre fins do século XIII e meados do século XVII grande revolução filosófica, cultural, social e política
2.3.1 - da concepção teocêntrica passa-se à
concepção antropocêntrica
2.3.2 - começa a desenvolver-se a idéia da razão: o
conhecimento resulta da razão humana e da
observação dos fatos e não da revelação divina
2.3.3 - Revolução Copernicana: teoria heliocêntrica
Pensamento Medieval
1 - Dualismo das concepções cristãs: a Cidade dos Homens (autoridade política) e a Cidade de Deus (poder divino)
2 - autoridade política: instrumento de Deus para a promoção da justiça e do bem: o seu exercício é humano, mas a sua origem e a sua finalidade são divinos
2.1 - Finalidades:construir o Reino de Deus na Terra; conduzir à salvação, corrigindo, como castigo e remédio, a natureza decaída do homem: instituir e fortalecer a fé e a moral cristã
2.2 – Por isso, a obediência política é obrigação civil de origem divina: o homem medieval deve obedecer ao governo terrestre até o limite do governo divino
2.2.1 - suseranos também têm obrigações: seu poder não é ilimitado: são responsáveis perante Deus pela tarefa de instaurar o reinado da justiça e da piedade
2.3 - justiça é o que distingue tiranos dos suseranos legítimos2.3.1 - suserano medieval: é um juiz e não um legislador
2.4- justiça: definida pela lei2.4.1 - lei: conjunto dos costumes baseados no direito natural: inscritos pela fé no coração dos homens: consciência coletiva
2.5- ordem medieval: holística, tem natureza moral e religiosa. O conceito que melhor a define é o de comunidade e não de sociedade
2.5.1 - fragmentação do poder: não há Estado nacional com poder centralizado, mas grandes constelações de poderes locais autônomos, articulados em redes de suserania e vassalagem
2.5.2 - sociedade hierárquica: papéis sociais são definidos por origem status adscritos.
2.5.3 - estamentos: códigos distintos de direitos e deveres: relações contratuais: contratos comunitários que obrigam mutuamente cada categoria social conforme o seu estatuto específico
Idade Média e FeudalismoOrganização política e territorial em feudosgrandes unidades territoriais , de economia agrária não monetarizada, transmitidos hereditariamente, governados por uma aristocracia de proprietários guerreiros dotados de prerrogativas de extrair tributos, estabelecer leis, aplicar a justiça e manter exércitos.
Sociedade Estamental teia de relacionamentosque constitui um determinado poder e influi emdeterminado campo de atividade na qual cadaestrato é regido por leis diferenciadas. Embora alei não preveja a mudança de status social, elatambém não a torna impossível, como no sistemade casta.
Características do Feudalismo:
•Multiplicidade dos centros de poder e fragmentação da autoridade política;
•Posse e uso privado dos instrumentos de gestão pública: cunhar moedas, cobrar tributos, impor normas de conduta, aplicar justiça, etc.
•Economia agrária não monetarizada, realizada em unidades autárquicas, voltada para a subsistência;
•Relações de domínio pessoais baseadas no pacto de suserania e vassalagem e em relações de dependência e subordinação (servo/senhor)
•Subordinação do poder material ao poder espiritual da Igreja Católica.
Revolução Comercial
•Expansão da vida urbana
•Aumento quantitativo e qualitativo do comércio
•Monetarização da economia
•Surgimento de um sistema bancário incipiente
•Formação e ascensão da burguesia
•Enfraquecimento político e econômico da nobreza
Dissolução do feudalismo/
desenvolvimento do capitalismo
Estado Moderno
ESTADO MODERNO PODER PÚBLICO, ESFERA PÚBLICA
Demarcação das esferas pública e privada Na Grécia antiga, a existência era permitida para alguns, aqueles que pudessem ascender à esfera pública, condenando os outros à privação de sua visibilidade e então, da existência. Assim, estes espaços eram bem demarcados: o público e o privado.
Espaço público representava o espaço da aparência; a esfera de iguais, construindo a mais profunda diferença e garantindo assim, a realização da condição humana.
Espaço público Era o espaço da liberdade, pois só aquele que libertou-se do jugo de outrem e de qualquer preocupação com a sobrevivência (homem livre, portanto, cidadão) poderia ascender à esta esfera Cidadão
Cidadão era aquele que podia ascender ao espaço público e ter visibilidade através dele, sob a condição de profunda responsabilidade para com a cidade.
O espaço público grego constituía uma verdadeira comunidade, já que esta se constitui pelo compartilhamento, a divisão ou doação de um fazer ou pensar para a cidade.
Por isso, a excelência sempre foi reservada à esfera pública, onde uma pessoa podia sobressair-se e distinguir-se das demais. Toda atividade realizada em público pode atingir uma excelência jamais igualada na intimidade.
Para a excelência, por definição, há sempre a necessidade da presença de outros, e essa presença requer um público formal, constituído pelos pares do indivíduo; não pode ser a presença fortuita e familiar de seus iguais ou inferiores (...). (ARENDT,2000,58)
Período medievaldesaparece o conceito de público e o
poder político é o poder privado do senhor feudal.
Monarquias absolutistas européias até o século XVIII há
uma clara fusão entre o público e o privado, expressa na
célebre frase de Luís XIV da França: “L’etat c’est moi”
Não havia “coisa pública”: O patrimônio do Estado
pertencia ao soberano ou à sua dinastia.
A população era composta por um conjunto amorfo de
súditos e não havia distinção clara entre a res publica
(coisa pública) e a res principis (coisa privada), ou seja:
aquilo que pertence ao Estado e o que pertence ao
próprio rei.
Diferenciação entre as esferas privada e pública
desenvolveu-se com o individualismo e os processos
de modernização do século XVIII.
Mudança socialIndustrialização, competição
econômica, a separação de lugar de trabalho e
moradia, a grande força de atração das metrópoles em
crescimento e a desintegração dos laços tradicionais
isolamento, falta de orientação e insegurança das
pessoas.
Opinião pública burguesa rejeitava o agigantamento
do Estado, que impunha ao indivíduo cada vez mais
exigências e deverescriação de um espaço para a
liberdade privada e a individualidade, de um direito à
privacidade.
Século XVIII Declaração dos Direitos do Homem prescreveu
então pela primeira vez: "Ninguém pode se tornar objeto de
ingerência arbitrária em sua esfera privada".
Esfera Pública burguesauma espécie de “mecanismo de
defesa”: os indivíduos pertencentes são privados, ou seja, não
possuem investidura pública. Sendo assim, há uma paridade
entre os sujeitos, regida pela força do melhor argumento, em
forma de discussão pública e racional.
A esfera pública seria uma instância mediadora entre o poder
público e a esfera privada.
O parlamento seria então a institucionalização da esfera pública
política, “[...] o parlamento é a própria função política da esfera
pública concretizada e instituída.” (GOMES, 1998, p.7).
EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO fases (analíticas) segundo Bobbio:
1-Proto-Estado Feudalcomunidade política policêntrica(feudos) onde o poder local do senhor feudal era combinado com o poder universal da Igreja, que monopolizava o conhecimento e a legitimação pela revelação.
2-Estado Estamentalorganização política baseada em órgãos colegiados formados por pessoas da mesma categoria social(estamentos), portadores de prerrogativas e deveres específicos juridicamente delimitados e socialmente diferenciados, que se opõem ao detentor do poder soberano através de assembléias deliberantes, como os parlamentos.
EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO fases (analíticas) segundo Bobbio:
3-Estado Absolutofase em que gradualmente se completou o processo de concentração e centralização do poder político, com o controle dos instrumentos de gestão pelo soberano, a eliminação ou subordinação dos ordenamentos jurídicos inferiores (poderes locais) e a passagem das relações de comando e obediência entre pessoas para relações entre instituições. É a fase onde ocorre a consolidação do conceito de indivíduo e de mercado e onde a terra se torna mercadoria.
Funções do Estado Moderno no Século XIV - Estado Absolutista(Jean Bodin)
•Estabelecer leis (sem depender de consentimento)
•Declarar guerra e fazer a paz;
•Admitir e demitir servidores;
•Julgar em última instância;
•Conceder graça aos condenados;
•Cunhar moeda;
•Cobrar impostos;
•Impor ou suspender derramas.
EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO fases (analíticas) segundo Bobbio:
4-Estado Representativoconstituído a partir da Revolução Gloriosa (1688), da Independência Americana (1786) e da Revolução Francesa(1789) expressa o compromisso entre o poder do soberano (baseado na tradição) e o poder dos representantes da sociedade (baseado na soberania popular). A representação por categorias (estamentos) é substituída pela representação dos indivíduos singulares dotados de direitos (cidadãos).
Funções e Aparelho do Estado Liberal (Século XVIII)
•Defesa externa;
•Segurança pública/ordem interna;
•Relações com outros Estados/diplomacia;
•Administração da Justiça;
•Cunhagem de moeda;
•Cobrança de tributos;
Funções e Aparelho do Estado de Direito – século XIX
•Estrutura formal do sistema jurídicopara garantia de direitos fundamentais com aplicação da norma universal por juízes independentes;•Estrutura material do sistema jurídico garantia dos contratos e liberdade de iniciativa e de concorrência no mercado, reconhecida aos sujeitos da propriedade;•Estrutura social do sistema jurídico tratamento da questão social e políticas reformistas para integração da classe trabalhadora;•Estrutura política do sistema jurídico separação e distribuição do poder soberano do Estado.