AR04 História e Demografia

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  • 7/29/2019 AR04 Histria e Demografia

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    HISTRIA E DEMOGRAFIA (*)

    IRACIDEL NERODA COSTADA FEA-USP

    A anlise demogrfica e os estudos populacionais foram amplamente

    impulsionados depois da segunda grande guerra mundial; este desenvolvimento

    recente deve-se a vrios fatores.

    Em primeiro lugar ao avano e universalizao das tcnicas e mtodos de

    medida; primeiro no que diz respeito ao instrumental terico -- desenvolvimento

    da demografia pura ou formal -- e, tambm, com o aperfeioamento tecnolgicoligado computao.

    A tais elementos devemos somar o crescente interesse dos cientistas

    sociais pela construo de modelos explicativos matemticos inspirados nos das

    cincias fsicas.

    H ainda a considerar os problemas advindos da emergncia do terceiro

    mundo; caracterstica dos pases subdesenvolvidos, a exploso demogrfica,

    levou os estudos populacionais para o centro das preocupaes dos estudiosos

    do crescimento econmico. Igual relevncia foi dada ao processo de

    "envelhecimento" das populaes dos pases mais desenvolvidos.

    Paradoxalmente, defrontam-se estes ltimos com situao oposta quela dos

    pases subdesenvolvidos. Em artigo recente, publicado na revista francesa Le

    Point, podemos ler: "... a realidade que esto nascendo cada vez menos

    crianas... e no se trata de uma atitude isolada, mas de um comportamento

    global que se verifica tanto em Los Angeles quanto em Vladivostock; de um lado,a populao mundial cresce sem parar. Mas, ao mesmo tempo, a participao

    dos pases desenvolvidos decresce gradualmente: 28,6% em 1912, 23% em 1940,

    19,4% em 1950, 15,7% em 1960 e apenas 12% em 1973. A Frana tem hoje mais de

    52 milhes de habitantes mas se nada puder ser mudado, os especialistas

    calculam que no totalizar mais de 45 milhes daqui a 50 anos e cerca de 17

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    milhes dentro de 125 anos. E o mesmo vai acontecer em outros paises

    europeus, na Austrlia, nos EUA e no Canad." (1)

    Por fim, no se pode esquecer a ao governamental, cada vez mais ampla,

    no sentido de planejar o crescimento econmico e orientar a atividade produtiva

    de forma a evitar as tenses sociais decorrentes do desemprego e das crises de

    super-produo. A poltica econmica supe prvia avaliao do material

    humano destinado a implement-la; poltica de investimento supe poltica de

    mo de obra e, esta ltima, conhecimento da populao e poltica populacional. A

    poltica social deve necessariamente adaptar-se estrutura populacional e

    evoluo prevista desta estrutura.

    Destarte, o desenvolvimento de novas tcnicas e mtodos de anlise para

    o tratamento dos dados e resultados aparece como resposta aos problemas

    cruciais colocados pela histria recente da humanidade. Neste quadro cabe

    demografia novo papel; aparece como entroncamento de vrias cincias e no

    como ramo especial, como preocupao constante e no como anexo secundrio

    e distinto do conjunto das cincias humanas.

    * * *

    O desenvolvimento da demografia histrica ocorre dentro deste quadrogeral. Na dcada dos 40 surge ainda como ramo da histria; em 1945 Adolphe

    Landry dizia existir uma demografia histrica que fazia parte da histria geral

    como a histria poltica, a histria militar etc. Em 1950 Marcel Reinhard verificava

    o hiato existente entre Histria e Demografia ao afirmar que as obras clssicas de

    Histria e Demografia apresentavam a curiosa particularidade de se ignorarem

    mutuamente. No entanto, graas aos esforos de historiadores e demgrafos

    historiadores franceses, seguidos por outros estudiosos europeus, estreitaram-

    se os laos entre histria e demografia, ao ponto de podermos hoje repetir com

    M. Reinhard: "a demografia mais que informao complementar ... ela. uma

    dimenso da histria". (2)

    Um grande esforo de elaborao terica e de pesquisa sobre fontes de

    dados e mtodos de trabalho foi exigido para que a demografia histrica pudesse

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    aparecer como disciplina madura. Foi preciso romper, antes de mais nada, com o

    que Fernand Braudel chamou de "explicao imperialista, unilateral, da realidade

    social". Exemplo da atitude exclusivista -- tpica das "cincias jovens" -- pode ser

    colhido na obra de Ernest Wagemann, economista e demgrafo. Para este autor a

    populao comanda a economia e, por decorrncia, a demografia comanda a

    histria econmica. Afirma E. Wagemann: "Uma das teses preferidas da

    economia poltica de vulgarizao, que o crescimento populacional moderno

    deve ser atribudo ao sucesso do capitalismo em rpida expanso. Sem dvida,

    aqueles que sustentam o contrrio -- diz o autor -- tm mais razo ainda, ou seja,

    que os progressos tcnicos e econmicos dos sculos XIX e XX devem ser

    atribudos ao rpido aumento populacional." (3)

    Tal concepo, como bem lembra F. Braudel, no peculiar aos

    demgrafos: "O economista -- afirma este autor -- distingue as estruturas

    econmicas e toma como dadas as estruturas no econmicas que as rodeiam,

    suportam e compelem... ao faz-lo o economista reconstruiu o quebra-cabeas

    sua maneira. O demgrafo opera da mesma forma, pretendendo tudo controlar e

    at alcanar explicaes graas unicamente a seus critrios. Possui seus

    prprios testes operacionais, habituais, e eles ho de bastar para captar ao

    homem em sua totalidade", e, concluindo, afirma: "toda cincia social imperialista at mesmo quando nega s-lo; tende a apresentar suas concluses

    particulares como se fora uma viso global do homem." (4)

    Como fica evidenciado, o exclusivismo de cada cincia social no est no

    simples fato de pretender cada uma delas, como central, ser englobadora das

    demais; revela-se quando, mesmo reconhecendo-se como parte do todo que a

    supera, uma especfica cincia social, dentro dos seus quadros conceituais e to

    somente em seus limites, pretende nos oferecer uma viso global do homem, ou,o que pior, pretende que o particular objeto de seu estudo possa explicar-se

    inteiramente nos estreitos limites de seu quadro conceitual prprio.

    A nosso ver, romper com o "imperialismo" reconhecer que o homem se

    nos apresenta como um ente polifactico; que os seus mveis tm razes

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    distintas, por vezes conflitantes; abarc-lo, significa aceitar suas mil formas, a

    maioria das quais foge ao singular quadro conceitual de nossas particulares

    cincias. Romper com a viso estreita que denunciamos, significa aceitar as

    explicaes oferecidas pelas vrias cincias para o mesmo objeto, como

    elementos complementares e no mutuamente exclusivos.

    Pode-se afirmar que a prpria existncia da demografia histrica, enquanto

    disciplina, prova da possibilidade de superao de vises restritivas. Como os

    demais estudiosos da sociedade, reconhecem os demgrafos historiadores, a

    verdade das palavras de Kingsley Davis: "A fertilidade, a mortalidade e as

    migraes so em grande parte determinadas socialmente e so, por sua vez,

    determinantes sociais. Elas so as variveis internas ou formais do sistema

    demogrfico enquanto que, as variveis externas ou ltimas so sociolgicas e

    biolgicas. Sempre que o demgrafo aprofunda suas investigaes at o ponto

    de perguntar-se por que os processos demogrficos se desenvolvem da forma

    como o fazem, penetra no campo do social." (5)

    * * *

    Tomemos dois exemplos do que acabamos de afirmar. O primeiro trata da

    interdependncia entre os fenmenos econmicos e demogrficos em suas

    linhas mais gerais; no segundo pretendemos ilustrar a complexidade das

    relaes entre os fatos econmicos, biolgicos e institucionais, tomando um

    problema especfico, qual seja, o tempo de atividade produtiva do homem.

    Tem-se repetido vrias vezes que os trs tipos bsicos de organizao

    econmica -- caa, agricultura e indstria -- so acompanhados por trs

    correspondentes variaes dos nveis econmicos e demogrficos em que as

    sociedades humanas se movem. Sem privilegiar qualquer dos dois elementos

    pode-se mostrar, dentro de limites amplos e destitudos de determinismo

    fatalista, como o econmico e o demogrfico apresentam-se solidrios em cada

    uma das grandes "etapas" em que se pode dividir a histria humana.

    A separar cada fase aparece profunda ruptura da histria da humanidade: a

    revoluo agrcola do oitavo milnio a. C. e a Revoluo Industrial do sculo

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    XVIII. Segundo Carlo Cipolla tais eventos criaram profundas quebras na

    continuidade do processo histrico. Em cada uma destas Revolues comea

    nova histria; dramtica e completamente alheia que a precedeu. Quebrou-se a

    continuidade entre o homem das cavernas e os construtores das pirmides, tal

    como se quebrou entre o antigo lavrador e o moderno operador de uma central

    eltrica. (6)

    * * *

    Ao perodo da caa e coleta, de extrema dependncia das condies

    ecolgicas (clima, abundncia ou escassez de caa e/ou frutos silvestres etc.),

    correspondia uma densidade demogrfica baixa com amplas variaes no

    espao e no tempo. Os elevados ndices de natalidade e de mortalidade foram

    acompanhados por curta durao da vida mdia.

    Seria interessante e elucidativo tomarmos exemplos numricos referentes

    evoluo populacional do Brasil; o que infelizmente no nos possvel fazer

    dado o fato de estar a demografia histrica, no Brasil, ainda em seu nascedouro.

    Pela anlise de 187 europeus do grupo Neanderthal verificou-se que mais

    de um tero morreu antes de atingir a idade de vinte anos e a maior parte dos

    outros morreu entre a idade dos vinte e quarenta anos. Para alm deste limite sse encontraram 16 indivduos, a maior parte dos quais morreu entre os quarenta

    e os cinquenta anos. O estudo de 38 indivduos pertencentes ao grupo

    Sinanthropus asitico (muito anteriores ao do Neanderthal) confirmou

    substancialmente os resultados acima apontados. Dos 38 foi possvel calcular,

    para 22, a idade provvel ao morrerem; destes, 15 morreram com menos de

    catorze anos, 3 morreram entre os quinze e os vinte e nove, 3 entre os quarenta e

    cinquenta e somente 1 parece ter sobrevivido para alm dos cinquenta. Observe-

    se, trata-se to somente de restos de adultos que chegaram at ns dos tempos

    paleolticos.

    * * *

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    Nas sociedades agrcolas predominaram altos ndices de natalidade e

    mortalidade -- 35 a 50por mil para nascimentos, 30 a 40 por mil para bitos. A

    prevalecer estes ndices teramos um crescimento anual de 0,5a 1,0%, bastante

    significativo e que nos legaria um "estoque" populacional enorme; tal no

    aconteceu porque, no decorrer da histria demogrfica das sociedades agrcolas,

    os ndices de mortalidade revelaram notvel tendncia para atingir,

    frequentemente, nveis dramticos de 150, 300 e at 500 por mil. Em certas

    ocasies estes nveis coincidiram com guerras, mas, com muito mais frequncia,

    resultaram de epidemias e de fomes que aniquilaram grande parte da populao

    existente. De mil recm-nascidos, 200 a 500 morriam, como norma, ao primeiro

    ano de vida. Muitos dos que sobreviviam no lograram transpor os sete anos. A

    esperana de vida, ao nascer, colocava-se entre os vinte e vinte e cinco anos. Osque conseguiam alcanar a idade dos cinco anos tinham baixa probabilidade de

    sobreviver para alm dos cinquenta.

    * * *

    A Revoluo Industrial -- acompanhada pela segunda revoluo

    demogrfica -- vai provocar nova mudana drstica no quadro geral.

    Desaparecem as exploses recorrentes do ndice de mortalidade. Novos

    conhecimentos das plantas e do gado -- acompanhados de novas tcnicas de

    plantio e pastoreio -- melhoria nos transportes, progressos na medicina e na

    profilaxia sanitria, tudo isto contribuiu para permitir ao homem debelar as fomes

    e as doenas epidmicas.

    A revoluo industrial, causa e consequncia das revolues agrcola e

    demogrfica, obteve tambm certos ganhos no que Alfred Sauvy chama de

    "morte natural", isto , no ndice de mortalidade em tempos normais. Os

    progressos da medicina, a melhor nutrio, os mais altos nveis de rendaeliminaram praticamente muitas doenas e reduziram a incidncia de outras. O

    ndice de mortalidade "normal" foi reduzido e nas sociedades industriais tende a

    ser inferior a 15 por mil.

    O mais importante componente na queda do ndice de mortalidade tem

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    sido, geralmente, a drstica reduo da mortalidade infantil. Hoje, nas

    sociedades industriais, a mortalidade infantil mostra-se inferior a 10 bitos por

    mil nascimentos. Nestas sociedades a expectativa de vida ao nascer tende para

    mais de setenta e cinco anos. Por outro lado h a tendncia generalizada de cair

    a taxa de natalidade -- em qualquer sociedade industrial essa taxa tende a ser

    inferior a 15 por mil habitantes.

    * * *

    Nos pases subdesenvolvidos ocorre fenmeno sui generis. Na Europa a

    medicina evoluiu lentamente e o crescimento da populao manteve-se, por

    consequncia, gradual. Nos pases no desenvolvidos o saber acumulado de

    dois sculos pde imediatamente entrar em ao e, por conseguinte, as taxas de

    mortalidade caram muito mais depressa do que jamais sucedera na Europa

    Ocidental. No Ceilo, para citar um caso extremo mas elucidativo, a malria foi

    eliminada pelo DDT e a taxa de mortalidade decresceu de 22 para 12 por mil em

    sete anos -- entre 1945 e 1952 (depois das primeiras nebulizaes de DDT a taxa

    de mortalidade desceu de 20 para 14 por mil num nico ano, 1946-47) -- quebra

    na taxa de mortalidade que levou setenta anos para se consumar na Inglaterra.

    Nas Maurcias a queda de 27 para 15 mortes por mil, efetuada em cem anos na

    Inglaterra, realizou-se tambm em apenas sete anos. Esta sbita baixa na taxa de

    mortalidade, combinada com o fato de que alguns pases subdesenvolvidos no

    se encontravam preparados para as mudanas culturais caractersticas da

    Revoluo Industrial clssica -- em especial no referente ao controle dos

    nascimentos -- causou aumento dramtico do "fosso demogrfico". Tomemos de

    novo o Ceilo como exemplo, o brusco declnio da mortalidade no foi

    acompanhado por quedas dignas de apreo na natalidade que se manteve acima

    dos 40 por mil. Com uma taxa de natalidade "agrcola" e uma taxa de mortalidade"industrial", a exploso demogrfica tendeu a assumir nveis alarmantes.

    * * *

    Voltemo-nos para o segundo exemplo. Ao colocar o homem como um dos

    elementos fundamentais do processo produtivo, a histria econmica est

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    interessada no s no nmero total de indivduos mas, sobretudo, no

    conhecimento da estrutura demogrfica populacional. De grande interesse, entre

    outros, esto os dados referentes partio segundo os sexos e faixas etrias;

    esperana de vida e perodo mdio da atividade produtiva; tamanho das famlias

    e causa das mortes.

    Tais fenmenos demogrficos so condicionados por fatores biolgicos e

    sociais. Tomemos como ilustrao a atividade produtiva dos indivduos.

    O homem deixa a atividade produtiva quando o debilitamento de suas

    capacidades fsicas j no lhe permite exercer sua profisso. Mas este abandono

    pode ser parcial atravs da passagem a misteres que requeiram menor esforo

    fsico. Nas sociedades primitivas uma srie de trabalhos indispensveis e de fcil

    consecuo eram realizados pelos mais idosos, o mesmo sucedendo em

    sociedades agrrias tradicionais.

    O limite no qual a capacidade fsica humana comea a revelar-se

    insuficiente para a execuo de atividade produtiva fundamental depende, de um

    lado do estado biolgico da sociedade e do indivduo, e, por outro, do carter do

    trabalho executado. Em consequncia, este limite tendia a ser mais baixo nas

    sociedades de caadores que nas agrrias e mais baixo na agricultura,

    comparada com alguns ofcios artesanais.

    Tenhamos presente a existncia de instituies econmicas, jurdicas,

    religiosas etc., operando no sentido de limitar o nmero de dias trabalhados por

    ano e as horas trabalhadas por dia. Como se v, a atividade produtiva dos

    homens resulta da interao entre fatores sociobiolgicos e socioinstitucionais.

    Os fatores sociobiolgicos so antes de tudo a resistncia do organismo

    humano s enfermidades e as possibilidades sociais de luta contra as doenas.

    Os fatores socioinstitucionais so bastante mais complexos. Tomemos como

    ilustrao os feriados religiosos.

    Como sabido, na Idade Mdia os dias considerados festivos contavam-se

    em grande nmero e sua observncia apresentava-se rigorosa. Os feriados

    assumiam carter religioso e econmico. Nas condies do monoplio

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    corporativo, entre os meios de evitar a concorrncia no mbito de diferentes

    mestres do mesmo grmio estava a estrita regulamentao do tempo de trabalho;

    assim o monoplio corporativo, interessado no controle do volume da produo,

    apresentava interesse concorde com o das instituies religiosas no que

    respeitava observncia das festas religiosas. J no Renascimento vemos a

    Reforma a lutar contra o culto dos santos; perodo no qual as empresas, fora do

    mbito dos grmios, necessitavam fora de trabalho abundante para intensificar

    a produo.

    * * *

    Conclui-se do acima posto que a compreenso dos fatos demogrficos

    ganha clareza apenas quando os integramos no quadro global das sociedades

    estudadas. Por outro lado, parece evidente a importncia do estudo demogrfico

    para o melhor entendimento da histria da humanidade. Neste contexto

    entendemos as palavras de M. Reinhard: "a demografia mais que informao

    complementar... ela uma dimenso da historia."

    * * *

    Quando nos debruamos sobre o evolver populacional do Brasil foroso

    ter presente no tratarmos de simples repetio dos processos verificados naEuropa ou nos pases mais desenvolvidos.

    A expanso colonialista, o relacionamento colnia-metrpole e a

    dependncia com respeito aos centros hegemnicos internacionais so fatores

    que tiveram e ainda apresentam consequncias demogrficas variadas e

    profundas.

    Para nosso perodo colonial da maior relevncia a existncia da

    economia de exportao -- cuja rentabilidade se condicionava pelos preosinternacionais -- ao lado da de subsistncia. Considerada a oferta elstica de

    terra e a relativa facilidade com que se podia realocar a mo de obra escrava da

    atividade exportadora para a de subsistncia, v-se como os freios malthusianos

    ao crescimento vegetativo da populao jamais assumiram papel altamente

    significativo no Brasil.

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    Por outro lado, as respostas da oferta de gneros de primeira necessidade

    podiam ser afetadas pelas condies do mercado e dos preos internacionais

    para os produtos exportados. Fato a exercer papel fundamental na alocao da

    fora de trabalho, dos recursos produtivos e, sobretudo, nos processos de

    disperso e convergncia populacionais, influindo decisivamente nos

    movimentos migratrios internos.

    A articulao da economia colonial na economia europeia vai, igualmente,

    condicionar os fluxos imigratrios; tanto de reinis como da escravaria negra

    trazida da frica.

    Outro problema relevante a existncia, para o perodo colonial, de

    segmentos populacionais -- homens livres, forros e escravos -- que apresentaram

    dinmica especfica. Tais corpos populacionais, distintos dos prevalecentes na

    Europa, comportaram-se relativamente aos parmetros demogrficos, como

    grupos distintos.

    A compreenso dos processos demogrficos brasileiros est a exigir dos

    estudiosos, no s esforo dirigido no sentido de coleta de dados, mas,

    igualmente, no de elaborao terica capaz de integrar tais movimentos em

    quadro sociolgico, histrico, econmico e demogrfico original.

    Esta a grande tarefa da demografia histrica brasileira.

    NOTAS

    (*) Comunicao apresentada na 27a. Reunio Anual da Sociedade Brasileira para oProgresso da Cincia (SBPC), em Belo Horizonte (1975).

    (1) OEstado de So Paulo, 15 de Julho de 1975.

    (2) Reinhard (M.), Histoire et Dmographie, Paris, 1950.

    (3)Wagemann (E.), La poblacin en el Destino de los Pueblos,Santiago, 1949.

    (4) Braudel (F.), La Histria y las Ciencias Sociales,Madrid, 1970.

    (5) Davis (K.), Human Society, New York, 1949.

    (6) Cipolla (Carlo M.), The Economic Hstory of World Population, Penguin Books, 1972.