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ARBORIZAÇÃO URBANA E MEIO AMBIENTE - ASPECTOS JURÍDICOS Luís Paulo Sírvínskas Promolor de Jusriça Criminal em São Paulo. Especialista em Direilo Penal pela FADUSP e em Interesses Difusos e Coletivos pela Escola Superior do Minislério Público (ESMP). Professor Associado de Direiro Ambiemal na UNICIO-SP e ex-Professor Adjunto de Legislação Triburária nas FMU. Meslrando em Direilo Penal pela PUC-SP. 1. DIREITO AMBIENTAL, MEIO AMBIENTE E ARBORIZAÇÃO URBANN Direito Ambiental é a ciência que estuda as questões ambientais e suas relações com o homem, objetivando a proteção do meio ambiente para a melhoria da quali- dade de vida como um todo para a presente e futura geração. A expressão meio ambiente está consagrada na doutrina, jurisprudência e na própria consciência da população e pode ser conceituada como sendo o conjun- to de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 30., in- ciso l, da Lei n. 6.938/81). Partindo-se deste conceito, pode-se dividir o meio ambiente em: a) meio am- biente natural- integra o solo, a água, o ar atmosférico, a flora e a fauna; b) meio am- biente cultural - integra o patrimônio arqueológico, artístico, histórico, paisagístico e turístico; c) meio ambiente artificial- integra os edifícios, equipamentos urbanos, comunitários, arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca e instalação científica ou similar; e d) meio ambiente do trabalho - integra a proteção do trabalhador em 'Luís Paulo Sirvinskas. Tmela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 9/1 o.

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ARBORIZAÇÃO URBANA E MEIO

AMBIENTE - ASPECTOS JURÍDICOS

Luís Paulo Sírvínskas Promolor de Jusriça Criminal em São Paulo. Especialista em Direilo Penal pela FADUSP

e em Interesses Difusos e Coletivos pela Escola Superior do Minislério Público (ESMP).

Professor Associado de Direiro Ambiemal na UNICIO-SP e ex-Professor Adjunto de

Legislação Triburária nas FMU. Meslrando em Direilo Penal pela PUC-SP.

1. DIREITO AMBIENTAL, MEIO AMBIENTE EARBORIZAÇÃO URBANN

Direito Ambiental é a ciência que estuda as questões ambientais e suas relações com o homem, objetivando a proteção do meio ambiente para a melhoria da quali­dade de vida como um todo para a presente e futura geração.

Aexpressão meio ambiente já está consagrada na doutrina, jurisprudência e na própria consciência da população e pode ser conceituada como sendo o conjun­to de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química ebiológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suasformas (art. 30., in­ciso l, da Lei n. 6.938/81).

Partindo-se deste conceito, pode-se dividir o meio ambiente em: a) meio am­biente natural- integra o solo, a água, o ar atmosférico, a flora e a fauna; b) meio am­biente cultural - integra o patrimônio arqueológico, artístico, histórico, paisagístico e turístico; c) meio ambiente artificial- integra os edifícios, equipamentos urbanos, comunitários, arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca e instalação científica ou similar; e d) meio ambiente do trabalho - integra a proteção do trabalhador em

'Luís Paulo Sirvinskas. Tmela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 9/1 o.

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seu local de trabalho e dentro das normas de segurança, bem como fornecendo-lhe uma qualidade de vida digna (art. 200, VIII, da CF).

Na realidade, basta dividir o patrimônio nacional do meio ambiente em: a) pa­trimônio natural e b) patrimônio cultural. Nem todo patrimônio artificial é protegi­do por lei, ato administrativo ou por decisão judicial. Só é protegido se tiver valor histórico, cultural, científico, turístico etc. Transforma-se, desta forma, o patrimônio artificial em patrimônio cultural e o meio ambiente do trabalho em patrimônio na­tural, bastando, portanto, essa divisão'.

Arborização é o ato ou efeito de arborizar. Arborizar, por seu turno, é plantar ou guarnecer de árvores. É um conjunto de árvores plantadas. Desta forma, aarbo­rização urbana integra o meio ambiente natural que, por sua vez, faz parte do patri­mônio natural.

Aarborização exerce um papel importante para a qualidade de vida do ho­mem que vive nos centros urbanos. Uma cidade, uma avenida, uma rua, uma praça arborizada torna o lugar mais agradável. As árvores ali plantadas trazem vários bene­fícios, por exemplo, sombreamento, purificação do ar, estética da paisagem, atraem pássaros e atenua a poluição sonora. Tudo isso faz com que a qualidade de vida do homem melhore consideravelmente.

2. EVOLVER DA RJNçÃO HISTÓRICA DAS ÁREAS VERDES'

Os espaços arborizados (praças e jardins), na Antigüidade, se destinavam, es­sencialmente, ao uso e prazer dos imperadores e sacerdotes. Já na Grécia, tais espa­ços foram ampliados, não só para passeios, mas também para encontros e discussão filosófica. Em Roma, por sua vez, os espaços verdes eram destinados ao prazer dos mais afortunados. Na Idade Média, as áreas verdes são formadas no "interior das quadras" e depois desaparecem com as edificações em decorrência do crescimento das cidades. No Renascimento, "transformam-se em gigantescas cenografias, evolu­indo, no Romantismo, como parques urbanos e lugares de repouso e distração dos citadinos"4.

Com o surgimento das indústrias e o crescimento das cidades, os espaços ver­des deixaram de ter função apenas de lazer, mas passou a ser uma necessidade ur­banística, de higiene, de recreação e de preservação do meio ambiente urbano, A Carta de Atenas, citado por Le Corbusier, exigiu que "todo bairro residencial deve contar com a superfície verde necessária para a ordenação dos jogos e desportos dos meninos, dos adolescentes e dos adultos", e que as "novas superfícies verdes

'lvete Senise Ferreira. Tmela Penal do Pall;mônio Cultural. São Paulo: RT, 1995, p. 13. 'os aspectos históricos das áreas verdes são analisados porJosé Afonso da Silva, cilandoJ. M. Alonso, Ciudady espa­cios verdes, em sua preciosa obra Direito Urbanistico Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 1997,2' ed. 'Op., cit., p. 246.

INSTlTulçÃO TOLEDO C

devem destinar-se a fins cI las, centros juvenis ou COI

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I das cidades, os espaços ver­u a ser uma necessidade ur­lo meio ambiente urbano. A todo bairro residencial deve lação dos jogos e desportos as "novas superfícies verdes

95, p. 13 {a, citando]. M. Alonso, Ciudady espa­l1alheiros, 1997, 2' ed.

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devem destinar-se a fins claramente definidos: devem conter parques infantis, esco­las, centros juvenis ou construções de uso comunitário, vinculados intimamente à vivenda"s

O Direito Urbanístico, diante disso, passou a se preocupar com os espaços verdes nas cidades, procurando preservar as áreas existentes em detrimento das eventuais construções. Através do zoneamento, tenta-se impedir ou reduzir às áreas edificantes, disciplinando os espaços e preservando o meio ambiente. Énos planos diretores das cidades que se procura disciplinar os espaços para cada tipo de ocu­pação, regulando o uso e o parcelamento do solo. Procura-se também ampliar estes espaços com a criação de jardins, praças e de cinturões verdes com o intuito de mi­nimizar ou separar as zonas industrias das zonas residenciais (art. 20

, par. la, ine. III e art. 30

, par. único, ine. lI, da Lei n. 6.803, de 2de julho de 1980, que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição).

O plano diretor e a lei de parcelamento do solo são instrumentos de contro­le eficiente de preservação dos poucos espaços verdes existentes nos grandes cen­tros urbanos. Éatravés destes instrumentos que se deve exigir também dos particu­lares a preservação destes espaços. Nos lugares em que não houver espaços verdes suficientes, deve o poder público desapropriar áreas edificadas para a criação de parques, jardins etc. Tais instrumentos também exigem que, em caso de projeto de arruamento, seja destinado um percentual mínimo de áreas verdes.

Éimportante ressaltar, no dizer de José Afonso da Silva, que "nem toda área urbana arborizada entra no conceito de área verde". Assim,

"o verde, a vegetação, destinada, em regra, à recreação e ao lazer, constitui o aspecto básico do conceito, o que significa que, onde isso não ocorrer, teremos arborização, mas não área verde, como é o caso de uma avenida ou uma alameda arborizada, porque, aqui, a vegetação é acessória, ainda que seja muito importante, visto que também cumpre aquelafinalidade de equilíbrio ambien­tal, além de servir de ornamentação da paisagem urbana e de sombreamento à via públíca"6

3. URBANISMO EDIREITO URBANÍSTICO

Urbanismo, segundo Hely Lopes MeirelIes, "é o conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condi­ções de vida ao homem na comunidade"7 Apalavra urbanismo originou-se do latim

SApudJoséAfonso da Silva. ap, cir, p. 247. 'Op., ciL, p. 2471248 'Direito Municipal BrasileJfo, 3' ed., São Paulo: RI, p. 585.

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urbs, que pode ser traduzido por cidade, Foi com o crescimento das cidades que a urbanização se desenvolveu e se fez necessário estabelecer regras disciplinadoras e delimitadoras dos espaços habitáveis e não habitáveis,

Daí surgiu o Direito Urbanístico, que pode ser conceituado, como sendo: "o conjunto de normas jurídicas reguladoras da atividade do poder público destinada a ordenar os espaços habitáveis, o que equivale dizer: conjunto de normas jurídicas reguladoras da atividade urbanística"8,

Essa disciplina do direito tem por escopo estudar e pesquisar as leis e regula­mentos que disciplinam o uso e a ocupação do solo pelo poder público e pela co­munidade, Os municípios poderão disdplinar o uso e a ocupação do solo urbano, tendo-se em vista o seu interesse local (art 30, I, da CF) e, em especial, pelo plano diretor (art, 182, par 1°, da CF), Éatravés do plano diretor que o Município passa a ter um instrumento poderoso para ordenar as funções sociais da cidade, visando o bem comum da sociedade,

Um dos princípios fundamentais do Direito Urbanístico é o princípio da fun­ção sodal da propriedade, Este princípio é citado, por diversas vezes, pela constitui­

c' ção federal (art. 5°, XXIII, art, 156, par 10, art. 170, II, art. 182, caput, art. 184, ca­'lo put, 185, par único, e art. 186). É, sem dú,~da, uma limitação ao direito de proprie­

dade, devendo a propriedade exercer uma função social e não somente individual. Apropriedade privada não pode ser utilizada inadequadamente.1:­..

Este princípio deve estar em consonância com a necessidade também de pro­teger o meio ambiente. Princípio este previsto no art 225, caput, da CF, que dispõe: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso co­

,.. mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e

li .. à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera­ções". Incumbe ainda ao Município definir "espaços territoriais e seu componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas so­mente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção" (art. 225, par 1°, inc. III, da CF).

Vê-se, pois, que o Município tem à sua disposição muitos instrumentos para a proteção do meio ambiente, incluindo aí a proteção da arborização, devendo ainda estabelecer um programa contínuo de plantação de mudas. Júlio César de Sá Rocha apresenta os seguintes instrumentos:

"a ação fiscalizatória da polícia administrativa (poder de polí­cia), o zoneamento ambiental e urbanístico, o parcelamento, o uso e ocupação do solo urbano, o loteamento, os índices urbanís­ticos, restrições de uso de veículos automotores em determinadas vias públicas ou dias definidos, a proteção do patrimônio bistóri­

'José Afonso da Silva, Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, p. 31, za ed.

INSTITUIÇÃO TOLEDO I:

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UlÇÃO TOLEDO DE ENS1NO

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litação ao direito de proprie­ial e não somente individual. ldamente. necessidade também de pro­25, caput, da CF, que dispõe: equilibrado, bem de uso co­pondo-se ao Poder Público e I as presentes e futuras gera­TitOriaiS e seu componentes ~ a supressão permitidas so­mprometa aintegridade dos o, ine. UI, da CF). muitos instrumentos para a arborização, devendo ainda das. Júlio César de Sá Rocha

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31, 2a ed.

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co-cultural, a construção epreservação de praças eáreas livres, o consórcio de Municípios e o estabelecimento de uma política de implantação epreservação de espaços ambientais territorialmen­te protegidos (espaços verdes)"9.

Abrange, nestes espaços verdes, a arborização das cidades. Tal necessidade é premente, devendo haver uma programação contínua por parte do Município para a arborização das vias públicas com o objetivo de plantar novas mudas, bem como a substituição das árvores que já exerceram sua função social.

4. ESPAÇOS VERDES DE LAZER E DE RECREAÇÃ010

Os espaços verdes nos centros urbanos são destinados ao lazer e à recreação. Pode-se conceituar lazerll como sendo o tempo livre, a folga, o descanso e recrea­ção12 como sendo a divertimento, prazer, a ocupação agradável que visa o entreteni­mento. Incluem nesses espaços os bosques, as praias, os jardins, os parques, as pra­ças de esportes, os campos de futebol com muito verde. São denominados de equi­pamentos urbanos os espaços destinados a comunidade.

Do ponto de vista político, tais áreas devem atender às necessidades da comu­nidade local, tendo-se em vista ser a única opção das pessoas mais carentes. Com a criação dessas áreas, com certeza, as crianças e adultos terão onde se divertir. Nos bairros mais pobres, onde o crescimento se deu de maneira desordenada, não há opções para as crianças se desenvolver como cidadão.

Deve ainda o poder público criar Parques Nacionais, Estaduais e Municipais com o objetivo de preservar as áreas verdes, a fauna e a flora, bem como as belezas naturais (art. 50, da Lei n. 4.771/65). Nesse sentido,]. M. A1onso Velasco ressalta que os parques naturais são

"tarefas que se recomendam ao urbanista, também osão as linhas que os unem à cidade, as redes de acesso da cidade à natureza e do campos à cídade, que, em muitos casos, se confundem com as redes gerais de acesso da aglomeração urbana. Ese ambos, par­ques e estradas, são tarefas do urbanismo, também entram dentro da competência do paisagistaj a estrada, além de muitas outras

'Função Ambiental da Cidade - Direito ao Meio Ambiente Urbano Ecologicamente Equilibrado, São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 32/33. IlOp., cir., p. 248. "Novo Dicionário Básico da Língua Ponuguesa. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. São Paulo: Nova Fronteira, 1995, p. 388. !lOp., cir., p. 555.

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coisas, é o laço de união que liga o citadino com a natureza, o lu­gar onde viceja a paisagem, o novo citadino motorizado"])

5. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ARBORIZAÇÃO URBANA NO DIREITO AMBIENTAL

Aarborização urbana deve ser um capítulo do estudo de Direito Ambiental. Não há nos manuais de Direito Ambiental existentes qualquer menção sobre a arbo­rização urbana. Tal tema deve ser melhor estudado e divulgado aos administradores públicos dentro da disciplina sobre Gestão Ambiental Urbana. Assim, no entender do arquiteto e Assessor Técnico da Universidade Livre do Meio Ambiente, Otávio Franco Fortes, a conceituação da Gestão Ambiental Urbana14 deve incluir a análise da Engenharia Ambiental (que examina os poluentes da água, do ar e do solo e os re­quisitos tecnológicos para seu manejo), da Ecologia Aplicada ao Meio Urbano (que examina os ecossistemas, os organismos vivos e a sua relação funcional) e da Legis­lação Ambiental (que estabelece normas fLxando limites para a intervenção e conser­vação ambiental).

Agestão ambiental urbana passaria a preocupar-se com a qualidade de vida do homem nos centros urbanos. Assim, arborizar a cidade é melhorar a qualidade de vida. Édiminuir o impacto negativo da poluição. Desta maneira, é muito agradável andar por uma rua totalmente arborizada, especialmente numa cidade litorânea onde o calor é intenso. Aárvore urbana exerce funções específicas, quando ao cli­ma, a qualidade do ar, o nível de ruídos, a paisagem, inclusive permite que os pás­saros da cidade possam ali se instalar. Éimportante também plantar e valorizar árvo­res típicas da região. Ressalte-se, por fim, que se for plantada uma espécie arbórea inadequada, haverá mais transtorno do que benefícios.

6. OPAPEL DO PODER PÚBUCO NA QUESTÃO DAARBORIZAÇÃO URBANA

Incumbe àUnião, aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios, através de lei complementar, fixar critérios de cooperação administrativa sobre proteção ao meio ambiente e combate a poluição em qualquer de suas formas (art. 23, inc. VI, da CF). Ressalte-se ainda que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibra­do, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre­sentes e futuras gerações (art 225, da CF). Assim, o Poder Público deverá fixar crité­

l~4pud José Monso da Silva, op., ci!., p. 249. "Gestão Ambiemal Urbana ConceilUação Básica, Cenuo Nacional de Referência em Gestão Ambiental Urbana. Interne!.

rios para agestão ambiental manas. Humanizar a cidade normas rígidas protetivas ae amenizando os impactos ne básico etc. Opoder público pactos negativos ao meio arr com o poder público, não c devendo fiscalizar e denullCl nio público e participar efel ambiente etc.

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Apreservação da arbol meras normas protetivas das tes normas: a) Lei n. 10.365, poda de vegetação de porte 27 artigos), cuja lei foi regul agosto de 1998 (contém 22 a bro de 1989, que considera I piares arbóreos situados no to Estadual n. 39.743, de 23 do Decreto Estadual n. 30.44 Portaria do DEPRN-44, de 25 para a autorização do corte G

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7. CRITÉRIO PARA AESCO

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Pela riqueza da flora bI re para cada região.

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TlTUI çÃO TOLEDO DE ENSINO

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\ÇÃO URBANA NO DIREITO

jo estudo de Direito Ambiental. s qualquer menção sobre a arbo­e divulgado aos administradores mal Urbana. Assim, no entender livre do Meio Ambiente, Otá\~o

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)DAARBORIZAÇÃO URBANA

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:ferência em Geslão Ambiental Urbana.

INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO 269

rios para a gestão ambiental urbana, fazendo com que as cidades se tornem mais hu­manas. Humanizar acidade é dever do Estado e da coletividade. Aquele deverá fixar normas rígidas protetivas ao meio ambiente, fiscalizando as indústrias poluidoras e amenizando os impactos negativos à saúde, à segurança, à higiene, ao saneamento básico etc. Opoder público deve procurar alternativas tendentes a minimizar os im­pactos negativos ao meio ambiente. Acoletividade, por seu turno, deverá colaborar com o poder público, não depredando o patrimônio nacional (cultural e natural), devendo fiscalizar e denunciar aos órgãos competentes qualquer lesão ao patrimô­nio público e participar efetivamente de campanhas educativas em favor do meio ambiente etc.

Aqualidade de vida da coletividade está, implicitamente, inserida como um di­reito fundamental da pessoa humana. Ninguém pode viver na lua, por exemplo. O ar, a água e o solo são fundamentais para a sobrevivência humana.

Apreservação da arborização urbana é objeto de legislaçJ.o específica. Há inú­meras normas protetivas das árvores urbanas. Em São Paulo, pode-se citar as seguin­tes normas: a) Lei n. 10.365, de 22 de setembro de 1987, que disciplina o corte e a poda de vegetação de porte arbóreo existente no Município de São Paulo (contém 27 artigos), cuja lei foi regulamentada pelo Decreto Municipal n. 26.535, de 03 de agosto de 1998 (contém 22 artigos); b) Decreto Estadual n. 30.443, de 20 de setem­bro de 1989, que considera patrimônio ambiental e declara imunes de corte exem­plares arbóreos situados no Município de SJ.o Paulo (contém 21 altigos); c) Decre­to Estadual n. 39.743, de 23 de dezembro de 1994, que dá nova redação ao art. 18, do Decreto Estadual n. 30.443, de 20 de setembro de 1989 (contém dois artigos); d) Portaria do DEPRN-44, de 25 de setembro de 1995, que disciplina os procedimentos para a autorização do corte de árvores isoladas em áreas rurais (contém 10 artigos); e e) Portaria do DEPRi\l-45, de 30 de agosto de 1994, que disciplina os procedimen­tos para a autorização do corte de árvores isoladas em áreas rurais (contém 8 arti­gos).

7. CRITÉRIO PARA AESCOlliA DE ÁRVORES (ALGUMAS RECOMENDAÇÕES)

Aescolha de árvores a serem plantadas nas áreas urbanas, deve ser pre~a­mente estudada e analisada dentro de um critério racional. Há árvores que levam anos para atingir sua fase adulta e outras permanecem pequenas. Dependendo do porte arbóreo, poderá ou não ser plantada em certo lugar. Assim, a árvore deixará de exercer sua função se for plantada em lugar em que impede seu desenvol~mento

adequado. Deve-se levar em consideração o clima, o solo e o espaço a ser plantada. Pela riqueza da flora brasileira, é possível encontrar o tipo adequado de árvo­

re para cada região. Recomenda-se a plantação de: a) espécies caducas (caracteriza-se por perder

folhas em determinado período do ano) nas ruas onde há casas e prédios com f[en­

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INSTITUIÇÃO TOLEDO INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO270

te ajardinada para se evitar que as sombras das árvores prejudiquem os jardins; b) espécies de grande porte nas avenidas com quarenta metros de largura ou mais; c) alecrim-de-Campinas, tipuana, figueira, sassafrás em regiões de clima local quente por possuírem folhagens densa; d) canafístula ou sibipiruna nas áreas de clima sub­tropical por possuírem ramos mais esparsos e folhagem menos densa.

Recomenda-se ainda a plantação de árvores com espécies de folhas pequenas e lisas para evitar o acumulo de pó. Deve-se preferir as árvores com lenho resisten­te para evitar queda de ramos. Deve-se preferir a plantação de árvores com "sistema radicular pivotante" para se evitar danos à calçada. Deve-se preferir a plantação de árvores com boa resistência à pragas, que não produza frutos grandes e que tenha crescimento rápido.

Urge ressaltar que a CESP e a Prefeitura Municipal de São Paulo desenvolve­ram parceria para apresentar conjuntamente um plano de arborização urbana, defi­nindo quais as espécies de árvores serão adequadas àconvivência com o sistema elé­trico de distribuição.

Assim, a CESP doará as mudas necessárias e a Prefeitura Municipal se encarre­gará da formação de viveiro, o plantio e a sua manutenção.

8. CONCEITO LEGAL DE VEGETAÇÃO DE PORTE ARBÓREO E ÁREAs DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Porte arbóreo é aquela composta por espécime ou espécimes vegetais lenho­sos, com Diâmetro do Caule à Altura do Peito - DAP superior a 0,05m (cinco centí­metros). DAP é o diâmetro do caule da árvore à altura de, aproximadamente, 1,30m (um metro e trinta centímetros) do solo (art. 5°, da Lei Municipal de São Paulo n. 10.365, de 22 de setembro de 1987).

Considera-se, ainda, como bem de interesse comum a todos os munícipes a vegetação de porte arbóreo existente ou que venha a existir no território do Muni­cípio, tanto de domínio público como privado, bem como as mudas de árvores plan­tadas em logradouros públicos (arts. 1° e 3°, da citada Lei).

Esta mesma lei, fazendo remissão ao art. 20. do Código Florestal, considerou de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação situadas: a) ao longo dos rios ou qualque~ curso d'água; b) ao redor de lagos, lagoas ou reserva­tórios d'água, naturais ou artificiais; c) nas nascentes e "olhos d'água"; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com de­clividade superior a 450 (quarenta e cinco graus). (art. 4°, par. 1°, a, b, c, d, e e, da citada lei).

Consideram-se, ainda, áreas de preservação permanente a vegetação de por­te arbóreo quando: a) constituir bosque ou floresta; b) destinada a proteger sítios de excepcional valor paisagístico, científico ou histórico; c) localizada numa faixa de 20,00m (vinte metros) de largura nas margens de qualquer curso d'água, lagos ou

reservatórios; d) localiza nascentes ou 'olhos d'ágl

Em decorrência de tembro de 1989, descrim praças e lugares conhecÍ( nio ambiental e declaran(

9. SUPRESSÃO DE FL( ÁREAs DE PRESER'l VEGETAÇÃO DE PO PRIVADA

No Município de Sã formas de vegetação em á penderá de prévia autoriz: jetos de loteamento e des te arbóreo, deverão ser s Áreas Verdes -DEPAVE, da final pelo Departamento c LO - 1NTERURB, da Sem (art. 6°, da citada Lei). Os de porte arbóreo deverão do Solo da Administração Aprovação de Edificações Urbano - SEHAB, ser suba vel (art. 7° da citada lei).

Asupressão da vege da ficará subordinada à aUI tente, ouvido o Engenheir

O pedido de autoriz culares, deverá ser instruíc ta localização da árvore qu par. único, da citada lei).

Assim, a supressão o circunstâncias: a) em terre alização da obra; b) quand a árvore ou parte desta ap] árvore esteja causando con privado; e) nos casos em c vel ao acesso de veículos; f de espécimes arbóreos imj

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[TUlÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Ires prejudiquem os jardins; b) 1 metros de largura ou mais; c) regiões de clima local quente

lipiruna nas áreas de clima sub­:em menos densa. mespécies de folhas pequenas as árvores com lenho resisten­ltaçãO de árvores com "sistema )eve-se preferir a plantação de JZa frutos grandes e que tenha

cipal de São Paulo desenvolve­110 de arborização urbana, defi­convivência com o sistema elé­

lrefeitura Municipal se encarre­enção.

lTE ARBÓREO EÁREAs

~ ou espécimes vegetais lenho­superior a 0,05m (cinco centí­1 de, aproximadamente, 1,30m Lei Municipal de São Paulo n.

)mum a todos os munícipes a 1 existir no território do Muni­)mo as mudas de árvores plan­atei). ) Código Florestal, considerou mas de vegetação situadas: a) :or de lagos, lagoas ou reserva-e "olhos d'água"; d) no topo

stas ou partes destas, com de­t. 4°, par. 1°, a, b, c, d, e e, da

rmanente a vegetação de por­b) destinada a proteger sítios :0; c) localizada numa faixa de alquer curso d'água, lagos ou

INSTITUlÇÃO TOLEDO DE ENSINO 271

reservatórios; d) localizada num raio de 20,00m (vinte metros) a partir de minas, nascentes ou 'olhos d'água" (art. 4°, par. 2°, a, b, c e d, da citada lei).

Em decorrência desta lei, o Município baixou o decreto n. 30.443, de 20 de se­tembro de 1989, descriminando, pormenorizadamente, todas as reservas, parques, praças e lugares conhecidos onde existem árvores, considerando-as como patrimô­nio ambiental e declarando imunes de corte.

9. SUPRESSÃO DE FLORESTAS E DEMAIS FORMAS DE VEGETAÇÃO EM ÁREAs DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E SUPRESSÃO E PODA DE VEGETAÇÃO DE PORTE ARBÓREO EM PROPRIEDADE PÚBUCA OU PRIVADA

No Município de São Paulo, a supressão, total ou parcial, de florestas e demais formas de vegetação em áreas de preservação permanente (art. 4°, da citada lei), de­penderá de prévia autorização do Executivo Municipal (art. 5° da citada lei). Os pro­jetos de loteamento e desmembramento de terras, revestidas por vegetação de por­te arbóreo, deverão ser submetidos à apreciação do Departamento de Parques e Áreas Verdes -DEPAVE, da Secretaria de Serviços e Obras - SSO, antes da aprovação final pelo Departamento de Parcelamento do Solo e intervenções Urbanas -PARSO­LO - INTERURB, da Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano - SEHAB (art. 6°, da citada Lei). Os projetos de edificação em áreas revestidas por vegetação de porte arbóreo deverão, antes da aprovação pela Supervisão de Uso e Ocupação do Solo da Administração Regional AR correspondente, ou pelo Departamento de Aprovação de Edificações -APROV, da Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano - SEHAB, ser submetidos à apreciação do engenheiro Agrônomo responsá­vel (art. ]0 da citada lei).

Asupressão da vegetação de porte arbóreo em propriedade pública ou priva­da ficará subordinada à autorização, por escrito, do Administrador Regional compe­tente, ouvido o Engenheiro Agrônomo responsável (art. 9°, da citada Lei).

O pedido de autorização para o corte de árvores, em áreas públicas ou parti­culares, deverá ser instruído com duas vias da planta ou croquis, mostrando a exa­ta localização da árvore que se pretende abater e a justificativa para o abate (art. 9., par. único, da citada lei).

Assim, a supressão ou poda de árvores só poderá ser autorizada nas seguintes circunstâncias: a) em terreno a ser edificado, quando o corte for indispensável à re­alização da obra; b) quando o estado fitossanitário da árvore a justificar; c) quando a árvore ou parte desta apresentar risco iminente de queda; d) nos casos em que a árvore esteja causando comprováveis danos permanentes ao patrimônio público ou privado; e) nos casos em que a árvore constitua obstáculo fisicamente incontorná­vel ao acesso de veículos; f) quando o plantio irregular ou apropagação espontânea de espécimes arbóreos impossibilitar o desenvolvimento adequado de árvores vizi­

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO272 INSTITUlÇÃO TOLEDO DE

nhas; g) quando se tratar de espécies invasoras, com propagação prejudicial com­provada (art. 11, da citada lei)

Ressalte-se, ainda, que poderão realizar corte ou poda de árvores em logra­douros públicos, os funcionários da prefeitura, mediante prévia autorização, os fun­cionários de empresas concessionárias de serviços públicos, cumpridas as exigências legais e os soldados do Corpo de Bombeiros, em caso de emergência, em que haja risco iminente para a população ou o patrimônio, tanto público como privado.

10. ARBORIZAÇÃO URBANA EVANDALISMO

Rodolfo de Camargo Mancuso esclarece que em

"reportagem estampada lUl Folha de S Paulo, de 02.09.1995, cader­no especial, p. A-I, dá bem uma idéia da enormidade da depreda­ção que vem sendo praticada: 'Pelo menos 27,35% das árvores que estão sendo plantadas pela Prefeitura de São Paulo epela empresa Via Verde, dentro do projeto 1Milhão de Áruores, são destruídas ou têm seusprotetores quebradospor vandalismo eacidentes". Outros desoladores números são dados pelo coordenador desse projeto, ainda conforme essa reportagem: '19,07% das áruores tiveram os protetores de plástico quebrados, 6,91% tiveram as plantas quebra­das e 1,37% tiveram a muda de planta roubada'. Ainda, segundo essa reportagem, o custo de cada árvore plantada é de R$ 50,00; em 1994foram plantadas 160.000 árvores; 1995 a empresa Via Ver­dejá plantou 20. 000 árvores. Os danos compreendem a destruição dos parafusos de sustentação do protetor plástico, a destruição da base de concreto, o arrancamento dos adesivos edestruição dos fi­xadores das plantas" 15

Salienta este ilustre doutrinador que a

"delinqüência urbana tem raízes mais profundas e de mais largo espectro, surgindo quiçá cO/no resultado de váriosfatores cumula­dos. baixo nivel espiritual desses indivíduos; falta de perspectiva ou de realização social; desestruturação familiar; consumo de drogas, consciência da impunidade, tudo afinal calUllizado para uma sorte de 'vingança' generalizada contra a sociedade civil

15Vandallsmo comra a flora urbana na cidade de São Paulo: Análise Jurídica e Formulação de Proposlas, São Paulo: RI, n. 734, p. 83fil4

comoumt()(, numentopúl a uma uiap de uma cam des que se vt:i

Étriste e alamlante COI

lo. As razões são as mais vari a despreocupação com o fut

Não se admite mais es solveu punir penalmente os

11. ARBORIZAÇÁü EALl

Diante de todos estes j duta lesiva contra o meio aml ente é uma necessidade indis ras administrativas e civil não: escopo prevenir e reprimir cc trina penal vem propugnandc seqüente substituição por per liberdade será aplicada em ca: cação ao caso concreto, impo da Lei n. 9.605/98 seguiu essa

ALei n. 9.605, de 12 de j trativas derivadas de conduta.< duas partes a citada lei: a) par ensão de produto e do instrUI do processo penal) e b) parte tros crimes ambientais, crimes ral e crimes contra a administr

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1

'urçÃo TOLEDO DE ENSINO

, propagação prejudicial com­

lU poda de árvores em logra­ote prévia autorização, os fun­llicos, cumpridas as exigências ) de emergência, em que haja to público como privado.

~ Paulo, de 02. 09.1995, cader­:da enormidade da depreda­1enos 27,35% das árvores que I de São Paulo epela empresa de Árvores, são destruídas ou ufalismo eacidentes". Outros l coordenador desse projeto, ),07% das árvores tiveram os %tiveram asplantas quebra­ta roubada '. Ainda, segundo ~ore plantada é de R$ 50,00; ores; 1995 a empresa Via Ver­'s compreendem a destruição ~tor plástico, a destruição da 5 adesivos edestruição dosfi­

is profundas ede mais largo 'tio de váriosfatores cumula­ivíduos; falta de perspectiva 'ação familiar; consumo de udo afinal canalizado para ia contra a sociedade civil

~ e Formubção de Propostas, São Paulo:

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 273

como um todo, que tanto pode se revelar na 'pichação' de um mo­numento público, como 110 furto de uma tampa de bueiro em meio a uma via pública, como na destruição de alambrado e invasão de uma campo de futebol, destruição de um 'orelhão' etc, e atitu­des que se vão caracterizando por uma selvageria erescente"16

Étriste e alarmante como o vandalismo tem se alastrado na cidade de São Pau­lo. As razões são as mais variadas, mas a principal é a falta de educação ambiental e a despreocupação com o futuro, aliado ao fato da certeza da impunidade.

Não se admite mais essa impunidade. Foi com essa visão que o legislador re­solveu punir penalmente os crimes contra a natureza.

11. ARBORIZAÇÃO EALEI N° 9.065, DE 12 DE FEVEREIRO DE 199817

Diante de todos estes fatores, o legislador resolveu tipificar como crime con­duta lesiva contra o meio ambiente. Nos dias de hoje, a tutela penal do meio ambi­ente é uma necessidade indispensável, especialmente quando as medidas nas esfe­ras administrativas e civil não surtirem os efeitos desejados. Amedida penal tem por escopo prevenir e reprimir condutas praticadas contra a natureza. Amoderna dou­trina penal vem propugnando a abolição de pena privativa de liberdade com a con­seqüente substitLÚção por penas alternativas. No futuro próximo, a pena privativa de liberdade será aplicada em casos extremos. Procura-se evitar, ao máximo, a sua apli­cação ao caso concreto, impondo, aos infratores, medidas alternativas. O legislador da Lei n. 9.605/98 seguiu essa tendência moderna.

ALei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, cuida das sanções penais e adminis­trativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Divide-se em duas partes a citada lei: a) parte geral (disposições gerais, aplicação da pena, apre­ensão de produto e do instrumento de infração administrativa ou de crime, ação e do processo penal) e b) parte especial (crimes contra fauna, flora, da polLÚção e ou­tros crimes ambientais, crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultu­ral e crimes contra a administração ambiental).

Em relação à arborização urbana, o legislador reservou um dispositivo, visan­do à punição daquele que destról~ danifica, lesa ou maltrata, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena -detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa, ou am­bas as penas cumulativamente. Parágrafo lÍnico. No crime culposo, a pena é de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa (art. 49).

"op., ciL, p. 84;1)5 "Luís Paulo Sirvinskas. Tutela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 78f79.

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o bem jurídico protegido é a preservação do patrimônio natural, especial­mente a flora (plantas de ornamentação). O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (física ou jurídica). O sujeito passivo pode ser a União, Estados e Municípios e a co­letividade ou o proprietário do imóvel de natureza privada. Admite-se, ainda, a co­autoria, nos termos do art. 2° da Lei n. 9.605/98.

Procurou-se proteger penalmente as plantas de ornamentação localizadas em logradouros públicos (avenidas, ruas, alamedas, praças etc) ou em propriedade pri­vada contra atos de vandalismo. O corte ou a poda não são proibidos desde que de­vidamente autorizados pelo órgão público competente. Plantas são qualquer vege­tação utilizada para ornamentação com o intuito de embelezamento do logradouro público ou da propriedade privada. Não importa que a árvore seja ou não utilizada para o embelezamento para efeito de corte. Normalmente, nas grandes cidades, so­mente o Município poderá autorizar o corte, se eventualmente colocar em perigo a incolumidade pública, por exemplo, ou nas hipóteses contidas no art. 11, da Lei n. 10.365, de 22 de setembro de 1987.

Aconduta punível é destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação. Destruir é demolir, desfazer, desmanchar ou derribar. Danificar é causar dano, prejudicar, estragar ou deteriorar. Lesar é causar le­são, contundir, molestar, prejudicar ou ofender. Maltratar é arruinar, vexar, bater ou causar dano. Trata-se de crime de ação múltipla, pois, na prática de qualquer desses verbos, responderá o agente pelo delito em questão, que na legislação anterior era mera contravenção penal.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na vontade livre e consci­ente de querer praticar o delito em questão. Admite-se a modalidade culposa. A questão será responsabilizar alguém culposamente pela destruição de uma planta de ornamentação. Por exemplo: num acidente automobilístico, se um indivíduo bate em uma árvore localizada em logradouro público, derrubando-a, cometerá o crime em questão, além do delito previsto no Código Nacional de Trânsito.

Aconsumação se dá com o efetivo dano, admitindo-se a tentativa. Aação é pú­blica e incondicionada. O rito é o sumário (art. 539, do CPP), aplicando-se o institu­to da transação penal, previsto no art. 76, da Lei n. 9099195.

Há também as causas de aumento de pena no art. 53, desta Lei.

12. CONCLUSÃO

Vê-se, pois, que a arborização urbana traz muitos benefícios para acidade. Tais benefícios devem ser preservados para minimizar os transtornos da cidade grande, por exemplo, a poluição atmosférica e sonora, o clima, a estética da paisagem etc.

Consta no Guia de Planejamento e Manejo da Arborização Urbana, patrocina­do pelo Governo do Estado de São Paulo, pela Secretaria de Energia, pelas Centrais Elétricas de São Paulo, pela Companhia Paulista de Força e Luz e pela Eletropaulo,

INSTITUIÇÃO TOLEDO Dl

que o número de árvores q 27,45% e o índice de depn (de cada 100 mudas planta(

Registre-se, ainda, qu tros de água por dia, produ dores de ar com capacidad(

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Não há dúvidas de que para minimizar os impactos r tros instrumentos previstos [ Municípios, legislações espar: é importante à saúde da pOpl dade de vida do homem.

l'Guia de Planejamemo e Manejo da Arb Elétricas de São Paulo, Companhia Paulisl ~Op., ciL, p. 4.

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ISTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

) do patrimônio natural, especial­ito ativo pode ser qualquer pessoa Jnião, Estados e Municípios e a co­za privada. Admite-se, ainda, a co­

lS de ornamentação localizadas em )faças etc) ou em propriedade pri­la não são proibidos desde que de­letente. Plantas são qualquer vege­de embelezamento do logradouro que a árvore seja ou não utilizada nalmente, nas grandes cidades, so­:ventualmente colocar em perigo a teses contidas no art. 11, da Lei n.

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lsistente na vontade livre e consci­jmite-se a modalidade culposa. A lte pela destruição de uma planta automobilístico, se um indivíduo üblico, derrubando-a, cometerá o digo Nacional de Trânsito. mitindo-se a tentativa. Aação é pú­i9, do CPP), aplicando-se o institu­1.9099/95. no art. 53, desta Lei.

uitos benefícios para a cidade. Tais . os transtornos da cidade grande, :lima, a estética da paisagem etc. da Arborização Urbana, patrocina­cretaria de Energia, pelas Centrais Je Força e Luz e pela Eletropaulo,

INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO 275

que o número de árvores que morrem após as podas fica no patamar alarmante dos 27,45% e o índice de depredação de mudas recém-plantadas também é alarmante (de cada 100 mudas plantadas 52 a 82 são depredadas).

Registre-se, ainda, que "uma árvore isolada pode transpirar, em média, 400 li­tros de água por dia, produzindo um efeito refrescante equivalente a 5 condiciona­dores de ar com capacidade de 2.500 kcal cada, funcionando 20 horas por dia"18.

Continua mais adiante:

"a arborização ainda contribui agindo sobre o lado físico e men­tal do homem, atenuando o sentimento de opressão frente às gran­des edificações. Constitui-se em eficazfiltro de ar ede ruídos, exer­cendo ação purificadora por fixação de poeiras, partículas resi­duais egases tóxicos, proporcionando a depuração de microorga­nismos e a reciclagem do ar através da fotossíntese. Exerce ainda influência no balanço hídrico, atenua a temperatura e luminosi­dade, amortiza o impacto das chuvas além de servir de abrigo à fauna. Em síntese, compatibilizar os benefícios da arborização com os equipamentos de utilidade pública não é tarefa das mais fáceis. "Plantar árvores certas nos lugares certos" é, sem dúvida, a prática mais recomendada para os novos plantios"19.

Não há dúvidas de que a arborização urbana é um dos instrumentos eficazes para minimizar os impactos negativos nos centros urbanos. Aliado, é claro, com ou­tros instrumentos previstos nas Constituições Federal, Estadual, Leis Orgânicas dos Municípios, legislações esparsas e regulamentos. Assim como o saneamento básico é importante à saúde da população. Aarborização urbana também o é à sadia quali­dade de vida do homem.

"Guia de Planejamemo e Manejo da Arborização Urbana. Governo de São Paulo, Secretaria de Energia, Centrais Elétricas de São Paulo, Companhia Paulista de Força e Luz e Eletropaulo, p. 4 "Op., cit., p. 4.

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13. BIBLIOGRAFIA

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DIREITO AGR

AGRÁRlO PA

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I • PROLEGÔMENOS

Até o advento da no", um afastamento da terra cal

Os institutos de que SI

reais, excetuada a important Adata referida -1922 ­

reito Agrário que tivesse oele O Direito Agrário tem

to Agrário e como ramificaç hoje matéria de grande exte ciplina. Há, também, uma vi:

Os institutos contratm ral do Direito Agrário confor acompanhados por latino-an

Oelemento diferenda( zão de sua autonomia dentífi mais ramos do Direito, isto SI

o Direito Privado e o Direito