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Edição especial ( agosto de 2011) Faculdade de Direto do Largo de São Francisco ASSOCIAÇÃO DE IMPRENSA ACADÊMICA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA www.jornalarcadas.com.br ESPECIAL XI DE AGOSTO LUCAS MORELLI (182-XI)

Arcadas (XI/2011)

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Arcadas é um jornal acadêmico totalmente produzido pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP).

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EDITORIAL

EXPEDIENTEEdiçãoArtur Péricles (182-XI)

DiagramaçãoAna C. Marques (ECA-USP)

RevisãoCaio Ribeiro (182-XI)

Ilustração da capaLucas Morelli (182-XI)

ConselheiroProf. Samuel Barbosa (turma 165)

Arcadas é uma publicação da Associação de Imprensa Acadêmica do Largo de São Francisco

[email protected]

Para não morar no passadoO XI de agosto é uma data festiva para nós, franciscanos: alunos, funcionários e profes-sores. Celebramos a fundação de nossa Faculdade e do Centro Acadêmico, peças importan-tes em diversos momentos da história brasileira. Mais do que isso, é uma oportunidade de praticar o esporte predileto nas Arcadas: gabar-se do “orgulho franciscano”. Aproveitamos a semana para alimentar a rivali-dade lúdico-jocosa (e um tanto infantil, sem dúvida) que temos em relação a outras escolas; além, é claro, de comemorar a ocasião como convidados dos mais so� sticados restaurantes de São Paulo. O mais comum – e mesmo o esperado – para um jornal acadêmico editado nessa data, portanto, seria tomar par-te disso e saudar as tradições das Arcadas, contar histórias prosaicas e lembrar velhos fran-ciscanos. Mas essa não é nossa escolha. E não é que nos falte orgulho franciscano.

Sem deixar de reservar o devi-do respeito às nossas tradições, nós de Arcadas decidimos destinar essa edição especial da semana do XI para falar sobre o que deveria ser o assunto de todo franciscano preocupado em manter a nossa tão querida academia: nossas falhas de in-

fraestrutura.Por isso, o destaque nessa

edição especial é a cobertura de dois problemas que sobressaem atenção e que tiveram desen-volvimentos nos últimos dias: matrícula e infraestrutura física. Esses são, é claro, apenas aspec-tos de uma realidade que tem muito a melhorar, e a discussão com certeza envolve questões maiores, que inclusive são tan-genciadas nesta edição. Esco-lhemos esses dois temas entre os demais porque identi� camos neles a possibilidade de produ-zir matérias ricas em informa-ções que ajudem a re� exão.

Para não fugir tanto ao espe-rado, fazemos nossa parte de contar histórias e apresentamos uma lista de XI itens da história da Faculdade que se repetem nos dias de hoje, mas não po-dem ser considerados tradições.

Essa é nossa pequena contri-buição para as comemorações da Faculdade neste ano. Ainda que seja agradável e reconfor-tante relembrar o passado de glórias da Faculdade e presti-giar os homens e mulheres que se dedicaram às Arcadas, acre-ditamos que prestamos maior homenagem a essa história e a esses franciscanos gastando um momento para re� etir sobre o devemos fazer melhor.

Pindura» Contraditório [p. 3]

Um quintanista defende a pindura tradicional, enquanto um segundanista propõe um novo modelo.

MatrículaOs problemas na matrícula nesse semestre atingiram níveis recordes. O presidente da Comissão de Graduação que culpa a falta de espaço e de professores. A representação discente contesta a avaliação.

Pro-Ed

Velha academia

Com R$1 milhão da reitoria para investir na recuperação em espaços didáticos, a Comissão de Graduação discute para saber o que deve ser reformado.

» Facvldade [p. 4-6]

PARTICIPE!Você pode participar do jornal defendendo seu ponto de vista no Contraditório, enviando seu texto para o Mural ou mesmo tomando parte da produção editorial do jornal. Acesse nosso site e procure maiores informações no menu Participe.

Quase dois séculos depois, a Faculdade parece não ter conseguido se livrar das di� culdades que a atormentaram em seus primeiros anos.

ASSOCIAÇÃODiretoria pro temporeArtur Péricles (182-XI), presidenteGustavo Bicalho (182-XI)Marcela Mattiuzzo (182-XI)

Conselho FiscalIngrid Pino (181-13)Rodrigo F. Reginaldo (182-21)Vanessa Paula (182-12)

A Associação de Imprensa Acadêmica do Largo de São Francisco é uma entidade sem � ns lucrativos composta por estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

[email protected]

Page 3: Arcadas (XI/2011)

CONTRA

PONTO

CONTRA

DITÓ

RIOLevando o pindura a sérioALBERTO LUCIO (180-DI)

Não acreditamos que a tradição deva ser alçada à condição de fun-damento moral da boa conduta franciscana. Não me parece razo-ável que devamos agir dessa ou daquela maneira somente porque assim se tem agido já há muito. Por isso, sobre o pindura, preferi-mos afastar a justi� cativa da tradi-ção e substituí-la por outra.

Partimos da premissa de que o estudante de direito não goza de prerrogativas ou privilégios dian-te de qualquer outro semelhante, em especial os proprietários de restaurantes so� sticados. Daí o dilema, pois não é razoável que um calouro da São Francisco se utilize dos serviços de um esta-belecimento que ofereça refei-ções de alta qualidade e esquive--se do pagamento simplesmente porque nós do quinto ano assim fazemos há anos. Seria uma tra-dição sobrepondo-se ao interes-se de um terceiro estranho a ela. Isso fere nossa premissa e torna o pindura injusti� cável.

O que propomos é um fun-damento moral para o pindura,

baseado no elemento consen-sual entre os sujeitos. Um con-senso pressuposto, decorrente da constatação de que a prática bene� ciará a todos. Assim, con-sideramos que o proprietário não se verá prejudicado pela ausência da contraprestação pe-cuniária devida, já que esta de-verá ser diferida no tempo, pelo prazo mínimo necessário a que o acadêmico receba suas láureas e avance em sua carreira jurídica.

Claro, exigir-se-ia o consenti-mento do proprietário na con-cessão desse crédito. A bem da verdade, se o irresignado proprie-tário estivesse ciente da natureza comercialmente estratégica do pendura e o reconhecesse como um mecanismo de � delização de uma clientela promissora, cer-tamente teria aceitado a poster-gação do pagamento do preço. Daí pressupormos sua anuência para a prática do pindura, já que desta decorrerá o dever moral de o acadêmico solver seus débitos em momento posterior.

VICTOR DA SILVA (183-14)

Segundo o Manual do Pindura, existem três modalidades de Pindura: o Tradicional, o Diplomático e o Selvagem. Talvez, coubesse mais uma, que se � zesse mais relevante para a sociedade, consoante ao que se espera de uma Universidade Pública.

Veio, assim, a idéia do Pindura Social. Em vez de irmos aos mais caros restaurantes da cidade de São Paulo e pagarmos, no máxi-mo, as bebidas consumidas e os 10% da conta ao garçom, valeria a pena acordarmos com os pro-prietários destes mesmos estabe-lecimentos a doação de alimen-tos, que se reverteriam em favor de importantes trabalhos sociais. Esses alimentos poderiam pro-ceder do estoque do próprio res-taurante ou de compra à parte, sobretudo se o estabelecimento contar com um cardápio basea-do em gêneros perecíveis.

Imaginem que, en� m, os es-tudantes de uma Universidade Pública estariam saindo às ruas para ajudar, em esforço coletivo,

pessoas que carecem de atenção com urgência. Legitimamente, entraria em pauta um problema dilacerante, sobre o qual a pró-pria sociedade procura não se debruçar. O Pindura Social se-ria uma chance de dialogarmos com as classes mais abastadas, no sentido de promover uma profunda sensibilização quanto ao tema da pobreza. Assim, a São Francisco se tornaria co-nhecida e reconhecida ampla-mente, levando uma idéia que restaria adotada e aprimorada por muitos outros estudantes.

Se bem executado, como uma real parceria para ajudar os que necessitam, o Pindura Social te-ria apoio expressivo, até porque a solidariedade é algo intrínseco ao ser humano, precisando ser apenas estimulada. E as insti-tuições ajudadas poderiam ser as mais diversas, tornando-se o Pindura uma oportunidade para o aprimoramento do senso de justiça e favorecimento da-queles que, diferentemente de nós, passam fome.

Pindura Social

PINDURAUma das mais conhecidas tradições acadêmicas, o pindura é atualmente criticado. Para discutir o tema, dois franciscanos com visões distintas opinam: um quintanista defende a prática, enquanto um segundanista pretenda a reinvenção da ideia.Os textos continuam na p. 7.Para participar desta seção, visite:arcad.as/contraditorio

p. 7 »

Manual deDireito TributárioEduardo Sabbag

Manual de Direito Empresarial BrasileiroWilges Bruscato

Combo Theotonio NegrãoCódigo Civil e LegislaçãoCivil em Vigor - 30ª edição, 2011

+Código de Processo Civil eLegislação Processual em Vigor -43ª edição, 2011

Comentários à Consolidaçãodas Leis do TrabalhoValentin CarrionAtualizado por Eduardo Carrion

36ª edição, 2011

Sua ligação com o futuro

www.saraivajur.com.br

Manual deDireito CivilMaria Helena Diniz

1ª edição, 2011

Minicódigo de Defesado Consumidor AnotadoFábio Vieira FigueiredoSimone Diogo C. FigueiredoGeorgios Alexandridis

1ª edição, 2011

Reforma do Códigode Processo PenalEdilson Mougenot Bonfim

Vade MecumEditora Saraiva

12ª edição, 2011

Vade Mecum CompactoEditora Saraiva

6ª edição, 2011

Coleção Esquematizado

Coordenação: Pedro Lenza

LivrosJURÍDICOSSARAIVA2011

3ª edição, 2011 1ª edição, 2011

1ª edição, 2011

p. 7 »

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FACV

LDADE A matrícula costuma ser um

processo peculiar em nossa Faculdade. Semestre entra, semestre sai, e nada muda: dezenas de estudantes se aglo-meram ao redor do balcão da Seção de Alunos na esperança de resolver sua situação, em alguns casos com certa dose de desespero. Dessa vez, no en-tanto, o quadro parece ter sido mais grave. Problemas como falta de oferecimento de disci-plinas e optativas ministradas em horários concentrados, além do número limitado de vagas, se agravaram nesse se-mestre. Valdir José, da Seção de Alunos, estima que o número de atendimentos relacionados à matrícula teve aumento em pelo menos 60%.

Para o presidente da Co-missão de Graduação (CG), professor Heleno Torres (UFPE 1991), os problemas estão di-retamente ligados à nova grade curricular, adotada em 2008: “O novo modelo [curricular]

implicava dois grandes blocos de afetação: maior número de salas e maior número de opta-tivas”, avalia.

Segundo o professor, há duas causas para o quadro atual: fal-ta de professores e limitação no espaço disponível. Ele cita os concursos realizados para preencher novas vagas de do-cência nos últimos anos como um avanço, mas diz que isso não foi su� ciente para atender à demanda da Faculdade. Esse, no entanto, não seria o maior óbice: “Nosso maior problema está relacionado ao espaço físi-co”, a� rma.

O professor associado de direito tributário explica que o planejamento da nova gra-de curricular tomava por base a previsão de que as reformas no então recém-adquirido anexo II (ed. Cláudio Lem-bo) estariam concluídas em 2010. As obras no prédio, no entanto, sequer foram inicia-das: a reforma ainda está em processo de licitação.

O presidente da CG credita à falta de espaço dois problemas:

impossibilidade de ofereci-mento de mais disciplinas, em razão da indisponibilidade de salas de aula, e restrição no nú-mero de vagas: “Temos de nos limitar pela quantidade de as-sentos disponíveis, que muitas vezes são poucos, especialmen-te nas salas do prédio histórico

que não eram utilizadas para aulas, como as antigas salas de manutenção e administração”.

Isso explica, segundo o pro-fessor, a decisão de não liberar a matrícula em optativas com turmas lotadas como se fez no semestre passado através da Se-ção de Alunos, “Além disso, te-

mos muitas disciplinas ainda com vagas disponíveis; não faria sentido permitir turmas superlotadas enquanto outras estão vazias”. Para ele, no caso de disciplinas com alta procu-ra, como Medicina Forense II, que teve mais de 200 inscritos, os matriculados devem ser es-

Com quase dois séculos de história, não é de se estranhar que problemas hoje enfrentados por nossa Faculdade já tivessem aparecido no passado. Estranho mesmo é perceber como algumas coisas pare-cem não ter mudado nada depois de tanto tempo. Aqui vai uma lista de XI itens do que permanece o mesmo desde 1827 apesar de não poder ser chamado de “tradição”.

Di� culdades na matrícula expõem problemas estruturaisARTUR PÉRICLES (182-XI)[email protected]

Nossa sempre velha Academia XI problemas que permanecem desde 1827ARTUR PÉRICLES (182-XI)[email protected]

CHEFE DA SEÇÃO DE ALUNOS, VALDIR JOSÉ AFIRMA QUE "A MAIORIA DOS PROBLEMAS NÃO SÃO CULPA DOS ESTUDANTES".

Um problema rotineiramente apontado para explicar problemas na Faculdade hoje em dia já preocupava o primeiro diretor, Arouche Rendon, que em ofício de 1º abril de 1831 reclamava da situação drástica que podia levar ao fechamento da escola e propunha como solução que se permitisse “a alguns estudantes muito capazes” que cursavam o quarto ano.

Se a falta de professores não tinha fechado a academia seis anos mais cedo, o primeiro diretor tinha outra preocupação: inassiduidade dos professores:A[s] falta[s] de cada um dos lentes elevaram-se de quatro a trinta e quatro, sem contar as licenças [...] A segunda aula do quarto ano (a do Dr. Cabral) foi a que mais so� eu, faltando o lente [professor] pelo menos trinta e quatro dias úteis, além de dois meses de licença.

3. Rixa entre professoresOutro problema enfrentado desde os primeiros anos da academia são as inevitáveis desavenças entre os mestres franciscanos. O diretor Rendon foi personagem de um desses con� itos: não conseguia lidar com Avelar Brotero, o primeiro professor da Faculdade. Certa vez, tamanho seu desespero, escreveu ao ministro do Império:[...] um dos dois (eu e Brotero) é criminoso; um dos dois deve deixar o lugar, que é a menor pena. Eu quero ser o réu. [...] tenho servido � elmente ao Estado e a S. M. I. [Sua Majestade o Imperador] [...] estou na idade de setenta e três anos [...] portanto, em prêmio de meus serviços, me conceda a demissão de diretor...

No mesmo ofício em que oferecia seu cargo, o primeiro diretor reclamava de seu colega, sobre quem corriam boatos questionando sua sanidade mental:[...] não me acho com força de poder so� er e aturar a um homem que, se não é mais alguma coisa, é de certo um louco, capaz de atacar moinhos.

1. Falta de professores

2. Falta de assiduidade dos professores4. Professores desvairados

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FACV

LDADE

Di� culdades na matrícula expõem problemas estruturais

colhidos de acordo com sua média ponderada, “E o aluno deve se organizar conforme seus horários e sua média pon-derada permitam”.

RD contesta avaliaçãoA representação discente

não concorda com essa avalia-ção. André Jorgetto (182-24), RD no departamento de tra-balho, aponta falhas no sistema Júpiter: “Houve casos em que alunos com período ideal cor-reto foram preteridos por alu-nos de outros anos. O Júpiter não parece obedecer aos crité-rios de período ideal e média ponderada”.

O terceiranista também não acredita que as di� culdades sejam explicadas pela falta de espaço, nem por falta de pro-fessores: “Nós temos um cor-po com 158 professores; não há falta de docentes. Quanto ao aumento do número de sa-las, isso não é su� ciente para explicar a confusão”, a� rma. Para ele, os problemas estão ligados a “problemas estrutu-rais”, que se relacionam à “falta de um projeto político-pedagó-gico claramente de� nido”.

André Jorge� o cita ainda le-vantamento realizado pela RD segundo o qual mais de 60% do corpo docente não cumpriria a carga mínima de seis horas--aula na graduação determina-das por portaria da reitoria de 1.999. “Nossa ideia [com o le-

Alguns professores tinham extrema capacidade de surpreender na correção das avaliações também no séc. XIX. O diretor Rendon dizia à época que:Os moradores da cidade, que os [alunos] conhecem e que v[e]em passeando de dia e de noite, admiram-se quando lhes diz[em] que foram aprovados.

As discussões sobre qual deveria ser o papel da Faculdade e como o ensino deveria ser regido não são coisa de hoje. À época, discutiam-se “os estatutos” da escola (talvez correspondente a nosso atual “projeto político-pedagógico”), que eram invocados como grandes culpados em qualquer discussão. Em 1848, o ministro do Império relatava:[...] foram tão regulares os estudos quanto o permitem seus defeituosos Estatutos, cuja reforma continua a ser primeira e mais vital necessidade; nem é possível adiá-la por mais tempo, sem que seriamente se comprometa o crédito e o porvir [das Faculdades de São Paulo e Olinda].

Típica reclamação entre os alunos, já era um remédio receitado em 1851 pelo deputado Joaquim Vilela, em sessão da Assembleia Geral:Debatam-se nas aulas as decisões judiciárias sobre a matéria de cada cadeira, desenvol-vendo nos alunos o talento crítico [...] e ainda introduzam-se os discípulos nos pretórios, nos tribunais [...] e ter-se-á renovado o curso de direito.

A resposta dos alunos às de� ciências pedagógicas da velha Academia no século XIX também não diferia em muito do que se tem nos dias de hoje. Em 1837, escrevia o diretor:As muitas faltas das aulas, tanto dos lentes como dos estudantes, me fazem suspeitar pouco fervor nos estudos.

Com o diagnóstico de um quadro crônico, surgiram propostas de reforma. A céle-bre “reforma do ensino livre”, dentre outras coisas, instituía o regime de frequência livre. A justi� cativa da medida por seu principal propositor, o ministro Leôncio de Carvalho, espanta pela atualidade:Querer compelir ao trabalho o estudante de uma academia por outros meios que não sejam o exemplo do mestre [...] é uma verdadeira utopia. Cada um estude com quem quiser e onde lhe for mais cômodo, e venha prestar depois [...] as provas.

Não é de hoje que os professores são atraídos pelas remunerações muito melhores que outras pro� ssões têm a oferecer. Em 1885, escrevia Pedro Lessa, professor da Faculdade:No Brasil, em regra temos advogados que lecionam.

A situação do prédio da Faculdade não foi das melhores até os anos 1930, quando, após um incêndio, houve grande reforma. Antes, a condição precária punha em risco a biblioteca, conforme

indicava Dr. Clemente Falcão Filho em 1860, em descrição que bem teria servido para representar nossa realidade até há pouco: É, sobretudo, desolador que na própria sala da biblioteca assim aconteça [invasão da água da chuva], expondo-se a livraria que ali existe a uma completa deterioração. Este estado de coisas precisa pronto paradeiro.

vantamento] não é denunciar o corpo docente, mas apontar que uma omissão dos profes-sores prejudica a formação curricular dos alunos”, expli-ca.

O presidente da CG minimi-za o impacto do levantamento: “Esse tipo de levantamento não ajuda muito porque não revela o real trabalho do docente, que muitas vezes está mais dedica-do à pós-graduação por estar seguindo determinada linha de pesquisa, ou que está engajado em atividades administrativas, por exemplo. Não conheço a planilha, mas no geral os pro-fessores têm altos esforços na Faculdade”.

Há ainda quem conteste a interpretação que embasou as conclusões da RD, que tomou o texto da portaria em sua li-teralidade, conforme explica André Jorge� o: “A portaria fala apenas uma vez em horas-aula; nos demais dispositivos, refe-re-se a horas, simplesmente”. Esse entendimento levou a RD a contar cada aula dada como apenas 45 minutos. Assim, professores que ministram seis aulas, por exemplo, tiveram computadas 4 horas e meia de trabalho.

A interpretação é ainda questionada porque a porta-ria se refere a horas apenas nas alíneas do artigo cujo caput começa com horas-aula, o que sugere que aula tenha sido ape-

nas omitido.

Reuni� cação divide alunos

O presidente da CG explica que, para não prejudicar a co-lação de grau da turma 180, o órgão decidiu dar prioridade aos quintanistas. Com isso, diversos alunos foram des-matriculados de disciplinas em que haviam conseguido se inscrever pelos critérios do Júpiter. Isso pode desagradar alguns, mas os demais alunos terão outras oportunidades à frente. E todos podem ter certeza de que terão o mesmo tratamento quando chegar sua vez de se formar”.

Segundo o professor, subco-missão criada para analisar os problemas da grade considera sugerir à Congregação a reu-ni� cação das salas: “É algo que estamos estudando ainda, mas a medida já foi proposta e acei-ta em relação ao departamento de comercial”.

Com base nessa declaração, lançamos no Facebook uma enquete para saber a opinião dos alunos sobre a medida. Dos 322 votos registrados, 50% dos votantes se declara-ram contrários à reuni� ca-ção; 27% apoiaram com a su-gestão, 21% disseram serem a favor da reuni� cação “apenas para algumas disciplinas” e menos de 1% concordavam com a reuni� cação apenas

para os ingressantes em 2012. Dentre os comentários dos que votaram Não à reuni� cação, a tônica era de que a reuni� cação não resolveria os problemas da Faculdade, cujo principal pro-blema não seria a falta de es-paço, mas envolveria diversos outros fatores, passando pela própria de� nição pedagógica da escola.

André Jorge� o, represen-tante discente, também critica a proposta: “Discutir apenas isso agora é deixar de lado o debate do ensino jurídico, que é anterior; é tentar mi-tigar consequências”. Como formas alternativas de lidar com os problemas atuais, An-dré cita o abaixo-assinado organizado pela RD cujas exigência incluem, dentre ou-tras, a abertura de mais vagas e turmas nas disciplinas mais procuradas, o oferecimento de todas as optativas previstas e o aumento do número de crédi-tos compensáveis por optativas de livres de 12 para 24.

Critério hierárquico é criticado

Outro ponto criticado pela RD é a forma de composição da grade horária. Segundo ex-plica a assistente acadêmica Eloide Carneiro, os professores são consultados hierarquica-mente, por categoria (titulares, associados e doutores, nessa ordem) e antiguidade. Dessa

forma, quanto mais novato e menos titulado o professor, menos opções ele terá para es-colher seus horários. A RD cri-tica esse modelo, a que atribui prejuízos ao corpo discente, e defende sua reformulação. O presidente da CG, prof. Heleno Torres, acredita que o critério pode ser discutido, mas a� rma que a decisão � ca a cargo da Congregação, “Nós estamos abertos a sugestões; se os alu-nos tiverem propostas, devem encaminhá-las à Congregação”.

O papel da Seção de Alunos

Valdir José, chefe da Seção de Alunos, procurado como última esperança para resolver problemas de matrícula, expli-ca que é subordinado às deci-sões da Comissão de Gradua-ção. Ele avalia a situação: “Para mim, a maioria dos proble-mas não são culpa dos estu-dantes”, citando, como exem-plo, o atraso dos professores na entrega das notas do primeiro semestre em tempo hábil para as interações, “Como os alunos não sabem se foram aprovados ou não e se podem contar com tais créditos ou não, acabam se matriculando em mais créditos do que provavelmente precisa-riam”. do que provavelmente precisa-

5. Misteriosos critérios de avaliação

6. Inde� nição quanto às diretrizes de ensino

7. Falta de enfoque prático

8. Falta de assiduidade dos alunos

9. Debates sobre o controle de frequência

10. Docência nas horas vagas

XI. Problemas de infraestrutura física

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FACV

LDADE

À procura de problemas no prédio históricoCAIO GENTIL RIBEIRO (182-11)[email protected]

O Programa de Recuperação de Espaços Didáticos – Pro Ed – foi lançado pela Pró-Reitoria da Universidade no � nal de 2010 e pretende destinar, en-tre 2011 e 2013, 23 milhões de reais à recuperação de espaços das unidades em que se desen-volvem cursos noturnos ou que ofereçam disciplinas nes-ses cursos.

O edital do projeto prevê apenas que as verbas desti-nadas às unidades devem ser aplicadas em “melhorias nos espaços físicos em que se de-senvolvem as atividades de graduação”, mas foi lançado pela Pró-Reitoria também um Manual de Ambientes Didáti-cos para a Graduação (tanto o edital quanto o manual estão disponíveis em www.prg.usp-net.usp.br/proed) em que são traçadas diretrizes para a me-lhoria desses espaços.

Elaborado por equipe da USP de São Carlos, o manu-al prevê diretrizes detalhadas para a melhoria dos espaços

das unidades. Quanto às salas apresenta, por exemplo, estu-dos sobre o espaço que deve ser destinado à circulação entre as carteiras e sobre o tipo de aparelho de ar condicionado que deve ser instalado de acor-do com as dimensões do espa-ço e a incidência solar durante o ano. Quanto aos auditórios, apresenta plano diferenciado de acústica e de distribuição dos assentos. Prevê, ainda, re-comendação de iluminação, de instalação de projetores, de ins-

talação elétrica, de mobiliário, conforto térmico, pintura (in-clusive com sugestões de cores de acordo com a atividade a ser desenvolvida no espaço) entre outros.

As reivindicações dos alunos

Em reunião aberta da Re-presentação Discente no dia 15 de junho deste ano, na qual compareceram os professores Heleno Taveira Torres e Anto-nio Carlos Morato, este último também membro da comissão interna do Pro-Ed, os alunos apresentaram algumas de suas reivindicações quanto à infra--estrutura da faculdade. Foram demandadas reforma das te-ses de láurea, uma sala para os grupos de extensão (a ser instalada preferencialmente na sala da antiga administra-ção) e salas com mesas re-dondas para seminários, além de terem sido apresentadas reclamações sobre cadeiras e janelas quebradas, ausência de aparelhos de ar condicio-nado, � os elétricos desenca-pados entre outras.

O Pro-Ed na FaculdadePara a implementação do pro-jeto, a Pró-Reitoria prevê que cada unidade nomeie uma comissão interna da qual faça parte um técnico para assuntos administrativos. Cabe a essa comissão enviar suas propos-tas de reformas à Pró-Reitoria até o dia 31 deste mês e, apro-vadas, tratar da execução das obras, que devem estar conclu-ídas até 2013.

A comissão interna para o Pro-Ed de nossa faculdade foi

nomeada pela Comissão de Graduação e é formada por dois alunos e três professores. O Professor Renato de Mello Jorge Silveira, coordenador da comissão, falou a Arcadas so-bre os trabalhos da comissão.

O professor promete que a comissão cuidará de cumprir os prazos � xados pela Pró-Rei-toria. “Do que depender da comissão, acredito que vamos alcançar o prazo, mas a respon-sabilidade é da Pró-Reitoria. Daí nosso cuidado em eleger as prioridades, porque temos de nos ater ao edital para que não exista qualquer empeci-lho na Pró-Reitoria”, disse. Sil-veira apontou, ainda, que, em conformidade às sugestões da Pró-Reitoria, há estudo sobre problemas de acessibilidade na faculdade e que, quanto às reivindicações dos alunos, fo-ram feitos levantamentos de preços de ar condicionado, que a comissão tem em pauta a destinação de salas a grupos de extensão mas que “Apesar da verba ser bastante substancial, está muito aquém do que ne-cessitamos para reformar todos os espaços acadêmicos na Fa-culdade” e que, quanto às teses de láurea, “� zemos [a comissão fez] uma visita à sala das teses de láurea, anotamos[anotou] diversos problemas na sala e isso será considerado na [pró-xima] reunião” .

Consta que até agora foram realizadas duas reuniões pela comissão. Na primeira, realiza-da no dia 21 de junho, estabe-leceram-se bases para o projeto a ser apresentado por nossa unidade. Fundamentalmente, entre “muitas reformas pe-quenas” e “poucas reformas grandes” foi escolhida a pri-meira opção. Como a� rmou o professor Renato, foram es-colhidas “prioridades de mais fácil resolução ao invés de mudanças estruturais”. Nessa reunião também foi levantada a idéia de instalação de mais tomadas nas salas para o uso de notebooks e de instalação de um projetor por sala. A pri-

meira foi descartada devido a problemas de segurança, já que a � ação do prédio histórico é antiga, e a segunda porque a compra dos projetores poderia ser feita com verbas de outro programa da universidade, o Pro-Lab, além de haver “pro-blemas de segurança, princi-palmente nas salas do térreo, e de instalações do térreo” como nos contou o Professor Renato.

PRÓ REITO

RIA

IMAGENS DO MANUAL "AMBIENTES DIDÁTICOS PARA A GRADUAÇÃO", DIVULGADO PELA PRÓ-REITORIA

"Apesar da verba ser bastante substancial, está muito aquém do que necessitamos para reformar todos os espacos acadêmicos na

Faculdade"Prof. Renato de Mello Jorge Silveira

A segunda reunião da comis-são interna do Pro-Ed ocorreu no dia 29. Enquanto eram rea-lizadas as provas substitutivas, a comissão visitou cada uma das salas da faculdade, na tenta-tiva de identi� car quais os pro-blemas no prédio histórico. tiva de identi� car quais os pro-

Page 7: Arcadas (XI/2011)

MURA

L

Permitindo-se que a dívida seja amortizada ao longo dos anos, o estudante, em contrapartida, deverá a retornar àquele estabe-lecimento, honrando seu generoso proprietário. O estudante procederá ao regular adimplemento do contrato � rmado nessas ocasiões, oferendo um plus correspondente à fração da dívida de pindura.

Essa breve teorização nos permite substituir um argumento tradicionalista por um de natureza deôntica, a partir do que se estabelece como fundamento do pindura o consenso, alcançado hipoteticamente ex ante, garantindo, mediante a constituição de um crédito moral, a promoção do princípio igualitário entre o proprietário e o estudante. ◉

Levando o pindura a sério Pindura Social

Dois franciscanos discutem o pindura: um quintanista defende o modelo tradicional, enquanto um segundanista propõe modelo alternativo.Os textos são reprozuidos conforme enviados pelos autores.

Nesta seção recebemos contribuições livres de qualquer franciscano. Os textos são publicados conforme enviados pelo autor. Para ver seu texto (qualquer que seja o tema) aqui, escreva para: [email protected]!

Além disso, não eliminaríamos o tão falado animus jocandi dos alunos do Largo, já que o discurso e as trovas poderiam perma-necer, agora em homenagem aos alimentos disponibilizados para doação. Também, evitar-se-iam a presença da polícia no local e a ida para a delegacia, que tendem a ser fatores consideravelmente desagradáveis.

O Pindura Social deve ser uma semente, deve ir muito além de uma ação isolada, pois elege o dia XI de Agosto como um marco em prol da justiça social. O Franciscano está provocado a pensar sobre sua função em uma sociedade que paga seus estudos e, sem dúvida, muitos verterão o amparo ao próximo em patamar a ser perseguido cotidianamente. E viva o XI de Agosto! ◉

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ADITÓRIO « p. 3

Por detrás do LargoCerta vez um alguém-que-

-não-me-lembro-quem se pôs a falar sobre a energia deste lugar. Energia, sinergia, enten-do pouco de misticismo para saber as corretas designações. Elas a parte, lembro-me de o alguém-que-não-me-lembro--quem divagar sobre esse mag-netismo estranho que tem o Largo, como se fora um íon de concreto que polariza nossas almas em sua direção. Como se toda a nossa vida tivéssemos nos contentado com a medio-cridade do ordinário e, quando se percebe, já se está ali, naque-

TAUNNA VIANNA (180-DP)

le granito frio, falando sobre ser diplomata e a presidência nacional. Como se aqueles nomes nas paredes de arcada pesassem mais que as placas de bronze que os levam, e soltas-sem um chiado inaudível: Tu podes tudo. Nos convencemos de poder. E nesse ingênuo con-vencimento, podemos. Como se de repente a energia que nos move somasse à energia daquele todo, como se aquela história nossa fosse, como se sonhar grande deixasse de ser mera permissão. Ali, é obriga-ção. E quando silenciam os so-

nhos, quando o sol das três da tarde cai sobre o lado esquerdo de um pátio deserto, paira uma mudez pesada, um melancóli-co pesar, a ânsia de ir e a inca-pacidade de se mover, o secreto desejo de prolongar aquele sol e ali � car. Pois sabemos que, quando formos, deixaremos para trás parte irrecuperável daquilo que alguns-que-não--nos-lembramos-quem cha-mam que energia, outros cha-mam de vida, eu limito-me a chamar de mim. ◉

Aniversário da Faculdade, esse não dá pra mandar aquela men-sagem no Facebook de para-béns e deixar pra lá, mas uma paradinha pra ler o jornal pode compensar. Então... 184 anos de existência da Faculdade de Direito do Largo de São Fran-cisco querem dizer muita coi-sa, muita mesmo, mas uma das mais importantes talvez seja o fato de que 184 grupos de pes-soas se viram reunidos um dia nas Arcadas para passar 5 anos (ou mais, ou menos...) juntos. Quem podia imaginar quem iria conhecer quando entrou aqui? É um tanto difícil enxergar to-dos os detalhes nas nossas vidas que resultaram na passagem por esta Faculdade, mas por outro lado não é difícil identi� car o que aconteceu nesse tempo por aqui que � cará pra vida inteira. Foi um amigo que conhece-

Aniversário da FaculdadeISABELLA SANTOS (182-XI)mos? Um namorado? Um pe-

guete que ainda não se decidiu? Foi aquela aguardada saída do armário? Foi aquela peruada que você nem lembra direito o que aconteceu? Foi aquele Ju-rídicos que você saiu sem voz? Foi o Porão onde você passou mais tempo do que na sala de aula? Foi o desa� o de morar longe dos pais? Ou será que foi um professor que te inspirou? Um time pelo qual deu o san-gue? Uma atividade de extensão que abriu todo um novo cami-nho? Uma entidade que te con-quistou? Um partido que repre-sentava um ideal que sempre te acompanhou? Um estágio onde você se encontrou? Passar por essa Faculdade é motivo de pai-xão para muitos, ainda é motivo de ódio para outros que decidi-ram de� nitivamente não querer mais nada com esse mundinho

da norma e do terninho todo dia. O que importa mesmo, calouro, veterano, quintanista, formado saudosista, o que im-porta mesmo é que nesses anos que você passará nesta faculda-de você descubra alguma coisa, qualquer coisa, pela qual você se apaixone. Se tem qualquer coisa a ver com ela é o que me-nos importa. Que você seja feliz carregando o peru do Vitão no meio do Grito ou que seja fu-gindo pra outra festa bem longe daqui, não importa! De todos os conselhos que qualquer pessoa, franciscana ou não, pode te dar na vida é só esse (batido, clichê, velho, mas no fundo sempre verdadeiro), lembre-se: a mor-te vem. Pesado, não? Mórbido pra caramba, né? Mas em últi-ma instância (agora que você aprendeu o que isso quer dizer) pensa bem: é mentira? A� nal

184 anos depois muitos foram os jovens com toda a vida pela frente que hoje não são mais do que pó (ou uma plaquinha no pátio). Um dia o Julius Frank esteve vivo e um dia uma turma vai abrir aquela arca centenária enterrada na frente da entrada. Nessa única vida que cada um de nós tem, a SanFran está bem lá no meio, para o bem ou para o mal. Quando me pediram para escrever esse texto pro jornal eu panguei um tempão pensando no que escrever e depois de mui-to pensar eu cheguei à conclusão que só existe uma coisa sobre a qual vale a pena escrever: a vida, essa que passa todo dia sem dar satisfação, que ninguém entende ou acha explicação, que vai nos empurrando de lá pra cá e que te jogou aqui, no meio dessa faculdade velha e cheia das acla-madas tradições. Mesmo que ela não signi� que nada pra você, os dias que passou por aqui signi� -carão alguma coisa, isso está em suas mãos a� nal. ◉

TAUA

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A VIA

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Page 8: Arcadas (XI/2011)