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Argumentos Para a Liberalizacao Da Prostituicao Luis Martinho STR

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“Argumentos pela Liberalização da Prostituição”

1.º Subscritor: Luís Martinho

Militante: 101758

A raiz mais funda da prostituição é outra, não a

"impureza", nem o "feitio libidinoso", nem a "falta de vergonha"

são motivos decisivos prostituição, pois se trata de coisas

imaginárias e subjectivas. A prostituição é fruto de uma sociedade

assente na família.

Alfredo Amorim Pessoa, “Os Bons Velhos Tempos

da Prostituição e Portugal”,

A Juventude Socialista tem estado sempre na vanguarda da luta pela igualdade

de género e pela alteração de costumes num sentido progressista, como por exemplo

nos casos da interrupção voluntária da gravidez ou do casamento entre pessoas do

mesmo sexo. Contudo existe ainda muito trabalho para realizar e a igualdade com que

sonhamos ainda não está garantida, será por isso que apresentamos esta moção que

tem como intuito a liberalização da actividade dos trabalhadores do sexo, tanto

homens, como mulheres, quebrando também os tabus machistas que ainda vigoram

na nossa sociedade, mostrando que estamos à esquerda da indiferença e no centro da

decisão.

Trata-se antes de demais de efectivar a constituição nos seus artigos: 47.º

(Liberdade de escolha de profissão e acesso à função pública), 58.º

(Direito ao trabalho) 59.º (Direitos dos trabalhadores), 63.º (Direito à Segurança Social

e Solidariedade e 64.º (Direito à Saúde . Temos consciência, de que as forças

conservadoras vão dizer que estes direitos estarão limitados pela ordem pública e paz

social, e são contrários “aos bons costumes”. Esta situação, em nosso entender não se

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pode verificar, pois esses conceitos são bastante difíceis de definir, traduzindo uma

visão conservadora e bastante restritiva dos mesmos, não podemos deixar que isso

aconteça no Século XXI. Na verdade, entre a ponderação de valores essa visão

conservadora sai a perder em detrimento da igualdade de género do combate aos

crimes adjacentes á prostituição “ilegal” e o lenocínio já tutela esses valores no código

penal, não esquecendo que a prostituição em si não é crime o que não deixa de ser

algo curioso em termos jurídicos, ou até éticos e ideológicos.

Trata-se também de estarmos junto dos países mais desenvolvidos em matéria

de direitos sexuais e de costumes, não se trata de legalizar a escravatura humana.

Como por vezes os opositores a este passo praguejam, mas sim de acabar com a

hipocrisia vigente e dar direitos a quem, de facto, tem uma profissão e se encontra,

quase sempre, em situações vulneráveis e de estigmatização social. Quem se dedica à

prostituição, dedica-se a uma forma de subsistência, para alguns pouco válida, mas para

estas mulheres e para os seus filhos, na maioria dos casos fundamental.

Não se trata de legalizar o proxenetismo, pois a lei será devidamente

regulamentada para fazer o combate a essa triste realidade; pois como sabemos a

liberdade é um conceito que tem muitas condicionantes, desde logo o sistema

capitalista coloca o primado da economia sobre as pessoas fazendo sociedade

afilosóficas, cujo único objectivo será apenas sobreviver e ganhar dinheiro não tendo

sequer tempo para pensar em mais nada. Neste caso particular, existe também, muitas

vezes, a coacção moral, física e religiosa, pelo que optar por esta profissão muitas das

vezes é uma não escolha.

Não quer com isto dizer que estamos a branquear esta realidade. Pois, de facto,

nos tempos em que vivemos com a situação de crise, a que a teologia do mercado nos

levou por considerar as pessoas como números e não como pessoas, nós como uma

juventude de esquerda, mantendo ainda o idealismo de uma sociedade mais justa ,

consideramos estas pessoas realmente como pessoas e não como números ou

cidadãos de segunda.

Assim, a prostituição pode ser definida como a troca consciente de favores

sexuais por interesses não sentimentais ou afectivos. Apesar de, comummente, a

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prostituição consistir numa relação de troca entre sexo e dinheiro, esta não é uma

regra. Podem-se trocar relações sexuais: por favorecimento profissional, por bens

materiais (incluindo-se o dinheiro), por informações, etc. A título de exemplo, e de

direito comparado, no Brasil o Código Penal condena o favorecimento da prostituição,

a manutenção de bordéis e o tráfico de mulheres. O crime, portanto, não é oferecer o

corpo, mas sim exploração de uma pessoa por terceiros. Isso não impede que haja

milhares de casas de prostituição a funcionar no país, tal qual como, em Portugal,

acontece com o crime de lenocínio.

A tese central dos defensores da legalização da prostituição é simples: se ela é

inevitável e se trata de uma relação económica que traz riscos à saúde pública, o

melhor será regulá-la. A prostituição é uma actividade contemporânea à própria

civilização, já argumentou o deputado brasileiro Fernando Gabeira, autor de um

projecto de lei de regulamentação da Prostituição. Na verdade, nenhum ser humano

deve ser considerado mercadoria e a regulamentação da prostituição nunca poderá

ferir o direito humano fundamental da dignidade e da autonomia sobre o seu próprio

corpo.

Tal como aquando despenalização da I.V.G., em que o ratio legis da norma não

poderia ser usar o aborto como contraceptivo, aqui também não se trata de branquear

a mercantilização do sexo, nem do corpo de seres humanos, mas sim de dar dignidade

a pessoas que muitas vezes não têm outra alternativa protegendo-as. Assim, se haverá

sempre quem pague por sexo, por inúmeras razões psicológicas, sociológicas, sociais

entre outras, deveremos regulamentar a actividade minimizando em todos os aspectos

o seu impacto social. Poderemos fazer outra analogia, por exemplo, como a troca de

seringas entre toxicodependentes, não se trata de incentivar o consumo de drogas,

mas de garantir o mínimo de dignidade a quem o faz, nunca deixando de combater o

problema. Aliás, como provou a lei da despenalização da IVG o número de abortos não

aumentou em Portugal. Isto porque, a lei foi bem regulamentada, neste caso teremos

de fazer o mesmo, regulamentar bem a lei, evitando que o país não se torne um

paraíso de turismo sexual, desvirtuado o espírito da norma.

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Devermos aprender com a lição da Holanda, onde se imaginava uma queda da

procura pelo sexo pago e ocorreu o oposto, devido á falta de regulação. Será de

referir, que os Holandeses e os Belgas legalizaram os bordéis e, assim, as prostitutas

passaram a ter os direitos de qualquer trabalhador (contrato de trabalho, seguro de

saúde, direito a uma pensão, ect,). Em contrapartida, vão descontar para a segurança

social e pagar impostos como qualquer cidadão. Noutra perspectiva, a Alemanha

adoptou legislação semelhante no ano passado. Apesar de ter levantado discussões

sérias com a Igreja, e com os sectores mais conservadores da sociedade, do ponto de

vista pragmático, defende-se que “a mais antiga das profissões” é impossível de ser

eliminada, desta forma torná-la legal será uma forma de controlar doenças, combater

o crime, a prostituição de menores e, até, criar mais uma fonte de impostos.

No entanto, tanto na Holanda, como na Alemanha e como na Nova Zelândia

foram estabelecidas restrições. A idade mínima para a prostituição é 18 anos e, no

caso holandês e no neozelandês, os prostíbulos precisam de licenças especiais. Em

alguns países, a situação é mais confusa. A prostituição é legal em certas cidades do

estado de Nevada, nos Estados Unidos da América (EUA), e, também, em algumas

regiões da Austrália, incluindo a maior cidade do país, Sydney.

A prostituição é, desde muitos anos, um tema sensível e que suscita alguma

discórdia, não só a nível nacional como internacional. A cultura dos povos e o seu

maior ou menor conservadorismo têm-se revelado fulcrais para a aceitação de uma

situação social que, quer concordemos ou não com ela, existe, sempre existiu e irá

continuar a existir.

Virar as costas ao fenómeno da prostituição não é solução. Proibir legalmente a

sua prática tem a vindo revelar-se comprovadamente ineficaz. Aliás, não deixa de ser

irónico que países tão liberais na sua economia, sejam conservadores e proibicionistas

nos costumes a fim de “libertar” os cidadãos como é o caso dos EUA, na generalidade

dos estados. Para além do exposto, também existe a desigualdade este campo, visto

que de um lado podemos observar acompanhantes de luxo, as quais recebem

autênticas fortunas e têm melhores condições que as suas colegas, enquanto, que

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noutro cenário, vemos pessoas em miséria extrema, as quais recorrem a este recurso

por necessidade irredutível.

A moralidade é um conceito maleável, subordinado à cultura dominante,

sempre foi assim. A prostituição é muitas das vezes a face de uma sociedade que só

pensa no lucro, constituindo um paraíso para máfias e lavagem de dinheiro pelo que

em nosso entender o combate passa pela legalização. Deve-se então legalizar a

prostituição? Pensamos que sim. A legalização da prostituição não deve ser encarada

como a permissão de uma actividade que não é consensualmente aceite pela

sociedade, mas antes, como a resposta a um problema social com graves

repercussões. A legalização desta actividade poderia ainda trazer respostas para o

controlo de doenças sexualmente transmitidas (através da obrigatoriedade de exames

regulares aos trabalhadores desta "indústria"), sendo que tal representa apenas a

parte visível do iceberg. Existe uma extensa lista de problemas sociais que poderiam

ser minimizados na sua extensão e gravidade através da legalização da prostituição, e

que poucas vezes se abordam, tais como: o tráfego humano; a imigração ilegal; a

prostituição infantil; a exploração e escravidão de seres humanos; ou, mais

directamente, a falta de condições de higiene e segurança no desenvolvimento desta

“profissão”; a violência e os crimes a ela associados e, até, por vezes, o consumo de

drogas, nestes contextos.

A legalização traria uma condição melhor para a vida destas mulheres e

homens. Não consideramos que seja um paliativo, nem que seja uma acção de

contingência. Deverá sempre, ser, contudo, acompanhada com medidas de âmbito

social, para além de regulação essencial, neste e noutros casos a repressão seja social,

policial ou jurídica, não é o caminho, nem a solução.

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Subscritores

N.º Militante Nome Assinatura

101758 Luís Martinho

103426 Lígia Cruz

102712 Filipe Madeira

109250 Francisco Noras

89592 Tiago Preguiça