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CONTEXTO HISTÓRICO APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA A situação que mudou completamente a vida de Aristides de Sou- sa Mendes ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Esta guerra foi um conflito militar global que se estendeu desde 1939 a 1945. Envolveu a maioria dos países mundiais, incluindo todas as grandes potências, que se organizaram em duas alianças militares opostas: os Aliados e as Potências do Eixo. Foi marcada pelo número muitíssimo elevado de mortes, derivadas dos constantes ataques con- tra civis, incluindo o Holocausto. Estima-se que, ao todo, tenham resul- tado desta Guerra entre 50 a 70 milhões de mortes. O Holocausto foi o genocídio ou assas- sinato em massa de cerca de 6 milhões de judeus durante a Se- gunda Guerra Mundial, por meio de um siste- ma constante de exter- mínio étnico levado a cabo pelo Estado Nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazis- ta. Ocorreu em todos os territórios ocupados pelos nazis, através de uma rede de milhares de instalações que foram utilizadas para concen- trar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas. Caracteriza-se genocídio como sendo o assassinato deliberado de pessoas motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas ou políticas. À medida que o nazismo foi crescendo, o número de refugiados também aumentava. Judeus e outros opositores ao regime tinham fugi- do da Alemanha com a subida de Hitler ao poder em 1933. Aristides de Sousa Mendes começou a exercer o cargo de Cônsul Português em Bordéus em 1938, estando a Segunda Guerra Mundial prestes a come- çar.

Aristides «O Justo» português I

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Trabalho de Grupo para a Exposição sobre Aristides de Sousa Mendes «O Justo» português 10 A: Pedro Madeira; José Costa; Rodrigo Antunes; Tiago Pereira - profª Ana Paula Rodrigues

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CONTEXTO HISTÓRICO

APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

A situação que mudou completamente a vida de Aristides de Sou-

sa Mendes ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta guerra foi um conflito militar global que se estendeu desde

1939 a 1945. Envolveu a maioria dos países mundiais, incluindo todas

as grandes potências, que se organizaram em duas alianças militares

opostas: os Aliados e as Potências do Eixo. Foi marcada pelo número

muitíssimo elevado de mortes, derivadas dos constantes ataques con-

tra civis, incluindo o Holocausto. Estima-se que, ao todo, tenham resul-

tado desta Guerra entre 50 a 70 milhões de mortes.

O Holocausto foi

o genocídio ou assas-

sinato em massa de

cerca de 6 milhões de

judeus durante a Se-

gunda Guerra Mundial,

por meio de um siste-

ma constante de exter-

mínio étnico levado a

cabo pelo Estado Nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazis-

ta.

Ocorreu em todos os territórios ocupados pelos nazis, através de

uma rede de milhares de instalações que foram utilizadas para concen-

trar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas. Caracteriza-se

genocídio como sendo o assassinato deliberado de pessoas motivado

por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas ou políticas.

À medida que o nazismo foi crescendo, o número de refugiados

também aumentava. Judeus e outros opositores ao regime tinham fugi-

do da Alemanha com a subida de Hitler ao poder em 1933. Aristides de

Sousa Mendes começou a exercer o cargo de Cônsul Português em

Bordéus em 1938, estando a Segunda Guerra Mundial prestes a come-

çar.

À medida que o nazismo foi crescendo, o número de refugiados tam-

bém aumentava. Judeus e outros opositores ao regime tinham fugido da Ale-

manha com a subida de Hitler ao poder em 1933. Aristides de Sousa Mendes

começou a exercer o cargo de Cônsul Português em Bordéus em 1938, es-

tando a Segunda Guerra Mundial prestes a começar.

Aquando do início da Segunda Guerra Mundial, em Setembro de 1939,

apesar de Portugal ter assumido neutralidade, Salazar aliou-se a Hitler de

modo a evitar uma possível invasão nazi a Portugal. Este alinhamento levou

à promulgação da famosa Circular 14, na qual Salazar proíbe a concessão

de vistos a estrangeiros de origem indefinida, sem pátria, judeus e a outros

“indesejados”. Assim, nenhum diplomata português tinha a autorização para

passar vistos a judeus. O próprio Aristides foi avisado por Salazar para não o

fazer. Assim, começaram a surgir as primeiras dificuldades para Aristides.

CONTEXTO HISTÓRICO

CONTEXTO HISTÓRICO

No dia 14 de junho de 1940 as tropas nazis tomaram Paris e, no dia se-

guinte, Bordéus estava repleta de refugiados. Centenas de milhares de refugi-

ados tinham-se deslocado para esta cidade. Dirigiram-se para o Consulado

de Portugal, pois sabiam que um visto para Lisboa lhes abriria o caminho pa-

ra o mundo.

Como Cônsul Português em Bordéus, Aristides viu-se então rodeado

por milhares de refugiados que tentavam escapar dos horrores da máquina

de guerra nazista. Estas pessoas estavam desesperadas por conseguir um

visto que lhes permitisse sair de França. Um visto português permitiria a pas-

sagem segura através de Espanha para Portugal, onde aí poderiam ser livres

de viajar para outra qualquer parte do mundo.

É nesta altura que surge um dilema para Aristides de Sousa Mendes. O

que fazer? Obedecer às ordens do seu país, negando vistos para Portugal

aos refugiados que necessitavam deles? Ou deveria seguir a sua consciên-

cia, desobedecendo a Salazar, e

passar vistos que valiam a vida a

milhares de pessoas, sobretudo

judeus, mesmo que isso o pu-

desse vir a afetar?

Diz-se que Aristides pas-

sou 3 dias fechado no seu quarto

do Consulado, a refletir sobre es-

ta situação.

No dia 17 de junho, Aristides de

Sousa Mendes toma uma deci-

são. Este decidiu que iria salvar o maior número de pessoas que conseguis-

se, emitindo o máximo de vistos possível. "A partir de agora, darei vistos a to-

da a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião", “Vou salvá-los a to-

dos!”.

Tal decisão é confirmada num livro de autoria de Manuela Franco, onde

esta menciona um telegrama enviado por Aristides ao Ministério dos Negócios

Estrangeiros, em que Aristides confirma ter ordenado que se passassem vis-

tos “indiscriminadamente e de graça”.

Também o historiador Yehuda Bauer se referiu a esta ação do português no

seu livro “A History of the Holocaust”.

CONTEXTO HISTÓRICO

Yehuda escreve: “o Cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa

Mendes, concede vistos de trânsito a milhares de judeus refugiados, em trans-

gressão das regras do seu governo”. Yehuda considerou a ação de Aristides

como sendo “Talvez a maior ação de salvamento feita por uma só pessoa

durante o Holocausto”.

Assim, num curto espaço de tempo, Aristides passou no total 30.000 vistos, um

terço deles a judeus.

Este ato heroico de Aristides trouxe-lhe graves consequências. Foi seve-

ramente castigado por Salazar, sendo que este o

expulsou da sua carreira profissional e tirou-lhe os

rendimentos. Também a sua família foi altamente

prejudicada, como já foi referido anteriormente. A

atitude que tomou perante a situação com que se

deparou custou a Aristides um final de vida de mi-

séria.

REFLEXÃO

O ataque Nazi aos judeus foi terrível. Começaram por retirar os direitos

aos judeus e de seguida expropriaram-lhes os bens que possuíam. Colocaram

-nos em guetos, que tempos depois foram destruídos de modo a matar os ju-

deus. Por fim, criaram os campos de concentração, seguidos de campos de

extermínio. Estima-se que com o Holocausto tenham morrido cerca de 6 mi-

lhões de pessoas. Como foi referido atrás, os alemães criaram uma grande

quantidade de instalações e locais de modo a facilitar o seu terrível trabalho.

Destes locais destacam-se os guetos (locais onde as pessoas eram

mantidas até serem enviadas para os campos de extermínio) e os campos de

concentração e de extermínio. Nestes locais os nazis concentravam e manti-

nham os judeus, bem como outras pessoas que achavam que não mereciam

viver, em condições miseráveis. Nestes locais foram escravizadas, torturadas

e mortas milhões de pessoas! Todo este extermínio

em massa foi motivado pela diferença étnica que

existia entre os alemães e os judeus. Mas até que

ponto esta ação dos alemães, motivada por esta di-

ferença, tem alguma razão?

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Todos nós sabemos que no mundo existe uma grande Diversidade Cultu-

ral, isto é, existem várias culturas, cada uma diferente das outras. Pelo facto de

cada cultura ter a sua própria identidade, consegue-se distinguir de cada uma

das outras. A Identidade Cultural é definida pelo conjunto de todos os padrões

(religião, etnia, raça, tradições, etc.) que marcam a diferença e que caracteri-

zam cada cultura na sua essência. Na atualidade existem várias sociedades

multiculturais, em que pessoas de dife-

rentes culturas são capazes de coexistir e

interagir umas com as outras. O grande

problema é que quando existem diferen-

ças culturais podem ser tomadas duas

atitudes diferentes: uma delas é a aceita-

ção da diferença e a outra é a rejeição.

No caso dos Nazis, estes não aceitavam

a diferença que existia entre eles e os ju-

deus, ou seja, rejeitavam esta cultura.

Deste modo, afirmavam que aqueles que fossem judeus tinham uma cultura

inferior, errada e até perigosa. A atitude dos alemães foi uma espécie de atitu-

de etnocentrista.

O Etnocentrismo caracteriza-se por uma

cultura/etnia/raça avaliar as restantes a partir

de si própria, por vezes, pensando que é su-

perior às outras que a rodeiam.

O Etnocentrismo promove a discrimina-

ção, o preconceito e até o nacionalismo exa-

gerado. Esta discriminação pode ser exercida

enquanto discriminação racial, de género, de opção sexual, religiosa, etc.

Os nazis exteriorizaram o seu pensamento etnocentrista, ou seja, puse-

ram-no em prática. Daí resultou o Holocaus-

to. A atitude nazi foi de caráter desumano,

visto que ninguém tem o direito de afirmar

se outra pessoa é digna de viver ou não. To-

das as pessoas têm o direito à vida, ou seja,

é um direito universal.

ARTIGOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

ARTIGO 1º - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os

outros em espírito de fraternidade.

ARTIGO 2º - Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberda-

des proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeada-

mente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política e

outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer

outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no es-

tatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade

da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou

sujeito a alguma limitação de soberania.

ARTIGO 3º - Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança

pessoal.

ARTIGO 4º - Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escra-

vatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

ARTIGO 5º - Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos

cruéis, desumanos ou degradantes.

Analisando estes artigos é possível concluir que:

- Todos nascemos iguais e que tendo racionalidade e consciência devemos

agir uns para com os outros como irmãos;

- Todos os homens podem invocar os direitos e as liberdades presentes

nesta Declaração, bem como que ninguém será discriminado independente-

mente de qualquer fator inerente a si mesmo;

- Todos os seres humanos merecem viver, ser livres e seguros;

- A escravatura e a servidão, bem como a situação de uma pessoa enquanto

escravo ou servo, são proibidas;

- É proibida a tortura ou tratamentos impiedosos a qualquer ser humano.

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Posto isto, verifica-se que a ação Nazi foi totalmente contra o que se de-

fende nesta Declaração, nomeadamente

nestes primeiros cinco artigos. Os nazis

tiveram atitudes e ações horríveis e desu-

manas para com as vítimas do Holocaus-

to. Estes discriminavam, maltratavam, es-

cravizavam, torturavam, mas o mais gra-

ve de tudo, privaram milhões de pessoas

da vida. Na atualidade, todas estas ações

são proibidas, pelo que são consideradas

erradas.

Voltando à questão: Mas até que ponto esta ação dos alemães, motiva-

da por esta diferença, tem alguma razão? A ação dos alemães não tem razão

alguma, até pelo contrário, esta ação foi totalmente errada. O que fizeram foi

totalmente desumano e de uma crueldade extrema. Desde a forma de pensar

até ao modo como agiram, o facto dos nazis se acharem superiores aos ju-

deus, achando mesmo esta etnia perigosa ao ponto de os tratarem daquela

maneira e de lhes porem fim à vida, é completamente incorreto. Aliás, isso

confirma-se pelo facto de todas as ações exercidas pelos nazis sobre as víti-

mas do Holocausto estarem atualmente proibidas.

Aristides viu-se envolvido por milhares de judeus e refugiados. Deparou-

se com um grande problema que se traduzia pelo dilema que lhe surgiu ao ver

tantas pessoas a necessitar de ajuda. Precisava de tomar uma decisão em re-

lação ao que iria fazer. Aristides, tal como outro qualquer diplomata português,

tinha sido proibido, através da Circular 14, de conceder vistos a estas pesso-

as. No entanto, Aristides sabia que, caso não passasse os vistos de que estas

pessoas necessitavam, estas iriam acabar por ser colhidas pelos nazis.

Aristides tinha então um grande problema que necessitava de ser resol-

vido rapidamente. Refletiu durante algum tempo sobre o assunto e decidiu sal-

var tantas pessoas quanto conseguisse. Afirmava não poder consentir que to-

das aquelas pessoas morressem. Esta escolha foi responsável pelo salva-

mento de milhares de pessoas. Aristides afirmou: “Eu prefiro estar com Deus

contra os homens do que estar com os homens contra Deus”. Esta decisão

advém da própria consciência de Aristides.

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Apesar do dilema que lhe surgiu, este sabia que apenas tinha uma esco-

lha possível - a de salvar aquelas pessoas. Os ideais de Aristides guiaram a

sua consciência e fizeram-no agir da melhor forma. Apesar de saber que o seu

ato lhe iria trazer graves consequências, os seus valores éticos sobrepuseram-

se. Assim, apercebeu-se que o dilema que lhe tinha aparecido já nem sequer

existia, pois ele sabia que só poderia

fazer a escolha certa – a de salvar

aquelas pessoas. Foi como se tivesse

ouvido uma espécie de “voz” da sua

consciência que lhe indicava que teria

de agir daquela maneira. Aristides

disse: “Eu não poderia ter agido de

outra maneira e por isso aceito tudo o

que me aconteceu com amor.” Isto

mostra que tinha a consciência de

que estava a agir corretamente e de que valeu a pena ter-se sacrificado para

poder salvar milhares e milhares de pessoas.

No seu regresso a Portugal e com o processo disciplinar aberto contra

Aristides a sua vida foi ficando cada vez pior. A decisão inicial de “um ano de

inatividade com direito a metade do vencimento, devendo em seguida ser apo-

sentado” não foi respeitada, sendo que foi ficando cada vez com mais dificul-

dades económicas. Foi esta a pena de um homem cujo crime foi ter salvado

milhares de pessoas. O próprio Aristides elaborou a sua própria defesa, argu-

mentando que agiu em defesa dos valores éticos e humanitários. Nada disto

lhe valeu. Não se pode aceitar o critério segundo o qual um conjunto de nor-

mas estabelecidas é suficiente para avaliar a correção das ações humanas. É

preciso pensar na situação a nível ético, é preciso saber criticar e interrogar as

normas de modo a perceber qual seria a ação correta para a situação. É este

o papel da Ética.

Foi isto que Aristides fez: refletiu sobre as normas e percebeu que, etica-

mente, o que estava correto era passar os vistos e salvar as pessoas. Todos

os castigos que Aristides sofreu foram absolutamente injustos. Um homem que

salva 30 mil vidas não merece tal punição.

Aristides não obteve resposta e cerca de um mês depois voltou a escre-

ver. Desta vez Aristides apela à existência de uma resposta por parte do Pa-

pa: “Há muito que espero que uma palavra de Vossa Eminência possa conso-

lar o meu coração inquieto, mas essa palavra ainda não chegou”. Refere que

apenas quer que lhe confirme que fez o que estava certo aos olhos de Deus:

“Há muito que perdi a confiança na justiça terrena, não, porém, na justiça divi-

na (…) ”; “Se não andei mal em salvar os judeus das garras do anti-Cristo, fa-

ça-me Vossa Eminência a caridade de mo dizer…”. Aristides apenas queria

poder dizer aos seus filhos que foi justo e bondoso ao salvar os judeus, de

modo a estes poderem orgulhar-se de si: “…para que eu possa proclamar aos

meus filhos o bem e a justiça da minha conduta para que eles possam orgu-

lhar-se de seu pai que só quis cumprir a lei de Deus e seguir a sua consciên-

cia, como sempre.”

Muitas pessoas testemunharam de modo a confirmar a atitude tomada

por Aristides de Sousa Mendes. De seguida serão apresentados alguns teste-

munhos de pessoas que foram salvas por Aristides de Sousa Mendes.

O primeiro testemunho é de Rabbi Chaim Hersz Kruger. Aristides e Kru-

ger conheceram-se em Bordéus em maio de

1940. Aristides ofereceu vistos para Kruger e toda

a sua família. Kruger recusou-se a aceitar a me-

nos que todos os refugiados em Bordéus também

obtivessem vistos. Foi este ato moral protagoni-

zado por Kruger que levou Sousa Mendes a sal-

var milhares de pessoas do terror nazi. Kruger

deixou o seguinte testemunho:

“Este homem era um Justo entre as Na-

ções. Ele disse-me que também era um descen-

dente de judeus que tinham sido forçados a con-

verter-se na Idade Média. Nós escapámos de

Bruxelas para França, juntamente com milhares

de judeus que tinham sido expulsos de França e da Bélgica, que já estavam

sob o domínio nazi.

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Depois de muitos transtornos e problemas causados pelos Aliados, che-

gamos a Bordéus. Encontramos milhares de judeus nas ruas, que acampa-

vam na praça ao lado da sinagoga.

À noite, um grande carro conduzido por um motorista chegou e parou ao

nosso lado. O diplomata saiu e falou comigo. Ele convidou-me para ir com a

minha esposa e os meus cinco filhos para sua casa. Quando chegámos à sua

casa, ele disse-me que era o cônsul-geral de Portugal em França. Ele ofere-

ceu-nos a usar todos os confortos de sua casa, mas eu percebi que eu não

poderia fazer isso, porque aquelas pessoas que estavam nas ruas não podi-

am ser postas de parte (…). Agradeci-lhe pela sua bondade. Pela manhã, jun-

támo-nos aos refugiados e depois voltei para a casa dele e expliquei-lhe que

só havia uma maneira de nos ajudar – passando vistos para Portugal. En-

quanto conversávamos, o vice-cônsul ouviu o que tínhamos dito na língua

francesa, e avisou-o para não cair na armadilha de passar os vistos. Ele disse

-o em português, mas não resultou. Sr. Mendes disse-me que ele daria vistos

para minha família e para mim, mas que teria que pedir permissão ao seu mi-

nistério para os outros refugiados.

Eu tentei influenciá-lo a não ouvir seu

superior, e, em seguida, ele disse que

eu poderia anunciar aos refugiados que

qualquer um que quisesse ter um visto

poderia recebê-lo. Eu anunciei-o imedia-

tamente aos refugiados. (…) Ele sentou-

se durante todo o dia a assiná-los. Eu o

ajudei a colocar os selos nos passapor-

tes para depois ele assinar. Ele não co-

meu nem bebeu o dia inteiro (…) e den-

tro de um curto espaço de tempo passou

milhares de vistos, até que os agresso-

res se aproximaram e tivemos que fugir

por Espanha. Quando chegamos à fron-

teira espanhola, o Ministro dos Negócios

Estrangeiros Português já tinha decreta-

do que os vistos que o cônsul tinha emi-

tido eram inúteis.

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Foi na véspera do Sabbath (sexta à noite). Pedimos aos guardas de

fronteira para que pudéssemos atravessar a fronteira em trânsito através de

Espanha. Enquanto estávamos ali, implorando aos guardas de fronteira, o

cônsul apareceu e disse-nos para esperar enquanto ele iria falar com eles.

Uma ou duas horas mais tarde, foi ele quem nos abriu o portão...

Fui para Lisboa com a minha família e aí Mendes visitou-nos. Ele contou-nos

que tinha sido demitido por causa da sua ajuda, mas que estava contente, e

se milhares de Judeus estavam a sofrer por causa de um católico, um

católico poderia sofrer por todos os Judeus. Ele disse que o aceitou com

amor.”

O testemunho que se segue é de Guy

Vermeersch. Guy era de uma família belga

que teve de sair do país aquando do ataque

alemão a Bruxelas. Foi salvo por Aristides

quando tinha apenas 7 anos. Deixou o se-

guinte testemunho:

“Graças à sua documentação, deram-

me a oportunidade de aprofundar a vida

exemplar do herói Sr. Sousa Mendes. Devo

expressar a minha admiração pelos riscos

que ele tomou para salvar a vida de outros

seres humanos, muitos deles judeus e que,

sem a sua intervenção, certamente não teri-

am escapado do inferno do extermínio. Nun-

ca nos deveremos esquecer. Eu enviarei to-

das as informações para a atenção dos

meus filhos, para que estes fatos históricos significativos possam ser transmi-

tidos às gerações que ainda estão por vir.”

Agora é apresentado o testemunho de Ilja Dijour. A família Dijour passou

para Portugal graças aos vistos de Aristides e posteriormente, em Outubro de

1940, partiu para Nova Iorque no navio Excalibur. Ilja Dijour era advogada e

uma representante da HIAS (the Hebrew Immigrant Aid Society). Deixou o se-

guinte:

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

Agora é apresentado o testemunho de Ilja Dijour. A família Dijour passou

para Portugal graças aos vistos de Aristides e posteriormente, em Outubro de

1940, partiu para Nova Iorque no navio Excalibur. “ (…) O Cônsul Mendes de-

sobedeceu às ordens do seu governo e emitiu mais de 10.000 vistos a refugi-

ados judeus gratuitamente. Ao fazer isso, ele salvou a vida não só daqueles

10.000, mas abriu a porta para um fluxo maciço de muitos milhares de refugia-

dos de guerra para Lisboa. Fê-lo sob a influência de um jovem rabino polaco

vindo de Bruxelas para Bordéus, com a sua esposa e cinco filhos. Primeira-

mente, o Cônsul Mendes ofereceu hospitalidade ao rabino durante a noite,

porque de outra forma a família teria que dormir na rua. Mas, durante esta noi-

te trágica, as conversas entre o rabino e o Cônsul avivaram a consciência

adormecida de um judeu cujos antepassados foram convertidos à força há

cerca de 500 anos atrás. Eu conhecia tanto o rabino como o Cônsul pessoal-

mente. Fui testemunha do cenário descrito num livro de um dos filhos de Men-

des. Esther e eu também beneficiámos desses vistos portugueses que deter-

minaram o nosso futuro.”

DOCUMENTOS COMPROVATIVOS DA AÇÃO DE

ARISTIDES DE SOUSA MENDES

Existem vários documentos e

testemunhos de pessoas que confir-

mam a ação de Aristides de Sousa

Mendes. Como documentos foram en-

contrados passaportes, telegramas e

os vistos passados às pessoas salvas

por Aristides. Foram também elabora-

das as listas de Aristides, onde se en-

contram compilados os nomes de to-

das as pessoas, até ao momento con-

firmadas, que Aristides salvou.

REFLEXÃO/TESTEMUNHOS

PROVAS

Visto passado por Aristides a Henri Untermans

De seguida encontram-se imagens de alguns dos passaportes das pes-

soas salvas por Aristides, dos telegramas trocados com Salazar a fim da con-

firmação dos vistos, de uma parte das listas de Aristides e também dos vistos

que este passou às pessoas que salvou.

PROVAS

Telegrama enviado por Salazar a Aristides

a negar os vistos à família Bacaleinic Telegrama enviado por Aristides a Salazar a favor

da família Henricot

Tel

egra

ma

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10º A - PEDRO MADEIRA; JOSÉ COSTA;

RODRIGO ANTUNES; TIAGO PEREIRA