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ARISTÓTELES
Coleção Cátedra
Coordenação: Gabriele Cornelli
• AristótelesCarlo Natali
• Diálogo socrático (O)Livio Rosseti
• Ética dos antigos (A)Mario Vegetti
• Fílon de AlexandriaFrancesca Calabi
• Filosofia antes de Sócrates (A): uma introdução com textos e comentárioRichard D. McKirahan
• Introdução à “filosofia pré-socrática”André Laks
• Introdução à filosofia do mitoLuc Brisson
• Platão: a construção do conhecimentoJosé Gabriel Trindade Santos
Aristóteles
CARLO NATALI
Título original: Aristotele© Carocci editore S.p.A., Roma, 2014ISBN: 978-88-430-7287-3
Tradução: Maria da Graça Gomes de Pina
Direção editorial: Claudiano Avelino dos SantosCoordenador de revisão: Tiago José Risi LemeRevisão: Tarsila Doná Iranildo Bezerra Lopes Leidson de Farias BarrosDiagramação: Dirlene França Nobre da SilvaCapa: Marcelo CampanhãImpressão e acabamento: PAULUS
1ª edição, 2016
© PAULUS – 2016
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 – São Paulo (Brasil)Tel.: (11) 5087-3700 • Fax: (11) 5579-3627paulus.com.br • [email protected]
ISBN 978-85-349-4311-6
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Natali, CarloAristóteles / Carlo Natali; [tradução Maria da Graça Gomes de Pina]. – São Paulo: Paulus, 2016. – Coleção Cátedra / coordenada por Gabriele Cornelli
Título original: Aristotele.Bibliografia.ISBN 978-85-349-4311-6
1. Aristóteles 2. Filosofia antiga I. Cornelli, Gabriele. II. Título. III. Série.
16-01079 CDD-185
Índices para catálogo sistemático:1. Aristóteles: Obras filosóficas 1852. Filosofia aristotélica 185
Sumário
ABREvIATURAS DAS OBRAS DE ARISTÓTELES ........................... 9
INTRODUçãO .................................................................................... 11
1. vIDA E OBRAS DE ARISTÓTELES ................................................ 15 Uma família de nobres do interior .................................................... 15 Discípulo de Platão ........................................................................... 17 Na corte de tiranos e reis .................................................................. 21 Atenas revisitada ................................................................................ 25 O aspecto da escola ........................................................................... 26 Um novo tipo de intelectual .............................................................. 28 Uma série de tratados ........................................................................ 30 Escritos que ficaram, escritos que se perderam ................................ 33
2. LÓGICA E MéTODO ...................................................................... 39 Organon: os textos lógicos, sua autenticidade, conexão e cronologia relativa. O objetivo de Aristóteles e o seu modo de proceder ................................................................. 39 A dialética: Tópicos e Refutações sofísticas .......................................... 43 A dialética: Categorias e De interpretatione ......................................... 49 O conhecimento científico ................................................................ 64 Os Primeiros analíticos ...................................................................... 64 Os Segundos analíticos ...................................................................... 72 A teoria aristotélica da ciência e o método dialético ........................ 78
3. O ESTUDO DO MUNDO FÍSICO ................................................... 89 O estudo da natureza em geral ......................................................... 89 O movimento .................................................................................... 103 Cosmologia e física dos elementos ................................................... 115 A física da natureza viva .................................................................... 148 A psicologia ....................................................................................... 179 Conclusão do tratado ........................................................................ 196 A ciência aristotélica da natureza ...................................................... 200
4. A FILOSOFIA PRIMEIRA ................................................................. 203 Com Platão e contra Platão .............................................................. 203 A Metafísica: problemas textuais e divisão da obra ........................... 204 A ciência procurada e o ser enquanto ser (livros Α, Β, Γ, Ε, mais α e Δ) .......................................................... 207 A teoria da substância (livros Ζ, Η, Θ, mais Ι e Κ) ......................... 234 A substância imóvel (livros Λ, Μ e Ν) ............................................. 258 Uma ciência pouco unificada ............................................................ 272
5. A FILOSOFIA PRáTICA ................................................................... 275 As obras éticas ................................................................................... 275 Felicidade e virtude ........................................................................... 277 O que depende de nós: a liberdade antes da noção de vontade ........ 284 As virtudes intelectuais ..................................................................... 290 Fraqueza da vontade, prazer e amizade. Uma ética ainda hoje atual 295 A Política. A obra em geral ................................................................ 300 Os princípios da vida política ............................................................ 302 Escravidão e riqueza .......................................................................... 306 Cidadãos e constituições ................................................................... 311 Política prática. O melhor absoluto e o mais realizável .................... 319 Reformas e revoluções ...................................................................... 324 Um projeto bastante realista ............................................................. 328
6. A ARTE DA PALAvRA ..................................................................... 335 A Retórica e o seu contexto ................................................................ 335 A retórica como arte ......................................................................... 337 A argumentação retórica ................................................................... 340 Tipos de topoi; os entimemas ............................................................ 341 Paixões e feitios ................................................................................. 345 Os topoi gerais e os argumentos gerais .............................................. 347 Um livro acrescentado? ..................................................................... 349 A Poética: natureza do tratado ........................................................... 351 Imitação e representação .................................................................. 353 Tragédia: trama e catarse .................................................................. 358 Como construir uma boa trama ....................................................... 360 Caráter, linguagem e pensamento. A épica ...................................... 365
CONCLUSãO. UMA SéRIE DE vICISSITUDES ALTERNADAS ...... 369
CRONOLOGIA DA vIDA .................................................................... 375
BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 377
ÍNDICE DOS NOMES ......................................................................... 389
ÍNDICE DOS CONCEITOS ................................................................. 393
Aristóteles
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Para Cristina
The sublunar world is such fun!W. H. Auden, No, Plato, No
Aristóteles
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AbreviAturASdAS obrAS de AriStóteleS
A. pr. Primeiros AnalíticosA. sec. Segundos AnalíticosAth. pol. Constituição dos AteniensesCat. Categoriasda De animadc De caelodi De interpretationeee Ética a Eudemoen Ética a Nicômacoga De generatione animaliumgc De generatione et corruptioneha Historia animaliumia De incessu animaliumma De motu animaliumMetaph. Metafísicamm Magna moraliamt MeteorológicaOec. Econômicopa De partibus animaliumPhys. Físicapn Parva naturaliaPoet. PoéticaPol. PolíticaRhet. Retóricase Refutações sofísticas
Top. Tópicos
Aristóteles
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introdução
Há muitos guias ao pensamento de Aristóteles, mesmo na minha língua, quer levados a cabo por estudiosos
italianos, quer traduzidos de outros idiomas, partindo do mais antigo, ainda hoje em uso, o Aristóteles de William D. Ross, que continua sendo um dos melhores exemplos do gênero,1 podendo até duvidar-se que seja necessário citar outro. Mas a imagem do filósofo evoluiu entre a segunda metade do século XX e o início do nosso, e muitas ideias que pareciam absolutamente seguras há menos de cinquenta anos agora foram quase completamente abandonadas. Talvez não seja inútil, a este ponto, procurar dar uma nova síntese do pensamento do “Mestre dos que sabem”, a philosopher’s philosopher, um filósofo difícil, não popular, muitas vezes duro, mas central para qualquer reflexão teórica a partir da Antiguidade até os nossos dias.
O volume que apresentamos gostaria de oferecer algumas indicações para a leitura de Aristóteles, tanto sintética como con-fiável. Assim, pensamos percorrer junto com o leitor os escritos de Aristóteles, obra por obra, como se fossem as ruas de uma das mais belas cidades da arte, e ilustrar ao nosso hóspede as belezas, os defeitos e os problemas de modo mais direto e ime-diato possível. Por esse motivo, inspiramo-nos no modelo dos “Guide Rosse” da Touring Club, ao qual não se pode pedir uma
1 Tradução italiana de A. Spinelli, Bari, 1946, III edição revista por C. Martelli, Milão, 1982.
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Introdução
análise aprofundada da história e da estrutura dos monumentos descritos, mas só uma ilustração confiável. O turista que visite um monumento tendo na mão um desses guias encontrará neles uma indicação para onde dirigir o olhar, advertências para não deixar escapar este ou aquele pormenor interessante, de maneira a ter uma ideia geral do que está a ver. Deverá ler outros estudos e ensaios se quiser realizar um estudo científico da história e da estrutura urbanística da cidade que visita e conhecer o debate crítico entre as várias escolas de peritos.
As dimensões da coleção que nos hospeda impõem algu-mas renúncias. Escolhemos não ocupar-nos da evolução do pen-samento de Aristóteles e não tentar expor os textos do corpus em sucessão cronológica. Além do mais, fizemos muito poucas menções às suas obras dirigidas a um público vasto, que nos che-garam em forma fragmentada, para dedicar a nossa exposição aos tratados escolásticos que, como veremos, refletem a sua atividade de docente e organizador da escola peripatética. Nem discutimos as teses sobre a possível presença de estratos cronológicos diver-sos nos tratados, mas expusemos só o seu conteúdo tal como se apresenta ao leitor.
A nossa escolha baseia-se em vários motivos. Em primeiro lugar, concordamos com Pierre Aubenque que se deve considerar como expressão da opinião do filósofo cada texto que não tenha sido repudiado explicitamente por ele. Em segundo lugar, parece--nos preferível oferecer a um leitor – que imaginamos seja movido por interesses filosóficos e não só históricos – uma primeira ima-gem do pensamento aristotélico na sua especificidade, a mais bem definida possível, apesar de o ser em traços amplos e sem muitas nuances, de modo que ele possa confrontar-se com o pensamen-to, aceitar algumas instâncias suas ou recusá-lo de todo. Por fim, achamos importante, para um pensador articulado e complexo como Aristóteles, que é estudado geralmente em seções, por peri-tos deste ou daquele aspecto do seu pensamento, dar uma imagem que realce as linhas de continuidade, os elementos de coerência e as teses que reaparecem em contextos sempre diversos.
Aristóteles
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De fato, com Aristóteles passa-se da filosofia às várias disci-plinas filosóficas, algumas das quais existiam já de certa maneira antes da sua obra, como a dialética, a filosofia da natureza e a po-lítica, e muitas das quais ele fundou, como a lógica, a psicologia, a biologia e a ética filosófica. Todas essas investigações estão agru-padas assim devido a escolhas teóricas fundamentais, que quise-mos realçar e não esconder, para indicar da melhor maneira o que diferencia, a nosso ver, Aristóteles dos outros filósofos, antigos e mais recentes. O que descreveremos poderia ser o pensamento de Aristóteles na fase final da sua vida, durante a segunda estadia em Atenas (cf. cap. 1). Essa escolha poderia ser criticada porque impli-ca a apresentação de um Aristóteles moderadamente sistemático e, consequentemente, sombreia alguns aspectos problemáticos e dialéticos, dúvidas e reticências que às vezes os textos que nos che-garam nos revelam, numa palavra, características, e que a crítica da segunda metade do século XX quis realçar com a esperança de tornar o filósofo antigo mais agradável a um paladar moderno.
Se quiséssemos caracterizar o seu pensamento com três pa-lavras, escolheríamos “investigação”, “otimismo” e “essência”. Aristóteles parte da ideia de que a investigação sobre o mundo tal como este nos aparece é a melhor atividade, a mais apropriada e a mais agradável para o ser humano: “Todos os homens por natureza desejam saber”, diz no início da Metaph. A sua investi-gação baseia-se num forte otimismo gnosiológico, razão pela qual a razão e a capacidade de conhecimento humanas, se forem bem dirigidas, não podem errar, e está dirigida, em qualquer campo do saber, ao estabelecimento da natureza da coisa estudada, não a reduzindo a componentes elementares, mas determinando a sua essência de modo estável e definitivo, de maneira a poder expô--la numa definição. Esse é o ideal filosófico de Aristóteles; nem sempre consegue atuá-lo, e muitas vezes as suas definições são provisórias e requerem discussão e revisão. Todavia, o objetivo da filosofia de Aristóteles é determinar a descrição fundamental de cada tipo de fenômeno, de modo a eliminar os seus aspectos casuais e momentâneos para concentrar-se sobre o que faz com
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que ele seja aquilo que é. Encontrar uma boa definição é compre-ender, eliminar obscuridades e complicações inúteis e ir ao busílis da questão. Ser capaz de o fazer é característica quer dos maiores intelectuais quer dos mais importantes homens de Estado.
A noção de essência, e o modo como esta deve ser entendida, é o campo de desencontro e de acordo da filosofia entre Aristóte-les e o seu mestre Platão. A investigação da essência de uma parte da realidade implica decerto uma redução da multiplicidade da experiência a alguns fatores estruturais, e por sua natureza uma definição considera importantes só alguns dos aspectos de um ente. Mas a ontologia de Aristóteles é muito mais rica do que a de muitos outros filósofos e recusa-se a reduzir a variedade do mundo visível a uma série de combinações matematicamente de-termináveis de poucos constituintes elementares. Como Hegel, mas diversamente de Hegel, Aristóteles é um pensador holista e não elementar.
Um trabalho como o que apresentamos baseia-se inevita-velmente numa ampla série de estudos e pesquisas alheias, mas as dimensões da coleção tornam difícil dar um reconhecimento preciso das nossas dívidas conceituais e das fontes de muitas das interpretações que aceitamos. Na bibliografia encontrar-se-á a lista dos estudos mais úteis para o leitor italiano.
Gostaria de agradecer à editora Carocci por me ter oferecido a ocasião de repensar de modo geral as características de um au-tor tão complexo, bem como a alguns amigos e colegas que leram em parte ou in toto esta monografia dando conselhos e sugestões muito úteis: Maddalena Bonelli, Francesca G. Masi, Stefano Maso e Cristina viano.
Os leitores julgarão se, de alguma maneira, se realizou a am-bição deste texto em ser útil como primeira leitura de Aristóteles.
Veneza, verão de 2013.
Introdução