Arqueologia Da Amazonia Ocidental

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ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA OCIDENTAL:OsGeoglifos do Acre(organizadores)Denise Schaan Alceu Ranzi Martti PãrssinenARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA OCIDENTAL:OsGeoglifos do AcreDenise Schaan Alceu Ranzi Martti PãrssinenUniversidade Federal do Pará Alex Bolonha Fiúza de MelloReitorRegina Fátima Feio BarrosoVice-ReitoraSimone Andréa Lima do Nascimento BaíaPró-Reitora de AdministraçãoSinfrõnio Brito MoraesPró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento InstitucionalLicurgo Peixoto de

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ARQUEOLOGIA DA AMAZNIA OCIDENTAL:

Os

Geoglifos do Acre(organizadores)

Denise Schaan Alceu Ranzi Martti Prssinen

ARQUEOLOGIA DA AMAZNIA OCIDENTAL:

Os

Geoglifos do Acre

Denise Schaan Alceu Ranzi Martti Prssinen

Universidade Federal do Par Alex Bolonha Fiza de MelloReitor

Regina Ftima Feio BarrosoVice-Reitora

Simone Andra Lima do Nascimento BaaPr-Reitora de Administrao

Sinfrnio Brito MoraesPr-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional

Licurgo Peixoto de BritoPr-Reitor de Ensino de Graduao

Ney Cristina Monteiro de OliveiraPr-Reitora de Extenso

Roberto Dall'AgnolPr-Reitor de Pesquisa e Ps-Graduao

Sibele Maria Bitar de Lima CaetanoPr-Reitora de Desenvolvimento e Gesto de Pessoal

EDUFPA Lis ZumeroDiretora

Jos dos Anjos OliveiraDiviso de Editorao

Wilson NascimentoDiviso de Distribuio e Intercmbio

Produo Editorial Denise Schaan Reviso Denise Schaan Alceu Ranzi Fotos Charles Mann Denise Schaan Edison Caetano Sanna Saunaluoma Srgio Vale Mapas localizao geoglifos Jac Csar Piccoli Antonio William F de Melo . Arte-final mapas e croquis Gon Santos Capa, layout e editorizao Oficina de Criao Arte e Diagramao para formato digital (outubro de 2010) Maurcio de Lara Galvo Impresso Grfica Universitria Distribuio Editora Universitria - EDUFPA/Livraria do Campus Rua Augusto Correa, 1. Campus Universitrio Guam - CEP 66075-110 - Belm/PA, Brasil Tel./Fax 55-91-3201-7965 - Tel. 3201-7911 [email protected] Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) (Biblioteca de Ps-Graduao do IFCH/UFPA, Belm-PA) Arqueologia da Amaznia Ocidental: os Geoglifos do Acre / Denise Schaan, Alceu Ranzi, Martti Prssinen (Orgs.). - Belm: EDUFPA; Rio Branco: Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva, 2008. 192 p.: il. Vrios autores. ISBN - 978-85-247-0428-4 1. Arquelogia - Amaznia. 2. Arqueologia - Acre. 3. Sitos arqueolgicos - Acre. I. Schaan, Denise (Org.). II. Ranzi, Alceu (Org.). 111. Prssinen, Martti (Org.). N. Ttulo. CDD - 22. ed. 930.109811 copyright C 2008, Denise Schaan, Alceu Ranzi, Martti Prssinen

Governo do Estado do Acre Arnbio Marques de Almeida JniorGovernador

Carlos Csar Correia de MessiasVice-Governador

Daniel Queiroz de Sant'anaDiretor Presidente da Fundao de Cultura e Comunicao EliasMansour

Carlos Edegard de DeusChefe do Departamento Estadual da Diversidade Socioambiental e Coordenador da Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva

Suely de Souza Melo da CostaChefe do Departamento de Patrimnio Histrico e Cultural

SumrioApresentao ...................................................................................................... 05 Introduo........................................................................................................... 07 Arqueologia do Acre .............................................................................................. 10 As estruturas de terra na arqueologia do Acre .............................................................. 30 Registros de Geoglifos na Amaznia Brasileira .............................................................. 38 Antigas construes geomtricas de terra na Regio de Rio Branco (AC)............................. 41 Os Geoglifos e a atuao da Eletronorte no Acre ........................................................... 64 Observaes sobre as possveis relaes entre os stios arqueolgicos do Acre e um povo Aruak contemporneo ............................................................................. 79 Stios arqueolgicos no Estado do Acre ....................................................................... 90 Sobre os autores ................................................................................................... 112 Documentao Fotogrfica ...................................................................................... 115

ApresentaoDesenhos no cho e no tempom toda a Amaznia - e no Acre no diferente - existem histrias de tesouros

isso. Apenas alguns pesquisadores abnegados esforavam-se para propagar a existncia desses.

Fantsticos e intrigantes stios arqueolgicos e alertar a sociedade sobre a destruio que estavam sofrendo, com prejuzos para a cincia e at para a economia, se considerarmos o interesse que podem despertar em um pblico incalculvel. Entre esses pesquisadores se destaca o paleontlogo Alceu Ranzi, um dos organizadores deste livro e autor de outras

E

perdidos, pirmides, runas de civilizaes antigas ocultas nas regies mais densas da floresta. Durante muito tempo essas histrias eram parte do reino da imaginao e se misturavam com as lendas, mitos ou

publicaes que fizeram chegar a um pblico mais amplo as imagens e reflexes acerca dos geoglifos. Neste pblico mais amplo me incluo, e Vaso "careta", Museu da Borracha, Rio Branco.administrao pblica e da poltica, primeiro na Prefeitura de Rio Branco, depois no governo do

simples causos que o povo da floresta gosta de contar em longas conversas noite adentro.

H

alguns

anos no das

comearam que

a

aparecer estavam Embora

digo isto com uma sensao de falta como a de um aluno que confessa no ter feito o trabalho escolar. Acontece que sou formado em Histriapela Universidade Federal do Acre e as imagens daqueles enormes quadrados e crculos nas terras acreanas me despertavam a alegria de uma grande descoberta e o desejo de participar da aventura das pesquisas e estudos para desvendar essas maravilhas, conhecer sua origem e a vida do povo - ou povos - que as construiu. Entretanto, j estava definitivamente enredado nos compromissos da

notcias, depois fotografias, de grandes desenhos geomtricos nos pastos cho, antes encobertos pela floresta e agora ficavam visveis grandes fazendas. despertassem grande curiosidade, os geoglifos, como passaram a ser conhecidos, permaneceram durante vrios anos sem ter reconhecido seu valor histrico. As instituies que deveriam promover sua proteo como patrimnio e fonte de estudos no estavam organizadas ou sensibilizadas para

Estado, e no pude acompanhar seno como pblico as descobertas e reflexes sobre os geoglifos. Tendo procurado ajudar aos que esto na linha de frente do trabalho cientfico de um modo que a minha condio de dirigente do Estado no apenas permite mas at exige: dotando as instituies de meios para proteger os stios arqueolgicos e recursos para realizar neles as pesquisas necessrias. Agora

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mesmo criamos, na Fundao de Tecnologia do Acre, um setor exclusivamente dedicado a esse trabalho.

desenhos rituais dirigidos aos deuses, plantaes, moradias, centros de servio, refgio... Todas as hipteses at aqui levantadas nos dizem que ainda

podemos ver a nossa prpria condio. Vejamos: se aqueles povos antigos desapareceram depois de um processo civilizatrio avanado e complexo. tambm ns no corremos o risco de ter O mesmo destino?

mais um passo adiante. A pregao dos pesquisadores e estudiosos no foi infrutfera. Encontrou terreno frtil na recuperao do ambiente institucional e na melhoria dos servios pblicos que o Acre viveu durante o Governo da Floresta e que h de prosseguir. Os diversos rgos do governo estadual - como a Fundao Cultural, o Imac e a Funtac -, rgos federais como o Iphan e a prpria Universidade, assm como o Ministrio Pblico, os poderes Legislativo e Judicirio, e at mesmo a imprensa e as organizaes civis, encontram-se hoje mais estruturados e preparados para dar ao patrimnio histrico em geral e aos geoglifos em especial a ateno que merecem.

estamos longe das certezas, mas j podemos colocar em dvida o que antes pensvamos saber sobre os povos que habitavam as terras firmes da plancie amaznica. No eram apenas pequenos grupos nmades que viviam da caa e da coleta de frutos, mas formaram grandes aldeamentos em que se assentavam sociedades complexas e estruturadas. Fico ansioso para que as pesquisas avancem e possamos saber algo acerca de seus contatos com outros povos, o tempo de seu apogeu, como se extinguiram, qual o legado que deixaram para os que vieram depois. Teremos, quem sabe algum avano tecnolgico que nos permita descobrir outros stios sem ter que destruir a floresta? Eles formaro uma rede, um caminho, um mosaico? Revelaro novas

Nos atuais dias de incerteza quanto s mudanas no ambiente do planeta, podemos nos perguntar: sero os monumentos e obras que hoje construmos os geoglifos do futuro, os vestgios que nossa civilizao deixar sobre a terra? Por via das dvidas, desejo que este livro tambm seja distribudo em grande quantidade, que incentive outras publicaes e que elas resistam ao tempo, para que no futuro - qualquer que sejao futuro - esta cincia alimente os mitos, lendas e causos que o povo certamente contar.

Esse apoio institucional me conforta, mas devo confessar que persiste minha vontade de fazer Histria no como governador mas propriamente como historiador. Os artigos reunidos neste livro chamam-me ao estudo e estimulam-me reflexo. Afinal, de que se trata? Os geoglifos podem ser vestgios de fortificaes, estratgias de defesa,

informaes sobre o povoamento das Amricas?

Outras questes vem acrescentar-se a estas, suscitando reflexes filosficas e at com implicaes polticas. A reconstituio do passado sempre nos remete ao presente e a anlise de outros povos tem o dom de nos colocar diante de um espelho onde

Rio Branco, janeiro de 2008

Binho Marques

Governador do Estado do Acre

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Introduo

Nesse livro reunimos diversos artigos j publicados (entre eles um que originalmente foi escrito em ingls e foi traduzido para o portugus) e alguns novos, de forma que agregamos em um s volume todo esse material disperso e de difcil acesso. Com exceo do primeiro artigo, que faz um apanhado histrico das pesquisas na regio, os demais esto dispostos em ordem cronolgica de sua publicao. O captulo Arqueologia do Acre: do Pronapaba s Pesquisas sobre os Geoglifos, de Denise Pahl Schaan, traz um panorama histrico das pesquisas j realizadas no estado, destacando os arquelogos que aqui trabalharam, suas descobertas e interpretaes. Ao citar as publicaes originadas dessas pesquisas, a autora permite ao leitor que procure posteriormente tais referncias, aprofundando-se na leitura de determinados temas, se for de seu interesse. Ficamos felizes por poder publicar nesse livro o artigo de Ondemar Dias e Eliana Teixeira de Carvalho intitulado As Estruturas de Terra na Arqueologia do Acre, originalmente publicado em 1988 e praticamente desconhecido dos arquelogos e do pblico. Esse o primeiro artigo escrito sobre os geoglifos, da sua grande importncia histrica. Registro de Geoglifos na Regio Amaznica

Brasil, de autoria de Alceu Ranzi e Rodrigo Aguiar um artigo curto, publicado na Revista Munda em 2000, que tem importncia por ser a primeira notcia em peridico cientfico publicada por esses autores que tanto fizeram pela divulgao desses stios arqueolgicos, preocupados que estavam com sua preservao. Nesse artigo os autores definem e explicam o porqu de chamarem as estruturas encontradas de geoglifos, denominao essa que adotamos amplamente nessa publicao. Antigas Construes Geomtricas de Terra na Regio de Rio Branco, Acre, Brasil foi publicado originalmente em ingls, em livro produzido pelos finlandeses Martti Prssinen e Antti Korpisaari. De autoria de Martti Prssinen, Alceu Ranzi, Sanna Saunaluoma e Ari Siiriinen esse artigo resultou de uma visita feita pelos pesquisadores da Universidade de Helsinque a quatro stios arqueolgicos na regio de Quatro Bocas, e uma primeira tentativa de sistematizar os dados ento existentes e propor algumas hipteses sobre os construtores das estruturas e suas possveis funes. Alm disso, o artigo discute as teorias sobre a ocupao da Amaznia luz das novas evidncias. Em Os Geoglifos e a Atuao da Eletronorte no

rica em vestgios das antigas populaes que habitaram a regio. Dentre as diversas ocupaes pr-colombianas merecem destaque especial os geoglifos, tema principal desse livro, por tratarem-se de vestgios singulares, que no ocorrem da mesma maneira em outras partes do mundo. Por ser um tipo de manifestao nica, tem o potencial de chamar a ateno do planeta para essa regio. Com esse livro pretendemos oferecer aos estudantes de arqueologia e a todos os interessados em histria, cultura e arqueologia, as informaes at agora disponveis sobre esse importante patrimnio cultural brasileiro. A arqueologia ainda sofre, no Brasil, de dificuldades de comunicao com o pblico. Muitas vezes os artigos produzidos pelos arquelogos so de difcil acesso, ou so escritos em linguagem pouco convidativa ao leitor comum. Alm disso, so poucas as editoras que se dispem a publicar livros de arqueologia, uma disciplina que apenas agora comea a despontar no gosto do pblico e a despertar vocaes entre os mais jovens.

O

s estudos arqueolgicos no estado do Acre nos revelam uma histria surpreendentemente

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Acre, Denise Pahl Schaan descreve o diagnstico arqueolgico realizado a pedido das Centrais Eltricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte entre Rio Branco e Epitaciolndia, quando novos geoglifos foram descobertos. Analisando a atuao da companhia no Acre, a autora lamenta o fato de a empresa no ter cumprido as recomendaes feitas com relao necessidade de ser realizado um programa de educao patrimonial para sensibilizao das populaes locais, tendo em vista os impactos causados por linhas de transmisso na rea. Pirjo Kristiina Virtanen contribui com um belo artigo intitulado Observaes sobre as possveis relaes entre os stios arqueolgicos do Acre e um povo Arawak contemporneo, onde levanta histrias e memrias de indivduos Arawak, talvez descendentes distantes dos construtores de geoglifos, buscando elementos que nos permitam entender os stios arqueolgicos. Trabalhos como esse, que esperamos que sejam feitos tambm por ouros antroplogos, podem ser muito teis para construirmos hipteses sobre os comportamentos humanos que deram origem aos vestgios arqueolgicos que hoje encontramos. Finalmente, terminamos o livro com uma listagem completa dos stios arqueolgicos no Estado do

Acre, que dividimos por reas de cadastro conforme tem sido a prtica tradicional na Amaznia. Cada stio possui uma pequena descrio de localizao, tamanho e tipos de vestgios encontrados, alm de outras observaes disponveis. Diversos stios no possuem coordenadas geogrficas, devido ao fato de terem sido descobertos quando o uso do GPS no era uma prtica freqente, ou no estava disponvel entre os arquelogos. Esperamos, com essa listagem e os mapas que a acompanham, estarmos contribuindo para o gerenciamento do patrimnio arqueolgico, uma vez que o desconhecimento dos stios e da legislao que os protegem tm sido a maior causa de destruio. Para os interessados em conhecer a legislao de proteo ao patrimnio arqueolgico, indicamos o stio do Iphan - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional: www.iphan.gov.br. Finalmente inclumos ao final do livro as recomendaes do Ministrio Pblico Federal no Acre quanto proteo devida aos stios arqueolgicos do estado e em especial aos geoglifos. Essa iniciativa do Ministrio Pblico um marco para a arqueologia brasileira e esperamos que iniciativas semelhantes venham a ser realizadas tambm em outros estados. Esse livro nasce como produto de um grande

esforo empreendido por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, provenientes de vrias instituies de ensino e pesquisa, e que acreditam na enorme importncia acadmica e social das pesquisas sobre os geoglifos da Amaznia Ocidental, a maioria dos quais parece se concentrar no estado do Acre. Em nossa trajetria foi extremamente importante o apoio das seguintes instituies e pessoas s quais queremos deixar registrado nosso mais sincero agradecimento (em ordem alfabtica): Academia de Cincias da Finlndia, Adalgisa Arajo, Altino Machado (www.altino.blogspot.com), Raimundo Angelim Vasconcelos (Prefeito de Rio Branco), Anneli Pauli (Diretor da Academia de Cincias da Finlndia), Anselmo Forneck (IBAMA-Acre), Carlos Edgard de Deus (Biblioteca da Floresta - Rio Branco), Cassiano Marques (Secretaria de Turismo - Acre), Cludia Plens (USP), Dalmo Vieira (DEPAM-IPHAN), Daniel Queiroz de Sant'anna (Fundao Elias Mansour - Acre), Diogo Selhorst (IBAMA-Acre), Edison Caetano (Fotgrafo), Fernando Figalli (Sub-regional IPHAN-Acre), Foster Brown (UFAC), Francisco Guerra Brando (CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolgico), Heli Prssinen, Ima Clia Guimares Vieira (Diretora, Museu Paraense Emlio Goeldi),

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aqueles que mais incomodamos com nossas visitas: Adalberto Arago, Almir Neves de Moraes, Antonio Barbosa Pereira, Antonio Tomaz Rufino, Diognio Messias dos Santos, Jac S, Lencio Lino, Edmundo Makowski, Osvaldo Ribeiro, Raimundo Gonzaga da Silva (Tequinho), Roque Barreiros, Severino Calazans e Wilson Barbosa. Finalmente esperamos que esse livro sirva de inspirao para novas geraes de pesquisadores: Instituto Ibero-americano da Finlndia, Jac Csar Piccoli (UFAC), Jonas Pereira de Souza Filho (Reitor da UFAC), Joventina Nakamura (FUNTAC), Lars-Folke Landgrn (Diretor do Renvall Institute, Universidade de Helsinque), Luiz Henrique Pereira da Fonseca (Ex-Embaixador do Brasil na Finlndia), Maria Dorotea de Lima (2 SR-IPHAN), Maura Imazio da Silveira (MPEG), Miriam Bueno (UFAC), Roberto Feres (UFAC), Rogrio Dias (Gerente de Arqueologia, IPHAN), Sergio Vale (Fotgrafo), Soad Farias, Suely Melo (Biblioteca da Floresta Rio Branco), Tiina Vihma-Purovaara (Academia de Cincias da Finlndia), Universidade de Helsinque, Universidade Federal do Par. A mdia acreana tem sido nossa parceira em nossa luta pela divulgao e preservao dos geoglifos. Uma vez que o patrimnio arqueolgico bem da nao brasileira, consideramos que nada mais justo do que dividir com a sociedade nossas descobertas, j que vivemos em uma sociedade plural e democrtica. Nossos agradecimentos, portanto, aos jornalistas Alan Rick, Charlene Carvalho, Charles Mann, Edmilson Ferreira, lson Martins, Jefson Dourado, Juracy Xangai e Tio Maia; aos jornais A Gazeta, A Tribuna, O Rio Branco e Pgina 20; s TVs Acre e Gazeta, e ao excepcional Altino Machado, que com seu blog nos tem apoiado de maneira muito especial. Nossos mais carinhosos agradecimentos aos proprietrios das terras onde se encontram os geoglifos, que sempre nos receberam de braos abertos, franqueando gentilmente o acesso s suas terras repetidas vezes. Citamos aqui especialmente arquelogos, historiadores, gegrafos, antroplogos, gelogos, educadores e outros que queiram levar frente estudos multidisciplinares com esse patrimnio to espetacular que os antepassados dos povos indgenas amaznicos nos deixaram.

Os Organizadores

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ARQUEOLOGIA DO ACRE:DO PRONAPABA S PESQUISAS SOBRE OS GEOGLIFOS Denise Pahl SchaanPublicado no peridico virtual Histria e-Histria (www. historiaehistoria.com.br), novembro de 2007.

geoglifos.com.br), at ento desconhecidos no Brasil, atraiu o interesse da mdia e da comunidade cientfica nacional e internacional para a arqueologia da regio. Esses stios constituem-se de trincheiras ou valetas escavadas no solo argiloso, formando figuras geomtricas (crculos, retngulos, losangos, hexgonos, octgonos) monumentais (com at 350 metros de dimetro), e caminhos que as conectam. O solo retirado da trincheira normalmente colocado do lado da estrutura, formando uma mureta externa. A trincheira tem profundidades que variam de um a cinco metros. O conjunto de trincheira-mureta pode chegar at 20 metros de extenso, evidenciando um enorme esforo coletivo na sua construo. Essas estruturas foram divulgadas em TVs, jornais e revistas do pas, tendo sido mostradas tambm em outros pases, como o caso do Japo, onde um documentrio exibido recentemente obteve altos ndices de audincia, o que fez com que a equipe de jornalistas retornasse ao Acre em setembro de 2007 para tomar novas imagens e informaes. No momento em que se retomam as pesquisas arqueolgicas no estado, atravs do esforo conjunto de pesquisadores da Universidade Federal do Acre, Universidade de Helsinque, Museu Paraense Emlio

Goeldi e Universidade Federal do Par, com foco nos espetaculares geoglifos, resolvi reunir, nesse artigo, todas as informaes disponveis sobre os trinta anos de pesquisas arqueolgicas no estado. O objetivo fazer um diagnstico da situao do conhecimento sobre a ocupao pretrita da rea para conhecermos as bases sobre as quais os futuros estudos iro se desenvolver.

As Pesquisas Iniciais O PRONAPABA

Introduo

A

s pesquisas arqueolgicas no Acre iniciaramse tardiamente, se compararmos com

N

ocupao antiga da Amaznia comea a despertar o interesse de cientistas e pessoal

ligado a museus a partir do ltimo tero do sculo XIX, principalmente a partir dos esforos de Domingos Soares Ferreira Penna, que havia fundado em Belm, em 1866, a Sociedade Filomtica, o embrio do que viria a se tornar o Museu Paraense (Barreto 1992). As primeiras pesquisas foram realizadas principalmente no Amap e Par, onde, no rio Marac (AP) e ilha de Maraj (PA) descobriram-se antigos cemitrios indgenas. Esses locais e outros como o sambaqui da Taperinha, os sambaquis do Salgado e o stio Tapaj na cidade de Santarm foram alvo da ateno de cientistas, viajantes e jornalistas durante tambm a

outras reas da bacia Amaznica. Alm disso, assim como em outros estados da regio, com exceo provavelmente do Par, foram poucos os projetos que l se desenvolveram. A falta de investimentos em pesquisa e a carncia de recursos humanos em arqueologia, uma disciplina relativamente nova no Brasil, tambm contriburam para que as poucas pesquisas acontecessem de forma esparsa e pontual. Nos ltimos anos, no entanto, a descoberta e

divulgao de stios do tipo geoglifo (ver www.

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Assim como o PRONAPA, o PRONAPABA deveria realizar-se em cinco anos (de 1977 a 1981). O objetivo do PRONAPABA era, segundo Ondemar Dias (1977:2), estabelecer os padres de povoamento, as rotas de difuso das antigas populaes pr-histricas e as caractersticas culturais na regio amaznica. Em reunio de planejamento, Betty Meggers e Clifford Evans dividiram a regio amaznica (Figura 1) entre aqueles pesquisadores que j haviam participado do PRONAPA e tinham experincia com a metodologia de coleta de dados do programa (explicitada em Evans e Meggers 1965). Ao professor Ondemar Dias, que j havia sido responsvel pelos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais durante o PRONAPA, coube, ento, o estado do Acre1. As investigaes arqueolgicas no Estado do Acre Figura 1 Mapa das reas de Pesquisa do Pronapaba (em Simes 1977, Barreto, 1992) primeira metade do sculo XX, ficando o restante da Amaznia praticamente desconhecida com relao aos seus vestgios arqueolgicos. Esse quadro se alterou somente com a realizao do Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas na Bacia Amaznica PRONAPABA, organizado atravs de uma parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e TecnolgicoCNPq e a Smithsonian Institution, de Washington. Esse programa de levantamento e estudo de stios arqueolgicos foi a verso amaznica de um primeiro e bem-sucedido projeto coordenado pelos pesquisadores americanos Betty Meggers e Clifford Evans, o PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas) que havia, de 1965 a 1970, mapeado parte do territrio brasileiro. iniciaram-se em 1977. Em Rio Branco, Ondemar Dias e Franklin Levy, ambos do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB-RJ), realizaram contatos com autoridades do governo e a Universidade Federal do Acre, e procuraram informar-se sobre a ocorrncia de stios arqueolgicos, privilegiando inicialmente as reas que ofereciam maior risco de danos ao1 As informaes sobre as pesquisas do PRONAPABA foram obtidas em relatrios de campo preparados pelo Prof. Ondemar Dias, que constam da bibliografia, relativos aos anos de 1977 a 1980.

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patrimnio arqueolgico em razo das atividades humanas. Na Universidade Federal do Acre, Dias conheceu o aluno Alceu Ranzi, colocado disposio pela Diretora do Centro de Documentao Histrica para acompanhar seus trabalhos e aprender sobre a pesquisa arqueolgica, j vislumbrando uma continuidade dos trabalhos no futuro atravs da Universidade (Dias 1977). O trabalho de localizao dos stios arqueolgicos contou com a ajuda de moradores locais, sempre iniciando por centros urbanos e seguindo informaes que os levavam para reas mais recnditas. Em geral, a metodologia de trabalho consistiu na coleta de artefatos em superfcie, um mapeamento topogrfico preliminar e documentao fotogrfica. Em alguns casos fez-se uma pequena sondagem, chamada corte estratigrfico, com o objetivo de coletar uma maior quantidade de artefatos. Segundo Dias (1977:4), onde a tipologia dos stios permitia a abertura de cortes estratigrficos, estes eram estabelecidos para o conhecimento de sua composio, com a conseqente coleta diferenciada do material. Em dois casos, tivemos que abrir grandes cortes para a retirada de urnas funerrias de grandes dimenses.

A denominao dos stios encontrados seguiu as normas estabelecidas em publicao de Simes e Arajo-Costa (1978), que dividia a Amaznia em reas geogrficas, conferindo a cada rea uma sigla constituda pela abreviatura do estado e da rea (ver mapa na listagem de stios, final desse volume). Em cada uma dessas reas os stios recebiam um nmero seqencial e um nome individual, geralmente seguindo a denominao local. Esse sistema permitia que no houvesse duplicao de registros e tornava fcil a identificao dos stios. No primeiro ano de pesquisas do PRONAPABA no Acre (1977) foi prospectada a rea n 13 (Figura 1), englobando as bacias dos rios Iquiri (5 stios), Abun (4 stios), Acre (5 stios) e Purus (6 stios), encontrando-se um total de 20 stios arqueolgicos, localizados nas reas AC-IQ (Rio Iquiri 8 stios), ACRB (Rio Branco 1 stio), AC-SM (Sena Madureira 6 stios) e AC-XA (Xapuri 5 stios). Os pesquisadores classificaram os stios encontrados em quatro tipos, segundo caractersticas morfolgicas e ecolgicas (Dias 1977:6): a) cemitrio de urnas; b) stio de concentrao superficial de peas; c) stios com estruturas; e d) stios habitaes em terras altas. Essa classificao, no entanto, no

contemplava stios mutuamente excludentes, uma vez que encontraram estruturas de terra tambm nos chamados stios-habitao em terras altas. Os dois cemitrios de urnas encontrados localizavam-se em zona de mata fechada, na bacia do rio Purus e, segundo os pesquisadores, no estavam associados a nenhuma estrutura habitacional: em cada stio localizamos uma grande urna com mais de 80cm de altura e 60cm de dimetro. Em ambos os casos as peas estavam preenchidas de terra arenosa esbranquiada, de gro muito fino e inmeros cacos cermicos colocados horizontalmente, na poro mediana das peas, parcialmente selando-as. No fundo de uma das peas encontramos pequenos pedaos de cacos e um fragmento ltico. Em um dos casos registramos pequena pea cermica globular colocada 40 cm ao norte da grande urna (Dias 1977:6). Estes seriam os stios AC-SM-2: Moro e o stio AC-SM-4: Paje, ambos localizados no vale do rio Iaco e posteriormente assignados fase Iaco. Em quatro stios situados em zona de mata, mas perto aos campos, na bacia dos rios Iquiri e Abun, prximo a nascentes de igaraps, foram encontradas concentraes de peas de cermica pequenas na superfcie ou cobertas por camada fina de terra, em

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uma rea de 6 por 4 metros. Outros quatro stios caracterizaram-se por serem formados por estruturas de terra circulares (de 20 a 120 metros de dimetro) na forma de valas ou trincheiras, emolduradas por uma pequena mureta externa. Mas em dois desses stios (ACXA-1: Palmares e AC-RB-01: Boca Quente) no foi encontrada cermica. As valas tinham cerca de 1 m de profundidade e 8m de largura. E em outros dois stios no havia vala, apenas a mureta com 1m de altura e 8m de largura (Dias 1977: 7). Outros dez stios foram localizados em reas de terra firme, prximos s margens de igaraps que drenam guas para rios principais, distantes cerca de 300m dos mesmos e com camada ocupacional pouco profunda. Em quatro desses stios tambm foram encontradas estruturas de terra semelhantes s descritas acima (Dias, op. cit.). Em 1978 realizou-se a segunda etapa de campo do programa, que deveria englobar a rea n 16, compreendendo a regio das cabeceiras do rio Juru, abaixo e acima de Cruzeiro do Sul, dentro dos estados do Acre e Amazonas (Figura 1). Por esse motivo, utilizaram como base a cidade de Cruzeiro do Sul (Dias e Carvalho 1978:1), dividindo sua atuao entre o rio

Juru e o rio Moa, onde prospectaram as margens do rio at 8 km para o interior. Aproveitaram tambm para retornarem a Rio Branco e checarem outras informaes obtidas. Alm de Dias, participaram da pesquisa Franklyin Levy e Eliana Carvalho, ambos tambm pesquisadores do IAB-RJ. Em Rio Branco localizaram dois stios arqueolgicos, um deles em uma plantao de seringueira, composto por cinco reas com disperso de fragmentos cermicos totalizado cerca de 500m de extenso (AC-IQ-9), alm de outro stio com estrutura de terra (AC-XA-6: Palmares II). Na regio do rio Juru localizaram 12 stios arqueolgicos, sendo 10 na rea PV (Porto Valter) e dois na rea CS (Cruzeiro do Sul). Em Cruzeiro do Sul localizaram apenas um stio, no seringal Baro de Rio Branco (AC-CS-3: Stio Baro). Na regio do rio Moa localizaram cinco stios, todos da rea CS (Cruzeiro do Sul). No total foram identificados 20 stios no segundo ano de pesquisas. Os autores ressaltam que os stios so afastados do rio principal e provavelmente representam um padro de adaptao tpico de terra firme (...) situados de 2 a 8 km das margens dos rios, apesar do acesso a igaraps. No relatrio de 1978, os autores no esboam nenhuma tipologia

de stios, mas tecem comentrios sobre a cermica encontrada, que relatam ser temperada com caraip ou quartzo, apresentando incises sobre bandas, engobo, pintura e uso abundante de ungulado e corrugado. Os resultados preliminares da pesquisa no Acre foram apresentados e avaliados no 1 Seminrio do PRONAPABA realizado no Museu Paraense Emlio Goeldi, em Belm, em fevereiro de 1979, que indicou a necessidade de complementar a prospeco realizada em 1978, e tambm de prospectar novas reas. Por isso dividiram a equipe em duas, estabelecendo uma base em Cruzeiro do Sul (rea 16) e outra em Tarauac (para prospectar a regio entre as reas 13 e 16). Como nos anos anteriores, os pesquisadores entrevistaram pessoas ao longo dos rios sobre a existncia de material arqueolgico (cacos, pedras-de-raio), conferindo as informaes atravs de deslocamento at os locais indicados. Em carta de encaminhamento do relatrio de 1978 a Mrio Simes, arquelogo do Museu Paraense Emlio Goeldi responsvel pela coordenao do PRONAPABA juntamente com Betty Meggers e Clifford Evans, Ondemar Dias e Eliana Carvalho comentam ter finalizado a anlise

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da cermica coletada em 1977 e estarem em fase de interpretao dos dados; j teriam ento sido diagnosticadas duas fases, pertencentes a uma mesma tradio, que lhes parecia bem diferente do material coletado em 1978. No terceiro ano de pesquisas, em 1979, 27 novos stios foram encontrados. A prospeco no rio Muru, afluente do Tarauac, alcanou at 150km de distncia da cidade, tendo sido identificados nove stios (AC-TA-1 a 9), a maioria dos quais distando entre 500 e 2.000 metros das margens do rio. No rio Tarauac foram encontrados sete stios (AC-TA-10 a 16), sendo dois prximos ao rio (um deles composto de polidores fixos de arenito) e os demais na mata, ainda que prximos de igaraps (Dias 1979:6). Apesquisa de 1979 no rio Moa buscou complementar a pesquisa do ano anterior, que teria indicado essa regio como de passagem, no de fixao (op.cit.:7). Como no tinham alcanado o alto curso do rio em 1978, deixando de atingir a Serra do Divisor, dessa vez foram at o igarap Itu, junto fronteira com o Peru. Localizaram outros cinco stios (AC-CS-9 a 13), alm de fazerem outro corte estratigrfico no sitio Prosperidade, descoberto no ano anterior. No rio Azul, que nasce na Serra do Divisor e afluente

da margem direita do rio Moa, encontraram seis novos stios (AC-CS-14 a 19), sendo o de ocupao mais intensa o stio AC-CS-18: Stio do Erclio, que apresentou 45cm de depsitos (op.cit.:9). No quarto ano de pesquisas (1980), Dias e sua equipe, atendendo s orientaes dos coordenadores do PRONAPABA, investigaram os rios Purus e Juru. Segundo Dias (1980:2), para determinar a extenso geogrfica das fases diagnosticadas em torno de Cruzeiro do Sul e que atingiram o curso do rio Moa fazia-se necessrio prospectar o alto-mdio curso do Juru. Da mesma forma, pretendiam verificar a expanso de complexos culturais identificados no 1 ano de pesquisas e por isso prospectaram o rio Purus, entre as cidades de Manoel Urbano, no Acre, e Boca do Acre, no Amazonas. Na bacia do Juru encontraram apenas seis stios, distantes em mdia 60km entre si, todos em terras firmes noinundveis, sendo trs prximos ao rio e outros no interior. No rio Purus (margem esquerda) tambm encontraram apenas seis stios, trs no municpio de Manuel Urbano e trs em Boca do Acre, no Amazonas. Em seu relatrio, Dias ressalta que a pesquisa possibilitou verificar os limites das fases Acuri (Tradio Acuri) e Iaco (Tradio Quinari).

As diferenas entre as cermicas dos stios de vrzea e terra firme tambm sugeririam novos modelos de padres adaptativos (Dias 1980:9).

Anlise e Interpretao dos Resultados das Pesquisas do PRONAPABA

foram objeto de prospeco durante o PRONAPABA demorou a ser publicada, aparentemente porque as anlises nunca foram totalmente concludas (em 1994 o material ainda estava sendo analisado, segundo Dias (s/d)2 e havia uma certa dificuldade em adequar o material ao esquema de fases e tradies, como veremos adiante. Alm disso, a cermica estava sendo analisada por Mauriclia Barroso, que infelizmente veio a falecer precocemente no final da dcada de 1990, interrompendo, dessa maneira, o trabalho (Dias, op.cit.).2 Obtivemos informaes sobre os trabalhos realizados por Ondemar Dias e alunos seus no Acre entre 1992 e 1994 atravs de artigo indito intitulado As Estruturas Arqueolgicas de Terra no Estado do Acre, Amaznia Ocidental, Brasil. Um Caso de Resilincia?, que nos foi enviado gentilmente pelo prprio autor, Ondemar Dias. Fiquei sabendo que o artigo foi finalmente publicado (Dias 2006), mas ainda no tive acesso verso final.

A

interpretao dos dados arqueolgicos sobre a ocupao pr-colonial das bacias que

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Dentro da perspectiva histrico-cultural que orientava o programa, e dentro dos cnones da ecologia cultural, todos os povos da Amaznia tinham alcanado o mesmo nvel de desenvolvimento eram tribos da floresta tropical e por isso toda quebra de continuidade no registro arqueolgico era entendida como resultado de difuso ou migrao. Uma vez que a explicao j estava pronta, a tarefa dos pesquisadores era apenas a de classificar a cermica em fases e agrup-las em tradies, para identificar as rotas de migrao e difuso. Nesse sentido, a rea estudada durante o PRONAPABA foi entendida como tendo sido ocupada por duas grandes tradies: a Tradio Quinari, na bacia do rio Purus, e a Tradio Acuri, na bacia do rio Juru (Dias e Carvalho 1981, citado por Dias s/d). Seriam correlatos arqueolgicos de populaes horticultoras tpicas de terra firme, originrias, segundo os autores, do Peru, Bolvia e Rondnia, e que teriam ocupado a terra firme at a rea das primeiras cachoeiras; no caso das populaes do Juru, teriam alcanando at o incio da vrzea. A classificao em fases, assim como usadas pelo PRONAPA e PRONAPABA, derivava dos resultados das seriaes a partir das propores da presena de

tipos cermicos em nveis arqueolgicos. Segundo Meggers (1990:191), uma fase consiste no conjunto de stios com mostras de cermica que podem ser interdigitadas em uma nica seqncia seriada. Alm disso, uma fase pode ser entendida como a representao de uma unidade social similar, a saber, uma comunidade que consiste em uma ou mais aldeias que interagem mais intensamente entre si do que com aldeias de outras comunidades da mesma tribo ou filiao lingstica. A tradio era definida por um conjunto de fases compartilhando um conjunto de tcnicas decorativas diagnsticas. No tivemos acesso a nenhuma publicao que descrevesse a Tradio Acuri, somente sobre a Tradio Quinari e suas cinco fases, que comentamos abaixo.

a associao com stios de estruturas de terra e grande variabilidade de formas cermicas entre os stios, onde apenas um tipo de tigela acontece em todas as fases. A rea de disperso dessa fase seria limitada pelos rios Abun e Iaco e pela cidade de Xapuri e a fronteira do Acre com o Amazonas. Dias apresenta como problema o fato de que a fase Jacuru, apesar de apresentar maior concordncia ao conjunto no que diz respeito s formas de vasilhames, no possui as estruturas de terra, enquanto que a fase Xapuri, que possui as estruturas, seria a mais discordante com relao aos vasilhames. Abaixo fazemos uma pequena descrio dessas fases com base em Dias (s/d).

Fase QuinariEstende-se das proximidades de Rio Branco, no rio Acre, at as proximidades do Abun, introduzindose na rea da fase Iquiri, com quem compartilha os campos naturais(Dias s/d). As estruturas de terra estariam mais associadas a essa fase, ocorrendo apenas uma delas na fase Iaco e outra na fase Xapuri (Ncoli 2000:50). A cermica dessa fase descrita como quebradia, porosa, manufaturada com antiplstico predominante de caraip e tratamento

Tradio Quinari

sendo a ltima a nica no associada com estruturas de terra (em algumas publicaes a fase Jacuru no consta como fazendo parte dessa tradio). A maior similaridade se daria entre as fases Quinari, Iquiri e Iaco, predominando o tempero de caraip,

A

Tradio Quinari composta por cinco fases: Quinari, Iquiri, Iaco, Xapuri e Jacuru,

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Fase IquiriEstende-se da cidade de Rio Branco a Xapuri , ocupando a mesma rea entre o Aquiri e o Abun, mas mais prximo do Abun, entre seu curso e a rea de domnio da fase Quinari (Dias, s/d). A cermica descrita como mais dura e melhor trabalhada que a da fase Quinari, com melhor alisamento das paredes externas. O tempero usado o caraip de grandes dimenses (maior do que 2mm de espessura). As decoraes mais comuns so o banho vermelho e engobo branco com faixas e linhas vermelhas Vaso Careta, acervo do Museu da Borracha, foto de Edison Caetano. de superfcie irregular. Na anlise dos fragmentos constatou-se que pouqussimos eram decorados, no caso com banho vermelho, engobo branco, linhas incisas e bicromia (linhas vermelhas ou pretas sobre engobo branco). H fragmentos com roletes no obliterados na parte externa, alm de apliques. A forma clssica seria a do vaso composto por cilindro inserido em um globo (Figura 2). Ocorrem pratos ou assadores, tigelas arredondadas, suporte de panelas (Dias s/d). pintadas, sendo o principal tipo decorativo. H tambm o uso de apliques (para formar as faces dos vasos-careta), pintura preta, linhas incisas e excisas em menores propores. H uma diversidade muito grande de formas de vasilhames, alguns existentes na fase Quinari, outros nicos.

somente esse tipo de material. A decorao rara, reduzindo-se a banho e pintura vermelha. Em alguns fragmentos h marcas de esteiras (op.cit.). Ocorrem urnas, tigelas de bocas extrovertidas, vasos cnicos, pratos e suportes de panela cilndricos, alm de bases em pedestal (op.cit.). Em stios da fase Iaco foram encontrados sepultamentos em urnas e, etnograficamente sua rea de ocorrncia coincide com aquela de ocupao Aruaque (Ncoli 2000:49).

Fase XapuriDefinida por trs stios, localizados na margem direita do alto rio Acre, em rea no navegvel durante o vero, prximo fronteira com a Bolvia. A cermica tem paredes alisadas, mas ainda visvel nessas o antiplstico. Do total de 608 fragmentos coletados, a maioria apresenta antiplstico de areia, carvo e hematita, sendo o caraip utilizado em menor escala. Os tipos decorados so menos de 14% do total, ocorrendo banho vermelho, incises, escovado, pintura em zonas negras e linhas vermelhas. As formas so tigelas, vasos cnicos, e outras. Aqui ocorre a forma tpica da tradio Quinari (vaso cilndrico inserido em globo), sendo o motivo pelo qual a fase Xapuri foi vinculada a essa tradio,

Fase IacoEncontrada em torno da cidade de Sena Madureira, no rio Iaco e seus tributrios Caet e Macau (Dias s/d). A cermica apresenta formas e caractersticas da pasta semelhantes, sendo a pasta temperada com caraip e hematita, havendo grandes propores de fragmentos (36%) com

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uma vez, que, diferentemente das outras fases, o caraip como antiplstico no predominante.

publicar algo sobre elas em 1988, em um Boletim do IAB, de circulao restrita. Nesse trabalho, intitulado As Estruturas de Terra na Arqueologia do Acre (reproduzido nesse volume), ele descreve oito desses stios, a maior parte deles compostos de estruturas circulares. O autor se pergunta ento qual seria a funo dessas estruturas. Levanta inicialmente a hiptese de que seriam estruturas defensivas, mas pondera que, nesse caso, a mureta deveria estar por dentro do crculo e no por fora. Por fim, com base em analogia etnogrfica considera plausvel a hiptese de que o acmulo de terra serviria plantao de abacaxis, que formariam uma barreira baixa, mas que por suas ramagens espinhentas impediriam animais e pessoas descalas de cruz-las. Nos anos de 1984 e 1985, o Prof. Oldemar Blasi, arquelogo do Museu Paranaense, juntamente com o Prof. Jac Csar Piccoli, antroplogo da Universidade Federal do Acre - UFAC, desenvolveram escavaes no stio AC-XA-07: Los Angeles (104248 S, 681046O). Localizado no municpio de Senador Guiomard, o stio possui uma estrutura circular de cerca de 200 metros de dimetro, valeta com largura de 2 a 3 metros e fosso atingindo em alguns pontos at 3 metros de profundidade. Segundo Piccoli (com.

pess. 2007), os resultados daquela pesquisa foram descritos em relatrio institucional e esto sendo preparados para publicao. Em julho de 1994, juntamente com pesquisadores ligados ao IAB e os professores Mauriclia Barroso e Marcus Vincius Simplcio das Neves, do Departamento do Patrimnio Histrico do Estado do Acre, entre outros, Ondemar Dias volta ao Acre para escavar o mesmo stio, Los Angeles. As pesquisas foram patrocinadas pela National Geographic Society (Grant n. 5.200/94) e os dados integrados ao PRONAPABA. Segundo Dias (s/d), havia trs razes principais para escavar o stio Los Angeles: o grande tamanho da estrutura (que, com 200m de dimetro era a maior conhecida at ento), seu bom estado de conservao e o fato de que a cermica l encontrada no pertencia a nenhuma das fases j identificadas. Esse stio foi at agora o mais intensamente escavado no Acre, razo pela qual vale a pena nos determos um pouco mais nele. Infelizmente, no tivemos acesso a nenhuma documentao de campo, como perfis estratigrficos e mapas, apenas descrio sumria em Dias (s/d). Segundo o autor foi feito mapa topogrfico, abertos cortes estratigrficos e feito um corte transversal em uma das muretas

Fase JacuruDefinida por trs stios, na rea entre Manoel Urbano, no Acre e Boca do Acre, no estado do Amazonas, todos em terra firme - rea de mata e colinas suaves (Dias s/d). A cermica possui faces alisadas, com tempero de caraip visvel na superfcie, como nas demais fases. Aqui, no entanto, o caraip bem mais fino. Mais de 10% da amostra tem banho vermelho, aparecendo em poucos fragmentos a decorao incisa ou acanalada. Ocorrem os vasos diagnstico da tradio, mas outras formas diferentes tambm. Ncoli (2000:50) menciona a fase Jacuru como no fazendo parte da Tradio Quinari (tambm no h meno dessa fase em Dias e Carvalho 1988).

As Pesquisas nas Dcadas de 1980 e 1990

A

pesar de ter notado a presena de estruturas de terra circulares em forma de valetas

durante suas pesquisas em 1977, Dias s veio a

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destrudas por estrada vicinal. As escavaes foram feitas sobre uma linha de sentido Norte-Sul, que partiu do centro do stio at seu exterior, totalizando 14 escavaes 1x1m, ampliadas quando necessrio. A ocorrncia de cermica variou do centro para a periferia, sendo escassa no centro e mais abundante prximo valeta. Entre 27 e 40m do centro ocorreu material ltico, interpretado como uma oficina (Dias s/d). Ocorreu uma grande quantidade de cermica no interior da valeta, onde os depsitos chegaram a 2,2m de profundidade (no sabemos, no entanto, se em relao superfcie do stio ou a partir do fundo da valeta). A limpeza de perfil realizada no conjunto valeta-mureta, com 20 metros de extenso (mureta com 104cm de altura e valeta com 1,60m de profundidade com relao superfcie do stio), mostrou a existncia de cermica, ossos e ltico na mureta externa. Pela existncia de material cermico na valeta, Dias (s/d) conclui que houve habitao dentro as valetas tambm, mesmo que espordica e ocasional (o que poderia indicar o seu uso em momentos de crise, ou nas friagens, por exemplo). No entanto, mais provvel que, uma vez que a cermica era usada como material construtivo para as muretas, a eroso das mesmas

teria levado o material para dentro das valetas, que certamente eram bem mais profundas na poca em que o stio era ocupado. Alm do stio Los Angeles, outros stios foram pesquisados entre 1992 e 1994 por Ondemar Dias e seus alunos e colaboradores, mas os resultados dessas pesquisas no esto disponveis. Em 1996 e 1999 foram feitas coletas de cermica e argila por equipes da Universidade Federal Fluminense em alguns stios, cujas anlises resultaram em duas teses de doutoramento em Geoqumica, das pesquisadoras Rose Mary Latini (1998) e Ieda Gomes Nicoli (2000), cujos resultados discutimos a seguir.

Sabemos

que

os

arquelogos

comumente

analisam e classificam a cermica com base em suas caractersticas petrogrficas. Entretanto, por economia de tempo e esforos, essa anlise feita com o uso de lupas binoculares que, ainda que tenham a capacidade de melhorar a viso humana, no possuem a capacidade de evidenciar a composio qumica do fragmento. Como resultado, o arquelogo produz uma classificao baseada mais na aparncia do que em critrios objetivos. Muitas vezes, o arquelogo pressupe que o conjunto cermico encontrado em um stio realmente possui uma unidade que deve ser refletida na classificao. Na prtica, diferenas podem ser ignoradas ou superestimadas sem uma base petrogrfica realmente consistente. Esse artigo mostra exatamente isso. Latini analisou 162 fragmentos cermicos classificados por Dias em vrias fases: 20 pertenciam fase Quinari, 18 Iquiri, 22 Iaco, 11 Jacuru, 17 Xapuri e 74 fragmentos eram provenientes do stio Los Angeles, que no havia sido enquadrado em nenhuma das fases conhecidas (Latini et al. 2001:725). O mtodo utilizado para a identificao dos componentes qumicos foi a AAN (Anlise por Ativao Neutrnica). Esse tipo de anlise consiste

O Estudo Geoqumico da Cermica

E

m sua tese de doutorado, Rose Mary Latini (1998) analisa amostras de cermica das

fases da Tradio Quinari. Os resultados desse trabalho foram publicados na Revista Qumica Nova, de 2001, de forma resumida, em um artigo intitulado Classificao de Cermicas Arqueolgicas da Bacia Amaznica (Latini, Bellido, Vasconcellos e Dias 2001).

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Latini concluiu que houve uma concordncia de 70% entre sua classificao e a dos arquelogos. As fases arqueolgicas Xapuri, Iquiri e Quinari foram as que apresentaram maior concordncia, e as fases Iaco e Jacuru as que menos se definiram como um grupo homogneo. Quanto ao stio Los Angeles, o resultado da anlise mostra porque os arquelogos tiveram dificuldade em encontrar ali uma fase. Apenas 54% dos fragmentos mostravam alguma homogeneidade, enquanto que o restante formava um grupo com amostras da fase Iaco e Jacuru, alm de algumas poucas amostras das fases Xapuri e Quinari (op.cit.: 728-9). O artigo conclui que as fases Xapuri, Iquiri e Quinari possuem consistncia, enquanto que os fragmentos de outras fases deveriam ser reclassificados. No caso da pesquisa de Ieda Ncoli, foram Stio Alto Alegre, foto de Srgio Vale na irradiao das amostras atravs de sua exposio a um fluxo de nutrons e a conseqente medida da atividade induzida por meio de espectroscopia gama (op. cit.:724). Uma vez que cada elemento qumico possui uma assinatura diferente, eles podem ser identificados e o conjunto de elementos e sua quantidade em cada fragmento confere uma identidade nica a cada um. Em seguida, se processam os dados obtidos por meio de uma anlise estatstica multivariada, que permite correlacionar os objetos com base em mltiplas variveis e agruplos por semelhana. A partir dessa anlise, Latini pde fazer uma classificao em grupos e confrontla com a classificao feita pelos arquelogos. estudadas amostras de cermica provenientes de trs stios, localizados em reas distintas do estado: stio AC-SM:01: Lobo (Sena Madureira, ao norte), stio AC-IQ-11: Alto Alegre (Figura 3) (prximo de Rio Branco) e stio AC-XA-8: Ximapanu I, no municpio de Xapuri, portanto, ao sul). No momento do estudo apenas Lobo estava designado fase Iaco, os outros dois stios no tinham suas fases determinadas. O

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No stio Lobo, onde a estrutura circular de terra de 50m de dimetro foi descrita como bastante impactada por uma estrada, atividades agrcolas e agropecurias, foram encontrados duas urnas e trs vasos quebrados (em local externo estrutura), enquanto que no interior no foram encontrados fragmentos. No total foram coletadas 66 amostras de cermica nos trs stios. Os resultados da datao por termolumincescncia obtidos por Ncoli (2000:120) mostram grande antigidade e persistncia temporal das ocupaes, o que de certa forma contrasta com a pouca profundidade das camadas arqueolgicas e leva a desconfiar das datas. Dessa maneira, o stio Ximapanu I teria sido ocupado entre 3 mil e 2 mil anos antes do presente, o stio Alto Alegre entre 2.250 e 1.850 anos AP o stio Lobo em 1850 anos AP e o stio Los , , Angeles entre 2.190 e 1260 anos AP (com mais de 800 Localizao stios estudados por Ieda Nicoli objetivo era tanto estudar a cermica, como Latini tinha feito, assim como datar as ocupaes e assim entender a cronologia de disperso dos construtores das estruturas de terra. A metodologia de estudo da cermica baseou-se na composio qumica dos fragmentos por meio da ativao neutrnica e anlise mineralgica por difratometria de raios X, enquanto que a datao foi feita pelo mtodo da termoluminescncia (Ncoli 2000). Para a coleta de amostras de cermica e sedimento foram feitas tanto coletas de superfcie quanto escavaes nos stios cima mencionados. anos de ocupao contnua, ou vrias re-ocupaes). As datas mostrariam que os stios do sul seriam mais antigos que os do norte, caso esses dados pudessem ser usados como amostras vlidas para outros stios com estruturas de terra. A anlise da cermica indicou que as cermicas do Alto Alegre formam um grupo bem independente

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e que as cermicas dos stios Lobo e Xipamanu I apresentariam uma interface em termos de resultados, atribudos tecnologia de fabricao das cermicas (tempero, areia, argila, etc) (Ncoli 2000:132). A autora concluiu que apesar de Ximapanu I e Alto Alegre estarem mais prximos geograficamente (Figura 4), pertenceriam a fases diferentes, por causa da composio da cermica. Apesar da distncia entre Xipamanu I e Lobo, as semelhanas na cermica indicariam uma direo preferencial de um para outro. Ambos os trabalhos so bastante interessantes, mas seus resultados devem ser vistos com cautela, uma vez que o pequeno nmero das amostras no permite confiabilidade estatstica. De qualquer modo, sugerem a fragilidade da classificao em fases realizada anteriormente. Pela descrio das fases, percebe-se que h uma grande variabilidade de formas de vasilhames, e que outro tipo de abordagem, como por exemplo, a identificao de provveis conjuntos funcionais, poderia ter gerado melhores resultados e indicado a existncia de diferentes atividades desenvolvidas pelos ocupantes dos stios. Alm disso, o fato de os fragmentos terem sido coletados sem a

preocupao de relacion-los com outras feies arqueolgicas dentro dos stios restringe a possibilidade de interpretao dos artefatos.

grande crculo, tambm prximo BR-317, nas imediaes da sede do antigo Seringal Bagao, prximo a Rio Branco (hoje chamado stio AC-IQ-13: Fazenda Colorada). Apesar de ter participado das pesquisas do Prof. Ondemar Dias em 1977, Alceu na poca era muito inexperiente e ele, como os outros, no possuam a real dimenso daquele achado. Dando-se conta, no entanto, de que aquelas estruturas construdas pela ao humana eram algo de grandioso, passou a partir de ento a procur-las e localiz-las sistematicamente. Em 8 de abril de 2000, Ranzi realizou, juntamente com o fotgrafo Edison Caetano, e graas ao patrocnio do Gabinete Civil do Governo do Acre, duas horas de sobrevo sobre a mesma regio onde havia avistado o geoglifo circular em 1999, o que lhe rendeu a descoberta de outros seis stios. As fotos foram publicadas em jornais e revistas locais e nacionais, e Ranzi passou a visitar os stios por terra, para coletar informaes mais precisas sobre sua localizao, tamanho e estado de conservao. A divulgao na imprensa tambm colaborou para a obteno, em 2001, de verba da Lei de Incentivo Cultura e ao Desporto, que foi utilizada para obter mais informaes e fotos areas. Em pouco menos

Divulgao e Descoberta dos Geoglifos

A

pesar da descoberta de estruturas de terra circulares por parte dos pesquisadores do

PRONAPABA ter-se dado em 1977, foi somente a partir de 1986 que tais monumentos passaram a ser divulgados, graas ao esforo do paleontlogo Alceu Ranzi, ento professor da Universidade Federal do Acre, que entendeu estar diante de algo espetacular e batizou as estruturas como geoglifos. Ranzi voava em um avio comercial de Porto Velho para Rio Branco quando vislumbrou uma estrutura geomtrica localizada prxima BR-317. Impressionado com a dimenso e perfeio da estrutura um crculo duplo (que hoje se denomina stio AC-RB-06: Seu Chiquinho, Figura 5)-, Ranzi conseguiu sobrevola posteriormente em um avio menor, levando consigo Agenor Mariano, fotgrafo profissional. Essa descoberta mereceu uma reportagem no jornal O Rio Branco, em edio de 15 de agosto de 1986. Em 1999, em nova viagem, Ranzi avistou outro

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estabelecendo um princpio de cooperao cientfica com pesquisadores da Finlndia. Ainda em 2001, Ranzi publica, em parceria com Rodrigo Aguiar, arquelogo e professor das Faculdades Energia, em Florianpolis, um artigo na Revista Munda, intitulado Registro de Geoglifos na Regio Amaznica, Brasil (reproduzido nesse volume). Nele, os autores avaliam a importncia e motivao para a construo dos geoglifos. Impressionados pela perfeio geomtrica das estruturas e considerando que possivelmente seu formato tinha algum significado simblico, os autores as comparam s linhas de Nazca, perguntando-se se a proximidade com os Andes peruanos poderia ter levado a algum intercmbio de idias ou mesmo uma relao cultural mais prxima entre as duas culturas. Levantam ainda uma questo Geoglifo Seu Chiquinho, foto de Srgio Vale de dois anos, Ranzi j havia localizado cerca de 25 geoglifos (ver Ranzi 2003). H que se destacar o esforo empreendido por Ranzi no sentido de sensibilizar rgos pblicos e pesquisadores para a necessidade do estudo e da preservao dos geoglifos, alguns dos quais j estavam cortados por estradas federais, estaduais e estradas de terra dentro de fazendas. Como parte desse esforo, destaca-se a visita do arquelogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flrida e do gelogo Matti Rasanen, da Universidade de Turku, Finlndia, que, no vero de 2000, visitaram alguns geoglifos. A partir dos contatos estabelecidos, em 2001 Ranzi proferiu palestras em ambas as universidades, fundamental, a de que dificilmente os geoglifos teriam sido construdos em ambiente de floresta, dada a necessidade de derrubada de rvores de grande porte com tecnologia indgena rudimentar. Em 2002, o arquelogo finlands Martti Prssinen vai a Rio Branco, onde, em companhia de Ranzi visita e sobrevoa os geoglifos ento conhecidos. Em 2003, Ranzi e Prssinen apresentam um trabalho sobre

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os geoglifos no VI Simpsio Internacional de Arte Rupestre na Argentina. No mesmo ano publicam dois artigos no livro Western Amazonia: Geometrically patterned ancient earthworks in the Rio Branco region of Acre, Brazil: New evidence of ancient chiefdom formations in Amazonian interfluvial terra firme environment (Prssinen, Ranzi, Saunaluoma e Siiriinen 2003), neste volume, e Geoglifos, Patrimnio Cultural do Acre (Ranzi 2003). No primeiro, como o ttulo j implica, os autores ressaltavam o fato de que os geoglifos seriam remanescentes de antigas formaes do tipo cacicado, conhecidas em outras partes da Amaznia tanto atravs dos cronistas das dcadas iniciais da conquista, como das pesquisas arqueolgicas. No artigo, os autores descrevem a visita feita aos stios Jac S, Fazenda Colorada, Severino Calazans e Baixa Verde, todos em propriedades particulares e prximos a rodovias (inclusive cortados por elas e por estradas vicinais), exibindo figuras de formas retangulares, circulares e em forma de U. Os autores consideram que estruturas com fossos circulares, elpticos e semicirculares tm sido em geral interpretadas como assentamentos fortificados (Prssinen, et al. 2003:127), logo os Fazenda Colorada, em 2000, quando apenas uma estrada cortava o geoglifo retangular. Foto de Edison Caetano stios poderiam tambm terem sido construdos com funes similares. Quanto razo para isso, os autores apontam a existncia de conflitos ou captura de escravos, talvez impulsionados por fatores ideolgicos, ambientais ou climticos.

Durante a visita com os arquelogos finlandeses, uma amostra de carvo foi retirada de uma estrutura que havia sido recm-cortada por uma retroescavadeira, na fazenda Colorada (Figuras 6 e 7), sendo essa data, de 1.275 AD, publicada no artigo como a nica data existente sobre os geoglifos3. Os autores no estavam a par, naquele momento, que outras datas j haviam sido processadas pela equipe de Ondemar Dias, pois as mesmas no haviam sido divulgadas. De qualquer maneira, a data obtida pelos pesquisadores colocou o perodo de ocupao do stio no sculo XIII, poca em que se multiplicam os assentamentos fortificados nos Andes e acontece um episdio rido (em torno de AD 1.250). Assim como Dias, Prssinen e seus colegas ainda se perguntam o porqu das muretas serem construdas por fora dos fossos quando o mais correto seria o contrrio. Sugere, nesse caso, como possibilidade, que os fossos serviriam como reservatrios de gua, local onde se poderiam tambm criar moluscos e tartarugas3 A retirada dessa pequena amostra de carvo, na parede recmcortada por trator, gerou um processo no Iphan - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, em que os autores foram chamados a dar explicao pela retirada de material arqueolgico sem autorizao. E interessante, entretanto, que a passagem do trator e mutilao do stio no gerou nenhum processo, apesar de penalidades serem previstas na legislao pertinente.

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ou pela nossa no-percepo da importncia do evento. A nica observao registrada encontra-se no livro de Andr Prous, Arqueologia Brasileira, Editora da Universidade de Braslia, 1991, tendo por base informaes fornecidas pelo Dr. Ondemar F Dias Jnior (Ranzi 2003:137). Como se percebe, . Ranzi no tinha conhecimento do artigo de Dias de 1988, ausente tambm da bibliografia de Prous em Arqueologia Brasileira, onde as poucas informaes sobre o Acre foram creditadas a palestras (Prous 1979:463). Ranzi enumera, nesse artigo, as principais questes que deveriam nortear as pesquisas com os geoglifos, que diziam respeito finalidade das construes, o contingente populacional existente na poca e indagaes a respeito do clima e vegetao que cobriria a rea, entre outras. Em 2004, Ranzi e Aguiar publicam o livro Geoglifos Fazenda Colorada, ano 2002, observar estradas cortando os geoglifos. Foto de Srgio Vale (Prssinen et al.:2003:130). Ainda no livro Western Amazonia, o captulo: Geoglifos, Patrimnio Cultural do Acre, de autoria de Alceu Ranzi, apresenta pela primeira vez o inventrio dos stios do tipo geoglifo at ento conhecidos e que j somam 25, com suas respectivas indicaes de localizao e coordenadas geogrficas. No artigo, Ranzi relata a primeira descoberta de um geoglifo feita em 1977, na Fazenda Palmares, em pesquisa coordenada por Ondemar Dias, e acrescenta: A descoberta de 1977 no Acre no obteve grande repercusso, talvez por falta de divulgao da Amaznia Perspectiva Area, editado pelas Faculdades Energia de Florianpolis. O livro foi o resultado do projeto Geoglifos, Patrimnio Cultural do Acre, que obteve recursos da Fundao Elias Mansour. Trata-se de uma obra de divulgao, com fotos de Edison Caetano, cujo principal objetivo era divulgar e propor a preservao dos geoglifos como patrimnio nacional. Os autores definem geoglifo

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como um vestgio arqueolgico representado por desenhos geomtricos ou naturalistas, de grandes dimenses, elaborado sobre o solo (Ranzi e Aguiar 2004:11). Alm de comentar as hipteses j levantadas nas publicaes anteriores sobre os construtores dos geoglifos e suas razes, os autores apontam para a grande potencialidade turstica de tais stios, lembrando que os geoglifos de Nazca atraem visitantes de todas as partes do mundo, podendo ser esta uma alternativa econmica altamente rentvel para o estado do Acre. Isso poderia se dar atravs da criao de museus, torres de observao e sobrevos, atividades essas combinadas em um plano de visitao turstica (Ranzi e Aguiar 2004: 47). Em 2005, o Museu Paraense Emlio Goeldi contatado pela Centrais Eltricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte para realizar um levantamento do potencial arqueolgico na rea de impacto da construo de duas linhas de transmisso de energia eltrica, uma das quais atravessando rea de grande incidncia de geoglifos. O levantamento foi realizado por mim e por Cludia Plens, da Universidade de So Paulo (com a colaborao do Prof. Alceu Ranzi, que gentilmente colocou todas as informaes

nossa disposio), originando um relatrio (Schaan e Plens 2005) que recomendava a realizao de pesquisa arqueolgica que viesse a instrumentalizar um programa de educao patrimonial, considerado extremamente necessrio tendo em vista a destruio de alguns stios tanto por estradas como por audes. Tal programa nunca foi implantado (ver artigo nesse volume). A partir dessas visitas e pesquisas iniciou-se uma cooperao entre os pesquisadores Martti Prssinen, Sanna Saunaluoma, Denise Pahl Schaan, Alceu Ranzi e Jac Csar Piccoli no sentido de estudar os geoglifos. Elaborou-se o projeto Natureza e Sociedade na Histria da Amaznia Ocidental, que conta com financiamento da Academia de Cincias da Finlndia e que, inicialmente, dedica-se a estudar cinco stios do tipo geoglifos. O mapeamento e escavao dos stios iniciaram-se em junho de 2007. Em agosto de 2007, Charles Mann, jornalista americano especializado em jornalismo cientfico e correspondente das revistas Science e National Geographic esteve em Rio Branco, sobrevoando, comigo e Alceu Ranzi, alguns geoglifos. Em seu livro best-seller 1941, recm-traduzido para o portugus - 1941: Novas revelaes das Amricas

antes de Colombo -, ele faz meno aos geoglifos, reproduzindo, pgina 13, uma foto do stio Fazenda Colorada. Assim como outros jornalistas e cientistas que j visitaram os stios, ele se declarou fascinado pelos geoglifos, cuja viso, do alto, realmente extasiante, para dizer o mnimo.

Pesquisas Recentes

A

partir de 2006, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Acre, tendo

frente o Prof. Alceu Ranzi, passa a procurar geoglifos utilizando as imagens de satlite disponibilizadas gratuitamente na Internet por meio do Google Earth. Essa ferramenta possibilitou a realizao de uma varredura nas reas com boa definio de imagens, rapidamente multiplicando por cinco o nmero de geoglifos ento conhecidos. O trabalho intitulado Internet Software Programs Aid in Seaarch for Amazonian Geoglyphs foi publicado no peridico EOS, volume 88, em maio de 2007, de autoria de Alceu Ranzi, Roberto Feres e Foster Brown. Os autores preocuparam-se em estimar a densidade dos geoglifos e sua provvel demografia: o nmero mdio de geoglifos por transect foi de 1,5

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por 100 km, com uma variao de 0 a 4,4 por 100 km. Ao sul e leste do rio Acre, a densidade mdia de geoglifos de 2,1 por 100 km, mais do que o dobro da densidade de 0,8 por 100 km ao norte e oeste do rio Acre. Alm disso, observaram que o rio Acre serviria como um divisor: a sudeste do rio, 30 dos 32 geoglifos identificadas so circulares, enquanto ao norte, cinco dos sete so retangulares. Quanto densidade populacional, os autores calculam que com base em uma variao de 10 a 100 pessoas por geoglifo, a mdia de 1,5 geoglifos por 100 km seria equivalente a 0,15-1,5 pessoas por 100 km, sendo a ltima figura similar populao rural do estado do Acre em 2000 (Ranzi, Feres e Brown 2007:229). Atualmente j conhecemos a existncia de cerca de 150 geoglifos no estado do Acre que, segundo sugere o Prof. Jac Piccoli (com. pess. 2007), podem representar apenas 10% dos existentes, tendo em vista que a cobertura obtida com o Google Earth muito restrita e a maior parte das reas est coberta por mata. Devemos lembrar que a descoberta dos geoglifos s foi possvel graas (ainda que infelizmente) ao desmatamento que ocorreu na rea nos ltimos 20 anos, principalmente com a expanso das reas destinadas criao de gado. A localizao

dos stios por fotografias areas, sobrevos, imagens de satlite e prospeces segue, cada dia ampliando mais o universo de stios conhecidos.

PRONAPABA de modo geral o conhecimento que se possui hoje de diversas regies do estado, apesar de tal conhecimento estar fragmentado em relatrios e algumas poucas publicaes de difcil obteno. Apesar do grande esforo do IAB em prospectar reas to recnditas, a arqueologia do Acre permaneceu, entretanto, desconhecida, tanto do pblico quanto dos acadmicos. Infelizmente, pesquisas realizadas na dcada de 1990 tambm no foram devidamente publicadas. Alguns salvamentos espordicos de material cermico e urnas que afloravam superfcie teriam sido feitos por pessoas que participaram das pesquisas do IAB no Acre, sem que gerassem tambm nenhum conhecimento. A falta de arquelogos4 residindo no Estado, assim como o nmero restrito de arquelogos atuando em arqueologia amaznica de modo geral contribuiu para a falta de projetos de pesquisa na regio. Alm disso, a no-exigncia de estudos de impacto ambiental por parte dos rgos

Concluso

desenvolvimento tardio da disciplina no Brasil. Enquanto algumas pesquisas se realizavam de forma espordica, foi somente a partir da dcada de 1950 que alguns programas de pesquisa e treinamento de arquelogos tiveram lugar, impulsionados por pesquisadores estrangeiros como Anette Laming, Jos Emperaire, Wesley Hurt, Betty Meggers e Clifford Evans (Meggers 1985). O setor de arqueologia do Museu Goeldi passou por uma profunda reorganizao com a chefia de Mario Simes em 1961, assumindo a liderana das pesquisas na Amaznia a partir de ento, e tendo uma atuao fundamental mais tarde durante o PRONAPABA, como coordenador junto com Betty Meggers. Ainda em 1961, Ondemar Dias cria o Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB, no Rio de Janeiro, que teve papel importante nas pesquisas no estado do Acre. Deve-se a seu grupo de trabalho e ao

O

incio tardio das pesquisas arqueolgicas no Acre compreensvel pelo prprio

4 A profisso de arquelogo no regulamentada, por isso a atuao desses est condicionada na maioria das vezes capacidade de obteno de licena para pesquisa junto ao Iphan - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. O rgo considera arquelogo aquele que tiver formao especfica (graduao e/ ou ps-graduao em arqueologia), tendo currculo compatvel e publicaes significativas na rea.

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licenciadores no Acre para a construo de estradas e para desflorestamento de grandes reas tambm no gerou pesquisas e permitiu a destruio de muitos stios. Some-se a isso a ausncia da atuao do Iphan - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional no Acre que, at pouco tempo, estava sob a responsabilidade da Superintendncia de Manaus, que respondia tambm por Roraima e Rondnia. A divulgao dos stios tipo geoglifos, levada a cabo pelo professor Alceu Ranzi a partir de 1999 trouxe o Acre para o cenrio arqueolgico nacional e internacional e estimulou o interesse pblico e de pesquisadores sobre a regio. O enorme apelo que os geoglifos possuem pela onda de mistrio que cerca sua construo e as muitas perguntas que todos temos sobre eles certamente mantero por muitas dcadas acesa a chama do interesse arqueolgico sobre o Acre, atraindo muitos pesquisadores e a possibilidade de formao acadmica de recursos humanos locais. Ainda que o patrimnio arqueolgico do Acre possa ter outros stios to ou mais interessantes quanto os geoglifos do ponto de vista da ocupao prcolombiana da regio, a peculiaridade das estruturas de terra geomtricas representa por si s um motivo a mais de interesse e necessidade de estudo. A datao de 1.275 A.D. obtida por Prssinen e seus colaboradores no stio Fazenda Colorada coloca os geoglifos como contemporneos das sociedades complexas que emergiram na vrzea e savanas amaznicas ao final do primeiro milnio. Nessa Mapa da distribuio dos geoglifos poca, se disseminam as construes de terra e a iconografia humana na cermica, o que tambm acontece no Acre, indicando a emergncia de chefias regionais. A ocorrncia de tais monumentos em terra firme faz cair por terra a antiga dicotomia

27

vrzea-terra firme, j questionada por Heckenberger (1996; Heckenberger, Kuikuru, Kuikuru, Russel, Schmidt, Fausto e Franchetto 2003), obrigando os arquelogos a definitivamente reverem seus modelos interpretativos sobre a complexidade social amaznica (Schaan, Prssinen, Ranzi e Piccoli 2007). Ultimamente tm sido encontrados geoglifos tambm em regio de vrzea, no estado do Amazonas (Boca do Acre) e at no oeste de Rondnia, indicando uma rea gigantesca de disperso das sociedades construtoras dessas formas geomtricas (Figura 8). Com que propsito teriam os geoglifos sido construdos, e o que estaria por trs da perfeio de suas formas geomtricas? Eram esses locais de moradia, culto ou encontro? Por quanto tempo foram construdos e ocupados? Existia a floresta no momento de sua construo? Quando foram construdos? Ainda temos muito mais perguntas do que respostas sobre os geoglifos, o que nos indica a necessidade de aglutinarmos esforos atravs da participao de mais e mais pesquisadores, no s arquelogos, mas profissionais de diversas reas afins (gelogos, gegrafos, palinlogos, antroplogos, etc) para fazermos frente s questes que se colocam.

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Ondemar Ferreira Dias Jnior Eliana Teixeira de CarvalhoPublicado em Arqueo-IAB, vol. 1, pp. 14-28, Rio de Janeiro, 1988.

AS ESTRUTURAS DE TERRA NA ARQUEOLOGIA DO ACRE

seus primeiros anos, o PRONAPABA teve, ainda, a coordenao do Dr. Clifford Evans (da SI)2. Desde ento, especialmente em funo da pesquisa de salvamento e do interesse de outros pesquisadores, os trabalhos vm se desenvolvendo de forma acelerada, aumentando os dados disponveis sobre o passado local. Nosso trabalho pelo PRONAPABA efetivou-se a partir de 1977 e, de acordo com a coordenao do programa, teve por objetivo preliminar levantar a maior soma possvel de informaes com a prospeco de bacias hidrogrficas determinadas para estabelecer as bases iniciais do conhecimento sobre padres de assentamento de antigas populaes locais. Aps a determinao extensiva de inmeros stios resultante dos trabalhos mencionados, houve a seleo daqueles que demonstraram, pelo acervo recolhido, um potencial informativo mais promissor quanto s questes em pauta, com o conseqente retorno para a prtica de escavaes especficas. Muito tem sido escrito sobre o problema do dos

povoamento da Amaznia, desde sua identificao com o inferno verde at o paraso perdido. A realidade, no entanto, outra. Meggers procurou mostrar que os habitantes indgenas da regio realizaram por milnios uma convivncia harmoniosa com a natureza, o que a ocupao contempornea, atuando de forma indiscriminada, no conseguiu imitar, colocando em risco todo(s) o(s) ecossistema(s) amaznico(s). Entendemos, desde logo, ser necessrio para o arquelogo ter uma viso abrangente sobre o assunto. Entendemos, tambm, que h uma constante inter-relao entre o homem e a natureza, devendo ser isto compreendido por todos os que se propem a decodificar o grau de relao entre ambos. Nem a natureza determina o comportamento, nem o homem est fora dela (com a sua superioridade tecnolgica como crem alguns). necessrio dispormos do contedo dialtico da questo, em que natureza e homem se inter-relacionam. Aproveitando, ambos, os elementos colocados disposio entre os mesmos, em nenhum momento se aceita que um determina o outro, pois o homem responde quela que o acolhe desafiando-o e vice-versa, como numa reao

Guisa de Introduo

A

pesquisa arqueolgica na bacia amaznica vem despertando o interesse

especialistas desde o sculo XIX1. Somente a

partir da dcada de 1960, no entanto, que ela encontrou um rpido desenvolvimento, sobretudo pela ao das equipes do Museu Paraense Emlio Goeldi, Belm/PA. Em 1976 teve incio o Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas na Bacia Amaznica PRONAPABA, sob a coordenao do Dr. Mrio Simes (daquele museu) e da Dra. Betty Meggers (Smithsonian Institution, USA). Nos

1

Nota do revisor: ao preparar este artigo para re-publicao foram feitas algumas correes mnimas de ortografia e datas, visando sua atualizao e melhor compreenso. Por exemplo, sculo XIX era referido no original como sculo passado.

2

Nota dos autores: Tanto o Dr. Clifford Evans quanto o Dr. Mrio Simes vieram a falecer aps iniciado o PRONAPABA, de forma que hoje [data da publicao, 1988] a coordenao do mesmo vem sendo competentemente exercida pela Dra. Betty Meggers.

30

em cadeia. Culturas, portanto, seriam diferentes leituras e interpretaes operadas no campo do saber humano a respeito de uma multiplicidade infinita de fatores naturais. A viso , pois, mais que dialtica, por considerar o todo, mesmo que s percebido pelas partes ou a partir do estudo de seu conjunto. Pode-se imagin-la ainda como um esquema orgnico, integrado (holstico mesmo). Ao procuramos entender justamente este todo, somente o faremos descobrindo suas partes componentes e detectando-lhe o cdigo. Quanto menos especulativas, distorcidas, ou at mesmo irreais, so as interpretaes, tanto mais possuidoras de um conjunto suficiente e coerente de dados. Precipitar o todo interpretativo sem mesmo possuir tal conjunto tem permitido construes tericas confusas, de pouca preciso e frgil fundamentao, induzindo ao erro os menos avisados. Poderemos sucumbir s vises interpretativas feitas para a ocupao pr-histrica da Amaznia, no total desconhecimento de pores territoriais ainda neste nvel mesmo imensas? Desde 1977 nosso trabalho vem se ocupando da pesquisa em duas enormes bacias hidrogrficas: as dos rios Juru e Purus. A publicao do trabalho

completo, embora no definitivo, dado o volume de informaes e elementos interpretativos que incorporar, ainda dever aguardar alguns anos. Entretanto, os detalhes abrangendo toda a pesquisa, numa abordagem ainda preliminar, encontram-se em vias de publicao3. Neste texto, pretendemos divulgar apenas um aspecto especfico das pesquisas na rea dos rios Iaco, Acre e Iquiri (em torno da capital do estado do Acre, Rio Branco), a respeito da existncia de algumas estruturas de terra em torno de determinados stios arqueolgicos localizados por ns. Mas, evidenciando nosso interesse em torn-la pblica e, anteriormente s notas previstas para divulgao no presente ano, que pouco puderam considerar a respeito desses vestgios, esperamos, agora, complementar as citadas notas iniciais antes mesmo da monografia final prevista.

Histrico Descritivo

L

ogo no primeiro stio localizado por ns em 1977, prximo cidade de Rio Branco,

pudemos constatar a existncia de uma estrutura circular em forma de valeta pouco profunda, com um pequeno acmulo de terra em forma de mureta na rea externa do crculo. Posteriormente, mais uma srie delas foi localizada, algumas das quais nos forneceram material cermico arqueolgico. Localmente so consideradas como trincheiras da guerra do Acre e nunca antes haviam despertado a ateno. Alis, cumpre ressaltar termos sido os primeiros pesquisadores a trabalhar em toda a bacia do Purus acreano e do Juru em todo o seu curso. Valetas j haviam sido noticiadas em outras partes da Amaznia, especialmente no Xingu. Simes referencia-se a pesquisadores anteriores que identificaram estas valetas como obras defensivas dos ndios do lago Kuikuru; mas, pelas avantajadas dimenses das mesmas, ele pe em dvida serem

3 O PRONAPABA ter sua primeira publicao geral lanada ain-

da no ano corrente [1988, data da publicao do artigo], sob a editorao da Dra.Betty Meggers. Uma smula da pesquisa no Acre, sob a responsabilidade destes autores integrar a mesma. Anteriormente publicamos uma sntese no Catlogo da Exposio Aspectos da Arqueologia Amaznica: a participao do IAB no PRONAPABA que foi montada na Casa do Capo do Bispo, entre 1981 e 1987.

artificiais, embora no descarte a idia. Ns tivemos oportunidade de visitar obras militares ainda existentes na vila de Porto Acre e observamos que so muito diferentes daquelas

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identificadas por ns e para a maioria das quais temos comprovao, fornecida pela cermica, da sua antigidade, ou pelo menos de sua relao com a pr-histria local. Podemos sintetizar suas caractersticas; quatro delas esto ao longo da rodovia para a cidade de Xapuri, saindo de Rio Branco. A primeira, a cerca de 24 km da capital, localiza-se na Fazenda Palmares. A estrutura tem cerca de 100 metros de dimetro e est encoberta pela mata de capoeira (ou secundria). Foi feita uma escavao circular, com cerca de um metro de profundidade e a terra foi acumulada na parte exterior do crculo, formando uma mureta (Figura 1). Parte dela foi destruda por trator que derrubava a mata. O terreno plano, e a 150 metros da mesma h fonte de gua potvel de boa qualidade. Esta estrutura forneceu material da fase Quinari (ver quadro); stio AC-IQ-02. A segunda, prxima sede da mesma fazenda, Palmares, localiza-se a cerca de 28 km da capital do estado. Estrutura ntida, tambm com mata de capoeira, mas borda do campo, tem cerca de 65 metros de dimetro, tambm circular. A largura da valeta rasa e do montculo conjunto chega a 10 metros em alguns locais (8 metros em outros) e com cerca de um metro de profundidade. A gua est cerca de 150 metros. Boa nascente, vertente para o rio Iquiri (Vale do Ituxi). Tambm em rea plana, com ligeiro declive para a nascente. No forneceu material, mas est na rea da fase Quinari tambm; stio AC-XA-1. A terceira, na mesma estrada, a cerca de 42 km de Rio Branco o stio AC-IQ-1, no Campo das Panelas, ou do Gavio, regio muito plana e sem cobertura vegetal de porte, lembrando o cerrado. uma estrutura irregular (Figura 2), parcialmente destruda pela estrada de rodagem e tem, na atualidade, cerca de 100 x 80 metros, e a largura Stio AC-IQ-02, desenho de Eva Sellei sobre os originais de Ondemar F. Dias Jr. (na primeira publicao), refeitos em Corel Draw 11.0 por Tayane Gama.

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da valeta-mureta de cerca de 8 metros, tambm com uma altura de cerca de um metro. gua em vertente do lado oposto da estrada. Crrego Iquiri. A quarta, stio Capatar, no forneceu material arqueolgico, mas est na mesma rea da fase Quinari, AC-IQ-9.Esta estrutura diferente das demais. Trata-se de uma mureta reta, com cerca de dez metros de extenso, na capoeira, com um metro de altura. Tem crrego a cerca de 100 metros, que desgua no igarap Iquiri. Tambm no forneceu cermica suficiente para associao segura, mas tem relaes com a fase Quinari. A propriedade onde se encontra o stio est a cerca de 65 km da capital, no municpio de Plcido de Castro. A quinta, AC-IQ-8, stio Catuaba, no mesmo municpio, no quilmetro 53 da rodovia para Porto Velho, forneceu cermica da Fase Quinari. As estruturas de terra, diferencialmente, so pequenas plataformas com cerca de 3 metros de extenso, por quatro de largura, com quase um metro de altura em rea de antiga mata, agora em plantio. Encontram-se sobre pequena elevao colinar baixa, na base da qual corre igarap que desgua no Abun. Stio AC-IQ-01, desenho de Eva Sellei sobre os originais de Ondemar F. Dias Jr. (na primeira publicao), refeitos em Corel Draw 11.0 por Tayane Gama. Outras estruturas foram localizadas fora da rea das estradas atuais: A primeira, no municpio de Assis Brasil, a mais distante das estruturas mencionadas neste estudo at agora. Fica na margem esquerda do rio Acre, sobre pequena colina de cota 15 metros e a cerca de 300 metros daquele rio e a 150 metros de igarap de gua limpa. A estrutura pouco profunda, parcialmente destruda, pois h casa sobre ela. Trata-se do sitio So Francisco (AC-XA-3) que forneceu material da Fase Xapuri (ver quadro). Sobrou seu lado sul, evidenciando ter sido a mesma

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Madureira, desta distando cerca de 18,5 km na estrada velha para Rio Branco, localizamos o conjunto mais complexo de estruturas. Tratase do stio Lobo (AC-SM-01) com as seguintes caractersticas (Figura 4). A estrutura maior tem cerca de 50 metros de dimetro e o conjunto valetamureta tem at 2 metros de largura, por cerca de 50cm de altura e apresenta o detalhe do interior ser mais baixo do que a rea externa. A 150 metros de distncia h outra estrutura, bem menor, com cerca de 20 metros de dimetro e valeta-mureta baixa, no chegando a 40cm de altura, sendo a depresso mais visvel. Alinham-se, mais ou menos no sentido norte-sul. Ao norte delas h grande mancha de terra Stio AC-XA-03, desenho de Eva Sellei sobre os originais de Ondemar F. Dias Jr. (na primeira publicao), refeitos em Corel Draw 11.0 por Tayane Gama. circular. Cacos no interior e camada ocupacional de cerca de 30 cm de espessura (Figura 3). Ainda no vale do rio Acre, porm prximo da capital, localizamos outra estrutura circular, esta com cerca de 120 metros de dimetro e localizada em terreno de antiga mata primria, segundo o relato do proprietrio, que considerava trincheira da guerra do Acre. Trata-se do stio Boca Quente, AC-RB-01, que no forneceu material, embora possa ser relacionado rea de disperso da fase Quinari. Mureta e valeta com cerca de 6 metros de largura, por menos de um metro de altura. Dentro dos padres, ou seja, a mureta parecendo ter sido construda com terra da valeta e localizada no permetro externo desta. No vale do rio Iaco, prximo cidade de Sena preta, distante cerca de 200 metros. Em toda a rea foram recolhidos fragmentos cermicos e nos foi doada pea inteira4. A 50 metros, alm da terra preta, em rea tambm enegrecida, em terreno de plantio com cerca de 50cm de espessura, j revirado, recolhemos inmeros fragmentos de peas semelhantes. A terra preta mencionada tem cerca de 13 metros de extenso por 5 metros de largura e

4

Esta pea, com a parte superior fragmentada vinculavase fase Iaco e se enquadra no tipo diagnstico descrito no quadro, sendo uma das primeiras em bom estado de conservao que puderam ser resgatadas pela equipe.

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A Tradio QuinariDe uma maneira muito superficial, pode-se dizer que o estado do Acre tem, dentro do que se conhece at hoje, duas grandes tradies cermicas, provavelmente relacionadas a horticultores amaznicos de terra firme: a tradio Acuri no vale do Juru e que no ser abordada aqui, e a tradio Quinari, na bacia do Purus/Abun. A tradio Quinari integrada pelas fases Iquiri, Xapuri, Iaco e Quinari. De uma maneira ampla, os stios so pequenos, com reduzido material, camada ocupacional pouco espessa ou inexistente, preferencialmente na floresta que cobre a maior parte do estado. As fases Quinari e Iquiri tm stios de campo aberto. Apresentam pouca decorao, ocorrendo na ltima a presena de vasos caretas (em forma de rostos, antropomorfos). Embora as formas variem, o padro diagnstico o do vaso que lembra um cilindro inserido num globo. A fase Iaco apresenta vasos deste tipo, de grande porte, com enterramentos secundrios em plena floresta. As estruturas de terra esto, predominantemente, vinculadas Fase Quinari, mas pudemos observar uma delas na fase Iaco e outra na fase Xapuri. Esta ltima a que apresenta menor quantidade de material e formas menos tpicas.

Stio AC-SM-01, desenho de Eva Sellei sobre os originais de Ondemar F. Dias Jr. (na primeira publicao), refeitos em Corel Draw 11.0 por Gon Santos. est, atualmente, cortada pela estrada. Recolhemos carvo que deu datao atual (contaminado). Todo o conjunto est em elevao de cota suave (menos de 10 metros) e o igarap Paris corre na sua base, desaguando no Iaco. O material cermico relacionase com a fase Iaco (ver quadro). Sem dvida o conjunto mais complexo localizado pela nossa equipe at o momento.

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Qual teria sido a funo ou funes dessas estruturas?

isto possa no caracterizar uma funo de teor eminentemente prtico. Crculos mgicos de proteo ou obra efetiva contra a surpresa de ataques inimigos, elas podem ter sido uma, outra, ou ambas as coisas. Para induzir nosso raciocnio, podemos iniciar analisando o tipo mais simples de estrutura, de