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1 Tipologias de casa nobre no tratado do Arquitecto José Manuel de Carvalho e Negreiros Pelos finais do século XVIII o arquitecto José Manuel de Carvalho e Negreiros elabora um importante documento, em forma de tratado de arquitectura, com o título Aditamento ao Livro Intitulado Jornada pelo Tejo 1 …. Pelo seu conteúdo, este texto constitui um documento único e fundamental para a interpretação do significado, organização e funcionamento da habitação nobre do séc. XVIII; integra um estudo da habitação senhorial, dividindo-a em três programas organizados de forma sistemática e hierárquica. Do percurso profissional deste arquitecto, sabemos ter sido o autor do projecto do Palácio dos Condes da Ericeira. Embora nunca realizado, este projecto propunha reerguer uma das mais famosas habitações nobres de Lisboa destruídas pelo terramoto de 1755, indiciando uma familiaridade deste arquitecto no domínio da arquitectura civil. A este facto acresce que Carvalho e Negreiros assume, na Real Casa das Obras, em 1778, o cargo de medidor das obras de todos os reais paços, pelo falecimento de Elias Sebastião Pope, sendo nomeado, mais tarde, como 2º arquitecto dos paços reais e, em 1804, architecto geral dos paços reais 2 . No universo da sua actividade ligada à Casa Real e à arquitectura doméstica não podemos deixar de atribuir a este arquitecto o projecto do Palácio do Grilo para o Duque de Lafões. Constituído por uma planta, alçado principal e dois cortes, estes belos desenhos de forte influência francesa propunham, sem dúvida, o mais ambicioso palácio da época. Pela sua quase excessiva grandiosidade o palácio foi construído apenas numa pequena parte, sugerindo um certo desajustamento à realidade que perpassa por toda a obra teórica de Carvalho Negreiros. No conteúdo geral, o pequeno tratado de Carvalho Negreiros pretendia demonstrar as suas capacidades técnicas e artísticas para assumir o projecto do Palácio Real da Ajuda; objectivo logrado, pois o projecto é, entretanto, entregue ao arquitecto Caetano de Sousa, em 1796. Na realidade, todo o texto converge para uma longa 1 O seu nome completo - Aditamento ao livro intitulado Jornada pelo Tejo que foi ofº a S. A. Real o Príncipe Nosso Senhor que Deus guarde em o anno de 1792-1797, Lisboa, Biblioteca Nacional de Lisboa, Códice 3758-62. 2 SOUSA VITERBO - Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos,Engenheiros e Construtores Portugueses, Lisboa, IN/CM, 1988, Vol. II, p.194-195.

Arquitetura Casas Nobres Seculo Xviii

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Tipologias de casa nobre no tratado do Arquitecto José Manuel de Carvalho e Negreiros

Pelos finais do século XVIII o arquitecto José Manuel de Carvalho e Negreiros

elabora um importante documento, em forma de tratado de arquitectura, com o título

Aditamento ao Livro Intitulado Jornada pelo Tejo1…. Pelo seu conteúdo, este texto

constitui um documento único e fundamental para a interpretação do significado,

organização e funcionamento da habitação nobre do séc. XVIII; integra um estudo da

habitação senhorial, dividindo-a em três programas organizados de forma sistemática e

hierárquica.

Do percurso profissional deste arquitecto, sabemos ter sido o autor do projecto

do Palácio dos Condes da Ericeira. Embora nunca realizado, este projecto propunha

reerguer uma das mais famosas habitações nobres de Lisboa destruídas pelo terramoto

de 1755, indiciando uma familiaridade deste arquitecto no domínio da arquitectura civil.

A este facto acresce que Carvalho e Negreiros assume, na Real Casa das Obras, em

1778, o cargo de medidor das obras de todos os reais paços, pelo falecimento de Elias

Sebastião Pope, sendo nomeado, mais tarde, como 2º arquitecto dos paços reais e, em

1804, architecto geral dos paços reais2.

No universo da sua actividade ligada à Casa Real e à arquitectura doméstica não

podemos deixar de atribuir a este arquitecto o projecto do Palácio do Grilo para o

Duque de Lafões. Constituído por uma planta, alçado principal e dois cortes, estes belos

desenhos de forte influência francesa propunham, sem dúvida, o mais ambicioso palácio

da época. Pela sua quase excessiva grandiosidade o palácio foi construído apenas numa

pequena parte, sugerindo um certo desajustamento à realidade que perpassa por toda a

obra teórica de Carvalho Negreiros.

No conteúdo geral, o pequeno tratado de Carvalho Negreiros pretendia

demonstrar as suas capacidades técnicas e artísticas para assumir o projecto do Palácio

Real da Ajuda; objectivo logrado, pois o projecto é, entretanto, entregue ao arquitecto

Caetano de Sousa, em 1796. Na realidade, todo o texto converge para uma longa

1 O seu nome completo - Aditamento ao livro intitulado Jornada pelo Tejo que foi ofº a S. A. Real o

Príncipe Nosso Senhor que Deus guarde em o anno de 1792-1797, Lisboa, Biblioteca Nacional de Lisboa, Códice 3758-62. 2 SOUSA VITERBO - Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos,Engenheiros e Construtores

Portugueses, Lisboa, IN/CM, 1988, Vol. II, p.194-195.

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dissertação sobre a complexidade do projecto de um palácio real, realizando para isso

uma enumeração pormenorizada de todas as suas estruturas, tema que ocupa um vasto

conjunto de capítulos finais do seu tratado. Nas fontes de inspiração, além das clássicas

alusões a Palladio, Scamozi ou Vignola, Negreiros menciona o arquitecto Blondel, cuja

obra De la Distribuition des Maisons de Plaisance et de la Decoration des Edifices en

General3 parece constituir uma das principais referências dos arquitectos desta época.

Dando conta das suas capacidades e conhecimentos, e como introdução ao programa do

palácio real, o autor realiza, porém, uma definição do programa de uma habitação

senhorial dividindo-a hierarquicamente em três escalões: habitação de um nobre

cazado, habitação de um fidalgo e habitação de um titular ou Grande do Reyno. Na sua

estrutura expositiva, Negreiros faz uma enumeração completa dos compartimentos

necessários a uma habitação para um nobre cazado acrescentando progressivamente

divisões e aposentos para os outros casos de habitação de um fidalgo e titular, numa

hierarquização conformada numa lógica de aparato e complexidade.

Neste progressivo aumento de escala e complexidade, o texto fornece preciosos

elementos sobre as lógicas de organização dos interiores de uma casa senhorial,

nomenclaturas de cada espaço, regime de precedências ao nível dos compartimentos de

representação do andar nobre, permitindo de forma comparativa esclarecer importantes

pontos sobre a organização geral de uma habitação fidalga na época, assim como as

nomenclaturas de cada espaço e respectivas funções.

Cabe salientar que Carvalho e Negreiros, nesta formulação, parte de uma clara

idealização do que deveriam ser estes programas. Toma, por outro lado, como base de

exemplificação, um modelo de edifício com quatro pisos, afastando-se do modelo mais

comum em Portugal, com dois pisos e sótão. Esta opção indicia uma aproximação a um

modelo de palácio italiano, que o arquitecto Ludovice e seu avô Costa Negreiros tinham

usado, sendo o Palácio Barbacena o caso mais emblemático.

Com particular relevo nas habitações dos grandes do reyno, a sala de espera

articulava-se com as escadarias nobres, referindo o texto um grande vestíbulo no cimo

das escadas para os lacaios com bancos. Este grande vestíbulo no cimo das escadas

remete-nos para as imponentes estruturas de escadas reais com um primeiro lance

desdobrando-se em dois lances opostos, que aqui parece instituir-se como tipologia de

habitação vinculada à mais alta nobreza.

3 BLONDEL, Jaques-François - De la Distribuition des Maisons de Plaisance et de la Decoration des

Edifices en General, Paris, Chez Charles-Antoine Jombert, 1737.

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Na sua distribuição programática, Negreiros começa por colocar no piso térreo,

de forma tradicional, os serviços de apoio à vida quotidiana: cavallariça, cochieiras,

armazéns, quartos para bolieiros e mais moços de despenças, e despejos, cozinha

quarto para o cozinheiro. Na articulação destes espaços o autor menciona naturalmente

a entrada, a escada principal e as escadas particulares. No seu conjunto confrontamo-

nos com uma matriz muito idêntica à das plantas pombalinas para uma casa senhorial: a

da Rua Formoza4, a planta para a Casa do Governador da Capitania de Santa Catarina5

ou, ainda a planta do Palácio de D. Rolim de Moura em Belém do Pará6.

Este programa de piso térreo para uma habitação de nobre vai crescendo em

complexidade nas habitações do fidalgo e do grande do reino. No primeiro são

adicionados mais quartos para moços da taboa, fiel da caza dos Arreios, moços da

cavalharice comprador cozinheiro e ajudante copeiro. Na casa de um grande do reino

voltam a juntar-se mais quartos para dois ferradores, dois andarilhos para o mestre e

dois ajudantes de cozinha para o copeiro e seu ajudante, sugerindo-se que, a todos

estes serviços, no espaço do quintal ou quinta seja acrescentado um picadeiro coberto e

outro descoberto.

A opção de Negreiros de estabelecer um andar intermédio entre o piso térreo e o

andar nobre, referido como primeiros mezaninos, leva o autor a situar aqui um grupo de

compartimentos que no modelo comum, de apenas três pisos, se distribuíam

normalmente entre o andar nobre e as águas furtadas. Vemos surgir neste andar quartos

de dormir para criados graves, escudeiros, capelão, e para os filhos maiores,

separando-se aqui os criados de condição mais baixa, genericamente referidos por

criados de baixo, dos criados de cima, como encontramos frequentemente mencionado

nos textos da época.

Num esforço de racionalização, mas que acompanha uma evolução deste

período, o arquitecto situa ainda neste piso um conjunto de compartimentos dedicados

ao quotidiano do dono da casa, respectivamente, antecâmara, gabinete, caza para a

livraria, outra para archivo, outra grande para guarda roupa. Esse tipo de

4 Plantas do piso térreo e piso nobre das casas que se hande fazer no extremo da Calçado da Rua da

Formoza. Ass. Marquêss de Pombal, 12 de Janeiro 1772. Biblioteca do Arquivo Histórico das Obras Públicas, Lisboa. 5 Alçados para o projecto da Casa do Governador” da Capitania de Santa Catarina. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. 6 Planta do Palácio feito para (...) o Ilmo e Exmo Sr. D. Rollim de Moura Plenipotenciario das

Demarcações da parte do Norte. Pará, Brasil. c. 1760. Bibliteca Nacional de Lisboa, Iconografia, D-202.a.

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compartimentos, como observamos noutros casos, situam-se no piso nobre, embora de

forma menos sequencial e racionalizada como aqui se apresenta. No nosso entender esta

sequência de espaços dedicados ao dono da casa apresenta-se como uma opção pessoal

e pouco comum, pois constatamos, em diversos casos de plantas ou inventários, a

presença, no andar nobre, tanto da chamada casa de livros como do gabinete. Esta

separação revela, porém, uma autonomização de aposentos adstritos aos domínios do

masculino e do feminino, confirmando uma propensão da casa nobre do séc. XVIII para

a formação de zonas separadas para os dois sexos. Na realidade, e quase em oposição a

este andar dominado pela presença masculina, vemos localizarem-se no último quartos

para filhas, para creadas, para os filhos the idade de cinco annos, caza de roda,

cozinha pª engomar, desenhando-se esta sequência de compartimentos num universo

claramente feminino.

É sem dúvida ao nível da organização do andar nobre que o texto de Negreiros

se revela mais interessante, ao eleger na sua estrutura programática a sala de visitas

como elemento nuclear e estruturante do programa dos interiores deste piso. Nas três

tipologias referidas, o texto apresenta a sala de visitas precedida de uma sala de espera,

e de uma antecâmara para a habitação de um nobre, aumentando esta sequência em

duas antecâmaras para a habitação de um fidalgo, como salienta o texto: antes da sala

de vizitas duas antecâmaras.

Podemos assim confirmar que a sala de espera, pelas funções que desempenha,

é a salla de officiais ou salla vaga, que encontramos noutros casos de inventários ou

plantas. Quanto à função da antecâmara, agora como um espaço de introdução à sala de

visitas, afasta-se claramente do sentido tradicional de antecâmara, herdado da Idade

Média, em que representava um espaço mais intimo imediatamente anterior à câmara de

dormir; Bluteau ainda a menciona com estas funções nos inícios do século XVIII, no

seu Dicionário7. Esta alteração de funções parece assim processar-se ao longo do séc.

XVIII, acompanhando uma maior complexidade e abertura da casa senhorial nas suas

relações sociais, e que explica a localização da antecâmara, nas plantas do Palácio do

Governador de Santa Catarina ou do Palácio de D. Rolim de Moura, em Belém do Pará,

antes da chamada sala de visitas.

No programa do piso nobre para uma casa de um grande do reino, o tratado de

Negreiros assinala ainda a presença de uma sala de docel situada na sequência das salas

7 Antecâmara ; a caza anterior à câmara onde se dorme - BLUTEAU, Raphael - Vocabulário Portuguez

e Latino, Coimbra, Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712, tomo I, p.396

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de espera e antecâmaras, mas antes da sala de visitas, como prescreve o texto:

seguindo-se depois da sala do Docel a sala das visitas. Nas suas funções de marcado

formalismo e ritualidade, o dossel era colocado nas antecâmaras ou na sala grande dos

palácios da grande nobreza do séc. XVI e XVII, adquirindo agora um espaço

autonomizado numa progressiva racionalização dos programas do interior da casa.

A seguir à sala de visitas e em contraponto com os espaços de recepção mais

abertos ao exterior, segue-se o conjunto de compartimentos dedicados à vida íntima e

quotidiana dos donos da casa. Como analisamos anteriormente, esta separação era

realizada no vestíbulo do cimo das escadas que, com as suas largas portas, constituía

uma segunda entrada, conduzindo os visitantes ora às zonas formais de recepção ora às

zonas do quotidiano e do dia-a-dia. É nessas zonas do quotidiano que Negreiros situa o

gabinete, toucador, oratório ou tribuna para a ermida, caza de jantar, câmara, guarda

roupa com chaminé, caza de lavor e despejos.

Contrariamente às zonas que antecedem a sala de visitas, cujo programa varia

conforme o estatuto de fidalgo, de nobre ou grande do reino, os apartamentos do

quotidiano não sofrem quase nenhuma alteração. A única variação prende-se com a casa

de jantar, que nos estatutos de fidalgo e grande do reino passa a ser acompanhada de

gabinete para café e casa de tinel.

Cabe salientar que tanto o tratado de Negreiros como a documentação da época

apontam para uma certa lógica de distribuição destes espaços numa graduação de mais

público para mais privado e onde a câmara de dormir funciona como elemento de

charneira. Na realidade vemos o gabinete, toucador e sala de jantar situarem-se antes da

câmara, seguindo-se o guarda-roupa, a casa de lavor e os despejos.

Facto que observamos em várias plantas, a sala de estrado, tão referida no

século XVII, desaparece, sendo substituída pela casa de lavor, localizada esta, porém,

num espaço mais intimo e secundário.

Negreiros não menciona o termo de camarim, que pensamos ser substituído

pelas funções de gabinete, mas que ainda é referido pontualmente nos vários

apartamentos do Palácio de Queluz adstritos a princesas. Tanto a sala de estrado como o

camarim, que Bluteau define como uma câmara de preciosidades, parecem desaparecer,

constituindo-se como estruturas espaciais características do séc. XVII.

Numa visão mais alargada, estes espaços de carácter mais privado cumprem

ainda funções sociais de receber, não só os mais íntimos como aqueles a quem se

pretendia conferir uma maior importância e dignidade, num cruzamento de funções

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claramente herdada da Idade Média. Esta relação entre espaços progressivamente de

maior intimidade e o estatuto social e distinção conferida às visitas, é-nos claramente

referido no texto de João Rosado de Villa-Lobos e Vasconcellos no seu livro O Perfeito

Pedagogo na Arte de Educar a Mocidade, ao afirmar deve lembrar-se que quanto mais

interior for a casa, de todas as que podem receber visitas, tanto melhor será recebe-la

no interior, guardando também a este respeito a proporção do carácter das pessoas; e

mostrando por tudo isto a distinção que se faz do seu merecimento 8.

De forma significativa, o tratado de Carvalho e Negreiros não apresenta

exemplos de plantas, apresentando-se as suas propostas mais como programas flexíveis

e adaptáveis a diversas circunstâncias, tanto as exigências dos clientes como as

condicionantes físicas de implantação no local.

Embora maleável e apresentando-se como um conjunto de programas ideais de

casa senhorial, descortinamos neste texto uma série de relações entre espaços cujo

estudo se revela fundamental para o conhecimento e estudo da casa senhorial nos finais

do século XVIII.

A importância deste texto e o facto de se encontrar em manuscrito determinou

que colocássemos em anexo documental o trecho deste tratado, com a descrição dos

diferentes programas, permitindo a sua consulta em função de outros estudos sobre a

casa senhorial no século XVIII.

Documento 1

Negreiros, José Manoel de Carvalho e - Aditamento ao livro intitulado Jornada pelo

Tejo que foi ofº a S A Real o Príncipe Nosso Senhor que Deus guarde em o anno de

1792-1797, Lisboa. Biblioteca Nacional de Lisboa, Códice 3758-62, fol. 90 a 94.

“Para a habitação de hu nobre cazado Plano térreo Logea de entrada escada principal cavallariça, cochieiras, armazéns, quartos para Bolieiros e mais moços de despenças, e despejos, cozinha quarto para o cozinheiro, escadas particulares Primeiros mezaninos Palheiro, celleiro caza de arreios, quartos para criados graves pª o escudeiro para o capellão, quartos para filhos maiores, e para o dono da caza os seguintes

8 VASCONCELOS, João Rosado de Vila-Lobos - O Perfeito Pedagogo na Arte de Educar a Mocidade,

Lisboa, Typ. Rollandiana, (1782), 1816, 2ª ed.

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Antecâmara, gabinete, caza para a livraria, outra para archivo, outra grande para guarda roupa, e outra para despejos com chaminé Plano Nobre Sala de espera, antecâmara, sala de visitas, gabinete, toucador, oratório ou tribuna para a ermida, caza de jantar, câmara, guarda roupa com chaminé, caza de lavor, despejos Ultimos Mezaninos Quartos para filhas, para creadas, para os filhos the idade de cinco annos caza de roda? , cozinha pª engomar proporcionada despejos Para a habitação de hum Fidalgo Cazado As entradas e prospectos suposto que nas mais alturas e destrucimentos (?) serão mais e com alguns emblemas Plano Térreo Cavallarice e os cómodos relativos em proporcionada grandeza cocheiras e quartos para cocheiros, bolieiros, Moços da taboa, fiel da caza dos Arreios, moços da cavalharice comprador cozinheiro e ajudante copeiro cozinha com os cómodos e pateos relativos similhantes aos qº forão ponderados na acomodação da estalagem, cozinha da copa com forno e mais despejos e hu quintalão podendo ser Primeiros Mezaninos Fizera os mesmos cómodos destinados para o Nobre com a diferença de haver mais para hum capelão, pª outro escudeiro outro guarda roupa, secretario, estribeiro e mordomo Plano Nobre Tihra de mais do que tem o nobre antes da sala de vizitas duas antecamaras e depois da caza de jantar hum gabinete para o café e huma caza do tinel e mais outra camara de despejos Ultimos Mezaninos Fizera quartos para maior numero de criados, Aias, damas para os filhos ate à idade de sinco annos, guarda roupas tudo mais como na casa de nobre Havendo hu quintalão ou quinta podiase nella ampliar os commodos que lhe he permitido ou que o luxo influise quando tivesem toda a liberdade honras para satisfazerem os seus apetites Para a habitação de hu titular ou Grande do Reyno Apresentaria a cavalharice pª mais bestas do que deve o fidalgo e os mais comodos à proporção e cocheiras para mais segues e para todos quartos para mais bolieiros cocheiros Moços da taboa Moços da cavalharice dois ferradores dois andarilhos para o mestre e dois ajudantes de cozinha para o copeiro e seu ajudante todos os despejos e mais comodos para hum grande do reyno devem ser acrescentados à proporção do luxo e da familia e como deve haver uma quinta nella se ampliarão os que forem precizos asim como nella se podera fazer hum picadeiro coberto e outro descoberto Primeiros mezaninos

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Alem dos mesmos comodos ponderados e determinados para o fidalgo fizera acomodação para hum bibliotecario e mais hu guarda roupa Plano Nobre Hum grande vestibulo no cimo da escada principal para os lacaios com bancos Primeira sala para esperarem as pessoas mecanicas segunda sala para esperarem os nobilitados terceira salla para esperarem os Nobres, duas antecamaras, sala de Docel e hum gabinete, daqui se segue para diante tudo o mais que fica estabelecido para o fidalgo que não he grande do Reyno seguindo-se depois da sala do Docel a sala das visitas. Ultimos mezaninos Fizera a acomodação para maior numero de criadas, das que julgo terem as fidalgas que não são titulares e em tudo o mais observaria proporcionalmente o mesmo estabelecido para as outras fidalgas.”

Hélder Carita Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva