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Cenário de «amor de perdição» Camilo Castelo Branco eternizou o Convento de Monchique na obra “Amor de Perdição”. Situado em Miragaia, o local já pertenceu à Judiaria, espaço onde terá existido uma sinagoga. O edifício também já foi casa senhorial, convento e hoje é sede de uma empresa agrícola que pretende «devolvê-lo à cidade», recuperando-o e transformando- o numa unidade hoteleira integrada numa zona nobre. através dos tempos convento de monchique 23 22 Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Virgínia Ferreira Arquivo Histórico Municipal do Porto - Casa do Infante

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Casa do Infante · 22 23 através dos tempos convento de monchique Cenário de Camilo Castelo Branco eternizou o Convento de Monchique na obra

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através dos tempos convento de monchique

Cenário de«amor de perdição»Camilo Castelo Branco eternizou o Convento de Monchique na obra

“Amor de Perdição”. Situado em Miragaia, o local já pertenceu àJudiaria, espaço onde terá existido uma sinagoga. O edifício também

já foi casa senhorial, convento e hoje é sede de uma empresa agrícolaque pretende «devolvê-lo à cidade», recuperando-o e transformando-

o numa unidade hoteleira integrada numa zona nobre.

através dos tempos convento de monchique

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Texto: Marta Almeida CarvalhoFotos: Virgínia Ferreira

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através dos tempos convento de monchique

O Convento de Monchique - termo que parece terevoluído de «Monte Chico» e que significava «pe-queno monte» - foi construído onde em tempos exis-tiu uma judiaria, cuja inclusão «dentro dos murosda cidade» foi ordenada por D. João I e que, a partirdesse momento, se passaria a apelidar de JudiariaNova. Os mesmos terrenos foram doados pelo mo-narca a Gil Vaz da Cunha, pelo reconhecimento deserviços prestados à Coroa, com o consentimentopara «construir umas moradas no pequeno monteem que tinham habitado os judeus e onde existiauma sinagoga abandonada. Era o Bairro dos Judeusem Monchique» (História Seráfica, de Frei Fernan-do da Soledade).

A pedra da sinagoga

A neta de Gil Vaz da Cunha, D.Maria da Cunha,era casada com Fernão Coutinho, fidalgo que deci-diu construir uma casa imponente nos terrenos daantiga judiaria. E terá sido durante a construção quefoi encontrada uma lápide em pedra, cujos caracte-res hebraicos demonstravam ter pertencido a umasinagoga que anteriormente aí havia existido. Estapedra manteve-se sempre no convento, tendo sidocedida por Clemente Meneres, em 1875, ao Museu

do Carmo, em Lisboa, onde ainda hoje se encontra.Um dos privilégios da cidade do Porto era o de que

nenhum fidalgo ou nobre morasse dentro dos seusmuros, ou pudesse aí fazer estadia prolongada. Apolémica teve início, já que a esta construção seopuseram as gentes da cidade. Depois de diversasinterferências junto da Coroa para que as «normas»fossem alteradas, D. Afonso V conseguiu que o Con-celho do Porto desse autorização para que FernãoCoutinho habitasse a casa, com a sua família, du-rante 15 dias, três vezes por ano, num total de 45dias/ano. Com a morte de Fernão Coutinho, o propri-etário da casa passou a ser o seu filho, Pêro daCunha Coutinho. E foi tanta a insistência junto de D.Manuel I que este, em 1513, acabou por revogar oprivilégio que a cidade tinha de não consentir a per-manência, por mais de três dias, a elementos danobreza, e permitir que a família de Pêro Coutinhohabitasse, permanentemente, a casa de Monchique.

Convento e «Amor de Perdição»

Sem filhos, Pêro Coutinho e Brites de Vilhenadecidiram deixar a casa e todos os seus bens para afundação de um convento de religiosas franciscanasque viria a ser conhecido como Convento da Madre

O edifício que albergava o convento ainda está de pé

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através dos tempos convento de monchique

O projecto para a recuperação do Convento deMonchique prevê a construção de uma unidadehoteleira, integrada naquela zona nobre da ci-dade, com estatuto de Património Mundial. Oprojecto é da autoria do arquitecto José Paulodos Santos e os proprietários do edifício procu-ram, agora, um parceiro estratégico para a suaconcretização que irá “devolver” o históricoedifício à cidade do Por to.

de Deus de Monchique. A autorização pedida, para oefeito, ao Papa chegou em 1535, já depois da mortede Pêro Coutinho, e as honras da fundação couberama D. Brites de Vilhena. O Convento da Madre deDeus estendia-se «desde o cimo de Monchique atéao rio, numa sucessão de edifícios que se completa-vam e onde havia dois claustros muito singulares,cada um com seu chafariz, jardins, hortas e fontes».Durante mais de três séculos funcionou como con-vento para religiosas mas em finais do século XIX foidesactivado e dividido em dois lotes, vendidos emhasta pública. O que continha o claustro e as cape-las foi comprado por uma família inglesa, o outro foiadquirido por Clemente Meneres, um homem de ne-gócios que lá construiu uma fábrica de rolhas e um

Projecto hoteleiro pararecuperar edifício histórico

armazém de vinhos sem destruir o corpo principal doedifício. Hoje ainda se pode observar a fachada doconvento e os pátios que serviam as religiosas.

A trágica história de Simão Botelho e Teresa de Albu-querque, da autoria de Camilo Castelo Branco, imorta-lizou o Convento de Monchique. Foi de lá que Teresaacenou ao seu grande amor, Simão, quando este partiapara o degredo, num barco ao longo do Douro.

Aspecto actual do claustro

O claustro servia de espaço de lazer

A requalificação do Convento de Monchique poderá passar pelainstalação de uma unidade hoteleira no espaço