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Arquivo Público do Estado de São Paulo Oficinas do Arquivo O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula. Sequência didática Rodrigo Gomes de Souza dos Santos São Paulo, novembro de 2012.

Arquivo Público do Estado de São Paulo Oficinas do Arquivo · indispensáveis para análise de uma obra cinematográfica5. ... Marighella. Neste trecho, é apresentada a percepção

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Arquivo Público do Estado de São Paulo

Oficinas do Arquivo

O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula.

Sequência didática

Rodrigo Gomes de Souza dos Santos

São Paulo, novembro de 2012.

Tema: A participação civil nos órgãos de repressão do Estado durante o período do

regime civil - militar brasileiro (1967 – 1973).

Justificativa: A partir de filmes e documentos do acervo DEOPS/SP, eu pretendo

discutir com os alunos a participação civil nos órgãos de repressão durante o final da

década de 1960 e início dos anos 1970. Esse envolvimento do empresariado com os

agentes repressivos se dava de diversas maneiras: nos financiamentos, na circulação dos

empresários nas delegacias onde ocorriam sessões de tortura, na disponibilização de

veículos para os sequestros, nas aulas de tortura, entre outras formas.

Esse tema é atual e ainda é motivo para muita discussão. A criação das

Comissões da Verdade estadual e nacional, o relato do ex-delegado do Dops Cláudio

Guerra1, a revisão da lei de acesso a documentos sigilosos, o debate sobre a revisão da

lei de Anistia e os 20 anos de abertura do acervo DEOPS/SP colocaram o debate sobre a

repressão durante o regime de exceção no Brasil na ordem do dia.

Além disso, a discussão sobre as violações dos direitos humanos praticados

nesse período é de grande importância e permite traçar paralelos entre o passado e o

presente. A construção da memória social sobre essa época é outro ponto a ser

considerado para levar esse tema para a sala de aula.

Objetivos: O objetivo principal dessa sequência didática é discutir com os alunos a

participação civil nos órgão de repressão durante o período de exceção brasileiro. Para o

desenvolvimento pleno dessa atividade será necessário trabalhar também outras

competências com os alunos: o cinema como fonte histórica; tratar e comparar fontes de

diferentes tipologias; discutir processos históricos (rupturas e permanências);

estabelecer relações entre passado e presente; e questionar a memória social construída

sobre esse período.

Componente Curricular: O regime civil-militar brasileiro

1 NETTO, Marcelo; MEDEIROS, Rogério. Memória de uma guerra suja: Cláudio Guerra. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012.

Série/Ano: 3º Ano do Ensino Médio

Tempo Previsto: Quatro aulas

Atividades:

Aula 1.

Ao início da aplicação desse projeto, será feita uma apresentação geral das

intencionalidades do projeto para os alunos, com o intuito de fazê-los compreender os

motivos das aulas ministradas serem encaminhadas da forma proposta.

Em seguida, questionarei os alunos acerca de seus conhecimentos prévios sobre

o regime civil-militar; apresentando a eles o fato de que muitas rodovias, ruas, avenidas

e escolas possuem nomes de militares desse período;

A partir dessa conversa inicial será ministrada uma aula expositiva sobre os

antecedentes do golpe e seus principais desdobramentos. Pelo fato de cada aula ter

apenas 50 minutos, buscarei apontar de forma bastante clara e objetiva os principais

fatos e acontecimentos que ocorreram durante o período, de modo a apresentar um

panorama bastante compreensível e que de certa forma possa contemplar essa proposta

didática. Para subsidiar essa aula, utilizarei textos de Marcos Napolitano,2 Nilson

Borges3 e Carlos Fico4.

Durante esse encontro explicarei o processo político que desencadeou no golpe

dado pelos Civis e Militares no ano de 1964. Para tal, delimitei a exposição aos anos de

1961 a 1970, devido ao pouco número de aulas disponíveis, impossibilitando a

explanação detalhada de todo o período. Discutiremos as causas do golpe civil-militar

2NAPOLITANO, Marcos. O Regime Militar Brasileiro: 1964-1985. Coleção Discutindo a História do Brasil.

Editora Atual: São Paulo, 1998.

3BORGES, Nilson. A doutrina de segurança nacional e os governos militares. In: FERREIRA, Jorge e

DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da ditadura. Editora Civilização

Brasileira: Rio de Janeiro, 2003.

4FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. In: Revista de história brasileira.

Volume 24. Nº 47. São Paulo, 2004.

de 1964, realizando uma exposição sobre como o Regime foi se estruturando e se

consolidando no poder como uma força política de grande destaque, à medida que

mesmo sofrendo constantes pressões populares, conseguiu manter-se firmemente no

poder durante cerca de vinte e um anos.

Feita esta apresentação, entregarei aos alunos uma sinopse dos filmes que serão

trabalhados em sala de aula (Anexo I), tendo em mente o fato de que os alunos precisam

conhecer brevemente a história e o enredo dos filmes utilizados. Deixarei claro para os

alunos os motivos de não reproduzir o filme na íntegra e o porquê da seleção de

determinadas cenas. Apresentarei brevemente os contextos de produção dessas obras e

informações sobre seus diretores, já que estas se destacam como informações

indispensáveis para análise de uma obra cinematográfica5.

Para as aulas, utilizarei roteiros com questões para análise dos filmes, que serão

entregues no início das aulas (Anexo II), contendo questões que estejam voltadas à

compreensão da obra cinematográfica como uma fonte documental, não nos limitando

apenas a utilizá-la como mera ilustração. Além disso, o objetivo é trabalhar com a obra

cinematográfica de tal modo que a análise não se limite apenas à observação do

conteúdo explícito do filme, alcançando também os parâmetros de uma análise acerca

do conteúdo implícito dele. Ferro faz a critica aos trabalhos que se detêm somente aos

aspectos explícitos do filme, pois segundo o autor, os aspectos implícitos são próprios

da linguagem cinematográfica6.

Aula 2.

No início dessa aula, apresentarei o primeiro trecho do documentário (00:26:40

– 00:33:20), que trata das manifestações que ocorreram contra o regime militar

brasileiro até o decreto do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Essa cena apresenta os

objetivos e características do AI–5 e seu primeiro impacto na sociedade brasileira. Em

seguida, o filme mostra a mudança de postura da esquerda após a institucionalização do

aparelho repressivo militar, partindo definitivamente para a clandestinidade e para a luta

armada. 5 CATELLI JUNIOR, Roberto. Cinema e história na sala de aula. In: Temas e linguagens da história: ferramentas para a sala de aula no Ensino Médio. Editora Scipione: São Paulo, 2009.

6 FERRO, Marc. Cinema e História. SP: Paz e Terra, 1992. Página 51.

Juntamente com este trecho, serão utilizados trechos do AI-5 (Anexo III) e de

depoimentos contidos na coleção Brasil Nunca Mais (Anexo IV), introduzidos à medida

que forem apresentados aos mesmos os conflitos entre a Direita e a Esquerda:

• Os trechos do conteúdo do Ato Institucional Nº 5 (AI-5) serão analisados

juntamente com os alunos. O principal motivo desta análise será apresentarmos

aos alunos a questão da Segurança Nacional e os discursos presentes entre os

golpistas.

• Os depoimentos e conteúdos presentes na “Coleção Brasil Nunca Mais”,

servirão como base para a análise dos discursos presentes entre aqueles que

participaram da luta contra o regime civil-militar brasileiro, e principalmente os

que sofreram com as torturas nos porões do Dops, da Operação Bandeirantes

(Oban) e do DOI-CODI,

À medida que os militares foram se firmando no poder e se apropriaram de

novas formas de coerção em relação àqueles que se mostravam contra suas imposições,

foram editados os chamados Atos Institucionais, sendo que o mais importante e nefasto

foi o Ato Institucional nº. 5 (AI-5), decretado em 13 de dezembro de 1968:

Mesmo nas Forças Armadas, não havia convicção generalizada acerca

das características e da duração do Regime Militar (...). O Ato

Institucional n.º 5 consumou o fechamento direto da Ditadura Militar

(...) houve a militarização do Estado...7

Uma das características mais marcantes do Regime civil militar brasileiro era o

caráter duplo do discurso proferido pelos defensores do mesmo, ou seja, existia ao

mesmo tempo tanto um discurso oficial quanto um discurso não oficial do regime. Por

este motivo, apresentaremos aos alunos ambos os discursos proferidos pelos militares.

O discurso oficial do Regime foi marcado pela presença dos Atos Institucionais (AI),

que aos poucos foram cerceando as liberdades constitucionais e democráticas da

população brasileira.

7 GORENDER, Jacob. Combate nas trevas; A esquerda brasileira: Das ilusões perdidas à luta armada. Editora Ática: São Paulo, 1987, Página 71.

À medida que o Brasil se via em ascendente crescimento econômico,

apresentando cada vez mais um discurso nacionalista em relação à nação brasileira,

discurso este que era alimentado por slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o” e pelas

vitórias da seleção brasileira de futebol na Copa de 70 no México, a população que se

rebelava contra as imposições arbitrárias do Regime se via cada vez mais reprimida

política e socialmente.

A Luta armada vai aos poucos se tornando uma das formas de maior destaque no

que diz respeito ao combate à tirania do Regime. Alguns dos mais importantes quadros

da luta armada eram originários das cadeiras do “Partidão”, com grande destaque para

Carlos Marighella e sua organização ALN (Ação Libertadora Nacional).

Em contrapartida, os militares justificam até os dias atuais que seus atos de

violação aos direitos humanos, como tortura, prisões arbitrárias e assassinatos, foram

decorrentes da intensificação da Luta Armada, e que o Ato Institucional que concretizou

o poder dos mesmos, o quinto, só pôde ser arquitetado e posto em prática em

decorrência disto.

Denise Rollemberg, em sua obra, considera a existência de tentativas de

resistência armada por parte da esquerda no período anterior ao AI-5, e até mesmo

anterior ao golpe de Estado que instaurou o regime civil-militar no Brasil. Segundo a

autora, a historiografia marxista explica e justifica o advento da luta armada como

consequência direta do endurecimento do Regime por meio do AI-58.

Aula 3.

Tendo trabalhado por meio das fontes e das aulas expositivas o processo de

consolidação dos militares no poder por meio do AI-5, assim como o destaque para a

Luta Armada como uma das forças de oposição ao governo militar que mais o

preocupava; se torna possível à apresentação da Operação Bandeirantes (Oban),

bastante presente no enredo do documentário Cidadão Boilesen.

8 ROLLEMBERG, Denise. Esquerdas revolucionárias e luta armada. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da ditadura. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2003, Página 48 e 49.

A Operação Bandeirantes (Oban) se destaca por ter sido um dos pilares da

repressão durante grande parte do regime civil-militar brasileiro. Criada em São Paulo

no mês de julho do ano de 1969, a Oban era formada por agentes paramilitares

provenientes das forças militares, civis e federais, e tinha como principal característica

sua condição de centro clandestino de tortura e detenção de presos políticos que

praticavam a subversão contra o regime de exceção instaurado no Brasil no período.

A Oban, criada posteriormente ao AI-5, como uma resposta direta ao avanço das

ações da Luta Armada, entra neste momento como parte fundamental, já que o objetivo

principal é trabalhar a participação civil nos órgãos da repressão. A partir deste

momento da atividade proposta, tal participação se mostra bastante clara, propiciando a

construção da imagem dos civis como um dos pilares responsáveis pela sustentação do

regime.

Neste momento, já se torna possível apresentar a segunda cena do documentário

(00:33:21 – 00:41:00), onde nos é apresentada a visão norte-americana sobre o Brasil,

após o assassinato do Capitão Charles Chandler. Ela trata também as ações dos grupos

da esquerda armada, principalmente os liderados por Carlos Lamarca e Carlos

Marighella. Neste trecho, é apresentada a percepção dos militares, de que o inimigo está

no interior do país, na figura dos nacionalistas. Em seguida, são apresentados os

motivos da criação da chamada Operação Bandeirantes (Oban), além dos objetivos

dessa organização paramilitar.

Ainda nesse trecho, é colocada a forma de organização da Oban e seus métodos

de ação, além de retomar uma figura emblemática da repressão política no Brasil:

Sérgio Paranhos Fleury.

Como enfoque principal de nossas discussões está presente a questão do

conceito de Ditadura Civil-Militar, presente na obra do historiador Carlos Fico,

esclarecendo nas aulas no que consiste tal conceito, proporcionando um questionamento

maior tanto sobre a participação civil quanto sobre a participação das grandes

corporações no financiamento da repressão e no apoio político, determinante para a

manutenção do Regime.

Como foram trabalhados anteriormente tanto o conceito de Ditadura Civil-

Militar quanto a sustentação política do regime, que possibilitou a ocorrência de uma

militarização do Estado, poderemos agora analisar algumas cenas do filme Prá Frente,

Brasil.

Em seguida, serão apresentadas aos alunos cenas do filme Pra Frente Brasil: a

primeira (00:03:30 – 00:05:30) se inicia com Jofre, o irmão do protagonista Miguel,

dividindo o táxi com um desconhecido. Enquanto viajam, são transmitidas notícias de

rádio sobre a situação política na América Latina, quando um furgão começa a perseguir

o taxi e é revelado que o desconhecido é um procurado pelos paramilitares. O procurado

é morto em uma troca de tiros e Jofre é sequestrado no lugar dele. Tal cena mostra aos

alunos o fato de que principalmente no período posterior ao AI-5 (dezembro de 1968),

não era necessário um envolvimento com questões políticas para que um cidadão fosse

visto como inimigo do regime.

A segunda cena (00:11:00 – 00:13:35) segue com o interrogatório ao qual Jofre

foi submetido pelos paramilitares após sua captura. Nesta cena, está fortemente presente

a questão da tortura, procurando mostrar como os opositores do regime eram

interrogados. A intenção nesta parte do projeto é apresentar em primeiro plano, a grande

violência existente no aparelho repressor do Estado.

O terceiro trecho (01:13:50 – 01:19:30) tem forte relação com a participação dos

grandes empresários no financiamento do regime militar. Miguel intima Geraldo, que de

acordo com o diretor, é a representação de Boilesen no filme. Ao descobrir o paradeiro

de Jofre, Miguel descobre que Geraldo está envolvido no financiamento da tortura e da

repressão. Este, em sua defesa, afirma que está lá por obrigação, e não por vontade

própria. Após receber uma ligação de Garcia, que faz parte desta organização, Miguel e

Geraldo participam de uma aula de tortura realizada por um especialista norte-

americano.

Neste momento ressaltaremos a participação direta de civis nos órgãos da

repressão. Muitos empresários, assim como Henning Boilesen, frequentavam as sessões

de tortura, na sede da OBAN. Assim, em conjunto com essa cena, retomarei com os

alunos os fragmentos dos relatos de presos políticos contidos no “Brasil: Nunca Mais”

(Anexo IV). Esses relatos se mostram importantes à medida que problematizaremos a

íntima participação de civis nos porões da repressão política.

Aula 4.

Para finalizar o trabalho com os filmes será exibida a última cena do

documentário Cidadão Boilesen (00:59:45 – 01:01:45). O diretor Roberto Farias

comenta o roteiro do Pra Frente, Brasil e o seu conhecimento sobre Henning Boilesen e

sobre a Operação Bandeirante (OBAN). Celso Amorim, então presidente da

Embrafilme, comenta o contexto de produção dessa ficção, e a referência desta a

operação bandeirante. A cena mostra ainda a censura ao filme e o consequente pedido

de demissão de Celso Amorim por seu apoio a produção desse filme.

A partir dessa última exibição pedirei aos alunos que relacionem as duas obras

cinematográficas, se atentando aos conteúdos apreendidos nas aulas expositivas e como

o diretor do filme Pra Frente, Brasil apresenta sua relação com a personagem principal

do documentário de Chaim Litewski.

Para finalizarmos a sequência, será realizada uma discussão acerca da atualidade

do tema do regime civil militar brasileiro, que se destaca como parte integrante da

chamada História do tempo presente.

Será proposto aos alunos a divisão em grupos para analisarem uma charge e uma

matéria de um jornal (Anexo V). Esses grupos devem socializar os resultados

alcançados e debaterem sobre a atuação da polícia militar. O objetivo último dessa

atividade é discutir as permanências e as rupturas do período do regime civil militar,

focando a violação dos direitos humanos.

A questão da repressão militar e da violação dos direitos humanos nos dias

atuais deve ser tratada, mas com muito cuidado. Isso porque pode levar a generalizações

e uma sensação de imobilismo. Porém essa questão não deve ser deixada de lado, pois a

polícia militar coleciona diversas acusações de abusos e excessos. Sua prática, como

uma polícia de confronto, leva a diversos casos como o desse senhor doente citado na

reportagem. Ao contrário daquilo que é previsto na Constituição de 1988, a polícia tem

suas ações calcadas na presunção de culpa.

Procurando reverter essa imagem da polícia militar, o alto comando decidiu criar

uma lista de metas. Entre seus objetivos estaria diminuir os níveis de letalidade, ou seja,

o policial que matar menos vai ser premiado. Essas medidas que supostamente visam

diminuir o número de ações desastrosas da polícia estão registradas na charge de Diogo

Salles.

Por fim, vale a pena ressaltar que em maio desse ano o Conselho de direitos

humanos da ONU recomendou ao Brasil o fim da polícia militar. Herança do regime

civil-militar, o Brasil é um dos poucos países que ainda mantém uma polícia com essa

estrutura. Além disso, foi indicado ao Brasil a necessidade de reformar seu sistema

penitenciário, dar condições de trabalho as Comissões da Verdade e recursos

necessários para reconhecer os direitos das vítimas à justiça e reformar seus programas

de formação em direitos humanos para as forças de segurança.

Bibliografia:

BORGES, Nilson. A doutrina de segurança nacional e os governos militares. In:

FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.). O Brasil Republicano: o

tempo da ditadura. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2003.

CATELLI JUNIOR, Roberto. Cinema e história na sala de aula. In: Temas e linguagens

da história: ferramentas para a sala de aula no Ensino Médio. Editora Scipione: São

Paulo, 2009.

FERRO, Marc. Cinema e História. SP: Paz e Terra, 1992.

FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. In: Revista de

história brasileira. Volume 24. Nº 47. São Paulo, 2004.

FICO, Carlos. Espionagem, polícia política, censura e propaganda: os pilares básicos

da repressão. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.). O Brasil

Republicano: o tempo da ditadura. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2003.

GORENDER, Jacob. Combate nas trevas; A esquerda brasileira: Das ilusões perdidas

à luta armada. Editora Ática: São Paulo, 1987.

NAPOLITANO, Marcos. O Regime Militar Brasileiro: 1964-1985. Coleção Discutindo

a História do Brasil. Editora Atual: São Paulo, 1998.

ROLLEMBERG, Denise. Esquerdas revolucionárias e luta armada. In: FERREIRA,

Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da

ditadura. Editora Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2003.

RIDENTI, Marcelo. O fantasma da Revolução Brasileira. Editora UNESP: São Paulo,

2010.

SALES, Jean Rodrigues. A luta armada contra a ditadura: A esquerda brasileira e a

influência da Revolução Cubana. Coleção História do Povo Brasileiro. Editora

Fundação Perseu Abramo: São Paulo, 2007.

Anexo I: Fichas técnicas e sinopses

Cidadão Boilesen.

Título original: Cidadão Boilesen

Diretor: Chaim Litewski

Gênero: Documentário

Duração: 92 minutos

Ano: 2009

Data da Estréia: 27/11/2009

Sinopse:

O documentário “Cidadão Boilesen”, produzido em 2009 pelo diretor Chaim

Litewski, procura remontar a vida de Henning Albert Boilesen (1916 – 1971),

presidente do Grupo Ultra no Brasil. Ao reconstruir sua trajetória de vida, o diretor

mostra a ligação deste personagem com o financiamento da repressão política aos

opositores do Regime Militar.

O diretor no início do filme questiona alguns moradores da rua que leva o nome

de Boilesen, e parte para a Dinamarca, país de origem de Boilesen, para remontar a

difícil infância do presidente do grupo Ultra. Em seguida o diretor mostra como se deu a

emigração de seu protagonista, e como esse ascendeu à presidência do grupo Ultra.

Assim, estabelecido aqui no Brasil e alcançado certo status social, Henning Boilesen

passou a cultivar relações próximas com os defensores do regime militar.

O documentário neste ponto mostra o apoio político e financeiro dado pelos

empresários para a sustentação do regime militar. Estes financiaram e apoiaram a

criação de aparelhos para a repressão dos opositores do regime, como a Operação

Bandeirantes (OBAN). Boilesen tornou-se uma das figuras centrais nesse esquema

arquitetado para apoiar o regime contra a ameaça comunista, pois além de ser um dos

empresários que encabeçava e coletava o dinheiro utilizado para financiar as operações

de repressão, ele visitava frequentemente torturadores conhecidos e assistia a sessões de

tortura.

Por suas visitas a sede da OBAN em São Paulo, e pela frequente percepção da

presença de carros da ULTRAGÁS em ações relacionadas à repressão, Henning

Boilesen ficou conhecido por integrantes da esquerda armada, e assim sentenciado à

morte por um tribunal revolucionário. Condenado, Boilesen foi justiçado em uma ação

em conjunto entre integrantes do MRT e da ALN, em 1971.

Este premiado documentário, ao remontar a história de vida de Henning Albert

Boilesen, reconstrói a vida de muitos empresários que apoiaram financeiramente e

politicamente o regime militar. Este filme trabalha com uma vasta documentação

histórica e com relatos de vários personagens importantes desse período. O diretor

busca nesse filme apresentar depoimentos da esquerda e da direita, para discutir um dos

períodos mais controversos da história nacional.

Pra Frente, Brasil.

Título original: Pra Frente, Brasil

Diretor: Roberto Farias

Gênero: Drama

Duração: 104 minutos.

Ano de lançamento: 1983

Sinopse:

O filme “Pra frente, Brasil”, produzido por Roberto Farias em 1982, procura

remontar os anos 1970, onde o Brasil vivia a sombra de um governo repressor. Ao

apresentar alguns aspectos desse governo como o crescimento econômico e a

propaganda ufanista em torno do país e de sua seleção de futebol, o filme traz à luz do

debate o apoio financeiro dos empresários à repressão política aos opositores do regime.

Jofre (Reginaldo Faria) vive um trabalhador comum, que não tinha ligações

políticas com a esquerda armada, e que ao dividir um táxi com um militante esquerdista,

é visto como subversivo pelos agentes da repressão. Ele é preso e submetido a sessões

de tortura.

Miguel (Antônio Fagundes) possui características semelhantes à de seu irmão,

exceto pelo fato de ser apaixonado por uma militante de esquerda chamada Mariana

(Elisabete Savalla). Ao perceber a ausência de seu irmão, Miguel, juntamente com

Mariana, busca os meios legais na tentativa de encontrar Jofre, e encontra sérias

dificuldades. É quando Miguel passa a procurar sozinho seu irmão, e acaba descobrindo

a ligação de seu patrão, um grande empresário da época, com o financiamento da

repressão política e da tortura.

No desenrolar da trama, Miguel chega a assistir a uma aula de tortura promovida

em conjunto entre agentes da C.I.A e de oficiais da Operação Bandeirantes (OBAN).

Ele também presencia a execução de um empresário que financiava a ação de grupos

que repremiam violentamente os opositores do regime militar.

Após sessões de tortura Jofre morre nos porões da repressão política, sendo que

seu irmão não encontra nem o seu corpo, e ainda acaba assistindo ao assassinato de sua

amada Mariana. Tudo isso ocorre enquanto a nação comemora a vitória da seleção

brasileira na Copa de 1970.

Esse premiado filme foi censurado no dia seguinte ao seu lançamento. Mesmo

sendo financiado pela Embrafilme (órgão oficial do governo), teve sua reprodução

proibida e ocasionou no afastamento do então diretor deste órgão. Este filme retrata

questões importantes desse período da história brasileira, o regime militar, e expõe a

participação civil na sustentação desse governo.

Anexo II: Questões sobre os filmes

Cena 1 – Militantes e AI-5 (00:26:40 – 00:33:20) – Cidadão Boilesen

1. Observar o contraste entre a letra da música e as cenas que se passam no decorrer da

música.

2. O que significou o AI-5 para o regime militar?

3. Observar as formas de resistência ao regime militar.

4. Observar o despreparo da polícia política em relação às primeiras ações dos grupos

de esquerda (expropriações, justiçamentos, sequestros).

Cena 2 – OBAN (00:33:21 – 00:41:00) – Cidadão Boilesen

1. Observar a visão dos militares sobre a correlação de força com a esquerda.

2. Observar a importância da participação civil na OBAN.

3. Quais os objetivos principais dessa organização (OBAN).

4. Como a OBAN é caracterizada a partir dos depoimentos.

Cena 3 – Sequestro (00:03:30 – 00:05:30) – Pra Frente, Brasil.

1. Qual a primeira impressão que esta cena te transmite?

2. O que esta cena mostra a respeito do período trabalhado?

3. Observar as características da atuação dos paramilitares nesta cena.

Cena 4 – Tortura (00:11:00 – 00:13:35) – Pra Frente, Brasil.

1. Observar que a tortura não era apenas física, mas também, psicológica.

2. Observar a eficiência desses métodos de tortura.

3. "Eu não pertenço a nenhum grupo não... Eu não sou de política!" - O que esta frase

reflete e qual a reação dos militares frente a esta manifestação?

4. Qual a personalidade dos interrogadores? E do interrogado?

Cena 5 – Pra Frente Brasil (00:59:45 – 01:01:45) – Cidadão Boilesen

1. Observar o que acontecia com as produções que divergiam das políticas do regime.

2. Porque esse filme foi censurado?

3. Observar se os depoimentos apresentam a relação do filme com o que acontecia no

período representado.

Anexo III: Ato Institucional nº. 5 (AI-5)

Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa,

simultaneamente, em:

I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:

a) liberdade vigiada;

b) proibição de frequentar determinados lugares;

c) domicílio determinado,

§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou

proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.

§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo

Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário9.

9 Transcrição de um trecho do Ato Institucional nº. 5 (AI-5) decretado em 13 de dezembro de 1968. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. Fundo Deops/SP.

Anexo IV: Depoimentos retirados da Coleção “Brasil: Nunca Mais”10.

Aulas de tortura: os presos-cobaias

“O estudante Angelo Pezzuti da Siva, 23 anos, preso em Belo Horizonte e

torturado no Rio, narrou ao Conselho de Justiça Militar de Juiz de Fora, em 1970:

(…) que na PE (Polícia do Exército) da GB, verificaram o interrogado e seus

companheiros que as torturas são uma instituição, vez que, o interrogado foi o

instrumento de demonstrações práticas desse sistema, em uma aula de que participaram

mais de 100 (cem) sargentos e cujo professor era um oficial da PE, chamado Tenente

Ayton que, nessa sala, ao tempo em que se projetavam “slides” sobre tortura, mostrava-

se na prática para a qual serviram os interrogados, MAURICIO PAIVA, AFONSO

CELSO, MURILO PINTO, P. PAULO BRETAS, e, outros presos que estavam na PE-

GB, de cobaias; (…)”

O “pau-de-arara”

“(...) O pau-de-arara consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os

punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o “conjunto” colocado entre duas mesas,

ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm. do solo. Este método

quase nunca é utilizado isoladamente, seus “complementos” normais são eletrochoques,

a palmatória e o afogamento. (...)”

Mulheres torturadas

“O professor Luiz Andréa Favero, de 26 anos, preso em Foz do Iguaçu, declarou

na Auditoria Militar de Curitiba, em 1970, o que ocorrera a sua esposa:

(...) o interrogado ouviu os gritos de sua esposa e, ao pedir aos policiais que não

a maltratassem, uma vez que a mesma estava grávida, obteve como resposta uma risada;

(...) que ainda, neste mesmo dia, teve o interrogando notícia de que sua esposa sofrera

uma hemorragia, constatando-se posteriormente, que a mesma sofrera um aborto; (...)”.

10 Arquidiocese de São Paulo. Um relato para a história - Brasil: Nunca Mais. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. Fundo Deops-SP.

Anexo V: Jornais

Diante de tantas mortes de inocentes, o Comando da PM tomou uma decisão: vai dar bônus aos PMs com

“baixa letalidade policial”. Ou seja, vai premiar aqueles que apenas cumpriram seu dever. É difícil

saber como esses cinco indicadores poderão medir resultados práticos à sociedade — e mesmo assim,

eles só virão (se vierem mesmo) a longo prazo.

Por ora, o cidadão comum espera apenas poder andar na rua sem temer a PM. Não é pedir muito, é?11

1) Quais os personagens que aparecem na Charge? Qual o título da Charge?

2) Quais os motivos dessa condecoração?

3) Qual o desejo do autor, segundo a legenda?

4) Relacione a charge com a atuação da polícia militar tanto no período de exceção

brasileiro quanto nos dias atuais.

5) Relacione com a matéria do jornal “Folha de São Paulo”.

11 SALLES, Diogo. Condecoração. Jornal da Tarde. São Paulo, 13 de agosto de2012. JT Opinião. Pág. 2A. Acervo Arquivo do Estado de São Paulo.

Laura Capriglione e Joel Silva. Careca após químio, homem é confundido com criminoso: fotógrafo diz

que foi humilhado pela PM na rua após mulher acusá-lo de roubo. Folha de São Paulo. São Paulo, 2 de

agosto de 2012. Cotidiano. Pág. C6. Acervo Arquivo do Estado de São Paulo.

1) Como foi a abordagem da polícia militar? Levaram em consideração sua doença?

2) Outras pessoas tentaram intervir durante a ação da polícia? Quais? Surtiu efeito essa interferência?

3) Houve presunção de inocência? 4) O que diz a o representante da polícia militar? 5) Esse é um comportamento padrão da polícia militar? Justifique. 6) Quais os significados implícitos dessa ação da PM?