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ARRANJO EXTRATIVISTA DO PEQUI (Caryocar brasiliense Camb.), NA REGIÃO DE IPORÁ – GOIÁS: SUSTENTABILIDADE E DINÂMICA DA COMERCIALIZAÇÃO Eliane de Oliveira, CPF: 080.933.558-12 Engenheira Agrônoma, doutoranda em Desenvolvimento Sustentável no CDS (Centro de Desenvolvimento Sustentável), da Universidade de Brasília e Pesquisadora do Departamento de Organização Rural e Agricultura Familiar da AGENCIARURAL (Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário). Endereço: Rua Jornalista Geraldo Vale, nº 331, Cx. Postal 331, Setor Leste Universitário, CEP 74.640-135, Goiânia-GO; Fone: (62) 201.8756/ 202.2239; E-mail: [email protected] Eloisa Helena Longhi, CPF: 555.163.789-15 Engenheira Agrônoma, M. Sc. em Agronegócios pela Universidade de Brasília, pesquisadora do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL, à disposição da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás. Endereço: Ra 229, nº 86, Qd. 54. Lt. 8A, Apto. 501, Setor Leste Universitário, CEP 74.605.390, Goiânia-GO; Fone (62)224.7240 / 201.8972; E-mail: [email protected] Job Carneiro Vanderlei, CPF: 124.070.541-72 Engenheiro Agrônomo, M. Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela UFLA-MG, pesquisador do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL. Endereço: Av. São Paulo, Qd. 42, Lt.8/9, apto. 401/C, Ed. Itália, Jardim Esmeralda, CEP 74.905.770, Goiânia- GO; fone: (62)3091.4006 / 201.8753; E-mail: [email protected] Idalina Dias Carneiro da Silva, CPF: 154.593.651-04 Engenheira Agrônoma, pesquisadora do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL. Endereço: Av. T 11, nº 2547, Apto. 101-B, Setor Bueno, CEP 74610-060 Goiânia-GO, fone: (62)3095.5032 / 201.8753; E-mail: [email protected] Eduardo Villela Rocha, CPF: 130.154.351-91 Engenheiro Agrônomo, pesquisador, Supervisor de Comunidades Étnicas da AGENCIARURAL. Endereço: Sítios de Recreio São Geraldo, chácara nº 15, Setor Campus/Itatiaia, CEP 74610-060, Goiânia-GO, fone: (62)205.1032 / 201.8823, E-mail: [email protected] ÁREA TEMÁTICA 6. Agricultura e Meio Ambiente FORMA DE APRESENTAÇÃO Sessão com debatedor 1

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ARRANJO EXTRATIVISTA DO PEQUI (Caryocar brasiliense Camb.), NA REGIÃO

DE IPORÁ – GOIÁS: SUSTENTABILIDADE E DINÂMICA DA

COMERCIALIZAÇÃO

Eliane de Oliveira, CPF: 080.933.558-12

Engenheira Agrônoma, doutoranda em Desenvolvimento Sustentável no CDS (Centro de Desenvolvimento Sustentável), da Universidade de Brasília e Pesquisadora do Departamento de Organização Rural e Agricultura Familiar da AGENCIARURAL (Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário). Endereço: Rua Jornalista Geraldo Vale, nº 331, Cx. Postal 331, Setor Leste Universitário, CEP 74.640-135, Goiânia-GO; Fone: (62) 201.8756/ 202.2239; E-mail: [email protected]

Eloisa Helena Longhi, CPF: 555.163.789-15

Engenheira Agrônoma, M. Sc. em Agronegócios pela Universidade de Brasília, pesquisadora do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL, à disposição da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás. Endereço: Ra 229, nº 86, Qd. 54. Lt. 8A, Apto. 501, Setor Leste Universitário, CEP 74.605.390, Goiânia-GO; Fone (62)224.7240 / 201.8972; E-mail: [email protected]

Job Carneiro Vanderlei, CPF: 124.070.541-72 Engenheiro Agrônomo, M. Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela UFLA-MG, pesquisador do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL. Endereço: Av. São Paulo, Qd. 42, Lt.8/9, apto. 401/C, Ed. Itália, Jardim Esmeralda, CEP 74.905.770, Goiânia-GO; fone: (62)3091.4006 / 201.8753; E-mail: [email protected]

Idalina Dias Carneiro da Silva, CPF: 154.593.651-04 Engenheira Agrônoma, pesquisadora do Departamento de Desenvolvimento Vegetal da AGENCIARURAL. Endereço: Av. T 11, nº 2547, Apto. 101-B, Setor Bueno, CEP 74610-060 Goiânia-GO, fone: (62)3095.5032 / 201.8753; E-mail: [email protected]

Eduardo Villela Rocha, CPF: 130.154.351-91 Engenheiro Agrônomo, pesquisador, Supervisor de Comunidades Étnicas da AGENCIARURAL. Endereço: Sítios de Recreio São Geraldo, chácara nº 15, Setor Campus/Itatiaia, CEP 74610-060, Goiânia-GO, fone: (62)205.1032 / 201.8823, E-mail: [email protected]

ÁREA TEMÁTICA

6. Agricultura e Meio Ambiente

FORMA DE APRESENTAÇÃO

Sessão com debatedor

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ARRANJO EXTRATIVISTA DO PEQUI (Caryocar brasiliense Camb.), NA REGIÃO

DE IPORÁ – GOIÁS: SUSTENTABILIDADE E DINÂMICA DA

COMERCIALIZAÇÃO1

Resumo O pequi é um fruto tradicional na cultura sertaneja, cuja espécie (Caryocar brasiliense Camb.) apresenta ocorrência generalizada no Bioma Cerrado. O consumo e comercialização da fruta "in natura" e de seus derivados, têm significativa importância sócio-econômica para a população da região. Faz parte da cultura local do cerrado, tem valor nutritivo e medicinal, entrando na composição de pratos típicos, além de gerar renda e emprego para agricultores familiares. Entretanto, a futura exploração sustentável desta atividade encontra-se ameaçada por limitações como: erosão genética, domesticação da espécie, pouco conhecimento e complexidade das técnicas de propagação e manejo, inexistência de padrões de qualidade na comercialização, dispersão e desarticulação dos agentes do arranjo extrativista, além da informalidade nos segmentos componentes. A fim de contribuir para gerar informações úteis e estratégicas para subsidiar o planejamento territorial e o desenvolvimento sustentável, este trabalho teve como objetivos identificar os principais agentes do arranjo extrativista, descrever a dinâmica da comercialização do pequi e estimar sua importância sócio-econômica, na região de Iporá, no Oeste do Estado de Goiás. Palavras-chaves: arranjo extrativista do pequi, desenvolvimento territorial, agricultura familiar. 1 Projeto desenvolvido pela AGENCIARURAL (Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário), com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2004.

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1.Introdução O Cerrado constitui o segundo maior Bioma/Domínio morfoclimático do Brasil e da América do Sul, além de ser considerado a maior savana do mundo. Ocupa cerca de 1/4 (um quarto) do território brasileiro, ou seja, aproximadamente 2.000.000 de Km², abrigando um rico patrimônio de recursos naturais renováveis adaptados às duras condições edafoclimáticas. Pela sua extensão e localização, o Cerrado constitui o ecossistema de integração nacional. É uma região natural exclusivamente brasileira, exceto uma pequena área no nordeste da Bolívia (Alto Mamoré). Graças, principalmente, aos estudos para manejo de solos, à topografia propícia à agricultura mecanizada, à existência de rede de estradas e à proximidade dos centros consumidores, esse rico e ainda pouco conhecido Bioma se transformou, nas últimas décadas, na nova fronteira agrícola do país, a ponto de o Cerrado ser hoje uma das maiores regiões produtoras de grãos do Brasil e ser reconhecido como a última fronteira agrícola em extensão do mundo (Seplan-GO, 1993). O enfoque territorial aplicado ao planejamento permite a valorização de algumas características locais como, por exemplo, os atributos naturais e a herança cultural de uma determinada localidade, transformando-os em vantagens competitivas dos territórios (Beduschi Filho & Abramovay, 2003). Porém, a tendência do recente e inacabado processo de desenvolvimento econômico na região do cerrado brasileiro, intensificando o sistema de exploração agropastoril adotado, substituindo a vegetação nativa por grandes plantações e pastagens, ameaça à conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável do bioma, por desconsiderar o patrimônio natural/ambiental existente. Além disso, o modelo de desenvolvimento da agricultura implantado nesta região, aumentou a produção regional, no entanto, foi incapaz de fazê-lo sem excluir uma parcela importante da pequena produção, agravando o desemprego, contribuindo para a degradação ambiental e o êxodo rural. Conforme Beduschi Filho & Abramovay, 2003:

“um dos problemas mais sérios dos programas governamentais de desenvolvimento é que caracterizam-se por seu completo afastamento com relação ao mundo empresarial das regiões onde atuam. As empresas (nano, micro, pequenas, médias e grandes) são os mais importantes protagonistas do processo de desenvolvimento. Voltar recursos materiais e humanos ao fortalecimento do empreendedorismo entre populações pobres sem que esta tentativa esteja articulada com as realidades empresariais locais é promover preocupante dissociação entre economia e sociedade, entre políticas sociais e políticas de desenvolvimento: é um convite a que as políticas sociais tenham uma dimensão puramente compensatória e que não sirvam, se não de maneira muito indireta, para dinamizar a vida econômica local”

Como exemplo dessa limitação, podemos citar que nos territórios do Centro-Oeste, a cultura da população autóctone, o grau e conhecimento acumulado sobre os recursos disponíveis, suas formas de valorização através de usos e costumes tradicionais de consumo in natura ou "beneficiado" de diversas espécies vegetais nativas (frutíferas e/ou medicinais), com grande potencial econômico, social e de manejo alternativo adequado da biodiversidade, parecem estar sendo ignorados pelo modelo de desenvolvimento adotado.

A incorporação destes costumes locais a sistemas de comercialização com exploração formalizada e agregação de valor aos produtos tradicionalmente coletados/utilizados de

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alguma forma, pode e deve constituir-se em estratégia de conservação da biodiversidade e inclusão social, visando o desenvolvimento territorial sustentável. Das espécies nativas do Cerrado com valor econômico e importância social, o pequizeiro tem posição de destaque, sendo amplamente disseminado na região dos Cerrados (Ribeiro et al., 1994; Santos & Aoki, 1992; Silva et al., 1997; Ribeiro et al., 1997). Pertencendo à família Caryocaraceae, de nome científico Caryocar brasiliense Camb., sua ocorrência está associada aos seguintes tipos de vegetação: Campo, Cerrado, Cerradão e Mata Calcárea e em “murunduns” (Silva et al., 1991 ; Almeida & Silva, 1994), nos estados da Bahia, Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo (Almeida & Silva, 1994; FIBGE, 1975 – 1992). Do fruto pode ser aproveitada a polpa (mesocarpo interno) cozida, usada na alimentação humana com farinha, arroz, feijão ou galinha. É bastante disseminada na medicina popular regional a utilização do óleo de pequi contra gripes e bronquites (Almeida & Silva, 1994), sendo também usado como condimento (Peixoto, 1973; Almeida & Silva, 1994), lubrificante (Lisboa, 1931, Peixoto, 1973), na indústria de cosméticos para fabricação de cremes, sabões, sabonetes (Heringer, 1970; Peixoto, 1973; Almeida & Silva, 1994) e na farmacopéia popular (Lisboa, 1931; Peixoto, 1973). A folha do pequi é considerada medicinal, já que estimula a secreção da bílis (Brandão et al., 1992) e, segundo Oliveira et al. (1970), o extrato etanólico das folhas tem atividade contra o sarcoma 180, um tipo de câncer de pele. Segundo Carvalho & Burger (1960), de todos os frutos usualmente consumidos no Brasil, o pequi possui a maior quantidade de vitamina A, que é responsável, por exemplo, pela estrutura óssea, dentária, capilar, dérmica e também pela visão. Além de vitaminas B1 e B2, ele é rico em calorias, gorduras, cálcio, fósforo, fibras, proteínas e ferro. Assim, devido à sua composição, o pequi poderia suprir a carência nutricional das populações que vivem nas áreas de Cerrado e têm poucas opções de alimentação. Apesar da importância do pequi para a alimentação de várias famílias que habitam a região do Cerrado, bem como para outros fins (indústria de cosméticos, farmacêutica, etc.), esta planta, assim como outros recursos naturais (flora e fauna) que são de interesse sócio-econômico para as populações desta região, estão sendo gradativamente eliminadas para dar lugar ao estabelecimento de extensas áreas de produção agropecuária, sem estudo mais intensivo do emprego de suas potencialidades. A presença do Estado nas experiências européia e norte-americana em programas de desenvolvimento rural desempenhou um papel decisivo imprimindo estabilidade e fornecendo parâmetros para o funcionamento da própria rede de iniciativas localizadas e voltadas à inovação no processo de desenvolvimento. Sem esta atuação do Estado, o risco de a rede se decompor em virtude das naturais diferenças entre seus membros componentes ou de não encontrar interlocutores à altura de suas necessidades é imenso. A conseqüência é que as organizações mais expressivas da vida econômica regional não têm incentivos para permanecer em sua articulação (Beduschi Filho & Abramovay, 2003). Este é o caso do arranjo produtivo relacionado com o extrativismo e a comercialização do pequi na região de Iporá, em particular, e no estado de Goiás como um todo. Como um exemplo da importância do arranjo extrativista do pequi, temos a comercialização na Ceasa-GO (Central de Abastecimento de Hortifrutigranjeiros de Goiás), onde foram comercializadas 2.236 (duas mil duzentos e trinta e seis) toneladas de pequi no ano de 2001, procedentes dos estados do Tocantins, de Goiás, da Bahia e de Minas Gerais. O preço médio de comercialização da fruta em casca foi de R$ 577 (quinhentos e setenta e sete reais) a tonelada. Estes números são subestimados, uma vez que somente parte do que é comercializado utiliza este canal para escoar o produto. Salienta-se, assim, a importância da comercialização informal do fruto em oposição à ausência de políticas de fortalecimento dessas redes de iniciativas localizadas e sua relação com o desenvolvimento territorial sustentável, principalmente por tratar-se de um fruto nativo com exploração orgânica.

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Apesar da dimensão econômica e social, principalmente no que se refere à geração de renda para expressivo contingente de agricultores familiares, além das atividades geradas também na área urbana, o extrativismo do pequi em regiões de cerrado enfrenta sérias limitações, tais como: ameaça de erosão da variabilidade genética frente ao avanço da fronteira agrícola, o pequeno número de trabalhos de pesquisa (quando comparada às culturas tradicionais), técnicas de propagação da planta pouco conhecidas ou divulgadas, desconhecimento da qualidade do produto comercializado in natura e de seus derivados, além da ocorrência de exploração econômica informal de grande parte ou maioria da produção, o que dificulta a gestão da qualidade dos processos e produtos comercializados. Este trabalho se propôs levantar e sistematizar informações sobre o arranjo extrativista e a comercialização do pequi no Território Oeste/Rio Vermelho, região de Iporá, no estado de Goiás, bem como analisar a importância e sustentabilidade desta atividade. 1. Objetivos Descrever a dinâmica de comercialização do arranjo extrativista do pequi e sua importância sócio-econômica na região de Iporá, estado de Goiás, visando disponibilizar informações para futuras ações de planejamento e desenvolvimento territorial rural. 3. Metodologia O estudo do arranjo extrativista do pequi baseou-se em passos progressivos, utilizando um enfoque sistêmico, levantando-se dados sobre o sistema de extrativismo, os atuais circuitos de comercialização (Silva et al., 1995) e seus diferentes segmentos (Castro et al., 1998). Primeiramente foram identificados, nos meses de agosto e setembro de 2002, em Goiânia, maior centro consumidor de Goiás, por meio de entrevistas semi-estruturadas com pessoas-chaves, os atuais centros de comercialização, bem como as principais regiões ou municípios fornecedores. Posteriormente foram visitadas as principais regiões e locais de extrativismo e comercialização do pequi, a fim de levantar informações sobre os fluxos de comercialização, as variações de preços, as relações contratuais entre os agentes, os tratamentos pós-colheita utilizados, tipos de transporte, destinos finais e as normas de padronização seguidas. Dentre as regiões identificadas, destacou-se a de Iporá, como um dos principais centros de extrativismo e distribuição de pequi no interior de Goiás. Em dezembro de 2002 entrevistou-se agentes considerados privilegiados a respeito da comercialização na região, realizando assim, uma amostragem representativa do segmento de comercialização e das práticas adotadas. Realizou-se também algumas entrevistas com agricultores familiares extrativistas de pequi e consumidores, porém o principal foco do estudo foi a dinâmica de comercialização. 4. Resultados e Discussão

Caracterização do Território Oeste/Rio Vermelho O Território2 Oeste/Rio Vermelho, instituído conforme metodologia utilizada pelo 2 Território é um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população, com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultura e territorial (Brasil – MDA, 2003:34).

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N

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Território Goiás

TOCANTINS

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RAIS

MINAS GERAISM

GRATO

OSSO D SU

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TERRITÓRIO OESTE / RIO VERMELHOTERRITÓRIO ESTRADA DE FERROTERRITÓRIO ÁGUAS EMENDADAS

STA ROSA DE GOIÁS

ARAGARÇAS

NOVO PLANALTO

MONTIVDIU

CABECEIRAS

ITAJÁ

LAGOA SANTA

ITARUMÃ

APORÉ

PARANAIGUARA

SÃO SIMÃO

OUVIDOR

TRÊS RANCHOS

DAVINÓPOLIS

CORUMBAÍBA

NOVA AURORA

GOIANDIRA

CAMPO ALEGREDE GOIÁS

CUMARI

ANHANGUERA

ÁGUA LIMPA

BURITI ALEGRE

CACHOEIRA DOURADA

ITUMBIARA

PANAMÁBOM JESUS DE GOIÁS

INACIOLÂNDIA

CASTELÂNDIA

MAURILÂNDIA

QUIRINÓPOLIS

GOUVELÂNDIA

APARECIDA DORIO DOCE

CAÇU

CACHOEIRA ALTA

SERRANÓPOLIS

CHAPADÃO DO CÉU

MIREIROS

JATAÍ

PORTEIRÃO

TURVELÂNDIASTA HELENA DE GOIÁS

VICENTINÓPOLIS

JOVIÂNIA

ALOÂNDIA

GOIATUBA MARZAGÃO

IPAMERI

CATALÃO

MORRINHOSRIO QUENTE

CALDAS NOVAS

PALMELO

CRISTIANÓPOLIS

URUTAÍ

SANTA CRUZ DE GOIÁS PIRES DO RIO

MAIRIPOTABA

PONTALINA

PIRACANJUBAPROFºJAMIL

CROMÍNIA

CESARINA

ACREÚNA

EDEALINA

EDEIA

INDIARA

STO ANTÔNIODA BARRA

RIO VERDE

PORTELÂNDIA

STA RITA DO ARAGUAIA

PEROLÂNDIA

CAIAPÔNIA

DOVERLÂNIA

JANDAIA

PALMINÓPOLIS

AURILÂNDIA

SAO JOÃO DA PARAÚNA

PARAÚNA

CACHOEIRA DE GOIÁS

HIDROLÂNDIA

TRINDADEGOIÂNIA

APARECIDA DE GOIÂNIA

PALMEIRAS DE GOIÁS

GUAPÓ

ABADIA DE GOIÁS

VARJÃO

ARAGOIÂNIA

CAMPESTRE DE GOIÁS

SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO

SILVÂNIACALDAZINHA

SENADORCANEDO

BELA VISTA DE GOIÁS

ORIZONA

VIANÓPOLISCRISTALINA

LUZIÂNIA

CIDADE OCIDENTALVALPARAISO

NOVO GAMA

STO ANTÕNIO DO DESCOBERTO

ALEXÂNIA

ABADIÂNIAANÁPOLISCAMPO

LIMPO

TEREZÓPOLISDE GOIÁS

LEOPOLDODE BULHÕES

GOIANÁPOLIS

GAMELEIRADE GOIÁS

BONFINÓPOLIS

DAMOLÂNDIA

BRAZABRANTES

GOIANIRA

CATURAI

ITAUÇU

PETROLINADE GOIÁS

INHUMAS

STO ANTÔNIO DE GOIÁS

OURO VERDEDE GOIÁS

NOVAVENEZA

NERÓPOLIS

ITABERAÍ

TAQUARAL DE GOIÁS

AMERICANODO BRASIL

AVELINÓPOLIS

NAZARIO STA BÁRBARADE GOIÁS

ARAÇU

SANCLERLÂNDIA

MOSSAMEDES

ADELÂNDIA

TURVÂNIA

BURITI DE GOIÁS

FIRMINÓPOLIS

SÃO LUIS DEMONTES BELOS

ANICUNSISRAELÂNDIA

NOVO BRASIL

CÓRREGODO OURO

FAZENDA NOVA

MOIPORÁ

DIORAMA

IPORÁ

JAUPACI

PALESTINA DE GOIÁS

PIRANHAS

BALIZA

ARAGARÇAS

BOM JARDIIM DE GOIÁS

ARENÓPOLIS

SANTA FÉ DE GOIÁS

MATRINCHÃ FAÍNA

ITAPIRAPUÃ

JUSSARAGOIÁS

GUARAÍTAHEITORAÍ

URUANA

CARMO DORIO VERDE

SÃO PATRICIO

ITAPURANGA

ITAGUARI

ITAGUARU

RIANÁPOLIS

JARAGUÁ

PIRENÓPOLISCORUMBÁ DE GOIÁS

COCALZIINHO DE GOIÁS

JESÚPOLIS

STA ROSADE GOIÁS

SÃO FRANCISCODE GOIÁS

SITIO D’ABADIA

ÁGUA FRIA DE GOIÁS

VILA BOA

PLANALTINAFORMOSA

BARRO ALTO

VILA PROCÍCIO

MIMOSO DEGOIÁS

PADRE BERNADORIALMA

STA ISABEL

GOIANÉSIA

NOVA GLÓRIA

HIDROLINA

STA RITA DONOVO DESTINOSÃO LUIZ

DO NORTE

CERESMORRO AGUDO DE GOIÁS

RUBIATABA

ITAPACI

PILAR DE GOIÁS

GUARINOS

NOVA AMERÍCA

MORZALÂNDIA

ARUANÃ

ARAGUAPAZBRITÂNIA

NOVA CRIXÁS ALTO HORIZONTE

CAMPOS VERDES

SANTA TEREZINHA DE GOIÁS

NOVA IGUAÇU

URUAÇU

ALTO PARAÍSO DE GOIÁS

SIMOLÂNDIA

ALVORADA DONORTE

DAMIANÓPOLIS

MAMBAÍBURITINÓPOLIS

POSSE

IACIARA

SÃO JOÃOD’ALIANÇA

FLORES DE GOIÁS

GUARANI DE GOIÁS

SÃO DOMINGOS

CAMPOS BELOS

DIVINÓPOLISDE GOIÁS

NOVA ROMA

CAVALCANTETERESINA DE GOIÁS

MONTE ALEGREDE GOIÁS

COLINA DO SUL

NIQUELÂNDIA

CAMPINORTE

CAMPINAÇU

MINAÇU

TROMBAS

MONTIVIDIU DO NORTE

FORMOSO

ESTRELA DO NORTE

SANTA TEREZA DE GOIÁS

PORANGATUNOVO PLANALTO

MUTUNÓPOLIS

AMARALINA

MARA ROSA

BONÓPOLIS

MUNDO NOVO

SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA

IVOLÂNDIA

UIRAPURU

CRIXÁS

DFÁGUAS LINDASDE GOIÁS

IPIRANGA

AMORINÓPOLIS

Fonte: PRONAF, 2003. Figura 01 – Estado de Goiás e Territórios definidos para integrar o Plano Nacional de Desenvolvimento Territorial Sustentável do PRONAF.

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PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), localizado no Oeste e Centro-Oeste goiano, é composto de 33 municípios, a saber: Amorinópolis, Arenópolis, Aurilândia, Baliza, Bom Jardim de Goiás, Buriti de Goiás, Carmo do Rio Verde, Córrego do Ouro, Diorama, Doverlândia, Fazenda Nova, Goiás, Guaraíta, Heitoraí, Iporá, Israelândia, Itaberaí, Itaguarí, Itaguarú, Itapirapuã, Itapuranga, Jaupaci, Jussara, Moiporá, Montes Claros de Goiás, Morro Agudo de Goiás, Mossâmedes, Novo Brasil, Piranhas, Sanclerlândia, Santa Fé de Goiás, Taquaral e Uruana. Com uma área total de 36.406,6 km², representando 10,70% do território goiano, apresenta três importantes microrregiões, Oeste Goiano, Rio Vermelho e Vale do São Patrício (Figura 01). Existem 16.475 propriedades rurais no Território, representando 14,72% do total dos estabelecimentos de Goiás. Destas, 78,60% são consideradas unidades com características de base familiare. Em Goiás, 71,20% dos estabelecimentos são representados pela agricultura familiar, com ocupação de 25,20% da área e com um valor bruto da produção de 22,50% contra 77,20% da agricultura patronal (PRONAF, 2003). No que se refere à malha viária, o Território tem boa infra-estrutura, contando hoje com rodovias Federais (BR–070, BR–158) e rodovias Estaduais (GO-060, GO-070, GO-164, GO-173, GO-174, GO-194, GO-221, GO-324, GO-326, GO-418, GO-421, GO-422, GO-444). Todas as rodovias são de grande importância para o Território Oeste/Rio Vermelho, sendo bem conservadas, proporcionando o escoamento da produção o ano todo (PRONAF, 2003). Caracterização da Microrregião Oeste Goiano Este trabalho foi desenvolvido nos municípios de Amorinópolis, Arenópolis, Diorama, Fazenda Nova, Isrraelândia, Ivolândia, Iporá, Jaupaci, Moiporá e Montes Claros de Goás (Tabela 01), todos localizados na Microrregião Oeste Goiano, pertencente ao Território Oeste/Rio Vermelho (Figura 01). O município de Iporá, por suas características de pólo regional e por concentrar a maior parte da comercialização do pequi, centralizou as atividades desta pesquisa. O município de Iporá encontra-se entre os paralelos16°46' e 16°58' de Latitude Sul e os meridianos 50°46' e 52°14' a Oeste de Greenwich. A altitude média varia de 400 a 800 metros acima do nível do mar. O clima predominante na região é o tropical úmido, com estação seca e chuvosa, bem definidas. As médias anuais de precipitação variam de 1.200 a 1.600 mm. A média das máximas de temperatura é de 29°C. A vegetação típica é o Cerrado, os solos são, geralmente, do tipo Latossolo Vermelho e Vermelho-Amarelo de textura média, apresentando topografia plana a levemente ondulada. A população encontra-se dispersa (Tabela 01), atendendo às exigências e características que definem as microrregiões rurais, ou seja, apresenta densidade demográfica menor do que 80 habitantes por Km² e população média por município até 50 mil habitantes (Brasil – MDA, 2003:34-35). Ao contrário do que ocorreu em outras regiões do Estado de Goiás, no Oeste Goiano não houve o desenvolvimento da produção de grãos iniciado na década de 1970. Apenas recentemente houve um incremento na produção de grãos em geral, e da soja em particular, sendo a economia assentada basicamente na pecuária de corte e leite, pequenas agroindústrias e comércio (Tabela 03). A agricultura, com algumas exceções, até há pouco tempo era de subsistência, restrita aos produtos básicos – arroz, mandioca e milho – e algumas frutas, como a cultura da banana, apresentando baixos índices de produtividade e valor da produção (Tabela 02).

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Tabela 01 – População da Microrregião Oeste Goiano - 2003

Municípios

Urbana

PopulaçãoRural

Total

Amorinópolis Arenópolis Diorama Fazenda Nova Israelândia Ivolândia Iporá Jaupaci Moiporá Montes Claros

2.321 2.075 1.534 4.783 2.263 1.548 29.036 2.555 1.294 4.679

1.737 1.878 921

2.288 633

1.437 2.761 599 658

3.171

4.000 3.923 2.427 7.056 2.828 2.981 32.127 3.154 1.904 7.756

Fonte: www.seplan.go.gov.br/sepin Tabela 02 – Valor da Produção dos Principais Cultivos da Agricultura Familiar da Microrregião Oeste Goiano - 2002

Municípios

Arroz (mil reais)

Banana (mil reais)

Mandioca (mil reais)

Milho (mil reais)

Amorinópolis Arenópolis Diorama Fazenda Nova Israelândia Ivolândia Iporá Jaupaci Moiporá Montes Claros

94 151 80 94 121 50 140 171 111 380

---- 29 72 58 104 5 74 16 77 176

60 86 98 168 72 72 420 60 48 60

75 232 175 368 208 415 586 88 105 788

Fonte: www.ibge.gov.br/cidades Tabela 03– Principais Explorações Pecuárias da Microrregião Oeste Goiano - 2003

Municípios

Bovinos (cab)

Suínos (cab)

Aves (cab)

Produção de ovos (dz)

Vacas (cab)

Produção de leite (1000l)

Amorinópolis Arenópolis Diorama Fazenda Nova Israelândia Ivolândia Iporá Jaupaci Moiporá Montes Claros

55.000 98.000 55.100

108.000 43.000 90.900 93.500 36.000 43.300

258.000

4.2003.9203.4107.1402.5003.4707.9002.4502.8706.800

38.50018.60018.95045.00014.60019.00071.2408.550

13.00036.300

50.00039.00032.00082.00027.00036.000

179.00016.00025.00061.000

7.000 9.900 7.500

22.500 3.900 7.000

15.000 4.500 3.900

17.000

5.60010.3006.300

20.0003.5506.650

16.5503.7003.700

15.400 Fonte: www.seplan.go.gov.br/sepin

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Caracterização do Arranjo Extrativista do Pequi A safra do pequi na região de Iporá ocorre geralmente nos meses de outubro a fevereiro, com algumas variações de um ano para outro. As atividades de coleta e comercialização concentram-se nos meses de outubro, novembro e dezembro. A maior parte do pequi comercializado em Iporá é proveniente dos municípios vizinhos, sendo que este município funciona como um centro distribuidor para os mercados consumidores. Considerando que esse arranjo encontra-se pouco desenvolvido na região, seus diferentes segmentos apresentam pouca especialização no desempenho das atividades, confundindo-se as tradicionais funções de atacadista, varejista e transportador. O comerciante atua como segmento-chave na dinâmica do arranjo extrativista, com uma rede própria de agricultores fornecedores e compradores/distribuidores. Comerciante Em Iporá foram entrevistados 13 comerciantes, durante o período da safra do pequi. O universo que foi entrevistado é representativo da atividade de comercialização, pois não foi feita, pelos entrevistados, alusão a outros comerciantes atuando no município e região. Todos os entrevistados deram como seu endereço o município de Iporá. A faixa etária dos entrevistados variou de 24 a 54 anos, sendo 38% entre 30 e 40 anos e 31% entre 40 e 50 anos. A escolaridade desses trabalhadores variou desde 3º série do 1º grau, até o 1º ano do nível superior. Destes, 9% terminou o 2º grau, 82% não terminou a segunda fase do 1º grau e 9% não terminou a primeira fase do 1º grau. Ao definir a profissão apenas um entrevistado se caracterizou como comerciante de pequi e 9 como comerciantes de forma geral (sendo1 feirante, 4 ambulantes e 2 proprietários de pamonharia), os outros exerciam profissões diversas como mecânico, policial militar e produtor de hortaliças.

Quando perguntados sobre o papel que desempenhavam na comercialização do pequi, todos se definiram como comerciantes locais, mas oito deles (61%) disseram desempenhar também a função de transportador e/ou caminhoneiro. Apesar dessa autodefinição, na verdade atuam como comerciantes regionais ou até interestaduais, na medida em que o fruto origina-se em municípios vizinhos, sendo comercializado em outros municípios do Estado e em outros Estados, como Mato Grosso e Rondônia.

A atividade é tradicionalmente exercida pelos entrevistados no período da safra. A maior parte desses agentes (61%), exercem a comercialização há pelo menos 5 anos consecutivos e 38% afirmaram ter mais de 10 anos de experiência, sendo que 2 deles têm cerca de 20 anos na atividade. A maioria dos entrevistados (85%) não considerou o pequi como sua principal atividade geradora de renda, considerando-a mais importante apenas na época da safra. Dos 2 entrevistados que consideraram esse trabalho a principal atividade, apenas um apresentou 100% de sua renda anual procedente da mesma. Comercialização No estado de Goiás a comercialização do pequi estende-se de setembro a março, sendo que os comerciantes de Iporá atuam durante este período. A razão disso deve-se ao fato de que trabalham com o fruto proveniente de outras regiões e mesmo de outros estados, como Tocantins e Minas Gerais. Os que trabalham apenas 1 mês no ano são os que comercializam apenas em Iporá.

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O fruto é comercializado em casca, utilizando como unidade de negociação caixas plásticas tipo K. Para o fruto sem casca utiliza-se como medida o litro (lata de óleo vegetal) embalado em sacos plásticos. Quando transportado para locais distantes, os sacos plásticos são acondicionados em caixas de isopor, muitas vezes com barras de gelo para melhor conservação. Os meses em que há maior volume de comercialização são outubro, novembro e dezembro. De acordo com os entrevistados, no ano de 2002, foram comercializados no mínimo 38.150 litros em setembro, 50.650 litros em outubro, 82.250 litros em novembro, 60.330 litros em dezembro, 11.150 litros em janeiro, 5.000 litros em fevereiro e 3.000 litros em março. O volume total comercializado na safra foi de aproximadamente 250.530 litros. Como as entrevistas foram realizadas em dezembro de 2002, os valores comercializados após esta data foram estimados pelos comerciantes. Provavelmente não foram entrevistados todos os comerciantes que atuam na região, portanto o volume total comercializado ou escoado através de Iporá, foi de no mínimo 250.530 litros de pequi descascado e 2.740 caixas em casca. O preço pago pelos comerciantes na aquisição do pequi em casca ou descascado sofre variações durante a safra, aumentando conforme a escassez do produto. A caixa pode ser comprada por até R$20,00 no início da safra, ou a R$5,00 na época de maior oferta. O pequi descascado apresentou menor variação, sendo adquirido com preços que variaram de R$2,00/litro a R$0,55/litro (Tabela 04). Tabela 04 – Variação dos Preços de Aquisição do Pequi, segundo os Comerciantes de Iporá, (safra 2002/2003) .

Meses Produto Set.. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar.

Em Casca (R$/caixa)

8,00-20,00 6,00-15,00 6,00-10,00 6,00-10,00 5,00-6,00 6,00 6,00

Descascado (R$/litro)

1,00 1,00-2,00 0,55-1,20 0,70-1,50 1,20-1,50 1,50 _

Fonte: Pesquisa de Campo.

O universo estudado organiza-se de diferentes maneiras quanto à forma de compra e venda do produto. Os comerciantes demonstraram preferência pela compra do pequi descascado, sendo que 65% dos entrevistados trabalharam apenas dessa forma. Em casca, foi comprado por 31% dos entrevistados e 8% adquiriram tanto o produto descascado como em casca.

O entrevistado que comercializou maior volume é aquele que apresenta maior tempo de experiência de trabalho nesta atividade, e diz trabalhar com as duas formas do produto, tanto na aquisição como na venda. Os outros comerciantes que compram o pequi em casca se responsabilizam pelo processamento mínimo, descascando-o e vendendo embalado em sacos plásticos. De acordo com os dados levantados, uma caixa K de pequi em casca rende de 10 a 12 litros descascado. Para os fins deste trabalho adotamos o valor de conversão de 10 litros de pequi descascado/caixa do produto com casca.

A venda para o consumidor direto é feita por 61% dos entrevistados, e a venda para outros comerciantes (feirantes, ambulantes) foi realizada por 77% dos entrevistados. O preço de venda varia ao longo da safra (Tabela 05).

Todos os comerciantes entrevistados realizam esta atividade na informalidade, não sendo encontrada nenhuma firma registrada ou contratos formalizados de compra e venda. Também não são emitidos recibos ou notas fiscais de aquisição ou venda do produto.

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Tabela 05 – Variação dos Preços de Venda do Pequi, segundo os Comerciantes de Iporá (safra 2002/2003)

Meses Produto Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar.

Em Casca (R$/caixa)

13,00 13,00 13,00 13,00 ____ ____ ____

Descascado (R$/litro)

1,75-5,00 1,50-4,00 1,20-3,00 1,00-2,50 2,00 2,00-3,00 3,00

Fonte: Pesquisa de Campo. Formas de Aquisição e Distribuição Geralmente pequi é adquirido diretamente de agricultores familiares e outros proprietários, os quais vendem o produto com casca (caixa K), descascado (litro) ou o direito de exploração da área onde encontram os pequizeiros, geralmente pastagens.

Nesta etapa da comercialização foram identificados diferentes graus de organização: o proprietário que vende o direito de exploração da área, o proprietário que coleta e vende em casca, proprietário que coleta, descasca e vende e grupos de trabalhadores rurais que coletam e transportam.

Alguns comerciantes trabalham com redes fornecedoras específicas, que pode chegar até a 20-30 famílias de agricultores. Outros preferem contratar diaristas para coletar o fruto ou vigiar as áreas com direito de exploração comprado.

O pagamento para os fornecedores é à vista, com exceção do comerciante que compra o direito de explorar a área da propriedade.

As áreas de coleta do fruto situam-se em Iporá (regiões de Lage, Caiapó e Poções) e nos municípios vizinhos como Amorinópolis, Arenópolis, Diorama, Fazenda Nova, Israelândia, Ivolândia, Iporá, Jaupaci, Moiporá e Montes Claros de Goiás.

A seleção dos frutos é simples, quando adquirido em casca retira-se os estragados e, quando adquirido descascado ou descascam para comercializar, procuram padronizar pela aparência. O tempo de armazenamento é variável, dependendo da forma de coleta, do estado em que foi coletado e das condições de armazenamento. Conforme os entrevistados, o pequi em casca pode ser armazenado em ambiente fresco e ventilado, de 4 a 8 dias, sendo que quando colhido na planta, aparentemente resiste melhor ao armazenamento. Descascado, pode ser armazenado na temperatura ambiente de 1 a, no máximo, 3 dias. Quando embalado em sacos plásticos e resfriado, conserva-se de 8 a 15 dias. O percentual de perdas no armazenamento varia de 5% a 30%. Além do mercado consumidor de Iporá, o pequi transportado é vendido nos municípios de Jataí, Rio Verde, Goiânia, Mineiros, São Luiz dos Montes Belos, Paraúna, Acreúna, Santa Rita do Araguaia, Portelândia, em Goiás; para os municípios de Rondonópolis, Barra do Garças, Cuiabá, Alto Araguaia e Alto Garças, em Mato Grosso; e para o município de Porto Velho, em Rondônia (Tabela 06 ).

O transporte para esses municípios é realizado de maneira informal e, às vezes, até improvisado. Existe uma diversidade de veículos utilizados como: ônibus, carro próprio, caminhonete, caminhão leve e caminhão. O produto transportado em litros é embalado em sacos plásticos e acondicionado em caixas de isopor com gelo.

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Tabela 06 – Tipo de transporte e municípios onde é comercializado o pequi da região de Iporá (safra 2002/2003)

Município

Estado Nº de Comerciantes Transporte

Jataí

Goiás

7

caminhão leve, caminhonete, carro

Rio Verde

Goiás

5

caminhão, caminhão leve, caminhonete

Mineiros

Goiás

4

caminhão leve, caminhonete, carro

Goiânia Goiás 1 caminhão leve

São Luiz de Montes Belos

Goiás 2 ônibus, caminhonete, carro

Paraúna Goiás 1 caminhonete, carro

Acreúna Goiás 1 caminhonete, carro

Santa Rita do Araguaia Goiás 1 caminhonete

Portelândia Goiás 1 caminhão

Iporá Goiás 2 ônibus

Rondonópolis Mato Grosso 2 caminhão leve

Barra do Garças Mato Grosso 1 caminhão leve

Cuiabá Mato Grosso 8 ônibus, caminhão, caminhão leve

Alto Araguaia Mato Grosso 3 caminhão, caminhonete, carro

Alto Garças Mato Grosso 1 caminhonete

Porto Velho Rondônia 3 ônibus, caminhão

Fonte: Pesquisa de Campo

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Para o escoamento da produção são usadas, principalmente, as Rodovias BR-158, BR-364, BR-060, GO 174 e GO 060 para transportar para Goiânia, Jataí e Rio Verde, dentre outros municípios, e para os estados de Mato Grosso e Rondônia (Figura 02).

3 Estados(Rondônia - Mato Grosso - Goiás)

Escala Gráfica

Limite Estadual

Sistema Viário

Term. Hidrográfico, Aeroporto

Hidrografia Federal, Estadual

LEGENDA

N

S

LO

SO

NO NE

SE

PA

TO

MG

GO

MS

TO

BAMT

MS

AM

RO

AM

AC

Bolívia Paranã

Barr. deSão Simão

Rio Abunã

Rio

M

adeira

Rio

Mamo

Rio Guaporé

Term. Hid.Porto Velho

Ter. Hid. de Cáceres

Rio

P

a rag

uai

Rio

Cuiabá

Rio Te lei res

s P

Rio

A

ragu

aia

Rio

J

avaé

s

Rio

d

as

Mor

tes

Rio

Arag

uaia

Capitais Estaduais

Sedes MunicipaisFluxo Comercial

364

425

319

364

421

429

174

174

364

174

070

163

242

070

163

163364

251

158

242

080

158

359

060

060

158 364

483

080

153

251

070

153

153

153

352

457

414

010

349

020

030

080

479

251

040

354060

490

452

154

452

483

174

Aripuanã Juruena

Juína

Comodoro

Mundo Novo

Campo Novodo Parecis

Pontes e LacerdaVila Bela daSS. Trindade

Diamantina

CáceresSão Vicente

Água Boa

Dona Rosa

Rondonópolis

AltoAraguaia

Alto Taguari

TorixoréuBarra do Garças

NovaXavantina

Cuiabá

PortoLimão Porto

Cercado

Chapada dosGuimarães

Juara

Sinop

Agrovença Alô Brasil

Jatobá RibeirãoCascalheiro

Alto BoaVista

São Félixdo Araguaia

Porto Alegredo Norte

Confresa

Vila Rica

Santana doAraguaia

Vila RibeirãoBonito

Sorriso

PortoArtur

CachoeiraRasteira

Alta FlorestaMatupá

Cachimbo

Guarantã do Norte

Terra Boa do Norte

FERRONORTE

Unaí - Pirapora

DF

Sta. Isabel

S. Migueldo Araguaia

Luiz Alves

Porangatu

Santa TerezaFormoso Minaçu

Campinaçu

NiquelândiaUruaçu

Campos Belos

Terezinade Goiás

Alto Paraíso Posse

Simolãndia

S. JoãoD’Aliança

BarroAlto

Rialma Dois Irmãos

PadreBernardo

S. Gabriel

Goianésia

Jaraguá Cocalzinho

Alexânia

Luziânia

CabeceirasBezerra

Buritis

Arinos

UnaíCristalina

Anápolis

PonteFunda

CampoAlegreIpameri

CaldasNovas

Morrinhos

Aparecidade Goiânia

Guapó

Indiara

Catalão

Itapirapuã

Goiás ItaberaíItaguari

S. Luizdos Montes Belos Goiânia

Ceres

Rubiataba

AraguapazAruanã

JussaraNova

Trindade

Aparecida doRio Doce

Aragarças

Piranhas

Caiapônia

Santa Ritado Araguaia

Portelândia

Mineiros Acreúna

Rio Verde

Jataí

Serranópolis

Iporá

Sorriso

Quirinópolis

ParanaiguaraSãoSimão

Ituiutaba

CachoeiraDourada

ItumbiaraTrês Ranchos

Guarda Mor

PortoVelho

Caldeirão

Ariquemes

Montenegro Jaru

Ji-ParanáPresidente Médici

CacoalPimenta Bueno

Marco Rondon

Vilhena

Ouro Pretodo Oeste

SeringueirasSão Miguel do Guaporé

Alvorada do Oeste

Costa Marques

Campo Novode Rondônia

Abunã

Chocolatal

Vila Novado Guaporé

Bananeiras

Guajará-Mirim

VistaAlegreRio

NovoMutumparaná

Fonte: AGENCIARURAL Figura 02 – Mapa dos locais para onde é escoado o pequi comercializado através de Iporá.

Considerações Finais De acordo com a pesquisa realizada, o volume total de pequi, comercializado através do

município de Iporá, foi de 26.093 caixas. Adotando-se o valor médio pago de R$6,00/caixa, foram gerados no campo cerca de R$156.558,00 (cento e cinqüenta e seis mil quinhentos e cinqüenta e oito reais).

Quando se adota uma produtividade média do trabalhador rural de coleta de 10 cx./dia de trabalho (Oliveira et al., 2003:8) são gerados no campo 2.609 D/h (dois mil seiscentos e nove dias/homem) de trabalho. Dividindo-se o total de recurso pago pelo total de dias/homem de trabalho necessário para coletar todo o volume comercializado, chega-se ao valor de R$ 60,00 (sessenta reais) por dia trabalhado. Tal valor é muito superior ao que é pago pela diária de trabalho no campo, que atualmente situa-se entre R$ 15,00 (quinze reais) e R$ 20,00 (vinte

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reais). Portanto, a atividade de coleta e comercialização do pequi, para a agricultura familiar, configura-se em opção de boa rentabilidade, principalmente considerando que não existem custos de produção.

Parte do pequi comercializado pelos agricultores passa por um processamento mínimo na propriedade rural, que consiste na retirada da casa do fruto, gerando mais renda e utilizando a mão-de-obra familiar disponível. Este processamento, quando realizado, agrega cerca de 80% ao valor da caixa. Pelas estimativas dos comerciantes, a regiões rurais de origem do fruto comercializado, receberam R$ 111.107,00 (cento e onze mil cento e sete reais) a mais pelo produto descascado, totalizando R$ 267.665,00 (duzentos e sessenta e sete seiscentos e sessenta e cinco reais) para os agricultores familiares, oriundo da venda do pequi, independentemente da sua forma de apresentação.

A comercialização do pequi também demonstra sua potencialidade como atividade geradora de renda, quando se observa o valor bruto da venda do produto recebido pelos comerciantes de Iporá. Segundo os entrevistados, houve um fluxo de recursos no montante de R$522.132,00 (quinhentos e vinte e dois mil cento e trinta e dois reais) no ano estudado.

Para uma simples comparação e avaliação da importância do agroextrativismo do pequi, o total do montante pago aos produtores de banana daquela região foi de R$ 611.000,00 (seiscentos e onze mil reais) (ver tabela 02). Por outro lado, a análise realizada neste trabalho, considerou apenas os comerciantes de Iporá, não usando para efeitos de cálculo as quantidades do fruto processadas junto à agroindústria de pequi instalada no município de Ivolândia.

Além do potencial como gerador de renda alternativa para a agricultura familiar o arranjo extrativista do pequi gera emprego. Considerando a quantidade total comercializada pelos entrevistados, ou seja 250.530 litros, seria necessário de 885 a 2.947 dias de trabalho para descascar todo o fruto comercializado.

Os comerciantes entrevistados, que compram o pequi em casca, contratam pessoas para descascar e empacotar o pequi, gerando emprego também na área urbana do município de Iporá. As diárias pagas por esse serviço variaram de R$8,00 a R$15,00. A eficiência no trabalho, segundo os entrevistados, variou de 85 a 283 litros descascados/pessoa/dia de oito horas.

A amplitude das estimativas, em parte, é devida à baixa escolaridade dos entrevistados que, de forma improvisada, estabeleceram rotinas e processamentos para atender às necessidades e demandas de comercialização do fruto. Em parte, a variação dos parâmetros de produtividade observada, reflete a informalidade da cadeia e a falta do estabelecimento científico de índices técnicos, a respeito da produção, processamento, embalagem, transporte e mesmo da comercialização.

Por outro lado, a baixa escolaridade dos agentes entrevistados, também pode demonstrar um outro aspecto desta atividade que é a sua capacidade de inclusão social a partir do instante que gera renda para pessoas de baixa qualificação profissional.

Em relação ao meio ambiente o extrativismo do pequi, na agricultura familiar, geralmente é explorado juntamente com a pecuária de leite e corte, em áreas de pastagens onde foram preservados os pequizeiros, entre outras árvores nativas do cerrado, tornando-o uma atividade menos agressiva à biodiversidade local na medida em que contribui para valorizar a preservação das espécies nativas.

Em relação a sustentabilidade da atividade a longo prazo, destaca-se aqui que recentemente os produtos oriundos de extrativismo passaram a ser considerados “produtos orgânicos”, pelo Ministério da Agricultura (www.agricultura.gov.br/noticias). Estes produtos, automaticamente, ajustam-se às exigências definidas pela Lei de Agricultura Orgânica (Lei 10.831), onde o Brasil trabalha o conceito de equivalência com as normas internacionais para a atividade, o que vem agregar mais valor ao fruto no mercado, passando a fazer parte de um nicho com clara tendência de crescimento e preferência do consumidor.

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Pelo exposto acima, o arranjo extrativista do pequi apresenta características de uma atividade tipicamente territorial no sentido de exclusividade, pois explora um fruto nativo de ocorrência no bioma Cerrado, de acordo com as potencialidades e vocação da região no que se refere ao seu ambiente, localização sedimentando um conhecimento endógeno, empírico e cultural da população local. Por essas características o agronegócio do pequi apresenta potencial para ser explorado de forma competitiva na região. Embora apresente todas essas vantagens, continua sendo uma atividade realizada de maneira informal, e sem apoio das políticas públicas e territoriais, inclusive não aparece nas estatísticas oficiais.

6. Conclusões • A atividade extrativista e de comercialização do pequi, na região estudada, apresentou dimensão econômica comparável às principais atividades agrícolas da agricultura familiar; • São adotadas normas empíricas para armazenamento, transporte e beneficiamento do fruto em todas as etapas estudadas na comercialização; • Todas as transações realizadas são feitas de maneira informal, e não existem normas nem parâmetros técnicos fixados para controle de qualidade de forma específica, embora o Ministério da Agricultura apresente Padrões de Identidade e Qualidade para derivados de frutas regionais (portaria 78/78), que deveriam nortear as práticas industriais e atuar como indicadores de qualidade dos produtos. • A colocação do produto e o valor de venda apresentam oscilações, provavelmente influenciados pela sazonalidade da produção, informalidade e desorganização do arranjo extrativista; • Por absorver mão-de-obra pouco qualificada e apresentar remuneração acima da média para atividades agrícolas, destaca-se como uma atividade de inclusão social; • Embora possa ser considerada uma atividade de importância sócio-econômica para a região não há, até o momento, nenhuma política para estimular seu desenvolvimento; ٠ A existência de uma agroindústria familiar de derivados de pequi no município de Ivolândia (identificada pela pesquisa), dá sinais de que o arranjo extrativista na região está organizando-se como atividade promissora, principalmente para a agricultura familiar. • Apesar da indiferença das autoridades governamentais, o arranjo extrativista do pequi apresenta características de sustentabilidade social, econômica e ambiental, que poderiam ser potencializadas para torná-lo atividade estratégica para o desenvolvimento territorial. Referências Bibliográficas ALMEIDA, S. P.; SILVA, J.A. Pequi e Buriti: importância alimentar para a população dos cerrados. Brasília, Embrapa CPAC, 38p. (Embrapa - CPAC. Documentos, 54). 1994. BEDUSCHI FILHO, L. C. & ABRAMOVAY, R. Desafios para o desenvolvimento das regiões rurais. In: XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural (SOBER), 27 a 30 julho de 2003, Juiz de Fora - MG BRANDÃO, M.;CARVALHO, P.G.S. & JESUÉ, G. Guia Ilustrado de plantas do Cerrado de Minas Gerais. Belo Horizonte: CEMIG, 1992. BRASIL - Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Referências para o Desenvolvimento Territorial Sustentável. MDA/IICA – Brasília: Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável/Condraf, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural/NEAD, 2003, 36p. (Textos para Discussão, 4).

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