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ARTE E EDUCAÇÃO ESPECIAL: ENSINANDO XILOGRAVURA A ALUNOS COM DEFICIENCIA INTELECTUAL
LIANE CARVALHO OLEQUES UDESC
RESUMO: O presente texto objetiva-se a relatar a experiência com o ensino da xilogravura para alunos com deficiência intelectual da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Florianópolis. Os alunos foram convidados a conhecer e se apropriar da técnica e da linguagem da xilogravura, permeados por conteúdos do Ensino da Arte. Na primeira parte deste texto são abordadas questões referentes ao processo de inclusão na atualidade. Na sequencia é relatada a experiência nas aulas de artes com a xilogravura. Esta experiência está dividida em etapas, para uma melhor compreensão das fases as quais os alunos passaram até chegarem ao trabalho final. A construção teórica do texto está amparada em autores como Reily, Vigotski, González, Hernandez , Efland e Barbosa no tocante a reflexões sobre educação, inclusão e ensino da arte. Palavras-chave: ensino da arte, deficiência mental, inclusão. ABSTRACT: This report describes the experience with woodcuts in the Association of Parents and Friends of Exceptional Florianópolis. Students discovered and appropriated the technique and language of the woodcut, permeated by contents of Teaching Art. In the first part of this text are addressed questions regarding the inclusion process today. In sequence is reported experience in arts classes with woodcut. This experiment is divided into steps, for a better understanding of the phases which students passed before reaching their final work. The theoretical construction of the text is supported by authors such as Reily, Vygotsky, Gonzalez, Hernandez, Efland and Barbosa with respect to reflections on education, inclusion and teaching art. Keywords: art education, mental disability inclusion. Introdução
Inúmeros trabalhos, na atualidade, vêm salientando a produção artística,
no âmbito das necessidades educacionais especiais - cegueira, surdez, autismo ou
deficiência mental, entre outros - num parâmetro social, formal ou cognitivo. Ainda
que raros estes trabalhos vem ganhando espaço no campo acadêmico e salientando
a importância da pesquisa nesta vertente pouco conhecida dentro das artes visuais.
Já é possível encontrar pesquisas que contemplam o processo gráfico e as
experiências artísticas de crianças autista, surdas ou cegas ou, ainda, com
deficiência mental1.
O presente artigo apresenta o relato de um projeto desenvolvido com
alunos da APAE de Florianópolis/SC, que objetivou o aprendizado da xilogravura na
1 Termo utilizado de acordo com a Política de Educação Especial do Estado de Santa Catarina.
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disciplina de artes no ano de 2010 e 2011. Contemplando conteúdos do ensino da
arte e premissas da educação especial, salientou-se a compreensão da linguagem e
da técnica da xilogravura dentro de um contexto de deficiência mental.
A respeito do termo utilizado dentro do âmbito das deficiências, destaca-se
a terminologia deficiência mental, que será utilizada aqui, em função dos
participantes descritos no trabalho. De acordo com a Política de Educação Especial
do Estado de Santa Catarina, deficiência mental corresponde ao comprometimento
cognitivo relacionado ao intelecto teórico (capacidade para utilização das formas
lógicas de pensamento conceitual), podendo se revelar no intelecto prático
(capacidade para resolver problemas de ordem prática de modo racional).
Neste sentido a construção deste texto teve como princípio trazer algumas
considerações acerca da educação e inclusão na atualidade, bem como, relatar o
processo de desenvolvimento do projeto, objetivos e resultados. Para isso, buscou-
se em autores como Reily (2007), Vigotski (1997), González (2007), Freire (1996),
Hernandez (2000), Efland (2005) e Barbosa (2003, 2005a, 2005b) a base teórica
para reflexões sobre educação, inclusão e ensino da arte.
2.Considerações sobre o processo de inclusão na atualidade
Ainda é possível perceber na sociedade contemporânea um olhar
indiferente para com as pessoas com necessidades especiais2. Reily (2007), que
realiza pesquisa sobre artes visuais no âmbito da deficiência, discorre acerca das
barreiras atitudinais, caracterizadas pelos limites e preconceitos que a sociedade
2 Termo utilizado de acordo com o Capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Gonzalez (2007) utiliza o termo alunos com necessidades educacionais específicas ou diferenciadas, por considerar que o foco de atenção está nas dificuldades de aprendizado.
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impõe às pessoas com algum tipo de necessidade específica. Desta forma, as
consequências sociais da deficiência consolidam a condição de incapacidade.
Limites e preconceitos que são impostos injustamente, sem o mínimo
conhecimento e entendimento acerca do assunto, por parte destas pessoas. A
autora argumenta sobre a necessidade de estudos referentes ao tema, a fim de
desmistificar e esclarecer a sociedade com relação à diferença:
Justifica-se o estudo das concepções sociais da diferença pela necessidade de
melhor compreender como as representações da deficiência se constituem e se
desenvolvem, como são reveladas e disseminadas, para que se possa encontrar
modos de demonstrar mitos e estereótipos de deficiência que se cristalizaram ao
longo do tempo, na perspectiva de trabalhar em prol da inclusão. (REILY, 2007, p.
221)
Considerando os procedimentos pedagógicos que implementam o ensino
atualmente, é importante salientar que nem todos os alunos possuem o mesmo
ritmo de aprendizagem, portanto, é necessário compreender estas diversidades, de
modo a atender este público. A Educação Especial destina-se ao atendimento de
pessoas cegas, surdas, autistas, com déficit cognitivo ou deficiência múltipla, além
de pessoas com altas habilidades, em instituições especializadas, atendendo
específica e exclusivamente alunos com determinadas necessidades especiais de
aprendizagem. Para isso, faz-se necessário a adaptação de metodologias já
existentes para o processo de inclusão.
De acordo com González (2007) que, traz alguns conceitos e dados
históricos acerca da experiência em atendimentos educacionais especiais na
Espanha, nem todos os alunos que necessitam de um atendimento específico
podem ser considerados incapacitados, tendo em vista que suas dificuldades podem
relacionar-se mais ao sistema social e cultural que os rodeiam, do que na existência
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de uma disfunção neurológica. Assim, o autor define que pessoas que necessitam
de um processo educacional específico são aquelas que:
(...) apresentam algum tipo de deficiência física, psíquica ou sensorial, ou que estão
em situação de risco social ou de desvantagem por fatores de origem social,
econômico ou cultural que os impedem de acompanhar o ritmo normal do processo
de ensino-aprendizagem. Por meio desses atendimentos especiais pretende-se
conseguir o máximo desenvolvimento das possibilidades e capacidades desses
alunos, respeitando as diferenças individuais apresentadas ao longo desse processo.
(GONZÁLEZ, 2007, p. 19)
Neste ponto de vista, também, caminha a Política de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva. Nela se salienta que as escolas de ensino
regular ficam responsáveis pela inclusão de crianças com algum tipo de deficiência,
das crianças que trabalham ou vivem na rua, das crianças em desvantagens
culturais e sociais, das superdotadas e ainda das que apresentam diferenças
lingüísticas e étnicas. No entanto, mesmo implementando estas políticas
educacionais, percebe-se, na atualidade, o descompromisso das escolas de ensino
regular em atender estas medidas, muitos casos originados pela omissão das
autoridades políticas.
Para tanto, é necessário que o processo de inclusão venha a quebrar as
barreiras do preconceito, especificamente, sociais e culturais que atingem as
pessoas que necessitam de um processo de aprendizagem diferenciado ou
adaptado.
A colaboração de Vigotski3 (1997, p. 33 - 40) neste assunto, em especial
nos seus estudos acerca da defectologia4, tem mostrado que suas reflexões
3 Quanto à escrita do nome do autor será usada “VIGOTSKI” por considerar-se a forma mais simples e utilizada na maior parte da bibliografia do autor aqui citada.
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atendem à demanda teórica sobre Educação Especial e inclusão na atualidade. Este
autor já apontava para uma visão social da deficiência em detrimento à patologia,
ressaltando que o meio social deveria agir de modo que possibilitasse situações e
reações que compensassem a condição de deficiente. Vigotski acreditava que o
olhar perante a deficiência deveria se concentrar nos processos compensatórios,
desviando a atenção da deficiência ou patologia associada à incapacidade.
Já, na época em que produziu seus estudos acerca das necessidades
especiais, acreditava que a escola especial deveria criar tarefas positivas, gerando
formas de trabalhos específicos que atendessem às peculiaridades de seus
educandos e não, simplesmente, aplicar um programa simplificado e facilitado da
escola regular.
Desta forma, tem-se como objetivo, na Educação Especial, dar condições
para que, este aluno, por meio de profissionais capacitados e recursos
especializados, alcance o máximo de desenvolvimento pessoal e social,
possibilitando-lhe uma melhor qualidade de vida “(...) nos âmbitos pessoal, familiar,
social e profissional”. (GONZÁLEZ, 2007, p. 21)
É importante salientar que alunos que necessitam de um atendimento
específico, quer no ensino regular ou em escolas especializadas, não sejam
privados do conhecimento e de interações sociais que os tornem cidadãos plenos na
sociedade contemporânea, assim como coloca González:
Depois de vermos as dificuldades surgidas na tentativa de determinar o que se deve
entender por conduta normal e diferente, posso dizer que uma pessoa sã ou normal é
aquela capaz de viver satisfatoriamente em um dado meio social, realizar-se nesse
meio e conseguir sua felicidade, ao mesmo tempo em que tenta ser útil para a
sociedade. A pessoa diferente (deficiente) é a que precisa dos repertórios sociais
4 Termo utilizado na época (início da década de 1900) em que Vigotski escreveu suas considerações. Atualmente este termo encontra-se desatualizado.
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adequados para realizar-se em seu ambiente social e escolar. (GONZÁLEZ, 2007, p.
22)
Vigotski (1997, p. 33 - 40) pontua a importância dos processos
compensatórios, salientando a necessidade da escola especial evidenciar a
compensação social e a educação social como forma de inclusão em detrimento à
deficiência. Uma escola especial, segundo este autor, deveria não apenas adaptar-
se às insuficiências, mas, principalmente, superá-las.
A colaboração de Vigotski5 (1997, p. 33 - 40) neste assunto, em especial
nos seus estudos acerca da defectologia6, tem mostrado que suas reflexões
atendem à demanda teórica sobre Educação Especial e inclusão na atualidade. Este
autor já apontava para uma visão social da deficiência em detrimento à patologia,
ressaltando que o meio social deveria agir de modo que possibilitasse situações e
reações que compensassem a condição de deficiente. Vigotski acreditava que o
olhar perante a deficiência deveria se concentrar nos processos compensatórios,
desviando a atenção da deficiência ou patologia associada à incapacidade.
Já, na época em que produziu seus estudos acerca das necessidades
especiais, acreditava que a escola especial deveria criar tarefas positivas, gerando
formas de trabalhos específicos que atendessem às peculiaridades de seus
educandos e não, simplesmente, aplicar um programa simplificado e facilitado da
escola regular.
Portanto, compreende-se que, possibilitando habilidades específicas
através de repertórios adequados, pessoas com necessidades especiais possam
usufruir de condições dignas de inclusão na sociedade, sem esquecer do meio 5 Quanto à escrita do nome do autor será usada “VIGOTSKI” por considerar-se a forma mais simples e utilizada na maior parte da bibliografia do autor aqui citada. 6 Termo utilizado na época (início da década de 1900) em que Vigotski escreveu suas considerações. Atualmente este termo encontra-se desatualizado.
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social que, por sua vez, deve ser trabalhado para que possa receber estas pessoas
com o respeito e dignidade a que todo cidadão tem direito.
3. Ensino da arte: experienciando a xilogravura
Ao se pensar numa prática educativa deve-se levar em consideração que
todo aprendizado em artes deve ser conduzida por atos reflexivos, possibilitando
que o aluno seja capaz de perceber o mundo ao seu redor, alicerçado pelo processo
de criação atribuindo um novo sentido ou uma nova forma aquilo que trabalha. É
imprescindível, assim, contextualizar qual a concepção de arte e de educação
pautada aqui.
Pretende-se que o professor de arte, esteja amparado em uma teoria –
crítica para ensinar, que ele opere a partir da construção de um pensamento crítico
voltado para a representação da identidade de seus alunos. É possível compreender
que autores da educação e do ensino da arte como Paulo Freire, Barbosa, Efland e
Hernandez pautam seus pensamentos para uma mesma vertente – a transformação
da realidade do educando partindo de suas premissas básicas. Conforme
Hernandez (2000, p. 16):
A posição crítica favorece a auto-reflexão sobre esse processo de
influências, sobre os olhares em torno de si mesmo e do que o cerca.
No caso da Arte, no seu ensino, se trata de levantar questões sobre
temas, idéias chaves, como a mudança, a identidade, a representação
de fenômenos sociais, e ajuda a indagar como essas concepções
afetam a cada um e aqueles que os cercam.
Neste sentido, a educação, bem como o ensino da arte, tem como um de
seus principais suportes, partir da realidade pessoal, social e cultural de quem
aprende, tendo em vista a complexidade destas mediações.
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Mais do que ampliar a percepção estética ou artística, o ensino das Artes
Visuais almeja desenvolver o reconhecimento de cada sujeito, a percepção de si e
dos outros, tornando-se relevante a partir da reconstrução e novos modos de olhar
partindo do impacto da realidade. Paulo Freire (1996) salienta a necessidade do
ensino/ aprendizagem como uma maneira de transformar a realidade e nela intervir
de modo crítico.
Para tanto, uma ação educativa deve estar centrada em processos
criativos e no desenvolvimento do potencial dos estudantes, não esquecendo, da
importância da manifestação artística como um todo, envolvendo aspectos
emocionais, afetivos e ações mútuas, pensando a formação das diferentes
identidades que compõe a comunidade escolar. Aqui, é possível apontar, alem da
consideração dos aspectos culturais e sociais, os aspectos cognitivos. Mais uma vez
destaca-se que nem todos os educandos possuem o mesmo ritmo de
aprendizagem, devido a diversos fatores, sensoriais, motores ou cognitivos - o
professor, atento a esta realidade, deve estar capacitado para respeitar e atender
este público, na mesma intensidade que proporciona, a todos os alunos um novo
olhar do mundo que o rodeia, percebendo relações entre arte e vida, incentivando-o
a atuar de maneira crítica por meio deste.
Destarte, é possível relembrar o que foi visto com Gonzalez (2007)
anteriormente. O autor ressalta que educandos que necessitam de atendimento
educacional específico são, alem daqueles que apresentam problemas cognitivos,
sensoriais ou físicos, também, aqueles em desvantagens por motivos econômicos,
sociais ou culturais. Deste modo, não se trata de levar somente conteúdos prontos e
fechados em si, sem o conhecimento prévio do mundo dos educandos. É importante
que se reconheça os universos visuais e culturas destes educandos, buscando o
significado das coisas a partir da vida que os cerca. Esse enfoque favorece no
estudante uma autoconsciência de sua própria experiência.
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Este trabalho teve por objeto desenvolver uma proposta que contemplasse
a disciplina de arte na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais Profº Manoel
Boaventura Feijó da cidade de Florianópolis. O projeto buscou o desenvolvimento de
uma proposta dinâmica, tendo em vista a elaboração de atividades estéticas
envolvendo alunos adultos com deficiência mental, considerando o desenvolvimento
motor, cognitivo e estético, ampliando seus campos de interação com a atividade
artística e desenvolvendo a sensibilidade e a percepção em relação a suas próprias
criações.
A APAE é uma instituição que atende pessoas com deficiência mental ou
múltipla, atraso no desenvolvimento psicomotor ou autistas de todas as idades e
classe econômica, atendendo cerca de 420 alunos de todas as faixas etárias –
crianças a idosos - e econômicas, contando com convênio público e particular.
Salientou-se no desenvolvimento do projeto ensinar e explorar a técnica da
xilogravura para cerca de 20 alunos adultos e idosos com deficiência mental leve e
moderada, no período correspondente ao segundo semestre de 2010 no horário
regular de aulas dos alunos. O tema surgiu a partir de uma primeira experiência com
xilogravura realizada no ano anterior na disciplina de arte na mesma instituição,
porém com outros alunos. Contando com cerca de quatro meses de duração o
projeto contou com as seguintes etapas:
• Compreensão da linguagem da gravura:
Esta etapa objetivou-se a conhecer as diferentes técnicas da linguagem da
gravura como a xilogravura, a gravura em metal. Foram comentadas a história da
gravura e sua importância antes da invenção da imprensa, bem como sua utilização
no dia a dia como as estampas de camisetas. Alguns livros sobre a obra de Lívio
Abramo e J. Borges e reproduções de xilogravura também eram deixadas a
disposição dos alunos e sempre que necessário consultados. Neste momento eram
realizadas leitura de imagens das obras destes artistas.
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• Compreensão da técnica da xilogravura:
Esta etapa foi a mais longa durando cerca de dois meses, pois objetivou-se
que os alunos entendessem o que é a xilogravura e compreendessem que a
xilogravura pode ser comparada a uma técnica inversamente parecida como um
carimbo ou como um desenho invertido, onde tudo o que é para ficar em branco é
cavado e o que é para ficar impresso no papel fica em relevo, para isso é usado uma
matriz de madeira e instrumentos chamados goivas. Todas as semanas estes
conceitos eram revistos quando necessários. Deste modo, foram realizados
exercícios de desenhos em superfícies negras com lápis branco, exercícios de
raspagem com ponta seca em superfícies coberta com giz de cera, além de uma
espécie de xilogravura utilizando como matriz uma placa de isopor e ponta seca não
cortante como canetas sem tinta. Em outra técnica foi utilizado giz de cera e aguada,
que consiste em uma mistura de tinta guache com bastante água.
Fig.01 desenho utilizando giz de cera e ponta seca
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Fig. 02 desenho realizado com base de giz de cera branco e aguada cinza
Fig. 03 técnica utilizando base de isopor
• Exploração e manuseio dos materiais:
Nesta etapa os alunos puderam manusear as goivas aprendendo a função
de cada instrumento. Também ensaiaram alguns movimentos básicos como colocar
mais força ou menos força no entalhe e não deixar uma das mãos na frente da
goiva, treinando o manuseio dos equipamentos com o auxilio da professora. As
atividades desta fase foram trabalhadas quase que individualmente.
• Trabalho final:
Nesta etapa os alunos realizaram um trabalho de xilogravura. Esta fase
durou de duas a quatro aulas contando com o entalhe na madeira e a tiragem no
papel. Muitos alunos eram faltosos e outros tiveram muita dificuldade em manusear
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os instrumentos. Por motivo de segurança optou-se que estes alunos realizassem
apenas os exercícios já descritos acima.
Para a realização do projeto foram usados instrumentos essenciais à
xilogravura como goivas, madeiras, papel, rolinho de borracha e tinta, alem de
imagens de obras de gravura. A professora já possuía as goivas, a tinta e o rolinho,
as madeiras foram cedidas pelo setor de carpintaria da APAE. A Apae colaborou,
também com materiais para a limpeza dos objetos como solvente e estopa.
Fig. 04 trabalho final de xilogravura
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Fig.05 trabalho final de xilogravura
Fig. 06 aluno manuseando a goiva na madeira, instrumento utilizado na confecção na xilogravura
A Apae de Florianópolis sempre atendeu as necessidades do projeto com
materiais e incentivo, convidando a turma para apresentar e realizar seus trabalhos
numa oficina na Feira da Esperança 2011, no espaço Feito por nós. A Feira da
Esperança consiste na venda de produtos de artesanato, alimentícios, eletrônicos
etc, onde toda renda é revertida à Apae.
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Após o início do ano letivo de 2011 a turma teve a oportunidade de expor
seus trabalhos, realizados no projeto, no Espaço Cultural Maria Rita que se localiza
no Terminal Rodoviário Maria Rita em Florianópolis. Estas iniciativas são sempre
bem vindas e prazerosas, pois, valorizam o trabalho do educando motivando sua
auto-estima.
De acordo com a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, o
ensino da arte pode ser compreendido a partir de três áreas: fruição, produção e
contextualização. Deste modo pode-se entender que o projeto abarcou
satisfatoriamente esta proposta. Considerou-se que as estratégias utilizadas foram
satisfatórias para o entendimento e compreensão da xilogravura, por parte dos
alunos, pois os exercícios possibilitaram que os alunos visualizassem e
experienciassem a xilogravura antes do manuseio com as goivas, bem como
conhecer alguns artistas contemporâneos e de outras épocas que se utilizaram
desta técnica e assim relacionar a gravura aos seus contextos.
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Liane Carvalho Oleques Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade do
Estado de Santa Catarina. Mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado de
Santa Catarina. Tem bacharelado e licenciatura em Desenho e Plástica pela
Universidade Federal de Santa Maria. Atua como professora de artes na Apae de
Florianópolis. Email: [email protected]