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Arthur Rimbaud - As Iluminações

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Livro de poema de Arthur Rimbaud

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As Iluminações (1886)

Arthur Rimbaud (1854-1891)Tradução: Janer Cristaldo

Capa:Rimbaud, aos 17, por Étienne Carjat

provavelmente tirada em Dezembro de 1871Fotografia conservada na BnF

http://www.bnf.frFonte digital: wikipedia

Fonte DigitalDocumento do [email protected]

©2012 — Janer CristaldoeBooksBrasil.org

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Arthur RimbaudArthur RimbaudArthur RimbaudArthur Rimbaud

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TraduçãoTraduçãoTraduçãoTradução

Janer CristaldoJaner CristaldoJaner CristaldoJaner Cristaldo

eBooksBrasil2012

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Após o DilúvioApós o DilúvioApós o DilúvioApós o Dilúvio Nem bem se aquietara a idéia do Dilúvio,Uma lebre parou entre os sanfenos e as inquietascampânulas e elevou sua prece ao arco-íris, atravésda teia de aranha.Oh! As pedras preciosas que se escondiam, — asflores que já olhavam.Na grande rua suja os açougues se ergueram, e osbarcos foram levados ao mar, que, no alto, era emdegraus como nas figuras.O sangue correu, na casa de Barba-Azul, — nosmatadouros, — nos circos, onde o selo de Deusempalidecia as janelas. O sangue e o leite corriam.Os castores construíam. Saía fumaça dos cafés nosbotequins.Na mansão de vidros ainda gotejante, as criançascontemplavam as imagens maravilhosas.Uma porta bateu, — e na praça do vilarejo, a criançagirou seus braços, envolvendo os cata-ventos e osgalos dos campanários, sob o fulgurante aguaceiro.A senhora*** instalou um piano nos Alpes. A missa eas primeiras comunhões foram celebradas nos cem milaltares da catedral.As caravanas partiram. E o Hotel Esplêndido foierguido em meio ao caos de gelos e noite polar.Desde então, a Lua ouviu os chacais berrando pelodeserto dos timos, — e as éclogas em tamancos

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rugindo no pomar. Depois, na floresta violeta, cobertade brotos, Eucaris me disse que chegara a primavera.—Surge, lago, —Espuma, rola sobre a ponte a e sobreos bosques; — panos negros e órgãos, — relâmpagos etrovão, — subi e rolai; — Águas e tristezas, subi erestaurai os Dilúvios.Pois desde que eles se dissiparam, — oh! as pedraspreciosas enterrando-se, e as flores abertas! — reina otédio! E a Rainha, a Feiticeira que acende sua brasano pote de barro, jamais quererá contar-nos o que elasabe, e que nós ignoramos.

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InfânciaInfânciaInfânciaInfância

IIIIEste ídolo, olhos negros e crina amarela, sem famílianem corte, mais nobre que a fábula, mexicano eflamengo; seu domínio, azul e verdor insolentes,estende-se sobre praias conhecidas por ondas semnaus, de nomes ferozmente gregos, eslavos, célticos.À beira da floresta, — as flores de sonho tilintam,estalam, iluminam, — está a donzela de lábios delaranja, joelhos cruzados no claro dilúvio que irrompedos prados, nudez que os arco-íris, a flora e o marensombrecem, transpassam, e vestem.Damas que volteiam nos terraços vizinhos ao mar;crianças e gigantes, negras soberbas no musgoverdoso, alfaias, erguidas sobre o solo fértil dosbosques e jardins degelados — jovens mães e irmãosmaiores com olhares cheios de peregrinações,sultanas, princesas de andar e vestes tirânicas,pequenas estrangeiras e pessoas docementeinfortunadas.Que tédio, a hora do “corpo querido” e do “coraçãoamado”.

IIIIIIIIÉ ela, a pequena morta, atrás das roseiras. — A jovemmamãe defunta desce o patamar. — A caleça do primorange na areia. — O irmãozinho (está nas Índias!) lá,frente ao poente, sobre o campo de cravos. — Osvelhos enterrados rígidos na muralha dos goivos.

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O enxame das folhas de ouro cerca a casa do general.Estão no meio-dia. — Segue-se o caminho vermelhopara chegar-se à estalagem vazia. O castelo está àvenda; as persianas estão soltas. — O cura terá levadoa chave da igreja. — Em torno ao parque, as guaritasdos guardas estão desabitadas. As paliçadas são tãoaltas que só se vê os cimos sussurrantes. Ademais,nada há para se ver lá dentro.Os prados sobrem até os vilarejos sem galos, sembigornas. A represa está levantada. Ó dos calvários emoinhos do deserto, as ilhas e as mós!Flores mágicas zumbiam. Os taludes o embalavam.Animais de uma elegância fabulosa desfilavam. Asnuvens se amontoavam sobre o alto mar feito de umaeternidade de lágrimas quentes.

IIIIIIIIIIIINo bosque há um pássaro, seu canto vos detém e vosfaz corar.Há um relógio que não soa.Há uma catedral que desce e um lago que sobe.Há uma pequena carruagem abandonada nas moitas,ou que desce a vereda às carreiras, engalanada.Há um grupo de pequenos comediantes disfarçados,vistos na estrada pela beira do bosque. Há, por fim,quando se tem fome e sede, alguém que nos expulse.

IVIVIVIVSou o santo, orando no terraço, — como os animaismansos pastam até o mar da Palestina.Sou o sábio na cátedra sombria. Os ramos e a chuvase arrojam sobre a janela da biblioteca.Sou o transeunte da grande estrada pelos bosquesanões; o rumor das represas abafa meus passos.

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Vejo, longamente, a melancólica lixívia dourada dopoente.Eu bem seria a criança abandonada no cais que partirpara o alto-mar, o pequeno servo que segue aalameda cujo final toca o céu.As sendas são ásperas. Os montículos se cobrem degiestas. O ar é imóvel. Quão distantes estão ospássaros e as fontes! Isto só pode ser o fim do mundo,avançando.

VVVVQue me aluguem por fim esta tumba, branca de cal ecom as linhas de cimento em relevo — bem fundo naterra.Apoio meus cotovelos na mesa, a lâmpada iluminavivamente estes jornais que só releio de idiota, esteslivros sem interesse. —Numa distância enorme acima da minha salasubterrânea, as casas se implantam, as brumas sereúnem. A lama é vermelha ou negra. Cidademonstruosa, noite sem fim!Menos acima, estão os esgotos. Dos lados, nadasenão a espessura do globo. Talvez os abismos deazul, poços de fogo. É nesses planos que talvez seencontrem luas e cometas, mares e fábulas.Nas horas de amargura, imagino bolas de safira, demetal. Sou senhor do silêncio. Porque uma aparênciade clarabóia empalidecerá no canto da abóbada?

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ContoContoContoConto Um Príncipe se envergonhava por jamais haver sededicado senão à perfeição das generosidadesvulgares. Previra espantosas revoluções no amor, esuspeitava que suas mulheres eram capazes de algomelhor que esta tolerância adornada de céu e de luxo.Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfaçãoessenciais. Fosse ou não uma aberração da piedade,ele o quis. Possuía ao menos um poderio humanosuficientemente vasto.Todas as mulheres que o haviam conhecido foramassassinadas. Que vandalismo no jardim da beleza!Sob o sabre, elas o abençoaram. Ele não encomendououtras novas. — As mulheres reapareceram.Matou todos que o seguiam, após a caça ou libações.— Todos os seguiam.Divertiu-se estrangulando os animais de luxo. Fezqueimar os palácios. Arrojava-se sobre as gentes e asesquartejava. — A multidão, os tetos de ouro, os belosanimais existiam ainda.Pode alguém extasiar-se na destruição rejuvenescerna crueldade! O povo não murmurou.Ninguém ofereceu a ajuda de seus conselhos.Galopava altaneiro certa noite. Um Gênio surgiu, deuma beleza inefável, inconfessável mesmo. De suafisionomia e de sua postura emanava a promessa deum amor múltiplo e complexo! de uma felicidadeindizível, insuportável mesmo! O Príncipe e o Gênio se

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aniquilaram provavelmente na saúde essencial. Comonão teriam podido dela morrer? Morreram juntosentão.Mas este Príncipe morreu, em seu palácio, em umaidade comum. O Príncipe era o gênio. O Gênio era oPríncipe.A música erudita faz falta a nosso desejo.

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DesfileDesfileDesfileDesfile Palhaços muito sólidos. Vários exploraram vossosmundos. Sem necessidades, e com pressa de utilizarsuas brilhantes faculdades e conhecimento de vossasconsciências. Que homens maduros; Olhosbestificados à maneira da noite de verão, vermelhos enegros, tricolores, de aço salpicado de estrelas deouro; faces deformadas, plúmbeas, cadavéricas,inflamadas; rouquidões brincalhonas! O andar crueldos ouropéis! — Há alguns jovens, — como veriamQuerubim?Providos de vozes terríveis e de alguns recursosperigosos. Mandam-nos criar corpo na cidade,engalanados com um luxo repelente.Ó o mais violento Paraíso do esgar raivoso!Comparação alguma com vossos Faquires e outrasbufonarias cênicas. Em vestes improvisadas com ogosto do pesadelo, representam lamúrias, tragédias demalandros e de semideuses espirituais como a historiaou as religiões jamais o foram. Chineses, hotentotes,boêmios, idiotas, hienas, Molochs, velhas demências,demônios sinistros, eles misturam modos populares,maternais, com as atitudes e ternuras bestiais.Interpretariam até mesmo peças novas e canções para“moças de família”. Mestres jograis,transfiguram olugar e as pessoas e recorrem à comédia magnética.Os olhos flamejam, o sangue canta, os ossos sedilatam, as lágrimas e os filetes vermelhos escorrem.Suas piadas ou terror duram um minuto, os meses

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inteiros.Sou o único a possuir a chave deste desfile selvagem.

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AntigoAntigoAntigoAntigo Gracioso filho de Pã! Em torno de tua fronte coroadade pequenas flores e bagas, teus olhos, esferaspreciosas, se movem. Pintadas de borra parda, tuasfaces se afundam. Tuas presas brilham. Teu peitolembra uma cítara, tinidos circulam em teus braçoslouros. Teu coração bate nesse ventre onde dorme oduplo sexo. Passeia, à noite, movendo docementeesta coxa, esta segunda coxa e esta perna esquerda.

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Being BeauteousBeing BeauteousBeing BeauteousBeing Beauteous Ante a neve um Ser de Beleza de elevado porte. Silvosde morte e círculos de música em surdina fazemcrescer, dilatar-se e vibrar como um espectro estecorpo adorado; chagas escarlates e negras explodemem suas carnes soberbas. As cores próprias da vidaensombrecem, dançam, e se desprendem em torno àVisão, tomando forma.Os frêmitos sobem e zumbem, e o sabor insensatodestes efeitos carregando-se dos silvos mortais e asroucas músicas que o mundo, longe atrás de nós,lança contra nossa mãe de beleza, — ela recua,ergue-se. Oh! nossos ossos se revestem de um novocorpo amoroso.

************Ó a face cinzenta, o escudo da crina, os braços decristal! O canhão sobre o qual tenho de arrojar-me naconfusão das árvores e do ar leve!

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VidasVidasVidasVidas

IIIIÓ as enormes avenidas da terra santa, os terraços dotemplo! Que fizeram do brâmane que me explicou osProvérbios? Desde então, de lá vejo ainda até asvelhas! Lembro-me das horas de prata e de sol juntoaos rios, a mão da campina sobre minha espádua, ede nossas caricias em pé nas planícies picantes. —Uma revoada de pombas escarlates troa em torno demeu pensamento. — Exilado aqui, tive um cenário onderepresentar as obras-primas dramáticas de todas asliteraturas. Eu vos indicaria as riquezas inauditas.Observo a história dos tesouros que encontrastes.Vejo a continuação! Minha sabedoria é tão desprezadaquanto o caos. Que é meu nada, ao lado do estuporque vos espera?

IIIIIIIISou um inventor de méritos bem distintos de todosquantos me precederam; um músico quase, queencontrou algo como a clave do amor. Hoje, gentilhomem de uma campina acre no céu sóbrio, tantocomover-se com a lembrança da infância mendicante,da aprendizagem ou da chegada em tamancos, daspolêmicas, das cinco ou seis viuvezes, e de algumasbodas onde minha cabeça dura impediu-me de seguiro diapasão de meus camaradas. Não lamento minhaantiga parte de alegria divina; o ar sóbrio desta acrecampina alimenta ativamente meu atroz ceticismo.Mas como este ceticismo não pode de agora emdiante ser praticado, e como alias me devoto a uma

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nova perturbação, — espero tornar-me um louco muitocruel.

IIIIIIIIIIIINum sótão em que fui encerrado aos doze anosconheci o mundo, ilustrei a comedia humana. Numceleiro aprendi a história. Em certa festa noturna,numa cidade do Norte encontrei todas as mulheresdos antigos pintores. Numa velha travessa de paris meensinaram as ciências clássicas. Numa magníficamansão cercada pelo Oriente inteiro coroei minhaimensa obra e passei meu insigne retiro. Misturei meusangue. Meu dever me foi devolvido. Nem mais épreciso pensar nisso. Sou realmente de além-túmulo, enão tenho mensagens.

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PartidaPartidaPartidaPartida Visto demais. A visão foi reencontrada em todos osares.Tido demais. Rumores de cidades, à noite, e sob o sol,e sempre.Conhecido demais. As paradas da vida. — Ó rumores eVisões!Partida na afeição e o ruído novos!

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RealezaRealezaRealezaRealeza Numa bela manhã, num povo muito afável, um homeme uma mulher soberbos gritavam na praça pública.“Meus amigos, quero que ela seja rainha!” “Quero serrainha!” ela ria e tremia. Ele falava aos amigos derevelação, de experiência cumprida. Ambosdesfaleciam, um contra o outro.Com efeito foram reis toda uma manhã, em quetapeçarias carmesins se elevaram sobre as casas, etoda a tarde, quando avançaram em direção aosjardins de palmeiras.

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À uma razãoÀ uma razãoÀ uma razãoÀ uma razão Um golpe de teu dedo no tambor desencadeia todosos sons e inaugura a nova harmonia. Um passo teu éa leva dos novos homens e o começo de sua marcha.Tua cabeça se desvia: o novo amor! Tua cabeça sevolta — o novo amor!“Muda nossos destinos, passa ao crivo os flagelos, acomeçar pelo tempo”, cantam-se estas crianças.“Erige”, não importa onde, a substância de nossasfortunas e desejos”, pedem-te.Chegada desde sempre, irás por toda a parte.

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Manhã de EmbriaguezManhã de EmbriaguezManhã de EmbriaguezManhã de Embriaguez Ó meu bem! Ó meu belo! Fanfarra atroz em quejamais vacilo! Cavalete mágico! Hurra para a obrainaudita e para o corpo maravilhoso, pela primeira vez!Isto começa pelos risos das crianças, terminará poreles. Este veneno há de permanecer em todas asnossas veias mesmo quando, ao ir- se a fanfarra,sejamos entregues a antiga desarmonia. Ó presentenós tão dignos destas torturas! Recolhamosardorosamente esta promessa, esta demência! Aelegância, a ciência, a violência! Prometeram-nosenterrar na sombra da árvore do bem e do mal, baniras honestidades tirânicas, para que introduzíssemosnosso muito puro amor. Isto começou com algunsdesgostos e acabou, — não podendo arrebatar-nosimediatamente desta eternidade, — isto acabou numadebandada de perfumes.Riso das crianças, discrição dos escravos, austeridadedas virgens, horror pelas formas e objetos daqui,sagrados sejais pela lembrança desta vigília. Istocomeçava com toda a grosseria, eis que termina comanjos de chama e gelo.Pequena vigília de embriaguez, santa! ainda que sófosse pela máscara que nos gratificastes. Nós teafirmamos, método! Não esquecemos que glorificasteontem cada uma de nossas idades. Temos fé noveneno. Sabemos dar nossa vida inteira todos os dias.Eis o tempo dos Assassinos.

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FrasesFrasesFrasesFrases Quando o mundo for reduzido a um único bosquenegro para nossos quatro olhos espantados, — a umapraia para duas crianças fiéis, — a uma casa musicalpara nossa clara simpatia, — eu vos encontrarei.Que haja cá em baixo um só ancião, calmo e belo,cercado de um “luxo inaudito”, — e eu estarei a vossospés.Quando tenha realizado todas as vossas lembranças,— seja eu aquela que vos sabe estrangular, — eu vossufocarei.

****Quando somos muito fortes, — quem recua? muitoalegres, quem cai de ridículo? Quando somos muitomaus, — que fariam de nós?Enfeitai-vos, dançai, ride. Jamais poderei enviar oAmor pela janela.

****— Minha camarada, mendiga, criança monstro! Comote são indiferentes estas infelizes e estas manobras, emeus embaraços. Une-te a nós com tua vozimpossível, tua voz! único adorador deste vildesespero.

****Uma manhã enevoada, em julho. Um gosto de cinzasvoa no ar; um odor de madeira que sua na lareira, — asflores maceradas, — a pilhagem dos caminhos, — agaroa dos canais pelos campos — porque não agora osbrinquedos e o incenso?

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****Estendi cordas de sino a sino; guirlandas de janela àjanela; correntes de ouro de estrela à estrela, e danço.

****O alto lago fumega continuamente. Que feiticeira iráerguer-se no crepúsculo brando? Que frondescênciasvioletas vão descer?

****Enquanto os fundos públicos são dissipados em festasde confraternização, um sino de fogo róseo tange nasnuvens.

****Acentuando um agradável sabor a tinta da China, umpó negro chove docemente sobre minha vigília. —Diminuo as luzes do lustre, caio na cama e, voltandopara o lado da sombra, eu vos vejo, minhas filhas!minhas rainhas!

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OperáriosOperáriosOperáriosOperários Ó esta cálida manhã de fevereiro. O Sul inoportunoveios suscitar nossas lembranças de indigentesabsurdos, nossa jovem miséria.Henrika vestia uma saia de algodão de quadradosbrancos e escuros, que deve ter sido usada no séculopassado, um gorro com fitas e um lenço de seda. Eramais triste que um luto. Dávamos uma volta pelosubúrbio. O tempo estava enevoado, e esse vento doSul excitava todos os odores vis dos jardinsdevastados e dos prados ressequidos.Isto não devia fatigar minha mulher tanto quanto amim. Num charco deixado pela inundação do mêsanterior em uma senda bastante elevada ela memostrou peixes muito pequenos.A cidade, com sua fumaça e seus rumores de ofícios,nos seguia ao longe pelos caminhos. Ó o outro mundo,a morada abençoada pelo céu, e as sombras dasárvores! O sul me recordava os miseráveis incidentesda minha infância, meus desesperos estivais, a terrívelquantidade de força e de ciência que o destino sempreafastou de mim. Não! não passaremos o verão nestepais avaro onde não seremos jamais senão órfãosnoivos. Quero que este braço enrijecido não arrastemais uma imagem querida.

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As PontesAs PontesAs PontesAs Pontes Céus cinzentos de cristal! Um estranho desenho depontes, retas estas, arqueadas aquelas, outrasdescendo ou caindo na oblíqua sobre as primeiras, eestas formas se renovando em outros circuitosiluminados do canal, mas todas são longas e leves queas margens, juncadas de cúpulas, se humilham ediminuem. Algumas dessas pontes estão aindacobertas de escombros. Outras sustentam mastros,sinais, frágeis parapeitos. Acordes menores se cruzame se prolongam,, cordas sobem as ribanceiras.Distingue-se uma jaqueta vermelha, talvez outrasvestes e instrumentos de música. Serão áriaspopulares, trechos e instrumentos senhoriais, restosde hinos públicos? A água é gris e azul, larga comoum braço de mar. — Um raio branco, caindo do alto docéu, aniquila esta comédia.

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CidadeCidadeCidadeCidade Sou em efêmero e não muito descontente cidadão deuma metrópole que se supõe moderna porque todogosto conhecido foi subtraído tanto dos mobiliários edo exterior das casas quanto do traçado da cidade.Aqui não poderíeis assinalar os vestígios de nenhummonumento de superstição. A moral e a língua estãoreduzidas à sua mais simples expressão, enfim! Estesmilhões de pessoas que não têm necessidade de seconhecer sobrelevam de maneira tão semelhante aeducação, a profissão e a velhice, que a duração davida deve ser varias vezes menos longa daquela queuma estatística insana encontra para os povos docontinente. Assim como, de minha janela, vejoespectros novos circulando através da espessa eeterna fumaça de carvão, — nossa sombra dosbosques, nossa noite de verão! — Erínias novas, dianteda choupana que é minha pátria e todo meu coração,pois tudo aqui se assemelha a isto, — a Morte semprantos, nossa ativa filha e serva, um Amordesesperado, e um belo Crime choramingando nalama da rua.

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SulcosSulcosSulcosSulcos À direita a aurora estival acorda as folhas e os vaporese os ruídos deste recanto do parque, e os declives daesquerda abrigam em sua sombra violeta os mil sulcosrápidos da estrada úmida. Desfile de magias. De fato:carros carregados de animais de madeira dourada,mastros e telas multicores, ao imenso galope de vintecavalos de circo malhados, e as crianças e os homensmontados nos mais espantosos animais; — vinteveículos, ornados, embandeirados, e floridos comocarruagens antigas ou de contos, cheias de criançasataviadas para uma pastoral suburbana. — Até ataúdessob seus dosséis noturnos, erguendo os penachos deébano, desfilando ao trote de grandes éguas azuis enegras.

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CidadesCidadesCidadesCidades São cidades! É um povo para o qual se ergueramestes Aleganís e estes Líbanos de sonho! Chalés decristais e de madeira que se movem sobre trilhos eroldanas invisíveis. As velhas crateras cingidas secolossos e palmeiras de cobre rugem melodiosamenteem meio aos fogos. Festas de amor soam nos canaispendurados atrás dos chalés. A música de caça doscarrilhões grita nas gargantas. Corporações decantores gigantes acorrem em vestimentas eauriflamas deslumbrantes como a luz dos cumes.Sobre as plataformas em meio aos abismos osHolandos trombeteiam sua bravura. Sobre aspassarelas do abismo e os tetos dos albergues, oardor do céu embandeira os mastros. Odesmoronamento da apoteoses alcança os camposdas alturas onde centauras seráficas evoluem entre asavalanches. Acima do nível dos mais altos cumes, ummar perturbado pelo nascimento eterno de Vênus,juncado de frotas orfeônicas e do rumor das perolas edas conchas preciosas, — o mar escurece às vezescom esplendores mortais. Sobre as vertentes, ascolheitas de flores grandes como nossas armas enossas taças, mugem. Cortejo de Mabs em túnicasroxas, opalinas, sobem das ravinas. No alto, as patasna cascata e nas sarças, os veados mamam emDiana. As Bacantes dos subúrbios soluçam e a luaarde e uiva. Vênus entra na caverna dos ferreiros eermitões. Sinos cantam as idéias dos povos. Doscastelos construídos com ossos sai a músicadesconhecida. Todas as lendas evoluem e os alces se

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lançam às povoações. O paraíso das tormentas sedesintegra. Os selvagens dançam sem parar a festada noite. E, uma hora, mergulhei no movimento de umbulevar de Bagdá onde grupos cantaram a alegria dotrabalho novo, sob uma brisa espessa, circulando sempoder eludir os fabulosos fantasmas dos montes ondedevíamos tornar a encontrar-nos.Que bons braços, que bela hora me devolverá estaregião de onde vêm meus sonhos e meus mínimosmovimentos?

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VagabundosVagabundosVagabundosVagabundos Mísero irmão! Quantas atrozes vigílias lhe devo! Eunão me encarregava fervorosamente desseempreendimento. Ridicularizava sua enfermidade. Porminha culpa voltaríamos ao exílio, escravos. Ele meatribuía um azar e uma inocência muito estranhas, eacrescentava razoes inquietantes.Eu respondia, escarnecendo, a este satânico doutor, eterminava por alcançar a janela. Criava, além docampo atravessado por bandas de música rara, osfantasmas do futuro luxo noturno.Após esta distração vagamente higiênica, estendia-menuma enxerga. E, quase todas as noites, mal haviadormido, o pobre irmão se levantava, a bocaapodrecida, os olhos arrancados, — tal como ele sesonhava! — e me arrastava pela sala, uivando seusonho de melancolia idiota. Eu, com efeito, com toda asinceridade da alma, tinha assumido o compromissode devolvê-lo a seu estado primitivo de filho do Sol, —e andamos errantes, nutridos pelo vinho das cavernase pela bolacha das estradas, eu pressuroso deencontrar o lugar e a fórmula.

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CidadesCidadesCidadesCidades A acrópole oficial, superior às mais colossaisconcepções de barbárie moderna. Impossívelexpressar o dia fosco produzido por este céuimutavelmente gris, o esplendor imperial dasconstruções, e a neve eterna do solo. Num singulargosto de enormidade, foram reproduzidas todas asmaravilhas clássicas da arquitetura. Assisto aexposições de pintura em locais vinte vezes maisvastos que Hampton-Court. Que pintura! UmNabucodonosor norueguês fez construir as escadariasdos ministérios, os subalternos que pude ver são maisorgulhosos que...(1), e tremi ante o aspecto dosguardiães de colossos e oficiais de construções. Como agrupamento dos edifícios em praças, pátios eterraços fechados, os cocheiros foram afastados. Osparques representam a natureza primitiva trabalhadapor uma arte soberba. O bairro alto tem partesinexplicáveis: um braço de mar, sem navios, desenrolasua superfície de granizo azul entre cais juncados decandelabros gigantes. Uma ponte curta conduz a umapoterna exatamente sob a cúpula de Sainte-Chapelle.Esta cúpula é uma armação de aço artístico de cercade quinze mil pés de diâmetro.Em alguns pontos das passarelas de cobre, dasplataformas, das escadarias que contornam osmercados e pilares, acreditei poder avaliar aprofundeza da cidade! É prodígio que não pudecompreender: quais são os níveis dos outros bairrossobre e sob a acrópole? Para o estrangeiro de nossa

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época, o reconhecimento é impossível. O bairrocomercial é um circo de um só estilo, com galerias dearcadas. Não se vêem as lojas, mas a neve da calçadaestá esmagada; alguns nababos tão raros quanto ospassantes de uma manhã de domingo em Londres, sedirigem até uma diligencia de diamantes. Alguns divãsde veludo vermelho: servem-se bebidas polares cujopreço varia de oitocentas a oito mil rupias. Ante a idéiade procurar espetáculos neste circo, respondo a mimmesmo que as lojas devem conter dramas bastantesombrios. Penso que há uma policia. Mas a lei deveser de tal modo estranha, que renuncio a fazer umaidéia dos aventureiros daqui.O subúrbio, tão elegante quanto uma bela rua deParis, é favorecido por um ar luminoso. O elementodemocrático conta com algumas centenas de almas.Lá, no entanto, as casas não continuam; o subúrbio seperde singularmente no campo, o “Condado” queocupa o ocidente eterno das florestas e das plantaçõesprodigiosas onde os gentis-homens selvagensperseguem suas crônicas sob a luz que se criou.

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VigíliasVigíliasVigíliasVigílias

IIIIÉ o repouso iluminado, nem febre nem langor, no leitoou no prado.É o amigo nem ardente nem débil. O amigo.É a amada, nem atormentadora nem atormentada. Aamada.O ar e o mundo de modo algum buscados. A vida.— Era então isso?— E o sono refresca.

IIIIIIIIA iluminação volta à árvore da obra em construção.Das duas extremidades da sala, cenários quaisquer,elevações harmônicas se juntam. A muralha diante dovigia é uma sucessão fisiológica de cortes de frisas, defaixas atmosféricas e acidências geológicas. — Sonhointenso e rápido de grupos sentimentais com seres detodos os caracteres entre todas as aparências.

IIIIIIIIIIIIAs lâmpadas e os tapetes da vigília fazem o ruído dasondas, à noite, ao longo do casco do navio e em tornodo steerage.(2)O mar da vigília, qual os seios de Amélia.As tapeçarias, até a meia altura, entalhes de renda,aparência de esmeralda, onde se lançam as rolas davigília... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

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A prancha da lareira negra, reais sóis das praias: ah!Poços de magias; única visão da aurora, esta vez.

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MísticaMísticaMísticaMística No declive da escarpa os anjos trocam suas vestes delã sobre os relvados de ouro e esmeralda.Prados de chamas saltam até o alto do mamilo. Àesquerda, o terriço da aresta é pisado por todos oshomicidas e todas as batalhas, e todos os ruídosdesastrosos seguem sua curva. Atrás da aresta direita,a linha dos orientes, dos progressos.E, enquanto, a faixa ao alto do quadro é formada pelorumor giratório e saltitante das conchas dos mares edas noites humanas.A doçura florida das estrelas e do céu e do resto descediante da escarpa, como um cesto, — contra nossorosto, e forma o abismo fragrante e azul lá embaixo.

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AuroraAuroraAuroraAurora Tive nos braços a aurora de verão.Nada se movia ainda na fachada dos palácios. A águaestava morta. Os campos de sombra nãoabandonavam o caminho do bosque. Caminhei,despertando os hálitos vivos e mornos, e as pedrariasolharam, e as asas se ergueram sem ruído.A primeira aventura foi, no sendeiro já pleno de frescose pálidos fulgores, uma flor que disse seu nome.Ri à loura wasserfall (3) que se desgrenhava atravésdos pinheiros: pelo cimo prateado reconheci a deusa.Levantei então, um a um, os véus. Na alameda,agitando os braços. Na planície, onde a denunciei aogalo. Na grande cidade, ela fugia entre oscampanários e as cúpulas, e correndo como ummendigo sobre os cais de mármore, eu a perseguia.No alto do caminho, perto de um bosque de loureiros,eu a envolvi com seus véus amontoados, e senti umpouco seu imenso corpo. A aurora e a criança caíramna falda do bosque.Ao despertar era meio-dia.

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FloresFloresFloresFlores De um degrau dourado, — entre os cordões de seda,os gazes grises, os veludos verdes e os discos decristal que enegrecem como bronze ao sol, — vejo adigital abrir-se sobre um tapete de filigranas de prata,de olhos e cabeleiras.Peças de ouro amarelo semeadas sobre a ágata,pilares de mogno sustentando uma cúpula deesmeraldas, buquês de cetim branco e de finas varasde rubis rodeiam a rosa d´água.Qual um deus de enormes olhos azuis e de formas deneve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore amultidão de jovens e fortes rosas.

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Noturno VulgarNoturno VulgarNoturno VulgarNoturno Vulgar Um sopro abre fendas operádicas (4) nos tabiques, —transtorna a armação dos tetos carcomidos, — dispersaos limites das lareiras, — eclipsa as janelas. — Ao longoda vinha, tendo-me apoiado com o pé à uma gárgula,— desci nesta carruagem cuja época indicamsuficientemente as vidraças convexas, os paramentoscurvos e sofás contorcidos. Carro fúnebre de meussonhos, solitário, casa de pastor de minha tolice, oveiculo fira em torno à relva da grande estradaapagada: e numa racha no alto do vidro à direitaredemoinham s lívidas figuras lunares, folhas, seios; —Um verde e um azul muito intensos invadem aimagem. Desatrelagem nas imediações de umamancha de cascalho.— Aqui vai-se assobiar para a tempestade, e asSodomas — e as Solimas, — e os animais ferozes e osexércitos.— (Postilhão e bestas de sonho continuarão sob osmais sufocantes bosques, para afundar-se ate osolhos na fonte de seda)— E enviar-nos, fustigados através das águasmarulhentas e das bebidas derramadas, a rolar sob oladrido dos cães de guarda...— Um sopro dispersa os limites da lareira.

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MarinhaMarinhaMarinhaMarinha

Os carros de prata e cobre —As proas de aço e prata —

Ferem a espuma, —Agitam os tocos dos espinheiros.

As correntes da charneca,E os sulcos imensos da vazante, Correm circularmente

para o este,Para os troncos do quebra-mar,

Cujo ângulo é castigado por turbilhões de luz.

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Festa de InvernoFesta de InvernoFesta de InvernoFesta de Inverno A cascata soa atrás das cabanas de ópera-cômica.Girândolas prolongam, nos pomares e nas alamedasvizinhas do Meandro, — os verdes e os vermelhos docrepúsculo. Ninfas de Horácio com penteados doPrimeiro Império, — Rondas Siberiana, Chinesas deBoucher.

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AngústiaAngústiaAngústiaAngústia Será possível que Ela (5) me faça perdoar asambições continuamente aniquiladas, — que um finalfeliz compense as épocas de indigência, — que um diade êxito nos adormeça sobre a vergonha da nossafatal inabilidade.(Ó palmas! diamante! — Amor, força! — mais alto quetodas as alegrias e glórias! — de qualquer modo, emtodas as partes, — demônio, deus, Juventude desteser; eu!)Que acidentes de magia cientifica e movimentos defraternidade social sejam prezados como restituiçãoprogressiva da franqueza primeira?...Mas a Vampiro que nos torna gentis ordena que nosdivirtamos com o que ela nos deixa, ou que pelocontrário sejamos mais extravagantes.Rolar até as feridas, pelo ar fatigante e o mar; até ossuplícios, pelo silencio da águas e do ar mortíferos; atéas torturas que riem, em seu silencio atrozmenteagitado.

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MetropolitanoMetropolitanoMetropolitanoMetropolitano Do estreito de índigo aos mares de Ossian, sobre aareia rósea e laranja que o céu cor de vinho lavou,acabam de subir e cruzar-se bulevares de cristalimediatamente habitadas por jovens famílias pobresque se alimentam nas fruteiras. Nenhuma riqueza. — Acidade!Do deserto de betume fogem, completamentedesbaratados, com lençóis de bruma escalonados embandos pavorosos no céu que se recurva, recua edesce, formado pela mais sinistra negra que possafazer o Oceano de luto, os cascos, as rodas, osbarcos, as garupas. — A batalha!Levanta a cabeça: esta ponte de madeira, arqueada;as ultimas hortas da Samaria; estas máscarascoloridas sob a lanterna fustigada pela noite fria; aondina simplória de túnica farfalhante, no fundo do rio;estes crânios luminosos nos plantios de ervilhas — e asoutras fantasmagorias — a campanha.Caminhos bordados de grades e muros, contendoapenas seus pequenos bosques, e as atrozes floresque chamaríamos corações e irmãs, Damascostomados pelo langor, — possessões de feéricasaristocracias ultra-renanas , japonesas, guaranis,aptas ainda para receber a música dos antigos — e háalbergues que para sempre não mais se abrem — háprincesas, e se não estás muito oprimido, o estudo dosastros — o céu.Na manhã em que, com Ela, vos debatestes entre osresplendores da neve, estes lábios verdes, os cristais,

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as bandeiras negras e os raios azuis, e os perfumespúrpuras do sol dos pólos, — tua força.

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BárbaroBárbaroBárbaroBárbaro Muito após os dias e as estações, e os seres e ospaíses,O pavilhão de carne sangrenta sobre a seda dosmares e das flores árticas; (elas não existem.)Restabelecido das velhas fanfarras de heroísmo — quenos atacam ainda o coração e a cabeça — longe dosantigos assassinos (6) —Oh! o pavilhão de carne sangrenta sobre a seda dosmares e das flores árticas; (elas não existem.)Dulçores!Os braseiros, chovendo nas rajadas de geada,—Dulçores! — os fogos na chuva do vento de diamantelançada pelo coração terrestre por nós eternamentecarbonizado. — O mundo! — (Longe dos velhos refúgiose das velhas chamas, que se ouvem, que se sentem,)Os braseiros e as espumas. A música, virada aosabismos e choque dos flocos de gelo nos astros.É Dulçores, ó mundo, ó música! E lá, as formas, ossuores, as cabeleiras e os olhos, flutuando. E aslagrimas brancas, ferventes, — ó dulçores! — e a vozfeminina que chegou ao fundo dos vulcões e dasgrutas árticas.O pavilhão...

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PromontórioPromontórioPromontórioPromontório A aurora de ouro e a noite tremente surpreendemnosso bergantim em alto-mar frente a esta mansão esuas dependências, que formam um promontório tãovasto como o Épiro e o Peloponeso ou como a grandeilha do Japão, ou como a Arábia! Santuários que sãoiluminados pela reaparição das teorias, imensas vistasda defesa das costas modernas; dunas ornadas decálidas flores e bacanais; grandes canais de Cartago ediques de uma Veneza suspeita; débeis erupções deEtnas e fendas de flores e águas dos glaciares;lavadouros rodeados de álamos da Alemanha;declives de parques singulares pendendo dos cimosda Árvore do Japão; e as fachadas circulares dos“Royal” ou dos “Grand” de Scarbro´ ou do Brooklyn; esuas ferrovias flanqueiam, cavam, dominam asdisposições deste Hotel, escolhidas na história dasmais elegantes e colossais construções da Itália, daAmérica e da Ásia, e cujos terraços e janelas agoracheios de luzes, bebidas e brisas perfumadas, estãoabertos ao espírito dos viajantes e dos nobres — quepermitem, nas horas do dia, a todas as tarantelas daspraias, — e mesmo aos ritornelos dos vales ilustres daarte, decorar maravilhosamente as fachadas doPalácio-Promontório.

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CenasCenasCenasCenas A antiga Comédia prossegue em suas harmonias edivide seus Idílios:Bulevares de teatro de feira.Um longo quebra-mar de madeira de um extremo aooutro de um campo rochoso onde a multidão bárbararevoluciona sob as árvores despojadas.Nos corredores de gaze negra, seguindo o andar dospasseantes pelas lanternas e pelas folhas,Pássaros precipitam-se sobre um pontão de alvenariamovido pelo arquipélago coberto das embarcaçõesdos espectadores.Cenas líricas com acompanhamento de flauta e tamborse inclinam nos retiros dispostos sob os tetos, emtorno dos salões de clubes modernos ou das salas doOriente antigo.O espetáculo mágico no cimo de um anfiteatrocoroado de bosques, — ou se agita e modula para osBeócios, na sombra das florestas que se movem, naaresta das culturas.A ópera cômica se divide num palco na aresta deintersecção de dez tabiques que se erguem na galeriade fogos.

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Noite HistóricaNoite HistóricaNoite HistóricaNoite Histórica Em qualquer noite, por exemplo, em que se encontre oturista ingênuo, afastado de nossos horroreseconômicos, a mão de um mestre anima o clavecinodos prados; joga-se baralho no fundo do lago, espelhoevocador das rainhas e das favoritas; têm-se santos,véus, e os fios da harmonia, e os cromatismoslegendários, no crepúsculo.Ele estremece à passagem das caças e das hordas. Acomedia goteja sobre os teatros de feira da relva. E oembaraço dos pobres e dos débeis nesses planosestúpidos!À sua visão escrava, a Alemanha ergue seus estradosem direção às luas; os desertos tártaros se iluminam;as revoltas antigas fervilham no centro do CelesteImpério; pelas escadarias e cadeiras de rochedos, umpequeno mundo lívido e chato, África e Ocidente, vaiedificar-se. Depois um balé de mares e noitesconhecidas, uma química sem valor, e melodiasimpossíveis.A mesma magia burguesa em todos os pontos em quenos deposite o correio! O físico mais elementar senteque já não mais é possível submeter-se à estaatmosfera pessoal, bruma de remorsos físicos, cujaconstatação já é um tormento.Não! O momento da estufa, dos mares arrancados,dos abraços subterrâneos, do planeta desaparecido, edos extermínios conseqüentes, certezas tão poucomalignamente assinaladas na Bíblia e pelas Nornas (7)e que caberá ao ser severo vigiar. — No entanto, de

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modo algum será uma ação legendária!

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BottomBottomBottomBottom(8)(8)(8)(8)

Sendo muito espinhosa a realidade para meu fortecaráter, — encontrei-me, no entanto, na casa daSenhora, como um grande pássaro gris azuladovoando até as molduras do teto e arrastando a asa nassombras da noite.Fui, ao pé do dossel que sustinha suas jóias adoradase suas obras-primas físicas, um gordo urso degengivas violetas e de pêlo encanecido pela amargura,os olhos nos cristais e nas pratarias dos consolos.Tudo se fez sombra e aquário ardente. Pela manhã, —belicosa aurora de junho, — corri aos campos, asno,trombeteando e brandindo minha queixa até que asSabinas vieram lançar-se ao meu peito.

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HHHH Todas as monstruosidades violam os gestos atrozesde Hortênsia. Sua solidão é mecânica erótica, sualassitude, a dinâmica amorosa. Sob a vigilância deuma meninice, ela foi, em numerosas épocas, ahigiene ardente das raças. Sua porta está aberta àmiséria. Lá, a moralidade dos seres atuais sedesagrega em sua paixão ou em sua ação. — O terrívelfrêmito dos amores noviços no solo sangrento e pelohidrogênio esplendoroso! achai Hortência.

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MovimentoMovimentoMovimentoMovimento O movimento em ziguezague na encosta das quedasdo rio,O abismo da popa,A celeridade da rampa,A enorme passagem da correnteConduzem através dos fulgores inauditosE a novidade químicaOs viajantes rodeados pelos turbilhões do valeE da corrente.São os conquistadores do mundoQue buscam a fortuna química pessoal;O esporte e o conforto viajam com eles;Levam consigo a educaçãoDas raças, classes e animais, nesta naveRepouso e vertigemÀ luz diluviana,Nas terríveis noites de estudo.Porque na conversa entre os aparelhos, o sangue, asflores, o fogo, as jóias,Nas contas agitadas nesta borda fugitiva— Vê-se, retumbante como um dique além da rotahidráulica motriz,Monstruosa, iluminando-se sem fim, — sua provisão deestudos;Caçados no êxtase harmônico,E o heroísmo da descoberta.Nos acidentes atmosféricos mais surpreendentes,Um jovem casal se isola na arca,— É a antiga selvageria que se perdoa? —E canta e se situa.

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DevoçãoDevoçãoDevoçãoDevoção A minha irmã Luísa Vanaen de Voringhem: — sua coifaazul voltada para o mar do Norte. — Para os náufragos.A minha irmã Léonie Aubois d´Ashby. Bau! (9) — Arelva de verão sussurrante e fétida. — Para a febre dasmães e dos filhos.A Lulu, — demônio — que conservou um gosto pelosoratórios do tempo das Amigas e de sua educaçãoincompleta. Para os homens. — À Senhora***.Ao adolescente que fui. A esse santo ancião, ermidaou missão.Ao espírito dos pobres. E a um muito alto clero.Assim como a todo culto em um lugar de cultomemorial e entre acontecimentos tais que seja precisoentregar-se, obedecendo as aspirações do momentoou ainda ao nosso próprio vício sério.Essa noite em Circeto dos altos gelos, gordurentacomo o peixe, e colorida como os dez meses da noitevermelha, — (seu coração de âmbar e spunk), (10), —para minha única oração muda como essas regiões danoite, e precedendo façanhas mais violentas do queeste caos polar.A qualquer preço e sob todos os ventos, mesmo emviagens metafísicas. — Mas mais então.

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DemocraciaDemocraciaDemocraciaDemocracia “A bandeira tremula na paisagem imunda, a nossagíria abafa o tambor.“Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição.Massacraremos as revoltas lógicas.“Aos países picantes e sem têmpera! — a serviço dasmais monstruosas explorações industriais ou militares.“Adeus aqui, não importa onde, Recrutas de boavontade, teremos a filosofia feroz; ignorantes por obrada ciência, extenuados pelo conforto; a explosão parao mundo que marcha. Para frente, a caminho!”

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Fairy Fairy Fairy Fairy (11)(11)(11)(11)

Para Helena se conjuraram as seivas ornamentais nassombras virgens e as claridades impassíveis nosilêncio astral. O ardor do verão foi confiado apássaros mudos e a indolência requerida a um barcode lutos sem preço por enseadas de amores mortos ede perfumes atenuantes.— Após o momento da cantiga das lenhadoras norumor da torrente sob a ruína dos bosques, dochocalho do gado no eco dos vales, e dos gritos dasestepes. —Para a infância de Helena fremiram as espessuras eas sombras, — e o seio dos pobres, e as lendas docéu.E seus olhos e sua dança superiores ainda àscintilações preciosas, às influencias frias, ao prazer docenário e da hora únicos.

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GuerraGuerraGuerraGuerra Criança ainda, certos céus aperfeiçoaram minha ótica:todos os caracteres matizaram minha fisionomia. OsFenômenos se sublevaram. — Atualmente, a inflexãoeterna dos momentos e o infinito das matemáticas meperseguem por este mundo onde padeço todos osêxitos civis, respeitado pela infância estranha e porafeições enormes. — Sonho com uma guerra, de direitoe de força, de lógica bem imprevista.É tão simples quanto uma frase musical.

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JuventudeJuventudeJuventudeJuventude

IIIIDomingoDomingoDomingoDomingo

Os cálculos de lado, a inevitável descida do céu, e avisita das lembranças e a assembléia dos ritmosocupam a morada, a cabeça e o mundo do espírito.Um cavalo galopa no hipódromo suburbano e ao longodas plantações e arvoredos, atingido pelo carbúnculo.Uma miserável mulher de teatro, nalguma parte domundo, suspira após abandonos improváveis. Osdesesperados (12) enlanguecem após a tempestade, aembriaguez e as feridas. Crianças pequenas afogammaldições ao longo dos rios. —

IIIIIIIISonetoSonetoSonetoSoneto

Homem de constituição ordinária, a carne não era umfruto suspenso no pomar, ó dias pueris! O corpo, umtesouro a dissipar; ó amar, o perigo ou a força dePsiquê? A terra possuía vertentes férteis em príncipese artistas, e a descendência e a raça nos impeliam aoscrimes e aos lutos: o mundo, vossa fortuna e vossoperigo. Mas agora, este labor cumprido, tu, teuscálculos, tu, tuas impaciências, não são mais quevossa dança e vossa voz, não fixadas e de modoalgum forçadas e de êxito, na humanidade fraternal ediscreta pelo universo sem imagens; — a força e odireito refletem a dança e a voz somente agoraapreciadas.

IIIIIIIIIIIIVinte AnosVinte AnosVinte AnosVinte Anos

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As vozes instrutivas exiladas...A ingenuidade físicaamargamente sossegada...Adágio. Ah! O egoísmoinfinito da adolescência, o otimismo estudioso: comoestava o mundo cheio de flores este verão! Os ares eas formas agonizantes...Um coro, para acalmar aimpotência e a ausência! Um coro de vidros demelodias noturnas...Com efeito, os nervos vão logofalhar.

IVIVIVIVAinda permaneces na tentação de Antonio (13). Orefocilamento do zelo cerceado, os tiques de orgulhopueril, o abatimento e o espanto. Mas te consagrarás aesse trabalho: todas as possibilidades harmônicas earquiteturais gravitarão em torno da tua morada. Seresperfeitos, imprevistos, se oferecerão às tuasexperiências. Ás tuas cercanias afluirásonhadoramente a curiosidade de antigas multidões ede luxos ociosos. Tua memória e teus sentidos nãoserão o alimento de teu impulso criador. Quanto aomundo, quando dele saíres, em que se teráconvertido? Em todo caso, nada das aparênciasatuais.

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SaldoSaldoSaldoSaldo À venda o que os judeus não venderam, o que nem anobreza nem o crime degustaram, o que o amormaldito e a probidade infernal das massas ignoram; oque nem a ciência nem o tempo hão de reconhecer;As Vozes reconstituídas; o despertar fraterno de todasas energias corais e orquestrais e suas aplicaçõesinstantâneas; a ocasião, única, de liberar nossossentidos!À venda os Corpos sem preço, fora de toda raça, detodo mundo, de todo sexo, de toda descendência! Asriquezas brotando a cada passo! Saldo de diamantessem controle!À venda a anarquia para as massas; a satisfaçãoirreprimível para os amadores superiores; a morteatroz para os fiéis e os amantes!À venda as habitações e as migrações, esportes,magias e comodidades perfeitas, e o ruído, omovimento e o futuro que criam!À venda as aplicações de cálculo e os inauditos saltosde harmonia. Os achados e os termos insuspeitados,possessão imediata,Impulso insensato, e infinito em direção aosesplendores invisíveis, às delicias insensíveis, — e suassecretas loucuras para cada vício — e sua alegriaespantosa para a multidão.À venda os Corpos, as vozes, a imensa opulênciainquestionável, o que não venderá jamais. Osvendedores não esgotaram o saldo! Os viajantes não

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têm porque perder sua comissão tão cedo!

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GênioGênioGênioGênio Ele é a afeição e o presente pois fez a casa aberta aoinverno espumoso e ao rumor do verão, ele quepurificou as bebidas e os alimentos, ele que é oencanto dos lugares fugitivos e a delicia sobre-humanadas estações. Ele é a afeição e o futuro, a força e oamor que nós, em pé sobre os ódios e os desgostos,vemos passar no céu de tempestade e nosestandartes de êxtase.Ele é o amor, medida perfeita e reinventada, razãomaravilhosa e imprevista, e eternidade: máquinaamada das qualidades fatais. Tivemos todo o espantode sua concessão e da nossa: ô fruição de nossasaúde, impulso de nossas faculdades, afeição egoístae paixão por ele, ele que nos ama em razão de suavida infinita...E nós o evocamos e ele viaja...E se a Adoração vaiembora, sua promessa ressoa: “Para trás etsassuperstições, estes corpos antigos, estas famílias eidades. É esta a época que soçobrou!”Ele não irá embora, não tornará a descer de um céu,não cumprirá a redenção das cóleras das mulheres edas alegrias dos homens e de todo este pecado;porque isto foi feito, ele existindo, e sendo amado.Ó suas respirações, suas cabeças, suas progressões;a terrível celeridade da perfeição das formas e daação!Ó fecundidade do espírito e imensidão do universo!Seu corpo! O desprendimento sonhado, o

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quebrantamento da graça perpassada por violêncianova!Seu olhar, seu olhar! todas as genuflexões antigas eas penas redimidas após sua passagem.Seu dia! a abolição de todos os sofrimentos sonoros emóveis na mais intensa música.Seu passo! as migrações mais enormes que asantigas invasões.Ó ele e nós! o orgulho mais benévolo que as caridadesperdidas.Ó mundo! e o canto claro dos novos flagelos!Ele nos conheceu a todos e a todos nos amou.Saibamos, esta noite de inverno, de cabo em cabo, dopólo tumultuoso ao castelo, da multidão à praia, deolhares em olhares, forças e sentimentos cansados,chamá-lo e vê-lo, e despedi-lo, e sob as marés e noalto dos desertos de neve, seguir suas visões, seusalentos, seu corpo, sua luz.

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Notas do TradutorNotas do TradutorNotas do TradutorNotas do Tradutor (1) — Palavra ilegível no texto do manuscrito Graux.Editores optam por: Brennus, Bravi, Brâmanes, ouainda Brahmas.(2) — Steerage: palavra inglesa: porões do navio.(3) — Cascata. Em alemão, no original.(4) — Palavra de origem inglesa (operatic), referente àópera.(5) — Ela, para alguns comentaristas será a Mulher,para outros a Religião. Ou ainda: a Morte, a Razão, oMétodo, a Música, a Poesia. Provocar discussões eis avantagem de ser abstrato.(6) — No caso, “fumadores de haxixe”, de onde, aliás,proviria a palavra “assassino”.(7) — Deusas escandinavas que presidem aos destinosdos homens, equivalentes às Parcas.(8) — Alusão, talvez, a Bottom, de Sonho de Uma Noitede Verão, que se metamorfoseia em asno.(9) — Bau: deusa caldéia do azar.(10) — Palavra inglesa que admite vários significados:isca, fungo, madeira podre, e como adjetivo: fogoso,violento.(11) — Palavra inglesa: fada.(12) — Rimbaud escreve les desesperadoes, que, noinglês, significa: malfeitor, bandido temível.(13) — Alusão à La Tentation de Saint Antoine, deFlaubert.

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Tradução ©2012 — Janer Cristaldo

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