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ARTIGO DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA
ESPIGÕES DE FIBRA DE VIDRO
PRÓS E CONTRAS
Ana Filipa Campos Gante
Porto, 2019
Artigo de Revisão
Área científica: Prótese Fixa
ESPIGÕES DE FIBRA DE VIDRO
PRÓS E CONTRAS
Estudante Nome: Ana Filipa Campos Gante
Número de estudante: 201306986
Orientadora Nome: Paula Cristina dos Santos Vaz Fernandes Título Profissional: Professora Auxiliar com Agregação da
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
Coorientador Nome: Paulo Júlio Andrade Almeida Título Profissional: Professor Auxiliar Convidado da Faculdade de
Medicina Dentária da Universidade do Porto
Porto, 2019
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
III
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Doutora Paula Vaz, por todo o seu apoio
na elaboração desta monografia e partilha do seu conhecimento. Pela sua
disponibilidade, dedicação, ajuda, simpatia e por todas as suas palavras de
incentivo. Foi um privilégio.
Ao Professor Doutor Paulo Júlio Almeida pela sua disponibilidade e pela
sua atenciosa coorientação neste projeto.
À Professora Inês Côrte-Real, por todas as suas preciosas orientações.
Sou muito grata por toda a sua disponibilidade, partilha e ajuda incansável.
À minha Família, por todos os valores que me transmitiram, pelo amor,
rigor, dedicação e humildade. Por sempre me incentivarem a trabalhar para
alcançar os meus objetivos e por me proporcionarem todos os meios para tal.
Ao Tomás por todo o carinho e apoio incondicional.
E aos amigos com quem partilhei estes seis anos maravilhosos. Pelo
companheirismo e principalmente pela amizade. Tornaram este percurso
inesquecível.
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
IV
RESUMO
Introdução: Os espigões intra-radiculares têm sido empregues, há já vários
anos, para retenção e suporte de restaurações em dentes com tratamento
endodôntico. Em resposta a uma elevada necessidade estética atual, os
espigões de Fibra de Vidro têm-se assumido como a solução ideal.
Objetivo: Neste contexto, o objetivo principal desta monografia consiste na
abordagem da evidência científica existente sobre os Espigões de Fibra de Vidro,
realçando os seus Prós e Contras.
Materiais e Métodos: Para a realização deste trabalho foi efetuada uma
pesquisa bibliográfica na base de dados da PUBMED®, limitada aos últimos 10
anos. Com base em critérios de inclusão e exclusão específicos foram
selecionados 55 artigos para análise.
Desenvolvimento: A diferença no comportamento biomecânico entre
espigões pré-fabricados de fibra de vidro e outros tipos espigões pode depender
de muitos fatores, para além da composição do material do espigão. Para um
aumento de sobrevida do espigão os fatores descritos como essenciais incluem
a quantidade e qualidade da estrutura remanescente coronária, o tipo de material
e composição do espigão, as dimensões e forma do espigão, o sistema de
adesividade e os protocolos de cimentação.
Conclusão: Atualmente, os espigões de Fibra de Vidro são considerados uma
excelente opção no que respeita à restauração de dentes tratados
endodonticamente. Este tipo de espigões têm-se demonstrado clinicamente
confiáveis e com ótimas propriedades condicionantes de uma elevada taxa de
sucesso.
PALAVRAS-CHAVE
Espigões de Fibra de Vidro; Stress; Sistemas Pré-fabricados; Resistência à
fratura; Força de fratura; Retenção; Tratamento da superfície
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
V
ABSTRACT
Introduction: For several years intra-radicular posts have been used for
retention and support of restorations in teeth with endodontic treatment. As a
result to an increasing aesthetic demand, fiber glass posts have become the ideal
solution.
Objetives: The purpose of this monograph is to provide an extensive review on
the existent scientific evidence about fiber glass posts, highlighting its pros and
cons.
Material and Methods: A bibliographic research was done on the PUBMED®
database, restricted to the last 10 years. Based on specific inclusion and
exclusion criteria 55 articles were selected for analysis.
Development: The difference in the biomechanical behaviour between pre-
fabricated fiber glass posts and other types of posts may depend on many factors,
in addition to de composition of the post material. For an increase on the posts
survival, the factors described as essential are the quantity and quality of the
remaining coronary structure, the type of material and composition of the post,
the dimensions and shape of the post, the adhesiveness system and the
cementation protocols.
Conclusion: Currently fiber glass posts are considered an excellent option for
restoration of endodontically treated teeth. This type of posts has shown to be
clinically reliable with a high success rate, thanks to is great properties.
KEYWORDS
Fiber Glass Post; Stress; Prefabricated systems; Fracture Resistance; Fracture
Strength; Retention; Surface Treatment
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
VI
ABREVIATURAS
GFP´s - Espigão de Fibra de Vidro
Mpa - Megapascal
Gpa - Gigapascal
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
VII
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................................... III
RESUMO ................................................................................................................................................................ IV
PALAVRAS-CHAVE.......................................................................................................................................... IV
ABSTRACT ............................................................................................................................................................ V
KEYWORDS .......................................................................................................................................................... V
ABREVIATURAS ................................................................................................................................................ VI
ÍNDICE DE TABELAS ...................................................................................................................................VIII
ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................................... IX
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 1
2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................... 4
3. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................................ 6
3.1 COMPOSIÇÃO ........................................................................................................................................ 7
3.2 TAMANHO ................................................................................................................................................. 8
3.3 FORMA ........................................................................................................................................................ 9
3.4 CIMENTAÇÃO ....................................................................................................................................... 11
3.4.1. PREPARAÇÃO DO ESPIGÃO ............................................................................................ 13
3.4.2 LINHA DE CIMENTAÇÃO ....................................................................................................... 15
3.5 DISTRIBUIÇÃO DE STRESS ........................................................................................................ 16
3.5.1 MÓDULO DE ELASTICIDADE ............................................................................................. 16
3.5.2 RESISTÊNCIA À FRATURA E MODO DE FALHA .................................................... 17
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 20
5. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................... 21
6. ANEXOS ...................................................................................................................................................... 25
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
VIII
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Esquema da pesquisa bibliográfica efetuada na base de dados da
PubMed®. ........................................................................................................... 5
Tabela 2 - Prós e contras dos Espigões de Fibra de Vidro. ............................. 19
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
IX
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Figura Ilustrativa de uma preparação dentária sem “Ferula Effect” (A)
e com “Ferula Effect” (B) .................................................................................... 2
Figura 2 - Desenhos e formas de espigões de fibra de vidro disponíveis ........ 10
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
1
1. INTRODUÇÃO
Hoje em dia embora nos encontremos numa era de procedimentos modernos
e terapias que permitem aos pacientes manter dentes gravemente
comprometidos por maior período de tempo na arcada dentária, a restauração
destes dentes continua a ser um desafio na área da Medicina Dentária. (1)
Um dente tratado endodonticamente comumente apresenta uma
arquitetura dentária alterada pela perda de estrutura, quer seja devido a cárie,
trauma, restaurações extensas prévias ou até mesmo por métodos de acesso
endodôntico e instrumentação do canal radicular (2-4), apresentando diferentes
propriedades mecânicas e estruturais comparado com um dente vital. (5) Um
dente não vital possui uma menor elasticidade, pela perda de substâncias
orgânicas da sua composição, tornando-se a sua estrutura rígida e,
consequentemente, mais suscetível à fratura. (5, 6) A restauração deste tipo de
dentes com materiais e técnicas apropriadas capazes de reter a restauração e
de resistir à fratura é um parâmetro importante e ainda desafiante. (7)
Para a possível reconstrução destes dentes, que se apresentam com
perda de estrutura coronária, têm sido altamente recomendado a aplicação de
espigões intra-radiculares. Este material colocado no interior do canal radicular
retém a restauração e permite uma favorável distribuição das forças oclusais ao
longo da estrutura dentária remanescente. (2, 6)
Os espigões intra-radiculares são usados em restaurações de dentes
tratados endodonticamente há mais de cem anos.(8) As propriedades ideais dos
sistemas de espigões passam por possuírem uma excelente biocompatibilidade
e por apresentarem propriedades físicas idênticas à dentina, tais como, o módulo
de elasticidade, a força de compressão e o coeficiente de expansão térmico. (9)
A seleção de um sistema de espigões também deve satisfazer a diversos outros
fatores, respetivamente biológicos, mecânicos e estéticos, para restaurar de
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
2
forma ideal, adequada e funcional o dente endodonticamente tratado.(10) Além
disso, também devem ser fáceis de remover do canal radicular, se for
necessário. (8)
Comum a todos os sistemas de espigões é a importância de
remanescente dentário existente. Sempre que possível, a estrutura dentária
tanto coronal como radicular deve ser conservada (11), sendo um dos fatores
mais importantes na resistência de dentes tratados endodonticamente.(12)
Dados de estudo recente defendem que o comportamento biomecânico é mais
dependente da estrutura coronal remanescente do que do próprio sistema de
espigões utilizado.(13) O conceito de “ Ferula Effect” sugere a preservação ou
criação de paredes paralelas (Figura 1) que produzam um comportamento
protetor, diminuindo o stress transferido para a restauração, e, melhorando a
distribuição deste ao longo da estrutura dentária remanescente. (13, 14) Tem
sido recomendado pelo menos 1,5mm de “ferula effect” para um sucesso a
longo-prazo da restauração.(15)
Figura 1 - Figura Ilustrativa de uma preparação dentária sem “Ferula Effect” (A) e com “Ferula Effect” (B)
Fonte: Jakubonyte et al. (2018), adaptada sem autorização dos autores. (16)
A B
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
3
Muitos e diferentes tipos de espigões têm sido descritos na literatura
científica.(17) O tipo de espigão mais utilizado tem sido o Espigão metálico
fundido, no entanto, este tem vindo a apresentar algumas desvantagens como
perda de retenção ao longo do tempo, fraturas radiculares e risco de corrosão
do metal. Para além do exposto, durante a preparação do remanescente dentário
para receção do espigão é removida demasiada dentina radicular aumentando,
assim, o risco de fratura do dente.(6, 18, 19)
Nesse sentido, nos últimos anos têm sido introduzidas no mercado
alternativas promissoras aos espigões metálicos convencionais, como os
sistemas de espigões pré-fabricados que fornecem resultados satisfatórios
reduzindo o tempo de cadeira e os custos associados.(20, 21) Em resposta a
uma necessidade estética crescente vários tipos de espigões pré-fabricados de
fibra ficaram disponíveis.(20) Entre estes destacam-se os espigões pré-
fabricados de fibra de vidro por terem uma excelente biocompatibilidade,
propriedades mecânicas idênticas à dentina, uma melhor distribuição de stress,
uma maior conservação da preparação dentária e uma excelente estética,
constituindo todas estas características benefícios que têm ganho bastante
popularidade no meio.(3, 6, 18, 22)
Nesta mesma perspetiva, o objetivo desta revisão bibliográfica consiste
na abordagem deste tipo de espigão intra-radicular, focando-se no realce dos
seus prós e contras comparando com outros tipos de espigão.
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
4
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização desta revisão bibliográfica procedeu-se a uma pesquisa
na Base de Dados PubMed® (Arquivo digital de literatura biomédicas e de
ciências da vida do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos).
Na base de dados PubMed® foram aplicados as seguintes palavras-chave,
de forma isolada ou em combinação: “Glass Fiber Post”, “Stress”; “Fracture
Resistance”; “Fracture Strength”; “Retention”; “Surface Treatment”; e
“Prefabricated Post Systems”.
Como critérios de inclusão foram considerados artigos referentes ao tema
em estudo, limitados aos últimos 10 anos e em qualquer idioma. Adicionalmente,
foi executada uma pesquisa na bibliografia selecionada como forma de artigo
citado com o objetivo de obter outros artigos de interesse para o estudo. Como
critérios de exclusão, não foram considerados artigos com resumo incompleto,
com restrições de acessibilidade e artigos repetidos (Tabela 1).
De acordo com os critérios de inclusão e exclusão, selecionaram-se 55 artigos
com relevo para o desenvolvimento do tema e elaboração da tese.
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
5
Tabela 1 - Esquema da pesquisa bibliográfica efetuada na base de dados da PubMed®.
Palavras-chave Filtros Resultados Artigos
Selecionados
Artigos
Eliminados
Artigos
Citados
Artigos
Usados
FIBER GLASS
POST
10 years; all
articles types;
Humans 394 34 20 1 15
FIBER GLASS
POST AND
SURFACE
TREATMENT
10 years; all
articles types;
Humans
57 9 4 2 7
FIBER GLASS
POST AND
PREFABRICATED
POST SYSTEMS
10 years; all
articles types;
Humans
24 4 2 6 8
FIBER GLASS
POSTS AND
(FRACTURE
RESISTANCE OR
STRESS OR
FRACTURE
STRENGTH)
10 years; all
articles types;
Humans 217 29 14 1 16
FIBER GLASS
POST AND
RETENTION
10 years; all
articles types;
Humans 62 11 5 3 9
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
6
3. DESENVOLVIMENTO
O uso de espigões de fibra de vidro (GFP´s) tem aumentado nos últimos
anos comparando com outros tipos de espigões.(23) Estes espigões têm um
protocolo mais simplificado, uma vez que, a fase laboratorial é excluída nestes
casos, e, portanto, torna-se automaticamente um procedimento mais em conta
monetariamente e também um procedimento bem mais rápido uma vez que é
realizado apenas numa consulta. (12, 24)
Os GFP´s apresentam muitos fatores a seu favor como uma estética
apropriada, módulo de elasticidade idêntico à dentina e uma distribuição de
stress uniforme ao longo da raiz, o que lhes confere um menor risco de fratura.
Em termos mecânicos, o seu módulo de elasticidade é de 25Gpa, a força flexural
de 920 Mpa e a resistência à compressão é de 340 Mpa. Para além disso, não
apresentam nenhum efeito de corrosão e são de fácil remoção com instrumentos
rotatórios. (25, 26)
A diferença no comportamento biomecânico entre espigões pré-
fabricados de fibra de vidro e outros pode depender de muitos outros fatores
para além da composição do material do espigão. Apesar de a literatura ser
controversa ainda em alguns aspetos, os fatores que têm sido descritos como
indispensáveis para o aumento da sobrevida do espigão têm sido a quantidade
e qualidade da estrutura remanescente coronária, tipo de material e composição
do espigão, dimensões e forma do espigão, sistema de adesividade e protocolos
de cimentação.(11, 25, 27, 28).
Um fator importante relacionado com a resistência é o modo de falha.
Todos os sistemas de espigões têm alguma percentagem de falha clínica
associada. Contudo, alguns sistemas possuem uma percentagem maior de
insucesso que outros. Neste contexto, as complicações relacionadas com GFP´s
têm sido consideradas como menos catastróficas, incluindo geralmente
problemas relativamente menores e passíveis de serem reparáveis. (11, 19)
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
7
Relativamente à posição dentária, alguns estudos apontam para que
GFPs cimentados em incisivos ou caninos obtêm uma percentagem de
insucesso três vezes superior aos GFPs cimentados em pré-molares ou molares.
Este fenómeno pode ser explicado pelas elevadas forças horizontais a que os
dentes anteriores estão sujeitos que causam grandes níveis de tensões,
enquanto que quando comparados com os dentes posteriores, estes estão
sujeitos mais a forças de compressão perpendiculares. Sendo que, as fraturas
por fadiga são causadas por forças de tensão e não de compressão.(29)
Vários aspetos podem ser considerados ao estabelecer-se uma
comparação entre os GFP´s e os restantes tipos de espigões disponíveis de
forma a se poder enumerar os prós e os contra existentes. Como tal, de seguida
esta comparação é preconizada com base nos aspetos que se consideraram
mais relevantes.
3.1 COMPOSIÇÃO
O espigão de Fibra de Vidro é composto por fibras de vidro ou de sílica,
sendo os componentes mais comuns a sílica (50% a 70%), mas também, o
cálcio, boro, sódio e óxido de alumínio. As fibras por sua vez podem ser brancas
ou translúcidas, o que lhes confere uma elevada estética. O espigão pode ser
constituído por diferentes tipos de vidro, nomeadamente vidro elétrico, vidro de
alta resistência ou de quartzo. O vidro elétrico é assim designado porque a sua
composição química torna-o um excelente isolante elétrico, sendo de todos os
tipos o mais barato. Os GFP´s são ainda reforçados por uma matriz de resina
Epóxi ou de metacrilato que mantêm as fibras inter-ligadas entre si. Enquanto as
fibras são as principais responsáveis pelas propriedades mecânicas dos GFP´s
como a elasticidade, rigidez e resistência à fratura, a matriz está responsável por
transferir as cargas a que está sujeita para as fibras, e, também de proteger as
mesmas da humidade do ambiente oral. (1, 16, 30-32)
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
8
Quando o dente está sob stress mecânico, as fibras de vidro esticam
uniformemente até ao seu ponto de rutura. Aquando a retirada do estímulo as
fibras voltam ao seu comprimento normal.(16) A grande vantagem destas fibras
de vidro é que conseguem distribuir o stress a que estão submetidas por uma
ampla área de superfície aumentando consequentemente o seu limite de
resistência a microfraturas. Por isto, este tipo de espigões é referido para
redução do risco de fratura, mostrando uma maior taxa de sobrevivência
comparativamente aos espigões de Zircónia, por exemplo. (32)
3.2 TAMANHO
Quando estamos perante espigões metálicos o seu comprimento deve
ocupar 2/3 do canal radicular. No entanto, as propriedades dos GFP´s são
diferentes e o tamanho ideal do espigão ainda é um tema em discussão.(16)
Pensa-se que quanto maior o comprimento do espigão, maior a sua
retenção, distribuição de stress e resistência à fratura. O comprimento da raiz
remanescente e a sua forma determina o comprimento do espigão, uma vez que,
deve ser sempre preservada 3 a 5 mm de gutta percha no ápice do dente para
manter o selo apical. (10, 28) Similarmente é necessária ter alguma atenção
quando o espigão é colocado para além de dois terços da profundidade da raiz,
isto porque, o nível de tensão aumenta na região apical. O risco de perfuração e
enfraquecimento da raiz, devido à diminuição do volume dentinário na
preparação do canal radicular, tem que ser avaliado pelo comprometimento do
prognóstico.(28, 33) No entanto, quanto mais profunda for a inserção do espigão
mais dificuldades existirão na adesão do mesmo em resultado tanto de causas
anatómicas (em direção apical vai havendo redução de túbulos dentinários),
como técnicas (limpeza limitada e acumulação de detritos no terço apical). (34)
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
9
No sentido de perceberem se existiam diferenças estatisticamente
significativas na resistência à fratura com espigões de fibra de vidro consoante
o seu comprimento Franco et al. (2014) desenvolveram um estudo considerando
três comprimentos diferentes selecionados, respetivamente de 5mm (1/3 do
dente), de 7.5mm (1/2 do dente) e de 10mm (2/3 do dente). Neste estudo
concluiu-se que a diferença entre os comprimentos dos espigões não tinha
influência na resistência à fratura, tendo todos falhado de formas idênticas
quando submetidos às mesmas cargas. (28) Num estudo semelhante, de
Schiavetti et al., as mesmas conclusões foram obtidas. (34)
Até ao momento não existe consenso sobre o comprimento ideal do
espigão. Se por um lado, com a diminuição da inserção do espigão é preservada
dentina radicular, por outro lado, quanto menor o comprimento do espigão menor
é a retenção associada.(34) Portanto, nos sistemas GFP´s o comprimento ideal
deve ser aquele em que a preparação do canal seja suficiente para aguentar as
cargas mastigatórias mas que, simultaneamente, não enfraqueça a raiz. Em
alguns estudos o comprimento do espigão recomendável é que o mesmo terá de
ser igual ou maior ao comprimento da coroa. (16)
Quanto ao diâmetro, este é importante, mas, não tanto, como os outros
fatores. Embora a retenção do espigão possa ser ligeiramente aumentada, o
aumento do diâmetro do espigão condiciona a perda de estrutura dentária que
pode enfraquecer o dente.(11)
3.3 FORMA
A forma do espigão também é relevante para a distribuição de stress ao
longo do dente. (26) O espigão pré-fabricado de fibra de vidro pode estar
disponível em variados formatos, alguns dos formatos documentados são:
cilíndrico, cilíndrico-cónico, cónico e paralelo (Figura 2). (1, 11) Por sua vez,
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
10
também pode apresentar diferentes texturas de superfície, nomeadamente lisa
ou rosqueada. (35, 36)
Os GFP´s cilíndricos começam a estar em desuso, uma vez que, estão
associados a uma maior remoção de tecido dentário e à destruição da forma
original do canal na sua preparação. (16)
Estes tipos de espigões, apesar de tudo, são considerados espigões
passivos, uma vez que, não são rosqueáveis na dentina e, portanto, não induzem
tensões internas durante a inserção do espigão no canal. (37) Alguns são
rosqueados, no entanto, estas superfícies só aumentam a retenção mecânica à
resina composta. (26) Desta forma, a retenção dos GFP´s acaba por estar
dependente principalmente do agente cimentante utilizado. (37)
Relativamente à retenção intra-radicular consoante a forma do espigão,
num estudo recente a avaliação deste parâmetros considerando três tipos de
forma (paralelos, cónicos e duplo-cónicos), concluíram, à semelhança de
estudos anteriores (11, 36), que os espigões paralelos possuíam uma maior
retenção comparativamente aos cónicos e duplo-cónicos. (36)
FIGURA 2 - Desenhos e formas de espigões de fibra de vidro disponíveis .
Fonte: Baba et al. (2008), adaptada sem autorização dos autores. (1)
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
11
3.4 CIMENTAÇÃO
Apesar de este passo ser importantíssimo e indispensável, o mesmo pode
ser bastante complexo devido a vários fatores, tais como, a heterogeneidade da
estrutura da raiz remanescente, o ajuste do espigão, os tipos de sistemas
adesivos e os cimentos resinosos de diferentes técnicas de aplicação e tempos
de reação, o grau de desidratação do canal e as diferenças anatómicas em
densidade e orientação dos túbulos dentinários em diferentes terços do canal
radicular. (38, 39)
Nesta fase clínica alcançar uma adesão estável à dentina intra-radicular,
especialmente a nível apical, continua a ser um desafio, devido à influência de
vários fatores intervenientes, como irrigantes endodônticos (hipoclorito de sódio,
EDTA, peróxido de hidrogénio), seladores e medicamentos endodônticos, que
afetam negativamente a adesão dos agentes cimentantes, tanto alterando a
estrutura dentinária, como também, interferindo na polimerização de resina. (40)
Existe também uma redução de dentina tubular no terço apical, o que explica
que este terço seja mais crítico na produção de camadas híbridas contínuas,
havendo mais falhas independentemente do material utilizado. No seguimento,
também a dificuldade de acesso do adesivo a zonas mais profundas pode
influenciar a capacidade de adesão nesta zona. Portanto, na zona do terço
cervical que é uma zona de fácil acesso e onde existe maior densidade de
túbulos dentinários é onde é obtida uma adesão mais forte. (38, 39)
Cimentos à base de resinas têm sido altamente recomendados para a
cimentação de GFP´s à dentina intra-radicular, sendo já um procedimento clínico
habitual. (23, 41) Os cimentos resinosos aumentam significativamente a
retenção do espigão e aumentam a resistência à fratura do mesmo
comparativamente a outros tipos de cimentos.(42) Uma das principais
preocupações quando se escolhe este tipo de sistema de cimentação é a perda
de retenção gradual do espigão, que tem sido descrita na literatura como o tipo
de insucesso mais usual nestes espigões. (43, 44) Este fenómeno está
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
12
intimamente ligado, entre outros fatores, com a alta sensibilidade da técnica
adesiva e a contração de polimerização dos cimentos resinosos.(45) Esta falha
pode dar-se entre o espigão/agente cimentante, ou, entre o agente
cimentante/dentina (31), e, ocorre principalmente pela dificuldade de atingir uma
apropriada adesão entre o espigão e a dentina intra-radicular, isto porque, os
GFP´s são passivamente retidos no canal e, portanto, o agente adesivo e
cimentante tem um papel crucial no desempenho clínico das restaurações.(21)
Para a cimentação dos GFP´s com cimentos resinosos estes podem ser
convencionais ou auto-condicionantes. Os cimentos convencionais estão
disponíveis através de reações químicas, fotopolimerizáveis, ou, uma junção dos
dois, ou seja, de polimerização dual. (32) Cimentos fotopolimerizáveis têm
demonstrado os piores resultados perante os GFP´s, uma vez que a luz tem
dificuldade em chegar na totalidade ao terço apical da raiz, resultando numa
incompleta polimerização do material.(38) Tem sido também demostrado que a
luz exigida para começar a polimerização dual com um fotopolimerizador
aumenta a velocidade de polimerização, levando a maiores tensões nas paredes
do canal quando comparadas com os cimentos auto-condicionantes. (44) Os
cimentos resinosos auto-condicionantes tem a vantagem de ter um protocolo
clinico mais simplificado quando comparados a cimentos resinosos
convencionais.(23, 30) Esta categoria de materiais não requer condicionamento
ácido e aplicação de primer ou bonding, reduzindo assim o tempo de cadeira no
procedimento.(41) O mecanismo de ação deste material é baseado numa
adesão química e numa retenção micromecânica. A resina auto-condicionante
contem monómeros hidrofílicos multifuncionais com grupos de ácido fosfórico
que conseguem reagir com a hidroxiapapite infiltrando e modificando a smear
layer.(30, 46) A interação química entre os monómeros ácidos e a hidroxiapatite
assegura a adesão do cimento à dentina. A água resultante desta interação
ácido-base melhora a interação substrato dentário-cimento e a tolerância do
cimento à humidade. (14)
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
Ana Filipa Gante
13
Em alguns estudos feitos com GFP´s o cimento resinoso auto-
condicionante tem mostrado melhores resultados, sendo clinicamente mais
confiável. A este propósito, numa metanálise, com a inclusão de 22 estudos,
sobre a comparação entre cimentos resinosos convencionais e auto-
condionantes demonstrou-se que estes últimos exibiam melhores resultados em
termos de adesão por gerarem menos stress na polimerização do cimento. Os
cimentos que apresentam maiores valores de stress durante a sua polimerização
têm uma adesão mais pobre às paredes do canal. (23, 38)
3.4.1. PREPARAÇÃO DO ESPIGÃO
A fim de melhorar a retenção entre os GFP´s e o cimento resinoso,
vários procedimentos de tratamento de superfície do espigão têm sido
investigados. Atualmente estão disponíveis tanto métodos químicos (silanização,
agentes adesivos, condicionamento ácido), como mecânicos (jateamento de
areia). Alguns destes tratamentos podem aumentar a aspereza e a
molhabilidade do espigão, aumentando assim a interligação com o cimento
resinoso. Os métodos químicos detêm as suas vantagens perante os mecânicos,
por serem menos agressivos, mais baratos e mais fáceis de aplicar. (47, 48)
A função dos agentes químicos também passa pela limpeza do espigão
para alcançar uma melhor interação entre o silano e as fibras de vidro. A técnica
de silanização é a mais utilizada para melhorar a força de adesão entre os GFP´s
e o cimento resinoso. Este composto é uma molécula bifuncional que, por um
lado, é capaz de reagir com os GFP´s inorgânicos e, por outro lado, com a resina
orgânica. O mecanismo de ação passa por aumentar a molhabilidade do espigão
e formar ligações covalentes tanto com o cimento como com o espigão.(41, 48)
O uso de ácido fosfórico a 37% também tem sido recomendado. Este
passo promove a alteração da topografia da superfície e elimina partículas
aderidas à superfície do espigão antes da cimentação do mesmo. Assim,
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aumenta a superfície de contacto melhorando a interação entre os GFP´s e o
cimento resinoso. É recomendado o uso de condicionamento ácido, por um
minuto ou mais, a fim de aumentar a interação entre o espigão e o cimento. A
análise por microscopia eletrónica de varrimento revelou que a superfície do
espigão fica áspera após a aplicação de ácido, mas as fibras permanecem
intactas existindo apenas uma alteração da matriz de resina.(25)
Quanto ao tratamento dos GFP´s com agentes químicos, num estudo
desenvolvido sobre esta temática verificaram que a sua ação se associava a
uma maior força de adesão entre o espigão e o cimento resinoso
comparativamente a espigões sem este tipo de tratamento. A utilização destes
agentes químicos acaba por ter duas funções fundamentais. Por um lado,
removem a camada de detritos à superfície expondo as fibras de vidro. Por outro
lado, dissolvem o polímero de epóxi na superfície do GFP´s. Embora a matriz do
polímero seja fortemente interligada e ligeiramente solúvel, uma pequena
quantidade de degradação da superfície é o suficiente para obter uma alta
ligação mecânica com o cimento. (47) No entanto, o uso destes agentes silanos
ainda é controverso, não havendo um consenso sobre a sua eficácia. Alguns
estudos referem que a silanização não melhora a ligação com o cimento
resinoso. Deste caso é exemplo o estudo de Oliveira et al. (2011), no qual
constataram que os GFP´s não necessitam de ser silanizados quando estes são
cimentados com cimentos auto-condicionantes.(41)
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3.4.2 LINHA DE CIMENTAÇÃO
Um dos problemas associados à eficácia dos espigões pré-fabricados de
fibra de vidro relaciona-se com a sua aplicação em raízes muito enfraquecidas
ou em canais muito largos. Nestes casos tem havido uma percentagem de
insucesso associada devido ao desajuste do espigão relativamente à geometria
do canal, sendo superada por uma linha de cimentação mais grossa. (3)
Na literatura tem vindo a ser discutido a linha ideal de cimentação e apesar
de não se saber ao certo qual é a linha ideal dos GFP´s, sabe-se que quando a
linha tende a ser mais larga há uma maior frequência de deslocamento do
espigão. (7) A presença de bolhas e artefatos na interface cimento-espigão
influenciam negativamente o desempenho da restauração, podendo levar a
infiltrações e diminuindo a durabilidade da mesma. A presença de bolhas ou
espaços vazios representam áreas de fraqueza, considerando-se que
provavelmente ocorram em menor percentagem quando a linha de cimentação
é fina e uniforme.(46) Assim sendo, os cimentos resinosos devem ser utilizados
em finas camadas. Desta forma, uma camada homogénea e uma adequada
espessura do cimento resinoso acaba por constituir um pré-requisito para uma
melhor retenção. A adaptação do espigão é um parâmetro importante,
especialmente no terço apical onde a camada de cimento é mais grossa e, por
esse motivo, onde haverá maior suscetibilidade de ocorrências de bolhas.(46)
Para contornar estas situações e reduzir a linha de cimentação em canais
mais largos e conseguir um melhor ajuste entre a parede interna da raiz, também
têm sido introduzidas alternativas como o uso de espigões de fibra acessórios,
reforço da raiz com material restaurador e espigões anatómicos diretos ou
indiretos.(7)
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3.5 DISTRIBUIÇÃO DE STRESS
3.5.1 MÓDULO DE ELASTICIDADE
Os sistemas de espiões incluem componentes com diferentes graus de
rigidez. Quanto maior for o valor do módulo de elasticidade, ou seja, quanto
maior for a rigidez do sistema, maior a sua resistência às forças recebidas sem
distorção do material, sendo este stress transferido para o substrato com menor
rigidez. Assim sendo, a diferença do módulo de elasticidade entre a dentina e o
material do espigão pode ser fonte de stress para as estruturas radiculares.
Como tal, é desejável que os espigões tenham um módulo de elasticidade
idêntico ao da dentina, para que exista uma melhor distribuição de stress ao
longo do dente e, por consequente, a criação de uma unidade mecânica com
melhor desempenho biomecânico. (26, 49) Pensa-se que os GFP´s sejam
espigões flexíveis, como tal, quando estão sob carga flexionem e como resultado
distribuem as forças entre o espigão e a dentina.(35)
Posto isto, uma das vantagens significativas dos GFP´s é ter o seu módulo
de elasticidade idêntico à dentina, podendo as forças ser transmitidas
verticalmente ao longo do dente minimizando o stress apenas num ponto e
diminuindo a existência de fraturas radiculares. (16, 18) Neste contexto, a
combinação dos GFP´s com outros materiais como o cimento resinoso (18,2
GPa) e as resinas compostas (20GPa), também com um módulo de elasticidade
idêntico à dentina, permite a formação de um monobloco que confere uma
melhor distribuição das forças ao longo do dente e um comportamento clínico e
mecânico mais favorável. (50, 51)
Pelo contrário, por exemplo, espigões de aço inoxidável (200Gpa),
zircónia (300Gpa) e titânio (110Gpa), apresentam módulos de elasticidade bem
acima do módulo de elasticidade da dentina (18Gpa), e, por esta razão, apesar
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de suportarem maiores cargas, os seus modos de falha serão menos favoráveis.
(3)
3.5.2 RESISTÊNCIA À FRATURA E MODO DE FALHA
Restaurações com espigões são sistemas complexos, onde a distribuição
de stress dentro da estrutura é multi-axial, não uniforme e dependente da direção
da aplicação da carga.(52) A resistência refere-se à capacidade do espigão e do
dente de suportarem forças laterais e rotacionais, dependendo de alguns fatores,
como a estrutura dentária remanescente, o comprimento e rigidez do
espigão.(11)
Uma fratura dentária é classificada de acordo com a sua possibilidade de
restauração. Uma fratura favorável inclui fraturas oblíquas e horizontais acima
do terço cervical. Uma fratura irrecuperável, por sua vez, ocorre no terço apical
do dente e resulta na extração do mesmo. (53)
Os dentes restaurados com GFP´s promovem uma distribuição
homogénea de stress, principalmente nas zonas do terço médio e apical,
mostrando uma maior concentração de stress na zona cervical.(49)
Consequentemente, quando se atinge o limite da resistência o resultado com
este tipo de espigão apresenta-se como sendo mais favorável.(54). Na presença
de espigões rígidos, como são constituídos por materiais mais resistentes, vão
suportando grandes cargas verticais que são transmitidas internamente e a
concentração de stress vai-se concentrando na região apical do dente,
aumentando o risco de fratura vertical da raiz, que ao ocorrer representa uma
falha significativa. (40, 49) Assim sendo, os GFP´s acabam por ter uma reduzida
suscetibilidade a fraturas irrecuperáveis, uma vez que, em muitos casos ocorre
a fratura do espigão ou da interface de cimentação em primeiro lugar permitindo
assim a restauração do dente. (4)
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Estudos in vitro que comparam diferentes módulos de elasticidade, de
GFP´s com outros espigões, têm tido resultados semelhantes no que diz respeito
à sua resistência à fratura e ao seu modo de falha. Estudos como o de Vachhani
et al., de comparação entre os GFP´s com espigões pré-fabricados de aço
inoxidável, concluem que embora os de aço inoxidável demostrem uma maior
resistência à fratura, no que toca ao modo de falha apresentam uma maior
percentagem de falhas irreversíveis. (42) Barjau-Escribano et al., num estudo
semelhante, retiraram as mesmas ilações, tendo identificado um melhor
comportamento biomecânico dos GFP´s, uma vez que, a exposição a tensões
mais altas induziram fraturas passíveis de serem restauradas, por não afetaram
a raiz. Pelo contrário, nos espigões de aço inoxidável a concentração de tensão
foi encontrada ao longo da interface espigão-núcleo que induziu fraturas ao longo
do espigão. (17)
Segundo o estudo de Akkayan et al. também os GFP´s apresentaram
melhor comportamento mecânico do que os espigões de zircónia e titânio. Estas
constatações são justificadas pelo elevado módulo de elasticidade deste tipo de
espigões, nos quais as forças são transmitidas diretamente à interface
espigão/dente, apresentando uma maior tendência a fraturas irrecuperáveis do
que comparativamente aos GFP´s. (55)
De facto, todos estes fatores contribuem, positiva ou negativamente, para
o desempenho associado aos Espigões de Fibra de Vidro. Na tabela 2 é
apresentado, com base nos aspetos mais importantes referidos, os Prós e
Contras dos Espigões de Fibra de Vidro.
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Prós
Contras
Estética Sem retenção friccional
Consulta Única Dependente do agente cimentante
Módulo de Elasticidade Necessidade de adaptar ao canal
Conservação do remanescente
Tipo de falha mais favorável
Sem risco de corrosão
Baixo custo
TABELA 2 - Prós e contras dos Espigões de Fibra de Vidro.
Espigões de Fibra de Vidro: Prós e Contras
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4. CONCLUSÃO
Atualmente, os espigões de Fibra de Vidro são considerados uma excelente
opção no que toca à restauração de dentes tratados endodonticamente.
Uma das suas principais indicações, relacionada com o seu elevado poder
estético, são situações de reabilitação estética na zona anterior. Relativamente às suas
propriedades mecânicas, o seu módulo de elasticidade, idêntico ao da dentina, é
considerado a sua maior vantagem, o que confere uma distribuição homogénea do
stress ao longo do dente. A existência desta distribuição uniforme acaba por tornar o
seu modo de falha menos significativo o que permite em situações limite a possibilidade
de restauração. Para além destas características, o facto deste tipo de espigão poder
ser colocado apenas numa consulta, dispensando a fase laboratorial, torna este tipo de
procedimento mais económico, e, consequentemente, mais vantajoso.
Em contrapartida, pelo facto do espigão de fibra de vidro ser pré-fabricado, o
mesmo não estará totalmente adaptado ao canal respetivo sendo necessária, por vezes,
uma re-anatomização do espigão. Para além desta desvantagem, este também não
possui retenção friccional, estando inteiramente dependente do agente cimentante para
a sua retenção no canal.
Este tipo de meio auxiliar de retenção tem-se mostrado clinicamente confiável,
apresentando propriedades essenciais, do qual resultam elevadas taxas de sucesso
associadas.
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