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A permanência na UFSM por meio do Programa Permanente de Acompanhamento e Apoio Sociopedagógico José Luiz de Moura Filho ([email protected]) Ana Lúcia Aguiar Melo ([email protected]) Universidade Federal de Santa Maria Por pressão do movimento negro organizado em torno do Museu Treze de Maio - antigo clube social negro de Santa Maria - e entidades representantes das pessoas com deficiências, o Conselho Universitário da UFSM aprovou, em julho de 2007, a Resolução 011/07, que criou o Programa de Ações Afirmativas, consistente na introdução de cotas. Este previa que, ao cabo de dez anos, a reserva de vagas crescesse, ao longo do período, atingindo 20% (alunos de escolas públicas), 15% (afro-brasileiros) e 5% (pessoas com deficiência). O Programa previa, ainda, ações de acesso e permanência que incluem a consolidação de estruturas institucionais (com caráter consultivo e/ou deliberativo), algumas das quais ainda não foram criadas. Enquanto ação afirmativa, o Programa demanda avaliação sobre sua eficiência, aspecto que poderá ser prejudicado pela não implementação integral dos mecanismos propostos. Em 2012 sobreveio a Lei Federal 12.711, que implicou na adaptação do Programa, legislação que foi avaliada pela instituição como um retrocesso em relação a ele, já que não prevê cotas para pessoas com deficiência e inclui, num mesmo percentual, pretos, pardos e índios, tendo, também, um recorte mais social que étnico. Este trabalho visa dar a conhecer o Programa Permanente de Acompanhamento e Apoio Sociopedagógico - coordenado pelo Observatório de Ações Afirmativas para Ingresso e Permanência nas Universidades Públicas da América do Sul AFIRME

Artigo Forges 2013

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Artigo Forges 2013

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  • A permanncia na UFSM por meio do Programa Permanente de

    Acompanhamento e Apoio Sociopedaggico

    Jos Luiz de Moura Filho

    ([email protected])

    Ana Lcia Aguiar Melo ([email protected])

    Universidade Federal de Santa Maria

    Por presso do movimento negro organizado em torno do Museu Treze

    de Maio - antigo clube social negro de Santa Maria - e entidades

    representantes das pessoas com deficincias, o Conselho Universitrio da

    UFSM aprovou, em julho de 2007, a Resoluo 011/07, que criou o Programa

    de Aes Afirmativas, consistente na introduo de cotas. Este previa que, ao

    cabo de dez anos, a reserva de vagas crescesse, ao longo do perodo,

    atingindo 20% (alunos de escolas pblicas), 15% (afro-brasileiros) e 5%

    (pessoas com deficincia). O Programa previa, ainda, aes de acesso e

    permanncia que incluem a consolidao de estruturas institucionais (com

    carter consultivo e/ou deliberativo), algumas das quais ainda no foram

    criadas. Enquanto ao afirmativa, o Programa demanda avaliao sobre sua

    eficincia, aspecto que poder ser prejudicado pela no implementao integral

    dos mecanismos propostos. Em 2012 sobreveio a Lei Federal 12.711, que

    implicou na adaptao do Programa, legislao que foi avaliada pela instituio

    como um retrocesso em relao a ele, j que no prev cotas para pessoas

    com deficincia e inclui, num mesmo percentual, pretos, pardos e ndios, tendo,

    tambm, um recorte mais social que tnico. Este trabalho visa dar a conhecer o

    Programa Permanente de Acompanhamento e Apoio Sociopedaggico -

    coordenado pelo Observatrio de Aes Afirmativas para Ingresso e

    Permanncia nas Universidades Pblicas da Amrica do Sul AFIRME

  • (tambm criado pela Resoluo), o qual baseia-se no binmio

    acolhimento/acompanhamento, e no trip tutoria/monitoria/kit pedaggico, ou

    seja, aulas de reforo antes do incio do semestre nos contedos considerados

    mais difceis no ensino mdio (fsica, qumica, biologia, matemtica e

    portugus) para um melhor desempenho naquelas correspondentes nos

    Cursos de graduao, e acompanhamento ao longo desta, por alunos

    (monitores) naquelas disciplinas com maiores ndices de reteno, por Curso,

    alm da tutoria por um professor generalista (disciplinas propeduticas) de

    cada um destes onde houver cotista.

    Palavras-Chave: aes afirmativas, permanncia, polticas de incluso, cotas

    sociais e raciais

    Introduo

    Conforme previsto na Resoluo 011/07, que instituiu o Programa de

    Aes Afirmativas no mbito da UFSM, deveriam ter sido criados tantos

    programas permanentes de apoio sociopedaggico quantas fossem as

    modalidades de cotas, quais sejam, quatro: estudantes afro-brasileiros,

    oriundos de escolas pblicas, com deficincia e indgenas. Tais Programas

    seriam coordenados por Comisses constitudas especificamente para esses

    fins.

    Frise- se que, ainda conforme aquela Resoluo, os fins a que se

    destinavam ditas comisses consistem em tudo quanto seja necessrio

    permanncia dos alunos cotistas na instituio, como se pode ver do ttulo do

    Captulo em que se inserem: CAPTULO II DA PERMANNCIA.

    Posteriormente, com a entrada em vigor da Lei Federal 12.711/12, que

    tornou obrigatria a reserva de vagas para os segmentos tnicos e sociais

    excludos, por parte das Universidades e Institutos Federais de Educao

    Superior e mesmo no Ensino Mdio/Tcnico das IFESs, o apoio social foi em

    parte contemplado com as chamadas Bolsas de Permanncia, nada referindo

    quanto ao aspecto pedaggico.

  • O Programa Permanente de Acompanhamento e Apoio

    Sociopedaggico vem ao encontro da efetiva adoo de aes afirmativas na

    UFSM, j que ao dar suporte ao estudante da Instituio, garantindo-lhe a

    permanncia com aproveitamento at a sua formatura, consolida os princpios

    propostos na Resoluo 011/2007, pois a transforma em efetivo mecanismo de

    reduo das desigualdades sociais.

    Com a democratizao do acesso aos cursos de graduao da UFSM,

    resta instituio responsabilizar-se por proporcionar condies de integrao

    e igualdade no acesso educao superior entre a comunidade discente

    (cotistas e no cotistas), proporcionando a superao de barreiras

    educacionais.

    Muito embora a Resoluo preveja que a reserva de vagas seja uma

    ao no mbito da poltica de aes afirmativas e, portanto, transitria para

    uma condio de ndices satisfatrios de incluso social, o Programa previsto

    para a UFSM se apresentava como Permanente, e isso algo a ser discutido a

    cada perodo letivo, com base na experincia do ano anterior, com a

    expectativa de que o ideal que o mesmo seja desarticulado to logo avaliado

    que aquela condio se efetivou.

    imbudo deste esprito, de pioneirismo e solidariedade, que o

    AFIRME, responsvel, conforme o artigo 12 daquela Resoluo, por observar o

    funcionamento das aes afirmativas, avaliar seus resultados, identificar

    aspectos que prejudiquem sua eficincia e sugerir ajustes e modificaes, vem

    apresentar sua proposta de Programa Permanente de Acompanhamento e

    Apoio Sociopedaggico de Alunos Cotistas.

    1. Justificativa

    Ao proporcionar estudos complementares, a instituio cumpre com sua

    responsabilidade acadmica de melhoria do desempenho dos estudantes

    cotistas e no cotistas, por meio de oferta de disciplinas de reforo pedaggico,

  • as quais complementam os estudos nos contedos de maior deficincia nas

    reas de conhecimentos anteriores ao ingresso na Instituio.

    Ao criar um programa de acompanhamento pedaggico naquelas

    disciplinas em que os ndices de reteno apontam para solues urgentes

    para o ambiente saudvel no cotidiano universitrio e a reduo da evaso, a

    instituio rememora as decises contidas na Resoluo 05/95, prosseguindo

    com solues em que cabe aos Colegiados de Cursos e aos Departamentos

    didticos ofertarem acompanhamento pedaggico para disciplinas de maior

    reteno e, portanto de menor aproveitamento para o discente.

    Um exemplo de gesto educacional produtiva o trabalho levado a

    efeito pelo Ncleo de Acessibilidade, que d suporte permanncia dos alunos

    ingressantes pela Cota B (pessoas com deficincia). Este Ncleo vem se

    mostrando suficientemente satisfatrio, a ponto que se o adote como

    paradigma: atravs do Ncleo, os alunos em tais condies recebem apoio por

    meio do emprstimo de equipamentos e acompanhamento de intrpretes de

    libras, por exemplo, o que tem feito com que a UFSM seja talvez a IES com o

    maior nmero de alunos matriculados com tais caractersticas no pas.

    O segredo deste sucesso talvez encontre explicao no fato de que,

    alm da Comisso de Acessibilidade (prevista no artigo 10 da Resoluo), os

    alunos da referida cota contem com o Ncleo enquanto brao executor das

    polticas institucionais para a rea, coisa que as demais modalidades de cotas

    no tm. Da a demanda que se vem apresentando - especialmente por parte

    da Comisso Indgena no sentido da criao de um Ncleo Indigenista ou

    estrutura similar uma vez que aquele colegiado, em si, alm de no ter

    carter deliberativo (como as demais), no conta com um aparato que possa se

    valer de meios materiais e de pessoal apropriados para dar conta das

    especificidades de demandas como: metodologia de ensino, casa do estudante

    com caractersticas prprias, dieta tradicional, etc.

    Este, ento, j seria um primeiro componente do Programa: ele no

    seria coordenado propriamente pelas Comisses por cotas, as quais,

  • institudas e em funcionamento h anos, ainda no lograram as condies

    mnimas para a implementao de quaisquer aes de Permanncia, tendo

    servido at agora como espao de verificao de pr-requisitos ao ingresso

    como cotistas, seno mesmo que como dito no caso da cota C (escola

    pblica) a Comisso sequer existe.

    Assim, v-se que o exemplo exitoso da Cota B, em termos de apoio

    permanncia muito provavelmente resida na articulao entre a Comisso e o

    Ncleo de Acessibilidade, o qual, mais que uma estrutura de acompanhamento

    constitui-se em um espao de formao integral proposta hoje muito exitosa

    em termos de educao onde ensino, pesquisa e extenso se

    complementam. Mais: a Comisso bastante dinmica em termos da

    composio de seus membros, enquanto que o Ncleo tem uma estrutura

    permanente, como deve ser o Programa de que ora se trata.

    Uma outra experincia exemplar de acompanhamento pedaggico o

    do Ncleo ANIMA, junto ao Centro de Educao da UFSM. O Ncleo vem

    desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e extenso a partir de uma

    abordagem interdisciplinar, com nfase na aprendizagem, o qual comunga com

    os objetivos desse Programa, podendo, pois, articular-se com o mesmo para,

    alm de otimizar os recursos alocados na IFES, somar esforos na superao

    de dificuldades que certamente se apresentaro ao longo de sua

    implementao, com base na sua prpria trajetria enquanto instrumento de

    apoio de mesma natureza.

    Por fim, tenha-se em mente que, alm do aspecto jurdico (no se trata

    hoje apenas de um Programa institucional, j que o sistema de cotas uma

    imposio legal), do ponto de vista ftico as dificuldades de acompanhamento

    pedaggico dos discentes nesta Instituio vm sofrendo solues de

    continuidade no mais justificadas, dado ao fato de que a Resoluo 011/07 j

    apontava para a criao de um programa para sanar tais dificuldades

    educacionais.

    2. Objetivos

  • De um modo geral, o que se espera com a proposta ora apresentada,

    a criao e implementao de um Programa Permanente de Acompanhamento

    e Apoio Sociopedaggico para tornar efetivas as polticas pblicas de incluso

    da diversidade tanto social quanto tnica e, assim, reduzir desigualdades

    educacionais.

    Mais especificamente, entende-se imprescindvela instituir uma estrutura

    permanente de acompanhamento sociopedaggico, como forma de consolidar

    aes de permanncia discente na instituio e assim minimizar as carncias

    educacionais oriundas da educao bsica, como forma de propiciar um

    melhor desempenho acadmico, estrtuturado em um um sistema que opera por

    meio da atuao de tutores (docentes) e monitores (alunos), nas disciplinas

    aferidas como as de maior reteno, por Curso, como meio de promover a

    integralizao dos currculos nos prazos previstos nos PPCs, alm de garantir

    condies materiais de permanncia, tanto atravs da assistncia estudantil

    bsica quanto do fornecimento de material didtico, como forma de minimizar a

    evaso.

    3. Caracterizao do Programa

    Atravs da avaliao da trajetria universitria de alunos cotistas, mais

    especificamente aqueles cuja Comisso bastante atuante junto aos rgos

    institucionais da UFSM, como o caso dos indgenas, constata-se a

    necessidade de se adotar providncias com vistas permanncia, tanto do

    ponto de vista dos benefcios socioeconmicos quanto do desempenho

    acadmico, como acima afirmado, as quais devem se articular no mbito de um

    Programa Permanente, o qual dever observar as seguintes etapas:

    3.1 Sensibilizao

    Muito embora esteja se tratando de permanncia, as condies para

    tanto devem estar dadas e publicizadas antes mesmo do processo de inscrio

    para o concurso vestibular, j que ser a partir daquelas que um nmero maior

  • ou menor de representantes de segmentos vulnerveis ir se submeter ou no

    ao exame na instituio e, de conseqncia, acess-la ou no.

    Para tanto, a UFSM vem atuando em duas frentes, pelo menos, quais

    sejam: a divulgao do Vestibular Indgena e a Comisso de Verificao

    composta por membros da Comisso de Acessibilidade e profissionais da

    sade, educao e Direito.

    No caso dos indgenas, elaborado um cronograma/roteiro para

    divulgao das peculiaridades do processo seletivo na UFSM para aqueles

    aldeados, quando ento lhes oportunizado tirar dvidas sobre as formas de

    ingresso na instituio. Para serem aprovados no exame lhes exigido que

    pontuem apenas nas provas de portugus e redao (na verdade no h nota

    mnima, apenas no podem zerar estas provas), e para se submeter ao

    certame devem apresentar somente Documento de Identidade (ou Registro

    Administrativo de Nascimento de ndio) e declarao de liderana indgena de

    que o candidato aldeado, referendada pela FUNAI, bem como so isentos do

    pagamento de taxa de inscrio, alm de terem garantidos estadia e

    alimentao nos dias de provas. Esta iniciativa fez com que as inscries

    homologadas passassem de pouco mais de 20 (vinte), em 2011 para mais 120

    (cento e vinte) em 2013.

    No que tange Comisso de Verificao para os casos de

    candidatos com deficincia, no momento da entrevista que se pode verificar

    que tipo de suporte o candidato vai demandar, tanto durante o processo

    seletivo ( disposio nas chamadas Salas Especiais) quanto no caso de

    aprovao no vestibular, quando, ento, o Ncleo de Acessibilidade - existente

    na instituio desde 2007 (ano da edio da Resoluo 011) fornecer

    intrprete de libras e equipamento de auxlio leitura, dentre outros.

    3.2 O Acolhimento

  • Inicialmente, chegou-se concluso de que a UFSM necessita estender

    os programas de preparao para o acesso instituio, como o so os

    Cursos Pr-Vestibular PRAXIS e ALTERNATIVA (com aulas ministradas de

    graa, por voluntrio, alunos de cursos de graduao e ps-graduao da

    instituio), de iniciativa do Curso de Histria e da Pr-Reitoria de Extenso,

    respectivamente, para o acolhimento pedaggico, visando sustentar o acesso e

    a permanncia de alunos cotistas e no cotistas que necessitam complementar

    a formao da educao bsica logo aps confirmar sua vaga em um dos

    cursos da Instituio. Por isso a oferta de uma preparao complementar em

    disciplinas consideradas difceis pelo pblico do ensino mdio (alm de lngua

    portuguesa e ingls), durante quatro (4) semanas antes do incio do semestre

    letivo, poderiam minimizar as desigualdades educacionais historicamente

    existentes antes do ingresso no curso superior. A oferta inicial de 500

    (quinhentas) vagas, divididas em 12 (doze) turmas, poderia atender

    superao inicial das barreiras educacionais existentes entre a educao

    bsica e o impacto do ingresso em um curso superior. A iniciativa de adeso

    dos novos alunos seria operacionalizada pelo rgo responsvel pela

    divulgao do processo seletivo, a Comisso Permanente do Vestibular

    (COPERVES), com suporte de estadia e alimentao por parte da Pr_reitoria

    de Assuntos Estudantis (PRAE), responsvel pelas Casas do Estudante e

    pelos Restaurantes Universitrios. A iniciativa seria facilitada em razo de se

    tratar de perodo de frias, ainda, quando ento ambos os equipamentos se

    encontram em condies de atender a uma demanda extra/eventual.

    3.3 Acompanhamento e Apoio Sociopedaggico

    O programa da Aes Afirmativas da UFSM, institudo pela Resoluo

    011/07 prev a implementao de um programa permanente de

    acompanhamento e apoio sociopedaggico para os estudantes cotistas,

    conforme o artigo 1, e um programa de acompanhamento de estudantes

    indgenas, o que denota o diferencial do mesmo ao no considerar os

    indgenas como cotistas, mas sim detentores de direitos originrios, conforme

    dispe a prpria Conveno 169 da OIT.

  • Assim, do ponto de vista das necessidades sociopedaggicas, as aes

    vo ser diferenciadas conforme se trate dos alunos indgenas ou dos demais,

    estes sim, cotistas, alm daqueles que, embora no tenham ingressado por

    uma das cotas, venham a sentir necessidade de suporte do tipo para a

    concluso dos cursos aos quais esto vinculados.

    3.3.1 Acompanhamento Pedaggico

    Um programa permanente de acompanhamento pedaggico auxilia na

    melhoria do desempenho dos estudantes cotistas e no cotistas, pois atende

    ao princpio da incluso prevista na resoluo, bem como viabiliza o

    acompanhamento do discente de forma a garantir seu desempenho com a

    minimizao da reteno e da evaso. Essas barreiras trazem a

    insustentabilidade educacional e determinam avaliaes negativas de cursos e

    da prpria instituio. O Programa Permanente de Acompanhamento

    Sociopedaggico vem minimizar as barreiras educacionais ao proporcionar o

    acompanhamento do aluno por um professor e um monitor que atuam junto ao

    curso e em disciplinas em que a srie histrica de reteno e evaso apontam

    para a necessidade de determinao das causas, dentre as quais,

    possivelmente, a falta de uma base mais slida de formao no ensino mdio.

    A proposta do acompanhamento pedaggico inclui condies fsicas, de

    produo de material didtico, acompanhamento de um ou mais docentes que

    assumiriam um encargo didtico especfico para o perfil da ao afirmativa,

    alm de monitores para proporcionarem reforo complementar para a efetiva

    superao da barreira educacional nas disciplinas de maior reteno em cada

    um dos cursos da UFSM. Rememorando a Resoluo 05/95, em relao s

    disciplinas de maior reteno, no Artigo 2 est definido que cabe aos

    Colegiados de cada Curso, ouvidos os Departamentos Didticos, providenciar

    os meios para solucionar as causas de menor aproveitamento dos alunos. Em

    relao ao acompanhamento pedaggico, um ou mais professores poderiam

    assumir os encargos didticos em cada curso, conforme prev o Artigo 5 da

    referida Resoluo, a serem computados na sua carga-horria semestral.

  • Do ponto de vista da metodologia de ensino e de avaliao dos alunos

    indgenas, por exemplo, seria interessante discutir o aspecto da oralidade,

    marca dos processos de conhecimento desses povos que s muito tardiamente

    conheceram a escrita, cuja estrutura ainda se apresenta como algo bastante

    complexo para os brancos, e mesmo para boa parte dos prprios povos

    originrios, seja pela poltica deliberada de extino dos mesmos, seja pelos

    mecanismos de invisibilidade que se autoimpuseram para sobreviver

    fisicamente.

    Para tanto, a produo de material didtico na lngua materna seria de

    grande valia, no s para que se passe a ter bibliografia - nas mais diversas

    reas do conhecimento - em kaingang ou guarani (para ficar nas etnias mais

    presentes, numericamente, no Rio Grande do Sul, embora tenhamos alunos

    terenas e membros da Comisso de Implementao e Acompanhamento do

    Programa Permanente de Formao de Acadmicos Indgenas CIAPFAI, do

    povo charrua), mas tambm como forma de resgate e divulgao das mesmas

    inclusive entre os prprios indgenas, em razo de que a esmagadora maioria

    deles no domina a comunicao e expresso por meio delas, ou seja, ou no

    fala e/ou no l, e/ou no escreve. Frise-se que o Programa de Aes

    Afirmativas da UFSM dirige-se, no que tange Cota D, a indgenas aldeados,

    ou seja, a proposta visa formar profissionais em reas nas quais a prpria

    comunidade tradicional detecta a carncia, como na sade e educao, por

    exemplo. Em tais condies, o resgate da lngua constitui importante elo de

    ligao com as origens. Tanto assim o que os candidatos por essa Cota

    podem zerar a prova de lngua estrangeira, o que no se admite para o

    indgena que vai concorrer pela EPA1, que destina, por fora da Lei Federal

    12.711, a mesma proporo de pretos, pardos e ndios residente na Regio,

    conforme o IBGE, e que no caso do RS de 16% e, pois, permite que

    concorram indgenas no aldeados, muitos deles frutos do processo forado de

    integrao.

    3.3.2 Acompanhamento e Apoio Social

  • No aspecto social, no se considera os indgenas como em

    desigualdade, enquanto situao a demandar uma poltica de cotas, mas

    certamente se inclui dentre as Aes Afirmativas a criao de vagas para

    atender s necessidades de conhecimento especializado em sade, educao,

    acesso justia, etc., com vistas melhoria da qualidade de vida nas aldeias,

    em razo das diferenas culturais que, tanto do ponto de vista do convvio

    social quanto do processo ensino/aprendizagem, carecem de estratgias

    diferenciadas.

    A demanda no sentido da construo de uma Casa do Estudante

    Indgena parte do princpio que o Programa institudo pela Resoluo 011/07

    destina-se a povos aldeados, ou seja, a UFSM atende demanda por

    formao profissional oriunda de suas lideranas, conforme as carncias das

    respectivas terras. Assim, em respeito poltica de no assimilao

    (integracionista), que se deve garantir aos estudantes assim identificados

    acomodaes com caractersticas arquitetnicas correspondentes s de origem

    tnica, evitando no s o aculturamento como situaes de constrangimento,

    comumente denominadas bullyng e que vimos identificando, genericamente,

    como barreiras atitudinais.

    Da mesma forma quanto aos servios prestados nos Restaurantes

    Universitrios, na perspectiva de que as refeies devem ser condizentes com

    a dieta tradicional, aspecto que permite, inclusive, a interao com a pesquisa

    e extenso, atravs do manejo de sementes crioulas, por exemplo, bem como

    reeducao alimentar e valorizao de espcies nativas.

    Da mesma forma o resgate, a preservao e a difuso das lnguas

    indgenas - antes referidos - se apresenta como uma ferramenta de apoio

    social, seja para estreitar a relao entre estudantes da mesma etnia, que

    possuem nveis distintos de conhecimento das mesmas; seja como forma de

    manuteno dos vnculos com as terras de origem, sugerindo-se, ainda, que

    figure como disciplina obrigatria, a ser includa no curriculum, o que permitir,

    tambm, funcionar como elo de retorno aps a concluso da graduao e

  • servir como o segundo idioma como o so o ingls, o francs, o italiano, o

    alemo e o espanhol, por exemplo, inclusive para os no indgenas.

    Por fim, a qualificao de locais com vistas ao lazer e prtica religiosa

    podem servir como formas de apoio social na medida em que se identificando

    com o ambiente de origem, possam ter nesta interao - com e no ambiente -

    mecanismos de suporte s presses e barreiras, em especial atitudinais, que

    se colocam no dia a dia da vida acadmica.

    As aes empreendidas pelo Ncleo de Acessibilidade, antes referido,

    tambm se enquadram como de apoio social, j que o mesmo, alm de contar

    com profissionais capacitados para o trato de pessoas com transtornos globais

    do desenvolvimento, altas habiilidades/superdotao, deficincias e surdez,

    destinam-se tambm aos servidores (tcnicos e professores) no que tange a

    assessor-los para as questes que envolvem acessibilidade, no s fsica, em

    especial a sensibilizao para as diferenas.

    3.4 Kit Pedaggico

    Um programa permanente de apoio pedaggico sustentvel assegura,

    alm do acompanhamento por meio do auxlio minimizao das dificuldades

    educacionais, com a disponibilizao de alunos/monitores para as disciplinas

    de maior reteno e docentes/tutores (generalistas), um kit pedaggico aos

    alunos com vulnerabilidade social, que os ajudar a cumprir com xito as

    exigncias curriculares para a sua formao profissional.

    Sendo assim a proposta do apoio pedaggico se alicera tambm no

    fornecimento de condies materiais de acompanhamento, visando superar,

    para alm da barreira educacional, as dificuldades financeiras que se

    apresentam durante o percurso acadmico. O kit pedaggico ser destinado

    aos alunos com extrema vulnerabilidade social - inicialmente em nmero de

    150 (cento e cinqenta) kits aps levantamento a ser realizado pela Pr-

    Reitoria de Assuntos Estudantis - PRAE, Coordenaes de cursos, como

    Arquitetura, Odontologia, Medicina e Artes Visuais, por exemplo, alm de todos

  • os alunos indgenas e quilombolas, conforme prev o Programa de

    Permanncia do Governo Federal.

    4. Oramento

    A previso e execuo oramentria referente ao Programa Permanente

    de Acompanhamento e Apoio Sociopedaggico ter por responsveis alm

    do AFIRME, mais do ponto de vista da avaliao a futura estrutura formal das

    Aes Afirmativas (provavelmente um Ncleo ligado ao Gabinete do Reitor),

    bem como as Coordenaes de Curso e Chefias de Departamentos Didticos

    da instituio, proporcionalmente aos alunos/professores envolvidos, alm da

    PRAE.

    As dificuldades aqui residem no fato de, quando da elaborao do

    oramento da IES, em meados de cada ano, ainda no se sabe quantos alunos

    em tais condies estaro matriculados no ano de exerccio do mesmo,

    situao que tem causado srias preocupaes, em especial ao Ncleo de

    Acessibilidade, no caso de disponibilizao de intrprete de libras. Como h

    necessidade, basicamente, de um profissional por aluno mudo, e no se sabe

    quantos ingressaro no ano seguinte, a soluo tem sido a contratao,

    situao que j se apresenta insatisfatria, no mnimo por dois motivos: o

    Ministrio Pblico Federal tem apontado a irregularidade da medida, ou seja,

    quer que a UFSM faa concurso para os mesmos, mas isso depende do MEC

    e, por outro lado, mesmo o mercado carente deste tipo de pessoal. Mais:

    muitas vezes o profissional contratado no tem afinidade com a linguagem

    tcnica do Curso freqentado pelo aluno que vai atender!

    5. Consideraes Finais

    Como se pode ver, O Programa Permanente de Acompanhamento e

    Apoio Sociopedaggico no parte do zero, mas sim de experincias pontuais

    que j se encontram em execuo na UFSM, desde 2007. Desta forma tem-se

    a edio da Lei Federal 12.711/12 no apenas como um reforo em termos de

  • argumentos para superar barreiras atitudinais (no sentido de que, em se

    tratando de lei, o que se deve fazer cumprir), at porque a instituio - como

    dito acima - tem crticas acerca do que entende como eventuais limitaes e

    mesmo retrocessos em seus dispositivos. A iniciativa legislativa a

    confirmao de que o pioneirismo e a ousadia so riscos que valem a pena

    correr quando o que est em jogo a incluso social. consenso, hoje, que a

    este papel no podem se furtar as IESs enquanto produtoras do conhecimento

    que, mais do que nunca, deve estar a servio da comunidade. E isto no s

    como forma de retribuio ao custeio do sistema pblico de educao, mas

    fundamentalmente como instrumento de formao dos prprios profissionais

    por elas formados, que somente podero ser crticos e humanistas se

    conhecerem a realidade na qual atuaro, que to diversa e complexa como o

    prprio termo e ambiente universidade presume.

    Bibliografia

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